Desconectar Se

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Desconectar-se é possível? Mauro Meirelles Nascido em 1942, Manuel Castells é um sociólogo espanhol especializado em estudos voltados para a temática da sociedade da informação, da comunicação e da globalização e daquilo que hoje denominamos de sociedade em rede e/ou sociedade do conhecimento. Autor de obra de grande envergadura cujo principal destaque reside na conhecida trilogia denominada “A Sociedade em Rede”, em seus estudos, destaca um cenário mediado pelas novas tecnologias da informação e comunicação e propõe o conceito de capitalismo informacional. Sobretudo, nesta e em obras posteriores busca se ocupar das relações existentes entre a economia, a sociedade e a cultura e o modo como, em tempos de tecnologias digitais e de hiper-conectividade, identidades são construídas, destruídas e/ou preservadas no interior de um processo global que conecta pessoas, empresas e estados nacionais de uma forma nunca dantes observada na história da sociedade moderna. Algo que, talvez, só tenha paralelo com o surgimento da imprensa e os tipos móveis de Gutemberg e as consequências desta decorrentes. Para o sociólogo espanhol que hoje atua na Universidade Aberta da Catalunia (UOC), em Barcelona, onde é diretor do Instituto Interdisciplinar de estudos da Internet tem-se que, na sociedade atual, mais do que em tempos outros, o produto que adquire o maior valor agregado, é conhecimento e sua capacidade de estar conectado a ele. Redes informacionais descentralizadas, inicialmente construídas para fins militares, ganham cada vez mais espaço e, pelos cabos transoceânicos de fibra ótica circulam, diariamente, milhões de bits e bytes. No pulsar da rede de computadores, no acender e apagar das luzes do seu modem, países têm sua economia destruída pelo fluxo internacional de capitais, pessoas e empresas ganham existência global e/ou desaparecem, comportamentos são transformados em função de tecnologias móveis que alteram o modo como trocamos informações, ouvimos música, vemos TV e assistimos filmes, por exemplo. A carta, o telegrafo, os toca-discos, os CDs e DVDs, e mais recentemente, os livros, em menos de duas décadas, se tornaram obsoletos e o mundo agora cabe na palma de nossa mão através dos milhões de smartphones e tablets que cada vez mais ganham espaço em nossa vida. No mundo das tecnologias da informação e/ou da chamada sociedade em rede de Manuel Castells a vida é transformada e novos hábitos e comportamentos de consumo e viver são criados. São tempos de cibercultura e, talvez, o maior exemplo dessa mudança de comportamento, o qual vai além do uso da tecnologia strictu sensu como expomos anteriormente, seja o modo como, pelo menos nós, os brasileiros, passamos a lidar com nossa privacidade a partir das chamadas redes sociais. Nelas compartilhamos tudo, ao ponto de sabermos mais da vida e da intimidade de pessoas que estão longe de nós e que não vemos desde a época da escola do que do nosso colega de trabalho que senta ao nosso lado, ou ainda, de nosso vizinho com o qual descemos todos os dias de elevador pela manhã. Nesse novo mundo das tecnologias da informação até nossa existência é questionada na medida em que, é bastante comum, ouvirmos em nossas salas de aula que isso ou aquilo não existe... e daí perguntamos ao nosso aluno, mas porquê? E esse responde: porquê não achei nada no Google. Se tiver

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Artigo Mauro Meirelles

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Desconectar-se possvel?

Mauro Meirelles

Nascido em 1942, Manuel Castells um socilogo espanhol especializado em estudos voltados para a temtica da sociedade da informao, da comunicao e da globalizao e daquilo que hoje denominamos de sociedade em rede e/ou sociedade do conhecimento. Autor de obra de grande envergadura cujo principal destaque reside na conhecida trilogia denominada A Sociedade em Rede, em seus estudos, destaca um cenrio mediado pelas novas tecnologias da informao e comunicao e prope o conceito de capitalismo informacional. Sobretudo, nesta e em obras posteriores busca se ocupar das relaes existentes entre a economia, a sociedade e a cultura e o modo como, em tempos de tecnologias digitais e de hiper-conectividade, identidades so construdas, destrudas e/ou preservadas no interior de um processo global que conecta pessoas, empresas e estados nacionais de uma forma nunca dantes observada na histria da sociedade moderna. Algo que, talvez, s tenha paralelo com o surgimento da imprensa e os tipos mveis de Gutemberg e as consequncias desta decorrentes. Para o socilogo espanhol que hoje atua na Universidade Aberta da Catalunia (UOC), em Barcelona, onde diretor do Instituto Interdisciplinar de estudos da Internet tem-se que, na sociedade atual, mais do que em tempos outros, o produto que adquire o maior valor agregado, conhecimento e sua capacidade de estar conectado a ele. Redes informacionais descentralizadas, inicialmente construdas para fins militares, ganham cada vez mais espao e, pelos cabos transocenicos de fibra tica circulam, diariamente, milhes de bits e bytes. No pulsar da rede de computadores, no acender e apagar das luzes do seu modem, pases tm sua economia destruda pelo fluxo internacional de capitais, pessoas e empresas ganham existncia global e/ou desaparecem, comportamentos so transformados em funo de tecnologias mveis que alteram o modo como trocamos informaes, ouvimos msica, vemos TV e assistimos filmes, por exemplo. A carta, o telegrafo, os toca-discos, os CDs e DVDs, e mais recentemente, os livros, em menos de duas dcadas, se tornaram obsoletos e o mundo agora cabe na palma de nossa mo atravs dos milhes de smartphones e tablets que cada vez mais ganham espao em nossa vida. No mundo das tecnologias da informao e/ou da chamada sociedade em rede de Manuel Castells a vida transformada e novos hbitos e comportamentos de consumo e viver so criados. So tempos de cibercultura e, talvez, o maior exemplo dessa mudana de comportamento, o qual vai alm do uso da tecnologia strictu sensu como expomos anteriormente, seja o modo como, pelo menos ns, os brasileiros, passamos a lidar com nossa privacidade a partir das chamadas redes sociais. Nelas compartilhamos tudo, ao ponto de sabermos mais da vida e da intimidade de pessoas que esto longe de ns e que no vemos desde a poca da escola do que do nosso colega de trabalho que senta ao nosso lado, ou ainda, de nosso vizinho com o qual descemos todos os dias de elevador pela manh. Nesse novo mundo das tecnologias da informao at nossa existncia questionada na medida em que, bastante comum, ouvirmos em nossas salas de aula que isso ou aquilo no existe... e da perguntamos ao nosso aluno, mas porqu? E esse responde: porqu no achei nada no Google. Se tiver um tempo, pense nisso. Mas, seno tiver tempo, basta deixar de entrar no Facebook por um dia e te sobraram cerca de quatro horas e meia dirias pois , este o tempo mdio que, nossos jovens, passam conectados a rede de Mark Zuckerberg.