Dono da bola!
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Transcript of Dono da bola!
Prado Slides – Cidre ira / RS
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A rua ainda era a mesma. As mesmas casas. As
mesmas árvores . Até o armazém do Espanhol
(assim chamado por razões misteriosas, pois o dono
era português) continuava lá . Ele desceu do carro e começou a caminhar pela
calçada esburacada.
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Parou em frente à casa que t inha s ido a dele . Era a
maior da rua. Puxa. Sentiu um aperto na garganta. Quantas lembranças! O muro com as marcas da
bola. Lembrou-se então, com uma intensidade que quase o sufocou, do t ime.
O Valores da Zona!
Prado Slides – Cidre ira / RS
Que tempo bom. Nunca mais fora tão fe l iz. A idéia de formar o t ime
t inha s ido dele . Ele era o dono da bola. Ele é que contribuíra com a maior
parcela, t i rada da mesada que o pai lhe dava, para a
compra das camisetas. Lembrava ainda da
formação do ataque: Venancinho, Alemão, e le , Mangola e Tobias da dona Ester , para dist inguir do
Tobias da dona Inácia, que era zagueiro.
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Tempo bom.
O Venancinho morava numa casa de madeira em frente à
sua. Será que. . .
Atravessou a rua e bateu na porta. Apareceu uma
menina dos seus o ito anos.
- Quié .
- O Venancinho ainda mora aqui?
- Quem?
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- Venâncio . Venâncio, ahn. . .
Tentou se lembrar do sobrenome. Inúti l . Só se lembrava de Venancinho.
Vulgo Bicudo.
- Peraí - disse a menina, e fechou a porta.
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Nunca mais , desde aquele tempo, t ivera tantos
amigos. O grito de guerra do t ime era "Valores da Zona. . .Unidos! Unidos!
Unidos! " . E eram unidos. Com eles provara o
primeiro c igarro. Comprara as primeiras revistas de
sacanagem. Lembrava das reuniões no galpão atrás
da casa do Chico Babão, os concursos de. . .
Apareceu uma senhora.
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-Quer falar com quem?
- O Venâncio ainda mora aqui?
- Mora.
- Ele está em casa?
- Está aposentado - disse a mulher , como se dissesse
"onde mais poder ia estar? " . E apontou para o próprio
peito: - Pulmão.
- Será que eu posso falar com ele?
- Como é o seu nome?
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Ele disse . Explicou quem era. A mulher tornou a
fechar a porta. Ele ouviu a mulher gr itando para
alguém. Seu nome e sua descrição. E ouviu a voz
de um homem exclamando:
- I i ih. É o Bacana.
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Não sabia que aquele era o seu apel ido. Compreendeu
tudo. Era como o chamavam pelas costas. Bacana. Só porque sua casa era a maior e e le
t inha mesada.
Antes de se virar e voltar para o carro, teve um
pensamento definit ivo.
- Só me deixavam ser o centroavante porque a bola
era minha.
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CRÉDITOS
Formatação: Prado Sl ides
E-mail : [email protected]
Texto: Luis Fernando Veríss imo
Imagens: Net
Música: Balada número sete
Moacir Franco