Choro

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5/21/2018 Choro-slidepdf.com http://slidepdf.com/reader/full/choro-561a97a3c4356 1/52  Choro Índice (Última atualização: 14 de fevereiro de 2011) Síntese sobre choro ............................................................................................................... i Choro e seu impacto no desenvolvimento psicossocial da criança Cynthia A. Stifter ............................................................................................................... 1-6 Impacto do choro do bebê de risco no desenvolvimento psicossocial  Philip Sanford Zeskind ...................................................................................................... 1-7 O choro e sua importância para o desenvolvimento psicossocial da criança  Ronald G. Barr ................................................................................................................ 1-10 Choro e seu impacto no desenvolvimento psicossocial da criança: Comentários sobre Stifter e Zeskind  Debra M. Zeifman ............................................................................................................. 1-4 Serviços eficazes para o tratamento de distúrbios de choro em bebês e seu impacto sobre o desenvolvimento social e emocional de crianças pequenas  Ian St James-Roberts ......................................................................................................... 1-6 Depressão pós-parto e choro na infância Tim F. Oberlander ............................................................................................................. 1-9 Choro na infância: Comentários sobre Oberlander e St James-Roberts  Liisa Lehtonen ................................................................................................................... 1-6 

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    Choro

    ndice(ltima atualizao: 14 de fevereiro de 2011)

    Sntesesobre choro ............................................................................................................... i

    Choro e seu impacto no desenvolvimento psicossocial da crianaCynthia A. Stifter............................................................................................................... 1-6

    Impacto do choro do beb de risco no desenvolvimento psicossocialPhilip Sanford Zeskind...................................................................................................... 1-7

    O choro e sua importncia para o desenvolvimento psicossocial da crianaRonald G. Barr................................................................................................................ 1-10

    Choro e seu impacto no desenvolvimento psicossocial da criana: Comentrios sobre Stiftere ZeskindDebra M. Zeifman ............................................................................................................. 1-4

    Servios eficazes para o tratamento de distrbios de choro em bebs e seu impacto sobre odesenvolvimento social e emocional de crianas pequenasIan St James-Roberts ......................................................................................................... 1-6

    Depresso ps-parto e choro na infnciaTim F. Oberlander............................................................................................................. 1-9

    Choro na infncia: Comentrios sobre Oberlander e St James-RobertsLiisa Lehtonen ................................................................................................................... 1-6

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    Enciclopdia sobre o Desenvolvimento na Primeira Infncia i2011 Centre of Excellence for Early Childhood Development

    Sntese sobre choro

    (Publicado on-line, em ingls, em 28 de agosto de 2007)(Publicado on-line, em portugus, em 14 de fevereiro de 2011)

    Qual sua importncia?

    O choro um meio de comunicao importante que os bebs dispem no incio davida do nascimento aos 3 meses de idade. Nesse estgio de seu desenvolvimento,os bebs so quase inteiramente dependes de cuidadores para atender suasnecessidades. Consequentemente, o choro na infncia pode assumir um papelimportante para garantir a sobrevivncia, a sade e o desenvolvimento da criana.

    A quantidade aumentada de choro entre bebs saudveis no mundo ocidental atualmente reconhecida em todos os bebs nas primeiras semanas de vida, isto

    inclui chorar por perodos prolongados de tempo sem nenhuma razo aparente, umacaracterstica praticamente nica dos primeiros meses de vida. De fato, no incomum que um beb normal chore entre uma e cinco horas por dia, com um piconos dois primeiros meses de vida.

    Em menos de 5% desses bebs existe alguma evidncia de doena orgnica queajude a explicar o aumento de ocorrncia de choro. Alm disso, o choro prolongadoocorre a despeito da tima qualidade dos cuidados parentais. Felizmente, depois doscinco meses diminuem os perodos prolongados de choro inconsolvel, o choro torna-se mais intencional e mais relacionado a eventos ambientais.

    No entanto, o choro persistente, principalmente quando associado a problemas de

    sono e de alimentao que persistem depois dos quatro meses, muitas vezes emcontextos que envolvem mltiplos fatores de risco psicossocial dos pais, pode serpreditivo de desenvolvimento social e emocional insatisfatrio do beb.

    O que sabemos?

    Todos os bebs choram, mas grande parte desse choro inexplicvel. As explicaesgeralmente atribudas ao choro do beb so dor, fome, raiva e tdio. O aumento dechoro excessivo inexplicvel nos trs primeiros meses em bebs que, exceodisso, so saudveis, frequentemente denominado clica infantil. Dependendo dadefinio, diz-se que a clica afeta cerca de 10% a 20% dos bebs nessa idade. Umacaracterstica evidente que a clica tende a seguir um padro de aumento nos doisprimeiros meses, chegando a um pico em seis semanas, e normalmente diminuindo

    aos 4 ou 5 meses de vida. No entanto, esse padro aplica-se a todos os bebs, querseu choro seja ou no considerado excessivo, e reconhecido atualmente como acurva normal do choro. Durante esse perodo, os surtos de choro podem ocorrersem razo aparente, so difceis de acalmar, e muitas vezes duram em mdia entre35-40 minutos, ou at duas horas. Ocorrem em geral no fim da tarde ou no incio danoite.

    Frequentemente, afirma-se que bebs cuja inquietao persiste no decorrer daprimeira infncia, ou piora depois dos quatro meses, tm temperamento difcil. Pode

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    no ser fcil diferenciar o choro relacionado clica infantil do choro relacionado atemperamento difcil. A principal diferena que, nos episdios de clica, os surtosde choro diminuem com o tempo, ao passo que em bebs com temperamento difcil,o aumento da inquietao persiste durante a primeira infncia e at posteriormente.Embora o choro devido a temperamento difcil possa s vezes ser modificado, essacaracterstica de temperamento frequentemente estvel no decorrer da vida, e tem

    bases constitucionais e hereditrias.

    Consequncias positivas:O choro excessivo nos primeiros meses de vida pode provocar frustrao e estressena famlia. No entanto, h consequncias positivas associadas ao choro. Uma delas a constatao de que o choro permite aos bebs construir relacionamentos ntimoscom as pessoas que respondem mais confiavelmente a suas necessidades. Dessaforma, o choro pode ser fundamental no desenvolvimento de um vnculoemocionalou apego em relao a determinado(s) cuidador(es).

    Consequncias negativas:Muitos estudos sobre bebs que apresentam episdios de clicas demonstraram deforma convincente que, no longo prazo, no h consequncias negativas para osbebs. A maioria dos pais no demonstra conseqncias negativas, mas para algunspersiste uma falta de confiana em suas habilidades como cuidadores e tm maiorprobabilidade de considerar seus bebs como vulnerveis. No entanto, bebs comtemperamento difcil tm maior probabilidade de vivenciar diferenas no longo prazo.Bebs inquietos e difceis de acalmar tm maior probabilidade de aumento de riscode problemas comportamentais na pr-escola, dificuldades de ajustamento naadolescncia ou comportamento agressivo e dificuldades de ateno.

    A interpretao da me sobre o comportamento de choro pode ser afetada peladepresso materna. Quando ocorrem juntos, a depresso materna e o choroexcessivo ou devido a clicas podem afetar as interaes pais-bebs, seurelacionamento, e at mesmo os resultados de desenvolvimento da criana. A

    depresso materna influencia negativamente alguns aspectos do comportamento edo desenvolvimento do beb, principalmente em relao dificuldade para acalmar-se, irritabilidade e ao choro.

    O choro de alta frequncia e intensidade pode ser causado por uma grandediversidade de problemas neurocomportamentais, entre os quais danos cerebrais,desnutrio, asfixia, uso de drogas pela me durante a gestao, prematuridade ebaixo peso ao nascer. O choro agudo em bebs que tm fatores de risco pr-natalpode induzir o cuidador a atitudes que podem melhorar ou piorar a condio de riscodo beb. Nos lares em que os pais so menos responsivos, os bebs podemapresentar escores mais baixos de QI, temperamento mais retrado e interaes demenor qualidade com suas mes.

    As consequncias mais extremas para um beb que apresenta choro inconsolvel sonegligncia e abuso, especialmente a Sndrome do Beb Sacudido (Shaken BabySyndrome), que por vezes resulta em danos cerebrais ou mesmo morte.

    O que pode ser feito?

    O significado do choro inicial muito frequente, excessivo ou devido a clicas nainfncia evoluiu: da crena de que era anormal ou indicava doena/disfuno para oreconhecimento de que o choro excessivo parte normal do desenvolvimento do

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    beb humano. Os clnicos devem conscientizar-se da importncia do choro para ospais, de como pode ser frustrante e de como pode afetar seu relacionamento comseus bebs.

    Ao ajudar pais cujos bebs choram excessivamente, devemos garantir-lhes de que amaioria dos bebs que choram muito normal, e de que o choro imprevisvel,

    inconsolvel, em geral desaparece espontaneamente depois das primeiras semanasde vida. Intervenes que visam consolar bebs que choram so apenasparcialmente bem sucedidas e no reduzem os surtos de choro inconsolvel. importante reconhecer tambm que diferenas no prprio som do choro podemafetar a reao do cuidador. Devemos ser particularmente sensveis a cuidadoresque vivenciam depresso ou outras experincias que podem alterar sua organizaoperceptual.

    Intervenes e informaes de sade pblica devem ser rigorosamente avaliadasantes de serem recomendadas como tcnicas para lidar com o choro de bebs.Deve-se tentar criar servios eficazes, com boa relao custo/benefcio, para atenders necessidades de famlias com crianas pequenas.

    Reduo da Sndrome do Beb SacudidoA Sndrome do Beb Sacudido uma resposta extrema ao choro infantil. A reduona incidncia dessa sndrome pode ser conseguida por meio de programaseducativos de sade pblica oferecidos precocemente, at mesmo antes donascimento do beb, na tentativa de aumentar a compreenso dos pais sobre ochoro normal, seus padres na infncia, e de que formas a frustrao provocada poresse choro pode levar a reaes inadequadas como sacudir ou machucar o beb.

    Esta sntese foi traduzida sob os auspcios do ConselhoNacional de Secretrios de Sade - CONASS - Brasil.

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    Choro e seu impacto nodesenvolvimento psicossocial da criana

    CYNTHIAA. STIFTER,PhD

    Pennsylvania State University, EUA

    (Publicado on-line, em ingls,em 4 de abril de 2005)(Publicado on-line, em portugus, em 14 de fevereiro de 2011)

    TemaChoro

    IntroduoTodos os bebs choram, e choram por alguma razo. De fato, o choro na primeirainfncia atribudo a uma gama de motivos, de dor raiva e ao tdio. 1Nos primeirosmeses de vida o choro particularmente importante manifesto uma vez que os bebs tmrelativamente poucos mtodos efetivos de comunicar suas necessidades e condies. Doponto de vista do desenvolvimento, o choro na primeira infncia distingue-se por suasqualidades temporais. Diversos estudos demonstraram que bebs normalmente mostramum aumento do choro durante os trs primeiros meses, com um pico por volta das seis aoito semanas de idade.2,3 O choro diminue significativamente por volta dos trs a quatromeses de idade, coincidindo com mudanas importantes no desenvolvimento do afeto,vocalizaes no negativas e comportamento motor. Uma vez que o choro consideradoum sinal comunicativo normal,4os resultados no desenvolvimento para as crianas que

    choram dentro de um padro normal no causam preocupao. Entretanto, alguns bebsextrapolam o padro tpico de choro como aqueles que choram de forma intensa, longae inconsolvel nos primeiros trs meses ou aqueles que frequentemente esto muitoagitados depois dos trs a quatro meses de idade. So esses os bebs que frequentementeso considerados em risco de problemas de desenvolvimento.

    Do que se trataO choro inexplicvel, excessivo ou persistente nos primeiros trs meses de vida de umbeb considerado saudvel, costuma ser rotulado de clica infantil.5,6 Clicas soencontradas em aproximadamente 10% da populao. mais frequente o relato declicas em bebs primognitos e em bebs de famlias caucasianas de classe mdia.As

    causas da clica so vrias e podem ser atribudas seja ao beb ou s dades pais-beb.Entretanto, acredita-se que apenas de 5% a 10% dos bebs que choram excessivamentesofram de alguma doena orgnica.7H um consenso crescente entre os pesquisadores deque a clica dos bebs seja um fenmeno do desenvolvimento que envolve diferenasindividuais na capacidade de resposta e na funo de regulao.8

    Bebs que ficam agitados e choram por perodos mais curtos, mas cuja agitao persistepor toda a infncia, so considerados de temperamento difcil. Apesar de temperamento

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    difcil ter sido definido originalmente como envolvendo vrias caractersticas extremas, aconceituao atual focaliza na presena freqente de agitao/choro e dificuldade de seacalmar. Acredita-se que o temperamento tenha bases constitucionais e genticas.9 E,embora possa ser modificado, o temperamento consideravelmente estvel ao longo davida.10,11,12 E porque o temperamento difcil representa um caso extremo, tem sido

    verificado que apresenta uma continuidade significativa.13

    Embora inicialmente clica infantil e temperamento difcil sejam, aparentemente, muitosemelhantes, diferem quanto qualidade e quantidade do choro, assim como em relaoao curso de seu desenvolvimento. A clica caracteriza-se por um choro mais intenso, aopasso que a agitao frequente a caracterstica predominante de temperamento difcil.E, enquanto as clicas terminam por volta do quarto ms de vida, o temperamento difcil moderadamente estvel por toda a infncia e posteriormente.

    ProblemaO choro intenso e inconsolvel de um beb que chora muito ou muito agitado cria

    inmeras reaes e preocupaes parentais a respeito do desenvolvimento docomportamento do beb. Tendo em vista que o temperamento relativamente estvel, de se supor que tenha implicaes muito mais negativas e persistentes do que a condiotransitria da clica. Entretanto, isto no elimina os efeitos da clica sobre o ambientefamiliar e nem suas consequncias no longo prazo.

    Questes-chave de pesquisaSe a criana chora intensamente por alguns meses ou frequentemente muito agitada aolongo do primeiro ano de vida, uma abordagem sistmica ao desenvolvimento sugere queo impacto do choro intenso sobre o ambiente imediato da criana pode trazerconsequncias negativas dinmica do relacionamento pais-criana, o que, por sua vez,

    teria implicaes sobre o desenvolvimento psicossocial da criana. Portanto,pesquisadores questionam: o efeito do choro na primeira infncia sobre odesenvolvimento posterior direto, ou indireto, mediado pelas interaes com seusprimeiros parceiros sociais?

    Pesquisas RecentesObservaes longitudinais e avaliaes feitas pelos pais mostram que bebs que sofremcom clicas podem continuar a reagir de forma mais negativa logo aps odesaparecimento das clicas;14-16 entretanto, avaliaes de temperamento, realizadas nolongo prazo, revelaram poucas diferenas.14-17 interessante notar que esta diferenainicial na reatividade talvez esteja associada a um atraso no desenvolvimento de

    estratgias reguladoras.

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    Em um dos estudos, mes relataram um nmero maior de crisesde temperamento aos trs anos de idade para os filhos que haviam tido clicas, apesar deno haver diferenas relativas aos problemas de comportamento relatados entre os gruposcom e sem clicas.18Por fim, diversos estudos tambm examinaram o desenvolvimentomental de bebs com clicas e, do mesmo modo, no evidenciaram nenhum efeito daclica.14,15,18Em um dos estudos, embora tenham sido encontradas diferenas na escalaBayley MDI (ndice de Desenvolvimento Mental) aos seis meses de idade, os dois grupos

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    permaneceram dentro do escopo de normalidade e no foram encontradas diferenas aos12 meses de idade.19

    Como seria de esperar, o impacto da clica infantil mais sentido pelos pais,particularmente pelas mes que tm o encargo de cuidar de uma criana excessivamente

    chorona. As mes relatam maior estresse e maior ansiedade de separao,20

    manifestandotambm sintomas de estresse psicolgico21e sentimentos de baixa competncia .22,23Ato momento, os poucos estudos que examinaram as consequncias de se ter uma crianacom clicas indicam que no h consequncias negativas para o comportamento dos paise, o que importante, nem para o relacionamento pais-filhos. Em dois estudosdistintos,15,24 observou-se que mes de bebs com clicas e de bebs sem clicasapresentavam a mesma sensibilidade materna imediatamente aps a resoluo dasclicas.Esse achados podem explicar porque no foram encontrados efeitos de longoprazo da clica infantil nas relaes entre pais e filhos. Bebs que desenvolveram clicasno apresentaram mais propenso a ter um apego inseguro do que aqueles que notiveram clicas.22

    Tal como na pesquisa sobre consequncias de bebs com clicas, resultados relativos aotemperamento difcil sugerem que as influncias no se limitam ao beb. O resultadopsicossocial que recebe maior ateno dos pesquisadores o problema de comportamentosendo que a maioria dos estudos considera dificuldades percebidas na infncia comopreditivas de comportamento problemtico na pr-escola 25-27 e de ajustamento naadolescncia.28De acordo com relatos de pais e/ou professores, crianas especificamenteagitadas, difceis de acalmar , foram consideradas com risco aumentado do ponto de vistaclnico de apresentar comportamentos agressivos, dificuldades de ateno e de raciocnio.H dois aspectos importantes a serem considerados em relao a esses resultados: (1)nem todos os bebs difceis manifestaram problemas de comportamento posteriormente;

    e (2) tanto problemas de temperamento como problemas de comportamento foram, namaioria dos estudos, classificados pelos pais, o que levanta a questo do viscorrespondente.

    Pesquisadores testaram o modelo do bom ajustamento29 que prope que otemperamento difcil somente ter resultados negativos quando o ambiente do beb forinadequado (por exemplo, estresse e insensibilidade parentais), o que pode ocorrer devidoaos efeitos do temperamento difcil sobre o comportamento dos pais. Foi constatado quemes de crianas difceis so menos responsivas e exibem baixos nveis decomportamento maternal positivo.30,31 Em um estudo, mes de bebs irritveisapresentaram menos contato visual, estimulao efetiva, contato fsico e comportamentos

    de consolo do que mes de bebs no irritveis.

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    Esses dados sugerem que o impacto decuidar de uma criana agitada, difcil de acalmar estressa o sistema parental, o que, porsua vez, pode afetar os resultados do desenvolvimento da criana. De fato, diversosestudos mostraram a correlao entre temperamento difcil do beb e resultadospsicossociais posteriores tais como o apego, mediados ou moderados pela personalidadeou comportamento maternos.33,34 Estudos indicam que intervenes que modificamatitudes e comportamentos dos pais atenuam o impacto do temperamento difcil.35,36

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    Concluses e ImplicaesExcluindo-se as condies mdicas evidentes e diagnosticveis, as principais queixas queos pais levam aos mdicos durante a primeira infncia so agitao e choro excessivos,que geralmente no conseguem acalmar ou tolerar. No entanto, existem distinesimportantes a serem feitas a respeito do choro na infncia: (a) o choro na primeira

    infncia aumenta nos primeiros dois meses de vida e diminui da em diante. Portanto, ochoro excessivo pode ser interpretado erroneamente quando no possvel compreendero curso do desenvolvimento do choro; (b) chorar mais do que o normal durante osprimeiros trs meses de vida classificado como clica. A clica uma condiotransitria que termina por volta do terceiro ou quarto ms de vida do beb e,aparentemente tem poucas consequncias para a criana; (c) choro e/ou agitao so,frequentemente, caractersticas de um temperamento difcil, mas podem ser distinguidosda clica de vrias maneiras; a clica no um fenmeno estvel e se manifesta comosurtos de choro intensos de longa durao, ao passo que o temperamento difcil estvele se caracteriza por frequentes surtos de agitao. Por fim, devido persistncia dotemperamento difcil, provvel a ocorrncia de outros resultados negativos,

    principalmente se os pais no proporcionam um meio ambiente que d suporte econteno. Aparentemente, um temperamento difcil exige muito dos pais, levando ainteraes estressantes e percepes negativas. Mdicos que recebem queixas de choro eagitao excessivos em bebs devem estar alertas para essas distines e adotar medidasapropriadas para validar as avaliaes dos pais.

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    Este artigo foi traduzido sob os auspcios do ConselhoNacional de Secretrios de Sade - CONASS - Brasil.

    Para citar este documento:

    Stifter CA. Choro e seu impacto no desenvolvimento psicossocial da criana. In: Tremblay RE, BarrRG, Peters RDeV, Boivin M, eds. Enciclopdia sobre o Desenvolvimento na Primeira Infncia [on-line]. Montreal, Quebec: Centre of Excellence for Early Childhood Development; 2011:1-6.Disponvel em: http://www.enciclopedia-crianca.com/documents/StifterPRTxp1.pdf. Consultado[inserir data].

    Copyright 2011

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    Impacto do choro do beb de

    risco no desenvolvimento psicossocial

    PHILIPSANFORDZESKIND,PhD

    Levine Childrens HospitalCarolinas Medical Center, EUA

    (Publicado on-line, em ingls, em 04 de abril de 2005)(Revisado, em ingls, em 24 de agosto de 2007)

    (Publicado on-line, em portugus, em 14 de fevereiro de 2011)

    Tema

    ChoroIntroduoO choro do beb se destaca entre os comportamentos iniciais por seu papel central nasobrevivncia, na sade e no desenvolvimento da criana. O som do choro composto deuma mirade de caractersticas temporais e acsticas que funcionam como uma sirenebiolgica, um sinal que alerta e motiva o cuidador a atender as necessidades do beb. Osignificado percebido e a resposta a essa sirene biolgica variam em funo dacombinao especfica de propriedades acsticas que compem o choro. Por exemplo,choro com uma taxa de repetio mais rpida, expiraes e pausas mais curtas e umafrequncia fundamental mais aguda (freqncia bsica) pode induzir respostas mais

    urgentes do cuidador solicitao do beb do que outros choros com outrascaractersticas acsticas. Por esse motivo, o som do choro do beb desempenha um papelimportante no desenvolvimento de bebs sob risco de resultados psicossociaisinsatisfatrios devido a condies existentes no perodo pr-natal e a outras condiesadversas organizao neurocomportamental. Frequentemente, esses bebs emitem umchoro muito distinto, com sons muito agudos pouco comuns que so particularmenteperceptveis para os cuidadores e que podem contribuir para o desenvolvimento futuro dobeb por induzir respostas que melhoram ou exacerbam a condio de risco da criana. Anatureza das respostas a choros intensos (agudos) depende de diferenas individuais entrecuidadores e do conjunto de percepes que o cuidador traz para a sua interao com obeb.

    Do que se trataOs sons de choros agudos (intensos) so caractersticos de crianas que sofrem de umamplo espectro de problemas neurocomportamentais,1,2 que incluem dano cerebral,3,4desnutrio,5 asfixia6,7 e o uso de drogas de herona,8 metadona9 e cocaina10 atmaconha, cigarros e lcool pela me durante a gestao.11,12Bebs prematuros e combaixo peso ao nascer,13assim como bebs aparentemente saudveis, nascidos a termo ecom peso adequado14 que sofrem de uma forma sutil mas comum de subnutrio pr-

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    natal15,16 tambm emitem frequentemente sons intensos de choro. Enquanto chorosnormais podem variar quanto frequncia fundamental (freqncia bsica) entre 400Hz e650Hz, choros agudos so definidos por uma mudana qualitativa do som do choro parauma frequncia fundamental acima de 1.000Hz e que pode alcanar 2.000Hz ou mais.

    ProblemasEm um modelo de desenvolvimento focado nos efeitos bidirecionais no comportamento edesenvolvimento do beb e do cuidador entre si, o comportamento e o desenvolvimentode ambos, as caractersticas de demanda do som do choro do beb e a forma pela qual atendido podem desempenhar um papel importante no seu desenvolvimento. Uma vezque a qualidade sonora extremamente aguda do choro da criana em risco acaracterstica acstica mais aflitiva e bvia para cuidadores de ambos os gneros e emtodas as culturas, devemos nos perguntar qual o significado funcional desse som dechoro em particular, tanto para as crianas como para os cuidadores.

    Contexto de pesquisa

    Mtodos experimentais

    17,18

    e correlacionais

    19,20

    vm sendo utilizados em contextosanlogos de laboratrio para examinar de que forma as caractersticas rtmicas e acsticasdo choro do beb afetam as respostas dos adultos ao choro. Observaes naturalsticas21eprojetos longitudinais22,23,24 tambm vm sendo utilizados para analisar de que forma osom de choro agudo afeta as respostas de cuidadores e o desenvolvimento psicossocial dobeb no longo prazo.

    Questes-chave de pesquisaAs questes-chave de pesquisa focalizam em como e de que maneira esse choro agudoparticularmente diferente afeta a percepo e as respostas comportamentais doscuidadores. Essas questes exigiram no apenas o exame das diferenas do choro do

    beb, mas tambm das bases de diferenas individuais de interpretao e de resposta doscuidadores a esses diferentes sons de choro.

    Resultados das pesquisas recentesEmbora as pesquisas originalmente buscassem determinar se os tipos de choro induzidopor condies estimuladoras discretas poderiam ser diferenciados perceptualmente,4,25 aspesquisas mais recentes consideraram o choro como um contnuo de sons.26,17 Ummodelo que enfatiza uma sincronia da excitao entre os bebs e os cuidadoresdescreve de que forma o aumento ou a diminuio da excitao do beb produzmudanas correspondentes nas caractersticas acsticas e temporais do choro que entoresultam, normalmente, em aumentos ou redues correspondentes de excitao e

    motivao percebidas do cuidador.

    27

    Por exemplo, medida que o beb fica cada vezmais faminto e mais excitado o choro fica mais rpido e cada vez mais agudo, o queresulta no aumento percebido da excitao no cuidador. Dessa forma, o som do choro faza mediao da simbiose entre as condies que resultam no choro do beb e as respostasdo cuidador ao beb.

    Refletindo uma condio de excitao especial, o choro agudo e intenso de um beb emrisco induz reaes perceptuais e fisiolgicas significativamente mais fortes do que o

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    choro infantil normal. Em vrias culturas,28 14 o choro muito intenso percebido como umsom mais irritante, aversivo, inquietante e doentio do que o choro normal e induzrespostas mais imediatas como pegar no colo e aconchegar.29 Diversos estudos indicamque h pelo menos duas dimenses distintas subjacentes percepo do choro muitointenso uma em que o beb parece doente e precisa de cuidados e outra em que o

    choro percebido como extraordinariamente aversivo.14,30

    Um choro mais agudo temsido diretamente relacionado a essas percepes especficas.30

    A presena de pelo menos duas dimenses subjacentes s percepes dos sons do chorodo beb destaca a importncia de se considerar de que forma o mesmo som de choro podeter diferentes significados para os cuidadores, dependendo das condies emocionais doouvinte. Enquanto o choro intensoleva alguns cuidadores a apresentar desacelerao dosbatimentos cardacos, caracterstica de pronta resposta a uma criana que soa doente,outros cuidadores apresentam taxas excepcionalmente altas de batimentos cardacos,caractersticas de desateno e respostas defensivas a sons aversivos.28Esses diferentespadres de resposta podem fornecer uma base para diferenas importantes nas interaes

    de cuidadores-bebs. Por exemplo, a resposta de acelerao do batimento cardaco foiobservada em mulheres com grande probabilidade de agredir fisicamente uma criana,mesmo antes de ter seus prprios filhos.31 De fato, pais que agridem seus filhosfisicamente tm sua frequncia cardaca aumentada ao ouvir o choro de bebs32e indicamque os choros intensos so semelhantes aos sons do choro de seus prprios filhosagredidos.33Outras pesquisas comearam a analisar outras caractersticas de cuidadoresque podem fornecer a base para respostas diferenciais a choros mais agudos. Emcomparao com a resposta normal de alerta a sons agudos de choro, mesadolescentes,34 mulheres que sofrem de depresso,35 e mulheres usurias de cocanadurante a gravidez36percebem o choro cada vez mais agudo como menos mobilizador emenos merecedor de cuidados imediatos.

    Demonstrou-se que essas diferenas de respostas do cuidador a bebs com choro maisagudo e intensoesto relacionadas ao desenvolvimento psicossocial subsequente. Em umestudo longitudinal, bebs que emitiam, normalmente, sons intensos de choro foramdesignados aleatoriamente a ambientes de cuidadores com respostas variveis quanto aocomportamento do beb. Em lares menos responsivos, os bebs apresentaram escores deQI cada vez baixos ao longo do tempo, temperamentos mais retrados e interaes demenor qualidade com suas mes (inclusive, negligncia fsica) at pelo menos os trsanos de idade, do que bebs em um ambiente de cuidados mais responsivos.22,23 Domesmo modo, outro trabalho demonstrou que bebs prematuros cujas mescompreendiam melhor o significado do choro apresentaram, escores mentais mais altos

    na escala Bayley e melhor desenvolvimento da linguagem aos 18 meses.

    24

    ConclusoA trajetria de desenvolvimento psicossocial do beb em risco refletir a combinao dosefeitos de sua organizao neurocomportamental alterada, do repertrio comportamentalresultante, e da forma pela qual os cuidadores, individualmente, respondem ao beb.Como parte desse repertrio comportamental, o choro intenso do beb em risco umafaca de dois gumes. As propriedades fsicas do choro agudo do beb so to aversivas

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    que os cuidadores frequentemente tentaro tudo o que for necessrio para tentarinterromper aquele som pernicioso. Na maioria dos casos, essas tentativas fornecero asformas de estimulao auditiva, visual, vestibular e ttilcinestsica que promovem odesenvolvimento do beb. Esse processo pode ser acentuado quando cuidadoresrespondem ao beb que lhes parece soar doente com ateno e consolo imediato.

    Entretanto, em alguns casos, os cuidadores podem responder qualidade aversiva dochoro com uma forte excitao incomum, que abre o caminho para reaes defensivas,aes que so fisicamente prejudiciais ao bem-estar do beb e/ou o progressivodistanciamento fsico e emocional da me com o beb.Quando a me sofre de depresso,por exemplo, sua condio emocional pode torn-la ainda menos capaz de responder aobeb que chora medida que as necessidades do beb aumentam. Em casos extremos,seus padres de resposta podem incluir um maior risco de abuso fsico e/ou negligncia.Esses padres de resposta divergentes e seus efeitos sobre diversos aspectos dodesenvolvimento psicossocial do beb foram confirmados em estudos longitudinais.

    Implicaes

    Uma importante implicao das pesquisas mencionadas acima que o choro do beb nodeve ser considerado como um comportamento definido de forma nica, que afeta oscuidadores de maneira uniforme. O choro varia amplamente quanto relevnciaperceptual e ao significado para os cuidadores. Outra implicao que o mesmo choropode ter relevncia perceptual e significado bem diferentes baseado nas caractersticas docuidador. essa combinao do som do choro com as caractersticas do adulto quedetermina os efeitos do choro do beb sobre a resposta do cuidador e, portanto, sobre odesenvolvimento psicossocial do beb. Essas questes tambm tm implicaes para acompreenso do impacto de outras condies tais como a clica infantil37 ou otemperamento difcil38 , nas quais o choro do beb evidenciou componentes maisagudos. Ao ajudar pais de bebs que choram demais a lidar com o estresse gerado pelo

    comportamento de seus bebs, preciso perceber as possveis diferenas do som dochoro e de que forma esses sons podem ter relevncia diferente para cuidadoresdiferentes, especialmente para aqueles que sofrem de depresso ou outras condies quealterem o sistema perceptual do cuidador.

    REFERNCIAS

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    Este artigo foi traduzido sob os auspcios do ConselhoNacional de Secretrios de Sade - CONASS - Brasil.

    Para citar este documento:

    Zeskind PS. Impacto do choro do beb de risco no desenvolvimento psicossocial.In: Tremblay RE,Barr RG, Peters RDeV, Boivin M, eds. Enciclopdia sobre o Desenvolvimento na Primeira Infncia[on-line]. Montreal, Quebec: Centre of Excellence for Early Childhood Development; 2011:1-7.Disponvel em: http://www.enciclopedia-crianca.com/documents/ZeskindPRTxp1.pdf. Consultado[inserir data].

    Copyright 2011

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    O choro e sua importncia para o

    desenvolvimento psicossocial da criana

    RONALDG. BARR,MDCM, FRCPC

    University of British Columbia, CANAD

    (Publicado on-line, em ingls, em 13de abril de 2006)(Publicado on-line, em portugus, em 14 de fevereiro de 2011)

    TemaChoro

    IntroduoMuitas geraes de pais vivenciaram o estresse e a frustrao provocados pelo choroaumentado e inconsolvel de seus bebs nos primeiros trs a cinco meses de vida. Emsuas manifestaes mais extremas esse choro intenso tem sido considerado um problemaclnico, frequentemente denominado clica1. A consequncia mais extrema e perigosapara o beb o abuso ou a negligncia, especialmente uma forma especfica de abusodenominada sndrome do beb sacudido.2Muitas propriedades do choro so especficasdos primeiros meses3e geram, portanto, seus problemas particulares. Mais tarde, duranteo primeiro ano de vida, a quantidade do choro consideravelmente reduzida. Entretanto,h diferenas individuais mais estveis entre os bebs. Os bebs que tendem a ser maisreativos e a responder negativamente (chorando) podem ser normais, mas so

    frequentemente considerados, em termos clnicos, como tendo um temperamentodifcil. Se o choro est associado a dificuldades de alimentao e de sono, os bebs sofrequentemente considerados, em termos clnicos, como tendo problemas de regulaocomportamental (distrbios de regulao).4Embora a maioria desses comportamentosde choro no esteja associado a doenas ou patologias, o significado dessecomportamento para os cuidadores (sistema perceptual)5 um fator determinante desuas consequncias psicossociais para o beb. Apesar de muitas questes permaneceremem aberto, os resultados das pesquisas mudaram nossa compreenso sobre a natureza e osignificado desse comportamento inicial.

    Zeskind5 focou nas propriedades acsticas normais e anormais do choro e Stifter6focalizou nas diferenas entre clica e temperamento difcil. Neste artigo, focalizareinossa nova compreenso sobre o choro normal do beb (inclusive o de clica) nosprimeiros meses de vida.

    Do que se trataForam demonstradas seis propriedades do choro que so tpicas, e provavelmenteexclusivas, dos primeiros meses de vida em bebs normais sob outros aspectos. 3,7-9

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    1. A quantidade total de choro por dia (agitao, choro e choro inconsolvel,combinados) tende a aumentar a cada semana, chegando ao pico em algummomento do segundo ms, e ento regredindo para nveis mais baixos e estveispor volta do quarto ou quinto ms de idade,9-11isto , algumas vezes, denominadocurva normal de choro.12

    2. Muitas crises de choro so inesperadas e imprevisveis, comeam e terminam semrazo aparente, no esto relacionadas a alimentao ou fraldas molhadas, ou aqualquer coisa que esteja ocorrendo no ambiente.

    3. Essas crises de choro so resistentes a apaziguamento, ou so inconsolveis.4. O beb aparenta ter dor, mesmo que este no seja o caso.5. As crises de choro so mais longas nessa do que em qualquer outra idade, duram

    de 35 a 40 minutos em mdia, e algumas vezes duram de uma a duas horas.6. O choro tende a concentrar-se no final da tarde e no incio da noite.7,10,11

    Separadamente, mas especialmente quando reunidas, cada uma dessas propriedades podeser notavelmente frustrante para qualquer cuidador.

    As propriedades do choro anterior aos cinco meses so, provavelmente, mais um reflexodo estado comportamental do beb do que uma sinalizao deliberada do beb.13,14Apsos primeiros cinco meses, o choro torna-se mais intencional, no sentido de que maiscontextualizado, mais incorporado a outros sistemas de sinalizao (como olharfixamente e apontar),15 e de natureza mais reativa.12 H, entretanto, alguns bebs cujochoro inicial forte nunca diminui, 16-18assim como aqueles que choram menos durante operodo de pico inicial, mas depois dos cinco meses de idade choram em nveisequivalentes aos dos bebs que sofreram clicas anteriormente.19-20 Para os bebs queapresentam quantidade e periodicidade altas de choro (bebs difceis), o choro pode serum sinal muito negativo, e muito desagradvel e frustrante para os cuidadores.6

    ProblemasO significado clnico do choro , em grande parte, funo da forma pela qual ocomportamento de choro percebido e respondido pelo cuidador. Embora o significadodo choro possa variar segundo o sistema cultural de crenas, vrios resultados sorelevantes para compreender como os cuidadores geralmente entendem o choro. Odesafio transmitir esses resultados aos cuidadores de forma compreensvel para prevenirconsequncias negativas causadas pelo comportamento de choro.

    Contexto de pesquisaEmbora estudosclnicos continuem importantes, a pesquisa sobre o choro foi alm dos

    estudos unidisciplinares para incorporar resultados da psicologia do desenvolvimento, daantropologia cultural e biolgica, da psicobiologia e da neurobiologia (entre outras), epara incluir tanto estudos observacionais experimentais e naturalsticos em contextosecologicamente vlidos para fornecer uma compreenso mais abrangente sobre a naturezae a funo do comportamento de choro no incio da vida.13,21-23 Alm disso, o estudoparalelo tanto das manifestaes clnicas quanto das propriedades normativas do choroinfantil levou a uma reconceituao do significado do aumento inicial do choroexcessivo e de clica. Argumenta-se que o aumento do choro inicial (inclusive a

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    maioria dos casos da chamada clica) uma manifestao de desenvolvimentocomportamental normal e no um indicador de anormalidades (ou de algo errado) comos bebs ou seus cuidadores.7 H tambm um pequeno nmero de bebs que talvezchorem anormal, ou que tambm estejam doentes, ou para os quais algo est errado.Entretanto, a grande maioria (mais de 95%) dos bebs que choram muito e apresentam

    muita clica constituda por bebs normais com desenvolvimento comportamentalnormal.

    Questes-chave de pesquisaAs questes-chave de pesquisa buscam elucidar o seguinte dilema: se a maior quantidadede choro nos primeiros meses de vida no indica algo errado, como explicar que aspropriedades primrias do choro, que so to frustrantes para os pais, sem invocarprocessos anormais? As respostas a essa pergunta exigiram a integrao de evidnciasempricas de vrias disciplinas diferentes, usualmente pouco articuladas. A seguir, apresentado um breve resumo de uma literatura que vm sendo ampliada.7,22,23

    Resultados de pesquisas recentesEmbora sejam variveis, em sua maioria as definies clnicas de clica incorporamtrs dimenses qualitativas principais:8(1) h um padro de choro vinculado idade, quese caracteriza por tendncia ao aumento do total dirio de agitao e choro a partir dasegunda semana de vida, que atinge o pico durante o segundo ms de vida e que declinapara quantidades menores e mais constantes por volta do quarto ou quinto ms de vida;(2) h inmeros comportamentos associados, entre os quais os mais comuns e notveisso algumas crises de choro muito prolongados e no apaziguveis, e que o beb parecesentir dores (faz cara de dor); e (3) as crises de choro so paroxsmicos, no sentido deque comeam e terminam sem aviso e sem nenhuma relao clara com o que quer queesteja ocorrendo no ambiente (esforos apaziguadores do cuidador includos). A

    definio quantitativa mais comum regra dos 3, de Wessel, que afirma que bebspodem ser diagnosticados com clica quando choram ou ficam agitados por mais de trshoras por dia, por mais de trs dias por semana e por mais de trs semanas.7,24Para acompreenso do choro infantil no incio da vida importante considerar: (a) h umavariabilidade muito grande entre os bebs quanto quantidade de choro, sendo que cercade 25% dos bebs choram mais do que 3,5 horas/dia e 25% choram menos do que 1,75horas, no pico;10,11 e (b) o espectro contnuo de quantidade de choro varia de pouco amuito, sem que haja um limite especfico entre quantidade de choro normal e anormal(ou choro de clica).

    Inmeras linhas de pesquisas interdisciplinares contriburam para evidenciar que as

    propriedades primrias do choro inicial frequente, inclusive de clica, somanifestaes de desenvolvimento comportamental normal. Em relao curva dechoro, estas so algumas evidncias:

    1. O padro bsico de aumento at o pico e a diminuio do choro na sequnciafoi reproduzido em quase todas as sociedades ocidentais onde foi estudado,com poucas variaes.9-11,24-30 Alm disso, ocorreram poucas mudanasinternas nas sociedades ao longo dos ltimos 30 anos, indicando a ausncia detendncias seculares.10,11,31,32

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    2. H um padro e um tempo de durao de choro semelhantes em vriasculturas que tm estilos radicalmente diferentes de cuidados para com obeb.25,33,34 O padro de choro analisado que apresentou os melhoresresultados foi encontrado em meio ao povo Kung San, de caadores-coletores,que esto em constante contato com seus bebs, amamentados quatro vezes

    por hora, e que atendem a praticamente todos os episdios de agitao ouchoramingo. Embora faam tudo para apaziguar o beb, o padro de aumentoe diminuio do choro tambm est fortemente presente nesses bebs.33

    3. Curvas de desconforto semelhantes foram encontradas em todas as espciesmamferas pesquisadas, inclusive em porquinhos da ndia,35filhotes de rato,36chimpanzs,37 e macacos rhesus,38 sugerindo que esse padro de desconfortono exclusivo dos bebs humanos.

    4. Em bebs prematuros de cerca de oito semanas, a curva de desconforto ocorrena sexta semana a partir da data de nascimento corrigida, indicando que essepadro no se deve experincia ps-natal, e sim a um fenmenomaturacional de desenvolvimento.39

    Alm disso, evidente, hoje, que todos os tipos de choro (isto , agitao, choro e choroinconsolvel) so prolongados, que esse prolongamento ocorre apenas nos primeirosmeses, e que o choro inconsolvel ocorre quase unicamente nos primeiros meses devida.3,40 A imprevisibilidade do choro e da capacidade ou incapacidade do cuidadorpara consolar o beb deve-se provavelmente ao fato de que: (1) o choro do beb nosprimeiros meses reflexo da organizao de seus estados comportamentais (choro,viglia,sono), e no uma sinalizao intencional;14 (2) as mudanas de estado comportamentalocorrem por etapas e no por incrementos ou diminuies de excitao;7,41e (3) bebsso resistentes a mudanas de estado comportamental a menos que estejam em uma fasede transio em que esto prontos para a mudana de estado.7 Por fim, j existem

    evidncias consistentes de que a proporo de bebs que apresentam sintomas de doenasorgnicas para explicar seu choro inferior a 5%.8,42,43 Na ausncia de qualquer outrocomprometimento, bebs com clicas tm perspectivas de desenvolvimento to boasquanto aqueles que no as tm.44

    Embora as evidncias de que o choro infantil freqente e a clica fazem parte dodesenvolvimento normal do beb sejam razoavelmente convincentes, permanece odesafio de compreender porque esse comportamento normal, tendo em vista suacapacidade de frustrar os cuidadores. Esse desafio resultou em trabalhos interessantessobre o valor positivo (ou de sobrevivncia) do choro infantil frequenteem termos dahistria evolutiva do ser humano, e possivelmente de outras espcies. Isto inclui

    evidncias sobre seu papel para garantir nutrio suficiente, proximidade dos cuidadoresprimrios como proteo contra predadores, e formao inicial de relaes deapego.22,45,46 Como ocorre com a maioria dos comportamentos influenciados pelaevoluo, a funcionalidade de um comportamento especfico para prover resultadospositivos ou negativos para o indivduo depende do contexto em que expressa. Maiorisolamento devido licena maternidade de curta durao, famlias nucleares ao invs defamlias ampliadas e arranjos habitacionais separados aumentam o estresse das mes.

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    ConclusesNos ltimos 30 anos, o acmulo de novas evidncias interdisciplinares sobre aspropriedades, a cronologia e os resultados do choro infantil, inclusive manifestaesclinicas de clica, modificou nossa compreenso desse choro crescente comocomportamento considerado anormal ou indicador de doena ou disfuno do beb, de

    seus pais, ou de ambos. Passamos a compreend-lo como comportamento que constituiuma parte inextricvel do desenvolvimento normal do beb humano. Isto implica tambmque as consequncias socioemocionais desse choro ocorrem, em grande parte, em funoda forma pela qual os cuidadores interpretam e respondem ao choro. Essas respostaspodem ter efeitos no longo prazo tanto nos termos das formas de cuidado parental, porum lado, quanto da autopercepo dos pais como maus cuidadores por no conseguiracalmar seu beb ou lidar com o choro, por outro.5,6,40,47-54 Entretanto, no havendooutros comprometimentos do beb ou de seu ambiente, o desenlace para bebs com choroinicial intenso ou de clica positivo.

    Implicaes

    Uma consequncia anteriormente analisada de forma subestimada da compreenso sobreas propriedades do choro infantil como parte normal do desenvolvimentocomportamental inicial de todos os bebs, e sobre seu potencial para frustrar cuidadores,quer seus bebs tenham clicas ou no, que essas propriedades do choro podemdesencadear uma consequncia seriamente trgica, conhecida como Sndrome do BebSacudido (SBS), trauma cerebral por abuso, ou neurotrauma infantil provocado.2A SBS uma forma de contuso no acidental na cabea, com ou sem impacto, resultante do atode sacudir violentamente o beb, o que pode causar um conjunto de danos provavelmentenico, que inclui encefalopatia aguda com hemorragias subdurais, edema cerebral,hemorragias retinianas e fraturas. Cerca de 25% dos casos diagnosticados clinicamentelevam morte, e cerca de 80% dos sobreviventes tm danos neurolgicos permanentes,

    que incluem cegueira, paralisia cerebral, incapacidade de aprendizagem e problemascomportamentais.55

    Novas evidncias demonstraram que a curva etria de incidncia da Sndrome do BebSacudido tem o mesmo incio e forma da curva de choro normal, ao passo que o pico deincidncia ocorre por volta das 12 semanas de idade e no na sexta semana, perodo depico do choro.32Esse atraso aparente na incidncia do pico pode ser explicado pelo fatode 35% a 50% dos casos de bebs diagnosticados com SBS mostrarem evidncias deocorrncias ou abusos anteriores, o que implica que o episdio que os trouxe aoscuidados clnicos simplesmente o ltimo de uma srie de incidentes semelhantes.32,56,57

    O lado positivo que a reconhecimento crescente da relao entre choro e Sndrome doBeb Sacudido abriu a possibilidade de reduo da incidncia da SBS atravs deprogramas educacionais universais oferecidos a pais de primeira viagem para aumentar acompreenso sobre a normalidade do choro, sua capacidade de frustrar os cuidadores epara alertar para o fato de que sacudir o beb como resposta ao choro causa srios danoscerebrais e morte.58 Com essa finalidade, o National Center on Shaken Baby Syndrome(Centro Nacional Para a Sndrome do Beb Sacudido) criou folhetos informativos eDVDs/vdeos, elaborados para estimular a distribuio mais ampla possvel em centros

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    de sade e para o pblico em geral, denominados The Period of PURPLE Crying.(NT: o perodo de chorar at ficar roxo). Cada letra na palavra PURPLE refere-se a umadas seis propriedades do choro normal tpicas nos primeiros meses de vida (Ppara cryingpeak pico do choro; U para unexpected timing of prolonged crying bouts imprevisibilidade temporal de crise de choro prolongados; Rpara resistance to soothing

    resistncia a ser tranquilizado; P para pain-like face even when they are not in painexpresso de dor na ausncia de dor; Lpara long crying bouts longas crises de choro, eEpara evening clustering of crying concentrao de choro do fim da tarde/comeo danoite). Os cuidadores so estimulados a adotar trs procedimentos para reduzir aprobabilidade de sacudir seus bebs: (1) aumentar o contato, carregar, caminhar e darrespostas que ajudaro a reduzir o choro, ainda que no o interrompa totalmente; (2) se ochoro tornar-se muito frustrante bom afastar-se um pouco, colocar o beb no bero poralguns minutos, e acalmar-se; e (3) nunca sacudir ou machucar seu beb. Resumindo, ainterveno aproveita-se de novos conhecimentos sobre choro infantil intenso,aplicando-os em favor da reduo da incidncia de um resultado catastrfico, mas evitvel. Ensaiosaleatrios controlados sobre a eficcia dessas intervenes na mudana de

    conhecimentos, atitudes e comportamentos de pais de primeiro filho esto sendoatualmente realizados, antecipando a possibilidade de incorporao desses materiais emprogramas de preveno por todo o pas, caso se provem teis.

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    Este artigo foi traduzido sob os auspcios do ConselhoNacional de Secretrios de Sade - CONASS - Brasil.

    Para citar este documento:

    Barr RG. O choro e sua importncia para o desenvolvimento psicossocial da criana . In: Tremblay RE,Barr RG, Peters RDeV, Boivin M, eds. Enciclopdia sobre o Desenvolvimento na Primeira Infncia [on-line]. Montreal, Quebec: Centre of Excellence for Early Childhood Development; 2011:1-10. Disponvelem: http://www.enciclopedia-crianca.com/documents/BarrPRTxp1.pdf.Consultado [inserir data].

    Copyright 2011

    http://www.child-encyclopedia.com/documents/StJames-RobertANGxp.pdfhttp://www.child-encyclopedia.com/documents/StJames-RobertANGxp.pdfhttp://www.child-encyclopedia.com/documents/ZeifmanANGxp.pdfhttp://www.child-encyclopedia.com/documents/ZeifmanANGxp.pdfhttp://www.enciclopedia-crianca.com/documents/BarrPRTxp1.pdfhttp://www.enciclopedia-crianca.com/documents/BarrPRTxp1.pdfhttp://www.child-encyclopedia.com/documents/ZeifmanANGxp.pdfhttp://www.child-encyclopedia.com/documents/ZeifmanANGxp.pdfhttp://www.child-encyclopedia.com/documents/StJames-RobertANGxp.pdfhttp://www.child-encyclopedia.com/documents/StJames-RobertANGxp.pdf
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    1

    Choro e seu impacto nodesenvolvimento psicossocial da criana:

    Comentrios sobre Stifter e Zeskind1

    DEBRAM. ZEIFMAN,PhD

    Vassar College, EUA

    (Publicado on-line, em ingls, em 4 de abril de 2005)(Publicado on-line, em portugus, em 14 de fevereiro de 2011)

    Tema

    Choro

    IntroduoO choro o meio bsico de comunicao disponvel para crianas pequenas durante umafase do desenvolvimento em que elas so quase completamente dependentes de terceirospara suprir suas necessidades. Uma vez que o choro tipicamente induz cuidados,sequncias de choro e apaziguamento oferecem um contexto altamente motivador no qualo beb associa o cuidador primrio a transies recompensadoras entre desconfortoemocional e serenidade. Talvez por esse motivo, os bebs tornam-se emocionalmenteapegados ao indivduo que responde de forma mais confivel ao seu choro e o choro, porsua vez, seja visto como fundamental para a formao de um vnculo com um cuidadorespecfico.1 Entretanto, h uma tremenda variabilidade na qualidade e na quantidade de

    choro do beb e na natureza da resposta parental ao choro. Bebs normais choram de umaa uma hora e quarenta e cinco minutos por dia nas primeiras seis semanas de vida,2e asrespostas parentais variam de muito indulgentes a negligentes e at abusivas.3Os autoresdos artigos desta seo abordam alguns dos fatores que contribuem para a variabilidadedos padres do choro do beb e das respostas parentais.

    Pesquisas e conclusesO artigo de Stifter focaliza as diferenas entre clica e temperamento difcil e delineiasuas trajetrias de desenvolvimento. A clica, definida como choro persistente eexcessivo nos primeiros trs meses de vida em bebs que com exceo a esse fator soconsiderados saudveis, uma condio transitria que se encerra tipicamente por volta

    do quarto ms e que tem, como j foi demonstrado, pouca ou nenhuma consequncia delongo prazo. Por outro lado, o temperamento difcil, definido como agitao frequente edificuldade de apaziguamento, estende-se para alm dos quatro meses, mostra algumacontinuidade por toda a infncia e est correlacionado a vrios resultados prejudiciais nolongo prazo. Outra diferena entre clica e temperamento difcil a qualidade do choro

    1Comentrios sobre o artigo original publicado por Philip Sanford Zeskind em 2005. Para ter acesso a esseartigo, entre em contato conosco em [email protected].

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    em si. No episdio de clica, o choro mais intenso e de durao mais longa; no caso detemperamento difcil, o choro e a agitao so mais frequentes do que o normal, mas nonecessariamente mais intensos.

    Tanto a clica quanto o temperamento difcil podem ter consequncias negativas diretas

    ou indiretas para o beb por meio das reaes parentais negativas ao choro excessivo epela tenso resultante nas interaes pais/filhos. Apesar de amplas evidncias de que nocurto prazo a clica psicologicamente estressante para os pais, o relacionamentopais/beb aparentemente recupera-se logo aps o desaparecimento das clicas. Por outrolado, bebs considerados de temperamento difcil exibem numerosos deficitsna infnciae na adolescncia, entre os quais se destacam problemas escolares, de ateno e decomportamento. O fato de que intervenes precoces, focalizadas na promoo desensibilizao e responsividade parental, podem amenizar algumas dessas consequnciasnegativas sugere que os efeitos de longo prazo do temperamento difcil podem sermediados pela presso que este exerce sobre as relaes pais/filhos.

    O artigo de Zeskind focaliza as propriedades acsticas dos choros e as caractersticaspessoais dos adultos que influenciam a relevncia do choro para aqueles que o ouvem esua eficcia em obter ajuda. Particularmente, o choro agudo e intenso, caracterstico dealguns bebs com enfermidades e outras condies congnitas, est associado percepo de que o choro urgente e requer ateno imediata. Comparado ao choro debebs normais, o choro agudo de bebs em risco considerado como mais aversivo esoando doente. Em bebs normais, o choro agudo reservado para as leses maisperturbadoras, como a parte invasiva da circunciso.4Os pais respondem ao choro muitoagudo com aumento da excitao autonmica e intervenes adequadamente imediatas, aque Zeskind apropriadamente refere-se como sincronia de excitao. Quando o choro consistentemente agudo devido a uma condio subjacente que no leses,

    provavelmente ser irritante para os cuidadores. Uma das consequncias que os bebs jem risco devido a problemas de desenvolvimento podem correr o risco adicional derespostas parentais hostis ao choro, que podem exacerbar ainda mais sua condiocomprometida.5

    As caractersticas de quem o escuta tambm influenciam a percepo e a reao ao choro.Pais que maltratam seus prprios filhos manifestam elevada excitao e averso a chorosagudos em testes em laboratrio de reaes fisiolgicas e emocionais, quandocomparados a pais que no maltratam seus filhos. Mes adolescentes em depresso emes dependentes de cocana percebem o choro agudo como menos mobilizador e menosmerecedor de resposta urgente do que as mes normais, possivelmente indicando

    incapacidade para discriminar entre choros de diferentes intensidades e para compreenderseus significados comparativos. O autor argumenta que a capacidade de resposta aocomportamento do beb, incluindo sensibilidade para o choro, pode estar subjacente sdiferenas em termos de resultados para o beb, particularmente para bebs em risco.

    O artigo de Zeskind destaca a interao dinmica do choro e das caractersticas doouvinte que resulta em padres de resposta. Uma limitao dessa abordagem pode ser seufoco sobre uma qualidade acstica, a frequncia fundamental (isto , altura bsica), em

    Enciclopdia sobre o Desenvolvimento na Primeira Infncia2011 Centre of Excellence for Early Childhood DevelopmentZeifman DM

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    detrimento de outras variveis acsticas e contextuais. Na medida em que altura umaqualidade alterada do choro de bebs prejudicados que correm riscos de problemas dedesenvolvimento, o foco de Zeskind perfeitamente compreensvel. Entretanto, esse focopode obscurecer outros componentes como a durao do choro, ou variveis contextuaiscomo o tempo transcorrido desde a ltima alimentao, que contribuem para o momento

    da ocorrncia e a natureza das respostas.6-7

    Eu, entre outros, j argumentei que, se por umlado grandes variaes na altura do choro indicam um status de comprometimentoneurolgico,3outras caractersticas do choro e de seu contexto so utilizadas tipicamentepara quantificar o desconforto de bebs normais e saudveis em circunstncias maiscorriqueiras.8

    Implicaes para polticas e serviosO artigo de Stifter ajudar psiclogos a diferenciar clica infantil e temperamento difcil.A conscientizao desses profissionais quanto s diferenas entre essas duas condies eseus riscos relativos tem implicaes prticas para o provimento adequado de apoio eorientao para decises relativas continuidade do atendimento. No caso da clica, por

    exemplo, as preocupaes parentais podero ser aliviadas pela tranquilizao quanto natureza transitria do problema. Por outro lado, pais de crianas com temperamentodifcil podem ser apoiados para superar essa condio mais duradoura, possivelmenteprevenindo ou mitigando alguns dos efeitos adversos no longo prazo causados pelapresso sobre as relaes pais/filhos.

    Os psiclogos poderiam usar os resultados de Zeskind para identificar problemas desade do beb e para capacitar cuidadores para que se tornem mais sensveis aos sinais dedesconforto do beb. Certamente, bebs com um choro pouco comum, ou muito agudo,devem ser avaliados quanto a problemas mdicos. Os psiclogos deveriam discutir comos pais a natureza desgastante do choro de altura incomum e oferecer o apoio apropriado.

    Adicionalmente, caractersticas parentais associadas a uma sensibilidade reduzida aodesconforto do beb como, por exemplo, depresso ou histrico de abusos, devem sercontabilizadas na avaliao de riscos e da necessidade de apoio suplementar do psiclogoem qualquer estratgia de atendimento ao beb.

    Os dois artigos focalizam condies patolgicas, e no condies normais dedesenvolvimento. Vale notar que, no curso normal dos eventos, o c