Ficha Formativa Sobre Falar Verdade a Mentir

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Escola E.B 2/3 de Freixo de Espada à Cinta Ficha Formativa de Língua Portuguesa – 8º Ano NOME:_____________________________________________ N.º______ TURMA______ Encarregado de Educação_____________________________________________________ Professor Sérgio Alves Apreciação_______________ Criado, (trazendo uma carta). – Para o senhor Brás Ferreira, do Porto. Brás Ferreira – Sou eu: dá cá. (abre) Ah! é para o tal pagamento. (O criado sai.) Vejamos as minhas contas: quanto tenho eu em dinheiro? ... Dá-me licença, Duarte; tenho uns papéis que arranjar. Conversa com minha filha. (Tira a sua carteira, e vai sentar-se à esquerda.) Amália (baixo a Duarte) – Não se emenda, está visto. Duarte – De a adorar? Não, decerto. Amália – Não é disso, é do seu maldito vício que nos deita a perder: meu pai jurou que desfazia o nosso casamento se daqui até à noite o apanhasse numa mentira. Duarte – Oh meu Deus, o que fiz eu?! Amália – Pois que é, Duarte? Tudo quanto tem estado a dizer? ... Duarte – É verdade no fundo; acredite: agora os detalhes... os pormenores…eu não sei como isto é... não é com má tenção... mas a maior parte das vezes, as coisas contadas tais quais como elas são... ficam duma sensaboria tal... Amália (com ironia) – Que não pode resistir ao desejo de as enfeitar, e de mostrar a riqueza da sua imaginação. Duarte – Não torno mais. Juro-lhe que nunca mais. Amália – Cale-se, que pode ouvir meu pai. Duarte – Não me importa, não tenho medo: estou emendado e para sempre. Amália, prometo, hei-de ser o modelo dos maridos, leal, sincero, verdadeiro, sempre... Amália – Sempre! Se meu pai ouvisse essa palavra, desfazia logo o nosso casamento. Duarte – Amália, isso também é de mais! ... Brás Ferreira (chegando com um papel) – Não tenho dinheiro que chegue. E eu sem me lembrar! Duarte, hás-de-me fazer um favor. Duarte – Qual? Estou pronto. Brás Ferreira – Uma letra de três contos de réis para descontar. Duarte – Em bem má ocasião, coa fortuna! não tenho pinto. Brás Ferreira – Não tens!... e aquele dinheiro? Duarte – Qual dinheiro? Brás Ferreira – O da tua casa. Duarte – Da minha casa? ... Ah sim, é verdade. É que actualmente... Brás Ferreira – Já dispuseste dele? Duarte – Não, não, isto é, de certo modo já; mas propriamente... Amália (baixo a Duarte) – Vê o que é mentir. Duarte – Em suma, porque lhe não hei-de dizer francamente o que é, meu

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Escola E.B 2/3 de Freixo de Espada CintaFicha Formativa de Lngua Portuguesa 8 AnoNOME:_____________________________________________ N.______ TURMA______Encarregado de Educao_____________________________________________________Professor Srgio Alves Apreciao_______________

Criado, (trazendo uma carta). Para o senhor Brs Ferreira, do Porto.Brs Ferreira Sou eu: d c. (abre) Ah! para o tal pagamento. (O criado sai.) Vejamos as minhas contas: quanto tenho eu em dinheiro? ... D-me licena, Duarte; tenho uns papis que arranjar. Conversa com minha filha. (Tira a sua carteira, e vai sentar-se esquerda.)Amlia (baixo a Duarte) No se emenda, est visto.Duarte De a adorar? No, decerto.Amlia No disso, do seu maldito vcio que nos deita a perder: meu pai jurou que desfazia o nosso casamento se daqui at noite o apanhasse numa mentira.Duarte Oh meu Deus, o que fiz eu?!Amlia Pois que , Duarte? Tudo quanto tem estado a dizer? ...Duarte verdade no fundo; acredite: agora os detalhes... os pormenoreseu no sei como isto ... no com m teno... mas a maior parte das vezes, as coisas contadas tais quais como elas so... ficam duma sensaboria tal...Amlia (com ironia) Que no pode resistir ao desejo de as enfeitar, e de mostrar a riqueza da sua imaginao.Duarte No torno mais. Juro-lhe que nunca mais.Amlia Cale-se, que pode ouvir meu pai.Duarte No me importa, no tenho medo: estou emendado e para sempre. Amlia, prometo, hei-de ser o modelo dos maridos, leal, sincero, verdadeiro, sempre...Amlia Sempre! Se meu pai ouvisse essa palavra, desfazia logo o nosso casamento.Duarte Amlia, isso tambm de mais! ...Brs Ferreira (chegando com um papel) No tenho dinheiro que chegue. E eu sem me lembrar! Duarte, hs-de-me fazer um favor.Duarte Qual? Estou pronto.Brs Ferreira Uma letra de trs contos de ris para descontar.Duarte Em bem m ocasio, coa fortuna! no tenho pinto.Brs Ferreira No tens!... e aquele dinheiro?Duarte Qual dinheiro?Brs Ferreira O da tua casa.Duarte Da minha casa? ... Ah sim, verdade. que actualmente...Brs Ferreira J dispuseste dele?Duarte No, no, isto , de certo modo j; mas propriamente...Amlia (baixo a Duarte) V o que mentir.Duarte Em suma, porque lhe no hei-de dizer francamente o que , meu tio? ... Eu tinha minhas dvidas...Amlia Outra, Duarte?Duarte No, esta no; verdade purssima. Um rapaz no pode viver sem isso. Ora sucedeu, por uma coincidncia esquisita, que o comprador da minha casa, o tal senhor Jos Marques...Brs Ferreira Inda agora disseste Toms...Duarte Toms Jos Marques, um fino agiota de gema...Brs Ferreira Tinhas-me dito um negociante...Duarte Negociante, porque negoceia em papis e descontos por atacado, e faz usura em grosso. Enfim, o meu honradssimo homem, que j comendador e sai conselheiro um dia destes, era o que me tinha emprestado o dinheiro. De sorte que na compra da casa, feitas bem as contas...Brs Ferreira E tu devias ao comprador?Duarte Uns dez a doze contos de ris.Brs Ferreira Ento vendeste por trinta e trs; tem de te dar ainda de tornas vinte e um contos.Duarte (atrapalhado) Vinte contos de ris... o que lhe eu dizia... (aparte) Como hei-de eu sair desta?Brs Ferreira (olhando para ele) Dar-se- caso que tu me pregasses uma das tuas... que tal comprador no exista? ...

Falar Verdade a Mentir, Almeida GarrettI

1. Este texto, extrado da pea de teatro Falar Verdade a Mentir, fala-nos de um determinado vcio.

1.1. Qual o maldito vcio de que fala Amlia?1.2. Como justifica Duarte o seu vcio?1.3. Que consequncia(s) pode(m) vir a resultar deste defeito?

2. Considera o provrbio: De promessas e de boas intenes est o Inferno cheio..2.1. A que parte desta cena se pode aplicar este provrbio?2.2. Explica porqu.

3. Explica por palavras tuas as expresses destacadas:a) No nada disso, do seu maldito vcio que nos deita a perder (2 fala de Amlia)b) (...) as coisas contadas tais quais como elas so... ficam de uma sensaboria tal... (3 fala de Duarte)c) Em bem m ocasio, coa fortuna! No tenho pinto. (8 fala de Duarte)

4. Amlia (com ironia) Que no pode resistir ao desejo de as enfeitar, e de mostrar a riqueza da sua imaginao.4.1. Explica o que a ironia.

5. Situa o excerto na estrutura da pea a que pertence.II

1.Elementos da orao:1.1- Faz a anlise sintctica das frases seguintes:a) Brs Ferreira veio do Porto de comboio.b) Amlia e Joaquina esto muito apreensivas, desde ontem.c) Jos Flix continua o jogo com as outras personagens.d) Eles encobriram-lhe a verdade com mestria.

2. Identifica a orao subordinante (principal) e a orao subordinada em cada uma das frases apresentadas:

a) Ele ficou muito contente porque recebeu as cem moedas.b) Para que o casamento se realize, Duarte no pode ser apanhado em mentiras.c) Se ele adivinhasse as futuras aflies, no teria mentido tanto.d) O general Lemos chegou quando eles estavam a almoar.