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    ISOLADOS NO BRASIL

     Antenor Vaz

    POLÍTICA DE ESTADO: DA TUTELA PARA A POLÍTICA

    DE DIREITOS - UMA QUESTÃO RESOLVIDA? 

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     ISOLADOS NO BRASIL

    Informe 10

    IWGIA – 2011

     Antenor Vaz

    POLÍTICA DE ESTADO:DA TUTELA PARA A POLÍTICA DE DIREITOS –

    UMA QUESTÃO RESOLVIDA?

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    Índios recém contatados da etnia Zo’é – Foto: Mário Vilela, 2009 – Archivo FUNAI 

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    Sumário

    1. INTRODUÇÃO ............... ................. .................. ................. ................. ................. ................. ................. ............. 8  1.1 Os povos indígenas no Brasil ............... ................. ................. ................. ................. .................. ............. 8

    1.2 Os povos indígenas isolados e recém-contatados,a política de proteção do Estado e a participação da sociedade civil organizada ................ ................. .. 9

      1.3 A estrutura de gestão do Estado para índios isolados ................. ................. ................. .................. ..... 14

    2. CONCEITOS E NOMENCLATURA ............... ................. ................. .................. ................. ................. .............. 16

      2.1 Referência versus Informação de índios isolados e recém-contatados ................. ................. .............. 16  2.2 Quem são os povos indígenas isolados ................ ................. ................. ................. .................. ........... 17  2.3 Quem são os povos indígenas recém-contatados ................. ................. .................. ................. ........... 18

    3. POVOS INDÍGENAS ISOLADOS E RESPECTIVAS LOCALIZAÇÕES ........................................................... 30  3.1 Situação atual: 22 anos do Sistema de Proteção ao Índio Isolado...................... ................. ................. 30  3.2 Tabela de referências de índios isolados confirmadas. ................ ................. .................. ................. ..... 30

    4. METODOLOGIA DE AÇÕES DE PROTEÇÃO E PROMOÇÃO PARA

    ÍNDIOS ISOLADOS E RECÉM-CONTATADOS ................ .................. ................. ................. ................. ........... 36  4.1 A quem compete a ação .................. ................. ................. ................. ................. ................. ................. 36  4.2 Sistema de Proteção ao Índio Isolado e Recém-Contatado:

    Política Pública de Estado ................. .................. ................. ................. ................. ................. .............. 36  4.3 Metodologia do Sistema de Proteção .................. ................. ................. ................. ................. .............. 36  4.3.1 Gestão Pública ................. ................. .................. ................. ................. ................. ................. .............. 37  4.3.2 Localização e monitoramento ............... ................. .................. ................. ................. ................. ........... 37  4.3.3 Proteção e vigilância........................ ................. ................. ................. ................. ................. ................. 39  4.3.4 Promoção dos direitos do Índio Isolado e Recém-Contatado ............... ................. ................. .............. 39  4.3.5 Educação etnoambiental ................. ................. ................. ................. ................. .................. ................ 39  4.3.6 Processo educativo e intercâmbio ................. ................. ................. .................. ................. ................. .. 39  4.3.7 Comunicação ................. .................. ................. ................. ................. ................. ................. ................. 40

    4.3.8 Capacitação ................ ................. .................. ................. ................. ................. ................. ................. ... 40  4.3.9 Saúde ................. ................. ................. ................. ................. ................. .................. ................. ........... 40  4.3.10 Subsistema de Contato ................ ................. ................. ................. ................. ................. .................. .. 41  4.3.11 Frentes de Proteção Etnoambiental ................. ................. ................. ................. ................. ................. 41 

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     4.4 Participação da sociedade civil organizada ................ ................. ................. ................. ................. ......... 47

      4.5 Instrumentos legais de proteção e promoção (Marco Legal) ................. .................. ................. .............. 47  4.5.1 No âmbito da Legislaçao Fundamental ................ ................. ................. .................. ................. .............. 50  4.5.2 No âmbito da Cidadania ................ ................. .................. ................. ................. ................. ................. ... 50  4.5.3 No âmbito do Ordenamento Territorial ................. ................. ................. .................. ................. .............. 50  4.5.4 No âmbito do Meio Ambiente ................. ................. ................. ................. ................. .................. ........... 50  4.5.5 No âmbito da Saúde ................. ................. ................. ................. ................. ................. ................. ......... 50  4.5.6 No âmbito da Pesquisa e Ingresso em Terra Indígena ............... ................. ................. ................. ......... 50

    5. FRONTEIRA: POVOS ISOLADOS E RECÉM-CONTATADOS .........................................................................52 

    6. CONCLUSÕES ................. ................. ................. .................. ................. ................. ................. ................. ......... 56  6.1 Conquistas ................ ................. ................. ................. .................. ................. ................. ................. ...... 56  6.2 Obstáculos ................ ................. ................. ................. .................. ................. ................. ................. ...... 57  6.3 Afinal, passamos da tutela à política de direitos? ................. .................. ................. ................. .............. 59

    7. SOBRE O AUTOR ............... ................. .................. ................. ................. ................. ................. ................. ...... 59

    9. NOTAS – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASSITES E ARQUIVOS DA INTERNET ................ ................. ................. ................. .................. ................. ........... 60 

    8. APÊNDICE ................ ................. ................. ................. ................. .................. ................. ................. ................. 63  • Tabela VI – Terras indígenas ex clusivamente

    com índios isolados..................... ................. ................. .................. ................. .................. ................. ........... 63• Tabela VII – Terras indígenas com informaões

    de índios isolados ................ ................. ................. .................. ................. ................. ................. ................. ... 63  • Tabela VIII – Terras indígenas com presença de índios isolados

    confirmada e/ou recém contatados com atuação da CGIRC...........................................................................64

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    Oque escrever sobre grupos indígenas que vivem emregiões remotas e que, por algum motivo, decidiram“isolarem-se”? Como e o que escrever sobre povos comos quais não conversamos? O que dizer de sociedadesindígenas isoladas que sobrevivem independentes dasociedade industrial? O que pensam, em que acreditame quais tecnologias desenvolvem? Como se estruturampoliticamente e como se organizam socialmente? Porque ainda permanecem Isolados? Quais as consequ-

    ências, se levarmos nossa cultura tecnológica até eles?Quem são esses povos? Como vivem? São isolados emrelação a quem e a quê?

    Este informativo, ao apresentar as formas de re-lação estabelecidas entre a sociedade brasileira e ospovos isolados, ao longo do século XX, evidenciarápistas que nortearão o encontro do real sentido dessasperguntas. A intenção é refletir sobre como o Estadoe a sociedade brasileira conceberam e implementampolíticas de contato e, ainda, quais processos vividospelos segmentos da sociedade participantes dessa li-nha de atuação levaram a repensar as ações até então

    desenvolvidas e propuseram, em 1987, o não contatoenquanto premissa de proteção desses povos isola-dos.

    Ao longo do texto, apresentam-se os conceitos, asmetodologias de trabalho, os marcos jurídicos, as dire-trizes e as políticas públicas que o Estado e a socieda-de brasileira elaboraram e refletiram nesses 22 anos deaplicação da Política Pública de Proteção para ÍndiosIsolados. A construção dessa política pública estatalfaz com que o Brasil se coloque enquanto protagonistadessa experiência singular na América do Sul.

    Neste informativo, a análise inicia-se no campo dapráxis e da compreensão que a sociedade civil e o Es-tado formulam “sobre” os índios isolados e recém-con-tatados para, então, ser questionado o lugar que esseEstado e demais sociedades modernas reservam a es-sas culturas. Assim, é necessário indagar: em que me-dida as sociedades e Estados ocidentais, estruturadosno liberalismo econômico fortemente pautado na priva-tização de todos os bens ou recursos, toleram grupossociais que se fundamentam em paradigmas opostos, aexemplo da propriedade coletiva?

    INTRODUÇÃO

    1.1 Os povos indígenas no Brasil

    Estima-se, que em 1500, existiam mais de mil povosno território brasileiro, em um total entre dois e quatromilhões de pessoas. Cinco séculos depois, a populaçãoindígena brasileira é estimada em mais de 460 mil,1 oque corresponde a 0,25% da população não indígena.Esses povos estão presentes em quase todo o país,porém há uma concentração maior nas regiões Norte

    e Centro-Oeste.O Brasil indígena é hoje composto por mais de 220povos contatados que falam mais de 180 línguas dis-tintas. Cerca de 400 mil indígenas vivem em 653 ter-ras indígenas descontínuas, somando 107 milhões dehectares, o que equivale a 12,5 % do território nacional.Neste panorama, inclui-se a existência de sete gruposindígenas recém-contatados, 23 grupos indígenas iso-lados confirmados e 47 referências em processo de le-vantamento de informações pelo órgão oficial do Estadobrasileiro, Fundação Nacional do Índio (FUNAI). O cen-so demográfico de 2000, divulgado pelo Instituto Nacio-nal de Geografia e Estatística (IBGE),2 revelou que 734mil pessoas se auto-identificam como indígenas, o quecorresponde a 0,4% da população total brasileira.

    As pesquisadoras Nilza de Oliveira Martins Pereirae Marta Maria Azevedo contribuem com o debate sobrea questão demográfica indígena ao considerarem que:

    (...) de um lado pessoas descendentes de índios,mas que não reconhecem um pertencimento ét-nico específico, contingente este que cresceumuito no Censo de 2000, e em geral moram nas

    áreas urbanas, e de outro lado pessoas perten-centes aos cerca de 220 povos indígenas quehabitam as Terras Indígenas e mantêm suastradições, organizações sociais, línguas e cul-turas específicas. Cada uma destas categoriassociológicas se distingue regionalmente no Bra-sil, e através das análises demográficas que osCensos possibilitarão será possível melhorar etornar mais eficazes as políticas públicas dire-cionadas às mesmas.3 

    Atualmente, são raros os grupos indígenas que vivemem seus territórios históricos. Quando isso ocorre, as

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    terras para eles destinadas são apenas fragmentos deseus ex-territórios. Outros grupos, depois de um longoprocesso de fuga, só recentemente conseguiram umpequeno território. Desde o período colonial, as frenteseconômicas, com a colaboração do Estado, transferi-ram, compulsoriamente, diversos grupos indígenas deseus territórios tradicionais.

    Os povos indígenas que sobreviveram e que resisti-ram à violência das frentes econômicas nos mais de 500anos de colonização, ainda conseguem viver de formatradicional. Muitas das Terras Indígenas4 foram identifi-cadas, demarcadas e regularizadas nos últimos trintaanos, porém, há ainda mais de 160 reivindicações pararegularização fundiária de novas terras indígenas.

    As últimas décadas do século passado foram palcode acontecimentos importantes para a articulação dos

    direitos indígenas, entre eles o surgimento de grandenúmero de organizações indígenas5. Estas organiza-ções6 têm protagonizado as reivindicações pela regula-rização das terras indígenas.

    Essas novas formas de representação políticasimbolizam a incorporação, por alguns povosindígenas, de mecanimos que possibilitam lidarcom o mundo institucional da sociedade nacionale internacional. Permitem ainda tratar de deman-das territoriais (demarcação de terras e controle

    de recursos naturais), assistenciais (saúde, edu-cação, transporte e comunicação) e comerciais(colocação de produtos no mercado).7 

    Outra conquista importante foi a promulgação da Cons-tituição de 1988, especificamente no artigo 231, que ins-titui nova base jurídica ao reconhecer direitos dos povosindígenas no Brasil, em sua própria identidade culturale diferenciada (organização social, costumes, línguas,crenças e tradições), assegurando-lhes o direito de per-manecerem como índios, e explicita como direito origi-nário (que antecede a criação do Estado) o usufruto das

    terras que tradicionalmente ocupam. Cabe ao Estadozelar pelo reconhecimento destes direitos por parte dasociedade. O papel do Estado passa, então, da tutelade pessoas à tutela de direitos.

    1.2 Os povos indígenas isolados e  recém-contatados, a política de

    proteção do Estado e a participaçãoda sociedade civil organizada

    Ao longo da história do indigenismo no Brasil, diferentespolíticas e práticas de conquistas ou contato foram esta-

    belecidas pelos colonizadores europeus, por viajantes,por missões religiosas, pelas instituições do Estado im-perial e republicano brasileiro, bem como por setores dasociedade civil.

    Durante séculos, a maioria das estratégias das po-líticas de contato provocou efeitos desastrosos para ospovos indígenas. Como exemplos, citam-se o decrésci-mo da população, invasão e ocupação de territórios eintrodução de novas formas de trabalho. Ações comoessas provocaram grandes desequilíbrios socioeconô-micos e culturais nos grupos indígenas.

    A partir do início do século XX, o Estado brasileiroassume a formulação e a execução da política indige-nista e, consequentemente, a responsabilidade pelotrabalho de atração, pacificação e proteção dos povosindígenas8. Primeiramente, foi criado o Serviço de Pro-

    teção aos Índios (SPI),9 em 1910, e, em seu lugar, cria-da a Fundação Nacional do Índio (FUNAI)10, em 1967.Calcado no paradigma do contato como premissa deproteção, o SPI e a FUNAI definiram políticas cuja es-tratégia foi o estabelecimento de ações de “atração” naperspectiva da integração11 do indígena à comunidadenacional.

    Na década de 1980, durante o processo de abertu-ra política no Brasil, após vinte anos de regime militar,quando existia grande mobilização dos setores organi-zados da sociedade civil em defesa dos seus direitos, o

    Conselho Indigenista Missionário (CIMI) e a OperaçãoAnchieta (OPAN)12  realizaram, em Cuiabá-MT, um en-contro para discutir questões relativas aos índios iso-lados. Participaram dessa reunião várias organizaçõesnão governamentais, entre elas a União das NaçõesIndígenas (UNI), Centro Ecumênico de DocumentaçãoIndígena (CEDI), Centro de Trabalho Indigenista (CTI),Comissão Pró-Índio de São Paulo (CPI-SP), bem comofuncionários da FUNAI. Sobre esse encontro o InstitutoSocioambiental (ISA) faz os seguintes comentários:

    A gravidade da situação motivou um encontro

    de indigenistas, antropólogos, missionários, ad-vogados e representantes da União das NaçõesIndígenas (UNI) na tentativa de estabelecerformas de atuação na defesa da sobrevivênciafísica e cultural desses povos ameaçados. Odocumento fala ainda da abertura das estradasa partir de 1970, e de outros projetos de infra-estrutura, além da mineração e da exploraçãomineral, fatores que levaram esses grupos aosofrimento e à depopulação decorrente do con-tato com essas frentes de expansão.

      Vários povos com a população reduzida dras-ticamente por doenças foram transferidos de

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        M    A

        P    A    1

      –

        T    E    R    R    A    S    I    N    D     Í    G    E    N    A

        S    D    O

        B    R    A    S    I    L

        F   o   n   t   e   :    F    U    N    A    I    /    2    0    1    0

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    suas terras, como os Tapayuna, levados do rioArinos para o rio Xingu e os Panará do rio Pei-xoto Azevedo, contatados em 1973 para permi-tir a construção da BR-163. Os remanescentesdesses últimos – 87, de uma população de 400– foram levados para o Parque Indígena do Xin-gu. Os Cinta-Larga, no Mato Grosso e Rondônia,eram cerca de cinco mil ainda nos anos 60, masna época do Encontro não passavam de mil indi-víduos. Os Waimiri Atroari, forçados ao contatocom a abertura da BR-174, que cortava suasterras, tiveram uma redução de cerca de três milpara apenas 500 indivíduos.  O comunicado criticava também a atitude daFunai, pelo abandono desses índios: “não é dese estranhar, portanto, que a Funai esteja anun-

    ciando seu Plano Especial para atração dosúltimos grupos indígenas isolados, o que nosparece ser o objetivo de facilitar a implantaçãodos novos planos governamentais (PDA, CalhaNorte, etc.). Manifestamos, por isso, nossa legí-tima preocupação pelo destino dos povos indí-genas que ainda resistem bravamente na Ama-zônia”. Nesse encontro, foi feito o mapeamentodos grupos isolados no Brasil e elaborada umapauta com as conclusões do Encontro para serveiculada entre as entidades indigenistas.13

    Em junho de 1987,14  passados vinte anos de criaçãoda FUNAI, os sertanistas, também preocupados comos resultados da política de atração até então pratica-da no Brasil, organizaram o I Encontro de Sertanistas,promovido por este órgão indigenista estatal, com aparticipação de quinze sertanistas e quatro convidados:dois antropólogos, um linguista e um técnico indigenis-ta. O encontro foi coordenado pelo sertanista Sydney F.Possuelo.

    A terminologia sertanista é usada, desde o Bra-

    sil Colonial, para nomear os agentes sociais en-volvidos desde o séc. XVII em expedições deapresamento de índios, cujo principal objetivoconsistia nesse período em dizimar e escravizaríndios. No início do séc. XX, a categoria sertanis- ta  era empregada com frequência na imprensa,identificando entre outros o então Cel. CândidoMariano da Silva Rondon e suas atividades. Acategoria sertanista  não designava nenhum car-go quando o SPI foi criado. Entretanto, mesmoque a institucionalização de uma política pro-

    tecionista indicasse a intenção de formação emanutenção de quadros indigenistas, a carreira

    ou função de sertanista  nunca existiu no âmbitodo SPI. Só a partir dos anos 1960, já na FUNAI,seria criado o cargo de sertanista   reunindo osservidores que realizavam atrações de povosindígenas e tinham diversas origens funcionais.Atualmente, o cargo é regulamentado atravésda Portaria FUNAI 3628/87 (06/11/1987).15

    Dada a importância desse evento, uma vez que neleconstituiu-se toda fundamentação que resultou namudança do paradigma do “contato” para o do “nãocontato”, enquanto premissa de ação indigenista doEstado brasileiro para a proteção dos índios isolados,reproduz-se, abaixo, trecho signicativo do relatório16 desse evento:

    Aprendemos, nestes anos todos de história doindigenismo oficial no Brasil, que a atração deíndios isolados ocorre normalmente por dois fa-tores: primeiro, quando estes índios estão emterritórios objetos da cobiça de algum empreen-dimento econômico privado, obstaculizando oseu pleno desenvolvimento e; segundo, quandoocupam áreas de interesse de empreendimen-tos governamentais. Tanto num caso comono outro, o SPI, e depois a FUNAI, envidaramesforços para alocar seus sertanistas com a

    finalidade de contatar estes índios tanto paralivrá-los das ameaças das frentes de expansão,como para dar condições de desenvolvimentoa projetos governamentais e privados sem esteentrave.(...)Embora tenhamos consciência do heroísmo e dosacrifício de inúmeros companheiros, nunca pode-remos nos esquecer de que, quando estamos emprocesso de atração, estamos na verdade sendopontas de lança de uma sociedade complexa, friae determinada, que não perdoa adversários com

    tecnologia inferior. Estamos invadindo terras poreles habitadas, sem seu convite, sua anuência.Estamos incutindo-lhes necessidades que jamaistiveram. Estamos desordenando organizaçõessociais extremamente ricas. Estamos tirando-lheso sossego. Estamos lançando-os num mundodiferente cruel e duro. Estamos, muitas vezes,levando-os à morte.  (...)Esta reunião de velhos companheiros, algunssem se encontrarem há muitos anos, estas tro-

    cas de experiência que este encontro provocou,nos dão a certeza de que é necessário e imedia-

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    to executar mudanças de estratégia para nossotrabalho, e, essencialmente, fazer uma revisãode seus conceitos, causas e consequências. (...)

    Após o final do Encontro, os sertanistas concluíramque:

    •  A experiência de contato, para o índio é prejudi-cial. Toda sua estrutura social, cultural e econô-mica, é alterada em função da nova realidade. Arecomposição é dolorosa.

    •  É necessário que o conceito de proteção ao índioisolado seja reformulado. Concordamos, que seele é mais feliz, vive melhor e não está ameaça-do; deveremos evitar que isto seja destruído. A

    FUNAI, deveria implementar medidas de prote-ção aos índios isolados cujos territórios não es-tejam ameaçados ou cujas ameaças possam sercontornadas.

      Estas medidas de proteção, prioritárias a qual-quer outra medida, visando a que o índio possase manter em sua plenitude, invocará a posturada FUNAI na relação com os índios isolados e, te-mos certeza, contará com o total apoio da opiniãopública esclarecida e da academia.

    •  O ato de contato, só deverá ocorrer quando com-

    provadamente, aquele grupo isolado não tivermais condições de suportar o cerco de fazendas,invasões de seu território, etc. Quando compul-sões incontroláveis ocorrerem, aí então, o ato dese manter contato, seria uma medida essencialde proteção. Entendemos que não há por que sefazer contatos com grupos isolados, apenas porfazer.

    • É necessário um imediato mapeamento de todosos grupos isolados no Brasil.

    •  A partir do mapeamento dos índios isolados, aFUNAI deverá interditar imediatamente os territó-

    rios onde vivem, para poder exercer um sistemade vigilância e proteção em torno dos mesmos, nosentido estrito de preservar o grupo isolado quese encontra ali incluso.

    •  Se ficar comprovado que a ação de contato é aúnica medida possível para resgatar um grupoisolado, enquanto sociedade, a FUNAI deverá fa-zer este trabalho com total e absoluta prioridade.Anal, trata-se de um povo ameaçado de extinçãoque temos a obrigação legal e moral de resgatar emanter intacto.

    Entendemos que os grupos isolados são hoje pa-trimônios cultural, humano e histórico, não ape-

    nas do Brasil, mas de toda a humanidade. Nestesentido, a FUNAI deverá executar todo o esforçopara lhes assegurar esta condição.

    •  Se o contato for inevitável, apesar de todas as di-ficuldades, este ato em si ocorrerá naturalmente.Os efeitos posteriores, ensinam a história e nossaexperiência, são sempre frustrantes para estes ín-dios: adoecem das moléstias para nós mais sim-ples e, por não terem anticorpos, morrem facilmen-te. Temos milhares de exemplos de grupos inteirosmortos, em passado recente por gripes, sarampo,coqueluche, etc. Em vista disto no trabalho de con-tato, a questão de saúde é essencial e prioritária,não devendo a FUNAI jamais negar recursos paraesta finalidade.

    •  Havendo o contato, nosso trabalho deverá ser

    essencialmente educativo no sentido de tornaraquele índio desde o princípio do contato auto-suficiente e independente de um paternalismoque, se introduzido sem critérios, pode levá-los àdecadência, à degradação e à completa desestru-turação.

    •  Como o trabalho de proteção, vigilância, loca-lização e contato com os índios isolados, é umtrabalho da mais alta responsabilidade e requerum conhecimento especializado, o mesmo só po-derá ser executado por servidores devidamente

    preparados com equipes adequadas e com todo oequipamento necessário à segurança da equipe edos índios isolados. Este não é um trabalho paraamadores. A FUNAI deve ir pensando na renova-ção de seus quadros de sertanistas.

    •  Entendemos também que a FUNAI, como órgãoresponsável pela proteção de todos os índios,isolados ou não, deve ter toda a força e o podernecessário ao bom desenvolvimento de seus tra-balhos; força esta de ordem política e financeira.Devido à especificidade do trabalho que desen-volve, ao imenso patrimônio fundiário que tem sob

    sua responsabilidade e, devido à imensa riquezapela qual é responsável, a FUNAI deveria ter seureconhecimento público e oficial mais acentuado.Este é o empenho de cada um de nós.

    •  Entendemos também que os índios, isolados ounão, são, em sua essência, guardiães para o paísde imensas riquezas florestais hídricas, da fauna,da flora. Ainda chegará o dia em que se lamenta-rão os males que foram feitos por um progressono qual não se prioriza o humano.

    •  Como a proteção dos Índios isolados, proteção

    esta de que forma se der, é do interesse de todaa sociedade brasileira e não apenas da FUNAI,

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    entendemos estar sempre dispostos a ouvir, re-ceber colaborações e ensinamentos desde que anossa autoridade de decisão não seja maculada.E devemos envolver o mundo acadêmico em nos-so trabalho.

    1.3 A estrutura de gestão doEstado para índios isolados

    Ainda em 1987, por meio de duas portarias,17 o presi-dente da FUNAI estabelece as Diretrizes para a Coor-denadoria de Índios Isolados e o sistema de Proteçãoao Índio Isolado. No ano seguinte, em 1988, são apro-vadas18  as Normas do Sistema de Proteção do ÍndioIsolado (SPII).

    Para desenvolver essa política, foi criado um órgãoespecífico na FUNAI,19 a Coordenadoria de Índios Iso-lados (CII), com a finalidade de planejar, supervisionare normatizar as atividades relacionadas à localização, àproteção e ao contato com os índios isolados.

    De acordo com a política e as diretrizes xadas pelaFUNAI, cou estabelecido que a execução da política delocalização, proteção e de contato seria efetuada peloSistema de Proteção ao Índio Isolado. Esse Sistema di-vide-se em três subsistemas, diferenciados entre si, naatuação e na composição: Subsistema de Localização,

    Subsistema de Vigilância e Subsistema de Contato. Vol-taremos a este tema mais adiante, na parte em que seapresenta a metodologia.

    A CII foi estruturada em unidades descentralizadas,denominadas de Equipe de Localização, Equipe de Pro-teção e Equipe de Contato. O objetivo de cada equipeé proteger o entorno da região habitada pelos isoladose monitorar os acontecimentos e ameaças. Além dis-so, essas equipes deveriam sistematizar as informa-ções coletadas em campo sobre a área ocupada pelosgrupos indígenas isolados com o propósito de instruirpreviamente os estudos de identificação e demarcação

    dessas terras. Essas atividades últimas ficam a cargoda Diretoria Fundiária da FUNAI. Atualmente as trêsequipes de trabalho constituem a Frente de ProteçãoEtnoambiental (FPE), tema que será mais bem expostono capítulo 5 deste informativo.

    Tendo como referência a Constituição de 1988 eo princípio da autodeterminação dos povos,20 o órgãoindigenista oficial definiu como uma de suas diretrizesgarantir “aos índios e grupos isolados o direito de as-sim permanecerem, mantendo a integridade de seuterritório, intervindo apenas quando qualquer fator colo-

    que em risco a sua sobrevivência e organização sócio-cultural”.21 Desta forma, os trabalhos na perspectiva de

    proteção deveriam ocorrer à distância, identificando fa-tos que colocariam a vida dos indígenas em risco, bemcomo o seu território. Assim estava garantida a integri-dade física e territorial dos índios isolados.

    Em 1996, o governo brasileiro editou novo Decre-to 1.775, de 8/01/1996, que regulamentou e definiu osprocedimentos sobre o processo de regularização dasterras indígenas. Nesse Decreto o governo explicitoua necessidade de garantir meios para a efetivação doslevantamentos prévios para identificação dos territórioshabitados por índios isolados:

    Art. 7˚ O órgão federal de assistência ao índiopoderá, no exercício do poder de polícia previs-to no inciso VII do art. 1˚ da Lei n˚ 5.371, de 5 dedezembro de 1967, disciplinar o ingresso e trân-

    sito de terceiros em áreas em que se constatea presença de índios isolados, bem como paratomar as providências necessárias à proteçãoaos índios.

    Este dispositivo tem sido utilizado pela Presidência daFUNAI, por meio de portaria de restrição de uso paraterceiros, como instrumento disciplinar sobre os territó-rios ocupados pelos índios isolados, permitindo que asFrentes de Proteção Etnoambientais (FPE) encontremcondições para realizar os trabalhos de localização des-

    ses índios e de seus territórios, de modo a promoverações de proteção e consequente regularização fundi-ária.

    Na comemoração dos 500 anos de descobrimentodo Brasil, a FUNAI reiterou as diretrizes22 já estabeleci-das no final da década de 1980 durante o I Encontro deSertanistas, nos seguintes termos:

    1. Garantir aos índios isolados o pleno exercí-cio de sua liberdade e das suas atividadestradicionais.

    2. A constatação da existência de índios iso-

    lados não determina, necessariamente, aobrigatoriedade de contatá-los.

    3. Promover ações sistemáticas de campodestinadas a localizar geograficamente eobter informações sobre índios isolados.

    4. As terras habitadas por índios isolados se-rão garantidas, asseguradas e protegidasem seus limites físicos, riquezas naturais,na fauna, flora e mananciais.

    5. A saúde dos índios isolados, consideradaprioritária, será objeto de especial atenção,

    decorrente de sua especificidade.6. A cultura dos índios isolados, em suas diver-

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    sas formas de manifestação, será protegidae preservada.

    7. Proibir no interior da área habitada por ín-dios isolados, toda e qualquer atividade eco-nômica e comercial.

    8. Determinar que a formulação da política es-pecíca para índios isolados e a sua execu-ção, independente da sua fonte de recursos,será desenvolvida e regulamentada pelaFUNAI.

    A importância dessas diretrizes é que estas legitimam amudança de atuação do Estado republicano brasileiro,que antes concebia o contato como premissa de pro-teção. No atual modelo, o Estado tem a obrigação degarantir a opção dos grupos isolados de assim perma-

    necerem, em cumprimento ao que determina a Consti-tuição Brasileira em seu artigo 231.

    Contrapondo-se às conquistas estabelecidas pelaConstituição de 1988, o Estatuto do Índio – promulgadoem 1973 (Lei nº 6001/73) traduzia uma postura ultra-passada do Estado Nacional, pela qual não se reconhe-cia nos índios plena capacidade civil, considerando-osseres incapazes que deveriam ser tutelados enquantonão fossem incorporados à “civilização”.

    Passados 22 anos da promulgação da Constitui-ção, o Legislativo ainda não reviu o Estatuto de forma

    a compatibilizá-lo com o novo texto constitucional. Emagosto de 2009 o Ministro da Justiça protocolou na Câ-

    mara dos Deputados a nova proposta de Estatuto dosPovos Indígenas que se juntou à proposta de Estatutodas Sociedades Indígenas - o Projeto de Lei 2057/91, játramitando no Congresso.

    Face ao reconhecimento por parte do Estado daexistência de grupos indígenas contatados com peculia-ridades relativas à vulnerabilidade diante da sociedadeenvolvente, a FUNAI criou a Coordenação-Geral de Po-vos Recém-Contatados.23

    Em dezembro de 2009, o Presidente da Repúbli-ca editou decreto24 em que estabeleceu o novo Esta-tuto da FUNAI. Por meio deste, a CGII passou a serdenominada Coordenação-Geral de Índios Isolados eRecém-Contatados (CGIRC) ficando, então, responsá-vel também pela implementação da política de proteçãoe promoção dos direitos dos povos recém-contatados.

    Para desenvolver esta política de proteção, asFrentes de Proteção Etnoambiental (FPE), que antesda reestruturação da FUNAI eram compostas por seisunidades, passam, nessa nova conjuntura, a doze uni-dades localizadas nos seguintes estados: FPE Javari(Amazonas - AM), FPE Purus (AM), FPE Juruena (AM,Pará - PA, MT), FPE Envira (Acre - AC), FPE Yanoma-mi (Roraima - RR), FPE Madeira (AM, Rondônia - RO),FPE Guaporé (RO), FPE Uru-Eu-Wau-Wau (RO), FPECuminapanema (PA, Amapá - AP), FPE Médio Xingu(PA), FPE Madeirinha (Mato Grosso - MT) e FPE Awa-

    Guajá (Maranhão - MA).

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    Índio recém contatado da etnia Akunt’su – Foto: Altair Algayer, 2006 – Arquivo FUNAI 

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    2.1 Referência versus Informação deíndios isolados e recém-contatados

    Os bancos de dados com as informações relacio-nadas aos índios isolados e recém-contatados noBrasil são concebidos a partir das informações obtidaspor meio das malhas sociais constituídas de instituiçõespúblicas e da sociedade civil. De maneira geral, cada in- formação  coletada passa por um processo de confirma-ção através de cruzamentos de outros informantes ou

    expedições em campo, o que possibilita validá-la comouma referência  ou mesmo refutá-la. Referência é toda equalquer informação acerca da presença de índios iso-

    TABELA I - REFERÊNCIAS E SUAS FASES DE AÇÃO

      SITUAÇÃO FASES DA AÇÃO DESCRIÇÃO

    REFERÊNCIAEM ESTUDOInformações sobre

    a existência deíndios isolados

    REFERÊNCIACONFIRMADAConfirmadaa presença

    de índiosisolados

    Não trabalhada

    Documentada

    Pesquisada

    Localização

    Monitoramento

    Vigilância eproteção

    Gestãosocioambiental

    Em fase de contato

    Referência esparsa ou pontual sem confirmação. Ainda não trabalhada pelaCGIRC/FUNAI.

    Referência com informações e documentos vindos de mais de uma fonte e/oufonte com trabalho local continuado.

    Levantamento, investigação e pesquisa em campo com intuito de averiguar aprocedência da informação.

    Localização de índios isolados é o desenvolvimento de um conjunto de ativi-dades, por meio de expedições em campo, que visam identicar a posição ge-ográfica (áreas de ocupação); além de toda e qualquer informação e vestígiosque contribuam para a proteção e caracterização da etnia (aspectos físicos, lin-guísticos, culturais e cosmológicos, etno-históricos); como também os possíveisperigos a que os isolados estão expostos.

    O monitoramento consiste em acompanhar, por meio do trabalho da FPE e/oufontes diversas, a dinâmica de ocupação territorial, aumento/decréscimo popu-lacional dos índios isolados, bem como os possíveis riscos (diretos ou indiretos)

    a que o grupo está exposto.Proteção – Conjunto de ações, executadas por meio da localização, monitoramento,vigilância, educação ambiental, gestão socioambiental, tendo como foco a integrida-de física e cultural do índio.Vigilância - Ações rotineiras relacionadas à vigilância do território indígena e seuentorno, tendo em vista o impedimento de invasões e atividades que comprome-tam a sobrevivência física e cultural dos índios isolados e de recente contato.

    Atividade integrante do eixo etnoambiental realizado nas Terras Indígenas (TI)habitadas por índios isolados e de recente contato, com o intuito de levantar asreais disponibilidades de recursos provenientes de seus territórios, a médio elongo prazo, tendo em vista a sobrevivência dos índios.

    A Frente de Proteção Etnoambiental desencadeia metodologia de contato, uma

    vez que a ação tenha sido aprovada pelo Comitê de Gestão (Portaria n˚ 230/FU-NAI/2006).

    lados em uma determinada região do território nacional,devidamente cadastrada no banco de dados da CGIRC.As informações provêm de distintas fontes e referem-sea avistamentos, conflitos, vestígios diversos ou mesmolocalização de aldeias avistadas em sobrevoos.

    Em dezembro de 2006, realizou-se em Brasília aOficina de Planejamento, promovida pela CGIRC, coma participação dos coordenadores e um técnico de cadauma das Frentes de Proteção Etnoambiental e de repre-sentantes convidados do CIMI, CTI, Kanindé e ISA, para

    denirem-se as estratégias de ação dos próximos anos.Nesse evento, definiu-se, também, parte da nomencla-tura para referência, que reproduzimos a seguir:

    2. CONCEITOS E NOMENCLATURA

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    Todo trabalho de sistematização e de atualização dobanco de dados da CGIRC/FUNAI utiliza a referência

    como unidade padrão. Dessa forma, cada frente deproteção é responsável por um determinado númerode referências que, por sua vez, corresponde à deter-minada região geográfica.

    2.2 Quem são os povos indígenasisolados25

    No Brasil, há poucos estudos e pesquisas etnográficas,sobre a história dos povos isolados e recém-contatados.

    A discussão, quase sempre recai sobre o conceitual, apertinência e o contorno do uso dos termos: arredios,autóctones, autônomos, ocultos, isolados, etc.

    Em 1994, a antropóloga Dominique Tilkin Galloispublicou o informativo “De arredios a isolados: pers-pectivas de autonomia para os povos indígenas recém-contatados”, que considera relevante questionar algunsimpasses em que se defronta a política para índios iso-lados no nível conceitual. A obra discorre sobre a ambi-guidade da própria construção da categoria de isolado.A autora questiona: quais fronteiras cercam os isoladose quando deixam de sê-lo?

    A permanência de representações ambíguassobre as noções de isolamento , de autentici- dade e pureza, articuladas à de fragilidade , deinocência   e de marginalidade   condicionam asrelações que historicamente nossa sociedademantém com esses grupos. Ampliar o debateem torno desses conceitos, além do círculo res-trito de especialistas, é um desafio permanentepara a antropologia e especialmente para a et-nologia.26

    REFERÊNCIARECÉM-CONTATADAÍndiosrecém-contatados

    acompanhadospela CGIIRC

    REFERÊNCIACONTACTADA

    REFERÊNCIAREFUTADA

    Contatoestabelecido

    Contatoestabelecido/ não assistido

    Repassado

    Refutada

    Contato estabelecido com estrutura do Sistema de Proteção ao Índio Isoladoe da Coordenação-Geral de Índios Isolados e Recém-Contatados (CGIRC)implantado.

    Contato estabelecido, no entanto a CGIRC ou outra instituição não desenvolvetrabalho permanente. É uma situação existente que não deve ser consideradadentro das fases de trabalho.

    Transferência de responsabilidade dos trabalhos junto aos índios que não maissão considerados de recente contato, da CGIIRC para outra instância da FUNAI.

    Após avaliação do Comitê Gestor, baseando-se no trabalho de levantamento daFPE, chega-se à conclusão de que a informação não tem fundamentação.

    Mais recentemente, a discussão vem tomando corpo,na medida em que setores acadêmicos, governamen-

    tais e da sociedade civil inserem-se em fóruns temáticose contribuem com reexões que ajudam a consolidar umsentido conceitual para índios isolados  e também recém- contatados . De todo modo, os termos isolado  e recém- contatado  não são suficientes para designar categoriasque abrangem grupos ou indivíduos amalgamados porprocessos que os tornam peculiares. Agrega-se a essadiscussão a diversidade de práticas desenvolvidas porsetores da sociedade civil organizada da Colômbia, Bo-lívia, Peru, Paraguai, Venezuela, Brasil e Equador.

    A discussão sobre o uso do termo isolado  engloba

    questões relativas à impossibilidade de existir socie-dades humanas que nunca estabeleceram relaçõescom outra. Daí, a reexão aponta a necessidade de seagregar à discussão, parâmetros que relativizem o iso-lamento frente ao outro.

    D. Ribeiro (1970), com o propósito de analisar asrelações entre sociedades indígenas e frentes de ex-pansão da sociedade brasileira no período de 1900 e1950, definiu quatro etapas (entre assimilação e inte-gração): isolados, contato intermitente, contato perma-nente e integrados. Apesar do referencial, para definiras etapas de classicação ser ou não índio, não deixa

    de ser interessante.Alguns grupos indígenas estabelecem contatos

    seletivos ou, mesmo depois de contatos desastrosos,resolvem voltar à situação de isolamento. Essa situaçãode risco, colocada pelo contato, é condição sine qua non  para o isolamento.

    Diante da falta de um consenso acadêmico, oumesmo de um termo que represente a diversidade decada uma dessas categorias, o pragmatismo do órgãoindigenista oficial decide usar o termo índios isolados,27 atribuindo-lhe o seguinte conceito: “São considerados

    isolados os grupos indígenas que não estabeleceram

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    O documento elaborado como resultado da Consultasobre as Diretrizes de Proteção para Povos IndígenasIsolados e em Contato Inicial da Região Amazônica e doGrande Chaco observa: “para que este princípio tenhaeficácia, faz-se necessária a implementação de políticaspreventivas e de cautela”.31 

    Apesar de ainda não existir, no Brasil, uma deni-ção consensual, bem como uma política pública paragrupos recém-contatados, em fóruns realizados naAmérica do Sul, envolvendo diversos atores sociaise representantes de Estados, vem-se consolidando acompreensão de que vários aspectos, além do tempo-ral, devem ser considerados ao definir índios recém-contatados.

    Nessa definição de índios recém-contatados, umdos aspectos relevantes é o da vulnerabilidade.

    A vulnerabilidade é decorrência de uma relaçãohistórica entre diferentes segmentos sociais epode ser individual ou coletiva. A condição deautonomia reduzida pode ser transitória, maspara eliminar a vulnerabilidade é necessárioque as conseqüências das privações sofridaspela pessoa ou grupo social sejam ultrapassa-das e que haja mudanças drásticas na relaçãoque mantém com o grupo social mais amplo emque são inseridas.

    (...)Quem são, então, os vulneráveis? São pesso-as que por condições sociais, culturais, étnicas,políticas, econômicas, educacionais e de saúdetêm as diferenças, estabelecidas entre eles e asociedade envolvente, transformadas em desi-gualdade. A desigualdade, entre outras coisas,os torna incapazes ou pelo menos, dificultaenormemente, a sua capacidade de livrementeexpressar sua vontade.32

    Ressaltada a condição de vulnerabilidade e sem a inten-

    ção de formular um conjunto de indicadores cartesianos,apresentam-se, a seguir, diferentes aspectos a seremconsiderados, enquanto referência, para sistematiza-ção de metodologia que defina se um grupo indígenaconfigura-se na condição de recém- contatados:

    1. Pós-contato: grupos indígenas imediatamenteapós o estabelecimento do contato intermitenteou permanente.

    2. Temporal: grupos indígenas com um tempo “x” de

    contato estabelecido (intermitente ou permanente).

    3. História e contexto do contato: Os diferentesprocessos vividos pelos grupos indígenas, an-tes, durante e depois do contato são formadoresde consciência coletiva e desencadeiam dese- jos e padrões culturais.

    a. Informações e registros já existentes (quemforam os informantes, como se conseguiu ainformação (sobrevoos, análise de imagensde satélites, expedições uviais ou terres-tres).

    b. Forma, frequência e intensidade do contato(interétnico, avistamentos, etc).

    c. Capacidade de comunicação numa segun-da língua.

    d. Uso e/ou dependência de roupas, bens in-

    dustrializados.e. Novos modos de produção.f. Organização do trabalho.g. Relação com o território: (re) ocupação do

    seu território.h. Volume e formas de apropriação de bens in-

    dustrializados ou manufaturados por outrospovos indígenas já contatados.

    4. Vulnerabilidade:

    a. Compreensão das diretrizes que orientamas relações sociais, econômicas e políticasda sociedade nacional (majoritária, envol-vente, etc.).

    b. Risco de perda da língua.c. Perda ou ameaça grave de livre acesso,

    locomoção e usufruto do seu território (in-vasões, apropriação ilícita do patrimônio,degradação dos recursos hídricos, de faunae flora do seu território.

    d. Perda ou ameaça ao livre exercício de suacultura por decisão/imposição externa.

    e. Exposição a situações extremas de amea-ças a sua integridade física, social ou psico-lógica.

    O termo “recém”, em seu sentido estrito induz a pen-sar em escala cronológica, quando em muitos casos setrata de uma estratégia própria de relação de um grupoindígena com o seu mundo exterior, na qual o temponão chega a ser um elemento definidor.33 

    Considerando-se as premissas anteriores, apresen-ta-se a seguinte conceituação para grupos indígenas

    considerados recém-contatados:

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    São considerados recém-contatados os povosou segmentos indígenas que estabeleceramcontato recente com segmentos da sociedadenacional, bem como grupos indígenas com re-duzida compreensão dos códigos e valores dassociedades nacionais majoritárias para fazerfrente às situações de vulnerabilidade que ame-açam a integridade física, social ou psicológicadesses povos.34

    Tendo em vista a formulação de políticas públicas e me-todologias de trabalhos com grupos isolados e recém-contatados, é oportuno que se defina com maior clarezaas passagens/transições entre isolado, recém-contata-do e contatado (intermitente ou permanente). Este temaserá trabalhado mais adiante.

    Os isolados da cabeceira do Humanitá –Foto: Gleyson Miranda, 2008 – Archivo FUNAI 

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    Os isolados da cabeceira do Humanitá – Foto: Gleyson Miranda, 2008 – Archivo FUNAI 

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    Os isolados da cabeceira do Humanitá – Foto: Gleyson Miranda, 2010 – Archivo FUNAI 

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    Índios recém contatados da etnia Akunt’su – Foto: Altair Algayer, 2006 – Archivo FUNAI 

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    Índios recém contatados da etnia Akunt’su – Foto: Altair Algayer, 2006 – Archivo FUNAI 

    Índios recém contatados da etnia Zo’é – Foto: Mário Vilela, 2009 – Archivo FUNAI 

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    Índios isolados da etnia Korubo – Foto: José Moises Rocha, 2010 – Archivo FUNAI 

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    3.1 Situação atual: 22 anos do Sistemade Proteção ao Índio Isolado

    Após 22 anos de implementação da Política Públicapara Índios Isolados, a CGIRC/FUNAI acumula umconjunto de experiências e reexões que nos coloca dian-te de novos desafios. Atualmente, há oito Terras Indíge-nas demarcadas exclusivamente para índios isolados e/ 

    ou recém-contatados, fato que possibilita o monitoramen-to de grupos indígenas isolados livres da pressão de inva-sores. Voltaremos a este assunto no tópico Desafios.

    Apresenta-se a seguir um conjunto de tabelas e ma-pas com as referências de grupos indígenas isolados erecém-contatados no Brasil, com o intuito de ilustrar aanálise até então desenvolvida.

    TABELA II – REFERÊNCIAS CONFIRMADAS DE ÍNDIOS ISOLADOS

    Cod.

    13

    151617

    18

    19202123

    26

    2730

      Referência

    Hi-Merimã

    Igarapé NauáRio ItaquaíIgarapé Urucubaca

    Igarapé Alerta

    Igarapé InfernoRio BóiaIgarapé LambançaRio Ituí

    Igarapé SãoSalvadorIgarapé CravoXinane e Igarapédo Douro

    UF

    AM

    AMAMAMAM

    AMAMAMAM

    AM

    AMAC

      EtniaHi-MerimãFamíliaLinguística ArawáDesconhecidaDesconhecidaJapáDesconhecida,possivelmenteKulina de Família

    linguística ArawáDesconhecidaDesconhecidaDesconhecidaKorubo (Isolado)Língua panoDesconhecida

    DesconhecidaDesconhecida, possivel-mente Jaminawá-Pano

    Fases da Ação

    Monitorada

    MonitoradaMonitoradaMonitorada

    Monitorada

    MonitoradaMonitoradaMonitoradaMonitorada

    Monitorada

    MonitoradaMonitorada

      Terra Indígena

    Hi-Merimã - Homologada

    Vale do Javari - RegularizadaVale do Javari - RegularizadaVale do Javari - Regularizada

    Vale do Javari - Regularizada

    Vale do Javari - Regularizada---------------------Vale do Javari - RegularizadaVale do Javari - Regularizada

    Vale do Javari - Regularizada

    Vale do Javari - RegularizadaAlto Tarauacá - Homologada

      Frente

    Purus

    JavariJavariJavari

    Javari

    Javari

    JavariJavari

    Javari

    JavariJavari

    3. POVOS INDÍGENAS ISOLADOS ERESPECTIVAS LOCALIZAÇÕES

    3.2 Tabela de referências de Índios  Isolados Confirmadas 

    No Brasil, contabilizam-se 23 referências de grupos indí-genas isolados confirmados, sob a responsabilidade desete Frentes de Proteção Etnoambiental que implemen-tam o Sistema de Proteção. Onze referências localizam-se no estado do Amazonas (AM); cinco, em Rondônia

    (RO); quatro, no Acre (AC); duas, no Maranhão (MA); euma, no Mato Grosso (MT), sendo que destas 23 refe-rências doze são de etnias desconhecidas. 

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    Em relação aos povos considerados recém-contatados,

    somam-se no Brasil sete grupos indígenas das seguin-tes etnias: Korubo, Zo`é, Akunt`su, Tupi Kawahiv, Ka-noe, Suruwahá e Awa Guajá, sob a responsabilidadede seis Frentes de Proteção Etnoambientais que imple-

    31

    32

    33

    394148

    49

    50

    51

    53

    59

    Igarapé Xinane eImbulaRio Jaminawá

    Cabeceira doRio Iaco eRio ChandilesAwá-GuajáTI AraribóiaCautário

    Bananeira

    Serra da Onça

    Massaco

    Índio do buraco/TanaruKawahiva doRio Pardo

    AC

    AC

    AC

    MAMARO

    RO

    RO

    RO

    RO

    MT

    Desconhecida

    Desconhecida

    Masco

    Awá-GuajáAwá-GuajáDesconhecida

    Tupi Kawahiv

    Jururei, TupiKawahivDesconhecida,levantamento dacultura maternal apontapara SirionóDesconhecida

    Tupi Kawahiv

    Monitorada

    Monitorada

    Monitorada

    MonitoradaMonitoradaMonitorada

    Monitorada

    Monitorada

    Monitorada

    Monitorada

    Monitorada

    Kampa e Isolados do RioEnvira - RegularizadoRiozinho do Alto EnviraDelimitada

    Mamoadate - Regularizada

    Caru - RegularizadaAraribóia RegularizadaUru-Eu-Wau-WauRegularizadaUru-Eu-Wau-WauRegularizadaUru-Eu-Wau-WauRegularizadaMassaco - Regularizada

    Tanaru

    Rio Pardo - Em estudo

    Envira

    Envira

    Envira

    Awá-GuajáAwá-GuajáUru-Eu-Wau-WauUru-Eu-Wau-WauUru-Eu-Wau-WauGuaporé

    Guaporé

    Madeirinha

      TOTAL DE REFERÊNCIAS DE ÍNDIOS ISOLADOS CONFIRMADAS 23

    TABELA III – POVOS INDÍGENAS RECÉM-CONTATADOS

    Cod.24

    38

    52

    55

    62

    69

      ReferênciaKorubo do IgarapéQuebradoZo’é

    Akuntsu do valedo Rio OmerêIgarapé dos Índios

    Kanoe do vale doRio OmerêZuruahá

    UFAM

    PA

    RO

    MT

    RO

    AM

      EtniaKorubo, LínguaPanoZo’é

    Akuntsu

    Tupi Kawahiv,denominado pelosGavião dePiripkuraKanoe

    Zuruahã

    Fases da AçãoContato

    estabelecidoContato

    estabelecidoContato

    estabelecidoContato

    estabelecido/ nãoassistido

    Contatoestabelecido

    Contatoestabelecido

      Terra IndígenaVale do JavariRegularizadaZo’é - Declarada

    Rio Omerê - Declarada

    Piripkura

    Rio Omerê Declarada

    Zuruahã Regularizada

      FrenteJavari

    Cuminapanema

    Guaporé

    Madeirinha

    Guaporé

    Purus

    mentam o Sistema de Proteção e Promoção de Direitos.

    Localizam-se nos estados: duas etnias no do Amazo-nas (AM); duas, em Rondônia (RO); uma, no Pará (PA);uma, no Maranhão (MA); e uma, no Mato Grosso (MT).

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    32

    No território brasileiro ainda contabilizam-se 47 referên-cias de grupos indígenas isolados que estão em proces-so ou em vias de levantamentos de dados preliminares,sob a responsabilidade de 12 Frentes de Proteção Et-noambientais que implementam o Subsistema de Loca-

    77 Awá Guajá /Recém-contatado

    MA Awá Guajá Contatoestabelecido

    Awá - Homologada Awá-Guajá

      TOTAL DE REFERÊNCIAS RECÉM-CONTATADAS 07

    TABELA VI – REFERÊNCIAS EM ESTUDO

    Cod.

    1

    2

    3

    456

    7

    89

    101112

    1422

    25

    28

    29

    34

    35

      Referência

    Igarapé Waranaçu

    Rio Uauapes

    Rio Curicuriari

    Igarapé do NatalIgarapé BafuanãBaixo Rio

    CauaburiAlto Rio Alalaú

    Alto Rio JatapuRio Parauari

    Alto Rio CanumãRio MucuimKatawixi

    Igarapé MaburruãRio Pedra

    Rio Quixito

    Igarapé Amburus

    Igarapé Flecheira

    Alto Rio Mapuera

    Trombetas/Mapuera

    UF

    AM

    AM

    AM

    AMAMAM

    RR

    AMRRAMPAAMAMAM

    AMAM

    AM

    AM

    AM

    PA

    PA

      Etnia

    PossivelmenteMakúPossivelmenteMakúPossivelmenteMakúDesconhecidaDesconhecidaDesconhecida

    Pirititi (Denominação

    Waimiri-Atroari)DesconhecidaDesconhecida

    DesconhecidaDesconhecidaConhecida Regional-mente por Katawaixi

    DesconhecidaDesconhecida

    Grupo Falante da

    Língua PanoDesconhecida

    Desconhecida

    Desconhecida

    Desconhecida

    Fases da Ação

    Não Trabalhada

    Não Trabalhada

    Não Trabalhada

    Não TrabalhadaNão TrabalhadaNão Trabalhada

    Não Trabalhada

    Não TrabalhadaNão Trabalhada

    Não TrabalhadaNão Trabalhada

    Pesquisa

    PesquisaNão Trabalhada

    Não Trabalhada

    Não Trabalhada

    Não Trabalhada

    Não Trabalhada

    Não Trabalhada

      Terra Indígena

    Alto Rio NegroRegularizadaAlto Rio NegroRegularizadaAlto Rio NegroRegularizada

    YanomamiRegularizadaWaimiri-Atroari

    Regularizada

    Jacareúba/Katauixi

    Restrição de Uso

    Vale do JavariRegularizadaVale do Javari

    RegularizadaVale do JavariRegularizadaVale do JavariRegularizadaTrombetas/Mapuera Declarada

      Frente

    Yanomami

    Yanomami

    YanomamiJuruena

    JuruenaMadeiraMadeira

    PurusJavari

    Javari

    Javari

    Javari

    Yanomami

    Cuminapanema

    lização. Dezenove referências localizam-se no estadodo Amazonas (AM); cinco, em Rondônia (RO); duas,no Acre (AC); duas, no Maranhão (MA); sete, no MatoGrosso (MT); nove, no Pará (PA); uma, em Goiás (GO);e uma, no Amapá (AP).

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    56

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    6061

    636465666768

    70

    71

    72

    737475

    76

    Rio MapariAlto Amapari

    Riozinho do Anfrizo

    Iriri Novo

    Rio Fresco

    Alto Rio Ipitinga

    Bom FuturoIgarapé Oriente

    Cachoeira do RemoRio TenenteMarques

    Igarapé Bocada MataMédio Rio Branco

    Arara do RioBrancoIgarapé PacutingaPontal

    Norte da TI ZoróIgarapé TapadaJaríSerra do CipóAvá-canoeiroIgarapé Mãode OnçaKaidjuwa

    Mascko-Piro

    Emawenê-Nawé(Rio Iquê)Serra do CachimboUrucumRio Coti

    Serra da Estrutura

    PAAP

    PA

    PA

    PA

    PA

    RORO

    ROMT

    MT

    MT

    MT

    MTMT

    ROACPAMAGOMA

    AM

    AC

    MT

    PAAMAM/ RORR

    DesconhecidaProvavelmenteWaiãmpiDesconhecida

    Desconhecida,Possivelmente KaiapóDesconhecida,Possivelmente KaiapóDesconhecida,possivelmenteWaiana ApalaiDesconhecidaDesconhecida

    Desconhecida

    Desconhecida,possivelmenteNambikuaraDesconhecida

    Desconhecida

    Desconhecida

    DesconhecidaDesconhecida

    Desconhecida

    Awá-Guajá

    Desconhecida

    PossivelmenteMascko-PiroDesconhecida

    DesconhecidaDesconhecidaDesconhecida

    Desconhecida

    Não TrabalhadaNão Trabalhada

    Não Trabalhada

    Não Trabalhada

    Não Trabalhada

    Não Trabalhada

    PesquisaPesquisa

    Não Trabalhada

    Não Trabalhada

    Não Trabalhada

    Não Trabalhada

    Pesquisa

    Não TrabalhadaPesquisa

    Não TrabalhadaNão TrabalhadaNão TrabalhadaNão TrabalhadaDocumentada

    Não Trabalhada

    Documentada

    Documentada

    Documentada

    DocumentadaDocumentadaDocumentada

    Não Trabalhada

    Cachoeira Seca

    (em estudo)MenkragnotiRegularizadaKayapóRegularizada

    Parque do AripuanãRegularizada

    AripuanãRegularizadaArara do Rio BrancoRegularizada

    Zoró Regularizada

    Awá Homologada

    Tenharim MarmelosRegularizada

    Enawenê-NawéRegularizada

    YanomamiRegularizada

    CuminapanemaCuminapanema

    Médio Xingu

    Médio Xingu

    Médio Xingu

    Cuminapanema

    MadeiraUru-Eu-Wau-WauMadeiraGuaporé

    Madeirinha

    Madeirinha

    Madeirinha

    JuruenaJuruena

    MadeirinhaEnviraCuminapanemaAwá-Guajá

    Awá-Guajá

    Madeira

    Envira

    Guaporé

    Jaruena

    Madeira

    Yanomami

      TOTAL DE REFERÊNCIAS EM ESTUDO 47

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    MAPA 2: REFERÊNCIAS DE ISOLADOS, RECÉM-CONTATADOS E EM ESTUDO NO BRASILFonte: FUNAI/2010

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    4.1 A quem compete a ação

    Como exposto neste informativo, a formulação e aexecução da política especíca para índios isola-dos e recém-contatados no Brasil é de competênciaexclusiva do Estado. Apresentaremos, a seguir, a me-todologia desenvolvida pelo órgão indigenista oficial- FUNAI.35

    A FUNAI conta com uma coordenação específicapara desenvolver políticas de proteção e promoçãode direitos aos índios isolados e recém-contatados: aCoordenação-Geral de Índios Isolados e Recém-Con-tatados (CGIRC), instância da Diretoria de ProteçãoTerritorial (DPT), tem como missão assegurar a prote- ção física e cultural dos índios isolados e recém-con- tatados por meio de ações de localização, monitora- mento e fiscalização dos seus territórios, respeitandoa autodeterminação destes povos.36

    A CGIRC, por meio da Coordenação de Índios Iso-lados e Coordenação de Índios Recém-Contatados,coordena os trabalhos de doze Frentes de ProteçãoEtnoambiental (FPE),37  instaladas em oito Estados,com mais de 240 técnicos trabalhando em campo.Cada FPE, constituída conforme características re-gionais, complexidade, número de referências sob suaresponsabilidade, infra-estrutura disponível, é compostapor um coordenador, um auxiliar de coordenação, au-xiliares de campo e equipe de saúde.38 E, ainda, cadaFPE institui tantos Serviços de Proteção Etnoambiental

    (SEPE) quantos forem necessários para o trabalho juntoàs referências de índios isolados e/ou recém-contata-dos, composta de uma equipe sob a responsabilidadedo Chefe de Serviço Etnoambiental.

    O componente etnoambiental , expresso nos no-mes de cada frente de proteção aponta para a ne-cessidade de entender as relações entre etnia e meioambiente. É do território que os índios isolados e re-cém-contatados conseguem todo seu alimento e ma-téria prima para confeccionar a cultura material de quedependem. É também nesse território que os gruposindígenas encontram a relação com sua ancestralida-

    de e cosmologia.

    4. METODOLOGIA DE AÇÕES DE PROTEÇÃOE PROMOÇÃO PARA ÍNDIOS ISOLADOSE RECÉM-CONTATADOS

    4.2 Sistema de Proteção ao ÍndioIsolado e Recém-Contatado:Política Pública de Estado

    A execução da política especíca para estes povos,definida a partir das diretrizes de localização, proteçãoe de contato, é efetuada por meio do Sistema de Pro-teção ao Índio Isolado e Recém- Contatado. Este sedivide em três subsistemas, diferenciando-se entre si,na atuação e na composição:

    • Subsistema de Localização;• Subsistema de Vigilância; e• Subsistema de Contato.

    Estes subsistemas são executados por meio das FPEs,subordinadas à CGIRC, que, como demonstrado ante-riormente, é o órgão da FUNAI responsável pela po-

    lítica de proteção e promoção de direitos dos índiosisolados e recém-contatados. As FPEs têm sob sua jurisdição um conjunto de referências que correspon-de a uma determinada região geográfica. Administra-tivamente, às FPEs são vinculadas as CoordenaçõesRegionais.39

    4.3 Metodologia do Sistema deProteção

    Uma Frente de Proteção Etnoambiental (FPE) é cria-da com o objetivo de implementar um conjunto deações que contribuam com a promoção da missão40

    da CGIRC. Cabe ao Coordenador de cada FPE, soborientação da CGIRC, a supervisão e a coordenaçãodas atividades relacionadas às áreas de atuação deuma frente. De acordo com o contexto e a fase decada referência, a FPE define um plano de ações,considerando as seguintes áreas de atuação: Gestãoe Planejamento; Localização e Monitoramento; Prote-ção e Vigilância; Educação Etnoambiental; ProcessoEducativo e Intercâmbio; Infraestrutura; Promoção dos

    direitos dos Índios Isolados e Recém-Contatados; Co-

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    municação e Sistematização; Capacitação; Saúde eAcordos de Convivência, como será exposto a seguir:

    4.3.1 Gestão Pública

    Uma vez que as ações de uma Frente de Proteçãoinserem-se no contexto da administração pública, suagestão compreende a coordenação das atividades nasseguintes dimensões:

    • Administrativa  - As ações relacionadasaos índios isolados e recém-contatadossão coordenadas pela CGIRC, que pormeio das Frentes de Proteção Etnoam-biental (FPE), Coordenações Regionais

    (CRs) e Serviços de Proteção Etnoambien-tais (SEPEs) desenvolvem as ações admi-nistrativas.

    • Institucional  - As ações desencadeadaspela CGIRC e FPE, junto a outras institui-ções, tendo em vista a promoção da mis-são da CGIRC.

    • Pessoal  - As ações desencadeadas pelaCGIRC e Frentes, junto aos integrantesda equipe, tendo em vista a qualidade dotrabalho e o bem-estar do grupo. Ressalte-

    se a necessidade de se instituir com osintegrantes das FPEs “acordos de condu-ta”, principalmente daquelas frentes quetrabalham com índios recém-contatadospara nortear a relação dos integrantes dasequipes da FUNAI, FUNASA, visitantes,pesquisadores e equipes da mídia falada,escrita e televisiva, entre si e com os índiosem questão.

    • Planejamento - Em sintonia com a Políticapara Índios Isolados e Recém-Contatados,cada FPE deve promover o planejamento

    anual de forma participativa, contribuindopara o fortalecimento do espírito colabora-tivo e propositivo.

    • Orçamento  - Cada FPE encaminha pro-posta de orçamento detalhado trimestral-mente, de modo a possibilitar a realizaçãodas atividades previstas.

    • Infraestrutura - Compete aos integrantesda equipe a guarda e o zelo de todo equi-pamento e infra-estrutura pertencentes aopatrimônio do SEPE.

    Sistematização  - Compreende o registrode todo o trabalho da frente, tendo em vista

    a gestão da administração pública e a ins-trução de processos que resultem na pro-moção dos direitos indígenas, tais como:a ação de outros órgãos públicos comoInstituto Brasileiro do Meio Ambiente e dosrecursos Naturais Renováveis (IBAMA),41 Polícia Federal, Ministério Público Federal eórgãos estatais de saúde, etc. bem como aabertura de processos para se garantir a re-gularização fundiária do território indígena.

    4.3.2 Localização e Monitoramento42

    A Localização  como parte integrante do subsistema delocalização consiste em levantamentos de informações

    por meio de pesquisas e expedições em campo, quevisam identificar, além da posição geográfica (áreas deocupação), toda e qualquer informação e vestígios quecontribuam para a proteção e caracterização da etnia(aspectos físicos, linguísticos, culturais, cosmológicos,etno-históricos), do território ocupado e identificar pos-síveis perigos a que os isolados estão expostos.

    As Frentes atuam em regiões onde existem refe-rências de índios isolados, desenvolvendo expediçõesde pesquisa em campo para identificar vestígios e co-nhecimento das áreas de mobilização indígena, levan-

    tamento etno-histórico, bem como ações de proteçãoe vigilância do território ocupado pelos índios, de modoa consolidar todo o processo de definição da terra in-dígena em questão.

    O trabalho de localização é lento, não menos quetrês anos por referência, e exige equipe especializadaem identificar vestígios dos indígenas na selva que, emmuitos dos casos, procuram camuflá-los daqueles queinvadem seus territórios. As ações em campo devemser extremamente cautelosas e precedidas de levanta-mentos que garantam que a região a ser expedicionadanão está em uso pelos isolados no momento da expedi-

    ção. O registro das informações, por meio de todos osrecursos possíveis, é fundamental para a comprovaçãoe definição da Terra Indígena (TI). Atualmente, tem-semostrado muito eficiente e facilitador de obtenção deinformações o uso de soluções em geotecnologias, taiscomo: sensoriamento remoto, sistemas de informaçãogeográfica (SIG), cartografia digital, sistema de posicio-namento global (GPS), entre outros.

    O trabalho de localização constitui-se de ações de-senvolvidas por equipes experientes e é revestido deextrema cautela. Para se obter toda e qualquer infor-

    mação acerca do grupo isolado, é necessário realizarexpedições de campo com o intuito de mapear a malha

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    de caminhos usados pelos indígenas para seus deslo-camentos entre aldeias, para regiões de caça e coleta(de alimentos e matéria prima para confecção da cultu-ra material), locais de roças, etc. Enquanto estratégia,é de fundamental importância que a equipe de loca-lização compreenda as dinâmicas de deslocamentossazonais43  para que possa expedicionar numa deter-minada região recentemente abandonada pelo grupoindígena isolado. Neste caso é possível obterem-seinformações recentes.

    Uma vez desencadeado o trabalho de localização, já é possível identificar os possíveis perigos ou fatoresvulnerabilizantes a que o grupo indígena isolado estáexposto (se necessário, aciona-se a equipe de vigilân-cia). Ao mesmo tempo, inicia-se à distância o trabalhode monitoramento das informações coletadas, como

    por exemplo: uso do solo para feitio de roças, uso devaradouros (malha viária), construção e arquitetura dealdeias (números de tapiris), locais de caça, ocupaçãoterritorial, usos de tecnologias próprias, etc. Os dadosobtidos por meio do monitoramento qualificam as in-formações obtidas no trabalho de localização, bemcomo apontam novas compreensões acerca da culturae cosmovisão do grupo isolado em questão.

    O monitoramento, ainda como componente do sub-sistema de localização, consiste em acompanhar juntoaos índios isolados e recém-contatados a dinâmica de

    ocupação territorial, a densidade populacional, etc.,bem como perceber os possíveis riscos (diretos ou in-diretos) a que o grupo está exposto.

    Dessa forma é possível avaliar se o trabalho daFPE está contribuindo para assegurar as condiçõesnecessárias para a sobrevivência física e cultural dogrupo indígena isolado ou recém-contatado.

    A seguir apresentaremos algumas etapas necessáriaspara o bom desempenho de um trabalho de localiza-ção e monitoramento de grupos indígena isolados. Aobservância dessas etapas depende da urgência e

    disponibilidade de meios para realizá-la.

    A. Antes de iniciar o trabalho de localização em cam-po é preciso que seja realizado o levantamentodas referências da região, como:1. Etno-história;2. Complexo cultural da região;3. Complexo linguístico;4. Cultura material;5. Mapas, imagens de satélite, e outros;6. Levantamento da ocupação por não índios;

    7. Frentes econômicas (extrativismo, empreendi-mentos públicos e privados).

    B. É importante coletar informações acerca da histó-ria da relação entre índios e não índios da região;

    C. O levantamento dos dados anteriores leva-nos aosinformantes regionais ou indígenas. É necessárioprocurar essas fontes primárias para confirmarmosou refutarmos tais informações. O roteiro que sesugere para este trabalho é:

    1. Planejar a entrevista (gravar, filmar, anotar,etc.).

    2. Não fazer pergunta que induz a resposta (Porexemplo: os índios que você viu estavam nus?Eram grandes? Usavam arco e flecha? etc. Oideal seria perguntar: Como eram os índios

    que você viu? O que você mais notou neles?Eles levavam alguma coisa?).

    3. Combinar de ir até o local do vestígio com oentrevistado/informante:a. No caso de o vestígio encontrar-se em

    região de ocupação recente, é necessárioum planejamento cauteloso.

    b. Interferir o mínimo possível no local do ves-tígio.

    c. Não deixar nada no local, como lixo, por

    exemplo.d. Cuidado com objetos que podem transmitirdoenças.

    e. Fazer o máximo de registros possíveis(foto, vídeo, anotações, etc.).

      4. Acampamentos indígenasa. O local dos vestígios de ocupação humana

    é um sítio arqueológico. Não se deve inter-ferir neste espaço, pois, nele encontram-seinformações que ajudarão a entender ogrupo isolado, portanto:

    1. Não mudar os objetos de posição. Aobservação da disposição dos mesmosfornecerá importantes informações:•  Observar o uso e o local do fogo.•  Locais de pernoite.•  Resíduos alimentares e de materiais

    usados para confeccionar objetos.2. Não retirar material do sítio arqueológi-

    co, apenas filmar ou fotografar.3. Atentar-se para registrar, inclusive a

    localização:•

      Cultura material.•  Arquitetura.

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    •  Cultura alimentar.•  Malha viária (varadouro/caminhos)

    e direções.•  Localização do acampamento: indi-

    que uma referência de preferênciacom GPS.

    4. É importante que se faça uma varredu-ra num raio de no mínimo um quilôme-tro, com o intuito de descobrir informa-ções acerca da coleta de material paraconstrução dos tapiris, coleta de frutase mel, resíduos alimentares, varadou-ros (trilhas), local de banho e captaçãode água, caminhos para roça (se foremagricultores), etc.;

    5. Obter informações referentes à tec-

    nologia do corte de madeira, da cons-trução dos tapiris, da manufatura dealimentos, da coleta de mel, do fabricode instrumentos (flecha, arco, redes,panelas, etc.), emplumação e encas-toamento (embutir) das pontas das fle-chas, etc.

    4.3.3 Proteção e Vigilância44

    A proteção   e a vigilância , como parte integrante doSubsistema de Vigilância, compreendem ações quegarantam “aos índios isolados e recém-contatadoso direito de assim permanecerem, mantendo a inte-gridade de seu território, intervindo apenas quandoqualquer fator coloque em risco a sua sobrevivência eorganização sócio-cultural”.45 

    As ações voltadas à proteção   relacionam-se comas executadas na localização, monitoramento, educa-ção etnoambiental, gestão etnoambiental, entre outras,cujo foco é a qualidade de vida do índio. Por outro lado,as ações de vigilância  são voltadas à proteção do terri-

    tório indígena e seu entorno, tendo em vista o impedi-mento de invasões e atividades que comprometam ascondições necessárias de sobrevivência física e culturaldos índios isolados e de recente contato. A vigilânciatem como foco a qualidade do território e seu entorno.

    O trabalho desenvolvido na fase da localização  e oumonitoramento  compõe as condições objetivas a que ogrupo isolado está submetido. O avanço das fronteiraseconômicas e missionárias, nas regiões onde existemíndios isolados, obriga as FPEs a acelerarem os le-vantamentos sobre localização desses índios. Assim,

    é possível criar uma barreira e proteger os índios iso-lados ou de recente contato e seu habitat dos impactos

    causados pelos segmentos despreparados para o con-tato (missionários, madeireiros, garimpeiros, grileiros,caçadores, pescadores, grandes projetos, etc.).

    A metodologia desencadeada nas ações de vigi-lância e proteção deve estar em consonância com alegislação indigenista e ambiental brasileira, espe-cialmente em relação às normas e procedimentoscabíveis à atuação possível dos servidores públicos.Instituições que, por meio de cooperação, atuam juntoàs frentes de proteção devem agir pautadas nas orien-tações do Coordenador da Frente, conforme a legisla-ção pertinente.

    4.3.4 Promoção dos direitos doÍndio Isolado e Recém-

      Contatado

    É o resultado de um conjunto de iniciativas que tem opropósito de melhorar a qualidade de vida dos indíge-nas por meio do desenvolvimento de ações nas áreasde saúde, educação etnoambiental, na perspectiva daeliminação dos fatores vulnerabilizantes, seja no âmbi-to de seus territórios, bacias hidrográficas, populaçõesdo entorno, etc.

    4.3.5 Educação EtnoambientalParte integrante de ações voltadas à promoção dosíndios isolados e recém-contatados compreende ini-ciativas no campo da gestão socioambiental, que temcomo alvo o fomento de comportamentos dos integran-tes da equipe da FPE, equipes parceiras e de gruposindígenas que compartilham o mesmo território ou mo-ram no entorno da Terra Indígena - TI. A educação et-noambiental deve ser estendida à população não índiaque habita o entorno ou próxima das terras ocupadaspor grupos isolados ou recém-contatados.

    Cada vez mais, os efeitos do desequilíbrio cau-sado pelos modelos que mercantilizam a natureza eo ser humano aproximam-se dos territórios ocupadospelos isolados e recém-contatados. A garantia, ape-nas territorial, não é suficiente para promover a pro-teção dos índios isolados e de recente contato.

    4.3.6 Processo educativo eintercâmbio

    Como parte integrante de iniciativas voltadas à pro-moção dos grupos recém-contatados, o processo

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    educativo e de intercâmbio é composto de açõesconcebidas para dar respostas às questões surgidasda relação cotidiana da equipe com os grupos re-cém-contatados. Inserem-se, nesse contexto, açõesplanejadas para dar resposta às demandas dos indí-genas, bem como as necessárias para promover asuperação, dos efeitos dos fatores vulnerabilizantesque comprometem a sobrevivência física e culturaldos indígenas.

    A relação das equipes das FPEs com grupos re-cém-contatados, no seu cotidiano, desencadeia umarelação de trocas de bens materiais e imateriais, cons-tituindo-se um processo educativo informal definidorde novos padrões comportamentais. Mudança essaque, na maioria das vezes, passa desapercebida paraa equipe e gestores.

    Com a perspectiva de disciplinar as relações dasequipes com os recém-contatados, as FPEs têm insti-tuído regras de convivência, no entanto, com o passardos anos, as regras não atendem mais às necessi-dades de novos contextos surgidos da relação entreíndios e não índios. Essas regras passam, então, aser descumpridas antes que os gestores identifiquema necessidade de reavaliar os padrões e talvez instituirnovos acordos de condutas.

    A reexão das práticas desenvolvidas com gruposconsiderados recém-contatados aponta para a neces-

    sidade de se instituir, desde os primeiros momentosdo contato, processos educativos e intercâmbios, ini-cialmente com as equipes das FPEs. Deve fazer partedesse processo educativo a perspectiva de se estabe-lecer intercâmbio entre os índios recém-contatados eoutras etnias com histórias de contato já estabelecida,bem como com a população não indígena do entorno.Este processo educativo e de intercâmbio deve serpautado no princípio da autodeterminação dos povosindígenas, bem como na sustentabilidade e no princí-pio da precaução.

    4.3.7 Comunicação

    Cada FPE deve conceber um plano de comunicaçãoque apresente, informe e divulgue a política de pro-teção para os índios isolados e recém-contatados.Este trabalho deve ser voltado às comunidades in-dígenas contatadas e aos não índios. No âmbito dacomunicação, a FPE deve ter como meta estratégica oaprendizado da língua indígena do grupo isolado e/ourecém-contatado com o objetivo de estabelecer uma

    comunicação plena, evitando dessa forma a imposiçãoda língua não indígena.

    4.3.8 Capacitação

    Consiste em implementar programas de capacitaçãocontinuada nas mais diversas áreas, por meio de cur-sos e intercâmbios que qualifiquem os trabalhadoresdas FPEs.

    4.3.9 Saúde

    Desde a década de 1990, a definição da política e dasações de saúde, para a população indígena no Brasilé de competência do Ministério da Saúde, sendo quecabe à FUNAI o acompanhamento da implementa-ção dessa política. Em 2010, foi criada a SecretariaEspecial de Saúde Indígena (SESAI),46 no âmbito do

    mesmo ministério. O órgão também será responsávelpelas ações de saneamento básico e ambiental dasterras indígenas.

    Dada as especificidades, peculiaridades e vulne-rabilidades dos grupos indígenas isolados e recém-contatados, é necessário estabelecer uma políticaespecífica e diferenciada para prevenção de doençase promoção da saúde desses índios.

    Neste sentido, a CGIRC tem realizado gestões jun-to à Comissão Intersetorial de Saúde Indígena (CISE)para que faça gestão junto à SESAI, com a finalidade

    de se institucionalizar uma política de promoção desaúde para os índios recém-contatados e proteçãoda saúde dos índios isolados, pautada nos seguintestermos:

    a) criação do Serviço Especial de Atenção à Saú-de dos Índios Isolados e de Recente Contatocom equipamentos e pessoal de saúde capa-citados para trabalhar de acordo com a espe-cificidade do grupo étnico, em todas as TerrasIndígenas onde houvesse povos indígenas nasituação de contato;

    b) regulamentação de ações e procedimentos deprevenção e de assistência à saúde de povosindígenas isolados e de recente contato, bemcomo para as populações indígenas e não in-dígenas circunvizinhas, para identificação depossíveis riscos oferecidos pelas populaçõeslimítrofes às terras dos povos indígenas iso-lados e de recente contato, tomando junto aoSUS, as medidas cabíveis;

    c) capacitação com a equipe técnica de saúde,etnólogos e indigenistas para a definição de

    procedimento que agregue a medicina tradi-

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    41

    cional indígena, xamanismo, pajelança, res-guardos, proibições alimentares, etc. junto àmedicina alopática;

    d) imunização dos componentes das equipes desaúde e comprovação de que estão gozandode perfeito estado de saúde;

    e) designação de equipe de saúde xa e sele-cionada por uma equipe composta por repre-sentante do Distrito de Saúde Especial Indíge-na - SESAI e da Coordenação da Frente deProteção Etnoambiental para atuar em gruposrecém-contatados;

    f) capacitação de equipe de saúde em noções deantropologia, linguística, etno-história, políticapara índios isolados e de recente contato e ou-tros temas que se fizerem necessários;

    g) priorização, como urgências médicas, das epi-demias e surtos entre os povos isolados e derecente contato, em face do alto grau de mor-bidade e rapidez com que se propagam;

    h) observação, no caso de remoção, da relevân-cia do acompanhamento, do local de interna-ção, da alimentação diferenciada e, sobretudo,da agilidade no processo de deslocamento eatendimento;

    i) permanência dos agentes de saúde junto àcomunidade indígena por, no mínimo, 48 ho-

    ras após a realização de ações de imunização,observando possíveis efeitos colaterais; j) em face das circunstâncias de acesso, distân-

    cia e dificuldade de comunicação, as equipesde saúde das Frentes de Proteção Etnoam-biental deverão estar supridas de medicamen-tos adequados, em quantidade suficiente paraprestar os primeiros atendimentos, principal-mente nas situações de epidemias;

    k) proibição dos membros da equipe que atua junto aos povos indígenas isolados e de recen-te contato de efetuarem doações ou troca de

    objetos ou substâncias quaisquer aos índios,particularmente produtos alimentícios e ves-tuários, que podem constituir-se em vetoresde contaminação de doenças ou que geremdependências e/ou ocasionem mudanças dehábitos alimentares; e

    l) respeito aos usos, práticas e costumes dacultura indígena dos grupos isolados ou derecente contato, particularmente quanto à suaexposição corporal, sua língua, suas relaçõesfamiliares, seus padrões estéticos e sua cos-

    mologia, devendo-se evitar quaisquer tipos de

    interferências diretas que repercutam negati-vamente junto à comunidade indígena.

    4.3.10 Subsistema de contato

    O contato interétnico configura-se, necessariamente,como a relação entre um indivíduo ou grupo com ooutro a que não pertence ou que não é reconhecidocomo seu. Essa relação, seja intermitente, frequenteou mesmo permanente pressupõe que, no mínimo,uma das partes deseja que o contato se efetive. Asformas e motivações do contato são diversas, porém,é obrigação de uma Frente de Proteção Etnoambien-tal estar preparada para umas das seguintes possi-bilidades:

    •  o grupo isolado decide-se por efetivar o con-tato, seja com a equipe da frente de proteção,seja com regionais, seja com indígenas já con-tatados, ou com segmentos da frente expan-sionista, etc.;

    •  não indígenas ou indígenas já contatados pro-movem o contato forçado, ou

    •  o Estado decide por induzir o contato, umavez que o grupo isolado encontra-se exposto auma condição de risco irreversível, de tal modo

    que os coloca em situação iminente de genocí-dio.47 

    Diante dessas situações, o Estado deve ser acionado,por meio das Frentes de Proteção Etnoambiental, demodo a mobilizar as equipes de contato para desenca-dear as medidas que o caso exige.

    As ações pertinentes ao contato pressupõem umametodologia diferenciada com equipes experientes notrato com grupos indígenas em situação de primeiroscontatos; equipe especializada em saúde com povosrecém-contatados; pessoas com capacidade de: mobi-

    lidade e orientação na selva (mateiros48); comunicação(intérpretes); e toda uma infraestrutura necessária asituações emergenciais.

    4.3.11 Frentes de proteçãoetnoambiental

    Apresentam-se, a seguir, as doze Frentes de ProteçãoEtnoambiental, suas áreas de atuação, localização ad-ministrativa e as referências de índios isolados e/ou

    recém-contatados sob suas responsabilidades.

  • 8/16/2019 0506_informe_10f

    43/66

    42

    NOME

    SIGLA

    DESCRIÇÃO

    SERVIÇOS

    REFERÊNCIASDE ISOLADOS

    REFERÊNCIAS DERECÉM-CONTATADOS

    EQUIPE

    UNIDADE DAFEDERAÇÃO

    NOME

    SIGLA

    DESCRIÇÃO

    SERVIÇOS

    REFERÊNCIASDE ISOLADOS

    REFERÊNCIAS DERECÉM-CONTATADOS

    EQUIPE

    UNIDADE DAFEDERAÇÃO

    NOME

    SIGLA

    DESCRIÇÃO

    SERVIÇOS

    REFERÊNCIAS

    DE ISOLADOS

    Frente de proteção etnoambiental Awa Guajá

    FPE Awa Guajá

    Localizada na região oeste do estado do Maranhão (MA), é responsável pela proteção da TerraIndígena Caru, com uma área regularizada de 172.667,38 ha; pela Terra Indígena Araribóia comuma área regularizada de 750.649,27 ha; e, pela Terra Indígena Awá com uma área regulariza-da de 116.582,92 ha.

    SEPE Juriti

    Nº 39 (Awá-Guajá), nº 41 (Araribóia), nº 68 (Igarapé Mão de Onça) e nº 66 (Serra doCipó)

    Nº 77 (Awá-Guajá-Juriti, Aure-aurá, Tiracambu Awá)

    01 (um) Coordenador de FPW, 01 (um) Chefe de Serviço, 05 (cinco) Auxiliares emIndigenismo

    Maranhão (MA)

    Frente de Proteção Etnoambiental Cuminapanema

    FPE Cuminapanema

    Localizada no estado do Pará (PA), é responsável pela proteção da referênc