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Rev.DireitoPráx.,RiodeJaneiro,Vol.9,N.2,2018,p.587-609.AnaMariaD’ÁvilaLopeseLuisHaroldoPereiradosSantos.DOI:10.1590/2179-8966/2017/26897|ISSN:2179-8966
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“Conflito mapuche”: aplicação da lei antiterrorista eviolaçãodedireitoshumanos"Mapucheconflict":applicationoftheanti-terrorist lawandviolationofhumanrightsAnaMariaD’ÁvilaLopes
Universidade de Fortaleza, Fortaleza, Ceará, Brasil. E-mail:[email protected]
LuisHaroldoPereiradosSantosJunior
UniversidadedeFortaleza,Fortaleza,Ceará,Brasil.E-mail:[email protected]/01/2017eaceitoem24/04/2017.
ThisworkislicensedunderaCreativeCommonsAttribution4.0InternationalLicense
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Resumo
Após os atentados do 11 de setembro de 2001 contra as torres gêmeas nos Estados
Unidos, muitos países endureceram a previsão e aplicação de sua legislação
antiterrorista, cometendo-se, em alguns casos, abusos e desvios de finalidade ao
enquadrar, por exemplo, movimentos sociais legítimos como terroristas, como
aconteceunoEstadochileno,quefoicondenadopelaCorteInteramericanadeDireitos
Humanos (CorteIDH) por enquadrar os indígenas mapuche como terroristas Nesse
contexto, o objetivo do presente trabalho é demonstrar a urgente necessidade de
definirclaramenteoquepodeserentendidoporterrorismodeformaaevitarabusose
desvios que possam resultar na violação de direitos humanos. Com essa finalidade,
realizou-se uma pesquisa na doutrina nacional e estrangeira, assim como na
jurisprudência internacional.Apósanálisedosdados levantados, redigiu-seopresente
texto no qual, inicialmente, demonstram-se as dificuldades para definir o terrorismo,
tendo em vista sua alta complexidade e constante transformação. Seguidamente, são
expostososcontornossócio-históricosdoconflitomapuchenointuitodeevidenciarsua
natureza reivindicatória social e não terrorista. Finalmente, os principais pontos da
decisão da CorteIDH são analisados com o objetivo de comprovar nossa principal
hipótese: a premente necessidade de aprimorar a delimitação conceitual do crimede
terrorismo no intuito de evitar excessos que possam derivar na violação de direitos
humanos.
Palavras-chave:Terrorismo;Mapuches;CorteInteramericanadeDireitosHumanos.
Abstract
Aftertheattacksagainst thetwintowers intheUnitedStatesonSeptember11,2001,
many countries hardened the formulation and enforcement of their anti-terrorist
legislation,insomecases,committingabusesandmisuseofpurposeofthelaw,howdid
it happen in theChilean State,whichwas condemnedby the Inter-AmericanCourt of
Human Rights (IACHR) for framingMapuche Indians as terrorists. In this context, the
objectiveofthispaperistodemonstratetheurgentneedtoclearlydefinewhatcanbe
understoodby terrorism,asaway toavoidabusesanddeviations that could result in
human rights violations. For this purpose, a research was done in the national and
foreigndoctrine,aswellas in the international jurisprudence.Afteranalyzingthedata
collected, this textwasdrafted,which initiallydemonstrates thedifficulties indefining
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terrorism, given its high complexity and constant transformation. Next, the socio-
historical contours of the Mapuche conflict are exposed in order to demonstrate its
socialandnon-terroristclaimnature.Finally,themainpointsoftheCourt'sdecisionare
analyzed in order to prove our main hypothesis: the urgent need to improve the
conceptualdelimitationofthecrimeofterrorisminordertoavoidexcessesthatcould
leadtohumanrightsviolations.
Keywords:Terrorism;Mapuche;Inter-AmericanCourtofHumanRights.
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Introdução
O início do século XXI foi marcado por graves atentados terroristas, a exemplo dos
cometidos contra os Estados Unidos de América no 11 de setembro de 2001, e pelo
surgimentodediversosgruposassociadosaessefenômeno,comoo“EstadoIslâmico”e
o “Boko Haram”, gerando uma onda de indignação mundial pela brutalidade e
crueldade de seus atos, motivando uma série de estudos e investigações acerca do
melhor modo de combatê-los. Questões políticas, sociais, culturais, religiosas e
históricastêmsidolevantadasparatentarexplicaradinâmicadatensãooperanteentre
osterroristaseosqueconsideramseremseus inimigos,evidenciandonãosetratarde
um fenômeno novo nem simples. Contudo, apesar dos inúmeros debates travados,
tanto no âmbito interno como internacional, não tem sido possível chegar a um
consensosobreoconceitodeterrorismo,dadaadificuldadedeenglobar,emumaúnica
definição, as múltiplas motivações e circunstâncias em que os grupos terroristas são
engendrados,assimcomoasdiversasmodalidadesdesuaatuação,alémdoscomplexos
interesses geopolíticos paralelos que impossibilitam a formação de um entendimento
comum.
Todavia, os legisladoresde alguns Estados, na ânsiadeofereceruma resposta
aostemoresdasociedadetêm,porvezes,seexcedidonesseintuito,colocandoemrisco
não apenaso próprio regimedemocrático,masdesvirtuando seupapeldeprotetores
dosdireitoshumanos.Emsololatino-americano,algumasleisantiterroristastêmsidojá
editadas,comonocasodoEstadochilenoe,maisrecentemente,doEstadobrasileiro1,
levantando críticas, inclusive de entidades internacionais como a Organização das
NaçõesUnidas,sobreseuusoparacriminalizarmovimentossociais.
NoChile,porexemplo,aaplicaçãodaleiantiterrorista(Leino18.314/1984)aos
integranteseautoridadesdopovomapuchepelarealizaçãoeameaçadeincêndios,em
2001e2002,comoformadeprotestarpelafaltadereconhecimentodatitularidadede
suas terras, espoliadas durante séculos, foi questionada por diversas entidades de
proteçãodedireitoshumanos.Aaplicaçãodetalleiparaessecasoconcretolevantoua
1BRASIL. Lei no 13.260, de 16 de março de 2016. Regulamenta o disposto no inciso XLIII do art. 5o daConstituição Federal, disciplinando o terrorismo, tratando de disposições investigatórias e processuais ereformulandooconceitodeorganizaçãoterrorista;ealteraasLeisnos7.960,de21dedezembrode1989,e12.850, de 2 de agosto de 2013. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2016/Lei/L13260.htmAcessoem:10jul.2016.
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discussão sobre os limites do legislador na sua busca pelo combate ao terrorismo,
principalmente, pelo risco do seu uso para fins de repressão política demovimentos
populares.
Nessecontexto,opresenteartigoobjetivademonstraraurgentenecessidadede
atuarclaramenteoterrorismo,demodoaevitarqualquerdesviooudistorçãoquepossa
provocar a violação de direitos humanos. Com a finalidade de abordar essa
problemática, o texto divide-se em três tópicos. Inicialmente, discorre-se brevemente
sobre o fenômenodo terrorismo, tendopormarcoos atentados terroristas contra os
EstadosUnidosdeAméricaqueaconteceramnodia11deSetembrode2001,afimde
mostrarosriscosdealgunsmétodosdecombateaoterror,aexemplodadenominada
“guerra preventiva” utilizada durante o governo do Presidente George W. Bush.
Posteriormente,expõe-sebrevementeo “conflitoMapuche”,de formaaapresentaro
contexto no qual a lei antiterrorista chilena foi aplicada aos mapuches. Finalmente,
discute-se a decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos que condenou o
EstadochilenopelaaplicaçãodaleiantiterroristaaoconflitoMapuche.
1Terrorismoeviolaçãodosdireitoshumanos
Atualmente, o terrorismo constitui uma das principais preocupações da comunidade
internacional na sua busca por segurança e paz, especialmente após os atentados
terroristas do 11 de Setembro de 2001 contra os Estados Unidos da América. Foi, a
partirdesseatentado,queoterrorismoadquiriuumanovafaceaoatingirocentrodo
podermundialde formatãoviolentaeemblemática,dandoensejoparaqueospaíses
empreendessemabuscademétodospara responder, de forma contundenteeeficaz,
aoshorroresvivenciadosemescalamundial2.
Impende,entretanto,esclarecerqueoterrorismonãoéumfenômenorecente,
mas teve sua origem no denominado “Reino do Terror” que vigorou no período
revolucionáriofrancêsdofinaldoséculoXVIII,sobaliderançadeRobespierre3.Jánofim
do século XIX, começou a ser praticado por grupos anarquistas que inverteram sua
2MAGNOLI,Demétrio.Oleviatãdesafiado.v.2.RiodeJaneiro:Record,2013.3BLANC, Carlos Aguilar. El terror del Estado francês: una perspectiva jurídica. Revista Internacional delpensamentojurídico.vol.7,p.207-243,2007.
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lógica,nãomaissendopatrocinadopeloEstado,masvoltadocontraeste,nointuitode
abalar suas instituições. Na segundametade do século XX, adquiriu outro viés ao ser
associado a movimentos nacionalistas e separatistas, como o IRA (Exército
Revolucionário Irlandês) e o ETA (Pátria Basca e Liberdade). No final do século XX, o
terrorismo assumiu novos contornos ao se globalizar em virtude do fundamentalismo
religioso islâmico,quecondenaosvaloreseaspráticasocidentaistidascomoinfiéise,
portanto,passíveisdesofreremapurificaçãopormeiodajihadou“guerrasanta”4.
O que se percebe desse breve histórico, é a pluralidade de motivações e
manifestações das práticas terroristas, demonstrando sua complexidade e a
infrutuosidade de qualquer tentativa de generalização ou simplificação. No direito
internacional, apesar de já existirem antes do 11 de Setembro de 2001 documentos
jurídicos acerca do terrorismo, como a Convenção Internacional para a Repressão do
Financiamento do Terrorismo5, não há umadefinição deste fenômeno6. Após o 11 de
Setembrode2001, aOrganizaçãodasNaçõesUnidas (ONU),mesmonãoodefinindo,
adotouinúmerasresoluçõescondenandooterrorismoeinstandoosEstadosmembrosa
seuniremparacombatê-lo.Dentreessas,cita-seaResoluçãodoConselhodeSegurança
no 1.368, de 12 de Setembro de 2001, aprovada um dia após os atentados, que
considerou os ataques “[...] una amenaza para la paz y la seguridad internacionales
[...]”7,eaResoluçãodoConselhodeSegurançano1.377,de12denovembrode2001,
que declarou o terrorismo “[...] um desafio para todos los Estados y para toda la
humanidad [...]”8, por ser contrário aos propósitos da própriaONU e por demonstrar
intolerânciaedesrespeitoaosdireitoshumanos9.
Apesar das condenações veementes da comunidade internacional, lideradas
pela ONU, obstáculos políticos continuam a inviabilizar sua correta conceitualização,
4LAQUEUR,Walter.BreveHistóriadoTerrorismo.AgendadePolíticaExterna,WashingtonD.C.,vol.12,nº5,p.20-23,2007.5 ONU – ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Convenção Internacional para a Repressão doFinanciamento do Terrorismo, de 9 de dezembro de 1999. Disponível em:http://www.un.org/es/sc/ctc/docs/conventions/conv12.pdfAcessoem:12dez.20156BRANT,LeonardoNemerCaldeira.OTerrorismoInternacionaleos ImpassesdoDireito Internacional. In:MERCADANTES, Aramita;MAGALHÃES, José Carlos de (Orgs).Reflexões sobre os 60 Anos da ONU. Ijuí:Unijuí,2005,p.250-290.7ONU–ORGANIZAÇÃODASNAÇÕESUNIDAS.Resolução nº 1.368 do Conselho de Segurança, de 12deSetembrode2001.Disponívelem:http://www.un.org/es/sc/ctc/resources/res-sc.htmlAcessoem:10dez.2015.8ONU–ORGANIZAÇÃODASNAÇÕESUNIDAS.Resolução nº 1.377 do Conselho de Segurança, de12denovembrode2001.Disponívelem:http://www.un.org/es/sc/ctc/resources/res-sc.htmlAcessoem:10dez.2015.9BRANT,L.op.cit.
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contribuindo para sua distorção e dificultando ainda mais sua erradicação10. Assim,
algunsEstados,porexemplo,vêmqualificandodeterroristasosseus inimigospolíticos
comoformadesumariamentesilenciá-los,emdesobediênciaaoprincípiodalegalidade
edeoutrosdireitosegarantaisfundamentais,conformealertaGüntherJakobs11.
Emborapermaneçamas imprecisõesconceituais,háalgunspontosemcomum
nosconceitosque têmsidodoutrinariae legislativamenteconstruídos:adequeesses
atos terroristas apresentam um grau elevado de violência indiscriminada, provocam
graves danos materiais e/ou humanos e objetivam instalar o medo, o terror nas
sociedades almejadas12. Observe-se que, o que caracteriza um grupo como terrorista,
nãoéasuamotivação,masosmétodosutilizadosparaalcançarseusobjetivos.Alógica
operacional dos terroristas é criar um distúrbio social com graves repercussões
institucionais, gerando insegurança e apreensão, expondo as vulnerabilidades da
sociedade13.Aassimetriadepoderentreosgruposterroristaseseusalvos,osEstados,
faz com que os terroristas adotem métodos e técnicas que amplificam seus atos,
abalandoaconfiançaeamoraldosseusadversários14.
Recentemente, com o desenvolvimento da tecnologia da informação e da
comunicação, as práticas terroristas vêm alcançando maior visibilidade mundial, não
maisse limitandoaosespaçoscircunscritosdosseuspaísesdeorigem,masrealizando
atentados e reivindicando sua autoria em inúmeras partes do globo. Seus agentes
descobriramoenormepotencialqueamídiapossuiparaamplificarosefeitosdassuas
ações,praticandoatoscadavezmaissangrentoscapazesdeatrairaatençãoglobal15,e
instalando a sensação de insegurança.GabrielWeimann, especialista na psicologia do
terrorismo,chegaafazerumaassociaçãodessefenômenocomumaproduçãoteatral:
[...] cuidadosmeticulososcomapreparaçãodo roteiro, seleçãodoelenco,cenários, acessórios, representação e direção de cena minuto a minuto.Assimcomonaspeçasdeteatroouapresentaçõesdebalé,aorientaçãodasatividades terroristas namídia exige atenção cuidadosa aos detalhes parasereficaz.[...]16.
10BRANT,L.loc.cit.11JAKOBS,Günther.Terroristascomopessoasnodireito?NovosEstudos,SãoPaulo,nº83,p.27-36,2009.12BRANT,L.op.cit.13HOFFMAN,Bruce.UmaFormadeGuerraPsicológica.AgendadePolíticaExterna,WashingtonD.C.,vol.12,nº5,p.8-11,2007.14HOFFMAN,B.op.cit.15HOFFMAN,B.op.cit.16WEIMANN,Gabriel.TeatrodaMídiadeMassa.AgendadePolíticaExterna,WashingtonD.C.,vol.12,nº5,p.28-32,2007,p.128.
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Dessa forma, percebe-se como esses grupos praticam atos capazes de gerar
efeitos psicológicos de longo alcance a partir da exploração deliberada do medo,
configurando, pois, uma guerra psicológica 17 . Como consequência desse temor, o
cotidianodosgrandescentrosurbanostorna-sesensivelmenteafetado,provocandoque
as pessoas evitem espaços públicos com o receio de novos atentados, tornando
patentesnovas característicasdo terrorismo:a indeterminação, a imprevisibilidadede
seusalvoseasuaintangibilidade,reforçandoaindamaisasensaçãodeinsegurança18e
aumentandoasuaeficácia:
[...] A necessidadede segurança é portanto fundamental; está na base daafetividade e da moral humanas. A insegurança é símbolo de morte, e asegurançasímbolodavida.[...]Noentanto,omedoéambíguo. Inerenteànossanatureza,éumadefesaessencial,umagarantiacontraosperigos,umreflexoindispensávelquepermiteaoorganismoescaparprovisoriamenteàmorte[...]19.
Não há dúvida que o terror praticado por estes grupos viola frontalmente os
princípiosmaisbásicosdahumanidadeaoatacarindiscriminadamentequalquerpessoa
deformainjustificada,alémdesistematicamentedesconsiderarqualquernorma,moral
ou legal,das relaçõessociaisnacionaise internacionais20.Essesgruposchegama ferir,
naspalavrasdeLindgrenAlves21,aprópria“[...]ideiadoOcidente[...]”.
AONU,tendoporfundamentoatolerância,opluralismo,apazeorespeitoaos
direitos humanos, vê-se constantemente afrontada com tais atos. Perante isso, os
Estadosmembros,emseudeverderespeitar,promoveregarantirosdireitoshumanos,
têmcomoumade suasatribuições cuidarda segurançade todosos indivíduos,dever
que impele adotarmedidas efetivas para combater qualquer ato que atente contra a
tranquilidadesocial22,massemviolarodireitoàliberdade,aodevidoprocessolegaleà
igualdade, aindaqueno ambientede temeridade geradopelo terrorismo. Trata-sede
umgrandedesafio,poisexigefazerfrenteaessesgrupossemesquecerosvaloresque
17HOFFAMAN,B.op.cit.18HOFFAMAN,B.loc.cit.19DELUMEAU, Jean.História do medo no ocidente 1300-1800: uma cidade sitiada. Tradução porMariaLuciaMachado.SãoPaulo:CompanhiadasLetras,2009,p.23-24.20HOFFMAN,B.op.cit.21ALVES,Lindgren.OOnzedeSetembroeosDireitosHumanos.Impulso,SãoPaulo,vol.14,nº33,p.135-150,2003,p.137.22ALVES,L.op.cit.
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orientama comunidade internacional: a democracia, o EstadodeDireito eosdireitos
humanos23.
Existe consenso en el mundo, y en particular en el continente americano,respecto de “la amenaza que el terrorismo representa para los valoresdemocráticosyparalapazyseguridadinternacionales[,asícomopara...]elgoce de los derechos y libertades fundamentales”. El terrorismo es unfenómenoqueponeenpeligrolosderechosylibertadesdelaspersonasquese encuentran bajo la jurisdicción de los Estados Partes en la ConvenciónAmericana.Porlotanto,losartículos1.1y2dedichaConvenciónobliganalos Estados Partes a adoptar todas aquellas medidas que resultenadecuadas, necesarias y proporcionales para prevenir y, en su caso,investigar, juzgar y sancionar ese tipo de actos. Según la ConvenciónInteramericana contra el Terrorismo, “la lucha contra el terrorismo deberealizarse con pleno respeto al derecho nacional e internacional, a losderechos humanos y a las instituciones democráticas, para preservar elestado de derecho, las libertades y los valores democráticos en elHemisferio”24
Deve-se,portanto,evitar situações comoaderivadadaadoçãoda PatriotAct,
queconferiuaopresidenteamericadoGeorgW.Bushamplospoderesparacombatero
grupo terrorista al Qaeda responsável pelos ataques do 11 de setembro de 2001. A
Patriot Act , inspirada na doutrina da “guerra preventiva”, permitiu a suspensão de
certos direitos fundamentais o que, paradoxalmente, aumentou a sensação de
insegurança–inclusivejurídica–dapopulação,queerajustamenteoqueosterroristas
buscavam criar25 . Segundo Giorgio Agamben26 criou-se uma espécie de estado de
exceção ao fazer com que “[...] a emergência se torne a regra e em que a própria
distinção entre paz e guerra (e entre guerra externa e guerra civil mundial) se torne
impossível”.
[...] A cultura damobilização e domedo sempre constituiu o instrumentofavoritodasditaduras;asdemocraciasnãopodemfazerdelasenãoumusolimitado,sobpenadesedestruírem.Nessegênerodeaçãoexisteoperigodeseabraçaralógicadoinimigoparamelhorabatê-lo[...]Ainstauraçãodeum novo macarthismo, que excita certos adeptos da direita maisconservadora, constituiriaamaiordasvitóriasdeBinLadensobreapátriadeLincoln.[...]27.
23ALVES,L.loc.cit.24CORTEIDH–CORTEINTERAMERICANADEDIREITOSHUMANOS.CasoNorínCatrimányOtros(Dirigentes,miembrosyactivistadelpuebloindígenamapuche)vs.Chile.Fondo,ReparacionesyCostas.Sentenciade29 de Mayo de 2014. Serie C nº 279. Disponível em:http://www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_279_esp.pdfAcessoem:15dez.2015.25 FERGUSON, Niall. Colosso: ascensão e queda do império americano. Tradução por Marcelo MusaCavallari.SãoPaulo:Planeta,2011.26AGAMBEN,Giorgio.Estadodeexceção.TraduçãoporIraciD.Poleti.SãoPaulo:Boitempo,2004,p.38.27BRUCKNER,Pascal.Atiraniadapenitência:ensaiosobreomasoquismoocidental.TraduçãoporRejaneJanowitzer.RiodeJaneiro:Difel,2008,p.224-225.
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Apesardessesaspectosnegativos,outrospaíses tambémadotaram legislações
semelhantes à Patriot Act, tornando-se alvo dasmesmas críticas realizadas contra os
EstadosUnidosdeAmérica, talcomoseverificounaFrança,onde,entre1996e2006,
foram aprovadas cinco leis nesse sentido, sendo cada uma delas analisadas pelo
ConselhoConstitucionalafimdeverificarsuaconstitucionalidadeerespeitoaosdireitos
humanos:
En fecha más reciente, el Consejo ha insistido en que el legislador, enmateria antiterrorista, ha de procurar la conciliación entre, de un lado, elinterés de la justicia penal y el mantenimiento del orden público –significativamente la seguridad pública – y, de otro, el disfrute de losderechos fundamentales y de las libertades públicas consagrados exConstitutione,particularmentelalibertadpersonal,lalibertaddecirculación,lainviolabilidaddeldomicilioyelsecretodelascomunicaciones28.
NoâmbitodaUniãoEuropeia,adotaram-semedidasconjuntas,comoocontrole
do financiamento aos terroristas, o aperfeiçoamentodos serviços de inteligência para
identificar seus movimentos e a adoção de legislações internas e regionais para
combatê-los29.Dessaforma,percebe-secomo,apartirdaexperiêncianorte-americana,
houveumacrescenteatençãodosEstadosemestabelecermeios,entreelesnormativos,
para tentar combater o terrorismo, adotando, entretanto, critérios vagos e
indeterminadosquederivaramnodesviodasuafinalidade,aexemplodoqueaconteceu
nocasodoconflitoentreogovernodoChileeopovo indígenaMapuche,analisadoa
seguir.
2OconflitoMapuche:históricoeestigma
OpovoindígenaMapuche,originárioderegiõesquehojeconstituempartedoterritório
do Estado chileno, possui um longo histórico de conflito com o governo em função,
principalmente, à reivindicação da titularidade das terras da região da Araucania, na
partesuldopaís, tradicionalmenteporelesocupadas30.Osmapuchesconstituemhoje
28ORTEGA,AbrahamBarrero. La legislaciónantiterrorista trasel 11-S: laexperiencia francesa.Revista deDerechoPolítico,Madrid,nº78,p.299-316,2010,p.37.29BRANT.L.op.cit.30RICHARDS, Patricia. De índios y terroristas: como el estado y las elites locales construyen el sujetoMapucheemChile.JournalofLatinAmericanStudies,Cambridge,nº42,p.59-90,2010.
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cerca do 10% da população chilena, sendo o grupo indígena mais populoso. A sua
históriaémarcadapeladiscriminaçãoepelaopressãosofridapelasautoridadesestatais
epelasociedadechilenanão-indígena.31
Remontando ao século XVI, o povo mapuche sofreu diversas investidas dos
conquistadores espanhóis, conseguindo o feito histórico de repeli-los e de semanter
autônomodaCoroaespanhola,atéa independênciadoChile,ocorridaem1818.Logo
apósessefato,aautonomiadequegozavafoipaulatinamenteerodidapelosinteresses
dos novos grupos que passaram a governar esse país, os que, sob a influência de
discursos racistas pseudocientíficos, mudaram seu posicionamento em relação a esse
povo32.Assim,asterrastradicionalmenteocupadaspelosmapuchesforamtransferidas
a imigrantes e colonos, que passaram a explorá-las para atender especialmente o
mercadoexterno,oqueprovocoudanosmateriaisemorais aos indígenas,namedida
emqueseviramilegitimamenteprivadosdeboaparceladasuafontedesubsistência,
alémdosprejuízosemtermosdasuaidentidade.Deve-seobservarque“mapu”significa
“terra”, enquanto “che” significa “gente”, sendo, pois, o significado de mapuche:
“gente-da-terra”33.Dessemodo,segundoVieiraeFerreira,“[...]A‘terra’demapunão
indicasomenteapercepçãomapuchedomundo,masfoioepicentrodasameaçasàsua
identidadedesdeaempreitadacolonial:aterracomodesejodowinka,aperdadaterra
comoperdadaconcepçãodesi”34.
Todavia, nesse mesmo século, a política oficial chilena, acompanhando a
tendência mundial, consistiu em assimilar os mapuches aos padrões culturais da
sociedade não-indígena, como forma de fortalecer a unificação nacional baseada na
pretensa homogeneidade do povo, característica que era considerada necessária e
indispensávelparaaconstruçãodeumEstadosoberano.Nessesentido,qualquer tipo
demovimentoemsentidocontrário–comoaautoafirmaçãodepovosindígenas–era
visto como ilegítimo 35 . No caso dos mapuches, já desde o início, mostraram-se
reticentes quanto a tal propósito, reivindicando, em lugar disso, que o Estado lhes
reconhecesse o caráter autêntico de sua cultura e de sua história e que fossem
31RICHARDS,P.op.cit.32RICHARDS,P.loc.cit.33VIEIRA, Fernanda Maria; FERREIRA, J. Flávio. “Não somos chilenos, somos mapuche!”: as vozes dopassadonopresentedalutamapucheporseuterritório.Interface,SãoPaulo,vol.3,n.1,p.118-144,2011,p.127.34VIEIRA,F.;FERREIRA,J.op.cit.p.120.35RICHARDS,P.op.cit.
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respeitadosna sua singularidade, conferindo-lhesautonomiaparaa conduçãode seus
interesses,comafinalidadedereconstruirsuaidentidadeapartirdaharmoniacomsuas
terras36.Contudo,aindahoje,essepovoencontraresistênciaaoreconhecimentodesua
autonomia,culturaehistória,esbarrandonosestereótiposenosinteressesdegrandes
empresasquealmejamsuasterraspara levaradiantea“civilização”eo“progresso”37.
Essaposição,consideraosmapuchescomo“atrasados”,denotandoadificuldade–oua
indiferença–emsecompreenderarealmotivaçãodacausadessepovo,aocaracterizar
oconflitocomosendodeordemmeramenteeconômica,quando,naverdade,setrata
deumaquestãoquevaialémdesseaspecto,poisenvolveelementosétnicos,políticose
históricos:
[...]Debemosadmitir que lo que está en juegono es sólo un problemadepobreza,desectoreseconómicaosocialmentedesprotegidosquedebenserintegradosenlosmercadoslaboralesparaconvertirlosensectores‘viables’,comohapropuesto el sector empresarial del país. Se tratamás bien de lasituación de sectores étnica y culturalmente diferenciados que la sociedadchilena y su ordenamiento jurídico ha negado por largo tiempo; decomunidadesarrinconadasensuproprioterritorioenvirtuddeunapolíticadeEstadoydelaaccióndeparticularesquesebeneficiarondeella.Debemosreconocer,enconsecuencia,queexistedepartedelasociedadchilenaydelEstadounadeudahistóricaconlosmapuchequeaúnnohasidosaldada38.
Foinatentativadesuperaresseerrohistóricoque,em28desetembrode1993,
ogovernochilenoaprovouaLeinº19.25339,nointuitodemelhorarascondiçõesdevida
dospovosindígenas,comoadevoluçãodepartedesuasterraseaconcessãodecerta
autonomia política. Contudo, os anos foram passando sem essa norma alcançar o
mínimo de eficácia, provocando o acirramento do conflito entre o governo e o povo
mapuche.Assim,entreosanos2001e2002,vários incêndios foramprovocadoscomo
forma de protestar contra a omissão estatal, o que, em pleno contexto de combate
mundialaoterrorismo,derivounaaplicaçãodaleiantiterrorista40.
36VIEIRA,F.;FERREIRA,J.op.cit.37VIEIRA,F.;FERREIRA,J.op.cit.38 AYLWIN, José. Los conflictos en el territorio mapuche: antecedentes y perspectivas. Perspectivas,Santiago,vol.3,nº2,p.277-300,2000.39CHILE. Ley nº 19.253, de 28 de setembro de 1993. Establece normas sobre protección, fomento ydesarrollo de los indígenas, y crea la corporación nacional de desarrollo indígena. Disponível em:http://www.conadi.gob.cl/documentos/LeyIndigena2010t.pdf.Acessoem:10jul.2016.40VERA,RodrigoLillo.PueblosIndígenas,TerrorismoyDerechosHumanos.Anuáriodederechoshumanos,Santiago,nº2,p.227-234,2006.
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A lei antiterrorista (Lei,nº18.314/198441), elaboradaemplenoperíodomilitar
(1974-1990), foi aprovada para combater os dissidentes do regime do presidente
Pinochet, por meio do agravamento das penas previstas no Código Penal42. Com a
democratização operada após 1990, a Lei foi alterada para conciliá-la com o pleno
respeito aos direitos humanos. Assim, restringiu-se sua aplicação somente a práticas
violentas que atentassem, de forma indiscriminada, contra a vida, a liberdade e a
integridadefísicadaspessoascomoobjetivodecausartemornapopulação43.
Apesardessasrestrições,duranteaadministraçãodopresidenteRicardoLagos
(2000-2006), setemembros do povomapuche e uma ativista dos direitos desse povo
foram acusados pela prática delituosa de incêndio nos moldes tipificados na lei
antiterrorista.Aotaxaromovimentomapuchecomoterrorista,asautoridadeschilenas
refletiramosanseiosglobaisderepressãoaoterror,masignoraramaspeculiaridadesdo
conflitointernocomosindígenas.
Ciertamente,laconstruccióndelMapuchecomoterroristatomóformabajoel amparo de la “guerra global contra el terrorismo” declarada por losEstados Unidos en 2001.Muchos de los pasos dados por la Concertación,inclusotodosesescasosdondeseaplicolaleyantiterrorista,tuvieronlugarluegodelosataquesenEEUUdel11deseptiembrede2001,ypuedenleersecomo parte de un contexto general en el cual el apelativo terrorista esutilizadoparailegitimizarlossujetossubalternos[...].44
Trata-sedeumapráticaadotadaporalgunsEstadosque, soba justificativada
necessidadedegarantirasegurançadasociedade,enquadramseus“inimigos”políticos
como terroristas para legitimar o uso de uma legislação tipicamente de exceção,
conforme alerta Agamben45. Dessa forma, dissemina-se, inicialmente, um discurso
desumanizador e criador de estigmas contra esses grupos, para logo suspender suas
garantias fundamentais46, conforme aponta a Human Rights Watch, organização não
governamentaldecaráterinternacional:
41CHILE. Ley no 18.314, de 17 demayo de 1984. Determina conductas terroristas y fija sua penalidadeDisponívelem:http://www.leychile.cl/Navegar?idNorma=29731Acessoem:10jul.2016.42RICHARDS,P.op.cit.43AYLWIN,José.Laaplicacióndelaleynº18.314que‘determinaconductasterroristasyfijasupenalidade’alascausasqueinvolucranaintegrantesdelpueblomapucheporhechosrelacionadosconsusdemandaspor tierras y sus implicancias desde la perspectiva de los derechos humanos. Disponível em:http://www.observatorio.cl/sites/default/files/biblioteca/informe_en_derecho_ley_antiterrorista_y_derechos_humanos_rev.pdfAcessoem:13dez.2015.44RICHARDS,P.op.cit.p.67-68.45AGAMBEN,G.op.cit.46VIEIRA,F;FERREIRA,J.op.cit.
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[...] Desafortunadamente, la “guerra” contra el terrorismo liderada porEstadosUnidossehaconvertidoenunaexcusaparaalgunosgobiernosquequieren desviar la atención de su tratamiento con mano dura de losdisidentesinternos.Hoyendía,gobiernosdepaísesdetodoelmundoestánintentandousarmedidasantiterroristasodeseguridadnacionalparaevitarel escrutinio internacional de prácticas dudosas en materia de derechoshumanos47.
Impende observar que o que classifica um grupo como terrorista não
necessariamentesãosuasmotivações,masosmeiosqueutilizaparaalcançarseusfins.
Assim,ummovimento social pode terumabase legítimadeexistência, entretanto, se
fizer uso indiscriminado de violência contra a população civil para provocar o medo
(terror)ealteraraestabilidadeinstitucional,então,asuacaracterizaçãocomoterrorista
estácorreta.
No casodo conflitoenvolvendoopovomapuche, críticas contundentes foram
dirigidas à aplicação da lei antiterrorista chilena, principalmente por violar normas de
direitos humanos previstas em documentos internacionais, inclusive ratificados pelo
Chile,comoaConvençãoAmericanadeDireitosHumanos,de196948,epornãomanter
sintonia com os principais documentos internacionais sobre terrorismo, como a
Convenção Interamericana Contra o Terrorismo49, que enquadra como terroristas as
condutas que atentam contra a vida, a integridade física e a liberdadepessoal, o que
nãoseverificounocasodosincêndiosatribuídosaosmapuches,queprovocaramdanos
àpropriedade,masnãodanospessoais50.Foramessesaspectosqueprovocaramqueo
Estado chileno fosse condenado pela Corte Interamericana de Direitos Humanos
conformeexplicitadonoseguintetópico.
47 HUMAN RIGHT WATCH. Indebido proceso: los juicios antiterroristas, los tribunales militares y losmapuche en el sur de Chile. Disponível em:https://www.hrw.org/sites/default/files/reports/chile1004sp.pdfAcessoem:15dez.2015.48OEA–ORGANIZAÇÃODOSESTADOSAMERICANOS.ConvençãoAmericanadeDireitosHumanos,de22de novembro de 1969. Disponível em: http://www.oas.org/dil/esp/tratados_B-32_Convencion_Americana_sobre_Derechos_Humanos.htmAcessoem:17dez.2015.49OEA–ORGANIZAÇÃODOSESTADOSAMERICANOS.ConvençãoInteramericanaContraoTerrorismo,de3de junho de 2002. Disponível em:http://www.oas.org/xxxiiga/espanol/documentos/docs_esp/AGres1840_02.htmAcessoem:18dez.2015.50HUMANRIGHTWATCH.op.cit.
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3OcasoNorínCatrimáneoutros(dirigentes,miembrosyactivistadelpuebloindígena
Mapuche)vs.Chile
Nodia7deagostode2011,aComissãoInteramericanadeDireitos(CIDH)denuncioua
RepúblicadoChileperanteaCorteInteramericanadeDireitosHumanos(CorteIDH)pela
violação dos direitos consagrados nos artigos 8.1 (ampla defesa); 8.2 (presunção de
inocência); 8.2.f (identificaçãodas testemunhas); 8.2.h (segundograude jurisdição); 9
(legalidade);13 (liberdadedepensamentoedeexpressão);23 (direitospolíticos)e24
(igualdade perante a lei) da Convenção Americana de Direitos Humanos (CADH) em
prejuízo de sete integrantes e líderes do povo indígena Mapuche (Segundo Aniceto
NorínCatrimán,PascualHuentequeoPichúnPaillalao,Florencio JaimeMarileoSaravia,
JoséBenicioHuenchunaoMariñán,JuanPatricioMarileoSaravia,JuanCiriacoMillacheo
Licán e VíctorManuel Ancalaf Llaupe, e uma ativista dos direitos desse povo Patricia
RoxanaTroncosoRobles),quetinhamsidocondenadospelaCorteSupremachilenapor
crimesprevistosnaleiantiterrorista.Nadenúncia,aCIDHapontou,alémdapresençade
inúmeras irregularidades nos processos judiciais condenatórios, a seletividade na
aplicaçãodalegislaçãoantiterroristacontraosmapuches51.
O conflito entre os mapuches e a República do Chile gira em torno da
titularidade das terras localizadas na região da Araucania, tradicionalmente ocupadas
por esse povo indígena. Esse conflito acirrou-se quando, entre 2001 e 2002, os
mapuches começaram a incendiar propriedades de autoridades chilenas e empresas
florestais, como forma de protestar e conseguir a recuperação dos seus territórios
ancestrais, resultandonadetençãopreventiva dos principais envolvidos, entre eles os
chamados lonkos, autoridades tradicionais mapuche e integrantes da Coordinadora
Arauco-Malleco(CAM),consideradapelaCorteSupremadoChilecomouma“associação
ilícitaterrorista”52.
Na decisão proferida em 29 de maio de 2014, a CorteIDH pronunciou-se
especialmente em relação à violação dos princípios da legalidade e da presunção de
inocência (artigos 9 e 8.2, respectivamente, da CADH), tendo em vista o tipo penal
amploeimprecisodaleiantiterroristachilena,Leinº18.314/1984,combasenaqualos
mapuchesforamcondenados.Tipospenaisabertoscontrariamasnormasinternacionais
51CORTEIDH.2014,op.cit.52CORTEIDH,2014,op.cit.,parágrafo92.
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de proteção de direitos humanos, na medida em que são facilmente suscetíveis de
seremaplicadasdeformaarbitrária,gerandoinsegurançajurídica.
162. La elaboración de tipos penales supone una clara definición de laconducta incriminada, que fije sus elementos y permita deslindarla decomportamientosnopuniblesoconductasilícitassancionablesconmedidas
nopenales168.Esnecesarioqueelámbitodeaplicacióndecadaunodelos
tiposestédelimitadode lamaneramásclarayprecisaqueseaposible169,enformaexpresa,precisa,taxativayprevia.163. Tratándose de la tipificación de delitos de carácter terrorista, elprincipiodelegalidadimponeunanecesariadistinciónentredichosdelitosylostipospenalesordinarios,deformaquetantocadapersonacomoel juezpenal cuenten con suficientes elementos jurídicos para prever si unaconductaessancionablebajounouotrotipopenal.Elloesparticularmenteimportante en lo tocante a los delitos terroristas porque respecto de ellossuele preverse – como lo hace la Ley N° 18.314 – la imposición de penasprivativas de libertadmás graves y de penas accesorias e inhabilitacionescon efectos importantes respecto del ejercicio de otros derechosfundamentales.Adicionalmente, la investigacióndedelitos terroristas tieneconsecuencias procesales que, en el caso de Chile, pueden comprender larestricción de determinados derechos en las etapas de investigación yjuzgamiento53.
Nesse mesma linha pronunciaram-se as duas associações que participaram
como intervenientes no processo. Assim, para a Federação Internacional deDerechos
Humanos (FIDH),a lei antiterrorista chilenaapresentavacontornosvagose imprecisos
deixando ampla margem à discricionariedade do julgador, além de não distinguir
claramenteascondutasquepodiamserenquadradascomocrimesordináriosoucomo
terroristas. Já o Centro por la Justicia y el Derecho Internacional (CEJIL) alertou da
necessidade de formular tipos penais capazes de evitar interpretações arbitrárias.
Manifestou que, embora não existisse uma definição de terrorismo no direito
internacional,existiamelementosbásicosusadosparadescreverosatosrelacionadosàs
diversasdimensõesdessecrimeinternacional54.
ACorteIDH,porsuavez, invocoua“definiçãomodelodeterrorismo”proposta
em2010porMartinScheinin,RelatorEspecialsobreaPromoçãoeProteçãodosDireitos
Humanos e as Liberdades Fundamentais na Luta contra o Terrorismo55. No Relatório
intitulado“DiezesferasdeMejoresPrácticasenla luchacontraelTerrorismo”,Sheinin
propôsosseguintesparâmetros:
53CORTEIDH,2014,op.cit.,parágrafo162-163.54CORTRIDH,2014,op.cit.parágrafo157.55CORTEIDH,2014,op.cit.parágrafo166.
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1.Elacto:a) Está constituido por toma de rehenes intencionada; ob)Sepropongacausar lamuerteo lesionescorporalesgravesaunaomáspersonasoapartesdelapoblación;oc)Entrañeelrecursoa laviolenciafísicaconefectomortal ocontraunaomáspersonasopartesdelapoblación;y2. El acto o la tentativa deben ejecutarse con la intención de:a) Provocarunestadode terrorentre lapoblaciónengeneralopartesdeella;ub)Obligaraungobiernooaunaorganización internacionalahaceralgooabstenersedehacerlo;3.Elacto:a) Debe corresponder a la definición de delito grave contenida en lalegislación nacional promulgada con el propósito de ajustarse a losconvenios y protocolos internacionales relativos al terrorismo o a lasresolucionesdelConsejodeSeguridadrelativasalterrorismo;ob) Debe contener todos los elementos de delito grave definido por lalegislaciónnacional56.
No caso específico, os mapuches foram acusados de incendiar e de ameaçar
incendiar propriedades de autoridades e de empresas florestais, o que, segundo a
CorteIDH,combasenosparâmetrosinternacionaisacimacitados,nãoconstituía,depor
si, uma conduta terrorista, namedida em que nenhuma pessoa teve sua integridade
físicaatingida:“[...]Enningunodeloshechosporloscualesfueronjuzgados(relativosa
incendio de predio florestal, amenaza de incendio y quema de um camión de una
empresaprivada)resultóafectadalaintegridadfísicanilavidadealgunapersona.”57.
ACorteIDHverificou,também,queoprazodaprisãopreventivadosmapuches
extrapolava os limites do razoável, em desconformidade às garantias processuais
previstasnoart. 8.1daCADH, “Todapessoa temdireitoa serouvida, comasdevidas
garantias e dentrodeumprazo razoável, por um juiz um tribunal competente [...]”,58
afetandotambémagarantiadapresunçãode inocência (art.8.2).Todavia,aCorteIDH
tambémconstatouquea aplicaçãoda lei antiterrorista contraos integrantesdopovo
mapuche refletia uma concepção discriminatória ao se fundamentar em estereótipos
contraos indígenas,afrontandooprincípioda igualdade,previstonoart.24daCADH,
“Todas as pessoas são iguais perante a lei. Por conseguinte, têm direito, sem56ONU – UN Doc. A/HRC/16/51, 21 de diciembre de 2010, Consejo de Derechos Humanos, Informe delRelatorEspecialsobrelapromociónyproteccióndelosderechoshumanosylaslibertadesfundamentalesenlaluchacontraelterrorismo,Sr.MartinScheinin,Diezesferasdemejoresprácticasenlaluchacontraelterrorismo,parágrafos. 23, 27 y 28. Disponível em:http://www2.ohchr.org/english/bodies/hrcouncil/docs/16session/A.HRC.16.51_sp.pdf Acesso em: 22 abr.2017.57CORTEIDH,2014,op.cit.,parágrafo74.58CORTEIDH,1969,op.cit.
Rev.DireitoPráx.,RiodeJaneiro,Vol.9,N.2,2018,p.587-609.AnaMariaD’ÁvilaLopeseLuisHaroldoPereiradosSantos.DOI:10.1590/2179-8966/2017/26897|ISSN:2179-8966
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discriminação,aigualproteçãodalei.”59OutrodispositivodaCADHconsideradoviolado
foioart.13,queasseguraodireitoàliberdadedepensamentoedeexpressão,oquefoi
negado aos mapuches, visto que foram criminalizados pelas manifestações
reivindicatórias do direito à titularidade de suas terras, vulnerando-se, também, seus
direitos políticos (art. 23 da CADH) ao serem inabilitados do exercício desses direitos
pelo prazo de quinze anos. O uso de testemunhas sem identificação, ou “testigos sin
rostro”,foioutrodosproblemasapontadospelaCorteIDH,jáqueessapráticainviabiliza
o reconhecimento das testemunhas pela defesa, impossibilitando a verificação da
veracidadeecredibilidadedasinformações60.
Finalmente, a CorteIDH alertou sobre o efeito intimidante e inibidor para o
exercícioda liberdadedeexpressãoaaplicaçãoerrôneada lei antiterrorista,podendo
levarà“autocensuratantoaquienleesimpuestalasancióncomoaotrosmembrosde
lasociedade”61,atingindoaprópriademocracia.
Essa série de violações aos direitos humanos previstos na CADH derivou na
condenaçãodoEstado chilenoao cumprimentodediversasmedidas, destacando-se a
anulação das sentenças condenatórias dosmapuches e o dever de indenizá-los pelos
danosmateriaise imateriaisocasionados62,assimcomoanecessidadederealizar“una
revisión de su legislación que tome en cuenta los aspectos señalados por órganos
internacionalesyexpertosenlamateria”63,demodoaevitararepetiçãodessetipode
distorçãodalegislaçãoantiterrorista.
Conclusão
Apósosatentadosdo11deSetembrode2001contraosEstadosUnidosdeAmérica,o
terrorismoadquiriucontornosmaiscomplexos,provocandoquemuitospaíses,naânsia
de adotar medidas mais rigorosas para combatê-lo, esbarrassem na dificuldade de
conciliar essas medidas com o pleno respeito aos documentos internacionais de59CORTEIDH,1969,op.cit.60HUMANRIGHTWATCH.op.cit.61CORTEIDH,2014,op.cit.,parágrafo376,62INDH – INSTITUTO NACIONAL DE DERECHOS HUMANOS. Corte IDH condena al Estado de Chile poraplicación de Ley Antiterrorista a dirigentes mapuche. Disponível em: http://www.indh.cl/corteidh-condena-al-estado-de-chile-por-aplicacion-de-ley-antiterrorista-a-dirigentes-mapuche Acesso em: 20 dez.2015.63CORTEIDH,2014,op.cit.,parágrafo459.
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proteçãodosdireitoshumanos.Assim,algunsdessespaíses,imersosnesseclimaglobal
decombateaoterror,subverteramasfinalidadeslegítimasdessalutaparacriminalizar
movimentos sociais legítimos em solo interno, como foi o caso da República do Chile
quecondenouseteindígenasmapucheseumaativistadosdireitosdessepovocombase
naleiantiterrorista,
A lei antiterrorista chilena - Lei nº 18.314/1984 - foi utilizada paracondenar os mapuches e a ativista por incendiar e ameaçar incendiarpropriedades de autoridades públicas e de empresas florestais entre osanos 2001 e 2002, como forma de protestar contra o descaso dasautoridades estatais no reconhecimento da titularidade das terrastradicionalmente ocupadas por eles e a concessão de certa autonomiapolítica.Nessesincêndios,nenhumapessoafoiferida.
Além da ilegitimidade da aplicação de uma lei antiterrorista para um conflito
social em que não houve nenhuma vítima, o julgamento dos acusados pelo Poder
Judiciário chileno foi eivado de várias afrontas a princípios contidos em documentos
internacionaisdeproteçãoaosdireitoshumanos,aexemplodaviolaçãoàpresunçãode
inocência, à legalidade, à igualdade e à não discriminação, assim como a diversas
garantias processuais como a excepcionalidade da detenção provisória e o uso de
“testemunhas sem rosto” (identificação), ensejando a denúncia do Estado chileno
peranteaCorteInteramericanadeDireitosHumanospelaviolaçãodeváriosdispositivos
daConvençãoAmericanadeDireitosHumanos.
A Corte Interamericana de Direitos Humanos proferiu a decisão condenatória
contraaRepúblicadoChile,nodia29demaiode2014,nocasoconhecidocomoNorín
CatrimáneOutros (Dirigentes,miembrosyactivistadelpueblo indígenaMapuche)vs.
Chile,decidindopelaanulaçãodas sentençasemitidaspelaCorteSupremachilenaea
indenizaçãodosacusadospelosdanosmateriaisemoraissofridos.ParaaCorte,otipo
penal vago e impreciso da lei antiterrorista chilena constituía uma séria afronta ao
princípiodelegalidade,deflagrandoabusosedistorçõesnasuaaplicação.
FoigraçasàatuaçãodaCorteInteramericanadeDireitosHumanosqueopovo
Mapuche teve como se defender das arbitrariedades processuais adotadas pelos
tribunaischilenos,especialmente,dasuacaracterizaçãocomoterroristas,ensejando,a
partirdojulgamentoefetuadopelaCorte,umamudançanotratamentodasautoridades
chilenas, alémde demonstrar a necessidade de conceituar claramente o terrorismo a
fimdeevitardistorçõesquepossamderivarnaviolaçãodedireitoshumanos.
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SobreosautoresAnaMariaD’ÁvilaLopesDoutoraeMestreemDireitoConstitucionalpelaUniversidadeFederaldeMinasGerais.Professora Titular do Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade deFortaleza. Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq. E-mail:anadavilalopes@yahoo.com.brLuisHaroldoPereiradosSantosJuniorGraduando em Direito pela Universidade de Fortaleza. Bolsista de Iniciação CientíficaPIBIC/CNPq.E-mail:[email protected]íramigualmenteparaaredaçãodoartigo.