Apostila Ética e Cidadania

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Ética e Cidadania (16 horas)

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Ética e Cidadania (16 horas)

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INSTITUTO FEDERAL DO PARÁ

PRONATEC-CAMPUS BELÉM

PLANO DE ENSINO

Curso: Regência de Banda

Disciplina: Ética e Cidadania

Carga Horária: 16 horas

Professora: Pâmela Neri Carga horária diária: 4 horas

Objetivos Geral: Reconhecer as teorias éticas na conduta humana e na prática

psicológica. Apresentar os princípios e normas éticas para a pesquisa e para a prática

profissional. Desenvolver a cidadania e o compromisso social com a sociedade

brasileira.

Obetivos Específicos:

Contextualizar a ética no panorama filosófico, cultural e social.

Posicionar-se criticamente frente aos dilemas contemporâneos.

Articular a Ética Material Aristotélica e a perspectiva Sócio-Histórica com a

construção do código profissional.

Compreender e interpretar a linguagem oral e textos escritos.

Levantar informação bibliográfica em indexadores, periódicos, livros, manuais

técnicos e outras fontes especializadas através de meios convencionais e

eletrônicos.

Metodologias

Os metódos de aprendizagem serão direcionados por aulas expositivas teóricas com forte

teor dialógico, vídeos que irão fomentar discussões em sala. Dinâmicas em grupo que

simularam situações no trabalho. Paral alcançar os objetivos serão usados diversos

recursos audiovisuais entre eles datashow entre outros.

Avaliação

Contínua por meio de exercícios e debates em sala de aula.

Organização das aulas propostas

Data e Horários

das aulas

Metodologia Tema Carga

Horária

27/01/2014

08:00 as 12:00 hrs

Debate inicial.

Dinâmicas em

grupo e leitura

coletiva. Aulas

teóricas e vídeos

sobre o assunto.

Unidade 1

UNIDADE 1 – O campo

ético moral

1.1 Compreensão da

ética na perspectiva

filosófica- a construção

da racionalidade e

reflexão crítica;

4 horas

Page 3: Apostila Ética e Cidadania

1.2 Compreensão das

condutas morais como

reguladoras das relações

sociais;

1.3 Delinear as principais

teorias éticas.

28/01/2014

08:00 as 12:00 hrs

Dinâmicas em

grupo. Leituras

teóricas. Dinâmicas

em grupo.

Unidade 2 - O Ser

Humano e Suas

Dimensões Física e

Transcendente

2.1. Noções de

Cidadania

2.2. O Direito à Vida

2.2.1. Controle de

Natalidade e Aborto

2.2.2. Contaminação

2.2.3. Eutanásia

2.5. Felicidade e o Bem

Supremo

2.6. Avaliação Crítica

4 horas

29/01/2014

08:00 as 12:00

Leitura Teórica e

discussão em grupo.

UNIDADE 3 – O Ser

Humano e o Trabalho

3.1. Definição de

Trabalho

3.2. Funções do

Trabalho

3.3. Divisão do Trabalho

3.4. Avaliação Crítica

4 horas

30/01/2014

08 as 12 hrs

Leituras Teóricas e

dinâmicas em

grupo. Vídeos para

fomentar debates

UNIDADE 4: O Ser

Humano e o Lazer

4.1. Definição de Lazer

4.2. A Importância do

Lazer

4.3. O Sentido do Lazer

4.4. Avaliação Crítica

4 horas

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1.1 Introdução

A ética é uma característica inerente a toda ação humana e, por esta razão, é um

elemento vital na produção da realidade social. Todo homem possui um senso ético,

uma espécie de "consciência moral", estando constantemente avaliando e julgando suas

ações para saber se são boas ou más, certas ou erradas, justas ou injustas. Existem

sempre comportamentos humanos classificáveis sob a ótica do certo e errado, do bem e

do mal. Embora relacionadas com o agir individual, essas classificações sempre têm

relação com as matrizes culturais que prevalecem em determinadas sociedades e

contextos históricos. A ética está relacionada à opção, ao desejo de realizar a vida,

mantendo com outras relações justas e aceitáveis. Por vias de regras está fundamentada

nas ideias de bem e virtude, enquanto valores perseguidos por todo ser humano e cujo

alcance se traduz numa existência plena e feliz.

1.1.2 A ética e suas várias definições e conceitos:

Segundo o Dicionário Aurélio Buarque de Holanda, ÉTICA é "o estudo dos

juízos de apreciação que se referem à conduta humana susceptível de qualificação do

ponto de vista do bem e do mal, seja relativamente à determinada sociedade, seja de

modo absoluto”. Etimologicamente falando, ética vem do grego "ethos", e tem seu

correlato no latim "morale", com o mesmo significado: Conduta, ou relativo aos

costumes. Podemos concluir que etimologicamente ética e moral são palavras

sinônimas.

UNIDADE 1 – O campo ético moral

• Compreensão da ética na perspectiva filosófica- a construção da racionalidade e reflexão crítica;

• Compreensão das condutas morais como reguladoras das relações sociais;

• Delinear as principais teorias éticas.

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"Ethos; ética, em grego; designa a morada humana. O ser humano separa uma

parte do mundo para, moldando-a ao seu jeito, construir um abrigo protetor e

permanente. A ética, como morada humana, não é algo pronto e construído de uma só

vez. O ser humano está sempre tornando habitável a casa que construiu para si. Ético

significa, portanto, tudo aquilo que ajuda a tornar melhor o ambiente para que seja uma

moradia saudável: materialmente sustentável psicologicamente integrada e

espiritualmente fecunda." LEONARDO BOFF, A Águia e a Galinha

A ética é um comportamento social, ninguém é ético num vácuo, ou

teoricamente ético. Quem vive numa economia a ética, sob um governo antiético e

numa sociedade imoral acaba só podendo exercer a sua ética em casa, onde ela fica

parecendo uma espécie de esquisitice. A grande questão destes tempos degradados é em

que medida ética pessoal onde não existe ética social é um refúgio, uma resistência ou

uma hipocrisia. Já que ninguém mais pode ter a pretensão de ser um exemplo moral

sequer para o seu cachorro, quando tudo à sua volta é um exemplo do contrário. - Luis

Fernando Veríssimo “A ética é daquelas coisas que todo mundo sabe o que são, mas

que não são fáceis de explicar, quando alguém pergunta.” (VALLS, Álvaro L.M. O que

é ética. 7a edição Ed. Brasiliense, 1993, p.7). O termo ética deriva do grego ethos

(caráter, modo de ser de uma pessoa). Ética é um conjunto de valores morais e

princípios que norteiam a conduta humana na sociedade.

1.1.3 Ética Grega Antiga1

Entre os anos 500 e 300 a.C., aproximadamente, nós encontramos o período

áureo do pensamento grego. É um período importante não só para os gregos, ou para os

antigos, mas um período onde surgiram muitas ideias e muitas definições e teorias que

até hoje nos acompanham. Não são apenas três pensadores (Sócrates, Platão e

Aristóteles) os responsáveis por esta fabulosa concentração de saber, e por esta incrível

análise e reflexão sobre o agir do homem, mas talvez valha a pena esquematizar

rapidamente algumas das ideias dos dois últimos, para ternos uma imagem de como os

problemas éticos eram formulados naqueles tempos.

1 VALLS,Álvaro. O que é ética. SP: Ed Brasiliense, 2008.

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A reflexão grega neste campo surgiu como uma pesquisa sobre a natureza do bem

moral, na busca de um princípio absoluto da conduta. Ela procede do contexto religioso,

onde podemos encontrar o cordão umbilical de muitas ideias éticas, tais como as duas

formulações mais conhecidas: "nada em excesso" e "conhece-te a ti mesmo". O

contexto em que tais ideias nasceram está ligado ao santuário de Delfos do deus Apolo.

O grande sistematizador, entre os discípulos de Sócrates, foi Platão (427-347 a.C.). Nos

Diálogos que deixou escritos, ele parte da ideia de que todos os homens buscam a

felicidade. A maioria das doutrinas gregas colocava, realmente, a busca da felicidade no

centro das preocupações éticas. Mas não se deve pensar, daí, que Platão pregava um

egoísmo rasteiro. Pelo contrário, ao pesquisar as noções de prazer, sabedoria prática e

virtude, colocava-se sempre a grande questão: onda está o Sumo Bem?

Platão parece acreditar numa vida depois da morte e por isso prefere o ascetismo

ao prazer terreno. No diálogo República ele até condena a vida voltada exclusivamente

para os prazeres. Contando com a imortalidade da alma, sugerida no diálogo Fédon, e

que é coerente com uma preexistência da alma, ele espera a felicidade principalmente

para depois da morte. Os homens deveriam procurar, então, durante esta vida, a

contemplação das ideias, e principalmente da ideia mais importante, a ideia do Bem.

Platão descreve, de uma maneira literariamente muito sedutora, como há uma espécie de

“Eros filosófico” que atrai o homem para este exercício de contemplação. Como o

astrônomo contempla os astros, o filósofo contempla, através da arte da dialética, as

ideias mais altas, principalmente as do Ser e do Bem. O Ser é imutável, e também o

Bem. A partir deste Bem superior, o homem deve procurar descobrir uma escala da

bens, que o ajudem a chegar ao absoluto.

O sábio não é, então, um cientista teórico, mas um homem virtuoso ou qual

busca a vida virtuosa e que assim consegue estabelecer, em sua vida, a ordem, a

harmonia e o equilíbrio que todos desejam. O sábio faz penetrar em sua vida e em seu

ser a harmonia que vem do hábito de submeter-se à razão. Dialética e virtude devem

andar juntas, pois a dialética é o caminho da contemplação das ideias e a virtude é esta

adequação da vida pessoal às ideias supremas. Mas a virtude também é uma purificação,

através da qual o homem aprende a desprender-se do corpo com tudo o que este tem de

terreno e de sensível, e desprender-se do mundo do aqui e agora para contemplar o

mundo ideal, imutável e eterno. Aí está o Sumo Bem, para Platão. A prática da virtude

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(areté) é por isso a coisa mais preciosa para o homem. A virtude é a harmonia, a medida

(métron) e a proporção, e a harmonia individual e social é assim uma imitação da ordem

cósmica. (Cosmos já significa ordem, ao contrário de caos).

O ideal buscado pelo homem virtuoso é a imitação ou assimilação de Deus:

aderir ao divino. A plebe, naturalmente, considera o filósofo um louco, por causa de sua

hierarquia dos bens, invertida em relação à dela. Mas o sábio é exatamente aquele que

busca assemelhar-se ao Deus, tanto quanto lhe é possível humanamente. O diálogo das

Leis afirma que "Deus é a medida de todas as coisas". E qual seria então a norma da

virtude? É a própria ideia do Bem, uma ideia perfeita e subsistente.

Nas pesquisas efetuadas dialeticamente nos diversos diálogos, Platão vai organizando

um quadro geral das diferentes virtudes. As principais virtudes são as seguintes:

-- Justiça (dike), a virtude geral, que ordena e harmoniza, e assim nos assemelha ao

invisível, divino, imortal e sábio;

-- Prudência ou sabedoria (frônesis ou sofía) é a virtude própria da alma racional, a

racionalidade como o divino no homem: orientar-se para os bens divinos. Esta virtude,

que para Platão equivale à vida filosófica como uma música mais elevada, é aquela que

põe ordem, também, nos nossos

pensamentos;

-- Fortaleza ou valor (andréia) é a que faz com que as paixões mais nobres

predominem, e que o prazer se subordine ao dever;

-- Temperança (sofrosine) é a virtude da serenidade, equivalente ao autodomínio, à

harmonia individual.

Assim, o que mais caractariza a ética platônica é a idéia do Sumo Bem, da vida divina,

da equivalência de contemplação filosófica e virtude, e da virtude como ordem a

harmonia universal. A distância entre as virtudes intelectuais e morais é pequena, pois a

vida prática se assemelha muito à prática teórica.

Platão foi, além de grande filósofo, também um grande poeta ou literato. A

maioria de seus escritos tem a forma de diálogos, que são lidos com muito prazer e

interesse intelectual e moral. Já o seu discípulo Aristóteles, filósofo da mesma estatura

de seu mestre, tem um outro estilo em seus escritos. Ele é muito mais um professor do

que um poeta. Muitos de seus escritos são fragmentos ou notas para exposições aos

discípulos.

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Mas tem também livros unitários. Aristóteles (384-322 a.C.), além de um grande

pensador especulativo e profundo psicólogo, levava muito a sério (e mais do que Platão)

a observação empírica. Assim, enquanto Platão desenvolvia sua especulação mais

teórica, Aristóteles colecionava depoimentos sobre a vida das pessoas e das diferentes

cidades gregas. Isto não quer dizer que ele fosse um empirista sem capacidade

especulativa, mas mostra o seu esforço analítico e comparativo, quando ele se punha a

comparar, por exemplo, mais de uma centena de constituições políticas de cidades

gregas. Seus livros explicitamente sobre questões de ética são a Ética a Eudemo e a

Ética a Nicômaco, mas ele escreveu também uma Magna Moral e um pequeno tratado

sobre as virtudes e os vícios.

Ele também parte da correlação entre o Ser e o Bem. Mais do que Platão, porém,

insiste sobre a variedade dos seres, e daí conclui que os bens (no plural em Aristóteles)

também devem necessariamente variar. Pois para cada ser deve haver um bem,

conforme a natureza ou a essência do respectivo ser. De acordo com a respectiva

natureza estará o seu bem, ou o que é bom para ele. Cada substância tem o seu ser e

busca o seu bem: há um bem para o deus, um para o homem, um para a planta, etc.

Quanto mais complexo for o ser, mais complexo será também o respectivo bem. Assim,

a questão platônica do Sumo Bem dá lugar, em Aristóteles, à pesquisa sobre os bens em

concreto para o homem. É neste sentido que podemos dizer que a ética aristotélica é

finalista e eudemonista, quer dizer, marcada pelos fins que devem ser alcançados para

que o homem atinja a felicidade (eudaimonía).

Mas em que consiste o bem ou a felicidade para o homem? Qual o maior dos

bens? Ora, Aristóteles não isola muito um bem supremo, pois ele sabe que o homem,

como um ser complexo, não precisa apenas do melhor dos bens, mas sim de vários

bens, de tipos diferentes, tais como amizade, saúde e até alguma riqueza. Sem um certo

conjunto de tais bens, não há felicidade humana. Mas é claro que há uma certa escala de

bens, pois os bens são de várias classes, e uns melhores do que outros. Quais os

melhores bens? As virtudes, a força, o poder, a riqueza, a beleza, a saúde ou os prazeres

sensíveis? A resposta de Aristóteles parte do fato de que o homem tem o seu ser no

viver, no sentir e na razão. Ora, é esta última que caracteriza especificamente o homem.

Ele não poda apenas viver (e para isso os gregos consideravam fundamental uma boa

Page 9: Apostila Ética e Cidadania

respiração como base da saúde), mas ele precisa viver racionalmente, isto é, viver de

acordo com a razão. A razão, para não se deixar ela mesma desordenar, precisa da

virtude, da vida virtuosa. Qual seria, então, a virtude mais alta, ainda que não a única

necessária? O bem próprio do homem é a vida teórica ou teorética, dedicada ao estudo e

à contemplação, a vida da inteligência.

Convém lembrar aqui que afinal de contas esses grandes filósofos gregos viviam

numa sociedade de classes, baseada no trabalho escravo, e que os filósofos em geral se

dirigiam à aristocracia, isto é, àqueles que podiam dedicar-se quase que exclusivamente

à vida do pensamento, livres que estavam do trabalho duro e cotidiano. (E convém

lembrar, igualmente, que uma observação como esta acima não explica toda a grande

construção teórica sobre a ética, de pensadores como Sócrates, Platão e Aristóteles).

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Ética Medieval

“Nós sofremos com a agitação das ondas, mas é o senhor que nos transporta.

Dos sermões de Santo Agostinho”.

Na idade média, os valores éticos são marcados pela influência da religião católica e

suas doutrinas. O cristianismo que se tornou a religião oficial de Roma a partir do

século IV, sobreviveu ao fim do império e ganhou força sobre as ruínas da sociedade

antiga imperou seu domínio por dez séculos. Neste período a igreja enriqueceu e

manteve um forte domínio sobre o modo de pensar fazendo com que o teocentrismo

passasse a definir as formas de ver e sentir, contribuindo para a formação ética

medieval. Para a ética cristã medieval a igualdade só podia ser espiritual ou no futuro

para um mundo sobrenatural e a mensagem cristã tinha um conteúdo moral, não

havendo proposta por uma igualdade real dos seres humanos.Com isto, a ética cristã

procura regular o comportamento dos humanos com vistas ao outro mundo, sendo o

valor supremo encontrado em Deus.

Teorias Éticas Fundamentais

Santo Agostinho (354-430). Fundamentou a moral cristã, com elementos filosóficos da

filosofia clássica. O objetivo da moral é ajudar os seres humanos a serem felizes, mas a

felicidade suprema consiste num encontro amoroso do homem com Deus. Só através

pela graça de Deus podemos ser verdadeiramente felizes.

St. Tomás Aquino (1225-1274). No essencial concorda com Santo Agostinho, mas

procura fundamentar a ética tendo em conta as questões colocadas na antiguidade

clássica por Aristóteles.

1.1.3 Ética Moderna (Séc. XV-XVII)

A filosofia moderna reduz o homem à Razão. A ética doutrinante deste século é a ética

moderna. Aqui neste período, a ética se caracteriza pelo contraste à ética Teocêntrica e

Teológica da Idade Média. A ética moderna surge com a sociedade que sucede a

sociedade feudal da Idade Média, moldada pelas consequências da Reforma Protestante

que provoca um retorno aos princípios básicos da tradição cristã, porém o indivíduo

passa a ter responsabilidades, tomadas como mais importantes que obediências aos

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ditames religiosos e a autoridades e costumes, assim, com essa transformação, em várias

ordens, leva o surgimento da ética moderna.

Neste período ocorrem mudanças na Ciência, na Política, na Economia, na Arte e

principalmente na Religião, onde se transfere o centro de Deus para o homem que passa

a adquirir um valor pessoal, que “[...] acabará por apresentar-se como o absoluto, ou

como o criador ou legislador em diferentes domínios, incluindo nestes a moral”

(VASQUEZ, 1978, p. 248). 5

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Teorias éticas fundamentais da idade moderna

Descartes (1596-1650). Este filósofo simboliza toda a fé que a Idade Moderna deposita

na razão humana. Só ela nos permitiria construir um conhecimento absoluto. Em termos

morais mostrou-se, todavia muito cauteloso. Neste caso reconheceu que seria

impossível estabelecer princípios seguros para a ação humana. Limitou-se a recomendar

uma moral provisória de tendência estóica: O seu único princípio ético consistia em

seguir as normas e os costumes morais que visse a maioria seguir, evitando deste modo

rupturas ou conflitos.

John Locke (1632-1704). Este filósofo parte do princípio que todos os homens nascem

com os mesmos direitos (Direito á Liberdade, à Propriedade, à Vida). A sociedade foi

constituída, através de um contrato social, que visava garantir e reforçar estes mesmos

direitos. Neste sentido, as relações entre os homens devem ser pautadas pelo seu

escrupuloso respeito.

David Hume (1711-1778). Defende que as nossas acções são em geral motivadas pelas

paixões. Os dois princípios éticos fundamentais são a utilidade e a simpatia.

Ilustração. Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), concebe o homem como um ser bom

por natureza (mito do "bom selvagem) e atribui a causa de todos os males à sociedade e

à moral que o corromperam. O Homem sábio é aquele que segue a natureza e despreza

as convenções sociais. A natureza é entendida como algo harmonioso e racional.

1.1.4 Os ideais éticos

Mas, afinal - perguntava-me um estudante -, qual o critério da moralidade? Ele

compreendia facilmente que a consciência moral deveria ser ao menos uma espécie de

critério imediato. Agir moralmente significaria agir de acordo com a própria

consciência. Mas, afora isto, agir como? Buscando o quê? Qual seria o ideal da vida

ética? As respostas variam, como estamos vendo. Para os gregos, a ideal ético estava ou

na busca teórica e prática da ideia do Bem, da qual as realidades mundanas

participariam de alguma maneira (Platão), ou estava na felicidade, entendida como uma

vida bem ordenada, uma vida virtuosa, onde as capacidades superiores do homem

tivessem a preferência, e as demais capacidades não fossem, afinal, desprezadas, na

medida em que o homem, ser sintético e composto, necessitava de muitas coisas

(Aristóteles).

Page 13: Apostila Ética e Cidadania

Para outros gregos, o ideal ético estava no viver de acordo com a natureza, em

harmonia cósmica. (Esta ideia, modificada, foi depois adotada por teólogos cristãos, no

seguinte sentido: viver de acordo com a natureza seria o mesmo que viver da acordo

com as leis que Deus nos deu através da natureza.) Os estóicos insistiram mais nesta

vida bem natural. Já os epicuristas afirmavam que a vida devia ser voltada para o prazer:

para o sentir-se bem. Tudo o que dá prazer é bom. Ora, como certos prazeres em

demasia fazem mal, acabam por produzir desprazer, uma certa economia dos prazeres,

uma certa sabedoria e um certo refinamento, até uma certa moderação ou temperança

eram exigências da própria vida de prazer.

No cristianismo, os ideais éticos sa identificaram com os religiosos. O homem

viveria para conhecer, amar e servir a Deus, diretamente e em seus irmãos. O lema

socrático do "conhece-te a ti mesmo" volta à tona, em Santo Agostinho, que agora

ensina que "Deus nos é mais íntimo que o nosso próprio íntimo". O ideal ético é o de

uma vida espiritual, isto é, do acordo com o espírito, vida de amor e fraternidade.

Historicamente, porém, muitas formas dualistas, que separavam radicalmente, por

exemplo, o céu e a terra, esta vida e a outra, o amor a Deus e o amor aos homens,

acabaram dificultando a realização dos ideais éticos cristãos. Nem sempre os cristãos

estiveram à altura da afirmação do seu Mestre: "Nisto conhecerão que sois meus

discípulos: se vos amardes uns aos outros".

Com o Renascimento e o Iluminismo, ou seja, aproximadamente entre os séculos

XV e XVIII, a burguesia que começava a crescer e a impor-se, em busca de uma

hegemonia, acentuou outros aspectos da ética: o ideal seria viver de acordo com a

própria liberdade pessoal, e em termos sociais o grande lema foi o dos franceses:

liberdade, igualdade, fraternidade. (Há quem afirme que a Revolução Francesa buscou

concretizar apenas a liberdade, a Russa, a igualdade e a Africana, ou a do Terceiro

Mundo, a fraternidade.) O grande pensador da burguesia e do Iluminismo, Kant,

identificou bastante, como temos visto, o ideal ético com o ideal da autonomia

individual. O homem racional, autônomo, autodeterminado, aquele que age segundo a

razão e a liberdade, eis o critério da moralidade. Se Kant e a Revolução Francesa

acentuaram de maneira talvez demasiado abstrata a liberdade, o ideal ético para Hegel

estava numa vida livre dentro de um Estado livre, um Estado de direito, que preservasse

Page 14: Apostila Ética e Cidadania

os direitos dos homens a lhes cobrasse seus deveres, onde a consciência moral e as leis

do direito não estivessem nem separadas e nem em contradição. A profunda perspectiva

política de Platão e Aristóteles transparece de novo, portanto, em Hegel. Mas parece que

a realidade histórica não acompanhou muitas de suas teorias.

Os valores espirituais, éticos e religiosos foram se tornando, nestes últimos

duzentos anos, sempre mais assunto particular, e os assuntos gerais foram sendo

dominados pelo discurso da ideologia. No século XX, os pensadores da existência, em

suas posições muito diversas, insistiram todos sobre a liberdade como um ideal ético,

em termos que privilegiavam o aspecto pessoal ou personalista da ética: autenticidade,

opção, resoluteza, cuidado, etc. Já o pensamento social e dialético buscou como ideal

ético, na medida em que aqui ainda se usa esta expressão, a ideia de uma vida social

mais justa, com a superação das injustiças econômicas mais gritantes.

Page 15: Apostila Ética e Cidadania

Princípio que deve nortear a ação moral: "A máxima felicidade possível para o

maior número possível de pessoas". O Bom é aquilo que for útil para o maior número de

pessoas, melhorando o bem-estar de todos, e o Mal o seu contrário. Esta concepção deu

origem no século XX às éticas pragmáticas.

Sartre. A moral é uma criação do próprio homem que se faz a si próprio através das

suas escolhas em cada situação. O relativismo é total. Mas este fato não o desculpa de

nada. A sua responsabilidade é total dado que ele é livre de agir como bem entender. A

escolha é sempre sua.

Habermas (1929). Após a 2ª Guerra Mundial, Habermas surge a defender uma ética

baseada no diálogo entre indivíduos em situação de equidade e igualdade. A validade

das normas morais depende de acordos livremente discutidos e aceites entre todos os

implicados na ação.

Hans Jonas (1903-1993). Perante a barbárie quotidiana e a ameaça da destruição do

planeta, Hans Jonas, defende uma moral baseada na responsabilidade que todos temos

em preservar e transmitir às gerações futuras uma terra onde a vida possa ser vivida com

autenticidade. Daí o seu princípio fundamental: "Age de tal modo que os efeitos da tua

ação sejam compatíveis com a permanência da uma vida humana autêntica na terra".

Crítica. Ao longo de todo o século XIX e XX sucederam-se as teorias que denunciaram

o caráter repressivo da moral, estando muitas vezes ao serviço das classes dominantes

(Karl Marx, 1818-1883) ou dos fracos (Nietzsche,1844-1900).Outros demonstram a

falta de sentido dos conceitos éticos, como "Dever", "Bom" e outros (Alfred J.Ayer),

postulando o seu abandono por se revelarem pouco científicos. Sigmund Freud (1856-

1939) demonstrou o caráter inconsciente de muitas das motivações morais. Um das

correntes que maior expressão teve no século XX, foi a que procurou demonstrar que as

raízes biológicas da moral, comparando o comportamento dos homens e de outros

animais.

Aquilo que denominamos por "ética" é apresentado como uma forma camuflada ou

racionalizada de instintos básicos da nossa natureza animal idênticos a outros animais.

Novas Problemáticas. As profundas transformações sociais, culturais e científicas das

nossas sociedades colocaram novos problemas éticos, nomeadamente em domínios

como a tecnociência (clonagem, manipulação genética, eutanásia, etc), ecologia,

comunicação de massas, etc.

Page 16: Apostila Ética e Cidadania

Importância da Ética

A importância da ética hoje se dá pela necessidade, por uma questão de sobrevivência;

considerando que a humanidade passa por um momento de anseio por uma vida melhor

e acima de tudo digna e feliz. Podemos dizer que o tema mais ecumênico que existe

atualmente é o da dignidade humana, vida com qualidade e por fim, a felicidade. No

entanto percebemos que o mundo se tornou um caos, e o homem como um todo se

encontra perdido em meio a tanta confusão; é o verdadeiro “jogo dos interesses”. O

comportamento ético não consiste exclusivamente em fazer o bem a outrem, mas em

exemplificar em si mesmo o aprendizado recebido. É o exercício da paciência em todos

os momentos da vida, a tolerância para com as faltas alheias, a obediência aos

superiores em uma hierarquia, o silêncio ante uma ofensa recebida.

Unidade 2: O Ser Humano e Suas Dimensões Física e Transcendente

• 2.1. Noções de Cidadania

• 2.2. O Direito à Vida

• 2.2.1. Controle de Natalidade e Aborto

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2.1. Noções de Cidadania

COVRE, M. L. M. O que é cidadania? São Paulo: Brasiliense, 2003.

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2.4. O Direito à Vida

Marconi Pimentel Pequeno

O que a filosofia moral tem a nos dizer sobre os direitos humanos? De que

maneira a moralidade pode contribuir para a efetivação de certos direitos fundamentais?

O que significa do ponto de vista moral ter um direito? O que é um direito? O que é a

moral? O que é um direito moral? Finalmente, como pensar o ser da moral no momento

em que se perde de vista a moral de todos os seres? Tais indagações traduzem a

amplitude e a complexidade das questões que envolvem a relação entre ética e direitos

humanos. Tal relação não está imune a controvérsias, razão pela qual acreditamos que

seu estudo deve necessariamente nos conduzir a uma problematização mais rigorosa

acerca do que de fato representam os direitos humanos aos olhos da filosofia moral.

O conteúdo e a extensão dos direitos humanos não estão definitivamente fixados

na consciência moral da humanidade. Não é absolutamente evidente para os indivíduos

que eles gozam de direitos, nem, tampouco, que estes devem ser respeitados. Eis por

que devemos, antes de tratar da natureza e das condições de possibilidade de sua

efetivação, refletir sobre a origem de tais direitos. Se falamos em direitos fundamentais

da pessoa humana, precisamos saber em que consistem tais direitos, por que são

fundamentais e quem é essa pessoa que goza de um estatuto humano. Em suma:

precisamos encontrar o justo sentido dos termos que usamos em nosso discurso, mas

que às vezes não sabemos o que significam. Assim sendo, pretendemos inicialmente

abordar o problema confrontando a ideia de direito com a noção de moralidade.

A ideia moderna de moral está alicerçada na subjetividade, enquanto os direitos

humanos nascem como um conceito que assume uma dimensão coletiva. Mas, direitos

coletivos implicam também obrigações coletivas Nesse caso, não podemos pensar os

direitos dissociando-os da noção de obrigação. Noutros termos, o primado moral do

conceito de direito não pode substituir o de obrigação moral. É certo que pode haver

direitos sem obrigações (no caso das crianças, por exemplo) e obrigações sem direitos (a

exigência moral de não maltratarmos os animais, que, por sua vez, são destituídos de

direitos formais), porém o que interessa destacar é a relação íntima de correspondência

entre direitos humanos e obrigações morais.

Page 26: Apostila Ética e Cidadania

Parece evidente que, do ponto de vista axiológico, o discurso sobre o direito

ficaria desamparado sem a correlação com o discurso da obrigação. Se isto é verdade,

podemos então aceder à primeira conclusão: formalmente, só podemos constituir um

discurso sobre os direitos com base no discurso sobre as obrigações. Com efeito, o

conceito de direito somente teria sentido se fosse elaborada uma pergunta prévia sobre

as obrigações que lhe são correspondentes. Entretanto, se a cada direito correspondem

diversas obrigações seria o caso de falarmos primeiramente em obrigações humanas e

não em direitos humanos?

Tais dificuldades revelam o quanto o universo dos direitos humanos se

afigura inexpugnável às abordagens simplistas, aos discursos do senso comum, às

meras declarações de princípios. Aliás, há algo que permanece obscuro na idéia

iluminista de direitos humanos. Afinal, como não reconhecer que existe um paradoxo

entre o entusiasmo da razão emancipadora que funda tais direitos e a dúvida sobre a sua

real efetivação?

Ora, a nossa experiência histórica comprova que a democracia não tem sido

capaz de assegurar o exercício da liberdade e a prática da justiça, ou seja, não tem se

mostrado apta a garantir a efetivação dos direitos humanos. A democracia pode ser uma

condição necessária à efetivação dos direitos humanos, mas não é jamais a condição

suficiente e definitiva para a sua realização. Até porque a democracia, como já haviam

mostrado Platão e Aristóteles, não está imune à tentação totalitária, podendo, por isso,

tornar-se uma variante do direito do mais forte, uma espécie de tirania da maioria.

Como se vê, os problemas ligados à efetivação dos direitos humanos são

numerosos, complexos e de natureza diversa. As dificuldades inerentes à plena

realização de tais direitos nos impõem o desafio de repensar os fundamentos, a razão de

ser e a amplitude de tais postulados. Os direitos humanos estão enredados, ainda, em

dificuldades concernentes à legitimidade de alguns dos princípios normativos que os

constituem. Diante dessa evidência, poder-se-ia perguntar : qual a origem dos valores e

normas que fundam tais direitos? Uma genealogia da idéia de direitos humanos se

impõe como condição prévia de sua elucidação. Além do que, para saber se tais direitos

podem ser justificados, precisamos buscar uma definição precisa e adequada do termo.

Page 27: Apostila Ética e Cidadania

Em outras palavras, devemos elucidá-los a partir do seu conceito. Todavia, não

podemos falar em conceito sem nos reportarmos aos seus fundamentos. Eis que surge

aqui o problema acerca do fundamento dos direitos humanos. Sobre isto a filosofia tem

algo a nos dizer.

A filosofia, ao longo da história, tem elaborado princípios destinados a garantir

que tais direitos sejam erigidos, proclamados e utilizados como ideias regulativas da

vida em sociedade. É certo que o problema filosófico dos direitos humanos não pode ser

dissociado do estudo dos problemas históricos, sociais, econômicos, jurídicos inerentes

à sua realização. Por outro lado, convém colocar em questão a pertinência de tal

investigação a partir das seguintes indagações: até que ponto o problema do fundamento

dos direitos humanos torna-se prioritário na época em que vivemos? Uma vez

identificados tais direitos, como assentá-los sobre princípios consistentes, se nem

mesmo a existência moral dos indivíduos goza hoje de uma base teórica segura? Como

elaborar um fundamento universal capaz de sustentar o peso da diversidade de culturas,

hábitos, costumes, convenções e comportamentos próprios às inúmeras sociedades? Em

face de tais dificuldades, seria cabível compartilhar do ponto de vista de Norberto

Bobbio para quem “o problema grave do nosso tempo, com relação aos direitos

humanos, não é mais o de fundamentá-los e sim o de protegê-los” (Bobbio, 1982, p. 25)

? Mas, protegê-los implica em aceitar a noção de que já conseguimos implantá-los. O

problema então é de outra ordem: em que sentido podemos afirmar que os direitos

humanos já adquiriram estatuto de cidadania na comunidade de nações? Trata-se de

algo consensual e absolutamente livre de controvérsias sobre seu valor e eficácia? Por

fim, em que se fundamenta a ideia de que devemos protegê-los?

Talvez seja correto pensar, em meio à crise do fundamento que nos assola, que a

grande questão que nos desafia não é de caráter filosófico, histórico ou jurídico, mas

sim político. Trata-se de garantir que, não obstante as solenes e inúmeras Declarações,

tais direitos não sejam violados. Afinal, de que vale a pergunta acerca da natureza de

tais direitos se os mesmos se afiguram inexequíveis ou mesmo desrespeitados? Sim, do

ponto de vista pragmático, o que importa é analisar as condições, as vias e as situações

mediante as quais este ou aquele direito pode ser realizado. Até porque parece claro que

a exigência do respeito aos direitos humanos pressupõe, como condição sine qua

non para a sua existência e realização, a certeza de que eles são fundamentados. Mas

Page 28: Apostila Ética e Cidadania

será que o problema concernente à fundamentação dos direitos humanos está mesmo

resolvido? A razão de ser de tais direitos constitui-se numa realidade consumada? Trata-

se de um problema com o qual nós não deveríamos mais nos preocupar? Convém

demonstrar como a questão da fundamentação de tais direitos se oferece ao olhar da

filosofia, até porque é dever de ofício da mesma se ocupar das questões que antecedem

toda e qualquer tentativa de solução do problema.

Ao longo da história da filosofia muitas foram as tentativas de fundamentar os direitos

humanos. De maneira mais significativa tal intento se anuncia nitidamente a partir do

século XVII com o jusnaturalismo de Locke, para quem o homem naturalmente tem

direito à vida e à igualdade de oportunidades. Este preceito é seguido por Rousseau ao

anunciar que todos os homens nascem livres e iguais por natureza. Nesse mesma

perspectiva, podemos citar Kant para quem os homens têm direito à liberdade a qual

deveria ser exercida de forma autônoma e racional. Os teóricos do direito

natural recorriam frequentemente à ideia de evidência para afirmar que tais direitos

eram inelutáveis e, portanto, inquestionáveis.

Todavia, aquilo que era considerado evidente numa dada época deixou de sê-lo

posteriormente (direito irrestrito à propriedade, direito de torturar prisioneiros, direito ao

uso da violência, etc.). Aliás, uma breve digressão à filosofia política do passado pode

atestar esse caráter de variabilidade que o acompanha. Assim, por exemplo, ao direito à

propriedade propugnado por Hobbes e Locke foram acrescentados o direito à liberdade

(Kant), os direitos políticos (Hegel), os direitos sociais (Marx). Eis porque se pode

afirmar que cada direito é filho do seu tempo.

Os direitos humanos têm hoje se alicerçado no valor intrínseco do princípio

da dignidade. Ao elaborar a segunda fórmula do imperativo categórico, Kant anuncia

“age de tal forma que tu trates a humanidade, tanto na tua pessoa quanto na pessoa de

qualquer outro, sempre como um fim e nunca como um meio” (Kant, 1785, 420-1). Para

ele, todo ser humano é dotado de dignidade em virtude de sua natureza racional, ou

seja, cada ser humano tem um valor primordial independentemente de seu caráter

individual ou de sua posição social. Eis por que o homem é tomado como um fim em si

mesmo. A ideia de dignidade deve, pois, instaurar uma nova forma de vida capaz de

garantir a liberdade e a autonomia do sujeito.

A dignidade se impõe como um valor incondicional, incomensurável, insubstituível,

que não admite equivalente. Trata-se de algo que possui uma dimensão qualitativa,

Page 29: Apostila Ética e Cidadania

jamais quantitativa. Por isso, uma pessoa não pode gozar de mais dignidade do que

outra. Mas como utilizar esse preceito nas situações-limite em que é necessário

confrontar dignidades a fim de se escolher uma delas? O que fazer diante da cena

dantesca de um corredor de hospital público repleto de pacientes (e como são

pacientes!) que almejam atendimento e salvação ? Esta dúvida tem frequentemente

atormentado profissionais da saúde quando se veem sem meios para curar, sem critérios

para escolher. É evidente que tal princípio não pode servir como um imperativo

aplicável em todos os casos, porém é em função dessa ideia volátil, e às vezes

imprecisa, de dignidade que podemos identificar quando ela é negada, negligenciada,

esquecida.

É certo que não estamos aptos a fornecer uma definição ampla, satisfatória e

inquestionável acerca do que vem a ser dignidade humana. A esta pergunta talvez seja

o caso de responder como o fez Santo Agostinho quando lhe indagaram acerca do que é

o tempo: se ninguém me pergunta o que representa a dignidade humana eu sei o que ela

significa, porém se alguém me pede para explicá-la eu já não saberia o que dizer. Mas

se tal expressão (dignidade humana) é polissêmica e sujeita a múltiplas interpretações,

como esperar que ela possa bem fundamentar tais direitos ?

Decerto que ninguém precisa saber definir dignidade humana para reconhecer que ela

existe como prerrogativa inalienável do sujeito. Precisaríamos então compreender o que

ela significa para defender os que têm sua dignidade ultrajada ? Acreditamos que não.

Todavia, nessa cruzada contra os detratores da nossa humanidade, estaremos também

prontos a lutar pela dignidade das plantas e dos animais, como querem os

ambientalistas? Embora originariamente essa categoria se aplique ao homem, nada nos

impede de conferir estatuto de ser existente dotado de dignidade às espécies dos reinos

animal, vegetal ou mesmo mineral. Podemos conferir-lhes, mas também podemos

conspurcar-lhes tal estatuto. Isto atesta o caráter antropocêntrico de tais direitos. É do

homem que surgem, é para o homem que convergem.

Tanto quanto a noção de direito humanos a ideia de cidadania possui um sentido cada

vez mais amplo. Os direitos do cidadão implicam a existência de uma ordem jurídico-

política garantida pelo Estado. Tais direitos, portanto, não têm amplitude universal. São

prerrogativas dos indivíduos (cidadãos) que participam dos destinos da pólis. Os

direitos de cidadania precisam, pois, ser garantidos por dispositivos constitucionais. Em

muitos casos, os direitos dos cidadãos coincidem com os direitos humanos

fundamentais. Porém, estes se caracterizam pela amplitude e abrangência em relação

Page 30: Apostila Ética e Cidadania

aos primeiros. Assim, por exemplo, uma criança tem direitos humanos, mas não tem

direitos ou deveres ligados à cidadania. O mesmo acontece com os doentes mentais e,

em certo sentido, com os povos indígenas, que ainda sofrem a tutela do Estado. Do

ponto de vista da variabilidade, os direitos de cidadania são mais sujeitos a

modificações, pois podem ser ampliados, restringidos ou simplesmente abolidos pelos

governos ou pelos poderes constituídos. Porém, em virtude de sua preeminência e

complexidade, investigaremos a natureza dos direitos humanos, para, em seguida,

mostrar como estes podem fundar alguns direitos de cidadania.

Os direitos humanos surgem como direitos fundamentais inatos a todos os homens.

Constituem, por isso, uma prerrogativa inalienável. Enquanto tais, eles devem ser

protegidos pela ordem jurídica dos Estados. Eles valem, pois, como direitos

positivamente estabelecidos, já que, na realidade, estão fundados em critérios

normativos. Direito à liberdade individual, à vida, à propriedade, à busca da felicidade,

à segurança, à participação na vida sócio-política do país, são os primeiros direitos

reconhecidos como fundamentais, cuja formulação remonta ao direito natural racional

(Hobbes, Locke, Wolff). Nesse caso, eles são fundamentais não porque têm um

fundamento, mas porque são imprescindíveis à existência do homem em sociedade.

Porém, como garantir que o fundamento desses direitos fundamentais seja aceito e

defendido pelo conjunto dos seres humanos? Eis um problema de difícil solução.

Atualmente tenta-se justificar o valor desses direitos recorrendo-se à ideia de

que há uma consenso, um entendimento ou uma aceitação tácita dos mesmos por parte

dos diversos membros da comunidade de nações. A Declaração Universal dos Direitos

do Homem (1948) se propõe a demonstrar que um determinado sistema de valores é

factível, que ele pode ser instaurado e compartilhado pela maioria dos homens do

planeta. A universalização desse princípios regulativos da conduta humana revelaria que

o humanidade partilha alguns valores comuns, cujo conteúdo seria subjetivamente

aceito e acolhido por todos os homens do planeta.

Na Declaração de 1948, a afirmação dos direitos é, ao mesmo tempo, universal

e positiva. Ela envolve todos os homens e não apenas os cidadãos (como ocorre

na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789). Para Bobbio, “os

direitos do homem nascem como direitos naturais universais (jusnaturalismo),

desenvolvem-se como direitos positivos particulares, para finalmente encontrar sua

plena realização como direitos positivos universais ”(Bobbio, 1982, p. 30)”. Trata-

se, pois, de um ideal a ser alcançado por todos os povos e nações. Tal Declaração,

Page 31: Apostila Ética e Cidadania

contudo, está longe de ser definitiva, haja vista o caráter histórico e, portanto, provisório

de tais direitos. Além disso, como indica Otfried Höffe, “a declaração dos direitos

fundamentais é, sob diversos aspectos, primeiro um programa político e não a última

pedra na positivação dos direitos do homem” (Höffe, 1991, p.376). De fato, a

Declaração de 1948 traduz os direitos do homem contemporâneo que vive sob a égide

dos valores determinados em sua época pelos contornos da história. A estes devem

somar-se as exigências mais atuais que demandam novos direitos, como : o progresso

da técnica, a degradação do meio-ambiente e o papel que nele ocupa o indivíduo, a

ampliação dos canais de informação, o direito à verdade, etc. É isto que nos credencia

a substituir a noção de direitos humanos pela ideia de direitos fundamentais e,

sobretudo, a atualizar os princípios norteadores das

Declarações e Convenções existentes no mundo atual. A história descortina os

horizontes de revelação de novos direitos, atendendo sempre às exigências impostas

pela consciência dos agentes sociais. Mas o que significa transformar um direito

subjetivo num princípio universal ? Por que o problema referente à universalidade de

tais direitos torna-se crucial no nosso tempo ?

Inicialmente porque a garantia universal desses direitos se afigura impossível.

Em seguida porque, convém reiterar, acreditamos que a questão do seu fundamento não

está completamente resolvida. E finalmente porque a liberdade e a dignidade do homem

constituem-se como um ideal a ser atingido; não configuram um fato, mas um valor;

não são fenômenos que pertencem à esfera do ser, mas ao domínio do dever-ser; não são

uma posse, mas uma conquista da humanidade. Se os direitos humanos traduzem um

ideal da razão humana, o desafio que se impõe ao homem contemporâneo é de outra

ordem : ele consiste na dificuldade de se encontrar as vias concretas para a sua

realização.

Todos concordam que é necessário encontrar um meio capaz de compatibilizar a

pluralidade das manifestações políticas e jurídicas dos indivíduos modernos e a

identidade do homem. Mas, quem é o homem de que trata os direitos humanos ? Como

falar em direitos humanos quando não se tem uma idéia clara do que seja o homem ?

Quem é ontologicamente esse homem que definimos como ser humano? Trata-se de um

ideal destituído de singularidade concreta? Seria este homem um ser que transcende as

vicissitudes e abjeções próprias ao sujeito real? Enfim, como relacionar a objetividade

dos postulados de tais direitos com as particularidades próprias à subjetividade de

cada indivíduo?

Page 32: Apostila Ética e Cidadania

O homem dos direitos humanos é designado sob a categoria de universalidade que

supõe uma definição baseada num ponto de vista moral imparcial, independente de toda

determinação particular. Trata-se de um homem situado fora do tempo e do espaço. Este

homem não tem face nem história. É uma entidade difusa em cuja face pode aderir

qualquer semblante, qualquer perfil. Pode-se então afirmar que os direitos humanos

estariam fundados numa espécie de humanismo abstrato? Se isso é verdade, como então

coadunar essa idéia abstrata de humanidade do homem com as formas de liberdade e os

conteúdos do direito que lhe são correspondentes? Como, enfim, manter o direito

incólume ao surto imprevisível dos instintos de cada ser humano?

O homem real, como bem demonstrou Kant, é também portador de inclinações. O

caráter passional dos homens é, para ele, um fator positivo no que se refere ao já

afirmado desenvolvimento da espécie humana, pois tais inclinações levam ao

aperfeiçoamento das relações sociais entre os indivíduos. A razão, que define no plano

prático as relações universais dos homens entre si, determina, no mesmo nível, a

possibilidade deste desenvolvimento. A razão liberta o homem do impulso instintivo,

inserindo-o na sociedade.

Nessa direção, o direito natural passa a ser reconhecido pela razão humana na

forma de sistema de leis racionais a priori. Isso indica que a ideia de uma comunidade

de indivíduos deve se assentar no direito natural dos homens de exercer sua liberdade e

autonomia. Segundo Kant, a noção de que aqueles que obedecem devem, também,

reunidos, legislar, se encontra na base de todos as formas de Estado. Aristóteles, aliás,

no livro I da Política descreve o homem como um “animal político” (zôon politikon)

dotado de logos, de discurso e razão. Palavra e pensamento fundam a possibilidade da

existência plural dos homens em sociedade. Entre os seres vivos, o homem enquanto

animal político se destaca como o único apto a discernir sobre os valores, a definir o

justo e o injusto, a escolher entre o bem e o mal. Ele não deseja apenas viver, mas bem

viver. A política confere ao homem uma disposição para viver em sociedade, como

animal social, mas quando separado da lei e da justiça ele pode transformar-se num ser

inumano. O homem preso às instituições é o melhor de todos, mas quando ele delas se

afasta torna-se o pior dos demônios. Sendo assim, em que se funda a obrigação de

respeitarmos os direitos humanos?

Page 33: Apostila Ética e Cidadania

Assuntos para Debates sobre direitos humanos.

Atividade I: Produza uma defesa a cerca do tema abaixo e defenda a partir dos

postulados dados até o momento.

2.4.1. Controle de Natalidade e Aborto

A discussão do aborto parece ter voltado à cena nacional após a eleição do Sr.

Severino Cavalcanti para a Presidência da Câmara dos Deputados. Este digno senhor se

coloca de maneira taxativa contra o aborto, e vários outros pontos, que o coloca numa

posição ultraconservadora. Certamente é um assunto polêmico, onde os dois lados

costumam colocar argumentos bem convincentes. Aqueles que se colocam contra

argumentam que isto poderá levar a uma menor preocupação, principalmente dos

jovens, quanto à sua conduta sexual. Afinal, se por acaso a infeliz engravidar, torna-se

muito mais simples dar um jeito no erro. Existem ainda aqueles que consideram que

aquele serzinho dentro da barriga da mãe já é um ser vivo, e que abortá-lo seria dar cabo

a uma vida, sendo portanto uma forma de assassinato. Realmente estes argumentos

possuem lá seu fundo de verdade. Mas sendo honestos, quem quiser fazer um aborto,

vai fazê-lo de qualquer forma. Seja em clínicas clandestinas, seja tomando qualquer

coisa para matar a criança (e algumas vezes até mesmo a própria mãe), ou no caso dos

mais ricos, embarcar no "Navio da Morte", que busca as gestantes arrependidas nos

portos da Europa, vão para regiões de águas internacionais, para que lá possam praticar

o aborto de forma impune. Na prática, aborto é igual consumo de drogas. Hoje em dia,

quem quer fazer, faz. Independente da legalidade do ato. Coibir a prática não é uma

forma de conscientizar ninguém.

Por outro lado, a liberação irá reduzir os riscos daqueles que desejam fazêlo, já

que poderão realizar o aborto com o amparo de profissionais devidamente preparados,

em locais adequados para a prática. Outra grande vantagem é dar à mulher a chance de

ter o controle sobre seu corpo, e sua vontade atendida. Afinal, será que vale a pena levar

adiante uma gravidez que a própria mãe rejeita? Qual será o futuro desta criança? Mas o

ponto que mais me chama a atenção é a possibilidade de redução da pobreza. Todos

sabem que quem tem muitos filhos atualmente são as mulheres pobres. As mães de

classe média para cima costumam ter no máximo dois filhos, enquanto as mães muito

pobres costumam ter tantos filhos quanto conseguirem, já que não possuem acesso à

informação, e quando conseguem ter acesso a isto, não conseguem ter acesso aos

Page 34: Apostila Ética e Cidadania

métodos contraceptivos. E se as coisas continuarem desta maneira a pobreza no Brasil

vai aumentando exponencialmente, já que um casal de "ricos" vai gerar apenas um ou

dois descendentes, enquanto um casal de pobres irá gerar quatro, cinco, seis, e como

conheço em alguns casos, sete filhos! Se aplicarmos isto mais uma vez, os dois filhos

ricos gerarão dois ou quatro novos ricos, enquanto os 7 filhos pobres terão gerado quase

50 novos pobres! (7 filhos para cada um dos 7). Que tal tentar realizar este exercício

considerando aí 3 ou 4 gerações, para que possamos imaginar o Brasil daqui 75 ou 100

anos? E sendo honestos, a possibilidade destes pobres se tornar rica, é cada vez menor,

principalmente se considerarmos que a educação para os pobres no Brasil é ridícula. Por

isto eu acredito que dar aos pobres o acesso ao aborto é uma forma paleativa para a

redução da pobreza. Percebam: forma paliativa. Não podemos nos basear apenas nesta

ação para mudar a realidade do país.

Indo além da prática do aborto, o planejamento familiar também é indispensável.

E em alguns casos, ele deveria ser realizado pelo próprio Estado, e não mais pela

família. Se uma família com menos renda inferior a 5 salários mínimos chegou ao

terceiro filho, não deixe essa mulher sair do hospital sem torná-la estéril. Aproveite que

a mulher já está ali no hospital e já corte o mal pela raiz. E para as mulheres que

quiserem realizar a operação voluntariamente, serão todas elas aceitas. Posso parecer

incoerente, já que inicialmente defendi que a mulher precisa ter sua vontade respeitada

em querer realizar o aborto e agora quero tirar a liberdade de querer decidir quantos

filhos ela terá. Aí entramos na parte do direito em que a coletividade tem prioridade em

relação a individualidade. Uma família com mais filhos que ela é capaz de criar irá

implicar em gastos para o Estado. Se uma família não tem como comprovar condições

para criar seus filhos, então o Estado deve interferir nesta situação.

Page 35: Apostila Ética e Cidadania

3.1. Definição de Trabalho

Jair Teixeira dos Reis

UNIDADE 3 – O Ser Humano e o Trabalho

• 3.1. Definição de Trabalho

• 3.2. Funções do Trabalho

• 3.3. Divisão do Trabalho

Page 36: Apostila Ética e Cidadania

3.3. Divisão do Trabalho

Segundo Durkheim, é muito fácil determinar o papel da divisão social do

trabalho na estrutura de organização da sociedade humana, pois ela é responsável pela

processo de civilização. Assim, como ele mesmo explicita, “ela (a divisão do trabalho)

aumenta simultaneamente a força produtiva e a habilidade do trabalhador, ela é a

condição necessária para o desenvolvimento intelectual e material das sociedades; ela é

a fonte da civilização.” (Durkheim, 1973: 324) Desta forma, devemos entender por

divisão social do trabalho a organização da sociedade em diferentes funções, exercidas

por indivíduos ou grupos de indivíduos.

Nas sociedades mais simples, predominou-se sempre a divisão social do

trabalho fundamentada mais em critérios biológicos de sexo e idade. Mas a partir do

momento em que a sociedade torna-se mais intrincada, em especial, quando inicia-se o

desenvolvimento da agricultura e o sistema de propriedade privada, surge uma divisão

social mais complexa, com a criação de novas funções sociais. Neste sentido, pode-se

afirmar que a indústria foi, certamente, o sistema produtivo que mais desenvolveu a

Page 37: Apostila Ética e Cidadania

divisão social do trabalho, pois criou inúmeras funções e atribuições diferenciadas. Na

sua obra Da Divisão do Trabalho Social, Durkheim faz uma análise profunda sobre a

divisão social do trabalho, separando a em dois temas: a solidariedade mecânica ou por

similitude, na qual predominavam as sociedades tradicionais e as pré-capitalistas; e a

solidariedade orgânica ou por divisão do trabalho, na qual

predominavam as sociedades industriais e capitalistas, nas quais os diferentes papéis

sociais decorriam do sistema produtivo vigente. A divisão social do trabalho envolve

sempre uma divisão não só de funções, mas também de privilégios, status e poder. Em

uma pequena indústria temos sempre um pequeno grupo de pessoas que concebem

ideias, criam, e inventam o que vai ser produzido e de que forma será produzido. Outro

grupo é obrigado apenas à execução do trabalho, e de forma escalonada, ou seja,

dividida por meio de tarefas bem específicas conforme a atribuição de cada indivíduo.

Sendo assim, é justamente em meados do século XX, no qual a divisão social do

trabalho começa a se intensificar de maneira mais contínua, porque Henry Ford cria o

sistema de linha de montagem para o processo de produção na indústria automobilística

– mais conhecido como fordismo.

Posteriormente, é Frederick Taylor, que em sua obra intitulada Princípios de

Administração Científica, desenvolve um método científico de racionalização da

produção. Para isso, ele define dois conceitos fundamentais para compreender o

processo de produção industrial: tempo e movimento. Esse processo de produção

industrial passaria a ser mais tarde conhecido como taylorismo, e visava intensificar o

aumento da produtividade com a economia de tempo. Tinha como meta, segundo os

preceitos de seu autor, a abolição de gestos desnecessários, e de comportamentos inúteis

no interior das etapas de produção, os quais para ele prejudicavam indubitavelmente na

rapidez e eficiência produtiva. Vejamos uma citação mais elucidativa do que foi a

consequência da adoção dos métodos tayloristas de produção na indústria do século

XX: “O taylorismo implantado, permite altos lucros com baixo nível salarial, a curto

prazo, a custo de tensões sociais.” (Tragtenberg: 1977, 72)

Sem dúvida, os princípios do Taylorismo foram implementados com muito sucesso nos

Estados Unidos, no início do século XX. Porém, rapidamente saiu do limite do campo

das indústrias, indo atingir vários outros setores da sociedade, tais como: empresas,

escolas, atividades de esportes, e até as atividades domésticas. O Taylorismo, como

pode se ver, impregnou não só os setores da indústria capitalista moderna, mas também

deixou suas marcas em outras formas de organização da sociedade humana

contemporânea, redefinindo-as amplamente.

Page 38: Apostila Ética e Cidadania

4.1. Definição de Lazer

Dentre os inúmeros conceitos para lazer, podemos destacar:

"O conceito de lazer é difícil de limitar a uma única definição. Como uma experiência

compreendida por indivíduos diante de variados contextos, o estudo do lazer tem estado

envolvido em três abordagens: tempo, atividade e estado da mente" (Handerser, 2001)

"Um conjunto de ocupações às quais o indivíduo pode entregar-se de livre vontade,

seja para repousar, seja para divertir-se, recrear-se e entreter-se ou ainda para

desenvolver sua formação desinteressada, sua participção social voluntária ou sua

livre capacidade criadora, após livrar-se ou desembaraçar-se de obrigações

profissionais, familiares e sociais" (Jofre Dumazedier)

Dumazedier define as 3 D's do lazer: descanso, divertimento, desenvolvimento

Conteúdos culturais do lazer propostos por Dumazedier

- Interesses artísticos: atividades realizadas no tempo livre das pessoas em que se

enfatiza um caráter simbólico; ligados a sentimentos e emoções: museu, teatro,

televisão.

- Interesses intelectuais: conhecimentos vividos, busca de informações e objetivos

presos à realidade: participação em cursos, jogo de xadrez, leitura.

- Interesses manuais: ligados à capacidade de manipulação, transformação de objetos e

materiais, artesanato, cuidados com a natureza: jardinagem, cuidado com animais.

- Interesses sociais: contato face a face com pessoas: festas, bailes, bares, associações.

- Interesses físicos desportivos: atividades onde prevaleçam o movimento: esportes,

ginástica, atividades físicas.

- Interesses turísticos: quebra da rotina temporal ou espacial, contato com novas

situações, paisagens e culturas, turismo como elemento do lazer: passeio e viagens.

Equipamentos de lazer

UNIDADE 4: O Ser Humano e o Lazer

• 4.1. Definição de Lazer

• 4.2. A Importância do Lazer

• 4.3. O Sentido do Lazer

• 4.4. Avaliação Crítica

Page 39: Apostila Ética e Cidadania

a) não-específicos: não são construídos de forma original para esta finalidade do lazer,

mas podem ser adaptados e cumprir com essa finalidade: ruas de lazer.

b) específicos: construídos para a finalidade do lazer, subordinados aos conteúdos

culturais do lazer: (artísticos, intelectuais, manuais, sociais, físicos, turísticos)

Características dos equipamentos específicos:

- sistematização dos equipamentos conforme: conceito, programação, localização,

atendimento, público e composição.

Se analisarmos, por exemplo, uma cidade grande como São Paulo, verificamos que os

equipamentos de lazer não estão igualmente distribuídos entre os espaços: há um

desequilíbrio em termos de oferta e demanda. Nesse sentido, é importante estimular a

criação de novos equipamentos específicos e possibilidades a partir dos equipamentos

não específicos - abrir os espaços da escola, a fim de oferecer lazer à comunidade

escolar. É fundamental que se consulte a comunidade local para verificar qual é o gosto

inerente à ela.

Importância de um equipamento de lazer - deve atender a população de uma forma democrática, o que significa convidar a

população a participar da efetiva criação e construção desses equipamentos;

- receber política de animação cultural.

Atuação profissional

Os agentes socioculturais têm um importante papel na sensibilização para o usufruto do

espaço/equipamento: associar atividades de lazer ao desenvolvimento da comunidade,

estimulando a participação democrática e apropriando-se de espaços de lazer como uma

esfera social.

4. 2 A Importância do Lazer

CLAUDIA DA SILVA SACRAMENTO

O lazer como hoje é conhecido um problema urbano que é tipicamente característico

das grandes cidades, mas isso não significa que fiquem restritos as grandes cidades,

pois como existe a mídia para divulgar para regiões que não são tão urbanizadas, no

entanto para Marcelino (2006) vai apresentar o conceito de lazer fazendo relação

a duas ideias centrais entre espaço e equipamento.

“O espaço é entendido como suporte para os equipamentos. E os

equipamentos são compreendidos como os objetos que organizam o espaço

em função de determinada atividade. (...), conclui-se que é possível se

exercer atividades de lazer sem um equipamento, mas é impossível fazer

um lazer sem a existência de um espaço”. (MARCELLINO 2006, p. 66).

O Autor faz a relação entre espaço e equipamento na importância da efetivação do lazer.

Pois para a realização de atividades que proporcione lazer torna-se necessário a inter-

relação dos dois. Nos dias de hoje com o inchaço urbano, as dificuldades são grandes

para encontrar espaços adequados que se possa proporcionar para os seres humano

ambientes de qualidade para o lazer sadio.

Page 40: Apostila Ética e Cidadania

“Entretanto se verifica uma serie de descompassos em relação ao espaço e

lazer. O crescimento de nossas cidades é relativamente recente,

caracterizando-se pela aceleração e imediatismo. O aumento da população

urbana, agravado pelo êxodo rural e pelas migrações das cidades menores

para aquelas que constituem em pólos de atração, não foi acompanhado no

que se refere à habitação e serviços urbanos, gerando desníveis na ocupação

do solo e diferenciando marcadamente, de um lado as áreas centrais,

concentrada de beneficio, e de outro, a periferia, verdadeiro deposito de

habitações”. ( IDEM, p. 66-67)

É importante se fazer essa democratização do espaço para o lazer para um maior

processo de socialização, mas não somente ter um espaço para o lazer, mas um espaço

que ajude a também fazer construir a cidadania, algo que não é feito nas políticas

públicas relacionada ao lazer feito tanto pelos governos federais, ou estaduais como é

refletido por Martins (2006). Desta maneira percebe-se partindo desse princípio a

negligencia do poder público quanto as garantias constitucionais no que garante as

leis sobre o direito de proporcionar as condições democrático aos cidadão sobre o

esporte e o lazer. Gerar políticas públicas no Brasil que proporcione equipamentos de

esporte e lazer mais acessível as pessoas de baixa renda.

Martins (2006) diz que esse tipo de política pública foi construído devido à própria

criação de cidadania construída ao longo dos séculos XVIII e XIX, por isso quando se

tem uma política pública para o lazer, ela não está relacionada à construção da

cidadania, mas somente uma utilização de um espaço sem a reflexão da atividade em

que se está executando. Historicamente o lazer não esta ligado com a saúde, com a

qualidade de vida e funciona como duas vertentes diferente. Já nas últimas décadas

essas concepções sofrem alterações devido novas políticas públicas no campo do

esporte e do lazer.

“Não constitui, porém características da natureza humana a capacidade de

manter constantemente ativa se o tipo de atividade em que se pensa é

diretamente relacionado à ideia de trabalho. Por imposição da própria

fisiologia, após o esforço físico despendido da realização do labor diário, o

homem tem descansar. Além disso precisa alimentar-se, repousa-se

(recuperar energia e distrair-se o que faz mediante jogos, festas

entretenimento ou qualquer atividade gratuita). Para George Hourdin a festa

é descanso a que se entregam os membros de uma coletividade porque

sentem necessidade de comungar em sua fé no sobrenatural ou na alegria de

um acontecimento ocorrido entre eles, e que enquanto a todos atinge

também a todo transcende. Por seu turno, o jogo envolve as atividades

fortuitas e de natureza competitiva a que se dedicam os homens durante o

descanso de que dispõem ou no decurso das festas que celebram”.

(BACAL, 1988, p. 15).

Logo, a questão do lazer na educação física faz parte da higienização mental, da

socialização construindo novas concepções de lazer.

A Educação Física como disciplina escolar caracteriza-se como uma atividade

eminentemente prática, muitas vezes é desvinculada da teoria que poderia servir de

auxílio à compreensão e ao esclarecimento de fatores relacionados à atividade física,

como também das regras do esporte.

Page 41: Apostila Ética e Cidadania

A respeito da presença da Educação Física no componente curricular, Lovisolo (1995)

verificou que o currículo de Educação Física desenvolvido nas escolas apresenta um

perfil voltado para aptidão física (ginástica e corrida) e para o ensino das modalidades

esportivas coletivas mais populares, como basquete, futebol, vôlei e handebol.

Recentemente, Seabra (2004) também considerou que a disciplina de Educação Física

se inspira na aptidão física e no desporto de alto rendimento, tendo como uma de suas

metas principais aprimorar capacidades físicas e desenvolver habilidades esportivas. Na

mesma perspectiva do autor anterior, Bracht (1997, p. 14) diz que é o esporte de alto

rendimento que fornece o modelo de atividade de grande parte do contexto escolar.

Inserida no ensino fundamental e médio, baseia-se no contexto dos desportos, dentre

eles: o futebol devido à sua popularidade no Brasil e também o voleibol, basquetebol e

handebol, que são conteúdos bem desenvolvidos nas aulas. Corroborando esta

afirmação, Facco (1999) observou que o desporto é o conteúdo mais desenvolvido nas

escolas e o preferido dos alunos, desde a 5ª série do ensino fundamental até a 1ª série do

ensino médio, porém a autora acredita que os alunos deveriam experimentar um pouco

de outros conteúdos. Esse aspecto volta-se para motivos extrínsecos, que podem ser

observados claramente por todos os que estão envolvidos no processo de ensino. Há

muito tempo no Brasil a educação física sempre foi olhada como fator de competição

entre os alunos da educação básica e não como fator gerador de integração e muitas das

vezes gerando com essa competividade violência entre os alunos.

Conclui-se então que a importância do lazer nas aulas de educação física deve ser

defendida como fator necessário a uma boa prática pedagógica, pois sabemos que o

lazer, e a própria educação física, estão presentes no interior da escola por meio das

manifestações esportivas e, ainda assim, praticada tal qual o modelo que nos é

hegemonicamente transmitido pela cultura dominante, ou seja, o modelo competitivo.

E, não como processo de socialização por isso que se sugere a inserção do lazer na

educação física escolar. Por ser o esporte uma prática solidificada dentro da educação

física escolar, acreditamos que este esporte deve ser o foco inicial de educação pelo e

para o lazer e com prazer em fazer, já que a educação física deve aproveitar o seu

modelo esportivo para, a partir deste modelo, explorar suas outras possibilidades como

a cultura, a interação, a socialização e a autoestima do aluno um entendimento mais

amplo do lazer diminuindo a resistência e talvez uma melhor aceitação.

Referências

COMPARATO, Fábio Konder. Ética: Direito, moral e religião no mundo moderno.

São Paulo: Companhia das Letras, 2006.

KUYPER, Abraham. Calvinismo. São Paulo: Cultura Cristã, 2002. MONDIN, Battista. O

Homem, quem é Ele? São Paulo: Paulus, 1997.

MORELAND, J.P.; CRAIG, William Lane. Filosofia e Cosmovisão Cristã. São Paulo:

Vida Nova, 2005.

SCHAEFFER, Francis. A Morte da Razão. São Paulo: Cultura Cristã, 2002.

SCHAEFFER, Francis. Como Viveremos. São Paulo: Cultura Cristã, 2003.