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Marta Colares Nogueira ESTUDO COMPARATIVO ENTRE MANUTENÇÃO COM GANCICLOVIR E OBSERVAÇÃO EM RECEPTORES DE TRANSPLANTE ALOGENEICO DE CÉLULAS-TRONCO HEMATOPOÉTICAS PREEMPTIVAMENTE TRATADOS COM GANCICLOVIR DEVIDO À REATIVAÇÃO DA INFECÇÃO POR CITOMEGALOVÍRUS Rio de Janeiro, Agosto de 2007 Tese apresentada ao Programa de Pós- Graduação “Strictu Sensu” em Oncologia do Instituto Nacional de Câncer MS-RJ — Nível Mestrado em Oncologia Clínica. Orientadora: Drª Ilana Zalcberg Renault Co-orientadora: Dra Claudia Rocio Hassan

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Marta Colares Nogueira

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Rio de Janeiro, Agosto de 2007

Tese apresentada ao Programa de Pós-

Graduação “Strictu Sensu” em Oncologia

do Instituto Nacional de Câncer MS-RJ —

Nível Mestrado em Oncologia Clínica.

Orientadora: Drª Ilana Zalcberg Renault

Co-orientadora: Dra Claudia Rocio Hassan

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FICHA CATALOGRÁFICA

N778 Nogueira, Marta Colares

Estudo comparativo entre manutenção com ganciclovir e observação em receptores de transplante alogeneico de células-tronco hematopoéticas preemptivamente tratados com ganciclovir devido à reativação da infecção por citomegalovírus/ Marta Colares Nogueira –Rio de Janeiro: INCA, 2007.

96p. ; il. tab.

Dissertação (Mestrado) – Oncologia Clínica– Instituto Nacional de Câncer.

Orientadora: Drª Ilana Zalcberg Renault

Inclui bibliografia.

1. Transplante células-tronco hematopoéticas 2.Infecção I.

Instituto Nacional do Câncer II. Título III. Série

CDD 616.9944139

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Dedico aos meus f i lhos,

Rodrigo e Beatriz,

minha razão de viver.

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AAGGRRAADDEECCIIMMEENNTTOOSS

Ao Dr. Alexandre Mello de Azevedo, pela análise estatística e

empenho na composição deste manuscrito.

À Dra. Rocio Hassan, pela realização dos PCRs e dedicação à

composição deste trabalho.

À Dra. Sheila Faivichenco, pela realização das antigenemias.

Aos médicos do CEMO, pela colaboração com o estudo e

cobertura na rotina nos momentos de necessidade.

Aos enfermeiros do CEMO, Lília, Cecília, Solange e Gerlane, pelo

empenho na coleta das amostras.

A Kátia Magalhães pelos dados fornecidos.

Ao Dr. Luis Fernando Bouzas, pela oportunidade a mim

concedida.

Ao Dr. Daniel Tabak, que me iniciou no transplante de células-

tronco hematopoéticas.

À minha mãe, Ana Maria, pelo constante incentivo.

Ao meu marido, João Alonso, por todo amor, carinho e

compreensão, e pelo apoio nos momentos difíceis.

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SSUUMMÁÁRRIIOO

Lista de abreviaturas vii

Lista de tabelas ix

Lista de figuras x

Resumo xi

Abstract xiii

1. Revisão da literatura 2

1.1. Transplante de células-tronco hematopoéticas 2

1.2. Complicações associadas ao transplante de células-tronco hematopoéticas 8

1.3. Citomegalovírus 12

1.4. Métodos de diagnóstico do CMV 15

1.5. Compração entre os métodos de diagnóstico do CMV 19

1.6. Medicamentos mais utilizados para o tratamento da infecção pelo CMV 20

1.7. Abordagem terapêutica da infecção pelo CMV 22

2. Objetivos 27

2.1. Primário 27

2.2. Secundários 27

3. Pacientes e métodos 29

3.1. Desenho do estudo 29

3.2. Indicação de início do tratamento 29

3.3. Tratamento preemptivo 30

3.4. Randomização 30

3.5. Manutenção 31

3.6.Critérios para a substituição do ganciclovir por foscavir 32

3.7. Acompanhamento laboratorial e vigilância 32

3.7.1. Antigenemias 33

3.7.2. Detecção do CMV pelo método de reação em cadeia da polimerase 33

3.8. Gradação da DECH aguda 33

3.9. Critérios éticos 34

3.10. Métodos laboratoriais 36

3.10.1. Manipulação e processamento das amostras 36

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vi

3.10.1.1. Separação de plasma 36

3.10.1.2. Separação de células 36

3.10.2. Extração de DNA e RNA 39

3.10.3. Obtenção de DNA complementar (cDNA) 40

3.10.4. Método de PCR 41

3.10.4.1. Precauções para evitar a contaminação cruzada 41

3.10.4.2. PCRs para gene constitutivo 42

3.10.4.3 PCR para detecção do CMV 42

4. Resultados 46

4.1. Características dos pacientes e transplantes 46

4.2. Infecção e doença pleo CMV 49

4.3. Toxicidade ao ganciclovir 54

5. Discussão 61

6. Conclusões 71

7. Perspectivas 73

8. Bibliografia 75

Anexos 85

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vii

ABREVIATURAS

AAS Anemia Aplástica Grave

AgCMV Antigenemia para Citomegalovírus

CB Crise Blástica

CDC Centers for Disease Control

cDNA DNA complementar

CEMO Centro de Transplante de Medula Óssea

CMV Citomegalovírus

CTH Células-Tronco Hematopoéticas

CVC Cateter Venoso Central

DECH Doença do Enxerto-Contra-o-Hospedeiro

DHPG 3,5-diidroxifenilglicina, ganciclovir

DNA Ácido Desoxirribonucléico

dNTP Deoxinucleotídeo Trifosfato

DTT Ditiotreitol

EDTA Ácido Etilenodiamino Tetra-Acético

FA Fase Acelerada

FDA Food and Drug Administration

H2O-DEPC Água Tratada com Dietil-pirocarbonato

HLA Antígenos Leucocitários Humanos

INCA Instituto Nacional de Câncer

LCR Líquido Céfalo-Raquiano

LLA Leucemia Linfóide Aguda

LMA Leucemia Mielóide Aguda

LMC Leucemia Mielocítica Crônica

LNH Linfoma não-Hodgkin

MHC Complexo maior de Histocompatibilidade

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MM Mieloma Múltiplo

PBS Solução deTampão Fosfato

PCR Reação em Cadeia da Polimerase

PI Pneumonite Intersticial

QT Quimioterapia

RC Remissão Completa

RNA Ácido Ribonucleico

RNAm RNA mensageiro

RT Radioterapia

RT-PCR Transcrição Reversa seguida de PCR

SK Síndrome de Kostman

SLG Spliced Late Gene

SMD Síndrome Mielodisplásica

SNC Sistema Nervoso Central

SOS Síndrome de Obstrução Sinusoidal

SP Sangue Periférico

TBI Total Body Irradiation (irradiação corpórea total)

TCTH Transplante de Células-Tronco Hematopoéticas

TCTHSP Transplante de Células-Tronco Hematopoéticas de Sangue Periférico

TGI Trato Gastrintestinal

TMO Transplante de Medula Óssea

TSCUP Transplante de Sangue de Cordão Umbilical e Placentário

VRS Vírus Respiratório Sincicial

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TABELAS

Tabela 1:

Ajuste de dose do ganciclovir conforme clearance de creatinina 30

Tabela 2:

Estadiamento de DECH aguda 33

Tabela 3:

Estadiamento de DECH aguda — gradação final 34

Tabela 4:

Características dos pacientes e transplantes 48

Tabela 5:

Freqüência de segunda reativação da infecção pelo CMV conforme grupo de estudo 53

Tabela 6:

Freqüência de neutropenia conforme grupo de estudo 55

Tabela 7:

Freqüência de plaquetopenia (<100.000/mm3) conforme grupo de estudo 57

Tabela 8:

Freqüência de infecção conforme grupo de estudo 59

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x

FIGURAS

Figura 1:

Esquema da diferenciação hematopoética (retirado de “Thomas Hematopoieitic Cell Transplantation”) 3

Figura 2:

A: Coleta de medula óssea (Centro Cirúrgico do Hospital do Câncer I – INCA) 4

B: Coleta de CTH de sangue periférico (fotografia cedida pelo Serviço de Hemoterapia do INCA) 5

C: Coleta de CTH de sangue de cordão umbilical e placentário (fotografia cedida pelo Banco de Sangue de

Codão Umbilical e Placentário do CEMO – INCA) 5

Figura 3:

Complicações infecciosas pós-TCTH (retirado de “Thomas Hematopoieitic Cell Transplantation”) 11

Figura 4:

Citomegalovírus (fotografia retirada de “Relación entre los herpesvirus y la periodontitis”) 13

Figura 5:

Fluxograma do estudo 35

Figura 6:

Fluxograma de amostras 38

Figura 7:

Boxplot representando o número de dias decorridos entre a data do transplante e a data da primeira antigenemia

positiva para CMV 50

Figura 8:

Boxplot representando o número de dias decorridos entre a data do transplante e a data do primeiro resultado

positivo do PCR para RNA do CMV 51

Figura 9:

Boxplot representando o número de dias decorridos entre a data do primeiro PCR Positivo e da primeira

antigenemia positiva 51

Figura 10:

Resultado da detecção da expressão do gene lítico SLG do CMV por RT-PCR 52

Figura 11:

Boxplot representando o número de dias de neutropenia conforme grupo de estudo 55

Figura 12:

Gravidade da neutropenia conforme grupo de estudo 56

Figura 13:

Distribuição dos casos com plaquetopenia conforme intensidade e grupo de estudo 57

Figura 14:

Taxa de variação da função renal, medida como razão entre as dosagens de creatinina máxima e basal,

conforme grupo de estudo 58

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RESUMO

A infecção por citomegalovírus (CMV) é uma complicação freqüente no período pós-transplante de células-tronco hematopoéticas(TCTH); seu diagnóstico pode ser realizado por antignemia ou PCR. A infecção pelo CMV é definida como a presença do vírus circulante e a doença como a presença deste vírus associada à lesão tecidual e sintomatologia clínica. A doença pelo CMV tem elevadas taxas de mortalidade, sendo importante sua prevenção e tratamento. Há duas formas de prevenção da doença: a profilaxia e o tratamento preemptivo; a profilaxia se caracteriza pelo uso do ganciclovir até o dia 100 do TCTH e o tratamento preemptivo no início do antiviral a partir de uma documentação de infecção pelo CMV em um paciente assintomático. O CDC recomenda o trtamento preemptivo baseado em uma antigenemia ou dois PCRs positivos consecutivos para o DNA viral. A droga de escolha é o ganciclovir, por via intravenosa. A duração do tratamento preemptivo anti-CMV é variável. Alguns estudos sugerem que cursos curtos, de 2 a 3 semanas baseados em um marcador viral negativo ao final do tratamento seriam eficazes. Porém, nesses casos há um risco de reativação da infecção por CMV em 30% dos pacientes, que requerem, então, um novo curso de tratamento. O estudo visa determinar o valor da manutenção com ganciclovir na prevenção da reativação e da progressão para doença pelo CMV. Secundariamente este estudo visa determinar o valor do PCR na detecção da infecção pelo CMV e avaliar a toxicidade do ganciclovir. Trata-se de um ensaio clínico randomizado, comparando a manutenção com ganciclovir e a observação em pacientes preventivamente tratados com ganciclovir por infecção pelo CMV. De 15 de agosto de 2005 a 18 de abril de 2007, 29 pacientes foram recrutados pelo estudo. Foram realizadas antigenemias e PCRs para o CMV semanalmente em todos os pacientes. O tratamento preemptivo foi baseado em uma antigenemia positiva e realizado com ganciclovir por via intravenosa por 14 dias. Após este tratamento inicial os pacientes foram randomizados e acompanhados com dosagens de creatinina e hemograma com plaquetas 3 vezes por semana. Quinze dos 29 pacientes (51,7%) apresentaram reativação do CMV e foram randomizados: 5 para o grupo manutenção e 10 para o grupo observação. Quatro dos 15 tiveram uma segunda reativação da infecção pelo CMV ( 1 no grupo manutenção e 3 no grupo observação); um paciente do grupo observação desenvolveu cistite hemorrágica atribuída ao CMV e outro desenvolveu quadro de esofagite com biópsia positiva para o CMV(doença pelo CMV). Seis de dez pacientes no grupo observação e 4/5 no grupo manutenção desenvolveram neutropenia, com duração de 2 a 20 dias no grupo observação (mediana: 8,5) e 4 a 17 dias no grupo manutenção (mediana: 12); trombocitopenia ocorreu em 6/10 pacientes no grupo observação e em 5/5 no grupo manutenção. Oito pacientes desenvolveram infecção bacteriana, sendo 5/10 no grupo observação

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xii

e 3/5 no manutenção. Um paciente em cada grupo apresentou infecção fúngica. Os níveis de creatinina variaram de 1,0 a 2,44 vezes o valor basal no grupo observação (mediana: 1,59), versus 1,08 a 2,36 no grupo manutenção (mediana: 1,82).Não foram observados critérios de resistência ao ganciclovir. A casuística é ainda muito pequena; não houve diferença estatisticamente significativa nas taxas de reativação do CMV ou na incidência de doença pelo CMV entre os grupos. Houve tendência a uma maior toxicidade medular no grupo manutenção, porém, a neutropenia não contribuiu para uma maior taxa de infecção. Palavras-chave: Citomegalovírus, Transplante de Medula Óssea, Ganciclovir

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ABSTRACT

Cytomegalovirus infection is a frequent complication of hematopoietic stem cell transplantation (HSCT). It may be diagnosed by antigenemia or PCR. CMV infection is defined as circulating virus, and disease as the presence of virus causing organic lesion and symptoms. Given that CMV disease has great mortality, treatment and prevention of CMV infection is fundamental. There are two major forms of disease prevention: prophylaxis and preemptive treatment. Prophylaxis is defined as the use of ganciclovir until day 100 of HSCT; preemptive treatment is the treatment based on the detection of CMV infection in an asymptomatic patient. The CDC recommend preemptive treatment based on an antigenemia or two consecutive positive PCRs for CMV DNA. The drug of choice is intravenous ganciclovir. The duration of anti-CMV preemptive treatment is variable. Some studies suggest that shorter treatments based on a negative PCR test by the end of two or three weeks of treatment will be enough. However, in these cases, reactivation occurred in 30 percent of patients, who ultimately required additional treatment. The objective of this study is to determine the value of ganciclovir maintenance on the prevention of CMV reactivation and progression to disease. As a secondary objective, this study aimed to determine the value of PCR in preventing CMV disease and ganciclovir toxicity. It is a randomized clinical trial, comparing ganciclovir maintenance versus observation in patients preemptively treated for CMV infection. From august 15, 2005 until april 18, 2007, 29 patients were included in the study. Antigenemia and PCRs for CMV were done weekly in all patients. Preemptive treatment was started with intravenous ganciclovir for 14 days after one positive antigenemia. Thereafter, patients were randomized. All had creatinine levels and blood counts thrice a week. Fifteen of 29 patients (51.7%) had CMV reactivation and were randomized: 5 to the maintenance and 10 to the observational group. Four of 15 had a second CMV reactivation (1 in the maintenance and 3 in the observational group); one patient in the observational group developed hemorrhagic cystitis attributed to CMV and another had esophagitis with positive biopsy for CMV (CMV disease). Six of 10 patients in the observational group and 4/5 in the maintenance group developed neutropenia, with a duration of 2 to 20 days in the observational (median: 8.5) and 4 to 17 days in the maintenance group (median: 12); thrombocytopenia occurred in 6/10 patients in the observational and 5/5 in the maintenance group. Overall, 8 patients developed infectious complications: 3/5 in the maintenance and 5/10 in the observational group. One patient in each group had fungal infection. Creatinine levels varied from 1.0 to 2.44 times the baseline level in the observational (median: 1.59), versus 1.08 to 2.36 times the baseline level in the experimental group (median: 1.82). Resistance to ganciclovir was not observed. There are only a few patients from which to drive conclusions; there were no statistically significant differences in CMV reactivation or disease between both groups. There was a trend to increased bone marrow toxicity in the maintenance group; however, neutropenia was not a risk factor for infection in these patients. Keywords: Cytomegalovirus, Bone Marrow Transplantation, Ganciclovir

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1. REVISÃO DA LITERATURA

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2

Revisão da Literatura

1. REVISÃO DA LITERATURA

1.1. Transplante de células-tronco hematopoéticas

(TCTH)

O TCTH é uma forma de tratamento que vem sendo

crescentemente uti l izada no tratamento de patologias hematológicas

benignas e malignas. O transplante é baseado num equilíbrio

imunológico; é necessário que as células hematopoéticas do doador

infundidas se enxertem no microambiente do receptor, que o sistema

imunológico do receptor tolere o enxerto de células-tronco do doador

para que não haja rejeição e que células T efetoras do doador tolerem

o tecido do hospedeiro, para não haver doença do enxerto-contra-o-

hospedeiro (DECH)1.

Os primeiros transplantes foram realizados com células-tronco de

gêmeos idênticos (transplante singeneico); atualmente outras fontes de

células-tronco podem ser uti l izadas, provenientes de doadores

aparentados ou não-aparentados (transplante alogeneico), compatíveis

a nível dos antígenos leucocitários humanos (HLA), ou provenientes do

próprio paciente ( transplante autólogo).

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Revisão da Literatura

Essas células-tronco são capazes de auto-renovação e de

proliferação e diferenciação em precurssores que originarão as

diferentes linhagens celulares presentes no sangue. Para que esse

processo de hematopoese ocorra é necessária uma interação das

células-tronco presentes na medula óssea com o microambiente

medular e com uma série de proteínas reguladoras do crescimento. A

partir da interação destes três fatores são, então, originadas as

diferentes linhagens sangüíneas, com características morfológicas

próprias e funções biológicas específ icas. Estas são as linhagens

mielóide, l infóide, eritróide e megacariocítica2. (Figura 1).

Figura 1. Esquema da diferenciação hematopoética (retirado de “Thomas’ Hematopoieitic Cell Transplantation”)

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4

Revisão da Literatura

As células-tronco hematopoéticas (CTH) são encontradas na

medula óssea e uti l izadas no transplante de medula óssea (TMO). Um

pequeno número dessas células pode ser encontrado no sangue.

Esquemas de mobilização são capazes de aumentar a população

dessas células progenitoras circulantes, o que permite a sua coleta e

uti l ização nos TCTH em algumas circunstâncias (transplante de

células-tronco hematopoéticas de sangue periférico — TCTHSP). Uma

terceira fonte de CTH é o sangue de cordão umbilical e placentário

(transplante de sangue de cordão umbilical e placentário — TSCUP).

(Figura 2).

Figura 2. Fontes de células-tronco

A. Coleta de medula óssea (Centro Cirúrgico do Hospital do Câncer I - INCA)

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Revisão da Literatura

B. Coleta de CTH de sangue periférico (fotografia cedida pelo Serviço de Hemoterapia do INCA)

C. Coleta de CTH de sangue de cordão umbilical e placentário — (foto cedida pelo Banco de Sangue de Cordão Umbilical e Placentário do CEMO –INCA).

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Revisão da Literatura

A escolha do doador se baseia na compatibil idade HLA,

codif icada pelo complexo maior de histocompatibil idade (MHC). O MHC

se localiza no cromossoma 6 em humanos e codif ica duas famílias de

HLA distintas implicadas na alorreatividade: antígenos HLA de classe I,

que são codif icados por três loci chamados HLA-A, HLA-B e HLA-C;

antígenos HLA de classe II, que são codif icados por outros três loci

HLA-DR, HLA-DP e HLA-DQ. Caso doador e receptor não sejam

compatíveis poderá haver rejeição ou DECH. A f isiopatologia das duas

se parece, embora sejam diferentes. Ambas são baseadas na

alorreatividade de células T do hospedeiro ou doador a antígenos

codif icados pelo complexo maior de histocompatibil idade ou a

peptídeos apresentados em associação com esses antígenos MHC.

Para que o paciente receba e aceite as células-tronco de um

doador HLA-compatível, ele recebe um tratamento baseado em

quimioterapia (QT) e/ou radioterapia (RT), que visa não somente

destruir a doença de base, mas também eliminar a medula óssea do

paciente, criando espaço para as novas células-tronco que serão

infundidas e imunossuprimir o paciente para que ele não rejeite as

células progenitoras do doador. A capacidade curativa do TCTH não se

baseia somente na eliminação de uma medula óssea doente e a sua

poster ior subst i tu ição por out ra sad ia , mas também nos e fe i tos

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7

Revisão da Literatura

imunológicos mediados pelo transplante. A pega do enxerto e sua

posterior funcionalidade demandam o estabelecimento de uma

tolerância bilateral do hospedeiro com o enxerto e do enxerto com o

hospedeiro. Quando há um desequilíbrio desse balanço imunológico,

ocorre a rejeição ou a imunorreatividade deste contra os tecidos do

hospedeiro, conhecido como DECH. Por outro lado, no tratamento de

neoplasias hematológicas, o principal efeito terapêutico do transplante

é o fornecimento de alorreatividade para superar o estado de ignorâcia

patológica do sistema imune do receptor em relação às células

tumorais.

No TCTH autólogo, também são administradas doses elevadas de

QT e/ou RT, visando à destruição da doença de base; esse nível de

dose é tóxico para a medula óssea. É importante, então, que o paciente

tenha uma reserva de células-tronco sadia para ser uti l izada em

substituição às células-tronco lesadas. Essa abordagem permite o uso

de agentes tumorais em doses bem maiores do que aquelas

administradas em tratamentos convencionais. Essa forma de

transplante está indicada quando há correlação entre altas doses e

resposta tumoral e quando o limitante de dose é a toxicidade medular.

Há algumas desvantagens: as céluas-tronco coletadas podem já estar

lesadas por tratamentos anteriores; o pool de células-tronco pode estar

contaminado por células malignas; não há o efeito enxerto-versus-

doença.

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8

Revisão da Literatura

1.2. Complicações associadas ao transplante de célu las-

tronco hematopoéticas

Os regimes de condicionamento podem promover lesões

teciduais, com elevada morbidez. As toxicidades mais freqüentes

associadas aos regimes de condicionamento são a mucosite, a

síndrome de obstrução sinusoidal (SOS), a pneumonite intersticial (PI)

e a cistite hemorrágica, além de complicações cardíacas e renais.

� Mucosite: ocorre comprometimento orofaríngeo, podendo haver

ulcerações.

� SOS: ocorre em 50% dos TCTH. É uma lesão hepatotóxica, que

promove a obstrução de vênulas intra-hepáticas, com lesão dos

hepatócitos centrolobulares e dos sinusóides. A tríade clássica

inclui o aumento de bil irrubina, a hepatomegalia e o ganho

ponderal superior a 5 %. A mortalidade depende da gravidade da

síndrome.

� PI: ocorre em 35 % dos receptores de TCTH alogeneico e é

freqüentemente fatal. Há inf lamação intersticial difusa, com

ausência de bactérias. O curso normalmente é catastróf ico, com

taquipnéia rapidamente progressiva, dispnéia, hipoxemia e

comprometimento hemodinâmico.

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Revisão da Literatura

� Cistite hemorrágica: ocorre em 5 a 35% dos pacientes

submetidos a TCTH, principalmente com o uso da ciclofosfamida

no condicionamento. O metabólito da ciclofosfamida, a

acroleína, é tóxico para as células uroteliais. Outra causas de

cistite hemorrágica no contexto do TCTH são as infecções virais

(principalmente adenovirus, BK vírus e citomegalovírus, CMV).

Outras complicações associadas ao TCTH são as complicações

imunológicas e as complicações infecciosas.

� Rejeição: é def inida como a detecção de células de origem do

hospedeiro, com ou sem a recuperação da hematopoese; ocorre

em aproximadamente 1 a 2% dos TCTH alogeneicos aparentados;

alcança taxas mais elevadas (5 a 30%) em pacientes

transplantados por anemia aplástica e em enxertos com depleção

de células T (20%)1.

� DECH aguda: é def inida como uma síndrome de dermatite,

enterite e hepatite, que ocorre antes do D+100 do TCTH. A

incidência é de 9 a 50% dos receptores de TCTH alogeneico

aparentado. Para haver DECH são necessários os postulados de

Bill inghan: o enxerto deve conter células imunocompetentes; deve

haver a presença de aloantígenos estranhos e imunogênicos nas

células do receptor (ou reconhecimento inadequado de

autoantígenos); o receptor deve ser incapaz de produzir resposta

imune contra o enxerto1. Para a prevenção da DECH, agentes

como a ciclosporina ou tacrolimus, que têm efeito supressor

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10

Revisão da Literatura

específ ico na função de linfócitos T são usados em combinação

com outros agentes imunossupressores, como corticosteróides,

metotrexate, micofenolato mofetil e t imoglobulina. Outra forma de

prevenção da DECH é baseada na retirada de linfócitos T do

enxerto (depleção T); porém, essa técnica aumenta o risco de

rejeição e recidiva.

� Complicações infecciosas: visto o grau de neutropenia,

depressão das funções T e B, ruptura das barreiras anatômicas

(mucosite, cateteres de longa permanência — vasculares ou

urinários) e agentes imunossupressores, receptores de TCTH

alogeneico têm alto risco de uma variedade de infecções. Essas

infecções podem ser causadas por bactérias, fungos e vírus,

dependendo do tempo de transplante.(Figura 3).

Infecções bacterianas: são mais comuns no período imediato

pós-TCTH, facil itadas pela neutropenia e pela ruptura da barreira

mucosa decorrente do regime de condicionamento, além da presença

de cateteres de longa permanência, que também propiciam este tipo de

infecção. Infecções por bastonetes gram negativos (Escherichia coli,

Klebsiella pneumoniae, Pseudomonas aeruginosa, entre outros) surgem

principalmente do trato gastrintestinal (TGI). A via de entrada dos

cocos gram posit ivos (Staphylococcus epidermidis, Staphylococcus

aureus, Streptococcus viridans, além de outros) é pela pele, orofaringe

ou cateteres venosos centrais (CVC).

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11

Revisão da Literatura

Infecções fúngicas: são decorrentes da neutropenia prolongada,

uso de antibióticos de amplo espectro e imunossupressão. Os fungos

que mais freqüentemente causam infecção no TCTH são Candida spp.

e Aspergil lus spp. Outros fungos são menos usuais. A colonização de

superfícies mucosas e cutâneas (orofaringe, TGI e vagina) por

espécies de Candida serve como porta de entrada pelo uso de

antibióticos de amplo espectro; outra fonte de infecção são os CVC de

longa permanência e outros cateteres, como cateteres naso-enterais. A

contaminação de condicionadores de ar, sistemas de ventilação e obras

Figura 3. Complicações infecciosas pós-TCTH (retirado de “Thomas’ Hematopoietic Cell Transplantation”)

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12

Revisão da Literatura

causam infecções hospitalares pelas espécies de Aspergil lus. A porta

de entrada geralmente é pelos seios da face ou vias aéreas superiores.

Infecções virais: as infecções virais pós-TCTH alogeneico

geralmente decorrem da reativação de infecções virais latentes. As

mais freqüentes são causadas pelos herpesvírus ( Herpes simplex,

Varicella-Zoster vírus e CMV), adenovírus e poliomavírus, como o BK

vírus. Mais raramente ocorrem infecções por enterovírus, vírus

respiratório sincicial (RSV), inf luenza, parainf luenza, rotavírus e

parvovírus B19.

A infecção pelo adenovírus no período pós-TCTH normalmente

causa cistite hemorrágica, pneumonite ou hepatite. Pode surgir pela

reinfecção ou via f luidos orgânicos. A cistite hemorrágica também pode

ter como agente etiológico o BK vírus.

A infecção pelo CMV ocorre t ipicamente entre a recuperação

hematopoética (“pega”) e o D+120 do transplante3,4,5,6, determinando

aumento signif icativo da morbidade e diminuição da sobrevida.

1.3. Citomegalovírus

O CMV é um herpesvírus, da família β -herpesviridae,

caracterizado por possuir hospedeiro restrito e ciclo reprodutivo

dinâmico. Como todo herpesvírus, o ciclo de vida do CMV consta de

duas fases: um período latente, em que o vírus permanece dentro das

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13

Revisão da Literatura

células-alvo replicando-se cronicamente com o genoma celular e uma

fase lít ica, em que o vírus reassume a replicação ativa, gerando

partículas virais infecciosas. O CMV é um vírus DNA (ácido

desoxirribonucleico), que tem em sua estrutura um núcleo com DNA de

dupla hélice, um capsídio icosahédrico com 162 capsômeros, um

material amorfo e assimétrico que circunda o capsídio, denominado

matriz e um envelope contendo as glicoproteínas virais na sua

superfície7. (Figura 4).

Infecção pelo CMV: a infecção pelo CMV é definida como a

detecção do vírus circulante, sem sintomatologia clínica. Estudos

Figura 4. Citomegalovírus (fotografia retirada de “Relación entre los

herpesvirus y la periodontitis”)

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14

Revisão da Literatura

mostram que aproximadamente 60% dos adultos em países

desenvolvidos e 100% daqueles em países em desenvolvimento são

infectados pelo CMV, mostrando soroposit ividade para proteínas deste

vírus8. A incidência da infecção pelo CMV é de 10 a 15% em receptores

de TCTH, sendo que desses, aproximadamente 50% desenvolverão

doença pelo CMV9. Para receptores soroposit ivos, a infecção ocorre em

45 a 86% dos pacientes e a doença em 21 a 43%10,11,12,13.

Doença pelo CMV: a doença pelo CMV é definida como a

presença do vírus em um determinado órgão, levando à lesão tecidual

e conseqüente sintomatologia clínica. Fatores de risco para o

desenvolvimento de doença pelo CMV incluem: soroposit ividade do

receptor e doador (principalmente doador posit ivo e receptor negativo),

altos títulos virais, idade, uso de irradiação corpórea total (total body

irradiation, TBI) no condicionamento, incompatibil idade HLA, DECH

aguda, uso de enxerto depletado de células T, disfunção imunológica e

uso de corticosteróides no tratamento da DECH aguda 9,14,15.

As manifestações clínicas mais freqüentes da infecção pelo CMV

são febre de etiologia desconhecida, aplasia medular, pneumonite e

enterite16,17. Menos freqüentemente, pode haver cistite hemorrágica,

pancreatite, encefalite e hepatite14,18.

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15

Revisão da Literatura

Para haver o diagnóstico de doença pelo CMV é necessária a

detecção do vírus no órgão comprometido; na pneumonite a detecção

viral é feita na biópsia pulmonar ou no lavado bronco-alveolar; na

enterite, na biópsia tecidual; na encefalite, no líquido céfalo-raquiano

(LCR) e assim, sucessivamente19. Uma exceção é a retinite pelo CMV,

na qual o diagnóstico é exclusivamente clínico.

Um estudo mostrou um aumento da mortalidade por infecções

bacterianas e fúngicas em receptores de TCTH soronegativos com

doador soroposit ivo, mesmo após ajuste pela neutropenia pelo

ganciclovir e pela ocorrência de doença pelo CMV9. Os autores

especulam sobre um efeito imunomodulador da primoinfecção pelo

CMV em receptores de TCTH.

1.4. Métodos de diagnóstico do CMV

No passado, os testes sorológicos determinando a presença de

anticorpos contra antígenos lít icos e as culturas virais eram

fundamentais no diagnóstico da infecção pelo CMV. Entretanto, na

últ ima década, os métodos de amplif icação molecular vêm tendo

desenvolvimento preponderante.

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16

Revisão da Literatura

� Antigenemia: é o método considerado “padrão ouro” para

detecção da infecção produzida pelo CMV. Após duas horas de

infecção viral, uma fosfoproteína da matriz viral, a pp65 está

presente no núcleo de células infectadas20. A proteína pp65 do CMV

é nucleotrópica e entra na célula como parte do virion infectante. A

detecção deste antígeno no núcleo do granulócito é usada para

documentar a disseminação precoce do CMV no paciente

imunocomprometido. A antigenemia se baseia em uma reação com

anticorpo monoclonal em leucócitos do sangue periférico (SP),

detectada por imunohistoquímica. A presença desse antígeno nos

leucócitos signif ica que os fagócitos ingeriram as partículas virais ou

que foram infectados pelo vírus. A antigenemia se correlaciona com

a infecção pelo CMV na corrente circulatória. Pacientes que

desenvolveram doença tiveram níveis mais elevados de antigenemia

— importante no tratamento preemptivo para CMV21, 22, 23, 24.

� Métodos baseados em reação em cadeia da polimerase (PCR): O

PCR para o CMV se baseia na detecção do DNA viral no sangue ou

plasma; pode ser qualitativo ou quantitativo. Os métodos baseados

em PCR para detecção do CMV apresentam a vantagem de serem

rápidos, com baixo requerimento de material biológico e uma alta

sensibil idade e especif icidade, quando cuidadosamente

padronizados em relação aos métodos de referência. O objetivo de

qualquer método de detecção do CMV para aplicação na área clínica

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17

Revisão da Literatura

é a caracterização precoce da reativação viral, ou seja, a entrada

no ciclo lít ico.

Os métodos baseados na detecção do DNA viral foram

desenvolvidos inicialmente, mostrando alta sensibilidade. Uma

potencial desvantagem disto, no entanto, é a possibil idade de detectar

DNA do CMV tanto em estado lít ico quanto latente25. Portanto, a

uti l idade destes métodos é dada pela possibil idade de quantif icação da

carga viral (DNA de vírus associado a células) ou da viremia (DNA livre

no plasma). Para sua aplicação na clínica é importante que cada centro

desenvolva seus “padrões” da cinética de reativação viral, em relação à

sorologia dos pacientes estudados, assim como especif icamente aos

tipos de transplante e protocolos de condicionamento. Com isto, busca-

se a determinação de um ponto de corte (cut-off) com valor clínico em

relação aos fenômenos de reativação do CMV e ao desenvolvimento de

doença por este vírus.

Na atualidade existem vários ensaios diagnósticos comerciais

para detectar e quantif icar o DNA do CMV em amostras clínicas,

amplamente uti l izados nos países desenvolvidos25. Estes são o COBAS

Amplicor CMV Monitor Test (Roche Diagnostics), que tem como alvo a

amplif icação de uma região de 365 pb do gene da polimerase viral e é

desenhado para amplif icação por PCR de DNA em plasma. O Hybrid

Capture System CMV DNA Test (Digene) é um método baseado na

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18

Revisão da Literatura

amplif icação de sinal que util iza uma sonda de RNA (ácido

ribonucleico) que forma híbridos com o genoma viral e é detectado com

um anticorpo específ ico para híbridos de DNA-RNA. Estes métodos

apresentam a vantagem da padronização, fornecendo, portanto,

resultados comparáveis entre centros. A principal desvantagem, além

da falta de versatil idade, é o alto custo e a dependência tecnológica

gerada pela implementação destas metodologias26.

Outra questão importante na hora da escolha dos métodos é

o tipo de informação biológica fornecida por eles. A informação

que os métodos baseados na quantificação do DNA produzem é a

cinética do aumento da carga/viremia, que é, então, tomada como

evidência da reativação viral. Outro marcador capaz de fornecer

esta informação de maneira mais precisa é a detecção da

expressão de genes do ciclo lítico do vírus, a nível de RNA27,28.

Questões importantes a serem resolvidas na escolha de

metodologias baseadas na detecção do RNA são: 1) Util ização de

estratégias que permitam amplif icar especif icamente o RNAm (RNA

mensageiro) alvo, eliminando a amplif icação do DNA viral; 2) Escolha

de genes que sejam expressos especif icamente no ciclo lít ico27.

Duas metodologias são correntemente uti l izadas: o método

NASBA, baseado na amplif icação isotermal de ácidos nucléicos, que,

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19

Revisão da Literatura

por seu perf i l isotermal impede a amplif icação do DNA. Existe um

ensaio comercial baseado nesta metodologia NucliSens CMV pp67

assay28. A outra metodologia é a RT-PCR (transcrição reversa seguida

de PCR) uti l izando um RNAm específ ico que, por sofrer processamento

pós-transcricional (splicing), apresentam uma estrutura diferente do

DNA codif icante, permitindo ser diferenciado deste após a

amplif icação27.

As principais desvantagens destes métodos é a conhecida maior

instabil idade do RNA em relação ao DNA e a dif iculdade de torná-los

quantitativos. Uma estratégia para superar estas dif iculdades é uma

boa padronização de métodos de extração de RNA, incluindo a

avaliação da “amplif icabil idade”, e a associação desta metodologia com

métodos quantitativos baseados na amplif icação do DNA, visando o

aproveitamento das informações complementares potencialmente

fornecidas por ambas as metodologias.

1.5. Comparação entre os métodos de diagnóstico do CMV

Há vários estudos29,30,31,32 que associam a carga viral ao risco de

desenvolvimento de doença pelo CMV. Emery et al demonstrou que a

carga viral inicial se correlaciona ao pico de carga viral e ao

desenvolvimento de doença pelo CMV29. A taxa de aumento da carga

viral também parece ser um fator predit ivo para o desenvolvimento de

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20

Revisão da Literatura

doença pelo CMV. Há estudos que avaliam os dois métodos de

detecção acima33. Comparando-se antigenemia para CMV com PCR

para CMV no sangue total ou plasma foi observado, que, em termos

gerais, a sensibil idade do PCR no plasma é menor do que nos

leucócitos, mas semelhante à da antigenemia. O plasma é importante

quando se necessita realizar este exame em pacientes com leucopenia.

Outro estudo comparou a amplif icação por PCR de diferentes

regiões genômicas com antigenemia e PCR nested34, mostrando que a

escolha do alvo molecular é importante devido à possibil idade de se

avaliar a expressão de genes específ icos para a reativação viral.

1.6. Medicamentos mais uti l izados para o tratamento da

infecção pelo CMV

A infecção pelo CMV vem associada com grande morbidez e

mortalidade em pacientes submetidos a TCTH. Há três drogas

aprovadas pelo Food and Drug Administration (FDA) para o tratamento

do CMV: o ganciclovir, o foscavir e o cidofovir35.

� Ganciclovir: o ganciclovir inibe a replicação viral por inibição

seletiva da síntese do DNA do vírus pela forma trifosforilada da

droga. As DNA polimerases das células do hospedeiro são

consideravelmente menos sensíveis do que a polimerase viral em

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21

Revisão da Literatura

relação aos efeitos do ganciclovir trifosfato36. A atividade antiviral

do ganciclovir depende da biotransformação da droga a um derivado

fosforilado que ocorre seletivamente nas células infectadas pelo

CMV. O CMV codif ica uma quinase viral que fosforila o ganciclovir

para a forma monofosfato. Subseqüentemente, quinases celulares

convertem o monofosfato para a forma ativa de trifosfato37. Acredita-

se que a atividade antiviral do ganciclovir-trifosfato ocorra pela

inibição da síntese do DNA por duas vias38: inibição competit iva da

DNA polimerase viral e incorporação do ganciclovir trifosfato ao

DNA viral, resultando na terminação do f i lamento de DNA viral. A

resistência ao ganciclovir pode surgir por mutações nos genes UL97

ou UL54. As mutações na região UL54 podem conferir resistência

cruzada ao foscavir39. A toxicidade ao ganciclovir é descrita com

neutropenia, reportada em 30 a 60% dos pacientes, com duração

mediana de 12 dias (variando de 4 a 20 dias)40,41. Pacientes em uso

de ganciclovir que evoluíram com neutropenia t iveram maior risco

de infecção bacteriana. Outros efeitos colaterais reportados são a

nível de sistema nervoso central (SNC), com cefaléia, sonolência,

delírio; alterações da função hepática, febre e rash42; inibição da

espermatogênese e azoospermia43.

� Foscavir: é um fosfonato que não requer metabolização para sua

atividade de inibição da DNA polimerase. É importante no

tratamento preemptivo do CMV em pacientes que desenvolvem

resistência ou toxicidade ao ganciclovir. Os resultados na

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22

Revisão da Literatura

substituição do ganciclovir por foscavir em tratamento preemptivo

para o CMV são semelhantes44. Porém, não é a primeira escolha

pelo seu potencial nefrotóxico. Outras toxicidades reportadas são a

hipocalcemia e a hipofosfatemia45.

� Cidofovir: é considerado um agente de segunda linha no

tratamento da infecção pelo CMV. Inibe a DNA polimerase,

bloqueando a síntese do DNA viral. Não há relato de resistência39.

Apresenta elevada nefrotoxicidade. Pode haver neutropenia.

� Maribavir : encontra-se em estudos de fase 3. Inibe a replicação

viral em cultura de células por interferir na síntese do DNA viral46.

1.7. Abordagem terapêutica da infecção pelo CMV

Em pacientes de alto risco, como os submetidos a TCTH onde a

doença pelo CMV é de dif ícil tratamento, com altas taxas de

mortalidade, há duas estratégias básicas no manejo da infecção pelo

CMV: a prof ilaxia e o tratamento preemptivo, ambas com o intuito de

evitar a evolução para a doença pelo CMV.

Na profi laxia , a administração do antiviral é iniciada no momento

da recuperação medular. As doses supressoras da prof ilaxia

geralmente são menores do que as instituídas no tratamento de

indução por infecção ativa.

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23

Revisão da Literatura

A prof ilaxia, portanto, propicia uma diminuição importante do

risco de infecção, mas com outros problemas. Há relatos de

neutropenia com o ganciclovir em 30 a 60% dos pacientes submetidos

a TCTH40. A neutropenia ocorre em 30% dos tratados com ganciclovir,

contra zero por cento dos não-tratados, com uma mediana de duração

de 12 dias (variando de 4 a 20 dias)41. Esses pacientes que

apresentaram neutropenia associada ao ganciclovir t iveram maior risco

de infecção bacteriana.

No tratamento preemptivo , o antiviral é iniciado em um paciente

assintomático, de alto risco, baseado em um teste diagnóstico posit ivo,

indicando infecção primária ou reativação do CMV. Esse tratamento

baseia-se na detecção precoce da infecção pelo CMV. Os dois métodos

mais uti l izados são a antigenemia e o PCR para o DNA do CMV. A

recomendação do Centers for Disease Control (CDC)47 se baseia no

início do tratamento com uma antigenemia posit iva ou dois PCRs

posit ivos consecutivos. Com métodos de detecção mais apurados,

como o RT-PCR, alguns estudos sugerem níveis de carga viral para o

início do tratamento preemptivo30,31,32. Com o advento da prof ilaxia, a

doença tardia pelo CMV surgiu como uma complicação importante em

receptores de transplante. A supressão completa do vírus com o uso de

agente antiviral potente a longo prazo pode dif icultar o priming da

resposta do hospedeiro, o que explica a alta taxa de doença tardia pelo

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24

Revisão da Literatura

CMV. Por outro lado, o tratamento preemptivo permite diminuir o

grau

de replicação viral, facil itando a reconstituição imunológica específ ica

para o CMV e sendo ef icaz na redução do risco de doença tardia pelo

CMV48. Tanto a duração longa da exposição a drogas da prof ilaxia,

como a exposição intermitente a estas drogas no tratamento

preemptivo criariam condições para a seleção de vírus resistentes35.

Boeckh et al21 randomizou 226 pacientes para a prof ilaxia com

ganciclovir até o D+100 ou tratamento preemptivo baseado em

antigenemia posit iva (≥ 3 células em dois exames) e/ou viremia, sem

manutenção; houve maior incidência de infecções fúngicas precoces no

grupo prof ilático. Com tratamento preemptivo, houve 30% de segunda

reativação e 13% de terceira reativação.

O tratamento preemptivo recomendado pelo CDC se baseia em

uma antigenemia posit iva ou dois PCRs consecutivos posit ivos. A droga

recomendada é o ganciclovir por via intravenosa, por 14 dias, com uma

manutenção até o D+100 ou, no mínimo, por três semanas.

Alguns estudos reportam resultados com cursos mais curtos, de

duas a três semanas, baseados em um PCR negativo ao f inal do

tratamento; entretanto, nesses casos há relatos de uma segunda

reativação em 30% dos casos21,49,50.

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25

Revisão da Literatura

Atualmente não há um consenso quanto à realização ou não da

manutenção com ganciclovir após um tratamento inicial da infecção

pelo CMV no período pós-TCTH alogeneico aparentado. Não há na

literatura, até o momento, um estudo randomizado comparando os

benefícios de uma manutenção com o ganciclovir versus sua

toxicidade. Visto a importância da definição da melhor conduta

terapêutica a esse respeito, realizamos este estudo.

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26

2. OBJETIVOS

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27

Objetivos

2. OBJETIVOS

2.1. Primário

Avaliar a ef icácia da manutenção com ganciclovir na prevenção da

reativação da infecção pelo CMV em pacientes já preventivamente

tratados para infecção por CMV com ganciclovir intravenoso, após

TCTH alogeneico aparentado.

2.2. Secundários

� Avaliar o risco de evolução para doença pelo CMV em pacientes

submetidos a tratamento preemptivo para CMV;

� Avaliar o valor do PCR qualitativo na detecção da reativação da

infecção pelo CMV;

� Avaliar a toxicidade medular do ganciclovir em pacientes submetidos

a TCTH alogeneico;

� Avaliar a incidência de infecções fúngicas e bacterianas associadas

ao uso prolongado do ganciclovir.

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28

3. PACIENTES E MÉTODOS

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29

Pacientes e Métodos

3. PACIENTES E MÉTODOS

O objetivo original do estudo foi a inclusão de quarenta e seis

pacientes consecutivos submetidos a TCTH alogeneico aparentado no

Centro de Transplante de Medula Óssea do Instituto Nacional de

Câncer (CEMO-INCA). Todos os pacientes aceitos para o programa de

TCTH alogeneico aparentado no CEMO-INCA foram incluídos.

3.1. Desenho do estudo

O estudo é um ensaio clínico randomizado desenhado para

avaliar a ef icácia da manutenção com ganciclovir na prevenção da

reativação da infecção pelo CMV, após TCTH alogeneico. Neste

estudo, todos os pacientes que apresentaram uma antigenemia posit iva

para CMV foram tratados preventivamente com ganciclovir intravenoso

e, após seu término, os pacientes foram randomizados em dois grupos:

um grupo A, que recebeu manutenção com ganciclovir e um grupo B,

que não recebeu manutenção e foi mantido em observação.

3.2. Indicação de início do tratamento

O tratamento preemptivo foi iniciado após uma antigenemia

posit iva, como indicado pelas orientações para prevenir infecções

oportunistas no transplante de progenitores hematopoéticos do CDC47.

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30

Pacientes e Métodos

3.3. Tratamento preemptivo

O tratamento preemptivo consistiu de ganciclovir (3,5-

dihidroxifenilglicina — DHPG) 5mg/Kg IV 12/12 h por 14 dias. A

redução da dose foi orientada por valores do clearance de creatinina

inferiores a 70 ml/min (Tabela 1).

Tabela 1 . Ajuste de dose do ganciclovir conforme clearance de creatinina.

O tratamento com ganciclovir foi temporariamente suspenso

quando o número de neutróf i los foi <1000/mm3, sendo reiniciado após

dois dias consecutivos com neutróf i los > 1000/mm3.

3.4. Randomização

Segundo Boeckh et al,(1996), a freqüência de reativação do CMV

após o tratamento preemptivo inicial (indução) com ganciclovir

intravenoso (5 mg/kg 12/12 h por 14 dias) é de 30%21. Para detectar

uma redução desse risco a zero, aceitando-se um erro alfa de 0,05 e

Clearance de creatinina Dose de ganciclovir na indução

Dose de ganciclovir na manutenção

50 a 69 ml/min 2,5 mg/kg 12/12 h 2,5 mg/kg/dia

24 a 49 ml/min 2,5 mg/kg/dia 1,25 mg/kg/dia

10 a 23 ml/min 1,25 mg/kg/dia 0,625 mg/kg/dia

< 10 ml/min

1,25 mg/kg 3 vezes por semana,

após hemodiálise

0,625 mg/kg 3 vezes por semana,

após hemodiálise

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31

Pacientes e Métodos

um erro beta de 0,3 (poder estatístico de 70%), seriam necessários 23

pacientes em cada braço do estudo. Os cálculos foram feitos

uti l izando-se o módulo STATCALC do programa EpiInfo 6.04. Para a

randomização foi uti l izado o método de blocos de dez.

Os braços do estudo foram:

� Grupo A : recebeu manutenção com ganciclovir;

� Grupo B: observação (não recebeu manutenção).

3.5. Manutenção

Pacientes do grupo A receberam ganciclovir 5 mg/kg/d IV

cinco vezes por semana por um período mínimo de três semanas

ou até o D+100. A dose foi corrigida em caso de clearance de

creatinina inferior a 70 ml/min (Tabela 1).

O tratamento com ganciclovir foi temporariamente interrompido

com neutróf i los <1000/mm3, sendo reiniciado após dois dias

consecutivos com neutróf i los >1000/mm3.

A função renal foi monitorada pela creatinina sérica, e os índices

hematológicos pelos valores do hemograma, incluindo a avaliação dos

níveis de plaquetas três vezes por semana.

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32

Pacientes e Métodos

3.6. Critérios para a substituição do ganciclovir p or foscavir

Durante este estudo, os seguintes critérios foram util izados para

a substituição de agentes antivirais:

� Aumento progressivo ou persistência de antigenemia posit iva após

duas semanas de tratamento;

� Surgimento de sinais clínicos de doença pelo CMV em vigência de

tratamento com ganciclovir33.

A substituição do ganciclovir por foscavir signif icou a exclusão do

paciente do estudo.

3.7. Acompanhamento laboratorial e vigilância

A avaliação da função renal e dos índices hematológicos foi

realizada com a dosagem de creatinina e hemograma com plaquetas

três vezes por semana.

Foram realizados antigenemia para CMV e PCRs semanais desde

a pega até o D+100 do TCTH. A pega51 foi def inida como o primeiro de

dois dias consecutivos com neutróf i los >500/mm3.

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33

Pacientes e Métodos

3.7.1. Antigenemias

Foram realizadas pela rotina do laboratório de Patologia Clínica

do INCA.

3.7.2. Detecção do CMV pelo método de reação em cad eia

da polimerase

Foi realizada no Laboratório de Biologia Molecular da Unidade

Laboratorial do CEMO-INCA.

3.8. Gradação da DECH aguda

A DECH aguda foi classif icada de acordo com os critérios de

Glucksberg modif icados52 (tabelas 2 e 3).

Tabela 2. Estadiamento de DECH aguda

PPeellee Estágio

Rash maculopapular < 25% da superfície corporal 1

Rash maculopapular 25-50% da superfície corporal 2

Eritrodermia generalizada 3

Eritrodermia generalizada com bolhas e descamação 4

FFíígg aadd oo

Bilirrubina 2-3 mg/dL 1

Bilirrubuina 3-6 mg/dL 2

Bilirrubina 6-15 mg/dL 3

Bilirrubuina > 15 mg/dL 4

IInn tt eess tt ii nn oo

> 500 mL diarréia por dia 1

> 1000 mL diarréia por dia 2

> 1500 mL diarréia por dia 3

dor abdominal acentuada com/sem ileus 4

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34

Pacientes e Métodos

Tabela 3. Estadiamento de DECH aguda — gradação f inal.

GGrraauu ddee eennvvoollvviimmeennttoo Grau

Pele rash estágio 1-2

Trato intestinal sem envolvimento

Fígado sem envolvimento

Performance clínica sem diminuição

1

Pele rash estágio 1-3

Trato intestinal estágio 1 e/ou fígado: estágio 1

Performance clínica leve diminuição

2

Pele rash estágio 2-3

Trato intestinal estágio 2 e/ou fígado: estágio 2-3

Performance clínica acentuada diminuição

dor abdominal acentuada com/sem ileus

3

Pele rash estágio 2-4

Trato intestinal estágio 2 e/ou fígado: estágio 2-4

Performance clínica extrema diminuição

4

3.9. Critérios éticos

O presente estudo obedeceu às diretrizes e normas

regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos do

Conselho Nacional de Saúde, em sua resolução número 196 de 10 de

outubro de 1996, visando assegurar os direitos e deveres que dizem

respeito à comunidade científ ica, aos sujeitos da pesquisa e do Estado.

Foram adotadas medidas que asseguram a confidencialidade e a

privacidade dos pacientes, bem como o sigilo e a segurança dos dados

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35

Pacientes e Métodos

obtidos. O referido projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em

Pesquisa do INCA. Todos os pacientes assinaram consentimento livre e

esclarecido (Anexos).

TCTH alogênico PEGA

Monitorização:

AgCMV 1 x sem.

+

PCR 1 x sem.

POS

NEG

Tratamento:

DHPG x 14 d

RANDOMIZAÇÃO

Manutenção:

DHPG 1 x d

+

Monitorização

Observação

+

Monitorização

Figura 5:. Fluxograma do estudo

TCTH, transplante de células-tronco hematopoéticas; AgCMV, antigenemia para o CMV; PCR, reação em cadeia da polimerase; NEG, negativo; POS, positivo; DHPG, 3,5 diidroxifenilglicina – ganciclovir; d, dia.

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36

Pacientes e Métodos

3.10. Métodos laboratoriais

3.10.1 Manipulação e processamento das amostras

Amostras de SP coletadas em ácido etilenodiamino tetra-

acético (EDTA) foram processadas para obtenção das frações

acelulares (plasma) e celulares (mononucleares e

granulócitos). (Figura 6).

3.10.1.1. Separação de plasma: as amostras de SP foram

centrifugadas inicialmente a 1500 rpm por 10 minutos a 4°C. O

sobrenadante (plasma) foi transferido a tubos novos de 15ml.

O precipitado foi reservado para o isolamento das frações

celulares. O sobrenadante foi novamente centrifugado a 4000

rpm por 10 minutos a 4°C e após centrifugação, o

sobrenadante foi aliquotado em tubos de 1,5 ml e armazenado

a -20°C para uso posterior. Os volumes iniciais de SP, assim

como a hora da venopunção e do armazenamento foram

registrados.

3.10.1.2. Separação de células: ao precipitado obtido na etapa anterior,

o volume de sangue inicial foi reconstituído com solução de tampão

fosfato (PBS). Para realizar a separação das frações celulares foi

realizada centrifugação em gradiente de densidade, utilizando Ficoll-

Histopaque® (Sigma).

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37

Pacientes e Métodos

� Separação de células mononucleares por centrifugaçã o em

gradiente de densidade: as amostras de SP reconstituídas em

volumes adequados de PBS 1X foram colocadas sobre um

volume igual de Ficoll-Histopaque®–1077 (Sigma).

Centrifugou-se a 400 x g durante 30 minutos a 25°C. O anel de

células mononucleares da interface foi extraído pelo capilar de

uma pipeta Pasteur e transferido a um tubo novo. Realizaram-

se duas lavagens com PBS a 250 x g por 10 minutos a 4ºC.

Finalmente, as células foram ressuspendidas em 1ml de PBS,

contadas em câmara de Neubauer e processadas para

extração de ácidos nucléicos (DNA e RNA).

� Separação da fração granulocítica: após separação por Ficoll, o

precipitado de hemácias contendo a fração de granulócitos foi

reconstituído com PBS e a esta nova solução foi acrescentada uma

solução do polímero de hidroxi-etilo a 6% (Hespan®). Após

aproximadamente 1 hora, o sobrenadante foi transferido para um tubo

novo, lavado uma vez com PBS. O precipitado final foi reconstituído em 1

ml de PBS e as células contadas em câmara de Neubauer e processadas

para extração de ácidos nucléicos (DNA e RNA).

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38

Pacientes e Métodos

Amostras de SP semanal da pega até o D+100 (aproxi madamente 12 amostras por paciente).

Centrifugação 1500 rpm 10 minutos, - 4°C

Tubo B original com pellet

Tubo A com sobrenadante (plasma)

Centrifugação 4000 rpm 10 minutos, - 4°C

Tubo S

Separação por gradiente de densidade Ficoll Histopaque

(4+10)

Reconst ituir o volume de sangue inicial com PBS

Células mononucleares

TRIzol

DNAzol

Congelamento

de células

Granulócitos

Tubo P Armazenar a - 20°C

Centrifugação 1200 rpm 10 minutos, - 4 o C Armazenar a – 20 o C

Figura 6:. Fluxograma de amostras

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39

Pacientes e Métodos

3.10.2. Extração de DNA e RNA

� Extração de DNA: uma alíquota das suspensões de células

contendo 1-3 x 107 células, foi ressuspensa em 1ml de

DNAzol®. O DNA foi precipitado a partir da adição de 0,5mL

de etanol absoluto (Merck) a 4°C, lavado duas vezes com

etanol 95%, solubil izado em 100 a 500mL de NaOH 8 mM e

neutralizado com HEPES 0,1 M.

� Extração de RNA: a extração de RNA foi realizada mediante

uti l ização do reagente TRIzol® (Invitrogen), na proporção

de 1 mL de TRIzol® por 5-8 x 106 células. Nos

procedimentos de manipulação de RNA, as devidas

precauções foram tomadas para evitar a contaminação e

degradação por RNAses: as manipulações foram realizadas

em locais exclusivos, com micropipetas e estantes

destinados para tal f inalidade, com material de plástico livre

de RNAses e sobre superfícies l impas e descontaminadas

com reagentes especiais (RNAseAway, Invitrogen). As

luvas foram trocadas freqüentemente durante todos os

procedimentos. As células em TRIzol foram agitadas em um

vórtex e incubadas entre 3-5 minutos à temperatura

ambiente. Para separar as fases orgânica e aquosa foram

adicionados 200ml de clorofórmio, e realizada incubação

por 3 minutos à temperatura ambiente após agitação

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40

Pacientes e Métodos

manual. A amostra foi centrifugada a 12.000 x g por 10

minutos, a 4ºC. A fase aquosa foi transferida para um tubo

novo e o RNA foi precipitado mediante a adição de 500ml de

álcool isopropílico. A amostra foi incubada 1-12 horas a –

20ºC, seguido de centrifugação a 12.000 x g por 10 minutos, a

4ºC. O sobrenadante foi descartado e o RNA, em forma de

pellet, foi lavado com 1 ml de etanol 75% gelado, preparado

com água tratada com dieti l pirocarbonato (H2O-DEPC). A

amostra foi centrifugada a 7.500 x g por 10 minutos, a 4ºC.

Em seguida, deixou-se secar o RNA por 10 a 20 minutos à

temperatura ambiente e este foi solubil izado em 12ml de H2O-

DEPC. Após avaliação quantitativa, por leitura

espectrofotométrica a 260 nm, o RNA foi uti l izado de imediato,

e, em seguida, armazenado a –70ºC.

3.10.3.Obtenção de DNA complementar (cDNA)

As reações foram realizadas em 20µ l de volume f inal. O RNA

(1-2 mg) foi inicialmente misturado com os iniciadores hexaméricos

randômicos (Random Hexamer Primers, Invitrogen) diluídos a

200ng/µ l , para obter uma concentração f inal de 5µM. Os tubos foram

incubados 10 minutos a 65ºC e colocados no gelo por 5 minutos.

Preparou-se, então, uma mistura contendo tampão [20 mM Tris-HCl

(pH 8,4), 50mM KCl], MgCl2 concentração f inal de 2,5mM, dit iotreitol

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41

Pacientes e Métodos

(DTT) concentração f inal de 10mM, deoxinucleotídeo trifosfato

(dNTP) concentração f inal 1mM e H2O-DEPC até completar o

volume. Após incubação por 5 minutos a 42°C, foram adicionados, a

enzima Superscript TM® (Invitrogen) (10 U/mL) e o inibidor de

RNAse RNAguard (Invitrogen) (1U/mL). Esta mistura foi adicionada

ao RNA, seguido de incubação por 10 minutos à temperatura

ambiente e subseqüentemente por 40min a 42°C. Após o término da

retrotranscrição, os tubos foram aquecidos a 65°C p or 5 minutos,

para interromper a ação da transcriptase reversa. O cDNA foi

uti l izado como substrato das reações de RT-PCR (2-3 mL de cDNA

por reação) e armazenado a -20°C.

3.10.4 Métodos de PCR

3.10.4.1. Precauções para evitar a contaminação cruzada:

no percurso deste trabalho, foram seguidas medidas

sistemáticas para evitar amplif icações espúrias de DNA e

contaminação cruzada entre amostras, a saber: todos os

materiais e reagentes uti l izados na preparação das reações de

PCR permaneceram sempre em ambientes f isicamente

separados do setor de processamento dos produtos

amplif icados; foram util izados materiais descartáveis estéreis,

micropipetas automáticas de deslocamento posit ivo e

ponteiras com barreira, diferenciados para os procedimentos

pré e pós- amplif icação; os materiais e superfícies foram

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42

Pacientes e Métodos

l impos com álcool isopropílico 70% antes de cada processo e

luvas descartáveis foram util izadas e substituídas

freqüentemente durante todos os procedimentos pré e pós-

amplif icação.

3.10.4.2. PCRs para gene constitutivo: com o objetivo de

determinar a “amplif icabil idade” do DNA e do cDNA e testar a

presença de inibidores da PCR que pudessem levar ao

aparecimento de falsos negativos, realizaram-se reações

util izando iniciadores específ icos para o gene constitutivo

BCR, para amplif icar um fragmento de 800 pb. As reações

foram realizadas com métodos padronizados no laboratório de

Biologia Molecular.

3.10.4.3 PCR para detecção do CMV: a detecção molecular

do CMV foi realizada por PCR nas diferentes frações

celulares. Foi padronizado um método de RT-PCR nested para

a amplif icação de um RNAm tardio denominado spliced late

gene (SLG). Este gene é expresso quando o vírus se encontra

no ciclo lít ico, e sofre o processamento de RNA para formar

duas variantes: uma contendo um intron de 83pb e a outra em

que este intron foi processado. Os iniciadores foram

desenhados para diferenciar entre estas duas isoformas,

através da avaliação do tamanho, permitindo a amplif icação

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43

Pacientes e Métodos

de um segmento de 258 pb e outro de 175 pb. Como o DNA

contém também o mencionado intron, a presença do segmento

amplif icado de 258 pb poderia ser devido a DNA

contaminante. Portanto, um resultado de PCR foi considerado

indicativo de reativação viral (resultado posit ivo) somente

quando foram observados ambos os amplicones.

� Condições da reação: as reações foram desenhadas

para serem realizadas em duas etapas, em que o

produto da primeira etapa é reamplif icado na segunda

com iniciadores mais internos (nested-PCR). Foram

util izados volumes f inais de 50µL, com tampão de PCR

contendo 50mM KCl, 10mM Tris HCl (pH 8,3)

(Invitrogen) e MgCl2 uma concentração f inal de 1,5; uma

mistura de dATP, dTTP, dCTP e dGTP (dNTPs) a uma

concentração de 0,2mM cada um; oligonucletídeos

iniciadores (primers) a concentrações de 0,4 µM de

cada um e água deionizada estéril para completar o

volume da reação. Em todos os casos foi incorporado,

por reação, 3µl de cDNA ou DNA substrato e 1U da

enzima Platinum ® Taq DNA polimerase. Ambas as

etapas foram realizadas nas mesmas condições, sendo

que na segunda, 1µ l do produto da primeira reação foi

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44

Pacientes e Métodos

uti l izado como substrato. Os oligonucleotídeos

iniciadores uti l izados na primeira etapa foram:

CMSLG1-CTATGGATCTTGAGCTTACT e CMSLG2-

TCGCTGCCATCTCCGTCTGT; Os iniciadores da

segunda etapa foram: CMSLG3-

GTGACCTTGACGGTGGCTTT e CMSLG4-

CGTCATACTCCCCGGAGTAA. As condições de

amplif icação foram 30 ciclos de desnaturação a 94ºC

por 1 minuto, annealing a 55ºC por 2 minutos e

extensão a 72ºC por 2 minutos.

� Sensibil idade e especif icidade do método: estudos

realizados no laboratório, uti l izando diluições seriadas

do plasmídio pCR2.1 contendo o alvo de amplif icação

mostraram que a primeira etapa do método foi capaz de

detectar um equivalente de 500-1000 cópias do vírus e

que a reação de nested-PCR foi capaz de detectar

equivalentes de aproximadamente 10 cópias do vírus. A

especif icidade do método foi testada em 20 amostras de

células granulocíticas de doadores saudáveis (13 casos

com sorologia posit iva para CMV [IgG+/IgM-] e 7 com

sorologia negativa). Em nenhum dos casos foi obtido

resultado posit ivo, indicando que o método é específ ico

para detecção da reativação viral.

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45

4. RESULTADOS

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46

Resultados

4. RESULTADOS

4.1. Características dos pacientes e transplante

De 15 de agosto de 2005 a 18 de abril de 2007, 29 pacientes

submetidos a TCTH alogeneico no CEMO — INCA foram recrutados

pelo estudo. Seguindo o desenho original do estudo, os pacientes

foram avaliados para reativação da infecção do CMV por antigenemia.

Quinze dos 29 (51,7%) pacientes apresentaram reativação da infecção

pelo CMV, sendo randomizados: cinco destes pacientes foram

randomizados para o grupo manutenção e dez para o grupo

observação. Esses 15 pacientes constituem o grupo particularizado do

estudo.

Oito dos 15 eram do sexo masculino e sete do sexo feminino; a

mediana de idade foi de 14 anos (4 a 64 anos).

Em relação à doença de base no momento do TCTH, 8 pacientes

tinham o diagnóstico de leucemia aguda, sendo dois com leucemia

linfóide aguda (LLA) em primeira remissão completa (RC), um com LLA

refratária, e um com LLA em primeira recidiva; três com leucemia

mielóide aguda (LMA) em primeira RC e um com LMA refratária. Um

paciente tinha o diagnóstico de leucemia mielocítica crônica (LMC) em

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47

Resultados

fase acelerada (FA), um paciente teve o diagnóstico de síndrome

mielodisplásica (SMD) hipoplásica, um de síndrome de Kostman (SK) e

um de anemia aplástica grave (AAS). Três pacientes, um com mieloma

múltiplo (MM) e dois com linfoma não-Hodgkin (LNH) encontravam-se

em recaída após TCTH autólogo.

Oito de 15 pacientes foram considerados em fase precoce e sete

em fase avançada de doença. Fase avançada foi def inida como

leucemia aguda além da primeira RC, LMC em FA ou crise blástica

(CB) ou pacientes em recaída pós-TCTH autólogo.

A fonte de células-tronco foi medula óssea em 11/15 e sangue

periférico em 4/15 pacientes.

Os pacientes com SK, LMA, LMC e SMD receberam como

condicionamento bussulfano e ciclofosfamida, exceto um paciente com

LMA que recebeu um regime de intensidade reduzida, f ludarabina e

melfalano, devido à idade avançada. Os pacientes com LLA foram

condicionados com ciclofosfamida e irradiação corpórea total — a RT

substitui o bussulfano nesses pacientes visando uma melhor

penetração no SNC e testículos (chamados santuários — locais

freqüentes de recidiva). O paciente com AAS recebeu ciclofosfamida e

timoglobulina como condicionamento. Os três pacientes em recidiva

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48

Resultados

após TCTH autólogo receberam regimes de intensidade reduzida:

ciclofosfamida e f ludarabina no caso dos dois pacientes com LNH e

f ludarabina e melfalano no caso do paciente com MM.

A prof ilaxia de DECH foi feita com ciclosporina e metotrexate em

14/15 pacientes; somente um paciente recebeu ciclosporina isolada por

tratar-se de um transplante singeneico. As carcterísticas dos pacientes

e transplantes estão resumidas na tabela 4.

Tabela 4. Características dos pacientes e transplantes

Caso

Sexo

Idade (anos)

Diagnóstico

Fonte de células-tronco

Regime de condicionamento

Profilaxia de DECH

Sorologia CMV pré-transplante Doador/receptor

1M M 51 LLA SP CyTBI CSP/MTX +/+

2O M 64 LMA MO FluMel CSP/MTX +/+

3O F 58 LMA SP BuCy CSP/MTX +/+

4O M 23 LMC MO BuCy CSP/MTX +/+

5M M 6 LLA MO CyTBI CSP +/+

6M F 4 LMA MO BuCy CSP/MTX +/+

7O F 5 LLA MO CyTBI CSP/MTX +/+

8O M 53 MM SP FluMel CSP/MTX -/+

9M M 10 LNH MO CyFlu CSP/MTX -/+

10M F 14 SMD MO BuCy CSP/MTX +/+

11O F 6 SK MO BuCy CSP/MTX +/+

12O F 39 LNH SP CyFlu CSP/MTX +/+

13O M 22 AAS MO ATGCy CSP/MTX +/+

14O F 5 LMA MO BuCy CSP/MTX -/+

15O M 9 LLA MO CyTBI CSP/MTX +/+

O, observação;M, manutenção;M, masculino;F, feminino;LLA, leucemia linfóide aguda;LMA, leucemia mielóide aguda;LMC, leucemia mielocítica crônica;MM, mieloma múltiplo;LNH, linfoma não-Hodgkin;SMD, síndrome mielodisplásica;SK, síndrome de Kostman;SP, sangue periférico;MO, medula óssea;CyTBI, ciclofosfamida e irradiação corpórea total;FluMel, fludarabina e melfalano;BuCy, bussulfano e ciclofosfamida;CyFlu, ciclofosfamida e fludarabina, ATGCy, timoglobulina e ciclofosfamida; CSP/MTX, ciclosporina e metotrexate, CSP, ciclosporina

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49

Resultados

Em relação à DECH, 6 pacientes desenvolveram DECH aguda,

sendo um com grau I (pele grau 2), quatro com grau II (todos com

comprometimento cutâneo isolado grau 3) e um com grau IV (f ígado e

TGI graus 4).

Os pacientes com DECH aguda graus II a IV receberam

tratamento: três receberam corticosteróides em associação com a

ciclosporina e dois t iveram a ciclosporina reintroduzida.

4.2. Infecção e doença pelo CMV

Cada par receptor/doador foi avaliado no período pré-transplante

quanto à presença de anticorpos IgG e IgM anti-CMV. Todos os

receptores tinham sorologia posit iva (IgG) para CMV, não tendo sido

detectada infecção ativa ou primoinfecção (IgM) em nenhum caso.

Dentre os doadores, apenas 3 apresentavam sorologias IgG e IgM

negativas. Em resumo, 12/15 eram doador posit ivo/receptor posit ivo e

3/15 eram doador negativo/receptor posit ivo para CMV (Tabela 4).

A primeira reativação do CMV detectada por antigenemia ocorreu

entre D+32 e D+68 (mediana: D+ 40). (Figura 7). Foram realizadas

reações de PCR para detectar a expressão do transcrito lít ico SLG do

CMV, nas mesmas amostras coletadas para antigenemia; a primeira

reativação da infecção por CMV detectada pelo PCR ocorreu entre o

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50

Resultados

D+12 e D+79 (mediana: D+29) (f igura 8). Quando comparado à

antigenemia o PCR detectou a reativação do CMV mais precocemente

em 10/15 pacientes analisados. A detecção do CMV pelo PCR precedeu

a detecção desse vírus por antigenemia por uma mediana de 13 dias

(-39 a 27 dias) (f igura 9).

Quando analisado o método de PCR em duas etapas em relação

ao método de referência (antigenemia), foi observado que a primeira

etapa do método foi capaz de detectar reprodutivelmente a presença do

transcrito viral lít ico em todos os casos com pelo menos uma célula

posit iva detectada pela antigenemia (Figura 10).

Figura 7. Boxplot representando o número de dias decorridos entre a data do transplante e a data da primeira antigenemia positiva para CMV.

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51

Resultados

Dias entre o TCTH e o primeiro PCR positivo

Figura 8. Boxplot representando o número de dias decorridos entre a data do transplante e a data do primeiro resultado positivo do PCR para RNA do CMV

Figura 9:. Boxplot representando o número de dias decorridos entre a data do primeiro PCR positivo e da primeira antigenemia positiva.

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52

Resultados

Quatro dos 15 pacientes apresentaram uma segunda reativação da

infecção por CMV, sendo 1/5 no grupo manutenção e 3/10 no grupo

observação (p=1,0). (Tabela 5). Nenhum paciente apresentou terceira

reativação da infecção pelo CMV.

Figura 10:. Resultados da detecção da expressão do gene lítico SLG do CMV por RT-PCR.

A. Comparação dos resultados do PCR na primeira e segunda etapa (nested-PCR). As imagens acima e abaixo, mostram os resultados da amplificação dos mesmos casos e controles. Na segunda etapa, um segmento de 258 pb e outro de 175 pb podem ser amplificados, sendo que somente a presença da isoforma de 175 pb é considerada indicação de reativação viral. Note-se a diferença de intensidade entre ambas as etapas.

1) Caso negativo por antigenemia e negativo por PCR (a amplificação do gene constitutivo BCR teve resultado positivo); 2-5) Casos positivos por antigenemia e positivos para PCR na primeira e segunda etapa; 6) Controle negativo (linhagem celular K562); 7) Controle positivo (caso sabidamente positivo, 7 células positivas por antigenemia); 8) controle de PCR (sem cDNA).

B. Resultados de um experimento de detecção de CMV na segunda etapa do RT-PCR, após resultados negativos na primeira etapa. Nos casos 1-6 e 8, o segmento de 175 pb foi amplificado com intensidades variáveis. 7 e 9) Casos negativos; 10) Controle negativo (linhagem celular K562); 11) Controle positivo; 12) controle de PCR (sem cDNA). M: Marcador de peso molecular de 100 pb. Gel de agarose 2,5% com brometo de etídeo.

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53

Resultados

Dois pacientes evoluíram para doença pelo CMV: um paciente

evoluiu com cistite hemorrágica atribuída ao CMV, sendo a urinocultura

e a pesquisa para adenovírus na urina negativas, porém não houve

confirmação diagnóstica. O outro paciente apresentou esofagite pelo

CMV, confirmada por biópsia, f irmando o diagnóstico de doença pelo

CMV. Ambos pertenciam ao grupo observação. O primeiro paciente

desenvolveu o quadro de cistite hemorrágica em presença de

antigenemia negativa, porém o PCR voltou a detectar o transcrito viral

indicativo de reativação em níveis baixos (2ª etapa do PCR),

concomitante ao quadro clínico. No segundo caso, os resultados

posit ivos do PCR mostraram uma cinética crescente (PCR posit ivo na

2º etapa, seguido de PCR posit ivo na 1ªetapa), que precedeu os

resultados posit ivos da antigenemia e a manifestação clínica da doença

por 20 e 55 dias, respectivamente.

Tabela 5. Freqüência de segunda reativação da infecção pelo CMV conforme grupo de estudo

Grupo do estudo

Reativação de CMV

Observação

Manutenção

Total

Não 7 4 11

Sim 3 1 4

Total 10 5 15

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54

Resultados

4.3. Toxicidade ao ganciclovir

A toxicidade medular do ganciclovir foi avaliada pela incidência,

grau e duração da neutropenia e pela incidência e gravidade da

plaquetopenia.

A neutropenia foi mais freqüente no grupo manutenção: 6/10

pacientes no grupo observação e 4/5 no grupo manutenção

desenvolveram neutropenia (p=0,52). (Tabela 6).

A duração da neutropenia variou de 2 a 20 dias (mediana: 11,5),

sendo 2 a 20 (mediana: 8,5) no grupo observação e 4 a 17 (mediana:

12) no grupo manutenção (p=0,66). (Figura 11).

Quanto ao grau de neutropenia, três pacientes apresentaram

contagem de neutróf i los entre 500 e 1000/mm3, sendo dois no grupo

manutenção e um no grupo observação; quatro apresentaram contagem

de neutróf i los entre 200 e 500/mm3, sendo um no grupo manutenção e

três no grupo observação; três apresentaram contagem de neutróf i los

inferior a 200/mm3, sendo um do grupo manutenção e dois do grupo

observação. Esses dois pacientes do grupo observação encontravam-

se em recaída medular da doença de base (LMA e LNH).(Figura 12).

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55

Resultados

Tabela 6. Freqüência de neutropenia conforme grupo de estudo

Grupo do estudo

Neutropenia

Observação

Manutenção

Total

Não 4 1 5

Sim 6 4 10

Total 10 5 15

Figura 11:. Boxplot representando o número de dias de neutropenia conforme grupo de estudo

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56

Resultados

A plaquetopenia (<100.000/mm3) foi também mais freqüente no

grupo manutenção, ocorrendo em 6/10 pacientes do grupo observação

e em 5/5 do grupo manutenção (p=0,23). (Tabela 7).

Contagem de plaquetas entre 100.000 e 50.000/mm3 ocorreu em

quatro pacientes (dois de cada grupo); entre 50.000 e 20.000/mm3

também em quatro pacientes (dois em cada grupo) e inferior a

20.000/mm3, requerendo reposição, em três pacientes (um do grupo

manutenção e dois do grupo observação). Esses dois pacientes do

grupo observação encontravam-se pancitopênicos por recaída medular

da doença de base. (Figura 13).

Figura 12:. Gravidade da neutropenia conforme grupo do estudo. Em destaque nos retângulos o número de pacientes.

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57

Resultados

Tabela 7. Freqüência de plaquetopenia (<100.000/mm3) conforme grupo de estudo

Grupo do estudo

Plaquetopenia

Observação

Manutenção

Total

Não 4 0 4

Sim 6 5 11

Total 10 5 15

Figura 13. Distribuição dos casos com plaquetopenia conforme intensidade e grupo de estudo. Em destaque nos retângulos o número de pacientes.

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58

Resultados

A alteração da função renal também foi avaliada. A taxa de

variação da função renal, medida como a razão entre as dosagens de

creatinina máxima e basal (no início do tratamento) foi de 1,0 a 2,44

(mediana: 1,59) no grupo observação e de 1,08 a 2,36 vezes (mediana:

1,66) no grupo manutenção (p=0,62). (Figura 14).

Oito pacientes desenvolveram infecção, sendo 3/5 no grupo

manutenção e 5/10 no grupo observação (p=1,0). Sete pacientes (três

no grupo manutenção e quatro no grupo observação) apresentaram

infecção bacteriana. Um paciente no grupo observação apresentou

infecção respiratória por Pneumocystis j iroveci (anteriormente

denominado Pneumocystis carinii). Dois pacientes desenvolveram

infecção fúngica:

Figura 14:. Taxa de variação da função renal, medida como razão entre as dosagens de creatinina máxima e basal, conforme grupo de estudo

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59

Resultados

um paciente do grupo manutenção evoluiu com hemocultura posit iva

para levedura, e um paciente no grupo observação apresentou

esofagite por Candida sp. (Tabela 8).

Tabela 8. Freqüência de infecção conforme grupo de estudo

Grupo do estudo

Infecção

Observação

Manutenção

Total

Não 5 2 7

Sim 5 3 8

Total 10 5 15

Nenhum dos pacientes avaliados apresentou quadro compatível

com resistência ao ganciclovir.

Um óbito ocorreu em um paciente no grupo observação por sepse

pós-recaída refratária da doença de base (LNH).

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60

5. DISCUSSÃO

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61

Discussão

5. DISCUSSÃO

A infecção por CMV no período pós-TCTH está associada com

grande morbidez, baixa sobrevida e aumento dos custos hospitalares16.

Assim, a prevenção e o manejo da doença pelo CMV pós-TCTH têm

importância crít ica, porém, as abordagens clínicas têm sido

historicamente heterogêneas. Embora o tratamento com ganciclovir

mostrou ser fundamental na prevenção da doença pelo CMV42,47, não

há, até o momento, uma definição sobre os riscos e benefícios do uso

do ganciclovir prof i lático ou em manutenção após o tratamento

preemptivo inicial.

Este trabalho apresenta resultados preliminares de 15 pacientes

incluídos em um estudo randomizado para a avaliação do valor da

manutenção com ganciclovir pós-tratamento preemptivo inicial para

infecção por CMV detectada por antigenemia.

Estes 15 pacientes, pertencentes a um total de 29 pacientes

recrutados pelo estudo, apresentaram reativação do CMV. O risco de

reativação da infecção por CMV varia de 50 a 70%8,9 ,10,12,13. A taxa de

reativação detectada por antigenemia nos pacientes deste estudo foi de

51,7%. A taxa de reativação quando detectada por PCR foi a mesma,

porém, o PCR realizado em granulócitos detectou a posit ividade para o

CMV mais precocemente do que a antigenemia na maioria dos

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62

Discussão

pacientes; somente em dois pacientes o PCR foi mais tardio do que a

antigenemia, corroborando os dados da literatura, que mostram maior

sensibil idade para o PCR em granulócitos do que a antigenemia ou

PCR no plasma. Boeckh et al33 comparou PCR no sangue total, com

PCR no plasma e antigenemia e demonstrou que o PCR no sangue

total apresentou 79% de posit ividade no D+32; a antigenemia 79% no

D+42 e o PCR no plasma 71% de posit ividade no D+45.

O método inicial por nós escolhido para a avaliação molecular da

reativação do CMV em pacientes transplantados foi a detecção da

expressão de um gene lít ico por um método de RT-PCR aplicado em

granulócitos do SP. O método mostrou ser sensível e específ ico para o

objetivo proposto. A escolha da fração celular foi devida ao tropismo do

CMV, estando em curso no laboratório estudos que comparam a

sensibil idade e especif icidade do método em células mononucleares e

plasma. A realização de um PCR em duas etapas obedeceu à

necessidade de garantir uma sensibil idade adequada para detecção de

baixa carga, mas também à possibil idade de estabelecer l imiares de

detecção com aplicabil idade clínica superior. De fato, a primeira etapa

da reação de PCR teve resultados coincidentes com a detecção de uma

célula por antigenemia. A sensibil idade desta etapa foi estimada entre

500-1000 cópias virais. Isto é corroborado por um estudo prévio de

Yaghobi et al 31 realizado por PCR quantitativa, que sugere uma

correlação entre uma célula posit iva em antigenemia com 500 cópias/ml

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63

Discussão

pelo PCR, mostrando a precisão e o desempenho do método escolhido

por nós.

A tendência nos diversos centros transplantadores é a

implementação de métodos quantitativos, o que é almejado para as

próximas etapas deste estudo. Para isto, o método de quantif icação

deverá ter os seus resultados comparados em relação às diferentes

fontes de material genético viral (celular e acelular). De qualquer

maneira, a experiência obtida neste trabalho indica a necessidade de

diversif icação dos métodos e material biológico, na busca dos

resultados mais predit ivos nas diferentes etapas pós-TCTH. Em

princípio, o método de RT-PCR com alvo no gene SLG parece ser uma

ótima escolha para as etapas precoces do transplante, em que a

neutropenia é preponderante e dif iculta a realização da antigenemia.

Uma outra questão em aberto é o ponto de corte para o início da

terapêutica preventiva. Garrigue et al30 sugere que 3,6 log10 cópias

virais por ml (aproximadamente 4.500 cópias virais por ml) indicariam

infecção aguda. Verkruyse et al29 assume que 10.000 cópias por ml

seria um valor seguro para início do tratamento preemptivo em

pacientes estáveis. Em relação aos nossos pacientes isto poderá ser

respondido após a implantação dos métodos quantitativos e o aumento

do número de pacientes incluídos no estudo.

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64

Discussão

No TCTH, a infecção pelo CMV usualmente decorre da reativação

do vírus latente nas células do receptor. Nos casos em que o receptor

é sorologicamente negativo para o CMV e o doador é posit ivo, a

primoinfecção ocorre no período pós-TCTH.

Dos casos deste estudo, nenhum receptor era soronegativo para

CMV, apesar do grupo conter 7 crianças (4 a 10 anos). Em conjunto,

90% (27/30) dos pares doador/receptor estudados apresentaram

sorologia posit iva para o CMV pré-TCTH, ref letindo a incidência de

sorologia posit iva na nossa população, coincidente com uma freqüência

de aproximadamente 100% reportada na literatura para países em

desenvolvimento8. Os nossos resultados preliminares, apresentando um

status sorológico similar em adultos e crianças, mostra a necessidade

da implementação de métodos de acompanhamento mais sensíveis,

para diagnóstico mais precoce da reativação viral. Da mesma maneira,

isto deve ser levado em conta na implementação de métodos

quantitativos de acompanhamento da carga viral/viremia, em relação à

escolha dos momentos de avaliação e na definição de pontos de corte.

A cinética da reativação do CMV é conseqüência da interação de

fatores virais com o sistema imune do hospedeiro. No período pós-

TCTH precoce a imunossupressão é decorrente da demora na

recuperação imunológica, agravada pelo regime de condicionamento e

pelo uso de agentes imunossupressores. A primeira reativação do CMV

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65

Discussão

detectada por antigenemia costuma ocorrer entre os dias +27 e +79

(mediana: +42) do TCTH33; no nosso estudo a primeira antigenemia

posit iva ocorreu entre os dias +32 e +68 (mediana: +40), como descrito

em estudos anteriores, apesar da elevada prevalência do CMV na

nossa população.

Os resultados de estudos com a prof ilaxia com ganciclovir

questionam um benefício em termos de redução da reativação e doença

pelo CMV, com uma elevada toxicidade medular da medicação, com

possível aumento nas taxas de infecção daí decorrente. Atkinson et al53

reportaram o uso do ganciclovir do D-8 ao D-1, sendo reiniciado com

neutróf i los ≥ 1000/mm3 e mantido até o D+84. Não houve casos de PI.

Goodrich et al 54 relataram o uso do ganciclovir prof i lático até o D+100,

mostrando diminuição da excreção do CMV de 45% para 3%, e da

doença pelo CMV de 29% para 10%; no entanto, não houve diminuição

da mortalidade por doença pelo CMV. Foi observada toxicidade

medular, com neutropenia e complicações a ela associadas. Winston et

al 17 relataram os resultados com o uso do ganciclovir do D-8 ao D-1,

com reinício após neutróf i los ≥ 1000/mm3 e mantido até o D+120.

Houve diminuição da taxa de infecção pelo CMV de 56% para 20%, mas

sem grande diminuição da doença pelo CMV (24 para 10%).

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66

Discussão

Boeckh et al21 randomizou 226 pacientes para a prof ilaxia com

ganciclovir até o D+100 ou tratamento preemptivo baseado

em

antigenemia posit iva (≥ 3 células em dois exames) e/ou viremia, sem

manutenção; houve maior incidência de infecções fúngicas precoces no

grupo prof ilático. Com o tratamento preemptivo, houve 30% de segunda

reativação e 13% de terceira reativação. Dos 15 pacientes avaliados

neste estudo, 1/5 no grupo manutenção e 3/10 no grupo observação

apresentaram nova reativação do CMV, reiterando os dados da

literatura. Nenhum paciente apresentou terceira reativação da infecção

pelo CMV, o que poderia ser devido ao corte no acompanhamento após

o D+100, previsto no estudo. Devido à casuística pequena deste estudo

preliminar, não podemos concluir que a manutenção com ganciclovir é

ef icaz na prevenção da reativação do CMV no pós-TCTH.

A incidência de doença pelo CMV varia de 1% a 8,9% na

literatura, dependendo da série9. Apenas 2 dos 15 pacientes deste

estudo (ambos do grupo observação) apresentaram quadro clínico

compatível com doença pelo CMV. O primeiro desenvolveu cistite

hemorrágica atribuída ao CMV (adenovírus e cultura de urina

negativos), porém sem confirmação diagnóstica; o segundo paciente

apresentou esofagite pelo CMV confirmada por biópsia. Considerando-

se somente o paciente que preenche critérios para doença pelo CMV19,

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67

Discussão

a incidência de doença pelo CMV foi elevada: 6,6%, ref letindo,

provavelmente, a elevada soroposit ividade para o CMV na população

estudada, o que é um dos fatores de risco para evolução para doença

por esse vírus. Esse paciente apresentava também DECH aguda grau

IV e fez uso prolongado de corticóide, ambos descritos como fatores de

risco para o desenvolvimento de doença pelo CMV9,14,15.

Um dos objetivos deste estudo foi avaliar a toxicidade medular do

ganciclovir no período pós-TCTH. Alguns estudos prévios relatam 30%

a 60% de neutropenia com o uso do ganciclovir, com uma mediana de

duração da neutropenia de 12 dias (4 a 20)40,41. A freqüência de

neutropenia observada neste estudo foi de 60% (6/10 pacientes) no

grupo observação e de 80% (4/5 pacientes) no grupo manutenção. Um

paciente no grupo manutenção e dois no grupo observação

desenvolveram neutropenia grave (<200 neutróf i los/mm3), sendo que

esses dois últ imos pacientes apresentavam pancitopenia por recidiva

da doença de base (LNH em um e LMA em outro), não podendo esta,

portanto, ser atribuída à medicação em estudo.

A duração da neutropenia foi maior no grupo manutenção

(mediana: 12 dias; 4 a 17) do que no observação (mediana: 8,5 dias; 2

a 20). Excluindo os mencionados dois pacientes em recidiva, a mediana

da duração da neutropenia no grupo observação foi de 4 dias (2 a 15).

Isto mostra uma tendência a maior neutropenia no grupo manutenção,

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68

Discussão

que somente poderá ser confirmada quando todos os pacientes

previstos forem incluídos no estudo.

A plaquetopenia foi observada em todos os pacientes no grupo

manutenção e somente em 6/10 no grupo observação. A gravidade da

plaquetopenia foi semelhante nos dois grupos, onde 1/5 pacientes no

grupo manutenção e 2/10 no grupo observação apresentaram contagem

inferior a 20.000/mm3; os dois pacientes do grupo observação

encontravam-se em recaída medular da doença de base e, portanto,

pancitopênicos. Não há referência na literatura a plaquetopenia

associada ao ganciclovir, porém poderia ser considerada como um

outro indicador da toxicidade medular associada a este medicamento.

Os pacientes de ambos os grupos apresentaram aumento nos

níveis de creatinina, uti l izado como indicador da função renal. Não há

descrição de nefrotoxicidade signif icativa atribuível ao ganciclovir na

literatura. É, portanto, importante lembrar a concomitância do uso de

outras drogas nefrotóxicas, como a ciclosporina e a anfotericina B, o

que pode ter contribuído para os resultados obtidos.

As taxas de infecção foram semelhantes nos dois grupos; a

neutropenia grave presente nos dois pacientes em recidiva de doença

pode ter contribuído para esses resultados.

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69

Discussão

Há descrição de aumento da taxa de infecção fúngica precoce

com o uso de ganciclovir prof i lático21. Nos pacientes avaliados neste

estudo, o uso prolongado do ganciclovir não repercutiu em um aumento

da taxa de infecção fúngica, visto que esse tipo de infecção ocorreu em

um paciente em cada grupo.

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6. CONCLUSÕES

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Conclusões

6. CONCLUSÕES

A casuística é ainda muito pequena para serem emitidas conclusões

definit ivas.

� Até o momento, não foi detectada diferença estatisticamente

signif icativa entre as taxas de reativação do CMV ou da

incidência de doença pelo CMV entre os grupos.

� O PCR para a detecção de um transcrito lít ico do CMV, realizado

na fração neutrofíl ica demonstrou posit ividade mais precoce do

que a antigenemia para detecção da reativação da infecção pelo

CMV, mostrando um desempenho superior a este método nas

etapas precoces do TCTH.

� A toxicidade medular (representada por neutropenia e,

principalmente, plaquetopenia) foi maior no grupo manutenção,

com relação ao grupo observação.

� Apesar da maior taxa de neutropenia no grupo manutenção, não

houve diferença entre as taxas de infecção nos dois grupos.

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7. PERSPECTIVAS

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73

Perspectivas

7. PERSPECTIVAS

Como manifestado no decurso deste trabalho, estes são

resultados preliminares de um estudo que visa incluir 46 pacientes para

determinar com erro de tipo alfa de 0,05% e um poder estatístico de

70%, o efeito da manutenção com ganciclovir na prevenção da

reativação da infecção pelo CMV em detrimento aos efeitos colaterais

do ganciclovir no paciente submetido a TCTH. Os resultados

apresentados demonstram a exeqüibil idade da realização deste estudo

no CEMO-INCA.

Foram também apresentados resultados da primeira fase de uma

abordagem laboratorial para o acompanhamento molecular da

reativação do CMV no pós-TCTH. Esta abordagem incluirá o

desenvolvimento de técnicas de PCR quantitativas e avaliação do

desempenho destas e da técnica de RT-PCR nas diferentes fontes

biológicas, nas diversas etapas pós-TCTH.

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Bibliografias

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