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Curitiba, segunda-feira, 26 de setembro de 2011 [email protected] @jornallona lona.up.com.br O único jornal-laboratório DIÁRIO do Brasil Ano XII - Número 650 Jornal-Laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo Curitiba, segunda-feira, 26 de setembro de 2011 Especial | SAÚDE HIV Pág. 3 Anorexia e Bulimia Pág. 4 e 5 Planos de saúde Pág. 6 Diabetes infantil Pág. 7 Câncer infantil Pág. 8 A saúde pública está relacionada com o desenvolvimento efetivo do Brasil. Somos um país capaz de pro- duzir medicina de Primeiro Mundo e incapaz ao entregar esses avanços à população. Somos referência em diversas áreas técnicas, entretanto muitos hospitais amargam filas para atendimento.Um dos grandes desa- fios de nosso país - e de nosso tempo - é conciliar crescimento econômico com aumento do bem-estar social. Saúde brasileira: psicologia e retrato Aline Lima

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JORNAL-LABORATÓRIO DIÁRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVERSIDADE POSITIVO.

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O único jornal-laboratório

DIÁRIOdo Brasil

Ano XII - Número 650Jornal-Laboratório do Curso de

Jornalismo da Universidade Positivo

Curitiba, segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Especial | SAÚDE

HIV Pág. 3

Anorexia e Bulimia Pág. 4 e 5

Planos de saúde Pág. 6

Diabetes infantil Pág. 7

Câncer infantil Pág. 8

A saúde pública está relacionada com o desenvolvimento efetivo do Brasil. Somos um país capaz de pro-duzir medicina de Primeiro Mundo e incapaz ao entregar esses avanços à população. Somos referência em diversas áreas técnicas, entretanto muitos hospitais amargam fi las para atendimento.Um dos grandes desa-fi os de nosso país - e de nosso tempo - é conciliar crescimento econômico com aumento do bem-estar social.

Saúde brasileira: psicologia e retrato

Aline Lima

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EditorialOpinião

O jornalismo tem um papel preponderante nas temáticas relacionadas à saúde: bem infor-mar, conscientizar, desenvolver campanhas, intermediar diálogos, antecipar movimentos, promover o debate, identificar concepções, tensões existentes com a saúde coletiva e abrir espaço para a contradição – porque a saúde necessita de muita reflexão crítica e de res-ponsabilidades redimensionadas.

Acima disso tudo, o jornalismo é um hu-manismo, o preenchimento do vazio informa-tivo através da sensibilidade.

Um jornal-laboratório como o Lona de-manda encargos ainda maiores quando trata de educação, cultura e saúde – assuntos mui-tas vezes intrinsecamente conectados.

Somos acadêmicos em desenvolvimento pleno de suas capacidades. Uma pauta sobre crianças com câncer exige de nós uma sensi-bilidade humana especial, muitas vezes an-terior, a capacidade individual de lançar um olhar delicado sobre grupos diante de situa-ções extremas, humanizá-los e dignificá-los.

(Não que isso seja requisito dispensável em outras editorias.)

As consequências da Revolução Industrial trouxeram para a dinâmica diária do jorna-lismo os procedimentos em série, o organo-grama, a produção de resultados e o viés ca-pitalista definitivo. (Além de reconhecermos que a mídia determina padrões prejudiciais à saúde.) Entretanto, assuntos como diabetes em crianças, anorexia, bulimia e AIDS pedem bem mais do jornalista e das organizações. Pedem a reflexão sobre discursos que são pri-vilegiados ou silenciados, a busca incessantes do espírito humano mais profundo: o olhar irmão sobre o outro.

Uma boa leitura a todos.

Um imposto a menos, para os ricosRodrigo Cintra

A Câmara dos Depu-tados chegou a uma deci-são anteontem sobre um fantasma que parecia as-sombrar os brasileiros: a nova CPMF. Batizado de CSS (Contribuição Social da Saúde), o projeto foi inviabilizado quando os deputados aprovaram, por 355 a 76, uma sugestão do DEM que retira a base de calculo do imposto, impe-dindo que seja aplicado. Trocando em miúdos, isso quer dizer que não teremos mais que pagar o CSS. Isso é bom? É, mas, na prática apenas para uma minoria de brasileiros, a mais rica.

O imposto, que deveria gerar renda a ser usada em gastos com saúde pública,

era criticado por políticos da base aliada e pelos opo-sitores desde a sua criação com as alegações de que era desnecessário e que o brasileiro não queria pa-gar mais um imposto. Mas sua aplicação, na verdade, seria apenas entre as clas-ses B e A, uma vez que o imposto incenderia ape-nas nos ganhos de quem tivesse renda individual mensal maior que R$ 3080 – grupo no qual não se enquadram os jornalistas, por exemplo. Não foi toa que o PT era o único par-tido a favor da criação do imposto durante a votação da proposta.

Com o fim da discussão sobre o imposto, os gover-

nadores de 14 Estados e representantes de outros sete se reuniram ontem com o presidente da Câ-mara, Marco Maia (PT-RS), para discutir formas de fi-nanciar a saúde.

A criação de um impos-to para arrecadar dinheiro para financiar a saúde, no entanto, não foi descartada ainda. Entre as sugestões, está uma do próprio Maia, para que a taxa seja aplica-da a apenas grandes fortu-nas. Outra sugestão prevê a reversão ou a criação de impostos sobre produtos que possam causar pro-blemas de saúde, como o cigarro e as bebidas alco-ólicas, assim como deveria ser.

SickoDaniel Zanella

Em 2007, o polêmico ci-neasta norte-americano Mi-chael Moore lançou “Sicko – S.O.S. Saúde”, documen-tário investigativo sobre o paradoxal sistema público de saúde dos EUA: a maior economia do mundo não é capaz de oferecer à sua po-pulação um plano de saúde gratuito que possa atendê-la quando ela não tem re-cursos para pagar.

Entre diversas incon-gruências e relatos de situ-ações absurdas, o cineasta aponta as imensas dicoto-mias do próprio sistema capitalista e de como os planos de saúde enxergam os clientes norte-america-nos – naquele tom peculiar de autores verborrágicos e com um pé e meio no ra-

dicalismo e manipulação. Com direito à ida ao Cana-dá e Cuba.

Em 2009, Barack Oba-ma, enfim, conseguiu aprovar no Congresso um plano nacional de saúde pública, mas com signifi-cativa perda de enverga-dura política e abertura de severas concessões.

É o jogo.Em relação aos EUA,

Brasil é um bom tanto mais adiantado em polí-ticas públicas de saúde. O SUS (Sistema Único de Saúde) foi criado em 1988, mas é símbolo da ineficá-cia, corrupção e demora em atendimentos. Muitos hospitais nacionais estão sucateados e incapazes de atender seus pacientes

com a tecnologia necessá-ria. Pergunte a recepcio-nista do postinho quanto tempo demora para agen-dar uma consulta com um ortopedista.

Mas há nesse histórico alguns pontos positivos. O Brasil foi o primeiro país a derrubar as patentes dos medicamentos de comba-te à AIDS e a proporcionar aos soropositivos por pre-ços acessíveis os famosos coquetéis.

A situação da economia brasileira é favorável e in-vestimentos mais amplos podem adequar a saúde nacional ao seu tempo e às suas necessidades. Entre-tanto, sabemos das dificul-dades políticas de aplica-ção correta de recursos.

ExpedienteReitor: José Pio Martins | Vice-Reitor e Pró-Reitor de Administração: Arno Gnoatto | Pró-Reitora Acadêmica: Marcia Sebastiani | Coordenação dos Cursos de Comunicação Social: André Tezza Con-sentino | Coordenadora do Curso de Jornalismo: Maria Zaclis Veiga Ferreira | Professores-orientado-res: Elza Aparecida de Oliveira Filha e Marcelo Lima | Editores-chefes: Daniel Zanella, Laura Beal Bordin, Priscila Schip

O LONA é o jornal-laboratório do Curso de Jorna-lismo da Universidade Positivo. Rua Pedro Viriato Parigot de Souza, 5.300 -Conectora 5. Campo Comprido. Curitiba -PR CEP 81280-30 Fone: (41) 3317-3044.

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Curitiba possui mais de 10 mil portadores do vírus HIVLarissa Nichele

O último Boletim Epide-miológico, de 2010, mostrou que a incidência de AIDS na cidade de Curitiba caiu 75% em dez anos. Enquanto em 2010 a taxa estava em 10,6 pessoas contaminadas para cada grupo de 100 mil, em 2000 eram 41,7 por 100 mil. Essa queda demonstra um intenso avanço nas ações de prevenção da doença. No Paraná, estima-se que 21 mil pessoas contenham o vírus enquanto no Brasil, há quase 600 mil casos registrados de AIDS até junho de 2010.

De acordo com os últimos dados, a região Sul do país destacou-se pela maior taxa de detecção da doença em 2009, 12,6 casos por 100 mil habitantes. Os novos dados também demonstram uma maior incidência de casos entre os mais jovens, de 13 a

24 anos, decorrentes das inú-meras relações sexuais sem prevenção e com parceiros desconhecidos.

Chamou atenção a redu-ção da incidência de casos, em 44%, nas crianças meno-res de 5 anos, comparando o intervalo de 10 anos entre 1999 e 2009. Vários estados do país apresentaram taxa de incidência menor que 1 caso por 100 mil habitantes.

“A Aids é uma questão de saúde pública que envol-ve, direta ou indiretamente, toda a população do Brasil, não apenas a população se-xualmente ativa. Não pode-mos negar que os números do último boletim epidemio-lógico já demonstram uma melhora em alguns setores, porém ainda há muito o que fazer”, afirma a psicóloga Roberta Lunardon.

TransmissãoO vírus do HIV pode ser

transmitido de maneira se-xual, sanguínea e pelo leite materno, tendo como fatores

COA oferece teste rápido e gratuito

O Centro de Orientação e Aconselhamento (COA), de Curitiba, promove a testagem rápida de HIV. O teste é rea-lizado por agendamento ou encaixe, com atendimento de segunda a sexta feira das 7 às 18 horas. Qualquer pessoa tem a possibilidade de fazer o exame, saindo com o resulta-do dentro de 1h30min.

Dados do próprio serviço mostram que de janeiro a 23 de agosto, deste ano, foram atendidas 3267 pessoas, sen-do que 217 delas obtiveram resultado positivo no exame. Deste total, 7.64% são homens

e 4.5% são mulheres. A autori-dade sanitária do local, Dulce Blitzkow, diz que promove palestras em empresas a fim de incentivar a população a realizar o exame.

O diagnóstico da infec-ção pelo HIV é feito a partir da coleta de sangue. Além do COA, os testes gratuitos são disponibilizados gratui-tamente em todos os postos de saúde do SUS e na UFPR, para os alunos. Já em clínicas particulares são cobrados, em média, R$ 150. Os exames podem ser feitos inclusive de forma anônima.

Acoa apoia portadores de HIV há 16 anos

A Associação Curitibana dos Órfãos da AIDS é um espaço que, há 16 anos, abriga menores, de 0 a 15 anos, que sofrem do vírus do HIV. Atualmente a casa atende 30 crian-ças e adolescentes que foram abandonadas, ou possuem mães falecidas ou então, famí-lias sem condições de dar sequência ao tra-tamento da doença.

A voluntária do local, Joice Raimann, explica que as crianças são encaminhadas pelo conselho tutelar e que a casa sobrevi-ve apenas por doações, além de uma verba bimestral concedida pela Fundação de Ação Social (FAS). A equipe é formada por 17 fun-cionários, além dos prestadores de serviço e voluntários que constituem a administração do local. Por conta das tarefas diárias, como escola e tratamento médico, as visitas são pré agendadas e realizadas somente durante os finais de semana, aos sábados é destinada a comunidade e aos domingos às famílias.

Além da casa de apoio, a Associação ofe-rece cestas básicas, roupas e medicamentos a 70 famílias cadastradas no Programa Social e que possuem seus membros (pai e mãe) com condições de terem seus filhos junto de si, morando em seus domicílios.

ESPECIAL SAÚDE

de risco para essa transmis-são variações frequentes de parceiros sexuais sem uso de preservativo; utilização de sangue sem o controle de qualidade; uso comparti-lhado de seringas e agulhas não esterilizadas; gravidez em mulher infectada pelo HIV e recepção de órgãos ou sêmens de doadores infecta-dos.

O tratamento é realiza-do pelo chamado ‘coquetel’, que recebeu vários avanços nos últimos anos. Além dis-so, a partir de 1995 o Minis-tério da Saúde recomenda a utilização de terapia combi-nada com duas ou mais dro-gas antiretrovirais. Segundo dados do Ministério da Saú-de, cerca de 200 mil pessoas recebem regularmente os re-médios para tratar a doença. Vale ressaltar que o Brasil é um dos poucos países que financia integralmente a as-sistência ao paciente com AIDS, com uma estimativa de gastos, de 2% do orça-mento nacional.

Divulgação

Acesso a coquetéis evoluiu muito nos últimos anos, permitindo o tratamento acessível de milhares de soropositivos.

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Anorexia e bulimia, um modo de viverJovens doentes assumem transtornos alimentares como formas de se obter um corpo perfeito

“Não é uma coisa que você consiga pensar assim ‘ah eu quero ser magra’, não. É que eu preciso ser, eu preciso ser magra. Se eu não for magra eu vou mor-rer, porque isso é minha vida, é a base”. Esse era o pensamento de Clara* quando estava no auge da anorexia.

Clara tinha 16 anos quando teve anorexia e 18 quando sofreu de crises de bulimia. Na época, ela sabia que estava doente, sa-bia e se orgulhava. Embora a anorexia seja um transtorno ali-mentar bastante grave, Clara não o encarava como doença e sim como uma forma de se chegar ao corpo ideal.

Os transtornos alimentares, anorexia e bulimia, têm sua ori-gem intimamente ligada à busca pela forma perfeita. Inseridos em uma sociedade pautada pelo consumismo e por uma espécie de ditadura da beleza, os dis-túrbios ultrapassam o conceito de doença para serem tomados como estilo de vida.

Anorexia e bulimia

A anorexia é o transtorno ali-mentar em que o paciente deixa de se alimentar ou se alimenta muito pouco em busca da ma-greza. Os anoréxicos costumam praticar muito exercício e não admitem estarem magros mesmo quando o seu peso está bastante inferior ao ideal. Já a bulimia é o transtorno alimentar caracteriza-do por episódios recorrentes de ingestão compulsória de grande quantidade de alimento, em que após esses episódios, o pacien-te tenta vomitar e/ou evacuar o que comeu, através de artifícios

como medicações, pelo medo de engordar.

Números

De acordo com o Ministé-rio da Saúde, a anorexia atinge cerca de 0,5 a 1% da população, enquanto a bulimia atinge de 1 a 4%. Porém esses números não adotam caráter real, já que quem sofre dos dois distúrbios não os assumem como doença. O que aponta para possíveis números bastante superiores como é o caso dos dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) de doze anos atrás, que revelam que nos Estados Unidos uma em cada 100 mulheres de 12 a 18 anos apresentava sinais de anorexia. Enquanto no Brasil, a proporção era um pouco inferior, mas ainda alarmante, uma em cada 250 adolescentes.

Em 2002, uma pesquisa rea-lizada em Belo Horizonte (MG) com 1450 entrevistados sendo eles alunos do ensino médio de escolas públicas e privadas indi-ca os seguintes resultados: 46% sentem-se insatisfeitos com a imagem e 26% fazem algum tipo de dieta, cerca de 17% dos adolescentes provocam vômito e 8% fazem uso de diuréticos ou laxantes.

Os números da pesquisa apontam para o grau de descon-tentamento que o adolescente tem consigo mesmo. E que esse descontentamento está intima-mente ligado a questão de peso. É nesse cenário que os transtor-nos alimentares, anorexia e buli-mia, se apresentam.

Histórico

O conceito que tomamos hoje, belo é o que é digno de admiração, porém a referência do que é tomado como belo é

bastante mutável. Durante os séculos tanto a beleza mascu-lina como a feminina sofreram grandes alterações. No século XVI, por exemplo, uma mulher bela assumia um rosto delicado e bem desenhado, um colo bo-nito e cintura fina. Nessa época um dos métodos para se adequar ao conceito de belo era o uso do espartilho. No século XVIII o homem considerado belo era fortemente associado à ostenta-ção. Nessa época o uso de ador-nos como perucas e saltos eram bastante comuns. Porém, com a chegada da Revolução Industrial no século XIX, os homens dei-xam de buscar o rótulo de belos para buscar o de práticos. A vai-dade passa a ser vista como ca-racterística predominantemente feminina.

No decorrer dos séculos a

beleza feminina sofre mais al-terações passando a se valorizar o quadril e as pernas, que antes eram vistos apenas como pedes-tais. Mais recentemente, o corpo da mulher passa a ser admirado como um conjunto (busto, cin-tura, quadril e pernas). No Bra-sil e em grande parte do mundo ocidental durante as décadas de 40 e 50 o padrão estético eram quadris enormes, curvas sinuo-sas e cinturinhas de pilão, como de Marilyn Monroe e Elisabeth Taylor. Mas a partir dos anos 60 o mundo da moda trouxe o pa-drão da modelo Lesley Hornby, mais conhecida como Twiggy. A modelo de 1,67m de altura e apenas 42kg lançou o padrão das magérrimas que ultrapassou as passarelas.

O conceito de beleza ainda pode variar de pessoa para pes-

soa, porém o meio em que estão inseridos assume grande influ-ência. Atualmente, o padrão de beleza ainda permeia a magreza.

“Hoje em dia tem um culto a magreza, né? Então se você é magra você é legal. E como aquilo ali estava tomando conta de mim e eu recebia um refor-ço muito grande, isso era apoio. Tiveram vários dias em que eu ficava pensando se valia a pena, mas ai sempre tinha alguém me dizendo que eu estava linda ma-grinha”, relembra Clara.

Mídia

A mídia reforça o argumento de que a magreza é o estilo de corpo ideal apresentando mode-los e artistas cada vez mais ma-gros. Muitos desses modelos e artistas são considerados ídolos

Priscila Schip

ESPECIAL SAÚDE

Marcos Monteiro

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dos adolescentes que, por sua vez, sonham em se assemelhar com eles. Na busca dessa seme-lhança, dietas e outros métodos de emagrecimento entram no dia a dia desses adolescentes.

Em uma sociedade que vive com a máxima “Para ser belo, precisa ser magro”, revistas fe-mininas incentivam e ensinam como chegar nesse padrão dese-jado. Uma enxurrada de regimes e dietas milagrosas ganham as capas das publicações e a rotina de uma parcela da população.

A psicóloga Denise Cerquei-ra trabalha com transtornos ali-mentares há 20 anos e acredita que a sociedade, de uma forma geral, contribui para os distúr-bios. “Toda a sociedade te aju-da a ficar anoréxica porque eles só querem gente magra. É ligar a televisão e ver essas modelos passando sempre, nas novelas todo mundo é magro. Então sem perceber a gente vai se condicio-nando a só gostar de gente ma-gra. Gorda em Hollywood ou é empregada, ou a má, ou então a personagem engraçada. Nunca é a mocinha”.

Segundo a psicóloga, no co-meço elas emagrecem dois, três quilinhos só que o problema é quando de três passa para 13 e pra 14 e aí ninguém mais sabe o que fazer.

Estilo de vida

Adolescentes, em sua maio-ria meninas, encaram os dois distúrbios como estilos de vida.

As que “praticam” anorexia são “carinhosamente” chamadas de “Ana” e as “praticantes” de buli-mia se denominam “Mia”.

Essas adolescentes, Anas e Mias, têm o conhecimento de que os transtornos podem levar ao óbito, e nem isso as fazem pa-rar. Nitidamente há uma desin-formação sobre o processo que causa a morte, e por se tratar de uma concepção bastante abstra-ta, é vista com distância.

Elas pensam o dia todo em comida. Passam o dia arruman-do formas de esconder que não estão comendo, em como escon-der o quanto estão emagrecendo. Escrevem diários com o que co-meram no dia e apoiam umas às outras para conseguirem manter suas dietas desumanas.

Costumam se isolar. Não querem ouvir que estão erradas. Viver em sociedade é ficar vul-nerável. Clara deixou de lado tudo, estudos, amizades, parou de sair, parou de fazer tudo em função daquilo ali. “Tudo que você faz envolve comida, era assim que eu pensava. Ou seja, você vai no cinema, mas na ver-dade você está indo para comer pipoca, você vai na casa das suas amigas porque na verdade quer comer pizza, então não vou sair pra não comer, pra não estragar minha dieta”.

Cura

De acordo com a psicóloga Denise, elas só desistem desse

estilo de vida quando já per-deram muita coisa. “Os dentes ficam fracos, os cabelos caem, nasce uma penugem sobre a pele, os ossos do quadril impe-dem que elas possam dormir. Elas não conseguem sentar na cadeira da escola porque cutu-ca, o osso cutuca. Dormir de bruço esqueça porque o osso da bacia incomoda”.

Depois de muito sofrerem elas concordam em fazer trata-mento. Mas a cura é como de qualquer transtorno psiquiátri-co, uma depressão, um trans-torno obsessivo compulsivo, uma síndrome do pânico, ne-nhuma dessas coisas fica com-pletamente curada. O que isso quer dizer? Você fica curada da doença, mas em situações estressantes, a doença pode voltar. “Quem teve a síndrome do pânico, perdeu o emprego, pode ter pânico. Quem teve anorexia e perdeu o emprego,

pode retomar a anorexia. Tem cura, mas é recorrente. Tem que cuidar a vida inteira”.

O maior problema é que o índice de óbito em anorexia é de quase 30%. Então em cada 100 meninas quase 30 morrem. Elas normalmente morrem do coração. O coração é a primei-ra coisa que fica fraca. Além do coração, as anoréxicas fazem uma coisa que a gente chama de autofagia. Como o corpo fica sem nenhum tipo de gordura para consumir, nenhum tipo de glicose, ele começa a consumir os órgãos internos, ficando bas-tante lesionados. “Só que se ela tiver um atendimento médico, psicológico, e nutricional cer-tinho, ela sobrevive. Eu nunca perdi nenhuma paciente”.

*Clara é um nome fictício. A equipe do Lona optou por usar deste artifício para preservar a identidade da fonte.

BELING, Maria Tereza.UFMG, 2008

Marcos Monteiro

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Ministério da Saúde cobra ressarcimento para tratamentos

feito em rede públicaNeste ano a ANS já arrecadou R$ 32,6 milhões em ressarcimento junto às operadoras dos Planos de Saúde

Luisa Muraro

A relação dos planos de saúde, pacientes e rede públi-ca está muito perturbada nos últimos meses. A Agência Nacional de Saúde Suplemen-tar, a ANS, passará a cobrar dos planos de saúde um res-sarcimento se seus pacientes usarem atendimento de alta complexidade da rede públi-ca, inclusive tratamento para câncer como quimioterapia e radioterapia e até acompanha-mento psiquiátrico. Mas o din-heiro não voltará aos próprios pacientes e serão arrecadados e destinados ao Fundo Na-cional de Saúde, que serão aplicados em algumas ações estratégicas. A data para essa medida ser colocada em práti-ca não está definida.

Ainda neste mês a ANS já tinha estipulado que o res-sarcimento por internamento fosse realizado, somando até agora R$ 20.917. Já em todo

ano, depois de todas as ex-igências para com as operado-ras o Ministério da Saúde tem “em caixa” R$ 32,6 milhões.

A polêmica que se desen-rola durante o ano de 2011 é dos preços que os médicos recebem por cada consulta, que são muito baixos, o tempo de espera para marcar uma consulta por um plano de saúde que pode demorar me-ses, enquanto para marcar uma particular pode ser para o dia seguinte. Uma das principais reclamações também é quanto aos serviços obrigatórios, uma cirurgia reparadora após uma cirurgia de estômago, onde a pessoa perde muitos quilos, é facultativo, sendo que cada plano de saúde usa seu critério para cobrir ou não a cirurgia.

As medidas que estão sen-do tomadas a favor do melhor atendimento aos pacientes são intermediadas pelo Ministé-rio da Saúde, o último acordo feito foi entre médicos e anes-tesistas e o Plano de Saúde

A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) é a agência reguladora vincu-lada ao Ministério da Saúde, responsável pelo mercado de planos de saúde no Bra-sil. A ANS faz um conjunto de medidas e ações do Gov-

erno que envolvem a cria-ção de normas, o controle e a fiscalização do mercado explorados por empresas para das segurança ao in-teresse público, promoven-do sua defesa na assistência suplementar à saúde.

Você sabe o que é a ANS?Unimed, na metade do mês de agosto, que foi interme-diado por uma Promotoria de Justiça. No acordo a Unimed reajustou a tabela de hon-orários e em contrapartida os médicos continuam recebendo os honorários pela própria operadora. Os médicos ainda exigiram que fossem fixados valores específicos para cada procedimento, dependo do seu porte.

Os pacientes esperam que a situação seja resolvida o mais breve possível, tanto quanto os médicos, que querem ter uma condição melhor de tra-balho, com melhores valores a serem pagos e valorização do seu trabalho. Hoje são cerca de 46 milhões de brasileiros que possuem planos de saúde para o atendimento médico, hospi-talar e ambulatorial. Talvez isso deva envolver mais o governo, que como o serviço de saúde público não esteja satisfatório os brasileiros tem que procurar alternativas.

Como funcionam os planos de saúde- Consultas, exames e trata-mento que estiverem na lista “Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde”, separa-dos conforme cada tipo de plano de saúde. Estão na lista, por exemplo, consultas médi-cas, visitas aos pacientes in-ternados, acompanhamento clínico, exames, anestesias e tantos outros. A lista tem 90 páginas de serviços que os planos de saúde são obriga-dos a fazer. - Todos os planos tem direito a internação hospitalar do tipo obstetrícia ou não. Os

pacientes devem analisar no contrato qual o tipo do seu plano e qual a rede creden-ciada, incluindo os hospitais, laboratórios e médicos. - Especificamente sobre os hospitais, sua operadora só poderá descredenciá-los em caráter excepcional. Nesses casos, é obrigatório substituir o hospital descredenciado do plano por outro equivalente e comunicar essa mudança ao consumidor. - Quanto ao período de uti-lização e carências, que é o tempo que você terá que es-

perar para ser atendido, deve estar presente no contrato. Ex-istem algumas situações que são previamente estipulados por lei. Casos de urgência, aci-dentes, risco, são de 24 horas. Partos são de 300 dias. Doen-ças de lesões pré-existentes são de 24 meses. Demais situações são de 180 dias. Sendo esses os limites máximos, podendo ser exigido períodos menores.- Os prazos máximos para atendimentos. Consulta bási-ca, sete dias. Consulta espe-cializada, 14 dias. Urgência e emergência, deve ser imediata.

ESPECIAL SAÚDE

Departamento de Arte

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Cresce o diabetes infantil no paísA doença muda a rotina das crianças, que precisam controlar a alimentação e encarar um tratamento agressivo

Fernanda Cercal

O aumento da obesidade, as-sociado aos maus hábitos alimen-tares e ao sedentarismo fizeram crescer o número de crianças di-abéticas no Brasil. A Organização Mundial da Saúde revelou em uma pesquisa que, no país, mais de dez milhões de pessoas têm a doença, e o número de crianças diabéticas corresponde a cerca de 10% dos casos.

O diabetes é uma disfunção crônica caracterizada pela defi-ciência parcial ou total do pân-creas na produção de insulina, e pela dificuldade do organismo em utilizar o hormônio de forma cor-reta. Quando isso acontece, a taxa de glicose no sangue fica elevada e a falta de insulina faz com que o diabético careça de energia para realizar as atividades diárias.

Esse é um dos principais sin-tomas do diabetes infantil – o cansaço e indisposição frequentes não são comuns em crianças. Foi o que percebeu a professora Ana Paula Belo, que logo procurou um médico para o seu filho de quatro anos, Gustavo Belo. “Ele ficava muito cansado depois de brincar, bebia muita água e uri-nava bastante. Com os exames nós descobrimos que o Gustavo estava com diabetes do tipo 1”.

Tipos de diabetesExistem dois tipos de dia-

betes. O tipo 1 é o mais comum entre crianças de 5 a 8 anos e nos adolescentes, nessa forma da doença é necessária a injeção de insulina para regular a glicose do organismo. O tipo 2 é hereditário, e aparece quando as células têm resistência à ação da insulina. Os especialistas alertam para o crescimento desse tipo de diabe-tes nas crianças - que é consid-

erado como diabetes de adultos – por causa do aumento do seden-tarismo e da má alimentação.

Além desses sintomas, é pre-ciso que os pais fiquem atentos quando notarem que a criança sente muita fome e ao mesmo tempo perde peso, tem cicatriza-ção lenta, tremores e frequentes câimbras e formigamentos.

Rotina mudadaHoje com doze anos, Gustavo

Belo aprendeu a conviver com a doença e principalmente com o tratamento agressivo. Alguns cuidados são indispensáveis aos diabéticos como tomar os medi-camentos corretamente e man-ter uma alimentação balanceada. “Quando eu descobri a doença tive que abrir mão de muitas coi-sas na minha alimentação. Por ex-emplo, antes eu gostava de pegar uma bolacha recheada no armário e comer, hoje eu não posso. Eu tenho que medir a minha glicose sempre, e se for preciso tomar a insulina para poder comer”.

Outro hábito importante para os diabéticos são as atividades físicas, segundo a endocrinolo-gista infantil Ana Paula Freitas, - “em muitos casos pode-se di-minuir bastante a quantidade de insulina nos pacientes que fazem atividade física regular. Em al-guns, é possível até tirar alguma das doses, principalmente aquela próxima do horário dos exercí-cios.”

Essa melhora é confirmada por Gustavo, que aderiu a prática de atividades físicas e teve bons resultados. “Antes eu não prati-cava nenhum esporte, agora eu inclui essa atividade no meu dia-a-dia, e por isso minha taxa de glicose ficou mais baixa do que costuma ser”.

Os pais devem ficar atentos aos cuidados

Como as crianças diabéticas tornam-se dependente dos pais é importante que os seus respon-sáveis aprendam a tomar alguns cuidados. Os pais devem ensinar a criança a falar para um adulto sempre que sentir algo diferente em seu corpo. Além disso, é im-portante que conversem com os professores para que eles fiquem atentos ao seu filho durante a aula.

Quando a criança tem hiper-glicemia o ideal é que ela con-suma bastante água, chás de ervas e sucos dietéticos para evitar a desidratação. Além de se alimen-tar bem para manter energia no corpo. Os pais também devem aprender a ler os rótulos dos ali-mentos para saber o que estarão fornecendo para a criança, e dar preferência sempre aos alimentos diets, que são próprios para os di-abéticos.

Quanto à lancheira das crian-ças diabéticas, elas devem sempre ter sanduíches naturais, frutas, barras de cereais diet e sucos diet. A escola também tem o impor-tante papel de apoias os alunos di-abéticos que precisam resistir aos doces e refrigerantes da cantina.

PrevençãoA prevenção da doença pode

ser feita desde o nascimento. O aleitamento materno, o cuidado com alimentos desnecessários nessa fase e hábitos alimentares saudáveis com uma dieta rica em fibras, pobre em açúcares e divi-dida em seis refeições diárias po-dem diminuir as chances de con-trair a doença.

Direito do diabéticoPara o tratamento do diabetes,

o fornecimento de medicamentos e insumos é gratuito, garantidos pela Constituição Federal. Para saber onde e como retirar, as quan-tidades ou tipos fornecidos, basta dirigir-se a uma unidade do SUS.

APADA Associação Paranaense

do Diabético Juvenil (APAD) é uma entidade civil filantrópica com o objetivo principal de auxiliar na melhor qualidade de vida do diabético. Aos di-abéticos carentes a APAD ofe-rece: atendimento nutricional, psicológico, oftalmológico, além de endocrinologista e orientação de cuidados com os pés. Para estes e todos os

demais: educação em diabetes, palestras, cursos de culinária e outros. A APAD dispõe de uma farmácia especializada e um empório com alimentos e bebidas diet. Não havendo restrição para nenhum tipo de público. O horário de atendi-mento é de segunda a sexta-fei-ra, das 9h às 18h, e aos sábados das 9h às 13h.

ESPECIAL SAÚDE

Marcos Monteiro

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Curitiba, segunda-feira, 26 de setembro de 2011 8

O câncer afeta milhares de crianças em todo o mundo. Segun-do o Ministério da Saúde, cerca de nove mil casos são descobertos em crianças no Brasil todos os anos. A neoplasia pode se desen-volver em qualquer parte do organismo. Em crianças e adolescen-tes é mais comum o desenvolvimento de leucemias, tumores no sistema nervoso central e linfomas.

Apesar do câncer ser uma doença dolorosa, de difícil trata-mento e que exige disciplina diária para facilitar a recuperação, as crianças não deixam afetar o seu lado infantil. A APACN (Asso-ciação Paranaense de Apoio à Criança com Neoplasia), institui-ção filantrópica, é um ambiente que abriga crianças que necessi-tam fazer tratamentos médicos, mas moram longe dos hospitais onde tratam a doença.

Em uma visita na APACN, foi possível constatar que mesmo com as difíceis rotinas de tratamentos e formas de recuperação, elas ainda podem brincar e desenvolver sua criatividade.

O artista plástico Eduardo Gomes Dalazen faz trabalho volun-tário com as crianças que passam um período na instituição, tra-balhando com artes, pinturas e desenhos. Ele teve câncer há dois anos e hoje estimula as crianças a desenvolverem suas capacida-des, dando liberdade para expressarem seus sentimentos. Tam-bém acredita na importância de se atentar ao lado mais “criança” das garotas e garotos com quem trabalha. “Acho que crianças são muito sonhadoras, e precisam, como qualquer outra criança, de alegria, de brincadeiras, de risos, de se sentirem crianças normais, pois essa doença é passageira e logo vão conseguir o transplante que é o sonho delas, dentre outros muitos outros, mas no momen-to é esse o maior desejo delas, eu escutei isso muitas vezes.”

Janete dos Santos é mãe de Caroline Santos, 7 anos, que tem leucemia. Janete explicou que sua filha já era um pouco madura, mas que com a doença, não deixou de ser criança, continua cor-rendo, pulando, mesmo quando o tratamento que ela sofre exija um pouco mais de repouso. Explica que as crianças que possuem câncer e convivem com Caroline são muito espertas.

Nessa visita feita à instituição, localizada na capital do estado, foi possível perceber que, além das dificuldades que as crianças passam desde cedo, elas não deixam afetar o que possuem: sua alegria, seu bom humor, sua energia e, principalmente, sua espe-rança de continuarem vivas.

Além do câncerPor Aline Lima

ENSAIO FOTOGRÁFICO