JohnThompson_Fronteiras Cambiantes da vida pública e privada

download JohnThompson_Fronteiras Cambiantes da vida pública e privada

of 26

Transcript of JohnThompson_Fronteiras Cambiantes da vida pública e privada

  • 8/7/2019 JohnThompson_Fronteiras Cambiantes da vida pblica e privada

    1/26

    11

    RESUMOO scnl s spss s brs Prlnt brtnc u xpl r-

    tc rcnt c s rntrs cbnts ntr v pblc prv s

    instituies e prticas prejudiciais estabelecidas levando partes inteiras da vida poltica

    scl cs. Ebr stn ntr pblc prv n sj nr

    nnhu nv, h lg nv n nr c sts ns s rrgnzrc nscnt s nvs rs s cunc n Eurp nc

    pr rn. A subsqunt prlr nvs tcnlgs nr

    cunc t s u cnhc spct nss tp.

    Palavras-chave:scnl, v pblc, v prv

    ABSTRACTT Mbrs Prlnts xpnss scnl s rcnt n rtc xpl

    how the shif ing boundaries between public and private lie are disrupting established

    prctcs n nsttutns n thrwng whl rs scl n pltcl l nt

    srry. Whl th stnctn btwn th publc n th prvt s by n ns

    nw, thr s sthng nw but th wys n whch th ns th publc nth prvt hv bn rcnsttut by th rs t rs cunctn

    n rly rn Eurp n by th subsqunt prlrtn nw nrtn n

    cunctn tchnlgs tht hs bc prvsv tur ur ts.

    Keywords: scnl, publc l, prvt l

    J O H N B . T H O M P S O N *

    Fronteiras cambiantesda vida pblica e privadaShifting boundaries of public and private life

    * Prssr sclg Unvrsty Cbrg,Ingltrr. Autr Oescndalo poltico: poder e

    visibilidade na era da mdia(Vzs, ), ntr utrs.

  • 8/7/2019 JohnThompson_Fronteiras Cambiantes da vida pblica e privada

    2/26

    12 MATRIZes Ano 4 N 1 jul./dez.2010 - So Paulo - Brasil JOHN B. T HOMPSON p. 11-36

    Em maio de 2009, jrnl brtnc T e Daily elegraph pssu pu-blicar inormaes sobre as despesas eitas em nome dos membros doParlamento daquele pas. O jornal obteve as inormaes por meio de

    u CD vn nt sgls , n nc qul s, cu publcrrgnts slcns trl, lbrn- s pucs n p-blico, num pinga-pinga vagaroso que durou vrias semanas. As revelaesr bbstcs. Fr tr cp ts s jrns ps ntcprincipal nos programas de rdio e de televiso. Rapidamente estava criado um

    enorme escndalo poltico gerando reaes de revolta por parte do pblico num

    nvl qu f clnt s ncntr ns gus nrlnt b trnquls bt pblc tc Rn Un. A sns cnstrngntconorme os detalhes das despesas, desde as mais triviais s mais absurdas,oram sendo estampados nas capas dos jornais, e muitas guras do alto escalo

    poltico, comeando pelo porta-voz da Casa, Michael Martin, oram oradas a

    rnuncr u cr bstr-s s ls grs qu s sucr.Como oi que isso aconteceu? Por que essa abertura dos extratos de des-

    pesas deu origem a tamanha revolta, ainda que em grande parte dos casos no

    tenha havido quebra da lei e que muitos dos gastos ossem banais em termos

    nanceiros? O grande escndalo das despesas dos membros do Parlamento,

    que dominou as manchetes no Reino Unido durante boa parte do nal da pri-

    mavera e incio do vero de 2009 e oi em grande parte responsvel pela caa sbruxas entre as elites polticas britnicas, um exemplo clssico de escndalo

    poltico moderno. Ele apresentou todas as caractersticas essenciais para isso

    surgimento repentino no domnio pblico de prticas e inormaes que os

    partidos acreditavam ser de domnio privado; sentimento generalizado de que

    as prticas reveladas continham um vis de transgresso ou de impropriedade;

    condenao de tais prticas na mdia e em todo lugar; reputaes manchadas,

    carreiras interrompidas, con ana abalada. E ainda assim podemos dizer que

    havia algo de dierente nesse escndalo espec co, derivado em parte do grande

    nmero de indivduos envolvidos. Voltaremos a esse ponto mais tarde, mas quero

    observar, em primeiro lugar, por que esse enmeno assim, em que momento

    uma inormao inicialmente considerada como privada de repente emerge nodomnio pblico, caracterstica que se tornou to comum na vida pblica de hoje.

    O PBLICO E O PRIVADOO nscnt scnl pltc snttc u prun trnsr-mao nas relaes entre a vida pblica e privada que acompanhou e deu orma

    snvlvnt s scs rns. bv qu stn ntrpblc prv n xclusv s scs rns, s r

    Fronteiras cambiantes da vida pblica e privada

  • 8/7/2019 JohnThompson_Fronteiras Cambiantes da vida pblica e privada

    3/26

    Ano 4 N 1 jul./dez.2010 - So Paulo - Brasil JOHN B. THOMPSON p. 11-36 13

    qu r x trc sbr tl spr n u prcup snt pnsnt rn. H scul, Hnnh Arnt ns lbrv qu stn ntr pblc prv r u spct unntl pns-nt grg ntg (Arnt, 1958). Pr s ntgs grgs, cnt Arnt, capacidade humana para a organizao poltica era dierente, e mesmo oposta,

    tp ssc nturl cntr n cs n l. O surgnt scs-st pssbltu s nvus tr u sgun v, u biospolitikos, u v pltc, qu r spr su v ntr cs. Ccidado pertencia a duas ordens de existncia: sua prpria vida e a vida daquilo

    que era comum. Assim, no pensamento grego antigo havia uma distino entre pblc prv qu pr sr rprsnt c n Fgur 1.

    O domnio privado era o do domiclio e da amlia. Sua especif cidade,n ntnnt Arnt, r sr sr qu s srs huns vvjuntos por questo de carncia e vontade. O lar advinha, assim, da necessidade.

    Ele se caracterizava pelo tipo de atividade que Arendt chamou de labuta etrblh, qu s quls pls qus s srs huns pruz bns c

    ls ssgur su prpr sbrvvnc.Ess qur r ttlnt rnt n pblc, qu r qul

    da polis, o domnio da liberdade. Para os antigos gregos, a liberdade estavarsrv pns n pltc, polis. A ncss sr u n-n pr-pltc crctrstc cl prv. Fr vlnc rjustif cveis nessa esera, ao menos na viso dos gregos antigos, como meiode vencer a necessidade e conquistar o tipo de liberdade possvel apenas non pblc. Enqunt n prv s crctrzv pl lbut

    Figura 1 O PBLICO E O PRIVADO NO PENSAMENTOGREGO ANTIGO DE ACORDO COM HANNAH ARENDT

    Domnio privado =cl l =Dn ncss =lbut trblh

    O surgnt scl =bscurcnt s ns pblc prv

    Domnio pblico =polis =n lbr = scurs =

    sp pr

    DOSSIShifting boundaries of public and private life

  • 8/7/2019 JohnThompson_Fronteiras Cambiantes da vida pblica e privada

    4/26

    14 MATRIZes Ano 4 N 1 jul./dez.2010 - So Paulo - Brasil JOHN B. T HOMPSON p. 11-36

    pl trblh, pblc crctrzv-s pl pl scurs. Sr pl-tc, vvr n polis, r tr cnscnc qu tu sr c trvs splvrs prsus n pl r u pl vlnc. O n pblcr u espao de apario qu s css ts ts pr sr vsts uvs pls s. O t qu ls r vsts uvs pls utrslhs cnr u tp rl qu n tr utr r, u rl- bs n t qu s s clrs r tstunhs pru g utrs. O n pblc r tb qul qu s srshumanos podiam se sobressair, superar a si mesmos atravs de atos honrosos e

    crjss, trnscnr rtl su rnr nvul, xruma marca na histria e, dessa orma, conquistar um certo tipo de imortalidade

    qu trnscn cnc nturl tp. ss r qu, n prspctv Hnnh Arnt, s ntgs grgs

    ntn stn ntr pblc prv prqu l sr t un-ntl pr t u cncp qu tnh polis v pltc. Atendncia dessa concepo era julgar positivamente o domnio pblico, e atratar o domnio privado como necessrio, mas ainda sendo um desdobramento

    subltrn polis. N ntnt, n vs Arnt, npnnt s rs s lts cncp s ntgs grgs, stn bscurcpor um desenvolvimento histrico que ocorreu muito tempo depois, com o

    surgnt s scs rns prtr s sculs XVII XVIII nt qu utr chu surgnt scl.

    Para Arendt, esse surgimento implica que muitas das atividades antesrlzs n cnf nnt lr l pssr sr ts c vzs r cs, pr grups scs clsss. A sr trblh s xpnpara alm do domiclio e vai ganhar cada vez mais o espao social, criando uma

    sociedade de trabalhadores e empregados, de classes organizadas e partidospolticos buscando a deesa de interesses coletivos. A emergncia do socialno deixa espao para o tipo de prtica e de discurso que os antigos gregosntf cv c cnsttutvs n pblc. ss qu scurs s trn plnt rgnlzs, qu s grgs ntn

    c n pblc sprc grulnt. S hj rst lgu csrelacionada ao e ao discurso, ela s pode ser encontrada, como sugereArnt, grups sls cntsts rtsts qu rsstr t n possvel ao tipo de conormismo e submisso que prevaleceram no que a autora

    chu sc trblhrs.No vamos retomar aqui em detalhe as ideias de Arendt sobre a emergncia

    do social o que levantaria muitas questes e nos desviaria da nossa preocupao

    central. Quero, ao invs disso, investir na relao mutante entre o pblico e o

    Fronteiras cambiantes da vida pblica e privada

  • 8/7/2019 JohnThompson_Fronteiras Cambiantes da vida pblica e privada

    5/26

    Ano 4 N 1 jul./dez.2010 - So Paulo - Brasil JOHN B. THOMPSON p. 11-36 15

    privado no incio da Europa moderna e levantar uma problemtica sobre a pers-

    pectiva adotada pela autora: por que ela no levou em considerao o impacto

    que poderia ter potencialmente a emergncia das mdias comunicacionais? De

    alguma orma curioso que ela as tenha ignorado a nal, a autora enatizava a

    importncia da linguagem e do discurso como aspectos constitutivos da polis no

    pensamento grego antigo. Ento, por que no considerar a possibilidade de que a

    linguagem e o discurso constituintes do domnio pblico pudessem ser aetados

    de maneira signi cativa pela nova mdia impressa que emergia no incio da era

    moderna? E por que no considerar que a relao entre o pblico e o privado

    pudesse ser aetada de alguma orma por esse desenvolvimento? A resposta aessa questo no clara, mas A Condio Humana no toca no assunto.

    Nu lvr publc qutr ns ps A Condio Humana, JrgnHbrs lgu tngnc ss lcun. O prr grn lvr Habermas, Mudana Estrutural da Esfera Pblica, abordou questes similares s

    que preocupavam Arendt; realmente, Habermas conhecia o trabalho de Arendt

    z rrnc xplct rgunt utr rl rgnc social (Habermas, 1989). Mas a perspectiva habermasiana da metamorosen stn ntr pblc prv n nc r rn r utrnt qul Arnt.

    N prspctv hbrsn, vlh stn ntr pblc prv,

    qu qulqur r tnh sr trnsrs urnt I M,c tr u nv r n nc r rn n Eurp, clustr n f gur 2.

    Figura 2 PERSPECTIVA DE HABERMAS SOBRE O PBLICOE O PRIVADO NO IN CIO DA EUROPA MODERNA

    PrivadoDcl lEcn (sc cvl)

    rc n nvl nr: sr pblc burgusEsr pblc n un s ltrsEsr pblc n n pltc

    Dcln sr pblc burgus

    PblicoEstCrt

    DOSSIShifting boundaries of public and private life

  • 8/7/2019 JohnThompson_Fronteiras Cambiantes da vida pblica e privada

    6/26

    16 MATRIZes Ano 4 N 1 jul./dez.2010 - So Paulo - Brasil JOHN B. T HOMPSON p. 11-36

    Com o nascimento do Estado Moderno, um novo sentido de pblicocomea a surgir, agrega um dos sentidos que esse termo tem para ns hoje rcnhcnt sr sr utr pblc, nstrpblica do governo e do Estado. A esera do privado, por comparao, continua

    a incluir o domiclio e a amlia, da mesma orma que na concepo dos gregos

    ntgs. Ms c surgnt cptls, s tvs pru reproduo desvinculam-se cada vez mais do ambiente reservado do domiclio

    l. ss qu Arnt s rr scrvr sbr rgnc scl: s tvs rlcns pru sbrvvnc s lbrt

    cnf nnt s cls trn-s, z l, rlvnts publcnt.O qu Arnt crctrzu c rgnc scl qu uts sprrs pnsrs scs, c Hgl Mrx, chr rgnc sc cvl. O surgnt cn crcl, u sc cvl,untu trnsru plnt n prv.

    Ms qu h n rgunt Hbrs spclnt rnt nvr, tv pl qul l r sgnf ctvnt prspctv Arendt, o ato de chamar ateno para um outro grande desenvolvimento que

    crr n s nt. Enqunt rgnc cn cptlstplcv n crscnt trc bns, s scs nc pr- rn n Eurp tb tstunhv, prtr s sculs XVI

    XVII, u crscnt troca no nvel da inormao, prcpt pl scns jrnl prss utrs prcs. ss qu Hbrs scrv c rgnt sr pblc sc cvl u sr pblc burgus.El pssu xstr n qu nvs rgs nr no rparte do Estado e sim estruturados separadamente dele e baseavam-se nastvs nvus busc su prpr prnnt ntr sc cvl. Ass, ss nv tp sr pblc r, crt snt,u sp n entremeio ss , ntr Est, pr u l, n pr-v cl l, pr utr. El cnsst nvus prvsqu s run pr btr ntr s c utrs Est rsptdos principais assuntos do dia. Era uma esera de linguagem e discurso, de

    argumentao e conrontamento, uma esera em que os indivduos podiamexpressar seus pontos de vista, desa ar o dos outros e contestar o uso do poder

    pelo Estado. Era, como Habermas coloca, o uso pblico da razo por indivduos

    ngjs n prtc rgunt brt bt.Como essa esera pblica burguesa se originou? Qual era sua insero

    institucional? Ela se desenvolveu primeiro no domnio da literatura e oi gradu-

    almente transormando-se em uma esera pblica que incidia diretamente sobre

    qusts pltcs. N f nl scul XVII nc XVIII s sls cs

    Fronteiras cambiantes da vida pblica e privada

  • 8/7/2019 JohnThompson_Fronteiras Cambiantes da vida pblica e privada

    7/26

    Ano 4 N 1 jul./dez.2010 - So Paulo - Brasil JOHN B. THOMPSON p. 11-36 17

    de Paris e de Londres tornaram-se centros de discusso e de debate primeiro,

    ltrr, sr pblc n un s ltrs, ps, crscntnt, pr scuss qusts ntrss s grl, sr pblc n n poltico. A disponibilidade de livros era, sem dvida, uma condio vital para o

    debate literrio; e assim, a partir do sculo XVIII em diante, a crescente disponi-

    bilidade de jornais e peridicos polticos ajudaram a estimular o debate poltico

    e a incitar clamores por reormas polticas essenciais. A imprensa tornou-se um

    ru pr bt pltc crtc, rncn u cntr crtc sbras aes de of ciais do estado. O desenvolvimento disso oi particularmente

    proeminente no Reino Unido, onde a imprensa gozava mais liberdade do que emlgus utrs prts Eurp. Dss r, rgunt Hbrs um bom destaque ao papel da mdia impressa no questionamento da autoridade

    estabelecida e em omentar, requentemente com resistncia considervel, ost rn cnsttucnl n qul crts rts prtcs crtcsbscs s spsts r l.

    Habermas aponta que embora a esera pblica burguesa osse aberta ats s nvus prvs por princpio, l r na prtica lt uparcela restrita da populao. O critrio eetivo de admisso eram a proprieda-

    de e a educao. Em outras palavras, havia um preconceito de classe inerente

    sr pblc r pblicoleitor burgus scul XVIII. N bstnt, s

    s sr pblc r l r hstrcnt rstrt n qulela oi concretizada. A esera pblica burguesa incorporava a ideia de que uma

    comunidade de cidados, unidos como iguais, poderiam compor uma opinio

    pblica trvs rgunt rcnl bt. Iss ncrprv quHbrs scrvu c sn prncp publc n-nt, qu pn pssl nvus prvs pr cnhr pru pn pblc prtr bt rcnl crtc ntr u grup cs.

    Ms s ss sr pblc burgus tnh u ppl prtnt n ncda Europa moderna, Habermas argumenta, ela oi gradualmente sendo minada

    pl snvlvnt s scs rns n squnc. Pr qu? O qu

    aconteceu? Parte da explicao deve-se perda gradual de importncia dacultur s cs scul XVIII uts cs chr xr srpossveis pontos de encontro onde as pessoas liam jornal e debatiam os assuntos

    . Ms prns s jrns s prcs tb hv u: ssu pr prss crcs grn nt s rcns ntrtnnt lucr qu n snvlvnt u bt rcnl crtc ntr cs. O cnt s jrns trnu-s spltz, pr-snlz snscnlst, strtg t c r untr s

    DOSSIShifting boundaries of public and private life

  • 8/7/2019 JohnThompson_Fronteiras Cambiantes da vida pblica e privada

    8/26

    18 MATRIZes Ano 4 N 1 jul./dez.2010 - So Paulo - Brasil JOHN B. T HOMPSON p. 11-36

    vns. S ss, nvs tcncs grncnt pn rdesenvolvidas e utilizadas para tentar controlar e direcionar a opinio pblica.

    No decorrer do sculo XX a esera pblica incorporou uma aparncia cadavz s nt ttrlz, c sptcul razzmatazzs sts sconvenes dos partidos americanos e das campanhas presidenciais. Habermas

    descreve esse ato como a reeudalizao da esera pblica: o que ele quis dizer

    qu pltc hv s trn u tp ttr, u shw rgnz qu nvstnt r rncr s lrs u tp ur prstg c qu r cnr n pss s lrs s prncps n crt ul

    I M.Habermas ornece-nos um argumento muito poderoso em relao trans-

    r sr pblc n nc Eurp rn. O qu prtculr-mente importante, no meu ponto de vista, o autor perceber que o surgimento

    trc n bt nr, c xplf c c rgnc sprrs jrns prns prcs, cru u tp sr pblcno incio da Europa moderna que no existia antes. Isto algo que Arendtsplsnt n vu: l n u vlr surgnt prns, brela devesse realmente, dada a nase localizada na linguagem e no discursoc spcts cnsttutvs n pblc.

    Contudo, o valor do insightde Habermas diminudo por algo que ele tem

    cu c Arnt ss s plc pl ns rl rgunt Hbrs Mudana Estrutural da Esera Pblica. Ass c Arnt,Hbrs prunnt n unc pl clssc grg sbr svirtudes do dilogo e do debate entre pares que se renem para discutir questes

    ntrss grl. Clr qu Hbrs stnu u ppl prtnt pr prss prc, cnsrn nscnt u nv rgn-z sr pblc qu prc n nc r rn n Eurp; so autor no estava interessado no impresso em si, nas caractersticas distintivas

    desta mdia comunicativa e na orma como ela estava transormando as relaes

    scs. Su nr pnsr prss r rt pr u l comunicao baseado na palavra alada: a imprensa dos peridicos era parte de

    um dilogo que se dava nos espaos compartilhados da sociabilidade burguesa.A prns r pr n p s sprr s lgs qu crrns clubs cs nc Eurp rn. Ass, nqunt prnstnh u ppl crucl n r sr pblc burgus, tl sr rf n pr Hbrs, n rl prss, s s lgsque ela estimulava. A esse respeito, ento, a perspectiva de Habermas sobre sr pblc burgus crrg rc nscutvl cncp clsscgrg sbr v pblc: s sls, s clubs cs Prs Lnrs r

    Fronteiras cambiantes da vida pblica e privada

  • 8/7/2019 JohnThompson_Fronteiras Cambiantes da vida pblica e privada

    9/26

    Ano 4 N 1 jul./dez.2010 - So Paulo - Brasil JOHN B. THOMPSON p. 11-36 19

    o equivalente, no incio da Europa moderna, s assembleias e mercados daGrc ntg.

    S tntrs pr ss, nt f c s cl ntnr pr qu Hbrsstv ncln ntrprtr pct s s ltrncs s rcnts,c r tlvs, ut ngtvnt (l scrv n f nl s ns1950, qun V tnh cb sr ntruz c u cu-nc ssv). N r splsnt prqu nstr tc tnh stornado mais comercial e se transormado em indstrias culturais no sentido

    qu Hrkhr Arn utlz ss tr. Er tb prqu tp

    stu cunccnl cr pr sss nvs s ltrncs, qu rcp s nsgns tcs u r prpr prv, r-presentava um distanciamento da ideia de uma troca dialgica entre indivduos

    qu s rn pr scutr put . C ns z Hbrs, trtndo rdio e da televiso, hoje o dilogo em si administrado (Habermas,1989: 164). O debate crtico entre cidados substitudo por um debate or-questrado, realizado num estdio e realizado em seu nome. No entanto, seprncrs vnculs ss cncp clssc sr pblc cu bt ntr nvus qu s ncntr c gus n lg, nuncntnrs nturz nv tp sr pblc qu pssu xstrem virtude do meio impresso. Estaremos sempre retomando um velho modelo

    spr nclns ntrprtr ppl crscnt cunc c u tp cnc hstrc. An qu prspctv Hbrsv s lng qu Arnt n snt stcr prtnc prss n trnsr nturz sr pblc n nc Eurprn, l, c Arnt, prnc vncul cncp clssc sr pblc. Ass, s s utrs, lgs cncp clssc cst, n pur zr utr ntrprt nscnt s scsrns c sus vss trblh, c trun prg cum tipo de atividade alienada e a prolierao da mdia em que o dilogo eito

    pr rprsnt qu c u hstr cnc. Ms crtrnvtvl ss hstr cnc rsult f l trc cpr-

    tlh pr Arnt Hbrs, f l cncp clssc grg srpblc, qu crr rsc ns cgr pr s nvs rs publcqu st sn crs c snvlvnt cunccnl ,ntr utrs css, prjucr nss vl ls. N u pnt vst,precisamos colocar de lado o modelo clssico de esera pblica, v-lo como um

    s ls pssvs ntr utrs tr u vs rnv sbr qust c surgnt prss utrs s trnsru , nvr, rrgnzu sr pblc.

    DOSSIShifting boundaries of public and private life

  • 8/7/2019 JohnThompson_Fronteiras Cambiantes da vida pblica e privada

    10/26

    20 MATRIZes Ano 4 N 1 jul./dez.2010 - So Paulo - Brasil JOHN B. T HOMPSON p. 11-36

    O SURGIMENTO DA VISIBILIDADE MEDIADAC ps brr ss tpc? Hnnh Arnt ns u pst. Elbsrv qu n pnsnt grg ntg n pblc u espao deapario em que as coisas ditas e eitas podem ser vistas e ouvidas pelos demais

    assim como por ns mesmos (Arendt, 1958: 50). Ou seja, esto visveis aos outros.

    E t str vsvs s utrs cnr-lhs u tp rl qun tr utr r, u rl qu cnsst n t sss prtcse declaraes serem testemunhadas por uma pluralidade de outros. Ao mesmo

    tempo em que Arendt oerece-nos essa magn ca observao, no a desenvolve

    tlh n rlcn c s rs s cunc. Entvs ssur bsrv Arnt c pnt prt prguntr: qu sr vsvl?

    Vsvl qul qu p sr vst, qu prcptvl pl snt vs;ps cntrp-l nvsvl, c qul qu n p sr vst, qu prcptvl u cult vs. N ux nrl nsss vs ctns, visibilidade est relacionada s possibilidades sicas do nosso sentido da viso e

    s propriedades espaciais e temporais da situao em que nos encontramos: no

    podemos ver alm de uma certa distncia, a menos que com o auxlio de algum

    tp prt tcnc; n ps vr s u crt qunt luz, ns qu, nvnt, c ju u prt tcnc; n ps vr

    utur u pss. O qu vs qul qu prtnc nss cp vs, cujs rntrs s ls pls ctgrs spcs qu gr.A vsbl cu spr lclz: quls qu s vsvs pr nsso aqueles que compartilham conosco a mesma reerncia espao-temporal. A

    visibilidade tambm recproca (ao menos a princpio): podemos ver aqueles que

    st ntr nss cp vs ls tb p ns vr (cntntqu ns n stjs cults lgu r). Prs scrvr ssnn c a visibilidade localizada da copresena.

    Ms c snvlvnt cunccnl, cn plprss n nc Eurp rn sgun pl ltrnc nssculos XIX, XX e XXI, a visibilidade liberada das condies espaciais e

    tprs qu gr. A vsbl s nvus, prtcs vnts lbr ncss vr u s rrncl ss qu ch visibilidade mediada (T psn, 1995, 2005). U pss n prcs sstr prsnt n s rrncl sp-tprl pr vr utr u prtestemunhar uma ao ou evento. O campo da viso alargado em termos sp pssvlnt tp tb: u pss p cpnhrvnts stnts l ao vivo, n nt qu cntc, tp rl;uma pessoa pode tambm acompanhar eventos distantes dela que tenham

    Fronteiras cambiantes da vida pblica e privada

  • 8/7/2019 JohnThompson_Fronteiras Cambiantes da vida pblica e privada

    11/26

    Ano 4 N 1 jul./dez.2010 - So Paulo - Brasil JOHN B. THOMPSON p. 11-36 21

    ocorrido no passado e que possam ser reapresentados no presente. E mais,ss nv r vsbl n t s u crtr rcprc.O cp vs un-rcnl: pss qu v p bsrvr s utrsqu st stnts l sn f ls u tgrs u rprsnts lgu r, s sts n p, n r prt s css, v-l.

    Ass, snvlvnt s s cunccns cbu pr grru nv r vsbl u, pr sr s prcs, nvs rs vsbl cujs prprs spcf cs s ls pr s spcf cs cunc. O qu ntns c sr pblc hj essencialmente

    e indiscutivelmente constitudo por essas novas ormas de visibilidade me- , utrs plvrs, u publicidade mediada. Iss n qur zrqu ss sj nica r publc xstnt hj. s tb, nun rn, publc rc cprsn n ns runspr scutr qusts ntrss cu, c zs, pr xpl, nscnslhs, ns ncntrs clgs u, crtnt, ns runs prln-tares como a Cmara dos Comuns. Mas esse tipo de publicidade da copresena

    complementada e agora est tambm inseparavelmente interligada com apublc qu v surgr c cunccnl.

    Nessas novas ormas de publicidade mediada, o campo de viso no mais restrito pelos reerenciais espao-temporais do aqui e agora, mas, ao invs

    disso, moldado pelas caractersticas particulares das mdias comunicacionais,pr u g cnsrs scs tcncs, c nguls cr,processos de edio, interesses e prioridades das organizaes de mdia, e pelos

    novos tipos de interao que essas mdias possibilitam. Ele moldado tambm

    pl t qu, n r s s cunccns, vsul n uns snsr sl, s nrlnt v cpnh plvralada ou escrita o audiovisual ou o texto-visual. O ato de ver nunca viso pura; t vr spr l pr u cnjunt s pl prssupsts nqurnts culturs pls ncs ls scrtsqu cunt cpnh g vsul l r c sgns s vsts cprns.

    Podemos ressaltar a importncia desta nova orma de visibilidade con-cntrn-ns pr u nstnt nu r qu sus plcs s sp-clnt pruns s rls cplxs cbnts ntr vsbl pr pltc. Ants snvlvnt prns utrs s, vsbl s lrs pltcs pn lrg su prncsica perante os outros em situaes de copresena. Na maioria dos casos,essa aparncia poderia restringir-se aos crculos relativamente echados daassembleia da corte: visibilidade implicava copresena, e os lderes polticos

    DOSSIShifting boundaries of public and private life

  • 8/7/2019 JohnThompson_Fronteiras Cambiantes da vida pblica e privada

    12/26

    22 MATRIZes Ano 4 N 1 jul./dez.2010 - So Paulo - Brasil JOHN B. T HOMPSON p. 11-36

    eram visveis geralmente s para aqueles com quem interagiam rotineiramente

    ns stus ctns cntt rt. Su pblc cnsst bscnt brs lt pr u nvus qu prtcpv vsocial da corte. Para a maioria das pessoas nas sociedades antigas ou medievais

    s lrs s prss r rrnt vsts.Ms c snvlvnt prns utrs s, s lrs

    pltcs gnh u tp vsbl qu s svncul su prsc nt plts runs. Os lrs utlz-s s nvs s comunicao, no somente como um veculo para promulgar decretos o ciais,

    mas tambm como meio para abricar sua autoimagem. Os monarcas do incio Eurp rn r b vrss ns rts cr u g:ls r cnstrus n pns ns s trcns, c pntur scultur, s tb ns s s nvs prns. Grulnt,a visibilidade de lderes polticos e de outros oi tomada separadamente desu prnc nt quls qu s run c l n s rrnclsp-tprl.

    O snvlvnt s s ltrncs r, tlvs s nvss rlcns ntrnt rprsntr, lgu r, cntnu- u prcss spr c prns, s ls s tpmarcam tambm um novo ponto de partida. As mdias eletrnicas possibilita-

    ram a transmisso de inormaes e contedos simblicos por largas distnciasc puc u s nnhu trs. Cnsquntnt cr u tp simultaneidade desespacializada: qu st stnt p s zr vsvl pr-tcnt n s nstnt tp, p sr uv n s nt qu l p sr vst n nt qu xcut , br ncprtlh s rrncl sp c s nvus pr s qusst vsvl. An, s s ltrncs cnt c u rquz pru-s sblcs pssbltn rpru lgus s crctrstcs ntr rt nsss nvs s u , n cs r, s ntrs rl vsul n cs tlvs ntrnt.

    A nr pl qul s lrs pltcs s prsnt prnt s utrs

    psss l pls nvs rs vsbl ubl. O rpermitiu aos lderes alarem diretamente a milhares ou mesmo milhes deutrs psss, grn u utr tp nt b rnt rlpalestrante-pblico caracterstica das reunies das massas tradicionais. Some-se

    ss rquz vsul tlvs plc st nt pr rscntde um novo tipo de intimidade na esera pblica o que eu chamei de intimida-

    de no-recproca distncia (T ompson, 1995: cap.7). Agora os lderes polticos

    podem abordar assuntos como se ossem da amlia ou como se ossem amigos.

    Fronteiras cambiantes da vida pblica e privada

  • 8/7/2019 JohnThompson_Fronteiras Cambiantes da vida pblica e privada

    13/26

    Ano 4 N 1 jul./dez.2010 - So Paulo - Brasil JOHN B. THOMPSON p. 11-36 23

    E cpc tlvs rncr gns cls, s nvuspodem examinar as aes e declaraes de seus lderes minuciosamente com o

    s tp tn tlh qu nts r rsrv quls c qutvss u rl pssl nt.

    O desenvolvimento das mdias comunicacionais deu origem, dessa orma,

    u nv tp vsbl sspclz pruzn u r nt- utprsnt lbr s lts cprsn. A nrnpssl r s lrs pltcs pss , r crscnt,substituda por esse novo tipo de intimidade mediada. Nela, os polticos pude-

    ram se apresentar no somente como lderes, mas como seres humanos comunscntn ts c u c qulqur, brn sltvnt crtsspcts sus vs su crtr nu t cnvrs u t sconessional. Mas na medida em que as mdias comunicacionais criaram opor-

    tuns pr qu s lrs pltcs prcss prnt utrs psss u nr nu scl js vst nts, crr tb nvs riscos vltrs ss s nt.

    A TRANSFORMAO DA PRIVACIDADEemos nos concentrado na questo de como o domnio pblico oi modi cado

    prtr snvlvnt s scs rns, s qu zr sbr

    n prv? C l t pls uns nsttucns qumoldaram o desenvolvimento das sociedades modernas por volta do sculoXVI nt?

    Recuperemos Arendt mais uma vez. Para os gregos antigos, o domnio

    privado era aquele do domiclio e da amlia. Era a esera da necessidade, na qual

    os seres humanos se moviam por suas vontades e necessidades e onde investiam

    na sua prpria reproduo e na da espcie. Ela era contrastada com a esera

    pblica, que era o domnio da liberdade, em que os seres humanos poderiam

    satisazer todo seu potencial como seres humanos. Assim, no pensamento grego

    antigo, segundo Arendt, a esera privada era entendida em seu sentido original de

    privao, de ser privado de: signi cava ser privado das coisas que compem

    uma verdadeira vida humana, ser privado da realidade que acompanha o atode ser visto e ouvido pelos outros, ser privado dos relacionamentos que advm

    do compartilhamento de um mundo em comum, e ser privado da possibilidade

    de conquistar algo mais duradouro que a vida em si (Arendt, 1958: 58). Ento,

    no pensamento grego antigo o domnio privado era realmente secundrio em

    relao ao domnio pblico: era esse ltimo que realmente importava, e o do-

    mnio privado era relevante apenas por dar as condies necessrias para que

    os indivduos sobrevivessem e assim participassem do domnio pblico.

    DOSSIShifting boundaries of public and private life

  • 8/7/2019 JohnThompson_Fronteiras Cambiantes da vida pblica e privada

    14/26

    24 MATRIZes Ano 4 N 1 jul./dez.2010 - So Paulo - Brasil JOHN B. T HOMPSON p. 11-36

    A nr c qu s ntgs grgs pnsv sbr prv lnuum tipo de sombra em como ns concebemos o privado no pensamentocntl. Els ntn bscnt trs alta lt qucompe a verdadeira vida humana. Mas esta uma maneira muito unilateral

    de entender o privado e uma viso parcial de conceber o que viver uma ver-

    r v hun. At s Hnnh Arnt tnh prcp quno se pode dar uma perspectiva satisatria do domnio privado puramente

    em termos de alta: existem, como ela coloca, certos traos de privacidadeno-privativos qu ss prspctv n cnsr. Ac tu, sr

    prv prprcn s nvus u sp pr s rclhr brlh v pblc sr cnstntnt vst uv pls utrs. Pssr vida completamente em pblico, na presena de outros, diz Arendt, torna-se,

    como poderamos dizer, super cial. Se por um lado absorve sua visibilidade,

    pr utr pr qul rgr s u ptr s bscur qu v sr nt cult pr n prr su prun nu sn-t b rl n-subjtv (Arnt, 1958: 71). N hstr ps-clssc pnsnt cntl, spclnt n tr pnsnt pltclbrl s sculs XVII XVIII, st insight nrlnt trz trs s prpr prv, prqu prt prprprv vst c nc cnh cnf vl n qul ss sp prv

    p sr ssgur.N stnr s scuss sbr prpr prv, br l

    tenha um papel importante em qualquer tentativa sria de entender as maneiras

    hstrcnt utnts s pnsr qu prv n cnt. Qurssur u utr f cnutr prtnt pr ntnnt qu privado e do valor que isso tem hoje. tambm um caminho associado tradio do pensamento poltico liberal que oresceu no incio do perodorn. U s s cntrs lbrls r qu s nvustm certos direitos bsicos que precisam ser garantidos rente ao abuso depr gvrns sptcs. A tr pnsnt lbrl crtcqu spntu ns trblhs pnsrs c Lck, Hu, Knt Jhn

    Sturt Mll vr cplx. N qur scut-l tlh qu, ss tr pr u nt sbr rl ntr nvu Est.

    Os pensadores do liberalismo poltico escreveram num contexto muito di-

    erente daquele do mundo antigo. No incio do perodo moderno na Europa, os

    Estados eram instituies poderosas e aumentavam cada vez mais seu poderio;

    pr pltc ltr stv c vz s cncntr ns nsttusqu r s sts rns. Pr utr l, r prt s lrnsera ainda hereditria reis ou rainhas investidos de poder por nascena. Nesse

    Fronteiras cambiantes da vida pblica e privada

  • 8/7/2019 JohnThompson_Fronteiras Cambiantes da vida pblica e privada

    15/26

    Ano 4 N 1 jul./dez.2010 - So Paulo - Brasil JOHN B. THOMPSON p. 11-36 25

    contexto, era muito radical dizer que os indivduos tinham certos direitosbscs qu hv lts n xrcc pr Est, s xtntss qu s prrs trcs pltcs c Lck sustntv. U ss cntrs pnsnt pltc lbrl r qu s nvus tcrts rts bscs u lbrs cvs, c lbr xprss lvr ssc, qu sss rts s ncssrs pr prt nvulem relao ao uso excessivo do poder do Estado. por esse motivo que, natradio do pensamento liberal, h limitaes ao poder do Estado e este setorna ilegtimo ao exced-los. Esta ideia de que os indivduos tm certos direitos

    undamentais a serem respeitados pelo Estado oi subsequentemente inserida nastrutur cnsttucnl s Ests cnts rns, s ntntn Dclr Drts Nrt-Arcn (Arcn Bll Rghts).

    H s tvs pr qu ss t sj rlvnt pr qust prv-c. E prr lugr, rnc prt cntxt scl pltc n qulrg s qusts prvc pr ns hj ns pr qulsque vivem no Ocidente. Ou seja, quando pensamos nessa questo hoje, no sts cnsrn pns u unntlnt ns trs pns-nt grg ntg; utr , ntns prvc nu cntxtque tambm tem sido proundamente moldado pela tradio da teoria poltica

    lbrl crtc, prcup, ntr utrs css, f nr s lts

    pr Est.A sgun rz qu hj sts nclns pnsr prvc

    c u tp direito, lg qu, c nvus, rcls qu lgt-nt ns prtnc. N vr, c snvlvnt s scsmodernas nos sculos XIX e XX, era essa a tendncia para lidar com as ques-

    tes de privacidade na lei. Em 1980 oi publicado na Harvard Law Review um

    artigo escrito por Samuel Warren e Louis Brandeis que cou amoso, chamado

    T e Right to Privacy. Os autores deendiam o reconhecimento legal ao direito

    prvc, c su s f n c rt sr x paz. Warren e Bradeis estavam preocupados com o possvel impacto dastcnlgs qu r nvs n pc n f nl scul XIX, ss qur

    dizer a otograf a e a imprensa popular, esta ltima tornando-se cada vezs snscnlst. Els stv prcups c pssbl sssmdias trazerem prejuzos aos indivduos por ultrapassarem os limites dacnc prpr. A l prtg s psss s lsststunhs qu pr nchr rput nvul, s ss nchega a ser o mesmo que privacidade. Para Warren e Brandeis, a privacidade

    rt sr x pz: rt c pss cr t qupnt sus pnsnts, sntnts s v sr cuncs

    DOSSIShifting boundaries of public and private life

  • 8/7/2019 JohnThompson_Fronteiras Cambiantes da vida pblica e privada

    16/26

    26 MATRIZes Ano 4 N 1 jul./dez.2010 - So Paulo - Brasil JOHN B. T HOMPSON p. 11-36

    s utrs. O rtg qust, ns ns Ests Uns, n uncunrnt putu bt sbr prvc pr t scul XX.Er vst pr uts c u lbr plusvl Qurt En Constituio norte-americana como sedimentada na Carta de Direitos nomeadamente, o direito das pessoas de estarem seguras em sua pessoa,css, pps ts.

    Cntu, prspctv rc pr Wrrn Brns puc sts-tr tn vst cnctu qu prvc hj. Entr utrstvs, l splsnt ut pl: c f n prsnt, qul-

    qur tp cprtnt nsv, u t s u prgunt ncnt,como parar algum na rua e pedir inormaes, pode ser entendido comou nvs prvc (Alln, 1988). A r prt s s tnttvs cnctur prvc trs nt, sgl btpssl t utrs f cncs gulnt cplcs. C prsnt cnctur prvc?

    N u pnt vst, nr s prutv s cnctur prv-c trs cntrl. E su snt s unntl, prvc- t rl c hbl s nvus xrcr cntrl sbralguma coisa. Normalmente esta coisa interpretada como inormao: ousj, prvc hbl cntrlr s nrs sbr s s,

    tb cntrlr nr t qu sss nrs scomunicadas aos outros. Mas o conceito no precisa ser tomado apenas emtrs nr. Pr xpl, Bt Rsslr (2005) f n prvcc hbl cntrlr css algo, qul nr udas ormas, havendo outras. A autora distingue trs dimenses da privacidade:

    privacidade informacional, que o controle das inormaes sobre ns mesmos

    rt prtg-ls css nsjvl utrs psss; privacidadedecisional, qu cntrl nsss css s rt prtg-lsda intererncia indesejada por parte de outras pessoas; e a privacidade espacial,

    qu cntrl nsss prprs sps rt prtg-ls cntr nvs nsj utrs psss. Ass, s vls p sr f ns

    prtr c u s rs prvc prsnts: c qus us lcts nrs sbr ns; c ntrrnc lct nssss css; c nvs lct nsss sps, tnt n r nvs sc c trvs vglnc.

    Cntnurs snvlvn ss cncp prvc c cn-trole baseando-nos na noo de territrios do selfde Go man (1972). Poderamos

    zr qu h crts trrtrs u qu s s tp spcs n-rcns pr f n. s trrtrs cnsttu u cp qul

    . Pr u b rvs crtc sss vrscncps, vr Dnl

    J. Slv ().

    Fronteiras cambiantes da vida pblica e privada

  • 8/7/2019 JohnThompson_Fronteiras Cambiantes da vida pblica e privada

    17/26

    Ano 4 N 1 jul./dez.2010 - So Paulo - Brasil JOHN B. THOMPSON p. 11-36 27

    indivduo normalmente se reporta como seu, a ponto de, quando outros tentam

    nv-l, t snt c trnsgrss u vl. Sugr qu nt,s prt, u f n runtr: prs zr qu prvcnsst nsss trs sel, qu nclu bnt sel s nrsdele, material sobre o qual o indivduo tenta exercer controle e restringir oacesso de outras pessoas. Os direitos relacionados privacidade so aqueles qu nvu t qu xrcr cntrl rstrngr css s utrs.Alguns sss rts s rcnhcs pl l, s uts n que h territrios do sele que os indivduos tm certos direitos sobre esses

    trrtrs s pl qu qul rt prvc rcnhcpl l. A l rcnhc pns lguns rts rlcns prvc, xtns qu s rts prvc s rcnhcs n l vr ps pr ps. Ent n prcss ncssrnt tr l c nssguia aqui: podem haver alguns direitos privacidade que no so ormalmente

    rcnhcs n l.Vou me estender mais nesse tpico pontuando trs aspectos: Em primeiro

    lugar, importante notar que o que se entende como privado, e o que sentn c nvs u vl prvc vr c cntxt utrs plvrs, prv ltnt cntxtul. Ess pnt ut b -senvolvido por Helen Nissenbaum (2004, 2010), que apresenta uma perspectiva

    prvc trs qu l ch ntgr cntxtul. Surgunt qu prvc t spr sr nls n rl c sdierentes eseras ou contextos em que os indivduos vivem. Em cada uma delas

    h nrs spcf cs pr rgulr qu prpr ctvl n nrc nr rvl cprtlh. Nssnbu stngu, nsspnt, s tps nrs: h, u l, qu l ch nrs qu, utr, ux strbu u nr. Pr xpl,quando vamos ao nosso mdico apropriado dizer detalhes de nosso estado de

    sade para ele, mas no o contrrio ou seja, ns no esperamos que o mdico

    ns cnt sbr s l. Est u nr qu qu rg nssss ns cnhcs, ssus c lg gs c bs

    nl. Ms h n u utr nr, strbu u ux nr.Ent, pr ntr xpl: ns prsus qu qu zs c con dencial, e no esperamos que ele ornea detalhes a outras pessoas sem o

    nosso consentimento explcito. Assim se nossa cha mdica colocada venda

    nu st s nss cnsntnt, nr strbu u ux nr-mao est sendo violada. No entanto, as normas que se aplicam num determi-

    n cntxt n srv ncssrnt utr. Pr xpl, s nrsde adequao e uxo de inormao que se aplicam na relao mdico-paciente

    DOSSIShifting boundaries of public and private life

  • 8/7/2019 JohnThompson_Fronteiras Cambiantes da vida pblica e privada

    18/26

    28 MATRIZes Ano 4 N 1 jul./dez.2010 - So Paulo - Brasil JOHN B. T HOMPSON p. 11-36

    no sero necessariamente as mesmas da relao entre amigos, ou entre patres

    e empregados. Normas dierentes aplicam-se a contextos dierentes, mas haver,

    de qualquer maneira, normas de algum tipo. Em todo contexto haver normas

    qu rgul qu ux nr, vl prvccntc qun lgu sss nrs qubr.

    O segundo aspecto est ligado ao papel das tecnologias de inormao e de

    comunicao. Eu apresentei os territrios do selfcomo sendo ao mesmo tempo

    spcs nrcns n vr, nr prvvlnt simportante nesse caso do que os espaos territoriais em si. No que o espao seja

    irrelevante: os indivduos assumem mesmo certos espaos como seus prprios,como se ossem suas casas, seus jardins ou quartos. Mas seria enganoso pensar

    qu s trrtrs sels crctrz pr sr ntrnt spcs crtnt, n territrio p sr u puc ngns qu, j qu linvoca a imagem do espao sico, quando na realidade muito dele puramente

    nrcnl u vrtul. As nrs sbr nss v pssl u sbrnosso estado de sade so parte de nosso territrio do selftanto quanto o espao

    sc cs u qurt qu cups. E hbl cntrlr sssnrs u tr css ls t prunnt pl snvl-vnt s tcnlgs nr cunc. Esss tcnlgsp str vlts pr vglnc, qu utrs psss, nclun

    agentes do Estado e outros tipos, como jornalistas e paparazzi, a possibilidade dese intrometer sigilosamente na vida dos outros. Esto includas tambm as tec-

    nlgs cunc qu prt vulgr nrs sbr s su sbr utrs psss, l nvs nrs cprtlhr nvlvnnveis de controle variveis. Indivduos que compartilham inormaes nesses

    cntxts gn qu t cntrl, s tlvz n tnh pssvl qutnh ns cntrl qu gn.

    s, nt, qu ns lvrr tnt pnsr sr prv trs sps scs qu sj c nss cs. Els s prt qur sr prv, s l n s rstrng ss s sps st cvz ns prtnts c su spct cnsttunt. A sr prv n

    p s sr pns, s qu u p, c u sp sc. l condizente com a maneira dos antigos gregos pensarem o domnio pblico

    nsustntvl nu un qu s tcnlgs nr cun-c trnsrr nr c nr ssn, css cntrl. D s r qu s s cunccns qubrr ideia de uma publicidade baseada no compartilhamento de um reerencialcomum, elas tm tambm crescentemente desvinculado a noo de privado de

    u sp sc c cs qu u nvu hbt pr n p

    Fronteiras cambiantes da vida pblica e privada

  • 8/7/2019 JohnThompson_Fronteiras Cambiantes da vida pblica e privada

    19/26

    Ano 4 N 1 jul./dez.2010 - So Paulo - Brasil JOHN B. THOMPSON p. 11-36 29

    rtrnr pr scpr brlh v pblc. Hj, qun u nvust n sp su cs u qurt ntr n r, vulgn nrssbr s s lhrs u lhs utrs psss, qu snt stindivduo est situado na esera privada? Ele pode estar num espao privado que

    cs, s s tp st prtcpn u rn pblc disseminao de inormao. Ento ns no podemos pensar no que privado

    exclusivamente, ou mesmo primariamente, em termos de um espao sico.O prv gr cnsst c vz s u n sspclz inormao e de contedo simblico sobre o qual o indivduo acredita que deva

    xrcr cntrl, npnnt n ss nvu n ss nrpss str lclzs.

    Isso me leva ao terceiro aspecto: independentemente do ato de os indivdu-

    os acreditarem que possam e devam exercer controle sobre as inormaes que

    lhes digam respeito, no signi ca necessariamente que tenham sempre o direito

    a isso, ou que qualquer direito privacidade ir sobrepor outras consideraes.

    A cntrr, rt prvc u s rts, s css prtculrsp sr suplnts pr utrs trs r ps, cntrpr rts quxs, nu lbr nrtv sbr s rts nvlvs.

    FRONTEIRAS CAMBIANTES ENTRE O PBLICO E O PRIVADO

    Se a anlise que desenvolvi aqui correta, ento o que podemos entender como sr pblc hj u sp cplx uxs nr quser pblico signi ca estar visvel nesse espao, ser capaz de ser visto e ouvido

    pls utrs. El , pr usr xprss Hnnh Arnt, u sp pr n spls t prcr cnr s plvrs s u tp rl qu ls n tnh nts, justnt prqu gr s vsts ouvidas por outras pessoas. No entanto, ao contrrio da noo clssica grega de

    n pblc, st sp pr n t crctrstcs spcs ,na verdade, desespacializado, justamente porque constitudo por ormas me-

    diadas de comunicao agora no-dialgicas e desespacializadas por princpio.

    tb u sp ut ncntrlvl, n snt qu, n nt

    qu sss plvrs s surg nl, f c ut cl cpnhr qucntc c ls. Prt rl qu s plvrs qur pr stornarem um registro, um trao permanente que pode circular inde nidamente

    n bt s uxs nr ss sr rpruzs utsmdias e contextos dierentes. No momento em que palavras e aes tornam-se

    pblcs nss sp, s pr spr rts, s nu snt bdierente do tipo de imortalidade de que Arendt imaginava ao escrever sobre os

    antigos gregos e a signi cao que vinculavam ao trabalho e s tareas imortais.

    DOSSIShifting boundaries of public and private life

  • 8/7/2019 JohnThompson_Fronteiras Cambiantes da vida pblica e privada

    20/26

    30 MATRIZes Ano 4 N 1 jul./dez.2010 - So Paulo - Brasil JOHN B. T HOMPSON p. 11-36

    D r slr, sr prv cnsst ns trrtrs selsbros quais o indivduo procura exercer controle e restringir acesso de outraspsss. s trrtrs s s tp spcs nrcns prprncp, s sp sc ut ns prtnt pr nss ntn-nt rn sbr n prv qu r pr cncp qus ntgs grgs tnh sbr l c n cl l.Conorme a esera pblica se torna um espao desespacializado, a esera privada

    trnsru-s c vz s n n sspclz nr cnt sblc, sbr s qus busc xrcr cntrl.

    A rsttu pblc prv, c srs nr cn-tedo simblico amplamente desvinculadas de reerenciais sicos e cada vez mais

    interligadas s crescentes tecnologias da comunicao e dos uxos de inormao,

    cru u stu ut u qu s lts ntr pblc prv simprecisos e em requente mutao. As ronteiras que se encontram em qualquer

    nt s prss, cntstvs sujts ngc sput cnstnts.

    A hbl s nvus xrcr cntrl sbr sus trrtrs selfe de restringir o acesso a eles constantemente posta em cheque, e em alguns

    cntxts, cprt pl t qu s utrs p s vlr s nvsmeios tecnolgicos, polticos e legais para ter acesso, conseguir inormaes,

    explor-las em benecio prprio e, em algumas ocasies, torn-las pblicas. As

    rntrs utnts ntr v pblc v prv trn-s u nvcampo de batalha nas sociedades modernas, um terreno disputado em ques nvus rgnzs trv u nv tp gurr nr:usn ts s s spnvs pr btr nrs sbr s utrs pr cntrlr s nrs sbr s ss, uts vzs srn-s

    Figura 3 FRONTEIRAS CAMBIANTESENTRE A VIDA PBLICA E PRIVADA

    Domnio pblico

    A scns vsbl

    Domnio privado

    Surgnt prvcsspclz

    Frntrs cbntsntr v pblc prv

    Fronteiras cambiantes da vida pblica e privada

  • 8/7/2019 JohnThompson_Fronteiras Cambiantes da vida pblica e privada

    21/26

    Ano 4 N 1 jul./dez.2010 - So Paulo - Brasil JOHN B. THOMPSON p. 11-36 31

    para lidar com mudanas que no puderam prever e com agentes cujas intenes

    n pur ntnr. rt-s u trrn qu s rls prestabelecidas podem ser abaladas, vidas podem ser prejudicadas e at, em alguns

    css, rputs p sr prs.Retornemos agora ao grande escndalo das despesas dos membros do

    Prlnt pr qu psss xnr cs pl prspctv s rnt-rs cbnts ntr pblc prv. E 2004, u jrnlst ch- Hthr Brk lgu At pl Lbr Inr (Fr Inormation Act) para tentar conseguir detalhes das despesas dos membros

    do Parlamento Britnico. Os atos pela liberdade de inormao, que ganharamr uts scs cnts ns lts cs, s ps-chvn cnr qu rg s nvs gurrs nr. Els rncs nvus s rgnzs s rgnzs tb just-nt u r prs, c sustnt lgl, pr slctr brtur inormaes resguardadas por outros, inclusive do governo e daqueles que esto

    n pr. Hthr Brk quru lgu xprnc utlzr ss nvr, prqu tnh trblh nts vrss jrns s Ests Uns utlzu s ls lbr nr ss ps pr btr nrssobre os gastos eitos por polticos. Mas no Reino Unido encontrou resistncia,

    em parte porque o ato pela liberdade de inormao era muito novo e ningum

    sb rlnt qu r prt prt prqu r s nvus nCr s Cuns qu tntr pr prg trblhr tvntblqun css s nrs spss. Inclusv prsnt uprojeto de lei pelos Comuns em maio de 2007 que isentava o Parlamento do Ato

    Lbr Inr, br ss prjt nunc tnh vr l. Ubtlh ntns s u urnt 2007 2008 pr tr css trl, c Cr s Cuns, sb lrn prsnt Mchl Mrtn, plnda deciso do Comissrio de Inormao que permitia a publicao de detalhes

    s spss s 14 brs Prlnt. Iss lvu cnvc ureunio extraordinria de um tribunal da inormao que tinha a tarea derslvr cntn. O trbunl f nlnt cu vr Cssr

    Inr. A Cr s Cuns ntru c u nv pl n pr-vr 2008, st vz Crt Supr, rguntn qu brtur sdespesas seria uma invaso desmedida nas vidas dos membros do Parlamento,

    mas perdeu o caso. Muitos dos membros do Parlamento entendiam que os deta-

    lhes de suas despesas eram um assunto privado, um tipo de inormao ao qual

    deveriam poder restringir o acesso, impedindo que outros vissem; mas qualquer

    rt prvc qu ls rclss nst cs stv chqu rtc lg pr prt s utrs nclun Hthr Brk qu ls

    . Pr u vs stlh st sput,vr Rbrt Wnntt Grn Rynr ().

    DOSSIShifting boundaries of public and private life

  • 8/7/2019 JohnThompson_Fronteiras Cambiantes da vida pblica e privada

    22/26

    32 MATRIZes Ano 4 N 1 jul./dez.2010 - So Paulo - Brasil JOHN B. T HOMPSON p. 11-36

    pblc tnh rt sbr c nhr pblc rrc cs psts stv sn gst. Pr f , rt prvc suplntpl rt pblc sbr.

    Lg ps rrt n Crt Supr, 2008, s brs Crdos Comuns anunciaram que os relatrios de despesa e os recibos apresentados

    ntr 2004 2008 pr ts s brs Prlnt sr publcs julh 2009. Pr ss cr u un spcl n Iprns Of clbrtnc pr gtlzr ts s rqurnts rcbs. N nt qu ts sss cunts stvss spnvs ltrncnt, sr

    rvss u ts r qu s nrs cnsrs lcspuss sr rvs. Cntu, qu cntcu n b ss. E prque no? Um dos indivduos contratados para trabalhar na reviso das despesas

    alega ter cado to chocado e revoltado que ele (ou ela no sabemos quem oi)

    cu vzr cnt pr prns. E c trl j stv t normato eletrnico, era cil azer uma cpia e extravi-la. O uncionrio entrou

    cntt c u ntrr, u x-f cl Srv Ar Espcl(SAS) ch Jhn Wck, cuj tr r ncntrr u jrnl qu pgsspr l qunt clr 300,000. A prpst rcus pl imes pr utrs, s T e Daily elegraph ctu pr u qunt n rvl,br hj spcul qu tnh s pr vlt 120,000 u tx

    rltvnt bx s cnsrrs nturz xplsv nr.Fazia parte do acordo eito com T e Daily elegraph que ossem publicados

    os detalhes das despesas de todos os membros do Parlamento, no somentes lt scl, qu ss ss t rpnt. Ent, prtr 8 2009, T e Daily elegraph cu vulgr tlhs spsscomeando pelo Primeiro Ministro e sua ordem de pagamento no valor demais de 6000 pelos servios de limpeza prestados por seu irmo. Seguiram-se

    s spss utrs brs gbnt, Crn s ntgrnts Gbnt Prll (Shadow Cabinet), ps ls s bnc prt(backbenchers) ss pr nt. Er u ch t , u vgrspinga-pinga de revelaes bombsticas ao domnio pblico, e isso tudo oi

    rapidamente incorporado pelas outras mdias dando ao escndalo uma grandevisibilidade mediada. Algumas das revelaes mais controversas envolviamgastos com hipotecas que j haviam sido quitadas e recibos de compra, de reor-

    ma e de mobilirio para mais de uma propriedade (os membros do parlamento

    pr rqustr u crt vrb pr cnsttur sgun cl nscss qu ss ss ncssr pr rlz trs prlntrs,mas houve muitos casos em que a segunda casa era transerida ou renegociada,

    azendo com que os membros do parlamento pudessem requisitar mais de uma

    Fronteiras cambiantes da vida pblica e privada

  • 8/7/2019 JohnThompson_Fronteiras Cambiantes da vida pblica e privada

    23/26

    Ano 4 N 1 jul./dez.2010 - So Paulo - Brasil JOHN B. THOMPSON p. 11-36 33

    prpr). Outrs rvls chcr s pr sus rzs sblcs que nanceiras: a quantidade de dinheiro envolvido era relativamente pouca ou

    at mesmo banal, mas o valor simblico era alto. Nada pode ser mais i lustrativo

    qu rqus t pr Sr Ptr Vggrs, u bst br cnsr-vr Prlnt, rprsntnt ltr Gsprt Hpshr, prsntr u rcb 1645 pr u nt rnntl, qu, sb ulhr s tnt, rvlu-s u cs-brc ncr n prt prx sua casa de campo, um arranjo extico de jardim que virou logo uma metora

    pr t rg cs.

    As cnsquncs pltcs s rvls r s tp -diatas e dramticas. Em 20 de maio, o Presidente da Cmara dos Comuns,Mchl Mrtn, r rnuncr prr zr ss 300 ns.Muts utrs rnncs sgur-s, vrs brs Prlnt, tnttrabalhistas quanto conservadores, anunciaram que estariam ora das prximas

    ls grs, nclusv Sr Ptr Vggrs. O Prt rblhst sru ugrande baixa nas eleies europeias do incio de junho, f cando em terceirolugr, c pns 16% s vts. Ess t prtculrnt sstrs prl, s tb n s p zr qu b pr s Cnsrvrs j quut ltrs, hrrrzs c qu v, grr pr utrs prtscomo o UKIP (o Partido da Independncia do Reino Unido, que deende a sada

    Rn Un Eurp) BNP (Prt Ncnl Brtnc, u prtncnlst rt qu s p vntnt gr).

    rt-s u nr scnl pltc c srs cnsquncs npns pr s crrrs psss c Mchl Mrtn, qu r r-s rnuncr u nuncr bstn s ls, s tb pr sgrns prts pltcs pr sst prlntr c u t. Entprqu brtur s spss cusu u tpst t grn qu tvcnsquncs t xtnss? Vu pntr trs rzs.

    Primeiro e principalmente, o que oi revelado indicava que muitos dosmembros do Parlamento estavam azendo mau uso do dinheiro pblico em be-

    necio prprio. Essa uma base clssica para escndalos polticos (T ompson,

    2000), mas as revelaes oram particularmente nocivas porque chegaram numnt qu Gr-Brtnh stv rgulh nu rcss, utspessoas estavam sendo demitidas e tinham que lutar para ganhar o dia. E agora

    o que essas pessoas viam era que os membros do Parlamento estavam pleiteando

    t tp css s pgnt jurs hptc lhrsns prprs css gsts c lnt, lpz jrng s custsdaqueles que pagam impostos. Alguns comentaristas deste escndalo no Reino

    Un f cr surprss c t qu u pqun qunt nhr,

    DOSSIShifting boundaries of public and private life

  • 8/7/2019 JohnThompson_Fronteiras Cambiantes da vida pblica e privada

    24/26

    34 MATRIZes Ano 4 N 1 jul./dez.2010 - So Paulo - Brasil JOHN B. T HOMPSON p. 11-36

    como oi em alguns casos, pudesse provocar tamanha raiva. Mas isso era parte

    do problema: todos ns que camos de ora temos que pagar pela nossa prpria

    c s qusrs qu lgu cu nss jr. Os nvlvs nscnl s quls qu vr rprsntr nsss ntrsss qu p-riam muito bem bancar essas coisas, mas que secretamente arranjaram para que

    ns pgsss pr ls. P tr g ntr l , uts css,s n ts, ss qu cntcu s n r ss qust, j qur s brs Prlnt qu trnr rgrs pr s ss que administravam a portas echadas, sujeitos apenas scalizao do gabinete

    trbut s Cuns (Commons ees of ce). O chcnt n qubr rgrs, s s prtcs s vr qu lng s pltcs lts stvspsts r pr pltr rcurss pblcs xtr pr su us pssl. Esegundo lugar, e com a mesma importncia, as revelaes mostraram que o mau

    us nhr r sistemtico pr prncp u sj, n r pns u us nvus gn, s prtcnt clss pltc ntr. Cnras inormaes oram sendo divulgadas, cou claro que estava instaurada uma

    cultur trr prvt sst f nncnt spss. As rgrseram rouxas, a f scalizao era pouca e a aplicao ruim, alm do ato dospltcs ts s prts str rtnrnt n n sst,especialmente com relao possibilidade de ter uma segunda residncia. Este

    escndalo no aetava uma ou duas pessoas quaisquer: envolvia uma classe po-ltc ntr. A sns gr r qu t clss pltc stv tun,ss c s bncrs s spculrs nstr f nncr c susbnus nrs, su stl v spns cuj spcul snrez com que o governo gastasse bilhes de libras dos cores pblicos na tentativa

    ssgurr u sst f nncr l. Os pltcs, qu prc, nr ut lhrs qu s rcs spculrs.

    Iss ns lv trcr rz: scnl untu sntnt des-conf ana em relao aos polticos e aos sistemas polticos em geral. Olha oqu cntc qun vc x pltcs rgulr s ss: n s pcnf r nls. E vj qunt tntr pr qu s nrs vss

    tn. Ms publcn tlhs s spss, c ssr qu razer, estvamos diante de uma arsa, j que a maioria dos gastos mais delicados

    ultrjnts r brrs lgus nrs rtrs, zn cque osse impossvel entender o que tinha acontecido. udo serviu apenas para

    rrr sntnt qu n s p cnf r pltcs. Ms j r trdemais, eles no precisavam se incomodar, a inormao j era de domniopbc. A prun scnf n c rl s pltcs s prts p-ltcs stblcs ju xplcr pr qu n prt rblhst n

    Fronteiras cambiantes da vida pblica e privada

  • 8/7/2019 JohnThompson_Fronteiras Cambiantes da vida pblica e privada

    25/26

    Ano 4 N 1 jul./dez.2010 - So Paulo - Brasil JOHN B. THOMPSON p. 11-36 35

    o Conservador tiveram bons resultados nas eleies europeias do incio dejunh, xplcr prqu uts ltrs grr pr prts nrs.

    Claro que muito cedo para avaliar as consequncias desse escndaloem longo prazo. Estamos ainda no meio dessa empreitada e ele continua arvrbrr n sr pblc. O utr npnnt qu tr rvr s spss s brs Prlnt publcu sus chs outubro de 2009, no auge do escndalo, e encaminhou requerimentos paraqu uts s brs Prlnt vlvss nhr lguss spss. At s Prr Mnstr Grn Brwn cnv

    vlvr s 12,000, nclun crc 10,000 lbrs gsts c srv-s lpz nu pr cnc ns. E vrr 2010, Ch Mnstr Pblc (Drctr Publc Prscutns) nuncu qu brsdo Parlamento, trs trabalhistas e um conservador, seriam igualmente acusados

    pelo crime de alsa identidade. A limpeza est a caminho e sem dvidas haver

    rrs ntruzs n Prlnt pr qu prncps s clrs sjstblcs, r scrutn sj rlz, rquss spss sjdivulgadas ao pblico periodicamente. Mas o que mais dicil de aerir qual

    prjuz lng prz n cnf n rl s pltcs sstpltc: xtnt ss qu st jg nst scnl, c tsescndalos polticos. Nesse ponto no est nada claro que essa con ana poder

    sr rsttu, s qu u sr.O escndalo das despesas dos membros do Parlamento britnico um

    xpl rtc rcnt c s rntrs cbnts ntr v p-blc prv s nsttus prtcs prjucs stblcs lvnpartes inteiras da vida poltica e social ao caos. Embora a distino entre opblc prv n sj nr nnhu nv, h lg nv nnr c sts ns s rrgnzr c nscnt s nvsormas mediadas de comunicao na Europa do incio do perodo moderno. A

    subsqunt prlr nvs tcnlgs nr cunctem sido um conhecido aspecto de nosso tempo. H algo novo na maneira como

    o pblico e o privado tornaram-se dois terrenos cada vez mais contestados,

    cps btlh pr nr cnt sblc qu sr cntrl nvus prtculr. H lg nv n nr c nssvida se desenrola agora num ambiente em que a capacidade de revelar e ocultar,

    trnr css vsvs vtr qu utrs , s ut s cs s cntrlr. Iss cr u rn prnntnt nstvl qu vzn-ts, rvls brturs p prturbr s plns s b rqutts.Pnsrs c Arnt Hbrs stv crts cncntrr tnn rl ntr pblc prv ls stv crts clcr ss

    DOSSIShifting boundaries of public and private life

  • 8/7/2019 JohnThompson_Fronteiras Cambiantes da vida pblica e privada

    26/26

    relao no centro de suas re exes sobre a natureza mutante de nossa sociedade,

    mesmo que a maneira de analisarem estas mudanas tenha deixado a desejar. O

    nus gr nss rnvr sus prcups, s sucubr f cnc sus prspctvs. s qu lhr nvnt pr ss rl ssncl,tntr ntnr c l st un n nss un cntprn, s-turado mediaticamente e pensar quais as consequncias dessas mudanas para

    tp qul nsss v scl, pltc pssl.

    REFERNCIAS

    ALLEN, Anita L. Uneasy Access: Privacy or Women in a Free Society. Totowa, N.J.:Rwn & Lttll, 1988.

    AREND, Hnnh. he human condition. Chcg: h Unvrsty Chcg Prss,

    1958.

    GOFFMAN, Erving. Relations in Public: Microstudies of the Public Order. Harmondsworth,

    Mlsx: Pngun, 1972.

    HABERMAS, Jrgn. he Structural ransormation o the Public Sphere: An Inquiry a

    Category o Bourgeois Society. Cbrg: Plty, 1989.

    NISSENBAUM, Hln. Prvcy s Cntxtul Intgrty, Washington Law Review, 79/1

    (2004), pp. 119-158.

    _______. Privacy in Context: echnology, Policy, and the Integrity of Social Life. Stanord:

    Stnr Unvrsty Prss, 2010.RSSLER, Bt. he Value o Privacy, trs. R.D.V Glsgw. Cbrg: Plty, 2005.

    SOLOVE, Daniel J. Understanding Privacy. Cambridge, Mass.: Harvard University Press,

    2008.

    HOMPSON, John. he Media and Modernity: A Social heory of the Media. Cambridge:

    Plty, 1995.

    _______. Political Scandal: Power and Visibility in the Media Age (Cbrg: Plty,

    2000).

    _______ . h Nw Vsblty, heory, Culture and Society 22/6 (2005), pp. 31-51.

    WARREN, Sul n BRANDEIS, Lus D. h Rght t Prvcy, 4 Harvard Law

    Review, 193 (1890).

    WINNE, Robert e RAYNER , Gordon,No Expenses Spared. London: Bantam Press,2009.

    TRADUZIDOPOR ANDREA LIMBERTO LEITE

    Artg rcb 5 prv 21 junh 2010.

    Fronteiras cambiantes da vida pblica e privada