Dono da bola!

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Mais uma crônica de Luis Fernando Veríssimo.

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A rua ainda era a mesma. As mesmas casas. As

mesmas árvores . Até o armazém do Espanhol

(assim chamado por razões misteriosas, pois o dono

era português) continuava lá . Ele desceu do carro e começou a caminhar pela

calçada esburacada.

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Parou em frente à casa que t inha s ido a dele . Era a

maior da rua. Puxa. Sentiu um aperto na garganta. Quantas lembranças! O muro com as marcas da

bola. Lembrou-se então, com uma intensidade que quase o sufocou, do t ime.

O Valores da Zona!

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Que tempo bom. Nunca mais fora tão fe l iz. A idéia de formar o t ime

t inha s ido dele . Ele era o dono da bola. Ele é que contribuíra com a maior

parcela, t i rada da mesada que o pai lhe dava, para a

compra das camisetas. Lembrava ainda da

formação do ataque: Venancinho, Alemão, e le , Mangola e Tobias da dona Ester , para dist inguir do

Tobias da dona Inácia, que era zagueiro.

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Tempo bom.

O Venancinho morava numa casa de madeira em frente à

sua. Será que. . .

Atravessou a rua e bateu na porta. Apareceu uma

menina dos seus o ito anos.

- Quié .

- O Venancinho ainda mora aqui?

- Quem?

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- Venâncio . Venâncio, ahn. . .

Tentou se lembrar do sobrenome. Inúti l . Só se lembrava de Venancinho.

Vulgo Bicudo.

- Peraí - disse a menina, e fechou a porta.

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Nunca mais , desde aquele tempo, t ivera tantos

amigos. O grito de guerra do t ime era "Valores da Zona. . .Unidos! Unidos!

Unidos! " . E eram unidos. Com eles provara o

primeiro c igarro. Comprara as primeiras revistas de

sacanagem. Lembrava das reuniões no galpão atrás

da casa do Chico Babão, os concursos de. . .

Apareceu uma senhora.

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-Quer falar com quem?

- O Venâncio ainda mora aqui?

- Mora.

- Ele está em casa?

- Está aposentado - disse a mulher , como se dissesse

"onde mais poder ia estar? " . E apontou para o próprio

peito: - Pulmão.

- Será que eu posso falar com ele?

- Como é o seu nome?

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Ele disse . Explicou quem era. A mulher tornou a

fechar a porta. Ele ouviu a mulher gr itando para

alguém. Seu nome e sua descrição. E ouviu a voz

de um homem exclamando:

- I i ih. É o Bacana.

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Não sabia que aquele era o seu apel ido. Compreendeu

tudo. Era como o chamavam pelas costas. Bacana. Só porque sua casa era a maior e e le

t inha mesada.

Antes de se virar e voltar para o carro, teve um

pensamento definit ivo.

- Só me deixavam ser o centroavante porque a bola

era minha.

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CRÉDITOS

Formatação: Prado Sl ides

E-mail : [email protected]

Texto: Luis Fernando Veríss imo

Imagens: Net

Música: Balada número sete

Moacir Franco