DUARTE, J. Apontamentos e Discussões Da Geologia Do Quaternário Na Ilha Do Mel
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I Simpsio Nacional de Mtodos e Tcnicas da Geografia e Maring, 22 a 25 de outubro de 2013 XXII Semana de Geografia p. 872
ISBN: 9788587884299
Apontamentos e discusses da geologia do quaternrio na Ilha do Mel, Paranagu PR
Juliano Duarte
Graduando em Geografia, UNICENTRO Guarapuava PR (Campus CEDETEG) E-mail: [email protected]
RESUMO A Ilha do Mel PR, pertencente ao municpio de Paranagu, uma ilha formada por afloramentos de rochas do escudo cristalino pr-cambriano paranaense, com idades que extrapolam os quinhentos milhes de anos. Possui diversas formaes que se alternaram ao longo do tempo, derivadas do processo de construo da costa a partir de processos geomorfolgico com depsitos costeiros de areia pela ao do mar, ora lineares ora de classificao confusa, formados durante o holoceno, sendo este o ultimo perodo, que vem desde o ultimo glacial at os dias atuais. Ao longo do tempo, com o recuo e o avano do nvel do mar, a ilha passou de simples arquiplago de ilhas para uma regio densamente florestada e com rios de plancies. Este artigo tem por objetivo, atravs de diversas pesquisas desenvolvidas, pontuar sobre acontecimentos do perodo quaternrio da era geolgica ceno-zica no recorte geogrfico a que pertence a Ilha do Mel. No se pretende esgotar o tema, mas contribuir para a construo de uma discusso sobre o mesmo atravs de diversos autores. Sendo assim o recorte geogrfico estu-dado pertence desembocadura da regio estuarina da Baa de Paranagu, com grande importncia para analises de avanos e recuos do nvel do mar no quaternrio, alm de possuir uma fauna caracterstica e padres dinmi-cos de relevo que moldaram e continuam moldando suas fisionomias e morfologias. Palavras-chave: Holoceno, Linhas costeiras, geologia, Quaternrio.
ABSTRACT Ilha do Mel - PR, belonging to the municipality of Paranagu, is an island formed by outcrops of Precambrian crystalline shield Paran, with ages that exceed the five hundred million years. It has diverse backgrounds who alternated over time, derived from the process of constructing the coast from geomorphological processes in coastal deposits of sand by the action of the sea, sometimes linear classification now confused, formed during the Holocene, which is the last period which comes from the last glacial to the present day. Over time, with the advance and retreat of the sea level, the island went from simple archipelago of islands to a densely forested plains and rivers. This article aims through various researches undertaken, scoring on events of the Quaternary Period of the Cenozoic geologic era in geographical cutout that belongs to Ilha do Mel. This is not to be exhaustive, but to contribute to the construction of a discussion about the same through various authors. Thus the geographical cutout studied belongs to the mouth of the estuary of the Bay of Paranagu, with great importance for analysis of advances and retreats of the sea level in the Quaternary, and possess a characteristic fauna and dynamic patterns of relief that shaped and continue to shape their faces and morphologies. Keywords: Holocene, Shorelines, geology, Quaternary.
1. Introduo
Este artigo teve por objetivo, descrever e apontar os acontecimentos geolgicos quater-
nrios da Ilha do Mel, localizada na desembocadura da Baa de Paranagu, uma das duas re-
gies estuarinas do litoral do estado do Paran, sendo que a outra a Baa de Guaratuba. No
se pretende aqui esgotar o tema, que debatido e estudado por muitos pesquisadores dessa
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rea de estudo, os quais serviro de base bibliogrfica e conceitual para a exposio de ideias
que se segue.
A ilha pertence uma regio costeira rochosa que se estende desde a Ilha Grande, no Es-
tado do Rio de Janeiro at o Cabo de Santa Marta em Santa Catarina, tendo esta caracterstica
pela proximidade com a cadeia montanhosa da Serra do Mar. Modificaes na linha de costa
em funo de eroso, geralmente isoladas e associadas com obstculos naturais ou artificiais
(pelo homem), interrompem o fluxo de sedimentos ao longo da costa e podem fazer com que
esta se modifique, gerando diferenas no aporte de sedimentos depositados, por exemplo, na
Ilha do Mel. (Tessler et al., 2006).
Com relao formao geolgica da ilha, composta principalmente por terrenos de
rochas granitides do embasamento cristalino proterozico, os migmatitos, que sustentam os
morros, e por terraos arenosos costeiros pertencentes poro externa da barreira regressiva
holocnica (Lessa et al. 2000). Os migmatitos so recortados por diques de diabsio da poca
da separao do continente africano e sul-americano, os quais formaram o Oceano Atlntico a
aproximadamente 150 milhes de anos. composta tambm por cordes litorneos, terraos e
dunas formadas durante o holoceno (Suguio, 1977). Seu ponto culminante fica no Morro Ben-
to Alves, um morro composto por rochas pr-cambrianas, que atinge 151 metros.
A ilha leva-nos a diversos estudos, desde a botnica e as aves at a geomorfologia da
ilha no ltimo perodo quaternrio da era geolgica cenozica (parte que nos interessa), por
meio da analise de sedimentos a partir de sua deposio, por exemplo.
2. Contextualizao da Ilha do Mel - PR
A rea de estudo fica localizada entre a baa de Paranagu e o mar aberto pertencendo
ao municpio de Paranagu PR, sendo administrada pelo Instituto Ambiental do Paran (I-
AP). Esse rgo dispe de um Conselho Gestor, composto por representantes da comunidade
e do poder pblico, que acompanha a aplicao das normas previstas no Zoneamento Florestal
e Urbano, mesmo as ocupaes sendo incipientes e rsticas na ilha.
A ilha composta por seis lugares habitveis, assim definidos pelo IAP, conforme re-
presentado na figura 01, possuindo 120 hectares aproximadamente liberados para a moradia,
pois quando da sua transformao em parque ambiental, tais lugares j existiam, sendo atual-
mente permitida sua existncia de acordo com a legislao socioambiental.
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Aproximadamente 2585 hectares da ilha de um total de 2762 hectares ou 27 km (Fi-
gueiredo, 1954), so compostos por diversos ecossistemas que compe o complexo da Flores-
ta Atlntica, tais como, a restinga, os manguezais, entre outros que so destinados preserva-
o integral da flora e da fauna (Marques & Oliveira, 2004). E ainda, mais 2240 hectares per-
tencem a uma estao ecolgica, restrita a visitao, sendo permitida a entrada somente para
pesquisas cientficas, e 345 hectares pertencem a uma reserva natural.
Figura 01: Mapa representando os lugares habitveis da Ilha do Mel. Duarte (2013).
Conforme site do IAP, em 1982, quando a ilha passou a ser administrada pelo Estado
do Paran, o mesmo encarregou o instituto da criao de uma unidade de conservao que
protegesse os ecossistemas naturais, com sua flora e fauna nela presentes. Com isso, aproxi-
madamente 95% da ilha uma estao ecolgica, englobando manguezais em pequeno nume-
ro, restingas, entre outros ecossistemas.
Em relao topologia que a ilha apresenta, seu ponto culminante fica no Morro Ben-
to Alves, que atinge 151 metros. constituda por rochas que compe o escudo cristalino pa-
ranaense que compe a Serra do Mar, sendo recortada por diques de diabsio, datados da po-
ca da separao do continente africano e sul-americano, formando o Oceano Atlntico a apro-
ximadamente 130 e 150 milhes de anos. composta tambm por cordes litorneos, terraos
e dunas formadas durante o holoceno (Suguio, 1977). A areia marrom que compe o substrato
nas praias do Farol, Nova Braslia e na praia das Encantadas tem aproximadamente 5.000
A.P. e sua colorao se deve presena de matria orgnica originada de paleosistemas de
florestas presentes na ilha (Couto & Savian, 1996).
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Os morros que compe a Ilha do Mel so formados por gnaisses e migmatitos de ida-
des pr-cambrianas, que formam o embasamento cristalino, com idades inferiores a 550 mi-
lhes de anos, entremeadas por diques de diabsio com idades de 130 milhes de anos, origi-
nados na mesma poca da formao do Arco de Ponta Grossa (MAACK, 1948; 1981) (MI-
NEROPAR, 1989).
A Gruta das Encantadas se formou devido eroso diferencial entre as rochas que a
compe. Uma delas o migmatito, que possui maior resistncia ao intemperismo fsico (cho-
que das ondas e ao ambiente marinho mido) por ser uma rocha metamrfica do escudo cris-
talino paranaense, caracterizada por ser menos frivel que o diabsio, outra rocha que compe
a gruta, sendo uma rocha extrusiva mais frivel e com menor resistncia ao intemperismo
fsico. Como os minerais que compe o diabsio o fazem menos resistente eroso que o
migmatito, o mar o escavou mais facilmente ao longo do tempo e com isso acabou originando
a gruta (Fig. 02).
Figura 02: Dique de Diabsio (parte escura) na Gruta das Encantadas. Foto: Duarte (2011).
Segundo os diversos autores estudados, h 120.000 anos o nvel do mar estava apro-
ximadamente 8 metros acima do nvel marinho atual, onde a Ilha do Mel se apresentava ape-
nas como um arquiplago de ilhotas, formado pelos morros atuais da ilha e que, muito prova-
velmente o Morro Bento Alves era a maior dessas ilhotas. (MINEROPAR, 2013)
Logo a seguir, durante o ultimo mximo glacial, h 18.000 anos aproximadamente, a
Ilha do mel estava emersa em meio a uma mata atlntica exuberante, pois o nvel do mar esta-
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va 120 metros abaixo do atual, formando assim extensas plancies, sulcadas por rios mean-
drantes e a costa estava mais de 100 km distante da atual. (MINEROPAR, 2013)
Quando passou o pico do ltimo perodo glacial, o nvel do mar subiu por consequn-
cia do derretimento do gelo nas calotas polares e do equilbrio isosttico da crosta terrestre,
at que o nvel do mar alcanou um nvel 3 metros acima do atual h aproximadamente 5.600
A. P., levando a linha de costa para 5 km adentro do continente, formando os cordes e paleo-
linhas de praias que, por meio da formao de uma plancie de mar vazante a partir do estu-
rio da baa de Paranagu (Fig. 03), que, consequentemente depositou esses sedimentos onde
hoje a Ilha do Mel (MINEROPAR, 2013). Com isso, formou a atual plancie costeira para-
naense, tendo a plancie da Ilha do Mel sido formada do oeste para leste, a partir do Morro da
Baleia ou do Forte, atravs da deposio arenosa, pela configurao de dunas frontais de mar
vazante, formando uma plancie arenosa com cordes litorneos.
Figura 03: Delta de mar vazante da baa de Paranagu. MINEROPAR. (s/a) Laboratrio F. Mari-nha/CEM UFPR - LECOST/UFPR Imagem do satlite Landsat 5 de 1999.
Os cordes litorneos observados na parte setentrional da ilha denotam a existncia de
paleopraias e paleolinhas de costas antigas que so de origem holocnica e se formaram a
partir do recuo e avano do mar que ocorreu possivelmente por causa de movimentaes tec-
tnicas geradas pelo continuo distanciamento do continente sul-americano em relao ao con-
tinente africano alm do aumento ou diminuio das calotas polares e movimentos isostticos
da crosta terrestre, entre outros fatores que causaram tal fato, como comentam Bigarella &
Sanches (1949), Suguio (1977), Angulo (2002), entre outros. Esses cordes tm orientao a
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partir da baa de Paranagu em direo ao Morro da Baleia, deformando-se atravs das late-
rais desse morro (Fig. 04).
Na formao dos terraos, cordes litorneos e dunas que compe a ilha a partir do a-
vano e recuo do mar, moraram nos ltimos 6.000 A. P., humanos primitivos, indgenas que
usavam embarcaes rsticas e se alimentavam de crustceos, peixes e tubrculos pela pratica
da agricultura, que deixaram vrias evidncias de sua presena nesse local. De acordo com
Bigarella & Sanches (1966), Angulo (2002) e diversos outros autores, as evidncias no litoral
paranaense dessas ocupaes humanas, so da ordem de 5.600 A.P. ou mais, datados, princi-
palmente a partir de seus componentes por Carbono 14. Algumas dessas evidncias so co-
nhecidas pelo nome de sambaquis.
Os primeiros habitantes (...) deixaram provas de sua presena em mais de cem stios
arqueolgicos chamados sambaquis, (...) Trata-se dos depsitos de restos dos ali-
mentos por eles (humanos primitivos) consumidos por exemplo, conchas de ma-
riscos , com mais de seis mil anos de idade. Segundo alguns autores, os construto-
res dos sambaquis viviam no interior e s desciam ao litoral durante o inverno, bus-
cando moluscos para alimentar-se devido ao escasseamento da caa. A tese de que
eram nmades bastante aceita. Grifo nosso. (BEHR, 1997, p. 23)
Alguns desses depsitos esto acima do nvel do mar e outros esto num nvel marinho
inferior ao atual, podendo indicar que durante o holoceno esse nvel variou diversas vezes.
pertinente acrescentar que, segundo Martin et al. (1984), os sambaquis so restos ar-
queolgicos onde se encontram grande quantidade de depsitos de conchas depositados por
humanos primitivos que habitavam o litoral. Esses depsitos demonstram de certa forma, h-
bitos alimentares e costumes desses humanos que ali viviam ali, com alguns podendo ser da-
tados de 6.000 A.P. A localizao desses acima do nvel do mar atual explicada possivel-
mente por uma extenso lagunar que era superior da atual e por uma extenso lagunar inferior
para os que esto abaixo do nvel atual.
A ilha composta de duas partes, um setentrional e a outra meridional. Os sambaquis
da ilha so observados na sua parte meridional, nos quais segundo Couto & Savian (1996),
so encontrados artefatos lticos diversos e numerosos vestgios de fogueiras, que provavel-
mente pertenciam ao grupo indgena primitivo denominado G, anterior ao aparecimento dos
tupis-guaranis. So dois sambaquis, o primeiro est localizado prximo formao das dunas
frontais que ocorreram no holoceno (Angulo, 2004), e o segundo encontra-se no costo rocho-
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so voltado para o Mar de Dentro entre o Morro Bento Alves e o Morro do Meio, indicando
provavelmente um lugar protegido das intempries para os humanos primitivos da Ilha do
Mel. Esses humanos primitivos surgiram a cerca de 6.000 anos, sendo uma data estimada da
presena do primeiro ser humano na regio.
Com relao dinmica dos fluxos de sedimentos da ilha, podemos notar que, as mo-
dificaes incluem eroso e acreso em algumas partes dela. Exemplos desses fenmenos
esto presentes em seu istmo central, que divide a ilha em duas, onde as duas dinmicas esto
presentes, retirando material do istmo e depositando na enseada das conchas, criando um es-
poro arenoso. Esse esporo evoluiu a partir da dcada de 1950 e cresceu a taxas de at 100
metros em menos de uma dcada (Angulo et al., 2006). O fenmeno da acreso tambm o-
corre em diferentes trechos da costa, a exemplo da parte setentrional da praia do forte. Tais
fatos corroboram com Giannini (2004), em seu estudo sobre a eroso da costa leste da Ilha do
Mel (Fig. 05), onde:
O terrao que formava o istmo central da ilha na localidade de Nova Braslia, com
cerca de 150 m de largura nos anos 1950, foi completamente erodido durante a d-
cada de 90 (sic). Simultaneamente eroso do istmo, observou-se o surgimento e
crescimento de um esporo arenoso, que em maio de 2002 tinha mais de 800 m de
extenso, ancorado na ponta do Farol das Conchas. (GIANNINI et al, 2004, p.231)
Com isso, Giannini et al (2004), detalha o que vem acontecendo na ilha ao estudar a
eroso na costa leste da Ilha do Mel atravs de um modelo baseado na distribuio espacial de
formas deposicionais e propriedades sedimentolgicas.
Couto & Savian (1996) ao analisarem sedimentos a partir da vegetao e dos animais
na plancie intertidal da parte sul do Saco do Limoeiro, comentam que os sedimentos conti-
nham mostras orgnicas de manguezais, os quais serviam aos povos primitivos do litoral para
fornecer alimentos, material para suas moradas, alm de tanino1 (produto utilizado atualmente
em vinhos, reforo do couro e tambm usado para dar resistncia a casas e barcos frente
decomposio intensa nas reas midas e alagadas). Os sedimentos analisados tambm conti-
nham grande quantidade de calcrio, em que se sugere que As condies fsicas do trecho
estudado consideradas conjuntamente com as caractersticas texturais e a anlise do material
1 TANINO: (Fr) S.m. classe de substncias adstringentes encontradas em certos vegetais, muito usadas para curtir pele e transform-la em couro. (Dicionrio Unesp do portugus contemporneo, p. 1335). TANINO: S.m. (Qum.) substncia adstringente que se encontra na casca de vrias plantas. (Do Fr. tanin) (Dicionrio brasileiro Globo, p.592).
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disperso nos testemunhos sugerem que o mecanismo predominante o biolgico (...) (Couto
& Savian, 1996, p.9)
Figura 04: Localizao e esboo geolgico da ilha do Mel, com indicao de duas geraes de cordes litorneos. Legenda composta na figura: (1) praia; (2) manguezal; (3) esporo arenoso formado por dunas frontais a partir da dcada de 1990; (4) plancie costeira holocnica formada em um nvel mari-nho semelhante ao atual; (5) plancie costeira holocnica formada em um nvel marinho superior ao atual (6) alinhamento de cordes litorneos da ilha; (7) morros de granitides do embasamento crista-lino proterozico2.
Com relao plancie arenosa que antes compunha o istmo central que divide a ilha
em duas, comentada por Giannini (2004), tal formao fora sedimentada durante o holoceno
atravs dos processos marinhos que uniram as parte norte e sul da Ilha do Mel, antes separa-
das e que, foi parcialmente erodida pelas ondas e correntes de mar at formar o estreito istmo
2 Retirado e adaptado de: GIANNINI, P. C. F.; ANGULO, R. J.; SOUZA, M. C.; KOGUT, J. S.; DELAI, M. S. 2004. A eroso na costa leste da Ilha do Mel, baa de Paranagu, Estado do Paran: modelo baseado na distribui-o espacial de formas deposicionais e propriedades sedimentolgicas. So Paulo, Revista Brasileira de Geoci-ncias, 34 (2): 231-242.
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atual, quase desaparecido no final dos anos 90 (Fig. 05). Com isso, quando ocorrem mars de
sizgia e estas se unem as ressacas do mar associadas passagem de uma frente fria prxima a
linha da costa, este istmo acaba encoberto pelas ondas do mar, encerrando a ligao entre a
parte norte e sul da ilha nesse perodo de tempo. (Giannini, 2004)
Figura 05: Imagem retirada do Google Earth. (2013). Esporo arenoso (vetor em preto indicando) e direo dos ventos predominantes (vetores em branco indicando).
Esse esporo arenoso (Fig. 05) acrescido de sedimentos pela ao marinha na ensea-
da das conchas, retirando material do istmo central e depositando-o na enseada, por meio dos
ventos que ali predominam, principalmente de leste para oeste, atingindo a costa leste da ilha
com vetores vindos do mar aberto incidindo na regio do forte Nossa Senhora dos Prazeres e
posteriormente direcionado pela costa em direo a enseada das conchas (Fig. 06). (Gianni-
ni, 2004). Tais fatos foram observados em campo realizado em outubro de 2011(Fig. 07 e 08).
O processo pelo qual passa o istmo central da Ilha do Mel solapou falsias existentes na
dcada de 1950 e transformou o local que antes era habitado em um banco de areia que liga a
parte setentrional da ilha parte meridional da ilha. Com isso, podemos perceber que essas
modificaes evidenciam as manifestaes de processos erosivos-deposicionais, que intera-
gem na ilha e esto atuantes em todo o seu permetro num processo dinmico que afetou du-
rante o holoceno, transformando a costa da ilha. (Angulo et al. 1995).
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Figura 07: Depsito de sedimentos arenosos in loco na enseada das conchas em outubro de 2011, com o processo de deposio de sedimentos estvel em relao dcada de 1990. Foto: Duarte. (2011)
Figura 08: Vista do esporo arenoso formado na enseada das conchas a partir de dunas frontais (no cen-tro) e do istmo da ilha (seta indicando), vistos do Morro do Farol das conchas em dia de mar baixa. Foto: Duarte (2011)
3. Consideraes Finais
Os processos que moldaram a Ilha do Mel so dinmicos e continuam atuantes, sendo
os mesmos que atuaram no passado. Se, como falamos anteriormente, ao longo do tempo,
com o recuo e o avano do nvel do mar, a ilha passou de arquiplago de ilhas para uma regi-
o densamente florestada e com rios de plancies, devemos ter o entendimento que no tempo
geolgico esses processos vo continuar moldando a costa da ilha, modificando a paisagem
natural. Com isso, por meio da observao emprica das ocorrncias naturais do relevo da
ilha, observadas em campo, nota-se que o mesmo processo pode ocorrer em micro, macro ou
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mega escala, de modo a compreender que todos os processos interagem para moldar a fisio-
nomia e a geomorfologia da Ilha do Mel.
4. Referncias
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