LONA 555 - 11/05/2010

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Curitiba, terça-feira, 11 de maio de 2010 - Ano XII - Número 555 Jornal-Laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo [email protected] DIÁRIO d o B R A S I L Comunidade da CIC cobra legalização de terrenos Michel Prado Contrariando o modelo de cidade sorriso, já faz 30 anos que os moradores do Sabará, na Cidade Industrial de Curitiba (CIC), buscam a regularização das suas moradias. A assembleia popular organizada por eles tenta melhorar essa situação, convocando os moradores para discutir os problemas acarretados pela falta de definição. Pág. 3 Sócrates, ex-integrante do Corinthians e da Seleção Bra- sileira, abre o jogo sobre car- reira, Democracia Corinthia- na e fala da expectativa para Copa do Mundo 2010. Pág. 7 Entrevista Fernando Mad/ Lona O filósofo corinthiano Para serem beneficiados pelo passe es- colar, os estudantes devem atender a re- quisitos, entre eles morar em Curitiba, es- tar a mais de um quilômetro da escola e ser compatível com renda familiar estabelecida pela prefeitura, que varia de Cidadania O passe escolar mais caro do sul Coluna A surpreendente inovação de Segundo os psiquiatras, a psicose é uma patologia que difere das outras doenças psico- lógicas pelo fato de não se basear em experiên- cias vividas. No entanto, quando o diretor de “Psicose”, Alfred Hitchcock decidiu inovar em “Psicose”, a loucura dele fez uma ver- dadeira revolução no cinema. Pág. 6 acordo com cada caso. Contudo, ape- nas 5% dos estudantes da capital paranaense têm acesso ao passe, o que faz com que muitos gastem R$ 90 mensais com transporte. Pág. 4 Psicose...

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JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVERSIDADE POSITIVO

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Curitiba, terça-feira, 11 de maio de 2010 - Ano XII - Número 555Jornal-Laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo [email protected]

DIÁRIO

do

BRASIL

Comunidade da CIC cobralegalização de terrenos Michel Prado

Contrariando o modelo de cidade sorriso, já faz 30 anos que os moradores do Sabará, na Cidade Industrial de Curitiba (CIC), buscam a regularizaçãodas suas moradias. A assembleia popular organizada por eles tenta melhorar essa situação, convocando os moradores para discutir os problemas acarretadospela falta de definição. Pág. 3

Sócrates, ex-integrante doCorinthians e da Seleção Bra-sileira, abre o jogo sobre car-reira, Democracia Corinthia-na e fala da expectativa paraCopa do Mundo 2010.

Pág. 7

Entrevista

Fernando Mad/ Lona

O filósofocorinthiano

Para serem beneficiados pelo passe es-colar, os estudantes devem atender a re-quisitos, entre eles morar em Curitiba, es-tar a mais de um quilômetro da escola eser compatível com renda familiarestabelecida pela prefeitura, que varia de

Cidadania

O passe escolar mais caro do sul

Coluna

A surpreendente inovação de

Segundo os psiquiatras, a psicose é umapatologia que difere das outras doenças psico-lógicas pelo fato de não se basear em experiên-cias vividas. No entanto, quando o diretor de

“Psicose”, Alfred Hitchcock decidiu inovarem “Psicose”, a loucura dele fez uma ver-dadeira revolução no cinema.

Pág. 6

acordo com cada caso. Contudo, ape-nas 5% dos estudantes da capitalparanaense têm acesso ao passe, o quefaz com que muitos gastem R$ 90mensais com transporte.

Pág. 4

Psicose...

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Curitiba, terça-feira, 11 de maio de 20102

Espaço

do Leitor

Entrei no histórico Paço da Liberdade extremamenteansioso. Estaria eu presenciando, em poucos instantes,um debate histórico com um dos grandes nomes do fute-bol brasileiro: Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vi-eira de Oliveira, o Magrão, ou o Doutor Sócrates. Devoantes dizer que não o vi jogar. Nem mesmo um vídeo. Nomáximo em um jogo de futebol retrô de videogame. Emcima do tapete feito de grama sintética, posto ali especi-almente para o evento, não estava mais um típico joga-dor de futebol a que nos acostumamos a ver: sem conteú-do, movido pela fama e pelo dinheiro. Não. Ali estava umhomem que entrou para a história do futebol. Ali estavaum doutor, formado em Medicina.

E como eu haveria de saber, não me arrependi. Maisdo que futebol, Sócrates falou sobre educação, sobre polí-tica, sobre história. O aspecto antigo da sala quadrada dopiso três do prédio, com detalhes entalhados em madei-ra, com o teto pintado por anjos nus (e aí coube uma pia-dinha do jogador: “Sutiã moderno para aquela época,né?”, disse ele, referindo-se à cobertura pintada para es-conder os seios de uma mulher) me deixou com a sensa-ção de um ser privilegiado. Egoísmo. Ali deveriam estartodos os que algum dia pensaram em como ser feliz.

Se Sócrates não foi em busca do dinheiro e da fama,o que muitos jogadores são, ele também era: mulherengo.“Se eu tivesse arrumado companhia naquele dia, eu tam-bém não voltava para a concentração, mas eu não arran-jei. Renato (Gaúcho) e Leandro arranjaram”, contou ele.Boêmio, de inteligência fora do comum. O conselho que

Um momentohistórico noPaço da Liberdade

Reitor: José Pio Martins. Vice-Rei-tor: Arno Antonio Gnoatto; Pró-Reitor de Graduação: Renato Ca-sagrande ; Pró-Reitor de Planeja-mento e Avaliação Institucional:Cosme Damião Massi; Pró-Reitorde Pós-Graduação e Pesquisa ePró-Reitor de Extensão: BrunoFernandes; Pró-Reitor de Adminis-tração: Arno Antonio Gnoatto; Co-ordenador do Curso de Jornalis-mo: Carlos Alexandre Gruber deCastro; Professores-orientadores:Ana Paula Mira e Marcelo Lima;Editores-chefes : Aline Reis([email protected]), Daniel Cas-tro ([email protected]) e Di-ego Henrique da Silva([email protected]).

“Formar jornalistas com abrangen-tes conhecimentos gerais e humanís-ticos, capacitação técnica, espíritocriativo e empreendedor, sólidosprincípios éticos e responsabilidadesocial que contribuam com seu tra-balho para o enriquecimento cultu-ral, social, político e econômico dasociedade”.

O LONA é o jornal-laboratóriodiário do Curso de Jornalismo daUniversidade Positivo – UPRedação LONA: (41) 3317-3044Rua Pedro V. Parigot de Souza, 5.300– Conectora 5. Campo Comprido.Curitiba-PR - CEP 81280-30. Fone(41) 3317-3000

Expediente

Missão do cursode Jornalismo

Lucas [email protected]

Dez, dez não tá... Diriauns 9,5... Só falta uma visãomais moderna, com mais no-vidades, mais experimental!Luis Gustavo Fonseca, estu-dante de jornalismo, via twit-ter (@luisgustavofons); sobreo editorial publicado na pri-meira edição do Lona desteano.

Opinião

Pontapé inicialCássio Bida de Araú[email protected]

Daqui a exatamente um mês o mundo vai parar. Todasas atenções estarão voltadas ao continente africano. Porpelo menos 5760 minutos - isso sem contar os acréscimosdo juiz em todos os jogos, e as prorrogações e decisões nospênaltis nas fases eliminatórias - os olhos de pelo menosum bilhão de pessoas ao redor do planeta vão se prenderàs emoções dos gramados da África do Sul.

Uma competição diferente, cheia de novos contrastes econflitos é o que se desenha para daqui a um mês na sededa 19ª Copa do Mundo da Fifa. Quando a bola rolar pelaprimeira vez no gramado do estádio Soccer City para Áfri-ca do Sul e México, jogo de abertura do torneio, não vere-mos apenas a disputa para saber quem será o melhor den-tro de campo. O resultado final depois de 90 minutos nãovai importar muito, a não ser para as estatísticas.

O pontapé inicial vai materializar a possibilidade de seconduzir um evento organizado fora dos tradicionais gran-des centros mundiais. Evento este que já deveria ter acon-tecido em 2006 e foi ameaçado tantas vezes depois por con-ta de incertezas com relação a prazos, sem falar nas para-lisações e protestos - mais que legítimos - dos operários queconstruíam os palcos do espetáculo.

A determinação dos africanos em fazer um bom espetá-culo lembra muito o que foi feito no México em 1986. Umano antes, os mexicanos sofreram com os efeitos de um ter-remoto devastador que matou milhares de pessoas no país.Mas nem isso foi capaz de abalar a confiança na realiza-ção de um torneio memorável como foi a Copa 86.

A Copa não vai resolver as mazelas do continente afri-cano, nem mesmo trará melhorias significativas na vida dapopulação. A única certeza que fica é que a Copa 10 já en-trou para a história antes mesmo da bola rolar. Resta saberse, ao final de 30 dias, será uma Copa para sempre ou ape-nas mais uma na lista.

Estava eu quase acreditando que aliassinaríamos algum documento importante.Uma constituição, talvez. Eram eu e maisalgumas poucas dezenas de pessoas queacompanhariam um debate como aquele, eninguém mais.

ele deu ao pequeno garoto corinthiano que acompanhavao debate, e a todos ali, foi o mesmo que meus pais sempreme ensinaram: “Leiam”. É a leitura que tem o grande po-der de fazer do menino um homem. Da ignorância, a in-teligência. Do escuro, a luz.

Finalizamos com, de fato, um momento histórico: o primei-ro encontro de Sócrates com José Miguel Wisnik, dez anos de-pois do professor da USP ter composto e gravado a música “Só-crates Brasileiro”. E foi escutando Wisnik tocar piano e vendoSócrates com olhos fechados, em pura demonstração de sentimen-to, que fechei a porta do pequeno salão e saí do Paço, rumo àchuva, perdido em meus pensamentos e encantado com o que avida me oferecia.

1. O real e-mail da autora(Caroline Moraes) do artigo“Pirataria e jogos eletrôni-cos”, publicado ontem aquino LONA, é [email protected].

2. A fotografia publicadana capa do LONA de ontem,como sendo de autoria de Fá-bio Muniz, na verdade é deFernando Mad.

3. A fotografia com JoséMarques de Melo publicadana página 3 de ontem, semcrédito, foi feita pelo jornalis-ta Fábio Muniz.

Erratas

Divulgação

Loftus Versfeld: um dos estádios a serem usados na Copado Mundo, localizado na cidade de Pretória na África do Sul

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Curitiba, terça-feira, 11 de maio de 2010 3

Antonio Carlos SenkovskiPriscila Schip

O cheiro era de domingo. Masnão aquele resumido para muitosao frango assado e guaraná. Algunslugares da região tinham um ar deesquecido, de fora do mapa. Era umdomingo comum, era Curitiba. Eraa mesma de sempre, que apesar deter por toda a parte espalhado o mes-mo cheiro do prato típico de domin-go, não demonstrava igualdadequando tratava da garantia dos be-nefícios reconhecidos por prêmios àcidade modelo.

O Sabará – na Cidade Industri-al de Curitiba (CIC) – não estava nomesmo mundo que a cidade maissustentável do planeta. Não pareciacidade sorriso. Para alguns, o chei-ro do frango era misturado ao queescorria nas valas próximas às ca-sas sem rede de esgoto.

O almoço daquele dia, em espe-cial, seria mais rápido. Mas naqueledomingo a pressa não era causadapor um compromisso de fim de se-mana. O habitual encontro na ruadestinado às conversas do dia a diafoi substituído.

Todos tinham compromisso natarde de domingo, a partir das 14h.Tinham que fortalecer uma luta. Eraa assembleia popular convocadapor moradores e moradoras. Erauma peleja que valia o sacrifício demastigar mais rápido o pescoço dagalinha.

HistóriaMais de 20 anos separavam a

união dos moradores do Sabará emuma assembleia popular, no domin-go – dia 2 de maio – e as primeirasocupações na área. “Entre a região

de Barigui e Sabará, moro há maisde 25 anos, criei minha famíliaaqui”, conta o aposentado JoséMarcondes dos Santos.

No final da década de 80, hou-ve uma série de ocupações em Cu-ritiba. Para regularizar a situaçãode milhares de famílias em áreascomo a Cidade Industrial de Curi-tiba (CIC), a Companhia de Habi-tação (Cohab) passou a fornecerTermos de Concessão do Uso doSolo (ver texto 1, abaixo).

Teoricamente, os moradoresque pagassem esses contratos teri-am direito à posse dos lotes ocupa-dos na época. Não foi o que aconte-ceu. Seu José e quase 40 mil famíli-as de algumas vilas de Curitiba pa-garam todas ou parte das parcelas,mas tiveram os contratos cancela-dos no último mês de fevereiro.

“Nós fomos enganados pelaCohab”, fala, convicto, Marcondes.“Mas agora”, continua, “nós que-remos o documento. Porque senãoo que acontece? É de pai pra filho,de filho pra neto, de neto pra tata-raneto e não tem dono. E nós so-mos donos, sim. Quem está mo-rando em cima é dono” (ver tex-to 2, abaixo).

MobilizaçãoTinha um ar afobado quem es-

perava por informações na assem-bleia popular, antes do seu come-ço. As crianças ironicamente brin-cavam com a terra pela qual os paislutavam. Aquela terra que segura-vam nas mãos era para algumasa mesma que pisavam desde quenasceram. Possivelmente, aquelascrianças já eram netos e netas daspessoas que chegaram ali até 30anos antes.

Os filhos de Dona Amélia Carnei-ro Sampaio não brincavam com a ter-ra. “A gente não desiste, não, vem deuma luta difícil, morava no sítio, meusfilhos tinham que trabalhar de empre-gado. Tivemos a oportunidade decomprar uma casa aqui, pois a Cohabgarantiu que ia ter o documento tudocertinho”. Nesse domingo, ela estavana cozinha da assembleia como faznos últimos 21 anos. “Antes era só eue mais uma mulher que sempre fica-va responsável na cozinha. Agora opessoal tem ajudado mais”.

ApoioDentro do processo de mobiliza-

ção para efetivar o direito pela mora-dia, os moradores e moradoras con-taram com o apoio de organizaçõesnão governamentais, militantes deoutros movimentos sociais, estudan-tes e pessoas da sociedade civil (algu-mas filiadas a partidos políticos). A as-sistente social Andrea Braga ajuda namobilização e organização das pes-soas que moram no Sabará.

“Foi um efeito dominó. Junto coma luta dos moradores pelo direito àmoradia, vieram também outras rei-vindicações e ferramentas para isso.Acho que o próximo passo é ampliara luta com outras comunidades paragarantir então o direito efetivo na suaconcepção mais ampla de moradia,

Da terrapara o papelMoradores do Sabará tentam há 30anos garantir que suas histórias escritasna terra sejam gravadas no papel

Cidadania

que é o direito à cidade, o direito hu-mano”. Já estão na lista das conquis-tas a cooperativa de costureiras, pro-grama de distribuição de alimentose um jornal comunitário, a Folha doSabará.

Há ainda outro tipo de apoio,como a criação de palavras de ordempor integrantes da sociedade civil fi-liados a um partido político, que es-tiveram na assembleia. Gritavameles, a cada trecho mais fervoroso dasfalas: “Cadê o direito, quem é quesabe, eu fui roubado no contrato daCohab!”

Espaço para os discursosComo pode se perceber, não foi

só de diálogo que se consistiu a as-sembleia. Havia também os discur-sos. Quem atropelou o almoço parater esclarecimentos sobre os contra-tos também ouviu alguns exercíciosde oratória fora de órbita.

Membros de organizações estu-dantis tomaram a palavra para ma-nifestar apoio, assim como algunsintegrantes da sociedade civil. Todosos apoios foram aplaudidos pelosmoradores. No entanto, era bastan-te claro que nessa hora alguns pen-savam que poderiam ter mastigadomais o frango, ter poupado tempo.O pescoço não caíra muito bem

1 - As irregularidades A Lei de Parcelamento do Solo prevê que no caso de venda

ou concessão há necessidade do consentimento do proprietário.As áreas em questão não pertenciam à Cohab, mas ao município.Mesmo assim ela fez contratos – agora cancelados – como se esti-vesse vendendo os lotes. Por Lei é previsto ainda a necessidade deque o loteamento seja aprovado pela prefeitura, com um projetoregistrado em cartório com as ações de planejamento urbano e im-plementação de políticas públicas necessárias para a garantia dosdireitos humanos para os moradores. Nenhuma das exigênciasfoi cumprida.

2 - O processoA advogada Juliana Avanci, da Terra de Direitos, esteve na as-

sembleia do Sabará e detalhou que o Ministério Público tomou co-nhecimento de que os contratos com os moradores não estavam pre-enchendo requisitos legais para serem firmados. “A partir disso foiproposta uma ação civil pública pelo Ministério Público, na qual elepedia a declaração da nulidade dos contratos. É o que foi realizadopela vara de origem e pelo Tribunal de Justiça mais recentemente”.

A anulação dos contratos em última instância, no Tribunal deJustiça, aconteceu no último dia 25 de fevereiro. Sem poder recorrer,a companhia aguarda desde então a determinação da sentença.

mesmo, mas só naquela hora, logoele descia.

Apesar do pescoçoO remoído pescoço do frango

não fazia esquecer da uniformidadedo cheiro dos domingos e da dispa-ridade dos direitos na capital. Era oque motivara o encontro. De fato, as250 pessoas que compareceram aoevento tinham a impressão de quehaviam dado um passo rumo à or-ganização de uma frente. Da assem-bleia foi tirada uma comissão paratratar das estratégias de atuação dacomunidade sobre o caso, que já sereuniu logo após o evento.

Juliana Avanci, da Terra de Di-reitos, pensa que a mobilização po-pular é uma forma de pressionar aprefeitura, a mediar essa questãocom os moradores, e para buscar so-luções coletivas e obter a regulariza-ção fundiária. “É uma ferramentaimportante para garantir o direito àmoradia que é a porta pra qualquerefetivação de direito seja ele cultural,ambiental, social ou político”.

Segundo o presidente da As-sociação dos Moradores JardimEldorado – uma das que repre-sentam os moradores do Sabará–, Sebastião Nei, o que se esperaé que não seja necessário correro risco do despejo de uma horapra outra. “Isso é coisa que a gen-te levou 20, 30 anos pra construir.A gente não estaria tranquilo fa-zendo um negócio com gente quenão é dono dessa terra. Ocupa-mos um espaço por uma questãode necessidade, e acreditamosque a justiça supere as nossas ex-pectativas no sentido de atenderessa demanda da moradia da po-pulação que precisa realmente deum teto”.

Michel Prado

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Curitiba, terça-feira, 11 de maio de 20104

A quantidade de documentos exigidos pela URBS é um fator de desA quantidade de documentos exigidos pela URBS é um fator de desA quantidade de documentos exigidos pela URBS é um fator de desA quantidade de documentos exigidos pela URBS é um fator de desA quantidade de documentos exigidos pela URBS é um fator de desestímulo estímulo estímulo estímulo estímulo entre estudantesentre estudantesentre estudantesentre estudantesentre estudantes

Laura Beal Bordin

Um aluno que utilize duaspassagens de ônibus para ir àaula gasta cerca de R$ 90 por mês.Esse valor poderia ser diminuídopela metade, se Curitiba não fos-

se a capital do Sul do Brasil quemenos atende às necessidadesdos estudantes. Em Porto Alegre,onde o passe escolar é estendidotambém a professores, o númerode usuários do transporte coleti-vo que receberam 50% de descon-

to na tarifa chegou a 128 mil, se-gundo a prefeitura da cidade. Jáem Florianópolis, onde o númerode habitantes é consideravelmen-te menor (Curitiba ultrapassa emmais de três vezes o número de ha-bitantes da capital de Santa Cata-rina), 5 mil alunos da escola mu-nicipal recebem o benefício inte-gral e não pagam a passagem. Osuniversitários têm pouco mais de18% de desconto na tarifa. Já emCuritiba, em 2008, menos de 5%de todos os estudantes eram bene-ficiados. A assessoria da Urbani-zação de Curitiba S/A (URBS)não forneceu dados mais recen-tes.

Os estudantes também não es-tão satisfeitos com o percentual.Bruna Ferreira, de 26 anos, estu-dante de música na Faculdade deArtes do Paraná, reclama da quan-

Curitiba é capital do Sul quemenos fornece passe escolar

Transporte

“Eu fiquei bem confusa na hora depreencher o formulário. Tudo issodemora muito”Bruna Ferreira, estudanteBruna Ferreira, estudanteBruna Ferreira, estudanteBruna Ferreira, estudanteBruna Ferreira, estudante

Divulgação

Laura Beal Bordin

Serviço

O horário de atendimen-to da URBS é das 8h30minàs 17h, e desde o dia 29 de

tidade de documentos necessáriospara tentar garantir o benefício.“Eu fiquei bem confusa na hora depreencher o formulário. Tudo issodemora muito”, conta Bruna, quetambém é mãe e depende do mari-do, que trabalha como torneiro me-cânico. Para agilizar o processo, oformulário pode ser previamentepreenchido. Estes formulários po-dem ser conseguidos nas agênci-as da URBS ou pela internet.

Para o direito ao desconto de50% da tarifa, os documentos ne-cessários são muitos. O primeirocritério é ter uma renda de três acinco salários mínimos, morar emCuritiba com uma distância míni-ma de dez quadras (ou um quilô-metro) da escola ou faculdade.Para estudantes universitários queparticipam dos programas gover-namentais, como o FIES e Prouni,

além de identidade, CPF, e compro-vante de residência, deve ser apre-sentado o contrato de financia-mento, ou declaração firmada e re-conhecida em cartório.

No meio de tantos documen-tos, há sempre aqueles que tentamburlar algum deles para adquirira tarifa reduzida. O fiscal daURBS, Demetrius Valeriano, quetrabalha no terminal do Pinheiri-nho na subdivisão de passes es-colares, diz que boa parte dos for-mulários preenchidos apresentamirregularidades. “Normalmente,as pessoas forjam a documenta-ção, apresentam renda menor doque realmente têm e não declaramtodas as pessoas que possuemrenda na família”. Nestes casos,diz Valeriano, o processo é enca-minhado para a investigação, queconsiste em entrar em contatocom familiares para esclarecimen-to. Se alguma irregularidade forapresentada, os documentos fi-cam armazenados caso o estu-dante tente se candidatar ao bene-fício novamente.

março é feito somente no pos-to de atendimento localizadona Rodoferroviária - Av. Pres.Affonso Camargo, 330.

Para mais informações so-

bre como adquirir o passeescolar , acessewww.urbs.pr.gov.br, ouentre contato pelo 156.

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Camila Almeida

O Transtorno ObsessivoCompulsivo, ou TOC, é um dis-túrbio caracterizado pela pre-sença de obsessões e/ou com-pulsões. São pensamentos, sen-timentos, ideias, impulsos ourepresentações mentais semsignificado particular para oindivíduo.

A famosa “neura” de limpe-za e contaminação que muitaspessoas têm e de que não con-seguem se livrar também podeser uma forma de TOC. Alémdessas, a verificação, conta-gem, ordenação e coleção deobjetos são outros exemplos.

As compulsões podem dimi-nuir os sentimentos desagradá-veis decorrentes das obsessões,como ansiedade, nojo ou des-conforto.

O diagnóstico do TOC podeser feito por meio de uma con-sulta médica detalhada, confor-me questionário da AssociaçãoPsiquiátrica Americana. Deacordo com os dados divulga-dos pela Associação, o TOC éuma doença crônica que podeevoluir com períodos de melho-ra e piora ou com sintomas con-tínuos variando de intensida-de.

Segundo pesquisa feita emdiferentes países, inclusive noBrasil, cerca de 2,5% das pesso-as já tiveram TOC, ou seja, 25em cada mil pessoas sofremcom obsessões e/ou compul-sões em algum momento desuas vidas. O tratamento do

TOC envolve aspectos educaci-onais, abordagens psicológicas,psicofarmacológicas e, em casosextremos, neurocirurgia.

Segundo a psicóloga Fer-nanda Pascoto de Souza, o tra-tamento é feito por meio de vá-rios métodos, como medicações,terapia cognitivo-comportamen-tal (TCC), entre outros, que sãousados de forma independenteou em associação, e que pode-rão ser complementados pornovos estudos tecnológicos,como a Estimulação MagnéticaTranscraniana Repetitiva(rTMS). Esta nova tecnologia al-tera a atividade cerebral mu-dando campos magnéticos epermitindo que a atividade cor-tical possa ser estimulada ouinterrompida.

O piloto agrícola ValdemarAntonio Lima, paciente do Hos-pital de Clínicas, faz acompa-nhamento no grupo de TOCdesde 2008. Lima, que sofre dadoença desde os 10 anos, dizque o tratamento o ajudou a re-conhecer a doença e a se auto-controlar diante das crises.“Agora consigo viver melhor”,conta. Lima só descobriu que ti-nha TOC há cinco anos, quan-do sofreu de depressão. Foiquando começou a frequentarpalestras e começou a integraro grupo de tratamento de TOC.

Muitas vezes as pessoas quesofrem do transtorno são incen-tivadas a procurar ajuda pelaprópria família. É o caso da fi-sioterapeuta Maria Clara Fer-nandes, que foi alertada por fa-

miliares em relação a algunscomportamentos. “Eles se infor-maram ao longo do tempo e mesugeriram tentar ir ao grupo deTOC para ser avaliada e paraconfirmar o diagnóstico”, dizMaria, que sofre de TOC desdeos cinco anos.

> Sem saberMuitos portadores do trans-

torno não sabem que têm a do-ença, como a secretária LurdesMeneses, de 32 anos, que sofrede TOC desde os oito anos."Quando era mais nova, arru-mava gavetas, armários, livros...sempre me achei uma pessoaorganizada. Nunca tive ideia deque eu fosse uma pessoa doen-te. Com o tempo, passei a se-guir um ritual para limpar meuquarto, que durava quatro ho-ras, e isso passou a me incomo-dar, mas não sabia exatamenteo que estava acontecendo. Atéque depois de adulta procureiajuda”, conta. É comum a pre-sença de outras patologias as-sociadas ao TOC, o que os mé-dicos chamam de comorbidade.Dentre essas, estão tiques, ano-rexia, bulimia e outros.

> Famosos e suas maniasMania de estrela. É assim

que muitos podem entender al-guns comportamentos de famo-sos.

O cantor Roberto Carlos éum exemplo disso. Ele costuma-va entrar e sair de um ambientesempre pela mesma porta, nãousava roupas da cor marrom e

que é

Saúde

> Lavar as mãos cemvezes por dia, até elasficarem vermelhas e“em carne”

>Fechar e tornar afechar a porta antes deir para o trabalho tododia por meia hora

>Guardar por 19 anosjornais “por acaso”,sem nenhum sistemade arquivamento oubusca

>Necessitar bater deleve na moldura deuma determinadaporta 14 vezes antesde entrar>Gastar horascolocando em ordemalfabética todos ositens do armário dacozinha

>Infalivelmente, lavaras mãos antes decada refeição

>Verificar e tornar averificar se a porta decasa e as janelasestão fechadas todasas noites antes de irpara a cama

>Dedicar todo tempolivre e dinheiro paramontar uma coleçãode arte

>Um músico que repeteuma passagem difícilvárias vezes até obter aperfeição

>Não ir embora doescritório até que amesa esteja limpa e asgavetas, vazias

nem assinava contratos na faseminguante da Lua. Com trata-mentos, o cantor passou a sesentir melhor.

Luciana Vendramini sofre domesmo distúrbio. A atriz criourituais para começar bem o dia,tomar banho e comer. Em razãodas suas manias, ela já ficouhoras debaixo do chuveiro, masa doença também foi controladapor meio de tratamento especi-alizado.

O apresentador Jô Soaresconfessou recentemente em seuprograma que sofre de TOC. Jôafirma que desenvolveu a doen-ça com a idade e, atualmente, to-

dos os quadros de sua casatêm que estar levemente tom-bados para a direita.

Outra famosa que admiteter a doença é a atriz Came-ron Diaz, que apesar de seruma pessoa pública, não su-porta compartilhar germes e"fluídos" com outras pessoas.Cameron esfrega as maçane-tas das portas antes de entrarem algum lugar que as deixabrilhando. Além disso, elatem mania de limpeza: lavaas mãos e o piso várias vezesdurante o dia e usa os coto-velos para abrir portasColaborou Aline Reis

Thomas Picard/ Divulgação SXC

Lance Hancock/ Divulgação SXC

Kriss Szkurlatowski/ Divulgação SXC

Tim van de Velde/ Divulgação SXC

TOCTOCÉ NÃ

O É

doençamaniaA

Ações descontroladas podem ser sintomas doTranstorno Obsessivo Compulsivo, que afeta maisde 25 mil pessoas, segundo pesquisa

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Curitiba, terça-feira, 11 de maio de 20106

O nu artístico é a visão de um artista em re-lação ao corpo humano, sua forma e sua bele-za, sem expressar a sexualidade na obra. Mui-tas vezes tido como vulgar, o nu artístico mos-tra a sensualidade de uma maneira diferentedo que estamos acostumados, fugindo comple-tamente do padrão das exibições pornográfi-cas que circulam na mídia hoje em dia. O nuartístico trata da simples apreciação do corpohumano, dentro de diferentes padrões, gostose fetiches.

Depois de séculos de exaltação do belo, nasesculturas gregas e nos afrescos romanos, napintura as primeiras obras a serem considera-das como nu artístico são as do Renascimen-to, mais precisamente do período do Quatro-cento (século XV), representado, entre outros,por Michelangelo, Botticelli e Bronzino. Era aruptura das pinturas sem perspectiva e compoucas cores, assim como a ruptura do pudorimposto pela Igreja. Surgiriam imagens de deu-ses gregos, anjos e até mortais nus ou seminus.

A cada século seguinte surgiria um novogrande pintor e uma nova grande obra de nu.Da “Vênus”, de Velázquez, à “Lição de Ana-tomia de Dr. Tulp”, de Rembrandt, seguidospor Goya e sua “Maya Desnuda”, Manet e opolêmico “Almoço na Relva”, e Renoir com“As Grandes Banhistas”. Quando surgem en-tão as primeiras fotografias, o mundo da artee a maneira de retratar o ser humano mudamcompletamente.

Fotografar pessoas nuas não está numsimples click instantâneo. É preciso ter mui-ta sensibilidade. O retrato da forma humananua, depois de muitos séculos de tradição,não poderia deixar de ser feito por máquinasfotográficas. Atualmente, o nu artístico circu-la aos milhares na internet, das mais ingênu-

Camilla Di LuccaEscreve quinzenalmente sobre arte,sempre às terç[email protected]

“Psicose”, filme de Alfred Hitchcock adaptado do livrode Robert Bloch, é um dos melhores filmes de suspense queexiste até hoje. Além do renomado diretor, conta com um ex-celente elenco, incluindo o ótimo Anthony Perkins. Trata-seda história da secretária que tem problemas amorosos e re-lacionados ao dinheiro. Na primeira oportunidade, cometea loucura de roubar US$ 40 mil e se torna alvo da curiosida-de dos espectadores.

O trailer, no qual o próprio diretor apresenta as locaçõese a restrição de não ser possível entrar na sala de cinemaapós o início do filme, tornou tudo ainda mais excitante.Além dessas novidades, o longa foi o primeiro a mostrar umvaso sanitário. A cena foi adicionada especialmente pelo ro-teirista Joseph Stefano, que ainda era inexperiente quan-do o escreveu.

Lançado em 1960, “Psicose” custou US$ 800 mil e fatu-rou US$ 50 milhões no mundo todo. A famosa cena do as-sassinato durante o banho levou sete dias para ficar pronta,e o som do esfaqueamento vem de golpes deferidos contraum melão. Os cortes do filme dão a impressão de facadas,técnica genial do rei do suspense.

Apesar das limitações dos equipamentos da época, o fil-me se tornou sem dúvida uma referência cinematográfica. Atrilha sonora legendária é conhecida até mesmo por quemnunca assistiu a “Psicose”.

Quem assiste não pode deixar de sentir certo receio quan-do vai tomar banho... Uma história imperdível com um exem-plo de excelência do maestro do suspense Hitchcock, vale apena conferir.

Mestre supremodo suspense

Larissa CoutinhoEscreve quinzenalmente, às terças-feiras,sobre assuntos ligados à década de [email protected]

Anos 60

Alfred Hitchcock usa sacadas geniais para dirigirum dos grandes sucessos dos anos sessenta

Reprodução

O assassinato no banho: a cena maisinstigante de “Psicose”

as cenas no Flikr e Tumblr, como é o caso defotos das jovens Olivia Bee e Annette Pehrs-son; aos ensaios mais profissionais, de artis-tas como os de Ruth Bernhard, Robert Map-plethorpe e Imogen Cunningham. Existemtambém os sites direcionados ao estilo alter-nativo de nu artístico, como o caso do Suici-de Girls (que entra na estilo softcore, com umconteúdo mais ousado, embora não porno-gráfico), que exibe as chamadas Nude Pin-Ups. Também há o Mod Fetish, onde váriaspessoas diariamente postam suas fotos favo-ritas de nu artístico, estas que variam aosmais diversos estilos.

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O nu artísticoArte

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Curitiba, terça-feira, 11 de maio de 2010 7

Com pés mágicos emãos que operam vidas, Dr.Sócrates foi capitão da SeleçãoBrasileira na Copa de 82 e umdos líderes da Democracia Co-rinthiana. Eleito pela FIFA umdos 125 melhores jogadores dahistória do futebol ainda vivos,hoje ele segue a carreira de mé-dico que iniciou junto à vidafutebolística. Nessa entrevistapara LONA ele falou sobre di-versos assuntos, entre eles Co-rinthians e Seleção Brasileira.

Como você se sente tendo fei-to parte daquela seleção dacopa de 1982? Aquele era um grupo fantásti-co, mas isso não tem muita im-portância não. O importante éo que você é, e não o que vocêfaz ou participou.

O Doutor vê alguma seme-lhança entre a seleção de1982 e o movimento das Di-retas-Já?Ambos uniram o povo brasi-leiro, só que na Copa foi o fu-tebol arte que nos uniu. En-

quanto nas Diretas o povo seuniu em busca de seus direi-tos. A seleção era uma expres-são artística que também faziaparte da nossa cultura, já asDiretas foi um movimento po-lítico, a única semelhança en-tre as duas foi mostrar o quan-to o povo brasileiro se une,apesar de hoje em dia o brasi-leiro só se unir a cada quatroanos no mês da Copa.

E hoje como que fica o coraçãoperto da Copa do Mundo?Torcendo pelo Brasil. Mascomo hoje eu penso em futebol,escrevo sobre futebol, não pos-so me dar ao luxo de ser faná-tico. Quem tem visão críticanão pode ter visão apaixonada,tem que ser torcedor uma vezou outra, apesar de querer vero Brasil campeão sempre.

Você perdeu um pênalti nasquartas de final da copa de86 contra a França. Foi umdos piores momentos da suacarreira?Nada disso! O duro foi perdera mulher que eu amava. Pênal-ti todo mundo perde, é uma

questão de trabalho, isso nãovale nada. Entenda o seguin-te: é muito mais importanteuma lágrima do que um sacode dinheiro; é muito mais im-portante um carinho, um abra-ço, do que um gol na Copa doMundo. É muito mais impor-tante um amor, do que sercampeão do mundo.

A Democracia Corinthianafoi o maior movimento ideo-lógico da história do futebolbrasileiro. Como esse fatoafetou os jogadores do clubea ponto de uma melhora den-tro dos gramados?A Democracia Corinthiana co-locou uma postura educativano clube, todos tinham o mes-mo direito; do roupeiro ao jo-gador de maior salário, o va-lor dos votos era igual. Tínha-mos uma postura igual a quetodo o povo brasileiro queria:a de igualdade. E outra, nãomudou os jogadores, não mu-dou os dirigentes, isso pro-porciona uma melhora tre-menda dentro de campo, co-meçamos a jogar livres, sempressão, tínhamos poder de

Danilo GeorgeteHumberto Frasson

Entrevista

na bola e na simpatiadecisão, isso ajuda o jogador.

O Doutor acha que hoje o Bra-sil já é por completo um paísdemocrático?Ainda não. Hoje só temos direi-to a voto, precisamos ter umademocracia social e econômicatambém, e estamos muito dis-tante disso.

Hoje em dia tem algum joga-dor que desperta o seu inte-resse de ver jogar?Existem muitos jogadores bons,mas o Paulo Henrique Ganso éum jogador que se diferenciados outros. É inteligente, en-xerga bem os espaços no cam-po, é bonito de se ver jogar.

Hoje é difícil a torcida criaruma identidade com os joga-dores, a culpa é do futebolcomercial?Hoje o jogador fica muitopouco tempo no clube, nãodá pra criar uma paixão,amor. Se você fica um dia nacasa de alguém não tem comoconhecer a fundo a pessoa,tem que ficar anos conviven-do com ela pra saber se vocêsse gostam ou não. Hoje nin-guém para em lugar nenhumé uma rotatividade muitogrande, não dá pra criar umsentimento de quem fica dezou 15 anos como os jogado-res ficavam no passado. Aforma com que clube e joga-dor se relacionam atualmen-te é diferente, e isso tem queser respeitado.

Falta personalidade nos joga-dores atualmente, já que mui-tos são manipulados por seusempresários?Não é falta de personalidade,é falta de educação. Tem quedar educação para esse povo,senão vai ficar por isso mesmo,vão ser manipulados pro restoda vida , e não só por empre-sários, mas por técnicos, diri-gentes e até mesmo os filhos.Às vezes o filho de três anos émais inteligente do que o cara

Reprodução/ corinthians.com.br

Fernando Mad/ Lona

de 30 que vai jogar no seu time,e isso está claro, tem que edu-car esse povo, e não são só osjogadores, todos os brasileirostêm que ser educados. E a obri-gação é do estado.

O Doutor jogou no Corinthi-ans, Botafogo de Ribeirão Pre-to, Fiorentina, Flamengo eSantos. Qual destes clubes foisua maior paixão?O Botafogo foi o clube que co-mecei, é um carinho especial, écomo sua primeira namorada.O Corinthians foi o clube queme deu visibilidade, foi poronde cheguei à seleção, foi mi-nha primeira esposa, aquelaque deixa marcas profundasno coração. A Fiorentina foi otime que me acolheu na Euro-pa. O Flamengo é o Flamengo,qual jogador não sonha podervestir a camisa dos clubes commaiores torcidas do Brasil? Euvesti as duas. O Santos era otime que torcia na infância, en-tão teve um sentimento especi-al. Mas a minha marca é o Co-rinthians, não que os outros te-nham sido piores. Eu me apai-xonei por todos.

Como foi conciliar o futebolcom o curso de medicina?Foi difícil, mas dava maisimportância para a faculda-de, o futebol foi um acidentede percurso na minha vida,um bom acidente por sinal.Só me dediquei mesmo aofutebol depois que concluí afaculdade, não que despre-zava os treinamentos, massim a importância que eudava foi maior.

Pode pintar alguma sur-presa na convocação doDunga?Ah, é difícil adivinhar isso.É mais fácil entender a cabe-ça da Branca de Neve do quedo Dunga (risos), mas tenhocerteza de que ele vai fazer omelhor para seleção. Se tiveralguma surpresa deve ser oGanso.

DoutorSócrates (em destaque) e o time da Democracia Corinthiana

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Desde o dia seis, o Museu Oscar Niemeyer recebe aexposição “Come In: design de interiores como meio de artecontemporânea na Alemanha”. A mostra conta com trabalhos de25 artistas alemães, interligando o mundo das belas artes com odo design aplicado à arquitetura, móveis e objetos usados no diaa dia. As obras refletem o pensamento de vanguarda dos artistasalemães.Onde: Museu Oscar Niemeyer fica na Rua Marechal Hermes, 999,Centro Cívico.Quando: De 6/5 a 19/9Preço: R$ 4 (inteira) e R$ 2 (meia entrada)

Design Alemão

Rodrigo Cintra

Cultura

Natural de Campo Largo,região metropolitana de Curiti-ba, Marcelo Ferreira, ou Di Fer-ra, é um dos cinco brasileirosescolhidos pela FIFA (FederaçãoInternacional de Futebol) paraparticipar do Fine Art Collecti-on. A exposição reunirá traba-lhos de artistas de 32 países,que abordam a Copa do Mun-do e a África do Sul. Em entre-vista, Di Ferra fala sobre o seutrabalho e suas expectativaspara o evento.No seu quadro “Celebração doMundo”, você utiliza elemen-tos do futebol de uma manei-ra pouco convencional, princi-palmente nas cores, estilizan-do o verde e amarelo, porexemplo. Como você chegou aesse resultado?Quando recebi o convite, em no-vembro de 2008, foi um presen-te de aniversário, só que umpouco atrasado. A primeira coi-sa que me veio à cabeça foi queartistas vão usar jogadores defutebol, bola, aquela coisa bemnítida; e eu não quero fazer isso.Eu quero fazer uma arte comcontexto, um trabalho para aná-lise. A pessoa que vai para uma

exposição tem que parar na fren-te e analisar o contexto da obra,procurar todos os detalhes queeu quis passar com o tema queeles impuseram: Copa do Mun-do e África do Sul. Eu trabalheiem cima disso em um estudo,depois fui trabalhar na tela. Éuma tela pequena, relativamen-te. Nessa telinha eu usei mais de54 cores diferentes, e ela não fi-cou agressiva, ficou gostoso deolhar o trabalho. Recebi os para-béns dos artistas aqui do Brasil.Um deles me falou: “Enquantotodos nós estamos seguindo emfrente, você foi o único que saiupor outro caminho. Fez umaobra totalmente diferente.” Ago-ra é aguardar e ver o que vaiacontecer para frente. A sorteestá lançada.Por que o uso da Pop Art? Doexpressionismo, de tanta cor?Eu acho que é uma coisa quedeve estar no sangue. Eu nãoconsigo trabalhar em nada quenão seja com cor, acho quetransmite muita alegria e paztambém. Todo mundo fica ale-gre, quer procurar alguma coi-sa para espantar o mau humor.No site oficial do Fine Art Col-lection encontramos a seguin-te afirmação: “A sua obra não

Pam

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Copa do mundotambém é arte

Di Ferra afirma que,quando faltarinspiração, eledividirá seus quadrosem várias partes paracomeçar tudo de novo

“Eu acho que é uma coisa que deve estar no sangue. Eu nãoconsigo trabalhar em nada que não seja com cor, acho quetransmite muita alegria e paz também” Di Ferra, artista

deve ser olhada apenas com osolhos, porque você corre o ris-co de não entender”. O queisso quer dizer?O meu trabalho é um trabalhode emoções. A pessoa tem quever a emoção na obra, o que eutransmito no meu trabalhopela brincadeira, pelo coloridoe pelos círculos. Tudo o que eufaço ali é diferente para cadapessoa.A FIFA vai promover a expo-sição em 32 países simultane-amente, com isso você vai ga-nhar muita visibilidade. Quaissão as suas expectativas?Isso apareceu na minha vidaporque devo ter alguma coisaboa no meu trabalho e em mimtambém, para estar em um pro-jeto desses sem gastar nada.Agora é esperar até acabar aCopa e ver o que vai acontecer,porque isso é imprescindível.Eu não costumo criar muitasexpectativas do tipo: “Ah, vouficar superfamoso, vender ummonte de quadros”. Enquantonão acontece, eu prefiro ficarcom o pé no chão e pensar:“Pode vender como pode nãovender”. Mas o meu nome,Campo Largo e o Paraná vãoestar em 32 países.

A dupla sertaneja Zezé de Camargo e Luciano retorna aCuritiba para apresentar seu novo show: “Duas Horas deSucesso”. O repertório é formado por músicas que marcaram acarreira dos irmãos goianos, como “Tristeza do Jeca”, “A Ferro eFogo” e “Nunca Amei Ninguém Assim”, entre outras.Onde: Teatro Guaíra (Praça Santos Andrade, snº, Centro).Quando: Quarta e quinta, às 21hPreço: R$ 120 a R$ 240

Sertanejo

Imagine assistir a uma tragicomédia em praça pública dedentro de um gigantesco cubo de acrílico. Agora, imagine queeste espetáculo acontece em meio às pessoas que transitam pelolocal. Esta inusitada apresentação se chama “Espaço Outro”, eestá sendo apresentada na Praça Santos Andrade pela ACRUELCompanhia.Onde: Praça Santos Andrade, Centro.Quando: Terça a sábado, às 16h30.Preço: Gratuito.

Na Praça

RetrospectivaEsta dica é para quem gosta de futebol. A Seleção Brasileira

é o tema da exposição “Palladium na Copa”. Espalhadaspelo shopping, estão 40 imagens inéditas de grandes no-mes do fotojornalismo, que mostram os jogos da Seleçãodesde o início da Copa da Alemanha até as eliminatóriaspara a Copa da África do Sul. Para esta exposição, o shop-ping reservou ainda mais uma novidade. Usando apenasum celular, o visitante tem acesso a informações sobre osjogos de que a seleção participou e outras fotos por meiodo aplicativo Bee Tagg (disponível para download no localgratuitamente).Onde: Palladium Shopping Center (Av. Presidente Kenne-dy, 4121, Portão)Quando: Segunda a sexta, das 11h às 23h; sábado, das 10hàs 22h; domingo, das 14h às 20h.Preço: Gratuito.

Pamela Almeida

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