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A ARTE OPERACIONAL CONJUNTAA ARTE OPERACIONAL CONJUNTA
ESTÁ VIVAESTÁ VIVAPROCEEDINGS - OUTUBRO 2003PROCEEDINGS - OUTUBRO 2003
Por:Por:
Lieutenant Commander. David M. McFarland (U.S. Navy)Lieutenant Commander. David M. McFarland (U.S. Navy)
Major Monty Ray Perry (USAF)Major Monty Ray Perry (USAF)
Lieutenant Colonel Steven R. Miles (U.S. Army) Lieutenant Colonel Steven R. Miles (U.S. Army)
TraduçãoEduardo Hartz Oliveira – CMGEscola de Guerra Naval – CEPE
Agosto 2004
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“tecnologia de informaçãotecnologia de informação”,11 assim como a bomba atômica
antes dela, constituiu uma Revolução nos Assuntos Militares
(RAM), e que deveria contribuir para a arte operacionalarte operacional
conjuntaconjunta22 , e não deveria ou poderia substituí-la. E,
aparentemente, nossas forças comungam desta mesma acepção, pelo menos
na condução da guerra contra o terrorismo, como no caso do General
Tommy R Franks que comandou as ações de guerra no Afeganistão, a
partir do seu quartel general em Tampa, Flórida.
A concepção de operação conjuntaoperação conjunta33 ou da arte operacional conjunta
não nasceu em 1986, com a Lei de Reorganização de Goldwater-Nichols.
Esta legislação apenas assinalou o seu renascimento ou reafirmação. No
final da 2ª GM e durante a Guerra na Coréia, as forças norte-americanas já
implementavam as primeiras técnicas para a condução da guerra de forma
conjunta. Líderes militares como Chester Nimitz, Douglas MacArthur, e
Dwight Eisenhower desenvolveram os princípios da arte operacional
conjunta, e forjaram suas principais lições para integração no campo de
batalha.
O que foi que provocou o descarrilamento desta grande escola do
pensamento militar? Por que nós relegamos ao esquecimento, durante
quase quatro décadas, um avanço doutrinário em potencial?
Ironicamente, a RAM que determinou o fim da 2ª GM — o
desenvolvimento da bomba atômica — provocou um sufocamento das
emergentes concepções da arte operacional conjuntaarte operacional conjunta, mantendo-as num
profundo hiato. Isto se deve, porque imediatamente após o término da
A
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guerra, as forças armadas, na busca de manterem-se relevantes para a
segurança nacional na ambiência da Guerra Fria, foram mal orientadas no
sentido de que a nação não precisava mais de forças conjuntas bem
treinadas para vencer as guerras. A nossa capacidade nuclear iria dissuadir
a ocorrência de guerras convencionais, e a destruição mutuamente
assegurada iria prevenir a ocorrência de uma guerra nuclear. Assim, os
meios nucleares constituíam os derradeiros instrumentos de guerra. 44
Atualmente, as discussões sobre perspectivas futuras relativas a
temas militares estão repletas de exemplos de uma RAM baseada no
emprego da “tecnologia de informação” para condução da guerra. O
Departamento de Defesa (DoD) define esta nova revolução como sendo “o
conjunto de atividades por meio das quais o DoD explora a RAM visando
produzir mudanças fundamentais na tecnologia, conceitos e doutrinas
operacionais e estrutura organizacional das forças armadas”.55
Capitalizando em cima da nova RAM, o presidente George W. Bush
declarou: — “. . . Nós iremos modernizar alguns dos equipamentos e. . . Nós iremos modernizar alguns dos equipamentos e
armas atualmente existentes . . . mas nós faremos isso de formaarmas atualmente existentes . . . mas nós faremos isso de forma
criteriosa e seletiva. O nosso propósito é ir além de melhoriascriteriosa e seletiva. O nosso propósito é ir além de melhorias
marginais, é o de explorar novas tecnologias que irão darmarginais, é o de explorar novas tecnologias que irão dar
sustentação para uma nova estratégia . . . A nossa visão com relaçãosustentação para uma nova estratégia . . . A nossa visão com relação
à defesa será o fator determinante do nosso orçamento para aà defesa será o fator determinante do nosso orçamento para a
defesa, e não ao contrário.defesa, e não ao contrário.”66
Após a 2ª GM, a concentração na disputa por recursos orçamentários
para a estruturação das forças nucleares marcou um período obscuro de
atividades paroquiais por parte das forças armadas. Estima-se que os gastos
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com programas de armas nucleares, no período de 1940 a 1996, atingiram
a espantosa cifra de 5.8 trilhões de dólares.77 Com base nesta retrospectiva,
quanto é que a nossa nação irá gastar com a “information warinformation war88?” Será que
a concentração das forças na disputa por recursos orçamentários irá
redundar em outro cisma no desenvolvimento da concepção de operação
conjunta? O que foi que a história da arte operacional conjuntaarte operacional conjunta nos
ensinou com relação à RAM?
As armas nucleares introduziram uma mudança tecnológica que
desestruturou a concepção de operações conjuntas, incentivou a estreiteza
de atitudes e ações e desencaminhou o desenvolvimento da artearte
operacional conjuntaoperacional conjunta por 40 anos. O advento da Lei Goldwater-Nichols
injetou uma nova vitalidade ao desenvolvimento da arte operacionalarte operacional
conjuntaconjunta, e nós devemos lutar para mantermos este rumo. As guerras no
futuro exigirão que nossas forças operem juntas num mundo imprevisível e
de recursos limitados.
Estamos agora diante de uma outra encruzilhada crítica da estrada.
Nós podemos optar por aproveitar as lições do passado e ir além do nosso
atual nível na arte operacional conjuntaarte operacional conjunta, ou seguirmos por outro
caminho, seduzidos por uma nova e tentadora RAM. Nós não devemos
deixar que a tecnologia da informaçãotecnologia da informação suplante a arte operacional
conjunta, assim como a guerra nuclear o fez. Preferivelmente, nós devemos
adaptar futuras RAM ao processo de evolução da arte operacionalarte operacional
conjuntaconjunta.
Os Mestres da Arte Operacional ConjuntaOs Mestres da Arte Operacional Conjunta
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Na medida em que olhamos para o futuro e para um maior
desenvolvimento da doutrina de combate conjunto, seria sensato aproveitar
a nossa bem sucedida experiência do passado. A Batalha de Okinawa, cujo
nome código foi “Operação Iceberg”, e os desembarques em Inchon,
codinome “Operação Chromite”, são exemplos que salientam o enorme
potencial das operações conjuntas. Estas duas operações compõem um
arcabouço convincente a partir do qual nossos chefes militares do passado
implementaram os princípios da operação conjuntaoperação conjunta.
Na medida em que os planos para a invasão de Okinawa adquiriram
consistência, o Almirante Nimitz, na condição de Comandante de Força
Conjunta, e contando com a aprovação da Junta de Chefes de Estado-
Maior, promoveu uma rápida mini-implantação do que viria a ser a “Lei de
Goldwater-Nichols”, expandindo suas relações de comando para executar
uma operação de grande complexidade, que consistia na invasão de uma
ilha pesadamente fortificada e próxima ao território insular do Japão.99 Ao
adotar esta postura de expandir a abrangência do seu comando, o Almirante
Nimitz estabeleceu o princípio chave para o sucesso das operações
conjuntas: a unidade de comando com a definição clara da cadeia dea unidade de comando com a definição clara da cadeia de
comandocomando. Ele defendeu o princípio da hierarquia, segundo o qual, o grau
de cooperação entre as forças singulares é inversamente proporcional ao
número de escalões de comando.1010
As iniciativas do Almirante Nimitz produziram uma organização
enxuta e integrada ao longo dos escalões funcionais dos componentes de
terra, mar e ar. O princípio de unidade de comando, criado pelo Almirante
Nimitz, está embutido na doutrina atual, sob a forma da “Força-Tarefa
Conjunta”, a estrutura operacional de comando preferida para emprego em
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combate. Na concepção do Almirante Nimitz, esta forma de organização
operacional apresenta uma base mais assentada, maior efetividade1111,
aumentando a cooperação interna e as comunicações. Desta forma, o
Almirante Nimitz deu vazão aos efeitos não-lineares da sinergia, a qual
viria a se tornar, 40 anos depois, na característica marcante de excelência
de todas as operações conjuntas.
Da mesma forma, o contra-ataque estratégico realizado pelo General
Douglas MacArthur em Inchon, no ano de 1950, estabeleceu as linhas
mestras da arte operacional que orientam as atuais operações conjuntas
norte-americanas. Infelizmente, apesar do imenso sucesso da “Operação
Chromite”, ela foi a última de sua espécie nos 40 anos que se seguiram.
Na ocasião, o General MacArthur, da mesma forma como o
Almirante Nimitz, percebeu as vantagens da arte operacional conjuntaarte operacional conjunta,
bem como a necessidade de se lutar como um time íntegro e coeso. No
caso da Operação Chromite, na medida em que o processo de planejamento
se intensificava, o General MacArthur percebeu a necessidade de instituir
uma nova forma de autoridade conjunta, visando coordenar, controlar e
eliminar os conflitos existentes na realização das operações aéreas. Este
conceito deu origem ao que ficou conhecido como Controle de
Coordenação, tendo sido o antecessor da concepção atual do Comandante
da Componente Aérea da Força Conjunta1212 (JFACC).
No teatro terrestre, o General MacArthur acatava o princípio da
coesão, e sabia como estabelecer um equilíbrio de forças que maximizasse
o poder de combate. Ele constatou que uma integração muito intensauma integração muito intensa
nos escalões inferiores ao de divisão, esquadra ou ala aéreanos escalões inferiores ao de divisão, esquadra ou ala aérea, poderia
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corromper a coesão ao nível de unidade, anulando, assim, os benefícios da
integração entre as forças, em decorrência da redução da eficiência e do
moral.1313
Como um mestre na arte operacional, MacArthur, habilidosamente,
encontrou um perfeito equilíbrio de forças, criando a Força-Tarefa
Conjunta -7 (FTC-7), para realizar as operações de desembarque anfíbio e
para obter a otimização de uma força tão diversificada. O Núcleo das
Operações Conjuntas da FTC-7 proporcionou os necessários mecanismos
de coordenação e controle, aumentando, assim, a efetividade da integração
entre as forças, por meio de elementos de ligação, da confiança mútua, da
unidade de esforço e da coordenação na fixação de alvos. Mais do que isso,
na condição de Comandante da Força Conjunta, o General MacArthur —
assim como o Almirante Nimitz antes dele — estabeleceu a unidade de
comando e promoveu, com efetividade, a centralização do planejamento e
descentralização da execução — um princípio basilar das operações
conjuntas.1414 Ele também aperfeiçoou o conceito de comandos de apoio e de
comandos apoiados num Teatro de Operações.
Estas complexas operações conjuntas não eram consideradas uma
novidade em 1950, elas já haviam sido bem testadas e comprovadas no
final da 2ªGM. Surpreendentemente, no entanto, estas práticas caíram em
desuso após 1950. Neste sentido, comenta John R Ballard: “O General
Eisenhower condensou todo o bom senso de sua avaliação após quatro
longos anos de guerra declarando que — ‘. . . a condução da guerra no. . . a condução da guerra no
mar, em terra e no ar, de forma separada, está definitivamentemar, em terra e no ar, de forma separada, está definitivamente
acabada. Se novamente, tenhamos que nos envolver numa guerra,acabada. Se novamente, tenhamos que nos envolver numa guerra,
nós lutaremos em todos os elementos, com todas as forças armadas,nós lutaremos em todos os elementos, com todas as forças armadas,
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na forma de um único esforço concentrado.na forma de um único esforço concentrado.’ Ele tinha esperança, e até
acreditava, que a guerra tornara-se demasiadamente terrível para ter
prosseguimento; e que a comprovação da forma de trabalho de equipe
multidimensional era tão patente, que constituir-se-ia numa norma para o
futuro. Ele estava errado nos dois casos”.1515
O Desaparecimento da Arte Operacional ConjuntaO Desaparecimento da Arte Operacional Conjunta
O que aconteceu? O que foi que relegou a concepção conjunta de se
lutar a guerra à estagnação por tantos anos? Embora existam muitas razões
diferentes, o principal impedimento para que continuasse a haver um
enfoque perene e salutar quanto à importância da arte operacionalarte operacional
conjuntaconjunta foi a ansiedade norte-americana em tratar o bombardeio nuclear
estratégico como a palavra final, a estratégia para deter ou, se necessário,
vencer as futuras guerras convencionais ou nucleares.
A guerra nuclear substituíra a guerra convencional, e ameaçava a
validade do papel das forças convencionais. As prioridades orçamentárias
estavam polarizadas na direção da estrutura das forças nucleares. A nação
se “apaixonou” pela bomba e pelo Comando Aéreo Estratégico (SAC –
Strategic Air Command).
Seguindo-se ao término da 2ªGM, os esforços na área da defesa
estavam focados na recém criada Força Aérea e na sua capacidade
estratégica de bombardeio. O fantasma de uma guerra nuclear contra a
União Soviética proporcionou o ímpeto para o desenvolvimento dessas
10
teorias estratégicas. “Havia um sentimento de caráter genérico de que a
Força Aérea teria se tornado a nossa primeira linha de defesa”.1616 Esta
postura foi crítica para o desenvolvimento da arte operacional conjuntaarte operacional conjunta.
As discussões quanto à relevância de forças navais e terrestres
constituíam um lugar comum. À frente de uma longa lista de defensores do
Poder Aéreo que incluía Giulio Douhet, Hugh Trenchard e William “Billy”
Mitchell, estava o General da Força Aérea Curtis LeMay. Ele defendeu,
veementemente, a efetividade e a capacidade exclusiva do Poder Aéreo
como vetor para o lançamento de armas nucleares e para o bombardeio
estratégico de uma forma geral. Suas ações como comandante do Comando
Aéreo Estratégico (SAC), Vice-Chefe e, eventualmente, Chefe do Estado-
Maior da Força Aérea evidenciaram este seu posicionamento. Num
testemunho perante uma subcomissão parlamentar, o General LeMay
declarou: “O Comando Aéreo Estratégico é a força atômica de ataqueO Comando Aéreo Estratégico é a força atômica de ataque
de longo alcance dos Estados Unidos. Ele é responsável perante àde longo alcance dos Estados Unidos. Ele é responsável perante à
Junta de Chefes de Estado-Maior, por intermédio do Chefe doJunta de Chefes de Estado-Maior, por intermédio do Chefe do
Estado-Maior da Força Aérea dos Estados Unidos, como o seuEstado-Maior da Força Aérea dos Estados Unidos, como o seu
agente executivo. [Sua] missão . . . é a de adestrar e manter umaagente executivo. [Sua] missão . . . é a de adestrar e manter uma
efetiva força aérea ofensiva . . .. para tornar-se e manter-seefetiva força aérea ofensiva . . .. para tornar-se e manter-se
suficientemente forte, visando deter agressões durante uma guerrasuficientemente forte, visando deter agressões durante uma guerra
fria e, com a cooperação de outras forças norte-americanas efria e, com a cooperação de outras forças norte-americanas e
aliadas, vencer a batalha decisiva pelo poder aéreo numa guerraaliadas, vencer a batalha decisiva pelo poder aéreo numa guerra
generalizada.generalizada.”1717
Em 1949, a Força Aérea tinha somente dois anos de existência, e,
mesmo assim, “recebeu a então considerável soma de 10 bilhões de dólares
em recursos orçamentários, um valor muito maior do que o recebido pelo
11
Exército ou pela Marinha”.1818 Já na metade dos anos 1950, “17% de todo o
orçamento de defesa foi direcionado para o Comando Aéreo Estratégico”.1919
De que forma essas ocorrências reduziram o nível da concepção de
operação conjunta entre os militares? A resposta a esta questão está na
tabela a seguir, que ilustra o montante da alocação de recursos
orçamentários para armas nucleares e plataformas nos primeiros anos de
existência da Força Aérea:
Despesas Gerais Estimadas do DoD e da Força Aérea com Armas Nucleares no período de 1944-54 (Em Bilhões de Dólares – valoresaferidos para 1996)
ANOGASTO DO DOD
COM FORÇANUCLEAR (FNUC)
GASTO DO DODCOM FNUC [%]
GASTO DA FORÇAAÉREA (FAER)
COM FNUC
GASTO DO DODCOM FNUC P/
FAER [%]
ORÇAMENTODA FAER
GASTO COMFNUC [%]
1944 — — 0.038 — 0.02%
1945 — — 0.040 — 0.02%
1946 — — 0.159 — 0.25%
1947 34,842 27% 5,038 14,5% 37,3%
1948 26,376 27% 5,762 21,85% 46,2%
1949 45,487 32% 20,365 44,77% 67,3%
1950 39,221 34% 16,966 43,26% 42%
1951 102,173 30% 76,721 75,09% 53,7%
1952 115,061 27% 74,043 64,35% 53,6%
1953 — — 83,320 — 48%
1954 — — 69,785 — 51,5%
TOTAL 363,161 352,237
Nota: Stephen I. Schartz; Editor; “Atomic Audit: The Cost and Consequences of U.S. Nuclear Weapons Since 1940”;Brookings Institute; 1998. A 4ª coluna não constava da tabela no documento original, mas foi deduzida dos dados nelaexistentes. O relatório original avaliou cuidadosamente estes dados, observando que seria impossível “dentro do nossoatual quadro operacional, desenvolver regras seguras e hipóteses sobre as quais se possam fundamentar estimativasirrefutáveis com relação à parcela do orçamento da Força Aérea que contribuiu para o ‘Esforço Atômico. . .’ Por essarazão a utilização dessas estimativas deve ser qualificada, em qualquer instância, apenas como uma estimativa genérica daordem de magnitude.”
12
Desta forma, com a parte do leão dos recursos orçamentários da
defesa sendo canalizados para o Comando Aéreo Estratégico, as demais
forças viram-se obrigadas a aderirem á nuclearização, como forma de
manterem-se relevantes.
A Marinha e o Exército tomaram iniciativas de forma atabalhoada
visando realçar as suas respectivas relevâncias. Neste sentido, a Marinha
“criou uma secretaria especial secreta dentro do Pentágono, denominada
OP-23, formada por um grupo de planejamento liderado pelo Capitão de
Mar-e-Guerra Arleigh Burke, e que tinha como propósito cooptar o apoio
público e do Congresso para o projeto do USS United StatesUSS United States”.2020 Este
navio viria a ser o primeiro super porta-aviões da Marinha, capacitado para
o lançamento de aeronaves carregadas com armas nucleares.
Em 1949, a rivalidade entre as forças singulares finalmente atingiu o
ponto culminante, quando a Marinha apresentou uma contundente
declaração ao Congresso, e que veio a ser conhecida como a “Revolta dos
Almirantes”. Neste episódio, a Marinha reclamava que, de uma certa
forma, “a Força Aérea estava tentando destruir a Aviação Naval, de modo a
reduzir a influência da Marinha no âmbito institucional militar”.2121 Ainda
que a revolta dos Almirantes tenha redundado na demissão de diversas
autoridades de altas patentes, a luta interna com relação a atribuições e
missões ainda continuou por vários anos.
Muito se tem publicado, abordando a Guerra Fria e a estratégia
nuclear de defesa. Não obstante, o tempo mostrou-nos que a nossa
estratégia da Guerra Fria não precisava desarticular a nossa capacidade de
lutar de forma conjunta, a qual deveria ter sido contínua e gradualmente
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amadurecida até a sua condição atual. A evidência desta afirmação está na
comparação das falhas militares ocorridas no Vietnam e na Operação
“Desert One” (a incursão norte-americana para libertar os reféns no Irã),
com os sucessos alcançados nas operações “Just Cause” (intervenção
militar norte-americana no Panamá em 1989) e “Desert Storm”, e assim
temos o entendimento preciso da validade da Lei Goldwater-Nichols de
1986. O ambiente de segurança do futuro irá requerer soluções originais
para problemas complexos. E com a arte operacionalarte operacional conjunta,
novamente, diante de uma bifurcação, qual será o caminho que
tomaremos?
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Revolução ou Evolução da Informação? Revolução ou Evolução da Informação?
Após o término da Guerra Fria, a expansão da Internet e no âmbito
econômico a liberdade de comércio abriram o caminho para uma
revolução da informaçãorevolução da informação no mundo dos negócios. A tecnologia detecnologia de
informaçãoinformação estava revolucionando os negócios, na medida em que o setor
tecnológico emergiu como a máquina propulsora da economia norte-
americana. Os negócios da economia “ponto-com”, projetados e baseados
no “e-business” difundiram-se de forma espantosa. No momento e que a
“nova economia” alavancou os mercados de ações em todo o mundo a
níveis sem precedentes, o setor tecnológico exauriu-se e a bolha da nova
economia rompeu-se.
As comparações da revolução na tecnologia da informaçãorevolução na tecnologia da informação no
âmbito dos negócios e na esfera militar são altamente instrutivas. Será que
nós devemos seguir o caminho do setor econômico e atingir de forma
desenfreada um clímax? Ou será que devemos manter uma trajetória
estável, navegando ao largo do cemitério dos negócios “ponto-com”
falidos, empregando a tecnologia de informaçãotecnologia de informação como uma bússola, para
desenvolver a arte operacional conjuntaoperacional conjunta?
Ao contrário de ser uma “RAM de uma única arma”, como a que foi
produzida pelas armas nucleares, a revolução na informaçãorevolução na informação está sendo
chamada de “a RAM dos sistemas integrados”, impulsionada pela
tecnologia dos sistemas de informaçãotecnologia dos sistemas de informação2222.. O novo conceito operacional
que melhor caracteriza a “RAM dos sistemas integrados” é conhecido
como a “Network-Centric WarfareNetwork-Centric Warfare” (NCW). Este novo tipo de ação de
guerra é definido como:
15
““um conceito operacional baseada na superioridade deum conceito operacional baseada na superioridade deinformaçãoinformação2323, que se propõe a gerar um crescente poder, que se propõe a gerar um crescente poderde combate, pelo trabalho em rede de sensores,de combate, pelo trabalho em rede de sensores,tomadores de decisão e elementos atiradores, visandotomadores de decisão e elementos atiradores, visandoassegurar o assegurar o conhecimento compartilhadoconhecimento compartilhado2424,, maior maiorvelocidade no ciclo de decisão do comando, maior ritmovelocidade no ciclo de decisão do comando, maior ritmooperacional, maior letalidade, maior grau deoperacional, maior letalidade, maior grau desobrevivência ao combatesobrevivência ao combate2525, e capacidade de auto-, e capacidade de auto-sincronização”sincronização”2626. .
Um exemplo recente do impacto da NCW na guerra moderna pode
ser evidenciado no “U.S. Central Command” (CENTCON). O General T.R.
Franks não se deslocou para frente de combate no Afeganistão para
executar a guerra contra o terrorismo (Operação “Enduring Freedom”). Ao
invés disso, ele preferiu dirigir a guerra a partir do seu quartel general em
Tampa, na Flórida, permanecendo conectado ao teatro de operações por
meio da moderna tecnologia das telecomunicações. A estrutura de
Comando, Controle, Comunicações e Computadores (C4) aproxima-se
bastante da visão que o Vice-Almirante da Reserva Arthur Cebrowski,
Diretor da Secretaria de Transformação de Força do Departamento de
Defesa, tem em relação á NCW:
““a capacidade que forças geograficamente dispersasa capacidade que forças geograficamente dispersas(como se fossem entidades) têm de desenvolver a(como se fossem entidades) têm de desenvolver acompilação do quadro estratégicocompilação do quadro estratégico2727,, que possa ser que possa serexplorado através da auto-sincronização e outrasexplorado através da auto-sincronização e outrasoperações centradas em redes de trabalho interativo,operações centradas em redes de trabalho interativo,visando à consecução das intenções do Comandante.”visando à consecução das intenções do Comandante.”2828
16
O Afeganistão é um exemplo de um sólido planejamento operacional, deum inovador emprego de força conjunta implementado pela NCW, e decomo esta concepção pode aprimorar a arte operacional conjuntaarte operacional conjunta.
Por outro lado, declarações como a que o Almirante da Reserva
William Owens faz em seu livro “Lifting the Fog of War” tem elevado a
RAM ao reino da fantasia.2929 O Almirante Owens defende uma radical
reestruturação das forças armadas norte-americanas e no DoD, visando
tirar proveito da revolução na tecnologia de informaçãotecnologia de informação.
Ele também conclui que a doutrina militar e os conceitos
operacionais mudam de maneira fundamental, à luz da revolução da
tecnologia de informaçãotecnologia de informação. Apesar de que a maioria dos argumentos do
Almirante Owens estejam direcionados às atuais políticas de obtenção do
DoD, e não diretamente contra a arte operacional conjuntaarte operacional conjunta, o seu desejo
de mudar radicalmente a doutrina militar é suspeita. Afinal de contas, a
doutrina conjunta30 serve como o fundamento da arte operacionalarte operacional
conjuntaconjunta.
A RAM na área da informação não assegurou ao Comando Central
dos Estados Unidos - CentCom31 a possibilidade de “dissipar o nevoeiro da
guerra”. Mesmo assim, permitiu ao Comandante-em-Chefe do CentCom
(CINCCENT32 ) e seu estado-maior manterem a compilação do quadro
estratégico de um teatro incipiente, que de outra forma, iria requerer um
grande esforço para a relocação do quartel-general. A RAM na área da
informação expandiu o comando e o controle no nível estratégico de teatro
de Operações. Conforme declarado no trabalho seminal sobre NCW:
17
““Para alcançar todo o seu potencial, a NCW deve estarPara alcançar todo o seu potencial, a NCW deve estarprofundamente enraizada na arte operacional.”profundamente enraizada na arte operacional.”3333
O “nevoeiro e a fricção” da guerra são tão predominantes nos dias de
hoje, quanto eram no tempo de Carl von Clausewitz, mas a NCW
apresenta-se como uma promessa de progresso da arte operacional
conjunta. Cada faceta da NCW tem correlação direta com os princípios da
arte operacional conjuntaarte operacional conjunta, e se presta, unicamente, a desenvolver o
estado da arte. A NCW não é uma RAM, mas, uma evolução da arte
operacional conjunta, capacitada por meio da tecnologia de informaçãotecnologia de informação e
da integração dos sistemas de informaçãosistemas de informação.3434
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NotasNotas
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11 tecnologia de informação — (Information Technology) — é uma expressãoque incorpora todas as formas de tecnologia empregadas para criar, armazenar,trocar e utilizar a informação, em suas diversas formas (dados, conversação,imagens, filmes, apresentações em multimídia, e outras formas, incluindo aquelasque ainda não foram concebidas). É uma expressão conveniente para definir atecnologia que engloba a telefonia e a tecnologia digital sob uma mesmadesignação. O termo “informação” na interpretação doutrinária brasileira tem umsignificado com uma abrangência mais restrita que na doutrina norte-americana.
Informação — (Information) — um estímulo dotado de um significadoespecífico dentro do contexto do seu receptor. Quando a informação introduzida earmazenada em um computador recebe a designação genérica de dado. De acordocom a doutrina norte-americana constitui fatos, dados ou instruções, sob qualquerforma de mídia. (DoD – Joint Publication 0-2). É com esta abrangência que otermo está sendo empregado neste texto adaptado ao português.
22 Arte Operacional — (Operational Art) — O emprego de forças militares paraalcançar objetivos estratégicos e/ou operacionais, através do delineamento,organização, integração e condução de campanhas, operações de grande porte ebatalhas. A Arte Operacional traduz a estratégia do Comandante de ForçaConjunta na forma de um delineamento operacional e, em última instância, nodesenvolvimento de uma ação tática, integrando as principais atividades inerentesa todos os níveis da guerra. (DoD - Joint Publication 3-0)
Conjunto(a) — (Joint) — Designação dada a atividades, operações, organizaçõese etc., nas quais elementos de duas ou mais forças singulares participam de formaintegrada.
33 Operação Conjunta — (Joint Operation) — Um termo genérico empregadopara descrever ações militares conduzidas por forças conjuntas ou por forçassingulares, não integrantes de uma mesma organização por tarefas, mas cujasações estejam relacionadas. (DoD – Joint Publication 0-2)
44 George Feifer; “Tennozan: The Battle of Okinawa and the Atomic Bomb”; NewYork: Ticknor and Fields, 1970; pp.566-68.
55 Michele Flournoy; “Report of the National Defense University Quadrennial De-fense Review 2001 Working Group”; Washington: National Defense University,Institute of National Strategic Studies; Novembro 2000; p.14.
66 Ibidem.
77 Stephan I Schwartz, Ed.; “Atomic Audit: The Costs and Consequences of U.S.Nuclear Weapons Since 1940”; Washington, DC: Brookings Institution Press,1998; p.6.
88 “Information War” — O conceito de “Information War” ainda é recente no meiomilitar, e ainda está longe de ter um conceito definido e aceito de forma genérica.Uma das definições mais comuns, e que segundo estudiosos do assunto não atendede forma completa, é a que: “A ‘information war’ compreende o emprego ofensivoe defensivo da informação (fatos, dados ou instruções em qualquer formato demídia) e dos sistemas de informação, para explorar, corromper ou destruir asinformações e/ou os sistemas associados de um adversário, e simultaneamente,proteger suas informações e sistemas, visando obter vantagens sobre adversáriosmilitares ou competidores comerciais”.
99 John Pike, “The battle of Okinawa”; http://www.globalsecurity.org/military /facil-ity /okinawa-battle.htm; p.2.
1010 Rubel; “Principles of Jointness”; p.47 1111 Efetividade = Eficiência + Eficácia. 1212 John R Ballard; “Operation Chromite — Counterattack at Inchon”; Joint Force
Quarterly, Primavera/Verão 2001; pp. 31-36.1313 Rubel; “Principles of Jointness”; pp.45-49.1414 Rubel; “Principles of Jointness”; p.46 1515 John R Ballard; “The Evolution of The Joint Force Since 1945”; http://www.de-
fense.gov.au/ aerospacecenter/2000apc/Ballard.html; p.21616 Thomas M. Coffey; “Iron Eagle”; New York: Crown; 1986; p.271.1717 Ibidem; p. 273.1818 Ibidem; p. 284.1919 Ibidem; p. 339.2020 Phillip S. Meilinger; “The Admirals Revolt of 1949 — Lessons for Today”; Pa-
rameters, September 1989; p. 81.2121 R. Ernest Dupuy e Trevon N. Dupuy; “The Encyclopedia of Military History from
3500 BC to the Present”; 2ª Ed. Rev.; New York: Harper and Row, 1986; p. 1329. 2222 Jeffrey McKitrick, James Blackwell; “The Revolution in Military Affairs”; Strate-
gic Assessment Center; McLean, VA: Science Applications International Corpora-tion; Dezembro 1995; p. 3.
2323 Superioridade de Informação — (Information superiority) — é o grau depredomínio no meio ambiente da informação que assegura a condução deoperações sem qualquer oposição efetiva. (DoD – Joint Publication 0-2).
2424 Conhecimento Compartilhado — (Shared Awereness) — conhecimentocompartilhado
2525 Sobrevivência ao Combate — (Survivability) — Conceito que abrange todosos aspectos relacionados à proteção de pessoal, armamentos e suprimentos,enquanto que, simultaneamente, realizar o despistamento e relação ao inimigo. Osprocedimentos táticos de Sobrevivência ao Combate incluem a construção de umaboa defesa; a implementação de movimentações freqüentes; o emprego decobertura, despistamento e camuflagem; e a montagem de posições fortificadaspara combate e defesa, tanto para pessoal quanto para equipamentos (JP 3-34).
2626 McKitrick, Blackwell; “The Revolution in Military Affairs”; p. 2. 2727 Compilação do Quadro Estratégico — Battlespace Awareness2828 David S. Alberts; “Network-Centric Warfare: Developing and Leveraging Infor-
mation Superiority”; Washington D.C.; DoD C4ISR Cooperative Research Pro-gram; 1999; p. 88.
2929 William Owens e Ed Offley; “Lifting the Fog of War”; New York: Farrar, Strausand Giroux, 2000.
3030 Doutrina Conjunta — (Joint Doctrine) — Princípios fundamentais queorientam o emprego de duas ou mais Forças Singulares, numa ação coordenada,visando um objetivo comum. Tem caráter peremptório, e como tal, a DoutrinaConjunta será sempre seguida, exceto quando, no julgamento do comandante,circunstancias excepcionais determinarem o contrário. Será promulgada para oupelo Chefe da Junta de Chefes de Estado-Maior, em coordenação com osComandos-em-Chefe e Forças Singulares (JP 1-01)
Comando-em-Chefe — (Combatant Command) — Designação genérica dada aum comando unificado ou de natureza específica (funcional), composto porparcelas significativas de mais de uma Força Singular, sob um comando único(Comandante-em-Chefe ou CINC), designado pelo Presidente por meio doSecretário de Defesa e assessoramento do Chefe da Junta de Chefes de Estado-Maior, ao qual é atribuída uma missão de natureza ampla e contínua. Asresponsabilidades dos Comandos-em-Chefe, normalmente, são de naturezageográfica ou funcional. (JP 1-02; JP 3-31; JP 5-0).
3131 Comando Central dos Estados Unidos — (United States Central Command –CentCom) — é uma unidade de Comando-em-Chefe das Forças Armadas norte-americanas , em nível de Teatro de Operações, criado em 1983, sob o controleoperacional do Secretário de Defesa. Sua área de jurisdição compreende o OrienteMédio, a África Oriental e a Ásia Central.
3232 CINCCENT — Comandante-em-Chefe do Comando Central dos Estados Unidos(JP 1-02)
3333 Alberts; “Network Centric Warfare”; p. 3 3434 Sistema de Informação — (Information System) — Toda a infra-estrutura,
organização e componentes que coletam, processam, armazenam, transmitem,apresentam e atuam sobre a informação. (JP 3-13).