1. INTRODU ÇÃO UFTPR –UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA …

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UFTPR – UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ Engª. Agrª. Drª. Ozana Andrade Maia 1. 1. INTRODU INTRODUÇÃO ÃO 1.1 Hist 1.1 Histórico: rico: *Sung Tzu (1235, China) La Faune des Cadaveres (1894) Jean Pierre Mégnin (1828- 1905) Mégnin (1878) Paul C. H. Brouardel (1837-1906) . cadáver de um recém nascido grande quantidade d e ácaros fezes e exúvias de ácaros- Tyrogly phus lon gior (=Tyrophagus longior) (Acaridae, Astigmata) Tyrogly phus myco phagus No Brasil: inicio em 1908 (Oscar Freire) Entomologia Forens e: cresceu nos últimos 10 anos... 1.2 Aspectos relacionados a Entomologia Forense 1.2 Aspectos relacionados a Entomologia Forense 1.2.1 Entomologia Forense ou Entomologia Médico Legal * Estudo de insetos e artrópodes associados às questões criminais. Realizado através da associação dos restos de vertebrados ~ determinar o tempo transcorrido desde a morte. * Ferramenta utilizada em crimes contra pessoas. * Necessário o conhecimento detalhado de Taxonomia, Biologia e Ecologia de insetos para uma análise fiel. 1.2.2 Aplicações dos conhecimentos entomológicos: * tráfico de entorpecentes; * maus tratos; * mortes violentas; **revelar o modo e a localização da morte do indivíduo; **Resolução de morte de não-humanos: gado e espécies protegidas. **Estimar o tempo de morte (intervalo post mortem - IPM). 2. CATEGORIAS 2. CATEGORIAS Divide-se em 3 categorias distintas: * Urbana; ** Grãos armazenados; *** Médico-legal. 2.1 Entomologia Urbana: * Controvérsias relacionadas a cupins, baratas e outros grupos de insetos. * Ações públicas : moscas provenientes de currais e locais de criações de animais domésticos. * Pacientes em hospitais ou s ob cuidados de enf ermeiros (ações por negligência). * Ações contra necrotérios (ataque de moscas em cadáveres)

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UFTPR – UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ

Engª. Agrª. Drª. Ozana Andrade Maia

1.1. INTRODUINTRODUÇÇÃOÃO

1.1 Hist1.1 Históórico:rico:*Sung Tzu (1235, China)

La Faune des Cadaveres (1894) Jean Pierre Mégnin (1828-1905)

Mégnin (1878) Paul C. H. Brouardel (1837-1906) .

cadáver de um recém nascido grande quantidade d e ácaros fezes e exúvias de ácaros- Tyroglyphus longior(=Tyrophagus longior) (Acaridae, Astigmata)

Tyroglyphus mycophagusNo Brasil : inicio em 1908 (Oscar Freire)Entomologia Forense: cresceu nos últimos 10 anos...

1.2 Aspectos relacionados a Entomo logia Forense1.2 Aspectos relacionados a Entomo logia Forense

1.2.1 Entomologia Forense ou Entomologia

Médico Legal

* Estudo de insetos e artrópodes associados às questões

criminais. Realizado através da associação dos restos de

vertebrados ~ determinar o tempo transcorrido desde a

morte.

* Ferramenta utilizada em crimes contra pessoas.

* Necessário o conhecimento detalhado de Taxonomia,

Biologia e Ecologia de insetos para uma análise fiel.

1.2.2 Aplicações dos conhecimentos

entomológicos:

* tráfico de entorpecentes;

* maus tratos;

* mortes violentas;

**revelar o modo e a localização da morte do

indivíduo;

**Resolução de morte de não-humanos: gado e

espécies protegidas.

**Estimar o tempo de morte (intervalo post

mortem - IPM).

2. CATEGORIAS2. CATEGORIAS

Divide-se em 3 categorias distintas:

* Urbana;

** Grãos armazenados;

*** Médico-legal.

2.1 Entomologia Urbana:

* Controvérsias relacionadas a cupins, baratas e outros grupos de insetos.

* Ações públicas : moscas provenientes de currais e locais de criações de animais domésticos.

* Pacientes em hospitais ou sob cuidados de enfermeiros (ações por negligência).

* Ações contra necrotérios (ataque de moscas em cadáveres)

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2.2 Entomologia de Produtos Armazenados

*Infestações de artrópodes/partes de insetos

*Resto de insetos em cereais matinais, lagartas em vegetais enlatados, larvas de moscas em sanduíches.

*Consumidores: Fraudes a empresas, “plantando”insetos ou partes de insetos em produtos.

2.3 Entomologia Médico-legal:

2.3.1 Violência ou Homicídio deliberado:

**Anafilaxia: causada pela ferroada d e abelhas;**Acidentes de trânsito: causado pela d esatenção

(evasão de insetos).

**Casos de maus tratos a crianças: laudo em dias de privação de higiene é feito em função da idade das larvas presentes em fraldas, roupas e camas.

**Entorpecentes: determina a or igem de pacotes de maconha (insetos retidos na prensagem) : através da distribuição geográfica.

2.3.2. Local da morte

** distribuição geográfica,

**habitat natural;

**biologia das espécies coletadas na cena da

morte (possível verif icar o local onde a morte ocorreu).

Ex: certas espécies de dípt eros da família Calliphoridae(encontradas em centros urbanos)

Associação dessas espécies a corpos encontrados em meio

rural, sugere que a v ítima tenha sido morta no centro e

levada para o ponto onde foi encontrada.

2.3.3 Modo da morte

* Drogas e tóxicos (cocaína, heroína, “metanfetamina”

“amitriptilina):

*Quando presentes nos corpos afetam a velocidade do

desenvolvimento de insetos necrófagos.

*Efeitos no desenvolvimento das larvas e da

decomposição, podendo indicar um caso de morte por

ingestão de dose letal dessas substâncias (“over dose”)

*Arseniato de chumbo e o carbamato, impedem a colonização

do cadáver por certos insetos necrófagos.

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grande capacidade olfativa

Primeiros insetos a localizarem a carcaça

* utilização do cadáver:� substrato � alimentação� postura de ovos e larvas � encontro com o outro sexo.

* Cerca de 15 min. após a morte.

* Sangramento: mais rápido.

* Colonização: 3 horas.

* Informações como:

� Variações de habitats�Sazonalidade� Períodos de atividade�Abundância� Riqueza de espécies

* Torna-se possível fazer inferências sobre:

� se um corpo foi removido do local em que ocorreu o crime; � o modo de como ocorreu a morte em certas circunstâncias.

2.3.4 Entomotoxicologia.

�utiliza os insetos para detectar drogas e toxinas

presentes em um corpo e investigar o efeito

dessas substâncias no desenvolvimento d esses

seres.

* Moscas de hábito necrófago - substâncias presentes nos

corpos pela ingestão de tóxicos anteriormente à morte, podem

ser encontradas nas larvas que se alimentaram dos cadáveres

contaminados.

* Outros fatores que afetam a taxa de desenvolvimento:

*Temperatura: quanto maior, mais rápido o ciclo;

*Calor gerado pela massa larval;

*Fonte alimentar: tipo de tecido em que foi real izada a

postura;

*Toxinas: prejudicam ou estimulam a taxa de

desenvolvimento.

2.3.5 PRINCIPAIS ORDENS DE INTERESSE MÉDICO-LEGAL

ORDEM: DIPTERA

FAMILIA: CALLIPHORIDAE* Cores vibrantes (moscas varejeiras)

** Estão entre as primeiras a chegarem.

*** Calliphora vomitoria

ORDEM:DIPTERAFAMILIA: SARCOPHAGIDAE

* Grandes;

** Coloração cinza

***Também são as primeiras a chegarem

**** Sarcophaga spp

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ORDEM: DIPTERAFAMÍLIA: MUSCIDAE

Musca domestica

ORDEM: COLEOPTERA

(besouros)FAMILIAS: SCARABAEIDAE, SILPHIDAE E

DERMESTIDAE

Cedo ou tarde chegam ao corpo, depende do estado de decomposição.

* Muscidae, Calliphoridae e Sarcophagidae: holometábolos (três instares larvais)* Família Sarcophagidae não possui a fase ovo no meio externo. * (16-24 horas)

* 3 estádios larvais;* Terceiro estádio (dividido em duas fases: primeiro a larva completa a sua alimentação no substrato, depois para de se alimentar, se afasta do substrato de alimentação procurando um local seco e seguro para empupar). * (4-6 dias).

2.3.6 CICLO DE VIDA *Larva se torna imóvel, retrai seus segmentos até ficar na forma de um pequeno barril;

* Cutícula externa da larva sofre uma queima fenólica ficando dura e escura.

* (5 a 8 dias)

* Em alguns dias a mosca adulta emerge.

*** Ciclo evolutivo ≈ 10 dias

*** Ciclo de vida ≈ 20 dias

*** Fêmea ≈ 900 ovos

2.3.7 COMO DIFERENCIA-LAS

*Ciclo de vida ~ Sarcophagidae difere dos Call iphoridae: não ovipositam ~ depositam as larvas já em seu primeiro estádio

no substrato.

*Desenvolvimento mais lento dentro do corpo da fêmea ~

produção de d escendentes é menor se comparado com as

famílias Calliphoridae e Muscidae.

*Estudos de sucessão sugerem: Famílias Calliphoridae,

Sarcophagidae, Muscidae (dípteros mais utilizados em

estudos referentes ao IPM, cerca de 60% das espécies

encontradas em carcaças).

2.4 ESTÁGIOS DE DECOMPOSIÇÃO

* Fresco (1° dia): observa-se massas de ovos.

* Fresco ao inchado (primeira semana): larvas recém-

eclodidas nos orifíc ios do corpo (nariz,

olhos e boca).

* Besouros começam a aparecer.

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* Inchado para deterioração (2ª a 4ª semana) : odor

fétido, diminui a atividade das larvas e os besouros estão

presentes.

O inchaço diminui.

* Seco (d epois de um mês e durante o 1° ano): o esqueleto

pode apresentar musgos, roedores e

vespas podem construir ninhos.

ESTÁGIOS DE DECOMPOSIÇÃO

11 22 33

6644

Fresco(1° dia)

Inchado(primeira semana)

Deterioração(2ª a 4ª semana)

Secoapós um mês e durante

o 1° ano

55

Desgaste dos ossos (depois de um ano)

3. Metodo logia de coleta:

3.1 Kit de coleta:

– termômetro de sonda – termohigrômetro;

– rede entomológica -algodão – sacos plásticos;

– potes plásticos com tampa (tubo de filme fotográfico);

– acetato de etila ou éter -álcool 70%;

– agulha; – luvas descartáveis;

– máscaras descartáveis – isopor;

– gelo gel – garrafa térmica;

– etiquetas -caneta marcadora permanente

– elásticos – organza;

– placas de Petri -copos plásticos ou isopor;

3.2 Procedimentos no local

Dados:

**Temperatura e umidade (clima do local, relativos aos dias

anteriores ao dia em que o cadáver foi encontrado)

**Fatores relacionados ao local onde a morte se deu e ao

cadáver devem ser anotados.

**Os insetos encontrados devem ser coletados.

**Procedimentos devem garantir meio de alimentação e de

pupação, além de evitarem competição, predação e

desidratação.

**Amostras do solo devem ser coletadas.

PROCEDIMENTOS PARA EFETUAR A COLETA: 3.3 Coleta

* Adultos: éter (anestés ico) rede entomológica

* Imaturos: pinças

* Larvas: Acondicionar em potes com vermiculita ou maravalha

+ substrato protéico

* Ovos: Placas de Petri + papel filtro úmido

3.4 – Acondicionamento de amostras

Não congelar ~ isopor com gelo-gel

Encaminhar para análise (período superior a 12 horas ~ manter

substrato protéico)

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3.5 Procedimentos em laboratório

* 2 primeiros ínstares de d esenvolvimento: identificação mais

difícil ~ criá-los até a emergência dos adultos, para

determinação das espécies.

* A partir do terceiro instar larval: identificação é feita

através de chaves específ icas para o grupo.

* Todos os potes de criação devem ser preparados de forma a

evitar o ataque de formigas , desidratação, predatismo,

competição e contaminação.

* Os potes de criação: examinar todos de manhã;

* Procurar pupários : devem ser isolados para que possam

ser observadas as respectivas emergências.

* Após a emergência, os adultos devem ser deixados nos

recipientes, por cerca de um dia.

* Os adultos coletados no local do crime, bem como os que

emergem, são mortos por t écnica de congelamento ou

anestesiados com acetato de etila.

* Examinar ao microscópio, identificar e montar em alf inetes

entomológicos.

* Anotar data e hora da maior incidência d e emergência dos

espécimes criados.

* Montar tabelas: tempo requerido para o desenvolvimento até

a emergência e a temperatura de criação da espécie

(literatura), bem como os valores de temperatura do local em

que o cadáver foi encontrado.

* Valores são utilizados para estimar a temperatura em que os

espécimes capturados estavam sujeitos nos corpos, que por

sua vez determina seu desenvolvimento através de um

conceito denominado “grau-dia acumulado”.

* Desta forma, podemos aval iar o t empo que o cadáver

encontrava-se exposto à atividade dos insetos ( intervalo pós-

morte).

caixas contendo ovos elarvas

pupas

gaiolas para criação de adultos

placa de Petri com carne de vaca para postura de ovos.

3.6 GRAU DIA ACUMULADO (GDA)

* Obter dados temperatura similar ou próxima àquela

encontrada no local da morte através de literatura:

* O calor metabólico gerado pela massa de larvas pode ser

suficiente para aumentar a temperatura da massa bem acima

da temperatura do ambiente.

* Portanto: importante cons iderar a temperatura da massa de

larvas, principalmente, para os últimos ínstares larvais.

É aconselhável util izar a temperatura de acordo com o

estágio de desenvolv imento coletado:

* Temperatura ambiente: deve ser usada para determinar o

desenvolvimento em imaturos nos primeiros estágios de

desenvolvimento;

* Temperatura da massa de larvas: para os últimos ínstares;

* Temperatura do solo para pupas.

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3.7 CÁLCULO DO GRAU DIA ACUMULADO

(GDA).

* Temp. local média = (max.+min)/2

* Temp. diária média = (max + min)/2

* Temp. massa = valor coletado na massa larval

3.8 ESTIMATIVA DO LIMITE DE TEMPO

MÁXIMO DE IPM

* A estimativa de limite de tempo máximo de IPM é aplicada a

cadáveres em adiantado estado d e decomposição;

* Baseada na composição da comunidade de artrópodes

relacionados ao padrão de sucessão esperado.

* É possível ca lcular o IPM através do comprimento total da

larva. Deve-se considerar o encurtamento sofrido pelo imaturo

ao se aproximar a pupação, ou pode induzir a erro.

3.8 CÁLCULO DO LIMITE DE TEMPO MÍNIMO

DE IPM

* A estimativa de limite de tempo mínimo de IPM é aplicada a

cadáveres em estado inicial de decomposição.

* Através da interpolação dos dados da evolução do

desenvolvimento de espécies criadas em t emperatura

conhecida, com o mais velho estágio larval coletado no cadáver

e as condições ambientais que eles estariam supostamente

expostos.

* Larvas mostram o mínimo de tempo que o corpo foi exposto,

raramente, insetos necrófagos ovipõem em uma pessoa viva.

4 APLICAÇÃO PRÁTICA

(Estudo de caso)

* EUA 2006;

* Sequestro seguido d e morte;

* Duração: 15 dias

* Para a Defesa: disparo acidental (homicídio culposo) – 2 a 6

anos de pr isão;

* Para a Promotoria : (homicídio doloso) – 25 anos a perpétua

** Premeditação: pena de morte.

* Coleta Entomológica: ovos, larvas, pupas e adultos de

Calliphora vicina

* Dados:

Ciclo Evolutivo:

Calliphora vicina: 30ºC - 10 dias

* Ovo:

* L1= 23 h

* L2= 27 h

* L3= 22 h

* Pupa= 130 h

* Adulto= 143 h

5 INFORMAÇÕES ADICIONAIS

1. O link do Instituto Biológico

2. Consulte vídeos sobre Entomologia Forense.

3. Artigo: “Cem anos da Entomologia Forense no Brasil (1908-

2008)”

4) Vídeo Entomologia Forense mostra as pesquisas realizadas

na Universidade Federal do Paraná nesta área. É bastante

ilustrativo em relação ao trabalho científ ico associado a

prática utilizada judic ialmente.

5) Vídeo "O desenvolvimento dos insetos“ é didático e mostra

características dos insetos e os tipos de desenvolvimento.