INGRID APARECIDA DITZEL FELCHAK

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INGRID DITZEL FELCHAK FASE POEMAS Editora Litteres – Rio de Janeiro 1ª EDIÇÃO 2005

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INGRID DITZEL FELCHAK

FASEPOEMAS

Editora Litteres – Rio de Janeiro

1ª EDIÇÃO

2005

Ingrid Aparecida Ditzel Felchak, é filha de Antonio

Ditzel e Irene Lubacheski Ditzel, nascida em Pruden-

tópolis no dia 15/03/1966, casada com José Gilmar

Felchak, filhos: Ítalo Ditzel Felchak e Ana Luiza Dit-

zel Felchak.

Escritora e poetisa paranaense. Membro da Acade-

mia de Letras ,Artes e Ciências do centro sul do Pa-

raná.

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Familiares.

Carinho e gratidão.

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PREFÁCIO

Ingrid Aparecida Ditzel Felchak, poetisa paranaense, edita o seu pri-

meiro livro: FASE (Poemas).

A Literatura paranaense está de parabéns e o público leitor recebe

este presente.

Mas, esta concretização literária, a primeira edição de FASE, vinha se

edificando por uma longa caminhada e, para cada passo desta, o talento

da Ingrid emergia mais e mais a cada dia, demonstrando, assim, o surgi-

mento de uma extraordinária poetisa, de grande sensibilidade.

Lembro-me dos seus primeiros trabalhos, ainda na adolescência, que

receberam premiação em concursos de poesias, sendo que um deles guar-

do na mente como um dos meus preferidos: “MAR SEM MAIS”, presente no

livro “FASE”.

E foram várias publicações em jornais e coletâneas de poesias tanto

a nível regional, estadual e nacional, prova da qualidade dos seus traba-

lhos.

Quero destacar as participações em Concursos Literários: Concurso

“Turismo para Todos” – Secretaria de Estado da Educação, Estado do Para-

ná; VIII Concurso Literário da COPEL; VIII Concurso Nacional de Poesias –

Revista Brasília, categoria: Destaque; X Concurso Literário da COPEL

(1988);I Concurso Nacional de Textos Populares: O Negro na Sociedade

Brasileira;, 1º lugar no Estado do Paraná e 5º lugar no Brasil; Fundação

Educar (1988); XV Concurso Literário da COPEL (1995).

Livros publicados em cooperativa: Antologia Poética de Cidades Brasi-

leiras (1986), Poetas Brasileiros de Hoje (1987), Nova Poesia Brasileira

(1987), Poetas Iratienses de Hoje (1987, 1988, 1989, 1991).

Ocupante da cadeira de nº treze da ALACS (Academia de Letras, Ar-

tes e Ciências do Centro Sul do Paraná), com sede em Irati - Paraná.

Poeta, mortal ou imortal?

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Poeta é um ser, tratando-se do poeta Homem, que trabalha para seu

sustento, que estuda que tem família, que chora ou até fica bravo quando

precisa que sonha... Sim, esta é a palavra, talvez a essencial, que faz do

poeta mortal o imortal Poeta. O objetivo dessa imortalidade concretiza-se

através da poesia, fruto de sonhos com toques de realidade, é a obra de

arte do poeta, é a expressão do sentimento lapidada. A alma do poeta via-

ja pelo tempo através da sua criação. É o resultado máximo do labor des-

se operário das palavras. Eterniza-se, poeta, pelas mais diversas sensa-

ções e emoções do público leitor.

Emoções que podemos sentir em “FASE”, que, certamente, nasceu

para brilhar! E, tenho certeza, outras fases surgirão da mente criadora da

poetisa Ingrid, para que possamos, novamente, brindar.

“FASE”, viajará pelo tempo.

Luciano Ditzel.

Luciano Ditzel. Autor do Livro Contos e Poemas. Menção Honrosa para a poesia O Tempo, no Teatro São João, Lapa - Paraná. Participação na Coletânea Paulo Leminski de Poesias com o título Saudade. Quatro livros inéditos, sendo um de crônicas e três infantis: Passa-rinhos Faceiros, Uma Viagem Imaginária e A Ilha dos Risonhos. Graduado em Letras. Es-pecialização em Língua Portuguesa: Leitura e Produção Escrita.

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E NO FINAL? SEMPRE IGUAL

Alguém perguntou por que escrevo, e sobre o que es-crevo.Escrevo a vida, o sonho encantado da minha infância,que aqui dentro ainda não murchou.

Anoto o tempo que corre e que já passou.Anoto as histórias amadas que eram contadaspor quem não cansou.

Contadas, contadas por quem amou.Regresso com ingresso na máquina do tempo.Volto a ver Cinderela, a dançar no palácio,sair correndo, perder o sapato, e ser feliz alinos braços do príncipe.

Regresso e caio no jardim mais bonito,aqueço na lareira, junto às rosas Brancas e Vermelhas,E no final sempre igual.

No sopro voo e fujo, não sei onde vou.Encontro porquinhos correndo do invasor.Casa um, dois e três; bem, no final sempre igual.

Na neve nasceu, então o milagre se deu.Com a maçã engasgou então o príncipe chegou,e no final sempre igual.

Da infância que tive só lembro dos amigos.Do folear e do cantar, do simples fato de ser feliz.Alguém perguntou por que escrevo, para não matar o passadona alma do povo que esquece veloz.

De manso para brindar o encanto do balançar do meu pranto.Nas linhas retas da infância querida que não volta mais.Rabisco na folha a obra que no final é sempre igual.

Ainda, lembro do jogue suas tranças e dos rabanetes pelos quais quase morri. Rapunzel tão amiga não esqueça de mim.Vôo agora para longe onde o sonho é sonho, onde verei Rapunzel e a gali-nha dos ovos de ouro.

A AUTORA

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MAR SEM MAIS

Mar que calmo estáslençol negro de manchas brancasque brinda a noitee com ela dança.

Mar que esconde mortosque engana portose que volta calmo à areia.

Mar salgado das baleiasque canta o hino em louvor às sereias.

Mar, suposto leitoque se mostra calmo e prega o susto.

Mar, mar, mar de túmulos sem tampasque engole adultos e crianças e queembala a brisa menina de longas tranças.

Mar que inspira poetasboêmios e sem maisaos sonhos te lanças.

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FRIO

O frio éum balaio vaziofeito de bambulá na beira do Caxim.

O frio éum monte de pedrapolida ou nãopara a eterna solidão.

O frio éum punhado de areiada grossa, da finacom cal ou cimentona grande construção.

O frio?pode ser a rua vaziaa lua vadia, o pirilampotonto de agonia.

O frio éroupa amontoadabanho mal tomadoe cheiro de mofo.

É o friomenina serenada rua pequenalá, lá atrásdo portão.

E o frio?Não é o vento que sopranem o termômetro que caisou eu, é você, são todosos demais.

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FOLHAS DE OUTONO

Secas, balançam ao vento e caem ao chão.Rolam, rolam e voltam ao marrom.

Brotaram um dia, cresceram verdes e belasmas voltaram ao chão.Fortificaram o solo? Talvez, mas nãocaíram em vão.

Balançaram com o vento suave da noitee resistiram à tempestade, mas nãoquiseram o verão.

Caíram soltas, juntas estão.Secas pairaram e agora adormecempurificando o mundo da podridão.

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INSTRUMENTO DE CRIAÇÃO

Mãos que semeiam o trigoe colhem a fome.Mãos que roçam campose ganham desertos.

Mãos que constroem ruase acabam nos becos da vida.Mãos, somente mãos que lutamsomente mãos que criam.

Mãos da vida.Criam,lutam eterminam ...

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POESIA

Baila, baila, baila poesia ...Baila, baila e canta com a vida.Baila e briga com a guerra.Baila, baila, baila poesia.Flui como fonte da vida emáguas sem fim.Um raio antes do suspiro do solUma dama boêmia como a luaBaila, baila, baila poesia.

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SONHO

O menino chegalentamente, docesuave, calmo,triste e manso.

Menino das fábulassozinho em seu cavalo.Rei em seu território eproprietário das ilusões.

Menino sem hora.Que canta, assusta.Chora, ri,agrada e abomina.

Menino dos deusesque embala desejossufoca anseiosmeu sonho.

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INTERROGAÇÃO

Sou pequeno, sou mesquinho,sou uma ponta, um porém ...Um zero à esquerda.Quem sou?

Sou o nada um ponto no abismo.A fuga mal traçada.Sou a noite em agonia.Sou ninguém!

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SACRIFÍCIO

Um momentoum diaum mêsum ano.

Um momentopassa.Um diadistância.

Um mêssaudade.Um anosacrifício.

Qual é o tempo?Não sei ...Quem sabe esqueça.

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VOCÊ I

É estranho desejar tantosonhar e tornar real.Lutar e vencercom sabor de suor.

Estranho é, talvez,amar sem limites.Saber que o ser amadoé você ....

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VOCÊ II

Morrerei novamentemais uma vez.Vou cheia de mágoaslamentarei a separação.

Renegou o amorrenegou o sonho.Renegarei tua presençamorrerás novamente ...

A estação friaé a glória de muitos.Vitória, perdão é a glória dos deusesincomuns e eternos.

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MORRE UM GRANDE AMOR

Morre um grande amornaufraga como a velha naurompe-se como o elo da correntee simplesmente morre um grande amor.

Nasceu pequeno, triste ecom indecisos passos tomouo rumo da felicidade. Êxtasee, depois como tudo .... saudade.

Morre um grande amormas não morre a beleza do olhardo primeiro olhar sonhando,sonhando com a felicidade.

A causa de sua morte?não sei, só sei que:Morre um grande amore nasce a saudade.

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SEM NOME

Esta paisagem quem pintou?O artista é sem nome, sem berço.

A tela, a vida, o encantamento, o ser ...Quem pintou?

O artista não tem nome, mas demonstra vida.Sofrimento, vermelho, negro, um tom pastel.

Cada pincelada é a vida.A terra cor de cobre e o céu anil.

A vida por um fio.O artista sem nome, sem glória.

O cavalete segura a telae a tela a vida.O artista é sem nome ...

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CANTO SEM VOZ

No verso que cantonão há pranto.No verso que cantonão há voz.

No verso que cantohá um canto.Paredes sem canto,canto sem voz.

No verso que cantonão há prantosomente canto.

No verso que canto,canto a voz do mudo.No verso que canto,canto o próprio canto.

No canto do versohá um cantoque fica alémdo canto sem voz.

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A CASA DOS MEUS SONHOS

A casa dos meus sonhosnão é grande, não.É feita de sonhosonde o verbo morar podemudar e virar amar.Tem varanda, escadas esótão.Mas, nela não entrasolidão.Jardim, jardineirasem profunda combinação.Arte e harmoniano rincão.Janelas, portas eportões?Na minha casa nãoexiste, não!Existe, sim, um lindoriacho que corre a murmurar.A casa dos meus sonhosPode ser sua, basta sonhar ...

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OBJETIVO

Procuro um objetivoque me faça continuar.Procuro na rua, baresem todos os lugares.

Procuro um objetivoinsignificante pode ser.Talvez esteja ao meu ladoou no sonho dos insanos.

Procuro um simples despertarde sentimentos, ondesonhos tornem realidadea vida.

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SAUDADE

Quando ela cheganão há reação.O tempo esvaecepelas mãos...

Tenho medonão corro.Espero que venhaSufocando uma oposição.

Dizem que éuma porta aberta.Um cristal vivo,uma lágrima morta.

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OUTONO DE UM PEQUENINO

Quando você me deixoueu ainda não estava preparada.Foi como se um grande e tristeinverno estivesse chegando.

A cor do mel e seus pequenos olhos infantis.Brincadeiras e algazarrase nós éramos tão felizes.Você havia tornadoa beleza constante.E, você pequenino,um pedaço de mim mesma.

Cinco meses duroue ela novamente chegou.A primavera, meu pequenino nãoconheceu.

Outono, o frio.E, como sempre, e sempreela voltou.Levou! Não foi o primeiro!

Laços que fortesiniciam, jamais sãorompidos.Nem pela morte.

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TEMPO

Gostaria de voltar.Não sei onde.Amar novamente,só uma vez.Ligar acontecimentos.Dentro do esquecimentoque aflora,há um sentimento que devora. Tempo!Volta, tempo, volta...

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VENTO, TEMPO

Ando só pelos camposo vento sopradesalinha meus cabelosqual plumas encantadaspresas sem razão.

O corpo nuna relva se estendee o vento gemequal doente na hora final.

Os primeiros raios de soldão colorido a pele.E a gramase torna bela.

Vento que descobre meus pensamentos.Vento que desbrava meu corpo.

Flores se confundemno azul profundo dos meus olhosque tocados pelo vento se fechamqual vítima do próprio tempo.

Vento quem és tuque arrasta o meu sere me desgoverna?

Vento que me traz loucos pensamentose quando o sol surge no seu total fulgortraz sensação de loucas paixões.

Rolo em desalinho.prendo-me na grama úmidae nas ervas daninhas.

Mais louco que tu, sou euque concordo com teus lamentos.E, sem querer, me lanço nos teus desbravamentos.

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REVOLTA

A Revolta é a voltado que não viveudo que amoue pouco brincou.

Revolta é a voltado chorodo coro da tristezado grito que não se ouviudo sorriso que não se viu.

Revolta é a voltada esperança que se teve

da núpcia que não ouvedo amigo que não veio.

Revolta é a voltada loucurada própria curaé saber que domingoé o dia do fime o começo do nada.

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SOLIDÃO, PORTO MAR

Solidão é o vazioé a vida por um fio.Solidão, morre o dianasce a noite.

Vem, vem carrascadas almas, vem.Subjulga a vidae entra.

Solidão é o adeusdo navegante.Solidão é o portoe quem fica.

Vem, vem almaAbominável e triste.Corsária do amordona dos portos e do mar.

Solidão é a massa humanae algo imortal.Parte nau sem larvai solidão, vai.

Leva a nave dos amoresdos sabores e a vida.Leva, solidão, leva omeu porto mar.

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BARBAS BRANCAS

Longas barbas brancasque o tempo viu passar.Presenciaram décadase não recusaram o triste labutar.

Semelhante foi a vidaque não soube perdoare, agora volto a casamelancólica a lembrar.

Barbas brancas que lutaramcom a vida e não venceramo próprio olhar.

Lembro agora a infânciaperdida que vocês comigosouberam compartilhar.

Seu triste olharrecordo.Barbas brancas que o tempoE os amigos souberam arruinar.

Com a rajada da saudadelembro que comigo não mais estão.Barbas brancas que o tempo levou,levou para nunca mais.

AOS MEUS AVÔS ANTONIO DITZEL PRIMOE PEDRO LUBACHESKI PRIMO

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JOÃO, NEGRO, ANGOLA

João nasceulivre, negro, cresceufilho de Tiãomestre no fogão.

Buscou espaçobateu, bateu esó bateu, bateumas buscou espaço.

João doutor?Não deu não.João ator?Só na vida.

Quem diria Joãonegro boa pintaagora quer ser... o que mesmo João?

Quer seu espaçoJoão qual profissão?Ser diplomatatalvez um dia aristocrata.

E lá vai Joãoaquele o filho do Tiãoprimo de Simãoneto de angola.

Busca espaço, João.Arrasta, empurra,xinga a multidão!Não é só você João!

Cor negra é raça

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raça é cor de luta.Garra na cor do povo.João você é vida.

Luta, vence barreirasgrita João e ganhateu espaço que dedireito é só seu.

João irmão.João negro na raça.João vitória na vida.João vida Brasil.

POEMA QUE CONQUISTOU O 1º LUGAR NO PARANÁ E O 5º LUGAR NO BRASIL, FUNDA-ÇÃO EDUCAR, I CONCURSO NACIONAL DE TEXTOS POPULARES: O NEGRO NA SOCIEDA-DE BRASILEIRA.

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SOU

Sou o pensamentoque destrói seu sono.Sou o tempoque rouba sua beleza.

Eu sou o fogoconsumindo sua alma.O ar, que, aos poucos,sufoca sua voz.

Sou apenasum sentimento.Sou apenasSOLIDÃO.

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COMO QUEIRA

Como queira...

Lavar da alma o gostoTirar da semente o brotoSugar da terra o pãoLimpar a rua da tua...Como queira...

Mentir mais uma vezFingir e brincar.Arrancar do lixo.Pensar ou sonhar.Mesmo que: como você eu não queira.

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DEFINIÇÃO

BRINCO COM PALAVRAS, SENTIMENTOS E SONHOS.

BUSCO A CRIANÇA ATRÁS DO TEMPO.

E O TEMPO?

COLABORADOR, AMIGO E CARRASCO.

A AUTORA

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