A Postura Perversa é a Impostura

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    A Postura Perversa a Impostura

    35Estudos de Psicanlise Salvador n. 30 p. 35 - 42 Agosto. 2007

    A Postura Perversa a Impostura1

    Cibele Prado Barbieri*

    Resumo: O autor trabalha a questo da perverso como forma discursiva, apoiando-se emtrs situaes que apontam para diferentes momentos da relao do sujeito com o gozo: acriana, o adolescente e o analista. O autor pretende focalizar os efeitos dos traos perversosna estrutura do discurso do sujeito.

    Palavras-chave: Perverso; Discurso; Castrao; Pulso escpica; Criana; Adolescente;Psicanalista.

    que a perverso algo totalmente diferente de uma entidade clnica: ela um certo modode pensar. Um pensamento cuja essncia demonstrativa decorre das relaes do perverso com afantasia e com a Lei. 2 (ANDR, 1995, p. 312)

    Serge Andr (1995) prope a per-verso enquanto modalidade discursivae o desmentido como uma forma parti-cular do sujeito de estabelecer sua re-lao com a linguagem. Os efeitos des-

    sa modalidade de relao se expressamcomo uma tica prpria. O autor ino-va ao abordar um efeito de dennciaque aparece enquanto um vis da mo-dalidade perversa do discurso. O pre-sente artigo inspira-se nesta proposi-o, partindo dela para fazer uma leitura

    de trs situaes abordadas anterior-mente, em outro trabalho3 .

    Essas situaes ocorreram nummesmo perodo de tempo, em 2002. Aprimeira situao trata de um menino

    trazido ao consultrio pelos pais paraavaliao; a segunda aborda uma cenade assdio vivida por uma adolescenteno colgio em que estuda e a terceirachegou ao meu conhecimento atravsde relatos de estudantes que viveram asituao.

    1 Trabalho apresentado no XIII Frum Internacional de Psicanlise, Belo Horizonte, agosto de 2004* Psicanalista. Membro do Crculo Psicanaltico da Bahia.2A Impostura perversa, p. 312.3 Este trabalho retoma a palestra apresentada na abertura da XIV Jornada do Crculo Psicanaltico da Bahiasobre O vis perverso da Sexualidade, out. 2002. In: Revista Cgito, Salvador, n. 05, p. 11-17, parafocalizar a questo da perverso como discurso.

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    A criana

    Atis 4 tem trs anos. A queixa que

    o traz consulta um receio dos paisquanto a uma possvel homossexuali-dade do menino. A me executivada rea de informtica e quem con-duz a fala do casal durante a entrevis-ta. O pai comerciante. Mostra-sepouco vontade durante o atendimen-to e se manifesta apenas quando soli-citado. Enquanto ela remete a queixa ausncia do pai e a pouca convivn-cia da criana com figuras masculinas;o pai associa o fascnio do menino porcoisas femininas admirao apaixo-nada que o menino tem pela irm Gil-da5 de 10 anos. Alm disso, atribui aAtis um temperamento questionador eassinala, como signo da masculinidadedo filho, o gnio autoritrio e a rejei-o dos limites que lhe so impostos.

    Segundo os pais, Atis demonstrafascinao por bonecas de cabelos lon-

    gos, roupas e objetos femininos. Di-ante disso, ambos decidiram esconderas bonecas que pertenciam a Gilda eexplicar ao menino quais so as dife-renas anatmicas e objetais entre ossexos.

    Durante as entrevistas, Atis mos-tra grande desinibio e ausncia daangstia de separao, tpica em crian-as da sua idade. Ademais, demonstra

    fluncia e desenvoltura verbaisincomuns para a sua faixa etria. Den-tre os brinquedos disponveis no con-sultrio, ele escolhe as bonecas. Emseguida, nota o fato de estarem nuas epergunta pelas suas roupas.

    Na primeira sesso, Atis apresen-tou entonao caricatural, trejeitos einterjeies peculiares a encenaes do

    feminino, mas que ao longo das entre-vistas diminuram gradativamente. Acerta altura da primeira sesso, ele cor-

    re para o sanitrio e l urina nas rou-pas. Mantm um sorriso ambguo,como quem se desculpa por no terpodido se conter.

    A sua dificuldade em aceitar limi-tes, expressa-se assim que lhe digo serimpossvel levar brinquedos do consul-trio para casa. Diante da minha in-terferncia, ele rapidamente se refaz.Em seqncia minha fala, acrescen-ta: s se eu....Repetidamente, tentanegociar a impossibilidade. Finalmen-te, isolamos uma fala muito reveladora:Complicado ter pinto. No ter pinto

    no .

    Um casal de adolescentes

    A cena desenvolve-se em um co-lgio particular de Salvador. Ana6 , umaadolescente de aproximadamente

    dezesseis anos, sria, comportada e res-ponsvel, segundo sua me; e Theo7 ,um rapaz da mesma faixa etria, recm-chegado no colgio, muito cobiadoentre as colegas e, aparentemente, tam-bm pela moa em questo.

    Inesperadamente o rapaz a conduza um sanitrio vazio, onde passa aamea-la e a imobiliza enquanto sedesnuda. A aproximao de um inspe-

    tor de alunos interrompe o colquio ea moa, em pnico, foge para casa. Elano conta nada a ningum at o diaseguinte. Ao saber do ocorrido, a medirige-se ao colgio e pede providn-cias diretoria, reivindicando umapunio para o rapaz, por tentativa deestupro. O colgio questiona a sua in-terpretao do fato e ameniza a ocor-

    4 Nome fictcio, para preservar a identidade da criana.5 Idem.6 Idem.7 idem

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    rncia abafando o caso. Segundo a me,o referido aluno tem relaes de ami-zade com a diretoria do colgio.

    Theo no nega seu ato. Todavia,como justificativa, alega que Ana ha-via feito uso de roupas provocantes du-rante uma atividade teatral promovidapelo colgio. Ele coloca em dvida aretido moral da moa e a acusa deenvolvimento amoroso com professores.

    O fato parece ter desestruturado ospais. Eles se mostram bastante confu-sos. O pai, que exige da filha uma rea-o ao ataque, desaparece, e, por al-guns dias, fica sem dar notcias. Issoacontece aps uma viagem de traba-lho subseqente ao fato. A relaoentre os cnjuges transforma-se e ficapermeada por constantes disputas eofensas. A me, revoltada com o queaconteceu filha e devido ao desapa-recimento do marido, reage atacandoo marido. Ele, monossilbico, parecemuito deprimido e frgil e se defende

    dizendo que j est em anlise.Ana vem para a entrevista e repe-

    te ao p da letra o relatrio feito pelame, exceo do discurso sobre opoder flico que esta havia desenvol-vido em causa prpria durante a pri-meira entrevista. Cabe mencionar que,essa me uma mulher extremamentealtiva e atraente; enquanto o pai umhomem franzino e apagado, que se

    mostra arrasado pela situao.

    O analista

    Uma faculdade de Psicologia, emSalvador, prope aulas prticas de psi-canlise. A faculdade oferece atendi-mento teraputico chamado depsica-

    naltico. Atravs de um termo deconsentimento assinado no incio do

    acompanhamento, o paciente aceitasubmeter-se anlise num ambiente

    equipado com espelhos atravs dosquais os estudantes assistem s sessespara posterior discusso.

    Da impostura uma leitura

    Ser que assistimos no caso de Atisao nascimento de um fetiche? Que es-trutura resultar dessa dinmica Edpicaque se apresenta em pleno curso?

    Na cena dos adolescentes, poder-amos tomar o ato de Theo como umato perverso?

    E o analista que, em nome de umensino, convida o paciente a partici-par de uma cena que envolve a expo-sio da intimidade teraputica a ou-vidos e olhares indistintos: que desejoo move nessa proposta de escuta assis-tida? Que posio tica justificaria talato? Que efeitos podem surgir no paci-ente - e no analista - que se instalanuma sala cheia de espelhos, sabendoque observado por outrem?

    Como nosso tempo exguo nesteartigo, tentarei fazer uma leitura des-ses discursos, isolando seus efeitos en-quanto modalidades perversas que seexpressam na estrutura do discurso dosujeito, como prope Serge Andr(1995).

    Tomemos inicialmente o discursoda criana. No permitido levar osbrinquedos do consultrio para casa,

    digo-lhe. Ao que ela acrescenta na se-qncia: S se eu ... Que equivaleria frmula: No existe um pnis namulher. S se eu ... colocar um vu delongos cabelos onde h o pnis... queno existe. Podemos perceber a umaestrutura discursiva que permite jogarcom a verdade da castrao em nomeda verdade subjetiva. Desta forma, evi-ta-se a vivncia da angstia atravs de

    uma argumentao que desmente acastrao.

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    A me no tem pnis, mas, aindaassim, ela flica. E o vu do fetichesustenta tal verdade como um substi-

    tuto que cobre a ausncia com umapresena reiterada: bonecas de cabe-los longos, roupas e objetos que cobremos corpos para iludir a falta flica.

    Guy Clastres diz que

    [...] s se desmente a verdade e emnome da verdade [...] O perverso aquele que na sua estrutura clnica,de uma parte reconhece a castrao

    materna e, ao mesmo tempo, funcio-na no sentido de desmenti-la. Seu ato sustentado subjetivamente por umarelao ao desmentido, contraria-

    mente ao que se passa no lado neu-rtico. Poder-se-ia dizer que no casodo desmentido h um NO que re-

    mete, ao mesmo tempo, a um SIM, mas tambm a um NO.8

    (CLASTRES, 1999, p. 32-33).

    Diante disto, lembramos o que a cri-ana nos diz: Complicado ter pinto. Noter pinto, no .Quem no tem nada, nadatem a perder e no sofre a angstia decastrao. Gerard Pommier articula ogozo flico perversoe ao desejo da me:

    Atravs de cada uma de suas falas,uma me reclama algo cuja signifi-

    cao permanece incompreensvel, ese o corpo da criana deve respondera essa demanda, aquilo que ela diz

    provocar uma inquietude. O pesa-delo primeiro, a fobia, a angstia deum despedaamento, se renem nes-se temor de que o corpo seja aprisio-

    nado, engolido pelo furo escavado pelas palavras de seu amor [...]9

    (POMMIER, 1987, p. 129).

    Sabemos que o amor a moldurado gozo. Na relao me/filho, trata-se do gozo da me com o todo do cor-

    po do filho; e do gozo do filho, com aspartes do corpo todo da me, pois, nestarelao, a me toda. Ser o falo dame implica sempre uma destituiosubjetiva e a impossibilidade de obterum falo prprio (3 tempo do dipo).Ser, encenar, vestir-se ou fazer-se de falosustenta a existncia da me comoflica, e no a do filho. O condiciona-mento desta relao pode desembocarna perverso. No caso de Atis, pareceque ele trata de denunciar, ao mesmotempo em que, desmente a castraofeminina tanto da me quanto dairm e, assim, proteger-se da prpriacastrao.

    No caso dos adolescentes, nota-mos uma estrutura discursiva semelhan-te. Tal estrutura, se no corresponde perverso enquanto estrutura clnica,pode, no mnimo, encontrar corres-

    pondncia no que chamamos de traode perverso; ou seja, um comporta-mento sexual montado sobre uma fan-tasia que veicula um gozo. Isto podeocorrer em qualquer estrutura clnica.Mas, neste episdio em particular, po-demos extrair pelo menos dois efeitoscompatveis com o ato perverso. O pri-meiro um efeito de gozo implicadona finalidade do ato, que de provo-

    car a diviso subjetiva do outro. A di-viso do outro permite ao sujeito go-zar, resguardado da angstia decastrao; o outro que se choca, ooutro que sofre o horror de se consta-tar castrado e impotente, enquanto osujeito permanece sem diviso. o tri-unfo sobre a angstia de castrao.

    O segundo efeito tico e permeiao argumento atravs do recurso

    8 Ato neurtico e ato perverso. In: Folha,So Paulo, p. 32-33. Publicao da Clnica Freudiana, 1990.9 Gozo flico, Perverso. In:A exceo feminina Os impasses do gozo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1987. p. 129.

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    moralidade. Tal argumento prope, noestilo do heri sadeano, o direito degozar do corpo do outro. A vontade

    de gozo fica ento instituda como leinatural. E o sujeito colocando-se emposio de objeto opera uma inver-so da relao com o outro, denunci-ando a verdade sobre o seu desejo e asua falta. O outro que desejou e pro-vocou seu ato, no ele.

    Esta impostura se presta aoaliciamento do neurtico incautoque, fisgado, colhido pela ressonnciaentre esses efeitos de gozo e a sua ver-dade recalcada, facilmente embarca namontagem perversa. Participa dela domesmo modo que no chiste, onde umdiz a verdade e os outros dela desfru-tam. Freud (1938) esclarece que aqui-lo que o perverso realiza, pe em ato, o que o neurtico sonha fazer. Ali,onde o neurtico estanca o desejo, operverso, sob a proteo de uma im-postura, avana em sua vontade de

    gozo. O neurtico deseja e recalca. Operverso quer gozar e avana em dire-o ao ato.

    Sabemos que a fantasia fundamen-tal essencialmente perversa em am-bos os casos discutidos neste artigo.Contudo, compete-nos afirmar que, nodiscurso do perverso, a fantasia enun-cia-se articulada lei, tomada comodireito de gozo e com recurso moral.

    Sobre isso Serge Andr argumentaque:

    [...] estou convencido de que existeuma maneira perversa de enunciar a

    fantasia, sobre a qual Sade [...] nosd indicaes preciosas. A perverso,em suma, uma questo de estilo.Com isso quero dizer que em sua

    prpria fala que o perverso comea a

    atuar.

    Sabemos que o neurtico se cala so-bre a sua fantasia, ou que s a entre-

    ga, na experincia analtica, com

    extrema dificuldade, como uma con-fisso arrancada vergonha, cercan-do-se de toda sorte de precaues. que, para ele, fazer a fantasia pas-sar da cena privada para a cena

    pblica, confiando-a a um ouvin-te, equivale, automaticamente, ase apontar como culpado e se ex-

    por s censuras do Outro. No o caso do perverso, pelo menos do

    perverso confesso, que manifesta, aocontrrio, uma tendncia a exibir suas

    fantasias, muitas vezes maneira deuma provocao. (ANDR, 1995 p.43-44, grifos nossos).

    Quem alguma vez j se submeteu anlise e a levou s ltimas conse-qncias, sabe do que Serge Andrest falando. Sabe que, na maioria dasvezes, no se fala da fantasia nem parasi mesmo. A no ser que haja uma in-teno de exp-la. Como possvelconceber, ento, uma anlise sob ob-servao?

    Ao longo do seu trabalho, Freudpercebeu que o lugar atribudo aoolhar, a prpria relao face-a-face,criava obstculos tanto do lado dopaciente quanto do analista. Com aadoo do div, ele buscou minimizar

    a mobilidade do corpo, a pulsoescpica e seus efeitos sobre o proces-so de anlise.

    No Seminrio 1110 , Lacan (1964,p. 78) questionado por Audouard,que pergunta: [...] em que medida preciso, na anlise, fazer o sujeito sa-ber que o olhamos, quer dizer, queestamos situados como aquele queolha no sujeito o processo de se

    olhar?10 O Seminrio, Livro 11, p. 78. Os quatro conceitos fundamentais da Psicanlise.

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    A resposta de Lacan a seguinte:[...] o plano da reciprocidade do

    olhar e do olhado , mais que nenhum

    outro, propcio, para o sujeito, ao li-bi. Conviria ento para nossas inter-venes na sesso, no faz-lo estabe-lecer-se nesse plano [...] no por nadaque a anlise no se faz face a face 11 .A esquize entre olhar e viso nos per-mitir, vocs vero, ajuntar a pulsoescpica lista das pulses. Com efei-to, ela a que ilude mais completamen-te o termo da castrao. (grifos nossos).

    Para Freud, o olhar uma daspulses parciais que o analista deveevitar satisfazer na situao analtica.O atendimento numa sala de espelhos,alm de instalar, j de sada, o neurti-co numa cena pblica, fornece o libiperfeito para um gozo permitido, livredos infortnios da castrao. Uma si-tuao que oferece libi angstia decastrao no pode, ento, propiciar oato analtico, no pode ser concebida

    como tal, mas apenas como manobraque favorece a realizao de uma satis-fao de cunho perverso.

    Segundo Serge Andr (1995, p.41), o desejo do analista no um de-sejo puro e [...] poderia ser definidocomo o desejo de um homem preveni-do12 . Em outras palavras, isto significaque o analista deve tomar seu prpriodesejo de se tornar analista como um

    desejo eminentemente suspeito, que fa-talmente intervir na sua postura.Lacan13 (1964) afirma que nesta

    histria existem duas vertentes diferen-tes: de um lado, o que o analista querfazer do paciente; de outro, o que oanalista quer que o paciente faa dele.

    Nesta lgica, temos o par da fantasia doanalista: o analista na posio de sujeitoe o analista no lugar de objeto. Este par

    nos guia numa leitura possvel desta es-cuta dita analtica: o que quer um ana-lista que introduz no dispositivo analti-co o olhar de terceiros? Esse terceiro,colocado em posio de espectador dacena analtica, vem compor um cenrioque evoca o sonho paradigmtico doHomem dos Lobos14 (FREUD, 1918).

    Analista e analisando, colocados nocentro da cena, assumem a posio deobjeto dos olhares de vrios outros. Estarelao remete ao movimento de retornoda pulso escpica ver, ser visto, ser vis-to vendo , que mobiliza nesse contornoum gozo que se desdobra sobre si mesmo.

    Se, por outro lado, tomamos a ar-gumentao de uma transmisso fieldos procedimentos da anlise, - de umver para crer proposto pela metodologiada cincia - descobrimos que sob esteargumento jaz uma lgica ao estilo

    sadeano15 de tudo dizer, tudo mostrar,tudo observar, para desmentir a falta.Insinua-se a um desejo de encarnar omestre detentor do saber fazer, o mo-delo a ser seguido por um aluno toma-do como Coisa, no sentido de DasDing: coisa que olha.

    Para finalizar, retomamos SergeAndr (1995, p. 312): [...] situar operverso como o moralista de nosso

    mundo, entregue s exigncias cada diamais desumanas do discurso da cin-cia, sem dvida no seria a descobertamenos irnica da psicanlise atual16 .

    Mais irnico ainda , sob a gidede uma didtica, fazer da psicanlisemais um modo de gozar.

    11 Grifos nossos. p. 78.12 A Impostura perversa. p. 46.13O Seminrio. Livro 11, p. 151.14Histria de uma neurose infantil. v. XVII. E.S.B., 1918.15 Sobre esta questo ver o texto de Lacan Kant com Sade, In: Escritos. p.77616A Impostura perversa, p. 312.

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    AbstractThe author works pervertion as a kind ofspeech, supported by three situations that

    aim for different moments of the relationbetween subject and enjoyment: the child,the adolescent and the analyst. The authoris going to focus the effects of the perverselines in the structure of the talk of thesubject.

    KeywordsPerversion. Speech. Castration. Scopic

    instinct. Child. Adolescent. Analyst.

    Referncias

    ANDR, Serge.A Impostura perversa . Rio de

    Janeiro: Jorge Zahar Editora, 1995.CLASTRES, Guy. Ato neurtico e ato perverso.

    In: Folha, Revista da Clnica Freudiana n 32-

    33, Salvador: Ed. Fator, junho/1990.

    FREUD, Sigmund. Trs Ensaios sobre a teoriada Sexualidade. v. VII. E.S.B., 1905.

    ______. Totem e Tabu .. v. XIII. E.S.B., 1912.

    ______. Histria de uma neurose infantil. v.

    XVII. E.S.B., 1918.

    ______. Uma criana espancada. v. XVII, 1919.

    ______. Anlise terminvel e interminvel. v.XXIII, cap. 7. E.S.B., 1937.

    ______.Esboo de Psicanlise. v. XXIII. E .S.B.,

    1938.

    ______.A diviso do ego no processo de defesa .

    v. XXIII. E.S.B., 1938.

    LACAN, Jacques. O Seminrio. Livro 11. Os

    quatro conceitos fundamentais da Psicanlise. Rio

    de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 1979.

    ______. Kant com Sade. In: Escritos. Rio de

    Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2000.POMMIER, Gerard.A exceo feminina Os

    impasses do gozo. Rio de Janeiro: Jorge ZaharEditora, 1987.

    Recebido em 15/5/2007

    Endereo para correspondncia:

    R. Joo das Botas 183, s/310 - CanelaSalvador Bahia40110-160Tel: (71) 32456480e-mail: [email protected]