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AGÊNCIA ECCLESIA Diretor: Paulo Rocha | Chefe de Redação: Octávio CarmoRedação: Henrique Matos, José Carlos Patrício, Lígia Silveira,Luís Filipe Santos, Margarida Duarte, Sónia NevesGrafismo: Manuel Costa | Secretariado: Ana GomesPropriedade: Secretariado Nacional das Comunicações Sociais Diretor: Cónego João Aguiar CamposPessoa Coletiva nº 500966575, NIB: 0018 0000 10124457001 82.Redação e Administração: Quinta do Cabeço, Porta D1885-076 MOSCAVIDE.Tel.: 218855472; Fax: [email protected]; www.agencia.ecclesia.pt;

04 - Editorial: Paulo Rocha06 - Foto da semana07 - Citações08 - Nacional14- Opinião: D. Manuel Linda16- A semana de... Luis Filipe Santos18- Dossier São Bento e a Europa40 - DNPJ

42 - Internacional48 - Cinema50 - Multimédia52 - Estante54 - Vaticano II56- Agenda58 - Por estes dias60 - Programação Religiosa61 - Minuto YouCat62 - Liturgia64 - Fundação AIS66 - Intenção de oração68 - Luso Fonias70 - Cáritas Portuguesa72- Opinião: Padre Álvaro Pacheco

Foto da capa: Santuário de São Bento da Porta Aberta.Foto da contracapa: Agência Ecclesia

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Opinião

Austeridade ecusto humano dacrise[ver+]

Papa recebeuBarack Obama[ver+]

Cáritas contra aFome[ver+] Paulo Rocha| D. Manuel Linda | TonyNeves | Márcia Carvalho | ÁlvaroPacheco

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As pessoas e o país das pessoas

Paulo RochaAgência Ecclesia

Não são poucos os casos em que as exigênciasde um percurso académico ou os compromissosprofissionais obrigam pessoas a estados deligação permanente a estantes de livros, portaiseletrónicos ou debates entre classes que seestreitam cada vez mais. E permanecemaprisionados a hábitos de vida que não seafastam destes mundos, mesmo quando existemdias livres que conduzem a átrios de um qualquerhotel ou a viagens transcontinentais. Em todosos casos, procura-se a rede pessoal oueletrónica que permita a sobrevivência no únicohabitat conhecido.A sociedade contemporânea parece reger-se porperfis assim definidos. Eles estão presentes emtodos os meios e “disparam” em todas asdireções, tanto a política, social, económica ecomo aquelas que incluem o registo “cool” dostempos modernos, as ambientais ou planetárias.E daí se retiram notícias, muitas notícias,comunicados e desmentidos, acusações ereações. Sempre a alimentar o circo mediáticoque mais não é do que aquele que a plateiapaga para ver. E gosta de ver.Neste mundo, parece que não há pessoas, nemse consideram. Apenas números, estatísticas,convergências, metas…Mas há também um outro mundo, o que é feitode pessoas, de comunidades, de relações sadiasentre seres. E é bem mais

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relevante do que o mediático,habitado por muitos mais indivíduose com grandes histórias que dãosolidez e sentido a cada cidadão eao grupo que constituem. Pena éque estes dois mundos nem sempreestejam em contacto. De lamentarsobretudo que seja o primeirodeterminar regras para todos,mesmo para aqueles que nuncaviram e, por isso, desconhecem.Antes de escritas, estas ideiasforam rodeando uma frase, ouvida ecomentada há semanas: "A vida daspessoas não está melhor mas opaís está muito melhor".Ainda serão pessoas as quehabitam este país que está “muitomelhor”?

Mais do que comentar a sentençadita por vozes políticas, anoto com oconformo possível a interpretaçãofeita pela Comissão Nacional Justiçae Paz no documento programáticopara o Tempo da Quaresma.“Há mesmo quem entenda que o‘país’ está melhor, embora os‘portugueses’ estejam pior.Independentemente do que se querdizer com essas observações, o quepreocupa é que assim se estabelecea dicotomia entre o país e osportugueses, assimilando o primeiroa alguns indicadores instrumentaisde duvidosa evolução, por um lado,e as condições de vida daspessoas, que são (deveriam ser) arazão de ser da economia e dasfinanças, por outro”.

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Temos de nos lembrar do primado das pessoas, dos cidadãos, sobreos mercados. Os mercados existem porque existem pessoas.Duarte Freitas, presidente do PSD/Açores, Ponta Delgada, 25-03-2014

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Portugal recebeu com a maiorpreocupação a notícia sobre acondenação à pena de morte, numtribunal egípcio, de 529 membros daIrmandade Muçulmana e espera queas sentenças possam vir a serreconsideradas, em conformidadecom a tendência global para aabolição da pena de morte.Governo Português, Lisboa, 25-03-2014 A maioria das empresas não éamiga da natalidade; prejudicaas mulheres, sobretudo emidade fértil, com mecanismosque chegam a raiar oinimaginável. Por isso asmulheres temem ter um filho,porque isso conduz a umapenalização no trabalho.Joaquim Azevedo, coordenador dogrupo de trabalho governamentalsobre a natalidade, Viseu, 25-03-2014 Este relatório é preocupante eevidentemente que não é o alertar oGoverno para esta situação, porqueo Governo está consciente dosproblemas da pobreza em Portugal,mas chama-nos a todos pararedobrar os esforços no combate àpobreza.Artur Rêgo, deputado do CDS-PP,Lisboa, 25-03-2014

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Cáritas aponta injustiças naausteridadeA Cáritas Europa apresentou hoje,na Grécia, o segundo relatório deacompanhamento da crise intitulado‘A crise europeia e o seu custohumano’, alertando para “injustiçada atual situação” que vitima osmais pobres.“Neste relatório sai reforçada umadas tónicas já evidenciadas noprimeiro e que aponta para ainjustiça da atual situação em quesão os contribuintes, a maioria delesjá em condições de fragilidadeeconómica, a pagar por uma criseque tem a sua raiz no setorfinanceiro”, pode ler-se numcomunicado enviado à AgênciaECCLESIA pela organizaçãocatólica.A opção pela austeridade é outrodos pontos assinalados nesterelatório que alerta para o facto deesta não poder ser encarada “comoúnica solução, por si só, por nãochegar para resolver as causasestruturais da crise nem osproblemas imediatos delaresultantes”.Em relação a Portugal, o relatórioretoma preocupações já veiculadasno primeiro documento

e faz uma análise, tendo em conta asituação existente até final de 2013.“É óbvio que algumas daspreocupações evidenciadas vãopoder já ter sofrido ligeirasalterações, contudo, destaca-se: oaumento galopante da dívidapública que, em 2012, foi o maior daUnião a Europeia a 27; o apoio àrecapitalização do setor bancárionão se refletiu na economia real(persiste a falta de acesso aocrédito das PME); a atividadeeconómica só começou a dar sinaispositivos nos finais de 2013, aocontrário do que se anunciava”.O relatório recorda ainda “ainstabilidade política vivida no verãodo último ano que gerou reaçõesmenos positivas nos mercados e aforma como se tem procuradoalcançar as metas do programa datroika, em particular, o forte aumentotributário e os cortes salariais e naspensões de reforma, entre outros”,como questões preocupantesquando se analisa o crescimentoeconómico do país.

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Os signatários do relatório deixamalgumas recomendações, das quaisse salientam a necessidade de“trabalhar com os Estados Membrospara que eles introduzam iguaisindicadores a nível nacional;garantir a introdução de umrendimento mínimo em toda a UniãoEuropeia; disponibilizar fundosespecíficos para contrariar oelevado desemprego jovem,combatendo também os desafioscom a mobilidade deste grupoetário”.

A Cáritas Europa endereça tambémalguns conselhos para os governose autoridades locais que passampelo “fortalecimento dos sistemas deproteção social; pelo investimentoem serviços básicos de qualidade eintrodução de uma avaliação deimpacto social; pela criação de umquadro máximo de impostos paraaqueles que não têm possibilidadesde pagar mais e pelo combate àevasão fiscal e a economiaparalela”, entre outros.

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Patriarca de Lisboa recordacentralidade do trabalhoO patriarca de Lisboa, D. ManuelClemente, afirmou que a IgrejaCatólica tem recordado aimportância do trabalho como uma“realidade prioritária para adignificação do ser humano”, nestetempo de crise, elogiando aintervenção dos leigos.O também presidente daConferência Episcopal falava àentrada para o colóquio sobre ‘Olugar do Pensamento SocialCristão na construção da Cidade’,promovido esta quarta-feira pelaAssociação de Estudantes deTeologia de Lisboa da UniversidadeCatólica Portuguesa (UCP). “Temoscristãos desassombrados”,declarou D. Manuel Clemente,aludindo à “quantidade de leigos”católicos “assumidamente”presentes nas “frenteseconómicas, sociais, empresariais,políticas”.D. Manuel Clemente sublinhou queaos bispos compete “apresentar osgrandes princípios do Evangelho” ea Conferência Episcopal tem“abundantemente tidopronunciamentos sobre essastemáticas”.

O responsável foi ainda questionadosobre a afirmação do primeiro-ministro português, Pedro PassosCoelho, que esta terça-feiraapresentou a redução dasdesigualdades sociais como umaprioridade do Estado. “Esperomesmo que seja assim”, afirmou opatriarca de Lisboa. destacando anota pastoral publicada em novembrode 2013. Sublinhou ainda os“pronunciamentos sucessivos” deinstituições como a ACEGE ou aLOC/MTC sobre a atual situação dopaís, e considerou “legítimo” queexistam várias opções.“Há aqui um pluralismo de opçõesface a uma situação que éefetivamente complexa ecomplicada”, precisou.

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Sistema de governação continua agerar pobresA Rede Europeia Anti-Pobreza emPortugal diz que a existência dedois milhões de portugueses emsituação precária no país “é umachamada de atenção” para que aspolíticas que têm sido seguidas nosúltimos anos “possam seralteradas”.Em entrevista concedida à AgênciaECCLESIA, o presidente daqueleorganismo, padre AgostinhoMoreira, sublinha a necessidade demudar um “sistema de governaçãoque continua a produzir muitospobres”, antes que esta situaçãose torne “galopante”. Para osacerdote, “é necessária umaestratégia que envolva asentidades públicas e privadas” e oestabelecimento de “parcerias,particularmente com as redessociais locais, com as autarquias”,que permitam responder às“causas da pobreza”, que são denatureza “estrutural“. “Tem a vercom a gestão e a economianacional, que gera estasassimetrias enormes e tira àspessoas o acesso a oportunidadesbásicas da saúde, do ensino e atéda habitação”, exemplifica.

Um inquérito publicado pelo InstitutoNacional de Estatística (INE) sobre asCondições de Vida e Rendimento dosportugueses, divulgado estasegunda-feira, permitiu identificar 1961 122 casos de pessoasatualmente no limiar da pobreza,quase 19 por cento da população dopaís.A situação agravou-se nos últimosnove anos, atingindo principalmenteos desempregados, as famílias comfilhos a cargo e os jovens menoresde 18 anos.“Manter as coisas como estão não écaminho”, reforça o padre AgostinhoMoreira, que propõe “um estudosério” sobre a situação daspopulações, o que é que conduziu aeste cenário negativo e o que podeser feito para o alterar.

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A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram aatualidade eclesial portuguesa nos últimos dias, sempre atualizadosem www.agencia.ecclesia.pt

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Programa de rádio «Encontros com o Património» distinguido pelaUnião Europeia

Apresentação do Congresso sobre os 500 anos da Diocese do Funchal

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A amizade civil

D. Manuel LindaBispo das ForçasArmadas e de Segurança

Hoje trago à liça um tema da doutrina social daIgreja fortemente desatendido nos tempos quecorrem: o da “amizade civil”. Que é isso?A amizade civil é o estádio de harmonia socialnão imposta, mas livre e arduamente construída,não obstante as legítimas diferenças. Passa pelaproposta de um objectivo entusiasmante ou deuma meta que comprometa e mobilize nadirecção do que conhecemos, mas que nemsempre vivemos: em ordem à «semelhança» ouirmandade, pois somos chamados a viver como«inteira família humana». Na prática, é repropor,de forma menos bacoca e mais autêntica, o velhoprincípio da fraternidade, sempre em correlaçãoestreita com os da liberdade e da igualdade.Creio que nisto todos estamos de acordo. Odrama, porém, acontece quando nosinterrogamos sobre os actores sociais chamadosa edificar este ideal. Vejamos.Fundamentalmente, são três as «forças» quemobilizam a sociedade: a política, a cultura e areligião. Claro que poderíamos ajuntar acomunicação social, a Escola, a tradição, etc.Prefiro, porém, ver estes sectores como causa eefeito dos primeiros.Ora, o que nos é dado observar é que osagentes políticos, regra geral, não primam peloesforço denodado em prol da boa harmoniasocial, muito menos da tal amizade civil.

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Quando se age em função da«caça ao voto», não se buscamconsensos, mas entra-se nadiferença pela diferença.O mesmo se diga das ideologiasindividualistas, ateias e totalitárias:ao veicularem um ponto de vistaque exclui radicalmente os outros,acabam por fracturar edesestabilizar até aos extremos dacisão social e da conflitualidadeinduzida. Diferente é o papel da religião.Sem ignorar que, também ela,pode ceder ao nefasto, típico dasideologias, ao propor a dedicaçãoao próximo, promove integralmentea pessoa, favorece o bem comum eeleva a sociedade no seu todo. Ocristianismo, em concreto, fomentao ideal mais maduro de sociedade,que é a “civilização do amor”,aquele estádio em que a lógica danecessidade é suplantada pela dodom e da gratuidade e em que afilantropia se transforma emcaridade. Isto é, deixa de ser actoisolado para passar a ser virtudeou sentimento íntimo e habitual dejustiça, de boa vontade e dededicação ao bem comum.

Utópico? Não creio. Pelo menos,muitos de nós acreditamos nisto.Neste momento, ressalto o nome dealguém que fez da sua existência umhino à amizade civil: José da CruzPolicarpo. Como homem da Igreja,nunca se coibiu de apresentar adoutrina em que acreditava. Porém,nunca defendeu essa doutrina comoagressão à sociedade e a quempensa doutra forma.Porque assim fez e nos ensinou, comeste texto despretensioso, pretendohomenageá-lo. E agradecer-lhe.

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O Francisco convidou-me paraalmoçar…

Luís Filipe SantosAgência ECCLESIA

Com o aproximar da semana nacional deEducação Moral e Religiosa Católica (EMRC)recordei uma figura incontornável neste domínio.Conheci-o nos finais do século passado nadiocese natal. Apresentado por amigo comum,memorizei os elogios que este lhe fez. Palavrasque guardei e o tempo veio confirmar. Pastor quelê a vida com atos, D. António Francisco dosSantos é um autêntico semeador.Ainda hoje, em conversa com um bispo de umpaís lusófono, as suas qualidades vieramnovamente ao diálogo. É difícil não gostar dobispo eleito do Porto… Sem artifícios delinguagem, o pastor que a diocese de Aveiro«chorou» quando recebeu a notícia da sua idapara as terras do Douro deixa marcasinapagáveis pelos terrenos onde lança sementesevangélicas. Os olhos deste lavrador com oslavradores abraçam as pessoas de formacalorosa. O seu olhar é luminoso e transparente.Dialoga com os mais frágeis e com as elites.Se a cidade de Paris simboliza a luz e a capitalitaliana personifica a arte, D. António Franciscodos Santos consegue reunir estas duascaracterísticas nos seus gestos pastorais.Se Aveiro vê partir «o nosso bispo» (expressãoutilizada por muitos diocesanos), o Porto vairecebê-lo de braços abertos no próximo dia 6 deabril. A imensidão do seu brilho vai iluminar todosos cantos e

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recantos da diocese duriense. Ocalor da sua fogueira aquece ostecidos universitários e a nudez dosmais desprotegidos. O movimentodas suas ondas pastorais espelha oazul da ressurreição. Quemcontacta com ele sente os gestospascais.Recentemente, num programatelevisivo, o jornalista HenriqueCymerman que esteve com o PapaFrancisco numa visita de AbrahamSkorka ao papa argentino relatava oacolhimento caloroso e também asqualidades de Jorge Bergoglio.Aquilo que o jornalista disse doPapa Francisco aplica-se tambémao «nosso Francisco».No dia em que foi nomeado, 21 defevereiro, D. António Francisco dosSantos partilhou com a AgênciaECCLESIA episódios da sua vida.

No final da entrevista teve um gestoque espelha bem a sua forma deestar e de ser. Convidou-nos paraalmoçar… Gestos com aromasbíblicos que iluminam a textura dassuas palavras. Ações que tatuam anova evangelização (A «missãojubilar» é exemplo paradigmático). O Porto está em festa. Acolher é apalavra de ordem para o dia 06 deabril. Uma semana depois, o verborecordar está em destaque visto queo «famoso bispo do Porto» (D.António Ferreira Gomes) faleceu há25 anos. Celebrar a Páscoa é nasemana seguinte… Três domingosque ficam nos anais desta diocese,quando um dia, com a distância quesó o tempo permite, se escrever ahistória deste mês de abril de 2014.

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São Bento, uma porta abertapara a Europa e o mundoCarlos Aguiar Gomes, membro da mesa administrativa da Irmandadede São Bento da Porta Aberta, fala do fascínio que o santo padroeiroda Europa continua a exercer e da importância do santuário situadona Arquidiocese de Braga. Agência Ecclesia (AE) – Há quantotempo é que se envolve nestasquestões de São Bento da PortaAberta?Carlos Aguiar Gomes (CAG) –Diretamente com São Bento daPorta Aberta vai no quinto ano, comSão Bento a minha relação é muitoanterior porque esta figura dahistória da Igreja e da Europaexerce sobre mim um fascínio muitogrande. É um fascínio por umhomem que no silêncio foi capaz decriar um modelo que são osmosteiros, que ainda hoje se podemreplicar fazendo as necessáriasalterações à realidade do séculoXXI. AE – Que local é este do santuáriode São Bento da Porta Aberta?CAG – Nós sentimos que desde aAustrália ao Canadá, da Venezuelaou de qualquer país da Europa háperegrinos que chegam aqui aolongo do ano.

Todos chegam ao santuário de SãoBento da Porta Aberta fascinadospela figura exemplar de São Bentoda Porta Aberta. Uns vêm porquelhe querem agradecer alguma graçaque lhe atribuem junto de Deus,outros vêm pedir o apoio de SãoBento nas mais diversas situações:histórias de amor, de doença, dedesavenças familiares, asmotivações são muito variadas.Neste santuário há este sentimentode vir para encontrar um irmãomaior, uma referência, um amigo e émuito interessante ver que osperegrinos escrevem cartas a SãoBento que são exemplares daternura entre pessoas da mesmafamília porque contêm desabafosque só se contam a pessoas muitopróximas de nós e isto mostra oquanto esta figura de São Bento(que nasceu em 480 naquele que éagora o território italiano) continua aexercer um fascínio muito grande.

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AE – Quais são as preocupações dosantuário de forma a manter vivaesta mensagem de São Bento?CAG – É algo muito interessanteporque foi a devoção dosperegrinos que impôs São Bento àIgreja diocesana nomeadamente. Háuma lenda da origem do santuárioque não tem fundamento histórico,esse foi encontrado em 1980 porum grande investigador dauniversidade de Coimbra, oprofessor Avelino Jesus Costa queera também

cónego da Sé Catedral de Bragaque descobriu em 1980 odocumento em que pela primeira vezse refere, por escrito, que há umaordem para construir uma ermidaque permitisse que os freguesesdesta freguesia pudessem ter umlugar de culto. Não se sabe muitomais que isto sobre as origens dosantuário. O que se sabe é que noséculo XVIII já havia uma grandeafluência de peregrinos, de tal modoque se podem definir caminhos deSão Bento, que vêm da Galiza, donorte de Portugal, mais da beira-marou do interior do país. Portanto, sãoos peregrinos que se vão impondo àIgreja pela sua presença, pela suaconstância. De tal modo que foinecessário criar espaços cada vezmais amplos para que ascelebrações pudessem terdignidade e o mínimo de conforto.Depois no século XIX constrói-se otemplo que hoje é o centro, o íconedo santuário aonde continuam aafluir muitos peregrinos.

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Sobretudo verifica-se que o espaço,apesar de já não ser uma pequenaermida, continua a ser muitopequeno, por isso, entre o final doséculo XX e o início do século XXIconstrói-se a cripta, um amploespaço para albergar os milharesde peregrinos que acorrem aosantuário e que possam participarna celebração da missa e dosofícios religiosos de uma formaconfortável.O Santuário de São Bento da PortaAberta é de facto um espaçosagrado, aberto a todos:peregrinos, crentes mas tambémpara aqueles que se vêmdeslumbrar com a paisagem dasalbufeiras ou da serra do Gerês. AE – E do ponto de vista religiosoque importância temgeograficamente este local?CAG – Eu penso que o santuário deSão Bento da Porta Abertaultrapassou já a dimensão local. Éconsiderado o segundo santuáriode Portugal mais visitado, depois dosantuário de Fátima, dados quenecessitariam de ser avaliados eestudados para perceber se émesmo esta a realidade. O que nóssabemos

é que é um santuário muitíssimovisitado, são centenas de milharesde pessoas que nós recebemostodos os anos. Isso vê-se, porexemplo, pela participação nasmissas ou pela receção da sagradacomunhão dado que são sempredezenas de milhares de partículas aserem distribuídas ao longo do anoo que nos dá uma certa dimensão.Simultaneamente porque estásituado num sítio geográfico,geológico privilegiado há muitaspessoas que vêm simplesmentecomo turistas, para se extasiaremcom a beleza natural. Além dissoneste ponto em que se localiza osantuário existem vários pontosestratégicos do ponto de vistaarqueológico, geológico e termal,entre eles as termas do Gerês, oParque Natural do Gerês e os trilhosromanos que foram recuperados.Por isso as pessoas podemaproveitar para vir aqui pararestaurar forças na naturezaespiritual mas podem tambémrecuperar energias internas de bomar, de descanso, da ausência depoluição sonora e luminosa. É umlocal sempre retemperador mesmopara quem não é crente.

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AE – Sem esquecer essa matrizeuropeia que São Bento deixoutambém como herança…CAG – É muito interessante pensarnisto. O primeiro biógrafo de SãoBento foi um Papa, São GregórioMagno. Cinquenta e poucos anosdepois da morte de São Bento estebeneditino foi eleito Papa, foi umhomem notável, a ele devemos porexemplo a compilação do cantogregoriano. São Gregório Magnoescreve uma

biografia de São Bento e é precisoesperar pelo século XX para que osPapas pegassem na figura de SãoBento e o trabalhassem eapresentassem como o modelo dopadroeiro inspirador de uma Europade paz, de sossego e concórdia.Sobretudo depois da II GuerraMundial em que a Europa foidevastada, foi tudo destruído e PioXII teve a intuição ao escrever umaencíclica, ‘Fulgens Radiator’. Aí eleconseguiu trabalhar a ideia

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de que São Bento apesar de tercriado mosteiros com homens emulheres dedicados ao trabalho eao silêncio, eles foram os grandescabouqueiros da Europa que nóssomos e é interessante que depoisa seguir vem Paulo VI que reforça aideia com a carta apostólica ‘PacisNuntius’, da qual se celebram esteano os 50 anos. Depois o PapaJoão Paulo II agarra São Bento e noano em que se comemorava aconversão ao Cristianismo dosrussos e dos eslavos do norte comSão Cirilo e São Metódio. JoãoPaulo II proclama estes dois santoscom padroeiros da Europa com SãoBento e dizia: “A Europa respira comdois pulmões, a Ocidente com SãoBento e a Oriente com São Cirilo eSão Metódio. É interessante queeste caminho de descoberta emergecom uma força muito grande noséculo XX com Pio XXII, com PauloVI, com João Paulo II e depois já noséculo XXI com Bento XVI. Bento XVInão foi inocente em ter escolhido onome de Papa como Bento, ele quisprestar homenagem a um dos seusantecessores, Bento XV que foi umPapa do início do século XX, umgrande homem que se esforçouimenso por construir a paz durantea I Guerra Mundial.

Não conseguiu mas ele fez opossível e o impossível para que apaz regressasse à Europa. BentoXVI toma esse nome homenageandoBento XV e pegando no exemplo deSão Bento, padroeiro da Europa.Mas o Papa Francisco também nãoestá imune a São Bento ouaos beneditinos porque o lema doseu pontificado é de um beneditino,São Pedro Venerável que diz‘Olhando escolheste-me commisericórdia’, uma ideia que é deSão Pedro Venerável que é tambémmonge beneditino.Portanto os últimos Papas têm dadoimportância a São Bento, à herançade São Bento que não são apenasos beneditinos. Por vezesesquecemo-nos que São Bentocriou uma família alargada, osmonges negros que designamosvulgarmente como beneditinos e osmonges de Cister que são osmonges brancos. Estas duasfamílias de filhos de São Bento comas ordens de cavalaria da IdadeMédia, as ibéricas, pegaram naregra de São Bento e fizeram a sua,um exemplo disso é a Ordem deAvis. Portanto a Europa no silênciodos mosteiros, no seguimento daregra é construída nesta realidadeque conhecemos a partir da regraque São Bento deixou aos seusmonges.

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AE – Paulo VI escrevia há 50 anossobre São Bento: “Com a luz doCristianismo afugentou as trevas eespalhou os benefícios da paz.Assim agora preside à vida daEuropa”. De que forma é que istoestá presente neste santuárioatravés das atividades queorganizam, na forma comoacolhem?CAG – Há uma outra traduçãodessa frase que eu talvez prefiraque diz: “Na cerração da noite”. Istoé quando a noite é muito cerrada,muito escura que era o acontecia nofim do Império Romano. Quandonasce São Bento, em 480, estava acolapsar o Império Romano ecolapsou pela invasão dos bárbarosque encontraram um impériocompletamente destruído por dento.Os bárbaros foram conquistadorescom o trabalho facilitado porque oImpério Romano estava em colapsoque era aquilo a que Paulo XVI sereferia dizendo que havia “umacerração da noite”. São Bento aocriar os mosteiros vai como que“acender” vários luzeiros por toda aEuropa que vão iluminar ereconstruir a Europa. Atualmente,nós estamos num tempo de

penumbra muito forte, vivem-se diasextremamente sombrios. AE – Daí que Bento XVI tambémquisesse trazer essa luminosidadeproposta por São Bento para osdias de hoje tendo em conta arealidade que atualmente se vive?CAG – Absolutamente. Nós aindanão conhecemos muito bem olegado de Bento XVI, ele usou muitodurante o seu pontificado, pela suavida, pela sua forma de celebrar avia da beleza. Uma via da belezaque ele vai “beber” num grandemonge na família de São Bento queé São Bernardo de Claraval. SãoBernardo de Claraval com o seudespojamento queria que a belezado templo não fosse distrativa paraa interioridade que deveriam ter osmosteiros e Bento XVI vai-noschamar a atenção para a via dabeleza. E o Papa Francisco tambémo faz, ainda há pouco tempo, na suaexortação apostólica, dizia que épreciso caminhar na via da beleza.

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AE – Quando um peregrino chegaao santuário de São Bento da PortaAberta a que locais é que se dirige?CAG – Normalmente o peregrinochega e tem um objetivo que é ir aSão Bento, desabafar com umamigo. É muito interessante ver issoporque aos sábados, domingos,durante o período do verão sãodezenas, milhares de pessoas quetodo o dia fluem para tocar naimagem de São Bento. Tenhoconstatado que os peregrinosparam mesmo e sente-se que estaspessoas estão em diálogo. Depoisde dialogarem com São Bento émuito frequente fazerem a suaoração. Provavelmente devia ser aocontrário e primeiro visitar-se “odono da casa” mas Deus

Nosso Senhor que é rico emmisericórdia compreende a fé dossimples e tudo perdoa e tudocompreende. Foram ganhar forçasjunto de São Bento para depoispuderem fazer uma oração maisprofunda. De facto neste santuário oobjetivo de quem aqui chega évisitar, é comunicar, estar e dialogarcom São Bento e há cenas muitobonitas de peregrinos que paramcomo quem para junto da fotografiada mãe ou do pai que já faleceram ediante daquela estátua elesconversam interiormente e nóssentimos isso, que é já um caminhopara encontrar Deus que no fundo éo que nos interessa.(Entrevista na íntegraem www.agencia.ecclesia.pt)

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São Bento, Luzeiro de Ordem naEuropaHá anos passei por Mentorella epude entrar na gruta onde o jovemBento de Núrsia passou emmeditação largo tempo. A partir dointerior daquela pequena caverna,imaginei o que o jovem Bento,nascido em Núrsia, poderia terpensado sobre a possibilidade deum mundo novo iluminado pela Luzde Cristo ou ainda sobre o quedeveria ser uma Europa assente naOrdem que Deus nos oferece e denós quer, ou até uma Igreja atenta edisponível tanto para o Serviço deDeus como, em simultâneo, para oserviço dos homens e dassociedades em que os mesmos secongregam. Num tempo em que aEuropa era pouco mais do que puradesordem e na sua ferocidade oshomens se voltavam em massa unscontra os outros, num tempo, enfim,em que a escuridão do mundo odeixava sem esperança e em espiralde decadência, Bento de Núrsia, nasua Juventude, via já a Luz quehaveria de formalmente instaurar e,a partir dele, chegar a incontáveisoutros homens

e mulheres (estas sobretudo noencalço de Escolástica, irmã deBento), tanto mais que a redebeneditina de conventos e mosteiroshaveria de salpicar em milhares depontos distintos toda esta nossaEuropa, educando-a para oscaminhos de Deus, para a ordemínsita a uma Nova Civilizaçãoassente sobre os alicerces de umacultura inspirada pelo Evangelho eamiga da Vida. O Ideal Beneditinoda Pax Christi e do Ora etLabora está por detrás do que demelhor hoje, mesmo no mundosecularizado, temos. Com a sua Regra, Bento de Núrsiafoi capaz de fazer o que só poucos,e muito raramente, são capazes:integrar o melhor do passado e,fazendo-o, rasgar horizontes paraum novo futuro. E a sua ousadia foitanto mais feliz e providencial,quanto da sua visão e liderançabrotou não só uma novacomunidade de vida religiosa, mastambém, para dizer a verdade, umnovo fulgor de civilização, um novoestímulo cultural, um novo ímpeto noprocesso de configuração,

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ou mesmo formação, desta Europade que somos parte e que,malgrado muitos não o saberem, ousabendo não quererem reconhecer,sem a visão e a ação religiosa deBento de Núrsia nunca teria vindo aser a Europa que, malgrado as suasmuitas crises, é para o mundoimagem de muito do que de melhora Humanidade no seu todo pode (edeve) ser. Refiro-me, naturalmente,à Europa que valoriza o ser humanoe reconhece nele os valores quevêm de Deus; a Europa, portanto,que se faz não pela imposição daforça, mas na procura dos caminhosda Paz. A Regra de São Bentoassenta sobre pilares deextraordinária força e consistência:oração e trabalho, contemplação eação. O ideal beneditino do «ora etlabora», faz-nos reconhecer que nocentro da nossa vida, e da suadignificação, não podem deixar deestar nem a Palavra de Deus, lida,escutada e meditada; nem, claro, aação feita trabalho, o esforço feitoserviço de transformação do mundo.Em Portugal como no restoda Europa, em todas as direçõesque

quisermos olhar, encontram-seinúmeras referências, comevidências mais ou menos fortes, aMosteiros Beneditinos, grandes oupequenos, de homens ou demulheres, e isso é como quem diz, afocos de desenvolvimento eespaços de transformação do realcom os olhos postos no Real porexcelência, que é Deus. Não deixade ser uma das maravilhas dahistória da Europa saber que emmenos de 200 anos depois da mortede São Bento de Núrsia em meadosdo século VI, mais de 1000mosteiros iluminavam já a paisagemeuropeia, distribuindo por todo ocontinente a Sabedoria que nascedo Evangelho e São Bento tão bemsoube articular na sua Regra, umtexto cujo Proémio diz: «(...) épreciso preparar nossos corações enossos corpos para militar na santaobediência dos preceitos; e em tudoaquilo que a nossa natureza tivermenores possibilidades, roguemosao Senhor que ordene à sua graçaque nos preste auxílio.» Patrono daEuropa, São Bento permanece guiaseguro, e imprescindível, para onosso futuro.

João J. Vila-Chã, SJUniversidade Gregoriana, Roma

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Vida e obra de São Bento subsistemcomo convite à mudançaO antigo abade do Mosteiro deSingeverga, frei Luís Aranha,defende que quinze séculos depois,a vida e obra de São Bento deNúrsia (c. 480-c. 547) subsistemcomo um convite “muito claro” àmudança de paradigma na Europa.Em entrevista concedida à AgênciaECCLESIA, no âmbito do 50.ºaniversário da proclamação de SãoBento como patrono da Europa, oreligioso destacou a “atualidade” damensagem do fundador da Ordembeneditina, dentro de um continentemarcado por diversos problemas, deíndole económica, política e social.Onde deveria imperar a“solidariedade, a comunhãofraterna, o sentido da verdade e dajustiça”, valores defendidos por SãoBento e que estiveram na base daComunidade Europeia, reina adivisão, muito por culpa de umconjunto de “grupos de pressão”,nascidos dentro dos países e quedefendem os mais variadosinteresses “paralelos”.Para o frei Luís Aranha, é

fundamental que a Europa “nãoprescinda nem esqueça as suasraízes cristãs, que osmosteiros vieram implantar”. Deusvem “em primeiro lugar” e o homem,porque “criado à imagem esemelhança de Deus”, deve sertratado com toda a “dignidade”,sublinha o religioso, lamentando aforma como os “valores” relativos,como o dinheiro e o poder, se têmimposto no Velho Continente.O antigo abade de Singeverga, oúnico mosteiro masculino da Ordemdos Beneditinos existente emPortugal, na região de Santo Tirso,entende que “a Europa precisa deredescobrir o olhar para a pessoahumana, com toda a beleza quetem, mesmo o irmão mais pobre,mais marginal”. E aqui “São Bento émestre”, já que tudo o que rodeou asua regra, escrita no século VI, “veioa favor do Homem” e como um“apelo a que não haja discriminaçãode pessoas”, recorda.Segundo o monge beneditino, acrise de identidade e de

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valores que ganha peso na Europadeve apelar à mobilização de toda aIgreja Católica. “Comunidadesmonásticas, cristãos empenhados,todos, têm de se preocupar, isto éimprescindível”, sustenta.No caso da Ordem dos Beneditinos,as diversas comunidades sãochamadas a

continuarem a ser “sinais no mundo”de que existe “algo mais” do que alógica dos “mercados” ou do “lucro”.Os mosteiros são um “oásis” de“dádiva”, de “gratuidade” e “omundo precisa hoje destes gestos”,conclui o frei Luís Aranha.

Foto: Hugo Viegas

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Relançar devoção a São BentoO arcebispo de Braga quer“relançar uma verdadeira devoção”a São Bento (c. 480-c. 547) econsidera importante que osantuário que lhe é dedicado emTerras do Bouro promova umapastoral que leve “ao encontro comDeus”.Em declarações à AgênciaECCLESIA, D. Jorge Ortiga sustentaque o Santuário de São Bento daPorta Aberta é um local onde opadroeiro da Europa “é imitado,onde é proposto o seu exemplo, aoqual as pessoas recorrem com assuas preces, os seus pedidos, assuas lágrimas e os seusagradecimentos e de onde levamuma mensagem para a vida”.Esta “é uma mensagem que nãoestá longe daquilo que é o carismade São Bento, isto é, umamensagem alicerçada na urgênciada oração no concreto, noquotidiano, numa vida repleta demomentos de pausa para interiorizaraquilo que é permanente, aquiloque fica”.“É sem dúvida nenhuma umsantuário com uma importânciaímpar para a Arquidiocese deBraga, uma vez que são imensos osperegrinos portugueses

que passam por aqui, havendotambém muitos espanhóis que talvezpela proximidade com a Galiza aquise deslocam em grande número”,sublinha D. Jorge Ortiga.O arcebispo primaz sustenta queeste é um santuário que “convida aalgo de diferente” na vida de cadapessoa.Os 50 anos da proclamação, porPaulo VI, deste santo como patronoda Europa foram assinalados com o1º Congresso de São Bento, quedecorreu entre sexta-feira e sábadoem Terras de Bouro.“Ninguém ignora que São Bento

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exerceu uma grande influência naEuropa antes do nascimento dePortugal e depois também naconstrução do país eparticularmente no solidificar dumacultura a partir dos diversosconventos que foram existindo aolongo de todo o país”, disse D.Jorge Ortiga.O arcebispo de Braga acompanhouo congresso sobre São Bento,sublinhando a “influência docristianismo” na construção daEuropa e alertando para o“laicismo”. “Toca-nos propor apessoa de Cristo e a suaincarnação nas pessoas humanas

como elementos decisivos efundamentais para um novohumanismo. A experiência cristã,respeitadora da liberdade humana,é capaz de interagir com religiõesdiferentes e culturas e visões domundo diversificadas”, destacou D.Jorge Ortiga, na abertura dostrabalhos.O responsável sublinhou a“influência do cristianismo naEuropa, desde os primórdios dosPadres da Igreja e dos alvores domonarquismo”, que se manifestou“em inúmeras atividades humanas(arte, literatura, pintura, arquitetura,agricultura)” com uma matriz deíndole espiritual.

Foto: Hugo Viegas

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Uma Europa «sedenta» de bensespirituaisO presidente da mesa administrativado Santuário de São Bento da PortaAberta, padre Fernando Monteirorevela, em declarações à AgênciaECCLESIA que no santuário asbandeiras dos países da Europamarcam presença para lembrar quea vida é mais do que “cifrões epolítica” e que o povo está sedentotambém de bens espirituais”.“No Santuário estão em evidênciaas bandeiras da Europa, um hastearque pretende ser um símbolo destapetição que não depende só docifrão, nem só de políticas, porvezes até abstratas mas queemerge da alma de um povosedento não apenas de bensmateriais mas também de bensespirituais a começar pela realidadeda família, pelos irmãos que sofremperseguições em tantas partes domundo mas também nesta Europaonde se sente cada vez mais anecessidade da espiritualidadevivida de São Bento que hoje esempre os beneditinos quiseramproporcionar a todos”, explica opadre Fernando Monteiro.O presidente da mesa administrativado Santuário

de São Bento da Porta Abertarecorda em declarações à AgênciaECCLESIA que a devoção a SãoBento tem uma marcaprofundamente espiritual, religiosa eque se insere na vida e na alma dopovo por isso é que é um fenómenoque dá que pensar porque não é aIgreja que impõe ao povo mas sim opovo que impõe à Igreja”.“Este santuário impôs-se à própriaArquidiocese de Braga sobretudopela devoção popular em honra deSão Bento e aqui afluem milhares emilhares de peregrinos ao longo doano, representa o sentido profundoda religiosidade popular” e “sãoestes afetos que marcam a vidareligiosa das pessoas”, sublinha.O Santuário de São Bento da PortaAberta conta com uma construçãomais recente que surgiu “pelanecessidade de alargar o espaçocelebrativo porque o santuário doséculo XIX e a ermida construída em1615 já eram pequenos” e esteespaço celebrativo surge “no iníciodo século XXI para atender aogrande número de peregrinos quechegam ao santuário”.A natureza do parque nacional

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Peneda - Gerês que circunda osantuário “é também muitoimportante” porque muitas pessoaschegam ali “por motivos turísticos,por apreciar a natureza e é tambémpela natureza que se chega àcontemplação da beleza do criador”,refere à Agência ECCLESIA o padreFernando Monteiro.“O ideal de São Bento tem sempre aatualidade da regra, por aquilo queos monges viviam nos mosteirosestando presentes na criação de umPortugal com matriz cristã e hojemais do que nunca, vive-se umaorfandade, que precisa destairmandade.”Uma comunidade de afetos que setenta fazer sempre no santuário“nomeadamente no acolhimento aosperegrinos que chegam ali a pé, aosol ou a chuva” movidos pela sua fé.A Irmandade do Santuário da PortaAberta pediu junto da Santa Sé queo santuário fosse reconhecido como‘Basílica’, uma nomeação que viria“reconhecer a importância históricado santuário que não é apenas daArquidiocese de Braga”, explica opadre Fernando Monteiro.Os requisitos exigidos pelo Vaticano“já estão alguns a ser cumpridos” eoutros “a ser

ultimados” como por exemplo obras“que ainda este ano começam nopresbitério”, conclui.

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As eleições de 2014para o Parlamento EuropeuDeclaração dos Bispos da COMECE

As eleições para o ParlamentoEuropeu terão lugar de 22 a 25 demaio de 2014. O resultadoconfigurará esta instituição da UniãoEuropeia para os próximos cincoanos e terá grandes implicaçõespara aqueles que vão conduzir aUnião ao longo dos próximos anos.É essencial que os cidadãos da UEparticipem do processo democráticopor meio do seu voto no dia daseleições. Quanto mais forte aparticipação eleitoral, mais fortesairá o novo Parlamento.A aproximação das eleições ofereceao conjunto da sociedade europeiaa oportunidade de debater asquestões socioeconómicas centraisque irão moldar a União nospróximos anos. Sentimos que énosso dever, como Bispos daCOMECE, oferecer orientação aoeleitor da UE na formação da suaconsciência, e queremos fazê?lodestacando questões de relevo eavaliando-?as sob o prisma dadoutrina social da Igreja.

Ainda que falemos, em primeiralugar, aos cidadãos da UE que sãocatólicos, esperamos que o nossojuízo possa ser igualmente escutadopor todos os homens e mulheres deboa vontade empenhados no êxitodo projeto europeu. Esperamos quea nossa voz seja ainda ouvida poraqueles que se candidatam naspresentes eleições para oParlamento Europeu.Começamos por chamar a atençãopara as seguintes consideraçõesgerais: 1. Votar é ao mesmo tempo direito edever de cada cidadãoda UE.

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Milhões de jovens cidadãosvão votar pela primeira vez:estudantes, no mercado de trabalhoou, muitos, infelizmente,desempregados. Instamos osnossos jovens a fazer ouvir a suavoz participando no debate políticoe, sobretudo, votando. 2. É importante que aqueles queaspiram a ser eleitos pela primeiravez ou que buscam a reeleição parao Parlamento Europeu estejamcientes dos danos colaterais dacrise económica e bancária iniciadaem 2008. O Papa Franciscochamou publicamente a atençãopara a difícil situação dos pobres evulneráveis, jovens e pessoas comdeficiência, não esquecendo

aqueles recentemente empurradospara a pobreza pela crise. O númerodos "novos pobres" cresce a umritmo alarmante. 3. A mensagem cristã é deesperança. É nossa convicção deque o projeto europeu inspira-?sepor numa visão nobre dahumanidade. Os cidadãos,comunidades e até mesmo osEstados-?nação devem ser capazesde pôr de lado o interesse particularem busca do bem comum. Era deesperança a exortação Ecclesia inEuropa do Papa João Paulo II, de2003, e é com uma confiança firmenum futuro melhor que a Igrejaaborda o desafio europeu. 4. A temperança é uma das virtudesnaturais no centro

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da espiritualidade cristã. Umacultura de moderação deve inspirara economia social de mercado e apolítica ambiental. Temos deaprender a viver com menos eprocurar que as pessoas emsituação de pobreza real participemde uma forma mais equitativa nadistribuição dos bens.Existem áreas específicas depolítica da UE para as quaischamamos igualmente a atençãodos nossos concidadãos: 1. É importante que o movimento emdireção à unidade na UE nãosacrifique o princípio dasubsidiariedade, um pilar básico dafamília única de Estados-?naçãoque constitui a UE, nem comprometaas tradições duradouras existentesnos Estados-Membros. 2. Outro pilar da União, e tambémum princípio fundamental dadoutrina social da Igreja, é asolidariedade. Esta deve presidir àpolítica, na UE, a todos os níveis,entre nações, regiões e grupospopulacionais. Precisamos construirum mundo diferente, baseado nasolidariedade.

3. É essencial lembrar que asustentar todas as áreas da políticasocioeconómica encontra-?se umavisão do homem enraizada noprofundo respeito pela suadignidade. A vida humana deve serprotegida desde o momento daconceção até à morte natural. Afamília, célula-?base da sociedade,também deve gozar também daproteção de que necessita. 4. A Europa é um continente emmovimento e a migração - interna ede fora – tem impacto na vida dosindivíduos e da sociedade. A UE temuma fronteira externa comum. Aresponsabilidade da receção eintegração dos imigrantes erequerentes de asilo precisa sercompartilhada proporcionalmentepelos Estados-Membros. É de vitalimportância que o tratamento demigrantes nos pontos de entradaseja humano, que os seus direitoshumanos sejam escrupulosamenterespeitados e que, posteriormente,todos os esforços sejam envidados,inclusivamente pelas Igrejas, paragarantir uma boa integraçãonas sociedades de acolhimento noseio da UE. 5. Somos guardiães

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da criação e devemos aprofundar anossa determinação de respeitar eatingir as metas de emissão deCO2, promover o entendimentointernacional sobre as alteraçõesclimáticas, comprometermo-nos comuma abordagem mais ecológica einsistirmos em que asustentabilidade é um elementofundamental de qualquer política decrescimento ou desenvolvimento. 6. A liberdade religiosa é umacaracterística fundamental de umasociedade tolerante e aberta. Estaliberdade inclui o direito demanifestar as suas crenças empúblico. Congratulamo?nos com asorientações da UE sobre apromoção e defesa da liberdade dereligião e crença e esperamos que onovo Parlamento Europeuintensifique o seu trabalho nestaimportante matéria. 7. Apoiamos todas as medidas paraproteger o dia comum de descansosemanal, que é o domingo.8. Ao longo dos próximos cinco anosas alterações demográficas terãoum impacto profundo na vida da UE.Apelamos, em nome dos nossoscidadãos mais idosos, para o nível equalidade dos cuidados a que têmdireito,

sem deixar de apelar igualmentepara políticas que criem novasoportunidades para os jovens. A União Europeia encontra-se numponto decisivo. A crise económica,desencadeada pelo colapso dosistema bancário de 2008, veiotornar mais tensas as relações entreos Estados-Membros, constituiu umdesafio ao princípio fundamental dasolidariedade entre as partes daUnião e deixou na sua esteira apobreza crescente de um grandenúmero de cidadãos e a frustraçãodas perspetivas de futuro de muitosdos nossos jovens. A situação édramática, para muitos até mesmotrágica. Nós, Bispos Católicos,apelamos a que o projeto europeunão seja posto em risco ouabandonado na presente situaçãode dificuldades. É essencial quetodos nós – políticos, candidatos,todos os interessados –contribuamos de forma construtivapara moldar o futuro da Europa.Temos demasiado a perder se oprojeto europeu descarrilar. Éessencial que todos nós cidadãoseuropeus compareçamos às urnasde 22 a 25 de maio. Nós, Bispos,instamos a que se vote seguindo osditames de uma consciênciainformada.

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Saúde e doençaSe a felicidade humana seconfundisse com ter saúde, entãotodos os saudáveis eram felizes. Sea felicidade humana se confundissecom ter o estômago cheio entãotoda a gente depois do almoço erafeliz.Na verdade ambas as condiçõescontribuem para a nossa felicidade,ou melhor para a nossa saúdeintegral. Hoje em dia já se vaiolhando para a nossa saúde oubem estar como um todo onde asdiferentes partes estãocompensadas adequadamente e emintima relação. A este olhar chama-se visão holística da pessoahumana. Ian Christian Smuts, umfilósofo sul-africano, terá sido quemintroduziu este termo holístico.Holístico vem do grego “holos”, quesignifica “todo”.Segundo a Organização Mundial deSaúde (OMS), o conceito "saúde",mais do que ausência de doença,representa uma situação decompleto bem-estar físico, psíquicoe social. Muitas correntes atuais nãodeixam de fora o espiritual pelasimples razão de se entender queesta

dimensão também nos constitui e seprende com o sentido mais profundoda existência humana. Noparadigma holístico, a saúdeapresenta-se como uma abordagemglobal da pessoa.A fragmentação da pessoa emdiferentes especialidades médicastem inúmeros benefícios masimpede que se perceba a inter-relação entre o corpo, a mente, oespirito e a sua relação com todo oexterior envolvente, quer se tratemde pessoas, bens ou a próprianatureza.Sabe-se, até por experiênciaprópria, que a fragilidade ou falênciade qualquer um dos elementos quenos constituem acaba por interferirnos restantes. Que, quando apenasum deles está enfermo, podeinfluenciar o estado de todos osoutros. De igual modo, os que estãosaudáveis, podem contribuir para a recuperação de um que seencontre debilitado.Não podemos considerá-los apenasisoladamente. Tudo em nós érelação. Desde a conceção que anossa existência necessita dacolaboração de várias partes.

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Ser saudável requere da nossaparte uma atenção ao todo numinvestimento constante no cuidado,desenvolvimento e preservação dofísico, mental, social, e espiritual.Os cristãos têm em Jesus umareferência muito bonita nestesentido. São frequentes as curasfísicas antecedidas ou completadasdo perdão dos pecados e de umareintegração na vida familiar esocial. Jesus

sabe que uma rutura social oufamiliar podem implicar umafragilização nas outras áreas donosso ser pessoa. Será pois, nossamissão, seguir o Mestre no sentidoda integral e constantereconciliação de todas asdimensões do nosso viver.

P. Carlos AzevedoCapelão Hospital D. Estefânia

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Papa recebeu Barack Obama noVaticanoO Papa Francisco encontrou-sehoje pela primeira vez no Vaticanocom o presidente dos EstadosUnidos da América, Barack Obama,em audiência privada que duroumais de 50 minutos.Obama foi recebido pelo prefeito daCasa Pontifícia, D. GeorgGaenswein, seguindo para abiblioteca do Papa, onde o líder dosEUA agradeceu a Francisco disseser "maravilhoso" e uma "grandehonra" encontrar-se com ele,confessando-se um "grandeadmirador" do pontífice argentino.A sala de imprensa da Santa Séemitiu uma nota de imprensa, aoinício da tarde, dando conta da"troca de opiniões sobre algunstemas relativos à atualidadeinternacional". "Manifestou-se odesejo de que se respeitem o direitohumanitário e o direito internacionalnas zonas de conflito e se chegue auma solução negociada entre aspartes envolvidas", pode ler-se.

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O comunicado acrescenta que, nocontexto das relações bilaterais, seabordaram "questões de especialrelevo para a Igreja" nos EUA, como"o exercício dos direitos à liberdadereligiosa, à vida e à objeção deconsciência", bem como a reformamigratória. "Por último, expressou-seo compromisso comum para aerradicação do tráfico de sereshumanos no mundo", conclui a notaoficial.Os dois líderes foramacompanhados por intérpretes,durante a conversa privada que foiregistada, na parte inicial, porfotógrafos e pelo Centro Televisivodo Vaticano.A delegação de Obama incluía JohnKerry, secretário de Estado dosEUA, e a conselheira para asegurança interna, Susan Rice.Kerry cumprimentou o Papa como"católico" e também se se confessouum "grande admirador" que opontífice tem feito "pela Igreja" e por"toda a gente".

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O encontro concluiu-se com atradicional troca de presentes:Francisco ofereceu uma cópia daexortação apostólica ‘A Alegria doEvangelho’ e o presidente norte-americano retribui com a oferta desementes do jardim da CasaBranca, numa caixa feita commadeira da primeira catedral dosEUA, em Baltimore. “Porque não?”foi a reação, em espanhol, aoconvite feito por Obama para que oPapa visitasse Washington.

O líder norte-americano encontrou-se ainda com o secretário de Estadodo Vaticano, o cardeal PietroParolin.A Casa Branca referiu, ao anunciara visita presidencial, que Obamadesejava discutir com Francisco "oseu compromisso comum na lutacontra a pobreza e o aumento dasdesigualdades".O presidente norte-americanovisitou o Vaticano em julho de 2009para uma reunião com Bento XVI.

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Viagem à Terra Santa com programaoficialO Vaticano divulgou hoje oprograma oficial da primeira visitado Papa Francisco à Terra Santa,entre 24 e 26 de maio, uma visitade cunho ecuménico que vaipassar por Amã, Belém, Telavive eJerusalém.A agenda prevê 14 intervenções,entre homilias e discursos, e aassinatura de uma declaraçãoconjunta com o patriarcaecuménico (Igreja Ortodoxa) deConstantinopla, Bartolomeu,assinalando os 50 anos doencontro entre o Papa Paulo VI e opatriarca Atenágoras, emJerusalém.Na Terra Santa, o Papa vai visitar,entre outros, o Santo Sepulcro, omemorial do Holocausto ‘YadVashem’, o Muro das Lamentaçõese a Esplanada das Mesquitas.Na Jordânia, em Amã, primeiraetapa da viagem apostólica, oPapa vai reunir-se com o reiAbdullah e Rania. Francisco vaipresidir a uma missa no estádiointernacional de Amã e visitar, emseguida, o local do Batismo deJesus, junto ao Rio Jordão, ondese encontrará com refugiados daSíria e jovens deficientes.

O dia 25 de maio começa com umaviagem de helicóptero até Belém,para uma visita ao presidente doEstado da Palestina, Abu Mazen,seguida da Missa na Praça daManjedoura.Ainda em Belém, o Papa vai saudaras crianças dos campos derefugiados de Dheisheh, Aida e BeitJibrin, antes de partir para Telavive,em Israel, onde vai discursar,seguindo-se depois o programa nacidade de Jerusalém.O último dia da visita, 26 de maio,inicia-se visitas ao grande mufti deJerusalém, na Esplanada dasMesquitas, ao Muro dasLamentações e a deposição de floresno Monte Herzl, o cemitério nacionalde Israel.

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Defesa e promoção da vidaO Papa Francisco apelou estasegunda-feira à “defesa epromoção” da vida humana emtodas as suas fases, sublinhandoque a “fragilidade” faz parte dabeleza da existência. “A experiênciada partilha fraterna com quemsofre abre-nos à verdadeira belezada vida humana, que abarca a suafragilidade. Na defesa e promoçãoda vida, seja qual for a fase econdição em que se encontre,podemos reconhecer a dignidade eo valor de cada ser humano, daconceção à morte”, declarou,durante uma audiência aosparticipantes na assembleiaplenária do Conselho Pontifíciopara a Pastoral da Saúde.Retomando uma das ideiascentrais do seu pontificado, o Papaargentino pediu atenção à “carnede Cristo presente nos pobres, nosque sofrem, nas crianças, tambémas indesejadas, nas pessoas comdeficiência física ou psíquica, nosidosos”.Francisco agradeceu ocompromisso dos católicos emfavor dos “irmãos e irmãs quecarregam o peso da doença, dadeficiência, de uma velhice difícil”.

“Também no sofrimento ninguém estánunca só, porque Deus no seu amormisericordioso pelo homem e pelomundo abraça também as situaçõesmais desumanas, nas quais aimagem do Criador presente em cadapessoa parece ofuscada oudesfigurada”, acrescentou.O Papa sustentou que a Paixão deJesus é “a maior escolha para quemquer dedicar-se ao serviço dosirmãos doentes e sofredores”.“Invoco sobre cada um de vós, sobretodas as pessoas doentes esofredoras com a sua família, bemcomo sobre todos os que delescuidam, a proteção materna deMaria, saúde dos enfermos, para queilumine a vossa reflexão e a vossaação na obra da defesa e dapromoção da vida e na pastoral dasaúde”, concluiu.

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A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram aatualidade eclesial portuguesa nos últimos dias, sempre atualizadosem www.agencia.ecclesia.pt

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Vaticano apresentou Encontro Mundial das Famílias

Audiência do Papa Francisco (26-03-2014)

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O Filho de DeusUm ano após investir na produçãoda série ‘A Bíblia’, particularmentepopularizada em Portugal pelaparticipação do ator portuguêsDiogo Morgado, o produtor MarkBurnett, conhecido pelo seuinvestimento em reality shows como‘Survivor’, ‘The Apprentice’ e ‘OLago dos Tubarões’, decidiu arriscara estreia em cinema de parte dessaempreitada, na quota respeitante àvida de Jesus.Christopher Spencer, encarregue nasérie da realização de três dos seusdez episódios – Missão, Traição ePaixão, dirige esta nova combinaçãode imagens, de que resulta ‘O Filhode Deus’.Inicialmente narrado em voz-off peloapóstolo João, o filme é alavancadopor destaques de ‘A Bíblia’, ondeevocamos em imagens fugazes ealgo arbitrárias na sua expressão,Adão e Eva, Noé, Abraão efinalmente o nascimento de Jesus. Ahistória propriamente dita começacom o encontro de Jesus com osapóstolos, junto ao mar da Galileia etermina com Jesus ressuscitado,aparecendo aos apóstolos.

Conseguir que uma obracinematográfica construída de raizpara exibição em pequeno formatoresulte razoavelmente em grandeecrã pode ser tão difícil como umcamelo passar pelo buraco de umaagulha, já que, se a atenção doespetador potenciada pelo aumentode escala torna um filme maisapelativo à partida, as suasfragilidades são necessariamentetambém mais evidentes. No caso,este ‘Filho de Deus’ padece devárias, e não apenas de naturezatécnica e narrativa mas, no seufraco e liberdades de conteúdo,teológica.Aparentemente, nem a capacidadede investimento de Mark Spencer,ultimamente apostado no mercadoreligioso a que a queda de receitana indústria cinematográfica nãoserá alheia, nem a sua experiênciareligiosa, no caso evangélica,puderam prevalecer a um espíritode exploração de bilheteira quetoma o espetador por o maiselementar possível, em vez de ovalorizar, garantindo qualidadetécnica, temática

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e artística do filme.Uma visão extremamente superficiale redutora de Deus e de Deus FeitoHomem, próximo e íntimo, semqualquer aproveitamento da riquezagramática quer do Novo Testamentoquer da sétima arte. Pior, eminterpretações abusivas do textooriginal e de natureza teológicamaioritariamente centradas na ideiade um Jesus investido de poder (asalusões multiplicam-se…), um Filhoquase sem Pai (o uso da primeirapessoa do singular também semultiplica…) e investido da missãoprimordial, expressa, de destruir opoder instituído, ‘mudar o mundo’ e‘levar a mensagem ao centro dopoder’ (? e sic). Fragilidadesconstantes expressam-se em planosfechados, sequências reduzidas aomínimo, algumas mesmo truncadasnuma tentativa permanente de iludira má qualidade dos atores e a claraincapacidade para compreender omistério de Cristo. Uma deficienteencarnação do Verbo, num Jesus aquem se tenta compensar a falta decarisma pelo estilo à vez declarativo,imperativo ou malandro com que serefere, mais uma vez, ao poder quedetém

seja para perdoar pecados ouqualquer outra coisa, ou numacandura francamente artificial.Os milagres sucedem-se, a multidãoadere, Caifás e Pilatos conspiram,Tomé duvida… e Jesus afirma.Afirma que é quem é, ou melhor, oque tem. Mas O que conhecemos,Aquele que naquele tempo seesperava mas não assim, e quedesde então nos espera exatamenteassim, expressão do amorincondicional de Deus por nós,tocando o coração dos homens,feito um como nós, que se fez pobrepelos pobres, que se humilha peloshumilhados, que veio para nossalvar… não se revela. Lamentavelmente, naquela quepodia ser uma excelenteoportunidade para um encontro oureencontro com Cristo, fundamentode Amor, descoberta de um HomemNovo e de uma renovada relaçãocom Deus, potenciando o cinemacomo lugar teológico, expressão debeleza e de sagrado, para crentes enão crentes, motivo de celebraçãopela sua propagação em ecrãs portodo o país, arrisca-se encontraralgo com que nem a nossa relaçãocom Deus se identifica nem a nãorelação de outros se poderá algumavez identificar…

Margarida Ataíde

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Fundação Betânia

http://www.fundacao-betania.org/

Esta semana para a rubricamultimédia sugerimos uma visita aosítio digital da fundação Betânia.Esta fundação coordenada pela ex-presidente da comissão nacionalJustiça e Paz, Drª. Manuela Silva,tem como objetivos: “suscitar aprocura de novos alicerces culturaise espirituais”, “criar espaços debeleza, de interioridade e decomunhão que incentivem oencontro mais fundo de cadapessoa consigo própria, com osoutros, com a natureza e com oAbsoluto” e ainda “catalisar formasde vivenciar e testemunhar estilosde vida fraterna ... na fidelidade aoAmor”. Assim sendo vamosdescobrir os caminhos que este sítionos oferece e com isso ficarmos aconhecer melhor esta fundação.Logo ao digitarmos o endereçowww.fundacao-betania.org aparece-nos o ecrã de boas-vindas (welcomescreen) com alguns destaques quepodemos logo aceder. Depois ao

clicarmos no logotipo da fundaçãoentramos então no sítiopropriamente dito. Dada aquantidade de opções disponíveis,destacamos somente aquelas queachamos mais reveladores e quedemonstram o porquê da existênciade um lugar assim na internet.No item “escrito do mês”, como onome indica, podemos ler o que aDrª. Manuela Silva tem para partilharcom os leitores a cada mês quepassa. Espaço este que conta jácom mais de uma centena dereflexões que nos podem ajudar afazer “caminhada de construção deHumanidade e de busca dadimensão espiritual da vida”.Em outro espaço intitulado “Ler aBíblia” encontramos mensalmente oestudo de um texto bíblico, a cargoda teóloga Nicoletta Crosti, quepode servir para aprofundamentopessoal da Palavra de Deus ou,eventualmente, também comoelemento de animação para reflexãoem grupo.Na opção “publicações”encontramos todos os

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cadernos Betânia que sãopublicados anualmente e queversam sempre temáticas bastanteinteressantes e diversificadas.Encontramos ainda mais algumasinteressantes hipóteses de consulta.A título de exemplo encontramos umtexto escrito pelo teólogo espanholJuan Massiá, o que por si só járevela o nível de exigência dasreflexões apresentadas.Destacamos ainda a opção “notasde leitura” onde é sugerido um livro.Por último referimos somente oblogue “ouvido do vento” onde “épossível interagir de maneira

espontânea e com fácil acesso,comentando, desenvolvendo eperspectivando os temas abordadose propondo outros por iniciativa dequem os visita.”Este sítio não vive somente deste oudaquele item, acima de tudo,oferece oportunidadesprofundamente ricas de reflexãopessoal e de conhecimentopartilhado enquanto ser inseridonuma comunidade que todos nóssomos. Certamente esta nossasugestão pode tornar-se uma visitaregular mensal para podermoscrescer espiritualmente.

Fernando Cassola Marques

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Vivi com um SantoPara assinalar a canonização deJoão Paulo II no dia 27 de abril aEsfera dos Livros publica um livroescrito pelo cardeal StanislawDziwisz, que foi secretário pessoalde João Paulo II durante 40 anos.‘Vivi com um Santo’ percorre a vidaextraordinária de um gigante donosso tempo à procura dos traçosda sua santidade, que vai serproclamada solenemente pelo PapaFrancisco.Nove anos depois da sua morte,será possível compreender melhor oPapa que mudou a História da Igrejae do Mundo, mas também ver KarolWojtyla numa dimensão maishumana, mais íntima, mais pessoal.Este é um livro que mostra omistério da santidade de KarolWojtyla (1920-2005) através dotestemunho do homem que estevetanto tempo tão próximo dele, aoalcance dos seus olhos. «Vivi junto de um santo. Ou pelomenos, durante quase quarentaanos, todos os dias vi de perto asantidade como sempre pensei queela devia ser»

O cardeal Stanislaw Dziwisz, seusecretário pessoal, percorre a vidaextraordinária de um gigante donosso tempo à procura dos traçosdistintivos dessa santidade que vaiser proclamada solenemente. Agora,depois do tempo já ter feito decantarpaixões, juízos e preconceitos, serápossível compreender melhor oPapa que mudou a História da Igrejae do Mundo, mas também ver KarolWojtyla numa dimensão maishumana, mais íntima, mais pessoal.A acompanhar-nos nesta viagem vaiestar o homem que esteve tantotempo tão próximo dele. Ao alcancedos olhos. Mas também próximodele com o coração.«Continuei a ver a sua santidadenaquela multidão incrível depessoas que foi dizer-lhe o últimoadeus e que começou a visitar o seutúmulo. Era o seu povo»O mistério da santidade de KarolWojtyla através do testemunho dohomem que viveu mais perto dele.

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Stanislaw Dziwisz (1939), ordenadosacerdote por Karol Wojtyla em1963, foi seu secretário pessoaldurante quase quarenta anos.Atualmente é cardeal, arcebispo deCracóvia. Escreveu com GianFranco Svidercoschi ‘Uma vida comKarol’

(A Esfera dos Livros).Gian Franco Svidercoschi, jornalista,acompanha há meio século osfactos do mundo religioso. Foisubdiretor de ‘L’OsservatoreRomano’.

A Esfera dos Livros

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II Concílio do Vaticano: Segui-lo«sofregamente» e, às vezes, àsescondidas

Recuar 50 anos deve ser uma experiência hercúlea elaboriosa. Quando o Papa João XXIII convocou o IIConcílio do Vaticano, a sociedade tinha os olhoscentrados em parâmetros diferentes daqueles quehoje o mundo vive. O cónego António Rego revelaque a sua vida “de cristão e padre não se entendesem o concílio”. Para o ex-director do SecretariadoNacional das Comunicações Sociais da Igreja, aassembleia magna (1962-1965) realizada noVaticano foi “um ponto de chegada de vários séculosde reflexão, oração, numa igreja sensível aos sinaisdos tempos, na convergência e distanciamento dossinais do Espírito” (IN: Vaticano II – 50 anos, 50olhares, Lisboa; Editora Paulus).Segundo o sacerdote natural dos Açores, a eficáciado II Concílio do Vaticano “não se mede, cinquentaanos depois, nem pela quantidade de documentosnem pela execução milimétrica de regras, como se setratasse de um novo código”. Quando se iniciou oconcílio, o cónego António Rego, jornalista comdécadas de experiência, estava a começar osestudos de Teologia. No livro citado confessa que oseguiu “sofregamente”, “às vezes às escondidas eatravés de revistas «perigosas»”.Durante as sessões conciliares, o padre AntónioCartageno – um dos maiores compositoresportugueses de música sacra e formado em cantogregoriano e em composição sacra em Roma (Itália)– estava nos primeiros anos de estudo no Semináriode Beja. Foi sobretudo a partir

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de 1965, já no Seminário dos Olivais(Lisboa), na fase de aplicação dasprimeiras «novidades» conciliaresque começou “a viver comentusiasmo o pós-concílio”.Na obra «Vaticano II – 50 anos, 50olhares», o sacerdote da diocesealentejana recorda que lia“avidamente os vários documentosproduzidos por essa magna reuniãoda Igreja, que começaram a integraros conteúdos das disciplinas docurso teológico: a constituiçãodogmática sobre a Igreja, asConstituições sobre a SagradaLiturgia e sobre a Igreja no mundocontemporâneo”. Naturalmente, oque mais chamou a atenção detodos os formandos “foi aintrodução da língua vernácula naliturgia”. Ao início timidamente – sóas leituras em português e o restoem latim – mas, depois de poucotempo “foi como uma enormecomporta que se abriu e ninguémmais conseguiu fechar”, escreveu. Eacrescenta: “Quantas

consequências trouxeram este factoà vida litúrgica da Igreja”.Por sua vez, o sacerdoteDehoniano, João Chaves, recordaque tinha 20 anos na altura daabertura do concílio convocado peloPapa João XXIII e continuado peloPapa Paulo VI. De 1966 a 1973esteve a estudar na UniversidadeGregoriana em Roma (Itália) e viviana cúria geral dos sacerdotesDehonianos, “um outro observatórioprivilegiado da implementação dasnovas orientações conciliares,nomeadamente em campo de vidaconsagrada”. Os Dehonianos deBolonha (Itália), na sua revista «IlRegno», publicavam “sem filtros, ecom certa coragem por algunscontestada, actualidades em matériade implementação conciliar” quepermitia aos estudantes de Teologiae História, “conhecer pormenores eabrir horizontes” nestas matérias.

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Março 2014Dia 28* Vaticano - Basílica de São Pedro - Liturgia penitencial presidida peloPapa Francisco.* Vaticano - Dia dedicado aoSacramento da Reconciliaçãointitulado «24 horas para o Senhor»e promovido pelo ConselhoPontifício para a Promoção da NovaEvangelização. * Guarda - Seia (Salão paroquial daIgreja Nova de São Romão)(21h00m) - Conferência sobre «Arelação da Igreja - Mundo naconstrução da cidadania« porAntónio Bagão Felix. * Faro - Colégio de Nossa Senhorado Alto - Conferência sobre «AEscola no Século XXI» por MarçalGrilo, administrador da FundaçãoCalouste Gulbenkian e ex-ministroda Educação.* Lisboa - Anfiteatro III da Faculdadede Letras da Universidade deLisboa - Seminário «Os Jesuítas:Missionários e Educadores»promovido Centro de História daUniversidade de Lisboa

* Coimbra - Pombal (BibliotecaMunicipal) (21h00m) - ConferênciaQuaresmal sobre «O encontropessoal com Cristo» por MariaAngeles de los Rios, fundadora doMovimento Mambré.* Açores - Ilha de São Miguel (Igrejado Pico da Pedra) - CatequeseQuaresmal sobre «Evangelizar…pelo amor».* Coimbra - Soure - ConferênciaQuaresmal sobre «A crise docompromisso comunitário» por JuanAmbrósio.* Lisboa - Mafra (Auditório BeatrizCosta) (21h15m) - Conferênciasobre «Família e sociedade» por D.Manuel Clemente. * Leiria - Escola Básica de SantaCatarina da Serra (20h45m) - Noitede oração pela paz e pelo diálogointerreligioso entre judeus ecatólicos com a presença demembros da comunidade israelita deLisboa, judeus e católicos.* Porto - Salão nobre da AssociaçãoCatólica do Porto (21h00m) -Assembleia geral da JuventudeCatólica do Porto.

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* Coimbra - Apresentação dosistema de células paroquiais deevangelização (CPE) com apresença do padre Mario St- Pierre,teólogo e pastoralista. (28 e 29)* Fátima - Encontro nacional dospadres Agostinhos. (28 e 30)* Fátima - Encontro nacional dosMissionários Combonianos. (28 e30)* Fátima - Curso de postulantes daCIRP. (28 e 30)* Lisboa - Colares (Casa deExercícios de Santo Inácio) - Actividade «Rezar com os Ícones». (28 e 30)* Viseu - Tondela - Acantonamentopara jovens promovido pela Acçãocatólica Rural. (28 e 30) Dia 29* Açores - Ponta Delgada - Romariaquaresmal dos jovens das escolasbásicas e integradas de PontaDelgada. * Lisboa - Sede do Centro deReflexão Cristã (CRC) - Colóquiosobre «Os Católicos e o 25 de Abril»com João Miguel Almeida, LuísSalgado de Matos e Luísa SarsfieldCabral.* Beja - Almodôvar (Igreja de SantoIldefonso) - Início do festival «TerrasSem Sombras».

* Algarve - Vila do Bispo (CentroCultural) (21h00m) - Apresentaçãodo musical «O Messias» * Coimbra - Sé Velha (21h30m) - Concerto do II Ciclo de Requiem.* Setúbal - Moita (capela doRosário) - Conferência Quaresmalsobre “Crer, amar e santificar-secom Deus" pelo cónego JoãoAguiar. * Lisboa - Alcobaça (21h30m) -Tertúlia a «Noica» com a D. ManuelClemente. * Coimbra - Mealhada - A SantaCasa da Misericórdia da Mealhadalança o livro “A construção da IgrejaParoquial da Mealhada” (1966-1992). * Lisboa - Convento de SãoDomingos - Sessão do ciclo deconferências «Cristianismo noespaço e o espaço do cristianismo».* Fátima - XI Encontro Nacional doApostolado do Oratório com o tema«Família que reza unida, santifica-se!». * Fátima - Reunião da Faculdade deTeologia da UCP.* Lisboa - Via sacra interparoquial.* Braga - Reabertura da capela doBom Jesus do Monte.* Porto - Valongo - Procissões dosSantos Passos promovidas pelaConfraria do Senhor dos Passos deValongo. (29 e 30)

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A Diocese de Coimbra vai apresentar nos dias 28 e 29

de março um sistema de células paroquiais deevangelização (CPE) com a presença do padre MarioSt- Pierre, teólogo e pastoralista. A paróquia de SãoJoão Baptista vai acolher a 28 de março um encontrodestinado aos padres, ficando o sábado, dia 29,reservado aos leigos, que desde as 10h00 até às17h30 são convidados a fazer parte da reflexão,mediante inscrição. A igreja de Santo Ildefonso, matriz de Almodôvar,vai receber no sábado, a partir das 21h30, oconcerto inaugural da 10.ª edição do festival demúsica sacra “Terras Sem Sombra”, promovidopela Diocese de Beja. A peça “Ein DeutschesRequiem” (Um Requiem alemão) vai ter a direçãodo maestro italiano Giovanni Andreoli, e osartistas vão ser acompanhados pelo Coro doTeatro Nacional de São Carlos e pelos pianistasJoão Paulo Santos e Kodo Yamagoshi. No domingo, dia 30 de março o patriarca de Lisboa, D.Manuel Clemente, vai presidir à dedicação einauguração da igreja de Nossa Senhora dosNavegantes, no Parque das Nações em Lisboa. Na segunda-feira, dia 31 de março, inicia-se asemana nacional de Educação Moral e ReligiosaCatólica (EMRC) 2014, que vai decorrer até dia 4de abril e vai ter este ano como tema central‘Pelos caminhos de Francisco…’. No dia 1 de abril, terça-feira, Lisandra Rodrigues tomaposse como nova coordenadora nacional daJuventude Operária Católica (JOC). A novacoordenadora da JOC entrou no movimento em 2005e antes de assumir esta função estava à frente daJOC da Diocese do Porto.

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Programação religiosa nos media

Antena 1, 8h00RTP1, 10h00Transmissão damissa dominical

11h00 -Transmissão missa 12h15 - Oitavo Dia

Domingo: 10h00 - ODia do Senhor; 11h00- Eucaristia; 23h30 -Ventos e Marés;segunda a sexta-feira:6h57 - Sementes dereflexão; 7h55 -Oração daManhã; 12h00 -Angelus; 18h30 -Terço; 23h57-Meditando; sábado:23h30 - TerraPrometida.

RTP2, 11h22Domingo, dia 30 - S. Bento eo futuro da Europa: propostasde um Congresso e de umSantuário no Minho dePortugal. RTP2, 18h00Segunda-feira, dia 31 -Entrevista a Fernando Moitesobre a disciplina de EMRC;Terça-feira, dia 01 -Informação e entrevista aPalmira Pereira sobre adisciplina de EMRC;Quarta-feira, dia 02 -Informação e entrevista a Maria João Matoso sobre adisciplina de EMRC;Quinta-feira, dia 03 - Informação e entrevista a JuanAmbrosio sobre o Sínodo da Família;Sexta-feira, dia 04 - Apresentação da liturgia dominicalpelos padres Robson Cruz e Vitor Gonçalves Antena 1Domingo, dia 30 de março, 06h00 - São Bento:Atualidade e devoção ao padroeiro da Europa.Entrevista com Carlos Aguiar. Comentário com o padreJosé Luís Borga. Segunda a sexta-feira, 22h45 - 31 de março a 04 abril- Semana de EMRC: experiências dos professoresPedro Quintans, Teresa Grancho, Luis Natário, EstelaBrito e João Barros

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O que é o Purgatório?

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Ano A - 4º Domingo da Quaresma Viver comofilhos da luz

A Palavra de Deus deste quarto domingo daQuaresma define a experiência cristã como “viver naluz”.No Evangelho, Jesus apresenta-Se como a luz domundo. Na segunda leitura, Paulo propõe aos cristãosde Éfeso que escolham a luz, recusando viver nastrevas, à margem de Deus. A primeira leitura não serefere diretamente ao tema da luz. No entanto, aescolha de David para rei de Israel e a sua unção éum ótimo pretexto para refletirmos sobre a unção querecebemos no dia do nosso Batismo e que nosconstituiu testemunhas da luz de Deus no mundo.Mas voltemos ao Evangelho, no episódio do cego denascença que apresenta Cristo como luz do mundo.«Tu acreditas no Filho do homem?», pergunta Jesus.O cego respondeu-Lhe: «Senhor, quem é Ele, paraque eu acredite?» Disse-lhe Jesus: «Já O viste: éQuem está a falar contigo». O homem prostrou-sediante de Jesus e exclamou: «Eu creio, Senhor».A afirmação de fé que o cego faz com alegria e a suaadesão incondicional a Jesus e à sua propostalibertadora deveria ser modelo para todos nós. Omilagre da cura é o sinal que Cristo, juntamente com avista, quer abrir o nosso olhar interior, para que anossa fé se torne cada vez mais profunda e possamosreconhecê-l'O como o único Salvador. Ele iluminatodas as obscuridades da vida e leva-nos a viver comofilhos da luz.Em tempo de Quaresma, a Palavra de Deus convida-nos a um processo de renovação que nos leve adeixar tudo o que nos escraviza, aliena e oprime,

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a deixar tudo o que não deixa brilharem nós a luz de Deus e impede anossa plena realização.Para que a celebração daressurreição na manhã de Páscoaseja plena de significado, é precisorealizarmos esta caminhadaquaresmal e renascermos comohomens novos que vivem na luz edela dão testemunho. Há,certamente, um longo e constantecaminho a percorrer para que talaconteça.Receber a luz que Cristo oferece étambém acender a luz da esperançano mundo, eliminando as trevas quegeram sofrimento, injustiça, mentirae alienação. Há que fazer com que aluz

de Cristo, que os padrinhos nospassaram no dia em que fomosbatizados, continue a brilhar em nóse a iluminar o mundo.Voltemos ao convite de São Paulopara vivermos na luz, porque somosfilhos da luz. Em concreto, talsignifica praticar as obras de Deus:a bondade, a justiça e a verdade.Para isso, a atitude é aindaproposta na segunda leitura:«Desperta, tu que dormes; levanta-te do meio dos mortos e Cristobrilhará sobre ti». Que assim sejanesta quarta semana da Quaresma!

Manuel Barbosa, scjwww.dehonianos.org

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SUDÃO DO SUL: UM PAÍS A CAMINHO DO PRECIPÍCIO

“Por favor, rezem por nós!”O cheiro a pólvora voltou aoSudão do Sul. Combates entretropas leais ao presidente e aoex-vice-presidente já causarammilhares de mortos, desdeDezembro, e quase 1 milhão derefugiados. O país caminha parauma catástrofe humanitária. OArcebispo de Malakal pede-nosajuda. Agora. O Sudão do Sul está a serdevastado por fortes combates, comaldeias destruídas, valas comuns,assassinatos, violações... DesdeDezembro que é assim. Na altura,estalou um conflito entre opresidente do país, Salva Kiir, e oseu vice-presidente, Riek Machar,que se transformou numa guerracivil. Segundo as Nações Unidas,desde Dezembro que mais de 850mil pessoas fugiram de suas casas,abandonando tudo. Agora,dependem de organizações não-governamentais que tentam evitaruma catástrofe. Estima-se que cercade 7 milhões de pessoas não têm,sequer, como se alimentar.Toby Lanzer, responsável dasNações Unidas para o Sudão doSul, visitou o hospital de Malakal a27 de Fevereiro. Ficou

estupefacto. Lá dentro, Lanzer sóencontrou cadáveres. Os cadáveresde 14 pacientes assassinados a tiro.Não havia mais nada. Além dohospital, a delegação tambémvisitou a Igreja do Cristo Rei, ondemais de oito centenas de pessoasse tinham refugiado e aguardavam atransferência para a missão daONU.Na cidade de Bor, no estado deJonglei, foram descobertas quatroenormes valas comuns. A notícia,por ali, já não impressiona ninguém.O mais jovem país do mundo está acaminho do precipício. DIOCESE DESTRUÍDAA cidade de Malakal está deserta.Todos fugiram com medo daviolência, dos tiros, dos ataquessanguinários às aldeias. MonsenhorRoko Taban Mousa é administradorapostólico da diocese de Malakal.Há dias fez um telefonemadesesperado para a Fundação AIS.“A diocese está vazia. Não háninguém em Malakal. Todos fugiram

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para salvar as suas vidas.Perdemos tudo, tudo”.Monsenhor Roko falou-nos a partirda cidade de Juba. “A diocese foidestruída. As igrejas foramarrasadas e saqueadas. Mais de 30mil casas estão agora em ruína”. Assuas palavras não escondem odesespero. “Esta devastação ésuperior ao que vivemos ao longodos 21 anos de guerra civil. Aspessoas estão a morrer à fome”,afirma, recordando o conflito queviria a dividir do Sudão em doispaíses distintos, em 2011: o Sudão,a norte, muçulmano e o Sudão doSul, em que o cristianismo

é a religião predominante.Este novo conflito armado já matoumilhares de pessoas. Bor, Malakal eBentiu são três cidades martirizadas.Depois dos tiros, as casas foramsaqueadas. Nem as farmáciasescaparam. Agora, falta tudo. Atéágua potável. Monsenhor TabanMousa pede-nos ajuda. “Nósprecisamos muito de atenção,solidariedade e amor. Estamos numestado miserável. Por favor,lembrem-se de nós nas vossasorações, rezem por nós”.

Paulo Aidowww.fundacao-ais.pt

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APOSTOLADO DA ORAÇÃO

Ecologismos ou respeito pelaCriação?Para que os governantespromovam o respeito pela criaçãoe uma justa distribuição dos bense dos recursos naturais. [IntençãoUniversal do Santo Padre para omês de Abril] 1. As preocupações expressasnesta Intenção de oração do SantoPadre não têm qualquer relaçãocom aquelas dos variados adeptosda deep ecology («ecologiaprofunda»). Esta, nas suasformulações mais benignas, vê oshumanos como mais um entre osdiversos animais que povoam aterra e o mais destrutivo, por sinal.Logo, há que impor medidasdrásticas para controlar o seucrescimento demográfico,interromper esse crescimento e levá-lo a regredir até níveis«suportáveis» pelo planeta –através de campanhas massivas decontracepção, da promoção doaborto em todas as fases dagestação, de políticas limitadoras danatalidade, da esterilização, mesmoforçada... O próprio conceito deCriação é estranho à ecologiaprofunda, pois não reconhece aexistência de um Criador – se háalgo sagrado é a natureza,espiritualizada no conceito de «MãeTerra».

2. A nossa perspectiva é outra:olhar a Terra como Criação que nosfoi dada por Deus. Nesta Criação, os humanos têm um lugar único,enquanto criaturas constituídas dematéria e espírito. E é essacondição única a ditar aos humanosa exigência de cuidar da Criação,exigência desconhecida porqualquer outra criatura. Nesteâmbito há imenso a fazer, sobretudoporque atingimos níveis desofisticação tecnológica impensáveishá relativamente pouco tempo econhecimentos suficientes parapodermos continuar a desenvolver aCriação sem a destruir – tendo,porém, consciência de que afinalidade da acção humana é tornara natureza mais hospitaleira e,portanto, mais habitável, finalidadeinatingível sem transformar amatéria, alterar a paisagem,humanizar o planeta. 3. Os governantes têm um papelimportante a desempenhar nestaárea: regular as indústrias, imporpadrões aceitáveis na exploraçãodos recursos naturais, promover aprotecção de regiõesecologicamente mais sensíveis...

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Antes, porém, importa salientar amissão insubstituível da sociedadecivil. Educar para comportamentosrespeitosos da Criação é umaobrigação de todos, embora sejamais fácil começar em casa,mostrando por gestos e palavrascomo a Criação está ao serviço daspessoas, não para ser violentada edestruída, mas para ser cuidada eaperfeiçoada. Importa, entretanto,estar atento às muitas influências doradicalismo ecológico, veiculadasatravés dos meios de comunicaçãoe mesmo nas escolas. Casocontrário, não será difícil àscrianças e jovens caírem sob ainfluência sedutora de grupos quepromovem a ecologia profunda, comtodos os malefícios daí resultantes. 4. Outro aspecto da Intenção doPapa é a justa distribuição dos bensda terra. Desde muito cedo, a Igrejaproclamou o destino universaldestes bens. Este princípio, comfundamentos na própria teologia dacriação, raramente tem sidorespeitado, embora seja justoreconhecer que as sociedadeslivres, fundadas

nos direitos humanos e na livreiniciativa económica, deram passosenormes na produção de bens deconsumo e no acesso a estes benspor um número crescente decidadãos. Nestas sociedades, épapel dos governantes regular,através de leis justas, as relaçõeseconómicas, permitindo aoscidadãos desenvolver as suaspotencialidades, sem paternalismodo Estado, mas também sem setornarem vítimas dos poderosos quepretendam perpetuar situações dedependência social ou económica. Étambém suposto os governantesterem presente a protecçãodaqueles que não podem, pelospróprios meios, prover ao seusustento e a uma vida comdignidade. Para isso devem serviros impostos, cobrados comparcimónia e aplicados de modo apermitir ao Estado cumprir as suasfunções, sem comprometer odinamismo económico e social,único capaz de assegurar aprodução de riqueza pelo maiornúmero e para o maior número decidadãos.

Elias Couto

insira a foto aqui

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Teatro, a arte de dizer sem dizer

Tony Neves

Gosto muito de teatro. É mesmo uma confissão.Nos meus tempos de menino e moço, quando mesentava nos bancos do Seminário, tínhamos umaequipa de teatro e fazíamos sessões por ocasiãodas festas da Congregação ou nas Festas dasfamílias, um evento que era preparado comtempo e esmero, pois os nossos pais e irmãosiam fazer uma visita e mereciam o melhor de nós.Participei em muitas peças, umas mais sérias,outras de humor. Até fiz parte do elenco danarrativa da Paixão numa das Semanas Santasde Braga.O meu amor ao teatro subiu em flecha emAngola. Num contexto de guerra civil e deausência total de liberdade de expressão,percebi que as pessoas só conseguiam dizer averdade que lhes ia na alma através do teatro eda música. Por vezes, eu mesmo me perguntavase os senhores da segurança do estado quecontrolavam as consciências e as palavrasestavam atentos às letras das encenações oudas músicas que se compunham. Nos encontrosde jovens, vi a guerra a ser espezinhada, ossenhores da guerra a serem ridicularizados, osgovernantes a ser contestados…naquelas peçascheias de vida, movimento e cor como sempreacontece em África. Lembro-me como se hojefosse a celebração do centenário da Missão deCaconda, entre o Huambo e o Lubango, onde osjovens representaram um teatro sobre a guerra esuas consequências.

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Confesso que se eu tivesseparticipado na guerra estaria ali aremexer-me de vergonha, tal aforma como os jovens encenaram apeça.A cultura sempre foi uma arma.Aquilo que não se pode dizer, pode,por vezes, representar-se oucontar-se por parábolas ouprovérbios. O teatro permite dizersem dizer e não é por acaso que osartistas são sempre contestadosporque vivem uma liberdade deespírito que, em muitos contextos,incomoda

as ordens estabelecidas.Sempre que posso vou ao teatro.Tenho pena de encontrar, por vezes,salas quase vazias, o que põe emcausa a viabilidade de certosprojetos. Em tempo de vacasmagras, os cortes começam semprepor aquilo que os governos achammenos essenciais. E a cultura éparente pobre das decisõespolíticas em tempo de crise. E épena, pois a cultura é a alma de umpovo e um povo sem alma não temfuturo.

“Pode ouvir o programa Luso Fonias na rádio SIM, sábados às 14h00, ouem www.fecongd.org. O programa Luso Fonias é produzido pela FEC –Fundação Fé e Cooperação, ONGD da Conferência Episcopal Portuguesa.”

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Uma só família humana,alimento para todosAté ao ano 2015 a Cáritas vive emdiferentes formas e contextos acampanha internacional “uma sófamília humana, alimento paratodos”. Esta é, essencialmente, umacampanha de conscientização dasociedade em geral para asquestões relacionadas com aalimentação e o combate aodesperdício alimentar. É também,muito, uma campanha de apelo àmudança de legislação,particularmente, nos países onde aalimentação não é vista como umdireito ou, sendo-o, tal não érespeitado. Mas “uma só famíliahumana, alimento para todos” étambém, e na mesma ordem degrandeza, um apelo à fraternidade,solidariedade e, por isso aexpressão “uma só família humana”.Assumimo-nos como “um” e juntosno mesmo “Um” que “multiplicou opão e o peixe”. A educação para asolidariedade é um dos primeirospassos para que possamos sercontributo para a construção dessagrande família de homens emulheres, crentes e de boavontade, capazes de

ser Deus para o outro. Olhar para afamília é, por isso, essencial nocontexto desta campanha e nessesentido ganham força redobrada aspalavras do Cardeal OscarRodriguez Maradiaga, presidenteda Caritas Internationalis e doArcebispo Vincenzo Paglia doPontifício Conselho para a Famíliaao colocarem no centro da atençãoda reunião do Sínodo da Família, aacontecer em Outubro, no Vaticano,os efeitos da pobreza sobre afamília. Para a Igreja a pobreza éuma "grande emergência pastoral ",afirmaram os dois responsáveis daIgreja Católica.Numa carta dirigida aos presidentesdas conferências episcopais e dasorganizações nacionais da Cáritas,os dois prelados disseram: "A famíliaé a unidade básica da sociedade, oque é indispensável para assegurara continuidade da sociedade.Quando a família sofre a sociedadesofre, e quando a sociedade sofre éa família que é afetada por isso. "

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"A família é, por excelência, umespaço de socialização e doprocesso de solidariedade. Ascrianças que vêm os pais partilhar,doar e dar atenção aos outros, vãono seu próprio momento e espaçoreplicar esses mesmos valores. "O Cardeal e Arcebispo afirmamainda nesta carta que a pobrezafragiliza a família e ameaça a suaexistência. O fortalecimento dafamília e a promoção do papel dospais é um dos desafios pastorais daIgreja.O Sínodo dos Bispos vai incidir sobo tema "Os Desafios Pastorais daFamília no Contexto daEvangelização". Neste caminho

de preparação para este encontro oCardeal Rodriguez e o ArcebispoPaglia apontam uma lista desugestões para aqueles que sepreparam para o Sínodo. Esta listainclui a conscientização para asfamílias mais pobres, defesa juntodas autoridades das suasnecessidades mais básicas e avalorização do papel do idoso nasociedade."Os cristãos devem sempre ter emmente que Deus encarnou numafamília, na verdade, numa famíliapobre. A indiferença para com ospobres é indiferença para com opróprio Deus.”

Márcia CarvalhoCáritas Portuguesa

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Visita do Papa Francisco à Coreia doSul

Padre Álvaro Pacheco,IMC

A visita que o Papa Francisco fará à Coreia a 14-18 de agosto deste ano é a primeira de umpontífice desde que João Paulo II cá esteve em1989, aquando do Congresso EucarísticoInternacional. A reação à notícia confirmativadesta visita foi de exuberante alegria e satisfaçãopor parte de todos os coreanos, católicos e não-católicos, pois vinte e cinco anos é muito tempo eporque o Papa é uma figura muito estimada portodos aqui.A visita representa uma vitória da diplomaciacatólica sul-coreana, a qual tentou ao longodestes anos que o Papa visitasse a Coreia, umanação onde a Igreja católica se vangloria de terno sangue de milhares de mártires o seu início, asua força e dinamismo. De facto, um dos motivospelos quais o Papa Francisco visitará a Coreiaserá precisamente para beatificar mais 124mártires: em 1984 o Papa João Paulo IIcanonizou 103 mártires, entre eles São AndréKim Dae-gon (o primeiro sacerdote, o primeiromártir e o primeiro santo sul-coreano), o patronoda Igreja coreana.O segundo motivo que motiva a visita do Papa éa realização da Jornada Asiática da Juventude,que terá lugar na diocese de Taejon, umaocasião que suscita particular interesse por partedo Papa, o qual tinha já expresso um amor ecarinho especiais pela juventude durante aJornada Mundial da Juventude, realizada o anopassado no Rio de Janeiro. Claro que o Papa irátambém

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rezar pela reunificação das duasCoreias, um tema sobre o qual aIgreja coreana tem repetidamentemostrado particular interesse ededicação. Segundo D. Pedro KangUh-il, presidente da ConferenciaEpiscopal, esta visita irá contribuirpara a paz na península coreana.No contexto asiático, a Igreja sul-coreana é a terceira mais forte,depois da Filipina e Vietnamita. Arecente nomeação e ordenação donovo cardeal de Seúl, André YeomSoo-jung, e o

anúncio da visita do Paparepresentam uma injeção deentusiasmo e motivação semprecedentes na Igreja deste país, aqual tem sentido um declínio no querespeita à vitalidade e influência navida da Coreia em geral e doscatólicos em particular. Mais ainda:esta visita coloca de novo a Coreiano centro do mundo, pois cada visitapapal é considerada umacontecimento de importânciaglobal.

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"O liberalismo supôs que se devia reprimiro brado de indignação dos operários

como se fosse injusta a sua voz"(Pe. Abel Varzim, Jornal "O Trabalhador")

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