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    Livro retirado de: http://obeco.no.sapo.pt/livro_aviso_naufragos.htm(11/11/2010)

    Ttulo original: Avis aux naufragés - Chroniques du capitalisme mondialisé en criseLignes ! "anifeste# $aris# 200%

    Aviso aos Náufragos&r'nicas do &apitalismo "undialiado em

    &rise

    obert *ur

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    dos mercados emergentes na Bsia# ,m-rica Latina e na 3uropa ?riental# so osmercados financeiros dos centros capitalistas como 3stados Cnidos# 3uropa e Dapo ueesto sob amea9a de desabamento.

    Ee esta colet6nea trata de +uest7es da atualidade+# isto deve ser entendido no sentidoforte do termo< no no sentido de atualidade em ue um evento substitui outro sem

     parar# mas de atualidade ue invoca a dura9o. 5esemprego estrutural de massa eliuida9o do 3stado social nos pases do centro capitalista# economia de pilhagem eguerras de ordenamento mundial nos pases da periferia... *ur dota todos essesfen>menos de inteligibilidade e os inscreve em sua verdadeira moldura: o modo de

     produ9o capitalista em vias de imploso.

    , essas an8lises o autor acrescenta a critica das formas de consci;ncia fetichiadas ueatribuem a crise e seus flagelos no ao capital# mas aos indivduos ou aos grupos de

    indivduos particulares (americanos# @udeus# mu9ulmanos# burgueses...)# e desmonta ascrticas do capitalismo ue pretendem combat;lo reivindicando os ideais ue o fundam:a ideologia das Lues e os direitos humanos. 3le mostra enfim ue a luta por interessesvitais no pode mais se dar pelo apego +classe oper8ria criadora de valor+# porue asnovas for9as produtivas estouraram a economia fundada sobre o valor e tornaramobsoleto o ethos do trabalho. , +lutas de classes+ tradicionais no eram mais do uelutas de reconhecimento no seio do sistema mercantil# e suas invoca97es nost8lgicas soho@e impotentes face ao horror econ>mico. $or-m# - precisamente deste esuemaintelectual ue a nova esuerda alternativa mundialiada permanece prisioneira A uando ela no defende um FeGnesianismo caduco.

    Huando obert *ur di ue o mundo capitalista se parte em peda9os# ele no profetia:ele mostra o ue @8 - um resultado. &ontudo# ele no p8ra nesta crtica constante< indicatamb-m em ue poderia consistir um princpio de luta real# mobiliadora# em dire9o aum mundo novo. $ara *ur# os termos da alternativa social so: uma sociedadedesembara9ada do trabalho e da mercadoria ou a barb8rie mundialiada.

    ?bs.: ? ttulo desta obra - tomado de um poema do poeta brasileiro $aulo LeminsFi(1=1=I=).

    Tradutores para o franc;s:

    ?livier Jaltier# Kolfgang *uFulies# Luc "ercier e Dohannes ogele

    http://www.exit-online.org/.

    http://obeco.planetaclix.pt/ 

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    http://www.exit-online.org/http://obeco.planetaclix.pt/http://www.exit-online.org/http://obeco.planetaclix.pt/

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     Robert Kurz  

    REA!"#A" E $%N&A'EN#A!"#A"

    &e regresso ao s(culo )*!!: a auto-ilus+o ideol,gica do cidente

     Ma imagem ue fa de si mesmo# o ?cidente - um mundo NlivreO# democr8tico eracional# ou se@a# o melhor dos mundos possveis. 5o seu ponto de vista# esse mundo -

     pragm8tico e aberto# sem pretens7es ut'picas ou totalit8rias. &ada um deve Nser felisegundo seu pr'prio modo de serO# de acordo com a promessa de toler6ncia feita peloPluminismo europeu. ?s representantes desse mundo se diem realistas. ,firmam uesuas institui97es# seu pensamento e sua a9o encontramse em harmonia com as NleisnaturaisO da sociedade# com a NrealidadeO atual. ? socialismo# pelo ue ouvimos#desmoronou porue era NirrealistaO. Dunto com o socialismo# foi definitivamente

    enterrada toda utopia de uma mudan9a fundamental da sociedade. 3 os antigos crticosdo "a# of life  ocidental agora se acotovelam nas bilheterias do NrealismoO paracomprarem a tempo seu ingresso na economia de mercado globaliada.

    3sse idlio da toler6ncia e da democracia econ>mica mundial# no entanto# produiu umnovo inimigo. &om a morte do socialismo# entrou em cena o fundamentalismo religioso.? fundamentalismo - feio# muito mais feio do ue o socialismo @amais poderia s;lo.,os olhos dos ide'logos ocidentais# ele possui fei97es 8rabes muito acentuadas. Mosltimos anos# o $ent8gono come9ou a conceber o fundamentalismo isl6mico como umsubstituto para o papel de inimigo hist'rico. &omo nos tempos da Juerra Qria# sosubvencionadas na nova constela9o mundial todas as for9as polticas ue se declaramcontra o fundamentalismo e a favor do ?cidente# por mais corruptos e cru-is ue se@amos regimes frente de tais for9as. "as o novo c8lculo estrat-gico com ue osespecialistas ocidentais procuram @ustificar sua e4ist;ncia insiste em dei4ar resto. ,ocontr8rio do socialismo# o fundamentalismo no - mais um advers8rio racional#

     politicamente definido e previsvel em suas a97es. ,l-m de no possuir um centro deatividades nitidamente locali8vel no mundo# ele tamb-m no se restringe apenas aoislamismo. 3m muitas regi7es da Bfrica nomu9ulmana e em toda a ,m-rica Latina#seitas fundamentalistas crists assumiram nos ltimos anos o lugar antes ocupado pelos

    movimentos socialistas.

    , mesma iluso social do fundamentalismo religioso floresce tamb-m nos pr'prioscentros econ>micos ocidentais. Qoi um choue para os 3stados Cnidos descobrirem ueos respons8veis pelo devastador atentado a bomba em ?Flahoma &itG no eramterroristas isl6micos e estrangeiros# mas sim cidados brancos e norteamericanos#adeptos de uma fac9o ideol'gica crist. 3 uem poderia imaginar ue num pas como oDapo# considerado o aluno e4emplar do sucesso econ>mico# um movimento radical ue

     prega o final dos tempos# o ,um EhinriFGo comandado por EhoFo ,sahara# pudesseinfluenciar tantas pessoas e at- aliciar adeptos no 34-rcito @apon;sR

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    ?s fan8ticos religiosos tomam a ofensiva por toda parte. 5e onde eles v;mR &omcertea no de outros planetas. ;m @ustamente do interior do pr'prio mundo dominado

     pela economia de mercado. ? NrealismoO neoliberal# na verdade# conhece muito mal as pessoas. Mingu-m mais pode negar ue no mundo do liberalismo econ>mico a mis-riasocial se alastra como um inc;ndio de vastas propor97es. Mo apenas no Srasil# mastamb-m em todo o mundo a liberdade e toler6ncia ocidentais do provas de um cinismo

     pr'prio Ndemocracia do apartheidO# como bem a denominou Durandir Qreire &osta(Cniversidade do io). ,o mesmo tempo# no - apenas nas favelas ue os vnculossociais so rompidos# mas em todas as classes sociais. Tanto o efetivo processoecon>mico uanto a ideologia neoliberal tendem a dissolver as rela97es humanas naeconomia. ? economista norteamericano JarG E. SecFer foi laureado# em 1==2# com o$r;mio Mobel por desenvolver a hip'tese de ue todo comportamento humano (at-mesmo o amor) - orientado pela rela9o custobenefcio e pode ser representadomatematicamente.

    ?s NrealistasO no t;m resposta para a mis-ria social nem para a mis-ria das rela97es esentimentos humanos num mundo inteiramente racionaliado pela economia< elesapenas encolhem os ombros e passam ordem do dia imposta pelo mercado. "as amis-ria no pode permanecer calada# tem de encontrar sua pr'pria linguagem. &omo

     por-m a linguagem racional do socialismo est8 morta# o irracionalismo da linguagemreligiosa fa seu retorno a uma sociedade confusa s' ue agora com uma gram8ticamuito mais selvagem e funesta. ? neoliberalismo econ'mico clama Neconomia demercadoO e fase ouvir o eco pseudoreligioso Nfim do mundoO. ,gora se tornou

    evidente ue o socialismo no era apenas uma ideologia# mas tamb-m uma esp-cie defiltro -tico sem o ual a civilia9o moderna - totalmente incapa de e4istir. $rivadadesse filtro# a economia de mercado sufoca em sua pr'pria imundcie# ue dei4ou de ser digerida institucionalmente.

    ,o longo de uase 1%0 anos# at- a d-cada de U0 deste s-culo# todo surto demodernia9o econ>mica desencadeava simultaneamente uma rea9o revolucion8ria da

     @uventude intelectual. , solidariedade aos Nfracos e oprimidosO foi sempre um forteimpulso oposi9o e crtica radical# inclusive entre a N@uventude douradaO das classesmais altas da sociedade. ,p's a vit'ria global do mercado# esse impulso e4tinguiuse.

    ?s N golden bo#s e as N golden girlsO da era neoliberal uerem apenas @ogar na Solsa. , @uventude da classe m-dia# numa atitude narcisista# est8 desmoraliada e dei4ou de ladoo trabalho intelectual. Eeu esprito capitulou diante do mercado globaliado. Ee@a no3gito ou na ,rg-lia# no Srasil ou na Vndia# @ovens ocidentaliados sonham em ganhar dinheiro como engenheiros ou m-dicos# @ogadores de futebol ou corredores deatletismo< no se sentem mais respons8veis pela mis-ria social.

    3 tamb-m no ?cidente a classe m-dia mergulha no cinismo social. Ma ,lemanha# entrecertos @ovens ue conduem carros de lu4o# tornouse chic  um autocolante com os

    dieres: N, sua pobrea desgostameO ?s intelectuais estetiam a mis-ria e a e4ploramcomercialmente< os sofrimentos daueles ue passam fome so transformados em

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     publicidade. ? temperamento ditado pela l'gica do mercado chegou mesmo a criar umNculto maldadeO. 3m seu livro sobre o Nenascimento do "alO# o soci'logo alemo,le4ander Echuller afirma: NMo - mais o progresso e a rao ue povoam nossocotidiano e nossa fantasia# mas sim o mal. 5esde a ueda do socialismo# - possvelverificar um aumento emprico da crueldade# e por toda parte impera uma maldadeincompreensvelO. "as# se a pr'pria @uventude da classe m-dia est8 moralmente

     perdida# a base moral para ue os filhos dos pobres compreendam sua mis-ria - aindamais problem8tica. Muma pesuisa realiada em "oscou com menores de 1 anos# amaioria dos meninos respondeu ue sua Nprofisso de sonhoO - ser NmafiosoO# e asmeninas# NprostitutaO.

    ? fundamentalismo no supera esse estado de desmoralia9o# mas apenas lhe d8 umae4presso irracional. Huando essa regresso pseudoreligiosa se apodera do ltimoresduo de uma esperan9a perdida# dei4ada pendente e aruivada pela hist'ria# a vontade

    de mudan9a tornase o p8lido dese@o de ser dei4ado em pa pela economia de mercado#encontrar o caminho de regressso a uma ordem social descansada# e poder se sentar emfrente da porta# sem ter de pensar no dia seguinte. ? fundamentalismo# por-m# no

     possui um programa de emancipa9o social# mas apenas um pro@eto ideol'gico de puraagresso# resultado ali8s do pr'prio fracasso da emancipa9o. Todo o seu programaesgotase num mpeto agressivo com roupagem religiosa# como na e4presso dos @ovensfavelados de $aris: N $%ai la haineO tenho 'dio. ,s novas religi7es do 'dio# se@am elasde origem isl6mica ou crist# so todas de naturea sint-tica# arbitr8ria e ecl-tica. Todast;m apenas o nome em comum com as aut;nticas tradi97es religiosas a ue se remetem.

    Eo um subproduto da modernidade decadente das sociedades de mercado ocidentais ouocidentaliadas. $elo pr'prio fato de no oferecerem uma perspectiva hist'rica# tornamse uma atraente alternativa de carreira para peuenos e grandes NlderesO ue se valemdo ressentimento generaliado.

    ?s representantes da sociedade oficial e os ide'logos do neoliberalismo reagem a essaevolu9o tentando aliar a l'gica de mercado s Nvirtudes conservadorasO. ?s homensdevem ser ao mesmo tempo egostas e altrustas# implac8veis na concorr;ncia ehumildes perante 5eus# minuciosos no c8lculo abstrato de custos e benefcios e aomesmo tempo moralmente imaculados. &om essa esuiofrenia -tica e pedag'gica# o

     pensamento dos pr'prios NrealistasO da economia de mercado transformase na mentirados fundamentalistas: no h8 como diferenciar uma ideologia da outra. 3 isso noadmira# pois o pano de fundo do fundamentalismo - constitudo no apenas pela

     pobrea# mas tamb-m pelo medo da classe m-dia com rela9o aos pobres. , iluso pseudoreligiosa constr'i seu ninho tanto nas cabe9as dos pobres uanto na dos ricos. 3a milit6ncia social da classe m-dia# sob o disfarce de religio# no - menos poderosa doue a loucura dos pobres. 3m seu ensaio Nis7es da Juerra &ivilO# o escritor alemoWans "agnus 3nensberger caracteria essa tend;ncia das Nsociedades respeit8veisO:N&idados discretos transformamse da noite para o dia em hooligans# incendi8rios#

    fan8ticos raivosos# serial &illers e francoatiradoresO.

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    ? fundamentalismo - NrealistaO e o NrealismoO - fundamentalista. ,mbos possuem amesma estrutura ideol'gica. ,mbos falam# como se sabe# do Nfim da hist'riaO# s' ue aescatologia do mercado acredita ue esse fim @8 foi alcan9ado. 3 ambos se movem nosmesmos meios: os empres8rios# assim como os pregadores supostamente iluminados#so 8vidos por dinheiro e ainda# como os polticos# so 8vidos por aparecer na televiso#tal como os N3stados teocr8ticosO so 8vidos pela bomba at'mica. Tudo mdias do?cidente. ?s falsos profetas no t;m ualuer ideia de uma sociedade diferente< pode selhes aplicar a id-ia formulada pelo soci'logo canadense "arshall "cLuhan nos anossessenta: N? meio - a mensagemO.

    $or outro lado# no se pode negar o car8ter uase religioso do Nrealismo econ>mico.$ois no vimos o presidente Jeorge Sush# a e4emplo de seu advers8rio isl6micoEaddam Wussein# enviar frente de batalha o 5eus de uma religio militanteR 3 isso no- apenas um simples detalhe. , racionalidade do mercado tem origem religiosa< ela s' -

    racional na medida em ue um sistema irracional fechado sobre si mesmo cria suaracionalidade interna. ? resultado da hist'ria moderna A o mercado total A - o resultadode uma religio seculariada ue ganhou forma no protestantismo. ?s 3stados Cnidos# altima pot;ncia mundial do mercado mundial# esto impregnados do fundamentalismocalvinista ue considera o Nfaer dinheiroO um fim em si mesmo. , toler6ncia ocidental- somente uma forma particularmente p-rfida de intoler6ncia# pois o deus do mercadono admite nenhum outro deus al-m de si mesmo e tolera apenas auilo ue se submeteincondicionalmente a seus m-todos.

    ? fim da hist'ria - o retorno da hist'ria. ? incio da modernia9o econ>mica foimarcado pelas guerras religiosas do s-culo 1U. 3ssa -poca foi substituda peloabsolutismo# com sua estrutura estatal e mercantilista. Eomente no s-culo 1= nasceu oliberalismo do livre mercado. "as como definir o s-culo 20R Eob o aspecto formal# eletransformou o mercado numa totalidade perfeita# mas no sem provocar crisesavassaladoras. 3ste - o s-culo em ue a hist'ria come9ou a voltarse para o passado. ,seconomias estatais das duas guerras mundiais# o socialismo estatal tanto do ?rienteuanto do hemisf-rio sul e tamb-m o FeGnesianismo do ?cidente (com seus rudimentosde economia estatal) podem ser compreendidos de certa maneira como um regresso era mercantilista. Wo@e# ap's o colapso de todas as variantes da economia de 3stado

    moderna# o neoliberalismo promete uma nova 3ra de ?uro para o livre mercado. "as#se - verdade ue a hist'ria voltouse realmente para o passado# uma era totalmentediferente nos acena do futuro. ? cientista poltico norteamericano Eamuel $.Wuntington di mais do ue imagina ao propor a hip'tese de ue a -poca dos conflitosentre ideologias e 3stados nacionais ser8 substituda por um Nconflito de civilia97esO.Hual o significado disso# seno ue o processo de modernia9o econ>mica A antes deser definitivamente sugado pelo buraco negro da hist'ria A retornar8 era da milit6nciareligiosa e da Juerra dos X0 ,nosR

    ? neoliberalismo ser8 irremediavelmente arrastado por essa tend;ncia porue sua pr'pria Nutopia negraO do mercado total possui um germe de religio totalit8ria. ?

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    socialismo# ao contr8rio# no se baseava apenas na economia estatal# mas tamb-m naid-ia de uma sociedade solid8ria# ue sanciona suas pr'prias leis em ve de seguir 

     princpios irracionais. Ee no uisermos ue o s-culo 21 se torne uma nova -poca deguerras religiosas# devemos reformular o socialismo num registro no mais dominado

     pela economia de 3stado. Eomente desse modo ser8 possvel dar uma nova abertura hist'ria.

    riginal  'ealisten und (undamentalisten in YYY.e4itonline.org. $ublicado em )eues *eutschland de 11/12.0Z.1==. $ublicado na Qolha de Eo $aulo de 0%.11.1==% com ottulo A síndrome do obscurantismo e tradu9o de Dos- "arcos "acedo

    http://www.exit-online.org/

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    http://www.exit-online.org/link.php?tabelle=autoren&posnr=124http://www.exit-online.org/http://www.exit-online.org/http://obeco.planetaclix.pt/http://www.exit-online.org/link.php?tabelle=autoren&posnr=124http://www.exit-online.org/http://www.exit-online.org/http://obeco.planetaclix.pt/

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     Robert Kurz 

    %RA" &E RA# 0ARA EE$AN#E"

    dile1a da industriali2a3+o para exporta3+o e o caso hina

    $or muito tempo# a esperan9a social nos pases do Terceiro "undo esteve voltada para o paradigma da +liberta9o nacional+. , depend;ncia das economias imperiais dosantigos 3stados industriais devia ser superada em favor de uma industrialia9onacional aut>noma. ? meio para tanto foi sempre uma maior ou menor impermeabilidade ao mercado mundial# a fim de concentrarse na pr'pria economiainterna. ,s importa97es dos pases industrialmente avan9ados deviam ser substitudasna medida do possvel pela produ9o pr'pria. 3ssa estrat-gia# ue como se sabe goou

     por um bom tempo de primaia em suas incont8veis vers7es# no p>de desenvolver uma

    alternativa hist'rica ao capitalismo ocidental# mas se@a como for representou em v8rios3stados a tentativa de conduir todo o pas +modernia9o+ e distribuir a cada ual osfrutos do desenvolvimento.

    3m muitos aspectos formais podese comparar tal pro@eto com o mercantilismo# adoutrina do absolutismo europeu nos s-culos 1U e 1I. "as na teoria desenvolvimentistado Terceiro "undo tratavase apenas de um +mercantilismo pela metade+. , e4emplo da

     poltica econ>mica dos velhos prncipes absolutistas# a importa9o de mercadorias deviaser limitada e o 3stado ser o respons8vel pelo plane@amento da economia nacional ou

    mesmo agir ele pr'prio como empres8rio. [ diferen9a do mercantilismo hist'rico# por-m# a e4porta9o a todo custo no era o ob@etivo# mas ao contr8rio a concentra9o no pr'prio desenvolvimento interno.

    3ssa diferen9a pode ser tamb-m facilmente e4plicada. , doutrina mercantilistaapoiavase na e4porta9o porue no ueria# em primeiro lugar# desenvolver o pr'prio

     pas como tal# mas antes arrancar aos demais pases o m84imo de dinheiro possvel# afim de engrossar os fundos de guerra dos prncipes salteadores. ? e4-rcito e asuntuosidade da corte absolutista eram glut7es insaci8veis de moeda. ?s regimesdesenvolvimentistas do Terceiro "undo possuam igualmente certos tra9os

    +absolutistas+: eram autorit8rios# no raro tamb-m propensos ruinosa ambi9o militar e pompa burocr8tica irracional. 5e outro lado# no entanto# eles eram vincados por ummomento socialmente emancipat'rio ue se sedimentou na op9o do desenvolvimentointerno. Talve eles fossem menos afeitos e4porta9o porue# como retardat8rioshist'ricos# no podiam se impor da mesma forma ue o absolutismo europeu# ue aindanada tinha a temer com a concorr;ncia mais poderosa no mercado mundial.

    ? modelo poltico de desenvolvimento do Terceiro "undo caiu por terra. D8 antes deseu flagrante colapso ele padeceu uma longa agonia. $ois logo ficou patente ue a

    impermeabilidade ao mercado mundial era absolutamente impossvel# caso no seuisesse dei4ar de lado o ob@etivo do pr'prio desenvolvimento industrial. , substitui9o

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    das importa97es imp>sse apenas a produtos relativamente simples e pouco numerosos."uitos componentes necess8rios para uma produ9o industrial abrangente no podiamser elaborados pelos pases do Terceiro "undo. Ee mesmo assim uisessemdesenvolverse industrialmente# eles tinham antes de tudo de importar tais componentesdo mundo ocidental. ? ue significava ue tinham de ser obtidas as divisas para isso#atrav-s de e4porta97es pr'prias. $ouco a pouco# a economia do desenvolvimento viusea contragosto obrigada a curvarse e4porta9o ou at- a um +mercantilismo total+#muitas vees custa do abastecimento interno de bens de consumo e mantimentos

     b8sicos. , pobrea# ue se uisera eliminar# batia de novo porta dos fundos.

    &omo a disparidade entre os custos de importa9o e as receitas de e4porta9oaumentasse cada ve mais# os regimes resolveramse pela contra9o de dvidas nosmercados financeiros internacionais. ?ra# com isso a perspectiva do desenvolvimentointerno viuse de uma ve por todas denegada. 5e fato# agora patenteavase ue @8 a

    m-dio prao os custos para os cr-ditos resultavam mais elevados ue as rendas dosinvestimentos financiados com a@uda desses mesmos cr-ditos. ? saldo foi a crise deendividamento do Terceiro "undo# ue desde ento no p8ra de inchar. Trocando emmidos# as rendas com a e4porta9o @8 no podiam seuer ser utiliadas para odesenvolvimento interno da economia# mas uase e4clusivamente para cobrir as dvidasnos mercados financeiros globais. Psso em nada mudou at- ho@e. , maioria dos pasesdo Terceiro "undo est8 a ser sangrada. ?s velhos regimes desenvolvimentistastransformaramse em feitores do capital monet8rio transnacional e desse modo

     perderam todo momento emancipat'rio.

    5esta necessidade fieram virtude as institui97es internacionais como o Sanco"undial e o Q"P# sob a -gide da abertura neoliberal ao mercado global. 3las prometemuma nova perspectiva# diametralmente oposta antiga teoria do desenvolvimento: agorao desenvolvimento no cabe mais substitui9o de importa97es e vastaindustrialia9o interna# mas antes a uma industrialia9o para e4porta9o. Psso significaue @8 no se aspira mais a um comple4o industrial amplo e escalonado# ue englobetodos os setores essenciais# desde a indstria de base at- a produ9o de bens deconsumo# e garanta a coeso da economia interna. 3m ve disso# cada pas h8 de

     procurar seu +nicho de e4porta9o+ especfico# de acordo com a teoria do livre

    cambismo# e concentrarse naueles produtos ue podem ser manufaturados com custosrelativamente bai4os e para os uais vigoram portanto +vantagens comparativas+ nomercado mundial.

    Pnfelimente# essa teoria das +vantagens comparativas+ de 5avid icardo (1UU21I2X) no vingou nem mesmo no passado. Huando muito ela podia funcionar uando setratasse de uma troca entre na97es ue# em primeiro lugar# promovem o grosso de suareprodu9o por meio da economia interna e e4portam ou importam relativamente

     poucos produtos e ue# em segundo lugar# possuem uase o mesmo nvel de

    desenvolvimento. ,mbas as condi97es aplicamse menos do ue nunca ao mundo atual. Mo estamos perante nveis compar8veis de desenvolvimento nem economias nacionais

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    coerentes. , globalia9o do capital @8 - uma manifesta9o da crise hist'rica uealcan9ou tamb-m os pases centrais capitalistas. 3is por ue todavia o desnvel dodesenvolvimento no diminuiu. , crise tem portanto de atingir com tanto maisvirul;ncia os antigos +pases em desenvolvimento+. , rigor# os conceitos +e4porta9o+ e+importa9o+ tornaramse absurdos. Eomente no plano formal tratase ainda de umatroca entre economias nacionais independentes.

    $or isso# tamb-m a e4presso +vantagens comparativas+ caiu no absurdo. 5e modoalgum procede ue as na97es produam o grosso para si e importem e e4portemsomente os produtos para os uais vigoram +vantagens comparativas+. ? novoimediatismo do mercado mundial imp7e sucessivamente o fabrico apenas dos produtoscapaes de encontrar seu lugar ao sol a pre9os relativamente mais bai4os e largar mode tudo mais. "esmo para icardo isto seria uma loucura e uma impossibilidade. &ada

     pas s' pode ocupar uns poucos nichos de e4porta9o# ao passo ue o resto - inundado e

    sufocado pela oferta globaliada. ?s pases dei4am de ser pases e tornamse onas domercado mundial com diferentes densidades. 3 isto euivale a afirmar ue a

     possibilidade de e4ist;ncia abrese somente aos ue se@am capaes de tomar posse dosnichos do mercado mundial. Psso no toca apenas aos trabalhadores# mas tamb-m aosempres8rios.

     Ma verdade# a chamada estrat-gia de industrialia9o voltada para a e4porta9oseletiva no - um conceito econ>mico# mas simplesmente empresarial. ?s ide'logos dolivrecambismo# a uem @8 no s-culo 1= coubera a runa de v8rios milh7es de pessoas#argumentam agora ue a situa9o no - necessariamente essa. &omo suposta prova# elesinvocam os +peuenos tigres+ do Eudeste asi8tico. W8 muitas ra7es para ue tamb-m aop9o dos +peuenos tigres+ no se@a sustent8vel a longo prao. 3les no somentevivem dos circuitos globais de deficit# mas tamb-m amea9am a todo instante recair emnovas crises de endividamento por causa dos custos com infraestruturas einvestimentos na racionalia9o. ,fora isso# resta saber se o sucesso relativo ehistoricamente talve apenas ef;mero dos poucos rec-mchegados ser8 e4tensvel atodos.

    , industrialia9o seletiva voltada para a e4porta9o significa ocupar nichos no

    mercado mundial. ? termo +nicho+ @8 di todavia ue se trata de um espa9o bastanterestrito e apertado. ?s +tigres+ @8 t;m de ser um bocado peuenos# se uiserem como

     pas se encai4ar nesse espa9o. ?u melhor diendo: eles t;m na verdade de ser ratos# poisapenas ratos cabem num buraco de rato. 5a a validade do preceito: uanto menor um

     pas e uanto menor sua popula9o# mais a estrat-gia empresarial dos nichos dee4porta9o harmoniase com todo o 3stado. 3 viceversa: uanto maior um pas euanto maior seu nmero de habitantes# mais absurda tornase a op9o pelos nichos nomercado mundial.

    ,cerca disso disp7ese de provas absolutas e relativas. ,s estrelas do mercado globalno Eudeste asi8tico# Wong *ong e &ingapura# so minsculas cidadesestados com

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    menos de X milh7es de habitantes. Psso euivale a mais ou menos 1/Z da popula9o deEo $aulo. 3stes ratos t;m ao menos um posto tempor8rio num buraco de rato domercado mundial. D8 mais delicado - o caso de pases como &or-ia do Eul# TaiYan ouTail6ndia# na Bsia# ,rgentina e &hile# na ,m-rica Latina# e $ol>nia# epblica Tchecaou Wungria# no Leste europeu. 3stes pases# ue t;m apro4imadamente entre 1% e %0milh7es de habitantes# @8 possuem mais o tamanho de gatos ue de ratos. $or isso# eles

     podem alocar no nicho apenas uma parte de seus homens e mulheres e t;m de suportar as feridas da compresso. Pndon-sia ou Vndia# na Bsia# Srasil# na ,m-rica Latina# essia# no Leste europeu# todos pases com mais de 120 milh7es de habitantes#assemelhamse por sua ve a elefantes# aos uais a oferta de um lugar no buraco de ratono passa de derriso ou cinismo.

    W8 por-m um pas no mundo onde a op9o pelo nicho de e4porta9o surte por assimdier um efeito aterradoramente monstruoso e obsceno. 3ste pas - a &hina. , enorme

    massa ue e4cede ho@e 1.200 milh7es de habitantes nem mais elefante -# mas sim ummamute ou mesmo um dinossauro. ? ue ocorrer8 uando se oferecer a essa montanhahumana um confort8vel lugar num buraco de ratoR ?s ide'logos neoliberais do livrecambismo so loucos o bastante para faerem tal oferta com toda ingenuidade. 3# defato# o governo chin;s tentou nos ltimos dec;nios ceder passo estrat-gia daindustrialia9o para e4porta9o.

     Mas provncias do Eul foram erigidas +onas econ>micas privilegiadas+ comoEhenhen# as uais se tornaram atraentes aos investidores estrangeiros em virtude deregalias tribut8rias# sal8rios bai4os e isen9o de impostos sociais ou ecol'gicos. Eobcondi97es pr-capitalistas# l8 se fabricam principalmente componentes para empresasglobaliadas do Dapo# Wong *ong ou pases ocidentais. ?s trabalhadores soauartelados e mantidos como presidi8rios# as @ornadas de trabalho so e4tremamentelongas e uase no h8 precau97es com a seguran9a. Tornouse rotina o comunicado degraves acidentes e inc;ndios catastr'ficos. 3m 1==%# um semnmero de @ovenstrabalhadoras de uma empresa t;4til foram carboniadas porue as portas da f8bricaestavam cerradas.

    , despeito dessas condi97es brutais# os setores da industrialia9o para e4porta9o

     podem abarcar# numa estimativa otimista# o m84imo de 200 milh7es de pessoas. ,longo prao# simultaneamente# - impossvel ue a &hina dite o ritmo dos mercadosmundiais e condua o grosso de sua reprodu9o por outros crit-rios ue no os do setor da e4porta9o. Psso vale sobretudo para todo o sistema de cr-dito e monet8rio assimcomo para o c6mbio. , industrialia9o voltada para a e4porta9o s' - vi8vel caso amoeda se@a convertvel. Cma moeda convertvel e4ige por sua ve ue a uantidade demoeda permane9a sob controle e os cr-ditos s' se@am concedidos pelas regras darentabilidade.

    Psso acarreta graves conseu;ncias para a economia interna. Jrande parte das mais de2 milh7es de empresas estatais chinesas com 1%0 milh7es de empregados seriam

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    obrigadas a fechar. Pnmeras microempresas do setor de servi9os# ue dependem do poder de compra dos empregados na indstria estatal# teriam igualmente de entregar os pontos. , pr'pria lavoura de ue vive grande parte dos chineses# consideradaimprodutiva segundo os crit-rios globais# estaria fadada runa. , fim de evitar essasconseu;ncias# a administra9o chinesa adotou uma contabilidade dupla. Mo somentediversas cota97es da moeda# mas tamb-m diversas formas de levantamento estatsticocorrem lado a lado. ,s elevadas ta4as de crescimento ue dei4aram pasmos todo omundo constam de elementos absolutamente heterog;neos. 3las cont;m no apenas ocrescimento real dos setores de e4porta9o# mas tamb-m o crescimento puramentefictcio de grande parte da economia interna# ue depende das in@e97es estatais da &asada "oeda. ,o cote@ar a estatstica chinesa das e4porta97es com as correspondentesestatsticas dos parceiros comerciais# ressalta# al-m disso# ue uma parte dos nmerosconsiste de meras +e4porta97es fictcias+ ue @amais e4istiram e s' servem para ase4presas e4portadoras ludibriarem a pr'pria burocracia.

    3nuanto no ?cidente a &hina - ba@ulada como o sustent8culo do grande boom dos-culo 21# a situa9o real h8 muito tornouse crtica. Eegundo depoimentos da ag;nciaoficial +\inhua+# em 1==% a cifra de desempregados atingiu 2X0 milh7es# mais de 2%]da popula9o ativa. 1%0 milh7es de pessoas vagueiam pelo pas em busca de sal8rio. ,infla9o fa com ue at- mesmo os mantimentos b8sicos tornemse e4orbitantes paramuitos. "ais cedo ou mais tarde a contabilidade dupla ir8 por 8gua abai4o. 34plicar8ento o governo chin;s a mil milh7es de habitantes ue eles so +sup-rfluos+ naeconomia de mercadoR 3m muitos lugare@os# camponeses insurrectos respondem bala

    aos policiais e ao 34-rcito. ,s provncias costeiras h8 muito @8 no transferem aogoverno central os impostos recolhidos. $eritos do Pnstituto Londrino para 3studosPnternacionais temem a ecloso iminente de uma guerra civil na &hina. , terra do sonhodo grande boom poderia tornarse um modelo catastr'fico da industrialia9o parae4porta9o.

    riginal   Mausel+cher f,r lefanten  in YYY.e4itonline.org. $ublicado em01/12/=Z na Qolha de Eo $aulo com tradu9o de Dos- "arcos "acedo

    http://obeco.planetaclix.pt/

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     Robert Kurz 

    A %4 & !%'!N!"'

    si1bolis1o da 1odernidade e a expuls+o da noite

    ,inda ho@e# ap's mais de 200 anos# continuamos ofuscados pelo belo claro doiluminismo burgu;s. , hist'ria da modernia9o comprase em met8foras da lu. ? solradiante da rao h8 de penetrar as trevas da supersti9o e faer ver a desordem domundo# para ue enfim a sociedade se@a configurada segundo crit-rios racionais. ,escurido no se manifesta como a outra faceta da verdade# mas como o reino negativodo dem>nio. D8 no enascimento# os humanistas polemiavam contra seus opositorestachandoos de ^^obscurantistas^^. ^^"ais lu^^# ter8 clamado Joethe em 1IX2# prostradoem seu leito de morte. &omo cl8ssico# cumprialhe uma sada em grande estilo.

    ?s rom6nticos bateramse contra esta lu fria da rao e votaramse novamente religio# de modo sint-tico. 3m ve da racionalidade abstrata# eles propalaram umirracionalismo no menos abstrato. ,ssim# em lugar de met8foras da lu# eles sedeliciaram em met8foras das trevas. Movalis escreveu um ^^Wino Moite^^. ?ra# esta merainverso do simbolismo iluminista na verdade passava ao largo do problema. Pnaptos asuperar a duvidosa unilateralidade dos iluministas# os rom6nticos s' fieram por ocupar o p'lo contr8rio da modernia9o e tornaramse de fato ^^obscurantistas^^ de uma formade pensar reacion8ria e clerical.

    $or-m o simbolismo da modernidade tamb-m pode ser criticado por ra7esdiametralmente opostas: como parado4al desrao da pr'pria rao capitalista. $ois -sem dvida curioso como as met8foras iluministas da lu cheiram# por assim dier# amisticismo chamuscado. , no9o de uma fonte luminosa de brilho sobrenatural# comosugere a id-ia da rao moderna# relembra a descri9o do reino dos c-us transfundido

     pela flama divina# e dos sistemas religiosos do 34tremo ?riente @8 se conhece oconceito de ^^ilumina9o^^. 3mbora a lu da rao iluminista se@a terrena# ela assumiu umcar8ter estranhamente transcendental. ? lampe@o celeste de um 5eus perfeitamenteindevass8vel foi apenas seculariado na banalidade monstruosa do fim em si mesmocapitalista# cu@o trato cabalstico com a mat-ria terrena consiste na acumula9o absurdado valor econ>mico. Psto no - rao# mas supremo desvario< e o ue a rebrilha - ofulgor do absurdo# ue aflige e ofusca a vista.

    , rao irracional do Pluminismo uer totaliar a lu. 3ssa lu# entretanto# no - ummero smbolo no reino do pensamento# mas possui antes um forte significadosocioecon>mico. 3ra fatal# neste aspecto# ue o mar4ismo e o movimento hist'rico dostrabalhadores tivessem compreendido a si mesmos como os legtimos herdeiros doPluminismo e de suas met8foras da lu. Ma ^^Pnternacional^^# o hino do mar4ismo# falase

    do maravilhoso futuro socialista: ^^3nto brilhar8 o sol sem cessar^^. Cm caricaturistaalemo tomou essa frase ao p- da letra e mostra# no ^^reino da liberdade^^# uns homens

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    suarentos ue erguem a vista ao sol escaldante e suspiram: ^^D8 fa tr;s anos ue ele brilha e dei4ou de se p>r^^.

    Psso no - apenas uma piada. 5e certa forma# a modernia9o efetivamente^^transformou a noite em dia^^. Ma Pnglaterra# ue como se sabe foi a precursora daindustrialia9o# a ilumina9o a g8s foi introduida @8 em incios do s-culo 1= e logoe4pandiuse por toda a 3uropa. ,o t-rmino do mesmo s-culo# as l6mpadas a g8scederam lugar lu el-trica. W8 muito se provou medicinalmente ue a uebra dadistin9o entre dia e noite# sob a lu fria dos s'is artificiais# afeta o ritmo biol'gico dohomem e causa danos psuicos e corporais. $or ue ento a for9osa ilumina9o

     planet8ria# ue ho@e alcan9a o mais afastado rinco da TerraR

    *arl "ar4# ele pr'prio um herdeiro do Pluminismo# declarara com acerto ue oinfatig8vel ativismo da produ9o capitalista - ^^desmedido^^. &ontudo esta falta de

    medida no pode tolerar em princpio nenhum tempo ue permane9a ^^escuro^^. $ois otempo da escurido - tamb-m o tempo do descanso# da passividade# da contempla9o. ?capitalismo reuer# ao contr8rio# a amplia9o de sua atividade s raias do esfor9o fsicoe biol'gico. 3sses limites so temporalmente determinados pela rota9o da Terra sobseu ei4o# ou se@a# as 2 horas completas do dia astron>mico# ue t;m um lado claro(voltado para o sol) e outro escuro (de costas para o sol). ? pendor do capitalismo -totaliar o lado ensolarado e tomar posse do dia astron>mico como um todo. ? ladoanoitecido perturba este impulso. , produ9o# circula9o e distribui9o das mercadoriash8 de ^^varar a noite^^# pois ^^tempo - dinheiro^^. ,o conceito de ^^trabalho abstrato^^ namoderna produ9o de mercadorias corresponde no apenas seu prolongamento absoluto#mas tamb-m sua abstra9o astron>mica. Tal processo - an8logo altera9o da medidade espa9o. ? sistema m-trico foi introduido em 1U=% pelo regime da evolu9oQrancesa e difundiuse com tanta rapide como a ilumina9o a g8s. Ma ,lemanha# atransi9o para esse sistema deuse em 1IU2. ,s medidas de espa9o baseadas no corpohumano (p-# cbito etc.)# ue eram to diferenciadas uanto as culturas humanas# foramsubstitudas pelo metro astron>mico abstrato# correspondente uadrag-simamilion-sima parte do permetro da Terra. 3ssa unifica9o abstrata das medidas deespa9o espelhava a imagem mec6nica do mundo da fsica neYtoniana# ue por sua veserviu de e4emplo economia mec6nica da ci;ncia de mercado moderna# do modo

    como a analisara e propalara ,dam Emith (1UX21U=0)# o fundador da economia. ,imagem do universo e da naturea como uma grande m8uina nica coincidia com am8uina universal econ>mica do capital# e as medidas astron>micas tornaramse umaforma comum da m8uina universal fsica e econ>mica. Psso no se aplica apenas aoespa9o# mas tamb-m ao tempo. ,o metro astron>mico# a medida do espa9o abstrato#corresponde a hora astron>mica# a medida do tempo abstrato< e estas so tamb-m asmedidas da produ9o capitalista de mercadorias.

    E' com o tempo abstrato foi possvel ao dia do ^^trabalho abstrato^^ avan9ar sobre a noite

    e abocanhar o tempo de descanso. ? tempo abstrato p>de desligarse de rela97es eob@etos concretos. , maioria dos rel'gios antigos# como a ampulheta e a clepsidra# no

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    apontavam ^^ue horas eram^^< antes# eles eram aferidos segundo processos concretos# afim de designarem o ^^tempo apropriado^^. Talve se pudesse compar8los a um contador de minutos ue soa o toue de campainha para dier se o ovo est8 uente ou coido.,ui# a uantidade do tempo no - abstrata# mas sim norteada por uma ualidadeespecfica. ? tempo astron>mico do ^^trabalho abstrato^^# ao contr8rio# destacase de todaualidade. , diferen9a - visvel tamb-m uando lemos por e4emplo em documentosmedievais ue a @ornada de trabalho dos servos nas glebas devia durar ^^da alvorada at- omeiodia^^. ?u se@a# a @ornada de trabalho era mais reduida do ue ho@e no apenas emtermos absolutos# mas tamb-m relativos# por variar conforme a esta9o e ser menor noinverno ue no vero. , hora astron>mica abstrata# por sua ve# permitiu fi4ar o incioda @ornada ^^s Z horas^^# sem considerar as esta97es do ano nem os ritmos do corpo.

    3is por ue a -poca do capitalismo - tamb-m a era dos ^^despertadores^^# dos rel'giosue# a um toue estridente# arrancam os homens ao sono para impelilos a locais de

    trabalho banhados em lu artificial. 3# uma ve antecipado o início da .ornada para anoite# nada mais 'bvio do ue avan9ar o  fim da .ornada noite adentro. 3ssa mudan9a

     possui tamb-m seu lado est-tico. &omo o meio ambiente - de certo modo^^desmaterialiado^^ pela racionalidade empresarial# @8 ue a mat-ria e suas correla97est;m de submeterse aos crit-rios de rentabilidade# ele tamb-m - privado de suadimenso e propor9o por esta mesma racionalidade. Huando por vees certos edifciosantigos nos parecem de algum modo mais belos e confort8veis do ue os modernos# euando ento declaramos ue eles# em compara9o aos atuais edifcios ^^funcionais^^# nosimpressionam de algum modo como irregulares# isso remonta ao fato de ue suas

    medidas so apropriadas s medidas corporais e suas formas# s da paisagem. ,aruitetura moderna# pelo contr8rio# utilia medidas astron>micas de espa9o e formas^^desconte4tualiadas^^# ^^destacadas^^ do meio circundante. ? mesmo vale para o tempo.Tamb-m a moderna aruitetura do tempo se encontra despida de propor9o e conte4to.

     Mo apenas o espa9o tornouse mais feio# mas tamb-m o tempo.

     Mos s-culos 1I e incio do 1=# tanto o prolongamento absoluto uanto o relativo da @ornada de trabalho# por meio da introdu9o da hora astron>mica abstrata# foramsentidos como uma tortura. $or muito tempo# houve uma luta desesperada contra otrabalho noturno ligado industrialia9o. Trabalhar antes do amanhecer e ap's o

    crepsculo era# por assim dier# imoral. Huando na Pdade "-dia calhava de os artesostrabalharem noite por ra7es de prao# cabiamlhes lautos repastos e sal8rios

     principescos. ? trabalho noturno era uma rara e4ce9o. 3 consta das ^^grandes^^ fa9anhasdo capitalismo ter logrado converter o aguilh/o do tempo em regra geral da atividadehumana.

     Mada mudou com a paulatina redu9o da @ornada absoluta de trabalho desde os prim'rdios do capitalismo. $elo contr8rio# o chamado trabalho por turnos ampliousecada ve mais no s-culo 20. &om au4lio de dois ou mesmo tr;s turnos# as m8uinas so

    mantidas em funcionamento uase ininterrupto# com breves pausas para a troca de pessoal# manuten9o e limpea. Lo@as e magaines tamb-m devem estender ao m84imo

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    seu hor8rio# beirando o limite das 2 horas. Ma ,lemanha# este ano# tivemos um debatesobre o hor8rio legal de fechamento do com-rcio# ue at- h8 pouco estava fi4ado no

     patamar das 1IhX0. 3 desde 1` de novembro de 1==Z prolongouse at- s 20h. 3mmuitos pases# como nos 3stados Cnidos# no h8 hor8rio de fechamento definido em lei#e inmeros estabelecimentos ostentam a tabuleta: ^^,berto 2h^^. 5esde ue a tecnologiamicroeletr>nica de comunica9o globaliou o flu4o monet8rio# a @ornada financeiratransita sem interrup9o de um hemisf-rio a outro. ^^?s mercados financeiros nuncadormem^^# di o anncio de um banco @apon;s.

    a lu da rao iluminista ue clareia os turnos da noite. [ medida ue a concorr;nciase fa total# o imperativo e4terno e social transformase tamb-m numa coa9o interna doindivduo. ? sono passa a ser um inimigo to s'rdido uanto a noite# pois enuanto sedorme# oportunidades so perdidas e a guarda - irremediavelmente bai4ada ao atauealheio. ? sono dos indivduos em uma economia de mercado tornase cada ve mais

    curto e leve# como o de um animal selvagem e isso na propor9o direta do seu dese@ode ^^sucesso^^. ? tormento do trabalho noturno mec6nico# imposto por outrem# manifestase ao nvel da administra9o como recusa ^^volunt8ria^^ ao sono. 34istem at- semin8riosnos uais se faculta o e4erccio de t-cnicas de minimia9o do sono. &om pia seriedade#os alunos de administra9o ho@e afirmam: ^^? empres8rio ideal nunca dorme^̂ #e4atamente como os mercados financeiros

    ?ra# a submisso do homem ao ^^trabalho abstrato^^ e sua medida temporal astron>mica- impossvel sem um controle  total. Controle universal reuer igualmente observa0/ouniversal# e a observa9o s' - possvel na lu: pouco mais ou menos como a polcia# nointerrogat'rio# dirige um facho de lu ao rosto do delinuente. Mo por acaso o termo^^iluminismo^^# em alemo# possui uma acep9o militar# ual se@a# o ^^reconhecimento doinimigo^^. 3 uma sociedade em ue cada um tornase inimigo dos demais e dele pr'prio#

     pois a todos cabe servir o mesmo 5eus seculariado do capital# convertese comnecessidade l'gica num sistema de observa9o e autoobserva9o total.

     Mum universo mec6nico# tamb-m o homem tem de ser m8uina e padecer o tratamentoda mauinaria. , lu do Pluminismo aprestouo para tanto e o fe ^^transparente^^. ?fil'sofo franc;s "ichel Qoucault revela em seu livro ^^igiar e $unir^^ (1=U%) como essa

    ^^visibilidade^^ total tornouse uma armadilha hist'rica. 3m princpios do s-culo 1=# ocapitalismo ainda ensaiava a observa9o total por meio de uma ^^pedagogia

     penitenci8ria^^# nos moldes desenvolvidos pelo fil'sofo utilitarista e liberal DeremGSentham (1UI1IX2)# como um atilado sistema de organia9o# de puni9o e at- dearuitetura para presdios# f8bricas# escrit'rios# hospitais# escolas e reformat'rios.

    , esfera pblica do mercado no - propriamente o 6mbito da livre comunica9o# masuma esfera da observa9o e do controle. Psso nos recorda da utopia negativa ^^1=I^^# deJeorge ?rYell. Ee esse controle# nas ditaduras totalit8rias# era e4ercido e4ternamente

     pelo aparato burocr8tico do 3stado e da polcia# na democracia ele tornouseautocontrole intro@etado# suplementado pela mdia comercial# na ual os holofotes dos

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    campos de concentra9o transmudaramse nas lumin8rias de uma gigantesca feira avare@o. ,ui no se discute livremente# mas se irradia lu sem miseric'rdia. Mademocracia comercial# um tal sistema refinouse a ponto de os indivduos @8obedecerem por si pr'prios aos imperativos capitalistas e seguirem o sulco das pegadascomo rob>s programados.

    ? mar4ismo# em contraste sua pr'pria pretenso social# foi um protagonista do^^trabalho abstrato^^# medida ue sucumbiu ao pensamento mecanicista do Pluminismo ea seu p-rfido simbolismo da lu. Tudo ue havia de desp'tico no mar4ismo advinha doliberalismo iluminista. D8 os rom6nticos# por outro lado# interessados em faer @us faceobscura da verdade# no se aliaram emancipa9o social# mas rea9o poltica. E'uando libertos desse c8rcere reacion8rio# a noite# o sono e o sonho podero ser lemasemancipat'rios da crtica social. , resist;ncia ao mercado total talve comece uando oshomens se derem inopinadamente o direito de ao menos uma ve dormir saciedade.

    riginal  *as icht der Auf&l1rung  in YYY.e4itonline.org. $ublicado na Qolha de Eo$aulo de 12.01.1==U com o ttulo scravos da lu2 sem miseric3rdia e tradu9o de Dos-"arcos "acedo

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     Robert Kurz  

    00%!"' 5!"#6R!

    A confus+o de senti1entos burgueses e a busca de bodes expiat,rios

    ? mais dileto de todos os passatempos sociais - a busca de culpados. Huando algo saierrado em grande escala# uase nunca se permite ue a pr'pria coisa se@a posta em4eue# o problema h8 de estar nas pessoas. Mo se responsabiliam prop'sitos dbios#rela97es sociais destrutivas ou estruturas contradit'rias# e sim a falta de vontade# aescassa compet;ncia ou mesmo a m8f- das pessoas. Sem mais f8cil - faer rolar cabe9as do ue subverter rela97es e modificar formas sociais.

    3ssa tend;ncia espont6nea da consci;ncia irrefletida para digerir dificuldades mediante

    atribui97es sub@etivas de culpa vai ao encontro da ideologia do liberalismo: afinal# elasub@etivou de cima a bai4o a uesto das causas dos problemas sociais. , ordemreinante do sistema social lhe foi al9ada a dogma de uma lei natural# fora de ualuer 

     possibilidade de avalia9o A da ue a causalidade de e4peri;ncias negativas no poder recair seno nos su@eitos# em sua e4ist;ncia imediata. &ada ual - culpado de seus

     pr'prios infortnios ou fracassos# mas tamb-m crises e cat8strofes sociais s' podem ser causadas por pessoas ou grupos sub@etivamente culpados. ? erro nunca est8 no pr'priosistema# sempre foi algu-m ue cometeu algum desacerto ou crime.

    3sse ponto de vista# embora profundamente irracional# - um alvio para a consci;ncia# porue ento ela no precisa mais se dar ao trabalho de e4aminar criticamente ascondi97es da pr'pria e4ist;ncia. $roblemas em sua ess;ncia impessoais da estruturasocial e do seu desenvolvimento so identificados a certas pessoas# grupos sociais etc.ou descarregados simbolicamente sobre estes. Mo elho Testamento# esse mecanismo -descrito como a fun9o do +bode e4piat'rio+# ao ual a sociedade transfere seus pecadose ue depois - apedre@ado. 3sse m-todo da personalia9o superficial de problemas edesastres pode trilhar dois caminhos.

    ? primeiro consiste em acusar os indivduos do respectivo grupo ou institui9o. ?u as

     pessoas e 'rgos dirigentes so denunciados pelo -povinho como representantesincapaes ou estes viram o feiti9o contra o feiticeiro e incriminam o -povinho deincompetentes# de no terem dado duro o suficiente etc. Ma poltica moderna# um talmecanismo poltico de imputa9o de culpa - como ue o princpio de seufuncionamento. ? povo destrata os polticos e os polticos destratam o povo. 3# como sesabe# nenhum partido de oposi9o poltica remonta os problemas sociais ao sistema da

     poltica como tal e ao modo de produ9o sub@acente# mas somente ao fato de seencontrarem seus concorrentes ao leme do 3stado e faerem +m8 poltica+.

    ? segundo m-todo - ainda mais irracional e perigoso. ,s dificuldades sociais so pro@etadas de modo gen-rico a um ou mais grupos de pessoas# ue simboliam pura e

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    simplesmente o mal e t;m de servir de imagem universal do inimigo. Todas asideologias# ue segundo "ar4 representam sempre uma +falsa consci;ncia+# e portantouma imagem distorcida da realidade# operam num e noutro modo com tais imagens

     personaliadas do inimigo. Ee o liberalismo# como protoideologia moderna# se orientade forma relativamente pragm8tica e por ualidades caractersticas em sua busca deculpados (por e4emplo# as +ambi97es irracionais+ e a pregui9a dos pobres# a +m8educa9o+ dos criminosos etc.)# as ulteriores vis7es de mundo caudat8rias doliberalismo se prendem mais fortemente imagem unidimensional do inimigo. ? maisgrave e maligno desses despaut-rios sociais - certamente o antisemitismo moderno#ue culminou no massacre em massa dos @udeus pelos naistas.

    ? contr8rio da busca irracional pelos culpados seria uma crtica social emancipat'riaue no visasse a determinadas categorias de pessoas# mas uisesse transformar asformas dominantes da reprodu9o e das rela97es sociais. 3 sem dvida a teoria de "ar4

    continua a conter o maior potencial para se efetivar nesse sentido. certo ue tamb-m o pensamento do movimento oper8rio moderno# ue nesse meio tempo chegou a seuslimites# no fundo ainda - personalista# na medida em ue remonta as contradi97essociais menos s leis funcionais cegas do moderno sistema produtor de mercadorias doue sobretudo a uma esp-cie de +vontade de e4plora9o+ comum atribuda aos+propriet8rios privados dos meios de produ9o+. Pronicamente# esse mesmo car8ter redutor da crtica pode ser remontado ao legado da ideologia liberal no mar4ismo domovimento oper8rio# ue dissolve todos os problemas em simples rela97es de vontade."as a teoria de "ar4 inclui tamb-m o acesso a uma abrangente +crtica do sistema+

    digna desse nome e ue @8 no confunde a crise da estrutura com a +m8 vontade+ de pessoas ou grupos sociais.

    ,p's o colapso do capitalismo de 3stado e o triunfo da ideologia neoliberal# por-m# acrtica social no seguiu nessa dire9o# mas uase se calou de todo. ? sistema social esuas estruturas so mais ue nunca tabu. "as uando a forma dominante das rela97essociais no parece mais passvel de crtica e os problemas sociais continuam a seagravar# - a ue as teorias da conspira9o ganham livre curso. Mo admira# pois# uenos ltimos 20 anos# em paralelo ao declnio do mar4ismo# este@am novamente em vogaideologias racistas e antisemitas ue uerem e4plicar a mis-ria do mundo com diversas

     personifica97es do mal.

    "as no pr'prio meio oficial das sociedades democr8ticas sempre se buscaramdescaradamente +bodes e4piat'rios+. Ma ,lemanha# tornouse bestseller   um livro do

     @ornalista econ>mico Jnter ?gger ue tacha os empres8rios p8trios de fracassados edeclara a incompet;ncia coletiva deles a causa dos crescentes problemas econ>micosociais. ?s her'is e redentores de ho@e so apenas os perdedores e acusados de amanh.&ertos 'rgos da mdia @8 publicam at- mesmo tabelas semanais sobre uem est8 +emalta e em bai4a+ na poltica# economia# esportes e  sho"-business. ? carrossel pessoal

    roda com velocidade cada ve maior: na cad;ncia de crises e fal;ncias# os

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    +pessoalmente respons8veis+ vo para o olho da rua e so substitudos por outros# ueno se saem melhor.

    "as a surda sensa9o de uma amea9a universal no pode ser aplacada nem pelosacrifcio do campon;s nem pelo do rei< ela busca uma e4presso mais abrangente egera fantasmas. ,s sociedades ocidentais# @8 incapaes de refletir criticamente sobre si

     pr'prias# criaram figuras mticas para simboliar o mal intangvel de suas pr'priasestruturas.

    Cma tal figura mtica do negativo - o terrorista. Huanto mais opacos e arbitr8rios osatentados a bomba de loucos# frustrados# guerreiros de 5eus e mafiosos# mais elescorrespondem# em sua cegueira# ao +terror da economia+# um terror sem su@eito. W8muito se apagaram tamb-m as fronteiras entre grupos terroristas# aparelhos estatais eservi9os secretos. , sociedade democr8tica en4erga os terroristas uando olha no

    espelho. "as @ustamente por isso o terrorista# como figura obscura# prestase amanifestar o mal na +sociedade dos honrados burgueses+# na forma de imagem abstratado inimigo.

    ? mecanismo da pro@e9o - especular: tal como o terrorista de motiva9o ideol'gicaavista o mal do capitalismo na e4ist;ncia pessoal das elites funcionais# assim o polticodemocr8tico# por sua ve# e4plica a inseguran9a social pela +amea9a terrorista+. ?s doislados# tanto terroristas uanto aparatos de seguran9a# operam em igual medida com ofato de ue literalmente +do cabo+ de indivduos e apresentam publicamente osrespectivos corpos como trof-us# inebriados pelo +terror da virtude+ (obespierre).

     Messe meio tempo# a e4ist;ncia de terroristas reais ou fantasmag'ricos passou a ser o pressuposto legitimador para o mundo democr8tico da economia de mercado.

    &oisa an8loga ocorre com o mito do especulador # tal como passou a vice@ar nos anos=0# em paralelo ao sopro da bolha financeira global. 3 todos sabem ue a surdadifama9o dos ganhos especulativos no est8 muito longe do antisemitismo# ueidentifica os @udeus ao lado negativo do dinheiro. Ee esse mito ganhou com JeorgeEoros uma fisionomia pessoal# ao mesmo tempo ele representa uma amea9a an>nima: asociedade capitalista do trabalho sente se tornar obsoleta e pro@eta o problema em um

    su@eito do mal# ue supostamente destr'i o +trabalho honesto+. Huanto mais claro restaue o trabalho suprime a si mesmo e ue a era da especula9o - apenas o resultadodisso# maior a necessidade de um su@eito mtico como aparente respons8vel. Hue essae4plica9o irracional germine na consci;ncia de pessoas ue apostaram seus ltimoscentavos nas Solsas - como ue o pressuposto para ue a pro@e9o ganhe vulto. 5epoisdo colapso dos novos mercados# a mdia estiliou o +peueno investidor enganado+como vtima dos sombrios bastidores do poder financeiro.

     Mos ltimos anos# ao lado dos terroristas e especuladores# surgiu como cmulo da pro@e9o irracional o  ped3filo# outra figura mtica do mal. Menhuma con@ura9o m8gicado dem>nio pode prescindir do componente se4ual. ,ssim - ue na 3uropa e nos

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    3stados Cnidos# paralelamente ao pretenso +abuso da assist;ncia social+ por +burladoressociais+ (de prefer;ncia estrangeiros)# o chamado abuso sexual  virou tema da moda.aro o terapeuta ue no ueira persuadir seus clientes de ue# na inf6ncia# todos elessofreram +abusos se4uais+. ,inda resta a pouco clara rela9o com o +tio malvado+# mastamb-m aui no - de ignorar a pro4imidade ao antisemitismo: tal como afirmaram osnaistas# ue @udeu - auele ue fa das pessoas mercadoria# assim tamb-m essa figurado @udeu sempre foi representada como monstro lascivo ue persegue a inocente @ovemou crian9a da respectiva cultura ma@orit8ria.

    Tamb-m nesse sentido - um pressuposto ue a sociedade oficial possa personificar ummomento de si pr'pria como smbolo do mal. , maioria dos crimes se4uais contracrian9as sempre foi cometida no interior do amado crculo familiar. 3 5utrou4# oassassino de crian9as belga# introduira sabidamente suas vtimas aos mais altos crculoscomo ob@etos do dese@o. Hue a sociedade capitalista em geral se@a inimiga das crian9as

    no - segredo para ningu-m. Eimultaneamente ela continua tamb-m inimiga do praer.? lema da +liberdade se4ual+ de 1=ZI# cu@os protagonistas no foram al-m das formassociais dominantes# conduiu somente a uma se4ualia9o abstrata da mdia e da

     publicidade# enuanto a vida se4ual efetiva dos su@eitos da mercadoria est8 mais pobredo ue nunca.

    Tanto mais odiosa e maligna se afigura a manifesta9o do delito se4ual comosimbolia9o irracional de contradi97es sociais. &om o ue toda diferen9a nosfen>menos efetivos - nivelada# para despertar o esprito do  pogrom. ,ssim foi ue atenso er'tica entre indivduos maduros e @ovens# tal como e4emplificada literariamente

     por ladimir MaboFov em seu romance +Lolita+ ou por Thomas "ann em sua novela+"orte em enea+# ainda era reconhecida nos debates polticose4uais dos anos U0como uma variante no espectro dos sentimentos se4uais# do modo como soencontrados em muitas culturas# pressupostos a noviol;ncia e o desvelo amoroso.Wo@e a encena9o midi8tica do +saud8vel sentimento popular+ euipara esse lado doerotismo prostitui9o infantil# ao estupro ou ao assassnio de crian9as peuenas por manacos.

    ? motivo legtimo de denunciar e combater a viol;ncia masculina contra mulheres e

    crian9as A viol;ncia essa agravada mundialmente com a crise A transformase em seucontr8rio e vira meio de sataniar as rela97es# em ve de critic8las e acabar com os atosviolentos. 3m meio mania de pro@e9o# at- mesmo crian9as so tachadas de+ped'filas+: nos 3stados Cnidos# um @ovem de 1I anos ue fugira com sua namorada de1 foi conduido de algemas ao @ui de instru9o# a e4emplo de um garoto de 11 anos#ue uma viinha retardada flagrara brincando inocentemente +de m-dico+ com suameiairm de cinco anos.

    ,s figuras mticas do mal so necess8rias para descarregar de modo irracional e anti

    emancipat'rio a energia negativa da crise social. ? terrorista# o especulador e o ped'filot;m em comum o fato de agirem no escuro# tal ual os poderes an>nimos da

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    concorr;ncia. Mingu-m - e todos podem s;lo. Mos anos 20# Qrit Lang# em seu filmecl8ssico +" ? ampiro de 5sseldorf+# mostrou de modo aflitivo como a ca9ada a umdesconhecido assassino se4ual na metr'pole Serlim# com o pano de fundo da criseecon>mica mundial# se funde a uma sndrome psicol'gica coletiva ue gera um climadifuso de suspeita# denncia e cega viol;ncia: a sociedade revela uma careta ue -

     pouco menos assustadora ue a do pr'prio assassino.

     Ma presente crise mundial# a mesma sndrome fase notar com resson6ncias mltiplasnos meios de comunica9o eletr>nicos. $oltica e mdia praticam cada ve mais um

     populismo hist-rico# ue desencadeia em ltimo recurso o linchamento. Huando naPnglaterra os tabl'ides publicaram os nomes e endere9os de supostos ped'filos# umamultido furiosa levou os indigitados ao suicdio e destruiu o consult'rio de uma

     pediatra# porue no sabia distinguir +pedofilia+ de +pediatria+ (um belo indcio dasitua9o do ensino brit6nico). Tais incidentes mostram como @8 vai avan9ada a paran'ia

    social. Cma sociedade ue no uer mais desvendar os seus pr'prios segredos est8condenada a instaurar a ca9a s bru4as.

    riginal  456!'76C4' P8P976M96 em YYY.e4itonline.org. $ublicado naQolha de E. $aulo de 1I.0X.2001 com o ttulo  P8P976M8 476!:'7C8 e tradu9o deDos- "arcos "acedo

    http://www.exit-online.org/

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     Robert Kurz  

    EN'!A ##A!#7R!A E 0ARAN8!A &#ERRR

    A puls+o de 1orte da ra2+o capitalista

     Ma hist'ria da humanidade# cat8strofes de grande porte e simbologia sempre serviramde ocasio para um momento de sensibilia9o em ue os poderosos do mundo sedespo@am de sua h#bris# as sociedades refletem sobre si mesmas e reconhecem seuslimites. Mada disso se tem podido observar na sociedade capitalista mundial ap's oataue FamiFase aos centros nervosos dos 3.C.,. &hega uase a parecer ue o b8rbaroatentado# vindo das trevas da irracionalidade# teria destrudo no apenas o Korld Trade&enter# mas tamb-m os ltimos resucios da capacidade de discernimento da opinio

     pblica democr8tica mundial. Huanto mais violentamente lhe apontam seus limites#mais fortemente ela se agarra a seu poder e mais cegamente cultiva suaunidimensionalidade.

    5epois do ataue terrorista# o funcionalismo de elite# a mdia e o populacho do sistemaglobal de +economia de mercado e democracia+ esto se comportando como se fossemtodos atores e figurantes numa encena9o real do filme +Pndependence 5aG+.WollGYood pressentiu um acontecimento apocalptico e o filmou como representa9o de

     patriotismo Fitsch e moral @eca. ,ssim a indstria cultural banaliou e tornou irreal a

    realidade da cat8strofe antes ue esta se tornasse mesmo real. ? luto espont6neo e a perple4idade do lugar aos falsos rituais de um padro programado de rea9o# ueimpossibilita a compreenso de ualuer ne4o interno entre o terrorismo e a ordemdominante.

    Qica claro o endurecimento da consci;ncia democr8tica oficial# transformada em furiosafalta de pondera9o# uando o ator diletante presidente dos 3stados Cnidos @ura uma+luta monumental do bem contra o mal+. etratando o mundo assim de modo na;f

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    Pntelectuais ocidentais perturbados declaram mais do ue depressa# sem a menor vergonha# considerar o terrorismo e4presso de uma consci;ncia +pr-moderna+# ueteria desconhecido o Pluminismo e por isso teria de +sataniar+# com atos de 'dio cego# amaravilhosa +liberdade de autodetermina9o+ ocidental# o mercado livre# a ordemliberal e# enfim# tudo o ue h8 de bom e de belo na civilia9o ocidental. &omo se nuncativesse havido uma refle4o intelectual sobre a +dial-tica do Pluminismo+ e como se oconceito liberal de progresso no tivesse cado em descr-dito h8 tanto tempo nacatastr'fica hist'ria do s-culo 20# reaparece como fantasma# no desconcerto diante doato in-dito de ins6nia# a filosofia burguesa da hist'ria dos s-culos 1I e 1=# ao mesmotempo arrogante e ignorante. Ma tentativa for9ada de atribuir a nova dimenso do terror a um ser e4terior# o bom senso ocidentaldemocr8tico definitivamente despenca para omais bai4o nvel intelectual.

    $or-m no se pode manter com tanta facilidade essa defini9o distorcida do ne4o ue h8

    de fato entre todos os acontecimentos na sociedade globaliada: ap's %00 anos desangrenta hist'ria colonial e imperialista# ap's um s-culo de uma industrialia9oestatalburocr8tica fracassada e modernia9o atrasada# ap's %0 anos de integra9odestrutiva no mercado mundial e de anos sob o absurdo domnio do novo capitalfinanceiro transnacional# no h8 mais# na verdade# nenhum territ'rio e4'tico orientalue se possa conceber como estrangeiro e e4terno. Tudo o ue acontece ho@e - produtoimediato ou mediado pelo sistema mundial unificado de modo for9ado. ? capital one"orld  - o pr'prio ventre gestante do megaterror.

    Qoi a ideologia militante do totalitarismo econ>mico ocidental ue preparou o terreno para os igualmente militantes desvarios neoideol'gicos. ? fim da era do capitalismo de3stado e de suas id-ias foi tomado como ense@o para silenciar a pr'pria teoria crtica. ,scontradi97es da l'gica capitalista no puderam mais ser discutidas# foram declaradasine4istentes# e a uesto da emancipa9o social para al-m do sistema produtor demercadorias# considerada irrelevante. &om a suposta vit'ria definitiva do princpio demercado e concorr;ncia# a capacidade de rea9o intelectual das sociedades ocidentaiscome9ou a se e4tinguir. ?s homens deste mundo deveriam tornarse id;nticos em suasfun97es capitalistas# embora a maioria @8 estivesse carimbada como +sup-rflua+.

    3nuanto os mecanismos de crise do capitalismo financeiro do  shareholder valuelan9avam milh7es de pessoas pobrea e ao desespero# a maioria da intelligentsiaglobal entoava# como a escarnecer# o canto do otimismo democr8tico da economia demercado. ,gora esto recebendo a conta: uando a rao crtica se cala# - o 'dioassassino ue toma o seu lugar. , insustentabilidade ob@etiva dos modos de produ9o ede vida vigentes @8 no se imp7e mais de maneira racional# mas irracional. ,ssim# orecuo da crtica te'rica foi seguido pela marcha do fundamentalismo religioso e etnoracista. 3nuanto a crtica emancipat'ria aos fundamentos do capitalismo no sereorganiar# os acessos de paran'ia social e ideol'gica devero transformarse no nico

    instrumento para medir as propor97es ue as contradi97es da sociedade mundialatingiram. Messas condi97es# o novo tipo de megaterror nos 3C, significa ue a crise

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    do sistema capitalista globaliado# oficialmente ignorada e despreada# assumiu umanova dimenso.

    ? ue parece uma fria incomum do terror encontrou solo f-rtil no somente naeconomia de mercado one "orld  mas tamb-m foi cultivada pelos aparatos de poder repressor das democracias ocidentais ue agora uerem lavar as mos. gente ue saiuerrante da Juerra Qria e das guerras de ordenamento mundial democr8tico ue seseguiram. Eaddam Wussein aduiriu no ?cidente os armamentos usados contra o regimeiraniano dos mul8s# ue por sua ve saa de bai4o das runas de modernia9o do regimedo 48. ?s integrantes do Taleban foram paparicados# instrudos e armados comeficientes msseis antia-reos# porue na -poca todos aueles ue se pusessem contra aCnio Eovi-tica eram contados no reino dos +bons+. 3 ?sama bin Laden# com suamente insana# agora transformado em figura mtica do mal# pela mesma rao# entrouinicialmente como +predileto+ dos servi9os secretos ocidentais na arena mundial da

     paran'ia abastecida de muni9o. ? imperialismo +de seguran9a+ da M,T?# ue uer atodo o custo manter sob controle a humanidade @8 insuscetvel de reprodu9o pelocapital# se utilia ainda ho@e de regimes tolerantes com a tortura e de diversas formas deins6nia# na Turuia# na ,r8bia Eaudita# "arrocos# $auisto# &ol>mbia etc. etc. "as#como o mundo vai se desmantelando# ganha vida pr'pria um aborto da naturea ap'soutro. ? +predileto+ de ho@e - sempre o +monstro incompreensvel+ de amanh.

    ?s prncipes do terror# protagonistas de guerras santas e milcias formadas de cls# noso# no entanto# de modo nenhum meras for9as instrumentaliadas fora do ?cidente A ue agora come9ariam a fugir a seu controle. "esmo suas condi97es psuicas no so+medievais+# mas sim p'smodernas. ,s semelhan9as estruturais entre a consci;ncia da+civilia9o+ da economia de mercado e a consci;ncia dos terroristas isl6micos nodevem causar tanto espanto# se pensarmos ue a l'gica do capital consiste numirracional fim em si mesmo ue representa nada menos do ue religio seculariada.Tamb-m o totalitarismo econ>mico divide o mundo entre +fi-is+ e +infi-is+. , vigente+civilia9o+ do dinheiro no - capa de analisar racionalmente a origem do terror#

     porue afinal teria ue uestionar a si mesma. ,ssim# se o supostamente esclarecido?cidente define o islamismo como +obra do dem>nio+# o mesmo ocorre viceversa. ,simagens dicot>micas irracionais de +bem+ e +mal+ igualamse at- beirar o ridculo.

    ? ue se passa na cabe9a dos lderes terroristas no - substancialmente mais biarro doue o modo como os managers da economia global de mercado percebem e classificamo ser humano e a naturea sob a presso destrutiva do c8lculo abstrato da economiaempresarial. ? terror religioso golpeia# cego e insensato# da mesma maneira ue a +moinvisvel+ da concorr;ncia an>nima# sob cu@o domnio permanentemente milh7es decrian9as morrem de fome A s' para dar um e4emplo# ue p7e sob um foco de lu bemestranha o comovido culto ue se celebra s vtimas de "anhattan.

    Huando a mdia revela em suas entrelinhas uma admira9o secreta pelas capacidadest-cnicas e logsticas# de ue no se tinha id-ia# demonstradas pelos terroristas# tamb-m

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    a fica claro como os dois lados so uase almas g;meas: ambos so igualmente adeptosda +rao instrumental+. $ois a ambos se aplica auilo ue o estranho capito ,hab di#na Mob# *ic&  de "elville# grande par8bola da modernidade: Todos os meus meios sosensatos# s' meu ob@etivo - desvairado. , economia do terror e o terror da economiacorrespondemse como imagens em um espelho. 5esse modo# o autor de um atentadosuicida se mostra como a conseu;ncia l'gica do indivduo isolado na concorr;nciauniversal# ue no lhe oferece perspectivas. ? ue ento se revela - a pulso de mortedo su@eito capitalista. 3 ue essa pulso de morte - inerente pr'pria consci;nciaocidental# e no apenas desencadeado pela desesperan9a intelectual do sistematotalit8rio de mercado# - o ue do provas os casos freuentes de psicopatas ueinvadem escolas norteamericanas para assassinar em s-rie filhos da classe m-dia e oatentado de ?Flahoma# reconhecidamente um produto genuno do delrio interior dos3stados Cnidos. ? ser humano reduido a fun97es econ>micas enlouuece da mesmamaneira ue auele cuspido como +sup-rfluo+ pelo processo de valoria9o. , rao

    instrumental dispensa seus filhos.

    &omo o ncleo irracional de sua ideologia - tal e ual o do fundamentalismo isl6mico# ocapitalismo nada mais pode ue conclamar a uma cruada# +guerra santa+ da+civilia9o+ ocidental. Eomente vtimas como as colunistas mais famosas dos 3C,#corretores em "anhattan e cidados da liberdade ocidental so vistas como vtimas reaise pranteadas em missas sua mem'ria. $or outro lado# os civis irauianos mortos ecrian9as s-rvias esfaceladas por bombas atiradas de uma altura de de uil>metros#

     porue a pele preciosa dos pilotos americanos no podia sofrer um arranho# no

    aparecem como vtimas humanas# e sim como +efeitos colaterais+. "esmo diante dosmortos o apartheid global no cessa. ? conceito ocidental de direitos humanos cont-mcomo pr-reuisito t8cito saber se o indivduo tem valor de venda e poder de compra.Huem no preenche esses crit-rios na verdade no - mais um ser humano# mas uma

     por9o de biomassa. 5essa maneira# o fundamentalismo ocidental divide o mundo no+reino+ supostamente civiliado# de um lado# e nos +novos b8rbaros+# de outro A como o

     @ornalista franc;s Dean ufin @8 constatava no incio dos anos =0.

    ? imp-rio balan9a. 5entro de poucos meses o mito da invulnerabilidade econ>mica ser8desmascarado pela crise da ne" econonm#. ? mito da invulnerabilidade militar est8

    agora em chamas com o $ent8gono. ? pensamento utilit8rio do funcionalismo de elitetenta tirar proveito at- mesmo dessa cat8strofe. $ois# com os mercados financeirosdespencando# conseguese de repente contedo para uma verso for@ada dos fatos: no -a ordem vigente ue est8 obsoleta# se outras bolhas financeiras esto estourando e aeconomia mundial de mercado porventura est8 entrando em colapso. ? +chouee4terno+ do ataue terrorista# sim# - ue teria sido a causa disso A segundo Kim5uisenberg# presidente do Sanco &entral 3uropeu. ? fracasso do sistema - redefinido

     pela maldade e4terna dos outros# +infi-is+. "as isso no consegue apagar o acontecido.

    ,o mesmo tempo# espalhase uma onda de propaganda de guerra igualmente hist-rica esentimental'ide# como se estiv-ssemos vivendo o agosto de 1=1. $or toda parte esto

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    se apresentando volunt8rios aos montes# em meio ao crash sobem as a97es da indstriade armamento# uase @8 se come9a a dese@ar uma situa9o de cruada. "as gruposclandestinos de homens armados de facas e l6minas de cortar tapete no e4igem amobilia9o das massas e o agrupamento de todas as for9as sociais. ? terror norepresenta nenhum imp-rio opositor e4terno# com status de 3stado e economia deguerra. 3le - a pr'pria n=mesis interior do capital globaliado. $or isso no pode

     provocar um novo boom armamentista. Tamb-m no 6mbito militar a cruada vai dar emnada. ,conte9am possveis ataues de retalia9o por parte dos 3C, a de uil>metrosde altitude# como infelimente - de costume# diimando uma popula9o civil ualuer#ou saiam tropas terrestres# mesmo sofrendo muitas bai4as# vagando por distantes regi7esmontanhosas# como o 34-rcito da Cnio Eovi-tica teve de e4perimentar no ,feganisto#uma coisa - certa: dessa pseudoguerra contra os dem>nios da crise mundial gerados

     pelo pr'prio capitalismo no sair8 fonte de alimento de ue o capitalismo possa seamamentar para sobreviver.

    Tamb-m se ouvem voes rao8veis# de bombeiros em Mova orF a @ornalistas e polticos isolados# ue pelo menos diem ue uma guerra - absolutamente sem sentido."as essa rao amea9a permanecer desamparada e ser arrastada pela onda deirracionalidade se no proceder a uma an8lise das rela97es de crise. $ara realmenteafastar o terror do terreno ue lhe - f-rtil# s' h8 um caminho: a crtica emancipat'ria aototalitarismo global da economia.

    riginal  !8!A7!>' ?K8)8M7 9)* PA'A)87A *6 !''8'6   in YYY.e4itonline.org. $ublicado em Kon&ret # Wamburg# 11/2001. $ublicado na Qolha de E. $aulode X0.0=.2001 com o ttulo 8 ímpeto suicida do capitalism e tradu9o de "arceloondinelli. $ublicado no @ornal &rtica adical# Qortalea# 0I.10.2001 com o ttulo

     conomia totalit@ria e paran3ia do terror e tradu9o de Tito Lvio &ru omo.

    http://www.exit-online.org/

    http://obeco.planetaclix.pt/

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    http://www.exit-online.org/link.php?tabelle=autoren&posnr=116http://www.exit-online.org/http://www.exit-online.org/http://www.exit-online.org/http://obeco.planetaclix.pt/http://www.exit-online.org/link.php?tabelle=autoren&posnr=116http://www.exit-online.org/http://www.exit-online.org/http://www.exit-online.org/http://obeco.planetaclix.pt/

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     Robert Kurz  

    A puls+o de 1orte da concorrência

     Assassinos amoque e suicidas como sujeitos da crise

    W8 alguns anos ue se tornou corrente no mundo ocidental a e4presso +massacre emescolas+. ,s escolas# outrora locais da educa9o mais ou menos autorit8ria# do erotismo

     pbere e das travessuras @uvenis inofensivas# entram cada ve mais no campo de visoda esfera pblica como palco de trag-dias sangrentas. &ertamente# relatos sobre algunsamoues @8 so conhecidos tamb-m do passado. "as cabe aos e4cessos sanguinolentosactuais uma ualidade pr'pria e nova. 3les no se dei4am encobrir por uma n-voa cinade generalidade antropol'gica. $elo contr8rio# tratase ineuivocamente de produtosespecficos de nossa sociedade contempor6nea.

    , nova ualidade desses actos amoues pode ser constatada em v8rios aspectos. $or e4emplo# no so acontecimentos muito distanciados no tempo# como em -pocasanteriores# antes os massacres t;m lugar# desde os anos =0# numa seu;ncia cada vemais compacta. Eo novos tamb-m dois outros aspectos. Cma porcentagem grande edesproporcional dos autores - de @ovens# uma parte at- mesmo de crian9as. Cm nmeromuito peueno desses amoues - mentalmente perturbado no sentido clnico< pelocontr8rio# a maioria - considerada +normal+ e bem a@ustada# antes do seu acto. Huandoas mdias constatam esse facto# sempre com aparente surpresa# admitem indirecta e

    involuntariamente ue a +normalidade+ da sociedade actual tra em si o potencial paraactos amoues.

    &hama a aten9o tamb-m o car8cter global e universal desse fen'meno. &ome9ou nos3C,. 3m 1==U# na cidade de Kest $aducah (*entucFG)# um adolescente de 1 anosmatou a tiro# ap's a ora9o matinal# tr;s colegas de escola# e cinco outros foram feridos.3m 1==I# em Donesboro (,rFansas)# um menino de 11 e um de 1X anos abriram fogocontra a sua escola# matando uatro meninas e uma professora. Mo mesmo ano# emEpringfield (?regon)# um @ovem de 1U anos matou a tiro numa +high school+ doiscolegas e feriu 20 outros. Cm ano mais tarde# dois @ovens de 1U e 1I anos provocaram o

    c-lebre banho de sangue de Littleton (&olorado): com armas de fogo e e4plosivos# elesmataram na sua escola 12 colegas# um professor e# em seguida# a si pr'prios.

     Ma 3uropa# esses massacres em escolas foram de incio interpretados# ainda no conte4todo tradicional antiamericanismo# como conseu;ncia do culto s armas# do darYinismosocial e da escassa educa9o social nos 3C,. "as so @ustamente os 3C,# em todos osaspectos# o modelo para todo o mundo capitalista da globalia9o# como logo se iriamostrar. Ma peuena cidade canadiana de Taber# apenas uma semana ap's o caso deLittleton# um adolescente de 1 anos disparou ao seu redor# matando um colega de

    escola. ?utros massacres em escolas foram notificados nos anos =0 na 3sc'cia# noDapo e em v8rios pases africanos. Ma ,lemanha# em Movembro de 1===# um estudante

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    http://planeta.clix.pt/obeco/robertkurz.htmhttp://planeta.clix.pt/obeco/robertkurz.htm

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    liceal de 1% anos matou a professora# munido de duas facas< em "ar9o de 2000# umgaroto de 1Z anos matou bala o director da escola e depois tentou suicidarse< emfevereiro de 2001# um @ovem de 22 anos matou com um rev'lver o chefe da sua firma edepois o director de sua e4escola# para finalmente ele mesmo voar pelos aresdetonando um tubo de e4plosivos. ? recente acto amoue de um @ovem de 1= anos em3rfurt# ue# no fim de ,bril de 2002# durante o e4ame de concluso do secund8rio#chacinou com uma +pump gun+ 1Z pessoas (entre elas uase todo o corpo docente daescola) e ue em seguida atirou contra a pr'pria cabe9a# foi somente o 8pice at- agorade toda uma s-rie.

     Maturalmente o fen'meno dos massacres em escolas no pode ser visto de modoisolado. , b8rbara +cultura do acto amoue+ tornouse h8 tempos# em muitos pases# umacontecimento medi8tico peri'dico< os atiradores amoues @ovens em escolas formamapenas um segmento dessa microe4ploso social. ?s relatos das ag;ncias sobre actos

    amoues em todos os continentes mal podem ser contados ainda< por causa de suafreu;ncia relativa# s' so aceites pelas mdias uando t;m um efeito propriamenteespectacular. 5esse modo# auele su9o de ndole correcta# ue no fim de 2001 crivoude balas com uma pistola autom8tica meio parlamento cantonal e depois se matou#chegou triste celebridade mundial tanto uanto auele universit8rio franc;s# graduadoe desempregado# ue poucos meses depois abriu fogo com duas pistolas contra a&6mara "unicipal da cidadesat-lite parisiense de Manterre# matando oito polticoslocais.

    Ee o acto de amoues armados - mais comum ue os massacres especiais em escolas#ento ambos os fen'menos esto por sua ve integrados no conte4to maior de umacultura da viol;ncia interna sociedade# ue passa a inundar o mundo todo no decursoda globalia9o. Qaem parte disso as numerosas guerras civis# virtuais e manifestas# aeconomia da pilhagem em todos os continentes# a criminalidade de massas armadas#reunidas em bandos nos bairros pobres# nos guetos e nas favelas< de modo geral# ouniversal +prosseguimento da concorr;ncia por outros meios+. $or um lado# - umacultura do roubo e do assassinato# cu@a viol;ncia se dirige contra os outros< no entantoos autores assumem o +risco+ de eles pr'prios serem mortos. "as# simultaneamente#aumenta tamb-m# por outro lado# a autoagresso imediata# como comprovam as ta4as

    crescentes de suicdio entre os @ovens em muitos pases. $elo menos para a hist'riamoderna# - uma novidade ue o suicdio no se@a praticado apenas por desesperoindividual# mas tamb-m de forma organiada e em massa. 3m pases e culturas todistantes entre si uanto os 3C,# a Eu9a# a ,lemanha e o Cganda# as chamadas +seitassuicidas+ despertaram a aten9o v8rias vees nos anos =0# de maneira macabra# por conta dos actos de suicdio colectivo e ritualiado.

    ,o ue parece# o acto amoue forma na recente cultura global da viol;ncia o vnculol'gico de agresso aos outros e autoagresso# uma esp-cie de sntese de assassinato e

    suicdio encenados. , maioria dos amoues no s' mata indiscriminadamente comotamb-m e4ecuta a si pr'pria em seguida. 3 as distintas formas de viol;ncia p'smoderna

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    come9am a fundirse. ? autor potencial do latrocnio - tamb-m um suicida potencial< eo suicida potencial - tamb-m um amoue potencial. 5iferentemente dos actos amouesem sociedades pr-modernas (a palavra +amoF+ prov-m da lngua malaia)# no se tratade acessos espont6neos de fria ensandecida# mas sempre de ac97es longa ecuidadosamente plane@adas. ? su@eito burgu;s est8 determinado ainda pelo+autocontrole+ estrat-gico e pela disciplina funcional# at- mesmo uando decai naloucura homicida. ?s amoues so rob>s da concorr;ncia capitalista ue ficaram fora decontrole: su@eitos da crise# eles desvelam o conceito de su@eito moderno# esclarecido# emtodas as suas caractersticas.

    "esmo um cego em termos de teoria social deve atentar nos paralelos com os terroristasdo 11 de Eetembro de 2001 e com os terroristas suicidas da Pntifada palestina. "uitoside'logos ocidentais pretenderam atribuir esses actos incondicionalmente# com visvelapologia# ao +6mbito cultural alheio+ do Pslo. Mas mdias# foi dito de bom grado a

    respeito dos terroristas de Mova orF# formados anos a fio na ,lemanha e nos 3C,#ue# apesar da integra9o e4terior# eles +no chegaram ao ?cidente+ do ponto de vista

     psuico e espiritual. ? fen'meno do islamismo terrorista# com seus atentados suicidas#seria devido ao problema hist'rico de ue no houve no Pslo nenhuma -poca deiluminismo. , afinidade interna manifesta entre os @ovens amoues ocidentais e os

     @ovens terroristas suicidas isl6micos comprova e4actamente o contr8rio.

    ,mbos os fen'menos pertencem ao conte4to da globalia9o capitalista< so o resultado+p'smoderno+ ltimo do pr'prio iluminismo burgu;s. Dustamente porue eles+chegaram+ ao ?cidente em todos os aspectos# os @ovens estudantes 8rabes sedesenvolveram# tornandose terroristas. Ma verdade# no incio do s-culo 21# o ?cidente(digase: o car8cter imediato do mercado mundial e de sua sub@ectividade totalit8riacentrada na concorr;ncia) est8 em toda a parte# ainda ue sob condi97es distintas. "as adiferen9a das condi97es tem a ver mais com a distinta for9a do capital do ue com adiversidade das culturas. , socialia9o capitalista no - ho@e secund8ria em todos oscontinentes# mas sim prim8ria< e o ue foi hipostasiado como +diferen9a cultural+ peloside'logos p'smodernos fa parte antes de uma superfcie t-nue.

    ? di8rio de um dos dois atiradores amoues de Littleton foi guardado a sete chaves

     pelas autoridades norteamericanas# no sem rao. $or indiscri9o de um funcion8rio#soubese ue o @ovem criminoso havia anotado o seguinte# entre outras fantasias deviol;ncia: +$or ue no roubar em algum momento um avio e fa;lo cair sobre MovaorFR+. Hue embara9oso ? ue foi apresentado como atrocidade particularmente

     p-rfida da cultura alheia @8 havia antes tomado forma na cabe9a de um rebentointeiramente da lavra da +freedom and democracG+. W8 muito tempo a esfera pblicaoficial recalcou tamb-m a informa9o de ue# poucas semanas ap's o 11 de Eetembronos 3C,# um adolescente de 1% anos se havia lan9ado num peueno avio sobre umedifcio. &om toda a seriedade# as mdias norteamericanas afirmaram ue o rapa havia

    ingerido uma dose e4cessiva de preparados contra a acne e ue# por isso# teve um

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    distrbio mental moment6neo. 3ssa +e4plica9o+ - um produto digno da filosofia doiluminismo no seu est8gio ltimo positivista.

     Ma realidade# a +sede de morte+ representa um fen'meno social mundial p'smodernoue no est8 ligado a nenhum lugar social ou cultural particular. 3sse impulso no podeser disfar9ado# tomandose como a soma de meros fen'menos isolados e fortuitos. $oislembram auele ue realmente age os milh7es ue circulam com os mesmos padr7esintelectuais e emocionais insolveis e brincam com as mesmas ideias m'rbidas. E' emapar;ncia os terroristas isl6micos se diferenciam dos amoues ocidentais individuais aoreivindicar motivos polticos e religiosos organiados. ,mbos esto igualmente longe deum +idealismo+ cl8ssico ue poderia @ustificar o sacrifcio de si mesmos com ob@ectivossociais reais.

    , respeito das novas e numerosas guerras civis e do vandalismo nos centros ocidentais#

    o escritor alemo Wans "agnus 3nensberger constatou ue a +no se trata de maisnada+. $ara entender# - preciso inverter a frase: o ue - esse nada de ue se trataR ocompleto vaio do dinheiro elevado a fim em si mesmo# ue agora dominadefinitivamente a e4ist;ncia como deus seculariado da modernidade. 3sse deusreificado no tem em si nenhum contedo sensvel ou social. Todas as coisas e car;nciasno so reconhecidas em sua ualidade pr'pria# mas antes esta lhes - tirada para+economici8las+# ou se@a# para transform8las em mera +gelatina+ ("ar4) davaloria9o e# desse modo# em material indiferente (+gleichgltig+).

    um engano crer ue o cerne dessa concorr;ncia universal seria a autoafirma9o dosindivduos. Sem pelo contr8rio# - a pulso de morte da sub@ectividade capitalista uevem lu como ltima conseu;ncia. Huanto mais a concorr;ncia abandona osindivduos ao v8cuo metafsico real do capital# tanto mais facilmente a consci;nciaresvala numa situa9o ue aponta para al-m do mero +risco+ ou +interesse+: aindiferen9a para com todos os outros se reverte na indiferen9a para com o pr'prio eu.,bordagens sobre essa nova ualidade da friea social como +friea em rela9o a si

     pr'prio+ @8 se apresentavam nos grandes surtos de crise da primeira metade do s-culo20. , fil'sofa Wannah ,rendt falou nesse sentido de uma cultura da +autoperdi9o+# deuma +perda de si mesmo+ dos indivduos desarraigados e de uma +debilita9o do

    instinto de autoconserva9o+ por causa do +sentimento de ue no depende de si mesmoue o pr'prio eu possa ser substitudo por um outro a ualuer momento e em ualuer 

     parte+.

    ,uela cultura da autoperdi9o e do autoesuecimento ue Wannah ,rendt aindareferia e4clusivamente aos regimes polticos totalit8rios da -poca se reencontra ho@e# deforma muito mais pura# no totalitarismo econ'mico do capital globaliado. ? ue no

     passado era estado de stio tornase estado normal e permanente: o pr'prio uotidiano+civil+# convertese na autoperdi9o total dos homens. 3sse estado no concerne

    somente aos pobres e decados mas a todos# porue veio a ser o estado predominante dasociedade mundial. Psso vale particularmente para as crian9as e adolescentes# ue no

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    t;m mais nenhum crit-rio de compara9o e nenhum crit-rio de crtica possvel. uma perda de si id;ntica e uma perda da capacidade de @u