O Essencial Sobre Ritmanálise

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    Ficha Tcnica

    O livro O ESSENCIAL SOBRE

    RITMANLISE

    uma edio da

    IMPRENSA NACIONAL-CASA DA MOEDA

    tem como autor

    RODRIGO SOBRAL CUNHA

    com design, capa e composio do atelier

    SILVA!DESIGNERS

    tem o ISBN 9789722720526

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    Advertncia

    Dos dois textos que compem o presente escrito, como um smbolo, corresponde oprimeiro propriamente a uma iniciao ritmanlise a partir dos poucos escritos dosdois autores que de mais perto e profundamente trataram este novo modelo deconhecimento, Lcio Alberto Pinheiro dos Santos, o fundador da ritmanlise e GastonBachelard, o hermeneuta da ritmanlise. Entretanto, na expresso novo modelo deconhecimento, que apraz nossa poca sem deixar de ser verdadeira, pressupe-seuma ontologia do ritmo, que decerto se oferece renovada intuio possvel. Aescassez de textos acerca do tema da ritmanlise, pese embora a notvel qualidadedos intervenientes, bem como a relativa novidade do contedo e o seu considervel

    interesse para o pensamento contemporneo, levaram-nos a optar por facultar ao leitora traduo do texto que tornou conhecida a ritmanlise. Corresponde assim a segundaparte do presente trabalho nossa traduo do estudo de Gaston Bachelard sobre aobra do filsofo luso-brasileiro Lcio dos Santos, La rythmanalyse. Composto poruma introduo e um desenvolvimento, foi este texto originalmente publicado no

    prefcio e no oitavo captulo que encerra o livro de Bachelard La dialectique de ladure(Paris, Boivin), em 1936, tendo por ttulo homnimo o abobadado captulo Larythmanalyse. A edio utilizada para a nossa traduo foi a das PressesUniversitaires de France, de 2001 (pp. X-XIe 129-150).

    Pode assim o leitor formar uma noo considervel de uma tradio de pensamentogerada na primeira metade do sculo XXno mundo culto da lngua portuguesa e que,depois de chegar a Frana, se alargou generalidade das lnguas europeias, longetodavia de ter alcanado tal tradio a plenitude das suas virtualidades. Pois enquantoas epistemologias contemporneas vo olhando, h muitas dcadas j, para aritmanlise, parecendo no entanto no lhe alcanar o centro irradiante, do que se trata de caminhar dentro dessa noo do universo. O ritmo a msica dentro damsica, escreveu Schelling.

    Devo mencionar que este trabalho teve o apoio da Fundao para a Cincia e aTecnologia em mbito de ps-doutoramento.

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    IIntroduoDe Lcio Pinheiro dos Santos a Gaston Bachelard

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    O inventor da ritmanlise o filsofo bracarense Lcio Alberto Pinheiro dos Santos(1889-1950), matemtico, fsico, psiclogo, professor e poltico, que justamente sedir luso-brasileiro pela segunda metade da vida pensada na margem atlntica do

    Novo Mundo. Segundo ele, foi Leonardo Coimbra (1883-1936) o primeiro acompreender, por volta de 1916, a significao filosfica dos primeiros trabalhos da

    Ritmanlise que s vinte anos mais tarde haveriam de encontrar acolhida nopensamento de Bachelard, o filsofo do novo esprito cientfico e junto de algunsdos novos trabalhadores da moderna pesquisa filosfica1. Marcado pelas obras deLeonardo Coimbra O PensamentoCriacionista(1915) eAAlegria,aDoreaGraa(1916), o perodo de maior convvio entre os filsofos foi esse trinio de 1914 a1917, no qual Lcio e Leonardo deram aulas no Liceu Gil Vicente em Lisboa. Notrlogo DoAmor e daMorte2, Leonardo Coimbra considerar as vrias posiesantropolgicas, cosmolgicas e metafsicas dessa progressiva teorizao experimentaldo ritmo, assinalando tambm a compreenso recproca dos dois filsofos amigos,

    por vezes com palavras que alm de parecerem selar o ntimo acordo dospensamentos de ambos (Foi at no teu pensamento que melhor vibrou o meu ritmo3),favorecem a ideia de que Leonardo Coimbra considerasse Lcio dos Santos o melhorintrprete do pensamento experimental criacionista. Numa carta filosfica testamentalde Julho de 1946 escrevia o ritmanalista:

    No h dvida de que estamos na entrada de uma nova era,marcada por um novo pensamento; e o que vemfeito dopassado

    nobastamais.Os povos da Europa, se quiserem sobreviver, devem preparar-se,com o saber de uma antigaexperinciahumana, mas com a foraviril da renovao, como numa novamocidade, para daremalturade pensamento aesta nova experincia total que repete, em novosnveis, a sempre eternaexperinciadohomem,sempre a recomear,que , desde os Gregos, a construo de mundos, e, desta vez,

    verdadeiramente, escala universal: todos os homens, naconvivnciade uma vida comum, em que se ajudem, sem setolheremuns aos outros a liberdade,porque, dentro da nao e dentro domundo, da convivncia humana, e de sua interpretaointelectual, e no de qualquerprivilgio de casta ou de raa, que

    provm o verdadeiro progresso do esprito nacional, na unidademoral do mundo.4

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    Caberia a Gaston Bachelard (1884-1962) a elaborao da nica sntese formalrelativa dos dois volumes dactiloscritos policopiados de La rythmanalyse, enviados

    por Lcio Pinheiro dos Santos do Rio de Janeiro ao filsofo francs por volta de1931, tidos hoje por perdidos. Autor e obra so assim referidos por Bachelard em Ladialectique de la dure (1936): Lcio Alberto Pinheiro dos Santos, professor de

    filosofia na Universidade do Porto (Brasil),La rythmanalyse, publicao daSociedade de Psicologia e de Filosofia, Rio de Janeiro, 1931. Tomando amorada do remetente pela sua nacionalidade, no entanto, o destinatrio francsmencionaria Lcio Pinheiro dos Santos como filsofo brasileiro e Professor defilosofia na Universidade do Porto (Brasil), confundindo assim brasileiros efranceses durante mais de meio sculo, a ponto de se dar o homem por inexistente5.Lcio Pinheiro dos Santos nunca chegaria a encontrar editor para a obra, mas asobscuras vicissitudes da histria da ritmanlise prolongam-se para alm da morte dofundador, cujo esplio, aps reiterados insucessos de tentativas de publicao, aviva queimaria em acto empedocliano em frente da Imprensa Nacional pelo final dosanos 50 (no se sabe se por iniciativa prpria, se por ordem do filsofo). Bachelardmorre em 1962 e no seu esplio parece no haver vestgios de La rythmanalyse(como tampouco nos de Leonardo Coimbra, Jos Marinho e lvaro Ribeiro,conhecedores de diversas formulaes do texto da ritmanlise6). Com oreconhecimento do prprio Lcio Pinheiro dos Santos, fica por ora como textomatricial da ritmanlise o resumo feito por Bachelard emLa dialectique de la dure(1936), sem descurar outros textos seus que regressam ao tema (por exemplo,

    Rythmanalyse et tonalisation, em La terre et les rveries du repos, III, 2). Asiniciativas capazes de promover o conhecimento tanto do autor como da origem econtexto da ritmanlise tm sido pouco significativas7. Porm, o esquecimento no foicompleto e trs momentos em contramar emergem nos destinos da ritmanlise: um daresponsabilidade de SantAnna Dionsio8 por ocasio do falecimento de LcioPinheiro dos Santos, outro da responsabilidade de Joaquim Domingues9 e dePinharanda Gomes10na celebrao do cinquentenrio da mesma data, devolvendo existncia o nome de Lcio Pinheiro dos Santos11; e um terceiro momento com o

    aparecimento da Filosofia doRitmoPortuguesa, onde se considera a origem e oshorizontes da ritmanlise12. Mas o que pelos finais do sculo XX tornariamundialmente famoso o nome da ritmanlise foi a contrafaco de Henry Lefebvrenum curioso trabalho, ainda que menor, intituladolmentsdeRythmanalyse, onde se

    prope desenvolver o sentido da palavra ritmanlise, qual quer Lcio Pinheirodos Santos quer Gaston Bachelard, segundo escreve, no teriam feito mais do quealuses13.

    A ritmanlise ficou por ora fora do mainstream das histrias da filosofia, no

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    sabemos se para bem ou mal, mas pode acontecer que a sua obscura histria a coloqueem caso anlogo ao de certas sementes indefinidamente resistentes usura do tempo eque aguardam condies propcias para a ecloso. Recordam-se ainda, nesse sentido,as palavras de Ceclia Meireles:

    Um poeta sempre irmo do vento e da gua: deixa seu ritmo poronde passa.

    O alto conceito em que foi tido o criador da ritmanlise no seio discreto da filosofiaportuguesa era traduzido por lvaro Ribeiro numa carta a Jos Marinho em Janeiro de1937, aps o desaparecimento de Leonardo Coimbra, na assero proposicional deque Lcio Pinheiro dos Santos talvez deva ocupar hoje o lugar de primeiro filsofo

    portugus.Acerca do pensamento fundador da ritmanlise fazia SantAnna Dionsio o seguinte

    balano:

    Da compreenso do sentido convergente de certas intuiesfundamentais do pensamento especulativo e cientfico dos nossosdias surgiu no seu esprito o intelectual anseio de uma concepo quesimultaneamente satisfizesse o melhor da inspirao digamosheraclitiana de um Bergson e as mais altas exigncias de viso

    matemtica do real de um Lus de Broglie.Tal era a aspirao, por assim dizer dialctica e inefvel, da suadecantadaRitmanlise.Em smula, o vector essencial do pensamento singular de Lcio dosSantos pode dizer-se que deriva, em linha directa, da ideia-crena

    primordial do Pitagorismo: a ideia-crena de que o Ser , na sua maisntima substncia, figura e nmero, harmonia e ritmo. Tanto nalegalidade das energias fsicas, como no processo vital, como no fluir

    do esprito, a chave da explicao de tudo quanto existe e transita noseria outra seno a leidoritmo.14

    Reclamando abertamente para si a familiaridade desse veio da filosofiacriacionista15, onde as operaes da cincia e da poesia convergem em firmamentohermenutico de renovadas snteses universais, a ritmanlise vai tambm buscar scoetneas compreenses da energia, tanto do ponto de vista psicolgico (psicanlise)

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    como do ponto de vista fsico (mecnica quntica), matrizes interpretativas para omundo do esprito e para o mundo da natureza. A ritmanlise dinamiza em campos desntese superior a relao com o princpio de contradio, sempre em busca decompreenses crescentes, evoluindo na conciliao dos pontos de vista e entregando-se inventiva da polirritmia. Pela tnica na actividade da vida consciente, diferencia-

    se a ritmanlise da psicanlise, sobrepondo a capacidade de renovao do indivduo passividade dominada pelo inconsciente, completando com a sntese rtmica aanlise da disrritmia. Por outro lado, a dupla representao da fsica quntica,corpuscular e ondulatria, oferece uma interpretao dialctica dos fenmenos danatureza que a noo de ritmo no s ajuda a integrar como at a elevar a mais amplosmodos de compreenso. Lcio dos Santos recorda que Leonardo Coimbra substitui oconceito de substncia, como haviam de fazer, mais modernamente, os filsofos dacincia, pelo de actividade relacional16. Na verso ritmanaltica, a noo de ritmo,integrando a de actividade relacional, congloba efectivamente um novo modelo

    alargado de conhecimento, j que o ritmo a considerado como a prpria energia deexistncia e desse modo o princpio unificador da fsica, da biologia e da psicologia.Segundo Gaston Bachelard, coube a Pinheiro dos Santos o mrito de ter mostrado ocarcter verdadeiramente primordial da vibrao na prpria base da vida17.

    ideia monotonal de um tempo uniforme, contnuo e abstracto, dado de uma vezpara sempre como tal, contrape, ou melhor, sobrepe a ritmanlise a ideia dapluralidade dos tempos concretos e da vibrao multiforme, escancarando horizontes inventiva da renovao cintilante, manifestando-se precisamente nas possibilidades

    imensas das formas rtmicas.O hermeneuta e o promotor da ritmanlise Gaston Bachelard, a quem se deve nos a transmisso dessa viso rtmica do universo, como alguns dos seusdesenvolvimentos aplicados. Dupla a marca da ritmanlise no conjunto da obra dofilsofo francs, consignando-se por um lado na epistemologia do ritmo e na valnciacientfica da frequncia rtmica18 (desde a radiao aos movimentos biticos ecosmolgicos) e por outro lado na abordagem, de claro fundo ritmanaltico, dadialctica psicolgica da imaginao dos elementos (nos trabalhos em torno do ar, dofogo, da gua e da terra). Por intermdio da ritmanlise, a filosofia experimentalcriacionista influenciou o pensamento europeu contemporneo precisamente a partirda obra de Gaston Bachelard. No entanto, pouca ateno se tem prestado aosdesenvolvimentos que Bachelard deu a certas potencialidades psicolgicas do mtodoritmanaltico e particularmente as que apontam para as mais altas realizaes, razo

    para algumas notas.De acordo com o ensinamento de Lcio Pinheiro dos Santos, a primeira funo da

    ritmanlise, teraputica, desembaraar-nos das agitaes contingentes, das rotinas

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    neurticas, das arritmias desvitalizantes, restituindo-nos s alternativas de uma vidaverdadeiramente dinmica. Se assim nos podemos exprimir, cacoritmia19contrapea ritmanlise a euritmia e ao taediumvitaedo nada de novo contrasta ela a posiocorajosa do novo comeo. No s aceita ela a dualidade do psiquismo, talvez at asua bipolaridade estrutural, como faz disso mbil dialctico, activando-nos em

    direco a novas snteses e a novas passagens, onde a vida e o pensamento se tornemrtmicos. Assim transformada, a realidade h-de apresentar-se de outra maneira a umaateno ritmada (porventura a que reparar nesse cisne de desassossego rtmico, deque fala Fernando Pessoa). Impondo-se ao praticante de ritmanlise o semprerenovado regresso ao seu prprio ritmo, da que decorre uma melhor e maisconsciente ligao aos ritmos biocsmicos e sociolgicos, bem como experincia dartmica metafsica. Para isto aponta tambm a iniciao ritmanaltica de GastonBachelard. Alm das ritmanlises da imaginao literria e da fenomenologia

    psicolgica20esparsas pela sua obra21 (donde no est ausente uma antropologia doritmo22), oferece tambm a arquitectos capazes de filosofar, designers e demaisespcies de nidificadores (incluindo urbanistas e ambientalistas) a potica do espaona vivncia de uma ritmanlise da funo de habitar23.

    Quanto s subidas possibilidades da ritmanlise, escreve Bachelard em Le droit derver:

    Se filosofar , como ns cremos, no s manter-se em estado demeditao permanente, mas ainda na condio de primeira meditao,

    cumpre, em todas as circunstncias psicolgicas, reintroduzir asolido inicial. Introduzir em todos os nossos sentimentos a alegria ouo receio da solido, pr o sentimento na oscilao de umaritmanlise.

    para os psiquismos activos que a ritmanlise til, acentua emLapotiquedelespace o ritmanalista francs, que fornece uma tcnica em trs ordens deexperincias sucessivas para a suplantao do tempo horizontal e o acesso ao tempo

    vertical da concentrao rtmica o activo repouso lrico no qual culmina a doutrinaritmanaltica de Lcio Pinheiro dos Santos onde a poesia uma metafsicainstantnea:

    1) habituar-se a no referir o tempo prprio ao tempo dos outros romper os quadros sociais da durao; 2) habituar-se a no referir otempo prprio ao tempo das coisas romper os quadros fenomnicos

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    da durao; 3) habituar-se duro exerccio a no referir o tempoprprio ao tempo da vida no mais saber se o corao bate, sedesponta a alegria romper os quadros vitais da durao.24

    Aponta Bachelard ritmanlise, na senda de Lcio e de Leonardo, tambm ele

    tocado pelo lan da imaginao criadora, esse superior empenho (ao contrrio dapsicanlise ou da sociologia, ou da histria e da poltica, centradas na antropologiado homo normalis) sublimador dos aspectos que fazem evoluir o humano ser,conduzindo-o alm de si prprio e das suas possibilidades j consumadas. A poesia o estado rtmico do pensamento, escreveu Fernando Pessoa. O verdadeiroritmanalista h-de sublimar-se.

    Se a ritmanlise contm deveras um novo paradigma de conhecimento, como no demais insistir, ao futuro que comea que se descerram as paisagens dos seus

    mltiplos encaminhamentos, no esquecendo que a lea central a uma doutrina dainveno. Com a ritmanlise, as cincias do movimento atendero muito mais anoes como as de vibrao rtmica e de ressonncia e assim a medicina e as cinciasalimentares, bem mais cientes dos processos da transmisso da vida dos tecidos;sensvel ao princpio da relao rtmica entre todas as coisas, alterar-se- aconscincia da biosfera e com esta a vivncia ecolgica, o entendimento dosfenmenos climatricos e da repercusso destes nos entes animados e inanimados,etc., orientando-se o conhecimento no sentido de uma ontologia holorrtmica e de umaepistemologia do ritmo, em boa hora atentas ao sentido relacional dos indivduos e

    portanto verdadeiramente receptivas para o significado da palavra qualidade(isto ,com a capacidade de congregar aquilo que essencialmente prprio de cada qual)25;o que poder transformar os mtodos quantitativos, aprofundados por novas formas

    psicolgicas criadoras, desta vez ligadas s mais variadas escalas rtmicas, assimcomo as semiticas observaro o jogo dialctico entre os fenmenos da repetio e osda inovao, mas aportados por uma noo autntica de ritmo, agora mais prxima daideia de constante renovao. Mediante uma compreenso eminentemente qualitativa ecriadora do ser, noes como as de necessidade e de liberdade convergiro

    dialecticamente em noes como a de espontaneidade e outras afins criaoartstica26 e verificar-se- que assim como as quatro estaes so o calendrio doplaneta pelo qual pautam os entes, viventes e elementos, os seus andamentos, tambma cada mnada chamada a haver dado ritmar seu prprio ser. Os filmes acerca davida das plantas, quando acelerados, permitem apreciar a sintonia dos movimentosdestas, tal como as iniciativas particulares de algumas delas fora dos comportamentosgenricos (no ter o aparecimento dos insectos resultado destes tipos diversos deiniciativas das plantas?). At no indefinido vcuo para alm do azul surgem sinais de

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    ritmo: desde anis planetrios a luminescentes formaes gasosas com padresrtmicos, at ao pulsar termodinmico das estrelas e cinemtica das espiraisgalcticas prximas dos traos de Vincent van Gogh ou das logartmicas de certosmoluscos, as remotas imagens telescpicas do espao extraterrestre exibemdiversificadas estruturas e acontecimentos de tipo rtmico.

    Assim entregue ao infinitivo experimentar deste mesmo universo rtmico, ainvestigao do ritmo acolhe tambm seu pensamento secreto:

    Minha alma uma orquestra ocultaS me conheo como sinfonia.27

    1Profundeza e Perenidade do Pensamento de Leonardo Coimbra (1946), inLeonardo CoimbraTestemunhosdosseus Contemporneos, Porto, Livraria Tavares Martins, 1950, p. 57.

    2DoAmoredaMorte(1920), Porto, Livraria Chardron de Lello & Irmo, 1922.

    3Ibid., p. 14.

    4Carta de Lcio dos Santos (1946), in SearaNova , ano XXVIII, Dezembro de 1950, p. 388.

    5 o caso de Jorge Jaime naHistriadaFilosof ianoBrasil(1999), onde Lcio dos Santos tido por um filsofobrasileiro fantasma.

    6Cf. Joaquim Domingues, Lcio Pinheiro dos Santos: Ensaio Biogrfico, in TeoremasdeFilosofia, n. 2, Porto,2000.

    7Assim, no Colquio de 1989 Les Rythmes Lectures et Thories (LHarmattan, 1992) do Centre CulturelInternational de Cerisy, sob a direco de Jean-Jacques Wunenburger e nas investigaes do Groupe Rythmes etPhilosophie (gryph) (ditions Kim, 1996) do Centre Gaston Bachelard de lUniversit de Bourgogne, impulsionadas

    por Pierre Sauvanet em coordenao com Wunenburger, assumido o desconhecimento do autor da ritmanlise talcomo da gnese desta, ficando pois a coisa por conta de Gaston Bachelard. Em contraste com esta situao, porocasio do I Congresso Internacional sobre O Pensamento Luso-Galaico-Brasileiro entre 1850 e 2000, promovido

    pela Universidade Catlica do Porto em Outubro de 2007, apresentmos uma comunicao intitulada A Filosofia doRitmo Portuguesa: da Monadologia Rtmica de Leonardo Coimbra a Lcio Pinheiro dos Santos e a Ritmanlise, in O

    Pensamento Luso-Galaico-Brasileiro (1850-2000).ActasdoICongressoInternacional, vol. III, Lisboa,Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2009, pp. 575-592.

    8Lcio Pinheiro dos Santos, in Seara Nova, ano XXVIII, Dezembro de 1950, com dois trabalhos: TraosBiogrficos de Lcio dos Santos e A Ritmanlise por Gaston Bachelard (traduo parcial), encontrando-se aindana mesma edio a ltima carta conhecida de Lcio dos Santos (de 1946).

    9Lcio Pinheiro dos Santos: Ensaio Biogrfico, in TeoremasdeFilosofia, n. 2, Porto, 2000.

    10O mito de Lcio, segundo Bachelard, in ODiabo , n. 1225, Lisboa, 20 de Junho de 2000.

    11Jorge Jaime, Sobre a poca de Lcio Alberto Pinheiro dos Santos, in RevistaBrasileiradeFilosof ia, n. 226,Abril-Junho de 2007.

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    12Rodrigo Sobral Cunha,Filosofia do Ritmo Portuguesa, Vila Viosa, Serra dOssa Edies, 2008, cap. I, pp. 9-44.Esta obra tem reedio (acrescida) pela Zfiro (Coleco Nova guia), em 2010. A nossa traduo do texto deGaston Bachelard La rythmanalyse (La dialectique de la dure, cap. VIII, Paris, Boivin, 1936) apareceu na

    Philosophica(revista do Departamento de Filosofia da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa/ Colibri,Lisboa, n. 31, Abril de 2008).

    13lmentsderythmanalyse, Paris, Sylleps, 1992, p. 18.

    14SantAnna Dionsio, Lcio Pinheiro dos Santos, in SearaNova , ano XXVIII, Dezembro de 1950.

    15Veja-se especialmente a monadologia rtmica de Leonardo Coimbra, a que demos ateno naFilosof iadoRitmoPortuguesa , pp. 9-23.

    16Profundeza e perenidade do pensamento de Leonardo Coimbra (1946), in LeonardoCoimbraTestemunhosdos seus Contemporneos, Porto, Livraria Tavares Martins, 1950, p. 58.

    17La dialectique de la dure(cap. VIII,Larythmanalyse), Paris, Boivin, 1936.

    18NO Novo Esprito Cientfico(1934), Bachelard contrape epistemologicamente o conceito de ritmo ao de

    substncia; escrevendo nA Filosofiado No(1940): A radiao, entidade no-lavoisiana, pe-se como umaexistncia essencialmente temporal, como uma frequncia, como uma estrutura do tempo. Pode mesmo perguntar-sese esta energia estruturada, vibrante, funo de um nmero de tempo no bastaria para definir a existncia dasubstncia. Deste ponto de vista, a substncia no seria mais do que um sistema multirressonante, um grupo deressonncias, um conjunto de ritmos que poderia absorver e emitir certas gamas de radiao.

    19Se incluirmos neste conceito, alis como nos de arritmia e disrritmia, o cenrio ruidoso de uma civilizaotecnocientfica dominada pela turbulncia das vibraes mecnicas, ento talvez no seja demasiado tarde paraescutar as seguintes reflexes de lvaro Ribeiro: Obrigado a viver cada vez mais perto das mquinas, que invademos locais de trabalho, de habitao, de repouso e divertimento, o homem sofre as pancadas de energias mltiplas quese estendem em radiaes, vibraes e exploses, as quais afectam, contnua ou descontinuamente, o ritmo normal das

    funes orgnicas. No h pessoa que possa manter-se saudvel num ambiente em que lhe recusado o longo econtnuo sono reparador das energias perdidas, porque os rudos da habitao e os rudos da rua lho interrompemimpunemente (ALiteratura deJos Rgio, p. 14). O ouvido predominantemente passivo, destinado apenas areceber avisos e alarmes que quebram acidentalmente o silncio espacial, natural e saudvel. O excessivo cansao doouvido, praticado pela poluio sonora que provm dos maquinismos industriais, do trnsito rodovirio e do interior dashabitaes urbanas, actua rapidamente como factor de perturbao nervosa e de insanidade mental, ameaando jcom os seus perigos o futuro da humanidade (Memriasdeum Letrado, p. 19).

    20Com anotaes fecundas como esta: O vero psiclogo encontra no corao humano uma unio dos contrriosafectivos que suplantar as ambivalncias grosseiras (La terre et lesrveriesdureps).

    21Por vezes em vivas imagens como a que, em OAreosSonhos, integrando-nos no ritmo tranquilo da vida vegetal,mostra que a rvore o ser do grande ritmo, o verdadeiro ser do ritmo anual.

    22Recorrendo aos princpios psicolgicos da ritmanlise, a antropologia daPsicanlise do Fogoimagina a vida dohomem primitivo seguindo uma mesma dinamogenia ritmada das realidades como o amor, o trabalho e o canto; aeuritmia do brao, do sexo e da voz, harmonizando-se em ritmos mutuamente induzidos e temporalizados com sentido,amplificadores da conscincia e da autoconfiana.

    23Uma tal experincia do habitar, entre a janela recndita e a paisagem ilimitada, encontra uma dialctica daimensido e da intimidade, uma ritmanlise real em que o ser encontra alternadamente a expanso e a segurana (Laterreetlesrveriesdureps). Do simples retiro da cabana expanso magnificente do castelo, assim a experincia

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    dos extremos, entre a casa concentrada e a casa expansiva; embora uma ritmanlise do habitar numa casa acolhedorapossa oferecer-nos da sua janela a intimidade mesma do mundo, segundo a delicada observao deLa potique delespace.

    24Instant potique et instant metaphysique, inMessages: Mtaphysiqueet Posie, n. 2, 1939.

    25Refere Jos Marinho o concreto ritmo e secreto pulsar ntimo de todo o imenso ser (TeoriadoSere da

    Verdade, Lisboa, Guimares Editores, 1961, pp. 72, 108 e 126).

    26Leonardo Coimbra considera, por exemplo, o ritmo da Alegria criadora (Adorao. Cnticosde Amor), inObras Completas(1919-1921), Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2007, p. 249.

    27Fernando Pessoa,Nossa Senhora do Silncio.

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    IIARitmanliseGaston Bachelard

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    Introduo

    H alguns anos, foi-nos confiada uma importante obra que, tanto quanto saibamos,ainda no apareceu nas livrarias. A obra apresenta este belo ttulo, luminoso esugestivo: ARitmanlise28. Ao pratic-la, adquirimos a convico de que h lugar,em psicologia, para uma ritmanlise no mesmo estilo em que se fala de psicanlise.Cumpre curar a alma sofredora em particular a alma que sofre com o tempo, quesofre de spleen atravs de uma vida rtmica, de um pensamento rtmico, de umaateno e um repouso rtmicos. E antes de mais, desembaraar a alma das falsas

    permanncias, das duraes mal feitas, desorganiz-latemporalmente. No tempo dosNovalis, dos JeanPaul Richter, dos Lavater, a moda foi desorganizar os psiquismos

    entorpecidos em formas de sentimentalidades contingentes, sem fora porconsequncia para levar vidas estticas e morais29. Mas esta desorganizao, dirigidaao plano sentimental, fica grosseira demais para ns. Tentmos prolongar at a anossa filosofia da negatividade e levar os nossos esforos de dissociao at aotecido temporal, dissolvendo os ritmos mal feitos, apaziguando os ritmos forados,excitando os ritmos demasiado lnguidos, procurando snteses do ser na sintonia doacontecer, animando enfim toda a vida sabiamente ondulada pelos leves timbres daliberdade intelectual. Por vezes, em horas felizes e muito raras, reencontrmos ritmosmais naturais, mais simples, mais tranquilos. Saamos dessas sesses de ritmanliseserenado. O nosso repouso alegrava-se, espiritualizava-se, poetizava-se, ao viveressas diversidades temporais bem regradas. Por muito mal preparado queestivssemos para essas emoes pela nossa pobre cultura abstracta, parecia-nos queas meditaes ritmanalticas nos traziam uma espcie de eco filosfico das alegrias

    poticas. Subitamente, achvamos passagens, acordos, correspondncias inteiramentebaudelairianas entre o pensamento puro e a pura poesia. No amos somente de umsentido a outro, mas dos sentidos alma. Ser que a poesia no era ento um acidente,um pormenor, um divertimento do ser? Poderia ela ser o prprio princpio da

    evoluo criadora? Teria o homem um destino potico? Estaria ele na Terra paracantar a dialctica das alegrias e das dores? H a toda uma ordem de questes queno tnhamos qualidade para aprofundar. Portanto, reduzimos a nossa tarefa aomnimo e num curto captulo que termina o nosso livro, resumimos as teses maismarcantes da obra do Sr. Pinheiro dos Santos transformando-as ligeiramente nosentido de uma filosofia idealista onde o ritmo das ideias e dos cantos comandaria

    pouco a pouco o ritmo das coisas.

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    , , ,publicao da Sociedade de Psicologia e de Filosofia do Rio de Janeiro, 1931.

    29Ver por exemplo a bela tese do Sr. Spenl sobre Novalis, que valoriza o alcance filosfico e moral dadesorganizao.

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    A Ritmanlise

    Os estudos muito complexos e variadssimos do Sr. Lcio Alberto Pinheiro dosSantos, tais como pudemos conhec-los, apresentam-se sob a forma de uma srie deensaios que o prprio autor d como provisrios e sujeitos a reviso30. No temosinteno de mostrar o plano de conjunto nem de descrever as mltiplas linhas dedesenvolvimento. Queremos s fixar alguns temas gerais e examinar as ressonnciasque podem esses temas determinar na nossa prpria tese das duraes essencialmentedialcticas, construdas sobre ondulaes e ritmos. Para ser exposta com a amplidoque merece, a obra do Sr. Pinheiro dos Santos exigiria um volumoso trabalho. Elasugere, em muitos domnios, experincias que deveriam tentar investigadores em

    busca de ideias novas.30Lcio Alberto Pinheiro dos Santos, professor de filosofia na Universidade do Porto (Brasil), Larythmanalyse,

    publicao da Sociedade de Psicologia e de Filosofia, Rio de Janeiro, 1931.

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    I

    O Sr. Pinheiro dos Santos estuda a fenomenologia rtmica de trs pontos de vista:material, biolgico, psicolgico. Mais no faremos do que esboar o que diz respeitoaos dois primeiros pontos de vista, posto que, neste pequeno livro, so sobretudo as

    bases da psicologia da durao que nos interessam.Que a matria se transforma em radiao ondulatria e que a radiao ondulatria

    se transforma reciprocamente em matria, doravante um dos princpios maisimportantes da Fsica contempornea. Esta transformao to facilmente reversveldeve conduzir com toda a naturalidade a pensar que, em certos aspectos, a matria eas radiaes so semelhantes. Quer isto dizer que a matria deve ter, como asradiaes, caracteres ondulatrios e rtmicos. A matria no est instalada no espao,indiferente ao tempo; ela no subsiste, completamente constante e inerte, numa

    durao uniforme. Tampouco a se acha como qualquer coisa que se gaste e sedisperse. Ela no s sensvel aos ritmos; ela existe, em toda a fora do termo, noplano do ritmo, e o tempo onde ela desenvolve certas manifestaes delicadas umtempo ondulante, tempo que no tem seno uma maneira de ser uniforme: aregularidade da sua frequncia. As diversas potncias substanciais da matria, assimque estudadas no seu pormenor, apresentam-se como frequncias. Em particular,desde que acedemos s trocas energticas detalhadas entre as diversas matriasqumicas, apercebemo-nos que essas trocas se fazem de modo rtmico, pelointermdio indispensvel de radiaes com frequncias determinadas. Grosseiramenteapreciada, a energia pode sem dvida perder na aparncia os seus ritmos, distender asua proporo com o tempo ondulante; ela apresentar-se-, ento, como um resultadoglobal, como um balano onde o prprio tempo perdeu a sua estrutura ondulatria:

    paga-se a electricidade ao quilowatt-hora, o carvo tonelada. Mas -se na mesmailuminado e aquecido por vibraes. Mesmo as formas de energia mais constantes nonos devem iludir. A teoria cintica dos gases ensinou-nos que um gs preso numa

    bomba mantm o pisto num nvel invarivel por meio de uma multido de choquesirregulares. No seria absurdo, sem dvida, que sobreviesse um acordo temporal

    entre os choques e que o pisto saltasse sob o simples efeito dos choquessincronizados, sem nenhuma razo macroscpica. Mas o fsico tem confiana: a leidos grandes nmeros guarda os seus fenmenos; a eventualidade de um acordotemporal dos choques tem uma probabilidade desprezvel. De um modo inteiramentesemelhante, uma teoria cintica dos slidos mostrar-nos-ia que as figuras maisestveis devem a sua estabilidade a um desacordo rtmico. So as figuras estatsticasde uma desordem temporal; nada mais. As nossas casas so construdas com umaanarquia de vibraes. Caminhamos sobre uma anarquia de vibraes. Sentamo-nos

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    sobre uma anarquia de vibraes. As Pirmides, cuja funo contemplar os sculosmontonos, so cacofonias interminveis. Um mgico, regente de orquestra damatria, que pusesse de acordo os ritmos materiais, volatilizaria todas essas pedras.Esta possibilidade de uma exploso puramente temporal, devida unicamente a umaaco sincronizante sobre os tempos sobrepostos relativos aos diferentes elementos,

    mostra bem o carcter fundamental do ritmo para a matria.Se estudamos o problema ao nvel de um corpsculo particular, a concluso ser amesma. Se um corpsculo parar de vibrar, deixar de ser. Doravante, impossvelconceber a existncia de um elemento de matria sem juntar a este elemento umafrequncia determinada. Pode-se, pois dizer que a energia vibratria a energia deexistncia. Porque no teremos ento o direito de inscrever a vibrao no prprio

    plano do tempo primitivo? No hesitamos. Para ns, o tempo primitivo o tempovibrado. A matria existe num tempo vibrado e s num tempo vibrado. No prpriorepouso, ela tem energia porque repousa sobre o tempo vibrado. Tomar o tempo como

    um princpio de uniformidade seria ento esquecer uma caracterstica fundamental.Cumpre atribuir ao tempo uma dualidade bsica, visto que a dualidade, inerente vibrao, o seu atributo operante. Compreende-se agora que o Sr. Pinheiro dosSantos no hesite em escrever31: A matria e a radiao no existem seno no ritmoe pelo ritmo. No se trata, como muito frequentemente, de uma declarao inspirada

    por uma mstica do ritmo; verdadeiramente uma intuio nova solidamente fundadanos princpios da fsica ondulatria contempornea.

    Desde logo, o problema inicial no tanto perguntar como vibra a matria, quanto

    perguntar como pode a vibrao assumir aspectos materiais. A doutrina das relaesentre a substncia e o tempo apresenta-se, pois, sob uma perspectiva metafsicatotalmente nova: no se deve dizer que a substncia se desenvolve e se manifesta soba forma de ritmo; deve-se dizer que o ritmo regular que aparece sob forma deatributo material determinado. O aspecto material com a pseudo-riqueza da suairracionalidade apenas um aspecto confuso. Estritamente falando, o aspectomaterial a confuso realizada. A investigao qumica, dirigindo-se no a umamatria, mas a uma substncia pura, levar mais cedo ou mais tarde a definir asqualidades precisas dessa substncia pura como qualidades temporais, ou seja como

    qualidades inteiramente caracterizadas por ritmos. A fotoqumica sugere j, nestesentido, substncias verdadeiramente novas onde o tempo vibrado pe a sua marca.Pode-se prever que o qumico far em breve substncias, com o espao-temposimetrizado e ritmado. Dito de outro modo, o metafsico que quiser firmar intuies deacordo com as necessidades cientficas actuais, deve substituir o espao-tempoduplamente uniforme em uso na era pr-broglieana, pela simetria-ritmia.

    Como se v, o realismo necessita de uma verdadeira inverso metafsica para

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    corresponder aos princpios do materialismo ondulatrio. um ponto a que nospropomos voltar noutro trabalho onde daremos conta das provas cientficas.Tampouco discutiremos se um realismo assim invertido ainda, propriamente, umrealismo. Por ora, cumpria-nos esboar as bases fsicas da Ritmanlise e mostrar queesta doutrina, mais propriamente biolgica e psicolgica, provm de uma viso

    metafsica geral.

    II

    Seremos igualmente muito breve acerca do ensaio de biologia ondulatria tentadopelo Sr. Pinheiro dos Santos. A propsito de um nmero considervel de factos,colhidos sobretudo na homeopatia, o autor prope a interpretao ondulatria, isto

    a explicao da aco substancial pela substituio da substncia por uma radiaoparticular. A dilui o, sempre muito grande em homeopatia, favorece em suma atemporalizao vibrada da substncia medicinal. Esta interpretao plausvel; masno afasta completamente a tradicional interpretao substancialista. Seria preciso,sem dvida, instituir experincias de discriminao por exemplo, verdadeirasinterferncias medicinais, concebidas no modo vibratrio para legitimar plenamentea forma ondulatria proposta pelo Sr. Pinheiro dos Santos. Tentemos simplesmentecaracterizar metafisicamente os dois pontos de vista opostos e complementares dasubstncia e do ritmo.

    A intuio substancialista habitual antes de mais contradita, de certo modo, pelaexistncia da homeopatia. Com efeito, na sua forma nave, quer dizer na sua forma

    pura, a intuio substancialista pretende que uma substncia actue proporcionalmente sua massa, pelo menos at certo limite. Admite-se que haja doses ligeiras cujoexcesso produza perturbaes. Mas no se chega facilmente a admitir uma eficciadas diluies extremas administradas pelos homeopatas. Enquanto se considerar asubstncia mdica como uma realidade quantitativa, no se compreender facilmenteuma aco substancial que ocorra, de algum modo, em razo inversa da quantidade.

    Do mesmo modo, requer-se sempre que, numa higiene racional, as substnciasalimentares sejam colocadas na dependncia de um critrio ponderal. O corpohumano como um armazm de provises onde nenhuma prateleira deve ficar vazia.

    preciso absorver a dose quotidiana dos diversos alimentos que devem, matria amatria, encontrar-se novamente na economia da organizao. Mais uma vez aqui, aintuio quantitativa que se passa para primeiro plano.

    Poderamos nesta ocasio empreender uma psicanlise do sentimento de posse. Osucesso fcil das troas dirigidas contra os homeopatas prende-se, sem dvida

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    nenhuma, com a preponderncia do prazer da posse, muito claramente fsica, muitoclaramente material, que resulta da conscincia de digerir e de engordar. contra estasegurana maior e imediata que d a alegria de engolir que a homeopatia e a higieneondulatria devem reagir. As doutrinas da pequena dose tm contra elas, no s aideia de substncia, como ainda o evidente sentimento de fora que experimentamos

    ao possuir uma substncia, ao acarinhar reservas e capitais.Aceitemos, porm, contra esta primeira convico turva, o facto homeoptico evejamos como que o Sr. Pinheiro dos Santos o interpreta ritmanaliticamente. Paraele, a assimilao menos uma troca de substncias do que uma troca de energia; ecomo a energia no pode fugir, na sua evoluo detalhada, forma vibratria, o Sr.Pinheiro dos Santos prope introduzir sistematicamente uma irradiao entre asubstncia absorvida e a substncia assimilada. O termo substncia assimilada tem,alis, pouco sentido. Se se trata de uma simples colocao em reserva, como no casodas clulas adiposas, no concerne aco vital anagentica. no momento em que a

    substncia se gasta, se destri, que devemos compreender a sua aco. (No dizemosno momento em que a substncia se transforma, porque o materialismo ondulatrioadmite como possvel a destruio da matria.) Ora, nas perspectivas da biologiaondulatria, impossvel uma substncia agir verdadeiramente se ela no setemporalizar em forma vibratria, consecutivamente sua destruio. Posta dereserva, ela bloqueada no espao inerte. S actua onde estiver, ou seja, sobre ela

    prpria. Para sair para fora de si mesma, cumprir que se propague e no podepropagar-se seno ondulatoriamente. A aco externa necessariamente uma aco

    vibrada. Alm disso, ser sempre necessria a interveno de uma ondulao paradespertar e activar uma substncia em reserva. Por conseguinte, sempre ao perodode activao que se deve regressar para compreender a aco de um alimento ou deum remdio.

    Desde logo, de ritmo a ritmo, mais do que de coisa a coisa, que se devem apreciaras aces teraputicas. De que vibraes temos normalmente necessidade? Eis aquesto propriamente vital. Quais so as vibraes que se extinguem ou se excitam?Quais as vibraes a reavivar ou a moderar? Eis a questo teraputica.

    Mas como contribuir esta viso geral para explicar o facto homeoptico? porque

    a dose ultradiluda que a substncia medicinal pode propagar ritmos. Com efeito, naforma macia, a substncia absorveria de algum modo os seus prprios ritmos;entraria em ressonncia consigo mesma, sem exercer o seu papel de excitao exteriora si mesma. Ela escaparia indispensvel destruio, faltando ao jogo com o nada.Recuperar-se-ia a si prpria. De facto, a fsica das radiaes mostra bem que assubstncias agem sobretudo pelos elementos superficiais e que as irradiaes das

    partes profundas so absorvidas pela prpria matria radiante. A diluio da matria

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    homeoptica assim uma condio da sua aco vibratria.De modo similar, compreender-se- terem os bouquets e os temperos uma aco

    digestiva tanto mais eficaz quanto mais delicados e raros so. Com efeito, essassubstncias complexas e frgeis so facilmente decompostas ou neutralizadas,facilmente destrudas. Ora, uma substncia que retorna ao nada ocasiona uma

    radiao. A onda de destruio ser aqui particularmente penetrante e activa. Oepicurismo superficial que atribui aos odores e aos sabores um simples valorapetitivo parece pois, luz dos factos, muito insuficiente. O prazer tem uma eficciamais profunda. Pode-se perguntar se uma teoria activa ritmanaltica da sensao no

    poderia completar a teoria tradicional, inteiramente passiva, totalmente receptiva. Aexcitao ser ento uma ressonncia que se junta a vibraes especficas produzidas

    pela destruio de substncias particulares. Necessrio seria, por conseguinte,transmutar todos os valores digestivos. Para um epicurismo profundo, a ambrsia e oslcoois divinos so de primeira necessidade. Essas maravilhosas tinturas

    trazem-nos, sabiamente doseadas, as raras e mltiplas essncias do mundo vegetal.Elas so as fontes de uma homeopatia exaltante e guiam-nos no sentido da vidaacrescida. H, portanto, que colocar na base da higiene ritmanaltica o princpio:

    pequenas causas, grandes efeitos; pequenas doses, grandes sucessos. Assim sepoderia fundar uma arte da micro-alimentao, se ousarmos empregar um termo tobrbaro mas que sugere uma vida to alegremente desmaterializada! Antes de tudo,cumprir evidenciar as caractersticas temporais desta micro-alimentao. Com ummicro-alimento, absorve-se durao e ritmos, antes que substncia. A substncia no

    seno a ocasio de um devir; a essncia pura to-s um tempo bem vibrado.Tomaremos como princpio fundamental a necessidade de sustentar os ritmos teis enormais, de favorecer o acordo dos ritmos pessoais e dos ritmos impostos pelanatureza, de salvaguardar a sinfonia das hormonas. Nunca se dever perder de vistaque todas as trocas se fazem por intermdio de ritmos. A Ritmanlise biolgicadever tomar por tarefa codificar todos esses ritmos e dar totalidade orgnica esubstancial o sentido sinfnico.

    Se as substncias diludas tm efeitos ondulatrios caractersticos, pode explicar-semuito facilmente o efeito directo de certas ondulaes. Essas radiaes particulares

    podem ser o substituto de substncias particulares e o Sr. Pinheiro dos Santos propejustamente uma teoria da reversibilidade das vibraes e das vitaminas32. Certossbios, entre os quais o professor Centani crem na existncia de cargas elctricasnas vitaminas; assimilam-nas assim a ies e explicam a sua aco por fenmenos que

    seriam,na ordem biolgica, o que so as radiaes naordem fsica. Rosenkeim eWebster mostraram que os raios ultravioletas tm uma aco semelhante da vitaminaD. Os raios ultravioleta fornecem fotes da mesma frequncia que os que podem ser

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    emitidos pela vitamina D, que, por seu turno, os absorveu do sol. Donde, diga-se depassagem, uma explicao ritmanaltica da aco mdica de certos sais expostos aosol. V-se, de resto, o carcter eminentemente reversvel das radiaes e dassubstncias. Por isso, pode afirmar-se que certas substncias qumicas levam aoorganismo, no um conjunto de qualidades especficas, mas antes um grupo de ritmos,

    ou, como muito bem diz o Sr. Pinheiro dos Santos, um corpo de fotes.Nada se ope, alis, a que uma substncia homeoptica, tendo tomado a forma depura vibrao, seja reconstituda em seguida sob forma de substncia. H, com efeito,exacta reversibilidade da matria ondulao e da ondulao matria. O papel damicrosubstncia seria talvez muito simplesmente desencadear vibraes biolgicasnaturais. Explicar-se-ia tambm que a dose ultradiluda se conserve maisintegralmente que uma dose macia porquanto pode restituir-se. Chegar-se-ia este

    paradoxo de que o infinitamente pequeno bem estruturado e bem ritmado se perdemenos facilmente que a matria grosseira e inerte.

    Precisamente, a esta teoria rtmica das actividades substanciais, o Sr. Pinheiro dosSantos acrescenta uma hiptese inversa da concreo de certos ritmos. Tal , porexemplo, a curiosa hiptese da formao ondulatria das toxinas. Certas clulasrecebem ritmos de frequncias perigosas? H, ento, reteno toxnica33. Sem aformao das toxinas que vo concretizar e absorver a energia irradiante nociva, uma

    pequena perturbao mrbida acarretaria a morte. Segue-se toda uma hiptese dasrelaes microbianas que poderia constituir a base de uma bacteriologia ondulatria eesclarecer muitos problemas. Mas, se a explicao do Sr. Pinheiro dos Santos

    coerente e rica, no vemos que proponha experincias especficas que permitam adeciso entre a interpretao substancialista e a interpretao ondulatria. Contudo, j de uma grande importncia que a traduo ondulatria da bacteriologia clssicaseja possvel.

    Qualquer que seja, alis, a deciso do laboratrio, ficar do esforo de pensamentodo Sr. Pinheiro dos Santos o mrito de ter mostrado o carcter verdadeiramente

    primordial da vibrao na prpria base da vida. Se a matria inerte entra j emcomposio com os ritmos, bem certo que, pela sua base material, a vida deve ter

    propriedades profundamente rtmicas. Mas sobretudo por via de emergncia que se

    introduzem as necessidades ritmanalticas do processo vital. Uma vez que a vida estritamente contempornea de transformaes materiais, visto ser ela impossvel semo incessante socorro das transformaes materiais, sem o jogo duplo da assimilao eda desassimilao, necessrio que ela passe pelo intermdio de uma energiaondulatria. s nos seus horizontes estatsticos e globais que a vida parece seguiruma continuidade e uma uniformidade temporais. Ao nvel das transformaeselementares que a suscitam, a vida ondulao. A esse ttulo, ela , pois, do domnio

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    directo de uma Ritmanlise.Ademais, se nos lembrarmos de que as matrias formadas pela actividade orgnica

    so particularmente complexas e frgeis, seremos levados a considerar a matria vivacomo mais rica em timbres, mais sensvel aos ecos, mais prdiga de ressonncias, doque a matria inerte. Todas as destruies que a ameaam, todas as mortes parciais

    que a arrunam, toda esta zona de nada activo que tenta o seu ser com mil vertigens,so outras tantas ocasies de oscilaes. O mesmo se d com a assimilao: toda aconquista de estrutura acompanha-se de uma harmonizao de #####

    ritmos mltiplos. A vida, nos seus xitos, feita de tempos bem ordenados; feita,verticalmente, de instantes sobrepostos ricamente orquestrados; religa-se a si mesma,horizontalmente, pela justa cadncia dos instantes sucessivos unificados numa funo.Sentir-se- melhor, alis, o andamento rtmico da vida considerando-a nos seuscumes, ao estudar, como faremos agora, a actividade ritmanaltica do esprito, essemestre dos arpejos!

    III

    Poderamos repetir aqui, palavra por palavra, tudo quanto dissemos em relao emergncia necessariamente ondulatria da vida. Com efeito, a vida consciente umanova emergncia que se efectua nessas condies de raridade, de isolamento, dedesligamento, muito favorveis s formas ondulatrias. Em qualquer processo, quanto

    menor for a energia envolvida, mais ntida ser a forma ondulatria das trocasenergticas. A energia espiritual deve, pois, ser, entre as energias vitais, a que mais

    prxima da energia quntica e ondulatria. aquela para quem a continuidade e auniformidade so as mais excepcionais, as mais artificiais, as mais trabalhadas.Quanto mais se eleva o psiquismo, mais ele ondula. Na passagem do material aoespiritual, entre matria e memria, poder-se-ia estabelecer todo um programa de

    pesquisas que permitissem darse conta da importncia do factor da repetio. Domesmo modo que um tratamento helioterpico, guiado pela Ritmanlise, aconselhar

    perodos alternados de pigmentao e despigmentao, uma pedagogia ritmanalticainstaurar a dialctica sistemtica da recordao e do esquecimento. S se sabe bemaquilo que sete vezes se esqueceu e outras sete se reaprendeu, dizem os pedagogosindulgentes, os bons. Apesar disso, tais pedagogos, confiantes na reaco natural queh-de defender favoravelmente o esprito contra a sobrecarga dos conhecimentos noassimilveis, no conseguiram ainda auxiliar neste ponto a natureza, fornecendo-lhemtodos de esquecimento, mtodos de despigmentao. As frias no chegam paraisso. Ocorrem a demasiado longo prazo. No so incorporadas na cultura, no tecido

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    temporal escolar. O ritmo escolar assim todo desequilibrado; contradiz osprincpios elementares de uma filosofia do repouso. na prpria hora do trabalho quese deve meter a oscilao. Pode-se estudar matemtica pelo metrnomo. umamaneira de aproveitar as oscilaes da emergncia espiritual.

    Porm, no insistiremos mais acerca do carcter cada vez mais nitidamente

    ondulatrio das diversas emergncias e colocaremos antes de mais um problemaparticular que d uma medida do alcance psicolgico da Ritmanlise. o problemadas relaes da Psicanlise e da Ritmanlise. Mais sistematicamente do que aPsicanlise, procura a Ritmanlise motivos de dualidade para a actividade espiritual.Reconhece a distino entre as tendncias inconscientes e os esforos de conscincia;mas equilibra melhor do que a Psicanlise as tendncias para os plos opostos, oduplo movimento do psiquismo.

    Com efeito, para o Sr. Pinheiro dos Santos, o homem pode sofrer de uma escravidoa ritmos inconscientes e confusos que so uma verdadeira falta de estrutura vibratria.

    Mas ele pode sofrer sobretudo da conscincia da sua infidelidade aos ritmosespirituais elevados34. O homem sabe que pode superar-se e tem a necessidade e ogosto de se ultrapassar. A sublimao no um mpeto obscuro, um apelo. A arteno um ltimo recurso da tendncia sexual. Pelo contrrio, a tendncia sexual juma tendncia esttica; est profundamente envolvida num conjunto de tendnciasestticas. O Sr. Pinheiro dos Santos firma a sua Ritmanlise na filosofia criacionista,numa sublimao activa de todas as tendncias. a falta de uma sublimao activa,atractiva, emergente, positivamente criacionista, que transtorna o equilbrio da

    ambivalncia psicanaltica e perturba o jogo dos valores psquicos. No poderrealizar um amor ideal por certo um sofrimento. No poder idealizar um amorrealizado outro.

    Estamos aqui no ponto mais delicado da doutrina do Sr. Pinheiro dos Santos.Tratemos ento de precisar o modo como o criacionismo impe ao psiquismo umaondulao afectiva. Quer o ser vivo sair do estado em que se encontra? Entrega-se aoseu mpeto pessoal? Arrisca uma parte do seu poder, da sua energia? Imediatamente,sente a necessidade de se voltar para a experincia adquirida, de alcanar um pontode apoio para assegurar o seu impulso, como bem viu Jean Nogu. Pelo contrrio,

    persiste o ser no plano do j adquirido? Logo os ritmos montonos que caracterizameste estado, mais vizinho da matria, tendem a amortecer-se cada vez mais e a reacocriacionista aparece como mais necessria e ao mesmo tempo mais fcil. Sem estareaco, o porvir do ser vivo cairia no torpor. Toda a evoluo criadora,compreendida, no no resumo estatstico que a evoluo das espcies, mas noindivduo e sobretudo no indivduo jovem, uma evoluo necessariamente ondulada.

    No indivduo, a evoluo um tecido de xitos e de erros. A evoluo da espcie no

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    nos d mais do que uma soma de sucessos, maiores ou menores, mais ou menosespeciais, onde o erro registado apenas sob aspectos teratolgicos. Ao contrrio, afuno do indivduo enganar-se. Faa cada qual em si mesmo a psicologia de umensaio criador, de uma tentativa inovadora; por mais modesto que seja este ensaio, ouat sobretudo se este ensaio criador for modesto, aparecer a evidncia da psicologia

    criacionista ondulatria. O erro no pode ser contnuo sem dano. O sucesso no podeser contnuo sem risco e sem fragilidade. No seu pormenor, a evoluo do indivduo ondulante.

    No plano mais especificamente moral, o Sr. Pinheiro dos Santos d-se conta de queo recalcamento libertado ou corrigido, como Freud indica, pelo mtodo catrtico.Mas o mtodo de Freud no vai suficientemente longe: esquece caractersticas que aRitmanlise vai ter muito cuidado em associar ao exame catrtico. Com efeito, quandoo acontecimento recalcado trazido conscincia clara, parece, para a doutrina

    psicanaltica, que o doente vai automaticamente curar-se, que a conscincia

    esclarecida vai perdoar a falta durante muito tempo escondida e que o remorsoinconsciente vai ser apaziguado pela confisso consciente. Mas no ser de recearque o processo doloroso se reconstitua no inconsciente? No esse processodoloroso, na confisso de Freud, uma perturbao dinmica, um mal-estar transitivomais do que estvel? Para estar ao abrigo de uma repetio da neurose, que nuncacarece de interpretaes, dever-se- preparar no consciente o sistema claro do perdontimo. Poder-se-, ento, esperar que o escrpulo no volte mais a formar-se. Estesistema de perdo sistemtico e consciente, montado em face do automatismo da m

    conscincia, em oposio s ms tendncias do processo nocivo, deve constituir oplo claro da dialctica moral. A psicanlise com frequncia se lhe fez o reparo subestimou a vida consciente e racional do esprito. No viu a aco constante doesprito que, valha o que valer, d sempre uma forma ao informe, uma interpretaoaos desejos e aos instintos obscuros. O mtodo catrtico permanecer por conseguinteum acto clnico, consumado por um perito destro e instrudo. uma operao que

    pode ser necessria nas neuroses, nos grandes infortnios da vida criminal. A moralfina tem necessidade de um mtodo catrtico mais frequente, mais malevel. Talreleva da ritmanlise, mais apropriada do que a psicanlise para acompanhar as

    tentaes ondulantes. Alm disso, quando cumpre aceder a uma vida moral positiva einventar o bem e no somente faz-lo, s a ritmanlise que nos pode guiar.Unicamente ela tem em conta o dualismo moral e o Sr. Pinheiro dos Santos escreve35:O equilbrio rtmico da inflexibilidade moral e da doura de corao a lei do amore a sua prpria expresso. De uma maneira mais precisa, sob o nome de esprito decasal36, a Ritmanlise ps luz o motivo fundamental da dualidade moral. Como oegosmo humano acaba sempre por chegar ao desejo de se apropriar dos valores

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    oscilao cada vez mais regular que se sincroniza cada vez melhor com ritmostemporais precisos. Assim, tratando-se da ambivalncia afectiva, no consideremosmais valores passionais ou dramticos decisivos. Consideremos ligeiros spleens,habitados de desejos inconstantes; consideremos, por assim dizer, tentaes que notentam, desprezos indulgentes, recusas amveis, alegrias verbais e eis que o tempo

    se pe a oscilar, que todos os segundos se contradizem e se coloram ligeiramente,baos ou brilhantes. Os contrrios casam-se, depois separam-se para novamentecasar:

    Valsa melanclica e lnguida vertigem.

    Tal a ambivalncia menor em que veremos animar-se a Ritmanlise. Nestesestados de instabilidade superficial, verdadeiramente o tempo que o esquema deanlise apropriado; a dialctica da conscincia e da vontade, bem solta dos interesses

    e das utilidades, tende a tornar-se temporal. As razes para continuarum estado soto fracas que o gosto de interromper afirma-se. Nesta doce vida livre, s o tempocomanda: ento tudo cintila.

    Ritmanlise concernem tambm as dores fsicas leves. Com um pouco deexerccio, pode-se, por exemplo, fazer vibrar uma dor de dentes. Basta, mediante umaateno calma, reconduzi-la s suas propores precisas, evitar a irritao geral, aagitao generalizada, que viriam encheros intervalos da dor precisa. As pulsaesda dor local assumem ento o seu ritmo regular. Uma vez aceita, esta regularidade

    apresenta-se como um alvio. A dor verdadeiramente restituda ao seu aspecto localporque se soube determinar bem o seu exacto aspecto temporal.Porm, estas aplicaes detalhadas, cuja eficcia constatmos pessoalmente,

    exigem um exerccio bastante longo. Elas s so possveis se anteriormente se tiverrevalorizado e regularizado os grandes ritmos naturais que sustm a vida. E em

    primeiro lugar a respirao, lenta e regular cadncia que marca profundamente,quando bem liberta de toda a inquietao orgnica, a nossa confiana temporal, aconfiana que temos no nosso futuro prximo, o nosso acordo com o tempoescandido38. a regularidade do flego que uma filosofia do repouso deve esforar-se por realizar antes de qualquer outra tarefa. E a Ritmanlise vai de encontro aosensinamentos da filosofia indiana. Romain-Rolland transmite-nos nestes termos a

    primeira lio de Vivekananda39: Aprender a respirar ritmicamente, com medida,por cada uma das narinas, alternadamente, concentrando o esprito na correntenervosa, no centro. Juntar algumas palavras ao ritmo respiratrio, para melhor ocompassar, marcar e dirigir. Que todo o corpo se torne rtmico! Aprende-se assim averdadeira mestria e o verdadeiro repouso, a calma do rosto e da voz. Por meio da

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    respirao rtmica, tudo se coordena pouco a pouco no organismo. Todas asmolculas do corpo tomam a mesma direco. Por outras palavras, os ritmosregulares reforam, pela sua ressonncia, as simetrias estruturais. Cumpre-nossublinhar tambm o conselho de assegurar o ritmo respiratrio numa cadncia vocalmais lenta. A grande eficcia de tais ritmos menos frequentes com efeito, do nosso

    prprio ponto de vista, essencial. Mostra ela que o ritmo grave, de pulsaes lentas,pode suportar e condicionar um ritmo agudo, de frequncias maiores. Se um ritmovital rpido for perturbado, isso remediar-se- pelo enquadramento de um ritmo maislento, mais fcil de vigiar, mais fcil de impor. por isso que a marcha compassada

    por um canto muito descontnuo, por um batimento de ligao a cada dois ou trspassos, to salutar para restituir respirao a sua calma e a sua regularidade. Umaconcluso precipitadamente realista admitiria de preferncia a eficcia inversa,imaginando que o ritmo de frequncias numerosas que contm, como incidentessuplementares, os acontecimentos do ritmo lento. Mas as experincias so

    comprobatrias: o esprito impe o seu domnio sobre a vida atravs de aces pouconumerosas e bem escolhidas, e por essa razo que uma arte do repouso podefundamentar-se na segurana de alguns pontos de referncia bem distribudos.

    Teremos, alis, abundantes confirmaes disso ao examinar, do ponto de vista daRitmanlise, os largos ritmos que marcam a vida humana. preciso, por exemplo,lembrar o interesse que uma vida sbia e pensativa acha em regular-se pelo dia, peloandamento regular das horas? Ser necessrio descrever a durao bem ritmada dohomem do campo vivendo de acordo com as estaes, formando a sua terra ao ritmo

    do seu esforo? Que tenhamos um interesse fsico em nos adaptarmos muitorigorosamente aos ritmos vegetais, o que cada vez mais evidente desde que seconhece a especificidade das vitaminas: a poca do morango, a poca do pssego e dauva so ocasies de renovao fsica, de acordo com a Primavera e o Outono. Ocalendrio da fruta o calendrio da Ritmanlise. A Ritmanlise procura em toda a

    parte ocasies de ritmos. Ela tem confiana que os ritmos naturais se correspondemou que podem sobrepor-se facilmente, encadeando-se entre si. Ela previne-nos assimdo perigo que h em viver em contratempo, desconhecendo a necessidade fundamentalde dialcticas temporais.

    V

    Porm, o enquadramento da vida humana nestes grandes ritmos naturais fixa mais afelicidade do que o pensamento. O esprito tem necessidade de coordenadas maisapertadas e se, como cremos, a vida intelectual deve tornar-se fisicamente falando

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    a vida dominante, se o tempo pensado deve dominar o tempo vivido, cumpre oempenho na procura de um repouso activo que no pode dar-se por satisfeito com osdons gratuitos do momento e da temporada. Este repouso activo, este repouso vibrado,corresponde, parece, para o Sr. Pinheiro dos Santos, ao estado lrico. O filsofo

    brasileiro conhece de muito perto a nossa literatura contempornea. um adepto de

    Valry e de Claudel. Entrega-se alternadamente ao grande flego da frase claudelianae hbil ambiguidade dos pensamentos de Paul Valry. De Valry, gosta sobretudo daarte suprema de perturbar a calma e de acalmar a perturbao, de ir do corao aoesprito para logo retornar do esprito ao corao.

    Mas o Sr. Pinheiro dos Santos no se contenta com esta traduo intelectual umpouco fria da vida lrica. Prefere guardar o lirismo na forma de um encantointeiramente fsico, de um mito que embala, de um complexo que nos reata ao nosso

    passado, aos nossos mpetos de juventude. Prope, justamente, para a Ritmanlise, ummito lrico que poderia muito bem chamar-se o complexo de Orfeu. Corresponderia

    este complexo necessidade primitiva de agradar e de consolar; ligar-se-ia meiguice carinhosa40 e caracterizar-se-ia por uma atitude onde o ser se apraz emagradar, numa atitude de oferta. O complexo de Orfeu formaria assim a anttese docomplexo de dipo. Ver-se-o tradues poticas deste complexo de Orfeu naquiloque Flix Bertaux chamou o lirismo rfico de Rilke, vivendo como um egosmo oamor indeterminado pelo outro. to doce amar seja quem for, seja o que for, viveresse comeo, o repuxo nico das efuses! Eis a base de uma teoria do prazer formalque se ope teoria do prazer material, imediatamente objectivo, que, no complexo

    de dipo, liga desgraadamente a criana ao primeiro rosto que se inclina sobre o seubero. A Ritmanlise oferece-se ento, em oposio Psicanlise, como uma doutrinada infncia reencontrada, da infncia sempre possvel, abrindo sempre diante dosnossos sonhos um porvir indefinido. Precisamente, numa dissertao especial, que seope ao trabalho de Freud sobre Leonardo da Vinci, o Sr. Pinheiro dos Santosencarrega-se de explicar a actividade genial de Leonardo como uma infncia eterna.O criacionismo no poderia ser, com efeito, seno um rejuvenescimento perptuo, ummtodo de maravilhamento sistemtico que reencontra olhos maravilhados para verespectculos familiares. Todo o estado lrico deve fundar-se no conhecimento

    entusiasta. A criana mestre nossa, disse Pope. A infncia a fonte dos nossosritmos. na infncia que os ritmos so criadores e formadores. Cumpre ritmanalisar oadulto para o devolver disciplina da actividade rtmica qual deve o voo da sua

    juventude.

    VI

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    No que nos concerne, preferiramos submeter o estado lrico a uma elaboraoespiritual, afastando-nos portanto dos poderes inconscientes que nos encerram nocomplexo de Orfeu. , portanto, nas regies elevadas dos tempos sobrepostos, nostempos pensados, que buscmos as dialcticas mais ntidas e por consequncia, maisarrebatadoras.

    Por exemplo, para sentir nossa maneira toda a poesia de Valry, empenhmo-nosem aplicar-lhe os esquemas da dialctica temporal. A est, sem dvida, umaimposio demasiado abstracta, demasiado pessoal, precipitadamente sugerida peloshbitos de aridez filosfica. Contudo, foi-nos dado reconhecer que este mtodo de

    pobreza trazia alguns ecos deveras raros; sentimos em particular a que ponto oesquema temporal da ambiguidade nos ajudava a intelectualizar o ritmo sonoro, a

    pensar uma poesiaque no oferece todo o seu encanto quando nos limitamos a diz-lae a senti-la. Ento constatmos que eram as ideias que cantavam, que o jogo dasideias tinha os seus acentos prprios e que esses acentos suscitavam murmrios

    abafados no nosso ser profundo. A muda voz, deixando as imagens suceder-se,vivendo na sobreposio das diversas interpretaes, dvamo-nos conta do que podiaser um estado lrico propriamente espiritual, propriamente intelectual. A realidadevestia-se, recheava-se de condicionais. associao das ideias vinha substituir-se adissociao sempre possvel das interpretaes. O esprito divertia-se a recusar asadeses mais constantes. Descobria um gozo potico em destruir poesia, emcontradizer primaveras, em resistir a todos os encantos. Ascetismo, alis, altamenteepicurista, j que, na sua forma condicional, o prazer parecia mais vibrante. A poesia,

    assim liberta dos arrebatamentos habituais, voltava a ser um modelo de vida e depensamento ritmados. Ela era assim o meio mais prprio para ritmanalisar a vidaespiritual, para tornar a dar ao esprito a mestria das dialcticas da durao.

    31Pinheiro dos Santos, loc. cit., t. II, sect. I, p. 18.

    32Pinheiro dos Santos, loc. cit., t. I, sect. I, p. 26.

    33Pinheiro dos Santos, loc. cit., p. 1.

    34Pinheiro dos Santos, loc.cit., t. II, sect. I, p. 5.

    35Pinheiro dos Santos, loc. cit., t. II, sect. II, p. 12.

    36No original: espritde couple.

    37Id., ibid., p. 6.

    38Cf. MassonOursel, Les doctrines indiennes de physiologie mystique, apud: Journal dePsychologie, 1922, p.322.

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    39Romain-Rolland,La vie de Ramakrishna , p. 295.

    40No original: caresse charitable. Parece-nos que Lcio Pinheiro dos Santos aludiria ao carinhoe principalmente meiguice, vocbulos sem veraz traduo francesa [nota do tradutor].

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