Historia Da Legendagem

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IDENTIFICAÇÃO DE ALGUNS P ROCEDIMENTOS / ESTRATÉGIAS PREDOMINANTES NA TRADUÇÃO DE FILMES: UMA ABORDAGEM SOBRE A LEGENDAGEM PARA VÍDEO Daniel R. Forner Profª. Sônia M. M. Gazeta Introdução Dentre as mais diversas artes existentes no mundo, existe uma que se destacou muito desde que foi lançada pelos Irmãos Lu mière, na França em 1895: a chamada Sétima Arte   o cinema   que se tornou uma das formas de diversão e entretenimento mais popular do mundo. É através de sua obra-prima   o filme   que choramos, nos emocionamos, rimos, aprendemos, criticamos e analisamos o mundo ao nosso redor. Enfim, o filme prende a nossa atenção e apela aos sentidos; mas para que esse apelo seja eficaz, o filme, principalmente quando produzido o riginalmente em língua estrangeira, requer que a tradução entre em cena em primeiro lugar, para que o obstáculo de não saber a língua estrangeira seja superado através de legendas ou dublagens. Embora até muito recentemente não se considerasse a legendagem relevante como objeto de estudo, temos que reconhecer não somente o valor da tradução de filmes, mas também o t rabalho de se fazer legendas, pois exige tanto esforço, conhecimento e habilidade quanto a prática de tradução de um livro. Este trabalho tem como ob jetivo analisar alguns procedimentos / estratégias utilizados pelo tradutor de filmes na hora de realizar sua atividade. Neste trabalho, vou me limitar apenas a falar sobre a legendagem, já que a dublagem exige outras t écnicas que merecem um estudo à parte.  A tradução de um filme envolve uma série de requisitos que um tradutor deve ter sempre em mente. Tais requisitos referem-se às técnicas em relação à composição das legendas, que trabalham simultaneamente a relação tempo / espaço. Isso significa que o traduto r, além de elaborar sua tradução, deve ficar atento para não ultrapassar os limites de tempo, em segundos, e de espaços relacionados à quantidade de caracteres por legenda. O trabalho do tradutor d e filmes, neste caso o legendista (Alvarenga 2000), pode utilizar alguns procedimentos / estratégias, que procuraremos descrever, neste estudo. Além disso, discutiremos algumas questões relacionadas ao grau de liberdade do tradutor de filmes ao desempenhar sua tarefa, bem como questões pertinentes à legenda. Capítulo 1 Cinema: um pouco de sua história1

Transcript of Historia Da Legendagem

  • IDENTIFICAO DE ALGUNS PROCEDIMENTOS / ESTRATGIAS PREDOMINANTES NA

    TRADUO DE FILMES: UMA ABORDAGEM SOBRE A LEGENDAGEM PARA VDEO

    Daniel R. Forner

    Prof. Snia M. M. Gazeta

    Introduo

    Dentre as mais diversas artes existentes no mundo, existe uma que se destacou muito

    desde que foi lanada pelos Irmos Lumire, na Frana em 1895: a chamada Stima Arte o cinema que se tornou uma das formas de diverso e entretenimento mais popular do mundo.

    atravs de sua obra-prima o filme que choramos, nos emocionamos, rimos, aprendemos, criticamos e analisamos o mundo ao nosso redor. Enfim, o filme prende a

    nossa ateno e apela aos sentidos; mas para que esse apelo seja eficaz, o filme,

    principalmente quando produzido originalmente em lngua estrangeira, requer que a

    traduo entre em cena em primeiro lugar, para que o obstculo de no saber a lngua

    estrangeira seja superado atravs de legendas ou dublagens.

    Embora at muito recentemente no se considerasse a legendagem relevante como

    objeto de estudo, temos que reconhecer no somente o valor da traduo de filmes, mas

    tambm o trabalho de se fazer legendas, pois exige tanto esforo, conhecimento e

    habilidade quanto a prtica de traduo de um livro.

    Este trabalho tem como objetivo analisar alguns procedimentos / estratgias utilizados

    pelo tradutor de filmes na hora de realizar sua atividade. Neste trabalho, vou me limitar

    apenas a falar sobre a legendagem, j que a dublagem exige outras tcnicas que merecem

    um estudo parte.

    A traduo de um filme envolve uma srie de requisitos que um tradutor deve ter sempre

    em mente. Tais requisitos referem-se s tcnicas em relao composio das legendas,

    que trabalham simultaneamente a relao tempo / espao. Isso significa que o tradutor,

    alm de elaborar sua traduo, deve ficar atento para no ultrapassar os limites de tempo,

    em segundos, e de espaos relacionados quantidade de caracteres por legenda.

    O trabalho do tradutor de filmes, neste caso o legendista (Alvarenga 2000), pode utilizar

    alguns procedimentos / estratgias, que procuraremos descrever, neste estudo. Alm disso,

    discutiremos algumas questes relacionadas ao grau de liberdade do tradutor de filmes ao

    desempenhar sua tarefa, bem como questes pertinentes legenda.

    Captulo 1

    Cinema: um pouco de sua histria1

  • Antes de focalizar o processo de traduo para legendagem de filmes, faremos, neste

    captulo, uma breve retrospectiva em relao s origens do cinema, cuja inveno inaugurou

    uma dos entretenimentos mais populares de todos os tempos.

    O cinema, declarou o historiador Paul Rotha, a grande equao no resolvida entre a arte e a indstria. uma das maiores formas de arte industrializada que dominou a cultura no sculo XX. Desde seus primrdios, surgiu para se tornar uma indstria bilionria e uma

    das mais espetaculares e originais expresses da arte contempornea.

    A histria do cinema no comeou com um big bang. Nenhum acontecimento exclusivo - quer seja a inveno patenteada do cinetoscpio de Thomas Edison ou a primeira exibio

    de filmes pelos Irmos Lumire a um pblico pagante em 1895 possa distinguir o pr-cinema incerto do cinema em si. Pelo contrrio, h uma seqncia que comea com os

    primeiros testes de aparelhos de projeo de imagens em movimento, o que inclui no s o

    surgimento, nos anos de 1890, do mecanismo reconhecido como cinema, mas tambm os

    precursores da produo de imagem eletrnica. Os primeiros testes de transmisso de

    imagens por um aparelho do tipo televiso so, de fato, to antigos quanto o cinema:

    Adriano de Paiva publicou seus primeiros estudos sobre o assunto em 1880, e George

    Rignoux parece ter alcanado uma transmisso efetiva em 1909. Enquanto isso, certas

    tcnicas pr-cinema continuaram a ser usadas em conjunto com o cinema em si por volta de

    1900-5, quando o cinema estava se firmando como uma nova forma de entretenimento e

    ensino em massa. Portanto, a lanterna mgica, o filme e a televiso no constituem trs

    universos separados, com campos de estudo distintos, mas fazem parte, em conjunto, de um

    nico processo de evoluo (Geoffrey Nowell-Smith: 1996, minha traduo).

    1.1 As primeiras experincias2:

    Os filmes produzem a iluso de movimento contnuo pela passagem rpida de uma srie

    de imagens distintas e seqenciais frente de uma fonte de luz, possibilitando que essas

    imagens sejam projetadas na tela. Cada imagem mantida brevemente uma questo de milsimos de segundos e ento rapidamente substituda pela imagem seguinte. Se o processo for rpido e suave o suficiente, e as imagens semelhantes uma das outras, as

    imagens descontnuas so ento percebidas como contnuas, criando-se, assim, a iluso de

    movimento.

    A sensao luminosa produzida por um raio de luz que atinge a retina perdura, mesmo

    depois que o raio cessou de chegar ao olho, aproximadamente durante um dcimo de

    segundo. O movimento que se aprecia no cinema possvel devido a essa persistncia das

    imagens na retina. Na tela se projeta uma imagem que se mantm durante um tempo muito

    curto (aproximadamente 0,04 s), embora suficiente para que impressione a retina. A seguir

    substituda por outra, enquanto no olho persiste ainda a anterior, e assim sucessivamente;

    de modo que para o olho essa sucesso produz o efeito de um movimento contnuo.

    O obturador do projetor permite que a luz chegue ao quadro do filme somente quando

  • este se encontra em posio na janela, no deixando que a luz passe enquanto avana. Um

    mecanismo de ganchos encaixa-se nas perfuraes no filme para sincronizar o avano com a

    rotao do obturador.

    1.2 Projetor

    Todos os projetores, desde os primeiros projetores de filmes at os mais modernos,

    possuem os mesmos componentes: fonte de luz, condensador e lente de projeo. O

    material transparente, com a imagem a ser projetada, colocado no plano objeto de

    maneira que a fonte de luz, orientada pelo condensador, possa brilhar atravs do material e

    atingir a lente, que projeta a imagem ampliada sobre a tela.

    O sistema condensador indispensvel para a iluminao uniforme de todos os pontos

    da tela. Em geral, tem duas partes: um espelho esfrico atrs da fonte de luz e um sistema

    de lentes que se localiza entre a fonte luminosa e o plano objeto. O espelho esfrico capta a

    luz que, de outra maneira, se irradiaria para longe do objeto, e a reflete em direo ao

    objeto, dobrando com isso o brilho da fonte.

    1.3 O filme

    O filme consiste numa seqncia de quadros transparentes que mostram objetos e

    pessoas em diferentes posies. O projetor de cinema possui, alm da fonte luminosa e da

    lente, uma garra que puxa o filme, quadro por quadro, atravs de orifcios. equipado

    tambm com um obturador, que corta o feixe luminoso quando se d a mudana de quadro.

    Quando o filme projetado, o obturador corta o feixe de luz cada vez que ocorre

    mudana de um quadro para outro. Nesse instante no h projeo. Entretanto no

    percebemos esse corte porque, apesar de apagado o feixe de luz, a imagem ainda persiste

    em nossa retina o tempo necessrio para a troca de quadro. Se a freqncia maior que

    trinta lampejos por segundo, no conseguimos perceber a variao da luminosidade, e temos

    a iluso de que a luz permanece continuamente acesa.

    Assim o filme uma seqncia de quadros separados e a imagem projetada na tela

    sempre imvel. Mas, como nossa vista guarda a imagem por um certo tempo, quando vemos

    um quadro a imagem do anterior ainda est em nosso olho. Assim, no percebemos o

    intervalo entre a projeo dos quadros de movimento.

    1.4 Formatos

    A largura de 35 mm para a pelcula de celulose de filme foi primeiramente adotada por

    Thomas Edison, em 1892, para o seu cinetoscpio, um aparelho primitivo de viso de

    imagens, na qual era possvel um espectador por vez assistir a um breve segmento do filme.

    O cinetoscpio teve tamanho sucesso comercial, que outros aparelhos criados

    posteriormente adotaram a largura de 35 mm como formato padro.

    Hoje, os cinemas continuam adotando o formato de 35 mm de largura, com a taxa de

  • projeo de 24 quadros por segundo, ou seja, um segundo o resultado da projeo de 24

    quadros seqenciais. J a televiso trabalha com a taxa de 30 quadros por segundo.

    Como arte e como tecnologia, o cinema j completou um sculo de existncia. Os

    primeiros aparelhos cinemticos comearam a ser testados nos anos de 1890 quase ao

    mesmo tempo nos EUA, Frana, Alemanha e Gr-Bretanha. Dentro de vinte anos, o cinema

    se propagou para o mundo todo. Desenvolveu-se uma tecnologia sofisticada e esteve no

    caminho para se tornar uma grande indstria, proporcionando a forma de entretenimento

    mais popular para o pblico do mundo todo, atraindo a ateno de empresrios, artistas,

    cientistas e polticos, tal como hoje, pois somos povoados de inmeros filmes, que, alm

    de terem os mais sofisticados efeitos especiais, mexem com nossa imaginao, fazendo-nos

    entrar no mundo da magia do cinema. Alm de entretenimento, o filme era usado para fins

    educativos, propaganda e pesquisas cientficas. Esse novo meio de entretenimento e

    comunicao de massa atraa pblico cada vez maior onde quer que o filme fosse exibido.

    Atualmente, o cinema conhecido como a nica arte com um perfil tecnolgico, que se

    desenvolve cada vez mais.

    Nesse captulo procuramos fazer um breve comentrio sobre a surpreendente histria do

    cinema, desde seus primrdios at os dias de hoje. No prximo captulo vamos falar sobre

    as tcnicas referentes composio das legendas.

    Captulo 2

    O segredo de quem traduz e faz legendas

    Os filmes produzidos so exibidos por trs veculos: o Cinema, o vdeo (VHS) e o DVD.

    Como j mencionamos, a traduo do material necessria pois atravs dela que podemos

    entender o filme atravs de duas modalidades: dublagem e legendagem.

    Filme

    Dublado Legendado

    Cada uma das modalidades de traduo exige suas tcnicas prprias. Este estudo se

    limitar a uma abordagem sobre a legendagem que, por sua vez, divide-se em: Legendagem

    para Cinema, Legendagem para Vdeo (VHS) e agora, legendagem para DVD. Neste caso,

    estudaremos a legendagem para vdeo. Para falar do contexto histrico das legendas,

    apresentamos uma cronologia dos primrdios do cinema:

  • A primeira fase do cinema denominada cinema mudo (silent cinema, 1895 -1930) que

    vai desde as primeiras exibies de trechos curtos de imagens (early cinema), passando pela

    consolidao da indstria cinematogrfica poderosa com fins comerciais (1915), at a

    introduo do som no incio da dcada de 1930. Embora essa poca seja denominada

    cinema mudo, os filmes exibidos no eram totalmente mudos: A trilha sonora era

    reproduzida, ao vivo, separadamente por uma orquestra (Ou apenas um pianista,

    dependendo da classe social onde o filme fosse exibido), ao lado da tela de projeo

    enquanto o filme fosse exibido. Tambm nesse perodo, todos os filmes mudos tinham algum

    tipo de sonoplastia, tambm executada ao vivo, para reproduo de alguns efeitos sonoros,

    alm de uma espcie de orador (lecturer) que fazia comentrios em relao s imagens que

    passavam na tela, explicando o contedo e o significado platia.

    Com o passar dos anos, inovaes tecnolgicas para a poca foram-se desenvolvendo. O

    cinema cresceu rapidamente nas duas primeiras dcadas de sua existncia. Foi no perodo

    de transio (transitional cinema), entre 1907 e 1913, em pleno cinema mudo, que as

    legendas comearam a ser introduzidas para reproduzir os dilogos dos filmes. Este novo

    recurso permitia ao pblico entender o enredo durante sua exibio, alm de reduzir os

    custos com a exibio, j que antes era preciso contratar vrios oradores para transmitirem a

    mensagem do filme ao pblico.

    A mudana para o uso das legendas durante o perodo de transio foi um dos fatores

    responsveis pela vivacidade e credibilidade individual das personagens. As legendas eram

    produzidas quadro a quadro, como se fosse uma cena do filme, com um fundo preto, pois

    nessa poca no havia tecnologia que permitisse imprimir as legendas na pelcula cinematogrfica, nem mesmo programas de computador que facilitasse a composio das

    legendas e sua insero na tela conforme se faz hoje. Inicialmente, as legendas eram

    explicativas, sempre precedendo a cena e proporcionando descries longas sobre a ao

    seguinte. Gradativamente, legendas explicativas mais curtas se distriburam por toda a cena,

    substituindo as mais longas. O mais importante que as legendas de dilogos comearam a

    aparecer a partir de 1910. Os cineastas experimentaram a colocao dessas legendas,

    primeiramente inserindo-as antes da cena onde houvesse o dilogo. Nessa poca, as

    legendas eram escritas no mesmo idioma do pas de origem para exibio local; e j

    traduzidas para o idioma de determinado pas, onde quer que fosse exibido. A partir de

    1913, as legendas comearam a ser introduzidas no momento da fala da personagem. Isso

    era uma forma de promover uma integrao mais forte entre o dilogo e o ator,

    fortalecendo, assim, a individualidade da personagem.

    2.1 Legendas Em Busca de um Conceito

    At o presente, a literatura e estudos sobre traduo cinematogrfica parecem no ter se

    preocupado em definir, do ponto de vista lingstico, o que uma legenda. At mesmo os

    profissionais da rea esto em busca de um conceito, apesar de a legenda estar presente

    nas telas desde 1913. Etimologicamente, legenda significa ler.

    Ela constitui, como j visto, um dos elos de comunicao entre o filme e o pblico:

  • nitidamente, podemos perceber que a traduo escrita da fala que acompanha a imagem

    sendo, portanto, visual, pois consiste na impresso de um texto escrito na imagem.

    Como as legendas transmitem por escrito algo que foi falado, uma das possibilidades

    seria considerar que elas transformam a lngua falada em lngua escrita. Marcuschi (1994),

    em seu artigo intitulado Da Fala para a Escrita, chama o processo de transformao da fala

    para a escrita de retextualizao. Na realidade, a lngua escrita possui suas marcas prprias

    referentes legibilidade do texto, onde as sentenas seguem uma ordem lingstica.

    J a fala, quando naturalmente transcrita, no se torna legvel pois a organizao do

    discurso falado segue normas diferentes da escrita. A fala marcada por pausas,

    reiteraes, hesitaes, omisses e outras caractersticas normalmente no presentes no

    texto escrito. Se observarmos um texto transcrito, podemos ver que as marcas da fala se

    refletem na escrita, tornando os enunciados difceis de compreender. As operaes de

    transformao da fala para a escrita seguem um processo de tratamento da seqncia dos

    enunciados de forma que o texto escrito fique legvel.

    Se considerarmos a legenda como um produto da retextualizao (transformao da fala

    para a escrita), observaremos que o processo que envolve a legendagem um pouco mais

    complexo, pois sua composio passa por um processo lingstico mais longo at chegar na

    sua forma final, conforme os passos a seguir: 1 O filme escrito por um roteirista, portanto, temos um roteiro original escrito; 2 Esse roteiro ser decorado por um ator que, por sua vez, repetir oralmente as falas do roteiro original, podendo modificar algo sobre

    esse roteiro, usando sua criatividade, o talento artstico que envolve a interpretao ou a

    orientao do diretor do filme; 3 O tradutor far a traduo no formato de legendas, recorrendo ao roteiro escrito para a elaborao da forma escrita traduzida, tambm

    utilizando sua criatividade e domnio lingstico atravs de certas estratgias. Assim, temos a

    seguinte representao:

    Roteiro (texto escrito) Representao do ator (texto falado) LEGENDA (texto escrito

    traduzido)

    De acordo com essa perspectiva mencionada acima, podemos observar que o processo

    de composio de legendas no segue os procedimentos comuns de uma retextualizao;

    porm envolve maior complexidade em termos de manobras lingsticas. As etapas de

    transio (escrita fala traduo escrita) envolvem operaes de ajustes da linguagem para que haja clareza e legibilidade. Seguindo esse raciocnio, podemos atribuir esse

    conjunto de caractersticas prprias da legenda formao de um gnero discursivo que

    chamamos de legenda, pois, segundo Bakhtin (1993), cada esfera de utilizao da lngua elabora seus tipos relativamente estveis de enunciados, sendo denominado de gneros do

    discurso. Portanto, podemos considerar a legenda como um gnero discursivo com suas caractersticas prprias, atuando na esfera ou no mundo dos filmes. Alm do processo

    descrito acima, necessrio que o tradutor siga as regras tcnicas que sero descritas a

    seguir.

    As legendas trabalham, via de regra, com a relao tempo / espao simultaneamente. O

    tempo cronometrado em segundos, e o espao medido pela quantidade mxima de

  • caracteres por linha. Esse espao varia de acordo com o programa utilizado na gerao das

    legendas. No cinema, as legendas normalmente compem-se de, no mximo, duas linhas

    com 36 a 44 espaos cada, e na televiso / vdeo / DVD, as legendas compe-se de duas

    linhas entre 26 e 30 espaos.

    Segundo Alvarenga (2000), convencionou-se que o tempo mdio de leitura de cada

    legenda de duas linhas de 30 caracteres cada, na tela, de quatro segundos. Fazendo as

    divises proporcionais, at 15 caracteres, numa linha, representam 1 segundo de leitura. 30

    caracteres, 2 segundos de leitura; 45 caracteres (uma linha e meia), 3 segundos de leitura e,

    finalmente 60 caracteres, 4 segundos de leitura. Vejamos os seguintes exemplos de legendas

    tirados do filme O Fugitivo (1993, Warner) Fala de Richard

    No matei minha esposa!

    A legenda acima possui 24 caracteres, portanto, o tempo que ficar na tela ser de 2

    segundos.

    A prxima legenda um vocativo, extrado da fala de Helen Kimble. Como ela possui

    menos de 15 caracteres, ficar na tela apenas 1 segundo, servindo de exemplo tambm para

    outras legendas de uma ou duas palavras como: Vai!, Corra!, Rpido! Peguem-no!, Agora!,

    etc.

    Richard!

    Nesta prxima legenda composta de duas linhas, a primeira linha tem 15 caracteres,

    portanto, 1 segundo, mais a linha de baixo com 27 caracteres, portanto, 2 segundos.

    Somando o tempo das duas linhas, essa legenda ficar ao todo 3 segundos na tela. Fala de

    Kimble:

    Quando cheguei,

    havia um cara em minha casa

    2.2 O processo de legendagem para video

    Descrevemos o processo lingstico de composio das legendas, a seguir descreveremos

    o processo tcnico que envolve sua elaborao. A legendagem de um filme consiste de

    quatro etapas:

    1 A traduo:

    O filme traduzido por um tradutor, que ir se encarregar de transmitir a mensagem da

  • lngua-alvo ao pblico. Durante a traduo, o tradutor deve ter em mos: um computador,

    onde ir formular a legenda, geralmente em um processador de texto como o MS-Word, um

    vdeocassete, uma TV e o mais importante: normalmente o profissional auxiliado pelo

    roteiro original do filme que est traduzindo. Portanto, ele assiste ao filme enquanto traduz,

    pois o filme, a imagem, a seqncia das cenas o seu objeto de trabalho. Ao fazer a

    traduo para legendas, os principais aspectos a serem analisados so a durao e o

    tamanho da legenda medido pelo nmero de caracteres por linha. Como podemos perceber,

    o tradutor que atua na rea de traduo de filmes est diante de um processo rigoroso e

    delicado que exige muita habilidade, percepo e esforo, pois necessrio seguir risca

    suas normas tcnicas e, conseqentemente, adaptar sua traduo legenda.

    Para Alvarenga (2000) essa etapa inicial pode ser chamada de legendao. Nesta etapa,

    o tradutor traduz os dilogos e compem as legendas, recebendo, assim, o ttulo de tradutor

    legendista. Alvarenga tambm afirma que o tradutor legendista deve ter, alm da habilidade

    com a lngua portuguesa e domnio cultural, a habilidade para articular a lngua com o

    objetivo de compor a legenda em portugus. Para isso, necessrio que haja percepo da

    cena e enxugar ao mximo possvel o dilogo para obter uma legenda adequada. Muitas vezes, as pessoas criticam a traduo de um filme sem contudo, conhecer o rigoroso e

    delicado processo que traduzir e fazer legendas.

    2 A Marcao:

    A traduo encaminhada para o marcador, que o profissional encarregado de fazer a

    marcao das legendas. Nesta etapa o arquivo traduzido em formato .DOC convertido para

    o software de legendagem especfico - analgico ou digital. O Software digital utilizado

    tambm para legendagens em DVDs. A marcao dividida em duas etapas. Primeiramente,

    o marcador ir indicar o tempo da entrada e da sada de cada legenda, respeitando o

    sincronismo entre a fala e os padres de tempo da mesma. Na segunda etapa ele assistir

    ao filme fazendo um controle de qualidade da marcao.

    3 A Reviso

    Nesta etapa, o revisor, profissional encarregado da reviso com amplo conhecimento

    lingstico da Lngua Portuguesa, assistir ao filme para fazer o controle de qualidade das

    legendas, onde a traduo analisada para se detectar possveis erros gramaticais e

    ortogrficos cometidos pelo tradutor.

    4 Gravao Final

    Esta a etapa final em que o revisor encaminhar o arquivo com as legendas marcadas e

    revisadas para o responsvel pelo centro de masterizao. Neste centro, que consiste numa

    enorme ilha de edio, as legendas sero gravadas no filme, em uma nova fita matriz,

    atravs de equipamento profissional de ltima gerao. A este responsvel, Alvarenga

  • sugere que seja chamado de legendador , pois o profissional tcnico cuja tarefa de

    gravar o filme, j fazendo a insero das legendas. Depois de feita a nova fita matriz j com

    as legendas gravadas, esta fita encaminhada para o centro de duplicao onde so feitas

    centenas de duplicaes ou replicaes, a partir do original, destinando-se, assim, para

    serem comercializadas. Para finalizar, todo esse processo chamado de legendagem,

    abrangendo as quatro etapas.

    Vale lembrar que normalmente emprega-se o termo duplicao ou replicao para se

    referir s cpias dos filmes devidamente legais com destino comercializao e locao, o

    que conhecemos por fita selada, para distinguir do mero termo cpia, empregado para fins ilcitos (pirataria).

    2.3 Durao da legenda:

    A legenda deve permanecer na tela durante o tempo adequado para leitura, nem mais -

    tornando se cansativa e prendendo a ateno desnecessariamente, e nem menos - tornando

    a legenda muito rpida para a leitura. Portanto, necessrio que haja sincronismo entre a

    fala e a velocidade com que realizada, ou seja, uma boa legenda deve entrar junto com a

    fala e sair junto com ela, observando-se sua velocidade. A velocidade da fala o fator

    determinante nos seguintes aspectos: quando uma determinada frase falada

    pausadamente a legenda pode sair logo aps o trmino; se a fala feita de forma mais

    rpida a legenda ser mantida um pouco mais tempo na tela ou se ligar com a fala

    seguinte, como nos dois exemplos abaixo extrados do filme Indiana Jones e A ltima

    Cruzada (Paramount : 1989), envolvendo a fala de Henry Jones e Indy, respectivamente,

    formando um nico dilogo:

    - Eles esto querendo nos matar!

    - Eu sei, Pai!

    ****************************************

    - Ela nazista!

    - O qu disse?

    Nesses dois dilogos acima, cada linha a fala de uma personagem diferente que se uniu

    numa s legenda, pois a velocidade de ambas as falas foi muito rpida. O legendista, neste

    caso, tambm atua como um marcador, mas um marcador virtual, pois, durante a traduo, ele precisa contar o tempo de cada dilogo.

    H tambm critrios como a mudana de cena. Neste caso ideal que a legenda no

    transponha uma cena, a no ser que a fala tambm a transponha. Se assim for, a legenda

    ser em itlico.

    2.4 Tamanho

  • Outro fator determinante a limitao do nmero de caracteres permitidos por linha,

    que, como j foi dito, ir variar de acordo com o software utilizado para a legendagem -

    Muitas empresas que produzem legendas normalmente utilizam o programa SYSTIMES e

    tambm o TRANSPOTTING. J a VIDEOLAR utiliza o programa sueco de marcao e

    legendagem CAVENA SCAN TITLING. Considerando a limitao do nmero de caracteres

    permitidos por linha o tempo mximo e mnimo para leitura, o tradutor, muitas vezes, ter

    que fazer resumos e adaptaes para adequar a legenda s falas.

    Neste captulo analisamos sinteticamente os procedimentos tcnicos necessrios para a

    composio das legendas. A seguir, trataremos das estratgias de traduo cinematogrfica,

    utilizadas pelo tradutor conforme as normas tcnicas.

    Capitulo 3

    Estratgias de traduo para legendagem de vdeo

    Como vimos, a traduo de um filme para legendagem envolve uma srie de requisitos

    que um tradutor deve ter sempre em mente. Esses requisitos, como vimos no captulo

    anterior, referem-se s tcnicas em relao composio das legendas, alm de o

    profissional ter uma ampla bagagem cultural e domnio nas articulaes dos dilogos no

    estilo da lngua alvo.

    Para realizar este estudo, alguns filmes legendados foram selecionados, sempre fazendo

    uma comparao entre o Roteiro original e a traduo. Nessas observaes, constatamos

    que o tradutor adota algumas estratgias para traduo em vrios dilogos, em virtude das

    tcnicas impostas para a legendagem, a fim de transmitir da melhor maneira possvel a fala

    das personagens.

    No livro Procedimentos Tcnicos da Traduo, Barbosa (1990) apresenta vrios

    procedimentos, ou modelos, para traduzir textos de qualquer natureza, como uma

    ferramenta auxiliar no trabalho do tradutor. Segundo a autora, essa obra constitui:

    ...uma tentativa de recaracterizao e de recategorizao dos procedimentos tcnicos necessrios para transferir significados de um cdigo lingstico para outro.

    Atravs das observaes feitas, procuraremos apresentar as estratgias que o tradutor

    legendista utiliza para traduzir de traduo utilizadas, tendo em vista os procedimentos3 que

    a autora defende em seu livro, pois, como tambm ocorre na traduo de filmes, esses

    procedimentos so utilizados para transmitir a mensagem da lngua de origem para a lngua

    alvo. Helosa Barbosa faz um levantamento de quatorze procedimentos tcnicos descritos

  • sinteticamente a seguir:

    3.1 TRADUO PALAVRA-POR-PALAVRA

    a traduo em que determinado segmento textual (palavra, frase, orao) expresso

    na LT mantendo-se as mesmas categorias numa mesma ordem sinttica, utilizando

    vocbulos cujo semantismo seja (aproximadamente) idntico ao dos vocbulos

    correspondentes no TLO (Aubert, 1987:15), por exemplo:

    He wrote a letter to the mayor sans retard.

    Ele escreveu uma carta para o prefeito sem demora.

    3.2 TRADUO LITERAL

    a traduo em que se mantm uma fidelidade semntica estrita, adequando porm a

    morfossintaxe s normas gramaticais na LT (Aubert, 1987:15). Alguns autores como

    Vazquez-Ayora (1977), negligenciam esse procedimento pois, segundo eles, o responsvel

    por muitos erros de traduo.

    Os exemplos abaixo so de segmentos textuais, onde possvel observar as alteraes

    morfossintticas a que foram submetidos. Essas alteraes distinguem a traduo palavra-

    por-palavra da traduo literal. Exemplo:

    It is a known fact

    \ \ fato conhecido

    3.3 A TRANSPOSIO

    Consiste na mudana de classe gramatical de elementos que constituem o segmento a

    traduzir, como se observa nos exemplos abaixo:

    She said apologetically - advrbio

    (ela) disse desculpando-se - verbo reflexivo

    (ela) disse como justificativa - adjunto adverbial

  • 3.4 A MODULAO

    Esse procedimento consiste em...

    ...reproduzir a mensagem da TLO no TLT4 mas sob um ponto de vista diverso, o que reflete uma diferena no modo como as lnguas interpretam a expresso do real ...

    Em outras palavras, esse procedimento / estratgia consiste em transmitir a mesma

    mensagem em outras palavras. um procedimento muito utilizado nos dilogos traduzidos,

    visto que eles so necessrios caso as normas administrativas tenham que ser seguidas,

    obrigando o tradutor a fazer uma reestruturao ou uma adaptao na legenda para no

    ultrapassar os limites de espao e tempo de leitura permitidos, resultando, assim, no uso

    desses procedimentos / estratgias.

    3.5 OMISSO

    Quanto omisso, a autora afirma que:

    ...consiste em omitir elementos do TLO que, do ponto de vista da LT, so desnecessrios ou excessivamente repetitivos. Na traduo do ingls para o portugus, esse

    procedimento usado, por exemplo, em relao aos pronomes pessoais. Em ingls ocorre

    aquilo que, em portugus, seria considerada uma repetio excessiva deles, j que o

    portugus, auxiliado pelas desinncias verbais que deixam claro a que pessoa se refere o

    verbo, costuma omitir o pronome pessoal na posio de sujeito, ao contrrio do ingls, onde

    obrigatria sua presena.

    3.6 EQUIVALNCIA

    A equivalncia consiste em substituir um segmento de texto da LO por um outro

    segmento da LT que no o traduz literalmente, mas que lhe funcionalmente equivalente.

    Esse procedimento muito utilizado em clichs, expresses idiomticas, provrbios, ditos

    populares. Exemplos:

    Its a piece of cake - sopa!

  • Yours faithfully - Cordialmente

    He fell off a turnip truck - Caiu de pra-quedas

    3.7 EXPLICITAO

    Ao passo que a omisso consiste em omitir elementos desnecessrios para a LT, como

    o caso dos pronomes pessoais (ver: omisso), a explicitao o processo inverso quando se

    traduz do portugus para o ingls, j que necessria a explicitao do pronome, pois sua

    presena obrigatria em ingls. (Vazquez-Ayora 1977, q.v. 2.1.4, p.46).

    3.8 A COMPENSAO

    Consiste em deslocar um recurso estilstico, ou seja, quando no possvel reproduzir no

    mesmo ponto, no TLT, um recurso estilstico usado no TLO, o tradutor pode usar um outro

    recurso de efeito equivalente em outro ponto do texto. Os trocadilhos, por exemplo, muito

    freqente nos filmes, quando no podem ser efetuados com um mesmo grupo de palavras,

    podem ser feitos em outro ponto do texto onde sejam possveis para equilibrar o texto

    estilisticamente. (Nida, 1964; Vazquez-Ayora, 1977, q.v. 2.1.4, p.47; Newmark, 1981, 1988)

    3.9 A RECONSTRUO DE PERODOS

    Consiste em re-dividir ou reagrupar os perodos e as oraes do original ao pass-los

    para a LT. Na traduo do portugus para o ingls, necessrio, muitas vezes, distribuir as

    oraes complexas do portugus em perodos mais curtos em ingls. J na traduo do

    ingls para o portugus ocorre o inverso (Newmark, 1981, q.v. 2.1.5, p. 55).

    3.10 AS MELHORIAS

    As melhorias consistem em no se repetirem na traduo os erros de fato ou outros

    tipos de erros cometidos no TLO. (Newmark, 1981, p. 55, 1988).

    3.11 A TRANSFERNCIA

    Consiste em introduzir material textual da LO no TLO (Newmark, 1988 : 81-82) e pode

    assumir as seguintes formas:

  • Estrangeirismo: copiar ou transcrever para o TLT vocbulos ou expresses da LO que se

    refiram a um conceito, tcnica ou um objeto mencionado no TLO;

    Estrangeirismo transliterado: consiste em substituir uma conveno grfica por outra, como

    no caso de glasnost, uma transliterao do alfabeto cirlico para o romano, e que no deve

    ser confundida com a transcrio fontica. Na traduo entre o ingls e o portugus

    normalmente no haver lugar para este procedimento, uma vez que as duas lnguas

    utilizam o alfabeto romano.

    Estrangeirismo aclimatado; processo atravs do qual os emprstimos so adaptados lngua

    que os toma. (Ex: coktail = coquetel; Football = futebol; Whisky = Usque, etc)

    Estrangeirismo + explicao = pode ser uma nota de rodap ou atravs de uma diluio do

    texto para situar um expectador ou um leitor a um determinado contexto.

    3.12 EXPLICAO

    Havendo a necessidade de eliminar do TLT os estrangeirismos para facilitar a

    compreenso, pode-se substituir o estrangeirismo pela sua explicao. Isso pode acontecer

    numa pea de teatro, por exemplo, em que, por uma questo de ritmo cnico, preciso que

    o expectador tenha uma compreenso imediata da situao. Este procedimento descrito

    por Nida (1964).

    3.13 O DECALQUE

    O decalque consiste em traduzir literalmente sintagmas ou tipos frasais da LO no TLT,

    abandonando a confuso que se criou em torno do termo decalque empregado por Vinay e

    Darbelnet (1977, q.v. 2.1.1, p. 27), j que, como foi visto, muitos autores interpretam o

    decalque como sendo uma aclimatao do emprstimo lingstico.

    3.14 ADAPTAO

    o limite extremo da traduo: aplica-se em casos onde a situao toda a que se refere

    o TLO no existe na realidade extralingstica dos falantes da LT. Esta situao pode ser

    recriada por uma outra equivalente na realidade extralingstica da LT.

    O tradutor utiliza esses procedimentos / estratgias para adequar sua traduo de

    acordo com as tcnicas da legenda que devem ser respeitadas. Se um dilogo for muito

    longo, ele pode omitir elementos desnecessrios, deixando apenas a informao essencial

    para o expectador.

  • 3.15 A Liberdade do Tradutor sob Limitaes de Tempo e Espao

    Dependendo do gnero do filme, principalmente comdia, com exceo aos filmes de

    linguagem mais tcnica, a maioria dos seus dilogos possui uma linguagem coloquial no

    estilo cultural do pas que o produziu. Diante disso, o tradutor pode utilizar esses

    procedimentos estratgias no apenas para adaptar a traduo na legenda, levando em

    conta a noo de tempo e espao, mas tambm pode utiliz-las como recurso estilstico para

    adequar a linguagem coloquial do dilogo original ao nosso estilo de linguagem coloquial

    compreendendo provrbios e trocadilhos, expresses idiomticas, e os aspectos culturais

    prprios da regio. Neste caso, o uso desses procedimentos facultativo.

    Diante disso, mesmo sob as limitaes de tempo e espao impostos pela legenda, o

    tradutor pode desfrutar de uma certa liberdade para realizar a transferncia da mensagem

    do original para a lngua alvo, sempre com o objetivo de formular uma legenda natural,

    seguindo o ritmo do enredo, das cenas, para que no desvie a ateno do expectador do

    filme.

    Normalmente os tradutores legendistas fazem uso da modulao, ou da adaptao, ou

    de algum outro procedimento, dependendo da situao, com a finalidade de aproximar o

    dilogo original de uma cultura diferente ao nosso estilo de linguagem, recorrendo, assim, ao

    uso das nossas expresses idiomticas, do nosso estilo de linguagem coloquial. Tudo isso

    para no perder a essncia da trama, embora muitos afirmem que a trama prejudicada na

    traduo. Portanto, eis mais um motivo pela qual se requer tanta habilidade e percepo do

    tradutor, justamente para evitar essa perda, e, assim, tentar resgatar o valor que devemos

    dar a essa atividade.

    No prximo captulo, faremos uma discusso na prtica como esses procedimentos /

    estratgias so utilizados, com exemplos de dilogos traduzidos de alguns filmes famosos.

    Captulo 4

    Da teoria prtica: o emprego de alguns dos procedimentos / estratgias

    Nesse captulo, faremos uma exemplificao de vrios dilogos traduzidos: primeiro o

    Roteiro original e, a seguir, a traduo final que foi legendada. Quero chamar a ateno para

    os procedimentos / estratgias presentes na verso brasileira.

    4.1 Indiana Jones e A ltima Cruzada

    O filme Indiana Jones e A ltima Cruzada (1989) conta as aventuras de Indiana Jones e

    seu pai em busca do Santo Graal, o clice que, segundo a lenda, foi usado por Cristo na

    ltima ceia. Neste filme podemos observar algumas modulaes nos seguintes dilogos:

  • Roteiro Original

    Legenda

    Chaps, don't anybody wander off!

    Some of the passageways in here can run for miles

    No vo se distrair!

    Algumas trilhas so muito fundas!

    Essa cena se passa no incio do filme. Nesse dilogo, houve uma concordncia de

    significados entre as verses. Dizer que as passagens subterrneas so fundas em sentido

    horizontal (e no de profundidade) o mesmo de dizer que elas se estendem por

    quilmetros, conforme mencionado no Roteiro original, por se tratar de passagens

    subterrneas.

    Esta prxima cena se passa depois que o jovem Indiana recupera um crucifixo de ouro

    que estava sendo roubado por um suposto dono (Fedora5). Este recupera a pea, e,

    juntamente com um xerife local, diz:

    Roteiro Original

    Legenda

    FEDORA: You lost today, kid, but that doesn't mean you have to like it!

    Hoje voc perdeu, mas no quer dizer que no ganhe.

    Hoje voc perdeu, que quer dizer perder a parada. Os dois dilogos basicamente dizem a mesma mensagem. Literalmente no roteiro original, Fedora quis dizer: Mas no significa

    que precisa gostar de perder. J na traduo, o tradutor optou por fazer uma alterao que

    soe melhor na nossa lngua para transmitir a mesma mensagem do original: ... mas no quer dizer que no ganhe. Portanto, ao analisar ambos pontos de vista, Indiana um dia iria vencer e que ele no seria um perdedor.

    Nesse prximo dilogo, Indy fala sobre seu pai a Walter Donovam:

  • Roteiro Original

    Legenda

    INDY - Grail lore is his hobby. He's a teacher of Medieval Literature. The one the students

    hope they don't get.

    Seu hobby os mitos do Graal. Ele professor de Literatura Medieval, matria da qual os

    alunos tentam fugir.

    Como o prprio dilogo diz, o pai de Indy (Henry Jones) professor de uma disciplina

    que no do agrado dos alunos. Portanto, dizer que a Literatura Medieval uma disciplina

    que os alunos esperam no ter o motivo de eles tentarem fugir. O que importa que eles

    no gostam mesmo.

    Na prxima cena, Indy e seu pai esto sentados cada um na sua cadeira e amarrados um

    de costas para o outro. Ento, a traidora nazista Elza Schneider dirige a palavra para Indy.

    Eis o dilogo, dando nfase fala de Indy:

    Roteiro Original

    Legenda

    ELZA - Don't look at me like that-we both wanted the Grail, I would have done anything to

    get it. You would have done the same.

    INDY - I'm sorry you think so

    No me olhe assim, nos dois queremos o Grall. Eu faria qualquer coisa para obt-lo, e voc

    faria o mesmo que eu.

    o que pensa?

    Nesta cena, Indy contraria a opinio de Elza. Literalmente, segundo original, seria

    lamento por voc pensar assim. O tradutor optou por uma colocao mais prxima ao nosso

    estilo e de uma forma mais reduzida, fazendo o uso da modulao e da omisso, pois, alm

    de manter a mesma idia segundo o original, observe que a traduo se transformou numa

    pergunta. Alm da escolha, o que pensa?, poderia tambm ser usado a colocao a que

    voc se engana!, pois, neste caso, a modulao mudou o ponto de vista semntico, sem

  • transform-la numa pergunta, mantendo a frase no modo afirmativo como no original.

    Portanto, a traduo literal de 29 caracteres foi traduzida para uma legenda de 10

    caracteres: o que pensa?

    Vejamos o prximo dilogo:

    Roteiro Original

    Legenda

    HENRY - Those people are trying to kill us!

    INDY - I know, Dadl

    HENRY - It's a new experience for me.

    INDY- It happens to me all time

    Eles esto querendo nos matar!

    Eu sei, Pai!

    uma novidade para mim!

    Estou acostumado!

    Esse dilogo se passa na cena em que pai (Henry) e filho (Indy) tentam escapar de dois

    avies nazistas. Eles esto passando por perigos a que o pai no est acostumado, s o

    filho, Indiana, que diz literalmente, acontece comigo a toda hora (Perigo). Na traduo final

    se estabeleceu: estou acostumado!, por ele correr perigo a toda hora. Poderia at arriscar

    uma outra opo como: pra mim j virou rotina. A fala de Henry dizendo uma nova

    experincia pra mim literalmente como no original, ficou uma novidade pra mim!, o que

    tambm poderia ser expressa como: nunca passei por isso!

    Nesse mesmo filme, destaco algumas omisses, que tambm no fugiram da mensagem

    original. Foram usadas por se tratarem de falas rpidas, e se as legendas fossem longas, iria

    atrapalhar a observao da cena.

    Esta cena se passa dentro da biblioteca, em Veneza, onde Indy, Elza Schneider e Marcus

    Brody procuram pistas sobre o paradeiro do pai de Indy. Num determinado momento, Elza

    sai de cena e Indy pede a Marcus para no contar a ela sobre o dirio do Grall, escrito pelo

  • pai de Indy.

    Roteiro Original

    Legenda

    INDY - My dad sent me this Diary for a reason. Until we find out why, I suggest we keep it to

    ourselves.

    No conte a ela que tenho o dirio.

    Indy disse sussurrando e rapidamente. Se todas as palavras fossem colocadas, haveria a

    necessidade de compor duas ou at trs legendas com tempo muito curto na tela. Portanto,

    o tradutor reduziu o texto para que essa fala rpida pudesse ser descrita em uma legenda de

    uma linha, podendo ficar at 4 segundos no ar, que foi o tempo da fala toda, sem fugir da

    mensagem que Indy queria passar para Brody e, conseqentemente para o pblico.

    Observemos a seqncia dos dilogos a seguir:

    Roteiro Original

    Legenda

    INDY - Since I've met you, I've nearly been incinerated, drowned, shot at, and chopped into

    fish bait. We're caught in the middle of something sinister here. My guess is Dad found out

    more than he was looking for. And until I'm sure..., I'm going to continue to do things the

    way I think they should be done.

    INDY - At agora fui quase afogado,

    Incinerado e picado. 1

    sinistro. Meu pai descobriu

    mais do que procurava. 2

    E at ter certeza... 3

    Vou continuar fazendo tudo

  • minha maneira. 4

    No dilogo acima, a velocidade da fala de Indy foi muito rpida e, para no perder o

    contedo, foi necessrio fazer um resumo de toda a fala, resultando em quatro legendas. Por

    exemplo, a frase Since I've met you foi reduzida e modulada para At agora, para sintetizar

    a seqncia dos acontecimentos at o presente momento. Se fosse para colocar todo o texto

    em legendas, elas teriam um tempo muito curto na tela a metade do tempo requisitado - impossibilitando o expectador de acompanhar o raciocnio do protagonista. Embora a

    traduo tenha sido reduzida, o contedo permaneceu e as legendas tiveram o tempo

    suficiente para leitura, sem causar prejuzo ao expectador. A frase the way I think they

    should be done tambm foi reduzida e modulada para minha maneira, pois, literalmente,

    ficaria: do modo que eu acho que deveriam ser feitas (as coisas).

    Roteiro Original

    Legenda

    HENRY - The quest for the Grail is not archaeology. It's a race against evil. If it is captured

    by the Nazis,

    the armies of darkness will march all over the face of the earth. Do you understand me?

    HENRY A busca pelo Graal

    No arqueologia.

    a luta contra o mal.

    Se cair nas mos dos nazistas...

    As foras do mal vencero.

    Entende?

    Neste dilogo, passo a destacar as estratgias utilizadas nos dilogos em itlico. O primeiro

    perodo, If it is captured by the Nazis, teve um outro tratamento na traduo: Se cair nas

    mos dos nazistas... (Santo Graal), mantendo-se a mesma idia do original. J o segundo

    perodo, the armies of darkness will march all over the face of the earth, Henry usou toda

    uma retrica para dizer quo era importante o Grall para ele, e as conseqncias que

    acarretariam caso o Grall fosse capturado pelos nazistas. Neste caso, tambm foram

  • utilizadas a omisso e a modulao para sintetizar, no de forma retrica, mas sim de forma

    objetiva, a mensagem de Henry. A legenda ficou As foras do mal vencero. J literalmente,

    ficaria: Os exrcitos das trevas marcharo sobre a face da terra.

    Vejamos este prximo dilogo, quando Indy encontra com seu pai, Henry.

    Roteiro Original

    Legenda

    INDY - I came here to save you.

    Vim te salvar.

    Podemos observar que foi omitido o sujeito Eu, o adjunto adnominal de lugar aqui (here),

    a conjuno subordinativa final para (to) se transformou em pronome para substituir o

    pronome voc. Portanto, o dilogo original de seis palavras foi reduzido metade.

    A seguir, quando eles ainda esto amarrados e o tapete comea a pegar fogo embaixo

    deles, h uma omisso que quero destacar em itlico:

    Roteiro Original

    Legenda

    HENRY - I ought to tell you something.

    INDY - Don't get sentimental now Dad, save it 'til we get out of here.

    HENRY - The floor's on fire! See?!

    Preciso te dizer uma coisa.

    Conte mais tarde!

    O cho est pegando fogo! Est vendo?

  • Literalmente seria: Nada de sentimentalismo agora, Papai, guarde para quando sairmos

    daqui. Essa frase foi possvel dizer com apenas trs palavras: Conte mais tarde.

    Nesta prxima cena, Henry foi capturado pelos nazistas e mantido como refm dentro

    do tanque de guerra. Um dos nazistas, Vogel, faz perguntas a Henry sobre o dirio do Grall.

    Eis o dilogo:

    Roteiro Original

    Legenda

    VOGEL - What are you hiding?

    VOGEL - What does the Diary tell you that it doesn't tell us?!

    HENRY - It tells me that goose-stepping morons like yourself should try reading books

    instead of burning them.

    O qu est escondendo?

    O que este dirio diz a voc que no sabemos?

    Diz que idiotas como vocs

    Deveriam ler livros

    Em vez de queim-los!

    Podemos perceber a incidncia da omisso, comeando pelo pronome oblquo me;

    goose-stepping morons (dbil mentais com andar de ganso) foi substitudo apenas por

    idiotas; foi omitido o try resultando numa legenda objetiva, sempre mantendo a mesma

    mensagem.

    4.2 O Rei Leo I

    O filme O Rei Leo (Walt Disney Pictures, 1994) conta a histria do leozinho Simba que

    queria ser rei. O pai de Simba, Mufasa, comea lhe mostrando todo o reino de cima da

    grande pedra. Simba pergunta sobre uma regio sombria ao fundo e Mufasa alerta o filho

    para no ir l:

  • Roteiro Original

    Legenda

    MUFASA Thats beyond our borders. No faz parte do nosso reino.

    clara a modulao, pois uma regio alm dos nossos limites, da nossa fronteira,

    significa que no faz parte do nosso reino, no caso, do territrio deles.

    A seguir, Simba e sua amiga Nala, juntamente com Zazu, o papagaio fiel escudeiro do

    Rei, vo at esse local sombrio, desobedecendo, assim, as ordens do pai.

    Nala diz:

    Roteiro Original

    Legenda

    NALA We can get a big trouble. Podemos entrar numa fria.

    Entrar numa fria o estilo nosso de dizer quando existe a possibilidade de um grande

    problema ocorrer.

    A seguir, os dois so perseguidos por hienas, lembrando que eles j no esto mais em

    suas terras. Aps a perseguio, as hienas desaparecem e Simba diz:

    Roteiro Original

    Legenda

    SIMBA We lost them. Escapamos deles!

  • Ns os perdemos, no sentido de despistar, se livrar, outra maneira de dizer que

    escapamos deles.

    Mas as hienas continuam perseguindo os dois lees. De repente, Mufasa entre em cena e

    pe para correr os agressores! Mufasa fica muito sentido com seu filho pela desobedincia. A

    ss, pai e filho conversam. Simba se justifica: ele queria ser corajoso e valente igual ao pai.

    Mufasa, alm de dizer que ser corajoso no se envolver com problemas, tambm diz:

    Roteiro Original

    Legenda

    MUFASA I am brave when I have to be. A coragem tem hora e lugar.

    Eu sou valente quando preciso ser pode ser dito em outras palavras que a coragem

    tem hora e lugar, conforme foi traduzido. Portanto, existe o momento certo para ser

    corajoso. Neste dilogo tambm h o uso da transposio, pois brave, que no original um

    adjetivo (Sou corajoso), passou a ser um substantivo (A coragem), havendo tambm a

    mudana do ponto de vista: sou corajoso pessoal; a coragem impessoal.

    4.3 Perigo Real e Imediato

    Passo a destacar uma modulao no filme Perigo Real e Imediato (1994). Numa conversa

    entre o chefe de segurana dos EUA (Cutter) e um dos chefes do narcotrfico (Felix Cortez),

    Cortez pergunta a Cutter o que acharia se fosse diminuda a entrada de drogas nos EUA. A

    resposta de Cutter:

    Roteiro Original

    Legenda

    CUTTER I would say that youre using to much your product. Diria que voc est cheirando muito.

    Nesse dilogo, h os dois procedimentos / estratgias juntos. A modulao: o fato de

  • usar muito ter o mesmo significado, no nosso estilo popular de dizer, que cheirar muito

    (drogas). Nessa modulao o tradutor quis at dar um tom cmico para o dilogo. Quanto

    omisso, foi omitido o sujeito Eu, e seu produto. Este dilogo, tendo dez palavras no original,

    foi reduziu para seis na traduo para poder adequar a legenda ao tempo e espao.

    4.4 O Fugitivo

    Passo agora a apontar algumas estratgias no filme O Fugitivo (1993). Esse filme conta a

    histria de um mdico famoso (Richard Kimble) acusado injustamente de matar sua esposa,

    pois ele alega que um homem de um s brao a matou. No caminho para a penitenciria, h

    um acidente com o nibus que levava os condenados, dentre eles, Kimble. A partir da, o

    mdico foge para provar sua inocncia.

    Numa das primeiras cenas da caada ao fugitivo, Kimble foge numa ambulncia e entra

    em um tnel. O agente federal Sam Gerard sobrevoa a rea de helicptero atrs dele e cerca

    o fugitivo na sada do outro lado do tnel dizendo:

    Roteiro Original

    Legenda

    SAM - All right, we got him.

    Agora ele nosso!

    Agora ele nosso ficou uma outra forma de dizer Pegamos ele, como no Roteiro

    original.

    Agora outra cena. Sam e seu assistente Kosmo vo em direo ao prdio onde acredita-

    se que Kimble esteja l. Eles ouvem uma conversa da polcia de Chicago, pelo rdio amador,

    dizendo que Kimble matou um policial no metr.

    Roteiro Original

    Legenda

    Sam: What did he do, shot a cop?

    O qu ele fez, matou um policial?

  • Kosmo: Chicago P. D. will eat him alive!

    A polcia de Chicago o matar!

    Nesse dilogo, a expresso will eat him alive uma expresso coloquial para a polcia de

    Chicago o matar. Pode-se usar tambm outras expresses que denotam matar, tais como:

    enterrar vivo, acabar com, arrancar a pele, etc.

    Essa prxima cena se passa no telhado do prdio onde o fugitivo brigava com seu falso

    companheiro, Charles Nichols. Os dois esto sendo observados por um helicptero da polcia

    federal com um atirador de elite apontando sua arma para eles. O agente federal Sam

    Gerard entra no telhado e o atirador comea a abrir fogo em direo ao fugitivo. Sam fica

    desesperado e ordena que o helicptero saia do local dizendo:

    Roteiro Original

    Legenda

    SAM - I dont wanna get shot! No quero levar chumbo!

    I dont wanna get shot foi traduzido como no quero levar chumbo, uma expresso coloquial muito familiar na nossa lngua. Poderia ser tambm: no quero levar tiro, bala, etc.

    Na seqncia, o assistente de Sam comunica polcia de Chicago:

    Roteiro Original

    Legenda

    Newman: CPD, theres a U. S. Marshall on the roof. Hold your fire.

    H um agente federal no telhado, no atirem!

  • Da mesma forma como o dilogo anterior, a expresso hold you fire (cessar fogo) o

    mesmo que dizer No atirem!, j que fogo tambm significa tiro.

    O filme tambm possui omisses como:

    Roteiro Original

    Legenda

    Nichols: Ive never seen that person in my life before.

    Eu jamais o vi!

    Esse dilogo, literalmente: eu nunca vi essa pessoa em minha vida antes foi

    perfeitamente reduzida para eu jamais o vi, ficando numa frase curta e objetiva, ou seja,

    dando a informao mxima em poucas palavras.

    Roteiro Original

    Legenda

    Kimble: Do you remember what youve said?

    Sam: I remember youre appointed my gun at me

    Voc se lembra do que disse?

    Voc estava apontando minha arma pra mim!

    Nesse dilogo, omitiu-se Eu me lembro da fala do Sam, j que no houve a necessidade de repeti-la, pois ficou subentendido de acordo com a fala anterior de Kimble e

    tambm para no formar uma legenda muito longa.

    Podemos perceber que, em muitos casos, o tradutor legendista faz uso de um ou mais

    procedimentos / estratgias em um mesmo dilogo, como um recurso para que o texto no

    tenha uma impresso de traduo, mas sim, que as legendas sejam to naturais quanto ao

    prprio roteiro original, levando em conta as expresses idiomticas, comparaes com fins

    cmicos, etc.

  • De acordo com a anlise dessas legendas, pude observar, na maioria dos casos, a

    incidncia muito forte da sntese do roteiro original para a legendao. A essa sntese atribuo

    a estratgia omisso, pois pode ser utilizada para sintetizar a mensagem em um

    determinado espao e tempo de leitura no filme. Penso que no haveria a necessidade de

    colocar uma legenda completa de duas linhas se h a possibilidade de sintetiz-la em uma

    linha, transmitindo sempre a mesma mensagem (Ver: tcnicas de composio das legendas),

    j que no podemos desviar a ateno do expectador da imagem do filme.

    Ao fazer uma analogia com a anlise do discurso, verifiquei que a estratgia omisso

    relaciona-se de certo modo com a lei da exaustividade. Essa lei consiste numa no repetio

    da lei da informao. Enquanto essa lei incide sobre o contedo dos enunciados e estipula

    que no se deve falar para no se dizer nada, que os enunciados devem fornecer

    informaes novas ao destinatrio, a lei da exaustividade especifica que o enunciador deve

    dar a informao mxima, considerando-se a situao. A lei da exaustividade tambm exige

    que no se deve esconder uma informao importante (Maingueneau, 2001). Portanto, uma

    legenda (o enunciador) adequada aquela que transmite a informao mxima, mas sem

    informaes desnecessrias que possam desvincular o expectador do filme.

    Neste captulo, discutimos algumas legendas levando em considerao o uso dos

    procedimentos tcnicos para traduo. A seguir, exporemos nossas minhas consideraes

    finais sobre o assunto.

    Consideraes Finais

    Com este trabalho, procuramos apresentar os procedimentos que mais se destacam no

    processo de traduo de um filme. Atravs de observaes feitas entre o roteiro original e a

    legenda, conclumos que a omisso, a modulao e a transposio so os procedimentos

    predominantes que auxiliam o tradutor para transmitir a mensagem do enredo ao

    telespectador, seguindo as tcnicas da legenda. H casos em que a omisso obrigatria,

    dependendo da velocidade e do tamanho do dilogo, e h casos em que facultativa.

    Na traduo de filmes, a omisso vai alm de apenas omitir elementos. Ela consiste na

    verdadeira reduo, ou seja, na sntese da idia empregada na legenda, que normalmente

    poder resultar no uso da modulao. Mesmo sob limitaes de tempo e espao, o tradutor

    de filmes - o legendista tambm tem a liberdade de transmitir a mensagem original ao estilo coloquial de discurso da cultura alvo para a cultura de chegada, alm do que, um filme

    tambm pode apresentar uma terminologia prpria de reas como poltica, economia, sade,

  • direito e outros. Portanto, o bom tradutor o profissional deve conhecer as tcnicas de legendagem e transmitir a mensagem original seguindo-as, alm de possuir uma ampla

    bagagem cultural, pois, afinal, so duas culturas diferentes postas lado a lado. Portanto, ele

    deve transmitir a mensagem, ter tima habilidade tcnica e lingstica e percepo para

    sintetizar e ainda ser capaz de fazer com que o pblico possa ler e entender a mensagem do

    filme, garantindo, assim, sua apreciao.

    Tambm procuramos discutir e valorizar a traduo de filmes, j que h muito pouco

    material publicado sobre o assunto, restringindo-se apenas a alguns artigos e teses que

    tentam, da mesma forma, divulgar a extrema importncia desse trabalho. Temos que

    reconhecer a rdua tarefa que envolve o processo de legendagem, pois apesar das

    limitaes impostas, o tradutor deve manter o contedo sem desviar a ateno do

    expectador da imagem. Depois de melhor conhecer o processo que envolve a legendagem,

    chegamos concluso de que a traduo de filmes tambm relevante como objeto de

    estudo.

    BIBL