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Candombá – Revista Virtual, v. 1, n. 2, jul – dez 2005 ISSN 1809-0362 1 P P P R R R O O O G G G R R R A A A M M M A A A D D D E E E E E E N N N S S S I I I N N N O O O , , , P P P E E E S S S Q Q Q U U U I I I S S S A A A E E E E E E X X X T T T E E E N N N S S S Ã Ã Ã O O O S S S O O O B B B R R R E E E A A A S S S R R R E E E L L L A A A Ç Ç Ç Õ Õ Õ E E E S S S E E E N N N T T T R R R E E E N N N A A A T T T U U U R R R E E E Z Z Z A A A E E E C C C U U U L L L T T T U U U R R R A A A Boletim Informativo FACULDADES Jorge Amado. Boletim Informativo do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, Salvador, Ano 1, n. 2, dez. 2005. Rosiléia Oliveira de Almeida * Virgília Cerqueira ** 1 Por que amar a Ilha de Maré? O programa Jorge Amando a Maré corresponde a um conjunto de atividades integradas de ensino, pesquisa e extensão que começamos a desenvolver na Ilha de Maré – Salvador-BA, a partir de novembro de 2005, com o envolvimento de professores e alunos do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas das Faculdades Jorge Amado, podendo futuramente se estender a ações interdisciplinares, envolvendo as diversas áreas de conhecimento, com o estabelecimento de parcerias com outros cursos. A definição da Ilha de Maré como locus das ações decorre das condições únicas do lugar, que têm favorecido o desenvolvimento deste projeto. Em primeiro lugar, a proximidade e facilidade de acesso pelos alunos das Faculdades Jorge Amado (FJA), o que garantirá a continuidade das ações, com pouco desgaste físico. Em segundo lugar, a disponibilidade de meios convencionais de transporte (linhas de ônibus urbanas e embarcações que partem da Praia de São Tomé de Paripe ou do Terminal Marítimo), a baixo custo e com regularidade e diversidade de horários, inclusive aos finais de semana, o que permitirá a participação inclusive dos alunos que trabalham, perfil em que se enquadra a maioria dos alunos matriculados nos cursos de Licenciatura das FJA. Outro fator é que não constatamos na localidade ações educativas da natureza proposta, embora esta seja uma demanda da população. A intenção é gerar a possibilidade dos professores em formação construírem conhecimentos nas suas áreas * Professora do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas das Faculdades Jorge Amado – Salvador – BA e doutoranda em Educação pela Unicamp – Campinas – SP. E-mail: [email protected] ** Aluna do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas das Faculdades Jorge Amado – Salvador – BA. E-mail: [email protected] de conhecimento, de forma contextualizada, percebendo as vinculações entre a produção do saber e as necessidades de interpretação e de intervenção na realidade. Também temos como propósito proporcionar oportunidades para que os alunos desenvolvam as habilidades requeridas pela pesquisa científica e exercitem atitudes de comprometimento com o desenvolvimento em bases tecnicamente competentes, socialmente justas, ambientalmente corretas e que respeitem a diversidade cultural. 2 Amor à primeira vis(i)ta... A iniciativa de elaboração de uma proposta de trabalho na Ilha de Maré partiu dos alunos da turma LBN 2004.1B do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, os quais sentiram a necessidade e o desejo de se engajarem em ações comunitárias. Através delas, eles poderiam aplicar os conhecimentos adquiridos no curso na busca de soluções de problemas e, assim, incorporar uma dimensão social e ética à sua formação. A Ilha de Maré não foi escolhida por acaso. Ela foi escolhida por ser um local privilegiado para o exercício da ÉTICA ECOLÓGICA, entendida aqui não apenas como CUIDAR DA NATUREZA, mas também CUIDAR DOS SERES HUMANOS QUE DEPENDEM DA NATUREZA PARA SUA SUBSISTÊNCIA. Sendo assim, qualquer intervenção nas formas de relação dos seres humanos com os ecossistemas, visando preservá-los, deve estar atenta às possibilidades de mudança cultural dos grupos sociais envolvidos e às possíveis repercussões dessas mudanças nas subjetividades e nas dimensões concretas das vidas das pessoas. A partir do relato de experiência de uma das alunas da referida turma, funcionária de uma escola localizada no bairro de São Tomé e estagiária de uma outra escola localizada no mesmo bairro, o grupo de alunos tomou conhecimento da realidade vivenciada cotidianamente pelos estudantes, moradores da Ilha de Maré, que desejam dar continuidade aos seus estudos a partir da 5ª série do Ensino Fundamental. Como a Ilha dispõe apenas de escolas do primeiro ciclo do Ensino Fundamental (1ª a 4ª série), os estudantes levantam cedo e tomam o barco de Transporte Escolar para se deslocarem, em um percurso de aproximadamente 30 minutos, até o atracadouro da Praia de São Tomé, onde tomam um outro transporte até as escolas mais próximas. Como os lugarejos da Ilha de Maré não dispõem de atracadouros, as crianças, mesmo na época do frio, têm que suspender ou retirar seus uniformes para entrarem no barco. Alguns vão de caiaque até o barco, mas não é raro

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Boletim Informativo

FACULDADES Jorge Amado. Boletim Informativo do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, Salvador, Ano 1, n. 2, dez. 2005.

Rosiléia Oliveira de Almeida∗

Virgília Cerqueira∗∗

1 Por que amar a Ilha de Maré?

O programa Jorge Amando a Maré corresponde

a um conjunto de atividades integradas de ensino,

pesquisa e extensão que começamos a desenvolver na

Ilha de Maré – Salvador-BA, a partir de novembro de

2005, com o envolvimento de professores e alunos do

curso de Licenciatura em Ciências Biológicas das

Faculdades Jorge Amado, podendo futuramente se

estender a ações interdisciplinares, envolvendo as

diversas áreas de conhecimento, com o estabelecimento

de parcerias com outros cursos.

A definição da Ilha de Maré como locus das ações

decorre das condições únicas do lugar, que têm favorecido

o desenvolvimento deste projeto. Em primeiro lugar, a

proximidade e facilidade de acesso pelos alunos das

Faculdades Jorge Amado (FJA), o que garantirá a

continuidade das ações, com pouco desgaste físico. Em

segundo lugar, a d isponibil idade de meios convencionais

de transporte (linhas de ônibus urbanas e embarcações

que partem da Praia de São Tomé de Paripe ou do

Terminal Marítimo), a baixo custo e com regularidade e

diversidade de horários, inclusive aos finais de semana, o

que permitirá a participação inclusive dos alunos que

trabalham, perfil em que se enquadra a maioria dos

alunos matriculados nos cursos de Licenciatura das FJA.

Outro fator é que não constatamos na localidade ações

educativas da natureza proposta, embora esta seja uma

demanda da população.

A intenção é gerar a possibilidade dos professores

em formação construírem conhecimentos nas suas áreas

∗ Professora do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas das Faculdades Jorge

Amado – Salvador – BA e doutoranda em Educação pela Unicamp – Campinas –

SP. E-mail: [email protected] ∗∗ Aluna do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas das Faculdades Jorge

Amado – Salvador – BA. E-mail: [email protected]

de conhecimento, de forma contextualizada, percebendo

as vinculações entre a produção do saber e as

necessidades de interpretação e de intervenção na

realidade. Também temos como propósito proporcionar

oportunidades para que os alunos desenvolvam as

habilidades requeridas pela pesquisa científica e exercitem

atitudes de comprometimento com o desenvolvimento em

bases tecnicamente competentes, socialmente justas,

ambientalmente corretas e que respeitem a diversidade

cultural.

2 Amor à primeira vis(i)ta...

A iniciativa de elaboração de uma proposta de

trabalho na Ilha de Maré partiu dos alunos da turma LBN

2004.1B do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas,

os quais sentiram a necessidade e o desejo de se

engajarem em ações comunitárias. Através delas, eles

poderiam aplicar os conhecimentos adquiridos no curso na

busca de soluções de problemas e, assim, incorporar uma

dimensão social e ética à sua formação.

A Ilha de Maré não foi escolhida por acaso. Ela foi

escolhida por ser um local privilegiado para o exercício da

ÉTICA ECOLÓGICA, entendida aqui não apenas como

CUIDAR DA NATUREZA, mas também CUIDAR DOS SERES

HUMANOS QUE DEPENDEM DA NATUREZA PARA SUA

SUBSISTÊNCIA. Sendo assim, qualque r intervenção nas

formas de relação dos seres humanos com os

ecossistemas, visando preservá-los, deve estar atenta às

possibilidades de mudança cultural dos grupos sociais

envolvidos e às possíveis repercussões dessas mudanças

nas subjetividades e nas d imensões concretas das vidas

das pessoas.

A partir do relato de experiência de uma das

alunas da referida turma, funcionária de uma escola

localizada no bairro de São Tomé e estagiária de uma

outra escola localizada no mesmo bairro, o grupo de

alunos tomou conhecimento da realidade vivenciada

cotidianamente pelos estudantes, moradores da Ilha de

Maré, que desejam dar continuidade aos seus estudos a

partir da 5ª série do Ensino Fundamental. Como a Ilha

dispõe apenas de escolas do primeiro ciclo do Ensino

Fundamental (1ª a 4ª série), os estudantes levantam cedo

e tomam o barco de Transporte Escolar para se

deslocarem, em um percurso de aproximadamente 30

minutos, até o atracadouro da Praia de São Tomé, onde

tomam um outro transporte até as escolas mais próximas.

Como os lugarejos da Ilha de Maré não dispõem de

atracadouros, as crianças, mesmo na época do frio, têm

que suspender ou retirar seus uniformes para entra rem no

barco. Alguns vão de caiaque até o barco, mas não é raro

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ele virar, molhando todo o material escolar dos

estudantes.

Essas crianças relatam uma série de condutas de

turistas e dos habitantes da região que requerem ações

educativas, como, dentre outras, o hábito de defecar nos

próprios barcos, lançando as fezes na Baía de Todos os

Santos, e o costume de lançar lixo no mar, durante o

trajeto de barco. Muitos destes problemas, embora sejam

associados comumente aos comportamentos individuais,

decorrem da omissão do poder público em desenvolver

políticas públicas nas áreas de saneamento, saúde e

educação. Outra prática local que traz sérios danos ao

ecossistema marinho é o uso de bombas para a captura

de peixes.

Em visita realizada em 12 de novembro de 2005 a

Itamoabo, um dos lugarejos da Ilha de Maré, um grupo de

alunos da FJA que até lá se deslocaram, com o

acompanhamento de professores, com o objetivo de

coletar informações necessárias ao planejamento das

primeiras ações vinculadas a esse programa, pôde

construir suas primeiras impressões sobre a Ilha de Maré.

Um dos aspectos que mais chamou a atenção do

grupo foi a grande quantidade de bananeiras na flora local

(Fig. 1 e 2). À sua importância econômica para a

população local já se referia o poeta brasileiro Manuel

Botelho de Oliveira, no poema À Ilha de Maré, de cunho

nativista e ufanista, que exalta os frutos e legumes da Ilha

da Maré. Foi publicado em Lisboa, em 1705, no livro

Música do Parnasso. (Anexo A).

Fig. 1. Itamoabo, Ilha de Maré – Salvador, BA. Vista, ao entardecer. Vegetação com predominância de coqueiros e bananeiras.

As bananas no Mundo conhecidas

por fruto e mantimento apetecidas,

que o céu para regalo e passatempo

liberal as concede em todo o tempo,

competem com maçãs, ou baonesas

com peros verdeais ou camoesas.

Também servem de pão aos moradores,

se da farinha faltam os favores;

é conduto também que dá sustento,

como se fosse próprio mantimento;

de sorte que por graça, ou por tributo,

é fruto, é como pão, serve em conduto.

( OLIVEIRA, 1967, p. 5-6.)

No poema, o autor destaca a diversidade de frutas

e legumes, que existiam em abundância na Ilha de Maré,

no século XVII, e que contribuíam para tornar as terras

brasileiras sedutoras à colonização efetiva e à exploração

econômica pelos portugueses. O autor refere-se às

sensações gustativas associadas tanto aos vegetais

nativos (coqueiros, cajus, pitangas, pitombas, araçases,

bananas, pimenta, mamão, maracujá, ananazes,

mangavas, mangarás, inhames, batatas, carás, mandioca,

aipins, milho e arroz), quanto àqueles trazidos à Ilha de

Maré pelos portugueses (laranjas da terra, laranjas da

China, limões, cidras amarelas, uvas moscatéis, melões,

melancias, figos, romãs e cana), onde davam frutos ainda

mais saborosos que na Europa. Sem contar a riqueza de

peixes e mariscos (polvos, lagostins, camarões,

caranguejos, ostras...).

Fig. 2. Bananeiras, na comunidade de Itamoabo, Ilha de Maré – Salvador, BA.

Nos dias atuais, a importância econômica e nutricional de

peixes e mariscos, bem como de legumes e verduras

ainda prevalece na Ilha de Maré. Em pesquisa sobre as

condições nutricionais de crianças em comunidades de

pescadores, Santos et al. (2004) constataram que a dieta

alimentar das crianças de 1 a 5 anos, da comunidade de

Bananeiras da Ilha de Maré, era então constitu ída por

peixe, marisco e, com menor freqüência, carne bovina ou

frango; legumes (abóbora, batata inglesa); frutas (banana

da prata, laranja e manga); leite em pó integral; feijão;

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macarrão; farinha de mandioca e óleo. No entanto,

através de entrevistas pôde-se constatar que a

alimentação das crianças era monótona.

Os resultados indicaram que, apesar do baixo nível de

renda da população local, a dieta das crianças da Ilha de

Maré era mais rica em micronutrientes (vitaminas e sais

minerais) do que a das crianças da localidade de Santo

Amaro da Purificação, onde a renda das famílias é maior.

Esse resultado foi atribuído pelas autoras ao maior

consumo de produtos hortifrutigranjeiros na Ilha de Maré.

No entanto, a análise dos dados antropométricos das

crianças gerou dados preocupantes acerca de seu estado

nutricional, pois 66,2% delas estavam eutróficas, 7,7%

estavam com sobrepeso; 3,1% estavam eutróficas, com

déficit de crescimento; 20% estavam com alguma forma

de desnutrição - desnutrição atual (7,7%), desnutrição

pregressa (4,6%) ou desnutrição crônica (7,7%) - e 3,1%

estavam em risco nutricional.

Segundo o resultado da referida pesquisa, as

condições de saneamento básico também estavam

precárias: embora 82,7% das casas possuíssem água

tratada, apenas 34,6% possuíam rede de esgoto e 73,1%

das famílias referiram que existia esgoto a céu aberto na

vizinhança. O lixo era acondicionado em sacos plásticos

em 46,2% das casas, sendo este coletado regula rmente

pelo serviço público em 71,2% dos casos. Com relação à

presença de animais vetores de doenças, 67,3% das

famílias entrevistadas comentaram que existiam roedores

na casa ou próximo desta e 96,2% afirmaram existirem

insetos próximos ou dentro das moradias.

Em resumo, a baixa renda das famílias, as

precárias condições sanitárias e a alimentação monótona

têm prejudicado o desenvolvimento das crianças. A

condição nutricional das crianças da Ilha da Maré só não é

mais grave devido aos hábitos alimentares, associados à

atividade pesqueira, que envolvem um grande consumo

de alimentos protéicos e também ricos em lipídios

insaturados, bem como o de frutas e verduras. O consumo

de alimentos fontes de micronutrientes também é

favorecido na Ilha de Maré devido à disponibilidade de

área para o cultivo particular de pequenas hortas e

pomares. Pelas ruas também se vê por todo lado galinhas

com suas crias. (Fig. 3)

Fig. 3. Jegues, galinhas com pintinhos e cesta de lixo. Rua do Cemitério. Itamoabo, Ilha de Maré – Salvador, BA.

Na visita à comunidade de Itamoabo constatamos

a existência de problemas de saneamento básico. Em

frente à entrada da Escola Municipal de 1ª à 4ª série

constatamos a existência de esgoto a céu aberto, sendo

que as crianças, para chegarem à escola, têm que, ou

pulá-lo, ou percorrerem um caminho alternativo mais

longo. (Fig. 4 a 6).

Fig 4. Esgoto a céu aberto, em frente à Escola Municipal, com passagem que comunica duas ruas.

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Fig.5. Esgoto em frente à escola.

Conversando com uma moradora local e com uma

professora da escola tomamos conhecimento de que há

ratos e insetos nas proximidades. (Fig. 7). A escola

promove atividades educativas com os alunos, durante as

quais busca alertá-los para a atuação de tais animais

como vetores de doenças. No entanto, a melhoria da

qualidade de vida da população local demanda a

conscientização e a atuação pró-ativa da comunidade,

exigindo, dos poderes públicos, políticas de geração de

renda, de saúde, de saneamento básico e de educação

para a localidade.

Fig 6. Esgoto l ocalizado em frente à Escola Municipal

Fig. 7. Professora da escola e moradora de residência localizada em frente à Escola Municipal.

Como a Ilha de Maré dispõe apenas de escolas que

atendem o primeiro ciclo do Ensino Fundamental (Fig. 8),

cerca de 500 estudantes deslocam-se a 12 colégios da

rede pública situados no continente. A P refeitura Municipal

de Salvador passou a oferecer, a partir de 2005,

transporte escolar marítimo gratuito até Salvador. O

traslado é realizado por sete embarcações padronizadas e

com a marca da Prefeitura, sempre no turno matutino,

horário preferido por causa das marés.

A Prefeitura apresenta um projeto de construção

de uma escola na Ilha de Maré, com turmas até a 8ª série

do Ensino Fundamental, além de um posto de saúde para

atendimento básico. Ao lado dos dois prédios haveria

anexos para que os médicos, professores e funcionários

pudessem se hospedar. (ILHAS...., 2005).

Fig. 8. Escola Municipal de 1ª à 4ª série, localizada em Itamoabo, Ilha de Maré, Salvador-BA.

Em conversa com duas moradoras de Itamoabo

tomamos conhecimento de que, embora exista na Ilha de

Maré um posto de saúde, o atendimento médico ocorre

apenas em dois dias da semana, das 8 às 12 horas.

Mesmo o serviço de atendimento médico emergencial

prometido pela Prefeitura, não tem, segundo elas,

funcionado satisfatoriamente.

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Embora a Prefeitura afirme ter colocado uma das

embarcações de transporte escolar à disposição da

população 24 horas por dia, para transporte de

habitantes, em caso de emergência (como, por exemplo,

no caso de acidentes e partos), uma moradora nos relatou

que seu filho sofreu um acidente, cortando o supercílio, e

que ela teve que transportá-lo, com recursos próprios,

num dos barcos de transporte de passageiros, aguardando

o seu horário de partida para Salvador.

Outra dificuldade encontrada pela população local

é quanto ao transporte de produtos industrializados ou

para a construção civil, pois têm que ser adquiridos em

Salvador e transportados de barco até a Ilha, sendo

complicado seu desembarque, devido à inexistência de um

atracadouro. O embarque de passageiros e de

mercadorias com destino a Salvador envolve a mesma

dificuldade. (Fig. 9 e 10).

Fig. 9. Embarque de mantimentos e passageiros. Itamoabo, Ilha de Maré – Salvador, BA.

Fig. 10. Embarque de mantimentos e passageiros. Itamoabo, Ilha de Maré – Salvador, BA.

Na ilha, devido à topografia com montanhas e

vales, o transporte dos mais variados produtos é feito,

principalmente, por jegues. (Fig. 11).

Fig.11. Uso de jegues como meio de transporte de mantimentos e de pessoas. Itamoabo, Ilha de Maré, Salvador – BA.

Diante da dificuldade de transporte de materiais de

construção, a população local encontra soluções criativas

para minimizar os custos: as escadarias e a rampa que

ligam as comunidades de Itamoabo e Santana, por

exemplo, foram construídas com a substituição das britas

por pequenas conchas de moluscos. (Fig. 12).

Fig. 12. Conchas de moluscos usadas em substituição à brita na construção civil. Itamoabo, Ilha de Maré, Salvador-BA.

Segundo o dono de uma pousada e também

proprietário de um dos restaurantes da praia de

Itamoabo, o custo da construção civil na Ilha de Maré é

três vezes superior ao verificado em Salvador, em

decorrência das dificuldades de transporte dos materiais.

(Fig. 13 e 14).

Fig. 13. Pousada. Itamoabo, Il ha de Maré, Salvador – BA.

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Fig. 14. Casa em construção. Santana, Ilha de Maré, Salvador – BA.

Vários habitantes locais nos relataram que um dos

serviços que melhor funciona na Ilha de Maré é a coleta

de lixo. No entanto, suspeitamos que esse serviço não

esteja sendo realizado com muita eficiência, pois embora

tenhamos constatado a presença de cestas de lixo (Fig. 3)

vimos terrenos baldios e esgotos com lixo em Santana

(Fig. 5 e15) e percebemos a inexistência de cestas de lixo

na praia de Itamoabo.

Fig. 15. Terreno baldio com vegetação queimada e lixo. Santana, Ilha de Maré, Salvador, BA.

Na praia de Itamoabo constatamos também que os

turistas colocam as mesas dos bares sobre as rochas, ao

final da tarde, quando a maré está baixa. (Fig. 16 e 17).

As garrafas de cerveja e outros dejetos são dispostos

sobre as rochas, poluindo a água do mar, quando a maré

volta a subir.

Fig. 16. Trecho da praia de Itamoabo, com mesas sobre as rochas. Ilha de Maré, Salvador, BA.

Fig. 17. Rochas da praia de Itamoabo, com mesas. Ilha de Maré, Salvador, BA.

As possib ilidades de investimento da população

local em negócios que propiciem geração de emprego e

renda são limitadas. Segundo uma moradora, embora

exista a promessa de se instalar na localidade uma

agência do Banco Popular do Brasil, o que confirmamos

pela publicidade realizada pela Secretaria de Comunicação

da Prefeitura Municipal de Salvador (SECOM, 2005), na

realidade a instalação da referida agência ainda não se

concretizou. O prédio está sendo construído, mas os

moradores não têm notícia de quando passará a

funcionar, o que evidencia que a propaganda dos órgãos

públicos tem se antecipado às ações ou, então, não tem

sido um eficiente meio de comunicação com a população

local.

3. As primeiras ações...

Nos dias 19 e 20 de novembro retornamos à Ilha

de Maré para darmos início às primeiras ações do

Programa, que foram desenvolvidas no lugarejo de Praia

Grande.

A atividade de ensino envolveu a exibição do

filme Procurando Nemo (Fig. 18 a 20), para alunos do

primeiro ciclo do Ensino Fundamental da Escola Municipal

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de Praia Grande, no dia 19 de novembro, com o objetivo

de discutir as relações ecológicas existente no ecossistema

marinho e aspectos ligados à diversidade biológica e às

formas sustentáveis de se utilizá-la como meio de

subsistência e como fonte de renda pelas comunidades de

pescadores.

Fig. 18. Cena do filme Procurando Nemo. Fonte: <http:// www.disney.com.br/nocinema/nemo/>. Acesso em: 6 nov. 2005.

Iniciamos a atividade com uma conversa informal

com os alunos, visando identificar o que conheciam sobre

o mar, caracterizar os animais marinhos que lhes são

familiares e o que deles sabem no que se refere aos

seguintes aspectos: onde vivem, do que se alimentam,

como obtêm alimento, sua forma, seu tamanho, seu peso,

sua cor, como se locomovem, como nascem, como se

defendem de predadores, que mudanças sofrem ao longo

da vida, que relações mantêm com outros seres vivos e de

que cadeias e teias tróficas participam.

Como essa atividade foi realizada no Dia Nacional

da Consciência Negra, a maior parte dos adultos do

lugarejo estava participando de uma caminhada que

rodeou toda a ilha e que durou em torno de seis horas.

Dessa forma, as crianças que estavam sozinhas ou em

pequenos grupos pelas ruas e que perceberam o

movimento na escola foram se aproximando curiosas e

foram convidadas para também assistirem o filme. Como

havia 36 crianças com faixas etárias diversificadas, desde

bebês de colo levados pelos irmãos até crianças de 10

anos, evitamos estender o bate-papo inicial e

reorientamos as atividades subseqüentes para que todos

pudessem participar.

Fig. 19. Exibição do filme “Procurando Nemo”.

Fig. 20. Exibição do filme “Procurando Nemo”.

Após a projeção do filme realizamos a

interpretação coletiva das cenas que mais chamaram a

atenção das crianças e identificamos práticas humanas

retratadas no filme que alteram o equilíbrio da vida

marinha.

Em seguida, buscamos relacionar o filme com o

contexto local, pedindo aos alunos que identificassem no

filme animais marinhos que existem na fauna local e nos

relatassem atividades dos turistas e pescadores que

prejudicam o equilíbrio ecológico, problematizando o uso

de redes e de bombas na pesca e levantando formas de

preservar o ambiente marinho.

Pedimos que os alunos elaborassem um desenho

relacionado ao filme. (Fig. 21). Em 75% dos desenhos a

relação dos seres humanos com o mar aparece retratada

pela presença de pescadores, mulheres, barcos, crianças,

casas e árvores com frutas, em 69,6% há cenas em que

aparecem barcos, indicando que as cenas que mais

chamaram a atenção dos alunos foram aquelas da captura

de Nemo pelo barco e a da fuga dos peixes da rede de

pescaria. (Fig. 22). Em 39% aparecem estrelas-do-mar,

em 22,2% arraias, 16,5% siris/caranguejos, 14%

tubarões, 14% baleias.

Em todos os desenhos aparecem pequenos peixes

isolados ou formando cardumes. Em desenhos isolados

aparecem imagens de baiacu, peixe-espada, peixe-abissal,

água viva, golfinho, polvo e “sereia”. Ao longo da

atividade fomos ajudando as crianças a nomear o que

desenharam, mas, como o grupo de crianças era muito

grande, não foi possível conversar com todas elas, de

forma que não conseguimos compreender alguns

desenhos das crianças muito pequenas.

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Fig. 21. Criança elaborando um desenho sobre o filme.

Fig. 22. Desenho em que é retratada a cena da fuga da rede pelos pei xes

Enquanto os alunos desenhavam, construímos um

cartaz com as impressões em tinta das mãos de todos os

alunos. (Fig. 23)

Fig. 23. Confecção de cartaz em que os alunos deixaram suas marcas.

Como no grupo havia uma criança com

necessidades especiais aproveitamos para refletir sobre a

atitude de superproteção de Marlin, pai de Nemo, pelo

fato de ele ter uma nadadeira defeituosa, e da importância

de respeitarmos e reconhecermos que todas as pessoas

têm habilidades próprias e são capazes de auto-

superação. Ao final da atividade pedimos a dois alunos,

Marcela e Hugo, que, representando os colegas,

mostrassem para toda a turma as marcas de suas mãos, o

que fizeram com muito orgulho e foram aplaudidos por

todos. (Fig. 24).

Fig. 24. Crianças mostrando para os colegas as suas marcas.

Pedimos às crianças que respondessem, por

escrito, qual dos animais marinhos existentes no mar

próximo à Ilha de Maré que eles achavam mais

interessante. Foram citados os seguintes animais:

tubarão, cavalo-marinho, peixe, siri, camarão, “sereia”,

cardume, peguari, tartaruga e sururu. Perguntamos o que

eles sabiam sobre esses animais. Sobre o tubarão,

destacaram sua ferocidade:

• Ele pode atacar mais de dez pessoas no dia

• Ele come gente e vive a 20 quilômetros daqui.

• Ele morde e é muito feroz.

Em relação aos peixes, siris e camarões, sururus, a

maioria das referências foi sobre seu uso como alimento:

• Eles servem para comer.

• Faz moqueca, frita, faz ensopado.

• É bom para comer.

• Ele frita e faz moqueca.

Quanto ao siri, um aluno comentou que:

• Ele se enterra na areia e corre ligeiro para o mar.

Sobre o cardume, um aluno destacou que:

• Ele nada junto e é muito bonito.

Sobre os animais marinhos em geral responderam que:

• Vivem no mar, se alimentam, nadam e podem ser criados.

Perguntamos o que eles gostariam de saber sobre

os animais marinhos que vivem próximo à Ilha de Maré.

• Eu gostaria de saber se o cavalo marinho come o que? Se ele vive bem no mar e como el e consegue nadar.

• Eu gostaria de saber se o tubarão não comesse gente e outras coisas o que ele comeria!

• Eu gostaria de saber muito sobre as cores [do cardume].

• Eu gostaria de saber como o peixe nasce.

• Por que que o siri fica enterrado na areia?

• Eu gostaria de saber do que o tubarão se alimenta.

• Como o siri corre dentro da água.

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• Como criar o peixe.

• Saber como o peixe, o siri e o camarão nadam.

• Eu gostaria de saber porque o Nemo parecia com o pai dele.

A atividade de ensino foi encerrada com muita

brincadeira de roda! (Fig. 25)

Fig. 25. Brincadeira de roda em frente à escola.

A atividade de pesquisa objetivou ter indícios

sobre como os moradores da Ilha de Maré produzem a sua

subsistência e sobre sua percepção da biodiversidade local

e dos impactos das atividades humanas no meio

ambiente. Pretendíamos, também, conhecer a relação

afetiva dos moradores com a Ilha.

Utilizamos como estratégia de aproximação dos

habitantes a apresentação do Poema À Ilha de Maré,

publicado em 1705 (Anexo B) e da reportagem Ilhas

Abandonadas, publicada como matéria de capa do Jornal A

Tarde, em 2005, ou seja, 300 anos após o poema

exaltador das belezas da ilha. Na reportagem (Anexo C)

são denunciados os problemas sociais e de saneamento

básico, infra-estrutura, saúde e educação das ilhas

situadas na Baía de Todos os Santos que fazem parte do

município de Salvador. (Fig. 26 e 27).

Fig 26. Crianças retornando da escola. Fonte: A TARDE, Salvador, 13 nov. 2005. Foto de Haroldo Abrantes.

Fig 27. Porcos freqüentando praia da Ilha de Maré. Fonte: A TARDE, Salvador, 13 nov. 2005. Foto de Haroldo Abrantes.

Foram realizadas observações das condições de vida

da população e entrevistamos 100 moradores do lugarejo

de Praia Grande.

Dos 100 entrevistados apenas 6 disseram ter

conhecimento da existência do poema de Manoel Botelho,

mas nenhum fez comentários sobre o seu conteúdo. As

pessoas que nunca t inham ouvido falar do poema ficaram

muito curiosas, o que favoreceu nossa aproximação e

diálogo com elas.

As pessoas entrevistadas apresentavam uma ampla

distribuição de tempo de residência na Ilha de Maré

(Gráfico 1)

Tempo de residência na Ilha de Maré - Salvador - BA

Menos de 10 anos 9,0%

Entre 10 e 19 anos 15,0%

Entre 20 e 29 anos 18,0%

Entre 30 e 39 anos 14,0%

Entre 40 e 49 anos 13,0%

Entre 50 e 59 anos 14,0%

Entre 60 e 69 anos 9,0%

70 ou mais anos 8,0%

Através das entrevistas tomamos conhecimento de

que os principais meios de subsistência da população da

Ilha de Maré são: a colheita de frutas, a pescaria, a

mariscagem, o artesanato e a agricultura. No artesanato

predominam em Praia Grande a fabricação de munzuás

(armadilha para captura de frutos do mar), balaios e

cestos feitos com canabrava, comercializados na feira de

São Joaquim, a produção de redes de pescaria e a

confecção de esteiras, tendo como matéria-prima folhas

de bananeira. Outras fontes de sustento também foram

citadas, mas com menor freqüência, como a criação de

frangos, a caça, a manutenção de hortas, a realização de

transporte marít imo em embarcações na baía de Todos os

Santos e o trabalho como assalariados na Base Naval e no

Porto de Aratu. (Gráfico 2)

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10

Meios de subsistência segundo moradores - Ilha de Maré - Salvador - BA

Pescaria 89

Artesanato 43

Mariscagem 33

Agricultura 28

Colheita de frutas 17

Manutenção de hortas 5

Assalariado 3

Criação de frangos 1

Embarcações 1

Caça 1 A freqüência de citações é superior à quantidade de entrevistas devido às respostas serem abertas e múltiplas.

Os alimentos produzidos na Ilha de Maré são

utilizados para sustento próprio da população e o

excedente é comercializado em Paripe. Entre os produtos

comercializados os entrevistados referiram-se à farinha de

mandioca, às frutas e aos doces caseiros, especialmente o

de banana. Na agricultura são produzidos mandioca,

batata, cana e milho. Quanto à produção de hortaliças, ela

é pequena na Ilha, sendo que grande parte dos produtos

consumidos são adquiridos em Salvador. Várias frutas são

encontradas em abundância na ilha (Gráfico 3).

Frutas abundantes segundo moradores - Ilha de Maré - BA

Banana 88

Manga 86

Goiaba 27

Coco 19

Jambo 15

Caju 9

Abacate 8

Cajá 6

Laranja 6

Jenipapo 5

Acerola 4

Mamão 4

Araçá 2

Fruta-pão 1

Tangerina 1

Cacau 1

Tamarindo 1

Caqui 1 A freqüência de citações é superior à quantidade de entrevistas devido às respostas serem abertas e múlt ip las.

Confirmamos com os entrevistados que a Ilha da

Maré é um pólo ainda hoje produtor de renda de bilro,

mas ficamos sabendo que a produção se concentra nos

lugarejos de Santana e Itamoabo, sendo de natureza

domiciliar. Em Praia Grande a produção é pequena. São

utilizados na produção da renda almofadas (feitas de

folhas de bananeira), linha de crochê, papelão para molde,

alfinetes e os bilros, que apresentam uma haste

confeccionada de caules de plantas, extraídos do

manguezal da ilha, com uma semente em uma das

extremidades que pode ser de coco, de cabeça de frade ou

de nogueira.

Em relação às embarcações, tomamos

conhecimento de que a madeira para sua construção vem

de fora da ilha, de Salvador ou de Valença.

Quando perguntamos a que os moradores atribuem

o fato de a nutrição das crianças da Ilha de Maré, segundo

pesquisas, ser melhor do que a das crianças de outras

comunidades de pescadores, a maioria fez referência à

alimentação rica em peixes e frutos do mar frescos (62) e

em frutas frescas (41). Vários fizeram referência genérica

aos alimentos frescos e sem produtos químicos (18) e

poucas pessoas fizeram referência às verduras (2).

Na Ilha de Maré são utilizadas várias plantas como

remédio, segundo os entrevistados (Gráfico 4).

As plantas são empregadas para uma grande

diversidade de enfermidades: inflamações, cólicas

abdominais, febre, gripe, pressão alta, gases;

impaludismo, diarréia; verminoses, cálculos renais dores

nas costas, dores de fígado, dores de dente, dores em

geral e, ainda, para colesterol alto, para o coração, como

calmante e como expectorante.

Plantas usadas como remédio segundo moradores - Ilha de Maré - Salvador - BA

Aroeira 43

Erva-cidreira 41

Alumã 25

Capim-santo 24

Erva-doce 18

Pitanga 10

Boldo 8

Fedegoso 8

Canela-de-Velho 7

Carqueja 7

Velome 7

Quebra-pedra 6

Eucalipto 5

Espinho-cheiroso 4

Mãe-boa 4

Maria-preta 3

Tamarindo 3

Tapete de oxalá 3

Vassourinha 3

Pulga-do-campo 3

São Gonçalinho 2

Quioiô 2

Benzetacil 2

Mastruz 2

Acerola 1

Umbu 1

Alfazema 1

Murici 1

Malva-branca 1

Caju 1

Anador 1

Papanicolau 1

graviola 1

Folha-de-leite 1

A freqüência de citações é superior à quantidade de entrevistas devido às respostas serem abertas e múltiplas.

Quanto aos animais terrestres existentes na i lha,

pelas informações dos habitantes, parece não haver uma

grande diversidade (Gráfico 5) Um morador informou que

na ilha já existiram até jacarés.

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Animais existentes segundo os moradores - Ilha de Maré - Salvador - BA

Boi 21

Cavalo 20

Porco 15

Tatu 14

Jegue 12

Cachorro 10

Galinha 8

Teiú 5

Égua 5

Gato 3

Pássaros 2

Gato do mato 1

Burro 1

Cobra 1

Veado 1

Paca 1

Bode 1

Cabra 1

A freqüência de citações não coincide com a quantidade de entrevistas devido às respostas serem abertas e múltiplas.

Embora na Ilha de Maré existam bois e porcos, as

carnes desses animais são pouco consumidas. No caso da

carne de boi, devido à sua raridade. Já no que se refere à

carne de porco, por ela não fazer parte dos hábitos

alimentares locais. Os porcos criados na Ilha são

comercializados em “Salvador”.

Apesar da aparente homogeneidade da ilha quando

avistada ao longe, essa nossa primeira aproximação

permitiu-nos perceber que a organização sócio-econômica

atual ainda hoje tem influência da configuração nela

existente no passado durante o período colonial. Naquela

época havia um engenho de cana em Santana. Em

Bananeiras, havia um quilombo e em Praia Grande ficava

a senzala. Hoje, Santana tem uma população com melhor

poder aquisitivo, as residências têm melhor aparência, o

comércio é mais estabilizado e a população tem a pele

mais clara, resultado da miscigenação dos negros com

portugueses e espanhóis. Em Bananeiras, as condições

sócio-econômicas são desfavoráveis, assim como em Praia

Grande, mas verifica-se um maior nível de mobilização

social. Em Praia Grande reside uma população composta

predominantemente por netos e bisnetos de escravos,

com pele mais pigmentada que nos outros lugarejos.

Apesar da rica diversidade biológica e cultural

existente na Ilha, são imensas as dificuldades enfrentadas

pelos habitantes, especialmente a falta de emprego, a

travessia de barco pelos estudantes e a falta de

saneamento básico.

A atividade de extensão envolveu a ação educativa na

comunidade no dia 20 de novembro, sobre saneamento

básico e animais vetores de doenças, com ênfase na

dengue, uma vez que estávamos no Dia Nacional de

Combate à Dengue. Foram colados cartazes em pontos

comerciais (bares, mercados, etc.) e conversamos com

vários moradores em suas residências, distribuindo uma

pequena Cartilha Ilustrada contra a Dengue (Anexo B).

Além dessa nossa iniciativa, não constatamos

nenhuma outra ação voltada para a prevenção da dengue

em Praia Grande, no final de semana em que lá

permanecemos.

O programa Jorge Amando a Maré é coordenado pela Profª

Rosiléia Oliveira de Almeida e contou com a participação dos

seguintes alunos no desenvolvimento das atividades de campo

descritas: Virgília Cerqueira Santos, Sandra Suely Santana de

Oliveira, Alba Leite de Oliveira, Tarcísia Bispo dos Santos, Maria

Bárbara Correira Baracho, Uilza N. Sales, Cássia Sales, Juvenilda

dos Santos e Valdeci Lemos Serafim.

4 Referências

ILHAS de Salvador vão contar com transporte escolar

marítimo. Jornal da Mídia, Salvador, 10 maio 2005.

Disponível em: <www.piatafm.com.br>. Acesso em: 6

nov. 2005.

OLIVEIRA, Cláudia. Ilhas são paraísos esquecidos. A

Tarde, Salvador, 13 nov. 2005. Caderno Local, 10-11.

OLIVEIRA, Manuel Botelho de. À Ilha de Maré. In: RAMOS,

Péricles Eugênio da Silva. (Org.) Poesia Barroca. São

Paulo: Melhoramentos, 1967. Disponível em:

<http://www.bibvirt.futuro.usp.br>. Acesso em: 06 nov.

2005.

SANTOS, Neuza Maria Miranda dos et al. Avaliação das

condições nutricionais de crianças em comunidades de

pescadores: Ilha de Maré e Santo Amaro da Purificação,

BA. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE EXTENSÃO

UNIVERSITÁRIA, 2., 2004, Belo Horizonte. Anais... Belo

Horizonte, 1998. Disponível em:

<www.ufmg.br/congrext/saude/Saude 42.pdf>. Acesso

em: 6 nov. 2005.

* * *

ANEXO A

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À Ilha de Maré

Manuel Botelho de Oliveira

À ILHA DE MARÉ TERMO DESTA CIDADE DA BAHIA

SILVA

J az ob líqua fo rma e pro longada

a te rra de Maré toda ce rcada

de Ne tuno, que tendo o amor constante ,

lhe dá muitos abraços por amante ,

e botando- lhe os braços dentro de la

a pre tende gozar, por se r mui be la.

Nesta assistência tanto a senhoreia,

e tanto a ga lante ia ,

que, do mar, de Maré tem o ape lido ,

como quem preza o amor de seu que rido:

e por gosto das prendas amorosas

f ica maré de rosas,

e v ivendo nas ânsias sucessivas,

são do amor marés v ivas;

e se nas mortas menos a conhece,

maré de saudades lhe pa rece.

Vista por fo ra é pouco ape tecida,

porque aos olhos por fe ia é pa recida;

porém dentro habitada

é muito be la , muito desejada,

é como a concha tosca e deslustrosa,

que dentro cria a pé ro la fe rmosa .

Erguem- se ne la oute iros

com sobe rbas de montes a ltane iros,

que os va les por humildes desprezando,

as presunções do Mundo estão mostrando,

e que rendo se r príncipes subidos,

f icam os vales a seus pés rendidos.

Por um e outro lado

vá rios lenhos se vêem no mar salgado;

uns vão buscando da C idade a v ia,

outros de la se vão com alegria;

e na desigua l o rdem

consiste a fe rmosura na desordem.

Os pobres pescadores em save iros,

em canoas l igeiros,

f azem com tanto abalo

do trabalho marít imo regalo;

uns as redes estendem,

e vá rios pe ixes por pequenos prendem;

que a té nos pe ixes com ve rdade pura

se r pequeno no Mundo é desventura:

outros no anzo l f iados têm

aos m íse ros pe ixes enganados,

que sempre da vil isca cobiçosos

pe rdem a própria v ida por gulosos.

Aqui se cria o pe ixe regalado

com ta l sustância , e gosto preparado,

que sem tempero algum para apetite

f az gostoso conv ite,

e se pode d ize r em graça ra ra

que a mesma natureza os tempera ra.

Não falta aqui marisco saboroso,

pa ra tira r fastio ao me lindroso;

os polvos rad iantes,

os lagostins f lamantes,

camarões exce lentes,

que são dos lagostins pobres pa rentes;

re trógrados crangue jos,

que fo rmam pés das bocas com festejos,

ostras, que alimentadas

estão nas pedras, onde são ge radas;

enf im tanto marisco , em que não fa lo ,

que é vá rio pe rrex il pa ra o rega lo .

As p lantas sempre ne la reve rdecem,

e nas fo lhas pa recem,

deste rrando do Inve rno os desfavores,

e smera ldas de Abri l em seus ve rdores,

e de las por adorno ape tecido

faz a d ivina F lo ra seu vestido .

As f ruitas se produzem copiosas,

e são tão de le itosas,

que como junto ao mar o sít io é posto,

lhes dá salgado o mar o sa l do gosto.

As canas fe rt i lmente se produzem,

e a tão breve d iscurso se reduzem,

que, porque crescem muito,

em doze meses lhe sazona o f ruito,

e não que r, quando o f ruto se dese ja ,

que sendo ve lha a cana , fé rt il sej a.

As la ranjas da te rra

poucas azedas são , antes se ence rra

ta l doce nestes pomos,

que o tem cla rif icado nos seus gomos;

mas as de Portuga l entre a lamedas

são primas dos l imões, todas azedas.

Nas que chamam da China

grande sabor se af ina,

ma is que as da Europa doces, e me lhores,

e têm sempre a ventagem de ma iores,

e nesta ma ioria ,

como ma iores são, têm ma is va lia .

Os l imões não se prezam,

antes por se rem muitos se desprezam.

Ah se Ho landa os gozara !

Por nenhuma prov íncia se troca ra .

As cidras amarelas

ca indo estão de belas,

e como são inchadas, presumidas,

é bem que estej am pe lo chão ca ídas.

As uvas moscaté is são tão gostosas,

tão ra ras, tão m imosas;

que se Lisboa as v ira , imagina ra

que a lguém dos seus pomares as furta ra ;

de las a produção por copiosa

pa rece m ilagrosa,

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porque dando em um ano duas vezes,

ge ram dous pa rtos, sempre , em doze meses.

Os me lões ce lebrados

aqui tão docemente são ge rados,

que cada qua l tanto sabor a lenta,

que são fe itos de açúcar, e pimenta ,

e como sabem bem com mil agrados,

bem se pode d ize r que são le trados;

não fa lo em Va la riça , nem Chamusca:

porque todos ofusca

o gosto destes, que esta te rra abona

como próprias de lícia s de Pomona .

As me lancias com igua l bondade

são de tal qua lidade,

que quando docemente nos recre ia,

é cada me lancia uma co lme ia ,

e às que tem Portugal lhe dão de rosto

por insulsas abóboras no gosto .

Aqui não fa ltam f igos,

e os solicitam pássa ros am igos,

ape titosos de sua doce usura ,

porque cria ape tite s a doçura;

e quando acaso os matam

porque os f igos ma ltra tam,

pa recem mariposas, que embebidas

na chama a legre , vão pe rdendo as vidas.

As romãs rubicundas quando abe rtas

à v ista agrados são, à l íngua ofe rtas,

são te souro das f ruitas entre a fagos,

po is são rubis suaves os seus bagos.

As f ruitas quase todas nomeadas

são ao Brasil de Europa trasladadas,

por que tenha o Brasil por ma is façanhas

a lém das próprias f ruitas, as estranhas.

E tra tando das próprias, os coqueiros,

ga lha rdos e f rondosos

criam cocos gostosos;

e andou tão l ibe ra l a na tureza

que lhes deu por grandeza ,

não só pa ra bebida, mas sustento,

o nécta r doce , o cândido a limento .

De vá rias cores são os ca jus be los,

uns são ve rme lhos, outros amare los,

e como vários são nas vá rias cores,

também se mostram vários nos sabores;

e criam a castanha ,

que é melhor que a de F rança, Itál ia, Espanha.

As p itangas fe cundas

são na cor rub icundas

e no gosto p icante comparadas

são de América g injas d isfa rçadas.

As p itombas douradas, se as dese jas,

são no gosto me lhor do que as ce rejas,

e pa ra te rem o primor inte iro ,

a ventagem lhes levam pe lo che iro .

Os a raçazes grandes, ou pequenos,

que na te rra se criam mais ou menos

como as pê ras de Europa engrandecidas,

com e las va riamente pa recidas,

de vá rias castas marme ladas belas.

As bananas no Mundo conhecidas

por f ruto e mantimento ape tecidas,

que o céu pa ra rega lo e passatempo

l ibe ra l as concede em todo o tempo,

competem com maçãs, ou baonesas

com pe ros ve rdeais ou camoesas.

Também se rvem de pão aos moradores,

se da fa rinha faltam os favores;

é conduto também que dá sustento ,

como se fosse próprio mantimento;

de sorte que por graça, ou por tributo,

é f ruto , é como pão, se rve em conduto .

A p imenta e legante

é tanta, tão d ive rsa, e tão p icante ,

pa ra todo o tempero acomodada ,

que é muito aventa jada

por f re sca e por sadia

à que na Asia se ge ra, Europa cria.

O mamão por f reqüente

se cria vulga rmente ,

e não o preza o Mundo,

porque é muito vulga r em se r fe cundo.

O marcujá também gostoso e f rio

entre as f ruitas merece nome e brio;

tem nas pev ides ma is gostoso agrado,

do que açúcar rosado;

é be lo, cord ia l, e como é mole,

qual suave manja r todo se engo le.

Ve re is os ananases,

que pa ra re i das f ruitas são capazes;

vestem- se de esca rlata

com majestade gra ta,

que pa ra te r do Império a grav idade

logram da croa ve rde a ma jestade;

mas quando têm a croa levantada

de p icantes espinhos adornada,

nos mostram que entre Re is, entre R ainhas

não há croa no Mundo sem espinhas.

Este pomo ce lebra toda a gente ,

é muito ma is que o pêssego exce lente,

po is lhe leva aventagem gracioso

por ma ior, por mais doce, e ma is che iroso.

Além das f ruitas, que esta te rra cria,

também não fa ltam outras na Bahia;

a mangava m imosa

sa lpicada de t intas por fe rmosa ,

tem o cheiro famoso,

como se fo ra a lm ísca r o lo roso;

produze-se no mato

sem que re r da cultura o duro tra to,

que como em si toda a bondade apura ,

não que r deve r aos homens a cultura.

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Oh que ga lha rda f ruita , e sobe rana

sem te r indústria humana,

e se Jove as t ira ra dos pomares,

por ambrósia as puse ra entre os manja res!

C om a mangava be la a seme lhança

do macujé se a lcança;

que também se produz no mato inculto

por sobe rano indulto:

e sem faze r ao me l injusto agravo ,

na boca se desfaz qua l doce favo .

Outras f ruitas d isse ra, porém, basta

das que tenho descrito a vá ria casta;

e vamos aos legumes, que p lantados

são do Brasil sustentos duplicados:

os mangarás que brancos, ou ve rme lhos,

são da abundância espe lhos;

os cândidos inhames, se não m into,

podem tira r a fome ao ma is f am into.

As ba ta tas, que assadas, ou cozidas

são muito ape tecidas;

de las se faz a rica ba ta tada

das Bélg icas nações so licitada.

Os ca rás, que de roxo estão vestidos,

são ló ios dos legumes parecidos,

dentro são alvos, cuja cor honesta

se quis cobrir de roxo por modesta .

A mandioca, que Tomé sagrado

deu ao gentio amado,

tem nas raízes a fa rinha oculta:

que sempre o que é fe l iz, se d if iculta .

E pa rece que a te rra de amorosa

se abraça com seu f ruto de leitosa;

de la se faz com tanta a tiv idade

a fa rinha , que em fácil brev idade

no mesmo d ia sem trabalho muito

se a rranca , se desfaz, se coze o f ruito;

de la se faz também com ma is cuidado

o be ij u rega lado,

que fe ito tenro por curioso amigo

grande ventagem leva ao pão de trigo.

Os a ip ins se aparentam

coa mandioca , e ta l favor a lentam,

que tem qualque r, cozido, ou se ja assado,

das castanhas da Europa o mesmo agrado.

O milho , que se p lanta sem fad igas,

todo o ano nos dá fáce is e sp igas,

e é tão fe cundo em um e em outro fi lho ,

que são mãos l ibe ra is as mãos de m ilho.

O a rroz semeado

fe rti lmente se vê mult ip licado;

ca le -se de Va lença, por estranha

o que tributa a Espanha ,

ca le -se do Oriente

o que come o gentio, e a l ísia gente;

que o do Brasil quando se vê cozido

como tem ma is substância, é ma is crescido.

Tenho explicado as f ruitas e legumes,

que dão a Portuga l muitos ciúmes;

tenho recopilado

o que o Brasil contém para invejado,

e pa ra prefe rir a toda a te rra ,

em si pe rfe itos quatro AA ence rra .

Tem o primeiro A, nos a rvoredos

sempre ve rdes aos o lhos, sempre ledos;

tem o segundo A, nos a res puros

na tempérie agradáveis e seguros;

tem o te rce iro A, nas águas f ria s,

que re f rescam o pe ito, e são sadias;

o quatro A, no açúcar de le itoso ,

que é do Mundo o regalo ma is m imoso.

São po is os quatro AA por singula res

Arvoredos, Açúcar, Águas, Ares.

Nesta i lha está mui ledo, e mui v istoso

um Engenho famoso,

que quando quis o f ado antigamente

e ra R e i dos engenhos preminente ,

e quando Holanda pé rf ida e nociva

o que imou, renasceu qua l F ênix v iva.

Aqui se fabrica ram três cape las

d itosamente belas,

uma se esmera em fo rta le za tanta ,

que de abóbada fo rte se levanta;

da Senhora das Neves se ape lida,

renovando a p iedade escla recida ,

quando em devoto sonho se viu posto

o nevado candor no mês de agosto.

Outra cape la vemos fabricada,

A Xav ie r ilustre dedicada,

que o Maldonado Pá roco entendido

este edif ício f e z agradecido

a Xavie r, que foi em sacro a lento

g ló ria da Igreja, do J apão portento .

Outra cape la aqui se reconhece,

cujo nome a engrandece,

po is se dedica à C once ição sagrada

da Virgem pura sempre imaculada ,

que fo i por singula r e ma is fe rmosa

sem manchas lua , sem espinhos rosa .

Esta Ilha de Maré, ou de a legria,

que é te rmo da Bahia,

tem quase tudo quanto o Brasil todo ,

que de todo o Brasil é breve apodo;

e se a lgum- tempo Cite ré ia a achara,

por e sta sua Chipre despreza ra,

porém tem com Maria ve rdade ira

outra Vênus me lhor por padroeira.

***

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Candombá – Rev ista Virtua l, v . 1, n. 2, j u l – dez 2005 ISSN 1809-0362

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ANEXO B

Cartilha ilustrada contra a Dengue

O mosquito que transmite a dengue, o

Aedes aegypti, precisa de água parada

e limpa para se reproduzir. C om

medidas simples e preventivas , é

possível impedir que isso aconteça.

Veja como se faz.

1. Nunca deixe água parada em pneus,

pratos, bacias, etc.

2. Mantenha bem tampados todos os

depósitos de água.

3. Após regar as plantas, lave os pratos de

apoio dos vasos.

4. Alerte os adultos para limparem as lajes e

calhas de casa.

5. Lave os bebedouros de aves e animais toda

semana, esfregando bem a parte interna.

6. Guarde garrafas vazias de cabeça para

baixo.

7. Coloque sempre o lixo em sacos plásticos e

feche-os bem.

8. Na estação das chuvas e do calor, é preciso ficar mais alerta, aumentando os cuidados. Faça a

sua parte: ajude a repassar essas informações para seus familiares, amigos e vizinhos!

Fonte: http://www.picarelli.com/o_povo_na_tv/report 27022003a.htm com base na Revista Nova Escola

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Fonte: OLIVEIRA, Cláudia. Ilhas são paraísos esquecidos. A Tarde, Salvador, 13 nov. 2005. Caderno Local, p. 10-11

ANEXO C – Ilhas Abandonadas