Guia Ei Leituraforadacaixa

download Guia Ei Leituraforadacaixa

of 50

Transcript of Guia Ei Leituraforadacaixa

  • PNBE Na EscolaLiteratura fora da caixa

    Guia 1 Educao Infantil

  • Guia 1

    PNBE Na Escola Literatura fora da caixa

    Educao Infantil

    Presidncia da Repblica

    Ministrio da Educao

    Secretaria Executiva

    Secretaria da Educao Bsica

  • PrEsidNcia da rEPBlica

    MiNistrio da Educao

    sEcrEtaria ExEcutiva

    sEcrEtaria dE Educao Bsica

    dirEtoria dE ForMulao dE coNtEdos EducacioNais

    coordENao GEral dE MatEriais didticos

    Equipe tcnico-Pedaggica coGEaM/sEB

    Andrea Kluge Pereira

    Cecl ia Correia Lima

    Jos Ricardo Alberns Lima

    Lucineide Bezerra Dantas

    Lunalva da Conceio Gomes

    Maria Marismene Gonzaga

    Equipe de apoio administrativo coGEaM/sEB

    Gabriela Brito de Arajo

    Gislenilson Silva de Matos

    Neil iane Caixeta Guimares

    Paulo Roberto Gonalves da Cunha

    seleo de originais e coordenao da edio

    Magda Becker Soares

    Aparecida Paiva

    Planejamento editorial e preparao de textos

    Ana Paiva

    Rogerio Mol

    Projeto grfico e diagramao

    Christ iane Costa

    tiragem Guia 1 PNBE: Literatura fora da caixa Educao Infantil

    563.634 exemplares

    PNBE na escola : l i teratura fora da caixa / Ministrio da Educao ; elaborada pelo Centro de Alfabetizao, Leitura e Escrita da Universidade Federal de Minas Gerais. [Bras l ia : Ministrio da Educao, Secretaria de Educao Bsica, 2014]. 3 v.

    Guia 1 : Educao infanti l Guia 2: Anos iniciais do Ensino Fundamental Guia 3: Educao de Jovens e Adultos.

    ISBN: 978-85-7783-154-8

    1. Programa Nacional Bibl ioteca da Escola. 2. Acervo. 3. Mediao pedaggica. 4. Educao l i terria. I. Brasi l. Ministrio da Educao. I I. Universidade Federal de Minas Gerais. Centro de Alfabetizao, Leitura e Escrita.

    CDU 028.1(036)

    ApresentAoMinistrio da Educao

    IntroduoMagda Soares Aparecida Paiva

    nA educAo InfAnt IL , versos que contAm h IstrIAsMaria Zlia Versiani Machado

    erA umA veZ. . . umA cA IXA de h IstrIAs: Prosa no acervo do PNBE 2014Renata Junqueira de Souza Cyntia Graziela Simes Girotto

    L Ivros de ImAGem: Como aprove i tar a at ra t iv idade e desenvolver o potenc ia l destas obras na sa la de au la com at iv idades l i terr iasAna Paula Paiva

    quAndo umA ImAGem vALe mAIs que mIL pALAvrAs: Livros de Imagem e His tr ias em Quadr inhos no PNBEVitor Amaro Lacerda

    pnBe 2014 oBrAs seLec IonAdAs

    7

    11

    19

    31

    45

    61

    71

    Sumr io

  • ApresentAoMinistrio da Educao

    A distribuio de obras de literatura pelo Programa Nacional Biblio-teca da Escola (PNBE) j passou por diversos formatos. Em todos eles, o objetivo do Ministrio da Educao (MEC) sempre foi proporcionar aos alunos da rede pblica o acesso a bens culturais que circulam socialmente, de forma a contribuir para o desenvolvimento das potencialidades dos leitores, favorecendo, assim, a insero desses alunos na cultura letrada.

    No entanto, apenas o acesso aos livros no garante sua apropria-o, sendo de fundamental importncia a mediao do professor para a formao dos leitores. Mediar a leitura significa intervir para aproximar o leitor da obra e, nesse sentido, o trabalho do professor assume uma dimenso maior, uma vez que extrapola os limites do texto escrito, pro-movendo o resgate e a ampliao das experincias de vida dos alunos e do professor mediador.

    Para auxiliar os professores nessa tarefa, o MEC vem, ao longo dos anos, produzindo materiais voltados para o uso dos acervos do PNBE, como o Guia do Livronauta (PNBE 1998),1 Histria e Histrias (PNBE 1999), o Catlogo Literatura na Infncia: imagens e palavras (PNBE 2008),2 alm de outras publicaes voltadas para a formao de leitores, como a Revista Leituras, o kit Por uma Poltica de Formao de Leitores3 e o volume 20 Literatura Infantil Coleo Explorando o Ensino.4

    Dando prosseguimento essa ao formativa, este Ministrio est encaminhando s bibliotecas das escolas que oferecem Educao Infantil (creche e pr-escola), anos iniciais do Ensino Fundamental e/ou Educa-o de Jovens e Adultos esta publicao PNBE na escola: Literatura fora da caixa. Composta por trs volumes, ela traz um conjunto de textos que, certamente, iro contribuir para uma mediao mais efetiva, de forma a proporcionar aos alunos diferentes experincias com a leitura literria.

    1 Disponvel em http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me001878.pdf2 Disponvel em http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Avalmat/literatura_na_in-

    fancia.pdf 3 Disponveis em http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=ar-

    ticle&id=16896&Itemid=1134 4 Disponvel em http://portaldoprofessor.mec.gov.br/linksCursosMateriais.html?cate-

    goria=117

    7

    Cate

    gori

    as 1

    e 2

    . E

    duca

    o

    infa

    ntil

  • Essa publicao foi elaborada pelo Centro de Alfabetizao, Leitura e Escrita (CEALE), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), responsvel pelo processo de avaliao, seleo e composio dos acervos.

    Cada acervo, concebido para o uso coletivo de alunos e professores, vem acompanhado desta publicao. Os acervos esto organizados em quatro categorias:

    Categoria 1: Para as instituies de educao infantil que atendem creche foram formados 2 (dois) acervos distintos, com 25 (vinte e cinco) obras cada, num total de 50 (cinquenta) obras.

    Categoria 2: Para as instituies de educao infantil que atendem pr-escola foram formados 2 (dois) acervos distintos, com 25 (vinte e cinco) obras cada, num total de 50 (cinquenta) obras.

    Categoria 3: Para as escolas que oferecem os anos iniciais do ensino fundamental foram formados 4 (quatro) acervos distintos, com 25 (vinte e cinco) obras cada, num total de 100 (cem) obras.

    Categoria 4: Para as escolas que oferecem educao de jovens e adultos foram formados 2 (dois) acervos distintos, com 25 (vinte e cinco) obras cada, num total de 50 (cinquenta) obras.

    Nem todas as escolas recebero todos os acervos, porque a distribui-o est relacionada ao nmero de alunos matriculados. Mas, ao final dos volumes, consta a relao de todas as obras selecionadas de forma que os professores possam conhecer a totalidade dos ttulos.

    As obras selecionadas, alm de diversificadas do ponto de vista te-mtico, dos gneros e formatos, tambm diferem do ponto de vista do grau de complexidade. Portanto, os acervos so compostos por obras que estimulam a leitura autnoma por parte de crianas, jovens e adultos em processo de alfabetizao ou propiciam a professores e alunos alternativas interessantes de leitura compartilhada.

    No que diz respeito educao infantil, este Ministrio, consideran-do a necessidade de garantir material de apoio educao de crianas nessa etapa de ensino, ampliou a distribuio dos acervos voltados para a educao infantil, encaminhando-os, no apenas s bibliotecas dessas escolas, mas, tambm, para salas de aula e outros espaos onde se d o trabalho com crianas de 0 a 3 anos (creche) e de 4 e 5 anos (pr-escola).

    Este Ministrio, ao incluir nos acervos de livros de literatura essa publicao, espera contribuir, de forma efetiva, com a circulao e leitura das obras que compem os acervos do PNBE 2014 e, de modo especial, com a formao leitora de alunos e professores.

    8Ca

    tego

    rias

    1 e

    2 .

    Edu

    ca

    o in

    fant

    il

  • IntroduoMagda Soares Aparecida Paiva

    Voc tem em mos o guia da Educao Infantil do PNBE 2014. Este volume um dos dos trs guias que sero disponibilizados pelo MEC para acompanhar os acervos selecionados pelo Programa Nacional Biblioteca da Escola. Alm deste guia, foram produzidos mais dois: um para os anos iniciais do Ensino Fundamen-tal e um para a Educao de Jovens e Adultos, segmentos contemplados por esta edio do Programa. Esperamos que voc, de posse deste guia, tenha uma oportunidade concreta de cres-cimento como mediador(a) de leitura literria na escola e de enriquecimento de sua formao como leitor de literatura, o que, acreditamos, o ajudar a dar um novo significado s prticas de leitura literria com seus alunos, em sala de aula, ou na biblioteca escolar.

    Nosso propsito com esse guia, esse ma-terial de apoio, possibilitar a voc um acesso dialogado ao universo literrio das obras que constituem os acervos do PNBE 2014, propon-do orientaes de uso desses acervos na escola, pelos professores e pelos profissionais que atuam nas bibliotecas escolares, com apresentao e discusso pedaggica de gneros, autores, tem-ticas, competncias literrias e outras formas de conhecimento e apreciao das obras.

    Assim, alm dessa apresentao inicial, que explicita nosso desejo de contribuir efetivamente com a circulao e leitura das obras que compem os acervos do PNBE 2014, e, de modo muito especial, com sua formao leitora, apresentamos

    a voc um conjunto de textos que representam os gneros selecionados para o acervo: prosa, verso, imagem e histria em quadrinhos.

    diviso interna do Guia

    Cada um dos textos, impressos aps a apre-sentao deste guia, foi planejado especialmente para voc, mediador de leitura; so textos escri-tos em linguagem simples e direta onde cada au-tor(a) procura discutir as especificidades de cada gnero, abordando obras que o representam, no intuito de que essas leituras funcionem como exemplos e incentivo para a apropriao dos acervos pelos mediadores de leitura, de forma a enriquecer as atividades de leitura na escola.

    Alm desses textos bsicos, h, ao final de cada guia, a relao de todos os ttulos sele-cionados no PNBE 2014, separados por seg-mento, categoria e gnero. Esperamos, com esse nosso esforo, duas coisas: socializar com voc os livros selecionados no PNBE 2014, a fim de que voc possa usufruir desse acervo como leitor(a) de literatura, independente do segmento em que atue, provocando em voc o desejo de l-los e compartilh-los com seus alunos. Por outro lado, esse nosso movimento de apresentar visualmente, ao final de cada guia, todo o acervo do PNBE 2014 tambm pretende fomentar uma curiosidade nos mediadores de leitura, assim como uma maior circulao das obras na escola, ao deixar claro o quanto so

    11

    Cate

    gori

    as 1

    e 2

    . E

    duca

    o

    infa

    ntil

  • tnues as separaes por segmento, faixa etria, ou qualquer outro tipo de categorizao e que, o mais importante, a literatura de qualidade estar disponvel.

    Por fim, gostaramos de ressaltar que a relao das obras adquiridas pelo PNBE ainda oferece um parmetro relevante a respeito do quadro geral dos livros veiculados nas escolas pblicas brasileiras. Ao observar gneros, autorias e categorias, o professor, ainda que sua escola no tenha alguns desses ttulos em seu acervo, dispe de um conjunto de dados que podem funcionar como baliza para a escolha de material de leitura, considerando que a qualidade literria item primordial para a seleo dos acervos do PNBE.

    Para comeo de conversa, alguns dados para voc se situarO Programa Nacional Biblioteca da Escola PNBE1 foi insti-

    tudo em 1997 e tem como objetivo principal democratizar o acesso a obras de literatura infantojuvenil, brasileiras e estrangeiras, e a materiais de pesquisa e de referncia a professores e alunos das escolas pblicas brasileiras. O Programa executado pelo Fundo Nacional de Desen-volvimento da Educao FNDE em parceria com a Secretaria de Educao Bsica do Ministrio da Educao SEB/MEC. Voc pode obter informaes sobre todas as edies do Programa no site do MEC, buscando por PNBE.

    Para que voc tenha uma ideia da magnitude desse Programa, vamos apresentar a seguir dados do investimento feito no perodo de 2006 a 2013. Os dados de 2014 ainda esto sendo processados. Observe bem o volume de recursos investidos.

    1 Se voc quiser saber mais sobre o PNBE, como por exemplo sua histria, processo de seleo e constituio de acervos, cf. FNDE: http://www.fnde.gov.br/ e cf. PAIVA, Aparecida (org.). Literatura fora da caixa: O PNBE na escola distribuio, circulao e leitura. So Paulo: Editora UNESP, 2012.

    Agora, com base no quadro a seguir, pres-te especial ateno na quantidade de escolas e alunos atendidos no perodo de 2006 a 2013 e projete a espantosa quantidade de livros distri-budos pelo Programa desde sua criao. Muitas vezes, os professores de escolas menores, que recebem uma quantidade pequena de acervos, no imaginam a quantidade de livros de litera-tura que so distribudos ano a ano. No entanto, no que pese esse grande nmero de livros dis-tribudos, se pensarmos no tamanho do nosso Pas, na carncia das nossas escolas pblicas e na quantidade de alunos que elas atendem, sem-pre haveremos de reivindicar um aumento no volume de investimento.

    o que foi oferecido para a seleo dos acervos?

    Para que voc tenha uma ideia da quantidade de livros inscritos no PNBE 2014, abarcando os segmentos Educao Infantil, anos iniciais do Ensi-no Fundamental e EJA, observe o grfico a seguir:

    Observe que a categoria 3 livros inscri-tos para os anos iniciais do Ensino Fundamental

    que recebe o maior nmero de inscries de livros pelas editoras: mais da metade dos inscritos. Por outro lado, a inscrio muito pequena para livros destinados s crianas de 0 a 3 anos apenas 3% o que evidencia a pouca produo editorial que h para esse segmento, ainda no contemplado pelas editoras. No en-tanto, uma produo importante, porque j na creche a criana merece oportunidades de contato com livros adequados para a idade, que promovem sua entrada no mundo da escrita.

    o segmento Educao infantil

    Obedecendo ao que foi previsto no edital do PNBE 2014, deveriam ser selecionadas, para cada acervo literrio destinado Educao Infantil, obras de cada um dos trs agrupamen-tos seguintes:

    1. Textos em verso quadra, parlenda, cantiga, trava-lngua, poema;

    2. Textos em prosa clssicos da literatura infantil, pequenas histrias, textos de tradio popular;

    3. Livros com narrativa de palavras-chave, livros de narrativa por imagem.2

    Nota-se que o segmento Educao Infantil, em suas duas categorias de inscrio (Categoria 1 e Categoria 2), ainda responde por uma parcela pequena no grfico, ou seja, a quantidade de livros inscritos at 2013 para o PNBE 2014 ainda foi baixa quando o endereamento abarca 0 a 5 anos, se compararmos este segmento, por exemplo, com o fluxo de livros inscritos para a Categoria 3: Anos Iniciais do Ensino Fundamental.

    Alm de ser pequeno o nmero de livros inscritos para o segmento de 0 a 3 anos, e tam-bm no muito grande o nmero de inscritos para o segmento de 4 e 5 anos, eles se distri-buram de forma muito diferenciada por esses trs agrupamentos; observe, nos dois grficos a

    2 Item 4.3 do Edital PNBE 2014.

    1312Ca

    tego

    rias

    1 e

    2 .

    Edu

    ca

    o in

    fant

    il

    Cate

    gori

    as 1

    e 2

    . E

    duca

    o

    infa

    ntil

  • seguir, a percentagem dos inscritos para os dois nveis da Educao Infantil por agrupamento e, portanto, as possibilidades de escolha oferecidas para a composio dos acervos:

    Os nmeros evidenciam que a quantidade de livros em prosa inscritos pelas editoras mui-to superior dos inscritos nas outras categorias, o que permite supor que a produo de livros para a Educao Infantil vem privilegiando, de forma significativa, a prosa.

    Sob determinado aspecto, essa predomi-nncia da prosa entre os livros inscritos posi-tiva: fundamental que a criana, na etapa da Educao Infantil, quando est comeando a se inserir, de forma sistemtica, no mundo da escrita, vivencie com frequncia e intensidade o texto em prosa, para que, alm de imergir no mundo do imaginrio e da fantasia dos contos e das narrativas, e tambm no mundo da infor-mao, v construindo o conceito de sistema alfabtico e o conhecimento dos usos e funes da escrita. Entretanto, surpreende a inscrio

    de nmero to pequeno de livros de imagem, que muito atraem as crianas no alfabetizadas, ou ainda em processo inicial de alfabetizao.

    Apesar do desequilbrio no nmero de li-vros inscritos em cada categoria e por gnero, na seleo final para compor os acervos destinados Educao Infantil inclumos, em cada um dos acervos, livros das cinco categorias prosa, verso, imagem, palavras-chave e histria em quadrinhos mesmo havendo, pelo j expos-to, mais alternativas de escolha da prosa isso explica por que os livros em prosa so mais numerosos nos acervos. Mas voc encontrar, nos acervos 2014, livros de todas as categorias previstas no Edital, o que propicia s crianas a vivncia de diferentes gneros e a possibilida-de de desenvolver conceitos, conhecimentos e habilidades peculiares a cada um deles.

    Do grande nmero de livros inscritos no PNBE, do desequilbrio na distribuio deles pelas cinco categorias a serem contempladas, dos diversos critrios a serem obedecidos, que sero indicados no item abaixo, enfim, desse univer-so de possibilidades, foi necessrio selecionar apenas os 100 ttulos previstos em Edital3 para Educao Infantil e distribu-los pelos quatro acervos de 25 livros, dois destinados a crianas de 0 a 3 anos e dois destinados a crianas de 4 e 5 anos. Foi o que fizemos e, pode-se facilmente concluir, no foi uma tarefa fcil.

    com que critrios foram escolhidos os livros para compor os acervos?

    Alm de constituir cada acervo com dife-rentes categorias de livro e diferentes gneros, procuramos ainda selecionar os livros pelo crit-rio de sua qualidade: qualidade textual, que se revela nos aspectos ticos, estticos e literrios, na estruturao narrativa, potica ou imagtica, numa escolha vocabular que no s respeite, mas tambm amplie o repertrio lingustico de

    3 Ao final deste guia, voc encontrar a relao completa de todos os acervos do PNBE 2014.

    crianas na faixa etria correspondente Edu-cao Infantil; qualidade temtica, que se manifesta na diversidade e adequao dos temas, e no atendimento aos interesses das crianas, aos diferentes contextos sociais e culturais em que vivem e ao nvel dos conhecimentos prvios que possuem; qualidade grfica, que se tra-duz na excelncia de um projeto grfico capaz de motivar e enriquecer a interao do leitor com o livro: qualidade esttica das ilustraes, articulao entre texto e ilustraes, e uso de recursos grficos adequados criana na etapa inicial de insero no mundo da escrita.

    Foi ainda critrio para constituio dos acervos a seleo, entre as obras consideradas de qualidade, nas cinco categorias prosa, verso, imagem, palavras-chave e histria em quadri-nhos , daquelas que representassem diferentes nveis de dificuldades, de modo a atender a crianas em variados nveis tanto de compre-enso dos usos e funes da escrita quanto de aprendizagem da lngua escrita, possibilitando assim formas diferentes de interao com o livro, seja pela via da leitura autnoma pela criana (de livros s de imagens ou de livros em que a imagem predomina sobre o texto, estando este reduzido a poucas palavras), seja pela leitura mediada pelo professor.

    a literatura na Educao infantil: ler para ou ler com a criana?

    O PNBE tem cumprido o importante papel de fazer chegar at as escolas pblicas brasileiras livros de literatura para todos os segmentos da escolaridade. Em suas vrias edies, o Progra-ma vem ampliando o seu alcance, apontando o quanto diversificado o pblico leitor que frequenta as bibliotecas escolares. Essa condi-o varivel e mltipla requer o olhar sensvel e nuanado para as especificidades de cada fase de formao e tambm para as peculiaridades das mediaes que envolvem cada segmento da escolaridade. Mediaes que acontecem nos espaos e tempos dedicados leitura na escola.

    Na educao infantil no poderia ser di-ferente. Nesta fase, a leitura literria conta em grande medida com a mediao de professores e bibliotecrios, em atividades de contao de histrias e de leitura de poemas, que possibilitem a construo de sentidos por esse leitor, do qual ainda no se espera que saiba ler sozinho. Espera-se que, nesse segmento da escolaridade, as crianas tenham contato permanente com es-ses bens culturais que so os livros de literatura, para que se familiarizem com eles de modo a interagir com a linguagem literria nos textos e nas ilustraes , preparando-se para com-preender tambm esses usos sociais da escrita. Todo o trabalho com o livro de literatura, se feito de maneira adequada quando as crianas iniciam a sua trajetria escolar, pode despertar o gosto pela leitura e o interesse por livros, e pode ainda contribuir consideravelmente para a etapa posterior, quando o aluno aprender a ler e a escrever, pelo fato deste j ter participado de situaes escolares de leitura. Mas para que isso ocorra, essas experincias precisam ser bem-su-cedidas, de modo a aguar a vontade de ler mais e conhecer outros livros que compem o grande acervo de obras da cultura escrita endereado a crianas. Nas situaes de leitura mediadas que ocorrem na educao infantil, vale apostar numa relao mais cmplice e aproximada, em que o mediador tambm escute as manifestaes palavras ou gestos das crianas, uma vez que na escuta compreensiva e nada passiva que elas realizam pode-se conduzir melhor a leitura e a mediao. Por isso, a opo de ler com as crianas pode ser a mais interessante na educao infantil.

    a literatura na escola: formando leitores

    Depois de um longo caminho percorrido pelo livro, desde sua inscrio no PNBE, pela sua editora, at a sua seleo para compor o acervo do Programa e posterior aquisio pelo FNDE para distribuio, ele, finalmente, chega escola. Se h dados seguros dessa distribui-o, como voc pde observar no incio desta

    1514Ca

    tego

    rias

    1 e

    2 .

    Edu

    ca

    o in

    fant

    il

    Cate

    gori

    as 1

    e 2

    . E

    duca

    o

    infa

    ntil

  • introduo, o mesmo no podemos dizer da sua recepo, circulao e uso nas escolas pblicas do Pas. Com menos segurana ainda podemos elencar aes que viabilizam a formao de professores e de profissionais que atuam nas bibliotecas escolares para o reconhecimento do potencial da literatura disponibilizada e suas possibilidades formativas e educativas no co-tidiano escolar, em especial, na sala de aula e na biblioteca.

    Mas por acreditar na qualidade literria destes acervos, nosso papel inclui um desejo de divulgao dos livros do PNBE, e por isso chega at voc este material de apoio, para que os profissionais responsveis pelo processo de mediao de leitura na escola dele se apropriem e depois faam circular os conhecimentos.

    Assim, nossa expectativa a de que voc, que est lendo esse guia o que certamente indica que os acervos do PNBE chegaram em sua escola , se envolva nesse processo, da forma mais colaborativa possvel. Nessa perspectiva, vamos apresentar, desde j, algumas sugestes que podem ser implementadas na escola.

    chegada e presena dos livros na sua escola

    Sugerimos que voc reflita inicialmente sobre algumas questes:

    Os acervos do PNBE esto em minha escola? Onde?

    Foi feita ou vai ser feita divulgao so-bre a chegada desses acervos na escola?

    ou ser desenvolvido algum trabalho de mediao com esses acervos?

    Os acervos do PNBE tm sido postos disposio das crianas, tm sido pro-curados por elas?

    Essas so algumas questes que podem nor-tear a ao coletiva dos mediadores de leitura no espao escolar. E veja que estamos falando de espao escolar, porque acreditamos que a

    voz do docente no pode ser isolada, todos so mediadores de leitura, os professores, os profissionais da biblioteca, os gestores, enfim, os diferentes mediadores de leitura do con-texto escolar so aqueles que detm o poder de fazer o livro circular. Se os mediadores se propem a conhecer os acervos do PNBE, suas caractersticas e potencialidades, e se o trabalho for coletivo, tanto ser mais fcil naturalizar, valorizar positivamente a atividade da leitura junto aos leitores iniciantes. O espao escolar, ento, passaria a ser concebido como privile-giado para as atividades de leitura. Enfim, se os prprios mediadores intensificarem suas prticas de leitura, o livro de literatura poder ocupar o centro da escola.

    os livros na biblioteca

    A biblioteca precisa ser assumida como o espao da socializao, no do isolamento; in-meras atividades positivas e prazerosas de leitura podem ser desenvolvidas nela: a contao ou leitura de histrias, fbulas, contos de fadas; a leitura ou a recitao de poemas; a busca de informaes em livros informativos; e tantas outras atividades que levam a criana ainda no alfabetizada a apreciar e diferenciar gneros.

    A criana pode ser ela mesma protagonista de atividades, como: atuando em teatrinho de fantoches; narrando oralmente suas experin-cias; ouvindo e contando causos e histrias de pescador.

    A biblioteca tem tambm o papel de apro-ximar dela as crianas, potenciais leitores. Ati-vidades simples, como uma festa para receber novos acervos ou a divulgao em cartazes de novos livros atraem a ateno e o interesse das crianas. O importante que os profissionais que trabalham nesse local se reconheam como mediadores no trabalho de formao de leito-res. Assim, uma vez concebida como local de leitura, interao e experimentao, a biblioteca se converte em referncia de cultura e conhe-cimento para o leitor iniciante.

    os livros na sala de aula

    nas salas de atividade, berrios e reas externas, possvel estimular nas crianas a aproximao de jogos, brinquedos e livros.

    Professor, sua turma est recebendo os acervos do PNBE-2014. So 100 novos livros, que podero ser usados em espaos variados: berrios, salas de atividade, bibliotecas escolares, anfiteatros, e em reas externas tais como ptios, no devendo estar restritos a espaos internos. Para isso, a interao entre responsvel pela biblioteca e professor importante, no s para controle do acervo, mas tambm para uma colaborao que pode ser rica, entre esses dois mediadores de leitura.

    Vrias atividades podem ser desenvolvidas em sala de aula com livros da biblioteca, como: aps a leitura pela professora, as crianas podem representar em desenhos partes da histria, fbula ou conto de fadas; a histria ou fbula lida pela professora pode ser dramatizada pelas crianas; as crianas podem apresentar e ler um livro de imagem para os colegas de uma outra sala; as crianas podem recontar oralmente uma histria que foi lida pela professora; as crianas podem memorizar e recitar poe-mas curtos; as crianas podem preparar um cartaz de propaganda de um livro de que tenham gostado, para exp-lo na biblioteca e incentivar colegas a procur-lo.

    Alm disso, a professora, em parceria com a pessoa responsvel pela biblioteca, pode orientar o emprstimo de livros para as crianas, com dois objetivos principais: para que familiares leiam o livro para a criana; para que as crianas contem a familiares, folheando o livro, a histria que foi lida pela professora.

    1716Ca

    tego

    rias

    1 e

    2 .

    Edu

    ca

    o in

    fant

    il

    Cate

    gori

    as 1

    e 2

    . E

    duca

    o

    infa

    ntil

  • concluindo

    Agora, finalmente, voc vai poder entrar em contato com os textos que discutem as principais categorias de seleo do PNBE Educao Infantil 2014 prosa, verso, imagem e histria em quadrinhos. Pesquisa-dores e professores, com larga experincia na rea da leitura e de literatura, comentaro, cada um ao seu modo, a concepo de gnero que subjaz a cada categoria e apresentaro anlises textuais e ilustradas de algumas obras selecionadas, refletindo, por meio de exemplos, as possibilidades de uso e prtica de algumas destas obras para a Educao Infantil.

    Desejamos a voc uma boa leitura dos textos que compem esse guia e, de modo muito especial, uma prazerosa leitura dos livros selecionados para 2014, alm de um excelente trabalho de mediao com as crianas.

    nA educAo InfAntIL, versos que contAm hIstrIAsMaria Zlia Versiani Machado1

    Neste texto, a partir da escolha de alguns livros de texto em verso do PNBE/2014, sero sugeridas atividades que podem levar a boas experi-ncias de leitura literria, considerando-se o endereamento criana da educao infantil, sobretudo quela que se encontra na faixa de 3 a 5 anos. Convm ressaltar, no entanto, que as propostas de atividade com cada um dos livros selecionados no esgotam as possibilidades de mediao a partir da linguagem literria. Decerto outras propostas podero ser inventadas a partir das obras, com a vantagem de professores e bibliotecrios conhece-rem melhor as crianas de uma determinada escola, de uma determinada turma. Nesse sentido, bom lembrar ainda que as propostas sugeridas neste texto podem ser adequadas conforme os diferentes contextos escolares de aplicao, suas condies sociais e seus repertrios culturais, previamente avaliados pelos mediadores. No prximo tpico, sero focalizados todos os livros da categoria textos em verso que foram selecionados pelo PNBE/2014, para possibilitar uma viso geral do acervo.

    os livros do PNBE/2014 da categoria textos em versos para a educao infantil e o que eles podem oferecer

    Antes de apresentar os livros da categoria textos em versos e o que eles podem oferecer no trabalho com a criana pequena, apontaremos alguns aspectos peculiares mediao literria na educao infantil. Para o entendimento das especificidades dessa fase de formao de leitores, parte-se do pressuposto de que a criana pequena que ainda no sabe ler capaz de interagir com textos verbais e imagticos que a literatura oferece. A partir dessa percepo, considera-se que a mediao no corresponde interpretao de um texto, mas indicao de caminhos que o prprio texto indica ao leitor no processo de construo de sentidos. O papel mediador,

    1 Doutora em Educao pela Universidade Federal de Minas Gerais (FAE-UFMG) e professora do Departamento de Mtodos e Tcnicas de Ensino - DMTE - e do Programa de Ps-Graduao da Faculdade de Educao da UFMG.

    1918Ca

    tego

    rias

    1 e

    2 .

    Edu

    ca

    o in

    fant

    il

    Cate

    gori

    as 1

    e 2

    . E

    duca

    o

    infa

    ntil

  • principalmente em se tratando de textos da li-teratura, exige de quem l uma abertura tal que o ato de leitura, para o qual ns, adultos, apenas emprestamos a voz, parea ter sido realizado pela criana. Por isso to importante preparar essa leitura de modo a explorar os aspectos do tex-to verbal e da visualidade que vo provocar nas crianas o desejo de participao, sem a qual no acontece a interao literria.

    ttulo da obra autor(a) ilustrador(a) sntese

    O bosque encantado

    Ignacio Sanz Noem VillamuzaHistria em versos sobre os cinco dedos das mos e a imaginao que propiciam.

    O guerreiroMary FranaEliardo Frana

    Eliardo FranaHistria de encorajamento, em que a linguagem visual-verbal busca mostrar a fora da arte.

    O minhoco apaixonado

    Alessandra Pontes Roscoe Luciana FernndezHistria em versos baseada em cano popular de contedo cmico.

    Parlendas para brincar

    Josca AilineBaroukh Lucila Silva de Almeida

    Camila SampaioParlendas organizadas segundo a sua funo nas brincadeiras infantis.

    Pipoca, um carneirinho e um tambor

    Graziela Bozano Hetzel ElmaHistria potica cumulativa sobre de-sejos e afetividade.

    Quem tem medo de monstro?

    Ruth Rocha Mariana MassaraniPequena narrativa em verso com enca-deamento surpreendente sobre medos de seres que nos amedrontam.

    Ratinhos Ronaldo Simes CoelhoHumberto Guima-res

    Ilustraes e versos sobre peripcias de ratinhos dialogam com a tradio oral das parlendas.

    Samba Lel Andreia MoroniBrena Milito Polet-tini

    Pequena histria que explora cantiga de domnio pblico, na qual ilustra-es e texto em versos se comple-mentam na construo das aes do personagem.

    Sete patinhos na lagoa

    Caio Riter Laurent Cardon

    Histria de bichos contada em quadras rimadas cujo desfecho comprova a in-teligncia dos mais fracos, com explo-rao do humor, em texto e ilustraes.

    Tem de tudo nesta rua...

    Marcelo Xavier Marcelo Xavier

    Poemas que apresentam cenas de rua e pessoas que trabalham nela. As ilus-traes feitas com massinha, material muito usado na infncia, exploram formas e cores da cidade.

    Vira bicho Luciano Trigo Mariana Massarani

    Histria de imaginao, contada em estrofes de trs e quatro versos, pro-tagonizada por uma menina que se transforma em vrios bichos.

    O primeiro passo para se garantir mediaes bem-sucedidas consiste em conhecer os acervos e o que eles podem oferecer a atividades de leitura planejadas para esse pblico.

    Os livros que compem o acervo para a educao infantil do PNBE/2014 apresentam propostas variadas como se pode verificar no quadro abaixo:

    ttulo da obra autor(a) ilustrador(a) sntese

    Borboletinha Andria Moroni Daniela Galanti

    Pequena histria que explora cantiga de domnio pblico, na qual ilustra-es e texto em versos se comple-mentam na construo das aes do personagem.

    Dois gatos fazendo hora

    Guilherme Mansur Snia MagalhesNarrativa potica marcada pela passa-gem do tempo, responsvel pelo ritmo do texto, na rotina de dois gatos.

    Duas festas de ciranda

    Fbio SombraSrgio Penna

    Fbio SombraCirandas em redondilha maior que renem bichos e elementos da cultura popular.

    E o dente ainda doa

    Ana Terra Ana Terra

    Narrativa rimada, com progresso nu-mrica a cada tentativa v de resoluo de um problema, em estrutura tpica de acumulao.

    Histria em 3 atos

    Bartolomeu Campos de Queirs

    Andr Neves

    Narrativa potica circular que provoca a curiosidade para os sons e as letras, e tambm para os nmeros, de forma ldica e estimulante.

    Histrias escondidas

    Odilon Moraes Odilon Moraes

    Poesia que se apresenta em forma de metalinguagem nos versos que insti-gam o leitor a encontrar as histrias escondidas nas ilustraes.

    Mas que mula! Martina Schreiner Martina SchreinerNarrativa potica que traz temtica de contos populares, explorada com humor e sabedoria.

    Meu corao um zoolgico

    Michael Hall Michael Hall

    Em versos, a narrativa em primeira pes-soa compara o corao do menino a caractersticas de diferentes bichos. A ilustrao tem como forma bsica o co-rao, acentuando a relao amorosa do personagem com os bichos que imagina.

    As histrias em verso e os livros de poema mostrados no quadro indicam a variedade reuni-da no segmento de Educao Infantil, mas pou-co revelam sobre os elementos que podem ser

    explorados em mediaes literrias. A partir do quadro, sabe-se, por exemplo, que quase todos os livros trazem narrativas sob a forma de ver-sos, que se utilizam de elementos da linguagem

    2120Ca

    tego

    rias

    1 e

    2 .

    Edu

    ca

    o in

    fant

    il

    Cate

    gori

    as 1

    e 2

    . E

    duca

    o

    infa

    ntil

  • potica como as rimas, e que exploram temticas que agradam as crian-as e neste quesito, os bichos se destacam. Mas para perceber o que os livros de fato podem propiciar na criao de atividades de leitura junto s crianas seria necessrio ler cada um deles para apreender o tratamento dado ao tema e a proposta de linguagem que lhe d sustentao.

    A variedade do acervo aponta para a pluralidade de abordagens dos livros em atividades na sala de aula e nos espaos das bibliotecas. No caso de textos em verso, o que vale tanto para narrativas como para poemas, o leitor mediador d vida ao que l para a criana, explorando ritmos, rimas, sons, entonaes, musicalidade e tambm as ilustraes e os temas presentes nos livros, de acordo com o que se revela, como um convite, nos textos literrios. Para desenvolver as atividades exemplares que viro a seguir foi preciso prestar ateno no que os livros dizem, mas tambm em como eles dizem o que dizem, e esse como que faz deles um texto nico e atraente para o leitor. Vamos, ento, s atividades a partir de livros em verso selecionados para o acervo do PNBE/2014.

    1 - alguns livros em verso do acervo do PNBE/2014 para a Educao infantil e sugestes de atividade para serem desenvolvidas com as crianas

    Para a melhor compreenso das atividades literrias, este tpico adotar a seguinte organizao: 1) Breve resenha sobre a obra, com a descrio e o levantamento de aspectos passveis de serem focalizados nas atividades que viro a seguir; 2) Sugestes de atividade, parte que se subdivide em: 2.1) Explorando a capa; 2.2) Explorando a linguagem potica; 2.3) Explorando a linguagem visual [Entre estas duas ltimas partes, convm ressaltar, no h uma ordenao sequencial. Elas foram separadas para efeito didtico, mas, nas atividades, as dimenses verbal e visual so focalizadas conjuntamente].

    LIVRO 1

    1 - Breve resenha sobre a obra

    Em Dois gatos fazendo hora, de Guilherme Mansur, ilustrado por Snia Magalhes, a criana encontrar dois gatos e aquilo que eles gostam de fazer (caar ratos, soltar puns, sentir preguia, passear livremente em armazns das redondezas, beber leite, escutar os barulhos da cidade, sumir, miar, brincar, dormir, se deitar no colo do seu dono e escapulir do perigo, quando necessrio). Treze aes se desenrolam no compasso dos mi-nutos do relgio que marca, de minuto a minu-

    to, a passagem do tempo. A expresso fazer hora, que j anuncia no ttulo a relao com a passagem das horas, ganha, no modo de viver dos felinos, no o sentido de perder tempo segundo o emprego que damos

    expresso. O humor incide nessa noo de hora, que para a vida dos gatos no faz nenhum sentido. Da o grande achado humorstico de a narrativa ser iniciada com a expresso dez pra daqui a pouco que esvazia a indicao cronolgica real , e finalizada com dez e l vai pedrada, expresso temporal popularmente usada para ampliar a noo de tempo, desconsiderando qualquer medida. A criana pequena, a priori, no compreender essas expresses, e talvez por isso no ache graa. Mas na mediao poder captar o movimento de expanso que a linguagem permite na relao com o tempo no emprego, novo para ela, dessas ex-presses. Os elementos de forte interesse para as crianas so as aes dos dois gatos, reforadas pelo contraste do preto e do branco nas ilustraes, que se sucedem no encadeamento dos minutos que abrem as estrofes:

    Repeties nos nmeros que marcam a hora e na referncia aos dois gatos designados por um gato e o outro produzem ecos de frmulas conhecidas nas brincadeiras infantis. A partir dessas repeties, o jogo que faz avanar a narrativa potica dosando bem o que j se conhece e o que est por vir se apoia na surpresa das rimas, responsveis pelo movimento das aes dos felinos. Parlendas que brincam com palavras e nmeros podem ser muito conhecidas pelas crianas: Um, dois, feijo com arroz. Trs, quatro, feijo no prato... ou Serra, serra, serrador, quantas tbuas j serrou, j serrou vinte e trs, um, dois, trs. Crianas familiarizadas com parlendas reconhe-cero a proposta ldica, na qual o som do nmero que finaliza o primeiro verso, destacado em cor diferente na programao visual do livro, rima com o final do ltimo verso, de modo alternado. Para aquelas que no as conhe-cem, o livro oferecer abertura para este dilogo ampliador de repertrios, favorecendo que se apresentem aos alunos esses textos da cultura popular.

    2 - sugesto de atividade

    2.1 - Explorando a capa

    Recomendvel para todo e qualquer trabalho com a literatura, a explorao da capa do livro uma etapa fundamental, por ser ela a

    2322Ca

    tego

    rias

    1 e

    2 .

    Edu

    ca

    o in

    fant

    il

    Cate

    gori

    as 1

    e 2

    . E

    duca

    o

    infa

    ntil

  • expressiva da marcao da passagem dos mi-nutos, recurso que aparece em destaque no primeiro verso que se destaca como um ttulo.

    A inflexo da voz, na marcao do tempo, produz a espera da rima que fecha cada uma das estrofes. Os versos rimados estimulam a memori-zao pelas crianas e uma das propostas possveis pode ser a de oralizao da ltima palavra da estrofe na busca da rima com o primeiro verso, depois de as crianas terem ouvido a histria mais de uma vez. Pode-se ainda recontar a histria dos gatos, suspendendo a leitura no ltimo verso de cada estrofe Dez para daqui a pouco/um gato maluco atrs do rato/O outro... , para este ser completado pelas crianas com a palavra que falta. Pode-se tambm solicitar, numa variao que vai alm da memorizao, que as crianas substituam a palavra que rima por outra de so-noridade aproximada, produzindo assim outras rimas possveis. Outras atividades podem ser de-senvolvidas de modo a produzir o envolvimento da criana com a histria e sua materialidade sonora. A explorao temtica, articulada com a explorao da linguagem, poderia, por exemplo, levar criao de outras cenas e aes envolvendo os personagens, a partir de conhecimentos que as crianas tm sobre a vida dos gatos.

    2.3 - Explorando a linguagem visual

    Embora a linguagem visual no se separe da linguagem verbal no processo de produo de sentido dos textos, este tpico aparece sepa-radamente para fins didticos, pois no se pode

    porta de entrada para a interao literria que se prope. No caso da narrativa potica em questo, na capa os dois personagens olham de frente para o leitor, posicionados em volta de um relgio, de modo a convid-lo a conhecer o contedo do livro. O relgio e os gatos nas imagens visuais podem ser os primeiros ele-mentos a serem explorados num dilogo com as crianas, a partir de questes elaboradas com essa finalidade e adequadas ao seu desenvolvi-mento lingustico, sabendo que de 0 a 6 anos existem diferenas considerveis quanto ao de-senvolvimento das crianas nas interaes com os adultos mediadores. Parte-se do pressuposto, para esta proposta de atividade, com este livro, que as crianas j sabem falar e encontram-se na faixa de idade entre 4 e 6 anos. Algumas questes para a criana que se encontra nessa faixa etria podem ser: O que a histria desse livro vai contar?, Que bichos vo aparecer na histria?, O que gatos gostam de fazer?, O que isto [apontando para o relgio] que apare-ce entre os dois gatos?, O que faz o relgio?, Por que eles esto perto do relgio?, dentre outras, porque certamente as crianas traro conhecimentos sobre os temas abordados que levaro a outras questes. Depois desse trabalho inicial com perguntas que mobilizem as crianas para os elementos que aparecem na capa, para levantar hipteses sobre o que ser encontrado no interior do livro, ttulos e pequenos textos podero ser lidos na mediao, confirmando ou no algumas das previses feitas pelas crianas com base nas ilustraes. Passa-se, depois da etapa de explorao do objeto livro, histria ou aos poemas que ele traz.

    2.2 - Explorando a linguagem potica

    A contao da histria, preparada previa-mente, deve explorar aquilo que a linguagem potica apresenta com mais realce. Por isso, bom reforar, cada livro oferece uma perspectiva de abordagem. Com esse propsito, observa-se, no texto em questo, a importncia, que deve ser dada na leitura para as crianas, da cadncia

    descuidar das ilustraes que dialogam com as palavras nas pginas do livro. Elas captam nesta obra, com muita propriedade, caractersticas tpicas dos felinos, insinuando imageticamente suas aes. Mesmo estticas, conse-guem representar a leveza dos movimentos dos felinos e seu modo de ser em cada situao. Ao contar a histria, deve-se mostrar as imagens para os alunos, sem que se comprometa o fluxo da narrativa. Se as crianas tiverem a oportunidade de manusear o livro antes da atividade de leitura, as rela-es entre texto e imagens que sero mostrados durante a leitura podem ser estabelecidas mais satisfatoriamente pelos ouvintes. Torna-se tambm importante que, aps a leitura, o livro circule livremente entre os alunos.

    LIVRO 2

    1 - Breve resenha sobre a obra

    Em Histria em 3 atos, de Bartolomeu Campos de Queirs, ilustrado por Andr Neves, o apelo mais forte, capaz de instigar a criana pequena, encontra-se na sonori-dade em sua relao com a escrita. Embora na educao infantil ainda no se espere que se inicie o processo sistemtico de alfabeti-zao, crianas de 4 e 5 anos encontram-se receptivas e curiosas a reconhecer letras e a compreender os sinais letras e nmeros

    que esto ao seu redor. A proposta literria apresentada na narrativa ldica do livro consiste em brincar com troca de letras e os diferentes sentidos que se produz: gato e pato inicialmente perdem a primeira letra para depois trocarem entre si as letras iniciais dos seus nomes, o que provoca grande confuso. Outros nveis de leitura apontam outras dimenses como a de g-nero que possivelmente a criana pequena ainda no alcanar , presente na estrutura em trs atos, tpica do gnero dramtico. A expresso atos, nessa narrativa potica infantil, refere-se tanto aos sons finais das palavras gato, pato e rato (personagens da histria), como a cada uma das partes do pequeno drama que se desenrola. No primeiro e no se-gundo atos: o pato vira gato e o gato vira pato. No terceiro ato, en-tra em cena o rato. No encontro entre os bichos, repete-se o susto que provoca a queda da letra ini-cial r, e, na sequncia, as coisas se complicam pois gato vira grato e pato vira prato:

    2524Ca

    tego

    rias

    1 e

    2 .

    Edu

    ca

    o in

    fant

    il

    Cate

    gori

    as 1

    e 2

    . E

    duca

    o

    infa

    ntil

  • a princpio pode se fechar para a criana, no qual se relaciona ato materialidade sonora das palavras gato, pato e rato. Na conversa sobre o ttulo com as crianas, esta materialidade pode e deve ser explorada pelo mediador, aprovei-tando a deixa do pequeno texto da contracapa.

    2.2 - Explorando a linguagem potica

    Elementos da escrita podem ser explora-dos na leitura dessa histria, sem que se vise alfabetizao que acontecer, de forma siste-mtica, no ensino fundamental. Antes de serem alfabetizadas, as crianas participam de muitas situaes que as colocam em contato direto com conhecimentos que dizem respeito es-crita, como, por exemplo, o conhecimento dos nomes de algumas letras. As trocas de letras so fundamentais para a compreenso da hist-ria e das confuses que elas geram. Para isso, uma boa estratgia para o acompanhamento da narrativa pela criana necessariamente passar pela compreenso de alguns aspectos da escrita, sem necessariamente o seu aprofundamento, identificando-se as letras que, quando trocadas, levam troca de papis (o pato passa a se com-portar como gato e o gato passa a se comportar como pato). No trabalho com a criana de 4 ou 5 anos, ganhar relevo o desenvolvimento da percepo sonora de que um som pode alterar sentidos. Como na relao da criana com os trava-lnguas, a histria, se bem contada, pode ressaltar aspectos fnicos da linguagem verbal,

    sem que se evitem entradas para a percepo do funcionamento de elementos grficos que participam da histria. Aos 6 ou 7 anos, com certeza, a Histria em 3 atos permitir outros focos sobre este funcionamento. Por enquanto, na educao infantil, vale a descoberta de que a lngua falada e a lngua escrita tm suas di-ferenas, como o pato e o gato, preparando o terreno para o que vir depois.

    2.3 - Explorando a linguagem visual

    As ilustraes de Histria em 3 atos cum-prem tambm elas o papel mediador para a compreenso do texto verbal, e, nesta condio, se bem exploradas, podem encorajar o pequeno leitor a decifrar os jogos lingusticos propostos na narrativa potica. Letras soltas, que aparecem nas confuses geradas pelas trocas, sinalizam os componentes grficos de grande importncia para a compreenso do texto. Da mesma for-ma, no plano pictrico, a troca de identidade operada pela troca de letras dos nomes produz na narrativa visual situaes inusitadas para os bichos que as crianas conhecem bem.

    A metamorfose final que transforma os dois animais em rato, mantendo nas ilustraes ca-ractersticas de pato e gato, sugere uma atividade ldica para alm da histria. Terminada a leitura, as crianas podem desenhar animais imaginrios que misturem caractersticas de dois bichos sua escolha, e, a partir dos desenhos, criar pala-vras para design-los, em processo semelhante

    Com muito humor, o que era para ser uma histria em trs atos acaba como uma histria com 2 ratos e 1 ato, que recomea em pro-posta circular para quem est apenas descobrindo o funcionamento da linguagem escrita:

    2 - sugesto de atividade

    2.1 - Explorando a capa

    Abertas, capa e contracapa do livro oferecem uma panormica das imagens e textos verbais que convidam leitura. Exibindo-as para as crianas, muitas perguntas podem ser formuladas para a antecipao do que poder ser encontrado no interior do livro: Quem so esses bichos?, O que eles fazem?, O que existe de parecido nas palavras pato, gato e rato? Uma boa explorao da capa pode desenvolver disposies para a leitura, e, no caso de crianas que ainda no sabem ler, disposies para a escuta da histria. Em Histria em 3 atos, o que sobressai na capa e contracapa so os bichos cujas figuras se embaralham, antecipando no plano da linguagem visual a confuso que est por vir. Outros aspectos relacionados a jogos de palavras e os seus sons podem ser explorados pelo mediador a partir de elementos da capa, como, por exemplo, por meio das palavras rabo e pata, que tambm querem confundir o leitor, pois aparecem, na representao pictrica dos personagens, em posies que produzem iluso de que o pato tem rabo de gato e de que o gato tem pata de pato. Os dois ratinhos estrategicamente posicionados provocam os leitores, com um sorriso sarcstico, para a confuso anunciada na capa e contracapa. Explorados os elementos visuais, outras perguntas sobre o ttulo e demais informaes verbais podem ser focalizadas nesta etapa do trabalho com o livro: Qual ser o nome dessa histria? Pato tem ato, gato tem ato e rato tem ato?, Por que trs atos? O levantamento de hipteses facilita a compreenso de outros aspectos para os quais as crianas podem encontrar maiores dificuldades. H na contracapa um pequeno texto que colabora para a compreenso do ttulo do livro, que

    2726Ca

    tego

    rias

    1 e

    2 .

    Edu

    ca

    o in

    fant

    il

    Cate

    gori

    as 1

    e 2

    . E

    duca

    o

    infa

    ntil

  • ao que se prope na histria lida, juntando partes de seus nomes. Uma exposio com os bichos e seus nomes, escritos pela professora, pode ser montada na sala de aula ou na biblioteca escolar.

    LIVRO 3

    1 - Breve resenha sobre a obra

    Caio Riter, em Sete patinhos na lagoa, narrativa em versos ilustrada por Laurent Cardon, explora tambm nmeros e bichos, em estrofes que contam uma histria bem engraada mas que gera tenso e at um certo medo. Isso porque os indefesos patinhos, um a um, vo sendo engolidos por um enorme jacar. Nota-se o elemento da repetio com avanos relativos ao aprendizado dos persona-gens diante do perigo. Para o jacar, o temvel

    vilo da histria, a mudana de estratgia de defesa dos patinhos leva inveno de novas artimanhas para alcanar o seu intento de com-los.

    As quadrinhas, em versos de sete slabas, tambm conhecidos como redondilha maior, propiciam uma leitura ritmada pelo mediador, com rimas alternadas entre o primeiro e o ltimo verso, favorecendo a utili-zao de recursos de dramatizao como a modulao da voz conforme sugere a situao de tenso em cada episdio da narrativa.

    2 - sugesto de atividade

    2.1 - Explorando a capa

    Na capa do livro, em dois planos, temos: na parte superior, sobre a superfcie das guas de um lago ou rio, sete patinhos, e, no plano inferior, debaixo dgua, um grande jacar. O que se destaca para a explorao da imagem o campo de viso dos personagens. Os patinhos, com expresso apreensiva, parecem procurar algo; o jacar, sem ser visto, est espreita, de olho nos patinhos. A partir da cena que anuncia o perigo, perguntas podem ser feitas para instigar a curiosidade das crianas: Quem so os bichos dessa histria?, O que eles fazem?, Os patinhos podem ver o jacar?, O jacar v os patinhos?. Como a histria se estrutura como um conto de repetio, para o qual relevante o conhecimento de nmeros, outro aspecto a ser explorado nas questes diz respeito noo de quantidade: Quantos patinhos aparecem na capa do livro?, Quantos jacars aparecem?. Depois da conversa sobre os componentes

    das imagens da capa, passa-se ao ttulo, atravs do qual se tem a confirmao de que se trata de uma lagoa e de que os patinhos so mesmo sete. O fato de o nome do jacar no aparecer no ttulo j indica uma direo de afinidades que prope uma identificao entre a criana e os patinhos da histria. Sob a forma de versos e com alguma rima, um pequeno texto explicati-vo na contracapa acentua a situao de perigo sob a constante ameaa do terrvel jacar dos patinhos, apenas sinalizada na ilustrao da primeira capa. Com certeza, a explorao da capa contar com muitos conhecimentos que as crianas trazem sobre esses bichos.

    2.2 - Explorando a linguagem potica

    Do ponto de vista temtico, outras histrias infantis trazem esse tipo de conflito, que se ma-nifesta entre um personagem forte e persona-gens aparentemente fracos, mas que encontram maneiras de vencer o perigo (Os trs porquinhos e Os sete cabritinhos so dois bons exemplos para este caso). Essas relaes intertextuais podem ser exploradas, por meio de comentrios e perguntas adequadas aos repertrios das crianas, tudo feito na hora certa durante as interaes mediadas. Na oralizao do texto, a forma como a histria narrada, em estrofes e versos rimados, propicia uma leitura dramatizada, para a qual contam as nfases, as modulaes, o reforo s expectativas geradas pelas situaes de perigo que estrutu-ram a narrativa de suspense, dosando pausas ou acelerao da leitura, nos momentos oportunos. A identificao dos numerais que estruturam a narrativa deve tambm ser focalizada pelo media-dor, de forma ldica, durante a leitura, com apoio nas ilustraes que favorecem a contagem pelas prprias crianas. Elas vo, assim, percebendo, em contagem regressiva, a diminuio do nmero de patinhos, a cada nova investida do jacar Barnab. Por ser uma histria extensa, quando comparada a outras endereadas a crianas pequenas, desta mesma faixa etria, preciso criar estratgias para despertar e manter a ateno das crianas. Uma destas estratgias consiste em no perder

    o foco no eixo principal da narrativa que tem como estrutura bsica: 1) a reduo paulatina do nmero de patinhos, 2) o perigo permanente que os ameaa, 3) as artimanhas do jacar para devorar cada um deles nestes momentos, pode-se intensificar o clima de suspense e, por fim, a pergunta que permanece na cabea do leitor durante toda a histria: 4) como os patinhos vo, afinal, se salvar?

    2.3 - Explorando a linguagem visual

    As ilustraes do livro se aproximam de de-senhos de animao, dadas as suas dimenses e o efeito de movimento que produzem. Para contar a histria s crianas, preciso portanto estar bem prximo delas para que as ilustraes sejam bem visualizadas medida que o texto verbal avana.

    Elementos da composio das imagens podem ser fatores de ampliao do suspense em algumas passagens: Estava l, todo alegre e faceiro,/do susto j esquecido,/quando viu no

    meio da gua,/um rabo bem verde e compri-do; na pgina que traz este texto, na lagoa, va-zada na pgina, surge o enftico contraste entre o patinho na sua pequenez e um grande pedao de rabo, o que deixa ainda maior a situao de perigo que se apresenta ao leitor. Detalhes como este podem e devem ser mostrados durante a leitura do texto verbal para as crianas.

    2928Ca

    tego

    rias

    1 e

    2 .

    Edu

    ca

    o in

    fant

    il

    Cate

    gori

    as 1

    e 2

    . E

    duca

    o

    infa

    ntil

  • erA umA veZ. . . umA cA IXA de h IstrIAs: Prosa no ace r vo do PNBE 2014Renata Junqueira de Souza1 Cyntia Graziela Simes Girotto2

    Era uma vez...

    Quando falamos em prosa, em narrativa, logo imaginamos um texto com comeo meio e fim. Na realidade a maioria das histrias segue essa ordem, conhecida por esquema de 3 atos. Mas o que seria isso?

    Podemos dizer que o comeo, tambm conhecido como situao ini-cial, o ponto de partida da narrativa, momento em que ela iniciada. H aqui a apresentao de uma situao tranquila at que algo a perturbe. Geralmente antes da perturbao, o leitor percebe o local onde se passa a histria e as personagens que vo viv-la. Este o primeiro ato (situao inicial/introduo).

    O segundo ato (complicao/desenvolvimento) mostra como os envolvidos resolvero a perturbao. neste momento, no meio, que per-cebemos uma sequncia de eventos que formam a histria. Ou seja, so frases que enredam casualidade; o que acontece no meio resultado de algo que ocorreu no incio e, assim, consequentemente. Desta maneira, o que vai decorrer no final efeito do que foi apresentado no segundo ato.

    A situao final, ocasio em que a narrativa termina, isto , o desfecho, o fim da histria, tambm o terceiro ato (situao final/concluso). Este momento mostra como a ao perturbadora foi resolvida e se as coisas no enredo voltam ou voltaro a ficar da forma como foram apresentadas antes da perturbao.

    1 Doutora em Letras pela Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho e livre-docente em Educao pela mesma Instituio campus Presidente Prudente.

    2 Doutora em Letras pela Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho campus de Marlia.

    Que portas abrir?

    Para concluir este texto sobre o que podem livros que hoje chegam s escolas da educao infantil via PNBE, refora-se a importncia de se reorientar o foco para o que podem os me-diadores de leitura, quando fisgados pelos livros, junto a seus alunos. Evitou-se aqui criar receitas acerca do modo de usar os livros, com o claro propsito de se deixar espao para a elaborao livre de atividades, a partir das ideias sugeridas. Naturalmente, outras ideias surgiro, pelas ela-boraes de quem est na escola e conhece bem as crianas e o que pode dar certo na interao com elas. Os livros apresentados nesta pequena amostra exibem a fertilidade de algumas narra-tivas poticas, apontando direes do que pode ser feito para que as crianas passem a gostar de livros na escola, em importante etapa da sua formao de leitores que a educao infantil. No saber ler no impede que se realizem ati-vidades de leitura com meninos e meninas que acabam de ingressar na escola. Boas experincias com os livros sero levadas para outras etapas da escolaridade, quando, aos poucos, vai se adqui-rindo autonomia e prescindindo de mediaes do adulto, na leitura de textos literrios. Quando se escolhe um bom livro para ser lido em sala de aula ou na biblioteca, muitas portas se abrem para professores e alunos que compartilham o texto literrio, pela fora da linguagem potica

    e da imaginao, que reorganizam as relaes sociais e afetivas do grupo, dando sentido ao ato de ler que se leva para toda a vida.

    sugestes de leitura BORDINI, Maria da Glria. Poesia infantil. So Paulo: tica, 1986.

    CADEMARTORI, Ligia. O professor e a literatu-ra: para pequenos, mdios e grandes. Belo Horizonte: Autntica, 2009.

    CUNHA, Leo (org.). Poesia para crianas concei-tos, tendncias e prticas. Curitiba: Positivo, 2013.

    MACHADO, Maria Zlia Versiani (org.). A criana e a leitura literria livros, espaos, mediaes. Curitiba: Positivo, Rio de Janeiro: Fundao Biblioteca Nacional, 2012.

    OLIVEIRA, Rui de. Pelos jardins Boboli: a arte de ilustrar livros para crianas e jovens. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.

    PINHEIRO, Helder. Poesia na sala de aula. Cam-pina Grande: Bagagem, 2007.

    REYES, Yolanda. A casa imaginria leitura e lite-ratura na primeira infncia. So Paulo: Global, 2010.

    SORRENTI, Neusa. A poesia vai escola Reflexes, comentrios e dicas de atividades. Belo Horizonte: Autntica, 2007.

    VAN DER LINDEN, Sophie. Para ler o livro ilustrado. So Paulo: Cosac Naify, 2011.

    3130Ca

    tego

    rias

    1 e

    2 .

    Edu

    ca

    o in

    fant

    il

    Cate

    gori

    as 1

    e 2

    . E

    duca

    o

    infa

    ntil

  • Complicado? Achamos que no, mas para facilitar a compreenso vamos demonstrar em um quadro descritivo:

    quadro I esquema de 3 atos

    Narrativa Esquema de 3 atos Especificidade do ato

    1. Ato: Incio/Situao inicial/Introduo

    H uma situao estvel at aparecer algo que a perturbe.

    2. Ato: Meio/Complicao/Desenvolvimento

    Apresentao da perturbao e a neces-sidade de voltar a uma situao estvel.

    3. Ato: Fim/Situao final/Concluso

    Neutralizao da perturbao e volta estabilidade.

    Essa sequncia nem sempre precisa ser seguida, uma parte dela pode ficar implcita para o leitor. o que acontece na histria Sapo Comilo, de Stela Barbieri e Fernando Vilela:

    quadro II obra sapo comilo no esquema em 3 atos

    Narrativa Esquema de 3 atos Sapo Comilo

    1. Ato: Incio/Situao inicial/Introduo

    Situao implcita na primeira imagem do livro, que mostra o sapo comendo uma mosca, feliz da vida.

    2. Ato: Meio/Complicao/Desenvolvimento

    Cansado de comer grilos, moscas, vaga-lumes e outros insetos, o sapo Comilo resolveu experimentar novos tipos de comida (p.5). E ele sai provando vrios tipos de comida.

    3. Ato: Fim/Situao final/Concluso

    ...viu uma mosquinha bem gordinha e distrada. Shlept! Foi a melhor coisa que ele comeu! Sapo gosta mesmo de mosca. Hum, que delcia (p. 27-29).

    O que devemos observar nes-te exemplo que, muitas vezes em textos infantis, a situao inicial apresentada por imagens e no no primeiro pargrafo da histria. Nes-te caso, na primeira pgina do livro temos o ttulo, mas tambm o sapo Comilo com a lngua de fora e uns pontinhos que representam o voo da mosca a ser comida por ele.

    A histria impressa inicia-se na complicao: o sapo estava cansado de

    comer moscas e outros insetos. Prevemos ento que nas pginas seguintes ele vai procurar outra coisa para comer. E o que acontece. Na es-trutura do texto narrativo de Bremond (1972), dizemos que h um melhoramento a obter no caso, experimentar algo diferente e gostoso. No entanto, uma degradao possvel comer e no gostar. Na histria o sapo prova: tomates, alface, melancia, jabuticabas, milho, macarronada, sorvete e sempre h um problema com os novos alimen-tos; um esquisito, outro horrvel, ou azedo, gelado demais, enfim, Comilo no se satisfaz com nada. Em Sapo Comilo temos um final feliz; podemos dizer que se trata de uma soluo ao evento perturbador, e que o protagonista retoma a situao inicial, comendo moscas e afirmando que disso que ele gosta. Assim, o melhoramento obtido, pois ele prova diversos alimentos, mas manifesta preferncia s suas moscas.

    Algo muito comum no desenvolvimento da narrativa, tratando-se de textos para crianas, mais de um perturbador aparecer no texto. Isso acontece, por exemplo, no livro Branca de Neve adaptado do original dos Irmos Grimm por Laurence Bour-guignon. Contamos trs as tentativas da madrasta/bruxa para eliminar a protagonista. A primeira com um cordo de fios de seda, uma espcie de cinto, a segunda, com um pente e, por fim, a ma. Todos esses objetos tm o poder de envenenar Branca de Neve e cada vez que a madrasta lhes oferece o leitor se pergunta: Ser que Branca de Neve vai morrer?. Cada uma dessas tentativas um evento perturbador; ns leitores esperamos sempre que cheguem os sete anes ou o prncipe para evitar ou desfazer o feitio. Assim, do ponto de vista da teoria de Bremond (1972), para cada degradao h um melhoramento. O melhoramento final tambm o terceiro ato, o desfecho.

    A situao final na narrativa de Branca de Neve o casamento. Momento em que o prn-cipe recompensado por desenvenen-la e a madrasta castigada, [...] j lhe haviam preparado sapatos em brasa com grandes pinas, obrigando-a a vesti-los e a danar com eles. Danar at a morte, que no custou a chegar (p.31).

    Se no esquema de trs atos a estrutura gene-ralizante, pois aborda apenas aquilo que est mais claro, na estrutura de Claude Bremond (1972) per-cebemos variveis como: o ponto de vista daqueles que vivem a histria o que melhoramento para Branca de Neve degradao para a madrasta e vice-versa. Outras variveis so apresentadas nas relaes estabelecidas entre as personagens, nos temas, nas pessoas do discurso (quem conta a his-tria) e nas normas transmitidas pela narrativa.

    Nos livros do PNBE 2014, selecionados para crianas de 0 a 5 anos, o educador e a criana tero uma diversidade de enredos. So histrias com temas que remetem famlia, a brincadeiras infantis, s diferenas entre ser menino e meni-na, busca pela aceitao do outro, a bichos de estimao e muito mais. Em A princesa Maribel, por exemplo, tem-se um conto cumulativo, ou seja, repeties frasais que constroem a histria. Esta a Princesa Maribel. E isto, o que ? Este o anel da princesa Maribel. E isto, o que ? Este o pano que cobria o anel da Princesa Maribel [...] (p.4-8). H narrativas em primeira pessoa, como a do menino Gabriel: Eu me chamo Ga-briel. E, hoje de manh minha me tirou minha medida. Agora, eu tenho 99 centmetros [...] (s/n). Nos acervos h histrias cujo narrador em terceira pessoa descreve as aes das personagens: Um elefante se balanava numa teia teia teia de aranha... E achou a brincadeira to emocio-nante, que convidou sua amiga Clo (s/n). Em outras obras, o narrador divide a palavra com as personagens da histria: Eu quero mesmo um bicho de estimao. Mame, por favor, eu posso ter um bicho de estimao? / Bom, talvez, se ele no tiver muito pelo a mame disse (s/n). Mas h tambm narrativas s com dilogos entre personagens como nos livros: O crocodilo e o dentista e Eu te disse.

    Alm disso, os acervos de Educao Infantil so compostos por livros cuja narrativa acess-vel e ldica por exemplo Aperte aqui, de Herv Tullet: Aperte a bola amarela e vire a pgina. /Muito bem! /Aperte a bola amarela mais uma vez (s/n). Tambm se faz uso de repeties que

    3332Ca

    tego

    rias

    1 e

    2 .

    Edu

    ca

    o in

    fant

    il

    Cate

    gori

    as 1

    e 2

    . E

    duca

    o

    infa

    ntil

  • levam a surpresas por exemplo, em Eu vi! o leitor convidado a descobrir o que o narrador viu. Eu vi dois olhos.../ nas asas da borboleta./ Eu vi um labirinto.../nas escamas da cobra (s/n). Alguns livros tambm tm a estrutura do conto de fada (situao inicial, evento pertur-bador, soluo ou no do conflito, desfecho). Nestes vo aparecer histrias contemporneas como: As trs velhinhas; Papai no fui eu; Jeremias desenha um monstro; contos populares: Como sur-giram os vaga-lumes; O grande rabanete; Curupira brinca comigo?; e contos de fada tradicionais: O patinho feio; Branca de Neve e Cachinhos de Ouro.

    Com relao s personagens tambm h muito para se falar, pois quando lemos uma his-tria imediatamente nos colocamos no lugar do protagonista, ou seja, da personagem principal, nomeada por Bremond (1972) como heri. Isso mesmo, o autor vai chamar de heri a Branca de Neve e no o prncipe; para ele o prncipe um aliado, algum que aparece na histria para ajudar a protagonista. A madrasta seria o inimigo que tambm tem aliados, e estes podem ser mgicos como o espelho ou pessoas comuns como o caador, chamado para matar a princesa e trazer os pulmes e o fgado como prova para a maldosa madrasta. Mas devemos prestar ateno na narrativa, pois o aliado pode mudar, comear a histria ajudando uma personagem e finalizar do lado de outra. isso que acontece com o caador, que no incio promete matar Branca de Neve para a madrasta e, no fim, pede que a menina fuja, tornando-se assim seu aliado.

    Mas em todas as histrias temos esses tipos de personagem?

    No, pois h narrativas em que no existe o famoso maniquesmo dos contos de fada, isto , a luta do bem contra o mal. Por exemplo, em Rinoce-rontes no comem panquecas, de Anna Kemp, notamos que a protagonista Daisy tem um melhoramento a obter: fazer seus pais lhe escutarem. Nesta histria, enquanto Daisy tem um desejo, o rinoceronte tem outro: voltar para casa. Assim, podemos dizer que os dois so heris de suas prprias narrativas. Para o rinoceronte, Daisy e seus pais so personagens

    Outro assunto que ns educadores devemos levar em conta que geralmente as histrias infantis utilizam animais como protagonistas. O acervo do PNBE no fugiu regra. Sobre isso, vamos abrir um novo tpico, pois cremos que entender o que alguns bichos vivem suas pre-ocupaes, seus desejos importante para posteriormente pensarmos em um trabalho prtico para os espaos da Educao Infantil.

    os bichos que vivem histrias

    Quando o autor de uma histria atribui caractersticas humanas para os animais chamamos de antropomorfizao. As Fbulas de Esopo, por exemplo, utilizam desta estratgia, pois mostram bichos vivendo enredos cujos desfe-chos so lies de moral. Nas histrias da literatura infantil percebemos que as personagens/bichos muitas vezes permanecem em seu habitat, ou seja, um lago, uma floresta, bem como conservam as suas caractersticas fsicas: focinho, rabo, nadadeiras, entre outras, para viverem situaes humanas. Exemplo disso podemos encontrar em O crocodilo e o dentista, de Taro Gomi. O texto relata um crocodilo indo ao dentista, seu medo, a dor, finalmente o alvio aps o tratamento e a necessidade de cuidados como escovar os dentes. Sabemos, no entanto, que crocodilos no vo ao dentista. Assim, as aes descritas tm caractersticas humanas e o protagonista um bicho.

    Outro modelo de antropomorfizao vem da cultura popular: A casa do bode e da ona, recontado e ilustrado por Angela Lago. O texto traz todas as aes humanas nas etapas da construo de uma casa: limpar o terreno, separar o material, fazer a estrutura, levantar as paredes, construir o telha-do, etc. Ao final, atitudes tambm humanas, mas menos nobres: enganar, mentir, discutir e fugir fazem parte do cotidiano do bode e da ona.

    Diante de tais exemplos, notamos que em alguns livros at mesmo as ilustraes se utilizam da antropomorfizao. Na narrativa Um elefante se balana, de Marianne Dubuc, as personagens esto vestidas como seres humanos. O elefante usa bermuda e camiseta; Clo, a ratinha, alm de ter nome de gente usa um vestido branco de bolinhas vermelhas; a girafa Manuelo usa calas e camiseta; os gatos Pim, Po e Mel vestem-se com cala, camiseta e um deles tem um chapu; e Lulu, a hipoptamo-fmea, traja um vestido verde com bolinhas e babados.

    aliadas, pois so eles quem arrumam a soluo, embarcando o rinoceronte para seu pas de origem. J o melhoramento de Daisy s conquistado ao final, quando, depois da viagem do rinoceronte, seus pais lhe perguntam sobre como ela conheceu o animal, e comeam ento a lhe ouvir.

    Com estrutura parecida, Anton e as meninas, de Ol Knnecke, nos apresenta o menino que no tem amigos e elabora uma srie de aes para chamar a ateno das meninas: mostra o baldinho para brincar na areia, a p, o carrinho, exibe seus msculos, constri uma casa com folhas e galhos. Mas somente o choro, no final da narrativa, faz com que as meninas o ajudem, oferecendo biscoitos e convidando-o para brin-car. O heri Anton tem seu melhoramento ob-tido ter a ateno das meninas. A narrativa, no entanto, termina com a frase: L vem o Lucas e o leitor pode inferir que os objetivos de Lucas so os mesmos de Anton: ter amigos para brincar. No h nesta histria nenhuma personagem antagonista, ou seja, rival ou adversria. Pois, a adversidade neste caso construda pela norma social que separa os meninos das meninas.

    Diante do exposto, julgamos ainda neces-srio falar sobre as normas transmitidas. Na es-trutura do texto narrativo de Bremond (1972), toda histria possui uma mensagem, uma lio. No entanto, essas mensagens modificam-se de leitor para leitor e ns professores no podemos querer que os alunos compreendam o texto de uma mesma maneira, afinal eles so muitos, tm vivncias e conhecimentos prvios diferentes. Ento, o importante sabermos entender essas lies. Por exemplo, no j citado livro Branca de Neve uma das mensagens a vaidade da madras-ta, outra a solidariedade dos anes; no Sapo Comilo poderamos dizer que a mensagem dar valor quilo que a gente tem. Em Anton e as meninas a importncia da amizade uma das ideias centrais do texto; e em Rinocerontes no co-mem panquecas uma lio dar ateno ao outro, criar tempo para a escuta, alm das possibilidades de amizade entre seres to diferentes no caso, a menina e o rinoceronte.

    3534Ca

    tego

    rias

    1 e

    2 .

    Edu

    ca

    o in

    fant

    il

    Cate

    gori

    as 1

    e 2

    . E

    duca

    o

    infa

    ntil

  • Outros livros do PNBE 2014 tambm tra-zem animais com desejos e caractersticas huma-nas. o caso dos j mencionados anteriormente: Rinocerontes no comem panquecas e Sapo Comilo. E ainda, Gino, girino cujo desejo mudar de girino para sapo e aprender a pular; Cachinhos de Ouro, onde uma famlia de ursos mora em uma casa e come mingau; e Um tanto perdida, que narra como uma corujinha beb se perde da me e sai sua procura.

    Aps esta explicao voc deve estar se per-guntando: Por que tenho que saber tudo isso? Justamente porque quando lemos para as crian-as a primeira coisa que elas fazem procurar no texto conexes com suas vivncias. Ou seja, elas tambm tm medo de ir ao dentista, adoram brincar de elstico ou de pular como o elefante (do livro) e seus amigos, e notam como a vida melhor com companhia. Os pequenos podem pensar: Gostei do Coach! porque me pareo com o porquinho, estou sempre procurando novos amigos. Assim, mesmo os menores se identificam ou procuram pontos semelhantes entre as histrias e suas experincias de vida. Tudo isso ajuda essas crianas e ns educado-res a alargarmos conhecimentos do mundo, os sentimentos com relao aos outros e as coisas, e facilita a compreenso que teremos de novos textos, de novas histrias.

    A seguir, vamos pensar como seria o am-biente para essas histrias ganharem vida. Apre-sentamos algumas dicas de como, por exemplo, preparar a sala de aula, o ptio, como decorar o ambiente para despertar nas crianas a vontade de ler.

    o espao

    Assim como as histrias dos livros tomam lugar nos mais diversos espaos lago, casa, parque, cu etc. , o espao para expor os livros tambm importante. Alguns pesquisadores acreditam que no s os pais, professores e bi-bliotecrios podem mediar a leitura, mas tam-bm o local onde a histria lida ou contada.

    de personagens retiradas dos filmes ou desenhos animados, entre outros. Esse tipo de produo consegue chamar a ateno dos pequenos, mas, se tratando de incentivar o gosto por livros in-fantis e o ato de ler, os educadores podem tro-car a decorao da sala em intervalos de tempo menores. Por exemplo, na semana em que o professor planejar ler ou contar a histria de Anna Cludia Ramos, Era uma vez trs velhinhas, ele pode a partir das ilustraes do livro vestir trs manequins com as roupas das protagonistas ou, se a escola no tem manequins ou bonecos, pode colocar essas roupas em cabides e espalh-los pelo ambiente. As crianas ficaro curiosas e essa vontade de saber vista por Yopp e Yopp (2001) tambm como uma estratgia de leitura. Tal ao cria um objetivo para que as crianas queiram ouvir a histria e conhecer o livro.

    Em se tratando da histria O saco, de Ivan e Marcello, a sala de atividades pode ser decorada com sacos de diversos tipos e tamanhos, alguns vazios, outros cheios, alguns pendurados nos armrios, outros nas janelas, ou no quadro ne-gro, um maior em p num canto da sala, enfim, cada educador pode criar um lugar com muitos sacos. Novamente, movidas pela curiosidade as crianas vo querer saber por qual motivo tantos sacos e o que eles fazem ali. A partir da indaga-o, o professor tem a entrada para apresentar aos futuros leitores a histria. Afinal, trata-se de um saco encontrado no meio da floresta, e saber

    Neste sentido, ns educadores temos na escola os espaos como aliados: a sala de aula, o ptio, a biblioteca, o parquinho, a sala de merenda, algumas instituies tm brinquedotecas, e to-dos esses locais podem ser preparados para o encontro da criana com o livro.

    Iniciaremos com o lugar onde as crianas de Educao Infantil passam a maior parte do tempo: a sala de atividades. Geralmente esse ambiente tem um mobilirio bsico: mesas, cadeiras, estantes e, s vezes, um tapete. Para que a criana tenha melhor acesso ao livro, o educador pode espalh-los: em cima das mesas, nas estantes, em uma caixa aberta junto com os brinquedos, para que conforme os pequenos engatinhem possam tocar, pegar, abrir o livro.

    Por que esse movimento importante? Por-que, segundo Martins (1985), esse um primei-ro tipo de leitura e a autora se refere a ele como leitura sensorial. Isso significa que, ao tocar o livro, ao folhe-lo, ao virar suas pginas e olhar as gravuras, a criana j estabelece relaes com a narrativa, observa, faz inferncias v a figura de um cachorro e se lembra do cachorro da tia, ou observa um pato e se recorda da histria do patinho feio que se transforma em cisne etc. Essas aes so estratgias de leitura e iro ajudar os pequenos leitores a compreenderem o texto, que naquele momento est sendo folheado, e mais tarde ser lido ou contado pelo educador.

    Pesquisas indicam que esse contato inicial, sensorial com o objeto livro desperta na criana uma curiosidade para leitura, e que crianas que tm essa relao com os livros aprendem a ler antes daquelas que no foram expostas a materiais escritos.

    Ainda sobre o espao da sala de aula, acre-ditamos que alm dos locais onde os livros sero expostos tambm as paredes podem auxiliar no incentivo leitura. Frequentemente as salas so decoradas com uma srie de cartazes que per-manecem na escola durante todo o ano letivo: quadros com o nome dos alunos, cartaz de ani-versariantes, alfabeto em papel ou EVA, tabelas com o ajudante do dia, alguns cartazes e figuras

    o que tem dentro dele o objetivo de todas as personagens da narrativa. A surpresa vai fazer todos darem muitas risadas.

    Se a sala de aula um dos espaos para as crianas receberem uma iniciao como leitoras, a biblioteca tem tambm essa funo. Como o nmero de ttulos maior neste local, os edu-cadores devem arrumar o espao inicialmente verificando se os livros esto acessveis s mos dos pequenos, pois estamos cansados de ver estantes altas cheias de livros que no podem ser escolhidos ou tocados. Desta forma, os pro-fessores e os responsveis pela biblioteca tm de garantir que os livros infantis fiquem nas prate-leiras mais baixas, ao alcance dos pequenininhos ainda que isso inclua dias especiais de visita.

    Uma sugesto para enfeitar o ambiente neste caso homenagear um autor ou ilustra-dor por ms ou bimestre. O responsvel pela biblioteca escolar pode montar com plsticos transparentes ou mesmo uma sapateira trans-parente um expositor de livros. Para cada bolso ou envelope plstico: um livro daquele autor. Outra ideia separar caixas de papelo, cort-las, encap-las e guardar os livros infantis. Tais caixas parecem arquivos e o que pode ser feito neste caso separar os livros por temas: histrias de bichos, poemas, enredos com crianas, contos de fada, entre outros. Cada embalagem abrigar um desses temas e estas caixas podem passar de uma sala para outra, durante os dias da semana.

    3736Ca

    tego

    rias

    1 e

    2 .

    Edu

    ca

    o in

    fant

    il

    Cate

    gori

    as 1

    e 2

    . E

    duca

    o

    infa

    ntil

  • O parque da escola tambm local de lei-tura. Neste sentido, por ser um espao aber-to, daremos dicas no s de como preparar o ambiente, mas tambm de como apresentar os livros para as crianas.

    O acervo composto por vrios livros cujas narrativas se passam ao ar livre. Anton e as meni-nas, Um elefante se balana ou A princesa Maribel podem determinar como o local deve ser ar-rumado. Em Anton e as meninas, por exemplo, as garotas brincam no tanque de areia e, neste sentido, o parque pode receber enfeites durante uma semana: baldes, ps, peneiras etc. Esses obje-tos podem tambm ser utilizados no momento de ler a narrativa para os alunos.

    A histria de um elefante que se equilibra em um fio e convida vrios amigos para brincar e se balanar com ele igualmente pode ser lida no parque. Neste momento, o professor inicia as atividades, primeiro brincando, para em se-guida introduzir questes sobre a brincadeira e apresentar o livro s crianas. Por exemplo: O que vocs acham que acontece quando um elefante, uma rata, trs gatos, uma girafa e um hipoptamo-fmea se balanam num fio como esse? As crianas provavelmente vo inferir que todos vo cair, se machucar, pois o fio no aguenta o peso, mas tero uma grata surpresa no final da histria de Marianne Dubuc.

    J em A princesa Maribel, por ser um conto cumulativo e as ilustraes serem feitas com objetos do nosso dia a dia: prendedor de roupa, apontador de lpis, uma pea de xadrez, retalho de tecido, entre outros, sugerimos que o docente utilize esses objetos no momento da apresen-tao e leitura do livro. Ou seja, as crianas em semicrculo e o professor com todos os objetos do conto em um saquinho. Conforme ele vai lendo a histria, vai retirando os objetos/perso-nagens do saco. Este o CORVO que roubou o pano que cobria o anel da Princesa Maribel (p.10). Nesta pgina o corvo representado por um prendedor de roupas; ao ler o educador pode retirar o prendedor do saco e manipul-lo. Ao mostrar os elementos da narrativa para as

    ler em voz alta de modo coerente, convidativo, agradvel e apropriado. Desta maneira, numa sesso de leitura em voz alta, o educador deve estar atento a trs questes: 1) Para que idade vamos ler?; 2) Quanto de histrias, de texto, ler?; 3) Como ler?

    Alguns pais comeam a ler para seus filhos ainda no tero; com seis meses, um ano de ida-de algumas crianas j aprenderam os sons da lngua materna e j ensaiam, balbuciam palavras. Especialistas dizem que podemos comear a ler em voz alta para as crianas desde os primeiros meses. Os fundamentos da aprendizagem da leitura so estabelecidos a partir do momento em que uma criana ouve: os sons de pessoas falando, as melodias das canes e seus ritmos, as repeties das rimas e as histrias.

    Quanto mais cedo lermos em voz alta para as crianas, mais rpido elas desenvolvero ha-bilidades de fala. Por isso, enquanto educado-res devemos conversar, rir, explicar, ler para os pequenos antes de eles completarem trs anos. Alguns psiclogos e fonoaudilogos esto con-vencidos de que quanto mais ns conversarmos com as crianas mais espertas e astutas elas sero.

    Assim, uma sesso de leitura em voz alta o momento perfeito para iniciar conversaes com as crianas, pois o leitor e o ouvinte podem trocar ideias sobre o tema da histria, sobre as ilustraes, utilizar as palavras, criar mensagens. Segundo Fox (2001), ler em voz alta e conversar sobre o livro agua o crebro da criana. Ajuda a desenvolver sua habilidade de concentrao, a resolver problemas e a expressar-se com mais facilidade e clareza.

    Outra questo colocada diz respeito quan-tidade de leitura em voz alta em um determinado espao de tempo. Pois bem, Mem Fox (2001) brinca dizendo que devemos ler mil histrias para nossos alunos. Mais tarde ela explica que se lermos trs histrias por dia letivo em menos de dois anos as crianas e os educadores tero atingido essa meta. Nas atividades da Educao Infantil (creche e pr-escola) no seria difcil ler pelo menos um livro infantil por dia. A dica aqui fica para a seleo

    crianas, ou seja, ao dar vida aos objetos trans-formando-os em personagens, o professor utiliza tambm da estratgia de leitura da visualiza-o. Neste sentido, oportuniza que os pequenos criem imagens mentais dessas personagens e isso facilita o entendimento do conto.

    Vocs perceberam como o espao influen-cia tambm na maneira como ns educadores vamos apresentar o texto para os pequenos? A seleo da histria tambm influencia. Nas pas-sagens acima no s arrumamos o espao como tambm j demos dicas de como apresentar o livro para as crianas.

    A seguir, queremos conversar sobre a leitura em voz alta, oferecendo algumas ideias para que nesse momento o educador/leitor crie vnculos com a criana/ouvinte e os livros.

    a mgica da leitura em voz alta

    Ns educadores achamos que sabemos o que seja ler, afinal conseguimos ler. Mas ler pode ser complicado por ser complexo. Ler no meramente ser capaz de pronunciar palavras de maneira correta, poder atribuir significados s palavras impressas no papel. Neste sentido, ler em voz alta pode auxiliar as crianas no aprendizado da leitura.

    Mem Fox (2001) relata que um dia uma professora lhe perguntou como ela deveria ler em voz alta para seus alunos. Fox conta que pensou, pensou e achou at engraada a pergunta, pois parecia bvia demais. Indiscutvel para quem cres-ceu em um ambiente onde ler em voz alta fazia parte do cotidiano da famlia. A autora respondeu que bastava a docente escolher um livro, juntar as crianas, sentar-se e comear a leitura. Mas o que parece simples, muitas vezes no o . A bagagem do mediador tambm faz diferena no processo.

    Quanto mais expressiva for a leitura, melhor ser a experincia com o livro, e quanto melhor for este contato, mais as crianas (de 0 a 5 anos) iro gostar e iro fingir que leem. Quanto mais elas brincarem de ler, mais rpido ser o apren-dizado da leitura. Por isso, precisamos aprender a

    deste livro: os educadores devem mesclar histrias novas, desconhecidas dos pequenos, com histrias j conhecidas e aquelas preferidas pelo grupo de crianas. No h nada de errado em ler o mesmo livro, at trs vezes num dia s.

    Uma de nossas alunas do Plano Nacional de Formao de Professores (PARFOR), nos contou que um dia teve que ler o mesmo livro para sua sala, de crianas de 2 anos, por meia hora. No existe nenhum inconveniente nesta atividade, muito pelo contrrio... as palavras so essenciais na construo das conexes de pensamento com o crebro. Quanto mais uma criana experimentar da linguagem de um texto, atravs dos livros ou de conversas sobre eles, mais benefcios sociais e educacionais ela ter.

    Mas ento, como o educador deve conduzir uma sesso de leitura em voz alta? Inicialmente, ns professores no devemos nos preocupar com o que as crianas esto fazendo. Devemos pegar o livro, sentar e iniciar a leitura, logo elas se apro-ximaro e prestaro ateno, at mesmo as mais ativas. No h, no entanto, uma maneira exata para se ler em voz alta. O mais importante dei-xar a histria falar pelos nossos sentidos. Devemos ler com os olhos, com as mos e cuidar da voz.

    Enquanto lemos um texto devemos estar atentos posio do nosso corpo, ao nosso con-tato visual com os ouvintes/crianas, nossa entonao vocal e nossa expresso facial. Fox (2001) acredita que cada um de ns acha uma maneira de ler, criando identidade com o texto. A autora explica que podemos fazer pelo me-nos cinco coisas com a nossa voz para manter as crianas na histria, ou seja, engajadas na sesso de leitura em voz alta. Quatro delas so contrastantes, opostas: alto e baixo; rpido e devagar. Por fim, podemos ainda... p-a-u-s-a-r a voz. So as pala-vras das histrias que nos auxiliaro nesta escolha.

    Em Pai, no fui eu!, de Ilan Brenman, o edu-cador pode criar nfase na passagem: Estava sentado no silncio do meu escritrio escrevendo uma histria e, de repente: Catapum! uma coisa pesada caiu no cho (s/n). A palavra catapum pode ser pronunciada num tom de voz mais alto.

    3938Ca

    tego

    rias

    1 e

    2 .

    Edu

    ca

    o in

    fant

    il

    Cate

    gori

    as 1

    e 2

    . E

    duca

    o

    infa

    ntil

  • Antes de passarmos s atividades prticas, precisamos compreender que sesses de leitura tm potencial para despertar as crianas como futuros leitores. Nas palavras de Fox (2001): [...]o fogo da leitura criado pelas fascas entre uma criana, um livro e a leitura em voz alta. Ele no alcanado pelo livro sozinho, nem pela criana, nem pelo adulto que l em voz alta, mas ser a relao entre os trs que far da leitura um ato fcil e harmnico (p.10).

    as escolhas

    At o momento, os livros em prosa do acervo PNBE 2014 mencionados neste texto exemplificaram ora a estrutura em trs atos, ora demonstraram a antropomorfizao, outros au-xiliaram na explicao sobre o espao da leitura, e alguns serviram para mostrar modos de ler em voz alta. Nossa inteno a partir de agora selecionar dois livros para sintetizarmos todas essas informaes. Para isso escolhemos O balde das chupetas e Cachinhos de Ouro.

    Escrito por Bia Hetzel com ilustraes de Mariana Massarani, O balde das chupetas conta a histria de Joca, um menino que dorme chu-pando chupeta e abraando um boneco chama-do Soninho. O garoto trata carinhosamente a chupeta por pepeta. Mas, ele cresce e tem que largar a pepeta. Como situao inicial, a n