Av descobrimento

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A QUESTÃO DO DESCOBRIMENTO/RECONHECIMENTO/ACHAMENTO E POVOAMENTO A questão do descobrimento da Madeira ainda não encontrou consensos na documentação e na historiografia. Hoje, no século XXI, não há qualquer interesse em reavivar polémicas do passado, mas, sim, evocar os factos que marcaram o início da apropriação e valorização deste espaço insular pelo mundo europeu, pelo que as três datas de 1418, 1419, 1420 podem colher consenso. A questão do descobrimento do arquipélago da Madeira coloca, à partida, um aceso debate sobre o que realmente terá sucedido no século XV. Primeiro, importa precisar os conceitos: no primeiro quartel do século XV, não era comum a palavra “descoberta”, mas sim “descobrimento”. Por outro lado, há cronistas que referem o acontecimento, usando o verbo “achar”. Tudo isto tem a ver com o facto de se considerar que as ilhas já eram conhecidas, tendo sido com base nessa informação que os portugueses as encontraram e iniciaram o processo de povoamento. Partindo, então, dessa ideia e, tendo como base as informações da cartografia, e diversos textos, somos levados a considerar a data de 1420, como a do ato mais significativo e a merecer destaque, o de ocupação definitiva por populações europeias. A DATA DO DESCOBRIMENTO. Não existe consenso quanto à data do descobrimento da ilha. A de O dia 1 de julho de 1419, que dá origem ao dia da região, está relacionada com a afirmação de Gaspar Frutuoso, açoriano que escreveu o Livro segundo das Saudades da Terra, na década de noventa do século XVI. Não há, porém, consenso nos textos disponíveis, quanto à data exata do descobrimento, dito oficial pelos portugueses. São três as datas apontadas pelos diversos textos clássicos que conhecemos, sobre o descobrimento do arquipélago, pelos portugueses: 1418, 1419 e 1420. A data de 1419 apresenta consenso em alguma documentação oficial. Assim, em 1499, D. Diogo Pinheiro, vigário de Pomar, afirma: “podera haver bem oytenta anos que a a dicta ilha era achada pouco mais ou menos e se começara a povoar”, portanto, em 1419. Depois, numa vereação do município funchalense, de 27 de agosto de 1519, refere-se ao início do povoamento, com a expressão “ há 100 anos atrás”. A falta de consensos nos cronistas e na documentação disponível implica, da nossa parte, uma atitude aberta, geradora de consensos valorizando, em simultâneo ,o atos de descobrir/redescobrir e o de povoar. Além disso, devemos ter em atenção que, neste momento, poucos acreditam que o descobrimento tenha sido concretizado pelos portugueses. Hoje, parece ser consensual na Historiografia que, aos portugueses, se deve atribuir o mérito do reconhecimento (ou redescobrimento), não obstante não haver dúvidas de que a eles se deve o processo de ocupação do espaço, que deverá ter acontecido em 1420, apesar de haver divergências de diversos autores.

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aspetos para debate sobre a questão descobrimento arquipélago da Madeira

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A QUESTÃO DO DESCOBRIMENTO/RECONHECIMENTO/ACHAMENTO E

POVOAMENTO

A questão do descobrimento da Madeira ainda não encontrou consensos na documentação e na

historiografia. Hoje, no século XXI, não há qualquer interesse em reavivar polémicas do passado,

mas, sim, evocar os factos que marcaram o início da apropriação e valorização deste espaço insular

pelo mundo europeu, pelo que as três datas de 1418, 1419, 1420 podem colher consenso.

A questão do descobrimento do arquipélago da Madeira coloca, à partida, um aceso debate sobre o

que realmente terá sucedido no século XV. Primeiro, importa precisar os conceitos: no primeiro

quartel do século XV, não era comum a palavra “descoberta”, mas sim “descobrimento”. Por outro

lado, há cronistas que referem o acontecimento, usando o verbo “achar”. Tudo isto tem a ver com o

facto de se considerar que as ilhas já eram conhecidas, tendo sido com base nessa informação que

os portugueses as encontraram e iniciaram o processo de povoamento.

Partindo, então, dessa ideia e, tendo como base as informações da cartografia, e diversos textos,

somos levados a considerar a data de 1420, como a do ato mais significativo e a merecer destaque, o

de ocupação definitiva por populações europeias.

A DATA DO DESCOBRIMENTO. Não existe consenso quanto à data do descobrimento da ilha. A

de O dia 1 de julho de 1419, que dá origem ao dia da região, está relacionada com a afirmação de

Gaspar Frutuoso, açoriano que escreveu o Livro segundo das Saudades da Terra, na década de

noventa do século XVI. Não há, porém, consenso nos textos disponíveis, quanto à data exata do

descobrimento, dito oficial pelos portugueses.

São três as datas apontadas pelos diversos textos clássicos que conhecemos, sobre o descobrimento

do arquipélago, pelos portugueses: 1418, 1419 e 1420. A data de 1419 apresenta consenso em

alguma documentação oficial. Assim, em 1499, D. Diogo Pinheiro, vigário de Pomar, afirma:

“podera haver bem oytenta anos que a a dicta ilha era achada pouco mais ou menos e se começara a

povoar”, portanto, em 1419. Depois, numa vereação do município funchalense, de 27 de agosto de

1519, refere-se ao início do povoamento, com a expressão “ há 100 anos atrás”.

A falta de consensos nos cronistas e na documentação disponível implica, da nossa parte, uma

atitude aberta, geradora de consensos valorizando, em simultâneo ,o atos de descobrir/redescobrir e

o de povoar. Além disso, devemos ter em atenção que, neste momento, poucos acreditam que o

descobrimento tenha sido concretizado pelos portugueses. Hoje, parece ser consensual na

Historiografia que, aos portugueses, se deve atribuir o mérito do reconhecimento (ou

redescobrimento), não obstante não haver dúvidas de que a eles se deve o processo de ocupação do

espaço, que deverá ter acontecido em 1420, apesar de haver divergências de diversos autores.

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Perante esta dificuldade em encontrar uma data mais adequada e consensual, no passado e presente,

para celebrar os seiscentos anos do reconhecimento/povoamento do arquipélago da Madeira, e sem

querer alimentar polémicas, que nunca levam a lugar nenhum, será acertado distribuir as

celebrações por três datas: 1418, 1419 e 1420, o que equivale a dizer que as comemorações deverão

ser iniciadas em 2018 e finalizadas em 2020, marcando três momentos diversos desta evocação.

ALBERTO VIEIRA, 09 de junho de 2015.