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IMPACTO DO APL COMUNIDADES

DE

ROCHAS

ORNAMENTAIS

DO

ESPIRITO

SANTO

NAS

Nuria Fernndez Castro, Douglas Bortolote Marcon, Leonardo Cattabriga Freire, Eunice Freitas Lima e Phillipe Fernandes de Almeida 1. Introduo

Apresenta-se aqui o estudo de caso do impacto do Arranjo Produtivo Local - APL de Rochas Ornamentais do Esprito Santo nas comunidades adjacentes. O estudo foi realizado no mbito do projeto Grandes Minas & APLs de Base Mineral x Comunidade Local, financiado pelo Ministrio das Minas e Energia MME e coordenado pelo Centro de Tecnologia Mineral CETEM. O trabalho foi realizado pela equipe do Ncleo Regional do Esprito Santo do Centro de Tecnologia Mineral - CETEM-ES/MCTI (Ministrio da Cincia, Tecnologia e Inovao), adaptando a metodologia do projeto de anlise de variveis econmicas, sociais e ambientais e as percepes da sociedade dessas mesmas variveis para o caso especfico do APL. Consistiu de um amplo estudo bibliogrfico e de levantamento de dados que serviram de base para a caracterizao do APL e identificao e seleo dos municpios aqui considerados mineradores e de entorno, de uma fase de adaptao dos questionrios a serem aplicados nas comunidades e preparao das entrevistas com instituies, da coleta de dados em campo com a aplicao de questionrios na populao e entrevistas a prefeituras, entidades, sindicatos e outras organizaes envolvidas no APL e, por ltimo, da anlise dos resultados obtidos. 2. Caracterizao histrica do setor produtivo de rochas ornamentais no Esprito Santo

A indstria de mrmore e granito uma das mais representativas e importantes da economia local tendo, em sua atividade, reflexos sobre a indstria mecnica e o comrcio exterior. As atividades do setor podem ser divididas em lavra (extrao de blocos nas pedreiras), beneficiamento primrio (desdobramento dos blocos em chapas) e beneficiamento secundrio (constitudo pelo polimento das chapas e elaborao de produtos finais), que constituem os elos principais da cadeia produtiva de rochas ornamentais, complementada por uma indstria de bens de capital e fornecedores de insumos e servios. O histrico minerador do municpio de Cachoeiro de Itapemirim remonta-se a 1874, com a produo de cal a partir do calcrio extrado nas jazidas da regio denominada Campo de So Felipe, hoje o bairro do Aeroporto. Com isso, as atividades foram intensificadas e houve a descoberta de jazidas de calcrio de grande potencial produtivo, na regio da Serra de Itaoca e Prosperidade, que passaram a abastecer a fbrica de cimento que iniciou suas atividades em 1924 (QUALHANO, 2005). A busca de jazidas de calcrio levou descoberta de jazidas de mrmores no municpio que comearam a ser explotadas ao redor de 1950 (SABADINI & VILLASCHI, 2000) pelos moradores da regio, de origem italiana e conhecedores desse tipo de material e sua produo. No entanto, segundo Costa (1991 apud Qualhano, op. cit.) j existia em Cachoeiro de Itapemirim uma marmoraria desde 1930. Nela, os imigrantes portugueses, Joaquim Bernardino Filho e Eduardo Bernardino Brito, fabricavam mveis de madeira com detalhes em mrmores brancos, importados da Europa. A extrao de blocos de mrmore foi realizada pela primeira vez h pouco mais de 50 anos, em Prosperidade, distrito de Vargem Alta, por Horcio Scaramussa. O mtodo era rstico, utilizando-se de ferramentas como enxadas e ps para extrao do bloco que posteriormente era transportado at a estrada de ferro por burros de onde seguiam para serem serrados no Rio

de Janeiro e So Paulo (DIAS, 2011). Em 1967 teve incio a consolidao da indstria de rochas no Esprito Santo, quando se instalou, em Cachoeiro de Itapemirim, a primeira unidade de beneficiamento, com dois teares fabricados em So Paulo (COSTA, op. cit apud QUALHANO, op. cit). A partir da, surgiram na regio diversas indstrias de rochas que, segundo Qualhano (op. cit.), atuavam tanto na explorao de blocos nas minas como no desdobramento dos blocos em chapas brutas nas indstrias, que eram vendidas principalmente para os mercados do Rio e So Paulo, onde eram beneficiadas, polidas e revendidas ao consumidor final. No inicio da explorao comercial de rochas nos anos 50 do sculo passado, a indstria capixaba utilizava principalmente mrmore branco, devido alta disponibilidade nas grandes jazidas em Cachoeiro de Itapemirim (QUALHANO, op. cit.). Na dcada de 70 desse sculo comeou-se produzir tambm blocos de granito, na regio sul, em Cachoeiro de Itapemirim e outros municpios do entorno, e na regio norte, em Nova Vencia e Colatina, nestes ltimos com muito pouca produo. A partir dos anos 80, a demanda mundial pelo granito - material com grande diversidade cromtica e maior resistncia que os mrmores - se intensificou, e a regio sul do Esprito Santo no possua jazidas de destaque deste material. Iniciou-se assim a expanso das atividades de produo no norte do estado que caracterizado por contar com imensas reservas de granito. A produo experimentou um grande crescimento nos anos 90, seguindo a tendncia mundial, o que foi facilitado pela introduo do corte com fio diamantado nas pedreiras. O final do ltimo sculo e incio deste tambm representou para o Brasil a mudana de ser exportador de blocos (material bruto) a ser exportador de chapas polidas (material beneficiado de maior valor agregado). O beneficiamento de quase toda a produo do Esprito Santo ocorre em Cachoeiro de Itapemirim, com o qual o aumento da demanda internacional pelos granitos brasileiros acarretou tambm a consolidao e expanso da indstria de beneficiamento no aglomerado sul e a consequente necessidade de empresas fornecedoras de equipamentos e insumos e prestadoras de servios para seu parque industrial. O rpido crescimento do setor de rochas ornamentais no pas e, especialmente, no Esprito Santo, foi travado em 2008 pela crise imobiliria americana que deu origem crise internacional. As exportaes foram fortemente atingidas j que o mercado norte-americano era o principal destino dos produtos brasileiros beneficiados. Isto, por um lado, facilitou o aumento do consumo interno, mas, por outro, levou ao incremento das exportaes de materiais brutos, principalmente para a China, principal competidor do pas. A crise, logicamente, teve um impacto direto nas comunidades do APL, que experimentaram a diminuio na gerao de emprego e renda e a baixa movimentao do comrcio local. Atualmente, o ritmo de produo e a movimentao das economias locais recuperaramse quase totalmente e observa-se uma forte tendncia das empresas a investirem, no s em tecnologia, mas tambm no desenvolvimento sustentvel de suas atividades, mostrando uma maturidade, em grande parte, adquirida com a crise. Tradicionalmente concentrada na regio de Cachoeiro de Itapemirim, hoje a produo de rochas encontra-se disseminada por todo Estado (Figura 1), apresentando caractersticas diferentes por regio. Atualmente, a maioria dos municpios capixabas possui algum tipo de atividade voltada para o setor de rochas ornamentais (em 66 dos 78 municpios capixabas h alguma atividade de minerao de rochas ornamentais, de acordo a informaes do Instituto Estadual de Meio Ambiente - IEMA).

Figura 1. Estimativa da produo de rochas ornamentais nos municpios do Esprito Santo. Elaborao prpria, com mapa do IBGE e dados do IBGE, IEMA e DNPM.

A regio sul possui grande concentrao de empresas de beneficiamento e a norte, forte concentrao da atividade extrativa. H tambm extrao de rochas na regio central do Estado e um plo de beneficiamento e exportao na regio de Vitria. Observa-se, nos documentos estudados, uma falta de consenso na definio da extenso territorial do APL. As fontes consultadas fazem referncia ao APL de Rochas Ornamentais do Esprito Santo e ao APL de Rochas Ornamentais de Cachoeiro de Itapemirim quase indistintamente, embora incluam, em alguns casos, apenas os municpios da regio sul, em outros, os da regio sul e os da regio norte e ainda, em outros, todos os municpios com atividades dentro do setor de rochas. H ainda discrepncias quanto aos municpios componentes dos aglomerados. Os autores acreditam que essa falta de consenso se deva, principalmente, s diversas metodologias utilizadas no mapeamento e caracterizao dos APLs do Esprito Santo e ao uso pouco criterioso do conceito de APL por diversas instituies, que o utilizam como sinnimo de setor produtivo, cluster ou simplesmente cadeia produtiva. Na verdade, se considerarmos o conceito de Arranjo Produtivo Local, strictu senso, somente o de Cachoeiro de Itapemirim cumpre todos os requisitos da definio que, conforme o Ministrio de Desenvolvimento, Indstria e Comrcio MDIC, atual coordenador da poltica governamental de apoio aos Arranjos Produtivos Locais, :aglomeraes de empresas, localizadas em um mesmo territrio, que apresentam especializao produtiva e mantm vnculos de articulao, interao, cooperao e aprendizagem entre si e com outros atores locais, tais como: governo, associaes empresariais, instituies de crdito, ensino e pesquisa (BRASIL, 2011).

. Na opinio dos autores, hoje poderia se considerar a existncia do APL de Rochas do Esprito Santo, constitudo pelas regies: norte (mineradora), centro (beneficiadora e exportadora) e sul (mineradora, beneficiadora e fornecedora de equipamentos, insumos e servios). Neste trabalho, no entanto, considera-se o APL de Rochas do Esprito Santo como o formado pelos dois ncleos principais citados por Villaschi e Sabadini (2000), que so o aglomerado sul e o aglomerado norte (Figura 1), conforme detalhado a seguir, por ser nessas duas regies onde se concentram as atividades de minerao de rochas ornamentais, objeto deste estudo. O aglomerado sul est centralizado na cidade de Cachoeiro de Itapemirim, que conta com a maior reserva de mrmore brasileiro e concentra um grande nmero de empresas de todos os elos da cadeia produtiva e grande parte da produo nacional, principalmente de produtos manufaturados. O crescimento do APL de Cachoeiro foi espontneo e consolidado por seu histrico minerador, sem induo poltica (SABADINI E VILLASCHI, 2000). O aglomerado conta, alm de Cachoeiro de Itapemirim, com mais 14 municpios mineradores, so eles: Vargem Alta, Rio Novo do Sul, Castelo, Atlio Vivcqua, Presidente Kennedy, Mimoso do Sul, Venda Nova do Imigrante, Muqui, Itapemirim, Muniz Freire, Iconha, Guau, Ina e Alegre. O Aglomerado norte do APL apresenta grande potencial produtivo, principalmente no que diz respeito extrao de granitos amarelos e verdes. Pode se considerar que as atividades no norte do estado realmente iniciaram nos anos 80, embora houvesse pequena produo antes. Conforme Villaschi e Sabadini (op. cit.), isso foi devido a um aumento da demanda mundial pelo granito principalmente por pases como Itlia, Blgica, Sua e Japo, fazendo com que empresrios do aglomerado sul, detentores da tecnologia, buscassem a produo do norte e empresrios locais, de outras atividades primrias, migrassem para a produo de rochas ornamentais em busca da diversificao das atividades. O aglomerado norte do APL tem como referncia a cidade de Nova Vencia, que apresenta grande produo de granito, impulsionada com a criao de um plo industrial pela prefeitura do municpio em 1995 (VILLASCHI; SABADINI, op. cit.). Porm, diversos outros municpios da macrorregio Noroeste tm grande produo de granito. Dentre esses, podemos citar: Barra de So Francisco, Vila Pavo,

Ecoporanga, So Gabriel da Palha, guia Branca e gua Doce do Norte. Nota-se que no h centralizao da produo em um nico municpio como o caso do aglomerado sul onde as atividades giram em torno de Cachoeiro de Itapemirim, localizando-se a rea de maior produo no limite dos municpios de Nova Vencia, Vila Pavo e Barra de So Francisco. Nova Vencia considerado o municpio central do aglomerado norte por contar com um parque de beneficiamento, embora existam tambm em Barra de So Francisco diversas indstrias beneficiadoras de granito. Em Vila Pavo, por outro lado, somente h pedreiras, sendo todo o material produzido nesse municpio beneficiado nos municpios vizinhos ou no aglomerado sul. A Tabela 1 mostra um resumo da extenso do APL, aqui considerado e o nmero de pedreiras estimado.Tabela 1. Extenso e atividade extrativa no APL de Rochas do Esprito Santo

3.

Polticas de Arranjos Produtivos Locais e o APL de rochas ornamentais do Esprito Santo

No Brasil, os APLs vm sendo apoiados pelo Governo Federal desde o incio deste sculo por serem considerados importantes para o desenvolvimento regional, devido a seu potencial de gerar emprego a nvel local, promovendo a interiorizao da populao. Todas as atividades da cadeia produtiva esto presentes no municpio de Cachoeiro de Itapemirim, representadas por suas lideranas institucionais e empresariais. Por isso e por ter-se verificado certo grau de interao entre os atores envolvidos na cadeia de produo de rochas ornamentais, o APL de Rochas Ornamentais de Cachoeiro de Itapemirim foi um dos onze pilotos selecionados pelo Governo Federal na implementao da sua poltica de apoio aos APLs e o nico, dentre os de Base Mineral, levantados pelo Ministrio das Minas e Energia MME, a encaixar na definio da APL.

O desenvolvimento do APL de Cachoeiro de Itapemirim no era somente importante para o municpio, mas para todo o Estado do Esprito Santo, o maior produtor de Rochas Ornamentais no Brasil, com quase 900 empresas que geravam cerca de 20.000 empregos diretos. O municpio de Cachoeiro de Itapemirim era o principal ncleo de desenvolvimento, contando com mais de 60% das empresas do estado, de acordo com o estudo de Villaschi e Sabadini (2000). Esse mesmo estudo conclua tambm que, embora existisse certo grau de cooperao entre as firmas e demais agentes do APL, o nvel de interao entre eles ainda era baixo. Assim, para sua consolidao, foi implementado em 2001, o Programa para o Desenvolvimento em Rede do Setor de Rochas Ornamentais - REDEROCHAS apoiado pelo Ministrio da Cincia e Tecnologia, com recursos financeiros do CT-Mineral e a participao do Fundo Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico - FNDCT da Financiadora de Estudos e Projetos - FINEP, Servio Brasileiro de Apoio s Micro e Pequenas Empresas SEBRAE/ES, o Banco de Desenvolvimento do Esprito Santo S.A. - BANDES, o Sindicato das indstrias de Rochas, Cal e Calcrio do Esprito Santo SINDIROCHAS, a Cooperativa de Crdito da Indstria de Rochas Ornamentais do Esprito Santo - CREDIROCHAS, a Associao dos Fabricantes de Mquinas e Equipamentos para o Setor de Rochas Ornamentais MAQROCHAS, o Sindicato dos trabalhadores na Indstria do Mrmore, Granito e Calcrio do Espirito Santo SINDIMRMORE, e o Centro Tecnolgico do Mrmore e Granito CETEMAG (REDEROCHAS, 2004). Visando o futuro, o REDEROCHAS tinha o papel de fortalecer o APL, criando sete grupos de trabalho que eram, conforme Qualhano (2005, pg. 79): desenvolvimento tecnolgico, qualificao e formao profissional, preservao do meio ambiente, linhas de financiamento, logstica de transporte, legislao tributria, mineraria e ambiental e comunicao e marketing, constituindo o GMC (Grupo de Melhoria Contnua). Em 2003, Stafanato realizou uma nova pesquisa constatando que dois anos aps a criao do REDEROCHAS, o grau de cooperao entre empresas tinha aumentado significativamente, principalmente nas reas de treinamento e melhorias de qualidade dos produtos (QUALHANO, op.cit.). A atuao poltica do Estado do Esprito Santo em prol dos APLs iniciou-se em 2003, com a criao da Gerncia de Arranjos Produtivos GEAP, na Secretaria de Desenvolvimento SEDES, junto com a criao da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econmico e Turismo SEDETUR (ESPRITO SANTO, 2011). O fortalecimento dos APLs foi considerado um eixo estratgico na poltica do Estado e a atuao inicial dessa gerncia foi a de mapear demandas dos setores produtivos que pudessem ser atendidas pelos recursos federais oferecidos pelo grupo de gesto compartilhada, formado pelo Ministrio da Cincia e Tecnologia MCT, a FINEP e o Conselho Nacional de Pesquisa CNPq, dentro do Programa de Ao Regional do MCT (REDESIST, 2010). Em 2003, a coordenao federal da poltica de APLs passou para o MDIC, quem constituiu um Grupo de Trabalho Permanente (GTP APL) para orientar a atuao das instituies e, j em 2004, promoveu a criao de Ncleos Estaduais de Apoio aos APLs para se conseguir maior eficincia nessa poltica. Nessa poca, a atuao do SEBRAE nas reas de capacitao empresarial e fomento cooperao foi muito importante ao longo do pas, tendo o SEBRAE-ES comeado suas aes no Estado em 2002. Sua atuao mudou a partir de 2004 quando passou a aplicar a metodologia GEOR Gesto Orientada em Resultados e continuou sendo uma figura importante no apoio aos APLs. O Plano de Desenvolvimento Esprito Santo 2025 ES2025 (ESPRITO SANTO, 2006 apud REDESIST, 2010) considera os arranjos produtivos locais chaves para a competitividade

da economia capixaba e para o desenvolvimento no interior do Estado, porm abrangendo mais setores e, de modo geral, sem considerar a proximidade territorial. Em maio de 2006, a SEDETUR/GEAP encomenda o Mapeamento de APLs do Esprito Santo e em dezembro foi criado o Ncleo Estadual de APLs - NE-APL/ES, constitudo por 19 entidades pblicas e da sociedade civil e coordenado pela GEAP, a Secretaria de Estado de Cincia e Tecnologia SECT, o SEBRAE, o BANDES e a Federao das Industrias do Esprito Santo FINDES. A coordenao do Ncleo Estadual elaborou o Termo de Referncia de Atuao, em 2007, que adopta a metodologia de identificao de APLs desenvolvida pelo Instituto de Pesquisas Aplicadas IPEA (ESPRITO SANTO, 2007). Os APLs so classificados em funo da sua importncia para o setor e para a regio onde se localizam. O Ncleo Estadual identificou dez APLs, dos quais somente cinco foram considerados, nesse momento, como APLs do Estado do Esprito Santo a serem apoiados: Moveleiro de Linhares e Regio; Vesturio da Regio Noroeste Colatina; Metal-mecnico da Grande Vitria com nfase em petrleo e gs; Agroturismo da Regio Centro-Serrana; e ratificado o APL de Rochas Ornamentais de Cachoeiro de Itapemirim. De acordo com o Manual Operacional para Plano de Desenvolvimento fornecido pelo GTP APL, foram elaborados os cinco Planos de Desenvolvimento desses APLs com uma agenda nica e foram realizadas reunies com o GTP APL. Apenas o APL de rochas continuou nesta fase. Chegaram a se indicar cinco novos APLs prioritrios para o perodo 2008-2010, mas seus Planos de Desenvolvimento no foram apresentados ao GTP. No perodo de 2008-2010, foram realizadas algumas aes direcionadas, principalmente, ao fomento do crdito e da capacidade exportadora, reunies e seminrios e eventos (REDESIST, 2010.; ESPRITO SANTO, 2011). No ano de 2007 foi implementada a Rede Brasileira de Informao de Arranjos Produtivos Locais de Base Mineral (RedeAPLMineral) como resultado da parceria da Secretaria de Desenvolvimento Tecnolgico e Inovao SETEC/MCT e da Secretaria de Geologia e Minerao do MME, ativa at hoje, e que uma rede de informao sem fins lucrativos responsvel pela disseminao de informaes tcnicas, visando as melhores prticas para APLs de Base Mineral. Segundo a Redesist (op. cit.), a partir de 2008 observa-se uma diminuio na atuao governamental, tanto federal quanto no Estado do Esprito Santo nos APLs. O autor destaca tambm a mudana na atuao do SEBRAE que desde 2008 colocou seu foco em atuao direta com grupos de empresrios, seguindo o conceito de Ncleo Setorial e se afastando da conduo de governana dos APLs, principalmente pela falta de articulao entre os atores envolvidos. Os autores deste trabalho tambm tm observado pouca interao entre os atores envolvidos no APL de Rochas Ornamentais do Esprito Santo nos ltimos dois anos, existindo apenas parcerias interinstitucionais em projetos especficos. Isso pode ser devido, em parte, diminuio da atuao governamental e, em parte, crise que atingiu o setor. Em 2010, aps a recuperao da crise, foi iniciado o projeto financiado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento BID e Confederao Nacional da Indstria - CNI de Desenvolvimento Territorial do APL de Rochas Ornamentais de Cachoeiro de Itapemirim, cujo objetivo o fortalecimento das empresas do setor mediante a formao de redes empresariais. O projeto pode impulsionar o fortalecimento do APL de rochas do Esprito Santo, mas ainda se encontra em fase inicial e com pouca participao dos empresrios.

4.

Caractersticas socioeconmicas

O setor produtivo mais importante at hoje, em quase todos os municpios do Estado, o Agrcola, responsvel por 30% do PIB e empregador de 40% da populao ativa no interior. A produo de caf e a agricultura familiar tm papis preponderantes nessa produo, assim como no surgimento do setor agroturstico. Os outros setores principais da economia capixaba so os de ferro, ao, petrleo e gs, celulose, mveis e vestirio.

A partir dos anos 60 e 70 iniciou-se na regio um xodo rural, fruto da crise do setor agrcola gerada pelo governo federal com o programa de erradicao da cultura cafeeira. Os trabalhadores provenientes das zonas rurais no possuam capacitao. O setor de rochas passou a ser uma alternativa para absorver essa mo-de-obra de baixa qualidade. Assim, a cidade de Cachoeiro de Itapemirim tornou-se um importante centro industrial (QUALHANO, 2005). Atualmente a produo de rochas ornamentais capixaba responde por 7% do Produto Interno Bruto (PIB) do Esprito Santo. So cerca de 2.500 micro, pequenas e mdias empresas que contribuem para a gerao de um total 130 mil empregos (INFOROCHAS, 2011), sendo 25 mil diretos e 105 mil indiretos (DIAS, 2011). Na tabela 2 mostra-se o nmero de empresas e empregos do APL de rochas Ornamentais do Esprito Santo, por aglomerado. O nmero de empregos do aglomerado norte foi estimado com base em informaes da Associao Noroeste de Pedras Ornamentais - ANPO, que indicou 8.000 empregos diretos gerados na regio norte. A regio norte, para essa associao, inclui 5 municpios alm dos 7 contemplados neste estudo. Considerando que o emprego gerado na regio norte ocorre quase todo na extrao, foi calculada uma relao direta com o nmero de frentes de lavra estimadas e o nmero de empregos diretos, resultando em 6.500 para os 7 municpios deste estudo. O nmero de empresas da regio norte no pode ser estimado. Embora gere um grande nmero de empregos a mo de obra ainda caracterizada pelo baixo nvel de capacitao.Tabela 2: Empregos diretos gerados no APL

Aglomerado Sul Aglomerado Norte Total APL TOTAL

N de Empresas 1.850 2.500

N de Empregos 16.500 6.500 23.000 25.000

Elaborao prpria, com dados de Dias (2011), Sindimrmore (2011) e ANPO (2011)

Segundo Qualhano (op. cit.), com o crescimento do setor de rochas ornamentais, surgiu nos anos 70 o setor metal-mecnico voltado principalmente para o segmento de rochas ornamentais. Em 2005 eram 30 empresas que geravam 1600 empregos diretos, somente no muncipio de Cachoeiro de Itapemirim, atendendo ao mercado local, nacional e internacional. Nos ltimos anos os investimentos da cadeia produtiva de rochas (extrao, beneficiamento, mquinas, equipamentos, insumos, infraestrutura, etc) do estado atingiram a casa de R$ 1 bilho (INFOROCHAS, 2011) e sua importncia no desenvolvimento regional pode se observar na tabela 3, que mostra a movimentao econmica gerada pelo setor na regio onde est inserido o APL.Tabela 3. Valor das Sadas (faturamento) do APL, em reais - 2006Valor total Total no APL Todas as atividades do local onde o APL est inserido Total das atividades econmicas do APL no Estado 2.028.706.866,00 Dentro do Estado % Outros Estados % Outros Pases %

924.750.692,00 45,58

508.284.143,00 25,05

595.672.031,00 29,36

6.390.063.601,00 3.990.078.126,00 62,44

1.732.598.895,00 27,11

667.386.580,00 10,44

5.074.607.687,00 2.838.002.098,00 55,93

994.148.119,00 19,59

1.242.457.470,00 24,48

Extrado de Redesist, 2010 (dados da SEFAZ/ES)

Obs.: O APL considerado na tabela inclui 11 municpios do norte do e 11 do sul, havendo uma pequena diferena com os municpios do presente trabalho

Pode se observar na tabela acima que o faturamento do APL de rochas ornamentais corresponde a um tero do total do faturamento dos municpios, sendo uma parte importante desse faturamento devido exportao. Apesar dos nmeros mostrados, a arrecadao da Compensao Financeira pela Explorao Mineral - CFEM e outros tributos, nas regies produtoras, baixa e irregularidades do setor foram reveladas, em 2010, na Operao Genova, quando se verificou o subfaturamento do valor de mercadorias no transporte de pedras ornamentais para obteno de vantagens sobre a ordem tributria, ultrapassando R$ 200 milhes. Cerca de setenta empresas instaladas nos municpios de Vitria, Serra, Cachoeiro de Itapemirim, Castelo, Barra de So Francisco, Nova Vencia e Colatina, sendo um na cidade do Rio de Janeiro, estavam envolvidas no esquema de sonegao. (Sculo Dirio, 2010).

5.

Caracterisiticas produtivas

Segundo Montani (2009), o Brasil o sexto maior produtor mundial de rochas ornamentais com uma produo de 6,4 milhes de toneladas em 2008. Entretanto, estimativas da Associao Brasileira da Indstria de Rochas Ornamentais - ABIROCHAS mostram o Brasil com uma produo de 7,8 milhes de toneladas em 2008, tornando o Brasil o quinto maior produtor mundial, superando o Ir. A produo estimada de 2010, por essa associao, foi de 8,9 milhes de toneladas. O Esprito Santo destaca-se no cenrio nacional e mundial de rochas, alm de conter a maior reserva de mrmore do pas e uma grande reserva de granito. o estado pioneiro na produo de rochas ornamentais, que atualmente corresponde a 56% da produo nacional. O estado possui o maior parque de beneficiamento da Amrica Latina (CHIODI FILHO, 2009) onde so realizados investimentos superiores a 90% de todo parque industrial brasileiro voltado ao setor de rochas ornamentais (DIAS, 2011). So cerca de 900 teares, equipamentos utilizados no desdobramento de blocos em chapas, a maioria instalados em Cachoeiro de Itapemirim (INFOROCHAS, 2011), totalizando a terceira maior concentrao mundial de teares (PARASO, 2006). A produo capixaba de rochas ornamentais voltada principalmente para o mercado externo, devido alta lucratividade, fruto de uma grande valorizao das moedas internacionais como o dlar e Euro no final do sculo passado e incio deste. No entanto, com a retrao econmica que ocorreu com a crise imobiliria nos EUA, muitos empresrios encontraram no mercado interno uma vlvula de escape. Em 2008, a produo voltada para o mercado interno foi de 2,7 milhes de toneladas ou aproximadamente 56 milhes de m2 de rochas diversas (CHIODI FILHO, 2009). A figura 2 ilustra o consumo de rochas no mercado interno em 2008. Conforme o Ministrio das Minas e Energia (BRASIL, 2009), para suprir o mercado interno, o Brasil tambm importa material rochoso, em sua maioria, rochas carbonticas como mrmores, travertinos e calcrios (limestones). Os principais fornecedores so: Itlia, Espanha, Turquia, Grcia e China. As importaes no ano de 2008 foram aquecidas com a valorizao do real, somando US$ 51,7 milhes (91.243,64 t), que representou um incremento de 32,49% respeito das importaes de 2007. O Estado do Esprito Santo responde por 63,39% em volume fsico das exportaes brasileiras de rochas ornamentais, em sua maioria granitos comerciais, que foram de 2.239.627 toneladas em 2010. Em valor, a percentagem das exportaes capixabas de rochas corresponde a 70% do valor total das exportaes brasileiras, que foi de US$ 959,1 milhes

(CENTROROCHAS, 2011). Na Tabela 4 esto explicitadas as exportaes capixabas de rochas referentes ao ano de 2010.

Figura 2: consumo interno de rochas ornamentais em 2008. Extrado de: BRASIL, 2009.

Tabela 4: Exportaes capixabas referentes ao ano de 2010

Blocos Manufaturados Ardsias Outras Rochas TOTALFonte: CENTROROCHAS (2011)

US$ 111.512.995 566.748.626 38.501 5.293.643 683.593.765

Os principais destinos das rochas exportadas pelo Estado so: Estados Unidos, China e Itlia. A China e a Itlia importaram, em 2007, cerca de 700 mil toneladas de blocos, de um total de um milho e meio de toneladas (considerando blocos e chapas exportadas). Os Estados Unidos so os maiores compradores, com cerca de 70% de toda produo capixaba importando, principalmente, produtos manufaturados, como o caso das chapas polidas (INFOROCHAS, 2011). Com um mercado promissor e o dlar em alta, diversos empresrios comearam a investir no mercado externo, em especial nos EUA, que consumiam grande parte de produtos manufaturados e que tinham um valor agregado elevado. No entanto em 2008/2009, o setor de rochas capixaba enfrentou uma grande crise atrelada crise do mercado imobilirio norte americano e s sucessivas quedas do dlar, quando as exportaes do estado chegaram a recuar 21,91% em relao ao ano anterior (INFOROCHAS, op. cit.). Entretanto, voltou a se estabilizar nos anos seguintes, mostrando seu potencial de recuperao, estando hoje no mesmo nvel de produo de antes da crise. Cabe destacar que essa recuperao foi impulsionada por um aumento do consumo interno e, como lado negativo, tambm houve um maior incremento das exportaes de blocos que as de materiais processados. Em 2010, o faturamento das exportaes capixabas de blocos aumentou 66,75% em comparao a de 2009

(em volume, o aumento foi de 57,50%) enquanto que as exportaes de chapas aumentaram 34,89% em faturamento e 31,28% em volume, de 2009 a 2010 (CENTROROCHAS, 2011).

6.

Situao atual do APL

Existe na indstria de rochas ornamentais uma grande resistncia ao trabalho de cooperao entre as empresas do segmento, da mesma forma que o observado em outros APLs, especialmente nos de base mineral acostumados a trabalhar em concorrncia, por vezes at desleal. Porm, o APL de Rochas Ornamentais do Esprito Santo conta com diversas entidades que atuam em seu fomento e com certo grau de interao entre elas e com as empresas: MAQROCHAS, SINDIROCHAS, CETEMAG, SEBRAE, SENAI (Servio Nacional de Aprendizado Industrial), REDEROCHAS, CREDIROCHAS, SINDIMRMORE, ANPO, AAMOL (Associao Ambiental Monte Lbano), alm de instituies tcnicas e universitrias como o IFES (Instituto Federal do Esprito Santo), o Centro Universitrio So Camilo e a FACI (Faculdade de Tecnologia de Cachoeiro de Itapemirim) e os governos municipais, estaduais e federais. Na ltima esfera destaca-se a implantao, em 2007, do Ncleo Regional do Esprito Santo do CETEM, em Cachoeiro de Itapemirim. Durante o tempo que se manteve a atuao do GMC da REDEROCHAS, houve boa interao entre os empresrios e os outros atores. Interagiam com a MAQROCHAS buscando orientaes de assuntos ligados a mquinas e equipamentos, com o SINDIROCHAS para assuntos ligados ao sindicato patronal, com o CETEMAG para a inovao tecnolgica nos processos da cadeia produtiva e com o SEBRAE para uma orientao e melhora na cooperao entre os grupos (FERNANDES,2006). Acredita-se que o bom funcionamento do grupo deveu-se em grande parte presena de um coordenador/articulador externo e, embora tenham continuado com reunies aps a sada do coordenador, a cooperao foi sendo abandonada e atualmente inexistente na prtica. A figura 3 mostra a interao entre cinco atores do APL que, segundo FERNANDES (op.cit.), atuavam no processo de inovao. De todas as entidades o SINDIROCHAS a melhor consolidada e a mais antiga entidade do APL. Foi fundada em 1973 com aproximadamente 70 filiados em busca do fortalecimento empresarial de forma ordenada. At o ano de 1995 atuava apenas no sul do estado, tendo a sua sede em Cachoeiro de Itapemirim e atualmente conta com sub-sedes em Nova Vencia e Barra de So Francisco. No total so congregados cerca de 460 associados (SINDIROCHAS, 2011). Porm, o SINDIROCHAS no filiado ABIROCHAS o que levou empresrios da regio norte a criarem a Associao Noroeste de Pedras Ornamentais - ANPO buscando a integrao nacional. Deve se destacar que, atualmente, h diversas empresas, tanto do norte quanto do sul, filiadas s duas entidades. O SEBRAE, que j teve importante atuao na promoo da cultura de cooperativismo, APL e governana, continua atuando, hoje, diretamente com as empresas em incentivo tecnolgico, capacitao de mo de obra e preservao ao meio ambiente. O APL conta com um Sindicato de empregados, o SINDIMRMORE , fundado em agosto de 1990 e filiado Federao Nacional dos Trabalhadores da Construo e da Madeira FNTICM, e hoje, Central nica dos Trabalhadores - CUT e Confederao Nacional dos Trabalhadores do Setor Mineral - CNTSM, (SINDIMRMORE, 2011). O Sindicato atua no Estado todo, nas negociaes coletivas, intermediando a relao empregado empresa e prestando assessoria jurdica. A MAQROCHAS umas das mais recentes entidades do APL, no tendo uma estrutura consolidada (FERNANDES, 2006).

Figura 3. Interao entre atores do APL. Extrado de Fernandes (2006)

Na rea tecnolgica o CETEMAG fundado em 1988 j teve papel destacado embora hoje sua atuao esteja limitada pela falta de recursos. Apesar disso o principal centro de capacitao de mo-de-obra, sendo tambm parceiro do IFES, onde est sendo instalado um Centro Vocacional Tecnolgico - CVT, com equipamentos cedidos pelo MCTI, mediante um convnio da Prefeitura de Cachoeiro de Itapemirim. O CETEMAG tambm desempenha um papel importante como articulador para a consecuo de recursos destinados a projetos especficos para o desenvolvimento do setor, como o caso do Inventrio do Ciclo de Vida das Rochas Ornamentais, sendo realizado sob a coordenao do CETEM. Este ltimo conta, desde 2007, com um ncleo regional em Cachoeiro de Itapemirim desenvolvendo projetos de pesquisa e inovao e prestando servios para o setor de rochas ornamentais. O SENAI e o SEBRAE tambm so atuantes na rea de capacitao de mo-de-obra e gerencial. Outras entidades que contribuem para a formao de recursos humanos para o setor de rochas ornamentais so as instituies de ensino como IFES, que oferece os cursos tcnicos de minerao, eletromecnica e informtica desde 2005, alm do curso superior em Engenharia de Minas, desde 2009, no campus Cachoeiro de Itapemirim e tcnico em minerao no Campus Nova Vencia desde 2008. H tambm instituies de ensino privado como a Faculdade So Camilo e a FACI que oferece, em Cachoeiro de Itapemirim, o curso de Tecnlogo em Rochas Ornamentais. O mesmo curso oferecido em Barra de So Francisco pela Faculdade de Tecnologia de So Francisco atualmente est suspenso, segundo informaes locais, por falta de alunos interessados. Na atuao da rea ambiental destaca-se a Central de Tratamento de Resduos da AAMOL; um empreendimento privado que atua na gesto de resduos slidos gerados no setor de rochas ornamentais. A AAMOL presta servio apenas no aglomerado sul do APL e conta com 78 empresas associadas (AAMOL, 2011). O BANDES e o CREDIROCHAS so as entidades financeiras responsveis pelo financiamento de equipamentos, tanto para um melhor desempenho operacional quanto para minimizar os impactos ambientais gerados pela produo de rochas ornamentais. Na opinio dos autores, atualmente, h pouca interao entre os atores envolvidos no APL de rochas ornamentais do ES. Apesar da interdependncia dos aglomerados norte e sul, tambm no se observa cooperao entre as regies e sim intercmbio comercial e migrao de recursos humanos do sul para o norte. No entanto, acredita-se em um fortalecimento do aglomerado norte, nos prximos anos, impulsionado pela instalao de unidades de beneficiamento mais prximas dos locais de extrao e pela oferta das prefeituras de reas para instalao de parques industriais. O aumento da fiscalizao das atividades nos ltimos anos, tanto pela falta de licenciamento ambiental quanto pela baixa arrecadao de CFEM observada, revelou um problema comum aos dois plos, que o da legalizao dos empreendimentos visando o uso racional dos recursos naturais. A necessidade de se superar esse desafio que pode contribuir com a maior cooperao entre as regies. Para atingir esse objetivo, mediante a maior interao entre rgos pblicos e o setor privado, foi realizado o Primeiro Encontro de Muncipios Mineradores de Rochas Ornamentais na Feira do Mrmore e Granito de Vitria, em 2009, que contou com a participao do COMMINES - Consrcio dos Municpios Mineradores do Noroeste do Esprito Santo, e de representantes dos municpios mineradores da regio sul, assim como do DNPM e do Instituto Estadual de Meio Ambiente IEMA.

7.

Meio ambiente, sade e segurana do trabalho

Os principais impactos ambientais da produo de rochas ornamentais so devidos grande quantidade de resduos que gera. Nas pedreiras, a taxa de aproveitamento mdia pode se estimar em 30%, o que resulta em enormes volumes de rejeitos grossos nas frentes de lavra. J na etapa de beneficiamento, os rejeitos so finos, provenientes da serragem dos blocos em chapas e do polimento. Na serragem, 25% do volume da rocha so transformados em resduo fino. Cattabriga (2010) estimou que a produo de rochas ornamentais em Cachoeiro de Itapemirim gera por ano mais de 5 milhes de toneladas de resduos grossos nas pedreiras (70% dos blocos produzidos no estado do Esprito Santo so beneficiados em Cachoeiro de Itapemirim) e mais de 300.000 toneladas de finos no beneficiamento. Assim, impactos ambientais possveis so a perda de solo e o assoreamento de corpos dgua. A disposio dos resduos finos do beneficiamento hoje esta regulamentada pelo IEMA e deve ser feita em leitos de secagem impermeabilizados de forma a evitar contaminao do solo e do lenol fretico. A prtica est sendo adotada pelas empresas de beneficiamento, em reas prprias ou comunitrias, como no caso da Central de Tratamento de Resduos de Cachoeiro de Itapemirim gerida pela AAMOL ou a Central de Nova Vencia. Outros impactos, alm do importante impacto visual, tpico da minerao, so a produo de rudo e poeira nas pedreiras e degradao das estradas devido ao transporte dos blocos. Vale ressaltar que os resduos gerados pela produo de rochas tm possibilidade de utilizao, podendo gerar subprodutos. No caso dos materiais finos, provenientes de mrmores e calcrios compostos basicamente de carbonato de clcio, h a possibilidade de aplicao em diversos tipos de indstria. J o uso industrial dos resduos finos de granito depender muito de sua composio, varivel temporalmente nas unidades de beneficiamento, segundo os materiais processados em cada momento, pois o granito comercial inclui quase todas as rochas silicticas, de composies muito variadas. Esses resduos vm sendo estudados para serem utilizados como matria prima de produtos cermicos, vidros, argamassas e elementos para a construo civil. J os fragmentos de rochas provenientes da lavra e desbaste dos blocos podem ser utilizados para fabricao de paraleleppedos, meios-fios, elementos de edificao, na construo de muros e na fabricao de britas, dentre outros. A preocupao do setor de rochas ornamentais com o meio ambiente bastante recente. O rpido crescimento da produo na dcada de 1990, aliada a falta de estrutura dos rgos ambientais e do DNPM, levaram a uma alta taxa de informalidade no setor. Em 2007, de acordo a informaes do IEMA, 60% dos empreendimentos estavam em situao irregular e, segundo o DNPM, de 1995 a 2000, a explorao do mrmore e do granito destruiu 5 mil reas de Mata Atlntica no Estado, e 6 mil novos pedidos para lavra de minerais foram feitos. (CONHECER, 2010). De acordo com o ex-presidente do IEF/RJ Instituto Estadual de Florestas do Rio de Janeiro, um dos admiradores das montanhas capixabas,O processo pelo qual o granito extrado no Esprito Santo o mais predatrio possvel. Encontrada uma jazida, a mineradora se instala muitas vezes de forma precria no local, e comea a explodir a pedra, cortando-a em enormes blocos para fins ornamentais ou transformando-a em brita, para a fabricao de concreto. Fazem isso at que a pedra se torne demasiadamente inclinada ou que aquele tipo especfico de rocha saia de moda ou, ainda, at que qualquer outro motivo torne a lavra naquele lugar desinteressante. Quando isso acontece, assim como veio, a mineradora desaparece, deixando para trs montanhas destrudas, com grandes feridas abertas e milhares de toneladas de pedra abandonadas. As imagens so revoltantes e falam por si. (O ECO, 2005).

Considerando a importncia econmica das rochas ornamentais para a populao capixaba, o IEMA, o DNPM vem realizando nos ltimos anos um trabalho de conscientizao e orientao, mais do que de punio, junto a representantes dos empresrios, alm de simplificar o processo de licenciamento, estabelecer novas normas para a disposio de resduos e fortalecer sua estrutura com novas contrataes. Este trabalho est rendendo seus frutos e o setor de rochas ornamentais, constitudo na maioria de pequenas e mdias empresas, est implantando o plano de gesto ambiental e se adequando s exigncias ambientais. As cidades de Cachoeiro e Nova Vencia so os grandes plos do arranjo produtivo de rochas ornamentais no Estado do Esprito Santo o que as torna tambm as principais produtoras de resduo. Em Nova Vencia, por exemplo, apesar de a populao se dizer informada sobre os impactos ambientais causados pela extrao de mrmore e granito, no h mobilidade coletiva da mesma, tendo apenas uma ONG denominada GRAC (Grupo Ambiental do Cricar), que atua timidamente nas empresas de granito no exercendo presso perante aos rgos pblicos locais na busca de uma poltica pblica que seja condizente com o desenvolvimento local. (DELEVEDOVE, 2010). Apesar da pouca mobilizao, o estudo sobre conflitos ambientais e a extrao de granitos no norte do estado realizado por Borsoi (2007), no qual resgatou os resultados de entrevistas de opinio realizados em 2003 pela Universidade Federal do Esprito Santo UFES, confirma que a comunidade sim est informada sobre os impactos da minerao. A tabela 5 mostra a opinio pblica sobre os efeitos negativos da minerao no municpio de Nova Vencia, recolhida nesse trabalho.Tabela 5: opinio pblica sobre efeitos negativos da minerao no municpio de Nova Vencia-2003

Respostas Mltiplas Prejudica/destri o meio ambiente/patrimnio natural Atividade insalubre/ perigosa/ provoca acidentes Danifica muncipio: estradas, pontes, xodo rural. Mo-de-obra explorada/falta de segurana/treinamento Ambio dos empresrios/ lucros no fica na regio Falta fiscalizao/ controle/planejamento Poluio sonora/barulho Provoca falta de chuvas Produz muito resduo/ lixo"Fonte: extrado DATAUFES, 2004 apud BORSOI, 2007.

% 61,7 58,1 28,2 14,5 5,3 7,9 1,3 0,9 0,9

Ainda segundo Delevedove (op. cit.), a populao se restringe a meras denncias individuais annimas seja por telefone ou, raramente, atravs de protocolos junto ao IEMA. O tcnico em meio ambiente e recursos hdricos do IEMA, Trarbach (2010), diz que a soluo para reduzir o problema est na melhora da atuao das agncias fiscalizadoras e na conscientizao ambiental dos empresrios. Quanto ao IBAMA, tambm so poucas as denncias j que o rgo vem atuando somente sobre a fauna. Os rgos pblicos da regio reconhecem a deficincia do IEMA na fiscalizao e a lentido na anlise e aprovao dos processos de licenciamento ambiental, porm destacam que o rgo no possui quadro de pessoal suficiente para atender as demandas de todo o Estado. Com isso, a fragilidade do rgo e a falta de fiscalizao so boas sadas para muitos empresrios se beneficiarem da situao.

Um dos momentos mais marcantes ocorridos nas pedreiras no norte do estado foi a "Operao Quartzo" realizada no dia 12 de agosto de 2010. Nessa data foram interditadas quatro pedreiras por prejuzo ao meio ambiente e a sade dos trabalhadores. Segundo a colunista Thaise Saether (Sculo Dirio, 2010), a operao ocorreu nos municpios de Ecoporanga, Barra de So Francisco, Baixo Guand e Nova Vencia e deu continuidade Operao Carga Pesada, que fiscalizou o transporte de cargas. Segundo o professor doutor Paulo Csar Scarim, coordenador do projeto do Observatrio dos Conflitos no Campo da Universidade Federal do Esprito Santo (UFES), o grupo de estudo sobre rochas fez observaes de campo nos municpios de Nova Vencia, Vila Pavo, gua Doce do Norte e guia Branca e descobriu que a minerao do mrmore, do granito e de areia, entre outros minerais, esto provocando conflitos entre mineradoras e proprietrios rurais pela utilizao das terras (SCULO DIRIO, 2008). J na regio sul, no entorno da cidade de Cachoeiro de Itapemirim a manifestao da comunidade foi fundamental para a proibio da extrao de rochas ornamentais nos Parques Estaduais de Pedra Azul, em Domingos Martins e de Forno Grande, em Castelo, em 2008, com o objetivo de proteger reas garantindo a preservao da biodiversidade. Esses Parques Estaduais so conhecidos por serem cenrios representativos da beleza do Esprito Santo. No que se refere sade e segurana no trabalho, no Estado do Esprito Santo somente a partir da dcada de 90, precisamente na cidade de Cachoeiro de Itapemirim, quando se pensava que a economia local era baseada no cultivo do caf, laticnios e outros, houve a primeira manifestao sobre os acidentes de trabalho no setor do Mrmore e Granito. De acordo com Moulin (2006, p. 38),A face mais trgica se traduz na ocorrncia de acidentes fatais e mutiladores, a ponto de a localidade de Itaoca, distrito de Cachoeiro de Itapemirim, ser conhecida tambm por Vila das Vivas. So acidentes que, por sua gravidade, atingem no s trabalhadores, mas tambm moradores das pequenas localidades.

No perodo de janeiro de 1996 dezembro de 2004 ocorreram 73 acidentes fatais em todo o Estado do Esprito Santo o que gerou uma perspectiva de 8,1 acidentes de trabalho por ano abrangendo vinte mil trabalhadores do setor de Rochas Ornamentais. (MOULIN, 2007). A maioria dos acidentes fatais acontece no transporte e movimentao de chapas e blocos. No incio de 2010 aconteceram dois em menos de uma semana. Segundo o Sindimrmore, em 2009, cinco pessoas morreram durante o trabalho no setor de rochas. Em 2008 foram 15 vtimas. A Operao Carga Pesada realizada no dia 11 de agosto de 2010, objetivou coibir o transporte de peso excessivo em carretas. Foram fiscalizados 194 veculos sendo flagrados 144 condutores com algum tipo de irregularidade. No total, 17 condutores foram notificados por fazerem o transporte com excesso de peso. Em 2010, o nmero de acidentes envolvendo pelo menos um veculo de carga nas estradas federais chegou a 1.725, com 106 vtimas fatais, que representa 57% do total (Sculo Dirio, op. cit.). Promotores da Justia que atuam nas comarcas municipais no territrio capixaba foram aconselhados pelo Ministrio Pblico a ingressar com aes criminais contra proprietrios de empresas exploradoras e transportadoras de rochas caso fosse comprovado o excesso de peso durante o transporte ou acontecesse algum acidente. A segurana do transporte de blocos de mrmore e granito no Esprito Santo passou a ser um caso do Ministrio Pblico e da Polcia e somente no dia 2 de Outubro 2010 o CONTRAN (rgo responsvel pela fiscalizao do transporte de blocos) resolveu se manifestar devido gravidade dos acidentes nas estradas provocados pelo tombamento dos caminhes carregados com blocos de mrmore e granito, aplicando a Resoluo CONTRAN nm. 354 que regulamenta

tanto as dimenses mximas dos blocos quanto aos equipamentos e formas de amarrao dos blocos para seu transporte. 8. Metodologia do trabalho de campo

De acordo com a metodologia do projeto, o estudo dos impactos deve ser realizado no municpio minerador e em um municpio do entorno a fim de se comparar os benefcios da atividade de minerao nas comunidades mineradoras e adjacentes. Para determinar os municpios alvo do estudo foram coletados e analisados dados referentes a nmero de empresas, arrecadao de CFEM e dados socioeconmicos relativos aos municpios. Foram consultadas bases de dados do Departamento Nacional da Produo Mineral - DNPM, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica - IBGE e do Instituto Estadual de Meio Ambiente do Espirito Santo - IEMA. 8.1 Identificao e seleo dos municpios alvo A seleo dos Municpios alvo para o estudo de caso embasou-se em duas realidades distintas: o municpio aqui considerado minerador deveria ser referncia na produo de rochas ornamentais, sendo o mesmo o Municpio-Sede do APL; e o municpio considerado de entorno seria, de preferncia, pertencente mesma microrregio do Municpio-Sede, e no deveria apresentar nenhuma relao com a explorao de rochas ornamentais, tendo assim um referencial para comparao entre os indicativos econmicos, sociais e ambientais entre o municpio minerador e outro no minerador. O APL de Rochas ornamentais do Esprito Santo dividido em dois plos: um com referncia no municpio de Cachoeiro de Itapemirim e outro no municpio de Nova Vencia (PAULA, 2008 apud VILLASCHI &SABADINI, 2000). Teoricamente, os dois seriam os municpios considerados mineradores dentro deste estudo. Porm, em ambos os casos, so muitos os municpios vizinhos nos quais a atividade extrativa muito importante. Quanto ao Plo Sul do APL, Cachoeiro de Itapemirim foi eleito para ser o Municpio Minerador por conter o maior parque industrial de rochas ornamentais do pas e ser referncia mundial nesse setor. No plo Norte do APL, tratando-se de pequenos municpios, foram escolhidos os trs municpios em torno dos quais gira a atividade, com maior produo de rochas ornamentais, para serem os Municpios Mineradores: Barra de So Francisco, Nova Vencia e Vila Pavo. Verificaram-se tambm dificuldades na escolha dos Municpios do Entorno j que a maioria dos municpios capixabas possui algum tipo de atividade relacionada com o setor de rochas ornamentais e isso dificulta a escolha. A soluo para o problema foi a escolha de municpios que tivessem pouca atividade mineral e que a mesma no tivesse impacto relevante na economia local. No aglomerado sul foi escolhido o municpio de Jernimo Monteiro que faz parte da mesma microrregio de Cachoeiro de Itapemirim, e conta com apenas quatro empresas relacionadas com a produo de rochas. No aglomerado norte, a seleo do Municpio de Entorno foi limitada pela macrorregio Noroeste, j que os Municpios Mineradores escolhidos pertencem a microrregies diferentes. O municpio selecionado foi So domingos do Norte, com cinco empresas relativas ao setor. 8.2 Elaborao dos Questionrios Foi necessrio fazer adaptaes nos questionrios modelos do projeto, aqueles utilizados no caso da Grande Mina de Ouro de Crixs, para a situao especfica do APL, constitudo no por uma grande mina, mas sim, por muitas pequenas minas. A estrutura do questionrio modelo foi mantida constando de vinte e uma perguntas, divididas nos blocos Identificao, consistindo de uma breve apresentao do entrevistado; Percepo/opinio,

detalhando se na opinio do entrevistado houve melhorias em servios pblicos e se a qualidade de vida e renda familiar tinha melhorado a partir do incio das atividades mineiras; e Minerao, procurando identificar se o entrevistado teve relao direta com a minerao e o que a mesma trouxe de positivo ou negativo para a comunidade. Os questionrios direcionados as entidades, organizaes, prefeituras e secretarias foram adaptados para conter perguntas referentes atuao especfica de cada uma delas. 8.3 Coleta de dados de campo As entrevistas a populao foram feitas de maneira aleatria, por abordagens de moradores em diversos bairros das cidades, buscando englobar moradores com realidades distintas, atingindo uma melhor percepo da opinio dos habitantes sobre a explorao mineral. Em total foram realizadas 541 entrevistas com a populao, conforme detalhado na tabela 6.Tabela 6. Nmeros de entrevistas realizadas nas comunidades.

Municpios Mineradores

Municpios de Entorno TOTAL

Municpios Alvo Cachoeiro de Itapemirim Barra de So Francisco Nova Vencia Vila Pavo Jernimo Monteiro So Domingos do Norte

N de Questionrios 254 114 14 21 88 50 541

Para realizar as entrevistas junto a entidades, organizaes, prefeituras e secretarias foram feitos agendamentos prvios, via correio eletrnico e telefonemas, prosseguindo, assim, com as visitas em locais determinados. Foram entrevistados os sindicatos e associaes patronais (SINDIROCHAS e ANPO) e de trabalhadores (SINDIMRMORE), Secretarias de Desenvolvimento e de Meio Ambiente das Prefeituras dos municpios considerados, e ONGs. As figuras 4 e 5 ilustram a realizao das entrevistas com a populao e em entidades.

Figura 4. Realizao de entrevistas nas comunidades

Figura 5. Entrevista com representantes da Prefeitura de Vila Pavo

8.4 Anlise dos resultados A anlise dos resultados foi baseada na comparao dos indicadores obtidos com as entrevistas realizadas em campo, entre o municpio minerador e o municpio de entorno. Para isso, os dados coletados foram lanados em planilhas. Posteriormente, foram criados e analisados os grficos de todos os segmentos das entrevistas, e feita a comparao entre o municpio minerador e o municpio no minerador visualizando, assim, a diferena entre as dinmicas dos municpios. 9. Resultados

Devido s diferenas entre as caractersticas produtivas entre os dois polos do APL, a anlise dos resultados do trabalho de campo, ou seja, das entrevistas com a populao e com entidades representativas, foi realizada separadamente. Em total foram realizadas 541 entrevistas com a populao sendo 342 no polo do sul (254 no municpio minerador e 88 no municpio no minerador) e 199 no polo do norte (149 no municpio minerador e 50 no municpio no minerador). Os entrevistados foram escolhidos aleatoriamente nas ruas e nos comrcios das cidades, em bairros selecionados, de forma a cobrir diversas situaes: bairros prximos de indstrias, afastados das indstrias e o centro das cidades.

9.1 Aglomerado Sul do APL MUNICIPIO MINERADOR O municpio de Cachoeiro de Itapemirim com uma populao de 189.889 habitantes (IBGE, 2010), tem como principais atividades econmicas, de acordo a informaes da Prefeitura Municipal, o comrcio e a prestao de servios, atividades em grande parte devidas, direta ou indiretamente, produo de mrmores e granitos. o principal polo do APL de Rochas do Esprito Santo, onde se concentram 40% das empresas e 44% dos empregos do setor. O APL responsvel por 70% do PIB municipal e estima-se em 11.000 o nmero de empregos gerados no municpio (DIAS, 2011). A importncia do APL na economia do municpio ficou bem caracterizada durante o perodo da crise econmica internacional (2008-2009), quando muitas empresas fecharam, tanto de produo de mrmores e granitos, quanto de fornecimento de produtos e servios e houve uma grande diminuio do movimento no comrcio local. Com a recuperao do setor, esse movimento voltou a aumentar e se encontra, novamente, em fase de expanso. A figura 6 mostra as pedreiras de mrmore no distrito de Itaoca, na cidade de Cachoeiro de Itapemirim. O municpio tem boa oferta energtica e de telecomunicaes, porm a linha de transporte toda rodoviria. O transporte de blocos de rocha, de 25 a 30 toneladas, obriga constante recuperao das estradas e cria srios problemas de trnsito na cidade e de acidentes nas estradas. No entanto, espera-se melhorar a situao, de acordo com a prefeitura com a instalao da ferrovia litornea sul que interligar a estrada de Ferro Vitria-Minas (EFVM) ao Porto de Ubu e Cachoeiro de Itapemirim. O nvel educacional bom, existindo mo de obra qualificada, porm no aproveitada.

Figura 6. Pedreiras de mrmore e calcrio em Itaoca (Cachoeiro de Itapemirim)

Alm do apoio do Estado para o desenvolvimento do setor (FINDES e BANDES) a Prefeitura de Cachoeiro apoia os pequenos produtores, mediante programas junto com o SEBRAE, a implantao de um centro de valorizao tecnolgica no IFES, apoio implantao do CETEM e implantao de um centro digital em parceria com a Samarco. Em Cachoeiro de Itapemirim, devido ao tamanho do municpio, as entrevistas foram realizadas em vrios bairros da cidade e em trs distritos adjacentes (importantes pela grande quantidade de empresas, tanto de extrao quanto de beneficiamento, neles instaladas): Itaoca, Gironda e Soturno. Dos 254 entrevistados, 150 moram em bairros ou distritos prximos a pedreiras e indstrias de beneficiamento, 37 prximos a indstrias de beneficiamento, 61 em outros bairros e 6 no responderam. Foram entrevistados 112 mulheres e 142 homens, todos adultos. Dentre eles, 97 (38,64%) moravam no local h mais de 30 anos e 151 (61,35%) menos de 30 anos. Sendo o objetivo de este trabalho avaliar os impactos da minerao nas comunidades, considerou-se esse perodo de 30 anos como representativo do desenvolvimento da produo de rochas ornamentais na regio. Observa-se que mais da metade dos entrevistados no poderia opinar sobre o perodo completo, no entanto, mais de 70% deles sim moravam no municpio h mais de 20 anos, tempo considerado suficiente para avaliar as mudanas ocorridas com a evoluo da minerao. A figura 7 mostra a distribuio dos locais de origem dos entrevistados e tempo de moradia em Cachoeiro de Itapemirim. Atualmente a regio no se caracteriza por forte imigrao, a diferena do que acontecia no passado, de acordo com a pesquisa de campo, j que mais da metade eram nascidos no municpio, um tero proveniente de municpios prximos a Cachoeiro, 1,19% de outras regies do ES e 13,54 % de outros estados.

100% 90% 80% 70% 60% 50% At 20 anos Acima de 20 anos

40%30% 20% 10% 0% Proximidades da Regio Sul De outras Regies do Esprito Santo De fora do Esprito Santo Nascido na localidade Zona Rural

Figura 7. Origem dos entrevistados em Cachoeiro de Itapemirim e tempo de residncia no local

De acordo com a prefeitura, o nvel educacional bom. De fato, na amostra da pesquisa, apenas 1,57% eram analfabetos, porm grande maioria dos entrevistados tinha apenas primeiro ou segundo grau e somente 12% tinham educao superior ou eram estudantes de graduao. Ainda de acordo com a prefeitura, existe mo de obra qualificada, porm no aproveitada. Essa opinio compartilhada pelo Instituto Federal do Espirito Santo que tem cursos de formao especfica (eletromecnica e minerao com nfase em rochas ornamentais desde 2005 e engenharia de minas desde 2009), mas o APL no absorve esses profissionais qualificados. Por outro lado, o prprio Sindimrmore, sindicato dos trabalhadores, considera que a oferta pblica de cursos de capacitao para o setor inexistente. Isso reflete a realidade observada nas empresas de rochas que no procuram profissionais tcnicos especializados (gelogos, engenheiros, tcnicos), entendendo que capacitao se refere apenas a treinamento de mo-de-obra (serrador, polidor...), cursos estes oferecidos normalmente pelo CETEMAG. Das entrevistas pode se entender que a renda mdia no municpio de um e dois salrios mnimos. Cachoeiro de Itapemirim tem uma renda per capita prxima da mdia do Estado do Esprito Santo (IBGE, 2000). O incremento de renda no municpio acompanhou, de acordo com dados do IBGE, a tendncia do resto do Estado e do pas de aumento dos recursos advindos do governo e diminuio do percentual da renda proveniente dos rendimentos do trabalho. Isto condizente com a percepo da grande maioria dos entrevistados, que declararam que tanto a renda familiar (74,80%) quanto a qualidade de vida (81,30%) melhoraram nos ltimos 20 anos (Figura 8). O municpio de Cachoeiro de Itapemirim conta com boa infraestrutura, melhor que a mdia do Estado, com mais de 90% da populao atendida quanto aos servios bsicos: energia, gua e coleta de lixo, segundo os dados do IBGE (2000).

100% 90% 80% 70% 60% 50%Qualidade de Vida Renda Familiar

40%30% 20% 10%

0% Melhor Igual PiorFigura 8 Percepo dos entrevistados sobre a variao da renda familiar e da qualidade de vida nos ltimos 20 anos em Cachoeiro de Itapemirim

Nas entrevistas realizadas na comunidade, 22% declararam no ter acesso ao saneamento bsico, 10% saude, 11% escola, 62% ao lazer, quase 10% no tem acesso ao transporte pblico e 33% declararam que no tem acesso habitao. No entanto, essa ltima questo no foi bem entendida pelos entrevistados, talvez por falta de explanaes mais claras por parte da equipe de campo. Dentre os que tm acesso a esses servios, a maioria est satisfeita em geral com os servios pblicos do municpio, com exceo da sade pblica com a qual metade da amostra mostrou-se insatisfeita. Porm o grau de satisfao no muito alto, apenas em torno de 15% mostraram-se muito satisfeitos com os servios pblicos. O servio melhor considerado foi a escola, com 19,46% muito satisfeitos (Figura 9).

100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0%

InsatisfeitoSatisfeito Muito satisfeito

Figura 9. Grau de satisfao dos entrevistados em Cachoeiro de Itapemirim com os servios pblicos

Consideram a qualidade da gua boa (62,45%) e 30% regular. O melhor servio pblico, de acordo com os entrevistados foi o fornecimento de energia eltrica e o pior o tratamento de esgoto. Entretanto, esta ltima percepo contradiz as informaes recolhidas junto Prefeitura de Cachoeiro de Itapemirim e a empresa Foz do Brasil, concessionria desse servio, que informaram que, na cidade, 97% do esgoto captado e 88% tratado, tendo a empresa recebido diversos prmios estaduais e nacionais pela sua gesto de saneamento. Os autores deste trabalho consideram que essa percepo negativa da populao quanto ao tratamento de esgoto se deve ao fato de que mais da metade das entrevistas foram realizadas nos distritos de Itaoca, Gironda e Soturno, caracterizados pela forte presena de empresas de extrao e beneficiamento e que ainda no esto to bem atendidos quanto sede do municpio. Dos poucos casos encontrados de doenas veiculadas aos recursos hdricos, as molstias mais frequentes foram infeco intestinal, dor de barriga, vmito e enjoo. Quanto qualidade do ar, um grande nmero dos entrevistados (92) declarou sofrer de complicaes respiratrias como alergia, bronquite, rinite e sinusite. Os entrevistados relataram ter conhecimento de diversas doenas causadas pela minerao no muncipio como bronquite, alergia, asma, silicose e poucos casos de cncer (7). De acordo com o sindicato houve melhorias significativas nos ltimos anos na proteo sade dos trabalhadores, principalmente pela obrigatoriedade de se trabalhar a mido na minerao (NR22) e pelo uso de EPIs nas empresas, embora ainda haja negligncia quanto a seu uso: os empregados no usam e os empresrios no obrigam, mesmo disponibilizando-os. O sindicato ainda acredita que atuao das CIPAS nas empresas insuficiente, pois elas no so atuantes limitando-se a cumprir os treinamentos exigidos pelo Ministrio Pblico. Quanto s vantagens e desvantagens do APL para a comunidade, 74,02% acham que o melhor que a minerao trouxe para o municpio foi emprego e renda e outro impacto positivo, de acordo aos entrevistados, foi o desenvolvimento (14,96%). Somente um 6,30% consideram que a minerao no teve nenhum impacto positivo. Os impactos negativos da minerao mais mencionados (55,12%) nas entrevistas foram poluio (poeira, lixo) e rudo. 9,45% consideraram negativo o aumento do trnsito pesado e 8,27% a degradao ambiental. 3,15% indicaram os acidentes de trabalho como impactos negativos da minerao e 1,57% os de trnsito. 14,17% no souberam indicar impactos negativos, outros colocaram danos sade (1,18%) e depreciao das estradas (0,79%). Embora s uma pequena parcela dos entrevistados tenha destacado os acidentes de trabalho e de trnsito como impactos negativos do APL, na realidade, a maior parte dos acidentes mortais no setor se deve ao transporte e manipulao de blocos e chapas, dentro e fora das empresas. De acordo com o Sindimrmore entre 1996 e 2008, aconteceram 8 mortes por ano, em mdia, com um mximo de 14 em 2007. A maior parte desses acidentes mortais aconteceu no transporte rodovirio dos blocos. J dentro das pedreiras e serrarias no h nmeros sobre acidentes. Segundo o Sindimrmore, muitos no so registrados no Ministrio do Trabalho, sendo os mais frequentes causados pela falta de manuteno dos equipamentos e falta de capacitao de mo-de-obra. A maioria das empresas no fornece plano de sade aos empregados, sendo eles atendidos pelo SUS o que frequente motivo de reclamaes por parte do sindicato que considera isso uma falta de amparo aos trabalhadores e seus familiares. Quase um tero dos entrevistados j trabalhou na minerao e 69% tm parentes que trabalharam ou trabalham na minerao. Dentro desse mbito, as profisses que apareceram com maior frequncia nas entrevistas foram empregos nas serrarias (polidor, serrador e encarregado).

H uma grande identificao entre a comunidade e a produo de rochas em Cachoeiro de Itapemirim e para 94% dos entrevistados a minerao aumentou a possibilidade de emprego na regio, principalmente nas reas de beneficiamento, extrao, prestao de servios, e comrcio. 26% dos entrevistados gostariam de trabalhar na minerao, sendo a funo mais atraente a da rea administrativa. No que se refere responsabilidade social das empresas, de acordo com as entrevistas realizadas com empresrios, a atuao destas tmida e acontece de forma isolada. Algumas empresas, as maiores, doam materiais e contribuem com a construo de centros sociais, escolas ou outros. frequente, tambm, a contribuio das empresas de rochas ornamentais na realizao de eventos sociais desportivos ou comemoraes. A nota dos entrevistados para o municpio foi distribuda em: muito bom 14,17%, bom 31,50%, 39,37% regular, ruim 10,24% e muito ruim 4,72%. A nota para minerao: muito bom 29,08%, bom 35,46%, 25,50% regular, ruim 5,98% e muito ruim 3,98%. Observa-se que a comunidade avalia melhor a minerao que o municpio. Na opinio dos autores, o papel de gerador de emprego e renda da minerao fundamental para essa avaliao positiva. Alguns impactos negativos da minerao no so perceptveis para a comunidade, que culpa o governo por problemas causados ou agravados pela produo de rochas. Por exemplo, a necessidade contnua de manuteno das estradas, cuja deteriorao realmente causada pelo transporte dos blocos. Por outro lado, muitos dos entrevistados, especialmente os moradores de bairros onde se concentra um maior nmero de empresas de extrao e beneficiamento (Soturno, Gironda e Itaoca), reclamaram da prefeitura que recebe os impostos dessa produo, recursos estes no revertidos nas comunidades locais na forma de investimentos em infraestrutura local. MUNICIPIO NO MINERADOR O municpio de Jernimo Monteiro, de acordo com as informaes da Prefeitura, com uma populao de aproximadamente 11.000 habitantes um municpio jovem, emancipado do municpio de Alegre em 1959. Tem sua economia baseada na agropecuria familiar (em torno de 80% da gerao de renda), nos cultivos de caf e ctricos e na produo de leite. O maior empregador da regio , provavelmente, a prefeitura, com 400 funcionrios e h tambm uma firma de agropecuria (Agropecuria Caet) que deve empregar em torno de 150 pessoas. Fora essas atividades, nos ltimos anos comearam a se desenvolver pequenas confeces e artesanato. Praticamente no h extrao de rochas no municpio; uma pedreira com a licena de operao recm-obtida, na regio de Caet, e uma em fase de requerimento de autorizao de pesquisa. No entanto, devido proximidade de Cachoeiro de Itapemirim, o APL emprega muitas pessoas do municpio, considerando-se como cidade dormitrio do APL. Por esse motivo, a importncia do APL para o municpio muito grande. Por outro lado, os empregos gerados representam a nica contribuio do APL de rochas para Jernimo Monteiro, j que apesar e devido a essa proximidade, no houve desenvolvimento de outros elos da cadeia produtiva de rochas ornamentais: nem fornecedores, nem prestadores de servios instalaram-se no municpio, ficando todos no plo industrial de Cachoeiro de Itapemirim. (Prefeitura de Jernimo Monteiro). Em Jernimo Monteiro foram realizadas 88 entrevistas. Foram entrevistados 47 mulheres e 41 homens, todos adultos. Dentre eles, 45 (51,14%) moravam no local h mais de 30 anos e 43 (48,86%) menos de 30 anos. Dois teros (64,77%) eram nascidos no municpio.

A maioria dos entrevistados tinha at segundo grau (em torno de 68,19%, tendo s 26% ficado no primeiro grau), 23,87% tinham educao superior ou eram estudantes de graduao. As entrevistas foram realizadas durante o horrio de trabalho e a maioria dos entrevistados (81,82%) trabalhava na rea de servios (comrcio, transporte), 6,82% eram funcionrios pblicos e 10,23% eram aposentados. Pode se observar que o nvel educacional da amostra pesquisada mais elevado que o da amostra do municpio minerador. Este perfil foi confirmado pela Prefeitura que informou que Jernimo Monteiro o municpio do Estado com mais alunos na escola, na faixa de 95%. Isto acontece com auxlio da prefeitura que disponibiliza transporte da zona rural para a cidade, j que as unidades rurais foram desativadas. Conta com trs escolas municipais com infraestrutura completa para a educao. Conta tambm com um Campus da Universidade Federal do Espirito Santo UFES, onde so oferecidos dois cursos de graduao: Tecnologia da Madeira e Agronomia. A prefeitura tem pequenos programas de desenvolvimento, como cursos de capacitao e apoio s pequenas confeces e artesanato, programas de maior importncia para o setor agrcola, como o da revitalizao da produo de ctricos, estando em fase de montagem de uma unidade de beneficiamento de laranja. Contam com o apoio do PRONAF (de 1999 a 2004 financiado pelo Governo Federal e de 2004 at hoje pelo estadual), que dotou a regio de equipamentos e infraestrutura para desenvolver a agricultura familiar. A renda da populao semelhante de Cachoeiro de Itapemirim. No foi possvel identificar a influncia do APL na gerao de renda, j que Jernimo Monteiro fornecedora de mo-de-obra para esse APL, e tambm no foi possvel quantificar o nmero de empregados no municpio minerador. A grande maioria dos entrevistados declarou que tanto a renda familiar (71,26%) quanto a qualidade de vida (77,27%) melhoraram nos ltimos 30 anos (Figura 10).100% 90% 80% 70% 60% 50%

Qualidade de VidaRenda Familiar

40%30% 20% 10%

0% Melhor Igual PiorFigura 10 Percepo dos entrevistados sobre a variao da renda familiar e da qualidade de vida nos ltimos 20 anos em Jernimo Monteiro

No que se refere aos servios pblicos, 12,5% dos entrevistados no tem acesso ao saneamento bsico, 6,81% sade, 13,63% escola, 67,04% no tem acesso ao lazer, e 35,23% declararam que no tem acesso habitao. Novamente, verificou-se que a questo no foi bem entendida. Quase 29,55% no tm acesso ao transporte pblico. Dentre os que tm acesso a esses servios, a maioria est satisfeita em geral com os servios pblicos do municpio, com exceo do lazer com o qual 37,93% da amostra mostrou-se insatisfeita.

Porm o grau de satisfao no muito alto, em torno de 20% mostraram-se muito satisfeitos (Figura 11).

100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0%

Insatisfeito Satisfeito Muito satisfeito

Figura 11. Grau de satisfao dos entrevistados em Jernimo Monteiro com os servios pblicos

Os servios considerados melhores foram o saneamento (com apenas 1,43% de insatisfao) e a escola pblica, com 26,67% muito satisfeitos (5,33% insatisfeitos). Consideram a qualidade da gua boa (59,09%) e 28,41% regular. O melhor servio pblico, de acordo com os entrevistados foi o fornecimento de energia eltrica e de gua, o pior a coleta de lixo. A prefeitura informou que 100% do esgoto na zona urbana canalizado e 65% dele tratado em usina tipo ASB. Na zona rural, um projeto da prefeitura apoiado pelo Ministrio do Meio Ambiente (MMA) viabilizou a construo de fossas spticas. Ainda de acordo com a prefeitura, no h tratamento de resduos slidos no municpio, nem depsitos. O lixo urbano recolhido e enviado para tratamento em Vila Velha. No h coleta seletiva e, na zona rural, no h coleta de resduos, sendo todos tratados individualmente. No que se refere infraestrutura, o municpio conta com uma boa malha rodoviria intermunicipal, com a BR 482 que o liga a Cachoeiro de Itapemirim e ao Estado de Minas Gerais, em fase de ampliao, e a ES 177 que liga o municpio cidade de Muqui, prxima da BR101. As estradas vicinais, no entanto, so todas sem asfalto e encontram-se em mal estado de conservao. A energia fornecida pela companhia Escelsa e no tem problemas de abastecimento. Ainda esperam ser beneficiados por duas Pequenas Centrais Hidreltricas (PCH) em municpios vizinhos. A rede de telecomunicao precria, tendo boa cobertura celular das empresas claro e vivo, sem rede 3G. O acesso internet via telefnica (Velox) e rdio. O abastecimento de gua tratada feito pela estatal SAAE, oferecendo preos muito inferiores aos de empresas privadas. Dos poucos casos relatados pelos entrevistados de doenas veiculadas aos recursos hdricos, as molstias mais frequentes foram diarreia e vmito. A qualidade do ar foi considerada boa pela comunidade, relatando s alguns casos comuns de alergia e rinite. Os entrevistados relataram ter conhecimento de diversas doenas causadas pela minerao no municpio como cncer (9), bronquite e um caso de silicose.

Metade dos entrevistados mora no municpio h mais de 30 anos o que se mostra interessante para se avaliar o impacto do APL nessa comunidade. Nesse sentido, 54,55% dos entrevistados consideram que o mais positivo da minerao para o municpio a gerao de emprego e renda (para 83% dos entrevistados a minerao aumentou a possibilidade de emprego na regio). Do total, 37,5% consideram que a minerao no teve nenhum impacto positivo. Claramente, o APL no gerou impactos ambientais, o que confirmam a maioria dos entrevistados (75%) e a prefeitura, quem declarou ainda que, apesar de existirem pedreiras em quantidade suficiente para provocar assoreamento dos rios ou outros tipos de impactos negativos, nunca houve um acidental ambiental. No h rgos ambientais em Jernimo Monteiro, sendo o mais prximo o IDAF que, na verdade, conta com um nico fiscal que um tcnico da prefeitura e no h pessoal qualificado na rea de meio ambiente na prpria Secretaria de Desenvolvimento Rural Sustentvel, que engloba as reas de Fitotecnia e Meio Ambiente, estando a prefeitura impossibilitada at de emitir licenas municipais. A regio conta com a rea de Amortizao da Flora de Pacotuba, hoje a cargo do Instituto Chico Mendes. No h reflorestamento e quando h de forma individual com orientaes tcnicas da prefeitura. Atualmente um dos 11 municpios includos no Desenvolvimento da Regio do Capara, mas no h iniciativas de turismo. A nica rea fortemente degradada uma extensa rea pecuria na regio de Caet. Considera-se que o fornecimento de eucalipto para a empresa Aracruz Celulose contribui para a preservao ambiental. Hoje h 30 produtores fornecendo eucalipto. Dos entrevistados, 5,68% j trabalharam na minerao e 26% tm parentes que trabalharam ou trabalham na minerao. As profisses que apareceram com maior frequncia na entrevista eram empregos nas serrarias (polidor e serrador). E 36% deles gostariam de trabalhar na minerao, sendo a funo mais atraente a da rea administrativa. Alguns dos entrevistados, durante a pesquisa, declararam que o municpio necessita de empresas de rochas ornamentais para absoro de mo-de-obra local. Contudo, nem a prefeitura nem o estado possuem nenhum tipo de programa de desenvolvimento do setor mineral na regio. Alm da concorrncia do municpio de Cachoeiro que tem condies de oferecer maiores incentivos para a instalao de indstrias, h um problema logstico por estar mais afastado dos centros consumidores. A prefeitura considera que seria interessante promover a expanso do APL para seu municpio, porm, no incentiva porque no vem garantias de um possvel retorno a esse investimento. Quanto associao do municpio com o APL a percepo do grau de associao ficou igualmente distribuda entre as 3 classes do questionrio resultando em muita associao para 38,82%, alguma associao 29,41 e nenhuma associao 31,76%. A nota dada pelos entrevistados para o municpio ficou distribuda em: muito bom 19,32%, bom 32,95%, 37,50% regular, ruim 7,95% e muito ruim 2,27%. A nota para minerao: muito bom 37,97%, bom 27,85%, 25,32% regular, ruim 5,06% e muito ruim 3,8%. Tambm em Jernimo Monteiro, o municpio no minerador do plo sul do APL objeto deste estudo, a atividade de minerao considerada positiva sendo melhor avaliada que o prprio municpio, como aconteceu com a amostra pesquisada em Cachoeiro de Itapemirim, municpio minerador. A minerao, muito presente nos municpios vizinhos, no tem gerado impactos ambientais apreciveis pela populao. Em contrapartida impacta positivamente o emprego e a renda no municpio.

9.2 Aglomerado Norte do APL Para anlise dos dados do polo norte, embora haja outros municpios com grande concentrao de empresas extrativas, como Ecoporanga, So Gabriel da Palha, guia Branca e gua Doce do Norte, foram selecionados para este estudo, 3 municpios mineradores, Nova Vencia, Barra de So Francisco e Vila Pavo como um nico municpio minerador. A seleo foi assim feita por dois motivos: Nova Vencia foi o primeiro municpio da regio norte a desenvolver a indstria de rochas ornamentais e, atualmente, h uma grande concentrao de empresas (de minerao) (tanto de extrao quanto de beneficiamento) na regio limtrofe entre os 3 municpios selecionados. No aglomerado norte, foi considerado como Municpio de entorno, So Domingos do Norte, por ser vizinho e com pouca atividade extrativa, dentro da macrorregio noroeste, a mesma qual pertencem os municpios mineradores.

MUNICIPIO MINERADOR De acordo com o censo IBGE 2010 a populao do municpio de Barra da So Francisco de 40.649 habitantes, sua economia atualmente baseada na extrao e beneficiamento de rochas ornamentais. As atividades secundrias geradoras de renda no municpio caracterizamse pela agricultura e pecuria familiar em pequenas propriedades na zona rural e pelo forte comrcio varejista na zona urbana. Nova Vencia conta com uma populao de 46.031 habitantes (censo IBGE 2010). Sua economia baseada principalmente na agropecuria e na extrao e beneficiamento de rochas ornamentais. Os dois municpios so caracterizados por possurem tanto indstria extrativa, principalmente pela extrao de materiais de colorao amarela e verde, quanto de beneficiamento. J Vila Pavo, com uma populao de 8.672 habitantes (censo IBGE 2010) possui uma economia baseada na agricultura familiar, sendo a principal fonte de renda para o municpio, seguida da extrao de granito. O municpio no conta com nenhuma indstria de beneficiamento, sendo os materiais extrados beneficiados nos municpios vizinhos e Cachoeiro de Itapemirim ou exportados em forma de blocos. De acordo com a prefeitura de Vila Pavo, o municpio perde recursos que deveriam ser arrecadados dos tributos, por um lado, porque as empresas com reas de extrao limtrofes com outros municpios tributam nos outros municpios (Barra de So Francisco) e tambm porque os impostos que taxam o produto vendido so recolhidos onde os blocos so beneficiados (Barra de So Francisco, Nova Vencia e Cachoeiro de Itapemirim). A figura 12 mostra umas pedreiras de rochas ornamentais em Vila Pavo. De acordo com Associao Noroeste de Pedras Ornamentais ANPO, o cenrio empregatcio atual do aglomerado norte um dos fatores positivos do setor, o aglomerado noroeste gera cerca de 8.000 empregos diretos e 3.000 indiretos (fornecedores e prestadores de servios). O aglomerado norte, considerado pela ANPO, constitudo, alm dos sete municpios includos neste estudo, por mais seis municpios vizinhos (incluindo um de Minas Gerais, Mantena). A cadeia produtiva opera com o apoio de todos os fornecedores de insumos, fornecedores de maquinrios, que so os que realizam a capacitao e treinamento da mo-deobra, sendo que 60 % deles so de origem nacional e 40 % de origem italiana. Observou-se, no decorrer da pesquisa, que os funcionrios mais especializados das empresas (gerentes das diversas etapas da produo, engenheiros, gelogos., etc) so provenientes do aglomerado sul.

Figura 12. Pedreiras de granito no municpio de Vila Pavo.

Para a caracterizao do aglomerado norte foram realizadas 149 entrevistas; 93 entrevistados do sexo masculino e 56 do sexo feminino. Dentre eles, 40 (26,85%) moravam no local h mais de 30 anos e 109 (73,15%) menos de 30 anos. Assim como aconteceu com as pesquisas no municpio minerador do aglomerado sul, o percentual dos entrevistados que moravam h mais de 30 anos no foi representativo. Entretanto, 63,09 % dos entrevistados moravam na localidade h mais de 20 anos (Figura 13), perodo considerado pelos autores deste trabalho como satisfatrio para a anlise dos impactos da minerao na regio. De fato, a intensificao das atividades de minerao na regio norte ocorreu a partir da dcada de 1990.

100% 90% 80% 70% 60% 50% At 20 anos 40% 30% 20% 10% Acima de 20 anos

0%Proximidades da Regio Norte De outras Regies do Esprito Santo De fora do Esprito Santo Nascido na localidade Zona Rural

Figura 13. Origem dos entrevistados nos municpios mineradores e tempo de residncia no local

A grande maioria (68,92% ) dos entrevistados tinha apenas primeiro e ou segundo grau e 30,41% tinham educao superior ou eram estudantes de graduao, percentual maior que o municpio minerador sul. O ndice de alfabetizao dos municpios prximo ao nvel da microrregio (84,77%) e a nvel estadual (88,33%). Existem poucos cursos de graduao na regio e apenas um curso de formao tcnica de profissionais do setor oferecido pela iniciativa publica em Nova Vencia. De acordo com a ANPO, a maior parte da capacitao dos profissionais que atuam no aglomerado ocorre por parte da iniciativa privada e bem especifica; cerca de 80 % dos trabalhadores so treinados para atender setores pontuais da cadeia, como o caso da capacitao oferecida pelos fornecedores de maquinrios. Das entrevistas pode se entender que a renda mdia no municpio minerador do aglomerado norte est entre um e dois salrios mnimos. Isto foi comprovado pelo Instituto Jones dos Santos Neves (2000), que indica que cerca de 60% da populao possui renda mdia entre meio e dois salrios mnimos, como acontece em Cachoeiro de Itapemirim. De acordo com a amostragem realizada no municpio minerador do aglomerado norte, a qualidade de vida e a renda familiar melhoraram nos ltimos 20 anos (Figura 14).

100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% Qualidade de Vida Renda Familiar

20%10% 0% Melhor Igual PiorFigura 14 Percepo dos entrevistados sobre a variao da renda familiar e da qualidade de vida nos ltimos 20 anos em Barra de So Francisco, Nova Vencia e Vila Pavo

Com relao infra estrutura bsica dos municpios, 14,76% da comunidade pesquisada declarou no ter acesso ao saneamento bsico, 6,71% saude, 11,41% escola, 48,99% ao lazer, 24,16% declararam que no tem acesso habitao e quase 42,28% no tem acesso ao transporte pblico. Dentre os que tm acesso a esses servios, a maioria se declarou satisfeita, com exceo da sade pblica e do lazer, com os quais metade da amostra se mostrou insatisfeita. O grau de satisfao no muito alto; apenas 7% mostraram-se muito satisfeitos. Nenhum dos servios pblicos destacou-se com alto grau de satisfao. Consideram a qualidade da gua boa 75,15% da comunidade e 19,46% declararam-na regular. O melhor servio pblico, de acordo com os entrevistados, foi o fornecimento de energia eltrica e o pior o tratamento de esgoto (Figura 15). O tratamento de esgoto foi escolhido como pior servio pblico nos trs municpios mineradores do norte. Tanto Barra de So Francisco quanto Nova Vencia tm uma cobertura de rede de esgoto que no abrange a totalidade de sua extenso.

100%90% 80% 70% 60%

Insatisfeito 50%40% 30% 20% 10% Satisfeito Muito satisfeito

0% Saneamento Sade pblica Escola Pblica Lazer Habitao Transporte

Figura 15. Grau de satisfao dos entrevistados nos municpios mineradores do norte com os servios pblicos

Mais de 50% do esgoto no recebe nenhum tipo de tratamento. Em Vila Pavo, todos os efluentes so jogados nos crregos sem nenhum tipo de tratamento. Em Nova Vencia existe um programa da Companhia Esprito Santense de Saneamento CESAN, o programa guas Limpas que tem uma previso de cobrir 68% do esgoto coletado e tratado at 2016. Dos poucos casos encontrados de doenas veiculadas aos recursos hdricos, a molstia mais frequente foi diarreia. Quanto qualidade do ar os entrevistados relataram poucos casos de complicaes respiratrias, sendo o mais frequente alergia. Os entrevistados relataram ter conhecimento de apenas 4 casos de cncer, porm houve a percepo de um alto ndice de casos silicose (13). De acordo com a ANPO, a sade e segurana dos trabalhadores rigorosamente cobrada pelo Ministrio do trabalho. Com o advento da normativa NR 22 que dispe sobre a segurana e sade ocupacional na minerao, o histrico de doenas ocupacionais e acidentes de trabalho vem diminuindo ao longo dos anos. Outro fato que vem mudando de forma positiva a condio dos trabalhadores a atuao efetiva das CIPAs (Comisso Interna de Preveno de Acidentes) dentro da cadeia produtiva de rochas ornamentais. Dos entrevistados, 68,46% acham que o melhor que a minerao levou para o municpio foi emprego e renda e 20,81% relataram que o impacto positivo da minerao foi o desenvolvimento da regio norte. Somente 5,37% consideram que a minerao no teve nenhum impacto positivo. O impacto negativo da minerao mais mencionado (25,50%) nas entrevistas foi o trfego de veculos pesados que, de acordo com a Associao, o principal causador de acidentes do setor. Cerca de 90 % dos casos so decorrentes da movimentao de grandes volumes de rocha. 22,82% dos entrevistados consideraram como impactos negativos da minerao o aumento da degradao ambiental e 6,71% dos acidentes de trabalho. Mais 4,03% indicaram a violncia e 2,01% a poluio. Ainda 28,86% responderam que a minerao no gerou nenhum impacto negativo na regio norte, outros (7,39%) no souberam responder. A degradao ambiental do setor ocorre de forma pontual, principalmente nas reas mineradas. No existem no aglomerado muitos exemplos de reas exauridas que foram recuperadas, pelo fato de se tratar de uma atividade bem recente na regio.

Dos entrevistados 16,10% j trabalharam na minerao e aproximadamente 50% tem parentes que trabalharam na minerao. As profisses que apareceram com maior frequncia na entrevista eram empregos na extrao (marteleteiro), na serraria (serrador e encarregado de setores) e empresrios. 34,23% deles gostariam de trabalhar na minerao, sendo a funo mais atraente a da rea administrativa. Para 98,66% dos entrevistados a minerao aumentou a possibilidade de emprego na regio, principalmente nas reas de comrcio, extrao e indstria. Quanto associao do municpio com o APL o grau de associao alto para a maioria dos entrevistados (87,59%), como era de se esperar. As notas dos entrevistados para o municpio ficaram distribudas em: muito bom 21,77%, bom 30,61%, 34,69% regular, ruim 8,16% e muito ruim 4,76%. A nota para minerao: muito bom 31,29%, bom 34,69%, 25,85% regular, ruim 6,80% e muito ruim 1,36%. As empresas tm polticas diferentes quando se trata de aes de responsabilidade sociais. As aes so direcionadas para os trabalhadores e familiares (distribuio de cestas bsicas em datas comemorativas) e comunidades localizadas prximas s atividades exercidas (construo de creches). Como aconteceu no aglomerado sul a comunidade avaliou melhor a minerao que o municpio porque o setor o principal gerador de emprego e renda na regio. Na opinio dos autores, o papel de gerador de emprego e renda da minerao fundamental para essa avaliao positiva. Alguns impactos negativos da minerao no so perceptveis para a comunidade, que culpa o governo por problemas causados ou agravados pela produo de rochas. Por exemplo, a necessidade contnua de manuteno das estradas, cuja deteriorao realmente causada pelo transporte dos blocos.

MUNICIPIO NO MINERADOR So domingos do Norte um dos municpios mais jovens do noroeste do estado do Espirito Santo. Desmembrado do municpio de Colatina e instalado na antiga sede do distrito de So Domingos, So Domingos do Norte foi elevado categoria de municpio em 1990. A populao do municpio de 8.001 habitantes. A economia do municpio caracterizada pela agricultura e pecuria leiteira na zona rural e na zona urbana a economia baseada pelo comercio varejista e atacadista e nele est funcionando a indstria de beneficiamento de uma das maiores empresas de produo de granitos. Mesmo o municpio no sendo considerado como minerador, de acordo com a prefeitura, o setor de rochas ornamentais o setor que mais emprega, tanto a nvel municipal quanto regional, fomentando a economia, gerando emprego e desenvolvimento para o municpio. Em segundo plano a prefeitura o segundo maior empregador. So Domingos do Norte a principal rota das cargas originrias da macrorregio noroeste que tem como destino a capital do Estado, pela rodovia ES 080 que corta o municpio. Em So Domingos foram realizadas 50 entrevistas. Foram entrevistados 23 mulheres e 27 homens, todos adultos. Dentre eles, 27 (54%) moravam no local h mais de 20 anos e 23 (46%) h menos de 20 anos. Um tero era nascido no municpio. A maioria dos entrevistados tinha at segundo grau (em torno de 52%, tendo 46% ficado no primeiro grau). Nenhum dos entrevistados possua educao superior ou eram estudantes de

graduao. As entrevistas foram realizadas durante o horrio de trabalho e a maioria dos entrevistados (92%) trabalhava na rea de servios (comercio, transporte...), 2% eram funcionrios pblicos, 4% eram aposentados e mineiros, apenas 2%. A renda mdia da amostra pesquisada no municpio de entre um e dois salrios mnimos. A grande maioria dos entrevistados declarou que tanto a renda familiar (81,63%) quanto a qualidade de vida (71,43%) melhoraram nos ltimos 20 anos (Figura 16).100% 90% 80% 70% 60% 50%

Qualidade de VidaRenda Familiar

40%30% 20% 10%

0% Melhor Igual PiorFigura 16 Percepo dos entrevistados sobre a variao da renda familiar e da qualidade de vida nos ltimos 20 anos em So Domingos do Norte.

Dentre os entrevistados, 14% no tm acesso ao saneamento bsico, 8% saude, 10% escola, 30% no tem acesso ao lazer, 26% declararam que no tem acesso habitao e quase 40% no tem acesso ao transporte pblico. Dentre os que tm acesso a esses servios, a maioria est satisfeita em gera