Métodos Lingua Estrangeira

download Métodos Lingua Estrangeira

of 11

Transcript of Métodos Lingua Estrangeira

  • 5/26/2018 M todos Lingua Estrangeira

    1/11

    METODOLOGIA DE ENSINO DE LNGUAS ESTRANGEIRAS:

    PERSPECTIVAS E REFLEXES SOBRE OS MTODOS,ABORDAGENS E O PS-MTODO

    JALIL, Samira Abdel Faculdades Santa [email protected]

    PROCAILO, Leonilda Faculdades Santa [email protected]

    Eixo Temtico: Didtica: Teorias, Metodologias e PrticasAgncia Financiadora: No contou com financiamento

    Resumo

    Neste artigo, pretende-se examinar a metodologia de ensino de lnguas estrangeiras e osprincpios pedaggicos que orientam a seleo dos procedimentos metodolgicos peloprofessor desta rea. Para tal, inicia-se a reflexo com a apresentao de um panorama dealguns mtodos que compem o leque de opes do professor de lnguas. Em seguida,apresenta-se uma discusso sobre as contribuies que o conhecimento destes mtodos

    podem trazer para os professores, partindo-se da perspectiva de uma seleo coerente dosprincpios mais adequados ao contexto em que o professor se encontrar. Estas so algumasdas premissas que norteiam o que se chama de Ps-mtodo na literatura em LingusticaAplicada. Os fatores contextuais particulares, a implementao criteriosa de teorias, e aescolha fundamentada de materiais com base na aplicao das concepes mais adequadascompem o sistema tridimensional de pedagogias do Ps-mtodo: particularidade, prtica epossibilidade, respectivamente (KUMARADIVELU, 2001). Os conceitos que circundam astrs pedagogias do Ps-mtodo so cruciais para o desenvolvimento de um trabalho maiscrtico na aula de lnguas estrangeiras. Portanto, faz-se mister o investimento individual doprofessor em conhecer e refletir sobre elas, com o intuito de alicerar uma construocolaborativa entre professor e aluno, assim como o crescimento individual na coletividade.

    Palavras-chave: Metodologia de Ensino. Lnguas Estrangeiras. Mtodo. Abordagem de

    ensino. Ps-mtodo.

    Introduo

    O presente artigo visa a examinar questes relacionadas ao ensino de lnguas

    estrangeiras, com enfoque em metodologia de ensino. Muito tem se discutido na rea de

  • 5/26/2018 M todos Lingua Estrangeira

    2/11

    775

    Lingustica Aplicada a esse respeito, principalmente no que concerne a questo de se existir

    (ou no) um mtodo ideal e quais contribuies cada mtodo pode trazer para o professor de

    lnguas. Tal discusso provm da constante busca por um aprimoramento dos princpios que

    norteiam a prtica docente e o complexo processo de ensino e de aprendizagem de lnguas

    estrangeiras.

    Apresenta-se um panorama dos princpios gerais de alguns mtodos de ensino de

    lnguas estrangeiras e suas contribuies. Na sequncia, discute-se a importncia de se levar

    em considerao a particularidade de cada contexto, a prtica docente e a pedagogia da

    possibilidade, pilares do Ps-mtodo. A partir da reflexo acerca dos assuntos acima

    mencionados, incentiva-se uma mudana de postura do professor e dos formadores de

    professores de lnguas estrangeiras, visando a uma seleo crtica e mapeada dos

    encaminhamentos metodolgicos que circundam a sua prtica. Assim, o professor, consciente

    do valor de uma prtica pedaggica coerente e instigante, poder melhor nortear seu trabalho.

    Desenvolvimento

    Para que se possa compreender um pouco mais sobre os caminhos tomados no ensino

    de lnguas estrangeiras, apresenta-se a seguir um panorama do que os principais mtodos eabordagens postulavam desde o comeo do sculo XX. Vale lembrar que so colocadas

    apenas as linhas gerais do desenvolvimento e da aplicao de alguns desses mtodos. A

    inteno que cada professor avalie e se perceba neles, ponderando aquilo que pode mudar,

    aperfeioar ou manter em sua prtica, de acordo com seu contexto de atuao.

    O Mtodo Tradicional (ou Mtodo da Gramtica Traduo)

    O Mtodo da Gramtica Traduo, mais conhecido como Mtodo Tradicional, foi a

    maneira encontrada para se trabalharem lnguas clssicas como o grego e o latim, ensinadas

    nas escolas, at meados do sculo XX (CHASTAIN, 1988). O enfoque do ensino e da

    aprendizagem girava em torno da traduo e da verso de textos literrios, j que o mtodo

    era usado para auxiliar os alunos na leitura destes textos em lngua estrangeira. Tais textos

    literrios eram considerados de nvel superior por contriburem como o conhecimento sobre a

    cultura da lngua estrangeira, aqui vista somente com o estudo das artes em geral. O

  • 5/26/2018 M todos Lingua Estrangeira

    3/11

    776

    referencial de sucesso na aprendizagem da lngua estrangeira era a habilidade de traduzir de

    uma lngua para outra, o que poderia ser obtido pela traduo literal e pela busca das

    similaridades entre a primeira e a segunda lngua. Pode-se dizer que o hbito de se traduzir

    textos em sala, muito comum ainda hoje, advm principalmente desse mtodo (HOWATT,

    2000:131; LARSEN-FREEMAN, 2000:12).

    Como outro objetivo deste mtodo o de transmitir um conhecimento sobre a lngua,

    a gramtica assume um papel normativo, sendo ela um dos focos centrais da aula. Para que os

    alunos possam ganhar conscincia das regras gramaticais, extensos trabalhos com a

    memorizao so realizados na forma de exerccios estruturalistas de substituio e/ou

    repetio. As estruturas so trabalhadas de forma dedutiva, ou seja, o professor explica as

    regras e os alunos aplicam as regras por meio de exerccios gramaticais tradicionais. Para

    Penny UR (2002), a sequncia dedutiva para a aprendizagem de estruturas gramaticais

    envolve o que, em Lngua Inglesa, chamamos de 3 Ps (PPP = Presentation, Practice,

    Production).

    Larsen-Freeman (2000:11) ressalta que este mtodo carregava consigo o princpio de

    que o exerccio de aprender uma lngua estrangeira era benfico para o aprendiz da lngua,

    mesmo que nunca chegue a us-la na oralidade. Assim, a habilidade de se comunicar por

    meio da fala no era um dos objetivos deste mtodo, pois o enfoque estava nodesenvolvimento das habilidades de leitura e produo textual.

    O professor-transmissor, neste escopo, colocava-se como a pea central da sala, pois

    detinha o saber, e pouca iniciativa era atribuda aos alunos. Sendo a autoridade em sala de

    aula, o professor corrigia os alunos para que sempre obtivessem a resposta correta. Portanto,

    ambos assumem uma postura tradicional, uma vez que o professor o detentor do saber e o

    aluno um mero aprendiz que realiza as atividades exatamente conforme orientado. Alm

    disso, a interao acontece sempre do professor para o aluno.

    O Mtodo Direto

    Ao contrrio do mtodo da Gramtica e da Traduo, o Mtodo Direto diminui

    totalmente o valor do uso da primeira lngua e enfatiza o uso da lngua alvo em sala de aula.

    O pensar na lngua estrangeira a norma, assim como a comunicao, em seu sentido mais

    amplo. A leitura segue sendo uma das habilidades privilegiadas, porm seu desenvolvimento

  • 5/26/2018 M todos Lingua Estrangeira

    4/11

    777

    caminha junto com a habilidade da fala e a aquisio de vocabulrio por meio dos textos e

    das situaes propostas. Para evitar a traduo e incentivar o uso da lngua estrangeira, o

    professor usa imagens, demonstraes, pantomimas e realia (objetos e atividades

    provenientes de contexto real de uso da lngua estrangeira). Inclusive, o currculo baseado

    em situaes e no em pontos gramaticais, e a pronncia dos alunos trabalhada desde o

    incio dos estudos.

    Percebe-se, tambm, uma expanso do conceito de cultura de lngua estrangeira para

    algo que vai alm das artes e inclui aspectos histricos e geogrficos, atitudes e

    comportamentos, entre outros. Segundo Larsen-Freeman (2000:28), saber uma lngua

    estrangeira tambm envolve aprender como os falantes daquela lngua vivem.

    Com relao ao trabalho com as estruturas gramaticais, estas deixam de ser

    trabalhadas de forma dedutiva e passam a ser trabalhadas de forma indutiva. A abordagem

    dedutiva da apresentao de regras gramaticais, para compreenso e posterior prtica (ou

    produo), uma forma um tanto menos comunicativa do que a abordagem indutiva para a

    aprendizagem de estruturas gramaticais. Nessa segunda abordagem, o professor induz a um

    processo de descoberta das regras gramaticais a partir de generalizaes feitas pelos alunos

    durante e aps a prtica. Portanto, o professor de lnguas estrangeiras (LE) pode optar por

    uma aprendizagem prvia das regras ou ento engajar os alunos em alguma atividade para aconscientizao indireta sobre o sistema (LONG, M.; J. RICHARDS, 2001).

    Segundo Celce-Murcia (2001), no Mtodo Direto, apesar do professor direcionar as

    atividades, o aluno tem um papel mais ativo na prpria aprendizagem do que no Mtodo

    Tradicional. Professores e alunos so parceiros na interao e os professores auxiliam os

    aprendizes da lngua a se autocorrigirem, geralmente apresentando a opo errada do aluno e

    a correta na forma de pergunta.

    O Mtodo Audiolingual

    O Mtodo Audiolingual tambm privilegia o desenvolvimento das habilidades orais,

    assim como o Mtodo Direto. Seus pressupostos tericos baseavam-se nos princpios da

    lingustica estrutural (FRIES, 1945) e da psicologia comportamentalista (PAVLOV, 1927;

    SKINNER, 1957). A lngua vista como um conjunto de hbitos que se adquirem por meio

    de um processo mecnico de estmulo resposta. Acredita-se que a aprendizagem dos

  • 5/26/2018 M todos Lingua Estrangeira

    5/11

    778

    padres estruturais da lngua acontece por meio de condicionamento ou formao de hbitos,

    ou seja, quanto mais vezes algo repetido, melhor ser a aprendizagem.

    Prioriza-se o desenvolvimento das habilidades orais, de forma a seguir a ordem

    natural de aquisio de primeira lngua: compreenso auditiva, produo oral, compreenso

    textual e, por fim, a produo textual. As estruturas e os novos vocbulos so apresentados

    por meio de dilogos artificiais elaborados com a finalidade de proporcionar ao aluno a

    visualizao de um possvel contexto de uso da estrutura. Os dilogos so aprendidos por

    imitao e repetio e os drills so considerados a atividade central de prtica de uso da

    lngua (LARSEN-FREEMAN, 2000: 44-45).

    Sendo baseado na psicologia comportamentalista de Skinner (1957) e PAVLOV

    (1927), o Mtodo Audiolingual posiciona o professor no centro do processo, dirigindo e

    controlando o comportamento lingustico do aluno. O professor o modelo de uso lingustico

    que os aprendizes da lngua imitam. Dessa forma, o professor como o lder de uma

    orquestra: conduz, orienta e controla o desempenho dos seus alunos. (CELCE-MURCIA,

    2001:37)

    Ainda examinando as diretrizes deste mtodo, importante mencionar a importncia

    da correo imediata dos erros pelo professor. Acreditava-se que os erros levavam

    formao de maus hbitos; portanto, deveriam ser tratados como algo destrutivo, e noconstrutivo. Em decorrncia dessa postura diante dos erros, o reforo positivo era essencial.

    Assim, as respostas certas dadas pelos alunos deveriam ser valorizadas pelo professor,

    enquanto o erro deveria ser banido de sala de aula.

    A Abordagem Comunicativa

    Por volta das dcadas de 70 e 80 do sculo XX, alguns professores e linguistasperceberam que os alunos eram capazes de produzir sentenas gramaticalmente corretas

    muitas vezes, mas pouco as utilizavam em situaes realmente comunicativas e reais fora da

    sala de aula. Ficou claro, portanto, que a comunicao (entendida como um todo, e no

    somente a fala) requeria mais do que simplesmente o conhecimento das regras. O conceito de

    competncia comunicativa, desenvolvido por Hymes (1970), postula que ser competente

    comunicativamente falando vai alm do conhecimento lingustico que o indivduo pode ter.

    Ser competente, comunicativamente falando, engloba tambm outras competncias:

  • 5/26/2018 M todos Lingua Estrangeira

    6/11

    779

    Competncia cultural: o conhecimento acerca do contexto sociocultural no qual se

    fala a lngua-alvo, levando-se em considerao: os pases, sua populao, suas tradies,

    costumes e hbitos, entre outros.

    Competncia sociolingustica: a competncia para saber escolher, entre os vrios

    meios e registros de comunicao, aquele que possui melhor adequao a uma determinada

    situao, ou seja, o uso de uma linguagem mais formal ou informal, por exemplo.

    Competncia discursiva: a capacidade de construir ou interpretar textos no seu

    conjunto, trabalhando, alm de aspectos como seleo, previso, inferncia e diferenciao

    de gneros, tambm questes relacionadas ao discurso. Aqui, o texto deixa de ser um

    pretexto para ensinar a gramtica e passa a ser o pilar de sustentao da aula, devendo ser

    priorizado sempre. A leitura no depender somente do material didtico, mas, tambm, da

    articulao feita pelo professor e do conhecimento de mundo do aluno.

    Competncia estratgica: a capacidade de usar estratgias apropriadas para

    compensar deficincias no domnio do cdigo lingustico ou outras lacunas na comunicao,

    visando favorecer uma efetiva comunicao ou alcanar um efeito pretendido (falar mais

    lentamente, pedir para repetir ou esclarecer algo, enfatizar certas palavras, entre outros)

    A prioridade dada ao conceito de competncias um recurso para quem busca um

    processo de ensino e de aprendizagem mais equilibrado, cujos objetivos so definidos noapenas em termos de contedos a serem aprendidos, mas tambm com base na discusso das

    habilidades que o aprendiz precisa desenvolver. Assim, a aprendizagem da lngua, antes

    relegada a um trabalho segmental cujo foco est nela mesma como objeto de estudo, passa a

    ser focada nos contextos autnticos e nas situaes de uso, elevando a aprendizagem ao

    nvel de suprasegmentos e discurso (LARSEN-FREEMAN, 2000:126; LONG, M.; J.

    RICHARDS, 2001).

    Segundo Brown (2001), o professor que faz uso da Abordagem Comunicativa passa aser um mediador da aprendizagem; promove situaes efetivas de uso da lngua e atua como

    um conselheiro dos aprendizes. Encoraja a cooperao entre os alunos e a comunicao entre

    eles por meio de atividades, jogos e dramatizaes, entre outros, de forma que se preocupem

    no somente com o que dizer, mas como faz-lo. Dessa maneira, os contextos social e

    cultural ganham maior importncia, assim como as interaes do tipo aluno-aluno. Com

    relao aos erros, o professor geralmente no corrige os alunos imediatamente, porm

  • 5/26/2018 M todos Lingua Estrangeira

    7/11

    780

    trabalha os erros como algo construtivo, retomados aps as situaes de prtica em um

    segundo momento de produo ou uso da lngua.

    O Ps-Mtodo

    Muito j se discutiu no mbito do ensino de lnguas estrangeiras quanto a qual seria a

    mtodo ideal de ensinar ou de aprender, o que fazer e como fazer para alcanar resultados.

    Segundo Silva (2004:2), os mtodos e as abordagens so apresentados como solues para

    problemas de ensino que podem ser aplicados em qualquer lugar e em qualquer

    circunstncia. Entretanto, nenhuma sala de aula, seja ela onde for, igual a outra, tem os

    mesmos alunos, os mesmos objetivos, as mesmas intenes, as mesmas expectativas, os

    mesmos professores. Assim sendo, alm da simples escolha ou mudana de mtodo, pode-se

    abrir uma discusso para anlise acerca das diferentes propostas que influenciam o ensino de

    lnguas estrangeiras. Indagaes como por que fazer essa atividade, com qual objetivo,

    embasado em qu, de onde e como devem fazer parte das aes dirias do professor, com o

    intuito de se tornarem mais crticos e conscientes daquilo que realizam. fundamental,

    tambm, desenvolver uma competncia que Almeida Filho (1999, p. 36) denomina de

    Competncia Aplicada: A competncia aplicada aquela que capacita o professor a ensinarde acordo com o que sabe conscientemente (teoria) e que lhe permite articular no discurso

    explicaes plausveis de por que ensina da maneira como ensina e por que obtm os

    resultados que obtm.

    Com o passar de tempo os mtodos e abordagens foram sendo adaptados a partir de

    conhecimentos adquiridos com os anteriores, ou a partir da pesquisa e prtica. Ento, novas

    teorias se alternaram em sua ateno ao professor, ao aprendiz ou ao processo.

    No entanto, a dificuldade em se adotar uma nica abordagem metodolgica comonorteadora das prticas sempre um desafio para o professor. Dvidas sobre como adaptar

    um determinado conjunto de pressupostos tericos a um grupo especfico e, dentro deste

    grupo especfico, como lidar com as diferenas individuais parecem apontar para uma

    necessidade de se olhar com cuidado para modelos tidos como pacotes prontos para serem

    usados. Parece no haver corrente terica, ou mesmo um conjunto delas em que se consiga

    pautar um trabalho slido e satisfatrio. Os modelos fornecidos parecem ter sido elaborados

    por teoristas que no vivenciam mais a realidade de sala de aula, em sua maioria. Tudo o que

  • 5/26/2018 M todos Lingua Estrangeira

    8/11

    781

    acontece no ambiente de ensino e aprendizagem certamente no consegue ser explicado por

    mtodos ou abordagens pr-estabelecidos. O professor, com um rol de decises a serem

    tomadas a todo o momento de sua prtica, vai optar por decises muitas vezes baseadas em

    sua experincia, sua vivncia com o grupo, o contexto cultural, social e valores pessoais.

    Nesse contexto, quais so as oportunidades para seguir uma ou outra abordagem? A partir de

    diferentes realidades e da verificao de necessidades especficas, o professor acaba por

    mesclar diferentes abordagens. Qual o resultado dessa adaptao? Faz-se uma seleo das

    caractersticas que se adequam a seu grupo. O mtodo passa a ser, ento, um manual a ser

    consultado em casos especficos, pois no condiz com a prtica diria.

    Kumaradivelu (2003, p. 544) define mtodo como uma construo da

    marginalidade, tendo em vista que reitera a explorao econmica e a dominao cultural.

    Analisando a perspectiva do pesquisador, admitimos que os produtores dos mtodos so, em

    sua maioria, falantes nativos. As perspectivas apresentadas por eles acabam por reforar o

    esteretipo de que o falante nativo o modelo a ser seguido, pois possui a lngua e a usa de

    forma natural. Usando essa viso como referencial, busca-se um ensino artificial, a partir

    de realidades idealizadas e situaes construdas para a prtica da lngua vista como modelo,

    e no como instrumento de comunicao.

    inevitvel que se vislumbre um cenrio de certo marasmo e, ao mesmo tempo, umabusca inquieta por frmulas mgicas que deem conta de realidades to complexas (SILVA,

    2004:1).

    Dewey (1978) considera a aprendizagem como a construo ativa do conhecimento

    atravs do engajamento a ideias em contextos significativos, um dos pressupostos da

    Abordagem Comunicativa. Os contextos significativos variam nos diversos espaos. O

    professor precisa, ento, identificar esses contextos significativos individuais. Segundo o

    pragmatismo americano de DEWEY, prxis : ... tudo deve ser ensinado em funo do seuuso e da sua funo na vida. Um conhecimento considerado verdadeiro se for til, se

    resolver os problemas enfrentados pelo homem (GOTTSCHALK, 2007). Como deve ser o

    ensino de LE para que a lngua alvo tenha funo pragmtica em nosso contexto?

    Kumaradivelu (2001) prope o ps-mtodo como um sistema tridimensional que

    consiste na pedagogia da:

    particularidade

  • 5/26/2018 M todos Lingua Estrangeira

    9/11

    782

    prtica possibilidade

    A particularidade refere-sea um grupo particular de professores, que ensinam a um

    grupo particular de aprendizes, que, por sua vez, buscam objetivos particulares em um

    contexto particular incrustado em um contexto sociocultural particular. Vislumbra-se uma

    adequao de conhecimentos tericos mais dirigidos s situaes reais, dentro de realidades

    especficas. O professor pode vir a ser o criador das teorias a partir da observao.

    A prtica, que seria o segundo p desse sistema tridimensional, questiona o uso de

    teorias profissionais geradas por especialistas. O professor no pode ser visto como o

    validador, o implementador de teorias geradas por terceiros. Ele pode gerar, sim, teorias

    pessoais a partir da interpretao e aplicao de teorias na sua prtica. Como seria possvel

    melhorar a prtica sem produzir conhecimento?

    A pedagogia da possibilidade encontra inspirao em Paulo Freire na Pedagogia do

    Oprimido, quando se refere s relaes de poder e domnio vigentes na sociedade. A partir

    desse pressuposto, qualquer pedagogia refora e mantm as desigualdades sociais. Estas

    relaes podem ser mudadas a partir da conscientizao do aprendiz e do contexto em que

    vive. O professor tem um papel preponderante nesta mudana. Ao se tornar produtor do

    material didtico apropriado ao contexto em que est inserido, atua e transforma a realidade,alm de engajar-se num processo contnuo de autodesenvolvimento. Sua participao como

    observador deste contexto fundamental. O seu ambiente pode ser o lugar onde encontra

    espao para compartilhar experincias, dvidas, receios e tambm refletir sobre teorias e

    concepes diversas, fazendo uso do que julgar adequado em quaisquer tendncias,

    lingusticas, pedaggicas ou didticas ou adapt-las a partir de uma perspectiva mais crtica.

    Consideraes finais

    Iniciou-se a discusso do presente artigo apresentando um panorama dos mtodos

    geralmente mais conhecidos para o ensino de lnguas estrangeiras. Questionou-se a adoo de

    um nico mtodo de ensino como o ideal para todos os contextos de aprendizagem de

    lnguas, com o intuito de instigar uma reflexo acerca da necessidade de se ter conhecimento

    sobre mais de um mtodo para incentivar uma mudana de postura por parte do professor de

  • 5/26/2018 M todos Lingua Estrangeira

    10/11

    783

    L.E, que deve levar em considerao a particularidade de cada contexto, a prtica docente e a

    pedagogia da possibilidade premissas bsicas do Ps-mtodo.

    Os mtodos de ensino devem ser considerados um referencial a ser adaptado por parte

    do professor de acordo com a situao particular ou contexto em que est inserido. Dessa

    maneira, o professor estar utilizando abordagens e mtodos que refletem seus princpios de

    forma mais acurada, o que diminuiria o abismo entre a teoria elaborada por estudiosos da

    Lingustica Aplicada e a prtica, vivenciada pelo professor em seu dia-a-dia.

    A seleo dos encaminhamentos metodolgicos mais adequados para o contexto em

    que o professor est inserido no pode acontecer de forma ecltica e aleatria, sem reflexo.

    Para Kumaravadivelu (1994:30), o ecletismo em sala de aula, invariavelmente, se

    transforma numa pedagogia assistemtica, acrtica e sem princpios. Justamente por isso, a

    escola pode ser um lugar onde o professor encontra espao para refletir sobre teorias e

    concepes diversas, fazendo uso crtico e consciente do que julgar adequado em quaisquer

    instncias, lingusticas, pedaggicas ou didticas. Uma mudana de postura do professor deve

    trazer consigo uma combinao de conhecimento de rea, conscincia sobre sua prtica

    pedaggica e tomada de ao para fazer a diferena em sala de aula. Essa combinao de

    fatores leva ao que Perrenoud (2002) chamou de competncia profissional do professor. E, se

    concebermos o aperfeioamento como desenvolvimento contnuo, o espao de trabalhopossibilita essa construo colaborativa entre professor e aluno e, consequentemente, o

    crescimento individual na coletividade.

    REFERNCIAS

    ALMEIDA FILHO, J. C. P. Dimenses comunicativas no ensino de lnguas.Campinas: Pontes, 1999.

    BROWN, H. D. Teaching by principles: an interactive approach to language pedagogy.New York: Longman, 2001.

    ______. Principles of language learning and teaching. New Jersey: Prentice Hall, 1997.

    CELCE-MURCIA, M. Teaching English as a Second or Foreign Language. Boston:Heinle & Heinle-Thomson, 2001.

    CHASTAIN, K. Developing Second Language Skills. CA: Harcourt Brace Jovanovich,1988.

  • 5/26/2018 M todos Lingua Estrangeira

    11/11

    784

    DEWEY, J. A criana e o programa escolar: vida e educao. Trad. de Ansio S. Teixeira.So Paulo: Melhoramentos, 1978.

    FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. RJ, Paz e Terra, 1987.

    FRIES, C. Teaching and Learning English as a Foreign Language. Ann Arbor: Universityof Michigan Press, 1945.

    GOTTSCHALK, C.M.C. Uma concepo pragmtica de ensino eAprendizagem.Educao e Pesquisa, So Paulo, v.33, n.3, p. 459-470, set./dez. 2007.

    HOWATT, A. P. R. A History of English Language Teaching. Oxford: Oxford UniversityPress, 2000.

    HYMES, D. On communicative competence. In: GUMPERZ, J.J. & HYMES, D. (Orgs.)

    Directions in Sociolinguistics. Nova Iorque: Holt, Rinehart and Winston, 1970.

    KUMARAVADIVELU, B. Critical language Pedagogy, a postmethod perspective onEnglish Language teaching. World Englishes, Vol. 22, n. 4, pp. 539-550, 2003.

    KUMARAVADIVELU, B. Towards a postmethod pedagogy. Tesol Quarterly, Vol. 35, n. 4,pp. 537-560, 2001.

    LARSEN-FREEMAN, D. Teaching Techniques in English as a Second Language.Oxford: Oxford University Press, 2000.

    LONG, M.; J. RICHARDS (ed.). Methodology in TESOL: a book of readings. Cambridge:Cambridge University Press, 2001.

    PAVLOV, I. P. Conditioned reflexes: an investigation of the physiological activity of thecerebral cortex. Oxford: Oxford University Press, 1927.

    PERRENOUD, P. A prtica reflexiva no ofcio do professor: profissionalizao e razopedaggicas. Porto Alegre: Artmed, 2002.

    SILVA, G. A. A Era Ps-Mtodo: novas concepes no ensino de lnguas o professor como

    um intelectual. In: Linguagem e Cidadania. Santa Maria, RS, v. 12, p.p.15, 2004.Disponvel em: http://www.ufsm.br/02_04/Gisvaldo.htm. Acesso em: 08 jun. 2009.

    SKINNER, B. F. Verbal Behavior. NY: Appleton-Century-Corfts, 1957.

    UR, P. Grammar practice activities: a practical guide for teachers. UK: Cambridge UniversityPress, 2002.