Gestão da contaminação biológica por espécies vegetais...

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE CENTRO DE ESTUDOS GERAIS INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS Pós-Graduação em Ciência Ambiental Gestão da contaminação biológica por espécies vegetais exóticas no Parque Nacional da Serra dos Órgãos, Rio de Janeiro, Brasil. M ICHELLE DE O LIVEIRA R IBEIRO Niterói 2009

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U N I V E R S I D A D E F E D E R A L F L U M I N E N S E CENTRO DE ESTUDOS GERAIS INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

Pós-Graduação em Ciência Ambiental

Gestão da contaminação biológica por espécies vegetais exóticas no Parque Nacional da Serra dos

Órgãos, Rio de Janeiro, Brasil.

MICHELLE DE OLIVEIRA RIBEIRO

Niterói 2009

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MICHELLE DE OLIVEIRA RIBEIRO

GESTÃO DA CONTAMINAÇÃO BIOLÓGICA POR ESPÉCIES VEGETAIS EXÓTICAS NO PARQUE NACIONAL DA SERRA DOS ÓRGÃOS, RIO DE JANEIRO, BRASIL.

Dissertação apresentada ao curso de Pós-Graduação em Ciência Ambiental da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre. Área de Concentração: Gestão Ambiental.

Sob a orientação do Prof. Dr. Rodrigo Medeiros

Niterói 2009

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R484 Ribeiro, Michelle de Oliveira Gestão da contaminação biológica por espécies vegetais exóticas no Parque Nacional da Serra dos órgãos, Rio de Janeiro, Brasil / Michelle de Oliveira Ribeiro . – Niterói : [s.n.], 2009. 134 f. Dissertação (Mestrado em Ciência Ambiental) – Univer- sidade Federal Fluminense, 2009. 1.Gestão ambiental. 2.Parque Nacional da Serra dos Órgãos (RJ). 3.Espécies Exóticas Invasoras. I.Título. CDD 574.52642

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MICHELLE DE OLIVEIRA RIBEIRO

GESTÃO DA CONTAMINAÇÃO BIOLÓGICA POR ESPÉCIES VEGETAIS EXÓTICAS NO PARQUE NACIONAL DA SERRA DOS ÓRGÃOS, RIO DE JANEIRO, BRASIL.

Dissertação apresentada ao curso de Pós-Graduação em Ciência Ambiental da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre. Área de Concentração: Gestão Ambiental.

Aprovada em 03 de março de 2009.

BANCA EXAMINADORA

________________________________________________________________ Prof. Dr. Rodrigo Medeiros (orientador)

________________________________________________________________ Prof. Dr. Claudio Belmonte de Athayde Bohrer

_______________________________________________________ Prof. Dr. André Felippe Nunes de Freitas

Niterói 2009

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A todos que, de alguma forma, tornaram este sonho

realidade.

Dedico

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AGRADECIMENTOS

Li uma vez que misteriosas são as razões que nos levam ao caminho árduo e tortuoso

da busca do conhecimento. Mais insondáveis ainda são as razões que levam pessoas ao nosso

redor a nos apoiarem e estimularem nessa escolha. Estas pessoas merecem toda a minha

gratidão eternamente. Por isso gostaria de agradecer a todos que me ajudaram a manter

sempre aceso o desejo da descoberta, que facilitaram e conspiraram para que essa dissertação

fosse realizada e que nesse intento tornaram este caminho mais prazeroso.

Agradeço...

... a Deus, por ter me dado forças e sabedoria para trilhar a estrada da vida. Por ter me

sustentado e me guiado até aqui, sempre com sua mão bondosa a me abençoar. Agradeço por

fazer a cada dia um milagre em mim.

... aos meus pais, Miguel Archanjo Ribeiro e Joana Darc de Oliveira, por serem

realmente pais pra mim. Por me ensinarem tudo o que sei, conduzindo meu desenvolvimento

da melhor maneira possível, pelo zelo com que cuidam de mim, pela paciência, pelo

incentivo, pelo amor. Por fazerem de mim aquilo que sou hoje.

... ao meu querido irmão Alexandre de Oliveira, minha cunhadinha Aline de Oliveira

e a minha sobrinha linda Júlia pelo amor dedicado a mim, pelo companheirismo, por me

apoiarem e estarem sempre prontos a me ajudar no que for preciso. Enfim, agradeço a minha

família por serem o meu alicerce, meu ponto de apoio e de fuga quando preciso. Sou parte da

minha família, portanto, este trabalho também é dela.

... ao amor da minha vida, Alex Machado Pavão, por ter a coragem de vir me

encontrar e lutar por nós desde o início. Por me amar em todos os momentos, por acreditar em

mim, me apoiar, incentivar e estar ao meu lado sempre, me erguendo em cada queda. Seu

companheirismo foi importante em todas as etapas desta jornada. Agradeço a compreensão e

apoio durante todo o trabalho de campo e por esperar pelo meu regresso. A tranqüilidade e

paciência de todas as vezes que recorria a ele quando entrava em desespero por qualquer

razão e pela ajuda incondicional. Seu amor foi fundamental por colocar felicidade em minha

vida e sonhos em meus pensamentos! Te amo!!!

... a Universidade Federal Fluminense, por me aceitar e me dar as ferramentas e

oportunidades para que este dia chegasse. Por permitir que eu estudasse novas coisas,

aprendendo a cada dia um pouquinho mais e através do meu projeto poder descobrir o quão

fascinantes são as florestas.

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... ao meu orientador, Rodrigo Medeiros, por ter acreditado neste trabalho e aceitado o

desafio de concretizá-lo, por toda a ajuda e orientação e pelas oportunidades de crescimento e

desenvolvimento.

... aos professores que não somente me ensinaram disciplinas, mas que também me

deram lições de vida e me ensinaram como é o mundo real.

... em especial aos professores André Felippe Nunes de Freitas e Roberto Tozani pela

valiosa ajuda em pontos vitais para a concretização deste trabalho.

... a todos da turma PGCA 2007, grandes amigos feitos sob medida!!! Pessoas tão

incríveis e interessantes que me fazem sentir que fazer Ciência Ambiental é poder participar

de um mundo de pessoas fantásticas que lutam por um mundo melhor!!! Obrigada pela

divertida convivência dentro e fora da sala de aula, pelo aprendizado que tive com vocês, por

todos os momentos, pelas risadas, pela grande ajuda e apoio que sempre me deram e por

acreditarem em mim quando parecia que ninguém acreditava... Vocês são anjos de verdade!!!

... aos amigos do LAGEAM e do LEFBV pela ajuda nos trabalhos de campo e de

escritório, pelos momentos de trabalho duro e de diversão, pelo aprendizado. Valeu!

... a Flavio Guerra Barroso, Carolina Porto Ricardo da Silva e Thiago de Azevedo

Amorim, grande equipe de campo!!! Valeu o sofrimento na úmida e fria Serra dos Órgãos!!!

Sem vocês esse trabalho não seria uma realidade, Obrigada!

...a todos os meus amigos, por fazerem parte da minha vida, levando um pouco de

mim com vocês e deixando um pouco de vocês comigo!

... ao Parque Nacional da Serra dos Órgãos e ao SISBIO, por terem me recebido de

braços abertos e aprovado prontamente o projeto e me dado permissão para a realização da

pesquisa.

... a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, especialmente aos Departamentos

de Ciências Ambientais (Instituto de Florestas) e Fitotecnia (Instituto de Agronomia) por

ceder seus laboratórios para uso durante o projeto.

... a CAPES, pela bolsa de estudos que permitiu a realização desta dissertação.

... a Fundação O Boticário de Proteção à Natureza, pelo apoio dado ao projeto, que

continuará...

A todos meu muito obrigada!!!

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“O futuro dependerá daquilo que fazemos no

presente”

Mahatma Gandhi

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SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS .............................................................................................................. xi LISTA DE TABELAS ........................................................................................................... xiv LISTA DE QUADROS ........................................................................................................... xv LISTA DE SIGLAS ............................................................................................................... xvi RESUMO ............................................................................................................................... xvii ABSTRACT ......................................................................................................................... xviii 1. INTRODUÇÃO GERAL ..................................................................................................... 1 2. REFERENCIAL TEÓRICO ............................................................................................... 4 2.1. A contaminação biológica por espécies exóticas ................................................................ 5 2.2. A contaminação biológica através dos tempos .................................................................. 10 2.3. Gestão e manejo das espécies exóticas vegetais ................................................................ 14 2.4. A questão da contaminação biológica no âmbito da conservação da biodiversidade ....... 17 3. OBJETIVOS ....................................................................................................................... 28 4. ÁREA DE ESTUDOS: O PARQUE NACIONAL DA SERRA DOS ÓRGÃOS .......... 29 CAPÍTULO I – IDENTIFICAÇÃO E DIAGNÓSTICO DAS ESPÉCIES EXÓTICAS . 43 1. Introdução ............................................................................................................................. 44 2. Metodologia .......................................................................................................................... 46

2.1. Ocorrência de espécies exóticas .................................................................................. 46 2.2. Estrutura da vegetação e distribuição das espécies exóticas ....................................... 47 2.3. Parâmetros microclimáticos ........................................................................................ 51

3. Resultados e discussão ......................................................................................................... 52 3.1. Ocorrência de espécies exóticas .................................................................................. 52 3.2. Estrutura da vegetação ................................................................................................. 56

3.2.1. Estrato arbóreo ................................................................................................. 56 3.2.2. Estrato herbáceo ............................................................................................... 57

3.3. Distribuição das espécies exóticas no ambiente e os fatores que a influenciam ......... 59 3.4. Espécies exóticas invasoras que causam problemas ao ecossistema nativo ................ 66

CAPÍTULO II – GESTÃO E MANEJO DE ESPÉCIES EXÓTICAS NO PARQUE NACIONAL DA SERRA DOS ÓRGÃOS ........................................................................... 69 1. Introdução ............................................................................................................................. 70 2. Metodologia .......................................................................................................................... 71 3. Resultados e discussão ......................................................................................................... 75

3.1. Impatiens walleriana ................................................................................................... 75 3.2. Hedychium coronarium ............................................................................................... 81 3.3. Demais espécies exóticas............................................................................................. 92

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x

5. CONCLUSÕES GERAIS .................................................................................................. 94 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES .................................................. 96 LITERATURA CITADA ..................................................................................................... 100 ANEXO 1 ............................................................................................................................... 112 ANEXO 2 ............................................................................................................................... 114

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LISTA DE FIGURAS

4. ÁREA DE ESTUDOS: O PARQUE NACIONAL DA SERRA DOS ÓRGÃOS

Figura 1. Paisagem do Parque Nacional da Serra dos Órgãos – vista do Dedo de Deus. Foto: autor desconhecido .................................................................................... 29

Figura 2. Localização do Parque Nacional da Serra dos Órgãos em relação ao Rio de Janeiro e ao Brasil. (adaptado de IBAMA, 2009) ............................................... 32

Figura 3. Novos Limites do Parque Nacional da Serra dos Órgãos. Fonte: Adaptado de PARNASO .......................................................................................................... 34

Figura 4. Distribuição mensal da temperatura no Parque Nacional da Serra dos Órgãos .. 35

Figura 5. Antiga estação meteorológica que funcionou na sede Teresópolis do Parque Nacional da Serra dos Órgãos. Foto: Acervo PARNASO .................................. 35

Figura 6. Distribuição mensal das chuvas no Parque Nacional da Serra dos Órgãos ........ 36

Figura 7. Zoneamento do Parque Nacional da Serra dos Órgãos. Fonte: Adaptado de PARNASO .......................................................................................................... 41

Figura 8. Estrada da Barragem, Parque Nacional da Serra dos Órgãos, RJ. Foto: Michelle Ribeiro ................................................................................................................. 42

CAPÍTULO I – IDENTIFICAÇÃO E DIAGNÓSTICO DAS ESPÉCIES EXÓTICAS

Figura 1. Área de estudos: trecho da zona de uso intensivo do Parque Nacional da Serra dos Órgãos. Estrada da Barragem, Sede Teresópolis. Fonte: adaptado de Google.. ............................................................................................................... 48

Figura 2. Distribuição das parcelas de estudo no Parque Nacional da Serra dos Órgãos. Fonte: adaptado de SIG-PARNASO ................................................................... 49

Figura 3. Usos das espécies vegetais exóticas encontradas no Parque Nacional da Serra dos Órgãos, RJ ..................................................................................................... 56

Figura 4. Temperaturas médias nas classes de distância da vegetação em relação à estrada no mês de setembro de 2008 ............................................................................... 60

Figura 5. Temperaturas médias nas classes de distância da vegetação em relação à estrada no mês de outubro de 2008 .................................................................................. 61

Figura 6. Umidade Relativa (UR) nas classes de distância da vegetação em relação à estrada no mês de setembro de 2008 ................................................................... 62

Figura 7. Umidade Relativa (UR) nas classes de distância da vegetação em relação à estrada no mês de outubro de 2008 ..................................................................... 62

Figura 8. Taxas de sombreamento nas diferentes classes de distância da vegetação em relação à estrada................................................................................................... 63

Figura 9. Área no PARNASO com ocorrência da espécie Impatiens walleriana (beijinho). Foto: Michelle Ribeiro ........................................................................................ 67

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Figura 10. Área no PARNASO com ocorrência da espécie Hedychium coronarium (lírio-do-brejo). Foto: Michelle Ribeiro ........................................................................ 67

CAPÍTULO II – GESTÃO E MANEJO DAS EXÓTICAS NO PARQUE NACIONAL DA SERRA DOS ÓRGÃOS

Figura 1. Localização das áreas em que foram instaladas as parcelas dos experimentos de manejo de H. coronarium e I. walleriana. Fonte: adaptado de SIG-PARNASO..... ..................................................................................................... 72

Figura 2. Áreas infestadas pela espécie Impatiens walleriana. (a) área com alta infestação (≥ 67%) e (b) área com baixa infestação (≤ 33%). Fotos: Michelle Ribeiro ....... 73

Figura 3. Áreas infestadas pela espécie Hedychium coronarium. (a) área com alta infestação (≥ 67%) e (b) área com baixa infestação (≤ 33%). Fotos: Michelle Ribeiro ................................................................................................................. 73

Figura 4. Resposta de I. walleriana ao manejo por arranquio em áreas com baixas densidades populacionais, no Parque Nacional da Serra dos Órgãos, RJ ........... 75

Figura 5. Resposta de I. walleriana ao manejo por arranquio em áreas com altas densidades populacionais, no Parque Nacional da Serra dos Órgãos, RJ ........... 75

Figura 6. Taxas de regeneração da espécie I. walleriana aos 60 dias após intervenção de manejo, em situação de baixa densidade populacional ....................................... 77

Figura 7. Taxas de regeneração da espécie I. walleriana aos 60 dias após intervenção de manejo, em situação de alta densidade populacional .......................................... 77

Figura 8. Produção de matéria seca nas parcelas de arranquio da espécie I. walleriana ... 78

Figura 9. Área com baixa densidade da espécie Impatiens walleriana em que foi testado o arranquio das plantas. (a) antes da aplicação do tratamento; (b) logo após a intervenção de manejo e (c) 60 dias após a intervenção. Fotos: Michelle Ribeiro... .............................................................................................................. 79

Figura 10. Área com alta densidade da espécie Impatiens walleriana em que foi testado o arranquio das plantas. (a) antes da aplicação do tratamento; (b) logo após a intervenção e (c) 60 dias após a intervenção. Fotos: Michelle Ribeiro ............ 80

Figura 11. Resposta de H. coronarium em áreas com baixas densidades populacionais às técnicas de manejo, no Parque Nacional da Serra dos Órgãos, RJ ................... 81

Figura 12. Resposta de H. coronarium em áreas com altas densidades populacionais às técnicas de manejo, no Parque Nacional da Serra dos Órgãos, RJ ................... 81

Figura 13. Taxas de regeneração da espécie H. coronarium aos 120 dias após intervenção de manejo, em situação de baixa densidade populacional ................................ 83

Figura 14. Taxas de regeneração da espécie H. coronarium aos 120 dias após intervenção de manejo, em situação de alta densidade populacional .................................. 84

Figura 15. Produção de matéria seca nos tratamentos para manejo da espécie H. coronarium em área de baixa densidade populacional ..................................... 86

Figura 16. Produção de matéria seca nos tratamentos para manejo da espécie H. coronarium em área de alta densidade populacional ........................................ 86

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Figura 17. Detalhe de um pedaço de rizoma de H. coronarium. Foto: Michelle Ribeiro .. 87

Figura 18. Comparação entre os valores de massa fresca e massa seca encontrados nos diferentes tratamentos testados para a espécie Hedychium coronarium em áreas com baixas densidades populacionais .............................................................. 88

Figura 19. Comparação entre os valores de massa fresca e massa seca encontrados nos diferentes tratamentos testados para a espécie Hedychium coronarium em áreas com altas densidades populacionais ................................................................. 88

Figura 20. Área com baixa densidade da espécie Hedychium coronarium em que foi testado o arranquio das plantas. (a) antes da aplicação do tratamento; (b) logo após a intervenção e (c) 120 dias após a intervenção. Fotos: Michelle Ribeiro.... .......................................................................................................... 90

Figura 21. Área com alta densidade da espécie Hedychium coronarium em que foi testado o arranquio das plantas. (a) antes da aplicação do tratamento; (b) logo após a intervenção e (c) 120 dias após a intervenção. Fotos: Michelle Ribeiro .......... 90

Figura 22. Área com baixa densidade da espécie Hedychium coronarium em que foi testado o corte raso das plantas. (a) antes da aplicação do tratamento; (b) logo após a intervenção e (c) 120 dias após a intervenção. Fotos: Michelle Ribeiro.... .......................................................................................................... 91

Figura 23. Área com alta densidade da espécie Hedychium coronarium em que foi testado o corte raso das plantas. (a) antes da aplicação do tratamento; (b) logo após a intervenção e (c) 120 dias após a intervenção. Fotos: Michelle Ribeiro .......... 91

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xiv

LISTA DE TABELAS

CAPÍTULO I – IDENTIFICAÇÃO E DIAGNÓSTICO DAS EXÓTICAS

Tabela 1. Temperaturas médias nas classes de distância borda-interior de vegetação no mês de outubro de 2008 .................................................................................... 61

Tabela 2. Valores médios de Umidade Relativa (UR) nas classes de distância borda-interior de vegetação no mês de outubro de 2008 ............................................... 62

Tabela 3. Taxas de sombreamento nas classes de distância borda-interior de vegetação analisadas ............................................................................................................ 63

CAPÍTULO II – GESTÃO E MANEJO DAS EXÓTICAS NO PARQUE NACIONAL DA SERRA DOS ÓRGÃOS

Tabela 1. Comportamento quantitativo da população de I. walleriana após 60 dias da aplicação dos métodos de controle ...................................................................... 76

Tabela 2. Comportamento quantitativo da população de H. coronarium após 120 dias da aplicação dos métodos de controle ...................................................................... 82

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xv

LISTA DE QUADROS

CAPÍTULO I – IDENTIFICAÇÃO E DIAGNÓSTICO DAS EXÓTICAS

Quadro 1. Espécies exóticas vegetais encontradas no Parque Nacional da Serra dos Órgãos ............................................................................................................... 53

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LISTA DE SIGLAS

APA – Área de Proteção Ambiental CAP – Circunferência à Altura do Peito CDB – Convenção sobre Diversidade Biológica CONABIO – Comissão Nacional de Biodiversidade COP – Conference of the Parties EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária ESALQ – Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz EUA – Estados Unidos da América FAO – Food and Agriculture Organization FIOCRUZ – Fundação Oswaldo Cruz FNMA – Fundo Nacional do Meio Ambiente FUNBIO – Fundo Brasileiro para a Biodiversidade GISD – Global Invasive Species Database GISIN – Global Invasive Species Information Network GISP – Global Invasive Species Programme I3N – IABIN Invasives Information Network IABIN – Inter-American Biodiversity Information Network IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ICSU – International Council for Science Id – Índice de Dispersão de Morisita ISSG – Invasive Species Specialist Group MMA – Ministério do Meio Ambiente NBII – National Biological Information Infrastructure ONU – Organização das Nações Unidas PARNASO – Parque Nacional da Serra dos Órgãos PIB – Produto Interno Bruto PROBIO – Projeto de Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológica Brasileira PRONABIO – Programa Nacional da Diversidade Biológica SBSTTA – Subsidiary Body on Scientific, Technical and Technological Advice SCOPE – Scientific Committee on the Problems of the Environment SNUC – Sistema Nacional de Unidades de Conservação SSC – Species Survival Commission UC – Unidade de Conservação UFV – Universidade Federal de Viçosa UICN – União Internacional para a Conservação da Natureza UNEP – United Nations Environment Programme USP – Universidade de São Paulo

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RESUMO

A contaminação biológica por espécies exóticas invasoras é considerada uma das maiores ameaças à biodiversidade mundial. Entretanto, no Brasil as informações sobre este assunto são ainda escassas, especialmente sobre sua distribuição e controle em áreas protegidas. O presente estudo foi realizado objetivando compreender alguns aspectos do processo de invasão biológica e determinar ações de controle apropriadas para algumas espécies exóticas. O trabalho foi executado na zona de uso intensivo do Parque Nacional da Serra dos Órgãos, na Sede Teresópolis, situado no Domínio Tropical Atlântico. Para determinar a ocorrência de espécies vegetais exóticas nas áreas de estudo foram realizados caminhamentos pela Estrada da Barragem. Posteriormente foram aleatoriamente alocadas 30 parcelas de 10x10m ao longo da mesma estrada, situadas a diferentes distâncias no gradiente borda-interior de mata a fim de estudar a estrutura populacional das espécies exóticas e sua distribuição na floresta. Nestas parcelas foram mensuradas variáveis fitossociológicas para o estrato arbustivo-arbóreo como espécie, CAP e altura total, sendo incluídos na amostragem os indivíduos com CAP igual ou superior a 8cm. Para realizar as medidas no estrato herbáceo, foi montada, em cada parcela, uma sub-parcela de 5x5m, em que foram virtualmente plotados 100 pontos eqüidistantes. Em cada ponto uma vara foi fixada verticalmente em relação ao solo e foram anotadas as espécies que a tocaram e o número de toques de cada espécie. Visando entender os padrões de distribuição espacial encontrados para as espécies exóticas foram mensuradas variáveis relativas ao microclima nas parcelas de estudo (sombreamento, temperatura e umidade relativa do ar). Foram encontradas 24 espécies exóticas pertencentes a 20 famílias diferentes, sendo as espécies Hedychium coronarium e Impatiens walleriana as que ocorreram com maior freqüência. Nas parcelas para os estudos de estrutura populacional, só foram encontradas as espécies H. coronarium e I. walleriana. Estas espécies herbáceas se concentram nas bordas florestais e exercem dominância sobre as espécies nativas nas áreas em que ocorrem, excluindo-as localmente. Foi observado que H. coronarium e I. walleriana ocorrem em áreas com temperatura mais elevada, menor umidade relativa do ar e menor grau de sombreamento. A partir dos resultados obtidos foi instalado um experimento para testar o adequado controle para H. coronarium e I. walleriana. Foram alocadas, de modo aleatório, parcelas em áreas com altas e baixas taxas de infestação das espécies citadas. Para H. coronarium foram testados o arranquio e o corte raso das plantas e para I. walleriana foi testado apenas o arranquio. O arranquio forneceu bons resultados para ambas as espécies, sendo considerado adequado para o controle de suas populações. Contudo, devem ser tomados cuidados para que o arranquio das plantas não cause danos ao ecossistema. Recomenda-se, por esta razão, que o arranquio seja associado com o plantio de espécies nativas de rápido crescimento, bem como sejam realizados repasses periódicos e o contínuo monitoramento das áreas manejadas. Para as demais espécies exóticas encontradas em pequenas populações recomenda-se a remoção por corte ou arranquio a fim de atender à legislação vigente e como medida preventiva para que estas não cheguem ao status de invasoras. Palavras-chave: Espécies exóticas invasoras, Contaminação biológica, Gestão, Parque Nacional da Serra dos Órgãos, Floresta Atlântica

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xviii

ABSTRACT

Introduction and spread of exotic invasive species are considered one of the greatest threats to biodiversity worldwide. In Brazil, however, the information on this subject is still scarce, especially about its distribution and control in protected areas. Aiming to understand some aspects of the invasion process and to determine appropriate control actions for some alien species, a study was carried out. The work took place in the intensive use zone of the Serra dos Órgãos National Park, that belongs to Atlantic Rain Forest domain. To determine which species occur in the studied area, we made walks by Barragem road. After that, 30 parcels of 10x10m were randomly allocated along the road, at different distances of the road to study population structure of the alien species and its distribution through the forest. In these parcels were measured fitossociological variables like specie, DBH and total height to trees and shrubs with 8cm of DBH, at least. To measure herbs it was allocated a sub-parcel of 5x5m inside each 10x10m parcel. In these sub-parcels 100 points were virtually allocated. In each point a cane was fixed on the ground and was noted down the species that touched the cane and the number of touches it. Were found 24 different alien species, but Hedychium coronarium and Impatiens walleriana occurred more frequently. On population structure parcels, only H. coronarium and I. walleriana were found. These herbaceous species gathered in forest edges and overpower native species, excluding these species. Aiming to understand the spatial distribution patterns found for the alien species, we measured microclimatic variables like temperature, shade percentage and relative humidity. We observed that H. coronarium and I. walleriana occur in hotter, drier and less shading areas. From these results an experiment was carried out aiming to promote the appropriate control of H. coronarium and I. walleriana. Parcels of 2x5m were randomly allocated in areas with high and low density of these species. To H. coronarium were tested the effect of total manually uproot and of the cut of plants. To I. walleriana only manually uproot was tested. Uprooting plants was efficient in controlling populations of H. coronarium and I. walleriana and its application is appropriate for the management of these alien species in the studied areas. However, the management by uprooting plants must to be careful. It’s recommended uprooting plants in association with plantation of rapid grow native species. Periodic surveys and continuous monitoring of the treated areas are important either. It’s also recommended the removal of the other alien species found according to the laws and to prevent that these species became invaders. Keywords: invasive alien species, biologic contamination, management, Serra dos Órgãos National Park, Atlantic Rain forest.

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1

1. INTRODUÇÃO GERAL

A diversidade biológica é resultado da evolução de espécies durante bilhões de anos e

pode ser entendida como “a variabilidade de organismos vivos de todas as origens,

compreendendo, dentre outros, os ecossistemas aquáticos e os complexos ecológicos de que

fazem parte; compreendendo ainda a diversidade dentro de espécies, entre espécies e de

ecossistemas” (CDB, 2000:11). A biodiversidade é a base da sustentabilidade dos

ecossistemas e fonte dos serviços e recursos naturais utilizados pelos seres humanos, sendo,

portanto, necessária para a sobrevivência da vida na Terra, inclusive da espécie humana.

Além da utilidade, as espécies têm seu valor de existência não relacionado às necessidades

humanas. Existem razões morais, éticas, culturais, estéticas e científicas para a conservação

da biodiversidade (CMMAD, 1991).

Barreiras naturais impostas às espécies, sejam geográficas ou climáticas, impedem sua

dispersão, limitando suas áreas de ocorrência, além de terem provocado o isolamento de

comunidades durante as eras geológicas. Tal isolamento geográfico significa que os processos

evolutivos têm ocorrido de modo diverso nestas comunidades, formando espécies diferentes

que estabeleceram relações específicas entre si (PRIMACK e RODRIGUES, 2002). Como

resultado, temos hoje ecossistemas em que as espécies co-evoluíram, estabeleceram

interações entre si, adaptaram-se a coexistência e ao ambiente em que vivem, formando

comunidades completamente distintas (PRIMACK e RODRIGUES, op cit).

Entretanto, ao longo de centenas de anos, os obstáculos à dispersão de espécies têm

sido quebrados pela ação humana (CARROLL, 2007; CARVALHO e JACOBSON, 2005;

DAEHLER, 2003; D’ANTONIO e VITOUSEK, 1992). Animais, vegetais e microrganismos

são levados através de oceanos e montanhas e introduzidos em ecossistemas que jamais

alcançariam sozinhos (CARLTON, 1996; D’ANTONIO e VITOUSEK, 1992). Esta “dança”

de espécies manipulada pela vontade humana vem causando alterações nos padrões de

evolução estabelecidos por milhares de anos e provocando efeitos danosos à diversidade

biológica (CORDEIRO e RODRIGUES, 2005; KOLAR e LODGE, 2001). Estes efeitos eram

até então desconhecidos em virtude do sucesso que estas espécies obtiveram ao colonizar os

novos ambientes em que foram lançadas.

Deve-se fazer um parêntese para dizer que quando uma espécie se encontra fora da sua

área de ocorrência natural, colonizando um novo ambiente, diz-se que ela é exótica. E a este

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processo em que espécies exóticas invadem novos ambientes e se naturalizam, causando

mudanças e prejuízos nestes, chama-se contaminação biológica (IBAMA, 2006).

Não se pode perder de vista que a espécie humana está inserida nos processos

ecossistêmicos e depende do meio ambiente em que vive. Por isso, danos à diversidade

biológica trazem também prejuízos à espécie humana. É importante notar que os impactos da

contaminação biológica não se dão apenas sobre os ecossistemas naturais e sua

biodiversidade, mas afetam também a economia e saúde humana. Os prejuízos econômicos

causados pela contaminação biológica à agricultura brasileira foram estimados em US$ 42,6

bilhões e os custos ambientais associados às invasões biológicas são da ordem de US$ 6,7

bilhões, segundo estudos recentes (THIENGO et al., 2007). Os custos relacionados à saúde

humana são mais difíceis de estimar economicamente, mas constituem impactos que não

podem ser deixados de lado quando se trata da problemática das espécies exóticas invasoras.

Por estas razões, nos últimos anos a comunidade científica tem despertado para o problema

das espécies exóticas invasoras, que constituem hoje a segunda maior ameaça à diversidade

biológica mundial, perdendo apenas para a destruição de habitats causada pela exploração

humana (ELLISON e BARRETO, 2004; JENKINS e MOONEY, 2006; KOHLI et al., 2006;

ZILLER, 2000).

Diante da importância da diversidade biológica e da evidente dependência humana dos

recursos por ela gerados, as atividades antrópicas que vêm causando prejuízos a esta devem

ser revistas. Gerir os recursos naturais de maneira sustentável é uma necessidade que

começou a ganhar contornos nítidos desde a Conferência de Estocolmo, em 1972, e

consolidou o conceito de desenvolvimento sustentável em 1987 firmado na obra “Nosso

Futuro Comum” (Relatório Brundtland). A Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB),

assinada em 1992 durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e

Desenvolvimento (Rio-92), tem o modelo de desenvolvimento sustentável como seu objetivo,

expresso em seu artigo I1. O artigo 225 da Constituição Federal brasileira de 1988 corrobora

esta necessidade, colocando inclusive o meio ambiente equilibrado como um direito de todos.

Conservar os ecossistemas e sua biodiversidade é, portanto, uma questão de

responsabilidade com as futuras gerações humanas e com um ambiente que têm valor em si

1 Os objetivos desta Convenção, a serem cumpridos de acordo com as disposições pertinentes, são a conservação da diversidade biológica, a utilização sustentável de seus componentes e a repartição justa e eqüitativa dos benefícios derivados da utilização dos recursos genéticos, mediante, inclusive, o acesso adequado aos recursos genéticos e a transferência adequada de tecnologias pertinentes, levando em conta todos os direitos sobre tais recursos e tecnologias, e mediante financiamento adequado (CDB,2000:10).

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próprio. Pode-se dizer ainda que a conservação da diversidade biológica é uma questão de

sobrevivência. Neste contexto, a contaminação biológica deve ser tratada com seriedade em

virtude dos diversos impactos que causa. Impactos estes que podem ser sinergéticos, ou seja,

combinados a impactos causados por outras fontes podem ter seus efeitos multiplicados.

Ações de gestão da contaminação causada pelas espécies exóticas invasoras se tornam

fundamentais, especialmente quando se trata do Brasil, que contêm uma das maiores

biodiversidades do mundo. Entretanto, para que estas ações sejam bem sucedidas, devem ser

baseadas em estudos até então escassos ou até inexistentes para alguns ecossistemas ou

espécies. No que tange a Mata Atlântica, o bioma com maior diversidade biológica no Brasil

(COSTA et al., 2000), complexo e já tão transformado, estudos e ações eficazes de gestão das

bioinvasões são necessários, a fim de conservar este valioso patrimônio da humanidade.

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2. REFERENCIAL TEÓRICO

Os ambientes mais ricos em diversidade biológica no mundo são as Florestas

Tropicais. Em quase todos os grupos de organismos a biodiversidade tende a aumentar em

direção aos trópicos, atingindo seu auge nas Florestas Tropicais Úmidas próximas ao Equador

(ODUM, 1988; PRIMACK e RODRIGUES, 2002). Neste contexto, a Floresta Atlântica

merece destaque por ser o segundo conjunto de florestas especialmente expressivas na

América do Sul. Este bioma, além de apresentar elevada biodiversidade, possui muitas

espécies endêmicas, raras e ameaçadas de extinção (RAMBALDI et al., 2003), sendo

considerado um dos 34 hotspots mundiais (zonas de alta diversidade e concentração de

espécies endêmicas e que sofrem elevada pressão antrópica, sendo importantes em termos

conservacionistas) (CHIARELLO, 1999; CRONEMBERGER e VIVEIROS DE CASTRO,

2007; MITTERMEIER et al., 2005).

Apesar de sua importância, as atividades humanas vêm transformando o Domínio

Tropical Atlântico diretamente ao longo dos tempos, devastando as áreas de mata para atender

às necessidades de desenvolvimento econômico da população e, como conseqüência disto,

hoje este ecossistema é um dos mais ameaçados do mundo (MORELLATO e HADDAD,

2000; OLIVEIRA-FILHO e FONTES, 2000; SAYER e WHITMORE, 1991). Este processo

se deu em razão da grande ocupação das áreas de Floresta Atlântica pelos colonizadores

europeus e, atualmente, estas áreas coincidem com as mais populosas do Brasil (OLIVEIRA-

FILHO e FONTES, 2000). Outra razão para a exploração das áreas florestadas é o potencial

para exploração econômica neste ecossistema ser amplo e variado. Cultivos agrícolas como

cana-de-açúcar, café e cacau, criação de gado e especulação imobiliária são alguns exemplos

de causas para a devastação da Mata Atlântica, que causou grande degradação ambiental;

restam hoje aproximadamente 27% da cobertura vegetal original (BRASIL, 2008).

Primack e Rodrigues (2002), afirmaram que o maior perigo da degradação ambiental é

a extinção de espécies, pois “uma vez que uma espécie é extinta, sua população não pode ser

recuperada, a comunidade que ela habitava torna-se empobrecida e seu valor potencial para os

seres humanos jamais poderá se concretizar”. Sobre a biodiversidade mundial, o

conhecimento acerca deste assunto, especialmente nos trópicos, permanece precário, ao passo

que as taxas de degradação de habitats e extinção de espécies atingem níveis alarmantes

nestas regiões (LORINI et al., 1996). Atualmente são considerados como os processos mais

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danosos à biodiversidade mundial a fragmentação florestal (LAURANCE e DELAMÔNICA,

1998) e a contaminação biológica (ZILLER, 2001) e, embora sejam tão relevantes, seus

diferentes efeitos ainda são pouco conhecidos.

2.1. A contaminação biológica por espécies exóticas

Quando uma espécie é encontrada fora de sua área de distribuição natural,

notadamente como conseqüência da atuação humana nos ecossistemas, diz-se que ela é

exótica ou alienígena (ZILLER, 2000). Uma vez que uma espécie exótica se estabelece no

ambiente em que foi inserida e sua distribuição ou abundância entra em processo de aumento,

colocando em risco outras espécies ou todo um ecossistema, torna-se uma invasora e este

processo é denominado invasão biológica ou contaminação biológica (BRASIL, 2008; CDB,

2000; CORDEIRO e RODRIGUES, 2005; PIVELLO, 2005; PYSEK, 1995 apud DISLICH et

al., 2002; ZILLER, 2000). Ziller (2000) e Fernandez (2004) enfatizam que a contaminação

biológica pode ser entendida como o processo em que atividades antrópicas colocam em

contato espécies que evoluíram separadamente e que, portanto, não possuem adaptações para

coexistirem. Estas novas espécies, após serem introduzidas podem se neutralizar ou ocasionar

graves alterações ao ambiente invadido (ZILLER, 2000).

Um ecossistema que sofreu o processo de invasão biológica está biologicamente

contaminado ou poluído. A contaminação biológica ou biopoluição causa mudanças nos

ambientes naturais e prejuízos à biodiversidade, visto que as espécies exóticas dominam

nichos anteriormente ocupados pelas espécies nativas, causam danos à estas e ao

funcionamento dos ecossistemas. Contudo, os danos causados pela bioluição não se limitam à

diversidade biológica, mas atingem também a economia e a saúde humana (IBAMA, 2006;

FERNANDEZ, 2004; ZILLER, 2000).

Segundo Pivello (2005), no processo de contaminação biológica podem ser notadas quatro

fases distintas. Primeiro ocorre a introdução da espécie, que é a chegada desta em um

ecossistema em que antes não era encontrada. Encontrando condições ambientais favoráveis a

espécie consegue se estabelecer (ou fixar-se) no ambiente, o que caracteriza a segunda fase do

processo. Posteriormente, entrando na terceira fase, ocorre a expansão da espécie, através de

altas taxas reprodutivas e uma grande capacidade de dispersão. Cabe ressaltar que as

características supracitadas são fundamentais para o sucesso do estabelecimento destas

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espécies no novo ambiente. Finalmente, a última fase é caracterizada pelo equilíbrio

alcançado pela espécie na comunidade. Esta condição de equilíbrio se dá, em geral, pela

dominância da espécie exótica invasora sobre as nativas (CARROLL, 2007), culminando

numa condição ecológica inferior à original. Segundo Callaway e Aschehoug (2000), “muitas

espécies invasoras não são dominantes, mas competitivamente erradicam seus novos

vizinhos”.

As espécies exóticas podem ser introduzidas nos novos ambientes de maneira

acidental ou intencional (DISLICH et al., 2002), sendo este processo mais intenso em habitats

frágeis e degradados. De acordo com Laurance e Bierregaard (1997), florestas que apresentam

um pequeno grau de perturbação raramente sofrem invasões biológicas. Formulou-se então a

hipótese de que a resistência de uma comunidade às invasões seja diretamente proporcional ao

número de espécies, pressupondo que, quanto maior a riqueza, maior a estabilidade

(CARROLL, 2007; HUTCHINSON, 1959; MACK et al., 2000). Quanto maior a riqueza,

menor é a probabilidade das espécies introduzidas conseguirem espaço, já que os recursos do

sistema estão sendo utilizados de forma mais integral e os nichos estão todos ocupados

(HUTCHINSON, 1959). Dessa forma, nichos vagos em uma comunidade são facilitadores ao

estabelecimento de espécies exóticas (ZILLER, 2000).

Nem todas as espécies introduzidas em um novo ambiente se tornam invasoras, muitas

vezes sequer conseguem se estabelecer por não encontrarem condições necessárias à sua

sobrevivência. Por outro lado, as densidades populacionais das espécies exóticas podem

permanecer baixas caso as condições não sejam favoráveis no novo ambiente. Caso as

condições mudem, estas espécies podem proliferar, tornando-se pragas (MYERS et al., 2000).

Entretanto, muitas espécies exóticas obtêm sucesso em seu estabelecimento e

propagação pela ausência de predadores naturais, patógenos ou pelo fato das espécies nativas

possuírem mecanismos auto-reguladores de populações (ABREU et al., 2003). Muitas vezes,

a atuação humana nos ecossistemas também pode ser mais um facilitador para o

estabelecimento de espécies exóticas. O homem, agindo sobre os ecossistemas, altera os

padrões naturais criando condições nas quais as espécies exóticas levam vantagens

competitivas sobre as nativas (PRIMACK e RODRIGUES, 2002). As perturbações no

ambiente potencializam a dispersão e o estabelecimento de invasoras, principalmente quando

ocorre redução da diversidade de espécies e a recorrência de perturbações, aumentando a

susceptibilidade das comunidades aos processos de bioinvasão (ZILLER, 2000).

Com todos esses facilitadores, os recursos que nos locais de origem das espécies eram

alocados para a formação de defesas são redirecionados para crescimento e reprodução

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(HÄNFLING e KOLLMAM, 2002 apud ABREU e RODRIGUES, 2005). Em conseqüência

disto, a tendência é de as espécies exóticas tornarem-se maiores, reproduzindo-se com maior

freqüência e aumentando a expectativa de vida no novo ambiente, apresentando uma

bionomia distinta do seu local de origem.

Em ecossistemas florestais as invasões biológicas são comumente iniciadas pelas

bordas em virtude das perturbações sofridas nestas áreas tornarem o ambiente mais

susceptível ao processo de invasão (FENSHAM e COWIE, 1998; STOHLGREN et al., 2002).

A borda da floresta é um ambiente alterado onde tais espécies, caso encontrem condições

favoráveis, podem se estabelecer, aumentando em número e se dispersando para o interior do

fragmento (PATON, 1994). Nas bordas há um relevante aumento na luminosidade, incidência

de ventos, temperatura e queda na umidade relativa do ar. Estas alterações limitam a

ocorrência de muitas espécies nativas sensíveis às variáveis microclimáticas citadas e,

consequentemente, dão vantagens competitivas às espécies resistentes. No Brasil, vários

estudos relatam invasões biológicas a partir das bordas no Cerrado (PIVELLO et al., 1999),

na Mata Atlântica e na Amazônia (DISLICH et al., 2002; SCARIOT, 2001 apud ABREU e

RODRIGUES, 2005). É também relativamente comum a colonização de clareiras por vegetais

exóticos. Contudo, com o fechamento do dossel essas plantas tendem a ser eliminadas do

sistema (LAURANCE e BIERREGAARD, 1997).

Estradas têm sido relatadas também como importantes condutos para a invasão de

áreas naturais por espécies exóticas (GELBARD e BELNAP, 2003). Veículos transportam

sementes de plantas exóticas para áreas não infestadas e as operações de construção e

manutenção das estradas geram sítios seguros para a germinação de sementes e o

estabelecimento das plantas. Como a dispersão das espécies exóticas acontece em decorrência

das atividades humanas, qualquer perturbação no ambiente pode significar uma via de

contaminação, seja ela uma estrada, trilha ou clareira, entre outras (RODOLFO et al., 2007).

Neste contexto é importante dizer que as espécies exóticas invasoras normalmente são

mais resistentes à variações ambientais, conseguindo, portanto, se estabelecer em diferentes

ecossistemas. É interessante destacar que a destruição direta de habitats por desmatamento e

fragmentação provoca o aumento na formação de bordas florestais, que por sua vez acabam

por facilitar as invasões biológicas.

As espécies exóticas invasoras atualmente estão dispersas por todos os biomas, em

todos os principais grupos taxonômicos (BAILEY et al., 2007; DISLICH et al., 2002;

SANTOS et al., 2005b) e os impactos provocados por estas sobre as espécies nativas são

bastante graves, mas não totalmente conhecidos (AZEVEDO e ARAÚJO, 2005; MARTINS

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et al., 2004). Sabe-se que, por vezes, processos de extinção são desencadeados (FONTES et

al., 2003; KOHLI et al., 2006; PARKER et al., 1999; PIVELLO, 2005) e a biopoluição

causada pelas exóticas pode se dar em diversos níveis, desde efeitos genéticos, sobre os

indivíduos, populações e comunidades, até efeitos sobre os processos ecossistêmicos. Efeitos

genéticos incluem alterações nos padrões de fluxo gênico e hibridizações, por exemplo. Os

efeitos sobre indivíduos podem se dar através de mudanças em aspectos morfológicos,

comportamentais ou de seu crescimento e mortalidade. Quando atingem populações, as

espécies exóticas podem modificar sua dinâmica ao atuar em aspectos de sua abundância,

crescimento e taxas de extinção. Alterações na riqueza de espécies, diversidade e estrutura

trófica são formas com que as espécies exóticas causam impactos sobre as comunidades. As

bioinvasões são passíveis ainda de causar efeitos sobre os processos ecossistêmicos, como

disponibilidade de nutrientes, produtividade e regime de perturbações (PARKER et al., 1999).

Pimentel et al. (2001) disseram que a agressividade e a pressão exercida pelas espécies

exóticas sobre os ambientes invadidos podem causar alterações na disponibilidade de recursos

e no estado de nutrientes do solo (no caso das espécies vegetais), bem como em sua ciclagem.

As espécies exóticas podem também competir com as nativas por recursos chegando até a

ocupar os nichos destas, após excluí-las do sistema. Introduzir ou facilitar a disseminação de

patógenos é outro impacto citado no estudo. As plantas invasoras podem ainda alterar o

microclima e tornar o solo mais susceptível a queimadas.

Outro problema ocasionado por invasores é a transformação da estrutura e composição

dos ecossistemas, através de sua homogeneização e empobrecimento, destruindo, como

resultado, os atributos característicos do bioma local (BRASIL, 2008). Podem também alterar

geomorfologicamente o habitat e tornar-se pragas em cultivos agrícolas (D’ANTONIO e

VITOUSEK, 1992).

Segundo Ziller (2000), o aspecto mais grave das invasões biológicas, quando

comparadas a outros tipos de impactos ambientais, é o fato de apresentarem comportamento

inverso a estes. Enquanto a maior parte dos problemas ambientais é amenizada com o tempo,

as invasões biológicas se agravam à medida que as espécies exóticas ocupam o espaço das

nativas, diminuindo a resiliência dos ecossistemas naturais.

De acordo com o Secretariado da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB),

estudos realizados nos Estados Unidos da América, Reino Unido, Austrália, África do Sul,

Índia e Brasil mostram que as perdas econômicas causadas pelas espécies exóticas invasoras

nas culturas, pastagens e áreas florestadas chegam a um montante de aproximadamente 250

bilhões de dólares por ano. Os danos ambientais anuais calculados para as nações

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contempladas no estudo atingem cifras que se aproximam dos 100 bilhões de dólares. Esses

valores representam uma perda anual per-capita de 240 dólares em decorrência das invasões

biológicas (BRASIL, 2008). A partir destes levantamentos, e considerando-se perdas

semelhantes para as demais nações do mundo, foram realizadas projeções que mostram que os

danos à nível mundial decorrentes da introdução de espécies exóticas superariam 1,4 trilhões

de dólares.ano-1, montante que representa cerca de 5% da economia mundial. Deve-se atentar

também para os custos referentes às ações de prevenção, controle e erradicação das espécies

invasoras nos diferentes ecossistemas. Weston et al (2005), citando Westbrooks (1998),

colocaram que as ações de controle de ervas custam bilhões de dólares anualmente à

economia americana. O potencial das espécies se tornarem invasoras e os custos que podem

gerar devem também ser previstos a fim de se evitar danos ambientais e custos econômicos.

Tratando ainda sobre os países alvo do levantamento feito pela CDB, computou-se um

total de mais de 120 mil invasões de espécies animais, vegetais e microrganismos.

Extrapolando-se estes dados para os diversos ecossistemas da Terra, estima-se um total de

480 mil introduções de espécies exóticas até o momento. Desde o ano de 1600, as espécies

exóticas invasoras teriam sido responsáveis por 39% das extinções de espécies animais que

tem causas conhecidas.

Por outro lado, não se pode negar que algumas vezes a introdução de espécies exóticas

traz consigo ganhos, principalmente econômicos. Muitas das introduções de espécies tiveram

propósitos econômicos, no setor agropecuário. Introduzem-se espécies exóticas porque delas

se tem conhecimento para a produção e a economia nacional depende destas. Dados de 1998

mostram que 31% das exportações brasileiras correspondem aos chamados produtos da

biodiversidade, destacando-se café, soja e laranja (todas espécies exóticas) e 26% da matriz

energética nacional é oriunda da biomassa vegetal (incluindo álcool, lenha e carvão vegetal)

(ALBAGLI, 1998). Atividades relacionadas à agroindústria respondem por aproximadamente

40% do PIB brasileiro. Pode-se notar a dependência da economia brasileira em relação às

espécies exóticas porque 64% das colheitas brasileiras são de recursos genéticos exóticos

(ALBAGLI, op. cit.). No entanto, quando as espécies exóticas estão sob controle, confinadas

a ecossistemas agrícolas, não se pode dizer que são espécies invasoras, pois suas populações

não estão em processo de aumento, não ameaçam espécies ou ecossistemas nativos nem

tampouco causam prejuízos. Problemas com estas espécies podem ocorrer caso se perca o

controle sobre seu cultivo e estas alcancem ecossistemas nativos, estabeleçam-se neles e

causem algum tipo de dano, como os descritos por Crosby (1993).

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A introdução de espécies em novos ambientes pela ação humana tem também um forte

componente cultural. Transportavam-se espécies que estavam atreladas à cultura humana.

Neste ponto o paisagismo talvez seja sua expressão mais visível, como, por exemplo, quando

os colonizadores traziam consigo espécies ornamentais e animais de estimação para formar

um ambiente familiar na colônia. Estes aspectos se tornam mais claros quando se analisa o

histórico das introduções de espécies exóticas.

2.2. A contaminação biológica através dos tempos

As primeiras translocações de espécies tiveram a intenção de suprir necessidades

agrícolas, florestais, paisagísticas e outras de uso direto (ZILLER, 2001). Além de serem

utilizadas para alimentação e ornamentação, estão entre as finalidades da introdução de

espécies exóticas, produção florestal, controle de erosão, experimentação científica,

camuflagem militar, usos medicinais e religiosos (ZILLER, 2000). Antes da Revolução

Industrial as pessoas levavam plantas cultivadas e animais domésticos de um lugar para outro

ao se estabeleceram em novas áreas (PRIMACK e RODRIGUES, 2002). O transporte de

espécies entre ecossistemas ganhou força e velocidade com a evolução dos meios de

transporte e o processo de globalização. O transporte rápido de pessoas e cargas através do

mundo leva espécies de uma área à outra, tendo estas plenas condições de sobrevivência.

De acordo com Pivello (2005:1), “embora Darwin, em 1860, já tivera notado o

problema das invasões biológicas, o primeiro cientista a escrever sobre o assunto foi Charles

Elton, por volta de 1950”, com a obra “The Ecology of Invasions by Animals and Plants”.

Charles Darwin (1809-1882) registrou a densa ocupação dos pampas, na Argentina e no

Chile, pela espécie Cynara cardunculus, vulgarmente conhecida como cardo. Blum et al.

(2005), no entanto, relatam que os primeiros trabalhos abordando a contaminação de

ecossistemas por espécies exóticas invasoras datam do século XIX, na África do Sul. Este

país tratou como “praga”, pela primeira vez, uma espécie vegetal invasora. Ziller (2001)

acrescenta que um visitante do Parque Nacional Yosemite, nos Estados Unidos, solicitou, em

1865, que esta área fosse protegida da crescente ocupação por plantas daninhas européias.

Primack e Rodrigues (2002) relataram que a introdução de espécies exóticas ao longo

da história pode ter acontecido e continuar acontecendo de várias formas. Durante a

colonização, os europeus levaram centenas de espécies de mamíferos e pássaros para as

colônias, para que tivessem um ambiente familiar e caça garantida quando retornassem. Nesta

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época, diversas espécies de plantas foram introduzidas também com o intuito de tornar a

paisagem da colônia familiar para os europeus (SANTOS et al., 2005a). Crosby (1993) conta

que as regiões das “Neo-Europas”2 escolhidas pelos imigrantes europeus para se instalarem

foram as arenas onde espécies nativas e exóticas viveram sua mais significativa competição.

Animais como cabritos e porcos eram deixados por marinheiros europeus em ilhas ainda não

habitadas para que seguramente encontrassem alimento ao regressarem. Espécies vegetais

eram introduzidas com fins ornamentais, agrícolas ou para pastagens. Contudo, muitas dessas

espécies deixaram de ser cultivadas e se estabeleceram nos novos locais. Tais introduções

foram intencionais.

Todavia, muitas espécies exóticas foram e continuam a ser introduzidas de forma

acidental. Por exemplo, sementes de ervas daninhas que contaminam lotes de sementes

colhidas com fins comerciais e que acabem sendo lançadas em novos locais, como o caso do

arroz-vermelho e do arroz-branco cultivado. O capim-colonião (Panicum maximum) chegou

ao Rio de Janeiro como resto do forro das “camas” dos escravos nos porões dos navios

negreiros (ABREU, 1992). Ratos e insetos foram transportados acidentalmente em navios e

aviões; doenças e parasitas são levados com seus hospedeiros e grandes navios comumente

carregam inúmeras espécies marinhas em suas águas de lastro (PRIMACK e RODRIGUES,

2002).

Pivello (2005) cita alguns exemplos clássicos de espécies exóticas invasoras e

tentativas de manejo destas espécies na história, como o caso da introdução de coelhos

Oryctolagus cuniculus na Inglaterra e na Austrália. Essa espécie, nativa da Península Ibérica,

foi levada, no século XII, da França para a Inglaterra e daí para a Austrália em 1778. Nos

novos locais sua população aumentou a ponto de se tornarem pragas, causando grandes

prejuízos nos cultivos agrícolas. Foi realizado o controle biológico da espécie, através da

contaminação dos coelhos com o vírus da mixomatose. Este patógeno, embora letal à maioria

dos indivíduos, deixou de ser eficiente no controle populacional à medida que foram

selecionadas populações de coelhos resistentes ao vírus. O molusco-zebrado (Dreissena

polymorpha) foi levado aos Grandes Lagos (Estados Unidos e Canadá) na água de lastro de

navios, tornando-se uma praga que ameaça espécies nativas.

No Brasil pode ser citado o caso da abelha africana Apis mellifera, introduzida para

pesquisas e liberada acidentalmente dos laboratórios da ESALQ-USP na década de 50,

espalhando-se por toda a América de Sul e Central. Esta espécie compete com as abelhas

2 Neo-Europas são as áreas de outros continentes que foram colonizadas por europeus.

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nativas por recursos e é agressiva aos seres humanos (PIVELLO, 2005; PRIMACK e

RODRIGUES, 2002). Na década de 1960, o Brasil começou a usar variedades exóticas como

solução para a recuperação florestal, e incentivos fiscais eram concedidos por parte do

governo a quem plantasse pinos e eucaliptos para produção florestal. O mesmo ocorria no

setor pastoril, com a implantação de gramíneas africanas, como as braquiárias, para fins

forrageiros. Entretanto, com o fim dos incentivos, muitos plantios foram abandonados e as

espécies cultivadas acabaram por alcançar matas nativas, como o caso da invasão de áreas no

Paraná por Pinus sp.

O mexilhão-dourado (Limnosperma fortunei), espécie que vem causando vultosos

prejuízos econômicos, é um molusco fluvial originário da China e que foi registrado pela

primeira vez no Brasil em 1999. Trazido pela água de lastro de navios, esta espécie se

reproduz assustadoramente causando danos ao funcionamento de hidrelétricas e o

entupimento nas tubulações de esgotos e de águas pluviais (IBGE, 2004). Algumas endemias

que ocorrem no Brasil, como a esquistossomose e a filariose, são exóticas. O vírus da dengue

é originário da Ásia e transmitido no Brasil pelo mosquito Aedes aegypti, nativo da África.

O caramujo-gigante-africano (Achatina fulica) é classificado entre as cem piores

espécies exóticas invasoras de ocorrência mundial. Sua introdução no Brasil ocorreu por volta

de 1988, tendo sido transportado intencionalmente para fins comerciais no setor alimentar.

Entretanto, de acordo com a legislação brasileira, a introdução de espécies exóticas para

produção necessita da aprovação do órgão ambiental responsável. Esta aprovação parece não

ter sido obtida. Além disso, aparentemente esta iguaria culinária não proporcionou o sucesso

anunciado pela mídia ao ser rejeitada pelo paladar brasileiro. Então, muitos criadores soltaram

os caramujos no ambiente. As populações de A. fulica alcançam rapidamente enormes

densidades e causam sérios danos econômicos em áreas agrícolas, danificam jardins e

oferecem riscos sanitários como hospedeiro de nematódeos causadores de doenças e do vetor

da meningoencefalite (FICHER et al., 2006; THIENGO et al., 2007).

Invasões biológicas também ocorrem entre regiões brasileiras. O sagüi-estrela

(Callithrix penicilata), por exemplo, originário do nordeste do Brasil é considerado invasor

nas matas do centro-sul e sudeste do país, para onde foi levado como animal de estimação,

competindo com as espécies de micos locais (IBGE, 2004; PEREIRA, 2006). O tucunaré,

Cichla ocellaris, peixe nativo da Amazônia, foi introduzido em outras regiões do Brasil, onde

se tornou um voraz predador das espécies locais (observação pessoal).

Muitos vegetais que foram introduzidos com fins ornamentais e paisagísticos

acabaram tornando-se invasoras de ambientes terrestres, como, por exemplo, Impatiens

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parviflora (beijinho), Archontophoenix cunninghamiana (palmeira-imperial-australiana),

Pinus spp. (pinheiro), Dracaena fragrans (dracena), entre outras espécies (PIVELLO, 2005).

A espécie Tecoma stans (amarelinho ou ipê-de-jardim), originária do México e do sul dos

Estados Unidos, foi introduzida no Brasil como planta ornamental por volta de 1971 e infesta

áreas do Paraná (VIBRANS et al., 2005). A gramínea africana Brachiaria sp domina o

estrato herbáceo em reservas do Cerrado, competindo com plântulas de espécies arbóreas

nativas (PIVELLO, 2005).

De acordo com Sanches et al. (2007), sementes da espécie Terminalia catappa

(Amendoeira), nativa da Ásia, parecem ter chegado ao Brasil misturadas às areias que eram

utilizadas como lastro dos navios. Troncos destas árvores também serviriam de lastro e junto

com eles, teriam vindo partes das copas, frutos e sementes. Esta espécie também é largamente

utilizada como ornamental e na arborização urbana.

Ziller (2000) relata a invasão da estepe gramíneo-lenhosa no estado do Paraná por

espécies do gênero Pinus, introduzido para produção florestal e também utilizado como planta

ornamental. Santos e colaboradores (2005a) explicam que as introduções de espécies exóticas

com fins ornamentais se devem à forte influência européia no paisagismo brasileiro. Estas

influências forneceram o repertório de elementos para a composição dos jardins e da

arborização urbana do Brasil, que utilizavam maciçamente vegetação exótica. Auguste

Glaziou e Burle Marx são exemplos de paisagistas que fizeram uso de plantas exóticas em

seus projetos.

A Ásia e a África são as maiores fontes de espécies invasoras para o Brasil. Em

relação aos animais terrestres invasores, as áreas de origem da maior parte destas espécies

para o Brasil são a Europa e a região do Mar Mediterrâneo. Este fato explica-se pelas relações

históricas e comerciais entre estas regiões (IBGE, 2004). No entanto, o Brasil também é fonte

de espécies invasoras de outras partes do mundo. Por exemplo, as espécies aquáticas Salvinia

molesta e Eichhornia crassipes (aguapé) são nativas da América do Sul e infestam lagos e

represas por toda a faixa tropical do Globo. Estas plantas costumam ter explosões

populacionais que reduzem drasticamente a concentração de oxigênio dissolvido na água,

acarretando em elevações nos índices de mortalidade de peixes e outros organismos aquáticos

(IBGE, op cit).

É interessante notar que a maior parte das espécies vegetais e boa parte das espécies

animais invasoras foram trazidas para o Brasil de maneira intencional (IBGE, 2004). Este fato

mostra a necessidade de um maior controle sobre as invasões biológicas.

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2.3. Gestão e manejo das espécies exóticas vegetais

Para realizar o manejo de espécies invasoras podem ser aplicadas técnicas com o

objetivo de erradicá-las das áreas afetadas ou tão somente controlar suas populações.

Normalmente, a erradicação das espécies invasoras é extremamente difícil de ser alcançada

em virtude do árduo e oneroso esforço necessário para que sejam eliminados todos os

indivíduos de uma dada espécie. Outro fator que porventura pode inviabilizar a tentativa de

erradicação de uma exótica invasora é a exigência que este procedimento faz da utilização de

tratamentos mais drásticos, que podem prejudicar as espécies nativas (PIVELLO, 2005).

Muitas vezes, realizar o controle das populações invasoras se torna uma alternativa

mais viável (PIVELLO, 2005), apesar de existir a possibilidade de ocorrerem os mesmos

problemas de quando é tentada a erradicação, caso não sejam realizados estudos prévios e

tomadas as medidas necessárias ao bom andamento do plano de manejo. Executar o controle

de populações de maneira equivocada pode culminar na recolonização das áreas tratadas pela

espécie que se deseja remover do ambiente.

Somado a isto, deve-se dizer que somente a remoção da espécie invasora pode não ser

suficiente para que o ecossistema recupere suas funções, uma vez que nichos podem ficar

desocupados por longos períodos em função da recolonização das áreas pelas nativas ser lenta

(ENRIGHT, 2000). As espécies nativas podem já ter estabelecido interações com as exóticas

e serem prejudicadas pela súbita erradicação destas. Fontes de espécies podem estar

localizadas longe das áreas atingidas por exóticas e a escassez de recursos tróficos ou abrigo

após a aplicação das técnicas de remoção das espécies pode levar ao abandono pela fauna

nativa (ZAVALETA et al., 2001). Falando particularmente sobre espécies vegetais, os solos

ficarão mais vulneráveis aos processos erosivos e o ambiente como um todo exposto a

condições climáticas desfavoráveis (maior insolação, menor retenção de umidade pelo solo e

ar, ausência de proteção contra chuvas e ventos), o que dificulta a recolonização pelas nativas.

Algumas invasoras alteram o ambiente tão significativamente que este se torna inóspito para o

estabelecimento das nativas (ZAVALETA et al., 2001).

Com isso, as áreas ficam sujeitas à novas invasões e as tentativas de erradicação ou

controle das espécies invasoras podem não alcançar o sucesso esperado. A associação de

diferentes metodologias para restauração da vegetação nativa é então recomendada, por

aumentar o ritmo de sua sucessão e garantir a sustentabilidade dos processos ecossistêmicos

(REIS et al., 2003). O plantio de mudas de espécies nativas de rápido crescimento, por

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exemplo, auxilia na restauração dos locais manejados, assegurando, desta forma, o êxito das

ações de manejo.

A priori, no entanto, devem ser realizados estudos com o objetivo de se conhecer

detalhadamente a população invasora e o habitat biocontaminado, para que os programas de

erradicação e/ou controle não comprometam espécies da fauna e da flora nativas que possam

estar associadas às exóticas, bem como para que sejam aplicadas as técnicas corretas de

remoção (ABREU e RODRIGUES, 2005).

Pivello (2005), em seu trabalho, descreveu a possibilidade de manejar as espécies

exóticas invasoras por meio de modificações em suas populações ou comunidades ou ainda

alterando aspectos dos ambientes afetados e/ou sua paisagem. As estratégias de manejo

aplicadas podem ainda ser preventivas ou remediadoras.

O manejo de populações e comunidades consiste na aplicação de técnicas mecânicas,

químicas ou biológicas, bem como associações entre estas, que objetivem o desfavorecimento

da espécie invasora ou o favorecimento das nativas. Tratando de espécies vegetais, entre as

técnicas mecânicas estão o corte raso, o arranquio, o anelamento, o sombreamento e a queima,

cada uma adequada a diferentes situações (PIVELLO, 2005).

Com o corte raso espera-se obter o enfraquecimento do vegetal através da retirada de

sua biomassa epígea. Para cada espécie devem ser testadas a melhor época e freqüência de

aplicação do método (PIVELLO, 2005). O arranquio busca a remoção direta de toda a

biomassa vegetal e pode ser aplicado de forma manual ou mecanizada. Entretanto, este

método traz consigo desvantagens, pois o ato de arrancar as plantas revolve o solo

(COUTINHO, 1982; D’ANTONIO e MEYERSON, 2002), destruindo seus agregados e

deixando-o mais vulnerável à processos erosivos; além de causar perturbações ao banco de

sementes e plântulas e também à fauna do solo. Apesar disso, tomando-se precauções para

exercer o mínimo impacto no meio, a técnica pode ser uma boa alternativa para controlar

populações invasoras.

O anelamento é aplicado exclusivamente em espécies de porte arbóreo e busca

interromper o fluxo de seiva da raiz às folhas e, com isso, causar a morte do vegetal. Retira-se

um anel profundo do tronco do vegetal, de modo a extrair toda a casca (externa e interna).

Desta forma, é afetado o floema, que é o conjunto de tecidos vivos especializados para a

condução da seiva elaborada (BURGER e RICHTER, 1991). Este método é menos

dispendioso que a derrubada direta e causa menos impactos no ambiente, uma vez que com a

morte lenta do vegetal seus galhos caem aos poucos, impedindo a abertura de grandes

clareiras.

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O sombreamento é realizado por meio do plantio de espécies nativas de rápido

crescimento e causa também o enfraquecimento e morte das espécies vegetais exigentes de

luz. Gramíneas invasoras de áreas de Cerrado são especialmente sensíveis à esta técnica, já

que possuem metabolismo do tipo C4 (MOZETO et al., 1996 apud PIVELLO, 2005). Neste

caso, a variante do método a ser testada é o grau de sombreamento, para que não sejam

negativamente afetadas também as espécies nativas.

A queima é feita na tentativa de dar vantagens competitivas às nativas, desfavorecendo

as exóticas. Em áreas de Cerrado foi observado que, para a Poaceae africana Melinis

minutiflora (capim-gordura), queimadas periódicas reduzem seu vigor e favorecem as

herbáceas nativas, principalmente se o manejo for conduzido durante a floração da exótica

(PIVELLO, 2005). Esta técnica, contudo, deve ser utilizada com extremo cuidado para que o

fogo não saia de controle, causando impactos negativos ao ambiente, como a queima de

espécies nativas e a perda de fertilidade do solo. Pelo risco oferecido por esta técnica, é

proibido seu uso em unidades de conservação.

As técnicas químicas para manejo de vegetais muitas vezes se mostram mais eficientes

em curto prazo, além de demandar um esforço de trabalho menor. Entretanto, trazem consigo

inúmeros riscos ambientais, principalmente em se tratando de unidades de conservação. A

legislação brasileira, inclusive, não permite o uso de herbicidas em unidades de conservação.

A possível poluição dos solos e coleções d’água, envenenamento de animais (PIVELLO,

2005) e a morte de espécies vegetais nativas devido à não seletividade dos herbicidas figuram

entre os riscos ambientais mencionados. As pessoas que aplicarão o herbicida (seja por

pulverização, seja por injeção) devem ser bem treinadas a fim de evitar acidentes e o uso

exagerado destes defensivos químicos.

O controle biológico, feito através da introdução de parasitas ou predadores, é uma

técnica que só deve ser adotada após rígida e exaustiva experimentação controlada. No Brasil

ainda não existe nenhum caso de êxito no uso do controle biológico (DINIZ, 2005).

O controle biológico clássico consiste em introduzir inimigos naturais existentes na

mesma área de origem da planta invasora. Esta metodologia de controle biológico apresenta

maiores chances de obter sucesso, pois utiliza espécies que têm relações co-evolutivas com a

planta-alvo. Com isso, pode-se dizer que os agentes introduzidos apresentarão duas

características relevantes: capacidade de controlar a população de invasores e especificidade,

ou seja, a espécie introduzida não fará uso de outras espécies durante seu ciclo de vida

(DINIZ, 2005).

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A introdução de inimigos naturais da espécie alvo presentes nas áreas invadidas

caracteriza o controle biológico não clássico. Esta forma de controle pode não apresentar

resultados satisfatórios se o agente controlador não for parte permanente da biota local, se

fazendo necessárias, neste caso, reintroduções. Caso este problema não ocorra, a densidade

populacional do inimigo natural pode não ser suficiente para controlar a espécie invasora.

Para contornar tal situação devem ser aplicadas técnicas inundativas ou aumentativas da

população do agente selecionado (DINIZ, 2005).

Existem ainda os métodos de controle que buscam manejar as paisagens, sendo estes

principalmente preventivos. Dentre as técnicas utilizadas neste tipo de controle está a

instalação de “cortinas verdes” ao redor das áreas que se quer proteger, a fim de diminuir a

chegada de propágulos das plantas invasoras (PIVELLO, 2005).

Para que o controle das invasões biológicas seja eficiente e os impactos causados por

estas nos ambientes sejam minimizados, se fazem fundamentais práticas de gestão. A gestão

das invasões biológicas deve visar o uso de práticas que garantam a conservação da

biodiversidade, reduzindo o impacto ambiental gerado pelas espécies exóticas. Qualquer ação

que objetive realizar a gestão de espécies exóticas deve ser baseada em estudos prévios que

norteiem as melhores ferramentas a serem aplicadas. Fazem parte do arcabouço de

conhecimentos associados à esta temática informações sobre aspectos biológicos, ecológicos e

populacionais da espécie-alvo. Quanto maior a quantidade de dados disponíveis ao gestor,

maior é a segurança na escolha e aplicações das ações.

Técnicas de manejo de espécies, recuperação de áreas degradadas e reflorestamento

são algumas ferramentas a serem utilizadas quando da gestão das invasões biológicas. É

extremamente importante também a implantação de políticas públicas para a inserção da

gestão de espécies exóticas invasoras que envolvam a realização de estudos sobre o assunto, a

conscientização da comunidade para o problema, a elaboração de legislação específica para o

transporte e introdução destas espécies, além de outras ações preventivas e remediadoras

necessárias.

2.4. A questão da contaminação biológica no âmbito da conservação da biodiversidade

Apesar das invasões biológicas serem um problema antigo, somente por volta de 1980

a comunidade científica se interessou por este assunto quando o Comitê Científico em

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Problemas Ambientais (SCOPE3) identificou os problemas das invasões biológicas como um

assunto globalmente importante (KOHLI et al, 2006; OLDHAM, 2008; PIVELLO, 2005). Na

década de 1990 a contaminação biológica foi reconhecida como uma das maiores ameaças à

biodiversidade mundial por diversos autores (AZEVEDO e ARAÚJO, 2005; DISLICH et al,

2002).

Em 1987, com a obra Nosso Futuro Comum (também conhecido como Relatório

Brundtland), a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento propôs “uma

agenda global para a mudança”. Neste relatório a conservação da biodiversidade é justificada

pela “possibilidade de as espécies contribuírem sempre mais e de uma infinidade de formas

para o bem-estar da humanidade” (CMMAD, 1991), sendo igualmente importantes os

serviços ecossistêmicos. A introdução de espécies alienígenas, contudo, é apenas citada como

uma possível causa de extinção de espécies. Não se percebe neste relatório uma grande

preocupação com a questão das espécies exóticas invasoras. A gestão das invasões biológicas

não é abordada entre as formas, tendências e causas de extinção nem entre as sugestões de

ação necessárias para a conservação da diversidade biológica. Uma de suas principais

recomendações foi a realização de uma conferência mundial para direcionar os assuntos

ambientais – o que culminou com a Rio-92.

A Rio-92 teve como principal tema a discussão sobre o desenvolvimento sustentável e

como reverter o atual processo de degradação ambiental. Durante a conferência foram

firmados vários acordos, protocolos e convenções, sendo um dos mais importantes deles a

Agenda 21. No que tange à diversidade biológica, este documento coloca que “os bens e

serviços essenciais de nosso planeta dependem da variedade e variabilidade dos genes,

espécies, populações e ecossistemas” (CNUMAD, 2001). Neste documento, a introdução

inadequada de plantas e animais exógenos é colocada como uma das principais causas da

perda de diversidade biológica. Ainda durante a Rio-92 foi assinada a Convenção sobre

3 O SCOPE (Scientific Committee on the Problems of the Environment) é uma organização interdisciplinar com competência em ciências naturais e sociais, focada nas questões ambientais globais e que opera na interface entre casos científicos e de tomada de decisão. Foi criado durante o 10º encontro do Comitê Executivo do ICSU (International Council for Science) em 1969, como um mecanismo para unir cientistas a fim de realizar avaliações científicas internacionais e interdisciplinares dos problemas ambientais. A missão do SCOPE é identificar e avaliar criticamente a importância das emergentes questões ambientais globais ou regionais, enfatizando aquelas que necessitam de uma perspectiva interdisciplinar. Uma rede mundial de cientistas e instituições científicas desenvolve sínteses e revisões do conhecimento científico sobre questões ambientais correntes ou potenciais. Seus projetos vão de estudos sobre biodiversidade e ecossistemas, espécies exóticas invasoras, ciclos biogeoquímicos incluindo o impacto das atividades humanas, química e ecossistemas e saúde humana e o ambiente. O maior desafio do SCOPE é priorizar suas atividades entre os numerosos tópicos a serem explorados e encontrar o equilíbrio entre o regional e o global, e entre interesses científicos e políticas sobre questões ambientais (OLDHAM, 2008).

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Diversidade Biológica, principal instrumento na atualidade que trata das questão das invasões

biológicas.

As discussões para a elaboração de uma Convenção sobre Diversidade Biológica

iniciaram-se na década de 1980, mas apenas em junho de 1987, durante uma reunião do

Conselho de Administração do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente

(PNUMA4), foi dada a partida para a elaboração oficial da Convenção. A versão final do

tratado, porém, foi aprovada somente em 22 de maio de 1992, em Nairóbi, Quênia. Durante a

Rio-92 a Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) foi aberta à adesão, tendo entrado

em vigor em 29 de dezembro de 1993. Com a CDB foi estabelecido um novo código de

conduta, a nível internacional, sobre a biodiversidade (ALBAGLI, 1998). A CDB é hoje a

principal referência internacional para debate e ações relativas à diversidade biológica e

define como um dos itens prioritários o cuidado com espécies exóticas e os problemas que

estas podem causar à biodiversidade. Em seu artigo 8º, alínea “h” a CDB diz que as nações

membro devem “prevenir a introdução de, controlar ou erradicar as espécies exóticas que

ameacem ecossistemas, habitats ou espécies” (CDB, 2000:14).

A Conferência das Partes (COP) é o órgão supremo decisório no âmbito da CDB e os

avanços na implementação da Convenção acontecem através das decisões tomadas em seus

encontros periódicos. Por exemplo, no que se refere às invasões biológicas, a Decisão V/8 da

5a Conferência das Partes estabeleceu diretrizes para a prevenção e controle de espécies

exóticas invasoras que ameaçam ecossistemas, habitats ou espécies. A decisão VI/23, tomada

durante a COP 6, também trata das espécies exóticas. A CDB propõe uma abordagem

hierárquica para o manejo das espécies exóticas invasoras. A base desta abordagem é a

prevenção de novas introduções, mas considera a erradicação a melhor alternativa quando a

prevenção falha (JENKINS e MOONEY, 2006).

A Conferência das Partes estabeleceu sete Programas de Trabalho Temáticos que

correspondem a alguns dos maiores biomas do planeta. Cada programa estabelece uma visão

e princípios básicos para guiar os trabalhos. Eles também expõem questões-chave a serem

consideradas, identificam saídas potenciais e propõe um cronograma e meios para alcançá-lo

(CBD, 2009).

Os Programas de Trabalho da CDB são:

Programa de Trabalho sobre Biodiversidade Marinha e Costeira

4 O PNUMA é um programa integrado das Nações Unidas, criado após a Conferência de Estocolmo (1972), encarregado de coordenar as ações intergovernamentais de proteção e monitoramento ambiental (ALBAGLI, 1998).

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Programa de Trabalho sobre Biodiversidade das Águas Continentais

Programa de Trabalho sobre Biodiversidade Florestal

Programa de Trabalho sobre Biodiversidade das Terras Áridas e Sub-úmidas

Programa de Trabalho sobre Biodiversidade das Montanhas

Programa de Trabalho sobre Biodiversidade Agrícola

Programa de Trabalho sobre Biodiversidade de Ilhas

A Convenção de Bern5, da qual quase todos os países Europeus são signatários, é mais um

encontro internacional relevante que aborda o tema das invasões biológicas. Em seu artigo 11,

o texto desta Convenção convoca as partes para um controle das introduções de espécies

alienígenas e seu comitê permanente tem aprovado várias recomendações, instando os países

a erradicarem as espécies introduzidas (GENOVESI, 2005). Esta convenção foi idealizada

com a finalidade de garantir a conservação da fauna e flora européias e seus habitats naturais

através da cooperação entre os países signatários.

Com o passar do tempo, os problemas causados pelas espécies exóticas se agravaram e

essa questão assumiu tal dimensão, que em 1996, a preocupação com as conseqüências

negativas do processo de globalização sobre o meio ambiente levou a Organização das

Nações Unidas e o Governo da Noruega a convocar o Primeiro Encontro Internacional sobre

Espécies Exóticas Invasoras, em Trondeim, Noruega. Participantes do encontro, que ficou

conhecido como a Conferência de Trondeim, concluíram que as espécies exóticas invasoras se

tornaram uma das maiores ameaças à diversidade biológica mundial e recomendaram que

uma estratégia global e um mecanismo para tratar o problema fossem criados (GISP, 2009).

Em 1997, como fruto da Conferência de Trondeim, a Organização das Nações Unidas

(ONU) – através do SCOPE, do Programa de Meio Ambiente (UNEP) e de outros órgãos

internacionais como a FAO (Food and Agriculture Organization) – criou o Programa Global

de Espécies Invasoras (GISP6). A missão desta organização é conservar a biodiversidade e

sustentar a subsistência minimizando a dispersão e os impactos das espécies invasoras (GISP,

2009). Os quatro primeiros anos deste programa foram dedicados à elaboração de

diagnósticos e diretrizes. Com a colaboração dos países integrantes da ONU (inclusive o

Brasil), o programa apontou algumas linhas de ação: definição de estratégias (nacionais e

5 A Convenção para a Conservação da Fauna e Flora Européias e Habitats Naturais (Convenção de Bern) foi assinada em Bern, Suíça, em 1979, mas só ganhou força em 1982. Os principais objetivos da convenção são garantir a conservação e proteção das espécies da fauna e flora e seus respectivos habitats naturais, aumentar a cooperação entre os países signatários e regular a exploração destas espécies (incluindo as espécies migratórias). A convenção impõe obrigações legais às partes contratantes, protegendo mais de 500 espécies vegetais e mais de 1000 espécies animais (JNCC, 2009). 6 GISP, em inglês, Global Invasive Species Programme

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regionais) para o controle e erradicação de espécies invasoras; capacitação técnica e humana

para o controle e erradicação de espécies invasoras; implementação de atividades de pesquisa;

construção de sistemas de informação de acesso geral e a conscientização através de

simpósios regionais, nacionais e internacionais (ZILLER, 2001).

Com o aumento da preocupação com o impacto causado pelas espécies exóticas e dos

estudos sobre o tema, a realização de encontros e as publicações se tornaram mais freqüentes,

culminando no surgimento, em 1999, do periódico especializado Biological Invasions

(ABREU, 2008; OLIVEIRA e MACHADO, 2009).

A 6ª Reunião do Órgão Subsidiário de Aconselhamento Científico, Técnico e

Tecnológico (SBSTTA) da CDB, realizada em março de 2001, em Montreal, no Canadá, teve

como foco a contaminação biológica e deu seqüência à elaboração e implementação do GISP,

além de consolidar os princípios a serem seguidos para o tratamento do problema das

invasões biológicas (ZILLER, 2001). Nesta conferência o GISP emitiu um “Chamado à

Ação”, que descrevia os efeitos das espécies exóticas invasoras como um problema global e

desafiava governos, organizações intergovernamentais, organizações não-governamentais, o

setor privado e todas as demais partes interessadas a tomar providências para implementar

uma Estratégia Global sobre Espécies Exóticas Invasoras (GISIN, 2009).

Depois disto, o GISP coordenou sete workshops regionais para avaliar as ameaças,

impactos e necessidades sobre as espécies exóticas invasoras. Estes workshops resultaram em

várias declarações, como as Declarações de Kirstenbosch e Davis (África do Sul e EUA),

Declaração de Copenhagen (países das regiões Nórdica e Báltica) e a Declaração de Brasília

(países da América do Sul) (GISIN, 2009).

Posteriormente, a Estratégia Global para Conservação Vegetal, adotada pela

Conferência das Partes da CDB em 2002, convocou os signatários para erradicar as espécies

exóticas que ameaçam plantas, comunidades vegetais, habitats e ecossistemas associados

(GENOVESI, 2005).

Iniciada em 2002 pela Infra-estrutura Nacional de Informações Biológicas dos EUA

(National Biological Information Infrastructure – NBII) como uma série de projetos piloto sob

responsabilidade do IABIN (Inter-American Biodiversity Information Network) e fundada

pelo Departamento de Estado dos EUA, a Rede de Informações sobre Espécies Invasoras do

IABIN (IABIN Invasives Information Network – I3N) é uma rede temática da IABIN e veio

para desenvolver ferramentas para a coleção e intercâmbio de informações sobre espécies

exóticas invasoras nas Américas. O I3N integra informações dos países do continente

americano para dar apoio a um diagnóstico e gestão das espécies exóticas invasoras,

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fornecendo capacitação, ferramentas eletrônicas e apoio para o desenvolvimento de bancos de

dados e ampliação do acesso à informação. Participam desta rede os seguintes países:

Argentina, Bahamas, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, República Dominicana,

Equador, El Salvador, Guatemala, Jamaica, México, Panamá, Paraguai, Peru, Estados Unidos

e Uruguai (I3N, 2009).

Como parte de uma iniciativa global sobre espécies invasoras conduzida pelo GISP,

foi desenvolvido o Banco de Dados Global sobre Espécies Invasoras (Global Invasive Species

Database – GISD). Este banco de dados objetiva aumentar o conhecimento público sobre as

espécies exóticas invasoras e facilitar a realização de atividades de prevenção e gestão destas.

É gerenciado pelo Grupo de Especialistas em Espécies Invasoras (ISSG) pertencente à UICN.

O GISD tem seu foco nas espécies exóticas invasoras que ameaçam a biodiversidade nativa e

aborda todos os grupos taxonômicos em todos os ecossistemas (ISSG, 2009).

É importante esclarecer que o Grupo de Especialistas em Espécies Invasoras (Invasive

Species Specialist Group – ISSG) é parte da Comissão para a Sobrevivência das Espécies

(Species Survival Commission – SSC) da UICN. O ISSG é um grupo global de 146

especialistas de 41 países. O ISSG objetiva reduzir as ameaças aos ecossistemas naturais e às

espécies nativas contidas nestes aumentando o conhecimento sobre espécies exóticas

invasoras e sobre meios para prevenir, controlar ou erradicá-las (ISSG, 2009).

Em 2003 a NBII foi procurada pela Agência de Oceanos Negócios Internacionais

Científicos e Ambientais do Departamento de Estado dos Estados Unidos da América, que

pediu para coordenar um workshop para a implementação de uma rede de informações sobre

espécies invasoras que ocorreu em 2004, em Baltimore, Maryland, EUA. Progressos

importantes foram feitos pelos 76 participantes de 26 países que entraram em acordo sobre os

tipos e formatos de informações a serem coletadas pelos participantes do banco de dados on-

line sobre espécies invasoras. A Global Invasive Species Information Network (GISIN) foi

formada então para gerar uma plataforma com a finalidade de dividir informações sobre

espécies invasoras em nível global, via internet e outros meios digitais. O estatuto do GISIN,

conhecido como a Declaração de Baltimore foi lançado em junho de 2004 (GISIN, 2009).

A temática das invasões biológicas é tão importante que o tema do Dia Internacional

para a Diversidade Biológica em 2009 (22 de maio) será “Espécies Exóticas Invasoras: uma

das maiores ameaças à biodiversidade e ao bem-estar ecológico e econômico da sociedade e

do planeta” (CBD, 2009).

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A UICN7 (União Internacional para a Conservação da Natureza) aponta como um

princípio para a conservação da biodiversidade a criação de uma abordagem política, legal e

institucional das ameaças impostas por espécies exóticas. Para que isto se torne uma realidade

deve haver legislação em nível nacional que trate da prevenção e remediação dos problemas,

além de cooperação internacional a fim de minimizar as introduções de espécies (ZILLER,

2000).

Em nível nacional, as invasões biológicas começaram a ganhar espaço com a presença

de algumas espécies que vêm causando prejuízos econômicos como o mexilhão-dourado

(CORDEIRO e RODRIGUES, 2005). No Brasil, o tema esteve inicialmente em evidência

durante a Rio-92 (ABREU, 2008) e as ações acerca das espécies exóticas invasoras foram

iniciadas em reconhecimento à CDB, que entrou em vigor nesta nação somente em 1994, por

meio do Decreto Legislativo nº. 2. Em dezembro de 1994, por meio do Decreto 1.354, no

âmbito do Ministério do Meio Ambiente, foi instituído o Programa Nacional da Diversidade

Biológica (PRONABIO), para apoiar a implementação de projetos que atendessem às

recomendações da CDB (ALBAGLI, 1998). O Programa objetiva, de acordo com

informações do portal da CDB no Brasil, em consonância com as diretrizes e estratégias da

CDB e da Agenda 21, promover parceria entre o Poder Público e a sociedade civil na

conservação da diversidade biológica, na utilização sustentável de seus componentes e na

repartição justa e eqüitativa dos benefícios dela decorrentes (CDB, 2009).

A maior iniciativa do PRONABIO foi o estabelecimento de dois mecanismos de

financiamento: o Projeto de Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológica

Brasileira (PROBIO), que é um projeto de financiamento governamental e o Fundo Brasileiro

para a Biodiversidade (FUNBIO), um fundo privado (ALBAGLI, 1998). O PROBIO8 tem por

objetivos identificar ações prioritárias e estimular a elaboração de subprojetos que promovam

parcerias entre os setores públicos e privados, gerando e divulgando informações e

conhecimentos sobre biodiversidade. O FUNBIO9, por sua vez, é o maior fundo de

7 A UICN (em inglês IUCN – International Union for Conservation of Nature) é uma organização internacional que congrega instituições governamentais e não-governamentais e cientistas voluntários para ajudar o mundo a encontrar soluções pragmáticas para as pressões ambientais. Foi fundada em 1948 como a primeira organização ambiental global do mundo. Sua missão é influenciar, encorajar e auxiliar as sociedades do mundo inteiro a conservar a integridade e diversidade da natureza e garantir que qualquer uso dos recursos naturais seja justo e ecologicamente sustentável (IUCN, 2009). 8 O PROBIO é um projeto de governo criado em 1996, coordenado pelo MMA, com os objetivos de auxiliar o governo a iniciar um programa para a conservação e o uso sustentável da biodiversidade, identificando ações prioritárias; estimular o desenvolvimento de subprojetos demonstrativos e disseminar informações sobre biodiversidade (ALBAGLI, 1998). 9 O FUNBIO tem como objetivo principal estabelecer-se como mecanismo financeiro de longo prazo para o apoio a projetos de conservação e uso sustentável da diversidade biológica no Brasil (ALBAGLI, 1998).

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biodiversidade já estabelecido em qualquer país e é o primeiro entre os fundos de

biodiversidade a integrar completamente o setor privado (ALBAGLI, 1998; CDB, 2009).

Ainda assim pouco foi feito sobre as espécies exóticas presentes no Brasil e apenas em

2001 o Brasil realizou discussão, coordenada pelo GISP, sobre o tema com a promoção da

Reunião de Trabalho sobre Espécies Exóticas Invasoras, que resultou na Declaração de

Brasília (Anexo).

O evento foi realizado pelo Governo Brasileiro, por meio de parceria entre

o Ministério do Meio Ambiente (MMA) e a Empresa Brasileira de Pesquisa

Agropecuária (EMBRAPA) e contou com a participação doas países da

América do Sul. A reunião contou ainda com a colaboração do Governo

dos Estados Unidos da América, por meio do Departamento de Estado e da

Embaixada dos Estados Unidos da América no Brasil, além de apoio do

GISP (IBAMA, 2006:5).

Na Declaração de Brasília, representantes da Argentina, Bolívia, Brasil, Chile,

Colômbia, Equador, Guiana Francesa, Paraguai, Peru, Suriname, Uruguai e Venezuela,

reconheceram que as espécies exóticas invasoras constituem uma das principais ameaças à

biodiversidade e aos ecossistemas naturais, além dos riscos à saúde humana.

No mesmo ano o MMA lançou, por meio do PROBIO e em parceria com o Fundo

Nacional do Meio Ambiente (FNMA), um edital com o objetivo de selecionar projetos

voltados ao manejo de espécies ameaçadas de extinção ou o controle de espécies invasoras

(IBAMA, 2006).

Em 2003 o MMA decidiu elaborar o “Primeiro Informe Nacional sobre Espécies

Exóticas Invasoras” por intermédio do PROBIO. Para tanto, o PROBIO lançou uma carta

consulta para a seleção de 5 subprojetos visando a produção de informes sobre as espécies

exóticas invasoras (MMA, 2009). O objetivo desta proposta, ainda não oficialmente

publicado, é sistematizar e divulgar a informação existente sobre o tema. Neste mesmo ano

foi criada, através do Decreto nº. 4.703, a Comissão Nacional de Biodiversidade

(CONABIO), com a finalidade de coordenar, acompanhar e avaliar as ações do PRONABIO.

Tem como competência, entre outras, coordenar a elaboração da Política Nacional da

Biodiversidade, e promover a implementação dos compromissos assumidos pelo Brasil junto

a CDB (CDB, 2009).

Na I Conferência Nacional de Meio Ambiente, realizada em 2003, existe somente uma

deliberação que diz respeito à restrição e controle da entrada de espécies exóticas no Brasil,

bem como a transferência de espécies entre os biomas brasileiros (FERREIRA et al., 2005).

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Neste ano ainda, o Instituto Hórus e a The Nature Conservancy iniciaram, no Brasil, um

levantamento das espécies exóticas invasoras presentes.

Em 2004, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) incluiu as espécies

exóticas invasoras no cálculo dos indicadores de desenvolvimento sustentável (dimensão

ambiental – biodiversidade). “A construção de indicadores de desenvolvimento sustentável no

Brasil integra-se ao conjunto de esforços internacionais para concretização das idéias e

princípios formulados na Agenda 21” (IBGE, 2004), com o objetivo de acompanhar a

sustentabilidade do padrão de desenvolvimento brasileiro, considerando aspectos ambientais,

sociais, econômicos e institucionais.

Foi realizado, em outubro de 2005, o I Simpósio Brasileiro sobre Espécies Exóticas

Invasoras, em Brasília (DF), pelo MMA e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos

Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz

(FIOCRUZ), a EMBRAPA, a Universidade Federal de Viçosa (UFV), o Instituto

Oceanográfico da USP (Universidade de São Paulo) e o Instituto Hórus (IBAMA, 2006). O

Simpósio contou com a participação de representantes de oito países: África do Sul,

Argentina, Brasil, Estados Unidos, Havaí, Jamaica, Nova Zelândia e Portugal. Vários temas

foram abordados, destacando-se a legislação nacional e a regulamentação do uso de espécies

de valor econômico; prioridades para financiamento; sensibilização e educação; controle e

monitoramento e análise de risco, prevenção e detecção precoce. As discussões resultaram em

recomendações específicas para o MMA e para o IBAMA que ainda estão sendo analisadas e

avaliadas com vistas à sua implementação (BRASIL, 2008; IBAMA, 2006).

Neste mesmo evento foi proposta pela então Ministra do Meio Ambiente, Marina

Silva, a criação, no âmbito da CONABIO (Comissão Nacional de Biodiversidade), de uma

Câmara Técnica Permanente sobre Espécies Exóticas Invasoras. Percebeu-se necessária a

criação desta câmara em razão dos resultados do Seminário, dos compromissos assumidos

pelo Brasil no âmbito da CDB e da legislação brasileira que trata sobre as invasões biológicas

(IBAMA, 2006). A câmara está em fase de deliberação pela CONABIO (BRASIL, 2008).

A Estratégia Nacional criada pelo Brasil para tratar as invasões biológicas “estabelece

ações prioritárias a serem desenvolvidas e/ou apoiadas pelo Ministério do Meio Ambiente

para o período de 2008 a 2011, com recomendações das estratégias, mecanismos de ação a

serem empregados na prevenção, erradicação, mitigação e controle das espécies exóticas

invasoras” (BRASIL, 2008).

Quanto à legislação brasileira atualmente existente sobre as invasões biológicas, ainda

são poucos os instrumentos aplicáveis ao tema. A disseminação de espécies exóticas está

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enquadrada no art. 61 da Lei de Crimes Ambientais (Lei nº. 9.605, de 12/02/1998). De acordo

com o Capítulo IV, art. 31, da lei nº. 9.985, de 18 de julho de 2000 (SNUC – Sistema

Nacional de Unidades de Conservação), “é proibida a introdução nas Unidades de

Conservação de espécies não autóctones (SNUC, 2003:25)”. O decreto nº. 4.339, de 22 de

agosto de 2002, institui princípios e diretrizes para a implementação da Política Nacional da

Biodiversidade, que trata sobre as espécies exóticas invasoras, estabelecendo que devem ser

realizados inventários e mapeamentos sobre estas, bem como pesquisas para subsidiar sua

prevenção, erradicação e controle. Também são contempladas ações efetivas de prevenção,

controle e erradicação de espécies exóticas invasoras que possam afetar a biodiversidade.

Para garantir que os objetivos da Política Nacional de Biodiversidade sejam

implementados e também para suprir lacunas de gestão da biodiversidade do país, o MMA

coordenou, entre 2004 e 2005, a formulação do PAN-Bio – Diretrizes e Prioridades do Plano

de Ação para a Implementação da Política Nacional da Biodiversidade (MMA, 2009). O

PAN-Bio estabelece, entre suas diretrizes e prioridades, que devem ser realizados estudos

sobre o impacto de espécies-problema e o monitoramento e controle alfandegário para

prevenção da introdução de novas espécies exóticas. Estabelece também que seja criado um

programa nacional de monitoramento, controle e prevenção de espécies exóticas invasoras.

Além disso, o PAN-Bio recomenda que sejam fomentadas atividades de recuperação de áreas

e de domesticação, manejo e produção utilizando espécies nativas (PAN-Bio, 2006).

O Ministério do Meio Ambiente (MMA) considera que as informações relacionadas à

contaminação biológica ainda são incipientes. Com o objetivo de mudar esta realidade, o

MMA, por meio da Diretoria do Programa Nacional de Conservação da Biodiversidade

declarou o início, a partir de agora, de “um amplo e efetivo programa voltado às espécies

exóticas invasoras” (BRASIL, 2008). Ainda de acordo com o MMA

As ações deste programa envolvem, entre outras, atividades relativas à

identificação e localização das principais espécies problemas no país;

avaliação dos impactos ambientais e sócio-econômicos causados por estas

espécies; levantamento dos projetos já realizados ou em andamento, em

âmbito nacional; criação de mecanismos de controle, monitoramento,

mitigação, prevenção e erradicação, inclusive com vistas a minimizar as

introduções acidentais; definição de estratégias para ampliação das

discussões sobre o tema; estabelecimento de prioridades para o período de

2005 a 2010; levantamento da legislação nacional sobre espécies exóticas

invasoras, e proposição de revisão, se for o caso, ou elaboração de

legislação específica; e organização de uma efetiva parceria entre os

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setores governamental, não-governamental, acadêmico-científico e

iniciativa privada.

Este programa proporcionará uma melhor organização e divulgação dos trabalhos

existentes e avanços nesta área, contribuindo para a capacitação dos órgãos competentes e

progressos em pesquisa. Desta maneira será realizado mais efetivamente o controle e

monitoramento dos impactos causados pela contaminação biológica. O MMA está realizando

também o levantamento de informações relacionadas aos aspectos legais das invasões

biológicas.

Como evidenciado ao longo dos últimos anos, tem sido notado um aumento na

preocupação acerca das espécies exóticas invasoras (HOWARD, 2004). Em função das

rápidas mudanças impostas pelo homem ao ambiente, os estudos versando sobre este tema

vêm sendo considerados da mais alta prioridade (LORINI, 1996). Entretanto, no Brasil, as

informações sobre invasões biológicas são ainda escassas (AZEVEDO e ARAÚJO, 2005;

BLUM et al., 2005; BRASIL, 2008). Martins et al. (2004) argumentam que existem poucos

estudos sobre espécies exóticas em áreas protegidas porque os impactos são lentos no longo

prazo e pouco evidentes nas fases iniciais.

Almejando a conservação da biodiversidade mundial foram criadas áreas protegidas

que, de acordo com o artigo II da CDB, são áreas definidas geograficamente que são

destinadas, ou regulamentadas, e administradas para alcançar objetivos específicos de

conservação (CDB, 2000). Atualmente, as unidades de conservação10 são as principais

ferramentas disponíveis na tentativa de se preservar espécies, ecossistemas e paisagens para

que continuem a existir no futuro (GATTI et al., 2005). No entanto, a invasão por espécies

exóticas representa um grave problema para o funcionamento dos ecossistemas e ameaça a

diversidade biológica em diferentes unidades de conservação, como mostrado por diversos

estudos (ABREU, 2008; CORDEIRO e RODRIGUES, 2005; FERREIRA et al., 2005;

GATTI et al., 2005; GOMES e MAGALHÃES, 2005; INSTITUTO HÓRUS, 2008;

MARTINS et al., 2004; MENEZES, 2006; PEREIRA, 2006; RIBEIRO, 2006; RODOLFO et

al., 2007; SANCHES et al., 2007; SANTOS et al., 2005b; SILVA e FILGUEIRAS, 2003;

ZANCHETTA e DINIZ, 2006).

10 O artigo 2º da Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000, define unidade de conservação como

Espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção (SNUC, 2003:9).

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3. OBJETIVOS

A presente dissertação tem como objetivo principal determinar a ocorrência de

espécies vegetais exóticas invasoras e avaliar metodologias de manejo visando estabelecer um

conjunto de ações orientadas à gestão da contaminação biológica por espécies vegetais

exóticas no Parque Nacional da Serra dos Órgãos, Rio de Janeiro, Brasil.

Como objetivos específicos pretendeu-se:

1. Identificar as espécies vegetais exóticas que ocorrem no Parque Nacional da Serra dos

Órgãos, inferindo sobre os processos de invasão;

2. Realizar o levantamento da estrutura populacional das espécies exóticas encontradas,

bem como outras características ecológicas relevantes;

3. Estudar os padrões de ocupação do espaço pelas espécies, considerando aspectos

microclimáticos;

4. Avaliar o impacto das espécies exóticas sobre as nativas a partir das informações

levantadas e determinar as espécies mais agressivas;

5. Conduzir experimentos de campo para o manejo das espécies mais agressivas a fim de

levantar informações sobre seu controle em ambientes naturais;

6. Propor ações de manejo das áreas com espécies invasoras.

Os resultados obtidos neste trabalho são apresentados em dois capítulos. O primeiro

capítulo faz um diagnóstico da contaminação biológica do Parque Nacional da Serra dos

Órgãos. Nele são respondidos os quatro primeiros objetivos específicos. Procurou-se, neste

capítulo, conhecer o estado do Parque Nacional da Serra dos Órgãos em relação às invasões

biológicas. Saber quais espécies exóticas estão presentes, entender os padrões de ocupação do

ambiente apresentados por estas e como elas afetam a biota nativa. No segundo capítulo

investigou-se as técnicas de manejo mais apropriadas ao controle populacional das espécies

invasoras que causam maiores problemas à biodiversidade no Parque Nacional da Serra dos

Órgãos, visando gerar informações que permitam realizar a adequada gestão das invasões

biológicas na área de estudo.

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4. ÁREA DE ESTUDOS: O PARQUE NACIONAL DA SERRA DOS

ÓRGÃOS

Embora eu tenha visto em outras partes do Brasil muitas e variadas florestas primitivas, nenhuma me pareceu mais bela e mais amena do que aquelas que, perto da cidade do Rio de Janeiro e recobrindo as encostas dos montes, recebem o nome de Serra do Mar [Serra dos Órgãos](...) Estas florestas me agradaram muito mais que as outras e ficaram para sempre gravadas no meu espírito, não só porque fossem primitivas e, com isso, um presente para os meus olhos espantados, mas na verdade porque excedem em beleza e suavidade.

K.F. von Martius, Botânico alemão, 1817

Figura 1 – Paisagem do Parque Nacional da Serra dos Órgãos – vista do Dedo de Deus. Foto:

autor desconhecido.

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A Serra dos Órgãos fascinou aqueles que chegaram ao Rio de Janeiro no início da

colonização européia, como descrito pelo naturalista alemão Karl Friederiech von Martius. O

relevo da serra (Figura 1) inspirou seu nome, dado em função da semelhança entre esta

formação geológica com picos mais ou menos paralelos e os tubos de um órgão de igreja

(CRONEMBERGER e VIVEIROS DE CASTRO, 2007).

Terceiro Parque Nacional criado no país, o Parque Nacional da Serra dos Órgãos

(PARNASO) foi criado através do Decreto-Lei nº 1822, em 30 de novembro de 1939. Esta

Unidade de Conservação protege uma das mais importantes áreas de Mata Atlântica,

reconhecida internacionalmente como Reserva da Biosfera e um dos cinco hotspots de

biodiversidade mais ameaçados do planeta (CHIARELLO, 1999).

O PARNASO pertence à primeira geração de parques nacionais do Brasil, que foram

criados “como monumentos naturais para resguardar porções do território nacional que

tivessem valor científico e estético”, como previa a Constituição de 1937

(CRONEMBERGER e VIVEIROS DE CASTRO, op. cit.). A beleza cênica dos maciços

rochosos, proteção de mata primária e floresta pluvial montana, a riqueza da flora e da fauna e

a contribuição para a manutenção climática da região são algumas características da Serra dos

Órgãos que motivaram a criação do Parque Nacional da Serra dos Órgãos. Atualmente esta

unidade de conservação tem como objetivos conservar e proteger a paisagem e a

biodiversidade da Serra do Mar na região serrana do Estado do Rio de Janeiro, além de

promover a pesquisa e a educação ambiental (ICMBIO, 2009).

De acordo com Cronemberger e Viveiros de Castro (2007:14), a primeira sugestão de

criação do Parque foi formulada pelo engenheiro Armando Vieira e publicada pelo Jornal do

Commercio em 25 de setembro de 1938. A nota fala em

Converter as cabeceiras dos rios que correm para a Baixada

Fluminense, para Teresópolis e para o município de Petrópolis,

abrangendo as montanhas elevadas e os picos altaneiros que

dispunham com as Agulhas Negras de Itatiaia e os vértices agudos

da Serra do Caparão, as primazias de pontos culminantes do Brasil,

de onde se destacam o inconfundível Dedo de Deus, os Castelos do

Açu, o Campo das Antas, num belíssimo parque nacional que nada

ficaria devendo às mais adiantadas criações desse gênero.

É interessante mencionar que o decreto de criação do Parque não determinava seus

limites, dizendo que “a área do Parque seria fixada depois do indispensável reconhecimento e

estudo da região feitos sob a orientação do Serviço Florestal”. O decreto apenas dizia que o

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parque ocuparia terras dos municípios de Teresópolis, Petrópolis e Magé (na época,

Guapimirim ainda não havia se emancipado de Magé). Apenas 45 anos depois, em 1984, o

Decreto nº. 90.023 definiu os limites geográficos do Parque. Segundo o relato de

Cronemberger e Viveiros de Castro (2007), este longo período sem a delimitação da área do

Parque contribuiu para agravar os problemas fundiários e de ocupação humana,

principalmente em algumas localidades como o Garrafão, em Guapimirim, e Bonfim, em

Petrópolis.

Os organizadores contam ainda que a implantação das estruturas físicas do Parque teve

início na década de 1940, período em que o PARNASO dispunha de grandes recursos

financeiros. Neste período foram construídos o prédio da administração, garagem, oficinas,

depósitos, apartamentos e casas funcionais. As obras paisagísticas incluíram a construção da

piscina natural, vias internas e jardins. O projeto arquitetônico e paisagístico tem a assinatura

de Ângelo Murgel, cujos projetos recebiam predominantemente a influência do estilo

moderno. Ângelo Murgel foi também o arquiteto responsável pelos projetos dos Parques

Nacionais do Itatiaia e do Iguaçu.

Até a década de 1950, o PARNASO era um cartão de visitas do Governo brasileiro,

recebendo freqüentemente a visita de Embaixadores, Ministros de Estado e Presidentes.

Dispondo de recursos que ultrapassavam a arrecadação do município de Teresópolis, o Parque

chegou a ter cerca de 250 funcionários, incluindo extravagâncias como garçons de smoking

nos abrigos que atendiam às autoridades que subiam a trilha do Sino em lombo de mulas.

Um fato histórico importante para este estudo é a utilização de espécies exóticas no

projeto paisagístico do Parque Nacional da Serra dos Órgãos (CRONEMBERGER e

VIVEIROS DE CASTRO, 2007). Algumas espécies, portanto, foram introduzidas

intencionalmente nos jardins e podem ter se alastrado pelo Parque, causando hoje em dia

problemas para o manejo desta UC.

O PARNASO está situado na região central do Estado do Rio de Janeiro, entre os

paralelos 22°52’e 22°24’S e os meridianos 45°06’e 42°69’W (Figura 2), abrangendo os

municípios de Teresópolis, Petrópolis, Magé e Guapimirim. A Serra dos Órgãos está inserida

no chamado Bloco da Região Serrana Central, compondo um dos cinco blocos de

remanescentes florestais do Estado do Rio de Janeiro (ROCHA et al., 2003). Associado a

outras 21 unidades de conservação, o PARNASO integra o Mosaico da Mata Atlântica

Central Fluminense, uma das áreas com maior concentração de endemismo e de espécies

ameaçadas no hotspot Mata Atlântica.

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Figura 2 – Localização do Parque Nacional da Serra dos Órgãos em relação ao Rio de Janeiro

e ao Brasil (adaptado de IBAMA, 2009).

PETRÓPOLIS

TERESÓPOLIS

MAGÉ GUAPIMIRIM

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O PARNASO teve sua área ampliada pelo Decreto assinado pelo presidente Luiz

Inácio Lula da Silva em 13 de setembro de 2008, que altera a redação dos artigos 1º, 2º, 3º e 4

do Decreto nº. 90.023, de 2 de agosto de 1984. O Parque agora totaliza 20.050 hectares que

protegem florestas de encosta e campos de altitude (Figura 3). A grande e brusca variação de

altitude criou ambientes únicos de grande diversidade biológica.

De acordo com Veloso (1945) e Bernardes (1952 apud ALVES, 2007) o clima da

região da Serra dos Órgãos é classificado como Cfb segundo Köppen, onde predominam

condições mesotérmicas com verões amenos e invernos frescos e não há uma estação seca

definida. Entretanto, Davis (1945) e Rizzini (1954) argumentam que junho, julho e agosto são

meses secos e marcam uma nítida estação seca e fria. Os valores médios anuais para

temperatura variam entre 13° e 23°C, sendo que nas cotas superiores a 800 m os termômetros

não ultrapassam os 19°C. A distribuição mensal de temperatura no PARNASO pode ser

observada (Figura 4) pelos dados coletados durante o período de 1944 a 1952 (RIZZINI,

1954) na estação meteorológica que funcionou na sede Teresópolis de 1943 a 1970 (Figura 5).

No inverno, as temperaturas mínimas são baixas, chegando a 1°C em julho e agosto e nas

partes altas da serra a temperatura cai a -5°C (CRONEMBERGER e VIVEIROS DE

CASTRO, 2007). É freqüente a ocorrência de névoa com chuvas persistentes, devido à

interceptação de frentes frias vindas do sul.

As chuvas nesta região são principalmente orográficas e apresentam distribuição

sazonal, concentrando-se nos meses de verão, com período de seca no inverno. A

pluviosidade da região da Serra dos Órgãos é a mais elevada do estado do Rio de Janeiro em

função das chuvas provocadas pela presença da Serra do Mar (CRONEMBERGER e

VIVEIROS DE CASTRO, 2007). As médias de precipitação pluviométrica variam entre 1500

e 3000 mm anuais e a distribuição mensal durante o período de 1944 a 1952 pode ser

observada na figura 6. Os dados mensais de pluviosidade foram também coletados pela antiga

estação meteorológica da sede Teresópolis. Estes dados mostram que existe um período de

seca na área do Parque durante os meses de inverno e não há déficit hídrico. A umidade

relativa do ar média é de cerca de 90% e geadas podem ocorrer nos meses de inverno,

especialmente nas partes mais altas (ICMBIO, 2009; RIZZINI, 1954). Há diferenças entre as

vertentes da serra, sendo as vertentes voltadas para o oceano mais úmidas que aquelas

voltadas para o norte e oeste (CRONEMBERGER e VIVEIROS DE CASTRO, 2007).

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Figura 4 – Distribuição mensal da temperatura no Parque Nacional da Serra dos Órgãos.

Figura 5 – Antiga estação meteorológica que funcionou na sede Teresópolis do Parque

Nacional da Serra dos Órgãos. Foto: Acervo PARNASO.

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Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

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Meses

Figura 6 – Distribuição mensal das chuvas no Parque Nacional da Serra dos Órgãos.

Quanto à hidrografia, o PARNASO protege importantes mananciais que drenam para

as duas principais bacias hidrográficas fluminenses: a do Paraíba do Sul e a da Baía de

Guanabara (ICMBIO, 2009). As encostas do Parque orientadas para o sul, que incluem os rios

Soberbo, Bananal, Sossego, Inhomirim, Santo Aleixo, Iconha e Corujas, drenam para a Baía

de Guanabara. Já as encostas voltadas para norte drenam para o Rio Paraíba do Sul através

dos rios Beija-Flor, Paquequer, Jacó, Bonfim, Córrego Bento, Ponte de Ferro e Itamarati

(CRONEMBERGER e VIVEIROS DE CASTRO, 2007). A intensa precipitação no verão

gera distúrbios naturais importantes na dinâmica do ecossistema local. Durante chuvas

torrenciais, formam-se rios temporários e o volume dos rios perenes é aumentado. O volume

dos rios aumenta de forma rápida também nos verões chuvosos, gerando o fenômeno

conhecido por cabeça-d’água ou tromba d’água, principalmente no rio Soberbo (ALVES,

2007). Os movimentos de massa, especialmente os de escorregamento, também são comuns

na área do Parque em decorrência das chuvas intensas.

É importante mencionar a importância que o Parque Nacional da Serra dos Órgãos tem

na proteção dos mananciais de abastecimento da região de entorno e na estabilidade climática,

beneficiando quase 700.000 habitantes.

O PARNASO apresenta relevo montanhoso, formado por escarpas e reversos da Serra

do Mar, denominado “frente dissecada do bloco falhado”. As declividades são acentuadas

(quase 50% da área apresenta declive superior a 30°), com uma grande variação altitudinal em

uma área relativamente pequena, sendo que as cotas mais elevadas predominam na parte

central do Parque, a área mais alta de toda a Serra do Mar (CRONEMBERGER e VIVEIROS

DE CASTRO, 2007). Os limites altitudinais variam entre 200 m e 2.263 m na Pedra do Sino,

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ponto culminante da Serra dos Órgãos. A maior parte da área do Parque é formada por vales

profundos e encaixados, que se opõe ao relevo quase plano dos Campos de Altitude

(IBDF/FBCN, 1980 apud ALVES, 2007).

O PARNASO está inserido numa área pertencente ao sistema orográfico da Serra do

Mar, caracterizado, segundo Amador (1997 apud CRONEMBERGER e VIVEIROS DE

CASTRO, 2007), pela presença de gnaisses granitóides do período pré-cambriano. As formas

das montanhas da Serra dos Órgãos são produto da grande resistência das rochas graníticas à

erosão. Uma grande diversidade de classes de solos ocorre no Parque, sendo os Latossolos o

grupo que cobre a maior parte da área. Tipos de solo pertencentes a esta classe e que ocorrem

no PARNASO são o Latossolo Amarelo, Latossolo Vermelho-Amarelo e o Latossolo

Vermelho. O Litossolo se restringe a pequenas áreas de maiores altitudes e os solos

hidromórficos ocorrem nas regiões mais baixas, próximas a cursos d’água (ICMBIO, 2009).

A área do Parque está inserida no Bioma Mata Atlântica, apresentando como

formações vegetacionais Florestas Ombrófilas Densas Submontana, Montana e Altomontana

e os Refúgios Ecológicos Altomontana (campos de altitude).

A Floresta Ombrófila Densa Submontana ocorre entre 50 e 500 m de altitude e

caracteriza-se por uma estrutura essencialmente fanerofítica, com a ocorrência de caméfitas,

epítitas e lianas (ALVES, 2007). Ocorrem também espécies como Euterpe edulis (palmeira

juçara), Dicksonia sellowiana (samambaiaçu), Byrsonima crassifolia (murici), Talauma ovata

(baguaçu), e Cecropia sp. (embaúba). Esta formação está associada a solos profundos e bem

drenados e o dossel alcança entre 15 e 20 m de altura. De acordo com Cronemberger e

Viveiros de Castro (2007) esta fisionomia apresenta, normalmente, somente o estrato arbóreo

e o interior da floresta é composto por densa vegetação, mas sem definição de estratos. A

camada de serrapilheira costuma ser fina e, consequentemente, durante o período seco fica

ressecado.

A Floresta Ombrófila Densa Montana é a formação vegetacional que ocorre entre 500

e 1500 m de altitude e é predominante no PARNASO (ICMBIO, 2009). Esta formação é a

possui maior estratificação vertical entre as fisionomias da Mata Atlântica. Relacionada a

solos profundos de rochas cristalinas decompostas, esta fisionomia apresenta árvores de até 40

metros de altura e o dossel fica entre 25 e 30 m. O estrato arbóreo é dominado por grandes

árvores, como Cariniana legalis (jequitibá-rosa), Sloanea sp. (ouriceiro), e Vochysia

oppugnata (canela-santa). Os troncos e os galhos das árvores são cobertos de epífitas, além de

lianas, begônias, aráceas e samambaias. O estrato herbáceo é povoado por begônias,

orquídeas, bromélias e gramíneas (ICMBIO, 2009).

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Na faixa altitudinal que vai de 1500 a 1800 metros ocorre a Floresta Ombrófila Densa

Altomontana. São matas nebulares, que ocorrem em áreas que frequentemente são encobertas

por nuvens. A vegetação é caracterizada por árvores de troncos tortuosos e cobertos por

musgos e epífitas, de pequeno porte, com altura entre 5 e 10 m (CRONEMBERGER e

VIVEIROS DE CASTRO, 2007).

Acima de 1800 m de altitude, a floresta é substituída pelos Campos de Altitude, uma

vegetação baixa e aberta, de porte herbáceo-arbustivo. Esta vegetação está associada a áreas

com solos rasos, e radiação solar intensa. Devido ao baixo aporte de matéria orgânica em

virtude da grande elevação, a vegetação tem aspecto seco. Nas áreas mais declivosas e

expostas a ventos e chuva a rocha é nua e quase não há cobertura vegetal. Ocorrem apenas

pequenas manchas dominadas por Velloziaceae e Amaryllidaceae (CRONEMBERGER e

VIVEIROS DE CASTRO, op. cit.).

Rizzini (1954), no seu estudo Flora Organensis, identificou 2.003 espécies de plantas

no PARNASO, sendo 1.220 dicotiledôneas, 352 monocotiledôneas, 284 pteridófitas e 147

briófitas. Muitas espécies são endêmicas (especialmente as que ocorrem nos campos de

altitude) ou estão sob algum tipo de ameaça (CRONEMBERGER e VIVEIROS DE

CASTRO, 2007).

Já em relação à fauna do Parque, já foram registradas 462 espécies de aves, 83 de

mamíferos, 102 de anfíbios, 82 de répteis e 6 de peixes. De acordo com dados publicados por

Lewinsohn (2006), as espécies de vertebrados terrestres registradas no Parque correspondem a

20% do total de espécies desse grupo existentes no Brasil em uma área que corresponde a

0,00125% do território nacional. A grande diversidade de espécies encontrada no Parque pode

ser explicada pela existência de diversos habitats, formados pela variação nas condições

climáticas, tipos de solo e formações vegetacionais (CRONEMBERGER e VIVEIROS DE

CASTRO, 2007).

Muitas das espécies da fauna encontradas no PARNASO são raras, endêmicas ou

estão ameaçadas de extinção. 28 das 83 espécies de mamíferos constam nas listas oficiais de

espécies ameaçadas de extinção, bem como 51 espécies de aves e 16 de anfíbios. Das 217

espécies endêmicas da Mata Atlântica, 143 ocorrem na área do Parque.

A área do PARNAO é dividida em três setores – Teresópolis, Guapimirim e Petrópolis

– e em zonas, de acordo com o uso permitido em cada área. O zoneamento de uma unidade de

conservação busca, desta forma, a ordenação de seu território, levando em consideração as

fragilidades e potencialidades de cada ambiente. De acordo com Galante et al. (apud

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CUNHA, 2004), estas zonas refletem o grau de preservação, proteção e representatividade da

biodiversidade.

O artigo 2° do SNUC dispõe que o zoneamento é a

Definição de setores ou zonas em uma unidade de conservação com

objetivos de manejo e normas específicos, com o propósito de

proporcionar os meios e as condições para que todos os objetivos da

unidade possam ser alcançados de forma harmônica e eficaz (SNUC,

2003:10).

O zoneamento do PARNASO foi revisto durante os trabalhos de elaboração do novo

plano de manejo e será descrito a seguir, com o mapa de zoneamento (Figura 7) e a

caracterização de cada zona. As informações foram retiradas do novo plano de manejo do

PARNASO (VIVEIROS DE CASTRO, 2008).

Zona Intangível: é aquela que represente o mais alto grau de preservação, onde a

primitividade da natureza permanece o mais preservada possível, não se tolerando

quaisquer alterações humanas. Funciona como matriz de repovoamento de ouras zonas

onde já são permitidas atividades humanas regulamentadas. Essa zona é dedicada à

proteção integral de ecossistemas, dos recursos genéticos e ao monitoramento

ambiental. O seu objetivo básico de manejo é a preservação, garantindo a evolução

natural.

Zona Primitiva: é aquela onde tenha ocorrido pequena ou mínima intervenção

humana, contendo espécies da flora e da fauna ou fenômenos naturais de grande valor

científico. Deve possuir características de transição entre a Zona Intangível e a Zona

de Uso Extensivo. O objetivo geral do manejo desta zona é a preservação do ambiente

natural e ao mesmo tempo facilitar as atividades de pesquisa científica,

conscientização ambiental e formas primitivas de recreação.

Zona de Uso Extensivo: é aquela constituída em sua maior parte por áreas naturais,

podendo apresentar algumas alterações humanas. Caracteriza-se como uma transição

entre a zona Primitiva e a Zona de Uso Intensivo. O seu objetivo é a manutenção de

um ambiente natural com mínimo impacto humano, apesar de oferecer acesso e

facilidade públicos para fins educativos e recreativos.

Zona de Uso Intensivo: é aquela constituída por áreas naturais ou alteradas pelo

homem. O ambiente é mantido o mais próximo possível do natural, podendo conter:

centro de visitantes, museus, outras facilidades e serviços. O objetivo geral do seu

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manejo é facilitar a recreação intensiva e a conscientização ambiental em harmonia

com o ambiente natural.

Zona Histórico-Cultural: é aquela onde são encontradas amostras do patrimônio

histórico-cultural ou arqueo-paleontológico, que serão preservadas, estudadas,

restauradas e interpretadas para o público, servindo à pesquisa, conscientização

ambiental e ao uso científico. Seus objetivos incluem preservar as manifestações

históricas e culturais para pesquisas, estudos, conscientização ambiental e

interpretação e proteger sítios históricos ou arqueológicos, em harmonia com o meio

ambiente.

Zona de Recuperação: é aquela que contém áreas consideravelmente antropizadas.

Zona provisória que, uma vez restaurada, será incorporada novamente a uma das

categorias de zonas permanentes. As espécies exóticas introduzidas deverão ser

removidas e a restauração deverá ser natural ou naturalmente induzida. Esta zona

permite o uso público somente para a realização de atividades de conscientização

ambiental. O objetivo geral do manejo desta zona é deter a degradação dos recursos

e/ou recuperar as áreas.

Zona de Uso Especial: é aquela que contém as áreas necessárias à administração,

manutenção e serviços da unidade de conservação, abrangendo habitações, oficinas e

outros. Estas áreas serão escolhidas controladas de forma a não conflitarem com seu

caráter natural e devem localizar-se, sempre que possível, na periferia da unidade de

conservação. O objetivo geral de manejo é minimizar o impacto da implantação das

estruturas ou dos efeitos das obras no ambiente natural ou cultural da UC.

Zona de Uso Conflitante: constituem-se em espaços localizados dentro de uma

unidade de conservação, cujos usos e finalidades, estabelecidos antes da criação da

unidade, conflitam com os objetivos de conservação da área protegida. São áreas

ocupadas por empreendimentos de utilidade pública, como gasodutos, oleodutos,

linhas de transmissão, antenas, captação de água, barragens, estradas, cabos óticos e

outros. O objetivo geral de manejo é minimizar o impacto causado pelos

empreendimentos no ambiente natural ou cultural da UC.

Zona de Ocupação Temporária: são áreas dentro das unidades de conservação onde

ocorrem concentrações de populações humanas residentes e as respectivas áreas de

uso. Zona provisória, uma vez realocada a população, será incorporada a uma das

zonas permanentes. Os objetivos gerais de manejo são garantir a integridade das áreas

não regularizadas e ainda ocupadas dentro da unidade de conservação.

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Este estudo foi realizado no trecho da Zona de Uso Intensivo da sede Teresópolis. A

área amostral compreendeu a mata localizada no eixo da Estrada da Barragem (Figura 8). Esta

área é localizada na periferia da unidade de conservação, concentra a visitação e

administração do Parque. Devido ao grande fluxo de pessoas e veículos e à localização no

limite da unidade, fazendo borda com a cidade de Teresópolis, esta área funciona como

entrada para espécies exóticas que podem se tornar invasoras e de lá alcançar outras áreas da

unidade de conservação.

Figura 8 – Estrada da Barragem, Parque Nacional da Serra dos Órgãos, RJ. Foto: Michelle

Ribeiro.

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CAPÍTULO I

IDENTIFICAÇÃO E DIAGNÓSTICO DAS ESPÉCIES EXÓTICAS

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1. Introdução Qualquer ação para gestão de uma espécie exótica deve ser baseada em estudos

prévios sobre aspectos ecológicos e populacionais destas espécies. Somente desta forma pode-

se conseguir sucesso na gestão, através do controle mais efetivo e menos impactante do ponto

de vista ecológico. Do contrário, a situação de degradação do ambiente pode ser agravada.

O primeiro passo deve ser a identificação das espécies exóticas que ocorrem na área de

estudo. Os atributos de uma comunidade, como o número de espécies e suas abundâncias, são

medidas que refletem as características do habitat e as interações entre as espécies que o

compõe (HUTCHINSON, 1959; MARTINS, 1987; PINTO-COELHO, 2000). O número de

espécies exóticas pode, seguindo este raciocínio, fornecer idéia do grau de perturbação sofrido

pela floresta. Estudos sobre a estrutura das populações de uma comunidade permitem

detectar como as espécies presentes se relacionam (CAMACHO et al., 2005; PINTO-

COELHO, 2000). Desta forma, podem-se identificar desequilíbrios e verificar se uma espécie

exótica presente significa uma ameaça caso ela esteja exercendo algum tipo de dominância

sobre as nativas.

A estrutura da comunidade vegetal leva também à compreensão dos fatores que

regulam as comunidades. Neste sentido, é importante que seja dito que os padrões de

ocupação do ambiente pelas espécies, sejam nativas ou exóticas, podem ser explicados

também pelas condições ambientais da área, além de outros fatores. Harper (1987), diz que

para entender a distribuição e a abundância de uma espécie no espaço é necessário conhecer,

além de outros fatores, os efeitos das condições ambientais sobre suas populações. As

condições ambientais são fatores (temperatura, umidade relativa do ar, salinidade, entre

outros) que influenciam o funcionamento dos organismos vivos (LIMA-RIBEIRO et al.,

2007; BEGON et al., 2006) e podem atuar como fatores limitantes que controlam a

distribuição ou a sobrevivência de uma espécie, como expresso nas leis do mínimo de

Liebig11 e da Tolerância de Shelford12.

11 Lei do Mínimo de Liebig (1840): o crescimento dos vegetais é limitado pelo elemento cuja concentração é inferior a um valor mínimo, abaixo do qual as sínteses não podem mais fazer-se. Essa lei foi ampliada e hoje fala-se em Fator Limitante: um fator ecológico desempenha papel de fator limitante quando está ausente ou reduzido, abaixo de um mínimo crítico ou se excede o nível máximo tolerável. Torna difícil a sobrevivência, o crescimento ou a reprodução de uma espécie (ARANTES, 2008; ASSIS, 2005; KREUS et al., 1995; MALAVOLTA, 2006). 12 Lei da Tolerância de Shelford (1911): cada espécie apresenta em função dos diversos fatores ecológicos, limites de tolerância, dentro dos quais sua existência é possível. Entre os limites superior e inferior da faixa de tolerância aos fatores ecológicos situa-se o ótimo ecológico das espécies, que são as condições em que a espécie apresenta um melhor desenvolvimento (FIRKOWSKI, 1991; SILVA e SCHRAMM, 1997).

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São considerados como os fatores ambientais mais importantes à limitação da

distribuição dos organismos, a temperatura, luz e presença de água, que pode ser expressa de

modos diversos como umidade relativa do ar ou do solo. Diversos autores relatam ser a

temperatura, individualmente, a condição mais importante aos seres vivos e existe uma

relação bastante estreita entre esta e a umidade relativa do ar (BEGON et al., 2006; CAIRES

et al., 2008; HICKEL et al., 2007; OKAMOTO et al., 2006). As diferentes espécies de

organismos se diferenciam segundo suas preferências e tolerâncias térmicas, expressando seu

grau de adaptação em um ambiente. A temperatura pode determinar a distribuição e, ao

mesmo tempo, limitar as atividades dos organismos (MACIEIRA e PRONI, 2004). Já a

umidade relativa determina as taxas de perda de água pelos organismos. Embora muitos

processos físicos e biológicos sejam acelerados em temperaturas mais altas, o estresse de água

também aumenta com a temperatura e muitos tipos de organismos não podem sobreviver a

temperaturas maiores que 45°C (MACIEIRA e PRONI, 2004; RICKLEFS, 2003).

Em relação à luminosidade, pode-se dizer que toda a energia da vida vem da luz do

sol, ou seja, especialmente para os vegetais, a incidência de luz também se torna um fator que

condiciona a distribuição das espécies num ecossistema (RICKLEFS, 2003; SANTOS, 2007;

SOUZA, 2005). As espécies vegetais são normalmente classificadas de acordo com sua

tolerância à radiação solar. As espécies pioneiras, por exemplo, necessitam de intensa

luminosidade para se desenvolver enquanto as espécies climácicas só germinam em condições

de terreno sombreado (MACIEL et al., 2003; SANTOS et al., 2004).

Os organismos atuam em reciprocidade com o meio físico, sendo influenciados por ele

e influenciando-o (PINTO-COELHO, 2000). Isto quer dizer que as variações microclimáticas

são muito importantes nos estudos de ecologia de populações e comunidades, pois

determinam os padrões de ocorrência das espécies no ambiente (BEGON et al., 2006;

MACIEIRA e PRONI, 2004; TERBOGH, 1971). As condições microclimáticas de um

ambiente determinam quais espécies são capazes de habitá-lo, em virtude de suas adaptações

e tolerância. Os ambientes de bordas florestais apresentam condições em que muitas espécies

climácicas, por exemplo, não conseguem se desenvolver por não tolerarem alta incidência

luminosa.

Os padrões de distribuição das espécies no ambiente podem dizer muito também sobre

suas estratégias de dispersão e suas relações com as outras espécies da comunidade. O modo

como os organismos se dispersam influenciam o arranjo espacial que mostram no ambiente

afetam as formas com que eles interagem com seus vizinhos (BEGON et al., 2006; HARPER,

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1987). A competição interespecífica, por exemplo, ocorre de formas e em intensidades

diferentes se a espécie se distribui aleatoriamente ou em agregados.

Neste capítulo serão apresentados resultados do levantamento das espécies vegetais

invasoras que ocorrem no Parque Nacional da Serra dos Órgãos e discutidos os processos que

permitiram ou provocaram a invasão. Posteriormente, serão determinadas as espécies exóticas

que causam problemas à biodiversidade nas áreas de estudo, por meio da análise da estrutura

populacional destas e a compreensão dos padrões de distribuição destas no ambiente, levando

em consideração aspectos referentes às condições microclimáticas do meio.

2. Metodologia

Dislich e colaboradores (2002), afirmam não existir ainda um consenso sobre métodos

de quantificação do impacto causado pelas espécies exóticas invasoras. Entretanto, Parker e

colaboradores (1999) indicam que três fatores devem ser considerados para se obter uma

medida do grau de impacto: área total ocupada, abundância local e alguma medida do impacto

por indivíduo. Como qualquer biomassa, espaço ou energia dominado pelo invasor significa

recursos não mais disponíveis para as espécies nativas, a determinação de indicadores

ecológicos, tais como abundância, cobertura espacial ou biomassa, que possam quantificar

esse domínio torna-se extremamente importante para determinar o grau de impacto causado

pela espécie invasora sobre a comunidade florestal nativa. Por esta razão foram levantadas

informações como espécies exóticas que ocorrem na área de estudo, dados sobre estrutura

populacional destas, sua distribuição no espaço e fatores microclimáticos que possam exercer

influência sobre esta distribuição. Com este levantamento buscou-se entender o processo de

invasão biológica no PARNASO e o impacto que as espécies exóticas causam no ecossistema

nativo, a fim de atingir os objetivos especificados para este estudo. Foram então aplicados os

métodos descritos a seguir.

2.1. Ocorrência de espécies exóticas

A fim de identificar espécies exóticas que ocorrem no PARNASO foram realizados

levantamentos bibliográficos buscando listas de espécies exóticas já registradas na área do

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PARNASO. Por meio de consultas aos funcionários do Parque e pesquisadores foram

também levantadas algumas espécies exóticas de ocorrência naquela área.

Foram realizados também caminhamentos pela estrada da Barragem (Figura 1), um

trecho da zona de uso intensivo na Sede Teresópolis, visando atingir a maior área possível

com o objetivo de identificar espécies exóticas ainda não registradas para o PARNASO e

confirmar a ocorrência das espécies listadas com base na literatura.

Ademais, as espécies amostradas durante o levantamento de campo para estudo da

estrutura da vegetação foram classificadas em nativas ou exóticas e estas, após identificação,

foram também utilizadas para compor o quadro de espécies exóticas registradas na área.

2.2. Estrutura da vegetação e distribuição das espécies exóticas

Para o estudo da estrutura das populações de espécies vegetais exóticas presentes em

um trecho da zona de uso intensivo da sede Teresópolis do Parque Nacional da Serra dos

Órgãos foi aplicado o método de parcelas com distribuição aleatória. Partindo do pressuposto

que as invasões biológicas são iniciadas pelas bordas florestais e, posteriormente, as espécies

exóticas se disseminam para o interior da floresta (PATON, 1994), foram alocadas, com

auxílio de Sistema de Informação Geográfica (SIG PARNASO) do Parque e da Carta

Topográfica de Teresópolis na escala de 1:25.000 (IBGE Folha SF.23-Z-B-II-3-SO / MI-

2716-3-SO), 30 parcelas de 10 x 10 m ao longo da Estrada da Barragem (Figura 2). Para

tanto, a área escolhida para a realização do estudo (trecho de mata localizado ao longo da

Estrada da Barragem) foi delimitada nos mapas e foi lançado um grid sobre esta, tendo sido

sorteados os locais para delimitação das parcelas. Estas parcelas foram distribuídas por toda a

extensão da estrada de modo a contemplar o gradiente borda-interior de mata com a finalidade

de verificar a capacidade de invasão das espécies exóticas. Para tanto, as parcelas foram

alocadas parcelas a 0, 20 e 40 m de distância da estrada, de acordo com a Figura 2. Estas

distâncias foram definidas com base no estudo realizado por Laurance e Bierregaard (1997).

Segundo estes autores, para vários fatores físicos, os efeitos de borda são sentidos até 100 m,

sendo mais intensos nos primeiros 15 a 60 m. Essa distância média da borda em direção ao

interior da floresta que será estudada tenta incluir os efeitos sentidos para vários aspectos, pois

a largura da borda difere com a variável estudada (PRIMACK e RODRIGUES, 2002).

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Legenda

Estrada da Barragem

Figura 1 Área de estudos: trecho da zona de uso intensivo do Parque Nacional da Serra dos Órgãos. Estrada da Barragem, Sede Teresópolis.

Fonte Adaptado de Google.

Localização Regional

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Em cada parcela foram incluídos na amostragem todos os indivíduos de hábito

arbóreo, arbustivo e herbáceo. Para o estrato arbustivo-arbóreo foram coletados dados como

espécie e número de indivíduos em cada parcela dos indivíduos com CAP maior ou igual a 8

cm. Outras características importantes como indícios de herbivoria ou outro uso da espécie

pela fauna (como abrigo, por exemplo) foram anotadas também.

Para o levantamento de espécies herbáceas foram alocadas parcelas de 5 x 5 m no

interior das parcelas fitossociológicas de 10 x 10 m. O modelo utilizado foi uma modificação

do método de pontos descrito por Becker e Crockett (1973 apud Pellegrini et al., 2007).

Foram distribuídos 100 pontos eqüidistantes dentro da parcela. O procedimento consiste em

se fixar verticalmente uma vara no solo em cada um dos pontos de amostragem, registrando-

se todas as espécies tocadas pela vara, bem como o número de toques por espécie.

Todas as espécies (arbóreas, arbustivas e herbáceas) que não puderam ser classificadas

como nativas ou exóticas em campo tiveram amostras de material botânico coletado e

herborizado segundo as técnicas descritas por Sylvestre e Rosa (2002) para posterior

identificação em herbário. Para efeitos deste trabalho apenas foram identificadas em nível de

espécie as espécies exóticas.

Os espécimes amostrados nas parcelas de estudo da estrutura da comunidade vegetal

foram agrupados segundo sua origem (nativas ou exóticas) para a realização das análises de

estrutura. As análises dos dados incluíram os cálculos de parâmetros fitossociológicos

(freqüência, densidade, vigor, índice de cobertura, índice de valor de importância), que foram

comparados entre nativas e exóticas dentro de cada classe de distância de parcelas em relação

à estrada e entre classes de distância para o grupo de exóticas. Diferenças entre a ocorrência

de espécies exóticas no gradiente borda-interior de floresta foram testadas através da análise

de variância seguida do teste de Tukey a 5% de probabilidade, depois de ter sido testada a

normalidade dos dados coletados através do teste de Kolmogorov-Smirnov.

Para analisar o padrão de distribuição espacial das espécies exóticas no ambiente foi

aplicado o Índice de Dispersão de Morisita (Id) que teve sua significância testada através do

teste F para significância do Id, de acordo com metodologia descrita por Antonini e Nunes-

Freitas (2004).

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2.3. Parâmetros microclimáticos

Para verificar a existência de correlação entre características microclimáticas das áreas

estudadas e a estrutura das populações das espécies exóticas encontradas neste estudo, que

possam ter influência sobre os processos de invasão, foram coletados, nos sítios de estudo,

dados de temperatura média, umidade relativa do ar, e grau de sombreamento através de taxas

de cobertura do dossel. A coleta de dados foi realizada com o auxílio de um termo-higro-

anemômetro luxímetro digital (modelo THAL-300) para as variáveis temperatura e umidade

relativa. Duas vezes por mês, nos meses de setembro e outubro, foram mensuradas as

variáveis supracitadas nas parcelas de estudo durante o período da manhã e durante o período

da tarde. Estas medições foram realizadas incluindo duas épocas distintas: o final da estação

seca e o início da estação úmida.

Para analisar a cobertura do dossel foi feita uma adaptação da metodologia proposta

por Cortines (2008). Para tanto, foram tiradas fotografias do dossel da floresta com uma

câmera digital posicionada a 1 m de altura em relação ao solo. Em cada parcela de estudo foi

tirada uma fotografia em cada vértice e outra no centro. Com o auxílio do software Area

Measure 2.1, foi calculado para cada foto o percentual ocupado pelas copas das árvores.

Depois de testada a normalidade dos dados coletados através do teste de Kolmogorov-

Smirnov, foram comparadas estatisticamente, através da análise de variância e teste de médias

de Tukey, as médias de cada parâmetro a fim de detectar diferenças entre as classes de

distância das parcelas alocadas em campo. No caso das variáveis cujos dados não tenderam a

uma distribuição normal (dados expressos em percentual), procedeu-se a transformação

logaritmo (x + 1), onde x é a variável analisada. Tendo sido detectadas diferenças

significativas nas variáveis analisadas entre os sítios de estudo procedeu-se a análise de

correlação linear simples de Pearson entre cada variável (temperatura, umidade relativa e

cobertura do dossel) e a densidade de espécies exóticas a fim de verificar se existe relação

entre estas nas parcelas de estudo. Foi realizada ainda a análise de regressão linear múltipla a

fim de estimar como se dá a associação existente entre a densidade de espécies exóticas nos

sítios de estudo e as variáveis microclimáticas mensuradas nestes.

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3. Resultados e discussão 3.1. Ocorrência de espécies exóticas Foram registradas, no levantamento de campo, consultas aos administradores do

Parque e bibliografia consultada (GATTI et al., 2005), 37 espécies pertencentes a 32 gêneros

de 25 famílias. Destas, 19 (51,3%) foram listadas por Gatti et al (2005), 1 (2,7%) tiveram sua

ocorrência indicada pela administração do Parque e 17 (46,0%) constituíram novas

ocorrências amostradas neste estudo (Quadro 1). Cabe ressaltar que o trabalho de Gatti et al

(2005) foi o único encontrado em que foi feito um levantamento das espécies exóticas

presentes no PARNASO.

Algumas espécies registradas pela literatura não tiveram sua ocorrência confirmada por este

trabalho, pois não foram encontradas nas áreas amostradas. É o caso das espécies Citrus

limon, Artocarpus heterophyllus, Pinus sp., Hydrangea macrophylla, Ficus pumila, Poa

annua, Melinis minutiflora e Pteridium aquilinum. Isto não quer dizer que estas espécies não

ocorram no Parque, apenas não foram encontradas nas áreas contempladas por este estudo.

Estas espécies podem ocorrer em outras áreas do PARNASO, como por exemplo, foi relatada

pela administração do Parque a presença de Pinus sp. na Trilha da Travessia e Hidrangea

macrophylla nos arredores do Abrigo 4, na Trilha da Pedra do Sino.

Em contrapartida, algumas espécies exóticas encontradas neste estudo ainda não

haviam sido relatadas como de ocorrência no Parque Nacional da Serra dos Órgãos. São as

espécies Citrus cf. reticulata, Citrus cf. sinensis, Syzygium cf. malaccense, Eucalyptus sp.,

Persea americana, Dracaena fragrans, Mangifera indica, Roystonia oleraceae, Euphorbia

milii, Morus cf. nigra, Hibiscus cf. rosa-sinensis, Cordyline terminalis, Tradescantia pallida,

Malvaviscus arboreus e Monstera deliciosa. Três das espécies exóticas encontradas por este

estudo foram avistadas fora das áreas de amostragem (ver Quadro 1).

É interessante destacar que algumas espécies registradas como exóticas pela literatura

que deixavam dúvidas quanto sua origem, foram pesquisadas e classificadas como nativas,

tendo sido, por este motivo, apesar de encontradas em campo, desconsideradas na lista

organizada com base nos resultados das análises deste trabalho.

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Quadro 1: Espécies exóticas vegetais encontradas no Parque Nacional da Serra dos Órgãos

Forma biológica Espécie Nome comum Família Origem Uso Principal Local onde a espécie foi encontrada Coordenadas UTM Encontrada por

Arbórea Araucaria angustifolia (Bert.) O. Kuntze** pinheiro-do-paraná Araucariaceae Brasil Produção de madeira - - Gatti et al., 2005

Artocarpus heterophyllus Lamk. jaqueira Moraceae Índia e Malásia Frutífera - - Gatti et al., 2005

Citrus cf. reticulata Blanco tangerina Rutaceae Sudeste asiático Frutífera Em frente ao Centro de Visitantes 707279,19 E 7516088,99 S Este estudo

Citrus cf. sinensis (L.) Osbeck laranja Rutaceae Ásia Frutífera No Poço do Castelo (cachoeira próxima à portaria)

707490,86 E 7516143,06 S Este estudo

Citrus limon (L.) Burm. f. limão Rutaceae Sudeste asiático Frutífera - - Gatti et al., 2005

Cupressus sp cedro Cupressaceae Ásia Ornamental Ao lado da casa do pesquisador 706062 E 7515457 S

Gatti et al., 2005 e este estudo

Eriobotrya japonica (Thunb.) Lindl. nêspera Rosaceae Sudeste da China Frutífera No estacionamento 707113,64 E 7516116,24 S

Gatti et al., 2005 e este estudo

Eucalyptus sp eucalipto Myrtaceae Austrália Produção de madeira Próximo à casa do pesquisador - Este estudo

Mangifera indica L. mangueira Anacardiaceae Sul e sudeste asiático Frutífera No estacionamento 707113,64 E 7516116,24 S Este estudo

Morus cf. nigra L. amoreira Moraceae China e Japão Frutífera No Poço do Castelo (cachoeira próxima à portaria)

707503,38 E 7516147,78 S Este estudo

Persea americana Mill* abacate Lauraceae México Frutífera Nos jardins da sede Guapimirim 705567,35 E 7511090,90 S Este estudo

Pinus sp pinheiro Pinaceae Hemisfério norte Produção de madeira - - Administração do Parque

Roystonea oleracea (Jacq.) Cook palmeira-imperial Arecaceae América Central e Antilhas Ornamental No jardim de uma das casas funcionais (próxima ao Centro de Visitantes)

707256,09 E 7516135,05 S Este estudo

Syzygium cf. malaccense (L.) Merr. & LM Perry.* jambo Myrtaceae Índia e Malásia Frutífera Nos jardins da sede Guapimirim 705590,84 E

7511084,84 S Este estudo

Arbustiva Allamanda cf. schotti Pohl alamanda Apocynaceae Norte e Nordeste do Brasil Ornamental Em frente a uma das casas funcionais (próxima à portaria)

707395,72 E 7516133,44 S

Gatti et al., 2005 e este estudo

Calliandra sp** esponjinha Fabaceae - Ornamental - - Gatti et al., 2005

Cordyline terminalis (L.) Kunth dracena-vermelha Liliaceae Índia, Malásia e Polinésia Ornamental Na portaria e na trilha para o Poço do Castelo

707499,86 E 7516135,10 S Este estudo

Dracaena fragrans* (L.) Ker Gawl. dracena Ruscaceae África Ornamental Margeando a estrada da sede

Guapimirim, próximo à portaria - Este estudo

Euphorbia milii Des Moul. coroa-de-cristo Euphorbiaceae Madagascar Ornamental No jardim de uma das casas funcionais (próxima à portaria) e atrás da portaria.

707380,43 E 7516139,58 S Este estudo

Euphorbia pulcherrima Willd. ex Klotzsch bico-de-papagaio Euphorbiaeceae México Ornamental Aproximadamente à 200m da Trilha

Primavera 706798,93 E 7515918,55 S

Gatti et al., 2005 e este estudo

Hibiscus cf. rosa-sinensis L. hibisco Malvaceae Ásia Tropical Ornamental Próximo à piscina 707194,54 E

7516061,33 S Este estudo

Hidrangea macrophylla (Thunb.) Ser. hortência Hydrangeaceae Japão Ornamental - - Gatti et al., 2005

Malvaviscus arboreus Cav. hibisco Malvaceae México e norte da América do Sul Ornamental Próximo à entrada da Trilha Primavera 706804,94 E

7515935,49 S Este estudo

Musa sp bananeira Musaceae - Frutífera No jardim de uma das casas funcionais (próxima ao Centro de Visitantes)

707281,40 E 7516133,22 S

Gatti et al., 2005 e este estudo

Yucca sp yuca Agavaceae América do Norte, Central e oeste da Índia Ornamental Atrás da pousada 706316,81 E

7515215,09 S Gatti et al., 2005 e

este estudo Rubus rosifolius Smith.** amora silvestre Rosaceae Brasil – Mata Atlântica Frutífera - - Gatti et al., 2005

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Forma biológica Espécie Nome comum Família Origem Uso Principal Local onde a espécie foi encontrada Coordenadas UTM Encontrada por

Herbácea Ficus pumila L. unha-de-gato Moraceae China, Japão e Austrália Ornamental - - Gatti et al., 2005

Hedychium coronarium J. König lírio-do-brejo Zingiberaceae Ásia Tropical Ornamental Margeando toda a Estrada da Barragem - Gatti et al., 2005 e este estudo

Impatiens cf. balsamina L. beijinho Balsaminaceae Ásia tropical Ornamental - - Gatti et al., 2005 Impatiens walleriana Hook.f. beijinho Balsaminaceae África Ornamental Margeando toda a Estrada da Barragem - Este estudo Melinis minutiflora P. Beauv. capim-gordura Poaceae África Forrageira - - Gatti et al., 2005

Monstera deliciosa Liebm. costela-de-adão Araceae México Ornamental Ao lado do Centro de Visitantes e próximo à Trilha Primavera

707255,36 E 7516123,96 S Este estudo

Pennisetum cf. villosum R. Vr. ex Fresen. - Poaceae Leste da Ásia Forrageira Próximo à casa do pesquisador e na

portaria 707490,86 E 7516143,06 S Este estudo

Pennisetum sp - Poaceae - Forrageira - - Gatti et al., 2005 Poa annua L. - Poaceae Europa Forrageira - - Gatti et al., 2005

Pteridium aquilinum (L.) Kuhn. samambaia-do-campo Pteridófita - Ornamental - - Gatti et al., 2005 Tradescantia pallida (Rose) D.R.

Hunt var. purpurea Boom trapoeraba-roxa Commelinaceae México Ornamental Na portaria 707499,86 E 7516135,10 S Este estudo

*Espécies encontradas durante visita à Sede Guapimirim. Esta área não está incluída nos trabalhos de campo deste estudo, mas optou-se por registrar as espécies exóticas avistadas naquela região.

**Espécies encontradas na literatura nas listagens de espécies exóticas, mas consideradas nativas neste estudo.

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O levantamento de plantas exóticas no Parque Nacional da Serra dos Órgãos resultou

no registro de 34 espécies, pertencentes a 24 famílias. Destas, 13 apresentam hábito arbóreo,

10 possuem hábito arbustivo e 11 são de hábito herbáceo. Com base apenas nos trabalhos de

campo, foi registrada a ocorrência de 24 espécies diferentes de 20 famílias, sendo 10 espécies

arbóreas, 9 arbustivas e 5 herbáceas.

Araucaria angustifolia havia sido considerada exótica para a área, talvez por

atualmente esta espécie estar restrita a poucos locais mais ao Sul do Brasil, mas estudos têm

mostrado que sua distribuição anterior aos grandes ciclos de exploração era bastante ampla.

Mesmo sendo uma espécie típica da Floresta Ombrófila Mista, o pinheiro-do-paraná ocorre

em áreas de Floresta Estacional Semidecidual e Floresta Ombrófila Densa, bem como em

refúgios da Serra do Mar e da Serra da Mantiqueira, tendo sido, inclusive, encontrados fósseis

no nordeste brasileiro (IBGE, 1992).

O mesmo ocorreu para a espécie Rubus rosifolius, nativa do sudeste brasileiro e de

ocorrência natural na Mata Atlântica. De acordo com Lorenzi e colaboradores (2006), sua

distribuição vai de Minas Gerais e Rio de Janeiro até o Rio Grande do sul. Já a espécie do

gênero Calliandra (identificada na literatura apenas em nível de gênero) encontrada em

campo foi identificada como Calliandra brevipes, que é originária do sudeste do Brasil,

Uruguai e nordeste da Argentina (LORENZI E SOUZA, 2001), portanto, nativa.

Com relação ao beijinho, na literatura havia sido identificada a espécie Impatiens

balsamina. Entretanto, em campo a espécie encontrada foi identificada como Impatiens

walleriana e não foram encontrados indivíduos da espécie I. balsamina.

A maior parte das espécies exóticas encontradas (51%) são tradicionalmente utilizadas

com fins paisagísticos (Figura 3). É provável que estas espécies tenham sido introduzidas no

Parque em algum momento do passado como ornamentais, já que são amplamente cultivadas

ao redor do mundo com este fim (LORENZI e SOUZA, 2001). O histórico do PARNASO

(ver item Área de Estudo) confirma esta suposição, já que no projeto paisagístico do Parque,

espécies exóticas foram largamente utilizadas na composição dos jardins. Outras espécies

exóticas encontradas, notadamente as arbóreas, são frutíferas (30%). Estas introduções são

explicadas por se acreditar, no passado, que o plantio de árvores frutíferas traria benefícios

para a fauna do Parque, atraindo animais.

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Figura 3 – Usos das espécies vegetais exóticas encontradas no Parque Nacional da

Serra dos Órgãos, RJ

Das espécies exóticas diagnosticadas no Parque, Hedychium coronarium (lírio-do-

brejo) e Impatiens walleriana (beijinho) são as que ocorrem em maior freqüência nas áreas de

estudo. Das 30 parcelas alocadas ao longo da estrada da Barragem, o beijinho foi encontrado

em 1/3 das parcelas e o lírio-do-brejo em 1/6, todas localizadas na borda da mata. As demais

espécies não foram encontradas no interior de nenhuma parcela alocada, tendo sido avistadas

apenas durante o caminhamento pela Estrada da Barragem. Estas apresentaram populações

compostas por poucos indivíduos isolados e não foram encontrados vestígios de recrutamento.

É notório que o beijinho e o lírio-do-brejo são espécies exóticas invasoras e causam

problemas à biodiversidade local em vista de suas elevadas freqüências.

3.2. Estrutura da vegetação

3.2.1. Estrato arbóreo

Não foi encontrado dentro das parcelas nenhum indivíduo exótico pertencente ao

estrato arbustivo-arbóreo, o que confirma que as populações destas espécies exóticas estão em

baixas densidades nas áreas estudadas do PARNASO.

A estrutura da vegetação arbustivo-arbórea das áreas amostradas apresenta, portanto,

freqüência relativa de 100% para as espécies nativas e 0% para as exóticas. Os demais

parâmetros fitossociológicos mensurados mostraram também valores percentuais máximos

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para as espécies nativas (densidade relativa e vigor relativo). O índice de valor de importância

(IVI) para a comunidade foi de 300 para as espécies nativas e de 0 (zero) para as exóticas.

Através destas análises fica claro que as espécies arbóreas e arbustivas encontradas pela

metodologia de caminhamento não significam ameaça à flora nativa, pois não estão causando

modificações na estrutura da comunidade.

3.2.2. Estrato herbáceo

No estrato herbáceo, as únicas espécies exóticas amostradas nas parcelas de estudo

foram Impatiens walleriana e Hedychium coronarium. Estes dados confirmam, portanto, as

inferências acerca dos resultados obtidos na fase de identificação das espécies exóticas

ocorrentes no Parque Nacional da Serra dos Órgãos. Excetuando-se estas duas espécies

herbáceas, as demais espécies exóticas que tiveram sua ocorrência registrada para a Serra dos

Órgãos ocorrem em populações tão pequenas que a metodologia de amostragem utilizada para

o estudo da estrutura da comunidade vegetal não foi capaz de detectá-las.

A estrutura da comunidade vegetal herbácea adjacente à estrada mostrou que na classe

de distância mais externa da floresta (0-10 m de distância da estrada) as espécies exóticas

apresentaram uma freqüência relativa (FR) de 52% contra 48% de todas as espécies nativas.

Em termos de densidade relativa, as espécies exóticas apresentam um valor significativamente

superior (84%) quando contraposto às espécies nativas (16%), o que mostra que no estrato

herbáceo as espécies exóticas dominam o ambiente. O índice de valor de cobertura mostra

também que as espécies exóticas (IVC = 58) cobrem uma área maior que as nativas (IVC =

41,5). As espécies exóticas também apresentaram um valor de importância superior (195,2) ao

das espécies nativas (104,8). Estes dados mostram que, nesta faixa de vegetação, as espécies

exóticas conseguiram se estabelecer na área e obtiveram sucesso na colonização do ambiente,

se dispersando, ocupando o espaço das espécies nativas e substituindo estas na paisagem.

Estas espécies, nas áreas em que ocorrem, estão levando vantagens competitivas sobre as

nativas e exercendo dominância sobre estas no ambiente, o que explica as densidades bem

superiores apresentadas por estas. Isto fica mais evidente quando se considera que os valores

apresentados pelas espécies exóticas são referentes a apenas duas espécies (Impatiens

walleriana e Hedychium coronarium).

As análises de estrutura da vegetação nas áreas amostradas do estrato herbáceo

mostraram que nas faixas de vegetação mais internas da floresta (20-30 m e 40-50 m a partir

da borda formada pela estrada) não há a ocorrência de espécies exóticas. Nestas classes de

distância as espécies nativas apresentaram valores de freqüência relativa (FR), densidade

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relativa (DR) e vigor relativo (VR) iguais a 100% e um valor de importância na comunidade

(IVI) igual a 300 (limite superior do índice), já que espécies exóticas não contribuíram na

composição da comunidade. As áreas mais internas das florestas, de modo geral, sofrem

menor influência dos efeitos de borda e menor pressão antrópica, sendo, por estas razões

menos sujeita a invasões. A própria vegetação funciona como uma barreira à dispersão das

espécies exóticas para o interior, tamponando o sistema de modo a torná-lo mais resistente a

impactos.

Os valores do Índice de Dispersão de Morisita encontrados para as populações de

Hedychium coronarium e Impatiens walleriana foram 1,74 (F = 17,835; p < 0,05) e 4,29 (F =

99,289; p < 0,05), respectivamente. Estes valores indicam um padrão de distribuição agregado

para as populações das duas espécies (Id > 1). Janzen (1976 apud ANTONINI e NUNES-

FREITAS, 2004), afirma que o padrão de distribuição agregado está relacionado à espécies

vegetais de dispersão zoocórica ou autocórica, à quantidade de sementes produzidas e à

duração do período de frutificação. O lírio-do-brejo apresenta síndrome de dispersão do tipo

zoocoria e o beijinho se dispersa por autocoria (ver Anexo 2), o que justifica o padrão de

dispersão encontrado para as espécies.

Entretanto, nestas espécies a reprodução assexuada (ou clonal) é mais importante que

a por sementes. Begon e colaboradores (2006), explicam que quando a presença de um

indivíduo atrai ou dá origem a outro perto deste a distribuição desta espécie também se dá por

agregados. Hedychium coronarium e Impatiens walleriana também se enquadram neste caso,

em função da realização de dispersão por clones. Estas duas espécies apresentam crescimento

clonal em forma de falanges, nome dado em analogia às falanges – unidades de infantaria –

do exército romano, fortemente protegidos por seus escudos presos em volta da formação.

Nesta estratégia de dispersão as distâncias entre os clones são curtas as matrizes são

protegidas por estes. As espécies, então, expandem seus clones devagar, mantendo a área

ocupada originalmente por longos períodos e penetrando facilmente por entre as plantas

vizinhas. Com isso, a capacidade competitiva desta espécie é aumentada e ela consegue

facilmente se estabelecer e se expandir pelo ambiente, excluindo as demais espécies que ali

ocorriam originalmente (LOPEZ et al., 1994; LOVETT DOUST e LOVETT DOUST, 1982).

Ainda de acordo com Begon e colaboradores (2006), a dispersão agregada ocorre

também quando os indivíduos têm maiores chances de sobreviver em (ou tendem a ser

atraídos para) determinadas partes do ambiente. Os fatores relacionados ao microclima podem

explicar este padrão, pois são formadas áreas em que as condições para o desenvolvimento

destas espécies são propícias.

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3.3. Distribuição das espécies exóticas no ambiente e os fatores que a influenciam

Foram detectadas significativas diferenças (P < 0,05) nos índices ecológicos

analisados entre as classes de distância das parcelas de estudo em relação à estrada. 100% dos

indivíduos exóticos amostrados se concentraram na borda da mata, na faixa que vai de 0 a

10m na direção estrada – interior da floresta. Ribeiro (2006) encontrou o mesmo padrão de

distribuição para a espécie Dracaena fragrans no Parque Nacional da Tijuca. Esta espécie

está amplamente distribuída nas margens das estradas principais da unidade de conservação,

mas a medida que se afasta das bordas em direção ao interior da floresta nota-se um declínio

na densidade populacional da espécie. Declínios na presença de espécies exóticas em função

do distanciamento das estradas ou bordas foram observados também no Parque Nacional

Glacier (Montana - EUA), na Califórnia, no Deserto de Mojave e no Parque Nacional de

Canyonlands (GELBARD e BELNAP, 2003).

Gelbard e Belnap (2003), em seu estudo, observaram que áreas distantes de estradas

apresentam menos espécies exóticas do que próximas a estradas, bem como a riqueza de

espécies exóticas tende a aumentar e a riqueza das nativas tende a diminuir em áreas próximas

a estradas melhor pavimentadas quando comparadas a estradas mais rústicas. Neste estudo os

autores encontraram também correlações entre a riqueza de espécies exóticas e a largura da

estrada adjacente. Estudando a Trilha do Poço Preto no Parque Nacional da Iguaçu, Rodolfo e

colaboradores (2007) detectaram também que a maioria das espécies exóticas registradas se

concentra em suas margens ou a poucos metros no interior da mata.

Blum e colaboradores (2005) constataram que a grande maioria dos indivíduos das

espécies exóticas encontradas na APA de Guaratuba, Paraná, ocorre na faixa de vegetação

mais próxima das margens da Represa do Vossoroca. As bordas florestais atuam como

facilitadoras da chegada de propágulos e do desenvolvimento de espécies oportunistas e de

rápido crescimento, como as espécies exóticas. Estas espécies se aproveitam das alterações no

ambiente em decorrência das ações humanas para invadirem estes locais. Normalmente as

espécies exóticas apresentam outra característica que as ajuda na colonização de ambientes de

borda: são pouco exigentes quanto às condições ambientais.

No caso específico de trilhas e estradas abertas em meio à mata nativa em unidades de

conservação, estas podem funcionar como porta de entrada para espécies exóticas através dos

seus visitantes e funcionários. Os veículos e pedestres que transitam por estas estradas podem

disseminar sementes que trazem consigo acidentalmente e, caso estas encontrem condições

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ambientais favoráveis, podem germinar e se estabelecer no ambiente culminando em novas

invasões.

Foram investigadas possíveis razões que explicassem a preferência das espécies

Hedychium coronarium e Impatiens walleriana em ocorrer nas bordas florestais. Aspectos

como temperatura, umidade relativa do ar e, de forma indireta, a incidência luminosa na área

(através da taxa de cobertura do dossel) poderiam ser responsáveis por restringir a área de

ocupação das espécies em estudo.

Em relação à variável temperatura não foram notadas diferenças significativas (P >

0,05) para o mês de setembro nas medições realizadas (Figura 4). Já para o mês de outubro

(Figura 5), as temperaturas no interior da floresta e nas áreas de borda mensuradas se

mostraram diferentes (P < 0,05), sendo as duas faixas mais internas (20 -30 m e 40-50 m)

mais frias que a faixa mais externa (0-10 m). No entanto, entre aquelas não foram sentidas

diferenças, como pode ser visto na tabela 1.

Figura 4 – Temperaturas médias nas classes de distância da vegetação em relação à estrada

no mês de setembro de 2008

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Figura 5 – Temperaturas médias nas classes de distância da vegetação em relação à estrada

no mês de outubro de 2008

Tabela 1 – Temperaturas médias nas classes de distância borda-interior de vegetação no mês

de outubro de 2008

Classes de distância (m) Temperatura (°C) 0-10 21,3 ± 0,80a

20-30 20,1 ± 0,77b

40-50 19,4 ± 0,94b

Médias seguidas de letras iguais não diferem entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade.

As medições de umidade relativa do ar apresentaram o mesmo padrão da temperatura,

ou seja, não foram exibidas diferenças significativas (P > 0,05) entre os dados coletados em

setembro (Figura 6), mas em outubro (Figura 7) os valores encontrados diferiram

significativamente entre si (P < 0,05). Quando comparadas as médias de umidade relativa do

mês de outubro nas áreas de estudo, a média dos valores encontrados nas parcelas localizadas

entre 20 e 30 e entre 40 e 50 m não diferem entre si, mas são significativamente maiores do

que a média dos valores mensurados nas parcelas de 0 a 10 m da borda da floresta (Tabela 2).

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Figura 6 – Umidade Relativa (UR) nas classes de distância da vegetação em relação à estrada

no mês de setembro de 2008

Figura 7 – Umidade Relativa (UR) nas classes de distância da vegetação em relação à estrada

no mês de outubro de 2008

Tabela 2 – Valores médios de Umidade Relativa (UR) nas classes de distância borda-interior

de vegetação no mês de outubro de 2008

Classes de distância (m) UR (%) 0-10 77,1 ± 3,35a

20-30 81,1 ± 2,31b

40-50 83,8 ± 3,12b

Médias seguidas de letras iguais não diferem entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade.

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Foram detectadas diferenças significativas (P < 0,05) nas taxas de cobertura do dossel

entre as diferentes classes de distância da estrada nas áreas amostradas (Tabela 3). As áreas

localizadas entre 40 e 50 m de distância da estrada são mais sombreadas que aquelas entre 0 e

10 m de distância (Figura 8). No entanto, as parcelas localizadas entre 20 e 30 m de distância

da borda não foram significativamente diferentes em termos de sombreamento quando

comparadas às parcelas mais externas nem tampouco se comparadas às parcelas mais internas.

Estas análises demonstram que é formado um gradiente, em que o sombreamento aumenta à

medida que se caminha em direção ao interior da mata.

Tabela 3 – Taxas de sombreamento nas classes de distância borda-interior de vegetação

analisadas

Classes de distância (m) Sombreamento (%) 0-10 71,6 ± 6,18a

20-30 75,4 ± 5,16ab

40-50 79,2 ± 3,12b

Médias seguidas de letras iguais não diferem entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade.

Figura 8 – Taxas de sombreamento nas diferentes classes de distância da vegetação em

relação à estrada.

Existe forte correlação linear negativa (r = -0,869) entre a presença de espécies

exóticas e a taxa de sombreamento da área. Ou seja, existe uma tendência de aumento na

presença das espécies exóticas à medida que o sombreamento diminui. Esta correlação

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confirma a observação feita de que as espécies exóticas encontradas no estudo de estrutura da

vegetação - beijinho e lírio-do-brejo – ocorrerem apenas nas parcelas com menor grau de

sombreamento. Schumacher e Poggiani (1993), explicam que o microclima de uma floresta

caracteriza-se, primeiramente, pela modificação sofrida na luz que penetra através da

cobertura das árvores. Nas florestas tropicais a iluminação sob o dossel pode descer ao

intervalo de 0,1 a 1% da iluminação de um terreno descoberto. A ação das copas das árvores

na absorção seletiva da luz resulta na formação de um microclima diferenciado sob a floresta,

que não se mostrou favorável ao estabelecimento das espécies exóticas ou, nestas áreas, as

espécies nativas se mostram mais competitivas.

Em relação à temperatura e umidade relativa do ar, os dados obtidos mostram que

existe uma tendência das áreas mais internas da floresta apresentarem maior umidade relativa

e menor temperatura. Entretanto, seria ideal que a coleta de dados tivesse sido realizada

durante o período de um ano, a fim de ser verificada a influência da sazonalidade nas

diferenças entre as diferentes faixas de vegetação para as variáveis mensuradas. A

insuficiência de medições pode acarretar em análises errôneas, mas, de modo geral, existe um

consenso de que o microclima nas bordas florestais apresenta maior temperatura, menor

umidade relativa, maior incidência luminosa (ou menor grau de sombreamento) e maior

exposição a ventos (BALDISSERA e GANADE, 2005; FERNANDEZ, 2004; LAURANCE e

BIERREGAARD Jr, 1997; PRIMACK e RODRIGUES, 2002). Admite-se, portanto, uma

queda significativa na temperatura e aumento na umidade relativa do ar à medida que se

percorre o gradiente borda-interior de floresta, como mostraram os dados coletados em

outubro de 2008. As variáveis temperatura e umidade relativa também estão correlacionadas

com a presença das espécies exóticas na área de estudo. Existe correlação direta entre

temperatura e a presença de espécies exóticas (r = 0,925) e a umidade relativa está

inversamente correlacionada à presença das exóticas (r = -0,914). Isto quer dizer que a

ocupação das áreas estudadas pelas espécies exóticas aumenta à medida que a temperatura

aumenta e a umidade relativa cai.

Pela análise de Regressão Linear Múltipla, a relação entre a densidade de espécies

exóticas encontradas nos sítios de estudo e as variáveis microclimáticas (temperatura,

umidade relativa do ar e taxa de sombreamento) pode ser explicada pela equação y = -

6706,840392 + 290,610*x1+ 52,110*x2 - 43,012*x3, onde y é a densidade de espécies exóticas

na área, x1 é a variação na temperatura, x2 é a variação na umidade relativa do ar e x3

representa a taxa de cobertura do dossel. Os valores calculados durante a regressão para o

teste t de Student mostraram que todos os coeficientes são significativos. O valor obtido para

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o coeficiente de determinação R2 (0,868) foi relativamente alto, o que indica um poder de

explicação da equação de regressão de 86,8%. A tabela ANOVA permite inferir sobre a

qualidade geral da regressão. Analisando o teste F e o valor de p (0,191) percebe-se que a

equação de regressão se mostra significante, ou seja, a regressão tem boa qualidade.

Pela equação de regressão múltipla, que leva em consideração os efeitos da

codependência entre as variáveis incluídas na análise, pode-se dizer que as densidades

populacionais do beijinho e do lírio-do-brejo aumentam com o aumento na temperatura do ar,

permanecendo os outros fatores constantes. Ocorre também um aumento na densidade das

espécies exóticas se a umidade relativa for aumentada, mantendo-se constante todas as demais

variáveis. Pode-se perceber, para esta variável, que a regressão linear múltipla contradiz o

resultado da correlação simples, o que pode ser explicado em função da análise de correlação

não levar em consideração o efeito das outras variáveis independentes (indicadores

ambientais) sobre a variável dependente (densidade de espécies exóticas). É interessante

mencionar ainda que a correlação mede a força de relacionamento entre duas variáveis,

enquanto a regressão dá a equação que descreve como se dá esse relacionamento em termos

matemáticos. Ainda analisando a equação de regressão obtida, pode-se dizer que o grau de

sombreamento tem o efeito de diminuir a densidade de espécies exóticas, os outros fatores

permanecendo iguais.

Pode-se dizer então que I. walleriana e H. coronarium possuem características

biológicas que permitem que estas ocorram e/ou tenham maior facilidade em colonizar áreas

mais quentes e com menor grau de sombreamento. Como já foi dito, uma das características

das espécies exóticas invasoras é a baixa exigência em condições ambientais específicas. Por

esta razão, elas conseguem colonizar áreas que as espécies nativas mais exigentes têm

dificuldade em se estabelecer e conseguem excluí-las por competição. No interior da mata

outras espécies estão em condições ótimas para sua sobrevivência, tendo maiores chances

competitivas contra espécies invasoras. Com relação à umidade relativa do ar, a equação de

regressão diz que a um aumento nesta variável corresponde um aumento na ocorrência de

exóticas. Esta análise se torna mais evidente quando confrontada com as observações de

campo, em que foi notado que estas espécies ocorrem com maior freqüência em áreas

próximas à cursos d’água, ou seja, com maior grau de umidade.

Outras variáveis não contempladas neste trabalho podem também exercer influência

sobre a distribuição das espécies exóticas nas áreas de estudo. A umidade do solo pode ser

importante para I. walleriana e H. coronarium, visto que estas espécies acumulam grandes

quantidades de água (ver capítulo 2). H. coronarium, particularmente, ocorre próxima à

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coleções d’água e é considerada por alguns autores uma macrófita aquática (Anexo 2). O tipo

e fertilidade do solo e a topografia da área também podem ser responsáveis pela ocorrência

das espécies em alguns locais e ausência em outros.

3.4. Espécies exóticas invasoras que causam problemas ao ecossistema nativo

Como dito anteriormente, a fração exóticas foi representada nas parcelas de estrutura

da comunidade vegetal por apenas duas espécies: beijinho e lírio-do-brejo. Estas espécies

foram introduzidas com fins ornamentais e se dispersaram alcançando outras áreas

(CRONEMBERGER e VIVEIROS DE CASTRO, 2007). A dominância destas espécies sobre

as nativas mostra que as características biológicas destas espécies (Anexo 2) permitiram que

elas se adaptassem muito facilmente ao novo ambiente e proporcionaram vantagens

competitivas a estas em relação às espécies nativas nas condições encontradas nas áreas em

que ocorrem. Outras vantagens encontradas por estas espécies foram a ausência de predadores

e parasitas, por exemplo, já que não é comum a observação de vestígios de herbivoria ou

doenças nestas espécies em campo.

Como resultado, as espécies se alastraram pela área de uso intensivo do Parque.

Contudo, elas estão limitadas às bordas florestais. Foi observado, de forma rara e fora das

parcelas de estudo, que em situações de interior de floresta o beijinho estava presente

iniciando a colonização em algumas clareiras e o lírio-do-brejo começa a penetrar na mata

acompanhando os córregos na sua dispersão. O lírio-do-brejo, particularmente, ocorre

preferencialmente nas proximidades dos cursos d’água. A estratégia de dispersão em

agregados apresentada por estas espécies permite que elas formem densos blocos e chegam a

excluir localmente as espécies nativas (Figuras 9 e 10). De acordo com Williamson (1996),

um dos efeitos ecológicos conhecidos provocados por populações de espécies exóticas é o

crescimento em densas concentrações, excluindo outras espécies. Com base na alta freqüência

destas espécies e na dominância destas sobre as nativas, pode-se dizer que elas acabam por

ocupar nichos das espécies nativas, causando um desequilíbrio ecológico local.

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Figura 9 – Área no PARNASO com ocorrência da espécie Impatiens walleriana (beijinho).

Foto: Michelle Ribeiro

Figura 10 – Área no PARNASO com ocorrência da espécie Hedychium coronarium (lírio-do-

brejo). Foto: Michelle Ribeiro

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É interessante mencionar que, segundo informações do Instituto Hórus (2008), as duas

espécies são consideradas invasoras em diversos outros locais no Brasil e no mundo. No

banco de dados on-line do Instituto há registros da espécie H. coronarium invadindo áreas nos

estados do Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro (na Reserva Biológica

da União e na Reserva Biológica de Poço das Antas), Rio Grande do Sul, Santa Catarina e

São Paulo. Invade também áreas úmidas e sub-bosques da Floresta Atlântica comumente

colonizando as zonas litorâneas, tendo sido encontrada na Estação Ecológica do Tripuí, Ouro

Preto, MG (SANTOS et al, 2005b). A espécie também é considerada invasora no Havaí

(TUNISON, 1991) e na Flórida (GILMAN, 1999). De acordo com o GISP (2009), a espécie

ocorre ainda na Polinésia Francesa, Ilha de Guadalupe (Caribe), Ilha de Martinica (Caribe),

Nova Caledônia, na Ilha da Reunião, nas Ilhas Samoa, em Galápagos, na Micronésia, Ilhas

Fiji, Guam, Japão, Austrália e nas Ilhas Maurício.

Já para a espécie I. walleriana os locais de invasão registrados são várias áreas

protegidas em Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina

e São Paulo. De acordo com Lorenzi e Souza (2001) o beijinho é encontrado também em

locais abertos por toda a Serra do Mar. Segundo o GISD (2009), I. walleriana ocorre também

na Polinésia Francesa, Guadalupe, Martinica, Nova Caledônia e na Ilha da Reunião, sendo

comum em países quentes.

Por serem as espécies H. coronarium e I. walleriana as que ocorrem em densidades

populacionais maiores, causando problemas à biodiversidade do Parque Nacional da Serra dos

Órgãos, foram testadas técnicas para controle e gestão das populações destas espécies.

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CAPÍTULO II

GESTÃO E MANEJO DE ESPÉCIES EXÓTICAS NO PARQUE

NACIONAL DA SERRA DOS ÓRGÃOS

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1. Introdução Invasões biológicas são consideradas atualmente uma grande ameaça à biodiversidade

e causam sérios problemas em Unidades de Conservação (CRONK e FULLER, 1995;

MARTINS et al., 2004; WILLIAMSON, 1996). Para o Parque Nacional da Serra dos Órgãos,

foram registradas 34 espécies vegetais exóticas, sendo as espécies Impatiens walleriana e

Hedychium coronarium aquelas que causam os maiores problemas ao Parque. Estas espécies

podem ser consideradas invasoras nas áreas em que ocorrem, pois causam danos às espécies

nativas em virtude de sua ampla distribuição e elevada abundância.

É interessante o registro encontrado da espécie H. coronarium na Flora Brasiliensis

(VON MARTIUS e EICHLER, 1844), indicando que sua introdução no Brasil seja anterior ao

ano de 1844, data de publicação da obra. Para I. walleriana ainda não foram encontrados

indícios da data de sua introdução. Contudo, sabe-se que o fator responsável pela introdução

destas duas espécies no Brasil foi a forte influência européia na tradição paisagística

brasileira. As principais influências sofridas pelo Brasil – francesa e inglesa – ditaram o

repertório de elementos utilizados na composição dos projetos paisagísticos (SANTOS et al.,

2005a). Com isto, era maciça a utilização de espécies exóticas nos jardins e espaços públicos

brasileiros, tendo sido desta forma introduzidas as espécies alvo deste estudo.

No PARNASO foram observados trechos em que ocorre monodominância por estas

espécies, que parecem estar se expandindo gradativamente, colonizando novas áreas.

Algumas clareiras abertas no meio da mata apresentam indivíduos de I. walleriana e a espécie

H. coronarium parece estar acompanhando o leito do rio e colonizando áreas mais internas.

Portanto, sugere-se que o comportamento destas espécies nas áreas estudadas é invasor,

podendo causar a exclusão competitiva de espécies da flora nativa e afetando indireta e

negativamente animais nativos, já que comprometeria a disponibilidade de recursos.

Desta forma, intervenções para a retirada destas espécies dos habitats invadidos estão

se tornando ferramentas essenciais para a manutenção da biodiversidade local (WILCOVE e

CHEN, 1998). No entanto, as ações de gestão de espécies exóticas invasoras devem ser

baseadas em estudos e experimentos prévios para determinar o método mais eficiente para o

controle das populações invasoras. Desta forma pode-se escolher o método mais eficiente,

obtendo sucesso nas intervenções de manejo e causando o mínimo impacto sobre a biota

nativa.

Para atender a este requisito, neste capítulo procurou-se conduzir experimentos de

campo para o manejo das espécies Impatiens walleriana e Hedychium coronarium, a fim de

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levantar informações sobre seu controle na área de estudo. Ao final dos experimentos e com

base nos resultados obtidos, são propostas ações de manejo das áreas com as espécies

invasoras estudadas. São também discutidas as medidas a serem adotadas em relação às

demais espécies exóticas encontradas nas áreas estudadas do Parque Nacional da Serra dos

Órgãos.

2. Metodologia

A partir do levantamento populacional das espécies vegetais exóticas e com base nos

dados obtidos, foi instalado um experimento in-situ para testar o adequado controle das

espécies com as maiores densidades populacionais. Com o objetivo de determinar o método

mais adequado para a realização do controle das espécies invasoras Impatiens walleriana

(beijinho) e Hedychium coronarium (lírio-do-brejo), os experimentos seguiram a metodologia

abaixo descrita.

Diferentes métodos foram aplicados para cada espécie em separado e testados em

áreas com diferentes graus de infestação das espécies invasoras. O critério adotado dividiu as

áreas em que as espécies ocorriam em três classes: alta, média e baixa infestação. Foi

convencionado que as áreas com alta infestação de espécies invasoras são aquelas em que a

espécie ocorre em uma parcela maior ou igual a 67% da unidade amostral. Locais com médio

grau de infestação têm entre 34 e 66% da área coberta pelas espécies alvo e áreas com baixa

infestação possuem menos de 33% de ocorrência das espécies alvo deste estudo.

Para a diferenciação destas áreas foi determinada a porcentagem de cobertura das

espécies. Foram tiradas fotos das áreas que comporiam as parcelas de estudo. Com o auxílio

de um editor de imagens (Photoshop versão CS2), as parcelas foram divididas em 100 partes

iguais, sendo computado o número de quadrantes em que a espécie alvo ocorria, que

corresponde ao percentual da área que a espécie ocupa.

Com o objetivo de determinar o comportamento das espécies frente às técnicas de

manejo em situações extremas, os tratamentos foram testados em áreas classificadas com alta

e baixa infestação das espécies em estudo. As áreas de estudo novamente foram escolhidas às

margens da Estrada da Barragem, um trecho da zona de uso intensivo do Parque, na sede

Teresópolis (Figura 1). Não foram utilizadas as mesmas parcelas do Capítulo 1 em que as

espécies foram encontradas por estas não satisfazerem as condições de cobertura

estabelecidas. Foi feita então uma nova varredura nas margens da estrada para localizar áreas

com elevada (Figuras 2 e 3) e baixa freqüência (Figuras 2 e 3) das espécies alvo.

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Figura 2 – Áreas infestadas pela espécie Impatiens walleriana. (a) área com alta infestação (≥

67%) e (b) área com baixa infestação (≤ 33%). Fotos: Michelle Ribeiro

Figura 3 – Áreas infestadas pela espécie Hedychium coronarium. (a) área com alta infestação

(≥ 67%) e (b) área com baixa infestação (≤ 33%). Fotos: Michelle Ribeiro

Foram testados os efeitos de dois métodos de controle mecânico sobre a espécie

Hedychium coronarium: corte-raso e arranquio das plantas. Para Impatiens walleriana foi

testado apenas o arranquio. Além das parcelas testemunhas, em que não foram aplicados

quaisquer tratamentos. É interessante salientar que para I. walleriana não foi testado o corte

raso em virtude da textura da espécie. Como a espécie é bastante tenra, proceder o arranquio

se torna uma tarefa fácil e o corte raso, por sua vez, se torna dispensável. O corte raso é

recomendado para espécies difíceis de serem removidas com raiz, seja pelo porte da espécie

ou seu tipo radicular, seja por características do solo ou a distribuição das nativas na área

agirem como impedimento.

Nas áreas selecionadas para a implantação do experimento foram alocadas as parcelas

de estudo de modo aleatório. O arranjo experimental seguiu o delineamento de blocos ao

a b

a b

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acaso com três repetições para cada tratamento. Cada parcela foi constituída por dois metros

de largura por cinco metros de comprimento, perfazendo uma área útil de 10 m2.

Cinco quadrados de 0,5 x 0,5 m (0,25 m2) foram lançados aleatoriamente em cada

parcela experimental e, na área delimitada por cada quadrado, foi computado o número de

ramets das espécies estudadas encontrados. Para efeitos práticos, foram contabilizados

ramets13 das espécies estudadas no lugar de indivíduos (genets), já que como as espécies se

reproduzem vegetativamente é extremamente difícil a separação dos genets. Desta forma

também os resultados reproduzem a ocupação espacial das espécies nas áreas infestadas.

A produção de biomassa foi determinada apenas nas parcelas em que foram aplicados

os diferentes métodos de controle mecânico das espécies. Para tanto, recolheu-se todo o

material presente em cada quadrado de 0,25 m2 nas parcelas. Após a determinação da massa

total fresca por parcela, as amostras foram secas em estufa de ventilação forçada a 60°C por

72 horas, para posterior pesagem da matéria seca total.

O intervalo de tempo para avaliação da eficiência dos tratamentos testados foi

estabelecido em função do ciclo das espécies. Impatiens walleriana floresce após 8 a 10

semanas do plantio e Hedychium coronarium floresce num período de 4 a 6 meses depois da

germinação. Desta forma, as coletas de informações foram realizadas aos 20, 40 e 60 dias

após a aplicação dos tratamentos para a espécie Impatiens walleriana e aos 20, 40, 60, 80, 100

e 120 dias após tratamentos para a espécie Hedychium coronarium. Da mesma forma um

quadrado de 0,5 m de lado foi locado aleatoriamente cinco vezes em cada parcela

experimental a cada ocasião. Nestes quadrados foi contabilizado o número de indivíduos

encontrados. Na última avaliação para cada espécie foi determinada a biomassa que regressou

ao sistema seguindo a metodologia indicada anteriormente.

Diferenças entre os métodos de manejo foram testadas através da aplicação da análise

de variância seguida do teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade para as densidades

populacionais das espécies na última avaliação após aplicação dos tratamentos. Do mesmo

modo foi testada a existência de diferenças significativas entre a aplicação dos métodos de

manejo em áreas com baixas e altas taxas de infestação pelas espécies exóticas.

13 Um genet (também chamado de colônia clonal) é um grupo de indivíduos geneticamente idênticos, originados por reprodução vegetativa a partir de um ancestral comum. Em plantas, refere-se como ramet a cada “indivíduo” em uma população como esta. Embora muitas espécies vegetais se reproduzam sexuadamente através da produção de sementes, outras se reproduzem por estolões ou rizomas subterrâneos e formam colônias clonais. Acima do solo estas plantas parecem ser indivíduos distintos, mas permanecem interconectados e são todos clones. Não é sempre simples reconhecer uma colônia clonal, especialmente se ela se espalha subterraneamente e também ocorre reprodução sexuada.

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3. Resultados e discussão 3.1. Impatiens walleriana Os resultados obtidos mostram que após a aplicação do controle mecânico por

arranquio, as médias das densidades populacionais da espécie I. walleriana, após 60 dias,

continuam abaixo daquelas inicialmente encontradas nas áreas de estudo (Figuras 4 e 5).

47,2 47,2 4850,67

60,2758,67

0 0 0,53 0,800

10

20

30

40

50

60

70

Início Intervenção 20 dias 40 dias 60 dias

Den

sida

de Pop

ulaciona

l (ram

ets/m2)

Tempo

Controle Arranquio

Figura 4 – Resposta de I. walleriana ao manejo por arranquio em áreas com baixas

densidades populacionais, no Parque Nacional da Serra dos Órgãos, RJ.

186,40186,40 191,20 194,13

208,53204,53

0 0 2,13 3,20

50

100

150

200

250

Início Intervenção 20 dias 40 dias 60 dias

Den

sida

de Pop

ulaciona

l (ram

ets/m2)

Tempo

Controle Arranquio

Figura 5 – Resposta de I. walleriana ao manejo por arranquio em áreas com altas densidades

populacionais, no Parque Nacional da Serra dos Órgãos, RJ.

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Os resultados indicaram que em áreas com baixas densidades populacionais quanto em

áreas com altas densidades o método de arranquio mostra-se eficaz para o controle de I.

walleriana. Na área em que a espécie foi encontrada em menores densidades, inicialmente foi

observada uma média de 58,7 ramets/m2 e, 60 dias após o arranquio das plantas, apenas 0,8

ramets/m2 foram encontrados. Já nas parcelas alocadas nos locais onde havia altas densidades

populacionais da espécie, antes da aplicação do método de controle havia 204,5 ramets/m2 e

na última avaliação após sua aplicação foram encontrados 3,2 ramets/m2. Nos gráficos

apresentados pode-se perceber também, por meio das densidades populacionais encontradas

nas parcelas controle, que a população de I. walleriana mostra uma tendência à ascensão.

Entretanto, este aumento populacional pode também ser atribuído à uma característica

intrínseca da espécie ou uma resposta às variações climáticas locais. A continuidade dos

estudos poderá confirmar estas suposições, pois o conhecimento biológico e ecológico que se

tem atualmente sobre a espécie é muito restrito. Conntudo, o aumento populacional

observado, associado às altas densidades populacionais, corrobora a inferência de esta espécie

possuir caráter invasor e deslocar as espécies da flora nativa nas áreas em que ocorre e

dominar o ambiente. Desta forma, pode-se afirmar ser recomendável o uso de métodos de

controle para a população desta espécie no PARNASO.

Foram observadas significativas diferenças (P < 0,05) entre as densidades

populacionais da espécie I. walleriana encontradas nas parcelas de estudo 60 dias após a

aplicação dos tratamentos (Tabela 1). Estes resultados mostram a eficiência do arranquio no

controle populacional desta espécie, já que ao final do experimento ela continua com

densidades bastante inferiores às encontradas inicialmente.

Tabela 1 – Comportamento quantitativo da população de I. walleriana após 60 dias da

aplicação dos métodos de controle.

Método de controle

Situação

Baixa densidade Alta densidade

Densidade Populacional (ramets/m2)

Controle 60,27 ± 26,56a 208,53 ± 39,07a

Arranquio 0,80 ± 0,80b 3,20 ± 0,80b

Médias seguidas de letras iguais na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5% de

probabilidade.

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A partir das densidades populacionais encontradas, foram calculadas as taxas de

regeneração da espécie que, 60 dias após a aplicação do tratamento, mostram um retorno de

apenas 1,36% e 1,56%, respectivamente, em baixa e alta densidade populacional (Figuras 6 e

7).

Figura 6 – Taxas de regeneração da espécie I. walleriana aos 60 dias após intervenção de

manejo, em situação de baixa densidade populacional.

Figura 7 – Taxas de regeneração da espécie I. walleriana aos 60 dias após intervenção de

manejo, em situação de alta densidade populacional.

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Pelas figuras acima pode ser observado que o crescimento populacional da espécie

durante o experimento nas áreas manejadas foi menor do que nas áreas que não sofreram

intervenção. Em áreas com baixas densidades populacionais de I. walleriana, aos 60 dias, foi

observado um aumento na ocupação do espaço pela espécie da ordem de 27,68% nas parcelas

que não sofreram intervenção e 1,36% nas áreas manejadas. Já nas áreas com altas densidades

populacionais da espécie, as taxas de aumento foram de 11,87% nas parcelas controle e de

1,56% nas parcelas que sofreram o arranquio. Estas menores taxas de crescimento e a redução

na densidade de I. walleriana nas parcelas de arranquio evidenciam a eficiência de controle

do método empregado, comprovando a viabilidade de sua utilização sobre a espécie estudada.

Entretanto não foram observadas diferenças significativas (P>0,05) na eficiência do

tratamento quando este é aplicado em áreas com baixa ou alta infestação da espécie.

Foram encontradas grandes diferenças entre a biomassa encontrada antes da aplicação

do método de controle mecânico e após este, nas parcelas experimentais. Os valores médios

de produção de biomassa mostram que em baixas densidades populacionais, o teor de matéria

seca de I. walleriana nas parcelas de estudo foi reduzido de 1.147 Kg.ha-1 para 13 Kg.ha-1.

Em áreas com densidades maiores da espécie foi observado o mesmo padrão, uma redução de

1.920 Kg.ha-1 para apenas 27 Kg.ha-1(Figura 8).

0

500

1000

1500

2000

Baixa densidade Alta densidade

1147

1920

13 27

Massa Seca (Kg/ha

)

Inicial Final

Figura 8 – Produção de matéria seca nas parcelas de arranquio da espécie I. walleriana.

Estes resultados mostram uma remoção de aproximadamente 99% da biomassa desta

espécie exótica do ecossistema nativo, nas duas situações de ocupação do ambiente pela

espécie.

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É importante ressaltar que os experimentos realizados neste estudo foram observados

por um período curto de apenas 60 dias. Como o conhecimento sobre a biologia e ecologia

desta espécie é muito restrito, a continuidade do monitoramento das áreas manejadas está

sendo feito e poderá demonstrar se no médio e longo prazo os padrões observados até aqui se

repetem.

Através das figuras 9 e 10 abaixo pode ser avaliada visualmente a eficiência do

método mecânico de controle da espécie I. walleriana através da diferença na ocupação das

áreas de estudo por esta antes e após a intervenção de manejo.

Figura 9 – Área com baixa densidade da espécie Impatiens walleriana em que foi testado o

arranquio das plantas. (a) antes da aplicação do tratamento; (b) logo após a intervenção de

manejo e (c) 60 dias após a intervenção. Fotos: Michelle Ribeiro

a

c b

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Figura 10 – Área com alta densidade da espécie Impatiens walleriana em que foi testado o

arranquio das plantas. (a) antes da aplicação do tratamento; (b) logo após a intervenção e (c)

60 dias após a intervenção. Fotos: Michelle Ribeiro

Como se pode perceber através das imagens, a flora nativa demora a colonizar o

ambiente, o que deixa as áreas manejadas expostas à novas invasões. Além disso, as áreas

ficam sujeitas também a outros tipos de impactos como, por exemplo, um maior índice de

erosão do solo e de nutrientes, com o conseqüente assoreamento e eutrofização de córregos

próximos, abandono pela fauna, aumento da insolação e da temperatura do ar e do solo, queda

na umidade relativa, entre outros. Para que impactos como estes não ocorram durante as

intervenções de manejo desta espécie no Parque Nacional da Serra dos Órgãos devem ser

tomados cuidados. O plantio imediato de espécies nativas de crescimento rápido pode

favorecer a recuperação das áreas submetidas ao manejo, potencializando seus resultados.

Na área em que o beijinho ocorria em grandes concentrações, notou-se que houve em

uma das parcelas, num primeiro momento, o domínio da área pela espécie nativa Hydrocotyle

sp. (Araliaceae) que se beneficiou em muito com a remoção da espécie exótica. Para evitar

este tipo de problema, também é recomendável que seja associado ao arranquio o plantio de

espécies nativas de rápido crescimento. Desta forma a área é sombreada e ocupada mais

rapidamente, evitando novas invasões e reduzindo também os demais impactos citados

anteriormente.

a

b c

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3.2. Hedychium coronarium

Diferentemente do padrão encontrado para I. walleriana, as densidades populacionais

observadas para a espécie Hedychium coronarium (Figuras 11 e 12) indicam ser esta uma

espécie bastante agressiva, em vista do grande aumento populacional ocorrido durante os

experimentos de manejo.

Início Intervenção 20 dias 40 dias 60 dias 80 dias 100 dias 120 dias

Controle 8 8 8 8,27 13,33 21,6 25,33 26,13

Arranquio 8,27 0 0 0,53 0,53 1,07 1,87 2,67

Corte raso 12 0 3,2 8,8 12,8 18,13 25,33 28,53

051015202530

Den

sida

de Pop

ulaciona

l(ram

ets/m2)

Tempo

Controle Arranquio Corte raso

Figura 11 – Resposta de H. coronarium em áreas com baixas densidades populacionais às

técnicas de manejo, no Parque Nacional da Serra dos Órgãos, RJ.

Início Intervenção 20 dias 40 dias 60 dias 80 dias 100 dias 120 dias

Controle 50,93 50,93 50,93 63,47 65,60 71,47 81,6 81,87

Arranquio 52,80 0 0 0,53 0,8 2,13 5,87 14,4

Corte raso 44,53 0 33,07 40,53 50,93 63,47 78,93 82,67

0

20

40

60

80

100

Den

sida

de Pop

ulaciona

l(ram

ets/m2)

TempoControle Arranquio Corte raso

Figura 12 – Resposta de H. coronarium em áreas com altas densidades populacionais às

técnicas de manejo, no Parque Nacional da Serra dos Órgãos, RJ.

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Foram observadas diferenças significativas (P < 0,05) entre as densidades

populacionais da espécie H. coronarium nos diferentes tratamentos aplicados (Tabela 2). As

parcelas em que foi feito o arranquio das plantas mostraram, ao final do experimento,

densidades populacionais inferiores às encontradas nas parcelas de corte raso e controle (que

não diferiram entre si) (Tabela 3). Estes dados mostram que o arranquio desta espécie é

eficiente como método de controle, pois após 120 dias a população se manteve menor do que

a inicialmente encontrada. O mesmo não se pode dizer para o corte raso já que no momento

da última leitura do experimento a população manejada já exibia densidades superiores às

encontradas no momento inicial. As parcelas controle mostram a expansão da população de

H. coronarium, que em áreas de pequena ocupação aumentou em 3,3 vezes. Nessa condição, a

densidade populacional inicialmente observada para a espécie era de 8 ramets/m2 e,

decorridos 120 dias do início do experimento, passou para 26 ramets/m2. Na área em que a

espécie já se encontrava em maiores densidades populacionais, o aumento proporcional foi

menor, passando de aproximadamente 51 ramets/m2 para 82 ramets/m2, o que significa 1,6

vezes de aumento.

Tabela 2 – Comportamento quantitativo da população de H. coronarium após 120 dias da

aplicação dos métodos de controle.

Método de controle

Situação

Baixa densidade Alta densidade

Densidade populacional (ramets/m2)

Sem controle 26,13 ± 19,75a 81,87 ± 5,08a

Arranquio

Corte Raso

2,67 ± 2,44b 14,40 ± 2,40b

28,53 ± 16,17a 82,67 ± 2,01a

Médias seguidas de letras iguais na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5% de

probabilidade.

No entanto, o aumento populacional observado pode ser uma característica intrínseca

da espécie, típico de uma fase de desenvolvimento. Pode ser uma resposta às condições

climáticas também, ou seja, ser sazonal. Souza (1985 apud Pellegrini et al., 2007) explica que

variações nos dados de produção de algumas espécies decorrem, em parte, da variação

sazonal dos fatores climáticos, como precipitação, radiação solar e temperatura. Simberloff e

Gibbons (2004), em seu estudo perceberam que as populações de algumas espécies exóticas

parecem ser caracterizadas por uma rápida expansão seguida de rápido declínio. Contudo,

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mesmo se ocorrer uma queda na população de uma espécie exótica invasora, não quer dizer

que danos persistentes ao ecossistema não tenham sido causados. Por esta razão, da mesma

forma que para I. walleriana, o monitoramento das áreas manejadas em longo prazo mostrará

se o comportamento observado permanece ou se é variável ao longo do tempo.

Assim como para I. walleriana, os dados apresentados até o momento mostram uma

tendência de aumento de suas populações no Parque Nacional da Serra dos Órgãos, através

de altas taxas de recrutamento. Esta é uma indicação de um caráter agressivo exibido por H.

coronarium, que por suas características pode ser classificada como invasora nas áreas

estudas, exercendo dominância, competindo com espécies nativas por espaço e recursos e

levando, muitas vezes, vantagens sobre estas.

Os gráficos apresentados acima mostram que também as densidades populacionais das

parcelas submetidas a controle mecânico por corte raso, ao final do experimento, superaram

aquelas inicialmente encontradas nas áreas de estudo. Apenas o controle por arranquio

mostrou resultados satisfatórios. A eficiência dos tratamentos testados pode ser demonstrada

também através da análise das taxas de regeneração da espécie, calculadas a partir das

densidades populacionais encontradas nas parcelas de estudo (Figuras 13 e 14).

Figura 13 – Taxas de regeneração da espécie H. coronarium aos 120 dias após intervenção de

manejo, em situação de baixa densidade populacional.

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Figura 14 – Taxas de regeneração da espécie H. coronarium aos 120 dias após intervenção de

manejo, em situação de alta densidade populacional.

Pode-se perceber, através da análise dos gráficos acima, a diferença encontrada entre a

eficiência dos métodos de controle quanto ao percentual de incremento populacional da

espécie submetida ao manejo. Em situação de baixa densidade populacional, aos 120 dias pós-

controle, o percentual de retorno de H. coronarium ao sistema foi maior quando aplicado o

controle através do corte raso das plantas (237,78%) comparativamente ao controle por

arranquio (32,26%). A área onde a espécie ocorre em altas densidades populacionais

apresentou o mesmo comportamento, chegando a regeneração nas parcelas de corte raso a

taxas de 185,63%, bem superiores aos 27,27% obtidos com o arranquio das plantas. Por estes

dados pode-se notar que o corte raso desta espécie não traz resultados satisfatórios, mas o

arranquio mostrou melhores resultados, sendo eficiente no controle de suas populações. As

taxas de regeneração de H. coronarium nas parcelas experimentais durante o período de 120

dias de leituras mostraram que também houve um aumento populacional da espécie nas

parcelas em que não foi realizada nenhuma intervenção de manejo. Nas parcelas alocadas em

áreas com baixas densidades populacionais da espécie foi notado um aumento de 226,63% na

colonização da área por esta. Um aumento de 60,73% da densidade populacional desta

espécie foi mensurado nas áreas com altas densidades populacionais. Estes dados indicam ter

H. coronarium uma tendência de expansão nas áreas estudadas.

O retorno dos indivíduos de H. coronarium submetidos ao corte raso foi alto e rápido,

chegando a superar, em termos de densidade populacional, os valores encontrados nas

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parcelas em que não foi aplicado nenhum método de controle. Cabe ressaltar que o retorno de

indivíduos de lírio-do-brejo ao sistema se deu apenas por reprodução vegetativa, já que os

experimentos foram conduzidos fora do período reprodutivo da espécie. Também fica

evidente a ineficácia deste método para o controle populacional da espécie H. coronarium

visto que, passados apenas 60 dias do corte das plantas, mais de 100% dos indivíduos

encontrados inicialmente nas parcelas já haviam regressado ao ambiente.

Pode-se então classificar esse método como não recomendado neste caso, para esta

espécie, uma vez que os custos e esforços despendidos para a aplicação desta técnica seriam

perdidos em pouco tempo. O corte dos indivíduos de H. coronarium parece, inclusive,

proporcionar uma rebrota mais vigorosa, já que a espécie recolonizou a área de forma mais

agressiva que a situação inicialmente encontrada.

Quanto ao método de controle mecânico por arranquio, a utilização deste não se

mostrou eficiente para a erradicação da espécie, pois permitiu um retorno de

aproximadamente 30% dos indivíduos de lírio-do-brejo num período de quatro meses.

Contudo, visando reduzir as populações de lírio-do-brejo a fim de fornecer vantagens

competitivas às espécies nativas para que o equilíbrio local seja restabelecido, o arranquio

forneceu bons resultados. A fim de potencializar os resultados obtidos com o arranquio das

plantas, este método de controle deve ser consorciado com o plantio de espécies nativas de

rápido crescimento. Experimentos que testem os benefícios deste consórcio devem ser

realizados, bem como as melhores espécies a serem plantadas. Nos casos em que a

erradicação de uma espécie exótica invasora é extremamente difícil em virtude das

características biológicas desta, é altamente recomendado que suas populações sejam

mantidas em baixas densidades para que danos maiores ao ecossistema não sejam causados

(como extinções locais de espécies nativas, por exemplo) e o ambiente mantenha sua

resiliência.

Os métodos de controle, no entanto, não diferiram pela análise de variância (P > 0,05)

quando aplicados em áreas com baixa ou alta densidade de populações de H. coronarium.

Houve significativa redução nos valores de biomassa encontrados antes e após as

intervenções de manejo apenas nas áreas em que foi aplicado o arranquio das plantas. Nas

parcelas de corte raso foi observado, de modo contraproducente, o aumento da quantidade de

massa seca presente no sistema após a aplicação do tratamento, como pode ser observado nas

figuras 15 e 16.

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Figura 15 – Produção de matéria seca nos tratamentos para manejo da espécie H. coronarium

em área de baixa densidade populacional.

Figura 16 – Produção de matéria seca nos tratamentos para manejo da espécie H. coronarium

em área de alta densidade populacional.

Onde o lírio-do-brejo estava colonizando o ambiente de forma esparsa, a biomassa

encontrada inicialmente nas parcelas de arranquio (16.750 Kg.ha-1) foi reduzida em 64,48%

quando feita nova avaliação 120 dias após aplicação do tratamento (5.950 Kg.ha-1). Na área

em que a espécie foi encontrada em altas densidades, a quantidade de massa seca foi reduzida

de 98.270 Kg.ha-1 para 26.800 Kg.ha-1, uma redução da ordem de 72,73%.

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Em relação ao corte raso, também fica evidente a baixa eficácia da aplicação deste

método no controle de populações de H. coronarium. Em áreas com baixas densidades da

espécie foi observado um aumento de biomassa de 1.650 Kg.ha-1 para 3.390 Kg.ha-1, o que

significa um percentual de aumento de 105%. Já nas áreas com altas concentrações de lírio-

do-brejo, a biomassa passou de 6.130 Kg.ha-1 para 11.390 Kg.ha-1, ou seja, 85,81% de

aumento.

As grandes diferenças entre a biomassa recolhida nas parcelas de arranquio e de corte

raso devem-se ao peso do rizoma (Figura 17). Enquanto no arranquio todo o material vegetal

retirado do ambiente foi pesado, no corte raso recolheu-se apenas a biomassa epígea. Pode-se

perceber que a maior parte da biomassa vegetal nesta espécie concentra-se nas partes

hipógeas, especialmente porque as partes aéreas acumulam grandes quantidades de água,

como pode ser visto através da diferença entre os valores de massa fresca e massa seca

obtidos (Figuras 18 e 19).

Figura 17 – Detalhe de um pedaço de rizoma de H. coronarium. Foto: Michelle Ribeiro

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Figura 18 – Comparação entre os valores de massa fresca e massa seca encontrados nos

diferentes tratamentos testados para a espécie Hedychium coronarium em áreas com baixas

densidades populacionais.

Figura 19 – Comparação entre os valores de massa fresca e massa seca encontrados nos

diferentes tratamentos testados para a espécie Hedychium coronarium em áreas com altas

densidades populacionais.

Os dados apresentados evidenciam as diferenças entre as eficiências dos métodos de

controle testados sobre a espécie H. coronarium no Parque Nacional da Serra dos Órgãos.

Enquanto o arranquio das plantas forneceu resultados positivos, o simples corte de espécies

rizomatosas parece não ser suficiente para enfraquecer seus indivíduos devido à sua eficiência

em rebrotar e, deste modo, é ineficaz no controle destas. Como o lírio-do-brejo é

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extremamente eficiente em rebrotar, existe o agravante de que no corte raso, como parte do

caule do vegetal permanece no solo, as plantas chegam mais rapidamente ao estágio

reprodutivo. Isto pode favorecer a dispersão da espécie invasora pela área do Parque.

O efeito negativo da rebrota das plantas pode ser minimizado, entretanto, na

associação com outro método de controle seqüencial. Por exemplo, o controle químico pode

potencializar os efeitos do controle mecânico e fornecer bons resultados. Entretanto, em

Unidades de Conservação não é permitido o uso de herbicidas. Por esta razão não foi testada

essa alternativa. O plantio de espécies nativas de rápido crescimento pode ser uma alternativa

no auxílio ao sombreamento da área e ocupação de espaços, dificultando desta forma a

recolonização das áreas manejadas pelo lírio-do-brejo. Porém, em virtude do crescimento em

altura bastante acelerado exibido pela espécie, é recomendado que sejam feitos repasses no

arranquio do lírio-do-brejo após o plantio das mudas de espécies nativas até que estas estejam

estabelecidas. Santos e colaboradores (2005) encontraram valores de crescimento em altura

para populações de H. coronarium na Estação Ecológica do Tripuí, MG, variando entre 117,1

e 181,4 cm.mês-1. Com estas taxas de crescimento é possível que os indivíduos de lírio-do-

brejo em pouco tempo cobrissem as mudas plantadas. Existe ainda a possibilidade de serem

obtidos resultados diferentes dos apresentados neste estudo em áreas diferentes, com

condições edafo-climáticas distintas.

Resultados semelhantes aos encontrados neste estudo foram relatados por Ribeiro et

al. (2006), ao testarem o corte raso como alternativa ao manejo de populações da espécie

exótica invasora Dracaena fragrans em áreas do Parque Nacional da Tijuca. Para esta espécie

também o corte raso não forneceu resultados satisfatórios.

As figuras 20, 21, 22 e 23 permitem avaliar de maneira visual os efeitos da aplicação

dos métodos de controle da espécie H. coronarium, por meio da ocupação das áreas

manejadas antes e 120 dias após as intervenções.

Nas áreas em que o arranquio foi aplicado para controle de H. coronarium percebeu-se

também uma demora na recolonização por espécies nativas. Da mesma forma que nas áreas

manejadas em virtude da infestação por I. walleriana, estas áreas vazias ficam expostas à

novas invasões e à outros impactos, já anteriormente mencionados. Por estas razões é

recomendado também o plantio de espécies nativas de rápido crescimento nas áreas

manejadas, a fim de acelerar a recuperação do ambiente.

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Figura 20 – Área com baixa densidade da espécie Hedychium coronarium em que foi testado

o arranquio das plantas. (a) antes da aplicação do tratamento; (b) logo após a intervenção e (c)

120 dias após a intervenção. Fotos: Michelle Ribeiro

Figura 21 – Área com alta densidade da espécie Hedychium coronarium em que foi testado o

arranquio das plantas. (a) antes da aplicação do tratamento; (b) logo após a intervenção e (c)

120 dias após a intervenção. Fotos: Michelle Ribeiro

a

b c

a b c

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Figura 22 – Área com baixa densidade da espécie Hedychium coronarium em que foi testado

o corte raso das plantas. (a) antes da aplicação do tratamento; (b) logo após a intervenção e (c)

120 dias após a intervenção. Fotos: Michelle Ribeiro

Figura 23 – Área com alta densidade da espécie Hedychium coronarium em que foi testado o

corte raso das plantas. (a) antes da aplicação do tratamento; (b) logo após a intervenção e (c)

120 dias após a intervenção. Fotos: Michelle Ribeiro

a b

c

a

b c

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3.3. Demais espécies exóticas

Os resultados do capítulo I mostraram que as espécies exóticas mais agressivas

presentes nas áreas estudadas do Parque Nacional da Serra dos Órgãos são Hedychium

coronarium e Impatiens walleriana. As populações das demais espécies são compostas por

poucos indivíduos isolados e não causam alterações na estrutura da comunidade, não sendo,

portanto, consideradas invasoras nesta área. Mesmo havendo raros indivíduos destas espécies,

a recomendação mais freqüente é a remoção imediata de qualquer espécie exótica que

apresente algum risco de invasão, que pode ser avaliado através da presença desta espécie

como organismo invasor em outras áreas (AZEVEDO e ARAÚJO, 2005).

Comparando a lista de espécies geradas por este trabalho com o banco de dados do

Instituto Hórus (www.institutohorus.org.br), foram encontrados registros de invasão de outras

áreas apenas para as espécies Eriobotrya japonica, Eucalyptus sp., Morus nigra e Dracaena

fragrans. As espécies I. walleriana e H. coronarium também constam no referido banco de

dados como invasoras em outras áreas do Brasil.

Levando em consideração o Plano de Manejo do PARNASO, que determina que

sejam realizados estudos e ações de controle das espécies exóticas e o SNUC, que proíbe a

introdução de espécies exóticas nas Unidades de Conservação, recomenda-se realizar a

remoção de todos os indivíduos pertencente a espécies exóticas. Esta recomendação pode

parecer exagerada já que estes indivíduos não mostram ter potencial invasor nem parecem

estar se reproduzindo nas áreas estudadas do Parque. No entanto, como foi ressaltado, a

remoção de todas as espécies exóticas busca o cumprimento da legislação e também a

prevenção de que as espécies que estão em baixas densidades se propaguem e se tornem

invasoras, causando prejuízos. Os indivíduos menores podem ser cortados ou arrancados pela

raiz, mas para os indivíduos arbóreos adultos recomenda-se o anelamento de seu tronco. Este

método exerce menor impacto sobre a flora nativa, uma vez que os galhos caem

gradativamente, impedindo a abertura de grandes clareiras. Entretanto, caso as árvores

estejam localizadas próximas a construções do Parque ou dispostas ao longo de estradas ou

trilhas deve ser realizado o corte direcionado destas, a fim de evitar acidentes com pedestres e

veículos que transitem pelo local. Se não houver espaço para que a árvore caia ao solo sem

causar grandes prejuízos, o corte deve ser feito seccionando-as e direcionando a queda de seus

pedaços. Devem ser tomados cuidados para, durante a aplicação de todas as técnicas, causar o

menor impacto possível ao ambiente.

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A remoção das espécies exóticas como medida preventiva é aconselhável, pois ainda

não há como prever o comportamento de uma espécie introduzida em um ambiente nativo.

Isto quer dizer que estas espécies podem não se tornar invasoras e serem eliminadas do

sistema sem a intervenção humana, mas podem também começar a se reproduzir e se

tornarem pragas no ambiente. Podem ainda, segundo Myers e colaboradores (2000),

permanecer em baixas densidades por longos períodos (anos ou até décadas) e, proliferar

quando encontrarem as condições ambientais mais favoráveis.

É importante mencionar também que, como as espécies possuem pequenas

populações, a fauna nativa não desenvolveu ainda uma relação de dependência com estas

espécies. Isto é mais forte em se tratando das espécies frutíferas, já que não há produção de

frutos suficiente para alimentar a fauna. Este detalhe é especialmente importante, pois quando

as espécies nativas e as exóticas desenvolvem relações de inter-dependência deve-se ter mais

cuidado na realização do manejo das exóticas para não causar prejuízos às espécies nativas.

Pode-se optar ainda por fazer a marcação e monitoramento dos indivíduos encontrados

de todas as espécies a fim de verificar o seu potencial invasor, ou seja, se a espécie está se

estabelecendo e pode se alastrar pela área. Se forem detectados sinais de dispersão, estes

espécimes devem ser removidos do sistema tomando-se sempre cuidado para causar o menor

impacto possível ao ecossistema. Esta medida pode ser adotada caso entenda-se que a

interferência na mata para remoção de um único indivíduo que porventura sequer tivesse

condições de se tornar invasor naquele local possa causar mais impactos à biota nativa do que

não intervir.

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5. CONCLUSÕES GERAIS

O presente estudo resultou no registro de 34 espécies exóticas vegetais para o Parque

Nacional da Serra dos Órgãos. Estas estão distribuídas por 24 famílias, sendo 13 espécies

arbóreas, 10 arbustivas e 11 herbáceas. Levando-se em consideração apenas os trabalhos de

campo realizados, foram identificadas nas áreas estudadas do PARNASO 24 espécies vegetais

exóticas, pertencentes a 20 famílias. Destas, 10 espécies são de hábito arbóreo, 9 arbustivas e

5 herbáceas. Dentre as espécies exóticas encontradas, Hedychium coronarium (lírio-do-brejo)

e Impatiens walleriana (beijinho) são as que ocorrem em maior freqüência nas áreas de

estudo. As demais espécies são compostas de indivíduos isolados.

O estudo da estrutura da vegetação mostrou que as espécies exóticas se concentram

nas áreas de borda florestais, numa distância de 0 a 10m a partir da estrada em direção ao

interior da mata. Nas áreas mais internas da floresta não foram encontradas espécies exóticas.

Na faixa de mata mais próxima à estrada, as espécies exóticas foram representadas apenas por

Hedychium coronarium e Impatiens walleriana, que juntas apresentaram valores de

densidade, freqüência, vigor, índice de cobertura e valor de importância superiores aos valores

de todas as espécies nativas somadas.

Os resultados obtidos levam a crer que as altas taxas de ocupação das áreas estudadas

pelas espécies H. coronarium e I. walleriana são indicativos de que estas espécies se

adaptaram bem ao ambiente e obtiveram sucesso em sua colonização.

A dominância das espécies H. coronarium e I. walleriana sobre as nativas mostra que

estas possuem alto poder competitivo, deslocando as espécies nativas nas áreas em que

ocorrem e causando alterações no ambiente. Estas espécies, nas áreas em que ocorrem, podem

ter modificado a paisagem e causado prejuízos à biota nativa.

Estas espécies apresentam padrões de distribuição agregados. Este tipo de padrão pode

ocorrer em decorrência das síndromes de dispersão de sementes destas espécies, mas também

por nestas espécies a dispersão clonal ser mais importante que a por sementes. Com esta

estratégia, estas espécies se tornam mais competitivas e conseguem facilmente se estabelecer

e se expandir pelo ambiente. A dispersão agregada ocorre também quando os indivíduos têm

maiores chances de sobreviver em sítios específicos do ambiente.

A avaliação de fatores relacionados ao microclima que possam explicar porque as

espécies exóticas ocorrem nas bordas florestais das áreas de estudo mostrou que o beijinho e o

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lírio-do-brejo ocorrem em (ou tem maior facilidade em colonizar) áreas mais quentes, com

menor umidade relativa do ar e menor grau de sombreamento.

A estrada funciona como um conduto para a chegada de espécies exóticas e as

alterações provocadas pelos efeitos de borda em suas margens facilitam o estabelecimento

destas espécies.

Por estarem afetando de maneira negativa a comunidade nativa, tornam-se necessárias

ações de gestão das espécies H. coronarium e I. walleriana no Parque Nacional da Serra dos

Órgãos. Com base nos resultados dos experimentos de manejo para estas espécies pode ser

dito que, para Impatiens walleriana, o arranquio forneceu bons resultados no controle da

população desta espécie. Para Hedychium coronarium, o corte raso das plantas se mostrou

totalmente ineficiente como método de manejo, mas o arranquio proporcionou resultados

positivos.

Pode-se então concluir que, tendo o arranquio fornecido bons resultados, a aplicação

deste tratamento é adequada para a gestão das espécies exóticas invasoras. Mas devem ser

tomados cuidados para que o arranquio não provoque impactos no ecossistema local. Como o

ato de arrancar as plantas com raiz tende a revolver o solo (especialmente em se tratando do

lírio-do-brejo, pois esta espécie apresenta rizomas difíceis de serem retirados), os processos

erosivos são ampliados, podendo culminar no assoreamento dos córregos próximos. A ação

de arranquio das plantas pode prejudicar as espécies nativas também pelo revolvimento do

solo e pelo arranquio ocasional de plantas nativas e plântulas. Além disso, as áreas manejadas

ficam expostas à novas invasões em razão da lenta recolonização das áreas pelas espécies

nativas.

As grandes densidades encontradas para estas espécies, associadas a uma vasta área de

ocorrência resulta em grandes quantidades de biomassa a serem removidas. Isso significa um

aporte de nutrientes do sistema significativo. Por isso, recomenda-se que a biomassa retirada

seja devolvida ao sistema em forma de composto orgânico.

As demais espécies exóticas encontradas nas áreas de estudo, mesmo em pequenas

populações, devem ter seus indivíduos removidos do sistema também, seja por arranquio, seja

por corte. Esta medida busca atender a legislação vigente que trata sobre o assunto e

determina que não haja espécies exóticas em Unidades de Conservação. A adoção desta

medida serve também como prevenção para que estas espécies não alcancem o status de

invasoras através de sua reprodução e dispersão pelo Parque.

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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES

Diante da importância da diversidade biológica e da evidente dependência humana dos

recursos por ela gerados, as atividades antrópicas que vêm causando prejuízos a esta devem

ser revistas. Conservar os ecossistemas e sua biodiversidade é uma questão de

responsabilidade com as futuras gerações humanas e com um ambiente que têm valor em si

próprio. Neste contexto, a contaminação biológica deve ser tratada com seriedade em virtude

dos diversos impactos que causa. Impactos estes que podem ser sinergéticos, ou seja,

combinados a impactos causados por outras fontes podem ter seus efeitos multiplicados.

Ações de gestão da contaminação causada pelas espécies exóticas invasoras se tornam

fundamentais, especialmente quando se trata do Brasil, que contêm uma das maiores

biodiversidades do mundo. Entretanto, para que estas ações sejam bem sucedidas, devem ser

baseadas em estudos prévios.

Por estarem afetando a biota nativa negativamente, tornam-se necessárias, portanto,

intervenções de manejo das espécies exóticas, em especial de H. coronarium e I. walleriana,

no Parque Nacional da Serra dos Órgãos para que o equilíbrio local seja restabelecido. Com

isto buscar-se-á o enfraquecimento da população invasora para que as espécies nativas sejam

favorecidas. O tratamento que se mostrou mais eficiente para manejo destas espécies foi o

arranquio. Entretanto, esse tipo de intervenção requer alguns cuidados para que não sejam

causados danos à comunidade local.

É interessante que no plano de gestão para estas espécies exóticas no Parque Nacional

da Serra dos Órgãos esteja contemplado o arranquio das plantas com repasses periódicos caso

sejam necessários. Associada à esta técnica recomenda-se o plantio de mudas de espécies

nativas de rápido crescimento ou o incremento do banco de plântulas e sementes, com vistas à

aumentar o sombreamento das áreas manejadas, controlar o processo erosivo do solo e ocupar

rapidamente os espaços vazios na mata, reduzindo as áreas que possam ser recolonizadas

pelas exóticas.

Em relação à biomassa morta resultante da implementação das ações de gestão nas

áreas afetadas pelas espécies exóticas, é aconselhada a produção de um composto orgânico

que possibilite a reincorporação das nutrientes ao sistema. Este composto pode ser produzido

com a trituração e posterior compostagem das plantas removidas, tomando-se o cuidado de

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remover da massa que será submetida ao processo de compostagem frutos, sementes e gemas

que possam germinar posteriormente.

Para as demais espécies exóticas encontradas nas áreas estudadas do Parque Nacional

da Serra dos Órgãos e que apresentaram populações pequenas, é recomendada a remoção de

seus exemplares como medida preventiva. Esta é a medida mais indicada por se tratar de uma

unidade de conservação de proteção integral, em que a legislação é clara quando proíbe a

introdução de espécies exóticas. A ausência de meios para prever com certeza o potencial

invasivo das espécies e os danos que estas podem causar é outra razão para agir na

erradicação destas espécies. É importante ressaltar que conseguir a erradicação de uma

espécie exótica é uma tarefa que se torna mais difícil à medida que a espécie se estabelece e

espalha pelo ecossistema. As técnicas recomendadas são o arranquio ou corte para os

indivíduos de menor porte e o anelamento para os indivíduos arbóreos adultos, por esta

técnica causar menos impactos à biota que a derrubada direta da árvore, além de ser menos

onerosa e de mais fácil aplicação.

Deve também ser realizado o monitoramento das áreas atingidas a fim de acompanhar

a nova dinâmica do ambiente. Além do adequado manejo das espécies problemáticas, o plano

de gestão das espécies exóticas no Parque Nacional da Serra dos Órgãos deve contemplar

medidas de prevenção da introdução de novas espécies, como por exemplo, evitar o uso de

espécies exóticas nos jardins públicos e nas casas funcionais. Cabe dizer que agir de modo

preventivo é mais fácil e menos oneroso do que realizar o controle das espécies exóticas

quando estas já estão disseminadas pelo ambiente.

Ações de gestão de espécies exóticas invasoras não abrangem apenas a dimensão

técnico-científica da questão, mas também aspectos sociais, éticos e legais que precisam ser

considerados. Os Parques Nacionais têm como objetivos básicos definidos pelo SNUC

A preservação de ecossistemas naturais de grande relevância

ecológica e beleza cênica, possibilitando a realização de pesquisas

científicas e o desenvolvimento de atividades de educação e

interpretação ambiental, de recreação em contato com a natureza e

de turismo ecológico (SNUC, 2003: 16).

Por esta razão, a gestão das espécies exóticas invasoras deve incluir também os

aspectos sociais relacionados. A introdução de espécies exóticas pelo homem é um processo

cultural. As pessoas transportam espécies vegetais consigo por seu valor ornamental ou

porque delas se tem algum conhecimento que justifique seu cultivo (medicinal ou

econômico). O fato é que, culturalmente falando, a introdução de espécies exóticas é um

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processo natural e economicamente necessário. Cabe dizer que a economia brasileira é

fortemente baseada em espécies exóticas, sendo 64% das colheitas nacionais constituídas de

materiais genéticos exógenos (ALBAGLI, 1998).

Quando as pessoas não têm conhecimento sobre as conseqüências da introdução

deliberada de espécies exóticas, parece um absurdo aos olhos delas que se tente exterminar

uma espécie de uma unidade de conservação. Se as espécies a serem removidas da paisagem

forem ornamentais ou frutíferas parece ser uma injustiça ainda maior tal “matança”. As

práticas de manejo podem causar fortes impactos visuais devido à remoção das plantas de

áreas extensas, que ficam temporariamente vazias.

O visitante que não tem informações sobre os impactos que as espécies exóticas

causam no ambiente pode ficar chocado com as práticas de manejo e agir de modo a tentar

impedir a supressão das espécies manejadas, retardando os programas de gestão. No Parque

Nacional da Tijuca, o programa de manejo da espécie Artocarpus heterophyllus (jaqueira)

enfrentou problemas com a opinião pública. O projeto teve que ser abortado em virtude de

denúncias feitas por visitantes ao Ministério Público e à Polícia Federal, após divulgação

negativa do programa de manejo na internet, contra o anelamento e morte das jaqueiras no

Parque (MENEZES, 2006).

O aumento da informação em todos os setores da sociedade sobre as espécies exóticas

invasoras é fundamental para reduzir os riscos de introduções acidentais e para estabelecer

regras para introduções intencionais. O controle e erradicação de espécies exóticas invasoras

têm maior possibilidade de sucesso se forem apoiados pelas comunidades locais e demais

atores sociais envolvidos.

Assim, o plano de gestão deve contemplar programas de educação ambiental para a

conscientização do público sobre o que são espécies exóticas, quais os problemas causados

pelas invasões biológicas e a importância das ações de manejo destas na unidade de

conservação.

Existe a necessidade de realização de mais estudos que esclareçam algumas questões

levantadas a partir dos resultados deste trabalho. Muitos pontos ainda devem ser esclarecidos

para melhorar o nível de conhecimento atual acerca do processo de invasão biológica e para o

desenvolvimento de técnicas de manejo eficazes e seguras.

A continuidade dos experimentos de manejo para determinar, no longo prazo, os

padrões de resposta das espécies às intervenções e entender a dinâmica de suas populações é

fundamental. Várias outras questões devem ainda ser respondidas, como o conhecimento das

espécies vegetais que ocorrem em áreas de borda que não sofreram contaminação por espécies

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exóticas. Estas são as espécies que estão sendo eliminadas do sistema pelas invasoras e que

devem ser plantadas em associação às técnicas de remoção das exóticas, especialmente

aquelas de crescimento acelerado. Nestas áreas não invadidas, mas que se localizam também

nas bordas florestais (áreas preferenciais para a ocorrência das invasoras encontradas) são

encontradas as mesmas condições de sombreamento, temperatura e umidade relativa que nas

áreas em que as invasoras ocorrem? Outras variáveis edafo-climáticas podem ainda ser

testadas com a finalidade de explicar os padrões de ocorrência encontrados.

Além de buscar um conhecimento mais aprofundado sobre o processo de invasão

biológica, as características das espécies exóticas e as técnicas mais adequadas para lidar com

essa problemática, outras vertentes devem ser também levadas em consideração nas

pesquisas. Estimativas dos custos para realização do controle das populações de espécies

exóticas invasoras devem ser feitas, bem como insumos e mão-de-obra necessária. Planos de

ação para prevenção da chegada de espécies exóticas também devem ser pensados, bem como

políticas públicas e educação ambiental.

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ANEXO 1

REUNIÃO DE TRABALHO SOBRE ESPÉCIES EXÓTICAS INVASORAS: PROMOVENDO COOPERAÇÃO NA AMÉRICA DO SUL Promovida pelo Governo do Brasil, por meio do Ministério do Meio Ambiente e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, em colaboração com o Governo dos Estados Unidos da América, por meio do Departamento de Estado e da Embaixada dos Estados Unidos no Brasil, e com o Programa Global para Espécies Exóticas Invasoras (GISP).

DECLARAÇÃO Reunidos na cidade de Brasília, de 17 a 19 de outubro de 2001, especialistas representando Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Guiana Francesa, Paraguai, Peru, Suriname, Uruguai e Venezuela resolveram emitir a seguinte declaração: RECONHECEM QUE:

1. As espécies exóticas invasoras, que incluem pragas, doenças e ervas daninhas, além de causarem enormes prejuízos econômicos, principalmente à agricultura, constituem uma das principais ameaças à biodiversidade e aos ecossistemas naturais, além dos riscos à saúde humana.

2. A crescente globalização, com o incremento do transporte, do comércio e do turismo internacional, o início das mudanças climáticas causadas pelo efeito estufa e mudanças no uso da terra, tendem a ampliar as oportunidades de introdução e expansão de espécies exóticas invasoras na região.

3. A América do Sul abriga metade das florestas tropicais e mais de um terço de toda a biodiversidade do mundo, imenso e valioso patrimônio natural em grande parte compartilhado por 13 países, muitos deles megadiversos; biodiversidade que é a base da sustentabilidade dos serviços ambientais, dos recursos florestais e pesqueiros, da agricultura e da nova indústria da biotecnologia. Cerca de 50% do Produto Interno do Brasil, por exemplo, vem do uso direto da biodiversidade e seus recursos genéticos.

4. Os prejuízos causados por espécies exóticas invasoras à produção agrícola na América do Sul excedem a muitos bilhões de dólares ao ano. A título de exemplo, na Argentina a mosca das frutas custa US$ 10 milhões de dólares ao ano com programas de controle, mais 15-20% da produção em perdas anuais diretas, equivalentes a US$ 90 milhões de dólares por ano, e impactos econômicos e sociais indiretos incalculáveis com a redução da produção e perda de mercados de exportação.

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5. Como integrantes de um mesmo continente, separados apenas por fronteiras políticas, os países sul-americanos compartilham o mesmo destino no caso de introdução de espécies exóticas invasoras – é essencial, portanto, a promoção de maior cooperação entre os países na região na prevenção e controle de um inimigo comum.

CONCLUSÕES: 1. Apesar dos avanços recentes na prevenção e controle de espécies exóticas invasoras

que ameaçam a agricultura, constata-se a necessidade de maior atenção para a prevenção e controle dos impactos de espécies exóticas invasoras sobre os ecossistema naturais e sobre a rica biodiversidade da região.

2. Se reconhece a importância de implementar plenamente na região a Decisão V/8 da 5a Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica que estabeleceu diretrizes para a prevenção e controle de espécies exóticas invasoras que ameaçam ecossistemas, habitats ou espécies.

3. Há necessidade de se promover maior intercâmbio de informação, começando pela elaboração de diagnósticos nacionais sobre o problema, pesquisa, capacitação técnica, fortalecimento institucional, conscientização pública, coordenação de ações e harmonização de legislações.

4. Sem prejuízo de outros temas identificados nos diagnósticos nacionais, merece atenção urgente o problema de introdução de espécies exóticas invasoras nas diferentes bacias hidrográficas da região e ecossistemas transfronteiriços.

5. Também existe a necessidade de se promover maior coordenação e cooperação entre os setores agrícolas, florestais, pesqueiros e ambientais nacionais no tratamento dessa questão, incluindo a criação de comissões nacionais sobre espécies exóticas invasoras, e envolver outros setores relacionados ao tema como saúde, turismo, transporte e comércio, bem como o setor privado.

6. É essencial, portanto, a promoção de maior cooperação entre os países na região na prevenção e controle de um inimigo comum, incluindo a elaboração de uma estratégia regional sul-americana para espécies exóticas invasoras, bem como cooperar com os demais países das Américas e com o esforço global para solucionar um problema comum liderado pela FAO, CDB e GISP.

7. Constata-se, entretanto, que existe falta de conscientização pública da importância desse tema, o que facilita a introdução acidental de espécies exóticas invasoras.

8. A efetiva prevenção e controle de espécies exóticas invasoras na América do Sul necessitará de apoio financeiro e técnico adequado.

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ANEXO 2

Impatiens walleriana Hook. f.

Sin.: Impatiens sultani Hook. f.

Pertencente à família Balsaminaceae e de origem africana. Também conhecida

como beijinho, beijo-turco e maria-sem-vergonha, esta espécie possui hábito herbáceo e

ciclo de vida perene. Planta ereta, ramificada, suculenta e glabra, com altura de 30 a 50

cm. Apresenta caule geralmente ramificado, cilíndrico, carnoso e com coloração verde

ou avermelhada. Possui folhas macias, alternas ou opostas, lanceoladas ou ovadas, com

bordos crenados ou denteados e comprimento variando de 3 a 10 cm. As flores são

solitárias ou em racemos terminais ou axilares e se mostram nas mais variadas cores,

comumente vermelhas, laranjas, róseas, roxas ou brancas, produzidas ao longo de todo

o ano. Forma frutos capsulares, verdes e suculentos, com muitas sementes, que

explodem ao mais leve toque quando maduros. As sementes se dispersam

autocoricamente.

A espécie é largamente utilizada como ornamental e multiplica-se facilmente por

sementes ou por estaquia. É cultivada em grupamentos a pleno sol ou meia-sombra, em

solos ricos em matéria orgânica e umidade. Prefere o calor, mas é tolerante ao frio e

não exige cuidados especiais. Adaptou-se tão bem ao Brasil que surge espontaneamente

em jardins urbanos e matas nativas, sendo considerada daninha em algumas situações.

Domina áreas sombreadas, em especial ambientes úmidos, deslocando espécies nativas

de sub-bosque e infestando áreas de lavouras, causando prejuízos econômicos.

Uma interessante curiosidade é que o primeiro nome científico dado à espécie,

hoje em sinonímia, homenageia o Sultão de Zanzibar.

Fontes: Instituto Hórus (2008)

Lorenzi e Souza (2001)

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Hedychium coronarium J. König

Nativa da Ásia Tropical (do Himalaia até China e Madagascar), esta espécie é

uma Angiospermae monocotiledônea pertencente à família Zingiberaceae. Possui

muitos nomes vulgares, entre eles lírio-do-brejo, lágrima-de-moça, lírio-branco,

borboleta, lágrima-de-vênus, gengibre-branco, jasmim e jasmim-borboleta. O termo

Hedychium vem do grego e significa “neve doce” e a palavra coronarium deriva do

latim corona e significa “coroa” (SANTOS et al, 2005b).

É considerada por alguns autores como uma macrófita aquática pelo fato de

vegetar áreas permanentemente molhadas (SANTOS et al, 2005b). Planta de forma

biológica herbácea, perene, rizomatosa, entouceirada, com altura variando entre 1,5 a

2,0 metros. Possui raízes abundantes e fortes rizomas, com gemas a partir das quais

emergem novos caules, formando clones. Apresenta caules eretos, não ramificados,

vigorosos, cilíndricos, avermelhados na base e encobertos no restante da extensão por

bainhas foliares, uma por entrenó. Suas folhas são simples, alternas, coriáceas,

lanceoladas e tomentosas na face de baixo, de coloração verde intensa e brilhante. As

lâminas possuem 30 a 80 cm de comprimento e 10 a 15 cm de largura, com margens

inteiras, lisas e glabras em ambas as faces. Limbo com nervura central proeminente no

dorso. Apresenta bainhas estriadas, às vezes pubescentes e longas, que cobrem os

entrenós. As inflorescências ocorrem em espigas terminais, com flores de corolas

brancas ou amarelo pálidas e estames petalóides, grandes e aromáticas, formadas

praticamente o ano todo. Na inflorescência há uma seqüência de brácteas imbricadas,

formando um arranjo estrobiliforme. As brácteas são ovaladas, de ápice agudo e com 4

a 5 cm de comprimento. Dentre as brácteas surgem as flores, duas a três por cada. A

polinização é feita por mariposas. O fruto da espécie é do tipo baga, deiscente, de

formato elíptico, liso e glabro. Sua cor passa de verde a alaranjada quando maduro. As

sementes possuem forma ovalada e coloração avermelhada e são envoltas por um arilo

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vermelho. Sua dispersão se dá por zoocoria.

Ocorre preferencialmente em lugares brejosos, com solos ricos em matéria

orgânica, a pleno sol. Apresenta crescimento agressivo, sendo considerada como planta

invasora em solos agrícolas brejosos, além de ocorrer em áreas naturais, causando

prejuízos. Nas áreas naturais esta espécie pode substituir a vegetação em áreas úmidas

e sub-bosque das florestas. Pode invadir também canais, riachos e outras coleções

d’água pouco profundas, mas o habitat ideal é o de baixadas úmidas com temperatura

elevada durante todo o ano. Já foram relatados prejuízos econômicos também em lagos

de hidrelétricas e em tubulações entupidas pela espécie.

Tem uso ornamental, sendo cultivada em conjuntos, renques ou mesmo

isoladamente. Multiplica-se facilmente por divisão de touceira contendo rizoma, sendo

a reprodução vegetativa ou clonal a estratégia de dispersão mais eficiente para esta

espécie. No passado, a espécie era utilizada na fabricação de papel em Morretes (PR).

Das flores extrai-se uma essência utilizada na fabricação de perfumes e dos rizomas

pode-se extrair uma fécula comestível.

Fontes: Instituto Hórus (2008)

Lorenzi e Souza (2001)

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