(07) Doutrina de Deus (Teísmo)

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A Doutrina de Deus

Pr. Mateus Duarte

FEST – Filemom Escola Superior de Teologia

“Formando Obreiros Aprovados”

DEUS E SUA TRIUNIDADE

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A Doutrina de Deus

Pr. Mateus Duarte

“Quem compreende a Trindade Onipotente? E quem não fala dela, ainda que a não

compreenda?” 1

I – O CONHECIMENTO DE DEUS

fato que Deus não pode ser plenamente conhecido por ninguém (Sl. 139: 6;

145: 3; Rm. 11:33), tudo que podemos conhecer de Deus é porque Ele quis nos

manifestar (Mt. 11: 27; Rm. 1:19). Não é a sabedoria humana que faz Deus

conhecido, mas a revelação (1 Co. 1:21; 2: 14; 2 Co. 4: 3-4). Isto porque o finito não

pode compreender o infinito. Para alcançar o conhecimento de Deus dependemos

das Escrituras Sagradas. O reformador João Calvino considerava que para o homem

é impossível investigar as profundezas do Ser de Deus. “Sua essência,” diz ele, “é

incompreensível de tal maneira que sua divindade escapa completamente aos sentidos

humanos”. Não é que os Reformadores Protestantes negassem que o homem pode

saber algo da natureza de Deus por meio da criação, mas afirmavam que o homem só

pode adquirir verdadeiro conhecimento de Deus pela Revelação Especial, sob a

iluminadora influência do Espírito Santo. 2 Sem a revelação o ser humano jamais

seria capaz de adquirir qualquer conhecimento de Deus, pois só o Espírito Santo

pode dar esse conhecimento (1 Co. 2:11). Assim, só com a Bíblia podemos conhecer

coisas verdadeiras acerca de Deus, e essa é a glória do ser humano (Jr. 9: 23-24).

Portanto, é, sobretudo pelas Escrituras, que nos guiaremos neste estudo.

1 AGOSTINHO, Santo. Confissões (XIII, 11).

2 BERKHOF, L. Teologia Sistematica, 3ª d. (Grand Rapids: T.E.L.L., 1976), p. 32.

É

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Mas, por que conhecer Deus? O conhecimento de Deus se faz necessário,

porque é só conhecendo o objeto da nossa adoração, que saberemos como nos

relacionar corretamente com Ele, como obedecê-lo e adora-lo (Vd. Jo. 4: 19-24).

Se Deus não é conhecido, não pode ser obedecido; porque a obediência é sempre baseada sobre o conhecimento. Quando a alma é abençoada com o conhecimento de Deus, descobre que este conhecimento é vida (João 17:3), e vida é poder; e quando se tem pode-se agir. 3

II-A EXISTÊNCIA E O SER DE DEUS.

a) A existência de Deus.

Uma primeira coisa a ser notada é que a Bíblia não se preocupa em tentar

provar que Deus existe. A Bíblia já pressupõe que uma pessoa de sã consciência, não

negará a existência do Ser criador, e que a criação é um testemunho incontestável

dEle (Gn. 1:1; Sl. 19: 1-2; 14:1; Rm. 1: 18-20).

a.1) As provas tradicionais da existência de Deus.

Durante a história algumas pessoas se viram compelidas a desenvolver

argumentos racionais para explicar a existência de Deus, fazendo frente aos

incrédulos. Os argumentos mais conhecidos são:

Argumento Ontológico – Este argumento diz que o ser humano tem a

idéia de um ser absolutamente perfeito, e que a existência é uma

característica essencial da perfeição, ou seja, um ser para ser perfeito

tem que existir. E esse ser perfeito seria Deus.

3 MACKINTOSH, C.H. Estudos no Livro do Êxodo,2ª ed. (Lisboa: Depósito de Literatura Cristã, 1978). P. 67.

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Argumento Cosmológico – Declara este argumento que tudo o que

existe no mundo tem uma causa, sendo assim, também o universo

inteiro (o cosmos) deve ter uma causa, e uma causa infinitamente

grande, portanto essa causa seria Deus.

Argumento Teleológico4 – Este argumento afirma que todo o universo

uma ordem, uma inteligência, uma harmonia e um desígnio / objetivo.

Isto mostraria então a existência de um ser inteligente que planejou

tudo isto que os nossos olhos contemplam, portanto, Deus.

Argumento Moral – Diz este argumento que o reconhecimento pelo ser

humano de um bem supremo, e sua busca do ideal moral exige e

necessita da existência de um Deus que converta esse ideal em

realidade.

Argumento Histórico – Este argumento diz que em todas as tribos e

povos do mundo se encontra um sentimento do divino, uma forma de

culto, e isto deve pertencer a natureza própria do homem. E se a

natureza humana tem essa inclinação para a adoração religiosa, isto só

se explica com a existência de um ser superior que deu ao ser humano

uma natureza religiosa.

b) O SER (a natureza) de Deus.

4 A palavra grega télos tem entre os seus significados o de: realização, cumprimento, meta (RUSCONI, Carlo.

Docionário do Grego do Novo Testamento. São Paulo: Paulus, 2003), p. 453.

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“Deus, o Soberano Proprietário do Universo, é espírito, eterno, infinito e imutável em

sabedoria, poder, santidade, justiça, bondade e verdade”.5

É claro que não se pretende aqui dissecar a natureza divina, isso seria impossível,

apenas vamos dar uma olhada em como a Bíblia revela um pouco da natureza da

Divindade, sem querer ser exaustivo.

Deus é Infinito (Ex. 3: 14-15; Sl. 90:2).6 Ele é um ser absoluto. Não provém,

nem é condicionado por coisa alguma. É a causa de tudo, e é livre de qualquer

fronteira / limitação.

Deus é espírito (Jo. 4:24). Por ser um espírito Ele não é um ser corpóreo,

material. Deus não possui as propriedades da matéria7, porque um espírito

não tem estas propriedades (Lc. 24: 37-39) e, portanto, jamais pode ser

discernido pelos sentidos físicos (Jo. 1:18). Por esta causa, é expressamente

proibido na Bíblia, fazer imagens e representações de Deus (Êx. 20: 4; Rm.

1:23-25).

Deus é Pessoal 8 (Jo. 1:18; 10:30; 1Jo. 4:8). Isto significa que Deus tem mente,

vontade, é inteligente, possui razão, autoconsciência, individualidade,

autodeterminação. Por isso, erra todo movimento que confunde Deus com

uma força, uma energia, um poder, ou coisas semelhantes.9

5 Artigo 4° da Breve Exposição das Doutrinas Fundamentais do Cristianismo (Confissão de Fé dos

Congregacionais brasileiros). 6 Para detalhes sobre o nome de Deus revelado em Ex. 3: 14-15, vd.: DEISSLER, Alfons. O Anúncio do Antigo

Testamento (São Paulo: Paulinas, 1984), pp. 43-46. 7 Os Mórmons têm a esse respeito um ensino que contraria frontalmente as Escrituras, segundo as suas

“revelações” modernas eles dizem que Deus Pai tem um corpo de carne e osso como Jesus Cristo teve (Vd.: O

Livro de Mórmon, Guia Para Estudo das Escrituras, tópico Trindade). 8 “Quem se sente ligado à Palavra da Bíblia, embora reconhecendo a necessidade de adaptar sua mensagem à

mentalidade moderna, não pode deixar de „representar-se‟ Deus de forma pessoal, e, portanto, ele mesmo deve

relacionar-se com este Deus-pessoa”.DEISSLER, Alfons. p. 41. 9 Vd. LLOYD-JONES, Martyn. Deus o Pai, Deus o Filho (São Paulo: PES, 1997), pp. 74-79.

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Deus é puro / santo (Lv. 11:44; Is. 6:1-3; 1Jo. 1:5-6). Isto significa que Ele é

essencialmente (na sua natureza) puro, não existe mal em seu ser. Ele é

completamente santo (Sl. 77: 13).

III – OS ATRIBUTOS (QUALIDADES) DE DEUS.

Passaremos a considerar a revelação das qualidades de Deus dividindo-as em

duas seções: atributos INCOMUNICÁVEIS e COMUNICÁVEIS.

a) Atributos Incomunicáveis. Estas são aquelas qualidades que só Deus tem. São

as seguintes:

Deus é eterno (Sl. 90: 2; 1 Tm. 6:16). Ele é sem começo nem fim. É

autônomo, independente, e não precisa de nada para existir e se

satisfazer (At. 17: 24-25). Mesmo assim, Ele se alegra com o bom serviço

de Suas criaturas (Is. 43:7; Ef. 1:11-12; Ap. 4:11). Sendo eterno Deus

percebe o tempo com igual realismo, para Ele sempre é presente, não

tem passado, nem futuro (90: 4; 2 Pd. 3:8).

Deus é imutável (Sl. 102: 25-27; Is. 46: 9-11; Tg. 1: 17). Ele é invariável,

não pode ser diferente na sua essência: “Eu sou o que Sou” (Ex. 3:14). O

seu caráter não muda, agora, o seu procedimento com as pessoas pode

mudar (Gn. 6:6; Jn. 3:3:10). Mas, tudo isso que para nós parece

mudança, já está previsto no Seu eterno conselho, Sua vontade (Ef.

1:11).

Desde toda a eternidade, e pelo sapientíssimo e santíssimo conselho de sua própria vontade, Deus ordenou livre e imutavelmente tudo quanto acontece; porém, de modo tal que nem é Deus o autor do pecado, nem se faz violência à vontade das

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criaturas, nem é tirada a liberdade ou contingência das causas secundárias, antes são estabelecidas.10

E os textos como Gn 6:6; Ex. 32:9-14; Is. 38: 1-6; Jn. 3: 4,10, que parecem mostrar

que Deus muda de idéia, se arrepende? Sim, parece, mas, não é isso que acontece.

Estes textos mostram a atitude de Deus diante da situação que existe naquele

momento. O autor bíblico não está sondando o secreto conselho de Deus, os seus

decretos, ele esta vendo a situação no momento que está acontecendo naquele

instante, e usa uma linguagem que se chama antropomórfica, isso para fazer o ser

humano entender como Deus se sentia com a rebeldia das pessoas naquele momento.

Textos assim não podem ser interpretados literalmente, como também as passagens

seguintes: Ex. 33:20; Dt. 8:3; Is. 30:27; Hb. 4:13.

Deus é onisciente (Jó 37: 16; Pv. 15:3, Hb. 4:13). Ele conhece todas as

coisas ao mesmo tempo. A. A. Hodge explica como isso se dá:

Conhecemos as coisas sucessivamente, como elas se nos apresentam e quando passamos inferencialmente do conhecido para o antes desconhecido; Deus conhece todas as coisas eternamente por uma intuição direta e toda compreensiva. Nosso conhecimento é dependente; o de Deus é independente. O nosso é fragmentário; o de Deus é total e completo. 11

Deus é onipotente (Gn. 17:1; Lc. 1:37; 2Co. 6:18; Ef. 1:11). Ele faz

acontecer tudo o que quiser, sempre!

Deus é onipresente (Sl. 139: 7-10; Jr. 23:23,24; Am. 9:1-4). Isto

significa que Deus está presente em toda parte. O ser humano não

pode se esconder de dEle, pois já vimos que Ele é onisciente (sabe

tudo), e vemos que Ele é onipresente, Sua presença enche todos os

lugares, para Deus não existem dimensões espaciais.

10

Confissão de Fé de Westiminster (Cap. III, séc. I). Para detalhes sobre esta confissão vd.: KERR, Guilherme. A

Assembléia de Westiminster, 2ª ed. (São Paulo: FIEL, 1992). 11

HODGE, A. A. Confissão de Fé de Westiminster Comentada (Os Puritanos, 1999), p. 81.

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b) Atributos Comunicáveis. Essas qualidades de Deus as pessoas também

podem ter em menos grau, são qualidades de Deus que somos exortados a

imitar.

Santidade (Lv. 11:44-45; Is. 40:25). A pureza de Deus é elevada a

grau infinito (1Jo.1:5), mas os seus servos também são chamados a

serem santos (1Ts. 5: 23; Hb. 12:14; 1Pd. 1:13-16).

Justiça (Dt.32:4; Rm.3:25-26). Todos os atos de Deus são

corretos,mas os seus servos também são exortados a buscarem a

justiça ((Ef. 6:14; Fp. 1:9-11).

Amor (1Jo. 4:8). Deus é amor, e manifesta isso em sua bondade e

misericórdia. Os seus servos também são aconselhados a amar (Mt.

22:37-39; 1Jo. 4:7-21).

Sabedoria (Sl.104: 24; Rm. 16:27). Deus é perfeito em sabedoria, mas

os seus servos podem ter sabedoria também (Tg. 1:5).

Fidelidade (Nm. 23: 19; Sl. 145: 13; 1Jo. 1:9). Deus é perfeito em

fidelidade, mas os seus servos também podem ser fiéis (Pv. 12: 22;

Ef.4: 25; Cl. 3: 9-10).

Bondade (Lc. 18:19). Deus é perfeito em bondade, mas os seus

servos também podem ser bons (Gl. 6:10.

Observe o seguinte:

Misericórdia, graça e paciência (Ex.34:6; Sl.103:8; Rm. 15:5; 1Pd. 5:10).

Estas qualidades de Deus podem ser aspectos particulares de Sua

bondade.

1- Misericórdia é a bondade de Deus para com os angustiados e

aflitos;

2- Graça é a bondade de Deus para com os que mereciam castigo;

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3- Paciência é a bondade de Deus quando tira a punição dos que a

merecem.

Devemos, pois, imitar a misericórdia (Mt. 5:7), a graça (2Co. 8:7) e a paciência

(Gl. 5:22) do Senhor.

Paz (ou ordem, 1Co. 14:33). Deus é o Deus da paz, e os seus servos

devem ser de paz também (Mt. 5:9; Gl. 5:22);

Zelo (Ex. 34:14). Deus é um Deus zeloso, e os seus servos também

devem sê-lo (2Co. 11:2);

Ira (Rm. 1:18). Deus se ira contra o pecado, e os seus servos devem

também odiar o pecado (Sl. 97: 10; Pv. 8:13);

Perfeição (Dt. 32: 4; Mt. 5: 48). Deus é perfeito em grau infinito, mas

os seus servos também são exortados a buscarem a perfeição

nEle(2Co. 13:11). 12

IV-OS NOMES DE DEUS.

Nós conhecemos Deus por „Deus‟, mas será que é assim que Ele é chamado na

Bíblia? O nome de Deus é Jeová como dizem os “Testemunhas de Jeová”? Nesta

seção nós teremos a oportunidade de ver que o Senhor nosso Deus é muito grande

para ser contido em um só nome. As Escrituras do Antigo Testamento nos apresenta

vários nomes pelos quais o Senhor é chamado. E estes nomes sendo conhecidos nos

fazem compreender mais acerca do agir de Deus.13

12

Para detalhes sobre os atributos de Deus, vd.: GRUDEM, Wayne. pp. 105-164; LLOYD-JONES, Martyn. pp.

80-107. 13

Vd.: GRUDEM,Wayne. pp. 106-109. “O conhecimento de Deus no Antigo Testamento brota não só da

história, palavra, criação e teofania, mas também da revelação do nome Javé ... entre os povos primitivos e em

todo o Antigo Oriente, o nome denota a essência de algo”. SMITH, Ralph L. Teologia do Antigo Testamento

(São Paulo: Vida Nova, 2001), p. 111. “No Antigo Testamento o nome denota a essência do ser. “Em ti confiam

os que conhecem o teu nome” (Sl. 9:10). Uma mudança de nome indica uma mudança de caráter (P. ex. Gn. 32:

28)”. BALDWIN, J. G. Ageu, Zacarias e Malaquias (São Paulo: Vida Nova/Mundo Cristão, 1991), p. 191.

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Dividiremos esta seção em: nomes GENÉRICOS e nomes ESPECÍFICOS de

Deus.

a) O Antigo Testamento (A.T.).

a.1) Os nomes GENÉRICOS: El, El Elyom, Elohim. Estes nomes são chamados

genéricos porque são também aplicados a divindades falsas no A.T. Isto acontece por

causa da língua; povos de uma mesma língua chamam seus deuses pelos mesmos

nomes.

El (Gn. 33:20). O Geseniu‟s Hebrew and Chaldee Lexicon nos dá para esta

palavra a significação de: forte, poderoso, poder, força (Gn. 31: 29; Is. 9:5;

Ez. 31: 11). E diz que a palavra é usada em geral para nome do Deus do

céu, mas pode ser também aplicada a ídolos (p.ex. Sl. 81:10; Dn. 11: 36).14

Elohim (Gn. 1:1). Esta palavra pode ser o plural do nome divino El, que

provavelmente deriva da raiz ‘wl, com o significado de preeminência.15

Alguns autores dizem que esta palavra é o plural de Eloah16 É usado

também para designar uma divindade, uma aparição divina (1Sm. 28:13),

ou homens com autoridade (Êx. 21: 6; Sl. 8:5; 82: 6). Com o artigo definido

significa o Deus único e verdadeiro (1Rs. 18: 21, 37).17

El Elyom (Gn. 14: 19-20, Nm. 24:6; Is. 14:14) Significa aquele que é sublime,

exaltado.

14

TREGELLES, Samuel Prideaux. Geseniu’s Hebrew and Chaldee Lexicon (Grand Rapids: Eerdmans, 1954), p.

45. 15

Associação Laical para o Estudo da Bíblia. Vademecum para o Estudo da Bíblia (São Paulo: Paulinas, 2000),

p. 279. 16

BERKHOF,L. p. 54. 17

TREGELLES, Samuel Prideaux. pp. 49-50.

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a.2) Os nomes ESPECÍFICOS: Adonay, El-Shaday, Iahweh. Estes são nomes que nas

Escrituras aparecem aplicados somente ao Deus verdadeiro.

Adonay (Gn. 18: 3; Is. 3: 18; 6:1). Significa o Senhor; o Soberano, a quem

tudo está sujeito, e com quem o ser humano se relaciona como servo.

El-Shaday (Gn 17:1; Ex. 6:3). Descreve Deus como o possuidor de todo

poder na terra e no céu. A natureza, a criação, tudo está sob seu controle.

IHWH ( ) (Ex. 6:3). Este é o nome que mais vezes aparece na Bíblia

aplicado a Deus (6.828 vezes na Bíblia Hebraica de Kittel e na Bíblia

Hebraica Stuttgartensia). O hebraico bíblico do A.T. é composto apenas de

consoantes não tendo vogais, e YHWH são as letras hebraicas que

compõem o nome pessoal de Deus no A.T. Temendo descumprir o terceiro

mandamento: “Não tomarás o nome do Senhor (YHWH), teu Deus em vão” (Ex.

20:7), os leitores antigos da Bíblia evitavam pronunciá-lo, substituindo o

mesmo na leitura pala palavra Adonay (Senhor). Os sinais vocálicos da

palavra Adonai eram colocados entre as consoantes que representavam o

nome divino: YHWH. Com esta prática a pronúncia do nome de Deus se

perdeu. Os eruditos bíblicos hoje, em sua maioria, usam a palavra Iahweh

(Javé), e dando a razão histórica para isso diz a Comissão de Tradução,

Revisão e Consulta da Sociedade Bíblica do Brasil:

Teodoreto, pai da igreja, da escola de Antioquia, falecido em 457 d. C. afirma que os samaritanos, que tinham o Pentateuco em comum com os judeus como Escrituras Sagradas, pronunciavam o nome o nome de Deus assim: Iabé (trocando o V pelo B). Clemente, da escola de Alexandria, falecido antes de 216 d.C. transliterava “a palavra de quatro letras” por Iaové. Também os papiros mágicos egípcios, que são do final do terceiro século d.C., dão como cera a pronúncia cima referida, a de Teodoreto (Iabé).18

18

“O Termo “Jeová” na Bíblia Sagrada” em A Bíblia no Brasil (São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, n°

188, (Jul/Set. 2000), p. 24. Vd. tb. TREGELLES, Samuel Prideaux, p. 337.

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Assim, mesmo com a incerteza que há para a pronúncia deste nome, o que se

pode afirmar com segurança é que Jeová nunca foi a transliteração ou tradução do

nome de Deus (YHWH) no A.T., esta palavra é uma invenção da Idade Média.

Portanto, o grupo religioso chamado “Testemunhas de Jeová” é fundamentado sobre

um nome falso, nome que não aparece nas Escrituras Sagradas19. Sobre esta palavra

Jeová, diz a Comissão de Tradução, Revisão e Consulta:

Esse (Jeová) não é, portanto, o nome do Deus de Israel. O Jerome Biblical Comentary chama “Jeová” de um “não-nome” (77:11), e o Interpreter‟s Dictionary of the Bible o chama de “nome artificial”(s.v Jehovah). O Lexicon in Veteris Testamenti Libros, de Kochler – Baumgartner (s.v YHWH), chama a grafia “Jeová” de “errada”, e defende como “correta e original‟ a pronúncia “Yahweh”.20

Portanto, as Escrituras não aprovam transliteração Jeová, os judeus nunca

pronunciaram esse nome, e a história nos mostra que a pronúncia mais provável

seria Iahweh (Javé). Não sendo esta, Jeová está completamente fora de cogitação. 21

a.2.1) Este nome Javé (vamos chamar assim) aparece unido a outros termos

qualificativos de Deus, formando assim nomes compostos, como por exemplo:

Javé-Jireh: O SENHOR proverá (Gn. 22:14);

Javé-Tsebaôt: O SENHOR dos exércitos (1Sm. 1:3);

Javé-Ropheh: OSENHOR que sara (Ex. 15:26);

19

Os próprios livros das Testemunhas de Jeová reconhecem que a palavra Jeová não é o nome de Deus que

aparece na bíblia. “O hebraico era escrito sem vogais. Assim, não existe maneira de saber com exatidão como

Moisés, Davi ou outros dos tempos antigos pronunciavam as quatro consoantes ... que constituem o nome divino.

Alguns eruditos sugerem que o nome de Deus possa ter sido pronunciado “Javé” ou “Iavé”, mas eles não podem

ter certeza. A pronúncia portuguesa “Jeová” ou “Jehovah” já é usada há séculos, e o equivalente em muitos

idiomas amplamente aceito hoje” (Conhecimento Que Conduz a Vida Eterna. São Paulo: Sociedade Torre de

Vigia de Bíblia e Tratados, 1986), p. 24. Observe que o argumento usado por eles para usar o nome Jeová, é

porque este é um nome muito aceito no mundo, e porque está ele baseado nas Escrituras, nem na língua hebraica. 20

“O Termo “Jeová” na Bíblia Sagrada”. p.23.

21 Para uma lista de livros que desaprovam a grafia Jeová vd.: SILVA, Ezequias Soares. Como Responder as

Testemunhas de Jeová. 3ª ed. (São Paulo: Candeia, 1995). pp. 148-150. E Ralph L Smith nos informa que a

pronúncia Jeová nunca foi usada pelos judeus (Op. Cit., p. 115). Confira também o que diz sobre o caso a

Enciclopédia Judaica em: <http://www.jewishencyclopedia.com/view.jsp?artid=52&letter=N> e

<http://www.jewishencyclopedia.com/view.jsp?artid=206&letter=J&search=jehovah> Acesso em 10/03/08.

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Javé-Nissi: O SENHOR é a minha bandeira (Ex. 17:15;

Javé-Shalom: O SENHOR envia a paz (Jz. 6:24);

Javé-Roeh: O SENHOR é meu pastor (Sl. 23:1);

Javé-Tsidkenu: O SENHOR é a nossa justiça (Jr. 23:6);

Javé-Shammah: O SENHOR está presente (Ez. 48: 35).22

b) O Novo Testamento (N.T.) e os nomes de Deus.

O N.T. tem alguns equivalentes gregos (a língua do N.T.), para os nomes de

Deus que aparecem em hebraico no A.T.

Para El, Elohim e Elyom o N.T. usa a palavra Deus, que é também uma

palavra genérica. O equivalente de Elyom (Deus altíssimo) encontra-se

na expressão Theou tou Hupsistou (Mc. 5:7; At. 16:7; Hb.7:1). Shadday e

El-Shadday (Todo-Poderoso, Onipotente) é traduzido no N.T. por

Pantokrator; Theos-Pantokrator (2Co. 6:18; Ap. 1:8; 4:8: 11:17; 15:3;

16:7.14);

Quanto ao nome Yahweh o N.T. segue a Septuaginta (O A.T. em grego)

que traduz esta expressão por Kyrios (Senhor), que deriva de força,

poder. Este nome não tem exatamente a mesma conotação de Yahweh;

mas designa Deus como o Poderoso, o Senhor, o Possuidor, o Regente que

tem autoridade e poder legal (Hb. 1:10; 8: 8-11), Cristo também recebe

este nome (Jo. 20:28; 1Co. 8:6; Ap. 17:14).

Também encontramos Deus sendo chamado de Pather (Pai) no N.T. O

A.T. já chamava Deus assim para designar a relação de Deus com Israel

22

Sobre este assunto vd.: LLOYD-JONES, Martyn. pp. 108-112.

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(Dt. 32:6; Sl. 103: 13), e o N.T. usa a expressão para demonstrar Deus

como o Originador ou Criador de tudo (1Co. 8:6; Ef. 3:14-15; Tg. 1: 17).23

Bem, pelo que acabamos de estudar podemos ver que Deus é identificado por

vários nomes nas Escrituras, e cada nome de Deus nos mostra uma das características

do Senhor. Reflita nessas características, pois elas juntas vão nos revelando quem

Deus é e o seu caráter.

V-DEUS E SUA TRIUNIDADE.

“Embora seja um grande mistério que existam diversas pessoas em um só Ente, é

verdade que na divindade há uma distinção de pessoas, indicadas nas Escrituras pelos nomes

Pai, Filho e Espírito Santo e pelo uso dos pronomes Eu, Tu e ele, empregados por elas

mutuamente entre si”.24

A Confissão de Fé de Westiminster (1649), uma das mais antigas confissões de fé

protestante afirma:

Na unidade da Deidade há três pessoas, de uma só substância, poder, e eternidade: Deus o Pai, Deus o Filho e o Deus Espírito Santo. O pai não é de ninguém: não é gerado nem procedente; o Filho é eternamente gerado do Pai; o Espírito Santo é eternamente procedente do Pai e do Filho (cap. II, seç. III).

Veremos agora como as Escrituras trabalham este assunto.

23

Para todo este assunto vd.: BERKHOF, L. pp. 54-58. 24

Artigo 5° da Breve Exposição das Doutrinas Fundamentais do Cristianismo (Confissão de Fé dos

Congregacionais brasileiros).

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a) A Triunidade no Antigo Testamento (A.T.). A doutrina da Triunidade de

Deus não é completamente revelada no A.T., ali temos claramente Deus como o Deus

único (Dt. 4: 35,39), o Espirito Santo como seu agente pessoal (Gn. 1:2; Ne. 9:20;

Sl.139:7; Is. 63:10-14), e a Palavra (o verbo) como seu pronunciamento criativo (Gn.

1:26; Sl. 33:6, 9).

a.1) Como já foi dito na parte IV encontramos no A.T. nomes genéricos e

nomes específicos sendo aplicados a Deus, e estes nomes nos ajudam a compreender

mais um pouco sobre o Senhor e sobre a doutrina da Triunidade. Observe, por

exemplo, Gn 1:1, onde no hebraico temos as seguintes palavras: Bereshit bará Elohim

(no principio criou Deus). A palavra que é traduzida por Deus aqui é Elohim, e é uma

palavra plural. Então, para ficar correto gramaticalmente, uma tradução literal de

Elohim seria: deuses. Mas há um problema, pois o verbo bará (criar) está no singular.

Assim, a palavra Elohim (Deus) vindo no plural revela não que haja muitos deuses,

mas que Deus é uma unidade composta: Pai, Filho, e Espírito Santo. Em vários

lugares Deus confira isso usando o verbo no plural para se referir a Si próprio

(desçamos, façamos), ou o pronome nós (Gn. 1:26; 3:22; 11:7; Is. 6:8).

Ali, no momento da criação (Gn. 1:1) Deus é chamado de Elohim porque

criava o mundo: o Pai, o Filho (a palavra, o verbo) e o Espírito Santo (Gn. 1:2; Sl. 33:

6-9; 104:30; Jó 33:4-6; Jo. 1: 1-3).

a.2) Para os judeus do A.T. a grande confissão sobre o seu Deus era Dt. 6:4.25 E

é interessante notar a palavra hebraica que é traduzida por único no texto. Em nota

sobre a passagem nos informa a Bíblia Vida Nova: “Único Senhor. A palavra hebraica

aqui empregada “único” („ehadh) significa uma unidade composta... A palavra

25

“6:4. Ouve Israel. Este versículo, frequentemente chamado de Shemá, com base na palavra hebraica inicial que

significa “ouve”, tornou-se a grande confissão da fé monoteísta de Israel, sendo recitada todas as manhãs e finais

de tarde pelos judeus (cf. Mc. 12:29)”. Bíblia de Estudo de Genebra (A.T.) (São Paulo: Cultura Cristã, 1999), p.

209.

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hebraica que expressa unidade absoluta é Yahidh, e nunca é usada para expressar a

unidade da Deidade”.26

A palavra Yahidh (unidade absoluta) nós encontramos em Gn. 22:2, porque

Isaque era o único filho de Abraão, e vamos encontrar ‘ehadh (unidade composta) em

Gn.2:24, porque Adão formaria uma unidade composta com Eva (vd.tb. Ex. 24:3;

13:23).27 Mesmo sabendo que yahidh e ‘ehadh são usadas as vezes como sinônimas,

yahidh é mais enfática quando se quer expressar unidade absoluta, e é interessante que

justamente na confissão mais importante do povo de Israel sobre a unidade de seu

Deus, é usada na Bíblia a palavra ‘ehadh. A pergunta que se faz é: por que o escritor

que conhecia muito bem o idioma hebraico, usa essa palavra se queria mostrar uma

unidade absoluta para Deus? Não, ele sabia que Deus era uma unidade composta:

Pai, Filho e Espírito Santo.

a.3) Além destes fatos o A.T. já prenunciava o Pai e o Filho como um único

Deus em outros lugares. Observe:

Is. 9:6. A profecia chama Cristo de Pai da eternidade e Deus forte. Sabe-

se que eternidade só tem quem não tem começo nem fim, portanto

Cristo sendo o Pai eterno, não poderia ter tido começo. Ele é também

declarado como Deus. Sabendo-se que o próprio Deus afirma sua

singularidade (Is. 43: 10-13), Cristo tem que ser um com Ele, senão Ele

seria outro deus.

Is. 40:3. É anunciado na profecia que um homem viria para preparar o

caminho do SENHOR (YHWH). Quando João Batista começou seu

ministério anunciando o Messias (Jesus), disse que essa profecia se

cumpriu em sí próprio. João diz que era ele a “voz que clama no deserto”,

26

SHEDD, Russel (ed). Biblia Vida Nova (A.T.). (São Paulo: Vida Nova, 1997), p. 200. 27

Nos seguintes textos aparece „ehadh com o significado de unidade composta : Jz. 20:8; 1Sm. 11:7; Ed. 2:64.

Para yahidh como unidade absoluta veja: Gn. 22: 1,12, 16; Sl.25:16; 68:6; Pv. 4:3; Zc. 12:10. Uma coisa que

deve ser notada é que ambas as palavras trazem em sua raiz o significado de uma unidade composta, reunião,

junção. Vd.: TREGELLES, Samuel Prideaux. pp. 28-29, 345.

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e que o SENHOR (YHWH) profetizado era Cristo (Jo. 1:19-27). Uma

declaração mais clara da unidade de Deus e Cristo impossível.

Sl. 102:25. Esse versículo é retomado em Hb.1:10, onde é claramente

aplicado a Jesus Cristo, ou seja, o Deus referido no Sl.102:25 era Cristo.28

Zc 12:10. Esta passagem é mais uma prova do A.T. de que Cristo e Deus

Pai são inexplicavelmente o mesmo Deus. Observe. O SENHOR

(YHWH) (veja o versículo 7), diz pela boca do profeta que em um

tempo futuro, pessoas iam olhar pra Ele se lamentando,até aqueles que

o transpassaram. Isso segundo a própria Bíblia se cumpriu na

crucificação de Jesus. João, ao relatar a cena da crucificação, diz que esta

profecia se cumpre ali, onde um soldado perfura o lado de Jesus com

uma lança e as pessoas olham Jesus transpassado (Jo.19: 34-37). Ali

estava o próprio Deus sendo transpassado em Jesus Cristo

(Vd.At.20:28).

b)A Triunidade no Novo Testamento (N.T.). É no N.T. que esta doutrina é

revelada mais claramente. Nós temos o Pai, o Filho e o Espírito Santo

apresentados lado-a-lado, como co-iguais (Mt. 28:19, note que Jesus relaciona

os três com apenas um nome: em nome. Vd.: 2Co.13:13; Jd.20-21). Esta unidade

é bem expressa também no seguinte fato: em Jo. 14: 15-23 Jesus diz que na

conversão Ele e o Pai farão morada no crente, e Paulo nos diz que quem faz

morada no salvo é o Espírito Santo, e que nós somos templo de um, e não de

três (1Co. 6:18-19; Ef. 1:13-14), então Deus, Jesus e o Espírito Santo são um.

b.1)Textos-prova importantes do Novo Testamento.

28

Para um bom comentário desta passagem de Hebreus vd.: CALVINO, João. Hebreus (São Paulo: Paracletos,

1997), pp. 46-47.

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Jo. 1:1. Temos neste texto Cristo (o verbo) claramente declarado

como igual a Deus. As “Testemunhas de Jeová”, que não aceitam a

divindade de Jesus, dizem que o texto deveria ser traduzido: “a

palavra (verbo) era [um] deus”, com um artigo indefinido (um). Isto

porque no grego (a língua do N.T.) não existe o artigo definido antes

da palavra Deus (predicativo do sujeito) e assim, segundo a

gramática grega, o substantivo Deus ficaria indefinido (um deus).

Será que estão certos? Não. Realmente isto é uma regra da gramática

grega, mas não em todos os lugares. Pois no mesmo capitulo 1 deste

evangelho de João, tem frases que não tem o artigo definido antes

do predicativo do sujeito e mesmo assim o artigo indefinido não é

exigido, pois não caberia ali. Observe:

a) Jo. 1:6,o artigo indefinido não aparece antes da palavra Deus, mas a

frase não é: “houve um homem enviado por UM Deus”, mas “ por

Deus”.

b) Jo.1:14, não existe o artigo indefinido antes da palavra carne, mas a

frase não é: “a palavra se fez UMA carne, mas “ se fez carne”.

c) Jo.1:18, não existe artigo indefinido antes da palavra Deus, mas a

frase não é: “UM Deus nunca foi visto por ninguém”, mas “ Deus

nunca foi visto por ninguém”.

O Dr. D. A. Carson observa “que o interprete deve ser cuidadoso com respeito

as conclusões tiradas a partir da mera presença ou ausência de um artigo”.29 Assim,

está correto traduzir “e o verbo era Deus”, mesmo sendo esta frase anartra (sem a

presença do artigo definido). Esta é mais uma prova da unidade na divindade.

29

CARSON, D. A. Os Perigos da Interpretação Bíblica, 2ª ed. (São Paulo: Vida Nova, 2000), p.77.Vd. do

mesmo autor: O Comentário de João (São Paulo: Shedd Publicações, 2007), p.117.

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Em Jo. 14:26 é o Pai quem envia o Espírito Santo, ao passo que

em Jo. 16:7 quem envia é o Filho. Por isso as Escrituras dizem

que o Espírito Santo é o Espírito de Deus e igualmente o Espírito

de Cristo (R. 8:9; 1Pd.1:11).

Hb. 10: 15 faz uma citação de Jr.31: 31-33. No texto de Jeremias

diz que quem está falando é o SENHOR (YHWH), mas o autor

de Hebreus diz que quem está falando é o Espírito Santo.

Em Is. 6:1-3, 9-19, Isaias diz que viu e ouviu o SENHOR

(YHWH), dos Exércitos. Mas como poderemos conciliar isso com

Jo. 1:18; 1Tm. 6:16, que afirmam que Deus jamais foi visto por

alguém? A Bíblia responde e nos mostra que este é um dos

maiores exemplos da unidade composta de Deus. A resposta está

em At. 28:25-27, onde Paulo diz que quem falou com Isaias foi o

Espírito Santo, e em Jo. 12: 37-41, onde o autor bíblico diz que

Aquele SENHOR (YHWH) que Isaias viu era na verdade Jesus

Cristo em sua glória. Esta é uma das maiores provas da

Triunidade na Bíblia.

Em Mt. 1:18-21 é anunciado que o Espírito Santo desceria sobre

Maria para engravidá-la, mas em Lc. 1:35, está escrito que o Filho

de Maria é o Filho de Deus. Só há uma explicação: Deus e o

Espírito Santo são o mesmo Deus.

Em Hb. 7: 25 temos a informação de que a obra intercessória

pertence a Jesus Cristo (Vd. tb.: Jo.15: 16b; 16:23), mas em Rm. 8:

26-27, é dito que é o Espírito Santo quem intercede pelos cristãos.

Mais uma vez unidade entre Jesus e o Espírito.

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At. 20: 28. Este é um texto desconcertante, pois diz que quem

pagou o resgate, derramou o sangue na cruz pela Igreja, foi o

próprio Deus (YHWH). Esta afirmação só pode indicar que

Cristo e Deus são o mesmo.

Mt.21: 15-16. Temos aqui Jesus fazendo uma citação do Sl. 8: 2,

onde no hebraico o sujeito das declarações é o SENHOR

(YHWH), e Jesus aplica as declarações deste salmo a Si próprio,

como se ele, Cristo, que naquele momento recebe o louvor das

crianças, fosse o YHWH do salmo citado.

Fp. 2: 6. Nesta passagem o apóstolo Paulo diz que Jesus antes de

vir ao mundo tinha a forma (gr. Morphê) de Deus. Esta palavra

(morphê) que Paulo usa aqui é muito sugestiva, pois significa: “a

natureza essencial e inalterável do ego”,30 então, Paulo está

afirmando aqui que Cristo antes de vir a este mundo era

essencialmente Deus.

Em Hb. 1:3 está escrito que Jesus é a “expressão exata da essência”

de Deus.31 A palavra traduzida por “expressão exata” é charakter

(que significa: imagem, representação), e a palavra traduzida por

“essência” é hypostasis (significa: essência, substância).32 Sobre

isso observa Wayne Gruden: “Significando que Deus Filho

reproduziu o Ser ou a natureza de Deus Pai em todos os aspectos: todos

30

Veja BARCLAY, William. Romanos- Comentario ao Nuevo Testamento (Barcelona: CLIE, 1995). p. 189.

Gerhard Barth escreve sobre este versículo: “O primeiro par de linhas fala do preexistente que já antes de sua

existência terrena vivia em subsistência divina. Isto não se refere a seu aspecto ou a sua aparência, nem (como

em Gn. 1: 26) a que tenha tido a imagem de Deus, mas, conforme se conclui do paralelismo da segunda linha, o

seu ser igual a Deus, a sua essência divina”. (A Carta aos Filipenses. São Leopoldo: Sinodal, 1983, p. 45). Para a

definição de morphê vd.: RUSCONI, Carlo. Dicionário do Grego do novo Testamento (São Paulo: Paulus,

2003), p. 313. 31

Segundo o Novo Testamento Interlinear Grego-Português (São Paulo: SBB, 2004), na passagem citada. 32

Vd.: RUSCONI, Carlo. Na definição das palavras citadas.

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os atributos ou poderes que Deus Pai tem, Deus Filho também os

têm”.33

1Pd. 2:8- Pedro cita Is. 8: 14 onde se diz que O SENHOR

(YHWH) seria uma pedra de tropeço para os que não cressem

nEle, e diz que esta pedra era Jesus. Pedro afirma que isto se

cumpriu em Cristo.

Enfim, se poderiam multiplicar aqui textos mostrando a identificação de Deus

Pai, Filho e Espírito Santo, uma unidade composta, misteriosamente revelada.

Observe mais uma vez esta identificação nos seguintes exemplos:

a) Na Bíblia o Pai, o Filho e o Espírito Santo são revelados como DEUS.

O Pai (At. 17: 24); O Filho (Mc. 2:5-7; Jo. 1:1-3,18; 20: 28); O Espírito

Santo (Mc. 3: 29; At. 5: 3-4; 28: 25-27 comparado com Is. 6: 9-10).

Se não aceitarmos a Triunidade divina, como explicar textos como

Dt. 4: 35, 39; Is. 44: 6, 8; 45: 5, 21; 46: 9? Os textos mostram que só

existe UM Deus.

b) Na Bíblia também encontramos o Pai, o Filho e o Espírito Santo

revelados como SENHOR. O Pai (Mt. 22:37); o Filho (At. 10: 36; Fp.

2:11); o Espírito (2Co. 3: 16-17).

Se não aceitarmos a Triunidade de Deus como explicar estas

passagens se a própria Bíblia diz que só Deus é o Senhor (Mc.

12:29)?

33

Teologia Sistemática, p. 172.

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c) Também encontramos na Bíblia o Pai, o Filho, e o Espírito sendo

tratados como SANTOS. O Pai (Is. 6:3); o Filho (At. 3:13-14); o

Espírito (Is. 63:10; Rm. 15:16).

Como conciliar estes textos se a Bíblia diz que só Deus é santo (ISm.

2:2)? Isto só se explica com a Triunidade divina.

(d) Encontramos na Bíblia também o Pai, o Filho sendo tratados como

ONISCIENTES. O Pai (1Cr. 28:9); o Filho (Jo. 2:24,25; 21:17; Cl. 2:2-3); o

Espírito (1Co. 2:10-11).

Todas estas passagens só poderão ser explicadas com a doutrina da

Triunidade divina, sem ela tudo viraria uma confusão. Não é preciso entender, mas

sim aceitar o que a Bíblia revela. Nem sempre entendemos tudo que Deus faz, por

isso Ele é Deus.

VI-JESUS CRISTO, DEUS CONOSCO.

A Bíblia é uma testemunha indubitável de que só se deve adorar a Deus (Mt.

4:10). Pois, bem, E se encontrássemos outra pessoa sendo adorada e incentivada a sua

adoração, o que deveríamos concluir? Ou essa pessoa seria o mesmo Deus e não

outro, ou seria um Deus falso. Observe como a Bíblia trata deste assunto.

Mt. 21:15-16. Neste texto Jesus recebe adoração de um grupo de

crianças. E ainda, para confirmar que o que se estava fazendo ali era

adoração Ele cita o Sl. 8:2, onde no hebraico aparece a palavra ’oz, que

significa: esplendor, majestade, glória, louvor.34 Assim Jesus está

confirmando que as crianças estavam adorando a Ele.

34

TREGELLES‟ Samuel Prideaux. p. 616.

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Jo. 5: 23. Jesus afirma explicitamente que a mesma honra, reverência

que é dada ao Pai, deve ser dada a Ele também. Assim Ele se iguala ao

Pai se fazendo um Deus com Ele.

Jo. 16: 14. Cristo aqui diz que a missão do Espírito Santo na terra é levar

as pessoas a glorificá-Lo. Em grego é usada a palavra doxa, que

significa: glória, honra, aplausos 35 (Vd. Jo. 4:24; Rm. 1:9; Fp. 3:3, onde a

mesma palavra significa adoração).

Jo. 20:28. Tomé, explicitamente adora a Jesus chamando-o de “Deus

meu”. Mais claro impossível. E o interessante é que Jesus não recrimina

Tomé, como se ele estivesse errado, mas aceita as suas palavras.

Fp. 2: 5-11. Nesta passagem a Bíblia explica o processo da encarnação

de Jesus, Sua condição como ser humano na terra enquanto cumpria a

obra da redenção, e Sua exaltação após a morte e ressurreição para ser

adorado por todos (11).

Hb. 1: 1-14. Este texto é claro em afirmar a adoração de Jesus e todas as

criaturas são conclamadas a adorar a Jesus.

Ap. 5: 11-14; 22: 8-9. Não têm no NT passagens mais claras que estas

que mostram o cordeiro que é Cristo (Jo. 1:29; 1 Pd. 1:18-20) sendo

claramente adorado por todos, e em todos os lugares.

É isso. Jesus Cristo é apresentado na Bíblia como um com o Pai e o Espírito

Santo. F. F. Bruce diz que já em 112 d.C., Plínio Segundo, governador da Bitínia,

35

Para o significado desta palavra vd. RUSCONI, Carlo. 136.

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escreveu ao imperador Trajano falando sobre os cristãos, e afirmava que eles tinham

o costume de se reunir e cantar hinos à Cristo como a um Deus.36

Não podemos esquecer que tudo isso é um tremendo mistério (1Tm. 6:16),

todos que tentaram explicar racionalmente a Triunidade de Deus cometeram erros.

Deixemos, pois como está, nos conformando com o que a Palavra de Deus revela, e

ela revela que Deus é Pai, Filho e Espírito Santo.

VII-O ESPIRITO SANTO.

Em toda discussão sobre Deus não se pode deixar de fora o tema do Espírito

Santo. Espírito é a tradução da palavra hebraica ruach e da palavra grega pneuma.

Estes termos derivam de raízes cujo significado é respirar. Por isso as palavras

também podem ser traduzidas por vento (Ez. 37: 5-6; Jo.3: 8). Vamos então procurar

nas Escrituras a revelação sobre o Espírito do Senhor, isto para desfazer alguns

enganos de grupos tais como: Testemunhas de Jeová, Judeus Messiânicos, e grande

parte dos Adventistas do Sétimo Dia, que se apresentam contra a personalidade do

Espirito Santo e contra a Triunidade divina.

Sobre quem é o Espírito Santo, R. C. Sproul escreve:

A Bíblia revela o Espírito Santo não como uma força abstrata, um poder ou uma coisa, mas como “ele”. O Espírito Santo é uma pessoa. Uma personalidade inclui inteligência,

vontade e individualidade. Uma pessoa age por intenção. Nenhuma força abstrata pode tencionar fazer qualquer coisa. Boas ou más intenções são limitadas aos poderes dos seres pessoais. 37

As Escrituras apóiam esta declaração do Espírito Santo como uma pessoa divina.

Em Jo. 14:26;15:26; 16:13-14, o Espírito Santo é tratado pelo pronome

pessoal masculino “aquele” (ekeinos), isto não seria de se esperar pois a

36

Merece Confiança o Novo Testamento? 2ª ed. (São Paulo: Vida Nova, 1999), p. 154. 37

O Mistério do Espírito Santo (São Paulo: Cultura Cristã, 1997), p. 17 (Grifo meu).

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palavra espírito em grego (pneuma) é uma palavra neutra, e exigiria um

pronome neutro (ekeino) para combinar.

Em At. 15:28, o Espírito Santo é colocado lada a lado com os apóstolos;

em Jo. 16:14 com Jesus Cristo; e em Mt. 28: 19; 2Co. 13:13; 1Pd. 1:1-2; Jd.

20,21, com o Pai e com o Filho. Isto requer a plena personalidade do

Espírito Santo senão Ele não poderia ser tratado como uma pessoa.

Nas Escrituras encontramos várias características de uma pessoa aplicadas ao

Espírito Santo. Observe:

Consolo (Jo. 14: 26;15:26;16:7);

Intercessão (Rm. 8: 26-27);

Pode-se mentir a Ele (At. 5:3-4);

Tristeza (Is. 63:10; Ef. 4:30);

Poder (Rm.15:13; Lc.4:14, em grego dúnamis que significa força, poder),

salienta-se aqui que o Espírito Santo tem poder, não é um poder;

Amor (Rm.15:30);

Ofende-se (Hb. 10:29);

Decide (At. 15:28);

Escolhe (At. 13:2);

Conhece (1Co. 2:10, inteligência);

Envia (Is. 48:16; At. 10:19-20);

Conduz as pessoas à glorificação de Cristo (Jo. 16:14);

Concede os dons a quem quer (vontade própria, individualidade) (1Co.

12:1-11).

Aqui temos no Espírito Santo todas as características essenciais de uma

personalidade; vontade própria, inteligência e individualidade, assim não se têm base

escriturística nenhuma para despersonalizá-Lo.

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Além disso, o Espírito Santo é apresentado em uma unidade intrínseca com o

Pai e o Filho em toda a Bíblia. Veja estes exemplos:

Porque o Espírito Santo habita na Igreja, ela é chamada de templo de

Deus (1Co.3:17; 6:19; 2Co.6:16);

O Espírito é criador com o Pai e com o Filho (Gn. 1:1-2; Hb.1:2,10;

Gn.1:2;Jó 26:13; 33:4; Sl.104:30);

O Espírito é Deus com o Pai e com o Filho (Jo. 17:3; Rm. 9:5; At:3-4);

O Espírito é Senhor com o Pai e com o Filho (At. 17:24; 2Co. 3:17;

Fp.2:11);

O Espírito é eterno com o Pai e com o Filho (Sl. 90: 2; Is. 9:6; Mq. 5:2; Hb.

9:14);

O Espírito é justificador com o Pai e com o Filho (Rm. 3:21-24;

1Co.6:11);

O Espírito é onisciente com o Pai e com o Filho (1Cr. 28:9; Mt. 9:3-4; Jo.

16:30,31; Ez. 11:5; 1Co. 2:10-11);

O Espírito é onipresente com o Pai e com o Filho (Hb. 4:13; Sl. 139: 7-8;

Mt. 18: 20; 28:20).

Conclui-se inevitavelmente que a Bíblia não apresenta três deuses, mas uma só

essência divina, que se nos mostra como Pai, Filho e Espírito Santo. Importante notar

que na revelação não se pode confundir as funções. Ao Pai pertence à vontade divina, a

formação dos propósitos. Ao Filho a mediação e a execução do plano do Pai. E ao

Espírito pertence à revelação, a preparação para toda a obra do Filho (Vd. Ef. 1:11;

1Tm.2:5; Jo. 16:8-11). Sproul escreve sobre o caso:

Vemos, pois, que quando a Igreja cristã confessa sua fé em um Deus triúno, ela tenciona transmitir a idéia de que existe uma só essência ou ser e não três; mas que existem três personalidades subsistentes distintas na deidade. Os nomes Pai, Filho e Espírito Santo indicam distinções pessoais na deidade, mas não divisões essenciais em Deus.38

38

Ibid, p. 73.

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APÊNDICE1- DISTORÇÕES HISTÓRICAS SOBRE A DOUTRINA DA

TRIUNIDADE.

Na tentativa de racionalizar este mistério que é esta doutrina surgiram

algumas distorções, ou heresias cristológicas ao longo da história da Igreja.

a) Sabelianismo/ Modalismo/ Monarquianismo. Doutrina popularizada por

um bispo chamado Sabélio (186-250 d.C.). Ele afirmava que Jesus e o Espírito Santo

não eram pessoas distintas, mas apenas manifestações de Deus temporárias e

sucessivas. Seu ensino foi condenado pela Igreja como heresia em 261 d.C.39

Esta doutrina erra porque faz de Jesus e do Espírito Santo apenas

manifestações de Deus, e não pessoas individuais. Assim, a Igreja teria sido salva por

uma manifestação/ aparição apenas. O próprio Cristo destrói esta idéia ao afirmar

sua personalidade distinta do Pai (Jo. 8: 16-18). E as Escrituras apresentam os três ao

mesmo tempo (Mt. 3:13-17). Assim, deve-se considerar as distinções das pessoas,

salientando-se que quando se usa o termo pessoa aqui, apenas se faz por não ter um

termo melhor. Quando se diz que em Deus há três pessoas, não se quer dizer que

existem três indivíduos, mas que existem distinções pessoais dentro da essência

divina, que é uma só em gênero e número.

b) Arianismo. Esta doutrina foi popularizada por um presbítero chamado

Ário, de Alexandria, entre fins do terceiro e inicio do quarto século de nossa era. Ele

afirmava que Jesus e o Espírito Santo eram criaturas de Deus. Por suas afirmações

heréticas Ário foi excomungado pelo seu bispo por volta de 320 a.C.40 Que Jesus é

apenas uma criatura de Deus também é ensinado modernamente pelas

39

Vd.: HÄGLUND, Beng. História da Teologia. 7ª ed. (Porto Alegre: Concórdia, 2003), pp. 59-60. 40

Ibid., p. 63.

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“Testemunhas de Jeová”.41 As idéias de Ário foram condenadas no Concílio de

Nicéia (325 d.C.), onde foi aprovado o credo que afirmava que Jesus Cristo era da

mesma substância de Deus Pai.

Dizia o Credo de Nicéia:

“Cremos em um só Deus, Pai, Todo-poderoso, Criador de todas as coisas visíveis e invisíveis. E em um só Senhor Jesus Cristo, o unigênito Filho de Deus, gerado pelo Pai antes de todos os séculos, Luz da Luz, verdadeiro Deus de verdadeiro Deus, gerado não criado, de uma só substância com o Pai, pelo qual todas as coisas forma feitas...”42

A controvérsia com Ário estava baseada em duas palavras que terminaram

ficando famosas na História da Teologia: homoousios (da mesma natureza) e

homoiousios (de natureza semelhante, mas não a mesma). Ário aceitava Cristo como

apenas semelhante ao Pai, mas não de mesma natureza. Os concílios de Nicéia (325)

e Constantinopla (381) confessaram que Cristo não apenas semelhante, mas igual ao

Pai, da mesma natureza. 43 Isto porque a Bíblia confirma a eternidade de Jesus e do

Espírito Santo, logo sendo eternos, são iguais (Is. 9:6; Jo. 1:1-3; Hb.9:14).

c) Adocianismo. Este ensino concebia Jesus como um homem até seu batismo

depois disso Deus o teria adotado como Filho, e lhe concedido poderes

sobrenaturais. Jesus não era eterno, mas apenas um homem sublime. Foi condenado

no Concílio de Constantinopla (381 d.C).

d) Subordinacionismo. Orígenes (c.185-254 d.C.), um escritor do começo do

cristianismo, advogava que o Filho era de alguma forma inferior ao Pai. Ele dizia que

o lado físico de Cristo foi progressivamente absorvido pelo divino, de modo que ele

41

“Jesus foi chamado de “Filho unigênito” de Deus porque Jeová o criou diretamente.” Conhecimento Que

Conduz à Vida Eterna (São Paulo: Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados, 1986), p. 39.

42

Vd. GRUDEN, Wayne. p. 996. 43

Ibid, pp. 179-180.

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deixou de ser homem. Seu método não foi muito consistentemente explicado e

terminou desembocando no Arianismo. 44

e) A controvérsia em torno da palavra FILIOQUE. Esta controvérsia se deu

em 1054 d.C, sobre a colocação da expressão “filioque” no Credo de Nicéia, isso

acabou gerando uma divisão entre o cristianismo Ocidental (Católico Romano) e o

cristianismo Oriental (Hoje em várias ramificações como Igreja Ortodoxa Grega,

Igreja Ortodoxa Russa). “Filioque” é uma expressão latina que significa “e do Filho”.

Até então o Credo de Nicéia da primeira versão (325) e da segunda (381), diziam

apenas que o Espírito Santo procedia do Pai. Mas, em um Concílio regional, na

cidade de Toledo, Espanha, acrescentou-se a frase: “e do Filho” (filioque) baseada em

Jo.15:26 e 16:7. Muitas lutas políticas dentro da Igreja complicaram a disputa entre os

que aceitavam e os que não esta expressão. Chegou-se assim a divisão ocorrida entre

a Igreja Ocidental e a Igreja Oriental, em 1054 d.C.

Sobre o tema a posição correta parece ser a dos que aceitavam a expressão

“filioque”, pois os textos citados mostram que o Espírito Santo tanto procede do Pai

como do Filho.45

44

Para uma discussão detalhada sobre a doutrina da Trindade e sua história, vd. BRAATEN, Carl E. e JENSON,

Robert W. (eds) Dogmática Cristã, v.1. (São Leopoldo: Sinodal, 1999), pp. 103-174. HÄGLUND, Beng. pp. 57-

88. BERKHOF, L. Teologia Sistematica 3ª ed. (Grand Rapids: T.E.E.L., 1976), pp. 96-98. 45

Vd. GRUDEN, Wayne. pp. 181-182.

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APÊNDICE II- TEXTOS DIFICEIS EXPLICADOS.

Jo. 14:28. Cristo faz uma declaração que aparentemente lhe coloca

numa posição inferior ao Pai. Mas, não é isso o que acontece. Quando

Cristo faz uma afirmação assim, Ele está falando em sua condição

humana assumida por Ele livremente no mistério da encarnação (Fp.

2:6-11). Na terra, o Senhor tinha todas as limitações da encarnação, para

levar ao cabo o seu propósito de morrer como substituto do ser

humano. Portanto, ele tinha que ser humano, não apenas parecer com

um humano. Após sua ressurreição, Jesus reassumiu todo seu poder

(Mt. 28:18), e é Deus Todo-Poderoso (Ap. 1:8). Se essa afirmação tirasse

a divindade de Cristo e o fizesse inferior ao Pai, a afirmação de Hb. 2:9

o colocaria em inferioridade aos anjos, e Lc. 2:51, o colocaria em

inferioridade aos seus pais. Mas, sabemos que não é assim, essas são

afirmações feitas dentro de um contexto (o da humanidade de Jesus)

que deve ser observado para a correta interpretação de todas as

passagens que parecem colocar Jesus como inferior.

Mt. 3:11; At. 2:14; Tt. 3:5-6. Às vezes estes textos são citados para tentar

despersonalizar o Espírito Santo. Mas, o que temos aqui é um a

linguagem figurada aplicada a pessoa do Espírito. Veja os exemplos:

a) Lc. 22:3 - Satanás é uma pessoa espiritual, mas entrou em Judas e encheu

o coração de Ananias (At. 5:3). Cristo é uma pessoa, mas é dito que Ele

enche o universo (Ef. 1:20-23).

b) Mt. 3:11 - O Espírito é uma pessoa e os crentes podem ser batizados nele

não existe problema com isso, pois Moisés era uma pessoa e Paulo diz que

os judeus no deserto foram batizados nele (1Co. 10:2). Como também a

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Bíblia fala que os salvos foram batizados em Cristo (Rm. 6:3; Gl. 3:27). Mais

uma vez o que se usa aqui é linguagem figurada.

c)Tt. 3: 5-6- O fato de o Espírito ser derramado não tira sua personalidade,

pois Paulo era uma pessoa e diz que “estava sendo derramado” (Fp. 2:17;

2Tm. 4:6).

Pois bem, chegamos ao fim deste curto estudo sobre o que a Revelação diz

sobre Deus. Sabendo que isso é um pingo d‟água num oceano, pois Deus é muito

grande para se deixar explicar. Minha oração é que você tenha aprendido um pouco

mais sobre o Deus Pai de Jesus Cristo que você serve e que nós adoremos esse Deus

infinito com paixão e fogo renovados.

Glória sempre seja dada ao Pai,

Glória ao Filho e ao Santo Espírito.

Um só Deus, supremo e redentor,

Por todos os tempos sem fim. Amém.

(Salmos e Hinos, 35, o Hinário do povo Congregacional).