Post on 13-Nov-2018
¹Universidade Federal do Cariri – UFCA ailacordeiro@hotmail.com - Autoria
²Universidade Federal do Cariri – UFCA suelychacon@gmail.com
³Universidade Federal do Cariri – UFCA adeliabrasil.@yahoo.com
MESA 1: Nuevas Cartografias de lós Feminismo Del Sur
AGRICULTORAS FAMILIARES NA LIDERANÇA DE PROJETOS PRODUTIVOS:
PERSPECTIVA DE SUSTENTABILIDADE NO ASSENTAMENTO SÃO JOÃO,
ANTONINA DO NORTE, CEARÁ - BRASIL.
Aíla Maria Alves Cordeiro Arrais¹
Suely Salgueiro Chacon²
Adélia Alencar Brasil³
RESUMO
A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO),
definiu 2014 como o Ano Internacional da Agricultura Familiar (AIAF), pela
importância que ela desempenha na diversificação e balanceamento da alimentação, no
uso sustentável dos recursos naturais, considerando todo o contexto mundial. No Brasil
ela é responsável por 70% dos alimentos consumidos pela população. (ASA, 2014).
Nesse cenário entra em evidência o papel da mulher agricultora assentada da
reforma agrária, na construção da sustentabilidade agrícola familiar, demonstrando o
seu potencial de liderança, traçando a convivência com o Semiárido, região de
vulnerabilidade, ambiental, reforça assim, ser produtora de trabalho, de alimento,
proteção ambiental e formadora de exemplo da alteridade como valor a ser cultivado
pela família, articulando dimensões da sustentabilidade. Características presentes a
partir de projetos desenvolvidos em quintais produtivos e plantio de goiaba, no
Semiárido do nordeste brasileiro, especificamente no assentamento rural São João,
Antonina do Norte – Ceará, Brasil que é configurada essa realidade por mulheres
trabalhadoras.
Diante desse contexto tem-se como objetivo geral conhecer o papel das
agricultoras familiares assentadas na realização de projetos produtivos motivados pelas
políticas públicas rurais na construção da sustentabilidade. Visando atingi-lo foi
aplicada como metodologia o estudo de caso, observação participante e entrevista
semiestruturada.
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INTRUDUÇÃO
As mulheres, ao logo da história da sociedade, tem desempenhado um papel
fundamental no desenvolvimento da agricultura, principalmente como mantenedoras da
segurança alimentar e da boa qualidade de vida da família. Essa realidade nem sempre
foi reconhecida ou expressada no apoio ao potencial da agricultora familiar, somente
através de lutas sociais, em países como o Brasil, é que se tem mudança nesse processo
de valorização do trabalho feminino no campo.
No Semiárido do Nordeste brasileiro, onde as mulheres rurais sempre dedicaram
sua força de trabalho a subsistência familiar, sendo na dedicação ao plantio ou na
segurança hídrica, desafiada pela escassez da água, são grandes exemplos de como o
acesso a políticas públicas adequadas a sua região e as suas aptidões no trabalho com a
terra tem possibilitado o desenvolvimento de seus espaços de moradia e trabalho,
representado neste estudo de caso pelo assentamento São João, localizado no semiárido
brasileiro, no estado do Ceará. É resultante da reforma agrária mobilizada pelo
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, sob a responsabilidade do Instituto
Nacional de Colonização e Reforma Agrária, o INCRA.
No referido espaço são destacados projetos de iniciativa e liderança feminina,
onde alicerçadas por políticas públicas para o desenvolvimento da agricultura semiárida,
prosseguem produzindo e enfrentando as limitações apresentadas pelo paradoxo
apresentado na implantação dessas políticas. Contudo desempenham um papel de força
na perspectiva favorável a sustentabilidade da agricultura familiar local. Assim sendo,
busca-se conhecer o papel das agricultoras familiares na liderança de projetos
produtivos apoiados pelas políticas públicas para o desenvolvimento rural do Semiárido.
Convivência Sustentável com o Semiárido, o reconhecimento da agricultora
familiar.
O Semiárido brasileiro é uma sub-região do Nordeste Brasileiro, ela possuí
1.133 municípios de oito estados nacionais, abriga mais de 22 milhões de sertanejos e
sertanejas, 11,8% da população nacional, são 2 milhões de famílias agricultoras
(Ministério da Integração Nacional, 2010).
É influenciada pelo clima semiárido, justificado por uma combinação de
fatores, entre eles o relevo, funcionando como barreira para penetração de massas
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úmidas de origem oceânica e continental. Nas explicações de (AB’SABER 1999), as
terras rebaixadas entre chapadas, maciços antigos, serras, ou posições interplanálticas e
intermontanhosas são submetidas a temperaturas elevadas e precipitações médias anuais
variando de 400 a 600 e até 700 mm, onde há variação de 800 mm a 900 mm, são faixas
de terras influenciadas pelo clima semiárido moderado a subúmido, exemplo da sub-
região do agreste, situada entre zona da mata e sertão. A explicação para a intermitência
sazonal é a descompensação entre a precipitação (400 mm a 700 mm) na estação das
águas e a evaporação na estação seca (elevadas temperaturas 27° a 29°), diminuindo o
tempo de permanência da água.
A caatinga é a vegetação que abriga esse clima, com uma biodiversidade ainda
pouco estudada, ela tem significado cultural, revelada na etnia de seus primeiros
habitantes e também naturais, pela harmoniosa combinação dos elementos, e de espaço
para vivências pessoais, por acolher os sertanejos. Confirmação exaltada por (AB’
SÁBER, 2009, p.100), afirmando que “a identificação pioneira dos tupis, ao criar o
termo “caa- tinga” (mata branca) reflete uma observação integrada sobre a vegetação
esbranquiçada do longo período mais seco do ano, o calor excessivo que incide sobre
tudo e todos”.
É nesse contexto ambiental que a agricultura dessa região se apresenta, o
desafio de conviver a maior parte do ano com a escassez de água motiva para atitudes
coerentes a adaptação, tanto por parte das famílias agricultoras, bem como dos
fazedores de políticas, que durante décadas tratou a questão como uma política de
combate à seca, através de ações emergenciais, como distribuição de água em carros
pipas, distribuição de cestas básicas, frentes de serviço durante a seca, porém, a partir
dos anos 90, através dos agravantes da situação climática no mundo, e os efeitos
degradantes de um crescimento econômico desigual, motivou a proposta de um
desenvolvimento sustentável, principalmente em áreas vulneráveis do planeta.
O meio ambiente é inserido na agenda política internacional pelo “carro-chefe”
da sustentabilidade, conduzindo essa dimensão na estruturação da formulação e
implementação das políticas públicas na escala dos Estados nacionais, órgãos
multilaterais e caráter supranacional (VEIGA, 2012).
É sinalizado por (BOFF, 2012) que a sustentabilidade é uma adaptação às
necessidades de respeito aos recursos naturais com inteligência, vislumbrada pelo
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respeito às próprias necessidades de cuidado uns para com os outros, propondo a
construção da convivência ambiental, social e cultural.
É fundamental considerar as pessoas que vivem no Semiárido, principalmente
pelos planejadores, que trazem um pacote de ações prontas para serem implantadas. Os
planejadores são convidados a assumirem o desafio de conhecerem a realidade
ambiental, suas vulnerabilidades, decorrentes de ações ameaçadoras, como o
desmatamento da caatinga, principal fator das mudanças climáticas e processo de
desertificação ocorrente no Semiárido, que vai além do clima, vegetação, água e Sol. “É
povo, música, festa, arte, religião, política, história. É processo social. Não se pode
compreendê-lo de um ângulo só” (MALVEZZI, 2007, p.09). É assim um espaço
geográfico, articulador de relações, sendo elas responsáveis pela produção de seus
problemas e condições de alternativas estruturais para sustentabilidade da vida.
A agricultura semiárida resiste aos desafios ambientais e inadequações de
planos políticos, ela é significativa, pois no Estado do Ceará, lugar da pesquisa em foco
(Censo Agropecuário 2006), o último realizado no Brasil, indica a contribuição da
atividade com 12,8% de seu Produto Interno Bruto, PIB. Devendo-se a essa atividade
uma atenção, como forma de fomentar o trabalho que ainda resiste no campo,
oferecendo condição da agricultura familiar prosperar, pela viabilidade de adaptação ao
Semiárido.
As mulheres agricultoras do Nordeste, sempre desempenharam papel
fundamental no desenvolvimento da agricultura familiar, não só considerando suas
atividades domésticas de zelar pelos cuidados alimentares da família, de limpeza e
segurança hídrica, mas pelo trabalho com a terra, no seu cultivo, limpa, colheita,
armazenamento, cuidados com os animais (bovinos, ovinos, caprinos), ao conduzi-los
para o roçado bebedouros, curral , no preparo de garrafadas, ou seja, mistura de ervas e
temperos medicinais engarrafas para aplicar aos bichos, quando necessário ao
tratamento de alguma doença. Elas comercializam os produtos de sua criação como
artesanatos (marcas, bordados), os ovos das galinhas, os doces, hortaliças, queijos,
manteigas.
Vale salientar a segurança hídrica como sendo responsabilidade feminina, pois
foi culturalmente atribuída como uma extensão do trabalho doméstico É a busca pela
água em açudes, cacimbas, poços, lagoas, “[...] o lugar do encontro do feminino, de
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conversas intimas, da socialização de problemas, sonhos e desejos”. (MALVEZZI,
2007, p.14), á água é uma espécie de companhia, são conduzidas em latas d’água ou
baldes na cabeça, para quem ainda não tem disponibilidade de água em casa, encanada
de um açude ou barragem, fonte superficial de maior presença no Nordeste brasileiro,
ou de poço. Isso geralmente ocorre, na atual realidade, quando acaba a água das
cisternas de placa, do Programa P1MC, Programa um Milhão de Cisternas, do Governo
Federal em parceria com a ASA, Articulação no Semiárido, capaz de armazenar 16 mil
litros de água captada da chuva, com objetivo de saciar a sede.
A FAO declarou em 2011, no relatório “O Estado da Alimentação e a
Agricultura”, que as mulheres podiam alimentar mais de 150 milhões de pessoas, se
tivessem acesso igual à terra, crédito, educação. (ASA, 2014).
Na orientação de (SALES 2006, p. 89). Os assentamentos representam um
processo de luta, convivência e sociabilidade, por isso é um espaço de relações entre
famílias com a terra, legitimada não pelo decreto de desapropriação, mas pela interação
de seus valores sociais aos valores da terra.
Os assentamentos rurais são uma forma de as mulheres iniciarem o acesso a
terra, crédito e educação, num processo continuado de luta. Pela terra e na terra elas têm
a possibilidade de realizar suas capacidades de interação social e produtiva, ao receber
os incentivos adequados aos desejos e partilha do desenvolvimento pessoal e familiar.
A sustentabilidade é uma forma de viver e planejar o desenvolvimento, ela tem
sua origem após a Segunda Guerra Mundial, em 1960, quanto os riscos ambientais e
anunciação de escassez de recursos emergiu junto aos movimentos ambientalistas,
intensificando o debate, adquirindo três posturas: 1) catástrofe humana em decorrência
do colapso ambiental; 2) capacidade tecnológica de diminuir os impactos ambientais da
produção; 3) solidariedade entre as atuais e futuras gerações visando a garantia das suas
necessidades e preservação biológica (SILVA, 2010). Em seus estudos, o autor faz
referência a Ygnacy Sachs para indicar os avanços da sustentabilidade do
desenvolvimento no campo conceitual e político, não reduzindo a proposta ao vigor
econômico e exclusivamente ambiental, porém combinando multidimensões.
Para Roberto Marinho Alves da Silva as dimensões expressas por Ygnacy
Sachs se entrelaçam, por isso é formadora de postura para dialogar com a realidade do
Semiárido. A dimensão ambiental sugere uma relação de interação entre natureza e
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sociedade, numa territorialidade. A dimensão social é a própria inclusão de direitos à
cidadania no processo de desenvolvimento, possibilitando a liberdade de ser humano. A
sustentabilidade política implica na apropriação dos direitos, principalmente
participativos, proporcionando mudanças nas estruturas de gestões políticas e
econômicas excludentes. A cultura enquanto dimensão do desenvolvimento sustentável
considera a importância do resgate e construção de [...] “novas referências de
pensamentos (consciência) e do agir (comportamento) dos seres humanos” (SILVA,
2010, p. 187).
Pensar uma proposta significativa de desenvolvimento para o Semiárido é
valorizar uma alternativa sustentável, para além do imediatismo da emergência da falta
de chuva, realidade constante do clima semiárido, trata-se de mexer nas estruturas e
concepções dos planos políticos e visões sociais dos sertanejos sobre seu espaço
geográfico. É atuar em convivência com o Semiárido, ou seja, viver com, dar sentido de
interação à vida nesse ambiente.
Para (SILVA, 2010) a convivência apresenta-se em diferentes sentidos, mas
interdisciplinares: o ambiental, o econômico, o cultural, o da conquista política e a
convivência como qualidade de vida, este último merecendo aqui um destaque pela
força representada no sentido da convivência com o Semiárido, pois tem sentido de
inclusão, é o alicerce para a realização das alternativas econômicas e apropriadas a
convivência com a região Semiárida, já que representa a realização da plenitude do ser
humano, expressa pelo acesso aos direitos fundamentais à vida, a melhoria na qualidade
de vida das famílias sertanejas, estabelece um elo de relação para perspectivas de
sustentabilidade ambiental e socioeconômica.
O desenvolvimento com qualidade de vida para o Semiárido baseia-se no acesso
aos serviços básicos de saúde, educação, moradia, acesso digno à terra, ao trabalho, e na
proposta da convivência, mudanças nas relações de dominação ainda presentes, como
classe, de gênero e de gerações, pois para conviver é necessário respeito as diferenças,
principalmente relacionadas as mulheres sertanejas, excluídas de participação decisórias
e responsabilizadas pela educação e zelo hídrico e alimentar da família.
Ações governamentais e não governamentais inibidoras do combate à seca, mais
de incentivos a resistência das atividades econômicas agrícolas, vem demonstrando
caminhos para segurança alimentar e valorização do papel da mulher, bem como da
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agricultura familiar no Sertão, com experiências de canteiros produtivos, com plantio
nos quintais das casas, plantio irrigado, sistema de plantio em forma de mandala, uma
alternativa agroecológica, mistura plantas frutíferas, hortaliças orgânicas e a criação de
animais (peixe e aves).
As políticas de inclusão são fundamentais, bem como o despertar dos sujeitos
locais na reivindicação crítica e participativa de direitos à cidadania em todos os
espaços de atuação, nos familiares e institucionais.
Conforme estudos de Medeiros e Ribeiro (2003), a superação da desqualificação
da mulher não passa apenas pelo mercado ou por movimentos sociais, por sua vez, estes
reproduzem as relações de sociedade envolvente, para os autores, as mulheres precisam
investir em lutas específicas, microlocais, domésticas.
As mulheres demonstram essas lutas e conquistas através de sua determinação
pelo trabalho, no incentivo compartilhado entre elas, na ação de políticas públicas
adequadas ao potencial de participação feminina. Ao que se ver, são características
apropriadas por mulheres assentadas da reforma agrária, no assentamento São João, que
dão exemplo de liderança e determinação na sua luta pela qualidade de vida da família.
Atitudes femininas configurando projetos da agricultura familiar assentada
As mulheres que desenvolvem projetos na agricultura familiar do assentamento
São João, fazem parte de uma comunidade de 19 famílias, das três a serem referidas,
duas chefiam suas famílias, estão numa área de 1.021 hectares, deste total, 255,25
hectares, 25% , é destinada a área de reserva da fauna e flora do bioma caatinga.
Encontra-se localizado no município de Antonina do Norte, Ceará, sub-região do Cariri
Oeste, Sudoeste do estado, é resultante da reforma agrária com intervenção do Instituto
de Colonização e Reforma Agrária - INCRA, os menos representativos nesse território,
explicação pautada na política de crédito rural, que incentiva o acesso à pequena
propriedade rural no Ceará, a partir dos anos 90, sem necessidade de organização dos
agricultores familiares em movimentos sociais, como o Movimento dos sem Terra,
MST, mecanismo social utilizado pelos agricultores e agricultoras no processo de
aquisição da terra. Constitui a primeira experiência registrada no referido município, de
área relativamente pequena, 260 Km².
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O referido assentamento, foi decretado em 2002, resulta de um território
ocupado pelo latifúndio pecuarista, uma estrutura agrária responsável pelo povoamento
do sertão cearense, teve seu apogeu, em decorrência da carta régia de 1701, impedindo a
criação de gado no litoral (JUCÁ, 1995) , como em toda a extensão do nordeste
brasileiro no período colonial. As mulheres a serem citadas acompanharam o processo
de luta, desde a lona, no período da ocupação, à concretização da desapropriação, de
forma direta no território disputado, ou indireta, acompanhando de longe, mas próxima
da situação pela relação de parentesco com os militantes do movimento, este caso sw
aplica a uma delas.
As lutas dos assentados permanecem, pela necessidade da qualidade de vida e
da convivência sustentável com o Semiárido, as políticas públicas para agricultura
familiar no Brasil, são recentes, elas são dos anos 90, e resultam de mobilização de
trabalhadoras e trabalhadores rurais organizados em movimentos sindicais unidos à
Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura (CONTAG) e ao
Departamento Nacional de Trabalhadores Rurais da Central Única dos Trabalhadores
(DNTR/CUT), expuseram suas reivindicações, as chamada “reconversão e estruturação
produtiva” dos agricultores familiares (SHEINAIDER; MATTEI;CAZELLA, 2004)
através da Jornada Nacional de Luta, mobilizada pelo Movimento dos Sem terra, CUT e
CONTAG, em 1994, a atual ação do Grito da Terra Brasil, realizando anualmente uma
jornada de reivindicação em Brasília e nos 26 Estados da federação. Foi através dessa
trajetória, que surgiu o Pronaf, Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura
Familiar, Projetos estaduais, com linha de crédito para investimento, custeio e
financiamento, inovando, ao legitimar o reconhecimento da agricultura familiar como
uma atividade especifica, não generalizada.
Nesse contexto, surgem vários programas para incentivar a atividade da
agricultura familiar, destacando o papel da mulher como decisivo ao desenvolvimento
rural, através, por exemplo, do Pronaf mulher – O objetivo da linha de crédito de
investimento visa atendimento de propostas de crédito mulher agricultora, via projeto
técnico ou proposta simplificada. Mas elas podem assumir outros projetos
disponibilizados pelo governo, como são as experiências vividas por Dona Zuíla, Dona
Genesseuda e a jovem Eliete, assentadas da reforma agrária. Elas são destacadas por
representarem no assentamento, as únicas mulheres, identificadas em lócus, diretamente
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envolvidas em projetos produtivos, motivado por política pública para agricultura
familiar.
Os projetos dos quais elas fazem parte são O São José e quintais produtivos, as
duas primeiras estão integradas ao primeiro projeto, do governo cearense, elas plantam
goiaba e banana, sócias de um companheiro assentado, no plantio de goiaba, a cultura
da qual se dedicam, o objetivo do projeto é melhorar as condições de vida de famílias
carentes da zona rural cearense e elevar a qualidade de vida da população beneficiada.
Ele está sendo desenvolvido há cinco anos, no início eram vinte sócios, pelas
dificuldades de organização ficou reduzido a três pessoas. A área corresponde 2
hectares com algumas dificuldades, pois não tiveram acesso a todo o recurso financeiro
previsto pelo governo, dos R$ 60.000,00 previstos, receberam o valor de R$ 32.000,00
para aquisição de mudas e equipamentos para irrigação, mas contudo mantém o plantio
irrigado por microaspersão, com a água proveniente do açude do assentamento, as
despesas e lucros são compartilhados, a assistência técnica é inconstante, porém as
mulheres, junto ao parceiro empregam mão de obra familiar e garantem a contribuição
do resultado com o complemento da renda familiar, ao vender a goiaba em locais como
o assentamento, distrito vizinho e na sede de Antonina do Norte, situação
experimentada desde 2011, quando iniciou a primeira safra.
A produção regular, sem interferências na irrigação, seja por estiagem ou por
problemas mecânicos é seguida de três safras, com aproximadamente 1.500 kg de
goiaba colhidas, equivalendo um rendimento total estimado em R$ 3.000,00. Este ano
de 2014, foi colhido o fruto de uma safra, devido a problema mecânico da bomba,
dificultando o aguamento periódico do plantio.
Nessa sociedade, entre homem e mulheres observa-se que a mulher é formadora
de trabalho e não só ajudante. Reconhecidas como igualmente importantes nas suas
tarefas, pelo companheiro de trabalho, no enfrentamento das dificuldades e alternativas
próprias. Na colocação de (CHACON, 2006, p.217), para haver êxito em uma estratégia
de desenvolvimento rural, depende do saber fazer a mobilização, envolvimento dos
cidadãos, ações de atendimento das diferentes necessidades, baseadas nos princípios da
consideração da igualdade de gêneros e suas participações. Neste caso, o envolvimento
dos cidadãos dá continuidade a um projeto viável à agricultura familiar do Semiárido,
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onde as mulheres lideram não por ser maioria, mas pela participação nas decisões e
rumos do projeto produtivo, um elo de realização de parceria.
O Segundo projeto, dos quintais produtivos tem à frente a jovem Eliete como
responsável, o objetivo é motivar a produção agroecológica integrada e sustentável para
segurança alimentar desses territórios. O projeto é conhecido como PAIS, justificando
o objetivo, pertence ao Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome
(MDA) em convênio com os governos estaduais, por meio de edital público, atua nos
Territórios de Segurança Alimentar e Desenvolvimento Local (Consad), constituídos
pelas regiões brasileiras com os Índices de Desenvolvimento Humano ( IDH) mais
inferiores. A família é beneficiada com um kit para iniciar a unidade de produção
(cisterna, encanamentos, sementes, mudas etc.) e ATER.
Segundo CARVALHO (2007, p. 233) a alternativa mais apropriada para o
desenvolvimento rural do Ceará é aquela condutora para convivência com o Semiárido.
Ressalta o autor as medidas voltadas para o “manejo adequado do solo, água e
vegetação”.
A referida agricultora aceitou o desafio de liderar a atividade e desempenhar seu
esforço a ele e declarou:
“Tirando os meus gastos, eu tinha os meus R$ 300,00 livre. Faz
um ano que eu fiquei assim. O esposo dizia: não você tá certa!
Quando ele via que sempre tinha o dinheirinho de comprar as
coisas, quando faltava o açúcar e o café, a gente sempre tinha.
Pode trazer que tá aqui o dinheiro. Ele dizia:” o negócio é
sério mesmo, é verdade”.
É possível perceber o resultado da atividade que se destina não só a produção,
mas a convivência com o ambiente, de forma sustentável durante o processo, bem como
o respeito as capacidades da agricultura familiar em administrar trabalho e recursos,
nota-se um entusiasmo pela autoestima e reconhecimento do parceiro, bem como a
autonomia econômica.
Para (Pinheiro apud Carneiro et al 2013) essa forma de plantio representa mais
do que uma condição econômica, mas “símbolo de identidade cultural”, pelo
pertencimento de relações com esse espaço da casa, pois ele é lugar de encontro,
descanso, festa,colheita, brincadeiras. Assim, do quintal de casa foi possível tirar
sustento e dar significado a um projeto para produzir alimentos saudáveis (hortaliças,
frutas e galinha), espaço de participação no convívio familiar, de pertencimento.
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Uma outra políticas pública que tem favorecido atividade desenvolvida pelas
mulheres do assentamento, no qual as duas primeiras estão envolvidas é o PAA –
Programa de Aquisição de Alimentos, do Governo Federal, através do Ministério do
Desenvolvimento Social, visa a inclusão social no campo por meio do fortalecimento
da agricultura familiar, pelo acesso a alimentos em quantidade e qualidade, adquirindo-
os para o consumo no mercado local, no caso destinado à merenda escolar do
município. Este é o ano de início das agriculturas no programa, com o fornecimento de
carne de ovino, estando previsto o rendimento anual, para cada qual em R$ 5.500,00.
A liderança das mulheres agricultoras nos citados projetos, sinalizam para
perspectiva de sustentabilidade no assentamento, a ambiental, pela inclusão de práticas
agroecológicas a partir quintais produtivos, racionando o uso da terra, evitando a
intensificação do desmatamento da caatinga, pode-se citar a criação de ovino caprinos,
animais adaptados ao Semiárido. A econômica, pelo acesso à terra, programas
governamentais para produzir, associado às tecnologias sociais de cisternas,
possibilitando o desenvolvimento de pequenos projetos de convivência com o
Semiárido e segurança alimentar e social, relacionado aos direitos de participação de
homens e mulheres, no respeito às diferenças para compartilhar da convivência.
METODOLOGIA
Com o intuito de compreender a importância das mulheres agricultoras
familiares para as atividades agrícolas no Semiárido, com o desenvolvimento de
projetos produtivos, priorizou-se como metodologia o estudo de caso, do assentamento
São João, onde foi realizada a observação participante das atividades das mulheres e a
entrevista semiestrutural.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A participação das mulheres, através de projetos incentivados pelo governo
brasileiro, tem dinamizado a agricultura familiar pela determinação das agricultoras em
enfrentar adversidades, construindo perspectivas de sustentabilidade no assentamento
São João tanto social pelo direito ao trabalho com a terra, reconhecendo a presença da
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mulher como formadora do trabalho familiar, pela sua autoconfiança e decisões no
sustento familiar, representa uma conquista na busca pela igualdade de direitos de
gênero. Traz uma perspectiva de sustentabilidade ambiental ao incluir práticas
agroecológicas a partir do plantio em quintais produtivos, variando a produção de
plantas e possibilitando o controle da água, sem uso de agrotóxico, racionando o uso da
terra, evitando a intensificação do desmatamento, bem como introduzindo culturas
frutífera, adequadas ao clima semiárido e controle da água por microaspersão e a
criação de ovinos, animais adaptados ao Semiárido e sustentabilidade econômica pela
viabilidade dos projetos governamentais ao acesso do alimento para a família e para
comercialização, motivando a manutenção da agricultura familiar.
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