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Congreso de suelos 2014

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XX Congreso Latinoamericano y XVI Congreso

Peruano de la Ciencia del SueloEDUCAR para PRESERVAR el suelo y conservar la vida en La TierraCusco Per, de 9 a 15 de Novembro de 2014Centro de Convenciones de la Municipalidad del CuscoFERTILIDADE DOS SOLOS DO ASSENTAMENTO RURAL HORTO AIMORS, BAURU E PEDERNEIRAS/SP/BRASIL.

Perusi, M.C.1*; Zaher, C.A.1; Ferreira, J.J.1Universidade Estadual Paulista "Jlio de Mesquita Filho" UNESP/Cmpus de Ourinhos - SP/Brasil. *Contato do autor: e-mail: [email protected]; Av. Vitalina Marcusso, 1.500, Bairro: Cmpus Universitrio CEP 19.910-206 Ourinhos/SP Brasil. Telefone: (55) 14-3302-5700, ramal 5788. RESUMO O modelo de organizao das sociedades, desde os primrdios, caracteriza-se pela intensa presso sobre os solos agrcolas. Esse modelo tende a resultar na decapitao dos horizontes superficiais por eroso hdrica, justamente onde se concentra a maior diversidade biolgica, alm de uma complexa alterao das propriedades fsicas, qumicas e morfolgicas. Em pequenos estabelecimentos rurais, os camponeses tm no solo o principal recurso produtivo para garantir a gerao de renda e consequente manuteno das famlias no campo. Desta forma, objetivou-se analisar e espacializar alguns parmetros qumicos do solo, fundamentais para garantir a fertilidade e produtividade. Para tanto, foram amostrados 145 lotes da Gleba I do assentamento rural Horto Aimors, Bauru e Pederneiras/SP. Foram coletadas 10 amostras simples por amostra composta, a profundidade de 020 cm, totalizando 1.450 tradagens. Analisou-se os seguintes atributos: pH, matria orgnica e V%. Os resultados indicam que 68% das amostras apresentam pH muito baixo e baixo, o que denota acidez pronunciada. Quanto matria orgnica, 99% dos lotes apresentam teores baixos e mdicos, o que sugere degradao biolgica do solo. A percentagem de Saturao por Bases (V%) predominantemente muito baixa e baixa, o que compromete o desenvolvimento radicular tendo em vista e menor absoro de nutrientes. Desta forma, conclui-se que esses solos encontram-se com baixo nvel de fertilidade. Nessas condies, uma das maneiras de reverter o quadro proceder a aplicao de fertilizantes, o que oneraria ainda mais o produtor. Porm, esse investimento seria desnecessrio caso prticas de manejo conservacionistas tivessem sido adotadas como medida preventiva. Palavras-chaveSolo; fertilidade; assentamento INTRODUO O modelo de organizao das sociedades, desde os primrdios, perpassa pelo intenso processo de apropriao dos recursos naturais. Alis, a transio da condio de nmade para sedentrio, dita Revoluo Neoltica ou agrcola, pela qual a prtica do cultivo criou as condies favorveis para a organizao em sociedade, um dos melhores exemplos para ilustrar essa afirmao. Nesse nterim, em aproximadamente 10.000 anos, do ponto de vista ambiental, o rural se materializa no territrio brasileiro caracterizado pela intensa mobilizao dos solos; dizimao parcial ou completa da cobertura vegetal original, mesmo em reas de preservao permanente; inexpressivo aporte de matria orgnica tendo em vista s restritas prticas de manejo conservacionistas do solo; irrigao mal dimensionada; uso desmedido de agrotxicos e defensivos agrcolas, entre tantas outras prticas ambientalmente questionveis.

Nessas condies, a notria presso sobre os solos agrcolas tende a resultar na decapitao por eroso hdrica das camadas superficiais, justamente onde se concentra a maior diversidade biolgica; arenizao em regies de clima temperado e tropical; desertificao no domnio rido e semirido; alm de uma complexa alterao das propriedades fsicas, qumicas e morfolgicas. Alm da dinmica da natureza, destacam-se tambm as peculiaridades sociais e econmicas dos camponeses que, uma vez margem do sistema vigente, predominantemente agroexportador, so os que mais sentem os efeitos do depauperamento dos solos, tendo em vista o alto custo para recuper-los; comumente a falta de assistncia tcnica adequada; o difcil acesso ao crdito e seguro agrcola; alm de vulnerveis aos fenmenos como geadas, estiagem prolongada ou excesso de chuva, que tambm compromete a produo. Sendo assim, se no h condies adequadas para produzir, corre-se o risco de o campons migrar para os centros urbanos, acirrando os problemas j existentes.A combinao de todos esses fatores fica ainda mais expressiva quando a estrutura fundiria de um pas se caracteriza pela concentrao de terras, de um lado, e excluso social, de outro. Historicamente esse o modelo de organizao do territrio brasileiro, o que resulta em graves conflitos no campo, inerentes a esse processo, em busca da conquista pela terra. Conforme salienta Fernandes (2000, p. 25): [...] as lutas camponesas sempre estiveram presentes na histria do Brasil. Os conflitos sociais no campo no se restringem ao nosso tempo.A regio Sudeste, mais especificamente, foi marcada desde sua ocupao pela disputa de terras entre os pequenos produtores e grileiros. Atualmente a disputa ocorre com o agronegcio (Rocha, 2009). Segundo dados do Censo Agropecurio de 2006 realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE), a referida regio conta com 15.244 estabelecimentos de reforma agrria em 571.887 hectares (Marques, 2012). nesse contexto que est inserida a rea de estudo deste trabalho, a Gleba I do assentamento rural Horto Aimors, municpios de Pederneiras/Bauru-SP.O referido assentamento encontra-se sobre a Bacia Sedimentar do Paran, na unidade morfoescultural Planalto Ocidental Paulista (Ross; Moroz, 1997). Quanto aos aspectos geolgicos, h o predomnio dos arenitos do Grupo Bauru, Formaes Marlia e Adamantina. Sob o clima tropical alternadamente seco e mido (Monteiro, 1973), um relevo suave ondulado e originalmente recoberto pela Floresta Estacional Semidecidual Submontana, comumente conhecida como Mata Atlntica de Interior, desenvolveram-se predominantemente os Latossolos Vermelhos e os Argissolos Vermelhos-Amarelos, com classe textural arenosa e arenosa/mdia, respectivamente (EMBRAPA, 1999). Cumpre esclarecer que esse ltimo est na categoria de solos altamente vulnerveis eroso. Alm disso, os solos muito arenosos so igualmente cidos e requerem adubao constante para garantir a produo.A ocupao da rea teve incio no ano de 2003 culminando com o assentamento em 2007 (Zaher, 2014). A Gleba I, onde foi desenvolvida essa pesquisa, est organizada em 165 lotes, onde prevalece a produo da olericultura. Contextualizado assim, o objetivo desse trabalho foi analisar alguns parmetros qumicos do solo, fundamentais para uma alta fertilidade, consequente aumento da produtividade e gerao de renda para os assentados.

MATERIAIS E MTODOS Para anlise de alguns parmetros utilizados como indicadores de fertilidade do solo, procedeu-se a coleta de amostras sob diferentes usos da terra em 145 lotes, os quais tm rea total de 6 ou 12 ha (Figura 1). Priorizaram-se as reas homogneas quanto ao cultivo e declaradas pelo produtor como principal fonte de renda. Assim, ocorreu predominantemente em hortas, plantio de mandioca e pastagem.

Figura 1. Pontos de coleta das amostras de solo da Gleba I do Assentamento rural Horto Aimors, municpios de Bauru e Pederneiras/SP

Fonte: Zaher (2014)

A amostragem seguiu a metodologia proposta por Raij (1991, p. 91). Desse modo, caminhando em ziguezague, foram coletadas 10 amostras simples por amostra composta, a profundidade de 020 cm, com mesmo volume, totalizando 1.450 tradagens. Todos os pontos foram marcados com o GPS - Garmin GPSMAp 78 e Garmim Dakota 20, para viabilizar a confeco do mapa de fertilidade do solo.Foram determinados os seguintes atributos: pH, Matria Orgnica (M.O.) e V%. As anlises foram realizadas no Laboratrio de Solo do Departamento de Solos e Adubos da UNESP/Cmpus de Jaboticabal, de acordo com as orientaes do Instituto Agronmico de Campinas (IAC).Os mapas de superfcie foram elaborados com base nos dados obtidos com as amostras de solo, interpolados e especializados atravs de mtodos da Geoestatstica, principalmente a krigagem ordinria. Quando essa no se mostrou eficiente, utilizou-se o Inverso Ponderado da Distncia (IDW), para os seguintes elementos: matria orgnica e V%. Os dados foram analisados pelo software Variowin 2.2 e os mapas confeccionados no software ArcGis 10.1. DISCUSSO DOS RESULTADOSOs resultados de acidez, dispostos na Figura 2, demonstram que este parmetro varia, principalmente, entre muito baixa (35%); baixa (33%) e mdia (21%) com valores prximos para cada classe, sendo que as duas primeiras totalizam 68% das amostras, o que denota acidez pronunciada. Considerando-se que em condies ideais para boa parte das culturas o pH deve estar entre 5,5 e 6,5, nota-se que apenas 9% satisfaziam essa premissa. Na anlise espacial dos dados possvel observar que teores mdios, altos e muito altos aparecem pontualmente na parte central da Gleba I, o restante predominantemente cido.

Figura 2. Acidez do solo (pH) da Gleba I do assentamento rural Horto Aimors, municpios de Bauru e Pederneiras/SP

Fonte: Zaher (2014)

inquestionvel os benefcios que a matria orgnica representa para o solo. Numa condio coloidal, reestrutura e estabiliza os agregados, garantindo ao solo maior resistncia eroso hdrica, maior porosidade e, consequentemente, maior circulao do ar e percolao da gua, entre tantos outros benefcios. Para uma realidade de solo agrcola, o considerado ideal so valores entre 40 e 50 g/dm3, porm, de acordo com os resultados obtidos, nota-se que os teores so, em sua maioria, baixos em 55% dos lotes; teores mdios perfazem 44% e altos somente 1% (Figura 3). Nessas condies, infere-se que esses solos tero menor estabilidade de agregados e menor CTC e, consequentemente, sero menos produtivos.

Figura 3. Teor de matria orgnica no solo da Gleba I do assentamento rural Horto Aimors, municpios de Bauru e Pederneiras/SPFonte: Zaher (2014)

A saturao por bases (V%) indica a quantidade de cargas negativas no solo ocupadas por Ca, Mg e K. Desta forma, um importante indicador qumico quanto qualidade do referido recurso. Como se observa na Figura 4, das amostras espacializadas (68%), 32% apresentaram teores muito baixos e 36% baixos. Desta forma, pode-se afirmar que na rea predominam solos com baixa fertilidade e sem ou pouca reserva de nutrientes.

Figura 4. Saturao de Bases (V%) no solo da Gleba I do assentamento rural Horto Aimors, municpios de Bauru e Pederneiras/SP

Fonte: Zaher (2014)

CONSIDERAES FINAIS

Os resultados obtidos permitem afirmar que todos os parmetros analisados encontram-se muito aqum do ideal. Uma das maneiras de melhorar a fertilidade com a aplicao de fertilizantes, porm, cumpre destacar que se prticas de manejo conservacionista tivessem sido adotadas, certamente o custo para reverter esse quadro seria bem menor ou mesmo, desnecessrio.

Urge que a sociedade e o poder pblico se convena que a degradao do solo pressupe tambm a degradao da qualidade de vida homem do campo, em especial dos assentados, que recebem suas terras com notrio comprometimento da qualidade fsica, qumica e biolgica. Desta forma, solo, terra e homem, sociedade e natureza, fazem parte de um mesmo sistema, numa relao de dependncia recproca.BIBLIOGRAFIA EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECURIA. Sistema brasileiro de classificao de solos. Rio de Janeiro: EMBRAPA Solos, 1999.Fernandes, B. M. A Formao do MST no Brasil. Petrpolis: Vozes, 2000.FUNDAO INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATSTICA. Censo agropecurio de 1995-1996: So Paulo. Rio de Janeiro: FIBGE, n.19, 1998. 383 p.Marques, V. P. M. A.; Grossi, M. E. D.; Frana, C. G. O censo 2006 e a reforma agrria: aspectos metodolgicos e primeiros resultados. Braslia: Ministrio do Desenvolvimento Agrrio, 2012.

Monteiro, C. A. de F. A dinmica climtica e as chuvas no Estado de So Paulo: estudo geogrfico sob a forma de Atlas. So Paulo: IG/USP, 1973.Raij, B. Fertilidade do solo e adubao. So Paulo; Piracicaba: Ceres, 1991.Rocha, H. F. Anlise e mapeamento da implantao de assentamentos rurais e da luta pela terra no Brasil entre 1985-2008. Trabalho de Concluso de Curso (bacharelado - geografia). UnespFaculdade de Cincias e Tecnologia. Presidente Prudente, 2009. Disponvel em: .Acesso em: 18 de ago. de 2012.Ross, J. L. S.; Moroz, I. C. Mapa geomorfolgico do estado de So Paulo. So Paulo, 1997. Escala 1:500.000.Zaher, C. A. Alterao da fertilidade do solo como indicador do processo de antropizao e presena de atividades no agrcolas no assentamento rural Horto Aimors, municpios de Bauru e Pederneiras/SP. Qualificao de Mestrado (Mestrado em Geografia) Universidade Estadual Paulista, Jlio de Mesquita Filho. Presidente Prudente/SP. 2014.