Post on 07-Dec-2018
Ação colaborativa como alternativa de desenvolvimento territorial na Amazônia
Paraense
Documento para su presentación en el VIII Congreso Internacional en Gobierno, Administración y Políticas Públicas GIGAPP. (Madrid, España) del 25 al 28 de
septiembre de 2017.
Autores:
Barros, Jones Nogueira
Email: jonesbarros1@hotmail.com
Chaves, Hilmar Tadeu
Email: hilmar.chaves@yahoo.com.br
Vasconcellos Sobrinho, Mario
Email: mario.vasconcellos@unama.br
Vasconcellos, Ana Maria Albuquerque
Email: anamaria.vasconcellos@unama.br
RESUMO
O trabalho tem como objetivo analisar a ação colaborativa desempenhada pelos Bancos Comunitários como agente de desenvolvimento territorial. Partiu-se da análise de um estudo de caso na Amazônia Paraense, especificamente o Banco Comunitário Tupinambá (BCT). Criado em 2009, na ilha de Mosqueiro se constitui o primeiro Banco Comunitário na Amazônia Paraense visando o suporte na geração de trabalho e renda a partir da concepção e princípios da economia solidária. As ações do banco implicam uma nova ordem colaborativa de desenvolvimento com metodologias participativas e de concertação social com articulação e mobilização de diversos atores e recursos da sociedade civil e mercado para atuarem com o Estado e possibilitar o desenvolvimento da comunidade.
Palavras-chave: economia solidária, desenvolvimento local, banco comunitário, ações colaborativas.
RESUMEN:
El trabajo tiene como objetivo analizar la acción colaborativa desempeñada por los Bancos Comunitarios como agente de desarrollo territorial. Se partió del análisis de un estudio de caso en la Amazonía Paraense, específicamente el Banco Comunitario Tupinambá (BCT). Creada en 2009, en la isla de Mosqueiro se constituye el primer Banco Comunitario en la Amazonia Paraense visando el soporte en la generación de trabajo y renta a partir de la concepción y principios de la economía solidaria. Las acciones del banco implican un nuevo orden colaborativo de desarrollo con metodologías participativas y de concertación social con articulación y movilización de diversos actores y recursos de la sociedad civil y mercado para actuar con el Estado y posibilitar el desarrollo de la comunidad.
Palabras clave: economía solidaria, desarrollo local, banco comunitario, acciones colaborativas.
Nota Biográfica
Jones Nogueira Barros, Doutorando do Programa de Pós-graduação em Administração da Universidade da Amazônia – PPAD/ UNAMA-PA.
Hilmar Tadeu Chaves, Doutorando do Programa de Pós-graduação em Administração da Universidade da Amazônia – PPAD/ UNAMA-PA.
Co-autor: Mário Vasconcellos Sobrinho, Docente e Pesquisador do Programa de Pós-graduação em Administração da Universidade da Amazônia – PPAD/ UNAMA e da Universidade Federal do Pará – UFPA-PA.
Co-autor: Ana Maria Albuquerque Vasconcellos, Docente e Pesquisador do Programa de Pós-graduação em Administração da Universidade da Amazônia – PPAD/ UNAMA-PA.
1 INTRODUÇÃO
O surgimento da economia solidária é resultado do desenvolvimento do
capitalismo industrial no início do século XIX, especialmente na Grã-Bretanha e
posteriormente em vários países europeus. Singer (2002) considera que a economia
solidária foi uma resposta à pobreza e aos desempregos resultantes da difusão das
máquinas-ferramenta e do motor a vapor.
Naquele contexto os trabalhadores formaram cooperativas como tentativas de
recuperar trabalho e autonomia econômica, aproveitando as novas forças produtivas, a
partir dos valores básicos do movimento operário de igualdade e democracia,
sintetizados na ideologia do socialismo (Singer, 2002; Lechat, 2002).
No Brasil a economia solidária surge como respostas às crises econômicas que
atingem os anos 80/90, quando muitas indústrias pedem concordata e entram em
processo de falência, criando embates na sociedade civil diante da crise e desemprego,
resultando nas diversas experiências de cooperativas e associações de trabalhadores
(Lechat, 2002; Singer, 2002).
Foi a partir de um cenário de crises e desemprego que as cooperativas e
associações baseadas na concepção da economia solidária surgiram e constituíram
alternativas para segmentos que vivenciam processos de exclusão. Nesse sentido, a nova
forma de trabalho assume um caráter emancipatório, uma vez que os trabalhadores
participam das tomadas de decisão, geram coletivamente o empreendimento e
apropriam-se igualitariamente dos resultados, contribuindo para o desenvolvimento
local.
De acordo com Martins (2016) o desenvolvimento local não implica atenção em
seus objetivos (bem-estar, qualidade de vida, etc.), mas na postura que atribui e assegura
à comunidade o papel de agente e não apenas de beneficiária do desenvolvimento.
Assim como nas demais regiões brasileiras, na Amazônia, diversas experiências
de organizações de trabalho coletivo têm sido postas em prática pela ação colaborativa,
como forma de enfrentar as dificuldades econômicas e sociais, criando oportunidades de
geração de trabalho e renda, a partir da lógica contrária ao capitalismo - a economia
solidária, a qual estabelece novas relações de trabalho contemporâneo (Simoni, 2010), a
exemplo do Banco Comunitário Tupinambá.
O presente trabalho visa analisar o papel desempenhado pelo Banco
Comunitário Tupinambá, enquanto agente de desenvolvimento local. Este
Empreendimento Solidário foi criado em 2009, na ilha de Mosqueiro e constitui o
primeiro na Amazônia Paraense com o objetivo de gerar trabalho e renda na
comunidade da Baia do Sol, com base nos princípios da economia solidária.
Assim, a questão problema que o artigo busca responder é: o Banco Comunitário
Tupinambá contribui para o desenvolvimento local da comunidade da Baia do Sol, no
distrito de Mosqueiro? Especificamente busca examinar as ações colaborativas para a
formalização de estratégia e organização em rede de produtores e consumidores.
A discussão teórica se apoia na literatura sobre economia solidária e
desenvolvimento local. Buscou-se debater sobre tais questões como subsídios para a
compreensão do objeto de estudo.
O estudo quanto à metodologia caracteriza-se por adotar uma abordagem
qualitativa, para a coleta de dados utilizou-se pesquisa no blog e pagina do facebook do
Banco e entrevistas semiestruturadas com representantes e parceiros do
empreendimento.
Os resultados demonstram que o Banco Comunitário Tupinambá apesar das
dificuldades de operacionalização vem conseguindo empreender a auto-gestão de seus
negócios, tendo como base a concepção da economia solidária.
2 DESENVOLVIMENTO LOCAL COMO PROVISÃO DE AÇÃO
COLABORATIVA
Discussões sobre o tema do desenvolvimento e do neodesenvolvimentismo (De
Azevedo Mathis, 2016) tem sido cada vez mais presente nos diversos espaços, seja na
academia ou em fóruns governamentais ou não. Isto por que a questão do
desenvolvimento está relacionada diretamente não à ação política ou a economia, mas
em todos os aspectos da vida em sociedade, bem como é uma das preocupações
acadêmicas.
A conjuntura mundial e em especial do Brasil e mais especificamente dos
municípios, tem colocado o tema do desenvolvimento local no centro das discussões,
em virtude das dificuldades e complexidades (emprego, renda, saúde, educação, etc.…)
que enfrentam grande parte os entes federados.
De acordo com De Oliveira (2001) dar conta dessa complexidade, e não voltar
às costas para ela, constitui-se o grande desafio do desenvolvimento local, o que na
prática requer atenção e envolvimento dos diversos atores da sociedade.
Nesse sentido Martins (2016) considera que o desenvolvimento local não
implica atenção em seus objetivos (bem-estar, qualidade de vida, etc.), mas na postura
que atribui e assegura à comunidade o papel de agente e não apenas de beneficiária do
desenvolvimento, o que significa a necessidade de protagonismo dos atores locais, nas
questões que lhes afetam.
Assim como Martins (2016), De Oliveira (2001) trata da noção polissêmica do
desenvolvimento local e advoga que o mesmo comporta tantas quantas sejam as
dimensões em que se exerce a cidadania, o que implica tratar das complexidades do
local, explorando as relações entre atores da sociedade civil, do Estado e do mercado, na
construção de novos sistemas de governança e estratégias de desenvolvimento
(Bradford, 2012).
Para Vasconcellos Sobrinho e Vasconcellos (2016, p. 23) e De Oliveira (2001) o
desenvolvimento local implica uma nova ordem estratégica de desenvolvimento com
metodologias participativas e de concertação social em que se articulam e mobilizam
diversos atores e recursos da sociedade civil e mercado para atuarem com o Estado, na
tentativa de estabelecer processos e relações contrárias aos processos dominantes
concentradores e antidemocráticos.
Segundo Bradford (2012), na prática, o desenvolvimento baseado no lugar
envolve três processos centrais: primeiro, incorporar a riqueza local nas relações sociais
e nas redes institucionais; segundo, mobilizar a comunidade transformando-a em ativos
para desafiar as narrativas de deslocamento e declínio impostas externamente; e
terceiro, reestruturação e reconhecimento pelo Estado para capacitar atores das
sociedades civis locais e a ampliar as inovações.
O processo de desenvolvimento local é potencializado pela colaboração que
compreende o diálogo como traço fundamental e tem como característica a partilha e
mutualidade, articulado com valores, objetivos compartilhados e trabalho comum, para
que o resultado seja efetivamente uma prática colaborativa entre os diversos atores
locais (Bedran; Barbosa, 2016).
A prática de ações colaborativas pressupõe que os participantes discutam,
planejem e decidam juntos possibilitando-lhes contribuir com a criação de estruturas
relacionais pautadas no interesse mútuos (Minnis et al, 1994), cuja confiança entre os
diversos atores é imprescindível para que o desenvolvimento local aconteça.
Neste sentido, na Amazônia Paraense várias comunidades têm vivenciado ações
colaborativas como forma de inversão a lógica capitalista, tendo como base os
princípios da economia solidária como indução para o desenvolvimento local.
3 A ECONOMIA SOLIDÁRIA COMO ESTRATÉGIA DE
DESENVOLVIMENTO LOCAL
Atualmente no Brasil, a Economia Solidária (ES) vem sendo uma referência a
um conjunto de iniciativas econômicas populares impulsionadas por entidades
governamentais e não governamentais, com o objetivo de gerar oportunidades de
ocupação e renda para mitigar os efeitos do desemprego e da precarização do trabalho.
Por um lado, estimulam a solidariedade entre os membros mediante a prática da
autogestão, por outro, praticam a solidariedade para com a população trabalhadora em
geral, com ênfase na ajuda aos mais desfavorecidos. (Singer, 2003).
Tem como proposta principal a centralidade de fomentar a criação de formas
alternativas de organização da produção, como estratégia de geração de trabalho e
renda. Parte do pressuposto de que não é mais possível solucionar a falta de emprego
utilizando-se apenas de requalificação e educação.
Tal pressuposto deve ser visto com uma estratégia que traga em seu bojo
inovação contrastante ao sistema dominante. O objetivo de multiplicar as organizações
produtivas deverá ser alcançado pelo fomento à criação de empreendimentos
econômicos nas camadas sociais de baixa renda, reduzindo os efeitos da precariedade
socioeconômica no próprio local onde são mais intensos.
Nesse sentido, pessoas excluídas do consumo pela falta de emprego e renda
podem, através da solidariedade, se convergir para reduzir suas carências em buscas de
alternativas como microcréditos, poupança solidária, micro finanças, finanças de
proximidade, entre outras, buscando outro tipo de relação com o dinheiro.
França-Filho e Laville concordam que as atividades consideradas de Economia
solidária são as “[...] iniciativas que articulam sua finalidade social e política com o
desenvolvimento de atividades econômicas, introduzindo ainda a solidariedade no
centro da elaboração dos seus projetos” França-Filho; Laville, (2004, p. 161).
Assim uma vertente da economia solidária, que é a finança solidária, nasce com
o objetivo de permitir às pessoas excluídas do sistema bancário, criarem seu próprio
emprego ou sua própria fonte de renda. Neste caso, o desafio desse campo de
experiências gira em torno da necessidade de democratização do acesso ao crédito.
Nesse sentido, governo, entidades de apoio e empreendimentos devem incentivar
a criação e a proliferação de organizações solidárias (Bitelman, 2008). No entanto
Singer (2002, P.127) alerta que “a construção de um modo de produção alternativo ao
capitalismo no Brasil ainda está no começo, mas passos cruciais já foram dados, etapas
vitais foram vencidas”.
Para Bitelman (2008), existe um crescimento significativo da Rede de Gestores
de Políticas Públicas de Economia Solidária: em 2003, a rede foi constituída com 36
administrações municipais, em 2006 contava com 81 administrações (74 municipais e 7
estaduais), em 2007 com 87 administrações (80 municipais e 7 estaduais). Em
conformidade com o Atlas da ES (Brasil, 2007) confirma a importância do governo ao
informar que a maioria dos empreendimentos (36,48%) declarou ter recebido apoio dos
órgãos governamentais para o seu desenvolvimento.
Isso contribui para o entendimento de que a Economia Solidária, através das
ações do governo federal por intermédio da Secretaria Nacional de Economia Solidária
(SENAES), pode ser vista como uma estratégia de desenvolvimento local, a partir do
incentivo a abertura de novos empreendimentos solidários, bem como o apoio de órgãos
governamentais, principalmente as universidades com a extensão universitária,
objetivando a inserção social e a geração de emprego e renda a essa massa populacional
excluída da economia formal.
Ressalta-se a importância da intensificação da adoção de políticas públicas
relacionadas à ES pelos governos municipais e estaduais para se compreender a
expansão e evolução da Economia Solidária enquanto estratégia de desenvolvimento
local.
Eid (2013) afirma que enfrentar os desafios de forma objetiva, amadurecendo
seus conhecimentos e culturas do grupo, buscando desenvolver a coesão social através
da responsabilização de cada um dos indivíduos para o desenvolvimento do projeto
coletivo, torna-se estratégico para ampliar a capacidade de resistência dessas inciativas
que pretendem ser plenamente autogestionárias.
Nesse sentido Raposo e Sardá (2015) afirmam que o banco comunitário valoriza
as pessoas e mobiliza as organizações da comunidade a partir dos serviços que oferece:
moeda social circulante, crédito solidário para produção e consumo sem juros em
moeda social; ou a juros baixos em real, cartão de crédito popular solidário, abertura e
depósito em conta, saque avulso ou com cartão magnético (disponível em algumas
experiências), recebimento de títulos, pagamentos e benefícios, se tornando um aliado a
população desassistida.
A Economia Solidária ainda está em consolidação, mas no nosso entender é uma
estratégia de desenvolvimento, movida pela ação colaborativa dos atores envolvidos na
comunidade, desde que seja construída pelos trabalhadores e suas organizações, com o
objetivo de superar a cultura da delegação e ao mesmo tempo, criar um ambiente
propício a que tais trabalhadores se tornem sujeitos conscientes e ativos do seu próprio
desenvolvimento.
4 O BANCO COMUNITÁRIO COMO AGENTE DE DESENVOLVIMENTO
LOCAL?
A Baia do Sol, uma comunidade periférica de Mosqueiro, distrito de Belém
(capital do estado do Pará), cuja localização dista de 70 km da mesma. Em sua maioria
populacional residem pescadores e outros empreendedores individuais. Tal comunidade
não era atendida pelo sistema bancário natural (público e privado).
Diante dessa dificuldade, através de ação colaborativa, tendo como marco inicial
a criação de um Fórum Empreendedor, com o objetivo principal de descobrir entre a
comunidade o potencial empreendedor para iniciar projetos e outras iniciativas que
viessem ao encontro dos anseios da comunidade, no sentido de alavancar a economia
local.
Assim, a comunidade se organizou, dentro das suas possibilidades e inaugurou a
prestação de serviços bancários como acesso a pequenos empréstimos através da criação
do Banco Comunitário denominado de Tupinambá, (BCT), em 2009, constituindo assim
o primeiro banco comunitário na Amazônia Paraense com o objetivo de gerar trabalho e
renda na comunidade da Baia do Sol, a partir da concepção da economia solidária.
O BCT é a principal atividade desenvolvida pelo Instituto Tupinambá – IT, uma
ONG fundada em 2011, que atua na comunidade da Baia do Sol e trabalha com
Economia Solidária e Empreendedorismo Social. O Instituto é a entidade gestora do
BCT.
O IT tem como objetivo:
[...] a difusão e multiplicação da metodologia de Bancos Comunitário e Finanças Solidárias assim como a promoção do desenvolvimento socioeconômico de comunidades excluídas através dos instrumentos da Economia Solidária. Facilitar a geração de trabalho e renda através do empreendedorismo social, tendo como estratégia o desenvolvimento local a partir da organização em rede de produtores e consumidores (IT, 2017).
O BCT surge impulsionado pela criação da Secretaria Nacional de Economia
Solidária – SENAES, no ano de 2005, sendo entendido como política pública do então
governo federal no incremento à prática da economia solidária, como contribuição ao
desenvolvimento local.
O Banco busca em seu planejamento utilizar estratégias que venham ao encontro
das necessidades de geração de emprego e renda para a comunidade da Baia do Sol. Tal
planejamento resulta do debate entre seus agentes sobre a melhor forma de atender a
comunidade, bem como, busca no mercado, parceiros comprometidos com a prestação
de serviço a que se propõe.
Na próxima seção demonstrar-se-á como o Banco Comunitário estabelece
diretrizes através de ações colaborativas para elaboração de estratégias a fim de obter
êxito em seus objetivos e em um segundo momento, descrever alguns resultados que a
pesquisa revelou.
4.1 AÇÕES COLABORATIVAS PARA FORMAÇÃO DE DIRETRIZES DO BCT
PARA ELABORAÇÃO DE ESTRATÉGIA
Para que os objetivos do Banco sejam alcançados, diretrizes são estabelecidas e
estão relacionadas à elaboração de estratégias.
Dentre as principais estratégias do BCT estão:
[...] incentivo ao empreendedorismo social a partir dos princípios da Economia Solidária fomentando a moeda social denominada Moqueio e acesso a microcrédito através da parceria com a Caixa Econômica Federal com o objetivo principal de auxiliar a população excluída desse acesso de serviços bancários, a possibilidade de se desenvolver através de ações empreendedoras em suas atividades comerciais e na prestação de serviços, com a geração de emprego e renda (Coordenador do IT, 2017).
Observou-se que o Banco incentiva o empreendedorismo social e para isso vai
ao encontro de parcerias, a exemplo da Natura, Caixa Econômica Federal, Fundo Casa,
Instituo Palmas e o E-Dinheiro. O mapa 1 mostra os parceiros do BCT e sua principal
atividade
MAPA 1 – Parceiros e atividades do BCT
FONTE: a pesquisa, 2017.
Sobre a busca de parcerias compreende-se que as práticas do BCT convergem
com as ideias de Vasconcellos Sobrinho e Vasconcellos (2016, p. 23) e De Oliveira
(2001) para os quais o desenvolvimento local implica uma nova ordem estratégica de
desenvolvimento com metodologias participativas e de concertação social em que se
articulam e mobilizam diversos atores e recursos da sociedade civil e mercado para
atuarem com o Estado e possibilitar o desenvolvimento local.
Observa-se que as ações do IT e do BCT tem o controle social exercido por
representantes da comunidade como: representante do BCT, representantes do projeto
CECI e Fórum do Empreendedor, aos quais também compete o planejamento
participativo.
Tais ações vêm ao encontro do pensamento de Vasconcellos, A. M. de. A e
Vasconcellos Sobrinho, M. (2007, p.37) quando afirmam que os incrementos de capital
propriamente ditos, sobretudo de capital humano e capital social, que podem ser
alcançados por meio da parceria entre Estado, mercado e sociedade civil, são os fatores
que fazem a diferença, estimulando, intensificando e mudando de qualidade o processo
de desenvolvimento local.
De acordo com o Representante do BCT o planejamento:
[...] as ações são planejadas com um ano de antecedência pela diretoria do Banco e dialogada com os representantes do Instituto Tupinambá, um representante do CECI Mulheres e dois representantes do Fórum Empreendedor. Todas as necessidades referentes à emissão de moeda social, limites de empréstimos, estabelecimento de limites para a liberação do empréstimo, são baseadas e referendadas por esses atores (Representante do BCT, 2017).
Observa-se a importância do planejamento das ações do Banco, bem como a
forma de deliberação das decisões. Observa-se que como forma de induzir a economia
solidária na localidade da Baia do Sol, o BCT criou a moeda social MOQUEIO, por
meio da qual o banco vem tentando contribuir com o desenvolvimento local via
empreendedorismo social.
Pode-se verificar que dentre as ações colaborativas, principalmente as de
incentivo ao empreendedorismo social está o Projeto CECI Mulheres, a Incubação e
Acompanhamento dos empréstimos solidários a pequenos empreendedores.
Compreende-se que ao incentivar o empreendedorismo social na comunidade o
BCT age no sentido de que defendem Raposo e Sardá (2015) ao afirmarem que o banco
comunitário deve valorizar as pessoas e mobilizar as organizações da comunidade.
A análise das práticas e estratégias do BCT como ações colaborativas
compreende-se que os atores deliberam com base na Gestão Social, ou seja, de forma
dialogada, deliberada, livre de pressão top-down, e tal decisão, reflete no baixíssimo
nível de inadimplência dos empréstimos, que hoje chega a 0,3% do total.
4.2 RESULTADOS ALCANÇADOS PELO BCT.
Foi analisada a eficiência na gestão do Banco Comunitário Tupinambá no que
tange aos empréstimos solidários em quantidade de eventos e valores de empréstimos,
tanto para pessoa física (PF) quanto para pessoa jurídica (PJ) desde o seu surgimento até
o ano de 2016. Foi levada em conta sua atuação no mercado local, ou seja, Comunidade
da Baia do Sol, onde foi verificado após análise e tabulação de dados, aos seguintes
resultados:
1) Empréstimo solidários individualizados (CPF e CNPJ).
Ano Total de empréstimos Variação em %
2009 8.775 100,00
2010 11.178 + 27,38
2011 7.954 (28,84)
2012 13.811 + 73,64
2013 24.649 + 78,47
2014 32.225 + 30,74
2015 30.431 (5,57)
2016 37.378 + 22,83
Fonte: A pesquisa, 2017.
Total de empréstimos solidários individualizados desde a origem da prestação de
serviços é de 166.381atendimentos, o que representa um crescimento da ordem de
1.896% em relação ao primeiro ano de criação, demonstrando que a equipe de gestores
tem demonstrado eficiência, eficácia e efetividade na viabilização ao acesso de
empréstimos bancários à comunidade, que antes encontrava-se excluída dos serviços
bancários.
2) Valor movimentado com os empréstimos bancários
Ano Valor emprestado Variação em %
2009 R$ 482.935,64 100,00
2010 R$ 945.640,93 95,81
2011 R$ 861.842,31 (8,86)
2012 R$ 940.464,23 9,12
2013 R$ 1.697.929,05 80,54
2014 R$ 2.426.485,75 42,91
2015 R$ 2.848.253,56 17,38
2016 R$ 4.853.076,46 70,39
Fonte: A pesquisa, 2017.
Total de empréstimos em volume de moeda nacional (R$) desde a origem é de
R$ 13.358.698,88 (TREZE MILHOES, TREZENTOS E CINCOENTA E OITO MIL,
SEISCENTOS E NOVENTA E OITO REAIS E OITENTA E OITO CENTAVOS), o
que representa um crescimento da ordem de 2.766 % em relação ao primeiro ano de
criação, o que demonstra que a equipe de gestores também tem demonstrado eficiência,
eficácia e efetividade ao viabilizar a circulação de moeda na comunidade, o que
certamente facilita o poder de consumo.
A inadimplência que era de 3% ao ano, baixou para 0,3%, fruto de uma ação
colaborativa feita pela diretoria do BCT, ao disseminar os princípios da Economia
Solidária aos clientes do crédito solidário, em forma de oficinas e cursos de curta
duração com o objetivo de conscientizar a comunidade da importância do retorno dos
empréstimos para formação de lastro para novos empréstimos.
Ressalta-se que a direção do BCT também inovou nas relações com os parceiros,
principalmente com a Caixa Econômica Federal, cuja diretriz principal é aumentar e
aproveitar o momento de pagamento do Programa Bolsa Família (programa do governo
federal de transferência de renda) de um lado, oferecendo o recebimento de pagamentos
de boletos do outro. Tal diretriz alavanca o capital de giro necessário para pequenos
empréstimos junto aos pequenos empreendedores, o que possibilita o
empreendedorismo comunitário e que em nosso entender contribui para o
desenvolvimento local.
Ao examinarmos os dados movimentados pelo Banco e os resultados alcançados
pode-se inferir que o BCT vem contribuindo com o desenvolvimento local da
comunidade da Baia do Sol, tendo como base a concepção de economia solidária e as
inovações com a criação do Moqueio. As ações do BCT se articulam com os dois
primeiros processos defendidos por Bradford (2012).
Nesse sentido considera-se segundo Martins (2016) que o desenvolvimento local
implica à comunidade o papel de agente e não apenas de beneficiária do
desenvolvimento, o que significa a necessidade de protagonismo dos atores locais.
A participação da comunidade em geral, por meio não só de apresentação de
soluções, mas também na sua implementação, traz consequências econômicas e sociais
positivas e estimula o desenvolvimento da cidadania. Vasconcellos e Vasconcellos
Sobrinho (2007).
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este artigo buscou analisar se o Banco Comunitário Tupinambá contribui para o
desenvolvimento local da comunidade da Baia do Sol, no distrito de Mosqueiro.
Especificamente procurou examinar as ações colaborativas para a formação de diretrizes
para implantação de estratégias e organização em rede de produtores e consumidores.
Dentre as estratégias para a formalização em rede de produtores e consumidores
está o incentivo ao empreendedorismo social a partir dos princípios da Economia
Solidária fomentando a moeda social denominada Moqueio e oferta ao acesso a
microcrédito através da parceria com a Caixa Econômica Federal com o objetivo
principal de auxiliar a inclusão da população excluída desse acesso de serviços
bancários no referido crédito.
O estudo revela que ainda que não tenha sido possível examinar a efetividade
das ações totais do Banco, os dados movimentados pelo Banco, as ações colaborativas
dos atores envolvidos e os resultados alcançados pode-se inferir que o BCT vem
contribuindo com o desenvolvimento local da comunidade da Baia do Sol, tendo como
base a concepção de economia solidária e a inovação com a criação da moeda Moqueio.
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