O GESTO INACABADOCecilia Almeida Salles

1998

Lidia GanhitoMiguel Alonso

Processos CriativosProf. Milton Sogabe

IA - UNESP2014

INTRODUÇÃO

A Crítica Genética

“Com a mesma curiosidade de quem paira no ar , o crítico genético entrega-se ao acompanhamento de percursos criativos, sempre em busca de uma aproximação maior do processo criador ”

Le mystère Picasso de Henri-Georges Clouzot, 1955

http://www.youtube.com/watch?v=X39aJnte2y0

Não é uma interpretação do produto considerado �nal pelo artista, mas do processo responsável pela geração da obra. A ênfase dada ao processo não é feita em detrimento da obra (...) só nos interessamos em estudar o processo de criação por que a obra existe.

Quando falamos em percurso, referimo-nos aos rastros deixados pelo artista, [a esta] arqueologia da criação. Processos e pegadas são inde-pendentes da materialidade na qual a obra se manifesta.

RASTROS

O MANUSCRITO

Manuscrito de Heinrich Heine

Eram pesquisadores envolvidos nas tentativas de deci�ação dos segredos guardados pelas palavras rasuradas a lapis, a tinta ou a maquia. O crítico, acompanhando o ritmo da mão do escritor, ordenava, classi�cava e interpretava todo esse material

Manuscrito de Carlos Drummond de Andrade

CENTRE NATIONAL DE RECHERCHE SCIENTIFIQUELouis Hay1968

COLÓQUIO DE CRÍTICA TEXTUAL: O MANUSCRITO MODERNO E AS EDIÇÕESPhilippe Willemart1985

CENTRO DE ESTUDOS DE CRÍTICA GENÉTICAPrograma de Pós Graduação em Comunicação e Semiótica da PUC-SP1993

CENTROS DE PESQUISA

GRUPO DE ESTUDOS EM PROCESSOS DE CRIAÇÃOA crítica genética conhecia o prazer da con-strução literária. O crítico �cou exposto a alquimia do fazer em todas as artes, em uma profícua troca de informações. Esse tipo de pesquisa passou, então, a se interessar pelo o universo da criação além dos limites da pala-vra. (...) O crítico genético passou a lidar com o diálogo entre as linguagens ou a interde-pendência dos diversos códigos.

Caderno de esboços de VIncent Van Gogh

RegistrosOs cadernos de anotações (...) já o preparava, de certo modo, para esse encontro de águas de naturezas diversas. Pensamentos fugazes são capturados na linguagem mais acessivel naquele determinado momento. Diagramas visuais caminham lado a lado com palavras.

Lida-se, assim, com índices de materialidades diversas: rascunhos, roteiros, esboços, plantas, maquetes, copiões, ensaios, storyboards e cadernos de artista. Tudo é registro do percurso.

Cadernos de Vera Goulart

Crítica genética e as novas tecnologias

Cadernos de Vera Goulart

Artistas (...) encontraram no computador um meio facilidador de seu percurso, e, em muitos casos, não em detrimento dos outros meios que já eram usados.

Há, ainda, os processos criativos de obras que têm as novas tecnologias como suporte. O crítico vai se de�ontar, nestes cassos, com (...) arquivos da criação.

Guy Shieldhttp://www.behance.net/gallery/�e-Downpour/15283423

Documentos de processo

Como estamos em busca de in-strumentos gerais de análise opto por denominar o objeto de estudo do crítico genético como docu-mentos de processo. (...) Esses documentos contém sempre a idéia de registro. Há, por parte do artista, uma necessidade de reter alguns elementos que podem ser possíveis concretizações da obra ou auxiliares dessa con-cretização. (...) São retratos tem-porais de uma construção que agem como índices do percurso criativo.

Registro de experimentação

Outra função desempenhada pelos documentos de processo é a de registro de ex-perimentação, deixando transparecer a natureza indutiva da criação. (...) A experimentação é comum, as singularidades surgem nos princípios que direcio-nam as opções.

Der Schrei der NaturEdvard Munch (1863-1944)

Documentos retrospectivos

Entrevistas, depoimentos e en-saios re�exivos são documentos públicos que oferecem, também, dados importantes para os estu-diosos do processo criador; tem, no entanto, caráter retrospectivo que os coloca fora do momento da criação.

Henri Matisse

Jean Dupin Alberto Giacometti

A estética do inacabadoO olhar cientí�co procura por expli-cações para os processo criativo que estes documentos guardam (...) num acompanhamento crítico-interpreta-tivo dos registros. (...) Esses docu-mentos guardam o tempo contínuo e não linear da criação. Ao intro-duzir na crítica esta noção do tempo, seus pesquisadores passam a lidar com a continuidade, que nos leva a estética do inacabado.