Arte Medieval no Museu

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Crónicas de um Acervo Museu de Santa Maria de Lamas 2014 © Museu de Santa Maria de Lamas

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Crónicas deum AcervoMuseu de Santa Maria de Lamas

2014 © Museu de Santa Maria de Lamas

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Crónicas de um acervo - “Arte Medieval no Museu”

AutoriaMuseu de Santa Maria de Lamas

TextoJosé Carlos de Castro Amorim

Projecto gráficoRicardo Matos

FotografiaJosé Amorim e Arquivo imagético do Museu de Santa Maria de Lamas

CapaPormenor do Rosto de N.ª Sr.ª do “O” - Madeira policromada, ca. finais do séc. XIII e primeiras décadas do séc. XIV. 1957.0046 – MSML: Sala 1 – Sala de Nossa Senhora do “O”.

Contracapa“Santo Antão” - Escultura de vulto pleno, Pedra calcária / Pedra de Ançã policromada, Oficina Coimbrã (?) de finais de séc. XIV e primeira metade do séc. XV. 1957.0032 – MSML: Sala 1 – Sala de Nossa Senhora do “O”.Julho, Agosto e Setembro de 2014 © Museu de Santa Maria de Lamas

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Pormenor da Sala n.º 1 do Museu de Santa Maria de Lamas: Sala de Nossa Senhora do “O”. Perímetro expositivo que alberga a colecção de Arte Medieval do Museu.

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“(…) O Museu de Santa Maria de Lamas, a sul do Parque (de Santa Maria de Lamas), apresenta-nos uma colecção reunida por Henrique Amorim principalmente na década

de 1950, resultado da paixão que este nutria pela arte, daí que o próprio (…) tenha chamado àquela colecção Domus áurea arquivo de fragmentos de arte (…)”1

Fachada exterior do Museu de Santa Maria de Lamas Estrutura arquitectónica remontante às décadas de 50 e 60 do séc. XX.

1 Cf. Aa. Vv. – Imaginária feminina na arte sacra portuguesa. Processos de Conservação e Restauro – Colecção do Museu de Santa Maria de Lamas. Santa Maria de Lamas: Multitema, 2005, p. 15.

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Nossa Senhora do “O”Ca. Finais do séc. XIII e 1.as

décadas do séc. XIV

António Abade / António Abade de Viena / “Santo

Antão” Ca. Finais do séc. XIV e 1ª.

metade do séc. XV

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António Abade / António Abade de Viena / “Santo

Antão” Ca. Finais do séc. XIV e 1ª.

metade do séc. XV

“Tríptico Medieval” Séc. XIV

José Carlos de Castro Amorim / 2014

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“Crucificação simbólica / Drama do Calvário” - Jesus crucificado e João Evangelista - Pormenor da pintura e escultura de alto e baixo-relevo do corpo central/painel central do Tríptico Medieval trecentista (séc. XIV), do MSML.

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Abreviaturas e Siglas

Arte Medieval no MuseuO “talhe” da madeira e modelagem da “Pedra mole” na Arte sacra portuguesa,

entre o fim do Românico e o Gótico pleno – Sécs. XIII a XV / O Museu como espaço contemporâneo de percepção da “longínqua” Idade média e seus modelos artísticos

– Arte medieval no Museu: “A matéria e as formas”

Arte Medieval no Museu: A matéria e as formas - “Nossa Senhora do “O”

A madeira polícroma na escultura medieval portuguesa – sécs. XIII-XIV

“A forma e a iconografia” – Análise gráfica: Nossa Sr.ª do “O” / Nossa Sr.ª da Expectação / Nossa Sr.ª da Esperança / Santa Maria de Ante Natal / Nossa Sr.ª do

Parto / “Pejada”

A estética medieval replicada na contemporaneidade: Nossa Sr.ª do “O” / Nossa Sr.ª da Expectação / Nossa Sr.ª da Esperança / Santa Maria de Ante Natal / Nossa Sr.ª do

Parto / “Pejada”

As “Virgens do O” na história e na arte da escultura medieval portuguesa. A escultura de “Nossa Senhora do O” do MSML no panorama da imaginária medieval portuguesa

votiva às virgens expectantes - sécs. XIII a XV

Arte Medieval no Museu: A matéria e as formas - “Santo Antão”

A importância do “calcário mole” e da “Escola coimbrã” na escultura medieval portuguesa – Sécs. XIV – XV

“A forma e a iconografia” – Análise gráfica: António Abade / António Abade de Viena / “Santo Antão”

A estética medieval replicada na contemporaneidade: António Abade / António Abade de Viena / “Santo Antão”

António Abade / António Abade de Viena / “Santo Antão”: A “Escola” de escultura coimbrã e a “exportação” de imaginária medieva (Sécs. XIV – XV), em Pedra Calcária/

Pedra de Ançã, para a Terra de Santa Maria

Arte Medieval no Museu: A matéria e as formas - “Tríptico Medieval”

A madeira polícroma na escultura medieval portuguesa – séc. XIV

“A forma e a iconografia” – Análise gráfica: “Tríptico Medieval

A estética medieval replicada na contemporaneidade: “Tríptico Medieval”

As estruturas tripartidas na arte existente em Portugal ou de feitoria portuguesa - Sécs. XIV a XX. O Tríptico trecentista (séc. XIV) do MSML como ponto de partida para

a percepção da presença e importância do uso de estruturas tripartidas na História da Arte portuguesa, entre a Idade média e a contemporaneidade

Arte Medieval no Museu - A Arte e a História social, cultural, económica e criativa de um território: A Terra de Santa Maria entre os sécs. XIII a XV

Fontes e Bibliografia

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Índice

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Abreviaturas e siglas

A. - AlvesAa. Vv. - Autores VariadosAtrib. - AtribuídoCa. - Cerca deCf. - ConfiraExt. - Extraído de M.ª - Maria MSML - Museu de Santa Maria de LamasN.ª - Nossa N.º - Número P. - PáginaP. ex. - Por exemplo Pp. - PáginasSéc. - Século Sécs. - SéculosSr.ª - Senhora St.ª - Santa Trad. - Tradução / Traduzido (a)V. N. - Vila Nova

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O “talhe” da madeira e modelagem da “Pedra mole” na Arte sacra portuguesa, entre o fim do Românico e o Gótico pleno – Sécs. XIII a XV

O Museu como espaço contemporâneo de percepção da “longínqua” Ida-de média e seus modelos artísticos – Arte medieval no Museu: “A matéria e as formas” Apelidado de “Museu da Cortiça” por parte do seu próprio público, o actual Museu de Santa Maria de Lamas (MSML), foi primitivamente designado pelo seu fundador (o industrial Henrique A. Amorim (1902—1977)), em ple-no decurso da década de 50 do séc. XX, como sendo a sua “Casa dourada”. Uma área de requinte e recobro de múltiplas expressões humanas, intitula-da de “Domus Áurea arquivo de fragmentos de Arte”. Resultante de um ímpeto pessoal assente na recolha quase “compulsiva” de objectos multidisciplinares, inspirado nos “espíritos” coleccionistas, ou mesmo em preceitos base do bricabraque - Bric à Brac - português da “vi-ragem” do séc. XIX para o XX, na sua origem, a estruturação primitiva deste Museu seguiu e tentou aproximar-se da norma expositiva dos “Gabinetes de Curiosidades ou Quartos das Maravilhas” Europeus, de sécs. XV a XVII. Verdadeiros espaços de exibição simultânea de objectos artísticos nobres e variados símbolos, fragmentos ou artefactos de cariz global. Reflexivos da riqueza histórica, cientifica, religiosa, populacional, natural, cultural, intelec-tual, social, geográfica, económica , etnográfica e material da Humanidade e do Planeta Terra. Assim sendo, desde a sua criação, este complexo destacou-se dos demais pela quantidade, qualidade e variedade (tipológica e temporal), do seu espólio. Um verdadeiro acervo plural, recuperado e reorganizado a partir de 2004, e que exibe perante o seu público colecções de Arte Sacra (sécs. XIII a XX); Gravura e Litografia (sécs. XVIII a XX); Paramentaria; Alfaias litúrgicas; Ex-votos (sécs. XVII a XX); Tapeçaria e bordado (sécs. XVIII a XX); Medalhís-tica (sécs. XIX e XX); Azulejaria (séc. XX); Cerâmica (sécs. XIX e XX); Objectos de uso quotidiano (sécs. XIX e XX); Relojoaria (sécs. XIX a XX); Papel-moeda e Numismática (sécs. XIX e XX); Iconografia do Fundador (ca. décadas de 50, 60 e 70 do séc. XX); Pintura contemporânea (sécs. XIX e XX); Armaria ibérica (sécs. XIX e XX); Lustres e Candelabros (sécs. XVII a XX); Insígnias honoríficas (sécs. XIX e XX); Falerística (sécs. XIX e XX); Mobiliário (sécs. XVIII a XX); Ar-tefactos indo-portugueses e Chinoiseries (ca. sécs. XVIII a XX); Instrumentos musicais; Artes decorativas (sécs. XIX e XX); Etnografia portuguesa (sécs. XIX e XX); Estatuária contemporânea (francesa: séc. XIX; portuguesa: sécs. XIX e XX); Fragmentos ligados às Ciências naturais; Escultura em cortiça e deriva-dos (séc. XX), e Arqueologia industrial (ou seja, maquinaria de transforma-ção corticeira de início do séc. XX). Neste “universo”, evidencia-se a vastidão estilística e tipológica do espólio de Arte sacra, sobretudo ao nível da Talha dourada e da Imaginária religio-sa que Henrique Amorim “recolheu”, directamente em espaços religiosos intervencionados ou em antiquários nacionais, durante os anos 50 do séc. XX. Um conjunto de obras portuguesas que “alberga” a raridade de três exemplares artísticos de cronologia medieva: a escultura em madeira polí-croma de “Nossa Senhora do “O” (ca. sécs. XIII/XIV); o alto e baixo-relevo polícromo do “Tríptico Medieval” trecentista (séc. XIV), e o calcário mole de modelagem coimbrã do “Santo Antão” (ca. sécs. XIV/XV). Obras únicas que pela sua matéria, forma e tratamento “resumem” os princípios oficinais, as correntes, as técnicas, os hábitos, o gosto mecenático e as potencialida-des da escultura medieval portuguesa (ou existente em Portugal), entre o Românico tardio e a plenitude do Gótico. Entre a “portugalidade” do “talhe” da madeira e o apogeu da modelação e “exportação” do calcário mole coim-brão - na vertente conhecida pelo desígnio “Pedra de Ançã”.

Nossa Senhora do “O”Madeira policromada, ca. finais do séc. XIII e primeiras décadas do séc. XVI

“Santo Antão”Pedra de Ançã policro-mada, finais de séc. XIV e primeira metade do séc. XV.

“Tríptico Medieval” Madeira policromada, séc. XIV.

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Arte Medieval no Museu: A matéria e as formas - “Nossa Senhora do “O”

“(…) Foi precisamente no período medieval que a mulher surgiu na ima-ginária portuguesa (…) O feminino só entrou verdadeiramente na imagi-nária portuguesa no ocaso dos esquemas figurativos e das temáticas do Românico (…) Uma das imagens mais apelativas do acervo do MSML é precisamente uma Nossa Senhora do “O” (…) Esta invocação (…) foi das mais difundidas pela via da escultura em Portugal , numa devoção cara à mulher da Idade média (…) Do ponto de vista religioso, esta popular Festa, de influência espanhola, da Expectação de Maria , tinha lugar a 18 de Dezembro. Pelo facto de que nas primeiras Vésperas desta solenidade , se começava a cantar, no Magnificat, as antífonas maiores alusivas à vinda de Jesus Cristo: O Sapientia...O Adonai...O Radiz Jesse….Veni….Então, o Clero e o Povo repetiam energicamente a interjeição inicial, pelo que esta festa se veio a chamar em Portugal de Nossa Senhora do O, ou da Expectação do parto do Menino Jesus (ou Santa Maria de Ante Natal) (…)”

Vítor Gomes Teixeira

TEIXEIRA, Vítor Gomes - “Fragmentos sobre a Imaginária feminina na Iconografia religiosa por-tuguesa” in Aa. Vv. – Imaginária feminina na arte sacra portuguesa. Processos de Conservação e Restauro – Colecção do Museu de Santa Maria de Lamas. Santa Maria de Lamas: Multitema, 2005, pp. 25 e 28.

Excerto planimétrico alusivo ao Piso superior do MSML, onde se situa a “Sala de Nossa Senhora do “O”. A área expositiva de inserção do acervo de Arte Medieval deste complexo.

Nossa Senhora do “O”Escultura de vulto pleno, madeira policromada, ca. finais do séc. XIII e primeiras décadas do séc. XIV. 1957.0046 – MSML: Sala 1 – Sala de Nossa Senhora do “O”.

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A madeira polícroma na escultura medieval portuguesa – sécs. XIII-XIV

Esculpida em vulto pleno, esta escultura de cronologia medieva e executada em madeira policromada, representa a iconografia de uma Virgem expec-tante. Ou seja, um momento pictórico expressivo do culto a Maria grávida de Jesus, invocado pelos desígnios: “Nossa Senhora do O” (representativo da exclamação inicial ou suspiro “Ó”/ “Oh!”, presente na globalidade dos cânticos, proclamações e rezas das “Antífonas maiores” / “Antífonas do “O”, proferidas liturgicamente antes da “Natividade” - o episódio do nascimento de Jesus) / “Nossa Senhora da Expectação” / “Nossa Senhora da Esperança” / “Santa Maria de Ante Natal” / “Nossa Senhora do Parto” / “Pejada”. Majestática (coroada / em maestas), Maria grávida, protectora dos/das ges-tantes, dirige-se graciosamente ao observador. Coloca a mão direita sobre o ventre, a esquerda junto ao rosto (próxima ao ouvido), em acto de bênção, recepção de preces, ou de aceitação plena do conteúdo da mensagem transmitida pelo Anjo Gabriel na “Anunciação”. Ostenta véu, alva/túnica interior e manto sobreposto. Estruturada em bloco, a figura mariana evidencia-se pelo seu ventre vo-luptuoso, que consuma um simbolismo de fertilidade e protecção contra a mortalidade feminina no parto. Esta característica morfológica, representa inclusive, a dualidade simbiótica entre humano e divino, existente na hagio-grafia mariana precedente e integrante da “Natividade” de Jesus. Um ciclo que se inicia pela via divina, constituída pela “Anunciação” do Anjo Gabriel e concepção sine mácula (trad.: “sem pecado”). E cujo término, revela uma vertente mais humana, composta pelos nove meses de gestação no ventre, e pelo sequente parto de Jesus. Culto com raízes Bizantinas, o tributo a Maria expectante, surge no Ociden-te por via artística italiana em plena viragem de centúria, de XIII para XIV, recebendo grande empatia popular. Contudo, as dúvidas teológicas levanta-das (em virtude do seu escasso suporte escrito), e a reforma iconográfica de 1563, imposta no “Concílio de Trento”, ditaram o término oficial e a conde-nação desta temática. Em Portugal, a iconografia da “Virgem grávida” obteve maior aceitação, difusão artística e cultual durante o séc. XIV. Visto que, são datáveis desse período, sobretudo entre 1330 e 1360, os exemplos mais conhecidos de esculturas votivas a Maria grávida, que integram as páginas da historiografia artística nacional. Um conjunto de obras essencialmente ligadas ao trabalho da pedra calcária (“Pedra de Ançã”), e ao apogeu coimbrão de “guildas/oficinas” como a do Mestre Pêro (séc. XIV). A quem foram atribuídas, entre outras, as Virgens do “O”, em calcário polícromo, da Sé de Coimbra (ca. 1340 – actualmente no Museu Nacional de Arte Antiga); da Igreja de Santa Maria da “Alcáçova” (Montemor-o-Velho); do Museu Regional de Lamego; ou da Catedral de Évora (ca. 1340). Pelo seu material (madeira policromada), atributos e estética concebida (representativa de alguma rigidez formal), atendendo à contextualização histórica efectuada, a escultura de Nossa Senhora do “O” existente no MSML, antecede a predominância da pedra calcária de origem coimbrã, na produção de imaginária medieval portuguesa essencialmente trecentista e quatrocentista. Pelas suas características e dada a origem deste culto re-montar ao término do séc. XIII, justifica-se a inclusão cronológica desta obra rara, num momento transitório entre o fim da centúria de duzentos (séc. XIII), e a década de trinta do séc. XIV.

Nossa Sr.ª do “O” / Nossa Sr.ª da Expectação / Nossa Sr.ª da Esperança / Santa Maria de Ante Natal / Nossa Sr.ª do Parto / “Pejada”Descrição histórico-artística

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“A forma e a iconografia” – Análise gráfica: Nossa Sr.ª do “O” / Nossa Sr.ª da Expectação / Nossa Sr.ª da Esperança / Santa Maria de Ante Natal / Nossa Sr.ª do Parto / “Pejada”

Mão esquerda: Aberta, com os dedos estendidos e posicionada junto

gem do Anjo Gabriel (transmitida no episódio da “Anunciação do Senhor”).

Nossa Senhora do “O”

Escultura de vulto p leno, madeira policromada, c a.

décadas d o séc. X IV. 1957.0046 – MSML: Sala 1 – Sala de Nossa Senhora do “O”.

Mão direita: Em contacto com o ventre, primordialmente, representa a ligação intrínseca entre a Virgem e o “gestante”: Jesus. Co

recria a simbologia da condição humana (uma condição alegorica-mente representada pelo número “cinco” – a cabeça e os quatro mem

ou seja, do “Homem”), e da “Encarnação divina”. Sinalizando a simbio

episódio recriado.

Vestígio de desgaste cro-nológico existentes nesta escultura de composição “em bloco”.

Anverso Reverso

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ta, com os dedos estendidos e posicionada junto

-Anunciação do

to com o ventre, primordialmente, representa a Com os cinco

ia a simbologia da condição humana (uma condição alegorica-– a cabeça e os quatro mem-

. Sinalizando a simbio-

Virgem Majestática (em maestas): Na posse de coroa sobre a cabeça, decorada com elementos de cariz triangular e com a presença de esferas.Rosto gracioso: Com expressão “enigmática”, mas serena, e olhar direc-cionado para o observador.

Ventre voluptuoso / rotundo (de cariz semiesférico e saliente): Símbo-lo morfológico sugestivo da concepção “sem pecado” e gestação de Jesus no ventre de Maria. Uma característica de fomento ao “culto da expectação”, análogo à forma circular da vogal “O”. A letra que inicia a vocalização de cada uma das preces / suspiros das “Antífonas maiores” / “Antífonas do “O”. Invocações dedicadas a Maria, proferidas no calen-dário cristão entre 18 e 25 de Dezembro, antecedendo o dia de cele-bração efectiva do nascimento de Jesus.

Indumentária marianaVéu: “Preso” pela coroa, desenvolvido a partir da cabeça e caído sobre os ombros de Maria. Apresenta pregueados subtis, verticalidade e cromia desgastada. Pontuada por escassos vestígios tonais azuláceos e alaranjados.

Túnica interior / alva: Cobre grande parte do corpo da Virgem e os seus pregueados são, em maioria, estáticos e de cariz vertical.Com excepção para o plano inferior, cujos pregueados são mais declarados, oblíquos e movimentados. Apesar do desgaste, a policromia existente é dominada por tons de azul-escuro e vestígios subtis de laranja. Manto sobreposto: Agregado à túnica / alva interior através de um possível botão circular existente no peito, caído sobre o ombro direito, envolvendo parte do ventre saliente e encontrando-se suportado pela

este panejamento é aquele que apresenta o maior índice de movi-mento. Com áreas de orientação vertical e outras de sentido diagonal, a volumetria dos seus pregueados ondulados divide-se em dois níveis. A cromia deste manto, apesar de desgastada, apresenta frag-mentos de douramento e vestígios tonais de vermelho, castanho e laranja / ocre.

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A estética medieval replicada na contemporaneidade: Nossa Sr.ª do “O” / Nossa Sr.ª da Expectação / Nossa Sr.ª da Esperança / Santa Maria de Ante Natal / Nossa Sr.ª do Parto / “Pejada”

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As “Virgens do O” na história e na arte da escultura medieval portuguesa A escultura de “Nossa Senhora do O” do MSML no panorama da imaginária medieval portuguesa votiva às virgens expectantes - sécs. XIII a XV

Séc. XV

Nossa Senhora do “O”Escultura de vulto pleno, Pedra calcária / Pedra de Ançã policromada, Mestre Pêro (Séc. XIV), (atrib. (?)), ca. 1340 - 1360. Lamego, Museu de Lamego - Ext: http://-memoriasimagens.-blogs-pot.pt/2012/12/a-se-nhora-do-o.html- 11/08/2014, 12 h 14 m.

Nossa Senhora do “O”Escultura de vulto pleno, Pedra calcária / Pedra de Ançã

Coimbrã (?) , séc. XIV. Lisboa, Museu Nacio-nal de Arte Antiga - Ext: http://silentstillli-fe.blogs-pot.pt/2010/05/o.ht-ml - 11/08/2014, 12 h 09 m.

Nossa Senhora do Escultura de vultoplen/ Pe

CoimLisboa, Museu Nacio-nal de ArExsimagens.blogs-pot.pt/2013/12/17-dias-para-tal-nossa-senhora.hml - 11/08/2014, 12 h30 m.

Nossa Senhora do “O”Escultura de vulto pleno, Pedra calcária / Pedra de Ançã policromada (?), Mestre Pêro (Séc. XIV), (atrib. (?)), ca. 1330 - 1340. Lamego, Museu de Lamego - Ext: http://www.mu-seudelamego.pt/?pa-ge_id=1048- 11/08/2014, 16 h 47 m.

Nossa Senhora do “O”Escultura de vulto pleno, Pedra calcária / Pedra de Ançã

Coimbrã (?) , séc. XV. Torres Novas, Museu Municipal de Torres Novas - Ext: http://www.portal-doo.com.br/histo-ria/evento/memo-ria01.html- 11/08/2014, 16 h 41 m.

Séc. XIV

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Nossa Senhora do “O”

Escultura de vulto pleno, madeira policromada, ca.

décadas do séc. XIV. 1957.0046 – MSML: Sala 1 – Sala de Nossa Senhora do “O”.

Nossa Senhora do “O”Escultura de vulto pleno, Pedra calcária

Pedra de Ançã

Coimbrã (?) , séc. XIV. Lisboa, Museu Nacio-nal de Arte Antiga - Ext: http://memoria-simagens.blogs-pot.pt/2013/12/17--dias-para-o-na-tal-nossa-senhora.html - 11/08/2014, 12 h 30 m.

Nossa Senhora do “O”Escultura de vulto pleno, Pedra calcária / Pedra de Ançã policro-mada, Mestre Pêro (Séc. XIV), (atrib. (?)), ca. séc. XIV, Coimbra, Museu Nacional de Machado de Castro - Ext: http://www.mu-seumachadocas-tro.pt/pt-PT/colec-coes/escultu-ra/ImageDetail.aspx?id=128 - 11/08/2014, 12 h 31 m.

Nossa Senhora do “O”Escultura de vulto pleno, mármore policromada, séc. XV. Évora, Sé de Évora - Ext: http://www.in-ventarioaevora.-com.pt/acessibilida-de/rotei-ro_t2_03.html - 11/08/2014, 16 h 32 m.

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Page 20: Arte Medieval no Museu

Arte Medieval no Museu: A matéria e as formas - “Santo Antão”

“(…) Imagens canónicas e correntes preencheram os interiores das igrejas. Coimbra e Lisboa, juntamente com Évora, terão sido os centros mais

operosos na produção de escultura devocional. Lisboa por causa dos calcários brancos, Évora por causa dos mármores de grande qualidade (…)

Coimbra por causa dos calcários de Ançã, a famosa pedra de Ançã, que che-gou a ser exportada: virá a ser a cidade mais prontamente associada, desde

a Idade média, à escultura e à sua produção em quantidade e qualidade; e vai ser também o local onde se estabelecem , invariavelmente, todos os

imaginários e escultores. Geralmente, na génese das oficinas encontra-se o acesso a uma pedra maleável, amiga do talhe , macia e pode mesmo falar-se, a partir do século XIII, na existência de um mercado de imaginários, que

respondiam a encomendas de clientes (…)”

Paulo Pereira

PEREIRA, Paulo - Arte Portuguesa. História Essencial. Maia: Temas e debates / circulo de Leito-res,2011, p. 337.

Excerto planimétrico alusivo ao Piso superior do MSML, onde se situa a “Sala de Nossa Senhora do “O”. A área expositiva de inserção do acervo de Arte Medieval deste complexo.

“Santo Antão”Escultura de vulto pleno, Pedra calcária / Pedra de Ançã policromada, Ofici-na Coimbrã (?) de finais de séc. XIV e primeira metade do séc. XV.1957.0032 – MSML: Sala 1 – Sala de Nossa Senhora do “O”.

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A importância do “calcário mole” e da “Escola coimbrã” na escultura medieval portuguesa – Sécs. XIV – XV

Segundo a sua hagiografia, “António Abade” ou “António Abade de Viena”, invocado em Portugal pelo desígnio ”Santo Antão”, foi um Eremita cuja vivência terrena decorreu, em parte, numa área pertencente ao “Antigo Egipto”. Principal impulsionador da “Ordem Religiosa dos Antoninos”, a sua existência remonta ao séc. III e parte da sua iconografia aproxima-o do seu modelo e inspirador: “São Paulo Eremita”. Hierático, com os membros maioritariamente ocultos, restritos à extensão do corpo e das suas vestes, rosto de ancião barbado e estruturado rectan-gularmente, António Abade, absorve no seu olhar a própria frontalidade e verticalidade que “rege” e orienta toda a composição. Do ponto de vista iconográfico, endossa a indumentária Antonina. Com Sayal azul (alva/túnica interior), decorado com motivos florais; sobre ele um Escapulário medieval, de cariz rectangular e marcado junto ao peito com uma cruz pátea/”cruz templária”; uma Capa negra, caída sobre as costas a partir dos ombros e um Capuz negro. Ambos debruados com faixas, enrolamentos e motivos vegetalistas/fitomórficos dourados. Na sua mão direita, segura um signo anti pestífero conhecido como “Tau”/Crux Com-missa (uma cruz de formato similar à letra “T”, símbolo de vida futura, cuja origem egípcia assinala a vivência deste vulto no “Antigo Egipto”; adoptada inclusive como signo/sigla/assinatura manual de São Francisco de Assis, por influxo Antonino). E, na homónima esquerda, a par de exibir um fólio/livro representativo da “Regra Antonina”, António Abade suporta um sino/sineta repelente de ataques demoníacos, pestilências, condutas dúbias ou tentações eminentes. Complementando a iconografia e o perfil deste Eremita invocado pelos cris-tãos como “taumaturgo” (curador de pestilências, fomes e conflitos), Antó-nio Abade possui um porco “prostrado” aos seus pés. Este ícone valeu-lhe o título italiano de “António do Porco”, e representa a cura eficaz, baseada na banha e no toucinho deste animal, descoberta por Santo Antão no decurso do seu combate a enfermidades de pele e pestilências. Como foi a Erisipela gangrenosa do “Mal dos ardentes” / “Fogo de Santo Antão”, resultante de uma má alimentação ou ingestão de pão de centeio contaminado por pa-rasitas, originária de febres, convulsões, alucinações, amputações e mortes constantes, comum nos territórios do “Antigo Egipto” durante o séc. III. Pelo seu material de modelagem, uma pedra calcária celebrizada pelos termos “Calcário mole” ou “Pedra de Ançã”, esta escultura de vulto pleno representa o tipo de produção de uma das “escolas/oficinas” mais influen-tes no panorama da imaginária medieval portuguesa: a “Escola coimbrã” (que contou, entre outros, com os modelos bastante apreciados de “Mestre Pêro” (séc. XIV (?)), ou de Diogo Pires “o Velho” (séc. XV)). Chegando mesmo a ser “exportada”, a imaginária coimbrã em “Pedra de Ançã” de cronologia medieva e moderna (sobretudo de sécs. XIV a XVI), recebeu inclusive uma resposta mecenática forte em variados pontos da própria Terra de Santa Maria (representada, em parte, pelo actual conce-lho de feirense). E, para historiadores como Paulo Pereira (PEREIRA, Paulo, 2011), esta “Pedra maleável, amigável do “talhe” e macia” transformou Coimbra, a partir das últimas décadas do séc. XIII, no grande centro nacional de estabelecimento de “imaginários” medievos, de respectiva produção, afirmação e expedição da escultura devocional portuguesa.

António Abade / António Abade de Viena / “Santo Antão”Descrição histórico-artística

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Page 22: Arte Medieval no Museu

“A forma e a iconografia” – Análise gráfica: António Abade / António Abade de Viena / “Santo Antão”

Em “bloco(s)”, marcada pela sua frontalidade, simetria volumétrica (ligeira), e eixos verticais acentuados. Divide-se em dois “rectângulos” complementares, mas de dimensões distintas entre si, a cabeça e o corpo. O seu rosto, ausente de emoções, de cromia rosada, olhos azulados, assimétricos e dirigidos ao observador, narinas e lábios avermelhados, “recria” António Abade como ancião barbado e hierático. Em geral, a sua anatomia, com excepção do rosto e das mãos, encontra-se ocultada pela volumetria das vestes e “paramentaria” que “Antão” possui.

Base ovalada: Ausente de policromia e com marcas de desgaste cronológico, reveladoras da textura original do “calcário mole” coimbrão (Pedra de Ançã).

Porco (signo anti pestífero prostrado aos pés de António Abade):

recriado com predominância cromática de ocre, sanguínea e castanho, simboliza a descoberta de remédios contra pestilências e enfermidades de pele. Ou seja, em pleno séc. III, António Abade encontrou nas propriedades terapêuticas da banha e do toucinho do

dos ardentes”/“Fogo de Santo” (uma pandemia resultante da ingestão de pão de centeio contaminado).

Anverso Reverso

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Page 23: Arte Medieval no Museu

Tau / Crux Commissa (Signo anti pestífero suportado pela mão direita do Santo): Crux Commissa é uma cruz ausente de “vértice

superior” (em formato de “T”), que no “Antigo Egipto” representava a vida futura. Nesta escultura, assinala a vivência de António Abade em território egípcio e serve-lhe de báculo abacial. Pela sua proximidade ao ícone que Aarão colocou na casa dos Judeus merecedores de misericórdia do “Anjo

“Santo Antão” como taumaturgo. Um santo depulsor pestilitatis (anti pestífero), protector da Igreja e dos cristãos devotos contra surtos epidémicos, pestilências e morte súbita. Letra dos alfabetos grego e hebraico, o Tau foi ainda adoptado como “assinatura manual” de São Francisco de Assis, por

Regra Antonina (objecto que António Abade segura, junto ao peito, através da sua mão esquerda): Um fólio/livro representativo do rigor da vida monástica, que “legisla” a conduta dos Antoninos e simboliza a súmula de normas, restrições e obrigações a cumprir pelos monges, para perpetuar o legado de “Santo Antão”.

Sino / Sineta (signo anti pestífero, “pendurado” no pulso esquerdo do Santo): Atributo dos Eremitas, repele ataques demoníacos, condutas dúbias/pecadoras e tentações

sua estadia solitária no deserto e reforça o seu estatuto de taumaturgo, protector contra fomes,

Indumentária AntoninaCapuz:crânio do Abade deixando o seu rosto visível.Capa: negra, com pregueados estáticos de orientação vertical, encontra-se “ricamente” debruada com

Sayal (alva/túnica interior): Veste que cobre a totalidade do corpo com pregueados verticais. De fundo azul-claro, denota vestígios de douramento e um programa decorativo composto por

Escapulário medieval: Com Cruz templária / cruz pátea dourada e de estrutura rectangular, este panejamento rosado, envolto por faixa dourada e decorado com motivos vegetalistas, sobrepõe-se ao Sayal e recobre o peito dos monges Antoninos no seu labor diário.

encontrou nas propriedades terapêuticas da banha e do toucinho do

(uma pandemia resultante da ingestão

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A estética medieval replicada na contemporaneidade: António Abade / António Abade de Viena / “Santo Antão”

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António Abade / António Abade de Viena / “Santo Antão”: A “Escola” de escultura coimbrã e a “exportação” de imaginária medieva (Sécs. XIV – XV), em Pedra Calcária/Pedra de Ançã, para a Terra de Santa Maria

“Santiago Maior” Escultura de vulto pleno, Pedra Calcária/Pedra de Ançã, Oficina Coimbrã (?) de ca. séc. XIV. Rio Meão, nicho central existente na frontaria da Igreja Matriz Romanico-Gótica (ca. sécs. XIII - XIV), de Rio Meão (Cortesia de José Amorim).

Santa Luzia Escultura de vulto pleno, Pedra Calcária/Pedra de Ançã policromada, Oficina Coimbrã (?) de ca. sécs. XIV – XV. Santa Maria da Feira, Capela de Nossa Senhora da Encarnação (Castelo de St.ª M.ª da Feira) – Ext.: http://www.prof2000.pt/users/avcultur/aveidistrito/Boletim15/Imagens/page56c.jpg - 03/08/2014, 16 h 02 m.

“Nossa Senhora do Castelo” Escultura de vulto pleno, Pedra Calcária/Pedra de Ançã policromada, Oficina Coimbrã (?) de ca. sécs. XIV – XV. Santa Maria da Feira, Capela de Nossa Senhora da Encarnação (Castelo de St.ª M.ª da Feira) – Ext.: http://www.prof2000.pt/users/avcultur/aveidistrito/Boletim15/Imagens/page59.jpg - 03/08/2014, 16 h 07 m.

Escultura de imaginária masculina de iconografia não identificada Escultura de vulto pleno, Pedra Calcária/Pedra de Ançã policromada, Oficina Coimbrã (?) de ca. sécs. XIV – XV. São Paio de Oleiros, nicho central abobadado do frontão triangular da Igreja de São Paio de Oleiros (Cortesia de José Amorim).

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Page 27: Arte Medieval no Museu

Tal como foi referenciado anteriormente neste boletim, pela sua datação, situada entre os anos finais da centúria de trezentos (séc. XIV), e o início de quatrocentos (séc. XV), a escultura de António abade/António abade de Viena (“Santo Antão”), destaca-se na colecção do MSML. Contudo, não é só pela sua cronologia medieva que esta obra se tornou um caso singular dentro deste complexo museológico; atingindo esse patamar sobretudo pela peculiaridade da sua matéria de modelagem. Ou seja, de todo o acervo de imaginária religiosa que o MSML possui (um “universo” composto por milhares de exemplares), a figuração de António Abade é a única escultura formulada em pedra e não em madeira. Neste caso, o célebre e já citado “calcário mole” Coimbrão, conhecido como “Pe-dra de Ançã”. Um “marco” de uma escola, região e estilo que “dominaram” em pleno, com repercussões territoriais a nível nacional e internacional, grande parte do contexto mecenático e criativo da arte lusa entre a Idade Média e o início da era moderna. Contribuindo, segundo se percebe através de estudos históricos como o de Paulo Pereira (PEREIRA, Paulo, 2011), para a alteração gradual dos paradigmas decorativos e “triunfo das imagens” no interior das igrejas, ermidas, colegiadas, sés e paroquiais portuguesas. Perante o estatuto quase hegemónico que a imaginária de calcário mole coimbrão atingiu, sobretudo a partir do séc. XIV e através do trabalho das já referenciadas oficinas medievais e modernas de Mestres como o “Mestre Pêro” (séc. XIV (?)), Diogo Pires “o Velho” (séc. XV), Diogo Pires “o Moço” (séc. XVI), ou João de Ruão (ca. séc. XVI), é natural que por ligações históri-cas, administrativas, geográficas, artísticas e mecenáticas, o território santa-mariano possua, em alguns dos seus complexos religiosos, exemplares de escultura em “Pedra de Ançã” polícroma. Imaginária de feitoria coimbrã e estilisticamente similar à qualidade do trabalho da pedra aplicado no Santo Antão existente no MSML. Recorde-se que o actual território que se designa como “Concelho de Santa Maria da Feira”, representa parte da secular Terra de Santa Maria, uma “potência” geográfica e administrativa ligada aos primórdios da luta pela independência e identidade lusitana, e que durante o período medieval se estendia até às proximidades de Coimbra. Deste modo, tal “proximidade” com a cidade e o território que desde a Ida-de Média, mais se associou ao mercado de imaginários e à “expedição/ex-portação” de esculturas devocionais em Portugal, justifica a existência em solo feirense de um conjunto de esculturas em “calcário mole” / Pedra de Ançã policromada , medievas e modernas. Que subsistem, conservadas nos seus possíveis espaços de origem, e reforçam a percepção historiográfica da procura, preferência e relação comercial que existiu entre as corporações/guildas/oficinas de escultura em calcário de Coimbra e algumas paróquias, personalidade e alto mecenato da Terra de Santa Maria, entre o término do séc. XIII e o século XVI. Assim, embora o Santo Antão do MSML não seja comprovadamente uma encomenda do território feirense, a sua permanência actual neste território, a raridade e a qualidade do seu trabalho, serve de “mote” para a análise de parte da realidade artística concelhia. Ou seja, de algumas obras produzidas exclusivamente para resposta a encomendas feirenses (p. ex.: as esculturas de Santa Luzia e N.ª Sr.ª do Castelo (ca. sécs. XIV - XV), existentes na capela de N.ª Sr.ª da Encarnação em Santa Maria da Feira, da escultura de Santia-go Maior (ca. séc. XIV), existente na Igreja Matriz Romanico/Gótica de Rio Meão, ou da escultura de iconografia masculina não identificada (ca. sécs. XIV - XV), existente na Igreja de São Paio de Oleiros), testemunhando a im-portância que os objectos escultóricos de produção coimbrã, em “Pedra de Ançã,” alcançaram no fomento de espaços religiosos de “interior colorido e mobilado”, hábitos decorativos e ofícios cultuais santamarianos.

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Page 28: Arte Medieval no Museu

António Abade / António Abade de Viena / “Santo Antão”: A “Escola” de escultura coimbrã e a “exportação” de imaginária medieva (Sécs. XIV – XV), em Pedra Calcária/Pedra de Ançã, para a Terra de Santa Maria

Escultura de imaginária masculina de

Escultura de vulto pleno, Pedra Calcária/Pe-

(?) de ca. sécs. XIV – XV. São Paio de Oleiros, nicho central abobadado do frontão trian-gular da Igreja de São Paio de Oleiros (Cortesia de José Amorim).

“Escola Coimbrã medieval” - Resposta a solicitação mecenática santamariana.

“Santo Antão”Escultura de vulto pleno, Pedra calcária /

-

do séc. XV.1957.0032 – MSML: Sala 1 – Sala de Nossa Senhora do “O”.

“Escola Coimbrã medieval” - Possível respos-ta a solicitação mecenática santamariana (?) / Escultura de criação resultante de “enco-menda” extra Terra de Santa Maria, que chegou ao território local, onde actualmente se preserva, apenas no decurso da década de 50 do séc. XX (por intermédio da aquisi-ção coleccionista de Henrique Amorim e incorporação no acervo do MSML).

“Santiago Maior”Escultura de vulto pleno, Pedra Calcária/Pe-

XIV. Rio Meão, nicho central existente na frontaria da Igreja Matriz Romanico/Gótica (ca. sécs. XIII - XIV), de Rio Meão (Cortesia de José Amorim).

“Escola Coimbrã medieval” - Resposta a solicitação mecenática santamariana.

Mapa do actual Concelho de Santa Maria da

Maria. Território que na época medieval se estendia até à prodade de Coimbra. - Créditos: Câmara Municipal de Santa Maria da Feira - 11/08/2014, 10 h 45 m.

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Page 29: Arte Medieval no Museu

Santa Luzia Escultura de vulto pleno, Pedra Calcária/Pedra de

sécs. XIV – XV. Santa Maria da Feira, Capela de Nossa Senhora da Encarnação (Castelo de St.ª M.ª da Feira) – Ext.: http://www.prof2000.pt/user-s/avcultur/aveidistrito/Bole-tim15/Imagens/page56c.jpg - 03/08/2014, 16 h 02 m.

“Escola Coimbrã medieval” - Resposta a solicitação mecenática santamariana.

“Nossa Senhora do Castelo” Escultura de vulto pleno, Pedra Calcária/Pedra de Ançã

-rã (?) de ca. sécs. XIV – XV. Santa Maria da Feira, Capela de Nossa Senhora da Encar-nação (Castelo de St.ª M.ª da Feira) – Ext.: http://www.pro-f2000.pt/users/avcultur/avei-distrito/Bole-tim15/Imagens/page59.jpg - 03/08/2014, 16 h 07 m.

“Escola Coimbrã medieval” - Resposta a solicitação mecenática santamariana.

Santa Maria da Feira, que constitui

erritório que na época medieval se estendia até à proximi-dade de Coimbra. - Créditos: Câmara Municipal de Santa Maria da

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Page 30: Arte Medieval no Museu

Arte Medieval no Museu: A matéria e as formas - “Tríptico Medieval”

“(…) Quando abertos (…) é que se revelavam todas as facetas de uma histó-ria sagrada, de uma narrativa ou de um dogma, cuja concepção era difícil

de apreender em abstracto, tornando-se esta apreensão mais fácil sempre que se traduzisse em imagens ou esculturas (…)”

Paulo Pereira

PEREIRA, Paulo - Arte Portuguesa. História Essencial. Maia: Temas e debates / circulo de Leito-res,2011, p. 340.

Excerto planimétrico alusivo ao Piso superior do MSML, onde se situa a “Sala de Nossa Senhora do “O”. A área expositiva de inserção do acervo de Arte Medieval deste complexo.

“Tríptico Medieval” (Três caixas de madeira de formato rectangular, gra-vadas e articuladas entre si por dobradiças)Corpo central: “Crucifi-cação simbólica - Drama do Calvário” (Jesus cruci-ficado, Maria e João Evan-gelista); Volantes laterais: Figurações estilizadas (Apóstolo imberbe, João Evangelista (?)) - Escul-tura de alto – relevo, douramento (?) e pintura, madeira policromada, séc. XIV. 1957.0104 – MSML: Sala 1 – Sala de Nossa Senhora do “O”.

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Page 31: Arte Medieval no Museu

A madeira polícroma na escultura medieval portuguesa – séc. XIV

Compondo, pela sua estrutura tripartida, uma espécie de Sacra Conver-sazione (narrativa sagrada, artisticamente representada com recurso à divisão em vários painéis ou episódios), esta obra exprime, por um lado, a variedade de formatos apreciados pelos escultores e respectivo mecenato português, durante a Idade média. E, por outro, devido à sua dimensão e mobilidade, simboliza a importância da própria Arte como incentivo ascé-tico e visual ao cumprimento de hábitos cultuais privados, obrigatórios na “doutrina” Cristã medieva. Na sua essência, trípticos como este, poderiam integrar o programa decora-tivo e devocional de retábulos ou altares em Ermidas, Capelas ou Igrejas de cariz público. Contudo, na sua maioria, contribuíram para a afirmação das “imagens de culto” nos espaços de oração íntima/residencial, nos altares privativos ou nas capelas de fomento particular trecentistas (séc. XIV), ou posteriores. Cronologicamente inserido na ambiência criativa do séc. XIV e destacado, nos dias de hoje, pela sua raridade e regular estado de conservação, este tríptico conjuga sob o mesmo suporte as propriedades volumétricas do entalhe (acto de esculpir a madeira), o brilho e o requinte de douramento e, por último, o colorido da pintura polícroma (pintura de várias cores). Deste modo, com os volantes laterais preenchidos por Apóstolos imberbes (sem barba), de cabelo longo, na posse de alva e manto sobreposto, hierá-ticos, frontais e estilizados em alto e baixo-relevo, figurando uma possível alusão a São João Evangelista. No corpo central/painel central deste tríptico (de largura superior face aos volantes laterais), contempla-se a represen-tação iconográfica, sob fundo dourado, de uma “Crucificação Simbólica/Drama do Calvário”. Constituída pela modelagem em alto e baixo-relevo de Jesus crucificado de quatro cravos (duas mãos e dois pés pregados indivi-dualmente na cruz), vivo, barbado, de cabelo longo modelado verticalmente e rematado por extremidades onduladas, nimbado (com nimbo cruciforme - de cruz pátea - envolvendo o seu rosto perfilado); com tronco dinamizado por tentativas rudes de realismo anatómico e com um panejamento púdico, o Perizonium, caído a partir dos quadris (cintura), e estendido até à proximi-dade dos joelhos da figura. Ladeando a composição volumétrica de Jesus, encontra-se a pintura polícro-ma e contornada da Virgem (Maria), e de João Evangelista alado (com asas, análogas às do seu atributo iconográfico regular, a Águia). Ambos nimbados, direccionados a Cristo, endossando alva/túnica interior e manto sobreposto.

Arte móvel: “Tríptico Medieval”Descrição histórico-artística

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Page 32: Arte Medieval no Museu

Arte Medieval no Museu: A matéria e as formas - “Tríptico Medieval”

Volantes laterais (agregados ao corpo/painel central por metal basculante – dobradiças) - Escultura de alto e baiComposições estilizadas, ausentes de atributos identitários, hieráticas, de cariz frontal e com anatomia oculta pela indumentádo rosto e das mãos, posicionadas junto ao abdómen/peito) . Orantes, estes Apóstolos imberbes, com cabelo longo caído vevestem túnica/alva interior de tonalidade vermelha e manto sobreposto verde. Dois panejamentos dinamizados por pregueados

Arcadas simuladas em alto e baicapitel de estrutura apr

Fundo resplandecente:Revestido com

e contornada (conjugando verde e vermelho).

envolto por nim

costelas e abdómen.Em termos de indumentária, possui apenas um perizonium (“mático (em tons de verde e vermelho), e que se estende desde os quadris – cintura - até à projoelhos.

Corpo central / Pnada, pictoricamente concebida sob fundo dourado:À esquerda de Jesus surge Maria, sua mãmanto sobreposto v

(João - àguia, Marcos – leão (alado), Lquia celeste)).

“Tríptico Medieval”

(Três caixas de madeira de formato rectangular, gravadas e articuladas entre si por dobradiças)

e João Evangelista); Volantes laterais: Figurações estilizadas (Apóstolo imberbe, João Evangelista (?)) - Escultura de alto – relevo, douramento (?) e pintura, madeira policromada, séc. XIV. 1957.0104 – MSML: Sala 1 – Sala de Nossa Senhora do “O”.

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Page 33: Arte Medieval no Museu

lantes laterais (agregados ao corpo/painel central por metal basculante – dobradiças) - Escultura de alto e baixo - relevo: de cariz frontal e com anatomia oculta pela indumentária (à excepção

posicionadas junto ao abdómen/peito) . Orantes, estes Apóstolos imberbes, com cabelo longo caído verticalmente, . Dois panejamentos dinamizados por pregueados “rudes”, esca-

Arcadas simuladas em alto e baixo-relevo (arcos de volta perfeita suportados por colunas com base, fuste e capitel de estrutura aproximada aos utilizados nos pórticos/portais Românicos e Góticos).

undo resplandecente: estido com “patine”/pintura de douramento, pontuada, no seu plano superior, por dois signos cruciformes

e contornada (conjugando verde e vermelho).

volto por nimbo cruciforme (composto por fundo verde e cruz pátea vermelha). A par do crânio, a sua

costelas e abdómen. Em termos de indumentária, possui apenas um perizonium (“pano do pudor”), longo, com pregueados, dicro-mático (em tons de verde e vermelho), e que se estende desde os quadris – cintura - até à proximidade dos

po central / Painel central – Figuras complementares do “Drama do Calvário: Pintura polícroma e contor-toricamente concebida sob fundo dourado:

À esquerda de Jesus surge Maria, sua mãe, nimbada, com véu sobre a cabeça, túnica interior/alva vermelha, manto sobreposto verde e em posição comunicativa.

oão - àguia, Marcos – leão (alado), Lucas – boi/touro (alado) e Mateus – criança alada / elemento da hierar-quia celeste)).

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Page 34: Arte Medieval no Museu

A estética medieval replicada na contemporaneidade: “Tríptico Medieval”

“Tríptico Medieval”

(Três caixas de madeira de formato rectangular, gravadas e articuladas entre si por dobradiças)

e João Evangelista); Volantes laterais: Figurações estilizadas (Apóstolo imberbe, João Evangelista (?)) - Escultura de alto – relevo, douramento (?) e pintura, madeira policromada, séc. XIV. 1957.0104 – MSML: Sala 1 – Sala de Nossa Senhora do “O”.

“Tríptico Medieval”

Escultura de alto/baixo-relevo: recriaçãoaglomerado de cortiça, dos rasgos estéticosde um tríptico de cronologia trecentista (séc. XIV).Manuel Augusto Fontes, séc. XXI – 2011.MSML: Sala 1 – Sala de Nossa Senhora do

Analogia formal e

(“Tríptico Medieval”, madeira policromada, séc. XIV – Réplica: “Trípti-co Medieval”, aglomera-do de cortiça, séc. XXI).

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Page 35: Arte Medieval no Museu

Volantes laterais: Figurações estilizadas em alto/baixo-relevo, de dois Apóstolos imberbes (João Evangelista (?)).

-relevo: recriação, em iça, dos rasgos estéticos

de um tríptico de cronologia trecentista (séc.

XI – 2011.MSML: Sala 1 – Sala de Nossa Senhora do “O”.

Arcadas simuladas em alto/baixo-relevo (arcos de volta perfeita suportados por colunas com base, fuste e capitel).

Corpo central / Painel central – modelagem em alto/baixo-relevo:

posse de Perizonium púdico.

Corpo central / Painel central – Tríptico original: pintura polícroma e contornada / Réplica contemporânea: modelagem em baixo-relevo: João Evangelista direccionado a Jesus, nimbado, alado, endossando alva/túnica interior e manto.

Corpo central / Painel central – Tríptico original: pintura polícroma e contornada / Réplica contemporânea: modelagem em baixo-relevo:

interior e manto sobreposto.

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Page 36: Arte Medieval no Museu

As estruturas tripartidas na arte existente em Portugal ou de feitoria portuguesa - Sécs. XIV a XX- O Tríptico trecentista (séc. XIV) do MSML como ponto de partida para a percepção da presença e importância do uso de estruturas tripartidas na História da Arte portuguesa, entre a Idade média e a contemporaneidade

Sécs. XV - XVI

Sécs. XIX - XX

Sécs. XIV - XVSéc. XIV

“Virgem abrideira” (escultura mariana que se abre e exibe três painéis esculpidos - corpo central e volantes laterais com dobradiças) Escultura de vulto pleno e

policromado, séc. XIV. Évora, Diocese - Tesouro da Sé de Évora/Museu de Arte Sacra da Sé de Évora. - Ext.: http://www.inventarioaevora.-com.pt/acessibilidade/rotei-ro_t2_01a.html - 12/08/2014, 15 h 17 m.

“Tríptico do Infante Santo - D. Fernando” (Painel rectangular dividido em três partes)Original de autoria desconheci-da, pintura de óleo sobre madeira de Carvalho, ca. 1450 - 1460. Lisboa, Museu Nacional de Arte Antiga - Ext.: http://re-servasescolhidas.blogs-pot.pt/2009/03/triptico-do-in-fante-santo-d-fernando.html - 12/08/2014, 15 h 39 m.

Tríptico ”A Vida”Original de António Carneiro (1872—1930), pintura de óleo sobre tela, 1899 - 1901. V.N. de Famalicão, Fundação Cupertino de Miranda - Ext.: http://www.f-cm.org.pt/Museu.aspx?p=co-leccao - 12/08/2014, 17 h 00 m.

Séc. XV

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Page 37: Arte Medieval no Museu

Sécs. XVI - XVII

Séc. XIV

“Tríptico da Natividade” (Painel rectangular dividido em três partes)Escultura de alto/baixo-relevo, Prata dourada e policromada, sécs. XIV - XV. Guimarães, Museu Alberto Sampaio - Ext.: http://masampaio.culturanor-te.pt/pt-PT/colec/ouriv/Conten-tDetail.aspx?id=219 - 12/08/2014, 15 h 29 m.

“Tríptico Medieval” (Três caixas de madeira de formato rectan-gular, gravadas e articuladas entre si por dobradiças)

simbólica - Drama do Calvário”

Evangelista); Volantes laterais: Figurações estilizadas (Apósto-lo imberbe, João Evangelista (?)) - Escultura de alto – relevo, douramento (?) e pintura, madeira policromada, séc. XIV. 1957.0104 – MSML: Sala 1 – Sala de Nossa Senhora do “O”.

“Tríptico da Sagrada Parentela” (estrutura tripartida com corpo central e volantes laterais com dobradiças)Escultura de alto/baixo-relevo, Madeira dourada e policroma-

da Antuérpia, ca. sécs. XV - XVI. Torre de Moncorvo, Igreja Matriz de Torre de Moncorvo - Ext.: http://1.bp.blogspot.com/--z53YobGsWZ4/USGBZXLdprI/ - AAAAAAAARCQ/8s5JJ77z-QE0/s1600/DSC02473.JPG - 12/08/2014, 16 h 10 m .

“Virgem com o menino, São Pedro, São João, São Filipe e São Tomé” (Três caixas de

articulados com dobradiças)Escultura de alto/baixo-relevo, de origem cíngalo - portugue-

Lisboa, Colecção Cabral Moncada - Ext.: http://www.-cml.pt/cml.nsf/arti-gos/E4E4773A3D-D7B7308025791F0036DB7C - 12/08/2014, 16 h 27 m.

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Page 38: Arte Medieval no Museu

Arte Medieval no Museu - A Arte e a História social, cultural, económica e criativa de um território: A Terra de Santa Maria entre os sécs. XIII a XV

Castelo de Santa Maria da Feira Recriação em cortiça natural da ambiência pictórica da dádiva concelhia em prata tributada a Américo Thomaz na sua visita de 14 de Setembro de 1970. Que, por sua vez, sintetiza em escala reduzida parte da Praça de armas, da Alcáçova / Torre de Menagem e dos seus quatro característicos coruchéus cónicos, das ruínas do Paço dos Condes e da Casamata abobadada do Castelo de Santa Maria da Feira. Um monumento constantemente reformado entre os sécs. IX a XVIII. Um reconhecido marco da arquitectura militar por-tuguesa e secular centro bélico, cívico, administrativo e religioso de uma “região”, a Terra de Santa Maria. Integrante das “batalhas” e movimentações que origi-naram a fundação de Portugal, subsistiu no tempo e no espaço tornando-se, nos dias de hoje, no monumento mais emblemático do actual concelho de Santa Maria da Feira.

Escultura de vulto pleno, Cortiça natural, séc. XX – ca. 1970. MSML: Sala 9 - Pavilhão da Cortiça / Sala da Cortiça.

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Page 39: Arte Medieval no Museu

“(…) As “Terras de Santa Maria”, “berço” do actual município de Santa Ma-ria da Feira. Uma designação antiga (…) aludindo aos actuais concelhos de

Albergaria-a-Velha, Arouca, Castelo de Paiva, Espinho, Estarreja, Gondomar, Murtosa, Oliveira de Azeméis, Ovar, São João da Madeira, Santa Maria da

Feira, Sever do Vouga, Vale de Cambra e Vila Nova de Gaia (…)”

Aa. Vv. - Atlas de Santa Maria da Feira: 35 anos de Caminho , da Democracia à União Europeia, um tempo de excelência. St.ª M.ª da Feira, 2009, pp.103 a 117.

Após analisar e expor as características das esculturas medievais existentes no acervo do MSML, partiremos da obra de arte, como resultado material de um povo, gosto, época, sociedade e cronologia específica, para regis-tarmos sucintamente os principais acontecimentos históricos, identitários, administrativos, devocionais, artísticos e patrimoniais da Terra de Santa Ma-ria entre os séculos XIII a XV (espaço geográfico que, em parte e nos dias de hoje sob o desígnio “Concelho de Santa Maria da Feira”, integra a freguesia de localização do MSML, ou seja, Santa Maria de Lamas).

Deste modo, apesar das esculturas de “N.ª Sr.ª do O”, do “Santo Antão” e do “Tríptico Medieval “ porventura não terem sido realizadas sob mece-nato comprovadamente santamariano e apenas tenham chegado a este território em plena década de 50 do século XX, por aquisição de Henrique Amorim e incorporação no MSML, a sua conservação actual e mesmo a própria proximidade estilística que apresentam, quando comparadas com algumas obras medievais concebidas exclusivamente para a Terra de Santa Maria e que prevalecem intactas nos dias de hoje, levam-nos à descoberta da conjuntura local.

Ou seja, através da linha cronológica apresentada, formula-se uma síntese de acontecimentos, curiosidades, medidas e concretizações marcantes para Terra de Santa Maria medieva (envolventes da produção artística , gosto e opções locais), durante as centúrias de XIII a XV. Respectivamente o inter-valo cronológico que alberga a produção das peças de Imaginária medieval em madeira e “calcário mole” / “Pedra de Ançã”, que integram o conteúdo deste boletim e o acervo do Museu.

A História e a Identidade; o Culto; a Arte e o Património da Terra de Santa Maria entre os séculos XIII a XV.

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Page 40: Arte Medieval no Museu

Arte Medieval no Museu - A Arte e a História social, cultural, económica e criativa de um território: A Terra de Santa Maria entre os sécs. XIII a XV

Séc. XIII

Ca. 1239 d. C.

Afonso III, executou uma série de doações à “Ordem de Malta nas Terras de Santa Maria”. Doações que possivel-mente estiveram na origem

o séc. XIII da Igreja Matriz de Rio Meão (território e templo sob jurisdição da Ordem).

Após 1239 d. C. Chegada, à Terra de Santa Maria, nomeadamente a Rio Meão de uma escultura em “Pedra de Ançã”, de possí-vel feitoria coimbrã representativa de Santiago Maior, posicionada no nicho central da frontaria da Igreja Romanico / Gótica de Rio Meão.

“Santiago Maior”Escultura de vulto pleno, Pedra

Coimbrã (?) de ca. séc. XIV. Rio Meão, nicho central existente na frontaria da Igreja Matriz Romani-co/Gótica (ca. sécs. XIII - XIV), de Rio Meão (Cortesia de José Amorim).

Séc. XIV

Ca. séc.. XIV d. C. A centúria de trezentos marca o início de uma pande-mia generalizada que assolou toda a Europa, dizimando rapidamente as suas popula-ções. Este surto, designado como “Peste Negra”, prolon-gou-se permanentemente até ao séc. XVI – registando--se ainda focos infecciosos pontuais, em plenos sécs. XVIII e XIX.

Ca. 1323 d. C.

bélico entre D. Dinis e o Futuro rei D. Afonso IV (1291 – 1357), o “Castelo de Santa Maria” teve, segundo relatos, um papel assinalável na

D. Afonso IV com os castelos de “Gaia” e de “Santa Maria”).

Ca. 1348 d.C.Segundo o relato documental das“Memórias paroquiais de São MArcozelo” (à época, uma dependência da

violência do surto pandémico deNegra”, em 1348 “Santa Maria de Melada(área da Terra de Santa Maria, perte à actual freguesia de Mozelos), extinta, a “Reitoria de Santa Maria de Lamas” (pertencente à

e na “Abadia de OleiroTerra de Santa Maria coractual freguesia de São resistiram apenas cinco habitantes

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Ca. 1251 d. C. Presença nas “Inquirições de D. Afonso III”, do estabeleci-mento das obrigações dos povos para com o Castelo e Paço régio da Terra de Santa Maria.

Ca. 1300 d. C. No património (dote), de D.ª Isabel de Aragão (“Rainha Santa Isabel”) (ca. 1270 – 1336) D. Dinis (1261 – 1325) incluiu o “Castelo de Santa Maria”.

Segundo o relato documental das “Memórias paroquiais de São Miguel de

(à época, uma dependência da

o pandémico de “Peste Santa Maria de Meladas”

rra de Santa Maria, pertencen-ual freguesia de Mozelos), foi

Reitoria de Santa Maria de tencente à Terra de Santa

Abadia de Oleiros” (território da rra de Santa Maria correspondente à tual freguesia de São Paio de Oleiros),

resistiram apenas cinco habitantes.

Ca. 1382 d. C.A Terra de Santa Maria, por doação, passa a pertencer ao domínio de Afonso Telo (1310-1381), 4.º Conde de Barcelos e irmão da Rainha D.ª Leonor Teles (1350 – 1386).

Ca. 1383 - 1385 d. C.Durante a crise existente neste triénio, o Castelo e o “Senhorio de Santa Maria” prestaram apoio a Castela.Em 1385 os domínios santa-marianos foram entregues a D. João I (1357 – 1433) – “Mestre de Avis” - sendo o Castelo cedido a João Rodri-gues de Sá e a Terra de Santa Maria a Álvaro Pereira.

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Ca. sécs. XIV - XV d. C.Do ponto de vista do gosto artístico local, durante este período cronológico, a Terra de Santa Maria revelou grande apreço e interesse pelas potencialidades plásticas e materiais da “Escola (s) / guilda (s)/”corporação (ões)” /

de pedra calcária, sobretudo Pedra de Ançã, e cujos expoentes das centúrias de trezentos e quatrocentos foram o “Mestre Pêro” (ca. séc. XIV) e Diogo Pires “o Velho” (ca. séc. XV).

Santa Luzia Escultura de vulto pleno, Pedra Calcária/Pedra de Ançã policroma-

XIV – XV. Santa Maria da Feira, Capela de Nossa Senhora da Encarnação (Castelo de St.ª M.ª da Feira) – Ext.: http://www.pro-f2000.pt/users/avcultur/aveidistri-to/Bole-tim15/Imagens/page56c.jpg - 03/08/2014, 16 h 02 m.

“Nossa Senhora do Castelo” Escultura de vulto pleno, Pedra Calcária/Pedra de Ançã policroma-

XIV – XV. Santa Maria da Feira, Capela de Nossa Senhora da Encarnação (Castelo de St.ª M.ª da Feira) – Ext.: http://www.pro-f2000.pt/users/avcultur/aveidistri-to/Boletim15/Imagens/page59.jpg - 03/08/2014, 16 h 07 m.

Escultura de imaginária masculina

Escultura de vulto pleno, Pedra Calcária/Pedra de Ançã policroma-

XIV – XV. São Paio de Oleiros, nicho central abobadado do frontão triangular da Igreja de São Paio de Oleiros (Cortesia de José Amorim).

Séc. XV

Ca. 1425 d.C.Devido à frequência pestímortalidade elevada e conse-quente escassez populacio-nal, em 1425 as Igrejasmarianas” da “Reitoria de Santa Maria de Lama“Abadia de Oleiros” (acmente São Paio de Oleiros), foram anexadas a “São Miguel de Arcozeloépoca integrante da Santa Maria.

Séc. XIV

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Devido à frequência pestífera, talidade elevada e conse-

quente escassez populacio-nal, em 1425 as Igrejas “santa-

“Reitoria de Santa Maria de Lamas” e da

s” (actual-io de Oleiros),

São iguel de Arcozelo” – à

época integrante da Terra de

Ca. 1448 – 1472 d. C. Em 1448, após solicitação e mediante compromisso de reparação arquitectónica, Fernão Pereira recebeu de D. Afonso V (1438 – 1481) a alcaidaria do “Castelo de Santa Maria”.A partir de 1472, Ruy/Rodrigo Vaz Pereira recebeu por decreto de D. Afonso V, o título de “I Conde da Feira”, herdando do pai a posse do “Castelo de Santa Maria”.

Castelo de Santa de Santa Maria da Feira Original de Manuel de Macedo (1839 – 1915) (?), pintura de agua-rela sobre papel (?), ca. 1900 – 1915 (reproduzida no Diploma de associado honorário, impresso

Estatística); atribuído a Henrique Alves Amorim (1902 – 1977) por Associação brasileira (sediada no Rio de Janeiro), tributária da génese, identidade e património feirense, no dia 29 de Setembro de 1957), 11,5 cm x 19,3 cm. MSML: Sala 6 – Galeria do Fundador.

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Fontes e BibliografiaAa. Vv. - Atlas de Santa Maria da Feira: 35 anos de Caminho , da Democracia à União Europeia, um tempo de excelência. St.ª M.ª da Feira, 2009.

Aa. Vv. – Imaginária feminina na arte sacra portuguesa. Processos de Conservação e Restauro – Colecção do Museu de Santa Maria de Lamas. Santa Maria de Lamas: Multitema, 2005.

PEREIRA, Paulo - Arte Portuguesa. História Essencial. Maia: Temas e debates / Circulo de Leitores,2011.

TEIXEIRA, Vítor Gomes - “Fragmentos sobre a Imaginária feminina na Iconografia religiosa portuguesa” in Aa. Vv. – Imaginária feminina na arte sacra portuguesa. Processos de Conservação e Restauro – Colecção do Museu de Santa Maria de Lamas. Santa Maria de Lamas: Multitema, 2005.

Recursos electrónicos http://1.bp.blogspot.com/-z53YobGsWZ4/USGBZXLdprI/ - AAAAAAAARCQ/8s5JJ77zQE0/s1600/DSC02473.JPG - 12/08/2014, 16 h 10 m . http://www.cml.pt/cml.nsf/artigos/E4E4773A3DD7B7308025791F0036DB7C - 12/08/2014, 16 h 27 m.

http://www.fcm.org.pt/Museu.aspx?p=coleccao - 12/08/2014, 17 h 00 m. http://www.inventarioaevora.com.pt/acessibilidade/roteiro_t2_03.html - 11/08/2014, 16 h 32 m.

http://www.inventarioaevora.com.pt/acessibilidade/roteiro_t2_01a.html - 12/08/2014, 15 h 17 m. http://masampaio.culturanorte.pt/pt-PT/colec/ouriv/ContentDetail.aspx?id=219 - 12/08/2014, 15 h 29 m. http://memoriasimagens.blogspot.pt/2012/12/a-senhora-do-o.html - 11/08/2014, 12 h 14 m. http://memoriasimagens.blogspot.pt/2013/12/17-dias-para-o-natal-nossa-senhora.html - 11/08/2014, 12 h 30 m.

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http://www.prof2000.pt/users/avcultur/aveidistrito/Boletim15/Imagens/page56c.jpg - 03/08/2014, 16 h 02 m. http://www.prof2000.pt/users/avcultur/aveidistrito/Boletim15/Imagens/page59.jpg - 03/08/2014, 16 h 07 m. http://reservasescolhidas.blogspot.pt/2009/03/triptico-do-infante-santo-d-fernando.html - 12/08/2014, 15 h 39 m. http://silentstilllife.blogspot.pt/2010/05/o.html - 11/08/2014, 12 h 09 m.

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