Presenca Classica - Portal de Periódicos da UFRJ

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1 2017.2 . Ano XXXIV . Numero 34 CALÍOPE Presenca Classica

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Caliope Presenca Classica | 20172 Ano XXXIV Numero 34

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20172 Ano XXXIV Numero 34

CALIacuteOPEPresenca Classica

Caliope Presenca Classica | 20172 Ano XXXIV Numero 34

20172 Ano XXXIV Numero 34

CALIacuteOPEPresenca Classica

ISSN 2447-875X

Programa de Poacutes-Graduacatildeo em Letras ClassicasDepartamento de Letras Classicas da UFRJ

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Caliope Presenca Classica | 20172 Ano XXXIV Numero 34

Universidade Federal do Rio de JaneiroREITOR Roberto Leher

Centro de Letras e ArtesDECANA Flora de Paoli Faria

Faculdade de LetrasDIRETORA Eleonora Ziller Camenietzky

Programa de Poacutes-Graduacatildeo em Letras ClassicasCOORDENADOR Ricardo de Souza NogueiraVICE-COORDENADORA Arlete Jose Mota

Departamento de Letras ClassicasCHEFE Fabio Frohwein de Salles MonizSUBCHEFE Rainer Guggenberger

OrganizadoresFabio Frohwein de Salles MonizFernanda Lemos de LimaRainer Guggenberger

Conselho EditorialAlice da Silva CunhaAna Thereza Basilio VieiraAnderson de Araujo Martins EstevesArlete Jose Mota Auto Lyra TeixeiraRicardo de Souza Nogueira Tania Martins Santos

Conselho ConsultivoAlfred Dunshirn (Universitat Wien)David Konstan (New York University)Edith Hall (Kingrsquos College London)Frederico Lourenco (Universidade de Coimbra)Gabriele Cornelli (UnB)Gian Biagio Conte (Scuola Normale Superiore di Pisa)Isabella Tardin (Unicamp)Jacyntho Lins Brandatildeo (UFMG)Jean-Michel Carrie (EHESS)Maria de Fatima Sousa e Silva (Universidade de Coimbra)Martin Dinter (Kingrsquos College London)Victor Hugo Mendez Aguirre (Universidad Nacional Autoacutenoma de Mexico)Violaine Sebillote-Cuchet (Universite Paris 1)Zelia de Almeida Cardoso (USP)

Capa e editoracatildeoFabio Frohwein de Salles Moniz

Revisatildeo de textoAlexandre Rosa| Fabio Frohwein de Salles Moniz | Fernanda Lemos de Lima| Luiz Karol | Rainer Guggenberger

Revisatildeo tecnicaLucia Pestana | Ludmila Alves

Programa de Poacutes-Graduacatildeo em Letras Classicas Faculdade de Letras ndash UFRJAv Horacio Macedo 2151 ndash sala F-327 ndash Ilha do Fundatildeo 21941-917 ndash Rio de Janeiro ndash RJwwwletrasufrjbrpgclassicas ndash pgclassicasletrasufrjbr

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Sumario

Apresentacatildeo | p 5

Liacutemite y prudencia en Hesiacuteodo una mirada antropoloacutegica | Maria CeciliaColombani | p 9

Antigonersquos (mis)appropriations in Twentieth-Century Europe MemoryPolitics and Resistance | Rossana Zetti | p 25

Significado e estrutura do argumento do terceiro homem no Parmecircnides dePlatatildeo | Guilherme da Costa Assuncatildeo Cecilio | p 45

Identidad ritual y performance un anaacutelisis de los primeiros dos versos deSuplicantes de Esquilo | Maria del Pilar Fernandez Deagustini | p65

O Filebo prazer e intelecto em confronto | Simone de O GoncalvesBondarczuk | p 84

Aedoacuten performance poeacutetica de las viacutectimas | Graciela C Zecchin deFasano | p 108

Arete a virtude em si na Odisseia eacute uma mulher | Alessandra SerraViegas | p 128

Os autores | p 143

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Apresentacatildeo

Eacute com imensa satisfacatildeo que apresentamos o 34o volumeda revista Caliacuteope Presenccedila Claacutessica perioacutedico tradicional daUniversidade Federal do Rio de Janeiro que chega ao seu 34o anode existecircncia Pela primeira vez em todos esses anos os autoressatildeo na sua maioria estrangeiros e por essa razatildeo a linguapredominante dos artigos natildeo e o portuguecircs Temos trecircs linguasdiferentes nesse volume espanhol portuguecircs e inglecircs Pode-seconstatar que isso e um reflexo do fato que a area de LetrasClassicas neste pais esta cada vez mais se internacionalizando

Dois dos trecircs artigos de autores brasileiros abordam temasfilosoacuteficos Um deles ldquoO Filebo prazer e intelecto em confrontordquode Simone Bondarczuk analisa o dialogo platocircnico Filebo que sobvarios aspectos se apresenta no conjunto do corpus platocircnico emdissonacircncia com os temas tipicos de Platatildeo O dialogo pelo menosprima facie natildeo aborda assuntos relacionados com politica mesmotendo sido escrito em uma epoca na qual Platatildeo demonstrava umconstante interesse por esse assunto O propoacutesito do dialogo natildeo eo de estabelecer a vida teoretica como a melhor forma de viver eao mesmo tempo natildeo condena rigorosamente os prazeres masrecomenda uma conduta de vida na qual os prazeres e a reflexatildeointelectual se misturem Eacute uma obra tatildeo complexa que parececarecer de unidade tematica em si mesma Bondarczuk tentadecifrar a foacutermula comum que esta por tras dessa aparente falta deunidade tematica agrave qual estamos habituados em outras obras

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platocircnicas e encontra no acircmago da discussatildeo socratica umpossivel candidato unificador o Bem e a sua relacatildeo com prazerese atividades intelectuais

Em ldquoSignificado e estrutura do argumento do terceirohomem no Parmecircnides de Platatildeordquo O filoacutesofo Guilherme Ceciliounico homem entre seis autoras femininas ndash motivo de orgulhouma vez que comprova serem as Letras Classicas um ramoacadecircmico de igualdades e emancipacatildeo que pode servir comoexemplo para outros acircmbitos da nossa sociedade ndash trata doargumento do Terceiro Homem usado no dialogo platocircnicoParmecircnides Alem de situar o Parmecircnides cronologicamente entre osoutros dialogos platocircnicos Cecilio mostra de qual maneira oargumento em questatildeo serve como objecatildeo agrave teoria das ideias

Alessandra Serra Viegas aponta em ldquoArete a virtude em sin a Odisseia e uma mulherrdquo uma questatildeo que ate hoje recebeupouca atencatildeo o significado do nome da rainha dos Feaces Areteno contexto da Odisseia e a importacircncia histoacuterico-literaria determos uma figura feminina chamada ldquoVirtuderdquo Serra Viegas tentasituar esse dado dentro de uma discussatildeo sobre a relacatildeo mulher-homem no contexto homerico e os seus desdobramentos naepopeia

No seu artigo ldquoIdentidad ritual y performance un analisisde los primeiros dos versos de Suplicantes de Esquilordquo Maria delPilar Fernandez Deagustini desdobra atraves de uma analise desomente dois versos iniciais das Suplicantes todo o universoesquiliano e demonstra o seu encaixe na cultura grega alem de suainteracatildeo com os ritos e a religiatildeo inserido no contexto dramaticoda peca Temos a possibilidade de olhar de matildeos dadas com apesquisadora argentina que fornece todas as necessariasferramentas teoacutericas conectando-as com a pratica de performancedo drama para tras do funcionamento de uma das mais antigastragedias chegadas ate noacutes Criando uma rede de referecircnciasintertextuais del Pilar mostra que os primeiros versos satildeofundamentais para a estrutura e para a compreensatildeo das Suplicantes

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porque eles contecircm elementos que interagem com outras partes dapeca

Em ldquoLimite y prudencia en Hesiodo una miradaantropoloacutegicardquo a especialista em poesia hesioacutedica Maria CeciliaColombani adaptando as teorias de Louis Gernet propotildee umaleitura antropoloacutegica dos poemas de Hesiodo com o propoacutesito deesclarecer a relacatildeo exata na qual o homem arcaico da Greciaantiga se situou para com o divino e como ele de modo mais geralse (auto)integrou no mundo religioso da sua tradicatildeo

Como terceira autora de lingua espanhola GracielaZecchin de Fasano reflete sobre o papel da vitima na poesia gregatomando como base principal a Odisseia os Trabalhos e os dias deHesiodo e as Aves de Aristoacutefanes em ldquoAedoacuten performance poeticade las victimasrdquo O artigo mostra como a figura do rouxinol serviade Homero ate a epoca classica como simbolo das vitimas quesofrem violecircncias nas esferas dominadas por forcas masculinas

Rossana Zetti mostra em ldquoAntigonersquos (mis)appropriationsin Twentieth-Century Europe Memory Politics and Resistancerdquocomo a Antiacutegona de Soacutefocles foi interpretada e instrumentalizadana primeira metade do sec XX Eacute fascinante notar como correntespoliticas opostas conseguiram cada um de maneira distintaapropriar-se do potencial soacutecio-cultural dessa tragedia Zetti iniciaa viagem pelos tempos e as suas apropriacotildees da peca com atraducatildeoadaptacatildeo de Houmllderlin que somente mais de um seculodepois da sua publicacatildeo comecou a ser considerada uma versatildeo etraducatildeo extraordinaria enquanto considerado mediocre pelamaioria dos contemporacircneos do poeta e tradutor alematildeo Essaversatildeo serviu no sec XX tanto aos Nazistas quanto aos socialistas(Bertolt Brecht) como referecircncia ideal O artigo demonstra comouma mesma tragedia pode ser interpretada e apresentada comosubversiva por uns e modelo classico de representacatildeo de valorestradicionais conservadores por outros

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Encerrando esta edicatildeo encontra uma secatildeo cominformacotildees sobre os autores deste numero No mais desejamosuma proveitosa e prazerosa leitura

Os editores

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Liacutemite y prudencia en Hesiacuteodo una mirada antropoloacutegica | Mariacutea Cecilia Colombani

Liacutemite y prudencia en Hesiacuteodo unamirada antropoloacutegicaMariacutea Cecilia Colombani

RESUMO

A proposta do presente trabalho consiste em efetuar uma leituraantropoloacutegica da relaccedilatildeo que o homem guarda com a divindade nomarco do esquema do pensamento miacutetico proacuteprio da Greacuteciaarcaica A presenccedila dos deuses implica que por detraacutes do khaacuteosaparente estaacute garantida a existecircncia de uma ordem da qual apoesia eacute precisamente sua percepccedilatildeo mais exitosa No toacuteposantropoloacutegico dois fenocircnemos satildeo essenciais e complementaresna relaccedilatildeo do homem grego com a divindade O primeiro radica nadistacircncia que o separa dos seres divinos e o segundo abarca oscontatos humanos de aproximaccedilatildeo e assimilaccedilatildeo a esse mundoNeste marco intencionamos relacionar o toacutepico evidenciandocomo no marco da relaccedilatildeo que se estabelece entre ambos osplanos no reconhecimento e na transgressatildeo do registro que osdistingue e os separa a ira dos deuses eacute despertada a partir dodesconhecimento do limite e da prudecircncia

PALAVRAS-CHAVE

Homem divindade distacircncia aproximaccedilatildeo reconhecimentotransgressatildeo

SUBMISSAtildeO 14 set 2017 | PUBLICACcedilAtildeO 10 nov 2017

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1 LA DISTANCIA

l proyecto del presente trabajo consiste en efectuar unalectura antropoloacutegica de la relacioacuten que el hombreguarda con la divinidad en el marco del esquema depensamiento miacutetico propio de la Grecia ArcaicaEntendemos por ldquoantropologiacuteardquo el concepto del queparte Louis Gernet para pensar coacutemo el hombre seproyecta en el plano religioso del mundo reconociendoque maacutes allaacute de los multiples vaivenes que la palabra hatenido segun la eacutepoca podemos considerar que se tratade la representacioacuten del hombre en el plano religioso delmundo1

Para comprender este aspecto debemos captar laidea de fractura ontoloacutegica entre diferentes aacutembitos o

regiones de ser de dos toacutepoi de dos razas o mundos impermeablesla una respecto de la otra tal como sostiene el propio Gernet2 Esel largo relato de los dioses es el trazo del linaje el reparto de lospoderes y la definitiva consolidacioacuten del koacutesmos la que permitedelinear los dos toacutepoi referidos

La presencia de los dioses y la existencia de ese planoimplican que por detraacutes del khaacuteos aparente estaacute garantizada laexistencia de un orden del cual la poesiacutea es precisamente supercepcioacuten maacutes lograda Como sostiene Gernet ella constituye esaespecie de ldquofilosofiacutea popularrdquo3 que al contar las sucesiones divinasnarra al mismo tiempo la plasmacioacuten a partir del khaacuteos de unorden perfecto sostenido por la justicia de Zeus La Teogoniacuteaconstituye el primer intento griego de dar una explicacioacuten divinadel orden del universo Tal como afirma J-P Vernant ldquoLasteogoniacuteas y las cosmogoniacuteas griegas comprenden como lascosmologiacuteas que les han sucedido relatos de geacutenesis que explicanla aparicioacuten progresiva de un mundo ordenadordquo4 Esta intuicioacuten sedebe precisamente a ese teloacuten de fondo religioso que impregna latotalidad de la vida social del hombre griego

Si seguimos la tesis de L Gernet es en ese toacutepos donde seproduce el fenoacutemeno de aproximacioacuten que acorta la distancia entrelos dos aacutembitos que constituyen zonas impermeables5

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Liacutemite y prudencia en Hesiacuteodo una mirada antropoloacutegica | Mariacutea Cecilia Colombani

Efectivamente la esfera humana parece acercar su registro a laesfera divina aunque en el seno mismo de esta ritualizacioacutensimboacutelica lo divino siempre guarde su territorio inasible En eltoacutepos antropoloacutegico dos fenoacutemenos son capi ta les ycomplementarios en la consideracioacuten de la relacioacuten entre elhombre griego y la divinidad El primero radica en la distancia quelo separa de los seres divinos y el segundo da cuenta de losintentos humanos de aproximacioacuten y de asimilacioacuten a ese mundoque lo sobrepasa por doquier6

La aproximacioacuten no implica una categoriacutea geograacutefica unadistancia medida en paraacutemetros espaciales sino una dimensioacutenontoloacutegica que supone un determinado estatuto de ser una ciertacualificacioacuten que transfigura el ser mismo del hombre Existe unafractura o brecha entre dioses y hombres donde el nucleo mismode la distancia supone el liacutemite que implica la muerte Finitud einfinitud he alliacute la clave de una distancia que muy pocos puedensoacutelo en parte franquear

La asimilacioacuten implica tambieacuten una categoriacutea ontoloacutegicaEs el ser mismo del hombre el que se transforma ya que deviene eacutelmismo ldquocomo un diosrdquo Es la aspiracioacuten comun de los mortales elser del hombre se asimila al ser divino y en tal asimilacioacuten seconvierte en un sujeto excepcional en un epopteacutes

El teloacuten de fondo de esta dualidad implica una ciertanocioacuten de temporalidad En el marco de la atemporalidad quehemos sugerido como marca identitaria del plano divino hay noobstante una particular loacutegica temporal Los dioses parecen teneruna cierta vida cotidiana un cierto movimiento que se juegacomo corresponde en una especialidad abierta y en unatemporalidad acotada

Recordemos que es posible hablar de una temporalidaddivina y que eacutesta estaacute directamente vinculada con la idea de dramaen tanto accioacuten Las acciones de los dioses asiacute como suspreocupaciones abren una temporalidad dentro del ldquosiemprerdquocaracteriacutestico del plano divino Dicen Detienne y Sissa

Asiacute en la obra de Homero y especialmente en la Iliacuteada la vidade los dioses se despliega en toda su densidad en esa mezcla

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de acontecimientos y de rutina que la caracterizan [] allaacutedonde en la sucesioacuten de hechos se abran las ventanas de unteatro que habla no de la mediocridad sino maacutes bien de lavita de la existencia de los dioses7

Podemos tambieacuten abordar el nucleo problemaacutetico hombre-divinidad desde la perspectiva del poder que se pone en juego Seobserva entonces una polaridad en la dimensioacuten de la arkheacute Elpropio Gernet bucea en la disimetriacutea estatutaria que la diacuteadaimplica y alude a que

Un magniacutefico coro de la Antiacutegona de Soacutefocles exalta alhombre como detentor ndash e incluso excepcionalmente comocreador ndash de teacutecnicas a las que se podriacutea atribuir un desarrolloindefinido si no se topara con un doble liacutemite la muerte esabarrera infrangible y los dioses de los que los hombresreciben la justicia8

La divinidad constituye esa instancia aacuteltera donde se ostentaefectivamente la arkheacute tensionando de ese modo la distancia entreun mundo y otro a punto tal de que el hombre mismo es una cosamaravillosa pero estrechamente limitada ya que su accioacuten no esautoacutenoma porque reconoce la marca de los dioses como sello desu voluntad incuestionable

El poder al que nos referimos de caraacutecter disimeacutetrico es lamarca de la inmortalidad que atraviesa a la divinidad y la nocioacuten deDiacuteke ya que son los dioses quienes otorgan la justicia divina Elhombre por el contrario es mortal descubriendo en la muerte eseliacutemite que lo territorializa a su condicioacuten humana asimismo estributario de un orden-justicia que no depende de eacutel Se trata deuna primeriacutesima justicia coacutesmica donde el orden mismo de lo reales sinoacutenimo de justicia

Por todo lo dicho

Si se realiza una investigacioacuten etnograacutefica y comparativa seobserva que los dioses presentan respecto a los mortales unestatuto excepcional y heterogeacuteneo al mismo tiempo Por unaparte se pueden atribuir sus cualidades a una sistemaacuteticasuperioridad sobre los hombres Por otra parte debemos

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reconocerles tambieacuten una diferencia especiacutefica Los dioses seperciben distintos porque son maacutes grandes maacutes poderosos ymaacutes sabios que los hombres pero tambieacuten porque pararegular su existencia eligen unas normas que le son propias yexclusivas9

Pensemos en otra arista del ldquoentrerdquo otro aspecto de losespacios vinculares que el hombre juega en su instalacioacuten frente ala divinidad La condicioacuten de ser mortal se abre al horizonte de losInmortales como lo otro del hombre Las dos razas o mundos delos que venimos hablando se juegan como advertimos en ladistancia que separa ambos toacutepoi lo cual no invalida la posibilidaddel ldquoentrerdquo como modelo de contacto entre uno y otro plano oregistro ontoloacutegico Basta pensar en Hesiacuteodo ultimo y unicotestigo de una palabra dedicada a la alabanza del personaje real10

para captar esta forma de ldquoentrerdquo El texto es elocuente alrespecto

Con pureza y santidad en la medida de tus posibilidades hazsacrificios a los dioses inmortales y quema en su honorespleacutendidos muslos11

E l ldquoentrerdquo estaacute sin duda mediado por la leccioacutenantropoloacutegica inaugural que el mito de Prometeo devuelve comoloacutegos fundacional los hombres reconocen su propio liacutemite y suespacio antropoloacutegico respectivo y el sacrificio es la prenda delreconocimiento La carne perecedera seraacute el alimento de loshombres y los huesos el eterno homenaje a los Inmortales En elmarco del sacrificio dos recomendaciones la pureza referida alcuerpo y la santidad como estado del espiacuteritu

Recordemos que Prometeo cree engantildear a Zeus cuandomovido por su astucia le da a elegir entre dos porciones dosbocados diferentes ambos cubiertos de piel pero soacutelo unoconteniendo en su interior carne mientras el otro soacutelo guardahuesos y grasa Zeus elige este ultimo con lo cual queda instituidoque el alimento humano seraacute la carne El mito de Prometeo fundaasiacute el rito sacrificial En este momento hombres y dioses se

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separan los hombres no tienen ya una comunicacioacuten directa conlos dioses y se inaugura la dependencia de los hombres frente a lacarne cocida como alimento humano La instauracioacuten del ritualrompe la vieja comensalidad entre hombres y dioses e inauguraesos toacutepoi que marcan la dimensioacuten humana y la divina como razaso mundos impermeables El sacrificio separa doblemente a loshombres por un lado de los dioses y por el otro de los animalesya que los hombres deben cocer la carne y cultivar el campomientras los animales comen crudo Tal como lo muestra Detiennee n Los Jardines de Adonis12 en el reparto del primer sacrificio loshombres se llevan la parte vinculada a lo corruptible mientras quea los dioses les corresponden los aromas puros imputrescibles Laexistencia humana queda definida por una posicioacuten intermediaambigua entre lo crudo y lo quemado lo podrido y loimputrescible lo bestial y lo divino Se establece una relacioacutenvertical entre ambos al tiempo que se instituye una relacioacutenhorizontal entre los hombres El sacrificio abre los dos planosporque obliga a los hombres a comer cierto tipo de alimentomientras otros bocados corresponden a los dioses El mito daorigen a las praacutecticas sacrificiales que es precisamente el modo enque los mortales se conectan con lo divino El sacrificio es laforma en que los hombres donan algo a los dioses desde suprecaria condicioacuten humana Asimismo el mito abre un escenarioespeciacuteficamente antropoloacutegico los hombres quedan condenados acocinar los alimentos permaneciendo lo crudo reservado a losanimales o baacuterbaros

Esta no es la unica recomendacioacuten para marcar el ldquoentrerdquoque la divinidad impone Vuelve a ser Hesiacuteodo el que normativizala relacioacuten ldquoOtras veces conciacuteliatelos con libaciones y ofrendacuando te vayas a la cama y cuando salga la sagrada luz del diacuteapara que te conserven propicio su corazoacuten y su espiacuteritu y puedascomprar la hacienda de otros y no otro la tuya rdquo13

En realidad los favores de la divinidad son la clave de todobienestar Incluso el modo de vincularse de generar precisamentee l ldquoentrerdquo que estamos indagando genera una especie deregularidad o ciclicidad coacutesmica la totalidad de la jornada tanto la

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noche como el diacutea el irse a la cama como el levantarse quedanbajo la tutela de los dioses como condicioacuten de posibilidad de unavida armoniosa

El extenso apartado de Trabajos y diacuteas sobre las actividadescorrespondientes a cada estacioacuten del antildeo da cuenta de lapreocupacioacuten por el trabajo al tiempo que anuda su problemaacuteticaa la mismiacutesima legalidad coacutesmica14 Sabemos que el fondo ultimode resonancia es de caraacutecter sagrado y la ciclicidad que atraviesa locoacutesmico estaacute regulada por el mismo estatuto sagrado El trabajo secumple en conformidad con la regularidad del universo que ledona sentido y lo legitima como actividad religiosa

Su entorno devuelve ademaacutes la dependencia ontoloacutegica delos mortales respecto al destino que los dioses han hilvanado paralos hombres otro dato que habla de la fractura ontoloacutegica y quehace pensar a L Gernet en esas dos razas impermeables la una dela otra Ya sea el destino de muerte la muerte violenta o la naturalel hombre no escapa a esa dama oscura que inexorablemente nosatrapa y nos marca nuestra Moicircra nuestra porcioacuten en el reparto ynuestro territorio antropoloacutegico Alliacute estaacuten entonces los modelosejemplares que desde el relato ancestral como loacutegos explicativoresultan los vicarios miacuteticos de cualquier realidad del toacutepos humano

2 LA PROXIMIDAD

No obstante queremos problematizar esta distancia queacabamos de acompantildear con la tesis de L Gernet y de la mano deM Vegetti pensar paradoacutejicamente la cercaniacutea y la proximidad dela divinidad ya que eacutel mismo afirma la presencia intensa de lodivino

Esta difusioacuten de lo sagrado se prolonga en una relacioacuten defamiliaridad con los dioses que caracteriza ampliamente laexperiencia religiosa griega la divinidad no estaacute lejos ni esinaccesible el recurrir a ella podriacutea decirse que caracterizacada momento significativo de la existencia privada y socialSe le puede encontrar tan a menudo en sus imaacutegenes en laspraacutecticas culturales que se le dedican en las narraciones

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familiares y publicas en las que se dibujan las tupidas tramasde una simbolizacioacuten significativa de la existencia15

En efecto frente a la radical trascendencia que toma lodivino en religiones de otras caracteriacutesticas los dioses griegosguardan un estatuto inmanente que los vuelve proacuteximos maacutes allaacutede su distancia ontoloacutegica que los convierte en los Athaacutenatoi a losque se refiere Hesiacuteodo

Ahora bien iquestcoacutemo podemos caracterizar esta religiosidadgriega que estamos relevando Instalarse en este lugar suponecomparar este modelo religioso con otros para definirlo desde unesquema negativo

En primer lugar la religioacuten griega no se basa en ningunarelevacioacuten lsquopositivarsquo concedida directamente por la divinidada los hombres y por tanto no tiene ningun profeta fundadorde las grandes religiones monoteiacutestas del Mediterraacuteneo y noposee ningun libro sagrado que enuncie las verdades reveladasy constituya el principio de un sistema teoloacutegico16

La falta de esos elementos convierte a los dioses en seresmaacutes proacuteximos menos atenidos a todo el dispositivo simboacutelico delas religiones institucionalizadas

La propia falta de una iglesia como oacutergano de maacuteximajerarquiacutea determina una relacioacuten maacutes cercana que permite construiruna cierta familiaridad con lo divino donde las fronteras entre unoy otro aacutembito parecen desdibujarse pero soacutelo se trata de unaapariencia propia de la cotidianeidad porque en el fondo ladivinidad guarda siempre su jerarquiacutea estatutaria a partir de suorden ontoloacutegico ldquoY tanto menos una iglesia unificada entendidacomo aparato jeraacuterquico y separado legitimado para interpretar lasverdades religiosas y administrar las praacutecticas de cultordquo17 Sin dudaes a esta ausencia que se debe el grado de proximidad que elmismo Vegetti reconoce entre hombres y dioses Es esta cercaniacuteala que se traduce en lo cotidiano y permite comprender coacutemo ldquoenla experiencia comun por tanto siempre ha habido unaconvivencia entre la estirpe de los dioses y la de los hombresrdquo18 La

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eacutepica homeacuterica constituye una muestra magniacutefica de este aspectocon la exhibicioacuten de un viacutenculo con la divinidad que habla de unreacutegimen de cercaniacutea y proximidad19

Hasta aquiacute algunos puntos sobre coacutemo podemos entenderesta forma de religiosidad que combina las diacuteadas opuestas Unaexperiencia que guarda distancia ontoloacutegica pero que al mismotiempo evidencia matices de cercaniacutea y proximidad unaexperiencia que se revela como trascendente por las propiascaracteriacutesticas de lo divino pero inmanente en su forma depresentacioacuten

Pensemos otro aspecto desde la perspectiva de Vegetti queimpacta directamente en el corazoacuten maacutes iacutentimo de la experienciaporque diagrama el plano del culto como forma de cercaniacutea maacutesacabada

Incluso falta en griego una palabra cuyo campo semaacutenticoequivalga propiamente al teacutermino lsquoreligioacutenrsquo La que maacutes seaproxima euseacutebeia es definida por el sacerdote Eutifroacuten elprotagonista del diaacutelogo platoacutenico como lsquoel cuidado (therapeiacutea)que los hombres tienen para con los dioses (Platoacuten Eutifroacuten12 e)rsquo20

El campo lexical del verbo therapeuacuteo es la clave de estainterpretacioacuten curar cuidar velar honrar Esas son las marcas dela relacioacuten entre el hombre y la divinidad que determina ademaacutes ladiferencia estatutaria que venimos registrando A los hombres lescorresponde honrar a los dioses como modo de corroborar supertenencia al toacutepos humano En este sentido la experiencia delculto implica la persistencia del espacio humano determinada porla subordinacioacuten al aacutembito divino

Debemos comprender el significado general de ldquorespetarhonrar a la divinidad en las praacutecticas de culto nomiacutezein equivaldraacuteen definitiva a therapeuacuteein dedicar a la divinidad los oportunoscuidados ritualesrdquo21 En ese respeto y cuidado el hombre no soacutelo sedirige a los dioses sino que se respeta y cuida a siacute mismoconservando el puesto que la propia divinidad ha designado para elcolectivo humano

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Asiacute queda claro que ldquoEl nucleo de la relacioacuten entrehombres y divinidad de la lsquoreligioacutenrsquo y de la lsquofersquo de los griegosparece consistir en la observancia de los cultos y de los ritosprescritos por la tradicioacutenrdquo22 Ciertas prescripciones exhortacionesy prohibiciones pueden ser entendidas desde la dimensioacuten queacabamos de relevar Las marcas del cuidado toman la forma deuna observancia que tiene como objeto honrar a los dioses ygenerar en ellos el sentimiento de placer y felicidad de quien sesiente alabado Al mismo tiempo constituyen consejos para la vidade los hombres porque dan cuenta de una familiaridad con lodivino que trae como consecuencia beneficios en la vida ordinaria

Analizaremos una serie de versos que devuelvenprecisamente las marcas del cuidado

Nunca te atrevas a echar en cara la funesta pobreza que roe elcorazoacuten de los hombres regalo de los eternosBienaventurados23

Nunca al amanecer libes rojizo vino a Zeus con las manos sinlavar ni a los demaacutes Inmortales pues no te escucharaacuten yvolviendo la cara escupiraacuten sobre tus oraciones24

No engendres tus hijos a la vuelta de un funeral de malaguumlero sino al volver de un banquete de los Inmortales25

No te cortes en el banquete festivo de los dioses lo seco de loverde de tus cinco ramas con el brillante hierro26

No te burles de los misterios cuando asistas a humeantessacrificios sin duda tambieacuten un dios se venga de esto27

Esta familiaridad y convivialidad que venimos rastreandopuesta fundamentalmente en teacuterminos de ldquocuidadordquo no invalida elpaacutethos del temor En efecto ldquoesto no significa naturalmente queno existiese un profundo y radical temor a la divinidad y a sucapacidad de castigar las culpas de los hombres golpeaacutendoles a lolargo de su existencia e incluso de su descendenciardquo28

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3 LA VIDA TODA EN CLAVE RELIGIOSA

Definitivamente instalados en el texto hesioacutedico queremosarticular el viacutenculo hombre-divinidad en tres ejes en dondeclaramente se observa la presencia dominante de los dioses comoteloacuten de fondo de la vida en su conjunto La instancia fundacionalque supone el mito de las edades el trabajo como modo deinstalacioacuten de los hombres en su condicioacuten antropoloacutegica y lashuellas de una cotidianeidad que se revela de extrema familiaridadseraacuten los toacutepicos a tratar

EL MITO DE LAS EDADES DEL CUIDADO AL DESCONOCIMIENTO

Cuando Hesiacuteodo presenta el largo relato que da cuenta dela progresiva degradacioacuten humana en el marco de una claraintencioacuten didaacutectica29 comenta una convivialidad que parece tensarla reciprocidad entre hombres y dioses en un punto deseado deencuentro y familiaridad

Viviacutean como dioses con el corazoacuten libre de preocupacionessin fatiga ni miseria30

Los hombres de la raza de oro conocieron las delicias deesta proximidad y respondieron a ella con los debidos cuidadosque los dioses merecen por su condicioacuten de tales El clima esfestivo y el corazoacuten alcanza la mayor alegriacutea que el contacto conlos dioses aporta como recompensa extrema ldquoEllos contentos ytranquilos alternaban sus faenas con numerosos deleites Eranricos en rebantildeos y entrantildeables a los diosesrdquo31

El favor de los dioses se manifiesta en una vida cuasidivina sin la presencia de aquellos males y sufrimientos queconstituiraacuten el marco de la existencia de los hombres Los hombresquedaraacuten definitivamente sumidos en ese marco de desgracias ypesares cuando olviden su cuidado los dioses

Ahora bien seraacute precisamente ese toacutepico el que determinela peacuterdida de un estado de felicidad compartida y el pasaje a unestado otro donde el cuidado ha sido olvidado lo cual implica elpropio olvido de los dioses

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Pues no podiacutean apartar de entre ellos una violenciadesorbitada ni queriacutean rendir culto a los Inmortales ni hacersacrificios en los sagrados altares de los Bienaventuradoscomo es norma para los hombres por tradicioacuten A eacutestos maacutestarde los hundioacute Zeus Croacutenida irritado porque no daban lashonras debidas a los dioses bienaventurados que habitan elOlimpo32

Dejar de cuidar therapeuacuteo a los dioses es la forma maacutesacabada de dejar de cuidarse por esta torpeza la hyacutebris gana laescena y los hombres no cesan en sus males Dejar de rendir cultoa los dioses ignorar el sacrificio como la leccioacuten inaugural que elmito de Prometeo ensentildeara a los mortales y generara la divisioacutenentre hombres y dioses olvidar las normas ancestrales quesostienen la cohesioacuten de los mortales reunidos en comunidadrenunciar a dar las honras correspondientes son los olvidos del noreconocimiento no soacutelo de los dioses sino de siacute mismos comohombres ya que ser hombre implica ese paquete de obligaciones

De este modo cuando Hesiacuteodo culmina el relato del largocamino de la decadencia y la injusticia que va hilvanando eldestino de las cinco razas considerando la interpolacioacuten de la razade los heacuteroes abre un panorama desolador del campo de viacutenculostransidos por el conflicto33

RELIGIOSIDAD Y VIDA COTIDIANA

La presencia de los dioses en la vida cotidiana puede tomarla forma de la vigilancia

Despreciaraacuten a sus padres apenas se hagan viejos y lesinsultaraacuten con duras palabras cruelmente sin advertir lavigilancia de los dioses ndash no podriacutean dar el sustento debido asus padres ancianos aquellos [cuya justicia es la violencia ndash yunos saquearaacuten las ciudades de los otros]34

Los dioses tienen asiacute una presencia fuerte entre loshombres observando sus conductas y castigando en consecuencia

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Liacutemite y prudencia en Hesiacuteodo una mirada antropoloacutegica | Mariacutea Cecilia Colombani

Forma parte de su estatuto esta presencia que tambieacuten habla deuna familiaridad en el plano inmanente de la vigilancia

La divinidad estaacute presente custodiando las costumbres ydelineando con la recompensa o el castigo consecuentes ladimensioacuten moral de los hombres proclives a olvidar susobligaciones

Igualmente el que maltrata a un suplicante o a su hueacutesped osube al lecho de su hermano (para unirse ocultamente con suesposa incurriendo en falta) o insensatamente causa dantildeo alos hijos hueacuterfanos de aqueacutel y el que insulta a su padreanciano ya en el funesto umbral de la vejez dirigieacutendose a eacutelcon duras palabras sobre eacuteste ciertamente descarga el mismoZeus su ira y al final en pago por sus injustas acciones leimpone un duro castigo Pero tu aparta por completo tuespiacuteritu de estos delitos35

La divinidad se presenta siempre como el garante de unajusticia tanto coacutesmica como humana36

CONCLUSIONES

Hemos intentado pensar la problemaacutetica de la ira desdedistintos andariveles a partir de la relacioacuten que vincula al hombregriego con la divinidad

Nos propusimos relacionar el toacutepico mostrando coacutemo enel marco de la relacioacuten que se da entre los mortales y losInmortales el no reconocimiento y la transgresioacuten del registroontoloacutegico que los distingue y separa despierta la ira de los dioses

En segundo lugar vimos coacutemo el sentimiento de ira sevincula estrateacutegicamente con el proyecto didaacutectico moralizador queHesiacuteodo se propone dando respuesta a una demanda de su tiempohistoacuterico Asiacute la ira no se vincula con la coacutelera del dios en suestatuto supremo sino que se inscribe en un diagrama eacutetico queprioriza la virtud y la justicia como horizonte de un cierto ethos

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Caliacuteope Presenccedila Claacutessica | 20172 Ano XXXIV Numero 34

ABSTRACT Limit and Prudence in Hesiod an Anthropological View

The purpose of this paper is to read anthropologicaly therelation between Man and Divinity within the mythologicalthought of Arcaic Greece The presense of gods is the warrantythat beyond the apparent khaos there is Order of which Poetry isits most perfect expression Within the anthropological toacutepos twoaspects define the Greek experience of Divinity The first one isthe distance between humans and gods The second one is theassimilation and approximation to that divine world These twoaspects define Human condition We will demonstrate howtransgression and unrecognition to these aspects cause the wrathof the gods

KEYWORDS

Man Divinity Distance Approximation TransgressionUnrecognition

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Liacutemite y prudencia en Hesiacuteodo una mirada antropoloacutegica | Mariacutea Cecilia Colombani

BIBLIOGRAFIacuteACOLOMBANI MC Hesiacuteodo discurso y linaje una aproximacioacuten arqueoloacutegicaMar del Plata Universidad de Mar del Plata 2016______ Homero una introduccioacuten criacutetica Buenos Aires Santiago Arcos2005 DETIENNE M Los maestros de verdad en la Grecia arcaica Madrid Taurus1986______ Los jardines de Adonis Madrid Akal 1996DETIENNE M SISSA G La vida cotidiana de los dioses griegos MadridTemas de Hoy 1990GERNET L Antropologiacutea de la Grecia antigua Madrid Taurus 1981GIGON O Los oriacutegenes de la filosofiacutea griega de Hesiacuteodo a ParmeacutenidesMadrid Gredos 1985HESIacuteODO Obras y fragmentos Madrid Gredos Madrid 2000HESIOD Theogony Works and Days Testimonia Trans GW MostCambridge Loeb Classical Library London Harvard University Press 2007LIDDEL HG SCOTT R A Greek-English Lexicon Oxford Clarendoin Press1996LINtildeARES L Hesiacuteodo Teogoniacutea Trabajos y Diacuteas Edicioacuten bilinguumle BuenosAires Losada 2005NESCHKE A Dikegrave La philosophie poeacutetique du droit dans le ldquomythe des racesrdquod Heacutesiode In BLAISE F JUDET DE LA COMBE P ROUSSEAU P Le meacutetier dumythe lectures d Heacutesiode sous la direction de BLAISE F JUDET DE LA COMBEP ROUSSEAU P Paris Presse Universitaires du Septentrion vol 16 1993 p465-478VEGETTI M El hombre y los dioses In VERNANT J-P El hombre griegoMadrid Alianza 1993VERNANT J-P Los oriacutegenes del pensamiento griego Buenos Aires EUDEBA1976VIANELLO DE COacuteRDOVA P Hesiacuteodo Teogoniacutea Meacutexico Universidad NacionalAutoacutenoma de Meacutexico 1978

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1 GERNET 19812 Idem ibidem p 153 Idem ibidem p 164 VERNANT 1976 p 875 Idem ibidem p 876 GERNET 1981 p 157 Idem ibidem p 158 Idem ibidem p 169 DETIENNE SISSA 1990 p 5010 DETIENNE 198611 LINtildeARES 2005 p 336-33812 DETIENNE 1996 p 11213 LINtildeARES 2005 p 339-34214 COLOMBANI 2005b El tratamiento de Hesiacuteodo se inscribe iacutentegramente en unhorizonte antropoloacutegico-cultural donde el trabajo aparece como un hecho decultura que se inscribe en el marco de una legalidad coacutesmica que marca laciclicidad que abraza la dimensioacuten temporal del hombre 2005b15 VEGETTI 1993 p 29116 Idem ibidem p 292

17 Idem ibidem p 29218 Idem ibidem p 29319 COLOMBANI 2005a20 VEGETTI 1993 p 29321 Idem ibidem p 29322 VEGETTI 1993 p 29323 LINtildeARES 2005 p 717-71824 Idem ibidem p 724-72725 Idem ibidem p 735-73626 Idem ibidem p 743-74427 Idem ibidem p 755-75628 VEGETTI 1993 p 29429 COLOMBANI 2016 El texto analiza la dimensioacuten didaacutectica de Hesiacuteodo enrelacioacuten a la posibilidad de constitucioacuten del hombre prudente como modo dereparar la decadencia epocal en el marco de lo que podemos considerar unametaacutefora meacutedica la prudencia representa entonces el phaacutermakon para curar unasociedad enferma 201630 LINtildeARES 2005 p 111-11231 Idem ibidem p 118-12132 Idem ibidem p 133-13933 Coincidimos con Neschke A (1997) p 478 cuando analiza el mito de lasrazas desde la perspectiva de la exhortacioacuten de la poesiacutea didaacutectica perotambieacuten de la consolidacioacuten de una moral34 LINtildeARES 2005 p 185-19035 Idem ibidem p 328-33536 GIGON 1985 p 13-43 El problema del ser del todo del origen de la verdadde la transmisioacuten de la verdad y la perspectiva de un garante como aquel quevela por la conservacioacuten del orden y la justicia han sido los hilos que Gigon haencontrado para hilvanar el tapiz del Hesiacuteodo-filoacutesofo

Antigonersquos (mis)appropriations in Twentieth-Century Europe | Rossana Zetti

Antigonersquo s (mis )appropr ia t ions inTwentieth-Century Europe MemoryPolitics and ResistanceRossana Zetti

ABSTRACT

In this paper I will offer a historicized reading of Antigonersquosconceptualization as a political play by analysing its reception intwentieth-century Europe I will focus in particular on FriedrichHoumllderlinrsquos adaptation (1804) which is one of the very earliest post-Revolutionary witnesses to the political understanding of the play it isparticularly interesting because it provides a context for Bertolt Brechtrsquosand other twentieth-century adaptations of the myth and it represents acrucial step towards the current interpretative model in which Antigone isan icon of radical dissent and resistance Appropriated both by the Naziregime and by factions of the Resistance Houmllderlinrsquos Antigone wasexploited as a political subversive document or as representative of anationalistic classical tradition This account of the political reception ofSophoclesrsquo Antigone in the twentieth century will contribute to shed lighton the ideological climate which produced such a high number ofadaptations of the ancient play as well as on the reasons for itspertinence to twentieth-century temporal-political conditions

KEYWORDS

Antigone Reception Politicization Brecht Houmllderlin Sophocles

SUBMISSAtildeO 15 nov 2017 | PUBLICACcedilAtildeO 19 dez 2017

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1 INTRODUCTION amp CONTEXTUALIZATION

thol Fugard author of an adaptation of the Antigoneof Sophocles written during the apartheid period inSouth Africa claimed that Antigone is the ldquogreatestpolitical play of all timerdquo1 The political relevance ofthe ancient play considered by Hegel the closest toperfection2 has led to a fruitful interaction with thepresent facilitated by the urgency of politicalsituations in the contemporary world The Antigoneof Sophocles enjoys one of the richest performanceand reception histories it has been translated morethan fifty times into the English language in the lastcentury and it has been performed all around theworld3 The ancient myth has had a major influence

upon writers translators and playwrights of all periods and theambiguities of the play have lent to a variety of interpretations atdifferent times and in different contexts and places Antigone hascommunicated something different Despite such a versatilitycertain inherent characteristics of her tragic persona ndash her defianceof tyranny her rebellious spirit and her claim for human freedomndash have been appropriated again and again thus exemplifying theexistence of ldquofugitive humane communalitiesrdquo occurring acrosshistory4

However in order to understand why among other Greektragedies performed and adapted to the modern stage the Antigoneof Sophocles figures so prominently it is necessary to takedistance from the ldquomystification of Antigone as lsquouniversalrsquordquo5 Itsideas persist and resonate today as in the fifth century but theyhave been progressively changed and revisited in favour of apoliticization of the story precisely the relevance of theSophoclean play to contemporary political events has inspiredmany overtly political versions and imitations in the twentiethcentury The playrsquos plot and themes (Antigonersquos fight for ldquohumanrightsrdquo and autonomy her defiance of authority) enabled differentauthors to respond to various historical instances and politicalcontexts ranging in the twentieth century from Jean Anouilhrsquos

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A

Antigonersquos (mis)appropriations in Twentieth-Century Europe | Rossana Zetti

adaptation in wartime Paris to Bertolt Brechtrsquos adaptation in post-war Germany and Tom Paulinrsquos Irish adaptation The Riot Actperformed during the period of civil strife known as ldquotheTroublesrdquo ndash just to name a few6 The playrsquos spread and influenceare not confined only to the Western world the play attractedcross-cultural appeal even outside Europe where it was exploitedas a vehicle for contemporary political critique7

However Antigone has not always stood as the exemplaryicon of principled resistance and defiance against establishedauthority In spite of its political and revolutionary potential theancient myth was also appropriated by the Nazis for theirideological propaganda and it was presented as example of heroicand patriotic drama8 In particular the Antigone of Sophocles in thetranslation by Houmllderlin was frequently performed towards the endof the Second World War as example of ldquoheroic dramardquo insupport of Hitlerrsquos propaganda Although Houmllderlin did notproclaim the superiority of Germany over Greece as the leader ofthe West nor believed in the ldquoGreek characterrdquo inherent to theGermans his play was appropriated by the Nazis for theirproclamation of a ldquoracial kinship between Greeks and Germansrdquo9

At the same time Antigone was also appropriated byfactions of the Resistance which transformed the play into apolitical subversive document This tradition was followed byBertolt Brecht who upon the end of the Second World Warwrote an adaptation of the Antigone based on Houmllderlinrsquostranslation Through his reworking of the ancient original Brechtencouraged his audience to remember and reflect upon the recenttragedy of the Second World War in the attempt to unveil themechanisms behind the acquisition and dismantling of power atthe same time by adopting Houmllderlinrsquos text he denounced thedistorted readings and misappropriations of the play duringNazism With Brecht Sophoclesrsquo Antigone is established asldquocanonicalrdquo drama of political resistance

Studying the dynamics of remembrance and propagandabehind appropriations of Sophoclesrsquo Antigone is thereforeparticularly interesting the Antigone myth has been readapted and

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ldquorememberedrdquo in different ways to communicate different politicalideologies in the twentieth century a period characterized by civilwars dictatorships and resistance The politicization of Antigone inthese years is twofold ndash it served both the ideologicalinstrumentalization of the Nazis and the intellectual resistance It isin this period that Antigone becomes an icon of resistance andrevolt but it also becomes representative of a nationalistic classicaltradition Different responses to Sophoclesrsquo tragedy thereforereflect cultural and political shifts occurred in the twentiethcentury as well as different ways of interpreting andldquorememberingrdquo the ancient play No matter in what respectAntigonersquos performance in these years represents a political act

2 HOumlLDERLIN AND ANTIGONE

Of particular interest for my investigation of Antigonersquosreception and politicization in the twentieth century are the mainphilosophical theories developed around the Sophoclean play inthe early nineteenth century10 These readings affected by thepolitical circumstances of the French Revolution caused a breakwith the tradition and contributed to establish the currentinterpretative model of a ldquopoliticizedrdquo Antigone11 Antigone becomesthe great twentieth-century play which still affects us today thanksto two interpreters a poet (Houmllderlin) and a philosopher (Hegel)whose influential readings have irremediably shaped the way laterauthors experienced the play The ldquomodernrdquo Antigone would havebeen different without Hegel and Houmllderlin and ldquothephilosophical explorations of the Hegelian tradition might havealso acquired a different orientation without Antigonerdquo12

Contemporary to Hegel Houmllderlin wrote his highlyinnovative translation of the ancient Greek tragedy in 1804 Thistranslation represents a crucial step towards the currentinterpretative model of Antigone as an icon of radical resistance andit is a fundamental political and linguistic document it was used asa libretto for Carl Orffrsquos 1949 opera Antigonae ndash written under the

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Antigonersquos (mis)appropriations in Twentieth-Century Europe | Rossana Zetti

Nazi regime and initially financed by the Reich ndash and it was themodel-translation for Brechtrsquos own interpretation of the play13

Houmllderlinrsquos translation of Antigone has been notoriouslycharacterized for its extreme radicalism Scholars have identifiedmany errors and a striking philological inaccuracy14 Houmllderlinrsquoscommand of Greek was indeed ldquofar from perfectrdquo and he workedwith defective editions To Goethe and to Schiller Houmllderlinrsquostreatment of the Greek text gave palpable evidence of mentalcollapse which the poet endured between 1804 to his death in1843 ndash most likely heightened by the negative reception of histranslations of both Antigone and Oedipus der Tyrann criticized byhis contemporaries15

The rediscovery of the long neglected poet started at thebeginning of the twentieth century The first complete edition ofHoumllderlinrsquos Saumlmtliche Werke was published by Norbert vonHellingrath in six volumes between 1913 and 1923 Thispublication represents a decisive turning point in the reception ofHoumllderlinrsquos works they were not considered anymore as theproduct of a ldquosavagerdquo mind but rather the achievement of a uniquepoet and writer Since then different editions of Houmllderlinrsquos workshave appeared16 and critics praised the Romantic poet consideredpatriotically as exemplary of German honour and loyalty theldquopurestrdquo of poets17 The Antigone in the translation by Houmllderlinwas performed for the first time after its publication in Zurich in1919 and in Darmstadt in 192318

Yet it was in Nazi Germany that Sophoclesrsquo Antigonebecame the most popular classical work performed 150 timesbetween 1939 and 194419 As the war raged on Antigonesignificantly proclaimed ldquoI was born to join in love and not inhaterdquo20 The Sophoclean tragedy became an exemplary model forthe new heroic drama favoured by the Nazis celebrating the ideaof sacrifice and noble death for the fatherland productionsemphasized Antigonersquos patriotic loyalty to her family althoughthey sided with Creon representative of the principle of the state

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The success of Antigone in the repressive context of NaziGermany might seem at odds with the political themes of protestand resistance of the play how could authors conform Antigone tothe ideological manipulation imposed by the regime How is itpossible that the Antigone was so popular and the authorities didnot attempt to stop the proliferation of such a politically chargedplay Wi th Romain Rollandrsquos Aacute lrsquoAntigone eacuteternelle (1916) andWalter Hasencleverrsquos Antigone (1917) the heroine had beenestablished as a figure of pacifism as well as a critical politicalleader Yet it is necessary to take into account the long tradition ofGerman Classicism and cultural identification of Germany withancient Greece started with Winckelmann21 Hitler himself was aPhilhellenist and in his propagandistic book Mein Kampf he hadproclaimed Greece as universal cultural model epitome ofEuropean civilization and racial kin thus merging philhellenismwith nationalism and promoting the identification of the Germanswith the idealized people of ancient Greece22

The combination of Hellenism and Germanism can betraced back to Houmllderlinrsquos translation of Sophoclesrsquo AntigoneHoumllderlinrsquos translation of Sophoclesrsquo Antigone integrates theDionysiac Hellenic element with the German Apolloniancharacter in order to clarify and render intelligible the Greek pathosto the German more rational sensibility23 Houmllderlinrsquos emphasison the similarities between German and Greek cultures preciselyserved the Nazi cause to reinforce nationalistic propaganda duringthe war

In his Notes to Antigone Houmllderlin emphasizes that tragedyemerges at times of revolution in human thinking and feeling ofldquopatriotic reversalrdquo (vaterlaumlndische Umkehr)24 Tragedy as well ashistory is built from the beginning to the end on a series ofdialectic oppositions each generating a dramatic revaluation ofmoral values and political power-relations In Houmllderlinrsquosreinterpretation the opposition between Creon and Antigone ispolitical Antigonersquos act is referred to as Aufstand (ldquouprisingrdquo orldquoinsurrectionrdquo) a politically pregnant word which reveals therevolutionary and political aspiration of his translation25

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Antigonersquos (mis)appropriations in Twentieth-Century Europe | Rossana Zetti

Houmllderlinrsquos translation is itself the product of years characterizedby revolutions Antigonersquos rebellion reflects the FrenchRevolution which is exemplary of a public enactment of such areversal and Creonrsquos final manhandling by his servants can beparalleled to the execution of Louis XVI26 According to Houmllderlina revolution causes a collision whose outcome is a balancedopposition as the play ultimately reaches a (Hegelian) synthesis sorevolutions ultimately bring about a political change in the form ofgovernment and the es tabl ishment of a republikanischeVernunftsform27

The relation between ldquoAntigonersquos revolutionrdquo andldquocontemporary revolutionsrdquo is consolidated by the idea ofVaterland (ldquofatherlandrdquo ldquocommunityrdquo) a sense of patrioticrelevance and nationalism According to Houmllderlin the Germansneed to express their national tendency and at the same timerepress it to give space to the foreign element the pathos of theGreeks only by engaging with the alien can modern poetrybecome ldquopatrioticrdquo (vaterlaumlndisch) and express the originality andauthenticity of the nation itself These principles guide his owntranslation of the play which attempts to clarify and renderintelligible the Greek spirituality in a process called by Houmllderlinldquothe reversal of all modes and forms of representationrdquo28

The Nazis appropriated Houmllderlinrsquos ldquopatrioticrdquo idea of dasVaterlaumlndische and transformed the German poet into an exampleof spiritual leader and patriotic self-sacrifice thus reinvigoratingthe idea of a strong and culturally dominant Germany29 Thecombination of Greek and German elements was exploited assource of ultranationalist pride in the effort to preserve German-Western culture against threatening barbarian influences from theEast thus creating a ldquocultural collective memoryrdquo and heritagedirectly linked to the classics30

The performance of Greek tragedies was thereforelegitimized and approved in the Nazi period In particular Antigonebecame the exemplary model of ldquoheroic dramardquo The ldquoheroicdramardquo was a new dramatic form conceptualized in Germany inthe 1930s which emphasized ideas of patriotism and self-sacrifice

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in order to strengthen the nationalism and unity of Germany in thewake of the imminent war In his essay ldquoThe ImmortalConversation on the Tragic Dramaturgy as the Law of NordicCulturerdquo (1937) Rainer Schloumlsser explained the relevance ofSophoclesrsquo tragedies exemplary of this ldquoNordic attituderdquo ofheroism and noble death31 In May 1933 in his speech ldquoRede vorden deutschen Buhnenleiternrdquo Goebbels proclaimed theldquoheroicnessrdquo of German art

Die deutsche Kunst des naumlchsten Jahrzehnts wird heroischwird staumlhlern-romantisch wird sentimentalitaumltslos sachlichwird national mit groszligem Pathos sie wird gemeinsamverpflichtend und bindend sein oder sie wird nicht sein32

On 22 June 1940 Paris surrendered and the victoriousGerman army marched into Berlin on 6 July 1940 the great victorywas celebrated by Hitler at the Krolloper in Berlin33 In the autumnof 1940 two almost simultaneous productions of Antigone wereperformed in Berlin and Vienna34 The 1940-1941 theatrical seasonopened in Berlin with Karlheinz Strouxrsquos Antigone whichpremiered on 3 September 1940 at the Berliner StaatlichesSchauspielhaus where the TieckMendelssohn production had beenshown multiple times Stroux relied on Roman Woernerrsquostranslation which facilitated the understanding of the text andcontributed to render it accessible to the public ndash by contrast withHoumllderlinrsquos obscure translation

Karlheinz Strouxrsquos reading of the play did not follow thestandard ldquointerpretationrdquo imposed by the Nazis but transgressedand contradicted the dominant ideology Rather than classicalGreece the stage designs reminded critics of an oriental or pre-Hellenic culture Antigone was interpreted by Marianne Hoppeand was addressed and presented as Greek whereas Creoninterpreted by Walter Frank was dressed as an Oriental king Theracial kinship was inverted Antigone a female was presented asthe Aryan-Greek model and Creon the ruler as a barbarian35

Although critics maintained that ldquothe tragedy does not correspondto the standards of the sacrosanct idea of the staterdquo36 the classical

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Antigonersquos (mis)appropriations in Twentieth-Century Europe | Rossana Zetti

subject matter the mystic stage and stylized acting did not prompta direct identification with the story rather they allowed the authorto discuss indirectly contemporary political issues while avoidingcensorship

Particularly resonant was the Antigone directed in Vienna in1940 by Lothar Muumlthel followed by other five performances inFrankfurt (1941) Leipzig (1942) Vienna (1943) Goumlttingen (1944)and Stuttgart (1944) In correspondence with the centenary of thepoetrsquos death on 7 June 1943 patriotic celebrations occurred acrossGermany Antigone was performed in Vienna and the Houmllderlinsociety was founded in Stuttgart Goebbels was appointedldquohonorary patron of the Societyrdquo and Hitler ordered to place ldquoacommemorative wreath hellip in his name on Houmllderlinrsquos grave inTuumlbingenrdquo37 Antigone was even performed in 1944 a few monthsbefore Goebbels ordered the closure of all theatres In occasion ofthe 1944 production of Antigone in Stuttgart a newspaper wrotethat ldquotwo and a half thousand years of Western culture are nowpreserved and defended by Herzland Europardquo38

Therefore although the potential subversive character ofAntigonersquos rebellion which emerges for example in Strouxrsquosreading of the play Antigone was exploited and mis-interpreted bythe Nazis who relied upon Houmllderlinrsquos ldquopatrioticrdquo and ldquoheroicrdquoideas of fatherland Through the Nazisrsquo reading Houmllderlin gainedpowerful ideological resonance and became a nationalist icon ofGerman Nazism Brecht speaks in his Arbeitsjournal of ldquothenationalistic element intolerable to usrdquo imposed by Hitler in thereading of German poets such as Schiller and Houmllderlin39

Houmllderlinrsquos translation of the ancient play was recommended byBrechtrsquos collaborator Caspar Neher who had watched in Hamburgthe first post-war production of Antigone in the translation of theGerman poet (1946)40 This production received particularlypositive responses by the critics who claimed that ldquoHoumllderlin isthe more Greek of allrdquo and intended to convey the ldquoturmoil thepolitical the republican the revolutionary which Houmllderlin alwayssaw in Antigonerdquo41

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In using Houmllderlinrsquos translation but developing a radicallydifferent reading Brecht opposed the Nazisrsquo use of Houmllderlinrsquosplay as the epitome of the vaterlandisch ldquoa way of imagining theworld from a nationalistic perspectiverdquo42 The indeed oppositeappropriation of the play by Brecht reveals the pliability of theAntigone narrative and is paradigmatic of the politicizing of themyth

3 BRECHT AND ANTIGONE

Brechtrsquos version draws closely on Sophoclesrsquo text buttransforms the Greek narrative in an analysis of modern classstruggle Brecht explicitly challenges the nationalistic uses of theSophoclean play which he felt incompatible with the complexitiesof post-war Germany Although appropriated by the Nazis duringthe war for its nationalistic appeal the text also responded toBrechtrsquos desire to oppose to the classical reading of the play andto distance himself from the purely classical-humanist andldquobourgeoisrdquo interest in Greek tragedy

As he explains in the preface to his own Modelbuch43 Brechtavoided an easy identification of the conflict with one between theindividual and the (Nazi) totalitarian regime He refused to equateAntigone with German resistance fighters who fought against theNazis nor could Antigone be interpreted as a ldquomoral playrdquo or asrepresentative of religion humanity or the individual in relation tothe state44 As he suggests in the preface of the Antigonemodell thechoice of the material relied both on the possibility to raiseinteresting formal problems through the ancient play and on itspolitical relevance45

The focus of the play shifts from the conflict between theindividual and the state to the disintegration of the society-polis andthe ldquoscattering of destructionrdquo left by war Brechtrsquos play shows thatwars are determined by questions of profit and imperialistic greedthus drawing an explicit parallel with the Second World WarCreon is a corrupt imperialistic tyrant leading an aggressive waragainst Argos to control its mines His power is maintained

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Antigonersquos (mis)appropriations in Twentieth-Century Europe | Rossana Zetti

through violence and an aggressive policy justified by a rhetoric ofhonour and race In his reinterpretation Brecht emphasizes theviolence implicated in both the ruling class including the wealthychorus of elders and Antigone who loses her dominant role sheis presented as a privileged upper class woman who has also beencomplicit to Creonrsquos crimes46 The heroine merely serves to throwinto relief Creon addressed by his lackeys as ldquomein Fuumlhrerrdquo andhis repressive government dominated by thievery and exploitation

The Sophoclean catastrophe thus becomes in Brechtrsquosreinterpretation an allegory of the decline of the Third Reich andNational Socialism as well as an analysis of societyrsquos mechanismsT h e emphasis on violence and destructions provoked by wardemonstrates Brechtrsquos self-conscious attempt to reflect upon thedisaster of the recent war and to explore issues of responsibility ndashcollaboration and resistance ndash during the years of the SecondWorld War

Through his reworking of the Sophoclean play Brecht aimsto awaken the critical spirit of his audience the play becomes apretext to reflect upon the recent past and to remember that pastIssues of memory recur throughout the play even the title TheAntigone of Sophocles after Houmllderlinrsquos translation adapted for the stage byBrecht represents an act of remembrance and links Brechtrsquos namewith Sophoclesrsquo and Houmllderlinrsquos47

In the parodos of Brechtrsquos Antigone the chorus of Thebanelders celebrates the victory over Argos and encourages the peopleto forget the recent war

Und nach dem Kriege hier Macht die Vergessenheit ausIn alle GoumlttertempelMit Choumlren die Nacht durchKommt her Und Thebe die Bloszlige im LorbeerschurzErschuumltternd herrsche der Bacchusreigen48

The ldquodrink of oblivionrdquo proffered by Bacchus allows thepeople thirsting for peace to rejoice in the illusory celebrationsand to forget about the deaths and destructions caused by the war

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However such a call for forgetting is a cover up manipulated byCreon in order to camouflage the reality the much praised victoryis in fact a lie because the war is not over The eagerness to forget isopposed to Antigonersquos determination to remember the past theheroine insists that it is important to remember the disasters of thepast in order to avoid their repetition in the future In the firstscene of the play Antigone disapproves of her sister Ismene forher the tragedy of their brothersrsquo death is already ldquoa yesterdaythingrdquo49

On the one hand Brecht accuses the spectators ofcomplicity and his Antigone becomes an indictment to thosepeople who wished to forget the past and to those ldquoordinaryrdquoGermans who failed to act under Hitlerrsquos regime and chose not tosee giving tacit consent to his crimes on the other he questionsthe validity of an Antigone-like-act and -death in the context ofBerlin 1945 Brecht himself did not ldquoactrdquo but decided to fleeGermany rather than staying and facing certain death He waswatching the events from a distance during his exile50

The final lesson offered by Brechtrsquos play is indeed nihilisticand pessimistic in the original the chorus praise wisdom whichman can achieve though self-knowledge with old age and throughsubmission to the gods51 in the modern version instead the fall ofThebes could have been avoided and it is presented as the result ofa conscious self-destructive choice It is human greed and lustwhich ultimately transform man in a ldquomonsterrdquo to himselfincapable of becoming ldquobecome wiserdquo even in old age52

Brechtrsquos tragedy teaches that man will repeat the sameerrors reiterated in the updated version of the story unless manremembers the past the sacrifice of innumerable Antigones ndash orGerman resistance fighters ndash will be useless Brecht appropriatesthe Antigone story as political instrument to reflect upon humanactions and more precisely upon the ldquomonstrousrdquo actions andchoices enacted by each single individual during the tragic years ofthe Second World War Once more classics serve as a platform tocomment upon past and present events and to question issues ofmoral choice and responsibility

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Antigonersquos (mis)appropriations in Twentieth-Century Europe | Rossana Zetti

The influence of Brechtrsquos play extends beyond itsimmediate impact His version is as important as the original forthe creation of later politicized Antigones and showed the way toother adaptations that reflected on political issues of dissent andresistance

4 CONCLUSIONS

The twentieth-century reception of Sophoclesrsquo Antigoneshows how a work of art can be re-interpreted and ldquorememberedrdquoin different ways in order to fulfill a certain political agenda andpropaganda It is not only the past itself that matters but the waysin which this past is consciously re-interpreted and exploited toremember and shape contemporary events Antigone still matterstoday because of the chain of political reinterpretations that hashelped authors and audiences to remember and reflect upon thepresent through the powerful voices of heroes of the past

The ldquouses and abusesrdquo of Houmllderlinrsquos version areexemplary of the different ways of remembering the past througha work of art and of the distorting ways of using classics duringtotalitarianisms53 The play was then re-used by Brecht for differentpurposes through his adaptation of Antigone Brecht hoped to re-awaken the critical thinking of his audience and to provide themwith the instruments necessary to unveil the workings of ideologyand dictatorships It is questionable whether these and otherAntigones anchored to the history of the twentieth century havecontributed to effectively instigate a political change andsentiments of revolt or nationalism in their audiences Indeed it isundeniable that the political directions taken by the play in the lastcentury have underscored the playrsquos relevance and granted itsendurance to the present day

The playrsquos reception in this century proves the greatpolitical potentiality and versatility of a play like Antigone adaptedand staged in correspondence with important historical andpolitical events The political aspect already present in thearchetypical figure of a woman who alone defies the authority of

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the State has been uncovered by playwrights and directors whohave demonstrated that the Antigone of Sophocles is appropriatenot only to describe situations as they occurred in the twentiethcentury but it belongs to any time and place as John Kaniacknowledges

Antigone addresses itself to any corner of the world where thehuman spirit is being oppressed where people sit in jailbecause of their fight for human dignity for freedom54

These versions became a sort of ldquooriginalrdquo in their ownright and were able to turn the stage into a place where the distantpast could be revived and remembered theatre and the politicaluse of classics worked as a vehicle for memory

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Antigonersquos (mis)appropriations in Twentieth-Century Europe | Rossana Zetti

ABSTRACT

Le (mis)interpretazioni di Antigone nellEuropa del ventesimosecolo Memoria Politica e Resistenza

In questo articolo si propone unrsquoanalisi del processostorico che ha portato alla concettualizzazione dellrsquo Antigone diSofocle come opera politica attraverso lrsquoanalisi della sua ricezionein Europa nel ventesimo secolo Mi concentrerograve in particolare sullatraduzione di Friedrich Houmllderlin (1804) che rappresenta una delleprime testimonianze post-rivoluzionare della politicizzazione dellastoria di Antigone egrave quindi particolarmente interessante in quantofornisce un contesto per le interpretazioni del mito da parte diBertolt Brecht e di altri autori del ventesimo secolo e rappresentaun passo cruciale verso lrsquoattuale modello interpretativo di Antigonecome icona di dissenso e resistenza radicale Appropriata sia dalregime nazista che da fazioni della Resistenza lrsquoAntigone diHoumllderlin fu sfruttata come documento politico e sovversivo ecome icona di una tradizione classica nazionalista Questoresoconto della ricezione politica dellrsquoAntigone di Sofocle nelventesimo secolo contribuiragrave a far luce sul clima ideologico che haprodotto un cosigrave grande numero di interpretazioni dellrsquooperaantica noncheacute sulle ragioni della sua pertinenza alle condizionisocio-politiche di questo secolo

PAROLE CHIAVE

Antigone Ricezione Politicizzazione Brecht Houmllderlin Sofocle

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25 HOumlLDERLIN 2001 p 7326 According to UNGER 1984 p 2 Houmllderlin showed ldquoa growing interest in and enthusiasm for the intellectual and political ideals of the French Revolutionrdquo expressed through his poetry and especially the Hymns to the Ideals of Mankind LOUTH 1998 p 155 remarks that Houmllderlinrsquos present is ldquodetermined by the French revolution and by Greek antiquityrdquo As STEINER 1984 p 81 observes this virtual manhandling is a motif entirely invented by Houmllderlin 27 HOumlLDERLIN 1963 p 676 28 PFAU 1988 p 11429 FLASHAR 2009 p 14130 See ZIOLKOWSKI 2000 p 555 FLASHAR 2009 p 16431 See FISCHER-LICHTE 2017 p 16732 Quoted in LOHSE 2006 p 16033 On the historical context see LOHSE 2006 p 152-15334 On these productions of Antigone see LOHSE 2006 p 151-186 FLASHAR 2009p 165-168 On Strouxrsquos Antigone see FISCHER-LICHTE 2017 p 171-17935 See FISCHER-LICHTE 2017 p 17736 FISCHER-LICHTE 2017 p 17637 SAVAGE 2008 p 5 In this occasion patriotic celebration occurred acrossGermany and a special edition of Houmllderlinrsquos poems was prepared by Beiszligner 38 Trans From FLASHAR 2009 p 16539 Trans RORRISON WILLETT 1993 p 30640 On this production see CASTELLARI 2011 p 156-157 See remarks in BRECHT 1988 p 12 ldquoAuf Rat von Cas nehme ich die Houmllderlinische Uumlbertragung die wenig oder nicht gespielt wirdrdquo Brecht was not aware of the theatrical success of the play during the Nazi period see FLASHAR 2009 p 141 FISCHER-LICHTE 2017 p 166-182 41 FISCHER-LICHTE 2017 p 18742 GOLDHILL 2012 p 15143 The Antigonemodell 1948 opens with a programmatic foreword it includesdrawings by Neher a sequence of images from the scene photographed by RuthBerlau in 1948 with captions in hexameters (the so called Bruumlckenverse whichform the Antigone-Legende) notes by Brecht and the full text of Antigone Inaddition the Modellbuch explains Brechtrsquos and Neherrsquos choices for the settingcostumes way of acting and moving of the performers See BRECHT 1988 p47-5544 BRECHT 1988 p 48 ldquodie groszlige Figur des Widerstands im antiken Dramarepraumlsentiert nicht die Kaumlmpfer des deutschen Widerstands die uns ambedeutendsten erscheinen muumlssenrdquo45 BRECHT 1988 p 48 ldquoFuumlr das vorliegende theatralische Unternehmen wurdedas Antigonedrama ausgewaumlhlt weil es stofflich eine gewisse Aktualitaumlt erlangenkonnte und formal interessante Aufgaben stellterdquo 46 On Brechtrsquos use of the chorus see REVERMANN 201347 On the implications and problems of citation raised in this title which allows Brecht to avoid plagiarism see SAVAGE 2006 p 153-155 TAXIDOU 2008 p 245 On Brechtrsquos ldquothieveryrdquo see BROWN 197848 BRECHT 1977 p 19 for an English translation see BRECHT 2003 p 1249 BRECHT 2003 p 12 For the original see BRECHT 1977 p 18 ldquoSchon ist erdir Gestrigesrdquo50 Brecht forced to leave his homeland when Hitler came to power because ofhis communist affiliation returned to Europe in October 1947 after years ofexile spent in Scandinavia and in the United States51 SOPHOCLES Antigone 1348-135352 In the first line of the second stasimon (SOPHOCLES Antigone 332) theSophoclean choral ode defines ldquomany thingsrdquo as δεινότερον the adjectivedeinos means ldquoformidablerdquo in the ambivalent connotation of ldquoclevermarvellousrdquo but also ldquofearful terriblerdquo Brecht renders the Greek deina withthe German ungeheuer which points exclusively to the ldquomonstrosityrdquo of man53 I borrow the formulation ldquouses and abusesrdquo from FLEMING 200654 John Kani collaborated with Athol Fugard in the South-African production ofAntigone entitled The Island Here John Kani in an interview with Martin Phillipsin Feb 2000 quoted in MEE FOLEY 2011 p 6

Significado e estrutura do argumento do terceiro homem [] | Guilherme da C A Ceciacutelio

Significado e estrutura do argumento doterceiro homem no Parmecircnides de Platatildeo Guilherme da Costa Assunccedilatildeo Ceciacutelio

RESUMO

O argumento do terceiro homem presente no Parmecircnides constituiuma formidaacutevel objeccedilatildeo agrave teoria das ideias agrave qual Platatildeo natildeoapresentou resposta expliacutecita Na primeira parte deste trabalhotrataremos brevemente da cronologia dos diaacutelogos platocircnicosprocurando situar o Parmecircnides numa ordenaccedilatildeo pelo menosplausiacutevel Em seguida analisaremos detalhadamente o argumentodo terceiro homem tal como se encontra redigido no ParmecircnidesApreciaremos tambeacutem o significado dessa objeccedilatildeo quandoconsiderada sob o prisma da funccedilatildeo causal das ideias

PALAVRAS-CHAVE

Teoria das Ideias Parmecircnides argumento do terceiro homemautopredicaccedilatildeo causalidade

SUBMISSAtildeO 29 set 2017 | PUBLICACcedilAtildeO 21 dez 2017

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Caliacuteope Presenccedila Claacutessica | 20172 Ano XXXIV Numero 34

1 INTRODUCcedilAtildeO

Parmecircnides eacute provavelmente o mais enigmaacutetico dosdiaacutelogos platocircnicos A primeira parte da obra consisteno coloacutequio entre o ceacutelebre eleata e um Soacutecrates aindabastante jovem esse propotildee e procura defender ateoria ontoloacutegica que viemos a conhecer sob o roacutetulode teoria das ideias1 agrave qual entretanto Parmecircnidesmove uma cerradiacutessima criacutetica

As objeccedilotildees contra aquela que veio a ser amais ceacutelebre das doutrinas de Platatildeo satildeo tantas e tatildeograves que natildeo deixa de surpreender quandoParmecircnides subitamente interrompe o curso de suademolidora criacutetica para encorajar o seu joveminterlocutor

Entretanto Soacutecrates disse Parmecircnides se algueacutem por outrolado ao atentar para todas as coisas mencionadas haacute pouco epara outras desse tipo natildeo admitir que haja formas dos serese natildeo separar uma forma de cada coisa uma nem sequer teraacutepara onde voltar o pensamento uma vez que natildeo admitiraacutehaver uma ideia sempre a mesma de cada um dos seres eassim arruinaraacute absolutamente o poder do dialogar Pareces-me seguramente estar ciente e muito de tal coisaDizes a verdade disse ele Que faraacutes entatildeo da filosofia Para onde te voltaraacutes sendoestas coisas desconhecidas Acho que natildeo vejo bem pelo menos no presente Eacute que Soacutecrates disse ele tentas cedo demais antes de teexercitares [gumnasqh=nai] separar um belo e um justo e umbem e cada coisa uma dentre as formas Pois me dei contadisso bem recentemente ouvindo-te aqui dialogar comAristoacuteteles aqui presente Pois fica sabendo que realmente eacutebelo e divino esse ardor que lanccedilas sobre os argumentos Masesforccedila-te e exercita-te [gumnasai] mais enquanto ainda eacutesjovem por meio disso que pela maioria eacute tido como inutil echamado de tagarelice Se natildeo a verdade te escaparaacute2

A passagem citada marca uma importante divisatildeo nodiaacutelogo a partir desse ponto a obra muda de feiccedilatildeo consistindoentatildeo numa longa e aacuterida demonstraccedilatildeo do tipo de exerciacutecio ndash

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O

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gumnasia ndash que Parmecircnides sugerira como meacutetodo para alcanccedilar averdade O sentido de tal gumnasia eacute poreacutem tatildeo ou mais abstrusoquanto a criacutetica agrave teoria das ideias que ocupa a primeira parte dodiaacutelogo

Sendo assim natildeo satildeo poucos os desafios que a obra impotildeeao exegeta Apesar das muitas e seacuterias dificuldades uma seccedilatildeo dodiaacutelogo tem praticamente monopolizado a atenccedilatildeo da criacuteticacontemporacircnea a saber a passagem que conteacutem o argumento doterceiro homem3 Esse argumento cuja denominaccedilatildeo nos foilegada por Aristoacuteteles4 refere-se a uma determinada espeacutecie deobjeccedilatildeo capaz de suscitar o regresso infinito das ideias platocircnicasHaacute na verdade dois argumentos desse tipo no Parmecircnides5 Estetrabalho visa examinar justamente um desses argumentos

Haacute trecircs tipos de tarefas bem diferentes para o inteacuterprete doterceiro homem A primeira eacute procurar compreender bem aestrutura do argumento e nos ocuparemos aqui dessa questatildeo asegunda tarefa eacute avaliar o sentido da aporia isto eacute o peso que essaobjeccedilatildeo possa ter para a teoria das ideias e tambeacutem a issodedicaremos nossa atenccedilatildeo por fim eacute possiacutevel ainda investigar setal aporia pode ou natildeo pode ser resolvida e se a filosofia platocircnicaestaria em condiccedilotildees de apresentar-lhe uma soluccedilatildeo essa questatildeoeacute sem duvida muito mais complexa e natildeo seraacute contemplada nestetrabalho

2 CONSIDERACcedilOtildeES PRELIMINARES 21 CRONOLOGIA E A POSICcedilAtildeO DO PARMEcircNIDES

O estudioso de Platatildeo natildeo pode deixar de se posicionardiante de algumas questotildees Especialmente quem aborda o terceirohomem e o Parmecircnides deve tratar da cronologia dos diaacutelogosvexata quaestio ainda que o faccedila de modo marginal

O advento da estilometria trouxe novas ferramentas aoestudo do corpus platonicum cujo valor eacute dificilmente contestaacutevelMas como se sabe natildeo eacute possiacutevel obter uma ordenaccedilatildeo estrita dosdiaacutelogos unicamente a partir de dados estilomeacutetricos Alinhamo-nos portanto com a tendecircncia geral dos comentadores de

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reconhecer trecircs grandes grupos de diaacutelogos que remetem aosperiacuteodos da juventude maturidade e velhice de Platatildeo

O Parmecircnides eacute normalmente considerado uma obra detransiccedilatildeo entre a maturidade e a velhice platocircnica Determinartodavia a sua exata posiccedilatildeo relativamente aos diaacutelogos dessas duasfases eacute uma tarefa muito mais complexa Natildeo sendo possiacutevelrecorrer agrave estilometria em casos como esse os estudiososfrequentemente socorrem-se de hipoacuteteses doutrinaacuterias para dataros diaacutelogos a questatildeo doutrinaacuteria mais relevante para o Parmecircnideseacute a criacutetica agrave teoria das ideias a que se assiste na primeira parte daobra Parmecircnides I6

Embora as ordenaccedilotildees variem um pouco de comentadorpara comentador em geral se aceita que o Parmecircnides seja por umlado posterior a pelo menos algumas das grandes composiccedilotildees damaturidade de Platatildeo tais como Repuacuteblica Feacutedon e Banquete poroutro lado o diaacutelogo possivelmente antecederia o Teeteto SofistaPoliacutetico Timeu Filebo e Leis

22 PARMEcircNIDES E A TEORIA DAS IDEIAS

Eacute consensual que o Parmecircnides seja um diaacutelogo de transiccedilatildeoentre as obras de maturidade e de velhice talvez a grandereferecircncia para a determinaccedilatildeo desses periacuteodos O consensoporeacutem se desfaz quando se trata de apreciar as relaccedilotildees do diaacutelogocom a questatildeo (doutrinaacuteria) da teoria das ideias e sua supostaevoluccedilatildeo

Haacute de um lado aqueles que sustentam que Platatildeo jamaisrenunciou agrave sua teoria ontoloacutegica a despeito das autocriacuteticasconsignadas no Parmecircnides E haacute por outro lado os que veemnesse diaacutelogo o marco do abandono da concepccedilatildeo das ideias7

esses ultimos ainda podem ser subdivididos em dois grupos arespeito dos quais vale a pena ler o ludico relato de ConstanceMeinwald8

A very unhappy story of Platorsquos career has been increasingly out offashion in the last half-century (Though as is often the case with oldfashions it continued to be followed by people out of the circle of the

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trendsetters) In this most unhappy story Plato started writing with agracious compliment to his master The high literary achievement of themiddle-period works coincided with a philosophical high point a headyand confident time of glorious dogmatism Then after a major crisis inwhich he attacked and actually destroyed the theory that was hismasterpiece Plato spent his last years in extensive critical activity Hisnow-failing literary powers produced the late dialogues as a record of thisbarren final period A second and completely opposite story has been invogue more recently [] This second kind of interpretation whichreceived perhaps its greatest impetus from Gilbert Ryle regards the theoryof Forms of the middle period as a hopelessly flawed creation whosehopelessness was realized by Plato himself in the Parmenides He wasthen in a position to do some good philosophy in the late period Thisstory is in a way happier but the attribution to Plato of a middle theorythat can only be nonsense is a problem [] Opposite as they are thesestories have something crucial in common that the Parmenides recordsPlatorsquos realization of the unviability of a determinate theory of Formscontained in the middle dialogues and so ushers in a late period whoseprogram would have to be entirely different from that of the middleworks

Mas atualmente nenhum desses dois tipos deinterpretaccedilatildeo eacute dominante A proacutepria Meinwald9 oferece umaleitura do Parmecircnides que considera as suas criacuteticas como aporias aserem resolvidas mas que nem por isso implicam a rejeiccedilatildeo docerne da doutrina das ideias

De nossa parte cremos que Platatildeo jamais abandonou ateoria das ideias ou sequer alterou-a a tal ponto que as ideiasdeixassem de ser entes subsistentes e independentes do homem Eacuteevidente que defender semelhante posiccedilatildeo de modo exaustivoredundaria num trabalho aacuterduo e demasiado extenso

Uma meta mais modesta mas que contribui para o sucessodesta empresa geral eacute mostrar que a aporia do terceiro homemnatildeo constitui uma objeccedilatildeo inescapaacutevel Sendo assim eacute plausiacutevelque Platatildeo natildeo tenha precisado renunciar agrave sua teoria ontoloacutegicapelo menos no que diz respeito agraves dificuldades que o terceirohomem lhe opotildee Eacute claro que demonstrar essa teseadequadamente envolve examinar detidamente o Parmecircnides o quenatildeo nos cabe fazer neste momento introdutoacuterio Mas antes

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mesmo de abordarmos o diaacutelogo eacute possiacutevel apresentar umargumento externo por assim dizer em apoio agrave tese de que essaobra natildeo seja o marco do abandono da doutrina das ideias

Mesmo que natildeo se lance matildeo do Timeu como contraprovaincontrovertiacutevel da permanecircncia das ideias no corpus platonicumevitando assim a querela da sua dataccedilatildeo e por outro ladodeixando de lado a exegese de passagens controversas de diaacutelogoscomo o Sofista Filebo e Leis sem embargo ainda resta umargumento convincente e o que eacute melhor bastante simples

Dentre os que receberam a obra do filoacutesofo naAntiguidade jamais houve quem supusesse que Platatildeo tivesserenunciado agraves ideias Ademais o seu maior criacutetico Aristoacuteteles natildeoteria deixado de no-lo relatar caso isso houvesse ocorrido Defato que melhor sinal da falecircncia da teoria que ele tanto criticavado que o abandono da mesma por parte de seu autor10

Dito isto eacute contudo razoaacutevel supor algum grau demodificaccedilatildeo na concepccedilatildeo das ideias talvez mais insensato do quesupor o abandono da teoria das ideias seja supor que ao longoduma obra tatildeo vasta certos aspectos natildeo tenham sido repensadose ajustados Apreciar todavia o alcance dessas alteraccedilotildees excedecompletamente o escopo deste trabalho11

23 CAUSALIDADE

Cabe ainda uma ultima consideraccedilatildeo de caraacuteter geral Aotratar da teoria das ideias acreditamos ser impossiacutevel abrir matildeo danoccedilatildeo de causa ai0tia Efetivamente neste trabalho faremos largouso da expressatildeo fato que demanda uma explicaccedilatildeo preacutevia paraevitarmos uma seacuterie de graves mal-entendidos

Alguns platonistas manifestam certa resistecircncia ao usodesse termo de certa forma isso eacute compreensiacutevel uma vez quecomo sabe o estudioso de filosofia antiga ele eacute bastante ambiacuteguoPor um lado o modo como eacute entendido nos dias de hoje serestringe fundamentalmente ao conceito de causa eficiente o qualestaacute longe de exprimir toda a valecircncia do termo ai0tia por outrolado pode-se argumentar que Platatildeo natildeo possui propriamente uma

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Significado e estrutura do argumento do terceiro homem [] | Guilherme da C A Ceciacutelio

teoria das causas o que soacute se atingiu com Aristoacuteteles Sendo assimargumentam alguns conviria evitar a problemaacutetica expressatildeo

Noacutes pelo contraacuterio afirmamos que ao recorrer agrave noccedilatildeo decausa o inteacuterprete ganha muito mais do que eventualmente perdeTrata-se na verdade dum conceito indispensaacutevel para quem lidacom a teoria das ideias de que outro modo descrever a funccedilatildeo dasideias com relaccedilatildeo agraves realidades sensiacuteveis senatildeo como uma funccedilatildeocausal12 E natildeo se trata apenas dum recurso exegeacutetico do qual ointeacuterprete lanccedilaria matildeo como que a despeito da letra do textoPlatatildeo utiliza largamente o termo ai0tia tratando-se ateacute mesmodum problema de traduccedilatildeo Cabem todavia algumas ressalvas

Dizer que as ideias tenham funccedilatildeo causal natildeo significaafirmar que Platatildeo tenha expliacutecita e exaustivamente tratado dotema coisa que como jaacute referimos soacute vem a ocorrer comAristoacuteteles

Aleacutem disso impende ressaltar que defender a funccedilatildeo causaldas ideias natildeo implica de modo algum comprometer-se com oecircxito completo de tal funccedilatildeo Sendo assim o que sustentamos eacuteque a teoria das ideias eacute indissociaacutevel de um esforccedilo de explicaccedilatildeocausal julgar o sucesso de semelhante esforccedilo eacute jaacute outra questatildeo agravequal natildeo poderemos nos dedicar aqui

Sendo assim a noccedilatildeo de causalidade com quetrabalharemos poderia ter por equivalente a noccedilatildeo deldquoresponsabilidaderdquo que talvez possua a vantagem de indicar ocaraacuteter necessaacuterio mas natildeo suficiente das ideias para a explicaccedilatildeode determinado dado sensiacutevel Assim por exemplo a ideia demesa eacute um item necessaacuterio para explicar uma mesa sensiacutevel masnatildeo suficiente a explicaccedilatildeo completa dessa requer ainda nomiacutenimo um agente e um material

Feitas essas consideraccedilotildees podemos nos voltar para onosso objeto de estudo o argumento do terceiro homem tal comoo formulou Platatildeo no Parmecircnides

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3 O ARGUMENTO DO TERCEIRO HOMEM

31 RECONSTRUCcedilAtildeO DO ARGUMENTO DO TERCEIRO HOMEM

Antes de avaliarmos o peso da objeccedilatildeo do terceiro homemp a r a a filosofia de Platatildeo eacute indispensaacutevel compreendecirc-laadequadamente Leiamos pois em primeiro lugar o trechorelevante do diaacutelogo

Creio que tu crecircs que cada forma eacute uma pelo seguintequando algumas coisas multiplas te parecem ser grandestalvez te pareccedila a ti que as olhas todas haver uma certa ideiauma e a mesma em todas donde acreditas o grande ser umDizes a verdade disse ele Mas e quanto ao grande mesmo e agraves outras coisas grandesSe olhares da mesma maneira com a alma para todos essesnatildeo apareceraacute de novo um grande um em virtude do qual eacutenecessaacuterio todas aquelas coisas aparecerem como grandesParece que simLogo uma outra forma de grandeza apareceraacute surgindo aolado da grandeza mesma e das coisas que desta participam Esobre todas essas apareceraacute de novo outra de modo a emvirtude dela todas essas serem grandes E natildeo mais seraacute umacada uma das tuas formas mas ilimitadas em quantidade13

Para evidenciar a estrutura loacutegica do trecho supracitadovalemo-nos do importante estudo de Gregory Vlastos14 mastambeacutem de contribuiccedilotildees de outros estudiosos Eis o esquema quepropomos

(i) O dado de base eacute uma multiplicidade (indiviacuteduos a b cetc) que possui determinada propriedade F (ii) ldquoum sobre muitosrdquo15 a essa multiplicidade correspondeuma unidade a ideia F-dade em virtude da qual amultiplicidade possui a propriedade F(iii) autopredicaccedilatildeo F-dade eacute F (iv) natildeo identidade se x possui a propriedade F x natildeocoincide com F a forma em virtude da qual x possui F

De acordo com (iii) a proacutepria ideia F-dade eacute F logo elapode ser o substituto da variaacutevel x em (iv) o que impotildee aexistecircncia de uma nova forma F-dade1 que sirva como substituto

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da variaacutevel F Como F-dade1 estaacute sujeita agrave autopredicaccedilatildeo F-dade1

tambeacutem pode substituir a variaacutevel x na premissa (iv) instaurando-se assim o regresso infinito das formas

Conveacutem agora cotejarmos a nossa reconstruccedilatildeo doargumento com o texto do ldquoParmecircnidesrdquo

Os passos (i) e (ii) encontram correspondecircncia nestaafirmaccedilatildeo

Creio que tu crecircs que cada forma eacute uma pelo seguintequando algumas coisas multiplas te parecem ser grandestalvez te pareccedila a ti que as olhas todas haver uma certa ideiauma e a mesma em todas donde acreditas o grande ser um16

Nela estaacute contido o dado de base isto eacute a existecircncia devaacuterias coisas sensiacuteveis que satildeo grandes ou seja uma multiplicidadeempiacuterica de indiviacuteduos dotados da propriedade F Ta lmultiplicidade se explica por referecircncia a ldquouma certa ideia uma e amesmardquo a ideia de grandeza ou em geral F-dade trata-se aqui doprinciacutepio do ldquoum sobre muitosrdquo

Quanto agrave autopredicaccedilatildeo cremos que ela opere noseguinte trecho

Mas e quanto ao grande mesmo e agraves outras coisas grandesSe olhares da mesma maneira com a alma para todos essesnatildeo apareceraacute de novo um grande um em virtude do qual eacutenecessaacuterio todas aquelas coisas aparecerem como grandes17

Parmecircnides sugere que o ldquogrande mesmordquo (auto to mega)isto eacute a ideia de grandeza e ldquoas outras coisas grandesrdquo (ta]lla tamegala) isto eacute a multiplicidade sensiacutevel de que se partiu sejamconsideradas ldquoda mesma maneirardquo expressatildeo que traduz oadveacuterbio grego w9sautwj aqui parece residir um sinal daautopredicaccedilatildeo18 Segundo o que fora haacute pouco admitido as coisassensiacuteveis satildeo grandes considerar ldquoda mesma maneirardquo - w9sautwj -a ideia de grandeza soacute poderia significar entatildeo predicar tambeacutemdela o ldquogranderdquo ou seja a autopredicaccedilatildeo

A autopredicaccedilatildeo eacute ainda mais visiacutevel na conclusatildeo doargumento

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Logo uma outra forma de grandeza apareceraacute surgindo aolado da grandeza mesma e das coisas que desta participam Esobre todas essas apareceraacute de novo outra de modo a emvirtude dela todas essas serem19 grandes E natildeo mais seraacuteuma cada uma das tuas formas mas ilimitadas emquantidade20

Na frase ldquotodas essas serem grandesrdquo (tau=ta panta megalae1stai) a referecircncia de ldquotodasrdquo patentemente inclui a ideia degrandeza de que se partiu bem como outras ideias de grandezaderivadas do regressus isto eacute afirma-se que as ideias de grandeza satildeograndes

Jaacute o princiacutepio de natildeo identidade estaacute apenas impliacutecito emtodo o trecho mas nem por isso ele eacute menos operante Bem aocontraacuterio sobre ele estaacute fundada toda a argumentaccedilatildeo a suposiccedilatildeoinicial de que existe uma ideia para dar conta duma multiplicidadeque possui a propriedade F estaacute baseada na convicccedilatildeo de que aposse dessa propriedade se explica por referecircncia a um indiviacuteduopor assim dizer externo ao grupo de indiviacuteduos caracterizados porF e quando a proacutepria ideia passa a ser caracterizada por F(autopredicaccedilatildeo) a mesma convicccedilatildeo impotildee a existecircncia dumanova ideia

Sendo assim estamos aptos a concluir que o terceirohomem tal como ele estaacute redigido no Parmecircnides conteacutem osprinciacutepios que acabamos de expor21 redundando portanto nadeflagraccedilatildeo de seacuteries infinitas de ideias platocircnicas isto eacute de acordocom as premissas do argumento cada propriedade F gera oconjunto infinito F-dade1 F-dade2 F-dade3 onde F-dade eacute umavariaacutevel que representa ideias platocircnicas

Antes de avanccedilarmos conveacutem prestarmos algunsesclarecimentos gerais acerca do terceiro homem e dos princiacutepiosque o constituem

32 OBSERVACcedilOtildeES TERMINOLOacuteGICAS

O famoso princiacutepio da autopredicaccedilatildeo eacute tambeacutem chamadopor alguns de princiacutepio da autoexemplificaccedilatildeo22 Isso reflete a

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tentativa em si mesma correta de evitar o sabor linguiacutestico daexpressatildeo ldquoautopredicaccedilatildeordquo De fato predicaccedilatildeo eacute algo que aprinciacutepio diz respeito somente agrave linguagem mas as ideias natildeo satildeoentes linguiacutesticos natildeo satildeo predicados que se predicam de simesmos23 Ao contraacuterio o termo ldquoautoexemplificaccedilatildeordquo indicariaque se trata de um ente que se autoexemplifica isto eacute manifesta apropriedade a si associada a beleza exemplifica o belo etc

Embora concordemos com ta l observaccedilatildeo aautopredicaccedilatildeo jaacute eacute uma expressatildeo consolidada de modo quepreferimos mantecirc-la para natildeo acrescentar mais um elementocomplicador agrave discussatildeo

Analogamente alguns sugerem que a expressatildeo ldquonatildeoidentidaderdquo eacute infeliz o melhor nome para o princiacutepio seria ldquonatildeoautoexplicaccedilatildeordquo (non-self-explanation)24 porque o princiacutepio reza quese um determinado ente x possui a propriedade F a posse de F natildeopode ser explicada com apelo ao proacuteprio x sendo preciso um outroente ou seja y em funccedilatildeo do qual x possui F em suma a posse deuma propriedade natildeo se explica por referecircncia ao proacuteprioindiviacuteduo que a possui

Tal como no caso da autopredicaccedilatildeo mesmo concordandocom as ressalvas preferimos nos ater agrave terminologia consagradanesse caso o princiacutepio da natildeo identidade

4 SIGNIFICADO DO REGRESSO INFINITO NO PARMEcircNIDES

Eacute possiacutevel dividir o Parmecircnides em duas partes A primeiranarra o encontro verdadeiro acontecimento da filosofia nascentede Zenatildeo Parmecircnides e Soacutecrates que supostamente teria tidolugar por ocasiatildeo da visita dos eleatas a Atenas A segunda parteconteacutem a seacuterie de hipoacuteteses e deduccedilotildees que a personagem tiacutetuloleva a cabo na companhia dum jovem Aristoacuteteles homocircnimo doestagirita

Parmecircnides I consiste na apresentaccedilatildeo publica duma hipoacuteteseontoloacutegica seu propositor eacute um jovem promissor Soacutecrates quevecirc todavia sua hipoacutetese ser severamente criticada pelo experienteParmecircnides Trata-se dum momento privilegiado se eacute verdade que

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o corpus platonicum eacute perpassado pela discussatildeo das ideias elassempre surgem in medias res estando tacitamente suposto que osinterlocutores jaacute estariam familiarizados com as ideias antes que odiaacutelogo houvesse comeccedilado No Parmecircnides a teoria das ideias eacuteverdadeiramente apresentada aleacutem disso os interlocutores satildeoverdadeiros expertos capazes de discuti-la criticamente

Embora se trate duma discussatildeo muito breve quaseapressada pode-se haurir de Parmecircnides I o acircmago da teoria dasideias suas metas e sobretudo as aporias a ela relacionadas

A essecircncia da teoria estaacute presente na primeira intervenccedilatildeode Parmecircnides

Soacutecrates disse quatildeo digno eacutes de ser admirado pelo ardor quetens pelos argumentos Mas dize-me tu mesmo assim fizestea divisatildeo tal como falas de um lado certas formas mesmas deoutro as coisas que delas participam [metexonta] E te parecea semelhanccedila mesma ser algo separada da semelhanccedila quetemos e tambeacutem o um e as multiplas coisas e todas as coisasque haacute pouco ouviste de ZenatildeoParece-me que sim disse SoacutecratesSeraacute que tambeacutem disse Parmecircnides coisas tais como umacerta forma em si e por si do justo e tambeacutem do belo e dobom e ainda de todas coisas desse tipoSim disse ele25

Trata-se duma teoria ontoloacutegica que opera uma divisatildeo noreal de um lado certos entes as ideias e de outro as coisassensiacuteveis Essa dicotomia deve ser poreacutem nuanccedilada existetambeacutem algum tipo de relaccedilatildeo entre os dois polos como se sabePlatatildeo expressou tal relaccedilatildeo com vaacuterios termos mas o mais ceacutelebrede todos eacute a participaccedilatildeo meqecij

Mas dize-me o seguinte parece-te como dizes haver certasformas em tendo participaccedilatildeo [metalambanonta] nas quaisessas outras coisas aqui recebem suas denominaccedilotildees Porexemplo se tecircm participaccedilatildeo [metalabonta] na semelhanccedilaas coisas se tornam semelhantes se na grandeza grandes seno belo e na justiccedila justas e belasPerfeitamente disse Soacutecrates26

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Passagens como essa sintetizam bem a razatildeo de ser dahipoacutetese das ideias visa-se explicar as caracteriacutesticas das coisassensiacuteveis tais como a grandeza a justiccedila etc Destarte a teoria dasideias forneceria um fundamento seguro para um dado sensiacutevelbruto as coisas sensiacuteveis satildeo sim grandes ou justas e elas o satildeoporque participam da ideia de grandeza ou da ideia de justiccedila Essanos parece ser uma explicaccedilatildeo de tipo causal eacute graccedilas agraves ideias queas coisas sensiacuteveis possuem suas propriedades27 E semelhantefunccedilatildeo causal das ideias eacute tambeacutem expressa ainda queresumidamente em outras passagens do Parmecircnides28 Dito issovoltemo-nos para o terceiro homem

Defendemos que os princiacutepios contidos no argumento doterceiro homem natildeo interagem de modo a produzir qualquercontradiccedilatildeo em sentido estrito como pretendeu Vlastos masunicamente um regressus ad infinitum Cabe agora nos determos umpouco mais no significado do regresso O problema pode serresumido na seguinte questatildeo por que ele seria indesejaacutevel oumesmo temiacutevel Vejamos mais uma vez o proacuteprio texto dodiaacutelogo

Creio que tu crecircs que cada forma eacute uma pelo seguinte quandoalgumas coisas multiplas te parecem ser grandes talvez tepareccedila a ti que as olhas todas haver uma certa ideia uma e amesma em todas donde acreditas o grande ser umDizes a verdade disse ele Mas e quanto ao grande mesmo e agraves outras coisas grandesSe olhares da mesma maneira com a alma para todos essesnatildeo apareceraacute de novo um grande um em virtude do qual eacutenecessaacuterio todas aquelas coisas aparecerem como grandesParece que simLogo uma outra forma de grandeza apareceraacute surgindo aolado da grandeza mesma e das coisas que desta participam Esobre todas essas apareceraacute de novo outra de modo a emvirtude dela todas essas parecerem grandes E natildeo mais seraacuteu m a c a d a uma das tuas formas mas ilimitadas emquantidade29

Mantivemos na citaccedilatildeo o grifo proposto pelos tradutoresdo diaacutelogo nas palavras ldquoumrdquoldquoumardquo correspondentes do

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numeral ei[j mia e3n De fato a noccedilatildeo de unidade numeacuterica eacuteessencial para o argumento ldquonatildeo mais seraacute uma cada uma das tuasformas mas ilimitadas em quantidaderdquo eacute a acusaccedilatildeo do velhoeleata

O tema do uno e do multiplo tem importacircncia capital noplatonismo De algum modo eacute essa a questatildeo que resume a teoriadas ideias uma teoria que supotildee uma unidade para explicar umamultiplicidade que natildeo eacute capaz de explicar-se a si mesma Massalientar a relevacircncia da questatildeo unomultiplo natildeo resolve ainda oproblema se natildeo se der uma explicaccedilatildeo do sentido exato dessapolaridade Em nossa opiniatildeo a unica resposta satisfatoacuteria tem dese apoiar sobre a noccedilatildeo de causa

A ideia eacute de algum modo responsaacutevel pela multiplicidadeldquoum grande um em virtude do qual eacute necessaacuterio todas aquelascoisas aparecerem como grandes [] ([]e3n ti [] mega []w |[tau=ta panta megala fainesqai []rdquo A ideia a unidade eacute aquilo emvirtude do que o multiplo eacute tal como ele eacute

Poder-se-ia levantar aqui uma dificuldade No trechocitado atribui-se agrave ideia de grandeza o poder de fazer as coisassensiacuteveis ldquoaparecerem [fainesqai] como grandesrdquo isto eacute a ideianatildeo faria com que a multiplicidade sensiacutevel seja grande Em outrostermos o que se tem expressis verbis eacute uma causalidade um tantocuriosa tratar-se-ia da causa do conhecer ou do perceber certacaracteriacutestica si licet duma causalidade epistemoloacutegica

Tal tipo de visatildeo nos parece equivocada A causalidade queas ideias tecircm de desempenhar eacute uma ldquocausalidade ontoloacutegicardquo asideias devem ser causa do ser das coisas e natildeo apenas dapercepccedilatildeo do sujeito Se assim natildeo fosse chegar-se-ia finalmenteaos antiacutepodas do platonismo as coisas sensiacuteveis jaacute estariamconstituiacutedas sem o contributo das ideias as quais serviriamunicamente para que o sujeito percebesse ou conhecesse osensiacutevel30

No entanto natildeo se deve conceder demasiada atenccedilatildeo aocaraacuteter fenomecircnico do verbo na passagem supracitada podemosargumentar que o sensiacutevel soacute aparece de determinado modoporque ele eacute desse modo e assim ele eacute em virtude das ideias A

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conclusatildeo do argumento retira qualquer duvida ldquoE sobre todasessas apareceraacute de novo outra de modo a em virtude dela todasessas serem grandes (kai e0pi toutoij au] pa=sin e3teron w[| tau=tapanta megala e1stai)rdquo31

Dito isso estaacute aberto o horizonte para a determinaccedilatildeo dareal natureza e forccedila da aporia do terceiro homem Natildeo se tratacomo defendeu Vlastos em seu artigo de 1954 duma fatalcontradiccedilatildeo mas sim dum regressus ad infinitum cujo sentido soacute sedesvela na associaccedilatildeo com a noccedilatildeo de causalidade entendida domodo ora defendido

O jovem Soacutecrates acaba de propor a hipoacutetese das ideias eParmecircnides lhe objeta dentre outras coisas que ela estaacute enredadanum regresso infinito Soacutecrates poderia talvez dar de ombros econtra-argumentar que enquanto for possiacutevel explicar determinadacaracteriacutestica presente na multiplicidade por exemplo a grandezapouco lhe importa que haja infinitas formas responsaacuteveis(causalmente) pela grandeza Se se atentar apenas para o ponto devista da proposiccedilatildeo duma hipoacutetese o regressus poderia ser vistocomo um constrangimento mas natildeo necessariamente como umaobjeccedilatildeo inescapaacutevel Quando se considera poreacutem o papel que anoccedilatildeo de causalidade desempenha no argumento eacute possiacutevelapreciar a verdadeira forccedila do terceiro homem

A hipoacutetese de Soacutecrates consiste em que determinadacaracteriacutestica tal como a grandeza que se encontra em multiplascoisas sensiacuteveis requer uma ideia em virtude da qual essas coisassensiacuteveis satildeo grandes Mas como a ideia de grandeza eacute por via daautopredicaccedilatildeo grande tambeacutem ela necessita duma ideia que seja acausa do fato de ela ser grande Se ex hypothesi terminasse aqui aseacuterie talvez natildeo houvesse problema haveria apenas um caso suigeneris em que uma propriedade exigiria duas ideias como causaEntretanto a segunda ideia a ideia de grandeza1 tambeacutem ela eacutegrande exigindo uma nova ideia que seja sua causa e assimsucessivamente Como poreacutem o que estaacute em jogo eacute um nexocausal a noccedilatildeo do ldquoassim sucessivamenterdquo torna-se imediatamentecriacutetica porque significa que nenhuma ideia se impotildee como causadaiacute resultando que nenhum efeito chegaria a ser causado dizer que

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determinado grupo de indiviacuteduos natildeo se explica por si mesmo eexige uma ideia em virtude da qual aquela multiplicidade se daacuteequivale a dizer que sem essa ideia a multiplicidade eacute que natildeo sedaacute a ideia eacute condiccedilatildeo sine qua non de determinada multiplicidade

Em suma o problema do regresso eacute justamente o seucaraacuteter infinito se natildeo fosse infinito haveria uma certa forma natildeoimporta ldquosobrerdquo quantas outras formas que seria a causa de tudoque ldquosobrdquo si se encontra Mas o caraacuteter infinito do regressoimpede justamente isso que haja a forma que seja a causa ultima(ou primeira como se preferir) da propriedade em questatildeo

A hipoacutetese de Soacutecrates parte dum fato haacute um grupo decoisas sensiacuteveis (a b c etc) caracterizadas todas elas por umpredicado F ests eacute o explanandum Trata-se do explanandumprecisamente porque estaacute suposto que uma multiplicidadecaracterizada por F natildeo se explica por si mesma nenhum de seusmembros eacute capaz de figurar como causa do fato de que ele mesmoe os demais membros desta multiplicidade possuem a caracteriacutesticaF sendo exigido portanto um explanans a ideia F-dade Mas F-dade tambeacutem possui a propriedade F a autopredicaccedilatildeo redundapois na inclusatildeo da ideia o explanans no grupo de coisas quecaracterizadas por F portanto no explanandum Tal operaccedilatildeo ainclusatildeo do explanans no explanandum eacute decisiva e ela se repete adinfinitum sempre que se postular uma nova ideia que se esperariaque funcionasse como definitivo explanans nesse exato momentoela recai no explanandum

A estrateacutegia de Parmecircnides ao formular essa aporia eacutemostrar que a doutrina das ideias em cujo acircmago estaacute a intenccedilatildeode explicar determinada multiplicidade sensiacutevel pode ser revertidae levada agrave autodestruiccedilatildeo precisamente no tocante agrave sua pretensatildeocausal Embora o argumento do terceiro homem natildeo revele umacontradiccedilatildeo stricto sensu inserida na teoria das ideias ele constituisem duvida uma temiacutevel dificuldade capaz de tornar supeacuterflua aproacutepria hipoacutetese das ideias

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ABSTRACT The Significance and Structure of the Third Man Argument inPlatos Parmenides

The Third Man Argument found in the Parmenides is aformidable objection to the Theory of Forms to which Plato didnot provide an explicit answer In the first part of this paper webriefly discuss the chronology of the Platonic dialogues trying tolocate the Parmenides in at least a plausible position We thenscrutinize the Third Man argument as it appears in the ParmenidesWe also evaluate the significance of the referred objectionespecially from the perspective of the Formsrsquo causal role

KEYWORDS

Theory of Forms Parmenides The Third Man Argument Self-predication Causality

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REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS BURNET John Platonis opera Oxford Clarendon Press 1967CHERNISS Harold The Relation of the Timaeus to Platos Later Dialogues TheAmerican Journal of Philology v 78 n 3 1957 p 225-266 COHEN Marc The Logic of the Third Man The Philosophical Review v 80n 4 1971 p 448-475 CORNFORD F M Plato and the Parmenides Parmenidesrsquo Way of Truth andPlatorsquos Parmenides translated with an introduction and a running commentaryLondon Routledge amp Kegan Paul 1939FERRARI Franco Parmenide Milano BUR 2007 FRONTEROTTA Francesco ΜΕΘΕΞΙΣ La teoria platonica delle Idee e lapartecipazione delle cose empiriche - Dai dialoghi giovanili al Parmenide PisaScuola Normale Superiore 2001GUTHRIE W K C A History of Greek Philosophy Later Plato and theAcademy Cambridge Cambridge University Press 1978JAEGER Werner Aristotelis Metaphysica Oxford Oxford University Press1957MEINWALD Constance Good-bye to Third Man in KRAUT Richard TheCambridge Companion to Plato New York Cambridge University Press1993 p 365-396MORAVCSIK Julius Recollecting the Theory of Forms in WERKMEISTER W HFacets of Platorsquos Philosophy Assen Van Gorcum 1976 p 1-20OWEN GEL The Place of Timaeus in Platorsquos Dialogues Classical Quarterlyv 3 n 12 1953 p 79-95PETERSON Sandra A Reasonable Self-Predication Premise for the Third ManArgument The Philosophical Review v 82 n 4 1973 p 451-470PLATAtildeO Parmecircnides Traduccedilatildeo introduccedilatildeo e notas de Maura Igleacutesias eFernando Rodrigues Satildeo Paulo Loyola 2003SAYRE Kenneth Platorsquos Late Ontology a Riddle Resolved Las VegasParmenides Publishing 2005 SILVERMAN Allan The Dialectic of Essence a Study of Platorsquos MetaphysicsPrinceton Princeton University Press 2002 STRANG Colin Plato and the Third Man Proceedings of the AristotelianSociety v 37 1963 p 147-164VLASTOS Gregory The Third Man Argument in the Parmenides ThePhilosophical Review v 63 n3 1954 p 319-349______ Platorsquos lsquoThird Manrsquo Argument (Parm 132 A1-B2) Text and Logic ThePhilosophical Quarterly v 19 n 77 1969 p 289-301 ______ Platonic Studies Princeton Princeton University Press 1981 (1aed 1973)

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1 Sabe-se que a expressatildeo ldquoteoria das Ideiasrdquo eacute puramente didaacutetica natildeoencontrando paralelo nos textos de Platatildeo Servimo-nos livremente dela nesteartigo por julgar que feitas certas ressalvas ela eacute inofensiva e tambeacutem util Eacuteevidente que ao falarmos de ldquoteoria das Ideiasrdquo natildeo pretendemos atribuir aPlatatildeo um tratamento perfeitamente sistemaacutetico da questatildeo das Ideias o termoldquoteoriardquo certamente natildeo estaacute sendo usada no mesmo sentido que em ldquoteoria darelatividaderdquo por exemplo Contudo eacute inegaacutevel que se encontra espalhadapelos escritos de Platatildeo a recorrente afirmaccedilatildeo de que existem certos entesinteligiacuteveis eacute pois conveniente chamar de ldquoteoriardquo o conjunto destasafirmaccedilotildees acerca das Ideias ou se se preferir eacute possiacutevel fazer-lhe referecircnciacom as expressotildees ldquodoutrinardquo ou ldquohipoacutetese das Ideiasrdquo2 PLATAtildeO Parmecircnides 135b-d3 Talvez sua fama seja ainda maior ldquothe most famous argument in ancient philosophyrdquo(SILVERMAN 2002 p 110 apud FERRARI 2007 p 64) 4 ARISTOacuteTELES Metafiacutesica 990b15-17 Para um inventaacuterio da histoacuteria doargumento do Terceiro Homem ver CORNFORD 1939 p 87-955 PLATAtildeO Parmecircnides 131e-132b e 132d-133a6 Chamaremos de Parmecircnides I a primeira parte do diaacutelogo (126a-137c) em que ojovem Soacutecrates vecirc sua hipoacutetese das Ideias ser atacada pelos eleatas e deParmecircnides II (137c-166c) a seccedilatildeo que conteacutem as diversas ldquohipoacutetesesrdquo Propomostal divisatildeo de modo didaacutetico sem nos comprometermos com hipoacutetesesheterodoxas tais como a que foi propugnada por Sayre o qual sustentalanccedilando matildeo inclusive duma abordagem estilomeacutetrica que Parmecircnides I tenhasido escrito num periacuteodo anterior e distante do periacuteodo de composiccedilatildeo deParmecircnides II cf SAYRE 2005 p 256-2717 Neste caso eacute indispensaacutevel fornecer alguma interpretaccedilatildeo dos diaacutelogoscomumente aceitos como sendo posteriores ao Parmecircnides O Teeteto constitui umrelevante sustentaacuteculo para tal linha exegeacutetica uma vez que natildeo conteacutem clarasreferecircncias agraves Ideias o Sofista eacute por sua vez frequentemente objeto deinterpretaccedilotildees deflacionaacuterias no tocante agraves Ideias as quais nestes casos tecircm oseu estatuto de realidades subsistentes e transcendentes posto em xeque emfavor do seu caraacuteter loacutegico-linguiacutestico O Filebo patenteia uma ldquonova ontologiardquoou pelo menos introduz novos termos que nem sempre satildeo facilmenteharmonizaacuteveis com a teoria das Ideias em sua versatildeo standard Quanto ao Timeudiaacutelogo que poderia resolver a controveacutersia uma vez que sua linguagem eacute emtudo semelhante agrave das grandes obras do periacuteodo maduro de Platatildeo emergiu noseacuteculo XX uma querela acerca de sua dataccedilatildeo Seria temeraacuterio entrarmos nosdetalhes dessa discussatildeo mas grosso modo defendeu-se que o Timeu natildeo estivesseentre os diaacutelogos da velhice e sim fizesse parte do periacuteodo da maturidadeResolver-se-ia assim o grande entrave agraves teses mais radicais acerca da evoluccedilatildeoda filosofia de Platatildeo cf OWEN 1953 CHERNISS 19578 MEINWALD 1993 p 389-3909 Idem ibidem p 39010 Guthrie (1978 p 60) apresenta um argumento semelhante 11 Remetemos a Fronterotta (2001) para uma interessante e soacutebria anaacutelise daldquoevoluccedilatildeordquo da teoria das Ideias segundo a qual a teoria se modificou sem jamaisrenunciar ao seu nucleo a saber a condiccedilatildeo subsistente e transcendente dasIdeias 12 O locus claacutessico eacute Feacutedon 96a-105c mas referecircncias agrave etiologia podem serencontradas em muitos lugares Eis algumas das passagens mais significativasPLATAtildeO Repuacuteblica 507a-509c PLATAtildeO Timeu 18a-b 28a 28b-c 29d-30a PLATAtildeOFilebo 26e-27c Ver tambeacutem FERRARI 2007 p 39-4113 PLATAtildeO Parmecircnides 132a-b14 Neste importante artigo Vlastos (1994) defendeu a tese radical de que aobjeccedilatildeo do Terceiro Homem redundaria numa contradiccedilatildeo stricto sensu entreduas das premissas do argumento posiccedilatildeo errocircnea que ele mais tarde veio aretificar neste outro importante artigo sobre o tema Vlastos 1969Empreendemos uma anaacutelise detalhada destes trabalhos de Vlastos num artigoque publicado pela revista Claacutessica ndash Revista Brasileira de Estudos Claacutessicos

15 Este princiacutepio eacute explorado por comentadores de liacutengua inglesa sob o nomeldquoOne over Manyrdquo frequentemente abreviado ldquoOMrdquo cf STRANG 1963 COHEN1971 16 PLATAtildeO Parmecircnides 132a17 PLATAtildeO Parmecircnides 132a18 Assim o observa Franco Ferrari (2007 p 217 nota 50)19 Permitimo-nos substituir aqui a opccedilatildeo dos tradutores ldquopareceremrdquo porldquoseremrdquo uma vez que no grego se tem a forma verbal e1stai20 PLATAtildeO Parmecircnides 132a-b21 Ativemo-nos agrave ldquoprimeira versatildeordquo do Terceiro Homem presente no Parmecircnidesjulgamo-nos dispensados de fazer a mesma anaacutelise da ldquosegunda versatildeordquondashcontida em Parmecircnides 132c-133a ndash porque tal como Vlastos acreditamos queambas as ldquoversotildeesrdquo conteacutem as mesmas etapas loacutegicas 22 Em inglecircs self-exemplification cf MORAVCSIK 197623 O proacuteprio Vlastos (1969 p 300 n 36) reconhece a utilidade de semelhantedistinccedilatildeo ldquoI so labelled this assumption in 1954 under Taylors influence who hadidentified it uncritically with the closely related assumption that a character can be predicatedof itself which generated the Russellian paradox Since I did not impute just this assumptionto Plato ndash I was not maintaining that what was predicated of F-ness was F-ness itself insteadof F ndash I should have made it clear then [hellip] that Self-Predication if used at all could onlybe used with a certain licence As Sellars had pointed out (1955 p 414) the assumptionwhich is being made here ldquowould be formulated more correctly as The adjective correspondingto the name of any Form can correctly be predicated of that Formrdquo Some such label asHomocharacterization would have been more exact and I have tried at times to switch to thisin lectures and seminars But Self-Predication is now firmly entrenched in the literature and Isee no harm in its continuing use subject to the above provisordquo24 cf PETERSON 1973 p 45325 PLATAtildeO Parmecircnides 130a-b26 PLATAtildeO Parmecircnides 130e-131a27 Como aludimos no item 23 deste trabalho ao utilizarmos aqui a noccedilatildeo decausalidade natildeo nos comprometemos com o ecircxito completo da funccedilatildeo causaldas Ideias ou da doutrina da participaccedilatildeo a qual eacute como sabemos pelo proacuteprioParmecircnides uma doutrina eivada de problemas Quando afirmamos que as Ideiassatildeo causa do sensiacutevel queremos significar apenas que elas satildeo um elementonecessaacuterio mas natildeo suficiente para que as coisas sensiacuteveis sejam tais como satildeoAssim se dizemos que a Ideia de Mesa eacute causa da mesa de madeira certamenteela natildeo eacute o unico elemento responsaacutevel pela mesa de madeira sendoindispensaacuteveis tambeacutem a proacutepria madeira e um artesatildeo28 cf PLATAtildeO Parmecircnides 128e-129a PLATAtildeO Parmecircnides 131c-d29 PLATAtildeO Parmecircnides 132a-b30 Tal posiccedilatildeo que remete agraves interpretaccedilotildees neokantianas da filosofia de Platatildeo eacute firmemente contestada por Francesco Fronterotta (2001 p 206-222)31 Traduccedilatildeo ligeiramente modificada

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Identidad ritual y performance unanaacutelisis de los primeiros dos versos deSuplicantes de Esquilo1

Mariacutea del Pilar Fernaacutendez Deagustini

RESUMEN

La recitacion que acompana la marcha anapestica (v 1-39) que dainicio a la performance de Suplicantes de Esquilo presenta dos de lostres componentes baacutesicos de un himno2 epiacuteklesis (v 1-3) y eucheacute (v23-39) La epiacuteklesis indirecta (Er-Stil v 1- 2) establece el contactoentre los hablantes ndash las Danaides que integran el coro ndash y eldestinatario divino ndash Zeus ndash confiriendole a la recitacion caraacutecterhiacutemnico desde la primera palabra Se trata de una composicion dedos versos extremadamente simple la mencion del dios al que sedirige el himno su epiacuteteto y el llamado de atencion que introduceal hablante Nuestro trabajo pretende demostrar que no obstantela brevedad de la epiacuteklesis cada elemento condensa sentidosfundamentales para la interpretacion de la oda inicial y de la matrizritual en la que se inscribe la composicion de la obra comototalidad

PALABRAS-CLAVE

Ritual performance Suplicantes Esquilo

SUBMISSAtildeO 15 nov 2017 | PUBLICACcedilAtildeO 31 dez 2017

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n anaacutelisis de la oda inicial de Suplicantes de Esquiloinvolucra dos aspectos fundamentales Como se tratade un drama carente de prologo en el que el cantocoincide con la inauguracion de la accion insta aconjeturar por un lado acerca de la puesta enescena por otro lado acerca de que modo seintroduce la urdimbre de sucesos que configuran latrama Desde nuestra perspectiva teorica que sea c e r c a a l a t r a g e d i a c o m o u n g e n e r ofundamentalmente coral y descansa en nocionesclave como ldquopoesiacutea de ocasionrdquo3 ldquoproyeccioncoralrdquo4 ldquointeraccion genericardquo y ldquometacoralidadrdquo5

ambos aspectos de esta oda estaacuten atravesados por lamanera como el dramaturgo compuso su sustancia

ritual es decir de que generos liacutericos se valio en la performance Laoda inicial integra en su composicion elementos del himno y deltreno que se alternan y se subvierten para crear una atmosferaparticular desde los primeros versos En el presente artiacuteculoconcentramos nuestra atencion en la integracion generica de la odatraacutegica con el himno del cual analizaremos un componenteesencial la epiacuteklesis que establece el contacto entre los hablantes yel destinatario divino

Como senalamos la primera oda de extraordinariaextension (v 1 -175)6 sintoniza con la apertura de la obra Elexotico coro7 conformado por las hijas de Daacutenao habriacuteaingresado al teatro formando una fila al ritmo de los anapestos8

tras los cuales se habriacutea ordenado en la orcheacutestra La escena habriacuteasugerido la presencia de un altar elevado y probablemente deimaacutegenes divinas que son invocadas con posterioridad9 Daacutenao supadre habriacutea aparecido en el ultimo lugar de esa misma filacoincidiendo con la mencion de su nombre en el v 1110 Estosdatos acerca de la performance son fundamentales para poder recrearla poiacuteesis de Esquilo pensada para un espectador del siglo V aunquesin duda el dato escenico maacutes elocuente lo constituyen los ramosde suplicante envueltos en lana blanca que afirman empunar lasjovenes en sus manos (v 21-22 v 191-193) La vision de este

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objeto habriacutea orientado raacutepidamente las expectativas del publicoque habriacutea visto entrar a los personajes y tomar lugar en el altarhabriacutea reconocido las insignias y comprendido entonces elcaraacutecter ritual de la ocasion11

Desde el punto de vista formal la oda inicial de Suplicantesse compone de dos grandes partes entre los v 1-39 el espectaacuteculose inicia con el ingreso del coro (y Daacutenao) a traves de la eiacutesodos enmarcha anapestica Llamamos a esta seccion la parte dinaacutemica yaque se trata de la puesta en escena de un himno procesional querepresenta tres transiciones una espacial (de Aacutefrica a Grecia) unatemporal (de un pasado reciente que constituye el motivo de huidaal presente fin de la fuga) y una cultural (segun la cual lasDanaides africanas ponen en praacutectica un ritual griego) Luegodesde el v 40 y hasta su final en el v 175 el coro ya instalado enel espacio de la orcheacutestra desarrolla un extenso canto liacutericoconstruido sobre la base de ocho sistemas Llamamos a estaseccion la parte estaacutetica dado que el coro representa con lallegada al altar el fin de su viaje y el comienzo del ritual de suplicapara conseguir asilo en Argos Solo cuando le sea asegurado elnuevo traacutensito en un movimiento colectivo y organizado el coroabandonaraacute el altar esta vez hacia el centro de la ciudad En estesent ido Suplicantes como paradigma de las tragedias quepertenecen al Altarmotiv12 subraya el protagonismo de la ritualidadpues el espectador nunca pierde de vista al suplicante ni el espaciosagrado

Desde la perspectiva de un espectador del siglo V aC laconducta religiosa representaba un complejo de discursos yacciones faacutecilmente reconocible intrincadamente unido a otrasaacutereas de su vida social Como senalan Furley y Bremer13 el himnopuede distinguirse del habla coloquial o de la cancion coral porvarias caracteriacutesticas (melodiacutea metro ritmo acompanamientomusical danza repeticion en una misma ocasion) pero su esenciareside en la entidad hacia la cual se dirige la composicion un dios ocompaniacutea de dioses Directamente asociado con el destinatarioreside su proposito adorar al dios tiene el objetivo de ganar subenevolencia y asegurar su asistencia o favor14 Ademaacutes estos

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autores senalan la familiaridad del himno con la suplica con la cualcomparte la misma meta15 La diferencia entre ambos tiposdiscursivos reside en que el himno es un producto artiacutestico maacutesacabado que la plegaria pues emplea tecnicas refinadas de elogio ypersuasion que lo convierten en un obsequio en un ἄγαλμα verbal

En el mundo griego arcaico y claacutesico las procesiones erantiacutepicamente acompanadas de himnos enfocados en la transicionespacial de la ciudad hacia el templo y en particular hacia el altar16

Precisamente por este motivo es probable que Esquilo eligieraabrir su obra directamente con el ingreso del coro a escena enlugar de la composicion de un prologo dado que el espectaacuteculo dela procesion coral era capaz de exponer mejor su propuestadramaacutetica Considerar la posibilidad de una opcion en terminos decomposicion artiacutestica diluye uno de los argumentos maacutes poderososa favor de la impronta arcaica de la tragedia su carencia deprologo17 Segun nuestro punto de vista Esquilo sustituye el iniciode la obra con una escena estaacutetica por la performance de una escenadinaacutemica de marcha que tiene la capacidad de sintetizar en elmetro18 el itinerario Egipto-Argos realizado por las Danaides Deeste modo el estado de fuga puede re-presentarse en el escenarioAsimismo Esquilo parece haber elegido no retrasar la llegada delos protagonistas19 a quienes se muestra llegando desde elextranjero ingresando a un territorio extrano y permaneciendo enla periferia en un recinto sagrado alejado del centro ciacutevico elsantuario publico de Argos (39)20

Tal como senalan Furley-Bremer ciertos himnos puedenser usados por el dramaturgo para crear una atmosfera tanto paraincrementar la tension en una situacion ya tensa o como un fondoironico contra el cual la accion subsecuente se despliegacontrariamente a la expectativa21 Particularmente la oda inicial deSuplicantes ilustra como el dramaturgo utilizo el himno paraestructurar el desarrollo y sentido de la trama total de la obra puestiene la funcion de definir el horizonte significante dentro del cualse inscribiraacute la actuacion particular de este coro Por un ladoconstituye la evocacion de los sucesos pasados por el otro es laclave y el punto de partida del codigo de comportamiento que

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regiraacute los actos sucesivos reconocido tanto por los personajes dela obra dentro de los liacutemites de la ldquoilusion teatralrdquo como por laaudiencia22

Asimismo la apertura procesional imprime una diferenciade tonalidad espacio y ocasion condicionan el discurso que debeser liacuterico maacutes que retorico Sin embargo su alcance persuasivo noes menor ya que el ritual confiere cierto poder encubierto alsuplicante23 La ventaja que supone el registro liacuterico reside en lafacultad de cumplir con dos cometidos ofrecer un medio legiacutetimode exhortacion a la accion y producir un efecto de seduccionporque permite exteriorizar la emocion

La recitacion que acompana la marcha anapestica detentados de los tres componentes baacutesicos de todo himno24 epiacuteklesis (v1-3) y eucheacute (23-39) La epiacuteklesis establece el contacto entre elloshablantes y el destinatario divino por lo cual suele estar al iniciola eucheacute en la que se formula la peticion como constituye el cliacutemaxusualmente se encuentra al final Enmarcado entre ambas partesresta el tercer componente lo que Furley y Bremer llaman ldquomiddlesectionrdquo y se trata de la parte compuesta para ganar el favordivino25 En la parte dinaacutemica de la oda inicial la seccion media (v4-22) se modifica sustancialmente proponiendo una inversion sehace hincapie en el suplicante en lugar del suplicado porque en elinicio del drama se impone la necesidad de exponer los motivosque justifiquen la performance26

A pesar de su brevedad la epiacuteklesis de la parte dinaacutemicamerece un anaacutelisis pormenorizado no solo por su funcion sinotambien por su emplazamiento La primera asocia hablante (lasdanaides que componen el coro) y destinatario interno (Zeus) elsegundo establece un marco de referencia que oficia como puenteentre los sucesos intradramaacuteticos y el espectador El proposito deesta comunicacion es demostrar que no obstante la fugacidad de laepiacuteklesis cada elemento condensa sentidos fundamentales para lainterpretacion de la oda inicial y de la matriz ritual en la que seinscribe la composicion de la obra como totalidad

L a epiacuteklesis indirecta (Er-Stil)27 confiriere a la oda caraacutecterhiacutemnico desde la primera hasta la ultima palabra Efectivamente la

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oda completa estaacute enmarcada por una composicion anular ya queen su ultimo verso (175) el participio καλούμενος (tambien alliacuteconcertado a Zeus) retoma la idea de esta invocacion inicial28 Laepiacuteklesis propone una composicion extremadamente simple lamencion del dios al que se dirige el himno su epiacuteteto y el llamadode atencion que introduce al hablante Recitan las Danaides

Ζεὺς μὲν ἀφίκτωρ ἐπίδοι προφρόνωςστόλον ἡμέτερον νάιον ἀρθέντ (v 1-2)29

Que Zeus protector de los recieacuten llegadoscontemple ya con mente predispuesta nuestraformacioacuten coral impulsada en una nave 30

Analicemos entonces los componentes de estaconvocatoria Zeus estaacute ubicado significativamente en la posicioninicial del primer verso de la obra y es el sujeto de un energicodesiderativo realizable (ἐ πίδοι) que da comienzo a la suplicaConsiderado en el sentido maacutes amplio el epiacuteteto ἀ φί κτωρ unhaacutepax31 en lugar de Hikeacutesios32 insiste en los dos puntos de estatransicion el traslado espacial y cultural de los personajes33 y sucondicion de marginalidad ya que para los griegos los ldquorecienllegadosrdquo no son de ninguna parte34 La novedosa composicion delapelativo formado ad hoc por lo tanto subraya al mismo tiempo laocasion y la condicion especiacutefica del suplicante mientras cumplecon la norma esperada respecto de las referencias a la divinidad Alrespecto nota Kavoulaki (2011) que el epiacuteteto pone en primerplano el hecho de la llegada (ἄφιξις) del coro que estaacute iacutentimamenteconectada con la tercera palabra de la frase la forma ἐπίδοι35

Efectivamente la forma ἐπίδοι indica la primera accion de la obrael pedido de atencion por parte del dios Lo maacutes significativo esque esa atencion debe alcanzarse a partir de la mirada

El verbo ἐφοράω compuesto de ὁράω combina el aspectosensible y el inteligible Flores (2007) quien ha estudiado el sentidode la vision en Esquilo sostiene que el dramaturgo ldquointroduce enlas palabras un rasgo morfologico que apunta a un matiz particularantepone la preposicion ἐπί a verbos de vision cuando son los

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dioses quienes miran Esta es una tendencia constante que comotal no se da en los otros traacutegicosrdquo36 De este modo ἐπί senalariacuteauna diferencia radical entre el ser hombre y ser dios que la autoraentiende como ldquomirar sobre tener los ojos sobre vigilarrdquo37 propiadel acto de ver divino Compartimos con la autora el hecho de quese marca una capacidad de mirar distinta no obstante creemosque no es exclusiva del dios ya que cuando demanda la mirada deZeus el coro subraya el acontecimiento de su aparicion suadvenimiento a la vista de otro su aparicion espectacular38 Por lotanto el verbo tambien hace referencia impliacutecita a la mirada delpublico que como el dios puede ver maacutes allaacute de lo que se ofreceante sus ojos39 Segun esta disquisicion proponemos otratraduccion del verbo maacutes ajustada al contexto senalado ἐφοράωcomo ldquocontemplarrdquo dado que las tres acepciones del espanolapuntadas por la Real Academia todas ellas transitivas se ponenen juego en esta accion Conforme este sentido los espectadorestanto como el dios 1 ponen atencion en algo material (laformacion coral) 2 consideran (juzgando) a las jovenes y 3 lascomplacen son condescendientes con ellas mientras se hacenvisibles40

Como advierte Flores Esquilo usa el verbo ἐφοράω parasuplicar cada vez que se indica el llamado de atencion a traves dela vision En este caso la eleccion de un verbo de percepcionvisual no es azarosa porque ademaacutes de convocar al publico apelaal campo de la emocion a diferencia de los verbos de percepcionauditiva que tienen tendencia a asociarse al campo de lapersuasion y obediencia La vision no necesita del juego de laspalabras para convencer sino que pone a quien ve en el lugar detestigo y no de mero observador Por lo tanto es posible afirmarque la eleccion del verbo va de la mano de la eleccion de laapertura liacuterica es decir sin prologo el caso de las Danaides almenos en el comienzo pretende no ser amenazado por la retoricaLa esperanza estaacute puesta en cambio en el poder conmovedor dela mirada Precisamente Suplicantes compromete una apuesta a laexploracion de sentido en el aspecto visual ya que la oacutepsis habriacuteabuscado provocar el desconcierto del espectador41 la presencia de

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las hiacutebridas suplicantes en escena baacuterbaras de apariencia perogriegas en cuanto a su comportamiento ceremonial debe habersido el principal factor de impacto dramaacutetico desde el inicio hastael final de la tragedia En cuanto a ἐφοράω la forma de aoristoremarca ademaacutes la puntualidad de la accion dado que las Danaidesexpresan la necesidad de la mirada inmediata Justamente para darcuenta de la inminencia en la traduccion del verso 1 optamos porel agregado del adverbio ldquoyardquo que enfatiza la exigencia al punto alinstante

El adverbio προφρόνως que complementa a ἐφοράω sumainformacion al pedido pues implica absoluta confianza en el diosque segun se supone tiene ojos justos προφρόνως puede sertraducido como ldquoamablementerdquo ldquoseriamenterdquo o ldquocon voluntadapropiadardquo segun indica el Diccionario de Oxford (LSJ)42 Sinembargo este adverbio tiene las raiacuteces de πρό y φρήν43 lo queadmite la traduccion por una periacutefrasis que combine amboselementos La propuesta ldquocon mente predispuestardquo parece ser maacutesacertada porque insiste simultaacuteneamente sobre los tres sentidos deἐ φοράω (prestar atencion juzgar y ser condescendiente) ademaacutesde ser coherente con el modo desiderativo propio del himno lapredisposicion de la mente de Zeus y de los espectadores consisteen que al ver a las Danaides antes de decidir sobre su caso susolicitud (1) presten atencion a los ramos que llevan en sus manos(2) juzguen que aunque baacuterbaras practican el ritual propio de latierra local y (3) sean condescendientes con su condicion desuplicantes

Por eso es necesario agregar que en sus observacionesacerca del verbo inicial ἐφοράω Kavoulaki ha senaladopertinentemente la superposicion de los planos performativo ydramaacutetico pero ha perdido de vista el caraacutecter de laespectacularidad sobre la que se pide atencion el arribo de estecoro es espectacular desde una apreciacion multimediaacutetica porquelo que se ve y lo que se escucha producen una combinacion unicainarmonica desacoplada contradictoria disonante El epiacutetetoἀφί κτωρ el adverbio προφρόνως y los versos que siguen insistensobre la singularidad de los personajes que el publico empieza a

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ver delante de sus ojos las danaides y su padre revisten unanaturaleza marginal e hiacutebrida que se manifiesta en el lenguajegriego con matices Egipcios44 pero fundamentalmente en elchoque entre apariencia y comportamiento Lo que las Danaidesdesean que Zeus (y los espectadores) vean con buenapredisposicion es que aunque no parezcan argivas (tal como loinforma el aspecto sensible del verbo) puedan ser reconocidascomo tales a partir de su conducta (lo que involucra el aspectointeligible del mismo verbo) Ellas luego se encargaraacuten dedemostrar a traves de la retorica del canal auditivo que estacondicion griega que practican es una exteriorizacion de suspropias raiacuteces45

Finalnalmente los elementos fundamentales de la epiacuteklesisse completan con la referencia a la identidad del emisor στόλον esel sustantivo a traves del cual se autopresentan las Danaides queeligen no revelar su identidad hasta el verso 11 cuando se dicenldquohijas de Daacutenaordquo El uso de στόλον no es inofensivo No refiere aun grupo ordinario de gente a una mera tripulacion sino queacentua un aacuterea semaacutentica especiacutefica la del ritual46 στόλον senala atraves de sus ejecutores la ocasion una accion coral que se dasimultaacuteneamente en el mundo interno dramaacutetico (que contemplaZeus) y en el externo teatral (que contemplan los espectadores enel contexto del festival) Kavoulaki advierte acertadamente estesentido del termino pero la traduccion que propone ldquobandrdquo(banda)47 no cifra su complejidad semaacutentica El sustantivo στόλονcomparte su raiacutez con el verbo στέλλω que significa ldquoprepararrdquo48 ensu forma activa y ldquodespacharrdquo ldquoenviarrdquo en la pasiva El camposemaacutentico al que se asocia es usualmente el militar49 Ciertamenteel dominio belico no es ajeno al mito sobre el que se compone estatragedia pues conocemos que la suplica a Zeus primero y a Argosdespues derivaraacute en una guerra entre Argivos y Egipcios Porconsiguiente nuestra interpretacion de στόλον como ldquoformacionrdquobusca integrar el sentido militar y el ritual El enfasis de esta opcionde traduccion por otra parte estaacute puesto en la nocion dehomogeneidad (propia de este personaje colectivo) dada por elorden resaltando por lo tanto la existencia de un proceso no

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solamente previo sino tambien deliberado y de un agente quecomo autoridad establece dicho orden ldquoFormacionrdquo admite eljuego entre el sustantivo στόλος (2) y el adjetivo στασίαρχος (11)con el que se califica a Daacutenao la primera vez que es mencionado 50

correlacion que permite tanto activar el sentido de la ocasionperformativa como revelar cuaacutel es la estrategia de este grupo demujeres lideradas por su padre suplicar como maniobra de poder

El pedido de contemplacion al grupo como formacioncoral-ritual que se antepone a las demandas personales implica elinteres por conquistar los fueros de un poder que se fundamentaen la paradoja dado que la suplica es coercion disfrazada deimpotencia y necesidad51 La primera mencion de las Danaides espor consiguiente en el rol de objeto paciente asumiendo un lugarde subordinacion ante la mirada divina52 Por el contrario eldominio del dios se ve destacado no solo en el rol de agente quereviste sino tambien en su ubicacion en la posicion inicial delprimer verso de la suplica y del drama

En conclusion la epiacuteklesis demuestra ser clave para lainterpretacion de la oda y el desarrollo de la obra porque estableceun puente entre la seccion narrativa que se iniciaraacute y el nivelperformativo potenciando el sentido de la ocasion y suconveniencia Asimismo este anuncio consciente de roles eidentidades rituales vuelve maacutes ostensible la hibridez de las recienllegadas protagonistas que dejaraacuten filtrar sobre el final de la odainicial la perversion de su programa ritual Los desesperadosultimos versos del canto blasfeman a Zeus dios destinatario de lasuplica No obstante la alteracion de la norma es tema para otracomunicacion

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RESUMO

Identidade ritual e performance uma anaacutelise dos primeiros doisversos de Suplicantes de Eacutesquilo

A recitacatildeo que acompanha a marcha anapestica (v 1-39)que daacute iniacutecio agrave performance de Suplicantes de Eacutesquilo apresentadois dos trecircs componentes baacutesicos de um hino (Furley-Bremer2001) epiacuteklesis (v 1-3) e eucheacute (23-39) A epiacuteklesis indireta (Er-Stil v1-2) estabelece o contato entre os falantes ndash os Danaides quecompotildeem o coro ndash e o destinataacuterio divino ndash Zeus ndash dando agraverecitacatildeo um caraacuteter hiacutenico desde a primeira palavra Eacute umacomposicatildeo de dois versos extremamente simples a mencatildeo dodeus a quem o hino e dirigido seu epiacuteteto e o chamado da atencatildeoque apresenta o falante Nosso trabalho tenta demonstrar queapesar da brevidade da epiacuteklesis cada elemento condensa ossentidos fundamentais para a interpretacatildeo da ode inicial e damatriz ritual na qual a composicatildeo da obra se inscreve como umtodo

PALAVRAS-CHAVE

Ritual performance Suplicantes Eacutesquilo

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PARRY H The Lyric Poems of Greek Tragedy Toronto-Sarasota sn 1978

PICKARD-CAMBRIDGE AW The Dramatic Festivals of Athens Oxford sn1988

76

Identidad ritual y performance [hellip] | Maria del Pilar

REHM R Greek Tragic Theatre Theatre Production Studies London sn1992

SANDIN P Aeschylusrsquo Supplices Introduction and Commentary on v 1-523Goumlteborg sn 2003

SOMMERSTEIN AH Aeschylus Persians Seven against Thebes SuppliantsPrometheus Bound Cambridge Massachusetts London sn 2008

TAPLIN O The Stagecraft of Aeschylus the Dramatic Use of Exits andEntrances in Greek Tragedy Oxford sn 1977

TORRANO J Eacutesquilo tragedias Os persas Os sete contra Tebas As suplicantesPrometeu cadeeiro Satildeo Paulo sn 2009

VIacuteLCHEZ M Esquilo tragedias II Los siete contra Tebas Las suplicantesSalamanca sn 1999

WEST ML Greek Metre Oxford sn 1982

77

1 Este trabajo ha sido presentado como ponencia en las VIII Jornadas de EstudiosClaacutesicos y Medievales realizadas en la ciudad de La Plata durante los diacuteas 18 19 y20 de septiembre de 20172 FURLEY BREMER 20013 CALAME 19774 HENRICKS 1994-19955 SWIFT 20106 Parry (1978 p 50-51) la incluye dentro del grupo que denomina ldquomassiveodesrdquo constituido por aquellas que superan los cien versos ldquoThe grand-scaleodes are more spacious and more leisurely What they need and get is a broadsuperestructure one that a Greek audience would be well familiar with ndash thehymn or hymn derivative (hellip) Within this superestructure there is room forldquodigressionsrdquo to develop and we constantly savour exquisite descriptions andreflections ranging from the pathetic to the profoundrdquo (p 53) La observacionde Kitto (2011 p 4) tambien resulta interesante ldquothe ode one-sixth of thewhole play would take something like fifteen minutes in performance the timeof an ordinary symphony-movementrdquo7 Sobre su complexion y sus trajes baacuterbaros 120-122 = 131-133 234-237 432No descartamos la propuesta de Sandin (2003 37) quien sugiere la posibilidadde que la mitad o un tercio de las jovenes presentara indicios de pertenencia aun rango inferior y no cargara ramos de suplicante Estas servidoras de lasDanaides no seriacutean mencionadas hasta el final del drama (954 977) Sinembargo desde nuestro punto de vista su presencia no amerita su participacionen la ultima oda tal como se explica en el apartado I41 En cuanto a la cantidadde coreutas es improbable que hayan sido cincuenta tal como han sostenidoquienes consideraban a Suplicantes una obra primitiva Evidencia textual internaparece favorecer el numero de doce (204-224) Sobre el numero de miembrosdel coro Taplin (1977 437)8 Sobre anapestos de marcha West (1982 p 53-54) El metro se emplea siempreque la apertura del drama es llevada adelante por el coro Actualmente latendencia es aceptar que los anapestos de marcha eran generalmente recitativos(acompanados por el auloacutes) Segun Pickard-Cambridge (1988 p 160) ldquothis maybe taken as certain where they are uttered by the chorus as they enter theorchestra preceded by the flute player as at the beginning of Persae andSuppliants and in Agamemnon 40-130 or when they form an introduction to asung choral ode as in Persae 532-47hellip and Eumenides 307-20rdquo En algunasediciones o traducciones sin embargo se indica que el coro ldquocantardquo9 En el apartado II3 profundizamos sobre la configuracion empleo ysignificacion de los espacios escenicos en la obra 10 El texto no ofrece evidencia acerca del ingreso de Daacutenao y por lo tantopersisten las controversias en torno al momento exacto de este suceso escenicoUnos conjeturan que habriacutea llegado junto al coro (1) otros en el momento de suprimer discurso (176) La primera alternativa es la preferida de los criacuteticos en laactualidad -por ejemplo Taplin (1977 v 194) ndash aunque ya Mazon (1953 p 19)sugeriacutea que Daacutenao habriacutea ingresado ldquodans lrsquoorchestre derriegravere ses fillesrdquo y quehabriacutea permanecido parado en una colina durante la cancion mirando hacia elhorizonte Segun nuestro punto de vista Daacutenao habriacutea ingresado al mismotiempo que el coro pero detraacutes de el mostrando companiacutea y proteccion perosin acaparar la atencion central puesta en el coro femenino Finalizado elrecorrido de ingreso se habriacutea ubicado sobre la elevacion vigilando el mismosector de su ingreso es decir alerta a la posibilidad de peligro por la llegada desus perseguidores y divisando tambien el sector opuesto preparaacutendose para elverso 176 momento de su primera intervencion en que anuncia el arribo dehabitantes locales 11 Rhem (1992 p 66) ldquoBridging the gap between the heroic characters and thefifth century tragic costums and props often mirrored specific aspects ofAthenian ritual liferdquo Aelion (1983 p 16) describe el ritual de suplica y brinda

pruebas de su contemporaneidad para un espectador de la epoca con ejemploshistoricos de Herodoto y Tuciacutedides12 Cfr Aelion (1983 p 15-44) para la estructura dramaacutetica del patron de suplicaAdrados (1986 p 7-8) propone dos tipos baacutesicos para las tragedias quepresentan este motivo temaacutetico la ldquobinariardquo en la que el suplicante se refugia enun templo o realiza los gestos rituales dirigidos a su oponente y la ldquoternariardquoque encuentra maacutes habitual en la que junto al enemigo o perseguidor sepresenta al salvador La suplica en el primer caso ldquoentra plenamente en el juegoteatral es un recurso maacutes para hacer avanzar la accionrdquo pero ldquoes solo unelemento episodico nunca un elemento central en la pieza Solo cuando seintroduce la estructura ternaria es la suplica un elemento central (hellip) sobre todoporque con ello se cumple una exigencia del teatro la existencia de al menos unagoacuten en cada piezardquo (p 33) Lo esencial en el desarrollo dice Adrados ha sidoentonces ligar el tema de la suplica a los agones rituales tradicionales Segun estapropuesta Suplicantes resulta el exponente por excelencia de la tipologiacutea ternaria13 FURLEY BREMER 200114 FURLEY BREMER 2001 p 2 ldquoThe cult hymn is a form of worship directedtowards winning a godrsquos goodwill and securing his or her assistance or favourrdquo15 FURLEY BREMER 2001 p 3 ldquoHymns share many of the compositionalelements characteristic of prayers there is the same direct address of a deity thesame gesture of supplication and often the same express request for help orprotection A distinction may be possible here by considering both thecompositional elements of the two forms and their differing function inworshiprdquo16 FURLEY BREMER 2001 p 28-2917 La carencia de prologo ha sido uno de los argumentos maacutes poderosos a favorde la arcaicidad de la tragedia primero y luego de 1952 (ano en que se descubrioel pairo de Oxyrrinco que puso en cuestion la datacion de la tragedia) de suldquoespiacuteritu arcaizanterdquo Sin embargo es improbable que una apertura coral tuvierareminiscencias arcaicas en la epoca de la puesta en escena de Suplicantes YaGarvie ha demostrado que no hay razon para suponer que el inicio con lapaacuterodos haya sido necesariamente maacutes temprano que la utilizacion del prologopues tanto la funcion natural de una como del otro era expositiva explicar a laaudiencia la situacion dramaacutetica que seriacutea representada y los datos espacio-temporales de la puesta en escena Segun el anaacutelisis que hemos realizado de laoda su estilo narrativo y expositivo aunque no cronologicamente lineal puedecomprobarse en la parte liacuterica con la mencion de τὰ τε νῦν ἐπιδείξω πιστὰ

τεκμήρια (ldquomostrare pruebas confiables las de ahorardquo 52-53) cuya epexegesisconsistiraacute en el relato de la situacion actual de las Danaides Garvie (1969 p121) realiza un recorrido historico vinculado con el origen del prologo y detallael debate criacutetico en relacion a esta postura Asimismo compara la paacuterodos deSuplicantes con la de Los Persas tambien carente de prologo y con los prologosdel resto de las tragedias conservadas de Esquilo Para informacion maacutesactualizada del mismo autor sobre el mismo tema Garvie (2006b p 37) Furley-Bremer (2001 284) senalan que ldquoA prologue which sets out the pre-historymay seem Euripidean but one should not forget that of Aeschylus sevenpreserved tragedies there are four opening with an informative prologue SevenAgam Choe Eumrdquo Taplin (1977 p 194) aunque afirma que las razones parausar una apertura coral fueron dramaacuteticas maacutes que cronologicas opina que estaera una tecnica pasada de moda en los ultimos anos de la decada del 460 aC18 Los criacuteticos acuerdan en considerar que los primeros 39 versos en metroanapestico llevan adelante la funcion expositiva Cfr Hogan (1984 p 189)Viacutelchez (1999 p 86) Sandin (2003 p 36) Torrano (2009 p 239) entre otrosEsta division de la oda en dos partes es coherente con las definicionesaristotelicas de paacuterodos y staacutesimon Cfr Poeacutetica 1452b 22-2419 Efectivamente en Suplicantes tal como en Los persas el coro abre la obra consu canto de ingreso y como Eteocles en Siete contra Tebas u Orestes en Coeacuteforas laobra se inicia directamente con los protagonistas y el relato que ellos mismos

desde su punto de vista realizan de la situacion que padecen y que seraacute objetode la performance En cuanto al tratamiento del coro en Eumeacutenides y Suplicantestanto de Esquilo como de Euriacutepides y su diferencia del resto de las tragediasconservadas por tratarse de personajes principales cfr entre otros Nestle(1930 p 16) Para el caso particular de este coro Garvie (1969 p 106) ySommerstein (1996 p 158)20 El propio Pelasgo explica la diferencia entre la suplica en un altar publico yuno privado en v 365-36621 FURLEY BREMER 2001 p 277 ldquohymns of certain sorts can be used to createatmosphere by the playwright either to increase tension in an already fraughtsituation or as ironic backdrop against which the subsequent action unfoldscontrary to expectationrdquo En v 279 y ss los autores se ocupan de los ldquohimnosrdquode Suplicantes v 77-102 (Zeus) v 524-599 (Zeus) v 625-709 (Zeus y los dioseslocales) v 1018-1073 (Aacutertemis Afrodita y Zeus) pero se detienen en dospasajes v 77-102 y v 524-537 junto con v 590-600 En terminos generales losautores proponen (2001 p 285) ldquoThe term dramatic irony is not used often inAeschylean criticism But if the hypothesis sketched above about the plot of thistrilogy is correct then these hymns may have had an ironical effect at the firstperformance of this trilogyrdquo Como ha sido senalado previamente lasinterpretaciones de la tragedia que caen en el lugar comun de ampliar su lecturahacia las secuelas de la trilogiacutea resultan debiles ya que no se puede asegurar queobras habriacutean acompanado a esta tragedia y cuaacutel habriacutea sido su argumento Si elhimno inicial instala una ironiacutea proponemos interpretarla como propia de lanaturaleza inestable de quienes lo entonan22 FURLEY BREMER 2001 p 275 ldquoIn a way then a dramatic hymn is animpostor it is not a genuine cult hymn but rather an imitation of a cult hymnwritten for the fictional situation and performers of the playrdquohellip ldquoThe fictionalquality of hymns in drama and the mix they represent of genuine cult practiceand assimilation to the play mean that the playwright was free to draw ontraditional forms such as paians dithyrambs wedding songs etc in order toillustrate stages of a plays action but at the same time these traditional formshad to be adapted to their new dramatic settingrdquo (2001 p 276)23 Kavoulaki (2011 p 366) justifica muy acertadamente la ldquoconciencia deautoridad ritualrdquo de las Danaides En el artiacuteculo la autora analizaespeciacuteficamente los anapestos introductorios de la obra ldquohellip choral selfawareness of ritual authority is not a mere mannerism but represent well-planned strategies of influence and effectrdquo24 FURLEY-BREMER 2001 El patron de accion es reconocible en la tragedia porsu grado de acabamiento llegada procesional a un lugar sagrado invocacionesinvitacion a la interaccion a traves de los sentidos ritual hiacutemnico y el pedido maacutesimportante el de recepcion o aceptacion (v 27)25 En general la seccion cumple con los principios de eulogiacutea (mencion de losdominios y privilegios del dios) y eufemiacutea (con rechazo de expresionesinapropiadas) y se sirve de recursos tales como la hypoacutemnesis (recordatorionarrativo acerca de como el dios ayudo en una ocasion previa) la dieacutegesis (relatoparadigmaacutetico acerca del dios) yo la aretalogiacutea (cataacutelogo de los poderes yhazanas divinas ekphraacuteseis) para compeler al dios y asegurarse de que resultepropicio 26 Las causas de la alteracion son fundamentalmente dos por un lado dada lacarencia de prologo el movimiento escenico a traves de la paacuterodos hacia laorcheacutestra exige una explicacion dramaacutetica Por eso esta seccion pone su acento enla situacion de traacutensito es decir en el cambio espacial que representa la marchaanapestica Por otro lado la seccion insiste en un segundo cambio el decondicion social porque ligada a la referencia espacial se presenta lametamorfosis un grupo de mujeres vestidas exoticamente y con una aparienciafiacutesica ajena transforman su barbarismo en pertenencia a traves de la praacutectica delritual griego de suplica

27 FURLEY BREMER 2001 p 1 Los autores aclaran que la manera en que serealiza este abordaje del destinatario resulta indiferente para la distincion delgenero El himno puede dirigirse a un dios de manera directa (Du-Stil) indirecta(Er-Stil) o a traves del anuncio en primera persona Para su definicion parten dePlaton (Leg 700b1-5) que da el primer indicio de una taxonomiacutea antigua de lacancion coral Luego toman la clasificacion alejandrina de Proclofundamentalmente pragmaacutetica o funcional ya que tiene en cuentaprimordialmente el contexto de la performance (cfr 2001 11 y ss) 28 El verso 175 configura el cierre de la composicion anular ὑψόθεν δ᾽ εὖ κλύοικαλούμενος (Ojalaacute que desde arriba escuche propiciamente cuando es invocado)29 La cita del texto es de la edicion de Sommerstein (2008 p 290)30 La traduccion del texto es personal31 CUZZI 1970 p 73 p 85 Friis Johansen-Wittle (1980) ad v 1) ldquoZeus ἀ φί κτωρis not an attested cult-title but belongs among numerous Aeschylean creationsinvented on the analogy of existing cult- names of various typesrdquo Cfr tambienSandin (2003 ad 1 p 39) quien senala que el sufijo ndashωρ es mucho maacutes fuerteque el -ιος de uso frecuente que indica simplemente que el dios estaacute conectadocon alguna actividad El sufijo elegido por Esquilo estariacutea marcando unaactividad tambien desempenada por Zeus por eso esta podriacutea ser consideradaen sentido amplio ldquoel que llegardquo Asiacute Zeus es protector de quienes llegan eneste caso como suplicantes 32 Este uso puede observarse en los v 347 360 616 Se retoma el neologismodel primer verso en v 385 y 478-479 ἱκνέομαι usualmente se usa en el sentidode ldquosuplicarrdquo tanto en la epica homerica como en el drama (LSJ 826)33 La mencion de Zeus refleja la hibridez cultural ya que se lo invocaperteneciendo a dos espacios geograacuteficos el de origen y el de destino (cfr v 1 yv 4-5) Respecto de Egipto como la ldquoregion de Zeusrdquo (v 4-5) Sommerstein(2008 p 292) senala ldquoEgypt could be so called because it contained the famousoracle of Zeus Ammon at Siwwa but to the Danaids it is more important thatEgypt was the place where Zeus miraculously begot their ancestor Epaphusrdquo34 FERNAacuteNDEZ DEAGUSTINI 2011 p 77 ldquoEn el mundo griego antiguo regidopor valores competitivos y cooperativos ser miembro de un grupo es lo queconferiacutea y determinaba el status y la posicion de un individuo en la escala dehonor y definiacutea su rol en la sociedad La posesion y conciencia de este rol (tantode parte del posesor como de los otros miembros del grupo) proveiacutea los iacutendicesde conducta esperada sin los cuales la continuidad y estabilidad de la sociedadse veiacutea amenazada De alliacute que el ξένος el outsider el que ldquono pertenecerdquo fueraen principio un sujeto sin rol sin derechos ni obligaciones que ignoraba comoconducirse con el cual tampoco sabiacutean comportarse los miembros del grupoEn consecuencia la conducta institucionalizada que regiacutea el comportamientoadecuado del ξένος (sustantivo que designaba a la vez al hospedado y alanfitrion) proveiacutea de reglas y patrones de expectativa que permitiacutean lacoexistencia entre aquellos que no eran del mismo grupo De este modo lasinstituciones griegas conocidas como ξενία y ἱκετεία constituiacutean un poderosofactor que manteniacutea las tensiones entre grupo e individuo dentro de liacutemitestolerablesrdquo El artiacuteculo citado observa la definicion de los personajes deSuplicantes fuera o dentro de la red social que propone el espacio escenico deArgos a partir de los datos que ofrece la ldquodeixis socialrdquo (Fillmore 1971) Por suparte Dobiacuteas-Lalou (2001 passim) considera ἀφίκτωρ a partir de la idea deintegracion social y lo analiza en relacion con la repeticion en el v 241 en bocade Pelasgo Para la autora no se trata de un ldquoZeus Suplicanterdquo sino de unldquoZeus de los Suplicantesrdquo Apoyada en el examen de los tres constituyentesmorfologicos del termino (preverbio tema verbal y morfema de sustantivoagente) y de las fuentes epigraacuteficas Dobiacuteas- Lalou concluye que (p 614) ldquoDesinscriptions de Cyregravene et de Lindos font connaicirctre agrave lactif et au passif le verbeἀφικετεύω lsquosortir de letat de supplication reintegrer dans une communautecivique lsquo tandis quagrave Cnide le rituel est decrit comme ἀφικετεία On en deduitque Zeus est invoque comme laquo celui qui reintegravegre les lsquosuppliantsrsquo (v 1) et que lepluriel du v 241 designe lensemble des θεοὶἀγωνίοι qui avec Zeus vontparticiper agrave cette delivrance Lintervention lsquopoetiquersquo dEschyle doit consister en

deux traits archaiumlques lemploi de la base ἱκ- au lieu d ἱκετευ- et le recours ausuffixe ndashτωρrdquo35 KAVOULAKI 2011 p 380 ldquoZeus the first word in the play seems neutral butthe epithet ἀφίκτωρ by wich he is invoked (another ad hoc formed noun) bringsto the foreground the very fact of the chorus ἄφιξις (arrival) wich is intimatelyconnected with the third (main) word of the sentence the form ἐπίδοιrdquo36 FLORES 2007 p 89 El subrayado corresponde a la autora quien luegoampliacutea ldquoEstudios actuales sobre el lenguaje realizados por Lakoff y Johnsonrevelan el sentido profundo de ciertas estructuras linguumliacutesticas que en realidadrepresentan estructuras de la menterdquo son las ldquometaacuteforas orientacionalesrdquo (200791) ldquohellip se puede indicar que ἐ πί para Esquilo indica mucho maacutes que unaorientacion espacial de los dioses senala una forma de ver diferente de lahumana Mirar desde arriba maacutes allaacute de la raiacutez etimologica de cada verboἀφοράω ἐφορεύω ἐπισκοπέω ἀποπάω ἐποπτεύω es mirar con la fuerza vitalidadintensidad lucidez clarividencia bondad inteligencia virtud y punto de vista deun diosrdquo (2007 p 93)37 FLORES 2007 p 97 De hecho dentro de la taxonomiacutea verbal que la autorapropone incluye ἐφοράω dentro de la categoriacutea ldquolos dioses miran juzgandordquo38 KAVOULAKI 2011 p 380 ldquoby inviting the sight of the god the chorusunderline their coming to sight their spectacular appearancerdquo39 RHEM 1992 p 47 ldquoThe process is one in which the audience shifts from theimmediate dramatic situation to the larger world of the play and then movesbeyond it constantly negotiating different levels and formulating responsesappropriate to them inspired by (but hardly bound to) the initial commitmentto dramatic illusionrdquo Esta participacion de la audiencia es la que permite inferirinterpretaciones ironicas ambiguas contradictorias anticipatorias oretrospectivas de diferentes momentos de la obra40 Acepcion dada por el diccionario de la Real Academia Espanola en wwwraees41 El impacto se produce tanto sobre el espectador externo como sobre elinterno es decir Pelasgo Cfr II2342 LSJ 1540 ldquokindly earnestly Prop with forward mindrdquo43 CHANTRAINE 1968 p 122744 Sobre el lexico egipcio en Suplicantes Adrados (1999 passim)45 En el v 27 que da comienzo a la eucheacute el pedido a los dioses seraacute que aceptenesta condicion que evidentemente no les es propia δέξασθ ἱκέτην τὸνθηλυγενῆ στόλον αἰδοίῳ πνεύματι χώρας (Admitid como suplicante a esta femeninaformacioacuten con el aire reverencial de esta tierra) Ademaacutes la eucheacute recupera en este versoun termino que cobra especial sentido en la tragedia στόλον46 Johansen-Witttle (1980) entienden στόλον en sentido poliacutetico como terminoderivado de στάσις De este modo στασίαρχος (v 11) resulta ser en supropuesta de traduccion ldquoleader or originator of seditionrdquo) Sandin (2003 ad 11p 45) marca que en el griego claacutesico στάσις en su sentido poliacutetico no significasedicion sino ldquodiscord faction party strife or even civil warrdquo Para Sandinστασι- se refiere al hecho de que Daacutenao y sus hijas han roto sus lazos con sufamilia en Egipto y que por eso se ha iniciado una discordia Sommerstein(2008 p 293) traduce στασίαρχος como ldquooriginator of civil striferdquo La posicionde Kavoulaki (2011 p 377) resulta maacutes atinada en tanto no le confiere unsignificado poliacutetico sino de ocasion especiacutefica pues senala que el termino στάσιςestaacute vinculado a la actividad coral y a la formacion en particular Por eso para laautora ldquothe general usage of the word stasis in choral contexts seems to justifyits choice at this ritually important moment when the chorus qua chorus and atthe same time as a band of parthenoi is solemnly approaching a religious locus (1v 189-90) carrying the ritual symbols of supplication (v 21-22) and invokingthe gods (Zeus and others 1 23-26) with the obvious intention of taking uptheir positions to sing and dance (v 40-175) a hymn and prayer to gods andheroes and particularly to Zeushelliprdquo

47 KAVOULAKI 2011 p 38448 LSJ 1648 y Chantraine (1968 p 1050) ldquoCette famille de mots issue drsquouneracine exprimant une notion simple ldquoarranger preparerrdquo a eclate avec des senstregraves divershelliprdquo Si bien entre estos sentidos posibles Chantraine consigna στόλοςcomo ldquoexpedicionrdquo no se concentra en el examen de este vocablo Lo que debedestacarse de su anaacutelisis etimologico es sin dudas la afirmacion de que la raiacutez deesta familia supone la idea de ldquoprepararrdquo idea que se respeta en nuestrasugerencia de interpretacion del termino como ldquoformacion coralrdquo49 Por eso στόλον puede traducirse como ldquoequipamientordquo si se resalta el objetoldquoexpedicionrdquo o ldquomisionrdquo si el acento se pone en la accion y ldquotropardquo o ldquobandardquosi se hace hincapie en el sujeto 50 Es necesario resaltar el hecho de que el v 11 constituye tambien la primeravez que las jovenes aportan un dato identificatorio especiacutefico respecto de ellasEn este sentido la eleccion de στασίαρχος compuesto de στάσις (que compartel a raiacutez de στόλον) y ἄρχων ilumina el rol crucial de Daacutenao como liacuteder einstructor del coro tesis que desarrolla Kavoulaki (2011) en el artiacuteculo citado51 GOULD 1973 p 91 52 Esta posicion se revierte maacutes tarde (v 169) cuando el tiempo transcurrido y ladesesperacion invierten los roles de agente y paciente

Caliope Presenca Classica | 20172 Ano XXXIV Numero 34

O Filebo prazer e intelecto emconfrontoSimone de O Goncalves Bondarczuk

RESUMO

O dialogo Filebo durante muito tempo foi deixado de lado pelatradicatildeo dos estudos platocircnicos por ser um dialogo tematicamentecomplexo tendo em vista a sua aparente falta de unidade o quelevou a tendecircncia dos inteacuterpretes e comentadores seja naAntiguidade ou nos dias atuais a se concentrarem em apenas umdos aspectos da obra o metafisico ou o eacutetico No entanto nosultimos trinta anos o interesse por esse dialogo reviveu com forcae a sua pertinecircncia para uma compreensatildeo mais global dopensamento teoacuterico de Platatildeo foi finalmente reconhecida Opresente artigo pretende introduzir o leitor nas questotildees centraisdo dialogo e problematizar as controveacutersias em torno do mesmoSeria a vida dedicada ao prazer eou a vida dedicada agrave reflexatildeocentrais para a constituicatildeo de uma vida feliz Ou seria uma mesclaentre essas duas vidas Qual a relacatildeo dessa escolha com a questatildeoteleoloacutegica do Bem em Platatildeo

PALAVRAS-CHAVE

Filebo dialogos socraticos prazer intelecto o Bem

SUBMISSAtildeO 28 dez 2017 | PUBLICACcedilAtildeO 31 dez 2017

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O Filebo prazer e intelecto em confronto | Simone de O Goncalves Bondarczuk

dialogo Fi l ebo de Platatildeo pela sua complexidadetematica e beleza provocou tantos questionamentosna Antiguidade como suscita ainda nos dias atuais aopartir de uma questatildeo simples mas assaz relevante seo prazer e os seus congecircneres satildeo bons ou o Bem ouao inveacutes se o Bem se constitui na reflexatildeo e nasatividades relacionadas com a mesma ou talvez obem seria uma terceira via uma espeacutecie de amalgamaentre os dois Natildeo menos interessante do que o temado ponto-de-vista formal a sua estrutura dialoacutegica traza lembranca os primeiros dialogos socraticos em que oeacutelenkhos em sua dinamicidade potildee em movimento oargumento central e segue agrave risca a via da dialeacuteticaconvidando os primeiros receptores1 e os leitores

modernos a se engajarem de um modo ativo no debate Antes de tudo o dialogo eacute uma contenda dramatica entre

prazer e reflexatildeo no qual outras questotildees relacionadas vatildeo sendoentrelacadas como a questatildeo do Uno e do Multiplo - como sepode chamar por um unico nome geneacuterico prazer umamultiplicidade de prazeres aparentemente dessemelhantes entre si eo mesmo argumento poderia servir para os conhecimentos outraquestatildeo surge em decorrecircncia dessas a necessidade de seestabelecer categorias ontoloacutegicas para definir o prazer e asatividades relacionadas agrave reflexatildeo a saber o limite o ilimitado amistura e causa da mistura e ainda como tudo isso se relacionacom o projeto ontoloacutegico de Platatildeo a respeito do Bem

O dialogo potildee em tensatildeo todas essas questotildees e nos eacuteapresentado como uma peca dialeacutetica com passos tatildeo belos quantoenigmaticos Como consequecircncia disso o dialogo apresenta umaaparente falta de unidade tematica que durante muito tempo foium empecilho para uma interpretacatildeo ampla e integradora dodialogo na sua relacatildeo com o corpus platocircnico O tema do dialogo eacuteo prazer ou a vida de reflexatildeo ou o Bem ou ainda seria sobreuma vida mista entre as duas como sendo a mais feliz

A importacircncia desses temas em relacatildeo ao conjunto daobra de Platatildeo sobretudo pelas questotildees metafisicas e eacuteticas

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O

Caliope Presenca Classica | 20172 Ano XXXIV Numero 34

postas em relevo em sua articulacatildeo com todo o pensamentoplatocircnico sobre o Bem permitiu que os ultimos trinta anosassistissem a um renascimento da parte dos especialistas de seuestudo

Tendo em vista essa polecircmica em relacatildeo agrave unidadetematica o esquema de divisatildeo do dialogo ja foi apresentado dediversas formas2 segundo minha proposta pode ser estruturadoda seguinte maneira

1 Parte I Introducatildeo (11a-14b)a) As duas teses em disputa a vida boa ou o Bem consiste navida centrada no prazer e seus congecircneres ou na vidacentrada na reflexatildeo e nas coisas afins a essa (opiniatildeo corretae calculo racional)b) A vida feliz eacute resultante da disposicatildeo e da propriedade daalma haveria um terceiro estado superior a esses doisprimeirosc) A proposta de uma via intermediaria o Bem eacute o prazer areflexatildeo ou ainda haveria uma terceira possibilidade (14b)

2 Parte II A estrutura metafisica da realidade e o meacutetododialeacutetico da divisatildeo (14c-20b)a) O problema do Uno e do Multiplo em sua versatildeo maisbanalizada (14c-14e)b) As trecircs aporias sobre o Uno e o Multiplo a definicatildeo dadialeacutetica e o seu meacutetodo de divisatildeo como solucatildeo para asaporias (15a-17a) c) Os exemplos de limite e ilimitado as letras articuladas(fonemas) e as notas musicais (17a-18d)d) A proposta de aplicacatildeo da distincatildeo Uno-multiplo aoprazer e agrave reflexatildeo (18d-20b)e) Protarco sugere uma ldquosegunda rota de navegacatildeordquo pararepreender Soacutecrates (20andashb)

3 Parte III O discurso salvo por uma memoacuteria divinaa) Nem o prazer nem a reflexatildeo satildeo o Bem mas uma terceiracoisa diferente dessas duas e superior a ambas (20b-c)b) A definicatildeo do Bem os seus requisitos ndash suficienteperfeito e digno de escolha (20b)c) A aplicacatildeo desses requisitos agrave vida de prazer e de reflexatildeo(20c-22b)

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O Filebo prazer e intelecto em confronto | Simone de O Goncalves Bondarczuk

d) Trecircs vidas foram propostas mas nenhuma das duasprimeiras eacute suficiente e nem digna de escolha A vida mistaganha o primeiro precircmio (22b-23b)

4 Parte IV A necessidade de outro mecanismo (mekhaneacute) paraargumentar a favor do segundo precircmio (23c-31b)a) A definicatildeo dos quatro gecircneros ou espeacutecies nas quais sedivide tudo que ha no universo o limite o ilimitado a misturae a causa da mistura (23c-27c)b) A vida vitoriosa faz parte do terceiro gecircnero da mistura(27c-28b)c) Teleologia coacutesmica e a inteligecircncia (noucircs) como ldquorainha doceacuteu e da terrardquo (28c-29a)d) A alma do mundo possui sabedoria e inteligecircnciapertencentes ao gecircnero da causa que ordenam e regem todasas coisas (29a-31b)e) A inteligecircncia (noucircs) portanto pertence ao gecircnero da causa

5 Parte V O exame dos prazeres a sensacatildeo a memoacuteria e odesejo (31b-55c) a) A fisiologia do prazer dor e prazer como um parindissoluvel (31b-32b)b) A psicologia do prazer a reminiscecircncia (32b-34c)c) O desejo ou apetite por alguma coisa pertence agrave alma (34c-35d)d) O desejo da alma o tipo de vida correto e o prazer comoantecipacatildeo (35d-36c)e) Prazeres verdadeiros e falsos (36c-38c)f) Percepcatildeo aparente e real pensamento opiniatildeo e discurso(38c-40c)g) Os estados afetivos tecircm conteudo proposicional (40e-43b)h) O prazer natildeo se identifica com a cessacatildeo da dor (43c-46a)i) Os prazeres mesclados com dores (46a-50e)j) Os prazeres puros sem mistura com dor os prazeressensoriais a beleza das figuras os sons os aromas e osprazeres da aprendizagem (50e-53c)k) Conclusatildeo o prazer eacute um vir a ser (53c-55c)

6 Parte VI Exame do conhecimento os conhecimentos asartes e seu grau de exatidatildeo A superioridade da filosofia(55c-64c)a) Os conhecimentos e as artes com distintos graus deexatidatildeo e de pureza (55c-57e)

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b) A filosofia eacute superior a qualquer outro conhecimento ouarte (57e-59d)c) O Bem eacute a vida que consiste em uma mescla de sabedoria eprazeres puros (59e-64c)

7 Parte VII Os ingredientes eideacuteticos do Bem o posto doscandidatos na competecircncia pelo bem e a conclusatildeo (64c-67b)a) Beleza proporcatildeo medida e verdade como ingredienteseideacuteticos imprescindiveis ao Bem (64c -65e)b) A ldquotabela das posicotildees finaisrdquo na competicatildeo pelo Bem (i)a medida o mesuravel e o oportuno (ii) o proporcional e obelo o perfeito e o suficiente (iii) a inteligecircncia e a reflexatildeo(iv) conhecimentos artes e opiniotildees corretas (v) prazerescarentes de dor isto eacute prazeres ldquopurosrdquo (66a-66d)c) Conclusatildeo do dialogo se provou inteiramente pelodiscurso que era injustificada a pretensatildeo tanto do prazer quanto dainteligecircncia de ser o Bem em si mesmo por natildeo preencherem os trecircsrequisitos autonomia suficiecircncia e perfeicatildeo Entretantoexiste um prazer superior aos fisicos fruto da paixatildeo pelosdiscursos oraculares inspirados pela musa filosoacutefica (66d-67b)

A primeira grande subdivisatildeo do dialogo (partes I a IV)

refere-se ao procedimento dialeacutetico e portanto ela se reveste deuma importacircncia unica para a compreensatildeo da dialeacutetica a ponto deGadamer3 afirmar ldquoafinal de contas em nenhum outro dialogoplatocircnico a teoria da dialeacutetica esta tatildeo estreitamente enredada coma pratica da dialeacutetica como alirdquo4

Em consonacircncia com esse argumento Gill5 defende a tesede que a forma do dialogo acentua o necessario vinculo entreengajamento cooperativo de ambas as partes e o exerciciodialeacutetico rumo a uma compreensatildeo mais aprofundada dasrealidades e do Bem Aleacutem disso ele afirma que nessa perspectivao Filebo seria excepcional pela importacircncia que atribui a essascaracteristicas para o aperfeicoamento de toda a discussatildeo Aecircnfase nessas caracteristicas explicaria porque Soacutecrates nessedialogo tem de introduzir teoricamente o meacutetodo dialeacutetico comoum caminho para superar a primeira aporia surgida com a aparenteunidade (14a-e) recolhida e evidenciada no nome lsquoprazerrsquo e a

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multiplicidade de prazeres muitas vezes ateacute mesmo contrariosentre si Superar a afirmacatildeo surpreendente e paradoxal de que ldquoomultiplo eacute unordquo (ἓν τὰ πολλὰ εἶναι) e a afirmacatildeo de que ldquoo uno eacutemultiplordquo (καὶ τὸ ἓν πολλὰ) por meio do discurso apresenta-secomo o grande desafio Entretanto Soacutecrates tentara mostrar aProtarco que esse desafio soacute pode ser superado pelo exercicio dadialeacutetica pois a eristica praticada pelos sofistas natildeo podeadequadamente dar conta dele

Na segunda grande subdivisatildeo tematica (nas partes V e VI)Soacutecrates argumenta que incluira todos os conhecimentos namistura em busca da vida feliz mas apenas alguns prazeres osprazeres puros (da vida teoreacutetica e dos sentidos puros) aqueles quenatildeo foram misturados com dor e que satildeo verdadeiros por natildeoinduzirem ao engano Esses correspondem aos prazeres esteacuteticosde certos perfumes de algumas vozes claras das cores puras e dasformas geomeacutetricas e tambeacutem os prazeres intelectuais daaprendizagem e da investigacatildeo disciplinada e os prazeres eacuteticosque seguem as virtudes

Nos prazeres puros o que se desfruta eacute uma experiecircncia danatureza do belo e daquilo que eacute atrativo em si mesmo6

independente de um estado de tensatildeo que busque somente alivio(51c 6-7) eles ainda estatildeo relacionados agrave claridade agrave precisatildeo e agraveverdade Os prazeres impuros por sua vez possuem um lacoindissoluvel com a dor que Platatildeo procura ressaltar por meio douso de varias particulas e construcotildees com particulas - τε καὶ e δὲκαὶ - aleacutem do uso do adveacuterbio haacutema (simultaneamente) para enfatizaressa conexatildeo estreita

O prazer autecircntico eacute bom em si mesmo por natureza ouenquanto medido ou limitado pela razatildeo calculadora Platatildeo longede rechacar o prazer corporal de forma arbitraria como uminimigo procura integra-lo a vida feliz sempre que estaacompanhado pela inteligecircncia (noucircs) que pode prescrever lhe amedida adequada Comprova-se mais uma vez que a medida e aproporcatildeo salvam o prazer e o integram no conjunto de uma vidaplena A defesa da sabedoria acerca dos calculos dos prazeres

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autecircnticos da vida leva a conclusatildeo de que o sabio (sophoacutes) eacute ohomem mais feliz

O que chama atencatildeo no desenvolvimento do tema eacute ofato de desde o inicio Soacutecrates propor uma terceira via alternativapara definir qual seria a vida mais feliz e que por isso se constituiriano Bem e continuar insistindo nessa ideia ao longo do dialogo Ainsistecircncia em tal possibilidade leva a necessidade doestabelecimento de categorias ontoloacutegicas nas quais se possaincluir essa vida misturada de prazeres e atividades do intelectoPor fim a conclusatildeo sera que o Bem eacute a vida que consiste em umamescla de sabedoria e prazeres puros (Filebo 59e-64c)

Esses indicios na linha de desenvolvimento do tema nosfaz pensar que o propoacutesito ou intencatildeo visado por Platatildeo nodialogo em questatildeo seja definir os horizontes dessa vida mistadentro do escopo do seu projeto ontoloacutegico sobre o Bem

A DATACcedilAtildeO DO DIAacuteLOGO E A GEcircNESE DO TEMA

Em relacatildeo a sua posicatildeo no corpus platonicum pode-sedizer que ha um consenso entre os especialistas sobre o Filebo tersido composto nas ultimas duas deacutecadas da vida de Platatildeo e fazerparte do seguinte conjunto de dialogos Sofista Poliacutetico FileboTimeu Criacutetias e Leis Os dois primeiros nomes da lista satildeoseguramente anteriores aos outros e as Leis o ultimo O Criacutetiastem uma relacatildeo de continuidade com o Timeu e a posicatildeo doFilebo eacute incerta ou teria sido escrito entre o Poliacutetico e o Timeu ouentre Criacutetias e Leis e ainda haveria a possibilidade de algumaconcomitacircncia Quanto agraves possiveis datas os anos de 368 e 367aC seriam um terminus a quo para os seis dialogos no entanto eacutedificil de determinar uma data precisa para qualquer um deles7

Dessa forma o Filebo teria sido escrito entre duas trilogiassupostas de Platatildeo a primeira Sofista Poliacutetico e Filoacutesofo - o ultimonatildeo foi escrito mas anunciado - e a segunda Timeu Criacutetias eHermoacutecrates esse ultimo tambeacutem natildeo escrito Outra possibilidade eacuteque tivesse sido escrito depois da segunda trilogia e antes das LeisParticularmente essa eacute a posicatildeo assumida por Hackforth8 natildeo

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como uma certeza mas pela possibilidade de dar conta de uma dascaracteristicas mais singulares do Filebo a completa ausecircncia dereferecircncias politicas e num momento que se sabe que Platatildeo estariaenvolvido em um projeto politico concreto de estabelecer naSicilia na corte de Dionisio a sua Republica ideal Nas palavrasdesse estudioso

Soacutecrates e seus interlocutores discutem o bem para o homemcomo individuo e natildeo como membro da comunidade isso eacutesurpreendente no autor da Repuacuteblica Poliacutetico e Leis e pode serconsiderado como refletindo uma separacatildeo deliberada daespeculacatildeo politica que melhor se encaixa nos anos de 360-354 do que em qualquer outro periodo das ultimas duasdeacutecadas da vida de Platatildeo (Traducatildeo nossa)9

Essa pausa na especulacatildeo politica ao qual se refere natildeodeve representar uma interrupcatildeo mesmo momentacircnea noprojeto filosoacutefico de Platatildeo como Hackforth da a entender emparticular definindo o dialogo em questatildeo com a expressatildeo umpiegravece drsquooccasion Em seu entender a obra marcaria uma espeacutecie deinterrupcatildeo tematica na sequecircncia dos dialogos platocircnicospressupondo que a sequencialidade da escritura seja umaprerrogativa do filosoacutefico Uma abordagem historicista neste casonatildeo ajuda a entender a gecircnese da obra e ateacute mesmo parecerestringir o projeto do filoacutesofo no qual a dimensatildeo politica natildeo semostra dissociada de sua dimensatildeo ontoloacutegica

Em minha opiniatildeo deve-se ter em mente o tempo todoque o escopo de toda a obra de Platatildeo aponta invariavelmentepara o Bem embora os propoacutesitos ou intencotildees dos dialogosindividualmente parecam estar sempre em tensatildeo dialeacutetica entre sigirando em torno de assuntos variados Portanto a questatildeo doprazer tem de ter alguma relacatildeo com o Bem e a vida feliz e ainvestigacatildeo para determinar o seu lugar na vida do filoacutesofo natildeoesta em desarmonia com o projeto de Platatildeo em um momentoespecifico ou eacute um tema secundario mas encontra ecos anterioresnos dialogos Goacutergias na Repuacuteblica e tambeacutem no Banquete

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Segundo Boeri10 Platatildeo parece ter se sentido particularmente comprometidode dar um lugar ao prazer na vida boa e principalmente emdemonstrar a sua importacircncia para a vida do filoacutesofo como oprazer contribuiria para a ascensatildeo ao Bem Se levassemos agrave riscauma leitura asceacutetica do platonismo o prazer teria pouca ounenhuma importacircncia em uma vida teoreacutetica no entanto como sepode contemplar a beleza do Bem sem a contemplacatildeo da belezasensivel dos corpos que visa o prazer como se diz no BanquetePortanto uma leitura rigorosamente asceacutetica natildeo parece condizercom varios passos de outros dialogos como se procurara mostrarA via dialeacutetica natildeo eacute uma via racional e arida e Platatildeo estaparticularmente comprometido em demostrar issoSoacute para citar alguns exemplos do corpus platocircnico no Goacutergias opersonagem Soacutecrates conduz a discussatildeo sobre o prazer daseguinte forma logo depois de Calicles ter afirmado que o homemfeliz seria o que se entregasse a todos os prazeresindiscriminadamente

SoacutecratesFui eu que conduzi a discussatildeo para estes temas meu caro oufoi aquele que com todo o embaraco afirmou que afelicidade consiste no prazer de qualquer ordem semdistinguir entre bons e maus prazeres Pergunto-te mais umavez se em tua opiniatildeo o prazer e o bem satildeo uma e amesma coisa ou se haacute prazeres que natildeo satildeo bons

CaliclesSe te dissesse que eram coisas diferentes entraria emcontradicatildeo com as afirmacotildees que ja fiz Mantenhoportanto que satildeo a mesma coisa

SoacutecratesDas cabo de tudo o que assentamos Calicles e natildeo poderasrealizar comigo uma investigacatildeo correta da verdade se tepotildees a falar contra o teu proacuteprio pensamento

CaliclesExatamente como tu fazes Soacutecrates

Soacutecrates

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Se isso eacute verdade faco tatildeo mal como tu Mas reflete meucaro que talvez o Bem natildeo se identifique com toda aespeacutecie de prazer A ser assim verificar-se-iam asconsequecircncias vergonhosas a que ha pouco aludi e muitomais (494 e 10 ndash 495 a e b 2 Grifos nossos)11

Soacutecrates ao questionar nessa passagem se o prazer e o bemsatildeo uma e a mesma coisa ou se haacute prazeres que natildeo satildeo bons propotildee naverdade uma discussatildeo ou revisatildeo sobre a ontologia do Bem ouuma agatologia que no Filebo assumira inicialmente a forma de umaontologia de uma vida boa12 na qual o prazer deve ser parteconstituinte

Da mesma forma tambeacutem com essa afirmacatildeo de quetalvez o Bem natildeo se identifique com todo tipo de prazer ele aponta para anecessidade de examinar a questatildeo mais a fundo propondo nasentrelinhas a necessidade de submeter o prazer a uma divisatildeo e deuma classificacatildeo dos prazeres para melhor compreender em quemedida ele eacute o Bem No entanto Soacutecrates natildeo daraprosseguimento a essa investigacatildeo ao longo desse mesmo dialogomas antecipa um esboco de uma tese sobre as espeacutecies de prazeresque sera retomada e desenvolvida no Filebo Pode-se constatar tambeacutem na Repuacuteblica 505b a importacircncia dotema ao examinarmos o seguinte excerto

Se natildeo a conhecemos e agrave parte essa ideia conhecermos tudoque ha sabe que de nada nos serve da mesma maneira quenada possuimos se natildeo tivermos o bem Ou julgas que vale demuito possuir qualquer coisa que seja se ela natildeo for boa Ouconhecer tudo o mais exceto o bem e natildeo conhecernada de belo e bom

ndash Por Zeus que natildeondash Mas na verdade sabes tambeacutem que para a

maioria (hoi polloiacute) eacute o prazer que se identifica com o bem aopasso que para os mais requintados (kompsoteacuteroi) eacute o saber

ndash Pois natildeondash E os que assim pensam meu amigo natildeo satildeo

capazes de explicar o saber mas acabam por ser forcados adizer que eacute o saber do bem

ndash Coisa que eacute bem ridicula[]

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ndash E agora os que definem o bem com prazer estatildeomenos eivados de erros do que os outros Ou natildeo satildeotambeacutem eles forcados a concordar que ha prazeres maus

ndash Seguramente que sim

Nesse passo segundo Soacutecrates existe portanto umaopiniatildeo ja estabelecida pelo senso comum (hoi polloiacute) de que oprazer se identifica com o Bem enquanto para os maisrequintados ele se identifica com o saber Essa primeira oposicatildeosuperficial levara a outra mais fundamental que integra um dosnucleos da metafisica platocircnica - a questatildeo do Uno e do Multiplo ndashporque a essecircncia do Bem natildeo pode ser dupla mas uma ou unapor isso tera que se decidir entre as duas alternativas ou umaterceira que se aproxime mais do Bem Em outras palavras o queele persegue eacute como conciliar e fundamentar filosoficamente arelacatildeo do Uno e do Multiplo com o Bem toacutepico esse quetambeacutem natildeo desenvolve na Repuacuteblica

O Banquete por sua vez deveria ter uma relacatildeo importantecom o tema do prazer uma vez que trata do mito de Eros em suarelacatildeo com Afrodite que explicitamente eacute chamada de prazer noFilebo Essa relacatildeo talvez pouco evidente do ponto de vistateoreacutetico natildeo me parece de menos importacircncia hermenecircutica Aquestatildeo eacute definir ateacute que ponto pode-se estender a analogia domito de Eros e Afrodite ao tema do prazer e do conhecimentocomo eacute apresentado no Filebo que embora tenha sido consideradocomo um dialogo eacutetico por muitos claramente se mostrou comoestando inserido no plano ontoloacutegico de Platatildeo em relacatildeo aoBem13

No entanto o Banquete natildeo eacute considerado um dialogo detema ontoloacutegico mas natildeo deveria passar despercebido que Platatildeoali estabelece uma categoria nova de existir no mundo ndash expressano uso da preposicatildeo metaxyacute ndash uma posicatildeo intermediaria entredeuses e homens a posicatildeo do daiacutemon a mesma de Eros a mesmado filoacutesofo e de Soacutecrates essa nova categoria do ponto de vistaepistemoloacutegico ainda pode ser entendida como qualquer coisaentre a sabedoria e a ignoracircncia definida por Diotima como oopinar corretamente (tograve orthagrave doxaacutexein)

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Tal posicatildeo eacute definivel em termos de participacatildeo O mito diz queEros tanto eacute rico em expedientes como eacute indigente a ponto deestar sempre na falta de alguma coisa dor e prazer se enlacamnecessariamente no movimento de Eros mas natildeo de modonegativo pois a dor da falta eacute que impulsiona ao desejo depreenchimento Por outro lado no Filebo Soacutecrates retorna a esseponto ao falar dos prazeres puros incluindo nessa categoria osprazeres do aprendizado e procura purifica-los desse aspectodoloroso O filoacutesofo leva Protarco a concluir que se algueacutem forprivado desses ensinamentos natildeo sentira de modo natural dor porcausa dessa perda mas apenas ao raciocinar sobre essaexperiecircncia Ou seja ele procura separar a experiecircncia pura doaprendizado (χωρὶς τοῦ λογισμοῦ) como uma experiecircnciaprazerosa em si14

Ademais Diotima levanta uma importante questatildeo emrelacatildeo ao opinar corretamente como pode um aacutelogon pracircgma serciecircncia por um lado mas como pode ser ignoracircncia (natildeoconhecimento) se ao mesmo tempo recolhe o ser (toucirc oacutentos) Esseestatuto ontoloacutegico estabelecido por Platatildeo deixa em aberto agravequestatildeo do prazer pois esse mesmo sendo movimento e geracatildeonatildeo suficiente em si mesmo natildeo poderia ser um bem mas comovir a ser vem a ser a partir de alguma coisa e natildeo seria essa coisa oBem Qual a relacatildeo entre prazer e Bem Mais uma vez constata-se que essas questotildees de alguma forma seratildeo retomadas no Filebo

A meu ver se existe uma divindade patrona da filosofiaessa divindade deve ser Eros porque eacute esse sobretudo em suaacircnsia de preencher-se e na sua propensatildeo ao belo que se move efaz mover na direcatildeo do objeto de seu amor e qual coisa segundoPlatatildeo seria mais desejavel e amoravel do que o bem A proacuteprianatureza intermediaria de Eros sempre acompanhado de prazer edor entre o sensivel e o inteligivel constroacutei uma relacatildeo entre oamor ao belo sensivel e ao belo inteligivel que por forca danarrativa mitica satildeo inseparaveis Mas essas relacotildees assimexpostas em uma linguagem imageacutetica do mito ainda natildeo datildeoconta de definir os horizontes da exata relacatildeo entre prazer e Bem

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O personagem Soacutecrates entatildeo questionara - a partir da tesede Filebo de que o prazer constitui a vida boa ndash se o prazer tem ounatildeo espeacutecies e quantas e quais satildeo e depois fara o mesmo emrelacatildeo agraves atividades do intelecto para concluir por uma terceiravia ja elucidada desde o inicio do discurso de que a vida mista seriaa vida boafeliz e essa sim seria o Bem

Sendo assim Soacutecrates procurara dist inguir naargumentacatildeo segundo o meacutetodo dialeacutetico da divisatildeo quais satildeo osprazeres ruins e quais bons mas ja admitindo previamente ser amaioria deles ruim como se vecirc no excerto abaixo

Porque estas chamando essas coisas ainda quedessemelhantes diremos noacutes com outro nome pois dizesserem boas todas as coisas prazerosas Ora certamentenenhum argumento pode contestar tal afirmacatildeo dizendo queas coisas prazerosas natildeo satildeo prazerosas mas dizendo que amaioria delas eacute ruim e umas boas15 como noacutes afirmamos16

A naturalidade desse tema que subsumi o senso comum deque ser feliz de alguma forma eacute se entregar aos prazeres torna-osempre atual e relevante e confronta-nos com os seguintesquestionamentos todo prazer implica necessariamente em umbem Como o prazer participa do Bem em si mesmo Ou comoalguns defendem uma vida baseada soacute na reflexatildeo natildeo seria maisproveitosa aos homens Tais questotildees satildeo o motor propulsor quefazem mover o dialogo

Na Antiguidade o tema do Filebo a saber o prazer e suasinjuncotildees eacuteticas e metafisicas foi objeto de multiplos comentariosde Aristoacuteteles ateacute os ultimos neoplatocircnicos17 As escolas deinterpretacatildeo sempre alternaram entre dois campos deinterpretacatildeo Eacutetico ou Metafisico (escola de Jacircmbico) Ocomentario mais completo que chegou ateacute noacutes da Antiguidade foio de Damascio18 ndash Comentaacuterio ao Filebo de Platatildeo ndash o qual ja ilustracerta polecircmica antiga acerca do tema

Alguns dizem que o escopo do Filebo eacute o prazer como osubtitulo demonstra e tambeacutem o proacuteprio Soacutecratesprimeiramente ao se propor discutir sobre o prazer (11b4-

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c3) e depois a examinar as coisas a esse respeito efinalmente por concluir o seguinte que o prazer natildeo eacute afinalidade (teacutelos) da vida[]Ainda na opiniatildeo de Pisiteo o aluno de Theodoro de Asino odialogo eacute sobre a Inteligecircncia como dizem tambeacutem que oParmecircnides eacute sobre o Bem Isso porque na discussatildeo da vidamista (na qual inteligecircncia e prazer estatildeo misturados) aInteligecircncia ela mesma eacute o primeiro (elemento) na mistura(1959 p 2) (Traducatildeo nossa)

Nesse passo Damascio faz uma espeacutecie de revisatildeohistoacuterica das interpretacotildees correntes dos neoplatocircnicos sobre atematica do Filebo partindo do ponto de vista tradicional de Procloe destacando a discordacircncia entre os seus comentadores Valeressaltar o fato de nenhum dos comentadores da Antiguidadedizerem que o dialogo eacute sobre a vida mista A interpretacatildeo queDamascio dara ao tema do prazer sera considerada uma leituramais aristoteacutelica diversa de seus predecessores preocupadossomente em interpretar a doutrina de Platatildeo e que soacute recorrem aAristoacuteteles para acrescentar um elemento a mais o prazer natildeo eacute soacuteo preenchimento de uma falta mas o resultado suplementar deuma atividade

Ao comentar sobre as diversas interpretacotildees a respeito dotema numa perspectiva historiografica Dorothea Frede19 diz que amaior parte dos comentadores dirigiu a sua atencatildeo para um unicoaspecto seja ao discutir a passagem sobre metodologia e ontologiaseja se limitando agrave discussatildeo do prazer sem dar valor ao conjuntodo dialogo Sendo assim pode-se constatar que natildeo haviaconsenso interpretativo em relacatildeo ao tema na Antiguidade e nemtampouco na contemporaneidade

Retornando ao dialogo Soacutecrates do inicio apresenta asduas teses ou concepcotildees da existecircncia humana ja discutidasanteriormente que o prazer e seus congecircneres implicam em umavida boafeliz e a outra que diz que a vida de reflexatildeo e seuscongecircneres satildeo responsaveis por isso Tais argumentacotildees iratildeo sedesenvolver no sentido de determinar qual dos dois tipos deexistecircncia estaria mais aparentado ao Bem sendo que um terceiro

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tipo de vida possivelmente superior eacute assinalado desde o principioPode-se dizer portanto que a questatildeo teoacuterica central gira emtorno da articulacatildeo entre uma questatildeo eacutetica ndash no que consiste avida boafeliz ndash e de uma ontoloacutegica ndash como a vida boafeliz estarelacionada com o Bem

O BEM COMO PONTO DE PARTIDA DA DISCUSSAtildeO

Logo na primeira secatildeo do dialogo em uma tentativa deestabelecer as condicotildees de um dialogo positivo que assegure aconcordacircncia dos interlocutores em engajar-se numa discussatildeohonesta do ponto de vista intelectual Soacutecrates inicia da seguinteforma

SoacutecratesOlha soacute Protarco que discurso tu estas (disposto) a aceitaragora o de Filebo ou frente ao nosso discurso refuta-lo casote natildeo seja exposto segundo o que eacute inteligivel Queres querecapitulemos cada um deles

ProtarcoCertamente que sim

SoacutecratesPois bem sobre isso Filebo afirma ser bom (agathoacuten) paratodos os viventes o regozijar-se o prazer e o gozo aleacutem dascoisas que estatildeo em consonacircncia com esse gecircnero poreacutem denossa parte a refutacatildeo eacute que natildeo satildeo essas coisas mas sim opensar e a percepcatildeo inteligivel bem como o recordar e aindaas coisas desse mesmo gecircnero como a opiniatildeo exata e osraciocinios verdadeiros as quais satildeo superiores e maisdesejaveis do que o prazer para todos quantos satildeo capazesdelas participar e tambeacutem satildeo elas as mais uteis para todosaqueles que satildeo e viratildeo a ser capazes de usufrui-las Natildeo eacuteassim natildeo como cada um de noacutes afirma Filebo (Traducatildeonossa)

O uso do termo agathoacuten em todo o dialogo eacute ambiguo poistanto pode ser entendido como o adjetivo bom como eacute entendidonesse excerto acima ou compreendido como se vera adiante pela

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ideia do Bem A ocorrecircncia dessa ideia no corpus platocircnicocostuma aparecer substantivada pelo artigo e ou em formacontraida tagathoacuten quando se refere ao Bem20 Portanto a palavracomo usada nesse excerto acima gera uma ambiguidade pois podesignificar tanto que o prazer eacute bom ou seja eacute uma espeacutecie de bem(que participa do Bem) ou eacute o Bem em si mesmo se assumirmosque mesmo sem o artigo a palavra possa significar o Bem

Ao observar-se todos os usos dessa palavra em seuscontextos especificos no dialogo constatamos que tal ambiguidadeeacute deliberada quase metade dos exemplos aparecem com artigo e aoutra metade sem o artigo Assim sendo Platatildeo sustenta essaambiguidade ateacute o fim de alguma maneira para paulatinamenteultrapassa-la valendo-se do meacutetodo dialeacutetico da divisatildeo natentativa de definir o Bem de maneira mais precisa e identifica-locom a vida boafeliz

Em contraposicatildeo a tese de Filebo o personagem Socratessustenta neste mesmo passo que as atividades do intelecto satildeoqualitativamente superiores Isto fica evidente ao usar adjetivos nograu comparativo de superioridade por meio dos quais ele procuraidentificar a vida de reflexatildeo como algo em si mesmo superiormais desejavel e mais util e por isso mais aparentada ao Bem Orefletir e seus congecircneres satildeo comparativamente melhores do queo regozijar-se e seus congecircneres demonstrando claramente que eleesta considerando esses ultimos como sendo um bem relativo Naverdade Soacutecrates introduz a pressuposicatildeo de que se a vida dereflexatildeo eacute melhor talvez seja porque haja prazeres bons e outrospiores

Nesse ponto do dialogo nem o personagem Soacutecrates nemFileboProtarco estatildeo preocupados em definir a questatildeo mas emestabelecer as bases de um campo comum de discussatildeo paraconduzi-la no sentido de responder ao longo do dialogo quais satildeoas exatas relacotildees entre o prazer a vida fundada na reflexatildeo e oBem Concordo com a leitura precisa de Delcomminette sobre oescopo do dialogo ldquoTodo o dialogo pode ser lido como umatentativa de descobrir a relacatildeo correta entre o prazer e o bem e defundamenta-la dialeticamenterdquo21

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O prazer tem um mesmo nome mas eacute multiplo o conhecimentotem um mesmo nome e igualmente eacute multiplo O nome soacute podeser visto como um se for entendido como conceito mas ateacuteaquele momento o que eacute um conceito para noacutes ainda natildeo haviasido definido pelos gregos como categoria de pensamento22 Sendoassim se estabelece a necessidade de argumentar sobre assemelhancas e as dessemelhancas entre os prazeres a partir dasquais se possa considera-los como o mesmo e da mesma formaproceder com as coisas referentes agrave reflexatildeo

Na intencatildeo de buscar um ponto de partida comum para odesenvolvimento desse caminho de pensamento o personagemSoacutecrates recrimina a interpretacatildeo ingecircnua de Protarco sobre oproblema do Uno e do Multiplo

SoacutecratesFalo do que aconteceu um pouco antes do que pela proacuteprianatureza surgiu como algo extraordinario pois de fato eacutesurpreendente a afirmacatildeo de que ldquoo multiplo eacute unordquo quantoa afirmacatildeo de que ldquoo uno eacute multiplordquo e qualquer umadessas duas seria facilmente contestada se proposta dessemodo

ProtarcoEntatildeo sera que estas querendo dizer quando algueacutem sereferir a mim Protarco nascido como unico por natureza sereu ao inveacutes disso muitos e contrarios tanto a mim mesmoquanto uns aos outros por admitir o grande e o pequeno opesado e o leve o mesmo e tambeacutem incontaveis outros

SoacutecratesTu Protarco estas afirmando o que se estabeleceupublicamente das admiraveis discussotildees a respeito do um e domultiplo e que foi admitido por assim dizer ja por todosNatildeo se deve no entanto acolher de imediato dentre taiscoisas o pueril o facil ou ainda o que possa vir a se tornarum grande obstaculo para o discurso aprovando-os poisnem mesmo quando depois de ter dividido os membros esimultaneamente as partes do discurso e de ter concordadoque todas essas coisas eram aquele um ainda assim algueacutempoderia refutar de modo zombeteiro que foi obrigado a dizer

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um prodigio o um como multiplo eacute tambeacutem ilimitado e omultiplo como um eacute unico (traducatildeo proacutepria)

A aporia da afirmacatildeo de Protarco fica ainda mais claraadiante no dialogo quando Soacutecrates relaciona o Uno e o Multiplocom duas categorias de pensamento o limite e o ilimitado comoalgo poderia ter limite e ser ilimitado ao mesmo tempo Aleacutem domais o que Protarco natildeo se da conta eacute de que Soacutecrates querinvestigar o Uno e o Multiplo nas Formas as quais natildeo se devemaplicar predicados de qualidades sensiveis O personagem Soacutecratesresponde assim a pergunta de Protarco sobre qual seria a outraversatildeo natildeo banalizada desse argumento ldquoeacute quando filho algueacutemcoloca o um mas natildeo aquele do qual agora ha pouco falamos dascoisas que vecircm a ser e perecemrdquo (15 a tocircn gignomeacutenon ndash das coisasadvenientes)

Fica evidente entatildeo o erro de Protarco ao confundir aunidade empirica com a unidade formal a Forma ou a Ideia Aabordagem socratica seria pode-se dizer ontoloacutegica enquanto ade Protarco empirica por isso Soacutecrates precisa primeiro conduzirProtarco a esse denominador comum da discussatildeo (movimentoclaramente expresso no verbo synkhoreacuteo ndash reunir no mesmo siacutetioderivado composto de khoacutera territoacuterio regiatildeo lugar) para entatildeoproceder ao meacutetodo dialeacutetico da divisatildeo

Platatildeo ja havia estabelecido desde os dialogos damaturidade que a unidade genuina ou originaria era uma Forma ouIdeia (eicircdos ideacutea) a unica originariamente una e que dentre estas aforma suprema ou final na hierarquia seria o Bem Amultiplicidade por sua vez estaria associada aos particularessensiveis - exemplificacotildees desses originarios que satildeo as formas - eque estatildeo para o adveniente assim como as ideias estatildeo para o SerComo conciliar portanto os conceitos de um Uno-supremo comum Uno-Multiplo relacional uma vez que todas as realidadesparecem ser unas e multiplas simultaneamente Para Platatildeo soacute aaplicacatildeo do meacutetodo dialeacutetico esse caminho lsquopresente dos deusesrsquopode desfazer essa primeira aporia que o multiplo seja uno e ouno seja multiplo

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Ainda ao concluir a secatildeo 15 a ele afirma ldquoeacute sobre essashecircnades23 e sobre coisas desse tipo que muito empenho gera arefutacatildeo ou controveacutersia pelo meacutetodo da divisatildeordquo (traducatildeoproacutepria)24 Essa afirmacatildeo soa como uma espeacutecie de observacatildeoautocritica muito zelo com o meacutetodo da divisatildeo em se tratando dehecircnades eacute perigoso por causa da sua proacutepria natureza una Natildeo eacuteuma critica necessariamente ao meacutetodo da divisatildeo fundamental nadialeacutetica platocircnica mas uma constatacatildeo da dificuldade deapresentar essas hecircnades discursivamente por causa da sua proacuteprianatureza paradoxal

Pode-se dizer sobretudo que o foco teoreacutetico de Soacutecrateseacute entender o fundamento dessas hecircnades ndash as formas unas em simesmas ndash que ele exemplifica como o homem como um o boicomo um o belo como um o bem como u m (esses dois ultimosexemplos canocircnicos da teoria das Formas) Por causa dessaafirmacatildeo de Soacutecrates muitos inteacuterpretes viram na teoria platocircnicada realidade natildeo uma ontologia mas uma henologia na qual o uno eacutea origem do real e o conceito de ser deriva dele25

Concluindo procurei mostrar nesse artigo em linhas geraise amplas a habilidade surpreendente de Platatildeo por meio dapersonagem Soacutecrates em desenvolver uma argumentacatildeo sobretemas tatildeo complexos mostrando e aplicando cuidadosamente omeacutetodo dialeacutetico para o filoacutesofo o modo supremo de apreensatildeodo real com vistas a resolver um problema que de longe eacute simpleso Bem eacute em Platatildeo o fundamento ontoloacutegico de uma vida felizComo se pode definir o Bem em termos de uma vida mista deprazeres e conhecimentos

Retomando a nocatildeo de escopo dos antigos exegetasneoplatocircnicos26 poder-se-ia dizer que o tema principal do Filebo eacuteo Bem mas o propoacutesito do dialogo eacute definir como a vida mistapode ser esse Bem

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O Filebo prazer e intelecto em confronto | Simone de O Goncalves Bondarczuk

ABSTRACT

Philebus Face-off of Pleasure and Intellect

The dialogue Philebus for a long time was dropped by thetradition of Platonic studies and is considered a complex dialoguedue to an alleged lack of thematic unity In the last thirty years theinterest in it revived with strength and its relevance to a broaderunderstanding of the theoretical thinking of Plato was finallyrecognized This article aims to introduce the reader on the coreissues of the dialogue namely What constitutes a good life wouldit be a life dedicated to pleasure or dedicated to understanding Orit would be a mixture between these two lives And which of thethree conceptions of life are closer to the Good

KEYWORDS

Philebus Socratic dialogue Pleasure Intellect the Good

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O Filebo prazer e intelecto em confronto | Simone de O Goncalves Bondarczuk

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PLATOacuteN Filebo Introduccioacuten traduccioacuten y notas de Marcelo Boeri BuenosAires Losada 2010

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1 Deixo de lado a questatildeo de quem teriam sido os primeiros receptores dosdialogos de Platatildeo que natildeo eacute relevante para os objetivos deste artigo Asuposicatildeo mais imediata nos indica seus discipulos membros da Academia Osdialogos teriam sido como hypomnemata que auxiliavam na discussatildeo mas muitosos consideram principalmente dirigidos aos adversarios intelectuais do mestreos sofistas e os reacutetores e ainda pode-se supor que tenham sido escritos comolegado agrave posteridade Dado a situacatildeo de analfabetismo da eacutepoca dificilmenteeles visavam um publico leigo e natildeo aristocratico 2 Soacute para citar algumas propostas diferentes Diegraves (1949) Boeri (2010)Friedlaumlnder (2014)3 GADAMER 2009 p 1034 Constata-se isso na insistecircncia de Soacutecrates desde o inicio de buscar entrar emacordo com o seu interlocutor sobre o tema que discutiratildeo e de como devemtrata-lo A concepcatildeo da dialeacutetica como uma busca compartilhada eacutedesenvolvida com maestria no Filebo5 GILL 2010 p 47-556 Cf Banquete 204 b-c 206 c-e7 HACKFORTH 1972 p 18 Idem ibidem p 49 ldquoSocrates and his interlocutours discuss the good for man as individual not amember of a community this is surprising in the author of Republic Statesmanand Laws and may be taken to reflect a deliberate detachment from politicalspeculation such as better fits the years 360-354 than any other period in Platorsquoslast two decadesrdquo (1972 p 4)10 BOERI 2010 p 911 PLATAtildeO 2011 p 140 12 BRAVO 2009 p 16813 Sem sombra de duvida o comentarista que definitivamente conseguiudemonstrar isso foi Sylvain Delcomminette em sua obra magistral Le Philegravebe dePlaton Introduction agrave lrsquoagathologie platonicienne14 Filebo 52 a-b15 κακὰ δ ὄντα αὐτῶν τὰ πολλὰ καὶ ἀγαθὰ δέ ὡς ἡμεῖς φαμέν (Filebo 14b)16 Filebo 13b17 Plotino faz varias referecircncias ao dialogo no Livro III 588 IV 3634 VI7252tambeacutem Porfirio seu mestre comenta algumas linhas do dialogo em seusComentaacuterios ao Timeu de Platatildeo fr 5170-3 e ainda Alexandro de Afrodisia emComentaacuterio ao livro VIII dos Toacutepicos de Aristoacuteteles onde cita e interpreta de modoaristoteacutelico a passagem de Filebo 12d Ademais sabe-se da existecircncia de umcomentario perdido de Proclo ao Filebo e um comentario de Jacircmbico cuja unicafonte eacute o proacuteprio comentario de Damascio sobre esse dialogo18 Nasceu em Damasco na provincia romana da Siria lugar de onde provem oseu nome (o nome original eacute desconhecido) Foi filoacutesofo da escola neoplatocircnicaateniense (458 dC ndash apoacutes 538) conhecido como o ultimo dos neoplatocircnicospor ter sido o ultimo escolarca da Escola de Atenas antes do seu fechamentopelo imperador Justiniano em 529 dC Duas obras satildeo atribuidas a ele acerca doFilebo Tratado dos Primeiros Princiacutepios e Comentaacuterios ao Filebo de Platatildeo (textosestabelecidos por LG Westernik e natildeo traduzidos para o portuguecircs)

19 FREDE 2013 p 50220 Natildeo eacute inquestionavel que para Platatildeo o substantivo e o adjetivo fossem entendidos como um ente e seu predicado pois ambos satildeo denominados de oacutenoma e portanto vistos como entes 21 ldquoTout le dialogue peut ecirctre vu comme une tentative de deacutecouvrir larelation correcte entre le plaisir et le bien et de fonder dialectiquementerdquo(DELCOMMINETTE 2006 p 31)

22 Os especialistas natildeo estatildeo de acordo ainda se teria sido Platatildeo ou Soacutecrates ocriador do conceito23 Natildeo eacute facil determinar o sentido exato desta palavra usada uma unica vez porPlatatildeo nesse contexto portanto um haacutepax legoacutemena sem ocorrecircncia em outrosdialogos Talvez Platatildeo se refira a formas unas de aspecto uno se supormosuma etimologia a partir da juncatildeo de heacutena (neutro plural de heacuten) unidades e a raizeid- de eicircdos forma aparecircncia aspecto ou seja o que tem um aspecto uacutenicouno

24 περὶ τούτων τῶν ἑνάδων καὶ τῶν τοιούτων ἡ πολλὴ σπουδὴ μετὰ διαιρέσεωςἀμφισβήτησις γίγνεται (Filebo 15a 6-7)25 Sobre esse assunto cf BRAVO 2009 p 17026 ALEKNIENEgrave 2017 p 1

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Aedoacuten performance poeacutetica de lasvictimasGraciela C Zecchin de Fasano

RESUMEN

La figura del ruisentildeor atestiguada por primera vez en el canto 19de Odisea (v 518-523) aparece tambieacuten en la fabula contenida enTrabajos y diacuteas (v 202-212) de Hesiodo y en la comedia Aves deAristoacutefanes El presente articulo analiza con metodologiacomparativa la peculiar representacioacuten de la victima de algun tipode violencia en los textos citados y queacute interpretacioacuten se puedederivar en cada contexto discursivo especifico

PALABRAS CLAVE

Aedoacuten Homero Hesiodo Aristoacutefanes

SUBMISSAtildeO 29 dez 2017 | PUBLICACcedilAtildeO 31 dez 2017

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unque los poemas homeacutericos expresan regularmentela ideologia masculina de la gloria las aristassocialmente excluidas pueden ser presentadasconforme a las posibilidades expresivas del arteinsertas en medio de los toacutepicos tradicionalmenteconstitutivos Tal como sucede con la representacioacutende las victimas femeninas para las cuales la conversioacutenen aves permite con la imagineria del canto dar vozespecial a los silenciados y particularmente a lasmujeres En el canto 19 de Odisea (v 518-523)Homero utiliza una versioacuten inusual del mito de laconversioacuten de una mujer en ruisentildeor En el texto laimagen del ave inaugura una presencia de la liricaasociada al lamento que ha tenido interesantes

consecuencias1 En primer lugar dentro del corpus de la literaturagriega misma el ruisentildeor homeacuterico resultoacute desplazado por lapresioacuten didactica de la fabula hesioacutedica y en segundo lugar luegofue significativamente reemplazado por la versioacuten mas politica ydifundida acerca del mito de Procne y Filomela en textos de lacomedia y la tragedia Analizareacute en queacute modo el ruisentildeor homeacutericoproblematiza nuestra comprensioacuten de la mimesis en eacutepica y enlirica y queacute consecuencias conlleva su estudio comparativo contextos posteriores como la conocida ldquofabula del ruisentildeor y elhalcoacutenrdquo en Trabajos y diacuteas de Hesiodo o en la sofisticada comediade Aristoacutefanes llamada Aves

UN RUISENtildeOR EN ODISEA UNA VERSIOacuteN DE LA LIacuteRICA FEMENINA

En el pasaje de Odisea mencionado (19 v 518-523)Peneacutelope se halla en una situacioacuten animica calamitosa devastadapor el llanto el insomnio o las pesadillas que se comunica comoun canto de lamento Presentada de este modo la pena dePeneacutelope desarrolla en medio de un discurso eacutepico una mimesis ouna ldquoperformancerdquo de la lirica La forma lirica especifica del cantode lamento no resulta vertida directamente sino a traveacutes de ladescripcioacuten de una variacioacuten foacutenica en que Peneacutelope se compara a

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A

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si misma con un ruisentildeor el ave tipica del lamento en las antiguastradiciones griegas Peneacutelope se imagina como una mujer-ave queen una vida anterior ha sufrido la extraordinaria pena de asesinar asu hijo

El mito de Aedoacuten palabra griega que significa ruisentildeornos ha llegado en dos versiones2 Por un lado la versioacuten canoacutenicamas expandida en la tradicioacuten posterior es la que trata acerca deProcne y Filomela o Aedoacuten y Calidoacuten proporcionada por latragedia Ovidio y la Biblioteca de Apolodoro Tereo el esposo deProcne viola a Filomela quien trata de revelar la verdad a suhermana tejiendo su propia historia en un tapiz Procne enojadaasesina a Itys el hijo que tiene con Tereo y le sirve sus carnes alpadre como comida Con esta accioacuten Tereo queda sin herederos yabsolutamente contaminado de culpa La progenie es cortadaabruptamente pero Procne que amaba a su hijo lo lamentaracantando su pena como un ave indefinidamente La primerainferencia obvia en este relato es que Procne a diferencia dePeneacutelope en el pasaje de Odisea esta usando su poder para dantildeardirectamente a su marido en una venganza concreta

Por otro lado una segunda versioacuten del mito la quecontiene Odisea se halla tambieacuten en un escolio de Eustacio aFereacutecides Segun esa versioacuten Aedoacuten esta casada con Zeto elfortificador de Tebas y tienen un unico hijo Itylos mientras elgemelo de Zeto Anfioacuten esta casado con Niobe y tienen varioshijos3 Aedoacuten celosa de esta multiple progenie intenta matar al hijomayor de Niobe y en la oscuridad por error asesina a su propiohijo En el escolio de Eustacio se dice que Aedoacuten ordenoacute a su hijodormir en otra habitacioacuten pero el joven no la obedecioacute o bienolvidoacute la orden materna

iquestPor queacute Odisea se sirve de la versioacuten tebana del mito delruisentildeor cuando se ha demostrado el vinculo estricto que elpoema guarda con los origenes de Atenas4 iquestPor queacute esta versioacutentebana no ha gozado de la tradicioacuten literaria que la versioacutenateniense de Procne y Filomela ha recibido

Los v 518-523 del canto 19 de Odisea constituyen laprimera parte de un simil con la estructura habitual en Homero es

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decir una comparacioacuten en dos partes introducida por unsubordinante rutinario ldquocomo cuandordquo (ὡς δ ὅτε) pero por suextensioacuten podria ser considerado un ejemplo mitoloacutegico Los dosmiembros del simil sirven para expresar cabalmente la divisioacutenemocional de Peneacutelope que enuncia el simil su thymoacutes partidoproductor del canto avizora una hipoacutetesis sobre el contenido de lalirica La escisioacuten del animo de Aedoacuten entre su hijo muerto y sumarido resulta equivalente de la divisioacuten del corazoacuten de Peneacutelopeentre la opcioacuten que su hijo Teleacutemaco le ofrece - abandonar la casay regresar a la casa paterna- o elegir esposo entre los aqueos

El texto ofrece un leacutexico significativo no soacutelo porqueconstruye un paisaje para el canto del ave sino tambieacuten porqueratifica la femineidad del ave a traveacutes del epiteto χλωρηῒς 5

ὡς δ᾿ ὅτε Πανδαρέου κούρη χλωρηῒς ἀηδώνκαλὸν ἀείδῃσιν ἔαρος νέον ἱσταμένοιοδενδρέων ἐν πετάλοισι καθεζομένη πυκινοῖσινἥ τε θαμὰ τρωπῶσα χέει πολυηχέα φωνήνπαῖδ᾿ ὀλοφυρομένη Ἴτυλον φίλον ὅν ποτε χαλκῷ

κτεῖνε δι᾿ ἀφραδίας κοῦρον Ζήθοιο ἄνακτος6

Como cuando la hija de Pandaacutereo Aedoacuten la defrondosa garganta canta hermosamente al comenzar laprimavera posada en el tupido follaje de los aacuterboles ydeja fluir su voz de variados sones que muda a cadamomento llorando a Itylos el hijo que tuvo del reyZeto al cual asesinoacute con el bronce por imprudencia []

En las interpretaciones del pasaje de Odisea hanpredominado las consideraciones sobre los celos de Aedoacuten enconsecuencia el texto revelaria cierta hostilidad de Peneacutelope conOdiseo (Tereo en este parangoacuten) y significaria que Peneacutelope quierepotencialmente asesinar a su hijo7 Cabe la posibilidad de un errorde interpretacioacuten de los escoliastas es decir que tomaran Aedoacutencomo nombre propio e instalaran esta nueva versioacuten aunque yanos resultan conocidas las variaciones homeacutericas en los nombresmiticos

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Anhalt ha sostenido que el personaje esta usando elparadigma de Clitemnestra y que sospecha de las acciones de suesposo durante su ausencia8 Levaniouk supone que la versioacutentebana revela mejor el estado animico turbulento de Peneacutelope ycomo el mito consiste en una confesioacuten ante Odiseo disfrazado demendigo el asesinato de Itylos ha sido interpretadoldquopsicoloacutegicamenterdquo por la mayor parte de la masa critica9

La insercioacuten de este relato confronta con todas lasnarrativas previas que Peneacutelope desarrolla sobre si misma y queversan acerca de su presente o su pasado inmediato Este pequentildeorelato en cambio instala personajes remotos con una conexioacutenpoco clara con el personaje que lo usa La pena de Peneacutelope y eltropo del ruisentildeor parecen conectarse con el vaiveacuten indeciso de latrama en la que Peneacutelope esta incluida Como precedente podemosconsiderar el pasaje del canto IX v 555-565 de Iliacuteada en que Feacutenixal narrar el mito de Meleagro sostiene que a Cleopatra la mujerdel heacuteroe sus padres la llamaban Alcioacuten porque la madre llorabapor ella como el ave ya que Apolo la habia raptado Esta imagense desarrolla intercalada con la referencia al enojo de Altea quesuplica la muerte de su hijo En sintesis el ave doliente expresa ensu agudo grito la pena y esa pena se transfiere a Altea quepeligrosamente y en un espejo deforme repite la trama de Iliacuteadasubyugando la vida de su hijo a un tizoacuten que se consume

En el texto de Odisea los multiples ecos del canto del aveenriquecen la imagen del vaiveacuten de Peneacutelope la indecisioacuten de sut r a m a πολυηχέα ldquode muchas resonancias o ecosrdquo debecomprenderse en este sentido La frecuencia e intensidad de suslamentos esta referida por una triple calificacioacuten en los versosprevios ἀδινὸν ldquovehementerdquo πυκυναί (v 516) πυκινοῖσιν (v 520)que se refieren a la angustia ldquointima ajustadardquo y θαμὰ (v521)ldquoreiterada muchas vecesrdquo Sin embargo el mito de Aedoacuten lafilicida no ofrece una conexioacuten obvia con la trama de Odisea espreciso decodificarla Por otra parte esta versioacuten tebana del mitoutilizada por Odisea no se conecta con ninguna otra versioacuten en laque los personajes sean simplemente intercambiados

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De la comparacioacuten entre las versiones tebana y ateniensesurge claramente que la agonia de Procne en la versioacuten ateniensederiva de que el hijo que ella ama es hijo del hombre que odiaNada de eso la pasa a Peneacutelope cuyo epiteto ἐχέφρων la definecomo ldquosensatardquo quien no enloquece sino que sopesa susdecisiones y sostengo por ello que la versioacuten tebana encajaperfectamente en Odisea Peneacutelope lamenta una peacuterdida vinculadaestrictamente a su lecho una pena de amor

Entre los multiples dilemas que Odisea presenta el dilemade Peneacutelope no es entre su esposo y su hijo sino coacutemo ejercer sucapacidad de calculo Un paso en falso puede hacerle perder todoIncluso la diosa Atenea configurada como Mentes le hacecomprender que para restablecer su poder Teleacutemaco deberiaasesinar a los pretendientes aun despueacutes de que Peneacutelope sehubiese casado Evidentemente la versioacuten tebana del mitopropone en Aedoacuten un personaje que trata de beneficiar a su hijoquien debe competir solo entre numerosos primos Con este mitoPeneacutelope manipula su situacioacuten y resulta evidente que el mitoproblematiza una cuestioacuten basica en la estructura del poderpolitico antiguo como lo es la continuidad del linaje La versioacutenateniense se concentra en este aspecto porque la esposa de Tereotrata de cortar el linaje de su esposo Muy distintas son lasintenciones de la mujer de Zeto el tebano ya que ella actua porquequiere promover e imponer su linaje por sobre sobre otros Enresumen la seleccioacuten de la versioacuten tebana colabora con la ideologiapolitica de Odisea que consiste en restaurar el linaje de Odiseo y enconservar la fortuna para Teleacutemaco En el lamento de Peneacutelope sehalla la pena por un posible nuevo matrimonio no deseado porella pero que Teleacutemaco o su padre Icario podrian promover Eseste posible nuevo matrimonio el nivel en que el simil del ruisentildeoraporta la idea de una violenta unioacuten no aceptada una veta deinterpretacioacuten mas proacutexima a la versioacuten ateniense y a lavictimizacioacuten de Filomela

La asociacioacuten de figuras femeninas con animales o insectostiene abundante registro en la eacutepica y en la poesia yambica griegasEn el caso de Peneacutelope ademas de esta conexioacuten con el ruisentildeor

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se debe recordar que su nombre sugiere que es una cerceta (untipo de cisne u oca) en consonancia con lo cual ella exige almendigo Odiseo en unos versos que siguen inmediatamente a loscitados que interprete un suentildeo sobre un grupo de gansos ndash lospretendientes- que se alimentan en la casa

Eliano ha propuesto en De natura animalia 5 38 unavariante para el v 521 del texto citado que consiste en reemplazarla palabra πολυηχέα que significa de variadas resonancias porπολυδευκέα de significado poco claro10 A pesar de ello enconjunto con τρωπῶσα cualquiera de estos adjetivos gesta laimagen del sonido que gira y repite una melodia

El cambio demostraria por un lado que la idea de mouvanceexpresada por Zumthor o la idea de variance sostenida porCerquiglini11 se aplican a este fragmento en el sentido de que estetexto poeacutetico no esta fijo sino que es tan moacutevil como el canto delruisentildeor y se actualiza en cada ejecucioacuten En segundo lugardefiniria la mimesis de la lirica que Peneacutelope realiza un texto moacutevilen sus elementos foacutenicos El fragmento ademas produce unainteresante aliteracioacuten en sonidos labiales y guturales para reflejarlos variados sones del ruisentildeor

El mito de Aedoacuten insiste en la tragica circunstancia de queItylos es hijo unico como lo son a su vez Teleacutemaco y Odiseo Lasituacioacuten de individuo aislado en la continuidad de la estirpeconfronta en el caso de Itylso en particular con los numerososhijos de Niobe su tia y en Odisea se replicaria en la situacioacuten deTeleacutemaco frente a los numerosos pretendientes de su madre

Como Aedoacuten Peneacutelope canta una melodia variablecambiando su voz llora y gime de noche hasta que Atenea leinsufla el suentildeo Volviendo a la idea de la lirica como texto enmovimiento el ruisentildeor que no duerme y varia su canto expandela imagen de la fluidez del tejido que Peneacutelope teje en el dia ydesteje por la noche El canto πολυδευκής del ruisentildeor si hacemoscaso de Eliano consiste en un lamento ininterrumpido contrario alcorte abrupto de la estirpe que la accioacuten de Aedoacuten concreta Lavariacioacuten del canto con sus giros es una extensioacuten foacutenica delldquotextordquo tejido por Peneacutelope

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EL RUISENtildeOR DE HESIacuteODO UNA LECTURA DEL PODERLa conexioacuten de Hesiodo con la tradicioacuten de la fabula

representada por Esopo ha sido convenientemente estudiada porHunter por supuesto partir de las lineas 202-212 de Trabajos y diacuteasen las que aparece el breve apoacutelogo sobre el ruisentildeor y el halcoacuten12

νῦν δ αἶνον βασιλεῦσιν ἐρέω φρονέουσι καὶ αὐτοῖςὧδ ἴρηξ προσέειπεν ἀηδόνα ποικιλόδειρον ὕψι μάλ ἐν νεφέεσσι φέρων ὀνύχεσσι μεμαρπώς ἣ δ ἐλεόν γναμπτοῖσι πεπαρμένη ἀμφ ὀνύχεσσι μύρετο τὴν ὅγ ἐπικρατέως πρὸς μῦθον ἔειπεν δαιμονίη τί λέληκας ἔχει νύ σε πολλὸν ἀρείων τῇ δ εἶς ᾗ σ ἂν ἐγώ περ ἄγω καὶ ἀοιδὸν ἐοῦσανδεῖπνον δ αἴ κ ἐθέλω ποιήσομαι ἠ ὲ μεθήσω ἄφρων δ ὅς κ ἐθέλῃ πρὸς κρείσσονας ἀντιφερίζειν νίκης τε στέρεται πρός τ αἴσχεσιν ἄλγεα πάσχειὣς ἔφατ ὠκυπέτης ἴρηξ τανυσίπτερος ὄρνις

Ahora contareacute una faacutebula a los reyes aunque sean sabiosAsiacute habloacute un halcoacuten a un ruisentildeor de variopinto cuello mientras lellevaba muy alto entre las nubes atrapado con sus garras Eacuteste gemiacutealastimosamente ensartado entre las corvas untildeas y aqueacutel en tono desuperioridad le dirigioacute estas palabras`iexclInfeliz iquestPor queacute chillas Ahorate tiene en su poder uno mucho maacutes poderoso Iraacutes a donde yo te lleve pormuy cantor que seas y me serviraacutes de comida si quiero o te dejareacute libreiexclLoco es el que quiere ponerse a la altura de los maacutes fuertes Se veprivado de la victoria y ademaacutes tiene que sufrir vejaciones es maltratado

Asiacute dijo el halcoacuten de raacutepido vuelo ave de amplias alas

Como comenta Vianello en estos diez versos estacontenido el primer apoacutelogo de la antiguumledad clasica al cualWillamowitz ha querido reducir injustamente a un simil eacutepico sinmoraleja13 Esta posicioacuten resulta insostenible excepto queextirpemos los v 210-211 como queria Aristarco aunque porsupuesto el hecho de que en un poeta bastante cercano en eltiempo como Arquiloco aparezcan tambieacuten los elementosdidacticos de este texto nos hace sospechar que ambos Aristarcoy Willamowitz erraron en su juicio

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La secuela didactica de este breve relato esta en los v 217-218 ldquola justicia vence a la violencia pero el candido aprendesufriendordquo(Δίκη δ ὑπὲρ Ὕ βριος ἴσχει ἐς τέλος ἐξελθοῦσα παθὼνδέ τε νήπιος ἔγνω) y la diferencia comparativa entre este texto y elmito de Odisea no se reduce a este mensaje En primer lugar elrelato no tiene la calificacioacuten de mito sino una calificacioacuten teacutecnicade su tipo discursivo ya que se trata de un αἶ νος un tipo de relatoen el que las consecuencias de los actos se exponen claramentebuscando un aprendizaje en el auditorio Y ese contenido estaexplicitamente expresado Sin mencionar que pasamos de ladoliente y femenina Peneacutelope al ruisentildeor que representa lavulnerabilidad del poeta de Trabajos y diacuteas frente a los poderosos

En esta fabula no figuran directamente los dioses ni losheacuteroes El narrador margina esos planos y concede discurso a lasaves El ruisentildeor gime lastimeramente mientras que el halcoacuten ogavilan (como se maneja en algunas traducciones) sentencia lainutilidad de ldquoponerse a la altura de los mas fuertesrdquo porqueademas de verse ldquoprivado de la victoriardquo debe sufrir vejacionesEn el contexto de los consejos agricolas que el poema desarrolla lafabula parece en primer teacutermino una transferencia de una ley delmundo natural al mundo social humano Es natural que los pajarosmas pequentildeos y menos fuertes que el halcoacuten le sirvan a eacuteste comoalimento Puede decirse que la funcioacuten nutricia es constitutiva de laphysis de los halcones y de los ruisentildeores o que en el vastoescenario del mundo estos desempentildean un papel que es adecuadoa su naturaleza

En segundo teacutermino en el contexto de la enunciacioacutenpoeacutetica Hesiodo en tanto que poeta es como el ruisentildeor es elcantor de dulce voz14 mientras que los guerreros y los reyes desdeluego son como el halcoacuten fuertes cazadores No me ocupareacute de larecepcioacuten de este texto en la fabula 47 de Esopo Soacutelo mencionareacuteque en ese texto el ruisentildeor debe esforzarse al maximo con sucanto para no ser devorado El halcoacuten esta tan concentrado enatacar a sus presas que a su vez es sometido por otro cazador unhombre En su moraleja Esopo se limita a plantear que todos losseres estan en guerra y quien tiene enemigos no debe descuidarse

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En el caso de Hesiodo podriamos considerar a suhermano Perses como el enemigo al acecho ya sea un dobledidactico o un dato de la realidad ya que el poeta lo invocadirectamente ὦ Πέρση σὺ δ ἄκουε δίκης μηδ ὕβριν ὄφελλεldquoPerses tu obedece a la justicia y no desees la soberbiardquo (v 213)Resulta claro que la situacioacuten de injusticia narrada coloca al poetaen la posicioacuten del ruisentildeor arrastrado por las garras cuya queja esdesoida y que se halla en total indefensioacuten El ruisentildeor extiende lasimple imagen del poeta a la situacioacuten de toda victima de los reyesdevoradores que describe Hesiodo Suponemos una amarga ironiaen la expresioacuten ldquoaunque sean sabiosrdquo (v 202) en el juegointelectual en que el poeta- puede chillar15 como el ruisentildeor yaunque el ruisentildeor no replica el poeta no obstante se atreve a darlecciones a los sabios Hay reyes que no atienden a la justicia comolos hombres de una edad degradada que no es ldquola edad de orordquosino la ldquode hierrordquo 16 Perses no es un rey pero Hesiodo dice queademas de ser codicioso y rapaz es perezoso y que su hermanocree que puede enriquecerse sin tener que trabajar y por si estofuera poco es prepotente y soberbio tal como un rey La soberbia(hybris) es una mala inclinacioacuten que podria esperarse de los reyespero aun para eacutestos no es recomendable fomentarla

La similitud planteada en la fabula entre el ambito animaly humano compone una confrontacioacuten agonal entre seres encompetencia En el mudo natural la resolucioacuten es cruel pero en elmundo humano el poeta aconseja no seguir por la via de ladiscordia y dedicarse a trabajar con honestidad De todas formasHesiodo se explaya en una prolija moraleja que puede querer decirvarias cosas por ejemplo que si los hombres no quieren ser comolos animales deben contrapesar el ciego ejercicio del poder con lajusticia Hesiodo parece sostener que los humanos han inventadoalgo mejor que la simple voluntad de poder parece querer decir lavirtud la rectitud el ejercicio de la justicia Soacutelo asi tendran algunaoportunidad de alejar su destino del de los animales ldquopues esta leyimpuso a los hombres el Cronioacuten a los peces fieras y avesvoladoras comerse los unos a los otros ya que no existe justicia

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entre ellosrdquo (v 276-277) Tampoco puede olvidarse que en estetexto el ruisentildeor es femenino y el halcoacuten masculino

El cambio de geacutenero discursivo de un mito a un αἶνος ofabula de la representacioacuten femenina de la pena a la situacioacutenlimite del oprimido por los poderosos convierte el ruisentildeor deHesiodo en un instrumento eficientisimo de su preocupacioacutenmoral y su admonicioacuten politica Nada como la imagen del deacutebil enlas garras de otro

CORTAR LA LENGUA LA VERSIOacuteN ATENIENSE EN AVES DE

ARISTOacuteFANES

Aunque su representacioacuten en las fiestas dionisias del antildeo414 aC soacutelo le concedioacute el segundo puesto la comedia Aves deAristoacutefanes ha sido considerada recurrentemente la mas poeacutetica ysofisticada entre las conservadas En ella dos ancianos ateniensesEueacutelpides (la buena esperanza) y Pisteteros (el compantildeeropersuasivo) han abandonado Atenas para evitar la politica y lostribunales de justicia y estan buscando a Tereo un ave que ha sidoser humano en el pasado y tiene conexiones con los ateniensesPisteteros concibe la idea de fundar una ciudad en las nubes parainterceptar los sacrificios a los dioses y de este modo podersometerlos Persuade al hostil coro de aves de gobernarnuevamente el universo En la segunda parte de la obra la ciudadde las nubes y los cucus Nefelococcigia es fundada y llegan unaserie de visitantes Iris un parricida un poeta un delatorPrometeo que ha sido rebelde contra los dioses FinalmentePisteteros debe solicitar casarse con Basileia la soberania La obratermina con una procesioacuten del triunfo real de Pisteteros y proponeal mismo tiempo un utoacutepico escape de la realidad como reaccioacuten aciertos fracasos militares de los atenienses17 la presentacioacuten de lamegalomania tiranica o una iroacutenica distopia etc En este contextoun breve episodio lirico presenta al ruisentildeor En la versioacutenateniense del mito Tereo rey de Tracia auxilia a Pandioacuten rey deAtenas contra el tebano Labdaco De ello se deriva el matrimoniode Tereo con Procne y los episodios que ya comentamos sobre el

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asesinato de Itys y la conversioacuten de Procne en ruisentildeor la deFilomela en golondrina y la del mismo Tereo en abubilla

En la clasificacioacuten aristoteacutelica de geacuteneros discursivos lacomedia careceria de mito Sin embargo Aves curiosamentepropone la degradacioacuten de varios mitos En primer lugar del mitofundacional ya que parodia la cosmogonia y teogonia hesioacutedicasde un modo muy original para proponer burlonamente unacosmogonia literal a partir de un huevo de ave y la transformacioacutenen aves de todos los personajes es decir de todos los ciudadanosde Atenas Probablemente Aristoacutefanes dispuso de la tragedia deSoacutefocles llamada Tereo de la que suponemos realiza la parodiaaunque lamentablemente soacutelo nos queda al parecer una sintesis enel papiro de Oxy 3013 Como ya sentildealoacute Aristoacuteteles en Poeacutetica 1453ordf36-39 aquellos a quienes el mito convierte en enemigos resultan enla subversioacuten coacutemica los mejores amigos18 Es el caso de Tereo laabubilla y de Procne el ruisentildeor que son en la obra una parejafeliz mientras la infausta Filomela no aparece aunque Procneentona su permanente lamento por Itys

La versioacuten ateniense del mito elegida por Aristoacutefanesrepresenta por un lado el desastroso presente de Atenasinterpretado por los dos viejos cuyo delirio senil produce la mejorinvencioacuten de la obra Por otro lado como se le adjudica a Tereo elhecho de haber ensentildeado el lenguaje articulado a las aves hay unafranca contradiccioacuten entre seccionar la lengua de Filomela yconceder habla humana a las aves La interpretacioacuten politica esllana Tereo concede la palabra y tambieacuten la inhibe iquestQueacute haydetras de esta eleccioacuten de Aristoacutefanes iquestPor queacute elegir al culpablemitico de dos delitos la violacioacuten y el silenciamiento de la victimaLa inversioacuten propia de la comedia provoca una presentacioacuten dellado oscuro del mito como si se tratase de un episodio inocuo Noresulta menos cierto que en esta comedia sobre el poderAristoacutefanes conservoacute la idea griega del poder masculino y laconvocatoria al nuevo poder de las aves la realiza tambieacuten Tereocomo ave masculina

Veamos coacutemo convoca Tereo al ruisentildeor entre los v 209-22119

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Ἔ ποψἄγε σύννομέ μοι παῦσαι μὲν ὕπνου λῦσον δὲ νόμους ἱερῶν ὕμνωνοὓς διὰ θείου στόματος θρηνεῖς τὸν ἐμὸν καὶ σὸν πολύδακρυν Ἴτυν ἐλελιζομένης δ ἱεροῖς μέλεσιν γένυος ξουθῆς καθαρὰ χωρεῖ διὰ φυλλοκόμου μίλακος ἠχὼ πρὸς Διὸς ἕδρας ἵν ὁ χρυσοκόμας Φοῖβος ἀκούων τοῖς σοῖς ἐλέγοις ἀντιψάλλων ἐλεφαντόδετον φόρμιγγα θεῶ ν ἵστησι χορούς διὰ δ ἀθανάτων στομάτων χωρεῖ ξύμφωνος ὁμοῦ θεία μακάρων ὀλολυγή

( αὐλεῖ)

Vamos compantildeera miacutea pon fin a tu suentildeo vierte a torrentes los acordesde los himnos sagrados con los cuales desde tus divinos labios lamentas anuestro hijo el triste Itys produciendo un murmullo con las liacutempidasnotas de tu vibrante garganta A traveacutes del espeso follaje del bosque tupuro sonido llega al trono de Zeus y en respuesta el dios de cabellos deoro Febo contesta con los acordes de su lira de marfil a tus penososacentos El preside los coros de los dioses y desde los labios de losinmortales la armoniosa voz del estribillo de los bienaventurados se elevaal uniacutesono

La amorosa invitacioacuten no produce el ingreso de Procnehasta el v 665 En esa escena el personaje silente sale ataviado conexcesivos adornos dorados como comentan los ancianos que laobservan como mujer y no como ave A tal punto que Eueacutelpidesintenta besarla por la fuerza en una mimesis risuentildea e invertida dela secuencia mitica de la violacioacuten La escena sirve de introduccioacutena la parte estructural de la comedia llamada parabasis en la que elcoro canta directamente al publico En ese momento TereoEueacutelpides y Pisteteros abandonan la escena para que el coro puedaexponer la famosa cosmogonia y teogonia que la comediapresenta

La invitacioacuten de Tereo representa el momento de laseduccioacuten no obstante Tereo sigue siendo el que secciona

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lenguas20 En el final de la comedia cuando el coro dice ldquoen toda elAtica la lengua se corta aparterdquo (πανταχοῦ τῆς Ἀττικῆς ἡ γλῶτταχωρὶς τέμνεται 1705) comprendemos que esta comedia no soacutelo hapresentado un mito ha buscado el mito que politicamenterepresente a los atenienses silenciados de este modo tanto Tereocomo Pisteteros representan el poder omnimodo

Desde que Odisea planteoacute los problemas comunicativos delCiclope que habla a su carnero la cuestioacuten del lenguaje y lacivilizacioacuten ha aparecido con recurrencia en los textos En el casod e Aves la ruisentildeora Procne termina por representarfemeninamente a esa ciudad de Atenas que seducida por Tereo oconducida por Pistetero queda al final sin habla En la comediatodo es movimiento y transformacioacuten de humanos en aves deaves que hablan como humanos para enfocar que uno de losaspectos criticos de la distribucioacuten de poder en la poacutelis es lacomunicacioacuten

No es casual que en una pieza en la que se recrea el mitode Tereo el Coro cierre la obra con la mencioacuten de una estirpe deἘ γγλωττογαστόρων γένος ldquocomedores de lenguasrdquo (v 1696-7)Aves asegura el valor de la palabra

A MODO DE CONCLUSIOacuteN COMPARATIVA

iquestPor queacute reaparece un ruisentildeor No he tratado aqui deanalizar similitudes ni diferencias sino de comprender desde queacutepunto de vista el ruisentildeor una voz femenina en la literatura griegaimpone una ejecucioacuten o reflexioacuten acerca de la mimesis orepresentacioacuten particular de las victimas La imposibilidad decomunicar la pena de amor impone una performance comovehiculo en consecuencia Peneacutelope necesitoacute recurrir al lamentoininterrumpido y a las variaciones de voz del ruisentildeor La pena queno se puede decir puede convertirse en son

En Odisea los adjetivos que califican el canto del ruisentildeorson responsables de proponer una representacioacuten lirica en eldiscurso eacutepico En Hesiodo la moraleja no llega a acallar el sonidodel ruisentildeor que chilla en una exacta mimesis del poeta

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manipulado por los poderosos vulnerable como el femeninoruisentildeor Aristoacutefanes entrevioacute con claridad coacutemo proponer el mitodel que cercena la lengua de la ciudad para ensayar la utopia deanimales que pueden ser silenciados o comunicar en su lamentomas que los humanos En cada uno de estos textos cuando ellenguaje resulta imposible el canto del ave resulta un alertainteligible

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ABSTRACT

Aedon Poetic Performance of the Victims

The figure of the nightingale is present for first time in the19 book of Odyssey (v 518-523) later in the fable contained inWorks and Days (v 202-212) by Hesiod and in the comedy Birds byAristophanes The present article analyzes with comparativemethodology the peculiar representation of the victim of sometype of violence in the mentioned texts and what interpretationcan be derived in each specific discursive context

KEYWORDS

Aedon Homer Hesiod Aristophanes

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1 Cfr NAGY 1996 p 7-82 Segun STANFORD 19672 p 336 el texto constituye la primera aparicioacuten poeacuteticadel ruisentildeor el pasaje es el unico lugar en que el canto se diferencia de los gritosy contiene un error de historia natural ya que la hembra del ave no canta Seconsidera que el relato mas estandarizado se deriva de la pieza Tereo de Soacutefocles(cuya hipoacutetesis estaria contenida en POxy 423013) Contamos con el relatocontenido en La Biblioteca de Apolodoro (3148) Metamorfosis de Ovidio 6427ndash674 y con testimonios en otros textos como Agamenoacuten (1140ndash1145) y Suplicantes(60-68) de Esquilo Electra de Soacutefocles (147ndash149) Heracles de Euripides (1020)Aves de Aristoacutefanes (200ndash210) Tambieacuten hallamos testimonios en la prosa deTucidides 2293 en la Oracioacuten fuacutenebre de Demoacutestenes 28 en Pausanias 1541243 1418 1049 e incluso en Estraboacuten 9313 Aedoacuten y Calidoacuten se hallanrepresentadas en una metopa en el templo de Apolo en Thermos3 En Iliacuteada XXIV 599 la referencia a Niobe y a sus numerosos hijos se parangonacon la situacioacuten de Heacutecuba y con el hecho de haber sufrido tambieacuten unametamorfosis que eterniza su pena fue convertida en una piedra que ldquollorabardquopermanentemente4 Sobre los vinculos de Odisea con la disputa entre Atenea y Poseidoacuten por elpatronazgo de Atenas veacutease COOK 1995 p 129-1305 χλωρηῒς implica verdura o frescor STANFORD 19672 p 336 se inclina por latraduccioacuten verde amarillento ldquoreferring either to the fact that the bird hauntsthe greenery of the woodhelliprdquo Se puede interpretar como representacioacuten delcolor del ave de sus sonidos frescos o juveniles o de su habito de cantar entre elfollaje NAGY 1996 p 37-38 sentildeala que opta por traducir ldquoen la verdurardquo porasociacioacuten con el uso de khlōrauacutekhēn (χλωραύχην) que suele traducirse como deldquoverde gargantardquo y se utiliza como epiteto del ruisentildeor en Simoacutenides PMG 5862(ἀηδόνες χλωραύχενες) Segun CHANTRAINE 1975 p 1285 la palabra serefiere a un verde claro o al verde del brote reciente de una planta pero tambieacutenalude a las caracteristicas de la voz del ave RUSSO1992 p 100 en cambiosostiene que la palabra tiene un valor de gentilicio expresaria lo mismo queCriseida en relacioacuten con Crises y deberia comprenderse como Aedoacuten ldquola delfollajerdquo 6 19 518-5237 Parece mas plausible considerar que hay un temor en Peneacutelope a causar lamuerte de su hijo a manos de los pretendientes Su temor esta bien fundadohubo un intento fallido durante el viaje de Teleacutemaco en los primeros cantosElla podria causar involuntariamente la muerte de su hijo y esa seria su ἀφραδίηldquoignorancia o locurardquo el hecho de no aceptar el matrimonio quecontextualizado con el mito de Aedoacuten evidentemente le repugna como unaviolacioacuten8 ANHALT 2002 p 1489 LEVANIOUK 2011 p 22810 Sobre esta variante veacutease NAGY 1996 p 38-39 VAN DER VALK 1949 p 8311 ldquoMouvancerdquo como ldquoincesante vibracioacutenrdquo es aplicado por ZUMTHOR 1987 p160-161 a los textos medievales que atestiguan diversas variantes y por lo tantotiene una forma inestable propia de una tradicioacuten oral CERQUIGLINI 1989 p111 prefiere la denominacioacuten de ldquovariancerdquo ya que considera que los textosmedievales son en si ldquovariacioacutenrdquo Sobre la discusioacuten de ambos conceptos veacuteaseNAGY 1996 p 9-1012 HUNTER 2014 p 226-249

13 Cf VIANELLO 1979 p CCXCVII ldquoEn efecto el simil en la poseia eacutepica carecesiempre de una moraleja como se da al contrario en nuestro caso (cf los v210-211 que Aristarco el filoacutelogo alejandrino suprimioacute como espurios segun eltestimonio de Proclo 1568)rdquo14 ποικιλόδειρον otro modo de referirse a la garganta o cuello del ruisentildeortambieacuten podria traducirse como ldquode voz coloridardquo15 La forma λέληκας proviene del verbo λάσκω que indica el ruido de las avestambieacuten un ruido crepitante o a veces el canto16 Cfr Hesiodo Erga v 106-20117 Una critica a la expedicioacuten a Sicilia18 Cfr SOMMERSTEIN 1987 p 202

19 La mimesis del canto de las aves que la obra impone causoacute algunosinconvenientes en la performance y en la composicioacuten Por ejemplo Tereo debesalir de escena para entonar su canto de llamada al ruisentildeor Las opiniones sondivergentes pero probablemente el actor que representaba a Tereo no disponiade la destreza vocal necesaria para cantar el efecto es que la flauta quereemplaza al canto del ruisentildeor cumple la funcioacuten de un threnos apo skeneacutes esdecir de un lamento cantado fuera de escena ya que el contenido del canto delruisentildeor es un lamento por el nintildeo muerto La mimesis del canto del averealizada por la flauta nos lleva nuevamente al problema de la mimesis liricaahora en el contexto del drama Cf SOMMERSTEIN 1987 p 21120 Cinesias el poeta ditirambico tambieacuten desea convertirse en ruisentildeor pero nolo logra y repite su pesada poesia Aqui tambieacuten aparece la cuestioacuten de lamimesis del canto del ave como lirica Cf Aves v 1380

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Arete a virtude em si na Odisseia eacute umamulherAlessandra Serra Viegas

RESUMO

Este sucinto trabalho pretende trazer uma conversa acerca de umamulher que Homero nos apresenta entre os cantos VI-XI daOdisseia a forte e nobre Arete A rainha dos Feaces e esposa do reiAlcinoo eacute algueacutem de quem natildeo se ouve falar muito No entantoquando nos aproximamos dessa mulher atraveacutes da poesia eacutepicadeparamo-nos na verdade com a proacutepria virtude em pessoa aareteacute (a)reth ) como bem o nome lhe representa Por isso fica no arum questionamento quem eacute a mulher cheia de virtude naAntiguidade grega Eis a provocacatildeo ndash positiva ndash em que esteescrito quer envolver o leitor

PALAVRAS-CHAVE Homero mulher areteacute

SUBMISSAtildeO 29 dez 2017 | PUBLICACcedilAtildeO 31 dez 2017

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Arete a virtude em si na Odisseia eacute uma mulher | Alessandra Serra Viegas

QUEM Eacute A VIRTUDE EM HOMERO rete a rainha dos Feaces1 eacute sobrinha e esposa do reiAlcinoo cuja corte eacute modelo de comportamento eelevacatildeo presente na trama da Odisseia de HomeroSua gesta heroica (porque a consideramos umaheroina) esta contida em boa parte do poemahomeacuterico (cantos VIndashXII) quando das peripeacutecias emmeio ao regresso de Odisseu a Iacutetaca sua terra natalChama atencatildeo a elevacatildeo da rainha Arete (seucarater e reputacatildeo satildeo imaculados) a qual remetetodo o tempo ao significado de seu nome ndash a)reth ndash eacutea proacutepria virtude a qualidade de quem eacute nobre justodigno forte de carater eacutetico e belo Arete eacute a virtudeem pessoa portando todas estas qualidades em forma

de mulher rainha esposa e matildee O conceito de a)reth eacute intrinseco ao grupo dos aristoindash os

bem-nascidos pertencentes aos ldquomelhoresrdquo da sociedade e sedesenvolve a partir do contexto de batalhas da Iliacuteada de Homeronatildeo podendo nesta ser dissociado do espirito heroico que semostra nas lutas e vitoacuterias de cada heroacutei-guerreiro em seuscombates Na Iliacuteada (a)reth eacute a mais alta distincatildeo e o proacuteprioconteudo da vida desses heroacuteis Esses pressupostos de valentia evirtude pois satildeo plenamente valorizados no periodo classico (seacutecVIndashV aC) sendo associados ao principio vigente do bem e do beloem uma pessoa ndash o homem de valor Este eacute o principio que regeos participantes da aristocracia o governo da cidade pelos nobrespelos melhores pelos aristoi

Aos aristoi pertence a expressatildeo grega kaloka)gaqia oukalon te ka)gaqon aquele que eacute tanto belo como nobre empregadaa partir dos textos gregos do periodo classico principalmente nasobras de Xenofonte Platatildeo e Aristoacuteteles Apesar disto Homero jadesigna na Iliacuteada o paradigma do heroacutei-guerreiro a partir da suabeleza corporal e da sua nobreza mesmo natildeo utilizando o termokalon te ka)gaqon propriamente Eacute o helenista Jean-Pierre Vernantque em seus estudos sobre Homero2 apontara os heroacuteis-guerreiros como kaloi kai a)gaqoi3

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A

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Homero eacute o nome que se convencionou para o poetaeacutepico cuja lenda aponta para um aedo cego nascido em Quios ouem Esmirna por volta do seacutec VIII aC e que recitava oralmente ospoemas cantando-os por isso era um aedo Para as questotildees deautoria dos poemas surgiu o que se denomina a questatildeohomeacuterica4 Histoacuterica e literariamente torna-se mais adequado dizerldquoo que foi Homerordquo isto eacute referir-se ao modo de narrar do autorque ressalta as questotildees humanisticas subjacentes aos textos aomostrar por exemplo em lugar de um acontecimento como o daguerra de Troia a coacutelera de Aquiles um detalhe na guerra (Iliacuteada)ou no poacutes-guerra os sofrimentos de Odisseu em sua buscadesenfreada para salvar a vida e voltar a casa (Odisseia)

Com efeito o poeta da epopeia retrata os homens querepresentam a elevacatildeo da sua cultura e costumes pois com essesesta o seu coracatildeo (do poeta) e a exaltacatildeo que faz de tais homenstem em seu acircmago a intencatildeo paideacutetica (paideia) educativa5 NaIliacuteada a virtude do heroacutei ndash a sua a)reth ndash esta em sua destrezaforca e valentia para o campo de batalha uma bela vida que podeculminar em uma bela morte6 Na Odisseia onde Arete surge oideal herdado da destreza guerreira une-se agraves virtudes espirituais esociais tendo como modelo o heroacutei a quem natildeo falta o conselhointeligente ndash Odisseu ndash que na luta pela vida e na volta ao lar saisempre triunfante dos perigos e dos inimigos Esse conselhointeligente tambeacutem se mostra na esposa de Odisseu Peneacutelope7 ena rainha Arete cuja fala eacute acatada pelos anciatildeos e conselheiros dorei e pelo proacuteprio esposo Alcinoo8 representando assim umargumento de autoridade diante dos nobres e tambeacutem diante doproacuteprio povo

Na cultura aristocratica a a)reth proacutepria da mulher eacute aformosura em que o culto agrave beleza feminina corresponde agraveformacatildeo cortesatilde nesta sociedade Natildeo obstante a Odisseiaapresenta mulheres que surgem natildeo apenas como objeto dasolicitacatildeo eroacutetica do homem como Helena esposa de Menelau eraptada por Paris por sua beleza ou Peneacutelope9 esposa de Odisseudesejada pelos pretendentes mas a firme posicatildeo social e juridicade dona de casa Como em outra literatura provavelmente escrita

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Arete a virtude em si na Odisseia eacute uma mulher | Alessandra Serra Viegas

por volta do seacutec V aC na Antiguidade judaica (o AntigoTestamento) na ode a uma mulher de grande forca e valor (cfProveacuterbios de Salomatildeo 3110-31)10 as virtudes das mulheres gregascompreendem principalmente o sentido da modeacutestia e odesembaraco no governo do lar Desse modo Peneacutelope eacute louvadapor sua moralidade rigida e virtudes caseiras11

Senhora homem em lugar algum da terra tem o direito de censurar-te Teu nome bate no ceacuteu Eu te comparo a um rei competente piedoso comautoridade sobre muitos gente poderosa zelosodo cumprimento da lei Seus campos produzemtrigo cevada arvores frutiferas Gado gordonas pastagens Peixes fornece o mar Gracas a seugoverno o povo prospera12

Helena de volta a Esparta com Menelau o primeiromarido aparece como protoacutetipo da grande dama modelo deelegacircncia distinta e de soberana forma e representacatildeo social eladirige a conversa ao hoacutespede homem suas servas trazem ecolocam agrave sua frente um fuso de ouro e uma roca de prata13

(instrumentos pertencentes ao modelo feminino grego sem osquais natildeo se concebe uma dona de casa) quando entra e tomaassento na sala ao lado dos homens14

Arete eacute citada pela primeira vez na Odisseia por boca deOdisseu no seu encontro com a princesa Nausicaa filha deArete15 Odisseu menciona o porte a postura e a beleza daprincesa e declara como por prolepse venturosa por trecircs vezes asua nobre matildee (potnia mhthr) ainda que natildeo a conheca Nausicaaesta na praia com suas servas as quais se assustam por ela estardialogando com um homem vitima de naufragio mas a princesanatildeo se importa e vai descrevendo seu reino seus costumes paracom os estrangeiros e pobres (cei~noi te ptwxoi te) consideradosaqueles que Zeus envia para que se lhes faca o bem16 Odisseu selava e se veste afastado das mocas a deusa Atena lhe reveste debeleza e a ele eacute servida uma refeicatildeo junto agrave princesa17 Emseguida Nausicaa orienta Odisseu sobre como devera secomportar ao chegar agrave cidade dos feaces pois ela e suas criadas

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iratildeo antes para que natildeo sejam vistas entrando com um estrangeirona cidade Finalmente a princesa lhe diz o que fazer ao chegar aopalacio a fim de que alcance auxilio e acolhida

[hellip] Atingindo o palacio entra atravessa o salatildeo Dirige-te primeiro agrave minha matildee Ela deveraestar sentada contra a coluna junto agrave lareira para fiar agrave luz do fogo espetaculo de encher os olhos Atras dela poderas ver o trabalho das criadas Encostado agrave mesma coluna encontra-se a poltrona de meu paiAcomodado nela com imponecircncia divina devera estarele a provar um calice de vinho Deveras passar por elee abracar suplicante os joelhos de minha matildee a fimde que te seja concedido ver o alegre dia do regresso mesmo que vivas longe Se ela te der acolhida cordial havera muita probabilidade de veres teus queridos tuacasa solidamente construida tua patria tua terra18

A descricatildeo da corte do rei Alcinoo e das caracteristicas eestrutura da cidade dos feaces eacute a pintura fiel de uma cidade-estadojocircnica sob o dominio de um rei por volta dos seacutec VII-V aC19

Cumpre observar nessa cidade o influxo das atitudes tomadas porArete sua filha Nausicaa e tambeacutem pela deusa Atena apontandoseu valor na trama e seu cuidado quase materno para que Odisseuretorne ao lar Assim a Odisseia apresenta sagas heroicas e omundo do fabuloso e do maravilhoso no qual Atena em variostrechos transfigura-se em personagens humanos para auxiliarOdisseu Tambeacutem e com maior forca a Odisseia descreve asrelacotildees familiares aproximando o ouvinte-leitor20 de umarealidade em que este natildeo deixa de estar inserido sua proacutepriafamilia

Arete surge novamente na narracatildeo de sua origem nobre esua posicatildeo Atena transfigura-se em um jovem feace que levaraOdisseu ao palacio de Alcinoo e enquanto o conduz conta-lheque Arete descende de Poseidon e de Peribeia imagem sublimeentre as mulheres (gunaikw~n ei0~doj a)risth) O pai de AreteRexenor foi fulminado pelas flechas de Apolo e

Deixou no palacio uma unica filha Arete

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Arete a virtude em si na Odisseia eacute uma mulher | Alessandra Serra Viegas

Alcinoo tomou-a por mulher e a honrou como nunca ningueacutem honrou outra na face da terra de quantas sob o governo de homens administram a casa Afetuosamente respeitada por seu esposo ela vive com seus filhos e com Alcinoo O povolhe tributa homenagem e a aclama com palavrasentusiasticas quando aparece na cidade Conhecida pelo seu bom senso concilia mulheresconhecidas suas Resolve ateacute conflitos de homens21

Pelo favor de Arete Odisseu eacute acolhido no palacio deAlcinoo e tratado com todas as honras devidas a um hoacutespede Elese recolhe todas as noites em um quarto que lhe eacute preparadoparticipa dos banquetes ouve as gestas dos heroacuteis ndash e a sua proacutepriada guerra de Troia ndash pelo aedo22 Demoacutedoco emociona-se viraaedo de si mesmo contando suas gestas e todos ouvemembevecidos Nesta audicatildeo somente Odisseu interrompe o relatopara trazer sua proacutepria gesta e somente Arete toma a palavra quesera reiterada por Alcinoo e posta em pratica pelos nobres23 queconsideram a rainha muito prudente (perifrwn)24

Que vos parece este homem feaces no aspecto notalhe no equilibrio das decisotildees Ele eacute meu hospede cada um de voacutes participa desta honra Natildeo se pense em abreviar-lhe a estada Natildeo sejais econocircmicos ao presentea-lo Ele necessita de muito [hellip]

Se Homero eacute o educador de toda a Greacutecia como afirmaPlatatildeo25 eacute preciso refletir acerca do aspecto paideacutetico da epopeiahomeacuterica ndash mulheres ensinam satildeo honradas e valorizadas por seusmaridos convivem em ambientes publicos e muitas vezesdeterminam as acotildees e tomadas de decisotildees dos mesmos Assim oque o poema homeacuterico presente como coacutedigo para a boaformacatildeo26 pretende inculcar na mente dos jovens que satildeoeducados a partir destes valores A ideia filosoacutefica de bem nosentido estrito modelo de validade universal procede diretamentedo modelo da eacutetica da a)reth proacutepria da nobreza homeacutericapresente na Odisseia encarnada por Arete a rainha dos feaces27

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Ainda quanto ao aspecto paideacutetico ao contrario da Iliacuteada aOdisseia acontece em um contexto de paz com muitas cenas emambientacatildeo interna o que proporciona a participacatildeo efetiva dasmulheres na trama O contexto de paz tambeacutem coloca a Odisseiaem um plano mais elevado que a Iliacuteada em que ha ternuraintimidade e refinamento de sentimentos Esta intima e profundacivilizacatildeo eacute o produto do influxo educador da mulher numasociedade rudemente masculina violenta e guerreira

Em intima e pessoal relacatildeo do heroacutei Odisseu com a deusaAtena que o orienta nas suas andancas e jamais o abandona opoder espiritual da mulher como inspiradora e guia acha a suaexpressatildeo mais bela28 pois ao longo de toda a trama Odisseu eacuteguiado por inspiracotildees de Atena sempre renovadas29 O quadro dacultura dos nobres esbocado nos poemas homeacutericos ndashprincipalmente na Odisseia ndash engloba tambeacutem descricotildees vivas daeducacatildeo usual muitas vezes protagonizadas por mulheres em taiscirculos30

Os homens e mulheres muito mais na Odisseia do que naIliacuteada de Homero satildeo tatildeo reais que se poderia vecirc-los com os olhose toca-los com as matildeos devido ao contexto de paz e intimidade emque se encontram Tais personagens satildeo sempre naturaismanifestando a proacutepria essecircncia31 ao ouvinte-leitor Por issomulheres como Arete Helena e Peneacutelope estatildeo em intima conexatildeocom o mundo exterior pela coerecircncia do pensamento e da acatildeocomo mulheres de forca e valor mulheres empoderadas Gestos eexpressotildees exageradas dessas mulheres seriam insuportaveis aoouvinte-leitor e inadequadas agrave epopeia Sua solidez facilidade demovimentacatildeo e coragem que a nada se pode comparar fazemdelas heroinas e mulheres que seriam encontradas na Greacuteciaarcaica e classica por um marido de sorte

Ainda quanto agrave caracterizacatildeo da mulher assim comoArete eacute a companheira idocircnea e par perfeito e proacuteximo de AlcinooPeneacutelope eacute quem mais se aproxima do carater do heroacutei principalna trama pois como um alter ego de Odisseu tambeacutem fala comprudecircncia e inteligecircncia e ainda eacute ardilosa Nessa culturaaristocratica que envolve a eacutepica agrave mulher cabe a formosura e a

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prudecircncia no governo de sua casa Neste acircmbito Helena eacute louvadano primeiro quesito32 e Arete esposa do rei dos Feaces nosegundo Com efeito a mulher eacute atendida e honrada natildeo soacute comoum ser util e na qualidade de matildee dos filhos legitimos mas acimade tudo porque nesta sociedade a mulher pode ser matildee de umageracatildeo ilustre pois ela eacute a mantenedora e guardiatilde dos mais altoscostumes e tradicotildees33

Acerca da rainha Arete para uma mulher cujo nome epessoa satildeo a proacutepria virtude a)reth tem-se um homem Alcinooaquele cuja forca esta no intelecto (a)lkh [a)lki] + forca nooj ndashcapacidade intelectual) Aleacutem disso o rei eacute um marido idocircneo ecompativel agrave rainha Arete a primeira vez em que o nome deAlcinoo ocorre na Odisseia34 segue-lhe o epiteto ldquoo de saber divinordquo(qew~n apo mhdea ei~dwj) lembrando-se de que nos poemashomeacutericos a primeira aparicatildeo de um personagem seguida de seuepiteto satildeo marcantes indicando seu carater e determinando seucomportamento ao longo de todo o texto35 Ao mesmo tempo emque Arete eacute a mulher de valor (a)reth ) torna-se uma mulher deforca (a)lkh) Isso se da por ser esposa de Alcinoo (a)lkh + nooj) ecorrespondente exata em paridade com ele na sua caracterizacatildeo

Nos poemas homeacutericos os vocabulos a)lkh e a)reth estatildeoprofundamente ligados agrave vida e agrave imagem do homem (e emmulheres de posicatildeo ou heroinas) na sociedade em que estainserido Neste contexto a)reth natildeo eacute o conceito puramenteabstrato a respeito da virtude mas essencialmente a excelecircncia asuperioridade o alvo supremo do heroacutei homeacuterico que se revelaconcretamente no campo de batalha na Iliacuteada e das lutas com ospercalcos e vicissitudes da vida na Odisseia atraveacutes da coragem eda forca36 cujos heroacuteis e heroinas satildeo a representacatildeo do atleta quecompete nos jogos em tempos de paz e combate como hoplita (ainfantaria) nos tempos de guerra

A realidade estabelecida na eacutepica homeacuterica tambeacutem ostragedioacutegrafos conhecem ndash o que se vera aplicado agrave mulher naprincesa Alceste de Euripides Ha uma determinacatildeo histoacuterica quefaz com que alguns sentidos dos vocabulos sejam lidos e outrosnatildeo37 isto eacute o contexto histoacuterico-social de producatildeo dos textos

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aplica aos vocabulos do discurso limites de interpretacatildeo ligados aomodo como a sociedade em questatildeo os utiliza38 Na maior partedas ocorrecircncias a associacatildeo da a)reth (a virtude) e da a0lkh (aforca) ao universo masculino eacute um irrefutavel exemplo daaplicabilidade deste pressuposto No entanto sua utilizacatildeo paraheroinas e personagens femininas da pistas da possibilidade daparidade entre mulheres e homens na sociedade grega dos seacutec VIIndashV

aC a cujos ouvintes-leitores natildeo causara estranhamento ao teremcontato com tais textos

PARA NAtildeO CONCLUIR ndash NUNCA Alguns elementos caracteristicos na rainha Arete

caracterizam-na como mulher cheia de forca e virtude Assimcomo supracitado a)lkh e a)reth forca e virtude ndash ou valor ndash satildeodois atributos que caminham juntos na cultura grega para designarheroacuteis e heroinas Uma resposta plausivel eacute apontar o eacutethos ndashcostumes e crencas ndash que eleva mulheres de forca e valordemonstrados nos textos agrave categoria de heroinas

Arete eacute vista em paridade ao seu marido Alcinoo o qualtambeacutem porta a forca (a)lkh ) componente de seu proacuteprio nomeuma forca de que ambos satildeo investidos Alcinoo ainda eacute aqueleque honra Arete como a nenhuma outra mulher39 O valor deArete eacute reconhecido por todo o seu povo os feaces e cantadopelo poeta eacutepico na ldquofuncatildeordquo de narrador ldquoO povo lhe tributahomenagem e a aclama com palavras entusiasticas quandoaparece na cidade Conhecida pelo seu bom sensordquo40

Arete eacute uma mulher de atitudes e de palavras diante de seupartner em cena o rei Alcinoo Na cena do jantar com OdisseuArete rompe o silecircncio para pedir que auxiliem a Odisseu quandode seu regresso Agrave fala de Arete um anciatildeo Equeneu reageldquoAmigos natildeo foge do nosso escopo o que declarou a sabiarainha Natildeo decidamos poreacutem antes de ouvir Alcinoo aqui presente Falar e agir eacute sua competecircnciardquo41 Ao que Alcinooassevera ldquoO que ouvimos [de Arete] sera executadordquo42

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ABSTRACT Arete the Virtue per se in the Odyssey is a Woman

This concise writing intends to bring a conversation abouta woman introduced by Homer between Songs VI-XI of theOdyssey the strong and noble Arete The Queen of Feaces andwife of King Alcinoo is someone that is not heard too muchabout However when we approach this woman through the epicpoetry we face as a matter of fact with virtue itself the arete(a)reth ) as good as the name represents Therefore a wondercomes around who is the woman with noble character in theAncient Greece That is the ndash positive ndash challenge in which thiswriting wants to engage the reader

KEYWORDS

Homer Woman Arete

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REFEREcircNCIAS DOCUMENTACcedilAtildeO TEXTUAL

BERLIN A ZVI BRETTLER M (Eds) The Jewish Study BibleTANAKH Translation [Jewish Publication Society] New YorkOxford University Press 2004HOMEgraveRE Iliade Texte eacutetabli et traduit par P Mazon Paris LesBelles Lettres Tome I (1987) Tome II (1992) Tome III (1994)Tome IV (1982) HOMEgraveRE LrsquoOdyseacutee Poeacutesie Homeacuterique Texte eacutetabli et traduit parV Beacuterard Paris Les Belles Lettres 1953 Tomes I II III IV HOMERO Odisseia Trad Donaldo Schuumller Porto Alegre LampPM2007 (3 vols)

DICIONAacuteRIO

BAILLY A Dictionnaire grec-franccedilais Paris Hachette 2000

LIVROS

CARPEAUX OM Histoacuteria da civilizaccedilatildeo ocidental Rio deJaneiro O Cruzeiro 1959JAEGER W Paideia a formacatildeo do homem grego Trad Artur MParreira Satildeo Paulo Martins Fontes 2001ORLANDI EP Discurso e leitura Satildeo Paulo Cortez CampinasEdUNICAMP 1988PEREIRA MHR Estudos de histoacuteria da cultura claacutessicacultura grega Lisboa Calouste Gulbekian 2006 v 1VERNANT JP VIDAL-NAQUET P Entre mito e poliacutetica na GreacuteciaAntiga Traducatildeo Anna Lia A de Almeida Prado Maria daConceicatildeo M Cavalcante e Filomena Yoshie Hirata Garcia SatildeoPaulo Duas Cidades 1977WINKLER JJ The Constraints of Desire the Anthropology ofSex and Gender in Ancient Greece New York LondonRoutledge 1990

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ARTIGOS

LANG B Womens Work Household and Property in TwoMediterranean Societies a Comparative Essay on Proverbs XXXI

10-31 VT 54 n 2 2004 p 188-207RACE W First Appearances in the Odyssey TAPS n 123 1993 p79-107RIESS JK The Woman of Worth Impressions of Proverbs 3110-31 Dialogue 30 n 1 Spr 1997 p 141-151SZLOS BM A Portrait of Power a Literary-Critical Study of theDepiction of the Woman in Proverbs 3110-31 USQR 54 n 1-22000 p 97-103VAINSTUB D Some Points of Contact between the BiblicalDeborah War Traditions and Some Greek Mythologies VT n 61m2011 p 324-334WOLTERS A M Proverbs 3110-31 as Heroic Hymn a Form-Critical Analysis VT 38 n 4 1988 p 446-457

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1 Os Feaces satildeo um povo mitico apresentado nos cantos VndashVII da Odisseia comouma sociedade modelo quanto aos valores e ao comportamento no trato com oshomens e mulheres Na eacutepica Odisseu sofre um naufragio e eacute encontrado napraia do Reino dos Feaces pela princesa Nausicaa e suas mocas Nausicaa oinstruira a como lidar com a cultura e o comportamento do seu povoapontando que para que alcancasse o favor do rei Alcinoo seu pai primeiroteria que alcancar o favor da rainha Arete sua matildee como se vera adiante 2 VERNANT 2002 p 414-4193 A expressatildeo formada a partir dos adjetivos kaloj belo e a)gaqoj bom nobreligados por kai ou te e ou ambos desempenha um importante papel naformulacatildeo de muitas concepcotildees eacuteticas sociais e (num sentido muito amplode) politicas da Antiguidade Literalmente equivale agrave foacutermula de qualidadeldquobeleza e bondaderdquo Ora ldquoser belordquo significa primariamente ldquoser nobrerdquoenquanto ldquobom exemplar do proacuteprio tipordquo Por isso o termo kaloka)gaqia eacutefrequentemente traduzido por ldquonobreza e bondaderdquo bem como por ldquohonrardquoCom efeito o kaloka)gaqoj eacute um modelo do ldquohomem honradordquo ldquonobre e bomrdquoe portanto o ldquobom cidadatildeordquo Esse sentido ldquocivicordquo esta presente emXenofonte Platatildeo e Aristoacuteteles Nestes a nocatildeo de kaloka)gaqia eacute uma nocatildeoeducativa na medida em que exprime a ideia da boa educacatildeo oposta agrave ideia dopoder puro e simples Ela eacute em grande parte a justificacatildeo ldquoeducativardquo dopoder O homem kaloka)gaqoj eacute aquele que exerce o poder de um modointimamente ligado agrave justica Por isso o kaloka)gaqoj eacute ao mesmo tempo ldquoohomem justordquo

4 A Questatildeo Homeacuterica eacute formulada a partir da seguinte inquietacatildeo quem eacute oautor da Iliacuteada e da Odisseia e como essas obras chegaram ao texto finalDioacutegenes de Laeacutercio (I 57) fala de interpolacotildees realizadas por Pisistrato notexto homeacuterico Quanto ao autor das obras as respostas satildeo variadasreduzindo-se todas elas a trecircs teses principais a unitarista (um soacute eacute o autorprincipal dos poemas homeacutericos) a dualista (dois poetas diferentes trabalhandona mesma tradicatildeo) e a pluralista (satildeo varios os autores de cada um dospoemas) Quanto agrave redacatildeo dos textos as correntes de critica textual dosmodernos (seacutec XIX) dividem-se em Teoria da Ampliacatildeo (considera-se umaIliacuteada primitiva de pequena extensatildeo a qual crescera com o decorrer do tempoateacute alcancar as proporcotildees tradicionais da obra) defendida por G HERMANNTeoria dos Cantos (a Iliacuteada continha cerca de dezesseis cantos individuaisdivididos por K LACHMANN) e a Teoria da Compilacatildeo (tanto a Iliacuteada quanto aOdisseia natildeo eram cantos e sim pequenas epopeias de diversas proporcotildees evalor tambeacutem diverso) desenvolvida a partir da analise de A KIRCHHOFF (cfLESKY 1995 p 51-52) problema que tem preocupado especialistas desde osgregos eruditos do periodo helenistico ndash os primeiros a cogitar a questatildeo ndash ateacuteos nossos dias ainda que para alguns autores a principal questatildeo natildeo eacute pensarquem foi Homero e quando as obras foram convertidas da tradicatildeo oral ecompiladas na tradicatildeo escrita e sim o que foi Homero Dadas as diferencas domeio e da estrutura social a diferenca de tema e as diferencas vocabulares eestilisticas da Iliacuteada e da Odisseia parece legitimo concluir que os dois poemasforam compostos por diferentes poetas em tempos e lugares distintos O tema eacutediscutido entre historiadores literatos e linguistas tais como G S KIRK (1965)R AUBRETON (1956) D SCHUumlLER (1972) M FINLEY (1981) W BURKERT (1993)A LESKY (1995) e todos os que veem o valor da obra homeacuterica para a proacutepriaconstrucatildeo e fixacatildeo de valores tais como eacutetica preceitos morais e principiosguerreiros como a defesa da honra e ainda o conceito de (a)reth junto agravesociedade ocidental5 JAEGER 2001 p 446 VERNANT Lrsquoindividu la mort lrsquoamour Soi-mecircme et lrsquoautre en Gregravece ancienne 1989___Entre mito e poliacutetica 2002 Bela morte eacute um conceito criado e proposto por Jean-Pierre Vernant para o guerreiro que morre em batalha e alcanca a gloacuteriaimperecivel e sera imortalizado na memoacuteria coletiva de seu povo atraveacutes doscantos dos aedos como ocorreu aos heroacuteis da Iliacuteada 7 Cf Odisseia XI v 4468 Cf Odisseia XI v 336-340

9 Grande parte da Odisseia se da com Peneacutelope tendo que lidar com a situacatildeo dos pretendentes que desejam toma-la como esposa por sua beleza fisica e sua firmeza de carater visto que se pensa que Odisseu morrera quando do retorno de Troia para Iacutetaca seu reino Os pretendentes soacute satildeo mortos por Odisseu no ultimo canto (cf Odisseia XXII)10 ldquoMulher virtuosa quem a achara O seu valor muito excede ao de rubis Ocoracatildeo do seu marido esta nela confiado assim ele natildeo necessitara de despojoEla soacute lhe faz bem e natildeo mal todos os dias da sua vida Busca latilde e linho etrabalha de boa vontade com suas matildeos Como o navio mercante ela traz delonge o seu patildeo Levanta-se mesmo agrave noite para dar de comer aos da casa edistribuir a tarefa das servas Examina uma propriedade e adquire-a planta umavinha com o fruto de suas matildeos Cinge os seus lombos de forca e fortalece osseus bracos Vecirc que eacute boa a sua mercadoria e a sua lacircmpada natildeo se apaga denoite Estende as suas matildeos ao fuso e suas matildeos pegam na roca Abre a suamatildeo ao pobre e estende as suas matildeos ao necessitado Natildeo teme a neve na suacasa porque toda a sua familia esta vestida de escarlata Faz para si cobertas detapecaria seu vestido eacute de seda e de purpura Seu marido eacute conhecido nasportas e assenta-se entre os anciatildeos da terra Faz panos de linho fino e vende-os e entrega cintos aos mercadores A forca e a honra satildeo seu vestido e sealegrara com o dia futuro Abre a sua boca com sabedoria e a lei da beneficecircnciaesta na sua lingua Esta atenta ao andamento da casa e natildeo come o patildeo dapreguica Levantam-se seus filhos e chamam-na bem-aventurada seu maridotambeacutem e ele a louva Muitas filhas tecircm procedido virtuosamente mas tu eacutes detodas a mais excelente Enganosa eacute a beleza e vatilde a formosura mas a mulher queteme ao Senhor essa sim sera louvada Dai-lhe do fruto das suas matildeos e deixe oseu proacuteprio trabalho louva-la nas portasrdquo

11 Todas as traducotildees da Odisseia satildeo de Donaldo Schuumller12 Cf Odisseia XIX 107-11413 Compare-se com o texto de Proveacuterbios de Salomatildeo na nota 814 JAEGER 2001 p 4615 Cf Odisseia VI v 15416 Cf Odisseia VI v 206-21017 Cf Odisseia VI v 218-25018 Cf Odisseia VI v 30419 JAEGER 2001 p 4220 Idem ibidem21 Cf Odisseia VII v 65-7422 O aedo eacute aquele que canta as gestas dos heroacuteis tendo uma memoacuteriaprivilegiada pela grande quantidade de fatos dos quais lembra e por isso canta 23 Cf Odisseia XI v 336-34024 O adjetivo perifrwn (a que examina por todos os aspectos que medita afundo prudente) eacute utilizado tambeacutem para Peneacutelope na epopeia (cf Odisseia XI v446 XIX v 308 v 349) 25 Cf Repuacuteblica 606e26 CARPEAUX 1959 p 5227 Idem ibidem p 6028 Idem ibidem p 48 29 Idem ibidem p 79 30 Idem ibidem p 83 31 Idem ibidem32 Iliacuteada III 154-159 a beleza irresistivel de Helena se mostra a fim de justificar oerro de Paris 33 JAEGER 2001 p 4734 Odisseia VI v 1235 RACE 1993 p 79-10736 PEREIRA 2006 p 135-136 37 ORLANDI 1988 p 1238 Para saber mais veja U ECO Os limites da interpretaccedilatildeo 2008 O autor trabalha aligacatildeo entre o contexto social do leitor e a interpretacatildeo da leitura que eacute feita

defendendo o conceito de Obra aberta presente em seus outros livros poreacutemprevendo que ha limites impostos pela proacutepria obra e pelo reconhecimento demundo do leitor 39 Cf Odisseia VII v 66-6740 Cf Odisseia VII v 70-7341 Cf Odisseia IX v 343-34642 Cf Odisseia IX v 348

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Os autores

Alessandra Serra ViegasDoutora em Teologia pela PUC-Rio e em Histoacuteria Comparada peloPPGHC-UFRJ Mestre em Histoacuteria Comparada pelo PPGHC-UFRJMestre em Teologia pela PUC-Rio na area de Teologia BiblicaPossui graduacatildeo em PortuguecircsGrego pela UERJ e bachareladoem Teologia pela PUC-Rio Atualmente eacute professora-coordenadorade Sala de Leitura e Biblioteca do Coleacutegio Estadual Joseacute LeiteLopes ndash NAVE (Nucleo Avancado em Educacatildeo) ndash SEEDUC eprofessora do Seminario Metodista Ceacutesar Dacorso Filholecionando grego koineacute literatura e teologia teologia feminina(teologia na perspectiva da mulher) leitura e producatildeo textualmeacutetodos de estudo universitario e orientacatildeo de TCC Eacutepesquisadora colaboradora do NEA-UERJ (Nucleo de Estudos daAntiguidade) Participa do grupo de pesquisa TIAT (Traducatildeo eInterpretacatildeo do Antigo Testamento) Eacute membro efetivo de Letrasdo Nucleo Acadeacutemico de Letras e Artes e Lisboa (NALAL) e daAcademia de Letras e Artes de Paranapuatilde (ALAP) titular da cadeiran 24 patronimica de Adolfo Caminha Eacute membro-embaixador daDivine Acadeacutemie Francaise des Arts Lettres et Culture

Graciela C Zecchin de FasanoDoutora em Letras pela Universidad Nacional de La Plata (UNLP)onde eacute professora titular de Grego da Faculdade de Humanidadese Ciecircncias da Educacatildeo Atualmente dirige a revista Synthesis Foi

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Os autores

Fellow of The Center for Hellenic Studies (Harvard University) noperiodo 2013-2014 Eacute autora do livro Odisea discurso y narrativa(EDULP 2004) e editora de Deixis social y performance en la literaturagriega claacutesica (La Plata 2011) e de El relato de la historia en lasmanifestaciones de la Grecia antigua y su valor miacutetico-performativo (IdIHCSFaHCE 2015) Publicou numerosos artigos e capitulos de livrostanto em seu pais Argentina como no exterior especialmentesobre eacutepica homeacuterica e recepcatildeo classica que constituem suasprincipais linhas de investigacatildeo

Guilherme da Costa Assuncatildeo CecilioCursou a Graduacatildeo em Filosofia (bacharelado e licenciatura) naUniversidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) onde tambeacutemconcluiu o Mestrado em Filosofia (PPGLM) e o Doutorado emFilosofia (PPGF) esse na modalidade sanduiche com periodo depesquisa na Johann Wolfgang von Goethe Universitaumlt ndash Frankfurtam Main Eacute professor efetivo de Filosofia do Instituto Federal deEducacatildeo Ciecircncia e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ) eprofessor permanente do Programa de Poacutes-Graduacatildeo emFilosofia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGF-UFRJ)Atua principalmente nas areas de Histoacuteria da Filosofia Antiga eMetafisica

Maria Cecilia ColombaniProfessora titular de problemas filosoacuteficos e antropologia filosoacuteficada Facultad de Filosofia Ciencias de la Educacioacuten y Humanidadesda Universidad de Moroacuten onde ainda atua como investigadoraprincipal e coordenadora de projetos de pesquisa Professoratitular de histoacuteria da filosofia antiga e problemas especiais defilosofia antiga na Facultad de Humanidades da UniversidadNacional de Mar del Plata Autora de diversos capitulos de livros ede mais de uma centena de artigos apresentados em congressos daarea Autora de Hesiacuteodo una introduccioacuten criacutetica (Buenos AiresSantiago Arcos Editor 2005) Homero Una introduccioacuten critica(Buenos Aires Santiago Arcos Editor 2005) e Foucault y la poliacutetica(Buenos Aires Prometeo 2009) Em 2016 publicou Hesiacuteodo

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discurso y linaje una aproximacioacuten arqueoloacutegica pela Universidad de Mardel Plata

Maria del Pilar Fernandez DeagustiniDoutora em Letras pela pela Universidad Nacional de La Plata(UNLP) onde atua como chefe de Trabajos Practicos na area degrego da Facultad de Humanidades y Ciencias de la Educacioacuten ebolsista poacutes-doutoral de CONICET Professora de grego e deliteratura grega classica Autora de Suplicantes de Esquilo unainterpretacioacuten (2015) e de El espacio eacutepico en el canto 11 de Odisea(2010) aleacutem de artigos especialmente sobre as Suplicantes deEacutesquilo objeto de investigacatildeo de sua tese doutoral Atualmenteintegra o projeto de investigacatildeo ldquoRecepcatildeo e apropriacatildeo deHomero na literatura grega classicardquo (UNLP) dirigido pela profadra Graciela Zecchin

Rossana ZettiFormada em Literatura Classica pela Universitagrave degli Studi deMilatildeo Mestre em Classicos na Universidade de Edimburgo ondeatualmente trabalha em sua tese doutoral sob a supervisatildeo do profdr Douglas Cairns Sua pesquisa de doutorado concentra-se narecepcatildeo de Antiacutegona de Soacutefocles na Europa do seacutec XX e seuestudo visa esclarecer as ideologias e os contextos que produziramvarias versotildees renovadas da Antiacutegona no referido seacuteculo

Simone de Oliveira Goncalves BondarczukDoutora em Letras Classicas (2017) e mestre em Linguistica pelaUniversidade Federal do Rio de Janeiro (2005) Ministrou aulascomo professora substituta de lingua e literatura Grega naFaculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro porduas vezes no periodo de 2005 a 2007 e no ano de 2010 Tambeacutemfoi professora no Seminario Teoloacutegico Presbiteriano Simonton doRio de Janeiro entre 1996 e 2007 e da Faculdade de TeologiaWittenberg entre 2006 e 2008 Atuou como pesquisadora durantea graduacatildeo no projeto NURC-UFRJ (subprojeto de semacircntica) sob a

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Os autores

supervisatildeo da professora Dinah Callou e durante o mestrado noprojeto Discurso e Gramatica-UFRJ sob a orientacatildeo do professorMario Eduardo T Martelotta em cujo projeto continuaparticipando como colaboradora Atualmente eacute pesquisadora dogrupo de pesquisa DAG (Discursos da Antiguidade Grega) doPPGLC-UFRJ e do programa de estudos em filosofia antiga ndash Pragmado IFCS-UFRJ Quando doutoranda do Programa de Poacutes-Graduacatildeoem Letras Classicas da UFRJ recebeu uma bolsa sanduiche daCapes para pesquisar na Universitagrave degli Studi di Bari Aldo Morono periodo de setembro de 2015 a fevereiro de 2016 sob asupervisatildeo do professor Paulo Butti de Lima Nessa mesmauniversidade foi recebida na condicatildeo de Visiting Professor

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Caliope Presenca Classica | 20172 Ano XXXIV Numero 34

20172 Ano XXXIV Numero 34

CALIacuteOPEPresenca Classica

ISSN 2447-875X

Programa de Poacutes-Graduacatildeo em Letras ClassicasDepartamento de Letras Classicas da UFRJ

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Caliope Presenca Classica | 20172 Ano XXXIV Numero 34

Universidade Federal do Rio de JaneiroREITOR Roberto Leher

Centro de Letras e ArtesDECANA Flora de Paoli Faria

Faculdade de LetrasDIRETORA Eleonora Ziller Camenietzky

Programa de Poacutes-Graduacatildeo em Letras ClassicasCOORDENADOR Ricardo de Souza NogueiraVICE-COORDENADORA Arlete Jose Mota

Departamento de Letras ClassicasCHEFE Fabio Frohwein de Salles MonizSUBCHEFE Rainer Guggenberger

OrganizadoresFabio Frohwein de Salles MonizFernanda Lemos de LimaRainer Guggenberger

Conselho EditorialAlice da Silva CunhaAna Thereza Basilio VieiraAnderson de Araujo Martins EstevesArlete Jose Mota Auto Lyra TeixeiraRicardo de Souza Nogueira Tania Martins Santos

Conselho ConsultivoAlfred Dunshirn (Universitat Wien)David Konstan (New York University)Edith Hall (Kingrsquos College London)Frederico Lourenco (Universidade de Coimbra)Gabriele Cornelli (UnB)Gian Biagio Conte (Scuola Normale Superiore di Pisa)Isabella Tardin (Unicamp)Jacyntho Lins Brandatildeo (UFMG)Jean-Michel Carrie (EHESS)Maria de Fatima Sousa e Silva (Universidade de Coimbra)Martin Dinter (Kingrsquos College London)Victor Hugo Mendez Aguirre (Universidad Nacional Autoacutenoma de Mexico)Violaine Sebillote-Cuchet (Universite Paris 1)Zelia de Almeida Cardoso (USP)

Capa e editoracatildeoFabio Frohwein de Salles Moniz

Revisatildeo de textoAlexandre Rosa| Fabio Frohwein de Salles Moniz | Fernanda Lemos de Lima| Luiz Karol | Rainer Guggenberger

Revisatildeo tecnicaLucia Pestana | Ludmila Alves

Programa de Poacutes-Graduacatildeo em Letras Classicas Faculdade de Letras ndash UFRJAv Horacio Macedo 2151 ndash sala F-327 ndash Ilha do Fundatildeo 21941-917 ndash Rio de Janeiro ndash RJwwwletrasufrjbrpgclassicas ndash pgclassicasletrasufrjbr

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Caliope Presenca Classica | 20172 Ano XXXIV Numero 34

Sumario

Apresentacatildeo | p 5

Liacutemite y prudencia en Hesiacuteodo una mirada antropoloacutegica | Maria CeciliaColombani | p 9

Antigonersquos (mis)appropriations in Twentieth-Century Europe MemoryPolitics and Resistance | Rossana Zetti | p 25

Significado e estrutura do argumento do terceiro homem no Parmecircnides dePlatatildeo | Guilherme da Costa Assuncatildeo Cecilio | p 45

Identidad ritual y performance un anaacutelisis de los primeiros dos versos deSuplicantes de Esquilo | Maria del Pilar Fernandez Deagustini | p65

O Filebo prazer e intelecto em confronto | Simone de O GoncalvesBondarczuk | p 84

Aedoacuten performance poeacutetica de las viacutectimas | Graciela C Zecchin deFasano | p 108

Arete a virtude em si na Odisseia eacute uma mulher | Alessandra SerraViegas | p 128

Os autores | p 143

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Apresentacatildeo

Eacute com imensa satisfacatildeo que apresentamos o 34o volumeda revista Caliacuteope Presenccedila Claacutessica perioacutedico tradicional daUniversidade Federal do Rio de Janeiro que chega ao seu 34o anode existecircncia Pela primeira vez em todos esses anos os autoressatildeo na sua maioria estrangeiros e por essa razatildeo a linguapredominante dos artigos natildeo e o portuguecircs Temos trecircs linguasdiferentes nesse volume espanhol portuguecircs e inglecircs Pode-seconstatar que isso e um reflexo do fato que a area de LetrasClassicas neste pais esta cada vez mais se internacionalizando

Dois dos trecircs artigos de autores brasileiros abordam temasfilosoacuteficos Um deles ldquoO Filebo prazer e intelecto em confrontordquode Simone Bondarczuk analisa o dialogo platocircnico Filebo que sobvarios aspectos se apresenta no conjunto do corpus platocircnico emdissonacircncia com os temas tipicos de Platatildeo O dialogo pelo menosprima facie natildeo aborda assuntos relacionados com politica mesmotendo sido escrito em uma epoca na qual Platatildeo demonstrava umconstante interesse por esse assunto O propoacutesito do dialogo natildeo eo de estabelecer a vida teoretica como a melhor forma de viver eao mesmo tempo natildeo condena rigorosamente os prazeres masrecomenda uma conduta de vida na qual os prazeres e a reflexatildeointelectual se misturem Eacute uma obra tatildeo complexa que parececarecer de unidade tematica em si mesma Bondarczuk tentadecifrar a foacutermula comum que esta por tras dessa aparente falta deunidade tematica agrave qual estamos habituados em outras obras

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platocircnicas e encontra no acircmago da discussatildeo socratica umpossivel candidato unificador o Bem e a sua relacatildeo com prazerese atividades intelectuais

Em ldquoSignificado e estrutura do argumento do terceirohomem no Parmecircnides de Platatildeordquo O filoacutesofo Guilherme Ceciliounico homem entre seis autoras femininas ndash motivo de orgulhouma vez que comprova serem as Letras Classicas um ramoacadecircmico de igualdades e emancipacatildeo que pode servir comoexemplo para outros acircmbitos da nossa sociedade ndash trata doargumento do Terceiro Homem usado no dialogo platocircnicoParmecircnides Alem de situar o Parmecircnides cronologicamente entre osoutros dialogos platocircnicos Cecilio mostra de qual maneira oargumento em questatildeo serve como objecatildeo agrave teoria das ideias

Alessandra Serra Viegas aponta em ldquoArete a virtude em sin a Odisseia e uma mulherrdquo uma questatildeo que ate hoje recebeupouca atencatildeo o significado do nome da rainha dos Feaces Areteno contexto da Odisseia e a importacircncia histoacuterico-literaria determos uma figura feminina chamada ldquoVirtuderdquo Serra Viegas tentasituar esse dado dentro de uma discussatildeo sobre a relacatildeo mulher-homem no contexto homerico e os seus desdobramentos naepopeia

No seu artigo ldquoIdentidad ritual y performance un analisisde los primeiros dos versos de Suplicantes de Esquilordquo Maria delPilar Fernandez Deagustini desdobra atraves de uma analise desomente dois versos iniciais das Suplicantes todo o universoesquiliano e demonstra o seu encaixe na cultura grega alem de suainteracatildeo com os ritos e a religiatildeo inserido no contexto dramaticoda peca Temos a possibilidade de olhar de matildeos dadas com apesquisadora argentina que fornece todas as necessariasferramentas teoacutericas conectando-as com a pratica de performancedo drama para tras do funcionamento de uma das mais antigastragedias chegadas ate noacutes Criando uma rede de referecircnciasintertextuais del Pilar mostra que os primeiros versos satildeofundamentais para a estrutura e para a compreensatildeo das Suplicantes

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porque eles contecircm elementos que interagem com outras partes dapeca

Em ldquoLimite y prudencia en Hesiodo una miradaantropoloacutegicardquo a especialista em poesia hesioacutedica Maria CeciliaColombani adaptando as teorias de Louis Gernet propotildee umaleitura antropoloacutegica dos poemas de Hesiodo com o propoacutesito deesclarecer a relacatildeo exata na qual o homem arcaico da Greciaantiga se situou para com o divino e como ele de modo mais geralse (auto)integrou no mundo religioso da sua tradicatildeo

Como terceira autora de lingua espanhola GracielaZecchin de Fasano reflete sobre o papel da vitima na poesia gregatomando como base principal a Odisseia os Trabalhos e os dias deHesiodo e as Aves de Aristoacutefanes em ldquoAedoacuten performance poeticade las victimasrdquo O artigo mostra como a figura do rouxinol serviade Homero ate a epoca classica como simbolo das vitimas quesofrem violecircncias nas esferas dominadas por forcas masculinas

Rossana Zetti mostra em ldquoAntigonersquos (mis)appropriationsin Twentieth-Century Europe Memory Politics and Resistancerdquocomo a Antiacutegona de Soacutefocles foi interpretada e instrumentalizadana primeira metade do sec XX Eacute fascinante notar como correntespoliticas opostas conseguiram cada um de maneira distintaapropriar-se do potencial soacutecio-cultural dessa tragedia Zetti iniciaa viagem pelos tempos e as suas apropriacotildees da peca com atraducatildeoadaptacatildeo de Houmllderlin que somente mais de um seculodepois da sua publicacatildeo comecou a ser considerada uma versatildeo etraducatildeo extraordinaria enquanto considerado mediocre pelamaioria dos contemporacircneos do poeta e tradutor alematildeo Essaversatildeo serviu no sec XX tanto aos Nazistas quanto aos socialistas(Bertolt Brecht) como referecircncia ideal O artigo demonstra comouma mesma tragedia pode ser interpretada e apresentada comosubversiva por uns e modelo classico de representacatildeo de valorestradicionais conservadores por outros

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Encerrando esta edicatildeo encontra uma secatildeo cominformacotildees sobre os autores deste numero No mais desejamosuma proveitosa e prazerosa leitura

Os editores

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Liacutemite y prudencia en Hesiacuteodo una mirada antropoloacutegica | Mariacutea Cecilia Colombani

Liacutemite y prudencia en Hesiacuteodo unamirada antropoloacutegicaMariacutea Cecilia Colombani

RESUMO

A proposta do presente trabalho consiste em efetuar uma leituraantropoloacutegica da relaccedilatildeo que o homem guarda com a divindade nomarco do esquema do pensamento miacutetico proacuteprio da Greacuteciaarcaica A presenccedila dos deuses implica que por detraacutes do khaacuteosaparente estaacute garantida a existecircncia de uma ordem da qual apoesia eacute precisamente sua percepccedilatildeo mais exitosa No toacuteposantropoloacutegico dois fenocircnemos satildeo essenciais e complementaresna relaccedilatildeo do homem grego com a divindade O primeiro radica nadistacircncia que o separa dos seres divinos e o segundo abarca oscontatos humanos de aproximaccedilatildeo e assimilaccedilatildeo a esse mundoNeste marco intencionamos relacionar o toacutepico evidenciandocomo no marco da relaccedilatildeo que se estabelece entre ambos osplanos no reconhecimento e na transgressatildeo do registro que osdistingue e os separa a ira dos deuses eacute despertada a partir dodesconhecimento do limite e da prudecircncia

PALAVRAS-CHAVE

Homem divindade distacircncia aproximaccedilatildeo reconhecimentotransgressatildeo

SUBMISSAtildeO 14 set 2017 | PUBLICACcedilAtildeO 10 nov 2017

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1 LA DISTANCIA

l proyecto del presente trabajo consiste en efectuar unalectura antropoloacutegica de la relacioacuten que el hombreguarda con la divinidad en el marco del esquema depensamiento miacutetico propio de la Grecia ArcaicaEntendemos por ldquoantropologiacuteardquo el concepto del queparte Louis Gernet para pensar coacutemo el hombre seproyecta en el plano religioso del mundo reconociendoque maacutes allaacute de los multiples vaivenes que la palabra hatenido segun la eacutepoca podemos considerar que se tratade la representacioacuten del hombre en el plano religioso delmundo1

Para comprender este aspecto debemos captar laidea de fractura ontoloacutegica entre diferentes aacutembitos o

regiones de ser de dos toacutepoi de dos razas o mundos impermeablesla una respecto de la otra tal como sostiene el propio Gernet2 Esel largo relato de los dioses es el trazo del linaje el reparto de lospoderes y la definitiva consolidacioacuten del koacutesmos la que permitedelinear los dos toacutepoi referidos

La presencia de los dioses y la existencia de ese planoimplican que por detraacutes del khaacuteos aparente estaacute garantizada laexistencia de un orden del cual la poesiacutea es precisamente supercepcioacuten maacutes lograda Como sostiene Gernet ella constituye esaespecie de ldquofilosofiacutea popularrdquo3 que al contar las sucesiones divinasnarra al mismo tiempo la plasmacioacuten a partir del khaacuteos de unorden perfecto sostenido por la justicia de Zeus La Teogoniacuteaconstituye el primer intento griego de dar una explicacioacuten divinadel orden del universo Tal como afirma J-P Vernant ldquoLasteogoniacuteas y las cosmogoniacuteas griegas comprenden como lascosmologiacuteas que les han sucedido relatos de geacutenesis que explicanla aparicioacuten progresiva de un mundo ordenadordquo4 Esta intuicioacuten sedebe precisamente a ese teloacuten de fondo religioso que impregna latotalidad de la vida social del hombre griego

Si seguimos la tesis de L Gernet es en ese toacutepos donde seproduce el fenoacutemeno de aproximacioacuten que acorta la distancia entrelos dos aacutembitos que constituyen zonas impermeables5

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Liacutemite y prudencia en Hesiacuteodo una mirada antropoloacutegica | Mariacutea Cecilia Colombani

Efectivamente la esfera humana parece acercar su registro a laesfera divina aunque en el seno mismo de esta ritualizacioacutensimboacutelica lo divino siempre guarde su territorio inasible En eltoacutepos antropoloacutegico dos fenoacutemenos son capi ta les ycomplementarios en la consideracioacuten de la relacioacuten entre elhombre griego y la divinidad El primero radica en la distancia quelo separa de los seres divinos y el segundo da cuenta de losintentos humanos de aproximacioacuten y de asimilacioacuten a ese mundoque lo sobrepasa por doquier6

La aproximacioacuten no implica una categoriacutea geograacutefica unadistancia medida en paraacutemetros espaciales sino una dimensioacutenontoloacutegica que supone un determinado estatuto de ser una ciertacualificacioacuten que transfigura el ser mismo del hombre Existe unafractura o brecha entre dioses y hombres donde el nucleo mismode la distancia supone el liacutemite que implica la muerte Finitud einfinitud he alliacute la clave de una distancia que muy pocos puedensoacutelo en parte franquear

La asimilacioacuten implica tambieacuten una categoriacutea ontoloacutegicaEs el ser mismo del hombre el que se transforma ya que deviene eacutelmismo ldquocomo un diosrdquo Es la aspiracioacuten comun de los mortales elser del hombre se asimila al ser divino y en tal asimilacioacuten seconvierte en un sujeto excepcional en un epopteacutes

El teloacuten de fondo de esta dualidad implica una ciertanocioacuten de temporalidad En el marco de la atemporalidad quehemos sugerido como marca identitaria del plano divino hay noobstante una particular loacutegica temporal Los dioses parecen teneruna cierta vida cotidiana un cierto movimiento que se juegacomo corresponde en una especialidad abierta y en unatemporalidad acotada

Recordemos que es posible hablar de una temporalidaddivina y que eacutesta estaacute directamente vinculada con la idea de dramaen tanto accioacuten Las acciones de los dioses asiacute como suspreocupaciones abren una temporalidad dentro del ldquosiemprerdquocaracteriacutestico del plano divino Dicen Detienne y Sissa

Asiacute en la obra de Homero y especialmente en la Iliacuteada la vidade los dioses se despliega en toda su densidad en esa mezcla

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de acontecimientos y de rutina que la caracterizan [] allaacutedonde en la sucesioacuten de hechos se abran las ventanas de unteatro que habla no de la mediocridad sino maacutes bien de lavita de la existencia de los dioses7

Podemos tambieacuten abordar el nucleo problemaacutetico hombre-divinidad desde la perspectiva del poder que se pone en juego Seobserva entonces una polaridad en la dimensioacuten de la arkheacute Elpropio Gernet bucea en la disimetriacutea estatutaria que la diacuteadaimplica y alude a que

Un magniacutefico coro de la Antiacutegona de Soacutefocles exalta alhombre como detentor ndash e incluso excepcionalmente comocreador ndash de teacutecnicas a las que se podriacutea atribuir un desarrolloindefinido si no se topara con un doble liacutemite la muerte esabarrera infrangible y los dioses de los que los hombresreciben la justicia8

La divinidad constituye esa instancia aacuteltera donde se ostentaefectivamente la arkheacute tensionando de ese modo la distancia entreun mundo y otro a punto tal de que el hombre mismo es una cosamaravillosa pero estrechamente limitada ya que su accioacuten no esautoacutenoma porque reconoce la marca de los dioses como sello desu voluntad incuestionable

El poder al que nos referimos de caraacutecter disimeacutetrico es lamarca de la inmortalidad que atraviesa a la divinidad y la nocioacuten deDiacuteke ya que son los dioses quienes otorgan la justicia divina Elhombre por el contrario es mortal descubriendo en la muerte eseliacutemite que lo territorializa a su condicioacuten humana asimismo estributario de un orden-justicia que no depende de eacutel Se trata deuna primeriacutesima justicia coacutesmica donde el orden mismo de lo reales sinoacutenimo de justicia

Por todo lo dicho

Si se realiza una investigacioacuten etnograacutefica y comparativa seobserva que los dioses presentan respecto a los mortales unestatuto excepcional y heterogeacuteneo al mismo tiempo Por unaparte se pueden atribuir sus cualidades a una sistemaacuteticasuperioridad sobre los hombres Por otra parte debemos

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Liacutemite y prudencia en Hesiacuteodo una mirada antropoloacutegica | Mariacutea Cecilia Colombani

reconocerles tambieacuten una diferencia especiacutefica Los dioses seperciben distintos porque son maacutes grandes maacutes poderosos ymaacutes sabios que los hombres pero tambieacuten porque pararegular su existencia eligen unas normas que le son propias yexclusivas9

Pensemos en otra arista del ldquoentrerdquo otro aspecto de losespacios vinculares que el hombre juega en su instalacioacuten frente ala divinidad La condicioacuten de ser mortal se abre al horizonte de losInmortales como lo otro del hombre Las dos razas o mundos delos que venimos hablando se juegan como advertimos en ladistancia que separa ambos toacutepoi lo cual no invalida la posibilidaddel ldquoentrerdquo como modelo de contacto entre uno y otro plano oregistro ontoloacutegico Basta pensar en Hesiacuteodo ultimo y unicotestigo de una palabra dedicada a la alabanza del personaje real10

para captar esta forma de ldquoentrerdquo El texto es elocuente alrespecto

Con pureza y santidad en la medida de tus posibilidades hazsacrificios a los dioses inmortales y quema en su honorespleacutendidos muslos11

E l ldquoentrerdquo estaacute sin duda mediado por la leccioacutenantropoloacutegica inaugural que el mito de Prometeo devuelve comoloacutegos fundacional los hombres reconocen su propio liacutemite y suespacio antropoloacutegico respectivo y el sacrificio es la prenda delreconocimiento La carne perecedera seraacute el alimento de loshombres y los huesos el eterno homenaje a los Inmortales En elmarco del sacrificio dos recomendaciones la pureza referida alcuerpo y la santidad como estado del espiacuteritu

Recordemos que Prometeo cree engantildear a Zeus cuandomovido por su astucia le da a elegir entre dos porciones dosbocados diferentes ambos cubiertos de piel pero soacutelo unoconteniendo en su interior carne mientras el otro soacutelo guardahuesos y grasa Zeus elige este ultimo con lo cual queda instituidoque el alimento humano seraacute la carne El mito de Prometeo fundaasiacute el rito sacrificial En este momento hombres y dioses se

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separan los hombres no tienen ya una comunicacioacuten directa conlos dioses y se inaugura la dependencia de los hombres frente a lacarne cocida como alimento humano La instauracioacuten del ritualrompe la vieja comensalidad entre hombres y dioses e inauguraesos toacutepoi que marcan la dimensioacuten humana y la divina como razaso mundos impermeables El sacrificio separa doblemente a loshombres por un lado de los dioses y por el otro de los animalesya que los hombres deben cocer la carne y cultivar el campomientras los animales comen crudo Tal como lo muestra Detiennee n Los Jardines de Adonis12 en el reparto del primer sacrificio loshombres se llevan la parte vinculada a lo corruptible mientras quea los dioses les corresponden los aromas puros imputrescibles Laexistencia humana queda definida por una posicioacuten intermediaambigua entre lo crudo y lo quemado lo podrido y loimputrescible lo bestial y lo divino Se establece una relacioacutenvertical entre ambos al tiempo que se instituye una relacioacutenhorizontal entre los hombres El sacrificio abre los dos planosporque obliga a los hombres a comer cierto tipo de alimentomientras otros bocados corresponden a los dioses El mito daorigen a las praacutecticas sacrificiales que es precisamente el modo enque los mortales se conectan con lo divino El sacrificio es laforma en que los hombres donan algo a los dioses desde suprecaria condicioacuten humana Asimismo el mito abre un escenarioespeciacuteficamente antropoloacutegico los hombres quedan condenados acocinar los alimentos permaneciendo lo crudo reservado a losanimales o baacuterbaros

Esta no es la unica recomendacioacuten para marcar el ldquoentrerdquoque la divinidad impone Vuelve a ser Hesiacuteodo el que normativizala relacioacuten ldquoOtras veces conciacuteliatelos con libaciones y ofrendacuando te vayas a la cama y cuando salga la sagrada luz del diacuteapara que te conserven propicio su corazoacuten y su espiacuteritu y puedascomprar la hacienda de otros y no otro la tuya rdquo13

En realidad los favores de la divinidad son la clave de todobienestar Incluso el modo de vincularse de generar precisamentee l ldquoentrerdquo que estamos indagando genera una especie deregularidad o ciclicidad coacutesmica la totalidad de la jornada tanto la

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Liacutemite y prudencia en Hesiacuteodo una mirada antropoloacutegica | Mariacutea Cecilia Colombani

noche como el diacutea el irse a la cama como el levantarse quedanbajo la tutela de los dioses como condicioacuten de posibilidad de unavida armoniosa

El extenso apartado de Trabajos y diacuteas sobre las actividadescorrespondientes a cada estacioacuten del antildeo da cuenta de lapreocupacioacuten por el trabajo al tiempo que anuda su problemaacuteticaa la mismiacutesima legalidad coacutesmica14 Sabemos que el fondo ultimode resonancia es de caraacutecter sagrado y la ciclicidad que atraviesa locoacutesmico estaacute regulada por el mismo estatuto sagrado El trabajo secumple en conformidad con la regularidad del universo que ledona sentido y lo legitima como actividad religiosa

Su entorno devuelve ademaacutes la dependencia ontoloacutegica delos mortales respecto al destino que los dioses han hilvanado paralos hombres otro dato que habla de la fractura ontoloacutegica y quehace pensar a L Gernet en esas dos razas impermeables la una dela otra Ya sea el destino de muerte la muerte violenta o la naturalel hombre no escapa a esa dama oscura que inexorablemente nosatrapa y nos marca nuestra Moicircra nuestra porcioacuten en el reparto ynuestro territorio antropoloacutegico Alliacute estaacuten entonces los modelosejemplares que desde el relato ancestral como loacutegos explicativoresultan los vicarios miacuteticos de cualquier realidad del toacutepos humano

2 LA PROXIMIDAD

No obstante queremos problematizar esta distancia queacabamos de acompantildear con la tesis de L Gernet y de la mano deM Vegetti pensar paradoacutejicamente la cercaniacutea y la proximidad dela divinidad ya que eacutel mismo afirma la presencia intensa de lodivino

Esta difusioacuten de lo sagrado se prolonga en una relacioacuten defamiliaridad con los dioses que caracteriza ampliamente laexperiencia religiosa griega la divinidad no estaacute lejos ni esinaccesible el recurrir a ella podriacutea decirse que caracterizacada momento significativo de la existencia privada y socialSe le puede encontrar tan a menudo en sus imaacutegenes en laspraacutecticas culturales que se le dedican en las narraciones

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familiares y publicas en las que se dibujan las tupidas tramasde una simbolizacioacuten significativa de la existencia15

En efecto frente a la radical trascendencia que toma lodivino en religiones de otras caracteriacutesticas los dioses griegosguardan un estatuto inmanente que los vuelve proacuteximos maacutes allaacutede su distancia ontoloacutegica que los convierte en los Athaacutenatoi a losque se refiere Hesiacuteodo

Ahora bien iquestcoacutemo podemos caracterizar esta religiosidadgriega que estamos relevando Instalarse en este lugar suponecomparar este modelo religioso con otros para definirlo desde unesquema negativo

En primer lugar la religioacuten griega no se basa en ningunarelevacioacuten lsquopositivarsquo concedida directamente por la divinidada los hombres y por tanto no tiene ningun profeta fundadorde las grandes religiones monoteiacutestas del Mediterraacuteneo y noposee ningun libro sagrado que enuncie las verdades reveladasy constituya el principio de un sistema teoloacutegico16

La falta de esos elementos convierte a los dioses en seresmaacutes proacuteximos menos atenidos a todo el dispositivo simboacutelico delas religiones institucionalizadas

La propia falta de una iglesia como oacutergano de maacuteximajerarquiacutea determina una relacioacuten maacutes cercana que permite construiruna cierta familiaridad con lo divino donde las fronteras entre unoy otro aacutembito parecen desdibujarse pero soacutelo se trata de unaapariencia propia de la cotidianeidad porque en el fondo ladivinidad guarda siempre su jerarquiacutea estatutaria a partir de suorden ontoloacutegico ldquoY tanto menos una iglesia unificada entendidacomo aparato jeraacuterquico y separado legitimado para interpretar lasverdades religiosas y administrar las praacutecticas de cultordquo17 Sin dudaes a esta ausencia que se debe el grado de proximidad que elmismo Vegetti reconoce entre hombres y dioses Es esta cercaniacuteala que se traduce en lo cotidiano y permite comprender coacutemo ldquoenla experiencia comun por tanto siempre ha habido unaconvivencia entre la estirpe de los dioses y la de los hombresrdquo18 La

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eacutepica homeacuterica constituye una muestra magniacutefica de este aspectocon la exhibicioacuten de un viacutenculo con la divinidad que habla de unreacutegimen de cercaniacutea y proximidad19

Hasta aquiacute algunos puntos sobre coacutemo podemos entenderesta forma de religiosidad que combina las diacuteadas opuestas Unaexperiencia que guarda distancia ontoloacutegica pero que al mismotiempo evidencia matices de cercaniacutea y proximidad unaexperiencia que se revela como trascendente por las propiascaracteriacutesticas de lo divino pero inmanente en su forma depresentacioacuten

Pensemos otro aspecto desde la perspectiva de Vegetti queimpacta directamente en el corazoacuten maacutes iacutentimo de la experienciaporque diagrama el plano del culto como forma de cercaniacutea maacutesacabada

Incluso falta en griego una palabra cuyo campo semaacutenticoequivalga propiamente al teacutermino lsquoreligioacutenrsquo La que maacutes seaproxima euseacutebeia es definida por el sacerdote Eutifroacuten elprotagonista del diaacutelogo platoacutenico como lsquoel cuidado (therapeiacutea)que los hombres tienen para con los dioses (Platoacuten Eutifroacuten12 e)rsquo20

El campo lexical del verbo therapeuacuteo es la clave de estainterpretacioacuten curar cuidar velar honrar Esas son las marcas dela relacioacuten entre el hombre y la divinidad que determina ademaacutes ladiferencia estatutaria que venimos registrando A los hombres lescorresponde honrar a los dioses como modo de corroborar supertenencia al toacutepos humano En este sentido la experiencia delculto implica la persistencia del espacio humano determinada porla subordinacioacuten al aacutembito divino

Debemos comprender el significado general de ldquorespetarhonrar a la divinidad en las praacutecticas de culto nomiacutezein equivaldraacuteen definitiva a therapeuacuteein dedicar a la divinidad los oportunoscuidados ritualesrdquo21 En ese respeto y cuidado el hombre no soacutelo sedirige a los dioses sino que se respeta y cuida a siacute mismoconservando el puesto que la propia divinidad ha designado para elcolectivo humano

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Asiacute queda claro que ldquoEl nucleo de la relacioacuten entrehombres y divinidad de la lsquoreligioacutenrsquo y de la lsquofersquo de los griegosparece consistir en la observancia de los cultos y de los ritosprescritos por la tradicioacutenrdquo22 Ciertas prescripciones exhortacionesy prohibiciones pueden ser entendidas desde la dimensioacuten queacabamos de relevar Las marcas del cuidado toman la forma deuna observancia que tiene como objeto honrar a los dioses ygenerar en ellos el sentimiento de placer y felicidad de quien sesiente alabado Al mismo tiempo constituyen consejos para la vidade los hombres porque dan cuenta de una familiaridad con lodivino que trae como consecuencia beneficios en la vida ordinaria

Analizaremos una serie de versos que devuelvenprecisamente las marcas del cuidado

Nunca te atrevas a echar en cara la funesta pobreza que roe elcorazoacuten de los hombres regalo de los eternosBienaventurados23

Nunca al amanecer libes rojizo vino a Zeus con las manos sinlavar ni a los demaacutes Inmortales pues no te escucharaacuten yvolviendo la cara escupiraacuten sobre tus oraciones24

No engendres tus hijos a la vuelta de un funeral de malaguumlero sino al volver de un banquete de los Inmortales25

No te cortes en el banquete festivo de los dioses lo seco de loverde de tus cinco ramas con el brillante hierro26

No te burles de los misterios cuando asistas a humeantessacrificios sin duda tambieacuten un dios se venga de esto27

Esta familiaridad y convivialidad que venimos rastreandopuesta fundamentalmente en teacuterminos de ldquocuidadordquo no invalida elpaacutethos del temor En efecto ldquoesto no significa naturalmente queno existiese un profundo y radical temor a la divinidad y a sucapacidad de castigar las culpas de los hombres golpeaacutendoles a lolargo de su existencia e incluso de su descendenciardquo28

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3 LA VIDA TODA EN CLAVE RELIGIOSA

Definitivamente instalados en el texto hesioacutedico queremosarticular el viacutenculo hombre-divinidad en tres ejes en dondeclaramente se observa la presencia dominante de los dioses comoteloacuten de fondo de la vida en su conjunto La instancia fundacionalque supone el mito de las edades el trabajo como modo deinstalacioacuten de los hombres en su condicioacuten antropoloacutegica y lashuellas de una cotidianeidad que se revela de extrema familiaridadseraacuten los toacutepicos a tratar

EL MITO DE LAS EDADES DEL CUIDADO AL DESCONOCIMIENTO

Cuando Hesiacuteodo presenta el largo relato que da cuenta dela progresiva degradacioacuten humana en el marco de una claraintencioacuten didaacutectica29 comenta una convivialidad que parece tensarla reciprocidad entre hombres y dioses en un punto deseado deencuentro y familiaridad

Viviacutean como dioses con el corazoacuten libre de preocupacionessin fatiga ni miseria30

Los hombres de la raza de oro conocieron las delicias deesta proximidad y respondieron a ella con los debidos cuidadosque los dioses merecen por su condicioacuten de tales El clima esfestivo y el corazoacuten alcanza la mayor alegriacutea que el contacto conlos dioses aporta como recompensa extrema ldquoEllos contentos ytranquilos alternaban sus faenas con numerosos deleites Eranricos en rebantildeos y entrantildeables a los diosesrdquo31

El favor de los dioses se manifiesta en una vida cuasidivina sin la presencia de aquellos males y sufrimientos queconstituiraacuten el marco de la existencia de los hombres Los hombresquedaraacuten definitivamente sumidos en ese marco de desgracias ypesares cuando olviden su cuidado los dioses

Ahora bien seraacute precisamente ese toacutepico el que determinela peacuterdida de un estado de felicidad compartida y el pasaje a unestado otro donde el cuidado ha sido olvidado lo cual implica elpropio olvido de los dioses

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Pues no podiacutean apartar de entre ellos una violenciadesorbitada ni queriacutean rendir culto a los Inmortales ni hacersacrificios en los sagrados altares de los Bienaventuradoscomo es norma para los hombres por tradicioacuten A eacutestos maacutestarde los hundioacute Zeus Croacutenida irritado porque no daban lashonras debidas a los dioses bienaventurados que habitan elOlimpo32

Dejar de cuidar therapeuacuteo a los dioses es la forma maacutesacabada de dejar de cuidarse por esta torpeza la hyacutebris gana laescena y los hombres no cesan en sus males Dejar de rendir cultoa los dioses ignorar el sacrificio como la leccioacuten inaugural que elmito de Prometeo ensentildeara a los mortales y generara la divisioacutenentre hombres y dioses olvidar las normas ancestrales quesostienen la cohesioacuten de los mortales reunidos en comunidadrenunciar a dar las honras correspondientes son los olvidos del noreconocimiento no soacutelo de los dioses sino de siacute mismos comohombres ya que ser hombre implica ese paquete de obligaciones

De este modo cuando Hesiacuteodo culmina el relato del largocamino de la decadencia y la injusticia que va hilvanando eldestino de las cinco razas considerando la interpolacioacuten de la razade los heacuteroes abre un panorama desolador del campo de viacutenculostransidos por el conflicto33

RELIGIOSIDAD Y VIDA COTIDIANA

La presencia de los dioses en la vida cotidiana puede tomarla forma de la vigilancia

Despreciaraacuten a sus padres apenas se hagan viejos y lesinsultaraacuten con duras palabras cruelmente sin advertir lavigilancia de los dioses ndash no podriacutean dar el sustento debido asus padres ancianos aquellos [cuya justicia es la violencia ndash yunos saquearaacuten las ciudades de los otros]34

Los dioses tienen asiacute una presencia fuerte entre loshombres observando sus conductas y castigando en consecuencia

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Liacutemite y prudencia en Hesiacuteodo una mirada antropoloacutegica | Mariacutea Cecilia Colombani

Forma parte de su estatuto esta presencia que tambieacuten habla deuna familiaridad en el plano inmanente de la vigilancia

La divinidad estaacute presente custodiando las costumbres ydelineando con la recompensa o el castigo consecuentes ladimensioacuten moral de los hombres proclives a olvidar susobligaciones

Igualmente el que maltrata a un suplicante o a su hueacutesped osube al lecho de su hermano (para unirse ocultamente con suesposa incurriendo en falta) o insensatamente causa dantildeo alos hijos hueacuterfanos de aqueacutel y el que insulta a su padreanciano ya en el funesto umbral de la vejez dirigieacutendose a eacutelcon duras palabras sobre eacuteste ciertamente descarga el mismoZeus su ira y al final en pago por sus injustas acciones leimpone un duro castigo Pero tu aparta por completo tuespiacuteritu de estos delitos35

La divinidad se presenta siempre como el garante de unajusticia tanto coacutesmica como humana36

CONCLUSIONES

Hemos intentado pensar la problemaacutetica de la ira desdedistintos andariveles a partir de la relacioacuten que vincula al hombregriego con la divinidad

Nos propusimos relacionar el toacutepico mostrando coacutemo enel marco de la relacioacuten que se da entre los mortales y losInmortales el no reconocimiento y la transgresioacuten del registroontoloacutegico que los distingue y separa despierta la ira de los dioses

En segundo lugar vimos coacutemo el sentimiento de ira sevincula estrateacutegicamente con el proyecto didaacutectico moralizador queHesiacuteodo se propone dando respuesta a una demanda de su tiempohistoacuterico Asiacute la ira no se vincula con la coacutelera del dios en suestatuto supremo sino que se inscribe en un diagrama eacutetico queprioriza la virtud y la justicia como horizonte de un cierto ethos

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Caliacuteope Presenccedila Claacutessica | 20172 Ano XXXIV Numero 34

ABSTRACT Limit and Prudence in Hesiod an Anthropological View

The purpose of this paper is to read anthropologicaly therelation between Man and Divinity within the mythologicalthought of Arcaic Greece The presense of gods is the warrantythat beyond the apparent khaos there is Order of which Poetry isits most perfect expression Within the anthropological toacutepos twoaspects define the Greek experience of Divinity The first one isthe distance between humans and gods The second one is theassimilation and approximation to that divine world These twoaspects define Human condition We will demonstrate howtransgression and unrecognition to these aspects cause the wrathof the gods

KEYWORDS

Man Divinity Distance Approximation TransgressionUnrecognition

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Liacutemite y prudencia en Hesiacuteodo una mirada antropoloacutegica | Mariacutea Cecilia Colombani

BIBLIOGRAFIacuteACOLOMBANI MC Hesiacuteodo discurso y linaje una aproximacioacuten arqueoloacutegicaMar del Plata Universidad de Mar del Plata 2016______ Homero una introduccioacuten criacutetica Buenos Aires Santiago Arcos2005 DETIENNE M Los maestros de verdad en la Grecia arcaica Madrid Taurus1986______ Los jardines de Adonis Madrid Akal 1996DETIENNE M SISSA G La vida cotidiana de los dioses griegos MadridTemas de Hoy 1990GERNET L Antropologiacutea de la Grecia antigua Madrid Taurus 1981GIGON O Los oriacutegenes de la filosofiacutea griega de Hesiacuteodo a ParmeacutenidesMadrid Gredos 1985HESIacuteODO Obras y fragmentos Madrid Gredos Madrid 2000HESIOD Theogony Works and Days Testimonia Trans GW MostCambridge Loeb Classical Library London Harvard University Press 2007LIDDEL HG SCOTT R A Greek-English Lexicon Oxford Clarendoin Press1996LINtildeARES L Hesiacuteodo Teogoniacutea Trabajos y Diacuteas Edicioacuten bilinguumle BuenosAires Losada 2005NESCHKE A Dikegrave La philosophie poeacutetique du droit dans le ldquomythe des racesrdquod Heacutesiode In BLAISE F JUDET DE LA COMBE P ROUSSEAU P Le meacutetier dumythe lectures d Heacutesiode sous la direction de BLAISE F JUDET DE LA COMBEP ROUSSEAU P Paris Presse Universitaires du Septentrion vol 16 1993 p465-478VEGETTI M El hombre y los dioses In VERNANT J-P El hombre griegoMadrid Alianza 1993VERNANT J-P Los oriacutegenes del pensamiento griego Buenos Aires EUDEBA1976VIANELLO DE COacuteRDOVA P Hesiacuteodo Teogoniacutea Meacutexico Universidad NacionalAutoacutenoma de Meacutexico 1978

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1 GERNET 19812 Idem ibidem p 153 Idem ibidem p 164 VERNANT 1976 p 875 Idem ibidem p 876 GERNET 1981 p 157 Idem ibidem p 158 Idem ibidem p 169 DETIENNE SISSA 1990 p 5010 DETIENNE 198611 LINtildeARES 2005 p 336-33812 DETIENNE 1996 p 11213 LINtildeARES 2005 p 339-34214 COLOMBANI 2005b El tratamiento de Hesiacuteodo se inscribe iacutentegramente en unhorizonte antropoloacutegico-cultural donde el trabajo aparece como un hecho decultura que se inscribe en el marco de una legalidad coacutesmica que marca laciclicidad que abraza la dimensioacuten temporal del hombre 2005b15 VEGETTI 1993 p 29116 Idem ibidem p 292

17 Idem ibidem p 29218 Idem ibidem p 29319 COLOMBANI 2005a20 VEGETTI 1993 p 29321 Idem ibidem p 29322 VEGETTI 1993 p 29323 LINtildeARES 2005 p 717-71824 Idem ibidem p 724-72725 Idem ibidem p 735-73626 Idem ibidem p 743-74427 Idem ibidem p 755-75628 VEGETTI 1993 p 29429 COLOMBANI 2016 El texto analiza la dimensioacuten didaacutectica de Hesiacuteodo enrelacioacuten a la posibilidad de constitucioacuten del hombre prudente como modo dereparar la decadencia epocal en el marco de lo que podemos considerar unametaacutefora meacutedica la prudencia representa entonces el phaacutermakon para curar unasociedad enferma 201630 LINtildeARES 2005 p 111-11231 Idem ibidem p 118-12132 Idem ibidem p 133-13933 Coincidimos con Neschke A (1997) p 478 cuando analiza el mito de lasrazas desde la perspectiva de la exhortacioacuten de la poesiacutea didaacutectica perotambieacuten de la consolidacioacuten de una moral34 LINtildeARES 2005 p 185-19035 Idem ibidem p 328-33536 GIGON 1985 p 13-43 El problema del ser del todo del origen de la verdadde la transmisioacuten de la verdad y la perspectiva de un garante como aquel quevela por la conservacioacuten del orden y la justicia han sido los hilos que Gigon haencontrado para hilvanar el tapiz del Hesiacuteodo-filoacutesofo

Antigonersquos (mis)appropriations in Twentieth-Century Europe | Rossana Zetti

Antigonersquo s (mis )appropr ia t ions inTwentieth-Century Europe MemoryPolitics and ResistanceRossana Zetti

ABSTRACT

In this paper I will offer a historicized reading of Antigonersquosconceptualization as a political play by analysing its reception intwentieth-century Europe I will focus in particular on FriedrichHoumllderlinrsquos adaptation (1804) which is one of the very earliest post-Revolutionary witnesses to the political understanding of the play it isparticularly interesting because it provides a context for Bertolt Brechtrsquosand other twentieth-century adaptations of the myth and it represents acrucial step towards the current interpretative model in which Antigone isan icon of radical dissent and resistance Appropriated both by the Naziregime and by factions of the Resistance Houmllderlinrsquos Antigone wasexploited as a political subversive document or as representative of anationalistic classical tradition This account of the political reception ofSophoclesrsquo Antigone in the twentieth century will contribute to shed lighton the ideological climate which produced such a high number ofadaptations of the ancient play as well as on the reasons for itspertinence to twentieth-century temporal-political conditions

KEYWORDS

Antigone Reception Politicization Brecht Houmllderlin Sophocles

SUBMISSAtildeO 15 nov 2017 | PUBLICACcedilAtildeO 19 dez 2017

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1 INTRODUCTION amp CONTEXTUALIZATION

thol Fugard author of an adaptation of the Antigoneof Sophocles written during the apartheid period inSouth Africa claimed that Antigone is the ldquogreatestpolitical play of all timerdquo1 The political relevance ofthe ancient play considered by Hegel the closest toperfection2 has led to a fruitful interaction with thepresent facilitated by the urgency of politicalsituations in the contemporary world The Antigoneof Sophocles enjoys one of the richest performanceand reception histories it has been translated morethan fifty times into the English language in the lastcentury and it has been performed all around theworld3 The ancient myth has had a major influence

upon writers translators and playwrights of all periods and theambiguities of the play have lent to a variety of interpretations atdifferent times and in different contexts and places Antigone hascommunicated something different Despite such a versatilitycertain inherent characteristics of her tragic persona ndash her defianceof tyranny her rebellious spirit and her claim for human freedomndash have been appropriated again and again thus exemplifying theexistence of ldquofugitive humane communalitiesrdquo occurring acrosshistory4

However in order to understand why among other Greektragedies performed and adapted to the modern stage the Antigoneof Sophocles figures so prominently it is necessary to takedistance from the ldquomystification of Antigone as lsquouniversalrsquordquo5 Itsideas persist and resonate today as in the fifth century but theyhave been progressively changed and revisited in favour of apoliticization of the story precisely the relevance of theSophoclean play to contemporary political events has inspiredmany overtly political versions and imitations in the twentiethcentury The playrsquos plot and themes (Antigonersquos fight for ldquohumanrightsrdquo and autonomy her defiance of authority) enabled differentauthors to respond to various historical instances and politicalcontexts ranging in the twentieth century from Jean Anouilhrsquos

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A

Antigonersquos (mis)appropriations in Twentieth-Century Europe | Rossana Zetti

adaptation in wartime Paris to Bertolt Brechtrsquos adaptation in post-war Germany and Tom Paulinrsquos Irish adaptation The Riot Actperformed during the period of civil strife known as ldquotheTroublesrdquo ndash just to name a few6 The playrsquos spread and influenceare not confined only to the Western world the play attractedcross-cultural appeal even outside Europe where it was exploitedas a vehicle for contemporary political critique7

However Antigone has not always stood as the exemplaryicon of principled resistance and defiance against establishedauthority In spite of its political and revolutionary potential theancient myth was also appropriated by the Nazis for theirideological propaganda and it was presented as example of heroicand patriotic drama8 In particular the Antigone of Sophocles in thetranslation by Houmllderlin was frequently performed towards the endof the Second World War as example of ldquoheroic dramardquo insupport of Hitlerrsquos propaganda Although Houmllderlin did notproclaim the superiority of Germany over Greece as the leader ofthe West nor believed in the ldquoGreek characterrdquo inherent to theGermans his play was appropriated by the Nazis for theirproclamation of a ldquoracial kinship between Greeks and Germansrdquo9

At the same time Antigone was also appropriated byfactions of the Resistance which transformed the play into apolitical subversive document This tradition was followed byBertolt Brecht who upon the end of the Second World Warwrote an adaptation of the Antigone based on Houmllderlinrsquostranslation Through his reworking of the ancient original Brechtencouraged his audience to remember and reflect upon the recenttragedy of the Second World War in the attempt to unveil themechanisms behind the acquisition and dismantling of power atthe same time by adopting Houmllderlinrsquos text he denounced thedistorted readings and misappropriations of the play duringNazism With Brecht Sophoclesrsquo Antigone is established asldquocanonicalrdquo drama of political resistance

Studying the dynamics of remembrance and propagandabehind appropriations of Sophoclesrsquo Antigone is thereforeparticularly interesting the Antigone myth has been readapted and

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ldquorememberedrdquo in different ways to communicate different politicalideologies in the twentieth century a period characterized by civilwars dictatorships and resistance The politicization of Antigone inthese years is twofold ndash it served both the ideologicalinstrumentalization of the Nazis and the intellectual resistance It isin this period that Antigone becomes an icon of resistance andrevolt but it also becomes representative of a nationalistic classicaltradition Different responses to Sophoclesrsquo tragedy thereforereflect cultural and political shifts occurred in the twentiethcentury as well as different ways of interpreting andldquorememberingrdquo the ancient play No matter in what respectAntigonersquos performance in these years represents a political act

2 HOumlLDERLIN AND ANTIGONE

Of particular interest for my investigation of Antigonersquosreception and politicization in the twentieth century are the mainphilosophical theories developed around the Sophoclean play inthe early nineteenth century10 These readings affected by thepolitical circumstances of the French Revolution caused a breakwith the tradition and contributed to establish the currentinterpretative model of a ldquopoliticizedrdquo Antigone11 Antigone becomesthe great twentieth-century play which still affects us today thanksto two interpreters a poet (Houmllderlin) and a philosopher (Hegel)whose influential readings have irremediably shaped the way laterauthors experienced the play The ldquomodernrdquo Antigone would havebeen different without Hegel and Houmllderlin and ldquothephilosophical explorations of the Hegelian tradition might havealso acquired a different orientation without Antigonerdquo12

Contemporary to Hegel Houmllderlin wrote his highlyinnovative translation of the ancient Greek tragedy in 1804 Thistranslation represents a crucial step towards the currentinterpretative model of Antigone as an icon of radical resistance andit is a fundamental political and linguistic document it was used asa libretto for Carl Orffrsquos 1949 opera Antigonae ndash written under the

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Antigonersquos (mis)appropriations in Twentieth-Century Europe | Rossana Zetti

Nazi regime and initially financed by the Reich ndash and it was themodel-translation for Brechtrsquos own interpretation of the play13

Houmllderlinrsquos translation of Antigone has been notoriouslycharacterized for its extreme radicalism Scholars have identifiedmany errors and a striking philological inaccuracy14 Houmllderlinrsquoscommand of Greek was indeed ldquofar from perfectrdquo and he workedwith defective editions To Goethe and to Schiller Houmllderlinrsquostreatment of the Greek text gave palpable evidence of mentalcollapse which the poet endured between 1804 to his death in1843 ndash most likely heightened by the negative reception of histranslations of both Antigone and Oedipus der Tyrann criticized byhis contemporaries15

The rediscovery of the long neglected poet started at thebeginning of the twentieth century The first complete edition ofHoumllderlinrsquos Saumlmtliche Werke was published by Norbert vonHellingrath in six volumes between 1913 and 1923 Thispublication represents a decisive turning point in the reception ofHoumllderlinrsquos works they were not considered anymore as theproduct of a ldquosavagerdquo mind but rather the achievement of a uniquepoet and writer Since then different editions of Houmllderlinrsquos workshave appeared16 and critics praised the Romantic poet consideredpatriotically as exemplary of German honour and loyalty theldquopurestrdquo of poets17 The Antigone in the translation by Houmllderlinwas performed for the first time after its publication in Zurich in1919 and in Darmstadt in 192318

Yet it was in Nazi Germany that Sophoclesrsquo Antigonebecame the most popular classical work performed 150 timesbetween 1939 and 194419 As the war raged on Antigonesignificantly proclaimed ldquoI was born to join in love and not inhaterdquo20 The Sophoclean tragedy became an exemplary model forthe new heroic drama favoured by the Nazis celebrating the ideaof sacrifice and noble death for the fatherland productionsemphasized Antigonersquos patriotic loyalty to her family althoughthey sided with Creon representative of the principle of the state

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The success of Antigone in the repressive context of NaziGermany might seem at odds with the political themes of protestand resistance of the play how could authors conform Antigone tothe ideological manipulation imposed by the regime How is itpossible that the Antigone was so popular and the authorities didnot attempt to stop the proliferation of such a politically chargedplay Wi th Romain Rollandrsquos Aacute lrsquoAntigone eacuteternelle (1916) andWalter Hasencleverrsquos Antigone (1917) the heroine had beenestablished as a figure of pacifism as well as a critical politicalleader Yet it is necessary to take into account the long tradition ofGerman Classicism and cultural identification of Germany withancient Greece started with Winckelmann21 Hitler himself was aPhilhellenist and in his propagandistic book Mein Kampf he hadproclaimed Greece as universal cultural model epitome ofEuropean civilization and racial kin thus merging philhellenismwith nationalism and promoting the identification of the Germanswith the idealized people of ancient Greece22

The combination of Hellenism and Germanism can betraced back to Houmllderlinrsquos translation of Sophoclesrsquo AntigoneHoumllderlinrsquos translation of Sophoclesrsquo Antigone integrates theDionysiac Hellenic element with the German Apolloniancharacter in order to clarify and render intelligible the Greek pathosto the German more rational sensibility23 Houmllderlinrsquos emphasison the similarities between German and Greek cultures preciselyserved the Nazi cause to reinforce nationalistic propaganda duringthe war

In his Notes to Antigone Houmllderlin emphasizes that tragedyemerges at times of revolution in human thinking and feeling ofldquopatriotic reversalrdquo (vaterlaumlndische Umkehr)24 Tragedy as well ashistory is built from the beginning to the end on a series ofdialectic oppositions each generating a dramatic revaluation ofmoral values and political power-relations In Houmllderlinrsquosreinterpretation the opposition between Creon and Antigone ispolitical Antigonersquos act is referred to as Aufstand (ldquouprisingrdquo orldquoinsurrectionrdquo) a politically pregnant word which reveals therevolutionary and political aspiration of his translation25

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Antigonersquos (mis)appropriations in Twentieth-Century Europe | Rossana Zetti

Houmllderlinrsquos translation is itself the product of years characterizedby revolutions Antigonersquos rebellion reflects the FrenchRevolution which is exemplary of a public enactment of such areversal and Creonrsquos final manhandling by his servants can beparalleled to the execution of Louis XVI26 According to Houmllderlina revolution causes a collision whose outcome is a balancedopposition as the play ultimately reaches a (Hegelian) synthesis sorevolutions ultimately bring about a political change in the form ofgovernment and the es tabl ishment of a republikanischeVernunftsform27

The relation between ldquoAntigonersquos revolutionrdquo andldquocontemporary revolutionsrdquo is consolidated by the idea ofVaterland (ldquofatherlandrdquo ldquocommunityrdquo) a sense of patrioticrelevance and nationalism According to Houmllderlin the Germansneed to express their national tendency and at the same timerepress it to give space to the foreign element the pathos of theGreeks only by engaging with the alien can modern poetrybecome ldquopatrioticrdquo (vaterlaumlndisch) and express the originality andauthenticity of the nation itself These principles guide his owntranslation of the play which attempts to clarify and renderintelligible the Greek spirituality in a process called by Houmllderlinldquothe reversal of all modes and forms of representationrdquo28

The Nazis appropriated Houmllderlinrsquos ldquopatrioticrdquo idea of dasVaterlaumlndische and transformed the German poet into an exampleof spiritual leader and patriotic self-sacrifice thus reinvigoratingthe idea of a strong and culturally dominant Germany29 Thecombination of Greek and German elements was exploited assource of ultranationalist pride in the effort to preserve German-Western culture against threatening barbarian influences from theEast thus creating a ldquocultural collective memoryrdquo and heritagedirectly linked to the classics30

The performance of Greek tragedies was thereforelegitimized and approved in the Nazi period In particular Antigonebecame the exemplary model of ldquoheroic dramardquo The ldquoheroicdramardquo was a new dramatic form conceptualized in Germany inthe 1930s which emphasized ideas of patriotism and self-sacrifice

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in order to strengthen the nationalism and unity of Germany in thewake of the imminent war In his essay ldquoThe ImmortalConversation on the Tragic Dramaturgy as the Law of NordicCulturerdquo (1937) Rainer Schloumlsser explained the relevance ofSophoclesrsquo tragedies exemplary of this ldquoNordic attituderdquo ofheroism and noble death31 In May 1933 in his speech ldquoRede vorden deutschen Buhnenleiternrdquo Goebbels proclaimed theldquoheroicnessrdquo of German art

Die deutsche Kunst des naumlchsten Jahrzehnts wird heroischwird staumlhlern-romantisch wird sentimentalitaumltslos sachlichwird national mit groszligem Pathos sie wird gemeinsamverpflichtend und bindend sein oder sie wird nicht sein32

On 22 June 1940 Paris surrendered and the victoriousGerman army marched into Berlin on 6 July 1940 the great victorywas celebrated by Hitler at the Krolloper in Berlin33 In the autumnof 1940 two almost simultaneous productions of Antigone wereperformed in Berlin and Vienna34 The 1940-1941 theatrical seasonopened in Berlin with Karlheinz Strouxrsquos Antigone whichpremiered on 3 September 1940 at the Berliner StaatlichesSchauspielhaus where the TieckMendelssohn production had beenshown multiple times Stroux relied on Roman Woernerrsquostranslation which facilitated the understanding of the text andcontributed to render it accessible to the public ndash by contrast withHoumllderlinrsquos obscure translation

Karlheinz Strouxrsquos reading of the play did not follow thestandard ldquointerpretationrdquo imposed by the Nazis but transgressedand contradicted the dominant ideology Rather than classicalGreece the stage designs reminded critics of an oriental or pre-Hellenic culture Antigone was interpreted by Marianne Hoppeand was addressed and presented as Greek whereas Creoninterpreted by Walter Frank was dressed as an Oriental king Theracial kinship was inverted Antigone a female was presented asthe Aryan-Greek model and Creon the ruler as a barbarian35

Although critics maintained that ldquothe tragedy does not correspondto the standards of the sacrosanct idea of the staterdquo36 the classical

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Antigonersquos (mis)appropriations in Twentieth-Century Europe | Rossana Zetti

subject matter the mystic stage and stylized acting did not prompta direct identification with the story rather they allowed the authorto discuss indirectly contemporary political issues while avoidingcensorship

Particularly resonant was the Antigone directed in Vienna in1940 by Lothar Muumlthel followed by other five performances inFrankfurt (1941) Leipzig (1942) Vienna (1943) Goumlttingen (1944)and Stuttgart (1944) In correspondence with the centenary of thepoetrsquos death on 7 June 1943 patriotic celebrations occurred acrossGermany Antigone was performed in Vienna and the Houmllderlinsociety was founded in Stuttgart Goebbels was appointedldquohonorary patron of the Societyrdquo and Hitler ordered to place ldquoacommemorative wreath hellip in his name on Houmllderlinrsquos grave inTuumlbingenrdquo37 Antigone was even performed in 1944 a few monthsbefore Goebbels ordered the closure of all theatres In occasion ofthe 1944 production of Antigone in Stuttgart a newspaper wrotethat ldquotwo and a half thousand years of Western culture are nowpreserved and defended by Herzland Europardquo38

Therefore although the potential subversive character ofAntigonersquos rebellion which emerges for example in Strouxrsquosreading of the play Antigone was exploited and mis-interpreted bythe Nazis who relied upon Houmllderlinrsquos ldquopatrioticrdquo and ldquoheroicrdquoideas of fatherland Through the Nazisrsquo reading Houmllderlin gainedpowerful ideological resonance and became a nationalist icon ofGerman Nazism Brecht speaks in his Arbeitsjournal of ldquothenationalistic element intolerable to usrdquo imposed by Hitler in thereading of German poets such as Schiller and Houmllderlin39

Houmllderlinrsquos translation of the ancient play was recommended byBrechtrsquos collaborator Caspar Neher who had watched in Hamburgthe first post-war production of Antigone in the translation of theGerman poet (1946)40 This production received particularlypositive responses by the critics who claimed that ldquoHoumllderlin isthe more Greek of allrdquo and intended to convey the ldquoturmoil thepolitical the republican the revolutionary which Houmllderlin alwayssaw in Antigonerdquo41

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In using Houmllderlinrsquos translation but developing a radicallydifferent reading Brecht opposed the Nazisrsquo use of Houmllderlinrsquosplay as the epitome of the vaterlandisch ldquoa way of imagining theworld from a nationalistic perspectiverdquo42 The indeed oppositeappropriation of the play by Brecht reveals the pliability of theAntigone narrative and is paradigmatic of the politicizing of themyth

3 BRECHT AND ANTIGONE

Brechtrsquos version draws closely on Sophoclesrsquo text buttransforms the Greek narrative in an analysis of modern classstruggle Brecht explicitly challenges the nationalistic uses of theSophoclean play which he felt incompatible with the complexitiesof post-war Germany Although appropriated by the Nazis duringthe war for its nationalistic appeal the text also responded toBrechtrsquos desire to oppose to the classical reading of the play andto distance himself from the purely classical-humanist andldquobourgeoisrdquo interest in Greek tragedy

As he explains in the preface to his own Modelbuch43 Brechtavoided an easy identification of the conflict with one between theindividual and the (Nazi) totalitarian regime He refused to equateAntigone with German resistance fighters who fought against theNazis nor could Antigone be interpreted as a ldquomoral playrdquo or asrepresentative of religion humanity or the individual in relation tothe state44 As he suggests in the preface of the Antigonemodell thechoice of the material relied both on the possibility to raiseinteresting formal problems through the ancient play and on itspolitical relevance45

The focus of the play shifts from the conflict between theindividual and the state to the disintegration of the society-polis andthe ldquoscattering of destructionrdquo left by war Brechtrsquos play shows thatwars are determined by questions of profit and imperialistic greedthus drawing an explicit parallel with the Second World WarCreon is a corrupt imperialistic tyrant leading an aggressive waragainst Argos to control its mines His power is maintained

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Antigonersquos (mis)appropriations in Twentieth-Century Europe | Rossana Zetti

through violence and an aggressive policy justified by a rhetoric ofhonour and race In his reinterpretation Brecht emphasizes theviolence implicated in both the ruling class including the wealthychorus of elders and Antigone who loses her dominant role sheis presented as a privileged upper class woman who has also beencomplicit to Creonrsquos crimes46 The heroine merely serves to throwinto relief Creon addressed by his lackeys as ldquomein Fuumlhrerrdquo andhis repressive government dominated by thievery and exploitation

The Sophoclean catastrophe thus becomes in Brechtrsquosreinterpretation an allegory of the decline of the Third Reich andNational Socialism as well as an analysis of societyrsquos mechanismsT h e emphasis on violence and destructions provoked by wardemonstrates Brechtrsquos self-conscious attempt to reflect upon thedisaster of the recent war and to explore issues of responsibility ndashcollaboration and resistance ndash during the years of the SecondWorld War

Through his reworking of the Sophoclean play Brecht aimsto awaken the critical spirit of his audience the play becomes apretext to reflect upon the recent past and to remember that pastIssues of memory recur throughout the play even the title TheAntigone of Sophocles after Houmllderlinrsquos translation adapted for the stage byBrecht represents an act of remembrance and links Brechtrsquos namewith Sophoclesrsquo and Houmllderlinrsquos47

In the parodos of Brechtrsquos Antigone the chorus of Thebanelders celebrates the victory over Argos and encourages the peopleto forget the recent war

Und nach dem Kriege hier Macht die Vergessenheit ausIn alle GoumlttertempelMit Choumlren die Nacht durchKommt her Und Thebe die Bloszlige im LorbeerschurzErschuumltternd herrsche der Bacchusreigen48

The ldquodrink of oblivionrdquo proffered by Bacchus allows thepeople thirsting for peace to rejoice in the illusory celebrationsand to forget about the deaths and destructions caused by the war

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However such a call for forgetting is a cover up manipulated byCreon in order to camouflage the reality the much praised victoryis in fact a lie because the war is not over The eagerness to forget isopposed to Antigonersquos determination to remember the past theheroine insists that it is important to remember the disasters of thepast in order to avoid their repetition in the future In the firstscene of the play Antigone disapproves of her sister Ismene forher the tragedy of their brothersrsquo death is already ldquoa yesterdaythingrdquo49

On the one hand Brecht accuses the spectators ofcomplicity and his Antigone becomes an indictment to thosepeople who wished to forget the past and to those ldquoordinaryrdquoGermans who failed to act under Hitlerrsquos regime and chose not tosee giving tacit consent to his crimes on the other he questionsthe validity of an Antigone-like-act and -death in the context ofBerlin 1945 Brecht himself did not ldquoactrdquo but decided to fleeGermany rather than staying and facing certain death He waswatching the events from a distance during his exile50

The final lesson offered by Brechtrsquos play is indeed nihilisticand pessimistic in the original the chorus praise wisdom whichman can achieve though self-knowledge with old age and throughsubmission to the gods51 in the modern version instead the fall ofThebes could have been avoided and it is presented as the result ofa conscious self-destructive choice It is human greed and lustwhich ultimately transform man in a ldquomonsterrdquo to himselfincapable of becoming ldquobecome wiserdquo even in old age52

Brechtrsquos tragedy teaches that man will repeat the sameerrors reiterated in the updated version of the story unless manremembers the past the sacrifice of innumerable Antigones ndash orGerman resistance fighters ndash will be useless Brecht appropriatesthe Antigone story as political instrument to reflect upon humanactions and more precisely upon the ldquomonstrousrdquo actions andchoices enacted by each single individual during the tragic years ofthe Second World War Once more classics serve as a platform tocomment upon past and present events and to question issues ofmoral choice and responsibility

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Antigonersquos (mis)appropriations in Twentieth-Century Europe | Rossana Zetti

The influence of Brechtrsquos play extends beyond itsimmediate impact His version is as important as the original forthe creation of later politicized Antigones and showed the way toother adaptations that reflected on political issues of dissent andresistance

4 CONCLUSIONS

The twentieth-century reception of Sophoclesrsquo Antigoneshows how a work of art can be re-interpreted and ldquorememberedrdquoin different ways in order to fulfill a certain political agenda andpropaganda It is not only the past itself that matters but the waysin which this past is consciously re-interpreted and exploited toremember and shape contemporary events Antigone still matterstoday because of the chain of political reinterpretations that hashelped authors and audiences to remember and reflect upon thepresent through the powerful voices of heroes of the past

The ldquouses and abusesrdquo of Houmllderlinrsquos version areexemplary of the different ways of remembering the past througha work of art and of the distorting ways of using classics duringtotalitarianisms53 The play was then re-used by Brecht for differentpurposes through his adaptation of Antigone Brecht hoped to re-awaken the critical thinking of his audience and to provide themwith the instruments necessary to unveil the workings of ideologyand dictatorships It is questionable whether these and otherAntigones anchored to the history of the twentieth century havecontributed to effectively instigate a political change andsentiments of revolt or nationalism in their audiences Indeed it isundeniable that the political directions taken by the play in the lastcentury have underscored the playrsquos relevance and granted itsendurance to the present day

The playrsquos reception in this century proves the greatpolitical potentiality and versatility of a play like Antigone adaptedand staged in correspondence with important historical andpolitical events The political aspect already present in thearchetypical figure of a woman who alone defies the authority of

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Caliope Presenca Classica | 20172 Ano XXXIV Numero 34

the State has been uncovered by playwrights and directors whohave demonstrated that the Antigone of Sophocles is appropriatenot only to describe situations as they occurred in the twentiethcentury but it belongs to any time and place as John Kaniacknowledges

Antigone addresses itself to any corner of the world where thehuman spirit is being oppressed where people sit in jailbecause of their fight for human dignity for freedom54

These versions became a sort of ldquooriginalrdquo in their ownright and were able to turn the stage into a place where the distantpast could be revived and remembered theatre and the politicaluse of classics worked as a vehicle for memory

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Antigonersquos (mis)appropriations in Twentieth-Century Europe | Rossana Zetti

ABSTRACT

Le (mis)interpretazioni di Antigone nellEuropa del ventesimosecolo Memoria Politica e Resistenza

In questo articolo si propone unrsquoanalisi del processostorico che ha portato alla concettualizzazione dellrsquo Antigone diSofocle come opera politica attraverso lrsquoanalisi della sua ricezionein Europa nel ventesimo secolo Mi concentrerograve in particolare sullatraduzione di Friedrich Houmllderlin (1804) che rappresenta una delleprime testimonianze post-rivoluzionare della politicizzazione dellastoria di Antigone egrave quindi particolarmente interessante in quantofornisce un contesto per le interpretazioni del mito da parte diBertolt Brecht e di altri autori del ventesimo secolo e rappresentaun passo cruciale verso lrsquoattuale modello interpretativo di Antigonecome icona di dissenso e resistenza radicale Appropriata sia dalregime nazista che da fazioni della Resistenza lrsquoAntigone diHoumllderlin fu sfruttata come documento politico e sovversivo ecome icona di una tradizione classica nazionalista Questoresoconto della ricezione politica dellrsquoAntigone di Sofocle nelventesimo secolo contribuiragrave a far luce sul clima ideologico che haprodotto un cosigrave grande numero di interpretazioni dellrsquooperaantica noncheacute sulle ragioni della sua pertinenza alle condizionisocio-politiche di questo secolo

PAROLE CHIAVE

Antigone Ricezione Politicizzazione Brecht Houmllderlin Sofocle

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25 HOumlLDERLIN 2001 p 7326 According to UNGER 1984 p 2 Houmllderlin showed ldquoa growing interest in and enthusiasm for the intellectual and political ideals of the French Revolutionrdquo expressed through his poetry and especially the Hymns to the Ideals of Mankind LOUTH 1998 p 155 remarks that Houmllderlinrsquos present is ldquodetermined by the French revolution and by Greek antiquityrdquo As STEINER 1984 p 81 observes this virtual manhandling is a motif entirely invented by Houmllderlin 27 HOumlLDERLIN 1963 p 676 28 PFAU 1988 p 11429 FLASHAR 2009 p 14130 See ZIOLKOWSKI 2000 p 555 FLASHAR 2009 p 16431 See FISCHER-LICHTE 2017 p 16732 Quoted in LOHSE 2006 p 16033 On the historical context see LOHSE 2006 p 152-15334 On these productions of Antigone see LOHSE 2006 p 151-186 FLASHAR 2009p 165-168 On Strouxrsquos Antigone see FISCHER-LICHTE 2017 p 171-17935 See FISCHER-LICHTE 2017 p 17736 FISCHER-LICHTE 2017 p 17637 SAVAGE 2008 p 5 In this occasion patriotic celebration occurred acrossGermany and a special edition of Houmllderlinrsquos poems was prepared by Beiszligner 38 Trans From FLASHAR 2009 p 16539 Trans RORRISON WILLETT 1993 p 30640 On this production see CASTELLARI 2011 p 156-157 See remarks in BRECHT 1988 p 12 ldquoAuf Rat von Cas nehme ich die Houmllderlinische Uumlbertragung die wenig oder nicht gespielt wirdrdquo Brecht was not aware of the theatrical success of the play during the Nazi period see FLASHAR 2009 p 141 FISCHER-LICHTE 2017 p 166-182 41 FISCHER-LICHTE 2017 p 18742 GOLDHILL 2012 p 15143 The Antigonemodell 1948 opens with a programmatic foreword it includesdrawings by Neher a sequence of images from the scene photographed by RuthBerlau in 1948 with captions in hexameters (the so called Bruumlckenverse whichform the Antigone-Legende) notes by Brecht and the full text of Antigone Inaddition the Modellbuch explains Brechtrsquos and Neherrsquos choices for the settingcostumes way of acting and moving of the performers See BRECHT 1988 p47-5544 BRECHT 1988 p 48 ldquodie groszlige Figur des Widerstands im antiken Dramarepraumlsentiert nicht die Kaumlmpfer des deutschen Widerstands die uns ambedeutendsten erscheinen muumlssenrdquo45 BRECHT 1988 p 48 ldquoFuumlr das vorliegende theatralische Unternehmen wurdedas Antigonedrama ausgewaumlhlt weil es stofflich eine gewisse Aktualitaumlt erlangenkonnte und formal interessante Aufgaben stellterdquo 46 On Brechtrsquos use of the chorus see REVERMANN 201347 On the implications and problems of citation raised in this title which allows Brecht to avoid plagiarism see SAVAGE 2006 p 153-155 TAXIDOU 2008 p 245 On Brechtrsquos ldquothieveryrdquo see BROWN 197848 BRECHT 1977 p 19 for an English translation see BRECHT 2003 p 1249 BRECHT 2003 p 12 For the original see BRECHT 1977 p 18 ldquoSchon ist erdir Gestrigesrdquo50 Brecht forced to leave his homeland when Hitler came to power because ofhis communist affiliation returned to Europe in October 1947 after years ofexile spent in Scandinavia and in the United States51 SOPHOCLES Antigone 1348-135352 In the first line of the second stasimon (SOPHOCLES Antigone 332) theSophoclean choral ode defines ldquomany thingsrdquo as δεινότερον the adjectivedeinos means ldquoformidablerdquo in the ambivalent connotation of ldquoclevermarvellousrdquo but also ldquofearful terriblerdquo Brecht renders the Greek deina withthe German ungeheuer which points exclusively to the ldquomonstrosityrdquo of man53 I borrow the formulation ldquouses and abusesrdquo from FLEMING 200654 John Kani collaborated with Athol Fugard in the South-African production ofAntigone entitled The Island Here John Kani in an interview with Martin Phillipsin Feb 2000 quoted in MEE FOLEY 2011 p 6

Significado e estrutura do argumento do terceiro homem [] | Guilherme da C A Ceciacutelio

Significado e estrutura do argumento doterceiro homem no Parmecircnides de Platatildeo Guilherme da Costa Assunccedilatildeo Ceciacutelio

RESUMO

O argumento do terceiro homem presente no Parmecircnides constituiuma formidaacutevel objeccedilatildeo agrave teoria das ideias agrave qual Platatildeo natildeoapresentou resposta expliacutecita Na primeira parte deste trabalhotrataremos brevemente da cronologia dos diaacutelogos platocircnicosprocurando situar o Parmecircnides numa ordenaccedilatildeo pelo menosplausiacutevel Em seguida analisaremos detalhadamente o argumentodo terceiro homem tal como se encontra redigido no ParmecircnidesApreciaremos tambeacutem o significado dessa objeccedilatildeo quandoconsiderada sob o prisma da funccedilatildeo causal das ideias

PALAVRAS-CHAVE

Teoria das Ideias Parmecircnides argumento do terceiro homemautopredicaccedilatildeo causalidade

SUBMISSAtildeO 29 set 2017 | PUBLICACcedilAtildeO 21 dez 2017

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Caliacuteope Presenccedila Claacutessica | 20172 Ano XXXIV Numero 34

1 INTRODUCcedilAtildeO

Parmecircnides eacute provavelmente o mais enigmaacutetico dosdiaacutelogos platocircnicos A primeira parte da obra consisteno coloacutequio entre o ceacutelebre eleata e um Soacutecrates aindabastante jovem esse propotildee e procura defender ateoria ontoloacutegica que viemos a conhecer sob o roacutetulode teoria das ideias1 agrave qual entretanto Parmecircnidesmove uma cerradiacutessima criacutetica

As objeccedilotildees contra aquela que veio a ser amais ceacutelebre das doutrinas de Platatildeo satildeo tantas e tatildeograves que natildeo deixa de surpreender quandoParmecircnides subitamente interrompe o curso de suademolidora criacutetica para encorajar o seu joveminterlocutor

Entretanto Soacutecrates disse Parmecircnides se algueacutem por outrolado ao atentar para todas as coisas mencionadas haacute pouco epara outras desse tipo natildeo admitir que haja formas dos serese natildeo separar uma forma de cada coisa uma nem sequer teraacutepara onde voltar o pensamento uma vez que natildeo admitiraacutehaver uma ideia sempre a mesma de cada um dos seres eassim arruinaraacute absolutamente o poder do dialogar Pareces-me seguramente estar ciente e muito de tal coisaDizes a verdade disse ele Que faraacutes entatildeo da filosofia Para onde te voltaraacutes sendoestas coisas desconhecidas Acho que natildeo vejo bem pelo menos no presente Eacute que Soacutecrates disse ele tentas cedo demais antes de teexercitares [gumnasqh=nai] separar um belo e um justo e umbem e cada coisa uma dentre as formas Pois me dei contadisso bem recentemente ouvindo-te aqui dialogar comAristoacuteteles aqui presente Pois fica sabendo que realmente eacutebelo e divino esse ardor que lanccedilas sobre os argumentos Masesforccedila-te e exercita-te [gumnasai] mais enquanto ainda eacutesjovem por meio disso que pela maioria eacute tido como inutil echamado de tagarelice Se natildeo a verdade te escaparaacute2

A passagem citada marca uma importante divisatildeo nodiaacutelogo a partir desse ponto a obra muda de feiccedilatildeo consistindoentatildeo numa longa e aacuterida demonstraccedilatildeo do tipo de exerciacutecio ndash

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O

Significado e estrutura do argumento do terceiro homem [] | Guilherme da C A Ceciacutelio

gumnasia ndash que Parmecircnides sugerira como meacutetodo para alcanccedilar averdade O sentido de tal gumnasia eacute poreacutem tatildeo ou mais abstrusoquanto a criacutetica agrave teoria das ideias que ocupa a primeira parte dodiaacutelogo

Sendo assim natildeo satildeo poucos os desafios que a obra impotildeeao exegeta Apesar das muitas e seacuterias dificuldades uma seccedilatildeo dodiaacutelogo tem praticamente monopolizado a atenccedilatildeo da criacuteticacontemporacircnea a saber a passagem que conteacutem o argumento doterceiro homem3 Esse argumento cuja denominaccedilatildeo nos foilegada por Aristoacuteteles4 refere-se a uma determinada espeacutecie deobjeccedilatildeo capaz de suscitar o regresso infinito das ideias platocircnicasHaacute na verdade dois argumentos desse tipo no Parmecircnides5 Estetrabalho visa examinar justamente um desses argumentos

Haacute trecircs tipos de tarefas bem diferentes para o inteacuterprete doterceiro homem A primeira eacute procurar compreender bem aestrutura do argumento e nos ocuparemos aqui dessa questatildeo asegunda tarefa eacute avaliar o sentido da aporia isto eacute o peso que essaobjeccedilatildeo possa ter para a teoria das ideias e tambeacutem a issodedicaremos nossa atenccedilatildeo por fim eacute possiacutevel ainda investigar setal aporia pode ou natildeo pode ser resolvida e se a filosofia platocircnicaestaria em condiccedilotildees de apresentar-lhe uma soluccedilatildeo essa questatildeoeacute sem duvida muito mais complexa e natildeo seraacute contemplada nestetrabalho

2 CONSIDERACcedilOtildeES PRELIMINARES 21 CRONOLOGIA E A POSICcedilAtildeO DO PARMEcircNIDES

O estudioso de Platatildeo natildeo pode deixar de se posicionardiante de algumas questotildees Especialmente quem aborda o terceirohomem e o Parmecircnides deve tratar da cronologia dos diaacutelogosvexata quaestio ainda que o faccedila de modo marginal

O advento da estilometria trouxe novas ferramentas aoestudo do corpus platonicum cujo valor eacute dificilmente contestaacutevelMas como se sabe natildeo eacute possiacutevel obter uma ordenaccedilatildeo estrita dosdiaacutelogos unicamente a partir de dados estilomeacutetricos Alinhamo-nos portanto com a tendecircncia geral dos comentadores de

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reconhecer trecircs grandes grupos de diaacutelogos que remetem aosperiacuteodos da juventude maturidade e velhice de Platatildeo

O Parmecircnides eacute normalmente considerado uma obra detransiccedilatildeo entre a maturidade e a velhice platocircnica Determinartodavia a sua exata posiccedilatildeo relativamente aos diaacutelogos dessas duasfases eacute uma tarefa muito mais complexa Natildeo sendo possiacutevelrecorrer agrave estilometria em casos como esse os estudiososfrequentemente socorrem-se de hipoacuteteses doutrinaacuterias para dataros diaacutelogos a questatildeo doutrinaacuteria mais relevante para o Parmecircnideseacute a criacutetica agrave teoria das ideias a que se assiste na primeira parte daobra Parmecircnides I6

Embora as ordenaccedilotildees variem um pouco de comentadorpara comentador em geral se aceita que o Parmecircnides seja por umlado posterior a pelo menos algumas das grandes composiccedilotildees damaturidade de Platatildeo tais como Repuacuteblica Feacutedon e Banquete poroutro lado o diaacutelogo possivelmente antecederia o Teeteto SofistaPoliacutetico Timeu Filebo e Leis

22 PARMEcircNIDES E A TEORIA DAS IDEIAS

Eacute consensual que o Parmecircnides seja um diaacutelogo de transiccedilatildeoentre as obras de maturidade e de velhice talvez a grandereferecircncia para a determinaccedilatildeo desses periacuteodos O consensoporeacutem se desfaz quando se trata de apreciar as relaccedilotildees do diaacutelogocom a questatildeo (doutrinaacuteria) da teoria das ideias e sua supostaevoluccedilatildeo

Haacute de um lado aqueles que sustentam que Platatildeo jamaisrenunciou agrave sua teoria ontoloacutegica a despeito das autocriacuteticasconsignadas no Parmecircnides E haacute por outro lado os que veemnesse diaacutelogo o marco do abandono da concepccedilatildeo das ideias7

esses ultimos ainda podem ser subdivididos em dois grupos arespeito dos quais vale a pena ler o ludico relato de ConstanceMeinwald8

A very unhappy story of Platorsquos career has been increasingly out offashion in the last half-century (Though as is often the case with oldfashions it continued to be followed by people out of the circle of the

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trendsetters) In this most unhappy story Plato started writing with agracious compliment to his master The high literary achievement of themiddle-period works coincided with a philosophical high point a headyand confident time of glorious dogmatism Then after a major crisis inwhich he attacked and actually destroyed the theory that was hismasterpiece Plato spent his last years in extensive critical activity Hisnow-failing literary powers produced the late dialogues as a record of thisbarren final period A second and completely opposite story has been invogue more recently [] This second kind of interpretation whichreceived perhaps its greatest impetus from Gilbert Ryle regards the theoryof Forms of the middle period as a hopelessly flawed creation whosehopelessness was realized by Plato himself in the Parmenides He wasthen in a position to do some good philosophy in the late period Thisstory is in a way happier but the attribution to Plato of a middle theorythat can only be nonsense is a problem [] Opposite as they are thesestories have something crucial in common that the Parmenides recordsPlatorsquos realization of the unviability of a determinate theory of Formscontained in the middle dialogues and so ushers in a late period whoseprogram would have to be entirely different from that of the middleworks

Mas atualmente nenhum desses dois tipos deinterpretaccedilatildeo eacute dominante A proacutepria Meinwald9 oferece umaleitura do Parmecircnides que considera as suas criacuteticas como aporias aserem resolvidas mas que nem por isso implicam a rejeiccedilatildeo docerne da doutrina das ideias

De nossa parte cremos que Platatildeo jamais abandonou ateoria das ideias ou sequer alterou-a a tal ponto que as ideiasdeixassem de ser entes subsistentes e independentes do homem Eacuteevidente que defender semelhante posiccedilatildeo de modo exaustivoredundaria num trabalho aacuterduo e demasiado extenso

Uma meta mais modesta mas que contribui para o sucessodesta empresa geral eacute mostrar que a aporia do terceiro homemnatildeo constitui uma objeccedilatildeo inescapaacutevel Sendo assim eacute plausiacutevelque Platatildeo natildeo tenha precisado renunciar agrave sua teoria ontoloacutegicapelo menos no que diz respeito agraves dificuldades que o terceirohomem lhe opotildee Eacute claro que demonstrar essa teseadequadamente envolve examinar detidamente o Parmecircnides o quenatildeo nos cabe fazer neste momento introdutoacuterio Mas antes

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mesmo de abordarmos o diaacutelogo eacute possiacutevel apresentar umargumento externo por assim dizer em apoio agrave tese de que essaobra natildeo seja o marco do abandono da doutrina das ideias

Mesmo que natildeo se lance matildeo do Timeu como contraprovaincontrovertiacutevel da permanecircncia das ideias no corpus platonicumevitando assim a querela da sua dataccedilatildeo e por outro ladodeixando de lado a exegese de passagens controversas de diaacutelogoscomo o Sofista Filebo e Leis sem embargo ainda resta umargumento convincente e o que eacute melhor bastante simples

Dentre os que receberam a obra do filoacutesofo naAntiguidade jamais houve quem supusesse que Platatildeo tivesserenunciado agraves ideias Ademais o seu maior criacutetico Aristoacuteteles natildeoteria deixado de no-lo relatar caso isso houvesse ocorrido Defato que melhor sinal da falecircncia da teoria que ele tanto criticavado que o abandono da mesma por parte de seu autor10

Dito isto eacute contudo razoaacutevel supor algum grau demodificaccedilatildeo na concepccedilatildeo das ideias talvez mais insensato do quesupor o abandono da teoria das ideias seja supor que ao longoduma obra tatildeo vasta certos aspectos natildeo tenham sido repensadose ajustados Apreciar todavia o alcance dessas alteraccedilotildees excedecompletamente o escopo deste trabalho11

23 CAUSALIDADE

Cabe ainda uma ultima consideraccedilatildeo de caraacuteter geral Aotratar da teoria das ideias acreditamos ser impossiacutevel abrir matildeo danoccedilatildeo de causa ai0tia Efetivamente neste trabalho faremos largouso da expressatildeo fato que demanda uma explicaccedilatildeo preacutevia paraevitarmos uma seacuterie de graves mal-entendidos

Alguns platonistas manifestam certa resistecircncia ao usodesse termo de certa forma isso eacute compreensiacutevel uma vez quecomo sabe o estudioso de filosofia antiga ele eacute bastante ambiacuteguoPor um lado o modo como eacute entendido nos dias de hoje serestringe fundamentalmente ao conceito de causa eficiente o qualestaacute longe de exprimir toda a valecircncia do termo ai0tia por outrolado pode-se argumentar que Platatildeo natildeo possui propriamente uma

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Significado e estrutura do argumento do terceiro homem [] | Guilherme da C A Ceciacutelio

teoria das causas o que soacute se atingiu com Aristoacuteteles Sendo assimargumentam alguns conviria evitar a problemaacutetica expressatildeo

Noacutes pelo contraacuterio afirmamos que ao recorrer agrave noccedilatildeo decausa o inteacuterprete ganha muito mais do que eventualmente perdeTrata-se na verdade dum conceito indispensaacutevel para quem lidacom a teoria das ideias de que outro modo descrever a funccedilatildeo dasideias com relaccedilatildeo agraves realidades sensiacuteveis senatildeo como uma funccedilatildeocausal12 E natildeo se trata apenas dum recurso exegeacutetico do qual ointeacuterprete lanccedilaria matildeo como que a despeito da letra do textoPlatatildeo utiliza largamente o termo ai0tia tratando-se ateacute mesmodum problema de traduccedilatildeo Cabem todavia algumas ressalvas

Dizer que as ideias tenham funccedilatildeo causal natildeo significaafirmar que Platatildeo tenha expliacutecita e exaustivamente tratado dotema coisa que como jaacute referimos soacute vem a ocorrer comAristoacuteteles

Aleacutem disso impende ressaltar que defender a funccedilatildeo causaldas ideias natildeo implica de modo algum comprometer-se com oecircxito completo de tal funccedilatildeo Sendo assim o que sustentamos eacuteque a teoria das ideias eacute indissociaacutevel de um esforccedilo de explicaccedilatildeocausal julgar o sucesso de semelhante esforccedilo eacute jaacute outra questatildeo agravequal natildeo poderemos nos dedicar aqui

Sendo assim a noccedilatildeo de causalidade com quetrabalharemos poderia ter por equivalente a noccedilatildeo deldquoresponsabilidaderdquo que talvez possua a vantagem de indicar ocaraacuteter necessaacuterio mas natildeo suficiente das ideias para a explicaccedilatildeode determinado dado sensiacutevel Assim por exemplo a ideia demesa eacute um item necessaacuterio para explicar uma mesa sensiacutevel masnatildeo suficiente a explicaccedilatildeo completa dessa requer ainda nomiacutenimo um agente e um material

Feitas essas consideraccedilotildees podemos nos voltar para onosso objeto de estudo o argumento do terceiro homem tal comoo formulou Platatildeo no Parmecircnides

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3 O ARGUMENTO DO TERCEIRO HOMEM

31 RECONSTRUCcedilAtildeO DO ARGUMENTO DO TERCEIRO HOMEM

Antes de avaliarmos o peso da objeccedilatildeo do terceiro homemp a r a a filosofia de Platatildeo eacute indispensaacutevel compreendecirc-laadequadamente Leiamos pois em primeiro lugar o trechorelevante do diaacutelogo

Creio que tu crecircs que cada forma eacute uma pelo seguintequando algumas coisas multiplas te parecem ser grandestalvez te pareccedila a ti que as olhas todas haver uma certa ideiauma e a mesma em todas donde acreditas o grande ser umDizes a verdade disse ele Mas e quanto ao grande mesmo e agraves outras coisas grandesSe olhares da mesma maneira com a alma para todos essesnatildeo apareceraacute de novo um grande um em virtude do qual eacutenecessaacuterio todas aquelas coisas aparecerem como grandesParece que simLogo uma outra forma de grandeza apareceraacute surgindo aolado da grandeza mesma e das coisas que desta participam Esobre todas essas apareceraacute de novo outra de modo a emvirtude dela todas essas serem grandes E natildeo mais seraacute umacada uma das tuas formas mas ilimitadas em quantidade13

Para evidenciar a estrutura loacutegica do trecho supracitadovalemo-nos do importante estudo de Gregory Vlastos14 mastambeacutem de contribuiccedilotildees de outros estudiosos Eis o esquema quepropomos

(i) O dado de base eacute uma multiplicidade (indiviacuteduos a b cetc) que possui determinada propriedade F (ii) ldquoum sobre muitosrdquo15 a essa multiplicidade correspondeuma unidade a ideia F-dade em virtude da qual amultiplicidade possui a propriedade F(iii) autopredicaccedilatildeo F-dade eacute F (iv) natildeo identidade se x possui a propriedade F x natildeocoincide com F a forma em virtude da qual x possui F

De acordo com (iii) a proacutepria ideia F-dade eacute F logo elapode ser o substituto da variaacutevel x em (iv) o que impotildee aexistecircncia de uma nova forma F-dade1 que sirva como substituto

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da variaacutevel F Como F-dade1 estaacute sujeita agrave autopredicaccedilatildeo F-dade1

tambeacutem pode substituir a variaacutevel x na premissa (iv) instaurando-se assim o regresso infinito das formas

Conveacutem agora cotejarmos a nossa reconstruccedilatildeo doargumento com o texto do ldquoParmecircnidesrdquo

Os passos (i) e (ii) encontram correspondecircncia nestaafirmaccedilatildeo

Creio que tu crecircs que cada forma eacute uma pelo seguintequando algumas coisas multiplas te parecem ser grandestalvez te pareccedila a ti que as olhas todas haver uma certa ideiauma e a mesma em todas donde acreditas o grande ser um16

Nela estaacute contido o dado de base isto eacute a existecircncia devaacuterias coisas sensiacuteveis que satildeo grandes ou seja uma multiplicidadeempiacuterica de indiviacuteduos dotados da propriedade F Ta lmultiplicidade se explica por referecircncia a ldquouma certa ideia uma e amesmardquo a ideia de grandeza ou em geral F-dade trata-se aqui doprinciacutepio do ldquoum sobre muitosrdquo

Quanto agrave autopredicaccedilatildeo cremos que ela opere noseguinte trecho

Mas e quanto ao grande mesmo e agraves outras coisas grandesSe olhares da mesma maneira com a alma para todos essesnatildeo apareceraacute de novo um grande um em virtude do qual eacutenecessaacuterio todas aquelas coisas aparecerem como grandes17

Parmecircnides sugere que o ldquogrande mesmordquo (auto to mega)isto eacute a ideia de grandeza e ldquoas outras coisas grandesrdquo (ta]lla tamegala) isto eacute a multiplicidade sensiacutevel de que se partiu sejamconsideradas ldquoda mesma maneirardquo expressatildeo que traduz oadveacuterbio grego w9sautwj aqui parece residir um sinal daautopredicaccedilatildeo18 Segundo o que fora haacute pouco admitido as coisassensiacuteveis satildeo grandes considerar ldquoda mesma maneirardquo - w9sautwj -a ideia de grandeza soacute poderia significar entatildeo predicar tambeacutemdela o ldquogranderdquo ou seja a autopredicaccedilatildeo

A autopredicaccedilatildeo eacute ainda mais visiacutevel na conclusatildeo doargumento

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Logo uma outra forma de grandeza apareceraacute surgindo aolado da grandeza mesma e das coisas que desta participam Esobre todas essas apareceraacute de novo outra de modo a emvirtude dela todas essas serem19 grandes E natildeo mais seraacuteuma cada uma das tuas formas mas ilimitadas emquantidade20

Na frase ldquotodas essas serem grandesrdquo (tau=ta panta megalae1stai) a referecircncia de ldquotodasrdquo patentemente inclui a ideia degrandeza de que se partiu bem como outras ideias de grandezaderivadas do regressus isto eacute afirma-se que as ideias de grandeza satildeograndes

Jaacute o princiacutepio de natildeo identidade estaacute apenas impliacutecito emtodo o trecho mas nem por isso ele eacute menos operante Bem aocontraacuterio sobre ele estaacute fundada toda a argumentaccedilatildeo a suposiccedilatildeoinicial de que existe uma ideia para dar conta duma multiplicidadeque possui a propriedade F estaacute baseada na convicccedilatildeo de que aposse dessa propriedade se explica por referecircncia a um indiviacuteduopor assim dizer externo ao grupo de indiviacuteduos caracterizados porF e quando a proacutepria ideia passa a ser caracterizada por F(autopredicaccedilatildeo) a mesma convicccedilatildeo impotildee a existecircncia dumanova ideia

Sendo assim estamos aptos a concluir que o terceirohomem tal como ele estaacute redigido no Parmecircnides conteacutem osprinciacutepios que acabamos de expor21 redundando portanto nadeflagraccedilatildeo de seacuteries infinitas de ideias platocircnicas isto eacute de acordocom as premissas do argumento cada propriedade F gera oconjunto infinito F-dade1 F-dade2 F-dade3 onde F-dade eacute umavariaacutevel que representa ideias platocircnicas

Antes de avanccedilarmos conveacutem prestarmos algunsesclarecimentos gerais acerca do terceiro homem e dos princiacutepiosque o constituem

32 OBSERVACcedilOtildeES TERMINOLOacuteGICAS

O famoso princiacutepio da autopredicaccedilatildeo eacute tambeacutem chamadopor alguns de princiacutepio da autoexemplificaccedilatildeo22 Isso reflete a

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tentativa em si mesma correta de evitar o sabor linguiacutestico daexpressatildeo ldquoautopredicaccedilatildeordquo De fato predicaccedilatildeo eacute algo que aprinciacutepio diz respeito somente agrave linguagem mas as ideias natildeo satildeoentes linguiacutesticos natildeo satildeo predicados que se predicam de simesmos23 Ao contraacuterio o termo ldquoautoexemplificaccedilatildeordquo indicariaque se trata de um ente que se autoexemplifica isto eacute manifesta apropriedade a si associada a beleza exemplifica o belo etc

Embora concordemos com ta l observaccedilatildeo aautopredicaccedilatildeo jaacute eacute uma expressatildeo consolidada de modo quepreferimos mantecirc-la para natildeo acrescentar mais um elementocomplicador agrave discussatildeo

Analogamente alguns sugerem que a expressatildeo ldquonatildeoidentidaderdquo eacute infeliz o melhor nome para o princiacutepio seria ldquonatildeoautoexplicaccedilatildeordquo (non-self-explanation)24 porque o princiacutepio reza quese um determinado ente x possui a propriedade F a posse de F natildeopode ser explicada com apelo ao proacuteprio x sendo preciso um outroente ou seja y em funccedilatildeo do qual x possui F em suma a posse deuma propriedade natildeo se explica por referecircncia ao proacuteprioindiviacuteduo que a possui

Tal como no caso da autopredicaccedilatildeo mesmo concordandocom as ressalvas preferimos nos ater agrave terminologia consagradanesse caso o princiacutepio da natildeo identidade

4 SIGNIFICADO DO REGRESSO INFINITO NO PARMEcircNIDES

Eacute possiacutevel dividir o Parmecircnides em duas partes A primeiranarra o encontro verdadeiro acontecimento da filosofia nascentede Zenatildeo Parmecircnides e Soacutecrates que supostamente teria tidolugar por ocasiatildeo da visita dos eleatas a Atenas A segunda parteconteacutem a seacuterie de hipoacuteteses e deduccedilotildees que a personagem tiacutetuloleva a cabo na companhia dum jovem Aristoacuteteles homocircnimo doestagirita

Parmecircnides I consiste na apresentaccedilatildeo publica duma hipoacuteteseontoloacutegica seu propositor eacute um jovem promissor Soacutecrates quevecirc todavia sua hipoacutetese ser severamente criticada pelo experienteParmecircnides Trata-se dum momento privilegiado se eacute verdade que

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o corpus platonicum eacute perpassado pela discussatildeo das ideias elassempre surgem in medias res estando tacitamente suposto que osinterlocutores jaacute estariam familiarizados com as ideias antes que odiaacutelogo houvesse comeccedilado No Parmecircnides a teoria das ideias eacuteverdadeiramente apresentada aleacutem disso os interlocutores satildeoverdadeiros expertos capazes de discuti-la criticamente

Embora se trate duma discussatildeo muito breve quaseapressada pode-se haurir de Parmecircnides I o acircmago da teoria dasideias suas metas e sobretudo as aporias a ela relacionadas

A essecircncia da teoria estaacute presente na primeira intervenccedilatildeode Parmecircnides

Soacutecrates disse quatildeo digno eacutes de ser admirado pelo ardor quetens pelos argumentos Mas dize-me tu mesmo assim fizestea divisatildeo tal como falas de um lado certas formas mesmas deoutro as coisas que delas participam [metexonta] E te parecea semelhanccedila mesma ser algo separada da semelhanccedila quetemos e tambeacutem o um e as multiplas coisas e todas as coisasque haacute pouco ouviste de ZenatildeoParece-me que sim disse SoacutecratesSeraacute que tambeacutem disse Parmecircnides coisas tais como umacerta forma em si e por si do justo e tambeacutem do belo e dobom e ainda de todas coisas desse tipoSim disse ele25

Trata-se duma teoria ontoloacutegica que opera uma divisatildeo noreal de um lado certos entes as ideias e de outro as coisassensiacuteveis Essa dicotomia deve ser poreacutem nuanccedilada existetambeacutem algum tipo de relaccedilatildeo entre os dois polos como se sabePlatatildeo expressou tal relaccedilatildeo com vaacuterios termos mas o mais ceacutelebrede todos eacute a participaccedilatildeo meqecij

Mas dize-me o seguinte parece-te como dizes haver certasformas em tendo participaccedilatildeo [metalambanonta] nas quaisessas outras coisas aqui recebem suas denominaccedilotildees Porexemplo se tecircm participaccedilatildeo [metalabonta] na semelhanccedilaas coisas se tornam semelhantes se na grandeza grandes seno belo e na justiccedila justas e belasPerfeitamente disse Soacutecrates26

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Passagens como essa sintetizam bem a razatildeo de ser dahipoacutetese das ideias visa-se explicar as caracteriacutesticas das coisassensiacuteveis tais como a grandeza a justiccedila etc Destarte a teoria dasideias forneceria um fundamento seguro para um dado sensiacutevelbruto as coisas sensiacuteveis satildeo sim grandes ou justas e elas o satildeoporque participam da ideia de grandeza ou da ideia de justiccedila Essanos parece ser uma explicaccedilatildeo de tipo causal eacute graccedilas agraves ideias queas coisas sensiacuteveis possuem suas propriedades27 E semelhantefunccedilatildeo causal das ideias eacute tambeacutem expressa ainda queresumidamente em outras passagens do Parmecircnides28 Dito issovoltemo-nos para o terceiro homem

Defendemos que os princiacutepios contidos no argumento doterceiro homem natildeo interagem de modo a produzir qualquercontradiccedilatildeo em sentido estrito como pretendeu Vlastos masunicamente um regressus ad infinitum Cabe agora nos determos umpouco mais no significado do regresso O problema pode serresumido na seguinte questatildeo por que ele seria indesejaacutevel oumesmo temiacutevel Vejamos mais uma vez o proacuteprio texto dodiaacutelogo

Creio que tu crecircs que cada forma eacute uma pelo seguinte quandoalgumas coisas multiplas te parecem ser grandes talvez tepareccedila a ti que as olhas todas haver uma certa ideia uma e amesma em todas donde acreditas o grande ser umDizes a verdade disse ele Mas e quanto ao grande mesmo e agraves outras coisas grandesSe olhares da mesma maneira com a alma para todos essesnatildeo apareceraacute de novo um grande um em virtude do qual eacutenecessaacuterio todas aquelas coisas aparecerem como grandesParece que simLogo uma outra forma de grandeza apareceraacute surgindo aolado da grandeza mesma e das coisas que desta participam Esobre todas essas apareceraacute de novo outra de modo a emvirtude dela todas essas parecerem grandes E natildeo mais seraacuteu m a c a d a uma das tuas formas mas ilimitadas emquantidade29

Mantivemos na citaccedilatildeo o grifo proposto pelos tradutoresdo diaacutelogo nas palavras ldquoumrdquoldquoumardquo correspondentes do

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numeral ei[j mia e3n De fato a noccedilatildeo de unidade numeacuterica eacuteessencial para o argumento ldquonatildeo mais seraacute uma cada uma das tuasformas mas ilimitadas em quantidaderdquo eacute a acusaccedilatildeo do velhoeleata

O tema do uno e do multiplo tem importacircncia capital noplatonismo De algum modo eacute essa a questatildeo que resume a teoriadas ideias uma teoria que supotildee uma unidade para explicar umamultiplicidade que natildeo eacute capaz de explicar-se a si mesma Massalientar a relevacircncia da questatildeo unomultiplo natildeo resolve ainda oproblema se natildeo se der uma explicaccedilatildeo do sentido exato dessapolaridade Em nossa opiniatildeo a unica resposta satisfatoacuteria tem dese apoiar sobre a noccedilatildeo de causa

A ideia eacute de algum modo responsaacutevel pela multiplicidadeldquoum grande um em virtude do qual eacute necessaacuterio todas aquelascoisas aparecerem como grandes [] ([]e3n ti [] mega []w |[tau=ta panta megala fainesqai []rdquo A ideia a unidade eacute aquilo emvirtude do que o multiplo eacute tal como ele eacute

Poder-se-ia levantar aqui uma dificuldade No trechocitado atribui-se agrave ideia de grandeza o poder de fazer as coisassensiacuteveis ldquoaparecerem [fainesqai] como grandesrdquo isto eacute a ideianatildeo faria com que a multiplicidade sensiacutevel seja grande Em outrostermos o que se tem expressis verbis eacute uma causalidade um tantocuriosa tratar-se-ia da causa do conhecer ou do perceber certacaracteriacutestica si licet duma causalidade epistemoloacutegica

Tal tipo de visatildeo nos parece equivocada A causalidade queas ideias tecircm de desempenhar eacute uma ldquocausalidade ontoloacutegicardquo asideias devem ser causa do ser das coisas e natildeo apenas dapercepccedilatildeo do sujeito Se assim natildeo fosse chegar-se-ia finalmenteaos antiacutepodas do platonismo as coisas sensiacuteveis jaacute estariamconstituiacutedas sem o contributo das ideias as quais serviriamunicamente para que o sujeito percebesse ou conhecesse osensiacutevel30

No entanto natildeo se deve conceder demasiada atenccedilatildeo aocaraacuteter fenomecircnico do verbo na passagem supracitada podemosargumentar que o sensiacutevel soacute aparece de determinado modoporque ele eacute desse modo e assim ele eacute em virtude das ideias A

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conclusatildeo do argumento retira qualquer duvida ldquoE sobre todasessas apareceraacute de novo outra de modo a em virtude dela todasessas serem grandes (kai e0pi toutoij au] pa=sin e3teron w[| tau=tapanta megala e1stai)rdquo31

Dito isso estaacute aberto o horizonte para a determinaccedilatildeo dareal natureza e forccedila da aporia do terceiro homem Natildeo se tratacomo defendeu Vlastos em seu artigo de 1954 duma fatalcontradiccedilatildeo mas sim dum regressus ad infinitum cujo sentido soacute sedesvela na associaccedilatildeo com a noccedilatildeo de causalidade entendida domodo ora defendido

O jovem Soacutecrates acaba de propor a hipoacutetese das ideias eParmecircnides lhe objeta dentre outras coisas que ela estaacute enredadanum regresso infinito Soacutecrates poderia talvez dar de ombros econtra-argumentar que enquanto for possiacutevel explicar determinadacaracteriacutestica presente na multiplicidade por exemplo a grandezapouco lhe importa que haja infinitas formas responsaacuteveis(causalmente) pela grandeza Se se atentar apenas para o ponto devista da proposiccedilatildeo duma hipoacutetese o regressus poderia ser vistocomo um constrangimento mas natildeo necessariamente como umaobjeccedilatildeo inescapaacutevel Quando se considera poreacutem o papel que anoccedilatildeo de causalidade desempenha no argumento eacute possiacutevelapreciar a verdadeira forccedila do terceiro homem

A hipoacutetese de Soacutecrates consiste em que determinadacaracteriacutestica tal como a grandeza que se encontra em multiplascoisas sensiacuteveis requer uma ideia em virtude da qual essas coisassensiacuteveis satildeo grandes Mas como a ideia de grandeza eacute por via daautopredicaccedilatildeo grande tambeacutem ela necessita duma ideia que seja acausa do fato de ela ser grande Se ex hypothesi terminasse aqui aseacuterie talvez natildeo houvesse problema haveria apenas um caso suigeneris em que uma propriedade exigiria duas ideias como causaEntretanto a segunda ideia a ideia de grandeza1 tambeacutem ela eacutegrande exigindo uma nova ideia que seja sua causa e assimsucessivamente Como poreacutem o que estaacute em jogo eacute um nexocausal a noccedilatildeo do ldquoassim sucessivamenterdquo torna-se imediatamentecriacutetica porque significa que nenhuma ideia se impotildee como causadaiacute resultando que nenhum efeito chegaria a ser causado dizer que

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determinado grupo de indiviacuteduos natildeo se explica por si mesmo eexige uma ideia em virtude da qual aquela multiplicidade se daacuteequivale a dizer que sem essa ideia a multiplicidade eacute que natildeo sedaacute a ideia eacute condiccedilatildeo sine qua non de determinada multiplicidade

Em suma o problema do regresso eacute justamente o seucaraacuteter infinito se natildeo fosse infinito haveria uma certa forma natildeoimporta ldquosobrerdquo quantas outras formas que seria a causa de tudoque ldquosobrdquo si se encontra Mas o caraacuteter infinito do regressoimpede justamente isso que haja a forma que seja a causa ultima(ou primeira como se preferir) da propriedade em questatildeo

A hipoacutetese de Soacutecrates parte dum fato haacute um grupo decoisas sensiacuteveis (a b c etc) caracterizadas todas elas por umpredicado F ests eacute o explanandum Trata-se do explanandumprecisamente porque estaacute suposto que uma multiplicidadecaracterizada por F natildeo se explica por si mesma nenhum de seusmembros eacute capaz de figurar como causa do fato de que ele mesmoe os demais membros desta multiplicidade possuem a caracteriacutesticaF sendo exigido portanto um explanans a ideia F-dade Mas F-dade tambeacutem possui a propriedade F a autopredicaccedilatildeo redundapois na inclusatildeo da ideia o explanans no grupo de coisas quecaracterizadas por F portanto no explanandum Tal operaccedilatildeo ainclusatildeo do explanans no explanandum eacute decisiva e ela se repete adinfinitum sempre que se postular uma nova ideia que se esperariaque funcionasse como definitivo explanans nesse exato momentoela recai no explanandum

A estrateacutegia de Parmecircnides ao formular essa aporia eacutemostrar que a doutrina das ideias em cujo acircmago estaacute a intenccedilatildeode explicar determinada multiplicidade sensiacutevel pode ser revertidae levada agrave autodestruiccedilatildeo precisamente no tocante agrave sua pretensatildeocausal Embora o argumento do terceiro homem natildeo revele umacontradiccedilatildeo stricto sensu inserida na teoria das ideias ele constituisem duvida uma temiacutevel dificuldade capaz de tornar supeacuterflua aproacutepria hipoacutetese das ideias

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ABSTRACT The Significance and Structure of the Third Man Argument inPlatos Parmenides

The Third Man Argument found in the Parmenides is aformidable objection to the Theory of Forms to which Plato didnot provide an explicit answer In the first part of this paper webriefly discuss the chronology of the Platonic dialogues trying tolocate the Parmenides in at least a plausible position We thenscrutinize the Third Man argument as it appears in the ParmenidesWe also evaluate the significance of the referred objectionespecially from the perspective of the Formsrsquo causal role

KEYWORDS

Theory of Forms Parmenides The Third Man Argument Self-predication Causality

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REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS BURNET John Platonis opera Oxford Clarendon Press 1967CHERNISS Harold The Relation of the Timaeus to Platos Later Dialogues TheAmerican Journal of Philology v 78 n 3 1957 p 225-266 COHEN Marc The Logic of the Third Man The Philosophical Review v 80n 4 1971 p 448-475 CORNFORD F M Plato and the Parmenides Parmenidesrsquo Way of Truth andPlatorsquos Parmenides translated with an introduction and a running commentaryLondon Routledge amp Kegan Paul 1939FERRARI Franco Parmenide Milano BUR 2007 FRONTEROTTA Francesco ΜΕΘΕΞΙΣ La teoria platonica delle Idee e lapartecipazione delle cose empiriche - Dai dialoghi giovanili al Parmenide PisaScuola Normale Superiore 2001GUTHRIE W K C A History of Greek Philosophy Later Plato and theAcademy Cambridge Cambridge University Press 1978JAEGER Werner Aristotelis Metaphysica Oxford Oxford University Press1957MEINWALD Constance Good-bye to Third Man in KRAUT Richard TheCambridge Companion to Plato New York Cambridge University Press1993 p 365-396MORAVCSIK Julius Recollecting the Theory of Forms in WERKMEISTER W HFacets of Platorsquos Philosophy Assen Van Gorcum 1976 p 1-20OWEN GEL The Place of Timaeus in Platorsquos Dialogues Classical Quarterlyv 3 n 12 1953 p 79-95PETERSON Sandra A Reasonable Self-Predication Premise for the Third ManArgument The Philosophical Review v 82 n 4 1973 p 451-470PLATAtildeO Parmecircnides Traduccedilatildeo introduccedilatildeo e notas de Maura Igleacutesias eFernando Rodrigues Satildeo Paulo Loyola 2003SAYRE Kenneth Platorsquos Late Ontology a Riddle Resolved Las VegasParmenides Publishing 2005 SILVERMAN Allan The Dialectic of Essence a Study of Platorsquos MetaphysicsPrinceton Princeton University Press 2002 STRANG Colin Plato and the Third Man Proceedings of the AristotelianSociety v 37 1963 p 147-164VLASTOS Gregory The Third Man Argument in the Parmenides ThePhilosophical Review v 63 n3 1954 p 319-349______ Platorsquos lsquoThird Manrsquo Argument (Parm 132 A1-B2) Text and Logic ThePhilosophical Quarterly v 19 n 77 1969 p 289-301 ______ Platonic Studies Princeton Princeton University Press 1981 (1aed 1973)

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1 Sabe-se que a expressatildeo ldquoteoria das Ideiasrdquo eacute puramente didaacutetica natildeoencontrando paralelo nos textos de Platatildeo Servimo-nos livremente dela nesteartigo por julgar que feitas certas ressalvas ela eacute inofensiva e tambeacutem util Eacuteevidente que ao falarmos de ldquoteoria das Ideiasrdquo natildeo pretendemos atribuir aPlatatildeo um tratamento perfeitamente sistemaacutetico da questatildeo das Ideias o termoldquoteoriardquo certamente natildeo estaacute sendo usada no mesmo sentido que em ldquoteoria darelatividaderdquo por exemplo Contudo eacute inegaacutevel que se encontra espalhadapelos escritos de Platatildeo a recorrente afirmaccedilatildeo de que existem certos entesinteligiacuteveis eacute pois conveniente chamar de ldquoteoriardquo o conjunto destasafirmaccedilotildees acerca das Ideias ou se se preferir eacute possiacutevel fazer-lhe referecircnciacom as expressotildees ldquodoutrinardquo ou ldquohipoacutetese das Ideiasrdquo2 PLATAtildeO Parmecircnides 135b-d3 Talvez sua fama seja ainda maior ldquothe most famous argument in ancient philosophyrdquo(SILVERMAN 2002 p 110 apud FERRARI 2007 p 64) 4 ARISTOacuteTELES Metafiacutesica 990b15-17 Para um inventaacuterio da histoacuteria doargumento do Terceiro Homem ver CORNFORD 1939 p 87-955 PLATAtildeO Parmecircnides 131e-132b e 132d-133a6 Chamaremos de Parmecircnides I a primeira parte do diaacutelogo (126a-137c) em que ojovem Soacutecrates vecirc sua hipoacutetese das Ideias ser atacada pelos eleatas e deParmecircnides II (137c-166c) a seccedilatildeo que conteacutem as diversas ldquohipoacutetesesrdquo Propomostal divisatildeo de modo didaacutetico sem nos comprometermos com hipoacutetesesheterodoxas tais como a que foi propugnada por Sayre o qual sustentalanccedilando matildeo inclusive duma abordagem estilomeacutetrica que Parmecircnides I tenhasido escrito num periacuteodo anterior e distante do periacuteodo de composiccedilatildeo deParmecircnides II cf SAYRE 2005 p 256-2717 Neste caso eacute indispensaacutevel fornecer alguma interpretaccedilatildeo dos diaacutelogoscomumente aceitos como sendo posteriores ao Parmecircnides O Teeteto constitui umrelevante sustentaacuteculo para tal linha exegeacutetica uma vez que natildeo conteacutem clarasreferecircncias agraves Ideias o Sofista eacute por sua vez frequentemente objeto deinterpretaccedilotildees deflacionaacuterias no tocante agraves Ideias as quais nestes casos tecircm oseu estatuto de realidades subsistentes e transcendentes posto em xeque emfavor do seu caraacuteter loacutegico-linguiacutestico O Filebo patenteia uma ldquonova ontologiardquoou pelo menos introduz novos termos que nem sempre satildeo facilmenteharmonizaacuteveis com a teoria das Ideias em sua versatildeo standard Quanto ao Timeudiaacutelogo que poderia resolver a controveacutersia uma vez que sua linguagem eacute emtudo semelhante agrave das grandes obras do periacuteodo maduro de Platatildeo emergiu noseacuteculo XX uma querela acerca de sua dataccedilatildeo Seria temeraacuterio entrarmos nosdetalhes dessa discussatildeo mas grosso modo defendeu-se que o Timeu natildeo estivesseentre os diaacutelogos da velhice e sim fizesse parte do periacuteodo da maturidadeResolver-se-ia assim o grande entrave agraves teses mais radicais acerca da evoluccedilatildeoda filosofia de Platatildeo cf OWEN 1953 CHERNISS 19578 MEINWALD 1993 p 389-3909 Idem ibidem p 39010 Guthrie (1978 p 60) apresenta um argumento semelhante 11 Remetemos a Fronterotta (2001) para uma interessante e soacutebria anaacutelise daldquoevoluccedilatildeordquo da teoria das Ideias segundo a qual a teoria se modificou sem jamaisrenunciar ao seu nucleo a saber a condiccedilatildeo subsistente e transcendente dasIdeias 12 O locus claacutessico eacute Feacutedon 96a-105c mas referecircncias agrave etiologia podem serencontradas em muitos lugares Eis algumas das passagens mais significativasPLATAtildeO Repuacuteblica 507a-509c PLATAtildeO Timeu 18a-b 28a 28b-c 29d-30a PLATAtildeOFilebo 26e-27c Ver tambeacutem FERRARI 2007 p 39-4113 PLATAtildeO Parmecircnides 132a-b14 Neste importante artigo Vlastos (1994) defendeu a tese radical de que aobjeccedilatildeo do Terceiro Homem redundaria numa contradiccedilatildeo stricto sensu entreduas das premissas do argumento posiccedilatildeo errocircnea que ele mais tarde veio aretificar neste outro importante artigo sobre o tema Vlastos 1969Empreendemos uma anaacutelise detalhada destes trabalhos de Vlastos num artigoque publicado pela revista Claacutessica ndash Revista Brasileira de Estudos Claacutessicos

15 Este princiacutepio eacute explorado por comentadores de liacutengua inglesa sob o nomeldquoOne over Manyrdquo frequentemente abreviado ldquoOMrdquo cf STRANG 1963 COHEN1971 16 PLATAtildeO Parmecircnides 132a17 PLATAtildeO Parmecircnides 132a18 Assim o observa Franco Ferrari (2007 p 217 nota 50)19 Permitimo-nos substituir aqui a opccedilatildeo dos tradutores ldquopareceremrdquo porldquoseremrdquo uma vez que no grego se tem a forma verbal e1stai20 PLATAtildeO Parmecircnides 132a-b21 Ativemo-nos agrave ldquoprimeira versatildeordquo do Terceiro Homem presente no Parmecircnidesjulgamo-nos dispensados de fazer a mesma anaacutelise da ldquosegunda versatildeordquondashcontida em Parmecircnides 132c-133a ndash porque tal como Vlastos acreditamos queambas as ldquoversotildeesrdquo conteacutem as mesmas etapas loacutegicas 22 Em inglecircs self-exemplification cf MORAVCSIK 197623 O proacuteprio Vlastos (1969 p 300 n 36) reconhece a utilidade de semelhantedistinccedilatildeo ldquoI so labelled this assumption in 1954 under Taylors influence who hadidentified it uncritically with the closely related assumption that a character can be predicatedof itself which generated the Russellian paradox Since I did not impute just this assumptionto Plato ndash I was not maintaining that what was predicated of F-ness was F-ness itself insteadof F ndash I should have made it clear then [hellip] that Self-Predication if used at all could onlybe used with a certain licence As Sellars had pointed out (1955 p 414) the assumptionwhich is being made here ldquowould be formulated more correctly as The adjective correspondingto the name of any Form can correctly be predicated of that Formrdquo Some such label asHomocharacterization would have been more exact and I have tried at times to switch to thisin lectures and seminars But Self-Predication is now firmly entrenched in the literature and Isee no harm in its continuing use subject to the above provisordquo24 cf PETERSON 1973 p 45325 PLATAtildeO Parmecircnides 130a-b26 PLATAtildeO Parmecircnides 130e-131a27 Como aludimos no item 23 deste trabalho ao utilizarmos aqui a noccedilatildeo decausalidade natildeo nos comprometemos com o ecircxito completo da funccedilatildeo causaldas Ideias ou da doutrina da participaccedilatildeo a qual eacute como sabemos pelo proacuteprioParmecircnides uma doutrina eivada de problemas Quando afirmamos que as Ideiassatildeo causa do sensiacutevel queremos significar apenas que elas satildeo um elementonecessaacuterio mas natildeo suficiente para que as coisas sensiacuteveis sejam tais como satildeoAssim se dizemos que a Ideia de Mesa eacute causa da mesa de madeira certamenteela natildeo eacute o unico elemento responsaacutevel pela mesa de madeira sendoindispensaacuteveis tambeacutem a proacutepria madeira e um artesatildeo28 cf PLATAtildeO Parmecircnides 128e-129a PLATAtildeO Parmecircnides 131c-d29 PLATAtildeO Parmecircnides 132a-b30 Tal posiccedilatildeo que remete agraves interpretaccedilotildees neokantianas da filosofia de Platatildeo eacute firmemente contestada por Francesco Fronterotta (2001 p 206-222)31 Traduccedilatildeo ligeiramente modificada

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Identidad ritual y performance unanaacutelisis de los primeiros dos versos deSuplicantes de Esquilo1

Mariacutea del Pilar Fernaacutendez Deagustini

RESUMEN

La recitacion que acompana la marcha anapestica (v 1-39) que dainicio a la performance de Suplicantes de Esquilo presenta dos de lostres componentes baacutesicos de un himno2 epiacuteklesis (v 1-3) y eucheacute (v23-39) La epiacuteklesis indirecta (Er-Stil v 1- 2) establece el contactoentre los hablantes ndash las Danaides que integran el coro ndash y eldestinatario divino ndash Zeus ndash confiriendole a la recitacion caraacutecterhiacutemnico desde la primera palabra Se trata de una composicion dedos versos extremadamente simple la mencion del dios al que sedirige el himno su epiacuteteto y el llamado de atencion que introduceal hablante Nuestro trabajo pretende demostrar que no obstantela brevedad de la epiacuteklesis cada elemento condensa sentidosfundamentales para la interpretacion de la oda inicial y de la matrizritual en la que se inscribe la composicion de la obra comototalidad

PALABRAS-CLAVE

Ritual performance Suplicantes Esquilo

SUBMISSAtildeO 15 nov 2017 | PUBLICACcedilAtildeO 31 dez 2017

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n anaacutelisis de la oda inicial de Suplicantes de Esquiloinvolucra dos aspectos fundamentales Como se tratade un drama carente de prologo en el que el cantocoincide con la inauguracion de la accion insta aconjeturar por un lado acerca de la puesta enescena por otro lado acerca de que modo seintroduce la urdimbre de sucesos que configuran latrama Desde nuestra perspectiva teorica que sea c e r c a a l a t r a g e d i a c o m o u n g e n e r ofundamentalmente coral y descansa en nocionesclave como ldquopoesiacutea de ocasionrdquo3 ldquoproyeccioncoralrdquo4 ldquointeraccion genericardquo y ldquometacoralidadrdquo5

ambos aspectos de esta oda estaacuten atravesados por lamanera como el dramaturgo compuso su sustancia

ritual es decir de que generos liacutericos se valio en la performance Laoda inicial integra en su composicion elementos del himno y deltreno que se alternan y se subvierten para crear una atmosferaparticular desde los primeros versos En el presente artiacuteculoconcentramos nuestra atencion en la integracion generica de la odatraacutegica con el himno del cual analizaremos un componenteesencial la epiacuteklesis que establece el contacto entre los hablantes yel destinatario divino

Como senalamos la primera oda de extraordinariaextension (v 1 -175)6 sintoniza con la apertura de la obra Elexotico coro7 conformado por las hijas de Daacutenao habriacuteaingresado al teatro formando una fila al ritmo de los anapestos8

tras los cuales se habriacutea ordenado en la orcheacutestra La escena habriacuteasugerido la presencia de un altar elevado y probablemente deimaacutegenes divinas que son invocadas con posterioridad9 Daacutenao supadre habriacutea aparecido en el ultimo lugar de esa misma filacoincidiendo con la mencion de su nombre en el v 1110 Estosdatos acerca de la performance son fundamentales para poder recrearla poiacuteesis de Esquilo pensada para un espectador del siglo V aunquesin duda el dato escenico maacutes elocuente lo constituyen los ramosde suplicante envueltos en lana blanca que afirman empunar lasjovenes en sus manos (v 21-22 v 191-193) La vision de este

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objeto habriacutea orientado raacutepidamente las expectativas del publicoque habriacutea visto entrar a los personajes y tomar lugar en el altarhabriacutea reconocido las insignias y comprendido entonces elcaraacutecter ritual de la ocasion11

Desde el punto de vista formal la oda inicial de Suplicantesse compone de dos grandes partes entre los v 1-39 el espectaacuteculose inicia con el ingreso del coro (y Daacutenao) a traves de la eiacutesodos enmarcha anapestica Llamamos a esta seccion la parte dinaacutemica yaque se trata de la puesta en escena de un himno procesional querepresenta tres transiciones una espacial (de Aacutefrica a Grecia) unatemporal (de un pasado reciente que constituye el motivo de huidaal presente fin de la fuga) y una cultural (segun la cual lasDanaides africanas ponen en praacutectica un ritual griego) Luegodesde el v 40 y hasta su final en el v 175 el coro ya instalado enel espacio de la orcheacutestra desarrolla un extenso canto liacutericoconstruido sobre la base de ocho sistemas Llamamos a estaseccion la parte estaacutetica dado que el coro representa con lallegada al altar el fin de su viaje y el comienzo del ritual de suplicapara conseguir asilo en Argos Solo cuando le sea asegurado elnuevo traacutensito en un movimiento colectivo y organizado el coroabandonaraacute el altar esta vez hacia el centro de la ciudad En estesent ido Suplicantes como paradigma de las tragedias quepertenecen al Altarmotiv12 subraya el protagonismo de la ritualidadpues el espectador nunca pierde de vista al suplicante ni el espaciosagrado

Desde la perspectiva de un espectador del siglo V aC laconducta religiosa representaba un complejo de discursos yacciones faacutecilmente reconocible intrincadamente unido a otrasaacutereas de su vida social Como senalan Furley y Bremer13 el himnopuede distinguirse del habla coloquial o de la cancion coral porvarias caracteriacutesticas (melodiacutea metro ritmo acompanamientomusical danza repeticion en una misma ocasion) pero su esenciareside en la entidad hacia la cual se dirige la composicion un dios ocompaniacutea de dioses Directamente asociado con el destinatarioreside su proposito adorar al dios tiene el objetivo de ganar subenevolencia y asegurar su asistencia o favor14 Ademaacutes estos

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autores senalan la familiaridad del himno con la suplica con la cualcomparte la misma meta15 La diferencia entre ambos tiposdiscursivos reside en que el himno es un producto artiacutestico maacutesacabado que la plegaria pues emplea tecnicas refinadas de elogio ypersuasion que lo convierten en un obsequio en un ἄγαλμα verbal

En el mundo griego arcaico y claacutesico las procesiones erantiacutepicamente acompanadas de himnos enfocados en la transicionespacial de la ciudad hacia el templo y en particular hacia el altar16

Precisamente por este motivo es probable que Esquilo eligieraabrir su obra directamente con el ingreso del coro a escena enlugar de la composicion de un prologo dado que el espectaacuteculo dela procesion coral era capaz de exponer mejor su propuestadramaacutetica Considerar la posibilidad de una opcion en terminos decomposicion artiacutestica diluye uno de los argumentos maacutes poderososa favor de la impronta arcaica de la tragedia su carencia deprologo17 Segun nuestro punto de vista Esquilo sustituye el iniciode la obra con una escena estaacutetica por la performance de una escenadinaacutemica de marcha que tiene la capacidad de sintetizar en elmetro18 el itinerario Egipto-Argos realizado por las Danaides Deeste modo el estado de fuga puede re-presentarse en el escenarioAsimismo Esquilo parece haber elegido no retrasar la llegada delos protagonistas19 a quienes se muestra llegando desde elextranjero ingresando a un territorio extrano y permaneciendo enla periferia en un recinto sagrado alejado del centro ciacutevico elsantuario publico de Argos (39)20

Tal como senalan Furley-Bremer ciertos himnos puedenser usados por el dramaturgo para crear una atmosfera tanto paraincrementar la tension en una situacion ya tensa o como un fondoironico contra el cual la accion subsecuente se despliegacontrariamente a la expectativa21 Particularmente la oda inicial deSuplicantes ilustra como el dramaturgo utilizo el himno paraestructurar el desarrollo y sentido de la trama total de la obra puestiene la funcion de definir el horizonte significante dentro del cualse inscribiraacute la actuacion particular de este coro Por un ladoconstituye la evocacion de los sucesos pasados por el otro es laclave y el punto de partida del codigo de comportamiento que

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regiraacute los actos sucesivos reconocido tanto por los personajes dela obra dentro de los liacutemites de la ldquoilusion teatralrdquo como por laaudiencia22

Asimismo la apertura procesional imprime una diferenciade tonalidad espacio y ocasion condicionan el discurso que debeser liacuterico maacutes que retorico Sin embargo su alcance persuasivo noes menor ya que el ritual confiere cierto poder encubierto alsuplicante23 La ventaja que supone el registro liacuterico reside en lafacultad de cumplir con dos cometidos ofrecer un medio legiacutetimode exhortacion a la accion y producir un efecto de seduccionporque permite exteriorizar la emocion

La recitacion que acompana la marcha anapestica detentados de los tres componentes baacutesicos de todo himno24 epiacuteklesis (v1-3) y eucheacute (23-39) La epiacuteklesis establece el contacto entre elloshablantes y el destinatario divino por lo cual suele estar al iniciola eucheacute en la que se formula la peticion como constituye el cliacutemaxusualmente se encuentra al final Enmarcado entre ambas partesresta el tercer componente lo que Furley y Bremer llaman ldquomiddlesectionrdquo y se trata de la parte compuesta para ganar el favordivino25 En la parte dinaacutemica de la oda inicial la seccion media (v4-22) se modifica sustancialmente proponiendo una inversion sehace hincapie en el suplicante en lugar del suplicado porque en elinicio del drama se impone la necesidad de exponer los motivosque justifiquen la performance26

A pesar de su brevedad la epiacuteklesis de la parte dinaacutemicamerece un anaacutelisis pormenorizado no solo por su funcion sinotambien por su emplazamiento La primera asocia hablante (lasdanaides que componen el coro) y destinatario interno (Zeus) elsegundo establece un marco de referencia que oficia como puenteentre los sucesos intradramaacuteticos y el espectador El proposito deesta comunicacion es demostrar que no obstante la fugacidad de laepiacuteklesis cada elemento condensa sentidos fundamentales para lainterpretacion de la oda inicial y de la matriz ritual en la que seinscribe la composicion de la obra como totalidad

L a epiacuteklesis indirecta (Er-Stil)27 confiriere a la oda caraacutecterhiacutemnico desde la primera hasta la ultima palabra Efectivamente la

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oda completa estaacute enmarcada por una composicion anular ya queen su ultimo verso (175) el participio καλούμενος (tambien alliacuteconcertado a Zeus) retoma la idea de esta invocacion inicial28 Laepiacuteklesis propone una composicion extremadamente simple lamencion del dios al que se dirige el himno su epiacuteteto y el llamadode atencion que introduce al hablante Recitan las Danaides

Ζεὺς μὲν ἀφίκτωρ ἐπίδοι προφρόνωςστόλον ἡμέτερον νάιον ἀρθέντ (v 1-2)29

Que Zeus protector de los recieacuten llegadoscontemple ya con mente predispuesta nuestraformacioacuten coral impulsada en una nave 30

Analicemos entonces los componentes de estaconvocatoria Zeus estaacute ubicado significativamente en la posicioninicial del primer verso de la obra y es el sujeto de un energicodesiderativo realizable (ἐ πίδοι) que da comienzo a la suplicaConsiderado en el sentido maacutes amplio el epiacuteteto ἀ φί κτωρ unhaacutepax31 en lugar de Hikeacutesios32 insiste en los dos puntos de estatransicion el traslado espacial y cultural de los personajes33 y sucondicion de marginalidad ya que para los griegos los ldquorecienllegadosrdquo no son de ninguna parte34 La novedosa composicion delapelativo formado ad hoc por lo tanto subraya al mismo tiempo laocasion y la condicion especiacutefica del suplicante mientras cumplecon la norma esperada respecto de las referencias a la divinidad Alrespecto nota Kavoulaki (2011) que el epiacuteteto pone en primerplano el hecho de la llegada (ἄφιξις) del coro que estaacute iacutentimamenteconectada con la tercera palabra de la frase la forma ἐπίδοι35

Efectivamente la forma ἐπίδοι indica la primera accion de la obrael pedido de atencion por parte del dios Lo maacutes significativo esque esa atencion debe alcanzarse a partir de la mirada

El verbo ἐφοράω compuesto de ὁράω combina el aspectosensible y el inteligible Flores (2007) quien ha estudiado el sentidode la vision en Esquilo sostiene que el dramaturgo ldquointroduce enlas palabras un rasgo morfologico que apunta a un matiz particularantepone la preposicion ἐπί a verbos de vision cuando son los

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dioses quienes miran Esta es una tendencia constante que comotal no se da en los otros traacutegicosrdquo36 De este modo ἐπί senalariacuteauna diferencia radical entre el ser hombre y ser dios que la autoraentiende como ldquomirar sobre tener los ojos sobre vigilarrdquo37 propiadel acto de ver divino Compartimos con la autora el hecho de quese marca una capacidad de mirar distinta no obstante creemosque no es exclusiva del dios ya que cuando demanda la mirada deZeus el coro subraya el acontecimiento de su aparicion suadvenimiento a la vista de otro su aparicion espectacular38 Por lotanto el verbo tambien hace referencia impliacutecita a la mirada delpublico que como el dios puede ver maacutes allaacute de lo que se ofreceante sus ojos39 Segun esta disquisicion proponemos otratraduccion del verbo maacutes ajustada al contexto senalado ἐφοράωcomo ldquocontemplarrdquo dado que las tres acepciones del espanolapuntadas por la Real Academia todas ellas transitivas se ponenen juego en esta accion Conforme este sentido los espectadorestanto como el dios 1 ponen atencion en algo material (laformacion coral) 2 consideran (juzgando) a las jovenes y 3 lascomplacen son condescendientes con ellas mientras se hacenvisibles40

Como advierte Flores Esquilo usa el verbo ἐφοράω parasuplicar cada vez que se indica el llamado de atencion a traves dela vision En este caso la eleccion de un verbo de percepcionvisual no es azarosa porque ademaacutes de convocar al publico apelaal campo de la emocion a diferencia de los verbos de percepcionauditiva que tienen tendencia a asociarse al campo de lapersuasion y obediencia La vision no necesita del juego de laspalabras para convencer sino que pone a quien ve en el lugar detestigo y no de mero observador Por lo tanto es posible afirmarque la eleccion del verbo va de la mano de la eleccion de laapertura liacuterica es decir sin prologo el caso de las Danaides almenos en el comienzo pretende no ser amenazado por la retoricaLa esperanza estaacute puesta en cambio en el poder conmovedor dela mirada Precisamente Suplicantes compromete una apuesta a laexploracion de sentido en el aspecto visual ya que la oacutepsis habriacuteabuscado provocar el desconcierto del espectador41 la presencia de

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las hiacutebridas suplicantes en escena baacuterbaras de apariencia perogriegas en cuanto a su comportamiento ceremonial debe habersido el principal factor de impacto dramaacutetico desde el inicio hastael final de la tragedia En cuanto a ἐφοράω la forma de aoristoremarca ademaacutes la puntualidad de la accion dado que las Danaidesexpresan la necesidad de la mirada inmediata Justamente para darcuenta de la inminencia en la traduccion del verso 1 optamos porel agregado del adverbio ldquoyardquo que enfatiza la exigencia al punto alinstante

El adverbio προφρόνως que complementa a ἐφοράω sumainformacion al pedido pues implica absoluta confianza en el diosque segun se supone tiene ojos justos προφρόνως puede sertraducido como ldquoamablementerdquo ldquoseriamenterdquo o ldquocon voluntadapropiadardquo segun indica el Diccionario de Oxford (LSJ)42 Sinembargo este adverbio tiene las raiacuteces de πρό y φρήν43 lo queadmite la traduccion por una periacutefrasis que combine amboselementos La propuesta ldquocon mente predispuestardquo parece ser maacutesacertada porque insiste simultaacuteneamente sobre los tres sentidos deἐ φοράω (prestar atencion juzgar y ser condescendiente) ademaacutesde ser coherente con el modo desiderativo propio del himno lapredisposicion de la mente de Zeus y de los espectadores consisteen que al ver a las Danaides antes de decidir sobre su caso susolicitud (1) presten atencion a los ramos que llevan en sus manos(2) juzguen que aunque baacuterbaras practican el ritual propio de latierra local y (3) sean condescendientes con su condicion desuplicantes

Por eso es necesario agregar que en sus observacionesacerca del verbo inicial ἐφοράω Kavoulaki ha senaladopertinentemente la superposicion de los planos performativo ydramaacutetico pero ha perdido de vista el caraacutecter de laespectacularidad sobre la que se pide atencion el arribo de estecoro es espectacular desde una apreciacion multimediaacutetica porquelo que se ve y lo que se escucha producen una combinacion unicainarmonica desacoplada contradictoria disonante El epiacutetetoἀφί κτωρ el adverbio προφρόνως y los versos que siguen insistensobre la singularidad de los personajes que el publico empieza a

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ver delante de sus ojos las danaides y su padre revisten unanaturaleza marginal e hiacutebrida que se manifiesta en el lenguajegriego con matices Egipcios44 pero fundamentalmente en elchoque entre apariencia y comportamiento Lo que las Danaidesdesean que Zeus (y los espectadores) vean con buenapredisposicion es que aunque no parezcan argivas (tal como loinforma el aspecto sensible del verbo) puedan ser reconocidascomo tales a partir de su conducta (lo que involucra el aspectointeligible del mismo verbo) Ellas luego se encargaraacuten dedemostrar a traves de la retorica del canal auditivo que estacondicion griega que practican es una exteriorizacion de suspropias raiacuteces45

Finalnalmente los elementos fundamentales de la epiacuteklesisse completan con la referencia a la identidad del emisor στόλον esel sustantivo a traves del cual se autopresentan las Danaides queeligen no revelar su identidad hasta el verso 11 cuando se dicenldquohijas de Daacutenaordquo El uso de στόλον no es inofensivo No refiere aun grupo ordinario de gente a una mera tripulacion sino queacentua un aacuterea semaacutentica especiacutefica la del ritual46 στόλον senala atraves de sus ejecutores la ocasion una accion coral que se dasimultaacuteneamente en el mundo interno dramaacutetico (que contemplaZeus) y en el externo teatral (que contemplan los espectadores enel contexto del festival) Kavoulaki advierte acertadamente estesentido del termino pero la traduccion que propone ldquobandrdquo(banda)47 no cifra su complejidad semaacutentica El sustantivo στόλονcomparte su raiacutez con el verbo στέλλω que significa ldquoprepararrdquo48 ensu forma activa y ldquodespacharrdquo ldquoenviarrdquo en la pasiva El camposemaacutentico al que se asocia es usualmente el militar49 Ciertamenteel dominio belico no es ajeno al mito sobre el que se compone estatragedia pues conocemos que la suplica a Zeus primero y a Argosdespues derivaraacute en una guerra entre Argivos y Egipcios Porconsiguiente nuestra interpretacion de στόλον como ldquoformacionrdquobusca integrar el sentido militar y el ritual El enfasis de esta opcionde traduccion por otra parte estaacute puesto en la nocion dehomogeneidad (propia de este personaje colectivo) dada por elorden resaltando por lo tanto la existencia de un proceso no

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solamente previo sino tambien deliberado y de un agente quecomo autoridad establece dicho orden ldquoFormacionrdquo admite eljuego entre el sustantivo στόλος (2) y el adjetivo στασίαρχος (11)con el que se califica a Daacutenao la primera vez que es mencionado 50

correlacion que permite tanto activar el sentido de la ocasionperformativa como revelar cuaacutel es la estrategia de este grupo demujeres lideradas por su padre suplicar como maniobra de poder

El pedido de contemplacion al grupo como formacioncoral-ritual que se antepone a las demandas personales implica elinteres por conquistar los fueros de un poder que se fundamentaen la paradoja dado que la suplica es coercion disfrazada deimpotencia y necesidad51 La primera mencion de las Danaides espor consiguiente en el rol de objeto paciente asumiendo un lugarde subordinacion ante la mirada divina52 Por el contrario eldominio del dios se ve destacado no solo en el rol de agente quereviste sino tambien en su ubicacion en la posicion inicial delprimer verso de la suplica y del drama

En conclusion la epiacuteklesis demuestra ser clave para lainterpretacion de la oda y el desarrollo de la obra porque estableceun puente entre la seccion narrativa que se iniciaraacute y el nivelperformativo potenciando el sentido de la ocasion y suconveniencia Asimismo este anuncio consciente de roles eidentidades rituales vuelve maacutes ostensible la hibridez de las recienllegadas protagonistas que dejaraacuten filtrar sobre el final de la odainicial la perversion de su programa ritual Los desesperadosultimos versos del canto blasfeman a Zeus dios destinatario de lasuplica No obstante la alteracion de la norma es tema para otracomunicacion

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RESUMO

Identidade ritual e performance uma anaacutelise dos primeiros doisversos de Suplicantes de Eacutesquilo

A recitacatildeo que acompanha a marcha anapestica (v 1-39)que daacute iniacutecio agrave performance de Suplicantes de Eacutesquilo apresentadois dos trecircs componentes baacutesicos de um hino (Furley-Bremer2001) epiacuteklesis (v 1-3) e eucheacute (23-39) A epiacuteklesis indireta (Er-Stil v1-2) estabelece o contato entre os falantes ndash os Danaides quecompotildeem o coro ndash e o destinataacuterio divino ndash Zeus ndash dando agraverecitacatildeo um caraacuteter hiacutenico desde a primeira palavra Eacute umacomposicatildeo de dois versos extremamente simples a mencatildeo dodeus a quem o hino e dirigido seu epiacuteteto e o chamado da atencatildeoque apresenta o falante Nosso trabalho tenta demonstrar queapesar da brevidade da epiacuteklesis cada elemento condensa ossentidos fundamentais para a interpretacatildeo da ode inicial e damatriz ritual na qual a composicatildeo da obra se inscreve como umtodo

PALAVRAS-CHAVE

Ritual performance Suplicantes Eacutesquilo

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PARRY H The Lyric Poems of Greek Tragedy Toronto-Sarasota sn 1978

PICKARD-CAMBRIDGE AW The Dramatic Festivals of Athens Oxford sn1988

76

Identidad ritual y performance [hellip] | Maria del Pilar

REHM R Greek Tragic Theatre Theatre Production Studies London sn1992

SANDIN P Aeschylusrsquo Supplices Introduction and Commentary on v 1-523Goumlteborg sn 2003

SOMMERSTEIN AH Aeschylus Persians Seven against Thebes SuppliantsPrometheus Bound Cambridge Massachusetts London sn 2008

TAPLIN O The Stagecraft of Aeschylus the Dramatic Use of Exits andEntrances in Greek Tragedy Oxford sn 1977

TORRANO J Eacutesquilo tragedias Os persas Os sete contra Tebas As suplicantesPrometeu cadeeiro Satildeo Paulo sn 2009

VIacuteLCHEZ M Esquilo tragedias II Los siete contra Tebas Las suplicantesSalamanca sn 1999

WEST ML Greek Metre Oxford sn 1982

77

1 Este trabajo ha sido presentado como ponencia en las VIII Jornadas de EstudiosClaacutesicos y Medievales realizadas en la ciudad de La Plata durante los diacuteas 18 19 y20 de septiembre de 20172 FURLEY BREMER 20013 CALAME 19774 HENRICKS 1994-19955 SWIFT 20106 Parry (1978 p 50-51) la incluye dentro del grupo que denomina ldquomassiveodesrdquo constituido por aquellas que superan los cien versos ldquoThe grand-scaleodes are more spacious and more leisurely What they need and get is a broadsuperestructure one that a Greek audience would be well familiar with ndash thehymn or hymn derivative (hellip) Within this superestructure there is room forldquodigressionsrdquo to develop and we constantly savour exquisite descriptions andreflections ranging from the pathetic to the profoundrdquo (p 53) La observacionde Kitto (2011 p 4) tambien resulta interesante ldquothe ode one-sixth of thewhole play would take something like fifteen minutes in performance the timeof an ordinary symphony-movementrdquo7 Sobre su complexion y sus trajes baacuterbaros 120-122 = 131-133 234-237 432No descartamos la propuesta de Sandin (2003 37) quien sugiere la posibilidadde que la mitad o un tercio de las jovenes presentara indicios de pertenencia aun rango inferior y no cargara ramos de suplicante Estas servidoras de lasDanaides no seriacutean mencionadas hasta el final del drama (954 977) Sinembargo desde nuestro punto de vista su presencia no amerita su participacionen la ultima oda tal como se explica en el apartado I41 En cuanto a la cantidadde coreutas es improbable que hayan sido cincuenta tal como han sostenidoquienes consideraban a Suplicantes una obra primitiva Evidencia textual internaparece favorecer el numero de doce (204-224) Sobre el numero de miembrosdel coro Taplin (1977 437)8 Sobre anapestos de marcha West (1982 p 53-54) El metro se emplea siempreque la apertura del drama es llevada adelante por el coro Actualmente latendencia es aceptar que los anapestos de marcha eran generalmente recitativos(acompanados por el auloacutes) Segun Pickard-Cambridge (1988 p 160) ldquothis maybe taken as certain where they are uttered by the chorus as they enter theorchestra preceded by the flute player as at the beginning of Persae andSuppliants and in Agamemnon 40-130 or when they form an introduction to asung choral ode as in Persae 532-47hellip and Eumenides 307-20rdquo En algunasediciones o traducciones sin embargo se indica que el coro ldquocantardquo9 En el apartado II3 profundizamos sobre la configuracion empleo ysignificacion de los espacios escenicos en la obra 10 El texto no ofrece evidencia acerca del ingreso de Daacutenao y por lo tantopersisten las controversias en torno al momento exacto de este suceso escenicoUnos conjeturan que habriacutea llegado junto al coro (1) otros en el momento de suprimer discurso (176) La primera alternativa es la preferida de los criacuteticos en laactualidad -por ejemplo Taplin (1977 v 194) ndash aunque ya Mazon (1953 p 19)sugeriacutea que Daacutenao habriacutea ingresado ldquodans lrsquoorchestre derriegravere ses fillesrdquo y quehabriacutea permanecido parado en una colina durante la cancion mirando hacia elhorizonte Segun nuestro punto de vista Daacutenao habriacutea ingresado al mismotiempo que el coro pero detraacutes de el mostrando companiacutea y proteccion perosin acaparar la atencion central puesta en el coro femenino Finalizado elrecorrido de ingreso se habriacutea ubicado sobre la elevacion vigilando el mismosector de su ingreso es decir alerta a la posibilidad de peligro por la llegada desus perseguidores y divisando tambien el sector opuesto preparaacutendose para elverso 176 momento de su primera intervencion en que anuncia el arribo dehabitantes locales 11 Rhem (1992 p 66) ldquoBridging the gap between the heroic characters and thefifth century tragic costums and props often mirrored specific aspects ofAthenian ritual liferdquo Aelion (1983 p 16) describe el ritual de suplica y brinda

pruebas de su contemporaneidad para un espectador de la epoca con ejemploshistoricos de Herodoto y Tuciacutedides12 Cfr Aelion (1983 p 15-44) para la estructura dramaacutetica del patron de suplicaAdrados (1986 p 7-8) propone dos tipos baacutesicos para las tragedias quepresentan este motivo temaacutetico la ldquobinariardquo en la que el suplicante se refugia enun templo o realiza los gestos rituales dirigidos a su oponente y la ldquoternariardquoque encuentra maacutes habitual en la que junto al enemigo o perseguidor sepresenta al salvador La suplica en el primer caso ldquoentra plenamente en el juegoteatral es un recurso maacutes para hacer avanzar la accionrdquo pero ldquoes solo unelemento episodico nunca un elemento central en la pieza Solo cuando seintroduce la estructura ternaria es la suplica un elemento central (hellip) sobre todoporque con ello se cumple una exigencia del teatro la existencia de al menos unagoacuten en cada piezardquo (p 33) Lo esencial en el desarrollo dice Adrados ha sidoentonces ligar el tema de la suplica a los agones rituales tradicionales Segun estapropuesta Suplicantes resulta el exponente por excelencia de la tipologiacutea ternaria13 FURLEY BREMER 200114 FURLEY BREMER 2001 p 2 ldquoThe cult hymn is a form of worship directedtowards winning a godrsquos goodwill and securing his or her assistance or favourrdquo15 FURLEY BREMER 2001 p 3 ldquoHymns share many of the compositionalelements characteristic of prayers there is the same direct address of a deity thesame gesture of supplication and often the same express request for help orprotection A distinction may be possible here by considering both thecompositional elements of the two forms and their differing function inworshiprdquo16 FURLEY BREMER 2001 p 28-2917 La carencia de prologo ha sido uno de los argumentos maacutes poderosos a favorde la arcaicidad de la tragedia primero y luego de 1952 (ano en que se descubrioel pairo de Oxyrrinco que puso en cuestion la datacion de la tragedia) de suldquoespiacuteritu arcaizanterdquo Sin embargo es improbable que una apertura coral tuvierareminiscencias arcaicas en la epoca de la puesta en escena de Suplicantes YaGarvie ha demostrado que no hay razon para suponer que el inicio con lapaacuterodos haya sido necesariamente maacutes temprano que la utilizacion del prologopues tanto la funcion natural de una como del otro era expositiva explicar a laaudiencia la situacion dramaacutetica que seriacutea representada y los datos espacio-temporales de la puesta en escena Segun el anaacutelisis que hemos realizado de laoda su estilo narrativo y expositivo aunque no cronologicamente lineal puedecomprobarse en la parte liacuterica con la mencion de τὰ τε νῦν ἐπιδείξω πιστὰ

τεκμήρια (ldquomostrare pruebas confiables las de ahorardquo 52-53) cuya epexegesisconsistiraacute en el relato de la situacion actual de las Danaides Garvie (1969 p121) realiza un recorrido historico vinculado con el origen del prologo y detallael debate criacutetico en relacion a esta postura Asimismo compara la paacuterodos deSuplicantes con la de Los Persas tambien carente de prologo y con los prologosdel resto de las tragedias conservadas de Esquilo Para informacion maacutesactualizada del mismo autor sobre el mismo tema Garvie (2006b p 37) Furley-Bremer (2001 284) senalan que ldquoA prologue which sets out the pre-historymay seem Euripidean but one should not forget that of Aeschylus sevenpreserved tragedies there are four opening with an informative prologue SevenAgam Choe Eumrdquo Taplin (1977 p 194) aunque afirma que las razones parausar una apertura coral fueron dramaacuteticas maacutes que cronologicas opina que estaera una tecnica pasada de moda en los ultimos anos de la decada del 460 aC18 Los criacuteticos acuerdan en considerar que los primeros 39 versos en metroanapestico llevan adelante la funcion expositiva Cfr Hogan (1984 p 189)Viacutelchez (1999 p 86) Sandin (2003 p 36) Torrano (2009 p 239) entre otrosEsta division de la oda en dos partes es coherente con las definicionesaristotelicas de paacuterodos y staacutesimon Cfr Poeacutetica 1452b 22-2419 Efectivamente en Suplicantes tal como en Los persas el coro abre la obra consu canto de ingreso y como Eteocles en Siete contra Tebas u Orestes en Coeacuteforas laobra se inicia directamente con los protagonistas y el relato que ellos mismos

desde su punto de vista realizan de la situacion que padecen y que seraacute objetode la performance En cuanto al tratamiento del coro en Eumeacutenides y Suplicantestanto de Esquilo como de Euriacutepides y su diferencia del resto de las tragediasconservadas por tratarse de personajes principales cfr entre otros Nestle(1930 p 16) Para el caso particular de este coro Garvie (1969 p 106) ySommerstein (1996 p 158)20 El propio Pelasgo explica la diferencia entre la suplica en un altar publico yuno privado en v 365-36621 FURLEY BREMER 2001 p 277 ldquohymns of certain sorts can be used to createatmosphere by the playwright either to increase tension in an already fraughtsituation or as ironic backdrop against which the subsequent action unfoldscontrary to expectationrdquo En v 279 y ss los autores se ocupan de los ldquohimnosrdquode Suplicantes v 77-102 (Zeus) v 524-599 (Zeus) v 625-709 (Zeus y los dioseslocales) v 1018-1073 (Aacutertemis Afrodita y Zeus) pero se detienen en dospasajes v 77-102 y v 524-537 junto con v 590-600 En terminos generales losautores proponen (2001 p 285) ldquoThe term dramatic irony is not used often inAeschylean criticism But if the hypothesis sketched above about the plot of thistrilogy is correct then these hymns may have had an ironical effect at the firstperformance of this trilogyrdquo Como ha sido senalado previamente lasinterpretaciones de la tragedia que caen en el lugar comun de ampliar su lecturahacia las secuelas de la trilogiacutea resultan debiles ya que no se puede asegurar queobras habriacutean acompanado a esta tragedia y cuaacutel habriacutea sido su argumento Si elhimno inicial instala una ironiacutea proponemos interpretarla como propia de lanaturaleza inestable de quienes lo entonan22 FURLEY BREMER 2001 p 275 ldquoIn a way then a dramatic hymn is animpostor it is not a genuine cult hymn but rather an imitation of a cult hymnwritten for the fictional situation and performers of the playrdquohellip ldquoThe fictionalquality of hymns in drama and the mix they represent of genuine cult practiceand assimilation to the play mean that the playwright was free to draw ontraditional forms such as paians dithyrambs wedding songs etc in order toillustrate stages of a plays action but at the same time these traditional formshad to be adapted to their new dramatic settingrdquo (2001 p 276)23 Kavoulaki (2011 p 366) justifica muy acertadamente la ldquoconciencia deautoridad ritualrdquo de las Danaides En el artiacuteculo la autora analizaespeciacuteficamente los anapestos introductorios de la obra ldquohellip choral selfawareness of ritual authority is not a mere mannerism but represent well-planned strategies of influence and effectrdquo24 FURLEY-BREMER 2001 El patron de accion es reconocible en la tragedia porsu grado de acabamiento llegada procesional a un lugar sagrado invocacionesinvitacion a la interaccion a traves de los sentidos ritual hiacutemnico y el pedido maacutesimportante el de recepcion o aceptacion (v 27)25 En general la seccion cumple con los principios de eulogiacutea (mencion de losdominios y privilegios del dios) y eufemiacutea (con rechazo de expresionesinapropiadas) y se sirve de recursos tales como la hypoacutemnesis (recordatorionarrativo acerca de como el dios ayudo en una ocasion previa) la dieacutegesis (relatoparadigmaacutetico acerca del dios) yo la aretalogiacutea (cataacutelogo de los poderes yhazanas divinas ekphraacuteseis) para compeler al dios y asegurarse de que resultepropicio 26 Las causas de la alteracion son fundamentalmente dos por un lado dada lacarencia de prologo el movimiento escenico a traves de la paacuterodos hacia laorcheacutestra exige una explicacion dramaacutetica Por eso esta seccion pone su acento enla situacion de traacutensito es decir en el cambio espacial que representa la marchaanapestica Por otro lado la seccion insiste en un segundo cambio el decondicion social porque ligada a la referencia espacial se presenta lametamorfosis un grupo de mujeres vestidas exoticamente y con una aparienciafiacutesica ajena transforman su barbarismo en pertenencia a traves de la praacutectica delritual griego de suplica

27 FURLEY BREMER 2001 p 1 Los autores aclaran que la manera en que serealiza este abordaje del destinatario resulta indiferente para la distincion delgenero El himno puede dirigirse a un dios de manera directa (Du-Stil) indirecta(Er-Stil) o a traves del anuncio en primera persona Para su definicion parten dePlaton (Leg 700b1-5) que da el primer indicio de una taxonomiacutea antigua de lacancion coral Luego toman la clasificacion alejandrina de Proclofundamentalmente pragmaacutetica o funcional ya que tiene en cuentaprimordialmente el contexto de la performance (cfr 2001 11 y ss) 28 El verso 175 configura el cierre de la composicion anular ὑψόθεν δ᾽ εὖ κλύοικαλούμενος (Ojalaacute que desde arriba escuche propiciamente cuando es invocado)29 La cita del texto es de la edicion de Sommerstein (2008 p 290)30 La traduccion del texto es personal31 CUZZI 1970 p 73 p 85 Friis Johansen-Wittle (1980) ad v 1) ldquoZeus ἀ φί κτωρis not an attested cult-title but belongs among numerous Aeschylean creationsinvented on the analogy of existing cult- names of various typesrdquo Cfr tambienSandin (2003 ad 1 p 39) quien senala que el sufijo ndashωρ es mucho maacutes fuerteque el -ιος de uso frecuente que indica simplemente que el dios estaacute conectadocon alguna actividad El sufijo elegido por Esquilo estariacutea marcando unaactividad tambien desempenada por Zeus por eso esta podriacutea ser consideradaen sentido amplio ldquoel que llegardquo Asiacute Zeus es protector de quienes llegan eneste caso como suplicantes 32 Este uso puede observarse en los v 347 360 616 Se retoma el neologismodel primer verso en v 385 y 478-479 ἱκνέομαι usualmente se usa en el sentidode ldquosuplicarrdquo tanto en la epica homerica como en el drama (LSJ 826)33 La mencion de Zeus refleja la hibridez cultural ya que se lo invocaperteneciendo a dos espacios geograacuteficos el de origen y el de destino (cfr v 1 yv 4-5) Respecto de Egipto como la ldquoregion de Zeusrdquo (v 4-5) Sommerstein(2008 p 292) senala ldquoEgypt could be so called because it contained the famousoracle of Zeus Ammon at Siwwa but to the Danaids it is more important thatEgypt was the place where Zeus miraculously begot their ancestor Epaphusrdquo34 FERNAacuteNDEZ DEAGUSTINI 2011 p 77 ldquoEn el mundo griego antiguo regidopor valores competitivos y cooperativos ser miembro de un grupo es lo queconferiacutea y determinaba el status y la posicion de un individuo en la escala dehonor y definiacutea su rol en la sociedad La posesion y conciencia de este rol (tantode parte del posesor como de los otros miembros del grupo) proveiacutea los iacutendicesde conducta esperada sin los cuales la continuidad y estabilidad de la sociedadse veiacutea amenazada De alliacute que el ξένος el outsider el que ldquono pertenecerdquo fueraen principio un sujeto sin rol sin derechos ni obligaciones que ignoraba comoconducirse con el cual tampoco sabiacutean comportarse los miembros del grupoEn consecuencia la conducta institucionalizada que regiacutea el comportamientoadecuado del ξένος (sustantivo que designaba a la vez al hospedado y alanfitrion) proveiacutea de reglas y patrones de expectativa que permitiacutean lacoexistencia entre aquellos que no eran del mismo grupo De este modo lasinstituciones griegas conocidas como ξενία y ἱκετεία constituiacutean un poderosofactor que manteniacutea las tensiones entre grupo e individuo dentro de liacutemitestolerablesrdquo El artiacuteculo citado observa la definicion de los personajes deSuplicantes fuera o dentro de la red social que propone el espacio escenico deArgos a partir de los datos que ofrece la ldquodeixis socialrdquo (Fillmore 1971) Por suparte Dobiacuteas-Lalou (2001 passim) considera ἀφίκτωρ a partir de la idea deintegracion social y lo analiza en relacion con la repeticion en el v 241 en bocade Pelasgo Para la autora no se trata de un ldquoZeus Suplicanterdquo sino de unldquoZeus de los Suplicantesrdquo Apoyada en el examen de los tres constituyentesmorfologicos del termino (preverbio tema verbal y morfema de sustantivoagente) y de las fuentes epigraacuteficas Dobiacuteas- Lalou concluye que (p 614) ldquoDesinscriptions de Cyregravene et de Lindos font connaicirctre agrave lactif et au passif le verbeἀφικετεύω lsquosortir de letat de supplication reintegrer dans une communautecivique lsquo tandis quagrave Cnide le rituel est decrit comme ἀφικετεία On en deduitque Zeus est invoque comme laquo celui qui reintegravegre les lsquosuppliantsrsquo (v 1) et que lepluriel du v 241 designe lensemble des θεοὶἀγωνίοι qui avec Zeus vontparticiper agrave cette delivrance Lintervention lsquopoetiquersquo dEschyle doit consister en

deux traits archaiumlques lemploi de la base ἱκ- au lieu d ἱκετευ- et le recours ausuffixe ndashτωρrdquo35 KAVOULAKI 2011 p 380 ldquoZeus the first word in the play seems neutral butthe epithet ἀφίκτωρ by wich he is invoked (another ad hoc formed noun) bringsto the foreground the very fact of the chorus ἄφιξις (arrival) wich is intimatelyconnected with the third (main) word of the sentence the form ἐπίδοιrdquo36 FLORES 2007 p 89 El subrayado corresponde a la autora quien luegoampliacutea ldquoEstudios actuales sobre el lenguaje realizados por Lakoff y Johnsonrevelan el sentido profundo de ciertas estructuras linguumliacutesticas que en realidadrepresentan estructuras de la menterdquo son las ldquometaacuteforas orientacionalesrdquo (200791) ldquohellip se puede indicar que ἐ πί para Esquilo indica mucho maacutes que unaorientacion espacial de los dioses senala una forma de ver diferente de lahumana Mirar desde arriba maacutes allaacute de la raiacutez etimologica de cada verboἀφοράω ἐφορεύω ἐπισκοπέω ἀποπάω ἐποπτεύω es mirar con la fuerza vitalidadintensidad lucidez clarividencia bondad inteligencia virtud y punto de vista deun diosrdquo (2007 p 93)37 FLORES 2007 p 97 De hecho dentro de la taxonomiacutea verbal que la autorapropone incluye ἐφοράω dentro de la categoriacutea ldquolos dioses miran juzgandordquo38 KAVOULAKI 2011 p 380 ldquoby inviting the sight of the god the chorusunderline their coming to sight their spectacular appearancerdquo39 RHEM 1992 p 47 ldquoThe process is one in which the audience shifts from theimmediate dramatic situation to the larger world of the play and then movesbeyond it constantly negotiating different levels and formulating responsesappropriate to them inspired by (but hardly bound to) the initial commitmentto dramatic illusionrdquo Esta participacion de la audiencia es la que permite inferirinterpretaciones ironicas ambiguas contradictorias anticipatorias oretrospectivas de diferentes momentos de la obra40 Acepcion dada por el diccionario de la Real Academia Espanola en wwwraees41 El impacto se produce tanto sobre el espectador externo como sobre elinterno es decir Pelasgo Cfr II2342 LSJ 1540 ldquokindly earnestly Prop with forward mindrdquo43 CHANTRAINE 1968 p 122744 Sobre el lexico egipcio en Suplicantes Adrados (1999 passim)45 En el v 27 que da comienzo a la eucheacute el pedido a los dioses seraacute que aceptenesta condicion que evidentemente no les es propia δέξασθ ἱκέτην τὸνθηλυγενῆ στόλον αἰδοίῳ πνεύματι χώρας (Admitid como suplicante a esta femeninaformacioacuten con el aire reverencial de esta tierra) Ademaacutes la eucheacute recupera en este versoun termino que cobra especial sentido en la tragedia στόλον46 Johansen-Witttle (1980) entienden στόλον en sentido poliacutetico como terminoderivado de στάσις De este modo στασίαρχος (v 11) resulta ser en supropuesta de traduccion ldquoleader or originator of seditionrdquo) Sandin (2003 ad 11p 45) marca que en el griego claacutesico στάσις en su sentido poliacutetico no significasedicion sino ldquodiscord faction party strife or even civil warrdquo Para Sandinστασι- se refiere al hecho de que Daacutenao y sus hijas han roto sus lazos con sufamilia en Egipto y que por eso se ha iniciado una discordia Sommerstein(2008 p 293) traduce στασίαρχος como ldquooriginator of civil striferdquo La posicionde Kavoulaki (2011 p 377) resulta maacutes atinada en tanto no le confiere unsignificado poliacutetico sino de ocasion especiacutefica pues senala que el termino στάσιςestaacute vinculado a la actividad coral y a la formacion en particular Por eso para laautora ldquothe general usage of the word stasis in choral contexts seems to justifyits choice at this ritually important moment when the chorus qua chorus and atthe same time as a band of parthenoi is solemnly approaching a religious locus (1v 189-90) carrying the ritual symbols of supplication (v 21-22) and invokingthe gods (Zeus and others 1 23-26) with the obvious intention of taking uptheir positions to sing and dance (v 40-175) a hymn and prayer to gods andheroes and particularly to Zeushelliprdquo

47 KAVOULAKI 2011 p 38448 LSJ 1648 y Chantraine (1968 p 1050) ldquoCette famille de mots issue drsquouneracine exprimant une notion simple ldquoarranger preparerrdquo a eclate avec des senstregraves divershelliprdquo Si bien entre estos sentidos posibles Chantraine consigna στόλοςcomo ldquoexpedicionrdquo no se concentra en el examen de este vocablo Lo que debedestacarse de su anaacutelisis etimologico es sin dudas la afirmacion de que la raiacutez deesta familia supone la idea de ldquoprepararrdquo idea que se respeta en nuestrasugerencia de interpretacion del termino como ldquoformacion coralrdquo49 Por eso στόλον puede traducirse como ldquoequipamientordquo si se resalta el objetoldquoexpedicionrdquo o ldquomisionrdquo si el acento se pone en la accion y ldquotropardquo o ldquobandardquosi se hace hincapie en el sujeto 50 Es necesario resaltar el hecho de que el v 11 constituye tambien la primeravez que las jovenes aportan un dato identificatorio especiacutefico respecto de ellasEn este sentido la eleccion de στασίαρχος compuesto de στάσις (que compartel a raiacutez de στόλον) y ἄρχων ilumina el rol crucial de Daacutenao como liacuteder einstructor del coro tesis que desarrolla Kavoulaki (2011) en el artiacuteculo citado51 GOULD 1973 p 91 52 Esta posicion se revierte maacutes tarde (v 169) cuando el tiempo transcurrido y ladesesperacion invierten los roles de agente y paciente

Caliope Presenca Classica | 20172 Ano XXXIV Numero 34

O Filebo prazer e intelecto emconfrontoSimone de O Goncalves Bondarczuk

RESUMO

O dialogo Filebo durante muito tempo foi deixado de lado pelatradicatildeo dos estudos platocircnicos por ser um dialogo tematicamentecomplexo tendo em vista a sua aparente falta de unidade o quelevou a tendecircncia dos inteacuterpretes e comentadores seja naAntiguidade ou nos dias atuais a se concentrarem em apenas umdos aspectos da obra o metafisico ou o eacutetico No entanto nosultimos trinta anos o interesse por esse dialogo reviveu com forcae a sua pertinecircncia para uma compreensatildeo mais global dopensamento teoacuterico de Platatildeo foi finalmente reconhecida Opresente artigo pretende introduzir o leitor nas questotildees centraisdo dialogo e problematizar as controveacutersias em torno do mesmoSeria a vida dedicada ao prazer eou a vida dedicada agrave reflexatildeocentrais para a constituicatildeo de uma vida feliz Ou seria uma mesclaentre essas duas vidas Qual a relacatildeo dessa escolha com a questatildeoteleoloacutegica do Bem em Platatildeo

PALAVRAS-CHAVE

Filebo dialogos socraticos prazer intelecto o Bem

SUBMISSAtildeO 28 dez 2017 | PUBLICACcedilAtildeO 31 dez 2017

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O Filebo prazer e intelecto em confronto | Simone de O Goncalves Bondarczuk

dialogo Fi l ebo de Platatildeo pela sua complexidadetematica e beleza provocou tantos questionamentosna Antiguidade como suscita ainda nos dias atuais aopartir de uma questatildeo simples mas assaz relevante seo prazer e os seus congecircneres satildeo bons ou o Bem ouao inveacutes se o Bem se constitui na reflexatildeo e nasatividades relacionadas com a mesma ou talvez obem seria uma terceira via uma espeacutecie de amalgamaentre os dois Natildeo menos interessante do que o temado ponto-de-vista formal a sua estrutura dialoacutegica traza lembranca os primeiros dialogos socraticos em que oeacutelenkhos em sua dinamicidade potildee em movimento oargumento central e segue agrave risca a via da dialeacuteticaconvidando os primeiros receptores1 e os leitores

modernos a se engajarem de um modo ativo no debate Antes de tudo o dialogo eacute uma contenda dramatica entre

prazer e reflexatildeo no qual outras questotildees relacionadas vatildeo sendoentrelacadas como a questatildeo do Uno e do Multiplo - como sepode chamar por um unico nome geneacuterico prazer umamultiplicidade de prazeres aparentemente dessemelhantes entre si eo mesmo argumento poderia servir para os conhecimentos outraquestatildeo surge em decorrecircncia dessas a necessidade de seestabelecer categorias ontoloacutegicas para definir o prazer e asatividades relacionadas agrave reflexatildeo a saber o limite o ilimitado amistura e causa da mistura e ainda como tudo isso se relacionacom o projeto ontoloacutegico de Platatildeo a respeito do Bem

O dialogo potildee em tensatildeo todas essas questotildees e nos eacuteapresentado como uma peca dialeacutetica com passos tatildeo belos quantoenigmaticos Como consequecircncia disso o dialogo apresenta umaaparente falta de unidade tematica que durante muito tempo foium empecilho para uma interpretacatildeo ampla e integradora dodialogo na sua relacatildeo com o corpus platocircnico O tema do dialogo eacuteo prazer ou a vida de reflexatildeo ou o Bem ou ainda seria sobreuma vida mista entre as duas como sendo a mais feliz

A importacircncia desses temas em relacatildeo ao conjunto daobra de Platatildeo sobretudo pelas questotildees metafisicas e eacuteticas

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O

Caliope Presenca Classica | 20172 Ano XXXIV Numero 34

postas em relevo em sua articulacatildeo com todo o pensamentoplatocircnico sobre o Bem permitiu que os ultimos trinta anosassistissem a um renascimento da parte dos especialistas de seuestudo

Tendo em vista essa polecircmica em relacatildeo agrave unidadetematica o esquema de divisatildeo do dialogo ja foi apresentado dediversas formas2 segundo minha proposta pode ser estruturadoda seguinte maneira

1 Parte I Introducatildeo (11a-14b)a) As duas teses em disputa a vida boa ou o Bem consiste navida centrada no prazer e seus congecircneres ou na vidacentrada na reflexatildeo e nas coisas afins a essa (opiniatildeo corretae calculo racional)b) A vida feliz eacute resultante da disposicatildeo e da propriedade daalma haveria um terceiro estado superior a esses doisprimeirosc) A proposta de uma via intermediaria o Bem eacute o prazer areflexatildeo ou ainda haveria uma terceira possibilidade (14b)

2 Parte II A estrutura metafisica da realidade e o meacutetododialeacutetico da divisatildeo (14c-20b)a) O problema do Uno e do Multiplo em sua versatildeo maisbanalizada (14c-14e)b) As trecircs aporias sobre o Uno e o Multiplo a definicatildeo dadialeacutetica e o seu meacutetodo de divisatildeo como solucatildeo para asaporias (15a-17a) c) Os exemplos de limite e ilimitado as letras articuladas(fonemas) e as notas musicais (17a-18d)d) A proposta de aplicacatildeo da distincatildeo Uno-multiplo aoprazer e agrave reflexatildeo (18d-20b)e) Protarco sugere uma ldquosegunda rota de navegacatildeordquo pararepreender Soacutecrates (20andashb)

3 Parte III O discurso salvo por uma memoacuteria divinaa) Nem o prazer nem a reflexatildeo satildeo o Bem mas uma terceiracoisa diferente dessas duas e superior a ambas (20b-c)b) A definicatildeo do Bem os seus requisitos ndash suficienteperfeito e digno de escolha (20b)c) A aplicacatildeo desses requisitos agrave vida de prazer e de reflexatildeo(20c-22b)

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O Filebo prazer e intelecto em confronto | Simone de O Goncalves Bondarczuk

d) Trecircs vidas foram propostas mas nenhuma das duasprimeiras eacute suficiente e nem digna de escolha A vida mistaganha o primeiro precircmio (22b-23b)

4 Parte IV A necessidade de outro mecanismo (mekhaneacute) paraargumentar a favor do segundo precircmio (23c-31b)a) A definicatildeo dos quatro gecircneros ou espeacutecies nas quais sedivide tudo que ha no universo o limite o ilimitado a misturae a causa da mistura (23c-27c)b) A vida vitoriosa faz parte do terceiro gecircnero da mistura(27c-28b)c) Teleologia coacutesmica e a inteligecircncia (noucircs) como ldquorainha doceacuteu e da terrardquo (28c-29a)d) A alma do mundo possui sabedoria e inteligecircnciapertencentes ao gecircnero da causa que ordenam e regem todasas coisas (29a-31b)e) A inteligecircncia (noucircs) portanto pertence ao gecircnero da causa

5 Parte V O exame dos prazeres a sensacatildeo a memoacuteria e odesejo (31b-55c) a) A fisiologia do prazer dor e prazer como um parindissoluvel (31b-32b)b) A psicologia do prazer a reminiscecircncia (32b-34c)c) O desejo ou apetite por alguma coisa pertence agrave alma (34c-35d)d) O desejo da alma o tipo de vida correto e o prazer comoantecipacatildeo (35d-36c)e) Prazeres verdadeiros e falsos (36c-38c)f) Percepcatildeo aparente e real pensamento opiniatildeo e discurso(38c-40c)g) Os estados afetivos tecircm conteudo proposicional (40e-43b)h) O prazer natildeo se identifica com a cessacatildeo da dor (43c-46a)i) Os prazeres mesclados com dores (46a-50e)j) Os prazeres puros sem mistura com dor os prazeressensoriais a beleza das figuras os sons os aromas e osprazeres da aprendizagem (50e-53c)k) Conclusatildeo o prazer eacute um vir a ser (53c-55c)

6 Parte VI Exame do conhecimento os conhecimentos asartes e seu grau de exatidatildeo A superioridade da filosofia(55c-64c)a) Os conhecimentos e as artes com distintos graus deexatidatildeo e de pureza (55c-57e)

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b) A filosofia eacute superior a qualquer outro conhecimento ouarte (57e-59d)c) O Bem eacute a vida que consiste em uma mescla de sabedoria eprazeres puros (59e-64c)

7 Parte VII Os ingredientes eideacuteticos do Bem o posto doscandidatos na competecircncia pelo bem e a conclusatildeo (64c-67b)a) Beleza proporcatildeo medida e verdade como ingredienteseideacuteticos imprescindiveis ao Bem (64c -65e)b) A ldquotabela das posicotildees finaisrdquo na competicatildeo pelo Bem (i)a medida o mesuravel e o oportuno (ii) o proporcional e obelo o perfeito e o suficiente (iii) a inteligecircncia e a reflexatildeo(iv) conhecimentos artes e opiniotildees corretas (v) prazerescarentes de dor isto eacute prazeres ldquopurosrdquo (66a-66d)c) Conclusatildeo do dialogo se provou inteiramente pelodiscurso que era injustificada a pretensatildeo tanto do prazer quanto dainteligecircncia de ser o Bem em si mesmo por natildeo preencherem os trecircsrequisitos autonomia suficiecircncia e perfeicatildeo Entretantoexiste um prazer superior aos fisicos fruto da paixatildeo pelosdiscursos oraculares inspirados pela musa filosoacutefica (66d-67b)

A primeira grande subdivisatildeo do dialogo (partes I a IV)

refere-se ao procedimento dialeacutetico e portanto ela se reveste deuma importacircncia unica para a compreensatildeo da dialeacutetica a ponto deGadamer3 afirmar ldquoafinal de contas em nenhum outro dialogoplatocircnico a teoria da dialeacutetica esta tatildeo estreitamente enredada coma pratica da dialeacutetica como alirdquo4

Em consonacircncia com esse argumento Gill5 defende a tesede que a forma do dialogo acentua o necessario vinculo entreengajamento cooperativo de ambas as partes e o exerciciodialeacutetico rumo a uma compreensatildeo mais aprofundada dasrealidades e do Bem Aleacutem disso ele afirma que nessa perspectivao Filebo seria excepcional pela importacircncia que atribui a essascaracteristicas para o aperfeicoamento de toda a discussatildeo Aecircnfase nessas caracteristicas explicaria porque Soacutecrates nessedialogo tem de introduzir teoricamente o meacutetodo dialeacutetico comoum caminho para superar a primeira aporia surgida com a aparenteunidade (14a-e) recolhida e evidenciada no nome lsquoprazerrsquo e a

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multiplicidade de prazeres muitas vezes ateacute mesmo contrariosentre si Superar a afirmacatildeo surpreendente e paradoxal de que ldquoomultiplo eacute unordquo (ἓν τὰ πολλὰ εἶναι) e a afirmacatildeo de que ldquoo uno eacutemultiplordquo (καὶ τὸ ἓν πολλὰ) por meio do discurso apresenta-secomo o grande desafio Entretanto Soacutecrates tentara mostrar aProtarco que esse desafio soacute pode ser superado pelo exercicio dadialeacutetica pois a eristica praticada pelos sofistas natildeo podeadequadamente dar conta dele

Na segunda grande subdivisatildeo tematica (nas partes V e VI)Soacutecrates argumenta que incluira todos os conhecimentos namistura em busca da vida feliz mas apenas alguns prazeres osprazeres puros (da vida teoreacutetica e dos sentidos puros) aqueles quenatildeo foram misturados com dor e que satildeo verdadeiros por natildeoinduzirem ao engano Esses correspondem aos prazeres esteacuteticosde certos perfumes de algumas vozes claras das cores puras e dasformas geomeacutetricas e tambeacutem os prazeres intelectuais daaprendizagem e da investigacatildeo disciplinada e os prazeres eacuteticosque seguem as virtudes

Nos prazeres puros o que se desfruta eacute uma experiecircncia danatureza do belo e daquilo que eacute atrativo em si mesmo6

independente de um estado de tensatildeo que busque somente alivio(51c 6-7) eles ainda estatildeo relacionados agrave claridade agrave precisatildeo e agraveverdade Os prazeres impuros por sua vez possuem um lacoindissoluvel com a dor que Platatildeo procura ressaltar por meio douso de varias particulas e construcotildees com particulas - τε καὶ e δὲκαὶ - aleacutem do uso do adveacuterbio haacutema (simultaneamente) para enfatizaressa conexatildeo estreita

O prazer autecircntico eacute bom em si mesmo por natureza ouenquanto medido ou limitado pela razatildeo calculadora Platatildeo longede rechacar o prazer corporal de forma arbitraria como uminimigo procura integra-lo a vida feliz sempre que estaacompanhado pela inteligecircncia (noucircs) que pode prescrever lhe amedida adequada Comprova-se mais uma vez que a medida e aproporcatildeo salvam o prazer e o integram no conjunto de uma vidaplena A defesa da sabedoria acerca dos calculos dos prazeres

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autecircnticos da vida leva a conclusatildeo de que o sabio (sophoacutes) eacute ohomem mais feliz

O que chama atencatildeo no desenvolvimento do tema eacute ofato de desde o inicio Soacutecrates propor uma terceira via alternativapara definir qual seria a vida mais feliz e que por isso se constituiriano Bem e continuar insistindo nessa ideia ao longo do dialogo Ainsistecircncia em tal possibilidade leva a necessidade doestabelecimento de categorias ontoloacutegicas nas quais se possaincluir essa vida misturada de prazeres e atividades do intelectoPor fim a conclusatildeo sera que o Bem eacute a vida que consiste em umamescla de sabedoria e prazeres puros (Filebo 59e-64c)

Esses indicios na linha de desenvolvimento do tema nosfaz pensar que o propoacutesito ou intencatildeo visado por Platatildeo nodialogo em questatildeo seja definir os horizontes dessa vida mistadentro do escopo do seu projeto ontoloacutegico sobre o Bem

A DATACcedilAtildeO DO DIAacuteLOGO E A GEcircNESE DO TEMA

Em relacatildeo a sua posicatildeo no corpus platonicum pode-sedizer que ha um consenso entre os especialistas sobre o Filebo tersido composto nas ultimas duas deacutecadas da vida de Platatildeo e fazerparte do seguinte conjunto de dialogos Sofista Poliacutetico FileboTimeu Criacutetias e Leis Os dois primeiros nomes da lista satildeoseguramente anteriores aos outros e as Leis o ultimo O Criacutetiastem uma relacatildeo de continuidade com o Timeu e a posicatildeo doFilebo eacute incerta ou teria sido escrito entre o Poliacutetico e o Timeu ouentre Criacutetias e Leis e ainda haveria a possibilidade de algumaconcomitacircncia Quanto agraves possiveis datas os anos de 368 e 367aC seriam um terminus a quo para os seis dialogos no entanto eacutedificil de determinar uma data precisa para qualquer um deles7

Dessa forma o Filebo teria sido escrito entre duas trilogiassupostas de Platatildeo a primeira Sofista Poliacutetico e Filoacutesofo - o ultimonatildeo foi escrito mas anunciado - e a segunda Timeu Criacutetias eHermoacutecrates esse ultimo tambeacutem natildeo escrito Outra possibilidade eacuteque tivesse sido escrito depois da segunda trilogia e antes das LeisParticularmente essa eacute a posicatildeo assumida por Hackforth8 natildeo

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como uma certeza mas pela possibilidade de dar conta de uma dascaracteristicas mais singulares do Filebo a completa ausecircncia dereferecircncias politicas e num momento que se sabe que Platatildeo estariaenvolvido em um projeto politico concreto de estabelecer naSicilia na corte de Dionisio a sua Republica ideal Nas palavrasdesse estudioso

Soacutecrates e seus interlocutores discutem o bem para o homemcomo individuo e natildeo como membro da comunidade isso eacutesurpreendente no autor da Repuacuteblica Poliacutetico e Leis e pode serconsiderado como refletindo uma separacatildeo deliberada daespeculacatildeo politica que melhor se encaixa nos anos de 360-354 do que em qualquer outro periodo das ultimas duasdeacutecadas da vida de Platatildeo (Traducatildeo nossa)9

Essa pausa na especulacatildeo politica ao qual se refere natildeodeve representar uma interrupcatildeo mesmo momentacircnea noprojeto filosoacutefico de Platatildeo como Hackforth da a entender emparticular definindo o dialogo em questatildeo com a expressatildeo umpiegravece drsquooccasion Em seu entender a obra marcaria uma espeacutecie deinterrupcatildeo tematica na sequecircncia dos dialogos platocircnicospressupondo que a sequencialidade da escritura seja umaprerrogativa do filosoacutefico Uma abordagem historicista neste casonatildeo ajuda a entender a gecircnese da obra e ateacute mesmo parecerestringir o projeto do filoacutesofo no qual a dimensatildeo politica natildeo semostra dissociada de sua dimensatildeo ontoloacutegica

Em minha opiniatildeo deve-se ter em mente o tempo todoque o escopo de toda a obra de Platatildeo aponta invariavelmentepara o Bem embora os propoacutesitos ou intencotildees dos dialogosindividualmente parecam estar sempre em tensatildeo dialeacutetica entre sigirando em torno de assuntos variados Portanto a questatildeo doprazer tem de ter alguma relacatildeo com o Bem e a vida feliz e ainvestigacatildeo para determinar o seu lugar na vida do filoacutesofo natildeoesta em desarmonia com o projeto de Platatildeo em um momentoespecifico ou eacute um tema secundario mas encontra ecos anterioresnos dialogos Goacutergias na Repuacuteblica e tambeacutem no Banquete

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Segundo Boeri10 Platatildeo parece ter se sentido particularmente comprometidode dar um lugar ao prazer na vida boa e principalmente emdemonstrar a sua importacircncia para a vida do filoacutesofo como oprazer contribuiria para a ascensatildeo ao Bem Se levassemos agrave riscauma leitura asceacutetica do platonismo o prazer teria pouca ounenhuma importacircncia em uma vida teoreacutetica no entanto como sepode contemplar a beleza do Bem sem a contemplacatildeo da belezasensivel dos corpos que visa o prazer como se diz no BanquetePortanto uma leitura rigorosamente asceacutetica natildeo parece condizercom varios passos de outros dialogos como se procurara mostrarA via dialeacutetica natildeo eacute uma via racional e arida e Platatildeo estaparticularmente comprometido em demostrar issoSoacute para citar alguns exemplos do corpus platocircnico no Goacutergias opersonagem Soacutecrates conduz a discussatildeo sobre o prazer daseguinte forma logo depois de Calicles ter afirmado que o homemfeliz seria o que se entregasse a todos os prazeresindiscriminadamente

SoacutecratesFui eu que conduzi a discussatildeo para estes temas meu caro oufoi aquele que com todo o embaraco afirmou que afelicidade consiste no prazer de qualquer ordem semdistinguir entre bons e maus prazeres Pergunto-te mais umavez se em tua opiniatildeo o prazer e o bem satildeo uma e amesma coisa ou se haacute prazeres que natildeo satildeo bons

CaliclesSe te dissesse que eram coisas diferentes entraria emcontradicatildeo com as afirmacotildees que ja fiz Mantenhoportanto que satildeo a mesma coisa

SoacutecratesDas cabo de tudo o que assentamos Calicles e natildeo poderasrealizar comigo uma investigacatildeo correta da verdade se tepotildees a falar contra o teu proacuteprio pensamento

CaliclesExatamente como tu fazes Soacutecrates

Soacutecrates

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Se isso eacute verdade faco tatildeo mal como tu Mas reflete meucaro que talvez o Bem natildeo se identifique com toda aespeacutecie de prazer A ser assim verificar-se-iam asconsequecircncias vergonhosas a que ha pouco aludi e muitomais (494 e 10 ndash 495 a e b 2 Grifos nossos)11

Soacutecrates ao questionar nessa passagem se o prazer e o bemsatildeo uma e a mesma coisa ou se haacute prazeres que natildeo satildeo bons propotildee naverdade uma discussatildeo ou revisatildeo sobre a ontologia do Bem ouuma agatologia que no Filebo assumira inicialmente a forma de umaontologia de uma vida boa12 na qual o prazer deve ser parteconstituinte

Da mesma forma tambeacutem com essa afirmacatildeo de quetalvez o Bem natildeo se identifique com todo tipo de prazer ele aponta para anecessidade de examinar a questatildeo mais a fundo propondo nasentrelinhas a necessidade de submeter o prazer a uma divisatildeo e deuma classificacatildeo dos prazeres para melhor compreender em quemedida ele eacute o Bem No entanto Soacutecrates natildeo daraprosseguimento a essa investigacatildeo ao longo desse mesmo dialogomas antecipa um esboco de uma tese sobre as espeacutecies de prazeresque sera retomada e desenvolvida no Filebo Pode-se constatar tambeacutem na Repuacuteblica 505b a importacircncia dotema ao examinarmos o seguinte excerto

Se natildeo a conhecemos e agrave parte essa ideia conhecermos tudoque ha sabe que de nada nos serve da mesma maneira quenada possuimos se natildeo tivermos o bem Ou julgas que vale demuito possuir qualquer coisa que seja se ela natildeo for boa Ouconhecer tudo o mais exceto o bem e natildeo conhecernada de belo e bom

ndash Por Zeus que natildeondash Mas na verdade sabes tambeacutem que para a

maioria (hoi polloiacute) eacute o prazer que se identifica com o bem aopasso que para os mais requintados (kompsoteacuteroi) eacute o saber

ndash Pois natildeondash E os que assim pensam meu amigo natildeo satildeo

capazes de explicar o saber mas acabam por ser forcados adizer que eacute o saber do bem

ndash Coisa que eacute bem ridicula[]

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ndash E agora os que definem o bem com prazer estatildeomenos eivados de erros do que os outros Ou natildeo satildeotambeacutem eles forcados a concordar que ha prazeres maus

ndash Seguramente que sim

Nesse passo segundo Soacutecrates existe portanto umaopiniatildeo ja estabelecida pelo senso comum (hoi polloiacute) de que oprazer se identifica com o Bem enquanto para os maisrequintados ele se identifica com o saber Essa primeira oposicatildeosuperficial levara a outra mais fundamental que integra um dosnucleos da metafisica platocircnica - a questatildeo do Uno e do Multiplo ndashporque a essecircncia do Bem natildeo pode ser dupla mas uma ou unapor isso tera que se decidir entre as duas alternativas ou umaterceira que se aproxime mais do Bem Em outras palavras o queele persegue eacute como conciliar e fundamentar filosoficamente arelacatildeo do Uno e do Multiplo com o Bem toacutepico esse quetambeacutem natildeo desenvolve na Repuacuteblica

O Banquete por sua vez deveria ter uma relacatildeo importantecom o tema do prazer uma vez que trata do mito de Eros em suarelacatildeo com Afrodite que explicitamente eacute chamada de prazer noFilebo Essa relacatildeo talvez pouco evidente do ponto de vistateoreacutetico natildeo me parece de menos importacircncia hermenecircutica Aquestatildeo eacute definir ateacute que ponto pode-se estender a analogia domito de Eros e Afrodite ao tema do prazer e do conhecimentocomo eacute apresentado no Filebo que embora tenha sido consideradocomo um dialogo eacutetico por muitos claramente se mostrou comoestando inserido no plano ontoloacutegico de Platatildeo em relacatildeo aoBem13

No entanto o Banquete natildeo eacute considerado um dialogo detema ontoloacutegico mas natildeo deveria passar despercebido que Platatildeoali estabelece uma categoria nova de existir no mundo ndash expressano uso da preposicatildeo metaxyacute ndash uma posicatildeo intermediaria entredeuses e homens a posicatildeo do daiacutemon a mesma de Eros a mesmado filoacutesofo e de Soacutecrates essa nova categoria do ponto de vistaepistemoloacutegico ainda pode ser entendida como qualquer coisaentre a sabedoria e a ignoracircncia definida por Diotima como oopinar corretamente (tograve orthagrave doxaacutexein)

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Tal posicatildeo eacute definivel em termos de participacatildeo O mito diz queEros tanto eacute rico em expedientes como eacute indigente a ponto deestar sempre na falta de alguma coisa dor e prazer se enlacamnecessariamente no movimento de Eros mas natildeo de modonegativo pois a dor da falta eacute que impulsiona ao desejo depreenchimento Por outro lado no Filebo Soacutecrates retorna a esseponto ao falar dos prazeres puros incluindo nessa categoria osprazeres do aprendizado e procura purifica-los desse aspectodoloroso O filoacutesofo leva Protarco a concluir que se algueacutem forprivado desses ensinamentos natildeo sentira de modo natural dor porcausa dessa perda mas apenas ao raciocinar sobre essaexperiecircncia Ou seja ele procura separar a experiecircncia pura doaprendizado (χωρὶς τοῦ λογισμοῦ) como uma experiecircnciaprazerosa em si14

Ademais Diotima levanta uma importante questatildeo emrelacatildeo ao opinar corretamente como pode um aacutelogon pracircgma serciecircncia por um lado mas como pode ser ignoracircncia (natildeoconhecimento) se ao mesmo tempo recolhe o ser (toucirc oacutentos) Esseestatuto ontoloacutegico estabelecido por Platatildeo deixa em aberto agravequestatildeo do prazer pois esse mesmo sendo movimento e geracatildeonatildeo suficiente em si mesmo natildeo poderia ser um bem mas comovir a ser vem a ser a partir de alguma coisa e natildeo seria essa coisa oBem Qual a relacatildeo entre prazer e Bem Mais uma vez constata-se que essas questotildees de alguma forma seratildeo retomadas no Filebo

A meu ver se existe uma divindade patrona da filosofiaessa divindade deve ser Eros porque eacute esse sobretudo em suaacircnsia de preencher-se e na sua propensatildeo ao belo que se move efaz mover na direcatildeo do objeto de seu amor e qual coisa segundoPlatatildeo seria mais desejavel e amoravel do que o bem A proacuteprianatureza intermediaria de Eros sempre acompanhado de prazer edor entre o sensivel e o inteligivel constroacutei uma relacatildeo entre oamor ao belo sensivel e ao belo inteligivel que por forca danarrativa mitica satildeo inseparaveis Mas essas relacotildees assimexpostas em uma linguagem imageacutetica do mito ainda natildeo datildeoconta de definir os horizontes da exata relacatildeo entre prazer e Bem

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O personagem Soacutecrates entatildeo questionara - a partir da tesede Filebo de que o prazer constitui a vida boa ndash se o prazer tem ounatildeo espeacutecies e quantas e quais satildeo e depois fara o mesmo emrelacatildeo agraves atividades do intelecto para concluir por uma terceiravia ja elucidada desde o inicio do discurso de que a vida mista seriaa vida boafeliz e essa sim seria o Bem

Sendo assim Soacutecrates procurara dist inguir naargumentacatildeo segundo o meacutetodo dialeacutetico da divisatildeo quais satildeo osprazeres ruins e quais bons mas ja admitindo previamente ser amaioria deles ruim como se vecirc no excerto abaixo

Porque estas chamando essas coisas ainda quedessemelhantes diremos noacutes com outro nome pois dizesserem boas todas as coisas prazerosas Ora certamentenenhum argumento pode contestar tal afirmacatildeo dizendo queas coisas prazerosas natildeo satildeo prazerosas mas dizendo que amaioria delas eacute ruim e umas boas15 como noacutes afirmamos16

A naturalidade desse tema que subsumi o senso comum deque ser feliz de alguma forma eacute se entregar aos prazeres torna-osempre atual e relevante e confronta-nos com os seguintesquestionamentos todo prazer implica necessariamente em umbem Como o prazer participa do Bem em si mesmo Ou comoalguns defendem uma vida baseada soacute na reflexatildeo natildeo seria maisproveitosa aos homens Tais questotildees satildeo o motor propulsor quefazem mover o dialogo

Na Antiguidade o tema do Filebo a saber o prazer e suasinjuncotildees eacuteticas e metafisicas foi objeto de multiplos comentariosde Aristoacuteteles ateacute os ultimos neoplatocircnicos17 As escolas deinterpretacatildeo sempre alternaram entre dois campos deinterpretacatildeo Eacutetico ou Metafisico (escola de Jacircmbico) Ocomentario mais completo que chegou ateacute noacutes da Antiguidade foio de Damascio18 ndash Comentaacuterio ao Filebo de Platatildeo ndash o qual ja ilustracerta polecircmica antiga acerca do tema

Alguns dizem que o escopo do Filebo eacute o prazer como osubtitulo demonstra e tambeacutem o proacuteprio Soacutecratesprimeiramente ao se propor discutir sobre o prazer (11b4-

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c3) e depois a examinar as coisas a esse respeito efinalmente por concluir o seguinte que o prazer natildeo eacute afinalidade (teacutelos) da vida[]Ainda na opiniatildeo de Pisiteo o aluno de Theodoro de Asino odialogo eacute sobre a Inteligecircncia como dizem tambeacutem que oParmecircnides eacute sobre o Bem Isso porque na discussatildeo da vidamista (na qual inteligecircncia e prazer estatildeo misturados) aInteligecircncia ela mesma eacute o primeiro (elemento) na mistura(1959 p 2) (Traducatildeo nossa)

Nesse passo Damascio faz uma espeacutecie de revisatildeohistoacuterica das interpretacotildees correntes dos neoplatocircnicos sobre atematica do Filebo partindo do ponto de vista tradicional de Procloe destacando a discordacircncia entre os seus comentadores Valeressaltar o fato de nenhum dos comentadores da Antiguidadedizerem que o dialogo eacute sobre a vida mista A interpretacatildeo queDamascio dara ao tema do prazer sera considerada uma leituramais aristoteacutelica diversa de seus predecessores preocupadossomente em interpretar a doutrina de Platatildeo e que soacute recorrem aAristoacuteteles para acrescentar um elemento a mais o prazer natildeo eacute soacuteo preenchimento de uma falta mas o resultado suplementar deuma atividade

Ao comentar sobre as diversas interpretacotildees a respeito dotema numa perspectiva historiografica Dorothea Frede19 diz que amaior parte dos comentadores dirigiu a sua atencatildeo para um unicoaspecto seja ao discutir a passagem sobre metodologia e ontologiaseja se limitando agrave discussatildeo do prazer sem dar valor ao conjuntodo dialogo Sendo assim pode-se constatar que natildeo haviaconsenso interpretativo em relacatildeo ao tema na Antiguidade e nemtampouco na contemporaneidade

Retornando ao dialogo Soacutecrates do inicio apresenta asduas teses ou concepcotildees da existecircncia humana ja discutidasanteriormente que o prazer e seus congecircneres implicam em umavida boafeliz e a outra que diz que a vida de reflexatildeo e seuscongecircneres satildeo responsaveis por isso Tais argumentacotildees iratildeo sedesenvolver no sentido de determinar qual dos dois tipos deexistecircncia estaria mais aparentado ao Bem sendo que um terceiro

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tipo de vida possivelmente superior eacute assinalado desde o principioPode-se dizer portanto que a questatildeo teoacuterica central gira emtorno da articulacatildeo entre uma questatildeo eacutetica ndash no que consiste avida boafeliz ndash e de uma ontoloacutegica ndash como a vida boafeliz estarelacionada com o Bem

O BEM COMO PONTO DE PARTIDA DA DISCUSSAtildeO

Logo na primeira secatildeo do dialogo em uma tentativa deestabelecer as condicotildees de um dialogo positivo que assegure aconcordacircncia dos interlocutores em engajar-se numa discussatildeohonesta do ponto de vista intelectual Soacutecrates inicia da seguinteforma

SoacutecratesOlha soacute Protarco que discurso tu estas (disposto) a aceitaragora o de Filebo ou frente ao nosso discurso refuta-lo casote natildeo seja exposto segundo o que eacute inteligivel Queres querecapitulemos cada um deles

ProtarcoCertamente que sim

SoacutecratesPois bem sobre isso Filebo afirma ser bom (agathoacuten) paratodos os viventes o regozijar-se o prazer e o gozo aleacutem dascoisas que estatildeo em consonacircncia com esse gecircnero poreacutem denossa parte a refutacatildeo eacute que natildeo satildeo essas coisas mas sim opensar e a percepcatildeo inteligivel bem como o recordar e aindaas coisas desse mesmo gecircnero como a opiniatildeo exata e osraciocinios verdadeiros as quais satildeo superiores e maisdesejaveis do que o prazer para todos quantos satildeo capazesdelas participar e tambeacutem satildeo elas as mais uteis para todosaqueles que satildeo e viratildeo a ser capazes de usufrui-las Natildeo eacuteassim natildeo como cada um de noacutes afirma Filebo (Traducatildeonossa)

O uso do termo agathoacuten em todo o dialogo eacute ambiguo poistanto pode ser entendido como o adjetivo bom como eacute entendidonesse excerto acima ou compreendido como se vera adiante pela

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ideia do Bem A ocorrecircncia dessa ideia no corpus platocircnicocostuma aparecer substantivada pelo artigo e ou em formacontraida tagathoacuten quando se refere ao Bem20 Portanto a palavracomo usada nesse excerto acima gera uma ambiguidade pois podesignificar tanto que o prazer eacute bom ou seja eacute uma espeacutecie de bem(que participa do Bem) ou eacute o Bem em si mesmo se assumirmosque mesmo sem o artigo a palavra possa significar o Bem

Ao observar-se todos os usos dessa palavra em seuscontextos especificos no dialogo constatamos que tal ambiguidadeeacute deliberada quase metade dos exemplos aparecem com artigo e aoutra metade sem o artigo Assim sendo Platatildeo sustenta essaambiguidade ateacute o fim de alguma maneira para paulatinamenteultrapassa-la valendo-se do meacutetodo dialeacutetico da divisatildeo natentativa de definir o Bem de maneira mais precisa e identifica-locom a vida boafeliz

Em contraposicatildeo a tese de Filebo o personagem Socratessustenta neste mesmo passo que as atividades do intelecto satildeoqualitativamente superiores Isto fica evidente ao usar adjetivos nograu comparativo de superioridade por meio dos quais ele procuraidentificar a vida de reflexatildeo como algo em si mesmo superiormais desejavel e mais util e por isso mais aparentada ao Bem Orefletir e seus congecircneres satildeo comparativamente melhores do queo regozijar-se e seus congecircneres demonstrando claramente que eleesta considerando esses ultimos como sendo um bem relativo Naverdade Soacutecrates introduz a pressuposicatildeo de que se a vida dereflexatildeo eacute melhor talvez seja porque haja prazeres bons e outrospiores

Nesse ponto do dialogo nem o personagem Soacutecrates nemFileboProtarco estatildeo preocupados em definir a questatildeo mas emestabelecer as bases de um campo comum de discussatildeo paraconduzi-la no sentido de responder ao longo do dialogo quais satildeoas exatas relacotildees entre o prazer a vida fundada na reflexatildeo e oBem Concordo com a leitura precisa de Delcomminette sobre oescopo do dialogo ldquoTodo o dialogo pode ser lido como umatentativa de descobrir a relacatildeo correta entre o prazer e o bem e defundamenta-la dialeticamenterdquo21

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O prazer tem um mesmo nome mas eacute multiplo o conhecimentotem um mesmo nome e igualmente eacute multiplo O nome soacute podeser visto como um se for entendido como conceito mas ateacuteaquele momento o que eacute um conceito para noacutes ainda natildeo haviasido definido pelos gregos como categoria de pensamento22 Sendoassim se estabelece a necessidade de argumentar sobre assemelhancas e as dessemelhancas entre os prazeres a partir dasquais se possa considera-los como o mesmo e da mesma formaproceder com as coisas referentes agrave reflexatildeo

Na intencatildeo de buscar um ponto de partida comum para odesenvolvimento desse caminho de pensamento o personagemSoacutecrates recrimina a interpretacatildeo ingecircnua de Protarco sobre oproblema do Uno e do Multiplo

SoacutecratesFalo do que aconteceu um pouco antes do que pela proacuteprianatureza surgiu como algo extraordinario pois de fato eacutesurpreendente a afirmacatildeo de que ldquoo multiplo eacute unordquo quantoa afirmacatildeo de que ldquoo uno eacute multiplordquo e qualquer umadessas duas seria facilmente contestada se proposta dessemodo

ProtarcoEntatildeo sera que estas querendo dizer quando algueacutem sereferir a mim Protarco nascido como unico por natureza sereu ao inveacutes disso muitos e contrarios tanto a mim mesmoquanto uns aos outros por admitir o grande e o pequeno opesado e o leve o mesmo e tambeacutem incontaveis outros

SoacutecratesTu Protarco estas afirmando o que se estabeleceupublicamente das admiraveis discussotildees a respeito do um e domultiplo e que foi admitido por assim dizer ja por todosNatildeo se deve no entanto acolher de imediato dentre taiscoisas o pueril o facil ou ainda o que possa vir a se tornarum grande obstaculo para o discurso aprovando-os poisnem mesmo quando depois de ter dividido os membros esimultaneamente as partes do discurso e de ter concordadoque todas essas coisas eram aquele um ainda assim algueacutempoderia refutar de modo zombeteiro que foi obrigado a dizer

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um prodigio o um como multiplo eacute tambeacutem ilimitado e omultiplo como um eacute unico (traducatildeo proacutepria)

A aporia da afirmacatildeo de Protarco fica ainda mais claraadiante no dialogo quando Soacutecrates relaciona o Uno e o Multiplocom duas categorias de pensamento o limite e o ilimitado comoalgo poderia ter limite e ser ilimitado ao mesmo tempo Aleacutem domais o que Protarco natildeo se da conta eacute de que Soacutecrates querinvestigar o Uno e o Multiplo nas Formas as quais natildeo se devemaplicar predicados de qualidades sensiveis O personagem Soacutecratesresponde assim a pergunta de Protarco sobre qual seria a outraversatildeo natildeo banalizada desse argumento ldquoeacute quando filho algueacutemcoloca o um mas natildeo aquele do qual agora ha pouco falamos dascoisas que vecircm a ser e perecemrdquo (15 a tocircn gignomeacutenon ndash das coisasadvenientes)

Fica evidente entatildeo o erro de Protarco ao confundir aunidade empirica com a unidade formal a Forma ou a Ideia Aabordagem socratica seria pode-se dizer ontoloacutegica enquanto ade Protarco empirica por isso Soacutecrates precisa primeiro conduzirProtarco a esse denominador comum da discussatildeo (movimentoclaramente expresso no verbo synkhoreacuteo ndash reunir no mesmo siacutetioderivado composto de khoacutera territoacuterio regiatildeo lugar) para entatildeoproceder ao meacutetodo dialeacutetico da divisatildeo

Platatildeo ja havia estabelecido desde os dialogos damaturidade que a unidade genuina ou originaria era uma Forma ouIdeia (eicircdos ideacutea) a unica originariamente una e que dentre estas aforma suprema ou final na hierarquia seria o Bem Amultiplicidade por sua vez estaria associada aos particularessensiveis - exemplificacotildees desses originarios que satildeo as formas - eque estatildeo para o adveniente assim como as ideias estatildeo para o SerComo conciliar portanto os conceitos de um Uno-supremo comum Uno-Multiplo relacional uma vez que todas as realidadesparecem ser unas e multiplas simultaneamente Para Platatildeo soacute aaplicacatildeo do meacutetodo dialeacutetico esse caminho lsquopresente dos deusesrsquopode desfazer essa primeira aporia que o multiplo seja uno e ouno seja multiplo

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Ainda ao concluir a secatildeo 15 a ele afirma ldquoeacute sobre essashecircnades23 e sobre coisas desse tipo que muito empenho gera arefutacatildeo ou controveacutersia pelo meacutetodo da divisatildeordquo (traducatildeoproacutepria)24 Essa afirmacatildeo soa como uma espeacutecie de observacatildeoautocritica muito zelo com o meacutetodo da divisatildeo em se tratando dehecircnades eacute perigoso por causa da sua proacutepria natureza una Natildeo eacuteuma critica necessariamente ao meacutetodo da divisatildeo fundamental nadialeacutetica platocircnica mas uma constatacatildeo da dificuldade deapresentar essas hecircnades discursivamente por causa da sua proacuteprianatureza paradoxal

Pode-se dizer sobretudo que o foco teoreacutetico de Soacutecrateseacute entender o fundamento dessas hecircnades ndash as formas unas em simesmas ndash que ele exemplifica como o homem como um o boicomo um o belo como um o bem como u m (esses dois ultimosexemplos canocircnicos da teoria das Formas) Por causa dessaafirmacatildeo de Soacutecrates muitos inteacuterpretes viram na teoria platocircnicada realidade natildeo uma ontologia mas uma henologia na qual o uno eacutea origem do real e o conceito de ser deriva dele25

Concluindo procurei mostrar nesse artigo em linhas geraise amplas a habilidade surpreendente de Platatildeo por meio dapersonagem Soacutecrates em desenvolver uma argumentacatildeo sobretemas tatildeo complexos mostrando e aplicando cuidadosamente omeacutetodo dialeacutetico para o filoacutesofo o modo supremo de apreensatildeodo real com vistas a resolver um problema que de longe eacute simpleso Bem eacute em Platatildeo o fundamento ontoloacutegico de uma vida felizComo se pode definir o Bem em termos de uma vida mista deprazeres e conhecimentos

Retomando a nocatildeo de escopo dos antigos exegetasneoplatocircnicos26 poder-se-ia dizer que o tema principal do Filebo eacuteo Bem mas o propoacutesito do dialogo eacute definir como a vida mistapode ser esse Bem

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O Filebo prazer e intelecto em confronto | Simone de O Goncalves Bondarczuk

ABSTRACT

Philebus Face-off of Pleasure and Intellect

The dialogue Philebus for a long time was dropped by thetradition of Platonic studies and is considered a complex dialoguedue to an alleged lack of thematic unity In the last thirty years theinterest in it revived with strength and its relevance to a broaderunderstanding of the theoretical thinking of Plato was finallyrecognized This article aims to introduce the reader on the coreissues of the dialogue namely What constitutes a good life wouldit be a life dedicated to pleasure or dedicated to understanding Orit would be a mixture between these two lives And which of thethree conceptions of life are closer to the Good

KEYWORDS

Philebus Socratic dialogue Pleasure Intellect the Good

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O Filebo prazer e intelecto em confronto | Simone de O Goncalves Bondarczuk

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PLATOacuteN Filebo Introduccioacuten traduccioacuten y notas de Marcelo Boeri BuenosAires Losada 2010

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1 Deixo de lado a questatildeo de quem teriam sido os primeiros receptores dosdialogos de Platatildeo que natildeo eacute relevante para os objetivos deste artigo Asuposicatildeo mais imediata nos indica seus discipulos membros da Academia Osdialogos teriam sido como hypomnemata que auxiliavam na discussatildeo mas muitosos consideram principalmente dirigidos aos adversarios intelectuais do mestreos sofistas e os reacutetores e ainda pode-se supor que tenham sido escritos comolegado agrave posteridade Dado a situacatildeo de analfabetismo da eacutepoca dificilmenteeles visavam um publico leigo e natildeo aristocratico 2 Soacute para citar algumas propostas diferentes Diegraves (1949) Boeri (2010)Friedlaumlnder (2014)3 GADAMER 2009 p 1034 Constata-se isso na insistecircncia de Soacutecrates desde o inicio de buscar entrar emacordo com o seu interlocutor sobre o tema que discutiratildeo e de como devemtrata-lo A concepcatildeo da dialeacutetica como uma busca compartilhada eacutedesenvolvida com maestria no Filebo5 GILL 2010 p 47-556 Cf Banquete 204 b-c 206 c-e7 HACKFORTH 1972 p 18 Idem ibidem p 49 ldquoSocrates and his interlocutours discuss the good for man as individual not amember of a community this is surprising in the author of Republic Statesmanand Laws and may be taken to reflect a deliberate detachment from politicalspeculation such as better fits the years 360-354 than any other period in Platorsquoslast two decadesrdquo (1972 p 4)10 BOERI 2010 p 911 PLATAtildeO 2011 p 140 12 BRAVO 2009 p 16813 Sem sombra de duvida o comentarista que definitivamente conseguiudemonstrar isso foi Sylvain Delcomminette em sua obra magistral Le Philegravebe dePlaton Introduction agrave lrsquoagathologie platonicienne14 Filebo 52 a-b15 κακὰ δ ὄντα αὐτῶν τὰ πολλὰ καὶ ἀγαθὰ δέ ὡς ἡμεῖς φαμέν (Filebo 14b)16 Filebo 13b17 Plotino faz varias referecircncias ao dialogo no Livro III 588 IV 3634 VI7252tambeacutem Porfirio seu mestre comenta algumas linhas do dialogo em seusComentaacuterios ao Timeu de Platatildeo fr 5170-3 e ainda Alexandro de Afrodisia emComentaacuterio ao livro VIII dos Toacutepicos de Aristoacuteteles onde cita e interpreta de modoaristoteacutelico a passagem de Filebo 12d Ademais sabe-se da existecircncia de umcomentario perdido de Proclo ao Filebo e um comentario de Jacircmbico cuja unicafonte eacute o proacuteprio comentario de Damascio sobre esse dialogo18 Nasceu em Damasco na provincia romana da Siria lugar de onde provem oseu nome (o nome original eacute desconhecido) Foi filoacutesofo da escola neoplatocircnicaateniense (458 dC ndash apoacutes 538) conhecido como o ultimo dos neoplatocircnicospor ter sido o ultimo escolarca da Escola de Atenas antes do seu fechamentopelo imperador Justiniano em 529 dC Duas obras satildeo atribuidas a ele acerca doFilebo Tratado dos Primeiros Princiacutepios e Comentaacuterios ao Filebo de Platatildeo (textosestabelecidos por LG Westernik e natildeo traduzidos para o portuguecircs)

19 FREDE 2013 p 50220 Natildeo eacute inquestionavel que para Platatildeo o substantivo e o adjetivo fossem entendidos como um ente e seu predicado pois ambos satildeo denominados de oacutenoma e portanto vistos como entes 21 ldquoTout le dialogue peut ecirctre vu comme une tentative de deacutecouvrir larelation correcte entre le plaisir et le bien et de fonder dialectiquementerdquo(DELCOMMINETTE 2006 p 31)

22 Os especialistas natildeo estatildeo de acordo ainda se teria sido Platatildeo ou Soacutecrates ocriador do conceito23 Natildeo eacute facil determinar o sentido exato desta palavra usada uma unica vez porPlatatildeo nesse contexto portanto um haacutepax legoacutemena sem ocorrecircncia em outrosdialogos Talvez Platatildeo se refira a formas unas de aspecto uno se supormosuma etimologia a partir da juncatildeo de heacutena (neutro plural de heacuten) unidades e a raizeid- de eicircdos forma aparecircncia aspecto ou seja o que tem um aspecto uacutenicouno

24 περὶ τούτων τῶν ἑνάδων καὶ τῶν τοιούτων ἡ πολλὴ σπουδὴ μετὰ διαιρέσεωςἀμφισβήτησις γίγνεται (Filebo 15a 6-7)25 Sobre esse assunto cf BRAVO 2009 p 17026 ALEKNIENEgrave 2017 p 1

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Aedoacuten performance poeacutetica de lasvictimasGraciela C Zecchin de Fasano

RESUMEN

La figura del ruisentildeor atestiguada por primera vez en el canto 19de Odisea (v 518-523) aparece tambieacuten en la fabula contenida enTrabajos y diacuteas (v 202-212) de Hesiodo y en la comedia Aves deAristoacutefanes El presente articulo analiza con metodologiacomparativa la peculiar representacioacuten de la victima de algun tipode violencia en los textos citados y queacute interpretacioacuten se puedederivar en cada contexto discursivo especifico

PALABRAS CLAVE

Aedoacuten Homero Hesiodo Aristoacutefanes

SUBMISSAtildeO 29 dez 2017 | PUBLICACcedilAtildeO 31 dez 2017

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unque los poemas homeacutericos expresan regularmentela ideologia masculina de la gloria las aristassocialmente excluidas pueden ser presentadasconforme a las posibilidades expresivas del arteinsertas en medio de los toacutepicos tradicionalmenteconstitutivos Tal como sucede con la representacioacutende las victimas femeninas para las cuales la conversioacutenen aves permite con la imagineria del canto dar vozespecial a los silenciados y particularmente a lasmujeres En el canto 19 de Odisea (v 518-523)Homero utiliza una versioacuten inusual del mito de laconversioacuten de una mujer en ruisentildeor En el texto laimagen del ave inaugura una presencia de la liricaasociada al lamento que ha tenido interesantes

consecuencias1 En primer lugar dentro del corpus de la literaturagriega misma el ruisentildeor homeacuterico resultoacute desplazado por lapresioacuten didactica de la fabula hesioacutedica y en segundo lugar luegofue significativamente reemplazado por la versioacuten mas politica ydifundida acerca del mito de Procne y Filomela en textos de lacomedia y la tragedia Analizareacute en queacute modo el ruisentildeor homeacutericoproblematiza nuestra comprensioacuten de la mimesis en eacutepica y enlirica y queacute consecuencias conlleva su estudio comparativo contextos posteriores como la conocida ldquofabula del ruisentildeor y elhalcoacutenrdquo en Trabajos y diacuteas de Hesiodo o en la sofisticada comediade Aristoacutefanes llamada Aves

UN RUISENtildeOR EN ODISEA UNA VERSIOacuteN DE LA LIacuteRICA FEMENINA

En el pasaje de Odisea mencionado (19 v 518-523)Peneacutelope se halla en una situacioacuten animica calamitosa devastadapor el llanto el insomnio o las pesadillas que se comunica comoun canto de lamento Presentada de este modo la pena dePeneacutelope desarrolla en medio de un discurso eacutepico una mimesis ouna ldquoperformancerdquo de la lirica La forma lirica especifica del cantode lamento no resulta vertida directamente sino a traveacutes de ladescripcioacuten de una variacioacuten foacutenica en que Peneacutelope se compara a

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A

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si misma con un ruisentildeor el ave tipica del lamento en las antiguastradiciones griegas Peneacutelope se imagina como una mujer-ave queen una vida anterior ha sufrido la extraordinaria pena de asesinar asu hijo

El mito de Aedoacuten palabra griega que significa ruisentildeornos ha llegado en dos versiones2 Por un lado la versioacuten canoacutenicamas expandida en la tradicioacuten posterior es la que trata acerca deProcne y Filomela o Aedoacuten y Calidoacuten proporcionada por latragedia Ovidio y la Biblioteca de Apolodoro Tereo el esposo deProcne viola a Filomela quien trata de revelar la verdad a suhermana tejiendo su propia historia en un tapiz Procne enojadaasesina a Itys el hijo que tiene con Tereo y le sirve sus carnes alpadre como comida Con esta accioacuten Tereo queda sin herederos yabsolutamente contaminado de culpa La progenie es cortadaabruptamente pero Procne que amaba a su hijo lo lamentaracantando su pena como un ave indefinidamente La primerainferencia obvia en este relato es que Procne a diferencia dePeneacutelope en el pasaje de Odisea esta usando su poder para dantildeardirectamente a su marido en una venganza concreta

Por otro lado una segunda versioacuten del mito la quecontiene Odisea se halla tambieacuten en un escolio de Eustacio aFereacutecides Segun esa versioacuten Aedoacuten esta casada con Zeto elfortificador de Tebas y tienen un unico hijo Itylos mientras elgemelo de Zeto Anfioacuten esta casado con Niobe y tienen varioshijos3 Aedoacuten celosa de esta multiple progenie intenta matar al hijomayor de Niobe y en la oscuridad por error asesina a su propiohijo En el escolio de Eustacio se dice que Aedoacuten ordenoacute a su hijodormir en otra habitacioacuten pero el joven no la obedecioacute o bienolvidoacute la orden materna

iquestPor queacute Odisea se sirve de la versioacuten tebana del mito delruisentildeor cuando se ha demostrado el vinculo estricto que elpoema guarda con los origenes de Atenas4 iquestPor queacute esta versioacutentebana no ha gozado de la tradicioacuten literaria que la versioacutenateniense de Procne y Filomela ha recibido

Los v 518-523 del canto 19 de Odisea constituyen laprimera parte de un simil con la estructura habitual en Homero es

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decir una comparacioacuten en dos partes introducida por unsubordinante rutinario ldquocomo cuandordquo (ὡς δ ὅτε) pero por suextensioacuten podria ser considerado un ejemplo mitoloacutegico Los dosmiembros del simil sirven para expresar cabalmente la divisioacutenemocional de Peneacutelope que enuncia el simil su thymoacutes partidoproductor del canto avizora una hipoacutetesis sobre el contenido de lalirica La escisioacuten del animo de Aedoacuten entre su hijo muerto y sumarido resulta equivalente de la divisioacuten del corazoacuten de Peneacutelopeentre la opcioacuten que su hijo Teleacutemaco le ofrece - abandonar la casay regresar a la casa paterna- o elegir esposo entre los aqueos

El texto ofrece un leacutexico significativo no soacutelo porqueconstruye un paisaje para el canto del ave sino tambieacuten porqueratifica la femineidad del ave a traveacutes del epiteto χλωρηῒς 5

ὡς δ᾿ ὅτε Πανδαρέου κούρη χλωρηῒς ἀηδώνκαλὸν ἀείδῃσιν ἔαρος νέον ἱσταμένοιοδενδρέων ἐν πετάλοισι καθεζομένη πυκινοῖσινἥ τε θαμὰ τρωπῶσα χέει πολυηχέα φωνήνπαῖδ᾿ ὀλοφυρομένη Ἴτυλον φίλον ὅν ποτε χαλκῷ

κτεῖνε δι᾿ ἀφραδίας κοῦρον Ζήθοιο ἄνακτος6

Como cuando la hija de Pandaacutereo Aedoacuten la defrondosa garganta canta hermosamente al comenzar laprimavera posada en el tupido follaje de los aacuterboles ydeja fluir su voz de variados sones que muda a cadamomento llorando a Itylos el hijo que tuvo del reyZeto al cual asesinoacute con el bronce por imprudencia []

En las interpretaciones del pasaje de Odisea hanpredominado las consideraciones sobre los celos de Aedoacuten enconsecuencia el texto revelaria cierta hostilidad de Peneacutelope conOdiseo (Tereo en este parangoacuten) y significaria que Peneacutelope quierepotencialmente asesinar a su hijo7 Cabe la posibilidad de un errorde interpretacioacuten de los escoliastas es decir que tomaran Aedoacutencomo nombre propio e instalaran esta nueva versioacuten aunque yanos resultan conocidas las variaciones homeacutericas en los nombresmiticos

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Anhalt ha sostenido que el personaje esta usando elparadigma de Clitemnestra y que sospecha de las acciones de suesposo durante su ausencia8 Levaniouk supone que la versioacutentebana revela mejor el estado animico turbulento de Peneacutelope ycomo el mito consiste en una confesioacuten ante Odiseo disfrazado demendigo el asesinato de Itylos ha sido interpretadoldquopsicoloacutegicamenterdquo por la mayor parte de la masa critica9

La insercioacuten de este relato confronta con todas lasnarrativas previas que Peneacutelope desarrolla sobre si misma y queversan acerca de su presente o su pasado inmediato Este pequentildeorelato en cambio instala personajes remotos con una conexioacutenpoco clara con el personaje que lo usa La pena de Peneacutelope y eltropo del ruisentildeor parecen conectarse con el vaiveacuten indeciso de latrama en la que Peneacutelope esta incluida Como precedente podemosconsiderar el pasaje del canto IX v 555-565 de Iliacuteada en que Feacutenixal narrar el mito de Meleagro sostiene que a Cleopatra la mujerdel heacuteroe sus padres la llamaban Alcioacuten porque la madre llorabapor ella como el ave ya que Apolo la habia raptado Esta imagense desarrolla intercalada con la referencia al enojo de Altea quesuplica la muerte de su hijo En sintesis el ave doliente expresa ensu agudo grito la pena y esa pena se transfiere a Altea quepeligrosamente y en un espejo deforme repite la trama de Iliacuteadasubyugando la vida de su hijo a un tizoacuten que se consume

En el texto de Odisea los multiples ecos del canto del aveenriquecen la imagen del vaiveacuten de Peneacutelope la indecisioacuten de sut r a m a πολυηχέα ldquode muchas resonancias o ecosrdquo debecomprenderse en este sentido La frecuencia e intensidad de suslamentos esta referida por una triple calificacioacuten en los versosprevios ἀδινὸν ldquovehementerdquo πυκυναί (v 516) πυκινοῖσιν (v 520)que se refieren a la angustia ldquointima ajustadardquo y θαμὰ (v521)ldquoreiterada muchas vecesrdquo Sin embargo el mito de Aedoacuten lafilicida no ofrece una conexioacuten obvia con la trama de Odisea espreciso decodificarla Por otra parte esta versioacuten tebana del mitoutilizada por Odisea no se conecta con ninguna otra versioacuten en laque los personajes sean simplemente intercambiados

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De la comparacioacuten entre las versiones tebana y ateniensesurge claramente que la agonia de Procne en la versioacuten ateniensederiva de que el hijo que ella ama es hijo del hombre que odiaNada de eso la pasa a Peneacutelope cuyo epiteto ἐχέφρων la definecomo ldquosensatardquo quien no enloquece sino que sopesa susdecisiones y sostengo por ello que la versioacuten tebana encajaperfectamente en Odisea Peneacutelope lamenta una peacuterdida vinculadaestrictamente a su lecho una pena de amor

Entre los multiples dilemas que Odisea presenta el dilemade Peneacutelope no es entre su esposo y su hijo sino coacutemo ejercer sucapacidad de calculo Un paso en falso puede hacerle perder todoIncluso la diosa Atenea configurada como Mentes le hacecomprender que para restablecer su poder Teleacutemaco deberiaasesinar a los pretendientes aun despueacutes de que Peneacutelope sehubiese casado Evidentemente la versioacuten tebana del mitopropone en Aedoacuten un personaje que trata de beneficiar a su hijoquien debe competir solo entre numerosos primos Con este mitoPeneacutelope manipula su situacioacuten y resulta evidente que el mitoproblematiza una cuestioacuten basica en la estructura del poderpolitico antiguo como lo es la continuidad del linaje La versioacutenateniense se concentra en este aspecto porque la esposa de Tereotrata de cortar el linaje de su esposo Muy distintas son lasintenciones de la mujer de Zeto el tebano ya que ella actua porquequiere promover e imponer su linaje por sobre sobre otros Enresumen la seleccioacuten de la versioacuten tebana colabora con la ideologiapolitica de Odisea que consiste en restaurar el linaje de Odiseo y enconservar la fortuna para Teleacutemaco En el lamento de Peneacutelope sehalla la pena por un posible nuevo matrimonio no deseado porella pero que Teleacutemaco o su padre Icario podrian promover Eseste posible nuevo matrimonio el nivel en que el simil del ruisentildeoraporta la idea de una violenta unioacuten no aceptada una veta deinterpretacioacuten mas proacutexima a la versioacuten ateniense y a lavictimizacioacuten de Filomela

La asociacioacuten de figuras femeninas con animales o insectostiene abundante registro en la eacutepica y en la poesia yambica griegasEn el caso de Peneacutelope ademas de esta conexioacuten con el ruisentildeor

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se debe recordar que su nombre sugiere que es una cerceta (untipo de cisne u oca) en consonancia con lo cual ella exige almendigo Odiseo en unos versos que siguen inmediatamente a loscitados que interprete un suentildeo sobre un grupo de gansos ndash lospretendientes- que se alimentan en la casa

Eliano ha propuesto en De natura animalia 5 38 unavariante para el v 521 del texto citado que consiste en reemplazarla palabra πολυηχέα que significa de variadas resonancias porπολυδευκέα de significado poco claro10 A pesar de ello enconjunto con τρωπῶσα cualquiera de estos adjetivos gesta laimagen del sonido que gira y repite una melodia

El cambio demostraria por un lado que la idea de mouvanceexpresada por Zumthor o la idea de variance sostenida porCerquiglini11 se aplican a este fragmento en el sentido de que estetexto poeacutetico no esta fijo sino que es tan moacutevil como el canto delruisentildeor y se actualiza en cada ejecucioacuten En segundo lugardefiniria la mimesis de la lirica que Peneacutelope realiza un texto moacutevilen sus elementos foacutenicos El fragmento ademas produce unainteresante aliteracioacuten en sonidos labiales y guturales para reflejarlos variados sones del ruisentildeor

El mito de Aedoacuten insiste en la tragica circunstancia de queItylos es hijo unico como lo son a su vez Teleacutemaco y Odiseo Lasituacioacuten de individuo aislado en la continuidad de la estirpeconfronta en el caso de Itylso en particular con los numerososhijos de Niobe su tia y en Odisea se replicaria en la situacioacuten deTeleacutemaco frente a los numerosos pretendientes de su madre

Como Aedoacuten Peneacutelope canta una melodia variablecambiando su voz llora y gime de noche hasta que Atenea leinsufla el suentildeo Volviendo a la idea de la lirica como texto enmovimiento el ruisentildeor que no duerme y varia su canto expandela imagen de la fluidez del tejido que Peneacutelope teje en el dia ydesteje por la noche El canto πολυδευκής del ruisentildeor si hacemoscaso de Eliano consiste en un lamento ininterrumpido contrario alcorte abrupto de la estirpe que la accioacuten de Aedoacuten concreta Lavariacioacuten del canto con sus giros es una extensioacuten foacutenica delldquotextordquo tejido por Peneacutelope

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EL RUISENtildeOR DE HESIacuteODO UNA LECTURA DEL PODERLa conexioacuten de Hesiodo con la tradicioacuten de la fabula

representada por Esopo ha sido convenientemente estudiada porHunter por supuesto partir de las lineas 202-212 de Trabajos y diacuteasen las que aparece el breve apoacutelogo sobre el ruisentildeor y el halcoacuten12

νῦν δ αἶνον βασιλεῦσιν ἐρέω φρονέουσι καὶ αὐτοῖςὧδ ἴρηξ προσέειπεν ἀηδόνα ποικιλόδειρον ὕψι μάλ ἐν νεφέεσσι φέρων ὀνύχεσσι μεμαρπώς ἣ δ ἐλεόν γναμπτοῖσι πεπαρμένη ἀμφ ὀνύχεσσι μύρετο τὴν ὅγ ἐπικρατέως πρὸς μῦθον ἔειπεν δαιμονίη τί λέληκας ἔχει νύ σε πολλὸν ἀρείων τῇ δ εἶς ᾗ σ ἂν ἐγώ περ ἄγω καὶ ἀοιδὸν ἐοῦσανδεῖπνον δ αἴ κ ἐθέλω ποιήσομαι ἠ ὲ μεθήσω ἄφρων δ ὅς κ ἐθέλῃ πρὸς κρείσσονας ἀντιφερίζειν νίκης τε στέρεται πρός τ αἴσχεσιν ἄλγεα πάσχειὣς ἔφατ ὠκυπέτης ἴρηξ τανυσίπτερος ὄρνις

Ahora contareacute una faacutebula a los reyes aunque sean sabiosAsiacute habloacute un halcoacuten a un ruisentildeor de variopinto cuello mientras lellevaba muy alto entre las nubes atrapado con sus garras Eacuteste gemiacutealastimosamente ensartado entre las corvas untildeas y aqueacutel en tono desuperioridad le dirigioacute estas palabras`iexclInfeliz iquestPor queacute chillas Ahorate tiene en su poder uno mucho maacutes poderoso Iraacutes a donde yo te lleve pormuy cantor que seas y me serviraacutes de comida si quiero o te dejareacute libreiexclLoco es el que quiere ponerse a la altura de los maacutes fuertes Se veprivado de la victoria y ademaacutes tiene que sufrir vejaciones es maltratado

Asiacute dijo el halcoacuten de raacutepido vuelo ave de amplias alas

Como comenta Vianello en estos diez versos estacontenido el primer apoacutelogo de la antiguumledad clasica al cualWillamowitz ha querido reducir injustamente a un simil eacutepico sinmoraleja13 Esta posicioacuten resulta insostenible excepto queextirpemos los v 210-211 como queria Aristarco aunque porsupuesto el hecho de que en un poeta bastante cercano en eltiempo como Arquiloco aparezcan tambieacuten los elementosdidacticos de este texto nos hace sospechar que ambos Aristarcoy Willamowitz erraron en su juicio

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La secuela didactica de este breve relato esta en los v 217-218 ldquola justicia vence a la violencia pero el candido aprendesufriendordquo(Δίκη δ ὑπὲρ Ὕ βριος ἴσχει ἐς τέλος ἐξελθοῦσα παθὼνδέ τε νήπιος ἔγνω) y la diferencia comparativa entre este texto y elmito de Odisea no se reduce a este mensaje En primer lugar elrelato no tiene la calificacioacuten de mito sino una calificacioacuten teacutecnicade su tipo discursivo ya que se trata de un αἶ νος un tipo de relatoen el que las consecuencias de los actos se exponen claramentebuscando un aprendizaje en el auditorio Y ese contenido estaexplicitamente expresado Sin mencionar que pasamos de ladoliente y femenina Peneacutelope al ruisentildeor que representa lavulnerabilidad del poeta de Trabajos y diacuteas frente a los poderosos

En esta fabula no figuran directamente los dioses ni losheacuteroes El narrador margina esos planos y concede discurso a lasaves El ruisentildeor gime lastimeramente mientras que el halcoacuten ogavilan (como se maneja en algunas traducciones) sentencia lainutilidad de ldquoponerse a la altura de los mas fuertesrdquo porqueademas de verse ldquoprivado de la victoriardquo debe sufrir vejacionesEn el contexto de los consejos agricolas que el poema desarrolla lafabula parece en primer teacutermino una transferencia de una ley delmundo natural al mundo social humano Es natural que los pajarosmas pequentildeos y menos fuertes que el halcoacuten le sirvan a eacuteste comoalimento Puede decirse que la funcioacuten nutricia es constitutiva de laphysis de los halcones y de los ruisentildeores o que en el vastoescenario del mundo estos desempentildean un papel que es adecuadoa su naturaleza

En segundo teacutermino en el contexto de la enunciacioacutenpoeacutetica Hesiodo en tanto que poeta es como el ruisentildeor es elcantor de dulce voz14 mientras que los guerreros y los reyes desdeluego son como el halcoacuten fuertes cazadores No me ocupareacute de larecepcioacuten de este texto en la fabula 47 de Esopo Soacutelo mencionareacuteque en ese texto el ruisentildeor debe esforzarse al maximo con sucanto para no ser devorado El halcoacuten esta tan concentrado enatacar a sus presas que a su vez es sometido por otro cazador unhombre En su moraleja Esopo se limita a plantear que todos losseres estan en guerra y quien tiene enemigos no debe descuidarse

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En el caso de Hesiodo podriamos considerar a suhermano Perses como el enemigo al acecho ya sea un dobledidactico o un dato de la realidad ya que el poeta lo invocadirectamente ὦ Πέρση σὺ δ ἄκουε δίκης μηδ ὕβριν ὄφελλεldquoPerses tu obedece a la justicia y no desees la soberbiardquo (v 213)Resulta claro que la situacioacuten de injusticia narrada coloca al poetaen la posicioacuten del ruisentildeor arrastrado por las garras cuya queja esdesoida y que se halla en total indefensioacuten El ruisentildeor extiende lasimple imagen del poeta a la situacioacuten de toda victima de los reyesdevoradores que describe Hesiodo Suponemos una amarga ironiaen la expresioacuten ldquoaunque sean sabiosrdquo (v 202) en el juegointelectual en que el poeta- puede chillar15 como el ruisentildeor yaunque el ruisentildeor no replica el poeta no obstante se atreve a darlecciones a los sabios Hay reyes que no atienden a la justicia comolos hombres de una edad degradada que no es ldquola edad de orordquosino la ldquode hierrordquo 16 Perses no es un rey pero Hesiodo dice queademas de ser codicioso y rapaz es perezoso y que su hermanocree que puede enriquecerse sin tener que trabajar y por si estofuera poco es prepotente y soberbio tal como un rey La soberbia(hybris) es una mala inclinacioacuten que podria esperarse de los reyespero aun para eacutestos no es recomendable fomentarla

La similitud planteada en la fabula entre el ambito animaly humano compone una confrontacioacuten agonal entre seres encompetencia En el mudo natural la resolucioacuten es cruel pero en elmundo humano el poeta aconseja no seguir por la via de ladiscordia y dedicarse a trabajar con honestidad De todas formasHesiodo se explaya en una prolija moraleja que puede querer decirvarias cosas por ejemplo que si los hombres no quieren ser comolos animales deben contrapesar el ciego ejercicio del poder con lajusticia Hesiodo parece sostener que los humanos han inventadoalgo mejor que la simple voluntad de poder parece querer decir lavirtud la rectitud el ejercicio de la justicia Soacutelo asi tendran algunaoportunidad de alejar su destino del de los animales ldquopues esta leyimpuso a los hombres el Cronioacuten a los peces fieras y avesvoladoras comerse los unos a los otros ya que no existe justicia

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entre ellosrdquo (v 276-277) Tampoco puede olvidarse que en estetexto el ruisentildeor es femenino y el halcoacuten masculino

El cambio de geacutenero discursivo de un mito a un αἶνος ofabula de la representacioacuten femenina de la pena a la situacioacutenlimite del oprimido por los poderosos convierte el ruisentildeor deHesiodo en un instrumento eficientisimo de su preocupacioacutenmoral y su admonicioacuten politica Nada como la imagen del deacutebil enlas garras de otro

CORTAR LA LENGUA LA VERSIOacuteN ATENIENSE EN AVES DE

ARISTOacuteFANES

Aunque su representacioacuten en las fiestas dionisias del antildeo414 aC soacutelo le concedioacute el segundo puesto la comedia Aves deAristoacutefanes ha sido considerada recurrentemente la mas poeacutetica ysofisticada entre las conservadas En ella dos ancianos ateniensesEueacutelpides (la buena esperanza) y Pisteteros (el compantildeeropersuasivo) han abandonado Atenas para evitar la politica y lostribunales de justicia y estan buscando a Tereo un ave que ha sidoser humano en el pasado y tiene conexiones con los ateniensesPisteteros concibe la idea de fundar una ciudad en las nubes parainterceptar los sacrificios a los dioses y de este modo podersometerlos Persuade al hostil coro de aves de gobernarnuevamente el universo En la segunda parte de la obra la ciudadde las nubes y los cucus Nefelococcigia es fundada y llegan unaserie de visitantes Iris un parricida un poeta un delatorPrometeo que ha sido rebelde contra los dioses FinalmentePisteteros debe solicitar casarse con Basileia la soberania La obratermina con una procesioacuten del triunfo real de Pisteteros y proponeal mismo tiempo un utoacutepico escape de la realidad como reaccioacuten aciertos fracasos militares de los atenienses17 la presentacioacuten de lamegalomania tiranica o una iroacutenica distopia etc En este contextoun breve episodio lirico presenta al ruisentildeor En la versioacutenateniense del mito Tereo rey de Tracia auxilia a Pandioacuten rey deAtenas contra el tebano Labdaco De ello se deriva el matrimoniode Tereo con Procne y los episodios que ya comentamos sobre el

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asesinato de Itys y la conversioacuten de Procne en ruisentildeor la deFilomela en golondrina y la del mismo Tereo en abubilla

En la clasificacioacuten aristoteacutelica de geacuteneros discursivos lacomedia careceria de mito Sin embargo Aves curiosamentepropone la degradacioacuten de varios mitos En primer lugar del mitofundacional ya que parodia la cosmogonia y teogonia hesioacutedicasde un modo muy original para proponer burlonamente unacosmogonia literal a partir de un huevo de ave y la transformacioacutenen aves de todos los personajes es decir de todos los ciudadanosde Atenas Probablemente Aristoacutefanes dispuso de la tragedia deSoacutefocles llamada Tereo de la que suponemos realiza la parodiaaunque lamentablemente soacutelo nos queda al parecer una sintesis enel papiro de Oxy 3013 Como ya sentildealoacute Aristoacuteteles en Poeacutetica 1453ordf36-39 aquellos a quienes el mito convierte en enemigos resultan enla subversioacuten coacutemica los mejores amigos18 Es el caso de Tereo laabubilla y de Procne el ruisentildeor que son en la obra una parejafeliz mientras la infausta Filomela no aparece aunque Procneentona su permanente lamento por Itys

La versioacuten ateniense del mito elegida por Aristoacutefanesrepresenta por un lado el desastroso presente de Atenasinterpretado por los dos viejos cuyo delirio senil produce la mejorinvencioacuten de la obra Por otro lado como se le adjudica a Tereo elhecho de haber ensentildeado el lenguaje articulado a las aves hay unafranca contradiccioacuten entre seccionar la lengua de Filomela yconceder habla humana a las aves La interpretacioacuten politica esllana Tereo concede la palabra y tambieacuten la inhibe iquestQueacute haydetras de esta eleccioacuten de Aristoacutefanes iquestPor queacute elegir al culpablemitico de dos delitos la violacioacuten y el silenciamiento de la victimaLa inversioacuten propia de la comedia provoca una presentacioacuten dellado oscuro del mito como si se tratase de un episodio inocuo Noresulta menos cierto que en esta comedia sobre el poderAristoacutefanes conservoacute la idea griega del poder masculino y laconvocatoria al nuevo poder de las aves la realiza tambieacuten Tereocomo ave masculina

Veamos coacutemo convoca Tereo al ruisentildeor entre los v 209-22119

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Ἔ ποψἄγε σύννομέ μοι παῦσαι μὲν ὕπνου λῦσον δὲ νόμους ἱερῶν ὕμνωνοὓς διὰ θείου στόματος θρηνεῖς τὸν ἐμὸν καὶ σὸν πολύδακρυν Ἴτυν ἐλελιζομένης δ ἱεροῖς μέλεσιν γένυος ξουθῆς καθαρὰ χωρεῖ διὰ φυλλοκόμου μίλακος ἠχὼ πρὸς Διὸς ἕδρας ἵν ὁ χρυσοκόμας Φοῖβος ἀκούων τοῖς σοῖς ἐλέγοις ἀντιψάλλων ἐλεφαντόδετον φόρμιγγα θεῶ ν ἵστησι χορούς διὰ δ ἀθανάτων στομάτων χωρεῖ ξύμφωνος ὁμοῦ θεία μακάρων ὀλολυγή

( αὐλεῖ)

Vamos compantildeera miacutea pon fin a tu suentildeo vierte a torrentes los acordesde los himnos sagrados con los cuales desde tus divinos labios lamentas anuestro hijo el triste Itys produciendo un murmullo con las liacutempidasnotas de tu vibrante garganta A traveacutes del espeso follaje del bosque tupuro sonido llega al trono de Zeus y en respuesta el dios de cabellos deoro Febo contesta con los acordes de su lira de marfil a tus penososacentos El preside los coros de los dioses y desde los labios de losinmortales la armoniosa voz del estribillo de los bienaventurados se elevaal uniacutesono

La amorosa invitacioacuten no produce el ingreso de Procnehasta el v 665 En esa escena el personaje silente sale ataviado conexcesivos adornos dorados como comentan los ancianos que laobservan como mujer y no como ave A tal punto que Eueacutelpidesintenta besarla por la fuerza en una mimesis risuentildea e invertida dela secuencia mitica de la violacioacuten La escena sirve de introduccioacutena la parte estructural de la comedia llamada parabasis en la que elcoro canta directamente al publico En ese momento TereoEueacutelpides y Pisteteros abandonan la escena para que el coro puedaexponer la famosa cosmogonia y teogonia que la comediapresenta

La invitacioacuten de Tereo representa el momento de laseduccioacuten no obstante Tereo sigue siendo el que secciona

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lenguas20 En el final de la comedia cuando el coro dice ldquoen toda elAtica la lengua se corta aparterdquo (πανταχοῦ τῆς Ἀττικῆς ἡ γλῶτταχωρὶς τέμνεται 1705) comprendemos que esta comedia no soacutelo hapresentado un mito ha buscado el mito que politicamenterepresente a los atenienses silenciados de este modo tanto Tereocomo Pisteteros representan el poder omnimodo

Desde que Odisea planteoacute los problemas comunicativos delCiclope que habla a su carnero la cuestioacuten del lenguaje y lacivilizacioacuten ha aparecido con recurrencia en los textos En el casod e Aves la ruisentildeora Procne termina por representarfemeninamente a esa ciudad de Atenas que seducida por Tereo oconducida por Pistetero queda al final sin habla En la comediatodo es movimiento y transformacioacuten de humanos en aves deaves que hablan como humanos para enfocar que uno de losaspectos criticos de la distribucioacuten de poder en la poacutelis es lacomunicacioacuten

No es casual que en una pieza en la que se recrea el mitode Tereo el Coro cierre la obra con la mencioacuten de una estirpe deἘ γγλωττογαστόρων γένος ldquocomedores de lenguasrdquo (v 1696-7)Aves asegura el valor de la palabra

A MODO DE CONCLUSIOacuteN COMPARATIVA

iquestPor queacute reaparece un ruisentildeor No he tratado aqui deanalizar similitudes ni diferencias sino de comprender desde queacutepunto de vista el ruisentildeor una voz femenina en la literatura griegaimpone una ejecucioacuten o reflexioacuten acerca de la mimesis orepresentacioacuten particular de las victimas La imposibilidad decomunicar la pena de amor impone una performance comovehiculo en consecuencia Peneacutelope necesitoacute recurrir al lamentoininterrumpido y a las variaciones de voz del ruisentildeor La pena queno se puede decir puede convertirse en son

En Odisea los adjetivos que califican el canto del ruisentildeorson responsables de proponer una representacioacuten lirica en eldiscurso eacutepico En Hesiodo la moraleja no llega a acallar el sonidodel ruisentildeor que chilla en una exacta mimesis del poeta

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manipulado por los poderosos vulnerable como el femeninoruisentildeor Aristoacutefanes entrevioacute con claridad coacutemo proponer el mitodel que cercena la lengua de la ciudad para ensayar la utopia deanimales que pueden ser silenciados o comunicar en su lamentomas que los humanos En cada uno de estos textos cuando ellenguaje resulta imposible el canto del ave resulta un alertainteligible

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ABSTRACT

Aedon Poetic Performance of the Victims

The figure of the nightingale is present for first time in the19 book of Odyssey (v 518-523) later in the fable contained inWorks and Days (v 202-212) by Hesiod and in the comedy Birds byAristophanes The present article analyzes with comparativemethodology the peculiar representation of the victim of sometype of violence in the mentioned texts and what interpretationcan be derived in each specific discursive context

KEYWORDS

Aedon Homer Hesiod Aristophanes

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1 Cfr NAGY 1996 p 7-82 Segun STANFORD 19672 p 336 el texto constituye la primera aparicioacuten poeacuteticadel ruisentildeor el pasaje es el unico lugar en que el canto se diferencia de los gritosy contiene un error de historia natural ya que la hembra del ave no canta Seconsidera que el relato mas estandarizado se deriva de la pieza Tereo de Soacutefocles(cuya hipoacutetesis estaria contenida en POxy 423013) Contamos con el relatocontenido en La Biblioteca de Apolodoro (3148) Metamorfosis de Ovidio 6427ndash674 y con testimonios en otros textos como Agamenoacuten (1140ndash1145) y Suplicantes(60-68) de Esquilo Electra de Soacutefocles (147ndash149) Heracles de Euripides (1020)Aves de Aristoacutefanes (200ndash210) Tambieacuten hallamos testimonios en la prosa deTucidides 2293 en la Oracioacuten fuacutenebre de Demoacutestenes 28 en Pausanias 1541243 1418 1049 e incluso en Estraboacuten 9313 Aedoacuten y Calidoacuten se hallanrepresentadas en una metopa en el templo de Apolo en Thermos3 En Iliacuteada XXIV 599 la referencia a Niobe y a sus numerosos hijos se parangonacon la situacioacuten de Heacutecuba y con el hecho de haber sufrido tambieacuten unametamorfosis que eterniza su pena fue convertida en una piedra que ldquollorabardquopermanentemente4 Sobre los vinculos de Odisea con la disputa entre Atenea y Poseidoacuten por elpatronazgo de Atenas veacutease COOK 1995 p 129-1305 χλωρηῒς implica verdura o frescor STANFORD 19672 p 336 se inclina por latraduccioacuten verde amarillento ldquoreferring either to the fact that the bird hauntsthe greenery of the woodhelliprdquo Se puede interpretar como representacioacuten delcolor del ave de sus sonidos frescos o juveniles o de su habito de cantar entre elfollaje NAGY 1996 p 37-38 sentildeala que opta por traducir ldquoen la verdurardquo porasociacioacuten con el uso de khlōrauacutekhēn (χλωραύχην) que suele traducirse como deldquoverde gargantardquo y se utiliza como epiteto del ruisentildeor en Simoacutenides PMG 5862(ἀηδόνες χλωραύχενες) Segun CHANTRAINE 1975 p 1285 la palabra serefiere a un verde claro o al verde del brote reciente de una planta pero tambieacutenalude a las caracteristicas de la voz del ave RUSSO1992 p 100 en cambiosostiene que la palabra tiene un valor de gentilicio expresaria lo mismo queCriseida en relacioacuten con Crises y deberia comprenderse como Aedoacuten ldquola delfollajerdquo 6 19 518-5237 Parece mas plausible considerar que hay un temor en Peneacutelope a causar lamuerte de su hijo a manos de los pretendientes Su temor esta bien fundadohubo un intento fallido durante el viaje de Teleacutemaco en los primeros cantosElla podria causar involuntariamente la muerte de su hijo y esa seria su ἀφραδίηldquoignorancia o locurardquo el hecho de no aceptar el matrimonio quecontextualizado con el mito de Aedoacuten evidentemente le repugna como unaviolacioacuten8 ANHALT 2002 p 1489 LEVANIOUK 2011 p 22810 Sobre esta variante veacutease NAGY 1996 p 38-39 VAN DER VALK 1949 p 8311 ldquoMouvancerdquo como ldquoincesante vibracioacutenrdquo es aplicado por ZUMTHOR 1987 p160-161 a los textos medievales que atestiguan diversas variantes y por lo tantotiene una forma inestable propia de una tradicioacuten oral CERQUIGLINI 1989 p111 prefiere la denominacioacuten de ldquovariancerdquo ya que considera que los textosmedievales son en si ldquovariacioacutenrdquo Sobre la discusioacuten de ambos conceptos veacuteaseNAGY 1996 p 9-1012 HUNTER 2014 p 226-249

13 Cf VIANELLO 1979 p CCXCVII ldquoEn efecto el simil en la poseia eacutepica carecesiempre de una moraleja como se da al contrario en nuestro caso (cf los v210-211 que Aristarco el filoacutelogo alejandrino suprimioacute como espurios segun eltestimonio de Proclo 1568)rdquo14 ποικιλόδειρον otro modo de referirse a la garganta o cuello del ruisentildeortambieacuten podria traducirse como ldquode voz coloridardquo15 La forma λέληκας proviene del verbo λάσκω que indica el ruido de las avestambieacuten un ruido crepitante o a veces el canto16 Cfr Hesiodo Erga v 106-20117 Una critica a la expedicioacuten a Sicilia18 Cfr SOMMERSTEIN 1987 p 202

19 La mimesis del canto de las aves que la obra impone causoacute algunosinconvenientes en la performance y en la composicioacuten Por ejemplo Tereo debesalir de escena para entonar su canto de llamada al ruisentildeor Las opiniones sondivergentes pero probablemente el actor que representaba a Tereo no disponiade la destreza vocal necesaria para cantar el efecto es que la flauta quereemplaza al canto del ruisentildeor cumple la funcioacuten de un threnos apo skeneacutes esdecir de un lamento cantado fuera de escena ya que el contenido del canto delruisentildeor es un lamento por el nintildeo muerto La mimesis del canto del averealizada por la flauta nos lleva nuevamente al problema de la mimesis liricaahora en el contexto del drama Cf SOMMERSTEIN 1987 p 21120 Cinesias el poeta ditirambico tambieacuten desea convertirse en ruisentildeor pero nolo logra y repite su pesada poesia Aqui tambieacuten aparece la cuestioacuten de lamimesis del canto del ave como lirica Cf Aves v 1380

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Arete a virtude em si na Odisseia eacute umamulherAlessandra Serra Viegas

RESUMO

Este sucinto trabalho pretende trazer uma conversa acerca de umamulher que Homero nos apresenta entre os cantos VI-XI daOdisseia a forte e nobre Arete A rainha dos Feaces e esposa do reiAlcinoo eacute algueacutem de quem natildeo se ouve falar muito No entantoquando nos aproximamos dessa mulher atraveacutes da poesia eacutepicadeparamo-nos na verdade com a proacutepria virtude em pessoa aareteacute (a)reth ) como bem o nome lhe representa Por isso fica no arum questionamento quem eacute a mulher cheia de virtude naAntiguidade grega Eis a provocacatildeo ndash positiva ndash em que esteescrito quer envolver o leitor

PALAVRAS-CHAVE Homero mulher areteacute

SUBMISSAtildeO 29 dez 2017 | PUBLICACcedilAtildeO 31 dez 2017

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Arete a virtude em si na Odisseia eacute uma mulher | Alessandra Serra Viegas

QUEM Eacute A VIRTUDE EM HOMERO rete a rainha dos Feaces1 eacute sobrinha e esposa do reiAlcinoo cuja corte eacute modelo de comportamento eelevacatildeo presente na trama da Odisseia de HomeroSua gesta heroica (porque a consideramos umaheroina) esta contida em boa parte do poemahomeacuterico (cantos VIndashXII) quando das peripeacutecias emmeio ao regresso de Odisseu a Iacutetaca sua terra natalChama atencatildeo a elevacatildeo da rainha Arete (seucarater e reputacatildeo satildeo imaculados) a qual remetetodo o tempo ao significado de seu nome ndash a)reth ndash eacutea proacutepria virtude a qualidade de quem eacute nobre justodigno forte de carater eacutetico e belo Arete eacute a virtudeem pessoa portando todas estas qualidades em forma

de mulher rainha esposa e matildee O conceito de a)reth eacute intrinseco ao grupo dos aristoindash os

bem-nascidos pertencentes aos ldquomelhoresrdquo da sociedade e sedesenvolve a partir do contexto de batalhas da Iliacuteada de Homeronatildeo podendo nesta ser dissociado do espirito heroico que semostra nas lutas e vitoacuterias de cada heroacutei-guerreiro em seuscombates Na Iliacuteada (a)reth eacute a mais alta distincatildeo e o proacuteprioconteudo da vida desses heroacuteis Esses pressupostos de valentia evirtude pois satildeo plenamente valorizados no periodo classico (seacutecVIndashV aC) sendo associados ao principio vigente do bem e do beloem uma pessoa ndash o homem de valor Este eacute o principio que regeos participantes da aristocracia o governo da cidade pelos nobrespelos melhores pelos aristoi

Aos aristoi pertence a expressatildeo grega kaloka)gaqia oukalon te ka)gaqon aquele que eacute tanto belo como nobre empregadaa partir dos textos gregos do periodo classico principalmente nasobras de Xenofonte Platatildeo e Aristoacuteteles Apesar disto Homero jadesigna na Iliacuteada o paradigma do heroacutei-guerreiro a partir da suabeleza corporal e da sua nobreza mesmo natildeo utilizando o termokalon te ka)gaqon propriamente Eacute o helenista Jean-Pierre Vernantque em seus estudos sobre Homero2 apontara os heroacuteis-guerreiros como kaloi kai a)gaqoi3

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A

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Homero eacute o nome que se convencionou para o poetaeacutepico cuja lenda aponta para um aedo cego nascido em Quios ouem Esmirna por volta do seacutec VIII aC e que recitava oralmente ospoemas cantando-os por isso era um aedo Para as questotildees deautoria dos poemas surgiu o que se denomina a questatildeohomeacuterica4 Histoacuterica e literariamente torna-se mais adequado dizerldquoo que foi Homerordquo isto eacute referir-se ao modo de narrar do autorque ressalta as questotildees humanisticas subjacentes aos textos aomostrar por exemplo em lugar de um acontecimento como o daguerra de Troia a coacutelera de Aquiles um detalhe na guerra (Iliacuteada)ou no poacutes-guerra os sofrimentos de Odisseu em sua buscadesenfreada para salvar a vida e voltar a casa (Odisseia)

Com efeito o poeta da epopeia retrata os homens querepresentam a elevacatildeo da sua cultura e costumes pois com essesesta o seu coracatildeo (do poeta) e a exaltacatildeo que faz de tais homenstem em seu acircmago a intencatildeo paideacutetica (paideia) educativa5 NaIliacuteada a virtude do heroacutei ndash a sua a)reth ndash esta em sua destrezaforca e valentia para o campo de batalha uma bela vida que podeculminar em uma bela morte6 Na Odisseia onde Arete surge oideal herdado da destreza guerreira une-se agraves virtudes espirituais esociais tendo como modelo o heroacutei a quem natildeo falta o conselhointeligente ndash Odisseu ndash que na luta pela vida e na volta ao lar saisempre triunfante dos perigos e dos inimigos Esse conselhointeligente tambeacutem se mostra na esposa de Odisseu Peneacutelope7 ena rainha Arete cuja fala eacute acatada pelos anciatildeos e conselheiros dorei e pelo proacuteprio esposo Alcinoo8 representando assim umargumento de autoridade diante dos nobres e tambeacutem diante doproacuteprio povo

Na cultura aristocratica a a)reth proacutepria da mulher eacute aformosura em que o culto agrave beleza feminina corresponde agraveformacatildeo cortesatilde nesta sociedade Natildeo obstante a Odisseiaapresenta mulheres que surgem natildeo apenas como objeto dasolicitacatildeo eroacutetica do homem como Helena esposa de Menelau eraptada por Paris por sua beleza ou Peneacutelope9 esposa de Odisseudesejada pelos pretendentes mas a firme posicatildeo social e juridicade dona de casa Como em outra literatura provavelmente escrita

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Arete a virtude em si na Odisseia eacute uma mulher | Alessandra Serra Viegas

por volta do seacutec V aC na Antiguidade judaica (o AntigoTestamento) na ode a uma mulher de grande forca e valor (cfProveacuterbios de Salomatildeo 3110-31)10 as virtudes das mulheres gregascompreendem principalmente o sentido da modeacutestia e odesembaraco no governo do lar Desse modo Peneacutelope eacute louvadapor sua moralidade rigida e virtudes caseiras11

Senhora homem em lugar algum da terra tem o direito de censurar-te Teu nome bate no ceacuteu Eu te comparo a um rei competente piedoso comautoridade sobre muitos gente poderosa zelosodo cumprimento da lei Seus campos produzemtrigo cevada arvores frutiferas Gado gordonas pastagens Peixes fornece o mar Gracas a seugoverno o povo prospera12

Helena de volta a Esparta com Menelau o primeiromarido aparece como protoacutetipo da grande dama modelo deelegacircncia distinta e de soberana forma e representacatildeo social eladirige a conversa ao hoacutespede homem suas servas trazem ecolocam agrave sua frente um fuso de ouro e uma roca de prata13

(instrumentos pertencentes ao modelo feminino grego sem osquais natildeo se concebe uma dona de casa) quando entra e tomaassento na sala ao lado dos homens14

Arete eacute citada pela primeira vez na Odisseia por boca deOdisseu no seu encontro com a princesa Nausicaa filha deArete15 Odisseu menciona o porte a postura e a beleza daprincesa e declara como por prolepse venturosa por trecircs vezes asua nobre matildee (potnia mhthr) ainda que natildeo a conheca Nausicaaesta na praia com suas servas as quais se assustam por ela estardialogando com um homem vitima de naufragio mas a princesanatildeo se importa e vai descrevendo seu reino seus costumes paracom os estrangeiros e pobres (cei~noi te ptwxoi te) consideradosaqueles que Zeus envia para que se lhes faca o bem16 Odisseu selava e se veste afastado das mocas a deusa Atena lhe reveste debeleza e a ele eacute servida uma refeicatildeo junto agrave princesa17 Emseguida Nausicaa orienta Odisseu sobre como devera secomportar ao chegar agrave cidade dos feaces pois ela e suas criadas

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iratildeo antes para que natildeo sejam vistas entrando com um estrangeirona cidade Finalmente a princesa lhe diz o que fazer ao chegar aopalacio a fim de que alcance auxilio e acolhida

[hellip] Atingindo o palacio entra atravessa o salatildeo Dirige-te primeiro agrave minha matildee Ela deveraestar sentada contra a coluna junto agrave lareira para fiar agrave luz do fogo espetaculo de encher os olhos Atras dela poderas ver o trabalho das criadas Encostado agrave mesma coluna encontra-se a poltrona de meu paiAcomodado nela com imponecircncia divina devera estarele a provar um calice de vinho Deveras passar por elee abracar suplicante os joelhos de minha matildee a fimde que te seja concedido ver o alegre dia do regresso mesmo que vivas longe Se ela te der acolhida cordial havera muita probabilidade de veres teus queridos tuacasa solidamente construida tua patria tua terra18

A descricatildeo da corte do rei Alcinoo e das caracteristicas eestrutura da cidade dos feaces eacute a pintura fiel de uma cidade-estadojocircnica sob o dominio de um rei por volta dos seacutec VII-V aC19

Cumpre observar nessa cidade o influxo das atitudes tomadas porArete sua filha Nausicaa e tambeacutem pela deusa Atena apontandoseu valor na trama e seu cuidado quase materno para que Odisseuretorne ao lar Assim a Odisseia apresenta sagas heroicas e omundo do fabuloso e do maravilhoso no qual Atena em variostrechos transfigura-se em personagens humanos para auxiliarOdisseu Tambeacutem e com maior forca a Odisseia descreve asrelacotildees familiares aproximando o ouvinte-leitor20 de umarealidade em que este natildeo deixa de estar inserido sua proacutepriafamilia

Arete surge novamente na narracatildeo de sua origem nobre esua posicatildeo Atena transfigura-se em um jovem feace que levaraOdisseu ao palacio de Alcinoo e enquanto o conduz conta-lheque Arete descende de Poseidon e de Peribeia imagem sublimeentre as mulheres (gunaikw~n ei0~doj a)risth) O pai de AreteRexenor foi fulminado pelas flechas de Apolo e

Deixou no palacio uma unica filha Arete

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Arete a virtude em si na Odisseia eacute uma mulher | Alessandra Serra Viegas

Alcinoo tomou-a por mulher e a honrou como nunca ningueacutem honrou outra na face da terra de quantas sob o governo de homens administram a casa Afetuosamente respeitada por seu esposo ela vive com seus filhos e com Alcinoo O povolhe tributa homenagem e a aclama com palavrasentusiasticas quando aparece na cidade Conhecida pelo seu bom senso concilia mulheresconhecidas suas Resolve ateacute conflitos de homens21

Pelo favor de Arete Odisseu eacute acolhido no palacio deAlcinoo e tratado com todas as honras devidas a um hoacutespede Elese recolhe todas as noites em um quarto que lhe eacute preparadoparticipa dos banquetes ouve as gestas dos heroacuteis ndash e a sua proacutepriada guerra de Troia ndash pelo aedo22 Demoacutedoco emociona-se viraaedo de si mesmo contando suas gestas e todos ouvemembevecidos Nesta audicatildeo somente Odisseu interrompe o relatopara trazer sua proacutepria gesta e somente Arete toma a palavra quesera reiterada por Alcinoo e posta em pratica pelos nobres23 queconsideram a rainha muito prudente (perifrwn)24

Que vos parece este homem feaces no aspecto notalhe no equilibrio das decisotildees Ele eacute meu hospede cada um de voacutes participa desta honra Natildeo se pense em abreviar-lhe a estada Natildeo sejais econocircmicos ao presentea-lo Ele necessita de muito [hellip]

Se Homero eacute o educador de toda a Greacutecia como afirmaPlatatildeo25 eacute preciso refletir acerca do aspecto paideacutetico da epopeiahomeacuterica ndash mulheres ensinam satildeo honradas e valorizadas por seusmaridos convivem em ambientes publicos e muitas vezesdeterminam as acotildees e tomadas de decisotildees dos mesmos Assim oque o poema homeacuterico presente como coacutedigo para a boaformacatildeo26 pretende inculcar na mente dos jovens que satildeoeducados a partir destes valores A ideia filosoacutefica de bem nosentido estrito modelo de validade universal procede diretamentedo modelo da eacutetica da a)reth proacutepria da nobreza homeacutericapresente na Odisseia encarnada por Arete a rainha dos feaces27

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Ainda quanto ao aspecto paideacutetico ao contrario da Iliacuteada aOdisseia acontece em um contexto de paz com muitas cenas emambientacatildeo interna o que proporciona a participacatildeo efetiva dasmulheres na trama O contexto de paz tambeacutem coloca a Odisseiaem um plano mais elevado que a Iliacuteada em que ha ternuraintimidade e refinamento de sentimentos Esta intima e profundacivilizacatildeo eacute o produto do influxo educador da mulher numasociedade rudemente masculina violenta e guerreira

Em intima e pessoal relacatildeo do heroacutei Odisseu com a deusaAtena que o orienta nas suas andancas e jamais o abandona opoder espiritual da mulher como inspiradora e guia acha a suaexpressatildeo mais bela28 pois ao longo de toda a trama Odisseu eacuteguiado por inspiracotildees de Atena sempre renovadas29 O quadro dacultura dos nobres esbocado nos poemas homeacutericos ndashprincipalmente na Odisseia ndash engloba tambeacutem descricotildees vivas daeducacatildeo usual muitas vezes protagonizadas por mulheres em taiscirculos30

Os homens e mulheres muito mais na Odisseia do que naIliacuteada de Homero satildeo tatildeo reais que se poderia vecirc-los com os olhose toca-los com as matildeos devido ao contexto de paz e intimidade emque se encontram Tais personagens satildeo sempre naturaismanifestando a proacutepria essecircncia31 ao ouvinte-leitor Por issomulheres como Arete Helena e Peneacutelope estatildeo em intima conexatildeocom o mundo exterior pela coerecircncia do pensamento e da acatildeocomo mulheres de forca e valor mulheres empoderadas Gestos eexpressotildees exageradas dessas mulheres seriam insuportaveis aoouvinte-leitor e inadequadas agrave epopeia Sua solidez facilidade demovimentacatildeo e coragem que a nada se pode comparar fazemdelas heroinas e mulheres que seriam encontradas na Greacuteciaarcaica e classica por um marido de sorte

Ainda quanto agrave caracterizacatildeo da mulher assim comoArete eacute a companheira idocircnea e par perfeito e proacuteximo de AlcinooPeneacutelope eacute quem mais se aproxima do carater do heroacutei principalna trama pois como um alter ego de Odisseu tambeacutem fala comprudecircncia e inteligecircncia e ainda eacute ardilosa Nessa culturaaristocratica que envolve a eacutepica agrave mulher cabe a formosura e a

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prudecircncia no governo de sua casa Neste acircmbito Helena eacute louvadano primeiro quesito32 e Arete esposa do rei dos Feaces nosegundo Com efeito a mulher eacute atendida e honrada natildeo soacute comoum ser util e na qualidade de matildee dos filhos legitimos mas acimade tudo porque nesta sociedade a mulher pode ser matildee de umageracatildeo ilustre pois ela eacute a mantenedora e guardiatilde dos mais altoscostumes e tradicotildees33

Acerca da rainha Arete para uma mulher cujo nome epessoa satildeo a proacutepria virtude a)reth tem-se um homem Alcinooaquele cuja forca esta no intelecto (a)lkh [a)lki] + forca nooj ndashcapacidade intelectual) Aleacutem disso o rei eacute um marido idocircneo ecompativel agrave rainha Arete a primeira vez em que o nome deAlcinoo ocorre na Odisseia34 segue-lhe o epiteto ldquoo de saber divinordquo(qew~n apo mhdea ei~dwj) lembrando-se de que nos poemashomeacutericos a primeira aparicatildeo de um personagem seguida de seuepiteto satildeo marcantes indicando seu carater e determinando seucomportamento ao longo de todo o texto35 Ao mesmo tempo emque Arete eacute a mulher de valor (a)reth ) torna-se uma mulher deforca (a)lkh) Isso se da por ser esposa de Alcinoo (a)lkh + nooj) ecorrespondente exata em paridade com ele na sua caracterizacatildeo

Nos poemas homeacutericos os vocabulos a)lkh e a)reth estatildeoprofundamente ligados agrave vida e agrave imagem do homem (e emmulheres de posicatildeo ou heroinas) na sociedade em que estainserido Neste contexto a)reth natildeo eacute o conceito puramenteabstrato a respeito da virtude mas essencialmente a excelecircncia asuperioridade o alvo supremo do heroacutei homeacuterico que se revelaconcretamente no campo de batalha na Iliacuteada e das lutas com ospercalcos e vicissitudes da vida na Odisseia atraveacutes da coragem eda forca36 cujos heroacuteis e heroinas satildeo a representacatildeo do atleta quecompete nos jogos em tempos de paz e combate como hoplita (ainfantaria) nos tempos de guerra

A realidade estabelecida na eacutepica homeacuterica tambeacutem ostragedioacutegrafos conhecem ndash o que se vera aplicado agrave mulher naprincesa Alceste de Euripides Ha uma determinacatildeo histoacuterica quefaz com que alguns sentidos dos vocabulos sejam lidos e outrosnatildeo37 isto eacute o contexto histoacuterico-social de producatildeo dos textos

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aplica aos vocabulos do discurso limites de interpretacatildeo ligados aomodo como a sociedade em questatildeo os utiliza38 Na maior partedas ocorrecircncias a associacatildeo da a)reth (a virtude) e da a0lkh (aforca) ao universo masculino eacute um irrefutavel exemplo daaplicabilidade deste pressuposto No entanto sua utilizacatildeo paraheroinas e personagens femininas da pistas da possibilidade daparidade entre mulheres e homens na sociedade grega dos seacutec VIIndashV

aC a cujos ouvintes-leitores natildeo causara estranhamento ao teremcontato com tais textos

PARA NAtildeO CONCLUIR ndash NUNCA Alguns elementos caracteristicos na rainha Arete

caracterizam-na como mulher cheia de forca e virtude Assimcomo supracitado a)lkh e a)reth forca e virtude ndash ou valor ndash satildeodois atributos que caminham juntos na cultura grega para designarheroacuteis e heroinas Uma resposta plausivel eacute apontar o eacutethos ndashcostumes e crencas ndash que eleva mulheres de forca e valordemonstrados nos textos agrave categoria de heroinas

Arete eacute vista em paridade ao seu marido Alcinoo o qualtambeacutem porta a forca (a)lkh ) componente de seu proacuteprio nomeuma forca de que ambos satildeo investidos Alcinoo ainda eacute aqueleque honra Arete como a nenhuma outra mulher39 O valor deArete eacute reconhecido por todo o seu povo os feaces e cantadopelo poeta eacutepico na ldquofuncatildeordquo de narrador ldquoO povo lhe tributahomenagem e a aclama com palavras entusiasticas quandoaparece na cidade Conhecida pelo seu bom sensordquo40

Arete eacute uma mulher de atitudes e de palavras diante de seupartner em cena o rei Alcinoo Na cena do jantar com OdisseuArete rompe o silecircncio para pedir que auxiliem a Odisseu quandode seu regresso Agrave fala de Arete um anciatildeo Equeneu reageldquoAmigos natildeo foge do nosso escopo o que declarou a sabiarainha Natildeo decidamos poreacutem antes de ouvir Alcinoo aqui presente Falar e agir eacute sua competecircnciardquo41 Ao que Alcinooassevera ldquoO que ouvimos [de Arete] sera executadordquo42

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ABSTRACT Arete the Virtue per se in the Odyssey is a Woman

This concise writing intends to bring a conversation abouta woman introduced by Homer between Songs VI-XI of theOdyssey the strong and noble Arete The Queen of Feaces andwife of King Alcinoo is someone that is not heard too muchabout However when we approach this woman through the epicpoetry we face as a matter of fact with virtue itself the arete(a)reth ) as good as the name represents Therefore a wondercomes around who is the woman with noble character in theAncient Greece That is the ndash positive ndash challenge in which thiswriting wants to engage the reader

KEYWORDS

Homer Woman Arete

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REFEREcircNCIAS DOCUMENTACcedilAtildeO TEXTUAL

BERLIN A ZVI BRETTLER M (Eds) The Jewish Study BibleTANAKH Translation [Jewish Publication Society] New YorkOxford University Press 2004HOMEgraveRE Iliade Texte eacutetabli et traduit par P Mazon Paris LesBelles Lettres Tome I (1987) Tome II (1992) Tome III (1994)Tome IV (1982) HOMEgraveRE LrsquoOdyseacutee Poeacutesie Homeacuterique Texte eacutetabli et traduit parV Beacuterard Paris Les Belles Lettres 1953 Tomes I II III IV HOMERO Odisseia Trad Donaldo Schuumller Porto Alegre LampPM2007 (3 vols)

DICIONAacuteRIO

BAILLY A Dictionnaire grec-franccedilais Paris Hachette 2000

LIVROS

CARPEAUX OM Histoacuteria da civilizaccedilatildeo ocidental Rio deJaneiro O Cruzeiro 1959JAEGER W Paideia a formacatildeo do homem grego Trad Artur MParreira Satildeo Paulo Martins Fontes 2001ORLANDI EP Discurso e leitura Satildeo Paulo Cortez CampinasEdUNICAMP 1988PEREIRA MHR Estudos de histoacuteria da cultura claacutessicacultura grega Lisboa Calouste Gulbekian 2006 v 1VERNANT JP VIDAL-NAQUET P Entre mito e poliacutetica na GreacuteciaAntiga Traducatildeo Anna Lia A de Almeida Prado Maria daConceicatildeo M Cavalcante e Filomena Yoshie Hirata Garcia SatildeoPaulo Duas Cidades 1977WINKLER JJ The Constraints of Desire the Anthropology ofSex and Gender in Ancient Greece New York LondonRoutledge 1990

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ARTIGOS

LANG B Womens Work Household and Property in TwoMediterranean Societies a Comparative Essay on Proverbs XXXI

10-31 VT 54 n 2 2004 p 188-207RACE W First Appearances in the Odyssey TAPS n 123 1993 p79-107RIESS JK The Woman of Worth Impressions of Proverbs 3110-31 Dialogue 30 n 1 Spr 1997 p 141-151SZLOS BM A Portrait of Power a Literary-Critical Study of theDepiction of the Woman in Proverbs 3110-31 USQR 54 n 1-22000 p 97-103VAINSTUB D Some Points of Contact between the BiblicalDeborah War Traditions and Some Greek Mythologies VT n 61m2011 p 324-334WOLTERS A M Proverbs 3110-31 as Heroic Hymn a Form-Critical Analysis VT 38 n 4 1988 p 446-457

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1 Os Feaces satildeo um povo mitico apresentado nos cantos VndashVII da Odisseia comouma sociedade modelo quanto aos valores e ao comportamento no trato com oshomens e mulheres Na eacutepica Odisseu sofre um naufragio e eacute encontrado napraia do Reino dos Feaces pela princesa Nausicaa e suas mocas Nausicaa oinstruira a como lidar com a cultura e o comportamento do seu povoapontando que para que alcancasse o favor do rei Alcinoo seu pai primeiroteria que alcancar o favor da rainha Arete sua matildee como se vera adiante 2 VERNANT 2002 p 414-4193 A expressatildeo formada a partir dos adjetivos kaloj belo e a)gaqoj bom nobreligados por kai ou te e ou ambos desempenha um importante papel naformulacatildeo de muitas concepcotildees eacuteticas sociais e (num sentido muito amplode) politicas da Antiguidade Literalmente equivale agrave foacutermula de qualidadeldquobeleza e bondaderdquo Ora ldquoser belordquo significa primariamente ldquoser nobrerdquoenquanto ldquobom exemplar do proacuteprio tipordquo Por isso o termo kaloka)gaqia eacutefrequentemente traduzido por ldquonobreza e bondaderdquo bem como por ldquohonrardquoCom efeito o kaloka)gaqoj eacute um modelo do ldquohomem honradordquo ldquonobre e bomrdquoe portanto o ldquobom cidadatildeordquo Esse sentido ldquocivicordquo esta presente emXenofonte Platatildeo e Aristoacuteteles Nestes a nocatildeo de kaloka)gaqia eacute uma nocatildeoeducativa na medida em que exprime a ideia da boa educacatildeo oposta agrave ideia dopoder puro e simples Ela eacute em grande parte a justificacatildeo ldquoeducativardquo dopoder O homem kaloka)gaqoj eacute aquele que exerce o poder de um modointimamente ligado agrave justica Por isso o kaloka)gaqoj eacute ao mesmo tempo ldquoohomem justordquo

4 A Questatildeo Homeacuterica eacute formulada a partir da seguinte inquietacatildeo quem eacute oautor da Iliacuteada e da Odisseia e como essas obras chegaram ao texto finalDioacutegenes de Laeacutercio (I 57) fala de interpolacotildees realizadas por Pisistrato notexto homeacuterico Quanto ao autor das obras as respostas satildeo variadasreduzindo-se todas elas a trecircs teses principais a unitarista (um soacute eacute o autorprincipal dos poemas homeacutericos) a dualista (dois poetas diferentes trabalhandona mesma tradicatildeo) e a pluralista (satildeo varios os autores de cada um dospoemas) Quanto agrave redacatildeo dos textos as correntes de critica textual dosmodernos (seacutec XIX) dividem-se em Teoria da Ampliacatildeo (considera-se umaIliacuteada primitiva de pequena extensatildeo a qual crescera com o decorrer do tempoateacute alcancar as proporcotildees tradicionais da obra) defendida por G HERMANNTeoria dos Cantos (a Iliacuteada continha cerca de dezesseis cantos individuaisdivididos por K LACHMANN) e a Teoria da Compilacatildeo (tanto a Iliacuteada quanto aOdisseia natildeo eram cantos e sim pequenas epopeias de diversas proporcotildees evalor tambeacutem diverso) desenvolvida a partir da analise de A KIRCHHOFF (cfLESKY 1995 p 51-52) problema que tem preocupado especialistas desde osgregos eruditos do periodo helenistico ndash os primeiros a cogitar a questatildeo ndash ateacuteos nossos dias ainda que para alguns autores a principal questatildeo natildeo eacute pensarquem foi Homero e quando as obras foram convertidas da tradicatildeo oral ecompiladas na tradicatildeo escrita e sim o que foi Homero Dadas as diferencas domeio e da estrutura social a diferenca de tema e as diferencas vocabulares eestilisticas da Iliacuteada e da Odisseia parece legitimo concluir que os dois poemasforam compostos por diferentes poetas em tempos e lugares distintos O tema eacutediscutido entre historiadores literatos e linguistas tais como G S KIRK (1965)R AUBRETON (1956) D SCHUumlLER (1972) M FINLEY (1981) W BURKERT (1993)A LESKY (1995) e todos os que veem o valor da obra homeacuterica para a proacutepriaconstrucatildeo e fixacatildeo de valores tais como eacutetica preceitos morais e principiosguerreiros como a defesa da honra e ainda o conceito de (a)reth junto agravesociedade ocidental5 JAEGER 2001 p 446 VERNANT Lrsquoindividu la mort lrsquoamour Soi-mecircme et lrsquoautre en Gregravece ancienne 1989___Entre mito e poliacutetica 2002 Bela morte eacute um conceito criado e proposto por Jean-Pierre Vernant para o guerreiro que morre em batalha e alcanca a gloacuteriaimperecivel e sera imortalizado na memoacuteria coletiva de seu povo atraveacutes doscantos dos aedos como ocorreu aos heroacuteis da Iliacuteada 7 Cf Odisseia XI v 4468 Cf Odisseia XI v 336-340

9 Grande parte da Odisseia se da com Peneacutelope tendo que lidar com a situacatildeo dos pretendentes que desejam toma-la como esposa por sua beleza fisica e sua firmeza de carater visto que se pensa que Odisseu morrera quando do retorno de Troia para Iacutetaca seu reino Os pretendentes soacute satildeo mortos por Odisseu no ultimo canto (cf Odisseia XXII)10 ldquoMulher virtuosa quem a achara O seu valor muito excede ao de rubis Ocoracatildeo do seu marido esta nela confiado assim ele natildeo necessitara de despojoEla soacute lhe faz bem e natildeo mal todos os dias da sua vida Busca latilde e linho etrabalha de boa vontade com suas matildeos Como o navio mercante ela traz delonge o seu patildeo Levanta-se mesmo agrave noite para dar de comer aos da casa edistribuir a tarefa das servas Examina uma propriedade e adquire-a planta umavinha com o fruto de suas matildeos Cinge os seus lombos de forca e fortalece osseus bracos Vecirc que eacute boa a sua mercadoria e a sua lacircmpada natildeo se apaga denoite Estende as suas matildeos ao fuso e suas matildeos pegam na roca Abre a suamatildeo ao pobre e estende as suas matildeos ao necessitado Natildeo teme a neve na suacasa porque toda a sua familia esta vestida de escarlata Faz para si cobertas detapecaria seu vestido eacute de seda e de purpura Seu marido eacute conhecido nasportas e assenta-se entre os anciatildeos da terra Faz panos de linho fino e vende-os e entrega cintos aos mercadores A forca e a honra satildeo seu vestido e sealegrara com o dia futuro Abre a sua boca com sabedoria e a lei da beneficecircnciaesta na sua lingua Esta atenta ao andamento da casa e natildeo come o patildeo dapreguica Levantam-se seus filhos e chamam-na bem-aventurada seu maridotambeacutem e ele a louva Muitas filhas tecircm procedido virtuosamente mas tu eacutes detodas a mais excelente Enganosa eacute a beleza e vatilde a formosura mas a mulher queteme ao Senhor essa sim sera louvada Dai-lhe do fruto das suas matildeos e deixe oseu proacuteprio trabalho louva-la nas portasrdquo

11 Todas as traducotildees da Odisseia satildeo de Donaldo Schuumller12 Cf Odisseia XIX 107-11413 Compare-se com o texto de Proveacuterbios de Salomatildeo na nota 814 JAEGER 2001 p 4615 Cf Odisseia VI v 15416 Cf Odisseia VI v 206-21017 Cf Odisseia VI v 218-25018 Cf Odisseia VI v 30419 JAEGER 2001 p 4220 Idem ibidem21 Cf Odisseia VII v 65-7422 O aedo eacute aquele que canta as gestas dos heroacuteis tendo uma memoacuteriaprivilegiada pela grande quantidade de fatos dos quais lembra e por isso canta 23 Cf Odisseia XI v 336-34024 O adjetivo perifrwn (a que examina por todos os aspectos que medita afundo prudente) eacute utilizado tambeacutem para Peneacutelope na epopeia (cf Odisseia XI v446 XIX v 308 v 349) 25 Cf Repuacuteblica 606e26 CARPEAUX 1959 p 5227 Idem ibidem p 6028 Idem ibidem p 48 29 Idem ibidem p 79 30 Idem ibidem p 83 31 Idem ibidem32 Iliacuteada III 154-159 a beleza irresistivel de Helena se mostra a fim de justificar oerro de Paris 33 JAEGER 2001 p 4734 Odisseia VI v 1235 RACE 1993 p 79-10736 PEREIRA 2006 p 135-136 37 ORLANDI 1988 p 1238 Para saber mais veja U ECO Os limites da interpretaccedilatildeo 2008 O autor trabalha aligacatildeo entre o contexto social do leitor e a interpretacatildeo da leitura que eacute feita

defendendo o conceito de Obra aberta presente em seus outros livros poreacutemprevendo que ha limites impostos pela proacutepria obra e pelo reconhecimento demundo do leitor 39 Cf Odisseia VII v 66-6740 Cf Odisseia VII v 70-7341 Cf Odisseia IX v 343-34642 Cf Odisseia IX v 348

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Os autores

Alessandra Serra ViegasDoutora em Teologia pela PUC-Rio e em Histoacuteria Comparada peloPPGHC-UFRJ Mestre em Histoacuteria Comparada pelo PPGHC-UFRJMestre em Teologia pela PUC-Rio na area de Teologia BiblicaPossui graduacatildeo em PortuguecircsGrego pela UERJ e bachareladoem Teologia pela PUC-Rio Atualmente eacute professora-coordenadorade Sala de Leitura e Biblioteca do Coleacutegio Estadual Joseacute LeiteLopes ndash NAVE (Nucleo Avancado em Educacatildeo) ndash SEEDUC eprofessora do Seminario Metodista Ceacutesar Dacorso Filholecionando grego koineacute literatura e teologia teologia feminina(teologia na perspectiva da mulher) leitura e producatildeo textualmeacutetodos de estudo universitario e orientacatildeo de TCC Eacutepesquisadora colaboradora do NEA-UERJ (Nucleo de Estudos daAntiguidade) Participa do grupo de pesquisa TIAT (Traducatildeo eInterpretacatildeo do Antigo Testamento) Eacute membro efetivo de Letrasdo Nucleo Acadeacutemico de Letras e Artes e Lisboa (NALAL) e daAcademia de Letras e Artes de Paranapuatilde (ALAP) titular da cadeiran 24 patronimica de Adolfo Caminha Eacute membro-embaixador daDivine Acadeacutemie Francaise des Arts Lettres et Culture

Graciela C Zecchin de FasanoDoutora em Letras pela Universidad Nacional de La Plata (UNLP)onde eacute professora titular de Grego da Faculdade de Humanidadese Ciecircncias da Educacatildeo Atualmente dirige a revista Synthesis Foi

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Os autores

Fellow of The Center for Hellenic Studies (Harvard University) noperiodo 2013-2014 Eacute autora do livro Odisea discurso y narrativa(EDULP 2004) e editora de Deixis social y performance en la literaturagriega claacutesica (La Plata 2011) e de El relato de la historia en lasmanifestaciones de la Grecia antigua y su valor miacutetico-performativo (IdIHCSFaHCE 2015) Publicou numerosos artigos e capitulos de livrostanto em seu pais Argentina como no exterior especialmentesobre eacutepica homeacuterica e recepcatildeo classica que constituem suasprincipais linhas de investigacatildeo

Guilherme da Costa Assuncatildeo CecilioCursou a Graduacatildeo em Filosofia (bacharelado e licenciatura) naUniversidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) onde tambeacutemconcluiu o Mestrado em Filosofia (PPGLM) e o Doutorado emFilosofia (PPGF) esse na modalidade sanduiche com periodo depesquisa na Johann Wolfgang von Goethe Universitaumlt ndash Frankfurtam Main Eacute professor efetivo de Filosofia do Instituto Federal deEducacatildeo Ciecircncia e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ) eprofessor permanente do Programa de Poacutes-Graduacatildeo emFilosofia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGF-UFRJ)Atua principalmente nas areas de Histoacuteria da Filosofia Antiga eMetafisica

Maria Cecilia ColombaniProfessora titular de problemas filosoacuteficos e antropologia filosoacuteficada Facultad de Filosofia Ciencias de la Educacioacuten y Humanidadesda Universidad de Moroacuten onde ainda atua como investigadoraprincipal e coordenadora de projetos de pesquisa Professoratitular de histoacuteria da filosofia antiga e problemas especiais defilosofia antiga na Facultad de Humanidades da UniversidadNacional de Mar del Plata Autora de diversos capitulos de livros ede mais de uma centena de artigos apresentados em congressos daarea Autora de Hesiacuteodo una introduccioacuten criacutetica (Buenos AiresSantiago Arcos Editor 2005) Homero Una introduccioacuten critica(Buenos Aires Santiago Arcos Editor 2005) e Foucault y la poliacutetica(Buenos Aires Prometeo 2009) Em 2016 publicou Hesiacuteodo

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discurso y linaje una aproximacioacuten arqueoloacutegica pela Universidad de Mardel Plata

Maria del Pilar Fernandez DeagustiniDoutora em Letras pela pela Universidad Nacional de La Plata(UNLP) onde atua como chefe de Trabajos Practicos na area degrego da Facultad de Humanidades y Ciencias de la Educacioacuten ebolsista poacutes-doutoral de CONICET Professora de grego e deliteratura grega classica Autora de Suplicantes de Esquilo unainterpretacioacuten (2015) e de El espacio eacutepico en el canto 11 de Odisea(2010) aleacutem de artigos especialmente sobre as Suplicantes deEacutesquilo objeto de investigacatildeo de sua tese doutoral Atualmenteintegra o projeto de investigacatildeo ldquoRecepcatildeo e apropriacatildeo deHomero na literatura grega classicardquo (UNLP) dirigido pela profadra Graciela Zecchin

Rossana ZettiFormada em Literatura Classica pela Universitagrave degli Studi deMilatildeo Mestre em Classicos na Universidade de Edimburgo ondeatualmente trabalha em sua tese doutoral sob a supervisatildeo do profdr Douglas Cairns Sua pesquisa de doutorado concentra-se narecepcatildeo de Antiacutegona de Soacutefocles na Europa do seacutec XX e seuestudo visa esclarecer as ideologias e os contextos que produziramvarias versotildees renovadas da Antiacutegona no referido seacuteculo

Simone de Oliveira Goncalves BondarczukDoutora em Letras Classicas (2017) e mestre em Linguistica pelaUniversidade Federal do Rio de Janeiro (2005) Ministrou aulascomo professora substituta de lingua e literatura Grega naFaculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro porduas vezes no periodo de 2005 a 2007 e no ano de 2010 Tambeacutemfoi professora no Seminario Teoloacutegico Presbiteriano Simonton doRio de Janeiro entre 1996 e 2007 e da Faculdade de TeologiaWittenberg entre 2006 e 2008 Atuou como pesquisadora durantea graduacatildeo no projeto NURC-UFRJ (subprojeto de semacircntica) sob a

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Os autores

supervisatildeo da professora Dinah Callou e durante o mestrado noprojeto Discurso e Gramatica-UFRJ sob a orientacatildeo do professorMario Eduardo T Martelotta em cujo projeto continuaparticipando como colaboradora Atualmente eacute pesquisadora dogrupo de pesquisa DAG (Discursos da Antiguidade Grega) doPPGLC-UFRJ e do programa de estudos em filosofia antiga ndash Pragmado IFCS-UFRJ Quando doutoranda do Programa de Poacutes-Graduacatildeoem Letras Classicas da UFRJ recebeu uma bolsa sanduiche daCapes para pesquisar na Universitagrave degli Studi di Bari Aldo Morono periodo de setembro de 2015 a fevereiro de 2016 sob asupervisatildeo do professor Paulo Butti de Lima Nessa mesmauniversidade foi recebida na condicatildeo de Visiting Professor

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Caliope Presenca Classica | 20172 Ano XXXIV Numero 34

Universidade Federal do Rio de JaneiroREITOR Roberto Leher

Centro de Letras e ArtesDECANA Flora de Paoli Faria

Faculdade de LetrasDIRETORA Eleonora Ziller Camenietzky

Programa de Poacutes-Graduacatildeo em Letras ClassicasCOORDENADOR Ricardo de Souza NogueiraVICE-COORDENADORA Arlete Jose Mota

Departamento de Letras ClassicasCHEFE Fabio Frohwein de Salles MonizSUBCHEFE Rainer Guggenberger

OrganizadoresFabio Frohwein de Salles MonizFernanda Lemos de LimaRainer Guggenberger

Conselho EditorialAlice da Silva CunhaAna Thereza Basilio VieiraAnderson de Araujo Martins EstevesArlete Jose Mota Auto Lyra TeixeiraRicardo de Souza Nogueira Tania Martins Santos

Conselho ConsultivoAlfred Dunshirn (Universitat Wien)David Konstan (New York University)Edith Hall (Kingrsquos College London)Frederico Lourenco (Universidade de Coimbra)Gabriele Cornelli (UnB)Gian Biagio Conte (Scuola Normale Superiore di Pisa)Isabella Tardin (Unicamp)Jacyntho Lins Brandatildeo (UFMG)Jean-Michel Carrie (EHESS)Maria de Fatima Sousa e Silva (Universidade de Coimbra)Martin Dinter (Kingrsquos College London)Victor Hugo Mendez Aguirre (Universidad Nacional Autoacutenoma de Mexico)Violaine Sebillote-Cuchet (Universite Paris 1)Zelia de Almeida Cardoso (USP)

Capa e editoracatildeoFabio Frohwein de Salles Moniz

Revisatildeo de textoAlexandre Rosa| Fabio Frohwein de Salles Moniz | Fernanda Lemos de Lima| Luiz Karol | Rainer Guggenberger

Revisatildeo tecnicaLucia Pestana | Ludmila Alves

Programa de Poacutes-Graduacatildeo em Letras Classicas Faculdade de Letras ndash UFRJAv Horacio Macedo 2151 ndash sala F-327 ndash Ilha do Fundatildeo 21941-917 ndash Rio de Janeiro ndash RJwwwletrasufrjbrpgclassicas ndash pgclassicasletrasufrjbr

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Caliope Presenca Classica | 20172 Ano XXXIV Numero 34

Sumario

Apresentacatildeo | p 5

Liacutemite y prudencia en Hesiacuteodo una mirada antropoloacutegica | Maria CeciliaColombani | p 9

Antigonersquos (mis)appropriations in Twentieth-Century Europe MemoryPolitics and Resistance | Rossana Zetti | p 25

Significado e estrutura do argumento do terceiro homem no Parmecircnides dePlatatildeo | Guilherme da Costa Assuncatildeo Cecilio | p 45

Identidad ritual y performance un anaacutelisis de los primeiros dos versos deSuplicantes de Esquilo | Maria del Pilar Fernandez Deagustini | p65

O Filebo prazer e intelecto em confronto | Simone de O GoncalvesBondarczuk | p 84

Aedoacuten performance poeacutetica de las viacutectimas | Graciela C Zecchin deFasano | p 108

Arete a virtude em si na Odisseia eacute uma mulher | Alessandra SerraViegas | p 128

Os autores | p 143

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Apresentacatildeo

Eacute com imensa satisfacatildeo que apresentamos o 34o volumeda revista Caliacuteope Presenccedila Claacutessica perioacutedico tradicional daUniversidade Federal do Rio de Janeiro que chega ao seu 34o anode existecircncia Pela primeira vez em todos esses anos os autoressatildeo na sua maioria estrangeiros e por essa razatildeo a linguapredominante dos artigos natildeo e o portuguecircs Temos trecircs linguasdiferentes nesse volume espanhol portuguecircs e inglecircs Pode-seconstatar que isso e um reflexo do fato que a area de LetrasClassicas neste pais esta cada vez mais se internacionalizando

Dois dos trecircs artigos de autores brasileiros abordam temasfilosoacuteficos Um deles ldquoO Filebo prazer e intelecto em confrontordquode Simone Bondarczuk analisa o dialogo platocircnico Filebo que sobvarios aspectos se apresenta no conjunto do corpus platocircnico emdissonacircncia com os temas tipicos de Platatildeo O dialogo pelo menosprima facie natildeo aborda assuntos relacionados com politica mesmotendo sido escrito em uma epoca na qual Platatildeo demonstrava umconstante interesse por esse assunto O propoacutesito do dialogo natildeo eo de estabelecer a vida teoretica como a melhor forma de viver eao mesmo tempo natildeo condena rigorosamente os prazeres masrecomenda uma conduta de vida na qual os prazeres e a reflexatildeointelectual se misturem Eacute uma obra tatildeo complexa que parececarecer de unidade tematica em si mesma Bondarczuk tentadecifrar a foacutermula comum que esta por tras dessa aparente falta deunidade tematica agrave qual estamos habituados em outras obras

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Caliope Presenca Classica | 20172 Ano XXXIV Numero 34

platocircnicas e encontra no acircmago da discussatildeo socratica umpossivel candidato unificador o Bem e a sua relacatildeo com prazerese atividades intelectuais

Em ldquoSignificado e estrutura do argumento do terceirohomem no Parmecircnides de Platatildeordquo O filoacutesofo Guilherme Ceciliounico homem entre seis autoras femininas ndash motivo de orgulhouma vez que comprova serem as Letras Classicas um ramoacadecircmico de igualdades e emancipacatildeo que pode servir comoexemplo para outros acircmbitos da nossa sociedade ndash trata doargumento do Terceiro Homem usado no dialogo platocircnicoParmecircnides Alem de situar o Parmecircnides cronologicamente entre osoutros dialogos platocircnicos Cecilio mostra de qual maneira oargumento em questatildeo serve como objecatildeo agrave teoria das ideias

Alessandra Serra Viegas aponta em ldquoArete a virtude em sin a Odisseia e uma mulherrdquo uma questatildeo que ate hoje recebeupouca atencatildeo o significado do nome da rainha dos Feaces Areteno contexto da Odisseia e a importacircncia histoacuterico-literaria determos uma figura feminina chamada ldquoVirtuderdquo Serra Viegas tentasituar esse dado dentro de uma discussatildeo sobre a relacatildeo mulher-homem no contexto homerico e os seus desdobramentos naepopeia

No seu artigo ldquoIdentidad ritual y performance un analisisde los primeiros dos versos de Suplicantes de Esquilordquo Maria delPilar Fernandez Deagustini desdobra atraves de uma analise desomente dois versos iniciais das Suplicantes todo o universoesquiliano e demonstra o seu encaixe na cultura grega alem de suainteracatildeo com os ritos e a religiatildeo inserido no contexto dramaticoda peca Temos a possibilidade de olhar de matildeos dadas com apesquisadora argentina que fornece todas as necessariasferramentas teoacutericas conectando-as com a pratica de performancedo drama para tras do funcionamento de uma das mais antigastragedias chegadas ate noacutes Criando uma rede de referecircnciasintertextuais del Pilar mostra que os primeiros versos satildeofundamentais para a estrutura e para a compreensatildeo das Suplicantes

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porque eles contecircm elementos que interagem com outras partes dapeca

Em ldquoLimite y prudencia en Hesiodo una miradaantropoloacutegicardquo a especialista em poesia hesioacutedica Maria CeciliaColombani adaptando as teorias de Louis Gernet propotildee umaleitura antropoloacutegica dos poemas de Hesiodo com o propoacutesito deesclarecer a relacatildeo exata na qual o homem arcaico da Greciaantiga se situou para com o divino e como ele de modo mais geralse (auto)integrou no mundo religioso da sua tradicatildeo

Como terceira autora de lingua espanhola GracielaZecchin de Fasano reflete sobre o papel da vitima na poesia gregatomando como base principal a Odisseia os Trabalhos e os dias deHesiodo e as Aves de Aristoacutefanes em ldquoAedoacuten performance poeticade las victimasrdquo O artigo mostra como a figura do rouxinol serviade Homero ate a epoca classica como simbolo das vitimas quesofrem violecircncias nas esferas dominadas por forcas masculinas

Rossana Zetti mostra em ldquoAntigonersquos (mis)appropriationsin Twentieth-Century Europe Memory Politics and Resistancerdquocomo a Antiacutegona de Soacutefocles foi interpretada e instrumentalizadana primeira metade do sec XX Eacute fascinante notar como correntespoliticas opostas conseguiram cada um de maneira distintaapropriar-se do potencial soacutecio-cultural dessa tragedia Zetti iniciaa viagem pelos tempos e as suas apropriacotildees da peca com atraducatildeoadaptacatildeo de Houmllderlin que somente mais de um seculodepois da sua publicacatildeo comecou a ser considerada uma versatildeo etraducatildeo extraordinaria enquanto considerado mediocre pelamaioria dos contemporacircneos do poeta e tradutor alematildeo Essaversatildeo serviu no sec XX tanto aos Nazistas quanto aos socialistas(Bertolt Brecht) como referecircncia ideal O artigo demonstra comouma mesma tragedia pode ser interpretada e apresentada comosubversiva por uns e modelo classico de representacatildeo de valorestradicionais conservadores por outros

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Encerrando esta edicatildeo encontra uma secatildeo cominformacotildees sobre os autores deste numero No mais desejamosuma proveitosa e prazerosa leitura

Os editores

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Liacutemite y prudencia en Hesiacuteodo una mirada antropoloacutegica | Mariacutea Cecilia Colombani

Liacutemite y prudencia en Hesiacuteodo unamirada antropoloacutegicaMariacutea Cecilia Colombani

RESUMO

A proposta do presente trabalho consiste em efetuar uma leituraantropoloacutegica da relaccedilatildeo que o homem guarda com a divindade nomarco do esquema do pensamento miacutetico proacuteprio da Greacuteciaarcaica A presenccedila dos deuses implica que por detraacutes do khaacuteosaparente estaacute garantida a existecircncia de uma ordem da qual apoesia eacute precisamente sua percepccedilatildeo mais exitosa No toacuteposantropoloacutegico dois fenocircnemos satildeo essenciais e complementaresna relaccedilatildeo do homem grego com a divindade O primeiro radica nadistacircncia que o separa dos seres divinos e o segundo abarca oscontatos humanos de aproximaccedilatildeo e assimilaccedilatildeo a esse mundoNeste marco intencionamos relacionar o toacutepico evidenciandocomo no marco da relaccedilatildeo que se estabelece entre ambos osplanos no reconhecimento e na transgressatildeo do registro que osdistingue e os separa a ira dos deuses eacute despertada a partir dodesconhecimento do limite e da prudecircncia

PALAVRAS-CHAVE

Homem divindade distacircncia aproximaccedilatildeo reconhecimentotransgressatildeo

SUBMISSAtildeO 14 set 2017 | PUBLICACcedilAtildeO 10 nov 2017

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Caliacuteope Presenccedila Claacutessica | 20172 Ano XXXIV Numero 34

1 LA DISTANCIA

l proyecto del presente trabajo consiste en efectuar unalectura antropoloacutegica de la relacioacuten que el hombreguarda con la divinidad en el marco del esquema depensamiento miacutetico propio de la Grecia ArcaicaEntendemos por ldquoantropologiacuteardquo el concepto del queparte Louis Gernet para pensar coacutemo el hombre seproyecta en el plano religioso del mundo reconociendoque maacutes allaacute de los multiples vaivenes que la palabra hatenido segun la eacutepoca podemos considerar que se tratade la representacioacuten del hombre en el plano religioso delmundo1

Para comprender este aspecto debemos captar laidea de fractura ontoloacutegica entre diferentes aacutembitos o

regiones de ser de dos toacutepoi de dos razas o mundos impermeablesla una respecto de la otra tal como sostiene el propio Gernet2 Esel largo relato de los dioses es el trazo del linaje el reparto de lospoderes y la definitiva consolidacioacuten del koacutesmos la que permitedelinear los dos toacutepoi referidos

La presencia de los dioses y la existencia de ese planoimplican que por detraacutes del khaacuteos aparente estaacute garantizada laexistencia de un orden del cual la poesiacutea es precisamente supercepcioacuten maacutes lograda Como sostiene Gernet ella constituye esaespecie de ldquofilosofiacutea popularrdquo3 que al contar las sucesiones divinasnarra al mismo tiempo la plasmacioacuten a partir del khaacuteos de unorden perfecto sostenido por la justicia de Zeus La Teogoniacuteaconstituye el primer intento griego de dar una explicacioacuten divinadel orden del universo Tal como afirma J-P Vernant ldquoLasteogoniacuteas y las cosmogoniacuteas griegas comprenden como lascosmologiacuteas que les han sucedido relatos de geacutenesis que explicanla aparicioacuten progresiva de un mundo ordenadordquo4 Esta intuicioacuten sedebe precisamente a ese teloacuten de fondo religioso que impregna latotalidad de la vida social del hombre griego

Si seguimos la tesis de L Gernet es en ese toacutepos donde seproduce el fenoacutemeno de aproximacioacuten que acorta la distancia entrelos dos aacutembitos que constituyen zonas impermeables5

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Liacutemite y prudencia en Hesiacuteodo una mirada antropoloacutegica | Mariacutea Cecilia Colombani

Efectivamente la esfera humana parece acercar su registro a laesfera divina aunque en el seno mismo de esta ritualizacioacutensimboacutelica lo divino siempre guarde su territorio inasible En eltoacutepos antropoloacutegico dos fenoacutemenos son capi ta les ycomplementarios en la consideracioacuten de la relacioacuten entre elhombre griego y la divinidad El primero radica en la distancia quelo separa de los seres divinos y el segundo da cuenta de losintentos humanos de aproximacioacuten y de asimilacioacuten a ese mundoque lo sobrepasa por doquier6

La aproximacioacuten no implica una categoriacutea geograacutefica unadistancia medida en paraacutemetros espaciales sino una dimensioacutenontoloacutegica que supone un determinado estatuto de ser una ciertacualificacioacuten que transfigura el ser mismo del hombre Existe unafractura o brecha entre dioses y hombres donde el nucleo mismode la distancia supone el liacutemite que implica la muerte Finitud einfinitud he alliacute la clave de una distancia que muy pocos puedensoacutelo en parte franquear

La asimilacioacuten implica tambieacuten una categoriacutea ontoloacutegicaEs el ser mismo del hombre el que se transforma ya que deviene eacutelmismo ldquocomo un diosrdquo Es la aspiracioacuten comun de los mortales elser del hombre se asimila al ser divino y en tal asimilacioacuten seconvierte en un sujeto excepcional en un epopteacutes

El teloacuten de fondo de esta dualidad implica una ciertanocioacuten de temporalidad En el marco de la atemporalidad quehemos sugerido como marca identitaria del plano divino hay noobstante una particular loacutegica temporal Los dioses parecen teneruna cierta vida cotidiana un cierto movimiento que se juegacomo corresponde en una especialidad abierta y en unatemporalidad acotada

Recordemos que es posible hablar de una temporalidaddivina y que eacutesta estaacute directamente vinculada con la idea de dramaen tanto accioacuten Las acciones de los dioses asiacute como suspreocupaciones abren una temporalidad dentro del ldquosiemprerdquocaracteriacutestico del plano divino Dicen Detienne y Sissa

Asiacute en la obra de Homero y especialmente en la Iliacuteada la vidade los dioses se despliega en toda su densidad en esa mezcla

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de acontecimientos y de rutina que la caracterizan [] allaacutedonde en la sucesioacuten de hechos se abran las ventanas de unteatro que habla no de la mediocridad sino maacutes bien de lavita de la existencia de los dioses7

Podemos tambieacuten abordar el nucleo problemaacutetico hombre-divinidad desde la perspectiva del poder que se pone en juego Seobserva entonces una polaridad en la dimensioacuten de la arkheacute Elpropio Gernet bucea en la disimetriacutea estatutaria que la diacuteadaimplica y alude a que

Un magniacutefico coro de la Antiacutegona de Soacutefocles exalta alhombre como detentor ndash e incluso excepcionalmente comocreador ndash de teacutecnicas a las que se podriacutea atribuir un desarrolloindefinido si no se topara con un doble liacutemite la muerte esabarrera infrangible y los dioses de los que los hombresreciben la justicia8

La divinidad constituye esa instancia aacuteltera donde se ostentaefectivamente la arkheacute tensionando de ese modo la distancia entreun mundo y otro a punto tal de que el hombre mismo es una cosamaravillosa pero estrechamente limitada ya que su accioacuten no esautoacutenoma porque reconoce la marca de los dioses como sello desu voluntad incuestionable

El poder al que nos referimos de caraacutecter disimeacutetrico es lamarca de la inmortalidad que atraviesa a la divinidad y la nocioacuten deDiacuteke ya que son los dioses quienes otorgan la justicia divina Elhombre por el contrario es mortal descubriendo en la muerte eseliacutemite que lo territorializa a su condicioacuten humana asimismo estributario de un orden-justicia que no depende de eacutel Se trata deuna primeriacutesima justicia coacutesmica donde el orden mismo de lo reales sinoacutenimo de justicia

Por todo lo dicho

Si se realiza una investigacioacuten etnograacutefica y comparativa seobserva que los dioses presentan respecto a los mortales unestatuto excepcional y heterogeacuteneo al mismo tiempo Por unaparte se pueden atribuir sus cualidades a una sistemaacuteticasuperioridad sobre los hombres Por otra parte debemos

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Liacutemite y prudencia en Hesiacuteodo una mirada antropoloacutegica | Mariacutea Cecilia Colombani

reconocerles tambieacuten una diferencia especiacutefica Los dioses seperciben distintos porque son maacutes grandes maacutes poderosos ymaacutes sabios que los hombres pero tambieacuten porque pararegular su existencia eligen unas normas que le son propias yexclusivas9

Pensemos en otra arista del ldquoentrerdquo otro aspecto de losespacios vinculares que el hombre juega en su instalacioacuten frente ala divinidad La condicioacuten de ser mortal se abre al horizonte de losInmortales como lo otro del hombre Las dos razas o mundos delos que venimos hablando se juegan como advertimos en ladistancia que separa ambos toacutepoi lo cual no invalida la posibilidaddel ldquoentrerdquo como modelo de contacto entre uno y otro plano oregistro ontoloacutegico Basta pensar en Hesiacuteodo ultimo y unicotestigo de una palabra dedicada a la alabanza del personaje real10

para captar esta forma de ldquoentrerdquo El texto es elocuente alrespecto

Con pureza y santidad en la medida de tus posibilidades hazsacrificios a los dioses inmortales y quema en su honorespleacutendidos muslos11

E l ldquoentrerdquo estaacute sin duda mediado por la leccioacutenantropoloacutegica inaugural que el mito de Prometeo devuelve comoloacutegos fundacional los hombres reconocen su propio liacutemite y suespacio antropoloacutegico respectivo y el sacrificio es la prenda delreconocimiento La carne perecedera seraacute el alimento de loshombres y los huesos el eterno homenaje a los Inmortales En elmarco del sacrificio dos recomendaciones la pureza referida alcuerpo y la santidad como estado del espiacuteritu

Recordemos que Prometeo cree engantildear a Zeus cuandomovido por su astucia le da a elegir entre dos porciones dosbocados diferentes ambos cubiertos de piel pero soacutelo unoconteniendo en su interior carne mientras el otro soacutelo guardahuesos y grasa Zeus elige este ultimo con lo cual queda instituidoque el alimento humano seraacute la carne El mito de Prometeo fundaasiacute el rito sacrificial En este momento hombres y dioses se

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separan los hombres no tienen ya una comunicacioacuten directa conlos dioses y se inaugura la dependencia de los hombres frente a lacarne cocida como alimento humano La instauracioacuten del ritualrompe la vieja comensalidad entre hombres y dioses e inauguraesos toacutepoi que marcan la dimensioacuten humana y la divina como razaso mundos impermeables El sacrificio separa doblemente a loshombres por un lado de los dioses y por el otro de los animalesya que los hombres deben cocer la carne y cultivar el campomientras los animales comen crudo Tal como lo muestra Detiennee n Los Jardines de Adonis12 en el reparto del primer sacrificio loshombres se llevan la parte vinculada a lo corruptible mientras quea los dioses les corresponden los aromas puros imputrescibles Laexistencia humana queda definida por una posicioacuten intermediaambigua entre lo crudo y lo quemado lo podrido y loimputrescible lo bestial y lo divino Se establece una relacioacutenvertical entre ambos al tiempo que se instituye una relacioacutenhorizontal entre los hombres El sacrificio abre los dos planosporque obliga a los hombres a comer cierto tipo de alimentomientras otros bocados corresponden a los dioses El mito daorigen a las praacutecticas sacrificiales que es precisamente el modo enque los mortales se conectan con lo divino El sacrificio es laforma en que los hombres donan algo a los dioses desde suprecaria condicioacuten humana Asimismo el mito abre un escenarioespeciacuteficamente antropoloacutegico los hombres quedan condenados acocinar los alimentos permaneciendo lo crudo reservado a losanimales o baacuterbaros

Esta no es la unica recomendacioacuten para marcar el ldquoentrerdquoque la divinidad impone Vuelve a ser Hesiacuteodo el que normativizala relacioacuten ldquoOtras veces conciacuteliatelos con libaciones y ofrendacuando te vayas a la cama y cuando salga la sagrada luz del diacuteapara que te conserven propicio su corazoacuten y su espiacuteritu y puedascomprar la hacienda de otros y no otro la tuya rdquo13

En realidad los favores de la divinidad son la clave de todobienestar Incluso el modo de vincularse de generar precisamentee l ldquoentrerdquo que estamos indagando genera una especie deregularidad o ciclicidad coacutesmica la totalidad de la jornada tanto la

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Liacutemite y prudencia en Hesiacuteodo una mirada antropoloacutegica | Mariacutea Cecilia Colombani

noche como el diacutea el irse a la cama como el levantarse quedanbajo la tutela de los dioses como condicioacuten de posibilidad de unavida armoniosa

El extenso apartado de Trabajos y diacuteas sobre las actividadescorrespondientes a cada estacioacuten del antildeo da cuenta de lapreocupacioacuten por el trabajo al tiempo que anuda su problemaacuteticaa la mismiacutesima legalidad coacutesmica14 Sabemos que el fondo ultimode resonancia es de caraacutecter sagrado y la ciclicidad que atraviesa locoacutesmico estaacute regulada por el mismo estatuto sagrado El trabajo secumple en conformidad con la regularidad del universo que ledona sentido y lo legitima como actividad religiosa

Su entorno devuelve ademaacutes la dependencia ontoloacutegica delos mortales respecto al destino que los dioses han hilvanado paralos hombres otro dato que habla de la fractura ontoloacutegica y quehace pensar a L Gernet en esas dos razas impermeables la una dela otra Ya sea el destino de muerte la muerte violenta o la naturalel hombre no escapa a esa dama oscura que inexorablemente nosatrapa y nos marca nuestra Moicircra nuestra porcioacuten en el reparto ynuestro territorio antropoloacutegico Alliacute estaacuten entonces los modelosejemplares que desde el relato ancestral como loacutegos explicativoresultan los vicarios miacuteticos de cualquier realidad del toacutepos humano

2 LA PROXIMIDAD

No obstante queremos problematizar esta distancia queacabamos de acompantildear con la tesis de L Gernet y de la mano deM Vegetti pensar paradoacutejicamente la cercaniacutea y la proximidad dela divinidad ya que eacutel mismo afirma la presencia intensa de lodivino

Esta difusioacuten de lo sagrado se prolonga en una relacioacuten defamiliaridad con los dioses que caracteriza ampliamente laexperiencia religiosa griega la divinidad no estaacute lejos ni esinaccesible el recurrir a ella podriacutea decirse que caracterizacada momento significativo de la existencia privada y socialSe le puede encontrar tan a menudo en sus imaacutegenes en laspraacutecticas culturales que se le dedican en las narraciones

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familiares y publicas en las que se dibujan las tupidas tramasde una simbolizacioacuten significativa de la existencia15

En efecto frente a la radical trascendencia que toma lodivino en religiones de otras caracteriacutesticas los dioses griegosguardan un estatuto inmanente que los vuelve proacuteximos maacutes allaacutede su distancia ontoloacutegica que los convierte en los Athaacutenatoi a losque se refiere Hesiacuteodo

Ahora bien iquestcoacutemo podemos caracterizar esta religiosidadgriega que estamos relevando Instalarse en este lugar suponecomparar este modelo religioso con otros para definirlo desde unesquema negativo

En primer lugar la religioacuten griega no se basa en ningunarelevacioacuten lsquopositivarsquo concedida directamente por la divinidada los hombres y por tanto no tiene ningun profeta fundadorde las grandes religiones monoteiacutestas del Mediterraacuteneo y noposee ningun libro sagrado que enuncie las verdades reveladasy constituya el principio de un sistema teoloacutegico16

La falta de esos elementos convierte a los dioses en seresmaacutes proacuteximos menos atenidos a todo el dispositivo simboacutelico delas religiones institucionalizadas

La propia falta de una iglesia como oacutergano de maacuteximajerarquiacutea determina una relacioacuten maacutes cercana que permite construiruna cierta familiaridad con lo divino donde las fronteras entre unoy otro aacutembito parecen desdibujarse pero soacutelo se trata de unaapariencia propia de la cotidianeidad porque en el fondo ladivinidad guarda siempre su jerarquiacutea estatutaria a partir de suorden ontoloacutegico ldquoY tanto menos una iglesia unificada entendidacomo aparato jeraacuterquico y separado legitimado para interpretar lasverdades religiosas y administrar las praacutecticas de cultordquo17 Sin dudaes a esta ausencia que se debe el grado de proximidad que elmismo Vegetti reconoce entre hombres y dioses Es esta cercaniacuteala que se traduce en lo cotidiano y permite comprender coacutemo ldquoenla experiencia comun por tanto siempre ha habido unaconvivencia entre la estirpe de los dioses y la de los hombresrdquo18 La

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eacutepica homeacuterica constituye una muestra magniacutefica de este aspectocon la exhibicioacuten de un viacutenculo con la divinidad que habla de unreacutegimen de cercaniacutea y proximidad19

Hasta aquiacute algunos puntos sobre coacutemo podemos entenderesta forma de religiosidad que combina las diacuteadas opuestas Unaexperiencia que guarda distancia ontoloacutegica pero que al mismotiempo evidencia matices de cercaniacutea y proximidad unaexperiencia que se revela como trascendente por las propiascaracteriacutesticas de lo divino pero inmanente en su forma depresentacioacuten

Pensemos otro aspecto desde la perspectiva de Vegetti queimpacta directamente en el corazoacuten maacutes iacutentimo de la experienciaporque diagrama el plano del culto como forma de cercaniacutea maacutesacabada

Incluso falta en griego una palabra cuyo campo semaacutenticoequivalga propiamente al teacutermino lsquoreligioacutenrsquo La que maacutes seaproxima euseacutebeia es definida por el sacerdote Eutifroacuten elprotagonista del diaacutelogo platoacutenico como lsquoel cuidado (therapeiacutea)que los hombres tienen para con los dioses (Platoacuten Eutifroacuten12 e)rsquo20

El campo lexical del verbo therapeuacuteo es la clave de estainterpretacioacuten curar cuidar velar honrar Esas son las marcas dela relacioacuten entre el hombre y la divinidad que determina ademaacutes ladiferencia estatutaria que venimos registrando A los hombres lescorresponde honrar a los dioses como modo de corroborar supertenencia al toacutepos humano En este sentido la experiencia delculto implica la persistencia del espacio humano determinada porla subordinacioacuten al aacutembito divino

Debemos comprender el significado general de ldquorespetarhonrar a la divinidad en las praacutecticas de culto nomiacutezein equivaldraacuteen definitiva a therapeuacuteein dedicar a la divinidad los oportunoscuidados ritualesrdquo21 En ese respeto y cuidado el hombre no soacutelo sedirige a los dioses sino que se respeta y cuida a siacute mismoconservando el puesto que la propia divinidad ha designado para elcolectivo humano

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Asiacute queda claro que ldquoEl nucleo de la relacioacuten entrehombres y divinidad de la lsquoreligioacutenrsquo y de la lsquofersquo de los griegosparece consistir en la observancia de los cultos y de los ritosprescritos por la tradicioacutenrdquo22 Ciertas prescripciones exhortacionesy prohibiciones pueden ser entendidas desde la dimensioacuten queacabamos de relevar Las marcas del cuidado toman la forma deuna observancia que tiene como objeto honrar a los dioses ygenerar en ellos el sentimiento de placer y felicidad de quien sesiente alabado Al mismo tiempo constituyen consejos para la vidade los hombres porque dan cuenta de una familiaridad con lodivino que trae como consecuencia beneficios en la vida ordinaria

Analizaremos una serie de versos que devuelvenprecisamente las marcas del cuidado

Nunca te atrevas a echar en cara la funesta pobreza que roe elcorazoacuten de los hombres regalo de los eternosBienaventurados23

Nunca al amanecer libes rojizo vino a Zeus con las manos sinlavar ni a los demaacutes Inmortales pues no te escucharaacuten yvolviendo la cara escupiraacuten sobre tus oraciones24

No engendres tus hijos a la vuelta de un funeral de malaguumlero sino al volver de un banquete de los Inmortales25

No te cortes en el banquete festivo de los dioses lo seco de loverde de tus cinco ramas con el brillante hierro26

No te burles de los misterios cuando asistas a humeantessacrificios sin duda tambieacuten un dios se venga de esto27

Esta familiaridad y convivialidad que venimos rastreandopuesta fundamentalmente en teacuterminos de ldquocuidadordquo no invalida elpaacutethos del temor En efecto ldquoesto no significa naturalmente queno existiese un profundo y radical temor a la divinidad y a sucapacidad de castigar las culpas de los hombres golpeaacutendoles a lolargo de su existencia e incluso de su descendenciardquo28

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3 LA VIDA TODA EN CLAVE RELIGIOSA

Definitivamente instalados en el texto hesioacutedico queremosarticular el viacutenculo hombre-divinidad en tres ejes en dondeclaramente se observa la presencia dominante de los dioses comoteloacuten de fondo de la vida en su conjunto La instancia fundacionalque supone el mito de las edades el trabajo como modo deinstalacioacuten de los hombres en su condicioacuten antropoloacutegica y lashuellas de una cotidianeidad que se revela de extrema familiaridadseraacuten los toacutepicos a tratar

EL MITO DE LAS EDADES DEL CUIDADO AL DESCONOCIMIENTO

Cuando Hesiacuteodo presenta el largo relato que da cuenta dela progresiva degradacioacuten humana en el marco de una claraintencioacuten didaacutectica29 comenta una convivialidad que parece tensarla reciprocidad entre hombres y dioses en un punto deseado deencuentro y familiaridad

Viviacutean como dioses con el corazoacuten libre de preocupacionessin fatiga ni miseria30

Los hombres de la raza de oro conocieron las delicias deesta proximidad y respondieron a ella con los debidos cuidadosque los dioses merecen por su condicioacuten de tales El clima esfestivo y el corazoacuten alcanza la mayor alegriacutea que el contacto conlos dioses aporta como recompensa extrema ldquoEllos contentos ytranquilos alternaban sus faenas con numerosos deleites Eranricos en rebantildeos y entrantildeables a los diosesrdquo31

El favor de los dioses se manifiesta en una vida cuasidivina sin la presencia de aquellos males y sufrimientos queconstituiraacuten el marco de la existencia de los hombres Los hombresquedaraacuten definitivamente sumidos en ese marco de desgracias ypesares cuando olviden su cuidado los dioses

Ahora bien seraacute precisamente ese toacutepico el que determinela peacuterdida de un estado de felicidad compartida y el pasaje a unestado otro donde el cuidado ha sido olvidado lo cual implica elpropio olvido de los dioses

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Pues no podiacutean apartar de entre ellos una violenciadesorbitada ni queriacutean rendir culto a los Inmortales ni hacersacrificios en los sagrados altares de los Bienaventuradoscomo es norma para los hombres por tradicioacuten A eacutestos maacutestarde los hundioacute Zeus Croacutenida irritado porque no daban lashonras debidas a los dioses bienaventurados que habitan elOlimpo32

Dejar de cuidar therapeuacuteo a los dioses es la forma maacutesacabada de dejar de cuidarse por esta torpeza la hyacutebris gana laescena y los hombres no cesan en sus males Dejar de rendir cultoa los dioses ignorar el sacrificio como la leccioacuten inaugural que elmito de Prometeo ensentildeara a los mortales y generara la divisioacutenentre hombres y dioses olvidar las normas ancestrales quesostienen la cohesioacuten de los mortales reunidos en comunidadrenunciar a dar las honras correspondientes son los olvidos del noreconocimiento no soacutelo de los dioses sino de siacute mismos comohombres ya que ser hombre implica ese paquete de obligaciones

De este modo cuando Hesiacuteodo culmina el relato del largocamino de la decadencia y la injusticia que va hilvanando eldestino de las cinco razas considerando la interpolacioacuten de la razade los heacuteroes abre un panorama desolador del campo de viacutenculostransidos por el conflicto33

RELIGIOSIDAD Y VIDA COTIDIANA

La presencia de los dioses en la vida cotidiana puede tomarla forma de la vigilancia

Despreciaraacuten a sus padres apenas se hagan viejos y lesinsultaraacuten con duras palabras cruelmente sin advertir lavigilancia de los dioses ndash no podriacutean dar el sustento debido asus padres ancianos aquellos [cuya justicia es la violencia ndash yunos saquearaacuten las ciudades de los otros]34

Los dioses tienen asiacute una presencia fuerte entre loshombres observando sus conductas y castigando en consecuencia

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Liacutemite y prudencia en Hesiacuteodo una mirada antropoloacutegica | Mariacutea Cecilia Colombani

Forma parte de su estatuto esta presencia que tambieacuten habla deuna familiaridad en el plano inmanente de la vigilancia

La divinidad estaacute presente custodiando las costumbres ydelineando con la recompensa o el castigo consecuentes ladimensioacuten moral de los hombres proclives a olvidar susobligaciones

Igualmente el que maltrata a un suplicante o a su hueacutesped osube al lecho de su hermano (para unirse ocultamente con suesposa incurriendo en falta) o insensatamente causa dantildeo alos hijos hueacuterfanos de aqueacutel y el que insulta a su padreanciano ya en el funesto umbral de la vejez dirigieacutendose a eacutelcon duras palabras sobre eacuteste ciertamente descarga el mismoZeus su ira y al final en pago por sus injustas acciones leimpone un duro castigo Pero tu aparta por completo tuespiacuteritu de estos delitos35

La divinidad se presenta siempre como el garante de unajusticia tanto coacutesmica como humana36

CONCLUSIONES

Hemos intentado pensar la problemaacutetica de la ira desdedistintos andariveles a partir de la relacioacuten que vincula al hombregriego con la divinidad

Nos propusimos relacionar el toacutepico mostrando coacutemo enel marco de la relacioacuten que se da entre los mortales y losInmortales el no reconocimiento y la transgresioacuten del registroontoloacutegico que los distingue y separa despierta la ira de los dioses

En segundo lugar vimos coacutemo el sentimiento de ira sevincula estrateacutegicamente con el proyecto didaacutectico moralizador queHesiacuteodo se propone dando respuesta a una demanda de su tiempohistoacuterico Asiacute la ira no se vincula con la coacutelera del dios en suestatuto supremo sino que se inscribe en un diagrama eacutetico queprioriza la virtud y la justicia como horizonte de un cierto ethos

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Caliacuteope Presenccedila Claacutessica | 20172 Ano XXXIV Numero 34

ABSTRACT Limit and Prudence in Hesiod an Anthropological View

The purpose of this paper is to read anthropologicaly therelation between Man and Divinity within the mythologicalthought of Arcaic Greece The presense of gods is the warrantythat beyond the apparent khaos there is Order of which Poetry isits most perfect expression Within the anthropological toacutepos twoaspects define the Greek experience of Divinity The first one isthe distance between humans and gods The second one is theassimilation and approximation to that divine world These twoaspects define Human condition We will demonstrate howtransgression and unrecognition to these aspects cause the wrathof the gods

KEYWORDS

Man Divinity Distance Approximation TransgressionUnrecognition

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Liacutemite y prudencia en Hesiacuteodo una mirada antropoloacutegica | Mariacutea Cecilia Colombani

BIBLIOGRAFIacuteACOLOMBANI MC Hesiacuteodo discurso y linaje una aproximacioacuten arqueoloacutegicaMar del Plata Universidad de Mar del Plata 2016______ Homero una introduccioacuten criacutetica Buenos Aires Santiago Arcos2005 DETIENNE M Los maestros de verdad en la Grecia arcaica Madrid Taurus1986______ Los jardines de Adonis Madrid Akal 1996DETIENNE M SISSA G La vida cotidiana de los dioses griegos MadridTemas de Hoy 1990GERNET L Antropologiacutea de la Grecia antigua Madrid Taurus 1981GIGON O Los oriacutegenes de la filosofiacutea griega de Hesiacuteodo a ParmeacutenidesMadrid Gredos 1985HESIacuteODO Obras y fragmentos Madrid Gredos Madrid 2000HESIOD Theogony Works and Days Testimonia Trans GW MostCambridge Loeb Classical Library London Harvard University Press 2007LIDDEL HG SCOTT R A Greek-English Lexicon Oxford Clarendoin Press1996LINtildeARES L Hesiacuteodo Teogoniacutea Trabajos y Diacuteas Edicioacuten bilinguumle BuenosAires Losada 2005NESCHKE A Dikegrave La philosophie poeacutetique du droit dans le ldquomythe des racesrdquod Heacutesiode In BLAISE F JUDET DE LA COMBE P ROUSSEAU P Le meacutetier dumythe lectures d Heacutesiode sous la direction de BLAISE F JUDET DE LA COMBEP ROUSSEAU P Paris Presse Universitaires du Septentrion vol 16 1993 p465-478VEGETTI M El hombre y los dioses In VERNANT J-P El hombre griegoMadrid Alianza 1993VERNANT J-P Los oriacutegenes del pensamiento griego Buenos Aires EUDEBA1976VIANELLO DE COacuteRDOVA P Hesiacuteodo Teogoniacutea Meacutexico Universidad NacionalAutoacutenoma de Meacutexico 1978

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1 GERNET 19812 Idem ibidem p 153 Idem ibidem p 164 VERNANT 1976 p 875 Idem ibidem p 876 GERNET 1981 p 157 Idem ibidem p 158 Idem ibidem p 169 DETIENNE SISSA 1990 p 5010 DETIENNE 198611 LINtildeARES 2005 p 336-33812 DETIENNE 1996 p 11213 LINtildeARES 2005 p 339-34214 COLOMBANI 2005b El tratamiento de Hesiacuteodo se inscribe iacutentegramente en unhorizonte antropoloacutegico-cultural donde el trabajo aparece como un hecho decultura que se inscribe en el marco de una legalidad coacutesmica que marca laciclicidad que abraza la dimensioacuten temporal del hombre 2005b15 VEGETTI 1993 p 29116 Idem ibidem p 292

17 Idem ibidem p 29218 Idem ibidem p 29319 COLOMBANI 2005a20 VEGETTI 1993 p 29321 Idem ibidem p 29322 VEGETTI 1993 p 29323 LINtildeARES 2005 p 717-71824 Idem ibidem p 724-72725 Idem ibidem p 735-73626 Idem ibidem p 743-74427 Idem ibidem p 755-75628 VEGETTI 1993 p 29429 COLOMBANI 2016 El texto analiza la dimensioacuten didaacutectica de Hesiacuteodo enrelacioacuten a la posibilidad de constitucioacuten del hombre prudente como modo dereparar la decadencia epocal en el marco de lo que podemos considerar unametaacutefora meacutedica la prudencia representa entonces el phaacutermakon para curar unasociedad enferma 201630 LINtildeARES 2005 p 111-11231 Idem ibidem p 118-12132 Idem ibidem p 133-13933 Coincidimos con Neschke A (1997) p 478 cuando analiza el mito de lasrazas desde la perspectiva de la exhortacioacuten de la poesiacutea didaacutectica perotambieacuten de la consolidacioacuten de una moral34 LINtildeARES 2005 p 185-19035 Idem ibidem p 328-33536 GIGON 1985 p 13-43 El problema del ser del todo del origen de la verdadde la transmisioacuten de la verdad y la perspectiva de un garante como aquel quevela por la conservacioacuten del orden y la justicia han sido los hilos que Gigon haencontrado para hilvanar el tapiz del Hesiacuteodo-filoacutesofo

Antigonersquos (mis)appropriations in Twentieth-Century Europe | Rossana Zetti

Antigonersquo s (mis )appropr ia t ions inTwentieth-Century Europe MemoryPolitics and ResistanceRossana Zetti

ABSTRACT

In this paper I will offer a historicized reading of Antigonersquosconceptualization as a political play by analysing its reception intwentieth-century Europe I will focus in particular on FriedrichHoumllderlinrsquos adaptation (1804) which is one of the very earliest post-Revolutionary witnesses to the political understanding of the play it isparticularly interesting because it provides a context for Bertolt Brechtrsquosand other twentieth-century adaptations of the myth and it represents acrucial step towards the current interpretative model in which Antigone isan icon of radical dissent and resistance Appropriated both by the Naziregime and by factions of the Resistance Houmllderlinrsquos Antigone wasexploited as a political subversive document or as representative of anationalistic classical tradition This account of the political reception ofSophoclesrsquo Antigone in the twentieth century will contribute to shed lighton the ideological climate which produced such a high number ofadaptations of the ancient play as well as on the reasons for itspertinence to twentieth-century temporal-political conditions

KEYWORDS

Antigone Reception Politicization Brecht Houmllderlin Sophocles

SUBMISSAtildeO 15 nov 2017 | PUBLICACcedilAtildeO 19 dez 2017

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1 INTRODUCTION amp CONTEXTUALIZATION

thol Fugard author of an adaptation of the Antigoneof Sophocles written during the apartheid period inSouth Africa claimed that Antigone is the ldquogreatestpolitical play of all timerdquo1 The political relevance ofthe ancient play considered by Hegel the closest toperfection2 has led to a fruitful interaction with thepresent facilitated by the urgency of politicalsituations in the contemporary world The Antigoneof Sophocles enjoys one of the richest performanceand reception histories it has been translated morethan fifty times into the English language in the lastcentury and it has been performed all around theworld3 The ancient myth has had a major influence

upon writers translators and playwrights of all periods and theambiguities of the play have lent to a variety of interpretations atdifferent times and in different contexts and places Antigone hascommunicated something different Despite such a versatilitycertain inherent characteristics of her tragic persona ndash her defianceof tyranny her rebellious spirit and her claim for human freedomndash have been appropriated again and again thus exemplifying theexistence of ldquofugitive humane communalitiesrdquo occurring acrosshistory4

However in order to understand why among other Greektragedies performed and adapted to the modern stage the Antigoneof Sophocles figures so prominently it is necessary to takedistance from the ldquomystification of Antigone as lsquouniversalrsquordquo5 Itsideas persist and resonate today as in the fifth century but theyhave been progressively changed and revisited in favour of apoliticization of the story precisely the relevance of theSophoclean play to contemporary political events has inspiredmany overtly political versions and imitations in the twentiethcentury The playrsquos plot and themes (Antigonersquos fight for ldquohumanrightsrdquo and autonomy her defiance of authority) enabled differentauthors to respond to various historical instances and politicalcontexts ranging in the twentieth century from Jean Anouilhrsquos

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A

Antigonersquos (mis)appropriations in Twentieth-Century Europe | Rossana Zetti

adaptation in wartime Paris to Bertolt Brechtrsquos adaptation in post-war Germany and Tom Paulinrsquos Irish adaptation The Riot Actperformed during the period of civil strife known as ldquotheTroublesrdquo ndash just to name a few6 The playrsquos spread and influenceare not confined only to the Western world the play attractedcross-cultural appeal even outside Europe where it was exploitedas a vehicle for contemporary political critique7

However Antigone has not always stood as the exemplaryicon of principled resistance and defiance against establishedauthority In spite of its political and revolutionary potential theancient myth was also appropriated by the Nazis for theirideological propaganda and it was presented as example of heroicand patriotic drama8 In particular the Antigone of Sophocles in thetranslation by Houmllderlin was frequently performed towards the endof the Second World War as example of ldquoheroic dramardquo insupport of Hitlerrsquos propaganda Although Houmllderlin did notproclaim the superiority of Germany over Greece as the leader ofthe West nor believed in the ldquoGreek characterrdquo inherent to theGermans his play was appropriated by the Nazis for theirproclamation of a ldquoracial kinship between Greeks and Germansrdquo9

At the same time Antigone was also appropriated byfactions of the Resistance which transformed the play into apolitical subversive document This tradition was followed byBertolt Brecht who upon the end of the Second World Warwrote an adaptation of the Antigone based on Houmllderlinrsquostranslation Through his reworking of the ancient original Brechtencouraged his audience to remember and reflect upon the recenttragedy of the Second World War in the attempt to unveil themechanisms behind the acquisition and dismantling of power atthe same time by adopting Houmllderlinrsquos text he denounced thedistorted readings and misappropriations of the play duringNazism With Brecht Sophoclesrsquo Antigone is established asldquocanonicalrdquo drama of political resistance

Studying the dynamics of remembrance and propagandabehind appropriations of Sophoclesrsquo Antigone is thereforeparticularly interesting the Antigone myth has been readapted and

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ldquorememberedrdquo in different ways to communicate different politicalideologies in the twentieth century a period characterized by civilwars dictatorships and resistance The politicization of Antigone inthese years is twofold ndash it served both the ideologicalinstrumentalization of the Nazis and the intellectual resistance It isin this period that Antigone becomes an icon of resistance andrevolt but it also becomes representative of a nationalistic classicaltradition Different responses to Sophoclesrsquo tragedy thereforereflect cultural and political shifts occurred in the twentiethcentury as well as different ways of interpreting andldquorememberingrdquo the ancient play No matter in what respectAntigonersquos performance in these years represents a political act

2 HOumlLDERLIN AND ANTIGONE

Of particular interest for my investigation of Antigonersquosreception and politicization in the twentieth century are the mainphilosophical theories developed around the Sophoclean play inthe early nineteenth century10 These readings affected by thepolitical circumstances of the French Revolution caused a breakwith the tradition and contributed to establish the currentinterpretative model of a ldquopoliticizedrdquo Antigone11 Antigone becomesthe great twentieth-century play which still affects us today thanksto two interpreters a poet (Houmllderlin) and a philosopher (Hegel)whose influential readings have irremediably shaped the way laterauthors experienced the play The ldquomodernrdquo Antigone would havebeen different without Hegel and Houmllderlin and ldquothephilosophical explorations of the Hegelian tradition might havealso acquired a different orientation without Antigonerdquo12

Contemporary to Hegel Houmllderlin wrote his highlyinnovative translation of the ancient Greek tragedy in 1804 Thistranslation represents a crucial step towards the currentinterpretative model of Antigone as an icon of radical resistance andit is a fundamental political and linguistic document it was used asa libretto for Carl Orffrsquos 1949 opera Antigonae ndash written under the

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Antigonersquos (mis)appropriations in Twentieth-Century Europe | Rossana Zetti

Nazi regime and initially financed by the Reich ndash and it was themodel-translation for Brechtrsquos own interpretation of the play13

Houmllderlinrsquos translation of Antigone has been notoriouslycharacterized for its extreme radicalism Scholars have identifiedmany errors and a striking philological inaccuracy14 Houmllderlinrsquoscommand of Greek was indeed ldquofar from perfectrdquo and he workedwith defective editions To Goethe and to Schiller Houmllderlinrsquostreatment of the Greek text gave palpable evidence of mentalcollapse which the poet endured between 1804 to his death in1843 ndash most likely heightened by the negative reception of histranslations of both Antigone and Oedipus der Tyrann criticized byhis contemporaries15

The rediscovery of the long neglected poet started at thebeginning of the twentieth century The first complete edition ofHoumllderlinrsquos Saumlmtliche Werke was published by Norbert vonHellingrath in six volumes between 1913 and 1923 Thispublication represents a decisive turning point in the reception ofHoumllderlinrsquos works they were not considered anymore as theproduct of a ldquosavagerdquo mind but rather the achievement of a uniquepoet and writer Since then different editions of Houmllderlinrsquos workshave appeared16 and critics praised the Romantic poet consideredpatriotically as exemplary of German honour and loyalty theldquopurestrdquo of poets17 The Antigone in the translation by Houmllderlinwas performed for the first time after its publication in Zurich in1919 and in Darmstadt in 192318

Yet it was in Nazi Germany that Sophoclesrsquo Antigonebecame the most popular classical work performed 150 timesbetween 1939 and 194419 As the war raged on Antigonesignificantly proclaimed ldquoI was born to join in love and not inhaterdquo20 The Sophoclean tragedy became an exemplary model forthe new heroic drama favoured by the Nazis celebrating the ideaof sacrifice and noble death for the fatherland productionsemphasized Antigonersquos patriotic loyalty to her family althoughthey sided with Creon representative of the principle of the state

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The success of Antigone in the repressive context of NaziGermany might seem at odds with the political themes of protestand resistance of the play how could authors conform Antigone tothe ideological manipulation imposed by the regime How is itpossible that the Antigone was so popular and the authorities didnot attempt to stop the proliferation of such a politically chargedplay Wi th Romain Rollandrsquos Aacute lrsquoAntigone eacuteternelle (1916) andWalter Hasencleverrsquos Antigone (1917) the heroine had beenestablished as a figure of pacifism as well as a critical politicalleader Yet it is necessary to take into account the long tradition ofGerman Classicism and cultural identification of Germany withancient Greece started with Winckelmann21 Hitler himself was aPhilhellenist and in his propagandistic book Mein Kampf he hadproclaimed Greece as universal cultural model epitome ofEuropean civilization and racial kin thus merging philhellenismwith nationalism and promoting the identification of the Germanswith the idealized people of ancient Greece22

The combination of Hellenism and Germanism can betraced back to Houmllderlinrsquos translation of Sophoclesrsquo AntigoneHoumllderlinrsquos translation of Sophoclesrsquo Antigone integrates theDionysiac Hellenic element with the German Apolloniancharacter in order to clarify and render intelligible the Greek pathosto the German more rational sensibility23 Houmllderlinrsquos emphasison the similarities between German and Greek cultures preciselyserved the Nazi cause to reinforce nationalistic propaganda duringthe war

In his Notes to Antigone Houmllderlin emphasizes that tragedyemerges at times of revolution in human thinking and feeling ofldquopatriotic reversalrdquo (vaterlaumlndische Umkehr)24 Tragedy as well ashistory is built from the beginning to the end on a series ofdialectic oppositions each generating a dramatic revaluation ofmoral values and political power-relations In Houmllderlinrsquosreinterpretation the opposition between Creon and Antigone ispolitical Antigonersquos act is referred to as Aufstand (ldquouprisingrdquo orldquoinsurrectionrdquo) a politically pregnant word which reveals therevolutionary and political aspiration of his translation25

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Antigonersquos (mis)appropriations in Twentieth-Century Europe | Rossana Zetti

Houmllderlinrsquos translation is itself the product of years characterizedby revolutions Antigonersquos rebellion reflects the FrenchRevolution which is exemplary of a public enactment of such areversal and Creonrsquos final manhandling by his servants can beparalleled to the execution of Louis XVI26 According to Houmllderlina revolution causes a collision whose outcome is a balancedopposition as the play ultimately reaches a (Hegelian) synthesis sorevolutions ultimately bring about a political change in the form ofgovernment and the es tabl ishment of a republikanischeVernunftsform27

The relation between ldquoAntigonersquos revolutionrdquo andldquocontemporary revolutionsrdquo is consolidated by the idea ofVaterland (ldquofatherlandrdquo ldquocommunityrdquo) a sense of patrioticrelevance and nationalism According to Houmllderlin the Germansneed to express their national tendency and at the same timerepress it to give space to the foreign element the pathos of theGreeks only by engaging with the alien can modern poetrybecome ldquopatrioticrdquo (vaterlaumlndisch) and express the originality andauthenticity of the nation itself These principles guide his owntranslation of the play which attempts to clarify and renderintelligible the Greek spirituality in a process called by Houmllderlinldquothe reversal of all modes and forms of representationrdquo28

The Nazis appropriated Houmllderlinrsquos ldquopatrioticrdquo idea of dasVaterlaumlndische and transformed the German poet into an exampleof spiritual leader and patriotic self-sacrifice thus reinvigoratingthe idea of a strong and culturally dominant Germany29 Thecombination of Greek and German elements was exploited assource of ultranationalist pride in the effort to preserve German-Western culture against threatening barbarian influences from theEast thus creating a ldquocultural collective memoryrdquo and heritagedirectly linked to the classics30

The performance of Greek tragedies was thereforelegitimized and approved in the Nazi period In particular Antigonebecame the exemplary model of ldquoheroic dramardquo The ldquoheroicdramardquo was a new dramatic form conceptualized in Germany inthe 1930s which emphasized ideas of patriotism and self-sacrifice

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in order to strengthen the nationalism and unity of Germany in thewake of the imminent war In his essay ldquoThe ImmortalConversation on the Tragic Dramaturgy as the Law of NordicCulturerdquo (1937) Rainer Schloumlsser explained the relevance ofSophoclesrsquo tragedies exemplary of this ldquoNordic attituderdquo ofheroism and noble death31 In May 1933 in his speech ldquoRede vorden deutschen Buhnenleiternrdquo Goebbels proclaimed theldquoheroicnessrdquo of German art

Die deutsche Kunst des naumlchsten Jahrzehnts wird heroischwird staumlhlern-romantisch wird sentimentalitaumltslos sachlichwird national mit groszligem Pathos sie wird gemeinsamverpflichtend und bindend sein oder sie wird nicht sein32

On 22 June 1940 Paris surrendered and the victoriousGerman army marched into Berlin on 6 July 1940 the great victorywas celebrated by Hitler at the Krolloper in Berlin33 In the autumnof 1940 two almost simultaneous productions of Antigone wereperformed in Berlin and Vienna34 The 1940-1941 theatrical seasonopened in Berlin with Karlheinz Strouxrsquos Antigone whichpremiered on 3 September 1940 at the Berliner StaatlichesSchauspielhaus where the TieckMendelssohn production had beenshown multiple times Stroux relied on Roman Woernerrsquostranslation which facilitated the understanding of the text andcontributed to render it accessible to the public ndash by contrast withHoumllderlinrsquos obscure translation

Karlheinz Strouxrsquos reading of the play did not follow thestandard ldquointerpretationrdquo imposed by the Nazis but transgressedand contradicted the dominant ideology Rather than classicalGreece the stage designs reminded critics of an oriental or pre-Hellenic culture Antigone was interpreted by Marianne Hoppeand was addressed and presented as Greek whereas Creoninterpreted by Walter Frank was dressed as an Oriental king Theracial kinship was inverted Antigone a female was presented asthe Aryan-Greek model and Creon the ruler as a barbarian35

Although critics maintained that ldquothe tragedy does not correspondto the standards of the sacrosanct idea of the staterdquo36 the classical

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Antigonersquos (mis)appropriations in Twentieth-Century Europe | Rossana Zetti

subject matter the mystic stage and stylized acting did not prompta direct identification with the story rather they allowed the authorto discuss indirectly contemporary political issues while avoidingcensorship

Particularly resonant was the Antigone directed in Vienna in1940 by Lothar Muumlthel followed by other five performances inFrankfurt (1941) Leipzig (1942) Vienna (1943) Goumlttingen (1944)and Stuttgart (1944) In correspondence with the centenary of thepoetrsquos death on 7 June 1943 patriotic celebrations occurred acrossGermany Antigone was performed in Vienna and the Houmllderlinsociety was founded in Stuttgart Goebbels was appointedldquohonorary patron of the Societyrdquo and Hitler ordered to place ldquoacommemorative wreath hellip in his name on Houmllderlinrsquos grave inTuumlbingenrdquo37 Antigone was even performed in 1944 a few monthsbefore Goebbels ordered the closure of all theatres In occasion ofthe 1944 production of Antigone in Stuttgart a newspaper wrotethat ldquotwo and a half thousand years of Western culture are nowpreserved and defended by Herzland Europardquo38

Therefore although the potential subversive character ofAntigonersquos rebellion which emerges for example in Strouxrsquosreading of the play Antigone was exploited and mis-interpreted bythe Nazis who relied upon Houmllderlinrsquos ldquopatrioticrdquo and ldquoheroicrdquoideas of fatherland Through the Nazisrsquo reading Houmllderlin gainedpowerful ideological resonance and became a nationalist icon ofGerman Nazism Brecht speaks in his Arbeitsjournal of ldquothenationalistic element intolerable to usrdquo imposed by Hitler in thereading of German poets such as Schiller and Houmllderlin39

Houmllderlinrsquos translation of the ancient play was recommended byBrechtrsquos collaborator Caspar Neher who had watched in Hamburgthe first post-war production of Antigone in the translation of theGerman poet (1946)40 This production received particularlypositive responses by the critics who claimed that ldquoHoumllderlin isthe more Greek of allrdquo and intended to convey the ldquoturmoil thepolitical the republican the revolutionary which Houmllderlin alwayssaw in Antigonerdquo41

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In using Houmllderlinrsquos translation but developing a radicallydifferent reading Brecht opposed the Nazisrsquo use of Houmllderlinrsquosplay as the epitome of the vaterlandisch ldquoa way of imagining theworld from a nationalistic perspectiverdquo42 The indeed oppositeappropriation of the play by Brecht reveals the pliability of theAntigone narrative and is paradigmatic of the politicizing of themyth

3 BRECHT AND ANTIGONE

Brechtrsquos version draws closely on Sophoclesrsquo text buttransforms the Greek narrative in an analysis of modern classstruggle Brecht explicitly challenges the nationalistic uses of theSophoclean play which he felt incompatible with the complexitiesof post-war Germany Although appropriated by the Nazis duringthe war for its nationalistic appeal the text also responded toBrechtrsquos desire to oppose to the classical reading of the play andto distance himself from the purely classical-humanist andldquobourgeoisrdquo interest in Greek tragedy

As he explains in the preface to his own Modelbuch43 Brechtavoided an easy identification of the conflict with one between theindividual and the (Nazi) totalitarian regime He refused to equateAntigone with German resistance fighters who fought against theNazis nor could Antigone be interpreted as a ldquomoral playrdquo or asrepresentative of religion humanity or the individual in relation tothe state44 As he suggests in the preface of the Antigonemodell thechoice of the material relied both on the possibility to raiseinteresting formal problems through the ancient play and on itspolitical relevance45

The focus of the play shifts from the conflict between theindividual and the state to the disintegration of the society-polis andthe ldquoscattering of destructionrdquo left by war Brechtrsquos play shows thatwars are determined by questions of profit and imperialistic greedthus drawing an explicit parallel with the Second World WarCreon is a corrupt imperialistic tyrant leading an aggressive waragainst Argos to control its mines His power is maintained

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Antigonersquos (mis)appropriations in Twentieth-Century Europe | Rossana Zetti

through violence and an aggressive policy justified by a rhetoric ofhonour and race In his reinterpretation Brecht emphasizes theviolence implicated in both the ruling class including the wealthychorus of elders and Antigone who loses her dominant role sheis presented as a privileged upper class woman who has also beencomplicit to Creonrsquos crimes46 The heroine merely serves to throwinto relief Creon addressed by his lackeys as ldquomein Fuumlhrerrdquo andhis repressive government dominated by thievery and exploitation

The Sophoclean catastrophe thus becomes in Brechtrsquosreinterpretation an allegory of the decline of the Third Reich andNational Socialism as well as an analysis of societyrsquos mechanismsT h e emphasis on violence and destructions provoked by wardemonstrates Brechtrsquos self-conscious attempt to reflect upon thedisaster of the recent war and to explore issues of responsibility ndashcollaboration and resistance ndash during the years of the SecondWorld War

Through his reworking of the Sophoclean play Brecht aimsto awaken the critical spirit of his audience the play becomes apretext to reflect upon the recent past and to remember that pastIssues of memory recur throughout the play even the title TheAntigone of Sophocles after Houmllderlinrsquos translation adapted for the stage byBrecht represents an act of remembrance and links Brechtrsquos namewith Sophoclesrsquo and Houmllderlinrsquos47

In the parodos of Brechtrsquos Antigone the chorus of Thebanelders celebrates the victory over Argos and encourages the peopleto forget the recent war

Und nach dem Kriege hier Macht die Vergessenheit ausIn alle GoumlttertempelMit Choumlren die Nacht durchKommt her Und Thebe die Bloszlige im LorbeerschurzErschuumltternd herrsche der Bacchusreigen48

The ldquodrink of oblivionrdquo proffered by Bacchus allows thepeople thirsting for peace to rejoice in the illusory celebrationsand to forget about the deaths and destructions caused by the war

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However such a call for forgetting is a cover up manipulated byCreon in order to camouflage the reality the much praised victoryis in fact a lie because the war is not over The eagerness to forget isopposed to Antigonersquos determination to remember the past theheroine insists that it is important to remember the disasters of thepast in order to avoid their repetition in the future In the firstscene of the play Antigone disapproves of her sister Ismene forher the tragedy of their brothersrsquo death is already ldquoa yesterdaythingrdquo49

On the one hand Brecht accuses the spectators ofcomplicity and his Antigone becomes an indictment to thosepeople who wished to forget the past and to those ldquoordinaryrdquoGermans who failed to act under Hitlerrsquos regime and chose not tosee giving tacit consent to his crimes on the other he questionsthe validity of an Antigone-like-act and -death in the context ofBerlin 1945 Brecht himself did not ldquoactrdquo but decided to fleeGermany rather than staying and facing certain death He waswatching the events from a distance during his exile50

The final lesson offered by Brechtrsquos play is indeed nihilisticand pessimistic in the original the chorus praise wisdom whichman can achieve though self-knowledge with old age and throughsubmission to the gods51 in the modern version instead the fall ofThebes could have been avoided and it is presented as the result ofa conscious self-destructive choice It is human greed and lustwhich ultimately transform man in a ldquomonsterrdquo to himselfincapable of becoming ldquobecome wiserdquo even in old age52

Brechtrsquos tragedy teaches that man will repeat the sameerrors reiterated in the updated version of the story unless manremembers the past the sacrifice of innumerable Antigones ndash orGerman resistance fighters ndash will be useless Brecht appropriatesthe Antigone story as political instrument to reflect upon humanactions and more precisely upon the ldquomonstrousrdquo actions andchoices enacted by each single individual during the tragic years ofthe Second World War Once more classics serve as a platform tocomment upon past and present events and to question issues ofmoral choice and responsibility

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Antigonersquos (mis)appropriations in Twentieth-Century Europe | Rossana Zetti

The influence of Brechtrsquos play extends beyond itsimmediate impact His version is as important as the original forthe creation of later politicized Antigones and showed the way toother adaptations that reflected on political issues of dissent andresistance

4 CONCLUSIONS

The twentieth-century reception of Sophoclesrsquo Antigoneshows how a work of art can be re-interpreted and ldquorememberedrdquoin different ways in order to fulfill a certain political agenda andpropaganda It is not only the past itself that matters but the waysin which this past is consciously re-interpreted and exploited toremember and shape contemporary events Antigone still matterstoday because of the chain of political reinterpretations that hashelped authors and audiences to remember and reflect upon thepresent through the powerful voices of heroes of the past

The ldquouses and abusesrdquo of Houmllderlinrsquos version areexemplary of the different ways of remembering the past througha work of art and of the distorting ways of using classics duringtotalitarianisms53 The play was then re-used by Brecht for differentpurposes through his adaptation of Antigone Brecht hoped to re-awaken the critical thinking of his audience and to provide themwith the instruments necessary to unveil the workings of ideologyand dictatorships It is questionable whether these and otherAntigones anchored to the history of the twentieth century havecontributed to effectively instigate a political change andsentiments of revolt or nationalism in their audiences Indeed it isundeniable that the political directions taken by the play in the lastcentury have underscored the playrsquos relevance and granted itsendurance to the present day

The playrsquos reception in this century proves the greatpolitical potentiality and versatility of a play like Antigone adaptedand staged in correspondence with important historical andpolitical events The political aspect already present in thearchetypical figure of a woman who alone defies the authority of

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the State has been uncovered by playwrights and directors whohave demonstrated that the Antigone of Sophocles is appropriatenot only to describe situations as they occurred in the twentiethcentury but it belongs to any time and place as John Kaniacknowledges

Antigone addresses itself to any corner of the world where thehuman spirit is being oppressed where people sit in jailbecause of their fight for human dignity for freedom54

These versions became a sort of ldquooriginalrdquo in their ownright and were able to turn the stage into a place where the distantpast could be revived and remembered theatre and the politicaluse of classics worked as a vehicle for memory

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Antigonersquos (mis)appropriations in Twentieth-Century Europe | Rossana Zetti

ABSTRACT

Le (mis)interpretazioni di Antigone nellEuropa del ventesimosecolo Memoria Politica e Resistenza

In questo articolo si propone unrsquoanalisi del processostorico che ha portato alla concettualizzazione dellrsquo Antigone diSofocle come opera politica attraverso lrsquoanalisi della sua ricezionein Europa nel ventesimo secolo Mi concentrerograve in particolare sullatraduzione di Friedrich Houmllderlin (1804) che rappresenta una delleprime testimonianze post-rivoluzionare della politicizzazione dellastoria di Antigone egrave quindi particolarmente interessante in quantofornisce un contesto per le interpretazioni del mito da parte diBertolt Brecht e di altri autori del ventesimo secolo e rappresentaun passo cruciale verso lrsquoattuale modello interpretativo di Antigonecome icona di dissenso e resistenza radicale Appropriata sia dalregime nazista che da fazioni della Resistenza lrsquoAntigone diHoumllderlin fu sfruttata come documento politico e sovversivo ecome icona di una tradizione classica nazionalista Questoresoconto della ricezione politica dellrsquoAntigone di Sofocle nelventesimo secolo contribuiragrave a far luce sul clima ideologico che haprodotto un cosigrave grande numero di interpretazioni dellrsquooperaantica noncheacute sulle ragioni della sua pertinenza alle condizionisocio-politiche di questo secolo

PAROLE CHIAVE

Antigone Ricezione Politicizzazione Brecht Houmllderlin Sofocle

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25 HOumlLDERLIN 2001 p 7326 According to UNGER 1984 p 2 Houmllderlin showed ldquoa growing interest in and enthusiasm for the intellectual and political ideals of the French Revolutionrdquo expressed through his poetry and especially the Hymns to the Ideals of Mankind LOUTH 1998 p 155 remarks that Houmllderlinrsquos present is ldquodetermined by the French revolution and by Greek antiquityrdquo As STEINER 1984 p 81 observes this virtual manhandling is a motif entirely invented by Houmllderlin 27 HOumlLDERLIN 1963 p 676 28 PFAU 1988 p 11429 FLASHAR 2009 p 14130 See ZIOLKOWSKI 2000 p 555 FLASHAR 2009 p 16431 See FISCHER-LICHTE 2017 p 16732 Quoted in LOHSE 2006 p 16033 On the historical context see LOHSE 2006 p 152-15334 On these productions of Antigone see LOHSE 2006 p 151-186 FLASHAR 2009p 165-168 On Strouxrsquos Antigone see FISCHER-LICHTE 2017 p 171-17935 See FISCHER-LICHTE 2017 p 17736 FISCHER-LICHTE 2017 p 17637 SAVAGE 2008 p 5 In this occasion patriotic celebration occurred acrossGermany and a special edition of Houmllderlinrsquos poems was prepared by Beiszligner 38 Trans From FLASHAR 2009 p 16539 Trans RORRISON WILLETT 1993 p 30640 On this production see CASTELLARI 2011 p 156-157 See remarks in BRECHT 1988 p 12 ldquoAuf Rat von Cas nehme ich die Houmllderlinische Uumlbertragung die wenig oder nicht gespielt wirdrdquo Brecht was not aware of the theatrical success of the play during the Nazi period see FLASHAR 2009 p 141 FISCHER-LICHTE 2017 p 166-182 41 FISCHER-LICHTE 2017 p 18742 GOLDHILL 2012 p 15143 The Antigonemodell 1948 opens with a programmatic foreword it includesdrawings by Neher a sequence of images from the scene photographed by RuthBerlau in 1948 with captions in hexameters (the so called Bruumlckenverse whichform the Antigone-Legende) notes by Brecht and the full text of Antigone Inaddition the Modellbuch explains Brechtrsquos and Neherrsquos choices for the settingcostumes way of acting and moving of the performers See BRECHT 1988 p47-5544 BRECHT 1988 p 48 ldquodie groszlige Figur des Widerstands im antiken Dramarepraumlsentiert nicht die Kaumlmpfer des deutschen Widerstands die uns ambedeutendsten erscheinen muumlssenrdquo45 BRECHT 1988 p 48 ldquoFuumlr das vorliegende theatralische Unternehmen wurdedas Antigonedrama ausgewaumlhlt weil es stofflich eine gewisse Aktualitaumlt erlangenkonnte und formal interessante Aufgaben stellterdquo 46 On Brechtrsquos use of the chorus see REVERMANN 201347 On the implications and problems of citation raised in this title which allows Brecht to avoid plagiarism see SAVAGE 2006 p 153-155 TAXIDOU 2008 p 245 On Brechtrsquos ldquothieveryrdquo see BROWN 197848 BRECHT 1977 p 19 for an English translation see BRECHT 2003 p 1249 BRECHT 2003 p 12 For the original see BRECHT 1977 p 18 ldquoSchon ist erdir Gestrigesrdquo50 Brecht forced to leave his homeland when Hitler came to power because ofhis communist affiliation returned to Europe in October 1947 after years ofexile spent in Scandinavia and in the United States51 SOPHOCLES Antigone 1348-135352 In the first line of the second stasimon (SOPHOCLES Antigone 332) theSophoclean choral ode defines ldquomany thingsrdquo as δεινότερον the adjectivedeinos means ldquoformidablerdquo in the ambivalent connotation of ldquoclevermarvellousrdquo but also ldquofearful terriblerdquo Brecht renders the Greek deina withthe German ungeheuer which points exclusively to the ldquomonstrosityrdquo of man53 I borrow the formulation ldquouses and abusesrdquo from FLEMING 200654 John Kani collaborated with Athol Fugard in the South-African production ofAntigone entitled The Island Here John Kani in an interview with Martin Phillipsin Feb 2000 quoted in MEE FOLEY 2011 p 6

Significado e estrutura do argumento do terceiro homem [] | Guilherme da C A Ceciacutelio

Significado e estrutura do argumento doterceiro homem no Parmecircnides de Platatildeo Guilherme da Costa Assunccedilatildeo Ceciacutelio

RESUMO

O argumento do terceiro homem presente no Parmecircnides constituiuma formidaacutevel objeccedilatildeo agrave teoria das ideias agrave qual Platatildeo natildeoapresentou resposta expliacutecita Na primeira parte deste trabalhotrataremos brevemente da cronologia dos diaacutelogos platocircnicosprocurando situar o Parmecircnides numa ordenaccedilatildeo pelo menosplausiacutevel Em seguida analisaremos detalhadamente o argumentodo terceiro homem tal como se encontra redigido no ParmecircnidesApreciaremos tambeacutem o significado dessa objeccedilatildeo quandoconsiderada sob o prisma da funccedilatildeo causal das ideias

PALAVRAS-CHAVE

Teoria das Ideias Parmecircnides argumento do terceiro homemautopredicaccedilatildeo causalidade

SUBMISSAtildeO 29 set 2017 | PUBLICACcedilAtildeO 21 dez 2017

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Caliacuteope Presenccedila Claacutessica | 20172 Ano XXXIV Numero 34

1 INTRODUCcedilAtildeO

Parmecircnides eacute provavelmente o mais enigmaacutetico dosdiaacutelogos platocircnicos A primeira parte da obra consisteno coloacutequio entre o ceacutelebre eleata e um Soacutecrates aindabastante jovem esse propotildee e procura defender ateoria ontoloacutegica que viemos a conhecer sob o roacutetulode teoria das ideias1 agrave qual entretanto Parmecircnidesmove uma cerradiacutessima criacutetica

As objeccedilotildees contra aquela que veio a ser amais ceacutelebre das doutrinas de Platatildeo satildeo tantas e tatildeograves que natildeo deixa de surpreender quandoParmecircnides subitamente interrompe o curso de suademolidora criacutetica para encorajar o seu joveminterlocutor

Entretanto Soacutecrates disse Parmecircnides se algueacutem por outrolado ao atentar para todas as coisas mencionadas haacute pouco epara outras desse tipo natildeo admitir que haja formas dos serese natildeo separar uma forma de cada coisa uma nem sequer teraacutepara onde voltar o pensamento uma vez que natildeo admitiraacutehaver uma ideia sempre a mesma de cada um dos seres eassim arruinaraacute absolutamente o poder do dialogar Pareces-me seguramente estar ciente e muito de tal coisaDizes a verdade disse ele Que faraacutes entatildeo da filosofia Para onde te voltaraacutes sendoestas coisas desconhecidas Acho que natildeo vejo bem pelo menos no presente Eacute que Soacutecrates disse ele tentas cedo demais antes de teexercitares [gumnasqh=nai] separar um belo e um justo e umbem e cada coisa uma dentre as formas Pois me dei contadisso bem recentemente ouvindo-te aqui dialogar comAristoacuteteles aqui presente Pois fica sabendo que realmente eacutebelo e divino esse ardor que lanccedilas sobre os argumentos Masesforccedila-te e exercita-te [gumnasai] mais enquanto ainda eacutesjovem por meio disso que pela maioria eacute tido como inutil echamado de tagarelice Se natildeo a verdade te escaparaacute2

A passagem citada marca uma importante divisatildeo nodiaacutelogo a partir desse ponto a obra muda de feiccedilatildeo consistindoentatildeo numa longa e aacuterida demonstraccedilatildeo do tipo de exerciacutecio ndash

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O

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gumnasia ndash que Parmecircnides sugerira como meacutetodo para alcanccedilar averdade O sentido de tal gumnasia eacute poreacutem tatildeo ou mais abstrusoquanto a criacutetica agrave teoria das ideias que ocupa a primeira parte dodiaacutelogo

Sendo assim natildeo satildeo poucos os desafios que a obra impotildeeao exegeta Apesar das muitas e seacuterias dificuldades uma seccedilatildeo dodiaacutelogo tem praticamente monopolizado a atenccedilatildeo da criacuteticacontemporacircnea a saber a passagem que conteacutem o argumento doterceiro homem3 Esse argumento cuja denominaccedilatildeo nos foilegada por Aristoacuteteles4 refere-se a uma determinada espeacutecie deobjeccedilatildeo capaz de suscitar o regresso infinito das ideias platocircnicasHaacute na verdade dois argumentos desse tipo no Parmecircnides5 Estetrabalho visa examinar justamente um desses argumentos

Haacute trecircs tipos de tarefas bem diferentes para o inteacuterprete doterceiro homem A primeira eacute procurar compreender bem aestrutura do argumento e nos ocuparemos aqui dessa questatildeo asegunda tarefa eacute avaliar o sentido da aporia isto eacute o peso que essaobjeccedilatildeo possa ter para a teoria das ideias e tambeacutem a issodedicaremos nossa atenccedilatildeo por fim eacute possiacutevel ainda investigar setal aporia pode ou natildeo pode ser resolvida e se a filosofia platocircnicaestaria em condiccedilotildees de apresentar-lhe uma soluccedilatildeo essa questatildeoeacute sem duvida muito mais complexa e natildeo seraacute contemplada nestetrabalho

2 CONSIDERACcedilOtildeES PRELIMINARES 21 CRONOLOGIA E A POSICcedilAtildeO DO PARMEcircNIDES

O estudioso de Platatildeo natildeo pode deixar de se posicionardiante de algumas questotildees Especialmente quem aborda o terceirohomem e o Parmecircnides deve tratar da cronologia dos diaacutelogosvexata quaestio ainda que o faccedila de modo marginal

O advento da estilometria trouxe novas ferramentas aoestudo do corpus platonicum cujo valor eacute dificilmente contestaacutevelMas como se sabe natildeo eacute possiacutevel obter uma ordenaccedilatildeo estrita dosdiaacutelogos unicamente a partir de dados estilomeacutetricos Alinhamo-nos portanto com a tendecircncia geral dos comentadores de

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reconhecer trecircs grandes grupos de diaacutelogos que remetem aosperiacuteodos da juventude maturidade e velhice de Platatildeo

O Parmecircnides eacute normalmente considerado uma obra detransiccedilatildeo entre a maturidade e a velhice platocircnica Determinartodavia a sua exata posiccedilatildeo relativamente aos diaacutelogos dessas duasfases eacute uma tarefa muito mais complexa Natildeo sendo possiacutevelrecorrer agrave estilometria em casos como esse os estudiososfrequentemente socorrem-se de hipoacuteteses doutrinaacuterias para dataros diaacutelogos a questatildeo doutrinaacuteria mais relevante para o Parmecircnideseacute a criacutetica agrave teoria das ideias a que se assiste na primeira parte daobra Parmecircnides I6

Embora as ordenaccedilotildees variem um pouco de comentadorpara comentador em geral se aceita que o Parmecircnides seja por umlado posterior a pelo menos algumas das grandes composiccedilotildees damaturidade de Platatildeo tais como Repuacuteblica Feacutedon e Banquete poroutro lado o diaacutelogo possivelmente antecederia o Teeteto SofistaPoliacutetico Timeu Filebo e Leis

22 PARMEcircNIDES E A TEORIA DAS IDEIAS

Eacute consensual que o Parmecircnides seja um diaacutelogo de transiccedilatildeoentre as obras de maturidade e de velhice talvez a grandereferecircncia para a determinaccedilatildeo desses periacuteodos O consensoporeacutem se desfaz quando se trata de apreciar as relaccedilotildees do diaacutelogocom a questatildeo (doutrinaacuteria) da teoria das ideias e sua supostaevoluccedilatildeo

Haacute de um lado aqueles que sustentam que Platatildeo jamaisrenunciou agrave sua teoria ontoloacutegica a despeito das autocriacuteticasconsignadas no Parmecircnides E haacute por outro lado os que veemnesse diaacutelogo o marco do abandono da concepccedilatildeo das ideias7

esses ultimos ainda podem ser subdivididos em dois grupos arespeito dos quais vale a pena ler o ludico relato de ConstanceMeinwald8

A very unhappy story of Platorsquos career has been increasingly out offashion in the last half-century (Though as is often the case with oldfashions it continued to be followed by people out of the circle of the

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trendsetters) In this most unhappy story Plato started writing with agracious compliment to his master The high literary achievement of themiddle-period works coincided with a philosophical high point a headyand confident time of glorious dogmatism Then after a major crisis inwhich he attacked and actually destroyed the theory that was hismasterpiece Plato spent his last years in extensive critical activity Hisnow-failing literary powers produced the late dialogues as a record of thisbarren final period A second and completely opposite story has been invogue more recently [] This second kind of interpretation whichreceived perhaps its greatest impetus from Gilbert Ryle regards the theoryof Forms of the middle period as a hopelessly flawed creation whosehopelessness was realized by Plato himself in the Parmenides He wasthen in a position to do some good philosophy in the late period Thisstory is in a way happier but the attribution to Plato of a middle theorythat can only be nonsense is a problem [] Opposite as they are thesestories have something crucial in common that the Parmenides recordsPlatorsquos realization of the unviability of a determinate theory of Formscontained in the middle dialogues and so ushers in a late period whoseprogram would have to be entirely different from that of the middleworks

Mas atualmente nenhum desses dois tipos deinterpretaccedilatildeo eacute dominante A proacutepria Meinwald9 oferece umaleitura do Parmecircnides que considera as suas criacuteticas como aporias aserem resolvidas mas que nem por isso implicam a rejeiccedilatildeo docerne da doutrina das ideias

De nossa parte cremos que Platatildeo jamais abandonou ateoria das ideias ou sequer alterou-a a tal ponto que as ideiasdeixassem de ser entes subsistentes e independentes do homem Eacuteevidente que defender semelhante posiccedilatildeo de modo exaustivoredundaria num trabalho aacuterduo e demasiado extenso

Uma meta mais modesta mas que contribui para o sucessodesta empresa geral eacute mostrar que a aporia do terceiro homemnatildeo constitui uma objeccedilatildeo inescapaacutevel Sendo assim eacute plausiacutevelque Platatildeo natildeo tenha precisado renunciar agrave sua teoria ontoloacutegicapelo menos no que diz respeito agraves dificuldades que o terceirohomem lhe opotildee Eacute claro que demonstrar essa teseadequadamente envolve examinar detidamente o Parmecircnides o quenatildeo nos cabe fazer neste momento introdutoacuterio Mas antes

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mesmo de abordarmos o diaacutelogo eacute possiacutevel apresentar umargumento externo por assim dizer em apoio agrave tese de que essaobra natildeo seja o marco do abandono da doutrina das ideias

Mesmo que natildeo se lance matildeo do Timeu como contraprovaincontrovertiacutevel da permanecircncia das ideias no corpus platonicumevitando assim a querela da sua dataccedilatildeo e por outro ladodeixando de lado a exegese de passagens controversas de diaacutelogoscomo o Sofista Filebo e Leis sem embargo ainda resta umargumento convincente e o que eacute melhor bastante simples

Dentre os que receberam a obra do filoacutesofo naAntiguidade jamais houve quem supusesse que Platatildeo tivesserenunciado agraves ideias Ademais o seu maior criacutetico Aristoacuteteles natildeoteria deixado de no-lo relatar caso isso houvesse ocorrido Defato que melhor sinal da falecircncia da teoria que ele tanto criticavado que o abandono da mesma por parte de seu autor10

Dito isto eacute contudo razoaacutevel supor algum grau demodificaccedilatildeo na concepccedilatildeo das ideias talvez mais insensato do quesupor o abandono da teoria das ideias seja supor que ao longoduma obra tatildeo vasta certos aspectos natildeo tenham sido repensadose ajustados Apreciar todavia o alcance dessas alteraccedilotildees excedecompletamente o escopo deste trabalho11

23 CAUSALIDADE

Cabe ainda uma ultima consideraccedilatildeo de caraacuteter geral Aotratar da teoria das ideias acreditamos ser impossiacutevel abrir matildeo danoccedilatildeo de causa ai0tia Efetivamente neste trabalho faremos largouso da expressatildeo fato que demanda uma explicaccedilatildeo preacutevia paraevitarmos uma seacuterie de graves mal-entendidos

Alguns platonistas manifestam certa resistecircncia ao usodesse termo de certa forma isso eacute compreensiacutevel uma vez quecomo sabe o estudioso de filosofia antiga ele eacute bastante ambiacuteguoPor um lado o modo como eacute entendido nos dias de hoje serestringe fundamentalmente ao conceito de causa eficiente o qualestaacute longe de exprimir toda a valecircncia do termo ai0tia por outrolado pode-se argumentar que Platatildeo natildeo possui propriamente uma

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Significado e estrutura do argumento do terceiro homem [] | Guilherme da C A Ceciacutelio

teoria das causas o que soacute se atingiu com Aristoacuteteles Sendo assimargumentam alguns conviria evitar a problemaacutetica expressatildeo

Noacutes pelo contraacuterio afirmamos que ao recorrer agrave noccedilatildeo decausa o inteacuterprete ganha muito mais do que eventualmente perdeTrata-se na verdade dum conceito indispensaacutevel para quem lidacom a teoria das ideias de que outro modo descrever a funccedilatildeo dasideias com relaccedilatildeo agraves realidades sensiacuteveis senatildeo como uma funccedilatildeocausal12 E natildeo se trata apenas dum recurso exegeacutetico do qual ointeacuterprete lanccedilaria matildeo como que a despeito da letra do textoPlatatildeo utiliza largamente o termo ai0tia tratando-se ateacute mesmodum problema de traduccedilatildeo Cabem todavia algumas ressalvas

Dizer que as ideias tenham funccedilatildeo causal natildeo significaafirmar que Platatildeo tenha expliacutecita e exaustivamente tratado dotema coisa que como jaacute referimos soacute vem a ocorrer comAristoacuteteles

Aleacutem disso impende ressaltar que defender a funccedilatildeo causaldas ideias natildeo implica de modo algum comprometer-se com oecircxito completo de tal funccedilatildeo Sendo assim o que sustentamos eacuteque a teoria das ideias eacute indissociaacutevel de um esforccedilo de explicaccedilatildeocausal julgar o sucesso de semelhante esforccedilo eacute jaacute outra questatildeo agravequal natildeo poderemos nos dedicar aqui

Sendo assim a noccedilatildeo de causalidade com quetrabalharemos poderia ter por equivalente a noccedilatildeo deldquoresponsabilidaderdquo que talvez possua a vantagem de indicar ocaraacuteter necessaacuterio mas natildeo suficiente das ideias para a explicaccedilatildeode determinado dado sensiacutevel Assim por exemplo a ideia demesa eacute um item necessaacuterio para explicar uma mesa sensiacutevel masnatildeo suficiente a explicaccedilatildeo completa dessa requer ainda nomiacutenimo um agente e um material

Feitas essas consideraccedilotildees podemos nos voltar para onosso objeto de estudo o argumento do terceiro homem tal comoo formulou Platatildeo no Parmecircnides

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3 O ARGUMENTO DO TERCEIRO HOMEM

31 RECONSTRUCcedilAtildeO DO ARGUMENTO DO TERCEIRO HOMEM

Antes de avaliarmos o peso da objeccedilatildeo do terceiro homemp a r a a filosofia de Platatildeo eacute indispensaacutevel compreendecirc-laadequadamente Leiamos pois em primeiro lugar o trechorelevante do diaacutelogo

Creio que tu crecircs que cada forma eacute uma pelo seguintequando algumas coisas multiplas te parecem ser grandestalvez te pareccedila a ti que as olhas todas haver uma certa ideiauma e a mesma em todas donde acreditas o grande ser umDizes a verdade disse ele Mas e quanto ao grande mesmo e agraves outras coisas grandesSe olhares da mesma maneira com a alma para todos essesnatildeo apareceraacute de novo um grande um em virtude do qual eacutenecessaacuterio todas aquelas coisas aparecerem como grandesParece que simLogo uma outra forma de grandeza apareceraacute surgindo aolado da grandeza mesma e das coisas que desta participam Esobre todas essas apareceraacute de novo outra de modo a emvirtude dela todas essas serem grandes E natildeo mais seraacute umacada uma das tuas formas mas ilimitadas em quantidade13

Para evidenciar a estrutura loacutegica do trecho supracitadovalemo-nos do importante estudo de Gregory Vlastos14 mastambeacutem de contribuiccedilotildees de outros estudiosos Eis o esquema quepropomos

(i) O dado de base eacute uma multiplicidade (indiviacuteduos a b cetc) que possui determinada propriedade F (ii) ldquoum sobre muitosrdquo15 a essa multiplicidade correspondeuma unidade a ideia F-dade em virtude da qual amultiplicidade possui a propriedade F(iii) autopredicaccedilatildeo F-dade eacute F (iv) natildeo identidade se x possui a propriedade F x natildeocoincide com F a forma em virtude da qual x possui F

De acordo com (iii) a proacutepria ideia F-dade eacute F logo elapode ser o substituto da variaacutevel x em (iv) o que impotildee aexistecircncia de uma nova forma F-dade1 que sirva como substituto

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da variaacutevel F Como F-dade1 estaacute sujeita agrave autopredicaccedilatildeo F-dade1

tambeacutem pode substituir a variaacutevel x na premissa (iv) instaurando-se assim o regresso infinito das formas

Conveacutem agora cotejarmos a nossa reconstruccedilatildeo doargumento com o texto do ldquoParmecircnidesrdquo

Os passos (i) e (ii) encontram correspondecircncia nestaafirmaccedilatildeo

Creio que tu crecircs que cada forma eacute uma pelo seguintequando algumas coisas multiplas te parecem ser grandestalvez te pareccedila a ti que as olhas todas haver uma certa ideiauma e a mesma em todas donde acreditas o grande ser um16

Nela estaacute contido o dado de base isto eacute a existecircncia devaacuterias coisas sensiacuteveis que satildeo grandes ou seja uma multiplicidadeempiacuterica de indiviacuteduos dotados da propriedade F Ta lmultiplicidade se explica por referecircncia a ldquouma certa ideia uma e amesmardquo a ideia de grandeza ou em geral F-dade trata-se aqui doprinciacutepio do ldquoum sobre muitosrdquo

Quanto agrave autopredicaccedilatildeo cremos que ela opere noseguinte trecho

Mas e quanto ao grande mesmo e agraves outras coisas grandesSe olhares da mesma maneira com a alma para todos essesnatildeo apareceraacute de novo um grande um em virtude do qual eacutenecessaacuterio todas aquelas coisas aparecerem como grandes17

Parmecircnides sugere que o ldquogrande mesmordquo (auto to mega)isto eacute a ideia de grandeza e ldquoas outras coisas grandesrdquo (ta]lla tamegala) isto eacute a multiplicidade sensiacutevel de que se partiu sejamconsideradas ldquoda mesma maneirardquo expressatildeo que traduz oadveacuterbio grego w9sautwj aqui parece residir um sinal daautopredicaccedilatildeo18 Segundo o que fora haacute pouco admitido as coisassensiacuteveis satildeo grandes considerar ldquoda mesma maneirardquo - w9sautwj -a ideia de grandeza soacute poderia significar entatildeo predicar tambeacutemdela o ldquogranderdquo ou seja a autopredicaccedilatildeo

A autopredicaccedilatildeo eacute ainda mais visiacutevel na conclusatildeo doargumento

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Logo uma outra forma de grandeza apareceraacute surgindo aolado da grandeza mesma e das coisas que desta participam Esobre todas essas apareceraacute de novo outra de modo a emvirtude dela todas essas serem19 grandes E natildeo mais seraacuteuma cada uma das tuas formas mas ilimitadas emquantidade20

Na frase ldquotodas essas serem grandesrdquo (tau=ta panta megalae1stai) a referecircncia de ldquotodasrdquo patentemente inclui a ideia degrandeza de que se partiu bem como outras ideias de grandezaderivadas do regressus isto eacute afirma-se que as ideias de grandeza satildeograndes

Jaacute o princiacutepio de natildeo identidade estaacute apenas impliacutecito emtodo o trecho mas nem por isso ele eacute menos operante Bem aocontraacuterio sobre ele estaacute fundada toda a argumentaccedilatildeo a suposiccedilatildeoinicial de que existe uma ideia para dar conta duma multiplicidadeque possui a propriedade F estaacute baseada na convicccedilatildeo de que aposse dessa propriedade se explica por referecircncia a um indiviacuteduopor assim dizer externo ao grupo de indiviacuteduos caracterizados porF e quando a proacutepria ideia passa a ser caracterizada por F(autopredicaccedilatildeo) a mesma convicccedilatildeo impotildee a existecircncia dumanova ideia

Sendo assim estamos aptos a concluir que o terceirohomem tal como ele estaacute redigido no Parmecircnides conteacutem osprinciacutepios que acabamos de expor21 redundando portanto nadeflagraccedilatildeo de seacuteries infinitas de ideias platocircnicas isto eacute de acordocom as premissas do argumento cada propriedade F gera oconjunto infinito F-dade1 F-dade2 F-dade3 onde F-dade eacute umavariaacutevel que representa ideias platocircnicas

Antes de avanccedilarmos conveacutem prestarmos algunsesclarecimentos gerais acerca do terceiro homem e dos princiacutepiosque o constituem

32 OBSERVACcedilOtildeES TERMINOLOacuteGICAS

O famoso princiacutepio da autopredicaccedilatildeo eacute tambeacutem chamadopor alguns de princiacutepio da autoexemplificaccedilatildeo22 Isso reflete a

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tentativa em si mesma correta de evitar o sabor linguiacutestico daexpressatildeo ldquoautopredicaccedilatildeordquo De fato predicaccedilatildeo eacute algo que aprinciacutepio diz respeito somente agrave linguagem mas as ideias natildeo satildeoentes linguiacutesticos natildeo satildeo predicados que se predicam de simesmos23 Ao contraacuterio o termo ldquoautoexemplificaccedilatildeordquo indicariaque se trata de um ente que se autoexemplifica isto eacute manifesta apropriedade a si associada a beleza exemplifica o belo etc

Embora concordemos com ta l observaccedilatildeo aautopredicaccedilatildeo jaacute eacute uma expressatildeo consolidada de modo quepreferimos mantecirc-la para natildeo acrescentar mais um elementocomplicador agrave discussatildeo

Analogamente alguns sugerem que a expressatildeo ldquonatildeoidentidaderdquo eacute infeliz o melhor nome para o princiacutepio seria ldquonatildeoautoexplicaccedilatildeordquo (non-self-explanation)24 porque o princiacutepio reza quese um determinado ente x possui a propriedade F a posse de F natildeopode ser explicada com apelo ao proacuteprio x sendo preciso um outroente ou seja y em funccedilatildeo do qual x possui F em suma a posse deuma propriedade natildeo se explica por referecircncia ao proacuteprioindiviacuteduo que a possui

Tal como no caso da autopredicaccedilatildeo mesmo concordandocom as ressalvas preferimos nos ater agrave terminologia consagradanesse caso o princiacutepio da natildeo identidade

4 SIGNIFICADO DO REGRESSO INFINITO NO PARMEcircNIDES

Eacute possiacutevel dividir o Parmecircnides em duas partes A primeiranarra o encontro verdadeiro acontecimento da filosofia nascentede Zenatildeo Parmecircnides e Soacutecrates que supostamente teria tidolugar por ocasiatildeo da visita dos eleatas a Atenas A segunda parteconteacutem a seacuterie de hipoacuteteses e deduccedilotildees que a personagem tiacutetuloleva a cabo na companhia dum jovem Aristoacuteteles homocircnimo doestagirita

Parmecircnides I consiste na apresentaccedilatildeo publica duma hipoacuteteseontoloacutegica seu propositor eacute um jovem promissor Soacutecrates quevecirc todavia sua hipoacutetese ser severamente criticada pelo experienteParmecircnides Trata-se dum momento privilegiado se eacute verdade que

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o corpus platonicum eacute perpassado pela discussatildeo das ideias elassempre surgem in medias res estando tacitamente suposto que osinterlocutores jaacute estariam familiarizados com as ideias antes que odiaacutelogo houvesse comeccedilado No Parmecircnides a teoria das ideias eacuteverdadeiramente apresentada aleacutem disso os interlocutores satildeoverdadeiros expertos capazes de discuti-la criticamente

Embora se trate duma discussatildeo muito breve quaseapressada pode-se haurir de Parmecircnides I o acircmago da teoria dasideias suas metas e sobretudo as aporias a ela relacionadas

A essecircncia da teoria estaacute presente na primeira intervenccedilatildeode Parmecircnides

Soacutecrates disse quatildeo digno eacutes de ser admirado pelo ardor quetens pelos argumentos Mas dize-me tu mesmo assim fizestea divisatildeo tal como falas de um lado certas formas mesmas deoutro as coisas que delas participam [metexonta] E te parecea semelhanccedila mesma ser algo separada da semelhanccedila quetemos e tambeacutem o um e as multiplas coisas e todas as coisasque haacute pouco ouviste de ZenatildeoParece-me que sim disse SoacutecratesSeraacute que tambeacutem disse Parmecircnides coisas tais como umacerta forma em si e por si do justo e tambeacutem do belo e dobom e ainda de todas coisas desse tipoSim disse ele25

Trata-se duma teoria ontoloacutegica que opera uma divisatildeo noreal de um lado certos entes as ideias e de outro as coisassensiacuteveis Essa dicotomia deve ser poreacutem nuanccedilada existetambeacutem algum tipo de relaccedilatildeo entre os dois polos como se sabePlatatildeo expressou tal relaccedilatildeo com vaacuterios termos mas o mais ceacutelebrede todos eacute a participaccedilatildeo meqecij

Mas dize-me o seguinte parece-te como dizes haver certasformas em tendo participaccedilatildeo [metalambanonta] nas quaisessas outras coisas aqui recebem suas denominaccedilotildees Porexemplo se tecircm participaccedilatildeo [metalabonta] na semelhanccedilaas coisas se tornam semelhantes se na grandeza grandes seno belo e na justiccedila justas e belasPerfeitamente disse Soacutecrates26

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Passagens como essa sintetizam bem a razatildeo de ser dahipoacutetese das ideias visa-se explicar as caracteriacutesticas das coisassensiacuteveis tais como a grandeza a justiccedila etc Destarte a teoria dasideias forneceria um fundamento seguro para um dado sensiacutevelbruto as coisas sensiacuteveis satildeo sim grandes ou justas e elas o satildeoporque participam da ideia de grandeza ou da ideia de justiccedila Essanos parece ser uma explicaccedilatildeo de tipo causal eacute graccedilas agraves ideias queas coisas sensiacuteveis possuem suas propriedades27 E semelhantefunccedilatildeo causal das ideias eacute tambeacutem expressa ainda queresumidamente em outras passagens do Parmecircnides28 Dito issovoltemo-nos para o terceiro homem

Defendemos que os princiacutepios contidos no argumento doterceiro homem natildeo interagem de modo a produzir qualquercontradiccedilatildeo em sentido estrito como pretendeu Vlastos masunicamente um regressus ad infinitum Cabe agora nos determos umpouco mais no significado do regresso O problema pode serresumido na seguinte questatildeo por que ele seria indesejaacutevel oumesmo temiacutevel Vejamos mais uma vez o proacuteprio texto dodiaacutelogo

Creio que tu crecircs que cada forma eacute uma pelo seguinte quandoalgumas coisas multiplas te parecem ser grandes talvez tepareccedila a ti que as olhas todas haver uma certa ideia uma e amesma em todas donde acreditas o grande ser umDizes a verdade disse ele Mas e quanto ao grande mesmo e agraves outras coisas grandesSe olhares da mesma maneira com a alma para todos essesnatildeo apareceraacute de novo um grande um em virtude do qual eacutenecessaacuterio todas aquelas coisas aparecerem como grandesParece que simLogo uma outra forma de grandeza apareceraacute surgindo aolado da grandeza mesma e das coisas que desta participam Esobre todas essas apareceraacute de novo outra de modo a emvirtude dela todas essas parecerem grandes E natildeo mais seraacuteu m a c a d a uma das tuas formas mas ilimitadas emquantidade29

Mantivemos na citaccedilatildeo o grifo proposto pelos tradutoresdo diaacutelogo nas palavras ldquoumrdquoldquoumardquo correspondentes do

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numeral ei[j mia e3n De fato a noccedilatildeo de unidade numeacuterica eacuteessencial para o argumento ldquonatildeo mais seraacute uma cada uma das tuasformas mas ilimitadas em quantidaderdquo eacute a acusaccedilatildeo do velhoeleata

O tema do uno e do multiplo tem importacircncia capital noplatonismo De algum modo eacute essa a questatildeo que resume a teoriadas ideias uma teoria que supotildee uma unidade para explicar umamultiplicidade que natildeo eacute capaz de explicar-se a si mesma Massalientar a relevacircncia da questatildeo unomultiplo natildeo resolve ainda oproblema se natildeo se der uma explicaccedilatildeo do sentido exato dessapolaridade Em nossa opiniatildeo a unica resposta satisfatoacuteria tem dese apoiar sobre a noccedilatildeo de causa

A ideia eacute de algum modo responsaacutevel pela multiplicidadeldquoum grande um em virtude do qual eacute necessaacuterio todas aquelascoisas aparecerem como grandes [] ([]e3n ti [] mega []w |[tau=ta panta megala fainesqai []rdquo A ideia a unidade eacute aquilo emvirtude do que o multiplo eacute tal como ele eacute

Poder-se-ia levantar aqui uma dificuldade No trechocitado atribui-se agrave ideia de grandeza o poder de fazer as coisassensiacuteveis ldquoaparecerem [fainesqai] como grandesrdquo isto eacute a ideianatildeo faria com que a multiplicidade sensiacutevel seja grande Em outrostermos o que se tem expressis verbis eacute uma causalidade um tantocuriosa tratar-se-ia da causa do conhecer ou do perceber certacaracteriacutestica si licet duma causalidade epistemoloacutegica

Tal tipo de visatildeo nos parece equivocada A causalidade queas ideias tecircm de desempenhar eacute uma ldquocausalidade ontoloacutegicardquo asideias devem ser causa do ser das coisas e natildeo apenas dapercepccedilatildeo do sujeito Se assim natildeo fosse chegar-se-ia finalmenteaos antiacutepodas do platonismo as coisas sensiacuteveis jaacute estariamconstituiacutedas sem o contributo das ideias as quais serviriamunicamente para que o sujeito percebesse ou conhecesse osensiacutevel30

No entanto natildeo se deve conceder demasiada atenccedilatildeo aocaraacuteter fenomecircnico do verbo na passagem supracitada podemosargumentar que o sensiacutevel soacute aparece de determinado modoporque ele eacute desse modo e assim ele eacute em virtude das ideias A

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conclusatildeo do argumento retira qualquer duvida ldquoE sobre todasessas apareceraacute de novo outra de modo a em virtude dela todasessas serem grandes (kai e0pi toutoij au] pa=sin e3teron w[| tau=tapanta megala e1stai)rdquo31

Dito isso estaacute aberto o horizonte para a determinaccedilatildeo dareal natureza e forccedila da aporia do terceiro homem Natildeo se tratacomo defendeu Vlastos em seu artigo de 1954 duma fatalcontradiccedilatildeo mas sim dum regressus ad infinitum cujo sentido soacute sedesvela na associaccedilatildeo com a noccedilatildeo de causalidade entendida domodo ora defendido

O jovem Soacutecrates acaba de propor a hipoacutetese das ideias eParmecircnides lhe objeta dentre outras coisas que ela estaacute enredadanum regresso infinito Soacutecrates poderia talvez dar de ombros econtra-argumentar que enquanto for possiacutevel explicar determinadacaracteriacutestica presente na multiplicidade por exemplo a grandezapouco lhe importa que haja infinitas formas responsaacuteveis(causalmente) pela grandeza Se se atentar apenas para o ponto devista da proposiccedilatildeo duma hipoacutetese o regressus poderia ser vistocomo um constrangimento mas natildeo necessariamente como umaobjeccedilatildeo inescapaacutevel Quando se considera poreacutem o papel que anoccedilatildeo de causalidade desempenha no argumento eacute possiacutevelapreciar a verdadeira forccedila do terceiro homem

A hipoacutetese de Soacutecrates consiste em que determinadacaracteriacutestica tal como a grandeza que se encontra em multiplascoisas sensiacuteveis requer uma ideia em virtude da qual essas coisassensiacuteveis satildeo grandes Mas como a ideia de grandeza eacute por via daautopredicaccedilatildeo grande tambeacutem ela necessita duma ideia que seja acausa do fato de ela ser grande Se ex hypothesi terminasse aqui aseacuterie talvez natildeo houvesse problema haveria apenas um caso suigeneris em que uma propriedade exigiria duas ideias como causaEntretanto a segunda ideia a ideia de grandeza1 tambeacutem ela eacutegrande exigindo uma nova ideia que seja sua causa e assimsucessivamente Como poreacutem o que estaacute em jogo eacute um nexocausal a noccedilatildeo do ldquoassim sucessivamenterdquo torna-se imediatamentecriacutetica porque significa que nenhuma ideia se impotildee como causadaiacute resultando que nenhum efeito chegaria a ser causado dizer que

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determinado grupo de indiviacuteduos natildeo se explica por si mesmo eexige uma ideia em virtude da qual aquela multiplicidade se daacuteequivale a dizer que sem essa ideia a multiplicidade eacute que natildeo sedaacute a ideia eacute condiccedilatildeo sine qua non de determinada multiplicidade

Em suma o problema do regresso eacute justamente o seucaraacuteter infinito se natildeo fosse infinito haveria uma certa forma natildeoimporta ldquosobrerdquo quantas outras formas que seria a causa de tudoque ldquosobrdquo si se encontra Mas o caraacuteter infinito do regressoimpede justamente isso que haja a forma que seja a causa ultima(ou primeira como se preferir) da propriedade em questatildeo

A hipoacutetese de Soacutecrates parte dum fato haacute um grupo decoisas sensiacuteveis (a b c etc) caracterizadas todas elas por umpredicado F ests eacute o explanandum Trata-se do explanandumprecisamente porque estaacute suposto que uma multiplicidadecaracterizada por F natildeo se explica por si mesma nenhum de seusmembros eacute capaz de figurar como causa do fato de que ele mesmoe os demais membros desta multiplicidade possuem a caracteriacutesticaF sendo exigido portanto um explanans a ideia F-dade Mas F-dade tambeacutem possui a propriedade F a autopredicaccedilatildeo redundapois na inclusatildeo da ideia o explanans no grupo de coisas quecaracterizadas por F portanto no explanandum Tal operaccedilatildeo ainclusatildeo do explanans no explanandum eacute decisiva e ela se repete adinfinitum sempre que se postular uma nova ideia que se esperariaque funcionasse como definitivo explanans nesse exato momentoela recai no explanandum

A estrateacutegia de Parmecircnides ao formular essa aporia eacutemostrar que a doutrina das ideias em cujo acircmago estaacute a intenccedilatildeode explicar determinada multiplicidade sensiacutevel pode ser revertidae levada agrave autodestruiccedilatildeo precisamente no tocante agrave sua pretensatildeocausal Embora o argumento do terceiro homem natildeo revele umacontradiccedilatildeo stricto sensu inserida na teoria das ideias ele constituisem duvida uma temiacutevel dificuldade capaz de tornar supeacuterflua aproacutepria hipoacutetese das ideias

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ABSTRACT The Significance and Structure of the Third Man Argument inPlatos Parmenides

The Third Man Argument found in the Parmenides is aformidable objection to the Theory of Forms to which Plato didnot provide an explicit answer In the first part of this paper webriefly discuss the chronology of the Platonic dialogues trying tolocate the Parmenides in at least a plausible position We thenscrutinize the Third Man argument as it appears in the ParmenidesWe also evaluate the significance of the referred objectionespecially from the perspective of the Formsrsquo causal role

KEYWORDS

Theory of Forms Parmenides The Third Man Argument Self-predication Causality

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REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS BURNET John Platonis opera Oxford Clarendon Press 1967CHERNISS Harold The Relation of the Timaeus to Platos Later Dialogues TheAmerican Journal of Philology v 78 n 3 1957 p 225-266 COHEN Marc The Logic of the Third Man The Philosophical Review v 80n 4 1971 p 448-475 CORNFORD F M Plato and the Parmenides Parmenidesrsquo Way of Truth andPlatorsquos Parmenides translated with an introduction and a running commentaryLondon Routledge amp Kegan Paul 1939FERRARI Franco Parmenide Milano BUR 2007 FRONTEROTTA Francesco ΜΕΘΕΞΙΣ La teoria platonica delle Idee e lapartecipazione delle cose empiriche - Dai dialoghi giovanili al Parmenide PisaScuola Normale Superiore 2001GUTHRIE W K C A History of Greek Philosophy Later Plato and theAcademy Cambridge Cambridge University Press 1978JAEGER Werner Aristotelis Metaphysica Oxford Oxford University Press1957MEINWALD Constance Good-bye to Third Man in KRAUT Richard TheCambridge Companion to Plato New York Cambridge University Press1993 p 365-396MORAVCSIK Julius Recollecting the Theory of Forms in WERKMEISTER W HFacets of Platorsquos Philosophy Assen Van Gorcum 1976 p 1-20OWEN GEL The Place of Timaeus in Platorsquos Dialogues Classical Quarterlyv 3 n 12 1953 p 79-95PETERSON Sandra A Reasonable Self-Predication Premise for the Third ManArgument The Philosophical Review v 82 n 4 1973 p 451-470PLATAtildeO Parmecircnides Traduccedilatildeo introduccedilatildeo e notas de Maura Igleacutesias eFernando Rodrigues Satildeo Paulo Loyola 2003SAYRE Kenneth Platorsquos Late Ontology a Riddle Resolved Las VegasParmenides Publishing 2005 SILVERMAN Allan The Dialectic of Essence a Study of Platorsquos MetaphysicsPrinceton Princeton University Press 2002 STRANG Colin Plato and the Third Man Proceedings of the AristotelianSociety v 37 1963 p 147-164VLASTOS Gregory The Third Man Argument in the Parmenides ThePhilosophical Review v 63 n3 1954 p 319-349______ Platorsquos lsquoThird Manrsquo Argument (Parm 132 A1-B2) Text and Logic ThePhilosophical Quarterly v 19 n 77 1969 p 289-301 ______ Platonic Studies Princeton Princeton University Press 1981 (1aed 1973)

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1 Sabe-se que a expressatildeo ldquoteoria das Ideiasrdquo eacute puramente didaacutetica natildeoencontrando paralelo nos textos de Platatildeo Servimo-nos livremente dela nesteartigo por julgar que feitas certas ressalvas ela eacute inofensiva e tambeacutem util Eacuteevidente que ao falarmos de ldquoteoria das Ideiasrdquo natildeo pretendemos atribuir aPlatatildeo um tratamento perfeitamente sistemaacutetico da questatildeo das Ideias o termoldquoteoriardquo certamente natildeo estaacute sendo usada no mesmo sentido que em ldquoteoria darelatividaderdquo por exemplo Contudo eacute inegaacutevel que se encontra espalhadapelos escritos de Platatildeo a recorrente afirmaccedilatildeo de que existem certos entesinteligiacuteveis eacute pois conveniente chamar de ldquoteoriardquo o conjunto destasafirmaccedilotildees acerca das Ideias ou se se preferir eacute possiacutevel fazer-lhe referecircnciacom as expressotildees ldquodoutrinardquo ou ldquohipoacutetese das Ideiasrdquo2 PLATAtildeO Parmecircnides 135b-d3 Talvez sua fama seja ainda maior ldquothe most famous argument in ancient philosophyrdquo(SILVERMAN 2002 p 110 apud FERRARI 2007 p 64) 4 ARISTOacuteTELES Metafiacutesica 990b15-17 Para um inventaacuterio da histoacuteria doargumento do Terceiro Homem ver CORNFORD 1939 p 87-955 PLATAtildeO Parmecircnides 131e-132b e 132d-133a6 Chamaremos de Parmecircnides I a primeira parte do diaacutelogo (126a-137c) em que ojovem Soacutecrates vecirc sua hipoacutetese das Ideias ser atacada pelos eleatas e deParmecircnides II (137c-166c) a seccedilatildeo que conteacutem as diversas ldquohipoacutetesesrdquo Propomostal divisatildeo de modo didaacutetico sem nos comprometermos com hipoacutetesesheterodoxas tais como a que foi propugnada por Sayre o qual sustentalanccedilando matildeo inclusive duma abordagem estilomeacutetrica que Parmecircnides I tenhasido escrito num periacuteodo anterior e distante do periacuteodo de composiccedilatildeo deParmecircnides II cf SAYRE 2005 p 256-2717 Neste caso eacute indispensaacutevel fornecer alguma interpretaccedilatildeo dos diaacutelogoscomumente aceitos como sendo posteriores ao Parmecircnides O Teeteto constitui umrelevante sustentaacuteculo para tal linha exegeacutetica uma vez que natildeo conteacutem clarasreferecircncias agraves Ideias o Sofista eacute por sua vez frequentemente objeto deinterpretaccedilotildees deflacionaacuterias no tocante agraves Ideias as quais nestes casos tecircm oseu estatuto de realidades subsistentes e transcendentes posto em xeque emfavor do seu caraacuteter loacutegico-linguiacutestico O Filebo patenteia uma ldquonova ontologiardquoou pelo menos introduz novos termos que nem sempre satildeo facilmenteharmonizaacuteveis com a teoria das Ideias em sua versatildeo standard Quanto ao Timeudiaacutelogo que poderia resolver a controveacutersia uma vez que sua linguagem eacute emtudo semelhante agrave das grandes obras do periacuteodo maduro de Platatildeo emergiu noseacuteculo XX uma querela acerca de sua dataccedilatildeo Seria temeraacuterio entrarmos nosdetalhes dessa discussatildeo mas grosso modo defendeu-se que o Timeu natildeo estivesseentre os diaacutelogos da velhice e sim fizesse parte do periacuteodo da maturidadeResolver-se-ia assim o grande entrave agraves teses mais radicais acerca da evoluccedilatildeoda filosofia de Platatildeo cf OWEN 1953 CHERNISS 19578 MEINWALD 1993 p 389-3909 Idem ibidem p 39010 Guthrie (1978 p 60) apresenta um argumento semelhante 11 Remetemos a Fronterotta (2001) para uma interessante e soacutebria anaacutelise daldquoevoluccedilatildeordquo da teoria das Ideias segundo a qual a teoria se modificou sem jamaisrenunciar ao seu nucleo a saber a condiccedilatildeo subsistente e transcendente dasIdeias 12 O locus claacutessico eacute Feacutedon 96a-105c mas referecircncias agrave etiologia podem serencontradas em muitos lugares Eis algumas das passagens mais significativasPLATAtildeO Repuacuteblica 507a-509c PLATAtildeO Timeu 18a-b 28a 28b-c 29d-30a PLATAtildeOFilebo 26e-27c Ver tambeacutem FERRARI 2007 p 39-4113 PLATAtildeO Parmecircnides 132a-b14 Neste importante artigo Vlastos (1994) defendeu a tese radical de que aobjeccedilatildeo do Terceiro Homem redundaria numa contradiccedilatildeo stricto sensu entreduas das premissas do argumento posiccedilatildeo errocircnea que ele mais tarde veio aretificar neste outro importante artigo sobre o tema Vlastos 1969Empreendemos uma anaacutelise detalhada destes trabalhos de Vlastos num artigoque publicado pela revista Claacutessica ndash Revista Brasileira de Estudos Claacutessicos

15 Este princiacutepio eacute explorado por comentadores de liacutengua inglesa sob o nomeldquoOne over Manyrdquo frequentemente abreviado ldquoOMrdquo cf STRANG 1963 COHEN1971 16 PLATAtildeO Parmecircnides 132a17 PLATAtildeO Parmecircnides 132a18 Assim o observa Franco Ferrari (2007 p 217 nota 50)19 Permitimo-nos substituir aqui a opccedilatildeo dos tradutores ldquopareceremrdquo porldquoseremrdquo uma vez que no grego se tem a forma verbal e1stai20 PLATAtildeO Parmecircnides 132a-b21 Ativemo-nos agrave ldquoprimeira versatildeordquo do Terceiro Homem presente no Parmecircnidesjulgamo-nos dispensados de fazer a mesma anaacutelise da ldquosegunda versatildeordquondashcontida em Parmecircnides 132c-133a ndash porque tal como Vlastos acreditamos queambas as ldquoversotildeesrdquo conteacutem as mesmas etapas loacutegicas 22 Em inglecircs self-exemplification cf MORAVCSIK 197623 O proacuteprio Vlastos (1969 p 300 n 36) reconhece a utilidade de semelhantedistinccedilatildeo ldquoI so labelled this assumption in 1954 under Taylors influence who hadidentified it uncritically with the closely related assumption that a character can be predicatedof itself which generated the Russellian paradox Since I did not impute just this assumptionto Plato ndash I was not maintaining that what was predicated of F-ness was F-ness itself insteadof F ndash I should have made it clear then [hellip] that Self-Predication if used at all could onlybe used with a certain licence As Sellars had pointed out (1955 p 414) the assumptionwhich is being made here ldquowould be formulated more correctly as The adjective correspondingto the name of any Form can correctly be predicated of that Formrdquo Some such label asHomocharacterization would have been more exact and I have tried at times to switch to thisin lectures and seminars But Self-Predication is now firmly entrenched in the literature and Isee no harm in its continuing use subject to the above provisordquo24 cf PETERSON 1973 p 45325 PLATAtildeO Parmecircnides 130a-b26 PLATAtildeO Parmecircnides 130e-131a27 Como aludimos no item 23 deste trabalho ao utilizarmos aqui a noccedilatildeo decausalidade natildeo nos comprometemos com o ecircxito completo da funccedilatildeo causaldas Ideias ou da doutrina da participaccedilatildeo a qual eacute como sabemos pelo proacuteprioParmecircnides uma doutrina eivada de problemas Quando afirmamos que as Ideiassatildeo causa do sensiacutevel queremos significar apenas que elas satildeo um elementonecessaacuterio mas natildeo suficiente para que as coisas sensiacuteveis sejam tais como satildeoAssim se dizemos que a Ideia de Mesa eacute causa da mesa de madeira certamenteela natildeo eacute o unico elemento responsaacutevel pela mesa de madeira sendoindispensaacuteveis tambeacutem a proacutepria madeira e um artesatildeo28 cf PLATAtildeO Parmecircnides 128e-129a PLATAtildeO Parmecircnides 131c-d29 PLATAtildeO Parmecircnides 132a-b30 Tal posiccedilatildeo que remete agraves interpretaccedilotildees neokantianas da filosofia de Platatildeo eacute firmemente contestada por Francesco Fronterotta (2001 p 206-222)31 Traduccedilatildeo ligeiramente modificada

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Identidad ritual y performance unanaacutelisis de los primeiros dos versos deSuplicantes de Esquilo1

Mariacutea del Pilar Fernaacutendez Deagustini

RESUMEN

La recitacion que acompana la marcha anapestica (v 1-39) que dainicio a la performance de Suplicantes de Esquilo presenta dos de lostres componentes baacutesicos de un himno2 epiacuteklesis (v 1-3) y eucheacute (v23-39) La epiacuteklesis indirecta (Er-Stil v 1- 2) establece el contactoentre los hablantes ndash las Danaides que integran el coro ndash y eldestinatario divino ndash Zeus ndash confiriendole a la recitacion caraacutecterhiacutemnico desde la primera palabra Se trata de una composicion dedos versos extremadamente simple la mencion del dios al que sedirige el himno su epiacuteteto y el llamado de atencion que introduceal hablante Nuestro trabajo pretende demostrar que no obstantela brevedad de la epiacuteklesis cada elemento condensa sentidosfundamentales para la interpretacion de la oda inicial y de la matrizritual en la que se inscribe la composicion de la obra comototalidad

PALABRAS-CLAVE

Ritual performance Suplicantes Esquilo

SUBMISSAtildeO 15 nov 2017 | PUBLICACcedilAtildeO 31 dez 2017

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n anaacutelisis de la oda inicial de Suplicantes de Esquiloinvolucra dos aspectos fundamentales Como se tratade un drama carente de prologo en el que el cantocoincide con la inauguracion de la accion insta aconjeturar por un lado acerca de la puesta enescena por otro lado acerca de que modo seintroduce la urdimbre de sucesos que configuran latrama Desde nuestra perspectiva teorica que sea c e r c a a l a t r a g e d i a c o m o u n g e n e r ofundamentalmente coral y descansa en nocionesclave como ldquopoesiacutea de ocasionrdquo3 ldquoproyeccioncoralrdquo4 ldquointeraccion genericardquo y ldquometacoralidadrdquo5

ambos aspectos de esta oda estaacuten atravesados por lamanera como el dramaturgo compuso su sustancia

ritual es decir de que generos liacutericos se valio en la performance Laoda inicial integra en su composicion elementos del himno y deltreno que se alternan y se subvierten para crear una atmosferaparticular desde los primeros versos En el presente artiacuteculoconcentramos nuestra atencion en la integracion generica de la odatraacutegica con el himno del cual analizaremos un componenteesencial la epiacuteklesis que establece el contacto entre los hablantes yel destinatario divino

Como senalamos la primera oda de extraordinariaextension (v 1 -175)6 sintoniza con la apertura de la obra Elexotico coro7 conformado por las hijas de Daacutenao habriacuteaingresado al teatro formando una fila al ritmo de los anapestos8

tras los cuales se habriacutea ordenado en la orcheacutestra La escena habriacuteasugerido la presencia de un altar elevado y probablemente deimaacutegenes divinas que son invocadas con posterioridad9 Daacutenao supadre habriacutea aparecido en el ultimo lugar de esa misma filacoincidiendo con la mencion de su nombre en el v 1110 Estosdatos acerca de la performance son fundamentales para poder recrearla poiacuteesis de Esquilo pensada para un espectador del siglo V aunquesin duda el dato escenico maacutes elocuente lo constituyen los ramosde suplicante envueltos en lana blanca que afirman empunar lasjovenes en sus manos (v 21-22 v 191-193) La vision de este

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objeto habriacutea orientado raacutepidamente las expectativas del publicoque habriacutea visto entrar a los personajes y tomar lugar en el altarhabriacutea reconocido las insignias y comprendido entonces elcaraacutecter ritual de la ocasion11

Desde el punto de vista formal la oda inicial de Suplicantesse compone de dos grandes partes entre los v 1-39 el espectaacuteculose inicia con el ingreso del coro (y Daacutenao) a traves de la eiacutesodos enmarcha anapestica Llamamos a esta seccion la parte dinaacutemica yaque se trata de la puesta en escena de un himno procesional querepresenta tres transiciones una espacial (de Aacutefrica a Grecia) unatemporal (de un pasado reciente que constituye el motivo de huidaal presente fin de la fuga) y una cultural (segun la cual lasDanaides africanas ponen en praacutectica un ritual griego) Luegodesde el v 40 y hasta su final en el v 175 el coro ya instalado enel espacio de la orcheacutestra desarrolla un extenso canto liacutericoconstruido sobre la base de ocho sistemas Llamamos a estaseccion la parte estaacutetica dado que el coro representa con lallegada al altar el fin de su viaje y el comienzo del ritual de suplicapara conseguir asilo en Argos Solo cuando le sea asegurado elnuevo traacutensito en un movimiento colectivo y organizado el coroabandonaraacute el altar esta vez hacia el centro de la ciudad En estesent ido Suplicantes como paradigma de las tragedias quepertenecen al Altarmotiv12 subraya el protagonismo de la ritualidadpues el espectador nunca pierde de vista al suplicante ni el espaciosagrado

Desde la perspectiva de un espectador del siglo V aC laconducta religiosa representaba un complejo de discursos yacciones faacutecilmente reconocible intrincadamente unido a otrasaacutereas de su vida social Como senalan Furley y Bremer13 el himnopuede distinguirse del habla coloquial o de la cancion coral porvarias caracteriacutesticas (melodiacutea metro ritmo acompanamientomusical danza repeticion en una misma ocasion) pero su esenciareside en la entidad hacia la cual se dirige la composicion un dios ocompaniacutea de dioses Directamente asociado con el destinatarioreside su proposito adorar al dios tiene el objetivo de ganar subenevolencia y asegurar su asistencia o favor14 Ademaacutes estos

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autores senalan la familiaridad del himno con la suplica con la cualcomparte la misma meta15 La diferencia entre ambos tiposdiscursivos reside en que el himno es un producto artiacutestico maacutesacabado que la plegaria pues emplea tecnicas refinadas de elogio ypersuasion que lo convierten en un obsequio en un ἄγαλμα verbal

En el mundo griego arcaico y claacutesico las procesiones erantiacutepicamente acompanadas de himnos enfocados en la transicionespacial de la ciudad hacia el templo y en particular hacia el altar16

Precisamente por este motivo es probable que Esquilo eligieraabrir su obra directamente con el ingreso del coro a escena enlugar de la composicion de un prologo dado que el espectaacuteculo dela procesion coral era capaz de exponer mejor su propuestadramaacutetica Considerar la posibilidad de una opcion en terminos decomposicion artiacutestica diluye uno de los argumentos maacutes poderososa favor de la impronta arcaica de la tragedia su carencia deprologo17 Segun nuestro punto de vista Esquilo sustituye el iniciode la obra con una escena estaacutetica por la performance de una escenadinaacutemica de marcha que tiene la capacidad de sintetizar en elmetro18 el itinerario Egipto-Argos realizado por las Danaides Deeste modo el estado de fuga puede re-presentarse en el escenarioAsimismo Esquilo parece haber elegido no retrasar la llegada delos protagonistas19 a quienes se muestra llegando desde elextranjero ingresando a un territorio extrano y permaneciendo enla periferia en un recinto sagrado alejado del centro ciacutevico elsantuario publico de Argos (39)20

Tal como senalan Furley-Bremer ciertos himnos puedenser usados por el dramaturgo para crear una atmosfera tanto paraincrementar la tension en una situacion ya tensa o como un fondoironico contra el cual la accion subsecuente se despliegacontrariamente a la expectativa21 Particularmente la oda inicial deSuplicantes ilustra como el dramaturgo utilizo el himno paraestructurar el desarrollo y sentido de la trama total de la obra puestiene la funcion de definir el horizonte significante dentro del cualse inscribiraacute la actuacion particular de este coro Por un ladoconstituye la evocacion de los sucesos pasados por el otro es laclave y el punto de partida del codigo de comportamiento que

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regiraacute los actos sucesivos reconocido tanto por los personajes dela obra dentro de los liacutemites de la ldquoilusion teatralrdquo como por laaudiencia22

Asimismo la apertura procesional imprime una diferenciade tonalidad espacio y ocasion condicionan el discurso que debeser liacuterico maacutes que retorico Sin embargo su alcance persuasivo noes menor ya que el ritual confiere cierto poder encubierto alsuplicante23 La ventaja que supone el registro liacuterico reside en lafacultad de cumplir con dos cometidos ofrecer un medio legiacutetimode exhortacion a la accion y producir un efecto de seduccionporque permite exteriorizar la emocion

La recitacion que acompana la marcha anapestica detentados de los tres componentes baacutesicos de todo himno24 epiacuteklesis (v1-3) y eucheacute (23-39) La epiacuteklesis establece el contacto entre elloshablantes y el destinatario divino por lo cual suele estar al iniciola eucheacute en la que se formula la peticion como constituye el cliacutemaxusualmente se encuentra al final Enmarcado entre ambas partesresta el tercer componente lo que Furley y Bremer llaman ldquomiddlesectionrdquo y se trata de la parte compuesta para ganar el favordivino25 En la parte dinaacutemica de la oda inicial la seccion media (v4-22) se modifica sustancialmente proponiendo una inversion sehace hincapie en el suplicante en lugar del suplicado porque en elinicio del drama se impone la necesidad de exponer los motivosque justifiquen la performance26

A pesar de su brevedad la epiacuteklesis de la parte dinaacutemicamerece un anaacutelisis pormenorizado no solo por su funcion sinotambien por su emplazamiento La primera asocia hablante (lasdanaides que componen el coro) y destinatario interno (Zeus) elsegundo establece un marco de referencia que oficia como puenteentre los sucesos intradramaacuteticos y el espectador El proposito deesta comunicacion es demostrar que no obstante la fugacidad de laepiacuteklesis cada elemento condensa sentidos fundamentales para lainterpretacion de la oda inicial y de la matriz ritual en la que seinscribe la composicion de la obra como totalidad

L a epiacuteklesis indirecta (Er-Stil)27 confiriere a la oda caraacutecterhiacutemnico desde la primera hasta la ultima palabra Efectivamente la

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oda completa estaacute enmarcada por una composicion anular ya queen su ultimo verso (175) el participio καλούμενος (tambien alliacuteconcertado a Zeus) retoma la idea de esta invocacion inicial28 Laepiacuteklesis propone una composicion extremadamente simple lamencion del dios al que se dirige el himno su epiacuteteto y el llamadode atencion que introduce al hablante Recitan las Danaides

Ζεὺς μὲν ἀφίκτωρ ἐπίδοι προφρόνωςστόλον ἡμέτερον νάιον ἀρθέντ (v 1-2)29

Que Zeus protector de los recieacuten llegadoscontemple ya con mente predispuesta nuestraformacioacuten coral impulsada en una nave 30

Analicemos entonces los componentes de estaconvocatoria Zeus estaacute ubicado significativamente en la posicioninicial del primer verso de la obra y es el sujeto de un energicodesiderativo realizable (ἐ πίδοι) que da comienzo a la suplicaConsiderado en el sentido maacutes amplio el epiacuteteto ἀ φί κτωρ unhaacutepax31 en lugar de Hikeacutesios32 insiste en los dos puntos de estatransicion el traslado espacial y cultural de los personajes33 y sucondicion de marginalidad ya que para los griegos los ldquorecienllegadosrdquo no son de ninguna parte34 La novedosa composicion delapelativo formado ad hoc por lo tanto subraya al mismo tiempo laocasion y la condicion especiacutefica del suplicante mientras cumplecon la norma esperada respecto de las referencias a la divinidad Alrespecto nota Kavoulaki (2011) que el epiacuteteto pone en primerplano el hecho de la llegada (ἄφιξις) del coro que estaacute iacutentimamenteconectada con la tercera palabra de la frase la forma ἐπίδοι35

Efectivamente la forma ἐπίδοι indica la primera accion de la obrael pedido de atencion por parte del dios Lo maacutes significativo esque esa atencion debe alcanzarse a partir de la mirada

El verbo ἐφοράω compuesto de ὁράω combina el aspectosensible y el inteligible Flores (2007) quien ha estudiado el sentidode la vision en Esquilo sostiene que el dramaturgo ldquointroduce enlas palabras un rasgo morfologico que apunta a un matiz particularantepone la preposicion ἐπί a verbos de vision cuando son los

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dioses quienes miran Esta es una tendencia constante que comotal no se da en los otros traacutegicosrdquo36 De este modo ἐπί senalariacuteauna diferencia radical entre el ser hombre y ser dios que la autoraentiende como ldquomirar sobre tener los ojos sobre vigilarrdquo37 propiadel acto de ver divino Compartimos con la autora el hecho de quese marca una capacidad de mirar distinta no obstante creemosque no es exclusiva del dios ya que cuando demanda la mirada deZeus el coro subraya el acontecimiento de su aparicion suadvenimiento a la vista de otro su aparicion espectacular38 Por lotanto el verbo tambien hace referencia impliacutecita a la mirada delpublico que como el dios puede ver maacutes allaacute de lo que se ofreceante sus ojos39 Segun esta disquisicion proponemos otratraduccion del verbo maacutes ajustada al contexto senalado ἐφοράωcomo ldquocontemplarrdquo dado que las tres acepciones del espanolapuntadas por la Real Academia todas ellas transitivas se ponenen juego en esta accion Conforme este sentido los espectadorestanto como el dios 1 ponen atencion en algo material (laformacion coral) 2 consideran (juzgando) a las jovenes y 3 lascomplacen son condescendientes con ellas mientras se hacenvisibles40

Como advierte Flores Esquilo usa el verbo ἐφοράω parasuplicar cada vez que se indica el llamado de atencion a traves dela vision En este caso la eleccion de un verbo de percepcionvisual no es azarosa porque ademaacutes de convocar al publico apelaal campo de la emocion a diferencia de los verbos de percepcionauditiva que tienen tendencia a asociarse al campo de lapersuasion y obediencia La vision no necesita del juego de laspalabras para convencer sino que pone a quien ve en el lugar detestigo y no de mero observador Por lo tanto es posible afirmarque la eleccion del verbo va de la mano de la eleccion de laapertura liacuterica es decir sin prologo el caso de las Danaides almenos en el comienzo pretende no ser amenazado por la retoricaLa esperanza estaacute puesta en cambio en el poder conmovedor dela mirada Precisamente Suplicantes compromete una apuesta a laexploracion de sentido en el aspecto visual ya que la oacutepsis habriacuteabuscado provocar el desconcierto del espectador41 la presencia de

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las hiacutebridas suplicantes en escena baacuterbaras de apariencia perogriegas en cuanto a su comportamiento ceremonial debe habersido el principal factor de impacto dramaacutetico desde el inicio hastael final de la tragedia En cuanto a ἐφοράω la forma de aoristoremarca ademaacutes la puntualidad de la accion dado que las Danaidesexpresan la necesidad de la mirada inmediata Justamente para darcuenta de la inminencia en la traduccion del verso 1 optamos porel agregado del adverbio ldquoyardquo que enfatiza la exigencia al punto alinstante

El adverbio προφρόνως que complementa a ἐφοράω sumainformacion al pedido pues implica absoluta confianza en el diosque segun se supone tiene ojos justos προφρόνως puede sertraducido como ldquoamablementerdquo ldquoseriamenterdquo o ldquocon voluntadapropiadardquo segun indica el Diccionario de Oxford (LSJ)42 Sinembargo este adverbio tiene las raiacuteces de πρό y φρήν43 lo queadmite la traduccion por una periacutefrasis que combine amboselementos La propuesta ldquocon mente predispuestardquo parece ser maacutesacertada porque insiste simultaacuteneamente sobre los tres sentidos deἐ φοράω (prestar atencion juzgar y ser condescendiente) ademaacutesde ser coherente con el modo desiderativo propio del himno lapredisposicion de la mente de Zeus y de los espectadores consisteen que al ver a las Danaides antes de decidir sobre su caso susolicitud (1) presten atencion a los ramos que llevan en sus manos(2) juzguen que aunque baacuterbaras practican el ritual propio de latierra local y (3) sean condescendientes con su condicion desuplicantes

Por eso es necesario agregar que en sus observacionesacerca del verbo inicial ἐφοράω Kavoulaki ha senaladopertinentemente la superposicion de los planos performativo ydramaacutetico pero ha perdido de vista el caraacutecter de laespectacularidad sobre la que se pide atencion el arribo de estecoro es espectacular desde una apreciacion multimediaacutetica porquelo que se ve y lo que se escucha producen una combinacion unicainarmonica desacoplada contradictoria disonante El epiacutetetoἀφί κτωρ el adverbio προφρόνως y los versos que siguen insistensobre la singularidad de los personajes que el publico empieza a

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ver delante de sus ojos las danaides y su padre revisten unanaturaleza marginal e hiacutebrida que se manifiesta en el lenguajegriego con matices Egipcios44 pero fundamentalmente en elchoque entre apariencia y comportamiento Lo que las Danaidesdesean que Zeus (y los espectadores) vean con buenapredisposicion es que aunque no parezcan argivas (tal como loinforma el aspecto sensible del verbo) puedan ser reconocidascomo tales a partir de su conducta (lo que involucra el aspectointeligible del mismo verbo) Ellas luego se encargaraacuten dedemostrar a traves de la retorica del canal auditivo que estacondicion griega que practican es una exteriorizacion de suspropias raiacuteces45

Finalnalmente los elementos fundamentales de la epiacuteklesisse completan con la referencia a la identidad del emisor στόλον esel sustantivo a traves del cual se autopresentan las Danaides queeligen no revelar su identidad hasta el verso 11 cuando se dicenldquohijas de Daacutenaordquo El uso de στόλον no es inofensivo No refiere aun grupo ordinario de gente a una mera tripulacion sino queacentua un aacuterea semaacutentica especiacutefica la del ritual46 στόλον senala atraves de sus ejecutores la ocasion una accion coral que se dasimultaacuteneamente en el mundo interno dramaacutetico (que contemplaZeus) y en el externo teatral (que contemplan los espectadores enel contexto del festival) Kavoulaki advierte acertadamente estesentido del termino pero la traduccion que propone ldquobandrdquo(banda)47 no cifra su complejidad semaacutentica El sustantivo στόλονcomparte su raiacutez con el verbo στέλλω que significa ldquoprepararrdquo48 ensu forma activa y ldquodespacharrdquo ldquoenviarrdquo en la pasiva El camposemaacutentico al que se asocia es usualmente el militar49 Ciertamenteel dominio belico no es ajeno al mito sobre el que se compone estatragedia pues conocemos que la suplica a Zeus primero y a Argosdespues derivaraacute en una guerra entre Argivos y Egipcios Porconsiguiente nuestra interpretacion de στόλον como ldquoformacionrdquobusca integrar el sentido militar y el ritual El enfasis de esta opcionde traduccion por otra parte estaacute puesto en la nocion dehomogeneidad (propia de este personaje colectivo) dada por elorden resaltando por lo tanto la existencia de un proceso no

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solamente previo sino tambien deliberado y de un agente quecomo autoridad establece dicho orden ldquoFormacionrdquo admite eljuego entre el sustantivo στόλος (2) y el adjetivo στασίαρχος (11)con el que se califica a Daacutenao la primera vez que es mencionado 50

correlacion que permite tanto activar el sentido de la ocasionperformativa como revelar cuaacutel es la estrategia de este grupo demujeres lideradas por su padre suplicar como maniobra de poder

El pedido de contemplacion al grupo como formacioncoral-ritual que se antepone a las demandas personales implica elinteres por conquistar los fueros de un poder que se fundamentaen la paradoja dado que la suplica es coercion disfrazada deimpotencia y necesidad51 La primera mencion de las Danaides espor consiguiente en el rol de objeto paciente asumiendo un lugarde subordinacion ante la mirada divina52 Por el contrario eldominio del dios se ve destacado no solo en el rol de agente quereviste sino tambien en su ubicacion en la posicion inicial delprimer verso de la suplica y del drama

En conclusion la epiacuteklesis demuestra ser clave para lainterpretacion de la oda y el desarrollo de la obra porque estableceun puente entre la seccion narrativa que se iniciaraacute y el nivelperformativo potenciando el sentido de la ocasion y suconveniencia Asimismo este anuncio consciente de roles eidentidades rituales vuelve maacutes ostensible la hibridez de las recienllegadas protagonistas que dejaraacuten filtrar sobre el final de la odainicial la perversion de su programa ritual Los desesperadosultimos versos del canto blasfeman a Zeus dios destinatario de lasuplica No obstante la alteracion de la norma es tema para otracomunicacion

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RESUMO

Identidade ritual e performance uma anaacutelise dos primeiros doisversos de Suplicantes de Eacutesquilo

A recitacatildeo que acompanha a marcha anapestica (v 1-39)que daacute iniacutecio agrave performance de Suplicantes de Eacutesquilo apresentadois dos trecircs componentes baacutesicos de um hino (Furley-Bremer2001) epiacuteklesis (v 1-3) e eucheacute (23-39) A epiacuteklesis indireta (Er-Stil v1-2) estabelece o contato entre os falantes ndash os Danaides quecompotildeem o coro ndash e o destinataacuterio divino ndash Zeus ndash dando agraverecitacatildeo um caraacuteter hiacutenico desde a primeira palavra Eacute umacomposicatildeo de dois versos extremamente simples a mencatildeo dodeus a quem o hino e dirigido seu epiacuteteto e o chamado da atencatildeoque apresenta o falante Nosso trabalho tenta demonstrar queapesar da brevidade da epiacuteklesis cada elemento condensa ossentidos fundamentais para a interpretacatildeo da ode inicial e damatriz ritual na qual a composicatildeo da obra se inscreve como umtodo

PALAVRAS-CHAVE

Ritual performance Suplicantes Eacutesquilo

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PARRY H The Lyric Poems of Greek Tragedy Toronto-Sarasota sn 1978

PICKARD-CAMBRIDGE AW The Dramatic Festivals of Athens Oxford sn1988

76

Identidad ritual y performance [hellip] | Maria del Pilar

REHM R Greek Tragic Theatre Theatre Production Studies London sn1992

SANDIN P Aeschylusrsquo Supplices Introduction and Commentary on v 1-523Goumlteborg sn 2003

SOMMERSTEIN AH Aeschylus Persians Seven against Thebes SuppliantsPrometheus Bound Cambridge Massachusetts London sn 2008

TAPLIN O The Stagecraft of Aeschylus the Dramatic Use of Exits andEntrances in Greek Tragedy Oxford sn 1977

TORRANO J Eacutesquilo tragedias Os persas Os sete contra Tebas As suplicantesPrometeu cadeeiro Satildeo Paulo sn 2009

VIacuteLCHEZ M Esquilo tragedias II Los siete contra Tebas Las suplicantesSalamanca sn 1999

WEST ML Greek Metre Oxford sn 1982

77

1 Este trabajo ha sido presentado como ponencia en las VIII Jornadas de EstudiosClaacutesicos y Medievales realizadas en la ciudad de La Plata durante los diacuteas 18 19 y20 de septiembre de 20172 FURLEY BREMER 20013 CALAME 19774 HENRICKS 1994-19955 SWIFT 20106 Parry (1978 p 50-51) la incluye dentro del grupo que denomina ldquomassiveodesrdquo constituido por aquellas que superan los cien versos ldquoThe grand-scaleodes are more spacious and more leisurely What they need and get is a broadsuperestructure one that a Greek audience would be well familiar with ndash thehymn or hymn derivative (hellip) Within this superestructure there is room forldquodigressionsrdquo to develop and we constantly savour exquisite descriptions andreflections ranging from the pathetic to the profoundrdquo (p 53) La observacionde Kitto (2011 p 4) tambien resulta interesante ldquothe ode one-sixth of thewhole play would take something like fifteen minutes in performance the timeof an ordinary symphony-movementrdquo7 Sobre su complexion y sus trajes baacuterbaros 120-122 = 131-133 234-237 432No descartamos la propuesta de Sandin (2003 37) quien sugiere la posibilidadde que la mitad o un tercio de las jovenes presentara indicios de pertenencia aun rango inferior y no cargara ramos de suplicante Estas servidoras de lasDanaides no seriacutean mencionadas hasta el final del drama (954 977) Sinembargo desde nuestro punto de vista su presencia no amerita su participacionen la ultima oda tal como se explica en el apartado I41 En cuanto a la cantidadde coreutas es improbable que hayan sido cincuenta tal como han sostenidoquienes consideraban a Suplicantes una obra primitiva Evidencia textual internaparece favorecer el numero de doce (204-224) Sobre el numero de miembrosdel coro Taplin (1977 437)8 Sobre anapestos de marcha West (1982 p 53-54) El metro se emplea siempreque la apertura del drama es llevada adelante por el coro Actualmente latendencia es aceptar que los anapestos de marcha eran generalmente recitativos(acompanados por el auloacutes) Segun Pickard-Cambridge (1988 p 160) ldquothis maybe taken as certain where they are uttered by the chorus as they enter theorchestra preceded by the flute player as at the beginning of Persae andSuppliants and in Agamemnon 40-130 or when they form an introduction to asung choral ode as in Persae 532-47hellip and Eumenides 307-20rdquo En algunasediciones o traducciones sin embargo se indica que el coro ldquocantardquo9 En el apartado II3 profundizamos sobre la configuracion empleo ysignificacion de los espacios escenicos en la obra 10 El texto no ofrece evidencia acerca del ingreso de Daacutenao y por lo tantopersisten las controversias en torno al momento exacto de este suceso escenicoUnos conjeturan que habriacutea llegado junto al coro (1) otros en el momento de suprimer discurso (176) La primera alternativa es la preferida de los criacuteticos en laactualidad -por ejemplo Taplin (1977 v 194) ndash aunque ya Mazon (1953 p 19)sugeriacutea que Daacutenao habriacutea ingresado ldquodans lrsquoorchestre derriegravere ses fillesrdquo y quehabriacutea permanecido parado en una colina durante la cancion mirando hacia elhorizonte Segun nuestro punto de vista Daacutenao habriacutea ingresado al mismotiempo que el coro pero detraacutes de el mostrando companiacutea y proteccion perosin acaparar la atencion central puesta en el coro femenino Finalizado elrecorrido de ingreso se habriacutea ubicado sobre la elevacion vigilando el mismosector de su ingreso es decir alerta a la posibilidad de peligro por la llegada desus perseguidores y divisando tambien el sector opuesto preparaacutendose para elverso 176 momento de su primera intervencion en que anuncia el arribo dehabitantes locales 11 Rhem (1992 p 66) ldquoBridging the gap between the heroic characters and thefifth century tragic costums and props often mirrored specific aspects ofAthenian ritual liferdquo Aelion (1983 p 16) describe el ritual de suplica y brinda

pruebas de su contemporaneidad para un espectador de la epoca con ejemploshistoricos de Herodoto y Tuciacutedides12 Cfr Aelion (1983 p 15-44) para la estructura dramaacutetica del patron de suplicaAdrados (1986 p 7-8) propone dos tipos baacutesicos para las tragedias quepresentan este motivo temaacutetico la ldquobinariardquo en la que el suplicante se refugia enun templo o realiza los gestos rituales dirigidos a su oponente y la ldquoternariardquoque encuentra maacutes habitual en la que junto al enemigo o perseguidor sepresenta al salvador La suplica en el primer caso ldquoentra plenamente en el juegoteatral es un recurso maacutes para hacer avanzar la accionrdquo pero ldquoes solo unelemento episodico nunca un elemento central en la pieza Solo cuando seintroduce la estructura ternaria es la suplica un elemento central (hellip) sobre todoporque con ello se cumple una exigencia del teatro la existencia de al menos unagoacuten en cada piezardquo (p 33) Lo esencial en el desarrollo dice Adrados ha sidoentonces ligar el tema de la suplica a los agones rituales tradicionales Segun estapropuesta Suplicantes resulta el exponente por excelencia de la tipologiacutea ternaria13 FURLEY BREMER 200114 FURLEY BREMER 2001 p 2 ldquoThe cult hymn is a form of worship directedtowards winning a godrsquos goodwill and securing his or her assistance or favourrdquo15 FURLEY BREMER 2001 p 3 ldquoHymns share many of the compositionalelements characteristic of prayers there is the same direct address of a deity thesame gesture of supplication and often the same express request for help orprotection A distinction may be possible here by considering both thecompositional elements of the two forms and their differing function inworshiprdquo16 FURLEY BREMER 2001 p 28-2917 La carencia de prologo ha sido uno de los argumentos maacutes poderosos a favorde la arcaicidad de la tragedia primero y luego de 1952 (ano en que se descubrioel pairo de Oxyrrinco que puso en cuestion la datacion de la tragedia) de suldquoespiacuteritu arcaizanterdquo Sin embargo es improbable que una apertura coral tuvierareminiscencias arcaicas en la epoca de la puesta en escena de Suplicantes YaGarvie ha demostrado que no hay razon para suponer que el inicio con lapaacuterodos haya sido necesariamente maacutes temprano que la utilizacion del prologopues tanto la funcion natural de una como del otro era expositiva explicar a laaudiencia la situacion dramaacutetica que seriacutea representada y los datos espacio-temporales de la puesta en escena Segun el anaacutelisis que hemos realizado de laoda su estilo narrativo y expositivo aunque no cronologicamente lineal puedecomprobarse en la parte liacuterica con la mencion de τὰ τε νῦν ἐπιδείξω πιστὰ

τεκμήρια (ldquomostrare pruebas confiables las de ahorardquo 52-53) cuya epexegesisconsistiraacute en el relato de la situacion actual de las Danaides Garvie (1969 p121) realiza un recorrido historico vinculado con el origen del prologo y detallael debate criacutetico en relacion a esta postura Asimismo compara la paacuterodos deSuplicantes con la de Los Persas tambien carente de prologo y con los prologosdel resto de las tragedias conservadas de Esquilo Para informacion maacutesactualizada del mismo autor sobre el mismo tema Garvie (2006b p 37) Furley-Bremer (2001 284) senalan que ldquoA prologue which sets out the pre-historymay seem Euripidean but one should not forget that of Aeschylus sevenpreserved tragedies there are four opening with an informative prologue SevenAgam Choe Eumrdquo Taplin (1977 p 194) aunque afirma que las razones parausar una apertura coral fueron dramaacuteticas maacutes que cronologicas opina que estaera una tecnica pasada de moda en los ultimos anos de la decada del 460 aC18 Los criacuteticos acuerdan en considerar que los primeros 39 versos en metroanapestico llevan adelante la funcion expositiva Cfr Hogan (1984 p 189)Viacutelchez (1999 p 86) Sandin (2003 p 36) Torrano (2009 p 239) entre otrosEsta division de la oda en dos partes es coherente con las definicionesaristotelicas de paacuterodos y staacutesimon Cfr Poeacutetica 1452b 22-2419 Efectivamente en Suplicantes tal como en Los persas el coro abre la obra consu canto de ingreso y como Eteocles en Siete contra Tebas u Orestes en Coeacuteforas laobra se inicia directamente con los protagonistas y el relato que ellos mismos

desde su punto de vista realizan de la situacion que padecen y que seraacute objetode la performance En cuanto al tratamiento del coro en Eumeacutenides y Suplicantestanto de Esquilo como de Euriacutepides y su diferencia del resto de las tragediasconservadas por tratarse de personajes principales cfr entre otros Nestle(1930 p 16) Para el caso particular de este coro Garvie (1969 p 106) ySommerstein (1996 p 158)20 El propio Pelasgo explica la diferencia entre la suplica en un altar publico yuno privado en v 365-36621 FURLEY BREMER 2001 p 277 ldquohymns of certain sorts can be used to createatmosphere by the playwright either to increase tension in an already fraughtsituation or as ironic backdrop against which the subsequent action unfoldscontrary to expectationrdquo En v 279 y ss los autores se ocupan de los ldquohimnosrdquode Suplicantes v 77-102 (Zeus) v 524-599 (Zeus) v 625-709 (Zeus y los dioseslocales) v 1018-1073 (Aacutertemis Afrodita y Zeus) pero se detienen en dospasajes v 77-102 y v 524-537 junto con v 590-600 En terminos generales losautores proponen (2001 p 285) ldquoThe term dramatic irony is not used often inAeschylean criticism But if the hypothesis sketched above about the plot of thistrilogy is correct then these hymns may have had an ironical effect at the firstperformance of this trilogyrdquo Como ha sido senalado previamente lasinterpretaciones de la tragedia que caen en el lugar comun de ampliar su lecturahacia las secuelas de la trilogiacutea resultan debiles ya que no se puede asegurar queobras habriacutean acompanado a esta tragedia y cuaacutel habriacutea sido su argumento Si elhimno inicial instala una ironiacutea proponemos interpretarla como propia de lanaturaleza inestable de quienes lo entonan22 FURLEY BREMER 2001 p 275 ldquoIn a way then a dramatic hymn is animpostor it is not a genuine cult hymn but rather an imitation of a cult hymnwritten for the fictional situation and performers of the playrdquohellip ldquoThe fictionalquality of hymns in drama and the mix they represent of genuine cult practiceand assimilation to the play mean that the playwright was free to draw ontraditional forms such as paians dithyrambs wedding songs etc in order toillustrate stages of a plays action but at the same time these traditional formshad to be adapted to their new dramatic settingrdquo (2001 p 276)23 Kavoulaki (2011 p 366) justifica muy acertadamente la ldquoconciencia deautoridad ritualrdquo de las Danaides En el artiacuteculo la autora analizaespeciacuteficamente los anapestos introductorios de la obra ldquohellip choral selfawareness of ritual authority is not a mere mannerism but represent well-planned strategies of influence and effectrdquo24 FURLEY-BREMER 2001 El patron de accion es reconocible en la tragedia porsu grado de acabamiento llegada procesional a un lugar sagrado invocacionesinvitacion a la interaccion a traves de los sentidos ritual hiacutemnico y el pedido maacutesimportante el de recepcion o aceptacion (v 27)25 En general la seccion cumple con los principios de eulogiacutea (mencion de losdominios y privilegios del dios) y eufemiacutea (con rechazo de expresionesinapropiadas) y se sirve de recursos tales como la hypoacutemnesis (recordatorionarrativo acerca de como el dios ayudo en una ocasion previa) la dieacutegesis (relatoparadigmaacutetico acerca del dios) yo la aretalogiacutea (cataacutelogo de los poderes yhazanas divinas ekphraacuteseis) para compeler al dios y asegurarse de que resultepropicio 26 Las causas de la alteracion son fundamentalmente dos por un lado dada lacarencia de prologo el movimiento escenico a traves de la paacuterodos hacia laorcheacutestra exige una explicacion dramaacutetica Por eso esta seccion pone su acento enla situacion de traacutensito es decir en el cambio espacial que representa la marchaanapestica Por otro lado la seccion insiste en un segundo cambio el decondicion social porque ligada a la referencia espacial se presenta lametamorfosis un grupo de mujeres vestidas exoticamente y con una aparienciafiacutesica ajena transforman su barbarismo en pertenencia a traves de la praacutectica delritual griego de suplica

27 FURLEY BREMER 2001 p 1 Los autores aclaran que la manera en que serealiza este abordaje del destinatario resulta indiferente para la distincion delgenero El himno puede dirigirse a un dios de manera directa (Du-Stil) indirecta(Er-Stil) o a traves del anuncio en primera persona Para su definicion parten dePlaton (Leg 700b1-5) que da el primer indicio de una taxonomiacutea antigua de lacancion coral Luego toman la clasificacion alejandrina de Proclofundamentalmente pragmaacutetica o funcional ya que tiene en cuentaprimordialmente el contexto de la performance (cfr 2001 11 y ss) 28 El verso 175 configura el cierre de la composicion anular ὑψόθεν δ᾽ εὖ κλύοικαλούμενος (Ojalaacute que desde arriba escuche propiciamente cuando es invocado)29 La cita del texto es de la edicion de Sommerstein (2008 p 290)30 La traduccion del texto es personal31 CUZZI 1970 p 73 p 85 Friis Johansen-Wittle (1980) ad v 1) ldquoZeus ἀ φί κτωρis not an attested cult-title but belongs among numerous Aeschylean creationsinvented on the analogy of existing cult- names of various typesrdquo Cfr tambienSandin (2003 ad 1 p 39) quien senala que el sufijo ndashωρ es mucho maacutes fuerteque el -ιος de uso frecuente que indica simplemente que el dios estaacute conectadocon alguna actividad El sufijo elegido por Esquilo estariacutea marcando unaactividad tambien desempenada por Zeus por eso esta podriacutea ser consideradaen sentido amplio ldquoel que llegardquo Asiacute Zeus es protector de quienes llegan eneste caso como suplicantes 32 Este uso puede observarse en los v 347 360 616 Se retoma el neologismodel primer verso en v 385 y 478-479 ἱκνέομαι usualmente se usa en el sentidode ldquosuplicarrdquo tanto en la epica homerica como en el drama (LSJ 826)33 La mencion de Zeus refleja la hibridez cultural ya que se lo invocaperteneciendo a dos espacios geograacuteficos el de origen y el de destino (cfr v 1 yv 4-5) Respecto de Egipto como la ldquoregion de Zeusrdquo (v 4-5) Sommerstein(2008 p 292) senala ldquoEgypt could be so called because it contained the famousoracle of Zeus Ammon at Siwwa but to the Danaids it is more important thatEgypt was the place where Zeus miraculously begot their ancestor Epaphusrdquo34 FERNAacuteNDEZ DEAGUSTINI 2011 p 77 ldquoEn el mundo griego antiguo regidopor valores competitivos y cooperativos ser miembro de un grupo es lo queconferiacutea y determinaba el status y la posicion de un individuo en la escala dehonor y definiacutea su rol en la sociedad La posesion y conciencia de este rol (tantode parte del posesor como de los otros miembros del grupo) proveiacutea los iacutendicesde conducta esperada sin los cuales la continuidad y estabilidad de la sociedadse veiacutea amenazada De alliacute que el ξένος el outsider el que ldquono pertenecerdquo fueraen principio un sujeto sin rol sin derechos ni obligaciones que ignoraba comoconducirse con el cual tampoco sabiacutean comportarse los miembros del grupoEn consecuencia la conducta institucionalizada que regiacutea el comportamientoadecuado del ξένος (sustantivo que designaba a la vez al hospedado y alanfitrion) proveiacutea de reglas y patrones de expectativa que permitiacutean lacoexistencia entre aquellos que no eran del mismo grupo De este modo lasinstituciones griegas conocidas como ξενία y ἱκετεία constituiacutean un poderosofactor que manteniacutea las tensiones entre grupo e individuo dentro de liacutemitestolerablesrdquo El artiacuteculo citado observa la definicion de los personajes deSuplicantes fuera o dentro de la red social que propone el espacio escenico deArgos a partir de los datos que ofrece la ldquodeixis socialrdquo (Fillmore 1971) Por suparte Dobiacuteas-Lalou (2001 passim) considera ἀφίκτωρ a partir de la idea deintegracion social y lo analiza en relacion con la repeticion en el v 241 en bocade Pelasgo Para la autora no se trata de un ldquoZeus Suplicanterdquo sino de unldquoZeus de los Suplicantesrdquo Apoyada en el examen de los tres constituyentesmorfologicos del termino (preverbio tema verbal y morfema de sustantivoagente) y de las fuentes epigraacuteficas Dobiacuteas- Lalou concluye que (p 614) ldquoDesinscriptions de Cyregravene et de Lindos font connaicirctre agrave lactif et au passif le verbeἀφικετεύω lsquosortir de letat de supplication reintegrer dans une communautecivique lsquo tandis quagrave Cnide le rituel est decrit comme ἀφικετεία On en deduitque Zeus est invoque comme laquo celui qui reintegravegre les lsquosuppliantsrsquo (v 1) et que lepluriel du v 241 designe lensemble des θεοὶἀγωνίοι qui avec Zeus vontparticiper agrave cette delivrance Lintervention lsquopoetiquersquo dEschyle doit consister en

deux traits archaiumlques lemploi de la base ἱκ- au lieu d ἱκετευ- et le recours ausuffixe ndashτωρrdquo35 KAVOULAKI 2011 p 380 ldquoZeus the first word in the play seems neutral butthe epithet ἀφίκτωρ by wich he is invoked (another ad hoc formed noun) bringsto the foreground the very fact of the chorus ἄφιξις (arrival) wich is intimatelyconnected with the third (main) word of the sentence the form ἐπίδοιrdquo36 FLORES 2007 p 89 El subrayado corresponde a la autora quien luegoampliacutea ldquoEstudios actuales sobre el lenguaje realizados por Lakoff y Johnsonrevelan el sentido profundo de ciertas estructuras linguumliacutesticas que en realidadrepresentan estructuras de la menterdquo son las ldquometaacuteforas orientacionalesrdquo (200791) ldquohellip se puede indicar que ἐ πί para Esquilo indica mucho maacutes que unaorientacion espacial de los dioses senala una forma de ver diferente de lahumana Mirar desde arriba maacutes allaacute de la raiacutez etimologica de cada verboἀφοράω ἐφορεύω ἐπισκοπέω ἀποπάω ἐποπτεύω es mirar con la fuerza vitalidadintensidad lucidez clarividencia bondad inteligencia virtud y punto de vista deun diosrdquo (2007 p 93)37 FLORES 2007 p 97 De hecho dentro de la taxonomiacutea verbal que la autorapropone incluye ἐφοράω dentro de la categoriacutea ldquolos dioses miran juzgandordquo38 KAVOULAKI 2011 p 380 ldquoby inviting the sight of the god the chorusunderline their coming to sight their spectacular appearancerdquo39 RHEM 1992 p 47 ldquoThe process is one in which the audience shifts from theimmediate dramatic situation to the larger world of the play and then movesbeyond it constantly negotiating different levels and formulating responsesappropriate to them inspired by (but hardly bound to) the initial commitmentto dramatic illusionrdquo Esta participacion de la audiencia es la que permite inferirinterpretaciones ironicas ambiguas contradictorias anticipatorias oretrospectivas de diferentes momentos de la obra40 Acepcion dada por el diccionario de la Real Academia Espanola en wwwraees41 El impacto se produce tanto sobre el espectador externo como sobre elinterno es decir Pelasgo Cfr II2342 LSJ 1540 ldquokindly earnestly Prop with forward mindrdquo43 CHANTRAINE 1968 p 122744 Sobre el lexico egipcio en Suplicantes Adrados (1999 passim)45 En el v 27 que da comienzo a la eucheacute el pedido a los dioses seraacute que aceptenesta condicion que evidentemente no les es propia δέξασθ ἱκέτην τὸνθηλυγενῆ στόλον αἰδοίῳ πνεύματι χώρας (Admitid como suplicante a esta femeninaformacioacuten con el aire reverencial de esta tierra) Ademaacutes la eucheacute recupera en este versoun termino que cobra especial sentido en la tragedia στόλον46 Johansen-Witttle (1980) entienden στόλον en sentido poliacutetico como terminoderivado de στάσις De este modo στασίαρχος (v 11) resulta ser en supropuesta de traduccion ldquoleader or originator of seditionrdquo) Sandin (2003 ad 11p 45) marca que en el griego claacutesico στάσις en su sentido poliacutetico no significasedicion sino ldquodiscord faction party strife or even civil warrdquo Para Sandinστασι- se refiere al hecho de que Daacutenao y sus hijas han roto sus lazos con sufamilia en Egipto y que por eso se ha iniciado una discordia Sommerstein(2008 p 293) traduce στασίαρχος como ldquooriginator of civil striferdquo La posicionde Kavoulaki (2011 p 377) resulta maacutes atinada en tanto no le confiere unsignificado poliacutetico sino de ocasion especiacutefica pues senala que el termino στάσιςestaacute vinculado a la actividad coral y a la formacion en particular Por eso para laautora ldquothe general usage of the word stasis in choral contexts seems to justifyits choice at this ritually important moment when the chorus qua chorus and atthe same time as a band of parthenoi is solemnly approaching a religious locus (1v 189-90) carrying the ritual symbols of supplication (v 21-22) and invokingthe gods (Zeus and others 1 23-26) with the obvious intention of taking uptheir positions to sing and dance (v 40-175) a hymn and prayer to gods andheroes and particularly to Zeushelliprdquo

47 KAVOULAKI 2011 p 38448 LSJ 1648 y Chantraine (1968 p 1050) ldquoCette famille de mots issue drsquouneracine exprimant une notion simple ldquoarranger preparerrdquo a eclate avec des senstregraves divershelliprdquo Si bien entre estos sentidos posibles Chantraine consigna στόλοςcomo ldquoexpedicionrdquo no se concentra en el examen de este vocablo Lo que debedestacarse de su anaacutelisis etimologico es sin dudas la afirmacion de que la raiacutez deesta familia supone la idea de ldquoprepararrdquo idea que se respeta en nuestrasugerencia de interpretacion del termino como ldquoformacion coralrdquo49 Por eso στόλον puede traducirse como ldquoequipamientordquo si se resalta el objetoldquoexpedicionrdquo o ldquomisionrdquo si el acento se pone en la accion y ldquotropardquo o ldquobandardquosi se hace hincapie en el sujeto 50 Es necesario resaltar el hecho de que el v 11 constituye tambien la primeravez que las jovenes aportan un dato identificatorio especiacutefico respecto de ellasEn este sentido la eleccion de στασίαρχος compuesto de στάσις (que compartel a raiacutez de στόλον) y ἄρχων ilumina el rol crucial de Daacutenao como liacuteder einstructor del coro tesis que desarrolla Kavoulaki (2011) en el artiacuteculo citado51 GOULD 1973 p 91 52 Esta posicion se revierte maacutes tarde (v 169) cuando el tiempo transcurrido y ladesesperacion invierten los roles de agente y paciente

Caliope Presenca Classica | 20172 Ano XXXIV Numero 34

O Filebo prazer e intelecto emconfrontoSimone de O Goncalves Bondarczuk

RESUMO

O dialogo Filebo durante muito tempo foi deixado de lado pelatradicatildeo dos estudos platocircnicos por ser um dialogo tematicamentecomplexo tendo em vista a sua aparente falta de unidade o quelevou a tendecircncia dos inteacuterpretes e comentadores seja naAntiguidade ou nos dias atuais a se concentrarem em apenas umdos aspectos da obra o metafisico ou o eacutetico No entanto nosultimos trinta anos o interesse por esse dialogo reviveu com forcae a sua pertinecircncia para uma compreensatildeo mais global dopensamento teoacuterico de Platatildeo foi finalmente reconhecida Opresente artigo pretende introduzir o leitor nas questotildees centraisdo dialogo e problematizar as controveacutersias em torno do mesmoSeria a vida dedicada ao prazer eou a vida dedicada agrave reflexatildeocentrais para a constituicatildeo de uma vida feliz Ou seria uma mesclaentre essas duas vidas Qual a relacatildeo dessa escolha com a questatildeoteleoloacutegica do Bem em Platatildeo

PALAVRAS-CHAVE

Filebo dialogos socraticos prazer intelecto o Bem

SUBMISSAtildeO 28 dez 2017 | PUBLICACcedilAtildeO 31 dez 2017

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O Filebo prazer e intelecto em confronto | Simone de O Goncalves Bondarczuk

dialogo Fi l ebo de Platatildeo pela sua complexidadetematica e beleza provocou tantos questionamentosna Antiguidade como suscita ainda nos dias atuais aopartir de uma questatildeo simples mas assaz relevante seo prazer e os seus congecircneres satildeo bons ou o Bem ouao inveacutes se o Bem se constitui na reflexatildeo e nasatividades relacionadas com a mesma ou talvez obem seria uma terceira via uma espeacutecie de amalgamaentre os dois Natildeo menos interessante do que o temado ponto-de-vista formal a sua estrutura dialoacutegica traza lembranca os primeiros dialogos socraticos em que oeacutelenkhos em sua dinamicidade potildee em movimento oargumento central e segue agrave risca a via da dialeacuteticaconvidando os primeiros receptores1 e os leitores

modernos a se engajarem de um modo ativo no debate Antes de tudo o dialogo eacute uma contenda dramatica entre

prazer e reflexatildeo no qual outras questotildees relacionadas vatildeo sendoentrelacadas como a questatildeo do Uno e do Multiplo - como sepode chamar por um unico nome geneacuterico prazer umamultiplicidade de prazeres aparentemente dessemelhantes entre si eo mesmo argumento poderia servir para os conhecimentos outraquestatildeo surge em decorrecircncia dessas a necessidade de seestabelecer categorias ontoloacutegicas para definir o prazer e asatividades relacionadas agrave reflexatildeo a saber o limite o ilimitado amistura e causa da mistura e ainda como tudo isso se relacionacom o projeto ontoloacutegico de Platatildeo a respeito do Bem

O dialogo potildee em tensatildeo todas essas questotildees e nos eacuteapresentado como uma peca dialeacutetica com passos tatildeo belos quantoenigmaticos Como consequecircncia disso o dialogo apresenta umaaparente falta de unidade tematica que durante muito tempo foium empecilho para uma interpretacatildeo ampla e integradora dodialogo na sua relacatildeo com o corpus platocircnico O tema do dialogo eacuteo prazer ou a vida de reflexatildeo ou o Bem ou ainda seria sobreuma vida mista entre as duas como sendo a mais feliz

A importacircncia desses temas em relacatildeo ao conjunto daobra de Platatildeo sobretudo pelas questotildees metafisicas e eacuteticas

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O

Caliope Presenca Classica | 20172 Ano XXXIV Numero 34

postas em relevo em sua articulacatildeo com todo o pensamentoplatocircnico sobre o Bem permitiu que os ultimos trinta anosassistissem a um renascimento da parte dos especialistas de seuestudo

Tendo em vista essa polecircmica em relacatildeo agrave unidadetematica o esquema de divisatildeo do dialogo ja foi apresentado dediversas formas2 segundo minha proposta pode ser estruturadoda seguinte maneira

1 Parte I Introducatildeo (11a-14b)a) As duas teses em disputa a vida boa ou o Bem consiste navida centrada no prazer e seus congecircneres ou na vidacentrada na reflexatildeo e nas coisas afins a essa (opiniatildeo corretae calculo racional)b) A vida feliz eacute resultante da disposicatildeo e da propriedade daalma haveria um terceiro estado superior a esses doisprimeirosc) A proposta de uma via intermediaria o Bem eacute o prazer areflexatildeo ou ainda haveria uma terceira possibilidade (14b)

2 Parte II A estrutura metafisica da realidade e o meacutetododialeacutetico da divisatildeo (14c-20b)a) O problema do Uno e do Multiplo em sua versatildeo maisbanalizada (14c-14e)b) As trecircs aporias sobre o Uno e o Multiplo a definicatildeo dadialeacutetica e o seu meacutetodo de divisatildeo como solucatildeo para asaporias (15a-17a) c) Os exemplos de limite e ilimitado as letras articuladas(fonemas) e as notas musicais (17a-18d)d) A proposta de aplicacatildeo da distincatildeo Uno-multiplo aoprazer e agrave reflexatildeo (18d-20b)e) Protarco sugere uma ldquosegunda rota de navegacatildeordquo pararepreender Soacutecrates (20andashb)

3 Parte III O discurso salvo por uma memoacuteria divinaa) Nem o prazer nem a reflexatildeo satildeo o Bem mas uma terceiracoisa diferente dessas duas e superior a ambas (20b-c)b) A definicatildeo do Bem os seus requisitos ndash suficienteperfeito e digno de escolha (20b)c) A aplicacatildeo desses requisitos agrave vida de prazer e de reflexatildeo(20c-22b)

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O Filebo prazer e intelecto em confronto | Simone de O Goncalves Bondarczuk

d) Trecircs vidas foram propostas mas nenhuma das duasprimeiras eacute suficiente e nem digna de escolha A vida mistaganha o primeiro precircmio (22b-23b)

4 Parte IV A necessidade de outro mecanismo (mekhaneacute) paraargumentar a favor do segundo precircmio (23c-31b)a) A definicatildeo dos quatro gecircneros ou espeacutecies nas quais sedivide tudo que ha no universo o limite o ilimitado a misturae a causa da mistura (23c-27c)b) A vida vitoriosa faz parte do terceiro gecircnero da mistura(27c-28b)c) Teleologia coacutesmica e a inteligecircncia (noucircs) como ldquorainha doceacuteu e da terrardquo (28c-29a)d) A alma do mundo possui sabedoria e inteligecircnciapertencentes ao gecircnero da causa que ordenam e regem todasas coisas (29a-31b)e) A inteligecircncia (noucircs) portanto pertence ao gecircnero da causa

5 Parte V O exame dos prazeres a sensacatildeo a memoacuteria e odesejo (31b-55c) a) A fisiologia do prazer dor e prazer como um parindissoluvel (31b-32b)b) A psicologia do prazer a reminiscecircncia (32b-34c)c) O desejo ou apetite por alguma coisa pertence agrave alma (34c-35d)d) O desejo da alma o tipo de vida correto e o prazer comoantecipacatildeo (35d-36c)e) Prazeres verdadeiros e falsos (36c-38c)f) Percepcatildeo aparente e real pensamento opiniatildeo e discurso(38c-40c)g) Os estados afetivos tecircm conteudo proposicional (40e-43b)h) O prazer natildeo se identifica com a cessacatildeo da dor (43c-46a)i) Os prazeres mesclados com dores (46a-50e)j) Os prazeres puros sem mistura com dor os prazeressensoriais a beleza das figuras os sons os aromas e osprazeres da aprendizagem (50e-53c)k) Conclusatildeo o prazer eacute um vir a ser (53c-55c)

6 Parte VI Exame do conhecimento os conhecimentos asartes e seu grau de exatidatildeo A superioridade da filosofia(55c-64c)a) Os conhecimentos e as artes com distintos graus deexatidatildeo e de pureza (55c-57e)

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b) A filosofia eacute superior a qualquer outro conhecimento ouarte (57e-59d)c) O Bem eacute a vida que consiste em uma mescla de sabedoria eprazeres puros (59e-64c)

7 Parte VII Os ingredientes eideacuteticos do Bem o posto doscandidatos na competecircncia pelo bem e a conclusatildeo (64c-67b)a) Beleza proporcatildeo medida e verdade como ingredienteseideacuteticos imprescindiveis ao Bem (64c -65e)b) A ldquotabela das posicotildees finaisrdquo na competicatildeo pelo Bem (i)a medida o mesuravel e o oportuno (ii) o proporcional e obelo o perfeito e o suficiente (iii) a inteligecircncia e a reflexatildeo(iv) conhecimentos artes e opiniotildees corretas (v) prazerescarentes de dor isto eacute prazeres ldquopurosrdquo (66a-66d)c) Conclusatildeo do dialogo se provou inteiramente pelodiscurso que era injustificada a pretensatildeo tanto do prazer quanto dainteligecircncia de ser o Bem em si mesmo por natildeo preencherem os trecircsrequisitos autonomia suficiecircncia e perfeicatildeo Entretantoexiste um prazer superior aos fisicos fruto da paixatildeo pelosdiscursos oraculares inspirados pela musa filosoacutefica (66d-67b)

A primeira grande subdivisatildeo do dialogo (partes I a IV)

refere-se ao procedimento dialeacutetico e portanto ela se reveste deuma importacircncia unica para a compreensatildeo da dialeacutetica a ponto deGadamer3 afirmar ldquoafinal de contas em nenhum outro dialogoplatocircnico a teoria da dialeacutetica esta tatildeo estreitamente enredada coma pratica da dialeacutetica como alirdquo4

Em consonacircncia com esse argumento Gill5 defende a tesede que a forma do dialogo acentua o necessario vinculo entreengajamento cooperativo de ambas as partes e o exerciciodialeacutetico rumo a uma compreensatildeo mais aprofundada dasrealidades e do Bem Aleacutem disso ele afirma que nessa perspectivao Filebo seria excepcional pela importacircncia que atribui a essascaracteristicas para o aperfeicoamento de toda a discussatildeo Aecircnfase nessas caracteristicas explicaria porque Soacutecrates nessedialogo tem de introduzir teoricamente o meacutetodo dialeacutetico comoum caminho para superar a primeira aporia surgida com a aparenteunidade (14a-e) recolhida e evidenciada no nome lsquoprazerrsquo e a

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multiplicidade de prazeres muitas vezes ateacute mesmo contrariosentre si Superar a afirmacatildeo surpreendente e paradoxal de que ldquoomultiplo eacute unordquo (ἓν τὰ πολλὰ εἶναι) e a afirmacatildeo de que ldquoo uno eacutemultiplordquo (καὶ τὸ ἓν πολλὰ) por meio do discurso apresenta-secomo o grande desafio Entretanto Soacutecrates tentara mostrar aProtarco que esse desafio soacute pode ser superado pelo exercicio dadialeacutetica pois a eristica praticada pelos sofistas natildeo podeadequadamente dar conta dele

Na segunda grande subdivisatildeo tematica (nas partes V e VI)Soacutecrates argumenta que incluira todos os conhecimentos namistura em busca da vida feliz mas apenas alguns prazeres osprazeres puros (da vida teoreacutetica e dos sentidos puros) aqueles quenatildeo foram misturados com dor e que satildeo verdadeiros por natildeoinduzirem ao engano Esses correspondem aos prazeres esteacuteticosde certos perfumes de algumas vozes claras das cores puras e dasformas geomeacutetricas e tambeacutem os prazeres intelectuais daaprendizagem e da investigacatildeo disciplinada e os prazeres eacuteticosque seguem as virtudes

Nos prazeres puros o que se desfruta eacute uma experiecircncia danatureza do belo e daquilo que eacute atrativo em si mesmo6

independente de um estado de tensatildeo que busque somente alivio(51c 6-7) eles ainda estatildeo relacionados agrave claridade agrave precisatildeo e agraveverdade Os prazeres impuros por sua vez possuem um lacoindissoluvel com a dor que Platatildeo procura ressaltar por meio douso de varias particulas e construcotildees com particulas - τε καὶ e δὲκαὶ - aleacutem do uso do adveacuterbio haacutema (simultaneamente) para enfatizaressa conexatildeo estreita

O prazer autecircntico eacute bom em si mesmo por natureza ouenquanto medido ou limitado pela razatildeo calculadora Platatildeo longede rechacar o prazer corporal de forma arbitraria como uminimigo procura integra-lo a vida feliz sempre que estaacompanhado pela inteligecircncia (noucircs) que pode prescrever lhe amedida adequada Comprova-se mais uma vez que a medida e aproporcatildeo salvam o prazer e o integram no conjunto de uma vidaplena A defesa da sabedoria acerca dos calculos dos prazeres

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autecircnticos da vida leva a conclusatildeo de que o sabio (sophoacutes) eacute ohomem mais feliz

O que chama atencatildeo no desenvolvimento do tema eacute ofato de desde o inicio Soacutecrates propor uma terceira via alternativapara definir qual seria a vida mais feliz e que por isso se constituiriano Bem e continuar insistindo nessa ideia ao longo do dialogo Ainsistecircncia em tal possibilidade leva a necessidade doestabelecimento de categorias ontoloacutegicas nas quais se possaincluir essa vida misturada de prazeres e atividades do intelectoPor fim a conclusatildeo sera que o Bem eacute a vida que consiste em umamescla de sabedoria e prazeres puros (Filebo 59e-64c)

Esses indicios na linha de desenvolvimento do tema nosfaz pensar que o propoacutesito ou intencatildeo visado por Platatildeo nodialogo em questatildeo seja definir os horizontes dessa vida mistadentro do escopo do seu projeto ontoloacutegico sobre o Bem

A DATACcedilAtildeO DO DIAacuteLOGO E A GEcircNESE DO TEMA

Em relacatildeo a sua posicatildeo no corpus platonicum pode-sedizer que ha um consenso entre os especialistas sobre o Filebo tersido composto nas ultimas duas deacutecadas da vida de Platatildeo e fazerparte do seguinte conjunto de dialogos Sofista Poliacutetico FileboTimeu Criacutetias e Leis Os dois primeiros nomes da lista satildeoseguramente anteriores aos outros e as Leis o ultimo O Criacutetiastem uma relacatildeo de continuidade com o Timeu e a posicatildeo doFilebo eacute incerta ou teria sido escrito entre o Poliacutetico e o Timeu ouentre Criacutetias e Leis e ainda haveria a possibilidade de algumaconcomitacircncia Quanto agraves possiveis datas os anos de 368 e 367aC seriam um terminus a quo para os seis dialogos no entanto eacutedificil de determinar uma data precisa para qualquer um deles7

Dessa forma o Filebo teria sido escrito entre duas trilogiassupostas de Platatildeo a primeira Sofista Poliacutetico e Filoacutesofo - o ultimonatildeo foi escrito mas anunciado - e a segunda Timeu Criacutetias eHermoacutecrates esse ultimo tambeacutem natildeo escrito Outra possibilidade eacuteque tivesse sido escrito depois da segunda trilogia e antes das LeisParticularmente essa eacute a posicatildeo assumida por Hackforth8 natildeo

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como uma certeza mas pela possibilidade de dar conta de uma dascaracteristicas mais singulares do Filebo a completa ausecircncia dereferecircncias politicas e num momento que se sabe que Platatildeo estariaenvolvido em um projeto politico concreto de estabelecer naSicilia na corte de Dionisio a sua Republica ideal Nas palavrasdesse estudioso

Soacutecrates e seus interlocutores discutem o bem para o homemcomo individuo e natildeo como membro da comunidade isso eacutesurpreendente no autor da Repuacuteblica Poliacutetico e Leis e pode serconsiderado como refletindo uma separacatildeo deliberada daespeculacatildeo politica que melhor se encaixa nos anos de 360-354 do que em qualquer outro periodo das ultimas duasdeacutecadas da vida de Platatildeo (Traducatildeo nossa)9

Essa pausa na especulacatildeo politica ao qual se refere natildeodeve representar uma interrupcatildeo mesmo momentacircnea noprojeto filosoacutefico de Platatildeo como Hackforth da a entender emparticular definindo o dialogo em questatildeo com a expressatildeo umpiegravece drsquooccasion Em seu entender a obra marcaria uma espeacutecie deinterrupcatildeo tematica na sequecircncia dos dialogos platocircnicospressupondo que a sequencialidade da escritura seja umaprerrogativa do filosoacutefico Uma abordagem historicista neste casonatildeo ajuda a entender a gecircnese da obra e ateacute mesmo parecerestringir o projeto do filoacutesofo no qual a dimensatildeo politica natildeo semostra dissociada de sua dimensatildeo ontoloacutegica

Em minha opiniatildeo deve-se ter em mente o tempo todoque o escopo de toda a obra de Platatildeo aponta invariavelmentepara o Bem embora os propoacutesitos ou intencotildees dos dialogosindividualmente parecam estar sempre em tensatildeo dialeacutetica entre sigirando em torno de assuntos variados Portanto a questatildeo doprazer tem de ter alguma relacatildeo com o Bem e a vida feliz e ainvestigacatildeo para determinar o seu lugar na vida do filoacutesofo natildeoesta em desarmonia com o projeto de Platatildeo em um momentoespecifico ou eacute um tema secundario mas encontra ecos anterioresnos dialogos Goacutergias na Repuacuteblica e tambeacutem no Banquete

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Segundo Boeri10 Platatildeo parece ter se sentido particularmente comprometidode dar um lugar ao prazer na vida boa e principalmente emdemonstrar a sua importacircncia para a vida do filoacutesofo como oprazer contribuiria para a ascensatildeo ao Bem Se levassemos agrave riscauma leitura asceacutetica do platonismo o prazer teria pouca ounenhuma importacircncia em uma vida teoreacutetica no entanto como sepode contemplar a beleza do Bem sem a contemplacatildeo da belezasensivel dos corpos que visa o prazer como se diz no BanquetePortanto uma leitura rigorosamente asceacutetica natildeo parece condizercom varios passos de outros dialogos como se procurara mostrarA via dialeacutetica natildeo eacute uma via racional e arida e Platatildeo estaparticularmente comprometido em demostrar issoSoacute para citar alguns exemplos do corpus platocircnico no Goacutergias opersonagem Soacutecrates conduz a discussatildeo sobre o prazer daseguinte forma logo depois de Calicles ter afirmado que o homemfeliz seria o que se entregasse a todos os prazeresindiscriminadamente

SoacutecratesFui eu que conduzi a discussatildeo para estes temas meu caro oufoi aquele que com todo o embaraco afirmou que afelicidade consiste no prazer de qualquer ordem semdistinguir entre bons e maus prazeres Pergunto-te mais umavez se em tua opiniatildeo o prazer e o bem satildeo uma e amesma coisa ou se haacute prazeres que natildeo satildeo bons

CaliclesSe te dissesse que eram coisas diferentes entraria emcontradicatildeo com as afirmacotildees que ja fiz Mantenhoportanto que satildeo a mesma coisa

SoacutecratesDas cabo de tudo o que assentamos Calicles e natildeo poderasrealizar comigo uma investigacatildeo correta da verdade se tepotildees a falar contra o teu proacuteprio pensamento

CaliclesExatamente como tu fazes Soacutecrates

Soacutecrates

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Se isso eacute verdade faco tatildeo mal como tu Mas reflete meucaro que talvez o Bem natildeo se identifique com toda aespeacutecie de prazer A ser assim verificar-se-iam asconsequecircncias vergonhosas a que ha pouco aludi e muitomais (494 e 10 ndash 495 a e b 2 Grifos nossos)11

Soacutecrates ao questionar nessa passagem se o prazer e o bemsatildeo uma e a mesma coisa ou se haacute prazeres que natildeo satildeo bons propotildee naverdade uma discussatildeo ou revisatildeo sobre a ontologia do Bem ouuma agatologia que no Filebo assumira inicialmente a forma de umaontologia de uma vida boa12 na qual o prazer deve ser parteconstituinte

Da mesma forma tambeacutem com essa afirmacatildeo de quetalvez o Bem natildeo se identifique com todo tipo de prazer ele aponta para anecessidade de examinar a questatildeo mais a fundo propondo nasentrelinhas a necessidade de submeter o prazer a uma divisatildeo e deuma classificacatildeo dos prazeres para melhor compreender em quemedida ele eacute o Bem No entanto Soacutecrates natildeo daraprosseguimento a essa investigacatildeo ao longo desse mesmo dialogomas antecipa um esboco de uma tese sobre as espeacutecies de prazeresque sera retomada e desenvolvida no Filebo Pode-se constatar tambeacutem na Repuacuteblica 505b a importacircncia dotema ao examinarmos o seguinte excerto

Se natildeo a conhecemos e agrave parte essa ideia conhecermos tudoque ha sabe que de nada nos serve da mesma maneira quenada possuimos se natildeo tivermos o bem Ou julgas que vale demuito possuir qualquer coisa que seja se ela natildeo for boa Ouconhecer tudo o mais exceto o bem e natildeo conhecernada de belo e bom

ndash Por Zeus que natildeondash Mas na verdade sabes tambeacutem que para a

maioria (hoi polloiacute) eacute o prazer que se identifica com o bem aopasso que para os mais requintados (kompsoteacuteroi) eacute o saber

ndash Pois natildeondash E os que assim pensam meu amigo natildeo satildeo

capazes de explicar o saber mas acabam por ser forcados adizer que eacute o saber do bem

ndash Coisa que eacute bem ridicula[]

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ndash E agora os que definem o bem com prazer estatildeomenos eivados de erros do que os outros Ou natildeo satildeotambeacutem eles forcados a concordar que ha prazeres maus

ndash Seguramente que sim

Nesse passo segundo Soacutecrates existe portanto umaopiniatildeo ja estabelecida pelo senso comum (hoi polloiacute) de que oprazer se identifica com o Bem enquanto para os maisrequintados ele se identifica com o saber Essa primeira oposicatildeosuperficial levara a outra mais fundamental que integra um dosnucleos da metafisica platocircnica - a questatildeo do Uno e do Multiplo ndashporque a essecircncia do Bem natildeo pode ser dupla mas uma ou unapor isso tera que se decidir entre as duas alternativas ou umaterceira que se aproxime mais do Bem Em outras palavras o queele persegue eacute como conciliar e fundamentar filosoficamente arelacatildeo do Uno e do Multiplo com o Bem toacutepico esse quetambeacutem natildeo desenvolve na Repuacuteblica

O Banquete por sua vez deveria ter uma relacatildeo importantecom o tema do prazer uma vez que trata do mito de Eros em suarelacatildeo com Afrodite que explicitamente eacute chamada de prazer noFilebo Essa relacatildeo talvez pouco evidente do ponto de vistateoreacutetico natildeo me parece de menos importacircncia hermenecircutica Aquestatildeo eacute definir ateacute que ponto pode-se estender a analogia domito de Eros e Afrodite ao tema do prazer e do conhecimentocomo eacute apresentado no Filebo que embora tenha sido consideradocomo um dialogo eacutetico por muitos claramente se mostrou comoestando inserido no plano ontoloacutegico de Platatildeo em relacatildeo aoBem13

No entanto o Banquete natildeo eacute considerado um dialogo detema ontoloacutegico mas natildeo deveria passar despercebido que Platatildeoali estabelece uma categoria nova de existir no mundo ndash expressano uso da preposicatildeo metaxyacute ndash uma posicatildeo intermediaria entredeuses e homens a posicatildeo do daiacutemon a mesma de Eros a mesmado filoacutesofo e de Soacutecrates essa nova categoria do ponto de vistaepistemoloacutegico ainda pode ser entendida como qualquer coisaentre a sabedoria e a ignoracircncia definida por Diotima como oopinar corretamente (tograve orthagrave doxaacutexein)

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Tal posicatildeo eacute definivel em termos de participacatildeo O mito diz queEros tanto eacute rico em expedientes como eacute indigente a ponto deestar sempre na falta de alguma coisa dor e prazer se enlacamnecessariamente no movimento de Eros mas natildeo de modonegativo pois a dor da falta eacute que impulsiona ao desejo depreenchimento Por outro lado no Filebo Soacutecrates retorna a esseponto ao falar dos prazeres puros incluindo nessa categoria osprazeres do aprendizado e procura purifica-los desse aspectodoloroso O filoacutesofo leva Protarco a concluir que se algueacutem forprivado desses ensinamentos natildeo sentira de modo natural dor porcausa dessa perda mas apenas ao raciocinar sobre essaexperiecircncia Ou seja ele procura separar a experiecircncia pura doaprendizado (χωρὶς τοῦ λογισμοῦ) como uma experiecircnciaprazerosa em si14

Ademais Diotima levanta uma importante questatildeo emrelacatildeo ao opinar corretamente como pode um aacutelogon pracircgma serciecircncia por um lado mas como pode ser ignoracircncia (natildeoconhecimento) se ao mesmo tempo recolhe o ser (toucirc oacutentos) Esseestatuto ontoloacutegico estabelecido por Platatildeo deixa em aberto agravequestatildeo do prazer pois esse mesmo sendo movimento e geracatildeonatildeo suficiente em si mesmo natildeo poderia ser um bem mas comovir a ser vem a ser a partir de alguma coisa e natildeo seria essa coisa oBem Qual a relacatildeo entre prazer e Bem Mais uma vez constata-se que essas questotildees de alguma forma seratildeo retomadas no Filebo

A meu ver se existe uma divindade patrona da filosofiaessa divindade deve ser Eros porque eacute esse sobretudo em suaacircnsia de preencher-se e na sua propensatildeo ao belo que se move efaz mover na direcatildeo do objeto de seu amor e qual coisa segundoPlatatildeo seria mais desejavel e amoravel do que o bem A proacuteprianatureza intermediaria de Eros sempre acompanhado de prazer edor entre o sensivel e o inteligivel constroacutei uma relacatildeo entre oamor ao belo sensivel e ao belo inteligivel que por forca danarrativa mitica satildeo inseparaveis Mas essas relacotildees assimexpostas em uma linguagem imageacutetica do mito ainda natildeo datildeoconta de definir os horizontes da exata relacatildeo entre prazer e Bem

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O personagem Soacutecrates entatildeo questionara - a partir da tesede Filebo de que o prazer constitui a vida boa ndash se o prazer tem ounatildeo espeacutecies e quantas e quais satildeo e depois fara o mesmo emrelacatildeo agraves atividades do intelecto para concluir por uma terceiravia ja elucidada desde o inicio do discurso de que a vida mista seriaa vida boafeliz e essa sim seria o Bem

Sendo assim Soacutecrates procurara dist inguir naargumentacatildeo segundo o meacutetodo dialeacutetico da divisatildeo quais satildeo osprazeres ruins e quais bons mas ja admitindo previamente ser amaioria deles ruim como se vecirc no excerto abaixo

Porque estas chamando essas coisas ainda quedessemelhantes diremos noacutes com outro nome pois dizesserem boas todas as coisas prazerosas Ora certamentenenhum argumento pode contestar tal afirmacatildeo dizendo queas coisas prazerosas natildeo satildeo prazerosas mas dizendo que amaioria delas eacute ruim e umas boas15 como noacutes afirmamos16

A naturalidade desse tema que subsumi o senso comum deque ser feliz de alguma forma eacute se entregar aos prazeres torna-osempre atual e relevante e confronta-nos com os seguintesquestionamentos todo prazer implica necessariamente em umbem Como o prazer participa do Bem em si mesmo Ou comoalguns defendem uma vida baseada soacute na reflexatildeo natildeo seria maisproveitosa aos homens Tais questotildees satildeo o motor propulsor quefazem mover o dialogo

Na Antiguidade o tema do Filebo a saber o prazer e suasinjuncotildees eacuteticas e metafisicas foi objeto de multiplos comentariosde Aristoacuteteles ateacute os ultimos neoplatocircnicos17 As escolas deinterpretacatildeo sempre alternaram entre dois campos deinterpretacatildeo Eacutetico ou Metafisico (escola de Jacircmbico) Ocomentario mais completo que chegou ateacute noacutes da Antiguidade foio de Damascio18 ndash Comentaacuterio ao Filebo de Platatildeo ndash o qual ja ilustracerta polecircmica antiga acerca do tema

Alguns dizem que o escopo do Filebo eacute o prazer como osubtitulo demonstra e tambeacutem o proacuteprio Soacutecratesprimeiramente ao se propor discutir sobre o prazer (11b4-

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c3) e depois a examinar as coisas a esse respeito efinalmente por concluir o seguinte que o prazer natildeo eacute afinalidade (teacutelos) da vida[]Ainda na opiniatildeo de Pisiteo o aluno de Theodoro de Asino odialogo eacute sobre a Inteligecircncia como dizem tambeacutem que oParmecircnides eacute sobre o Bem Isso porque na discussatildeo da vidamista (na qual inteligecircncia e prazer estatildeo misturados) aInteligecircncia ela mesma eacute o primeiro (elemento) na mistura(1959 p 2) (Traducatildeo nossa)

Nesse passo Damascio faz uma espeacutecie de revisatildeohistoacuterica das interpretacotildees correntes dos neoplatocircnicos sobre atematica do Filebo partindo do ponto de vista tradicional de Procloe destacando a discordacircncia entre os seus comentadores Valeressaltar o fato de nenhum dos comentadores da Antiguidadedizerem que o dialogo eacute sobre a vida mista A interpretacatildeo queDamascio dara ao tema do prazer sera considerada uma leituramais aristoteacutelica diversa de seus predecessores preocupadossomente em interpretar a doutrina de Platatildeo e que soacute recorrem aAristoacuteteles para acrescentar um elemento a mais o prazer natildeo eacute soacuteo preenchimento de uma falta mas o resultado suplementar deuma atividade

Ao comentar sobre as diversas interpretacotildees a respeito dotema numa perspectiva historiografica Dorothea Frede19 diz que amaior parte dos comentadores dirigiu a sua atencatildeo para um unicoaspecto seja ao discutir a passagem sobre metodologia e ontologiaseja se limitando agrave discussatildeo do prazer sem dar valor ao conjuntodo dialogo Sendo assim pode-se constatar que natildeo haviaconsenso interpretativo em relacatildeo ao tema na Antiguidade e nemtampouco na contemporaneidade

Retornando ao dialogo Soacutecrates do inicio apresenta asduas teses ou concepcotildees da existecircncia humana ja discutidasanteriormente que o prazer e seus congecircneres implicam em umavida boafeliz e a outra que diz que a vida de reflexatildeo e seuscongecircneres satildeo responsaveis por isso Tais argumentacotildees iratildeo sedesenvolver no sentido de determinar qual dos dois tipos deexistecircncia estaria mais aparentado ao Bem sendo que um terceiro

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tipo de vida possivelmente superior eacute assinalado desde o principioPode-se dizer portanto que a questatildeo teoacuterica central gira emtorno da articulacatildeo entre uma questatildeo eacutetica ndash no que consiste avida boafeliz ndash e de uma ontoloacutegica ndash como a vida boafeliz estarelacionada com o Bem

O BEM COMO PONTO DE PARTIDA DA DISCUSSAtildeO

Logo na primeira secatildeo do dialogo em uma tentativa deestabelecer as condicotildees de um dialogo positivo que assegure aconcordacircncia dos interlocutores em engajar-se numa discussatildeohonesta do ponto de vista intelectual Soacutecrates inicia da seguinteforma

SoacutecratesOlha soacute Protarco que discurso tu estas (disposto) a aceitaragora o de Filebo ou frente ao nosso discurso refuta-lo casote natildeo seja exposto segundo o que eacute inteligivel Queres querecapitulemos cada um deles

ProtarcoCertamente que sim

SoacutecratesPois bem sobre isso Filebo afirma ser bom (agathoacuten) paratodos os viventes o regozijar-se o prazer e o gozo aleacutem dascoisas que estatildeo em consonacircncia com esse gecircnero poreacutem denossa parte a refutacatildeo eacute que natildeo satildeo essas coisas mas sim opensar e a percepcatildeo inteligivel bem como o recordar e aindaas coisas desse mesmo gecircnero como a opiniatildeo exata e osraciocinios verdadeiros as quais satildeo superiores e maisdesejaveis do que o prazer para todos quantos satildeo capazesdelas participar e tambeacutem satildeo elas as mais uteis para todosaqueles que satildeo e viratildeo a ser capazes de usufrui-las Natildeo eacuteassim natildeo como cada um de noacutes afirma Filebo (Traducatildeonossa)

O uso do termo agathoacuten em todo o dialogo eacute ambiguo poistanto pode ser entendido como o adjetivo bom como eacute entendidonesse excerto acima ou compreendido como se vera adiante pela

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ideia do Bem A ocorrecircncia dessa ideia no corpus platocircnicocostuma aparecer substantivada pelo artigo e ou em formacontraida tagathoacuten quando se refere ao Bem20 Portanto a palavracomo usada nesse excerto acima gera uma ambiguidade pois podesignificar tanto que o prazer eacute bom ou seja eacute uma espeacutecie de bem(que participa do Bem) ou eacute o Bem em si mesmo se assumirmosque mesmo sem o artigo a palavra possa significar o Bem

Ao observar-se todos os usos dessa palavra em seuscontextos especificos no dialogo constatamos que tal ambiguidadeeacute deliberada quase metade dos exemplos aparecem com artigo e aoutra metade sem o artigo Assim sendo Platatildeo sustenta essaambiguidade ateacute o fim de alguma maneira para paulatinamenteultrapassa-la valendo-se do meacutetodo dialeacutetico da divisatildeo natentativa de definir o Bem de maneira mais precisa e identifica-locom a vida boafeliz

Em contraposicatildeo a tese de Filebo o personagem Socratessustenta neste mesmo passo que as atividades do intelecto satildeoqualitativamente superiores Isto fica evidente ao usar adjetivos nograu comparativo de superioridade por meio dos quais ele procuraidentificar a vida de reflexatildeo como algo em si mesmo superiormais desejavel e mais util e por isso mais aparentada ao Bem Orefletir e seus congecircneres satildeo comparativamente melhores do queo regozijar-se e seus congecircneres demonstrando claramente que eleesta considerando esses ultimos como sendo um bem relativo Naverdade Soacutecrates introduz a pressuposicatildeo de que se a vida dereflexatildeo eacute melhor talvez seja porque haja prazeres bons e outrospiores

Nesse ponto do dialogo nem o personagem Soacutecrates nemFileboProtarco estatildeo preocupados em definir a questatildeo mas emestabelecer as bases de um campo comum de discussatildeo paraconduzi-la no sentido de responder ao longo do dialogo quais satildeoas exatas relacotildees entre o prazer a vida fundada na reflexatildeo e oBem Concordo com a leitura precisa de Delcomminette sobre oescopo do dialogo ldquoTodo o dialogo pode ser lido como umatentativa de descobrir a relacatildeo correta entre o prazer e o bem e defundamenta-la dialeticamenterdquo21

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O prazer tem um mesmo nome mas eacute multiplo o conhecimentotem um mesmo nome e igualmente eacute multiplo O nome soacute podeser visto como um se for entendido como conceito mas ateacuteaquele momento o que eacute um conceito para noacutes ainda natildeo haviasido definido pelos gregos como categoria de pensamento22 Sendoassim se estabelece a necessidade de argumentar sobre assemelhancas e as dessemelhancas entre os prazeres a partir dasquais se possa considera-los como o mesmo e da mesma formaproceder com as coisas referentes agrave reflexatildeo

Na intencatildeo de buscar um ponto de partida comum para odesenvolvimento desse caminho de pensamento o personagemSoacutecrates recrimina a interpretacatildeo ingecircnua de Protarco sobre oproblema do Uno e do Multiplo

SoacutecratesFalo do que aconteceu um pouco antes do que pela proacuteprianatureza surgiu como algo extraordinario pois de fato eacutesurpreendente a afirmacatildeo de que ldquoo multiplo eacute unordquo quantoa afirmacatildeo de que ldquoo uno eacute multiplordquo e qualquer umadessas duas seria facilmente contestada se proposta dessemodo

ProtarcoEntatildeo sera que estas querendo dizer quando algueacutem sereferir a mim Protarco nascido como unico por natureza sereu ao inveacutes disso muitos e contrarios tanto a mim mesmoquanto uns aos outros por admitir o grande e o pequeno opesado e o leve o mesmo e tambeacutem incontaveis outros

SoacutecratesTu Protarco estas afirmando o que se estabeleceupublicamente das admiraveis discussotildees a respeito do um e domultiplo e que foi admitido por assim dizer ja por todosNatildeo se deve no entanto acolher de imediato dentre taiscoisas o pueril o facil ou ainda o que possa vir a se tornarum grande obstaculo para o discurso aprovando-os poisnem mesmo quando depois de ter dividido os membros esimultaneamente as partes do discurso e de ter concordadoque todas essas coisas eram aquele um ainda assim algueacutempoderia refutar de modo zombeteiro que foi obrigado a dizer

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um prodigio o um como multiplo eacute tambeacutem ilimitado e omultiplo como um eacute unico (traducatildeo proacutepria)

A aporia da afirmacatildeo de Protarco fica ainda mais claraadiante no dialogo quando Soacutecrates relaciona o Uno e o Multiplocom duas categorias de pensamento o limite e o ilimitado comoalgo poderia ter limite e ser ilimitado ao mesmo tempo Aleacutem domais o que Protarco natildeo se da conta eacute de que Soacutecrates querinvestigar o Uno e o Multiplo nas Formas as quais natildeo se devemaplicar predicados de qualidades sensiveis O personagem Soacutecratesresponde assim a pergunta de Protarco sobre qual seria a outraversatildeo natildeo banalizada desse argumento ldquoeacute quando filho algueacutemcoloca o um mas natildeo aquele do qual agora ha pouco falamos dascoisas que vecircm a ser e perecemrdquo (15 a tocircn gignomeacutenon ndash das coisasadvenientes)

Fica evidente entatildeo o erro de Protarco ao confundir aunidade empirica com a unidade formal a Forma ou a Ideia Aabordagem socratica seria pode-se dizer ontoloacutegica enquanto ade Protarco empirica por isso Soacutecrates precisa primeiro conduzirProtarco a esse denominador comum da discussatildeo (movimentoclaramente expresso no verbo synkhoreacuteo ndash reunir no mesmo siacutetioderivado composto de khoacutera territoacuterio regiatildeo lugar) para entatildeoproceder ao meacutetodo dialeacutetico da divisatildeo

Platatildeo ja havia estabelecido desde os dialogos damaturidade que a unidade genuina ou originaria era uma Forma ouIdeia (eicircdos ideacutea) a unica originariamente una e que dentre estas aforma suprema ou final na hierarquia seria o Bem Amultiplicidade por sua vez estaria associada aos particularessensiveis - exemplificacotildees desses originarios que satildeo as formas - eque estatildeo para o adveniente assim como as ideias estatildeo para o SerComo conciliar portanto os conceitos de um Uno-supremo comum Uno-Multiplo relacional uma vez que todas as realidadesparecem ser unas e multiplas simultaneamente Para Platatildeo soacute aaplicacatildeo do meacutetodo dialeacutetico esse caminho lsquopresente dos deusesrsquopode desfazer essa primeira aporia que o multiplo seja uno e ouno seja multiplo

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Ainda ao concluir a secatildeo 15 a ele afirma ldquoeacute sobre essashecircnades23 e sobre coisas desse tipo que muito empenho gera arefutacatildeo ou controveacutersia pelo meacutetodo da divisatildeordquo (traducatildeoproacutepria)24 Essa afirmacatildeo soa como uma espeacutecie de observacatildeoautocritica muito zelo com o meacutetodo da divisatildeo em se tratando dehecircnades eacute perigoso por causa da sua proacutepria natureza una Natildeo eacuteuma critica necessariamente ao meacutetodo da divisatildeo fundamental nadialeacutetica platocircnica mas uma constatacatildeo da dificuldade deapresentar essas hecircnades discursivamente por causa da sua proacuteprianatureza paradoxal

Pode-se dizer sobretudo que o foco teoreacutetico de Soacutecrateseacute entender o fundamento dessas hecircnades ndash as formas unas em simesmas ndash que ele exemplifica como o homem como um o boicomo um o belo como um o bem como u m (esses dois ultimosexemplos canocircnicos da teoria das Formas) Por causa dessaafirmacatildeo de Soacutecrates muitos inteacuterpretes viram na teoria platocircnicada realidade natildeo uma ontologia mas uma henologia na qual o uno eacutea origem do real e o conceito de ser deriva dele25

Concluindo procurei mostrar nesse artigo em linhas geraise amplas a habilidade surpreendente de Platatildeo por meio dapersonagem Soacutecrates em desenvolver uma argumentacatildeo sobretemas tatildeo complexos mostrando e aplicando cuidadosamente omeacutetodo dialeacutetico para o filoacutesofo o modo supremo de apreensatildeodo real com vistas a resolver um problema que de longe eacute simpleso Bem eacute em Platatildeo o fundamento ontoloacutegico de uma vida felizComo se pode definir o Bem em termos de uma vida mista deprazeres e conhecimentos

Retomando a nocatildeo de escopo dos antigos exegetasneoplatocircnicos26 poder-se-ia dizer que o tema principal do Filebo eacuteo Bem mas o propoacutesito do dialogo eacute definir como a vida mistapode ser esse Bem

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O Filebo prazer e intelecto em confronto | Simone de O Goncalves Bondarczuk

ABSTRACT

Philebus Face-off of Pleasure and Intellect

The dialogue Philebus for a long time was dropped by thetradition of Platonic studies and is considered a complex dialoguedue to an alleged lack of thematic unity In the last thirty years theinterest in it revived with strength and its relevance to a broaderunderstanding of the theoretical thinking of Plato was finallyrecognized This article aims to introduce the reader on the coreissues of the dialogue namely What constitutes a good life wouldit be a life dedicated to pleasure or dedicated to understanding Orit would be a mixture between these two lives And which of thethree conceptions of life are closer to the Good

KEYWORDS

Philebus Socratic dialogue Pleasure Intellect the Good

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O Filebo prazer e intelecto em confronto | Simone de O Goncalves Bondarczuk

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PLATOacuteN Filebo Introduccioacuten traduccioacuten y notas de Marcelo Boeri BuenosAires Losada 2010

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1 Deixo de lado a questatildeo de quem teriam sido os primeiros receptores dosdialogos de Platatildeo que natildeo eacute relevante para os objetivos deste artigo Asuposicatildeo mais imediata nos indica seus discipulos membros da Academia Osdialogos teriam sido como hypomnemata que auxiliavam na discussatildeo mas muitosos consideram principalmente dirigidos aos adversarios intelectuais do mestreos sofistas e os reacutetores e ainda pode-se supor que tenham sido escritos comolegado agrave posteridade Dado a situacatildeo de analfabetismo da eacutepoca dificilmenteeles visavam um publico leigo e natildeo aristocratico 2 Soacute para citar algumas propostas diferentes Diegraves (1949) Boeri (2010)Friedlaumlnder (2014)3 GADAMER 2009 p 1034 Constata-se isso na insistecircncia de Soacutecrates desde o inicio de buscar entrar emacordo com o seu interlocutor sobre o tema que discutiratildeo e de como devemtrata-lo A concepcatildeo da dialeacutetica como uma busca compartilhada eacutedesenvolvida com maestria no Filebo5 GILL 2010 p 47-556 Cf Banquete 204 b-c 206 c-e7 HACKFORTH 1972 p 18 Idem ibidem p 49 ldquoSocrates and his interlocutours discuss the good for man as individual not amember of a community this is surprising in the author of Republic Statesmanand Laws and may be taken to reflect a deliberate detachment from politicalspeculation such as better fits the years 360-354 than any other period in Platorsquoslast two decadesrdquo (1972 p 4)10 BOERI 2010 p 911 PLATAtildeO 2011 p 140 12 BRAVO 2009 p 16813 Sem sombra de duvida o comentarista que definitivamente conseguiudemonstrar isso foi Sylvain Delcomminette em sua obra magistral Le Philegravebe dePlaton Introduction agrave lrsquoagathologie platonicienne14 Filebo 52 a-b15 κακὰ δ ὄντα αὐτῶν τὰ πολλὰ καὶ ἀγαθὰ δέ ὡς ἡμεῖς φαμέν (Filebo 14b)16 Filebo 13b17 Plotino faz varias referecircncias ao dialogo no Livro III 588 IV 3634 VI7252tambeacutem Porfirio seu mestre comenta algumas linhas do dialogo em seusComentaacuterios ao Timeu de Platatildeo fr 5170-3 e ainda Alexandro de Afrodisia emComentaacuterio ao livro VIII dos Toacutepicos de Aristoacuteteles onde cita e interpreta de modoaristoteacutelico a passagem de Filebo 12d Ademais sabe-se da existecircncia de umcomentario perdido de Proclo ao Filebo e um comentario de Jacircmbico cuja unicafonte eacute o proacuteprio comentario de Damascio sobre esse dialogo18 Nasceu em Damasco na provincia romana da Siria lugar de onde provem oseu nome (o nome original eacute desconhecido) Foi filoacutesofo da escola neoplatocircnicaateniense (458 dC ndash apoacutes 538) conhecido como o ultimo dos neoplatocircnicospor ter sido o ultimo escolarca da Escola de Atenas antes do seu fechamentopelo imperador Justiniano em 529 dC Duas obras satildeo atribuidas a ele acerca doFilebo Tratado dos Primeiros Princiacutepios e Comentaacuterios ao Filebo de Platatildeo (textosestabelecidos por LG Westernik e natildeo traduzidos para o portuguecircs)

19 FREDE 2013 p 50220 Natildeo eacute inquestionavel que para Platatildeo o substantivo e o adjetivo fossem entendidos como um ente e seu predicado pois ambos satildeo denominados de oacutenoma e portanto vistos como entes 21 ldquoTout le dialogue peut ecirctre vu comme une tentative de deacutecouvrir larelation correcte entre le plaisir et le bien et de fonder dialectiquementerdquo(DELCOMMINETTE 2006 p 31)

22 Os especialistas natildeo estatildeo de acordo ainda se teria sido Platatildeo ou Soacutecrates ocriador do conceito23 Natildeo eacute facil determinar o sentido exato desta palavra usada uma unica vez porPlatatildeo nesse contexto portanto um haacutepax legoacutemena sem ocorrecircncia em outrosdialogos Talvez Platatildeo se refira a formas unas de aspecto uno se supormosuma etimologia a partir da juncatildeo de heacutena (neutro plural de heacuten) unidades e a raizeid- de eicircdos forma aparecircncia aspecto ou seja o que tem um aspecto uacutenicouno

24 περὶ τούτων τῶν ἑνάδων καὶ τῶν τοιούτων ἡ πολλὴ σπουδὴ μετὰ διαιρέσεωςἀμφισβήτησις γίγνεται (Filebo 15a 6-7)25 Sobre esse assunto cf BRAVO 2009 p 17026 ALEKNIENEgrave 2017 p 1

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Aedoacuten performance poeacutetica de lasvictimasGraciela C Zecchin de Fasano

RESUMEN

La figura del ruisentildeor atestiguada por primera vez en el canto 19de Odisea (v 518-523) aparece tambieacuten en la fabula contenida enTrabajos y diacuteas (v 202-212) de Hesiodo y en la comedia Aves deAristoacutefanes El presente articulo analiza con metodologiacomparativa la peculiar representacioacuten de la victima de algun tipode violencia en los textos citados y queacute interpretacioacuten se puedederivar en cada contexto discursivo especifico

PALABRAS CLAVE

Aedoacuten Homero Hesiodo Aristoacutefanes

SUBMISSAtildeO 29 dez 2017 | PUBLICACcedilAtildeO 31 dez 2017

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unque los poemas homeacutericos expresan regularmentela ideologia masculina de la gloria las aristassocialmente excluidas pueden ser presentadasconforme a las posibilidades expresivas del arteinsertas en medio de los toacutepicos tradicionalmenteconstitutivos Tal como sucede con la representacioacutende las victimas femeninas para las cuales la conversioacutenen aves permite con la imagineria del canto dar vozespecial a los silenciados y particularmente a lasmujeres En el canto 19 de Odisea (v 518-523)Homero utiliza una versioacuten inusual del mito de laconversioacuten de una mujer en ruisentildeor En el texto laimagen del ave inaugura una presencia de la liricaasociada al lamento que ha tenido interesantes

consecuencias1 En primer lugar dentro del corpus de la literaturagriega misma el ruisentildeor homeacuterico resultoacute desplazado por lapresioacuten didactica de la fabula hesioacutedica y en segundo lugar luegofue significativamente reemplazado por la versioacuten mas politica ydifundida acerca del mito de Procne y Filomela en textos de lacomedia y la tragedia Analizareacute en queacute modo el ruisentildeor homeacutericoproblematiza nuestra comprensioacuten de la mimesis en eacutepica y enlirica y queacute consecuencias conlleva su estudio comparativo contextos posteriores como la conocida ldquofabula del ruisentildeor y elhalcoacutenrdquo en Trabajos y diacuteas de Hesiodo o en la sofisticada comediade Aristoacutefanes llamada Aves

UN RUISENtildeOR EN ODISEA UNA VERSIOacuteN DE LA LIacuteRICA FEMENINA

En el pasaje de Odisea mencionado (19 v 518-523)Peneacutelope se halla en una situacioacuten animica calamitosa devastadapor el llanto el insomnio o las pesadillas que se comunica comoun canto de lamento Presentada de este modo la pena dePeneacutelope desarrolla en medio de un discurso eacutepico una mimesis ouna ldquoperformancerdquo de la lirica La forma lirica especifica del cantode lamento no resulta vertida directamente sino a traveacutes de ladescripcioacuten de una variacioacuten foacutenica en que Peneacutelope se compara a

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A

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si misma con un ruisentildeor el ave tipica del lamento en las antiguastradiciones griegas Peneacutelope se imagina como una mujer-ave queen una vida anterior ha sufrido la extraordinaria pena de asesinar asu hijo

El mito de Aedoacuten palabra griega que significa ruisentildeornos ha llegado en dos versiones2 Por un lado la versioacuten canoacutenicamas expandida en la tradicioacuten posterior es la que trata acerca deProcne y Filomela o Aedoacuten y Calidoacuten proporcionada por latragedia Ovidio y la Biblioteca de Apolodoro Tereo el esposo deProcne viola a Filomela quien trata de revelar la verdad a suhermana tejiendo su propia historia en un tapiz Procne enojadaasesina a Itys el hijo que tiene con Tereo y le sirve sus carnes alpadre como comida Con esta accioacuten Tereo queda sin herederos yabsolutamente contaminado de culpa La progenie es cortadaabruptamente pero Procne que amaba a su hijo lo lamentaracantando su pena como un ave indefinidamente La primerainferencia obvia en este relato es que Procne a diferencia dePeneacutelope en el pasaje de Odisea esta usando su poder para dantildeardirectamente a su marido en una venganza concreta

Por otro lado una segunda versioacuten del mito la quecontiene Odisea se halla tambieacuten en un escolio de Eustacio aFereacutecides Segun esa versioacuten Aedoacuten esta casada con Zeto elfortificador de Tebas y tienen un unico hijo Itylos mientras elgemelo de Zeto Anfioacuten esta casado con Niobe y tienen varioshijos3 Aedoacuten celosa de esta multiple progenie intenta matar al hijomayor de Niobe y en la oscuridad por error asesina a su propiohijo En el escolio de Eustacio se dice que Aedoacuten ordenoacute a su hijodormir en otra habitacioacuten pero el joven no la obedecioacute o bienolvidoacute la orden materna

iquestPor queacute Odisea se sirve de la versioacuten tebana del mito delruisentildeor cuando se ha demostrado el vinculo estricto que elpoema guarda con los origenes de Atenas4 iquestPor queacute esta versioacutentebana no ha gozado de la tradicioacuten literaria que la versioacutenateniense de Procne y Filomela ha recibido

Los v 518-523 del canto 19 de Odisea constituyen laprimera parte de un simil con la estructura habitual en Homero es

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decir una comparacioacuten en dos partes introducida por unsubordinante rutinario ldquocomo cuandordquo (ὡς δ ὅτε) pero por suextensioacuten podria ser considerado un ejemplo mitoloacutegico Los dosmiembros del simil sirven para expresar cabalmente la divisioacutenemocional de Peneacutelope que enuncia el simil su thymoacutes partidoproductor del canto avizora una hipoacutetesis sobre el contenido de lalirica La escisioacuten del animo de Aedoacuten entre su hijo muerto y sumarido resulta equivalente de la divisioacuten del corazoacuten de Peneacutelopeentre la opcioacuten que su hijo Teleacutemaco le ofrece - abandonar la casay regresar a la casa paterna- o elegir esposo entre los aqueos

El texto ofrece un leacutexico significativo no soacutelo porqueconstruye un paisaje para el canto del ave sino tambieacuten porqueratifica la femineidad del ave a traveacutes del epiteto χλωρηῒς 5

ὡς δ᾿ ὅτε Πανδαρέου κούρη χλωρηῒς ἀηδώνκαλὸν ἀείδῃσιν ἔαρος νέον ἱσταμένοιοδενδρέων ἐν πετάλοισι καθεζομένη πυκινοῖσινἥ τε θαμὰ τρωπῶσα χέει πολυηχέα φωνήνπαῖδ᾿ ὀλοφυρομένη Ἴτυλον φίλον ὅν ποτε χαλκῷ

κτεῖνε δι᾿ ἀφραδίας κοῦρον Ζήθοιο ἄνακτος6

Como cuando la hija de Pandaacutereo Aedoacuten la defrondosa garganta canta hermosamente al comenzar laprimavera posada en el tupido follaje de los aacuterboles ydeja fluir su voz de variados sones que muda a cadamomento llorando a Itylos el hijo que tuvo del reyZeto al cual asesinoacute con el bronce por imprudencia []

En las interpretaciones del pasaje de Odisea hanpredominado las consideraciones sobre los celos de Aedoacuten enconsecuencia el texto revelaria cierta hostilidad de Peneacutelope conOdiseo (Tereo en este parangoacuten) y significaria que Peneacutelope quierepotencialmente asesinar a su hijo7 Cabe la posibilidad de un errorde interpretacioacuten de los escoliastas es decir que tomaran Aedoacutencomo nombre propio e instalaran esta nueva versioacuten aunque yanos resultan conocidas las variaciones homeacutericas en los nombresmiticos

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Anhalt ha sostenido que el personaje esta usando elparadigma de Clitemnestra y que sospecha de las acciones de suesposo durante su ausencia8 Levaniouk supone que la versioacutentebana revela mejor el estado animico turbulento de Peneacutelope ycomo el mito consiste en una confesioacuten ante Odiseo disfrazado demendigo el asesinato de Itylos ha sido interpretadoldquopsicoloacutegicamenterdquo por la mayor parte de la masa critica9

La insercioacuten de este relato confronta con todas lasnarrativas previas que Peneacutelope desarrolla sobre si misma y queversan acerca de su presente o su pasado inmediato Este pequentildeorelato en cambio instala personajes remotos con una conexioacutenpoco clara con el personaje que lo usa La pena de Peneacutelope y eltropo del ruisentildeor parecen conectarse con el vaiveacuten indeciso de latrama en la que Peneacutelope esta incluida Como precedente podemosconsiderar el pasaje del canto IX v 555-565 de Iliacuteada en que Feacutenixal narrar el mito de Meleagro sostiene que a Cleopatra la mujerdel heacuteroe sus padres la llamaban Alcioacuten porque la madre llorabapor ella como el ave ya que Apolo la habia raptado Esta imagense desarrolla intercalada con la referencia al enojo de Altea quesuplica la muerte de su hijo En sintesis el ave doliente expresa ensu agudo grito la pena y esa pena se transfiere a Altea quepeligrosamente y en un espejo deforme repite la trama de Iliacuteadasubyugando la vida de su hijo a un tizoacuten que se consume

En el texto de Odisea los multiples ecos del canto del aveenriquecen la imagen del vaiveacuten de Peneacutelope la indecisioacuten de sut r a m a πολυηχέα ldquode muchas resonancias o ecosrdquo debecomprenderse en este sentido La frecuencia e intensidad de suslamentos esta referida por una triple calificacioacuten en los versosprevios ἀδινὸν ldquovehementerdquo πυκυναί (v 516) πυκινοῖσιν (v 520)que se refieren a la angustia ldquointima ajustadardquo y θαμὰ (v521)ldquoreiterada muchas vecesrdquo Sin embargo el mito de Aedoacuten lafilicida no ofrece una conexioacuten obvia con la trama de Odisea espreciso decodificarla Por otra parte esta versioacuten tebana del mitoutilizada por Odisea no se conecta con ninguna otra versioacuten en laque los personajes sean simplemente intercambiados

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De la comparacioacuten entre las versiones tebana y ateniensesurge claramente que la agonia de Procne en la versioacuten ateniensederiva de que el hijo que ella ama es hijo del hombre que odiaNada de eso la pasa a Peneacutelope cuyo epiteto ἐχέφρων la definecomo ldquosensatardquo quien no enloquece sino que sopesa susdecisiones y sostengo por ello que la versioacuten tebana encajaperfectamente en Odisea Peneacutelope lamenta una peacuterdida vinculadaestrictamente a su lecho una pena de amor

Entre los multiples dilemas que Odisea presenta el dilemade Peneacutelope no es entre su esposo y su hijo sino coacutemo ejercer sucapacidad de calculo Un paso en falso puede hacerle perder todoIncluso la diosa Atenea configurada como Mentes le hacecomprender que para restablecer su poder Teleacutemaco deberiaasesinar a los pretendientes aun despueacutes de que Peneacutelope sehubiese casado Evidentemente la versioacuten tebana del mitopropone en Aedoacuten un personaje que trata de beneficiar a su hijoquien debe competir solo entre numerosos primos Con este mitoPeneacutelope manipula su situacioacuten y resulta evidente que el mitoproblematiza una cuestioacuten basica en la estructura del poderpolitico antiguo como lo es la continuidad del linaje La versioacutenateniense se concentra en este aspecto porque la esposa de Tereotrata de cortar el linaje de su esposo Muy distintas son lasintenciones de la mujer de Zeto el tebano ya que ella actua porquequiere promover e imponer su linaje por sobre sobre otros Enresumen la seleccioacuten de la versioacuten tebana colabora con la ideologiapolitica de Odisea que consiste en restaurar el linaje de Odiseo y enconservar la fortuna para Teleacutemaco En el lamento de Peneacutelope sehalla la pena por un posible nuevo matrimonio no deseado porella pero que Teleacutemaco o su padre Icario podrian promover Eseste posible nuevo matrimonio el nivel en que el simil del ruisentildeoraporta la idea de una violenta unioacuten no aceptada una veta deinterpretacioacuten mas proacutexima a la versioacuten ateniense y a lavictimizacioacuten de Filomela

La asociacioacuten de figuras femeninas con animales o insectostiene abundante registro en la eacutepica y en la poesia yambica griegasEn el caso de Peneacutelope ademas de esta conexioacuten con el ruisentildeor

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se debe recordar que su nombre sugiere que es una cerceta (untipo de cisne u oca) en consonancia con lo cual ella exige almendigo Odiseo en unos versos que siguen inmediatamente a loscitados que interprete un suentildeo sobre un grupo de gansos ndash lospretendientes- que se alimentan en la casa

Eliano ha propuesto en De natura animalia 5 38 unavariante para el v 521 del texto citado que consiste en reemplazarla palabra πολυηχέα que significa de variadas resonancias porπολυδευκέα de significado poco claro10 A pesar de ello enconjunto con τρωπῶσα cualquiera de estos adjetivos gesta laimagen del sonido que gira y repite una melodia

El cambio demostraria por un lado que la idea de mouvanceexpresada por Zumthor o la idea de variance sostenida porCerquiglini11 se aplican a este fragmento en el sentido de que estetexto poeacutetico no esta fijo sino que es tan moacutevil como el canto delruisentildeor y se actualiza en cada ejecucioacuten En segundo lugardefiniria la mimesis de la lirica que Peneacutelope realiza un texto moacutevilen sus elementos foacutenicos El fragmento ademas produce unainteresante aliteracioacuten en sonidos labiales y guturales para reflejarlos variados sones del ruisentildeor

El mito de Aedoacuten insiste en la tragica circunstancia de queItylos es hijo unico como lo son a su vez Teleacutemaco y Odiseo Lasituacioacuten de individuo aislado en la continuidad de la estirpeconfronta en el caso de Itylso en particular con los numerososhijos de Niobe su tia y en Odisea se replicaria en la situacioacuten deTeleacutemaco frente a los numerosos pretendientes de su madre

Como Aedoacuten Peneacutelope canta una melodia variablecambiando su voz llora y gime de noche hasta que Atenea leinsufla el suentildeo Volviendo a la idea de la lirica como texto enmovimiento el ruisentildeor que no duerme y varia su canto expandela imagen de la fluidez del tejido que Peneacutelope teje en el dia ydesteje por la noche El canto πολυδευκής del ruisentildeor si hacemoscaso de Eliano consiste en un lamento ininterrumpido contrario alcorte abrupto de la estirpe que la accioacuten de Aedoacuten concreta Lavariacioacuten del canto con sus giros es una extensioacuten foacutenica delldquotextordquo tejido por Peneacutelope

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EL RUISENtildeOR DE HESIacuteODO UNA LECTURA DEL PODERLa conexioacuten de Hesiodo con la tradicioacuten de la fabula

representada por Esopo ha sido convenientemente estudiada porHunter por supuesto partir de las lineas 202-212 de Trabajos y diacuteasen las que aparece el breve apoacutelogo sobre el ruisentildeor y el halcoacuten12

νῦν δ αἶνον βασιλεῦσιν ἐρέω φρονέουσι καὶ αὐτοῖςὧδ ἴρηξ προσέειπεν ἀηδόνα ποικιλόδειρον ὕψι μάλ ἐν νεφέεσσι φέρων ὀνύχεσσι μεμαρπώς ἣ δ ἐλεόν γναμπτοῖσι πεπαρμένη ἀμφ ὀνύχεσσι μύρετο τὴν ὅγ ἐπικρατέως πρὸς μῦθον ἔειπεν δαιμονίη τί λέληκας ἔχει νύ σε πολλὸν ἀρείων τῇ δ εἶς ᾗ σ ἂν ἐγώ περ ἄγω καὶ ἀοιδὸν ἐοῦσανδεῖπνον δ αἴ κ ἐθέλω ποιήσομαι ἠ ὲ μεθήσω ἄφρων δ ὅς κ ἐθέλῃ πρὸς κρείσσονας ἀντιφερίζειν νίκης τε στέρεται πρός τ αἴσχεσιν ἄλγεα πάσχειὣς ἔφατ ὠκυπέτης ἴρηξ τανυσίπτερος ὄρνις

Ahora contareacute una faacutebula a los reyes aunque sean sabiosAsiacute habloacute un halcoacuten a un ruisentildeor de variopinto cuello mientras lellevaba muy alto entre las nubes atrapado con sus garras Eacuteste gemiacutealastimosamente ensartado entre las corvas untildeas y aqueacutel en tono desuperioridad le dirigioacute estas palabras`iexclInfeliz iquestPor queacute chillas Ahorate tiene en su poder uno mucho maacutes poderoso Iraacutes a donde yo te lleve pormuy cantor que seas y me serviraacutes de comida si quiero o te dejareacute libreiexclLoco es el que quiere ponerse a la altura de los maacutes fuertes Se veprivado de la victoria y ademaacutes tiene que sufrir vejaciones es maltratado

Asiacute dijo el halcoacuten de raacutepido vuelo ave de amplias alas

Como comenta Vianello en estos diez versos estacontenido el primer apoacutelogo de la antiguumledad clasica al cualWillamowitz ha querido reducir injustamente a un simil eacutepico sinmoraleja13 Esta posicioacuten resulta insostenible excepto queextirpemos los v 210-211 como queria Aristarco aunque porsupuesto el hecho de que en un poeta bastante cercano en eltiempo como Arquiloco aparezcan tambieacuten los elementosdidacticos de este texto nos hace sospechar que ambos Aristarcoy Willamowitz erraron en su juicio

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La secuela didactica de este breve relato esta en los v 217-218 ldquola justicia vence a la violencia pero el candido aprendesufriendordquo(Δίκη δ ὑπὲρ Ὕ βριος ἴσχει ἐς τέλος ἐξελθοῦσα παθὼνδέ τε νήπιος ἔγνω) y la diferencia comparativa entre este texto y elmito de Odisea no se reduce a este mensaje En primer lugar elrelato no tiene la calificacioacuten de mito sino una calificacioacuten teacutecnicade su tipo discursivo ya que se trata de un αἶ νος un tipo de relatoen el que las consecuencias de los actos se exponen claramentebuscando un aprendizaje en el auditorio Y ese contenido estaexplicitamente expresado Sin mencionar que pasamos de ladoliente y femenina Peneacutelope al ruisentildeor que representa lavulnerabilidad del poeta de Trabajos y diacuteas frente a los poderosos

En esta fabula no figuran directamente los dioses ni losheacuteroes El narrador margina esos planos y concede discurso a lasaves El ruisentildeor gime lastimeramente mientras que el halcoacuten ogavilan (como se maneja en algunas traducciones) sentencia lainutilidad de ldquoponerse a la altura de los mas fuertesrdquo porqueademas de verse ldquoprivado de la victoriardquo debe sufrir vejacionesEn el contexto de los consejos agricolas que el poema desarrolla lafabula parece en primer teacutermino una transferencia de una ley delmundo natural al mundo social humano Es natural que los pajarosmas pequentildeos y menos fuertes que el halcoacuten le sirvan a eacuteste comoalimento Puede decirse que la funcioacuten nutricia es constitutiva de laphysis de los halcones y de los ruisentildeores o que en el vastoescenario del mundo estos desempentildean un papel que es adecuadoa su naturaleza

En segundo teacutermino en el contexto de la enunciacioacutenpoeacutetica Hesiodo en tanto que poeta es como el ruisentildeor es elcantor de dulce voz14 mientras que los guerreros y los reyes desdeluego son como el halcoacuten fuertes cazadores No me ocupareacute de larecepcioacuten de este texto en la fabula 47 de Esopo Soacutelo mencionareacuteque en ese texto el ruisentildeor debe esforzarse al maximo con sucanto para no ser devorado El halcoacuten esta tan concentrado enatacar a sus presas que a su vez es sometido por otro cazador unhombre En su moraleja Esopo se limita a plantear que todos losseres estan en guerra y quien tiene enemigos no debe descuidarse

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En el caso de Hesiodo podriamos considerar a suhermano Perses como el enemigo al acecho ya sea un dobledidactico o un dato de la realidad ya que el poeta lo invocadirectamente ὦ Πέρση σὺ δ ἄκουε δίκης μηδ ὕβριν ὄφελλεldquoPerses tu obedece a la justicia y no desees la soberbiardquo (v 213)Resulta claro que la situacioacuten de injusticia narrada coloca al poetaen la posicioacuten del ruisentildeor arrastrado por las garras cuya queja esdesoida y que se halla en total indefensioacuten El ruisentildeor extiende lasimple imagen del poeta a la situacioacuten de toda victima de los reyesdevoradores que describe Hesiodo Suponemos una amarga ironiaen la expresioacuten ldquoaunque sean sabiosrdquo (v 202) en el juegointelectual en que el poeta- puede chillar15 como el ruisentildeor yaunque el ruisentildeor no replica el poeta no obstante se atreve a darlecciones a los sabios Hay reyes que no atienden a la justicia comolos hombres de una edad degradada que no es ldquola edad de orordquosino la ldquode hierrordquo 16 Perses no es un rey pero Hesiodo dice queademas de ser codicioso y rapaz es perezoso y que su hermanocree que puede enriquecerse sin tener que trabajar y por si estofuera poco es prepotente y soberbio tal como un rey La soberbia(hybris) es una mala inclinacioacuten que podria esperarse de los reyespero aun para eacutestos no es recomendable fomentarla

La similitud planteada en la fabula entre el ambito animaly humano compone una confrontacioacuten agonal entre seres encompetencia En el mudo natural la resolucioacuten es cruel pero en elmundo humano el poeta aconseja no seguir por la via de ladiscordia y dedicarse a trabajar con honestidad De todas formasHesiodo se explaya en una prolija moraleja que puede querer decirvarias cosas por ejemplo que si los hombres no quieren ser comolos animales deben contrapesar el ciego ejercicio del poder con lajusticia Hesiodo parece sostener que los humanos han inventadoalgo mejor que la simple voluntad de poder parece querer decir lavirtud la rectitud el ejercicio de la justicia Soacutelo asi tendran algunaoportunidad de alejar su destino del de los animales ldquopues esta leyimpuso a los hombres el Cronioacuten a los peces fieras y avesvoladoras comerse los unos a los otros ya que no existe justicia

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entre ellosrdquo (v 276-277) Tampoco puede olvidarse que en estetexto el ruisentildeor es femenino y el halcoacuten masculino

El cambio de geacutenero discursivo de un mito a un αἶνος ofabula de la representacioacuten femenina de la pena a la situacioacutenlimite del oprimido por los poderosos convierte el ruisentildeor deHesiodo en un instrumento eficientisimo de su preocupacioacutenmoral y su admonicioacuten politica Nada como la imagen del deacutebil enlas garras de otro

CORTAR LA LENGUA LA VERSIOacuteN ATENIENSE EN AVES DE

ARISTOacuteFANES

Aunque su representacioacuten en las fiestas dionisias del antildeo414 aC soacutelo le concedioacute el segundo puesto la comedia Aves deAristoacutefanes ha sido considerada recurrentemente la mas poeacutetica ysofisticada entre las conservadas En ella dos ancianos ateniensesEueacutelpides (la buena esperanza) y Pisteteros (el compantildeeropersuasivo) han abandonado Atenas para evitar la politica y lostribunales de justicia y estan buscando a Tereo un ave que ha sidoser humano en el pasado y tiene conexiones con los ateniensesPisteteros concibe la idea de fundar una ciudad en las nubes parainterceptar los sacrificios a los dioses y de este modo podersometerlos Persuade al hostil coro de aves de gobernarnuevamente el universo En la segunda parte de la obra la ciudadde las nubes y los cucus Nefelococcigia es fundada y llegan unaserie de visitantes Iris un parricida un poeta un delatorPrometeo que ha sido rebelde contra los dioses FinalmentePisteteros debe solicitar casarse con Basileia la soberania La obratermina con una procesioacuten del triunfo real de Pisteteros y proponeal mismo tiempo un utoacutepico escape de la realidad como reaccioacuten aciertos fracasos militares de los atenienses17 la presentacioacuten de lamegalomania tiranica o una iroacutenica distopia etc En este contextoun breve episodio lirico presenta al ruisentildeor En la versioacutenateniense del mito Tereo rey de Tracia auxilia a Pandioacuten rey deAtenas contra el tebano Labdaco De ello se deriva el matrimoniode Tereo con Procne y los episodios que ya comentamos sobre el

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asesinato de Itys y la conversioacuten de Procne en ruisentildeor la deFilomela en golondrina y la del mismo Tereo en abubilla

En la clasificacioacuten aristoteacutelica de geacuteneros discursivos lacomedia careceria de mito Sin embargo Aves curiosamentepropone la degradacioacuten de varios mitos En primer lugar del mitofundacional ya que parodia la cosmogonia y teogonia hesioacutedicasde un modo muy original para proponer burlonamente unacosmogonia literal a partir de un huevo de ave y la transformacioacutenen aves de todos los personajes es decir de todos los ciudadanosde Atenas Probablemente Aristoacutefanes dispuso de la tragedia deSoacutefocles llamada Tereo de la que suponemos realiza la parodiaaunque lamentablemente soacutelo nos queda al parecer una sintesis enel papiro de Oxy 3013 Como ya sentildealoacute Aristoacuteteles en Poeacutetica 1453ordf36-39 aquellos a quienes el mito convierte en enemigos resultan enla subversioacuten coacutemica los mejores amigos18 Es el caso de Tereo laabubilla y de Procne el ruisentildeor que son en la obra una parejafeliz mientras la infausta Filomela no aparece aunque Procneentona su permanente lamento por Itys

La versioacuten ateniense del mito elegida por Aristoacutefanesrepresenta por un lado el desastroso presente de Atenasinterpretado por los dos viejos cuyo delirio senil produce la mejorinvencioacuten de la obra Por otro lado como se le adjudica a Tereo elhecho de haber ensentildeado el lenguaje articulado a las aves hay unafranca contradiccioacuten entre seccionar la lengua de Filomela yconceder habla humana a las aves La interpretacioacuten politica esllana Tereo concede la palabra y tambieacuten la inhibe iquestQueacute haydetras de esta eleccioacuten de Aristoacutefanes iquestPor queacute elegir al culpablemitico de dos delitos la violacioacuten y el silenciamiento de la victimaLa inversioacuten propia de la comedia provoca una presentacioacuten dellado oscuro del mito como si se tratase de un episodio inocuo Noresulta menos cierto que en esta comedia sobre el poderAristoacutefanes conservoacute la idea griega del poder masculino y laconvocatoria al nuevo poder de las aves la realiza tambieacuten Tereocomo ave masculina

Veamos coacutemo convoca Tereo al ruisentildeor entre los v 209-22119

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Ἔ ποψἄγε σύννομέ μοι παῦσαι μὲν ὕπνου λῦσον δὲ νόμους ἱερῶν ὕμνωνοὓς διὰ θείου στόματος θρηνεῖς τὸν ἐμὸν καὶ σὸν πολύδακρυν Ἴτυν ἐλελιζομένης δ ἱεροῖς μέλεσιν γένυος ξουθῆς καθαρὰ χωρεῖ διὰ φυλλοκόμου μίλακος ἠχὼ πρὸς Διὸς ἕδρας ἵν ὁ χρυσοκόμας Φοῖβος ἀκούων τοῖς σοῖς ἐλέγοις ἀντιψάλλων ἐλεφαντόδετον φόρμιγγα θεῶ ν ἵστησι χορούς διὰ δ ἀθανάτων στομάτων χωρεῖ ξύμφωνος ὁμοῦ θεία μακάρων ὀλολυγή

( αὐλεῖ)

Vamos compantildeera miacutea pon fin a tu suentildeo vierte a torrentes los acordesde los himnos sagrados con los cuales desde tus divinos labios lamentas anuestro hijo el triste Itys produciendo un murmullo con las liacutempidasnotas de tu vibrante garganta A traveacutes del espeso follaje del bosque tupuro sonido llega al trono de Zeus y en respuesta el dios de cabellos deoro Febo contesta con los acordes de su lira de marfil a tus penososacentos El preside los coros de los dioses y desde los labios de losinmortales la armoniosa voz del estribillo de los bienaventurados se elevaal uniacutesono

La amorosa invitacioacuten no produce el ingreso de Procnehasta el v 665 En esa escena el personaje silente sale ataviado conexcesivos adornos dorados como comentan los ancianos que laobservan como mujer y no como ave A tal punto que Eueacutelpidesintenta besarla por la fuerza en una mimesis risuentildea e invertida dela secuencia mitica de la violacioacuten La escena sirve de introduccioacutena la parte estructural de la comedia llamada parabasis en la que elcoro canta directamente al publico En ese momento TereoEueacutelpides y Pisteteros abandonan la escena para que el coro puedaexponer la famosa cosmogonia y teogonia que la comediapresenta

La invitacioacuten de Tereo representa el momento de laseduccioacuten no obstante Tereo sigue siendo el que secciona

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lenguas20 En el final de la comedia cuando el coro dice ldquoen toda elAtica la lengua se corta aparterdquo (πανταχοῦ τῆς Ἀττικῆς ἡ γλῶτταχωρὶς τέμνεται 1705) comprendemos que esta comedia no soacutelo hapresentado un mito ha buscado el mito que politicamenterepresente a los atenienses silenciados de este modo tanto Tereocomo Pisteteros representan el poder omnimodo

Desde que Odisea planteoacute los problemas comunicativos delCiclope que habla a su carnero la cuestioacuten del lenguaje y lacivilizacioacuten ha aparecido con recurrencia en los textos En el casod e Aves la ruisentildeora Procne termina por representarfemeninamente a esa ciudad de Atenas que seducida por Tereo oconducida por Pistetero queda al final sin habla En la comediatodo es movimiento y transformacioacuten de humanos en aves deaves que hablan como humanos para enfocar que uno de losaspectos criticos de la distribucioacuten de poder en la poacutelis es lacomunicacioacuten

No es casual que en una pieza en la que se recrea el mitode Tereo el Coro cierre la obra con la mencioacuten de una estirpe deἘ γγλωττογαστόρων γένος ldquocomedores de lenguasrdquo (v 1696-7)Aves asegura el valor de la palabra

A MODO DE CONCLUSIOacuteN COMPARATIVA

iquestPor queacute reaparece un ruisentildeor No he tratado aqui deanalizar similitudes ni diferencias sino de comprender desde queacutepunto de vista el ruisentildeor una voz femenina en la literatura griegaimpone una ejecucioacuten o reflexioacuten acerca de la mimesis orepresentacioacuten particular de las victimas La imposibilidad decomunicar la pena de amor impone una performance comovehiculo en consecuencia Peneacutelope necesitoacute recurrir al lamentoininterrumpido y a las variaciones de voz del ruisentildeor La pena queno se puede decir puede convertirse en son

En Odisea los adjetivos que califican el canto del ruisentildeorson responsables de proponer una representacioacuten lirica en eldiscurso eacutepico En Hesiodo la moraleja no llega a acallar el sonidodel ruisentildeor que chilla en una exacta mimesis del poeta

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manipulado por los poderosos vulnerable como el femeninoruisentildeor Aristoacutefanes entrevioacute con claridad coacutemo proponer el mitodel que cercena la lengua de la ciudad para ensayar la utopia deanimales que pueden ser silenciados o comunicar en su lamentomas que los humanos En cada uno de estos textos cuando ellenguaje resulta imposible el canto del ave resulta un alertainteligible

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ABSTRACT

Aedon Poetic Performance of the Victims

The figure of the nightingale is present for first time in the19 book of Odyssey (v 518-523) later in the fable contained inWorks and Days (v 202-212) by Hesiod and in the comedy Birds byAristophanes The present article analyzes with comparativemethodology the peculiar representation of the victim of sometype of violence in the mentioned texts and what interpretationcan be derived in each specific discursive context

KEYWORDS

Aedon Homer Hesiod Aristophanes

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1 Cfr NAGY 1996 p 7-82 Segun STANFORD 19672 p 336 el texto constituye la primera aparicioacuten poeacuteticadel ruisentildeor el pasaje es el unico lugar en que el canto se diferencia de los gritosy contiene un error de historia natural ya que la hembra del ave no canta Seconsidera que el relato mas estandarizado se deriva de la pieza Tereo de Soacutefocles(cuya hipoacutetesis estaria contenida en POxy 423013) Contamos con el relatocontenido en La Biblioteca de Apolodoro (3148) Metamorfosis de Ovidio 6427ndash674 y con testimonios en otros textos como Agamenoacuten (1140ndash1145) y Suplicantes(60-68) de Esquilo Electra de Soacutefocles (147ndash149) Heracles de Euripides (1020)Aves de Aristoacutefanes (200ndash210) Tambieacuten hallamos testimonios en la prosa deTucidides 2293 en la Oracioacuten fuacutenebre de Demoacutestenes 28 en Pausanias 1541243 1418 1049 e incluso en Estraboacuten 9313 Aedoacuten y Calidoacuten se hallanrepresentadas en una metopa en el templo de Apolo en Thermos3 En Iliacuteada XXIV 599 la referencia a Niobe y a sus numerosos hijos se parangonacon la situacioacuten de Heacutecuba y con el hecho de haber sufrido tambieacuten unametamorfosis que eterniza su pena fue convertida en una piedra que ldquollorabardquopermanentemente4 Sobre los vinculos de Odisea con la disputa entre Atenea y Poseidoacuten por elpatronazgo de Atenas veacutease COOK 1995 p 129-1305 χλωρηῒς implica verdura o frescor STANFORD 19672 p 336 se inclina por latraduccioacuten verde amarillento ldquoreferring either to the fact that the bird hauntsthe greenery of the woodhelliprdquo Se puede interpretar como representacioacuten delcolor del ave de sus sonidos frescos o juveniles o de su habito de cantar entre elfollaje NAGY 1996 p 37-38 sentildeala que opta por traducir ldquoen la verdurardquo porasociacioacuten con el uso de khlōrauacutekhēn (χλωραύχην) que suele traducirse como deldquoverde gargantardquo y se utiliza como epiteto del ruisentildeor en Simoacutenides PMG 5862(ἀηδόνες χλωραύχενες) Segun CHANTRAINE 1975 p 1285 la palabra serefiere a un verde claro o al verde del brote reciente de una planta pero tambieacutenalude a las caracteristicas de la voz del ave RUSSO1992 p 100 en cambiosostiene que la palabra tiene un valor de gentilicio expresaria lo mismo queCriseida en relacioacuten con Crises y deberia comprenderse como Aedoacuten ldquola delfollajerdquo 6 19 518-5237 Parece mas plausible considerar que hay un temor en Peneacutelope a causar lamuerte de su hijo a manos de los pretendientes Su temor esta bien fundadohubo un intento fallido durante el viaje de Teleacutemaco en los primeros cantosElla podria causar involuntariamente la muerte de su hijo y esa seria su ἀφραδίηldquoignorancia o locurardquo el hecho de no aceptar el matrimonio quecontextualizado con el mito de Aedoacuten evidentemente le repugna como unaviolacioacuten8 ANHALT 2002 p 1489 LEVANIOUK 2011 p 22810 Sobre esta variante veacutease NAGY 1996 p 38-39 VAN DER VALK 1949 p 8311 ldquoMouvancerdquo como ldquoincesante vibracioacutenrdquo es aplicado por ZUMTHOR 1987 p160-161 a los textos medievales que atestiguan diversas variantes y por lo tantotiene una forma inestable propia de una tradicioacuten oral CERQUIGLINI 1989 p111 prefiere la denominacioacuten de ldquovariancerdquo ya que considera que los textosmedievales son en si ldquovariacioacutenrdquo Sobre la discusioacuten de ambos conceptos veacuteaseNAGY 1996 p 9-1012 HUNTER 2014 p 226-249

13 Cf VIANELLO 1979 p CCXCVII ldquoEn efecto el simil en la poseia eacutepica carecesiempre de una moraleja como se da al contrario en nuestro caso (cf los v210-211 que Aristarco el filoacutelogo alejandrino suprimioacute como espurios segun eltestimonio de Proclo 1568)rdquo14 ποικιλόδειρον otro modo de referirse a la garganta o cuello del ruisentildeortambieacuten podria traducirse como ldquode voz coloridardquo15 La forma λέληκας proviene del verbo λάσκω que indica el ruido de las avestambieacuten un ruido crepitante o a veces el canto16 Cfr Hesiodo Erga v 106-20117 Una critica a la expedicioacuten a Sicilia18 Cfr SOMMERSTEIN 1987 p 202

19 La mimesis del canto de las aves que la obra impone causoacute algunosinconvenientes en la performance y en la composicioacuten Por ejemplo Tereo debesalir de escena para entonar su canto de llamada al ruisentildeor Las opiniones sondivergentes pero probablemente el actor que representaba a Tereo no disponiade la destreza vocal necesaria para cantar el efecto es que la flauta quereemplaza al canto del ruisentildeor cumple la funcioacuten de un threnos apo skeneacutes esdecir de un lamento cantado fuera de escena ya que el contenido del canto delruisentildeor es un lamento por el nintildeo muerto La mimesis del canto del averealizada por la flauta nos lleva nuevamente al problema de la mimesis liricaahora en el contexto del drama Cf SOMMERSTEIN 1987 p 21120 Cinesias el poeta ditirambico tambieacuten desea convertirse en ruisentildeor pero nolo logra y repite su pesada poesia Aqui tambieacuten aparece la cuestioacuten de lamimesis del canto del ave como lirica Cf Aves v 1380

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Arete a virtude em si na Odisseia eacute umamulherAlessandra Serra Viegas

RESUMO

Este sucinto trabalho pretende trazer uma conversa acerca de umamulher que Homero nos apresenta entre os cantos VI-XI daOdisseia a forte e nobre Arete A rainha dos Feaces e esposa do reiAlcinoo eacute algueacutem de quem natildeo se ouve falar muito No entantoquando nos aproximamos dessa mulher atraveacutes da poesia eacutepicadeparamo-nos na verdade com a proacutepria virtude em pessoa aareteacute (a)reth ) como bem o nome lhe representa Por isso fica no arum questionamento quem eacute a mulher cheia de virtude naAntiguidade grega Eis a provocacatildeo ndash positiva ndash em que esteescrito quer envolver o leitor

PALAVRAS-CHAVE Homero mulher areteacute

SUBMISSAtildeO 29 dez 2017 | PUBLICACcedilAtildeO 31 dez 2017

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Arete a virtude em si na Odisseia eacute uma mulher | Alessandra Serra Viegas

QUEM Eacute A VIRTUDE EM HOMERO rete a rainha dos Feaces1 eacute sobrinha e esposa do reiAlcinoo cuja corte eacute modelo de comportamento eelevacatildeo presente na trama da Odisseia de HomeroSua gesta heroica (porque a consideramos umaheroina) esta contida em boa parte do poemahomeacuterico (cantos VIndashXII) quando das peripeacutecias emmeio ao regresso de Odisseu a Iacutetaca sua terra natalChama atencatildeo a elevacatildeo da rainha Arete (seucarater e reputacatildeo satildeo imaculados) a qual remetetodo o tempo ao significado de seu nome ndash a)reth ndash eacutea proacutepria virtude a qualidade de quem eacute nobre justodigno forte de carater eacutetico e belo Arete eacute a virtudeem pessoa portando todas estas qualidades em forma

de mulher rainha esposa e matildee O conceito de a)reth eacute intrinseco ao grupo dos aristoindash os

bem-nascidos pertencentes aos ldquomelhoresrdquo da sociedade e sedesenvolve a partir do contexto de batalhas da Iliacuteada de Homeronatildeo podendo nesta ser dissociado do espirito heroico que semostra nas lutas e vitoacuterias de cada heroacutei-guerreiro em seuscombates Na Iliacuteada (a)reth eacute a mais alta distincatildeo e o proacuteprioconteudo da vida desses heroacuteis Esses pressupostos de valentia evirtude pois satildeo plenamente valorizados no periodo classico (seacutecVIndashV aC) sendo associados ao principio vigente do bem e do beloem uma pessoa ndash o homem de valor Este eacute o principio que regeos participantes da aristocracia o governo da cidade pelos nobrespelos melhores pelos aristoi

Aos aristoi pertence a expressatildeo grega kaloka)gaqia oukalon te ka)gaqon aquele que eacute tanto belo como nobre empregadaa partir dos textos gregos do periodo classico principalmente nasobras de Xenofonte Platatildeo e Aristoacuteteles Apesar disto Homero jadesigna na Iliacuteada o paradigma do heroacutei-guerreiro a partir da suabeleza corporal e da sua nobreza mesmo natildeo utilizando o termokalon te ka)gaqon propriamente Eacute o helenista Jean-Pierre Vernantque em seus estudos sobre Homero2 apontara os heroacuteis-guerreiros como kaloi kai a)gaqoi3

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A

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Homero eacute o nome que se convencionou para o poetaeacutepico cuja lenda aponta para um aedo cego nascido em Quios ouem Esmirna por volta do seacutec VIII aC e que recitava oralmente ospoemas cantando-os por isso era um aedo Para as questotildees deautoria dos poemas surgiu o que se denomina a questatildeohomeacuterica4 Histoacuterica e literariamente torna-se mais adequado dizerldquoo que foi Homerordquo isto eacute referir-se ao modo de narrar do autorque ressalta as questotildees humanisticas subjacentes aos textos aomostrar por exemplo em lugar de um acontecimento como o daguerra de Troia a coacutelera de Aquiles um detalhe na guerra (Iliacuteada)ou no poacutes-guerra os sofrimentos de Odisseu em sua buscadesenfreada para salvar a vida e voltar a casa (Odisseia)

Com efeito o poeta da epopeia retrata os homens querepresentam a elevacatildeo da sua cultura e costumes pois com essesesta o seu coracatildeo (do poeta) e a exaltacatildeo que faz de tais homenstem em seu acircmago a intencatildeo paideacutetica (paideia) educativa5 NaIliacuteada a virtude do heroacutei ndash a sua a)reth ndash esta em sua destrezaforca e valentia para o campo de batalha uma bela vida que podeculminar em uma bela morte6 Na Odisseia onde Arete surge oideal herdado da destreza guerreira une-se agraves virtudes espirituais esociais tendo como modelo o heroacutei a quem natildeo falta o conselhointeligente ndash Odisseu ndash que na luta pela vida e na volta ao lar saisempre triunfante dos perigos e dos inimigos Esse conselhointeligente tambeacutem se mostra na esposa de Odisseu Peneacutelope7 ena rainha Arete cuja fala eacute acatada pelos anciatildeos e conselheiros dorei e pelo proacuteprio esposo Alcinoo8 representando assim umargumento de autoridade diante dos nobres e tambeacutem diante doproacuteprio povo

Na cultura aristocratica a a)reth proacutepria da mulher eacute aformosura em que o culto agrave beleza feminina corresponde agraveformacatildeo cortesatilde nesta sociedade Natildeo obstante a Odisseiaapresenta mulheres que surgem natildeo apenas como objeto dasolicitacatildeo eroacutetica do homem como Helena esposa de Menelau eraptada por Paris por sua beleza ou Peneacutelope9 esposa de Odisseudesejada pelos pretendentes mas a firme posicatildeo social e juridicade dona de casa Como em outra literatura provavelmente escrita

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Arete a virtude em si na Odisseia eacute uma mulher | Alessandra Serra Viegas

por volta do seacutec V aC na Antiguidade judaica (o AntigoTestamento) na ode a uma mulher de grande forca e valor (cfProveacuterbios de Salomatildeo 3110-31)10 as virtudes das mulheres gregascompreendem principalmente o sentido da modeacutestia e odesembaraco no governo do lar Desse modo Peneacutelope eacute louvadapor sua moralidade rigida e virtudes caseiras11

Senhora homem em lugar algum da terra tem o direito de censurar-te Teu nome bate no ceacuteu Eu te comparo a um rei competente piedoso comautoridade sobre muitos gente poderosa zelosodo cumprimento da lei Seus campos produzemtrigo cevada arvores frutiferas Gado gordonas pastagens Peixes fornece o mar Gracas a seugoverno o povo prospera12

Helena de volta a Esparta com Menelau o primeiromarido aparece como protoacutetipo da grande dama modelo deelegacircncia distinta e de soberana forma e representacatildeo social eladirige a conversa ao hoacutespede homem suas servas trazem ecolocam agrave sua frente um fuso de ouro e uma roca de prata13

(instrumentos pertencentes ao modelo feminino grego sem osquais natildeo se concebe uma dona de casa) quando entra e tomaassento na sala ao lado dos homens14

Arete eacute citada pela primeira vez na Odisseia por boca deOdisseu no seu encontro com a princesa Nausicaa filha deArete15 Odisseu menciona o porte a postura e a beleza daprincesa e declara como por prolepse venturosa por trecircs vezes asua nobre matildee (potnia mhthr) ainda que natildeo a conheca Nausicaaesta na praia com suas servas as quais se assustam por ela estardialogando com um homem vitima de naufragio mas a princesanatildeo se importa e vai descrevendo seu reino seus costumes paracom os estrangeiros e pobres (cei~noi te ptwxoi te) consideradosaqueles que Zeus envia para que se lhes faca o bem16 Odisseu selava e se veste afastado das mocas a deusa Atena lhe reveste debeleza e a ele eacute servida uma refeicatildeo junto agrave princesa17 Emseguida Nausicaa orienta Odisseu sobre como devera secomportar ao chegar agrave cidade dos feaces pois ela e suas criadas

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iratildeo antes para que natildeo sejam vistas entrando com um estrangeirona cidade Finalmente a princesa lhe diz o que fazer ao chegar aopalacio a fim de que alcance auxilio e acolhida

[hellip] Atingindo o palacio entra atravessa o salatildeo Dirige-te primeiro agrave minha matildee Ela deveraestar sentada contra a coluna junto agrave lareira para fiar agrave luz do fogo espetaculo de encher os olhos Atras dela poderas ver o trabalho das criadas Encostado agrave mesma coluna encontra-se a poltrona de meu paiAcomodado nela com imponecircncia divina devera estarele a provar um calice de vinho Deveras passar por elee abracar suplicante os joelhos de minha matildee a fimde que te seja concedido ver o alegre dia do regresso mesmo que vivas longe Se ela te der acolhida cordial havera muita probabilidade de veres teus queridos tuacasa solidamente construida tua patria tua terra18

A descricatildeo da corte do rei Alcinoo e das caracteristicas eestrutura da cidade dos feaces eacute a pintura fiel de uma cidade-estadojocircnica sob o dominio de um rei por volta dos seacutec VII-V aC19

Cumpre observar nessa cidade o influxo das atitudes tomadas porArete sua filha Nausicaa e tambeacutem pela deusa Atena apontandoseu valor na trama e seu cuidado quase materno para que Odisseuretorne ao lar Assim a Odisseia apresenta sagas heroicas e omundo do fabuloso e do maravilhoso no qual Atena em variostrechos transfigura-se em personagens humanos para auxiliarOdisseu Tambeacutem e com maior forca a Odisseia descreve asrelacotildees familiares aproximando o ouvinte-leitor20 de umarealidade em que este natildeo deixa de estar inserido sua proacutepriafamilia

Arete surge novamente na narracatildeo de sua origem nobre esua posicatildeo Atena transfigura-se em um jovem feace que levaraOdisseu ao palacio de Alcinoo e enquanto o conduz conta-lheque Arete descende de Poseidon e de Peribeia imagem sublimeentre as mulheres (gunaikw~n ei0~doj a)risth) O pai de AreteRexenor foi fulminado pelas flechas de Apolo e

Deixou no palacio uma unica filha Arete

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Arete a virtude em si na Odisseia eacute uma mulher | Alessandra Serra Viegas

Alcinoo tomou-a por mulher e a honrou como nunca ningueacutem honrou outra na face da terra de quantas sob o governo de homens administram a casa Afetuosamente respeitada por seu esposo ela vive com seus filhos e com Alcinoo O povolhe tributa homenagem e a aclama com palavrasentusiasticas quando aparece na cidade Conhecida pelo seu bom senso concilia mulheresconhecidas suas Resolve ateacute conflitos de homens21

Pelo favor de Arete Odisseu eacute acolhido no palacio deAlcinoo e tratado com todas as honras devidas a um hoacutespede Elese recolhe todas as noites em um quarto que lhe eacute preparadoparticipa dos banquetes ouve as gestas dos heroacuteis ndash e a sua proacutepriada guerra de Troia ndash pelo aedo22 Demoacutedoco emociona-se viraaedo de si mesmo contando suas gestas e todos ouvemembevecidos Nesta audicatildeo somente Odisseu interrompe o relatopara trazer sua proacutepria gesta e somente Arete toma a palavra quesera reiterada por Alcinoo e posta em pratica pelos nobres23 queconsideram a rainha muito prudente (perifrwn)24

Que vos parece este homem feaces no aspecto notalhe no equilibrio das decisotildees Ele eacute meu hospede cada um de voacutes participa desta honra Natildeo se pense em abreviar-lhe a estada Natildeo sejais econocircmicos ao presentea-lo Ele necessita de muito [hellip]

Se Homero eacute o educador de toda a Greacutecia como afirmaPlatatildeo25 eacute preciso refletir acerca do aspecto paideacutetico da epopeiahomeacuterica ndash mulheres ensinam satildeo honradas e valorizadas por seusmaridos convivem em ambientes publicos e muitas vezesdeterminam as acotildees e tomadas de decisotildees dos mesmos Assim oque o poema homeacuterico presente como coacutedigo para a boaformacatildeo26 pretende inculcar na mente dos jovens que satildeoeducados a partir destes valores A ideia filosoacutefica de bem nosentido estrito modelo de validade universal procede diretamentedo modelo da eacutetica da a)reth proacutepria da nobreza homeacutericapresente na Odisseia encarnada por Arete a rainha dos feaces27

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Ainda quanto ao aspecto paideacutetico ao contrario da Iliacuteada aOdisseia acontece em um contexto de paz com muitas cenas emambientacatildeo interna o que proporciona a participacatildeo efetiva dasmulheres na trama O contexto de paz tambeacutem coloca a Odisseiaem um plano mais elevado que a Iliacuteada em que ha ternuraintimidade e refinamento de sentimentos Esta intima e profundacivilizacatildeo eacute o produto do influxo educador da mulher numasociedade rudemente masculina violenta e guerreira

Em intima e pessoal relacatildeo do heroacutei Odisseu com a deusaAtena que o orienta nas suas andancas e jamais o abandona opoder espiritual da mulher como inspiradora e guia acha a suaexpressatildeo mais bela28 pois ao longo de toda a trama Odisseu eacuteguiado por inspiracotildees de Atena sempre renovadas29 O quadro dacultura dos nobres esbocado nos poemas homeacutericos ndashprincipalmente na Odisseia ndash engloba tambeacutem descricotildees vivas daeducacatildeo usual muitas vezes protagonizadas por mulheres em taiscirculos30

Os homens e mulheres muito mais na Odisseia do que naIliacuteada de Homero satildeo tatildeo reais que se poderia vecirc-los com os olhose toca-los com as matildeos devido ao contexto de paz e intimidade emque se encontram Tais personagens satildeo sempre naturaismanifestando a proacutepria essecircncia31 ao ouvinte-leitor Por issomulheres como Arete Helena e Peneacutelope estatildeo em intima conexatildeocom o mundo exterior pela coerecircncia do pensamento e da acatildeocomo mulheres de forca e valor mulheres empoderadas Gestos eexpressotildees exageradas dessas mulheres seriam insuportaveis aoouvinte-leitor e inadequadas agrave epopeia Sua solidez facilidade demovimentacatildeo e coragem que a nada se pode comparar fazemdelas heroinas e mulheres que seriam encontradas na Greacuteciaarcaica e classica por um marido de sorte

Ainda quanto agrave caracterizacatildeo da mulher assim comoArete eacute a companheira idocircnea e par perfeito e proacuteximo de AlcinooPeneacutelope eacute quem mais se aproxima do carater do heroacutei principalna trama pois como um alter ego de Odisseu tambeacutem fala comprudecircncia e inteligecircncia e ainda eacute ardilosa Nessa culturaaristocratica que envolve a eacutepica agrave mulher cabe a formosura e a

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prudecircncia no governo de sua casa Neste acircmbito Helena eacute louvadano primeiro quesito32 e Arete esposa do rei dos Feaces nosegundo Com efeito a mulher eacute atendida e honrada natildeo soacute comoum ser util e na qualidade de matildee dos filhos legitimos mas acimade tudo porque nesta sociedade a mulher pode ser matildee de umageracatildeo ilustre pois ela eacute a mantenedora e guardiatilde dos mais altoscostumes e tradicotildees33

Acerca da rainha Arete para uma mulher cujo nome epessoa satildeo a proacutepria virtude a)reth tem-se um homem Alcinooaquele cuja forca esta no intelecto (a)lkh [a)lki] + forca nooj ndashcapacidade intelectual) Aleacutem disso o rei eacute um marido idocircneo ecompativel agrave rainha Arete a primeira vez em que o nome deAlcinoo ocorre na Odisseia34 segue-lhe o epiteto ldquoo de saber divinordquo(qew~n apo mhdea ei~dwj) lembrando-se de que nos poemashomeacutericos a primeira aparicatildeo de um personagem seguida de seuepiteto satildeo marcantes indicando seu carater e determinando seucomportamento ao longo de todo o texto35 Ao mesmo tempo emque Arete eacute a mulher de valor (a)reth ) torna-se uma mulher deforca (a)lkh) Isso se da por ser esposa de Alcinoo (a)lkh + nooj) ecorrespondente exata em paridade com ele na sua caracterizacatildeo

Nos poemas homeacutericos os vocabulos a)lkh e a)reth estatildeoprofundamente ligados agrave vida e agrave imagem do homem (e emmulheres de posicatildeo ou heroinas) na sociedade em que estainserido Neste contexto a)reth natildeo eacute o conceito puramenteabstrato a respeito da virtude mas essencialmente a excelecircncia asuperioridade o alvo supremo do heroacutei homeacuterico que se revelaconcretamente no campo de batalha na Iliacuteada e das lutas com ospercalcos e vicissitudes da vida na Odisseia atraveacutes da coragem eda forca36 cujos heroacuteis e heroinas satildeo a representacatildeo do atleta quecompete nos jogos em tempos de paz e combate como hoplita (ainfantaria) nos tempos de guerra

A realidade estabelecida na eacutepica homeacuterica tambeacutem ostragedioacutegrafos conhecem ndash o que se vera aplicado agrave mulher naprincesa Alceste de Euripides Ha uma determinacatildeo histoacuterica quefaz com que alguns sentidos dos vocabulos sejam lidos e outrosnatildeo37 isto eacute o contexto histoacuterico-social de producatildeo dos textos

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aplica aos vocabulos do discurso limites de interpretacatildeo ligados aomodo como a sociedade em questatildeo os utiliza38 Na maior partedas ocorrecircncias a associacatildeo da a)reth (a virtude) e da a0lkh (aforca) ao universo masculino eacute um irrefutavel exemplo daaplicabilidade deste pressuposto No entanto sua utilizacatildeo paraheroinas e personagens femininas da pistas da possibilidade daparidade entre mulheres e homens na sociedade grega dos seacutec VIIndashV

aC a cujos ouvintes-leitores natildeo causara estranhamento ao teremcontato com tais textos

PARA NAtildeO CONCLUIR ndash NUNCA Alguns elementos caracteristicos na rainha Arete

caracterizam-na como mulher cheia de forca e virtude Assimcomo supracitado a)lkh e a)reth forca e virtude ndash ou valor ndash satildeodois atributos que caminham juntos na cultura grega para designarheroacuteis e heroinas Uma resposta plausivel eacute apontar o eacutethos ndashcostumes e crencas ndash que eleva mulheres de forca e valordemonstrados nos textos agrave categoria de heroinas

Arete eacute vista em paridade ao seu marido Alcinoo o qualtambeacutem porta a forca (a)lkh ) componente de seu proacuteprio nomeuma forca de que ambos satildeo investidos Alcinoo ainda eacute aqueleque honra Arete como a nenhuma outra mulher39 O valor deArete eacute reconhecido por todo o seu povo os feaces e cantadopelo poeta eacutepico na ldquofuncatildeordquo de narrador ldquoO povo lhe tributahomenagem e a aclama com palavras entusiasticas quandoaparece na cidade Conhecida pelo seu bom sensordquo40

Arete eacute uma mulher de atitudes e de palavras diante de seupartner em cena o rei Alcinoo Na cena do jantar com OdisseuArete rompe o silecircncio para pedir que auxiliem a Odisseu quandode seu regresso Agrave fala de Arete um anciatildeo Equeneu reageldquoAmigos natildeo foge do nosso escopo o que declarou a sabiarainha Natildeo decidamos poreacutem antes de ouvir Alcinoo aqui presente Falar e agir eacute sua competecircnciardquo41 Ao que Alcinooassevera ldquoO que ouvimos [de Arete] sera executadordquo42

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ABSTRACT Arete the Virtue per se in the Odyssey is a Woman

This concise writing intends to bring a conversation abouta woman introduced by Homer between Songs VI-XI of theOdyssey the strong and noble Arete The Queen of Feaces andwife of King Alcinoo is someone that is not heard too muchabout However when we approach this woman through the epicpoetry we face as a matter of fact with virtue itself the arete(a)reth ) as good as the name represents Therefore a wondercomes around who is the woman with noble character in theAncient Greece That is the ndash positive ndash challenge in which thiswriting wants to engage the reader

KEYWORDS

Homer Woman Arete

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REFEREcircNCIAS DOCUMENTACcedilAtildeO TEXTUAL

BERLIN A ZVI BRETTLER M (Eds) The Jewish Study BibleTANAKH Translation [Jewish Publication Society] New YorkOxford University Press 2004HOMEgraveRE Iliade Texte eacutetabli et traduit par P Mazon Paris LesBelles Lettres Tome I (1987) Tome II (1992) Tome III (1994)Tome IV (1982) HOMEgraveRE LrsquoOdyseacutee Poeacutesie Homeacuterique Texte eacutetabli et traduit parV Beacuterard Paris Les Belles Lettres 1953 Tomes I II III IV HOMERO Odisseia Trad Donaldo Schuumller Porto Alegre LampPM2007 (3 vols)

DICIONAacuteRIO

BAILLY A Dictionnaire grec-franccedilais Paris Hachette 2000

LIVROS

CARPEAUX OM Histoacuteria da civilizaccedilatildeo ocidental Rio deJaneiro O Cruzeiro 1959JAEGER W Paideia a formacatildeo do homem grego Trad Artur MParreira Satildeo Paulo Martins Fontes 2001ORLANDI EP Discurso e leitura Satildeo Paulo Cortez CampinasEdUNICAMP 1988PEREIRA MHR Estudos de histoacuteria da cultura claacutessicacultura grega Lisboa Calouste Gulbekian 2006 v 1VERNANT JP VIDAL-NAQUET P Entre mito e poliacutetica na GreacuteciaAntiga Traducatildeo Anna Lia A de Almeida Prado Maria daConceicatildeo M Cavalcante e Filomena Yoshie Hirata Garcia SatildeoPaulo Duas Cidades 1977WINKLER JJ The Constraints of Desire the Anthropology ofSex and Gender in Ancient Greece New York LondonRoutledge 1990

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ARTIGOS

LANG B Womens Work Household and Property in TwoMediterranean Societies a Comparative Essay on Proverbs XXXI

10-31 VT 54 n 2 2004 p 188-207RACE W First Appearances in the Odyssey TAPS n 123 1993 p79-107RIESS JK The Woman of Worth Impressions of Proverbs 3110-31 Dialogue 30 n 1 Spr 1997 p 141-151SZLOS BM A Portrait of Power a Literary-Critical Study of theDepiction of the Woman in Proverbs 3110-31 USQR 54 n 1-22000 p 97-103VAINSTUB D Some Points of Contact between the BiblicalDeborah War Traditions and Some Greek Mythologies VT n 61m2011 p 324-334WOLTERS A M Proverbs 3110-31 as Heroic Hymn a Form-Critical Analysis VT 38 n 4 1988 p 446-457

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1 Os Feaces satildeo um povo mitico apresentado nos cantos VndashVII da Odisseia comouma sociedade modelo quanto aos valores e ao comportamento no trato com oshomens e mulheres Na eacutepica Odisseu sofre um naufragio e eacute encontrado napraia do Reino dos Feaces pela princesa Nausicaa e suas mocas Nausicaa oinstruira a como lidar com a cultura e o comportamento do seu povoapontando que para que alcancasse o favor do rei Alcinoo seu pai primeiroteria que alcancar o favor da rainha Arete sua matildee como se vera adiante 2 VERNANT 2002 p 414-4193 A expressatildeo formada a partir dos adjetivos kaloj belo e a)gaqoj bom nobreligados por kai ou te e ou ambos desempenha um importante papel naformulacatildeo de muitas concepcotildees eacuteticas sociais e (num sentido muito amplode) politicas da Antiguidade Literalmente equivale agrave foacutermula de qualidadeldquobeleza e bondaderdquo Ora ldquoser belordquo significa primariamente ldquoser nobrerdquoenquanto ldquobom exemplar do proacuteprio tipordquo Por isso o termo kaloka)gaqia eacutefrequentemente traduzido por ldquonobreza e bondaderdquo bem como por ldquohonrardquoCom efeito o kaloka)gaqoj eacute um modelo do ldquohomem honradordquo ldquonobre e bomrdquoe portanto o ldquobom cidadatildeordquo Esse sentido ldquocivicordquo esta presente emXenofonte Platatildeo e Aristoacuteteles Nestes a nocatildeo de kaloka)gaqia eacute uma nocatildeoeducativa na medida em que exprime a ideia da boa educacatildeo oposta agrave ideia dopoder puro e simples Ela eacute em grande parte a justificacatildeo ldquoeducativardquo dopoder O homem kaloka)gaqoj eacute aquele que exerce o poder de um modointimamente ligado agrave justica Por isso o kaloka)gaqoj eacute ao mesmo tempo ldquoohomem justordquo

4 A Questatildeo Homeacuterica eacute formulada a partir da seguinte inquietacatildeo quem eacute oautor da Iliacuteada e da Odisseia e como essas obras chegaram ao texto finalDioacutegenes de Laeacutercio (I 57) fala de interpolacotildees realizadas por Pisistrato notexto homeacuterico Quanto ao autor das obras as respostas satildeo variadasreduzindo-se todas elas a trecircs teses principais a unitarista (um soacute eacute o autorprincipal dos poemas homeacutericos) a dualista (dois poetas diferentes trabalhandona mesma tradicatildeo) e a pluralista (satildeo varios os autores de cada um dospoemas) Quanto agrave redacatildeo dos textos as correntes de critica textual dosmodernos (seacutec XIX) dividem-se em Teoria da Ampliacatildeo (considera-se umaIliacuteada primitiva de pequena extensatildeo a qual crescera com o decorrer do tempoateacute alcancar as proporcotildees tradicionais da obra) defendida por G HERMANNTeoria dos Cantos (a Iliacuteada continha cerca de dezesseis cantos individuaisdivididos por K LACHMANN) e a Teoria da Compilacatildeo (tanto a Iliacuteada quanto aOdisseia natildeo eram cantos e sim pequenas epopeias de diversas proporcotildees evalor tambeacutem diverso) desenvolvida a partir da analise de A KIRCHHOFF (cfLESKY 1995 p 51-52) problema que tem preocupado especialistas desde osgregos eruditos do periodo helenistico ndash os primeiros a cogitar a questatildeo ndash ateacuteos nossos dias ainda que para alguns autores a principal questatildeo natildeo eacute pensarquem foi Homero e quando as obras foram convertidas da tradicatildeo oral ecompiladas na tradicatildeo escrita e sim o que foi Homero Dadas as diferencas domeio e da estrutura social a diferenca de tema e as diferencas vocabulares eestilisticas da Iliacuteada e da Odisseia parece legitimo concluir que os dois poemasforam compostos por diferentes poetas em tempos e lugares distintos O tema eacutediscutido entre historiadores literatos e linguistas tais como G S KIRK (1965)R AUBRETON (1956) D SCHUumlLER (1972) M FINLEY (1981) W BURKERT (1993)A LESKY (1995) e todos os que veem o valor da obra homeacuterica para a proacutepriaconstrucatildeo e fixacatildeo de valores tais como eacutetica preceitos morais e principiosguerreiros como a defesa da honra e ainda o conceito de (a)reth junto agravesociedade ocidental5 JAEGER 2001 p 446 VERNANT Lrsquoindividu la mort lrsquoamour Soi-mecircme et lrsquoautre en Gregravece ancienne 1989___Entre mito e poliacutetica 2002 Bela morte eacute um conceito criado e proposto por Jean-Pierre Vernant para o guerreiro que morre em batalha e alcanca a gloacuteriaimperecivel e sera imortalizado na memoacuteria coletiva de seu povo atraveacutes doscantos dos aedos como ocorreu aos heroacuteis da Iliacuteada 7 Cf Odisseia XI v 4468 Cf Odisseia XI v 336-340

9 Grande parte da Odisseia se da com Peneacutelope tendo que lidar com a situacatildeo dos pretendentes que desejam toma-la como esposa por sua beleza fisica e sua firmeza de carater visto que se pensa que Odisseu morrera quando do retorno de Troia para Iacutetaca seu reino Os pretendentes soacute satildeo mortos por Odisseu no ultimo canto (cf Odisseia XXII)10 ldquoMulher virtuosa quem a achara O seu valor muito excede ao de rubis Ocoracatildeo do seu marido esta nela confiado assim ele natildeo necessitara de despojoEla soacute lhe faz bem e natildeo mal todos os dias da sua vida Busca latilde e linho etrabalha de boa vontade com suas matildeos Como o navio mercante ela traz delonge o seu patildeo Levanta-se mesmo agrave noite para dar de comer aos da casa edistribuir a tarefa das servas Examina uma propriedade e adquire-a planta umavinha com o fruto de suas matildeos Cinge os seus lombos de forca e fortalece osseus bracos Vecirc que eacute boa a sua mercadoria e a sua lacircmpada natildeo se apaga denoite Estende as suas matildeos ao fuso e suas matildeos pegam na roca Abre a suamatildeo ao pobre e estende as suas matildeos ao necessitado Natildeo teme a neve na suacasa porque toda a sua familia esta vestida de escarlata Faz para si cobertas detapecaria seu vestido eacute de seda e de purpura Seu marido eacute conhecido nasportas e assenta-se entre os anciatildeos da terra Faz panos de linho fino e vende-os e entrega cintos aos mercadores A forca e a honra satildeo seu vestido e sealegrara com o dia futuro Abre a sua boca com sabedoria e a lei da beneficecircnciaesta na sua lingua Esta atenta ao andamento da casa e natildeo come o patildeo dapreguica Levantam-se seus filhos e chamam-na bem-aventurada seu maridotambeacutem e ele a louva Muitas filhas tecircm procedido virtuosamente mas tu eacutes detodas a mais excelente Enganosa eacute a beleza e vatilde a formosura mas a mulher queteme ao Senhor essa sim sera louvada Dai-lhe do fruto das suas matildeos e deixe oseu proacuteprio trabalho louva-la nas portasrdquo

11 Todas as traducotildees da Odisseia satildeo de Donaldo Schuumller12 Cf Odisseia XIX 107-11413 Compare-se com o texto de Proveacuterbios de Salomatildeo na nota 814 JAEGER 2001 p 4615 Cf Odisseia VI v 15416 Cf Odisseia VI v 206-21017 Cf Odisseia VI v 218-25018 Cf Odisseia VI v 30419 JAEGER 2001 p 4220 Idem ibidem21 Cf Odisseia VII v 65-7422 O aedo eacute aquele que canta as gestas dos heroacuteis tendo uma memoacuteriaprivilegiada pela grande quantidade de fatos dos quais lembra e por isso canta 23 Cf Odisseia XI v 336-34024 O adjetivo perifrwn (a que examina por todos os aspectos que medita afundo prudente) eacute utilizado tambeacutem para Peneacutelope na epopeia (cf Odisseia XI v446 XIX v 308 v 349) 25 Cf Repuacuteblica 606e26 CARPEAUX 1959 p 5227 Idem ibidem p 6028 Idem ibidem p 48 29 Idem ibidem p 79 30 Idem ibidem p 83 31 Idem ibidem32 Iliacuteada III 154-159 a beleza irresistivel de Helena se mostra a fim de justificar oerro de Paris 33 JAEGER 2001 p 4734 Odisseia VI v 1235 RACE 1993 p 79-10736 PEREIRA 2006 p 135-136 37 ORLANDI 1988 p 1238 Para saber mais veja U ECO Os limites da interpretaccedilatildeo 2008 O autor trabalha aligacatildeo entre o contexto social do leitor e a interpretacatildeo da leitura que eacute feita

defendendo o conceito de Obra aberta presente em seus outros livros poreacutemprevendo que ha limites impostos pela proacutepria obra e pelo reconhecimento demundo do leitor 39 Cf Odisseia VII v 66-6740 Cf Odisseia VII v 70-7341 Cf Odisseia IX v 343-34642 Cf Odisseia IX v 348

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Os autores

Alessandra Serra ViegasDoutora em Teologia pela PUC-Rio e em Histoacuteria Comparada peloPPGHC-UFRJ Mestre em Histoacuteria Comparada pelo PPGHC-UFRJMestre em Teologia pela PUC-Rio na area de Teologia BiblicaPossui graduacatildeo em PortuguecircsGrego pela UERJ e bachareladoem Teologia pela PUC-Rio Atualmente eacute professora-coordenadorade Sala de Leitura e Biblioteca do Coleacutegio Estadual Joseacute LeiteLopes ndash NAVE (Nucleo Avancado em Educacatildeo) ndash SEEDUC eprofessora do Seminario Metodista Ceacutesar Dacorso Filholecionando grego koineacute literatura e teologia teologia feminina(teologia na perspectiva da mulher) leitura e producatildeo textualmeacutetodos de estudo universitario e orientacatildeo de TCC Eacutepesquisadora colaboradora do NEA-UERJ (Nucleo de Estudos daAntiguidade) Participa do grupo de pesquisa TIAT (Traducatildeo eInterpretacatildeo do Antigo Testamento) Eacute membro efetivo de Letrasdo Nucleo Acadeacutemico de Letras e Artes e Lisboa (NALAL) e daAcademia de Letras e Artes de Paranapuatilde (ALAP) titular da cadeiran 24 patronimica de Adolfo Caminha Eacute membro-embaixador daDivine Acadeacutemie Francaise des Arts Lettres et Culture

Graciela C Zecchin de FasanoDoutora em Letras pela Universidad Nacional de La Plata (UNLP)onde eacute professora titular de Grego da Faculdade de Humanidadese Ciecircncias da Educacatildeo Atualmente dirige a revista Synthesis Foi

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Os autores

Fellow of The Center for Hellenic Studies (Harvard University) noperiodo 2013-2014 Eacute autora do livro Odisea discurso y narrativa(EDULP 2004) e editora de Deixis social y performance en la literaturagriega claacutesica (La Plata 2011) e de El relato de la historia en lasmanifestaciones de la Grecia antigua y su valor miacutetico-performativo (IdIHCSFaHCE 2015) Publicou numerosos artigos e capitulos de livrostanto em seu pais Argentina como no exterior especialmentesobre eacutepica homeacuterica e recepcatildeo classica que constituem suasprincipais linhas de investigacatildeo

Guilherme da Costa Assuncatildeo CecilioCursou a Graduacatildeo em Filosofia (bacharelado e licenciatura) naUniversidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) onde tambeacutemconcluiu o Mestrado em Filosofia (PPGLM) e o Doutorado emFilosofia (PPGF) esse na modalidade sanduiche com periodo depesquisa na Johann Wolfgang von Goethe Universitaumlt ndash Frankfurtam Main Eacute professor efetivo de Filosofia do Instituto Federal deEducacatildeo Ciecircncia e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ) eprofessor permanente do Programa de Poacutes-Graduacatildeo emFilosofia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGF-UFRJ)Atua principalmente nas areas de Histoacuteria da Filosofia Antiga eMetafisica

Maria Cecilia ColombaniProfessora titular de problemas filosoacuteficos e antropologia filosoacuteficada Facultad de Filosofia Ciencias de la Educacioacuten y Humanidadesda Universidad de Moroacuten onde ainda atua como investigadoraprincipal e coordenadora de projetos de pesquisa Professoratitular de histoacuteria da filosofia antiga e problemas especiais defilosofia antiga na Facultad de Humanidades da UniversidadNacional de Mar del Plata Autora de diversos capitulos de livros ede mais de uma centena de artigos apresentados em congressos daarea Autora de Hesiacuteodo una introduccioacuten criacutetica (Buenos AiresSantiago Arcos Editor 2005) Homero Una introduccioacuten critica(Buenos Aires Santiago Arcos Editor 2005) e Foucault y la poliacutetica(Buenos Aires Prometeo 2009) Em 2016 publicou Hesiacuteodo

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discurso y linaje una aproximacioacuten arqueoloacutegica pela Universidad de Mardel Plata

Maria del Pilar Fernandez DeagustiniDoutora em Letras pela pela Universidad Nacional de La Plata(UNLP) onde atua como chefe de Trabajos Practicos na area degrego da Facultad de Humanidades y Ciencias de la Educacioacuten ebolsista poacutes-doutoral de CONICET Professora de grego e deliteratura grega classica Autora de Suplicantes de Esquilo unainterpretacioacuten (2015) e de El espacio eacutepico en el canto 11 de Odisea(2010) aleacutem de artigos especialmente sobre as Suplicantes deEacutesquilo objeto de investigacatildeo de sua tese doutoral Atualmenteintegra o projeto de investigacatildeo ldquoRecepcatildeo e apropriacatildeo deHomero na literatura grega classicardquo (UNLP) dirigido pela profadra Graciela Zecchin

Rossana ZettiFormada em Literatura Classica pela Universitagrave degli Studi deMilatildeo Mestre em Classicos na Universidade de Edimburgo ondeatualmente trabalha em sua tese doutoral sob a supervisatildeo do profdr Douglas Cairns Sua pesquisa de doutorado concentra-se narecepcatildeo de Antiacutegona de Soacutefocles na Europa do seacutec XX e seuestudo visa esclarecer as ideologias e os contextos que produziramvarias versotildees renovadas da Antiacutegona no referido seacuteculo

Simone de Oliveira Goncalves BondarczukDoutora em Letras Classicas (2017) e mestre em Linguistica pelaUniversidade Federal do Rio de Janeiro (2005) Ministrou aulascomo professora substituta de lingua e literatura Grega naFaculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro porduas vezes no periodo de 2005 a 2007 e no ano de 2010 Tambeacutemfoi professora no Seminario Teoloacutegico Presbiteriano Simonton doRio de Janeiro entre 1996 e 2007 e da Faculdade de TeologiaWittenberg entre 2006 e 2008 Atuou como pesquisadora durantea graduacatildeo no projeto NURC-UFRJ (subprojeto de semacircntica) sob a

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Os autores

supervisatildeo da professora Dinah Callou e durante o mestrado noprojeto Discurso e Gramatica-UFRJ sob a orientacatildeo do professorMario Eduardo T Martelotta em cujo projeto continuaparticipando como colaboradora Atualmente eacute pesquisadora dogrupo de pesquisa DAG (Discursos da Antiguidade Grega) doPPGLC-UFRJ e do programa de estudos em filosofia antiga ndash Pragmado IFCS-UFRJ Quando doutoranda do Programa de Poacutes-Graduacatildeoem Letras Classicas da UFRJ recebeu uma bolsa sanduiche daCapes para pesquisar na Universitagrave degli Studi di Bari Aldo Morono periodo de setembro de 2015 a fevereiro de 2016 sob asupervisatildeo do professor Paulo Butti de Lima Nessa mesmauniversidade foi recebida na condicatildeo de Visiting Professor

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Page 4: Presenca Classica - Portal de Periódicos da UFRJ

Caliope Presenca Classica | 20172 Ano XXXIV Numero 34

Sumario

Apresentacatildeo | p 5

Liacutemite y prudencia en Hesiacuteodo una mirada antropoloacutegica | Maria CeciliaColombani | p 9

Antigonersquos (mis)appropriations in Twentieth-Century Europe MemoryPolitics and Resistance | Rossana Zetti | p 25

Significado e estrutura do argumento do terceiro homem no Parmecircnides dePlatatildeo | Guilherme da Costa Assuncatildeo Cecilio | p 45

Identidad ritual y performance un anaacutelisis de los primeiros dos versos deSuplicantes de Esquilo | Maria del Pilar Fernandez Deagustini | p65

O Filebo prazer e intelecto em confronto | Simone de O GoncalvesBondarczuk | p 84

Aedoacuten performance poeacutetica de las viacutectimas | Graciela C Zecchin deFasano | p 108

Arete a virtude em si na Odisseia eacute uma mulher | Alessandra SerraViegas | p 128

Os autores | p 143

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Apresentacatildeo

Eacute com imensa satisfacatildeo que apresentamos o 34o volumeda revista Caliacuteope Presenccedila Claacutessica perioacutedico tradicional daUniversidade Federal do Rio de Janeiro que chega ao seu 34o anode existecircncia Pela primeira vez em todos esses anos os autoressatildeo na sua maioria estrangeiros e por essa razatildeo a linguapredominante dos artigos natildeo e o portuguecircs Temos trecircs linguasdiferentes nesse volume espanhol portuguecircs e inglecircs Pode-seconstatar que isso e um reflexo do fato que a area de LetrasClassicas neste pais esta cada vez mais se internacionalizando

Dois dos trecircs artigos de autores brasileiros abordam temasfilosoacuteficos Um deles ldquoO Filebo prazer e intelecto em confrontordquode Simone Bondarczuk analisa o dialogo platocircnico Filebo que sobvarios aspectos se apresenta no conjunto do corpus platocircnico emdissonacircncia com os temas tipicos de Platatildeo O dialogo pelo menosprima facie natildeo aborda assuntos relacionados com politica mesmotendo sido escrito em uma epoca na qual Platatildeo demonstrava umconstante interesse por esse assunto O propoacutesito do dialogo natildeo eo de estabelecer a vida teoretica como a melhor forma de viver eao mesmo tempo natildeo condena rigorosamente os prazeres masrecomenda uma conduta de vida na qual os prazeres e a reflexatildeointelectual se misturem Eacute uma obra tatildeo complexa que parececarecer de unidade tematica em si mesma Bondarczuk tentadecifrar a foacutermula comum que esta por tras dessa aparente falta deunidade tematica agrave qual estamos habituados em outras obras

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platocircnicas e encontra no acircmago da discussatildeo socratica umpossivel candidato unificador o Bem e a sua relacatildeo com prazerese atividades intelectuais

Em ldquoSignificado e estrutura do argumento do terceirohomem no Parmecircnides de Platatildeordquo O filoacutesofo Guilherme Ceciliounico homem entre seis autoras femininas ndash motivo de orgulhouma vez que comprova serem as Letras Classicas um ramoacadecircmico de igualdades e emancipacatildeo que pode servir comoexemplo para outros acircmbitos da nossa sociedade ndash trata doargumento do Terceiro Homem usado no dialogo platocircnicoParmecircnides Alem de situar o Parmecircnides cronologicamente entre osoutros dialogos platocircnicos Cecilio mostra de qual maneira oargumento em questatildeo serve como objecatildeo agrave teoria das ideias

Alessandra Serra Viegas aponta em ldquoArete a virtude em sin a Odisseia e uma mulherrdquo uma questatildeo que ate hoje recebeupouca atencatildeo o significado do nome da rainha dos Feaces Areteno contexto da Odisseia e a importacircncia histoacuterico-literaria determos uma figura feminina chamada ldquoVirtuderdquo Serra Viegas tentasituar esse dado dentro de uma discussatildeo sobre a relacatildeo mulher-homem no contexto homerico e os seus desdobramentos naepopeia

No seu artigo ldquoIdentidad ritual y performance un analisisde los primeiros dos versos de Suplicantes de Esquilordquo Maria delPilar Fernandez Deagustini desdobra atraves de uma analise desomente dois versos iniciais das Suplicantes todo o universoesquiliano e demonstra o seu encaixe na cultura grega alem de suainteracatildeo com os ritos e a religiatildeo inserido no contexto dramaticoda peca Temos a possibilidade de olhar de matildeos dadas com apesquisadora argentina que fornece todas as necessariasferramentas teoacutericas conectando-as com a pratica de performancedo drama para tras do funcionamento de uma das mais antigastragedias chegadas ate noacutes Criando uma rede de referecircnciasintertextuais del Pilar mostra que os primeiros versos satildeofundamentais para a estrutura e para a compreensatildeo das Suplicantes

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porque eles contecircm elementos que interagem com outras partes dapeca

Em ldquoLimite y prudencia en Hesiodo una miradaantropoloacutegicardquo a especialista em poesia hesioacutedica Maria CeciliaColombani adaptando as teorias de Louis Gernet propotildee umaleitura antropoloacutegica dos poemas de Hesiodo com o propoacutesito deesclarecer a relacatildeo exata na qual o homem arcaico da Greciaantiga se situou para com o divino e como ele de modo mais geralse (auto)integrou no mundo religioso da sua tradicatildeo

Como terceira autora de lingua espanhola GracielaZecchin de Fasano reflete sobre o papel da vitima na poesia gregatomando como base principal a Odisseia os Trabalhos e os dias deHesiodo e as Aves de Aristoacutefanes em ldquoAedoacuten performance poeticade las victimasrdquo O artigo mostra como a figura do rouxinol serviade Homero ate a epoca classica como simbolo das vitimas quesofrem violecircncias nas esferas dominadas por forcas masculinas

Rossana Zetti mostra em ldquoAntigonersquos (mis)appropriationsin Twentieth-Century Europe Memory Politics and Resistancerdquocomo a Antiacutegona de Soacutefocles foi interpretada e instrumentalizadana primeira metade do sec XX Eacute fascinante notar como correntespoliticas opostas conseguiram cada um de maneira distintaapropriar-se do potencial soacutecio-cultural dessa tragedia Zetti iniciaa viagem pelos tempos e as suas apropriacotildees da peca com atraducatildeoadaptacatildeo de Houmllderlin que somente mais de um seculodepois da sua publicacatildeo comecou a ser considerada uma versatildeo etraducatildeo extraordinaria enquanto considerado mediocre pelamaioria dos contemporacircneos do poeta e tradutor alematildeo Essaversatildeo serviu no sec XX tanto aos Nazistas quanto aos socialistas(Bertolt Brecht) como referecircncia ideal O artigo demonstra comouma mesma tragedia pode ser interpretada e apresentada comosubversiva por uns e modelo classico de representacatildeo de valorestradicionais conservadores por outros

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Encerrando esta edicatildeo encontra uma secatildeo cominformacotildees sobre os autores deste numero No mais desejamosuma proveitosa e prazerosa leitura

Os editores

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Liacutemite y prudencia en Hesiacuteodo una mirada antropoloacutegica | Mariacutea Cecilia Colombani

Liacutemite y prudencia en Hesiacuteodo unamirada antropoloacutegicaMariacutea Cecilia Colombani

RESUMO

A proposta do presente trabalho consiste em efetuar uma leituraantropoloacutegica da relaccedilatildeo que o homem guarda com a divindade nomarco do esquema do pensamento miacutetico proacuteprio da Greacuteciaarcaica A presenccedila dos deuses implica que por detraacutes do khaacuteosaparente estaacute garantida a existecircncia de uma ordem da qual apoesia eacute precisamente sua percepccedilatildeo mais exitosa No toacuteposantropoloacutegico dois fenocircnemos satildeo essenciais e complementaresna relaccedilatildeo do homem grego com a divindade O primeiro radica nadistacircncia que o separa dos seres divinos e o segundo abarca oscontatos humanos de aproximaccedilatildeo e assimilaccedilatildeo a esse mundoNeste marco intencionamos relacionar o toacutepico evidenciandocomo no marco da relaccedilatildeo que se estabelece entre ambos osplanos no reconhecimento e na transgressatildeo do registro que osdistingue e os separa a ira dos deuses eacute despertada a partir dodesconhecimento do limite e da prudecircncia

PALAVRAS-CHAVE

Homem divindade distacircncia aproximaccedilatildeo reconhecimentotransgressatildeo

SUBMISSAtildeO 14 set 2017 | PUBLICACcedilAtildeO 10 nov 2017

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Caliacuteope Presenccedila Claacutessica | 20172 Ano XXXIV Numero 34

1 LA DISTANCIA

l proyecto del presente trabajo consiste en efectuar unalectura antropoloacutegica de la relacioacuten que el hombreguarda con la divinidad en el marco del esquema depensamiento miacutetico propio de la Grecia ArcaicaEntendemos por ldquoantropologiacuteardquo el concepto del queparte Louis Gernet para pensar coacutemo el hombre seproyecta en el plano religioso del mundo reconociendoque maacutes allaacute de los multiples vaivenes que la palabra hatenido segun la eacutepoca podemos considerar que se tratade la representacioacuten del hombre en el plano religioso delmundo1

Para comprender este aspecto debemos captar laidea de fractura ontoloacutegica entre diferentes aacutembitos o

regiones de ser de dos toacutepoi de dos razas o mundos impermeablesla una respecto de la otra tal como sostiene el propio Gernet2 Esel largo relato de los dioses es el trazo del linaje el reparto de lospoderes y la definitiva consolidacioacuten del koacutesmos la que permitedelinear los dos toacutepoi referidos

La presencia de los dioses y la existencia de ese planoimplican que por detraacutes del khaacuteos aparente estaacute garantizada laexistencia de un orden del cual la poesiacutea es precisamente supercepcioacuten maacutes lograda Como sostiene Gernet ella constituye esaespecie de ldquofilosofiacutea popularrdquo3 que al contar las sucesiones divinasnarra al mismo tiempo la plasmacioacuten a partir del khaacuteos de unorden perfecto sostenido por la justicia de Zeus La Teogoniacuteaconstituye el primer intento griego de dar una explicacioacuten divinadel orden del universo Tal como afirma J-P Vernant ldquoLasteogoniacuteas y las cosmogoniacuteas griegas comprenden como lascosmologiacuteas que les han sucedido relatos de geacutenesis que explicanla aparicioacuten progresiva de un mundo ordenadordquo4 Esta intuicioacuten sedebe precisamente a ese teloacuten de fondo religioso que impregna latotalidad de la vida social del hombre griego

Si seguimos la tesis de L Gernet es en ese toacutepos donde seproduce el fenoacutemeno de aproximacioacuten que acorta la distancia entrelos dos aacutembitos que constituyen zonas impermeables5

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Efectivamente la esfera humana parece acercar su registro a laesfera divina aunque en el seno mismo de esta ritualizacioacutensimboacutelica lo divino siempre guarde su territorio inasible En eltoacutepos antropoloacutegico dos fenoacutemenos son capi ta les ycomplementarios en la consideracioacuten de la relacioacuten entre elhombre griego y la divinidad El primero radica en la distancia quelo separa de los seres divinos y el segundo da cuenta de losintentos humanos de aproximacioacuten y de asimilacioacuten a ese mundoque lo sobrepasa por doquier6

La aproximacioacuten no implica una categoriacutea geograacutefica unadistancia medida en paraacutemetros espaciales sino una dimensioacutenontoloacutegica que supone un determinado estatuto de ser una ciertacualificacioacuten que transfigura el ser mismo del hombre Existe unafractura o brecha entre dioses y hombres donde el nucleo mismode la distancia supone el liacutemite que implica la muerte Finitud einfinitud he alliacute la clave de una distancia que muy pocos puedensoacutelo en parte franquear

La asimilacioacuten implica tambieacuten una categoriacutea ontoloacutegicaEs el ser mismo del hombre el que se transforma ya que deviene eacutelmismo ldquocomo un diosrdquo Es la aspiracioacuten comun de los mortales elser del hombre se asimila al ser divino y en tal asimilacioacuten seconvierte en un sujeto excepcional en un epopteacutes

El teloacuten de fondo de esta dualidad implica una ciertanocioacuten de temporalidad En el marco de la atemporalidad quehemos sugerido como marca identitaria del plano divino hay noobstante una particular loacutegica temporal Los dioses parecen teneruna cierta vida cotidiana un cierto movimiento que se juegacomo corresponde en una especialidad abierta y en unatemporalidad acotada

Recordemos que es posible hablar de una temporalidaddivina y que eacutesta estaacute directamente vinculada con la idea de dramaen tanto accioacuten Las acciones de los dioses asiacute como suspreocupaciones abren una temporalidad dentro del ldquosiemprerdquocaracteriacutestico del plano divino Dicen Detienne y Sissa

Asiacute en la obra de Homero y especialmente en la Iliacuteada la vidade los dioses se despliega en toda su densidad en esa mezcla

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de acontecimientos y de rutina que la caracterizan [] allaacutedonde en la sucesioacuten de hechos se abran las ventanas de unteatro que habla no de la mediocridad sino maacutes bien de lavita de la existencia de los dioses7

Podemos tambieacuten abordar el nucleo problemaacutetico hombre-divinidad desde la perspectiva del poder que se pone en juego Seobserva entonces una polaridad en la dimensioacuten de la arkheacute Elpropio Gernet bucea en la disimetriacutea estatutaria que la diacuteadaimplica y alude a que

Un magniacutefico coro de la Antiacutegona de Soacutefocles exalta alhombre como detentor ndash e incluso excepcionalmente comocreador ndash de teacutecnicas a las que se podriacutea atribuir un desarrolloindefinido si no se topara con un doble liacutemite la muerte esabarrera infrangible y los dioses de los que los hombresreciben la justicia8

La divinidad constituye esa instancia aacuteltera donde se ostentaefectivamente la arkheacute tensionando de ese modo la distancia entreun mundo y otro a punto tal de que el hombre mismo es una cosamaravillosa pero estrechamente limitada ya que su accioacuten no esautoacutenoma porque reconoce la marca de los dioses como sello desu voluntad incuestionable

El poder al que nos referimos de caraacutecter disimeacutetrico es lamarca de la inmortalidad que atraviesa a la divinidad y la nocioacuten deDiacuteke ya que son los dioses quienes otorgan la justicia divina Elhombre por el contrario es mortal descubriendo en la muerte eseliacutemite que lo territorializa a su condicioacuten humana asimismo estributario de un orden-justicia que no depende de eacutel Se trata deuna primeriacutesima justicia coacutesmica donde el orden mismo de lo reales sinoacutenimo de justicia

Por todo lo dicho

Si se realiza una investigacioacuten etnograacutefica y comparativa seobserva que los dioses presentan respecto a los mortales unestatuto excepcional y heterogeacuteneo al mismo tiempo Por unaparte se pueden atribuir sus cualidades a una sistemaacuteticasuperioridad sobre los hombres Por otra parte debemos

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reconocerles tambieacuten una diferencia especiacutefica Los dioses seperciben distintos porque son maacutes grandes maacutes poderosos ymaacutes sabios que los hombres pero tambieacuten porque pararegular su existencia eligen unas normas que le son propias yexclusivas9

Pensemos en otra arista del ldquoentrerdquo otro aspecto de losespacios vinculares que el hombre juega en su instalacioacuten frente ala divinidad La condicioacuten de ser mortal se abre al horizonte de losInmortales como lo otro del hombre Las dos razas o mundos delos que venimos hablando se juegan como advertimos en ladistancia que separa ambos toacutepoi lo cual no invalida la posibilidaddel ldquoentrerdquo como modelo de contacto entre uno y otro plano oregistro ontoloacutegico Basta pensar en Hesiacuteodo ultimo y unicotestigo de una palabra dedicada a la alabanza del personaje real10

para captar esta forma de ldquoentrerdquo El texto es elocuente alrespecto

Con pureza y santidad en la medida de tus posibilidades hazsacrificios a los dioses inmortales y quema en su honorespleacutendidos muslos11

E l ldquoentrerdquo estaacute sin duda mediado por la leccioacutenantropoloacutegica inaugural que el mito de Prometeo devuelve comoloacutegos fundacional los hombres reconocen su propio liacutemite y suespacio antropoloacutegico respectivo y el sacrificio es la prenda delreconocimiento La carne perecedera seraacute el alimento de loshombres y los huesos el eterno homenaje a los Inmortales En elmarco del sacrificio dos recomendaciones la pureza referida alcuerpo y la santidad como estado del espiacuteritu

Recordemos que Prometeo cree engantildear a Zeus cuandomovido por su astucia le da a elegir entre dos porciones dosbocados diferentes ambos cubiertos de piel pero soacutelo unoconteniendo en su interior carne mientras el otro soacutelo guardahuesos y grasa Zeus elige este ultimo con lo cual queda instituidoque el alimento humano seraacute la carne El mito de Prometeo fundaasiacute el rito sacrificial En este momento hombres y dioses se

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separan los hombres no tienen ya una comunicacioacuten directa conlos dioses y se inaugura la dependencia de los hombres frente a lacarne cocida como alimento humano La instauracioacuten del ritualrompe la vieja comensalidad entre hombres y dioses e inauguraesos toacutepoi que marcan la dimensioacuten humana y la divina como razaso mundos impermeables El sacrificio separa doblemente a loshombres por un lado de los dioses y por el otro de los animalesya que los hombres deben cocer la carne y cultivar el campomientras los animales comen crudo Tal como lo muestra Detiennee n Los Jardines de Adonis12 en el reparto del primer sacrificio loshombres se llevan la parte vinculada a lo corruptible mientras quea los dioses les corresponden los aromas puros imputrescibles Laexistencia humana queda definida por una posicioacuten intermediaambigua entre lo crudo y lo quemado lo podrido y loimputrescible lo bestial y lo divino Se establece una relacioacutenvertical entre ambos al tiempo que se instituye una relacioacutenhorizontal entre los hombres El sacrificio abre los dos planosporque obliga a los hombres a comer cierto tipo de alimentomientras otros bocados corresponden a los dioses El mito daorigen a las praacutecticas sacrificiales que es precisamente el modo enque los mortales se conectan con lo divino El sacrificio es laforma en que los hombres donan algo a los dioses desde suprecaria condicioacuten humana Asimismo el mito abre un escenarioespeciacuteficamente antropoloacutegico los hombres quedan condenados acocinar los alimentos permaneciendo lo crudo reservado a losanimales o baacuterbaros

Esta no es la unica recomendacioacuten para marcar el ldquoentrerdquoque la divinidad impone Vuelve a ser Hesiacuteodo el que normativizala relacioacuten ldquoOtras veces conciacuteliatelos con libaciones y ofrendacuando te vayas a la cama y cuando salga la sagrada luz del diacuteapara que te conserven propicio su corazoacuten y su espiacuteritu y puedascomprar la hacienda de otros y no otro la tuya rdquo13

En realidad los favores de la divinidad son la clave de todobienestar Incluso el modo de vincularse de generar precisamentee l ldquoentrerdquo que estamos indagando genera una especie deregularidad o ciclicidad coacutesmica la totalidad de la jornada tanto la

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noche como el diacutea el irse a la cama como el levantarse quedanbajo la tutela de los dioses como condicioacuten de posibilidad de unavida armoniosa

El extenso apartado de Trabajos y diacuteas sobre las actividadescorrespondientes a cada estacioacuten del antildeo da cuenta de lapreocupacioacuten por el trabajo al tiempo que anuda su problemaacuteticaa la mismiacutesima legalidad coacutesmica14 Sabemos que el fondo ultimode resonancia es de caraacutecter sagrado y la ciclicidad que atraviesa locoacutesmico estaacute regulada por el mismo estatuto sagrado El trabajo secumple en conformidad con la regularidad del universo que ledona sentido y lo legitima como actividad religiosa

Su entorno devuelve ademaacutes la dependencia ontoloacutegica delos mortales respecto al destino que los dioses han hilvanado paralos hombres otro dato que habla de la fractura ontoloacutegica y quehace pensar a L Gernet en esas dos razas impermeables la una dela otra Ya sea el destino de muerte la muerte violenta o la naturalel hombre no escapa a esa dama oscura que inexorablemente nosatrapa y nos marca nuestra Moicircra nuestra porcioacuten en el reparto ynuestro territorio antropoloacutegico Alliacute estaacuten entonces los modelosejemplares que desde el relato ancestral como loacutegos explicativoresultan los vicarios miacuteticos de cualquier realidad del toacutepos humano

2 LA PROXIMIDAD

No obstante queremos problematizar esta distancia queacabamos de acompantildear con la tesis de L Gernet y de la mano deM Vegetti pensar paradoacutejicamente la cercaniacutea y la proximidad dela divinidad ya que eacutel mismo afirma la presencia intensa de lodivino

Esta difusioacuten de lo sagrado se prolonga en una relacioacuten defamiliaridad con los dioses que caracteriza ampliamente laexperiencia religiosa griega la divinidad no estaacute lejos ni esinaccesible el recurrir a ella podriacutea decirse que caracterizacada momento significativo de la existencia privada y socialSe le puede encontrar tan a menudo en sus imaacutegenes en laspraacutecticas culturales que se le dedican en las narraciones

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familiares y publicas en las que se dibujan las tupidas tramasde una simbolizacioacuten significativa de la existencia15

En efecto frente a la radical trascendencia que toma lodivino en religiones de otras caracteriacutesticas los dioses griegosguardan un estatuto inmanente que los vuelve proacuteximos maacutes allaacutede su distancia ontoloacutegica que los convierte en los Athaacutenatoi a losque se refiere Hesiacuteodo

Ahora bien iquestcoacutemo podemos caracterizar esta religiosidadgriega que estamos relevando Instalarse en este lugar suponecomparar este modelo religioso con otros para definirlo desde unesquema negativo

En primer lugar la religioacuten griega no se basa en ningunarelevacioacuten lsquopositivarsquo concedida directamente por la divinidada los hombres y por tanto no tiene ningun profeta fundadorde las grandes religiones monoteiacutestas del Mediterraacuteneo y noposee ningun libro sagrado que enuncie las verdades reveladasy constituya el principio de un sistema teoloacutegico16

La falta de esos elementos convierte a los dioses en seresmaacutes proacuteximos menos atenidos a todo el dispositivo simboacutelico delas religiones institucionalizadas

La propia falta de una iglesia como oacutergano de maacuteximajerarquiacutea determina una relacioacuten maacutes cercana que permite construiruna cierta familiaridad con lo divino donde las fronteras entre unoy otro aacutembito parecen desdibujarse pero soacutelo se trata de unaapariencia propia de la cotidianeidad porque en el fondo ladivinidad guarda siempre su jerarquiacutea estatutaria a partir de suorden ontoloacutegico ldquoY tanto menos una iglesia unificada entendidacomo aparato jeraacuterquico y separado legitimado para interpretar lasverdades religiosas y administrar las praacutecticas de cultordquo17 Sin dudaes a esta ausencia que se debe el grado de proximidad que elmismo Vegetti reconoce entre hombres y dioses Es esta cercaniacuteala que se traduce en lo cotidiano y permite comprender coacutemo ldquoenla experiencia comun por tanto siempre ha habido unaconvivencia entre la estirpe de los dioses y la de los hombresrdquo18 La

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eacutepica homeacuterica constituye una muestra magniacutefica de este aspectocon la exhibicioacuten de un viacutenculo con la divinidad que habla de unreacutegimen de cercaniacutea y proximidad19

Hasta aquiacute algunos puntos sobre coacutemo podemos entenderesta forma de religiosidad que combina las diacuteadas opuestas Unaexperiencia que guarda distancia ontoloacutegica pero que al mismotiempo evidencia matices de cercaniacutea y proximidad unaexperiencia que se revela como trascendente por las propiascaracteriacutesticas de lo divino pero inmanente en su forma depresentacioacuten

Pensemos otro aspecto desde la perspectiva de Vegetti queimpacta directamente en el corazoacuten maacutes iacutentimo de la experienciaporque diagrama el plano del culto como forma de cercaniacutea maacutesacabada

Incluso falta en griego una palabra cuyo campo semaacutenticoequivalga propiamente al teacutermino lsquoreligioacutenrsquo La que maacutes seaproxima euseacutebeia es definida por el sacerdote Eutifroacuten elprotagonista del diaacutelogo platoacutenico como lsquoel cuidado (therapeiacutea)que los hombres tienen para con los dioses (Platoacuten Eutifroacuten12 e)rsquo20

El campo lexical del verbo therapeuacuteo es la clave de estainterpretacioacuten curar cuidar velar honrar Esas son las marcas dela relacioacuten entre el hombre y la divinidad que determina ademaacutes ladiferencia estatutaria que venimos registrando A los hombres lescorresponde honrar a los dioses como modo de corroborar supertenencia al toacutepos humano En este sentido la experiencia delculto implica la persistencia del espacio humano determinada porla subordinacioacuten al aacutembito divino

Debemos comprender el significado general de ldquorespetarhonrar a la divinidad en las praacutecticas de culto nomiacutezein equivaldraacuteen definitiva a therapeuacuteein dedicar a la divinidad los oportunoscuidados ritualesrdquo21 En ese respeto y cuidado el hombre no soacutelo sedirige a los dioses sino que se respeta y cuida a siacute mismoconservando el puesto que la propia divinidad ha designado para elcolectivo humano

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Asiacute queda claro que ldquoEl nucleo de la relacioacuten entrehombres y divinidad de la lsquoreligioacutenrsquo y de la lsquofersquo de los griegosparece consistir en la observancia de los cultos y de los ritosprescritos por la tradicioacutenrdquo22 Ciertas prescripciones exhortacionesy prohibiciones pueden ser entendidas desde la dimensioacuten queacabamos de relevar Las marcas del cuidado toman la forma deuna observancia que tiene como objeto honrar a los dioses ygenerar en ellos el sentimiento de placer y felicidad de quien sesiente alabado Al mismo tiempo constituyen consejos para la vidade los hombres porque dan cuenta de una familiaridad con lodivino que trae como consecuencia beneficios en la vida ordinaria

Analizaremos una serie de versos que devuelvenprecisamente las marcas del cuidado

Nunca te atrevas a echar en cara la funesta pobreza que roe elcorazoacuten de los hombres regalo de los eternosBienaventurados23

Nunca al amanecer libes rojizo vino a Zeus con las manos sinlavar ni a los demaacutes Inmortales pues no te escucharaacuten yvolviendo la cara escupiraacuten sobre tus oraciones24

No engendres tus hijos a la vuelta de un funeral de malaguumlero sino al volver de un banquete de los Inmortales25

No te cortes en el banquete festivo de los dioses lo seco de loverde de tus cinco ramas con el brillante hierro26

No te burles de los misterios cuando asistas a humeantessacrificios sin duda tambieacuten un dios se venga de esto27

Esta familiaridad y convivialidad que venimos rastreandopuesta fundamentalmente en teacuterminos de ldquocuidadordquo no invalida elpaacutethos del temor En efecto ldquoesto no significa naturalmente queno existiese un profundo y radical temor a la divinidad y a sucapacidad de castigar las culpas de los hombres golpeaacutendoles a lolargo de su existencia e incluso de su descendenciardquo28

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3 LA VIDA TODA EN CLAVE RELIGIOSA

Definitivamente instalados en el texto hesioacutedico queremosarticular el viacutenculo hombre-divinidad en tres ejes en dondeclaramente se observa la presencia dominante de los dioses comoteloacuten de fondo de la vida en su conjunto La instancia fundacionalque supone el mito de las edades el trabajo como modo deinstalacioacuten de los hombres en su condicioacuten antropoloacutegica y lashuellas de una cotidianeidad que se revela de extrema familiaridadseraacuten los toacutepicos a tratar

EL MITO DE LAS EDADES DEL CUIDADO AL DESCONOCIMIENTO

Cuando Hesiacuteodo presenta el largo relato que da cuenta dela progresiva degradacioacuten humana en el marco de una claraintencioacuten didaacutectica29 comenta una convivialidad que parece tensarla reciprocidad entre hombres y dioses en un punto deseado deencuentro y familiaridad

Viviacutean como dioses con el corazoacuten libre de preocupacionessin fatiga ni miseria30

Los hombres de la raza de oro conocieron las delicias deesta proximidad y respondieron a ella con los debidos cuidadosque los dioses merecen por su condicioacuten de tales El clima esfestivo y el corazoacuten alcanza la mayor alegriacutea que el contacto conlos dioses aporta como recompensa extrema ldquoEllos contentos ytranquilos alternaban sus faenas con numerosos deleites Eranricos en rebantildeos y entrantildeables a los diosesrdquo31

El favor de los dioses se manifiesta en una vida cuasidivina sin la presencia de aquellos males y sufrimientos queconstituiraacuten el marco de la existencia de los hombres Los hombresquedaraacuten definitivamente sumidos en ese marco de desgracias ypesares cuando olviden su cuidado los dioses

Ahora bien seraacute precisamente ese toacutepico el que determinela peacuterdida de un estado de felicidad compartida y el pasaje a unestado otro donde el cuidado ha sido olvidado lo cual implica elpropio olvido de los dioses

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Pues no podiacutean apartar de entre ellos una violenciadesorbitada ni queriacutean rendir culto a los Inmortales ni hacersacrificios en los sagrados altares de los Bienaventuradoscomo es norma para los hombres por tradicioacuten A eacutestos maacutestarde los hundioacute Zeus Croacutenida irritado porque no daban lashonras debidas a los dioses bienaventurados que habitan elOlimpo32

Dejar de cuidar therapeuacuteo a los dioses es la forma maacutesacabada de dejar de cuidarse por esta torpeza la hyacutebris gana laescena y los hombres no cesan en sus males Dejar de rendir cultoa los dioses ignorar el sacrificio como la leccioacuten inaugural que elmito de Prometeo ensentildeara a los mortales y generara la divisioacutenentre hombres y dioses olvidar las normas ancestrales quesostienen la cohesioacuten de los mortales reunidos en comunidadrenunciar a dar las honras correspondientes son los olvidos del noreconocimiento no soacutelo de los dioses sino de siacute mismos comohombres ya que ser hombre implica ese paquete de obligaciones

De este modo cuando Hesiacuteodo culmina el relato del largocamino de la decadencia y la injusticia que va hilvanando eldestino de las cinco razas considerando la interpolacioacuten de la razade los heacuteroes abre un panorama desolador del campo de viacutenculostransidos por el conflicto33

RELIGIOSIDAD Y VIDA COTIDIANA

La presencia de los dioses en la vida cotidiana puede tomarla forma de la vigilancia

Despreciaraacuten a sus padres apenas se hagan viejos y lesinsultaraacuten con duras palabras cruelmente sin advertir lavigilancia de los dioses ndash no podriacutean dar el sustento debido asus padres ancianos aquellos [cuya justicia es la violencia ndash yunos saquearaacuten las ciudades de los otros]34

Los dioses tienen asiacute una presencia fuerte entre loshombres observando sus conductas y castigando en consecuencia

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Forma parte de su estatuto esta presencia que tambieacuten habla deuna familiaridad en el plano inmanente de la vigilancia

La divinidad estaacute presente custodiando las costumbres ydelineando con la recompensa o el castigo consecuentes ladimensioacuten moral de los hombres proclives a olvidar susobligaciones

Igualmente el que maltrata a un suplicante o a su hueacutesped osube al lecho de su hermano (para unirse ocultamente con suesposa incurriendo en falta) o insensatamente causa dantildeo alos hijos hueacuterfanos de aqueacutel y el que insulta a su padreanciano ya en el funesto umbral de la vejez dirigieacutendose a eacutelcon duras palabras sobre eacuteste ciertamente descarga el mismoZeus su ira y al final en pago por sus injustas acciones leimpone un duro castigo Pero tu aparta por completo tuespiacuteritu de estos delitos35

La divinidad se presenta siempre como el garante de unajusticia tanto coacutesmica como humana36

CONCLUSIONES

Hemos intentado pensar la problemaacutetica de la ira desdedistintos andariveles a partir de la relacioacuten que vincula al hombregriego con la divinidad

Nos propusimos relacionar el toacutepico mostrando coacutemo enel marco de la relacioacuten que se da entre los mortales y losInmortales el no reconocimiento y la transgresioacuten del registroontoloacutegico que los distingue y separa despierta la ira de los dioses

En segundo lugar vimos coacutemo el sentimiento de ira sevincula estrateacutegicamente con el proyecto didaacutectico moralizador queHesiacuteodo se propone dando respuesta a una demanda de su tiempohistoacuterico Asiacute la ira no se vincula con la coacutelera del dios en suestatuto supremo sino que se inscribe en un diagrama eacutetico queprioriza la virtud y la justicia como horizonte de un cierto ethos

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Caliacuteope Presenccedila Claacutessica | 20172 Ano XXXIV Numero 34

ABSTRACT Limit and Prudence in Hesiod an Anthropological View

The purpose of this paper is to read anthropologicaly therelation between Man and Divinity within the mythologicalthought of Arcaic Greece The presense of gods is the warrantythat beyond the apparent khaos there is Order of which Poetry isits most perfect expression Within the anthropological toacutepos twoaspects define the Greek experience of Divinity The first one isthe distance between humans and gods The second one is theassimilation and approximation to that divine world These twoaspects define Human condition We will demonstrate howtransgression and unrecognition to these aspects cause the wrathof the gods

KEYWORDS

Man Divinity Distance Approximation TransgressionUnrecognition

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Liacutemite y prudencia en Hesiacuteodo una mirada antropoloacutegica | Mariacutea Cecilia Colombani

BIBLIOGRAFIacuteACOLOMBANI MC Hesiacuteodo discurso y linaje una aproximacioacuten arqueoloacutegicaMar del Plata Universidad de Mar del Plata 2016______ Homero una introduccioacuten criacutetica Buenos Aires Santiago Arcos2005 DETIENNE M Los maestros de verdad en la Grecia arcaica Madrid Taurus1986______ Los jardines de Adonis Madrid Akal 1996DETIENNE M SISSA G La vida cotidiana de los dioses griegos MadridTemas de Hoy 1990GERNET L Antropologiacutea de la Grecia antigua Madrid Taurus 1981GIGON O Los oriacutegenes de la filosofiacutea griega de Hesiacuteodo a ParmeacutenidesMadrid Gredos 1985HESIacuteODO Obras y fragmentos Madrid Gredos Madrid 2000HESIOD Theogony Works and Days Testimonia Trans GW MostCambridge Loeb Classical Library London Harvard University Press 2007LIDDEL HG SCOTT R A Greek-English Lexicon Oxford Clarendoin Press1996LINtildeARES L Hesiacuteodo Teogoniacutea Trabajos y Diacuteas Edicioacuten bilinguumle BuenosAires Losada 2005NESCHKE A Dikegrave La philosophie poeacutetique du droit dans le ldquomythe des racesrdquod Heacutesiode In BLAISE F JUDET DE LA COMBE P ROUSSEAU P Le meacutetier dumythe lectures d Heacutesiode sous la direction de BLAISE F JUDET DE LA COMBEP ROUSSEAU P Paris Presse Universitaires du Septentrion vol 16 1993 p465-478VEGETTI M El hombre y los dioses In VERNANT J-P El hombre griegoMadrid Alianza 1993VERNANT J-P Los oriacutegenes del pensamiento griego Buenos Aires EUDEBA1976VIANELLO DE COacuteRDOVA P Hesiacuteodo Teogoniacutea Meacutexico Universidad NacionalAutoacutenoma de Meacutexico 1978

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1 GERNET 19812 Idem ibidem p 153 Idem ibidem p 164 VERNANT 1976 p 875 Idem ibidem p 876 GERNET 1981 p 157 Idem ibidem p 158 Idem ibidem p 169 DETIENNE SISSA 1990 p 5010 DETIENNE 198611 LINtildeARES 2005 p 336-33812 DETIENNE 1996 p 11213 LINtildeARES 2005 p 339-34214 COLOMBANI 2005b El tratamiento de Hesiacuteodo se inscribe iacutentegramente en unhorizonte antropoloacutegico-cultural donde el trabajo aparece como un hecho decultura que se inscribe en el marco de una legalidad coacutesmica que marca laciclicidad que abraza la dimensioacuten temporal del hombre 2005b15 VEGETTI 1993 p 29116 Idem ibidem p 292

17 Idem ibidem p 29218 Idem ibidem p 29319 COLOMBANI 2005a20 VEGETTI 1993 p 29321 Idem ibidem p 29322 VEGETTI 1993 p 29323 LINtildeARES 2005 p 717-71824 Idem ibidem p 724-72725 Idem ibidem p 735-73626 Idem ibidem p 743-74427 Idem ibidem p 755-75628 VEGETTI 1993 p 29429 COLOMBANI 2016 El texto analiza la dimensioacuten didaacutectica de Hesiacuteodo enrelacioacuten a la posibilidad de constitucioacuten del hombre prudente como modo dereparar la decadencia epocal en el marco de lo que podemos considerar unametaacutefora meacutedica la prudencia representa entonces el phaacutermakon para curar unasociedad enferma 201630 LINtildeARES 2005 p 111-11231 Idem ibidem p 118-12132 Idem ibidem p 133-13933 Coincidimos con Neschke A (1997) p 478 cuando analiza el mito de lasrazas desde la perspectiva de la exhortacioacuten de la poesiacutea didaacutectica perotambieacuten de la consolidacioacuten de una moral34 LINtildeARES 2005 p 185-19035 Idem ibidem p 328-33536 GIGON 1985 p 13-43 El problema del ser del todo del origen de la verdadde la transmisioacuten de la verdad y la perspectiva de un garante como aquel quevela por la conservacioacuten del orden y la justicia han sido los hilos que Gigon haencontrado para hilvanar el tapiz del Hesiacuteodo-filoacutesofo

Antigonersquos (mis)appropriations in Twentieth-Century Europe | Rossana Zetti

Antigonersquo s (mis )appropr ia t ions inTwentieth-Century Europe MemoryPolitics and ResistanceRossana Zetti

ABSTRACT

In this paper I will offer a historicized reading of Antigonersquosconceptualization as a political play by analysing its reception intwentieth-century Europe I will focus in particular on FriedrichHoumllderlinrsquos adaptation (1804) which is one of the very earliest post-Revolutionary witnesses to the political understanding of the play it isparticularly interesting because it provides a context for Bertolt Brechtrsquosand other twentieth-century adaptations of the myth and it represents acrucial step towards the current interpretative model in which Antigone isan icon of radical dissent and resistance Appropriated both by the Naziregime and by factions of the Resistance Houmllderlinrsquos Antigone wasexploited as a political subversive document or as representative of anationalistic classical tradition This account of the political reception ofSophoclesrsquo Antigone in the twentieth century will contribute to shed lighton the ideological climate which produced such a high number ofadaptations of the ancient play as well as on the reasons for itspertinence to twentieth-century temporal-political conditions

KEYWORDS

Antigone Reception Politicization Brecht Houmllderlin Sophocles

SUBMISSAtildeO 15 nov 2017 | PUBLICACcedilAtildeO 19 dez 2017

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1 INTRODUCTION amp CONTEXTUALIZATION

thol Fugard author of an adaptation of the Antigoneof Sophocles written during the apartheid period inSouth Africa claimed that Antigone is the ldquogreatestpolitical play of all timerdquo1 The political relevance ofthe ancient play considered by Hegel the closest toperfection2 has led to a fruitful interaction with thepresent facilitated by the urgency of politicalsituations in the contemporary world The Antigoneof Sophocles enjoys one of the richest performanceand reception histories it has been translated morethan fifty times into the English language in the lastcentury and it has been performed all around theworld3 The ancient myth has had a major influence

upon writers translators and playwrights of all periods and theambiguities of the play have lent to a variety of interpretations atdifferent times and in different contexts and places Antigone hascommunicated something different Despite such a versatilitycertain inherent characteristics of her tragic persona ndash her defianceof tyranny her rebellious spirit and her claim for human freedomndash have been appropriated again and again thus exemplifying theexistence of ldquofugitive humane communalitiesrdquo occurring acrosshistory4

However in order to understand why among other Greektragedies performed and adapted to the modern stage the Antigoneof Sophocles figures so prominently it is necessary to takedistance from the ldquomystification of Antigone as lsquouniversalrsquordquo5 Itsideas persist and resonate today as in the fifth century but theyhave been progressively changed and revisited in favour of apoliticization of the story precisely the relevance of theSophoclean play to contemporary political events has inspiredmany overtly political versions and imitations in the twentiethcentury The playrsquos plot and themes (Antigonersquos fight for ldquohumanrightsrdquo and autonomy her defiance of authority) enabled differentauthors to respond to various historical instances and politicalcontexts ranging in the twentieth century from Jean Anouilhrsquos

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A

Antigonersquos (mis)appropriations in Twentieth-Century Europe | Rossana Zetti

adaptation in wartime Paris to Bertolt Brechtrsquos adaptation in post-war Germany and Tom Paulinrsquos Irish adaptation The Riot Actperformed during the period of civil strife known as ldquotheTroublesrdquo ndash just to name a few6 The playrsquos spread and influenceare not confined only to the Western world the play attractedcross-cultural appeal even outside Europe where it was exploitedas a vehicle for contemporary political critique7

However Antigone has not always stood as the exemplaryicon of principled resistance and defiance against establishedauthority In spite of its political and revolutionary potential theancient myth was also appropriated by the Nazis for theirideological propaganda and it was presented as example of heroicand patriotic drama8 In particular the Antigone of Sophocles in thetranslation by Houmllderlin was frequently performed towards the endof the Second World War as example of ldquoheroic dramardquo insupport of Hitlerrsquos propaganda Although Houmllderlin did notproclaim the superiority of Germany over Greece as the leader ofthe West nor believed in the ldquoGreek characterrdquo inherent to theGermans his play was appropriated by the Nazis for theirproclamation of a ldquoracial kinship between Greeks and Germansrdquo9

At the same time Antigone was also appropriated byfactions of the Resistance which transformed the play into apolitical subversive document This tradition was followed byBertolt Brecht who upon the end of the Second World Warwrote an adaptation of the Antigone based on Houmllderlinrsquostranslation Through his reworking of the ancient original Brechtencouraged his audience to remember and reflect upon the recenttragedy of the Second World War in the attempt to unveil themechanisms behind the acquisition and dismantling of power atthe same time by adopting Houmllderlinrsquos text he denounced thedistorted readings and misappropriations of the play duringNazism With Brecht Sophoclesrsquo Antigone is established asldquocanonicalrdquo drama of political resistance

Studying the dynamics of remembrance and propagandabehind appropriations of Sophoclesrsquo Antigone is thereforeparticularly interesting the Antigone myth has been readapted and

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ldquorememberedrdquo in different ways to communicate different politicalideologies in the twentieth century a period characterized by civilwars dictatorships and resistance The politicization of Antigone inthese years is twofold ndash it served both the ideologicalinstrumentalization of the Nazis and the intellectual resistance It isin this period that Antigone becomes an icon of resistance andrevolt but it also becomes representative of a nationalistic classicaltradition Different responses to Sophoclesrsquo tragedy thereforereflect cultural and political shifts occurred in the twentiethcentury as well as different ways of interpreting andldquorememberingrdquo the ancient play No matter in what respectAntigonersquos performance in these years represents a political act

2 HOumlLDERLIN AND ANTIGONE

Of particular interest for my investigation of Antigonersquosreception and politicization in the twentieth century are the mainphilosophical theories developed around the Sophoclean play inthe early nineteenth century10 These readings affected by thepolitical circumstances of the French Revolution caused a breakwith the tradition and contributed to establish the currentinterpretative model of a ldquopoliticizedrdquo Antigone11 Antigone becomesthe great twentieth-century play which still affects us today thanksto two interpreters a poet (Houmllderlin) and a philosopher (Hegel)whose influential readings have irremediably shaped the way laterauthors experienced the play The ldquomodernrdquo Antigone would havebeen different without Hegel and Houmllderlin and ldquothephilosophical explorations of the Hegelian tradition might havealso acquired a different orientation without Antigonerdquo12

Contemporary to Hegel Houmllderlin wrote his highlyinnovative translation of the ancient Greek tragedy in 1804 Thistranslation represents a crucial step towards the currentinterpretative model of Antigone as an icon of radical resistance andit is a fundamental political and linguistic document it was used asa libretto for Carl Orffrsquos 1949 opera Antigonae ndash written under the

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Antigonersquos (mis)appropriations in Twentieth-Century Europe | Rossana Zetti

Nazi regime and initially financed by the Reich ndash and it was themodel-translation for Brechtrsquos own interpretation of the play13

Houmllderlinrsquos translation of Antigone has been notoriouslycharacterized for its extreme radicalism Scholars have identifiedmany errors and a striking philological inaccuracy14 Houmllderlinrsquoscommand of Greek was indeed ldquofar from perfectrdquo and he workedwith defective editions To Goethe and to Schiller Houmllderlinrsquostreatment of the Greek text gave palpable evidence of mentalcollapse which the poet endured between 1804 to his death in1843 ndash most likely heightened by the negative reception of histranslations of both Antigone and Oedipus der Tyrann criticized byhis contemporaries15

The rediscovery of the long neglected poet started at thebeginning of the twentieth century The first complete edition ofHoumllderlinrsquos Saumlmtliche Werke was published by Norbert vonHellingrath in six volumes between 1913 and 1923 Thispublication represents a decisive turning point in the reception ofHoumllderlinrsquos works they were not considered anymore as theproduct of a ldquosavagerdquo mind but rather the achievement of a uniquepoet and writer Since then different editions of Houmllderlinrsquos workshave appeared16 and critics praised the Romantic poet consideredpatriotically as exemplary of German honour and loyalty theldquopurestrdquo of poets17 The Antigone in the translation by Houmllderlinwas performed for the first time after its publication in Zurich in1919 and in Darmstadt in 192318

Yet it was in Nazi Germany that Sophoclesrsquo Antigonebecame the most popular classical work performed 150 timesbetween 1939 and 194419 As the war raged on Antigonesignificantly proclaimed ldquoI was born to join in love and not inhaterdquo20 The Sophoclean tragedy became an exemplary model forthe new heroic drama favoured by the Nazis celebrating the ideaof sacrifice and noble death for the fatherland productionsemphasized Antigonersquos patriotic loyalty to her family althoughthey sided with Creon representative of the principle of the state

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The success of Antigone in the repressive context of NaziGermany might seem at odds with the political themes of protestand resistance of the play how could authors conform Antigone tothe ideological manipulation imposed by the regime How is itpossible that the Antigone was so popular and the authorities didnot attempt to stop the proliferation of such a politically chargedplay Wi th Romain Rollandrsquos Aacute lrsquoAntigone eacuteternelle (1916) andWalter Hasencleverrsquos Antigone (1917) the heroine had beenestablished as a figure of pacifism as well as a critical politicalleader Yet it is necessary to take into account the long tradition ofGerman Classicism and cultural identification of Germany withancient Greece started with Winckelmann21 Hitler himself was aPhilhellenist and in his propagandistic book Mein Kampf he hadproclaimed Greece as universal cultural model epitome ofEuropean civilization and racial kin thus merging philhellenismwith nationalism and promoting the identification of the Germanswith the idealized people of ancient Greece22

The combination of Hellenism and Germanism can betraced back to Houmllderlinrsquos translation of Sophoclesrsquo AntigoneHoumllderlinrsquos translation of Sophoclesrsquo Antigone integrates theDionysiac Hellenic element with the German Apolloniancharacter in order to clarify and render intelligible the Greek pathosto the German more rational sensibility23 Houmllderlinrsquos emphasison the similarities between German and Greek cultures preciselyserved the Nazi cause to reinforce nationalistic propaganda duringthe war

In his Notes to Antigone Houmllderlin emphasizes that tragedyemerges at times of revolution in human thinking and feeling ofldquopatriotic reversalrdquo (vaterlaumlndische Umkehr)24 Tragedy as well ashistory is built from the beginning to the end on a series ofdialectic oppositions each generating a dramatic revaluation ofmoral values and political power-relations In Houmllderlinrsquosreinterpretation the opposition between Creon and Antigone ispolitical Antigonersquos act is referred to as Aufstand (ldquouprisingrdquo orldquoinsurrectionrdquo) a politically pregnant word which reveals therevolutionary and political aspiration of his translation25

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Antigonersquos (mis)appropriations in Twentieth-Century Europe | Rossana Zetti

Houmllderlinrsquos translation is itself the product of years characterizedby revolutions Antigonersquos rebellion reflects the FrenchRevolution which is exemplary of a public enactment of such areversal and Creonrsquos final manhandling by his servants can beparalleled to the execution of Louis XVI26 According to Houmllderlina revolution causes a collision whose outcome is a balancedopposition as the play ultimately reaches a (Hegelian) synthesis sorevolutions ultimately bring about a political change in the form ofgovernment and the es tabl ishment of a republikanischeVernunftsform27

The relation between ldquoAntigonersquos revolutionrdquo andldquocontemporary revolutionsrdquo is consolidated by the idea ofVaterland (ldquofatherlandrdquo ldquocommunityrdquo) a sense of patrioticrelevance and nationalism According to Houmllderlin the Germansneed to express their national tendency and at the same timerepress it to give space to the foreign element the pathos of theGreeks only by engaging with the alien can modern poetrybecome ldquopatrioticrdquo (vaterlaumlndisch) and express the originality andauthenticity of the nation itself These principles guide his owntranslation of the play which attempts to clarify and renderintelligible the Greek spirituality in a process called by Houmllderlinldquothe reversal of all modes and forms of representationrdquo28

The Nazis appropriated Houmllderlinrsquos ldquopatrioticrdquo idea of dasVaterlaumlndische and transformed the German poet into an exampleof spiritual leader and patriotic self-sacrifice thus reinvigoratingthe idea of a strong and culturally dominant Germany29 Thecombination of Greek and German elements was exploited assource of ultranationalist pride in the effort to preserve German-Western culture against threatening barbarian influences from theEast thus creating a ldquocultural collective memoryrdquo and heritagedirectly linked to the classics30

The performance of Greek tragedies was thereforelegitimized and approved in the Nazi period In particular Antigonebecame the exemplary model of ldquoheroic dramardquo The ldquoheroicdramardquo was a new dramatic form conceptualized in Germany inthe 1930s which emphasized ideas of patriotism and self-sacrifice

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in order to strengthen the nationalism and unity of Germany in thewake of the imminent war In his essay ldquoThe ImmortalConversation on the Tragic Dramaturgy as the Law of NordicCulturerdquo (1937) Rainer Schloumlsser explained the relevance ofSophoclesrsquo tragedies exemplary of this ldquoNordic attituderdquo ofheroism and noble death31 In May 1933 in his speech ldquoRede vorden deutschen Buhnenleiternrdquo Goebbels proclaimed theldquoheroicnessrdquo of German art

Die deutsche Kunst des naumlchsten Jahrzehnts wird heroischwird staumlhlern-romantisch wird sentimentalitaumltslos sachlichwird national mit groszligem Pathos sie wird gemeinsamverpflichtend und bindend sein oder sie wird nicht sein32

On 22 June 1940 Paris surrendered and the victoriousGerman army marched into Berlin on 6 July 1940 the great victorywas celebrated by Hitler at the Krolloper in Berlin33 In the autumnof 1940 two almost simultaneous productions of Antigone wereperformed in Berlin and Vienna34 The 1940-1941 theatrical seasonopened in Berlin with Karlheinz Strouxrsquos Antigone whichpremiered on 3 September 1940 at the Berliner StaatlichesSchauspielhaus where the TieckMendelssohn production had beenshown multiple times Stroux relied on Roman Woernerrsquostranslation which facilitated the understanding of the text andcontributed to render it accessible to the public ndash by contrast withHoumllderlinrsquos obscure translation

Karlheinz Strouxrsquos reading of the play did not follow thestandard ldquointerpretationrdquo imposed by the Nazis but transgressedand contradicted the dominant ideology Rather than classicalGreece the stage designs reminded critics of an oriental or pre-Hellenic culture Antigone was interpreted by Marianne Hoppeand was addressed and presented as Greek whereas Creoninterpreted by Walter Frank was dressed as an Oriental king Theracial kinship was inverted Antigone a female was presented asthe Aryan-Greek model and Creon the ruler as a barbarian35

Although critics maintained that ldquothe tragedy does not correspondto the standards of the sacrosanct idea of the staterdquo36 the classical

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Antigonersquos (mis)appropriations in Twentieth-Century Europe | Rossana Zetti

subject matter the mystic stage and stylized acting did not prompta direct identification with the story rather they allowed the authorto discuss indirectly contemporary political issues while avoidingcensorship

Particularly resonant was the Antigone directed in Vienna in1940 by Lothar Muumlthel followed by other five performances inFrankfurt (1941) Leipzig (1942) Vienna (1943) Goumlttingen (1944)and Stuttgart (1944) In correspondence with the centenary of thepoetrsquos death on 7 June 1943 patriotic celebrations occurred acrossGermany Antigone was performed in Vienna and the Houmllderlinsociety was founded in Stuttgart Goebbels was appointedldquohonorary patron of the Societyrdquo and Hitler ordered to place ldquoacommemorative wreath hellip in his name on Houmllderlinrsquos grave inTuumlbingenrdquo37 Antigone was even performed in 1944 a few monthsbefore Goebbels ordered the closure of all theatres In occasion ofthe 1944 production of Antigone in Stuttgart a newspaper wrotethat ldquotwo and a half thousand years of Western culture are nowpreserved and defended by Herzland Europardquo38

Therefore although the potential subversive character ofAntigonersquos rebellion which emerges for example in Strouxrsquosreading of the play Antigone was exploited and mis-interpreted bythe Nazis who relied upon Houmllderlinrsquos ldquopatrioticrdquo and ldquoheroicrdquoideas of fatherland Through the Nazisrsquo reading Houmllderlin gainedpowerful ideological resonance and became a nationalist icon ofGerman Nazism Brecht speaks in his Arbeitsjournal of ldquothenationalistic element intolerable to usrdquo imposed by Hitler in thereading of German poets such as Schiller and Houmllderlin39

Houmllderlinrsquos translation of the ancient play was recommended byBrechtrsquos collaborator Caspar Neher who had watched in Hamburgthe first post-war production of Antigone in the translation of theGerman poet (1946)40 This production received particularlypositive responses by the critics who claimed that ldquoHoumllderlin isthe more Greek of allrdquo and intended to convey the ldquoturmoil thepolitical the republican the revolutionary which Houmllderlin alwayssaw in Antigonerdquo41

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In using Houmllderlinrsquos translation but developing a radicallydifferent reading Brecht opposed the Nazisrsquo use of Houmllderlinrsquosplay as the epitome of the vaterlandisch ldquoa way of imagining theworld from a nationalistic perspectiverdquo42 The indeed oppositeappropriation of the play by Brecht reveals the pliability of theAntigone narrative and is paradigmatic of the politicizing of themyth

3 BRECHT AND ANTIGONE

Brechtrsquos version draws closely on Sophoclesrsquo text buttransforms the Greek narrative in an analysis of modern classstruggle Brecht explicitly challenges the nationalistic uses of theSophoclean play which he felt incompatible with the complexitiesof post-war Germany Although appropriated by the Nazis duringthe war for its nationalistic appeal the text also responded toBrechtrsquos desire to oppose to the classical reading of the play andto distance himself from the purely classical-humanist andldquobourgeoisrdquo interest in Greek tragedy

As he explains in the preface to his own Modelbuch43 Brechtavoided an easy identification of the conflict with one between theindividual and the (Nazi) totalitarian regime He refused to equateAntigone with German resistance fighters who fought against theNazis nor could Antigone be interpreted as a ldquomoral playrdquo or asrepresentative of religion humanity or the individual in relation tothe state44 As he suggests in the preface of the Antigonemodell thechoice of the material relied both on the possibility to raiseinteresting formal problems through the ancient play and on itspolitical relevance45

The focus of the play shifts from the conflict between theindividual and the state to the disintegration of the society-polis andthe ldquoscattering of destructionrdquo left by war Brechtrsquos play shows thatwars are determined by questions of profit and imperialistic greedthus drawing an explicit parallel with the Second World WarCreon is a corrupt imperialistic tyrant leading an aggressive waragainst Argos to control its mines His power is maintained

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through violence and an aggressive policy justified by a rhetoric ofhonour and race In his reinterpretation Brecht emphasizes theviolence implicated in both the ruling class including the wealthychorus of elders and Antigone who loses her dominant role sheis presented as a privileged upper class woman who has also beencomplicit to Creonrsquos crimes46 The heroine merely serves to throwinto relief Creon addressed by his lackeys as ldquomein Fuumlhrerrdquo andhis repressive government dominated by thievery and exploitation

The Sophoclean catastrophe thus becomes in Brechtrsquosreinterpretation an allegory of the decline of the Third Reich andNational Socialism as well as an analysis of societyrsquos mechanismsT h e emphasis on violence and destructions provoked by wardemonstrates Brechtrsquos self-conscious attempt to reflect upon thedisaster of the recent war and to explore issues of responsibility ndashcollaboration and resistance ndash during the years of the SecondWorld War

Through his reworking of the Sophoclean play Brecht aimsto awaken the critical spirit of his audience the play becomes apretext to reflect upon the recent past and to remember that pastIssues of memory recur throughout the play even the title TheAntigone of Sophocles after Houmllderlinrsquos translation adapted for the stage byBrecht represents an act of remembrance and links Brechtrsquos namewith Sophoclesrsquo and Houmllderlinrsquos47

In the parodos of Brechtrsquos Antigone the chorus of Thebanelders celebrates the victory over Argos and encourages the peopleto forget the recent war

Und nach dem Kriege hier Macht die Vergessenheit ausIn alle GoumlttertempelMit Choumlren die Nacht durchKommt her Und Thebe die Bloszlige im LorbeerschurzErschuumltternd herrsche der Bacchusreigen48

The ldquodrink of oblivionrdquo proffered by Bacchus allows thepeople thirsting for peace to rejoice in the illusory celebrationsand to forget about the deaths and destructions caused by the war

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However such a call for forgetting is a cover up manipulated byCreon in order to camouflage the reality the much praised victoryis in fact a lie because the war is not over The eagerness to forget isopposed to Antigonersquos determination to remember the past theheroine insists that it is important to remember the disasters of thepast in order to avoid their repetition in the future In the firstscene of the play Antigone disapproves of her sister Ismene forher the tragedy of their brothersrsquo death is already ldquoa yesterdaythingrdquo49

On the one hand Brecht accuses the spectators ofcomplicity and his Antigone becomes an indictment to thosepeople who wished to forget the past and to those ldquoordinaryrdquoGermans who failed to act under Hitlerrsquos regime and chose not tosee giving tacit consent to his crimes on the other he questionsthe validity of an Antigone-like-act and -death in the context ofBerlin 1945 Brecht himself did not ldquoactrdquo but decided to fleeGermany rather than staying and facing certain death He waswatching the events from a distance during his exile50

The final lesson offered by Brechtrsquos play is indeed nihilisticand pessimistic in the original the chorus praise wisdom whichman can achieve though self-knowledge with old age and throughsubmission to the gods51 in the modern version instead the fall ofThebes could have been avoided and it is presented as the result ofa conscious self-destructive choice It is human greed and lustwhich ultimately transform man in a ldquomonsterrdquo to himselfincapable of becoming ldquobecome wiserdquo even in old age52

Brechtrsquos tragedy teaches that man will repeat the sameerrors reiterated in the updated version of the story unless manremembers the past the sacrifice of innumerable Antigones ndash orGerman resistance fighters ndash will be useless Brecht appropriatesthe Antigone story as political instrument to reflect upon humanactions and more precisely upon the ldquomonstrousrdquo actions andchoices enacted by each single individual during the tragic years ofthe Second World War Once more classics serve as a platform tocomment upon past and present events and to question issues ofmoral choice and responsibility

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The influence of Brechtrsquos play extends beyond itsimmediate impact His version is as important as the original forthe creation of later politicized Antigones and showed the way toother adaptations that reflected on political issues of dissent andresistance

4 CONCLUSIONS

The twentieth-century reception of Sophoclesrsquo Antigoneshows how a work of art can be re-interpreted and ldquorememberedrdquoin different ways in order to fulfill a certain political agenda andpropaganda It is not only the past itself that matters but the waysin which this past is consciously re-interpreted and exploited toremember and shape contemporary events Antigone still matterstoday because of the chain of political reinterpretations that hashelped authors and audiences to remember and reflect upon thepresent through the powerful voices of heroes of the past

The ldquouses and abusesrdquo of Houmllderlinrsquos version areexemplary of the different ways of remembering the past througha work of art and of the distorting ways of using classics duringtotalitarianisms53 The play was then re-used by Brecht for differentpurposes through his adaptation of Antigone Brecht hoped to re-awaken the critical thinking of his audience and to provide themwith the instruments necessary to unveil the workings of ideologyand dictatorships It is questionable whether these and otherAntigones anchored to the history of the twentieth century havecontributed to effectively instigate a political change andsentiments of revolt or nationalism in their audiences Indeed it isundeniable that the political directions taken by the play in the lastcentury have underscored the playrsquos relevance and granted itsendurance to the present day

The playrsquos reception in this century proves the greatpolitical potentiality and versatility of a play like Antigone adaptedand staged in correspondence with important historical andpolitical events The political aspect already present in thearchetypical figure of a woman who alone defies the authority of

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the State has been uncovered by playwrights and directors whohave demonstrated that the Antigone of Sophocles is appropriatenot only to describe situations as they occurred in the twentiethcentury but it belongs to any time and place as John Kaniacknowledges

Antigone addresses itself to any corner of the world where thehuman spirit is being oppressed where people sit in jailbecause of their fight for human dignity for freedom54

These versions became a sort of ldquooriginalrdquo in their ownright and were able to turn the stage into a place where the distantpast could be revived and remembered theatre and the politicaluse of classics worked as a vehicle for memory

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ABSTRACT

Le (mis)interpretazioni di Antigone nellEuropa del ventesimosecolo Memoria Politica e Resistenza

In questo articolo si propone unrsquoanalisi del processostorico che ha portato alla concettualizzazione dellrsquo Antigone diSofocle come opera politica attraverso lrsquoanalisi della sua ricezionein Europa nel ventesimo secolo Mi concentrerograve in particolare sullatraduzione di Friedrich Houmllderlin (1804) che rappresenta una delleprime testimonianze post-rivoluzionare della politicizzazione dellastoria di Antigone egrave quindi particolarmente interessante in quantofornisce un contesto per le interpretazioni del mito da parte diBertolt Brecht e di altri autori del ventesimo secolo e rappresentaun passo cruciale verso lrsquoattuale modello interpretativo di Antigonecome icona di dissenso e resistenza radicale Appropriata sia dalregime nazista che da fazioni della Resistenza lrsquoAntigone diHoumllderlin fu sfruttata come documento politico e sovversivo ecome icona di una tradizione classica nazionalista Questoresoconto della ricezione politica dellrsquoAntigone di Sofocle nelventesimo secolo contribuiragrave a far luce sul clima ideologico che haprodotto un cosigrave grande numero di interpretazioni dellrsquooperaantica noncheacute sulle ragioni della sua pertinenza alle condizionisocio-politiche di questo secolo

PAROLE CHIAVE

Antigone Ricezione Politicizzazione Brecht Houmllderlin Sofocle

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25 HOumlLDERLIN 2001 p 7326 According to UNGER 1984 p 2 Houmllderlin showed ldquoa growing interest in and enthusiasm for the intellectual and political ideals of the French Revolutionrdquo expressed through his poetry and especially the Hymns to the Ideals of Mankind LOUTH 1998 p 155 remarks that Houmllderlinrsquos present is ldquodetermined by the French revolution and by Greek antiquityrdquo As STEINER 1984 p 81 observes this virtual manhandling is a motif entirely invented by Houmllderlin 27 HOumlLDERLIN 1963 p 676 28 PFAU 1988 p 11429 FLASHAR 2009 p 14130 See ZIOLKOWSKI 2000 p 555 FLASHAR 2009 p 16431 See FISCHER-LICHTE 2017 p 16732 Quoted in LOHSE 2006 p 16033 On the historical context see LOHSE 2006 p 152-15334 On these productions of Antigone see LOHSE 2006 p 151-186 FLASHAR 2009p 165-168 On Strouxrsquos Antigone see FISCHER-LICHTE 2017 p 171-17935 See FISCHER-LICHTE 2017 p 17736 FISCHER-LICHTE 2017 p 17637 SAVAGE 2008 p 5 In this occasion patriotic celebration occurred acrossGermany and a special edition of Houmllderlinrsquos poems was prepared by Beiszligner 38 Trans From FLASHAR 2009 p 16539 Trans RORRISON WILLETT 1993 p 30640 On this production see CASTELLARI 2011 p 156-157 See remarks in BRECHT 1988 p 12 ldquoAuf Rat von Cas nehme ich die Houmllderlinische Uumlbertragung die wenig oder nicht gespielt wirdrdquo Brecht was not aware of the theatrical success of the play during the Nazi period see FLASHAR 2009 p 141 FISCHER-LICHTE 2017 p 166-182 41 FISCHER-LICHTE 2017 p 18742 GOLDHILL 2012 p 15143 The Antigonemodell 1948 opens with a programmatic foreword it includesdrawings by Neher a sequence of images from the scene photographed by RuthBerlau in 1948 with captions in hexameters (the so called Bruumlckenverse whichform the Antigone-Legende) notes by Brecht and the full text of Antigone Inaddition the Modellbuch explains Brechtrsquos and Neherrsquos choices for the settingcostumes way of acting and moving of the performers See BRECHT 1988 p47-5544 BRECHT 1988 p 48 ldquodie groszlige Figur des Widerstands im antiken Dramarepraumlsentiert nicht die Kaumlmpfer des deutschen Widerstands die uns ambedeutendsten erscheinen muumlssenrdquo45 BRECHT 1988 p 48 ldquoFuumlr das vorliegende theatralische Unternehmen wurdedas Antigonedrama ausgewaumlhlt weil es stofflich eine gewisse Aktualitaumlt erlangenkonnte und formal interessante Aufgaben stellterdquo 46 On Brechtrsquos use of the chorus see REVERMANN 201347 On the implications and problems of citation raised in this title which allows Brecht to avoid plagiarism see SAVAGE 2006 p 153-155 TAXIDOU 2008 p 245 On Brechtrsquos ldquothieveryrdquo see BROWN 197848 BRECHT 1977 p 19 for an English translation see BRECHT 2003 p 1249 BRECHT 2003 p 12 For the original see BRECHT 1977 p 18 ldquoSchon ist erdir Gestrigesrdquo50 Brecht forced to leave his homeland when Hitler came to power because ofhis communist affiliation returned to Europe in October 1947 after years ofexile spent in Scandinavia and in the United States51 SOPHOCLES Antigone 1348-135352 In the first line of the second stasimon (SOPHOCLES Antigone 332) theSophoclean choral ode defines ldquomany thingsrdquo as δεινότερον the adjectivedeinos means ldquoformidablerdquo in the ambivalent connotation of ldquoclevermarvellousrdquo but also ldquofearful terriblerdquo Brecht renders the Greek deina withthe German ungeheuer which points exclusively to the ldquomonstrosityrdquo of man53 I borrow the formulation ldquouses and abusesrdquo from FLEMING 200654 John Kani collaborated with Athol Fugard in the South-African production ofAntigone entitled The Island Here John Kani in an interview with Martin Phillipsin Feb 2000 quoted in MEE FOLEY 2011 p 6

Significado e estrutura do argumento do terceiro homem [] | Guilherme da C A Ceciacutelio

Significado e estrutura do argumento doterceiro homem no Parmecircnides de Platatildeo Guilherme da Costa Assunccedilatildeo Ceciacutelio

RESUMO

O argumento do terceiro homem presente no Parmecircnides constituiuma formidaacutevel objeccedilatildeo agrave teoria das ideias agrave qual Platatildeo natildeoapresentou resposta expliacutecita Na primeira parte deste trabalhotrataremos brevemente da cronologia dos diaacutelogos platocircnicosprocurando situar o Parmecircnides numa ordenaccedilatildeo pelo menosplausiacutevel Em seguida analisaremos detalhadamente o argumentodo terceiro homem tal como se encontra redigido no ParmecircnidesApreciaremos tambeacutem o significado dessa objeccedilatildeo quandoconsiderada sob o prisma da funccedilatildeo causal das ideias

PALAVRAS-CHAVE

Teoria das Ideias Parmecircnides argumento do terceiro homemautopredicaccedilatildeo causalidade

SUBMISSAtildeO 29 set 2017 | PUBLICACcedilAtildeO 21 dez 2017

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Caliacuteope Presenccedila Claacutessica | 20172 Ano XXXIV Numero 34

1 INTRODUCcedilAtildeO

Parmecircnides eacute provavelmente o mais enigmaacutetico dosdiaacutelogos platocircnicos A primeira parte da obra consisteno coloacutequio entre o ceacutelebre eleata e um Soacutecrates aindabastante jovem esse propotildee e procura defender ateoria ontoloacutegica que viemos a conhecer sob o roacutetulode teoria das ideias1 agrave qual entretanto Parmecircnidesmove uma cerradiacutessima criacutetica

As objeccedilotildees contra aquela que veio a ser amais ceacutelebre das doutrinas de Platatildeo satildeo tantas e tatildeograves que natildeo deixa de surpreender quandoParmecircnides subitamente interrompe o curso de suademolidora criacutetica para encorajar o seu joveminterlocutor

Entretanto Soacutecrates disse Parmecircnides se algueacutem por outrolado ao atentar para todas as coisas mencionadas haacute pouco epara outras desse tipo natildeo admitir que haja formas dos serese natildeo separar uma forma de cada coisa uma nem sequer teraacutepara onde voltar o pensamento uma vez que natildeo admitiraacutehaver uma ideia sempre a mesma de cada um dos seres eassim arruinaraacute absolutamente o poder do dialogar Pareces-me seguramente estar ciente e muito de tal coisaDizes a verdade disse ele Que faraacutes entatildeo da filosofia Para onde te voltaraacutes sendoestas coisas desconhecidas Acho que natildeo vejo bem pelo menos no presente Eacute que Soacutecrates disse ele tentas cedo demais antes de teexercitares [gumnasqh=nai] separar um belo e um justo e umbem e cada coisa uma dentre as formas Pois me dei contadisso bem recentemente ouvindo-te aqui dialogar comAristoacuteteles aqui presente Pois fica sabendo que realmente eacutebelo e divino esse ardor que lanccedilas sobre os argumentos Masesforccedila-te e exercita-te [gumnasai] mais enquanto ainda eacutesjovem por meio disso que pela maioria eacute tido como inutil echamado de tagarelice Se natildeo a verdade te escaparaacute2

A passagem citada marca uma importante divisatildeo nodiaacutelogo a partir desse ponto a obra muda de feiccedilatildeo consistindoentatildeo numa longa e aacuterida demonstraccedilatildeo do tipo de exerciacutecio ndash

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O

Significado e estrutura do argumento do terceiro homem [] | Guilherme da C A Ceciacutelio

gumnasia ndash que Parmecircnides sugerira como meacutetodo para alcanccedilar averdade O sentido de tal gumnasia eacute poreacutem tatildeo ou mais abstrusoquanto a criacutetica agrave teoria das ideias que ocupa a primeira parte dodiaacutelogo

Sendo assim natildeo satildeo poucos os desafios que a obra impotildeeao exegeta Apesar das muitas e seacuterias dificuldades uma seccedilatildeo dodiaacutelogo tem praticamente monopolizado a atenccedilatildeo da criacuteticacontemporacircnea a saber a passagem que conteacutem o argumento doterceiro homem3 Esse argumento cuja denominaccedilatildeo nos foilegada por Aristoacuteteles4 refere-se a uma determinada espeacutecie deobjeccedilatildeo capaz de suscitar o regresso infinito das ideias platocircnicasHaacute na verdade dois argumentos desse tipo no Parmecircnides5 Estetrabalho visa examinar justamente um desses argumentos

Haacute trecircs tipos de tarefas bem diferentes para o inteacuterprete doterceiro homem A primeira eacute procurar compreender bem aestrutura do argumento e nos ocuparemos aqui dessa questatildeo asegunda tarefa eacute avaliar o sentido da aporia isto eacute o peso que essaobjeccedilatildeo possa ter para a teoria das ideias e tambeacutem a issodedicaremos nossa atenccedilatildeo por fim eacute possiacutevel ainda investigar setal aporia pode ou natildeo pode ser resolvida e se a filosofia platocircnicaestaria em condiccedilotildees de apresentar-lhe uma soluccedilatildeo essa questatildeoeacute sem duvida muito mais complexa e natildeo seraacute contemplada nestetrabalho

2 CONSIDERACcedilOtildeES PRELIMINARES 21 CRONOLOGIA E A POSICcedilAtildeO DO PARMEcircNIDES

O estudioso de Platatildeo natildeo pode deixar de se posicionardiante de algumas questotildees Especialmente quem aborda o terceirohomem e o Parmecircnides deve tratar da cronologia dos diaacutelogosvexata quaestio ainda que o faccedila de modo marginal

O advento da estilometria trouxe novas ferramentas aoestudo do corpus platonicum cujo valor eacute dificilmente contestaacutevelMas como se sabe natildeo eacute possiacutevel obter uma ordenaccedilatildeo estrita dosdiaacutelogos unicamente a partir de dados estilomeacutetricos Alinhamo-nos portanto com a tendecircncia geral dos comentadores de

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Caliacuteope Presenccedila Claacutessica | 20172 Ano XXXIV Numero 34

reconhecer trecircs grandes grupos de diaacutelogos que remetem aosperiacuteodos da juventude maturidade e velhice de Platatildeo

O Parmecircnides eacute normalmente considerado uma obra detransiccedilatildeo entre a maturidade e a velhice platocircnica Determinartodavia a sua exata posiccedilatildeo relativamente aos diaacutelogos dessas duasfases eacute uma tarefa muito mais complexa Natildeo sendo possiacutevelrecorrer agrave estilometria em casos como esse os estudiososfrequentemente socorrem-se de hipoacuteteses doutrinaacuterias para dataros diaacutelogos a questatildeo doutrinaacuteria mais relevante para o Parmecircnideseacute a criacutetica agrave teoria das ideias a que se assiste na primeira parte daobra Parmecircnides I6

Embora as ordenaccedilotildees variem um pouco de comentadorpara comentador em geral se aceita que o Parmecircnides seja por umlado posterior a pelo menos algumas das grandes composiccedilotildees damaturidade de Platatildeo tais como Repuacuteblica Feacutedon e Banquete poroutro lado o diaacutelogo possivelmente antecederia o Teeteto SofistaPoliacutetico Timeu Filebo e Leis

22 PARMEcircNIDES E A TEORIA DAS IDEIAS

Eacute consensual que o Parmecircnides seja um diaacutelogo de transiccedilatildeoentre as obras de maturidade e de velhice talvez a grandereferecircncia para a determinaccedilatildeo desses periacuteodos O consensoporeacutem se desfaz quando se trata de apreciar as relaccedilotildees do diaacutelogocom a questatildeo (doutrinaacuteria) da teoria das ideias e sua supostaevoluccedilatildeo

Haacute de um lado aqueles que sustentam que Platatildeo jamaisrenunciou agrave sua teoria ontoloacutegica a despeito das autocriacuteticasconsignadas no Parmecircnides E haacute por outro lado os que veemnesse diaacutelogo o marco do abandono da concepccedilatildeo das ideias7

esses ultimos ainda podem ser subdivididos em dois grupos arespeito dos quais vale a pena ler o ludico relato de ConstanceMeinwald8

A very unhappy story of Platorsquos career has been increasingly out offashion in the last half-century (Though as is often the case with oldfashions it continued to be followed by people out of the circle of the

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trendsetters) In this most unhappy story Plato started writing with agracious compliment to his master The high literary achievement of themiddle-period works coincided with a philosophical high point a headyand confident time of glorious dogmatism Then after a major crisis inwhich he attacked and actually destroyed the theory that was hismasterpiece Plato spent his last years in extensive critical activity Hisnow-failing literary powers produced the late dialogues as a record of thisbarren final period A second and completely opposite story has been invogue more recently [] This second kind of interpretation whichreceived perhaps its greatest impetus from Gilbert Ryle regards the theoryof Forms of the middle period as a hopelessly flawed creation whosehopelessness was realized by Plato himself in the Parmenides He wasthen in a position to do some good philosophy in the late period Thisstory is in a way happier but the attribution to Plato of a middle theorythat can only be nonsense is a problem [] Opposite as they are thesestories have something crucial in common that the Parmenides recordsPlatorsquos realization of the unviability of a determinate theory of Formscontained in the middle dialogues and so ushers in a late period whoseprogram would have to be entirely different from that of the middleworks

Mas atualmente nenhum desses dois tipos deinterpretaccedilatildeo eacute dominante A proacutepria Meinwald9 oferece umaleitura do Parmecircnides que considera as suas criacuteticas como aporias aserem resolvidas mas que nem por isso implicam a rejeiccedilatildeo docerne da doutrina das ideias

De nossa parte cremos que Platatildeo jamais abandonou ateoria das ideias ou sequer alterou-a a tal ponto que as ideiasdeixassem de ser entes subsistentes e independentes do homem Eacuteevidente que defender semelhante posiccedilatildeo de modo exaustivoredundaria num trabalho aacuterduo e demasiado extenso

Uma meta mais modesta mas que contribui para o sucessodesta empresa geral eacute mostrar que a aporia do terceiro homemnatildeo constitui uma objeccedilatildeo inescapaacutevel Sendo assim eacute plausiacutevelque Platatildeo natildeo tenha precisado renunciar agrave sua teoria ontoloacutegicapelo menos no que diz respeito agraves dificuldades que o terceirohomem lhe opotildee Eacute claro que demonstrar essa teseadequadamente envolve examinar detidamente o Parmecircnides o quenatildeo nos cabe fazer neste momento introdutoacuterio Mas antes

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mesmo de abordarmos o diaacutelogo eacute possiacutevel apresentar umargumento externo por assim dizer em apoio agrave tese de que essaobra natildeo seja o marco do abandono da doutrina das ideias

Mesmo que natildeo se lance matildeo do Timeu como contraprovaincontrovertiacutevel da permanecircncia das ideias no corpus platonicumevitando assim a querela da sua dataccedilatildeo e por outro ladodeixando de lado a exegese de passagens controversas de diaacutelogoscomo o Sofista Filebo e Leis sem embargo ainda resta umargumento convincente e o que eacute melhor bastante simples

Dentre os que receberam a obra do filoacutesofo naAntiguidade jamais houve quem supusesse que Platatildeo tivesserenunciado agraves ideias Ademais o seu maior criacutetico Aristoacuteteles natildeoteria deixado de no-lo relatar caso isso houvesse ocorrido Defato que melhor sinal da falecircncia da teoria que ele tanto criticavado que o abandono da mesma por parte de seu autor10

Dito isto eacute contudo razoaacutevel supor algum grau demodificaccedilatildeo na concepccedilatildeo das ideias talvez mais insensato do quesupor o abandono da teoria das ideias seja supor que ao longoduma obra tatildeo vasta certos aspectos natildeo tenham sido repensadose ajustados Apreciar todavia o alcance dessas alteraccedilotildees excedecompletamente o escopo deste trabalho11

23 CAUSALIDADE

Cabe ainda uma ultima consideraccedilatildeo de caraacuteter geral Aotratar da teoria das ideias acreditamos ser impossiacutevel abrir matildeo danoccedilatildeo de causa ai0tia Efetivamente neste trabalho faremos largouso da expressatildeo fato que demanda uma explicaccedilatildeo preacutevia paraevitarmos uma seacuterie de graves mal-entendidos

Alguns platonistas manifestam certa resistecircncia ao usodesse termo de certa forma isso eacute compreensiacutevel uma vez quecomo sabe o estudioso de filosofia antiga ele eacute bastante ambiacuteguoPor um lado o modo como eacute entendido nos dias de hoje serestringe fundamentalmente ao conceito de causa eficiente o qualestaacute longe de exprimir toda a valecircncia do termo ai0tia por outrolado pode-se argumentar que Platatildeo natildeo possui propriamente uma

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Significado e estrutura do argumento do terceiro homem [] | Guilherme da C A Ceciacutelio

teoria das causas o que soacute se atingiu com Aristoacuteteles Sendo assimargumentam alguns conviria evitar a problemaacutetica expressatildeo

Noacutes pelo contraacuterio afirmamos que ao recorrer agrave noccedilatildeo decausa o inteacuterprete ganha muito mais do que eventualmente perdeTrata-se na verdade dum conceito indispensaacutevel para quem lidacom a teoria das ideias de que outro modo descrever a funccedilatildeo dasideias com relaccedilatildeo agraves realidades sensiacuteveis senatildeo como uma funccedilatildeocausal12 E natildeo se trata apenas dum recurso exegeacutetico do qual ointeacuterprete lanccedilaria matildeo como que a despeito da letra do textoPlatatildeo utiliza largamente o termo ai0tia tratando-se ateacute mesmodum problema de traduccedilatildeo Cabem todavia algumas ressalvas

Dizer que as ideias tenham funccedilatildeo causal natildeo significaafirmar que Platatildeo tenha expliacutecita e exaustivamente tratado dotema coisa que como jaacute referimos soacute vem a ocorrer comAristoacuteteles

Aleacutem disso impende ressaltar que defender a funccedilatildeo causaldas ideias natildeo implica de modo algum comprometer-se com oecircxito completo de tal funccedilatildeo Sendo assim o que sustentamos eacuteque a teoria das ideias eacute indissociaacutevel de um esforccedilo de explicaccedilatildeocausal julgar o sucesso de semelhante esforccedilo eacute jaacute outra questatildeo agravequal natildeo poderemos nos dedicar aqui

Sendo assim a noccedilatildeo de causalidade com quetrabalharemos poderia ter por equivalente a noccedilatildeo deldquoresponsabilidaderdquo que talvez possua a vantagem de indicar ocaraacuteter necessaacuterio mas natildeo suficiente das ideias para a explicaccedilatildeode determinado dado sensiacutevel Assim por exemplo a ideia demesa eacute um item necessaacuterio para explicar uma mesa sensiacutevel masnatildeo suficiente a explicaccedilatildeo completa dessa requer ainda nomiacutenimo um agente e um material

Feitas essas consideraccedilotildees podemos nos voltar para onosso objeto de estudo o argumento do terceiro homem tal comoo formulou Platatildeo no Parmecircnides

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3 O ARGUMENTO DO TERCEIRO HOMEM

31 RECONSTRUCcedilAtildeO DO ARGUMENTO DO TERCEIRO HOMEM

Antes de avaliarmos o peso da objeccedilatildeo do terceiro homemp a r a a filosofia de Platatildeo eacute indispensaacutevel compreendecirc-laadequadamente Leiamos pois em primeiro lugar o trechorelevante do diaacutelogo

Creio que tu crecircs que cada forma eacute uma pelo seguintequando algumas coisas multiplas te parecem ser grandestalvez te pareccedila a ti que as olhas todas haver uma certa ideiauma e a mesma em todas donde acreditas o grande ser umDizes a verdade disse ele Mas e quanto ao grande mesmo e agraves outras coisas grandesSe olhares da mesma maneira com a alma para todos essesnatildeo apareceraacute de novo um grande um em virtude do qual eacutenecessaacuterio todas aquelas coisas aparecerem como grandesParece que simLogo uma outra forma de grandeza apareceraacute surgindo aolado da grandeza mesma e das coisas que desta participam Esobre todas essas apareceraacute de novo outra de modo a emvirtude dela todas essas serem grandes E natildeo mais seraacute umacada uma das tuas formas mas ilimitadas em quantidade13

Para evidenciar a estrutura loacutegica do trecho supracitadovalemo-nos do importante estudo de Gregory Vlastos14 mastambeacutem de contribuiccedilotildees de outros estudiosos Eis o esquema quepropomos

(i) O dado de base eacute uma multiplicidade (indiviacuteduos a b cetc) que possui determinada propriedade F (ii) ldquoum sobre muitosrdquo15 a essa multiplicidade correspondeuma unidade a ideia F-dade em virtude da qual amultiplicidade possui a propriedade F(iii) autopredicaccedilatildeo F-dade eacute F (iv) natildeo identidade se x possui a propriedade F x natildeocoincide com F a forma em virtude da qual x possui F

De acordo com (iii) a proacutepria ideia F-dade eacute F logo elapode ser o substituto da variaacutevel x em (iv) o que impotildee aexistecircncia de uma nova forma F-dade1 que sirva como substituto

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da variaacutevel F Como F-dade1 estaacute sujeita agrave autopredicaccedilatildeo F-dade1

tambeacutem pode substituir a variaacutevel x na premissa (iv) instaurando-se assim o regresso infinito das formas

Conveacutem agora cotejarmos a nossa reconstruccedilatildeo doargumento com o texto do ldquoParmecircnidesrdquo

Os passos (i) e (ii) encontram correspondecircncia nestaafirmaccedilatildeo

Creio que tu crecircs que cada forma eacute uma pelo seguintequando algumas coisas multiplas te parecem ser grandestalvez te pareccedila a ti que as olhas todas haver uma certa ideiauma e a mesma em todas donde acreditas o grande ser um16

Nela estaacute contido o dado de base isto eacute a existecircncia devaacuterias coisas sensiacuteveis que satildeo grandes ou seja uma multiplicidadeempiacuterica de indiviacuteduos dotados da propriedade F Ta lmultiplicidade se explica por referecircncia a ldquouma certa ideia uma e amesmardquo a ideia de grandeza ou em geral F-dade trata-se aqui doprinciacutepio do ldquoum sobre muitosrdquo

Quanto agrave autopredicaccedilatildeo cremos que ela opere noseguinte trecho

Mas e quanto ao grande mesmo e agraves outras coisas grandesSe olhares da mesma maneira com a alma para todos essesnatildeo apareceraacute de novo um grande um em virtude do qual eacutenecessaacuterio todas aquelas coisas aparecerem como grandes17

Parmecircnides sugere que o ldquogrande mesmordquo (auto to mega)isto eacute a ideia de grandeza e ldquoas outras coisas grandesrdquo (ta]lla tamegala) isto eacute a multiplicidade sensiacutevel de que se partiu sejamconsideradas ldquoda mesma maneirardquo expressatildeo que traduz oadveacuterbio grego w9sautwj aqui parece residir um sinal daautopredicaccedilatildeo18 Segundo o que fora haacute pouco admitido as coisassensiacuteveis satildeo grandes considerar ldquoda mesma maneirardquo - w9sautwj -a ideia de grandeza soacute poderia significar entatildeo predicar tambeacutemdela o ldquogranderdquo ou seja a autopredicaccedilatildeo

A autopredicaccedilatildeo eacute ainda mais visiacutevel na conclusatildeo doargumento

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Logo uma outra forma de grandeza apareceraacute surgindo aolado da grandeza mesma e das coisas que desta participam Esobre todas essas apareceraacute de novo outra de modo a emvirtude dela todas essas serem19 grandes E natildeo mais seraacuteuma cada uma das tuas formas mas ilimitadas emquantidade20

Na frase ldquotodas essas serem grandesrdquo (tau=ta panta megalae1stai) a referecircncia de ldquotodasrdquo patentemente inclui a ideia degrandeza de que se partiu bem como outras ideias de grandezaderivadas do regressus isto eacute afirma-se que as ideias de grandeza satildeograndes

Jaacute o princiacutepio de natildeo identidade estaacute apenas impliacutecito emtodo o trecho mas nem por isso ele eacute menos operante Bem aocontraacuterio sobre ele estaacute fundada toda a argumentaccedilatildeo a suposiccedilatildeoinicial de que existe uma ideia para dar conta duma multiplicidadeque possui a propriedade F estaacute baseada na convicccedilatildeo de que aposse dessa propriedade se explica por referecircncia a um indiviacuteduopor assim dizer externo ao grupo de indiviacuteduos caracterizados porF e quando a proacutepria ideia passa a ser caracterizada por F(autopredicaccedilatildeo) a mesma convicccedilatildeo impotildee a existecircncia dumanova ideia

Sendo assim estamos aptos a concluir que o terceirohomem tal como ele estaacute redigido no Parmecircnides conteacutem osprinciacutepios que acabamos de expor21 redundando portanto nadeflagraccedilatildeo de seacuteries infinitas de ideias platocircnicas isto eacute de acordocom as premissas do argumento cada propriedade F gera oconjunto infinito F-dade1 F-dade2 F-dade3 onde F-dade eacute umavariaacutevel que representa ideias platocircnicas

Antes de avanccedilarmos conveacutem prestarmos algunsesclarecimentos gerais acerca do terceiro homem e dos princiacutepiosque o constituem

32 OBSERVACcedilOtildeES TERMINOLOacuteGICAS

O famoso princiacutepio da autopredicaccedilatildeo eacute tambeacutem chamadopor alguns de princiacutepio da autoexemplificaccedilatildeo22 Isso reflete a

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tentativa em si mesma correta de evitar o sabor linguiacutestico daexpressatildeo ldquoautopredicaccedilatildeordquo De fato predicaccedilatildeo eacute algo que aprinciacutepio diz respeito somente agrave linguagem mas as ideias natildeo satildeoentes linguiacutesticos natildeo satildeo predicados que se predicam de simesmos23 Ao contraacuterio o termo ldquoautoexemplificaccedilatildeordquo indicariaque se trata de um ente que se autoexemplifica isto eacute manifesta apropriedade a si associada a beleza exemplifica o belo etc

Embora concordemos com ta l observaccedilatildeo aautopredicaccedilatildeo jaacute eacute uma expressatildeo consolidada de modo quepreferimos mantecirc-la para natildeo acrescentar mais um elementocomplicador agrave discussatildeo

Analogamente alguns sugerem que a expressatildeo ldquonatildeoidentidaderdquo eacute infeliz o melhor nome para o princiacutepio seria ldquonatildeoautoexplicaccedilatildeordquo (non-self-explanation)24 porque o princiacutepio reza quese um determinado ente x possui a propriedade F a posse de F natildeopode ser explicada com apelo ao proacuteprio x sendo preciso um outroente ou seja y em funccedilatildeo do qual x possui F em suma a posse deuma propriedade natildeo se explica por referecircncia ao proacuteprioindiviacuteduo que a possui

Tal como no caso da autopredicaccedilatildeo mesmo concordandocom as ressalvas preferimos nos ater agrave terminologia consagradanesse caso o princiacutepio da natildeo identidade

4 SIGNIFICADO DO REGRESSO INFINITO NO PARMEcircNIDES

Eacute possiacutevel dividir o Parmecircnides em duas partes A primeiranarra o encontro verdadeiro acontecimento da filosofia nascentede Zenatildeo Parmecircnides e Soacutecrates que supostamente teria tidolugar por ocasiatildeo da visita dos eleatas a Atenas A segunda parteconteacutem a seacuterie de hipoacuteteses e deduccedilotildees que a personagem tiacutetuloleva a cabo na companhia dum jovem Aristoacuteteles homocircnimo doestagirita

Parmecircnides I consiste na apresentaccedilatildeo publica duma hipoacuteteseontoloacutegica seu propositor eacute um jovem promissor Soacutecrates quevecirc todavia sua hipoacutetese ser severamente criticada pelo experienteParmecircnides Trata-se dum momento privilegiado se eacute verdade que

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o corpus platonicum eacute perpassado pela discussatildeo das ideias elassempre surgem in medias res estando tacitamente suposto que osinterlocutores jaacute estariam familiarizados com as ideias antes que odiaacutelogo houvesse comeccedilado No Parmecircnides a teoria das ideias eacuteverdadeiramente apresentada aleacutem disso os interlocutores satildeoverdadeiros expertos capazes de discuti-la criticamente

Embora se trate duma discussatildeo muito breve quaseapressada pode-se haurir de Parmecircnides I o acircmago da teoria dasideias suas metas e sobretudo as aporias a ela relacionadas

A essecircncia da teoria estaacute presente na primeira intervenccedilatildeode Parmecircnides

Soacutecrates disse quatildeo digno eacutes de ser admirado pelo ardor quetens pelos argumentos Mas dize-me tu mesmo assim fizestea divisatildeo tal como falas de um lado certas formas mesmas deoutro as coisas que delas participam [metexonta] E te parecea semelhanccedila mesma ser algo separada da semelhanccedila quetemos e tambeacutem o um e as multiplas coisas e todas as coisasque haacute pouco ouviste de ZenatildeoParece-me que sim disse SoacutecratesSeraacute que tambeacutem disse Parmecircnides coisas tais como umacerta forma em si e por si do justo e tambeacutem do belo e dobom e ainda de todas coisas desse tipoSim disse ele25

Trata-se duma teoria ontoloacutegica que opera uma divisatildeo noreal de um lado certos entes as ideias e de outro as coisassensiacuteveis Essa dicotomia deve ser poreacutem nuanccedilada existetambeacutem algum tipo de relaccedilatildeo entre os dois polos como se sabePlatatildeo expressou tal relaccedilatildeo com vaacuterios termos mas o mais ceacutelebrede todos eacute a participaccedilatildeo meqecij

Mas dize-me o seguinte parece-te como dizes haver certasformas em tendo participaccedilatildeo [metalambanonta] nas quaisessas outras coisas aqui recebem suas denominaccedilotildees Porexemplo se tecircm participaccedilatildeo [metalabonta] na semelhanccedilaas coisas se tornam semelhantes se na grandeza grandes seno belo e na justiccedila justas e belasPerfeitamente disse Soacutecrates26

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Passagens como essa sintetizam bem a razatildeo de ser dahipoacutetese das ideias visa-se explicar as caracteriacutesticas das coisassensiacuteveis tais como a grandeza a justiccedila etc Destarte a teoria dasideias forneceria um fundamento seguro para um dado sensiacutevelbruto as coisas sensiacuteveis satildeo sim grandes ou justas e elas o satildeoporque participam da ideia de grandeza ou da ideia de justiccedila Essanos parece ser uma explicaccedilatildeo de tipo causal eacute graccedilas agraves ideias queas coisas sensiacuteveis possuem suas propriedades27 E semelhantefunccedilatildeo causal das ideias eacute tambeacutem expressa ainda queresumidamente em outras passagens do Parmecircnides28 Dito issovoltemo-nos para o terceiro homem

Defendemos que os princiacutepios contidos no argumento doterceiro homem natildeo interagem de modo a produzir qualquercontradiccedilatildeo em sentido estrito como pretendeu Vlastos masunicamente um regressus ad infinitum Cabe agora nos determos umpouco mais no significado do regresso O problema pode serresumido na seguinte questatildeo por que ele seria indesejaacutevel oumesmo temiacutevel Vejamos mais uma vez o proacuteprio texto dodiaacutelogo

Creio que tu crecircs que cada forma eacute uma pelo seguinte quandoalgumas coisas multiplas te parecem ser grandes talvez tepareccedila a ti que as olhas todas haver uma certa ideia uma e amesma em todas donde acreditas o grande ser umDizes a verdade disse ele Mas e quanto ao grande mesmo e agraves outras coisas grandesSe olhares da mesma maneira com a alma para todos essesnatildeo apareceraacute de novo um grande um em virtude do qual eacutenecessaacuterio todas aquelas coisas aparecerem como grandesParece que simLogo uma outra forma de grandeza apareceraacute surgindo aolado da grandeza mesma e das coisas que desta participam Esobre todas essas apareceraacute de novo outra de modo a emvirtude dela todas essas parecerem grandes E natildeo mais seraacuteu m a c a d a uma das tuas formas mas ilimitadas emquantidade29

Mantivemos na citaccedilatildeo o grifo proposto pelos tradutoresdo diaacutelogo nas palavras ldquoumrdquoldquoumardquo correspondentes do

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numeral ei[j mia e3n De fato a noccedilatildeo de unidade numeacuterica eacuteessencial para o argumento ldquonatildeo mais seraacute uma cada uma das tuasformas mas ilimitadas em quantidaderdquo eacute a acusaccedilatildeo do velhoeleata

O tema do uno e do multiplo tem importacircncia capital noplatonismo De algum modo eacute essa a questatildeo que resume a teoriadas ideias uma teoria que supotildee uma unidade para explicar umamultiplicidade que natildeo eacute capaz de explicar-se a si mesma Massalientar a relevacircncia da questatildeo unomultiplo natildeo resolve ainda oproblema se natildeo se der uma explicaccedilatildeo do sentido exato dessapolaridade Em nossa opiniatildeo a unica resposta satisfatoacuteria tem dese apoiar sobre a noccedilatildeo de causa

A ideia eacute de algum modo responsaacutevel pela multiplicidadeldquoum grande um em virtude do qual eacute necessaacuterio todas aquelascoisas aparecerem como grandes [] ([]e3n ti [] mega []w |[tau=ta panta megala fainesqai []rdquo A ideia a unidade eacute aquilo emvirtude do que o multiplo eacute tal como ele eacute

Poder-se-ia levantar aqui uma dificuldade No trechocitado atribui-se agrave ideia de grandeza o poder de fazer as coisassensiacuteveis ldquoaparecerem [fainesqai] como grandesrdquo isto eacute a ideianatildeo faria com que a multiplicidade sensiacutevel seja grande Em outrostermos o que se tem expressis verbis eacute uma causalidade um tantocuriosa tratar-se-ia da causa do conhecer ou do perceber certacaracteriacutestica si licet duma causalidade epistemoloacutegica

Tal tipo de visatildeo nos parece equivocada A causalidade queas ideias tecircm de desempenhar eacute uma ldquocausalidade ontoloacutegicardquo asideias devem ser causa do ser das coisas e natildeo apenas dapercepccedilatildeo do sujeito Se assim natildeo fosse chegar-se-ia finalmenteaos antiacutepodas do platonismo as coisas sensiacuteveis jaacute estariamconstituiacutedas sem o contributo das ideias as quais serviriamunicamente para que o sujeito percebesse ou conhecesse osensiacutevel30

No entanto natildeo se deve conceder demasiada atenccedilatildeo aocaraacuteter fenomecircnico do verbo na passagem supracitada podemosargumentar que o sensiacutevel soacute aparece de determinado modoporque ele eacute desse modo e assim ele eacute em virtude das ideias A

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conclusatildeo do argumento retira qualquer duvida ldquoE sobre todasessas apareceraacute de novo outra de modo a em virtude dela todasessas serem grandes (kai e0pi toutoij au] pa=sin e3teron w[| tau=tapanta megala e1stai)rdquo31

Dito isso estaacute aberto o horizonte para a determinaccedilatildeo dareal natureza e forccedila da aporia do terceiro homem Natildeo se tratacomo defendeu Vlastos em seu artigo de 1954 duma fatalcontradiccedilatildeo mas sim dum regressus ad infinitum cujo sentido soacute sedesvela na associaccedilatildeo com a noccedilatildeo de causalidade entendida domodo ora defendido

O jovem Soacutecrates acaba de propor a hipoacutetese das ideias eParmecircnides lhe objeta dentre outras coisas que ela estaacute enredadanum regresso infinito Soacutecrates poderia talvez dar de ombros econtra-argumentar que enquanto for possiacutevel explicar determinadacaracteriacutestica presente na multiplicidade por exemplo a grandezapouco lhe importa que haja infinitas formas responsaacuteveis(causalmente) pela grandeza Se se atentar apenas para o ponto devista da proposiccedilatildeo duma hipoacutetese o regressus poderia ser vistocomo um constrangimento mas natildeo necessariamente como umaobjeccedilatildeo inescapaacutevel Quando se considera poreacutem o papel que anoccedilatildeo de causalidade desempenha no argumento eacute possiacutevelapreciar a verdadeira forccedila do terceiro homem

A hipoacutetese de Soacutecrates consiste em que determinadacaracteriacutestica tal como a grandeza que se encontra em multiplascoisas sensiacuteveis requer uma ideia em virtude da qual essas coisassensiacuteveis satildeo grandes Mas como a ideia de grandeza eacute por via daautopredicaccedilatildeo grande tambeacutem ela necessita duma ideia que seja acausa do fato de ela ser grande Se ex hypothesi terminasse aqui aseacuterie talvez natildeo houvesse problema haveria apenas um caso suigeneris em que uma propriedade exigiria duas ideias como causaEntretanto a segunda ideia a ideia de grandeza1 tambeacutem ela eacutegrande exigindo uma nova ideia que seja sua causa e assimsucessivamente Como poreacutem o que estaacute em jogo eacute um nexocausal a noccedilatildeo do ldquoassim sucessivamenterdquo torna-se imediatamentecriacutetica porque significa que nenhuma ideia se impotildee como causadaiacute resultando que nenhum efeito chegaria a ser causado dizer que

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determinado grupo de indiviacuteduos natildeo se explica por si mesmo eexige uma ideia em virtude da qual aquela multiplicidade se daacuteequivale a dizer que sem essa ideia a multiplicidade eacute que natildeo sedaacute a ideia eacute condiccedilatildeo sine qua non de determinada multiplicidade

Em suma o problema do regresso eacute justamente o seucaraacuteter infinito se natildeo fosse infinito haveria uma certa forma natildeoimporta ldquosobrerdquo quantas outras formas que seria a causa de tudoque ldquosobrdquo si se encontra Mas o caraacuteter infinito do regressoimpede justamente isso que haja a forma que seja a causa ultima(ou primeira como se preferir) da propriedade em questatildeo

A hipoacutetese de Soacutecrates parte dum fato haacute um grupo decoisas sensiacuteveis (a b c etc) caracterizadas todas elas por umpredicado F ests eacute o explanandum Trata-se do explanandumprecisamente porque estaacute suposto que uma multiplicidadecaracterizada por F natildeo se explica por si mesma nenhum de seusmembros eacute capaz de figurar como causa do fato de que ele mesmoe os demais membros desta multiplicidade possuem a caracteriacutesticaF sendo exigido portanto um explanans a ideia F-dade Mas F-dade tambeacutem possui a propriedade F a autopredicaccedilatildeo redundapois na inclusatildeo da ideia o explanans no grupo de coisas quecaracterizadas por F portanto no explanandum Tal operaccedilatildeo ainclusatildeo do explanans no explanandum eacute decisiva e ela se repete adinfinitum sempre que se postular uma nova ideia que se esperariaque funcionasse como definitivo explanans nesse exato momentoela recai no explanandum

A estrateacutegia de Parmecircnides ao formular essa aporia eacutemostrar que a doutrina das ideias em cujo acircmago estaacute a intenccedilatildeode explicar determinada multiplicidade sensiacutevel pode ser revertidae levada agrave autodestruiccedilatildeo precisamente no tocante agrave sua pretensatildeocausal Embora o argumento do terceiro homem natildeo revele umacontradiccedilatildeo stricto sensu inserida na teoria das ideias ele constituisem duvida uma temiacutevel dificuldade capaz de tornar supeacuterflua aproacutepria hipoacutetese das ideias

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ABSTRACT The Significance and Structure of the Third Man Argument inPlatos Parmenides

The Third Man Argument found in the Parmenides is aformidable objection to the Theory of Forms to which Plato didnot provide an explicit answer In the first part of this paper webriefly discuss the chronology of the Platonic dialogues trying tolocate the Parmenides in at least a plausible position We thenscrutinize the Third Man argument as it appears in the ParmenidesWe also evaluate the significance of the referred objectionespecially from the perspective of the Formsrsquo causal role

KEYWORDS

Theory of Forms Parmenides The Third Man Argument Self-predication Causality

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REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS BURNET John Platonis opera Oxford Clarendon Press 1967CHERNISS Harold The Relation of the Timaeus to Platos Later Dialogues TheAmerican Journal of Philology v 78 n 3 1957 p 225-266 COHEN Marc The Logic of the Third Man The Philosophical Review v 80n 4 1971 p 448-475 CORNFORD F M Plato and the Parmenides Parmenidesrsquo Way of Truth andPlatorsquos Parmenides translated with an introduction and a running commentaryLondon Routledge amp Kegan Paul 1939FERRARI Franco Parmenide Milano BUR 2007 FRONTEROTTA Francesco ΜΕΘΕΞΙΣ La teoria platonica delle Idee e lapartecipazione delle cose empiriche - Dai dialoghi giovanili al Parmenide PisaScuola Normale Superiore 2001GUTHRIE W K C A History of Greek Philosophy Later Plato and theAcademy Cambridge Cambridge University Press 1978JAEGER Werner Aristotelis Metaphysica Oxford Oxford University Press1957MEINWALD Constance Good-bye to Third Man in KRAUT Richard TheCambridge Companion to Plato New York Cambridge University Press1993 p 365-396MORAVCSIK Julius Recollecting the Theory of Forms in WERKMEISTER W HFacets of Platorsquos Philosophy Assen Van Gorcum 1976 p 1-20OWEN GEL The Place of Timaeus in Platorsquos Dialogues Classical Quarterlyv 3 n 12 1953 p 79-95PETERSON Sandra A Reasonable Self-Predication Premise for the Third ManArgument The Philosophical Review v 82 n 4 1973 p 451-470PLATAtildeO Parmecircnides Traduccedilatildeo introduccedilatildeo e notas de Maura Igleacutesias eFernando Rodrigues Satildeo Paulo Loyola 2003SAYRE Kenneth Platorsquos Late Ontology a Riddle Resolved Las VegasParmenides Publishing 2005 SILVERMAN Allan The Dialectic of Essence a Study of Platorsquos MetaphysicsPrinceton Princeton University Press 2002 STRANG Colin Plato and the Third Man Proceedings of the AristotelianSociety v 37 1963 p 147-164VLASTOS Gregory The Third Man Argument in the Parmenides ThePhilosophical Review v 63 n3 1954 p 319-349______ Platorsquos lsquoThird Manrsquo Argument (Parm 132 A1-B2) Text and Logic ThePhilosophical Quarterly v 19 n 77 1969 p 289-301 ______ Platonic Studies Princeton Princeton University Press 1981 (1aed 1973)

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1 Sabe-se que a expressatildeo ldquoteoria das Ideiasrdquo eacute puramente didaacutetica natildeoencontrando paralelo nos textos de Platatildeo Servimo-nos livremente dela nesteartigo por julgar que feitas certas ressalvas ela eacute inofensiva e tambeacutem util Eacuteevidente que ao falarmos de ldquoteoria das Ideiasrdquo natildeo pretendemos atribuir aPlatatildeo um tratamento perfeitamente sistemaacutetico da questatildeo das Ideias o termoldquoteoriardquo certamente natildeo estaacute sendo usada no mesmo sentido que em ldquoteoria darelatividaderdquo por exemplo Contudo eacute inegaacutevel que se encontra espalhadapelos escritos de Platatildeo a recorrente afirmaccedilatildeo de que existem certos entesinteligiacuteveis eacute pois conveniente chamar de ldquoteoriardquo o conjunto destasafirmaccedilotildees acerca das Ideias ou se se preferir eacute possiacutevel fazer-lhe referecircnciacom as expressotildees ldquodoutrinardquo ou ldquohipoacutetese das Ideiasrdquo2 PLATAtildeO Parmecircnides 135b-d3 Talvez sua fama seja ainda maior ldquothe most famous argument in ancient philosophyrdquo(SILVERMAN 2002 p 110 apud FERRARI 2007 p 64) 4 ARISTOacuteTELES Metafiacutesica 990b15-17 Para um inventaacuterio da histoacuteria doargumento do Terceiro Homem ver CORNFORD 1939 p 87-955 PLATAtildeO Parmecircnides 131e-132b e 132d-133a6 Chamaremos de Parmecircnides I a primeira parte do diaacutelogo (126a-137c) em que ojovem Soacutecrates vecirc sua hipoacutetese das Ideias ser atacada pelos eleatas e deParmecircnides II (137c-166c) a seccedilatildeo que conteacutem as diversas ldquohipoacutetesesrdquo Propomostal divisatildeo de modo didaacutetico sem nos comprometermos com hipoacutetesesheterodoxas tais como a que foi propugnada por Sayre o qual sustentalanccedilando matildeo inclusive duma abordagem estilomeacutetrica que Parmecircnides I tenhasido escrito num periacuteodo anterior e distante do periacuteodo de composiccedilatildeo deParmecircnides II cf SAYRE 2005 p 256-2717 Neste caso eacute indispensaacutevel fornecer alguma interpretaccedilatildeo dos diaacutelogoscomumente aceitos como sendo posteriores ao Parmecircnides O Teeteto constitui umrelevante sustentaacuteculo para tal linha exegeacutetica uma vez que natildeo conteacutem clarasreferecircncias agraves Ideias o Sofista eacute por sua vez frequentemente objeto deinterpretaccedilotildees deflacionaacuterias no tocante agraves Ideias as quais nestes casos tecircm oseu estatuto de realidades subsistentes e transcendentes posto em xeque emfavor do seu caraacuteter loacutegico-linguiacutestico O Filebo patenteia uma ldquonova ontologiardquoou pelo menos introduz novos termos que nem sempre satildeo facilmenteharmonizaacuteveis com a teoria das Ideias em sua versatildeo standard Quanto ao Timeudiaacutelogo que poderia resolver a controveacutersia uma vez que sua linguagem eacute emtudo semelhante agrave das grandes obras do periacuteodo maduro de Platatildeo emergiu noseacuteculo XX uma querela acerca de sua dataccedilatildeo Seria temeraacuterio entrarmos nosdetalhes dessa discussatildeo mas grosso modo defendeu-se que o Timeu natildeo estivesseentre os diaacutelogos da velhice e sim fizesse parte do periacuteodo da maturidadeResolver-se-ia assim o grande entrave agraves teses mais radicais acerca da evoluccedilatildeoda filosofia de Platatildeo cf OWEN 1953 CHERNISS 19578 MEINWALD 1993 p 389-3909 Idem ibidem p 39010 Guthrie (1978 p 60) apresenta um argumento semelhante 11 Remetemos a Fronterotta (2001) para uma interessante e soacutebria anaacutelise daldquoevoluccedilatildeordquo da teoria das Ideias segundo a qual a teoria se modificou sem jamaisrenunciar ao seu nucleo a saber a condiccedilatildeo subsistente e transcendente dasIdeias 12 O locus claacutessico eacute Feacutedon 96a-105c mas referecircncias agrave etiologia podem serencontradas em muitos lugares Eis algumas das passagens mais significativasPLATAtildeO Repuacuteblica 507a-509c PLATAtildeO Timeu 18a-b 28a 28b-c 29d-30a PLATAtildeOFilebo 26e-27c Ver tambeacutem FERRARI 2007 p 39-4113 PLATAtildeO Parmecircnides 132a-b14 Neste importante artigo Vlastos (1994) defendeu a tese radical de que aobjeccedilatildeo do Terceiro Homem redundaria numa contradiccedilatildeo stricto sensu entreduas das premissas do argumento posiccedilatildeo errocircnea que ele mais tarde veio aretificar neste outro importante artigo sobre o tema Vlastos 1969Empreendemos uma anaacutelise detalhada destes trabalhos de Vlastos num artigoque publicado pela revista Claacutessica ndash Revista Brasileira de Estudos Claacutessicos

15 Este princiacutepio eacute explorado por comentadores de liacutengua inglesa sob o nomeldquoOne over Manyrdquo frequentemente abreviado ldquoOMrdquo cf STRANG 1963 COHEN1971 16 PLATAtildeO Parmecircnides 132a17 PLATAtildeO Parmecircnides 132a18 Assim o observa Franco Ferrari (2007 p 217 nota 50)19 Permitimo-nos substituir aqui a opccedilatildeo dos tradutores ldquopareceremrdquo porldquoseremrdquo uma vez que no grego se tem a forma verbal e1stai20 PLATAtildeO Parmecircnides 132a-b21 Ativemo-nos agrave ldquoprimeira versatildeordquo do Terceiro Homem presente no Parmecircnidesjulgamo-nos dispensados de fazer a mesma anaacutelise da ldquosegunda versatildeordquondashcontida em Parmecircnides 132c-133a ndash porque tal como Vlastos acreditamos queambas as ldquoversotildeesrdquo conteacutem as mesmas etapas loacutegicas 22 Em inglecircs self-exemplification cf MORAVCSIK 197623 O proacuteprio Vlastos (1969 p 300 n 36) reconhece a utilidade de semelhantedistinccedilatildeo ldquoI so labelled this assumption in 1954 under Taylors influence who hadidentified it uncritically with the closely related assumption that a character can be predicatedof itself which generated the Russellian paradox Since I did not impute just this assumptionto Plato ndash I was not maintaining that what was predicated of F-ness was F-ness itself insteadof F ndash I should have made it clear then [hellip] that Self-Predication if used at all could onlybe used with a certain licence As Sellars had pointed out (1955 p 414) the assumptionwhich is being made here ldquowould be formulated more correctly as The adjective correspondingto the name of any Form can correctly be predicated of that Formrdquo Some such label asHomocharacterization would have been more exact and I have tried at times to switch to thisin lectures and seminars But Self-Predication is now firmly entrenched in the literature and Isee no harm in its continuing use subject to the above provisordquo24 cf PETERSON 1973 p 45325 PLATAtildeO Parmecircnides 130a-b26 PLATAtildeO Parmecircnides 130e-131a27 Como aludimos no item 23 deste trabalho ao utilizarmos aqui a noccedilatildeo decausalidade natildeo nos comprometemos com o ecircxito completo da funccedilatildeo causaldas Ideias ou da doutrina da participaccedilatildeo a qual eacute como sabemos pelo proacuteprioParmecircnides uma doutrina eivada de problemas Quando afirmamos que as Ideiassatildeo causa do sensiacutevel queremos significar apenas que elas satildeo um elementonecessaacuterio mas natildeo suficiente para que as coisas sensiacuteveis sejam tais como satildeoAssim se dizemos que a Ideia de Mesa eacute causa da mesa de madeira certamenteela natildeo eacute o unico elemento responsaacutevel pela mesa de madeira sendoindispensaacuteveis tambeacutem a proacutepria madeira e um artesatildeo28 cf PLATAtildeO Parmecircnides 128e-129a PLATAtildeO Parmecircnides 131c-d29 PLATAtildeO Parmecircnides 132a-b30 Tal posiccedilatildeo que remete agraves interpretaccedilotildees neokantianas da filosofia de Platatildeo eacute firmemente contestada por Francesco Fronterotta (2001 p 206-222)31 Traduccedilatildeo ligeiramente modificada

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Identidad ritual y performance unanaacutelisis de los primeiros dos versos deSuplicantes de Esquilo1

Mariacutea del Pilar Fernaacutendez Deagustini

RESUMEN

La recitacion que acompana la marcha anapestica (v 1-39) que dainicio a la performance de Suplicantes de Esquilo presenta dos de lostres componentes baacutesicos de un himno2 epiacuteklesis (v 1-3) y eucheacute (v23-39) La epiacuteklesis indirecta (Er-Stil v 1- 2) establece el contactoentre los hablantes ndash las Danaides que integran el coro ndash y eldestinatario divino ndash Zeus ndash confiriendole a la recitacion caraacutecterhiacutemnico desde la primera palabra Se trata de una composicion dedos versos extremadamente simple la mencion del dios al que sedirige el himno su epiacuteteto y el llamado de atencion que introduceal hablante Nuestro trabajo pretende demostrar que no obstantela brevedad de la epiacuteklesis cada elemento condensa sentidosfundamentales para la interpretacion de la oda inicial y de la matrizritual en la que se inscribe la composicion de la obra comototalidad

PALABRAS-CLAVE

Ritual performance Suplicantes Esquilo

SUBMISSAtildeO 15 nov 2017 | PUBLICACcedilAtildeO 31 dez 2017

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n anaacutelisis de la oda inicial de Suplicantes de Esquiloinvolucra dos aspectos fundamentales Como se tratade un drama carente de prologo en el que el cantocoincide con la inauguracion de la accion insta aconjeturar por un lado acerca de la puesta enescena por otro lado acerca de que modo seintroduce la urdimbre de sucesos que configuran latrama Desde nuestra perspectiva teorica que sea c e r c a a l a t r a g e d i a c o m o u n g e n e r ofundamentalmente coral y descansa en nocionesclave como ldquopoesiacutea de ocasionrdquo3 ldquoproyeccioncoralrdquo4 ldquointeraccion genericardquo y ldquometacoralidadrdquo5

ambos aspectos de esta oda estaacuten atravesados por lamanera como el dramaturgo compuso su sustancia

ritual es decir de que generos liacutericos se valio en la performance Laoda inicial integra en su composicion elementos del himno y deltreno que se alternan y se subvierten para crear una atmosferaparticular desde los primeros versos En el presente artiacuteculoconcentramos nuestra atencion en la integracion generica de la odatraacutegica con el himno del cual analizaremos un componenteesencial la epiacuteklesis que establece el contacto entre los hablantes yel destinatario divino

Como senalamos la primera oda de extraordinariaextension (v 1 -175)6 sintoniza con la apertura de la obra Elexotico coro7 conformado por las hijas de Daacutenao habriacuteaingresado al teatro formando una fila al ritmo de los anapestos8

tras los cuales se habriacutea ordenado en la orcheacutestra La escena habriacuteasugerido la presencia de un altar elevado y probablemente deimaacutegenes divinas que son invocadas con posterioridad9 Daacutenao supadre habriacutea aparecido en el ultimo lugar de esa misma filacoincidiendo con la mencion de su nombre en el v 1110 Estosdatos acerca de la performance son fundamentales para poder recrearla poiacuteesis de Esquilo pensada para un espectador del siglo V aunquesin duda el dato escenico maacutes elocuente lo constituyen los ramosde suplicante envueltos en lana blanca que afirman empunar lasjovenes en sus manos (v 21-22 v 191-193) La vision de este

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objeto habriacutea orientado raacutepidamente las expectativas del publicoque habriacutea visto entrar a los personajes y tomar lugar en el altarhabriacutea reconocido las insignias y comprendido entonces elcaraacutecter ritual de la ocasion11

Desde el punto de vista formal la oda inicial de Suplicantesse compone de dos grandes partes entre los v 1-39 el espectaacuteculose inicia con el ingreso del coro (y Daacutenao) a traves de la eiacutesodos enmarcha anapestica Llamamos a esta seccion la parte dinaacutemica yaque se trata de la puesta en escena de un himno procesional querepresenta tres transiciones una espacial (de Aacutefrica a Grecia) unatemporal (de un pasado reciente que constituye el motivo de huidaal presente fin de la fuga) y una cultural (segun la cual lasDanaides africanas ponen en praacutectica un ritual griego) Luegodesde el v 40 y hasta su final en el v 175 el coro ya instalado enel espacio de la orcheacutestra desarrolla un extenso canto liacutericoconstruido sobre la base de ocho sistemas Llamamos a estaseccion la parte estaacutetica dado que el coro representa con lallegada al altar el fin de su viaje y el comienzo del ritual de suplicapara conseguir asilo en Argos Solo cuando le sea asegurado elnuevo traacutensito en un movimiento colectivo y organizado el coroabandonaraacute el altar esta vez hacia el centro de la ciudad En estesent ido Suplicantes como paradigma de las tragedias quepertenecen al Altarmotiv12 subraya el protagonismo de la ritualidadpues el espectador nunca pierde de vista al suplicante ni el espaciosagrado

Desde la perspectiva de un espectador del siglo V aC laconducta religiosa representaba un complejo de discursos yacciones faacutecilmente reconocible intrincadamente unido a otrasaacutereas de su vida social Como senalan Furley y Bremer13 el himnopuede distinguirse del habla coloquial o de la cancion coral porvarias caracteriacutesticas (melodiacutea metro ritmo acompanamientomusical danza repeticion en una misma ocasion) pero su esenciareside en la entidad hacia la cual se dirige la composicion un dios ocompaniacutea de dioses Directamente asociado con el destinatarioreside su proposito adorar al dios tiene el objetivo de ganar subenevolencia y asegurar su asistencia o favor14 Ademaacutes estos

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autores senalan la familiaridad del himno con la suplica con la cualcomparte la misma meta15 La diferencia entre ambos tiposdiscursivos reside en que el himno es un producto artiacutestico maacutesacabado que la plegaria pues emplea tecnicas refinadas de elogio ypersuasion que lo convierten en un obsequio en un ἄγαλμα verbal

En el mundo griego arcaico y claacutesico las procesiones erantiacutepicamente acompanadas de himnos enfocados en la transicionespacial de la ciudad hacia el templo y en particular hacia el altar16

Precisamente por este motivo es probable que Esquilo eligieraabrir su obra directamente con el ingreso del coro a escena enlugar de la composicion de un prologo dado que el espectaacuteculo dela procesion coral era capaz de exponer mejor su propuestadramaacutetica Considerar la posibilidad de una opcion en terminos decomposicion artiacutestica diluye uno de los argumentos maacutes poderososa favor de la impronta arcaica de la tragedia su carencia deprologo17 Segun nuestro punto de vista Esquilo sustituye el iniciode la obra con una escena estaacutetica por la performance de una escenadinaacutemica de marcha que tiene la capacidad de sintetizar en elmetro18 el itinerario Egipto-Argos realizado por las Danaides Deeste modo el estado de fuga puede re-presentarse en el escenarioAsimismo Esquilo parece haber elegido no retrasar la llegada delos protagonistas19 a quienes se muestra llegando desde elextranjero ingresando a un territorio extrano y permaneciendo enla periferia en un recinto sagrado alejado del centro ciacutevico elsantuario publico de Argos (39)20

Tal como senalan Furley-Bremer ciertos himnos puedenser usados por el dramaturgo para crear una atmosfera tanto paraincrementar la tension en una situacion ya tensa o como un fondoironico contra el cual la accion subsecuente se despliegacontrariamente a la expectativa21 Particularmente la oda inicial deSuplicantes ilustra como el dramaturgo utilizo el himno paraestructurar el desarrollo y sentido de la trama total de la obra puestiene la funcion de definir el horizonte significante dentro del cualse inscribiraacute la actuacion particular de este coro Por un ladoconstituye la evocacion de los sucesos pasados por el otro es laclave y el punto de partida del codigo de comportamiento que

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regiraacute los actos sucesivos reconocido tanto por los personajes dela obra dentro de los liacutemites de la ldquoilusion teatralrdquo como por laaudiencia22

Asimismo la apertura procesional imprime una diferenciade tonalidad espacio y ocasion condicionan el discurso que debeser liacuterico maacutes que retorico Sin embargo su alcance persuasivo noes menor ya que el ritual confiere cierto poder encubierto alsuplicante23 La ventaja que supone el registro liacuterico reside en lafacultad de cumplir con dos cometidos ofrecer un medio legiacutetimode exhortacion a la accion y producir un efecto de seduccionporque permite exteriorizar la emocion

La recitacion que acompana la marcha anapestica detentados de los tres componentes baacutesicos de todo himno24 epiacuteklesis (v1-3) y eucheacute (23-39) La epiacuteklesis establece el contacto entre elloshablantes y el destinatario divino por lo cual suele estar al iniciola eucheacute en la que se formula la peticion como constituye el cliacutemaxusualmente se encuentra al final Enmarcado entre ambas partesresta el tercer componente lo que Furley y Bremer llaman ldquomiddlesectionrdquo y se trata de la parte compuesta para ganar el favordivino25 En la parte dinaacutemica de la oda inicial la seccion media (v4-22) se modifica sustancialmente proponiendo una inversion sehace hincapie en el suplicante en lugar del suplicado porque en elinicio del drama se impone la necesidad de exponer los motivosque justifiquen la performance26

A pesar de su brevedad la epiacuteklesis de la parte dinaacutemicamerece un anaacutelisis pormenorizado no solo por su funcion sinotambien por su emplazamiento La primera asocia hablante (lasdanaides que componen el coro) y destinatario interno (Zeus) elsegundo establece un marco de referencia que oficia como puenteentre los sucesos intradramaacuteticos y el espectador El proposito deesta comunicacion es demostrar que no obstante la fugacidad de laepiacuteklesis cada elemento condensa sentidos fundamentales para lainterpretacion de la oda inicial y de la matriz ritual en la que seinscribe la composicion de la obra como totalidad

L a epiacuteklesis indirecta (Er-Stil)27 confiriere a la oda caraacutecterhiacutemnico desde la primera hasta la ultima palabra Efectivamente la

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oda completa estaacute enmarcada por una composicion anular ya queen su ultimo verso (175) el participio καλούμενος (tambien alliacuteconcertado a Zeus) retoma la idea de esta invocacion inicial28 Laepiacuteklesis propone una composicion extremadamente simple lamencion del dios al que se dirige el himno su epiacuteteto y el llamadode atencion que introduce al hablante Recitan las Danaides

Ζεὺς μὲν ἀφίκτωρ ἐπίδοι προφρόνωςστόλον ἡμέτερον νάιον ἀρθέντ (v 1-2)29

Que Zeus protector de los recieacuten llegadoscontemple ya con mente predispuesta nuestraformacioacuten coral impulsada en una nave 30

Analicemos entonces los componentes de estaconvocatoria Zeus estaacute ubicado significativamente en la posicioninicial del primer verso de la obra y es el sujeto de un energicodesiderativo realizable (ἐ πίδοι) que da comienzo a la suplicaConsiderado en el sentido maacutes amplio el epiacuteteto ἀ φί κτωρ unhaacutepax31 en lugar de Hikeacutesios32 insiste en los dos puntos de estatransicion el traslado espacial y cultural de los personajes33 y sucondicion de marginalidad ya que para los griegos los ldquorecienllegadosrdquo no son de ninguna parte34 La novedosa composicion delapelativo formado ad hoc por lo tanto subraya al mismo tiempo laocasion y la condicion especiacutefica del suplicante mientras cumplecon la norma esperada respecto de las referencias a la divinidad Alrespecto nota Kavoulaki (2011) que el epiacuteteto pone en primerplano el hecho de la llegada (ἄφιξις) del coro que estaacute iacutentimamenteconectada con la tercera palabra de la frase la forma ἐπίδοι35

Efectivamente la forma ἐπίδοι indica la primera accion de la obrael pedido de atencion por parte del dios Lo maacutes significativo esque esa atencion debe alcanzarse a partir de la mirada

El verbo ἐφοράω compuesto de ὁράω combina el aspectosensible y el inteligible Flores (2007) quien ha estudiado el sentidode la vision en Esquilo sostiene que el dramaturgo ldquointroduce enlas palabras un rasgo morfologico que apunta a un matiz particularantepone la preposicion ἐπί a verbos de vision cuando son los

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dioses quienes miran Esta es una tendencia constante que comotal no se da en los otros traacutegicosrdquo36 De este modo ἐπί senalariacuteauna diferencia radical entre el ser hombre y ser dios que la autoraentiende como ldquomirar sobre tener los ojos sobre vigilarrdquo37 propiadel acto de ver divino Compartimos con la autora el hecho de quese marca una capacidad de mirar distinta no obstante creemosque no es exclusiva del dios ya que cuando demanda la mirada deZeus el coro subraya el acontecimiento de su aparicion suadvenimiento a la vista de otro su aparicion espectacular38 Por lotanto el verbo tambien hace referencia impliacutecita a la mirada delpublico que como el dios puede ver maacutes allaacute de lo que se ofreceante sus ojos39 Segun esta disquisicion proponemos otratraduccion del verbo maacutes ajustada al contexto senalado ἐφοράωcomo ldquocontemplarrdquo dado que las tres acepciones del espanolapuntadas por la Real Academia todas ellas transitivas se ponenen juego en esta accion Conforme este sentido los espectadorestanto como el dios 1 ponen atencion en algo material (laformacion coral) 2 consideran (juzgando) a las jovenes y 3 lascomplacen son condescendientes con ellas mientras se hacenvisibles40

Como advierte Flores Esquilo usa el verbo ἐφοράω parasuplicar cada vez que se indica el llamado de atencion a traves dela vision En este caso la eleccion de un verbo de percepcionvisual no es azarosa porque ademaacutes de convocar al publico apelaal campo de la emocion a diferencia de los verbos de percepcionauditiva que tienen tendencia a asociarse al campo de lapersuasion y obediencia La vision no necesita del juego de laspalabras para convencer sino que pone a quien ve en el lugar detestigo y no de mero observador Por lo tanto es posible afirmarque la eleccion del verbo va de la mano de la eleccion de laapertura liacuterica es decir sin prologo el caso de las Danaides almenos en el comienzo pretende no ser amenazado por la retoricaLa esperanza estaacute puesta en cambio en el poder conmovedor dela mirada Precisamente Suplicantes compromete una apuesta a laexploracion de sentido en el aspecto visual ya que la oacutepsis habriacuteabuscado provocar el desconcierto del espectador41 la presencia de

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las hiacutebridas suplicantes en escena baacuterbaras de apariencia perogriegas en cuanto a su comportamiento ceremonial debe habersido el principal factor de impacto dramaacutetico desde el inicio hastael final de la tragedia En cuanto a ἐφοράω la forma de aoristoremarca ademaacutes la puntualidad de la accion dado que las Danaidesexpresan la necesidad de la mirada inmediata Justamente para darcuenta de la inminencia en la traduccion del verso 1 optamos porel agregado del adverbio ldquoyardquo que enfatiza la exigencia al punto alinstante

El adverbio προφρόνως que complementa a ἐφοράω sumainformacion al pedido pues implica absoluta confianza en el diosque segun se supone tiene ojos justos προφρόνως puede sertraducido como ldquoamablementerdquo ldquoseriamenterdquo o ldquocon voluntadapropiadardquo segun indica el Diccionario de Oxford (LSJ)42 Sinembargo este adverbio tiene las raiacuteces de πρό y φρήν43 lo queadmite la traduccion por una periacutefrasis que combine amboselementos La propuesta ldquocon mente predispuestardquo parece ser maacutesacertada porque insiste simultaacuteneamente sobre los tres sentidos deἐ φοράω (prestar atencion juzgar y ser condescendiente) ademaacutesde ser coherente con el modo desiderativo propio del himno lapredisposicion de la mente de Zeus y de los espectadores consisteen que al ver a las Danaides antes de decidir sobre su caso susolicitud (1) presten atencion a los ramos que llevan en sus manos(2) juzguen que aunque baacuterbaras practican el ritual propio de latierra local y (3) sean condescendientes con su condicion desuplicantes

Por eso es necesario agregar que en sus observacionesacerca del verbo inicial ἐφοράω Kavoulaki ha senaladopertinentemente la superposicion de los planos performativo ydramaacutetico pero ha perdido de vista el caraacutecter de laespectacularidad sobre la que se pide atencion el arribo de estecoro es espectacular desde una apreciacion multimediaacutetica porquelo que se ve y lo que se escucha producen una combinacion unicainarmonica desacoplada contradictoria disonante El epiacutetetoἀφί κτωρ el adverbio προφρόνως y los versos que siguen insistensobre la singularidad de los personajes que el publico empieza a

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ver delante de sus ojos las danaides y su padre revisten unanaturaleza marginal e hiacutebrida que se manifiesta en el lenguajegriego con matices Egipcios44 pero fundamentalmente en elchoque entre apariencia y comportamiento Lo que las Danaidesdesean que Zeus (y los espectadores) vean con buenapredisposicion es que aunque no parezcan argivas (tal como loinforma el aspecto sensible del verbo) puedan ser reconocidascomo tales a partir de su conducta (lo que involucra el aspectointeligible del mismo verbo) Ellas luego se encargaraacuten dedemostrar a traves de la retorica del canal auditivo que estacondicion griega que practican es una exteriorizacion de suspropias raiacuteces45

Finalnalmente los elementos fundamentales de la epiacuteklesisse completan con la referencia a la identidad del emisor στόλον esel sustantivo a traves del cual se autopresentan las Danaides queeligen no revelar su identidad hasta el verso 11 cuando se dicenldquohijas de Daacutenaordquo El uso de στόλον no es inofensivo No refiere aun grupo ordinario de gente a una mera tripulacion sino queacentua un aacuterea semaacutentica especiacutefica la del ritual46 στόλον senala atraves de sus ejecutores la ocasion una accion coral que se dasimultaacuteneamente en el mundo interno dramaacutetico (que contemplaZeus) y en el externo teatral (que contemplan los espectadores enel contexto del festival) Kavoulaki advierte acertadamente estesentido del termino pero la traduccion que propone ldquobandrdquo(banda)47 no cifra su complejidad semaacutentica El sustantivo στόλονcomparte su raiacutez con el verbo στέλλω que significa ldquoprepararrdquo48 ensu forma activa y ldquodespacharrdquo ldquoenviarrdquo en la pasiva El camposemaacutentico al que se asocia es usualmente el militar49 Ciertamenteel dominio belico no es ajeno al mito sobre el que se compone estatragedia pues conocemos que la suplica a Zeus primero y a Argosdespues derivaraacute en una guerra entre Argivos y Egipcios Porconsiguiente nuestra interpretacion de στόλον como ldquoformacionrdquobusca integrar el sentido militar y el ritual El enfasis de esta opcionde traduccion por otra parte estaacute puesto en la nocion dehomogeneidad (propia de este personaje colectivo) dada por elorden resaltando por lo tanto la existencia de un proceso no

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solamente previo sino tambien deliberado y de un agente quecomo autoridad establece dicho orden ldquoFormacionrdquo admite eljuego entre el sustantivo στόλος (2) y el adjetivo στασίαρχος (11)con el que se califica a Daacutenao la primera vez que es mencionado 50

correlacion que permite tanto activar el sentido de la ocasionperformativa como revelar cuaacutel es la estrategia de este grupo demujeres lideradas por su padre suplicar como maniobra de poder

El pedido de contemplacion al grupo como formacioncoral-ritual que se antepone a las demandas personales implica elinteres por conquistar los fueros de un poder que se fundamentaen la paradoja dado que la suplica es coercion disfrazada deimpotencia y necesidad51 La primera mencion de las Danaides espor consiguiente en el rol de objeto paciente asumiendo un lugarde subordinacion ante la mirada divina52 Por el contrario eldominio del dios se ve destacado no solo en el rol de agente quereviste sino tambien en su ubicacion en la posicion inicial delprimer verso de la suplica y del drama

En conclusion la epiacuteklesis demuestra ser clave para lainterpretacion de la oda y el desarrollo de la obra porque estableceun puente entre la seccion narrativa que se iniciaraacute y el nivelperformativo potenciando el sentido de la ocasion y suconveniencia Asimismo este anuncio consciente de roles eidentidades rituales vuelve maacutes ostensible la hibridez de las recienllegadas protagonistas que dejaraacuten filtrar sobre el final de la odainicial la perversion de su programa ritual Los desesperadosultimos versos del canto blasfeman a Zeus dios destinatario de lasuplica No obstante la alteracion de la norma es tema para otracomunicacion

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RESUMO

Identidade ritual e performance uma anaacutelise dos primeiros doisversos de Suplicantes de Eacutesquilo

A recitacatildeo que acompanha a marcha anapestica (v 1-39)que daacute iniacutecio agrave performance de Suplicantes de Eacutesquilo apresentadois dos trecircs componentes baacutesicos de um hino (Furley-Bremer2001) epiacuteklesis (v 1-3) e eucheacute (23-39) A epiacuteklesis indireta (Er-Stil v1-2) estabelece o contato entre os falantes ndash os Danaides quecompotildeem o coro ndash e o destinataacuterio divino ndash Zeus ndash dando agraverecitacatildeo um caraacuteter hiacutenico desde a primeira palavra Eacute umacomposicatildeo de dois versos extremamente simples a mencatildeo dodeus a quem o hino e dirigido seu epiacuteteto e o chamado da atencatildeoque apresenta o falante Nosso trabalho tenta demonstrar queapesar da brevidade da epiacuteklesis cada elemento condensa ossentidos fundamentais para a interpretacatildeo da ode inicial e damatriz ritual na qual a composicatildeo da obra se inscreve como umtodo

PALAVRAS-CHAVE

Ritual performance Suplicantes Eacutesquilo

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PARRY H The Lyric Poems of Greek Tragedy Toronto-Sarasota sn 1978

PICKARD-CAMBRIDGE AW The Dramatic Festivals of Athens Oxford sn1988

76

Identidad ritual y performance [hellip] | Maria del Pilar

REHM R Greek Tragic Theatre Theatre Production Studies London sn1992

SANDIN P Aeschylusrsquo Supplices Introduction and Commentary on v 1-523Goumlteborg sn 2003

SOMMERSTEIN AH Aeschylus Persians Seven against Thebes SuppliantsPrometheus Bound Cambridge Massachusetts London sn 2008

TAPLIN O The Stagecraft of Aeschylus the Dramatic Use of Exits andEntrances in Greek Tragedy Oxford sn 1977

TORRANO J Eacutesquilo tragedias Os persas Os sete contra Tebas As suplicantesPrometeu cadeeiro Satildeo Paulo sn 2009

VIacuteLCHEZ M Esquilo tragedias II Los siete contra Tebas Las suplicantesSalamanca sn 1999

WEST ML Greek Metre Oxford sn 1982

77

1 Este trabajo ha sido presentado como ponencia en las VIII Jornadas de EstudiosClaacutesicos y Medievales realizadas en la ciudad de La Plata durante los diacuteas 18 19 y20 de septiembre de 20172 FURLEY BREMER 20013 CALAME 19774 HENRICKS 1994-19955 SWIFT 20106 Parry (1978 p 50-51) la incluye dentro del grupo que denomina ldquomassiveodesrdquo constituido por aquellas que superan los cien versos ldquoThe grand-scaleodes are more spacious and more leisurely What they need and get is a broadsuperestructure one that a Greek audience would be well familiar with ndash thehymn or hymn derivative (hellip) Within this superestructure there is room forldquodigressionsrdquo to develop and we constantly savour exquisite descriptions andreflections ranging from the pathetic to the profoundrdquo (p 53) La observacionde Kitto (2011 p 4) tambien resulta interesante ldquothe ode one-sixth of thewhole play would take something like fifteen minutes in performance the timeof an ordinary symphony-movementrdquo7 Sobre su complexion y sus trajes baacuterbaros 120-122 = 131-133 234-237 432No descartamos la propuesta de Sandin (2003 37) quien sugiere la posibilidadde que la mitad o un tercio de las jovenes presentara indicios de pertenencia aun rango inferior y no cargara ramos de suplicante Estas servidoras de lasDanaides no seriacutean mencionadas hasta el final del drama (954 977) Sinembargo desde nuestro punto de vista su presencia no amerita su participacionen la ultima oda tal como se explica en el apartado I41 En cuanto a la cantidadde coreutas es improbable que hayan sido cincuenta tal como han sostenidoquienes consideraban a Suplicantes una obra primitiva Evidencia textual internaparece favorecer el numero de doce (204-224) Sobre el numero de miembrosdel coro Taplin (1977 437)8 Sobre anapestos de marcha West (1982 p 53-54) El metro se emplea siempreque la apertura del drama es llevada adelante por el coro Actualmente latendencia es aceptar que los anapestos de marcha eran generalmente recitativos(acompanados por el auloacutes) Segun Pickard-Cambridge (1988 p 160) ldquothis maybe taken as certain where they are uttered by the chorus as they enter theorchestra preceded by the flute player as at the beginning of Persae andSuppliants and in Agamemnon 40-130 or when they form an introduction to asung choral ode as in Persae 532-47hellip and Eumenides 307-20rdquo En algunasediciones o traducciones sin embargo se indica que el coro ldquocantardquo9 En el apartado II3 profundizamos sobre la configuracion empleo ysignificacion de los espacios escenicos en la obra 10 El texto no ofrece evidencia acerca del ingreso de Daacutenao y por lo tantopersisten las controversias en torno al momento exacto de este suceso escenicoUnos conjeturan que habriacutea llegado junto al coro (1) otros en el momento de suprimer discurso (176) La primera alternativa es la preferida de los criacuteticos en laactualidad -por ejemplo Taplin (1977 v 194) ndash aunque ya Mazon (1953 p 19)sugeriacutea que Daacutenao habriacutea ingresado ldquodans lrsquoorchestre derriegravere ses fillesrdquo y quehabriacutea permanecido parado en una colina durante la cancion mirando hacia elhorizonte Segun nuestro punto de vista Daacutenao habriacutea ingresado al mismotiempo que el coro pero detraacutes de el mostrando companiacutea y proteccion perosin acaparar la atencion central puesta en el coro femenino Finalizado elrecorrido de ingreso se habriacutea ubicado sobre la elevacion vigilando el mismosector de su ingreso es decir alerta a la posibilidad de peligro por la llegada desus perseguidores y divisando tambien el sector opuesto preparaacutendose para elverso 176 momento de su primera intervencion en que anuncia el arribo dehabitantes locales 11 Rhem (1992 p 66) ldquoBridging the gap between the heroic characters and thefifth century tragic costums and props often mirrored specific aspects ofAthenian ritual liferdquo Aelion (1983 p 16) describe el ritual de suplica y brinda

pruebas de su contemporaneidad para un espectador de la epoca con ejemploshistoricos de Herodoto y Tuciacutedides12 Cfr Aelion (1983 p 15-44) para la estructura dramaacutetica del patron de suplicaAdrados (1986 p 7-8) propone dos tipos baacutesicos para las tragedias quepresentan este motivo temaacutetico la ldquobinariardquo en la que el suplicante se refugia enun templo o realiza los gestos rituales dirigidos a su oponente y la ldquoternariardquoque encuentra maacutes habitual en la que junto al enemigo o perseguidor sepresenta al salvador La suplica en el primer caso ldquoentra plenamente en el juegoteatral es un recurso maacutes para hacer avanzar la accionrdquo pero ldquoes solo unelemento episodico nunca un elemento central en la pieza Solo cuando seintroduce la estructura ternaria es la suplica un elemento central (hellip) sobre todoporque con ello se cumple una exigencia del teatro la existencia de al menos unagoacuten en cada piezardquo (p 33) Lo esencial en el desarrollo dice Adrados ha sidoentonces ligar el tema de la suplica a los agones rituales tradicionales Segun estapropuesta Suplicantes resulta el exponente por excelencia de la tipologiacutea ternaria13 FURLEY BREMER 200114 FURLEY BREMER 2001 p 2 ldquoThe cult hymn is a form of worship directedtowards winning a godrsquos goodwill and securing his or her assistance or favourrdquo15 FURLEY BREMER 2001 p 3 ldquoHymns share many of the compositionalelements characteristic of prayers there is the same direct address of a deity thesame gesture of supplication and often the same express request for help orprotection A distinction may be possible here by considering both thecompositional elements of the two forms and their differing function inworshiprdquo16 FURLEY BREMER 2001 p 28-2917 La carencia de prologo ha sido uno de los argumentos maacutes poderosos a favorde la arcaicidad de la tragedia primero y luego de 1952 (ano en que se descubrioel pairo de Oxyrrinco que puso en cuestion la datacion de la tragedia) de suldquoespiacuteritu arcaizanterdquo Sin embargo es improbable que una apertura coral tuvierareminiscencias arcaicas en la epoca de la puesta en escena de Suplicantes YaGarvie ha demostrado que no hay razon para suponer que el inicio con lapaacuterodos haya sido necesariamente maacutes temprano que la utilizacion del prologopues tanto la funcion natural de una como del otro era expositiva explicar a laaudiencia la situacion dramaacutetica que seriacutea representada y los datos espacio-temporales de la puesta en escena Segun el anaacutelisis que hemos realizado de laoda su estilo narrativo y expositivo aunque no cronologicamente lineal puedecomprobarse en la parte liacuterica con la mencion de τὰ τε νῦν ἐπιδείξω πιστὰ

τεκμήρια (ldquomostrare pruebas confiables las de ahorardquo 52-53) cuya epexegesisconsistiraacute en el relato de la situacion actual de las Danaides Garvie (1969 p121) realiza un recorrido historico vinculado con el origen del prologo y detallael debate criacutetico en relacion a esta postura Asimismo compara la paacuterodos deSuplicantes con la de Los Persas tambien carente de prologo y con los prologosdel resto de las tragedias conservadas de Esquilo Para informacion maacutesactualizada del mismo autor sobre el mismo tema Garvie (2006b p 37) Furley-Bremer (2001 284) senalan que ldquoA prologue which sets out the pre-historymay seem Euripidean but one should not forget that of Aeschylus sevenpreserved tragedies there are four opening with an informative prologue SevenAgam Choe Eumrdquo Taplin (1977 p 194) aunque afirma que las razones parausar una apertura coral fueron dramaacuteticas maacutes que cronologicas opina que estaera una tecnica pasada de moda en los ultimos anos de la decada del 460 aC18 Los criacuteticos acuerdan en considerar que los primeros 39 versos en metroanapestico llevan adelante la funcion expositiva Cfr Hogan (1984 p 189)Viacutelchez (1999 p 86) Sandin (2003 p 36) Torrano (2009 p 239) entre otrosEsta division de la oda en dos partes es coherente con las definicionesaristotelicas de paacuterodos y staacutesimon Cfr Poeacutetica 1452b 22-2419 Efectivamente en Suplicantes tal como en Los persas el coro abre la obra consu canto de ingreso y como Eteocles en Siete contra Tebas u Orestes en Coeacuteforas laobra se inicia directamente con los protagonistas y el relato que ellos mismos

desde su punto de vista realizan de la situacion que padecen y que seraacute objetode la performance En cuanto al tratamiento del coro en Eumeacutenides y Suplicantestanto de Esquilo como de Euriacutepides y su diferencia del resto de las tragediasconservadas por tratarse de personajes principales cfr entre otros Nestle(1930 p 16) Para el caso particular de este coro Garvie (1969 p 106) ySommerstein (1996 p 158)20 El propio Pelasgo explica la diferencia entre la suplica en un altar publico yuno privado en v 365-36621 FURLEY BREMER 2001 p 277 ldquohymns of certain sorts can be used to createatmosphere by the playwright either to increase tension in an already fraughtsituation or as ironic backdrop against which the subsequent action unfoldscontrary to expectationrdquo En v 279 y ss los autores se ocupan de los ldquohimnosrdquode Suplicantes v 77-102 (Zeus) v 524-599 (Zeus) v 625-709 (Zeus y los dioseslocales) v 1018-1073 (Aacutertemis Afrodita y Zeus) pero se detienen en dospasajes v 77-102 y v 524-537 junto con v 590-600 En terminos generales losautores proponen (2001 p 285) ldquoThe term dramatic irony is not used often inAeschylean criticism But if the hypothesis sketched above about the plot of thistrilogy is correct then these hymns may have had an ironical effect at the firstperformance of this trilogyrdquo Como ha sido senalado previamente lasinterpretaciones de la tragedia que caen en el lugar comun de ampliar su lecturahacia las secuelas de la trilogiacutea resultan debiles ya que no se puede asegurar queobras habriacutean acompanado a esta tragedia y cuaacutel habriacutea sido su argumento Si elhimno inicial instala una ironiacutea proponemos interpretarla como propia de lanaturaleza inestable de quienes lo entonan22 FURLEY BREMER 2001 p 275 ldquoIn a way then a dramatic hymn is animpostor it is not a genuine cult hymn but rather an imitation of a cult hymnwritten for the fictional situation and performers of the playrdquohellip ldquoThe fictionalquality of hymns in drama and the mix they represent of genuine cult practiceand assimilation to the play mean that the playwright was free to draw ontraditional forms such as paians dithyrambs wedding songs etc in order toillustrate stages of a plays action but at the same time these traditional formshad to be adapted to their new dramatic settingrdquo (2001 p 276)23 Kavoulaki (2011 p 366) justifica muy acertadamente la ldquoconciencia deautoridad ritualrdquo de las Danaides En el artiacuteculo la autora analizaespeciacuteficamente los anapestos introductorios de la obra ldquohellip choral selfawareness of ritual authority is not a mere mannerism but represent well-planned strategies of influence and effectrdquo24 FURLEY-BREMER 2001 El patron de accion es reconocible en la tragedia porsu grado de acabamiento llegada procesional a un lugar sagrado invocacionesinvitacion a la interaccion a traves de los sentidos ritual hiacutemnico y el pedido maacutesimportante el de recepcion o aceptacion (v 27)25 En general la seccion cumple con los principios de eulogiacutea (mencion de losdominios y privilegios del dios) y eufemiacutea (con rechazo de expresionesinapropiadas) y se sirve de recursos tales como la hypoacutemnesis (recordatorionarrativo acerca de como el dios ayudo en una ocasion previa) la dieacutegesis (relatoparadigmaacutetico acerca del dios) yo la aretalogiacutea (cataacutelogo de los poderes yhazanas divinas ekphraacuteseis) para compeler al dios y asegurarse de que resultepropicio 26 Las causas de la alteracion son fundamentalmente dos por un lado dada lacarencia de prologo el movimiento escenico a traves de la paacuterodos hacia laorcheacutestra exige una explicacion dramaacutetica Por eso esta seccion pone su acento enla situacion de traacutensito es decir en el cambio espacial que representa la marchaanapestica Por otro lado la seccion insiste en un segundo cambio el decondicion social porque ligada a la referencia espacial se presenta lametamorfosis un grupo de mujeres vestidas exoticamente y con una aparienciafiacutesica ajena transforman su barbarismo en pertenencia a traves de la praacutectica delritual griego de suplica

27 FURLEY BREMER 2001 p 1 Los autores aclaran que la manera en que serealiza este abordaje del destinatario resulta indiferente para la distincion delgenero El himno puede dirigirse a un dios de manera directa (Du-Stil) indirecta(Er-Stil) o a traves del anuncio en primera persona Para su definicion parten dePlaton (Leg 700b1-5) que da el primer indicio de una taxonomiacutea antigua de lacancion coral Luego toman la clasificacion alejandrina de Proclofundamentalmente pragmaacutetica o funcional ya que tiene en cuentaprimordialmente el contexto de la performance (cfr 2001 11 y ss) 28 El verso 175 configura el cierre de la composicion anular ὑψόθεν δ᾽ εὖ κλύοικαλούμενος (Ojalaacute que desde arriba escuche propiciamente cuando es invocado)29 La cita del texto es de la edicion de Sommerstein (2008 p 290)30 La traduccion del texto es personal31 CUZZI 1970 p 73 p 85 Friis Johansen-Wittle (1980) ad v 1) ldquoZeus ἀ φί κτωρis not an attested cult-title but belongs among numerous Aeschylean creationsinvented on the analogy of existing cult- names of various typesrdquo Cfr tambienSandin (2003 ad 1 p 39) quien senala que el sufijo ndashωρ es mucho maacutes fuerteque el -ιος de uso frecuente que indica simplemente que el dios estaacute conectadocon alguna actividad El sufijo elegido por Esquilo estariacutea marcando unaactividad tambien desempenada por Zeus por eso esta podriacutea ser consideradaen sentido amplio ldquoel que llegardquo Asiacute Zeus es protector de quienes llegan eneste caso como suplicantes 32 Este uso puede observarse en los v 347 360 616 Se retoma el neologismodel primer verso en v 385 y 478-479 ἱκνέομαι usualmente se usa en el sentidode ldquosuplicarrdquo tanto en la epica homerica como en el drama (LSJ 826)33 La mencion de Zeus refleja la hibridez cultural ya que se lo invocaperteneciendo a dos espacios geograacuteficos el de origen y el de destino (cfr v 1 yv 4-5) Respecto de Egipto como la ldquoregion de Zeusrdquo (v 4-5) Sommerstein(2008 p 292) senala ldquoEgypt could be so called because it contained the famousoracle of Zeus Ammon at Siwwa but to the Danaids it is more important thatEgypt was the place where Zeus miraculously begot their ancestor Epaphusrdquo34 FERNAacuteNDEZ DEAGUSTINI 2011 p 77 ldquoEn el mundo griego antiguo regidopor valores competitivos y cooperativos ser miembro de un grupo es lo queconferiacutea y determinaba el status y la posicion de un individuo en la escala dehonor y definiacutea su rol en la sociedad La posesion y conciencia de este rol (tantode parte del posesor como de los otros miembros del grupo) proveiacutea los iacutendicesde conducta esperada sin los cuales la continuidad y estabilidad de la sociedadse veiacutea amenazada De alliacute que el ξένος el outsider el que ldquono pertenecerdquo fueraen principio un sujeto sin rol sin derechos ni obligaciones que ignoraba comoconducirse con el cual tampoco sabiacutean comportarse los miembros del grupoEn consecuencia la conducta institucionalizada que regiacutea el comportamientoadecuado del ξένος (sustantivo que designaba a la vez al hospedado y alanfitrion) proveiacutea de reglas y patrones de expectativa que permitiacutean lacoexistencia entre aquellos que no eran del mismo grupo De este modo lasinstituciones griegas conocidas como ξενία y ἱκετεία constituiacutean un poderosofactor que manteniacutea las tensiones entre grupo e individuo dentro de liacutemitestolerablesrdquo El artiacuteculo citado observa la definicion de los personajes deSuplicantes fuera o dentro de la red social que propone el espacio escenico deArgos a partir de los datos que ofrece la ldquodeixis socialrdquo (Fillmore 1971) Por suparte Dobiacuteas-Lalou (2001 passim) considera ἀφίκτωρ a partir de la idea deintegracion social y lo analiza en relacion con la repeticion en el v 241 en bocade Pelasgo Para la autora no se trata de un ldquoZeus Suplicanterdquo sino de unldquoZeus de los Suplicantesrdquo Apoyada en el examen de los tres constituyentesmorfologicos del termino (preverbio tema verbal y morfema de sustantivoagente) y de las fuentes epigraacuteficas Dobiacuteas- Lalou concluye que (p 614) ldquoDesinscriptions de Cyregravene et de Lindos font connaicirctre agrave lactif et au passif le verbeἀφικετεύω lsquosortir de letat de supplication reintegrer dans une communautecivique lsquo tandis quagrave Cnide le rituel est decrit comme ἀφικετεία On en deduitque Zeus est invoque comme laquo celui qui reintegravegre les lsquosuppliantsrsquo (v 1) et que lepluriel du v 241 designe lensemble des θεοὶἀγωνίοι qui avec Zeus vontparticiper agrave cette delivrance Lintervention lsquopoetiquersquo dEschyle doit consister en

deux traits archaiumlques lemploi de la base ἱκ- au lieu d ἱκετευ- et le recours ausuffixe ndashτωρrdquo35 KAVOULAKI 2011 p 380 ldquoZeus the first word in the play seems neutral butthe epithet ἀφίκτωρ by wich he is invoked (another ad hoc formed noun) bringsto the foreground the very fact of the chorus ἄφιξις (arrival) wich is intimatelyconnected with the third (main) word of the sentence the form ἐπίδοιrdquo36 FLORES 2007 p 89 El subrayado corresponde a la autora quien luegoampliacutea ldquoEstudios actuales sobre el lenguaje realizados por Lakoff y Johnsonrevelan el sentido profundo de ciertas estructuras linguumliacutesticas que en realidadrepresentan estructuras de la menterdquo son las ldquometaacuteforas orientacionalesrdquo (200791) ldquohellip se puede indicar que ἐ πί para Esquilo indica mucho maacutes que unaorientacion espacial de los dioses senala una forma de ver diferente de lahumana Mirar desde arriba maacutes allaacute de la raiacutez etimologica de cada verboἀφοράω ἐφορεύω ἐπισκοπέω ἀποπάω ἐποπτεύω es mirar con la fuerza vitalidadintensidad lucidez clarividencia bondad inteligencia virtud y punto de vista deun diosrdquo (2007 p 93)37 FLORES 2007 p 97 De hecho dentro de la taxonomiacutea verbal que la autorapropone incluye ἐφοράω dentro de la categoriacutea ldquolos dioses miran juzgandordquo38 KAVOULAKI 2011 p 380 ldquoby inviting the sight of the god the chorusunderline their coming to sight their spectacular appearancerdquo39 RHEM 1992 p 47 ldquoThe process is one in which the audience shifts from theimmediate dramatic situation to the larger world of the play and then movesbeyond it constantly negotiating different levels and formulating responsesappropriate to them inspired by (but hardly bound to) the initial commitmentto dramatic illusionrdquo Esta participacion de la audiencia es la que permite inferirinterpretaciones ironicas ambiguas contradictorias anticipatorias oretrospectivas de diferentes momentos de la obra40 Acepcion dada por el diccionario de la Real Academia Espanola en wwwraees41 El impacto se produce tanto sobre el espectador externo como sobre elinterno es decir Pelasgo Cfr II2342 LSJ 1540 ldquokindly earnestly Prop with forward mindrdquo43 CHANTRAINE 1968 p 122744 Sobre el lexico egipcio en Suplicantes Adrados (1999 passim)45 En el v 27 que da comienzo a la eucheacute el pedido a los dioses seraacute que aceptenesta condicion que evidentemente no les es propia δέξασθ ἱκέτην τὸνθηλυγενῆ στόλον αἰδοίῳ πνεύματι χώρας (Admitid como suplicante a esta femeninaformacioacuten con el aire reverencial de esta tierra) Ademaacutes la eucheacute recupera en este versoun termino que cobra especial sentido en la tragedia στόλον46 Johansen-Witttle (1980) entienden στόλον en sentido poliacutetico como terminoderivado de στάσις De este modo στασίαρχος (v 11) resulta ser en supropuesta de traduccion ldquoleader or originator of seditionrdquo) Sandin (2003 ad 11p 45) marca que en el griego claacutesico στάσις en su sentido poliacutetico no significasedicion sino ldquodiscord faction party strife or even civil warrdquo Para Sandinστασι- se refiere al hecho de que Daacutenao y sus hijas han roto sus lazos con sufamilia en Egipto y que por eso se ha iniciado una discordia Sommerstein(2008 p 293) traduce στασίαρχος como ldquooriginator of civil striferdquo La posicionde Kavoulaki (2011 p 377) resulta maacutes atinada en tanto no le confiere unsignificado poliacutetico sino de ocasion especiacutefica pues senala que el termino στάσιςestaacute vinculado a la actividad coral y a la formacion en particular Por eso para laautora ldquothe general usage of the word stasis in choral contexts seems to justifyits choice at this ritually important moment when the chorus qua chorus and atthe same time as a band of parthenoi is solemnly approaching a religious locus (1v 189-90) carrying the ritual symbols of supplication (v 21-22) and invokingthe gods (Zeus and others 1 23-26) with the obvious intention of taking uptheir positions to sing and dance (v 40-175) a hymn and prayer to gods andheroes and particularly to Zeushelliprdquo

47 KAVOULAKI 2011 p 38448 LSJ 1648 y Chantraine (1968 p 1050) ldquoCette famille de mots issue drsquouneracine exprimant une notion simple ldquoarranger preparerrdquo a eclate avec des senstregraves divershelliprdquo Si bien entre estos sentidos posibles Chantraine consigna στόλοςcomo ldquoexpedicionrdquo no se concentra en el examen de este vocablo Lo que debedestacarse de su anaacutelisis etimologico es sin dudas la afirmacion de que la raiacutez deesta familia supone la idea de ldquoprepararrdquo idea que se respeta en nuestrasugerencia de interpretacion del termino como ldquoformacion coralrdquo49 Por eso στόλον puede traducirse como ldquoequipamientordquo si se resalta el objetoldquoexpedicionrdquo o ldquomisionrdquo si el acento se pone en la accion y ldquotropardquo o ldquobandardquosi se hace hincapie en el sujeto 50 Es necesario resaltar el hecho de que el v 11 constituye tambien la primeravez que las jovenes aportan un dato identificatorio especiacutefico respecto de ellasEn este sentido la eleccion de στασίαρχος compuesto de στάσις (que compartel a raiacutez de στόλον) y ἄρχων ilumina el rol crucial de Daacutenao como liacuteder einstructor del coro tesis que desarrolla Kavoulaki (2011) en el artiacuteculo citado51 GOULD 1973 p 91 52 Esta posicion se revierte maacutes tarde (v 169) cuando el tiempo transcurrido y ladesesperacion invierten los roles de agente y paciente

Caliope Presenca Classica | 20172 Ano XXXIV Numero 34

O Filebo prazer e intelecto emconfrontoSimone de O Goncalves Bondarczuk

RESUMO

O dialogo Filebo durante muito tempo foi deixado de lado pelatradicatildeo dos estudos platocircnicos por ser um dialogo tematicamentecomplexo tendo em vista a sua aparente falta de unidade o quelevou a tendecircncia dos inteacuterpretes e comentadores seja naAntiguidade ou nos dias atuais a se concentrarem em apenas umdos aspectos da obra o metafisico ou o eacutetico No entanto nosultimos trinta anos o interesse por esse dialogo reviveu com forcae a sua pertinecircncia para uma compreensatildeo mais global dopensamento teoacuterico de Platatildeo foi finalmente reconhecida Opresente artigo pretende introduzir o leitor nas questotildees centraisdo dialogo e problematizar as controveacutersias em torno do mesmoSeria a vida dedicada ao prazer eou a vida dedicada agrave reflexatildeocentrais para a constituicatildeo de uma vida feliz Ou seria uma mesclaentre essas duas vidas Qual a relacatildeo dessa escolha com a questatildeoteleoloacutegica do Bem em Platatildeo

PALAVRAS-CHAVE

Filebo dialogos socraticos prazer intelecto o Bem

SUBMISSAtildeO 28 dez 2017 | PUBLICACcedilAtildeO 31 dez 2017

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O Filebo prazer e intelecto em confronto | Simone de O Goncalves Bondarczuk

dialogo Fi l ebo de Platatildeo pela sua complexidadetematica e beleza provocou tantos questionamentosna Antiguidade como suscita ainda nos dias atuais aopartir de uma questatildeo simples mas assaz relevante seo prazer e os seus congecircneres satildeo bons ou o Bem ouao inveacutes se o Bem se constitui na reflexatildeo e nasatividades relacionadas com a mesma ou talvez obem seria uma terceira via uma espeacutecie de amalgamaentre os dois Natildeo menos interessante do que o temado ponto-de-vista formal a sua estrutura dialoacutegica traza lembranca os primeiros dialogos socraticos em que oeacutelenkhos em sua dinamicidade potildee em movimento oargumento central e segue agrave risca a via da dialeacuteticaconvidando os primeiros receptores1 e os leitores

modernos a se engajarem de um modo ativo no debate Antes de tudo o dialogo eacute uma contenda dramatica entre

prazer e reflexatildeo no qual outras questotildees relacionadas vatildeo sendoentrelacadas como a questatildeo do Uno e do Multiplo - como sepode chamar por um unico nome geneacuterico prazer umamultiplicidade de prazeres aparentemente dessemelhantes entre si eo mesmo argumento poderia servir para os conhecimentos outraquestatildeo surge em decorrecircncia dessas a necessidade de seestabelecer categorias ontoloacutegicas para definir o prazer e asatividades relacionadas agrave reflexatildeo a saber o limite o ilimitado amistura e causa da mistura e ainda como tudo isso se relacionacom o projeto ontoloacutegico de Platatildeo a respeito do Bem

O dialogo potildee em tensatildeo todas essas questotildees e nos eacuteapresentado como uma peca dialeacutetica com passos tatildeo belos quantoenigmaticos Como consequecircncia disso o dialogo apresenta umaaparente falta de unidade tematica que durante muito tempo foium empecilho para uma interpretacatildeo ampla e integradora dodialogo na sua relacatildeo com o corpus platocircnico O tema do dialogo eacuteo prazer ou a vida de reflexatildeo ou o Bem ou ainda seria sobreuma vida mista entre as duas como sendo a mais feliz

A importacircncia desses temas em relacatildeo ao conjunto daobra de Platatildeo sobretudo pelas questotildees metafisicas e eacuteticas

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O

Caliope Presenca Classica | 20172 Ano XXXIV Numero 34

postas em relevo em sua articulacatildeo com todo o pensamentoplatocircnico sobre o Bem permitiu que os ultimos trinta anosassistissem a um renascimento da parte dos especialistas de seuestudo

Tendo em vista essa polecircmica em relacatildeo agrave unidadetematica o esquema de divisatildeo do dialogo ja foi apresentado dediversas formas2 segundo minha proposta pode ser estruturadoda seguinte maneira

1 Parte I Introducatildeo (11a-14b)a) As duas teses em disputa a vida boa ou o Bem consiste navida centrada no prazer e seus congecircneres ou na vidacentrada na reflexatildeo e nas coisas afins a essa (opiniatildeo corretae calculo racional)b) A vida feliz eacute resultante da disposicatildeo e da propriedade daalma haveria um terceiro estado superior a esses doisprimeirosc) A proposta de uma via intermediaria o Bem eacute o prazer areflexatildeo ou ainda haveria uma terceira possibilidade (14b)

2 Parte II A estrutura metafisica da realidade e o meacutetododialeacutetico da divisatildeo (14c-20b)a) O problema do Uno e do Multiplo em sua versatildeo maisbanalizada (14c-14e)b) As trecircs aporias sobre o Uno e o Multiplo a definicatildeo dadialeacutetica e o seu meacutetodo de divisatildeo como solucatildeo para asaporias (15a-17a) c) Os exemplos de limite e ilimitado as letras articuladas(fonemas) e as notas musicais (17a-18d)d) A proposta de aplicacatildeo da distincatildeo Uno-multiplo aoprazer e agrave reflexatildeo (18d-20b)e) Protarco sugere uma ldquosegunda rota de navegacatildeordquo pararepreender Soacutecrates (20andashb)

3 Parte III O discurso salvo por uma memoacuteria divinaa) Nem o prazer nem a reflexatildeo satildeo o Bem mas uma terceiracoisa diferente dessas duas e superior a ambas (20b-c)b) A definicatildeo do Bem os seus requisitos ndash suficienteperfeito e digno de escolha (20b)c) A aplicacatildeo desses requisitos agrave vida de prazer e de reflexatildeo(20c-22b)

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O Filebo prazer e intelecto em confronto | Simone de O Goncalves Bondarczuk

d) Trecircs vidas foram propostas mas nenhuma das duasprimeiras eacute suficiente e nem digna de escolha A vida mistaganha o primeiro precircmio (22b-23b)

4 Parte IV A necessidade de outro mecanismo (mekhaneacute) paraargumentar a favor do segundo precircmio (23c-31b)a) A definicatildeo dos quatro gecircneros ou espeacutecies nas quais sedivide tudo que ha no universo o limite o ilimitado a misturae a causa da mistura (23c-27c)b) A vida vitoriosa faz parte do terceiro gecircnero da mistura(27c-28b)c) Teleologia coacutesmica e a inteligecircncia (noucircs) como ldquorainha doceacuteu e da terrardquo (28c-29a)d) A alma do mundo possui sabedoria e inteligecircnciapertencentes ao gecircnero da causa que ordenam e regem todasas coisas (29a-31b)e) A inteligecircncia (noucircs) portanto pertence ao gecircnero da causa

5 Parte V O exame dos prazeres a sensacatildeo a memoacuteria e odesejo (31b-55c) a) A fisiologia do prazer dor e prazer como um parindissoluvel (31b-32b)b) A psicologia do prazer a reminiscecircncia (32b-34c)c) O desejo ou apetite por alguma coisa pertence agrave alma (34c-35d)d) O desejo da alma o tipo de vida correto e o prazer comoantecipacatildeo (35d-36c)e) Prazeres verdadeiros e falsos (36c-38c)f) Percepcatildeo aparente e real pensamento opiniatildeo e discurso(38c-40c)g) Os estados afetivos tecircm conteudo proposicional (40e-43b)h) O prazer natildeo se identifica com a cessacatildeo da dor (43c-46a)i) Os prazeres mesclados com dores (46a-50e)j) Os prazeres puros sem mistura com dor os prazeressensoriais a beleza das figuras os sons os aromas e osprazeres da aprendizagem (50e-53c)k) Conclusatildeo o prazer eacute um vir a ser (53c-55c)

6 Parte VI Exame do conhecimento os conhecimentos asartes e seu grau de exatidatildeo A superioridade da filosofia(55c-64c)a) Os conhecimentos e as artes com distintos graus deexatidatildeo e de pureza (55c-57e)

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b) A filosofia eacute superior a qualquer outro conhecimento ouarte (57e-59d)c) O Bem eacute a vida que consiste em uma mescla de sabedoria eprazeres puros (59e-64c)

7 Parte VII Os ingredientes eideacuteticos do Bem o posto doscandidatos na competecircncia pelo bem e a conclusatildeo (64c-67b)a) Beleza proporcatildeo medida e verdade como ingredienteseideacuteticos imprescindiveis ao Bem (64c -65e)b) A ldquotabela das posicotildees finaisrdquo na competicatildeo pelo Bem (i)a medida o mesuravel e o oportuno (ii) o proporcional e obelo o perfeito e o suficiente (iii) a inteligecircncia e a reflexatildeo(iv) conhecimentos artes e opiniotildees corretas (v) prazerescarentes de dor isto eacute prazeres ldquopurosrdquo (66a-66d)c) Conclusatildeo do dialogo se provou inteiramente pelodiscurso que era injustificada a pretensatildeo tanto do prazer quanto dainteligecircncia de ser o Bem em si mesmo por natildeo preencherem os trecircsrequisitos autonomia suficiecircncia e perfeicatildeo Entretantoexiste um prazer superior aos fisicos fruto da paixatildeo pelosdiscursos oraculares inspirados pela musa filosoacutefica (66d-67b)

A primeira grande subdivisatildeo do dialogo (partes I a IV)

refere-se ao procedimento dialeacutetico e portanto ela se reveste deuma importacircncia unica para a compreensatildeo da dialeacutetica a ponto deGadamer3 afirmar ldquoafinal de contas em nenhum outro dialogoplatocircnico a teoria da dialeacutetica esta tatildeo estreitamente enredada coma pratica da dialeacutetica como alirdquo4

Em consonacircncia com esse argumento Gill5 defende a tesede que a forma do dialogo acentua o necessario vinculo entreengajamento cooperativo de ambas as partes e o exerciciodialeacutetico rumo a uma compreensatildeo mais aprofundada dasrealidades e do Bem Aleacutem disso ele afirma que nessa perspectivao Filebo seria excepcional pela importacircncia que atribui a essascaracteristicas para o aperfeicoamento de toda a discussatildeo Aecircnfase nessas caracteristicas explicaria porque Soacutecrates nessedialogo tem de introduzir teoricamente o meacutetodo dialeacutetico comoum caminho para superar a primeira aporia surgida com a aparenteunidade (14a-e) recolhida e evidenciada no nome lsquoprazerrsquo e a

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multiplicidade de prazeres muitas vezes ateacute mesmo contrariosentre si Superar a afirmacatildeo surpreendente e paradoxal de que ldquoomultiplo eacute unordquo (ἓν τὰ πολλὰ εἶναι) e a afirmacatildeo de que ldquoo uno eacutemultiplordquo (καὶ τὸ ἓν πολλὰ) por meio do discurso apresenta-secomo o grande desafio Entretanto Soacutecrates tentara mostrar aProtarco que esse desafio soacute pode ser superado pelo exercicio dadialeacutetica pois a eristica praticada pelos sofistas natildeo podeadequadamente dar conta dele

Na segunda grande subdivisatildeo tematica (nas partes V e VI)Soacutecrates argumenta que incluira todos os conhecimentos namistura em busca da vida feliz mas apenas alguns prazeres osprazeres puros (da vida teoreacutetica e dos sentidos puros) aqueles quenatildeo foram misturados com dor e que satildeo verdadeiros por natildeoinduzirem ao engano Esses correspondem aos prazeres esteacuteticosde certos perfumes de algumas vozes claras das cores puras e dasformas geomeacutetricas e tambeacutem os prazeres intelectuais daaprendizagem e da investigacatildeo disciplinada e os prazeres eacuteticosque seguem as virtudes

Nos prazeres puros o que se desfruta eacute uma experiecircncia danatureza do belo e daquilo que eacute atrativo em si mesmo6

independente de um estado de tensatildeo que busque somente alivio(51c 6-7) eles ainda estatildeo relacionados agrave claridade agrave precisatildeo e agraveverdade Os prazeres impuros por sua vez possuem um lacoindissoluvel com a dor que Platatildeo procura ressaltar por meio douso de varias particulas e construcotildees com particulas - τε καὶ e δὲκαὶ - aleacutem do uso do adveacuterbio haacutema (simultaneamente) para enfatizaressa conexatildeo estreita

O prazer autecircntico eacute bom em si mesmo por natureza ouenquanto medido ou limitado pela razatildeo calculadora Platatildeo longede rechacar o prazer corporal de forma arbitraria como uminimigo procura integra-lo a vida feliz sempre que estaacompanhado pela inteligecircncia (noucircs) que pode prescrever lhe amedida adequada Comprova-se mais uma vez que a medida e aproporcatildeo salvam o prazer e o integram no conjunto de uma vidaplena A defesa da sabedoria acerca dos calculos dos prazeres

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autecircnticos da vida leva a conclusatildeo de que o sabio (sophoacutes) eacute ohomem mais feliz

O que chama atencatildeo no desenvolvimento do tema eacute ofato de desde o inicio Soacutecrates propor uma terceira via alternativapara definir qual seria a vida mais feliz e que por isso se constituiriano Bem e continuar insistindo nessa ideia ao longo do dialogo Ainsistecircncia em tal possibilidade leva a necessidade doestabelecimento de categorias ontoloacutegicas nas quais se possaincluir essa vida misturada de prazeres e atividades do intelectoPor fim a conclusatildeo sera que o Bem eacute a vida que consiste em umamescla de sabedoria e prazeres puros (Filebo 59e-64c)

Esses indicios na linha de desenvolvimento do tema nosfaz pensar que o propoacutesito ou intencatildeo visado por Platatildeo nodialogo em questatildeo seja definir os horizontes dessa vida mistadentro do escopo do seu projeto ontoloacutegico sobre o Bem

A DATACcedilAtildeO DO DIAacuteLOGO E A GEcircNESE DO TEMA

Em relacatildeo a sua posicatildeo no corpus platonicum pode-sedizer que ha um consenso entre os especialistas sobre o Filebo tersido composto nas ultimas duas deacutecadas da vida de Platatildeo e fazerparte do seguinte conjunto de dialogos Sofista Poliacutetico FileboTimeu Criacutetias e Leis Os dois primeiros nomes da lista satildeoseguramente anteriores aos outros e as Leis o ultimo O Criacutetiastem uma relacatildeo de continuidade com o Timeu e a posicatildeo doFilebo eacute incerta ou teria sido escrito entre o Poliacutetico e o Timeu ouentre Criacutetias e Leis e ainda haveria a possibilidade de algumaconcomitacircncia Quanto agraves possiveis datas os anos de 368 e 367aC seriam um terminus a quo para os seis dialogos no entanto eacutedificil de determinar uma data precisa para qualquer um deles7

Dessa forma o Filebo teria sido escrito entre duas trilogiassupostas de Platatildeo a primeira Sofista Poliacutetico e Filoacutesofo - o ultimonatildeo foi escrito mas anunciado - e a segunda Timeu Criacutetias eHermoacutecrates esse ultimo tambeacutem natildeo escrito Outra possibilidade eacuteque tivesse sido escrito depois da segunda trilogia e antes das LeisParticularmente essa eacute a posicatildeo assumida por Hackforth8 natildeo

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como uma certeza mas pela possibilidade de dar conta de uma dascaracteristicas mais singulares do Filebo a completa ausecircncia dereferecircncias politicas e num momento que se sabe que Platatildeo estariaenvolvido em um projeto politico concreto de estabelecer naSicilia na corte de Dionisio a sua Republica ideal Nas palavrasdesse estudioso

Soacutecrates e seus interlocutores discutem o bem para o homemcomo individuo e natildeo como membro da comunidade isso eacutesurpreendente no autor da Repuacuteblica Poliacutetico e Leis e pode serconsiderado como refletindo uma separacatildeo deliberada daespeculacatildeo politica que melhor se encaixa nos anos de 360-354 do que em qualquer outro periodo das ultimas duasdeacutecadas da vida de Platatildeo (Traducatildeo nossa)9

Essa pausa na especulacatildeo politica ao qual se refere natildeodeve representar uma interrupcatildeo mesmo momentacircnea noprojeto filosoacutefico de Platatildeo como Hackforth da a entender emparticular definindo o dialogo em questatildeo com a expressatildeo umpiegravece drsquooccasion Em seu entender a obra marcaria uma espeacutecie deinterrupcatildeo tematica na sequecircncia dos dialogos platocircnicospressupondo que a sequencialidade da escritura seja umaprerrogativa do filosoacutefico Uma abordagem historicista neste casonatildeo ajuda a entender a gecircnese da obra e ateacute mesmo parecerestringir o projeto do filoacutesofo no qual a dimensatildeo politica natildeo semostra dissociada de sua dimensatildeo ontoloacutegica

Em minha opiniatildeo deve-se ter em mente o tempo todoque o escopo de toda a obra de Platatildeo aponta invariavelmentepara o Bem embora os propoacutesitos ou intencotildees dos dialogosindividualmente parecam estar sempre em tensatildeo dialeacutetica entre sigirando em torno de assuntos variados Portanto a questatildeo doprazer tem de ter alguma relacatildeo com o Bem e a vida feliz e ainvestigacatildeo para determinar o seu lugar na vida do filoacutesofo natildeoesta em desarmonia com o projeto de Platatildeo em um momentoespecifico ou eacute um tema secundario mas encontra ecos anterioresnos dialogos Goacutergias na Repuacuteblica e tambeacutem no Banquete

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Segundo Boeri10 Platatildeo parece ter se sentido particularmente comprometidode dar um lugar ao prazer na vida boa e principalmente emdemonstrar a sua importacircncia para a vida do filoacutesofo como oprazer contribuiria para a ascensatildeo ao Bem Se levassemos agrave riscauma leitura asceacutetica do platonismo o prazer teria pouca ounenhuma importacircncia em uma vida teoreacutetica no entanto como sepode contemplar a beleza do Bem sem a contemplacatildeo da belezasensivel dos corpos que visa o prazer como se diz no BanquetePortanto uma leitura rigorosamente asceacutetica natildeo parece condizercom varios passos de outros dialogos como se procurara mostrarA via dialeacutetica natildeo eacute uma via racional e arida e Platatildeo estaparticularmente comprometido em demostrar issoSoacute para citar alguns exemplos do corpus platocircnico no Goacutergias opersonagem Soacutecrates conduz a discussatildeo sobre o prazer daseguinte forma logo depois de Calicles ter afirmado que o homemfeliz seria o que se entregasse a todos os prazeresindiscriminadamente

SoacutecratesFui eu que conduzi a discussatildeo para estes temas meu caro oufoi aquele que com todo o embaraco afirmou que afelicidade consiste no prazer de qualquer ordem semdistinguir entre bons e maus prazeres Pergunto-te mais umavez se em tua opiniatildeo o prazer e o bem satildeo uma e amesma coisa ou se haacute prazeres que natildeo satildeo bons

CaliclesSe te dissesse que eram coisas diferentes entraria emcontradicatildeo com as afirmacotildees que ja fiz Mantenhoportanto que satildeo a mesma coisa

SoacutecratesDas cabo de tudo o que assentamos Calicles e natildeo poderasrealizar comigo uma investigacatildeo correta da verdade se tepotildees a falar contra o teu proacuteprio pensamento

CaliclesExatamente como tu fazes Soacutecrates

Soacutecrates

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Se isso eacute verdade faco tatildeo mal como tu Mas reflete meucaro que talvez o Bem natildeo se identifique com toda aespeacutecie de prazer A ser assim verificar-se-iam asconsequecircncias vergonhosas a que ha pouco aludi e muitomais (494 e 10 ndash 495 a e b 2 Grifos nossos)11

Soacutecrates ao questionar nessa passagem se o prazer e o bemsatildeo uma e a mesma coisa ou se haacute prazeres que natildeo satildeo bons propotildee naverdade uma discussatildeo ou revisatildeo sobre a ontologia do Bem ouuma agatologia que no Filebo assumira inicialmente a forma de umaontologia de uma vida boa12 na qual o prazer deve ser parteconstituinte

Da mesma forma tambeacutem com essa afirmacatildeo de quetalvez o Bem natildeo se identifique com todo tipo de prazer ele aponta para anecessidade de examinar a questatildeo mais a fundo propondo nasentrelinhas a necessidade de submeter o prazer a uma divisatildeo e deuma classificacatildeo dos prazeres para melhor compreender em quemedida ele eacute o Bem No entanto Soacutecrates natildeo daraprosseguimento a essa investigacatildeo ao longo desse mesmo dialogomas antecipa um esboco de uma tese sobre as espeacutecies de prazeresque sera retomada e desenvolvida no Filebo Pode-se constatar tambeacutem na Repuacuteblica 505b a importacircncia dotema ao examinarmos o seguinte excerto

Se natildeo a conhecemos e agrave parte essa ideia conhecermos tudoque ha sabe que de nada nos serve da mesma maneira quenada possuimos se natildeo tivermos o bem Ou julgas que vale demuito possuir qualquer coisa que seja se ela natildeo for boa Ouconhecer tudo o mais exceto o bem e natildeo conhecernada de belo e bom

ndash Por Zeus que natildeondash Mas na verdade sabes tambeacutem que para a

maioria (hoi polloiacute) eacute o prazer que se identifica com o bem aopasso que para os mais requintados (kompsoteacuteroi) eacute o saber

ndash Pois natildeondash E os que assim pensam meu amigo natildeo satildeo

capazes de explicar o saber mas acabam por ser forcados adizer que eacute o saber do bem

ndash Coisa que eacute bem ridicula[]

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ndash E agora os que definem o bem com prazer estatildeomenos eivados de erros do que os outros Ou natildeo satildeotambeacutem eles forcados a concordar que ha prazeres maus

ndash Seguramente que sim

Nesse passo segundo Soacutecrates existe portanto umaopiniatildeo ja estabelecida pelo senso comum (hoi polloiacute) de que oprazer se identifica com o Bem enquanto para os maisrequintados ele se identifica com o saber Essa primeira oposicatildeosuperficial levara a outra mais fundamental que integra um dosnucleos da metafisica platocircnica - a questatildeo do Uno e do Multiplo ndashporque a essecircncia do Bem natildeo pode ser dupla mas uma ou unapor isso tera que se decidir entre as duas alternativas ou umaterceira que se aproxime mais do Bem Em outras palavras o queele persegue eacute como conciliar e fundamentar filosoficamente arelacatildeo do Uno e do Multiplo com o Bem toacutepico esse quetambeacutem natildeo desenvolve na Repuacuteblica

O Banquete por sua vez deveria ter uma relacatildeo importantecom o tema do prazer uma vez que trata do mito de Eros em suarelacatildeo com Afrodite que explicitamente eacute chamada de prazer noFilebo Essa relacatildeo talvez pouco evidente do ponto de vistateoreacutetico natildeo me parece de menos importacircncia hermenecircutica Aquestatildeo eacute definir ateacute que ponto pode-se estender a analogia domito de Eros e Afrodite ao tema do prazer e do conhecimentocomo eacute apresentado no Filebo que embora tenha sido consideradocomo um dialogo eacutetico por muitos claramente se mostrou comoestando inserido no plano ontoloacutegico de Platatildeo em relacatildeo aoBem13

No entanto o Banquete natildeo eacute considerado um dialogo detema ontoloacutegico mas natildeo deveria passar despercebido que Platatildeoali estabelece uma categoria nova de existir no mundo ndash expressano uso da preposicatildeo metaxyacute ndash uma posicatildeo intermediaria entredeuses e homens a posicatildeo do daiacutemon a mesma de Eros a mesmado filoacutesofo e de Soacutecrates essa nova categoria do ponto de vistaepistemoloacutegico ainda pode ser entendida como qualquer coisaentre a sabedoria e a ignoracircncia definida por Diotima como oopinar corretamente (tograve orthagrave doxaacutexein)

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Tal posicatildeo eacute definivel em termos de participacatildeo O mito diz queEros tanto eacute rico em expedientes como eacute indigente a ponto deestar sempre na falta de alguma coisa dor e prazer se enlacamnecessariamente no movimento de Eros mas natildeo de modonegativo pois a dor da falta eacute que impulsiona ao desejo depreenchimento Por outro lado no Filebo Soacutecrates retorna a esseponto ao falar dos prazeres puros incluindo nessa categoria osprazeres do aprendizado e procura purifica-los desse aspectodoloroso O filoacutesofo leva Protarco a concluir que se algueacutem forprivado desses ensinamentos natildeo sentira de modo natural dor porcausa dessa perda mas apenas ao raciocinar sobre essaexperiecircncia Ou seja ele procura separar a experiecircncia pura doaprendizado (χωρὶς τοῦ λογισμοῦ) como uma experiecircnciaprazerosa em si14

Ademais Diotima levanta uma importante questatildeo emrelacatildeo ao opinar corretamente como pode um aacutelogon pracircgma serciecircncia por um lado mas como pode ser ignoracircncia (natildeoconhecimento) se ao mesmo tempo recolhe o ser (toucirc oacutentos) Esseestatuto ontoloacutegico estabelecido por Platatildeo deixa em aberto agravequestatildeo do prazer pois esse mesmo sendo movimento e geracatildeonatildeo suficiente em si mesmo natildeo poderia ser um bem mas comovir a ser vem a ser a partir de alguma coisa e natildeo seria essa coisa oBem Qual a relacatildeo entre prazer e Bem Mais uma vez constata-se que essas questotildees de alguma forma seratildeo retomadas no Filebo

A meu ver se existe uma divindade patrona da filosofiaessa divindade deve ser Eros porque eacute esse sobretudo em suaacircnsia de preencher-se e na sua propensatildeo ao belo que se move efaz mover na direcatildeo do objeto de seu amor e qual coisa segundoPlatatildeo seria mais desejavel e amoravel do que o bem A proacuteprianatureza intermediaria de Eros sempre acompanhado de prazer edor entre o sensivel e o inteligivel constroacutei uma relacatildeo entre oamor ao belo sensivel e ao belo inteligivel que por forca danarrativa mitica satildeo inseparaveis Mas essas relacotildees assimexpostas em uma linguagem imageacutetica do mito ainda natildeo datildeoconta de definir os horizontes da exata relacatildeo entre prazer e Bem

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O personagem Soacutecrates entatildeo questionara - a partir da tesede Filebo de que o prazer constitui a vida boa ndash se o prazer tem ounatildeo espeacutecies e quantas e quais satildeo e depois fara o mesmo emrelacatildeo agraves atividades do intelecto para concluir por uma terceiravia ja elucidada desde o inicio do discurso de que a vida mista seriaa vida boafeliz e essa sim seria o Bem

Sendo assim Soacutecrates procurara dist inguir naargumentacatildeo segundo o meacutetodo dialeacutetico da divisatildeo quais satildeo osprazeres ruins e quais bons mas ja admitindo previamente ser amaioria deles ruim como se vecirc no excerto abaixo

Porque estas chamando essas coisas ainda quedessemelhantes diremos noacutes com outro nome pois dizesserem boas todas as coisas prazerosas Ora certamentenenhum argumento pode contestar tal afirmacatildeo dizendo queas coisas prazerosas natildeo satildeo prazerosas mas dizendo que amaioria delas eacute ruim e umas boas15 como noacutes afirmamos16

A naturalidade desse tema que subsumi o senso comum deque ser feliz de alguma forma eacute se entregar aos prazeres torna-osempre atual e relevante e confronta-nos com os seguintesquestionamentos todo prazer implica necessariamente em umbem Como o prazer participa do Bem em si mesmo Ou comoalguns defendem uma vida baseada soacute na reflexatildeo natildeo seria maisproveitosa aos homens Tais questotildees satildeo o motor propulsor quefazem mover o dialogo

Na Antiguidade o tema do Filebo a saber o prazer e suasinjuncotildees eacuteticas e metafisicas foi objeto de multiplos comentariosde Aristoacuteteles ateacute os ultimos neoplatocircnicos17 As escolas deinterpretacatildeo sempre alternaram entre dois campos deinterpretacatildeo Eacutetico ou Metafisico (escola de Jacircmbico) Ocomentario mais completo que chegou ateacute noacutes da Antiguidade foio de Damascio18 ndash Comentaacuterio ao Filebo de Platatildeo ndash o qual ja ilustracerta polecircmica antiga acerca do tema

Alguns dizem que o escopo do Filebo eacute o prazer como osubtitulo demonstra e tambeacutem o proacuteprio Soacutecratesprimeiramente ao se propor discutir sobre o prazer (11b4-

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c3) e depois a examinar as coisas a esse respeito efinalmente por concluir o seguinte que o prazer natildeo eacute afinalidade (teacutelos) da vida[]Ainda na opiniatildeo de Pisiteo o aluno de Theodoro de Asino odialogo eacute sobre a Inteligecircncia como dizem tambeacutem que oParmecircnides eacute sobre o Bem Isso porque na discussatildeo da vidamista (na qual inteligecircncia e prazer estatildeo misturados) aInteligecircncia ela mesma eacute o primeiro (elemento) na mistura(1959 p 2) (Traducatildeo nossa)

Nesse passo Damascio faz uma espeacutecie de revisatildeohistoacuterica das interpretacotildees correntes dos neoplatocircnicos sobre atematica do Filebo partindo do ponto de vista tradicional de Procloe destacando a discordacircncia entre os seus comentadores Valeressaltar o fato de nenhum dos comentadores da Antiguidadedizerem que o dialogo eacute sobre a vida mista A interpretacatildeo queDamascio dara ao tema do prazer sera considerada uma leituramais aristoteacutelica diversa de seus predecessores preocupadossomente em interpretar a doutrina de Platatildeo e que soacute recorrem aAristoacuteteles para acrescentar um elemento a mais o prazer natildeo eacute soacuteo preenchimento de uma falta mas o resultado suplementar deuma atividade

Ao comentar sobre as diversas interpretacotildees a respeito dotema numa perspectiva historiografica Dorothea Frede19 diz que amaior parte dos comentadores dirigiu a sua atencatildeo para um unicoaspecto seja ao discutir a passagem sobre metodologia e ontologiaseja se limitando agrave discussatildeo do prazer sem dar valor ao conjuntodo dialogo Sendo assim pode-se constatar que natildeo haviaconsenso interpretativo em relacatildeo ao tema na Antiguidade e nemtampouco na contemporaneidade

Retornando ao dialogo Soacutecrates do inicio apresenta asduas teses ou concepcotildees da existecircncia humana ja discutidasanteriormente que o prazer e seus congecircneres implicam em umavida boafeliz e a outra que diz que a vida de reflexatildeo e seuscongecircneres satildeo responsaveis por isso Tais argumentacotildees iratildeo sedesenvolver no sentido de determinar qual dos dois tipos deexistecircncia estaria mais aparentado ao Bem sendo que um terceiro

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tipo de vida possivelmente superior eacute assinalado desde o principioPode-se dizer portanto que a questatildeo teoacuterica central gira emtorno da articulacatildeo entre uma questatildeo eacutetica ndash no que consiste avida boafeliz ndash e de uma ontoloacutegica ndash como a vida boafeliz estarelacionada com o Bem

O BEM COMO PONTO DE PARTIDA DA DISCUSSAtildeO

Logo na primeira secatildeo do dialogo em uma tentativa deestabelecer as condicotildees de um dialogo positivo que assegure aconcordacircncia dos interlocutores em engajar-se numa discussatildeohonesta do ponto de vista intelectual Soacutecrates inicia da seguinteforma

SoacutecratesOlha soacute Protarco que discurso tu estas (disposto) a aceitaragora o de Filebo ou frente ao nosso discurso refuta-lo casote natildeo seja exposto segundo o que eacute inteligivel Queres querecapitulemos cada um deles

ProtarcoCertamente que sim

SoacutecratesPois bem sobre isso Filebo afirma ser bom (agathoacuten) paratodos os viventes o regozijar-se o prazer e o gozo aleacutem dascoisas que estatildeo em consonacircncia com esse gecircnero poreacutem denossa parte a refutacatildeo eacute que natildeo satildeo essas coisas mas sim opensar e a percepcatildeo inteligivel bem como o recordar e aindaas coisas desse mesmo gecircnero como a opiniatildeo exata e osraciocinios verdadeiros as quais satildeo superiores e maisdesejaveis do que o prazer para todos quantos satildeo capazesdelas participar e tambeacutem satildeo elas as mais uteis para todosaqueles que satildeo e viratildeo a ser capazes de usufrui-las Natildeo eacuteassim natildeo como cada um de noacutes afirma Filebo (Traducatildeonossa)

O uso do termo agathoacuten em todo o dialogo eacute ambiguo poistanto pode ser entendido como o adjetivo bom como eacute entendidonesse excerto acima ou compreendido como se vera adiante pela

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ideia do Bem A ocorrecircncia dessa ideia no corpus platocircnicocostuma aparecer substantivada pelo artigo e ou em formacontraida tagathoacuten quando se refere ao Bem20 Portanto a palavracomo usada nesse excerto acima gera uma ambiguidade pois podesignificar tanto que o prazer eacute bom ou seja eacute uma espeacutecie de bem(que participa do Bem) ou eacute o Bem em si mesmo se assumirmosque mesmo sem o artigo a palavra possa significar o Bem

Ao observar-se todos os usos dessa palavra em seuscontextos especificos no dialogo constatamos que tal ambiguidadeeacute deliberada quase metade dos exemplos aparecem com artigo e aoutra metade sem o artigo Assim sendo Platatildeo sustenta essaambiguidade ateacute o fim de alguma maneira para paulatinamenteultrapassa-la valendo-se do meacutetodo dialeacutetico da divisatildeo natentativa de definir o Bem de maneira mais precisa e identifica-locom a vida boafeliz

Em contraposicatildeo a tese de Filebo o personagem Socratessustenta neste mesmo passo que as atividades do intelecto satildeoqualitativamente superiores Isto fica evidente ao usar adjetivos nograu comparativo de superioridade por meio dos quais ele procuraidentificar a vida de reflexatildeo como algo em si mesmo superiormais desejavel e mais util e por isso mais aparentada ao Bem Orefletir e seus congecircneres satildeo comparativamente melhores do queo regozijar-se e seus congecircneres demonstrando claramente que eleesta considerando esses ultimos como sendo um bem relativo Naverdade Soacutecrates introduz a pressuposicatildeo de que se a vida dereflexatildeo eacute melhor talvez seja porque haja prazeres bons e outrospiores

Nesse ponto do dialogo nem o personagem Soacutecrates nemFileboProtarco estatildeo preocupados em definir a questatildeo mas emestabelecer as bases de um campo comum de discussatildeo paraconduzi-la no sentido de responder ao longo do dialogo quais satildeoas exatas relacotildees entre o prazer a vida fundada na reflexatildeo e oBem Concordo com a leitura precisa de Delcomminette sobre oescopo do dialogo ldquoTodo o dialogo pode ser lido como umatentativa de descobrir a relacatildeo correta entre o prazer e o bem e defundamenta-la dialeticamenterdquo21

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O prazer tem um mesmo nome mas eacute multiplo o conhecimentotem um mesmo nome e igualmente eacute multiplo O nome soacute podeser visto como um se for entendido como conceito mas ateacuteaquele momento o que eacute um conceito para noacutes ainda natildeo haviasido definido pelos gregos como categoria de pensamento22 Sendoassim se estabelece a necessidade de argumentar sobre assemelhancas e as dessemelhancas entre os prazeres a partir dasquais se possa considera-los como o mesmo e da mesma formaproceder com as coisas referentes agrave reflexatildeo

Na intencatildeo de buscar um ponto de partida comum para odesenvolvimento desse caminho de pensamento o personagemSoacutecrates recrimina a interpretacatildeo ingecircnua de Protarco sobre oproblema do Uno e do Multiplo

SoacutecratesFalo do que aconteceu um pouco antes do que pela proacuteprianatureza surgiu como algo extraordinario pois de fato eacutesurpreendente a afirmacatildeo de que ldquoo multiplo eacute unordquo quantoa afirmacatildeo de que ldquoo uno eacute multiplordquo e qualquer umadessas duas seria facilmente contestada se proposta dessemodo

ProtarcoEntatildeo sera que estas querendo dizer quando algueacutem sereferir a mim Protarco nascido como unico por natureza sereu ao inveacutes disso muitos e contrarios tanto a mim mesmoquanto uns aos outros por admitir o grande e o pequeno opesado e o leve o mesmo e tambeacutem incontaveis outros

SoacutecratesTu Protarco estas afirmando o que se estabeleceupublicamente das admiraveis discussotildees a respeito do um e domultiplo e que foi admitido por assim dizer ja por todosNatildeo se deve no entanto acolher de imediato dentre taiscoisas o pueril o facil ou ainda o que possa vir a se tornarum grande obstaculo para o discurso aprovando-os poisnem mesmo quando depois de ter dividido os membros esimultaneamente as partes do discurso e de ter concordadoque todas essas coisas eram aquele um ainda assim algueacutempoderia refutar de modo zombeteiro que foi obrigado a dizer

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um prodigio o um como multiplo eacute tambeacutem ilimitado e omultiplo como um eacute unico (traducatildeo proacutepria)

A aporia da afirmacatildeo de Protarco fica ainda mais claraadiante no dialogo quando Soacutecrates relaciona o Uno e o Multiplocom duas categorias de pensamento o limite e o ilimitado comoalgo poderia ter limite e ser ilimitado ao mesmo tempo Aleacutem domais o que Protarco natildeo se da conta eacute de que Soacutecrates querinvestigar o Uno e o Multiplo nas Formas as quais natildeo se devemaplicar predicados de qualidades sensiveis O personagem Soacutecratesresponde assim a pergunta de Protarco sobre qual seria a outraversatildeo natildeo banalizada desse argumento ldquoeacute quando filho algueacutemcoloca o um mas natildeo aquele do qual agora ha pouco falamos dascoisas que vecircm a ser e perecemrdquo (15 a tocircn gignomeacutenon ndash das coisasadvenientes)

Fica evidente entatildeo o erro de Protarco ao confundir aunidade empirica com a unidade formal a Forma ou a Ideia Aabordagem socratica seria pode-se dizer ontoloacutegica enquanto ade Protarco empirica por isso Soacutecrates precisa primeiro conduzirProtarco a esse denominador comum da discussatildeo (movimentoclaramente expresso no verbo synkhoreacuteo ndash reunir no mesmo siacutetioderivado composto de khoacutera territoacuterio regiatildeo lugar) para entatildeoproceder ao meacutetodo dialeacutetico da divisatildeo

Platatildeo ja havia estabelecido desde os dialogos damaturidade que a unidade genuina ou originaria era uma Forma ouIdeia (eicircdos ideacutea) a unica originariamente una e que dentre estas aforma suprema ou final na hierarquia seria o Bem Amultiplicidade por sua vez estaria associada aos particularessensiveis - exemplificacotildees desses originarios que satildeo as formas - eque estatildeo para o adveniente assim como as ideias estatildeo para o SerComo conciliar portanto os conceitos de um Uno-supremo comum Uno-Multiplo relacional uma vez que todas as realidadesparecem ser unas e multiplas simultaneamente Para Platatildeo soacute aaplicacatildeo do meacutetodo dialeacutetico esse caminho lsquopresente dos deusesrsquopode desfazer essa primeira aporia que o multiplo seja uno e ouno seja multiplo

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Ainda ao concluir a secatildeo 15 a ele afirma ldquoeacute sobre essashecircnades23 e sobre coisas desse tipo que muito empenho gera arefutacatildeo ou controveacutersia pelo meacutetodo da divisatildeordquo (traducatildeoproacutepria)24 Essa afirmacatildeo soa como uma espeacutecie de observacatildeoautocritica muito zelo com o meacutetodo da divisatildeo em se tratando dehecircnades eacute perigoso por causa da sua proacutepria natureza una Natildeo eacuteuma critica necessariamente ao meacutetodo da divisatildeo fundamental nadialeacutetica platocircnica mas uma constatacatildeo da dificuldade deapresentar essas hecircnades discursivamente por causa da sua proacuteprianatureza paradoxal

Pode-se dizer sobretudo que o foco teoreacutetico de Soacutecrateseacute entender o fundamento dessas hecircnades ndash as formas unas em simesmas ndash que ele exemplifica como o homem como um o boicomo um o belo como um o bem como u m (esses dois ultimosexemplos canocircnicos da teoria das Formas) Por causa dessaafirmacatildeo de Soacutecrates muitos inteacuterpretes viram na teoria platocircnicada realidade natildeo uma ontologia mas uma henologia na qual o uno eacutea origem do real e o conceito de ser deriva dele25

Concluindo procurei mostrar nesse artigo em linhas geraise amplas a habilidade surpreendente de Platatildeo por meio dapersonagem Soacutecrates em desenvolver uma argumentacatildeo sobretemas tatildeo complexos mostrando e aplicando cuidadosamente omeacutetodo dialeacutetico para o filoacutesofo o modo supremo de apreensatildeodo real com vistas a resolver um problema que de longe eacute simpleso Bem eacute em Platatildeo o fundamento ontoloacutegico de uma vida felizComo se pode definir o Bem em termos de uma vida mista deprazeres e conhecimentos

Retomando a nocatildeo de escopo dos antigos exegetasneoplatocircnicos26 poder-se-ia dizer que o tema principal do Filebo eacuteo Bem mas o propoacutesito do dialogo eacute definir como a vida mistapode ser esse Bem

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O Filebo prazer e intelecto em confronto | Simone de O Goncalves Bondarczuk

ABSTRACT

Philebus Face-off of Pleasure and Intellect

The dialogue Philebus for a long time was dropped by thetradition of Platonic studies and is considered a complex dialoguedue to an alleged lack of thematic unity In the last thirty years theinterest in it revived with strength and its relevance to a broaderunderstanding of the theoretical thinking of Plato was finallyrecognized This article aims to introduce the reader on the coreissues of the dialogue namely What constitutes a good life wouldit be a life dedicated to pleasure or dedicated to understanding Orit would be a mixture between these two lives And which of thethree conceptions of life are closer to the Good

KEYWORDS

Philebus Socratic dialogue Pleasure Intellect the Good

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O Filebo prazer e intelecto em confronto | Simone de O Goncalves Bondarczuk

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PLATOacuteN Filebo Introduccioacuten traduccioacuten y notas de Marcelo Boeri BuenosAires Losada 2010

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1 Deixo de lado a questatildeo de quem teriam sido os primeiros receptores dosdialogos de Platatildeo que natildeo eacute relevante para os objetivos deste artigo Asuposicatildeo mais imediata nos indica seus discipulos membros da Academia Osdialogos teriam sido como hypomnemata que auxiliavam na discussatildeo mas muitosos consideram principalmente dirigidos aos adversarios intelectuais do mestreos sofistas e os reacutetores e ainda pode-se supor que tenham sido escritos comolegado agrave posteridade Dado a situacatildeo de analfabetismo da eacutepoca dificilmenteeles visavam um publico leigo e natildeo aristocratico 2 Soacute para citar algumas propostas diferentes Diegraves (1949) Boeri (2010)Friedlaumlnder (2014)3 GADAMER 2009 p 1034 Constata-se isso na insistecircncia de Soacutecrates desde o inicio de buscar entrar emacordo com o seu interlocutor sobre o tema que discutiratildeo e de como devemtrata-lo A concepcatildeo da dialeacutetica como uma busca compartilhada eacutedesenvolvida com maestria no Filebo5 GILL 2010 p 47-556 Cf Banquete 204 b-c 206 c-e7 HACKFORTH 1972 p 18 Idem ibidem p 49 ldquoSocrates and his interlocutours discuss the good for man as individual not amember of a community this is surprising in the author of Republic Statesmanand Laws and may be taken to reflect a deliberate detachment from politicalspeculation such as better fits the years 360-354 than any other period in Platorsquoslast two decadesrdquo (1972 p 4)10 BOERI 2010 p 911 PLATAtildeO 2011 p 140 12 BRAVO 2009 p 16813 Sem sombra de duvida o comentarista que definitivamente conseguiudemonstrar isso foi Sylvain Delcomminette em sua obra magistral Le Philegravebe dePlaton Introduction agrave lrsquoagathologie platonicienne14 Filebo 52 a-b15 κακὰ δ ὄντα αὐτῶν τὰ πολλὰ καὶ ἀγαθὰ δέ ὡς ἡμεῖς φαμέν (Filebo 14b)16 Filebo 13b17 Plotino faz varias referecircncias ao dialogo no Livro III 588 IV 3634 VI7252tambeacutem Porfirio seu mestre comenta algumas linhas do dialogo em seusComentaacuterios ao Timeu de Platatildeo fr 5170-3 e ainda Alexandro de Afrodisia emComentaacuterio ao livro VIII dos Toacutepicos de Aristoacuteteles onde cita e interpreta de modoaristoteacutelico a passagem de Filebo 12d Ademais sabe-se da existecircncia de umcomentario perdido de Proclo ao Filebo e um comentario de Jacircmbico cuja unicafonte eacute o proacuteprio comentario de Damascio sobre esse dialogo18 Nasceu em Damasco na provincia romana da Siria lugar de onde provem oseu nome (o nome original eacute desconhecido) Foi filoacutesofo da escola neoplatocircnicaateniense (458 dC ndash apoacutes 538) conhecido como o ultimo dos neoplatocircnicospor ter sido o ultimo escolarca da Escola de Atenas antes do seu fechamentopelo imperador Justiniano em 529 dC Duas obras satildeo atribuidas a ele acerca doFilebo Tratado dos Primeiros Princiacutepios e Comentaacuterios ao Filebo de Platatildeo (textosestabelecidos por LG Westernik e natildeo traduzidos para o portuguecircs)

19 FREDE 2013 p 50220 Natildeo eacute inquestionavel que para Platatildeo o substantivo e o adjetivo fossem entendidos como um ente e seu predicado pois ambos satildeo denominados de oacutenoma e portanto vistos como entes 21 ldquoTout le dialogue peut ecirctre vu comme une tentative de deacutecouvrir larelation correcte entre le plaisir et le bien et de fonder dialectiquementerdquo(DELCOMMINETTE 2006 p 31)

22 Os especialistas natildeo estatildeo de acordo ainda se teria sido Platatildeo ou Soacutecrates ocriador do conceito23 Natildeo eacute facil determinar o sentido exato desta palavra usada uma unica vez porPlatatildeo nesse contexto portanto um haacutepax legoacutemena sem ocorrecircncia em outrosdialogos Talvez Platatildeo se refira a formas unas de aspecto uno se supormosuma etimologia a partir da juncatildeo de heacutena (neutro plural de heacuten) unidades e a raizeid- de eicircdos forma aparecircncia aspecto ou seja o que tem um aspecto uacutenicouno

24 περὶ τούτων τῶν ἑνάδων καὶ τῶν τοιούτων ἡ πολλὴ σπουδὴ μετὰ διαιρέσεωςἀμφισβήτησις γίγνεται (Filebo 15a 6-7)25 Sobre esse assunto cf BRAVO 2009 p 17026 ALEKNIENEgrave 2017 p 1

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Aedoacuten performance poeacutetica de lasvictimasGraciela C Zecchin de Fasano

RESUMEN

La figura del ruisentildeor atestiguada por primera vez en el canto 19de Odisea (v 518-523) aparece tambieacuten en la fabula contenida enTrabajos y diacuteas (v 202-212) de Hesiodo y en la comedia Aves deAristoacutefanes El presente articulo analiza con metodologiacomparativa la peculiar representacioacuten de la victima de algun tipode violencia en los textos citados y queacute interpretacioacuten se puedederivar en cada contexto discursivo especifico

PALABRAS CLAVE

Aedoacuten Homero Hesiodo Aristoacutefanes

SUBMISSAtildeO 29 dez 2017 | PUBLICACcedilAtildeO 31 dez 2017

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unque los poemas homeacutericos expresan regularmentela ideologia masculina de la gloria las aristassocialmente excluidas pueden ser presentadasconforme a las posibilidades expresivas del arteinsertas en medio de los toacutepicos tradicionalmenteconstitutivos Tal como sucede con la representacioacutende las victimas femeninas para las cuales la conversioacutenen aves permite con la imagineria del canto dar vozespecial a los silenciados y particularmente a lasmujeres En el canto 19 de Odisea (v 518-523)Homero utiliza una versioacuten inusual del mito de laconversioacuten de una mujer en ruisentildeor En el texto laimagen del ave inaugura una presencia de la liricaasociada al lamento que ha tenido interesantes

consecuencias1 En primer lugar dentro del corpus de la literaturagriega misma el ruisentildeor homeacuterico resultoacute desplazado por lapresioacuten didactica de la fabula hesioacutedica y en segundo lugar luegofue significativamente reemplazado por la versioacuten mas politica ydifundida acerca del mito de Procne y Filomela en textos de lacomedia y la tragedia Analizareacute en queacute modo el ruisentildeor homeacutericoproblematiza nuestra comprensioacuten de la mimesis en eacutepica y enlirica y queacute consecuencias conlleva su estudio comparativo contextos posteriores como la conocida ldquofabula del ruisentildeor y elhalcoacutenrdquo en Trabajos y diacuteas de Hesiodo o en la sofisticada comediade Aristoacutefanes llamada Aves

UN RUISENtildeOR EN ODISEA UNA VERSIOacuteN DE LA LIacuteRICA FEMENINA

En el pasaje de Odisea mencionado (19 v 518-523)Peneacutelope se halla en una situacioacuten animica calamitosa devastadapor el llanto el insomnio o las pesadillas que se comunica comoun canto de lamento Presentada de este modo la pena dePeneacutelope desarrolla en medio de un discurso eacutepico una mimesis ouna ldquoperformancerdquo de la lirica La forma lirica especifica del cantode lamento no resulta vertida directamente sino a traveacutes de ladescripcioacuten de una variacioacuten foacutenica en que Peneacutelope se compara a

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A

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si misma con un ruisentildeor el ave tipica del lamento en las antiguastradiciones griegas Peneacutelope se imagina como una mujer-ave queen una vida anterior ha sufrido la extraordinaria pena de asesinar asu hijo

El mito de Aedoacuten palabra griega que significa ruisentildeornos ha llegado en dos versiones2 Por un lado la versioacuten canoacutenicamas expandida en la tradicioacuten posterior es la que trata acerca deProcne y Filomela o Aedoacuten y Calidoacuten proporcionada por latragedia Ovidio y la Biblioteca de Apolodoro Tereo el esposo deProcne viola a Filomela quien trata de revelar la verdad a suhermana tejiendo su propia historia en un tapiz Procne enojadaasesina a Itys el hijo que tiene con Tereo y le sirve sus carnes alpadre como comida Con esta accioacuten Tereo queda sin herederos yabsolutamente contaminado de culpa La progenie es cortadaabruptamente pero Procne que amaba a su hijo lo lamentaracantando su pena como un ave indefinidamente La primerainferencia obvia en este relato es que Procne a diferencia dePeneacutelope en el pasaje de Odisea esta usando su poder para dantildeardirectamente a su marido en una venganza concreta

Por otro lado una segunda versioacuten del mito la quecontiene Odisea se halla tambieacuten en un escolio de Eustacio aFereacutecides Segun esa versioacuten Aedoacuten esta casada con Zeto elfortificador de Tebas y tienen un unico hijo Itylos mientras elgemelo de Zeto Anfioacuten esta casado con Niobe y tienen varioshijos3 Aedoacuten celosa de esta multiple progenie intenta matar al hijomayor de Niobe y en la oscuridad por error asesina a su propiohijo En el escolio de Eustacio se dice que Aedoacuten ordenoacute a su hijodormir en otra habitacioacuten pero el joven no la obedecioacute o bienolvidoacute la orden materna

iquestPor queacute Odisea se sirve de la versioacuten tebana del mito delruisentildeor cuando se ha demostrado el vinculo estricto que elpoema guarda con los origenes de Atenas4 iquestPor queacute esta versioacutentebana no ha gozado de la tradicioacuten literaria que la versioacutenateniense de Procne y Filomela ha recibido

Los v 518-523 del canto 19 de Odisea constituyen laprimera parte de un simil con la estructura habitual en Homero es

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decir una comparacioacuten en dos partes introducida por unsubordinante rutinario ldquocomo cuandordquo (ὡς δ ὅτε) pero por suextensioacuten podria ser considerado un ejemplo mitoloacutegico Los dosmiembros del simil sirven para expresar cabalmente la divisioacutenemocional de Peneacutelope que enuncia el simil su thymoacutes partidoproductor del canto avizora una hipoacutetesis sobre el contenido de lalirica La escisioacuten del animo de Aedoacuten entre su hijo muerto y sumarido resulta equivalente de la divisioacuten del corazoacuten de Peneacutelopeentre la opcioacuten que su hijo Teleacutemaco le ofrece - abandonar la casay regresar a la casa paterna- o elegir esposo entre los aqueos

El texto ofrece un leacutexico significativo no soacutelo porqueconstruye un paisaje para el canto del ave sino tambieacuten porqueratifica la femineidad del ave a traveacutes del epiteto χλωρηῒς 5

ὡς δ᾿ ὅτε Πανδαρέου κούρη χλωρηῒς ἀηδώνκαλὸν ἀείδῃσιν ἔαρος νέον ἱσταμένοιοδενδρέων ἐν πετάλοισι καθεζομένη πυκινοῖσινἥ τε θαμὰ τρωπῶσα χέει πολυηχέα φωνήνπαῖδ᾿ ὀλοφυρομένη Ἴτυλον φίλον ὅν ποτε χαλκῷ

κτεῖνε δι᾿ ἀφραδίας κοῦρον Ζήθοιο ἄνακτος6

Como cuando la hija de Pandaacutereo Aedoacuten la defrondosa garganta canta hermosamente al comenzar laprimavera posada en el tupido follaje de los aacuterboles ydeja fluir su voz de variados sones que muda a cadamomento llorando a Itylos el hijo que tuvo del reyZeto al cual asesinoacute con el bronce por imprudencia []

En las interpretaciones del pasaje de Odisea hanpredominado las consideraciones sobre los celos de Aedoacuten enconsecuencia el texto revelaria cierta hostilidad de Peneacutelope conOdiseo (Tereo en este parangoacuten) y significaria que Peneacutelope quierepotencialmente asesinar a su hijo7 Cabe la posibilidad de un errorde interpretacioacuten de los escoliastas es decir que tomaran Aedoacutencomo nombre propio e instalaran esta nueva versioacuten aunque yanos resultan conocidas las variaciones homeacutericas en los nombresmiticos

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Anhalt ha sostenido que el personaje esta usando elparadigma de Clitemnestra y que sospecha de las acciones de suesposo durante su ausencia8 Levaniouk supone que la versioacutentebana revela mejor el estado animico turbulento de Peneacutelope ycomo el mito consiste en una confesioacuten ante Odiseo disfrazado demendigo el asesinato de Itylos ha sido interpretadoldquopsicoloacutegicamenterdquo por la mayor parte de la masa critica9

La insercioacuten de este relato confronta con todas lasnarrativas previas que Peneacutelope desarrolla sobre si misma y queversan acerca de su presente o su pasado inmediato Este pequentildeorelato en cambio instala personajes remotos con una conexioacutenpoco clara con el personaje que lo usa La pena de Peneacutelope y eltropo del ruisentildeor parecen conectarse con el vaiveacuten indeciso de latrama en la que Peneacutelope esta incluida Como precedente podemosconsiderar el pasaje del canto IX v 555-565 de Iliacuteada en que Feacutenixal narrar el mito de Meleagro sostiene que a Cleopatra la mujerdel heacuteroe sus padres la llamaban Alcioacuten porque la madre llorabapor ella como el ave ya que Apolo la habia raptado Esta imagense desarrolla intercalada con la referencia al enojo de Altea quesuplica la muerte de su hijo En sintesis el ave doliente expresa ensu agudo grito la pena y esa pena se transfiere a Altea quepeligrosamente y en un espejo deforme repite la trama de Iliacuteadasubyugando la vida de su hijo a un tizoacuten que se consume

En el texto de Odisea los multiples ecos del canto del aveenriquecen la imagen del vaiveacuten de Peneacutelope la indecisioacuten de sut r a m a πολυηχέα ldquode muchas resonancias o ecosrdquo debecomprenderse en este sentido La frecuencia e intensidad de suslamentos esta referida por una triple calificacioacuten en los versosprevios ἀδινὸν ldquovehementerdquo πυκυναί (v 516) πυκινοῖσιν (v 520)que se refieren a la angustia ldquointima ajustadardquo y θαμὰ (v521)ldquoreiterada muchas vecesrdquo Sin embargo el mito de Aedoacuten lafilicida no ofrece una conexioacuten obvia con la trama de Odisea espreciso decodificarla Por otra parte esta versioacuten tebana del mitoutilizada por Odisea no se conecta con ninguna otra versioacuten en laque los personajes sean simplemente intercambiados

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De la comparacioacuten entre las versiones tebana y ateniensesurge claramente que la agonia de Procne en la versioacuten ateniensederiva de que el hijo que ella ama es hijo del hombre que odiaNada de eso la pasa a Peneacutelope cuyo epiteto ἐχέφρων la definecomo ldquosensatardquo quien no enloquece sino que sopesa susdecisiones y sostengo por ello que la versioacuten tebana encajaperfectamente en Odisea Peneacutelope lamenta una peacuterdida vinculadaestrictamente a su lecho una pena de amor

Entre los multiples dilemas que Odisea presenta el dilemade Peneacutelope no es entre su esposo y su hijo sino coacutemo ejercer sucapacidad de calculo Un paso en falso puede hacerle perder todoIncluso la diosa Atenea configurada como Mentes le hacecomprender que para restablecer su poder Teleacutemaco deberiaasesinar a los pretendientes aun despueacutes de que Peneacutelope sehubiese casado Evidentemente la versioacuten tebana del mitopropone en Aedoacuten un personaje que trata de beneficiar a su hijoquien debe competir solo entre numerosos primos Con este mitoPeneacutelope manipula su situacioacuten y resulta evidente que el mitoproblematiza una cuestioacuten basica en la estructura del poderpolitico antiguo como lo es la continuidad del linaje La versioacutenateniense se concentra en este aspecto porque la esposa de Tereotrata de cortar el linaje de su esposo Muy distintas son lasintenciones de la mujer de Zeto el tebano ya que ella actua porquequiere promover e imponer su linaje por sobre sobre otros Enresumen la seleccioacuten de la versioacuten tebana colabora con la ideologiapolitica de Odisea que consiste en restaurar el linaje de Odiseo y enconservar la fortuna para Teleacutemaco En el lamento de Peneacutelope sehalla la pena por un posible nuevo matrimonio no deseado porella pero que Teleacutemaco o su padre Icario podrian promover Eseste posible nuevo matrimonio el nivel en que el simil del ruisentildeoraporta la idea de una violenta unioacuten no aceptada una veta deinterpretacioacuten mas proacutexima a la versioacuten ateniense y a lavictimizacioacuten de Filomela

La asociacioacuten de figuras femeninas con animales o insectostiene abundante registro en la eacutepica y en la poesia yambica griegasEn el caso de Peneacutelope ademas de esta conexioacuten con el ruisentildeor

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se debe recordar que su nombre sugiere que es una cerceta (untipo de cisne u oca) en consonancia con lo cual ella exige almendigo Odiseo en unos versos que siguen inmediatamente a loscitados que interprete un suentildeo sobre un grupo de gansos ndash lospretendientes- que se alimentan en la casa

Eliano ha propuesto en De natura animalia 5 38 unavariante para el v 521 del texto citado que consiste en reemplazarla palabra πολυηχέα que significa de variadas resonancias porπολυδευκέα de significado poco claro10 A pesar de ello enconjunto con τρωπῶσα cualquiera de estos adjetivos gesta laimagen del sonido que gira y repite una melodia

El cambio demostraria por un lado que la idea de mouvanceexpresada por Zumthor o la idea de variance sostenida porCerquiglini11 se aplican a este fragmento en el sentido de que estetexto poeacutetico no esta fijo sino que es tan moacutevil como el canto delruisentildeor y se actualiza en cada ejecucioacuten En segundo lugardefiniria la mimesis de la lirica que Peneacutelope realiza un texto moacutevilen sus elementos foacutenicos El fragmento ademas produce unainteresante aliteracioacuten en sonidos labiales y guturales para reflejarlos variados sones del ruisentildeor

El mito de Aedoacuten insiste en la tragica circunstancia de queItylos es hijo unico como lo son a su vez Teleacutemaco y Odiseo Lasituacioacuten de individuo aislado en la continuidad de la estirpeconfronta en el caso de Itylso en particular con los numerososhijos de Niobe su tia y en Odisea se replicaria en la situacioacuten deTeleacutemaco frente a los numerosos pretendientes de su madre

Como Aedoacuten Peneacutelope canta una melodia variablecambiando su voz llora y gime de noche hasta que Atenea leinsufla el suentildeo Volviendo a la idea de la lirica como texto enmovimiento el ruisentildeor que no duerme y varia su canto expandela imagen de la fluidez del tejido que Peneacutelope teje en el dia ydesteje por la noche El canto πολυδευκής del ruisentildeor si hacemoscaso de Eliano consiste en un lamento ininterrumpido contrario alcorte abrupto de la estirpe que la accioacuten de Aedoacuten concreta Lavariacioacuten del canto con sus giros es una extensioacuten foacutenica delldquotextordquo tejido por Peneacutelope

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EL RUISENtildeOR DE HESIacuteODO UNA LECTURA DEL PODERLa conexioacuten de Hesiodo con la tradicioacuten de la fabula

representada por Esopo ha sido convenientemente estudiada porHunter por supuesto partir de las lineas 202-212 de Trabajos y diacuteasen las que aparece el breve apoacutelogo sobre el ruisentildeor y el halcoacuten12

νῦν δ αἶνον βασιλεῦσιν ἐρέω φρονέουσι καὶ αὐτοῖςὧδ ἴρηξ προσέειπεν ἀηδόνα ποικιλόδειρον ὕψι μάλ ἐν νεφέεσσι φέρων ὀνύχεσσι μεμαρπώς ἣ δ ἐλεόν γναμπτοῖσι πεπαρμένη ἀμφ ὀνύχεσσι μύρετο τὴν ὅγ ἐπικρατέως πρὸς μῦθον ἔειπεν δαιμονίη τί λέληκας ἔχει νύ σε πολλὸν ἀρείων τῇ δ εἶς ᾗ σ ἂν ἐγώ περ ἄγω καὶ ἀοιδὸν ἐοῦσανδεῖπνον δ αἴ κ ἐθέλω ποιήσομαι ἠ ὲ μεθήσω ἄφρων δ ὅς κ ἐθέλῃ πρὸς κρείσσονας ἀντιφερίζειν νίκης τε στέρεται πρός τ αἴσχεσιν ἄλγεα πάσχειὣς ἔφατ ὠκυπέτης ἴρηξ τανυσίπτερος ὄρνις

Ahora contareacute una faacutebula a los reyes aunque sean sabiosAsiacute habloacute un halcoacuten a un ruisentildeor de variopinto cuello mientras lellevaba muy alto entre las nubes atrapado con sus garras Eacuteste gemiacutealastimosamente ensartado entre las corvas untildeas y aqueacutel en tono desuperioridad le dirigioacute estas palabras`iexclInfeliz iquestPor queacute chillas Ahorate tiene en su poder uno mucho maacutes poderoso Iraacutes a donde yo te lleve pormuy cantor que seas y me serviraacutes de comida si quiero o te dejareacute libreiexclLoco es el que quiere ponerse a la altura de los maacutes fuertes Se veprivado de la victoria y ademaacutes tiene que sufrir vejaciones es maltratado

Asiacute dijo el halcoacuten de raacutepido vuelo ave de amplias alas

Como comenta Vianello en estos diez versos estacontenido el primer apoacutelogo de la antiguumledad clasica al cualWillamowitz ha querido reducir injustamente a un simil eacutepico sinmoraleja13 Esta posicioacuten resulta insostenible excepto queextirpemos los v 210-211 como queria Aristarco aunque porsupuesto el hecho de que en un poeta bastante cercano en eltiempo como Arquiloco aparezcan tambieacuten los elementosdidacticos de este texto nos hace sospechar que ambos Aristarcoy Willamowitz erraron en su juicio

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La secuela didactica de este breve relato esta en los v 217-218 ldquola justicia vence a la violencia pero el candido aprendesufriendordquo(Δίκη δ ὑπὲρ Ὕ βριος ἴσχει ἐς τέλος ἐξελθοῦσα παθὼνδέ τε νήπιος ἔγνω) y la diferencia comparativa entre este texto y elmito de Odisea no se reduce a este mensaje En primer lugar elrelato no tiene la calificacioacuten de mito sino una calificacioacuten teacutecnicade su tipo discursivo ya que se trata de un αἶ νος un tipo de relatoen el que las consecuencias de los actos se exponen claramentebuscando un aprendizaje en el auditorio Y ese contenido estaexplicitamente expresado Sin mencionar que pasamos de ladoliente y femenina Peneacutelope al ruisentildeor que representa lavulnerabilidad del poeta de Trabajos y diacuteas frente a los poderosos

En esta fabula no figuran directamente los dioses ni losheacuteroes El narrador margina esos planos y concede discurso a lasaves El ruisentildeor gime lastimeramente mientras que el halcoacuten ogavilan (como se maneja en algunas traducciones) sentencia lainutilidad de ldquoponerse a la altura de los mas fuertesrdquo porqueademas de verse ldquoprivado de la victoriardquo debe sufrir vejacionesEn el contexto de los consejos agricolas que el poema desarrolla lafabula parece en primer teacutermino una transferencia de una ley delmundo natural al mundo social humano Es natural que los pajarosmas pequentildeos y menos fuertes que el halcoacuten le sirvan a eacuteste comoalimento Puede decirse que la funcioacuten nutricia es constitutiva de laphysis de los halcones y de los ruisentildeores o que en el vastoescenario del mundo estos desempentildean un papel que es adecuadoa su naturaleza

En segundo teacutermino en el contexto de la enunciacioacutenpoeacutetica Hesiodo en tanto que poeta es como el ruisentildeor es elcantor de dulce voz14 mientras que los guerreros y los reyes desdeluego son como el halcoacuten fuertes cazadores No me ocupareacute de larecepcioacuten de este texto en la fabula 47 de Esopo Soacutelo mencionareacuteque en ese texto el ruisentildeor debe esforzarse al maximo con sucanto para no ser devorado El halcoacuten esta tan concentrado enatacar a sus presas que a su vez es sometido por otro cazador unhombre En su moraleja Esopo se limita a plantear que todos losseres estan en guerra y quien tiene enemigos no debe descuidarse

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En el caso de Hesiodo podriamos considerar a suhermano Perses como el enemigo al acecho ya sea un dobledidactico o un dato de la realidad ya que el poeta lo invocadirectamente ὦ Πέρση σὺ δ ἄκουε δίκης μηδ ὕβριν ὄφελλεldquoPerses tu obedece a la justicia y no desees la soberbiardquo (v 213)Resulta claro que la situacioacuten de injusticia narrada coloca al poetaen la posicioacuten del ruisentildeor arrastrado por las garras cuya queja esdesoida y que se halla en total indefensioacuten El ruisentildeor extiende lasimple imagen del poeta a la situacioacuten de toda victima de los reyesdevoradores que describe Hesiodo Suponemos una amarga ironiaen la expresioacuten ldquoaunque sean sabiosrdquo (v 202) en el juegointelectual en que el poeta- puede chillar15 como el ruisentildeor yaunque el ruisentildeor no replica el poeta no obstante se atreve a darlecciones a los sabios Hay reyes que no atienden a la justicia comolos hombres de una edad degradada que no es ldquola edad de orordquosino la ldquode hierrordquo 16 Perses no es un rey pero Hesiodo dice queademas de ser codicioso y rapaz es perezoso y que su hermanocree que puede enriquecerse sin tener que trabajar y por si estofuera poco es prepotente y soberbio tal como un rey La soberbia(hybris) es una mala inclinacioacuten que podria esperarse de los reyespero aun para eacutestos no es recomendable fomentarla

La similitud planteada en la fabula entre el ambito animaly humano compone una confrontacioacuten agonal entre seres encompetencia En el mudo natural la resolucioacuten es cruel pero en elmundo humano el poeta aconseja no seguir por la via de ladiscordia y dedicarse a trabajar con honestidad De todas formasHesiodo se explaya en una prolija moraleja que puede querer decirvarias cosas por ejemplo que si los hombres no quieren ser comolos animales deben contrapesar el ciego ejercicio del poder con lajusticia Hesiodo parece sostener que los humanos han inventadoalgo mejor que la simple voluntad de poder parece querer decir lavirtud la rectitud el ejercicio de la justicia Soacutelo asi tendran algunaoportunidad de alejar su destino del de los animales ldquopues esta leyimpuso a los hombres el Cronioacuten a los peces fieras y avesvoladoras comerse los unos a los otros ya que no existe justicia

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entre ellosrdquo (v 276-277) Tampoco puede olvidarse que en estetexto el ruisentildeor es femenino y el halcoacuten masculino

El cambio de geacutenero discursivo de un mito a un αἶνος ofabula de la representacioacuten femenina de la pena a la situacioacutenlimite del oprimido por los poderosos convierte el ruisentildeor deHesiodo en un instrumento eficientisimo de su preocupacioacutenmoral y su admonicioacuten politica Nada como la imagen del deacutebil enlas garras de otro

CORTAR LA LENGUA LA VERSIOacuteN ATENIENSE EN AVES DE

ARISTOacuteFANES

Aunque su representacioacuten en las fiestas dionisias del antildeo414 aC soacutelo le concedioacute el segundo puesto la comedia Aves deAristoacutefanes ha sido considerada recurrentemente la mas poeacutetica ysofisticada entre las conservadas En ella dos ancianos ateniensesEueacutelpides (la buena esperanza) y Pisteteros (el compantildeeropersuasivo) han abandonado Atenas para evitar la politica y lostribunales de justicia y estan buscando a Tereo un ave que ha sidoser humano en el pasado y tiene conexiones con los ateniensesPisteteros concibe la idea de fundar una ciudad en las nubes parainterceptar los sacrificios a los dioses y de este modo podersometerlos Persuade al hostil coro de aves de gobernarnuevamente el universo En la segunda parte de la obra la ciudadde las nubes y los cucus Nefelococcigia es fundada y llegan unaserie de visitantes Iris un parricida un poeta un delatorPrometeo que ha sido rebelde contra los dioses FinalmentePisteteros debe solicitar casarse con Basileia la soberania La obratermina con una procesioacuten del triunfo real de Pisteteros y proponeal mismo tiempo un utoacutepico escape de la realidad como reaccioacuten aciertos fracasos militares de los atenienses17 la presentacioacuten de lamegalomania tiranica o una iroacutenica distopia etc En este contextoun breve episodio lirico presenta al ruisentildeor En la versioacutenateniense del mito Tereo rey de Tracia auxilia a Pandioacuten rey deAtenas contra el tebano Labdaco De ello se deriva el matrimoniode Tereo con Procne y los episodios que ya comentamos sobre el

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asesinato de Itys y la conversioacuten de Procne en ruisentildeor la deFilomela en golondrina y la del mismo Tereo en abubilla

En la clasificacioacuten aristoteacutelica de geacuteneros discursivos lacomedia careceria de mito Sin embargo Aves curiosamentepropone la degradacioacuten de varios mitos En primer lugar del mitofundacional ya que parodia la cosmogonia y teogonia hesioacutedicasde un modo muy original para proponer burlonamente unacosmogonia literal a partir de un huevo de ave y la transformacioacutenen aves de todos los personajes es decir de todos los ciudadanosde Atenas Probablemente Aristoacutefanes dispuso de la tragedia deSoacutefocles llamada Tereo de la que suponemos realiza la parodiaaunque lamentablemente soacutelo nos queda al parecer una sintesis enel papiro de Oxy 3013 Como ya sentildealoacute Aristoacuteteles en Poeacutetica 1453ordf36-39 aquellos a quienes el mito convierte en enemigos resultan enla subversioacuten coacutemica los mejores amigos18 Es el caso de Tereo laabubilla y de Procne el ruisentildeor que son en la obra una parejafeliz mientras la infausta Filomela no aparece aunque Procneentona su permanente lamento por Itys

La versioacuten ateniense del mito elegida por Aristoacutefanesrepresenta por un lado el desastroso presente de Atenasinterpretado por los dos viejos cuyo delirio senil produce la mejorinvencioacuten de la obra Por otro lado como se le adjudica a Tereo elhecho de haber ensentildeado el lenguaje articulado a las aves hay unafranca contradiccioacuten entre seccionar la lengua de Filomela yconceder habla humana a las aves La interpretacioacuten politica esllana Tereo concede la palabra y tambieacuten la inhibe iquestQueacute haydetras de esta eleccioacuten de Aristoacutefanes iquestPor queacute elegir al culpablemitico de dos delitos la violacioacuten y el silenciamiento de la victimaLa inversioacuten propia de la comedia provoca una presentacioacuten dellado oscuro del mito como si se tratase de un episodio inocuo Noresulta menos cierto que en esta comedia sobre el poderAristoacutefanes conservoacute la idea griega del poder masculino y laconvocatoria al nuevo poder de las aves la realiza tambieacuten Tereocomo ave masculina

Veamos coacutemo convoca Tereo al ruisentildeor entre los v 209-22119

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Ἔ ποψἄγε σύννομέ μοι παῦσαι μὲν ὕπνου λῦσον δὲ νόμους ἱερῶν ὕμνωνοὓς διὰ θείου στόματος θρηνεῖς τὸν ἐμὸν καὶ σὸν πολύδακρυν Ἴτυν ἐλελιζομένης δ ἱεροῖς μέλεσιν γένυος ξουθῆς καθαρὰ χωρεῖ διὰ φυλλοκόμου μίλακος ἠχὼ πρὸς Διὸς ἕδρας ἵν ὁ χρυσοκόμας Φοῖβος ἀκούων τοῖς σοῖς ἐλέγοις ἀντιψάλλων ἐλεφαντόδετον φόρμιγγα θεῶ ν ἵστησι χορούς διὰ δ ἀθανάτων στομάτων χωρεῖ ξύμφωνος ὁμοῦ θεία μακάρων ὀλολυγή

( αὐλεῖ)

Vamos compantildeera miacutea pon fin a tu suentildeo vierte a torrentes los acordesde los himnos sagrados con los cuales desde tus divinos labios lamentas anuestro hijo el triste Itys produciendo un murmullo con las liacutempidasnotas de tu vibrante garganta A traveacutes del espeso follaje del bosque tupuro sonido llega al trono de Zeus y en respuesta el dios de cabellos deoro Febo contesta con los acordes de su lira de marfil a tus penososacentos El preside los coros de los dioses y desde los labios de losinmortales la armoniosa voz del estribillo de los bienaventurados se elevaal uniacutesono

La amorosa invitacioacuten no produce el ingreso de Procnehasta el v 665 En esa escena el personaje silente sale ataviado conexcesivos adornos dorados como comentan los ancianos que laobservan como mujer y no como ave A tal punto que Eueacutelpidesintenta besarla por la fuerza en una mimesis risuentildea e invertida dela secuencia mitica de la violacioacuten La escena sirve de introduccioacutena la parte estructural de la comedia llamada parabasis en la que elcoro canta directamente al publico En ese momento TereoEueacutelpides y Pisteteros abandonan la escena para que el coro puedaexponer la famosa cosmogonia y teogonia que la comediapresenta

La invitacioacuten de Tereo representa el momento de laseduccioacuten no obstante Tereo sigue siendo el que secciona

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lenguas20 En el final de la comedia cuando el coro dice ldquoen toda elAtica la lengua se corta aparterdquo (πανταχοῦ τῆς Ἀττικῆς ἡ γλῶτταχωρὶς τέμνεται 1705) comprendemos que esta comedia no soacutelo hapresentado un mito ha buscado el mito que politicamenterepresente a los atenienses silenciados de este modo tanto Tereocomo Pisteteros representan el poder omnimodo

Desde que Odisea planteoacute los problemas comunicativos delCiclope que habla a su carnero la cuestioacuten del lenguaje y lacivilizacioacuten ha aparecido con recurrencia en los textos En el casod e Aves la ruisentildeora Procne termina por representarfemeninamente a esa ciudad de Atenas que seducida por Tereo oconducida por Pistetero queda al final sin habla En la comediatodo es movimiento y transformacioacuten de humanos en aves deaves que hablan como humanos para enfocar que uno de losaspectos criticos de la distribucioacuten de poder en la poacutelis es lacomunicacioacuten

No es casual que en una pieza en la que se recrea el mitode Tereo el Coro cierre la obra con la mencioacuten de una estirpe deἘ γγλωττογαστόρων γένος ldquocomedores de lenguasrdquo (v 1696-7)Aves asegura el valor de la palabra

A MODO DE CONCLUSIOacuteN COMPARATIVA

iquestPor queacute reaparece un ruisentildeor No he tratado aqui deanalizar similitudes ni diferencias sino de comprender desde queacutepunto de vista el ruisentildeor una voz femenina en la literatura griegaimpone una ejecucioacuten o reflexioacuten acerca de la mimesis orepresentacioacuten particular de las victimas La imposibilidad decomunicar la pena de amor impone una performance comovehiculo en consecuencia Peneacutelope necesitoacute recurrir al lamentoininterrumpido y a las variaciones de voz del ruisentildeor La pena queno se puede decir puede convertirse en son

En Odisea los adjetivos que califican el canto del ruisentildeorson responsables de proponer una representacioacuten lirica en eldiscurso eacutepico En Hesiodo la moraleja no llega a acallar el sonidodel ruisentildeor que chilla en una exacta mimesis del poeta

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manipulado por los poderosos vulnerable como el femeninoruisentildeor Aristoacutefanes entrevioacute con claridad coacutemo proponer el mitodel que cercena la lengua de la ciudad para ensayar la utopia deanimales que pueden ser silenciados o comunicar en su lamentomas que los humanos En cada uno de estos textos cuando ellenguaje resulta imposible el canto del ave resulta un alertainteligible

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ABSTRACT

Aedon Poetic Performance of the Victims

The figure of the nightingale is present for first time in the19 book of Odyssey (v 518-523) later in the fable contained inWorks and Days (v 202-212) by Hesiod and in the comedy Birds byAristophanes The present article analyzes with comparativemethodology the peculiar representation of the victim of sometype of violence in the mentioned texts and what interpretationcan be derived in each specific discursive context

KEYWORDS

Aedon Homer Hesiod Aristophanes

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1 Cfr NAGY 1996 p 7-82 Segun STANFORD 19672 p 336 el texto constituye la primera aparicioacuten poeacuteticadel ruisentildeor el pasaje es el unico lugar en que el canto se diferencia de los gritosy contiene un error de historia natural ya que la hembra del ave no canta Seconsidera que el relato mas estandarizado se deriva de la pieza Tereo de Soacutefocles(cuya hipoacutetesis estaria contenida en POxy 423013) Contamos con el relatocontenido en La Biblioteca de Apolodoro (3148) Metamorfosis de Ovidio 6427ndash674 y con testimonios en otros textos como Agamenoacuten (1140ndash1145) y Suplicantes(60-68) de Esquilo Electra de Soacutefocles (147ndash149) Heracles de Euripides (1020)Aves de Aristoacutefanes (200ndash210) Tambieacuten hallamos testimonios en la prosa deTucidides 2293 en la Oracioacuten fuacutenebre de Demoacutestenes 28 en Pausanias 1541243 1418 1049 e incluso en Estraboacuten 9313 Aedoacuten y Calidoacuten se hallanrepresentadas en una metopa en el templo de Apolo en Thermos3 En Iliacuteada XXIV 599 la referencia a Niobe y a sus numerosos hijos se parangonacon la situacioacuten de Heacutecuba y con el hecho de haber sufrido tambieacuten unametamorfosis que eterniza su pena fue convertida en una piedra que ldquollorabardquopermanentemente4 Sobre los vinculos de Odisea con la disputa entre Atenea y Poseidoacuten por elpatronazgo de Atenas veacutease COOK 1995 p 129-1305 χλωρηῒς implica verdura o frescor STANFORD 19672 p 336 se inclina por latraduccioacuten verde amarillento ldquoreferring either to the fact that the bird hauntsthe greenery of the woodhelliprdquo Se puede interpretar como representacioacuten delcolor del ave de sus sonidos frescos o juveniles o de su habito de cantar entre elfollaje NAGY 1996 p 37-38 sentildeala que opta por traducir ldquoen la verdurardquo porasociacioacuten con el uso de khlōrauacutekhēn (χλωραύχην) que suele traducirse como deldquoverde gargantardquo y se utiliza como epiteto del ruisentildeor en Simoacutenides PMG 5862(ἀηδόνες χλωραύχενες) Segun CHANTRAINE 1975 p 1285 la palabra serefiere a un verde claro o al verde del brote reciente de una planta pero tambieacutenalude a las caracteristicas de la voz del ave RUSSO1992 p 100 en cambiosostiene que la palabra tiene un valor de gentilicio expresaria lo mismo queCriseida en relacioacuten con Crises y deberia comprenderse como Aedoacuten ldquola delfollajerdquo 6 19 518-5237 Parece mas plausible considerar que hay un temor en Peneacutelope a causar lamuerte de su hijo a manos de los pretendientes Su temor esta bien fundadohubo un intento fallido durante el viaje de Teleacutemaco en los primeros cantosElla podria causar involuntariamente la muerte de su hijo y esa seria su ἀφραδίηldquoignorancia o locurardquo el hecho de no aceptar el matrimonio quecontextualizado con el mito de Aedoacuten evidentemente le repugna como unaviolacioacuten8 ANHALT 2002 p 1489 LEVANIOUK 2011 p 22810 Sobre esta variante veacutease NAGY 1996 p 38-39 VAN DER VALK 1949 p 8311 ldquoMouvancerdquo como ldquoincesante vibracioacutenrdquo es aplicado por ZUMTHOR 1987 p160-161 a los textos medievales que atestiguan diversas variantes y por lo tantotiene una forma inestable propia de una tradicioacuten oral CERQUIGLINI 1989 p111 prefiere la denominacioacuten de ldquovariancerdquo ya que considera que los textosmedievales son en si ldquovariacioacutenrdquo Sobre la discusioacuten de ambos conceptos veacuteaseNAGY 1996 p 9-1012 HUNTER 2014 p 226-249

13 Cf VIANELLO 1979 p CCXCVII ldquoEn efecto el simil en la poseia eacutepica carecesiempre de una moraleja como se da al contrario en nuestro caso (cf los v210-211 que Aristarco el filoacutelogo alejandrino suprimioacute como espurios segun eltestimonio de Proclo 1568)rdquo14 ποικιλόδειρον otro modo de referirse a la garganta o cuello del ruisentildeortambieacuten podria traducirse como ldquode voz coloridardquo15 La forma λέληκας proviene del verbo λάσκω que indica el ruido de las avestambieacuten un ruido crepitante o a veces el canto16 Cfr Hesiodo Erga v 106-20117 Una critica a la expedicioacuten a Sicilia18 Cfr SOMMERSTEIN 1987 p 202

19 La mimesis del canto de las aves que la obra impone causoacute algunosinconvenientes en la performance y en la composicioacuten Por ejemplo Tereo debesalir de escena para entonar su canto de llamada al ruisentildeor Las opiniones sondivergentes pero probablemente el actor que representaba a Tereo no disponiade la destreza vocal necesaria para cantar el efecto es que la flauta quereemplaza al canto del ruisentildeor cumple la funcioacuten de un threnos apo skeneacutes esdecir de un lamento cantado fuera de escena ya que el contenido del canto delruisentildeor es un lamento por el nintildeo muerto La mimesis del canto del averealizada por la flauta nos lleva nuevamente al problema de la mimesis liricaahora en el contexto del drama Cf SOMMERSTEIN 1987 p 21120 Cinesias el poeta ditirambico tambieacuten desea convertirse en ruisentildeor pero nolo logra y repite su pesada poesia Aqui tambieacuten aparece la cuestioacuten de lamimesis del canto del ave como lirica Cf Aves v 1380

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Arete a virtude em si na Odisseia eacute umamulherAlessandra Serra Viegas

RESUMO

Este sucinto trabalho pretende trazer uma conversa acerca de umamulher que Homero nos apresenta entre os cantos VI-XI daOdisseia a forte e nobre Arete A rainha dos Feaces e esposa do reiAlcinoo eacute algueacutem de quem natildeo se ouve falar muito No entantoquando nos aproximamos dessa mulher atraveacutes da poesia eacutepicadeparamo-nos na verdade com a proacutepria virtude em pessoa aareteacute (a)reth ) como bem o nome lhe representa Por isso fica no arum questionamento quem eacute a mulher cheia de virtude naAntiguidade grega Eis a provocacatildeo ndash positiva ndash em que esteescrito quer envolver o leitor

PALAVRAS-CHAVE Homero mulher areteacute

SUBMISSAtildeO 29 dez 2017 | PUBLICACcedilAtildeO 31 dez 2017

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Arete a virtude em si na Odisseia eacute uma mulher | Alessandra Serra Viegas

QUEM Eacute A VIRTUDE EM HOMERO rete a rainha dos Feaces1 eacute sobrinha e esposa do reiAlcinoo cuja corte eacute modelo de comportamento eelevacatildeo presente na trama da Odisseia de HomeroSua gesta heroica (porque a consideramos umaheroina) esta contida em boa parte do poemahomeacuterico (cantos VIndashXII) quando das peripeacutecias emmeio ao regresso de Odisseu a Iacutetaca sua terra natalChama atencatildeo a elevacatildeo da rainha Arete (seucarater e reputacatildeo satildeo imaculados) a qual remetetodo o tempo ao significado de seu nome ndash a)reth ndash eacutea proacutepria virtude a qualidade de quem eacute nobre justodigno forte de carater eacutetico e belo Arete eacute a virtudeem pessoa portando todas estas qualidades em forma

de mulher rainha esposa e matildee O conceito de a)reth eacute intrinseco ao grupo dos aristoindash os

bem-nascidos pertencentes aos ldquomelhoresrdquo da sociedade e sedesenvolve a partir do contexto de batalhas da Iliacuteada de Homeronatildeo podendo nesta ser dissociado do espirito heroico que semostra nas lutas e vitoacuterias de cada heroacutei-guerreiro em seuscombates Na Iliacuteada (a)reth eacute a mais alta distincatildeo e o proacuteprioconteudo da vida desses heroacuteis Esses pressupostos de valentia evirtude pois satildeo plenamente valorizados no periodo classico (seacutecVIndashV aC) sendo associados ao principio vigente do bem e do beloem uma pessoa ndash o homem de valor Este eacute o principio que regeos participantes da aristocracia o governo da cidade pelos nobrespelos melhores pelos aristoi

Aos aristoi pertence a expressatildeo grega kaloka)gaqia oukalon te ka)gaqon aquele que eacute tanto belo como nobre empregadaa partir dos textos gregos do periodo classico principalmente nasobras de Xenofonte Platatildeo e Aristoacuteteles Apesar disto Homero jadesigna na Iliacuteada o paradigma do heroacutei-guerreiro a partir da suabeleza corporal e da sua nobreza mesmo natildeo utilizando o termokalon te ka)gaqon propriamente Eacute o helenista Jean-Pierre Vernantque em seus estudos sobre Homero2 apontara os heroacuteis-guerreiros como kaloi kai a)gaqoi3

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A

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Homero eacute o nome que se convencionou para o poetaeacutepico cuja lenda aponta para um aedo cego nascido em Quios ouem Esmirna por volta do seacutec VIII aC e que recitava oralmente ospoemas cantando-os por isso era um aedo Para as questotildees deautoria dos poemas surgiu o que se denomina a questatildeohomeacuterica4 Histoacuterica e literariamente torna-se mais adequado dizerldquoo que foi Homerordquo isto eacute referir-se ao modo de narrar do autorque ressalta as questotildees humanisticas subjacentes aos textos aomostrar por exemplo em lugar de um acontecimento como o daguerra de Troia a coacutelera de Aquiles um detalhe na guerra (Iliacuteada)ou no poacutes-guerra os sofrimentos de Odisseu em sua buscadesenfreada para salvar a vida e voltar a casa (Odisseia)

Com efeito o poeta da epopeia retrata os homens querepresentam a elevacatildeo da sua cultura e costumes pois com essesesta o seu coracatildeo (do poeta) e a exaltacatildeo que faz de tais homenstem em seu acircmago a intencatildeo paideacutetica (paideia) educativa5 NaIliacuteada a virtude do heroacutei ndash a sua a)reth ndash esta em sua destrezaforca e valentia para o campo de batalha uma bela vida que podeculminar em uma bela morte6 Na Odisseia onde Arete surge oideal herdado da destreza guerreira une-se agraves virtudes espirituais esociais tendo como modelo o heroacutei a quem natildeo falta o conselhointeligente ndash Odisseu ndash que na luta pela vida e na volta ao lar saisempre triunfante dos perigos e dos inimigos Esse conselhointeligente tambeacutem se mostra na esposa de Odisseu Peneacutelope7 ena rainha Arete cuja fala eacute acatada pelos anciatildeos e conselheiros dorei e pelo proacuteprio esposo Alcinoo8 representando assim umargumento de autoridade diante dos nobres e tambeacutem diante doproacuteprio povo

Na cultura aristocratica a a)reth proacutepria da mulher eacute aformosura em que o culto agrave beleza feminina corresponde agraveformacatildeo cortesatilde nesta sociedade Natildeo obstante a Odisseiaapresenta mulheres que surgem natildeo apenas como objeto dasolicitacatildeo eroacutetica do homem como Helena esposa de Menelau eraptada por Paris por sua beleza ou Peneacutelope9 esposa de Odisseudesejada pelos pretendentes mas a firme posicatildeo social e juridicade dona de casa Como em outra literatura provavelmente escrita

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Arete a virtude em si na Odisseia eacute uma mulher | Alessandra Serra Viegas

por volta do seacutec V aC na Antiguidade judaica (o AntigoTestamento) na ode a uma mulher de grande forca e valor (cfProveacuterbios de Salomatildeo 3110-31)10 as virtudes das mulheres gregascompreendem principalmente o sentido da modeacutestia e odesembaraco no governo do lar Desse modo Peneacutelope eacute louvadapor sua moralidade rigida e virtudes caseiras11

Senhora homem em lugar algum da terra tem o direito de censurar-te Teu nome bate no ceacuteu Eu te comparo a um rei competente piedoso comautoridade sobre muitos gente poderosa zelosodo cumprimento da lei Seus campos produzemtrigo cevada arvores frutiferas Gado gordonas pastagens Peixes fornece o mar Gracas a seugoverno o povo prospera12

Helena de volta a Esparta com Menelau o primeiromarido aparece como protoacutetipo da grande dama modelo deelegacircncia distinta e de soberana forma e representacatildeo social eladirige a conversa ao hoacutespede homem suas servas trazem ecolocam agrave sua frente um fuso de ouro e uma roca de prata13

(instrumentos pertencentes ao modelo feminino grego sem osquais natildeo se concebe uma dona de casa) quando entra e tomaassento na sala ao lado dos homens14

Arete eacute citada pela primeira vez na Odisseia por boca deOdisseu no seu encontro com a princesa Nausicaa filha deArete15 Odisseu menciona o porte a postura e a beleza daprincesa e declara como por prolepse venturosa por trecircs vezes asua nobre matildee (potnia mhthr) ainda que natildeo a conheca Nausicaaesta na praia com suas servas as quais se assustam por ela estardialogando com um homem vitima de naufragio mas a princesanatildeo se importa e vai descrevendo seu reino seus costumes paracom os estrangeiros e pobres (cei~noi te ptwxoi te) consideradosaqueles que Zeus envia para que se lhes faca o bem16 Odisseu selava e se veste afastado das mocas a deusa Atena lhe reveste debeleza e a ele eacute servida uma refeicatildeo junto agrave princesa17 Emseguida Nausicaa orienta Odisseu sobre como devera secomportar ao chegar agrave cidade dos feaces pois ela e suas criadas

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iratildeo antes para que natildeo sejam vistas entrando com um estrangeirona cidade Finalmente a princesa lhe diz o que fazer ao chegar aopalacio a fim de que alcance auxilio e acolhida

[hellip] Atingindo o palacio entra atravessa o salatildeo Dirige-te primeiro agrave minha matildee Ela deveraestar sentada contra a coluna junto agrave lareira para fiar agrave luz do fogo espetaculo de encher os olhos Atras dela poderas ver o trabalho das criadas Encostado agrave mesma coluna encontra-se a poltrona de meu paiAcomodado nela com imponecircncia divina devera estarele a provar um calice de vinho Deveras passar por elee abracar suplicante os joelhos de minha matildee a fimde que te seja concedido ver o alegre dia do regresso mesmo que vivas longe Se ela te der acolhida cordial havera muita probabilidade de veres teus queridos tuacasa solidamente construida tua patria tua terra18

A descricatildeo da corte do rei Alcinoo e das caracteristicas eestrutura da cidade dos feaces eacute a pintura fiel de uma cidade-estadojocircnica sob o dominio de um rei por volta dos seacutec VII-V aC19

Cumpre observar nessa cidade o influxo das atitudes tomadas porArete sua filha Nausicaa e tambeacutem pela deusa Atena apontandoseu valor na trama e seu cuidado quase materno para que Odisseuretorne ao lar Assim a Odisseia apresenta sagas heroicas e omundo do fabuloso e do maravilhoso no qual Atena em variostrechos transfigura-se em personagens humanos para auxiliarOdisseu Tambeacutem e com maior forca a Odisseia descreve asrelacotildees familiares aproximando o ouvinte-leitor20 de umarealidade em que este natildeo deixa de estar inserido sua proacutepriafamilia

Arete surge novamente na narracatildeo de sua origem nobre esua posicatildeo Atena transfigura-se em um jovem feace que levaraOdisseu ao palacio de Alcinoo e enquanto o conduz conta-lheque Arete descende de Poseidon e de Peribeia imagem sublimeentre as mulheres (gunaikw~n ei0~doj a)risth) O pai de AreteRexenor foi fulminado pelas flechas de Apolo e

Deixou no palacio uma unica filha Arete

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Arete a virtude em si na Odisseia eacute uma mulher | Alessandra Serra Viegas

Alcinoo tomou-a por mulher e a honrou como nunca ningueacutem honrou outra na face da terra de quantas sob o governo de homens administram a casa Afetuosamente respeitada por seu esposo ela vive com seus filhos e com Alcinoo O povolhe tributa homenagem e a aclama com palavrasentusiasticas quando aparece na cidade Conhecida pelo seu bom senso concilia mulheresconhecidas suas Resolve ateacute conflitos de homens21

Pelo favor de Arete Odisseu eacute acolhido no palacio deAlcinoo e tratado com todas as honras devidas a um hoacutespede Elese recolhe todas as noites em um quarto que lhe eacute preparadoparticipa dos banquetes ouve as gestas dos heroacuteis ndash e a sua proacutepriada guerra de Troia ndash pelo aedo22 Demoacutedoco emociona-se viraaedo de si mesmo contando suas gestas e todos ouvemembevecidos Nesta audicatildeo somente Odisseu interrompe o relatopara trazer sua proacutepria gesta e somente Arete toma a palavra quesera reiterada por Alcinoo e posta em pratica pelos nobres23 queconsideram a rainha muito prudente (perifrwn)24

Que vos parece este homem feaces no aspecto notalhe no equilibrio das decisotildees Ele eacute meu hospede cada um de voacutes participa desta honra Natildeo se pense em abreviar-lhe a estada Natildeo sejais econocircmicos ao presentea-lo Ele necessita de muito [hellip]

Se Homero eacute o educador de toda a Greacutecia como afirmaPlatatildeo25 eacute preciso refletir acerca do aspecto paideacutetico da epopeiahomeacuterica ndash mulheres ensinam satildeo honradas e valorizadas por seusmaridos convivem em ambientes publicos e muitas vezesdeterminam as acotildees e tomadas de decisotildees dos mesmos Assim oque o poema homeacuterico presente como coacutedigo para a boaformacatildeo26 pretende inculcar na mente dos jovens que satildeoeducados a partir destes valores A ideia filosoacutefica de bem nosentido estrito modelo de validade universal procede diretamentedo modelo da eacutetica da a)reth proacutepria da nobreza homeacutericapresente na Odisseia encarnada por Arete a rainha dos feaces27

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Ainda quanto ao aspecto paideacutetico ao contrario da Iliacuteada aOdisseia acontece em um contexto de paz com muitas cenas emambientacatildeo interna o que proporciona a participacatildeo efetiva dasmulheres na trama O contexto de paz tambeacutem coloca a Odisseiaem um plano mais elevado que a Iliacuteada em que ha ternuraintimidade e refinamento de sentimentos Esta intima e profundacivilizacatildeo eacute o produto do influxo educador da mulher numasociedade rudemente masculina violenta e guerreira

Em intima e pessoal relacatildeo do heroacutei Odisseu com a deusaAtena que o orienta nas suas andancas e jamais o abandona opoder espiritual da mulher como inspiradora e guia acha a suaexpressatildeo mais bela28 pois ao longo de toda a trama Odisseu eacuteguiado por inspiracotildees de Atena sempre renovadas29 O quadro dacultura dos nobres esbocado nos poemas homeacutericos ndashprincipalmente na Odisseia ndash engloba tambeacutem descricotildees vivas daeducacatildeo usual muitas vezes protagonizadas por mulheres em taiscirculos30

Os homens e mulheres muito mais na Odisseia do que naIliacuteada de Homero satildeo tatildeo reais que se poderia vecirc-los com os olhose toca-los com as matildeos devido ao contexto de paz e intimidade emque se encontram Tais personagens satildeo sempre naturaismanifestando a proacutepria essecircncia31 ao ouvinte-leitor Por issomulheres como Arete Helena e Peneacutelope estatildeo em intima conexatildeocom o mundo exterior pela coerecircncia do pensamento e da acatildeocomo mulheres de forca e valor mulheres empoderadas Gestos eexpressotildees exageradas dessas mulheres seriam insuportaveis aoouvinte-leitor e inadequadas agrave epopeia Sua solidez facilidade demovimentacatildeo e coragem que a nada se pode comparar fazemdelas heroinas e mulheres que seriam encontradas na Greacuteciaarcaica e classica por um marido de sorte

Ainda quanto agrave caracterizacatildeo da mulher assim comoArete eacute a companheira idocircnea e par perfeito e proacuteximo de AlcinooPeneacutelope eacute quem mais se aproxima do carater do heroacutei principalna trama pois como um alter ego de Odisseu tambeacutem fala comprudecircncia e inteligecircncia e ainda eacute ardilosa Nessa culturaaristocratica que envolve a eacutepica agrave mulher cabe a formosura e a

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prudecircncia no governo de sua casa Neste acircmbito Helena eacute louvadano primeiro quesito32 e Arete esposa do rei dos Feaces nosegundo Com efeito a mulher eacute atendida e honrada natildeo soacute comoum ser util e na qualidade de matildee dos filhos legitimos mas acimade tudo porque nesta sociedade a mulher pode ser matildee de umageracatildeo ilustre pois ela eacute a mantenedora e guardiatilde dos mais altoscostumes e tradicotildees33

Acerca da rainha Arete para uma mulher cujo nome epessoa satildeo a proacutepria virtude a)reth tem-se um homem Alcinooaquele cuja forca esta no intelecto (a)lkh [a)lki] + forca nooj ndashcapacidade intelectual) Aleacutem disso o rei eacute um marido idocircneo ecompativel agrave rainha Arete a primeira vez em que o nome deAlcinoo ocorre na Odisseia34 segue-lhe o epiteto ldquoo de saber divinordquo(qew~n apo mhdea ei~dwj) lembrando-se de que nos poemashomeacutericos a primeira aparicatildeo de um personagem seguida de seuepiteto satildeo marcantes indicando seu carater e determinando seucomportamento ao longo de todo o texto35 Ao mesmo tempo emque Arete eacute a mulher de valor (a)reth ) torna-se uma mulher deforca (a)lkh) Isso se da por ser esposa de Alcinoo (a)lkh + nooj) ecorrespondente exata em paridade com ele na sua caracterizacatildeo

Nos poemas homeacutericos os vocabulos a)lkh e a)reth estatildeoprofundamente ligados agrave vida e agrave imagem do homem (e emmulheres de posicatildeo ou heroinas) na sociedade em que estainserido Neste contexto a)reth natildeo eacute o conceito puramenteabstrato a respeito da virtude mas essencialmente a excelecircncia asuperioridade o alvo supremo do heroacutei homeacuterico que se revelaconcretamente no campo de batalha na Iliacuteada e das lutas com ospercalcos e vicissitudes da vida na Odisseia atraveacutes da coragem eda forca36 cujos heroacuteis e heroinas satildeo a representacatildeo do atleta quecompete nos jogos em tempos de paz e combate como hoplita (ainfantaria) nos tempos de guerra

A realidade estabelecida na eacutepica homeacuterica tambeacutem ostragedioacutegrafos conhecem ndash o que se vera aplicado agrave mulher naprincesa Alceste de Euripides Ha uma determinacatildeo histoacuterica quefaz com que alguns sentidos dos vocabulos sejam lidos e outrosnatildeo37 isto eacute o contexto histoacuterico-social de producatildeo dos textos

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aplica aos vocabulos do discurso limites de interpretacatildeo ligados aomodo como a sociedade em questatildeo os utiliza38 Na maior partedas ocorrecircncias a associacatildeo da a)reth (a virtude) e da a0lkh (aforca) ao universo masculino eacute um irrefutavel exemplo daaplicabilidade deste pressuposto No entanto sua utilizacatildeo paraheroinas e personagens femininas da pistas da possibilidade daparidade entre mulheres e homens na sociedade grega dos seacutec VIIndashV

aC a cujos ouvintes-leitores natildeo causara estranhamento ao teremcontato com tais textos

PARA NAtildeO CONCLUIR ndash NUNCA Alguns elementos caracteristicos na rainha Arete

caracterizam-na como mulher cheia de forca e virtude Assimcomo supracitado a)lkh e a)reth forca e virtude ndash ou valor ndash satildeodois atributos que caminham juntos na cultura grega para designarheroacuteis e heroinas Uma resposta plausivel eacute apontar o eacutethos ndashcostumes e crencas ndash que eleva mulheres de forca e valordemonstrados nos textos agrave categoria de heroinas

Arete eacute vista em paridade ao seu marido Alcinoo o qualtambeacutem porta a forca (a)lkh ) componente de seu proacuteprio nomeuma forca de que ambos satildeo investidos Alcinoo ainda eacute aqueleque honra Arete como a nenhuma outra mulher39 O valor deArete eacute reconhecido por todo o seu povo os feaces e cantadopelo poeta eacutepico na ldquofuncatildeordquo de narrador ldquoO povo lhe tributahomenagem e a aclama com palavras entusiasticas quandoaparece na cidade Conhecida pelo seu bom sensordquo40

Arete eacute uma mulher de atitudes e de palavras diante de seupartner em cena o rei Alcinoo Na cena do jantar com OdisseuArete rompe o silecircncio para pedir que auxiliem a Odisseu quandode seu regresso Agrave fala de Arete um anciatildeo Equeneu reageldquoAmigos natildeo foge do nosso escopo o que declarou a sabiarainha Natildeo decidamos poreacutem antes de ouvir Alcinoo aqui presente Falar e agir eacute sua competecircnciardquo41 Ao que Alcinooassevera ldquoO que ouvimos [de Arete] sera executadordquo42

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ABSTRACT Arete the Virtue per se in the Odyssey is a Woman

This concise writing intends to bring a conversation abouta woman introduced by Homer between Songs VI-XI of theOdyssey the strong and noble Arete The Queen of Feaces andwife of King Alcinoo is someone that is not heard too muchabout However when we approach this woman through the epicpoetry we face as a matter of fact with virtue itself the arete(a)reth ) as good as the name represents Therefore a wondercomes around who is the woman with noble character in theAncient Greece That is the ndash positive ndash challenge in which thiswriting wants to engage the reader

KEYWORDS

Homer Woman Arete

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REFEREcircNCIAS DOCUMENTACcedilAtildeO TEXTUAL

BERLIN A ZVI BRETTLER M (Eds) The Jewish Study BibleTANAKH Translation [Jewish Publication Society] New YorkOxford University Press 2004HOMEgraveRE Iliade Texte eacutetabli et traduit par P Mazon Paris LesBelles Lettres Tome I (1987) Tome II (1992) Tome III (1994)Tome IV (1982) HOMEgraveRE LrsquoOdyseacutee Poeacutesie Homeacuterique Texte eacutetabli et traduit parV Beacuterard Paris Les Belles Lettres 1953 Tomes I II III IV HOMERO Odisseia Trad Donaldo Schuumller Porto Alegre LampPM2007 (3 vols)

DICIONAacuteRIO

BAILLY A Dictionnaire grec-franccedilais Paris Hachette 2000

LIVROS

CARPEAUX OM Histoacuteria da civilizaccedilatildeo ocidental Rio deJaneiro O Cruzeiro 1959JAEGER W Paideia a formacatildeo do homem grego Trad Artur MParreira Satildeo Paulo Martins Fontes 2001ORLANDI EP Discurso e leitura Satildeo Paulo Cortez CampinasEdUNICAMP 1988PEREIRA MHR Estudos de histoacuteria da cultura claacutessicacultura grega Lisboa Calouste Gulbekian 2006 v 1VERNANT JP VIDAL-NAQUET P Entre mito e poliacutetica na GreacuteciaAntiga Traducatildeo Anna Lia A de Almeida Prado Maria daConceicatildeo M Cavalcante e Filomena Yoshie Hirata Garcia SatildeoPaulo Duas Cidades 1977WINKLER JJ The Constraints of Desire the Anthropology ofSex and Gender in Ancient Greece New York LondonRoutledge 1990

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ARTIGOS

LANG B Womens Work Household and Property in TwoMediterranean Societies a Comparative Essay on Proverbs XXXI

10-31 VT 54 n 2 2004 p 188-207RACE W First Appearances in the Odyssey TAPS n 123 1993 p79-107RIESS JK The Woman of Worth Impressions of Proverbs 3110-31 Dialogue 30 n 1 Spr 1997 p 141-151SZLOS BM A Portrait of Power a Literary-Critical Study of theDepiction of the Woman in Proverbs 3110-31 USQR 54 n 1-22000 p 97-103VAINSTUB D Some Points of Contact between the BiblicalDeborah War Traditions and Some Greek Mythologies VT n 61m2011 p 324-334WOLTERS A M Proverbs 3110-31 as Heroic Hymn a Form-Critical Analysis VT 38 n 4 1988 p 446-457

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1 Os Feaces satildeo um povo mitico apresentado nos cantos VndashVII da Odisseia comouma sociedade modelo quanto aos valores e ao comportamento no trato com oshomens e mulheres Na eacutepica Odisseu sofre um naufragio e eacute encontrado napraia do Reino dos Feaces pela princesa Nausicaa e suas mocas Nausicaa oinstruira a como lidar com a cultura e o comportamento do seu povoapontando que para que alcancasse o favor do rei Alcinoo seu pai primeiroteria que alcancar o favor da rainha Arete sua matildee como se vera adiante 2 VERNANT 2002 p 414-4193 A expressatildeo formada a partir dos adjetivos kaloj belo e a)gaqoj bom nobreligados por kai ou te e ou ambos desempenha um importante papel naformulacatildeo de muitas concepcotildees eacuteticas sociais e (num sentido muito amplode) politicas da Antiguidade Literalmente equivale agrave foacutermula de qualidadeldquobeleza e bondaderdquo Ora ldquoser belordquo significa primariamente ldquoser nobrerdquoenquanto ldquobom exemplar do proacuteprio tipordquo Por isso o termo kaloka)gaqia eacutefrequentemente traduzido por ldquonobreza e bondaderdquo bem como por ldquohonrardquoCom efeito o kaloka)gaqoj eacute um modelo do ldquohomem honradordquo ldquonobre e bomrdquoe portanto o ldquobom cidadatildeordquo Esse sentido ldquocivicordquo esta presente emXenofonte Platatildeo e Aristoacuteteles Nestes a nocatildeo de kaloka)gaqia eacute uma nocatildeoeducativa na medida em que exprime a ideia da boa educacatildeo oposta agrave ideia dopoder puro e simples Ela eacute em grande parte a justificacatildeo ldquoeducativardquo dopoder O homem kaloka)gaqoj eacute aquele que exerce o poder de um modointimamente ligado agrave justica Por isso o kaloka)gaqoj eacute ao mesmo tempo ldquoohomem justordquo

4 A Questatildeo Homeacuterica eacute formulada a partir da seguinte inquietacatildeo quem eacute oautor da Iliacuteada e da Odisseia e como essas obras chegaram ao texto finalDioacutegenes de Laeacutercio (I 57) fala de interpolacotildees realizadas por Pisistrato notexto homeacuterico Quanto ao autor das obras as respostas satildeo variadasreduzindo-se todas elas a trecircs teses principais a unitarista (um soacute eacute o autorprincipal dos poemas homeacutericos) a dualista (dois poetas diferentes trabalhandona mesma tradicatildeo) e a pluralista (satildeo varios os autores de cada um dospoemas) Quanto agrave redacatildeo dos textos as correntes de critica textual dosmodernos (seacutec XIX) dividem-se em Teoria da Ampliacatildeo (considera-se umaIliacuteada primitiva de pequena extensatildeo a qual crescera com o decorrer do tempoateacute alcancar as proporcotildees tradicionais da obra) defendida por G HERMANNTeoria dos Cantos (a Iliacuteada continha cerca de dezesseis cantos individuaisdivididos por K LACHMANN) e a Teoria da Compilacatildeo (tanto a Iliacuteada quanto aOdisseia natildeo eram cantos e sim pequenas epopeias de diversas proporcotildees evalor tambeacutem diverso) desenvolvida a partir da analise de A KIRCHHOFF (cfLESKY 1995 p 51-52) problema que tem preocupado especialistas desde osgregos eruditos do periodo helenistico ndash os primeiros a cogitar a questatildeo ndash ateacuteos nossos dias ainda que para alguns autores a principal questatildeo natildeo eacute pensarquem foi Homero e quando as obras foram convertidas da tradicatildeo oral ecompiladas na tradicatildeo escrita e sim o que foi Homero Dadas as diferencas domeio e da estrutura social a diferenca de tema e as diferencas vocabulares eestilisticas da Iliacuteada e da Odisseia parece legitimo concluir que os dois poemasforam compostos por diferentes poetas em tempos e lugares distintos O tema eacutediscutido entre historiadores literatos e linguistas tais como G S KIRK (1965)R AUBRETON (1956) D SCHUumlLER (1972) M FINLEY (1981) W BURKERT (1993)A LESKY (1995) e todos os que veem o valor da obra homeacuterica para a proacutepriaconstrucatildeo e fixacatildeo de valores tais como eacutetica preceitos morais e principiosguerreiros como a defesa da honra e ainda o conceito de (a)reth junto agravesociedade ocidental5 JAEGER 2001 p 446 VERNANT Lrsquoindividu la mort lrsquoamour Soi-mecircme et lrsquoautre en Gregravece ancienne 1989___Entre mito e poliacutetica 2002 Bela morte eacute um conceito criado e proposto por Jean-Pierre Vernant para o guerreiro que morre em batalha e alcanca a gloacuteriaimperecivel e sera imortalizado na memoacuteria coletiva de seu povo atraveacutes doscantos dos aedos como ocorreu aos heroacuteis da Iliacuteada 7 Cf Odisseia XI v 4468 Cf Odisseia XI v 336-340

9 Grande parte da Odisseia se da com Peneacutelope tendo que lidar com a situacatildeo dos pretendentes que desejam toma-la como esposa por sua beleza fisica e sua firmeza de carater visto que se pensa que Odisseu morrera quando do retorno de Troia para Iacutetaca seu reino Os pretendentes soacute satildeo mortos por Odisseu no ultimo canto (cf Odisseia XXII)10 ldquoMulher virtuosa quem a achara O seu valor muito excede ao de rubis Ocoracatildeo do seu marido esta nela confiado assim ele natildeo necessitara de despojoEla soacute lhe faz bem e natildeo mal todos os dias da sua vida Busca latilde e linho etrabalha de boa vontade com suas matildeos Como o navio mercante ela traz delonge o seu patildeo Levanta-se mesmo agrave noite para dar de comer aos da casa edistribuir a tarefa das servas Examina uma propriedade e adquire-a planta umavinha com o fruto de suas matildeos Cinge os seus lombos de forca e fortalece osseus bracos Vecirc que eacute boa a sua mercadoria e a sua lacircmpada natildeo se apaga denoite Estende as suas matildeos ao fuso e suas matildeos pegam na roca Abre a suamatildeo ao pobre e estende as suas matildeos ao necessitado Natildeo teme a neve na suacasa porque toda a sua familia esta vestida de escarlata Faz para si cobertas detapecaria seu vestido eacute de seda e de purpura Seu marido eacute conhecido nasportas e assenta-se entre os anciatildeos da terra Faz panos de linho fino e vende-os e entrega cintos aos mercadores A forca e a honra satildeo seu vestido e sealegrara com o dia futuro Abre a sua boca com sabedoria e a lei da beneficecircnciaesta na sua lingua Esta atenta ao andamento da casa e natildeo come o patildeo dapreguica Levantam-se seus filhos e chamam-na bem-aventurada seu maridotambeacutem e ele a louva Muitas filhas tecircm procedido virtuosamente mas tu eacutes detodas a mais excelente Enganosa eacute a beleza e vatilde a formosura mas a mulher queteme ao Senhor essa sim sera louvada Dai-lhe do fruto das suas matildeos e deixe oseu proacuteprio trabalho louva-la nas portasrdquo

11 Todas as traducotildees da Odisseia satildeo de Donaldo Schuumller12 Cf Odisseia XIX 107-11413 Compare-se com o texto de Proveacuterbios de Salomatildeo na nota 814 JAEGER 2001 p 4615 Cf Odisseia VI v 15416 Cf Odisseia VI v 206-21017 Cf Odisseia VI v 218-25018 Cf Odisseia VI v 30419 JAEGER 2001 p 4220 Idem ibidem21 Cf Odisseia VII v 65-7422 O aedo eacute aquele que canta as gestas dos heroacuteis tendo uma memoacuteriaprivilegiada pela grande quantidade de fatos dos quais lembra e por isso canta 23 Cf Odisseia XI v 336-34024 O adjetivo perifrwn (a que examina por todos os aspectos que medita afundo prudente) eacute utilizado tambeacutem para Peneacutelope na epopeia (cf Odisseia XI v446 XIX v 308 v 349) 25 Cf Repuacuteblica 606e26 CARPEAUX 1959 p 5227 Idem ibidem p 6028 Idem ibidem p 48 29 Idem ibidem p 79 30 Idem ibidem p 83 31 Idem ibidem32 Iliacuteada III 154-159 a beleza irresistivel de Helena se mostra a fim de justificar oerro de Paris 33 JAEGER 2001 p 4734 Odisseia VI v 1235 RACE 1993 p 79-10736 PEREIRA 2006 p 135-136 37 ORLANDI 1988 p 1238 Para saber mais veja U ECO Os limites da interpretaccedilatildeo 2008 O autor trabalha aligacatildeo entre o contexto social do leitor e a interpretacatildeo da leitura que eacute feita

defendendo o conceito de Obra aberta presente em seus outros livros poreacutemprevendo que ha limites impostos pela proacutepria obra e pelo reconhecimento demundo do leitor 39 Cf Odisseia VII v 66-6740 Cf Odisseia VII v 70-7341 Cf Odisseia IX v 343-34642 Cf Odisseia IX v 348

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Os autores

Alessandra Serra ViegasDoutora em Teologia pela PUC-Rio e em Histoacuteria Comparada peloPPGHC-UFRJ Mestre em Histoacuteria Comparada pelo PPGHC-UFRJMestre em Teologia pela PUC-Rio na area de Teologia BiblicaPossui graduacatildeo em PortuguecircsGrego pela UERJ e bachareladoem Teologia pela PUC-Rio Atualmente eacute professora-coordenadorade Sala de Leitura e Biblioteca do Coleacutegio Estadual Joseacute LeiteLopes ndash NAVE (Nucleo Avancado em Educacatildeo) ndash SEEDUC eprofessora do Seminario Metodista Ceacutesar Dacorso Filholecionando grego koineacute literatura e teologia teologia feminina(teologia na perspectiva da mulher) leitura e producatildeo textualmeacutetodos de estudo universitario e orientacatildeo de TCC Eacutepesquisadora colaboradora do NEA-UERJ (Nucleo de Estudos daAntiguidade) Participa do grupo de pesquisa TIAT (Traducatildeo eInterpretacatildeo do Antigo Testamento) Eacute membro efetivo de Letrasdo Nucleo Acadeacutemico de Letras e Artes e Lisboa (NALAL) e daAcademia de Letras e Artes de Paranapuatilde (ALAP) titular da cadeiran 24 patronimica de Adolfo Caminha Eacute membro-embaixador daDivine Acadeacutemie Francaise des Arts Lettres et Culture

Graciela C Zecchin de FasanoDoutora em Letras pela Universidad Nacional de La Plata (UNLP)onde eacute professora titular de Grego da Faculdade de Humanidadese Ciecircncias da Educacatildeo Atualmente dirige a revista Synthesis Foi

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Os autores

Fellow of The Center for Hellenic Studies (Harvard University) noperiodo 2013-2014 Eacute autora do livro Odisea discurso y narrativa(EDULP 2004) e editora de Deixis social y performance en la literaturagriega claacutesica (La Plata 2011) e de El relato de la historia en lasmanifestaciones de la Grecia antigua y su valor miacutetico-performativo (IdIHCSFaHCE 2015) Publicou numerosos artigos e capitulos de livrostanto em seu pais Argentina como no exterior especialmentesobre eacutepica homeacuterica e recepcatildeo classica que constituem suasprincipais linhas de investigacatildeo

Guilherme da Costa Assuncatildeo CecilioCursou a Graduacatildeo em Filosofia (bacharelado e licenciatura) naUniversidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) onde tambeacutemconcluiu o Mestrado em Filosofia (PPGLM) e o Doutorado emFilosofia (PPGF) esse na modalidade sanduiche com periodo depesquisa na Johann Wolfgang von Goethe Universitaumlt ndash Frankfurtam Main Eacute professor efetivo de Filosofia do Instituto Federal deEducacatildeo Ciecircncia e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ) eprofessor permanente do Programa de Poacutes-Graduacatildeo emFilosofia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGF-UFRJ)Atua principalmente nas areas de Histoacuteria da Filosofia Antiga eMetafisica

Maria Cecilia ColombaniProfessora titular de problemas filosoacuteficos e antropologia filosoacuteficada Facultad de Filosofia Ciencias de la Educacioacuten y Humanidadesda Universidad de Moroacuten onde ainda atua como investigadoraprincipal e coordenadora de projetos de pesquisa Professoratitular de histoacuteria da filosofia antiga e problemas especiais defilosofia antiga na Facultad de Humanidades da UniversidadNacional de Mar del Plata Autora de diversos capitulos de livros ede mais de uma centena de artigos apresentados em congressos daarea Autora de Hesiacuteodo una introduccioacuten criacutetica (Buenos AiresSantiago Arcos Editor 2005) Homero Una introduccioacuten critica(Buenos Aires Santiago Arcos Editor 2005) e Foucault y la poliacutetica(Buenos Aires Prometeo 2009) Em 2016 publicou Hesiacuteodo

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discurso y linaje una aproximacioacuten arqueoloacutegica pela Universidad de Mardel Plata

Maria del Pilar Fernandez DeagustiniDoutora em Letras pela pela Universidad Nacional de La Plata(UNLP) onde atua como chefe de Trabajos Practicos na area degrego da Facultad de Humanidades y Ciencias de la Educacioacuten ebolsista poacutes-doutoral de CONICET Professora de grego e deliteratura grega classica Autora de Suplicantes de Esquilo unainterpretacioacuten (2015) e de El espacio eacutepico en el canto 11 de Odisea(2010) aleacutem de artigos especialmente sobre as Suplicantes deEacutesquilo objeto de investigacatildeo de sua tese doutoral Atualmenteintegra o projeto de investigacatildeo ldquoRecepcatildeo e apropriacatildeo deHomero na literatura grega classicardquo (UNLP) dirigido pela profadra Graciela Zecchin

Rossana ZettiFormada em Literatura Classica pela Universitagrave degli Studi deMilatildeo Mestre em Classicos na Universidade de Edimburgo ondeatualmente trabalha em sua tese doutoral sob a supervisatildeo do profdr Douglas Cairns Sua pesquisa de doutorado concentra-se narecepcatildeo de Antiacutegona de Soacutefocles na Europa do seacutec XX e seuestudo visa esclarecer as ideologias e os contextos que produziramvarias versotildees renovadas da Antiacutegona no referido seacuteculo

Simone de Oliveira Goncalves BondarczukDoutora em Letras Classicas (2017) e mestre em Linguistica pelaUniversidade Federal do Rio de Janeiro (2005) Ministrou aulascomo professora substituta de lingua e literatura Grega naFaculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro porduas vezes no periodo de 2005 a 2007 e no ano de 2010 Tambeacutemfoi professora no Seminario Teoloacutegico Presbiteriano Simonton doRio de Janeiro entre 1996 e 2007 e da Faculdade de TeologiaWittenberg entre 2006 e 2008 Atuou como pesquisadora durantea graduacatildeo no projeto NURC-UFRJ (subprojeto de semacircntica) sob a

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Os autores

supervisatildeo da professora Dinah Callou e durante o mestrado noprojeto Discurso e Gramatica-UFRJ sob a orientacatildeo do professorMario Eduardo T Martelotta em cujo projeto continuaparticipando como colaboradora Atualmente eacute pesquisadora dogrupo de pesquisa DAG (Discursos da Antiguidade Grega) doPPGLC-UFRJ e do programa de estudos em filosofia antiga ndash Pragmado IFCS-UFRJ Quando doutoranda do Programa de Poacutes-Graduacatildeoem Letras Classicas da UFRJ recebeu uma bolsa sanduiche daCapes para pesquisar na Universitagrave degli Studi di Bari Aldo Morono periodo de setembro de 2015 a fevereiro de 2016 sob asupervisatildeo do professor Paulo Butti de Lima Nessa mesmauniversidade foi recebida na condicatildeo de Visiting Professor

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Page 5: Presenca Classica - Portal de Periódicos da UFRJ

Caliope Presenca Classica | 20172 Ano XXXIV Numero 34

Apresentacatildeo

Eacute com imensa satisfacatildeo que apresentamos o 34o volumeda revista Caliacuteope Presenccedila Claacutessica perioacutedico tradicional daUniversidade Federal do Rio de Janeiro que chega ao seu 34o anode existecircncia Pela primeira vez em todos esses anos os autoressatildeo na sua maioria estrangeiros e por essa razatildeo a linguapredominante dos artigos natildeo e o portuguecircs Temos trecircs linguasdiferentes nesse volume espanhol portuguecircs e inglecircs Pode-seconstatar que isso e um reflexo do fato que a area de LetrasClassicas neste pais esta cada vez mais se internacionalizando

Dois dos trecircs artigos de autores brasileiros abordam temasfilosoacuteficos Um deles ldquoO Filebo prazer e intelecto em confrontordquode Simone Bondarczuk analisa o dialogo platocircnico Filebo que sobvarios aspectos se apresenta no conjunto do corpus platocircnico emdissonacircncia com os temas tipicos de Platatildeo O dialogo pelo menosprima facie natildeo aborda assuntos relacionados com politica mesmotendo sido escrito em uma epoca na qual Platatildeo demonstrava umconstante interesse por esse assunto O propoacutesito do dialogo natildeo eo de estabelecer a vida teoretica como a melhor forma de viver eao mesmo tempo natildeo condena rigorosamente os prazeres masrecomenda uma conduta de vida na qual os prazeres e a reflexatildeointelectual se misturem Eacute uma obra tatildeo complexa que parececarecer de unidade tematica em si mesma Bondarczuk tentadecifrar a foacutermula comum que esta por tras dessa aparente falta deunidade tematica agrave qual estamos habituados em outras obras

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platocircnicas e encontra no acircmago da discussatildeo socratica umpossivel candidato unificador o Bem e a sua relacatildeo com prazerese atividades intelectuais

Em ldquoSignificado e estrutura do argumento do terceirohomem no Parmecircnides de Platatildeordquo O filoacutesofo Guilherme Ceciliounico homem entre seis autoras femininas ndash motivo de orgulhouma vez que comprova serem as Letras Classicas um ramoacadecircmico de igualdades e emancipacatildeo que pode servir comoexemplo para outros acircmbitos da nossa sociedade ndash trata doargumento do Terceiro Homem usado no dialogo platocircnicoParmecircnides Alem de situar o Parmecircnides cronologicamente entre osoutros dialogos platocircnicos Cecilio mostra de qual maneira oargumento em questatildeo serve como objecatildeo agrave teoria das ideias

Alessandra Serra Viegas aponta em ldquoArete a virtude em sin a Odisseia e uma mulherrdquo uma questatildeo que ate hoje recebeupouca atencatildeo o significado do nome da rainha dos Feaces Areteno contexto da Odisseia e a importacircncia histoacuterico-literaria determos uma figura feminina chamada ldquoVirtuderdquo Serra Viegas tentasituar esse dado dentro de uma discussatildeo sobre a relacatildeo mulher-homem no contexto homerico e os seus desdobramentos naepopeia

No seu artigo ldquoIdentidad ritual y performance un analisisde los primeiros dos versos de Suplicantes de Esquilordquo Maria delPilar Fernandez Deagustini desdobra atraves de uma analise desomente dois versos iniciais das Suplicantes todo o universoesquiliano e demonstra o seu encaixe na cultura grega alem de suainteracatildeo com os ritos e a religiatildeo inserido no contexto dramaticoda peca Temos a possibilidade de olhar de matildeos dadas com apesquisadora argentina que fornece todas as necessariasferramentas teoacutericas conectando-as com a pratica de performancedo drama para tras do funcionamento de uma das mais antigastragedias chegadas ate noacutes Criando uma rede de referecircnciasintertextuais del Pilar mostra que os primeiros versos satildeofundamentais para a estrutura e para a compreensatildeo das Suplicantes

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porque eles contecircm elementos que interagem com outras partes dapeca

Em ldquoLimite y prudencia en Hesiodo una miradaantropoloacutegicardquo a especialista em poesia hesioacutedica Maria CeciliaColombani adaptando as teorias de Louis Gernet propotildee umaleitura antropoloacutegica dos poemas de Hesiodo com o propoacutesito deesclarecer a relacatildeo exata na qual o homem arcaico da Greciaantiga se situou para com o divino e como ele de modo mais geralse (auto)integrou no mundo religioso da sua tradicatildeo

Como terceira autora de lingua espanhola GracielaZecchin de Fasano reflete sobre o papel da vitima na poesia gregatomando como base principal a Odisseia os Trabalhos e os dias deHesiodo e as Aves de Aristoacutefanes em ldquoAedoacuten performance poeticade las victimasrdquo O artigo mostra como a figura do rouxinol serviade Homero ate a epoca classica como simbolo das vitimas quesofrem violecircncias nas esferas dominadas por forcas masculinas

Rossana Zetti mostra em ldquoAntigonersquos (mis)appropriationsin Twentieth-Century Europe Memory Politics and Resistancerdquocomo a Antiacutegona de Soacutefocles foi interpretada e instrumentalizadana primeira metade do sec XX Eacute fascinante notar como correntespoliticas opostas conseguiram cada um de maneira distintaapropriar-se do potencial soacutecio-cultural dessa tragedia Zetti iniciaa viagem pelos tempos e as suas apropriacotildees da peca com atraducatildeoadaptacatildeo de Houmllderlin que somente mais de um seculodepois da sua publicacatildeo comecou a ser considerada uma versatildeo etraducatildeo extraordinaria enquanto considerado mediocre pelamaioria dos contemporacircneos do poeta e tradutor alematildeo Essaversatildeo serviu no sec XX tanto aos Nazistas quanto aos socialistas(Bertolt Brecht) como referecircncia ideal O artigo demonstra comouma mesma tragedia pode ser interpretada e apresentada comosubversiva por uns e modelo classico de representacatildeo de valorestradicionais conservadores por outros

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Encerrando esta edicatildeo encontra uma secatildeo cominformacotildees sobre os autores deste numero No mais desejamosuma proveitosa e prazerosa leitura

Os editores

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Liacutemite y prudencia en Hesiacuteodo una mirada antropoloacutegica | Mariacutea Cecilia Colombani

Liacutemite y prudencia en Hesiacuteodo unamirada antropoloacutegicaMariacutea Cecilia Colombani

RESUMO

A proposta do presente trabalho consiste em efetuar uma leituraantropoloacutegica da relaccedilatildeo que o homem guarda com a divindade nomarco do esquema do pensamento miacutetico proacuteprio da Greacuteciaarcaica A presenccedila dos deuses implica que por detraacutes do khaacuteosaparente estaacute garantida a existecircncia de uma ordem da qual apoesia eacute precisamente sua percepccedilatildeo mais exitosa No toacuteposantropoloacutegico dois fenocircnemos satildeo essenciais e complementaresna relaccedilatildeo do homem grego com a divindade O primeiro radica nadistacircncia que o separa dos seres divinos e o segundo abarca oscontatos humanos de aproximaccedilatildeo e assimilaccedilatildeo a esse mundoNeste marco intencionamos relacionar o toacutepico evidenciandocomo no marco da relaccedilatildeo que se estabelece entre ambos osplanos no reconhecimento e na transgressatildeo do registro que osdistingue e os separa a ira dos deuses eacute despertada a partir dodesconhecimento do limite e da prudecircncia

PALAVRAS-CHAVE

Homem divindade distacircncia aproximaccedilatildeo reconhecimentotransgressatildeo

SUBMISSAtildeO 14 set 2017 | PUBLICACcedilAtildeO 10 nov 2017

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Caliacuteope Presenccedila Claacutessica | 20172 Ano XXXIV Numero 34

1 LA DISTANCIA

l proyecto del presente trabajo consiste en efectuar unalectura antropoloacutegica de la relacioacuten que el hombreguarda con la divinidad en el marco del esquema depensamiento miacutetico propio de la Grecia ArcaicaEntendemos por ldquoantropologiacuteardquo el concepto del queparte Louis Gernet para pensar coacutemo el hombre seproyecta en el plano religioso del mundo reconociendoque maacutes allaacute de los multiples vaivenes que la palabra hatenido segun la eacutepoca podemos considerar que se tratade la representacioacuten del hombre en el plano religioso delmundo1

Para comprender este aspecto debemos captar laidea de fractura ontoloacutegica entre diferentes aacutembitos o

regiones de ser de dos toacutepoi de dos razas o mundos impermeablesla una respecto de la otra tal como sostiene el propio Gernet2 Esel largo relato de los dioses es el trazo del linaje el reparto de lospoderes y la definitiva consolidacioacuten del koacutesmos la que permitedelinear los dos toacutepoi referidos

La presencia de los dioses y la existencia de ese planoimplican que por detraacutes del khaacuteos aparente estaacute garantizada laexistencia de un orden del cual la poesiacutea es precisamente supercepcioacuten maacutes lograda Como sostiene Gernet ella constituye esaespecie de ldquofilosofiacutea popularrdquo3 que al contar las sucesiones divinasnarra al mismo tiempo la plasmacioacuten a partir del khaacuteos de unorden perfecto sostenido por la justicia de Zeus La Teogoniacuteaconstituye el primer intento griego de dar una explicacioacuten divinadel orden del universo Tal como afirma J-P Vernant ldquoLasteogoniacuteas y las cosmogoniacuteas griegas comprenden como lascosmologiacuteas que les han sucedido relatos de geacutenesis que explicanla aparicioacuten progresiva de un mundo ordenadordquo4 Esta intuicioacuten sedebe precisamente a ese teloacuten de fondo religioso que impregna latotalidad de la vida social del hombre griego

Si seguimos la tesis de L Gernet es en ese toacutepos donde seproduce el fenoacutemeno de aproximacioacuten que acorta la distancia entrelos dos aacutembitos que constituyen zonas impermeables5

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Efectivamente la esfera humana parece acercar su registro a laesfera divina aunque en el seno mismo de esta ritualizacioacutensimboacutelica lo divino siempre guarde su territorio inasible En eltoacutepos antropoloacutegico dos fenoacutemenos son capi ta les ycomplementarios en la consideracioacuten de la relacioacuten entre elhombre griego y la divinidad El primero radica en la distancia quelo separa de los seres divinos y el segundo da cuenta de losintentos humanos de aproximacioacuten y de asimilacioacuten a ese mundoque lo sobrepasa por doquier6

La aproximacioacuten no implica una categoriacutea geograacutefica unadistancia medida en paraacutemetros espaciales sino una dimensioacutenontoloacutegica que supone un determinado estatuto de ser una ciertacualificacioacuten que transfigura el ser mismo del hombre Existe unafractura o brecha entre dioses y hombres donde el nucleo mismode la distancia supone el liacutemite que implica la muerte Finitud einfinitud he alliacute la clave de una distancia que muy pocos puedensoacutelo en parte franquear

La asimilacioacuten implica tambieacuten una categoriacutea ontoloacutegicaEs el ser mismo del hombre el que se transforma ya que deviene eacutelmismo ldquocomo un diosrdquo Es la aspiracioacuten comun de los mortales elser del hombre se asimila al ser divino y en tal asimilacioacuten seconvierte en un sujeto excepcional en un epopteacutes

El teloacuten de fondo de esta dualidad implica una ciertanocioacuten de temporalidad En el marco de la atemporalidad quehemos sugerido como marca identitaria del plano divino hay noobstante una particular loacutegica temporal Los dioses parecen teneruna cierta vida cotidiana un cierto movimiento que se juegacomo corresponde en una especialidad abierta y en unatemporalidad acotada

Recordemos que es posible hablar de una temporalidaddivina y que eacutesta estaacute directamente vinculada con la idea de dramaen tanto accioacuten Las acciones de los dioses asiacute como suspreocupaciones abren una temporalidad dentro del ldquosiemprerdquocaracteriacutestico del plano divino Dicen Detienne y Sissa

Asiacute en la obra de Homero y especialmente en la Iliacuteada la vidade los dioses se despliega en toda su densidad en esa mezcla

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de acontecimientos y de rutina que la caracterizan [] allaacutedonde en la sucesioacuten de hechos se abran las ventanas de unteatro que habla no de la mediocridad sino maacutes bien de lavita de la existencia de los dioses7

Podemos tambieacuten abordar el nucleo problemaacutetico hombre-divinidad desde la perspectiva del poder que se pone en juego Seobserva entonces una polaridad en la dimensioacuten de la arkheacute Elpropio Gernet bucea en la disimetriacutea estatutaria que la diacuteadaimplica y alude a que

Un magniacutefico coro de la Antiacutegona de Soacutefocles exalta alhombre como detentor ndash e incluso excepcionalmente comocreador ndash de teacutecnicas a las que se podriacutea atribuir un desarrolloindefinido si no se topara con un doble liacutemite la muerte esabarrera infrangible y los dioses de los que los hombresreciben la justicia8

La divinidad constituye esa instancia aacuteltera donde se ostentaefectivamente la arkheacute tensionando de ese modo la distancia entreun mundo y otro a punto tal de que el hombre mismo es una cosamaravillosa pero estrechamente limitada ya que su accioacuten no esautoacutenoma porque reconoce la marca de los dioses como sello desu voluntad incuestionable

El poder al que nos referimos de caraacutecter disimeacutetrico es lamarca de la inmortalidad que atraviesa a la divinidad y la nocioacuten deDiacuteke ya que son los dioses quienes otorgan la justicia divina Elhombre por el contrario es mortal descubriendo en la muerte eseliacutemite que lo territorializa a su condicioacuten humana asimismo estributario de un orden-justicia que no depende de eacutel Se trata deuna primeriacutesima justicia coacutesmica donde el orden mismo de lo reales sinoacutenimo de justicia

Por todo lo dicho

Si se realiza una investigacioacuten etnograacutefica y comparativa seobserva que los dioses presentan respecto a los mortales unestatuto excepcional y heterogeacuteneo al mismo tiempo Por unaparte se pueden atribuir sus cualidades a una sistemaacuteticasuperioridad sobre los hombres Por otra parte debemos

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reconocerles tambieacuten una diferencia especiacutefica Los dioses seperciben distintos porque son maacutes grandes maacutes poderosos ymaacutes sabios que los hombres pero tambieacuten porque pararegular su existencia eligen unas normas que le son propias yexclusivas9

Pensemos en otra arista del ldquoentrerdquo otro aspecto de losespacios vinculares que el hombre juega en su instalacioacuten frente ala divinidad La condicioacuten de ser mortal se abre al horizonte de losInmortales como lo otro del hombre Las dos razas o mundos delos que venimos hablando se juegan como advertimos en ladistancia que separa ambos toacutepoi lo cual no invalida la posibilidaddel ldquoentrerdquo como modelo de contacto entre uno y otro plano oregistro ontoloacutegico Basta pensar en Hesiacuteodo ultimo y unicotestigo de una palabra dedicada a la alabanza del personaje real10

para captar esta forma de ldquoentrerdquo El texto es elocuente alrespecto

Con pureza y santidad en la medida de tus posibilidades hazsacrificios a los dioses inmortales y quema en su honorespleacutendidos muslos11

E l ldquoentrerdquo estaacute sin duda mediado por la leccioacutenantropoloacutegica inaugural que el mito de Prometeo devuelve comoloacutegos fundacional los hombres reconocen su propio liacutemite y suespacio antropoloacutegico respectivo y el sacrificio es la prenda delreconocimiento La carne perecedera seraacute el alimento de loshombres y los huesos el eterno homenaje a los Inmortales En elmarco del sacrificio dos recomendaciones la pureza referida alcuerpo y la santidad como estado del espiacuteritu

Recordemos que Prometeo cree engantildear a Zeus cuandomovido por su astucia le da a elegir entre dos porciones dosbocados diferentes ambos cubiertos de piel pero soacutelo unoconteniendo en su interior carne mientras el otro soacutelo guardahuesos y grasa Zeus elige este ultimo con lo cual queda instituidoque el alimento humano seraacute la carne El mito de Prometeo fundaasiacute el rito sacrificial En este momento hombres y dioses se

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separan los hombres no tienen ya una comunicacioacuten directa conlos dioses y se inaugura la dependencia de los hombres frente a lacarne cocida como alimento humano La instauracioacuten del ritualrompe la vieja comensalidad entre hombres y dioses e inauguraesos toacutepoi que marcan la dimensioacuten humana y la divina como razaso mundos impermeables El sacrificio separa doblemente a loshombres por un lado de los dioses y por el otro de los animalesya que los hombres deben cocer la carne y cultivar el campomientras los animales comen crudo Tal como lo muestra Detiennee n Los Jardines de Adonis12 en el reparto del primer sacrificio loshombres se llevan la parte vinculada a lo corruptible mientras quea los dioses les corresponden los aromas puros imputrescibles Laexistencia humana queda definida por una posicioacuten intermediaambigua entre lo crudo y lo quemado lo podrido y loimputrescible lo bestial y lo divino Se establece una relacioacutenvertical entre ambos al tiempo que se instituye una relacioacutenhorizontal entre los hombres El sacrificio abre los dos planosporque obliga a los hombres a comer cierto tipo de alimentomientras otros bocados corresponden a los dioses El mito daorigen a las praacutecticas sacrificiales que es precisamente el modo enque los mortales se conectan con lo divino El sacrificio es laforma en que los hombres donan algo a los dioses desde suprecaria condicioacuten humana Asimismo el mito abre un escenarioespeciacuteficamente antropoloacutegico los hombres quedan condenados acocinar los alimentos permaneciendo lo crudo reservado a losanimales o baacuterbaros

Esta no es la unica recomendacioacuten para marcar el ldquoentrerdquoque la divinidad impone Vuelve a ser Hesiacuteodo el que normativizala relacioacuten ldquoOtras veces conciacuteliatelos con libaciones y ofrendacuando te vayas a la cama y cuando salga la sagrada luz del diacuteapara que te conserven propicio su corazoacuten y su espiacuteritu y puedascomprar la hacienda de otros y no otro la tuya rdquo13

En realidad los favores de la divinidad son la clave de todobienestar Incluso el modo de vincularse de generar precisamentee l ldquoentrerdquo que estamos indagando genera una especie deregularidad o ciclicidad coacutesmica la totalidad de la jornada tanto la

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noche como el diacutea el irse a la cama como el levantarse quedanbajo la tutela de los dioses como condicioacuten de posibilidad de unavida armoniosa

El extenso apartado de Trabajos y diacuteas sobre las actividadescorrespondientes a cada estacioacuten del antildeo da cuenta de lapreocupacioacuten por el trabajo al tiempo que anuda su problemaacuteticaa la mismiacutesima legalidad coacutesmica14 Sabemos que el fondo ultimode resonancia es de caraacutecter sagrado y la ciclicidad que atraviesa locoacutesmico estaacute regulada por el mismo estatuto sagrado El trabajo secumple en conformidad con la regularidad del universo que ledona sentido y lo legitima como actividad religiosa

Su entorno devuelve ademaacutes la dependencia ontoloacutegica delos mortales respecto al destino que los dioses han hilvanado paralos hombres otro dato que habla de la fractura ontoloacutegica y quehace pensar a L Gernet en esas dos razas impermeables la una dela otra Ya sea el destino de muerte la muerte violenta o la naturalel hombre no escapa a esa dama oscura que inexorablemente nosatrapa y nos marca nuestra Moicircra nuestra porcioacuten en el reparto ynuestro territorio antropoloacutegico Alliacute estaacuten entonces los modelosejemplares que desde el relato ancestral como loacutegos explicativoresultan los vicarios miacuteticos de cualquier realidad del toacutepos humano

2 LA PROXIMIDAD

No obstante queremos problematizar esta distancia queacabamos de acompantildear con la tesis de L Gernet y de la mano deM Vegetti pensar paradoacutejicamente la cercaniacutea y la proximidad dela divinidad ya que eacutel mismo afirma la presencia intensa de lodivino

Esta difusioacuten de lo sagrado se prolonga en una relacioacuten defamiliaridad con los dioses que caracteriza ampliamente laexperiencia religiosa griega la divinidad no estaacute lejos ni esinaccesible el recurrir a ella podriacutea decirse que caracterizacada momento significativo de la existencia privada y socialSe le puede encontrar tan a menudo en sus imaacutegenes en laspraacutecticas culturales que se le dedican en las narraciones

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familiares y publicas en las que se dibujan las tupidas tramasde una simbolizacioacuten significativa de la existencia15

En efecto frente a la radical trascendencia que toma lodivino en religiones de otras caracteriacutesticas los dioses griegosguardan un estatuto inmanente que los vuelve proacuteximos maacutes allaacutede su distancia ontoloacutegica que los convierte en los Athaacutenatoi a losque se refiere Hesiacuteodo

Ahora bien iquestcoacutemo podemos caracterizar esta religiosidadgriega que estamos relevando Instalarse en este lugar suponecomparar este modelo religioso con otros para definirlo desde unesquema negativo

En primer lugar la religioacuten griega no se basa en ningunarelevacioacuten lsquopositivarsquo concedida directamente por la divinidada los hombres y por tanto no tiene ningun profeta fundadorde las grandes religiones monoteiacutestas del Mediterraacuteneo y noposee ningun libro sagrado que enuncie las verdades reveladasy constituya el principio de un sistema teoloacutegico16

La falta de esos elementos convierte a los dioses en seresmaacutes proacuteximos menos atenidos a todo el dispositivo simboacutelico delas religiones institucionalizadas

La propia falta de una iglesia como oacutergano de maacuteximajerarquiacutea determina una relacioacuten maacutes cercana que permite construiruna cierta familiaridad con lo divino donde las fronteras entre unoy otro aacutembito parecen desdibujarse pero soacutelo se trata de unaapariencia propia de la cotidianeidad porque en el fondo ladivinidad guarda siempre su jerarquiacutea estatutaria a partir de suorden ontoloacutegico ldquoY tanto menos una iglesia unificada entendidacomo aparato jeraacuterquico y separado legitimado para interpretar lasverdades religiosas y administrar las praacutecticas de cultordquo17 Sin dudaes a esta ausencia que se debe el grado de proximidad que elmismo Vegetti reconoce entre hombres y dioses Es esta cercaniacuteala que se traduce en lo cotidiano y permite comprender coacutemo ldquoenla experiencia comun por tanto siempre ha habido unaconvivencia entre la estirpe de los dioses y la de los hombresrdquo18 La

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eacutepica homeacuterica constituye una muestra magniacutefica de este aspectocon la exhibicioacuten de un viacutenculo con la divinidad que habla de unreacutegimen de cercaniacutea y proximidad19

Hasta aquiacute algunos puntos sobre coacutemo podemos entenderesta forma de religiosidad que combina las diacuteadas opuestas Unaexperiencia que guarda distancia ontoloacutegica pero que al mismotiempo evidencia matices de cercaniacutea y proximidad unaexperiencia que se revela como trascendente por las propiascaracteriacutesticas de lo divino pero inmanente en su forma depresentacioacuten

Pensemos otro aspecto desde la perspectiva de Vegetti queimpacta directamente en el corazoacuten maacutes iacutentimo de la experienciaporque diagrama el plano del culto como forma de cercaniacutea maacutesacabada

Incluso falta en griego una palabra cuyo campo semaacutenticoequivalga propiamente al teacutermino lsquoreligioacutenrsquo La que maacutes seaproxima euseacutebeia es definida por el sacerdote Eutifroacuten elprotagonista del diaacutelogo platoacutenico como lsquoel cuidado (therapeiacutea)que los hombres tienen para con los dioses (Platoacuten Eutifroacuten12 e)rsquo20

El campo lexical del verbo therapeuacuteo es la clave de estainterpretacioacuten curar cuidar velar honrar Esas son las marcas dela relacioacuten entre el hombre y la divinidad que determina ademaacutes ladiferencia estatutaria que venimos registrando A los hombres lescorresponde honrar a los dioses como modo de corroborar supertenencia al toacutepos humano En este sentido la experiencia delculto implica la persistencia del espacio humano determinada porla subordinacioacuten al aacutembito divino

Debemos comprender el significado general de ldquorespetarhonrar a la divinidad en las praacutecticas de culto nomiacutezein equivaldraacuteen definitiva a therapeuacuteein dedicar a la divinidad los oportunoscuidados ritualesrdquo21 En ese respeto y cuidado el hombre no soacutelo sedirige a los dioses sino que se respeta y cuida a siacute mismoconservando el puesto que la propia divinidad ha designado para elcolectivo humano

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Asiacute queda claro que ldquoEl nucleo de la relacioacuten entrehombres y divinidad de la lsquoreligioacutenrsquo y de la lsquofersquo de los griegosparece consistir en la observancia de los cultos y de los ritosprescritos por la tradicioacutenrdquo22 Ciertas prescripciones exhortacionesy prohibiciones pueden ser entendidas desde la dimensioacuten queacabamos de relevar Las marcas del cuidado toman la forma deuna observancia que tiene como objeto honrar a los dioses ygenerar en ellos el sentimiento de placer y felicidad de quien sesiente alabado Al mismo tiempo constituyen consejos para la vidade los hombres porque dan cuenta de una familiaridad con lodivino que trae como consecuencia beneficios en la vida ordinaria

Analizaremos una serie de versos que devuelvenprecisamente las marcas del cuidado

Nunca te atrevas a echar en cara la funesta pobreza que roe elcorazoacuten de los hombres regalo de los eternosBienaventurados23

Nunca al amanecer libes rojizo vino a Zeus con las manos sinlavar ni a los demaacutes Inmortales pues no te escucharaacuten yvolviendo la cara escupiraacuten sobre tus oraciones24

No engendres tus hijos a la vuelta de un funeral de malaguumlero sino al volver de un banquete de los Inmortales25

No te cortes en el banquete festivo de los dioses lo seco de loverde de tus cinco ramas con el brillante hierro26

No te burles de los misterios cuando asistas a humeantessacrificios sin duda tambieacuten un dios se venga de esto27

Esta familiaridad y convivialidad que venimos rastreandopuesta fundamentalmente en teacuterminos de ldquocuidadordquo no invalida elpaacutethos del temor En efecto ldquoesto no significa naturalmente queno existiese un profundo y radical temor a la divinidad y a sucapacidad de castigar las culpas de los hombres golpeaacutendoles a lolargo de su existencia e incluso de su descendenciardquo28

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3 LA VIDA TODA EN CLAVE RELIGIOSA

Definitivamente instalados en el texto hesioacutedico queremosarticular el viacutenculo hombre-divinidad en tres ejes en dondeclaramente se observa la presencia dominante de los dioses comoteloacuten de fondo de la vida en su conjunto La instancia fundacionalque supone el mito de las edades el trabajo como modo deinstalacioacuten de los hombres en su condicioacuten antropoloacutegica y lashuellas de una cotidianeidad que se revela de extrema familiaridadseraacuten los toacutepicos a tratar

EL MITO DE LAS EDADES DEL CUIDADO AL DESCONOCIMIENTO

Cuando Hesiacuteodo presenta el largo relato que da cuenta dela progresiva degradacioacuten humana en el marco de una claraintencioacuten didaacutectica29 comenta una convivialidad que parece tensarla reciprocidad entre hombres y dioses en un punto deseado deencuentro y familiaridad

Viviacutean como dioses con el corazoacuten libre de preocupacionessin fatiga ni miseria30

Los hombres de la raza de oro conocieron las delicias deesta proximidad y respondieron a ella con los debidos cuidadosque los dioses merecen por su condicioacuten de tales El clima esfestivo y el corazoacuten alcanza la mayor alegriacutea que el contacto conlos dioses aporta como recompensa extrema ldquoEllos contentos ytranquilos alternaban sus faenas con numerosos deleites Eranricos en rebantildeos y entrantildeables a los diosesrdquo31

El favor de los dioses se manifiesta en una vida cuasidivina sin la presencia de aquellos males y sufrimientos queconstituiraacuten el marco de la existencia de los hombres Los hombresquedaraacuten definitivamente sumidos en ese marco de desgracias ypesares cuando olviden su cuidado los dioses

Ahora bien seraacute precisamente ese toacutepico el que determinela peacuterdida de un estado de felicidad compartida y el pasaje a unestado otro donde el cuidado ha sido olvidado lo cual implica elpropio olvido de los dioses

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Pues no podiacutean apartar de entre ellos una violenciadesorbitada ni queriacutean rendir culto a los Inmortales ni hacersacrificios en los sagrados altares de los Bienaventuradoscomo es norma para los hombres por tradicioacuten A eacutestos maacutestarde los hundioacute Zeus Croacutenida irritado porque no daban lashonras debidas a los dioses bienaventurados que habitan elOlimpo32

Dejar de cuidar therapeuacuteo a los dioses es la forma maacutesacabada de dejar de cuidarse por esta torpeza la hyacutebris gana laescena y los hombres no cesan en sus males Dejar de rendir cultoa los dioses ignorar el sacrificio como la leccioacuten inaugural que elmito de Prometeo ensentildeara a los mortales y generara la divisioacutenentre hombres y dioses olvidar las normas ancestrales quesostienen la cohesioacuten de los mortales reunidos en comunidadrenunciar a dar las honras correspondientes son los olvidos del noreconocimiento no soacutelo de los dioses sino de siacute mismos comohombres ya que ser hombre implica ese paquete de obligaciones

De este modo cuando Hesiacuteodo culmina el relato del largocamino de la decadencia y la injusticia que va hilvanando eldestino de las cinco razas considerando la interpolacioacuten de la razade los heacuteroes abre un panorama desolador del campo de viacutenculostransidos por el conflicto33

RELIGIOSIDAD Y VIDA COTIDIANA

La presencia de los dioses en la vida cotidiana puede tomarla forma de la vigilancia

Despreciaraacuten a sus padres apenas se hagan viejos y lesinsultaraacuten con duras palabras cruelmente sin advertir lavigilancia de los dioses ndash no podriacutean dar el sustento debido asus padres ancianos aquellos [cuya justicia es la violencia ndash yunos saquearaacuten las ciudades de los otros]34

Los dioses tienen asiacute una presencia fuerte entre loshombres observando sus conductas y castigando en consecuencia

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Forma parte de su estatuto esta presencia que tambieacuten habla deuna familiaridad en el plano inmanente de la vigilancia

La divinidad estaacute presente custodiando las costumbres ydelineando con la recompensa o el castigo consecuentes ladimensioacuten moral de los hombres proclives a olvidar susobligaciones

Igualmente el que maltrata a un suplicante o a su hueacutesped osube al lecho de su hermano (para unirse ocultamente con suesposa incurriendo en falta) o insensatamente causa dantildeo alos hijos hueacuterfanos de aqueacutel y el que insulta a su padreanciano ya en el funesto umbral de la vejez dirigieacutendose a eacutelcon duras palabras sobre eacuteste ciertamente descarga el mismoZeus su ira y al final en pago por sus injustas acciones leimpone un duro castigo Pero tu aparta por completo tuespiacuteritu de estos delitos35

La divinidad se presenta siempre como el garante de unajusticia tanto coacutesmica como humana36

CONCLUSIONES

Hemos intentado pensar la problemaacutetica de la ira desdedistintos andariveles a partir de la relacioacuten que vincula al hombregriego con la divinidad

Nos propusimos relacionar el toacutepico mostrando coacutemo enel marco de la relacioacuten que se da entre los mortales y losInmortales el no reconocimiento y la transgresioacuten del registroontoloacutegico que los distingue y separa despierta la ira de los dioses

En segundo lugar vimos coacutemo el sentimiento de ira sevincula estrateacutegicamente con el proyecto didaacutectico moralizador queHesiacuteodo se propone dando respuesta a una demanda de su tiempohistoacuterico Asiacute la ira no se vincula con la coacutelera del dios en suestatuto supremo sino que se inscribe en un diagrama eacutetico queprioriza la virtud y la justicia como horizonte de un cierto ethos

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Caliacuteope Presenccedila Claacutessica | 20172 Ano XXXIV Numero 34

ABSTRACT Limit and Prudence in Hesiod an Anthropological View

The purpose of this paper is to read anthropologicaly therelation between Man and Divinity within the mythologicalthought of Arcaic Greece The presense of gods is the warrantythat beyond the apparent khaos there is Order of which Poetry isits most perfect expression Within the anthropological toacutepos twoaspects define the Greek experience of Divinity The first one isthe distance between humans and gods The second one is theassimilation and approximation to that divine world These twoaspects define Human condition We will demonstrate howtransgression and unrecognition to these aspects cause the wrathof the gods

KEYWORDS

Man Divinity Distance Approximation TransgressionUnrecognition

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Liacutemite y prudencia en Hesiacuteodo una mirada antropoloacutegica | Mariacutea Cecilia Colombani

BIBLIOGRAFIacuteACOLOMBANI MC Hesiacuteodo discurso y linaje una aproximacioacuten arqueoloacutegicaMar del Plata Universidad de Mar del Plata 2016______ Homero una introduccioacuten criacutetica Buenos Aires Santiago Arcos2005 DETIENNE M Los maestros de verdad en la Grecia arcaica Madrid Taurus1986______ Los jardines de Adonis Madrid Akal 1996DETIENNE M SISSA G La vida cotidiana de los dioses griegos MadridTemas de Hoy 1990GERNET L Antropologiacutea de la Grecia antigua Madrid Taurus 1981GIGON O Los oriacutegenes de la filosofiacutea griega de Hesiacuteodo a ParmeacutenidesMadrid Gredos 1985HESIacuteODO Obras y fragmentos Madrid Gredos Madrid 2000HESIOD Theogony Works and Days Testimonia Trans GW MostCambridge Loeb Classical Library London Harvard University Press 2007LIDDEL HG SCOTT R A Greek-English Lexicon Oxford Clarendoin Press1996LINtildeARES L Hesiacuteodo Teogoniacutea Trabajos y Diacuteas Edicioacuten bilinguumle BuenosAires Losada 2005NESCHKE A Dikegrave La philosophie poeacutetique du droit dans le ldquomythe des racesrdquod Heacutesiode In BLAISE F JUDET DE LA COMBE P ROUSSEAU P Le meacutetier dumythe lectures d Heacutesiode sous la direction de BLAISE F JUDET DE LA COMBEP ROUSSEAU P Paris Presse Universitaires du Septentrion vol 16 1993 p465-478VEGETTI M El hombre y los dioses In VERNANT J-P El hombre griegoMadrid Alianza 1993VERNANT J-P Los oriacutegenes del pensamiento griego Buenos Aires EUDEBA1976VIANELLO DE COacuteRDOVA P Hesiacuteodo Teogoniacutea Meacutexico Universidad NacionalAutoacutenoma de Meacutexico 1978

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1 GERNET 19812 Idem ibidem p 153 Idem ibidem p 164 VERNANT 1976 p 875 Idem ibidem p 876 GERNET 1981 p 157 Idem ibidem p 158 Idem ibidem p 169 DETIENNE SISSA 1990 p 5010 DETIENNE 198611 LINtildeARES 2005 p 336-33812 DETIENNE 1996 p 11213 LINtildeARES 2005 p 339-34214 COLOMBANI 2005b El tratamiento de Hesiacuteodo se inscribe iacutentegramente en unhorizonte antropoloacutegico-cultural donde el trabajo aparece como un hecho decultura que se inscribe en el marco de una legalidad coacutesmica que marca laciclicidad que abraza la dimensioacuten temporal del hombre 2005b15 VEGETTI 1993 p 29116 Idem ibidem p 292

17 Idem ibidem p 29218 Idem ibidem p 29319 COLOMBANI 2005a20 VEGETTI 1993 p 29321 Idem ibidem p 29322 VEGETTI 1993 p 29323 LINtildeARES 2005 p 717-71824 Idem ibidem p 724-72725 Idem ibidem p 735-73626 Idem ibidem p 743-74427 Idem ibidem p 755-75628 VEGETTI 1993 p 29429 COLOMBANI 2016 El texto analiza la dimensioacuten didaacutectica de Hesiacuteodo enrelacioacuten a la posibilidad de constitucioacuten del hombre prudente como modo dereparar la decadencia epocal en el marco de lo que podemos considerar unametaacutefora meacutedica la prudencia representa entonces el phaacutermakon para curar unasociedad enferma 201630 LINtildeARES 2005 p 111-11231 Idem ibidem p 118-12132 Idem ibidem p 133-13933 Coincidimos con Neschke A (1997) p 478 cuando analiza el mito de lasrazas desde la perspectiva de la exhortacioacuten de la poesiacutea didaacutectica perotambieacuten de la consolidacioacuten de una moral34 LINtildeARES 2005 p 185-19035 Idem ibidem p 328-33536 GIGON 1985 p 13-43 El problema del ser del todo del origen de la verdadde la transmisioacuten de la verdad y la perspectiva de un garante como aquel quevela por la conservacioacuten del orden y la justicia han sido los hilos que Gigon haencontrado para hilvanar el tapiz del Hesiacuteodo-filoacutesofo

Antigonersquos (mis)appropriations in Twentieth-Century Europe | Rossana Zetti

Antigonersquo s (mis )appropr ia t ions inTwentieth-Century Europe MemoryPolitics and ResistanceRossana Zetti

ABSTRACT

In this paper I will offer a historicized reading of Antigonersquosconceptualization as a political play by analysing its reception intwentieth-century Europe I will focus in particular on FriedrichHoumllderlinrsquos adaptation (1804) which is one of the very earliest post-Revolutionary witnesses to the political understanding of the play it isparticularly interesting because it provides a context for Bertolt Brechtrsquosand other twentieth-century adaptations of the myth and it represents acrucial step towards the current interpretative model in which Antigone isan icon of radical dissent and resistance Appropriated both by the Naziregime and by factions of the Resistance Houmllderlinrsquos Antigone wasexploited as a political subversive document or as representative of anationalistic classical tradition This account of the political reception ofSophoclesrsquo Antigone in the twentieth century will contribute to shed lighton the ideological climate which produced such a high number ofadaptations of the ancient play as well as on the reasons for itspertinence to twentieth-century temporal-political conditions

KEYWORDS

Antigone Reception Politicization Brecht Houmllderlin Sophocles

SUBMISSAtildeO 15 nov 2017 | PUBLICACcedilAtildeO 19 dez 2017

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1 INTRODUCTION amp CONTEXTUALIZATION

thol Fugard author of an adaptation of the Antigoneof Sophocles written during the apartheid period inSouth Africa claimed that Antigone is the ldquogreatestpolitical play of all timerdquo1 The political relevance ofthe ancient play considered by Hegel the closest toperfection2 has led to a fruitful interaction with thepresent facilitated by the urgency of politicalsituations in the contemporary world The Antigoneof Sophocles enjoys one of the richest performanceand reception histories it has been translated morethan fifty times into the English language in the lastcentury and it has been performed all around theworld3 The ancient myth has had a major influence

upon writers translators and playwrights of all periods and theambiguities of the play have lent to a variety of interpretations atdifferent times and in different contexts and places Antigone hascommunicated something different Despite such a versatilitycertain inherent characteristics of her tragic persona ndash her defianceof tyranny her rebellious spirit and her claim for human freedomndash have been appropriated again and again thus exemplifying theexistence of ldquofugitive humane communalitiesrdquo occurring acrosshistory4

However in order to understand why among other Greektragedies performed and adapted to the modern stage the Antigoneof Sophocles figures so prominently it is necessary to takedistance from the ldquomystification of Antigone as lsquouniversalrsquordquo5 Itsideas persist and resonate today as in the fifth century but theyhave been progressively changed and revisited in favour of apoliticization of the story precisely the relevance of theSophoclean play to contemporary political events has inspiredmany overtly political versions and imitations in the twentiethcentury The playrsquos plot and themes (Antigonersquos fight for ldquohumanrightsrdquo and autonomy her defiance of authority) enabled differentauthors to respond to various historical instances and politicalcontexts ranging in the twentieth century from Jean Anouilhrsquos

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A

Antigonersquos (mis)appropriations in Twentieth-Century Europe | Rossana Zetti

adaptation in wartime Paris to Bertolt Brechtrsquos adaptation in post-war Germany and Tom Paulinrsquos Irish adaptation The Riot Actperformed during the period of civil strife known as ldquotheTroublesrdquo ndash just to name a few6 The playrsquos spread and influenceare not confined only to the Western world the play attractedcross-cultural appeal even outside Europe where it was exploitedas a vehicle for contemporary political critique7

However Antigone has not always stood as the exemplaryicon of principled resistance and defiance against establishedauthority In spite of its political and revolutionary potential theancient myth was also appropriated by the Nazis for theirideological propaganda and it was presented as example of heroicand patriotic drama8 In particular the Antigone of Sophocles in thetranslation by Houmllderlin was frequently performed towards the endof the Second World War as example of ldquoheroic dramardquo insupport of Hitlerrsquos propaganda Although Houmllderlin did notproclaim the superiority of Germany over Greece as the leader ofthe West nor believed in the ldquoGreek characterrdquo inherent to theGermans his play was appropriated by the Nazis for theirproclamation of a ldquoracial kinship between Greeks and Germansrdquo9

At the same time Antigone was also appropriated byfactions of the Resistance which transformed the play into apolitical subversive document This tradition was followed byBertolt Brecht who upon the end of the Second World Warwrote an adaptation of the Antigone based on Houmllderlinrsquostranslation Through his reworking of the ancient original Brechtencouraged his audience to remember and reflect upon the recenttragedy of the Second World War in the attempt to unveil themechanisms behind the acquisition and dismantling of power atthe same time by adopting Houmllderlinrsquos text he denounced thedistorted readings and misappropriations of the play duringNazism With Brecht Sophoclesrsquo Antigone is established asldquocanonicalrdquo drama of political resistance

Studying the dynamics of remembrance and propagandabehind appropriations of Sophoclesrsquo Antigone is thereforeparticularly interesting the Antigone myth has been readapted and

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ldquorememberedrdquo in different ways to communicate different politicalideologies in the twentieth century a period characterized by civilwars dictatorships and resistance The politicization of Antigone inthese years is twofold ndash it served both the ideologicalinstrumentalization of the Nazis and the intellectual resistance It isin this period that Antigone becomes an icon of resistance andrevolt but it also becomes representative of a nationalistic classicaltradition Different responses to Sophoclesrsquo tragedy thereforereflect cultural and political shifts occurred in the twentiethcentury as well as different ways of interpreting andldquorememberingrdquo the ancient play No matter in what respectAntigonersquos performance in these years represents a political act

2 HOumlLDERLIN AND ANTIGONE

Of particular interest for my investigation of Antigonersquosreception and politicization in the twentieth century are the mainphilosophical theories developed around the Sophoclean play inthe early nineteenth century10 These readings affected by thepolitical circumstances of the French Revolution caused a breakwith the tradition and contributed to establish the currentinterpretative model of a ldquopoliticizedrdquo Antigone11 Antigone becomesthe great twentieth-century play which still affects us today thanksto two interpreters a poet (Houmllderlin) and a philosopher (Hegel)whose influential readings have irremediably shaped the way laterauthors experienced the play The ldquomodernrdquo Antigone would havebeen different without Hegel and Houmllderlin and ldquothephilosophical explorations of the Hegelian tradition might havealso acquired a different orientation without Antigonerdquo12

Contemporary to Hegel Houmllderlin wrote his highlyinnovative translation of the ancient Greek tragedy in 1804 Thistranslation represents a crucial step towards the currentinterpretative model of Antigone as an icon of radical resistance andit is a fundamental political and linguistic document it was used asa libretto for Carl Orffrsquos 1949 opera Antigonae ndash written under the

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Nazi regime and initially financed by the Reich ndash and it was themodel-translation for Brechtrsquos own interpretation of the play13

Houmllderlinrsquos translation of Antigone has been notoriouslycharacterized for its extreme radicalism Scholars have identifiedmany errors and a striking philological inaccuracy14 Houmllderlinrsquoscommand of Greek was indeed ldquofar from perfectrdquo and he workedwith defective editions To Goethe and to Schiller Houmllderlinrsquostreatment of the Greek text gave palpable evidence of mentalcollapse which the poet endured between 1804 to his death in1843 ndash most likely heightened by the negative reception of histranslations of both Antigone and Oedipus der Tyrann criticized byhis contemporaries15

The rediscovery of the long neglected poet started at thebeginning of the twentieth century The first complete edition ofHoumllderlinrsquos Saumlmtliche Werke was published by Norbert vonHellingrath in six volumes between 1913 and 1923 Thispublication represents a decisive turning point in the reception ofHoumllderlinrsquos works they were not considered anymore as theproduct of a ldquosavagerdquo mind but rather the achievement of a uniquepoet and writer Since then different editions of Houmllderlinrsquos workshave appeared16 and critics praised the Romantic poet consideredpatriotically as exemplary of German honour and loyalty theldquopurestrdquo of poets17 The Antigone in the translation by Houmllderlinwas performed for the first time after its publication in Zurich in1919 and in Darmstadt in 192318

Yet it was in Nazi Germany that Sophoclesrsquo Antigonebecame the most popular classical work performed 150 timesbetween 1939 and 194419 As the war raged on Antigonesignificantly proclaimed ldquoI was born to join in love and not inhaterdquo20 The Sophoclean tragedy became an exemplary model forthe new heroic drama favoured by the Nazis celebrating the ideaof sacrifice and noble death for the fatherland productionsemphasized Antigonersquos patriotic loyalty to her family althoughthey sided with Creon representative of the principle of the state

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The success of Antigone in the repressive context of NaziGermany might seem at odds with the political themes of protestand resistance of the play how could authors conform Antigone tothe ideological manipulation imposed by the regime How is itpossible that the Antigone was so popular and the authorities didnot attempt to stop the proliferation of such a politically chargedplay Wi th Romain Rollandrsquos Aacute lrsquoAntigone eacuteternelle (1916) andWalter Hasencleverrsquos Antigone (1917) the heroine had beenestablished as a figure of pacifism as well as a critical politicalleader Yet it is necessary to take into account the long tradition ofGerman Classicism and cultural identification of Germany withancient Greece started with Winckelmann21 Hitler himself was aPhilhellenist and in his propagandistic book Mein Kampf he hadproclaimed Greece as universal cultural model epitome ofEuropean civilization and racial kin thus merging philhellenismwith nationalism and promoting the identification of the Germanswith the idealized people of ancient Greece22

The combination of Hellenism and Germanism can betraced back to Houmllderlinrsquos translation of Sophoclesrsquo AntigoneHoumllderlinrsquos translation of Sophoclesrsquo Antigone integrates theDionysiac Hellenic element with the German Apolloniancharacter in order to clarify and render intelligible the Greek pathosto the German more rational sensibility23 Houmllderlinrsquos emphasison the similarities between German and Greek cultures preciselyserved the Nazi cause to reinforce nationalistic propaganda duringthe war

In his Notes to Antigone Houmllderlin emphasizes that tragedyemerges at times of revolution in human thinking and feeling ofldquopatriotic reversalrdquo (vaterlaumlndische Umkehr)24 Tragedy as well ashistory is built from the beginning to the end on a series ofdialectic oppositions each generating a dramatic revaluation ofmoral values and political power-relations In Houmllderlinrsquosreinterpretation the opposition between Creon and Antigone ispolitical Antigonersquos act is referred to as Aufstand (ldquouprisingrdquo orldquoinsurrectionrdquo) a politically pregnant word which reveals therevolutionary and political aspiration of his translation25

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Antigonersquos (mis)appropriations in Twentieth-Century Europe | Rossana Zetti

Houmllderlinrsquos translation is itself the product of years characterizedby revolutions Antigonersquos rebellion reflects the FrenchRevolution which is exemplary of a public enactment of such areversal and Creonrsquos final manhandling by his servants can beparalleled to the execution of Louis XVI26 According to Houmllderlina revolution causes a collision whose outcome is a balancedopposition as the play ultimately reaches a (Hegelian) synthesis sorevolutions ultimately bring about a political change in the form ofgovernment and the es tabl ishment of a republikanischeVernunftsform27

The relation between ldquoAntigonersquos revolutionrdquo andldquocontemporary revolutionsrdquo is consolidated by the idea ofVaterland (ldquofatherlandrdquo ldquocommunityrdquo) a sense of patrioticrelevance and nationalism According to Houmllderlin the Germansneed to express their national tendency and at the same timerepress it to give space to the foreign element the pathos of theGreeks only by engaging with the alien can modern poetrybecome ldquopatrioticrdquo (vaterlaumlndisch) and express the originality andauthenticity of the nation itself These principles guide his owntranslation of the play which attempts to clarify and renderintelligible the Greek spirituality in a process called by Houmllderlinldquothe reversal of all modes and forms of representationrdquo28

The Nazis appropriated Houmllderlinrsquos ldquopatrioticrdquo idea of dasVaterlaumlndische and transformed the German poet into an exampleof spiritual leader and patriotic self-sacrifice thus reinvigoratingthe idea of a strong and culturally dominant Germany29 Thecombination of Greek and German elements was exploited assource of ultranationalist pride in the effort to preserve German-Western culture against threatening barbarian influences from theEast thus creating a ldquocultural collective memoryrdquo and heritagedirectly linked to the classics30

The performance of Greek tragedies was thereforelegitimized and approved in the Nazi period In particular Antigonebecame the exemplary model of ldquoheroic dramardquo The ldquoheroicdramardquo was a new dramatic form conceptualized in Germany inthe 1930s which emphasized ideas of patriotism and self-sacrifice

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in order to strengthen the nationalism and unity of Germany in thewake of the imminent war In his essay ldquoThe ImmortalConversation on the Tragic Dramaturgy as the Law of NordicCulturerdquo (1937) Rainer Schloumlsser explained the relevance ofSophoclesrsquo tragedies exemplary of this ldquoNordic attituderdquo ofheroism and noble death31 In May 1933 in his speech ldquoRede vorden deutschen Buhnenleiternrdquo Goebbels proclaimed theldquoheroicnessrdquo of German art

Die deutsche Kunst des naumlchsten Jahrzehnts wird heroischwird staumlhlern-romantisch wird sentimentalitaumltslos sachlichwird national mit groszligem Pathos sie wird gemeinsamverpflichtend und bindend sein oder sie wird nicht sein32

On 22 June 1940 Paris surrendered and the victoriousGerman army marched into Berlin on 6 July 1940 the great victorywas celebrated by Hitler at the Krolloper in Berlin33 In the autumnof 1940 two almost simultaneous productions of Antigone wereperformed in Berlin and Vienna34 The 1940-1941 theatrical seasonopened in Berlin with Karlheinz Strouxrsquos Antigone whichpremiered on 3 September 1940 at the Berliner StaatlichesSchauspielhaus where the TieckMendelssohn production had beenshown multiple times Stroux relied on Roman Woernerrsquostranslation which facilitated the understanding of the text andcontributed to render it accessible to the public ndash by contrast withHoumllderlinrsquos obscure translation

Karlheinz Strouxrsquos reading of the play did not follow thestandard ldquointerpretationrdquo imposed by the Nazis but transgressedand contradicted the dominant ideology Rather than classicalGreece the stage designs reminded critics of an oriental or pre-Hellenic culture Antigone was interpreted by Marianne Hoppeand was addressed and presented as Greek whereas Creoninterpreted by Walter Frank was dressed as an Oriental king Theracial kinship was inverted Antigone a female was presented asthe Aryan-Greek model and Creon the ruler as a barbarian35

Although critics maintained that ldquothe tragedy does not correspondto the standards of the sacrosanct idea of the staterdquo36 the classical

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subject matter the mystic stage and stylized acting did not prompta direct identification with the story rather they allowed the authorto discuss indirectly contemporary political issues while avoidingcensorship

Particularly resonant was the Antigone directed in Vienna in1940 by Lothar Muumlthel followed by other five performances inFrankfurt (1941) Leipzig (1942) Vienna (1943) Goumlttingen (1944)and Stuttgart (1944) In correspondence with the centenary of thepoetrsquos death on 7 June 1943 patriotic celebrations occurred acrossGermany Antigone was performed in Vienna and the Houmllderlinsociety was founded in Stuttgart Goebbels was appointedldquohonorary patron of the Societyrdquo and Hitler ordered to place ldquoacommemorative wreath hellip in his name on Houmllderlinrsquos grave inTuumlbingenrdquo37 Antigone was even performed in 1944 a few monthsbefore Goebbels ordered the closure of all theatres In occasion ofthe 1944 production of Antigone in Stuttgart a newspaper wrotethat ldquotwo and a half thousand years of Western culture are nowpreserved and defended by Herzland Europardquo38

Therefore although the potential subversive character ofAntigonersquos rebellion which emerges for example in Strouxrsquosreading of the play Antigone was exploited and mis-interpreted bythe Nazis who relied upon Houmllderlinrsquos ldquopatrioticrdquo and ldquoheroicrdquoideas of fatherland Through the Nazisrsquo reading Houmllderlin gainedpowerful ideological resonance and became a nationalist icon ofGerman Nazism Brecht speaks in his Arbeitsjournal of ldquothenationalistic element intolerable to usrdquo imposed by Hitler in thereading of German poets such as Schiller and Houmllderlin39

Houmllderlinrsquos translation of the ancient play was recommended byBrechtrsquos collaborator Caspar Neher who had watched in Hamburgthe first post-war production of Antigone in the translation of theGerman poet (1946)40 This production received particularlypositive responses by the critics who claimed that ldquoHoumllderlin isthe more Greek of allrdquo and intended to convey the ldquoturmoil thepolitical the republican the revolutionary which Houmllderlin alwayssaw in Antigonerdquo41

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In using Houmllderlinrsquos translation but developing a radicallydifferent reading Brecht opposed the Nazisrsquo use of Houmllderlinrsquosplay as the epitome of the vaterlandisch ldquoa way of imagining theworld from a nationalistic perspectiverdquo42 The indeed oppositeappropriation of the play by Brecht reveals the pliability of theAntigone narrative and is paradigmatic of the politicizing of themyth

3 BRECHT AND ANTIGONE

Brechtrsquos version draws closely on Sophoclesrsquo text buttransforms the Greek narrative in an analysis of modern classstruggle Brecht explicitly challenges the nationalistic uses of theSophoclean play which he felt incompatible with the complexitiesof post-war Germany Although appropriated by the Nazis duringthe war for its nationalistic appeal the text also responded toBrechtrsquos desire to oppose to the classical reading of the play andto distance himself from the purely classical-humanist andldquobourgeoisrdquo interest in Greek tragedy

As he explains in the preface to his own Modelbuch43 Brechtavoided an easy identification of the conflict with one between theindividual and the (Nazi) totalitarian regime He refused to equateAntigone with German resistance fighters who fought against theNazis nor could Antigone be interpreted as a ldquomoral playrdquo or asrepresentative of religion humanity or the individual in relation tothe state44 As he suggests in the preface of the Antigonemodell thechoice of the material relied both on the possibility to raiseinteresting formal problems through the ancient play and on itspolitical relevance45

The focus of the play shifts from the conflict between theindividual and the state to the disintegration of the society-polis andthe ldquoscattering of destructionrdquo left by war Brechtrsquos play shows thatwars are determined by questions of profit and imperialistic greedthus drawing an explicit parallel with the Second World WarCreon is a corrupt imperialistic tyrant leading an aggressive waragainst Argos to control its mines His power is maintained

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through violence and an aggressive policy justified by a rhetoric ofhonour and race In his reinterpretation Brecht emphasizes theviolence implicated in both the ruling class including the wealthychorus of elders and Antigone who loses her dominant role sheis presented as a privileged upper class woman who has also beencomplicit to Creonrsquos crimes46 The heroine merely serves to throwinto relief Creon addressed by his lackeys as ldquomein Fuumlhrerrdquo andhis repressive government dominated by thievery and exploitation

The Sophoclean catastrophe thus becomes in Brechtrsquosreinterpretation an allegory of the decline of the Third Reich andNational Socialism as well as an analysis of societyrsquos mechanismsT h e emphasis on violence and destructions provoked by wardemonstrates Brechtrsquos self-conscious attempt to reflect upon thedisaster of the recent war and to explore issues of responsibility ndashcollaboration and resistance ndash during the years of the SecondWorld War

Through his reworking of the Sophoclean play Brecht aimsto awaken the critical spirit of his audience the play becomes apretext to reflect upon the recent past and to remember that pastIssues of memory recur throughout the play even the title TheAntigone of Sophocles after Houmllderlinrsquos translation adapted for the stage byBrecht represents an act of remembrance and links Brechtrsquos namewith Sophoclesrsquo and Houmllderlinrsquos47

In the parodos of Brechtrsquos Antigone the chorus of Thebanelders celebrates the victory over Argos and encourages the peopleto forget the recent war

Und nach dem Kriege hier Macht die Vergessenheit ausIn alle GoumlttertempelMit Choumlren die Nacht durchKommt her Und Thebe die Bloszlige im LorbeerschurzErschuumltternd herrsche der Bacchusreigen48

The ldquodrink of oblivionrdquo proffered by Bacchus allows thepeople thirsting for peace to rejoice in the illusory celebrationsand to forget about the deaths and destructions caused by the war

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However such a call for forgetting is a cover up manipulated byCreon in order to camouflage the reality the much praised victoryis in fact a lie because the war is not over The eagerness to forget isopposed to Antigonersquos determination to remember the past theheroine insists that it is important to remember the disasters of thepast in order to avoid their repetition in the future In the firstscene of the play Antigone disapproves of her sister Ismene forher the tragedy of their brothersrsquo death is already ldquoa yesterdaythingrdquo49

On the one hand Brecht accuses the spectators ofcomplicity and his Antigone becomes an indictment to thosepeople who wished to forget the past and to those ldquoordinaryrdquoGermans who failed to act under Hitlerrsquos regime and chose not tosee giving tacit consent to his crimes on the other he questionsthe validity of an Antigone-like-act and -death in the context ofBerlin 1945 Brecht himself did not ldquoactrdquo but decided to fleeGermany rather than staying and facing certain death He waswatching the events from a distance during his exile50

The final lesson offered by Brechtrsquos play is indeed nihilisticand pessimistic in the original the chorus praise wisdom whichman can achieve though self-knowledge with old age and throughsubmission to the gods51 in the modern version instead the fall ofThebes could have been avoided and it is presented as the result ofa conscious self-destructive choice It is human greed and lustwhich ultimately transform man in a ldquomonsterrdquo to himselfincapable of becoming ldquobecome wiserdquo even in old age52

Brechtrsquos tragedy teaches that man will repeat the sameerrors reiterated in the updated version of the story unless manremembers the past the sacrifice of innumerable Antigones ndash orGerman resistance fighters ndash will be useless Brecht appropriatesthe Antigone story as political instrument to reflect upon humanactions and more precisely upon the ldquomonstrousrdquo actions andchoices enacted by each single individual during the tragic years ofthe Second World War Once more classics serve as a platform tocomment upon past and present events and to question issues ofmoral choice and responsibility

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The influence of Brechtrsquos play extends beyond itsimmediate impact His version is as important as the original forthe creation of later politicized Antigones and showed the way toother adaptations that reflected on political issues of dissent andresistance

4 CONCLUSIONS

The twentieth-century reception of Sophoclesrsquo Antigoneshows how a work of art can be re-interpreted and ldquorememberedrdquoin different ways in order to fulfill a certain political agenda andpropaganda It is not only the past itself that matters but the waysin which this past is consciously re-interpreted and exploited toremember and shape contemporary events Antigone still matterstoday because of the chain of political reinterpretations that hashelped authors and audiences to remember and reflect upon thepresent through the powerful voices of heroes of the past

The ldquouses and abusesrdquo of Houmllderlinrsquos version areexemplary of the different ways of remembering the past througha work of art and of the distorting ways of using classics duringtotalitarianisms53 The play was then re-used by Brecht for differentpurposes through his adaptation of Antigone Brecht hoped to re-awaken the critical thinking of his audience and to provide themwith the instruments necessary to unveil the workings of ideologyand dictatorships It is questionable whether these and otherAntigones anchored to the history of the twentieth century havecontributed to effectively instigate a political change andsentiments of revolt or nationalism in their audiences Indeed it isundeniable that the political directions taken by the play in the lastcentury have underscored the playrsquos relevance and granted itsendurance to the present day

The playrsquos reception in this century proves the greatpolitical potentiality and versatility of a play like Antigone adaptedand staged in correspondence with important historical andpolitical events The political aspect already present in thearchetypical figure of a woman who alone defies the authority of

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the State has been uncovered by playwrights and directors whohave demonstrated that the Antigone of Sophocles is appropriatenot only to describe situations as they occurred in the twentiethcentury but it belongs to any time and place as John Kaniacknowledges

Antigone addresses itself to any corner of the world where thehuman spirit is being oppressed where people sit in jailbecause of their fight for human dignity for freedom54

These versions became a sort of ldquooriginalrdquo in their ownright and were able to turn the stage into a place where the distantpast could be revived and remembered theatre and the politicaluse of classics worked as a vehicle for memory

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ABSTRACT

Le (mis)interpretazioni di Antigone nellEuropa del ventesimosecolo Memoria Politica e Resistenza

In questo articolo si propone unrsquoanalisi del processostorico che ha portato alla concettualizzazione dellrsquo Antigone diSofocle come opera politica attraverso lrsquoanalisi della sua ricezionein Europa nel ventesimo secolo Mi concentrerograve in particolare sullatraduzione di Friedrich Houmllderlin (1804) che rappresenta una delleprime testimonianze post-rivoluzionare della politicizzazione dellastoria di Antigone egrave quindi particolarmente interessante in quantofornisce un contesto per le interpretazioni del mito da parte diBertolt Brecht e di altri autori del ventesimo secolo e rappresentaun passo cruciale verso lrsquoattuale modello interpretativo di Antigonecome icona di dissenso e resistenza radicale Appropriata sia dalregime nazista che da fazioni della Resistenza lrsquoAntigone diHoumllderlin fu sfruttata come documento politico e sovversivo ecome icona di una tradizione classica nazionalista Questoresoconto della ricezione politica dellrsquoAntigone di Sofocle nelventesimo secolo contribuiragrave a far luce sul clima ideologico che haprodotto un cosigrave grande numero di interpretazioni dellrsquooperaantica noncheacute sulle ragioni della sua pertinenza alle condizionisocio-politiche di questo secolo

PAROLE CHIAVE

Antigone Ricezione Politicizzazione Brecht Houmllderlin Sofocle

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Caliope Presenca Classica | 20172 Ano XXXIV Numero 34

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

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25 HOumlLDERLIN 2001 p 7326 According to UNGER 1984 p 2 Houmllderlin showed ldquoa growing interest in and enthusiasm for the intellectual and political ideals of the French Revolutionrdquo expressed through his poetry and especially the Hymns to the Ideals of Mankind LOUTH 1998 p 155 remarks that Houmllderlinrsquos present is ldquodetermined by the French revolution and by Greek antiquityrdquo As STEINER 1984 p 81 observes this virtual manhandling is a motif entirely invented by Houmllderlin 27 HOumlLDERLIN 1963 p 676 28 PFAU 1988 p 11429 FLASHAR 2009 p 14130 See ZIOLKOWSKI 2000 p 555 FLASHAR 2009 p 16431 See FISCHER-LICHTE 2017 p 16732 Quoted in LOHSE 2006 p 16033 On the historical context see LOHSE 2006 p 152-15334 On these productions of Antigone see LOHSE 2006 p 151-186 FLASHAR 2009p 165-168 On Strouxrsquos Antigone see FISCHER-LICHTE 2017 p 171-17935 See FISCHER-LICHTE 2017 p 17736 FISCHER-LICHTE 2017 p 17637 SAVAGE 2008 p 5 In this occasion patriotic celebration occurred acrossGermany and a special edition of Houmllderlinrsquos poems was prepared by Beiszligner 38 Trans From FLASHAR 2009 p 16539 Trans RORRISON WILLETT 1993 p 30640 On this production see CASTELLARI 2011 p 156-157 See remarks in BRECHT 1988 p 12 ldquoAuf Rat von Cas nehme ich die Houmllderlinische Uumlbertragung die wenig oder nicht gespielt wirdrdquo Brecht was not aware of the theatrical success of the play during the Nazi period see FLASHAR 2009 p 141 FISCHER-LICHTE 2017 p 166-182 41 FISCHER-LICHTE 2017 p 18742 GOLDHILL 2012 p 15143 The Antigonemodell 1948 opens with a programmatic foreword it includesdrawings by Neher a sequence of images from the scene photographed by RuthBerlau in 1948 with captions in hexameters (the so called Bruumlckenverse whichform the Antigone-Legende) notes by Brecht and the full text of Antigone Inaddition the Modellbuch explains Brechtrsquos and Neherrsquos choices for the settingcostumes way of acting and moving of the performers See BRECHT 1988 p47-5544 BRECHT 1988 p 48 ldquodie groszlige Figur des Widerstands im antiken Dramarepraumlsentiert nicht die Kaumlmpfer des deutschen Widerstands die uns ambedeutendsten erscheinen muumlssenrdquo45 BRECHT 1988 p 48 ldquoFuumlr das vorliegende theatralische Unternehmen wurdedas Antigonedrama ausgewaumlhlt weil es stofflich eine gewisse Aktualitaumlt erlangenkonnte und formal interessante Aufgaben stellterdquo 46 On Brechtrsquos use of the chorus see REVERMANN 201347 On the implications and problems of citation raised in this title which allows Brecht to avoid plagiarism see SAVAGE 2006 p 153-155 TAXIDOU 2008 p 245 On Brechtrsquos ldquothieveryrdquo see BROWN 197848 BRECHT 1977 p 19 for an English translation see BRECHT 2003 p 1249 BRECHT 2003 p 12 For the original see BRECHT 1977 p 18 ldquoSchon ist erdir Gestrigesrdquo50 Brecht forced to leave his homeland when Hitler came to power because ofhis communist affiliation returned to Europe in October 1947 after years ofexile spent in Scandinavia and in the United States51 SOPHOCLES Antigone 1348-135352 In the first line of the second stasimon (SOPHOCLES Antigone 332) theSophoclean choral ode defines ldquomany thingsrdquo as δεινότερον the adjectivedeinos means ldquoformidablerdquo in the ambivalent connotation of ldquoclevermarvellousrdquo but also ldquofearful terriblerdquo Brecht renders the Greek deina withthe German ungeheuer which points exclusively to the ldquomonstrosityrdquo of man53 I borrow the formulation ldquouses and abusesrdquo from FLEMING 200654 John Kani collaborated with Athol Fugard in the South-African production ofAntigone entitled The Island Here John Kani in an interview with Martin Phillipsin Feb 2000 quoted in MEE FOLEY 2011 p 6

Significado e estrutura do argumento do terceiro homem [] | Guilherme da C A Ceciacutelio

Significado e estrutura do argumento doterceiro homem no Parmecircnides de Platatildeo Guilherme da Costa Assunccedilatildeo Ceciacutelio

RESUMO

O argumento do terceiro homem presente no Parmecircnides constituiuma formidaacutevel objeccedilatildeo agrave teoria das ideias agrave qual Platatildeo natildeoapresentou resposta expliacutecita Na primeira parte deste trabalhotrataremos brevemente da cronologia dos diaacutelogos platocircnicosprocurando situar o Parmecircnides numa ordenaccedilatildeo pelo menosplausiacutevel Em seguida analisaremos detalhadamente o argumentodo terceiro homem tal como se encontra redigido no ParmecircnidesApreciaremos tambeacutem o significado dessa objeccedilatildeo quandoconsiderada sob o prisma da funccedilatildeo causal das ideias

PALAVRAS-CHAVE

Teoria das Ideias Parmecircnides argumento do terceiro homemautopredicaccedilatildeo causalidade

SUBMISSAtildeO 29 set 2017 | PUBLICACcedilAtildeO 21 dez 2017

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Caliacuteope Presenccedila Claacutessica | 20172 Ano XXXIV Numero 34

1 INTRODUCcedilAtildeO

Parmecircnides eacute provavelmente o mais enigmaacutetico dosdiaacutelogos platocircnicos A primeira parte da obra consisteno coloacutequio entre o ceacutelebre eleata e um Soacutecrates aindabastante jovem esse propotildee e procura defender ateoria ontoloacutegica que viemos a conhecer sob o roacutetulode teoria das ideias1 agrave qual entretanto Parmecircnidesmove uma cerradiacutessima criacutetica

As objeccedilotildees contra aquela que veio a ser amais ceacutelebre das doutrinas de Platatildeo satildeo tantas e tatildeograves que natildeo deixa de surpreender quandoParmecircnides subitamente interrompe o curso de suademolidora criacutetica para encorajar o seu joveminterlocutor

Entretanto Soacutecrates disse Parmecircnides se algueacutem por outrolado ao atentar para todas as coisas mencionadas haacute pouco epara outras desse tipo natildeo admitir que haja formas dos serese natildeo separar uma forma de cada coisa uma nem sequer teraacutepara onde voltar o pensamento uma vez que natildeo admitiraacutehaver uma ideia sempre a mesma de cada um dos seres eassim arruinaraacute absolutamente o poder do dialogar Pareces-me seguramente estar ciente e muito de tal coisaDizes a verdade disse ele Que faraacutes entatildeo da filosofia Para onde te voltaraacutes sendoestas coisas desconhecidas Acho que natildeo vejo bem pelo menos no presente Eacute que Soacutecrates disse ele tentas cedo demais antes de teexercitares [gumnasqh=nai] separar um belo e um justo e umbem e cada coisa uma dentre as formas Pois me dei contadisso bem recentemente ouvindo-te aqui dialogar comAristoacuteteles aqui presente Pois fica sabendo que realmente eacutebelo e divino esse ardor que lanccedilas sobre os argumentos Masesforccedila-te e exercita-te [gumnasai] mais enquanto ainda eacutesjovem por meio disso que pela maioria eacute tido como inutil echamado de tagarelice Se natildeo a verdade te escaparaacute2

A passagem citada marca uma importante divisatildeo nodiaacutelogo a partir desse ponto a obra muda de feiccedilatildeo consistindoentatildeo numa longa e aacuterida demonstraccedilatildeo do tipo de exerciacutecio ndash

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O

Significado e estrutura do argumento do terceiro homem [] | Guilherme da C A Ceciacutelio

gumnasia ndash que Parmecircnides sugerira como meacutetodo para alcanccedilar averdade O sentido de tal gumnasia eacute poreacutem tatildeo ou mais abstrusoquanto a criacutetica agrave teoria das ideias que ocupa a primeira parte dodiaacutelogo

Sendo assim natildeo satildeo poucos os desafios que a obra impotildeeao exegeta Apesar das muitas e seacuterias dificuldades uma seccedilatildeo dodiaacutelogo tem praticamente monopolizado a atenccedilatildeo da criacuteticacontemporacircnea a saber a passagem que conteacutem o argumento doterceiro homem3 Esse argumento cuja denominaccedilatildeo nos foilegada por Aristoacuteteles4 refere-se a uma determinada espeacutecie deobjeccedilatildeo capaz de suscitar o regresso infinito das ideias platocircnicasHaacute na verdade dois argumentos desse tipo no Parmecircnides5 Estetrabalho visa examinar justamente um desses argumentos

Haacute trecircs tipos de tarefas bem diferentes para o inteacuterprete doterceiro homem A primeira eacute procurar compreender bem aestrutura do argumento e nos ocuparemos aqui dessa questatildeo asegunda tarefa eacute avaliar o sentido da aporia isto eacute o peso que essaobjeccedilatildeo possa ter para a teoria das ideias e tambeacutem a issodedicaremos nossa atenccedilatildeo por fim eacute possiacutevel ainda investigar setal aporia pode ou natildeo pode ser resolvida e se a filosofia platocircnicaestaria em condiccedilotildees de apresentar-lhe uma soluccedilatildeo essa questatildeoeacute sem duvida muito mais complexa e natildeo seraacute contemplada nestetrabalho

2 CONSIDERACcedilOtildeES PRELIMINARES 21 CRONOLOGIA E A POSICcedilAtildeO DO PARMEcircNIDES

O estudioso de Platatildeo natildeo pode deixar de se posicionardiante de algumas questotildees Especialmente quem aborda o terceirohomem e o Parmecircnides deve tratar da cronologia dos diaacutelogosvexata quaestio ainda que o faccedila de modo marginal

O advento da estilometria trouxe novas ferramentas aoestudo do corpus platonicum cujo valor eacute dificilmente contestaacutevelMas como se sabe natildeo eacute possiacutevel obter uma ordenaccedilatildeo estrita dosdiaacutelogos unicamente a partir de dados estilomeacutetricos Alinhamo-nos portanto com a tendecircncia geral dos comentadores de

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reconhecer trecircs grandes grupos de diaacutelogos que remetem aosperiacuteodos da juventude maturidade e velhice de Platatildeo

O Parmecircnides eacute normalmente considerado uma obra detransiccedilatildeo entre a maturidade e a velhice platocircnica Determinartodavia a sua exata posiccedilatildeo relativamente aos diaacutelogos dessas duasfases eacute uma tarefa muito mais complexa Natildeo sendo possiacutevelrecorrer agrave estilometria em casos como esse os estudiososfrequentemente socorrem-se de hipoacuteteses doutrinaacuterias para dataros diaacutelogos a questatildeo doutrinaacuteria mais relevante para o Parmecircnideseacute a criacutetica agrave teoria das ideias a que se assiste na primeira parte daobra Parmecircnides I6

Embora as ordenaccedilotildees variem um pouco de comentadorpara comentador em geral se aceita que o Parmecircnides seja por umlado posterior a pelo menos algumas das grandes composiccedilotildees damaturidade de Platatildeo tais como Repuacuteblica Feacutedon e Banquete poroutro lado o diaacutelogo possivelmente antecederia o Teeteto SofistaPoliacutetico Timeu Filebo e Leis

22 PARMEcircNIDES E A TEORIA DAS IDEIAS

Eacute consensual que o Parmecircnides seja um diaacutelogo de transiccedilatildeoentre as obras de maturidade e de velhice talvez a grandereferecircncia para a determinaccedilatildeo desses periacuteodos O consensoporeacutem se desfaz quando se trata de apreciar as relaccedilotildees do diaacutelogocom a questatildeo (doutrinaacuteria) da teoria das ideias e sua supostaevoluccedilatildeo

Haacute de um lado aqueles que sustentam que Platatildeo jamaisrenunciou agrave sua teoria ontoloacutegica a despeito das autocriacuteticasconsignadas no Parmecircnides E haacute por outro lado os que veemnesse diaacutelogo o marco do abandono da concepccedilatildeo das ideias7

esses ultimos ainda podem ser subdivididos em dois grupos arespeito dos quais vale a pena ler o ludico relato de ConstanceMeinwald8

A very unhappy story of Platorsquos career has been increasingly out offashion in the last half-century (Though as is often the case with oldfashions it continued to be followed by people out of the circle of the

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Significado e estrutura do argumento do terceiro homem [] | Guilherme da C A Ceciacutelio

trendsetters) In this most unhappy story Plato started writing with agracious compliment to his master The high literary achievement of themiddle-period works coincided with a philosophical high point a headyand confident time of glorious dogmatism Then after a major crisis inwhich he attacked and actually destroyed the theory that was hismasterpiece Plato spent his last years in extensive critical activity Hisnow-failing literary powers produced the late dialogues as a record of thisbarren final period A second and completely opposite story has been invogue more recently [] This second kind of interpretation whichreceived perhaps its greatest impetus from Gilbert Ryle regards the theoryof Forms of the middle period as a hopelessly flawed creation whosehopelessness was realized by Plato himself in the Parmenides He wasthen in a position to do some good philosophy in the late period Thisstory is in a way happier but the attribution to Plato of a middle theorythat can only be nonsense is a problem [] Opposite as they are thesestories have something crucial in common that the Parmenides recordsPlatorsquos realization of the unviability of a determinate theory of Formscontained in the middle dialogues and so ushers in a late period whoseprogram would have to be entirely different from that of the middleworks

Mas atualmente nenhum desses dois tipos deinterpretaccedilatildeo eacute dominante A proacutepria Meinwald9 oferece umaleitura do Parmecircnides que considera as suas criacuteticas como aporias aserem resolvidas mas que nem por isso implicam a rejeiccedilatildeo docerne da doutrina das ideias

De nossa parte cremos que Platatildeo jamais abandonou ateoria das ideias ou sequer alterou-a a tal ponto que as ideiasdeixassem de ser entes subsistentes e independentes do homem Eacuteevidente que defender semelhante posiccedilatildeo de modo exaustivoredundaria num trabalho aacuterduo e demasiado extenso

Uma meta mais modesta mas que contribui para o sucessodesta empresa geral eacute mostrar que a aporia do terceiro homemnatildeo constitui uma objeccedilatildeo inescapaacutevel Sendo assim eacute plausiacutevelque Platatildeo natildeo tenha precisado renunciar agrave sua teoria ontoloacutegicapelo menos no que diz respeito agraves dificuldades que o terceirohomem lhe opotildee Eacute claro que demonstrar essa teseadequadamente envolve examinar detidamente o Parmecircnides o quenatildeo nos cabe fazer neste momento introdutoacuterio Mas antes

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mesmo de abordarmos o diaacutelogo eacute possiacutevel apresentar umargumento externo por assim dizer em apoio agrave tese de que essaobra natildeo seja o marco do abandono da doutrina das ideias

Mesmo que natildeo se lance matildeo do Timeu como contraprovaincontrovertiacutevel da permanecircncia das ideias no corpus platonicumevitando assim a querela da sua dataccedilatildeo e por outro ladodeixando de lado a exegese de passagens controversas de diaacutelogoscomo o Sofista Filebo e Leis sem embargo ainda resta umargumento convincente e o que eacute melhor bastante simples

Dentre os que receberam a obra do filoacutesofo naAntiguidade jamais houve quem supusesse que Platatildeo tivesserenunciado agraves ideias Ademais o seu maior criacutetico Aristoacuteteles natildeoteria deixado de no-lo relatar caso isso houvesse ocorrido Defato que melhor sinal da falecircncia da teoria que ele tanto criticavado que o abandono da mesma por parte de seu autor10

Dito isto eacute contudo razoaacutevel supor algum grau demodificaccedilatildeo na concepccedilatildeo das ideias talvez mais insensato do quesupor o abandono da teoria das ideias seja supor que ao longoduma obra tatildeo vasta certos aspectos natildeo tenham sido repensadose ajustados Apreciar todavia o alcance dessas alteraccedilotildees excedecompletamente o escopo deste trabalho11

23 CAUSALIDADE

Cabe ainda uma ultima consideraccedilatildeo de caraacuteter geral Aotratar da teoria das ideias acreditamos ser impossiacutevel abrir matildeo danoccedilatildeo de causa ai0tia Efetivamente neste trabalho faremos largouso da expressatildeo fato que demanda uma explicaccedilatildeo preacutevia paraevitarmos uma seacuterie de graves mal-entendidos

Alguns platonistas manifestam certa resistecircncia ao usodesse termo de certa forma isso eacute compreensiacutevel uma vez quecomo sabe o estudioso de filosofia antiga ele eacute bastante ambiacuteguoPor um lado o modo como eacute entendido nos dias de hoje serestringe fundamentalmente ao conceito de causa eficiente o qualestaacute longe de exprimir toda a valecircncia do termo ai0tia por outrolado pode-se argumentar que Platatildeo natildeo possui propriamente uma

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Significado e estrutura do argumento do terceiro homem [] | Guilherme da C A Ceciacutelio

teoria das causas o que soacute se atingiu com Aristoacuteteles Sendo assimargumentam alguns conviria evitar a problemaacutetica expressatildeo

Noacutes pelo contraacuterio afirmamos que ao recorrer agrave noccedilatildeo decausa o inteacuterprete ganha muito mais do que eventualmente perdeTrata-se na verdade dum conceito indispensaacutevel para quem lidacom a teoria das ideias de que outro modo descrever a funccedilatildeo dasideias com relaccedilatildeo agraves realidades sensiacuteveis senatildeo como uma funccedilatildeocausal12 E natildeo se trata apenas dum recurso exegeacutetico do qual ointeacuterprete lanccedilaria matildeo como que a despeito da letra do textoPlatatildeo utiliza largamente o termo ai0tia tratando-se ateacute mesmodum problema de traduccedilatildeo Cabem todavia algumas ressalvas

Dizer que as ideias tenham funccedilatildeo causal natildeo significaafirmar que Platatildeo tenha expliacutecita e exaustivamente tratado dotema coisa que como jaacute referimos soacute vem a ocorrer comAristoacuteteles

Aleacutem disso impende ressaltar que defender a funccedilatildeo causaldas ideias natildeo implica de modo algum comprometer-se com oecircxito completo de tal funccedilatildeo Sendo assim o que sustentamos eacuteque a teoria das ideias eacute indissociaacutevel de um esforccedilo de explicaccedilatildeocausal julgar o sucesso de semelhante esforccedilo eacute jaacute outra questatildeo agravequal natildeo poderemos nos dedicar aqui

Sendo assim a noccedilatildeo de causalidade com quetrabalharemos poderia ter por equivalente a noccedilatildeo deldquoresponsabilidaderdquo que talvez possua a vantagem de indicar ocaraacuteter necessaacuterio mas natildeo suficiente das ideias para a explicaccedilatildeode determinado dado sensiacutevel Assim por exemplo a ideia demesa eacute um item necessaacuterio para explicar uma mesa sensiacutevel masnatildeo suficiente a explicaccedilatildeo completa dessa requer ainda nomiacutenimo um agente e um material

Feitas essas consideraccedilotildees podemos nos voltar para onosso objeto de estudo o argumento do terceiro homem tal comoo formulou Platatildeo no Parmecircnides

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3 O ARGUMENTO DO TERCEIRO HOMEM

31 RECONSTRUCcedilAtildeO DO ARGUMENTO DO TERCEIRO HOMEM

Antes de avaliarmos o peso da objeccedilatildeo do terceiro homemp a r a a filosofia de Platatildeo eacute indispensaacutevel compreendecirc-laadequadamente Leiamos pois em primeiro lugar o trechorelevante do diaacutelogo

Creio que tu crecircs que cada forma eacute uma pelo seguintequando algumas coisas multiplas te parecem ser grandestalvez te pareccedila a ti que as olhas todas haver uma certa ideiauma e a mesma em todas donde acreditas o grande ser umDizes a verdade disse ele Mas e quanto ao grande mesmo e agraves outras coisas grandesSe olhares da mesma maneira com a alma para todos essesnatildeo apareceraacute de novo um grande um em virtude do qual eacutenecessaacuterio todas aquelas coisas aparecerem como grandesParece que simLogo uma outra forma de grandeza apareceraacute surgindo aolado da grandeza mesma e das coisas que desta participam Esobre todas essas apareceraacute de novo outra de modo a emvirtude dela todas essas serem grandes E natildeo mais seraacute umacada uma das tuas formas mas ilimitadas em quantidade13

Para evidenciar a estrutura loacutegica do trecho supracitadovalemo-nos do importante estudo de Gregory Vlastos14 mastambeacutem de contribuiccedilotildees de outros estudiosos Eis o esquema quepropomos

(i) O dado de base eacute uma multiplicidade (indiviacuteduos a b cetc) que possui determinada propriedade F (ii) ldquoum sobre muitosrdquo15 a essa multiplicidade correspondeuma unidade a ideia F-dade em virtude da qual amultiplicidade possui a propriedade F(iii) autopredicaccedilatildeo F-dade eacute F (iv) natildeo identidade se x possui a propriedade F x natildeocoincide com F a forma em virtude da qual x possui F

De acordo com (iii) a proacutepria ideia F-dade eacute F logo elapode ser o substituto da variaacutevel x em (iv) o que impotildee aexistecircncia de uma nova forma F-dade1 que sirva como substituto

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da variaacutevel F Como F-dade1 estaacute sujeita agrave autopredicaccedilatildeo F-dade1

tambeacutem pode substituir a variaacutevel x na premissa (iv) instaurando-se assim o regresso infinito das formas

Conveacutem agora cotejarmos a nossa reconstruccedilatildeo doargumento com o texto do ldquoParmecircnidesrdquo

Os passos (i) e (ii) encontram correspondecircncia nestaafirmaccedilatildeo

Creio que tu crecircs que cada forma eacute uma pelo seguintequando algumas coisas multiplas te parecem ser grandestalvez te pareccedila a ti que as olhas todas haver uma certa ideiauma e a mesma em todas donde acreditas o grande ser um16

Nela estaacute contido o dado de base isto eacute a existecircncia devaacuterias coisas sensiacuteveis que satildeo grandes ou seja uma multiplicidadeempiacuterica de indiviacuteduos dotados da propriedade F Ta lmultiplicidade se explica por referecircncia a ldquouma certa ideia uma e amesmardquo a ideia de grandeza ou em geral F-dade trata-se aqui doprinciacutepio do ldquoum sobre muitosrdquo

Quanto agrave autopredicaccedilatildeo cremos que ela opere noseguinte trecho

Mas e quanto ao grande mesmo e agraves outras coisas grandesSe olhares da mesma maneira com a alma para todos essesnatildeo apareceraacute de novo um grande um em virtude do qual eacutenecessaacuterio todas aquelas coisas aparecerem como grandes17

Parmecircnides sugere que o ldquogrande mesmordquo (auto to mega)isto eacute a ideia de grandeza e ldquoas outras coisas grandesrdquo (ta]lla tamegala) isto eacute a multiplicidade sensiacutevel de que se partiu sejamconsideradas ldquoda mesma maneirardquo expressatildeo que traduz oadveacuterbio grego w9sautwj aqui parece residir um sinal daautopredicaccedilatildeo18 Segundo o que fora haacute pouco admitido as coisassensiacuteveis satildeo grandes considerar ldquoda mesma maneirardquo - w9sautwj -a ideia de grandeza soacute poderia significar entatildeo predicar tambeacutemdela o ldquogranderdquo ou seja a autopredicaccedilatildeo

A autopredicaccedilatildeo eacute ainda mais visiacutevel na conclusatildeo doargumento

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Logo uma outra forma de grandeza apareceraacute surgindo aolado da grandeza mesma e das coisas que desta participam Esobre todas essas apareceraacute de novo outra de modo a emvirtude dela todas essas serem19 grandes E natildeo mais seraacuteuma cada uma das tuas formas mas ilimitadas emquantidade20

Na frase ldquotodas essas serem grandesrdquo (tau=ta panta megalae1stai) a referecircncia de ldquotodasrdquo patentemente inclui a ideia degrandeza de que se partiu bem como outras ideias de grandezaderivadas do regressus isto eacute afirma-se que as ideias de grandeza satildeograndes

Jaacute o princiacutepio de natildeo identidade estaacute apenas impliacutecito emtodo o trecho mas nem por isso ele eacute menos operante Bem aocontraacuterio sobre ele estaacute fundada toda a argumentaccedilatildeo a suposiccedilatildeoinicial de que existe uma ideia para dar conta duma multiplicidadeque possui a propriedade F estaacute baseada na convicccedilatildeo de que aposse dessa propriedade se explica por referecircncia a um indiviacuteduopor assim dizer externo ao grupo de indiviacuteduos caracterizados porF e quando a proacutepria ideia passa a ser caracterizada por F(autopredicaccedilatildeo) a mesma convicccedilatildeo impotildee a existecircncia dumanova ideia

Sendo assim estamos aptos a concluir que o terceirohomem tal como ele estaacute redigido no Parmecircnides conteacutem osprinciacutepios que acabamos de expor21 redundando portanto nadeflagraccedilatildeo de seacuteries infinitas de ideias platocircnicas isto eacute de acordocom as premissas do argumento cada propriedade F gera oconjunto infinito F-dade1 F-dade2 F-dade3 onde F-dade eacute umavariaacutevel que representa ideias platocircnicas

Antes de avanccedilarmos conveacutem prestarmos algunsesclarecimentos gerais acerca do terceiro homem e dos princiacutepiosque o constituem

32 OBSERVACcedilOtildeES TERMINOLOacuteGICAS

O famoso princiacutepio da autopredicaccedilatildeo eacute tambeacutem chamadopor alguns de princiacutepio da autoexemplificaccedilatildeo22 Isso reflete a

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tentativa em si mesma correta de evitar o sabor linguiacutestico daexpressatildeo ldquoautopredicaccedilatildeordquo De fato predicaccedilatildeo eacute algo que aprinciacutepio diz respeito somente agrave linguagem mas as ideias natildeo satildeoentes linguiacutesticos natildeo satildeo predicados que se predicam de simesmos23 Ao contraacuterio o termo ldquoautoexemplificaccedilatildeordquo indicariaque se trata de um ente que se autoexemplifica isto eacute manifesta apropriedade a si associada a beleza exemplifica o belo etc

Embora concordemos com ta l observaccedilatildeo aautopredicaccedilatildeo jaacute eacute uma expressatildeo consolidada de modo quepreferimos mantecirc-la para natildeo acrescentar mais um elementocomplicador agrave discussatildeo

Analogamente alguns sugerem que a expressatildeo ldquonatildeoidentidaderdquo eacute infeliz o melhor nome para o princiacutepio seria ldquonatildeoautoexplicaccedilatildeordquo (non-self-explanation)24 porque o princiacutepio reza quese um determinado ente x possui a propriedade F a posse de F natildeopode ser explicada com apelo ao proacuteprio x sendo preciso um outroente ou seja y em funccedilatildeo do qual x possui F em suma a posse deuma propriedade natildeo se explica por referecircncia ao proacuteprioindiviacuteduo que a possui

Tal como no caso da autopredicaccedilatildeo mesmo concordandocom as ressalvas preferimos nos ater agrave terminologia consagradanesse caso o princiacutepio da natildeo identidade

4 SIGNIFICADO DO REGRESSO INFINITO NO PARMEcircNIDES

Eacute possiacutevel dividir o Parmecircnides em duas partes A primeiranarra o encontro verdadeiro acontecimento da filosofia nascentede Zenatildeo Parmecircnides e Soacutecrates que supostamente teria tidolugar por ocasiatildeo da visita dos eleatas a Atenas A segunda parteconteacutem a seacuterie de hipoacuteteses e deduccedilotildees que a personagem tiacutetuloleva a cabo na companhia dum jovem Aristoacuteteles homocircnimo doestagirita

Parmecircnides I consiste na apresentaccedilatildeo publica duma hipoacuteteseontoloacutegica seu propositor eacute um jovem promissor Soacutecrates quevecirc todavia sua hipoacutetese ser severamente criticada pelo experienteParmecircnides Trata-se dum momento privilegiado se eacute verdade que

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o corpus platonicum eacute perpassado pela discussatildeo das ideias elassempre surgem in medias res estando tacitamente suposto que osinterlocutores jaacute estariam familiarizados com as ideias antes que odiaacutelogo houvesse comeccedilado No Parmecircnides a teoria das ideias eacuteverdadeiramente apresentada aleacutem disso os interlocutores satildeoverdadeiros expertos capazes de discuti-la criticamente

Embora se trate duma discussatildeo muito breve quaseapressada pode-se haurir de Parmecircnides I o acircmago da teoria dasideias suas metas e sobretudo as aporias a ela relacionadas

A essecircncia da teoria estaacute presente na primeira intervenccedilatildeode Parmecircnides

Soacutecrates disse quatildeo digno eacutes de ser admirado pelo ardor quetens pelos argumentos Mas dize-me tu mesmo assim fizestea divisatildeo tal como falas de um lado certas formas mesmas deoutro as coisas que delas participam [metexonta] E te parecea semelhanccedila mesma ser algo separada da semelhanccedila quetemos e tambeacutem o um e as multiplas coisas e todas as coisasque haacute pouco ouviste de ZenatildeoParece-me que sim disse SoacutecratesSeraacute que tambeacutem disse Parmecircnides coisas tais como umacerta forma em si e por si do justo e tambeacutem do belo e dobom e ainda de todas coisas desse tipoSim disse ele25

Trata-se duma teoria ontoloacutegica que opera uma divisatildeo noreal de um lado certos entes as ideias e de outro as coisassensiacuteveis Essa dicotomia deve ser poreacutem nuanccedilada existetambeacutem algum tipo de relaccedilatildeo entre os dois polos como se sabePlatatildeo expressou tal relaccedilatildeo com vaacuterios termos mas o mais ceacutelebrede todos eacute a participaccedilatildeo meqecij

Mas dize-me o seguinte parece-te como dizes haver certasformas em tendo participaccedilatildeo [metalambanonta] nas quaisessas outras coisas aqui recebem suas denominaccedilotildees Porexemplo se tecircm participaccedilatildeo [metalabonta] na semelhanccedilaas coisas se tornam semelhantes se na grandeza grandes seno belo e na justiccedila justas e belasPerfeitamente disse Soacutecrates26

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Passagens como essa sintetizam bem a razatildeo de ser dahipoacutetese das ideias visa-se explicar as caracteriacutesticas das coisassensiacuteveis tais como a grandeza a justiccedila etc Destarte a teoria dasideias forneceria um fundamento seguro para um dado sensiacutevelbruto as coisas sensiacuteveis satildeo sim grandes ou justas e elas o satildeoporque participam da ideia de grandeza ou da ideia de justiccedila Essanos parece ser uma explicaccedilatildeo de tipo causal eacute graccedilas agraves ideias queas coisas sensiacuteveis possuem suas propriedades27 E semelhantefunccedilatildeo causal das ideias eacute tambeacutem expressa ainda queresumidamente em outras passagens do Parmecircnides28 Dito issovoltemo-nos para o terceiro homem

Defendemos que os princiacutepios contidos no argumento doterceiro homem natildeo interagem de modo a produzir qualquercontradiccedilatildeo em sentido estrito como pretendeu Vlastos masunicamente um regressus ad infinitum Cabe agora nos determos umpouco mais no significado do regresso O problema pode serresumido na seguinte questatildeo por que ele seria indesejaacutevel oumesmo temiacutevel Vejamos mais uma vez o proacuteprio texto dodiaacutelogo

Creio que tu crecircs que cada forma eacute uma pelo seguinte quandoalgumas coisas multiplas te parecem ser grandes talvez tepareccedila a ti que as olhas todas haver uma certa ideia uma e amesma em todas donde acreditas o grande ser umDizes a verdade disse ele Mas e quanto ao grande mesmo e agraves outras coisas grandesSe olhares da mesma maneira com a alma para todos essesnatildeo apareceraacute de novo um grande um em virtude do qual eacutenecessaacuterio todas aquelas coisas aparecerem como grandesParece que simLogo uma outra forma de grandeza apareceraacute surgindo aolado da grandeza mesma e das coisas que desta participam Esobre todas essas apareceraacute de novo outra de modo a emvirtude dela todas essas parecerem grandes E natildeo mais seraacuteu m a c a d a uma das tuas formas mas ilimitadas emquantidade29

Mantivemos na citaccedilatildeo o grifo proposto pelos tradutoresdo diaacutelogo nas palavras ldquoumrdquoldquoumardquo correspondentes do

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numeral ei[j mia e3n De fato a noccedilatildeo de unidade numeacuterica eacuteessencial para o argumento ldquonatildeo mais seraacute uma cada uma das tuasformas mas ilimitadas em quantidaderdquo eacute a acusaccedilatildeo do velhoeleata

O tema do uno e do multiplo tem importacircncia capital noplatonismo De algum modo eacute essa a questatildeo que resume a teoriadas ideias uma teoria que supotildee uma unidade para explicar umamultiplicidade que natildeo eacute capaz de explicar-se a si mesma Massalientar a relevacircncia da questatildeo unomultiplo natildeo resolve ainda oproblema se natildeo se der uma explicaccedilatildeo do sentido exato dessapolaridade Em nossa opiniatildeo a unica resposta satisfatoacuteria tem dese apoiar sobre a noccedilatildeo de causa

A ideia eacute de algum modo responsaacutevel pela multiplicidadeldquoum grande um em virtude do qual eacute necessaacuterio todas aquelascoisas aparecerem como grandes [] ([]e3n ti [] mega []w |[tau=ta panta megala fainesqai []rdquo A ideia a unidade eacute aquilo emvirtude do que o multiplo eacute tal como ele eacute

Poder-se-ia levantar aqui uma dificuldade No trechocitado atribui-se agrave ideia de grandeza o poder de fazer as coisassensiacuteveis ldquoaparecerem [fainesqai] como grandesrdquo isto eacute a ideianatildeo faria com que a multiplicidade sensiacutevel seja grande Em outrostermos o que se tem expressis verbis eacute uma causalidade um tantocuriosa tratar-se-ia da causa do conhecer ou do perceber certacaracteriacutestica si licet duma causalidade epistemoloacutegica

Tal tipo de visatildeo nos parece equivocada A causalidade queas ideias tecircm de desempenhar eacute uma ldquocausalidade ontoloacutegicardquo asideias devem ser causa do ser das coisas e natildeo apenas dapercepccedilatildeo do sujeito Se assim natildeo fosse chegar-se-ia finalmenteaos antiacutepodas do platonismo as coisas sensiacuteveis jaacute estariamconstituiacutedas sem o contributo das ideias as quais serviriamunicamente para que o sujeito percebesse ou conhecesse osensiacutevel30

No entanto natildeo se deve conceder demasiada atenccedilatildeo aocaraacuteter fenomecircnico do verbo na passagem supracitada podemosargumentar que o sensiacutevel soacute aparece de determinado modoporque ele eacute desse modo e assim ele eacute em virtude das ideias A

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conclusatildeo do argumento retira qualquer duvida ldquoE sobre todasessas apareceraacute de novo outra de modo a em virtude dela todasessas serem grandes (kai e0pi toutoij au] pa=sin e3teron w[| tau=tapanta megala e1stai)rdquo31

Dito isso estaacute aberto o horizonte para a determinaccedilatildeo dareal natureza e forccedila da aporia do terceiro homem Natildeo se tratacomo defendeu Vlastos em seu artigo de 1954 duma fatalcontradiccedilatildeo mas sim dum regressus ad infinitum cujo sentido soacute sedesvela na associaccedilatildeo com a noccedilatildeo de causalidade entendida domodo ora defendido

O jovem Soacutecrates acaba de propor a hipoacutetese das ideias eParmecircnides lhe objeta dentre outras coisas que ela estaacute enredadanum regresso infinito Soacutecrates poderia talvez dar de ombros econtra-argumentar que enquanto for possiacutevel explicar determinadacaracteriacutestica presente na multiplicidade por exemplo a grandezapouco lhe importa que haja infinitas formas responsaacuteveis(causalmente) pela grandeza Se se atentar apenas para o ponto devista da proposiccedilatildeo duma hipoacutetese o regressus poderia ser vistocomo um constrangimento mas natildeo necessariamente como umaobjeccedilatildeo inescapaacutevel Quando se considera poreacutem o papel que anoccedilatildeo de causalidade desempenha no argumento eacute possiacutevelapreciar a verdadeira forccedila do terceiro homem

A hipoacutetese de Soacutecrates consiste em que determinadacaracteriacutestica tal como a grandeza que se encontra em multiplascoisas sensiacuteveis requer uma ideia em virtude da qual essas coisassensiacuteveis satildeo grandes Mas como a ideia de grandeza eacute por via daautopredicaccedilatildeo grande tambeacutem ela necessita duma ideia que seja acausa do fato de ela ser grande Se ex hypothesi terminasse aqui aseacuterie talvez natildeo houvesse problema haveria apenas um caso suigeneris em que uma propriedade exigiria duas ideias como causaEntretanto a segunda ideia a ideia de grandeza1 tambeacutem ela eacutegrande exigindo uma nova ideia que seja sua causa e assimsucessivamente Como poreacutem o que estaacute em jogo eacute um nexocausal a noccedilatildeo do ldquoassim sucessivamenterdquo torna-se imediatamentecriacutetica porque significa que nenhuma ideia se impotildee como causadaiacute resultando que nenhum efeito chegaria a ser causado dizer que

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determinado grupo de indiviacuteduos natildeo se explica por si mesmo eexige uma ideia em virtude da qual aquela multiplicidade se daacuteequivale a dizer que sem essa ideia a multiplicidade eacute que natildeo sedaacute a ideia eacute condiccedilatildeo sine qua non de determinada multiplicidade

Em suma o problema do regresso eacute justamente o seucaraacuteter infinito se natildeo fosse infinito haveria uma certa forma natildeoimporta ldquosobrerdquo quantas outras formas que seria a causa de tudoque ldquosobrdquo si se encontra Mas o caraacuteter infinito do regressoimpede justamente isso que haja a forma que seja a causa ultima(ou primeira como se preferir) da propriedade em questatildeo

A hipoacutetese de Soacutecrates parte dum fato haacute um grupo decoisas sensiacuteveis (a b c etc) caracterizadas todas elas por umpredicado F ests eacute o explanandum Trata-se do explanandumprecisamente porque estaacute suposto que uma multiplicidadecaracterizada por F natildeo se explica por si mesma nenhum de seusmembros eacute capaz de figurar como causa do fato de que ele mesmoe os demais membros desta multiplicidade possuem a caracteriacutesticaF sendo exigido portanto um explanans a ideia F-dade Mas F-dade tambeacutem possui a propriedade F a autopredicaccedilatildeo redundapois na inclusatildeo da ideia o explanans no grupo de coisas quecaracterizadas por F portanto no explanandum Tal operaccedilatildeo ainclusatildeo do explanans no explanandum eacute decisiva e ela se repete adinfinitum sempre que se postular uma nova ideia que se esperariaque funcionasse como definitivo explanans nesse exato momentoela recai no explanandum

A estrateacutegia de Parmecircnides ao formular essa aporia eacutemostrar que a doutrina das ideias em cujo acircmago estaacute a intenccedilatildeode explicar determinada multiplicidade sensiacutevel pode ser revertidae levada agrave autodestruiccedilatildeo precisamente no tocante agrave sua pretensatildeocausal Embora o argumento do terceiro homem natildeo revele umacontradiccedilatildeo stricto sensu inserida na teoria das ideias ele constituisem duvida uma temiacutevel dificuldade capaz de tornar supeacuterflua aproacutepria hipoacutetese das ideias

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ABSTRACT The Significance and Structure of the Third Man Argument inPlatos Parmenides

The Third Man Argument found in the Parmenides is aformidable objection to the Theory of Forms to which Plato didnot provide an explicit answer In the first part of this paper webriefly discuss the chronology of the Platonic dialogues trying tolocate the Parmenides in at least a plausible position We thenscrutinize the Third Man argument as it appears in the ParmenidesWe also evaluate the significance of the referred objectionespecially from the perspective of the Formsrsquo causal role

KEYWORDS

Theory of Forms Parmenides The Third Man Argument Self-predication Causality

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REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS BURNET John Platonis opera Oxford Clarendon Press 1967CHERNISS Harold The Relation of the Timaeus to Platos Later Dialogues TheAmerican Journal of Philology v 78 n 3 1957 p 225-266 COHEN Marc The Logic of the Third Man The Philosophical Review v 80n 4 1971 p 448-475 CORNFORD F M Plato and the Parmenides Parmenidesrsquo Way of Truth andPlatorsquos Parmenides translated with an introduction and a running commentaryLondon Routledge amp Kegan Paul 1939FERRARI Franco Parmenide Milano BUR 2007 FRONTEROTTA Francesco ΜΕΘΕΞΙΣ La teoria platonica delle Idee e lapartecipazione delle cose empiriche - Dai dialoghi giovanili al Parmenide PisaScuola Normale Superiore 2001GUTHRIE W K C A History of Greek Philosophy Later Plato and theAcademy Cambridge Cambridge University Press 1978JAEGER Werner Aristotelis Metaphysica Oxford Oxford University Press1957MEINWALD Constance Good-bye to Third Man in KRAUT Richard TheCambridge Companion to Plato New York Cambridge University Press1993 p 365-396MORAVCSIK Julius Recollecting the Theory of Forms in WERKMEISTER W HFacets of Platorsquos Philosophy Assen Van Gorcum 1976 p 1-20OWEN GEL The Place of Timaeus in Platorsquos Dialogues Classical Quarterlyv 3 n 12 1953 p 79-95PETERSON Sandra A Reasonable Self-Predication Premise for the Third ManArgument The Philosophical Review v 82 n 4 1973 p 451-470PLATAtildeO Parmecircnides Traduccedilatildeo introduccedilatildeo e notas de Maura Igleacutesias eFernando Rodrigues Satildeo Paulo Loyola 2003SAYRE Kenneth Platorsquos Late Ontology a Riddle Resolved Las VegasParmenides Publishing 2005 SILVERMAN Allan The Dialectic of Essence a Study of Platorsquos MetaphysicsPrinceton Princeton University Press 2002 STRANG Colin Plato and the Third Man Proceedings of the AristotelianSociety v 37 1963 p 147-164VLASTOS Gregory The Third Man Argument in the Parmenides ThePhilosophical Review v 63 n3 1954 p 319-349______ Platorsquos lsquoThird Manrsquo Argument (Parm 132 A1-B2) Text and Logic ThePhilosophical Quarterly v 19 n 77 1969 p 289-301 ______ Platonic Studies Princeton Princeton University Press 1981 (1aed 1973)

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1 Sabe-se que a expressatildeo ldquoteoria das Ideiasrdquo eacute puramente didaacutetica natildeoencontrando paralelo nos textos de Platatildeo Servimo-nos livremente dela nesteartigo por julgar que feitas certas ressalvas ela eacute inofensiva e tambeacutem util Eacuteevidente que ao falarmos de ldquoteoria das Ideiasrdquo natildeo pretendemos atribuir aPlatatildeo um tratamento perfeitamente sistemaacutetico da questatildeo das Ideias o termoldquoteoriardquo certamente natildeo estaacute sendo usada no mesmo sentido que em ldquoteoria darelatividaderdquo por exemplo Contudo eacute inegaacutevel que se encontra espalhadapelos escritos de Platatildeo a recorrente afirmaccedilatildeo de que existem certos entesinteligiacuteveis eacute pois conveniente chamar de ldquoteoriardquo o conjunto destasafirmaccedilotildees acerca das Ideias ou se se preferir eacute possiacutevel fazer-lhe referecircnciacom as expressotildees ldquodoutrinardquo ou ldquohipoacutetese das Ideiasrdquo2 PLATAtildeO Parmecircnides 135b-d3 Talvez sua fama seja ainda maior ldquothe most famous argument in ancient philosophyrdquo(SILVERMAN 2002 p 110 apud FERRARI 2007 p 64) 4 ARISTOacuteTELES Metafiacutesica 990b15-17 Para um inventaacuterio da histoacuteria doargumento do Terceiro Homem ver CORNFORD 1939 p 87-955 PLATAtildeO Parmecircnides 131e-132b e 132d-133a6 Chamaremos de Parmecircnides I a primeira parte do diaacutelogo (126a-137c) em que ojovem Soacutecrates vecirc sua hipoacutetese das Ideias ser atacada pelos eleatas e deParmecircnides II (137c-166c) a seccedilatildeo que conteacutem as diversas ldquohipoacutetesesrdquo Propomostal divisatildeo de modo didaacutetico sem nos comprometermos com hipoacutetesesheterodoxas tais como a que foi propugnada por Sayre o qual sustentalanccedilando matildeo inclusive duma abordagem estilomeacutetrica que Parmecircnides I tenhasido escrito num periacuteodo anterior e distante do periacuteodo de composiccedilatildeo deParmecircnides II cf SAYRE 2005 p 256-2717 Neste caso eacute indispensaacutevel fornecer alguma interpretaccedilatildeo dos diaacutelogoscomumente aceitos como sendo posteriores ao Parmecircnides O Teeteto constitui umrelevante sustentaacuteculo para tal linha exegeacutetica uma vez que natildeo conteacutem clarasreferecircncias agraves Ideias o Sofista eacute por sua vez frequentemente objeto deinterpretaccedilotildees deflacionaacuterias no tocante agraves Ideias as quais nestes casos tecircm oseu estatuto de realidades subsistentes e transcendentes posto em xeque emfavor do seu caraacuteter loacutegico-linguiacutestico O Filebo patenteia uma ldquonova ontologiardquoou pelo menos introduz novos termos que nem sempre satildeo facilmenteharmonizaacuteveis com a teoria das Ideias em sua versatildeo standard Quanto ao Timeudiaacutelogo que poderia resolver a controveacutersia uma vez que sua linguagem eacute emtudo semelhante agrave das grandes obras do periacuteodo maduro de Platatildeo emergiu noseacuteculo XX uma querela acerca de sua dataccedilatildeo Seria temeraacuterio entrarmos nosdetalhes dessa discussatildeo mas grosso modo defendeu-se que o Timeu natildeo estivesseentre os diaacutelogos da velhice e sim fizesse parte do periacuteodo da maturidadeResolver-se-ia assim o grande entrave agraves teses mais radicais acerca da evoluccedilatildeoda filosofia de Platatildeo cf OWEN 1953 CHERNISS 19578 MEINWALD 1993 p 389-3909 Idem ibidem p 39010 Guthrie (1978 p 60) apresenta um argumento semelhante 11 Remetemos a Fronterotta (2001) para uma interessante e soacutebria anaacutelise daldquoevoluccedilatildeordquo da teoria das Ideias segundo a qual a teoria se modificou sem jamaisrenunciar ao seu nucleo a saber a condiccedilatildeo subsistente e transcendente dasIdeias 12 O locus claacutessico eacute Feacutedon 96a-105c mas referecircncias agrave etiologia podem serencontradas em muitos lugares Eis algumas das passagens mais significativasPLATAtildeO Repuacuteblica 507a-509c PLATAtildeO Timeu 18a-b 28a 28b-c 29d-30a PLATAtildeOFilebo 26e-27c Ver tambeacutem FERRARI 2007 p 39-4113 PLATAtildeO Parmecircnides 132a-b14 Neste importante artigo Vlastos (1994) defendeu a tese radical de que aobjeccedilatildeo do Terceiro Homem redundaria numa contradiccedilatildeo stricto sensu entreduas das premissas do argumento posiccedilatildeo errocircnea que ele mais tarde veio aretificar neste outro importante artigo sobre o tema Vlastos 1969Empreendemos uma anaacutelise detalhada destes trabalhos de Vlastos num artigoque publicado pela revista Claacutessica ndash Revista Brasileira de Estudos Claacutessicos

15 Este princiacutepio eacute explorado por comentadores de liacutengua inglesa sob o nomeldquoOne over Manyrdquo frequentemente abreviado ldquoOMrdquo cf STRANG 1963 COHEN1971 16 PLATAtildeO Parmecircnides 132a17 PLATAtildeO Parmecircnides 132a18 Assim o observa Franco Ferrari (2007 p 217 nota 50)19 Permitimo-nos substituir aqui a opccedilatildeo dos tradutores ldquopareceremrdquo porldquoseremrdquo uma vez que no grego se tem a forma verbal e1stai20 PLATAtildeO Parmecircnides 132a-b21 Ativemo-nos agrave ldquoprimeira versatildeordquo do Terceiro Homem presente no Parmecircnidesjulgamo-nos dispensados de fazer a mesma anaacutelise da ldquosegunda versatildeordquondashcontida em Parmecircnides 132c-133a ndash porque tal como Vlastos acreditamos queambas as ldquoversotildeesrdquo conteacutem as mesmas etapas loacutegicas 22 Em inglecircs self-exemplification cf MORAVCSIK 197623 O proacuteprio Vlastos (1969 p 300 n 36) reconhece a utilidade de semelhantedistinccedilatildeo ldquoI so labelled this assumption in 1954 under Taylors influence who hadidentified it uncritically with the closely related assumption that a character can be predicatedof itself which generated the Russellian paradox Since I did not impute just this assumptionto Plato ndash I was not maintaining that what was predicated of F-ness was F-ness itself insteadof F ndash I should have made it clear then [hellip] that Self-Predication if used at all could onlybe used with a certain licence As Sellars had pointed out (1955 p 414) the assumptionwhich is being made here ldquowould be formulated more correctly as The adjective correspondingto the name of any Form can correctly be predicated of that Formrdquo Some such label asHomocharacterization would have been more exact and I have tried at times to switch to thisin lectures and seminars But Self-Predication is now firmly entrenched in the literature and Isee no harm in its continuing use subject to the above provisordquo24 cf PETERSON 1973 p 45325 PLATAtildeO Parmecircnides 130a-b26 PLATAtildeO Parmecircnides 130e-131a27 Como aludimos no item 23 deste trabalho ao utilizarmos aqui a noccedilatildeo decausalidade natildeo nos comprometemos com o ecircxito completo da funccedilatildeo causaldas Ideias ou da doutrina da participaccedilatildeo a qual eacute como sabemos pelo proacuteprioParmecircnides uma doutrina eivada de problemas Quando afirmamos que as Ideiassatildeo causa do sensiacutevel queremos significar apenas que elas satildeo um elementonecessaacuterio mas natildeo suficiente para que as coisas sensiacuteveis sejam tais como satildeoAssim se dizemos que a Ideia de Mesa eacute causa da mesa de madeira certamenteela natildeo eacute o unico elemento responsaacutevel pela mesa de madeira sendoindispensaacuteveis tambeacutem a proacutepria madeira e um artesatildeo28 cf PLATAtildeO Parmecircnides 128e-129a PLATAtildeO Parmecircnides 131c-d29 PLATAtildeO Parmecircnides 132a-b30 Tal posiccedilatildeo que remete agraves interpretaccedilotildees neokantianas da filosofia de Platatildeo eacute firmemente contestada por Francesco Fronterotta (2001 p 206-222)31 Traduccedilatildeo ligeiramente modificada

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Identidad ritual y performance unanaacutelisis de los primeiros dos versos deSuplicantes de Esquilo1

Mariacutea del Pilar Fernaacutendez Deagustini

RESUMEN

La recitacion que acompana la marcha anapestica (v 1-39) que dainicio a la performance de Suplicantes de Esquilo presenta dos de lostres componentes baacutesicos de un himno2 epiacuteklesis (v 1-3) y eucheacute (v23-39) La epiacuteklesis indirecta (Er-Stil v 1- 2) establece el contactoentre los hablantes ndash las Danaides que integran el coro ndash y eldestinatario divino ndash Zeus ndash confiriendole a la recitacion caraacutecterhiacutemnico desde la primera palabra Se trata de una composicion dedos versos extremadamente simple la mencion del dios al que sedirige el himno su epiacuteteto y el llamado de atencion que introduceal hablante Nuestro trabajo pretende demostrar que no obstantela brevedad de la epiacuteklesis cada elemento condensa sentidosfundamentales para la interpretacion de la oda inicial y de la matrizritual en la que se inscribe la composicion de la obra comototalidad

PALABRAS-CLAVE

Ritual performance Suplicantes Esquilo

SUBMISSAtildeO 15 nov 2017 | PUBLICACcedilAtildeO 31 dez 2017

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n anaacutelisis de la oda inicial de Suplicantes de Esquiloinvolucra dos aspectos fundamentales Como se tratade un drama carente de prologo en el que el cantocoincide con la inauguracion de la accion insta aconjeturar por un lado acerca de la puesta enescena por otro lado acerca de que modo seintroduce la urdimbre de sucesos que configuran latrama Desde nuestra perspectiva teorica que sea c e r c a a l a t r a g e d i a c o m o u n g e n e r ofundamentalmente coral y descansa en nocionesclave como ldquopoesiacutea de ocasionrdquo3 ldquoproyeccioncoralrdquo4 ldquointeraccion genericardquo y ldquometacoralidadrdquo5

ambos aspectos de esta oda estaacuten atravesados por lamanera como el dramaturgo compuso su sustancia

ritual es decir de que generos liacutericos se valio en la performance Laoda inicial integra en su composicion elementos del himno y deltreno que se alternan y se subvierten para crear una atmosferaparticular desde los primeros versos En el presente artiacuteculoconcentramos nuestra atencion en la integracion generica de la odatraacutegica con el himno del cual analizaremos un componenteesencial la epiacuteklesis que establece el contacto entre los hablantes yel destinatario divino

Como senalamos la primera oda de extraordinariaextension (v 1 -175)6 sintoniza con la apertura de la obra Elexotico coro7 conformado por las hijas de Daacutenao habriacuteaingresado al teatro formando una fila al ritmo de los anapestos8

tras los cuales se habriacutea ordenado en la orcheacutestra La escena habriacuteasugerido la presencia de un altar elevado y probablemente deimaacutegenes divinas que son invocadas con posterioridad9 Daacutenao supadre habriacutea aparecido en el ultimo lugar de esa misma filacoincidiendo con la mencion de su nombre en el v 1110 Estosdatos acerca de la performance son fundamentales para poder recrearla poiacuteesis de Esquilo pensada para un espectador del siglo V aunquesin duda el dato escenico maacutes elocuente lo constituyen los ramosde suplicante envueltos en lana blanca que afirman empunar lasjovenes en sus manos (v 21-22 v 191-193) La vision de este

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objeto habriacutea orientado raacutepidamente las expectativas del publicoque habriacutea visto entrar a los personajes y tomar lugar en el altarhabriacutea reconocido las insignias y comprendido entonces elcaraacutecter ritual de la ocasion11

Desde el punto de vista formal la oda inicial de Suplicantesse compone de dos grandes partes entre los v 1-39 el espectaacuteculose inicia con el ingreso del coro (y Daacutenao) a traves de la eiacutesodos enmarcha anapestica Llamamos a esta seccion la parte dinaacutemica yaque se trata de la puesta en escena de un himno procesional querepresenta tres transiciones una espacial (de Aacutefrica a Grecia) unatemporal (de un pasado reciente que constituye el motivo de huidaal presente fin de la fuga) y una cultural (segun la cual lasDanaides africanas ponen en praacutectica un ritual griego) Luegodesde el v 40 y hasta su final en el v 175 el coro ya instalado enel espacio de la orcheacutestra desarrolla un extenso canto liacutericoconstruido sobre la base de ocho sistemas Llamamos a estaseccion la parte estaacutetica dado que el coro representa con lallegada al altar el fin de su viaje y el comienzo del ritual de suplicapara conseguir asilo en Argos Solo cuando le sea asegurado elnuevo traacutensito en un movimiento colectivo y organizado el coroabandonaraacute el altar esta vez hacia el centro de la ciudad En estesent ido Suplicantes como paradigma de las tragedias quepertenecen al Altarmotiv12 subraya el protagonismo de la ritualidadpues el espectador nunca pierde de vista al suplicante ni el espaciosagrado

Desde la perspectiva de un espectador del siglo V aC laconducta religiosa representaba un complejo de discursos yacciones faacutecilmente reconocible intrincadamente unido a otrasaacutereas de su vida social Como senalan Furley y Bremer13 el himnopuede distinguirse del habla coloquial o de la cancion coral porvarias caracteriacutesticas (melodiacutea metro ritmo acompanamientomusical danza repeticion en una misma ocasion) pero su esenciareside en la entidad hacia la cual se dirige la composicion un dios ocompaniacutea de dioses Directamente asociado con el destinatarioreside su proposito adorar al dios tiene el objetivo de ganar subenevolencia y asegurar su asistencia o favor14 Ademaacutes estos

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autores senalan la familiaridad del himno con la suplica con la cualcomparte la misma meta15 La diferencia entre ambos tiposdiscursivos reside en que el himno es un producto artiacutestico maacutesacabado que la plegaria pues emplea tecnicas refinadas de elogio ypersuasion que lo convierten en un obsequio en un ἄγαλμα verbal

En el mundo griego arcaico y claacutesico las procesiones erantiacutepicamente acompanadas de himnos enfocados en la transicionespacial de la ciudad hacia el templo y en particular hacia el altar16

Precisamente por este motivo es probable que Esquilo eligieraabrir su obra directamente con el ingreso del coro a escena enlugar de la composicion de un prologo dado que el espectaacuteculo dela procesion coral era capaz de exponer mejor su propuestadramaacutetica Considerar la posibilidad de una opcion en terminos decomposicion artiacutestica diluye uno de los argumentos maacutes poderososa favor de la impronta arcaica de la tragedia su carencia deprologo17 Segun nuestro punto de vista Esquilo sustituye el iniciode la obra con una escena estaacutetica por la performance de una escenadinaacutemica de marcha que tiene la capacidad de sintetizar en elmetro18 el itinerario Egipto-Argos realizado por las Danaides Deeste modo el estado de fuga puede re-presentarse en el escenarioAsimismo Esquilo parece haber elegido no retrasar la llegada delos protagonistas19 a quienes se muestra llegando desde elextranjero ingresando a un territorio extrano y permaneciendo enla periferia en un recinto sagrado alejado del centro ciacutevico elsantuario publico de Argos (39)20

Tal como senalan Furley-Bremer ciertos himnos puedenser usados por el dramaturgo para crear una atmosfera tanto paraincrementar la tension en una situacion ya tensa o como un fondoironico contra el cual la accion subsecuente se despliegacontrariamente a la expectativa21 Particularmente la oda inicial deSuplicantes ilustra como el dramaturgo utilizo el himno paraestructurar el desarrollo y sentido de la trama total de la obra puestiene la funcion de definir el horizonte significante dentro del cualse inscribiraacute la actuacion particular de este coro Por un ladoconstituye la evocacion de los sucesos pasados por el otro es laclave y el punto de partida del codigo de comportamiento que

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regiraacute los actos sucesivos reconocido tanto por los personajes dela obra dentro de los liacutemites de la ldquoilusion teatralrdquo como por laaudiencia22

Asimismo la apertura procesional imprime una diferenciade tonalidad espacio y ocasion condicionan el discurso que debeser liacuterico maacutes que retorico Sin embargo su alcance persuasivo noes menor ya que el ritual confiere cierto poder encubierto alsuplicante23 La ventaja que supone el registro liacuterico reside en lafacultad de cumplir con dos cometidos ofrecer un medio legiacutetimode exhortacion a la accion y producir un efecto de seduccionporque permite exteriorizar la emocion

La recitacion que acompana la marcha anapestica detentados de los tres componentes baacutesicos de todo himno24 epiacuteklesis (v1-3) y eucheacute (23-39) La epiacuteklesis establece el contacto entre elloshablantes y el destinatario divino por lo cual suele estar al iniciola eucheacute en la que se formula la peticion como constituye el cliacutemaxusualmente se encuentra al final Enmarcado entre ambas partesresta el tercer componente lo que Furley y Bremer llaman ldquomiddlesectionrdquo y se trata de la parte compuesta para ganar el favordivino25 En la parte dinaacutemica de la oda inicial la seccion media (v4-22) se modifica sustancialmente proponiendo una inversion sehace hincapie en el suplicante en lugar del suplicado porque en elinicio del drama se impone la necesidad de exponer los motivosque justifiquen la performance26

A pesar de su brevedad la epiacuteklesis de la parte dinaacutemicamerece un anaacutelisis pormenorizado no solo por su funcion sinotambien por su emplazamiento La primera asocia hablante (lasdanaides que componen el coro) y destinatario interno (Zeus) elsegundo establece un marco de referencia que oficia como puenteentre los sucesos intradramaacuteticos y el espectador El proposito deesta comunicacion es demostrar que no obstante la fugacidad de laepiacuteklesis cada elemento condensa sentidos fundamentales para lainterpretacion de la oda inicial y de la matriz ritual en la que seinscribe la composicion de la obra como totalidad

L a epiacuteklesis indirecta (Er-Stil)27 confiriere a la oda caraacutecterhiacutemnico desde la primera hasta la ultima palabra Efectivamente la

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oda completa estaacute enmarcada por una composicion anular ya queen su ultimo verso (175) el participio καλούμενος (tambien alliacuteconcertado a Zeus) retoma la idea de esta invocacion inicial28 Laepiacuteklesis propone una composicion extremadamente simple lamencion del dios al que se dirige el himno su epiacuteteto y el llamadode atencion que introduce al hablante Recitan las Danaides

Ζεὺς μὲν ἀφίκτωρ ἐπίδοι προφρόνωςστόλον ἡμέτερον νάιον ἀρθέντ (v 1-2)29

Que Zeus protector de los recieacuten llegadoscontemple ya con mente predispuesta nuestraformacioacuten coral impulsada en una nave 30

Analicemos entonces los componentes de estaconvocatoria Zeus estaacute ubicado significativamente en la posicioninicial del primer verso de la obra y es el sujeto de un energicodesiderativo realizable (ἐ πίδοι) que da comienzo a la suplicaConsiderado en el sentido maacutes amplio el epiacuteteto ἀ φί κτωρ unhaacutepax31 en lugar de Hikeacutesios32 insiste en los dos puntos de estatransicion el traslado espacial y cultural de los personajes33 y sucondicion de marginalidad ya que para los griegos los ldquorecienllegadosrdquo no son de ninguna parte34 La novedosa composicion delapelativo formado ad hoc por lo tanto subraya al mismo tiempo laocasion y la condicion especiacutefica del suplicante mientras cumplecon la norma esperada respecto de las referencias a la divinidad Alrespecto nota Kavoulaki (2011) que el epiacuteteto pone en primerplano el hecho de la llegada (ἄφιξις) del coro que estaacute iacutentimamenteconectada con la tercera palabra de la frase la forma ἐπίδοι35

Efectivamente la forma ἐπίδοι indica la primera accion de la obrael pedido de atencion por parte del dios Lo maacutes significativo esque esa atencion debe alcanzarse a partir de la mirada

El verbo ἐφοράω compuesto de ὁράω combina el aspectosensible y el inteligible Flores (2007) quien ha estudiado el sentidode la vision en Esquilo sostiene que el dramaturgo ldquointroduce enlas palabras un rasgo morfologico que apunta a un matiz particularantepone la preposicion ἐπί a verbos de vision cuando son los

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dioses quienes miran Esta es una tendencia constante que comotal no se da en los otros traacutegicosrdquo36 De este modo ἐπί senalariacuteauna diferencia radical entre el ser hombre y ser dios que la autoraentiende como ldquomirar sobre tener los ojos sobre vigilarrdquo37 propiadel acto de ver divino Compartimos con la autora el hecho de quese marca una capacidad de mirar distinta no obstante creemosque no es exclusiva del dios ya que cuando demanda la mirada deZeus el coro subraya el acontecimiento de su aparicion suadvenimiento a la vista de otro su aparicion espectacular38 Por lotanto el verbo tambien hace referencia impliacutecita a la mirada delpublico que como el dios puede ver maacutes allaacute de lo que se ofreceante sus ojos39 Segun esta disquisicion proponemos otratraduccion del verbo maacutes ajustada al contexto senalado ἐφοράωcomo ldquocontemplarrdquo dado que las tres acepciones del espanolapuntadas por la Real Academia todas ellas transitivas se ponenen juego en esta accion Conforme este sentido los espectadorestanto como el dios 1 ponen atencion en algo material (laformacion coral) 2 consideran (juzgando) a las jovenes y 3 lascomplacen son condescendientes con ellas mientras se hacenvisibles40

Como advierte Flores Esquilo usa el verbo ἐφοράω parasuplicar cada vez que se indica el llamado de atencion a traves dela vision En este caso la eleccion de un verbo de percepcionvisual no es azarosa porque ademaacutes de convocar al publico apelaal campo de la emocion a diferencia de los verbos de percepcionauditiva que tienen tendencia a asociarse al campo de lapersuasion y obediencia La vision no necesita del juego de laspalabras para convencer sino que pone a quien ve en el lugar detestigo y no de mero observador Por lo tanto es posible afirmarque la eleccion del verbo va de la mano de la eleccion de laapertura liacuterica es decir sin prologo el caso de las Danaides almenos en el comienzo pretende no ser amenazado por la retoricaLa esperanza estaacute puesta en cambio en el poder conmovedor dela mirada Precisamente Suplicantes compromete una apuesta a laexploracion de sentido en el aspecto visual ya que la oacutepsis habriacuteabuscado provocar el desconcierto del espectador41 la presencia de

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las hiacutebridas suplicantes en escena baacuterbaras de apariencia perogriegas en cuanto a su comportamiento ceremonial debe habersido el principal factor de impacto dramaacutetico desde el inicio hastael final de la tragedia En cuanto a ἐφοράω la forma de aoristoremarca ademaacutes la puntualidad de la accion dado que las Danaidesexpresan la necesidad de la mirada inmediata Justamente para darcuenta de la inminencia en la traduccion del verso 1 optamos porel agregado del adverbio ldquoyardquo que enfatiza la exigencia al punto alinstante

El adverbio προφρόνως que complementa a ἐφοράω sumainformacion al pedido pues implica absoluta confianza en el diosque segun se supone tiene ojos justos προφρόνως puede sertraducido como ldquoamablementerdquo ldquoseriamenterdquo o ldquocon voluntadapropiadardquo segun indica el Diccionario de Oxford (LSJ)42 Sinembargo este adverbio tiene las raiacuteces de πρό y φρήν43 lo queadmite la traduccion por una periacutefrasis que combine amboselementos La propuesta ldquocon mente predispuestardquo parece ser maacutesacertada porque insiste simultaacuteneamente sobre los tres sentidos deἐ φοράω (prestar atencion juzgar y ser condescendiente) ademaacutesde ser coherente con el modo desiderativo propio del himno lapredisposicion de la mente de Zeus y de los espectadores consisteen que al ver a las Danaides antes de decidir sobre su caso susolicitud (1) presten atencion a los ramos que llevan en sus manos(2) juzguen que aunque baacuterbaras practican el ritual propio de latierra local y (3) sean condescendientes con su condicion desuplicantes

Por eso es necesario agregar que en sus observacionesacerca del verbo inicial ἐφοράω Kavoulaki ha senaladopertinentemente la superposicion de los planos performativo ydramaacutetico pero ha perdido de vista el caraacutecter de laespectacularidad sobre la que se pide atencion el arribo de estecoro es espectacular desde una apreciacion multimediaacutetica porquelo que se ve y lo que se escucha producen una combinacion unicainarmonica desacoplada contradictoria disonante El epiacutetetoἀφί κτωρ el adverbio προφρόνως y los versos que siguen insistensobre la singularidad de los personajes que el publico empieza a

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ver delante de sus ojos las danaides y su padre revisten unanaturaleza marginal e hiacutebrida que se manifiesta en el lenguajegriego con matices Egipcios44 pero fundamentalmente en elchoque entre apariencia y comportamiento Lo que las Danaidesdesean que Zeus (y los espectadores) vean con buenapredisposicion es que aunque no parezcan argivas (tal como loinforma el aspecto sensible del verbo) puedan ser reconocidascomo tales a partir de su conducta (lo que involucra el aspectointeligible del mismo verbo) Ellas luego se encargaraacuten dedemostrar a traves de la retorica del canal auditivo que estacondicion griega que practican es una exteriorizacion de suspropias raiacuteces45

Finalnalmente los elementos fundamentales de la epiacuteklesisse completan con la referencia a la identidad del emisor στόλον esel sustantivo a traves del cual se autopresentan las Danaides queeligen no revelar su identidad hasta el verso 11 cuando se dicenldquohijas de Daacutenaordquo El uso de στόλον no es inofensivo No refiere aun grupo ordinario de gente a una mera tripulacion sino queacentua un aacuterea semaacutentica especiacutefica la del ritual46 στόλον senala atraves de sus ejecutores la ocasion una accion coral que se dasimultaacuteneamente en el mundo interno dramaacutetico (que contemplaZeus) y en el externo teatral (que contemplan los espectadores enel contexto del festival) Kavoulaki advierte acertadamente estesentido del termino pero la traduccion que propone ldquobandrdquo(banda)47 no cifra su complejidad semaacutentica El sustantivo στόλονcomparte su raiacutez con el verbo στέλλω que significa ldquoprepararrdquo48 ensu forma activa y ldquodespacharrdquo ldquoenviarrdquo en la pasiva El camposemaacutentico al que se asocia es usualmente el militar49 Ciertamenteel dominio belico no es ajeno al mito sobre el que se compone estatragedia pues conocemos que la suplica a Zeus primero y a Argosdespues derivaraacute en una guerra entre Argivos y Egipcios Porconsiguiente nuestra interpretacion de στόλον como ldquoformacionrdquobusca integrar el sentido militar y el ritual El enfasis de esta opcionde traduccion por otra parte estaacute puesto en la nocion dehomogeneidad (propia de este personaje colectivo) dada por elorden resaltando por lo tanto la existencia de un proceso no

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solamente previo sino tambien deliberado y de un agente quecomo autoridad establece dicho orden ldquoFormacionrdquo admite eljuego entre el sustantivo στόλος (2) y el adjetivo στασίαρχος (11)con el que se califica a Daacutenao la primera vez que es mencionado 50

correlacion que permite tanto activar el sentido de la ocasionperformativa como revelar cuaacutel es la estrategia de este grupo demujeres lideradas por su padre suplicar como maniobra de poder

El pedido de contemplacion al grupo como formacioncoral-ritual que se antepone a las demandas personales implica elinteres por conquistar los fueros de un poder que se fundamentaen la paradoja dado que la suplica es coercion disfrazada deimpotencia y necesidad51 La primera mencion de las Danaides espor consiguiente en el rol de objeto paciente asumiendo un lugarde subordinacion ante la mirada divina52 Por el contrario eldominio del dios se ve destacado no solo en el rol de agente quereviste sino tambien en su ubicacion en la posicion inicial delprimer verso de la suplica y del drama

En conclusion la epiacuteklesis demuestra ser clave para lainterpretacion de la oda y el desarrollo de la obra porque estableceun puente entre la seccion narrativa que se iniciaraacute y el nivelperformativo potenciando el sentido de la ocasion y suconveniencia Asimismo este anuncio consciente de roles eidentidades rituales vuelve maacutes ostensible la hibridez de las recienllegadas protagonistas que dejaraacuten filtrar sobre el final de la odainicial la perversion de su programa ritual Los desesperadosultimos versos del canto blasfeman a Zeus dios destinatario de lasuplica No obstante la alteracion de la norma es tema para otracomunicacion

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RESUMO

Identidade ritual e performance uma anaacutelise dos primeiros doisversos de Suplicantes de Eacutesquilo

A recitacatildeo que acompanha a marcha anapestica (v 1-39)que daacute iniacutecio agrave performance de Suplicantes de Eacutesquilo apresentadois dos trecircs componentes baacutesicos de um hino (Furley-Bremer2001) epiacuteklesis (v 1-3) e eucheacute (23-39) A epiacuteklesis indireta (Er-Stil v1-2) estabelece o contato entre os falantes ndash os Danaides quecompotildeem o coro ndash e o destinataacuterio divino ndash Zeus ndash dando agraverecitacatildeo um caraacuteter hiacutenico desde a primeira palavra Eacute umacomposicatildeo de dois versos extremamente simples a mencatildeo dodeus a quem o hino e dirigido seu epiacuteteto e o chamado da atencatildeoque apresenta o falante Nosso trabalho tenta demonstrar queapesar da brevidade da epiacuteklesis cada elemento condensa ossentidos fundamentais para a interpretacatildeo da ode inicial e damatriz ritual na qual a composicatildeo da obra se inscreve como umtodo

PALAVRAS-CHAVE

Ritual performance Suplicantes Eacutesquilo

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PARRY H The Lyric Poems of Greek Tragedy Toronto-Sarasota sn 1978

PICKARD-CAMBRIDGE AW The Dramatic Festivals of Athens Oxford sn1988

76

Identidad ritual y performance [hellip] | Maria del Pilar

REHM R Greek Tragic Theatre Theatre Production Studies London sn1992

SANDIN P Aeschylusrsquo Supplices Introduction and Commentary on v 1-523Goumlteborg sn 2003

SOMMERSTEIN AH Aeschylus Persians Seven against Thebes SuppliantsPrometheus Bound Cambridge Massachusetts London sn 2008

TAPLIN O The Stagecraft of Aeschylus the Dramatic Use of Exits andEntrances in Greek Tragedy Oxford sn 1977

TORRANO J Eacutesquilo tragedias Os persas Os sete contra Tebas As suplicantesPrometeu cadeeiro Satildeo Paulo sn 2009

VIacuteLCHEZ M Esquilo tragedias II Los siete contra Tebas Las suplicantesSalamanca sn 1999

WEST ML Greek Metre Oxford sn 1982

77

1 Este trabajo ha sido presentado como ponencia en las VIII Jornadas de EstudiosClaacutesicos y Medievales realizadas en la ciudad de La Plata durante los diacuteas 18 19 y20 de septiembre de 20172 FURLEY BREMER 20013 CALAME 19774 HENRICKS 1994-19955 SWIFT 20106 Parry (1978 p 50-51) la incluye dentro del grupo que denomina ldquomassiveodesrdquo constituido por aquellas que superan los cien versos ldquoThe grand-scaleodes are more spacious and more leisurely What they need and get is a broadsuperestructure one that a Greek audience would be well familiar with ndash thehymn or hymn derivative (hellip) Within this superestructure there is room forldquodigressionsrdquo to develop and we constantly savour exquisite descriptions andreflections ranging from the pathetic to the profoundrdquo (p 53) La observacionde Kitto (2011 p 4) tambien resulta interesante ldquothe ode one-sixth of thewhole play would take something like fifteen minutes in performance the timeof an ordinary symphony-movementrdquo7 Sobre su complexion y sus trajes baacuterbaros 120-122 = 131-133 234-237 432No descartamos la propuesta de Sandin (2003 37) quien sugiere la posibilidadde que la mitad o un tercio de las jovenes presentara indicios de pertenencia aun rango inferior y no cargara ramos de suplicante Estas servidoras de lasDanaides no seriacutean mencionadas hasta el final del drama (954 977) Sinembargo desde nuestro punto de vista su presencia no amerita su participacionen la ultima oda tal como se explica en el apartado I41 En cuanto a la cantidadde coreutas es improbable que hayan sido cincuenta tal como han sostenidoquienes consideraban a Suplicantes una obra primitiva Evidencia textual internaparece favorecer el numero de doce (204-224) Sobre el numero de miembrosdel coro Taplin (1977 437)8 Sobre anapestos de marcha West (1982 p 53-54) El metro se emplea siempreque la apertura del drama es llevada adelante por el coro Actualmente latendencia es aceptar que los anapestos de marcha eran generalmente recitativos(acompanados por el auloacutes) Segun Pickard-Cambridge (1988 p 160) ldquothis maybe taken as certain where they are uttered by the chorus as they enter theorchestra preceded by the flute player as at the beginning of Persae andSuppliants and in Agamemnon 40-130 or when they form an introduction to asung choral ode as in Persae 532-47hellip and Eumenides 307-20rdquo En algunasediciones o traducciones sin embargo se indica que el coro ldquocantardquo9 En el apartado II3 profundizamos sobre la configuracion empleo ysignificacion de los espacios escenicos en la obra 10 El texto no ofrece evidencia acerca del ingreso de Daacutenao y por lo tantopersisten las controversias en torno al momento exacto de este suceso escenicoUnos conjeturan que habriacutea llegado junto al coro (1) otros en el momento de suprimer discurso (176) La primera alternativa es la preferida de los criacuteticos en laactualidad -por ejemplo Taplin (1977 v 194) ndash aunque ya Mazon (1953 p 19)sugeriacutea que Daacutenao habriacutea ingresado ldquodans lrsquoorchestre derriegravere ses fillesrdquo y quehabriacutea permanecido parado en una colina durante la cancion mirando hacia elhorizonte Segun nuestro punto de vista Daacutenao habriacutea ingresado al mismotiempo que el coro pero detraacutes de el mostrando companiacutea y proteccion perosin acaparar la atencion central puesta en el coro femenino Finalizado elrecorrido de ingreso se habriacutea ubicado sobre la elevacion vigilando el mismosector de su ingreso es decir alerta a la posibilidad de peligro por la llegada desus perseguidores y divisando tambien el sector opuesto preparaacutendose para elverso 176 momento de su primera intervencion en que anuncia el arribo dehabitantes locales 11 Rhem (1992 p 66) ldquoBridging the gap between the heroic characters and thefifth century tragic costums and props often mirrored specific aspects ofAthenian ritual liferdquo Aelion (1983 p 16) describe el ritual de suplica y brinda

pruebas de su contemporaneidad para un espectador de la epoca con ejemploshistoricos de Herodoto y Tuciacutedides12 Cfr Aelion (1983 p 15-44) para la estructura dramaacutetica del patron de suplicaAdrados (1986 p 7-8) propone dos tipos baacutesicos para las tragedias quepresentan este motivo temaacutetico la ldquobinariardquo en la que el suplicante se refugia enun templo o realiza los gestos rituales dirigidos a su oponente y la ldquoternariardquoque encuentra maacutes habitual en la que junto al enemigo o perseguidor sepresenta al salvador La suplica en el primer caso ldquoentra plenamente en el juegoteatral es un recurso maacutes para hacer avanzar la accionrdquo pero ldquoes solo unelemento episodico nunca un elemento central en la pieza Solo cuando seintroduce la estructura ternaria es la suplica un elemento central (hellip) sobre todoporque con ello se cumple una exigencia del teatro la existencia de al menos unagoacuten en cada piezardquo (p 33) Lo esencial en el desarrollo dice Adrados ha sidoentonces ligar el tema de la suplica a los agones rituales tradicionales Segun estapropuesta Suplicantes resulta el exponente por excelencia de la tipologiacutea ternaria13 FURLEY BREMER 200114 FURLEY BREMER 2001 p 2 ldquoThe cult hymn is a form of worship directedtowards winning a godrsquos goodwill and securing his or her assistance or favourrdquo15 FURLEY BREMER 2001 p 3 ldquoHymns share many of the compositionalelements characteristic of prayers there is the same direct address of a deity thesame gesture of supplication and often the same express request for help orprotection A distinction may be possible here by considering both thecompositional elements of the two forms and their differing function inworshiprdquo16 FURLEY BREMER 2001 p 28-2917 La carencia de prologo ha sido uno de los argumentos maacutes poderosos a favorde la arcaicidad de la tragedia primero y luego de 1952 (ano en que se descubrioel pairo de Oxyrrinco que puso en cuestion la datacion de la tragedia) de suldquoespiacuteritu arcaizanterdquo Sin embargo es improbable que una apertura coral tuvierareminiscencias arcaicas en la epoca de la puesta en escena de Suplicantes YaGarvie ha demostrado que no hay razon para suponer que el inicio con lapaacuterodos haya sido necesariamente maacutes temprano que la utilizacion del prologopues tanto la funcion natural de una como del otro era expositiva explicar a laaudiencia la situacion dramaacutetica que seriacutea representada y los datos espacio-temporales de la puesta en escena Segun el anaacutelisis que hemos realizado de laoda su estilo narrativo y expositivo aunque no cronologicamente lineal puedecomprobarse en la parte liacuterica con la mencion de τὰ τε νῦν ἐπιδείξω πιστὰ

τεκμήρια (ldquomostrare pruebas confiables las de ahorardquo 52-53) cuya epexegesisconsistiraacute en el relato de la situacion actual de las Danaides Garvie (1969 p121) realiza un recorrido historico vinculado con el origen del prologo y detallael debate criacutetico en relacion a esta postura Asimismo compara la paacuterodos deSuplicantes con la de Los Persas tambien carente de prologo y con los prologosdel resto de las tragedias conservadas de Esquilo Para informacion maacutesactualizada del mismo autor sobre el mismo tema Garvie (2006b p 37) Furley-Bremer (2001 284) senalan que ldquoA prologue which sets out the pre-historymay seem Euripidean but one should not forget that of Aeschylus sevenpreserved tragedies there are four opening with an informative prologue SevenAgam Choe Eumrdquo Taplin (1977 p 194) aunque afirma que las razones parausar una apertura coral fueron dramaacuteticas maacutes que cronologicas opina que estaera una tecnica pasada de moda en los ultimos anos de la decada del 460 aC18 Los criacuteticos acuerdan en considerar que los primeros 39 versos en metroanapestico llevan adelante la funcion expositiva Cfr Hogan (1984 p 189)Viacutelchez (1999 p 86) Sandin (2003 p 36) Torrano (2009 p 239) entre otrosEsta division de la oda en dos partes es coherente con las definicionesaristotelicas de paacuterodos y staacutesimon Cfr Poeacutetica 1452b 22-2419 Efectivamente en Suplicantes tal como en Los persas el coro abre la obra consu canto de ingreso y como Eteocles en Siete contra Tebas u Orestes en Coeacuteforas laobra se inicia directamente con los protagonistas y el relato que ellos mismos

desde su punto de vista realizan de la situacion que padecen y que seraacute objetode la performance En cuanto al tratamiento del coro en Eumeacutenides y Suplicantestanto de Esquilo como de Euriacutepides y su diferencia del resto de las tragediasconservadas por tratarse de personajes principales cfr entre otros Nestle(1930 p 16) Para el caso particular de este coro Garvie (1969 p 106) ySommerstein (1996 p 158)20 El propio Pelasgo explica la diferencia entre la suplica en un altar publico yuno privado en v 365-36621 FURLEY BREMER 2001 p 277 ldquohymns of certain sorts can be used to createatmosphere by the playwright either to increase tension in an already fraughtsituation or as ironic backdrop against which the subsequent action unfoldscontrary to expectationrdquo En v 279 y ss los autores se ocupan de los ldquohimnosrdquode Suplicantes v 77-102 (Zeus) v 524-599 (Zeus) v 625-709 (Zeus y los dioseslocales) v 1018-1073 (Aacutertemis Afrodita y Zeus) pero se detienen en dospasajes v 77-102 y v 524-537 junto con v 590-600 En terminos generales losautores proponen (2001 p 285) ldquoThe term dramatic irony is not used often inAeschylean criticism But if the hypothesis sketched above about the plot of thistrilogy is correct then these hymns may have had an ironical effect at the firstperformance of this trilogyrdquo Como ha sido senalado previamente lasinterpretaciones de la tragedia que caen en el lugar comun de ampliar su lecturahacia las secuelas de la trilogiacutea resultan debiles ya que no se puede asegurar queobras habriacutean acompanado a esta tragedia y cuaacutel habriacutea sido su argumento Si elhimno inicial instala una ironiacutea proponemos interpretarla como propia de lanaturaleza inestable de quienes lo entonan22 FURLEY BREMER 2001 p 275 ldquoIn a way then a dramatic hymn is animpostor it is not a genuine cult hymn but rather an imitation of a cult hymnwritten for the fictional situation and performers of the playrdquohellip ldquoThe fictionalquality of hymns in drama and the mix they represent of genuine cult practiceand assimilation to the play mean that the playwright was free to draw ontraditional forms such as paians dithyrambs wedding songs etc in order toillustrate stages of a plays action but at the same time these traditional formshad to be adapted to their new dramatic settingrdquo (2001 p 276)23 Kavoulaki (2011 p 366) justifica muy acertadamente la ldquoconciencia deautoridad ritualrdquo de las Danaides En el artiacuteculo la autora analizaespeciacuteficamente los anapestos introductorios de la obra ldquohellip choral selfawareness of ritual authority is not a mere mannerism but represent well-planned strategies of influence and effectrdquo24 FURLEY-BREMER 2001 El patron de accion es reconocible en la tragedia porsu grado de acabamiento llegada procesional a un lugar sagrado invocacionesinvitacion a la interaccion a traves de los sentidos ritual hiacutemnico y el pedido maacutesimportante el de recepcion o aceptacion (v 27)25 En general la seccion cumple con los principios de eulogiacutea (mencion de losdominios y privilegios del dios) y eufemiacutea (con rechazo de expresionesinapropiadas) y se sirve de recursos tales como la hypoacutemnesis (recordatorionarrativo acerca de como el dios ayudo en una ocasion previa) la dieacutegesis (relatoparadigmaacutetico acerca del dios) yo la aretalogiacutea (cataacutelogo de los poderes yhazanas divinas ekphraacuteseis) para compeler al dios y asegurarse de que resultepropicio 26 Las causas de la alteracion son fundamentalmente dos por un lado dada lacarencia de prologo el movimiento escenico a traves de la paacuterodos hacia laorcheacutestra exige una explicacion dramaacutetica Por eso esta seccion pone su acento enla situacion de traacutensito es decir en el cambio espacial que representa la marchaanapestica Por otro lado la seccion insiste en un segundo cambio el decondicion social porque ligada a la referencia espacial se presenta lametamorfosis un grupo de mujeres vestidas exoticamente y con una aparienciafiacutesica ajena transforman su barbarismo en pertenencia a traves de la praacutectica delritual griego de suplica

27 FURLEY BREMER 2001 p 1 Los autores aclaran que la manera en que serealiza este abordaje del destinatario resulta indiferente para la distincion delgenero El himno puede dirigirse a un dios de manera directa (Du-Stil) indirecta(Er-Stil) o a traves del anuncio en primera persona Para su definicion parten dePlaton (Leg 700b1-5) que da el primer indicio de una taxonomiacutea antigua de lacancion coral Luego toman la clasificacion alejandrina de Proclofundamentalmente pragmaacutetica o funcional ya que tiene en cuentaprimordialmente el contexto de la performance (cfr 2001 11 y ss) 28 El verso 175 configura el cierre de la composicion anular ὑψόθεν δ᾽ εὖ κλύοικαλούμενος (Ojalaacute que desde arriba escuche propiciamente cuando es invocado)29 La cita del texto es de la edicion de Sommerstein (2008 p 290)30 La traduccion del texto es personal31 CUZZI 1970 p 73 p 85 Friis Johansen-Wittle (1980) ad v 1) ldquoZeus ἀ φί κτωρis not an attested cult-title but belongs among numerous Aeschylean creationsinvented on the analogy of existing cult- names of various typesrdquo Cfr tambienSandin (2003 ad 1 p 39) quien senala que el sufijo ndashωρ es mucho maacutes fuerteque el -ιος de uso frecuente que indica simplemente que el dios estaacute conectadocon alguna actividad El sufijo elegido por Esquilo estariacutea marcando unaactividad tambien desempenada por Zeus por eso esta podriacutea ser consideradaen sentido amplio ldquoel que llegardquo Asiacute Zeus es protector de quienes llegan eneste caso como suplicantes 32 Este uso puede observarse en los v 347 360 616 Se retoma el neologismodel primer verso en v 385 y 478-479 ἱκνέομαι usualmente se usa en el sentidode ldquosuplicarrdquo tanto en la epica homerica como en el drama (LSJ 826)33 La mencion de Zeus refleja la hibridez cultural ya que se lo invocaperteneciendo a dos espacios geograacuteficos el de origen y el de destino (cfr v 1 yv 4-5) Respecto de Egipto como la ldquoregion de Zeusrdquo (v 4-5) Sommerstein(2008 p 292) senala ldquoEgypt could be so called because it contained the famousoracle of Zeus Ammon at Siwwa but to the Danaids it is more important thatEgypt was the place where Zeus miraculously begot their ancestor Epaphusrdquo34 FERNAacuteNDEZ DEAGUSTINI 2011 p 77 ldquoEn el mundo griego antiguo regidopor valores competitivos y cooperativos ser miembro de un grupo es lo queconferiacutea y determinaba el status y la posicion de un individuo en la escala dehonor y definiacutea su rol en la sociedad La posesion y conciencia de este rol (tantode parte del posesor como de los otros miembros del grupo) proveiacutea los iacutendicesde conducta esperada sin los cuales la continuidad y estabilidad de la sociedadse veiacutea amenazada De alliacute que el ξένος el outsider el que ldquono pertenecerdquo fueraen principio un sujeto sin rol sin derechos ni obligaciones que ignoraba comoconducirse con el cual tampoco sabiacutean comportarse los miembros del grupoEn consecuencia la conducta institucionalizada que regiacutea el comportamientoadecuado del ξένος (sustantivo que designaba a la vez al hospedado y alanfitrion) proveiacutea de reglas y patrones de expectativa que permitiacutean lacoexistencia entre aquellos que no eran del mismo grupo De este modo lasinstituciones griegas conocidas como ξενία y ἱκετεία constituiacutean un poderosofactor que manteniacutea las tensiones entre grupo e individuo dentro de liacutemitestolerablesrdquo El artiacuteculo citado observa la definicion de los personajes deSuplicantes fuera o dentro de la red social que propone el espacio escenico deArgos a partir de los datos que ofrece la ldquodeixis socialrdquo (Fillmore 1971) Por suparte Dobiacuteas-Lalou (2001 passim) considera ἀφίκτωρ a partir de la idea deintegracion social y lo analiza en relacion con la repeticion en el v 241 en bocade Pelasgo Para la autora no se trata de un ldquoZeus Suplicanterdquo sino de unldquoZeus de los Suplicantesrdquo Apoyada en el examen de los tres constituyentesmorfologicos del termino (preverbio tema verbal y morfema de sustantivoagente) y de las fuentes epigraacuteficas Dobiacuteas- Lalou concluye que (p 614) ldquoDesinscriptions de Cyregravene et de Lindos font connaicirctre agrave lactif et au passif le verbeἀφικετεύω lsquosortir de letat de supplication reintegrer dans une communautecivique lsquo tandis quagrave Cnide le rituel est decrit comme ἀφικετεία On en deduitque Zeus est invoque comme laquo celui qui reintegravegre les lsquosuppliantsrsquo (v 1) et que lepluriel du v 241 designe lensemble des θεοὶἀγωνίοι qui avec Zeus vontparticiper agrave cette delivrance Lintervention lsquopoetiquersquo dEschyle doit consister en

deux traits archaiumlques lemploi de la base ἱκ- au lieu d ἱκετευ- et le recours ausuffixe ndashτωρrdquo35 KAVOULAKI 2011 p 380 ldquoZeus the first word in the play seems neutral butthe epithet ἀφίκτωρ by wich he is invoked (another ad hoc formed noun) bringsto the foreground the very fact of the chorus ἄφιξις (arrival) wich is intimatelyconnected with the third (main) word of the sentence the form ἐπίδοιrdquo36 FLORES 2007 p 89 El subrayado corresponde a la autora quien luegoampliacutea ldquoEstudios actuales sobre el lenguaje realizados por Lakoff y Johnsonrevelan el sentido profundo de ciertas estructuras linguumliacutesticas que en realidadrepresentan estructuras de la menterdquo son las ldquometaacuteforas orientacionalesrdquo (200791) ldquohellip se puede indicar que ἐ πί para Esquilo indica mucho maacutes que unaorientacion espacial de los dioses senala una forma de ver diferente de lahumana Mirar desde arriba maacutes allaacute de la raiacutez etimologica de cada verboἀφοράω ἐφορεύω ἐπισκοπέω ἀποπάω ἐποπτεύω es mirar con la fuerza vitalidadintensidad lucidez clarividencia bondad inteligencia virtud y punto de vista deun diosrdquo (2007 p 93)37 FLORES 2007 p 97 De hecho dentro de la taxonomiacutea verbal que la autorapropone incluye ἐφοράω dentro de la categoriacutea ldquolos dioses miran juzgandordquo38 KAVOULAKI 2011 p 380 ldquoby inviting the sight of the god the chorusunderline their coming to sight their spectacular appearancerdquo39 RHEM 1992 p 47 ldquoThe process is one in which the audience shifts from theimmediate dramatic situation to the larger world of the play and then movesbeyond it constantly negotiating different levels and formulating responsesappropriate to them inspired by (but hardly bound to) the initial commitmentto dramatic illusionrdquo Esta participacion de la audiencia es la que permite inferirinterpretaciones ironicas ambiguas contradictorias anticipatorias oretrospectivas de diferentes momentos de la obra40 Acepcion dada por el diccionario de la Real Academia Espanola en wwwraees41 El impacto se produce tanto sobre el espectador externo como sobre elinterno es decir Pelasgo Cfr II2342 LSJ 1540 ldquokindly earnestly Prop with forward mindrdquo43 CHANTRAINE 1968 p 122744 Sobre el lexico egipcio en Suplicantes Adrados (1999 passim)45 En el v 27 que da comienzo a la eucheacute el pedido a los dioses seraacute que aceptenesta condicion que evidentemente no les es propia δέξασθ ἱκέτην τὸνθηλυγενῆ στόλον αἰδοίῳ πνεύματι χώρας (Admitid como suplicante a esta femeninaformacioacuten con el aire reverencial de esta tierra) Ademaacutes la eucheacute recupera en este versoun termino que cobra especial sentido en la tragedia στόλον46 Johansen-Witttle (1980) entienden στόλον en sentido poliacutetico como terminoderivado de στάσις De este modo στασίαρχος (v 11) resulta ser en supropuesta de traduccion ldquoleader or originator of seditionrdquo) Sandin (2003 ad 11p 45) marca que en el griego claacutesico στάσις en su sentido poliacutetico no significasedicion sino ldquodiscord faction party strife or even civil warrdquo Para Sandinστασι- se refiere al hecho de que Daacutenao y sus hijas han roto sus lazos con sufamilia en Egipto y que por eso se ha iniciado una discordia Sommerstein(2008 p 293) traduce στασίαρχος como ldquooriginator of civil striferdquo La posicionde Kavoulaki (2011 p 377) resulta maacutes atinada en tanto no le confiere unsignificado poliacutetico sino de ocasion especiacutefica pues senala que el termino στάσιςestaacute vinculado a la actividad coral y a la formacion en particular Por eso para laautora ldquothe general usage of the word stasis in choral contexts seems to justifyits choice at this ritually important moment when the chorus qua chorus and atthe same time as a band of parthenoi is solemnly approaching a religious locus (1v 189-90) carrying the ritual symbols of supplication (v 21-22) and invokingthe gods (Zeus and others 1 23-26) with the obvious intention of taking uptheir positions to sing and dance (v 40-175) a hymn and prayer to gods andheroes and particularly to Zeushelliprdquo

47 KAVOULAKI 2011 p 38448 LSJ 1648 y Chantraine (1968 p 1050) ldquoCette famille de mots issue drsquouneracine exprimant une notion simple ldquoarranger preparerrdquo a eclate avec des senstregraves divershelliprdquo Si bien entre estos sentidos posibles Chantraine consigna στόλοςcomo ldquoexpedicionrdquo no se concentra en el examen de este vocablo Lo que debedestacarse de su anaacutelisis etimologico es sin dudas la afirmacion de que la raiacutez deesta familia supone la idea de ldquoprepararrdquo idea que se respeta en nuestrasugerencia de interpretacion del termino como ldquoformacion coralrdquo49 Por eso στόλον puede traducirse como ldquoequipamientordquo si se resalta el objetoldquoexpedicionrdquo o ldquomisionrdquo si el acento se pone en la accion y ldquotropardquo o ldquobandardquosi se hace hincapie en el sujeto 50 Es necesario resaltar el hecho de que el v 11 constituye tambien la primeravez que las jovenes aportan un dato identificatorio especiacutefico respecto de ellasEn este sentido la eleccion de στασίαρχος compuesto de στάσις (que compartel a raiacutez de στόλον) y ἄρχων ilumina el rol crucial de Daacutenao como liacuteder einstructor del coro tesis que desarrolla Kavoulaki (2011) en el artiacuteculo citado51 GOULD 1973 p 91 52 Esta posicion se revierte maacutes tarde (v 169) cuando el tiempo transcurrido y ladesesperacion invierten los roles de agente y paciente

Caliope Presenca Classica | 20172 Ano XXXIV Numero 34

O Filebo prazer e intelecto emconfrontoSimone de O Goncalves Bondarczuk

RESUMO

O dialogo Filebo durante muito tempo foi deixado de lado pelatradicatildeo dos estudos platocircnicos por ser um dialogo tematicamentecomplexo tendo em vista a sua aparente falta de unidade o quelevou a tendecircncia dos inteacuterpretes e comentadores seja naAntiguidade ou nos dias atuais a se concentrarem em apenas umdos aspectos da obra o metafisico ou o eacutetico No entanto nosultimos trinta anos o interesse por esse dialogo reviveu com forcae a sua pertinecircncia para uma compreensatildeo mais global dopensamento teoacuterico de Platatildeo foi finalmente reconhecida Opresente artigo pretende introduzir o leitor nas questotildees centraisdo dialogo e problematizar as controveacutersias em torno do mesmoSeria a vida dedicada ao prazer eou a vida dedicada agrave reflexatildeocentrais para a constituicatildeo de uma vida feliz Ou seria uma mesclaentre essas duas vidas Qual a relacatildeo dessa escolha com a questatildeoteleoloacutegica do Bem em Platatildeo

PALAVRAS-CHAVE

Filebo dialogos socraticos prazer intelecto o Bem

SUBMISSAtildeO 28 dez 2017 | PUBLICACcedilAtildeO 31 dez 2017

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O Filebo prazer e intelecto em confronto | Simone de O Goncalves Bondarczuk

dialogo Fi l ebo de Platatildeo pela sua complexidadetematica e beleza provocou tantos questionamentosna Antiguidade como suscita ainda nos dias atuais aopartir de uma questatildeo simples mas assaz relevante seo prazer e os seus congecircneres satildeo bons ou o Bem ouao inveacutes se o Bem se constitui na reflexatildeo e nasatividades relacionadas com a mesma ou talvez obem seria uma terceira via uma espeacutecie de amalgamaentre os dois Natildeo menos interessante do que o temado ponto-de-vista formal a sua estrutura dialoacutegica traza lembranca os primeiros dialogos socraticos em que oeacutelenkhos em sua dinamicidade potildee em movimento oargumento central e segue agrave risca a via da dialeacuteticaconvidando os primeiros receptores1 e os leitores

modernos a se engajarem de um modo ativo no debate Antes de tudo o dialogo eacute uma contenda dramatica entre

prazer e reflexatildeo no qual outras questotildees relacionadas vatildeo sendoentrelacadas como a questatildeo do Uno e do Multiplo - como sepode chamar por um unico nome geneacuterico prazer umamultiplicidade de prazeres aparentemente dessemelhantes entre si eo mesmo argumento poderia servir para os conhecimentos outraquestatildeo surge em decorrecircncia dessas a necessidade de seestabelecer categorias ontoloacutegicas para definir o prazer e asatividades relacionadas agrave reflexatildeo a saber o limite o ilimitado amistura e causa da mistura e ainda como tudo isso se relacionacom o projeto ontoloacutegico de Platatildeo a respeito do Bem

O dialogo potildee em tensatildeo todas essas questotildees e nos eacuteapresentado como uma peca dialeacutetica com passos tatildeo belos quantoenigmaticos Como consequecircncia disso o dialogo apresenta umaaparente falta de unidade tematica que durante muito tempo foium empecilho para uma interpretacatildeo ampla e integradora dodialogo na sua relacatildeo com o corpus platocircnico O tema do dialogo eacuteo prazer ou a vida de reflexatildeo ou o Bem ou ainda seria sobreuma vida mista entre as duas como sendo a mais feliz

A importacircncia desses temas em relacatildeo ao conjunto daobra de Platatildeo sobretudo pelas questotildees metafisicas e eacuteticas

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O

Caliope Presenca Classica | 20172 Ano XXXIV Numero 34

postas em relevo em sua articulacatildeo com todo o pensamentoplatocircnico sobre o Bem permitiu que os ultimos trinta anosassistissem a um renascimento da parte dos especialistas de seuestudo

Tendo em vista essa polecircmica em relacatildeo agrave unidadetematica o esquema de divisatildeo do dialogo ja foi apresentado dediversas formas2 segundo minha proposta pode ser estruturadoda seguinte maneira

1 Parte I Introducatildeo (11a-14b)a) As duas teses em disputa a vida boa ou o Bem consiste navida centrada no prazer e seus congecircneres ou na vidacentrada na reflexatildeo e nas coisas afins a essa (opiniatildeo corretae calculo racional)b) A vida feliz eacute resultante da disposicatildeo e da propriedade daalma haveria um terceiro estado superior a esses doisprimeirosc) A proposta de uma via intermediaria o Bem eacute o prazer areflexatildeo ou ainda haveria uma terceira possibilidade (14b)

2 Parte II A estrutura metafisica da realidade e o meacutetododialeacutetico da divisatildeo (14c-20b)a) O problema do Uno e do Multiplo em sua versatildeo maisbanalizada (14c-14e)b) As trecircs aporias sobre o Uno e o Multiplo a definicatildeo dadialeacutetica e o seu meacutetodo de divisatildeo como solucatildeo para asaporias (15a-17a) c) Os exemplos de limite e ilimitado as letras articuladas(fonemas) e as notas musicais (17a-18d)d) A proposta de aplicacatildeo da distincatildeo Uno-multiplo aoprazer e agrave reflexatildeo (18d-20b)e) Protarco sugere uma ldquosegunda rota de navegacatildeordquo pararepreender Soacutecrates (20andashb)

3 Parte III O discurso salvo por uma memoacuteria divinaa) Nem o prazer nem a reflexatildeo satildeo o Bem mas uma terceiracoisa diferente dessas duas e superior a ambas (20b-c)b) A definicatildeo do Bem os seus requisitos ndash suficienteperfeito e digno de escolha (20b)c) A aplicacatildeo desses requisitos agrave vida de prazer e de reflexatildeo(20c-22b)

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O Filebo prazer e intelecto em confronto | Simone de O Goncalves Bondarczuk

d) Trecircs vidas foram propostas mas nenhuma das duasprimeiras eacute suficiente e nem digna de escolha A vida mistaganha o primeiro precircmio (22b-23b)

4 Parte IV A necessidade de outro mecanismo (mekhaneacute) paraargumentar a favor do segundo precircmio (23c-31b)a) A definicatildeo dos quatro gecircneros ou espeacutecies nas quais sedivide tudo que ha no universo o limite o ilimitado a misturae a causa da mistura (23c-27c)b) A vida vitoriosa faz parte do terceiro gecircnero da mistura(27c-28b)c) Teleologia coacutesmica e a inteligecircncia (noucircs) como ldquorainha doceacuteu e da terrardquo (28c-29a)d) A alma do mundo possui sabedoria e inteligecircnciapertencentes ao gecircnero da causa que ordenam e regem todasas coisas (29a-31b)e) A inteligecircncia (noucircs) portanto pertence ao gecircnero da causa

5 Parte V O exame dos prazeres a sensacatildeo a memoacuteria e odesejo (31b-55c) a) A fisiologia do prazer dor e prazer como um parindissoluvel (31b-32b)b) A psicologia do prazer a reminiscecircncia (32b-34c)c) O desejo ou apetite por alguma coisa pertence agrave alma (34c-35d)d) O desejo da alma o tipo de vida correto e o prazer comoantecipacatildeo (35d-36c)e) Prazeres verdadeiros e falsos (36c-38c)f) Percepcatildeo aparente e real pensamento opiniatildeo e discurso(38c-40c)g) Os estados afetivos tecircm conteudo proposicional (40e-43b)h) O prazer natildeo se identifica com a cessacatildeo da dor (43c-46a)i) Os prazeres mesclados com dores (46a-50e)j) Os prazeres puros sem mistura com dor os prazeressensoriais a beleza das figuras os sons os aromas e osprazeres da aprendizagem (50e-53c)k) Conclusatildeo o prazer eacute um vir a ser (53c-55c)

6 Parte VI Exame do conhecimento os conhecimentos asartes e seu grau de exatidatildeo A superioridade da filosofia(55c-64c)a) Os conhecimentos e as artes com distintos graus deexatidatildeo e de pureza (55c-57e)

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b) A filosofia eacute superior a qualquer outro conhecimento ouarte (57e-59d)c) O Bem eacute a vida que consiste em uma mescla de sabedoria eprazeres puros (59e-64c)

7 Parte VII Os ingredientes eideacuteticos do Bem o posto doscandidatos na competecircncia pelo bem e a conclusatildeo (64c-67b)a) Beleza proporcatildeo medida e verdade como ingredienteseideacuteticos imprescindiveis ao Bem (64c -65e)b) A ldquotabela das posicotildees finaisrdquo na competicatildeo pelo Bem (i)a medida o mesuravel e o oportuno (ii) o proporcional e obelo o perfeito e o suficiente (iii) a inteligecircncia e a reflexatildeo(iv) conhecimentos artes e opiniotildees corretas (v) prazerescarentes de dor isto eacute prazeres ldquopurosrdquo (66a-66d)c) Conclusatildeo do dialogo se provou inteiramente pelodiscurso que era injustificada a pretensatildeo tanto do prazer quanto dainteligecircncia de ser o Bem em si mesmo por natildeo preencherem os trecircsrequisitos autonomia suficiecircncia e perfeicatildeo Entretantoexiste um prazer superior aos fisicos fruto da paixatildeo pelosdiscursos oraculares inspirados pela musa filosoacutefica (66d-67b)

A primeira grande subdivisatildeo do dialogo (partes I a IV)

refere-se ao procedimento dialeacutetico e portanto ela se reveste deuma importacircncia unica para a compreensatildeo da dialeacutetica a ponto deGadamer3 afirmar ldquoafinal de contas em nenhum outro dialogoplatocircnico a teoria da dialeacutetica esta tatildeo estreitamente enredada coma pratica da dialeacutetica como alirdquo4

Em consonacircncia com esse argumento Gill5 defende a tesede que a forma do dialogo acentua o necessario vinculo entreengajamento cooperativo de ambas as partes e o exerciciodialeacutetico rumo a uma compreensatildeo mais aprofundada dasrealidades e do Bem Aleacutem disso ele afirma que nessa perspectivao Filebo seria excepcional pela importacircncia que atribui a essascaracteristicas para o aperfeicoamento de toda a discussatildeo Aecircnfase nessas caracteristicas explicaria porque Soacutecrates nessedialogo tem de introduzir teoricamente o meacutetodo dialeacutetico comoum caminho para superar a primeira aporia surgida com a aparenteunidade (14a-e) recolhida e evidenciada no nome lsquoprazerrsquo e a

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multiplicidade de prazeres muitas vezes ateacute mesmo contrariosentre si Superar a afirmacatildeo surpreendente e paradoxal de que ldquoomultiplo eacute unordquo (ἓν τὰ πολλὰ εἶναι) e a afirmacatildeo de que ldquoo uno eacutemultiplordquo (καὶ τὸ ἓν πολλὰ) por meio do discurso apresenta-secomo o grande desafio Entretanto Soacutecrates tentara mostrar aProtarco que esse desafio soacute pode ser superado pelo exercicio dadialeacutetica pois a eristica praticada pelos sofistas natildeo podeadequadamente dar conta dele

Na segunda grande subdivisatildeo tematica (nas partes V e VI)Soacutecrates argumenta que incluira todos os conhecimentos namistura em busca da vida feliz mas apenas alguns prazeres osprazeres puros (da vida teoreacutetica e dos sentidos puros) aqueles quenatildeo foram misturados com dor e que satildeo verdadeiros por natildeoinduzirem ao engano Esses correspondem aos prazeres esteacuteticosde certos perfumes de algumas vozes claras das cores puras e dasformas geomeacutetricas e tambeacutem os prazeres intelectuais daaprendizagem e da investigacatildeo disciplinada e os prazeres eacuteticosque seguem as virtudes

Nos prazeres puros o que se desfruta eacute uma experiecircncia danatureza do belo e daquilo que eacute atrativo em si mesmo6

independente de um estado de tensatildeo que busque somente alivio(51c 6-7) eles ainda estatildeo relacionados agrave claridade agrave precisatildeo e agraveverdade Os prazeres impuros por sua vez possuem um lacoindissoluvel com a dor que Platatildeo procura ressaltar por meio douso de varias particulas e construcotildees com particulas - τε καὶ e δὲκαὶ - aleacutem do uso do adveacuterbio haacutema (simultaneamente) para enfatizaressa conexatildeo estreita

O prazer autecircntico eacute bom em si mesmo por natureza ouenquanto medido ou limitado pela razatildeo calculadora Platatildeo longede rechacar o prazer corporal de forma arbitraria como uminimigo procura integra-lo a vida feliz sempre que estaacompanhado pela inteligecircncia (noucircs) que pode prescrever lhe amedida adequada Comprova-se mais uma vez que a medida e aproporcatildeo salvam o prazer e o integram no conjunto de uma vidaplena A defesa da sabedoria acerca dos calculos dos prazeres

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autecircnticos da vida leva a conclusatildeo de que o sabio (sophoacutes) eacute ohomem mais feliz

O que chama atencatildeo no desenvolvimento do tema eacute ofato de desde o inicio Soacutecrates propor uma terceira via alternativapara definir qual seria a vida mais feliz e que por isso se constituiriano Bem e continuar insistindo nessa ideia ao longo do dialogo Ainsistecircncia em tal possibilidade leva a necessidade doestabelecimento de categorias ontoloacutegicas nas quais se possaincluir essa vida misturada de prazeres e atividades do intelectoPor fim a conclusatildeo sera que o Bem eacute a vida que consiste em umamescla de sabedoria e prazeres puros (Filebo 59e-64c)

Esses indicios na linha de desenvolvimento do tema nosfaz pensar que o propoacutesito ou intencatildeo visado por Platatildeo nodialogo em questatildeo seja definir os horizontes dessa vida mistadentro do escopo do seu projeto ontoloacutegico sobre o Bem

A DATACcedilAtildeO DO DIAacuteLOGO E A GEcircNESE DO TEMA

Em relacatildeo a sua posicatildeo no corpus platonicum pode-sedizer que ha um consenso entre os especialistas sobre o Filebo tersido composto nas ultimas duas deacutecadas da vida de Platatildeo e fazerparte do seguinte conjunto de dialogos Sofista Poliacutetico FileboTimeu Criacutetias e Leis Os dois primeiros nomes da lista satildeoseguramente anteriores aos outros e as Leis o ultimo O Criacutetiastem uma relacatildeo de continuidade com o Timeu e a posicatildeo doFilebo eacute incerta ou teria sido escrito entre o Poliacutetico e o Timeu ouentre Criacutetias e Leis e ainda haveria a possibilidade de algumaconcomitacircncia Quanto agraves possiveis datas os anos de 368 e 367aC seriam um terminus a quo para os seis dialogos no entanto eacutedificil de determinar uma data precisa para qualquer um deles7

Dessa forma o Filebo teria sido escrito entre duas trilogiassupostas de Platatildeo a primeira Sofista Poliacutetico e Filoacutesofo - o ultimonatildeo foi escrito mas anunciado - e a segunda Timeu Criacutetias eHermoacutecrates esse ultimo tambeacutem natildeo escrito Outra possibilidade eacuteque tivesse sido escrito depois da segunda trilogia e antes das LeisParticularmente essa eacute a posicatildeo assumida por Hackforth8 natildeo

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como uma certeza mas pela possibilidade de dar conta de uma dascaracteristicas mais singulares do Filebo a completa ausecircncia dereferecircncias politicas e num momento que se sabe que Platatildeo estariaenvolvido em um projeto politico concreto de estabelecer naSicilia na corte de Dionisio a sua Republica ideal Nas palavrasdesse estudioso

Soacutecrates e seus interlocutores discutem o bem para o homemcomo individuo e natildeo como membro da comunidade isso eacutesurpreendente no autor da Repuacuteblica Poliacutetico e Leis e pode serconsiderado como refletindo uma separacatildeo deliberada daespeculacatildeo politica que melhor se encaixa nos anos de 360-354 do que em qualquer outro periodo das ultimas duasdeacutecadas da vida de Platatildeo (Traducatildeo nossa)9

Essa pausa na especulacatildeo politica ao qual se refere natildeodeve representar uma interrupcatildeo mesmo momentacircnea noprojeto filosoacutefico de Platatildeo como Hackforth da a entender emparticular definindo o dialogo em questatildeo com a expressatildeo umpiegravece drsquooccasion Em seu entender a obra marcaria uma espeacutecie deinterrupcatildeo tematica na sequecircncia dos dialogos platocircnicospressupondo que a sequencialidade da escritura seja umaprerrogativa do filosoacutefico Uma abordagem historicista neste casonatildeo ajuda a entender a gecircnese da obra e ateacute mesmo parecerestringir o projeto do filoacutesofo no qual a dimensatildeo politica natildeo semostra dissociada de sua dimensatildeo ontoloacutegica

Em minha opiniatildeo deve-se ter em mente o tempo todoque o escopo de toda a obra de Platatildeo aponta invariavelmentepara o Bem embora os propoacutesitos ou intencotildees dos dialogosindividualmente parecam estar sempre em tensatildeo dialeacutetica entre sigirando em torno de assuntos variados Portanto a questatildeo doprazer tem de ter alguma relacatildeo com o Bem e a vida feliz e ainvestigacatildeo para determinar o seu lugar na vida do filoacutesofo natildeoesta em desarmonia com o projeto de Platatildeo em um momentoespecifico ou eacute um tema secundario mas encontra ecos anterioresnos dialogos Goacutergias na Repuacuteblica e tambeacutem no Banquete

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Segundo Boeri10 Platatildeo parece ter se sentido particularmente comprometidode dar um lugar ao prazer na vida boa e principalmente emdemonstrar a sua importacircncia para a vida do filoacutesofo como oprazer contribuiria para a ascensatildeo ao Bem Se levassemos agrave riscauma leitura asceacutetica do platonismo o prazer teria pouca ounenhuma importacircncia em uma vida teoreacutetica no entanto como sepode contemplar a beleza do Bem sem a contemplacatildeo da belezasensivel dos corpos que visa o prazer como se diz no BanquetePortanto uma leitura rigorosamente asceacutetica natildeo parece condizercom varios passos de outros dialogos como se procurara mostrarA via dialeacutetica natildeo eacute uma via racional e arida e Platatildeo estaparticularmente comprometido em demostrar issoSoacute para citar alguns exemplos do corpus platocircnico no Goacutergias opersonagem Soacutecrates conduz a discussatildeo sobre o prazer daseguinte forma logo depois de Calicles ter afirmado que o homemfeliz seria o que se entregasse a todos os prazeresindiscriminadamente

SoacutecratesFui eu que conduzi a discussatildeo para estes temas meu caro oufoi aquele que com todo o embaraco afirmou que afelicidade consiste no prazer de qualquer ordem semdistinguir entre bons e maus prazeres Pergunto-te mais umavez se em tua opiniatildeo o prazer e o bem satildeo uma e amesma coisa ou se haacute prazeres que natildeo satildeo bons

CaliclesSe te dissesse que eram coisas diferentes entraria emcontradicatildeo com as afirmacotildees que ja fiz Mantenhoportanto que satildeo a mesma coisa

SoacutecratesDas cabo de tudo o que assentamos Calicles e natildeo poderasrealizar comigo uma investigacatildeo correta da verdade se tepotildees a falar contra o teu proacuteprio pensamento

CaliclesExatamente como tu fazes Soacutecrates

Soacutecrates

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Se isso eacute verdade faco tatildeo mal como tu Mas reflete meucaro que talvez o Bem natildeo se identifique com toda aespeacutecie de prazer A ser assim verificar-se-iam asconsequecircncias vergonhosas a que ha pouco aludi e muitomais (494 e 10 ndash 495 a e b 2 Grifos nossos)11

Soacutecrates ao questionar nessa passagem se o prazer e o bemsatildeo uma e a mesma coisa ou se haacute prazeres que natildeo satildeo bons propotildee naverdade uma discussatildeo ou revisatildeo sobre a ontologia do Bem ouuma agatologia que no Filebo assumira inicialmente a forma de umaontologia de uma vida boa12 na qual o prazer deve ser parteconstituinte

Da mesma forma tambeacutem com essa afirmacatildeo de quetalvez o Bem natildeo se identifique com todo tipo de prazer ele aponta para anecessidade de examinar a questatildeo mais a fundo propondo nasentrelinhas a necessidade de submeter o prazer a uma divisatildeo e deuma classificacatildeo dos prazeres para melhor compreender em quemedida ele eacute o Bem No entanto Soacutecrates natildeo daraprosseguimento a essa investigacatildeo ao longo desse mesmo dialogomas antecipa um esboco de uma tese sobre as espeacutecies de prazeresque sera retomada e desenvolvida no Filebo Pode-se constatar tambeacutem na Repuacuteblica 505b a importacircncia dotema ao examinarmos o seguinte excerto

Se natildeo a conhecemos e agrave parte essa ideia conhecermos tudoque ha sabe que de nada nos serve da mesma maneira quenada possuimos se natildeo tivermos o bem Ou julgas que vale demuito possuir qualquer coisa que seja se ela natildeo for boa Ouconhecer tudo o mais exceto o bem e natildeo conhecernada de belo e bom

ndash Por Zeus que natildeondash Mas na verdade sabes tambeacutem que para a

maioria (hoi polloiacute) eacute o prazer que se identifica com o bem aopasso que para os mais requintados (kompsoteacuteroi) eacute o saber

ndash Pois natildeondash E os que assim pensam meu amigo natildeo satildeo

capazes de explicar o saber mas acabam por ser forcados adizer que eacute o saber do bem

ndash Coisa que eacute bem ridicula[]

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ndash E agora os que definem o bem com prazer estatildeomenos eivados de erros do que os outros Ou natildeo satildeotambeacutem eles forcados a concordar que ha prazeres maus

ndash Seguramente que sim

Nesse passo segundo Soacutecrates existe portanto umaopiniatildeo ja estabelecida pelo senso comum (hoi polloiacute) de que oprazer se identifica com o Bem enquanto para os maisrequintados ele se identifica com o saber Essa primeira oposicatildeosuperficial levara a outra mais fundamental que integra um dosnucleos da metafisica platocircnica - a questatildeo do Uno e do Multiplo ndashporque a essecircncia do Bem natildeo pode ser dupla mas uma ou unapor isso tera que se decidir entre as duas alternativas ou umaterceira que se aproxime mais do Bem Em outras palavras o queele persegue eacute como conciliar e fundamentar filosoficamente arelacatildeo do Uno e do Multiplo com o Bem toacutepico esse quetambeacutem natildeo desenvolve na Repuacuteblica

O Banquete por sua vez deveria ter uma relacatildeo importantecom o tema do prazer uma vez que trata do mito de Eros em suarelacatildeo com Afrodite que explicitamente eacute chamada de prazer noFilebo Essa relacatildeo talvez pouco evidente do ponto de vistateoreacutetico natildeo me parece de menos importacircncia hermenecircutica Aquestatildeo eacute definir ateacute que ponto pode-se estender a analogia domito de Eros e Afrodite ao tema do prazer e do conhecimentocomo eacute apresentado no Filebo que embora tenha sido consideradocomo um dialogo eacutetico por muitos claramente se mostrou comoestando inserido no plano ontoloacutegico de Platatildeo em relacatildeo aoBem13

No entanto o Banquete natildeo eacute considerado um dialogo detema ontoloacutegico mas natildeo deveria passar despercebido que Platatildeoali estabelece uma categoria nova de existir no mundo ndash expressano uso da preposicatildeo metaxyacute ndash uma posicatildeo intermediaria entredeuses e homens a posicatildeo do daiacutemon a mesma de Eros a mesmado filoacutesofo e de Soacutecrates essa nova categoria do ponto de vistaepistemoloacutegico ainda pode ser entendida como qualquer coisaentre a sabedoria e a ignoracircncia definida por Diotima como oopinar corretamente (tograve orthagrave doxaacutexein)

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Tal posicatildeo eacute definivel em termos de participacatildeo O mito diz queEros tanto eacute rico em expedientes como eacute indigente a ponto deestar sempre na falta de alguma coisa dor e prazer se enlacamnecessariamente no movimento de Eros mas natildeo de modonegativo pois a dor da falta eacute que impulsiona ao desejo depreenchimento Por outro lado no Filebo Soacutecrates retorna a esseponto ao falar dos prazeres puros incluindo nessa categoria osprazeres do aprendizado e procura purifica-los desse aspectodoloroso O filoacutesofo leva Protarco a concluir que se algueacutem forprivado desses ensinamentos natildeo sentira de modo natural dor porcausa dessa perda mas apenas ao raciocinar sobre essaexperiecircncia Ou seja ele procura separar a experiecircncia pura doaprendizado (χωρὶς τοῦ λογισμοῦ) como uma experiecircnciaprazerosa em si14

Ademais Diotima levanta uma importante questatildeo emrelacatildeo ao opinar corretamente como pode um aacutelogon pracircgma serciecircncia por um lado mas como pode ser ignoracircncia (natildeoconhecimento) se ao mesmo tempo recolhe o ser (toucirc oacutentos) Esseestatuto ontoloacutegico estabelecido por Platatildeo deixa em aberto agravequestatildeo do prazer pois esse mesmo sendo movimento e geracatildeonatildeo suficiente em si mesmo natildeo poderia ser um bem mas comovir a ser vem a ser a partir de alguma coisa e natildeo seria essa coisa oBem Qual a relacatildeo entre prazer e Bem Mais uma vez constata-se que essas questotildees de alguma forma seratildeo retomadas no Filebo

A meu ver se existe uma divindade patrona da filosofiaessa divindade deve ser Eros porque eacute esse sobretudo em suaacircnsia de preencher-se e na sua propensatildeo ao belo que se move efaz mover na direcatildeo do objeto de seu amor e qual coisa segundoPlatatildeo seria mais desejavel e amoravel do que o bem A proacuteprianatureza intermediaria de Eros sempre acompanhado de prazer edor entre o sensivel e o inteligivel constroacutei uma relacatildeo entre oamor ao belo sensivel e ao belo inteligivel que por forca danarrativa mitica satildeo inseparaveis Mas essas relacotildees assimexpostas em uma linguagem imageacutetica do mito ainda natildeo datildeoconta de definir os horizontes da exata relacatildeo entre prazer e Bem

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O personagem Soacutecrates entatildeo questionara - a partir da tesede Filebo de que o prazer constitui a vida boa ndash se o prazer tem ounatildeo espeacutecies e quantas e quais satildeo e depois fara o mesmo emrelacatildeo agraves atividades do intelecto para concluir por uma terceiravia ja elucidada desde o inicio do discurso de que a vida mista seriaa vida boafeliz e essa sim seria o Bem

Sendo assim Soacutecrates procurara dist inguir naargumentacatildeo segundo o meacutetodo dialeacutetico da divisatildeo quais satildeo osprazeres ruins e quais bons mas ja admitindo previamente ser amaioria deles ruim como se vecirc no excerto abaixo

Porque estas chamando essas coisas ainda quedessemelhantes diremos noacutes com outro nome pois dizesserem boas todas as coisas prazerosas Ora certamentenenhum argumento pode contestar tal afirmacatildeo dizendo queas coisas prazerosas natildeo satildeo prazerosas mas dizendo que amaioria delas eacute ruim e umas boas15 como noacutes afirmamos16

A naturalidade desse tema que subsumi o senso comum deque ser feliz de alguma forma eacute se entregar aos prazeres torna-osempre atual e relevante e confronta-nos com os seguintesquestionamentos todo prazer implica necessariamente em umbem Como o prazer participa do Bem em si mesmo Ou comoalguns defendem uma vida baseada soacute na reflexatildeo natildeo seria maisproveitosa aos homens Tais questotildees satildeo o motor propulsor quefazem mover o dialogo

Na Antiguidade o tema do Filebo a saber o prazer e suasinjuncotildees eacuteticas e metafisicas foi objeto de multiplos comentariosde Aristoacuteteles ateacute os ultimos neoplatocircnicos17 As escolas deinterpretacatildeo sempre alternaram entre dois campos deinterpretacatildeo Eacutetico ou Metafisico (escola de Jacircmbico) Ocomentario mais completo que chegou ateacute noacutes da Antiguidade foio de Damascio18 ndash Comentaacuterio ao Filebo de Platatildeo ndash o qual ja ilustracerta polecircmica antiga acerca do tema

Alguns dizem que o escopo do Filebo eacute o prazer como osubtitulo demonstra e tambeacutem o proacuteprio Soacutecratesprimeiramente ao se propor discutir sobre o prazer (11b4-

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c3) e depois a examinar as coisas a esse respeito efinalmente por concluir o seguinte que o prazer natildeo eacute afinalidade (teacutelos) da vida[]Ainda na opiniatildeo de Pisiteo o aluno de Theodoro de Asino odialogo eacute sobre a Inteligecircncia como dizem tambeacutem que oParmecircnides eacute sobre o Bem Isso porque na discussatildeo da vidamista (na qual inteligecircncia e prazer estatildeo misturados) aInteligecircncia ela mesma eacute o primeiro (elemento) na mistura(1959 p 2) (Traducatildeo nossa)

Nesse passo Damascio faz uma espeacutecie de revisatildeohistoacuterica das interpretacotildees correntes dos neoplatocircnicos sobre atematica do Filebo partindo do ponto de vista tradicional de Procloe destacando a discordacircncia entre os seus comentadores Valeressaltar o fato de nenhum dos comentadores da Antiguidadedizerem que o dialogo eacute sobre a vida mista A interpretacatildeo queDamascio dara ao tema do prazer sera considerada uma leituramais aristoteacutelica diversa de seus predecessores preocupadossomente em interpretar a doutrina de Platatildeo e que soacute recorrem aAristoacuteteles para acrescentar um elemento a mais o prazer natildeo eacute soacuteo preenchimento de uma falta mas o resultado suplementar deuma atividade

Ao comentar sobre as diversas interpretacotildees a respeito dotema numa perspectiva historiografica Dorothea Frede19 diz que amaior parte dos comentadores dirigiu a sua atencatildeo para um unicoaspecto seja ao discutir a passagem sobre metodologia e ontologiaseja se limitando agrave discussatildeo do prazer sem dar valor ao conjuntodo dialogo Sendo assim pode-se constatar que natildeo haviaconsenso interpretativo em relacatildeo ao tema na Antiguidade e nemtampouco na contemporaneidade

Retornando ao dialogo Soacutecrates do inicio apresenta asduas teses ou concepcotildees da existecircncia humana ja discutidasanteriormente que o prazer e seus congecircneres implicam em umavida boafeliz e a outra que diz que a vida de reflexatildeo e seuscongecircneres satildeo responsaveis por isso Tais argumentacotildees iratildeo sedesenvolver no sentido de determinar qual dos dois tipos deexistecircncia estaria mais aparentado ao Bem sendo que um terceiro

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tipo de vida possivelmente superior eacute assinalado desde o principioPode-se dizer portanto que a questatildeo teoacuterica central gira emtorno da articulacatildeo entre uma questatildeo eacutetica ndash no que consiste avida boafeliz ndash e de uma ontoloacutegica ndash como a vida boafeliz estarelacionada com o Bem

O BEM COMO PONTO DE PARTIDA DA DISCUSSAtildeO

Logo na primeira secatildeo do dialogo em uma tentativa deestabelecer as condicotildees de um dialogo positivo que assegure aconcordacircncia dos interlocutores em engajar-se numa discussatildeohonesta do ponto de vista intelectual Soacutecrates inicia da seguinteforma

SoacutecratesOlha soacute Protarco que discurso tu estas (disposto) a aceitaragora o de Filebo ou frente ao nosso discurso refuta-lo casote natildeo seja exposto segundo o que eacute inteligivel Queres querecapitulemos cada um deles

ProtarcoCertamente que sim

SoacutecratesPois bem sobre isso Filebo afirma ser bom (agathoacuten) paratodos os viventes o regozijar-se o prazer e o gozo aleacutem dascoisas que estatildeo em consonacircncia com esse gecircnero poreacutem denossa parte a refutacatildeo eacute que natildeo satildeo essas coisas mas sim opensar e a percepcatildeo inteligivel bem como o recordar e aindaas coisas desse mesmo gecircnero como a opiniatildeo exata e osraciocinios verdadeiros as quais satildeo superiores e maisdesejaveis do que o prazer para todos quantos satildeo capazesdelas participar e tambeacutem satildeo elas as mais uteis para todosaqueles que satildeo e viratildeo a ser capazes de usufrui-las Natildeo eacuteassim natildeo como cada um de noacutes afirma Filebo (Traducatildeonossa)

O uso do termo agathoacuten em todo o dialogo eacute ambiguo poistanto pode ser entendido como o adjetivo bom como eacute entendidonesse excerto acima ou compreendido como se vera adiante pela

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ideia do Bem A ocorrecircncia dessa ideia no corpus platocircnicocostuma aparecer substantivada pelo artigo e ou em formacontraida tagathoacuten quando se refere ao Bem20 Portanto a palavracomo usada nesse excerto acima gera uma ambiguidade pois podesignificar tanto que o prazer eacute bom ou seja eacute uma espeacutecie de bem(que participa do Bem) ou eacute o Bem em si mesmo se assumirmosque mesmo sem o artigo a palavra possa significar o Bem

Ao observar-se todos os usos dessa palavra em seuscontextos especificos no dialogo constatamos que tal ambiguidadeeacute deliberada quase metade dos exemplos aparecem com artigo e aoutra metade sem o artigo Assim sendo Platatildeo sustenta essaambiguidade ateacute o fim de alguma maneira para paulatinamenteultrapassa-la valendo-se do meacutetodo dialeacutetico da divisatildeo natentativa de definir o Bem de maneira mais precisa e identifica-locom a vida boafeliz

Em contraposicatildeo a tese de Filebo o personagem Socratessustenta neste mesmo passo que as atividades do intelecto satildeoqualitativamente superiores Isto fica evidente ao usar adjetivos nograu comparativo de superioridade por meio dos quais ele procuraidentificar a vida de reflexatildeo como algo em si mesmo superiormais desejavel e mais util e por isso mais aparentada ao Bem Orefletir e seus congecircneres satildeo comparativamente melhores do queo regozijar-se e seus congecircneres demonstrando claramente que eleesta considerando esses ultimos como sendo um bem relativo Naverdade Soacutecrates introduz a pressuposicatildeo de que se a vida dereflexatildeo eacute melhor talvez seja porque haja prazeres bons e outrospiores

Nesse ponto do dialogo nem o personagem Soacutecrates nemFileboProtarco estatildeo preocupados em definir a questatildeo mas emestabelecer as bases de um campo comum de discussatildeo paraconduzi-la no sentido de responder ao longo do dialogo quais satildeoas exatas relacotildees entre o prazer a vida fundada na reflexatildeo e oBem Concordo com a leitura precisa de Delcomminette sobre oescopo do dialogo ldquoTodo o dialogo pode ser lido como umatentativa de descobrir a relacatildeo correta entre o prazer e o bem e defundamenta-la dialeticamenterdquo21

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O prazer tem um mesmo nome mas eacute multiplo o conhecimentotem um mesmo nome e igualmente eacute multiplo O nome soacute podeser visto como um se for entendido como conceito mas ateacuteaquele momento o que eacute um conceito para noacutes ainda natildeo haviasido definido pelos gregos como categoria de pensamento22 Sendoassim se estabelece a necessidade de argumentar sobre assemelhancas e as dessemelhancas entre os prazeres a partir dasquais se possa considera-los como o mesmo e da mesma formaproceder com as coisas referentes agrave reflexatildeo

Na intencatildeo de buscar um ponto de partida comum para odesenvolvimento desse caminho de pensamento o personagemSoacutecrates recrimina a interpretacatildeo ingecircnua de Protarco sobre oproblema do Uno e do Multiplo

SoacutecratesFalo do que aconteceu um pouco antes do que pela proacuteprianatureza surgiu como algo extraordinario pois de fato eacutesurpreendente a afirmacatildeo de que ldquoo multiplo eacute unordquo quantoa afirmacatildeo de que ldquoo uno eacute multiplordquo e qualquer umadessas duas seria facilmente contestada se proposta dessemodo

ProtarcoEntatildeo sera que estas querendo dizer quando algueacutem sereferir a mim Protarco nascido como unico por natureza sereu ao inveacutes disso muitos e contrarios tanto a mim mesmoquanto uns aos outros por admitir o grande e o pequeno opesado e o leve o mesmo e tambeacutem incontaveis outros

SoacutecratesTu Protarco estas afirmando o que se estabeleceupublicamente das admiraveis discussotildees a respeito do um e domultiplo e que foi admitido por assim dizer ja por todosNatildeo se deve no entanto acolher de imediato dentre taiscoisas o pueril o facil ou ainda o que possa vir a se tornarum grande obstaculo para o discurso aprovando-os poisnem mesmo quando depois de ter dividido os membros esimultaneamente as partes do discurso e de ter concordadoque todas essas coisas eram aquele um ainda assim algueacutempoderia refutar de modo zombeteiro que foi obrigado a dizer

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um prodigio o um como multiplo eacute tambeacutem ilimitado e omultiplo como um eacute unico (traducatildeo proacutepria)

A aporia da afirmacatildeo de Protarco fica ainda mais claraadiante no dialogo quando Soacutecrates relaciona o Uno e o Multiplocom duas categorias de pensamento o limite e o ilimitado comoalgo poderia ter limite e ser ilimitado ao mesmo tempo Aleacutem domais o que Protarco natildeo se da conta eacute de que Soacutecrates querinvestigar o Uno e o Multiplo nas Formas as quais natildeo se devemaplicar predicados de qualidades sensiveis O personagem Soacutecratesresponde assim a pergunta de Protarco sobre qual seria a outraversatildeo natildeo banalizada desse argumento ldquoeacute quando filho algueacutemcoloca o um mas natildeo aquele do qual agora ha pouco falamos dascoisas que vecircm a ser e perecemrdquo (15 a tocircn gignomeacutenon ndash das coisasadvenientes)

Fica evidente entatildeo o erro de Protarco ao confundir aunidade empirica com a unidade formal a Forma ou a Ideia Aabordagem socratica seria pode-se dizer ontoloacutegica enquanto ade Protarco empirica por isso Soacutecrates precisa primeiro conduzirProtarco a esse denominador comum da discussatildeo (movimentoclaramente expresso no verbo synkhoreacuteo ndash reunir no mesmo siacutetioderivado composto de khoacutera territoacuterio regiatildeo lugar) para entatildeoproceder ao meacutetodo dialeacutetico da divisatildeo

Platatildeo ja havia estabelecido desde os dialogos damaturidade que a unidade genuina ou originaria era uma Forma ouIdeia (eicircdos ideacutea) a unica originariamente una e que dentre estas aforma suprema ou final na hierarquia seria o Bem Amultiplicidade por sua vez estaria associada aos particularessensiveis - exemplificacotildees desses originarios que satildeo as formas - eque estatildeo para o adveniente assim como as ideias estatildeo para o SerComo conciliar portanto os conceitos de um Uno-supremo comum Uno-Multiplo relacional uma vez que todas as realidadesparecem ser unas e multiplas simultaneamente Para Platatildeo soacute aaplicacatildeo do meacutetodo dialeacutetico esse caminho lsquopresente dos deusesrsquopode desfazer essa primeira aporia que o multiplo seja uno e ouno seja multiplo

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Ainda ao concluir a secatildeo 15 a ele afirma ldquoeacute sobre essashecircnades23 e sobre coisas desse tipo que muito empenho gera arefutacatildeo ou controveacutersia pelo meacutetodo da divisatildeordquo (traducatildeoproacutepria)24 Essa afirmacatildeo soa como uma espeacutecie de observacatildeoautocritica muito zelo com o meacutetodo da divisatildeo em se tratando dehecircnades eacute perigoso por causa da sua proacutepria natureza una Natildeo eacuteuma critica necessariamente ao meacutetodo da divisatildeo fundamental nadialeacutetica platocircnica mas uma constatacatildeo da dificuldade deapresentar essas hecircnades discursivamente por causa da sua proacuteprianatureza paradoxal

Pode-se dizer sobretudo que o foco teoreacutetico de Soacutecrateseacute entender o fundamento dessas hecircnades ndash as formas unas em simesmas ndash que ele exemplifica como o homem como um o boicomo um o belo como um o bem como u m (esses dois ultimosexemplos canocircnicos da teoria das Formas) Por causa dessaafirmacatildeo de Soacutecrates muitos inteacuterpretes viram na teoria platocircnicada realidade natildeo uma ontologia mas uma henologia na qual o uno eacutea origem do real e o conceito de ser deriva dele25

Concluindo procurei mostrar nesse artigo em linhas geraise amplas a habilidade surpreendente de Platatildeo por meio dapersonagem Soacutecrates em desenvolver uma argumentacatildeo sobretemas tatildeo complexos mostrando e aplicando cuidadosamente omeacutetodo dialeacutetico para o filoacutesofo o modo supremo de apreensatildeodo real com vistas a resolver um problema que de longe eacute simpleso Bem eacute em Platatildeo o fundamento ontoloacutegico de uma vida felizComo se pode definir o Bem em termos de uma vida mista deprazeres e conhecimentos

Retomando a nocatildeo de escopo dos antigos exegetasneoplatocircnicos26 poder-se-ia dizer que o tema principal do Filebo eacuteo Bem mas o propoacutesito do dialogo eacute definir como a vida mistapode ser esse Bem

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O Filebo prazer e intelecto em confronto | Simone de O Goncalves Bondarczuk

ABSTRACT

Philebus Face-off of Pleasure and Intellect

The dialogue Philebus for a long time was dropped by thetradition of Platonic studies and is considered a complex dialoguedue to an alleged lack of thematic unity In the last thirty years theinterest in it revived with strength and its relevance to a broaderunderstanding of the theoretical thinking of Plato was finallyrecognized This article aims to introduce the reader on the coreissues of the dialogue namely What constitutes a good life wouldit be a life dedicated to pleasure or dedicated to understanding Orit would be a mixture between these two lives And which of thethree conceptions of life are closer to the Good

KEYWORDS

Philebus Socratic dialogue Pleasure Intellect the Good

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O Filebo prazer e intelecto em confronto | Simone de O Goncalves Bondarczuk

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PLATOacuteN Filebo Introduccioacuten traduccioacuten y notas de Marcelo Boeri BuenosAires Losada 2010

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1 Deixo de lado a questatildeo de quem teriam sido os primeiros receptores dosdialogos de Platatildeo que natildeo eacute relevante para os objetivos deste artigo Asuposicatildeo mais imediata nos indica seus discipulos membros da Academia Osdialogos teriam sido como hypomnemata que auxiliavam na discussatildeo mas muitosos consideram principalmente dirigidos aos adversarios intelectuais do mestreos sofistas e os reacutetores e ainda pode-se supor que tenham sido escritos comolegado agrave posteridade Dado a situacatildeo de analfabetismo da eacutepoca dificilmenteeles visavam um publico leigo e natildeo aristocratico 2 Soacute para citar algumas propostas diferentes Diegraves (1949) Boeri (2010)Friedlaumlnder (2014)3 GADAMER 2009 p 1034 Constata-se isso na insistecircncia de Soacutecrates desde o inicio de buscar entrar emacordo com o seu interlocutor sobre o tema que discutiratildeo e de como devemtrata-lo A concepcatildeo da dialeacutetica como uma busca compartilhada eacutedesenvolvida com maestria no Filebo5 GILL 2010 p 47-556 Cf Banquete 204 b-c 206 c-e7 HACKFORTH 1972 p 18 Idem ibidem p 49 ldquoSocrates and his interlocutours discuss the good for man as individual not amember of a community this is surprising in the author of Republic Statesmanand Laws and may be taken to reflect a deliberate detachment from politicalspeculation such as better fits the years 360-354 than any other period in Platorsquoslast two decadesrdquo (1972 p 4)10 BOERI 2010 p 911 PLATAtildeO 2011 p 140 12 BRAVO 2009 p 16813 Sem sombra de duvida o comentarista que definitivamente conseguiudemonstrar isso foi Sylvain Delcomminette em sua obra magistral Le Philegravebe dePlaton Introduction agrave lrsquoagathologie platonicienne14 Filebo 52 a-b15 κακὰ δ ὄντα αὐτῶν τὰ πολλὰ καὶ ἀγαθὰ δέ ὡς ἡμεῖς φαμέν (Filebo 14b)16 Filebo 13b17 Plotino faz varias referecircncias ao dialogo no Livro III 588 IV 3634 VI7252tambeacutem Porfirio seu mestre comenta algumas linhas do dialogo em seusComentaacuterios ao Timeu de Platatildeo fr 5170-3 e ainda Alexandro de Afrodisia emComentaacuterio ao livro VIII dos Toacutepicos de Aristoacuteteles onde cita e interpreta de modoaristoteacutelico a passagem de Filebo 12d Ademais sabe-se da existecircncia de umcomentario perdido de Proclo ao Filebo e um comentario de Jacircmbico cuja unicafonte eacute o proacuteprio comentario de Damascio sobre esse dialogo18 Nasceu em Damasco na provincia romana da Siria lugar de onde provem oseu nome (o nome original eacute desconhecido) Foi filoacutesofo da escola neoplatocircnicaateniense (458 dC ndash apoacutes 538) conhecido como o ultimo dos neoplatocircnicospor ter sido o ultimo escolarca da Escola de Atenas antes do seu fechamentopelo imperador Justiniano em 529 dC Duas obras satildeo atribuidas a ele acerca doFilebo Tratado dos Primeiros Princiacutepios e Comentaacuterios ao Filebo de Platatildeo (textosestabelecidos por LG Westernik e natildeo traduzidos para o portuguecircs)

19 FREDE 2013 p 50220 Natildeo eacute inquestionavel que para Platatildeo o substantivo e o adjetivo fossem entendidos como um ente e seu predicado pois ambos satildeo denominados de oacutenoma e portanto vistos como entes 21 ldquoTout le dialogue peut ecirctre vu comme une tentative de deacutecouvrir larelation correcte entre le plaisir et le bien et de fonder dialectiquementerdquo(DELCOMMINETTE 2006 p 31)

22 Os especialistas natildeo estatildeo de acordo ainda se teria sido Platatildeo ou Soacutecrates ocriador do conceito23 Natildeo eacute facil determinar o sentido exato desta palavra usada uma unica vez porPlatatildeo nesse contexto portanto um haacutepax legoacutemena sem ocorrecircncia em outrosdialogos Talvez Platatildeo se refira a formas unas de aspecto uno se supormosuma etimologia a partir da juncatildeo de heacutena (neutro plural de heacuten) unidades e a raizeid- de eicircdos forma aparecircncia aspecto ou seja o que tem um aspecto uacutenicouno

24 περὶ τούτων τῶν ἑνάδων καὶ τῶν τοιούτων ἡ πολλὴ σπουδὴ μετὰ διαιρέσεωςἀμφισβήτησις γίγνεται (Filebo 15a 6-7)25 Sobre esse assunto cf BRAVO 2009 p 17026 ALEKNIENEgrave 2017 p 1

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Aedoacuten performance poeacutetica de lasvictimasGraciela C Zecchin de Fasano

RESUMEN

La figura del ruisentildeor atestiguada por primera vez en el canto 19de Odisea (v 518-523) aparece tambieacuten en la fabula contenida enTrabajos y diacuteas (v 202-212) de Hesiodo y en la comedia Aves deAristoacutefanes El presente articulo analiza con metodologiacomparativa la peculiar representacioacuten de la victima de algun tipode violencia en los textos citados y queacute interpretacioacuten se puedederivar en cada contexto discursivo especifico

PALABRAS CLAVE

Aedoacuten Homero Hesiodo Aristoacutefanes

SUBMISSAtildeO 29 dez 2017 | PUBLICACcedilAtildeO 31 dez 2017

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unque los poemas homeacutericos expresan regularmentela ideologia masculina de la gloria las aristassocialmente excluidas pueden ser presentadasconforme a las posibilidades expresivas del arteinsertas en medio de los toacutepicos tradicionalmenteconstitutivos Tal como sucede con la representacioacutende las victimas femeninas para las cuales la conversioacutenen aves permite con la imagineria del canto dar vozespecial a los silenciados y particularmente a lasmujeres En el canto 19 de Odisea (v 518-523)Homero utiliza una versioacuten inusual del mito de laconversioacuten de una mujer en ruisentildeor En el texto laimagen del ave inaugura una presencia de la liricaasociada al lamento que ha tenido interesantes

consecuencias1 En primer lugar dentro del corpus de la literaturagriega misma el ruisentildeor homeacuterico resultoacute desplazado por lapresioacuten didactica de la fabula hesioacutedica y en segundo lugar luegofue significativamente reemplazado por la versioacuten mas politica ydifundida acerca del mito de Procne y Filomela en textos de lacomedia y la tragedia Analizareacute en queacute modo el ruisentildeor homeacutericoproblematiza nuestra comprensioacuten de la mimesis en eacutepica y enlirica y queacute consecuencias conlleva su estudio comparativo contextos posteriores como la conocida ldquofabula del ruisentildeor y elhalcoacutenrdquo en Trabajos y diacuteas de Hesiodo o en la sofisticada comediade Aristoacutefanes llamada Aves

UN RUISENtildeOR EN ODISEA UNA VERSIOacuteN DE LA LIacuteRICA FEMENINA

En el pasaje de Odisea mencionado (19 v 518-523)Peneacutelope se halla en una situacioacuten animica calamitosa devastadapor el llanto el insomnio o las pesadillas que se comunica comoun canto de lamento Presentada de este modo la pena dePeneacutelope desarrolla en medio de un discurso eacutepico una mimesis ouna ldquoperformancerdquo de la lirica La forma lirica especifica del cantode lamento no resulta vertida directamente sino a traveacutes de ladescripcioacuten de una variacioacuten foacutenica en que Peneacutelope se compara a

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A

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si misma con un ruisentildeor el ave tipica del lamento en las antiguastradiciones griegas Peneacutelope se imagina como una mujer-ave queen una vida anterior ha sufrido la extraordinaria pena de asesinar asu hijo

El mito de Aedoacuten palabra griega que significa ruisentildeornos ha llegado en dos versiones2 Por un lado la versioacuten canoacutenicamas expandida en la tradicioacuten posterior es la que trata acerca deProcne y Filomela o Aedoacuten y Calidoacuten proporcionada por latragedia Ovidio y la Biblioteca de Apolodoro Tereo el esposo deProcne viola a Filomela quien trata de revelar la verdad a suhermana tejiendo su propia historia en un tapiz Procne enojadaasesina a Itys el hijo que tiene con Tereo y le sirve sus carnes alpadre como comida Con esta accioacuten Tereo queda sin herederos yabsolutamente contaminado de culpa La progenie es cortadaabruptamente pero Procne que amaba a su hijo lo lamentaracantando su pena como un ave indefinidamente La primerainferencia obvia en este relato es que Procne a diferencia dePeneacutelope en el pasaje de Odisea esta usando su poder para dantildeardirectamente a su marido en una venganza concreta

Por otro lado una segunda versioacuten del mito la quecontiene Odisea se halla tambieacuten en un escolio de Eustacio aFereacutecides Segun esa versioacuten Aedoacuten esta casada con Zeto elfortificador de Tebas y tienen un unico hijo Itylos mientras elgemelo de Zeto Anfioacuten esta casado con Niobe y tienen varioshijos3 Aedoacuten celosa de esta multiple progenie intenta matar al hijomayor de Niobe y en la oscuridad por error asesina a su propiohijo En el escolio de Eustacio se dice que Aedoacuten ordenoacute a su hijodormir en otra habitacioacuten pero el joven no la obedecioacute o bienolvidoacute la orden materna

iquestPor queacute Odisea se sirve de la versioacuten tebana del mito delruisentildeor cuando se ha demostrado el vinculo estricto que elpoema guarda con los origenes de Atenas4 iquestPor queacute esta versioacutentebana no ha gozado de la tradicioacuten literaria que la versioacutenateniense de Procne y Filomela ha recibido

Los v 518-523 del canto 19 de Odisea constituyen laprimera parte de un simil con la estructura habitual en Homero es

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decir una comparacioacuten en dos partes introducida por unsubordinante rutinario ldquocomo cuandordquo (ὡς δ ὅτε) pero por suextensioacuten podria ser considerado un ejemplo mitoloacutegico Los dosmiembros del simil sirven para expresar cabalmente la divisioacutenemocional de Peneacutelope que enuncia el simil su thymoacutes partidoproductor del canto avizora una hipoacutetesis sobre el contenido de lalirica La escisioacuten del animo de Aedoacuten entre su hijo muerto y sumarido resulta equivalente de la divisioacuten del corazoacuten de Peneacutelopeentre la opcioacuten que su hijo Teleacutemaco le ofrece - abandonar la casay regresar a la casa paterna- o elegir esposo entre los aqueos

El texto ofrece un leacutexico significativo no soacutelo porqueconstruye un paisaje para el canto del ave sino tambieacuten porqueratifica la femineidad del ave a traveacutes del epiteto χλωρηῒς 5

ὡς δ᾿ ὅτε Πανδαρέου κούρη χλωρηῒς ἀηδώνκαλὸν ἀείδῃσιν ἔαρος νέον ἱσταμένοιοδενδρέων ἐν πετάλοισι καθεζομένη πυκινοῖσινἥ τε θαμὰ τρωπῶσα χέει πολυηχέα φωνήνπαῖδ᾿ ὀλοφυρομένη Ἴτυλον φίλον ὅν ποτε χαλκῷ

κτεῖνε δι᾿ ἀφραδίας κοῦρον Ζήθοιο ἄνακτος6

Como cuando la hija de Pandaacutereo Aedoacuten la defrondosa garganta canta hermosamente al comenzar laprimavera posada en el tupido follaje de los aacuterboles ydeja fluir su voz de variados sones que muda a cadamomento llorando a Itylos el hijo que tuvo del reyZeto al cual asesinoacute con el bronce por imprudencia []

En las interpretaciones del pasaje de Odisea hanpredominado las consideraciones sobre los celos de Aedoacuten enconsecuencia el texto revelaria cierta hostilidad de Peneacutelope conOdiseo (Tereo en este parangoacuten) y significaria que Peneacutelope quierepotencialmente asesinar a su hijo7 Cabe la posibilidad de un errorde interpretacioacuten de los escoliastas es decir que tomaran Aedoacutencomo nombre propio e instalaran esta nueva versioacuten aunque yanos resultan conocidas las variaciones homeacutericas en los nombresmiticos

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Anhalt ha sostenido que el personaje esta usando elparadigma de Clitemnestra y que sospecha de las acciones de suesposo durante su ausencia8 Levaniouk supone que la versioacutentebana revela mejor el estado animico turbulento de Peneacutelope ycomo el mito consiste en una confesioacuten ante Odiseo disfrazado demendigo el asesinato de Itylos ha sido interpretadoldquopsicoloacutegicamenterdquo por la mayor parte de la masa critica9

La insercioacuten de este relato confronta con todas lasnarrativas previas que Peneacutelope desarrolla sobre si misma y queversan acerca de su presente o su pasado inmediato Este pequentildeorelato en cambio instala personajes remotos con una conexioacutenpoco clara con el personaje que lo usa La pena de Peneacutelope y eltropo del ruisentildeor parecen conectarse con el vaiveacuten indeciso de latrama en la que Peneacutelope esta incluida Como precedente podemosconsiderar el pasaje del canto IX v 555-565 de Iliacuteada en que Feacutenixal narrar el mito de Meleagro sostiene que a Cleopatra la mujerdel heacuteroe sus padres la llamaban Alcioacuten porque la madre llorabapor ella como el ave ya que Apolo la habia raptado Esta imagense desarrolla intercalada con la referencia al enojo de Altea quesuplica la muerte de su hijo En sintesis el ave doliente expresa ensu agudo grito la pena y esa pena se transfiere a Altea quepeligrosamente y en un espejo deforme repite la trama de Iliacuteadasubyugando la vida de su hijo a un tizoacuten que se consume

En el texto de Odisea los multiples ecos del canto del aveenriquecen la imagen del vaiveacuten de Peneacutelope la indecisioacuten de sut r a m a πολυηχέα ldquode muchas resonancias o ecosrdquo debecomprenderse en este sentido La frecuencia e intensidad de suslamentos esta referida por una triple calificacioacuten en los versosprevios ἀδινὸν ldquovehementerdquo πυκυναί (v 516) πυκινοῖσιν (v 520)que se refieren a la angustia ldquointima ajustadardquo y θαμὰ (v521)ldquoreiterada muchas vecesrdquo Sin embargo el mito de Aedoacuten lafilicida no ofrece una conexioacuten obvia con la trama de Odisea espreciso decodificarla Por otra parte esta versioacuten tebana del mitoutilizada por Odisea no se conecta con ninguna otra versioacuten en laque los personajes sean simplemente intercambiados

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De la comparacioacuten entre las versiones tebana y ateniensesurge claramente que la agonia de Procne en la versioacuten ateniensederiva de que el hijo que ella ama es hijo del hombre que odiaNada de eso la pasa a Peneacutelope cuyo epiteto ἐχέφρων la definecomo ldquosensatardquo quien no enloquece sino que sopesa susdecisiones y sostengo por ello que la versioacuten tebana encajaperfectamente en Odisea Peneacutelope lamenta una peacuterdida vinculadaestrictamente a su lecho una pena de amor

Entre los multiples dilemas que Odisea presenta el dilemade Peneacutelope no es entre su esposo y su hijo sino coacutemo ejercer sucapacidad de calculo Un paso en falso puede hacerle perder todoIncluso la diosa Atenea configurada como Mentes le hacecomprender que para restablecer su poder Teleacutemaco deberiaasesinar a los pretendientes aun despueacutes de que Peneacutelope sehubiese casado Evidentemente la versioacuten tebana del mitopropone en Aedoacuten un personaje que trata de beneficiar a su hijoquien debe competir solo entre numerosos primos Con este mitoPeneacutelope manipula su situacioacuten y resulta evidente que el mitoproblematiza una cuestioacuten basica en la estructura del poderpolitico antiguo como lo es la continuidad del linaje La versioacutenateniense se concentra en este aspecto porque la esposa de Tereotrata de cortar el linaje de su esposo Muy distintas son lasintenciones de la mujer de Zeto el tebano ya que ella actua porquequiere promover e imponer su linaje por sobre sobre otros Enresumen la seleccioacuten de la versioacuten tebana colabora con la ideologiapolitica de Odisea que consiste en restaurar el linaje de Odiseo y enconservar la fortuna para Teleacutemaco En el lamento de Peneacutelope sehalla la pena por un posible nuevo matrimonio no deseado porella pero que Teleacutemaco o su padre Icario podrian promover Eseste posible nuevo matrimonio el nivel en que el simil del ruisentildeoraporta la idea de una violenta unioacuten no aceptada una veta deinterpretacioacuten mas proacutexima a la versioacuten ateniense y a lavictimizacioacuten de Filomela

La asociacioacuten de figuras femeninas con animales o insectostiene abundante registro en la eacutepica y en la poesia yambica griegasEn el caso de Peneacutelope ademas de esta conexioacuten con el ruisentildeor

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se debe recordar que su nombre sugiere que es una cerceta (untipo de cisne u oca) en consonancia con lo cual ella exige almendigo Odiseo en unos versos que siguen inmediatamente a loscitados que interprete un suentildeo sobre un grupo de gansos ndash lospretendientes- que se alimentan en la casa

Eliano ha propuesto en De natura animalia 5 38 unavariante para el v 521 del texto citado que consiste en reemplazarla palabra πολυηχέα que significa de variadas resonancias porπολυδευκέα de significado poco claro10 A pesar de ello enconjunto con τρωπῶσα cualquiera de estos adjetivos gesta laimagen del sonido que gira y repite una melodia

El cambio demostraria por un lado que la idea de mouvanceexpresada por Zumthor o la idea de variance sostenida porCerquiglini11 se aplican a este fragmento en el sentido de que estetexto poeacutetico no esta fijo sino que es tan moacutevil como el canto delruisentildeor y se actualiza en cada ejecucioacuten En segundo lugardefiniria la mimesis de la lirica que Peneacutelope realiza un texto moacutevilen sus elementos foacutenicos El fragmento ademas produce unainteresante aliteracioacuten en sonidos labiales y guturales para reflejarlos variados sones del ruisentildeor

El mito de Aedoacuten insiste en la tragica circunstancia de queItylos es hijo unico como lo son a su vez Teleacutemaco y Odiseo Lasituacioacuten de individuo aislado en la continuidad de la estirpeconfronta en el caso de Itylso en particular con los numerososhijos de Niobe su tia y en Odisea se replicaria en la situacioacuten deTeleacutemaco frente a los numerosos pretendientes de su madre

Como Aedoacuten Peneacutelope canta una melodia variablecambiando su voz llora y gime de noche hasta que Atenea leinsufla el suentildeo Volviendo a la idea de la lirica como texto enmovimiento el ruisentildeor que no duerme y varia su canto expandela imagen de la fluidez del tejido que Peneacutelope teje en el dia ydesteje por la noche El canto πολυδευκής del ruisentildeor si hacemoscaso de Eliano consiste en un lamento ininterrumpido contrario alcorte abrupto de la estirpe que la accioacuten de Aedoacuten concreta Lavariacioacuten del canto con sus giros es una extensioacuten foacutenica delldquotextordquo tejido por Peneacutelope

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EL RUISENtildeOR DE HESIacuteODO UNA LECTURA DEL PODERLa conexioacuten de Hesiodo con la tradicioacuten de la fabula

representada por Esopo ha sido convenientemente estudiada porHunter por supuesto partir de las lineas 202-212 de Trabajos y diacuteasen las que aparece el breve apoacutelogo sobre el ruisentildeor y el halcoacuten12

νῦν δ αἶνον βασιλεῦσιν ἐρέω φρονέουσι καὶ αὐτοῖςὧδ ἴρηξ προσέειπεν ἀηδόνα ποικιλόδειρον ὕψι μάλ ἐν νεφέεσσι φέρων ὀνύχεσσι μεμαρπώς ἣ δ ἐλεόν γναμπτοῖσι πεπαρμένη ἀμφ ὀνύχεσσι μύρετο τὴν ὅγ ἐπικρατέως πρὸς μῦθον ἔειπεν δαιμονίη τί λέληκας ἔχει νύ σε πολλὸν ἀρείων τῇ δ εἶς ᾗ σ ἂν ἐγώ περ ἄγω καὶ ἀοιδὸν ἐοῦσανδεῖπνον δ αἴ κ ἐθέλω ποιήσομαι ἠ ὲ μεθήσω ἄφρων δ ὅς κ ἐθέλῃ πρὸς κρείσσονας ἀντιφερίζειν νίκης τε στέρεται πρός τ αἴσχεσιν ἄλγεα πάσχειὣς ἔφατ ὠκυπέτης ἴρηξ τανυσίπτερος ὄρνις

Ahora contareacute una faacutebula a los reyes aunque sean sabiosAsiacute habloacute un halcoacuten a un ruisentildeor de variopinto cuello mientras lellevaba muy alto entre las nubes atrapado con sus garras Eacuteste gemiacutealastimosamente ensartado entre las corvas untildeas y aqueacutel en tono desuperioridad le dirigioacute estas palabras`iexclInfeliz iquestPor queacute chillas Ahorate tiene en su poder uno mucho maacutes poderoso Iraacutes a donde yo te lleve pormuy cantor que seas y me serviraacutes de comida si quiero o te dejareacute libreiexclLoco es el que quiere ponerse a la altura de los maacutes fuertes Se veprivado de la victoria y ademaacutes tiene que sufrir vejaciones es maltratado

Asiacute dijo el halcoacuten de raacutepido vuelo ave de amplias alas

Como comenta Vianello en estos diez versos estacontenido el primer apoacutelogo de la antiguumledad clasica al cualWillamowitz ha querido reducir injustamente a un simil eacutepico sinmoraleja13 Esta posicioacuten resulta insostenible excepto queextirpemos los v 210-211 como queria Aristarco aunque porsupuesto el hecho de que en un poeta bastante cercano en eltiempo como Arquiloco aparezcan tambieacuten los elementosdidacticos de este texto nos hace sospechar que ambos Aristarcoy Willamowitz erraron en su juicio

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La secuela didactica de este breve relato esta en los v 217-218 ldquola justicia vence a la violencia pero el candido aprendesufriendordquo(Δίκη δ ὑπὲρ Ὕ βριος ἴσχει ἐς τέλος ἐξελθοῦσα παθὼνδέ τε νήπιος ἔγνω) y la diferencia comparativa entre este texto y elmito de Odisea no se reduce a este mensaje En primer lugar elrelato no tiene la calificacioacuten de mito sino una calificacioacuten teacutecnicade su tipo discursivo ya que se trata de un αἶ νος un tipo de relatoen el que las consecuencias de los actos se exponen claramentebuscando un aprendizaje en el auditorio Y ese contenido estaexplicitamente expresado Sin mencionar que pasamos de ladoliente y femenina Peneacutelope al ruisentildeor que representa lavulnerabilidad del poeta de Trabajos y diacuteas frente a los poderosos

En esta fabula no figuran directamente los dioses ni losheacuteroes El narrador margina esos planos y concede discurso a lasaves El ruisentildeor gime lastimeramente mientras que el halcoacuten ogavilan (como se maneja en algunas traducciones) sentencia lainutilidad de ldquoponerse a la altura de los mas fuertesrdquo porqueademas de verse ldquoprivado de la victoriardquo debe sufrir vejacionesEn el contexto de los consejos agricolas que el poema desarrolla lafabula parece en primer teacutermino una transferencia de una ley delmundo natural al mundo social humano Es natural que los pajarosmas pequentildeos y menos fuertes que el halcoacuten le sirvan a eacuteste comoalimento Puede decirse que la funcioacuten nutricia es constitutiva de laphysis de los halcones y de los ruisentildeores o que en el vastoescenario del mundo estos desempentildean un papel que es adecuadoa su naturaleza

En segundo teacutermino en el contexto de la enunciacioacutenpoeacutetica Hesiodo en tanto que poeta es como el ruisentildeor es elcantor de dulce voz14 mientras que los guerreros y los reyes desdeluego son como el halcoacuten fuertes cazadores No me ocupareacute de larecepcioacuten de este texto en la fabula 47 de Esopo Soacutelo mencionareacuteque en ese texto el ruisentildeor debe esforzarse al maximo con sucanto para no ser devorado El halcoacuten esta tan concentrado enatacar a sus presas que a su vez es sometido por otro cazador unhombre En su moraleja Esopo se limita a plantear que todos losseres estan en guerra y quien tiene enemigos no debe descuidarse

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En el caso de Hesiodo podriamos considerar a suhermano Perses como el enemigo al acecho ya sea un dobledidactico o un dato de la realidad ya que el poeta lo invocadirectamente ὦ Πέρση σὺ δ ἄκουε δίκης μηδ ὕβριν ὄφελλεldquoPerses tu obedece a la justicia y no desees la soberbiardquo (v 213)Resulta claro que la situacioacuten de injusticia narrada coloca al poetaen la posicioacuten del ruisentildeor arrastrado por las garras cuya queja esdesoida y que se halla en total indefensioacuten El ruisentildeor extiende lasimple imagen del poeta a la situacioacuten de toda victima de los reyesdevoradores que describe Hesiodo Suponemos una amarga ironiaen la expresioacuten ldquoaunque sean sabiosrdquo (v 202) en el juegointelectual en que el poeta- puede chillar15 como el ruisentildeor yaunque el ruisentildeor no replica el poeta no obstante se atreve a darlecciones a los sabios Hay reyes que no atienden a la justicia comolos hombres de una edad degradada que no es ldquola edad de orordquosino la ldquode hierrordquo 16 Perses no es un rey pero Hesiodo dice queademas de ser codicioso y rapaz es perezoso y que su hermanocree que puede enriquecerse sin tener que trabajar y por si estofuera poco es prepotente y soberbio tal como un rey La soberbia(hybris) es una mala inclinacioacuten que podria esperarse de los reyespero aun para eacutestos no es recomendable fomentarla

La similitud planteada en la fabula entre el ambito animaly humano compone una confrontacioacuten agonal entre seres encompetencia En el mudo natural la resolucioacuten es cruel pero en elmundo humano el poeta aconseja no seguir por la via de ladiscordia y dedicarse a trabajar con honestidad De todas formasHesiodo se explaya en una prolija moraleja que puede querer decirvarias cosas por ejemplo que si los hombres no quieren ser comolos animales deben contrapesar el ciego ejercicio del poder con lajusticia Hesiodo parece sostener que los humanos han inventadoalgo mejor que la simple voluntad de poder parece querer decir lavirtud la rectitud el ejercicio de la justicia Soacutelo asi tendran algunaoportunidad de alejar su destino del de los animales ldquopues esta leyimpuso a los hombres el Cronioacuten a los peces fieras y avesvoladoras comerse los unos a los otros ya que no existe justicia

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entre ellosrdquo (v 276-277) Tampoco puede olvidarse que en estetexto el ruisentildeor es femenino y el halcoacuten masculino

El cambio de geacutenero discursivo de un mito a un αἶνος ofabula de la representacioacuten femenina de la pena a la situacioacutenlimite del oprimido por los poderosos convierte el ruisentildeor deHesiodo en un instrumento eficientisimo de su preocupacioacutenmoral y su admonicioacuten politica Nada como la imagen del deacutebil enlas garras de otro

CORTAR LA LENGUA LA VERSIOacuteN ATENIENSE EN AVES DE

ARISTOacuteFANES

Aunque su representacioacuten en las fiestas dionisias del antildeo414 aC soacutelo le concedioacute el segundo puesto la comedia Aves deAristoacutefanes ha sido considerada recurrentemente la mas poeacutetica ysofisticada entre las conservadas En ella dos ancianos ateniensesEueacutelpides (la buena esperanza) y Pisteteros (el compantildeeropersuasivo) han abandonado Atenas para evitar la politica y lostribunales de justicia y estan buscando a Tereo un ave que ha sidoser humano en el pasado y tiene conexiones con los ateniensesPisteteros concibe la idea de fundar una ciudad en las nubes parainterceptar los sacrificios a los dioses y de este modo podersometerlos Persuade al hostil coro de aves de gobernarnuevamente el universo En la segunda parte de la obra la ciudadde las nubes y los cucus Nefelococcigia es fundada y llegan unaserie de visitantes Iris un parricida un poeta un delatorPrometeo que ha sido rebelde contra los dioses FinalmentePisteteros debe solicitar casarse con Basileia la soberania La obratermina con una procesioacuten del triunfo real de Pisteteros y proponeal mismo tiempo un utoacutepico escape de la realidad como reaccioacuten aciertos fracasos militares de los atenienses17 la presentacioacuten de lamegalomania tiranica o una iroacutenica distopia etc En este contextoun breve episodio lirico presenta al ruisentildeor En la versioacutenateniense del mito Tereo rey de Tracia auxilia a Pandioacuten rey deAtenas contra el tebano Labdaco De ello se deriva el matrimoniode Tereo con Procne y los episodios que ya comentamos sobre el

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asesinato de Itys y la conversioacuten de Procne en ruisentildeor la deFilomela en golondrina y la del mismo Tereo en abubilla

En la clasificacioacuten aristoteacutelica de geacuteneros discursivos lacomedia careceria de mito Sin embargo Aves curiosamentepropone la degradacioacuten de varios mitos En primer lugar del mitofundacional ya que parodia la cosmogonia y teogonia hesioacutedicasde un modo muy original para proponer burlonamente unacosmogonia literal a partir de un huevo de ave y la transformacioacutenen aves de todos los personajes es decir de todos los ciudadanosde Atenas Probablemente Aristoacutefanes dispuso de la tragedia deSoacutefocles llamada Tereo de la que suponemos realiza la parodiaaunque lamentablemente soacutelo nos queda al parecer una sintesis enel papiro de Oxy 3013 Como ya sentildealoacute Aristoacuteteles en Poeacutetica 1453ordf36-39 aquellos a quienes el mito convierte en enemigos resultan enla subversioacuten coacutemica los mejores amigos18 Es el caso de Tereo laabubilla y de Procne el ruisentildeor que son en la obra una parejafeliz mientras la infausta Filomela no aparece aunque Procneentona su permanente lamento por Itys

La versioacuten ateniense del mito elegida por Aristoacutefanesrepresenta por un lado el desastroso presente de Atenasinterpretado por los dos viejos cuyo delirio senil produce la mejorinvencioacuten de la obra Por otro lado como se le adjudica a Tereo elhecho de haber ensentildeado el lenguaje articulado a las aves hay unafranca contradiccioacuten entre seccionar la lengua de Filomela yconceder habla humana a las aves La interpretacioacuten politica esllana Tereo concede la palabra y tambieacuten la inhibe iquestQueacute haydetras de esta eleccioacuten de Aristoacutefanes iquestPor queacute elegir al culpablemitico de dos delitos la violacioacuten y el silenciamiento de la victimaLa inversioacuten propia de la comedia provoca una presentacioacuten dellado oscuro del mito como si se tratase de un episodio inocuo Noresulta menos cierto que en esta comedia sobre el poderAristoacutefanes conservoacute la idea griega del poder masculino y laconvocatoria al nuevo poder de las aves la realiza tambieacuten Tereocomo ave masculina

Veamos coacutemo convoca Tereo al ruisentildeor entre los v 209-22119

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Ἔ ποψἄγε σύννομέ μοι παῦσαι μὲν ὕπνου λῦσον δὲ νόμους ἱερῶν ὕμνωνοὓς διὰ θείου στόματος θρηνεῖς τὸν ἐμὸν καὶ σὸν πολύδακρυν Ἴτυν ἐλελιζομένης δ ἱεροῖς μέλεσιν γένυος ξουθῆς καθαρὰ χωρεῖ διὰ φυλλοκόμου μίλακος ἠχὼ πρὸς Διὸς ἕδρας ἵν ὁ χρυσοκόμας Φοῖβος ἀκούων τοῖς σοῖς ἐλέγοις ἀντιψάλλων ἐλεφαντόδετον φόρμιγγα θεῶ ν ἵστησι χορούς διὰ δ ἀθανάτων στομάτων χωρεῖ ξύμφωνος ὁμοῦ θεία μακάρων ὀλολυγή

( αὐλεῖ)

Vamos compantildeera miacutea pon fin a tu suentildeo vierte a torrentes los acordesde los himnos sagrados con los cuales desde tus divinos labios lamentas anuestro hijo el triste Itys produciendo un murmullo con las liacutempidasnotas de tu vibrante garganta A traveacutes del espeso follaje del bosque tupuro sonido llega al trono de Zeus y en respuesta el dios de cabellos deoro Febo contesta con los acordes de su lira de marfil a tus penososacentos El preside los coros de los dioses y desde los labios de losinmortales la armoniosa voz del estribillo de los bienaventurados se elevaal uniacutesono

La amorosa invitacioacuten no produce el ingreso de Procnehasta el v 665 En esa escena el personaje silente sale ataviado conexcesivos adornos dorados como comentan los ancianos que laobservan como mujer y no como ave A tal punto que Eueacutelpidesintenta besarla por la fuerza en una mimesis risuentildea e invertida dela secuencia mitica de la violacioacuten La escena sirve de introduccioacutena la parte estructural de la comedia llamada parabasis en la que elcoro canta directamente al publico En ese momento TereoEueacutelpides y Pisteteros abandonan la escena para que el coro puedaexponer la famosa cosmogonia y teogonia que la comediapresenta

La invitacioacuten de Tereo representa el momento de laseduccioacuten no obstante Tereo sigue siendo el que secciona

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lenguas20 En el final de la comedia cuando el coro dice ldquoen toda elAtica la lengua se corta aparterdquo (πανταχοῦ τῆς Ἀττικῆς ἡ γλῶτταχωρὶς τέμνεται 1705) comprendemos que esta comedia no soacutelo hapresentado un mito ha buscado el mito que politicamenterepresente a los atenienses silenciados de este modo tanto Tereocomo Pisteteros representan el poder omnimodo

Desde que Odisea planteoacute los problemas comunicativos delCiclope que habla a su carnero la cuestioacuten del lenguaje y lacivilizacioacuten ha aparecido con recurrencia en los textos En el casod e Aves la ruisentildeora Procne termina por representarfemeninamente a esa ciudad de Atenas que seducida por Tereo oconducida por Pistetero queda al final sin habla En la comediatodo es movimiento y transformacioacuten de humanos en aves deaves que hablan como humanos para enfocar que uno de losaspectos criticos de la distribucioacuten de poder en la poacutelis es lacomunicacioacuten

No es casual que en una pieza en la que se recrea el mitode Tereo el Coro cierre la obra con la mencioacuten de una estirpe deἘ γγλωττογαστόρων γένος ldquocomedores de lenguasrdquo (v 1696-7)Aves asegura el valor de la palabra

A MODO DE CONCLUSIOacuteN COMPARATIVA

iquestPor queacute reaparece un ruisentildeor No he tratado aqui deanalizar similitudes ni diferencias sino de comprender desde queacutepunto de vista el ruisentildeor una voz femenina en la literatura griegaimpone una ejecucioacuten o reflexioacuten acerca de la mimesis orepresentacioacuten particular de las victimas La imposibilidad decomunicar la pena de amor impone una performance comovehiculo en consecuencia Peneacutelope necesitoacute recurrir al lamentoininterrumpido y a las variaciones de voz del ruisentildeor La pena queno se puede decir puede convertirse en son

En Odisea los adjetivos que califican el canto del ruisentildeorson responsables de proponer una representacioacuten lirica en eldiscurso eacutepico En Hesiodo la moraleja no llega a acallar el sonidodel ruisentildeor que chilla en una exacta mimesis del poeta

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manipulado por los poderosos vulnerable como el femeninoruisentildeor Aristoacutefanes entrevioacute con claridad coacutemo proponer el mitodel que cercena la lengua de la ciudad para ensayar la utopia deanimales que pueden ser silenciados o comunicar en su lamentomas que los humanos En cada uno de estos textos cuando ellenguaje resulta imposible el canto del ave resulta un alertainteligible

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ABSTRACT

Aedon Poetic Performance of the Victims

The figure of the nightingale is present for first time in the19 book of Odyssey (v 518-523) later in the fable contained inWorks and Days (v 202-212) by Hesiod and in the comedy Birds byAristophanes The present article analyzes with comparativemethodology the peculiar representation of the victim of sometype of violence in the mentioned texts and what interpretationcan be derived in each specific discursive context

KEYWORDS

Aedon Homer Hesiod Aristophanes

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1 Cfr NAGY 1996 p 7-82 Segun STANFORD 19672 p 336 el texto constituye la primera aparicioacuten poeacuteticadel ruisentildeor el pasaje es el unico lugar en que el canto se diferencia de los gritosy contiene un error de historia natural ya que la hembra del ave no canta Seconsidera que el relato mas estandarizado se deriva de la pieza Tereo de Soacutefocles(cuya hipoacutetesis estaria contenida en POxy 423013) Contamos con el relatocontenido en La Biblioteca de Apolodoro (3148) Metamorfosis de Ovidio 6427ndash674 y con testimonios en otros textos como Agamenoacuten (1140ndash1145) y Suplicantes(60-68) de Esquilo Electra de Soacutefocles (147ndash149) Heracles de Euripides (1020)Aves de Aristoacutefanes (200ndash210) Tambieacuten hallamos testimonios en la prosa deTucidides 2293 en la Oracioacuten fuacutenebre de Demoacutestenes 28 en Pausanias 1541243 1418 1049 e incluso en Estraboacuten 9313 Aedoacuten y Calidoacuten se hallanrepresentadas en una metopa en el templo de Apolo en Thermos3 En Iliacuteada XXIV 599 la referencia a Niobe y a sus numerosos hijos se parangonacon la situacioacuten de Heacutecuba y con el hecho de haber sufrido tambieacuten unametamorfosis que eterniza su pena fue convertida en una piedra que ldquollorabardquopermanentemente4 Sobre los vinculos de Odisea con la disputa entre Atenea y Poseidoacuten por elpatronazgo de Atenas veacutease COOK 1995 p 129-1305 χλωρηῒς implica verdura o frescor STANFORD 19672 p 336 se inclina por latraduccioacuten verde amarillento ldquoreferring either to the fact that the bird hauntsthe greenery of the woodhelliprdquo Se puede interpretar como representacioacuten delcolor del ave de sus sonidos frescos o juveniles o de su habito de cantar entre elfollaje NAGY 1996 p 37-38 sentildeala que opta por traducir ldquoen la verdurardquo porasociacioacuten con el uso de khlōrauacutekhēn (χλωραύχην) que suele traducirse como deldquoverde gargantardquo y se utiliza como epiteto del ruisentildeor en Simoacutenides PMG 5862(ἀηδόνες χλωραύχενες) Segun CHANTRAINE 1975 p 1285 la palabra serefiere a un verde claro o al verde del brote reciente de una planta pero tambieacutenalude a las caracteristicas de la voz del ave RUSSO1992 p 100 en cambiosostiene que la palabra tiene un valor de gentilicio expresaria lo mismo queCriseida en relacioacuten con Crises y deberia comprenderse como Aedoacuten ldquola delfollajerdquo 6 19 518-5237 Parece mas plausible considerar que hay un temor en Peneacutelope a causar lamuerte de su hijo a manos de los pretendientes Su temor esta bien fundadohubo un intento fallido durante el viaje de Teleacutemaco en los primeros cantosElla podria causar involuntariamente la muerte de su hijo y esa seria su ἀφραδίηldquoignorancia o locurardquo el hecho de no aceptar el matrimonio quecontextualizado con el mito de Aedoacuten evidentemente le repugna como unaviolacioacuten8 ANHALT 2002 p 1489 LEVANIOUK 2011 p 22810 Sobre esta variante veacutease NAGY 1996 p 38-39 VAN DER VALK 1949 p 8311 ldquoMouvancerdquo como ldquoincesante vibracioacutenrdquo es aplicado por ZUMTHOR 1987 p160-161 a los textos medievales que atestiguan diversas variantes y por lo tantotiene una forma inestable propia de una tradicioacuten oral CERQUIGLINI 1989 p111 prefiere la denominacioacuten de ldquovariancerdquo ya que considera que los textosmedievales son en si ldquovariacioacutenrdquo Sobre la discusioacuten de ambos conceptos veacuteaseNAGY 1996 p 9-1012 HUNTER 2014 p 226-249

13 Cf VIANELLO 1979 p CCXCVII ldquoEn efecto el simil en la poseia eacutepica carecesiempre de una moraleja como se da al contrario en nuestro caso (cf los v210-211 que Aristarco el filoacutelogo alejandrino suprimioacute como espurios segun eltestimonio de Proclo 1568)rdquo14 ποικιλόδειρον otro modo de referirse a la garganta o cuello del ruisentildeortambieacuten podria traducirse como ldquode voz coloridardquo15 La forma λέληκας proviene del verbo λάσκω que indica el ruido de las avestambieacuten un ruido crepitante o a veces el canto16 Cfr Hesiodo Erga v 106-20117 Una critica a la expedicioacuten a Sicilia18 Cfr SOMMERSTEIN 1987 p 202

19 La mimesis del canto de las aves que la obra impone causoacute algunosinconvenientes en la performance y en la composicioacuten Por ejemplo Tereo debesalir de escena para entonar su canto de llamada al ruisentildeor Las opiniones sondivergentes pero probablemente el actor que representaba a Tereo no disponiade la destreza vocal necesaria para cantar el efecto es que la flauta quereemplaza al canto del ruisentildeor cumple la funcioacuten de un threnos apo skeneacutes esdecir de un lamento cantado fuera de escena ya que el contenido del canto delruisentildeor es un lamento por el nintildeo muerto La mimesis del canto del averealizada por la flauta nos lleva nuevamente al problema de la mimesis liricaahora en el contexto del drama Cf SOMMERSTEIN 1987 p 21120 Cinesias el poeta ditirambico tambieacuten desea convertirse en ruisentildeor pero nolo logra y repite su pesada poesia Aqui tambieacuten aparece la cuestioacuten de lamimesis del canto del ave como lirica Cf Aves v 1380

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Arete a virtude em si na Odisseia eacute umamulherAlessandra Serra Viegas

RESUMO

Este sucinto trabalho pretende trazer uma conversa acerca de umamulher que Homero nos apresenta entre os cantos VI-XI daOdisseia a forte e nobre Arete A rainha dos Feaces e esposa do reiAlcinoo eacute algueacutem de quem natildeo se ouve falar muito No entantoquando nos aproximamos dessa mulher atraveacutes da poesia eacutepicadeparamo-nos na verdade com a proacutepria virtude em pessoa aareteacute (a)reth ) como bem o nome lhe representa Por isso fica no arum questionamento quem eacute a mulher cheia de virtude naAntiguidade grega Eis a provocacatildeo ndash positiva ndash em que esteescrito quer envolver o leitor

PALAVRAS-CHAVE Homero mulher areteacute

SUBMISSAtildeO 29 dez 2017 | PUBLICACcedilAtildeO 31 dez 2017

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Arete a virtude em si na Odisseia eacute uma mulher | Alessandra Serra Viegas

QUEM Eacute A VIRTUDE EM HOMERO rete a rainha dos Feaces1 eacute sobrinha e esposa do reiAlcinoo cuja corte eacute modelo de comportamento eelevacatildeo presente na trama da Odisseia de HomeroSua gesta heroica (porque a consideramos umaheroina) esta contida em boa parte do poemahomeacuterico (cantos VIndashXII) quando das peripeacutecias emmeio ao regresso de Odisseu a Iacutetaca sua terra natalChama atencatildeo a elevacatildeo da rainha Arete (seucarater e reputacatildeo satildeo imaculados) a qual remetetodo o tempo ao significado de seu nome ndash a)reth ndash eacutea proacutepria virtude a qualidade de quem eacute nobre justodigno forte de carater eacutetico e belo Arete eacute a virtudeem pessoa portando todas estas qualidades em forma

de mulher rainha esposa e matildee O conceito de a)reth eacute intrinseco ao grupo dos aristoindash os

bem-nascidos pertencentes aos ldquomelhoresrdquo da sociedade e sedesenvolve a partir do contexto de batalhas da Iliacuteada de Homeronatildeo podendo nesta ser dissociado do espirito heroico que semostra nas lutas e vitoacuterias de cada heroacutei-guerreiro em seuscombates Na Iliacuteada (a)reth eacute a mais alta distincatildeo e o proacuteprioconteudo da vida desses heroacuteis Esses pressupostos de valentia evirtude pois satildeo plenamente valorizados no periodo classico (seacutecVIndashV aC) sendo associados ao principio vigente do bem e do beloem uma pessoa ndash o homem de valor Este eacute o principio que regeos participantes da aristocracia o governo da cidade pelos nobrespelos melhores pelos aristoi

Aos aristoi pertence a expressatildeo grega kaloka)gaqia oukalon te ka)gaqon aquele que eacute tanto belo como nobre empregadaa partir dos textos gregos do periodo classico principalmente nasobras de Xenofonte Platatildeo e Aristoacuteteles Apesar disto Homero jadesigna na Iliacuteada o paradigma do heroacutei-guerreiro a partir da suabeleza corporal e da sua nobreza mesmo natildeo utilizando o termokalon te ka)gaqon propriamente Eacute o helenista Jean-Pierre Vernantque em seus estudos sobre Homero2 apontara os heroacuteis-guerreiros como kaloi kai a)gaqoi3

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A

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Homero eacute o nome que se convencionou para o poetaeacutepico cuja lenda aponta para um aedo cego nascido em Quios ouem Esmirna por volta do seacutec VIII aC e que recitava oralmente ospoemas cantando-os por isso era um aedo Para as questotildees deautoria dos poemas surgiu o que se denomina a questatildeohomeacuterica4 Histoacuterica e literariamente torna-se mais adequado dizerldquoo que foi Homerordquo isto eacute referir-se ao modo de narrar do autorque ressalta as questotildees humanisticas subjacentes aos textos aomostrar por exemplo em lugar de um acontecimento como o daguerra de Troia a coacutelera de Aquiles um detalhe na guerra (Iliacuteada)ou no poacutes-guerra os sofrimentos de Odisseu em sua buscadesenfreada para salvar a vida e voltar a casa (Odisseia)

Com efeito o poeta da epopeia retrata os homens querepresentam a elevacatildeo da sua cultura e costumes pois com essesesta o seu coracatildeo (do poeta) e a exaltacatildeo que faz de tais homenstem em seu acircmago a intencatildeo paideacutetica (paideia) educativa5 NaIliacuteada a virtude do heroacutei ndash a sua a)reth ndash esta em sua destrezaforca e valentia para o campo de batalha uma bela vida que podeculminar em uma bela morte6 Na Odisseia onde Arete surge oideal herdado da destreza guerreira une-se agraves virtudes espirituais esociais tendo como modelo o heroacutei a quem natildeo falta o conselhointeligente ndash Odisseu ndash que na luta pela vida e na volta ao lar saisempre triunfante dos perigos e dos inimigos Esse conselhointeligente tambeacutem se mostra na esposa de Odisseu Peneacutelope7 ena rainha Arete cuja fala eacute acatada pelos anciatildeos e conselheiros dorei e pelo proacuteprio esposo Alcinoo8 representando assim umargumento de autoridade diante dos nobres e tambeacutem diante doproacuteprio povo

Na cultura aristocratica a a)reth proacutepria da mulher eacute aformosura em que o culto agrave beleza feminina corresponde agraveformacatildeo cortesatilde nesta sociedade Natildeo obstante a Odisseiaapresenta mulheres que surgem natildeo apenas como objeto dasolicitacatildeo eroacutetica do homem como Helena esposa de Menelau eraptada por Paris por sua beleza ou Peneacutelope9 esposa de Odisseudesejada pelos pretendentes mas a firme posicatildeo social e juridicade dona de casa Como em outra literatura provavelmente escrita

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Arete a virtude em si na Odisseia eacute uma mulher | Alessandra Serra Viegas

por volta do seacutec V aC na Antiguidade judaica (o AntigoTestamento) na ode a uma mulher de grande forca e valor (cfProveacuterbios de Salomatildeo 3110-31)10 as virtudes das mulheres gregascompreendem principalmente o sentido da modeacutestia e odesembaraco no governo do lar Desse modo Peneacutelope eacute louvadapor sua moralidade rigida e virtudes caseiras11

Senhora homem em lugar algum da terra tem o direito de censurar-te Teu nome bate no ceacuteu Eu te comparo a um rei competente piedoso comautoridade sobre muitos gente poderosa zelosodo cumprimento da lei Seus campos produzemtrigo cevada arvores frutiferas Gado gordonas pastagens Peixes fornece o mar Gracas a seugoverno o povo prospera12

Helena de volta a Esparta com Menelau o primeiromarido aparece como protoacutetipo da grande dama modelo deelegacircncia distinta e de soberana forma e representacatildeo social eladirige a conversa ao hoacutespede homem suas servas trazem ecolocam agrave sua frente um fuso de ouro e uma roca de prata13

(instrumentos pertencentes ao modelo feminino grego sem osquais natildeo se concebe uma dona de casa) quando entra e tomaassento na sala ao lado dos homens14

Arete eacute citada pela primeira vez na Odisseia por boca deOdisseu no seu encontro com a princesa Nausicaa filha deArete15 Odisseu menciona o porte a postura e a beleza daprincesa e declara como por prolepse venturosa por trecircs vezes asua nobre matildee (potnia mhthr) ainda que natildeo a conheca Nausicaaesta na praia com suas servas as quais se assustam por ela estardialogando com um homem vitima de naufragio mas a princesanatildeo se importa e vai descrevendo seu reino seus costumes paracom os estrangeiros e pobres (cei~noi te ptwxoi te) consideradosaqueles que Zeus envia para que se lhes faca o bem16 Odisseu selava e se veste afastado das mocas a deusa Atena lhe reveste debeleza e a ele eacute servida uma refeicatildeo junto agrave princesa17 Emseguida Nausicaa orienta Odisseu sobre como devera secomportar ao chegar agrave cidade dos feaces pois ela e suas criadas

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iratildeo antes para que natildeo sejam vistas entrando com um estrangeirona cidade Finalmente a princesa lhe diz o que fazer ao chegar aopalacio a fim de que alcance auxilio e acolhida

[hellip] Atingindo o palacio entra atravessa o salatildeo Dirige-te primeiro agrave minha matildee Ela deveraestar sentada contra a coluna junto agrave lareira para fiar agrave luz do fogo espetaculo de encher os olhos Atras dela poderas ver o trabalho das criadas Encostado agrave mesma coluna encontra-se a poltrona de meu paiAcomodado nela com imponecircncia divina devera estarele a provar um calice de vinho Deveras passar por elee abracar suplicante os joelhos de minha matildee a fimde que te seja concedido ver o alegre dia do regresso mesmo que vivas longe Se ela te der acolhida cordial havera muita probabilidade de veres teus queridos tuacasa solidamente construida tua patria tua terra18

A descricatildeo da corte do rei Alcinoo e das caracteristicas eestrutura da cidade dos feaces eacute a pintura fiel de uma cidade-estadojocircnica sob o dominio de um rei por volta dos seacutec VII-V aC19

Cumpre observar nessa cidade o influxo das atitudes tomadas porArete sua filha Nausicaa e tambeacutem pela deusa Atena apontandoseu valor na trama e seu cuidado quase materno para que Odisseuretorne ao lar Assim a Odisseia apresenta sagas heroicas e omundo do fabuloso e do maravilhoso no qual Atena em variostrechos transfigura-se em personagens humanos para auxiliarOdisseu Tambeacutem e com maior forca a Odisseia descreve asrelacotildees familiares aproximando o ouvinte-leitor20 de umarealidade em que este natildeo deixa de estar inserido sua proacutepriafamilia

Arete surge novamente na narracatildeo de sua origem nobre esua posicatildeo Atena transfigura-se em um jovem feace que levaraOdisseu ao palacio de Alcinoo e enquanto o conduz conta-lheque Arete descende de Poseidon e de Peribeia imagem sublimeentre as mulheres (gunaikw~n ei0~doj a)risth) O pai de AreteRexenor foi fulminado pelas flechas de Apolo e

Deixou no palacio uma unica filha Arete

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Arete a virtude em si na Odisseia eacute uma mulher | Alessandra Serra Viegas

Alcinoo tomou-a por mulher e a honrou como nunca ningueacutem honrou outra na face da terra de quantas sob o governo de homens administram a casa Afetuosamente respeitada por seu esposo ela vive com seus filhos e com Alcinoo O povolhe tributa homenagem e a aclama com palavrasentusiasticas quando aparece na cidade Conhecida pelo seu bom senso concilia mulheresconhecidas suas Resolve ateacute conflitos de homens21

Pelo favor de Arete Odisseu eacute acolhido no palacio deAlcinoo e tratado com todas as honras devidas a um hoacutespede Elese recolhe todas as noites em um quarto que lhe eacute preparadoparticipa dos banquetes ouve as gestas dos heroacuteis ndash e a sua proacutepriada guerra de Troia ndash pelo aedo22 Demoacutedoco emociona-se viraaedo de si mesmo contando suas gestas e todos ouvemembevecidos Nesta audicatildeo somente Odisseu interrompe o relatopara trazer sua proacutepria gesta e somente Arete toma a palavra quesera reiterada por Alcinoo e posta em pratica pelos nobres23 queconsideram a rainha muito prudente (perifrwn)24

Que vos parece este homem feaces no aspecto notalhe no equilibrio das decisotildees Ele eacute meu hospede cada um de voacutes participa desta honra Natildeo se pense em abreviar-lhe a estada Natildeo sejais econocircmicos ao presentea-lo Ele necessita de muito [hellip]

Se Homero eacute o educador de toda a Greacutecia como afirmaPlatatildeo25 eacute preciso refletir acerca do aspecto paideacutetico da epopeiahomeacuterica ndash mulheres ensinam satildeo honradas e valorizadas por seusmaridos convivem em ambientes publicos e muitas vezesdeterminam as acotildees e tomadas de decisotildees dos mesmos Assim oque o poema homeacuterico presente como coacutedigo para a boaformacatildeo26 pretende inculcar na mente dos jovens que satildeoeducados a partir destes valores A ideia filosoacutefica de bem nosentido estrito modelo de validade universal procede diretamentedo modelo da eacutetica da a)reth proacutepria da nobreza homeacutericapresente na Odisseia encarnada por Arete a rainha dos feaces27

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Ainda quanto ao aspecto paideacutetico ao contrario da Iliacuteada aOdisseia acontece em um contexto de paz com muitas cenas emambientacatildeo interna o que proporciona a participacatildeo efetiva dasmulheres na trama O contexto de paz tambeacutem coloca a Odisseiaem um plano mais elevado que a Iliacuteada em que ha ternuraintimidade e refinamento de sentimentos Esta intima e profundacivilizacatildeo eacute o produto do influxo educador da mulher numasociedade rudemente masculina violenta e guerreira

Em intima e pessoal relacatildeo do heroacutei Odisseu com a deusaAtena que o orienta nas suas andancas e jamais o abandona opoder espiritual da mulher como inspiradora e guia acha a suaexpressatildeo mais bela28 pois ao longo de toda a trama Odisseu eacuteguiado por inspiracotildees de Atena sempre renovadas29 O quadro dacultura dos nobres esbocado nos poemas homeacutericos ndashprincipalmente na Odisseia ndash engloba tambeacutem descricotildees vivas daeducacatildeo usual muitas vezes protagonizadas por mulheres em taiscirculos30

Os homens e mulheres muito mais na Odisseia do que naIliacuteada de Homero satildeo tatildeo reais que se poderia vecirc-los com os olhose toca-los com as matildeos devido ao contexto de paz e intimidade emque se encontram Tais personagens satildeo sempre naturaismanifestando a proacutepria essecircncia31 ao ouvinte-leitor Por issomulheres como Arete Helena e Peneacutelope estatildeo em intima conexatildeocom o mundo exterior pela coerecircncia do pensamento e da acatildeocomo mulheres de forca e valor mulheres empoderadas Gestos eexpressotildees exageradas dessas mulheres seriam insuportaveis aoouvinte-leitor e inadequadas agrave epopeia Sua solidez facilidade demovimentacatildeo e coragem que a nada se pode comparar fazemdelas heroinas e mulheres que seriam encontradas na Greacuteciaarcaica e classica por um marido de sorte

Ainda quanto agrave caracterizacatildeo da mulher assim comoArete eacute a companheira idocircnea e par perfeito e proacuteximo de AlcinooPeneacutelope eacute quem mais se aproxima do carater do heroacutei principalna trama pois como um alter ego de Odisseu tambeacutem fala comprudecircncia e inteligecircncia e ainda eacute ardilosa Nessa culturaaristocratica que envolve a eacutepica agrave mulher cabe a formosura e a

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prudecircncia no governo de sua casa Neste acircmbito Helena eacute louvadano primeiro quesito32 e Arete esposa do rei dos Feaces nosegundo Com efeito a mulher eacute atendida e honrada natildeo soacute comoum ser util e na qualidade de matildee dos filhos legitimos mas acimade tudo porque nesta sociedade a mulher pode ser matildee de umageracatildeo ilustre pois ela eacute a mantenedora e guardiatilde dos mais altoscostumes e tradicotildees33

Acerca da rainha Arete para uma mulher cujo nome epessoa satildeo a proacutepria virtude a)reth tem-se um homem Alcinooaquele cuja forca esta no intelecto (a)lkh [a)lki] + forca nooj ndashcapacidade intelectual) Aleacutem disso o rei eacute um marido idocircneo ecompativel agrave rainha Arete a primeira vez em que o nome deAlcinoo ocorre na Odisseia34 segue-lhe o epiteto ldquoo de saber divinordquo(qew~n apo mhdea ei~dwj) lembrando-se de que nos poemashomeacutericos a primeira aparicatildeo de um personagem seguida de seuepiteto satildeo marcantes indicando seu carater e determinando seucomportamento ao longo de todo o texto35 Ao mesmo tempo emque Arete eacute a mulher de valor (a)reth ) torna-se uma mulher deforca (a)lkh) Isso se da por ser esposa de Alcinoo (a)lkh + nooj) ecorrespondente exata em paridade com ele na sua caracterizacatildeo

Nos poemas homeacutericos os vocabulos a)lkh e a)reth estatildeoprofundamente ligados agrave vida e agrave imagem do homem (e emmulheres de posicatildeo ou heroinas) na sociedade em que estainserido Neste contexto a)reth natildeo eacute o conceito puramenteabstrato a respeito da virtude mas essencialmente a excelecircncia asuperioridade o alvo supremo do heroacutei homeacuterico que se revelaconcretamente no campo de batalha na Iliacuteada e das lutas com ospercalcos e vicissitudes da vida na Odisseia atraveacutes da coragem eda forca36 cujos heroacuteis e heroinas satildeo a representacatildeo do atleta quecompete nos jogos em tempos de paz e combate como hoplita (ainfantaria) nos tempos de guerra

A realidade estabelecida na eacutepica homeacuterica tambeacutem ostragedioacutegrafos conhecem ndash o que se vera aplicado agrave mulher naprincesa Alceste de Euripides Ha uma determinacatildeo histoacuterica quefaz com que alguns sentidos dos vocabulos sejam lidos e outrosnatildeo37 isto eacute o contexto histoacuterico-social de producatildeo dos textos

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aplica aos vocabulos do discurso limites de interpretacatildeo ligados aomodo como a sociedade em questatildeo os utiliza38 Na maior partedas ocorrecircncias a associacatildeo da a)reth (a virtude) e da a0lkh (aforca) ao universo masculino eacute um irrefutavel exemplo daaplicabilidade deste pressuposto No entanto sua utilizacatildeo paraheroinas e personagens femininas da pistas da possibilidade daparidade entre mulheres e homens na sociedade grega dos seacutec VIIndashV

aC a cujos ouvintes-leitores natildeo causara estranhamento ao teremcontato com tais textos

PARA NAtildeO CONCLUIR ndash NUNCA Alguns elementos caracteristicos na rainha Arete

caracterizam-na como mulher cheia de forca e virtude Assimcomo supracitado a)lkh e a)reth forca e virtude ndash ou valor ndash satildeodois atributos que caminham juntos na cultura grega para designarheroacuteis e heroinas Uma resposta plausivel eacute apontar o eacutethos ndashcostumes e crencas ndash que eleva mulheres de forca e valordemonstrados nos textos agrave categoria de heroinas

Arete eacute vista em paridade ao seu marido Alcinoo o qualtambeacutem porta a forca (a)lkh ) componente de seu proacuteprio nomeuma forca de que ambos satildeo investidos Alcinoo ainda eacute aqueleque honra Arete como a nenhuma outra mulher39 O valor deArete eacute reconhecido por todo o seu povo os feaces e cantadopelo poeta eacutepico na ldquofuncatildeordquo de narrador ldquoO povo lhe tributahomenagem e a aclama com palavras entusiasticas quandoaparece na cidade Conhecida pelo seu bom sensordquo40

Arete eacute uma mulher de atitudes e de palavras diante de seupartner em cena o rei Alcinoo Na cena do jantar com OdisseuArete rompe o silecircncio para pedir que auxiliem a Odisseu quandode seu regresso Agrave fala de Arete um anciatildeo Equeneu reageldquoAmigos natildeo foge do nosso escopo o que declarou a sabiarainha Natildeo decidamos poreacutem antes de ouvir Alcinoo aqui presente Falar e agir eacute sua competecircnciardquo41 Ao que Alcinooassevera ldquoO que ouvimos [de Arete] sera executadordquo42

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ABSTRACT Arete the Virtue per se in the Odyssey is a Woman

This concise writing intends to bring a conversation abouta woman introduced by Homer between Songs VI-XI of theOdyssey the strong and noble Arete The Queen of Feaces andwife of King Alcinoo is someone that is not heard too muchabout However when we approach this woman through the epicpoetry we face as a matter of fact with virtue itself the arete(a)reth ) as good as the name represents Therefore a wondercomes around who is the woman with noble character in theAncient Greece That is the ndash positive ndash challenge in which thiswriting wants to engage the reader

KEYWORDS

Homer Woman Arete

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REFEREcircNCIAS DOCUMENTACcedilAtildeO TEXTUAL

BERLIN A ZVI BRETTLER M (Eds) The Jewish Study BibleTANAKH Translation [Jewish Publication Society] New YorkOxford University Press 2004HOMEgraveRE Iliade Texte eacutetabli et traduit par P Mazon Paris LesBelles Lettres Tome I (1987) Tome II (1992) Tome III (1994)Tome IV (1982) HOMEgraveRE LrsquoOdyseacutee Poeacutesie Homeacuterique Texte eacutetabli et traduit parV Beacuterard Paris Les Belles Lettres 1953 Tomes I II III IV HOMERO Odisseia Trad Donaldo Schuumller Porto Alegre LampPM2007 (3 vols)

DICIONAacuteRIO

BAILLY A Dictionnaire grec-franccedilais Paris Hachette 2000

LIVROS

CARPEAUX OM Histoacuteria da civilizaccedilatildeo ocidental Rio deJaneiro O Cruzeiro 1959JAEGER W Paideia a formacatildeo do homem grego Trad Artur MParreira Satildeo Paulo Martins Fontes 2001ORLANDI EP Discurso e leitura Satildeo Paulo Cortez CampinasEdUNICAMP 1988PEREIRA MHR Estudos de histoacuteria da cultura claacutessicacultura grega Lisboa Calouste Gulbekian 2006 v 1VERNANT JP VIDAL-NAQUET P Entre mito e poliacutetica na GreacuteciaAntiga Traducatildeo Anna Lia A de Almeida Prado Maria daConceicatildeo M Cavalcante e Filomena Yoshie Hirata Garcia SatildeoPaulo Duas Cidades 1977WINKLER JJ The Constraints of Desire the Anthropology ofSex and Gender in Ancient Greece New York LondonRoutledge 1990

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ARTIGOS

LANG B Womens Work Household and Property in TwoMediterranean Societies a Comparative Essay on Proverbs XXXI

10-31 VT 54 n 2 2004 p 188-207RACE W First Appearances in the Odyssey TAPS n 123 1993 p79-107RIESS JK The Woman of Worth Impressions of Proverbs 3110-31 Dialogue 30 n 1 Spr 1997 p 141-151SZLOS BM A Portrait of Power a Literary-Critical Study of theDepiction of the Woman in Proverbs 3110-31 USQR 54 n 1-22000 p 97-103VAINSTUB D Some Points of Contact between the BiblicalDeborah War Traditions and Some Greek Mythologies VT n 61m2011 p 324-334WOLTERS A M Proverbs 3110-31 as Heroic Hymn a Form-Critical Analysis VT 38 n 4 1988 p 446-457

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1 Os Feaces satildeo um povo mitico apresentado nos cantos VndashVII da Odisseia comouma sociedade modelo quanto aos valores e ao comportamento no trato com oshomens e mulheres Na eacutepica Odisseu sofre um naufragio e eacute encontrado napraia do Reino dos Feaces pela princesa Nausicaa e suas mocas Nausicaa oinstruira a como lidar com a cultura e o comportamento do seu povoapontando que para que alcancasse o favor do rei Alcinoo seu pai primeiroteria que alcancar o favor da rainha Arete sua matildee como se vera adiante 2 VERNANT 2002 p 414-4193 A expressatildeo formada a partir dos adjetivos kaloj belo e a)gaqoj bom nobreligados por kai ou te e ou ambos desempenha um importante papel naformulacatildeo de muitas concepcotildees eacuteticas sociais e (num sentido muito amplode) politicas da Antiguidade Literalmente equivale agrave foacutermula de qualidadeldquobeleza e bondaderdquo Ora ldquoser belordquo significa primariamente ldquoser nobrerdquoenquanto ldquobom exemplar do proacuteprio tipordquo Por isso o termo kaloka)gaqia eacutefrequentemente traduzido por ldquonobreza e bondaderdquo bem como por ldquohonrardquoCom efeito o kaloka)gaqoj eacute um modelo do ldquohomem honradordquo ldquonobre e bomrdquoe portanto o ldquobom cidadatildeordquo Esse sentido ldquocivicordquo esta presente emXenofonte Platatildeo e Aristoacuteteles Nestes a nocatildeo de kaloka)gaqia eacute uma nocatildeoeducativa na medida em que exprime a ideia da boa educacatildeo oposta agrave ideia dopoder puro e simples Ela eacute em grande parte a justificacatildeo ldquoeducativardquo dopoder O homem kaloka)gaqoj eacute aquele que exerce o poder de um modointimamente ligado agrave justica Por isso o kaloka)gaqoj eacute ao mesmo tempo ldquoohomem justordquo

4 A Questatildeo Homeacuterica eacute formulada a partir da seguinte inquietacatildeo quem eacute oautor da Iliacuteada e da Odisseia e como essas obras chegaram ao texto finalDioacutegenes de Laeacutercio (I 57) fala de interpolacotildees realizadas por Pisistrato notexto homeacuterico Quanto ao autor das obras as respostas satildeo variadasreduzindo-se todas elas a trecircs teses principais a unitarista (um soacute eacute o autorprincipal dos poemas homeacutericos) a dualista (dois poetas diferentes trabalhandona mesma tradicatildeo) e a pluralista (satildeo varios os autores de cada um dospoemas) Quanto agrave redacatildeo dos textos as correntes de critica textual dosmodernos (seacutec XIX) dividem-se em Teoria da Ampliacatildeo (considera-se umaIliacuteada primitiva de pequena extensatildeo a qual crescera com o decorrer do tempoateacute alcancar as proporcotildees tradicionais da obra) defendida por G HERMANNTeoria dos Cantos (a Iliacuteada continha cerca de dezesseis cantos individuaisdivididos por K LACHMANN) e a Teoria da Compilacatildeo (tanto a Iliacuteada quanto aOdisseia natildeo eram cantos e sim pequenas epopeias de diversas proporcotildees evalor tambeacutem diverso) desenvolvida a partir da analise de A KIRCHHOFF (cfLESKY 1995 p 51-52) problema que tem preocupado especialistas desde osgregos eruditos do periodo helenistico ndash os primeiros a cogitar a questatildeo ndash ateacuteos nossos dias ainda que para alguns autores a principal questatildeo natildeo eacute pensarquem foi Homero e quando as obras foram convertidas da tradicatildeo oral ecompiladas na tradicatildeo escrita e sim o que foi Homero Dadas as diferencas domeio e da estrutura social a diferenca de tema e as diferencas vocabulares eestilisticas da Iliacuteada e da Odisseia parece legitimo concluir que os dois poemasforam compostos por diferentes poetas em tempos e lugares distintos O tema eacutediscutido entre historiadores literatos e linguistas tais como G S KIRK (1965)R AUBRETON (1956) D SCHUumlLER (1972) M FINLEY (1981) W BURKERT (1993)A LESKY (1995) e todos os que veem o valor da obra homeacuterica para a proacutepriaconstrucatildeo e fixacatildeo de valores tais como eacutetica preceitos morais e principiosguerreiros como a defesa da honra e ainda o conceito de (a)reth junto agravesociedade ocidental5 JAEGER 2001 p 446 VERNANT Lrsquoindividu la mort lrsquoamour Soi-mecircme et lrsquoautre en Gregravece ancienne 1989___Entre mito e poliacutetica 2002 Bela morte eacute um conceito criado e proposto por Jean-Pierre Vernant para o guerreiro que morre em batalha e alcanca a gloacuteriaimperecivel e sera imortalizado na memoacuteria coletiva de seu povo atraveacutes doscantos dos aedos como ocorreu aos heroacuteis da Iliacuteada 7 Cf Odisseia XI v 4468 Cf Odisseia XI v 336-340

9 Grande parte da Odisseia se da com Peneacutelope tendo que lidar com a situacatildeo dos pretendentes que desejam toma-la como esposa por sua beleza fisica e sua firmeza de carater visto que se pensa que Odisseu morrera quando do retorno de Troia para Iacutetaca seu reino Os pretendentes soacute satildeo mortos por Odisseu no ultimo canto (cf Odisseia XXII)10 ldquoMulher virtuosa quem a achara O seu valor muito excede ao de rubis Ocoracatildeo do seu marido esta nela confiado assim ele natildeo necessitara de despojoEla soacute lhe faz bem e natildeo mal todos os dias da sua vida Busca latilde e linho etrabalha de boa vontade com suas matildeos Como o navio mercante ela traz delonge o seu patildeo Levanta-se mesmo agrave noite para dar de comer aos da casa edistribuir a tarefa das servas Examina uma propriedade e adquire-a planta umavinha com o fruto de suas matildeos Cinge os seus lombos de forca e fortalece osseus bracos Vecirc que eacute boa a sua mercadoria e a sua lacircmpada natildeo se apaga denoite Estende as suas matildeos ao fuso e suas matildeos pegam na roca Abre a suamatildeo ao pobre e estende as suas matildeos ao necessitado Natildeo teme a neve na suacasa porque toda a sua familia esta vestida de escarlata Faz para si cobertas detapecaria seu vestido eacute de seda e de purpura Seu marido eacute conhecido nasportas e assenta-se entre os anciatildeos da terra Faz panos de linho fino e vende-os e entrega cintos aos mercadores A forca e a honra satildeo seu vestido e sealegrara com o dia futuro Abre a sua boca com sabedoria e a lei da beneficecircnciaesta na sua lingua Esta atenta ao andamento da casa e natildeo come o patildeo dapreguica Levantam-se seus filhos e chamam-na bem-aventurada seu maridotambeacutem e ele a louva Muitas filhas tecircm procedido virtuosamente mas tu eacutes detodas a mais excelente Enganosa eacute a beleza e vatilde a formosura mas a mulher queteme ao Senhor essa sim sera louvada Dai-lhe do fruto das suas matildeos e deixe oseu proacuteprio trabalho louva-la nas portasrdquo

11 Todas as traducotildees da Odisseia satildeo de Donaldo Schuumller12 Cf Odisseia XIX 107-11413 Compare-se com o texto de Proveacuterbios de Salomatildeo na nota 814 JAEGER 2001 p 4615 Cf Odisseia VI v 15416 Cf Odisseia VI v 206-21017 Cf Odisseia VI v 218-25018 Cf Odisseia VI v 30419 JAEGER 2001 p 4220 Idem ibidem21 Cf Odisseia VII v 65-7422 O aedo eacute aquele que canta as gestas dos heroacuteis tendo uma memoacuteriaprivilegiada pela grande quantidade de fatos dos quais lembra e por isso canta 23 Cf Odisseia XI v 336-34024 O adjetivo perifrwn (a que examina por todos os aspectos que medita afundo prudente) eacute utilizado tambeacutem para Peneacutelope na epopeia (cf Odisseia XI v446 XIX v 308 v 349) 25 Cf Repuacuteblica 606e26 CARPEAUX 1959 p 5227 Idem ibidem p 6028 Idem ibidem p 48 29 Idem ibidem p 79 30 Idem ibidem p 83 31 Idem ibidem32 Iliacuteada III 154-159 a beleza irresistivel de Helena se mostra a fim de justificar oerro de Paris 33 JAEGER 2001 p 4734 Odisseia VI v 1235 RACE 1993 p 79-10736 PEREIRA 2006 p 135-136 37 ORLANDI 1988 p 1238 Para saber mais veja U ECO Os limites da interpretaccedilatildeo 2008 O autor trabalha aligacatildeo entre o contexto social do leitor e a interpretacatildeo da leitura que eacute feita

defendendo o conceito de Obra aberta presente em seus outros livros poreacutemprevendo que ha limites impostos pela proacutepria obra e pelo reconhecimento demundo do leitor 39 Cf Odisseia VII v 66-6740 Cf Odisseia VII v 70-7341 Cf Odisseia IX v 343-34642 Cf Odisseia IX v 348

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Os autores

Alessandra Serra ViegasDoutora em Teologia pela PUC-Rio e em Histoacuteria Comparada peloPPGHC-UFRJ Mestre em Histoacuteria Comparada pelo PPGHC-UFRJMestre em Teologia pela PUC-Rio na area de Teologia BiblicaPossui graduacatildeo em PortuguecircsGrego pela UERJ e bachareladoem Teologia pela PUC-Rio Atualmente eacute professora-coordenadorade Sala de Leitura e Biblioteca do Coleacutegio Estadual Joseacute LeiteLopes ndash NAVE (Nucleo Avancado em Educacatildeo) ndash SEEDUC eprofessora do Seminario Metodista Ceacutesar Dacorso Filholecionando grego koineacute literatura e teologia teologia feminina(teologia na perspectiva da mulher) leitura e producatildeo textualmeacutetodos de estudo universitario e orientacatildeo de TCC Eacutepesquisadora colaboradora do NEA-UERJ (Nucleo de Estudos daAntiguidade) Participa do grupo de pesquisa TIAT (Traducatildeo eInterpretacatildeo do Antigo Testamento) Eacute membro efetivo de Letrasdo Nucleo Acadeacutemico de Letras e Artes e Lisboa (NALAL) e daAcademia de Letras e Artes de Paranapuatilde (ALAP) titular da cadeiran 24 patronimica de Adolfo Caminha Eacute membro-embaixador daDivine Acadeacutemie Francaise des Arts Lettres et Culture

Graciela C Zecchin de FasanoDoutora em Letras pela Universidad Nacional de La Plata (UNLP)onde eacute professora titular de Grego da Faculdade de Humanidadese Ciecircncias da Educacatildeo Atualmente dirige a revista Synthesis Foi

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Os autores

Fellow of The Center for Hellenic Studies (Harvard University) noperiodo 2013-2014 Eacute autora do livro Odisea discurso y narrativa(EDULP 2004) e editora de Deixis social y performance en la literaturagriega claacutesica (La Plata 2011) e de El relato de la historia en lasmanifestaciones de la Grecia antigua y su valor miacutetico-performativo (IdIHCSFaHCE 2015) Publicou numerosos artigos e capitulos de livrostanto em seu pais Argentina como no exterior especialmentesobre eacutepica homeacuterica e recepcatildeo classica que constituem suasprincipais linhas de investigacatildeo

Guilherme da Costa Assuncatildeo CecilioCursou a Graduacatildeo em Filosofia (bacharelado e licenciatura) naUniversidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) onde tambeacutemconcluiu o Mestrado em Filosofia (PPGLM) e o Doutorado emFilosofia (PPGF) esse na modalidade sanduiche com periodo depesquisa na Johann Wolfgang von Goethe Universitaumlt ndash Frankfurtam Main Eacute professor efetivo de Filosofia do Instituto Federal deEducacatildeo Ciecircncia e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ) eprofessor permanente do Programa de Poacutes-Graduacatildeo emFilosofia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGF-UFRJ)Atua principalmente nas areas de Histoacuteria da Filosofia Antiga eMetafisica

Maria Cecilia ColombaniProfessora titular de problemas filosoacuteficos e antropologia filosoacuteficada Facultad de Filosofia Ciencias de la Educacioacuten y Humanidadesda Universidad de Moroacuten onde ainda atua como investigadoraprincipal e coordenadora de projetos de pesquisa Professoratitular de histoacuteria da filosofia antiga e problemas especiais defilosofia antiga na Facultad de Humanidades da UniversidadNacional de Mar del Plata Autora de diversos capitulos de livros ede mais de uma centena de artigos apresentados em congressos daarea Autora de Hesiacuteodo una introduccioacuten criacutetica (Buenos AiresSantiago Arcos Editor 2005) Homero Una introduccioacuten critica(Buenos Aires Santiago Arcos Editor 2005) e Foucault y la poliacutetica(Buenos Aires Prometeo 2009) Em 2016 publicou Hesiacuteodo

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discurso y linaje una aproximacioacuten arqueoloacutegica pela Universidad de Mardel Plata

Maria del Pilar Fernandez DeagustiniDoutora em Letras pela pela Universidad Nacional de La Plata(UNLP) onde atua como chefe de Trabajos Practicos na area degrego da Facultad de Humanidades y Ciencias de la Educacioacuten ebolsista poacutes-doutoral de CONICET Professora de grego e deliteratura grega classica Autora de Suplicantes de Esquilo unainterpretacioacuten (2015) e de El espacio eacutepico en el canto 11 de Odisea(2010) aleacutem de artigos especialmente sobre as Suplicantes deEacutesquilo objeto de investigacatildeo de sua tese doutoral Atualmenteintegra o projeto de investigacatildeo ldquoRecepcatildeo e apropriacatildeo deHomero na literatura grega classicardquo (UNLP) dirigido pela profadra Graciela Zecchin

Rossana ZettiFormada em Literatura Classica pela Universitagrave degli Studi deMilatildeo Mestre em Classicos na Universidade de Edimburgo ondeatualmente trabalha em sua tese doutoral sob a supervisatildeo do profdr Douglas Cairns Sua pesquisa de doutorado concentra-se narecepcatildeo de Antiacutegona de Soacutefocles na Europa do seacutec XX e seuestudo visa esclarecer as ideologias e os contextos que produziramvarias versotildees renovadas da Antiacutegona no referido seacuteculo

Simone de Oliveira Goncalves BondarczukDoutora em Letras Classicas (2017) e mestre em Linguistica pelaUniversidade Federal do Rio de Janeiro (2005) Ministrou aulascomo professora substituta de lingua e literatura Grega naFaculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro porduas vezes no periodo de 2005 a 2007 e no ano de 2010 Tambeacutemfoi professora no Seminario Teoloacutegico Presbiteriano Simonton doRio de Janeiro entre 1996 e 2007 e da Faculdade de TeologiaWittenberg entre 2006 e 2008 Atuou como pesquisadora durantea graduacatildeo no projeto NURC-UFRJ (subprojeto de semacircntica) sob a

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Os autores

supervisatildeo da professora Dinah Callou e durante o mestrado noprojeto Discurso e Gramatica-UFRJ sob a orientacatildeo do professorMario Eduardo T Martelotta em cujo projeto continuaparticipando como colaboradora Atualmente eacute pesquisadora dogrupo de pesquisa DAG (Discursos da Antiguidade Grega) doPPGLC-UFRJ e do programa de estudos em filosofia antiga ndash Pragmado IFCS-UFRJ Quando doutoranda do Programa de Poacutes-Graduacatildeoem Letras Classicas da UFRJ recebeu uma bolsa sanduiche daCapes para pesquisar na Universitagrave degli Studi di Bari Aldo Morono periodo de setembro de 2015 a fevereiro de 2016 sob asupervisatildeo do professor Paulo Butti de Lima Nessa mesmauniversidade foi recebida na condicatildeo de Visiting Professor

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Caliope Presenca Classica | 20172 Ano XXXIV Numero 34

platocircnicas e encontra no acircmago da discussatildeo socratica umpossivel candidato unificador o Bem e a sua relacatildeo com prazerese atividades intelectuais

Em ldquoSignificado e estrutura do argumento do terceirohomem no Parmecircnides de Platatildeordquo O filoacutesofo Guilherme Ceciliounico homem entre seis autoras femininas ndash motivo de orgulhouma vez que comprova serem as Letras Classicas um ramoacadecircmico de igualdades e emancipacatildeo que pode servir comoexemplo para outros acircmbitos da nossa sociedade ndash trata doargumento do Terceiro Homem usado no dialogo platocircnicoParmecircnides Alem de situar o Parmecircnides cronologicamente entre osoutros dialogos platocircnicos Cecilio mostra de qual maneira oargumento em questatildeo serve como objecatildeo agrave teoria das ideias

Alessandra Serra Viegas aponta em ldquoArete a virtude em sin a Odisseia e uma mulherrdquo uma questatildeo que ate hoje recebeupouca atencatildeo o significado do nome da rainha dos Feaces Areteno contexto da Odisseia e a importacircncia histoacuterico-literaria determos uma figura feminina chamada ldquoVirtuderdquo Serra Viegas tentasituar esse dado dentro de uma discussatildeo sobre a relacatildeo mulher-homem no contexto homerico e os seus desdobramentos naepopeia

No seu artigo ldquoIdentidad ritual y performance un analisisde los primeiros dos versos de Suplicantes de Esquilordquo Maria delPilar Fernandez Deagustini desdobra atraves de uma analise desomente dois versos iniciais das Suplicantes todo o universoesquiliano e demonstra o seu encaixe na cultura grega alem de suainteracatildeo com os ritos e a religiatildeo inserido no contexto dramaticoda peca Temos a possibilidade de olhar de matildeos dadas com apesquisadora argentina que fornece todas as necessariasferramentas teoacutericas conectando-as com a pratica de performancedo drama para tras do funcionamento de uma das mais antigastragedias chegadas ate noacutes Criando uma rede de referecircnciasintertextuais del Pilar mostra que os primeiros versos satildeofundamentais para a estrutura e para a compreensatildeo das Suplicantes

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porque eles contecircm elementos que interagem com outras partes dapeca

Em ldquoLimite y prudencia en Hesiodo una miradaantropoloacutegicardquo a especialista em poesia hesioacutedica Maria CeciliaColombani adaptando as teorias de Louis Gernet propotildee umaleitura antropoloacutegica dos poemas de Hesiodo com o propoacutesito deesclarecer a relacatildeo exata na qual o homem arcaico da Greciaantiga se situou para com o divino e como ele de modo mais geralse (auto)integrou no mundo religioso da sua tradicatildeo

Como terceira autora de lingua espanhola GracielaZecchin de Fasano reflete sobre o papel da vitima na poesia gregatomando como base principal a Odisseia os Trabalhos e os dias deHesiodo e as Aves de Aristoacutefanes em ldquoAedoacuten performance poeticade las victimasrdquo O artigo mostra como a figura do rouxinol serviade Homero ate a epoca classica como simbolo das vitimas quesofrem violecircncias nas esferas dominadas por forcas masculinas

Rossana Zetti mostra em ldquoAntigonersquos (mis)appropriationsin Twentieth-Century Europe Memory Politics and Resistancerdquocomo a Antiacutegona de Soacutefocles foi interpretada e instrumentalizadana primeira metade do sec XX Eacute fascinante notar como correntespoliticas opostas conseguiram cada um de maneira distintaapropriar-se do potencial soacutecio-cultural dessa tragedia Zetti iniciaa viagem pelos tempos e as suas apropriacotildees da peca com atraducatildeoadaptacatildeo de Houmllderlin que somente mais de um seculodepois da sua publicacatildeo comecou a ser considerada uma versatildeo etraducatildeo extraordinaria enquanto considerado mediocre pelamaioria dos contemporacircneos do poeta e tradutor alematildeo Essaversatildeo serviu no sec XX tanto aos Nazistas quanto aos socialistas(Bertolt Brecht) como referecircncia ideal O artigo demonstra comouma mesma tragedia pode ser interpretada e apresentada comosubversiva por uns e modelo classico de representacatildeo de valorestradicionais conservadores por outros

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Encerrando esta edicatildeo encontra uma secatildeo cominformacotildees sobre os autores deste numero No mais desejamosuma proveitosa e prazerosa leitura

Os editores

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Liacutemite y prudencia en Hesiacuteodo una mirada antropoloacutegica | Mariacutea Cecilia Colombani

Liacutemite y prudencia en Hesiacuteodo unamirada antropoloacutegicaMariacutea Cecilia Colombani

RESUMO

A proposta do presente trabalho consiste em efetuar uma leituraantropoloacutegica da relaccedilatildeo que o homem guarda com a divindade nomarco do esquema do pensamento miacutetico proacuteprio da Greacuteciaarcaica A presenccedila dos deuses implica que por detraacutes do khaacuteosaparente estaacute garantida a existecircncia de uma ordem da qual apoesia eacute precisamente sua percepccedilatildeo mais exitosa No toacuteposantropoloacutegico dois fenocircnemos satildeo essenciais e complementaresna relaccedilatildeo do homem grego com a divindade O primeiro radica nadistacircncia que o separa dos seres divinos e o segundo abarca oscontatos humanos de aproximaccedilatildeo e assimilaccedilatildeo a esse mundoNeste marco intencionamos relacionar o toacutepico evidenciandocomo no marco da relaccedilatildeo que se estabelece entre ambos osplanos no reconhecimento e na transgressatildeo do registro que osdistingue e os separa a ira dos deuses eacute despertada a partir dodesconhecimento do limite e da prudecircncia

PALAVRAS-CHAVE

Homem divindade distacircncia aproximaccedilatildeo reconhecimentotransgressatildeo

SUBMISSAtildeO 14 set 2017 | PUBLICACcedilAtildeO 10 nov 2017

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1 LA DISTANCIA

l proyecto del presente trabajo consiste en efectuar unalectura antropoloacutegica de la relacioacuten que el hombreguarda con la divinidad en el marco del esquema depensamiento miacutetico propio de la Grecia ArcaicaEntendemos por ldquoantropologiacuteardquo el concepto del queparte Louis Gernet para pensar coacutemo el hombre seproyecta en el plano religioso del mundo reconociendoque maacutes allaacute de los multiples vaivenes que la palabra hatenido segun la eacutepoca podemos considerar que se tratade la representacioacuten del hombre en el plano religioso delmundo1

Para comprender este aspecto debemos captar laidea de fractura ontoloacutegica entre diferentes aacutembitos o

regiones de ser de dos toacutepoi de dos razas o mundos impermeablesla una respecto de la otra tal como sostiene el propio Gernet2 Esel largo relato de los dioses es el trazo del linaje el reparto de lospoderes y la definitiva consolidacioacuten del koacutesmos la que permitedelinear los dos toacutepoi referidos

La presencia de los dioses y la existencia de ese planoimplican que por detraacutes del khaacuteos aparente estaacute garantizada laexistencia de un orden del cual la poesiacutea es precisamente supercepcioacuten maacutes lograda Como sostiene Gernet ella constituye esaespecie de ldquofilosofiacutea popularrdquo3 que al contar las sucesiones divinasnarra al mismo tiempo la plasmacioacuten a partir del khaacuteos de unorden perfecto sostenido por la justicia de Zeus La Teogoniacuteaconstituye el primer intento griego de dar una explicacioacuten divinadel orden del universo Tal como afirma J-P Vernant ldquoLasteogoniacuteas y las cosmogoniacuteas griegas comprenden como lascosmologiacuteas que les han sucedido relatos de geacutenesis que explicanla aparicioacuten progresiva de un mundo ordenadordquo4 Esta intuicioacuten sedebe precisamente a ese teloacuten de fondo religioso que impregna latotalidad de la vida social del hombre griego

Si seguimos la tesis de L Gernet es en ese toacutepos donde seproduce el fenoacutemeno de aproximacioacuten que acorta la distancia entrelos dos aacutembitos que constituyen zonas impermeables5

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Efectivamente la esfera humana parece acercar su registro a laesfera divina aunque en el seno mismo de esta ritualizacioacutensimboacutelica lo divino siempre guarde su territorio inasible En eltoacutepos antropoloacutegico dos fenoacutemenos son capi ta les ycomplementarios en la consideracioacuten de la relacioacuten entre elhombre griego y la divinidad El primero radica en la distancia quelo separa de los seres divinos y el segundo da cuenta de losintentos humanos de aproximacioacuten y de asimilacioacuten a ese mundoque lo sobrepasa por doquier6

La aproximacioacuten no implica una categoriacutea geograacutefica unadistancia medida en paraacutemetros espaciales sino una dimensioacutenontoloacutegica que supone un determinado estatuto de ser una ciertacualificacioacuten que transfigura el ser mismo del hombre Existe unafractura o brecha entre dioses y hombres donde el nucleo mismode la distancia supone el liacutemite que implica la muerte Finitud einfinitud he alliacute la clave de una distancia que muy pocos puedensoacutelo en parte franquear

La asimilacioacuten implica tambieacuten una categoriacutea ontoloacutegicaEs el ser mismo del hombre el que se transforma ya que deviene eacutelmismo ldquocomo un diosrdquo Es la aspiracioacuten comun de los mortales elser del hombre se asimila al ser divino y en tal asimilacioacuten seconvierte en un sujeto excepcional en un epopteacutes

El teloacuten de fondo de esta dualidad implica una ciertanocioacuten de temporalidad En el marco de la atemporalidad quehemos sugerido como marca identitaria del plano divino hay noobstante una particular loacutegica temporal Los dioses parecen teneruna cierta vida cotidiana un cierto movimiento que se juegacomo corresponde en una especialidad abierta y en unatemporalidad acotada

Recordemos que es posible hablar de una temporalidaddivina y que eacutesta estaacute directamente vinculada con la idea de dramaen tanto accioacuten Las acciones de los dioses asiacute como suspreocupaciones abren una temporalidad dentro del ldquosiemprerdquocaracteriacutestico del plano divino Dicen Detienne y Sissa

Asiacute en la obra de Homero y especialmente en la Iliacuteada la vidade los dioses se despliega en toda su densidad en esa mezcla

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de acontecimientos y de rutina que la caracterizan [] allaacutedonde en la sucesioacuten de hechos se abran las ventanas de unteatro que habla no de la mediocridad sino maacutes bien de lavita de la existencia de los dioses7

Podemos tambieacuten abordar el nucleo problemaacutetico hombre-divinidad desde la perspectiva del poder que se pone en juego Seobserva entonces una polaridad en la dimensioacuten de la arkheacute Elpropio Gernet bucea en la disimetriacutea estatutaria que la diacuteadaimplica y alude a que

Un magniacutefico coro de la Antiacutegona de Soacutefocles exalta alhombre como detentor ndash e incluso excepcionalmente comocreador ndash de teacutecnicas a las que se podriacutea atribuir un desarrolloindefinido si no se topara con un doble liacutemite la muerte esabarrera infrangible y los dioses de los que los hombresreciben la justicia8

La divinidad constituye esa instancia aacuteltera donde se ostentaefectivamente la arkheacute tensionando de ese modo la distancia entreun mundo y otro a punto tal de que el hombre mismo es una cosamaravillosa pero estrechamente limitada ya que su accioacuten no esautoacutenoma porque reconoce la marca de los dioses como sello desu voluntad incuestionable

El poder al que nos referimos de caraacutecter disimeacutetrico es lamarca de la inmortalidad que atraviesa a la divinidad y la nocioacuten deDiacuteke ya que son los dioses quienes otorgan la justicia divina Elhombre por el contrario es mortal descubriendo en la muerte eseliacutemite que lo territorializa a su condicioacuten humana asimismo estributario de un orden-justicia que no depende de eacutel Se trata deuna primeriacutesima justicia coacutesmica donde el orden mismo de lo reales sinoacutenimo de justicia

Por todo lo dicho

Si se realiza una investigacioacuten etnograacutefica y comparativa seobserva que los dioses presentan respecto a los mortales unestatuto excepcional y heterogeacuteneo al mismo tiempo Por unaparte se pueden atribuir sus cualidades a una sistemaacuteticasuperioridad sobre los hombres Por otra parte debemos

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reconocerles tambieacuten una diferencia especiacutefica Los dioses seperciben distintos porque son maacutes grandes maacutes poderosos ymaacutes sabios que los hombres pero tambieacuten porque pararegular su existencia eligen unas normas que le son propias yexclusivas9

Pensemos en otra arista del ldquoentrerdquo otro aspecto de losespacios vinculares que el hombre juega en su instalacioacuten frente ala divinidad La condicioacuten de ser mortal se abre al horizonte de losInmortales como lo otro del hombre Las dos razas o mundos delos que venimos hablando se juegan como advertimos en ladistancia que separa ambos toacutepoi lo cual no invalida la posibilidaddel ldquoentrerdquo como modelo de contacto entre uno y otro plano oregistro ontoloacutegico Basta pensar en Hesiacuteodo ultimo y unicotestigo de una palabra dedicada a la alabanza del personaje real10

para captar esta forma de ldquoentrerdquo El texto es elocuente alrespecto

Con pureza y santidad en la medida de tus posibilidades hazsacrificios a los dioses inmortales y quema en su honorespleacutendidos muslos11

E l ldquoentrerdquo estaacute sin duda mediado por la leccioacutenantropoloacutegica inaugural que el mito de Prometeo devuelve comoloacutegos fundacional los hombres reconocen su propio liacutemite y suespacio antropoloacutegico respectivo y el sacrificio es la prenda delreconocimiento La carne perecedera seraacute el alimento de loshombres y los huesos el eterno homenaje a los Inmortales En elmarco del sacrificio dos recomendaciones la pureza referida alcuerpo y la santidad como estado del espiacuteritu

Recordemos que Prometeo cree engantildear a Zeus cuandomovido por su astucia le da a elegir entre dos porciones dosbocados diferentes ambos cubiertos de piel pero soacutelo unoconteniendo en su interior carne mientras el otro soacutelo guardahuesos y grasa Zeus elige este ultimo con lo cual queda instituidoque el alimento humano seraacute la carne El mito de Prometeo fundaasiacute el rito sacrificial En este momento hombres y dioses se

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separan los hombres no tienen ya una comunicacioacuten directa conlos dioses y se inaugura la dependencia de los hombres frente a lacarne cocida como alimento humano La instauracioacuten del ritualrompe la vieja comensalidad entre hombres y dioses e inauguraesos toacutepoi que marcan la dimensioacuten humana y la divina como razaso mundos impermeables El sacrificio separa doblemente a loshombres por un lado de los dioses y por el otro de los animalesya que los hombres deben cocer la carne y cultivar el campomientras los animales comen crudo Tal como lo muestra Detiennee n Los Jardines de Adonis12 en el reparto del primer sacrificio loshombres se llevan la parte vinculada a lo corruptible mientras quea los dioses les corresponden los aromas puros imputrescibles Laexistencia humana queda definida por una posicioacuten intermediaambigua entre lo crudo y lo quemado lo podrido y loimputrescible lo bestial y lo divino Se establece una relacioacutenvertical entre ambos al tiempo que se instituye una relacioacutenhorizontal entre los hombres El sacrificio abre los dos planosporque obliga a los hombres a comer cierto tipo de alimentomientras otros bocados corresponden a los dioses El mito daorigen a las praacutecticas sacrificiales que es precisamente el modo enque los mortales se conectan con lo divino El sacrificio es laforma en que los hombres donan algo a los dioses desde suprecaria condicioacuten humana Asimismo el mito abre un escenarioespeciacuteficamente antropoloacutegico los hombres quedan condenados acocinar los alimentos permaneciendo lo crudo reservado a losanimales o baacuterbaros

Esta no es la unica recomendacioacuten para marcar el ldquoentrerdquoque la divinidad impone Vuelve a ser Hesiacuteodo el que normativizala relacioacuten ldquoOtras veces conciacuteliatelos con libaciones y ofrendacuando te vayas a la cama y cuando salga la sagrada luz del diacuteapara que te conserven propicio su corazoacuten y su espiacuteritu y puedascomprar la hacienda de otros y no otro la tuya rdquo13

En realidad los favores de la divinidad son la clave de todobienestar Incluso el modo de vincularse de generar precisamentee l ldquoentrerdquo que estamos indagando genera una especie deregularidad o ciclicidad coacutesmica la totalidad de la jornada tanto la

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noche como el diacutea el irse a la cama como el levantarse quedanbajo la tutela de los dioses como condicioacuten de posibilidad de unavida armoniosa

El extenso apartado de Trabajos y diacuteas sobre las actividadescorrespondientes a cada estacioacuten del antildeo da cuenta de lapreocupacioacuten por el trabajo al tiempo que anuda su problemaacuteticaa la mismiacutesima legalidad coacutesmica14 Sabemos que el fondo ultimode resonancia es de caraacutecter sagrado y la ciclicidad que atraviesa locoacutesmico estaacute regulada por el mismo estatuto sagrado El trabajo secumple en conformidad con la regularidad del universo que ledona sentido y lo legitima como actividad religiosa

Su entorno devuelve ademaacutes la dependencia ontoloacutegica delos mortales respecto al destino que los dioses han hilvanado paralos hombres otro dato que habla de la fractura ontoloacutegica y quehace pensar a L Gernet en esas dos razas impermeables la una dela otra Ya sea el destino de muerte la muerte violenta o la naturalel hombre no escapa a esa dama oscura que inexorablemente nosatrapa y nos marca nuestra Moicircra nuestra porcioacuten en el reparto ynuestro territorio antropoloacutegico Alliacute estaacuten entonces los modelosejemplares que desde el relato ancestral como loacutegos explicativoresultan los vicarios miacuteticos de cualquier realidad del toacutepos humano

2 LA PROXIMIDAD

No obstante queremos problematizar esta distancia queacabamos de acompantildear con la tesis de L Gernet y de la mano deM Vegetti pensar paradoacutejicamente la cercaniacutea y la proximidad dela divinidad ya que eacutel mismo afirma la presencia intensa de lodivino

Esta difusioacuten de lo sagrado se prolonga en una relacioacuten defamiliaridad con los dioses que caracteriza ampliamente laexperiencia religiosa griega la divinidad no estaacute lejos ni esinaccesible el recurrir a ella podriacutea decirse que caracterizacada momento significativo de la existencia privada y socialSe le puede encontrar tan a menudo en sus imaacutegenes en laspraacutecticas culturales que se le dedican en las narraciones

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familiares y publicas en las que se dibujan las tupidas tramasde una simbolizacioacuten significativa de la existencia15

En efecto frente a la radical trascendencia que toma lodivino en religiones de otras caracteriacutesticas los dioses griegosguardan un estatuto inmanente que los vuelve proacuteximos maacutes allaacutede su distancia ontoloacutegica que los convierte en los Athaacutenatoi a losque se refiere Hesiacuteodo

Ahora bien iquestcoacutemo podemos caracterizar esta religiosidadgriega que estamos relevando Instalarse en este lugar suponecomparar este modelo religioso con otros para definirlo desde unesquema negativo

En primer lugar la religioacuten griega no se basa en ningunarelevacioacuten lsquopositivarsquo concedida directamente por la divinidada los hombres y por tanto no tiene ningun profeta fundadorde las grandes religiones monoteiacutestas del Mediterraacuteneo y noposee ningun libro sagrado que enuncie las verdades reveladasy constituya el principio de un sistema teoloacutegico16

La falta de esos elementos convierte a los dioses en seresmaacutes proacuteximos menos atenidos a todo el dispositivo simboacutelico delas religiones institucionalizadas

La propia falta de una iglesia como oacutergano de maacuteximajerarquiacutea determina una relacioacuten maacutes cercana que permite construiruna cierta familiaridad con lo divino donde las fronteras entre unoy otro aacutembito parecen desdibujarse pero soacutelo se trata de unaapariencia propia de la cotidianeidad porque en el fondo ladivinidad guarda siempre su jerarquiacutea estatutaria a partir de suorden ontoloacutegico ldquoY tanto menos una iglesia unificada entendidacomo aparato jeraacuterquico y separado legitimado para interpretar lasverdades religiosas y administrar las praacutecticas de cultordquo17 Sin dudaes a esta ausencia que se debe el grado de proximidad que elmismo Vegetti reconoce entre hombres y dioses Es esta cercaniacuteala que se traduce en lo cotidiano y permite comprender coacutemo ldquoenla experiencia comun por tanto siempre ha habido unaconvivencia entre la estirpe de los dioses y la de los hombresrdquo18 La

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eacutepica homeacuterica constituye una muestra magniacutefica de este aspectocon la exhibicioacuten de un viacutenculo con la divinidad que habla de unreacutegimen de cercaniacutea y proximidad19

Hasta aquiacute algunos puntos sobre coacutemo podemos entenderesta forma de religiosidad que combina las diacuteadas opuestas Unaexperiencia que guarda distancia ontoloacutegica pero que al mismotiempo evidencia matices de cercaniacutea y proximidad unaexperiencia que se revela como trascendente por las propiascaracteriacutesticas de lo divino pero inmanente en su forma depresentacioacuten

Pensemos otro aspecto desde la perspectiva de Vegetti queimpacta directamente en el corazoacuten maacutes iacutentimo de la experienciaporque diagrama el plano del culto como forma de cercaniacutea maacutesacabada

Incluso falta en griego una palabra cuyo campo semaacutenticoequivalga propiamente al teacutermino lsquoreligioacutenrsquo La que maacutes seaproxima euseacutebeia es definida por el sacerdote Eutifroacuten elprotagonista del diaacutelogo platoacutenico como lsquoel cuidado (therapeiacutea)que los hombres tienen para con los dioses (Platoacuten Eutifroacuten12 e)rsquo20

El campo lexical del verbo therapeuacuteo es la clave de estainterpretacioacuten curar cuidar velar honrar Esas son las marcas dela relacioacuten entre el hombre y la divinidad que determina ademaacutes ladiferencia estatutaria que venimos registrando A los hombres lescorresponde honrar a los dioses como modo de corroborar supertenencia al toacutepos humano En este sentido la experiencia delculto implica la persistencia del espacio humano determinada porla subordinacioacuten al aacutembito divino

Debemos comprender el significado general de ldquorespetarhonrar a la divinidad en las praacutecticas de culto nomiacutezein equivaldraacuteen definitiva a therapeuacuteein dedicar a la divinidad los oportunoscuidados ritualesrdquo21 En ese respeto y cuidado el hombre no soacutelo sedirige a los dioses sino que se respeta y cuida a siacute mismoconservando el puesto que la propia divinidad ha designado para elcolectivo humano

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Asiacute queda claro que ldquoEl nucleo de la relacioacuten entrehombres y divinidad de la lsquoreligioacutenrsquo y de la lsquofersquo de los griegosparece consistir en la observancia de los cultos y de los ritosprescritos por la tradicioacutenrdquo22 Ciertas prescripciones exhortacionesy prohibiciones pueden ser entendidas desde la dimensioacuten queacabamos de relevar Las marcas del cuidado toman la forma deuna observancia que tiene como objeto honrar a los dioses ygenerar en ellos el sentimiento de placer y felicidad de quien sesiente alabado Al mismo tiempo constituyen consejos para la vidade los hombres porque dan cuenta de una familiaridad con lodivino que trae como consecuencia beneficios en la vida ordinaria

Analizaremos una serie de versos que devuelvenprecisamente las marcas del cuidado

Nunca te atrevas a echar en cara la funesta pobreza que roe elcorazoacuten de los hombres regalo de los eternosBienaventurados23

Nunca al amanecer libes rojizo vino a Zeus con las manos sinlavar ni a los demaacutes Inmortales pues no te escucharaacuten yvolviendo la cara escupiraacuten sobre tus oraciones24

No engendres tus hijos a la vuelta de un funeral de malaguumlero sino al volver de un banquete de los Inmortales25

No te cortes en el banquete festivo de los dioses lo seco de loverde de tus cinco ramas con el brillante hierro26

No te burles de los misterios cuando asistas a humeantessacrificios sin duda tambieacuten un dios se venga de esto27

Esta familiaridad y convivialidad que venimos rastreandopuesta fundamentalmente en teacuterminos de ldquocuidadordquo no invalida elpaacutethos del temor En efecto ldquoesto no significa naturalmente queno existiese un profundo y radical temor a la divinidad y a sucapacidad de castigar las culpas de los hombres golpeaacutendoles a lolargo de su existencia e incluso de su descendenciardquo28

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3 LA VIDA TODA EN CLAVE RELIGIOSA

Definitivamente instalados en el texto hesioacutedico queremosarticular el viacutenculo hombre-divinidad en tres ejes en dondeclaramente se observa la presencia dominante de los dioses comoteloacuten de fondo de la vida en su conjunto La instancia fundacionalque supone el mito de las edades el trabajo como modo deinstalacioacuten de los hombres en su condicioacuten antropoloacutegica y lashuellas de una cotidianeidad que se revela de extrema familiaridadseraacuten los toacutepicos a tratar

EL MITO DE LAS EDADES DEL CUIDADO AL DESCONOCIMIENTO

Cuando Hesiacuteodo presenta el largo relato que da cuenta dela progresiva degradacioacuten humana en el marco de una claraintencioacuten didaacutectica29 comenta una convivialidad que parece tensarla reciprocidad entre hombres y dioses en un punto deseado deencuentro y familiaridad

Viviacutean como dioses con el corazoacuten libre de preocupacionessin fatiga ni miseria30

Los hombres de la raza de oro conocieron las delicias deesta proximidad y respondieron a ella con los debidos cuidadosque los dioses merecen por su condicioacuten de tales El clima esfestivo y el corazoacuten alcanza la mayor alegriacutea que el contacto conlos dioses aporta como recompensa extrema ldquoEllos contentos ytranquilos alternaban sus faenas con numerosos deleites Eranricos en rebantildeos y entrantildeables a los diosesrdquo31

El favor de los dioses se manifiesta en una vida cuasidivina sin la presencia de aquellos males y sufrimientos queconstituiraacuten el marco de la existencia de los hombres Los hombresquedaraacuten definitivamente sumidos en ese marco de desgracias ypesares cuando olviden su cuidado los dioses

Ahora bien seraacute precisamente ese toacutepico el que determinela peacuterdida de un estado de felicidad compartida y el pasaje a unestado otro donde el cuidado ha sido olvidado lo cual implica elpropio olvido de los dioses

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Pues no podiacutean apartar de entre ellos una violenciadesorbitada ni queriacutean rendir culto a los Inmortales ni hacersacrificios en los sagrados altares de los Bienaventuradoscomo es norma para los hombres por tradicioacuten A eacutestos maacutestarde los hundioacute Zeus Croacutenida irritado porque no daban lashonras debidas a los dioses bienaventurados que habitan elOlimpo32

Dejar de cuidar therapeuacuteo a los dioses es la forma maacutesacabada de dejar de cuidarse por esta torpeza la hyacutebris gana laescena y los hombres no cesan en sus males Dejar de rendir cultoa los dioses ignorar el sacrificio como la leccioacuten inaugural que elmito de Prometeo ensentildeara a los mortales y generara la divisioacutenentre hombres y dioses olvidar las normas ancestrales quesostienen la cohesioacuten de los mortales reunidos en comunidadrenunciar a dar las honras correspondientes son los olvidos del noreconocimiento no soacutelo de los dioses sino de siacute mismos comohombres ya que ser hombre implica ese paquete de obligaciones

De este modo cuando Hesiacuteodo culmina el relato del largocamino de la decadencia y la injusticia que va hilvanando eldestino de las cinco razas considerando la interpolacioacuten de la razade los heacuteroes abre un panorama desolador del campo de viacutenculostransidos por el conflicto33

RELIGIOSIDAD Y VIDA COTIDIANA

La presencia de los dioses en la vida cotidiana puede tomarla forma de la vigilancia

Despreciaraacuten a sus padres apenas se hagan viejos y lesinsultaraacuten con duras palabras cruelmente sin advertir lavigilancia de los dioses ndash no podriacutean dar el sustento debido asus padres ancianos aquellos [cuya justicia es la violencia ndash yunos saquearaacuten las ciudades de los otros]34

Los dioses tienen asiacute una presencia fuerte entre loshombres observando sus conductas y castigando en consecuencia

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Forma parte de su estatuto esta presencia que tambieacuten habla deuna familiaridad en el plano inmanente de la vigilancia

La divinidad estaacute presente custodiando las costumbres ydelineando con la recompensa o el castigo consecuentes ladimensioacuten moral de los hombres proclives a olvidar susobligaciones

Igualmente el que maltrata a un suplicante o a su hueacutesped osube al lecho de su hermano (para unirse ocultamente con suesposa incurriendo en falta) o insensatamente causa dantildeo alos hijos hueacuterfanos de aqueacutel y el que insulta a su padreanciano ya en el funesto umbral de la vejez dirigieacutendose a eacutelcon duras palabras sobre eacuteste ciertamente descarga el mismoZeus su ira y al final en pago por sus injustas acciones leimpone un duro castigo Pero tu aparta por completo tuespiacuteritu de estos delitos35

La divinidad se presenta siempre como el garante de unajusticia tanto coacutesmica como humana36

CONCLUSIONES

Hemos intentado pensar la problemaacutetica de la ira desdedistintos andariveles a partir de la relacioacuten que vincula al hombregriego con la divinidad

Nos propusimos relacionar el toacutepico mostrando coacutemo enel marco de la relacioacuten que se da entre los mortales y losInmortales el no reconocimiento y la transgresioacuten del registroontoloacutegico que los distingue y separa despierta la ira de los dioses

En segundo lugar vimos coacutemo el sentimiento de ira sevincula estrateacutegicamente con el proyecto didaacutectico moralizador queHesiacuteodo se propone dando respuesta a una demanda de su tiempohistoacuterico Asiacute la ira no se vincula con la coacutelera del dios en suestatuto supremo sino que se inscribe en un diagrama eacutetico queprioriza la virtud y la justicia como horizonte de un cierto ethos

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ABSTRACT Limit and Prudence in Hesiod an Anthropological View

The purpose of this paper is to read anthropologicaly therelation between Man and Divinity within the mythologicalthought of Arcaic Greece The presense of gods is the warrantythat beyond the apparent khaos there is Order of which Poetry isits most perfect expression Within the anthropological toacutepos twoaspects define the Greek experience of Divinity The first one isthe distance between humans and gods The second one is theassimilation and approximation to that divine world These twoaspects define Human condition We will demonstrate howtransgression and unrecognition to these aspects cause the wrathof the gods

KEYWORDS

Man Divinity Distance Approximation TransgressionUnrecognition

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Liacutemite y prudencia en Hesiacuteodo una mirada antropoloacutegica | Mariacutea Cecilia Colombani

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17 Idem ibidem p 29218 Idem ibidem p 29319 COLOMBANI 2005a20 VEGETTI 1993 p 29321 Idem ibidem p 29322 VEGETTI 1993 p 29323 LINtildeARES 2005 p 717-71824 Idem ibidem p 724-72725 Idem ibidem p 735-73626 Idem ibidem p 743-74427 Idem ibidem p 755-75628 VEGETTI 1993 p 29429 COLOMBANI 2016 El texto analiza la dimensioacuten didaacutectica de Hesiacuteodo enrelacioacuten a la posibilidad de constitucioacuten del hombre prudente como modo dereparar la decadencia epocal en el marco de lo que podemos considerar unametaacutefora meacutedica la prudencia representa entonces el phaacutermakon para curar unasociedad enferma 201630 LINtildeARES 2005 p 111-11231 Idem ibidem p 118-12132 Idem ibidem p 133-13933 Coincidimos con Neschke A (1997) p 478 cuando analiza el mito de lasrazas desde la perspectiva de la exhortacioacuten de la poesiacutea didaacutectica perotambieacuten de la consolidacioacuten de una moral34 LINtildeARES 2005 p 185-19035 Idem ibidem p 328-33536 GIGON 1985 p 13-43 El problema del ser del todo del origen de la verdadde la transmisioacuten de la verdad y la perspectiva de un garante como aquel quevela por la conservacioacuten del orden y la justicia han sido los hilos que Gigon haencontrado para hilvanar el tapiz del Hesiacuteodo-filoacutesofo

Antigonersquos (mis)appropriations in Twentieth-Century Europe | Rossana Zetti

Antigonersquo s (mis )appropr ia t ions inTwentieth-Century Europe MemoryPolitics and ResistanceRossana Zetti

ABSTRACT

In this paper I will offer a historicized reading of Antigonersquosconceptualization as a political play by analysing its reception intwentieth-century Europe I will focus in particular on FriedrichHoumllderlinrsquos adaptation (1804) which is one of the very earliest post-Revolutionary witnesses to the political understanding of the play it isparticularly interesting because it provides a context for Bertolt Brechtrsquosand other twentieth-century adaptations of the myth and it represents acrucial step towards the current interpretative model in which Antigone isan icon of radical dissent and resistance Appropriated both by the Naziregime and by factions of the Resistance Houmllderlinrsquos Antigone wasexploited as a political subversive document or as representative of anationalistic classical tradition This account of the political reception ofSophoclesrsquo Antigone in the twentieth century will contribute to shed lighton the ideological climate which produced such a high number ofadaptations of the ancient play as well as on the reasons for itspertinence to twentieth-century temporal-political conditions

KEYWORDS

Antigone Reception Politicization Brecht Houmllderlin Sophocles

SUBMISSAtildeO 15 nov 2017 | PUBLICACcedilAtildeO 19 dez 2017

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1 INTRODUCTION amp CONTEXTUALIZATION

thol Fugard author of an adaptation of the Antigoneof Sophocles written during the apartheid period inSouth Africa claimed that Antigone is the ldquogreatestpolitical play of all timerdquo1 The political relevance ofthe ancient play considered by Hegel the closest toperfection2 has led to a fruitful interaction with thepresent facilitated by the urgency of politicalsituations in the contemporary world The Antigoneof Sophocles enjoys one of the richest performanceand reception histories it has been translated morethan fifty times into the English language in the lastcentury and it has been performed all around theworld3 The ancient myth has had a major influence

upon writers translators and playwrights of all periods and theambiguities of the play have lent to a variety of interpretations atdifferent times and in different contexts and places Antigone hascommunicated something different Despite such a versatilitycertain inherent characteristics of her tragic persona ndash her defianceof tyranny her rebellious spirit and her claim for human freedomndash have been appropriated again and again thus exemplifying theexistence of ldquofugitive humane communalitiesrdquo occurring acrosshistory4

However in order to understand why among other Greektragedies performed and adapted to the modern stage the Antigoneof Sophocles figures so prominently it is necessary to takedistance from the ldquomystification of Antigone as lsquouniversalrsquordquo5 Itsideas persist and resonate today as in the fifth century but theyhave been progressively changed and revisited in favour of apoliticization of the story precisely the relevance of theSophoclean play to contemporary political events has inspiredmany overtly political versions and imitations in the twentiethcentury The playrsquos plot and themes (Antigonersquos fight for ldquohumanrightsrdquo and autonomy her defiance of authority) enabled differentauthors to respond to various historical instances and politicalcontexts ranging in the twentieth century from Jean Anouilhrsquos

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A

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adaptation in wartime Paris to Bertolt Brechtrsquos adaptation in post-war Germany and Tom Paulinrsquos Irish adaptation The Riot Actperformed during the period of civil strife known as ldquotheTroublesrdquo ndash just to name a few6 The playrsquos spread and influenceare not confined only to the Western world the play attractedcross-cultural appeal even outside Europe where it was exploitedas a vehicle for contemporary political critique7

However Antigone has not always stood as the exemplaryicon of principled resistance and defiance against establishedauthority In spite of its political and revolutionary potential theancient myth was also appropriated by the Nazis for theirideological propaganda and it was presented as example of heroicand patriotic drama8 In particular the Antigone of Sophocles in thetranslation by Houmllderlin was frequently performed towards the endof the Second World War as example of ldquoheroic dramardquo insupport of Hitlerrsquos propaganda Although Houmllderlin did notproclaim the superiority of Germany over Greece as the leader ofthe West nor believed in the ldquoGreek characterrdquo inherent to theGermans his play was appropriated by the Nazis for theirproclamation of a ldquoracial kinship between Greeks and Germansrdquo9

At the same time Antigone was also appropriated byfactions of the Resistance which transformed the play into apolitical subversive document This tradition was followed byBertolt Brecht who upon the end of the Second World Warwrote an adaptation of the Antigone based on Houmllderlinrsquostranslation Through his reworking of the ancient original Brechtencouraged his audience to remember and reflect upon the recenttragedy of the Second World War in the attempt to unveil themechanisms behind the acquisition and dismantling of power atthe same time by adopting Houmllderlinrsquos text he denounced thedistorted readings and misappropriations of the play duringNazism With Brecht Sophoclesrsquo Antigone is established asldquocanonicalrdquo drama of political resistance

Studying the dynamics of remembrance and propagandabehind appropriations of Sophoclesrsquo Antigone is thereforeparticularly interesting the Antigone myth has been readapted and

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ldquorememberedrdquo in different ways to communicate different politicalideologies in the twentieth century a period characterized by civilwars dictatorships and resistance The politicization of Antigone inthese years is twofold ndash it served both the ideologicalinstrumentalization of the Nazis and the intellectual resistance It isin this period that Antigone becomes an icon of resistance andrevolt but it also becomes representative of a nationalistic classicaltradition Different responses to Sophoclesrsquo tragedy thereforereflect cultural and political shifts occurred in the twentiethcentury as well as different ways of interpreting andldquorememberingrdquo the ancient play No matter in what respectAntigonersquos performance in these years represents a political act

2 HOumlLDERLIN AND ANTIGONE

Of particular interest for my investigation of Antigonersquosreception and politicization in the twentieth century are the mainphilosophical theories developed around the Sophoclean play inthe early nineteenth century10 These readings affected by thepolitical circumstances of the French Revolution caused a breakwith the tradition and contributed to establish the currentinterpretative model of a ldquopoliticizedrdquo Antigone11 Antigone becomesthe great twentieth-century play which still affects us today thanksto two interpreters a poet (Houmllderlin) and a philosopher (Hegel)whose influential readings have irremediably shaped the way laterauthors experienced the play The ldquomodernrdquo Antigone would havebeen different without Hegel and Houmllderlin and ldquothephilosophical explorations of the Hegelian tradition might havealso acquired a different orientation without Antigonerdquo12

Contemporary to Hegel Houmllderlin wrote his highlyinnovative translation of the ancient Greek tragedy in 1804 Thistranslation represents a crucial step towards the currentinterpretative model of Antigone as an icon of radical resistance andit is a fundamental political and linguistic document it was used asa libretto for Carl Orffrsquos 1949 opera Antigonae ndash written under the

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Nazi regime and initially financed by the Reich ndash and it was themodel-translation for Brechtrsquos own interpretation of the play13

Houmllderlinrsquos translation of Antigone has been notoriouslycharacterized for its extreme radicalism Scholars have identifiedmany errors and a striking philological inaccuracy14 Houmllderlinrsquoscommand of Greek was indeed ldquofar from perfectrdquo and he workedwith defective editions To Goethe and to Schiller Houmllderlinrsquostreatment of the Greek text gave palpable evidence of mentalcollapse which the poet endured between 1804 to his death in1843 ndash most likely heightened by the negative reception of histranslations of both Antigone and Oedipus der Tyrann criticized byhis contemporaries15

The rediscovery of the long neglected poet started at thebeginning of the twentieth century The first complete edition ofHoumllderlinrsquos Saumlmtliche Werke was published by Norbert vonHellingrath in six volumes between 1913 and 1923 Thispublication represents a decisive turning point in the reception ofHoumllderlinrsquos works they were not considered anymore as theproduct of a ldquosavagerdquo mind but rather the achievement of a uniquepoet and writer Since then different editions of Houmllderlinrsquos workshave appeared16 and critics praised the Romantic poet consideredpatriotically as exemplary of German honour and loyalty theldquopurestrdquo of poets17 The Antigone in the translation by Houmllderlinwas performed for the first time after its publication in Zurich in1919 and in Darmstadt in 192318

Yet it was in Nazi Germany that Sophoclesrsquo Antigonebecame the most popular classical work performed 150 timesbetween 1939 and 194419 As the war raged on Antigonesignificantly proclaimed ldquoI was born to join in love and not inhaterdquo20 The Sophoclean tragedy became an exemplary model forthe new heroic drama favoured by the Nazis celebrating the ideaof sacrifice and noble death for the fatherland productionsemphasized Antigonersquos patriotic loyalty to her family althoughthey sided with Creon representative of the principle of the state

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The success of Antigone in the repressive context of NaziGermany might seem at odds with the political themes of protestand resistance of the play how could authors conform Antigone tothe ideological manipulation imposed by the regime How is itpossible that the Antigone was so popular and the authorities didnot attempt to stop the proliferation of such a politically chargedplay Wi th Romain Rollandrsquos Aacute lrsquoAntigone eacuteternelle (1916) andWalter Hasencleverrsquos Antigone (1917) the heroine had beenestablished as a figure of pacifism as well as a critical politicalleader Yet it is necessary to take into account the long tradition ofGerman Classicism and cultural identification of Germany withancient Greece started with Winckelmann21 Hitler himself was aPhilhellenist and in his propagandistic book Mein Kampf he hadproclaimed Greece as universal cultural model epitome ofEuropean civilization and racial kin thus merging philhellenismwith nationalism and promoting the identification of the Germanswith the idealized people of ancient Greece22

The combination of Hellenism and Germanism can betraced back to Houmllderlinrsquos translation of Sophoclesrsquo AntigoneHoumllderlinrsquos translation of Sophoclesrsquo Antigone integrates theDionysiac Hellenic element with the German Apolloniancharacter in order to clarify and render intelligible the Greek pathosto the German more rational sensibility23 Houmllderlinrsquos emphasison the similarities between German and Greek cultures preciselyserved the Nazi cause to reinforce nationalistic propaganda duringthe war

In his Notes to Antigone Houmllderlin emphasizes that tragedyemerges at times of revolution in human thinking and feeling ofldquopatriotic reversalrdquo (vaterlaumlndische Umkehr)24 Tragedy as well ashistory is built from the beginning to the end on a series ofdialectic oppositions each generating a dramatic revaluation ofmoral values and political power-relations In Houmllderlinrsquosreinterpretation the opposition between Creon and Antigone ispolitical Antigonersquos act is referred to as Aufstand (ldquouprisingrdquo orldquoinsurrectionrdquo) a politically pregnant word which reveals therevolutionary and political aspiration of his translation25

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Houmllderlinrsquos translation is itself the product of years characterizedby revolutions Antigonersquos rebellion reflects the FrenchRevolution which is exemplary of a public enactment of such areversal and Creonrsquos final manhandling by his servants can beparalleled to the execution of Louis XVI26 According to Houmllderlina revolution causes a collision whose outcome is a balancedopposition as the play ultimately reaches a (Hegelian) synthesis sorevolutions ultimately bring about a political change in the form ofgovernment and the es tabl ishment of a republikanischeVernunftsform27

The relation between ldquoAntigonersquos revolutionrdquo andldquocontemporary revolutionsrdquo is consolidated by the idea ofVaterland (ldquofatherlandrdquo ldquocommunityrdquo) a sense of patrioticrelevance and nationalism According to Houmllderlin the Germansneed to express their national tendency and at the same timerepress it to give space to the foreign element the pathos of theGreeks only by engaging with the alien can modern poetrybecome ldquopatrioticrdquo (vaterlaumlndisch) and express the originality andauthenticity of the nation itself These principles guide his owntranslation of the play which attempts to clarify and renderintelligible the Greek spirituality in a process called by Houmllderlinldquothe reversal of all modes and forms of representationrdquo28

The Nazis appropriated Houmllderlinrsquos ldquopatrioticrdquo idea of dasVaterlaumlndische and transformed the German poet into an exampleof spiritual leader and patriotic self-sacrifice thus reinvigoratingthe idea of a strong and culturally dominant Germany29 Thecombination of Greek and German elements was exploited assource of ultranationalist pride in the effort to preserve German-Western culture against threatening barbarian influences from theEast thus creating a ldquocultural collective memoryrdquo and heritagedirectly linked to the classics30

The performance of Greek tragedies was thereforelegitimized and approved in the Nazi period In particular Antigonebecame the exemplary model of ldquoheroic dramardquo The ldquoheroicdramardquo was a new dramatic form conceptualized in Germany inthe 1930s which emphasized ideas of patriotism and self-sacrifice

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in order to strengthen the nationalism and unity of Germany in thewake of the imminent war In his essay ldquoThe ImmortalConversation on the Tragic Dramaturgy as the Law of NordicCulturerdquo (1937) Rainer Schloumlsser explained the relevance ofSophoclesrsquo tragedies exemplary of this ldquoNordic attituderdquo ofheroism and noble death31 In May 1933 in his speech ldquoRede vorden deutschen Buhnenleiternrdquo Goebbels proclaimed theldquoheroicnessrdquo of German art

Die deutsche Kunst des naumlchsten Jahrzehnts wird heroischwird staumlhlern-romantisch wird sentimentalitaumltslos sachlichwird national mit groszligem Pathos sie wird gemeinsamverpflichtend und bindend sein oder sie wird nicht sein32

On 22 June 1940 Paris surrendered and the victoriousGerman army marched into Berlin on 6 July 1940 the great victorywas celebrated by Hitler at the Krolloper in Berlin33 In the autumnof 1940 two almost simultaneous productions of Antigone wereperformed in Berlin and Vienna34 The 1940-1941 theatrical seasonopened in Berlin with Karlheinz Strouxrsquos Antigone whichpremiered on 3 September 1940 at the Berliner StaatlichesSchauspielhaus where the TieckMendelssohn production had beenshown multiple times Stroux relied on Roman Woernerrsquostranslation which facilitated the understanding of the text andcontributed to render it accessible to the public ndash by contrast withHoumllderlinrsquos obscure translation

Karlheinz Strouxrsquos reading of the play did not follow thestandard ldquointerpretationrdquo imposed by the Nazis but transgressedand contradicted the dominant ideology Rather than classicalGreece the stage designs reminded critics of an oriental or pre-Hellenic culture Antigone was interpreted by Marianne Hoppeand was addressed and presented as Greek whereas Creoninterpreted by Walter Frank was dressed as an Oriental king Theracial kinship was inverted Antigone a female was presented asthe Aryan-Greek model and Creon the ruler as a barbarian35

Although critics maintained that ldquothe tragedy does not correspondto the standards of the sacrosanct idea of the staterdquo36 the classical

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subject matter the mystic stage and stylized acting did not prompta direct identification with the story rather they allowed the authorto discuss indirectly contemporary political issues while avoidingcensorship

Particularly resonant was the Antigone directed in Vienna in1940 by Lothar Muumlthel followed by other five performances inFrankfurt (1941) Leipzig (1942) Vienna (1943) Goumlttingen (1944)and Stuttgart (1944) In correspondence with the centenary of thepoetrsquos death on 7 June 1943 patriotic celebrations occurred acrossGermany Antigone was performed in Vienna and the Houmllderlinsociety was founded in Stuttgart Goebbels was appointedldquohonorary patron of the Societyrdquo and Hitler ordered to place ldquoacommemorative wreath hellip in his name on Houmllderlinrsquos grave inTuumlbingenrdquo37 Antigone was even performed in 1944 a few monthsbefore Goebbels ordered the closure of all theatres In occasion ofthe 1944 production of Antigone in Stuttgart a newspaper wrotethat ldquotwo and a half thousand years of Western culture are nowpreserved and defended by Herzland Europardquo38

Therefore although the potential subversive character ofAntigonersquos rebellion which emerges for example in Strouxrsquosreading of the play Antigone was exploited and mis-interpreted bythe Nazis who relied upon Houmllderlinrsquos ldquopatrioticrdquo and ldquoheroicrdquoideas of fatherland Through the Nazisrsquo reading Houmllderlin gainedpowerful ideological resonance and became a nationalist icon ofGerman Nazism Brecht speaks in his Arbeitsjournal of ldquothenationalistic element intolerable to usrdquo imposed by Hitler in thereading of German poets such as Schiller and Houmllderlin39

Houmllderlinrsquos translation of the ancient play was recommended byBrechtrsquos collaborator Caspar Neher who had watched in Hamburgthe first post-war production of Antigone in the translation of theGerman poet (1946)40 This production received particularlypositive responses by the critics who claimed that ldquoHoumllderlin isthe more Greek of allrdquo and intended to convey the ldquoturmoil thepolitical the republican the revolutionary which Houmllderlin alwayssaw in Antigonerdquo41

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In using Houmllderlinrsquos translation but developing a radicallydifferent reading Brecht opposed the Nazisrsquo use of Houmllderlinrsquosplay as the epitome of the vaterlandisch ldquoa way of imagining theworld from a nationalistic perspectiverdquo42 The indeed oppositeappropriation of the play by Brecht reveals the pliability of theAntigone narrative and is paradigmatic of the politicizing of themyth

3 BRECHT AND ANTIGONE

Brechtrsquos version draws closely on Sophoclesrsquo text buttransforms the Greek narrative in an analysis of modern classstruggle Brecht explicitly challenges the nationalistic uses of theSophoclean play which he felt incompatible with the complexitiesof post-war Germany Although appropriated by the Nazis duringthe war for its nationalistic appeal the text also responded toBrechtrsquos desire to oppose to the classical reading of the play andto distance himself from the purely classical-humanist andldquobourgeoisrdquo interest in Greek tragedy

As he explains in the preface to his own Modelbuch43 Brechtavoided an easy identification of the conflict with one between theindividual and the (Nazi) totalitarian regime He refused to equateAntigone with German resistance fighters who fought against theNazis nor could Antigone be interpreted as a ldquomoral playrdquo or asrepresentative of religion humanity or the individual in relation tothe state44 As he suggests in the preface of the Antigonemodell thechoice of the material relied both on the possibility to raiseinteresting formal problems through the ancient play and on itspolitical relevance45

The focus of the play shifts from the conflict between theindividual and the state to the disintegration of the society-polis andthe ldquoscattering of destructionrdquo left by war Brechtrsquos play shows thatwars are determined by questions of profit and imperialistic greedthus drawing an explicit parallel with the Second World WarCreon is a corrupt imperialistic tyrant leading an aggressive waragainst Argos to control its mines His power is maintained

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through violence and an aggressive policy justified by a rhetoric ofhonour and race In his reinterpretation Brecht emphasizes theviolence implicated in both the ruling class including the wealthychorus of elders and Antigone who loses her dominant role sheis presented as a privileged upper class woman who has also beencomplicit to Creonrsquos crimes46 The heroine merely serves to throwinto relief Creon addressed by his lackeys as ldquomein Fuumlhrerrdquo andhis repressive government dominated by thievery and exploitation

The Sophoclean catastrophe thus becomes in Brechtrsquosreinterpretation an allegory of the decline of the Third Reich andNational Socialism as well as an analysis of societyrsquos mechanismsT h e emphasis on violence and destructions provoked by wardemonstrates Brechtrsquos self-conscious attempt to reflect upon thedisaster of the recent war and to explore issues of responsibility ndashcollaboration and resistance ndash during the years of the SecondWorld War

Through his reworking of the Sophoclean play Brecht aimsto awaken the critical spirit of his audience the play becomes apretext to reflect upon the recent past and to remember that pastIssues of memory recur throughout the play even the title TheAntigone of Sophocles after Houmllderlinrsquos translation adapted for the stage byBrecht represents an act of remembrance and links Brechtrsquos namewith Sophoclesrsquo and Houmllderlinrsquos47

In the parodos of Brechtrsquos Antigone the chorus of Thebanelders celebrates the victory over Argos and encourages the peopleto forget the recent war

Und nach dem Kriege hier Macht die Vergessenheit ausIn alle GoumlttertempelMit Choumlren die Nacht durchKommt her Und Thebe die Bloszlige im LorbeerschurzErschuumltternd herrsche der Bacchusreigen48

The ldquodrink of oblivionrdquo proffered by Bacchus allows thepeople thirsting for peace to rejoice in the illusory celebrationsand to forget about the deaths and destructions caused by the war

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However such a call for forgetting is a cover up manipulated byCreon in order to camouflage the reality the much praised victoryis in fact a lie because the war is not over The eagerness to forget isopposed to Antigonersquos determination to remember the past theheroine insists that it is important to remember the disasters of thepast in order to avoid their repetition in the future In the firstscene of the play Antigone disapproves of her sister Ismene forher the tragedy of their brothersrsquo death is already ldquoa yesterdaythingrdquo49

On the one hand Brecht accuses the spectators ofcomplicity and his Antigone becomes an indictment to thosepeople who wished to forget the past and to those ldquoordinaryrdquoGermans who failed to act under Hitlerrsquos regime and chose not tosee giving tacit consent to his crimes on the other he questionsthe validity of an Antigone-like-act and -death in the context ofBerlin 1945 Brecht himself did not ldquoactrdquo but decided to fleeGermany rather than staying and facing certain death He waswatching the events from a distance during his exile50

The final lesson offered by Brechtrsquos play is indeed nihilisticand pessimistic in the original the chorus praise wisdom whichman can achieve though self-knowledge with old age and throughsubmission to the gods51 in the modern version instead the fall ofThebes could have been avoided and it is presented as the result ofa conscious self-destructive choice It is human greed and lustwhich ultimately transform man in a ldquomonsterrdquo to himselfincapable of becoming ldquobecome wiserdquo even in old age52

Brechtrsquos tragedy teaches that man will repeat the sameerrors reiterated in the updated version of the story unless manremembers the past the sacrifice of innumerable Antigones ndash orGerman resistance fighters ndash will be useless Brecht appropriatesthe Antigone story as political instrument to reflect upon humanactions and more precisely upon the ldquomonstrousrdquo actions andchoices enacted by each single individual during the tragic years ofthe Second World War Once more classics serve as a platform tocomment upon past and present events and to question issues ofmoral choice and responsibility

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The influence of Brechtrsquos play extends beyond itsimmediate impact His version is as important as the original forthe creation of later politicized Antigones and showed the way toother adaptations that reflected on political issues of dissent andresistance

4 CONCLUSIONS

The twentieth-century reception of Sophoclesrsquo Antigoneshows how a work of art can be re-interpreted and ldquorememberedrdquoin different ways in order to fulfill a certain political agenda andpropaganda It is not only the past itself that matters but the waysin which this past is consciously re-interpreted and exploited toremember and shape contemporary events Antigone still matterstoday because of the chain of political reinterpretations that hashelped authors and audiences to remember and reflect upon thepresent through the powerful voices of heroes of the past

The ldquouses and abusesrdquo of Houmllderlinrsquos version areexemplary of the different ways of remembering the past througha work of art and of the distorting ways of using classics duringtotalitarianisms53 The play was then re-used by Brecht for differentpurposes through his adaptation of Antigone Brecht hoped to re-awaken the critical thinking of his audience and to provide themwith the instruments necessary to unveil the workings of ideologyand dictatorships It is questionable whether these and otherAntigones anchored to the history of the twentieth century havecontributed to effectively instigate a political change andsentiments of revolt or nationalism in their audiences Indeed it isundeniable that the political directions taken by the play in the lastcentury have underscored the playrsquos relevance and granted itsendurance to the present day

The playrsquos reception in this century proves the greatpolitical potentiality and versatility of a play like Antigone adaptedand staged in correspondence with important historical andpolitical events The political aspect already present in thearchetypical figure of a woman who alone defies the authority of

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the State has been uncovered by playwrights and directors whohave demonstrated that the Antigone of Sophocles is appropriatenot only to describe situations as they occurred in the twentiethcentury but it belongs to any time and place as John Kaniacknowledges

Antigone addresses itself to any corner of the world where thehuman spirit is being oppressed where people sit in jailbecause of their fight for human dignity for freedom54

These versions became a sort of ldquooriginalrdquo in their ownright and were able to turn the stage into a place where the distantpast could be revived and remembered theatre and the politicaluse of classics worked as a vehicle for memory

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ABSTRACT

Le (mis)interpretazioni di Antigone nellEuropa del ventesimosecolo Memoria Politica e Resistenza

In questo articolo si propone unrsquoanalisi del processostorico che ha portato alla concettualizzazione dellrsquo Antigone diSofocle come opera politica attraverso lrsquoanalisi della sua ricezionein Europa nel ventesimo secolo Mi concentrerograve in particolare sullatraduzione di Friedrich Houmllderlin (1804) che rappresenta una delleprime testimonianze post-rivoluzionare della politicizzazione dellastoria di Antigone egrave quindi particolarmente interessante in quantofornisce un contesto per le interpretazioni del mito da parte diBertolt Brecht e di altri autori del ventesimo secolo e rappresentaun passo cruciale verso lrsquoattuale modello interpretativo di Antigonecome icona di dissenso e resistenza radicale Appropriata sia dalregime nazista che da fazioni della Resistenza lrsquoAntigone diHoumllderlin fu sfruttata come documento politico e sovversivo ecome icona di una tradizione classica nazionalista Questoresoconto della ricezione politica dellrsquoAntigone di Sofocle nelventesimo secolo contribuiragrave a far luce sul clima ideologico che haprodotto un cosigrave grande numero di interpretazioni dellrsquooperaantica noncheacute sulle ragioni della sua pertinenza alle condizionisocio-politiche di questo secolo

PAROLE CHIAVE

Antigone Ricezione Politicizzazione Brecht Houmllderlin Sofocle

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25 HOumlLDERLIN 2001 p 7326 According to UNGER 1984 p 2 Houmllderlin showed ldquoa growing interest in and enthusiasm for the intellectual and political ideals of the French Revolutionrdquo expressed through his poetry and especially the Hymns to the Ideals of Mankind LOUTH 1998 p 155 remarks that Houmllderlinrsquos present is ldquodetermined by the French revolution and by Greek antiquityrdquo As STEINER 1984 p 81 observes this virtual manhandling is a motif entirely invented by Houmllderlin 27 HOumlLDERLIN 1963 p 676 28 PFAU 1988 p 11429 FLASHAR 2009 p 14130 See ZIOLKOWSKI 2000 p 555 FLASHAR 2009 p 16431 See FISCHER-LICHTE 2017 p 16732 Quoted in LOHSE 2006 p 16033 On the historical context see LOHSE 2006 p 152-15334 On these productions of Antigone see LOHSE 2006 p 151-186 FLASHAR 2009p 165-168 On Strouxrsquos Antigone see FISCHER-LICHTE 2017 p 171-17935 See FISCHER-LICHTE 2017 p 17736 FISCHER-LICHTE 2017 p 17637 SAVAGE 2008 p 5 In this occasion patriotic celebration occurred acrossGermany and a special edition of Houmllderlinrsquos poems was prepared by Beiszligner 38 Trans From FLASHAR 2009 p 16539 Trans RORRISON WILLETT 1993 p 30640 On this production see CASTELLARI 2011 p 156-157 See remarks in BRECHT 1988 p 12 ldquoAuf Rat von Cas nehme ich die Houmllderlinische Uumlbertragung die wenig oder nicht gespielt wirdrdquo Brecht was not aware of the theatrical success of the play during the Nazi period see FLASHAR 2009 p 141 FISCHER-LICHTE 2017 p 166-182 41 FISCHER-LICHTE 2017 p 18742 GOLDHILL 2012 p 15143 The Antigonemodell 1948 opens with a programmatic foreword it includesdrawings by Neher a sequence of images from the scene photographed by RuthBerlau in 1948 with captions in hexameters (the so called Bruumlckenverse whichform the Antigone-Legende) notes by Brecht and the full text of Antigone Inaddition the Modellbuch explains Brechtrsquos and Neherrsquos choices for the settingcostumes way of acting and moving of the performers See BRECHT 1988 p47-5544 BRECHT 1988 p 48 ldquodie groszlige Figur des Widerstands im antiken Dramarepraumlsentiert nicht die Kaumlmpfer des deutschen Widerstands die uns ambedeutendsten erscheinen muumlssenrdquo45 BRECHT 1988 p 48 ldquoFuumlr das vorliegende theatralische Unternehmen wurdedas Antigonedrama ausgewaumlhlt weil es stofflich eine gewisse Aktualitaumlt erlangenkonnte und formal interessante Aufgaben stellterdquo 46 On Brechtrsquos use of the chorus see REVERMANN 201347 On the implications and problems of citation raised in this title which allows Brecht to avoid plagiarism see SAVAGE 2006 p 153-155 TAXIDOU 2008 p 245 On Brechtrsquos ldquothieveryrdquo see BROWN 197848 BRECHT 1977 p 19 for an English translation see BRECHT 2003 p 1249 BRECHT 2003 p 12 For the original see BRECHT 1977 p 18 ldquoSchon ist erdir Gestrigesrdquo50 Brecht forced to leave his homeland when Hitler came to power because ofhis communist affiliation returned to Europe in October 1947 after years ofexile spent in Scandinavia and in the United States51 SOPHOCLES Antigone 1348-135352 In the first line of the second stasimon (SOPHOCLES Antigone 332) theSophoclean choral ode defines ldquomany thingsrdquo as δεινότερον the adjectivedeinos means ldquoformidablerdquo in the ambivalent connotation of ldquoclevermarvellousrdquo but also ldquofearful terriblerdquo Brecht renders the Greek deina withthe German ungeheuer which points exclusively to the ldquomonstrosityrdquo of man53 I borrow the formulation ldquouses and abusesrdquo from FLEMING 200654 John Kani collaborated with Athol Fugard in the South-African production ofAntigone entitled The Island Here John Kani in an interview with Martin Phillipsin Feb 2000 quoted in MEE FOLEY 2011 p 6

Significado e estrutura do argumento do terceiro homem [] | Guilherme da C A Ceciacutelio

Significado e estrutura do argumento doterceiro homem no Parmecircnides de Platatildeo Guilherme da Costa Assunccedilatildeo Ceciacutelio

RESUMO

O argumento do terceiro homem presente no Parmecircnides constituiuma formidaacutevel objeccedilatildeo agrave teoria das ideias agrave qual Platatildeo natildeoapresentou resposta expliacutecita Na primeira parte deste trabalhotrataremos brevemente da cronologia dos diaacutelogos platocircnicosprocurando situar o Parmecircnides numa ordenaccedilatildeo pelo menosplausiacutevel Em seguida analisaremos detalhadamente o argumentodo terceiro homem tal como se encontra redigido no ParmecircnidesApreciaremos tambeacutem o significado dessa objeccedilatildeo quandoconsiderada sob o prisma da funccedilatildeo causal das ideias

PALAVRAS-CHAVE

Teoria das Ideias Parmecircnides argumento do terceiro homemautopredicaccedilatildeo causalidade

SUBMISSAtildeO 29 set 2017 | PUBLICACcedilAtildeO 21 dez 2017

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Caliacuteope Presenccedila Claacutessica | 20172 Ano XXXIV Numero 34

1 INTRODUCcedilAtildeO

Parmecircnides eacute provavelmente o mais enigmaacutetico dosdiaacutelogos platocircnicos A primeira parte da obra consisteno coloacutequio entre o ceacutelebre eleata e um Soacutecrates aindabastante jovem esse propotildee e procura defender ateoria ontoloacutegica que viemos a conhecer sob o roacutetulode teoria das ideias1 agrave qual entretanto Parmecircnidesmove uma cerradiacutessima criacutetica

As objeccedilotildees contra aquela que veio a ser amais ceacutelebre das doutrinas de Platatildeo satildeo tantas e tatildeograves que natildeo deixa de surpreender quandoParmecircnides subitamente interrompe o curso de suademolidora criacutetica para encorajar o seu joveminterlocutor

Entretanto Soacutecrates disse Parmecircnides se algueacutem por outrolado ao atentar para todas as coisas mencionadas haacute pouco epara outras desse tipo natildeo admitir que haja formas dos serese natildeo separar uma forma de cada coisa uma nem sequer teraacutepara onde voltar o pensamento uma vez que natildeo admitiraacutehaver uma ideia sempre a mesma de cada um dos seres eassim arruinaraacute absolutamente o poder do dialogar Pareces-me seguramente estar ciente e muito de tal coisaDizes a verdade disse ele Que faraacutes entatildeo da filosofia Para onde te voltaraacutes sendoestas coisas desconhecidas Acho que natildeo vejo bem pelo menos no presente Eacute que Soacutecrates disse ele tentas cedo demais antes de teexercitares [gumnasqh=nai] separar um belo e um justo e umbem e cada coisa uma dentre as formas Pois me dei contadisso bem recentemente ouvindo-te aqui dialogar comAristoacuteteles aqui presente Pois fica sabendo que realmente eacutebelo e divino esse ardor que lanccedilas sobre os argumentos Masesforccedila-te e exercita-te [gumnasai] mais enquanto ainda eacutesjovem por meio disso que pela maioria eacute tido como inutil echamado de tagarelice Se natildeo a verdade te escaparaacute2

A passagem citada marca uma importante divisatildeo nodiaacutelogo a partir desse ponto a obra muda de feiccedilatildeo consistindoentatildeo numa longa e aacuterida demonstraccedilatildeo do tipo de exerciacutecio ndash

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O

Significado e estrutura do argumento do terceiro homem [] | Guilherme da C A Ceciacutelio

gumnasia ndash que Parmecircnides sugerira como meacutetodo para alcanccedilar averdade O sentido de tal gumnasia eacute poreacutem tatildeo ou mais abstrusoquanto a criacutetica agrave teoria das ideias que ocupa a primeira parte dodiaacutelogo

Sendo assim natildeo satildeo poucos os desafios que a obra impotildeeao exegeta Apesar das muitas e seacuterias dificuldades uma seccedilatildeo dodiaacutelogo tem praticamente monopolizado a atenccedilatildeo da criacuteticacontemporacircnea a saber a passagem que conteacutem o argumento doterceiro homem3 Esse argumento cuja denominaccedilatildeo nos foilegada por Aristoacuteteles4 refere-se a uma determinada espeacutecie deobjeccedilatildeo capaz de suscitar o regresso infinito das ideias platocircnicasHaacute na verdade dois argumentos desse tipo no Parmecircnides5 Estetrabalho visa examinar justamente um desses argumentos

Haacute trecircs tipos de tarefas bem diferentes para o inteacuterprete doterceiro homem A primeira eacute procurar compreender bem aestrutura do argumento e nos ocuparemos aqui dessa questatildeo asegunda tarefa eacute avaliar o sentido da aporia isto eacute o peso que essaobjeccedilatildeo possa ter para a teoria das ideias e tambeacutem a issodedicaremos nossa atenccedilatildeo por fim eacute possiacutevel ainda investigar setal aporia pode ou natildeo pode ser resolvida e se a filosofia platocircnicaestaria em condiccedilotildees de apresentar-lhe uma soluccedilatildeo essa questatildeoeacute sem duvida muito mais complexa e natildeo seraacute contemplada nestetrabalho

2 CONSIDERACcedilOtildeES PRELIMINARES 21 CRONOLOGIA E A POSICcedilAtildeO DO PARMEcircNIDES

O estudioso de Platatildeo natildeo pode deixar de se posicionardiante de algumas questotildees Especialmente quem aborda o terceirohomem e o Parmecircnides deve tratar da cronologia dos diaacutelogosvexata quaestio ainda que o faccedila de modo marginal

O advento da estilometria trouxe novas ferramentas aoestudo do corpus platonicum cujo valor eacute dificilmente contestaacutevelMas como se sabe natildeo eacute possiacutevel obter uma ordenaccedilatildeo estrita dosdiaacutelogos unicamente a partir de dados estilomeacutetricos Alinhamo-nos portanto com a tendecircncia geral dos comentadores de

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reconhecer trecircs grandes grupos de diaacutelogos que remetem aosperiacuteodos da juventude maturidade e velhice de Platatildeo

O Parmecircnides eacute normalmente considerado uma obra detransiccedilatildeo entre a maturidade e a velhice platocircnica Determinartodavia a sua exata posiccedilatildeo relativamente aos diaacutelogos dessas duasfases eacute uma tarefa muito mais complexa Natildeo sendo possiacutevelrecorrer agrave estilometria em casos como esse os estudiososfrequentemente socorrem-se de hipoacuteteses doutrinaacuterias para dataros diaacutelogos a questatildeo doutrinaacuteria mais relevante para o Parmecircnideseacute a criacutetica agrave teoria das ideias a que se assiste na primeira parte daobra Parmecircnides I6

Embora as ordenaccedilotildees variem um pouco de comentadorpara comentador em geral se aceita que o Parmecircnides seja por umlado posterior a pelo menos algumas das grandes composiccedilotildees damaturidade de Platatildeo tais como Repuacuteblica Feacutedon e Banquete poroutro lado o diaacutelogo possivelmente antecederia o Teeteto SofistaPoliacutetico Timeu Filebo e Leis

22 PARMEcircNIDES E A TEORIA DAS IDEIAS

Eacute consensual que o Parmecircnides seja um diaacutelogo de transiccedilatildeoentre as obras de maturidade e de velhice talvez a grandereferecircncia para a determinaccedilatildeo desses periacuteodos O consensoporeacutem se desfaz quando se trata de apreciar as relaccedilotildees do diaacutelogocom a questatildeo (doutrinaacuteria) da teoria das ideias e sua supostaevoluccedilatildeo

Haacute de um lado aqueles que sustentam que Platatildeo jamaisrenunciou agrave sua teoria ontoloacutegica a despeito das autocriacuteticasconsignadas no Parmecircnides E haacute por outro lado os que veemnesse diaacutelogo o marco do abandono da concepccedilatildeo das ideias7

esses ultimos ainda podem ser subdivididos em dois grupos arespeito dos quais vale a pena ler o ludico relato de ConstanceMeinwald8

A very unhappy story of Platorsquos career has been increasingly out offashion in the last half-century (Though as is often the case with oldfashions it continued to be followed by people out of the circle of the

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Significado e estrutura do argumento do terceiro homem [] | Guilherme da C A Ceciacutelio

trendsetters) In this most unhappy story Plato started writing with agracious compliment to his master The high literary achievement of themiddle-period works coincided with a philosophical high point a headyand confident time of glorious dogmatism Then after a major crisis inwhich he attacked and actually destroyed the theory that was hismasterpiece Plato spent his last years in extensive critical activity Hisnow-failing literary powers produced the late dialogues as a record of thisbarren final period A second and completely opposite story has been invogue more recently [] This second kind of interpretation whichreceived perhaps its greatest impetus from Gilbert Ryle regards the theoryof Forms of the middle period as a hopelessly flawed creation whosehopelessness was realized by Plato himself in the Parmenides He wasthen in a position to do some good philosophy in the late period Thisstory is in a way happier but the attribution to Plato of a middle theorythat can only be nonsense is a problem [] Opposite as they are thesestories have something crucial in common that the Parmenides recordsPlatorsquos realization of the unviability of a determinate theory of Formscontained in the middle dialogues and so ushers in a late period whoseprogram would have to be entirely different from that of the middleworks

Mas atualmente nenhum desses dois tipos deinterpretaccedilatildeo eacute dominante A proacutepria Meinwald9 oferece umaleitura do Parmecircnides que considera as suas criacuteticas como aporias aserem resolvidas mas que nem por isso implicam a rejeiccedilatildeo docerne da doutrina das ideias

De nossa parte cremos que Platatildeo jamais abandonou ateoria das ideias ou sequer alterou-a a tal ponto que as ideiasdeixassem de ser entes subsistentes e independentes do homem Eacuteevidente que defender semelhante posiccedilatildeo de modo exaustivoredundaria num trabalho aacuterduo e demasiado extenso

Uma meta mais modesta mas que contribui para o sucessodesta empresa geral eacute mostrar que a aporia do terceiro homemnatildeo constitui uma objeccedilatildeo inescapaacutevel Sendo assim eacute plausiacutevelque Platatildeo natildeo tenha precisado renunciar agrave sua teoria ontoloacutegicapelo menos no que diz respeito agraves dificuldades que o terceirohomem lhe opotildee Eacute claro que demonstrar essa teseadequadamente envolve examinar detidamente o Parmecircnides o quenatildeo nos cabe fazer neste momento introdutoacuterio Mas antes

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mesmo de abordarmos o diaacutelogo eacute possiacutevel apresentar umargumento externo por assim dizer em apoio agrave tese de que essaobra natildeo seja o marco do abandono da doutrina das ideias

Mesmo que natildeo se lance matildeo do Timeu como contraprovaincontrovertiacutevel da permanecircncia das ideias no corpus platonicumevitando assim a querela da sua dataccedilatildeo e por outro ladodeixando de lado a exegese de passagens controversas de diaacutelogoscomo o Sofista Filebo e Leis sem embargo ainda resta umargumento convincente e o que eacute melhor bastante simples

Dentre os que receberam a obra do filoacutesofo naAntiguidade jamais houve quem supusesse que Platatildeo tivesserenunciado agraves ideias Ademais o seu maior criacutetico Aristoacuteteles natildeoteria deixado de no-lo relatar caso isso houvesse ocorrido Defato que melhor sinal da falecircncia da teoria que ele tanto criticavado que o abandono da mesma por parte de seu autor10

Dito isto eacute contudo razoaacutevel supor algum grau demodificaccedilatildeo na concepccedilatildeo das ideias talvez mais insensato do quesupor o abandono da teoria das ideias seja supor que ao longoduma obra tatildeo vasta certos aspectos natildeo tenham sido repensadose ajustados Apreciar todavia o alcance dessas alteraccedilotildees excedecompletamente o escopo deste trabalho11

23 CAUSALIDADE

Cabe ainda uma ultima consideraccedilatildeo de caraacuteter geral Aotratar da teoria das ideias acreditamos ser impossiacutevel abrir matildeo danoccedilatildeo de causa ai0tia Efetivamente neste trabalho faremos largouso da expressatildeo fato que demanda uma explicaccedilatildeo preacutevia paraevitarmos uma seacuterie de graves mal-entendidos

Alguns platonistas manifestam certa resistecircncia ao usodesse termo de certa forma isso eacute compreensiacutevel uma vez quecomo sabe o estudioso de filosofia antiga ele eacute bastante ambiacuteguoPor um lado o modo como eacute entendido nos dias de hoje serestringe fundamentalmente ao conceito de causa eficiente o qualestaacute longe de exprimir toda a valecircncia do termo ai0tia por outrolado pode-se argumentar que Platatildeo natildeo possui propriamente uma

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teoria das causas o que soacute se atingiu com Aristoacuteteles Sendo assimargumentam alguns conviria evitar a problemaacutetica expressatildeo

Noacutes pelo contraacuterio afirmamos que ao recorrer agrave noccedilatildeo decausa o inteacuterprete ganha muito mais do que eventualmente perdeTrata-se na verdade dum conceito indispensaacutevel para quem lidacom a teoria das ideias de que outro modo descrever a funccedilatildeo dasideias com relaccedilatildeo agraves realidades sensiacuteveis senatildeo como uma funccedilatildeocausal12 E natildeo se trata apenas dum recurso exegeacutetico do qual ointeacuterprete lanccedilaria matildeo como que a despeito da letra do textoPlatatildeo utiliza largamente o termo ai0tia tratando-se ateacute mesmodum problema de traduccedilatildeo Cabem todavia algumas ressalvas

Dizer que as ideias tenham funccedilatildeo causal natildeo significaafirmar que Platatildeo tenha expliacutecita e exaustivamente tratado dotema coisa que como jaacute referimos soacute vem a ocorrer comAristoacuteteles

Aleacutem disso impende ressaltar que defender a funccedilatildeo causaldas ideias natildeo implica de modo algum comprometer-se com oecircxito completo de tal funccedilatildeo Sendo assim o que sustentamos eacuteque a teoria das ideias eacute indissociaacutevel de um esforccedilo de explicaccedilatildeocausal julgar o sucesso de semelhante esforccedilo eacute jaacute outra questatildeo agravequal natildeo poderemos nos dedicar aqui

Sendo assim a noccedilatildeo de causalidade com quetrabalharemos poderia ter por equivalente a noccedilatildeo deldquoresponsabilidaderdquo que talvez possua a vantagem de indicar ocaraacuteter necessaacuterio mas natildeo suficiente das ideias para a explicaccedilatildeode determinado dado sensiacutevel Assim por exemplo a ideia demesa eacute um item necessaacuterio para explicar uma mesa sensiacutevel masnatildeo suficiente a explicaccedilatildeo completa dessa requer ainda nomiacutenimo um agente e um material

Feitas essas consideraccedilotildees podemos nos voltar para onosso objeto de estudo o argumento do terceiro homem tal comoo formulou Platatildeo no Parmecircnides

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3 O ARGUMENTO DO TERCEIRO HOMEM

31 RECONSTRUCcedilAtildeO DO ARGUMENTO DO TERCEIRO HOMEM

Antes de avaliarmos o peso da objeccedilatildeo do terceiro homemp a r a a filosofia de Platatildeo eacute indispensaacutevel compreendecirc-laadequadamente Leiamos pois em primeiro lugar o trechorelevante do diaacutelogo

Creio que tu crecircs que cada forma eacute uma pelo seguintequando algumas coisas multiplas te parecem ser grandestalvez te pareccedila a ti que as olhas todas haver uma certa ideiauma e a mesma em todas donde acreditas o grande ser umDizes a verdade disse ele Mas e quanto ao grande mesmo e agraves outras coisas grandesSe olhares da mesma maneira com a alma para todos essesnatildeo apareceraacute de novo um grande um em virtude do qual eacutenecessaacuterio todas aquelas coisas aparecerem como grandesParece que simLogo uma outra forma de grandeza apareceraacute surgindo aolado da grandeza mesma e das coisas que desta participam Esobre todas essas apareceraacute de novo outra de modo a emvirtude dela todas essas serem grandes E natildeo mais seraacute umacada uma das tuas formas mas ilimitadas em quantidade13

Para evidenciar a estrutura loacutegica do trecho supracitadovalemo-nos do importante estudo de Gregory Vlastos14 mastambeacutem de contribuiccedilotildees de outros estudiosos Eis o esquema quepropomos

(i) O dado de base eacute uma multiplicidade (indiviacuteduos a b cetc) que possui determinada propriedade F (ii) ldquoum sobre muitosrdquo15 a essa multiplicidade correspondeuma unidade a ideia F-dade em virtude da qual amultiplicidade possui a propriedade F(iii) autopredicaccedilatildeo F-dade eacute F (iv) natildeo identidade se x possui a propriedade F x natildeocoincide com F a forma em virtude da qual x possui F

De acordo com (iii) a proacutepria ideia F-dade eacute F logo elapode ser o substituto da variaacutevel x em (iv) o que impotildee aexistecircncia de uma nova forma F-dade1 que sirva como substituto

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da variaacutevel F Como F-dade1 estaacute sujeita agrave autopredicaccedilatildeo F-dade1

tambeacutem pode substituir a variaacutevel x na premissa (iv) instaurando-se assim o regresso infinito das formas

Conveacutem agora cotejarmos a nossa reconstruccedilatildeo doargumento com o texto do ldquoParmecircnidesrdquo

Os passos (i) e (ii) encontram correspondecircncia nestaafirmaccedilatildeo

Creio que tu crecircs que cada forma eacute uma pelo seguintequando algumas coisas multiplas te parecem ser grandestalvez te pareccedila a ti que as olhas todas haver uma certa ideiauma e a mesma em todas donde acreditas o grande ser um16

Nela estaacute contido o dado de base isto eacute a existecircncia devaacuterias coisas sensiacuteveis que satildeo grandes ou seja uma multiplicidadeempiacuterica de indiviacuteduos dotados da propriedade F Ta lmultiplicidade se explica por referecircncia a ldquouma certa ideia uma e amesmardquo a ideia de grandeza ou em geral F-dade trata-se aqui doprinciacutepio do ldquoum sobre muitosrdquo

Quanto agrave autopredicaccedilatildeo cremos que ela opere noseguinte trecho

Mas e quanto ao grande mesmo e agraves outras coisas grandesSe olhares da mesma maneira com a alma para todos essesnatildeo apareceraacute de novo um grande um em virtude do qual eacutenecessaacuterio todas aquelas coisas aparecerem como grandes17

Parmecircnides sugere que o ldquogrande mesmordquo (auto to mega)isto eacute a ideia de grandeza e ldquoas outras coisas grandesrdquo (ta]lla tamegala) isto eacute a multiplicidade sensiacutevel de que se partiu sejamconsideradas ldquoda mesma maneirardquo expressatildeo que traduz oadveacuterbio grego w9sautwj aqui parece residir um sinal daautopredicaccedilatildeo18 Segundo o que fora haacute pouco admitido as coisassensiacuteveis satildeo grandes considerar ldquoda mesma maneirardquo - w9sautwj -a ideia de grandeza soacute poderia significar entatildeo predicar tambeacutemdela o ldquogranderdquo ou seja a autopredicaccedilatildeo

A autopredicaccedilatildeo eacute ainda mais visiacutevel na conclusatildeo doargumento

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Logo uma outra forma de grandeza apareceraacute surgindo aolado da grandeza mesma e das coisas que desta participam Esobre todas essas apareceraacute de novo outra de modo a emvirtude dela todas essas serem19 grandes E natildeo mais seraacuteuma cada uma das tuas formas mas ilimitadas emquantidade20

Na frase ldquotodas essas serem grandesrdquo (tau=ta panta megalae1stai) a referecircncia de ldquotodasrdquo patentemente inclui a ideia degrandeza de que se partiu bem como outras ideias de grandezaderivadas do regressus isto eacute afirma-se que as ideias de grandeza satildeograndes

Jaacute o princiacutepio de natildeo identidade estaacute apenas impliacutecito emtodo o trecho mas nem por isso ele eacute menos operante Bem aocontraacuterio sobre ele estaacute fundada toda a argumentaccedilatildeo a suposiccedilatildeoinicial de que existe uma ideia para dar conta duma multiplicidadeque possui a propriedade F estaacute baseada na convicccedilatildeo de que aposse dessa propriedade se explica por referecircncia a um indiviacuteduopor assim dizer externo ao grupo de indiviacuteduos caracterizados porF e quando a proacutepria ideia passa a ser caracterizada por F(autopredicaccedilatildeo) a mesma convicccedilatildeo impotildee a existecircncia dumanova ideia

Sendo assim estamos aptos a concluir que o terceirohomem tal como ele estaacute redigido no Parmecircnides conteacutem osprinciacutepios que acabamos de expor21 redundando portanto nadeflagraccedilatildeo de seacuteries infinitas de ideias platocircnicas isto eacute de acordocom as premissas do argumento cada propriedade F gera oconjunto infinito F-dade1 F-dade2 F-dade3 onde F-dade eacute umavariaacutevel que representa ideias platocircnicas

Antes de avanccedilarmos conveacutem prestarmos algunsesclarecimentos gerais acerca do terceiro homem e dos princiacutepiosque o constituem

32 OBSERVACcedilOtildeES TERMINOLOacuteGICAS

O famoso princiacutepio da autopredicaccedilatildeo eacute tambeacutem chamadopor alguns de princiacutepio da autoexemplificaccedilatildeo22 Isso reflete a

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tentativa em si mesma correta de evitar o sabor linguiacutestico daexpressatildeo ldquoautopredicaccedilatildeordquo De fato predicaccedilatildeo eacute algo que aprinciacutepio diz respeito somente agrave linguagem mas as ideias natildeo satildeoentes linguiacutesticos natildeo satildeo predicados que se predicam de simesmos23 Ao contraacuterio o termo ldquoautoexemplificaccedilatildeordquo indicariaque se trata de um ente que se autoexemplifica isto eacute manifesta apropriedade a si associada a beleza exemplifica o belo etc

Embora concordemos com ta l observaccedilatildeo aautopredicaccedilatildeo jaacute eacute uma expressatildeo consolidada de modo quepreferimos mantecirc-la para natildeo acrescentar mais um elementocomplicador agrave discussatildeo

Analogamente alguns sugerem que a expressatildeo ldquonatildeoidentidaderdquo eacute infeliz o melhor nome para o princiacutepio seria ldquonatildeoautoexplicaccedilatildeordquo (non-self-explanation)24 porque o princiacutepio reza quese um determinado ente x possui a propriedade F a posse de F natildeopode ser explicada com apelo ao proacuteprio x sendo preciso um outroente ou seja y em funccedilatildeo do qual x possui F em suma a posse deuma propriedade natildeo se explica por referecircncia ao proacuteprioindiviacuteduo que a possui

Tal como no caso da autopredicaccedilatildeo mesmo concordandocom as ressalvas preferimos nos ater agrave terminologia consagradanesse caso o princiacutepio da natildeo identidade

4 SIGNIFICADO DO REGRESSO INFINITO NO PARMEcircNIDES

Eacute possiacutevel dividir o Parmecircnides em duas partes A primeiranarra o encontro verdadeiro acontecimento da filosofia nascentede Zenatildeo Parmecircnides e Soacutecrates que supostamente teria tidolugar por ocasiatildeo da visita dos eleatas a Atenas A segunda parteconteacutem a seacuterie de hipoacuteteses e deduccedilotildees que a personagem tiacutetuloleva a cabo na companhia dum jovem Aristoacuteteles homocircnimo doestagirita

Parmecircnides I consiste na apresentaccedilatildeo publica duma hipoacuteteseontoloacutegica seu propositor eacute um jovem promissor Soacutecrates quevecirc todavia sua hipoacutetese ser severamente criticada pelo experienteParmecircnides Trata-se dum momento privilegiado se eacute verdade que

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o corpus platonicum eacute perpassado pela discussatildeo das ideias elassempre surgem in medias res estando tacitamente suposto que osinterlocutores jaacute estariam familiarizados com as ideias antes que odiaacutelogo houvesse comeccedilado No Parmecircnides a teoria das ideias eacuteverdadeiramente apresentada aleacutem disso os interlocutores satildeoverdadeiros expertos capazes de discuti-la criticamente

Embora se trate duma discussatildeo muito breve quaseapressada pode-se haurir de Parmecircnides I o acircmago da teoria dasideias suas metas e sobretudo as aporias a ela relacionadas

A essecircncia da teoria estaacute presente na primeira intervenccedilatildeode Parmecircnides

Soacutecrates disse quatildeo digno eacutes de ser admirado pelo ardor quetens pelos argumentos Mas dize-me tu mesmo assim fizestea divisatildeo tal como falas de um lado certas formas mesmas deoutro as coisas que delas participam [metexonta] E te parecea semelhanccedila mesma ser algo separada da semelhanccedila quetemos e tambeacutem o um e as multiplas coisas e todas as coisasque haacute pouco ouviste de ZenatildeoParece-me que sim disse SoacutecratesSeraacute que tambeacutem disse Parmecircnides coisas tais como umacerta forma em si e por si do justo e tambeacutem do belo e dobom e ainda de todas coisas desse tipoSim disse ele25

Trata-se duma teoria ontoloacutegica que opera uma divisatildeo noreal de um lado certos entes as ideias e de outro as coisassensiacuteveis Essa dicotomia deve ser poreacutem nuanccedilada existetambeacutem algum tipo de relaccedilatildeo entre os dois polos como se sabePlatatildeo expressou tal relaccedilatildeo com vaacuterios termos mas o mais ceacutelebrede todos eacute a participaccedilatildeo meqecij

Mas dize-me o seguinte parece-te como dizes haver certasformas em tendo participaccedilatildeo [metalambanonta] nas quaisessas outras coisas aqui recebem suas denominaccedilotildees Porexemplo se tecircm participaccedilatildeo [metalabonta] na semelhanccedilaas coisas se tornam semelhantes se na grandeza grandes seno belo e na justiccedila justas e belasPerfeitamente disse Soacutecrates26

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Passagens como essa sintetizam bem a razatildeo de ser dahipoacutetese das ideias visa-se explicar as caracteriacutesticas das coisassensiacuteveis tais como a grandeza a justiccedila etc Destarte a teoria dasideias forneceria um fundamento seguro para um dado sensiacutevelbruto as coisas sensiacuteveis satildeo sim grandes ou justas e elas o satildeoporque participam da ideia de grandeza ou da ideia de justiccedila Essanos parece ser uma explicaccedilatildeo de tipo causal eacute graccedilas agraves ideias queas coisas sensiacuteveis possuem suas propriedades27 E semelhantefunccedilatildeo causal das ideias eacute tambeacutem expressa ainda queresumidamente em outras passagens do Parmecircnides28 Dito issovoltemo-nos para o terceiro homem

Defendemos que os princiacutepios contidos no argumento doterceiro homem natildeo interagem de modo a produzir qualquercontradiccedilatildeo em sentido estrito como pretendeu Vlastos masunicamente um regressus ad infinitum Cabe agora nos determos umpouco mais no significado do regresso O problema pode serresumido na seguinte questatildeo por que ele seria indesejaacutevel oumesmo temiacutevel Vejamos mais uma vez o proacuteprio texto dodiaacutelogo

Creio que tu crecircs que cada forma eacute uma pelo seguinte quandoalgumas coisas multiplas te parecem ser grandes talvez tepareccedila a ti que as olhas todas haver uma certa ideia uma e amesma em todas donde acreditas o grande ser umDizes a verdade disse ele Mas e quanto ao grande mesmo e agraves outras coisas grandesSe olhares da mesma maneira com a alma para todos essesnatildeo apareceraacute de novo um grande um em virtude do qual eacutenecessaacuterio todas aquelas coisas aparecerem como grandesParece que simLogo uma outra forma de grandeza apareceraacute surgindo aolado da grandeza mesma e das coisas que desta participam Esobre todas essas apareceraacute de novo outra de modo a emvirtude dela todas essas parecerem grandes E natildeo mais seraacuteu m a c a d a uma das tuas formas mas ilimitadas emquantidade29

Mantivemos na citaccedilatildeo o grifo proposto pelos tradutoresdo diaacutelogo nas palavras ldquoumrdquoldquoumardquo correspondentes do

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numeral ei[j mia e3n De fato a noccedilatildeo de unidade numeacuterica eacuteessencial para o argumento ldquonatildeo mais seraacute uma cada uma das tuasformas mas ilimitadas em quantidaderdquo eacute a acusaccedilatildeo do velhoeleata

O tema do uno e do multiplo tem importacircncia capital noplatonismo De algum modo eacute essa a questatildeo que resume a teoriadas ideias uma teoria que supotildee uma unidade para explicar umamultiplicidade que natildeo eacute capaz de explicar-se a si mesma Massalientar a relevacircncia da questatildeo unomultiplo natildeo resolve ainda oproblema se natildeo se der uma explicaccedilatildeo do sentido exato dessapolaridade Em nossa opiniatildeo a unica resposta satisfatoacuteria tem dese apoiar sobre a noccedilatildeo de causa

A ideia eacute de algum modo responsaacutevel pela multiplicidadeldquoum grande um em virtude do qual eacute necessaacuterio todas aquelascoisas aparecerem como grandes [] ([]e3n ti [] mega []w |[tau=ta panta megala fainesqai []rdquo A ideia a unidade eacute aquilo emvirtude do que o multiplo eacute tal como ele eacute

Poder-se-ia levantar aqui uma dificuldade No trechocitado atribui-se agrave ideia de grandeza o poder de fazer as coisassensiacuteveis ldquoaparecerem [fainesqai] como grandesrdquo isto eacute a ideianatildeo faria com que a multiplicidade sensiacutevel seja grande Em outrostermos o que se tem expressis verbis eacute uma causalidade um tantocuriosa tratar-se-ia da causa do conhecer ou do perceber certacaracteriacutestica si licet duma causalidade epistemoloacutegica

Tal tipo de visatildeo nos parece equivocada A causalidade queas ideias tecircm de desempenhar eacute uma ldquocausalidade ontoloacutegicardquo asideias devem ser causa do ser das coisas e natildeo apenas dapercepccedilatildeo do sujeito Se assim natildeo fosse chegar-se-ia finalmenteaos antiacutepodas do platonismo as coisas sensiacuteveis jaacute estariamconstituiacutedas sem o contributo das ideias as quais serviriamunicamente para que o sujeito percebesse ou conhecesse osensiacutevel30

No entanto natildeo se deve conceder demasiada atenccedilatildeo aocaraacuteter fenomecircnico do verbo na passagem supracitada podemosargumentar que o sensiacutevel soacute aparece de determinado modoporque ele eacute desse modo e assim ele eacute em virtude das ideias A

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conclusatildeo do argumento retira qualquer duvida ldquoE sobre todasessas apareceraacute de novo outra de modo a em virtude dela todasessas serem grandes (kai e0pi toutoij au] pa=sin e3teron w[| tau=tapanta megala e1stai)rdquo31

Dito isso estaacute aberto o horizonte para a determinaccedilatildeo dareal natureza e forccedila da aporia do terceiro homem Natildeo se tratacomo defendeu Vlastos em seu artigo de 1954 duma fatalcontradiccedilatildeo mas sim dum regressus ad infinitum cujo sentido soacute sedesvela na associaccedilatildeo com a noccedilatildeo de causalidade entendida domodo ora defendido

O jovem Soacutecrates acaba de propor a hipoacutetese das ideias eParmecircnides lhe objeta dentre outras coisas que ela estaacute enredadanum regresso infinito Soacutecrates poderia talvez dar de ombros econtra-argumentar que enquanto for possiacutevel explicar determinadacaracteriacutestica presente na multiplicidade por exemplo a grandezapouco lhe importa que haja infinitas formas responsaacuteveis(causalmente) pela grandeza Se se atentar apenas para o ponto devista da proposiccedilatildeo duma hipoacutetese o regressus poderia ser vistocomo um constrangimento mas natildeo necessariamente como umaobjeccedilatildeo inescapaacutevel Quando se considera poreacutem o papel que anoccedilatildeo de causalidade desempenha no argumento eacute possiacutevelapreciar a verdadeira forccedila do terceiro homem

A hipoacutetese de Soacutecrates consiste em que determinadacaracteriacutestica tal como a grandeza que se encontra em multiplascoisas sensiacuteveis requer uma ideia em virtude da qual essas coisassensiacuteveis satildeo grandes Mas como a ideia de grandeza eacute por via daautopredicaccedilatildeo grande tambeacutem ela necessita duma ideia que seja acausa do fato de ela ser grande Se ex hypothesi terminasse aqui aseacuterie talvez natildeo houvesse problema haveria apenas um caso suigeneris em que uma propriedade exigiria duas ideias como causaEntretanto a segunda ideia a ideia de grandeza1 tambeacutem ela eacutegrande exigindo uma nova ideia que seja sua causa e assimsucessivamente Como poreacutem o que estaacute em jogo eacute um nexocausal a noccedilatildeo do ldquoassim sucessivamenterdquo torna-se imediatamentecriacutetica porque significa que nenhuma ideia se impotildee como causadaiacute resultando que nenhum efeito chegaria a ser causado dizer que

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determinado grupo de indiviacuteduos natildeo se explica por si mesmo eexige uma ideia em virtude da qual aquela multiplicidade se daacuteequivale a dizer que sem essa ideia a multiplicidade eacute que natildeo sedaacute a ideia eacute condiccedilatildeo sine qua non de determinada multiplicidade

Em suma o problema do regresso eacute justamente o seucaraacuteter infinito se natildeo fosse infinito haveria uma certa forma natildeoimporta ldquosobrerdquo quantas outras formas que seria a causa de tudoque ldquosobrdquo si se encontra Mas o caraacuteter infinito do regressoimpede justamente isso que haja a forma que seja a causa ultima(ou primeira como se preferir) da propriedade em questatildeo

A hipoacutetese de Soacutecrates parte dum fato haacute um grupo decoisas sensiacuteveis (a b c etc) caracterizadas todas elas por umpredicado F ests eacute o explanandum Trata-se do explanandumprecisamente porque estaacute suposto que uma multiplicidadecaracterizada por F natildeo se explica por si mesma nenhum de seusmembros eacute capaz de figurar como causa do fato de que ele mesmoe os demais membros desta multiplicidade possuem a caracteriacutesticaF sendo exigido portanto um explanans a ideia F-dade Mas F-dade tambeacutem possui a propriedade F a autopredicaccedilatildeo redundapois na inclusatildeo da ideia o explanans no grupo de coisas quecaracterizadas por F portanto no explanandum Tal operaccedilatildeo ainclusatildeo do explanans no explanandum eacute decisiva e ela se repete adinfinitum sempre que se postular uma nova ideia que se esperariaque funcionasse como definitivo explanans nesse exato momentoela recai no explanandum

A estrateacutegia de Parmecircnides ao formular essa aporia eacutemostrar que a doutrina das ideias em cujo acircmago estaacute a intenccedilatildeode explicar determinada multiplicidade sensiacutevel pode ser revertidae levada agrave autodestruiccedilatildeo precisamente no tocante agrave sua pretensatildeocausal Embora o argumento do terceiro homem natildeo revele umacontradiccedilatildeo stricto sensu inserida na teoria das ideias ele constituisem duvida uma temiacutevel dificuldade capaz de tornar supeacuterflua aproacutepria hipoacutetese das ideias

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ABSTRACT The Significance and Structure of the Third Man Argument inPlatos Parmenides

The Third Man Argument found in the Parmenides is aformidable objection to the Theory of Forms to which Plato didnot provide an explicit answer In the first part of this paper webriefly discuss the chronology of the Platonic dialogues trying tolocate the Parmenides in at least a plausible position We thenscrutinize the Third Man argument as it appears in the ParmenidesWe also evaluate the significance of the referred objectionespecially from the perspective of the Formsrsquo causal role

KEYWORDS

Theory of Forms Parmenides The Third Man Argument Self-predication Causality

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REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS BURNET John Platonis opera Oxford Clarendon Press 1967CHERNISS Harold The Relation of the Timaeus to Platos Later Dialogues TheAmerican Journal of Philology v 78 n 3 1957 p 225-266 COHEN Marc The Logic of the Third Man The Philosophical Review v 80n 4 1971 p 448-475 CORNFORD F M Plato and the Parmenides Parmenidesrsquo Way of Truth andPlatorsquos Parmenides translated with an introduction and a running commentaryLondon Routledge amp Kegan Paul 1939FERRARI Franco Parmenide Milano BUR 2007 FRONTEROTTA Francesco ΜΕΘΕΞΙΣ La teoria platonica delle Idee e lapartecipazione delle cose empiriche - Dai dialoghi giovanili al Parmenide PisaScuola Normale Superiore 2001GUTHRIE W K C A History of Greek Philosophy Later Plato and theAcademy Cambridge Cambridge University Press 1978JAEGER Werner Aristotelis Metaphysica Oxford Oxford University Press1957MEINWALD Constance Good-bye to Third Man in KRAUT Richard TheCambridge Companion to Plato New York Cambridge University Press1993 p 365-396MORAVCSIK Julius Recollecting the Theory of Forms in WERKMEISTER W HFacets of Platorsquos Philosophy Assen Van Gorcum 1976 p 1-20OWEN GEL The Place of Timaeus in Platorsquos Dialogues Classical Quarterlyv 3 n 12 1953 p 79-95PETERSON Sandra A Reasonable Self-Predication Premise for the Third ManArgument The Philosophical Review v 82 n 4 1973 p 451-470PLATAtildeO Parmecircnides Traduccedilatildeo introduccedilatildeo e notas de Maura Igleacutesias eFernando Rodrigues Satildeo Paulo Loyola 2003SAYRE Kenneth Platorsquos Late Ontology a Riddle Resolved Las VegasParmenides Publishing 2005 SILVERMAN Allan The Dialectic of Essence a Study of Platorsquos MetaphysicsPrinceton Princeton University Press 2002 STRANG Colin Plato and the Third Man Proceedings of the AristotelianSociety v 37 1963 p 147-164VLASTOS Gregory The Third Man Argument in the Parmenides ThePhilosophical Review v 63 n3 1954 p 319-349______ Platorsquos lsquoThird Manrsquo Argument (Parm 132 A1-B2) Text and Logic ThePhilosophical Quarterly v 19 n 77 1969 p 289-301 ______ Platonic Studies Princeton Princeton University Press 1981 (1aed 1973)

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1 Sabe-se que a expressatildeo ldquoteoria das Ideiasrdquo eacute puramente didaacutetica natildeoencontrando paralelo nos textos de Platatildeo Servimo-nos livremente dela nesteartigo por julgar que feitas certas ressalvas ela eacute inofensiva e tambeacutem util Eacuteevidente que ao falarmos de ldquoteoria das Ideiasrdquo natildeo pretendemos atribuir aPlatatildeo um tratamento perfeitamente sistemaacutetico da questatildeo das Ideias o termoldquoteoriardquo certamente natildeo estaacute sendo usada no mesmo sentido que em ldquoteoria darelatividaderdquo por exemplo Contudo eacute inegaacutevel que se encontra espalhadapelos escritos de Platatildeo a recorrente afirmaccedilatildeo de que existem certos entesinteligiacuteveis eacute pois conveniente chamar de ldquoteoriardquo o conjunto destasafirmaccedilotildees acerca das Ideias ou se se preferir eacute possiacutevel fazer-lhe referecircnciacom as expressotildees ldquodoutrinardquo ou ldquohipoacutetese das Ideiasrdquo2 PLATAtildeO Parmecircnides 135b-d3 Talvez sua fama seja ainda maior ldquothe most famous argument in ancient philosophyrdquo(SILVERMAN 2002 p 110 apud FERRARI 2007 p 64) 4 ARISTOacuteTELES Metafiacutesica 990b15-17 Para um inventaacuterio da histoacuteria doargumento do Terceiro Homem ver CORNFORD 1939 p 87-955 PLATAtildeO Parmecircnides 131e-132b e 132d-133a6 Chamaremos de Parmecircnides I a primeira parte do diaacutelogo (126a-137c) em que ojovem Soacutecrates vecirc sua hipoacutetese das Ideias ser atacada pelos eleatas e deParmecircnides II (137c-166c) a seccedilatildeo que conteacutem as diversas ldquohipoacutetesesrdquo Propomostal divisatildeo de modo didaacutetico sem nos comprometermos com hipoacutetesesheterodoxas tais como a que foi propugnada por Sayre o qual sustentalanccedilando matildeo inclusive duma abordagem estilomeacutetrica que Parmecircnides I tenhasido escrito num periacuteodo anterior e distante do periacuteodo de composiccedilatildeo deParmecircnides II cf SAYRE 2005 p 256-2717 Neste caso eacute indispensaacutevel fornecer alguma interpretaccedilatildeo dos diaacutelogoscomumente aceitos como sendo posteriores ao Parmecircnides O Teeteto constitui umrelevante sustentaacuteculo para tal linha exegeacutetica uma vez que natildeo conteacutem clarasreferecircncias agraves Ideias o Sofista eacute por sua vez frequentemente objeto deinterpretaccedilotildees deflacionaacuterias no tocante agraves Ideias as quais nestes casos tecircm oseu estatuto de realidades subsistentes e transcendentes posto em xeque emfavor do seu caraacuteter loacutegico-linguiacutestico O Filebo patenteia uma ldquonova ontologiardquoou pelo menos introduz novos termos que nem sempre satildeo facilmenteharmonizaacuteveis com a teoria das Ideias em sua versatildeo standard Quanto ao Timeudiaacutelogo que poderia resolver a controveacutersia uma vez que sua linguagem eacute emtudo semelhante agrave das grandes obras do periacuteodo maduro de Platatildeo emergiu noseacuteculo XX uma querela acerca de sua dataccedilatildeo Seria temeraacuterio entrarmos nosdetalhes dessa discussatildeo mas grosso modo defendeu-se que o Timeu natildeo estivesseentre os diaacutelogos da velhice e sim fizesse parte do periacuteodo da maturidadeResolver-se-ia assim o grande entrave agraves teses mais radicais acerca da evoluccedilatildeoda filosofia de Platatildeo cf OWEN 1953 CHERNISS 19578 MEINWALD 1993 p 389-3909 Idem ibidem p 39010 Guthrie (1978 p 60) apresenta um argumento semelhante 11 Remetemos a Fronterotta (2001) para uma interessante e soacutebria anaacutelise daldquoevoluccedilatildeordquo da teoria das Ideias segundo a qual a teoria se modificou sem jamaisrenunciar ao seu nucleo a saber a condiccedilatildeo subsistente e transcendente dasIdeias 12 O locus claacutessico eacute Feacutedon 96a-105c mas referecircncias agrave etiologia podem serencontradas em muitos lugares Eis algumas das passagens mais significativasPLATAtildeO Repuacuteblica 507a-509c PLATAtildeO Timeu 18a-b 28a 28b-c 29d-30a PLATAtildeOFilebo 26e-27c Ver tambeacutem FERRARI 2007 p 39-4113 PLATAtildeO Parmecircnides 132a-b14 Neste importante artigo Vlastos (1994) defendeu a tese radical de que aobjeccedilatildeo do Terceiro Homem redundaria numa contradiccedilatildeo stricto sensu entreduas das premissas do argumento posiccedilatildeo errocircnea que ele mais tarde veio aretificar neste outro importante artigo sobre o tema Vlastos 1969Empreendemos uma anaacutelise detalhada destes trabalhos de Vlastos num artigoque publicado pela revista Claacutessica ndash Revista Brasileira de Estudos Claacutessicos

15 Este princiacutepio eacute explorado por comentadores de liacutengua inglesa sob o nomeldquoOne over Manyrdquo frequentemente abreviado ldquoOMrdquo cf STRANG 1963 COHEN1971 16 PLATAtildeO Parmecircnides 132a17 PLATAtildeO Parmecircnides 132a18 Assim o observa Franco Ferrari (2007 p 217 nota 50)19 Permitimo-nos substituir aqui a opccedilatildeo dos tradutores ldquopareceremrdquo porldquoseremrdquo uma vez que no grego se tem a forma verbal e1stai20 PLATAtildeO Parmecircnides 132a-b21 Ativemo-nos agrave ldquoprimeira versatildeordquo do Terceiro Homem presente no Parmecircnidesjulgamo-nos dispensados de fazer a mesma anaacutelise da ldquosegunda versatildeordquondashcontida em Parmecircnides 132c-133a ndash porque tal como Vlastos acreditamos queambas as ldquoversotildeesrdquo conteacutem as mesmas etapas loacutegicas 22 Em inglecircs self-exemplification cf MORAVCSIK 197623 O proacuteprio Vlastos (1969 p 300 n 36) reconhece a utilidade de semelhantedistinccedilatildeo ldquoI so labelled this assumption in 1954 under Taylors influence who hadidentified it uncritically with the closely related assumption that a character can be predicatedof itself which generated the Russellian paradox Since I did not impute just this assumptionto Plato ndash I was not maintaining that what was predicated of F-ness was F-ness itself insteadof F ndash I should have made it clear then [hellip] that Self-Predication if used at all could onlybe used with a certain licence As Sellars had pointed out (1955 p 414) the assumptionwhich is being made here ldquowould be formulated more correctly as The adjective correspondingto the name of any Form can correctly be predicated of that Formrdquo Some such label asHomocharacterization would have been more exact and I have tried at times to switch to thisin lectures and seminars But Self-Predication is now firmly entrenched in the literature and Isee no harm in its continuing use subject to the above provisordquo24 cf PETERSON 1973 p 45325 PLATAtildeO Parmecircnides 130a-b26 PLATAtildeO Parmecircnides 130e-131a27 Como aludimos no item 23 deste trabalho ao utilizarmos aqui a noccedilatildeo decausalidade natildeo nos comprometemos com o ecircxito completo da funccedilatildeo causaldas Ideias ou da doutrina da participaccedilatildeo a qual eacute como sabemos pelo proacuteprioParmecircnides uma doutrina eivada de problemas Quando afirmamos que as Ideiassatildeo causa do sensiacutevel queremos significar apenas que elas satildeo um elementonecessaacuterio mas natildeo suficiente para que as coisas sensiacuteveis sejam tais como satildeoAssim se dizemos que a Ideia de Mesa eacute causa da mesa de madeira certamenteela natildeo eacute o unico elemento responsaacutevel pela mesa de madeira sendoindispensaacuteveis tambeacutem a proacutepria madeira e um artesatildeo28 cf PLATAtildeO Parmecircnides 128e-129a PLATAtildeO Parmecircnides 131c-d29 PLATAtildeO Parmecircnides 132a-b30 Tal posiccedilatildeo que remete agraves interpretaccedilotildees neokantianas da filosofia de Platatildeo eacute firmemente contestada por Francesco Fronterotta (2001 p 206-222)31 Traduccedilatildeo ligeiramente modificada

Identidad ritual y performance [hellip] | Maria del Pilar

Identidad ritual y performance unanaacutelisis de los primeiros dos versos deSuplicantes de Esquilo1

Mariacutea del Pilar Fernaacutendez Deagustini

RESUMEN

La recitacion que acompana la marcha anapestica (v 1-39) que dainicio a la performance de Suplicantes de Esquilo presenta dos de lostres componentes baacutesicos de un himno2 epiacuteklesis (v 1-3) y eucheacute (v23-39) La epiacuteklesis indirecta (Er-Stil v 1- 2) establece el contactoentre los hablantes ndash las Danaides que integran el coro ndash y eldestinatario divino ndash Zeus ndash confiriendole a la recitacion caraacutecterhiacutemnico desde la primera palabra Se trata de una composicion dedos versos extremadamente simple la mencion del dios al que sedirige el himno su epiacuteteto y el llamado de atencion que introduceal hablante Nuestro trabajo pretende demostrar que no obstantela brevedad de la epiacuteklesis cada elemento condensa sentidosfundamentales para la interpretacion de la oda inicial y de la matrizritual en la que se inscribe la composicion de la obra comototalidad

PALABRAS-CLAVE

Ritual performance Suplicantes Esquilo

SUBMISSAtildeO 15 nov 2017 | PUBLICACcedilAtildeO 31 dez 2017

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n anaacutelisis de la oda inicial de Suplicantes de Esquiloinvolucra dos aspectos fundamentales Como se tratade un drama carente de prologo en el que el cantocoincide con la inauguracion de la accion insta aconjeturar por un lado acerca de la puesta enescena por otro lado acerca de que modo seintroduce la urdimbre de sucesos que configuran latrama Desde nuestra perspectiva teorica que sea c e r c a a l a t r a g e d i a c o m o u n g e n e r ofundamentalmente coral y descansa en nocionesclave como ldquopoesiacutea de ocasionrdquo3 ldquoproyeccioncoralrdquo4 ldquointeraccion genericardquo y ldquometacoralidadrdquo5

ambos aspectos de esta oda estaacuten atravesados por lamanera como el dramaturgo compuso su sustancia

ritual es decir de que generos liacutericos se valio en la performance Laoda inicial integra en su composicion elementos del himno y deltreno que se alternan y se subvierten para crear una atmosferaparticular desde los primeros versos En el presente artiacuteculoconcentramos nuestra atencion en la integracion generica de la odatraacutegica con el himno del cual analizaremos un componenteesencial la epiacuteklesis que establece el contacto entre los hablantes yel destinatario divino

Como senalamos la primera oda de extraordinariaextension (v 1 -175)6 sintoniza con la apertura de la obra Elexotico coro7 conformado por las hijas de Daacutenao habriacuteaingresado al teatro formando una fila al ritmo de los anapestos8

tras los cuales se habriacutea ordenado en la orcheacutestra La escena habriacuteasugerido la presencia de un altar elevado y probablemente deimaacutegenes divinas que son invocadas con posterioridad9 Daacutenao supadre habriacutea aparecido en el ultimo lugar de esa misma filacoincidiendo con la mencion de su nombre en el v 1110 Estosdatos acerca de la performance son fundamentales para poder recrearla poiacuteesis de Esquilo pensada para un espectador del siglo V aunquesin duda el dato escenico maacutes elocuente lo constituyen los ramosde suplicante envueltos en lana blanca que afirman empunar lasjovenes en sus manos (v 21-22 v 191-193) La vision de este

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objeto habriacutea orientado raacutepidamente las expectativas del publicoque habriacutea visto entrar a los personajes y tomar lugar en el altarhabriacutea reconocido las insignias y comprendido entonces elcaraacutecter ritual de la ocasion11

Desde el punto de vista formal la oda inicial de Suplicantesse compone de dos grandes partes entre los v 1-39 el espectaacuteculose inicia con el ingreso del coro (y Daacutenao) a traves de la eiacutesodos enmarcha anapestica Llamamos a esta seccion la parte dinaacutemica yaque se trata de la puesta en escena de un himno procesional querepresenta tres transiciones una espacial (de Aacutefrica a Grecia) unatemporal (de un pasado reciente que constituye el motivo de huidaal presente fin de la fuga) y una cultural (segun la cual lasDanaides africanas ponen en praacutectica un ritual griego) Luegodesde el v 40 y hasta su final en el v 175 el coro ya instalado enel espacio de la orcheacutestra desarrolla un extenso canto liacutericoconstruido sobre la base de ocho sistemas Llamamos a estaseccion la parte estaacutetica dado que el coro representa con lallegada al altar el fin de su viaje y el comienzo del ritual de suplicapara conseguir asilo en Argos Solo cuando le sea asegurado elnuevo traacutensito en un movimiento colectivo y organizado el coroabandonaraacute el altar esta vez hacia el centro de la ciudad En estesent ido Suplicantes como paradigma de las tragedias quepertenecen al Altarmotiv12 subraya el protagonismo de la ritualidadpues el espectador nunca pierde de vista al suplicante ni el espaciosagrado

Desde la perspectiva de un espectador del siglo V aC laconducta religiosa representaba un complejo de discursos yacciones faacutecilmente reconocible intrincadamente unido a otrasaacutereas de su vida social Como senalan Furley y Bremer13 el himnopuede distinguirse del habla coloquial o de la cancion coral porvarias caracteriacutesticas (melodiacutea metro ritmo acompanamientomusical danza repeticion en una misma ocasion) pero su esenciareside en la entidad hacia la cual se dirige la composicion un dios ocompaniacutea de dioses Directamente asociado con el destinatarioreside su proposito adorar al dios tiene el objetivo de ganar subenevolencia y asegurar su asistencia o favor14 Ademaacutes estos

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autores senalan la familiaridad del himno con la suplica con la cualcomparte la misma meta15 La diferencia entre ambos tiposdiscursivos reside en que el himno es un producto artiacutestico maacutesacabado que la plegaria pues emplea tecnicas refinadas de elogio ypersuasion que lo convierten en un obsequio en un ἄγαλμα verbal

En el mundo griego arcaico y claacutesico las procesiones erantiacutepicamente acompanadas de himnos enfocados en la transicionespacial de la ciudad hacia el templo y en particular hacia el altar16

Precisamente por este motivo es probable que Esquilo eligieraabrir su obra directamente con el ingreso del coro a escena enlugar de la composicion de un prologo dado que el espectaacuteculo dela procesion coral era capaz de exponer mejor su propuestadramaacutetica Considerar la posibilidad de una opcion en terminos decomposicion artiacutestica diluye uno de los argumentos maacutes poderososa favor de la impronta arcaica de la tragedia su carencia deprologo17 Segun nuestro punto de vista Esquilo sustituye el iniciode la obra con una escena estaacutetica por la performance de una escenadinaacutemica de marcha que tiene la capacidad de sintetizar en elmetro18 el itinerario Egipto-Argos realizado por las Danaides Deeste modo el estado de fuga puede re-presentarse en el escenarioAsimismo Esquilo parece haber elegido no retrasar la llegada delos protagonistas19 a quienes se muestra llegando desde elextranjero ingresando a un territorio extrano y permaneciendo enla periferia en un recinto sagrado alejado del centro ciacutevico elsantuario publico de Argos (39)20

Tal como senalan Furley-Bremer ciertos himnos puedenser usados por el dramaturgo para crear una atmosfera tanto paraincrementar la tension en una situacion ya tensa o como un fondoironico contra el cual la accion subsecuente se despliegacontrariamente a la expectativa21 Particularmente la oda inicial deSuplicantes ilustra como el dramaturgo utilizo el himno paraestructurar el desarrollo y sentido de la trama total de la obra puestiene la funcion de definir el horizonte significante dentro del cualse inscribiraacute la actuacion particular de este coro Por un ladoconstituye la evocacion de los sucesos pasados por el otro es laclave y el punto de partida del codigo de comportamiento que

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regiraacute los actos sucesivos reconocido tanto por los personajes dela obra dentro de los liacutemites de la ldquoilusion teatralrdquo como por laaudiencia22

Asimismo la apertura procesional imprime una diferenciade tonalidad espacio y ocasion condicionan el discurso que debeser liacuterico maacutes que retorico Sin embargo su alcance persuasivo noes menor ya que el ritual confiere cierto poder encubierto alsuplicante23 La ventaja que supone el registro liacuterico reside en lafacultad de cumplir con dos cometidos ofrecer un medio legiacutetimode exhortacion a la accion y producir un efecto de seduccionporque permite exteriorizar la emocion

La recitacion que acompana la marcha anapestica detentados de los tres componentes baacutesicos de todo himno24 epiacuteklesis (v1-3) y eucheacute (23-39) La epiacuteklesis establece el contacto entre elloshablantes y el destinatario divino por lo cual suele estar al iniciola eucheacute en la que se formula la peticion como constituye el cliacutemaxusualmente se encuentra al final Enmarcado entre ambas partesresta el tercer componente lo que Furley y Bremer llaman ldquomiddlesectionrdquo y se trata de la parte compuesta para ganar el favordivino25 En la parte dinaacutemica de la oda inicial la seccion media (v4-22) se modifica sustancialmente proponiendo una inversion sehace hincapie en el suplicante en lugar del suplicado porque en elinicio del drama se impone la necesidad de exponer los motivosque justifiquen la performance26

A pesar de su brevedad la epiacuteklesis de la parte dinaacutemicamerece un anaacutelisis pormenorizado no solo por su funcion sinotambien por su emplazamiento La primera asocia hablante (lasdanaides que componen el coro) y destinatario interno (Zeus) elsegundo establece un marco de referencia que oficia como puenteentre los sucesos intradramaacuteticos y el espectador El proposito deesta comunicacion es demostrar que no obstante la fugacidad de laepiacuteklesis cada elemento condensa sentidos fundamentales para lainterpretacion de la oda inicial y de la matriz ritual en la que seinscribe la composicion de la obra como totalidad

L a epiacuteklesis indirecta (Er-Stil)27 confiriere a la oda caraacutecterhiacutemnico desde la primera hasta la ultima palabra Efectivamente la

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oda completa estaacute enmarcada por una composicion anular ya queen su ultimo verso (175) el participio καλούμενος (tambien alliacuteconcertado a Zeus) retoma la idea de esta invocacion inicial28 Laepiacuteklesis propone una composicion extremadamente simple lamencion del dios al que se dirige el himno su epiacuteteto y el llamadode atencion que introduce al hablante Recitan las Danaides

Ζεὺς μὲν ἀφίκτωρ ἐπίδοι προφρόνωςστόλον ἡμέτερον νάιον ἀρθέντ (v 1-2)29

Que Zeus protector de los recieacuten llegadoscontemple ya con mente predispuesta nuestraformacioacuten coral impulsada en una nave 30

Analicemos entonces los componentes de estaconvocatoria Zeus estaacute ubicado significativamente en la posicioninicial del primer verso de la obra y es el sujeto de un energicodesiderativo realizable (ἐ πίδοι) que da comienzo a la suplicaConsiderado en el sentido maacutes amplio el epiacuteteto ἀ φί κτωρ unhaacutepax31 en lugar de Hikeacutesios32 insiste en los dos puntos de estatransicion el traslado espacial y cultural de los personajes33 y sucondicion de marginalidad ya que para los griegos los ldquorecienllegadosrdquo no son de ninguna parte34 La novedosa composicion delapelativo formado ad hoc por lo tanto subraya al mismo tiempo laocasion y la condicion especiacutefica del suplicante mientras cumplecon la norma esperada respecto de las referencias a la divinidad Alrespecto nota Kavoulaki (2011) que el epiacuteteto pone en primerplano el hecho de la llegada (ἄφιξις) del coro que estaacute iacutentimamenteconectada con la tercera palabra de la frase la forma ἐπίδοι35

Efectivamente la forma ἐπίδοι indica la primera accion de la obrael pedido de atencion por parte del dios Lo maacutes significativo esque esa atencion debe alcanzarse a partir de la mirada

El verbo ἐφοράω compuesto de ὁράω combina el aspectosensible y el inteligible Flores (2007) quien ha estudiado el sentidode la vision en Esquilo sostiene que el dramaturgo ldquointroduce enlas palabras un rasgo morfologico que apunta a un matiz particularantepone la preposicion ἐπί a verbos de vision cuando son los

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dioses quienes miran Esta es una tendencia constante que comotal no se da en los otros traacutegicosrdquo36 De este modo ἐπί senalariacuteauna diferencia radical entre el ser hombre y ser dios que la autoraentiende como ldquomirar sobre tener los ojos sobre vigilarrdquo37 propiadel acto de ver divino Compartimos con la autora el hecho de quese marca una capacidad de mirar distinta no obstante creemosque no es exclusiva del dios ya que cuando demanda la mirada deZeus el coro subraya el acontecimiento de su aparicion suadvenimiento a la vista de otro su aparicion espectacular38 Por lotanto el verbo tambien hace referencia impliacutecita a la mirada delpublico que como el dios puede ver maacutes allaacute de lo que se ofreceante sus ojos39 Segun esta disquisicion proponemos otratraduccion del verbo maacutes ajustada al contexto senalado ἐφοράωcomo ldquocontemplarrdquo dado que las tres acepciones del espanolapuntadas por la Real Academia todas ellas transitivas se ponenen juego en esta accion Conforme este sentido los espectadorestanto como el dios 1 ponen atencion en algo material (laformacion coral) 2 consideran (juzgando) a las jovenes y 3 lascomplacen son condescendientes con ellas mientras se hacenvisibles40

Como advierte Flores Esquilo usa el verbo ἐφοράω parasuplicar cada vez que se indica el llamado de atencion a traves dela vision En este caso la eleccion de un verbo de percepcionvisual no es azarosa porque ademaacutes de convocar al publico apelaal campo de la emocion a diferencia de los verbos de percepcionauditiva que tienen tendencia a asociarse al campo de lapersuasion y obediencia La vision no necesita del juego de laspalabras para convencer sino que pone a quien ve en el lugar detestigo y no de mero observador Por lo tanto es posible afirmarque la eleccion del verbo va de la mano de la eleccion de laapertura liacuterica es decir sin prologo el caso de las Danaides almenos en el comienzo pretende no ser amenazado por la retoricaLa esperanza estaacute puesta en cambio en el poder conmovedor dela mirada Precisamente Suplicantes compromete una apuesta a laexploracion de sentido en el aspecto visual ya que la oacutepsis habriacuteabuscado provocar el desconcierto del espectador41 la presencia de

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las hiacutebridas suplicantes en escena baacuterbaras de apariencia perogriegas en cuanto a su comportamiento ceremonial debe habersido el principal factor de impacto dramaacutetico desde el inicio hastael final de la tragedia En cuanto a ἐφοράω la forma de aoristoremarca ademaacutes la puntualidad de la accion dado que las Danaidesexpresan la necesidad de la mirada inmediata Justamente para darcuenta de la inminencia en la traduccion del verso 1 optamos porel agregado del adverbio ldquoyardquo que enfatiza la exigencia al punto alinstante

El adverbio προφρόνως que complementa a ἐφοράω sumainformacion al pedido pues implica absoluta confianza en el diosque segun se supone tiene ojos justos προφρόνως puede sertraducido como ldquoamablementerdquo ldquoseriamenterdquo o ldquocon voluntadapropiadardquo segun indica el Diccionario de Oxford (LSJ)42 Sinembargo este adverbio tiene las raiacuteces de πρό y φρήν43 lo queadmite la traduccion por una periacutefrasis que combine amboselementos La propuesta ldquocon mente predispuestardquo parece ser maacutesacertada porque insiste simultaacuteneamente sobre los tres sentidos deἐ φοράω (prestar atencion juzgar y ser condescendiente) ademaacutesde ser coherente con el modo desiderativo propio del himno lapredisposicion de la mente de Zeus y de los espectadores consisteen que al ver a las Danaides antes de decidir sobre su caso susolicitud (1) presten atencion a los ramos que llevan en sus manos(2) juzguen que aunque baacuterbaras practican el ritual propio de latierra local y (3) sean condescendientes con su condicion desuplicantes

Por eso es necesario agregar que en sus observacionesacerca del verbo inicial ἐφοράω Kavoulaki ha senaladopertinentemente la superposicion de los planos performativo ydramaacutetico pero ha perdido de vista el caraacutecter de laespectacularidad sobre la que se pide atencion el arribo de estecoro es espectacular desde una apreciacion multimediaacutetica porquelo que se ve y lo que se escucha producen una combinacion unicainarmonica desacoplada contradictoria disonante El epiacutetetoἀφί κτωρ el adverbio προφρόνως y los versos que siguen insistensobre la singularidad de los personajes que el publico empieza a

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ver delante de sus ojos las danaides y su padre revisten unanaturaleza marginal e hiacutebrida que se manifiesta en el lenguajegriego con matices Egipcios44 pero fundamentalmente en elchoque entre apariencia y comportamiento Lo que las Danaidesdesean que Zeus (y los espectadores) vean con buenapredisposicion es que aunque no parezcan argivas (tal como loinforma el aspecto sensible del verbo) puedan ser reconocidascomo tales a partir de su conducta (lo que involucra el aspectointeligible del mismo verbo) Ellas luego se encargaraacuten dedemostrar a traves de la retorica del canal auditivo que estacondicion griega que practican es una exteriorizacion de suspropias raiacuteces45

Finalnalmente los elementos fundamentales de la epiacuteklesisse completan con la referencia a la identidad del emisor στόλον esel sustantivo a traves del cual se autopresentan las Danaides queeligen no revelar su identidad hasta el verso 11 cuando se dicenldquohijas de Daacutenaordquo El uso de στόλον no es inofensivo No refiere aun grupo ordinario de gente a una mera tripulacion sino queacentua un aacuterea semaacutentica especiacutefica la del ritual46 στόλον senala atraves de sus ejecutores la ocasion una accion coral que se dasimultaacuteneamente en el mundo interno dramaacutetico (que contemplaZeus) y en el externo teatral (que contemplan los espectadores enel contexto del festival) Kavoulaki advierte acertadamente estesentido del termino pero la traduccion que propone ldquobandrdquo(banda)47 no cifra su complejidad semaacutentica El sustantivo στόλονcomparte su raiacutez con el verbo στέλλω que significa ldquoprepararrdquo48 ensu forma activa y ldquodespacharrdquo ldquoenviarrdquo en la pasiva El camposemaacutentico al que se asocia es usualmente el militar49 Ciertamenteel dominio belico no es ajeno al mito sobre el que se compone estatragedia pues conocemos que la suplica a Zeus primero y a Argosdespues derivaraacute en una guerra entre Argivos y Egipcios Porconsiguiente nuestra interpretacion de στόλον como ldquoformacionrdquobusca integrar el sentido militar y el ritual El enfasis de esta opcionde traduccion por otra parte estaacute puesto en la nocion dehomogeneidad (propia de este personaje colectivo) dada por elorden resaltando por lo tanto la existencia de un proceso no

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solamente previo sino tambien deliberado y de un agente quecomo autoridad establece dicho orden ldquoFormacionrdquo admite eljuego entre el sustantivo στόλος (2) y el adjetivo στασίαρχος (11)con el que se califica a Daacutenao la primera vez que es mencionado 50

correlacion que permite tanto activar el sentido de la ocasionperformativa como revelar cuaacutel es la estrategia de este grupo demujeres lideradas por su padre suplicar como maniobra de poder

El pedido de contemplacion al grupo como formacioncoral-ritual que se antepone a las demandas personales implica elinteres por conquistar los fueros de un poder que se fundamentaen la paradoja dado que la suplica es coercion disfrazada deimpotencia y necesidad51 La primera mencion de las Danaides espor consiguiente en el rol de objeto paciente asumiendo un lugarde subordinacion ante la mirada divina52 Por el contrario eldominio del dios se ve destacado no solo en el rol de agente quereviste sino tambien en su ubicacion en la posicion inicial delprimer verso de la suplica y del drama

En conclusion la epiacuteklesis demuestra ser clave para lainterpretacion de la oda y el desarrollo de la obra porque estableceun puente entre la seccion narrativa que se iniciaraacute y el nivelperformativo potenciando el sentido de la ocasion y suconveniencia Asimismo este anuncio consciente de roles eidentidades rituales vuelve maacutes ostensible la hibridez de las recienllegadas protagonistas que dejaraacuten filtrar sobre el final de la odainicial la perversion de su programa ritual Los desesperadosultimos versos del canto blasfeman a Zeus dios destinatario de lasuplica No obstante la alteracion de la norma es tema para otracomunicacion

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RESUMO

Identidade ritual e performance uma anaacutelise dos primeiros doisversos de Suplicantes de Eacutesquilo

A recitacatildeo que acompanha a marcha anapestica (v 1-39)que daacute iniacutecio agrave performance de Suplicantes de Eacutesquilo apresentadois dos trecircs componentes baacutesicos de um hino (Furley-Bremer2001) epiacuteklesis (v 1-3) e eucheacute (23-39) A epiacuteklesis indireta (Er-Stil v1-2) estabelece o contato entre os falantes ndash os Danaides quecompotildeem o coro ndash e o destinataacuterio divino ndash Zeus ndash dando agraverecitacatildeo um caraacuteter hiacutenico desde a primeira palavra Eacute umacomposicatildeo de dois versos extremamente simples a mencatildeo dodeus a quem o hino e dirigido seu epiacuteteto e o chamado da atencatildeoque apresenta o falante Nosso trabalho tenta demonstrar queapesar da brevidade da epiacuteklesis cada elemento condensa ossentidos fundamentais para a interpretacatildeo da ode inicial e damatriz ritual na qual a composicatildeo da obra se inscreve como umtodo

PALAVRAS-CHAVE

Ritual performance Suplicantes Eacutesquilo

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1 Este trabajo ha sido presentado como ponencia en las VIII Jornadas de EstudiosClaacutesicos y Medievales realizadas en la ciudad de La Plata durante los diacuteas 18 19 y20 de septiembre de 20172 FURLEY BREMER 20013 CALAME 19774 HENRICKS 1994-19955 SWIFT 20106 Parry (1978 p 50-51) la incluye dentro del grupo que denomina ldquomassiveodesrdquo constituido por aquellas que superan los cien versos ldquoThe grand-scaleodes are more spacious and more leisurely What they need and get is a broadsuperestructure one that a Greek audience would be well familiar with ndash thehymn or hymn derivative (hellip) Within this superestructure there is room forldquodigressionsrdquo to develop and we constantly savour exquisite descriptions andreflections ranging from the pathetic to the profoundrdquo (p 53) La observacionde Kitto (2011 p 4) tambien resulta interesante ldquothe ode one-sixth of thewhole play would take something like fifteen minutes in performance the timeof an ordinary symphony-movementrdquo7 Sobre su complexion y sus trajes baacuterbaros 120-122 = 131-133 234-237 432No descartamos la propuesta de Sandin (2003 37) quien sugiere la posibilidadde que la mitad o un tercio de las jovenes presentara indicios de pertenencia aun rango inferior y no cargara ramos de suplicante Estas servidoras de lasDanaides no seriacutean mencionadas hasta el final del drama (954 977) Sinembargo desde nuestro punto de vista su presencia no amerita su participacionen la ultima oda tal como se explica en el apartado I41 En cuanto a la cantidadde coreutas es improbable que hayan sido cincuenta tal como han sostenidoquienes consideraban a Suplicantes una obra primitiva Evidencia textual internaparece favorecer el numero de doce (204-224) Sobre el numero de miembrosdel coro Taplin (1977 437)8 Sobre anapestos de marcha West (1982 p 53-54) El metro se emplea siempreque la apertura del drama es llevada adelante por el coro Actualmente latendencia es aceptar que los anapestos de marcha eran generalmente recitativos(acompanados por el auloacutes) Segun Pickard-Cambridge (1988 p 160) ldquothis maybe taken as certain where they are uttered by the chorus as they enter theorchestra preceded by the flute player as at the beginning of Persae andSuppliants and in Agamemnon 40-130 or when they form an introduction to asung choral ode as in Persae 532-47hellip and Eumenides 307-20rdquo En algunasediciones o traducciones sin embargo se indica que el coro ldquocantardquo9 En el apartado II3 profundizamos sobre la configuracion empleo ysignificacion de los espacios escenicos en la obra 10 El texto no ofrece evidencia acerca del ingreso de Daacutenao y por lo tantopersisten las controversias en torno al momento exacto de este suceso escenicoUnos conjeturan que habriacutea llegado junto al coro (1) otros en el momento de suprimer discurso (176) La primera alternativa es la preferida de los criacuteticos en laactualidad -por ejemplo Taplin (1977 v 194) ndash aunque ya Mazon (1953 p 19)sugeriacutea que Daacutenao habriacutea ingresado ldquodans lrsquoorchestre derriegravere ses fillesrdquo y quehabriacutea permanecido parado en una colina durante la cancion mirando hacia elhorizonte Segun nuestro punto de vista Daacutenao habriacutea ingresado al mismotiempo que el coro pero detraacutes de el mostrando companiacutea y proteccion perosin acaparar la atencion central puesta en el coro femenino Finalizado elrecorrido de ingreso se habriacutea ubicado sobre la elevacion vigilando el mismosector de su ingreso es decir alerta a la posibilidad de peligro por la llegada desus perseguidores y divisando tambien el sector opuesto preparaacutendose para elverso 176 momento de su primera intervencion en que anuncia el arribo dehabitantes locales 11 Rhem (1992 p 66) ldquoBridging the gap between the heroic characters and thefifth century tragic costums and props often mirrored specific aspects ofAthenian ritual liferdquo Aelion (1983 p 16) describe el ritual de suplica y brinda

pruebas de su contemporaneidad para un espectador de la epoca con ejemploshistoricos de Herodoto y Tuciacutedides12 Cfr Aelion (1983 p 15-44) para la estructura dramaacutetica del patron de suplicaAdrados (1986 p 7-8) propone dos tipos baacutesicos para las tragedias quepresentan este motivo temaacutetico la ldquobinariardquo en la que el suplicante se refugia enun templo o realiza los gestos rituales dirigidos a su oponente y la ldquoternariardquoque encuentra maacutes habitual en la que junto al enemigo o perseguidor sepresenta al salvador La suplica en el primer caso ldquoentra plenamente en el juegoteatral es un recurso maacutes para hacer avanzar la accionrdquo pero ldquoes solo unelemento episodico nunca un elemento central en la pieza Solo cuando seintroduce la estructura ternaria es la suplica un elemento central (hellip) sobre todoporque con ello se cumple una exigencia del teatro la existencia de al menos unagoacuten en cada piezardquo (p 33) Lo esencial en el desarrollo dice Adrados ha sidoentonces ligar el tema de la suplica a los agones rituales tradicionales Segun estapropuesta Suplicantes resulta el exponente por excelencia de la tipologiacutea ternaria13 FURLEY BREMER 200114 FURLEY BREMER 2001 p 2 ldquoThe cult hymn is a form of worship directedtowards winning a godrsquos goodwill and securing his or her assistance or favourrdquo15 FURLEY BREMER 2001 p 3 ldquoHymns share many of the compositionalelements characteristic of prayers there is the same direct address of a deity thesame gesture of supplication and often the same express request for help orprotection A distinction may be possible here by considering both thecompositional elements of the two forms and their differing function inworshiprdquo16 FURLEY BREMER 2001 p 28-2917 La carencia de prologo ha sido uno de los argumentos maacutes poderosos a favorde la arcaicidad de la tragedia primero y luego de 1952 (ano en que se descubrioel pairo de Oxyrrinco que puso en cuestion la datacion de la tragedia) de suldquoespiacuteritu arcaizanterdquo Sin embargo es improbable que una apertura coral tuvierareminiscencias arcaicas en la epoca de la puesta en escena de Suplicantes YaGarvie ha demostrado que no hay razon para suponer que el inicio con lapaacuterodos haya sido necesariamente maacutes temprano que la utilizacion del prologopues tanto la funcion natural de una como del otro era expositiva explicar a laaudiencia la situacion dramaacutetica que seriacutea representada y los datos espacio-temporales de la puesta en escena Segun el anaacutelisis que hemos realizado de laoda su estilo narrativo y expositivo aunque no cronologicamente lineal puedecomprobarse en la parte liacuterica con la mencion de τὰ τε νῦν ἐπιδείξω πιστὰ

τεκμήρια (ldquomostrare pruebas confiables las de ahorardquo 52-53) cuya epexegesisconsistiraacute en el relato de la situacion actual de las Danaides Garvie (1969 p121) realiza un recorrido historico vinculado con el origen del prologo y detallael debate criacutetico en relacion a esta postura Asimismo compara la paacuterodos deSuplicantes con la de Los Persas tambien carente de prologo y con los prologosdel resto de las tragedias conservadas de Esquilo Para informacion maacutesactualizada del mismo autor sobre el mismo tema Garvie (2006b p 37) Furley-Bremer (2001 284) senalan que ldquoA prologue which sets out the pre-historymay seem Euripidean but one should not forget that of Aeschylus sevenpreserved tragedies there are four opening with an informative prologue SevenAgam Choe Eumrdquo Taplin (1977 p 194) aunque afirma que las razones parausar una apertura coral fueron dramaacuteticas maacutes que cronologicas opina que estaera una tecnica pasada de moda en los ultimos anos de la decada del 460 aC18 Los criacuteticos acuerdan en considerar que los primeros 39 versos en metroanapestico llevan adelante la funcion expositiva Cfr Hogan (1984 p 189)Viacutelchez (1999 p 86) Sandin (2003 p 36) Torrano (2009 p 239) entre otrosEsta division de la oda en dos partes es coherente con las definicionesaristotelicas de paacuterodos y staacutesimon Cfr Poeacutetica 1452b 22-2419 Efectivamente en Suplicantes tal como en Los persas el coro abre la obra consu canto de ingreso y como Eteocles en Siete contra Tebas u Orestes en Coeacuteforas laobra se inicia directamente con los protagonistas y el relato que ellos mismos

desde su punto de vista realizan de la situacion que padecen y que seraacute objetode la performance En cuanto al tratamiento del coro en Eumeacutenides y Suplicantestanto de Esquilo como de Euriacutepides y su diferencia del resto de las tragediasconservadas por tratarse de personajes principales cfr entre otros Nestle(1930 p 16) Para el caso particular de este coro Garvie (1969 p 106) ySommerstein (1996 p 158)20 El propio Pelasgo explica la diferencia entre la suplica en un altar publico yuno privado en v 365-36621 FURLEY BREMER 2001 p 277 ldquohymns of certain sorts can be used to createatmosphere by the playwright either to increase tension in an already fraughtsituation or as ironic backdrop against which the subsequent action unfoldscontrary to expectationrdquo En v 279 y ss los autores se ocupan de los ldquohimnosrdquode Suplicantes v 77-102 (Zeus) v 524-599 (Zeus) v 625-709 (Zeus y los dioseslocales) v 1018-1073 (Aacutertemis Afrodita y Zeus) pero se detienen en dospasajes v 77-102 y v 524-537 junto con v 590-600 En terminos generales losautores proponen (2001 p 285) ldquoThe term dramatic irony is not used often inAeschylean criticism But if the hypothesis sketched above about the plot of thistrilogy is correct then these hymns may have had an ironical effect at the firstperformance of this trilogyrdquo Como ha sido senalado previamente lasinterpretaciones de la tragedia que caen en el lugar comun de ampliar su lecturahacia las secuelas de la trilogiacutea resultan debiles ya que no se puede asegurar queobras habriacutean acompanado a esta tragedia y cuaacutel habriacutea sido su argumento Si elhimno inicial instala una ironiacutea proponemos interpretarla como propia de lanaturaleza inestable de quienes lo entonan22 FURLEY BREMER 2001 p 275 ldquoIn a way then a dramatic hymn is animpostor it is not a genuine cult hymn but rather an imitation of a cult hymnwritten for the fictional situation and performers of the playrdquohellip ldquoThe fictionalquality of hymns in drama and the mix they represent of genuine cult practiceand assimilation to the play mean that the playwright was free to draw ontraditional forms such as paians dithyrambs wedding songs etc in order toillustrate stages of a plays action but at the same time these traditional formshad to be adapted to their new dramatic settingrdquo (2001 p 276)23 Kavoulaki (2011 p 366) justifica muy acertadamente la ldquoconciencia deautoridad ritualrdquo de las Danaides En el artiacuteculo la autora analizaespeciacuteficamente los anapestos introductorios de la obra ldquohellip choral selfawareness of ritual authority is not a mere mannerism but represent well-planned strategies of influence and effectrdquo24 FURLEY-BREMER 2001 El patron de accion es reconocible en la tragedia porsu grado de acabamiento llegada procesional a un lugar sagrado invocacionesinvitacion a la interaccion a traves de los sentidos ritual hiacutemnico y el pedido maacutesimportante el de recepcion o aceptacion (v 27)25 En general la seccion cumple con los principios de eulogiacutea (mencion de losdominios y privilegios del dios) y eufemiacutea (con rechazo de expresionesinapropiadas) y se sirve de recursos tales como la hypoacutemnesis (recordatorionarrativo acerca de como el dios ayudo en una ocasion previa) la dieacutegesis (relatoparadigmaacutetico acerca del dios) yo la aretalogiacutea (cataacutelogo de los poderes yhazanas divinas ekphraacuteseis) para compeler al dios y asegurarse de que resultepropicio 26 Las causas de la alteracion son fundamentalmente dos por un lado dada lacarencia de prologo el movimiento escenico a traves de la paacuterodos hacia laorcheacutestra exige una explicacion dramaacutetica Por eso esta seccion pone su acento enla situacion de traacutensito es decir en el cambio espacial que representa la marchaanapestica Por otro lado la seccion insiste en un segundo cambio el decondicion social porque ligada a la referencia espacial se presenta lametamorfosis un grupo de mujeres vestidas exoticamente y con una aparienciafiacutesica ajena transforman su barbarismo en pertenencia a traves de la praacutectica delritual griego de suplica

27 FURLEY BREMER 2001 p 1 Los autores aclaran que la manera en que serealiza este abordaje del destinatario resulta indiferente para la distincion delgenero El himno puede dirigirse a un dios de manera directa (Du-Stil) indirecta(Er-Stil) o a traves del anuncio en primera persona Para su definicion parten dePlaton (Leg 700b1-5) que da el primer indicio de una taxonomiacutea antigua de lacancion coral Luego toman la clasificacion alejandrina de Proclofundamentalmente pragmaacutetica o funcional ya que tiene en cuentaprimordialmente el contexto de la performance (cfr 2001 11 y ss) 28 El verso 175 configura el cierre de la composicion anular ὑψόθεν δ᾽ εὖ κλύοικαλούμενος (Ojalaacute que desde arriba escuche propiciamente cuando es invocado)29 La cita del texto es de la edicion de Sommerstein (2008 p 290)30 La traduccion del texto es personal31 CUZZI 1970 p 73 p 85 Friis Johansen-Wittle (1980) ad v 1) ldquoZeus ἀ φί κτωρis not an attested cult-title but belongs among numerous Aeschylean creationsinvented on the analogy of existing cult- names of various typesrdquo Cfr tambienSandin (2003 ad 1 p 39) quien senala que el sufijo ndashωρ es mucho maacutes fuerteque el -ιος de uso frecuente que indica simplemente que el dios estaacute conectadocon alguna actividad El sufijo elegido por Esquilo estariacutea marcando unaactividad tambien desempenada por Zeus por eso esta podriacutea ser consideradaen sentido amplio ldquoel que llegardquo Asiacute Zeus es protector de quienes llegan eneste caso como suplicantes 32 Este uso puede observarse en los v 347 360 616 Se retoma el neologismodel primer verso en v 385 y 478-479 ἱκνέομαι usualmente se usa en el sentidode ldquosuplicarrdquo tanto en la epica homerica como en el drama (LSJ 826)33 La mencion de Zeus refleja la hibridez cultural ya que se lo invocaperteneciendo a dos espacios geograacuteficos el de origen y el de destino (cfr v 1 yv 4-5) Respecto de Egipto como la ldquoregion de Zeusrdquo (v 4-5) Sommerstein(2008 p 292) senala ldquoEgypt could be so called because it contained the famousoracle of Zeus Ammon at Siwwa but to the Danaids it is more important thatEgypt was the place where Zeus miraculously begot their ancestor Epaphusrdquo34 FERNAacuteNDEZ DEAGUSTINI 2011 p 77 ldquoEn el mundo griego antiguo regidopor valores competitivos y cooperativos ser miembro de un grupo es lo queconferiacutea y determinaba el status y la posicion de un individuo en la escala dehonor y definiacutea su rol en la sociedad La posesion y conciencia de este rol (tantode parte del posesor como de los otros miembros del grupo) proveiacutea los iacutendicesde conducta esperada sin los cuales la continuidad y estabilidad de la sociedadse veiacutea amenazada De alliacute que el ξένος el outsider el que ldquono pertenecerdquo fueraen principio un sujeto sin rol sin derechos ni obligaciones que ignoraba comoconducirse con el cual tampoco sabiacutean comportarse los miembros del grupoEn consecuencia la conducta institucionalizada que regiacutea el comportamientoadecuado del ξένος (sustantivo que designaba a la vez al hospedado y alanfitrion) proveiacutea de reglas y patrones de expectativa que permitiacutean lacoexistencia entre aquellos que no eran del mismo grupo De este modo lasinstituciones griegas conocidas como ξενία y ἱκετεία constituiacutean un poderosofactor que manteniacutea las tensiones entre grupo e individuo dentro de liacutemitestolerablesrdquo El artiacuteculo citado observa la definicion de los personajes deSuplicantes fuera o dentro de la red social que propone el espacio escenico deArgos a partir de los datos que ofrece la ldquodeixis socialrdquo (Fillmore 1971) Por suparte Dobiacuteas-Lalou (2001 passim) considera ἀφίκτωρ a partir de la idea deintegracion social y lo analiza en relacion con la repeticion en el v 241 en bocade Pelasgo Para la autora no se trata de un ldquoZeus Suplicanterdquo sino de unldquoZeus de los Suplicantesrdquo Apoyada en el examen de los tres constituyentesmorfologicos del termino (preverbio tema verbal y morfema de sustantivoagente) y de las fuentes epigraacuteficas Dobiacuteas- Lalou concluye que (p 614) ldquoDesinscriptions de Cyregravene et de Lindos font connaicirctre agrave lactif et au passif le verbeἀφικετεύω lsquosortir de letat de supplication reintegrer dans une communautecivique lsquo tandis quagrave Cnide le rituel est decrit comme ἀφικετεία On en deduitque Zeus est invoque comme laquo celui qui reintegravegre les lsquosuppliantsrsquo (v 1) et que lepluriel du v 241 designe lensemble des θεοὶἀγωνίοι qui avec Zeus vontparticiper agrave cette delivrance Lintervention lsquopoetiquersquo dEschyle doit consister en

deux traits archaiumlques lemploi de la base ἱκ- au lieu d ἱκετευ- et le recours ausuffixe ndashτωρrdquo35 KAVOULAKI 2011 p 380 ldquoZeus the first word in the play seems neutral butthe epithet ἀφίκτωρ by wich he is invoked (another ad hoc formed noun) bringsto the foreground the very fact of the chorus ἄφιξις (arrival) wich is intimatelyconnected with the third (main) word of the sentence the form ἐπίδοιrdquo36 FLORES 2007 p 89 El subrayado corresponde a la autora quien luegoampliacutea ldquoEstudios actuales sobre el lenguaje realizados por Lakoff y Johnsonrevelan el sentido profundo de ciertas estructuras linguumliacutesticas que en realidadrepresentan estructuras de la menterdquo son las ldquometaacuteforas orientacionalesrdquo (200791) ldquohellip se puede indicar que ἐ πί para Esquilo indica mucho maacutes que unaorientacion espacial de los dioses senala una forma de ver diferente de lahumana Mirar desde arriba maacutes allaacute de la raiacutez etimologica de cada verboἀφοράω ἐφορεύω ἐπισκοπέω ἀποπάω ἐποπτεύω es mirar con la fuerza vitalidadintensidad lucidez clarividencia bondad inteligencia virtud y punto de vista deun diosrdquo (2007 p 93)37 FLORES 2007 p 97 De hecho dentro de la taxonomiacutea verbal que la autorapropone incluye ἐφοράω dentro de la categoriacutea ldquolos dioses miran juzgandordquo38 KAVOULAKI 2011 p 380 ldquoby inviting the sight of the god the chorusunderline their coming to sight their spectacular appearancerdquo39 RHEM 1992 p 47 ldquoThe process is one in which the audience shifts from theimmediate dramatic situation to the larger world of the play and then movesbeyond it constantly negotiating different levels and formulating responsesappropriate to them inspired by (but hardly bound to) the initial commitmentto dramatic illusionrdquo Esta participacion de la audiencia es la que permite inferirinterpretaciones ironicas ambiguas contradictorias anticipatorias oretrospectivas de diferentes momentos de la obra40 Acepcion dada por el diccionario de la Real Academia Espanola en wwwraees41 El impacto se produce tanto sobre el espectador externo como sobre elinterno es decir Pelasgo Cfr II2342 LSJ 1540 ldquokindly earnestly Prop with forward mindrdquo43 CHANTRAINE 1968 p 122744 Sobre el lexico egipcio en Suplicantes Adrados (1999 passim)45 En el v 27 que da comienzo a la eucheacute el pedido a los dioses seraacute que aceptenesta condicion que evidentemente no les es propia δέξασθ ἱκέτην τὸνθηλυγενῆ στόλον αἰδοίῳ πνεύματι χώρας (Admitid como suplicante a esta femeninaformacioacuten con el aire reverencial de esta tierra) Ademaacutes la eucheacute recupera en este versoun termino que cobra especial sentido en la tragedia στόλον46 Johansen-Witttle (1980) entienden στόλον en sentido poliacutetico como terminoderivado de στάσις De este modo στασίαρχος (v 11) resulta ser en supropuesta de traduccion ldquoleader or originator of seditionrdquo) Sandin (2003 ad 11p 45) marca que en el griego claacutesico στάσις en su sentido poliacutetico no significasedicion sino ldquodiscord faction party strife or even civil warrdquo Para Sandinστασι- se refiere al hecho de que Daacutenao y sus hijas han roto sus lazos con sufamilia en Egipto y que por eso se ha iniciado una discordia Sommerstein(2008 p 293) traduce στασίαρχος como ldquooriginator of civil striferdquo La posicionde Kavoulaki (2011 p 377) resulta maacutes atinada en tanto no le confiere unsignificado poliacutetico sino de ocasion especiacutefica pues senala que el termino στάσιςestaacute vinculado a la actividad coral y a la formacion en particular Por eso para laautora ldquothe general usage of the word stasis in choral contexts seems to justifyits choice at this ritually important moment when the chorus qua chorus and atthe same time as a band of parthenoi is solemnly approaching a religious locus (1v 189-90) carrying the ritual symbols of supplication (v 21-22) and invokingthe gods (Zeus and others 1 23-26) with the obvious intention of taking uptheir positions to sing and dance (v 40-175) a hymn and prayer to gods andheroes and particularly to Zeushelliprdquo

47 KAVOULAKI 2011 p 38448 LSJ 1648 y Chantraine (1968 p 1050) ldquoCette famille de mots issue drsquouneracine exprimant une notion simple ldquoarranger preparerrdquo a eclate avec des senstregraves divershelliprdquo Si bien entre estos sentidos posibles Chantraine consigna στόλοςcomo ldquoexpedicionrdquo no se concentra en el examen de este vocablo Lo que debedestacarse de su anaacutelisis etimologico es sin dudas la afirmacion de que la raiacutez deesta familia supone la idea de ldquoprepararrdquo idea que se respeta en nuestrasugerencia de interpretacion del termino como ldquoformacion coralrdquo49 Por eso στόλον puede traducirse como ldquoequipamientordquo si se resalta el objetoldquoexpedicionrdquo o ldquomisionrdquo si el acento se pone en la accion y ldquotropardquo o ldquobandardquosi se hace hincapie en el sujeto 50 Es necesario resaltar el hecho de que el v 11 constituye tambien la primeravez que las jovenes aportan un dato identificatorio especiacutefico respecto de ellasEn este sentido la eleccion de στασίαρχος compuesto de στάσις (que compartel a raiacutez de στόλον) y ἄρχων ilumina el rol crucial de Daacutenao como liacuteder einstructor del coro tesis que desarrolla Kavoulaki (2011) en el artiacuteculo citado51 GOULD 1973 p 91 52 Esta posicion se revierte maacutes tarde (v 169) cuando el tiempo transcurrido y ladesesperacion invierten los roles de agente y paciente

Caliope Presenca Classica | 20172 Ano XXXIV Numero 34

O Filebo prazer e intelecto emconfrontoSimone de O Goncalves Bondarczuk

RESUMO

O dialogo Filebo durante muito tempo foi deixado de lado pelatradicatildeo dos estudos platocircnicos por ser um dialogo tematicamentecomplexo tendo em vista a sua aparente falta de unidade o quelevou a tendecircncia dos inteacuterpretes e comentadores seja naAntiguidade ou nos dias atuais a se concentrarem em apenas umdos aspectos da obra o metafisico ou o eacutetico No entanto nosultimos trinta anos o interesse por esse dialogo reviveu com forcae a sua pertinecircncia para uma compreensatildeo mais global dopensamento teoacuterico de Platatildeo foi finalmente reconhecida Opresente artigo pretende introduzir o leitor nas questotildees centraisdo dialogo e problematizar as controveacutersias em torno do mesmoSeria a vida dedicada ao prazer eou a vida dedicada agrave reflexatildeocentrais para a constituicatildeo de uma vida feliz Ou seria uma mesclaentre essas duas vidas Qual a relacatildeo dessa escolha com a questatildeoteleoloacutegica do Bem em Platatildeo

PALAVRAS-CHAVE

Filebo dialogos socraticos prazer intelecto o Bem

SUBMISSAtildeO 28 dez 2017 | PUBLICACcedilAtildeO 31 dez 2017

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O Filebo prazer e intelecto em confronto | Simone de O Goncalves Bondarczuk

dialogo Fi l ebo de Platatildeo pela sua complexidadetematica e beleza provocou tantos questionamentosna Antiguidade como suscita ainda nos dias atuais aopartir de uma questatildeo simples mas assaz relevante seo prazer e os seus congecircneres satildeo bons ou o Bem ouao inveacutes se o Bem se constitui na reflexatildeo e nasatividades relacionadas com a mesma ou talvez obem seria uma terceira via uma espeacutecie de amalgamaentre os dois Natildeo menos interessante do que o temado ponto-de-vista formal a sua estrutura dialoacutegica traza lembranca os primeiros dialogos socraticos em que oeacutelenkhos em sua dinamicidade potildee em movimento oargumento central e segue agrave risca a via da dialeacuteticaconvidando os primeiros receptores1 e os leitores

modernos a se engajarem de um modo ativo no debate Antes de tudo o dialogo eacute uma contenda dramatica entre

prazer e reflexatildeo no qual outras questotildees relacionadas vatildeo sendoentrelacadas como a questatildeo do Uno e do Multiplo - como sepode chamar por um unico nome geneacuterico prazer umamultiplicidade de prazeres aparentemente dessemelhantes entre si eo mesmo argumento poderia servir para os conhecimentos outraquestatildeo surge em decorrecircncia dessas a necessidade de seestabelecer categorias ontoloacutegicas para definir o prazer e asatividades relacionadas agrave reflexatildeo a saber o limite o ilimitado amistura e causa da mistura e ainda como tudo isso se relacionacom o projeto ontoloacutegico de Platatildeo a respeito do Bem

O dialogo potildee em tensatildeo todas essas questotildees e nos eacuteapresentado como uma peca dialeacutetica com passos tatildeo belos quantoenigmaticos Como consequecircncia disso o dialogo apresenta umaaparente falta de unidade tematica que durante muito tempo foium empecilho para uma interpretacatildeo ampla e integradora dodialogo na sua relacatildeo com o corpus platocircnico O tema do dialogo eacuteo prazer ou a vida de reflexatildeo ou o Bem ou ainda seria sobreuma vida mista entre as duas como sendo a mais feliz

A importacircncia desses temas em relacatildeo ao conjunto daobra de Platatildeo sobretudo pelas questotildees metafisicas e eacuteticas

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O

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postas em relevo em sua articulacatildeo com todo o pensamentoplatocircnico sobre o Bem permitiu que os ultimos trinta anosassistissem a um renascimento da parte dos especialistas de seuestudo

Tendo em vista essa polecircmica em relacatildeo agrave unidadetematica o esquema de divisatildeo do dialogo ja foi apresentado dediversas formas2 segundo minha proposta pode ser estruturadoda seguinte maneira

1 Parte I Introducatildeo (11a-14b)a) As duas teses em disputa a vida boa ou o Bem consiste navida centrada no prazer e seus congecircneres ou na vidacentrada na reflexatildeo e nas coisas afins a essa (opiniatildeo corretae calculo racional)b) A vida feliz eacute resultante da disposicatildeo e da propriedade daalma haveria um terceiro estado superior a esses doisprimeirosc) A proposta de uma via intermediaria o Bem eacute o prazer areflexatildeo ou ainda haveria uma terceira possibilidade (14b)

2 Parte II A estrutura metafisica da realidade e o meacutetododialeacutetico da divisatildeo (14c-20b)a) O problema do Uno e do Multiplo em sua versatildeo maisbanalizada (14c-14e)b) As trecircs aporias sobre o Uno e o Multiplo a definicatildeo dadialeacutetica e o seu meacutetodo de divisatildeo como solucatildeo para asaporias (15a-17a) c) Os exemplos de limite e ilimitado as letras articuladas(fonemas) e as notas musicais (17a-18d)d) A proposta de aplicacatildeo da distincatildeo Uno-multiplo aoprazer e agrave reflexatildeo (18d-20b)e) Protarco sugere uma ldquosegunda rota de navegacatildeordquo pararepreender Soacutecrates (20andashb)

3 Parte III O discurso salvo por uma memoacuteria divinaa) Nem o prazer nem a reflexatildeo satildeo o Bem mas uma terceiracoisa diferente dessas duas e superior a ambas (20b-c)b) A definicatildeo do Bem os seus requisitos ndash suficienteperfeito e digno de escolha (20b)c) A aplicacatildeo desses requisitos agrave vida de prazer e de reflexatildeo(20c-22b)

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O Filebo prazer e intelecto em confronto | Simone de O Goncalves Bondarczuk

d) Trecircs vidas foram propostas mas nenhuma das duasprimeiras eacute suficiente e nem digna de escolha A vida mistaganha o primeiro precircmio (22b-23b)

4 Parte IV A necessidade de outro mecanismo (mekhaneacute) paraargumentar a favor do segundo precircmio (23c-31b)a) A definicatildeo dos quatro gecircneros ou espeacutecies nas quais sedivide tudo que ha no universo o limite o ilimitado a misturae a causa da mistura (23c-27c)b) A vida vitoriosa faz parte do terceiro gecircnero da mistura(27c-28b)c) Teleologia coacutesmica e a inteligecircncia (noucircs) como ldquorainha doceacuteu e da terrardquo (28c-29a)d) A alma do mundo possui sabedoria e inteligecircnciapertencentes ao gecircnero da causa que ordenam e regem todasas coisas (29a-31b)e) A inteligecircncia (noucircs) portanto pertence ao gecircnero da causa

5 Parte V O exame dos prazeres a sensacatildeo a memoacuteria e odesejo (31b-55c) a) A fisiologia do prazer dor e prazer como um parindissoluvel (31b-32b)b) A psicologia do prazer a reminiscecircncia (32b-34c)c) O desejo ou apetite por alguma coisa pertence agrave alma (34c-35d)d) O desejo da alma o tipo de vida correto e o prazer comoantecipacatildeo (35d-36c)e) Prazeres verdadeiros e falsos (36c-38c)f) Percepcatildeo aparente e real pensamento opiniatildeo e discurso(38c-40c)g) Os estados afetivos tecircm conteudo proposicional (40e-43b)h) O prazer natildeo se identifica com a cessacatildeo da dor (43c-46a)i) Os prazeres mesclados com dores (46a-50e)j) Os prazeres puros sem mistura com dor os prazeressensoriais a beleza das figuras os sons os aromas e osprazeres da aprendizagem (50e-53c)k) Conclusatildeo o prazer eacute um vir a ser (53c-55c)

6 Parte VI Exame do conhecimento os conhecimentos asartes e seu grau de exatidatildeo A superioridade da filosofia(55c-64c)a) Os conhecimentos e as artes com distintos graus deexatidatildeo e de pureza (55c-57e)

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b) A filosofia eacute superior a qualquer outro conhecimento ouarte (57e-59d)c) O Bem eacute a vida que consiste em uma mescla de sabedoria eprazeres puros (59e-64c)

7 Parte VII Os ingredientes eideacuteticos do Bem o posto doscandidatos na competecircncia pelo bem e a conclusatildeo (64c-67b)a) Beleza proporcatildeo medida e verdade como ingredienteseideacuteticos imprescindiveis ao Bem (64c -65e)b) A ldquotabela das posicotildees finaisrdquo na competicatildeo pelo Bem (i)a medida o mesuravel e o oportuno (ii) o proporcional e obelo o perfeito e o suficiente (iii) a inteligecircncia e a reflexatildeo(iv) conhecimentos artes e opiniotildees corretas (v) prazerescarentes de dor isto eacute prazeres ldquopurosrdquo (66a-66d)c) Conclusatildeo do dialogo se provou inteiramente pelodiscurso que era injustificada a pretensatildeo tanto do prazer quanto dainteligecircncia de ser o Bem em si mesmo por natildeo preencherem os trecircsrequisitos autonomia suficiecircncia e perfeicatildeo Entretantoexiste um prazer superior aos fisicos fruto da paixatildeo pelosdiscursos oraculares inspirados pela musa filosoacutefica (66d-67b)

A primeira grande subdivisatildeo do dialogo (partes I a IV)

refere-se ao procedimento dialeacutetico e portanto ela se reveste deuma importacircncia unica para a compreensatildeo da dialeacutetica a ponto deGadamer3 afirmar ldquoafinal de contas em nenhum outro dialogoplatocircnico a teoria da dialeacutetica esta tatildeo estreitamente enredada coma pratica da dialeacutetica como alirdquo4

Em consonacircncia com esse argumento Gill5 defende a tesede que a forma do dialogo acentua o necessario vinculo entreengajamento cooperativo de ambas as partes e o exerciciodialeacutetico rumo a uma compreensatildeo mais aprofundada dasrealidades e do Bem Aleacutem disso ele afirma que nessa perspectivao Filebo seria excepcional pela importacircncia que atribui a essascaracteristicas para o aperfeicoamento de toda a discussatildeo Aecircnfase nessas caracteristicas explicaria porque Soacutecrates nessedialogo tem de introduzir teoricamente o meacutetodo dialeacutetico comoum caminho para superar a primeira aporia surgida com a aparenteunidade (14a-e) recolhida e evidenciada no nome lsquoprazerrsquo e a

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multiplicidade de prazeres muitas vezes ateacute mesmo contrariosentre si Superar a afirmacatildeo surpreendente e paradoxal de que ldquoomultiplo eacute unordquo (ἓν τὰ πολλὰ εἶναι) e a afirmacatildeo de que ldquoo uno eacutemultiplordquo (καὶ τὸ ἓν πολλὰ) por meio do discurso apresenta-secomo o grande desafio Entretanto Soacutecrates tentara mostrar aProtarco que esse desafio soacute pode ser superado pelo exercicio dadialeacutetica pois a eristica praticada pelos sofistas natildeo podeadequadamente dar conta dele

Na segunda grande subdivisatildeo tematica (nas partes V e VI)Soacutecrates argumenta que incluira todos os conhecimentos namistura em busca da vida feliz mas apenas alguns prazeres osprazeres puros (da vida teoreacutetica e dos sentidos puros) aqueles quenatildeo foram misturados com dor e que satildeo verdadeiros por natildeoinduzirem ao engano Esses correspondem aos prazeres esteacuteticosde certos perfumes de algumas vozes claras das cores puras e dasformas geomeacutetricas e tambeacutem os prazeres intelectuais daaprendizagem e da investigacatildeo disciplinada e os prazeres eacuteticosque seguem as virtudes

Nos prazeres puros o que se desfruta eacute uma experiecircncia danatureza do belo e daquilo que eacute atrativo em si mesmo6

independente de um estado de tensatildeo que busque somente alivio(51c 6-7) eles ainda estatildeo relacionados agrave claridade agrave precisatildeo e agraveverdade Os prazeres impuros por sua vez possuem um lacoindissoluvel com a dor que Platatildeo procura ressaltar por meio douso de varias particulas e construcotildees com particulas - τε καὶ e δὲκαὶ - aleacutem do uso do adveacuterbio haacutema (simultaneamente) para enfatizaressa conexatildeo estreita

O prazer autecircntico eacute bom em si mesmo por natureza ouenquanto medido ou limitado pela razatildeo calculadora Platatildeo longede rechacar o prazer corporal de forma arbitraria como uminimigo procura integra-lo a vida feliz sempre que estaacompanhado pela inteligecircncia (noucircs) que pode prescrever lhe amedida adequada Comprova-se mais uma vez que a medida e aproporcatildeo salvam o prazer e o integram no conjunto de uma vidaplena A defesa da sabedoria acerca dos calculos dos prazeres

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autecircnticos da vida leva a conclusatildeo de que o sabio (sophoacutes) eacute ohomem mais feliz

O que chama atencatildeo no desenvolvimento do tema eacute ofato de desde o inicio Soacutecrates propor uma terceira via alternativapara definir qual seria a vida mais feliz e que por isso se constituiriano Bem e continuar insistindo nessa ideia ao longo do dialogo Ainsistecircncia em tal possibilidade leva a necessidade doestabelecimento de categorias ontoloacutegicas nas quais se possaincluir essa vida misturada de prazeres e atividades do intelectoPor fim a conclusatildeo sera que o Bem eacute a vida que consiste em umamescla de sabedoria e prazeres puros (Filebo 59e-64c)

Esses indicios na linha de desenvolvimento do tema nosfaz pensar que o propoacutesito ou intencatildeo visado por Platatildeo nodialogo em questatildeo seja definir os horizontes dessa vida mistadentro do escopo do seu projeto ontoloacutegico sobre o Bem

A DATACcedilAtildeO DO DIAacuteLOGO E A GEcircNESE DO TEMA

Em relacatildeo a sua posicatildeo no corpus platonicum pode-sedizer que ha um consenso entre os especialistas sobre o Filebo tersido composto nas ultimas duas deacutecadas da vida de Platatildeo e fazerparte do seguinte conjunto de dialogos Sofista Poliacutetico FileboTimeu Criacutetias e Leis Os dois primeiros nomes da lista satildeoseguramente anteriores aos outros e as Leis o ultimo O Criacutetiastem uma relacatildeo de continuidade com o Timeu e a posicatildeo doFilebo eacute incerta ou teria sido escrito entre o Poliacutetico e o Timeu ouentre Criacutetias e Leis e ainda haveria a possibilidade de algumaconcomitacircncia Quanto agraves possiveis datas os anos de 368 e 367aC seriam um terminus a quo para os seis dialogos no entanto eacutedificil de determinar uma data precisa para qualquer um deles7

Dessa forma o Filebo teria sido escrito entre duas trilogiassupostas de Platatildeo a primeira Sofista Poliacutetico e Filoacutesofo - o ultimonatildeo foi escrito mas anunciado - e a segunda Timeu Criacutetias eHermoacutecrates esse ultimo tambeacutem natildeo escrito Outra possibilidade eacuteque tivesse sido escrito depois da segunda trilogia e antes das LeisParticularmente essa eacute a posicatildeo assumida por Hackforth8 natildeo

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como uma certeza mas pela possibilidade de dar conta de uma dascaracteristicas mais singulares do Filebo a completa ausecircncia dereferecircncias politicas e num momento que se sabe que Platatildeo estariaenvolvido em um projeto politico concreto de estabelecer naSicilia na corte de Dionisio a sua Republica ideal Nas palavrasdesse estudioso

Soacutecrates e seus interlocutores discutem o bem para o homemcomo individuo e natildeo como membro da comunidade isso eacutesurpreendente no autor da Repuacuteblica Poliacutetico e Leis e pode serconsiderado como refletindo uma separacatildeo deliberada daespeculacatildeo politica que melhor se encaixa nos anos de 360-354 do que em qualquer outro periodo das ultimas duasdeacutecadas da vida de Platatildeo (Traducatildeo nossa)9

Essa pausa na especulacatildeo politica ao qual se refere natildeodeve representar uma interrupcatildeo mesmo momentacircnea noprojeto filosoacutefico de Platatildeo como Hackforth da a entender emparticular definindo o dialogo em questatildeo com a expressatildeo umpiegravece drsquooccasion Em seu entender a obra marcaria uma espeacutecie deinterrupcatildeo tematica na sequecircncia dos dialogos platocircnicospressupondo que a sequencialidade da escritura seja umaprerrogativa do filosoacutefico Uma abordagem historicista neste casonatildeo ajuda a entender a gecircnese da obra e ateacute mesmo parecerestringir o projeto do filoacutesofo no qual a dimensatildeo politica natildeo semostra dissociada de sua dimensatildeo ontoloacutegica

Em minha opiniatildeo deve-se ter em mente o tempo todoque o escopo de toda a obra de Platatildeo aponta invariavelmentepara o Bem embora os propoacutesitos ou intencotildees dos dialogosindividualmente parecam estar sempre em tensatildeo dialeacutetica entre sigirando em torno de assuntos variados Portanto a questatildeo doprazer tem de ter alguma relacatildeo com o Bem e a vida feliz e ainvestigacatildeo para determinar o seu lugar na vida do filoacutesofo natildeoesta em desarmonia com o projeto de Platatildeo em um momentoespecifico ou eacute um tema secundario mas encontra ecos anterioresnos dialogos Goacutergias na Repuacuteblica e tambeacutem no Banquete

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Segundo Boeri10 Platatildeo parece ter se sentido particularmente comprometidode dar um lugar ao prazer na vida boa e principalmente emdemonstrar a sua importacircncia para a vida do filoacutesofo como oprazer contribuiria para a ascensatildeo ao Bem Se levassemos agrave riscauma leitura asceacutetica do platonismo o prazer teria pouca ounenhuma importacircncia em uma vida teoreacutetica no entanto como sepode contemplar a beleza do Bem sem a contemplacatildeo da belezasensivel dos corpos que visa o prazer como se diz no BanquetePortanto uma leitura rigorosamente asceacutetica natildeo parece condizercom varios passos de outros dialogos como se procurara mostrarA via dialeacutetica natildeo eacute uma via racional e arida e Platatildeo estaparticularmente comprometido em demostrar issoSoacute para citar alguns exemplos do corpus platocircnico no Goacutergias opersonagem Soacutecrates conduz a discussatildeo sobre o prazer daseguinte forma logo depois de Calicles ter afirmado que o homemfeliz seria o que se entregasse a todos os prazeresindiscriminadamente

SoacutecratesFui eu que conduzi a discussatildeo para estes temas meu caro oufoi aquele que com todo o embaraco afirmou que afelicidade consiste no prazer de qualquer ordem semdistinguir entre bons e maus prazeres Pergunto-te mais umavez se em tua opiniatildeo o prazer e o bem satildeo uma e amesma coisa ou se haacute prazeres que natildeo satildeo bons

CaliclesSe te dissesse que eram coisas diferentes entraria emcontradicatildeo com as afirmacotildees que ja fiz Mantenhoportanto que satildeo a mesma coisa

SoacutecratesDas cabo de tudo o que assentamos Calicles e natildeo poderasrealizar comigo uma investigacatildeo correta da verdade se tepotildees a falar contra o teu proacuteprio pensamento

CaliclesExatamente como tu fazes Soacutecrates

Soacutecrates

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Se isso eacute verdade faco tatildeo mal como tu Mas reflete meucaro que talvez o Bem natildeo se identifique com toda aespeacutecie de prazer A ser assim verificar-se-iam asconsequecircncias vergonhosas a que ha pouco aludi e muitomais (494 e 10 ndash 495 a e b 2 Grifos nossos)11

Soacutecrates ao questionar nessa passagem se o prazer e o bemsatildeo uma e a mesma coisa ou se haacute prazeres que natildeo satildeo bons propotildee naverdade uma discussatildeo ou revisatildeo sobre a ontologia do Bem ouuma agatologia que no Filebo assumira inicialmente a forma de umaontologia de uma vida boa12 na qual o prazer deve ser parteconstituinte

Da mesma forma tambeacutem com essa afirmacatildeo de quetalvez o Bem natildeo se identifique com todo tipo de prazer ele aponta para anecessidade de examinar a questatildeo mais a fundo propondo nasentrelinhas a necessidade de submeter o prazer a uma divisatildeo e deuma classificacatildeo dos prazeres para melhor compreender em quemedida ele eacute o Bem No entanto Soacutecrates natildeo daraprosseguimento a essa investigacatildeo ao longo desse mesmo dialogomas antecipa um esboco de uma tese sobre as espeacutecies de prazeresque sera retomada e desenvolvida no Filebo Pode-se constatar tambeacutem na Repuacuteblica 505b a importacircncia dotema ao examinarmos o seguinte excerto

Se natildeo a conhecemos e agrave parte essa ideia conhecermos tudoque ha sabe que de nada nos serve da mesma maneira quenada possuimos se natildeo tivermos o bem Ou julgas que vale demuito possuir qualquer coisa que seja se ela natildeo for boa Ouconhecer tudo o mais exceto o bem e natildeo conhecernada de belo e bom

ndash Por Zeus que natildeondash Mas na verdade sabes tambeacutem que para a

maioria (hoi polloiacute) eacute o prazer que se identifica com o bem aopasso que para os mais requintados (kompsoteacuteroi) eacute o saber

ndash Pois natildeondash E os que assim pensam meu amigo natildeo satildeo

capazes de explicar o saber mas acabam por ser forcados adizer que eacute o saber do bem

ndash Coisa que eacute bem ridicula[]

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ndash E agora os que definem o bem com prazer estatildeomenos eivados de erros do que os outros Ou natildeo satildeotambeacutem eles forcados a concordar que ha prazeres maus

ndash Seguramente que sim

Nesse passo segundo Soacutecrates existe portanto umaopiniatildeo ja estabelecida pelo senso comum (hoi polloiacute) de que oprazer se identifica com o Bem enquanto para os maisrequintados ele se identifica com o saber Essa primeira oposicatildeosuperficial levara a outra mais fundamental que integra um dosnucleos da metafisica platocircnica - a questatildeo do Uno e do Multiplo ndashporque a essecircncia do Bem natildeo pode ser dupla mas uma ou unapor isso tera que se decidir entre as duas alternativas ou umaterceira que se aproxime mais do Bem Em outras palavras o queele persegue eacute como conciliar e fundamentar filosoficamente arelacatildeo do Uno e do Multiplo com o Bem toacutepico esse quetambeacutem natildeo desenvolve na Repuacuteblica

O Banquete por sua vez deveria ter uma relacatildeo importantecom o tema do prazer uma vez que trata do mito de Eros em suarelacatildeo com Afrodite que explicitamente eacute chamada de prazer noFilebo Essa relacatildeo talvez pouco evidente do ponto de vistateoreacutetico natildeo me parece de menos importacircncia hermenecircutica Aquestatildeo eacute definir ateacute que ponto pode-se estender a analogia domito de Eros e Afrodite ao tema do prazer e do conhecimentocomo eacute apresentado no Filebo que embora tenha sido consideradocomo um dialogo eacutetico por muitos claramente se mostrou comoestando inserido no plano ontoloacutegico de Platatildeo em relacatildeo aoBem13

No entanto o Banquete natildeo eacute considerado um dialogo detema ontoloacutegico mas natildeo deveria passar despercebido que Platatildeoali estabelece uma categoria nova de existir no mundo ndash expressano uso da preposicatildeo metaxyacute ndash uma posicatildeo intermediaria entredeuses e homens a posicatildeo do daiacutemon a mesma de Eros a mesmado filoacutesofo e de Soacutecrates essa nova categoria do ponto de vistaepistemoloacutegico ainda pode ser entendida como qualquer coisaentre a sabedoria e a ignoracircncia definida por Diotima como oopinar corretamente (tograve orthagrave doxaacutexein)

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Tal posicatildeo eacute definivel em termos de participacatildeo O mito diz queEros tanto eacute rico em expedientes como eacute indigente a ponto deestar sempre na falta de alguma coisa dor e prazer se enlacamnecessariamente no movimento de Eros mas natildeo de modonegativo pois a dor da falta eacute que impulsiona ao desejo depreenchimento Por outro lado no Filebo Soacutecrates retorna a esseponto ao falar dos prazeres puros incluindo nessa categoria osprazeres do aprendizado e procura purifica-los desse aspectodoloroso O filoacutesofo leva Protarco a concluir que se algueacutem forprivado desses ensinamentos natildeo sentira de modo natural dor porcausa dessa perda mas apenas ao raciocinar sobre essaexperiecircncia Ou seja ele procura separar a experiecircncia pura doaprendizado (χωρὶς τοῦ λογισμοῦ) como uma experiecircnciaprazerosa em si14

Ademais Diotima levanta uma importante questatildeo emrelacatildeo ao opinar corretamente como pode um aacutelogon pracircgma serciecircncia por um lado mas como pode ser ignoracircncia (natildeoconhecimento) se ao mesmo tempo recolhe o ser (toucirc oacutentos) Esseestatuto ontoloacutegico estabelecido por Platatildeo deixa em aberto agravequestatildeo do prazer pois esse mesmo sendo movimento e geracatildeonatildeo suficiente em si mesmo natildeo poderia ser um bem mas comovir a ser vem a ser a partir de alguma coisa e natildeo seria essa coisa oBem Qual a relacatildeo entre prazer e Bem Mais uma vez constata-se que essas questotildees de alguma forma seratildeo retomadas no Filebo

A meu ver se existe uma divindade patrona da filosofiaessa divindade deve ser Eros porque eacute esse sobretudo em suaacircnsia de preencher-se e na sua propensatildeo ao belo que se move efaz mover na direcatildeo do objeto de seu amor e qual coisa segundoPlatatildeo seria mais desejavel e amoravel do que o bem A proacuteprianatureza intermediaria de Eros sempre acompanhado de prazer edor entre o sensivel e o inteligivel constroacutei uma relacatildeo entre oamor ao belo sensivel e ao belo inteligivel que por forca danarrativa mitica satildeo inseparaveis Mas essas relacotildees assimexpostas em uma linguagem imageacutetica do mito ainda natildeo datildeoconta de definir os horizontes da exata relacatildeo entre prazer e Bem

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O personagem Soacutecrates entatildeo questionara - a partir da tesede Filebo de que o prazer constitui a vida boa ndash se o prazer tem ounatildeo espeacutecies e quantas e quais satildeo e depois fara o mesmo emrelacatildeo agraves atividades do intelecto para concluir por uma terceiravia ja elucidada desde o inicio do discurso de que a vida mista seriaa vida boafeliz e essa sim seria o Bem

Sendo assim Soacutecrates procurara dist inguir naargumentacatildeo segundo o meacutetodo dialeacutetico da divisatildeo quais satildeo osprazeres ruins e quais bons mas ja admitindo previamente ser amaioria deles ruim como se vecirc no excerto abaixo

Porque estas chamando essas coisas ainda quedessemelhantes diremos noacutes com outro nome pois dizesserem boas todas as coisas prazerosas Ora certamentenenhum argumento pode contestar tal afirmacatildeo dizendo queas coisas prazerosas natildeo satildeo prazerosas mas dizendo que amaioria delas eacute ruim e umas boas15 como noacutes afirmamos16

A naturalidade desse tema que subsumi o senso comum deque ser feliz de alguma forma eacute se entregar aos prazeres torna-osempre atual e relevante e confronta-nos com os seguintesquestionamentos todo prazer implica necessariamente em umbem Como o prazer participa do Bem em si mesmo Ou comoalguns defendem uma vida baseada soacute na reflexatildeo natildeo seria maisproveitosa aos homens Tais questotildees satildeo o motor propulsor quefazem mover o dialogo

Na Antiguidade o tema do Filebo a saber o prazer e suasinjuncotildees eacuteticas e metafisicas foi objeto de multiplos comentariosde Aristoacuteteles ateacute os ultimos neoplatocircnicos17 As escolas deinterpretacatildeo sempre alternaram entre dois campos deinterpretacatildeo Eacutetico ou Metafisico (escola de Jacircmbico) Ocomentario mais completo que chegou ateacute noacutes da Antiguidade foio de Damascio18 ndash Comentaacuterio ao Filebo de Platatildeo ndash o qual ja ilustracerta polecircmica antiga acerca do tema

Alguns dizem que o escopo do Filebo eacute o prazer como osubtitulo demonstra e tambeacutem o proacuteprio Soacutecratesprimeiramente ao se propor discutir sobre o prazer (11b4-

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c3) e depois a examinar as coisas a esse respeito efinalmente por concluir o seguinte que o prazer natildeo eacute afinalidade (teacutelos) da vida[]Ainda na opiniatildeo de Pisiteo o aluno de Theodoro de Asino odialogo eacute sobre a Inteligecircncia como dizem tambeacutem que oParmecircnides eacute sobre o Bem Isso porque na discussatildeo da vidamista (na qual inteligecircncia e prazer estatildeo misturados) aInteligecircncia ela mesma eacute o primeiro (elemento) na mistura(1959 p 2) (Traducatildeo nossa)

Nesse passo Damascio faz uma espeacutecie de revisatildeohistoacuterica das interpretacotildees correntes dos neoplatocircnicos sobre atematica do Filebo partindo do ponto de vista tradicional de Procloe destacando a discordacircncia entre os seus comentadores Valeressaltar o fato de nenhum dos comentadores da Antiguidadedizerem que o dialogo eacute sobre a vida mista A interpretacatildeo queDamascio dara ao tema do prazer sera considerada uma leituramais aristoteacutelica diversa de seus predecessores preocupadossomente em interpretar a doutrina de Platatildeo e que soacute recorrem aAristoacuteteles para acrescentar um elemento a mais o prazer natildeo eacute soacuteo preenchimento de uma falta mas o resultado suplementar deuma atividade

Ao comentar sobre as diversas interpretacotildees a respeito dotema numa perspectiva historiografica Dorothea Frede19 diz que amaior parte dos comentadores dirigiu a sua atencatildeo para um unicoaspecto seja ao discutir a passagem sobre metodologia e ontologiaseja se limitando agrave discussatildeo do prazer sem dar valor ao conjuntodo dialogo Sendo assim pode-se constatar que natildeo haviaconsenso interpretativo em relacatildeo ao tema na Antiguidade e nemtampouco na contemporaneidade

Retornando ao dialogo Soacutecrates do inicio apresenta asduas teses ou concepcotildees da existecircncia humana ja discutidasanteriormente que o prazer e seus congecircneres implicam em umavida boafeliz e a outra que diz que a vida de reflexatildeo e seuscongecircneres satildeo responsaveis por isso Tais argumentacotildees iratildeo sedesenvolver no sentido de determinar qual dos dois tipos deexistecircncia estaria mais aparentado ao Bem sendo que um terceiro

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tipo de vida possivelmente superior eacute assinalado desde o principioPode-se dizer portanto que a questatildeo teoacuterica central gira emtorno da articulacatildeo entre uma questatildeo eacutetica ndash no que consiste avida boafeliz ndash e de uma ontoloacutegica ndash como a vida boafeliz estarelacionada com o Bem

O BEM COMO PONTO DE PARTIDA DA DISCUSSAtildeO

Logo na primeira secatildeo do dialogo em uma tentativa deestabelecer as condicotildees de um dialogo positivo que assegure aconcordacircncia dos interlocutores em engajar-se numa discussatildeohonesta do ponto de vista intelectual Soacutecrates inicia da seguinteforma

SoacutecratesOlha soacute Protarco que discurso tu estas (disposto) a aceitaragora o de Filebo ou frente ao nosso discurso refuta-lo casote natildeo seja exposto segundo o que eacute inteligivel Queres querecapitulemos cada um deles

ProtarcoCertamente que sim

SoacutecratesPois bem sobre isso Filebo afirma ser bom (agathoacuten) paratodos os viventes o regozijar-se o prazer e o gozo aleacutem dascoisas que estatildeo em consonacircncia com esse gecircnero poreacutem denossa parte a refutacatildeo eacute que natildeo satildeo essas coisas mas sim opensar e a percepcatildeo inteligivel bem como o recordar e aindaas coisas desse mesmo gecircnero como a opiniatildeo exata e osraciocinios verdadeiros as quais satildeo superiores e maisdesejaveis do que o prazer para todos quantos satildeo capazesdelas participar e tambeacutem satildeo elas as mais uteis para todosaqueles que satildeo e viratildeo a ser capazes de usufrui-las Natildeo eacuteassim natildeo como cada um de noacutes afirma Filebo (Traducatildeonossa)

O uso do termo agathoacuten em todo o dialogo eacute ambiguo poistanto pode ser entendido como o adjetivo bom como eacute entendidonesse excerto acima ou compreendido como se vera adiante pela

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ideia do Bem A ocorrecircncia dessa ideia no corpus platocircnicocostuma aparecer substantivada pelo artigo e ou em formacontraida tagathoacuten quando se refere ao Bem20 Portanto a palavracomo usada nesse excerto acima gera uma ambiguidade pois podesignificar tanto que o prazer eacute bom ou seja eacute uma espeacutecie de bem(que participa do Bem) ou eacute o Bem em si mesmo se assumirmosque mesmo sem o artigo a palavra possa significar o Bem

Ao observar-se todos os usos dessa palavra em seuscontextos especificos no dialogo constatamos que tal ambiguidadeeacute deliberada quase metade dos exemplos aparecem com artigo e aoutra metade sem o artigo Assim sendo Platatildeo sustenta essaambiguidade ateacute o fim de alguma maneira para paulatinamenteultrapassa-la valendo-se do meacutetodo dialeacutetico da divisatildeo natentativa de definir o Bem de maneira mais precisa e identifica-locom a vida boafeliz

Em contraposicatildeo a tese de Filebo o personagem Socratessustenta neste mesmo passo que as atividades do intelecto satildeoqualitativamente superiores Isto fica evidente ao usar adjetivos nograu comparativo de superioridade por meio dos quais ele procuraidentificar a vida de reflexatildeo como algo em si mesmo superiormais desejavel e mais util e por isso mais aparentada ao Bem Orefletir e seus congecircneres satildeo comparativamente melhores do queo regozijar-se e seus congecircneres demonstrando claramente que eleesta considerando esses ultimos como sendo um bem relativo Naverdade Soacutecrates introduz a pressuposicatildeo de que se a vida dereflexatildeo eacute melhor talvez seja porque haja prazeres bons e outrospiores

Nesse ponto do dialogo nem o personagem Soacutecrates nemFileboProtarco estatildeo preocupados em definir a questatildeo mas emestabelecer as bases de um campo comum de discussatildeo paraconduzi-la no sentido de responder ao longo do dialogo quais satildeoas exatas relacotildees entre o prazer a vida fundada na reflexatildeo e oBem Concordo com a leitura precisa de Delcomminette sobre oescopo do dialogo ldquoTodo o dialogo pode ser lido como umatentativa de descobrir a relacatildeo correta entre o prazer e o bem e defundamenta-la dialeticamenterdquo21

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O prazer tem um mesmo nome mas eacute multiplo o conhecimentotem um mesmo nome e igualmente eacute multiplo O nome soacute podeser visto como um se for entendido como conceito mas ateacuteaquele momento o que eacute um conceito para noacutes ainda natildeo haviasido definido pelos gregos como categoria de pensamento22 Sendoassim se estabelece a necessidade de argumentar sobre assemelhancas e as dessemelhancas entre os prazeres a partir dasquais se possa considera-los como o mesmo e da mesma formaproceder com as coisas referentes agrave reflexatildeo

Na intencatildeo de buscar um ponto de partida comum para odesenvolvimento desse caminho de pensamento o personagemSoacutecrates recrimina a interpretacatildeo ingecircnua de Protarco sobre oproblema do Uno e do Multiplo

SoacutecratesFalo do que aconteceu um pouco antes do que pela proacuteprianatureza surgiu como algo extraordinario pois de fato eacutesurpreendente a afirmacatildeo de que ldquoo multiplo eacute unordquo quantoa afirmacatildeo de que ldquoo uno eacute multiplordquo e qualquer umadessas duas seria facilmente contestada se proposta dessemodo

ProtarcoEntatildeo sera que estas querendo dizer quando algueacutem sereferir a mim Protarco nascido como unico por natureza sereu ao inveacutes disso muitos e contrarios tanto a mim mesmoquanto uns aos outros por admitir o grande e o pequeno opesado e o leve o mesmo e tambeacutem incontaveis outros

SoacutecratesTu Protarco estas afirmando o que se estabeleceupublicamente das admiraveis discussotildees a respeito do um e domultiplo e que foi admitido por assim dizer ja por todosNatildeo se deve no entanto acolher de imediato dentre taiscoisas o pueril o facil ou ainda o que possa vir a se tornarum grande obstaculo para o discurso aprovando-os poisnem mesmo quando depois de ter dividido os membros esimultaneamente as partes do discurso e de ter concordadoque todas essas coisas eram aquele um ainda assim algueacutempoderia refutar de modo zombeteiro que foi obrigado a dizer

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um prodigio o um como multiplo eacute tambeacutem ilimitado e omultiplo como um eacute unico (traducatildeo proacutepria)

A aporia da afirmacatildeo de Protarco fica ainda mais claraadiante no dialogo quando Soacutecrates relaciona o Uno e o Multiplocom duas categorias de pensamento o limite e o ilimitado comoalgo poderia ter limite e ser ilimitado ao mesmo tempo Aleacutem domais o que Protarco natildeo se da conta eacute de que Soacutecrates querinvestigar o Uno e o Multiplo nas Formas as quais natildeo se devemaplicar predicados de qualidades sensiveis O personagem Soacutecratesresponde assim a pergunta de Protarco sobre qual seria a outraversatildeo natildeo banalizada desse argumento ldquoeacute quando filho algueacutemcoloca o um mas natildeo aquele do qual agora ha pouco falamos dascoisas que vecircm a ser e perecemrdquo (15 a tocircn gignomeacutenon ndash das coisasadvenientes)

Fica evidente entatildeo o erro de Protarco ao confundir aunidade empirica com a unidade formal a Forma ou a Ideia Aabordagem socratica seria pode-se dizer ontoloacutegica enquanto ade Protarco empirica por isso Soacutecrates precisa primeiro conduzirProtarco a esse denominador comum da discussatildeo (movimentoclaramente expresso no verbo synkhoreacuteo ndash reunir no mesmo siacutetioderivado composto de khoacutera territoacuterio regiatildeo lugar) para entatildeoproceder ao meacutetodo dialeacutetico da divisatildeo

Platatildeo ja havia estabelecido desde os dialogos damaturidade que a unidade genuina ou originaria era uma Forma ouIdeia (eicircdos ideacutea) a unica originariamente una e que dentre estas aforma suprema ou final na hierarquia seria o Bem Amultiplicidade por sua vez estaria associada aos particularessensiveis - exemplificacotildees desses originarios que satildeo as formas - eque estatildeo para o adveniente assim como as ideias estatildeo para o SerComo conciliar portanto os conceitos de um Uno-supremo comum Uno-Multiplo relacional uma vez que todas as realidadesparecem ser unas e multiplas simultaneamente Para Platatildeo soacute aaplicacatildeo do meacutetodo dialeacutetico esse caminho lsquopresente dos deusesrsquopode desfazer essa primeira aporia que o multiplo seja uno e ouno seja multiplo

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Ainda ao concluir a secatildeo 15 a ele afirma ldquoeacute sobre essashecircnades23 e sobre coisas desse tipo que muito empenho gera arefutacatildeo ou controveacutersia pelo meacutetodo da divisatildeordquo (traducatildeoproacutepria)24 Essa afirmacatildeo soa como uma espeacutecie de observacatildeoautocritica muito zelo com o meacutetodo da divisatildeo em se tratando dehecircnades eacute perigoso por causa da sua proacutepria natureza una Natildeo eacuteuma critica necessariamente ao meacutetodo da divisatildeo fundamental nadialeacutetica platocircnica mas uma constatacatildeo da dificuldade deapresentar essas hecircnades discursivamente por causa da sua proacuteprianatureza paradoxal

Pode-se dizer sobretudo que o foco teoreacutetico de Soacutecrateseacute entender o fundamento dessas hecircnades ndash as formas unas em simesmas ndash que ele exemplifica como o homem como um o boicomo um o belo como um o bem como u m (esses dois ultimosexemplos canocircnicos da teoria das Formas) Por causa dessaafirmacatildeo de Soacutecrates muitos inteacuterpretes viram na teoria platocircnicada realidade natildeo uma ontologia mas uma henologia na qual o uno eacutea origem do real e o conceito de ser deriva dele25

Concluindo procurei mostrar nesse artigo em linhas geraise amplas a habilidade surpreendente de Platatildeo por meio dapersonagem Soacutecrates em desenvolver uma argumentacatildeo sobretemas tatildeo complexos mostrando e aplicando cuidadosamente omeacutetodo dialeacutetico para o filoacutesofo o modo supremo de apreensatildeodo real com vistas a resolver um problema que de longe eacute simpleso Bem eacute em Platatildeo o fundamento ontoloacutegico de uma vida felizComo se pode definir o Bem em termos de uma vida mista deprazeres e conhecimentos

Retomando a nocatildeo de escopo dos antigos exegetasneoplatocircnicos26 poder-se-ia dizer que o tema principal do Filebo eacuteo Bem mas o propoacutesito do dialogo eacute definir como a vida mistapode ser esse Bem

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O Filebo prazer e intelecto em confronto | Simone de O Goncalves Bondarczuk

ABSTRACT

Philebus Face-off of Pleasure and Intellect

The dialogue Philebus for a long time was dropped by thetradition of Platonic studies and is considered a complex dialoguedue to an alleged lack of thematic unity In the last thirty years theinterest in it revived with strength and its relevance to a broaderunderstanding of the theoretical thinking of Plato was finallyrecognized This article aims to introduce the reader on the coreissues of the dialogue namely What constitutes a good life wouldit be a life dedicated to pleasure or dedicated to understanding Orit would be a mixture between these two lives And which of thethree conceptions of life are closer to the Good

KEYWORDS

Philebus Socratic dialogue Pleasure Intellect the Good

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REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

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O Filebo prazer e intelecto em confronto | Simone de O Goncalves Bondarczuk

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PLATOacuteN Filebo Introduccioacuten traduccioacuten y notas de Marcelo Boeri BuenosAires Losada 2010

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1 Deixo de lado a questatildeo de quem teriam sido os primeiros receptores dosdialogos de Platatildeo que natildeo eacute relevante para os objetivos deste artigo Asuposicatildeo mais imediata nos indica seus discipulos membros da Academia Osdialogos teriam sido como hypomnemata que auxiliavam na discussatildeo mas muitosos consideram principalmente dirigidos aos adversarios intelectuais do mestreos sofistas e os reacutetores e ainda pode-se supor que tenham sido escritos comolegado agrave posteridade Dado a situacatildeo de analfabetismo da eacutepoca dificilmenteeles visavam um publico leigo e natildeo aristocratico 2 Soacute para citar algumas propostas diferentes Diegraves (1949) Boeri (2010)Friedlaumlnder (2014)3 GADAMER 2009 p 1034 Constata-se isso na insistecircncia de Soacutecrates desde o inicio de buscar entrar emacordo com o seu interlocutor sobre o tema que discutiratildeo e de como devemtrata-lo A concepcatildeo da dialeacutetica como uma busca compartilhada eacutedesenvolvida com maestria no Filebo5 GILL 2010 p 47-556 Cf Banquete 204 b-c 206 c-e7 HACKFORTH 1972 p 18 Idem ibidem p 49 ldquoSocrates and his interlocutours discuss the good for man as individual not amember of a community this is surprising in the author of Republic Statesmanand Laws and may be taken to reflect a deliberate detachment from politicalspeculation such as better fits the years 360-354 than any other period in Platorsquoslast two decadesrdquo (1972 p 4)10 BOERI 2010 p 911 PLATAtildeO 2011 p 140 12 BRAVO 2009 p 16813 Sem sombra de duvida o comentarista que definitivamente conseguiudemonstrar isso foi Sylvain Delcomminette em sua obra magistral Le Philegravebe dePlaton Introduction agrave lrsquoagathologie platonicienne14 Filebo 52 a-b15 κακὰ δ ὄντα αὐτῶν τὰ πολλὰ καὶ ἀγαθὰ δέ ὡς ἡμεῖς φαμέν (Filebo 14b)16 Filebo 13b17 Plotino faz varias referecircncias ao dialogo no Livro III 588 IV 3634 VI7252tambeacutem Porfirio seu mestre comenta algumas linhas do dialogo em seusComentaacuterios ao Timeu de Platatildeo fr 5170-3 e ainda Alexandro de Afrodisia emComentaacuterio ao livro VIII dos Toacutepicos de Aristoacuteteles onde cita e interpreta de modoaristoteacutelico a passagem de Filebo 12d Ademais sabe-se da existecircncia de umcomentario perdido de Proclo ao Filebo e um comentario de Jacircmbico cuja unicafonte eacute o proacuteprio comentario de Damascio sobre esse dialogo18 Nasceu em Damasco na provincia romana da Siria lugar de onde provem oseu nome (o nome original eacute desconhecido) Foi filoacutesofo da escola neoplatocircnicaateniense (458 dC ndash apoacutes 538) conhecido como o ultimo dos neoplatocircnicospor ter sido o ultimo escolarca da Escola de Atenas antes do seu fechamentopelo imperador Justiniano em 529 dC Duas obras satildeo atribuidas a ele acerca doFilebo Tratado dos Primeiros Princiacutepios e Comentaacuterios ao Filebo de Platatildeo (textosestabelecidos por LG Westernik e natildeo traduzidos para o portuguecircs)

19 FREDE 2013 p 50220 Natildeo eacute inquestionavel que para Platatildeo o substantivo e o adjetivo fossem entendidos como um ente e seu predicado pois ambos satildeo denominados de oacutenoma e portanto vistos como entes 21 ldquoTout le dialogue peut ecirctre vu comme une tentative de deacutecouvrir larelation correcte entre le plaisir et le bien et de fonder dialectiquementerdquo(DELCOMMINETTE 2006 p 31)

22 Os especialistas natildeo estatildeo de acordo ainda se teria sido Platatildeo ou Soacutecrates ocriador do conceito23 Natildeo eacute facil determinar o sentido exato desta palavra usada uma unica vez porPlatatildeo nesse contexto portanto um haacutepax legoacutemena sem ocorrecircncia em outrosdialogos Talvez Platatildeo se refira a formas unas de aspecto uno se supormosuma etimologia a partir da juncatildeo de heacutena (neutro plural de heacuten) unidades e a raizeid- de eicircdos forma aparecircncia aspecto ou seja o que tem um aspecto uacutenicouno

24 περὶ τούτων τῶν ἑνάδων καὶ τῶν τοιούτων ἡ πολλὴ σπουδὴ μετὰ διαιρέσεωςἀμφισβήτησις γίγνεται (Filebo 15a 6-7)25 Sobre esse assunto cf BRAVO 2009 p 17026 ALEKNIENEgrave 2017 p 1

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Aedoacuten performance poeacutetica de lasvictimasGraciela C Zecchin de Fasano

RESUMEN

La figura del ruisentildeor atestiguada por primera vez en el canto 19de Odisea (v 518-523) aparece tambieacuten en la fabula contenida enTrabajos y diacuteas (v 202-212) de Hesiodo y en la comedia Aves deAristoacutefanes El presente articulo analiza con metodologiacomparativa la peculiar representacioacuten de la victima de algun tipode violencia en los textos citados y queacute interpretacioacuten se puedederivar en cada contexto discursivo especifico

PALABRAS CLAVE

Aedoacuten Homero Hesiodo Aristoacutefanes

SUBMISSAtildeO 29 dez 2017 | PUBLICACcedilAtildeO 31 dez 2017

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unque los poemas homeacutericos expresan regularmentela ideologia masculina de la gloria las aristassocialmente excluidas pueden ser presentadasconforme a las posibilidades expresivas del arteinsertas en medio de los toacutepicos tradicionalmenteconstitutivos Tal como sucede con la representacioacutende las victimas femeninas para las cuales la conversioacutenen aves permite con la imagineria del canto dar vozespecial a los silenciados y particularmente a lasmujeres En el canto 19 de Odisea (v 518-523)Homero utiliza una versioacuten inusual del mito de laconversioacuten de una mujer en ruisentildeor En el texto laimagen del ave inaugura una presencia de la liricaasociada al lamento que ha tenido interesantes

consecuencias1 En primer lugar dentro del corpus de la literaturagriega misma el ruisentildeor homeacuterico resultoacute desplazado por lapresioacuten didactica de la fabula hesioacutedica y en segundo lugar luegofue significativamente reemplazado por la versioacuten mas politica ydifundida acerca del mito de Procne y Filomela en textos de lacomedia y la tragedia Analizareacute en queacute modo el ruisentildeor homeacutericoproblematiza nuestra comprensioacuten de la mimesis en eacutepica y enlirica y queacute consecuencias conlleva su estudio comparativo contextos posteriores como la conocida ldquofabula del ruisentildeor y elhalcoacutenrdquo en Trabajos y diacuteas de Hesiodo o en la sofisticada comediade Aristoacutefanes llamada Aves

UN RUISENtildeOR EN ODISEA UNA VERSIOacuteN DE LA LIacuteRICA FEMENINA

En el pasaje de Odisea mencionado (19 v 518-523)Peneacutelope se halla en una situacioacuten animica calamitosa devastadapor el llanto el insomnio o las pesadillas que se comunica comoun canto de lamento Presentada de este modo la pena dePeneacutelope desarrolla en medio de un discurso eacutepico una mimesis ouna ldquoperformancerdquo de la lirica La forma lirica especifica del cantode lamento no resulta vertida directamente sino a traveacutes de ladescripcioacuten de una variacioacuten foacutenica en que Peneacutelope se compara a

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A

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si misma con un ruisentildeor el ave tipica del lamento en las antiguastradiciones griegas Peneacutelope se imagina como una mujer-ave queen una vida anterior ha sufrido la extraordinaria pena de asesinar asu hijo

El mito de Aedoacuten palabra griega que significa ruisentildeornos ha llegado en dos versiones2 Por un lado la versioacuten canoacutenicamas expandida en la tradicioacuten posterior es la que trata acerca deProcne y Filomela o Aedoacuten y Calidoacuten proporcionada por latragedia Ovidio y la Biblioteca de Apolodoro Tereo el esposo deProcne viola a Filomela quien trata de revelar la verdad a suhermana tejiendo su propia historia en un tapiz Procne enojadaasesina a Itys el hijo que tiene con Tereo y le sirve sus carnes alpadre como comida Con esta accioacuten Tereo queda sin herederos yabsolutamente contaminado de culpa La progenie es cortadaabruptamente pero Procne que amaba a su hijo lo lamentaracantando su pena como un ave indefinidamente La primerainferencia obvia en este relato es que Procne a diferencia dePeneacutelope en el pasaje de Odisea esta usando su poder para dantildeardirectamente a su marido en una venganza concreta

Por otro lado una segunda versioacuten del mito la quecontiene Odisea se halla tambieacuten en un escolio de Eustacio aFereacutecides Segun esa versioacuten Aedoacuten esta casada con Zeto elfortificador de Tebas y tienen un unico hijo Itylos mientras elgemelo de Zeto Anfioacuten esta casado con Niobe y tienen varioshijos3 Aedoacuten celosa de esta multiple progenie intenta matar al hijomayor de Niobe y en la oscuridad por error asesina a su propiohijo En el escolio de Eustacio se dice que Aedoacuten ordenoacute a su hijodormir en otra habitacioacuten pero el joven no la obedecioacute o bienolvidoacute la orden materna

iquestPor queacute Odisea se sirve de la versioacuten tebana del mito delruisentildeor cuando se ha demostrado el vinculo estricto que elpoema guarda con los origenes de Atenas4 iquestPor queacute esta versioacutentebana no ha gozado de la tradicioacuten literaria que la versioacutenateniense de Procne y Filomela ha recibido

Los v 518-523 del canto 19 de Odisea constituyen laprimera parte de un simil con la estructura habitual en Homero es

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decir una comparacioacuten en dos partes introducida por unsubordinante rutinario ldquocomo cuandordquo (ὡς δ ὅτε) pero por suextensioacuten podria ser considerado un ejemplo mitoloacutegico Los dosmiembros del simil sirven para expresar cabalmente la divisioacutenemocional de Peneacutelope que enuncia el simil su thymoacutes partidoproductor del canto avizora una hipoacutetesis sobre el contenido de lalirica La escisioacuten del animo de Aedoacuten entre su hijo muerto y sumarido resulta equivalente de la divisioacuten del corazoacuten de Peneacutelopeentre la opcioacuten que su hijo Teleacutemaco le ofrece - abandonar la casay regresar a la casa paterna- o elegir esposo entre los aqueos

El texto ofrece un leacutexico significativo no soacutelo porqueconstruye un paisaje para el canto del ave sino tambieacuten porqueratifica la femineidad del ave a traveacutes del epiteto χλωρηῒς 5

ὡς δ᾿ ὅτε Πανδαρέου κούρη χλωρηῒς ἀηδώνκαλὸν ἀείδῃσιν ἔαρος νέον ἱσταμένοιοδενδρέων ἐν πετάλοισι καθεζομένη πυκινοῖσινἥ τε θαμὰ τρωπῶσα χέει πολυηχέα φωνήνπαῖδ᾿ ὀλοφυρομένη Ἴτυλον φίλον ὅν ποτε χαλκῷ

κτεῖνε δι᾿ ἀφραδίας κοῦρον Ζήθοιο ἄνακτος6

Como cuando la hija de Pandaacutereo Aedoacuten la defrondosa garganta canta hermosamente al comenzar laprimavera posada en el tupido follaje de los aacuterboles ydeja fluir su voz de variados sones que muda a cadamomento llorando a Itylos el hijo que tuvo del reyZeto al cual asesinoacute con el bronce por imprudencia []

En las interpretaciones del pasaje de Odisea hanpredominado las consideraciones sobre los celos de Aedoacuten enconsecuencia el texto revelaria cierta hostilidad de Peneacutelope conOdiseo (Tereo en este parangoacuten) y significaria que Peneacutelope quierepotencialmente asesinar a su hijo7 Cabe la posibilidad de un errorde interpretacioacuten de los escoliastas es decir que tomaran Aedoacutencomo nombre propio e instalaran esta nueva versioacuten aunque yanos resultan conocidas las variaciones homeacutericas en los nombresmiticos

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Anhalt ha sostenido que el personaje esta usando elparadigma de Clitemnestra y que sospecha de las acciones de suesposo durante su ausencia8 Levaniouk supone que la versioacutentebana revela mejor el estado animico turbulento de Peneacutelope ycomo el mito consiste en una confesioacuten ante Odiseo disfrazado demendigo el asesinato de Itylos ha sido interpretadoldquopsicoloacutegicamenterdquo por la mayor parte de la masa critica9

La insercioacuten de este relato confronta con todas lasnarrativas previas que Peneacutelope desarrolla sobre si misma y queversan acerca de su presente o su pasado inmediato Este pequentildeorelato en cambio instala personajes remotos con una conexioacutenpoco clara con el personaje que lo usa La pena de Peneacutelope y eltropo del ruisentildeor parecen conectarse con el vaiveacuten indeciso de latrama en la que Peneacutelope esta incluida Como precedente podemosconsiderar el pasaje del canto IX v 555-565 de Iliacuteada en que Feacutenixal narrar el mito de Meleagro sostiene que a Cleopatra la mujerdel heacuteroe sus padres la llamaban Alcioacuten porque la madre llorabapor ella como el ave ya que Apolo la habia raptado Esta imagense desarrolla intercalada con la referencia al enojo de Altea quesuplica la muerte de su hijo En sintesis el ave doliente expresa ensu agudo grito la pena y esa pena se transfiere a Altea quepeligrosamente y en un espejo deforme repite la trama de Iliacuteadasubyugando la vida de su hijo a un tizoacuten que se consume

En el texto de Odisea los multiples ecos del canto del aveenriquecen la imagen del vaiveacuten de Peneacutelope la indecisioacuten de sut r a m a πολυηχέα ldquode muchas resonancias o ecosrdquo debecomprenderse en este sentido La frecuencia e intensidad de suslamentos esta referida por una triple calificacioacuten en los versosprevios ἀδινὸν ldquovehementerdquo πυκυναί (v 516) πυκινοῖσιν (v 520)que se refieren a la angustia ldquointima ajustadardquo y θαμὰ (v521)ldquoreiterada muchas vecesrdquo Sin embargo el mito de Aedoacuten lafilicida no ofrece una conexioacuten obvia con la trama de Odisea espreciso decodificarla Por otra parte esta versioacuten tebana del mitoutilizada por Odisea no se conecta con ninguna otra versioacuten en laque los personajes sean simplemente intercambiados

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De la comparacioacuten entre las versiones tebana y ateniensesurge claramente que la agonia de Procne en la versioacuten ateniensederiva de que el hijo que ella ama es hijo del hombre que odiaNada de eso la pasa a Peneacutelope cuyo epiteto ἐχέφρων la definecomo ldquosensatardquo quien no enloquece sino que sopesa susdecisiones y sostengo por ello que la versioacuten tebana encajaperfectamente en Odisea Peneacutelope lamenta una peacuterdida vinculadaestrictamente a su lecho una pena de amor

Entre los multiples dilemas que Odisea presenta el dilemade Peneacutelope no es entre su esposo y su hijo sino coacutemo ejercer sucapacidad de calculo Un paso en falso puede hacerle perder todoIncluso la diosa Atenea configurada como Mentes le hacecomprender que para restablecer su poder Teleacutemaco deberiaasesinar a los pretendientes aun despueacutes de que Peneacutelope sehubiese casado Evidentemente la versioacuten tebana del mitopropone en Aedoacuten un personaje que trata de beneficiar a su hijoquien debe competir solo entre numerosos primos Con este mitoPeneacutelope manipula su situacioacuten y resulta evidente que el mitoproblematiza una cuestioacuten basica en la estructura del poderpolitico antiguo como lo es la continuidad del linaje La versioacutenateniense se concentra en este aspecto porque la esposa de Tereotrata de cortar el linaje de su esposo Muy distintas son lasintenciones de la mujer de Zeto el tebano ya que ella actua porquequiere promover e imponer su linaje por sobre sobre otros Enresumen la seleccioacuten de la versioacuten tebana colabora con la ideologiapolitica de Odisea que consiste en restaurar el linaje de Odiseo y enconservar la fortuna para Teleacutemaco En el lamento de Peneacutelope sehalla la pena por un posible nuevo matrimonio no deseado porella pero que Teleacutemaco o su padre Icario podrian promover Eseste posible nuevo matrimonio el nivel en que el simil del ruisentildeoraporta la idea de una violenta unioacuten no aceptada una veta deinterpretacioacuten mas proacutexima a la versioacuten ateniense y a lavictimizacioacuten de Filomela

La asociacioacuten de figuras femeninas con animales o insectostiene abundante registro en la eacutepica y en la poesia yambica griegasEn el caso de Peneacutelope ademas de esta conexioacuten con el ruisentildeor

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se debe recordar que su nombre sugiere que es una cerceta (untipo de cisne u oca) en consonancia con lo cual ella exige almendigo Odiseo en unos versos que siguen inmediatamente a loscitados que interprete un suentildeo sobre un grupo de gansos ndash lospretendientes- que se alimentan en la casa

Eliano ha propuesto en De natura animalia 5 38 unavariante para el v 521 del texto citado que consiste en reemplazarla palabra πολυηχέα que significa de variadas resonancias porπολυδευκέα de significado poco claro10 A pesar de ello enconjunto con τρωπῶσα cualquiera de estos adjetivos gesta laimagen del sonido que gira y repite una melodia

El cambio demostraria por un lado que la idea de mouvanceexpresada por Zumthor o la idea de variance sostenida porCerquiglini11 se aplican a este fragmento en el sentido de que estetexto poeacutetico no esta fijo sino que es tan moacutevil como el canto delruisentildeor y se actualiza en cada ejecucioacuten En segundo lugardefiniria la mimesis de la lirica que Peneacutelope realiza un texto moacutevilen sus elementos foacutenicos El fragmento ademas produce unainteresante aliteracioacuten en sonidos labiales y guturales para reflejarlos variados sones del ruisentildeor

El mito de Aedoacuten insiste en la tragica circunstancia de queItylos es hijo unico como lo son a su vez Teleacutemaco y Odiseo Lasituacioacuten de individuo aislado en la continuidad de la estirpeconfronta en el caso de Itylso en particular con los numerososhijos de Niobe su tia y en Odisea se replicaria en la situacioacuten deTeleacutemaco frente a los numerosos pretendientes de su madre

Como Aedoacuten Peneacutelope canta una melodia variablecambiando su voz llora y gime de noche hasta que Atenea leinsufla el suentildeo Volviendo a la idea de la lirica como texto enmovimiento el ruisentildeor que no duerme y varia su canto expandela imagen de la fluidez del tejido que Peneacutelope teje en el dia ydesteje por la noche El canto πολυδευκής del ruisentildeor si hacemoscaso de Eliano consiste en un lamento ininterrumpido contrario alcorte abrupto de la estirpe que la accioacuten de Aedoacuten concreta Lavariacioacuten del canto con sus giros es una extensioacuten foacutenica delldquotextordquo tejido por Peneacutelope

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EL RUISENtildeOR DE HESIacuteODO UNA LECTURA DEL PODERLa conexioacuten de Hesiodo con la tradicioacuten de la fabula

representada por Esopo ha sido convenientemente estudiada porHunter por supuesto partir de las lineas 202-212 de Trabajos y diacuteasen las que aparece el breve apoacutelogo sobre el ruisentildeor y el halcoacuten12

νῦν δ αἶνον βασιλεῦσιν ἐρέω φρονέουσι καὶ αὐτοῖςὧδ ἴρηξ προσέειπεν ἀηδόνα ποικιλόδειρον ὕψι μάλ ἐν νεφέεσσι φέρων ὀνύχεσσι μεμαρπώς ἣ δ ἐλεόν γναμπτοῖσι πεπαρμένη ἀμφ ὀνύχεσσι μύρετο τὴν ὅγ ἐπικρατέως πρὸς μῦθον ἔειπεν δαιμονίη τί λέληκας ἔχει νύ σε πολλὸν ἀρείων τῇ δ εἶς ᾗ σ ἂν ἐγώ περ ἄγω καὶ ἀοιδὸν ἐοῦσανδεῖπνον δ αἴ κ ἐθέλω ποιήσομαι ἠ ὲ μεθήσω ἄφρων δ ὅς κ ἐθέλῃ πρὸς κρείσσονας ἀντιφερίζειν νίκης τε στέρεται πρός τ αἴσχεσιν ἄλγεα πάσχειὣς ἔφατ ὠκυπέτης ἴρηξ τανυσίπτερος ὄρνις

Ahora contareacute una faacutebula a los reyes aunque sean sabiosAsiacute habloacute un halcoacuten a un ruisentildeor de variopinto cuello mientras lellevaba muy alto entre las nubes atrapado con sus garras Eacuteste gemiacutealastimosamente ensartado entre las corvas untildeas y aqueacutel en tono desuperioridad le dirigioacute estas palabras`iexclInfeliz iquestPor queacute chillas Ahorate tiene en su poder uno mucho maacutes poderoso Iraacutes a donde yo te lleve pormuy cantor que seas y me serviraacutes de comida si quiero o te dejareacute libreiexclLoco es el que quiere ponerse a la altura de los maacutes fuertes Se veprivado de la victoria y ademaacutes tiene que sufrir vejaciones es maltratado

Asiacute dijo el halcoacuten de raacutepido vuelo ave de amplias alas

Como comenta Vianello en estos diez versos estacontenido el primer apoacutelogo de la antiguumledad clasica al cualWillamowitz ha querido reducir injustamente a un simil eacutepico sinmoraleja13 Esta posicioacuten resulta insostenible excepto queextirpemos los v 210-211 como queria Aristarco aunque porsupuesto el hecho de que en un poeta bastante cercano en eltiempo como Arquiloco aparezcan tambieacuten los elementosdidacticos de este texto nos hace sospechar que ambos Aristarcoy Willamowitz erraron en su juicio

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La secuela didactica de este breve relato esta en los v 217-218 ldquola justicia vence a la violencia pero el candido aprendesufriendordquo(Δίκη δ ὑπὲρ Ὕ βριος ἴσχει ἐς τέλος ἐξελθοῦσα παθὼνδέ τε νήπιος ἔγνω) y la diferencia comparativa entre este texto y elmito de Odisea no se reduce a este mensaje En primer lugar elrelato no tiene la calificacioacuten de mito sino una calificacioacuten teacutecnicade su tipo discursivo ya que se trata de un αἶ νος un tipo de relatoen el que las consecuencias de los actos se exponen claramentebuscando un aprendizaje en el auditorio Y ese contenido estaexplicitamente expresado Sin mencionar que pasamos de ladoliente y femenina Peneacutelope al ruisentildeor que representa lavulnerabilidad del poeta de Trabajos y diacuteas frente a los poderosos

En esta fabula no figuran directamente los dioses ni losheacuteroes El narrador margina esos planos y concede discurso a lasaves El ruisentildeor gime lastimeramente mientras que el halcoacuten ogavilan (como se maneja en algunas traducciones) sentencia lainutilidad de ldquoponerse a la altura de los mas fuertesrdquo porqueademas de verse ldquoprivado de la victoriardquo debe sufrir vejacionesEn el contexto de los consejos agricolas que el poema desarrolla lafabula parece en primer teacutermino una transferencia de una ley delmundo natural al mundo social humano Es natural que los pajarosmas pequentildeos y menos fuertes que el halcoacuten le sirvan a eacuteste comoalimento Puede decirse que la funcioacuten nutricia es constitutiva de laphysis de los halcones y de los ruisentildeores o que en el vastoescenario del mundo estos desempentildean un papel que es adecuadoa su naturaleza

En segundo teacutermino en el contexto de la enunciacioacutenpoeacutetica Hesiodo en tanto que poeta es como el ruisentildeor es elcantor de dulce voz14 mientras que los guerreros y los reyes desdeluego son como el halcoacuten fuertes cazadores No me ocupareacute de larecepcioacuten de este texto en la fabula 47 de Esopo Soacutelo mencionareacuteque en ese texto el ruisentildeor debe esforzarse al maximo con sucanto para no ser devorado El halcoacuten esta tan concentrado enatacar a sus presas que a su vez es sometido por otro cazador unhombre En su moraleja Esopo se limita a plantear que todos losseres estan en guerra y quien tiene enemigos no debe descuidarse

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En el caso de Hesiodo podriamos considerar a suhermano Perses como el enemigo al acecho ya sea un dobledidactico o un dato de la realidad ya que el poeta lo invocadirectamente ὦ Πέρση σὺ δ ἄκουε δίκης μηδ ὕβριν ὄφελλεldquoPerses tu obedece a la justicia y no desees la soberbiardquo (v 213)Resulta claro que la situacioacuten de injusticia narrada coloca al poetaen la posicioacuten del ruisentildeor arrastrado por las garras cuya queja esdesoida y que se halla en total indefensioacuten El ruisentildeor extiende lasimple imagen del poeta a la situacioacuten de toda victima de los reyesdevoradores que describe Hesiodo Suponemos una amarga ironiaen la expresioacuten ldquoaunque sean sabiosrdquo (v 202) en el juegointelectual en que el poeta- puede chillar15 como el ruisentildeor yaunque el ruisentildeor no replica el poeta no obstante se atreve a darlecciones a los sabios Hay reyes que no atienden a la justicia comolos hombres de una edad degradada que no es ldquola edad de orordquosino la ldquode hierrordquo 16 Perses no es un rey pero Hesiodo dice queademas de ser codicioso y rapaz es perezoso y que su hermanocree que puede enriquecerse sin tener que trabajar y por si estofuera poco es prepotente y soberbio tal como un rey La soberbia(hybris) es una mala inclinacioacuten que podria esperarse de los reyespero aun para eacutestos no es recomendable fomentarla

La similitud planteada en la fabula entre el ambito animaly humano compone una confrontacioacuten agonal entre seres encompetencia En el mudo natural la resolucioacuten es cruel pero en elmundo humano el poeta aconseja no seguir por la via de ladiscordia y dedicarse a trabajar con honestidad De todas formasHesiodo se explaya en una prolija moraleja que puede querer decirvarias cosas por ejemplo que si los hombres no quieren ser comolos animales deben contrapesar el ciego ejercicio del poder con lajusticia Hesiodo parece sostener que los humanos han inventadoalgo mejor que la simple voluntad de poder parece querer decir lavirtud la rectitud el ejercicio de la justicia Soacutelo asi tendran algunaoportunidad de alejar su destino del de los animales ldquopues esta leyimpuso a los hombres el Cronioacuten a los peces fieras y avesvoladoras comerse los unos a los otros ya que no existe justicia

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entre ellosrdquo (v 276-277) Tampoco puede olvidarse que en estetexto el ruisentildeor es femenino y el halcoacuten masculino

El cambio de geacutenero discursivo de un mito a un αἶνος ofabula de la representacioacuten femenina de la pena a la situacioacutenlimite del oprimido por los poderosos convierte el ruisentildeor deHesiodo en un instrumento eficientisimo de su preocupacioacutenmoral y su admonicioacuten politica Nada como la imagen del deacutebil enlas garras de otro

CORTAR LA LENGUA LA VERSIOacuteN ATENIENSE EN AVES DE

ARISTOacuteFANES

Aunque su representacioacuten en las fiestas dionisias del antildeo414 aC soacutelo le concedioacute el segundo puesto la comedia Aves deAristoacutefanes ha sido considerada recurrentemente la mas poeacutetica ysofisticada entre las conservadas En ella dos ancianos ateniensesEueacutelpides (la buena esperanza) y Pisteteros (el compantildeeropersuasivo) han abandonado Atenas para evitar la politica y lostribunales de justicia y estan buscando a Tereo un ave que ha sidoser humano en el pasado y tiene conexiones con los ateniensesPisteteros concibe la idea de fundar una ciudad en las nubes parainterceptar los sacrificios a los dioses y de este modo podersometerlos Persuade al hostil coro de aves de gobernarnuevamente el universo En la segunda parte de la obra la ciudadde las nubes y los cucus Nefelococcigia es fundada y llegan unaserie de visitantes Iris un parricida un poeta un delatorPrometeo que ha sido rebelde contra los dioses FinalmentePisteteros debe solicitar casarse con Basileia la soberania La obratermina con una procesioacuten del triunfo real de Pisteteros y proponeal mismo tiempo un utoacutepico escape de la realidad como reaccioacuten aciertos fracasos militares de los atenienses17 la presentacioacuten de lamegalomania tiranica o una iroacutenica distopia etc En este contextoun breve episodio lirico presenta al ruisentildeor En la versioacutenateniense del mito Tereo rey de Tracia auxilia a Pandioacuten rey deAtenas contra el tebano Labdaco De ello se deriva el matrimoniode Tereo con Procne y los episodios que ya comentamos sobre el

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asesinato de Itys y la conversioacuten de Procne en ruisentildeor la deFilomela en golondrina y la del mismo Tereo en abubilla

En la clasificacioacuten aristoteacutelica de geacuteneros discursivos lacomedia careceria de mito Sin embargo Aves curiosamentepropone la degradacioacuten de varios mitos En primer lugar del mitofundacional ya que parodia la cosmogonia y teogonia hesioacutedicasde un modo muy original para proponer burlonamente unacosmogonia literal a partir de un huevo de ave y la transformacioacutenen aves de todos los personajes es decir de todos los ciudadanosde Atenas Probablemente Aristoacutefanes dispuso de la tragedia deSoacutefocles llamada Tereo de la que suponemos realiza la parodiaaunque lamentablemente soacutelo nos queda al parecer una sintesis enel papiro de Oxy 3013 Como ya sentildealoacute Aristoacuteteles en Poeacutetica 1453ordf36-39 aquellos a quienes el mito convierte en enemigos resultan enla subversioacuten coacutemica los mejores amigos18 Es el caso de Tereo laabubilla y de Procne el ruisentildeor que son en la obra una parejafeliz mientras la infausta Filomela no aparece aunque Procneentona su permanente lamento por Itys

La versioacuten ateniense del mito elegida por Aristoacutefanesrepresenta por un lado el desastroso presente de Atenasinterpretado por los dos viejos cuyo delirio senil produce la mejorinvencioacuten de la obra Por otro lado como se le adjudica a Tereo elhecho de haber ensentildeado el lenguaje articulado a las aves hay unafranca contradiccioacuten entre seccionar la lengua de Filomela yconceder habla humana a las aves La interpretacioacuten politica esllana Tereo concede la palabra y tambieacuten la inhibe iquestQueacute haydetras de esta eleccioacuten de Aristoacutefanes iquestPor queacute elegir al culpablemitico de dos delitos la violacioacuten y el silenciamiento de la victimaLa inversioacuten propia de la comedia provoca una presentacioacuten dellado oscuro del mito como si se tratase de un episodio inocuo Noresulta menos cierto que en esta comedia sobre el poderAristoacutefanes conservoacute la idea griega del poder masculino y laconvocatoria al nuevo poder de las aves la realiza tambieacuten Tereocomo ave masculina

Veamos coacutemo convoca Tereo al ruisentildeor entre los v 209-22119

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Ἔ ποψἄγε σύννομέ μοι παῦσαι μὲν ὕπνου λῦσον δὲ νόμους ἱερῶν ὕμνωνοὓς διὰ θείου στόματος θρηνεῖς τὸν ἐμὸν καὶ σὸν πολύδακρυν Ἴτυν ἐλελιζομένης δ ἱεροῖς μέλεσιν γένυος ξουθῆς καθαρὰ χωρεῖ διὰ φυλλοκόμου μίλακος ἠχὼ πρὸς Διὸς ἕδρας ἵν ὁ χρυσοκόμας Φοῖβος ἀκούων τοῖς σοῖς ἐλέγοις ἀντιψάλλων ἐλεφαντόδετον φόρμιγγα θεῶ ν ἵστησι χορούς διὰ δ ἀθανάτων στομάτων χωρεῖ ξύμφωνος ὁμοῦ θεία μακάρων ὀλολυγή

( αὐλεῖ)

Vamos compantildeera miacutea pon fin a tu suentildeo vierte a torrentes los acordesde los himnos sagrados con los cuales desde tus divinos labios lamentas anuestro hijo el triste Itys produciendo un murmullo con las liacutempidasnotas de tu vibrante garganta A traveacutes del espeso follaje del bosque tupuro sonido llega al trono de Zeus y en respuesta el dios de cabellos deoro Febo contesta con los acordes de su lira de marfil a tus penososacentos El preside los coros de los dioses y desde los labios de losinmortales la armoniosa voz del estribillo de los bienaventurados se elevaal uniacutesono

La amorosa invitacioacuten no produce el ingreso de Procnehasta el v 665 En esa escena el personaje silente sale ataviado conexcesivos adornos dorados como comentan los ancianos que laobservan como mujer y no como ave A tal punto que Eueacutelpidesintenta besarla por la fuerza en una mimesis risuentildea e invertida dela secuencia mitica de la violacioacuten La escena sirve de introduccioacutena la parte estructural de la comedia llamada parabasis en la que elcoro canta directamente al publico En ese momento TereoEueacutelpides y Pisteteros abandonan la escena para que el coro puedaexponer la famosa cosmogonia y teogonia que la comediapresenta

La invitacioacuten de Tereo representa el momento de laseduccioacuten no obstante Tereo sigue siendo el que secciona

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lenguas20 En el final de la comedia cuando el coro dice ldquoen toda elAtica la lengua se corta aparterdquo (πανταχοῦ τῆς Ἀττικῆς ἡ γλῶτταχωρὶς τέμνεται 1705) comprendemos que esta comedia no soacutelo hapresentado un mito ha buscado el mito que politicamenterepresente a los atenienses silenciados de este modo tanto Tereocomo Pisteteros representan el poder omnimodo

Desde que Odisea planteoacute los problemas comunicativos delCiclope que habla a su carnero la cuestioacuten del lenguaje y lacivilizacioacuten ha aparecido con recurrencia en los textos En el casod e Aves la ruisentildeora Procne termina por representarfemeninamente a esa ciudad de Atenas que seducida por Tereo oconducida por Pistetero queda al final sin habla En la comediatodo es movimiento y transformacioacuten de humanos en aves deaves que hablan como humanos para enfocar que uno de losaspectos criticos de la distribucioacuten de poder en la poacutelis es lacomunicacioacuten

No es casual que en una pieza en la que se recrea el mitode Tereo el Coro cierre la obra con la mencioacuten de una estirpe deἘ γγλωττογαστόρων γένος ldquocomedores de lenguasrdquo (v 1696-7)Aves asegura el valor de la palabra

A MODO DE CONCLUSIOacuteN COMPARATIVA

iquestPor queacute reaparece un ruisentildeor No he tratado aqui deanalizar similitudes ni diferencias sino de comprender desde queacutepunto de vista el ruisentildeor una voz femenina en la literatura griegaimpone una ejecucioacuten o reflexioacuten acerca de la mimesis orepresentacioacuten particular de las victimas La imposibilidad decomunicar la pena de amor impone una performance comovehiculo en consecuencia Peneacutelope necesitoacute recurrir al lamentoininterrumpido y a las variaciones de voz del ruisentildeor La pena queno se puede decir puede convertirse en son

En Odisea los adjetivos que califican el canto del ruisentildeorson responsables de proponer una representacioacuten lirica en eldiscurso eacutepico En Hesiodo la moraleja no llega a acallar el sonidodel ruisentildeor que chilla en una exacta mimesis del poeta

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manipulado por los poderosos vulnerable como el femeninoruisentildeor Aristoacutefanes entrevioacute con claridad coacutemo proponer el mitodel que cercena la lengua de la ciudad para ensayar la utopia deanimales que pueden ser silenciados o comunicar en su lamentomas que los humanos En cada uno de estos textos cuando ellenguaje resulta imposible el canto del ave resulta un alertainteligible

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ABSTRACT

Aedon Poetic Performance of the Victims

The figure of the nightingale is present for first time in the19 book of Odyssey (v 518-523) later in the fable contained inWorks and Days (v 202-212) by Hesiod and in the comedy Birds byAristophanes The present article analyzes with comparativemethodology the peculiar representation of the victim of sometype of violence in the mentioned texts and what interpretationcan be derived in each specific discursive context

KEYWORDS

Aedon Homer Hesiod Aristophanes

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1 Cfr NAGY 1996 p 7-82 Segun STANFORD 19672 p 336 el texto constituye la primera aparicioacuten poeacuteticadel ruisentildeor el pasaje es el unico lugar en que el canto se diferencia de los gritosy contiene un error de historia natural ya que la hembra del ave no canta Seconsidera que el relato mas estandarizado se deriva de la pieza Tereo de Soacutefocles(cuya hipoacutetesis estaria contenida en POxy 423013) Contamos con el relatocontenido en La Biblioteca de Apolodoro (3148) Metamorfosis de Ovidio 6427ndash674 y con testimonios en otros textos como Agamenoacuten (1140ndash1145) y Suplicantes(60-68) de Esquilo Electra de Soacutefocles (147ndash149) Heracles de Euripides (1020)Aves de Aristoacutefanes (200ndash210) Tambieacuten hallamos testimonios en la prosa deTucidides 2293 en la Oracioacuten fuacutenebre de Demoacutestenes 28 en Pausanias 1541243 1418 1049 e incluso en Estraboacuten 9313 Aedoacuten y Calidoacuten se hallanrepresentadas en una metopa en el templo de Apolo en Thermos3 En Iliacuteada XXIV 599 la referencia a Niobe y a sus numerosos hijos se parangonacon la situacioacuten de Heacutecuba y con el hecho de haber sufrido tambieacuten unametamorfosis que eterniza su pena fue convertida en una piedra que ldquollorabardquopermanentemente4 Sobre los vinculos de Odisea con la disputa entre Atenea y Poseidoacuten por elpatronazgo de Atenas veacutease COOK 1995 p 129-1305 χλωρηῒς implica verdura o frescor STANFORD 19672 p 336 se inclina por latraduccioacuten verde amarillento ldquoreferring either to the fact that the bird hauntsthe greenery of the woodhelliprdquo Se puede interpretar como representacioacuten delcolor del ave de sus sonidos frescos o juveniles o de su habito de cantar entre elfollaje NAGY 1996 p 37-38 sentildeala que opta por traducir ldquoen la verdurardquo porasociacioacuten con el uso de khlōrauacutekhēn (χλωραύχην) que suele traducirse como deldquoverde gargantardquo y se utiliza como epiteto del ruisentildeor en Simoacutenides PMG 5862(ἀηδόνες χλωραύχενες) Segun CHANTRAINE 1975 p 1285 la palabra serefiere a un verde claro o al verde del brote reciente de una planta pero tambieacutenalude a las caracteristicas de la voz del ave RUSSO1992 p 100 en cambiosostiene que la palabra tiene un valor de gentilicio expresaria lo mismo queCriseida en relacioacuten con Crises y deberia comprenderse como Aedoacuten ldquola delfollajerdquo 6 19 518-5237 Parece mas plausible considerar que hay un temor en Peneacutelope a causar lamuerte de su hijo a manos de los pretendientes Su temor esta bien fundadohubo un intento fallido durante el viaje de Teleacutemaco en los primeros cantosElla podria causar involuntariamente la muerte de su hijo y esa seria su ἀφραδίηldquoignorancia o locurardquo el hecho de no aceptar el matrimonio quecontextualizado con el mito de Aedoacuten evidentemente le repugna como unaviolacioacuten8 ANHALT 2002 p 1489 LEVANIOUK 2011 p 22810 Sobre esta variante veacutease NAGY 1996 p 38-39 VAN DER VALK 1949 p 8311 ldquoMouvancerdquo como ldquoincesante vibracioacutenrdquo es aplicado por ZUMTHOR 1987 p160-161 a los textos medievales que atestiguan diversas variantes y por lo tantotiene una forma inestable propia de una tradicioacuten oral CERQUIGLINI 1989 p111 prefiere la denominacioacuten de ldquovariancerdquo ya que considera que los textosmedievales son en si ldquovariacioacutenrdquo Sobre la discusioacuten de ambos conceptos veacuteaseNAGY 1996 p 9-1012 HUNTER 2014 p 226-249

13 Cf VIANELLO 1979 p CCXCVII ldquoEn efecto el simil en la poseia eacutepica carecesiempre de una moraleja como se da al contrario en nuestro caso (cf los v210-211 que Aristarco el filoacutelogo alejandrino suprimioacute como espurios segun eltestimonio de Proclo 1568)rdquo14 ποικιλόδειρον otro modo de referirse a la garganta o cuello del ruisentildeortambieacuten podria traducirse como ldquode voz coloridardquo15 La forma λέληκας proviene del verbo λάσκω que indica el ruido de las avestambieacuten un ruido crepitante o a veces el canto16 Cfr Hesiodo Erga v 106-20117 Una critica a la expedicioacuten a Sicilia18 Cfr SOMMERSTEIN 1987 p 202

19 La mimesis del canto de las aves que la obra impone causoacute algunosinconvenientes en la performance y en la composicioacuten Por ejemplo Tereo debesalir de escena para entonar su canto de llamada al ruisentildeor Las opiniones sondivergentes pero probablemente el actor que representaba a Tereo no disponiade la destreza vocal necesaria para cantar el efecto es que la flauta quereemplaza al canto del ruisentildeor cumple la funcioacuten de un threnos apo skeneacutes esdecir de un lamento cantado fuera de escena ya que el contenido del canto delruisentildeor es un lamento por el nintildeo muerto La mimesis del canto del averealizada por la flauta nos lleva nuevamente al problema de la mimesis liricaahora en el contexto del drama Cf SOMMERSTEIN 1987 p 21120 Cinesias el poeta ditirambico tambieacuten desea convertirse en ruisentildeor pero nolo logra y repite su pesada poesia Aqui tambieacuten aparece la cuestioacuten de lamimesis del canto del ave como lirica Cf Aves v 1380

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Arete a virtude em si na Odisseia eacute umamulherAlessandra Serra Viegas

RESUMO

Este sucinto trabalho pretende trazer uma conversa acerca de umamulher que Homero nos apresenta entre os cantos VI-XI daOdisseia a forte e nobre Arete A rainha dos Feaces e esposa do reiAlcinoo eacute algueacutem de quem natildeo se ouve falar muito No entantoquando nos aproximamos dessa mulher atraveacutes da poesia eacutepicadeparamo-nos na verdade com a proacutepria virtude em pessoa aareteacute (a)reth ) como bem o nome lhe representa Por isso fica no arum questionamento quem eacute a mulher cheia de virtude naAntiguidade grega Eis a provocacatildeo ndash positiva ndash em que esteescrito quer envolver o leitor

PALAVRAS-CHAVE Homero mulher areteacute

SUBMISSAtildeO 29 dez 2017 | PUBLICACcedilAtildeO 31 dez 2017

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Arete a virtude em si na Odisseia eacute uma mulher | Alessandra Serra Viegas

QUEM Eacute A VIRTUDE EM HOMERO rete a rainha dos Feaces1 eacute sobrinha e esposa do reiAlcinoo cuja corte eacute modelo de comportamento eelevacatildeo presente na trama da Odisseia de HomeroSua gesta heroica (porque a consideramos umaheroina) esta contida em boa parte do poemahomeacuterico (cantos VIndashXII) quando das peripeacutecias emmeio ao regresso de Odisseu a Iacutetaca sua terra natalChama atencatildeo a elevacatildeo da rainha Arete (seucarater e reputacatildeo satildeo imaculados) a qual remetetodo o tempo ao significado de seu nome ndash a)reth ndash eacutea proacutepria virtude a qualidade de quem eacute nobre justodigno forte de carater eacutetico e belo Arete eacute a virtudeem pessoa portando todas estas qualidades em forma

de mulher rainha esposa e matildee O conceito de a)reth eacute intrinseco ao grupo dos aristoindash os

bem-nascidos pertencentes aos ldquomelhoresrdquo da sociedade e sedesenvolve a partir do contexto de batalhas da Iliacuteada de Homeronatildeo podendo nesta ser dissociado do espirito heroico que semostra nas lutas e vitoacuterias de cada heroacutei-guerreiro em seuscombates Na Iliacuteada (a)reth eacute a mais alta distincatildeo e o proacuteprioconteudo da vida desses heroacuteis Esses pressupostos de valentia evirtude pois satildeo plenamente valorizados no periodo classico (seacutecVIndashV aC) sendo associados ao principio vigente do bem e do beloem uma pessoa ndash o homem de valor Este eacute o principio que regeos participantes da aristocracia o governo da cidade pelos nobrespelos melhores pelos aristoi

Aos aristoi pertence a expressatildeo grega kaloka)gaqia oukalon te ka)gaqon aquele que eacute tanto belo como nobre empregadaa partir dos textos gregos do periodo classico principalmente nasobras de Xenofonte Platatildeo e Aristoacuteteles Apesar disto Homero jadesigna na Iliacuteada o paradigma do heroacutei-guerreiro a partir da suabeleza corporal e da sua nobreza mesmo natildeo utilizando o termokalon te ka)gaqon propriamente Eacute o helenista Jean-Pierre Vernantque em seus estudos sobre Homero2 apontara os heroacuteis-guerreiros como kaloi kai a)gaqoi3

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A

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Homero eacute o nome que se convencionou para o poetaeacutepico cuja lenda aponta para um aedo cego nascido em Quios ouem Esmirna por volta do seacutec VIII aC e que recitava oralmente ospoemas cantando-os por isso era um aedo Para as questotildees deautoria dos poemas surgiu o que se denomina a questatildeohomeacuterica4 Histoacuterica e literariamente torna-se mais adequado dizerldquoo que foi Homerordquo isto eacute referir-se ao modo de narrar do autorque ressalta as questotildees humanisticas subjacentes aos textos aomostrar por exemplo em lugar de um acontecimento como o daguerra de Troia a coacutelera de Aquiles um detalhe na guerra (Iliacuteada)ou no poacutes-guerra os sofrimentos de Odisseu em sua buscadesenfreada para salvar a vida e voltar a casa (Odisseia)

Com efeito o poeta da epopeia retrata os homens querepresentam a elevacatildeo da sua cultura e costumes pois com essesesta o seu coracatildeo (do poeta) e a exaltacatildeo que faz de tais homenstem em seu acircmago a intencatildeo paideacutetica (paideia) educativa5 NaIliacuteada a virtude do heroacutei ndash a sua a)reth ndash esta em sua destrezaforca e valentia para o campo de batalha uma bela vida que podeculminar em uma bela morte6 Na Odisseia onde Arete surge oideal herdado da destreza guerreira une-se agraves virtudes espirituais esociais tendo como modelo o heroacutei a quem natildeo falta o conselhointeligente ndash Odisseu ndash que na luta pela vida e na volta ao lar saisempre triunfante dos perigos e dos inimigos Esse conselhointeligente tambeacutem se mostra na esposa de Odisseu Peneacutelope7 ena rainha Arete cuja fala eacute acatada pelos anciatildeos e conselheiros dorei e pelo proacuteprio esposo Alcinoo8 representando assim umargumento de autoridade diante dos nobres e tambeacutem diante doproacuteprio povo

Na cultura aristocratica a a)reth proacutepria da mulher eacute aformosura em que o culto agrave beleza feminina corresponde agraveformacatildeo cortesatilde nesta sociedade Natildeo obstante a Odisseiaapresenta mulheres que surgem natildeo apenas como objeto dasolicitacatildeo eroacutetica do homem como Helena esposa de Menelau eraptada por Paris por sua beleza ou Peneacutelope9 esposa de Odisseudesejada pelos pretendentes mas a firme posicatildeo social e juridicade dona de casa Como em outra literatura provavelmente escrita

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Arete a virtude em si na Odisseia eacute uma mulher | Alessandra Serra Viegas

por volta do seacutec V aC na Antiguidade judaica (o AntigoTestamento) na ode a uma mulher de grande forca e valor (cfProveacuterbios de Salomatildeo 3110-31)10 as virtudes das mulheres gregascompreendem principalmente o sentido da modeacutestia e odesembaraco no governo do lar Desse modo Peneacutelope eacute louvadapor sua moralidade rigida e virtudes caseiras11

Senhora homem em lugar algum da terra tem o direito de censurar-te Teu nome bate no ceacuteu Eu te comparo a um rei competente piedoso comautoridade sobre muitos gente poderosa zelosodo cumprimento da lei Seus campos produzemtrigo cevada arvores frutiferas Gado gordonas pastagens Peixes fornece o mar Gracas a seugoverno o povo prospera12

Helena de volta a Esparta com Menelau o primeiromarido aparece como protoacutetipo da grande dama modelo deelegacircncia distinta e de soberana forma e representacatildeo social eladirige a conversa ao hoacutespede homem suas servas trazem ecolocam agrave sua frente um fuso de ouro e uma roca de prata13

(instrumentos pertencentes ao modelo feminino grego sem osquais natildeo se concebe uma dona de casa) quando entra e tomaassento na sala ao lado dos homens14

Arete eacute citada pela primeira vez na Odisseia por boca deOdisseu no seu encontro com a princesa Nausicaa filha deArete15 Odisseu menciona o porte a postura e a beleza daprincesa e declara como por prolepse venturosa por trecircs vezes asua nobre matildee (potnia mhthr) ainda que natildeo a conheca Nausicaaesta na praia com suas servas as quais se assustam por ela estardialogando com um homem vitima de naufragio mas a princesanatildeo se importa e vai descrevendo seu reino seus costumes paracom os estrangeiros e pobres (cei~noi te ptwxoi te) consideradosaqueles que Zeus envia para que se lhes faca o bem16 Odisseu selava e se veste afastado das mocas a deusa Atena lhe reveste debeleza e a ele eacute servida uma refeicatildeo junto agrave princesa17 Emseguida Nausicaa orienta Odisseu sobre como devera secomportar ao chegar agrave cidade dos feaces pois ela e suas criadas

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iratildeo antes para que natildeo sejam vistas entrando com um estrangeirona cidade Finalmente a princesa lhe diz o que fazer ao chegar aopalacio a fim de que alcance auxilio e acolhida

[hellip] Atingindo o palacio entra atravessa o salatildeo Dirige-te primeiro agrave minha matildee Ela deveraestar sentada contra a coluna junto agrave lareira para fiar agrave luz do fogo espetaculo de encher os olhos Atras dela poderas ver o trabalho das criadas Encostado agrave mesma coluna encontra-se a poltrona de meu paiAcomodado nela com imponecircncia divina devera estarele a provar um calice de vinho Deveras passar por elee abracar suplicante os joelhos de minha matildee a fimde que te seja concedido ver o alegre dia do regresso mesmo que vivas longe Se ela te der acolhida cordial havera muita probabilidade de veres teus queridos tuacasa solidamente construida tua patria tua terra18

A descricatildeo da corte do rei Alcinoo e das caracteristicas eestrutura da cidade dos feaces eacute a pintura fiel de uma cidade-estadojocircnica sob o dominio de um rei por volta dos seacutec VII-V aC19

Cumpre observar nessa cidade o influxo das atitudes tomadas porArete sua filha Nausicaa e tambeacutem pela deusa Atena apontandoseu valor na trama e seu cuidado quase materno para que Odisseuretorne ao lar Assim a Odisseia apresenta sagas heroicas e omundo do fabuloso e do maravilhoso no qual Atena em variostrechos transfigura-se em personagens humanos para auxiliarOdisseu Tambeacutem e com maior forca a Odisseia descreve asrelacotildees familiares aproximando o ouvinte-leitor20 de umarealidade em que este natildeo deixa de estar inserido sua proacutepriafamilia

Arete surge novamente na narracatildeo de sua origem nobre esua posicatildeo Atena transfigura-se em um jovem feace que levaraOdisseu ao palacio de Alcinoo e enquanto o conduz conta-lheque Arete descende de Poseidon e de Peribeia imagem sublimeentre as mulheres (gunaikw~n ei0~doj a)risth) O pai de AreteRexenor foi fulminado pelas flechas de Apolo e

Deixou no palacio uma unica filha Arete

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Arete a virtude em si na Odisseia eacute uma mulher | Alessandra Serra Viegas

Alcinoo tomou-a por mulher e a honrou como nunca ningueacutem honrou outra na face da terra de quantas sob o governo de homens administram a casa Afetuosamente respeitada por seu esposo ela vive com seus filhos e com Alcinoo O povolhe tributa homenagem e a aclama com palavrasentusiasticas quando aparece na cidade Conhecida pelo seu bom senso concilia mulheresconhecidas suas Resolve ateacute conflitos de homens21

Pelo favor de Arete Odisseu eacute acolhido no palacio deAlcinoo e tratado com todas as honras devidas a um hoacutespede Elese recolhe todas as noites em um quarto que lhe eacute preparadoparticipa dos banquetes ouve as gestas dos heroacuteis ndash e a sua proacutepriada guerra de Troia ndash pelo aedo22 Demoacutedoco emociona-se viraaedo de si mesmo contando suas gestas e todos ouvemembevecidos Nesta audicatildeo somente Odisseu interrompe o relatopara trazer sua proacutepria gesta e somente Arete toma a palavra quesera reiterada por Alcinoo e posta em pratica pelos nobres23 queconsideram a rainha muito prudente (perifrwn)24

Que vos parece este homem feaces no aspecto notalhe no equilibrio das decisotildees Ele eacute meu hospede cada um de voacutes participa desta honra Natildeo se pense em abreviar-lhe a estada Natildeo sejais econocircmicos ao presentea-lo Ele necessita de muito [hellip]

Se Homero eacute o educador de toda a Greacutecia como afirmaPlatatildeo25 eacute preciso refletir acerca do aspecto paideacutetico da epopeiahomeacuterica ndash mulheres ensinam satildeo honradas e valorizadas por seusmaridos convivem em ambientes publicos e muitas vezesdeterminam as acotildees e tomadas de decisotildees dos mesmos Assim oque o poema homeacuterico presente como coacutedigo para a boaformacatildeo26 pretende inculcar na mente dos jovens que satildeoeducados a partir destes valores A ideia filosoacutefica de bem nosentido estrito modelo de validade universal procede diretamentedo modelo da eacutetica da a)reth proacutepria da nobreza homeacutericapresente na Odisseia encarnada por Arete a rainha dos feaces27

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Ainda quanto ao aspecto paideacutetico ao contrario da Iliacuteada aOdisseia acontece em um contexto de paz com muitas cenas emambientacatildeo interna o que proporciona a participacatildeo efetiva dasmulheres na trama O contexto de paz tambeacutem coloca a Odisseiaem um plano mais elevado que a Iliacuteada em que ha ternuraintimidade e refinamento de sentimentos Esta intima e profundacivilizacatildeo eacute o produto do influxo educador da mulher numasociedade rudemente masculina violenta e guerreira

Em intima e pessoal relacatildeo do heroacutei Odisseu com a deusaAtena que o orienta nas suas andancas e jamais o abandona opoder espiritual da mulher como inspiradora e guia acha a suaexpressatildeo mais bela28 pois ao longo de toda a trama Odisseu eacuteguiado por inspiracotildees de Atena sempre renovadas29 O quadro dacultura dos nobres esbocado nos poemas homeacutericos ndashprincipalmente na Odisseia ndash engloba tambeacutem descricotildees vivas daeducacatildeo usual muitas vezes protagonizadas por mulheres em taiscirculos30

Os homens e mulheres muito mais na Odisseia do que naIliacuteada de Homero satildeo tatildeo reais que se poderia vecirc-los com os olhose toca-los com as matildeos devido ao contexto de paz e intimidade emque se encontram Tais personagens satildeo sempre naturaismanifestando a proacutepria essecircncia31 ao ouvinte-leitor Por issomulheres como Arete Helena e Peneacutelope estatildeo em intima conexatildeocom o mundo exterior pela coerecircncia do pensamento e da acatildeocomo mulheres de forca e valor mulheres empoderadas Gestos eexpressotildees exageradas dessas mulheres seriam insuportaveis aoouvinte-leitor e inadequadas agrave epopeia Sua solidez facilidade demovimentacatildeo e coragem que a nada se pode comparar fazemdelas heroinas e mulheres que seriam encontradas na Greacuteciaarcaica e classica por um marido de sorte

Ainda quanto agrave caracterizacatildeo da mulher assim comoArete eacute a companheira idocircnea e par perfeito e proacuteximo de AlcinooPeneacutelope eacute quem mais se aproxima do carater do heroacutei principalna trama pois como um alter ego de Odisseu tambeacutem fala comprudecircncia e inteligecircncia e ainda eacute ardilosa Nessa culturaaristocratica que envolve a eacutepica agrave mulher cabe a formosura e a

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Arete a virtude em si na Odisseia eacute uma mulher | Alessandra Serra Viegas

prudecircncia no governo de sua casa Neste acircmbito Helena eacute louvadano primeiro quesito32 e Arete esposa do rei dos Feaces nosegundo Com efeito a mulher eacute atendida e honrada natildeo soacute comoum ser util e na qualidade de matildee dos filhos legitimos mas acimade tudo porque nesta sociedade a mulher pode ser matildee de umageracatildeo ilustre pois ela eacute a mantenedora e guardiatilde dos mais altoscostumes e tradicotildees33

Acerca da rainha Arete para uma mulher cujo nome epessoa satildeo a proacutepria virtude a)reth tem-se um homem Alcinooaquele cuja forca esta no intelecto (a)lkh [a)lki] + forca nooj ndashcapacidade intelectual) Aleacutem disso o rei eacute um marido idocircneo ecompativel agrave rainha Arete a primeira vez em que o nome deAlcinoo ocorre na Odisseia34 segue-lhe o epiteto ldquoo de saber divinordquo(qew~n apo mhdea ei~dwj) lembrando-se de que nos poemashomeacutericos a primeira aparicatildeo de um personagem seguida de seuepiteto satildeo marcantes indicando seu carater e determinando seucomportamento ao longo de todo o texto35 Ao mesmo tempo emque Arete eacute a mulher de valor (a)reth ) torna-se uma mulher deforca (a)lkh) Isso se da por ser esposa de Alcinoo (a)lkh + nooj) ecorrespondente exata em paridade com ele na sua caracterizacatildeo

Nos poemas homeacutericos os vocabulos a)lkh e a)reth estatildeoprofundamente ligados agrave vida e agrave imagem do homem (e emmulheres de posicatildeo ou heroinas) na sociedade em que estainserido Neste contexto a)reth natildeo eacute o conceito puramenteabstrato a respeito da virtude mas essencialmente a excelecircncia asuperioridade o alvo supremo do heroacutei homeacuterico que se revelaconcretamente no campo de batalha na Iliacuteada e das lutas com ospercalcos e vicissitudes da vida na Odisseia atraveacutes da coragem eda forca36 cujos heroacuteis e heroinas satildeo a representacatildeo do atleta quecompete nos jogos em tempos de paz e combate como hoplita (ainfantaria) nos tempos de guerra

A realidade estabelecida na eacutepica homeacuterica tambeacutem ostragedioacutegrafos conhecem ndash o que se vera aplicado agrave mulher naprincesa Alceste de Euripides Ha uma determinacatildeo histoacuterica quefaz com que alguns sentidos dos vocabulos sejam lidos e outrosnatildeo37 isto eacute o contexto histoacuterico-social de producatildeo dos textos

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aplica aos vocabulos do discurso limites de interpretacatildeo ligados aomodo como a sociedade em questatildeo os utiliza38 Na maior partedas ocorrecircncias a associacatildeo da a)reth (a virtude) e da a0lkh (aforca) ao universo masculino eacute um irrefutavel exemplo daaplicabilidade deste pressuposto No entanto sua utilizacatildeo paraheroinas e personagens femininas da pistas da possibilidade daparidade entre mulheres e homens na sociedade grega dos seacutec VIIndashV

aC a cujos ouvintes-leitores natildeo causara estranhamento ao teremcontato com tais textos

PARA NAtildeO CONCLUIR ndash NUNCA Alguns elementos caracteristicos na rainha Arete

caracterizam-na como mulher cheia de forca e virtude Assimcomo supracitado a)lkh e a)reth forca e virtude ndash ou valor ndash satildeodois atributos que caminham juntos na cultura grega para designarheroacuteis e heroinas Uma resposta plausivel eacute apontar o eacutethos ndashcostumes e crencas ndash que eleva mulheres de forca e valordemonstrados nos textos agrave categoria de heroinas

Arete eacute vista em paridade ao seu marido Alcinoo o qualtambeacutem porta a forca (a)lkh ) componente de seu proacuteprio nomeuma forca de que ambos satildeo investidos Alcinoo ainda eacute aqueleque honra Arete como a nenhuma outra mulher39 O valor deArete eacute reconhecido por todo o seu povo os feaces e cantadopelo poeta eacutepico na ldquofuncatildeordquo de narrador ldquoO povo lhe tributahomenagem e a aclama com palavras entusiasticas quandoaparece na cidade Conhecida pelo seu bom sensordquo40

Arete eacute uma mulher de atitudes e de palavras diante de seupartner em cena o rei Alcinoo Na cena do jantar com OdisseuArete rompe o silecircncio para pedir que auxiliem a Odisseu quandode seu regresso Agrave fala de Arete um anciatildeo Equeneu reageldquoAmigos natildeo foge do nosso escopo o que declarou a sabiarainha Natildeo decidamos poreacutem antes de ouvir Alcinoo aqui presente Falar e agir eacute sua competecircnciardquo41 Ao que Alcinooassevera ldquoO que ouvimos [de Arete] sera executadordquo42

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ABSTRACT Arete the Virtue per se in the Odyssey is a Woman

This concise writing intends to bring a conversation abouta woman introduced by Homer between Songs VI-XI of theOdyssey the strong and noble Arete The Queen of Feaces andwife of King Alcinoo is someone that is not heard too muchabout However when we approach this woman through the epicpoetry we face as a matter of fact with virtue itself the arete(a)reth ) as good as the name represents Therefore a wondercomes around who is the woman with noble character in theAncient Greece That is the ndash positive ndash challenge in which thiswriting wants to engage the reader

KEYWORDS

Homer Woman Arete

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REFEREcircNCIAS DOCUMENTACcedilAtildeO TEXTUAL

BERLIN A ZVI BRETTLER M (Eds) The Jewish Study BibleTANAKH Translation [Jewish Publication Society] New YorkOxford University Press 2004HOMEgraveRE Iliade Texte eacutetabli et traduit par P Mazon Paris LesBelles Lettres Tome I (1987) Tome II (1992) Tome III (1994)Tome IV (1982) HOMEgraveRE LrsquoOdyseacutee Poeacutesie Homeacuterique Texte eacutetabli et traduit parV Beacuterard Paris Les Belles Lettres 1953 Tomes I II III IV HOMERO Odisseia Trad Donaldo Schuumller Porto Alegre LampPM2007 (3 vols)

DICIONAacuteRIO

BAILLY A Dictionnaire grec-franccedilais Paris Hachette 2000

LIVROS

CARPEAUX OM Histoacuteria da civilizaccedilatildeo ocidental Rio deJaneiro O Cruzeiro 1959JAEGER W Paideia a formacatildeo do homem grego Trad Artur MParreira Satildeo Paulo Martins Fontes 2001ORLANDI EP Discurso e leitura Satildeo Paulo Cortez CampinasEdUNICAMP 1988PEREIRA MHR Estudos de histoacuteria da cultura claacutessicacultura grega Lisboa Calouste Gulbekian 2006 v 1VERNANT JP VIDAL-NAQUET P Entre mito e poliacutetica na GreacuteciaAntiga Traducatildeo Anna Lia A de Almeida Prado Maria daConceicatildeo M Cavalcante e Filomena Yoshie Hirata Garcia SatildeoPaulo Duas Cidades 1977WINKLER JJ The Constraints of Desire the Anthropology ofSex and Gender in Ancient Greece New York LondonRoutledge 1990

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ARTIGOS

LANG B Womens Work Household and Property in TwoMediterranean Societies a Comparative Essay on Proverbs XXXI

10-31 VT 54 n 2 2004 p 188-207RACE W First Appearances in the Odyssey TAPS n 123 1993 p79-107RIESS JK The Woman of Worth Impressions of Proverbs 3110-31 Dialogue 30 n 1 Spr 1997 p 141-151SZLOS BM A Portrait of Power a Literary-Critical Study of theDepiction of the Woman in Proverbs 3110-31 USQR 54 n 1-22000 p 97-103VAINSTUB D Some Points of Contact between the BiblicalDeborah War Traditions and Some Greek Mythologies VT n 61m2011 p 324-334WOLTERS A M Proverbs 3110-31 as Heroic Hymn a Form-Critical Analysis VT 38 n 4 1988 p 446-457

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1 Os Feaces satildeo um povo mitico apresentado nos cantos VndashVII da Odisseia comouma sociedade modelo quanto aos valores e ao comportamento no trato com oshomens e mulheres Na eacutepica Odisseu sofre um naufragio e eacute encontrado napraia do Reino dos Feaces pela princesa Nausicaa e suas mocas Nausicaa oinstruira a como lidar com a cultura e o comportamento do seu povoapontando que para que alcancasse o favor do rei Alcinoo seu pai primeiroteria que alcancar o favor da rainha Arete sua matildee como se vera adiante 2 VERNANT 2002 p 414-4193 A expressatildeo formada a partir dos adjetivos kaloj belo e a)gaqoj bom nobreligados por kai ou te e ou ambos desempenha um importante papel naformulacatildeo de muitas concepcotildees eacuteticas sociais e (num sentido muito amplode) politicas da Antiguidade Literalmente equivale agrave foacutermula de qualidadeldquobeleza e bondaderdquo Ora ldquoser belordquo significa primariamente ldquoser nobrerdquoenquanto ldquobom exemplar do proacuteprio tipordquo Por isso o termo kaloka)gaqia eacutefrequentemente traduzido por ldquonobreza e bondaderdquo bem como por ldquohonrardquoCom efeito o kaloka)gaqoj eacute um modelo do ldquohomem honradordquo ldquonobre e bomrdquoe portanto o ldquobom cidadatildeordquo Esse sentido ldquocivicordquo esta presente emXenofonte Platatildeo e Aristoacuteteles Nestes a nocatildeo de kaloka)gaqia eacute uma nocatildeoeducativa na medida em que exprime a ideia da boa educacatildeo oposta agrave ideia dopoder puro e simples Ela eacute em grande parte a justificacatildeo ldquoeducativardquo dopoder O homem kaloka)gaqoj eacute aquele que exerce o poder de um modointimamente ligado agrave justica Por isso o kaloka)gaqoj eacute ao mesmo tempo ldquoohomem justordquo

4 A Questatildeo Homeacuterica eacute formulada a partir da seguinte inquietacatildeo quem eacute oautor da Iliacuteada e da Odisseia e como essas obras chegaram ao texto finalDioacutegenes de Laeacutercio (I 57) fala de interpolacotildees realizadas por Pisistrato notexto homeacuterico Quanto ao autor das obras as respostas satildeo variadasreduzindo-se todas elas a trecircs teses principais a unitarista (um soacute eacute o autorprincipal dos poemas homeacutericos) a dualista (dois poetas diferentes trabalhandona mesma tradicatildeo) e a pluralista (satildeo varios os autores de cada um dospoemas) Quanto agrave redacatildeo dos textos as correntes de critica textual dosmodernos (seacutec XIX) dividem-se em Teoria da Ampliacatildeo (considera-se umaIliacuteada primitiva de pequena extensatildeo a qual crescera com o decorrer do tempoateacute alcancar as proporcotildees tradicionais da obra) defendida por G HERMANNTeoria dos Cantos (a Iliacuteada continha cerca de dezesseis cantos individuaisdivididos por K LACHMANN) e a Teoria da Compilacatildeo (tanto a Iliacuteada quanto aOdisseia natildeo eram cantos e sim pequenas epopeias de diversas proporcotildees evalor tambeacutem diverso) desenvolvida a partir da analise de A KIRCHHOFF (cfLESKY 1995 p 51-52) problema que tem preocupado especialistas desde osgregos eruditos do periodo helenistico ndash os primeiros a cogitar a questatildeo ndash ateacuteos nossos dias ainda que para alguns autores a principal questatildeo natildeo eacute pensarquem foi Homero e quando as obras foram convertidas da tradicatildeo oral ecompiladas na tradicatildeo escrita e sim o que foi Homero Dadas as diferencas domeio e da estrutura social a diferenca de tema e as diferencas vocabulares eestilisticas da Iliacuteada e da Odisseia parece legitimo concluir que os dois poemasforam compostos por diferentes poetas em tempos e lugares distintos O tema eacutediscutido entre historiadores literatos e linguistas tais como G S KIRK (1965)R AUBRETON (1956) D SCHUumlLER (1972) M FINLEY (1981) W BURKERT (1993)A LESKY (1995) e todos os que veem o valor da obra homeacuterica para a proacutepriaconstrucatildeo e fixacatildeo de valores tais como eacutetica preceitos morais e principiosguerreiros como a defesa da honra e ainda o conceito de (a)reth junto agravesociedade ocidental5 JAEGER 2001 p 446 VERNANT Lrsquoindividu la mort lrsquoamour Soi-mecircme et lrsquoautre en Gregravece ancienne 1989___Entre mito e poliacutetica 2002 Bela morte eacute um conceito criado e proposto por Jean-Pierre Vernant para o guerreiro que morre em batalha e alcanca a gloacuteriaimperecivel e sera imortalizado na memoacuteria coletiva de seu povo atraveacutes doscantos dos aedos como ocorreu aos heroacuteis da Iliacuteada 7 Cf Odisseia XI v 4468 Cf Odisseia XI v 336-340

9 Grande parte da Odisseia se da com Peneacutelope tendo que lidar com a situacatildeo dos pretendentes que desejam toma-la como esposa por sua beleza fisica e sua firmeza de carater visto que se pensa que Odisseu morrera quando do retorno de Troia para Iacutetaca seu reino Os pretendentes soacute satildeo mortos por Odisseu no ultimo canto (cf Odisseia XXII)10 ldquoMulher virtuosa quem a achara O seu valor muito excede ao de rubis Ocoracatildeo do seu marido esta nela confiado assim ele natildeo necessitara de despojoEla soacute lhe faz bem e natildeo mal todos os dias da sua vida Busca latilde e linho etrabalha de boa vontade com suas matildeos Como o navio mercante ela traz delonge o seu patildeo Levanta-se mesmo agrave noite para dar de comer aos da casa edistribuir a tarefa das servas Examina uma propriedade e adquire-a planta umavinha com o fruto de suas matildeos Cinge os seus lombos de forca e fortalece osseus bracos Vecirc que eacute boa a sua mercadoria e a sua lacircmpada natildeo se apaga denoite Estende as suas matildeos ao fuso e suas matildeos pegam na roca Abre a suamatildeo ao pobre e estende as suas matildeos ao necessitado Natildeo teme a neve na suacasa porque toda a sua familia esta vestida de escarlata Faz para si cobertas detapecaria seu vestido eacute de seda e de purpura Seu marido eacute conhecido nasportas e assenta-se entre os anciatildeos da terra Faz panos de linho fino e vende-os e entrega cintos aos mercadores A forca e a honra satildeo seu vestido e sealegrara com o dia futuro Abre a sua boca com sabedoria e a lei da beneficecircnciaesta na sua lingua Esta atenta ao andamento da casa e natildeo come o patildeo dapreguica Levantam-se seus filhos e chamam-na bem-aventurada seu maridotambeacutem e ele a louva Muitas filhas tecircm procedido virtuosamente mas tu eacutes detodas a mais excelente Enganosa eacute a beleza e vatilde a formosura mas a mulher queteme ao Senhor essa sim sera louvada Dai-lhe do fruto das suas matildeos e deixe oseu proacuteprio trabalho louva-la nas portasrdquo

11 Todas as traducotildees da Odisseia satildeo de Donaldo Schuumller12 Cf Odisseia XIX 107-11413 Compare-se com o texto de Proveacuterbios de Salomatildeo na nota 814 JAEGER 2001 p 4615 Cf Odisseia VI v 15416 Cf Odisseia VI v 206-21017 Cf Odisseia VI v 218-25018 Cf Odisseia VI v 30419 JAEGER 2001 p 4220 Idem ibidem21 Cf Odisseia VII v 65-7422 O aedo eacute aquele que canta as gestas dos heroacuteis tendo uma memoacuteriaprivilegiada pela grande quantidade de fatos dos quais lembra e por isso canta 23 Cf Odisseia XI v 336-34024 O adjetivo perifrwn (a que examina por todos os aspectos que medita afundo prudente) eacute utilizado tambeacutem para Peneacutelope na epopeia (cf Odisseia XI v446 XIX v 308 v 349) 25 Cf Repuacuteblica 606e26 CARPEAUX 1959 p 5227 Idem ibidem p 6028 Idem ibidem p 48 29 Idem ibidem p 79 30 Idem ibidem p 83 31 Idem ibidem32 Iliacuteada III 154-159 a beleza irresistivel de Helena se mostra a fim de justificar oerro de Paris 33 JAEGER 2001 p 4734 Odisseia VI v 1235 RACE 1993 p 79-10736 PEREIRA 2006 p 135-136 37 ORLANDI 1988 p 1238 Para saber mais veja U ECO Os limites da interpretaccedilatildeo 2008 O autor trabalha aligacatildeo entre o contexto social do leitor e a interpretacatildeo da leitura que eacute feita

defendendo o conceito de Obra aberta presente em seus outros livros poreacutemprevendo que ha limites impostos pela proacutepria obra e pelo reconhecimento demundo do leitor 39 Cf Odisseia VII v 66-6740 Cf Odisseia VII v 70-7341 Cf Odisseia IX v 343-34642 Cf Odisseia IX v 348

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Os autores

Alessandra Serra ViegasDoutora em Teologia pela PUC-Rio e em Histoacuteria Comparada peloPPGHC-UFRJ Mestre em Histoacuteria Comparada pelo PPGHC-UFRJMestre em Teologia pela PUC-Rio na area de Teologia BiblicaPossui graduacatildeo em PortuguecircsGrego pela UERJ e bachareladoem Teologia pela PUC-Rio Atualmente eacute professora-coordenadorade Sala de Leitura e Biblioteca do Coleacutegio Estadual Joseacute LeiteLopes ndash NAVE (Nucleo Avancado em Educacatildeo) ndash SEEDUC eprofessora do Seminario Metodista Ceacutesar Dacorso Filholecionando grego koineacute literatura e teologia teologia feminina(teologia na perspectiva da mulher) leitura e producatildeo textualmeacutetodos de estudo universitario e orientacatildeo de TCC Eacutepesquisadora colaboradora do NEA-UERJ (Nucleo de Estudos daAntiguidade) Participa do grupo de pesquisa TIAT (Traducatildeo eInterpretacatildeo do Antigo Testamento) Eacute membro efetivo de Letrasdo Nucleo Acadeacutemico de Letras e Artes e Lisboa (NALAL) e daAcademia de Letras e Artes de Paranapuatilde (ALAP) titular da cadeiran 24 patronimica de Adolfo Caminha Eacute membro-embaixador daDivine Acadeacutemie Francaise des Arts Lettres et Culture

Graciela C Zecchin de FasanoDoutora em Letras pela Universidad Nacional de La Plata (UNLP)onde eacute professora titular de Grego da Faculdade de Humanidadese Ciecircncias da Educacatildeo Atualmente dirige a revista Synthesis Foi

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Os autores

Fellow of The Center for Hellenic Studies (Harvard University) noperiodo 2013-2014 Eacute autora do livro Odisea discurso y narrativa(EDULP 2004) e editora de Deixis social y performance en la literaturagriega claacutesica (La Plata 2011) e de El relato de la historia en lasmanifestaciones de la Grecia antigua y su valor miacutetico-performativo (IdIHCSFaHCE 2015) Publicou numerosos artigos e capitulos de livrostanto em seu pais Argentina como no exterior especialmentesobre eacutepica homeacuterica e recepcatildeo classica que constituem suasprincipais linhas de investigacatildeo

Guilherme da Costa Assuncatildeo CecilioCursou a Graduacatildeo em Filosofia (bacharelado e licenciatura) naUniversidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) onde tambeacutemconcluiu o Mestrado em Filosofia (PPGLM) e o Doutorado emFilosofia (PPGF) esse na modalidade sanduiche com periodo depesquisa na Johann Wolfgang von Goethe Universitaumlt ndash Frankfurtam Main Eacute professor efetivo de Filosofia do Instituto Federal deEducacatildeo Ciecircncia e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ) eprofessor permanente do Programa de Poacutes-Graduacatildeo emFilosofia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGF-UFRJ)Atua principalmente nas areas de Histoacuteria da Filosofia Antiga eMetafisica

Maria Cecilia ColombaniProfessora titular de problemas filosoacuteficos e antropologia filosoacuteficada Facultad de Filosofia Ciencias de la Educacioacuten y Humanidadesda Universidad de Moroacuten onde ainda atua como investigadoraprincipal e coordenadora de projetos de pesquisa Professoratitular de histoacuteria da filosofia antiga e problemas especiais defilosofia antiga na Facultad de Humanidades da UniversidadNacional de Mar del Plata Autora de diversos capitulos de livros ede mais de uma centena de artigos apresentados em congressos daarea Autora de Hesiacuteodo una introduccioacuten criacutetica (Buenos AiresSantiago Arcos Editor 2005) Homero Una introduccioacuten critica(Buenos Aires Santiago Arcos Editor 2005) e Foucault y la poliacutetica(Buenos Aires Prometeo 2009) Em 2016 publicou Hesiacuteodo

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discurso y linaje una aproximacioacuten arqueoloacutegica pela Universidad de Mardel Plata

Maria del Pilar Fernandez DeagustiniDoutora em Letras pela pela Universidad Nacional de La Plata(UNLP) onde atua como chefe de Trabajos Practicos na area degrego da Facultad de Humanidades y Ciencias de la Educacioacuten ebolsista poacutes-doutoral de CONICET Professora de grego e deliteratura grega classica Autora de Suplicantes de Esquilo unainterpretacioacuten (2015) e de El espacio eacutepico en el canto 11 de Odisea(2010) aleacutem de artigos especialmente sobre as Suplicantes deEacutesquilo objeto de investigacatildeo de sua tese doutoral Atualmenteintegra o projeto de investigacatildeo ldquoRecepcatildeo e apropriacatildeo deHomero na literatura grega classicardquo (UNLP) dirigido pela profadra Graciela Zecchin

Rossana ZettiFormada em Literatura Classica pela Universitagrave degli Studi deMilatildeo Mestre em Classicos na Universidade de Edimburgo ondeatualmente trabalha em sua tese doutoral sob a supervisatildeo do profdr Douglas Cairns Sua pesquisa de doutorado concentra-se narecepcatildeo de Antiacutegona de Soacutefocles na Europa do seacutec XX e seuestudo visa esclarecer as ideologias e os contextos que produziramvarias versotildees renovadas da Antiacutegona no referido seacuteculo

Simone de Oliveira Goncalves BondarczukDoutora em Letras Classicas (2017) e mestre em Linguistica pelaUniversidade Federal do Rio de Janeiro (2005) Ministrou aulascomo professora substituta de lingua e literatura Grega naFaculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro porduas vezes no periodo de 2005 a 2007 e no ano de 2010 Tambeacutemfoi professora no Seminario Teoloacutegico Presbiteriano Simonton doRio de Janeiro entre 1996 e 2007 e da Faculdade de TeologiaWittenberg entre 2006 e 2008 Atuou como pesquisadora durantea graduacatildeo no projeto NURC-UFRJ (subprojeto de semacircntica) sob a

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Os autores

supervisatildeo da professora Dinah Callou e durante o mestrado noprojeto Discurso e Gramatica-UFRJ sob a orientacatildeo do professorMario Eduardo T Martelotta em cujo projeto continuaparticipando como colaboradora Atualmente eacute pesquisadora dogrupo de pesquisa DAG (Discursos da Antiguidade Grega) doPPGLC-UFRJ e do programa de estudos em filosofia antiga ndash Pragmado IFCS-UFRJ Quando doutoranda do Programa de Poacutes-Graduacatildeoem Letras Classicas da UFRJ recebeu uma bolsa sanduiche daCapes para pesquisar na Universitagrave degli Studi di Bari Aldo Morono periodo de setembro de 2015 a fevereiro de 2016 sob asupervisatildeo do professor Paulo Butti de Lima Nessa mesmauniversidade foi recebida na condicatildeo de Visiting Professor

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porque eles contecircm elementos que interagem com outras partes dapeca

Em ldquoLimite y prudencia en Hesiodo una miradaantropoloacutegicardquo a especialista em poesia hesioacutedica Maria CeciliaColombani adaptando as teorias de Louis Gernet propotildee umaleitura antropoloacutegica dos poemas de Hesiodo com o propoacutesito deesclarecer a relacatildeo exata na qual o homem arcaico da Greciaantiga se situou para com o divino e como ele de modo mais geralse (auto)integrou no mundo religioso da sua tradicatildeo

Como terceira autora de lingua espanhola GracielaZecchin de Fasano reflete sobre o papel da vitima na poesia gregatomando como base principal a Odisseia os Trabalhos e os dias deHesiodo e as Aves de Aristoacutefanes em ldquoAedoacuten performance poeticade las victimasrdquo O artigo mostra como a figura do rouxinol serviade Homero ate a epoca classica como simbolo das vitimas quesofrem violecircncias nas esferas dominadas por forcas masculinas

Rossana Zetti mostra em ldquoAntigonersquos (mis)appropriationsin Twentieth-Century Europe Memory Politics and Resistancerdquocomo a Antiacutegona de Soacutefocles foi interpretada e instrumentalizadana primeira metade do sec XX Eacute fascinante notar como correntespoliticas opostas conseguiram cada um de maneira distintaapropriar-se do potencial soacutecio-cultural dessa tragedia Zetti iniciaa viagem pelos tempos e as suas apropriacotildees da peca com atraducatildeoadaptacatildeo de Houmllderlin que somente mais de um seculodepois da sua publicacatildeo comecou a ser considerada uma versatildeo etraducatildeo extraordinaria enquanto considerado mediocre pelamaioria dos contemporacircneos do poeta e tradutor alematildeo Essaversatildeo serviu no sec XX tanto aos Nazistas quanto aos socialistas(Bertolt Brecht) como referecircncia ideal O artigo demonstra comouma mesma tragedia pode ser interpretada e apresentada comosubversiva por uns e modelo classico de representacatildeo de valorestradicionais conservadores por outros

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Caliope Presenca Classica | 20172 Ano XXXIV Numero 34

Encerrando esta edicatildeo encontra uma secatildeo cominformacotildees sobre os autores deste numero No mais desejamosuma proveitosa e prazerosa leitura

Os editores

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Liacutemite y prudencia en Hesiacuteodo una mirada antropoloacutegica | Mariacutea Cecilia Colombani

Liacutemite y prudencia en Hesiacuteodo unamirada antropoloacutegicaMariacutea Cecilia Colombani

RESUMO

A proposta do presente trabalho consiste em efetuar uma leituraantropoloacutegica da relaccedilatildeo que o homem guarda com a divindade nomarco do esquema do pensamento miacutetico proacuteprio da Greacuteciaarcaica A presenccedila dos deuses implica que por detraacutes do khaacuteosaparente estaacute garantida a existecircncia de uma ordem da qual apoesia eacute precisamente sua percepccedilatildeo mais exitosa No toacuteposantropoloacutegico dois fenocircnemos satildeo essenciais e complementaresna relaccedilatildeo do homem grego com a divindade O primeiro radica nadistacircncia que o separa dos seres divinos e o segundo abarca oscontatos humanos de aproximaccedilatildeo e assimilaccedilatildeo a esse mundoNeste marco intencionamos relacionar o toacutepico evidenciandocomo no marco da relaccedilatildeo que se estabelece entre ambos osplanos no reconhecimento e na transgressatildeo do registro que osdistingue e os separa a ira dos deuses eacute despertada a partir dodesconhecimento do limite e da prudecircncia

PALAVRAS-CHAVE

Homem divindade distacircncia aproximaccedilatildeo reconhecimentotransgressatildeo

SUBMISSAtildeO 14 set 2017 | PUBLICACcedilAtildeO 10 nov 2017

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Caliacuteope Presenccedila Claacutessica | 20172 Ano XXXIV Numero 34

1 LA DISTANCIA

l proyecto del presente trabajo consiste en efectuar unalectura antropoloacutegica de la relacioacuten que el hombreguarda con la divinidad en el marco del esquema depensamiento miacutetico propio de la Grecia ArcaicaEntendemos por ldquoantropologiacuteardquo el concepto del queparte Louis Gernet para pensar coacutemo el hombre seproyecta en el plano religioso del mundo reconociendoque maacutes allaacute de los multiples vaivenes que la palabra hatenido segun la eacutepoca podemos considerar que se tratade la representacioacuten del hombre en el plano religioso delmundo1

Para comprender este aspecto debemos captar laidea de fractura ontoloacutegica entre diferentes aacutembitos o

regiones de ser de dos toacutepoi de dos razas o mundos impermeablesla una respecto de la otra tal como sostiene el propio Gernet2 Esel largo relato de los dioses es el trazo del linaje el reparto de lospoderes y la definitiva consolidacioacuten del koacutesmos la que permitedelinear los dos toacutepoi referidos

La presencia de los dioses y la existencia de ese planoimplican que por detraacutes del khaacuteos aparente estaacute garantizada laexistencia de un orden del cual la poesiacutea es precisamente supercepcioacuten maacutes lograda Como sostiene Gernet ella constituye esaespecie de ldquofilosofiacutea popularrdquo3 que al contar las sucesiones divinasnarra al mismo tiempo la plasmacioacuten a partir del khaacuteos de unorden perfecto sostenido por la justicia de Zeus La Teogoniacuteaconstituye el primer intento griego de dar una explicacioacuten divinadel orden del universo Tal como afirma J-P Vernant ldquoLasteogoniacuteas y las cosmogoniacuteas griegas comprenden como lascosmologiacuteas que les han sucedido relatos de geacutenesis que explicanla aparicioacuten progresiva de un mundo ordenadordquo4 Esta intuicioacuten sedebe precisamente a ese teloacuten de fondo religioso que impregna latotalidad de la vida social del hombre griego

Si seguimos la tesis de L Gernet es en ese toacutepos donde seproduce el fenoacutemeno de aproximacioacuten que acorta la distancia entrelos dos aacutembitos que constituyen zonas impermeables5

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Efectivamente la esfera humana parece acercar su registro a laesfera divina aunque en el seno mismo de esta ritualizacioacutensimboacutelica lo divino siempre guarde su territorio inasible En eltoacutepos antropoloacutegico dos fenoacutemenos son capi ta les ycomplementarios en la consideracioacuten de la relacioacuten entre elhombre griego y la divinidad El primero radica en la distancia quelo separa de los seres divinos y el segundo da cuenta de losintentos humanos de aproximacioacuten y de asimilacioacuten a ese mundoque lo sobrepasa por doquier6

La aproximacioacuten no implica una categoriacutea geograacutefica unadistancia medida en paraacutemetros espaciales sino una dimensioacutenontoloacutegica que supone un determinado estatuto de ser una ciertacualificacioacuten que transfigura el ser mismo del hombre Existe unafractura o brecha entre dioses y hombres donde el nucleo mismode la distancia supone el liacutemite que implica la muerte Finitud einfinitud he alliacute la clave de una distancia que muy pocos puedensoacutelo en parte franquear

La asimilacioacuten implica tambieacuten una categoriacutea ontoloacutegicaEs el ser mismo del hombre el que se transforma ya que deviene eacutelmismo ldquocomo un diosrdquo Es la aspiracioacuten comun de los mortales elser del hombre se asimila al ser divino y en tal asimilacioacuten seconvierte en un sujeto excepcional en un epopteacutes

El teloacuten de fondo de esta dualidad implica una ciertanocioacuten de temporalidad En el marco de la atemporalidad quehemos sugerido como marca identitaria del plano divino hay noobstante una particular loacutegica temporal Los dioses parecen teneruna cierta vida cotidiana un cierto movimiento que se juegacomo corresponde en una especialidad abierta y en unatemporalidad acotada

Recordemos que es posible hablar de una temporalidaddivina y que eacutesta estaacute directamente vinculada con la idea de dramaen tanto accioacuten Las acciones de los dioses asiacute como suspreocupaciones abren una temporalidad dentro del ldquosiemprerdquocaracteriacutestico del plano divino Dicen Detienne y Sissa

Asiacute en la obra de Homero y especialmente en la Iliacuteada la vidade los dioses se despliega en toda su densidad en esa mezcla

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de acontecimientos y de rutina que la caracterizan [] allaacutedonde en la sucesioacuten de hechos se abran las ventanas de unteatro que habla no de la mediocridad sino maacutes bien de lavita de la existencia de los dioses7

Podemos tambieacuten abordar el nucleo problemaacutetico hombre-divinidad desde la perspectiva del poder que se pone en juego Seobserva entonces una polaridad en la dimensioacuten de la arkheacute Elpropio Gernet bucea en la disimetriacutea estatutaria que la diacuteadaimplica y alude a que

Un magniacutefico coro de la Antiacutegona de Soacutefocles exalta alhombre como detentor ndash e incluso excepcionalmente comocreador ndash de teacutecnicas a las que se podriacutea atribuir un desarrolloindefinido si no se topara con un doble liacutemite la muerte esabarrera infrangible y los dioses de los que los hombresreciben la justicia8

La divinidad constituye esa instancia aacuteltera donde se ostentaefectivamente la arkheacute tensionando de ese modo la distancia entreun mundo y otro a punto tal de que el hombre mismo es una cosamaravillosa pero estrechamente limitada ya que su accioacuten no esautoacutenoma porque reconoce la marca de los dioses como sello desu voluntad incuestionable

El poder al que nos referimos de caraacutecter disimeacutetrico es lamarca de la inmortalidad que atraviesa a la divinidad y la nocioacuten deDiacuteke ya que son los dioses quienes otorgan la justicia divina Elhombre por el contrario es mortal descubriendo en la muerte eseliacutemite que lo territorializa a su condicioacuten humana asimismo estributario de un orden-justicia que no depende de eacutel Se trata deuna primeriacutesima justicia coacutesmica donde el orden mismo de lo reales sinoacutenimo de justicia

Por todo lo dicho

Si se realiza una investigacioacuten etnograacutefica y comparativa seobserva que los dioses presentan respecto a los mortales unestatuto excepcional y heterogeacuteneo al mismo tiempo Por unaparte se pueden atribuir sus cualidades a una sistemaacuteticasuperioridad sobre los hombres Por otra parte debemos

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reconocerles tambieacuten una diferencia especiacutefica Los dioses seperciben distintos porque son maacutes grandes maacutes poderosos ymaacutes sabios que los hombres pero tambieacuten porque pararegular su existencia eligen unas normas que le son propias yexclusivas9

Pensemos en otra arista del ldquoentrerdquo otro aspecto de losespacios vinculares que el hombre juega en su instalacioacuten frente ala divinidad La condicioacuten de ser mortal se abre al horizonte de losInmortales como lo otro del hombre Las dos razas o mundos delos que venimos hablando se juegan como advertimos en ladistancia que separa ambos toacutepoi lo cual no invalida la posibilidaddel ldquoentrerdquo como modelo de contacto entre uno y otro plano oregistro ontoloacutegico Basta pensar en Hesiacuteodo ultimo y unicotestigo de una palabra dedicada a la alabanza del personaje real10

para captar esta forma de ldquoentrerdquo El texto es elocuente alrespecto

Con pureza y santidad en la medida de tus posibilidades hazsacrificios a los dioses inmortales y quema en su honorespleacutendidos muslos11

E l ldquoentrerdquo estaacute sin duda mediado por la leccioacutenantropoloacutegica inaugural que el mito de Prometeo devuelve comoloacutegos fundacional los hombres reconocen su propio liacutemite y suespacio antropoloacutegico respectivo y el sacrificio es la prenda delreconocimiento La carne perecedera seraacute el alimento de loshombres y los huesos el eterno homenaje a los Inmortales En elmarco del sacrificio dos recomendaciones la pureza referida alcuerpo y la santidad como estado del espiacuteritu

Recordemos que Prometeo cree engantildear a Zeus cuandomovido por su astucia le da a elegir entre dos porciones dosbocados diferentes ambos cubiertos de piel pero soacutelo unoconteniendo en su interior carne mientras el otro soacutelo guardahuesos y grasa Zeus elige este ultimo con lo cual queda instituidoque el alimento humano seraacute la carne El mito de Prometeo fundaasiacute el rito sacrificial En este momento hombres y dioses se

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separan los hombres no tienen ya una comunicacioacuten directa conlos dioses y se inaugura la dependencia de los hombres frente a lacarne cocida como alimento humano La instauracioacuten del ritualrompe la vieja comensalidad entre hombres y dioses e inauguraesos toacutepoi que marcan la dimensioacuten humana y la divina como razaso mundos impermeables El sacrificio separa doblemente a loshombres por un lado de los dioses y por el otro de los animalesya que los hombres deben cocer la carne y cultivar el campomientras los animales comen crudo Tal como lo muestra Detiennee n Los Jardines de Adonis12 en el reparto del primer sacrificio loshombres se llevan la parte vinculada a lo corruptible mientras quea los dioses les corresponden los aromas puros imputrescibles Laexistencia humana queda definida por una posicioacuten intermediaambigua entre lo crudo y lo quemado lo podrido y loimputrescible lo bestial y lo divino Se establece una relacioacutenvertical entre ambos al tiempo que se instituye una relacioacutenhorizontal entre los hombres El sacrificio abre los dos planosporque obliga a los hombres a comer cierto tipo de alimentomientras otros bocados corresponden a los dioses El mito daorigen a las praacutecticas sacrificiales que es precisamente el modo enque los mortales se conectan con lo divino El sacrificio es laforma en que los hombres donan algo a los dioses desde suprecaria condicioacuten humana Asimismo el mito abre un escenarioespeciacuteficamente antropoloacutegico los hombres quedan condenados acocinar los alimentos permaneciendo lo crudo reservado a losanimales o baacuterbaros

Esta no es la unica recomendacioacuten para marcar el ldquoentrerdquoque la divinidad impone Vuelve a ser Hesiacuteodo el que normativizala relacioacuten ldquoOtras veces conciacuteliatelos con libaciones y ofrendacuando te vayas a la cama y cuando salga la sagrada luz del diacuteapara que te conserven propicio su corazoacuten y su espiacuteritu y puedascomprar la hacienda de otros y no otro la tuya rdquo13

En realidad los favores de la divinidad son la clave de todobienestar Incluso el modo de vincularse de generar precisamentee l ldquoentrerdquo que estamos indagando genera una especie deregularidad o ciclicidad coacutesmica la totalidad de la jornada tanto la

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noche como el diacutea el irse a la cama como el levantarse quedanbajo la tutela de los dioses como condicioacuten de posibilidad de unavida armoniosa

El extenso apartado de Trabajos y diacuteas sobre las actividadescorrespondientes a cada estacioacuten del antildeo da cuenta de lapreocupacioacuten por el trabajo al tiempo que anuda su problemaacuteticaa la mismiacutesima legalidad coacutesmica14 Sabemos que el fondo ultimode resonancia es de caraacutecter sagrado y la ciclicidad que atraviesa locoacutesmico estaacute regulada por el mismo estatuto sagrado El trabajo secumple en conformidad con la regularidad del universo que ledona sentido y lo legitima como actividad religiosa

Su entorno devuelve ademaacutes la dependencia ontoloacutegica delos mortales respecto al destino que los dioses han hilvanado paralos hombres otro dato que habla de la fractura ontoloacutegica y quehace pensar a L Gernet en esas dos razas impermeables la una dela otra Ya sea el destino de muerte la muerte violenta o la naturalel hombre no escapa a esa dama oscura que inexorablemente nosatrapa y nos marca nuestra Moicircra nuestra porcioacuten en el reparto ynuestro territorio antropoloacutegico Alliacute estaacuten entonces los modelosejemplares que desde el relato ancestral como loacutegos explicativoresultan los vicarios miacuteticos de cualquier realidad del toacutepos humano

2 LA PROXIMIDAD

No obstante queremos problematizar esta distancia queacabamos de acompantildear con la tesis de L Gernet y de la mano deM Vegetti pensar paradoacutejicamente la cercaniacutea y la proximidad dela divinidad ya que eacutel mismo afirma la presencia intensa de lodivino

Esta difusioacuten de lo sagrado se prolonga en una relacioacuten defamiliaridad con los dioses que caracteriza ampliamente laexperiencia religiosa griega la divinidad no estaacute lejos ni esinaccesible el recurrir a ella podriacutea decirse que caracterizacada momento significativo de la existencia privada y socialSe le puede encontrar tan a menudo en sus imaacutegenes en laspraacutecticas culturales que se le dedican en las narraciones

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familiares y publicas en las que se dibujan las tupidas tramasde una simbolizacioacuten significativa de la existencia15

En efecto frente a la radical trascendencia que toma lodivino en religiones de otras caracteriacutesticas los dioses griegosguardan un estatuto inmanente que los vuelve proacuteximos maacutes allaacutede su distancia ontoloacutegica que los convierte en los Athaacutenatoi a losque se refiere Hesiacuteodo

Ahora bien iquestcoacutemo podemos caracterizar esta religiosidadgriega que estamos relevando Instalarse en este lugar suponecomparar este modelo religioso con otros para definirlo desde unesquema negativo

En primer lugar la religioacuten griega no se basa en ningunarelevacioacuten lsquopositivarsquo concedida directamente por la divinidada los hombres y por tanto no tiene ningun profeta fundadorde las grandes religiones monoteiacutestas del Mediterraacuteneo y noposee ningun libro sagrado que enuncie las verdades reveladasy constituya el principio de un sistema teoloacutegico16

La falta de esos elementos convierte a los dioses en seresmaacutes proacuteximos menos atenidos a todo el dispositivo simboacutelico delas religiones institucionalizadas

La propia falta de una iglesia como oacutergano de maacuteximajerarquiacutea determina una relacioacuten maacutes cercana que permite construiruna cierta familiaridad con lo divino donde las fronteras entre unoy otro aacutembito parecen desdibujarse pero soacutelo se trata de unaapariencia propia de la cotidianeidad porque en el fondo ladivinidad guarda siempre su jerarquiacutea estatutaria a partir de suorden ontoloacutegico ldquoY tanto menos una iglesia unificada entendidacomo aparato jeraacuterquico y separado legitimado para interpretar lasverdades religiosas y administrar las praacutecticas de cultordquo17 Sin dudaes a esta ausencia que se debe el grado de proximidad que elmismo Vegetti reconoce entre hombres y dioses Es esta cercaniacuteala que se traduce en lo cotidiano y permite comprender coacutemo ldquoenla experiencia comun por tanto siempre ha habido unaconvivencia entre la estirpe de los dioses y la de los hombresrdquo18 La

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eacutepica homeacuterica constituye una muestra magniacutefica de este aspectocon la exhibicioacuten de un viacutenculo con la divinidad que habla de unreacutegimen de cercaniacutea y proximidad19

Hasta aquiacute algunos puntos sobre coacutemo podemos entenderesta forma de religiosidad que combina las diacuteadas opuestas Unaexperiencia que guarda distancia ontoloacutegica pero que al mismotiempo evidencia matices de cercaniacutea y proximidad unaexperiencia que se revela como trascendente por las propiascaracteriacutesticas de lo divino pero inmanente en su forma depresentacioacuten

Pensemos otro aspecto desde la perspectiva de Vegetti queimpacta directamente en el corazoacuten maacutes iacutentimo de la experienciaporque diagrama el plano del culto como forma de cercaniacutea maacutesacabada

Incluso falta en griego una palabra cuyo campo semaacutenticoequivalga propiamente al teacutermino lsquoreligioacutenrsquo La que maacutes seaproxima euseacutebeia es definida por el sacerdote Eutifroacuten elprotagonista del diaacutelogo platoacutenico como lsquoel cuidado (therapeiacutea)que los hombres tienen para con los dioses (Platoacuten Eutifroacuten12 e)rsquo20

El campo lexical del verbo therapeuacuteo es la clave de estainterpretacioacuten curar cuidar velar honrar Esas son las marcas dela relacioacuten entre el hombre y la divinidad que determina ademaacutes ladiferencia estatutaria que venimos registrando A los hombres lescorresponde honrar a los dioses como modo de corroborar supertenencia al toacutepos humano En este sentido la experiencia delculto implica la persistencia del espacio humano determinada porla subordinacioacuten al aacutembito divino

Debemos comprender el significado general de ldquorespetarhonrar a la divinidad en las praacutecticas de culto nomiacutezein equivaldraacuteen definitiva a therapeuacuteein dedicar a la divinidad los oportunoscuidados ritualesrdquo21 En ese respeto y cuidado el hombre no soacutelo sedirige a los dioses sino que se respeta y cuida a siacute mismoconservando el puesto que la propia divinidad ha designado para elcolectivo humano

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Asiacute queda claro que ldquoEl nucleo de la relacioacuten entrehombres y divinidad de la lsquoreligioacutenrsquo y de la lsquofersquo de los griegosparece consistir en la observancia de los cultos y de los ritosprescritos por la tradicioacutenrdquo22 Ciertas prescripciones exhortacionesy prohibiciones pueden ser entendidas desde la dimensioacuten queacabamos de relevar Las marcas del cuidado toman la forma deuna observancia que tiene como objeto honrar a los dioses ygenerar en ellos el sentimiento de placer y felicidad de quien sesiente alabado Al mismo tiempo constituyen consejos para la vidade los hombres porque dan cuenta de una familiaridad con lodivino que trae como consecuencia beneficios en la vida ordinaria

Analizaremos una serie de versos que devuelvenprecisamente las marcas del cuidado

Nunca te atrevas a echar en cara la funesta pobreza que roe elcorazoacuten de los hombres regalo de los eternosBienaventurados23

Nunca al amanecer libes rojizo vino a Zeus con las manos sinlavar ni a los demaacutes Inmortales pues no te escucharaacuten yvolviendo la cara escupiraacuten sobre tus oraciones24

No engendres tus hijos a la vuelta de un funeral de malaguumlero sino al volver de un banquete de los Inmortales25

No te cortes en el banquete festivo de los dioses lo seco de loverde de tus cinco ramas con el brillante hierro26

No te burles de los misterios cuando asistas a humeantessacrificios sin duda tambieacuten un dios se venga de esto27

Esta familiaridad y convivialidad que venimos rastreandopuesta fundamentalmente en teacuterminos de ldquocuidadordquo no invalida elpaacutethos del temor En efecto ldquoesto no significa naturalmente queno existiese un profundo y radical temor a la divinidad y a sucapacidad de castigar las culpas de los hombres golpeaacutendoles a lolargo de su existencia e incluso de su descendenciardquo28

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3 LA VIDA TODA EN CLAVE RELIGIOSA

Definitivamente instalados en el texto hesioacutedico queremosarticular el viacutenculo hombre-divinidad en tres ejes en dondeclaramente se observa la presencia dominante de los dioses comoteloacuten de fondo de la vida en su conjunto La instancia fundacionalque supone el mito de las edades el trabajo como modo deinstalacioacuten de los hombres en su condicioacuten antropoloacutegica y lashuellas de una cotidianeidad que se revela de extrema familiaridadseraacuten los toacutepicos a tratar

EL MITO DE LAS EDADES DEL CUIDADO AL DESCONOCIMIENTO

Cuando Hesiacuteodo presenta el largo relato que da cuenta dela progresiva degradacioacuten humana en el marco de una claraintencioacuten didaacutectica29 comenta una convivialidad que parece tensarla reciprocidad entre hombres y dioses en un punto deseado deencuentro y familiaridad

Viviacutean como dioses con el corazoacuten libre de preocupacionessin fatiga ni miseria30

Los hombres de la raza de oro conocieron las delicias deesta proximidad y respondieron a ella con los debidos cuidadosque los dioses merecen por su condicioacuten de tales El clima esfestivo y el corazoacuten alcanza la mayor alegriacutea que el contacto conlos dioses aporta como recompensa extrema ldquoEllos contentos ytranquilos alternaban sus faenas con numerosos deleites Eranricos en rebantildeos y entrantildeables a los diosesrdquo31

El favor de los dioses se manifiesta en una vida cuasidivina sin la presencia de aquellos males y sufrimientos queconstituiraacuten el marco de la existencia de los hombres Los hombresquedaraacuten definitivamente sumidos en ese marco de desgracias ypesares cuando olviden su cuidado los dioses

Ahora bien seraacute precisamente ese toacutepico el que determinela peacuterdida de un estado de felicidad compartida y el pasaje a unestado otro donde el cuidado ha sido olvidado lo cual implica elpropio olvido de los dioses

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Pues no podiacutean apartar de entre ellos una violenciadesorbitada ni queriacutean rendir culto a los Inmortales ni hacersacrificios en los sagrados altares de los Bienaventuradoscomo es norma para los hombres por tradicioacuten A eacutestos maacutestarde los hundioacute Zeus Croacutenida irritado porque no daban lashonras debidas a los dioses bienaventurados que habitan elOlimpo32

Dejar de cuidar therapeuacuteo a los dioses es la forma maacutesacabada de dejar de cuidarse por esta torpeza la hyacutebris gana laescena y los hombres no cesan en sus males Dejar de rendir cultoa los dioses ignorar el sacrificio como la leccioacuten inaugural que elmito de Prometeo ensentildeara a los mortales y generara la divisioacutenentre hombres y dioses olvidar las normas ancestrales quesostienen la cohesioacuten de los mortales reunidos en comunidadrenunciar a dar las honras correspondientes son los olvidos del noreconocimiento no soacutelo de los dioses sino de siacute mismos comohombres ya que ser hombre implica ese paquete de obligaciones

De este modo cuando Hesiacuteodo culmina el relato del largocamino de la decadencia y la injusticia que va hilvanando eldestino de las cinco razas considerando la interpolacioacuten de la razade los heacuteroes abre un panorama desolador del campo de viacutenculostransidos por el conflicto33

RELIGIOSIDAD Y VIDA COTIDIANA

La presencia de los dioses en la vida cotidiana puede tomarla forma de la vigilancia

Despreciaraacuten a sus padres apenas se hagan viejos y lesinsultaraacuten con duras palabras cruelmente sin advertir lavigilancia de los dioses ndash no podriacutean dar el sustento debido asus padres ancianos aquellos [cuya justicia es la violencia ndash yunos saquearaacuten las ciudades de los otros]34

Los dioses tienen asiacute una presencia fuerte entre loshombres observando sus conductas y castigando en consecuencia

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Forma parte de su estatuto esta presencia que tambieacuten habla deuna familiaridad en el plano inmanente de la vigilancia

La divinidad estaacute presente custodiando las costumbres ydelineando con la recompensa o el castigo consecuentes ladimensioacuten moral de los hombres proclives a olvidar susobligaciones

Igualmente el que maltrata a un suplicante o a su hueacutesped osube al lecho de su hermano (para unirse ocultamente con suesposa incurriendo en falta) o insensatamente causa dantildeo alos hijos hueacuterfanos de aqueacutel y el que insulta a su padreanciano ya en el funesto umbral de la vejez dirigieacutendose a eacutelcon duras palabras sobre eacuteste ciertamente descarga el mismoZeus su ira y al final en pago por sus injustas acciones leimpone un duro castigo Pero tu aparta por completo tuespiacuteritu de estos delitos35

La divinidad se presenta siempre como el garante de unajusticia tanto coacutesmica como humana36

CONCLUSIONES

Hemos intentado pensar la problemaacutetica de la ira desdedistintos andariveles a partir de la relacioacuten que vincula al hombregriego con la divinidad

Nos propusimos relacionar el toacutepico mostrando coacutemo enel marco de la relacioacuten que se da entre los mortales y losInmortales el no reconocimiento y la transgresioacuten del registroontoloacutegico que los distingue y separa despierta la ira de los dioses

En segundo lugar vimos coacutemo el sentimiento de ira sevincula estrateacutegicamente con el proyecto didaacutectico moralizador queHesiacuteodo se propone dando respuesta a una demanda de su tiempohistoacuterico Asiacute la ira no se vincula con la coacutelera del dios en suestatuto supremo sino que se inscribe en un diagrama eacutetico queprioriza la virtud y la justicia como horizonte de un cierto ethos

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ABSTRACT Limit and Prudence in Hesiod an Anthropological View

The purpose of this paper is to read anthropologicaly therelation between Man and Divinity within the mythologicalthought of Arcaic Greece The presense of gods is the warrantythat beyond the apparent khaos there is Order of which Poetry isits most perfect expression Within the anthropological toacutepos twoaspects define the Greek experience of Divinity The first one isthe distance between humans and gods The second one is theassimilation and approximation to that divine world These twoaspects define Human condition We will demonstrate howtransgression and unrecognition to these aspects cause the wrathof the gods

KEYWORDS

Man Divinity Distance Approximation TransgressionUnrecognition

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BIBLIOGRAFIacuteACOLOMBANI MC Hesiacuteodo discurso y linaje una aproximacioacuten arqueoloacutegicaMar del Plata Universidad de Mar del Plata 2016______ Homero una introduccioacuten criacutetica Buenos Aires Santiago Arcos2005 DETIENNE M Los maestros de verdad en la Grecia arcaica Madrid Taurus1986______ Los jardines de Adonis Madrid Akal 1996DETIENNE M SISSA G La vida cotidiana de los dioses griegos MadridTemas de Hoy 1990GERNET L Antropologiacutea de la Grecia antigua Madrid Taurus 1981GIGON O Los oriacutegenes de la filosofiacutea griega de Hesiacuteodo a ParmeacutenidesMadrid Gredos 1985HESIacuteODO Obras y fragmentos Madrid Gredos Madrid 2000HESIOD Theogony Works and Days Testimonia Trans GW MostCambridge Loeb Classical Library London Harvard University Press 2007LIDDEL HG SCOTT R A Greek-English Lexicon Oxford Clarendoin Press1996LINtildeARES L Hesiacuteodo Teogoniacutea Trabajos y Diacuteas Edicioacuten bilinguumle BuenosAires Losada 2005NESCHKE A Dikegrave La philosophie poeacutetique du droit dans le ldquomythe des racesrdquod Heacutesiode In BLAISE F JUDET DE LA COMBE P ROUSSEAU P Le meacutetier dumythe lectures d Heacutesiode sous la direction de BLAISE F JUDET DE LA COMBEP ROUSSEAU P Paris Presse Universitaires du Septentrion vol 16 1993 p465-478VEGETTI M El hombre y los dioses In VERNANT J-P El hombre griegoMadrid Alianza 1993VERNANT J-P Los oriacutegenes del pensamiento griego Buenos Aires EUDEBA1976VIANELLO DE COacuteRDOVA P Hesiacuteodo Teogoniacutea Meacutexico Universidad NacionalAutoacutenoma de Meacutexico 1978

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1 GERNET 19812 Idem ibidem p 153 Idem ibidem p 164 VERNANT 1976 p 875 Idem ibidem p 876 GERNET 1981 p 157 Idem ibidem p 158 Idem ibidem p 169 DETIENNE SISSA 1990 p 5010 DETIENNE 198611 LINtildeARES 2005 p 336-33812 DETIENNE 1996 p 11213 LINtildeARES 2005 p 339-34214 COLOMBANI 2005b El tratamiento de Hesiacuteodo se inscribe iacutentegramente en unhorizonte antropoloacutegico-cultural donde el trabajo aparece como un hecho decultura que se inscribe en el marco de una legalidad coacutesmica que marca laciclicidad que abraza la dimensioacuten temporal del hombre 2005b15 VEGETTI 1993 p 29116 Idem ibidem p 292

17 Idem ibidem p 29218 Idem ibidem p 29319 COLOMBANI 2005a20 VEGETTI 1993 p 29321 Idem ibidem p 29322 VEGETTI 1993 p 29323 LINtildeARES 2005 p 717-71824 Idem ibidem p 724-72725 Idem ibidem p 735-73626 Idem ibidem p 743-74427 Idem ibidem p 755-75628 VEGETTI 1993 p 29429 COLOMBANI 2016 El texto analiza la dimensioacuten didaacutectica de Hesiacuteodo enrelacioacuten a la posibilidad de constitucioacuten del hombre prudente como modo dereparar la decadencia epocal en el marco de lo que podemos considerar unametaacutefora meacutedica la prudencia representa entonces el phaacutermakon para curar unasociedad enferma 201630 LINtildeARES 2005 p 111-11231 Idem ibidem p 118-12132 Idem ibidem p 133-13933 Coincidimos con Neschke A (1997) p 478 cuando analiza el mito de lasrazas desde la perspectiva de la exhortacioacuten de la poesiacutea didaacutectica perotambieacuten de la consolidacioacuten de una moral34 LINtildeARES 2005 p 185-19035 Idem ibidem p 328-33536 GIGON 1985 p 13-43 El problema del ser del todo del origen de la verdadde la transmisioacuten de la verdad y la perspectiva de un garante como aquel quevela por la conservacioacuten del orden y la justicia han sido los hilos que Gigon haencontrado para hilvanar el tapiz del Hesiacuteodo-filoacutesofo

Antigonersquos (mis)appropriations in Twentieth-Century Europe | Rossana Zetti

Antigonersquo s (mis )appropr ia t ions inTwentieth-Century Europe MemoryPolitics and ResistanceRossana Zetti

ABSTRACT

In this paper I will offer a historicized reading of Antigonersquosconceptualization as a political play by analysing its reception intwentieth-century Europe I will focus in particular on FriedrichHoumllderlinrsquos adaptation (1804) which is one of the very earliest post-Revolutionary witnesses to the political understanding of the play it isparticularly interesting because it provides a context for Bertolt Brechtrsquosand other twentieth-century adaptations of the myth and it represents acrucial step towards the current interpretative model in which Antigone isan icon of radical dissent and resistance Appropriated both by the Naziregime and by factions of the Resistance Houmllderlinrsquos Antigone wasexploited as a political subversive document or as representative of anationalistic classical tradition This account of the political reception ofSophoclesrsquo Antigone in the twentieth century will contribute to shed lighton the ideological climate which produced such a high number ofadaptations of the ancient play as well as on the reasons for itspertinence to twentieth-century temporal-political conditions

KEYWORDS

Antigone Reception Politicization Brecht Houmllderlin Sophocles

SUBMISSAtildeO 15 nov 2017 | PUBLICACcedilAtildeO 19 dez 2017

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1 INTRODUCTION amp CONTEXTUALIZATION

thol Fugard author of an adaptation of the Antigoneof Sophocles written during the apartheid period inSouth Africa claimed that Antigone is the ldquogreatestpolitical play of all timerdquo1 The political relevance ofthe ancient play considered by Hegel the closest toperfection2 has led to a fruitful interaction with thepresent facilitated by the urgency of politicalsituations in the contemporary world The Antigoneof Sophocles enjoys one of the richest performanceand reception histories it has been translated morethan fifty times into the English language in the lastcentury and it has been performed all around theworld3 The ancient myth has had a major influence

upon writers translators and playwrights of all periods and theambiguities of the play have lent to a variety of interpretations atdifferent times and in different contexts and places Antigone hascommunicated something different Despite such a versatilitycertain inherent characteristics of her tragic persona ndash her defianceof tyranny her rebellious spirit and her claim for human freedomndash have been appropriated again and again thus exemplifying theexistence of ldquofugitive humane communalitiesrdquo occurring acrosshistory4

However in order to understand why among other Greektragedies performed and adapted to the modern stage the Antigoneof Sophocles figures so prominently it is necessary to takedistance from the ldquomystification of Antigone as lsquouniversalrsquordquo5 Itsideas persist and resonate today as in the fifth century but theyhave been progressively changed and revisited in favour of apoliticization of the story precisely the relevance of theSophoclean play to contemporary political events has inspiredmany overtly political versions and imitations in the twentiethcentury The playrsquos plot and themes (Antigonersquos fight for ldquohumanrightsrdquo and autonomy her defiance of authority) enabled differentauthors to respond to various historical instances and politicalcontexts ranging in the twentieth century from Jean Anouilhrsquos

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A

Antigonersquos (mis)appropriations in Twentieth-Century Europe | Rossana Zetti

adaptation in wartime Paris to Bertolt Brechtrsquos adaptation in post-war Germany and Tom Paulinrsquos Irish adaptation The Riot Actperformed during the period of civil strife known as ldquotheTroublesrdquo ndash just to name a few6 The playrsquos spread and influenceare not confined only to the Western world the play attractedcross-cultural appeal even outside Europe where it was exploitedas a vehicle for contemporary political critique7

However Antigone has not always stood as the exemplaryicon of principled resistance and defiance against establishedauthority In spite of its political and revolutionary potential theancient myth was also appropriated by the Nazis for theirideological propaganda and it was presented as example of heroicand patriotic drama8 In particular the Antigone of Sophocles in thetranslation by Houmllderlin was frequently performed towards the endof the Second World War as example of ldquoheroic dramardquo insupport of Hitlerrsquos propaganda Although Houmllderlin did notproclaim the superiority of Germany over Greece as the leader ofthe West nor believed in the ldquoGreek characterrdquo inherent to theGermans his play was appropriated by the Nazis for theirproclamation of a ldquoracial kinship between Greeks and Germansrdquo9

At the same time Antigone was also appropriated byfactions of the Resistance which transformed the play into apolitical subversive document This tradition was followed byBertolt Brecht who upon the end of the Second World Warwrote an adaptation of the Antigone based on Houmllderlinrsquostranslation Through his reworking of the ancient original Brechtencouraged his audience to remember and reflect upon the recenttragedy of the Second World War in the attempt to unveil themechanisms behind the acquisition and dismantling of power atthe same time by adopting Houmllderlinrsquos text he denounced thedistorted readings and misappropriations of the play duringNazism With Brecht Sophoclesrsquo Antigone is established asldquocanonicalrdquo drama of political resistance

Studying the dynamics of remembrance and propagandabehind appropriations of Sophoclesrsquo Antigone is thereforeparticularly interesting the Antigone myth has been readapted and

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ldquorememberedrdquo in different ways to communicate different politicalideologies in the twentieth century a period characterized by civilwars dictatorships and resistance The politicization of Antigone inthese years is twofold ndash it served both the ideologicalinstrumentalization of the Nazis and the intellectual resistance It isin this period that Antigone becomes an icon of resistance andrevolt but it also becomes representative of a nationalistic classicaltradition Different responses to Sophoclesrsquo tragedy thereforereflect cultural and political shifts occurred in the twentiethcentury as well as different ways of interpreting andldquorememberingrdquo the ancient play No matter in what respectAntigonersquos performance in these years represents a political act

2 HOumlLDERLIN AND ANTIGONE

Of particular interest for my investigation of Antigonersquosreception and politicization in the twentieth century are the mainphilosophical theories developed around the Sophoclean play inthe early nineteenth century10 These readings affected by thepolitical circumstances of the French Revolution caused a breakwith the tradition and contributed to establish the currentinterpretative model of a ldquopoliticizedrdquo Antigone11 Antigone becomesthe great twentieth-century play which still affects us today thanksto two interpreters a poet (Houmllderlin) and a philosopher (Hegel)whose influential readings have irremediably shaped the way laterauthors experienced the play The ldquomodernrdquo Antigone would havebeen different without Hegel and Houmllderlin and ldquothephilosophical explorations of the Hegelian tradition might havealso acquired a different orientation without Antigonerdquo12

Contemporary to Hegel Houmllderlin wrote his highlyinnovative translation of the ancient Greek tragedy in 1804 Thistranslation represents a crucial step towards the currentinterpretative model of Antigone as an icon of radical resistance andit is a fundamental political and linguistic document it was used asa libretto for Carl Orffrsquos 1949 opera Antigonae ndash written under the

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Nazi regime and initially financed by the Reich ndash and it was themodel-translation for Brechtrsquos own interpretation of the play13

Houmllderlinrsquos translation of Antigone has been notoriouslycharacterized for its extreme radicalism Scholars have identifiedmany errors and a striking philological inaccuracy14 Houmllderlinrsquoscommand of Greek was indeed ldquofar from perfectrdquo and he workedwith defective editions To Goethe and to Schiller Houmllderlinrsquostreatment of the Greek text gave palpable evidence of mentalcollapse which the poet endured between 1804 to his death in1843 ndash most likely heightened by the negative reception of histranslations of both Antigone and Oedipus der Tyrann criticized byhis contemporaries15

The rediscovery of the long neglected poet started at thebeginning of the twentieth century The first complete edition ofHoumllderlinrsquos Saumlmtliche Werke was published by Norbert vonHellingrath in six volumes between 1913 and 1923 Thispublication represents a decisive turning point in the reception ofHoumllderlinrsquos works they were not considered anymore as theproduct of a ldquosavagerdquo mind but rather the achievement of a uniquepoet and writer Since then different editions of Houmllderlinrsquos workshave appeared16 and critics praised the Romantic poet consideredpatriotically as exemplary of German honour and loyalty theldquopurestrdquo of poets17 The Antigone in the translation by Houmllderlinwas performed for the first time after its publication in Zurich in1919 and in Darmstadt in 192318

Yet it was in Nazi Germany that Sophoclesrsquo Antigonebecame the most popular classical work performed 150 timesbetween 1939 and 194419 As the war raged on Antigonesignificantly proclaimed ldquoI was born to join in love and not inhaterdquo20 The Sophoclean tragedy became an exemplary model forthe new heroic drama favoured by the Nazis celebrating the ideaof sacrifice and noble death for the fatherland productionsemphasized Antigonersquos patriotic loyalty to her family althoughthey sided with Creon representative of the principle of the state

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The success of Antigone in the repressive context of NaziGermany might seem at odds with the political themes of protestand resistance of the play how could authors conform Antigone tothe ideological manipulation imposed by the regime How is itpossible that the Antigone was so popular and the authorities didnot attempt to stop the proliferation of such a politically chargedplay Wi th Romain Rollandrsquos Aacute lrsquoAntigone eacuteternelle (1916) andWalter Hasencleverrsquos Antigone (1917) the heroine had beenestablished as a figure of pacifism as well as a critical politicalleader Yet it is necessary to take into account the long tradition ofGerman Classicism and cultural identification of Germany withancient Greece started with Winckelmann21 Hitler himself was aPhilhellenist and in his propagandistic book Mein Kampf he hadproclaimed Greece as universal cultural model epitome ofEuropean civilization and racial kin thus merging philhellenismwith nationalism and promoting the identification of the Germanswith the idealized people of ancient Greece22

The combination of Hellenism and Germanism can betraced back to Houmllderlinrsquos translation of Sophoclesrsquo AntigoneHoumllderlinrsquos translation of Sophoclesrsquo Antigone integrates theDionysiac Hellenic element with the German Apolloniancharacter in order to clarify and render intelligible the Greek pathosto the German more rational sensibility23 Houmllderlinrsquos emphasison the similarities between German and Greek cultures preciselyserved the Nazi cause to reinforce nationalistic propaganda duringthe war

In his Notes to Antigone Houmllderlin emphasizes that tragedyemerges at times of revolution in human thinking and feeling ofldquopatriotic reversalrdquo (vaterlaumlndische Umkehr)24 Tragedy as well ashistory is built from the beginning to the end on a series ofdialectic oppositions each generating a dramatic revaluation ofmoral values and political power-relations In Houmllderlinrsquosreinterpretation the opposition between Creon and Antigone ispolitical Antigonersquos act is referred to as Aufstand (ldquouprisingrdquo orldquoinsurrectionrdquo) a politically pregnant word which reveals therevolutionary and political aspiration of his translation25

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Houmllderlinrsquos translation is itself the product of years characterizedby revolutions Antigonersquos rebellion reflects the FrenchRevolution which is exemplary of a public enactment of such areversal and Creonrsquos final manhandling by his servants can beparalleled to the execution of Louis XVI26 According to Houmllderlina revolution causes a collision whose outcome is a balancedopposition as the play ultimately reaches a (Hegelian) synthesis sorevolutions ultimately bring about a political change in the form ofgovernment and the es tabl ishment of a republikanischeVernunftsform27

The relation between ldquoAntigonersquos revolutionrdquo andldquocontemporary revolutionsrdquo is consolidated by the idea ofVaterland (ldquofatherlandrdquo ldquocommunityrdquo) a sense of patrioticrelevance and nationalism According to Houmllderlin the Germansneed to express their national tendency and at the same timerepress it to give space to the foreign element the pathos of theGreeks only by engaging with the alien can modern poetrybecome ldquopatrioticrdquo (vaterlaumlndisch) and express the originality andauthenticity of the nation itself These principles guide his owntranslation of the play which attempts to clarify and renderintelligible the Greek spirituality in a process called by Houmllderlinldquothe reversal of all modes and forms of representationrdquo28

The Nazis appropriated Houmllderlinrsquos ldquopatrioticrdquo idea of dasVaterlaumlndische and transformed the German poet into an exampleof spiritual leader and patriotic self-sacrifice thus reinvigoratingthe idea of a strong and culturally dominant Germany29 Thecombination of Greek and German elements was exploited assource of ultranationalist pride in the effort to preserve German-Western culture against threatening barbarian influences from theEast thus creating a ldquocultural collective memoryrdquo and heritagedirectly linked to the classics30

The performance of Greek tragedies was thereforelegitimized and approved in the Nazi period In particular Antigonebecame the exemplary model of ldquoheroic dramardquo The ldquoheroicdramardquo was a new dramatic form conceptualized in Germany inthe 1930s which emphasized ideas of patriotism and self-sacrifice

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in order to strengthen the nationalism and unity of Germany in thewake of the imminent war In his essay ldquoThe ImmortalConversation on the Tragic Dramaturgy as the Law of NordicCulturerdquo (1937) Rainer Schloumlsser explained the relevance ofSophoclesrsquo tragedies exemplary of this ldquoNordic attituderdquo ofheroism and noble death31 In May 1933 in his speech ldquoRede vorden deutschen Buhnenleiternrdquo Goebbels proclaimed theldquoheroicnessrdquo of German art

Die deutsche Kunst des naumlchsten Jahrzehnts wird heroischwird staumlhlern-romantisch wird sentimentalitaumltslos sachlichwird national mit groszligem Pathos sie wird gemeinsamverpflichtend und bindend sein oder sie wird nicht sein32

On 22 June 1940 Paris surrendered and the victoriousGerman army marched into Berlin on 6 July 1940 the great victorywas celebrated by Hitler at the Krolloper in Berlin33 In the autumnof 1940 two almost simultaneous productions of Antigone wereperformed in Berlin and Vienna34 The 1940-1941 theatrical seasonopened in Berlin with Karlheinz Strouxrsquos Antigone whichpremiered on 3 September 1940 at the Berliner StaatlichesSchauspielhaus where the TieckMendelssohn production had beenshown multiple times Stroux relied on Roman Woernerrsquostranslation which facilitated the understanding of the text andcontributed to render it accessible to the public ndash by contrast withHoumllderlinrsquos obscure translation

Karlheinz Strouxrsquos reading of the play did not follow thestandard ldquointerpretationrdquo imposed by the Nazis but transgressedand contradicted the dominant ideology Rather than classicalGreece the stage designs reminded critics of an oriental or pre-Hellenic culture Antigone was interpreted by Marianne Hoppeand was addressed and presented as Greek whereas Creoninterpreted by Walter Frank was dressed as an Oriental king Theracial kinship was inverted Antigone a female was presented asthe Aryan-Greek model and Creon the ruler as a barbarian35

Although critics maintained that ldquothe tragedy does not correspondto the standards of the sacrosanct idea of the staterdquo36 the classical

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subject matter the mystic stage and stylized acting did not prompta direct identification with the story rather they allowed the authorto discuss indirectly contemporary political issues while avoidingcensorship

Particularly resonant was the Antigone directed in Vienna in1940 by Lothar Muumlthel followed by other five performances inFrankfurt (1941) Leipzig (1942) Vienna (1943) Goumlttingen (1944)and Stuttgart (1944) In correspondence with the centenary of thepoetrsquos death on 7 June 1943 patriotic celebrations occurred acrossGermany Antigone was performed in Vienna and the Houmllderlinsociety was founded in Stuttgart Goebbels was appointedldquohonorary patron of the Societyrdquo and Hitler ordered to place ldquoacommemorative wreath hellip in his name on Houmllderlinrsquos grave inTuumlbingenrdquo37 Antigone was even performed in 1944 a few monthsbefore Goebbels ordered the closure of all theatres In occasion ofthe 1944 production of Antigone in Stuttgart a newspaper wrotethat ldquotwo and a half thousand years of Western culture are nowpreserved and defended by Herzland Europardquo38

Therefore although the potential subversive character ofAntigonersquos rebellion which emerges for example in Strouxrsquosreading of the play Antigone was exploited and mis-interpreted bythe Nazis who relied upon Houmllderlinrsquos ldquopatrioticrdquo and ldquoheroicrdquoideas of fatherland Through the Nazisrsquo reading Houmllderlin gainedpowerful ideological resonance and became a nationalist icon ofGerman Nazism Brecht speaks in his Arbeitsjournal of ldquothenationalistic element intolerable to usrdquo imposed by Hitler in thereading of German poets such as Schiller and Houmllderlin39

Houmllderlinrsquos translation of the ancient play was recommended byBrechtrsquos collaborator Caspar Neher who had watched in Hamburgthe first post-war production of Antigone in the translation of theGerman poet (1946)40 This production received particularlypositive responses by the critics who claimed that ldquoHoumllderlin isthe more Greek of allrdquo and intended to convey the ldquoturmoil thepolitical the republican the revolutionary which Houmllderlin alwayssaw in Antigonerdquo41

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In using Houmllderlinrsquos translation but developing a radicallydifferent reading Brecht opposed the Nazisrsquo use of Houmllderlinrsquosplay as the epitome of the vaterlandisch ldquoa way of imagining theworld from a nationalistic perspectiverdquo42 The indeed oppositeappropriation of the play by Brecht reveals the pliability of theAntigone narrative and is paradigmatic of the politicizing of themyth

3 BRECHT AND ANTIGONE

Brechtrsquos version draws closely on Sophoclesrsquo text buttransforms the Greek narrative in an analysis of modern classstruggle Brecht explicitly challenges the nationalistic uses of theSophoclean play which he felt incompatible with the complexitiesof post-war Germany Although appropriated by the Nazis duringthe war for its nationalistic appeal the text also responded toBrechtrsquos desire to oppose to the classical reading of the play andto distance himself from the purely classical-humanist andldquobourgeoisrdquo interest in Greek tragedy

As he explains in the preface to his own Modelbuch43 Brechtavoided an easy identification of the conflict with one between theindividual and the (Nazi) totalitarian regime He refused to equateAntigone with German resistance fighters who fought against theNazis nor could Antigone be interpreted as a ldquomoral playrdquo or asrepresentative of religion humanity or the individual in relation tothe state44 As he suggests in the preface of the Antigonemodell thechoice of the material relied both on the possibility to raiseinteresting formal problems through the ancient play and on itspolitical relevance45

The focus of the play shifts from the conflict between theindividual and the state to the disintegration of the society-polis andthe ldquoscattering of destructionrdquo left by war Brechtrsquos play shows thatwars are determined by questions of profit and imperialistic greedthus drawing an explicit parallel with the Second World WarCreon is a corrupt imperialistic tyrant leading an aggressive waragainst Argos to control its mines His power is maintained

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through violence and an aggressive policy justified by a rhetoric ofhonour and race In his reinterpretation Brecht emphasizes theviolence implicated in both the ruling class including the wealthychorus of elders and Antigone who loses her dominant role sheis presented as a privileged upper class woman who has also beencomplicit to Creonrsquos crimes46 The heroine merely serves to throwinto relief Creon addressed by his lackeys as ldquomein Fuumlhrerrdquo andhis repressive government dominated by thievery and exploitation

The Sophoclean catastrophe thus becomes in Brechtrsquosreinterpretation an allegory of the decline of the Third Reich andNational Socialism as well as an analysis of societyrsquos mechanismsT h e emphasis on violence and destructions provoked by wardemonstrates Brechtrsquos self-conscious attempt to reflect upon thedisaster of the recent war and to explore issues of responsibility ndashcollaboration and resistance ndash during the years of the SecondWorld War

Through his reworking of the Sophoclean play Brecht aimsto awaken the critical spirit of his audience the play becomes apretext to reflect upon the recent past and to remember that pastIssues of memory recur throughout the play even the title TheAntigone of Sophocles after Houmllderlinrsquos translation adapted for the stage byBrecht represents an act of remembrance and links Brechtrsquos namewith Sophoclesrsquo and Houmllderlinrsquos47

In the parodos of Brechtrsquos Antigone the chorus of Thebanelders celebrates the victory over Argos and encourages the peopleto forget the recent war

Und nach dem Kriege hier Macht die Vergessenheit ausIn alle GoumlttertempelMit Choumlren die Nacht durchKommt her Und Thebe die Bloszlige im LorbeerschurzErschuumltternd herrsche der Bacchusreigen48

The ldquodrink of oblivionrdquo proffered by Bacchus allows thepeople thirsting for peace to rejoice in the illusory celebrationsand to forget about the deaths and destructions caused by the war

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However such a call for forgetting is a cover up manipulated byCreon in order to camouflage the reality the much praised victoryis in fact a lie because the war is not over The eagerness to forget isopposed to Antigonersquos determination to remember the past theheroine insists that it is important to remember the disasters of thepast in order to avoid their repetition in the future In the firstscene of the play Antigone disapproves of her sister Ismene forher the tragedy of their brothersrsquo death is already ldquoa yesterdaythingrdquo49

On the one hand Brecht accuses the spectators ofcomplicity and his Antigone becomes an indictment to thosepeople who wished to forget the past and to those ldquoordinaryrdquoGermans who failed to act under Hitlerrsquos regime and chose not tosee giving tacit consent to his crimes on the other he questionsthe validity of an Antigone-like-act and -death in the context ofBerlin 1945 Brecht himself did not ldquoactrdquo but decided to fleeGermany rather than staying and facing certain death He waswatching the events from a distance during his exile50

The final lesson offered by Brechtrsquos play is indeed nihilisticand pessimistic in the original the chorus praise wisdom whichman can achieve though self-knowledge with old age and throughsubmission to the gods51 in the modern version instead the fall ofThebes could have been avoided and it is presented as the result ofa conscious self-destructive choice It is human greed and lustwhich ultimately transform man in a ldquomonsterrdquo to himselfincapable of becoming ldquobecome wiserdquo even in old age52

Brechtrsquos tragedy teaches that man will repeat the sameerrors reiterated in the updated version of the story unless manremembers the past the sacrifice of innumerable Antigones ndash orGerman resistance fighters ndash will be useless Brecht appropriatesthe Antigone story as political instrument to reflect upon humanactions and more precisely upon the ldquomonstrousrdquo actions andchoices enacted by each single individual during the tragic years ofthe Second World War Once more classics serve as a platform tocomment upon past and present events and to question issues ofmoral choice and responsibility

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The influence of Brechtrsquos play extends beyond itsimmediate impact His version is as important as the original forthe creation of later politicized Antigones and showed the way toother adaptations that reflected on political issues of dissent andresistance

4 CONCLUSIONS

The twentieth-century reception of Sophoclesrsquo Antigoneshows how a work of art can be re-interpreted and ldquorememberedrdquoin different ways in order to fulfill a certain political agenda andpropaganda It is not only the past itself that matters but the waysin which this past is consciously re-interpreted and exploited toremember and shape contemporary events Antigone still matterstoday because of the chain of political reinterpretations that hashelped authors and audiences to remember and reflect upon thepresent through the powerful voices of heroes of the past

The ldquouses and abusesrdquo of Houmllderlinrsquos version areexemplary of the different ways of remembering the past througha work of art and of the distorting ways of using classics duringtotalitarianisms53 The play was then re-used by Brecht for differentpurposes through his adaptation of Antigone Brecht hoped to re-awaken the critical thinking of his audience and to provide themwith the instruments necessary to unveil the workings of ideologyand dictatorships It is questionable whether these and otherAntigones anchored to the history of the twentieth century havecontributed to effectively instigate a political change andsentiments of revolt or nationalism in their audiences Indeed it isundeniable that the political directions taken by the play in the lastcentury have underscored the playrsquos relevance and granted itsendurance to the present day

The playrsquos reception in this century proves the greatpolitical potentiality and versatility of a play like Antigone adaptedand staged in correspondence with important historical andpolitical events The political aspect already present in thearchetypical figure of a woman who alone defies the authority of

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the State has been uncovered by playwrights and directors whohave demonstrated that the Antigone of Sophocles is appropriatenot only to describe situations as they occurred in the twentiethcentury but it belongs to any time and place as John Kaniacknowledges

Antigone addresses itself to any corner of the world where thehuman spirit is being oppressed where people sit in jailbecause of their fight for human dignity for freedom54

These versions became a sort of ldquooriginalrdquo in their ownright and were able to turn the stage into a place where the distantpast could be revived and remembered theatre and the politicaluse of classics worked as a vehicle for memory

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ABSTRACT

Le (mis)interpretazioni di Antigone nellEuropa del ventesimosecolo Memoria Politica e Resistenza

In questo articolo si propone unrsquoanalisi del processostorico che ha portato alla concettualizzazione dellrsquo Antigone diSofocle come opera politica attraverso lrsquoanalisi della sua ricezionein Europa nel ventesimo secolo Mi concentrerograve in particolare sullatraduzione di Friedrich Houmllderlin (1804) che rappresenta una delleprime testimonianze post-rivoluzionare della politicizzazione dellastoria di Antigone egrave quindi particolarmente interessante in quantofornisce un contesto per le interpretazioni del mito da parte diBertolt Brecht e di altri autori del ventesimo secolo e rappresentaun passo cruciale verso lrsquoattuale modello interpretativo di Antigonecome icona di dissenso e resistenza radicale Appropriata sia dalregime nazista che da fazioni della Resistenza lrsquoAntigone diHoumllderlin fu sfruttata come documento politico e sovversivo ecome icona di una tradizione classica nazionalista Questoresoconto della ricezione politica dellrsquoAntigone di Sofocle nelventesimo secolo contribuiragrave a far luce sul clima ideologico che haprodotto un cosigrave grande numero di interpretazioni dellrsquooperaantica noncheacute sulle ragioni della sua pertinenza alle condizionisocio-politiche di questo secolo

PAROLE CHIAVE

Antigone Ricezione Politicizzazione Brecht Houmllderlin Sofocle

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25 HOumlLDERLIN 2001 p 7326 According to UNGER 1984 p 2 Houmllderlin showed ldquoa growing interest in and enthusiasm for the intellectual and political ideals of the French Revolutionrdquo expressed through his poetry and especially the Hymns to the Ideals of Mankind LOUTH 1998 p 155 remarks that Houmllderlinrsquos present is ldquodetermined by the French revolution and by Greek antiquityrdquo As STEINER 1984 p 81 observes this virtual manhandling is a motif entirely invented by Houmllderlin 27 HOumlLDERLIN 1963 p 676 28 PFAU 1988 p 11429 FLASHAR 2009 p 14130 See ZIOLKOWSKI 2000 p 555 FLASHAR 2009 p 16431 See FISCHER-LICHTE 2017 p 16732 Quoted in LOHSE 2006 p 16033 On the historical context see LOHSE 2006 p 152-15334 On these productions of Antigone see LOHSE 2006 p 151-186 FLASHAR 2009p 165-168 On Strouxrsquos Antigone see FISCHER-LICHTE 2017 p 171-17935 See FISCHER-LICHTE 2017 p 17736 FISCHER-LICHTE 2017 p 17637 SAVAGE 2008 p 5 In this occasion patriotic celebration occurred acrossGermany and a special edition of Houmllderlinrsquos poems was prepared by Beiszligner 38 Trans From FLASHAR 2009 p 16539 Trans RORRISON WILLETT 1993 p 30640 On this production see CASTELLARI 2011 p 156-157 See remarks in BRECHT 1988 p 12 ldquoAuf Rat von Cas nehme ich die Houmllderlinische Uumlbertragung die wenig oder nicht gespielt wirdrdquo Brecht was not aware of the theatrical success of the play during the Nazi period see FLASHAR 2009 p 141 FISCHER-LICHTE 2017 p 166-182 41 FISCHER-LICHTE 2017 p 18742 GOLDHILL 2012 p 15143 The Antigonemodell 1948 opens with a programmatic foreword it includesdrawings by Neher a sequence of images from the scene photographed by RuthBerlau in 1948 with captions in hexameters (the so called Bruumlckenverse whichform the Antigone-Legende) notes by Brecht and the full text of Antigone Inaddition the Modellbuch explains Brechtrsquos and Neherrsquos choices for the settingcostumes way of acting and moving of the performers See BRECHT 1988 p47-5544 BRECHT 1988 p 48 ldquodie groszlige Figur des Widerstands im antiken Dramarepraumlsentiert nicht die Kaumlmpfer des deutschen Widerstands die uns ambedeutendsten erscheinen muumlssenrdquo45 BRECHT 1988 p 48 ldquoFuumlr das vorliegende theatralische Unternehmen wurdedas Antigonedrama ausgewaumlhlt weil es stofflich eine gewisse Aktualitaumlt erlangenkonnte und formal interessante Aufgaben stellterdquo 46 On Brechtrsquos use of the chorus see REVERMANN 201347 On the implications and problems of citation raised in this title which allows Brecht to avoid plagiarism see SAVAGE 2006 p 153-155 TAXIDOU 2008 p 245 On Brechtrsquos ldquothieveryrdquo see BROWN 197848 BRECHT 1977 p 19 for an English translation see BRECHT 2003 p 1249 BRECHT 2003 p 12 For the original see BRECHT 1977 p 18 ldquoSchon ist erdir Gestrigesrdquo50 Brecht forced to leave his homeland when Hitler came to power because ofhis communist affiliation returned to Europe in October 1947 after years ofexile spent in Scandinavia and in the United States51 SOPHOCLES Antigone 1348-135352 In the first line of the second stasimon (SOPHOCLES Antigone 332) theSophoclean choral ode defines ldquomany thingsrdquo as δεινότερον the adjectivedeinos means ldquoformidablerdquo in the ambivalent connotation of ldquoclevermarvellousrdquo but also ldquofearful terriblerdquo Brecht renders the Greek deina withthe German ungeheuer which points exclusively to the ldquomonstrosityrdquo of man53 I borrow the formulation ldquouses and abusesrdquo from FLEMING 200654 John Kani collaborated with Athol Fugard in the South-African production ofAntigone entitled The Island Here John Kani in an interview with Martin Phillipsin Feb 2000 quoted in MEE FOLEY 2011 p 6

Significado e estrutura do argumento do terceiro homem [] | Guilherme da C A Ceciacutelio

Significado e estrutura do argumento doterceiro homem no Parmecircnides de Platatildeo Guilherme da Costa Assunccedilatildeo Ceciacutelio

RESUMO

O argumento do terceiro homem presente no Parmecircnides constituiuma formidaacutevel objeccedilatildeo agrave teoria das ideias agrave qual Platatildeo natildeoapresentou resposta expliacutecita Na primeira parte deste trabalhotrataremos brevemente da cronologia dos diaacutelogos platocircnicosprocurando situar o Parmecircnides numa ordenaccedilatildeo pelo menosplausiacutevel Em seguida analisaremos detalhadamente o argumentodo terceiro homem tal como se encontra redigido no ParmecircnidesApreciaremos tambeacutem o significado dessa objeccedilatildeo quandoconsiderada sob o prisma da funccedilatildeo causal das ideias

PALAVRAS-CHAVE

Teoria das Ideias Parmecircnides argumento do terceiro homemautopredicaccedilatildeo causalidade

SUBMISSAtildeO 29 set 2017 | PUBLICACcedilAtildeO 21 dez 2017

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Caliacuteope Presenccedila Claacutessica | 20172 Ano XXXIV Numero 34

1 INTRODUCcedilAtildeO

Parmecircnides eacute provavelmente o mais enigmaacutetico dosdiaacutelogos platocircnicos A primeira parte da obra consisteno coloacutequio entre o ceacutelebre eleata e um Soacutecrates aindabastante jovem esse propotildee e procura defender ateoria ontoloacutegica que viemos a conhecer sob o roacutetulode teoria das ideias1 agrave qual entretanto Parmecircnidesmove uma cerradiacutessima criacutetica

As objeccedilotildees contra aquela que veio a ser amais ceacutelebre das doutrinas de Platatildeo satildeo tantas e tatildeograves que natildeo deixa de surpreender quandoParmecircnides subitamente interrompe o curso de suademolidora criacutetica para encorajar o seu joveminterlocutor

Entretanto Soacutecrates disse Parmecircnides se algueacutem por outrolado ao atentar para todas as coisas mencionadas haacute pouco epara outras desse tipo natildeo admitir que haja formas dos serese natildeo separar uma forma de cada coisa uma nem sequer teraacutepara onde voltar o pensamento uma vez que natildeo admitiraacutehaver uma ideia sempre a mesma de cada um dos seres eassim arruinaraacute absolutamente o poder do dialogar Pareces-me seguramente estar ciente e muito de tal coisaDizes a verdade disse ele Que faraacutes entatildeo da filosofia Para onde te voltaraacutes sendoestas coisas desconhecidas Acho que natildeo vejo bem pelo menos no presente Eacute que Soacutecrates disse ele tentas cedo demais antes de teexercitares [gumnasqh=nai] separar um belo e um justo e umbem e cada coisa uma dentre as formas Pois me dei contadisso bem recentemente ouvindo-te aqui dialogar comAristoacuteteles aqui presente Pois fica sabendo que realmente eacutebelo e divino esse ardor que lanccedilas sobre os argumentos Masesforccedila-te e exercita-te [gumnasai] mais enquanto ainda eacutesjovem por meio disso que pela maioria eacute tido como inutil echamado de tagarelice Se natildeo a verdade te escaparaacute2

A passagem citada marca uma importante divisatildeo nodiaacutelogo a partir desse ponto a obra muda de feiccedilatildeo consistindoentatildeo numa longa e aacuterida demonstraccedilatildeo do tipo de exerciacutecio ndash

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O

Significado e estrutura do argumento do terceiro homem [] | Guilherme da C A Ceciacutelio

gumnasia ndash que Parmecircnides sugerira como meacutetodo para alcanccedilar averdade O sentido de tal gumnasia eacute poreacutem tatildeo ou mais abstrusoquanto a criacutetica agrave teoria das ideias que ocupa a primeira parte dodiaacutelogo

Sendo assim natildeo satildeo poucos os desafios que a obra impotildeeao exegeta Apesar das muitas e seacuterias dificuldades uma seccedilatildeo dodiaacutelogo tem praticamente monopolizado a atenccedilatildeo da criacuteticacontemporacircnea a saber a passagem que conteacutem o argumento doterceiro homem3 Esse argumento cuja denominaccedilatildeo nos foilegada por Aristoacuteteles4 refere-se a uma determinada espeacutecie deobjeccedilatildeo capaz de suscitar o regresso infinito das ideias platocircnicasHaacute na verdade dois argumentos desse tipo no Parmecircnides5 Estetrabalho visa examinar justamente um desses argumentos

Haacute trecircs tipos de tarefas bem diferentes para o inteacuterprete doterceiro homem A primeira eacute procurar compreender bem aestrutura do argumento e nos ocuparemos aqui dessa questatildeo asegunda tarefa eacute avaliar o sentido da aporia isto eacute o peso que essaobjeccedilatildeo possa ter para a teoria das ideias e tambeacutem a issodedicaremos nossa atenccedilatildeo por fim eacute possiacutevel ainda investigar setal aporia pode ou natildeo pode ser resolvida e se a filosofia platocircnicaestaria em condiccedilotildees de apresentar-lhe uma soluccedilatildeo essa questatildeoeacute sem duvida muito mais complexa e natildeo seraacute contemplada nestetrabalho

2 CONSIDERACcedilOtildeES PRELIMINARES 21 CRONOLOGIA E A POSICcedilAtildeO DO PARMEcircNIDES

O estudioso de Platatildeo natildeo pode deixar de se posicionardiante de algumas questotildees Especialmente quem aborda o terceirohomem e o Parmecircnides deve tratar da cronologia dos diaacutelogosvexata quaestio ainda que o faccedila de modo marginal

O advento da estilometria trouxe novas ferramentas aoestudo do corpus platonicum cujo valor eacute dificilmente contestaacutevelMas como se sabe natildeo eacute possiacutevel obter uma ordenaccedilatildeo estrita dosdiaacutelogos unicamente a partir de dados estilomeacutetricos Alinhamo-nos portanto com a tendecircncia geral dos comentadores de

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Caliacuteope Presenccedila Claacutessica | 20172 Ano XXXIV Numero 34

reconhecer trecircs grandes grupos de diaacutelogos que remetem aosperiacuteodos da juventude maturidade e velhice de Platatildeo

O Parmecircnides eacute normalmente considerado uma obra detransiccedilatildeo entre a maturidade e a velhice platocircnica Determinartodavia a sua exata posiccedilatildeo relativamente aos diaacutelogos dessas duasfases eacute uma tarefa muito mais complexa Natildeo sendo possiacutevelrecorrer agrave estilometria em casos como esse os estudiososfrequentemente socorrem-se de hipoacuteteses doutrinaacuterias para dataros diaacutelogos a questatildeo doutrinaacuteria mais relevante para o Parmecircnideseacute a criacutetica agrave teoria das ideias a que se assiste na primeira parte daobra Parmecircnides I6

Embora as ordenaccedilotildees variem um pouco de comentadorpara comentador em geral se aceita que o Parmecircnides seja por umlado posterior a pelo menos algumas das grandes composiccedilotildees damaturidade de Platatildeo tais como Repuacuteblica Feacutedon e Banquete poroutro lado o diaacutelogo possivelmente antecederia o Teeteto SofistaPoliacutetico Timeu Filebo e Leis

22 PARMEcircNIDES E A TEORIA DAS IDEIAS

Eacute consensual que o Parmecircnides seja um diaacutelogo de transiccedilatildeoentre as obras de maturidade e de velhice talvez a grandereferecircncia para a determinaccedilatildeo desses periacuteodos O consensoporeacutem se desfaz quando se trata de apreciar as relaccedilotildees do diaacutelogocom a questatildeo (doutrinaacuteria) da teoria das ideias e sua supostaevoluccedilatildeo

Haacute de um lado aqueles que sustentam que Platatildeo jamaisrenunciou agrave sua teoria ontoloacutegica a despeito das autocriacuteticasconsignadas no Parmecircnides E haacute por outro lado os que veemnesse diaacutelogo o marco do abandono da concepccedilatildeo das ideias7

esses ultimos ainda podem ser subdivididos em dois grupos arespeito dos quais vale a pena ler o ludico relato de ConstanceMeinwald8

A very unhappy story of Platorsquos career has been increasingly out offashion in the last half-century (Though as is often the case with oldfashions it continued to be followed by people out of the circle of the

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Significado e estrutura do argumento do terceiro homem [] | Guilherme da C A Ceciacutelio

trendsetters) In this most unhappy story Plato started writing with agracious compliment to his master The high literary achievement of themiddle-period works coincided with a philosophical high point a headyand confident time of glorious dogmatism Then after a major crisis inwhich he attacked and actually destroyed the theory that was hismasterpiece Plato spent his last years in extensive critical activity Hisnow-failing literary powers produced the late dialogues as a record of thisbarren final period A second and completely opposite story has been invogue more recently [] This second kind of interpretation whichreceived perhaps its greatest impetus from Gilbert Ryle regards the theoryof Forms of the middle period as a hopelessly flawed creation whosehopelessness was realized by Plato himself in the Parmenides He wasthen in a position to do some good philosophy in the late period Thisstory is in a way happier but the attribution to Plato of a middle theorythat can only be nonsense is a problem [] Opposite as they are thesestories have something crucial in common that the Parmenides recordsPlatorsquos realization of the unviability of a determinate theory of Formscontained in the middle dialogues and so ushers in a late period whoseprogram would have to be entirely different from that of the middleworks

Mas atualmente nenhum desses dois tipos deinterpretaccedilatildeo eacute dominante A proacutepria Meinwald9 oferece umaleitura do Parmecircnides que considera as suas criacuteticas como aporias aserem resolvidas mas que nem por isso implicam a rejeiccedilatildeo docerne da doutrina das ideias

De nossa parte cremos que Platatildeo jamais abandonou ateoria das ideias ou sequer alterou-a a tal ponto que as ideiasdeixassem de ser entes subsistentes e independentes do homem Eacuteevidente que defender semelhante posiccedilatildeo de modo exaustivoredundaria num trabalho aacuterduo e demasiado extenso

Uma meta mais modesta mas que contribui para o sucessodesta empresa geral eacute mostrar que a aporia do terceiro homemnatildeo constitui uma objeccedilatildeo inescapaacutevel Sendo assim eacute plausiacutevelque Platatildeo natildeo tenha precisado renunciar agrave sua teoria ontoloacutegicapelo menos no que diz respeito agraves dificuldades que o terceirohomem lhe opotildee Eacute claro que demonstrar essa teseadequadamente envolve examinar detidamente o Parmecircnides o quenatildeo nos cabe fazer neste momento introdutoacuterio Mas antes

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mesmo de abordarmos o diaacutelogo eacute possiacutevel apresentar umargumento externo por assim dizer em apoio agrave tese de que essaobra natildeo seja o marco do abandono da doutrina das ideias

Mesmo que natildeo se lance matildeo do Timeu como contraprovaincontrovertiacutevel da permanecircncia das ideias no corpus platonicumevitando assim a querela da sua dataccedilatildeo e por outro ladodeixando de lado a exegese de passagens controversas de diaacutelogoscomo o Sofista Filebo e Leis sem embargo ainda resta umargumento convincente e o que eacute melhor bastante simples

Dentre os que receberam a obra do filoacutesofo naAntiguidade jamais houve quem supusesse que Platatildeo tivesserenunciado agraves ideias Ademais o seu maior criacutetico Aristoacuteteles natildeoteria deixado de no-lo relatar caso isso houvesse ocorrido Defato que melhor sinal da falecircncia da teoria que ele tanto criticavado que o abandono da mesma por parte de seu autor10

Dito isto eacute contudo razoaacutevel supor algum grau demodificaccedilatildeo na concepccedilatildeo das ideias talvez mais insensato do quesupor o abandono da teoria das ideias seja supor que ao longoduma obra tatildeo vasta certos aspectos natildeo tenham sido repensadose ajustados Apreciar todavia o alcance dessas alteraccedilotildees excedecompletamente o escopo deste trabalho11

23 CAUSALIDADE

Cabe ainda uma ultima consideraccedilatildeo de caraacuteter geral Aotratar da teoria das ideias acreditamos ser impossiacutevel abrir matildeo danoccedilatildeo de causa ai0tia Efetivamente neste trabalho faremos largouso da expressatildeo fato que demanda uma explicaccedilatildeo preacutevia paraevitarmos uma seacuterie de graves mal-entendidos

Alguns platonistas manifestam certa resistecircncia ao usodesse termo de certa forma isso eacute compreensiacutevel uma vez quecomo sabe o estudioso de filosofia antiga ele eacute bastante ambiacuteguoPor um lado o modo como eacute entendido nos dias de hoje serestringe fundamentalmente ao conceito de causa eficiente o qualestaacute longe de exprimir toda a valecircncia do termo ai0tia por outrolado pode-se argumentar que Platatildeo natildeo possui propriamente uma

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teoria das causas o que soacute se atingiu com Aristoacuteteles Sendo assimargumentam alguns conviria evitar a problemaacutetica expressatildeo

Noacutes pelo contraacuterio afirmamos que ao recorrer agrave noccedilatildeo decausa o inteacuterprete ganha muito mais do que eventualmente perdeTrata-se na verdade dum conceito indispensaacutevel para quem lidacom a teoria das ideias de que outro modo descrever a funccedilatildeo dasideias com relaccedilatildeo agraves realidades sensiacuteveis senatildeo como uma funccedilatildeocausal12 E natildeo se trata apenas dum recurso exegeacutetico do qual ointeacuterprete lanccedilaria matildeo como que a despeito da letra do textoPlatatildeo utiliza largamente o termo ai0tia tratando-se ateacute mesmodum problema de traduccedilatildeo Cabem todavia algumas ressalvas

Dizer que as ideias tenham funccedilatildeo causal natildeo significaafirmar que Platatildeo tenha expliacutecita e exaustivamente tratado dotema coisa que como jaacute referimos soacute vem a ocorrer comAristoacuteteles

Aleacutem disso impende ressaltar que defender a funccedilatildeo causaldas ideias natildeo implica de modo algum comprometer-se com oecircxito completo de tal funccedilatildeo Sendo assim o que sustentamos eacuteque a teoria das ideias eacute indissociaacutevel de um esforccedilo de explicaccedilatildeocausal julgar o sucesso de semelhante esforccedilo eacute jaacute outra questatildeo agravequal natildeo poderemos nos dedicar aqui

Sendo assim a noccedilatildeo de causalidade com quetrabalharemos poderia ter por equivalente a noccedilatildeo deldquoresponsabilidaderdquo que talvez possua a vantagem de indicar ocaraacuteter necessaacuterio mas natildeo suficiente das ideias para a explicaccedilatildeode determinado dado sensiacutevel Assim por exemplo a ideia demesa eacute um item necessaacuterio para explicar uma mesa sensiacutevel masnatildeo suficiente a explicaccedilatildeo completa dessa requer ainda nomiacutenimo um agente e um material

Feitas essas consideraccedilotildees podemos nos voltar para onosso objeto de estudo o argumento do terceiro homem tal comoo formulou Platatildeo no Parmecircnides

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3 O ARGUMENTO DO TERCEIRO HOMEM

31 RECONSTRUCcedilAtildeO DO ARGUMENTO DO TERCEIRO HOMEM

Antes de avaliarmos o peso da objeccedilatildeo do terceiro homemp a r a a filosofia de Platatildeo eacute indispensaacutevel compreendecirc-laadequadamente Leiamos pois em primeiro lugar o trechorelevante do diaacutelogo

Creio que tu crecircs que cada forma eacute uma pelo seguintequando algumas coisas multiplas te parecem ser grandestalvez te pareccedila a ti que as olhas todas haver uma certa ideiauma e a mesma em todas donde acreditas o grande ser umDizes a verdade disse ele Mas e quanto ao grande mesmo e agraves outras coisas grandesSe olhares da mesma maneira com a alma para todos essesnatildeo apareceraacute de novo um grande um em virtude do qual eacutenecessaacuterio todas aquelas coisas aparecerem como grandesParece que simLogo uma outra forma de grandeza apareceraacute surgindo aolado da grandeza mesma e das coisas que desta participam Esobre todas essas apareceraacute de novo outra de modo a emvirtude dela todas essas serem grandes E natildeo mais seraacute umacada uma das tuas formas mas ilimitadas em quantidade13

Para evidenciar a estrutura loacutegica do trecho supracitadovalemo-nos do importante estudo de Gregory Vlastos14 mastambeacutem de contribuiccedilotildees de outros estudiosos Eis o esquema quepropomos

(i) O dado de base eacute uma multiplicidade (indiviacuteduos a b cetc) que possui determinada propriedade F (ii) ldquoum sobre muitosrdquo15 a essa multiplicidade correspondeuma unidade a ideia F-dade em virtude da qual amultiplicidade possui a propriedade F(iii) autopredicaccedilatildeo F-dade eacute F (iv) natildeo identidade se x possui a propriedade F x natildeocoincide com F a forma em virtude da qual x possui F

De acordo com (iii) a proacutepria ideia F-dade eacute F logo elapode ser o substituto da variaacutevel x em (iv) o que impotildee aexistecircncia de uma nova forma F-dade1 que sirva como substituto

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Significado e estrutura do argumento do terceiro homem [] | Guilherme da C A Ceciacutelio

da variaacutevel F Como F-dade1 estaacute sujeita agrave autopredicaccedilatildeo F-dade1

tambeacutem pode substituir a variaacutevel x na premissa (iv) instaurando-se assim o regresso infinito das formas

Conveacutem agora cotejarmos a nossa reconstruccedilatildeo doargumento com o texto do ldquoParmecircnidesrdquo

Os passos (i) e (ii) encontram correspondecircncia nestaafirmaccedilatildeo

Creio que tu crecircs que cada forma eacute uma pelo seguintequando algumas coisas multiplas te parecem ser grandestalvez te pareccedila a ti que as olhas todas haver uma certa ideiauma e a mesma em todas donde acreditas o grande ser um16

Nela estaacute contido o dado de base isto eacute a existecircncia devaacuterias coisas sensiacuteveis que satildeo grandes ou seja uma multiplicidadeempiacuterica de indiviacuteduos dotados da propriedade F Ta lmultiplicidade se explica por referecircncia a ldquouma certa ideia uma e amesmardquo a ideia de grandeza ou em geral F-dade trata-se aqui doprinciacutepio do ldquoum sobre muitosrdquo

Quanto agrave autopredicaccedilatildeo cremos que ela opere noseguinte trecho

Mas e quanto ao grande mesmo e agraves outras coisas grandesSe olhares da mesma maneira com a alma para todos essesnatildeo apareceraacute de novo um grande um em virtude do qual eacutenecessaacuterio todas aquelas coisas aparecerem como grandes17

Parmecircnides sugere que o ldquogrande mesmordquo (auto to mega)isto eacute a ideia de grandeza e ldquoas outras coisas grandesrdquo (ta]lla tamegala) isto eacute a multiplicidade sensiacutevel de que se partiu sejamconsideradas ldquoda mesma maneirardquo expressatildeo que traduz oadveacuterbio grego w9sautwj aqui parece residir um sinal daautopredicaccedilatildeo18 Segundo o que fora haacute pouco admitido as coisassensiacuteveis satildeo grandes considerar ldquoda mesma maneirardquo - w9sautwj -a ideia de grandeza soacute poderia significar entatildeo predicar tambeacutemdela o ldquogranderdquo ou seja a autopredicaccedilatildeo

A autopredicaccedilatildeo eacute ainda mais visiacutevel na conclusatildeo doargumento

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Logo uma outra forma de grandeza apareceraacute surgindo aolado da grandeza mesma e das coisas que desta participam Esobre todas essas apareceraacute de novo outra de modo a emvirtude dela todas essas serem19 grandes E natildeo mais seraacuteuma cada uma das tuas formas mas ilimitadas emquantidade20

Na frase ldquotodas essas serem grandesrdquo (tau=ta panta megalae1stai) a referecircncia de ldquotodasrdquo patentemente inclui a ideia degrandeza de que se partiu bem como outras ideias de grandezaderivadas do regressus isto eacute afirma-se que as ideias de grandeza satildeograndes

Jaacute o princiacutepio de natildeo identidade estaacute apenas impliacutecito emtodo o trecho mas nem por isso ele eacute menos operante Bem aocontraacuterio sobre ele estaacute fundada toda a argumentaccedilatildeo a suposiccedilatildeoinicial de que existe uma ideia para dar conta duma multiplicidadeque possui a propriedade F estaacute baseada na convicccedilatildeo de que aposse dessa propriedade se explica por referecircncia a um indiviacuteduopor assim dizer externo ao grupo de indiviacuteduos caracterizados porF e quando a proacutepria ideia passa a ser caracterizada por F(autopredicaccedilatildeo) a mesma convicccedilatildeo impotildee a existecircncia dumanova ideia

Sendo assim estamos aptos a concluir que o terceirohomem tal como ele estaacute redigido no Parmecircnides conteacutem osprinciacutepios que acabamos de expor21 redundando portanto nadeflagraccedilatildeo de seacuteries infinitas de ideias platocircnicas isto eacute de acordocom as premissas do argumento cada propriedade F gera oconjunto infinito F-dade1 F-dade2 F-dade3 onde F-dade eacute umavariaacutevel que representa ideias platocircnicas

Antes de avanccedilarmos conveacutem prestarmos algunsesclarecimentos gerais acerca do terceiro homem e dos princiacutepiosque o constituem

32 OBSERVACcedilOtildeES TERMINOLOacuteGICAS

O famoso princiacutepio da autopredicaccedilatildeo eacute tambeacutem chamadopor alguns de princiacutepio da autoexemplificaccedilatildeo22 Isso reflete a

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Significado e estrutura do argumento do terceiro homem [] | Guilherme da C A Ceciacutelio

tentativa em si mesma correta de evitar o sabor linguiacutestico daexpressatildeo ldquoautopredicaccedilatildeordquo De fato predicaccedilatildeo eacute algo que aprinciacutepio diz respeito somente agrave linguagem mas as ideias natildeo satildeoentes linguiacutesticos natildeo satildeo predicados que se predicam de simesmos23 Ao contraacuterio o termo ldquoautoexemplificaccedilatildeordquo indicariaque se trata de um ente que se autoexemplifica isto eacute manifesta apropriedade a si associada a beleza exemplifica o belo etc

Embora concordemos com ta l observaccedilatildeo aautopredicaccedilatildeo jaacute eacute uma expressatildeo consolidada de modo quepreferimos mantecirc-la para natildeo acrescentar mais um elementocomplicador agrave discussatildeo

Analogamente alguns sugerem que a expressatildeo ldquonatildeoidentidaderdquo eacute infeliz o melhor nome para o princiacutepio seria ldquonatildeoautoexplicaccedilatildeordquo (non-self-explanation)24 porque o princiacutepio reza quese um determinado ente x possui a propriedade F a posse de F natildeopode ser explicada com apelo ao proacuteprio x sendo preciso um outroente ou seja y em funccedilatildeo do qual x possui F em suma a posse deuma propriedade natildeo se explica por referecircncia ao proacuteprioindiviacuteduo que a possui

Tal como no caso da autopredicaccedilatildeo mesmo concordandocom as ressalvas preferimos nos ater agrave terminologia consagradanesse caso o princiacutepio da natildeo identidade

4 SIGNIFICADO DO REGRESSO INFINITO NO PARMEcircNIDES

Eacute possiacutevel dividir o Parmecircnides em duas partes A primeiranarra o encontro verdadeiro acontecimento da filosofia nascentede Zenatildeo Parmecircnides e Soacutecrates que supostamente teria tidolugar por ocasiatildeo da visita dos eleatas a Atenas A segunda parteconteacutem a seacuterie de hipoacuteteses e deduccedilotildees que a personagem tiacutetuloleva a cabo na companhia dum jovem Aristoacuteteles homocircnimo doestagirita

Parmecircnides I consiste na apresentaccedilatildeo publica duma hipoacuteteseontoloacutegica seu propositor eacute um jovem promissor Soacutecrates quevecirc todavia sua hipoacutetese ser severamente criticada pelo experienteParmecircnides Trata-se dum momento privilegiado se eacute verdade que

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o corpus platonicum eacute perpassado pela discussatildeo das ideias elassempre surgem in medias res estando tacitamente suposto que osinterlocutores jaacute estariam familiarizados com as ideias antes que odiaacutelogo houvesse comeccedilado No Parmecircnides a teoria das ideias eacuteverdadeiramente apresentada aleacutem disso os interlocutores satildeoverdadeiros expertos capazes de discuti-la criticamente

Embora se trate duma discussatildeo muito breve quaseapressada pode-se haurir de Parmecircnides I o acircmago da teoria dasideias suas metas e sobretudo as aporias a ela relacionadas

A essecircncia da teoria estaacute presente na primeira intervenccedilatildeode Parmecircnides

Soacutecrates disse quatildeo digno eacutes de ser admirado pelo ardor quetens pelos argumentos Mas dize-me tu mesmo assim fizestea divisatildeo tal como falas de um lado certas formas mesmas deoutro as coisas que delas participam [metexonta] E te parecea semelhanccedila mesma ser algo separada da semelhanccedila quetemos e tambeacutem o um e as multiplas coisas e todas as coisasque haacute pouco ouviste de ZenatildeoParece-me que sim disse SoacutecratesSeraacute que tambeacutem disse Parmecircnides coisas tais como umacerta forma em si e por si do justo e tambeacutem do belo e dobom e ainda de todas coisas desse tipoSim disse ele25

Trata-se duma teoria ontoloacutegica que opera uma divisatildeo noreal de um lado certos entes as ideias e de outro as coisassensiacuteveis Essa dicotomia deve ser poreacutem nuanccedilada existetambeacutem algum tipo de relaccedilatildeo entre os dois polos como se sabePlatatildeo expressou tal relaccedilatildeo com vaacuterios termos mas o mais ceacutelebrede todos eacute a participaccedilatildeo meqecij

Mas dize-me o seguinte parece-te como dizes haver certasformas em tendo participaccedilatildeo [metalambanonta] nas quaisessas outras coisas aqui recebem suas denominaccedilotildees Porexemplo se tecircm participaccedilatildeo [metalabonta] na semelhanccedilaas coisas se tornam semelhantes se na grandeza grandes seno belo e na justiccedila justas e belasPerfeitamente disse Soacutecrates26

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Significado e estrutura do argumento do terceiro homem [] | Guilherme da C A Ceciacutelio

Passagens como essa sintetizam bem a razatildeo de ser dahipoacutetese das ideias visa-se explicar as caracteriacutesticas das coisassensiacuteveis tais como a grandeza a justiccedila etc Destarte a teoria dasideias forneceria um fundamento seguro para um dado sensiacutevelbruto as coisas sensiacuteveis satildeo sim grandes ou justas e elas o satildeoporque participam da ideia de grandeza ou da ideia de justiccedila Essanos parece ser uma explicaccedilatildeo de tipo causal eacute graccedilas agraves ideias queas coisas sensiacuteveis possuem suas propriedades27 E semelhantefunccedilatildeo causal das ideias eacute tambeacutem expressa ainda queresumidamente em outras passagens do Parmecircnides28 Dito issovoltemo-nos para o terceiro homem

Defendemos que os princiacutepios contidos no argumento doterceiro homem natildeo interagem de modo a produzir qualquercontradiccedilatildeo em sentido estrito como pretendeu Vlastos masunicamente um regressus ad infinitum Cabe agora nos determos umpouco mais no significado do regresso O problema pode serresumido na seguinte questatildeo por que ele seria indesejaacutevel oumesmo temiacutevel Vejamos mais uma vez o proacuteprio texto dodiaacutelogo

Creio que tu crecircs que cada forma eacute uma pelo seguinte quandoalgumas coisas multiplas te parecem ser grandes talvez tepareccedila a ti que as olhas todas haver uma certa ideia uma e amesma em todas donde acreditas o grande ser umDizes a verdade disse ele Mas e quanto ao grande mesmo e agraves outras coisas grandesSe olhares da mesma maneira com a alma para todos essesnatildeo apareceraacute de novo um grande um em virtude do qual eacutenecessaacuterio todas aquelas coisas aparecerem como grandesParece que simLogo uma outra forma de grandeza apareceraacute surgindo aolado da grandeza mesma e das coisas que desta participam Esobre todas essas apareceraacute de novo outra de modo a emvirtude dela todas essas parecerem grandes E natildeo mais seraacuteu m a c a d a uma das tuas formas mas ilimitadas emquantidade29

Mantivemos na citaccedilatildeo o grifo proposto pelos tradutoresdo diaacutelogo nas palavras ldquoumrdquoldquoumardquo correspondentes do

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numeral ei[j mia e3n De fato a noccedilatildeo de unidade numeacuterica eacuteessencial para o argumento ldquonatildeo mais seraacute uma cada uma das tuasformas mas ilimitadas em quantidaderdquo eacute a acusaccedilatildeo do velhoeleata

O tema do uno e do multiplo tem importacircncia capital noplatonismo De algum modo eacute essa a questatildeo que resume a teoriadas ideias uma teoria que supotildee uma unidade para explicar umamultiplicidade que natildeo eacute capaz de explicar-se a si mesma Massalientar a relevacircncia da questatildeo unomultiplo natildeo resolve ainda oproblema se natildeo se der uma explicaccedilatildeo do sentido exato dessapolaridade Em nossa opiniatildeo a unica resposta satisfatoacuteria tem dese apoiar sobre a noccedilatildeo de causa

A ideia eacute de algum modo responsaacutevel pela multiplicidadeldquoum grande um em virtude do qual eacute necessaacuterio todas aquelascoisas aparecerem como grandes [] ([]e3n ti [] mega []w |[tau=ta panta megala fainesqai []rdquo A ideia a unidade eacute aquilo emvirtude do que o multiplo eacute tal como ele eacute

Poder-se-ia levantar aqui uma dificuldade No trechocitado atribui-se agrave ideia de grandeza o poder de fazer as coisassensiacuteveis ldquoaparecerem [fainesqai] como grandesrdquo isto eacute a ideianatildeo faria com que a multiplicidade sensiacutevel seja grande Em outrostermos o que se tem expressis verbis eacute uma causalidade um tantocuriosa tratar-se-ia da causa do conhecer ou do perceber certacaracteriacutestica si licet duma causalidade epistemoloacutegica

Tal tipo de visatildeo nos parece equivocada A causalidade queas ideias tecircm de desempenhar eacute uma ldquocausalidade ontoloacutegicardquo asideias devem ser causa do ser das coisas e natildeo apenas dapercepccedilatildeo do sujeito Se assim natildeo fosse chegar-se-ia finalmenteaos antiacutepodas do platonismo as coisas sensiacuteveis jaacute estariamconstituiacutedas sem o contributo das ideias as quais serviriamunicamente para que o sujeito percebesse ou conhecesse osensiacutevel30

No entanto natildeo se deve conceder demasiada atenccedilatildeo aocaraacuteter fenomecircnico do verbo na passagem supracitada podemosargumentar que o sensiacutevel soacute aparece de determinado modoporque ele eacute desse modo e assim ele eacute em virtude das ideias A

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conclusatildeo do argumento retira qualquer duvida ldquoE sobre todasessas apareceraacute de novo outra de modo a em virtude dela todasessas serem grandes (kai e0pi toutoij au] pa=sin e3teron w[| tau=tapanta megala e1stai)rdquo31

Dito isso estaacute aberto o horizonte para a determinaccedilatildeo dareal natureza e forccedila da aporia do terceiro homem Natildeo se tratacomo defendeu Vlastos em seu artigo de 1954 duma fatalcontradiccedilatildeo mas sim dum regressus ad infinitum cujo sentido soacute sedesvela na associaccedilatildeo com a noccedilatildeo de causalidade entendida domodo ora defendido

O jovem Soacutecrates acaba de propor a hipoacutetese das ideias eParmecircnides lhe objeta dentre outras coisas que ela estaacute enredadanum regresso infinito Soacutecrates poderia talvez dar de ombros econtra-argumentar que enquanto for possiacutevel explicar determinadacaracteriacutestica presente na multiplicidade por exemplo a grandezapouco lhe importa que haja infinitas formas responsaacuteveis(causalmente) pela grandeza Se se atentar apenas para o ponto devista da proposiccedilatildeo duma hipoacutetese o regressus poderia ser vistocomo um constrangimento mas natildeo necessariamente como umaobjeccedilatildeo inescapaacutevel Quando se considera poreacutem o papel que anoccedilatildeo de causalidade desempenha no argumento eacute possiacutevelapreciar a verdadeira forccedila do terceiro homem

A hipoacutetese de Soacutecrates consiste em que determinadacaracteriacutestica tal como a grandeza que se encontra em multiplascoisas sensiacuteveis requer uma ideia em virtude da qual essas coisassensiacuteveis satildeo grandes Mas como a ideia de grandeza eacute por via daautopredicaccedilatildeo grande tambeacutem ela necessita duma ideia que seja acausa do fato de ela ser grande Se ex hypothesi terminasse aqui aseacuterie talvez natildeo houvesse problema haveria apenas um caso suigeneris em que uma propriedade exigiria duas ideias como causaEntretanto a segunda ideia a ideia de grandeza1 tambeacutem ela eacutegrande exigindo uma nova ideia que seja sua causa e assimsucessivamente Como poreacutem o que estaacute em jogo eacute um nexocausal a noccedilatildeo do ldquoassim sucessivamenterdquo torna-se imediatamentecriacutetica porque significa que nenhuma ideia se impotildee como causadaiacute resultando que nenhum efeito chegaria a ser causado dizer que

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determinado grupo de indiviacuteduos natildeo se explica por si mesmo eexige uma ideia em virtude da qual aquela multiplicidade se daacuteequivale a dizer que sem essa ideia a multiplicidade eacute que natildeo sedaacute a ideia eacute condiccedilatildeo sine qua non de determinada multiplicidade

Em suma o problema do regresso eacute justamente o seucaraacuteter infinito se natildeo fosse infinito haveria uma certa forma natildeoimporta ldquosobrerdquo quantas outras formas que seria a causa de tudoque ldquosobrdquo si se encontra Mas o caraacuteter infinito do regressoimpede justamente isso que haja a forma que seja a causa ultima(ou primeira como se preferir) da propriedade em questatildeo

A hipoacutetese de Soacutecrates parte dum fato haacute um grupo decoisas sensiacuteveis (a b c etc) caracterizadas todas elas por umpredicado F ests eacute o explanandum Trata-se do explanandumprecisamente porque estaacute suposto que uma multiplicidadecaracterizada por F natildeo se explica por si mesma nenhum de seusmembros eacute capaz de figurar como causa do fato de que ele mesmoe os demais membros desta multiplicidade possuem a caracteriacutesticaF sendo exigido portanto um explanans a ideia F-dade Mas F-dade tambeacutem possui a propriedade F a autopredicaccedilatildeo redundapois na inclusatildeo da ideia o explanans no grupo de coisas quecaracterizadas por F portanto no explanandum Tal operaccedilatildeo ainclusatildeo do explanans no explanandum eacute decisiva e ela se repete adinfinitum sempre que se postular uma nova ideia que se esperariaque funcionasse como definitivo explanans nesse exato momentoela recai no explanandum

A estrateacutegia de Parmecircnides ao formular essa aporia eacutemostrar que a doutrina das ideias em cujo acircmago estaacute a intenccedilatildeode explicar determinada multiplicidade sensiacutevel pode ser revertidae levada agrave autodestruiccedilatildeo precisamente no tocante agrave sua pretensatildeocausal Embora o argumento do terceiro homem natildeo revele umacontradiccedilatildeo stricto sensu inserida na teoria das ideias ele constituisem duvida uma temiacutevel dificuldade capaz de tornar supeacuterflua aproacutepria hipoacutetese das ideias

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ABSTRACT The Significance and Structure of the Third Man Argument inPlatos Parmenides

The Third Man Argument found in the Parmenides is aformidable objection to the Theory of Forms to which Plato didnot provide an explicit answer In the first part of this paper webriefly discuss the chronology of the Platonic dialogues trying tolocate the Parmenides in at least a plausible position We thenscrutinize the Third Man argument as it appears in the ParmenidesWe also evaluate the significance of the referred objectionespecially from the perspective of the Formsrsquo causal role

KEYWORDS

Theory of Forms Parmenides The Third Man Argument Self-predication Causality

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REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS BURNET John Platonis opera Oxford Clarendon Press 1967CHERNISS Harold The Relation of the Timaeus to Platos Later Dialogues TheAmerican Journal of Philology v 78 n 3 1957 p 225-266 COHEN Marc The Logic of the Third Man The Philosophical Review v 80n 4 1971 p 448-475 CORNFORD F M Plato and the Parmenides Parmenidesrsquo Way of Truth andPlatorsquos Parmenides translated with an introduction and a running commentaryLondon Routledge amp Kegan Paul 1939FERRARI Franco Parmenide Milano BUR 2007 FRONTEROTTA Francesco ΜΕΘΕΞΙΣ La teoria platonica delle Idee e lapartecipazione delle cose empiriche - Dai dialoghi giovanili al Parmenide PisaScuola Normale Superiore 2001GUTHRIE W K C A History of Greek Philosophy Later Plato and theAcademy Cambridge Cambridge University Press 1978JAEGER Werner Aristotelis Metaphysica Oxford Oxford University Press1957MEINWALD Constance Good-bye to Third Man in KRAUT Richard TheCambridge Companion to Plato New York Cambridge University Press1993 p 365-396MORAVCSIK Julius Recollecting the Theory of Forms in WERKMEISTER W HFacets of Platorsquos Philosophy Assen Van Gorcum 1976 p 1-20OWEN GEL The Place of Timaeus in Platorsquos Dialogues Classical Quarterlyv 3 n 12 1953 p 79-95PETERSON Sandra A Reasonable Self-Predication Premise for the Third ManArgument The Philosophical Review v 82 n 4 1973 p 451-470PLATAtildeO Parmecircnides Traduccedilatildeo introduccedilatildeo e notas de Maura Igleacutesias eFernando Rodrigues Satildeo Paulo Loyola 2003SAYRE Kenneth Platorsquos Late Ontology a Riddle Resolved Las VegasParmenides Publishing 2005 SILVERMAN Allan The Dialectic of Essence a Study of Platorsquos MetaphysicsPrinceton Princeton University Press 2002 STRANG Colin Plato and the Third Man Proceedings of the AristotelianSociety v 37 1963 p 147-164VLASTOS Gregory The Third Man Argument in the Parmenides ThePhilosophical Review v 63 n3 1954 p 319-349______ Platorsquos lsquoThird Manrsquo Argument (Parm 132 A1-B2) Text and Logic ThePhilosophical Quarterly v 19 n 77 1969 p 289-301 ______ Platonic Studies Princeton Princeton University Press 1981 (1aed 1973)

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1 Sabe-se que a expressatildeo ldquoteoria das Ideiasrdquo eacute puramente didaacutetica natildeoencontrando paralelo nos textos de Platatildeo Servimo-nos livremente dela nesteartigo por julgar que feitas certas ressalvas ela eacute inofensiva e tambeacutem util Eacuteevidente que ao falarmos de ldquoteoria das Ideiasrdquo natildeo pretendemos atribuir aPlatatildeo um tratamento perfeitamente sistemaacutetico da questatildeo das Ideias o termoldquoteoriardquo certamente natildeo estaacute sendo usada no mesmo sentido que em ldquoteoria darelatividaderdquo por exemplo Contudo eacute inegaacutevel que se encontra espalhadapelos escritos de Platatildeo a recorrente afirmaccedilatildeo de que existem certos entesinteligiacuteveis eacute pois conveniente chamar de ldquoteoriardquo o conjunto destasafirmaccedilotildees acerca das Ideias ou se se preferir eacute possiacutevel fazer-lhe referecircnciacom as expressotildees ldquodoutrinardquo ou ldquohipoacutetese das Ideiasrdquo2 PLATAtildeO Parmecircnides 135b-d3 Talvez sua fama seja ainda maior ldquothe most famous argument in ancient philosophyrdquo(SILVERMAN 2002 p 110 apud FERRARI 2007 p 64) 4 ARISTOacuteTELES Metafiacutesica 990b15-17 Para um inventaacuterio da histoacuteria doargumento do Terceiro Homem ver CORNFORD 1939 p 87-955 PLATAtildeO Parmecircnides 131e-132b e 132d-133a6 Chamaremos de Parmecircnides I a primeira parte do diaacutelogo (126a-137c) em que ojovem Soacutecrates vecirc sua hipoacutetese das Ideias ser atacada pelos eleatas e deParmecircnides II (137c-166c) a seccedilatildeo que conteacutem as diversas ldquohipoacutetesesrdquo Propomostal divisatildeo de modo didaacutetico sem nos comprometermos com hipoacutetesesheterodoxas tais como a que foi propugnada por Sayre o qual sustentalanccedilando matildeo inclusive duma abordagem estilomeacutetrica que Parmecircnides I tenhasido escrito num periacuteodo anterior e distante do periacuteodo de composiccedilatildeo deParmecircnides II cf SAYRE 2005 p 256-2717 Neste caso eacute indispensaacutevel fornecer alguma interpretaccedilatildeo dos diaacutelogoscomumente aceitos como sendo posteriores ao Parmecircnides O Teeteto constitui umrelevante sustentaacuteculo para tal linha exegeacutetica uma vez que natildeo conteacutem clarasreferecircncias agraves Ideias o Sofista eacute por sua vez frequentemente objeto deinterpretaccedilotildees deflacionaacuterias no tocante agraves Ideias as quais nestes casos tecircm oseu estatuto de realidades subsistentes e transcendentes posto em xeque emfavor do seu caraacuteter loacutegico-linguiacutestico O Filebo patenteia uma ldquonova ontologiardquoou pelo menos introduz novos termos que nem sempre satildeo facilmenteharmonizaacuteveis com a teoria das Ideias em sua versatildeo standard Quanto ao Timeudiaacutelogo que poderia resolver a controveacutersia uma vez que sua linguagem eacute emtudo semelhante agrave das grandes obras do periacuteodo maduro de Platatildeo emergiu noseacuteculo XX uma querela acerca de sua dataccedilatildeo Seria temeraacuterio entrarmos nosdetalhes dessa discussatildeo mas grosso modo defendeu-se que o Timeu natildeo estivesseentre os diaacutelogos da velhice e sim fizesse parte do periacuteodo da maturidadeResolver-se-ia assim o grande entrave agraves teses mais radicais acerca da evoluccedilatildeoda filosofia de Platatildeo cf OWEN 1953 CHERNISS 19578 MEINWALD 1993 p 389-3909 Idem ibidem p 39010 Guthrie (1978 p 60) apresenta um argumento semelhante 11 Remetemos a Fronterotta (2001) para uma interessante e soacutebria anaacutelise daldquoevoluccedilatildeordquo da teoria das Ideias segundo a qual a teoria se modificou sem jamaisrenunciar ao seu nucleo a saber a condiccedilatildeo subsistente e transcendente dasIdeias 12 O locus claacutessico eacute Feacutedon 96a-105c mas referecircncias agrave etiologia podem serencontradas em muitos lugares Eis algumas das passagens mais significativasPLATAtildeO Repuacuteblica 507a-509c PLATAtildeO Timeu 18a-b 28a 28b-c 29d-30a PLATAtildeOFilebo 26e-27c Ver tambeacutem FERRARI 2007 p 39-4113 PLATAtildeO Parmecircnides 132a-b14 Neste importante artigo Vlastos (1994) defendeu a tese radical de que aobjeccedilatildeo do Terceiro Homem redundaria numa contradiccedilatildeo stricto sensu entreduas das premissas do argumento posiccedilatildeo errocircnea que ele mais tarde veio aretificar neste outro importante artigo sobre o tema Vlastos 1969Empreendemos uma anaacutelise detalhada destes trabalhos de Vlastos num artigoque publicado pela revista Claacutessica ndash Revista Brasileira de Estudos Claacutessicos

15 Este princiacutepio eacute explorado por comentadores de liacutengua inglesa sob o nomeldquoOne over Manyrdquo frequentemente abreviado ldquoOMrdquo cf STRANG 1963 COHEN1971 16 PLATAtildeO Parmecircnides 132a17 PLATAtildeO Parmecircnides 132a18 Assim o observa Franco Ferrari (2007 p 217 nota 50)19 Permitimo-nos substituir aqui a opccedilatildeo dos tradutores ldquopareceremrdquo porldquoseremrdquo uma vez que no grego se tem a forma verbal e1stai20 PLATAtildeO Parmecircnides 132a-b21 Ativemo-nos agrave ldquoprimeira versatildeordquo do Terceiro Homem presente no Parmecircnidesjulgamo-nos dispensados de fazer a mesma anaacutelise da ldquosegunda versatildeordquondashcontida em Parmecircnides 132c-133a ndash porque tal como Vlastos acreditamos queambas as ldquoversotildeesrdquo conteacutem as mesmas etapas loacutegicas 22 Em inglecircs self-exemplification cf MORAVCSIK 197623 O proacuteprio Vlastos (1969 p 300 n 36) reconhece a utilidade de semelhantedistinccedilatildeo ldquoI so labelled this assumption in 1954 under Taylors influence who hadidentified it uncritically with the closely related assumption that a character can be predicatedof itself which generated the Russellian paradox Since I did not impute just this assumptionto Plato ndash I was not maintaining that what was predicated of F-ness was F-ness itself insteadof F ndash I should have made it clear then [hellip] that Self-Predication if used at all could onlybe used with a certain licence As Sellars had pointed out (1955 p 414) the assumptionwhich is being made here ldquowould be formulated more correctly as The adjective correspondingto the name of any Form can correctly be predicated of that Formrdquo Some such label asHomocharacterization would have been more exact and I have tried at times to switch to thisin lectures and seminars But Self-Predication is now firmly entrenched in the literature and Isee no harm in its continuing use subject to the above provisordquo24 cf PETERSON 1973 p 45325 PLATAtildeO Parmecircnides 130a-b26 PLATAtildeO Parmecircnides 130e-131a27 Como aludimos no item 23 deste trabalho ao utilizarmos aqui a noccedilatildeo decausalidade natildeo nos comprometemos com o ecircxito completo da funccedilatildeo causaldas Ideias ou da doutrina da participaccedilatildeo a qual eacute como sabemos pelo proacuteprioParmecircnides uma doutrina eivada de problemas Quando afirmamos que as Ideiassatildeo causa do sensiacutevel queremos significar apenas que elas satildeo um elementonecessaacuterio mas natildeo suficiente para que as coisas sensiacuteveis sejam tais como satildeoAssim se dizemos que a Ideia de Mesa eacute causa da mesa de madeira certamenteela natildeo eacute o unico elemento responsaacutevel pela mesa de madeira sendoindispensaacuteveis tambeacutem a proacutepria madeira e um artesatildeo28 cf PLATAtildeO Parmecircnides 128e-129a PLATAtildeO Parmecircnides 131c-d29 PLATAtildeO Parmecircnides 132a-b30 Tal posiccedilatildeo que remete agraves interpretaccedilotildees neokantianas da filosofia de Platatildeo eacute firmemente contestada por Francesco Fronterotta (2001 p 206-222)31 Traduccedilatildeo ligeiramente modificada

Identidad ritual y performance [hellip] | Maria del Pilar

Identidad ritual y performance unanaacutelisis de los primeiros dos versos deSuplicantes de Esquilo1

Mariacutea del Pilar Fernaacutendez Deagustini

RESUMEN

La recitacion que acompana la marcha anapestica (v 1-39) que dainicio a la performance de Suplicantes de Esquilo presenta dos de lostres componentes baacutesicos de un himno2 epiacuteklesis (v 1-3) y eucheacute (v23-39) La epiacuteklesis indirecta (Er-Stil v 1- 2) establece el contactoentre los hablantes ndash las Danaides que integran el coro ndash y eldestinatario divino ndash Zeus ndash confiriendole a la recitacion caraacutecterhiacutemnico desde la primera palabra Se trata de una composicion dedos versos extremadamente simple la mencion del dios al que sedirige el himno su epiacuteteto y el llamado de atencion que introduceal hablante Nuestro trabajo pretende demostrar que no obstantela brevedad de la epiacuteklesis cada elemento condensa sentidosfundamentales para la interpretacion de la oda inicial y de la matrizritual en la que se inscribe la composicion de la obra comototalidad

PALABRAS-CLAVE

Ritual performance Suplicantes Esquilo

SUBMISSAtildeO 15 nov 2017 | PUBLICACcedilAtildeO 31 dez 2017

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Caliacuteope Presenca Claacutessica | 20172 Ano XXXIV Numero 34

n anaacutelisis de la oda inicial de Suplicantes de Esquiloinvolucra dos aspectos fundamentales Como se tratade un drama carente de prologo en el que el cantocoincide con la inauguracion de la accion insta aconjeturar por un lado acerca de la puesta enescena por otro lado acerca de que modo seintroduce la urdimbre de sucesos que configuran latrama Desde nuestra perspectiva teorica que sea c e r c a a l a t r a g e d i a c o m o u n g e n e r ofundamentalmente coral y descansa en nocionesclave como ldquopoesiacutea de ocasionrdquo3 ldquoproyeccioncoralrdquo4 ldquointeraccion genericardquo y ldquometacoralidadrdquo5

ambos aspectos de esta oda estaacuten atravesados por lamanera como el dramaturgo compuso su sustancia

ritual es decir de que generos liacutericos se valio en la performance Laoda inicial integra en su composicion elementos del himno y deltreno que se alternan y se subvierten para crear una atmosferaparticular desde los primeros versos En el presente artiacuteculoconcentramos nuestra atencion en la integracion generica de la odatraacutegica con el himno del cual analizaremos un componenteesencial la epiacuteklesis que establece el contacto entre los hablantes yel destinatario divino

Como senalamos la primera oda de extraordinariaextension (v 1 -175)6 sintoniza con la apertura de la obra Elexotico coro7 conformado por las hijas de Daacutenao habriacuteaingresado al teatro formando una fila al ritmo de los anapestos8

tras los cuales se habriacutea ordenado en la orcheacutestra La escena habriacuteasugerido la presencia de un altar elevado y probablemente deimaacutegenes divinas que son invocadas con posterioridad9 Daacutenao supadre habriacutea aparecido en el ultimo lugar de esa misma filacoincidiendo con la mencion de su nombre en el v 1110 Estosdatos acerca de la performance son fundamentales para poder recrearla poiacuteesis de Esquilo pensada para un espectador del siglo V aunquesin duda el dato escenico maacutes elocuente lo constituyen los ramosde suplicante envueltos en lana blanca que afirman empunar lasjovenes en sus manos (v 21-22 v 191-193) La vision de este

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objeto habriacutea orientado raacutepidamente las expectativas del publicoque habriacutea visto entrar a los personajes y tomar lugar en el altarhabriacutea reconocido las insignias y comprendido entonces elcaraacutecter ritual de la ocasion11

Desde el punto de vista formal la oda inicial de Suplicantesse compone de dos grandes partes entre los v 1-39 el espectaacuteculose inicia con el ingreso del coro (y Daacutenao) a traves de la eiacutesodos enmarcha anapestica Llamamos a esta seccion la parte dinaacutemica yaque se trata de la puesta en escena de un himno procesional querepresenta tres transiciones una espacial (de Aacutefrica a Grecia) unatemporal (de un pasado reciente que constituye el motivo de huidaal presente fin de la fuga) y una cultural (segun la cual lasDanaides africanas ponen en praacutectica un ritual griego) Luegodesde el v 40 y hasta su final en el v 175 el coro ya instalado enel espacio de la orcheacutestra desarrolla un extenso canto liacutericoconstruido sobre la base de ocho sistemas Llamamos a estaseccion la parte estaacutetica dado que el coro representa con lallegada al altar el fin de su viaje y el comienzo del ritual de suplicapara conseguir asilo en Argos Solo cuando le sea asegurado elnuevo traacutensito en un movimiento colectivo y organizado el coroabandonaraacute el altar esta vez hacia el centro de la ciudad En estesent ido Suplicantes como paradigma de las tragedias quepertenecen al Altarmotiv12 subraya el protagonismo de la ritualidadpues el espectador nunca pierde de vista al suplicante ni el espaciosagrado

Desde la perspectiva de un espectador del siglo V aC laconducta religiosa representaba un complejo de discursos yacciones faacutecilmente reconocible intrincadamente unido a otrasaacutereas de su vida social Como senalan Furley y Bremer13 el himnopuede distinguirse del habla coloquial o de la cancion coral porvarias caracteriacutesticas (melodiacutea metro ritmo acompanamientomusical danza repeticion en una misma ocasion) pero su esenciareside en la entidad hacia la cual se dirige la composicion un dios ocompaniacutea de dioses Directamente asociado con el destinatarioreside su proposito adorar al dios tiene el objetivo de ganar subenevolencia y asegurar su asistencia o favor14 Ademaacutes estos

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autores senalan la familiaridad del himno con la suplica con la cualcomparte la misma meta15 La diferencia entre ambos tiposdiscursivos reside en que el himno es un producto artiacutestico maacutesacabado que la plegaria pues emplea tecnicas refinadas de elogio ypersuasion que lo convierten en un obsequio en un ἄγαλμα verbal

En el mundo griego arcaico y claacutesico las procesiones erantiacutepicamente acompanadas de himnos enfocados en la transicionespacial de la ciudad hacia el templo y en particular hacia el altar16

Precisamente por este motivo es probable que Esquilo eligieraabrir su obra directamente con el ingreso del coro a escena enlugar de la composicion de un prologo dado que el espectaacuteculo dela procesion coral era capaz de exponer mejor su propuestadramaacutetica Considerar la posibilidad de una opcion en terminos decomposicion artiacutestica diluye uno de los argumentos maacutes poderososa favor de la impronta arcaica de la tragedia su carencia deprologo17 Segun nuestro punto de vista Esquilo sustituye el iniciode la obra con una escena estaacutetica por la performance de una escenadinaacutemica de marcha que tiene la capacidad de sintetizar en elmetro18 el itinerario Egipto-Argos realizado por las Danaides Deeste modo el estado de fuga puede re-presentarse en el escenarioAsimismo Esquilo parece haber elegido no retrasar la llegada delos protagonistas19 a quienes se muestra llegando desde elextranjero ingresando a un territorio extrano y permaneciendo enla periferia en un recinto sagrado alejado del centro ciacutevico elsantuario publico de Argos (39)20

Tal como senalan Furley-Bremer ciertos himnos puedenser usados por el dramaturgo para crear una atmosfera tanto paraincrementar la tension en una situacion ya tensa o como un fondoironico contra el cual la accion subsecuente se despliegacontrariamente a la expectativa21 Particularmente la oda inicial deSuplicantes ilustra como el dramaturgo utilizo el himno paraestructurar el desarrollo y sentido de la trama total de la obra puestiene la funcion de definir el horizonte significante dentro del cualse inscribiraacute la actuacion particular de este coro Por un ladoconstituye la evocacion de los sucesos pasados por el otro es laclave y el punto de partida del codigo de comportamiento que

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regiraacute los actos sucesivos reconocido tanto por los personajes dela obra dentro de los liacutemites de la ldquoilusion teatralrdquo como por laaudiencia22

Asimismo la apertura procesional imprime una diferenciade tonalidad espacio y ocasion condicionan el discurso que debeser liacuterico maacutes que retorico Sin embargo su alcance persuasivo noes menor ya que el ritual confiere cierto poder encubierto alsuplicante23 La ventaja que supone el registro liacuterico reside en lafacultad de cumplir con dos cometidos ofrecer un medio legiacutetimode exhortacion a la accion y producir un efecto de seduccionporque permite exteriorizar la emocion

La recitacion que acompana la marcha anapestica detentados de los tres componentes baacutesicos de todo himno24 epiacuteklesis (v1-3) y eucheacute (23-39) La epiacuteklesis establece el contacto entre elloshablantes y el destinatario divino por lo cual suele estar al iniciola eucheacute en la que se formula la peticion como constituye el cliacutemaxusualmente se encuentra al final Enmarcado entre ambas partesresta el tercer componente lo que Furley y Bremer llaman ldquomiddlesectionrdquo y se trata de la parte compuesta para ganar el favordivino25 En la parte dinaacutemica de la oda inicial la seccion media (v4-22) se modifica sustancialmente proponiendo una inversion sehace hincapie en el suplicante en lugar del suplicado porque en elinicio del drama se impone la necesidad de exponer los motivosque justifiquen la performance26

A pesar de su brevedad la epiacuteklesis de la parte dinaacutemicamerece un anaacutelisis pormenorizado no solo por su funcion sinotambien por su emplazamiento La primera asocia hablante (lasdanaides que componen el coro) y destinatario interno (Zeus) elsegundo establece un marco de referencia que oficia como puenteentre los sucesos intradramaacuteticos y el espectador El proposito deesta comunicacion es demostrar que no obstante la fugacidad de laepiacuteklesis cada elemento condensa sentidos fundamentales para lainterpretacion de la oda inicial y de la matriz ritual en la que seinscribe la composicion de la obra como totalidad

L a epiacuteklesis indirecta (Er-Stil)27 confiriere a la oda caraacutecterhiacutemnico desde la primera hasta la ultima palabra Efectivamente la

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oda completa estaacute enmarcada por una composicion anular ya queen su ultimo verso (175) el participio καλούμενος (tambien alliacuteconcertado a Zeus) retoma la idea de esta invocacion inicial28 Laepiacuteklesis propone una composicion extremadamente simple lamencion del dios al que se dirige el himno su epiacuteteto y el llamadode atencion que introduce al hablante Recitan las Danaides

Ζεὺς μὲν ἀφίκτωρ ἐπίδοι προφρόνωςστόλον ἡμέτερον νάιον ἀρθέντ (v 1-2)29

Que Zeus protector de los recieacuten llegadoscontemple ya con mente predispuesta nuestraformacioacuten coral impulsada en una nave 30

Analicemos entonces los componentes de estaconvocatoria Zeus estaacute ubicado significativamente en la posicioninicial del primer verso de la obra y es el sujeto de un energicodesiderativo realizable (ἐ πίδοι) que da comienzo a la suplicaConsiderado en el sentido maacutes amplio el epiacuteteto ἀ φί κτωρ unhaacutepax31 en lugar de Hikeacutesios32 insiste en los dos puntos de estatransicion el traslado espacial y cultural de los personajes33 y sucondicion de marginalidad ya que para los griegos los ldquorecienllegadosrdquo no son de ninguna parte34 La novedosa composicion delapelativo formado ad hoc por lo tanto subraya al mismo tiempo laocasion y la condicion especiacutefica del suplicante mientras cumplecon la norma esperada respecto de las referencias a la divinidad Alrespecto nota Kavoulaki (2011) que el epiacuteteto pone en primerplano el hecho de la llegada (ἄφιξις) del coro que estaacute iacutentimamenteconectada con la tercera palabra de la frase la forma ἐπίδοι35

Efectivamente la forma ἐπίδοι indica la primera accion de la obrael pedido de atencion por parte del dios Lo maacutes significativo esque esa atencion debe alcanzarse a partir de la mirada

El verbo ἐφοράω compuesto de ὁράω combina el aspectosensible y el inteligible Flores (2007) quien ha estudiado el sentidode la vision en Esquilo sostiene que el dramaturgo ldquointroduce enlas palabras un rasgo morfologico que apunta a un matiz particularantepone la preposicion ἐπί a verbos de vision cuando son los

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dioses quienes miran Esta es una tendencia constante que comotal no se da en los otros traacutegicosrdquo36 De este modo ἐπί senalariacuteauna diferencia radical entre el ser hombre y ser dios que la autoraentiende como ldquomirar sobre tener los ojos sobre vigilarrdquo37 propiadel acto de ver divino Compartimos con la autora el hecho de quese marca una capacidad de mirar distinta no obstante creemosque no es exclusiva del dios ya que cuando demanda la mirada deZeus el coro subraya el acontecimiento de su aparicion suadvenimiento a la vista de otro su aparicion espectacular38 Por lotanto el verbo tambien hace referencia impliacutecita a la mirada delpublico que como el dios puede ver maacutes allaacute de lo que se ofreceante sus ojos39 Segun esta disquisicion proponemos otratraduccion del verbo maacutes ajustada al contexto senalado ἐφοράωcomo ldquocontemplarrdquo dado que las tres acepciones del espanolapuntadas por la Real Academia todas ellas transitivas se ponenen juego en esta accion Conforme este sentido los espectadorestanto como el dios 1 ponen atencion en algo material (laformacion coral) 2 consideran (juzgando) a las jovenes y 3 lascomplacen son condescendientes con ellas mientras se hacenvisibles40

Como advierte Flores Esquilo usa el verbo ἐφοράω parasuplicar cada vez que se indica el llamado de atencion a traves dela vision En este caso la eleccion de un verbo de percepcionvisual no es azarosa porque ademaacutes de convocar al publico apelaal campo de la emocion a diferencia de los verbos de percepcionauditiva que tienen tendencia a asociarse al campo de lapersuasion y obediencia La vision no necesita del juego de laspalabras para convencer sino que pone a quien ve en el lugar detestigo y no de mero observador Por lo tanto es posible afirmarque la eleccion del verbo va de la mano de la eleccion de laapertura liacuterica es decir sin prologo el caso de las Danaides almenos en el comienzo pretende no ser amenazado por la retoricaLa esperanza estaacute puesta en cambio en el poder conmovedor dela mirada Precisamente Suplicantes compromete una apuesta a laexploracion de sentido en el aspecto visual ya que la oacutepsis habriacuteabuscado provocar el desconcierto del espectador41 la presencia de

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las hiacutebridas suplicantes en escena baacuterbaras de apariencia perogriegas en cuanto a su comportamiento ceremonial debe habersido el principal factor de impacto dramaacutetico desde el inicio hastael final de la tragedia En cuanto a ἐφοράω la forma de aoristoremarca ademaacutes la puntualidad de la accion dado que las Danaidesexpresan la necesidad de la mirada inmediata Justamente para darcuenta de la inminencia en la traduccion del verso 1 optamos porel agregado del adverbio ldquoyardquo que enfatiza la exigencia al punto alinstante

El adverbio προφρόνως que complementa a ἐφοράω sumainformacion al pedido pues implica absoluta confianza en el diosque segun se supone tiene ojos justos προφρόνως puede sertraducido como ldquoamablementerdquo ldquoseriamenterdquo o ldquocon voluntadapropiadardquo segun indica el Diccionario de Oxford (LSJ)42 Sinembargo este adverbio tiene las raiacuteces de πρό y φρήν43 lo queadmite la traduccion por una periacutefrasis que combine amboselementos La propuesta ldquocon mente predispuestardquo parece ser maacutesacertada porque insiste simultaacuteneamente sobre los tres sentidos deἐ φοράω (prestar atencion juzgar y ser condescendiente) ademaacutesde ser coherente con el modo desiderativo propio del himno lapredisposicion de la mente de Zeus y de los espectadores consisteen que al ver a las Danaides antes de decidir sobre su caso susolicitud (1) presten atencion a los ramos que llevan en sus manos(2) juzguen que aunque baacuterbaras practican el ritual propio de latierra local y (3) sean condescendientes con su condicion desuplicantes

Por eso es necesario agregar que en sus observacionesacerca del verbo inicial ἐφοράω Kavoulaki ha senaladopertinentemente la superposicion de los planos performativo ydramaacutetico pero ha perdido de vista el caraacutecter de laespectacularidad sobre la que se pide atencion el arribo de estecoro es espectacular desde una apreciacion multimediaacutetica porquelo que se ve y lo que se escucha producen una combinacion unicainarmonica desacoplada contradictoria disonante El epiacutetetoἀφί κτωρ el adverbio προφρόνως y los versos que siguen insistensobre la singularidad de los personajes que el publico empieza a

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ver delante de sus ojos las danaides y su padre revisten unanaturaleza marginal e hiacutebrida que se manifiesta en el lenguajegriego con matices Egipcios44 pero fundamentalmente en elchoque entre apariencia y comportamiento Lo que las Danaidesdesean que Zeus (y los espectadores) vean con buenapredisposicion es que aunque no parezcan argivas (tal como loinforma el aspecto sensible del verbo) puedan ser reconocidascomo tales a partir de su conducta (lo que involucra el aspectointeligible del mismo verbo) Ellas luego se encargaraacuten dedemostrar a traves de la retorica del canal auditivo que estacondicion griega que practican es una exteriorizacion de suspropias raiacuteces45

Finalnalmente los elementos fundamentales de la epiacuteklesisse completan con la referencia a la identidad del emisor στόλον esel sustantivo a traves del cual se autopresentan las Danaides queeligen no revelar su identidad hasta el verso 11 cuando se dicenldquohijas de Daacutenaordquo El uso de στόλον no es inofensivo No refiere aun grupo ordinario de gente a una mera tripulacion sino queacentua un aacuterea semaacutentica especiacutefica la del ritual46 στόλον senala atraves de sus ejecutores la ocasion una accion coral que se dasimultaacuteneamente en el mundo interno dramaacutetico (que contemplaZeus) y en el externo teatral (que contemplan los espectadores enel contexto del festival) Kavoulaki advierte acertadamente estesentido del termino pero la traduccion que propone ldquobandrdquo(banda)47 no cifra su complejidad semaacutentica El sustantivo στόλονcomparte su raiacutez con el verbo στέλλω que significa ldquoprepararrdquo48 ensu forma activa y ldquodespacharrdquo ldquoenviarrdquo en la pasiva El camposemaacutentico al que se asocia es usualmente el militar49 Ciertamenteel dominio belico no es ajeno al mito sobre el que se compone estatragedia pues conocemos que la suplica a Zeus primero y a Argosdespues derivaraacute en una guerra entre Argivos y Egipcios Porconsiguiente nuestra interpretacion de στόλον como ldquoformacionrdquobusca integrar el sentido militar y el ritual El enfasis de esta opcionde traduccion por otra parte estaacute puesto en la nocion dehomogeneidad (propia de este personaje colectivo) dada por elorden resaltando por lo tanto la existencia de un proceso no

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solamente previo sino tambien deliberado y de un agente quecomo autoridad establece dicho orden ldquoFormacionrdquo admite eljuego entre el sustantivo στόλος (2) y el adjetivo στασίαρχος (11)con el que se califica a Daacutenao la primera vez que es mencionado 50

correlacion que permite tanto activar el sentido de la ocasionperformativa como revelar cuaacutel es la estrategia de este grupo demujeres lideradas por su padre suplicar como maniobra de poder

El pedido de contemplacion al grupo como formacioncoral-ritual que se antepone a las demandas personales implica elinteres por conquistar los fueros de un poder que se fundamentaen la paradoja dado que la suplica es coercion disfrazada deimpotencia y necesidad51 La primera mencion de las Danaides espor consiguiente en el rol de objeto paciente asumiendo un lugarde subordinacion ante la mirada divina52 Por el contrario eldominio del dios se ve destacado no solo en el rol de agente quereviste sino tambien en su ubicacion en la posicion inicial delprimer verso de la suplica y del drama

En conclusion la epiacuteklesis demuestra ser clave para lainterpretacion de la oda y el desarrollo de la obra porque estableceun puente entre la seccion narrativa que se iniciaraacute y el nivelperformativo potenciando el sentido de la ocasion y suconveniencia Asimismo este anuncio consciente de roles eidentidades rituales vuelve maacutes ostensible la hibridez de las recienllegadas protagonistas que dejaraacuten filtrar sobre el final de la odainicial la perversion de su programa ritual Los desesperadosultimos versos del canto blasfeman a Zeus dios destinatario de lasuplica No obstante la alteracion de la norma es tema para otracomunicacion

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RESUMO

Identidade ritual e performance uma anaacutelise dos primeiros doisversos de Suplicantes de Eacutesquilo

A recitacatildeo que acompanha a marcha anapestica (v 1-39)que daacute iniacutecio agrave performance de Suplicantes de Eacutesquilo apresentadois dos trecircs componentes baacutesicos de um hino (Furley-Bremer2001) epiacuteklesis (v 1-3) e eucheacute (23-39) A epiacuteklesis indireta (Er-Stil v1-2) estabelece o contato entre os falantes ndash os Danaides quecompotildeem o coro ndash e o destinataacuterio divino ndash Zeus ndash dando agraverecitacatildeo um caraacuteter hiacutenico desde a primeira palavra Eacute umacomposicatildeo de dois versos extremamente simples a mencatildeo dodeus a quem o hino e dirigido seu epiacuteteto e o chamado da atencatildeoque apresenta o falante Nosso trabalho tenta demonstrar queapesar da brevidade da epiacuteklesis cada elemento condensa ossentidos fundamentais para a interpretacatildeo da ode inicial e damatriz ritual na qual a composicatildeo da obra se inscreve como umtodo

PALAVRAS-CHAVE

Ritual performance Suplicantes Eacutesquilo

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1 Este trabajo ha sido presentado como ponencia en las VIII Jornadas de EstudiosClaacutesicos y Medievales realizadas en la ciudad de La Plata durante los diacuteas 18 19 y20 de septiembre de 20172 FURLEY BREMER 20013 CALAME 19774 HENRICKS 1994-19955 SWIFT 20106 Parry (1978 p 50-51) la incluye dentro del grupo que denomina ldquomassiveodesrdquo constituido por aquellas que superan los cien versos ldquoThe grand-scaleodes are more spacious and more leisurely What they need and get is a broadsuperestructure one that a Greek audience would be well familiar with ndash thehymn or hymn derivative (hellip) Within this superestructure there is room forldquodigressionsrdquo to develop and we constantly savour exquisite descriptions andreflections ranging from the pathetic to the profoundrdquo (p 53) La observacionde Kitto (2011 p 4) tambien resulta interesante ldquothe ode one-sixth of thewhole play would take something like fifteen minutes in performance the timeof an ordinary symphony-movementrdquo7 Sobre su complexion y sus trajes baacuterbaros 120-122 = 131-133 234-237 432No descartamos la propuesta de Sandin (2003 37) quien sugiere la posibilidadde que la mitad o un tercio de las jovenes presentara indicios de pertenencia aun rango inferior y no cargara ramos de suplicante Estas servidoras de lasDanaides no seriacutean mencionadas hasta el final del drama (954 977) Sinembargo desde nuestro punto de vista su presencia no amerita su participacionen la ultima oda tal como se explica en el apartado I41 En cuanto a la cantidadde coreutas es improbable que hayan sido cincuenta tal como han sostenidoquienes consideraban a Suplicantes una obra primitiva Evidencia textual internaparece favorecer el numero de doce (204-224) Sobre el numero de miembrosdel coro Taplin (1977 437)8 Sobre anapestos de marcha West (1982 p 53-54) El metro se emplea siempreque la apertura del drama es llevada adelante por el coro Actualmente latendencia es aceptar que los anapestos de marcha eran generalmente recitativos(acompanados por el auloacutes) Segun Pickard-Cambridge (1988 p 160) ldquothis maybe taken as certain where they are uttered by the chorus as they enter theorchestra preceded by the flute player as at the beginning of Persae andSuppliants and in Agamemnon 40-130 or when they form an introduction to asung choral ode as in Persae 532-47hellip and Eumenides 307-20rdquo En algunasediciones o traducciones sin embargo se indica que el coro ldquocantardquo9 En el apartado II3 profundizamos sobre la configuracion empleo ysignificacion de los espacios escenicos en la obra 10 El texto no ofrece evidencia acerca del ingreso de Daacutenao y por lo tantopersisten las controversias en torno al momento exacto de este suceso escenicoUnos conjeturan que habriacutea llegado junto al coro (1) otros en el momento de suprimer discurso (176) La primera alternativa es la preferida de los criacuteticos en laactualidad -por ejemplo Taplin (1977 v 194) ndash aunque ya Mazon (1953 p 19)sugeriacutea que Daacutenao habriacutea ingresado ldquodans lrsquoorchestre derriegravere ses fillesrdquo y quehabriacutea permanecido parado en una colina durante la cancion mirando hacia elhorizonte Segun nuestro punto de vista Daacutenao habriacutea ingresado al mismotiempo que el coro pero detraacutes de el mostrando companiacutea y proteccion perosin acaparar la atencion central puesta en el coro femenino Finalizado elrecorrido de ingreso se habriacutea ubicado sobre la elevacion vigilando el mismosector de su ingreso es decir alerta a la posibilidad de peligro por la llegada desus perseguidores y divisando tambien el sector opuesto preparaacutendose para elverso 176 momento de su primera intervencion en que anuncia el arribo dehabitantes locales 11 Rhem (1992 p 66) ldquoBridging the gap between the heroic characters and thefifth century tragic costums and props often mirrored specific aspects ofAthenian ritual liferdquo Aelion (1983 p 16) describe el ritual de suplica y brinda

pruebas de su contemporaneidad para un espectador de la epoca con ejemploshistoricos de Herodoto y Tuciacutedides12 Cfr Aelion (1983 p 15-44) para la estructura dramaacutetica del patron de suplicaAdrados (1986 p 7-8) propone dos tipos baacutesicos para las tragedias quepresentan este motivo temaacutetico la ldquobinariardquo en la que el suplicante se refugia enun templo o realiza los gestos rituales dirigidos a su oponente y la ldquoternariardquoque encuentra maacutes habitual en la que junto al enemigo o perseguidor sepresenta al salvador La suplica en el primer caso ldquoentra plenamente en el juegoteatral es un recurso maacutes para hacer avanzar la accionrdquo pero ldquoes solo unelemento episodico nunca un elemento central en la pieza Solo cuando seintroduce la estructura ternaria es la suplica un elemento central (hellip) sobre todoporque con ello se cumple una exigencia del teatro la existencia de al menos unagoacuten en cada piezardquo (p 33) Lo esencial en el desarrollo dice Adrados ha sidoentonces ligar el tema de la suplica a los agones rituales tradicionales Segun estapropuesta Suplicantes resulta el exponente por excelencia de la tipologiacutea ternaria13 FURLEY BREMER 200114 FURLEY BREMER 2001 p 2 ldquoThe cult hymn is a form of worship directedtowards winning a godrsquos goodwill and securing his or her assistance or favourrdquo15 FURLEY BREMER 2001 p 3 ldquoHymns share many of the compositionalelements characteristic of prayers there is the same direct address of a deity thesame gesture of supplication and often the same express request for help orprotection A distinction may be possible here by considering both thecompositional elements of the two forms and their differing function inworshiprdquo16 FURLEY BREMER 2001 p 28-2917 La carencia de prologo ha sido uno de los argumentos maacutes poderosos a favorde la arcaicidad de la tragedia primero y luego de 1952 (ano en que se descubrioel pairo de Oxyrrinco que puso en cuestion la datacion de la tragedia) de suldquoespiacuteritu arcaizanterdquo Sin embargo es improbable que una apertura coral tuvierareminiscencias arcaicas en la epoca de la puesta en escena de Suplicantes YaGarvie ha demostrado que no hay razon para suponer que el inicio con lapaacuterodos haya sido necesariamente maacutes temprano que la utilizacion del prologopues tanto la funcion natural de una como del otro era expositiva explicar a laaudiencia la situacion dramaacutetica que seriacutea representada y los datos espacio-temporales de la puesta en escena Segun el anaacutelisis que hemos realizado de laoda su estilo narrativo y expositivo aunque no cronologicamente lineal puedecomprobarse en la parte liacuterica con la mencion de τὰ τε νῦν ἐπιδείξω πιστὰ

τεκμήρια (ldquomostrare pruebas confiables las de ahorardquo 52-53) cuya epexegesisconsistiraacute en el relato de la situacion actual de las Danaides Garvie (1969 p121) realiza un recorrido historico vinculado con el origen del prologo y detallael debate criacutetico en relacion a esta postura Asimismo compara la paacuterodos deSuplicantes con la de Los Persas tambien carente de prologo y con los prologosdel resto de las tragedias conservadas de Esquilo Para informacion maacutesactualizada del mismo autor sobre el mismo tema Garvie (2006b p 37) Furley-Bremer (2001 284) senalan que ldquoA prologue which sets out the pre-historymay seem Euripidean but one should not forget that of Aeschylus sevenpreserved tragedies there are four opening with an informative prologue SevenAgam Choe Eumrdquo Taplin (1977 p 194) aunque afirma que las razones parausar una apertura coral fueron dramaacuteticas maacutes que cronologicas opina que estaera una tecnica pasada de moda en los ultimos anos de la decada del 460 aC18 Los criacuteticos acuerdan en considerar que los primeros 39 versos en metroanapestico llevan adelante la funcion expositiva Cfr Hogan (1984 p 189)Viacutelchez (1999 p 86) Sandin (2003 p 36) Torrano (2009 p 239) entre otrosEsta division de la oda en dos partes es coherente con las definicionesaristotelicas de paacuterodos y staacutesimon Cfr Poeacutetica 1452b 22-2419 Efectivamente en Suplicantes tal como en Los persas el coro abre la obra consu canto de ingreso y como Eteocles en Siete contra Tebas u Orestes en Coeacuteforas laobra se inicia directamente con los protagonistas y el relato que ellos mismos

desde su punto de vista realizan de la situacion que padecen y que seraacute objetode la performance En cuanto al tratamiento del coro en Eumeacutenides y Suplicantestanto de Esquilo como de Euriacutepides y su diferencia del resto de las tragediasconservadas por tratarse de personajes principales cfr entre otros Nestle(1930 p 16) Para el caso particular de este coro Garvie (1969 p 106) ySommerstein (1996 p 158)20 El propio Pelasgo explica la diferencia entre la suplica en un altar publico yuno privado en v 365-36621 FURLEY BREMER 2001 p 277 ldquohymns of certain sorts can be used to createatmosphere by the playwright either to increase tension in an already fraughtsituation or as ironic backdrop against which the subsequent action unfoldscontrary to expectationrdquo En v 279 y ss los autores se ocupan de los ldquohimnosrdquode Suplicantes v 77-102 (Zeus) v 524-599 (Zeus) v 625-709 (Zeus y los dioseslocales) v 1018-1073 (Aacutertemis Afrodita y Zeus) pero se detienen en dospasajes v 77-102 y v 524-537 junto con v 590-600 En terminos generales losautores proponen (2001 p 285) ldquoThe term dramatic irony is not used often inAeschylean criticism But if the hypothesis sketched above about the plot of thistrilogy is correct then these hymns may have had an ironical effect at the firstperformance of this trilogyrdquo Como ha sido senalado previamente lasinterpretaciones de la tragedia que caen en el lugar comun de ampliar su lecturahacia las secuelas de la trilogiacutea resultan debiles ya que no se puede asegurar queobras habriacutean acompanado a esta tragedia y cuaacutel habriacutea sido su argumento Si elhimno inicial instala una ironiacutea proponemos interpretarla como propia de lanaturaleza inestable de quienes lo entonan22 FURLEY BREMER 2001 p 275 ldquoIn a way then a dramatic hymn is animpostor it is not a genuine cult hymn but rather an imitation of a cult hymnwritten for the fictional situation and performers of the playrdquohellip ldquoThe fictionalquality of hymns in drama and the mix they represent of genuine cult practiceand assimilation to the play mean that the playwright was free to draw ontraditional forms such as paians dithyrambs wedding songs etc in order toillustrate stages of a plays action but at the same time these traditional formshad to be adapted to their new dramatic settingrdquo (2001 p 276)23 Kavoulaki (2011 p 366) justifica muy acertadamente la ldquoconciencia deautoridad ritualrdquo de las Danaides En el artiacuteculo la autora analizaespeciacuteficamente los anapestos introductorios de la obra ldquohellip choral selfawareness of ritual authority is not a mere mannerism but represent well-planned strategies of influence and effectrdquo24 FURLEY-BREMER 2001 El patron de accion es reconocible en la tragedia porsu grado de acabamiento llegada procesional a un lugar sagrado invocacionesinvitacion a la interaccion a traves de los sentidos ritual hiacutemnico y el pedido maacutesimportante el de recepcion o aceptacion (v 27)25 En general la seccion cumple con los principios de eulogiacutea (mencion de losdominios y privilegios del dios) y eufemiacutea (con rechazo de expresionesinapropiadas) y se sirve de recursos tales como la hypoacutemnesis (recordatorionarrativo acerca de como el dios ayudo en una ocasion previa) la dieacutegesis (relatoparadigmaacutetico acerca del dios) yo la aretalogiacutea (cataacutelogo de los poderes yhazanas divinas ekphraacuteseis) para compeler al dios y asegurarse de que resultepropicio 26 Las causas de la alteracion son fundamentalmente dos por un lado dada lacarencia de prologo el movimiento escenico a traves de la paacuterodos hacia laorcheacutestra exige una explicacion dramaacutetica Por eso esta seccion pone su acento enla situacion de traacutensito es decir en el cambio espacial que representa la marchaanapestica Por otro lado la seccion insiste en un segundo cambio el decondicion social porque ligada a la referencia espacial se presenta lametamorfosis un grupo de mujeres vestidas exoticamente y con una aparienciafiacutesica ajena transforman su barbarismo en pertenencia a traves de la praacutectica delritual griego de suplica

27 FURLEY BREMER 2001 p 1 Los autores aclaran que la manera en que serealiza este abordaje del destinatario resulta indiferente para la distincion delgenero El himno puede dirigirse a un dios de manera directa (Du-Stil) indirecta(Er-Stil) o a traves del anuncio en primera persona Para su definicion parten dePlaton (Leg 700b1-5) que da el primer indicio de una taxonomiacutea antigua de lacancion coral Luego toman la clasificacion alejandrina de Proclofundamentalmente pragmaacutetica o funcional ya que tiene en cuentaprimordialmente el contexto de la performance (cfr 2001 11 y ss) 28 El verso 175 configura el cierre de la composicion anular ὑψόθεν δ᾽ εὖ κλύοικαλούμενος (Ojalaacute que desde arriba escuche propiciamente cuando es invocado)29 La cita del texto es de la edicion de Sommerstein (2008 p 290)30 La traduccion del texto es personal31 CUZZI 1970 p 73 p 85 Friis Johansen-Wittle (1980) ad v 1) ldquoZeus ἀ φί κτωρis not an attested cult-title but belongs among numerous Aeschylean creationsinvented on the analogy of existing cult- names of various typesrdquo Cfr tambienSandin (2003 ad 1 p 39) quien senala que el sufijo ndashωρ es mucho maacutes fuerteque el -ιος de uso frecuente que indica simplemente que el dios estaacute conectadocon alguna actividad El sufijo elegido por Esquilo estariacutea marcando unaactividad tambien desempenada por Zeus por eso esta podriacutea ser consideradaen sentido amplio ldquoel que llegardquo Asiacute Zeus es protector de quienes llegan eneste caso como suplicantes 32 Este uso puede observarse en los v 347 360 616 Se retoma el neologismodel primer verso en v 385 y 478-479 ἱκνέομαι usualmente se usa en el sentidode ldquosuplicarrdquo tanto en la epica homerica como en el drama (LSJ 826)33 La mencion de Zeus refleja la hibridez cultural ya que se lo invocaperteneciendo a dos espacios geograacuteficos el de origen y el de destino (cfr v 1 yv 4-5) Respecto de Egipto como la ldquoregion de Zeusrdquo (v 4-5) Sommerstein(2008 p 292) senala ldquoEgypt could be so called because it contained the famousoracle of Zeus Ammon at Siwwa but to the Danaids it is more important thatEgypt was the place where Zeus miraculously begot their ancestor Epaphusrdquo34 FERNAacuteNDEZ DEAGUSTINI 2011 p 77 ldquoEn el mundo griego antiguo regidopor valores competitivos y cooperativos ser miembro de un grupo es lo queconferiacutea y determinaba el status y la posicion de un individuo en la escala dehonor y definiacutea su rol en la sociedad La posesion y conciencia de este rol (tantode parte del posesor como de los otros miembros del grupo) proveiacutea los iacutendicesde conducta esperada sin los cuales la continuidad y estabilidad de la sociedadse veiacutea amenazada De alliacute que el ξένος el outsider el que ldquono pertenecerdquo fueraen principio un sujeto sin rol sin derechos ni obligaciones que ignoraba comoconducirse con el cual tampoco sabiacutean comportarse los miembros del grupoEn consecuencia la conducta institucionalizada que regiacutea el comportamientoadecuado del ξένος (sustantivo que designaba a la vez al hospedado y alanfitrion) proveiacutea de reglas y patrones de expectativa que permitiacutean lacoexistencia entre aquellos que no eran del mismo grupo De este modo lasinstituciones griegas conocidas como ξενία y ἱκετεία constituiacutean un poderosofactor que manteniacutea las tensiones entre grupo e individuo dentro de liacutemitestolerablesrdquo El artiacuteculo citado observa la definicion de los personajes deSuplicantes fuera o dentro de la red social que propone el espacio escenico deArgos a partir de los datos que ofrece la ldquodeixis socialrdquo (Fillmore 1971) Por suparte Dobiacuteas-Lalou (2001 passim) considera ἀφίκτωρ a partir de la idea deintegracion social y lo analiza en relacion con la repeticion en el v 241 en bocade Pelasgo Para la autora no se trata de un ldquoZeus Suplicanterdquo sino de unldquoZeus de los Suplicantesrdquo Apoyada en el examen de los tres constituyentesmorfologicos del termino (preverbio tema verbal y morfema de sustantivoagente) y de las fuentes epigraacuteficas Dobiacuteas- Lalou concluye que (p 614) ldquoDesinscriptions de Cyregravene et de Lindos font connaicirctre agrave lactif et au passif le verbeἀφικετεύω lsquosortir de letat de supplication reintegrer dans une communautecivique lsquo tandis quagrave Cnide le rituel est decrit comme ἀφικετεία On en deduitque Zeus est invoque comme laquo celui qui reintegravegre les lsquosuppliantsrsquo (v 1) et que lepluriel du v 241 designe lensemble des θεοὶἀγωνίοι qui avec Zeus vontparticiper agrave cette delivrance Lintervention lsquopoetiquersquo dEschyle doit consister en

deux traits archaiumlques lemploi de la base ἱκ- au lieu d ἱκετευ- et le recours ausuffixe ndashτωρrdquo35 KAVOULAKI 2011 p 380 ldquoZeus the first word in the play seems neutral butthe epithet ἀφίκτωρ by wich he is invoked (another ad hoc formed noun) bringsto the foreground the very fact of the chorus ἄφιξις (arrival) wich is intimatelyconnected with the third (main) word of the sentence the form ἐπίδοιrdquo36 FLORES 2007 p 89 El subrayado corresponde a la autora quien luegoampliacutea ldquoEstudios actuales sobre el lenguaje realizados por Lakoff y Johnsonrevelan el sentido profundo de ciertas estructuras linguumliacutesticas que en realidadrepresentan estructuras de la menterdquo son las ldquometaacuteforas orientacionalesrdquo (200791) ldquohellip se puede indicar que ἐ πί para Esquilo indica mucho maacutes que unaorientacion espacial de los dioses senala una forma de ver diferente de lahumana Mirar desde arriba maacutes allaacute de la raiacutez etimologica de cada verboἀφοράω ἐφορεύω ἐπισκοπέω ἀποπάω ἐποπτεύω es mirar con la fuerza vitalidadintensidad lucidez clarividencia bondad inteligencia virtud y punto de vista deun diosrdquo (2007 p 93)37 FLORES 2007 p 97 De hecho dentro de la taxonomiacutea verbal que la autorapropone incluye ἐφοράω dentro de la categoriacutea ldquolos dioses miran juzgandordquo38 KAVOULAKI 2011 p 380 ldquoby inviting the sight of the god the chorusunderline their coming to sight their spectacular appearancerdquo39 RHEM 1992 p 47 ldquoThe process is one in which the audience shifts from theimmediate dramatic situation to the larger world of the play and then movesbeyond it constantly negotiating different levels and formulating responsesappropriate to them inspired by (but hardly bound to) the initial commitmentto dramatic illusionrdquo Esta participacion de la audiencia es la que permite inferirinterpretaciones ironicas ambiguas contradictorias anticipatorias oretrospectivas de diferentes momentos de la obra40 Acepcion dada por el diccionario de la Real Academia Espanola en wwwraees41 El impacto se produce tanto sobre el espectador externo como sobre elinterno es decir Pelasgo Cfr II2342 LSJ 1540 ldquokindly earnestly Prop with forward mindrdquo43 CHANTRAINE 1968 p 122744 Sobre el lexico egipcio en Suplicantes Adrados (1999 passim)45 En el v 27 que da comienzo a la eucheacute el pedido a los dioses seraacute que aceptenesta condicion que evidentemente no les es propia δέξασθ ἱκέτην τὸνθηλυγενῆ στόλον αἰδοίῳ πνεύματι χώρας (Admitid como suplicante a esta femeninaformacioacuten con el aire reverencial de esta tierra) Ademaacutes la eucheacute recupera en este versoun termino que cobra especial sentido en la tragedia στόλον46 Johansen-Witttle (1980) entienden στόλον en sentido poliacutetico como terminoderivado de στάσις De este modo στασίαρχος (v 11) resulta ser en supropuesta de traduccion ldquoleader or originator of seditionrdquo) Sandin (2003 ad 11p 45) marca que en el griego claacutesico στάσις en su sentido poliacutetico no significasedicion sino ldquodiscord faction party strife or even civil warrdquo Para Sandinστασι- se refiere al hecho de que Daacutenao y sus hijas han roto sus lazos con sufamilia en Egipto y que por eso se ha iniciado una discordia Sommerstein(2008 p 293) traduce στασίαρχος como ldquooriginator of civil striferdquo La posicionde Kavoulaki (2011 p 377) resulta maacutes atinada en tanto no le confiere unsignificado poliacutetico sino de ocasion especiacutefica pues senala que el termino στάσιςestaacute vinculado a la actividad coral y a la formacion en particular Por eso para laautora ldquothe general usage of the word stasis in choral contexts seems to justifyits choice at this ritually important moment when the chorus qua chorus and atthe same time as a band of parthenoi is solemnly approaching a religious locus (1v 189-90) carrying the ritual symbols of supplication (v 21-22) and invokingthe gods (Zeus and others 1 23-26) with the obvious intention of taking uptheir positions to sing and dance (v 40-175) a hymn and prayer to gods andheroes and particularly to Zeushelliprdquo

47 KAVOULAKI 2011 p 38448 LSJ 1648 y Chantraine (1968 p 1050) ldquoCette famille de mots issue drsquouneracine exprimant une notion simple ldquoarranger preparerrdquo a eclate avec des senstregraves divershelliprdquo Si bien entre estos sentidos posibles Chantraine consigna στόλοςcomo ldquoexpedicionrdquo no se concentra en el examen de este vocablo Lo que debedestacarse de su anaacutelisis etimologico es sin dudas la afirmacion de que la raiacutez deesta familia supone la idea de ldquoprepararrdquo idea que se respeta en nuestrasugerencia de interpretacion del termino como ldquoformacion coralrdquo49 Por eso στόλον puede traducirse como ldquoequipamientordquo si se resalta el objetoldquoexpedicionrdquo o ldquomisionrdquo si el acento se pone en la accion y ldquotropardquo o ldquobandardquosi se hace hincapie en el sujeto 50 Es necesario resaltar el hecho de que el v 11 constituye tambien la primeravez que las jovenes aportan un dato identificatorio especiacutefico respecto de ellasEn este sentido la eleccion de στασίαρχος compuesto de στάσις (que compartel a raiacutez de στόλον) y ἄρχων ilumina el rol crucial de Daacutenao como liacuteder einstructor del coro tesis que desarrolla Kavoulaki (2011) en el artiacuteculo citado51 GOULD 1973 p 91 52 Esta posicion se revierte maacutes tarde (v 169) cuando el tiempo transcurrido y ladesesperacion invierten los roles de agente y paciente

Caliope Presenca Classica | 20172 Ano XXXIV Numero 34

O Filebo prazer e intelecto emconfrontoSimone de O Goncalves Bondarczuk

RESUMO

O dialogo Filebo durante muito tempo foi deixado de lado pelatradicatildeo dos estudos platocircnicos por ser um dialogo tematicamentecomplexo tendo em vista a sua aparente falta de unidade o quelevou a tendecircncia dos inteacuterpretes e comentadores seja naAntiguidade ou nos dias atuais a se concentrarem em apenas umdos aspectos da obra o metafisico ou o eacutetico No entanto nosultimos trinta anos o interesse por esse dialogo reviveu com forcae a sua pertinecircncia para uma compreensatildeo mais global dopensamento teoacuterico de Platatildeo foi finalmente reconhecida Opresente artigo pretende introduzir o leitor nas questotildees centraisdo dialogo e problematizar as controveacutersias em torno do mesmoSeria a vida dedicada ao prazer eou a vida dedicada agrave reflexatildeocentrais para a constituicatildeo de uma vida feliz Ou seria uma mesclaentre essas duas vidas Qual a relacatildeo dessa escolha com a questatildeoteleoloacutegica do Bem em Platatildeo

PALAVRAS-CHAVE

Filebo dialogos socraticos prazer intelecto o Bem

SUBMISSAtildeO 28 dez 2017 | PUBLICACcedilAtildeO 31 dez 2017

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dialogo Fi l ebo de Platatildeo pela sua complexidadetematica e beleza provocou tantos questionamentosna Antiguidade como suscita ainda nos dias atuais aopartir de uma questatildeo simples mas assaz relevante seo prazer e os seus congecircneres satildeo bons ou o Bem ouao inveacutes se o Bem se constitui na reflexatildeo e nasatividades relacionadas com a mesma ou talvez obem seria uma terceira via uma espeacutecie de amalgamaentre os dois Natildeo menos interessante do que o temado ponto-de-vista formal a sua estrutura dialoacutegica traza lembranca os primeiros dialogos socraticos em que oeacutelenkhos em sua dinamicidade potildee em movimento oargumento central e segue agrave risca a via da dialeacuteticaconvidando os primeiros receptores1 e os leitores

modernos a se engajarem de um modo ativo no debate Antes de tudo o dialogo eacute uma contenda dramatica entre

prazer e reflexatildeo no qual outras questotildees relacionadas vatildeo sendoentrelacadas como a questatildeo do Uno e do Multiplo - como sepode chamar por um unico nome geneacuterico prazer umamultiplicidade de prazeres aparentemente dessemelhantes entre si eo mesmo argumento poderia servir para os conhecimentos outraquestatildeo surge em decorrecircncia dessas a necessidade de seestabelecer categorias ontoloacutegicas para definir o prazer e asatividades relacionadas agrave reflexatildeo a saber o limite o ilimitado amistura e causa da mistura e ainda como tudo isso se relacionacom o projeto ontoloacutegico de Platatildeo a respeito do Bem

O dialogo potildee em tensatildeo todas essas questotildees e nos eacuteapresentado como uma peca dialeacutetica com passos tatildeo belos quantoenigmaticos Como consequecircncia disso o dialogo apresenta umaaparente falta de unidade tematica que durante muito tempo foium empecilho para uma interpretacatildeo ampla e integradora dodialogo na sua relacatildeo com o corpus platocircnico O tema do dialogo eacuteo prazer ou a vida de reflexatildeo ou o Bem ou ainda seria sobreuma vida mista entre as duas como sendo a mais feliz

A importacircncia desses temas em relacatildeo ao conjunto daobra de Platatildeo sobretudo pelas questotildees metafisicas e eacuteticas

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O

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postas em relevo em sua articulacatildeo com todo o pensamentoplatocircnico sobre o Bem permitiu que os ultimos trinta anosassistissem a um renascimento da parte dos especialistas de seuestudo

Tendo em vista essa polecircmica em relacatildeo agrave unidadetematica o esquema de divisatildeo do dialogo ja foi apresentado dediversas formas2 segundo minha proposta pode ser estruturadoda seguinte maneira

1 Parte I Introducatildeo (11a-14b)a) As duas teses em disputa a vida boa ou o Bem consiste navida centrada no prazer e seus congecircneres ou na vidacentrada na reflexatildeo e nas coisas afins a essa (opiniatildeo corretae calculo racional)b) A vida feliz eacute resultante da disposicatildeo e da propriedade daalma haveria um terceiro estado superior a esses doisprimeirosc) A proposta de uma via intermediaria o Bem eacute o prazer areflexatildeo ou ainda haveria uma terceira possibilidade (14b)

2 Parte II A estrutura metafisica da realidade e o meacutetododialeacutetico da divisatildeo (14c-20b)a) O problema do Uno e do Multiplo em sua versatildeo maisbanalizada (14c-14e)b) As trecircs aporias sobre o Uno e o Multiplo a definicatildeo dadialeacutetica e o seu meacutetodo de divisatildeo como solucatildeo para asaporias (15a-17a) c) Os exemplos de limite e ilimitado as letras articuladas(fonemas) e as notas musicais (17a-18d)d) A proposta de aplicacatildeo da distincatildeo Uno-multiplo aoprazer e agrave reflexatildeo (18d-20b)e) Protarco sugere uma ldquosegunda rota de navegacatildeordquo pararepreender Soacutecrates (20andashb)

3 Parte III O discurso salvo por uma memoacuteria divinaa) Nem o prazer nem a reflexatildeo satildeo o Bem mas uma terceiracoisa diferente dessas duas e superior a ambas (20b-c)b) A definicatildeo do Bem os seus requisitos ndash suficienteperfeito e digno de escolha (20b)c) A aplicacatildeo desses requisitos agrave vida de prazer e de reflexatildeo(20c-22b)

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d) Trecircs vidas foram propostas mas nenhuma das duasprimeiras eacute suficiente e nem digna de escolha A vida mistaganha o primeiro precircmio (22b-23b)

4 Parte IV A necessidade de outro mecanismo (mekhaneacute) paraargumentar a favor do segundo precircmio (23c-31b)a) A definicatildeo dos quatro gecircneros ou espeacutecies nas quais sedivide tudo que ha no universo o limite o ilimitado a misturae a causa da mistura (23c-27c)b) A vida vitoriosa faz parte do terceiro gecircnero da mistura(27c-28b)c) Teleologia coacutesmica e a inteligecircncia (noucircs) como ldquorainha doceacuteu e da terrardquo (28c-29a)d) A alma do mundo possui sabedoria e inteligecircnciapertencentes ao gecircnero da causa que ordenam e regem todasas coisas (29a-31b)e) A inteligecircncia (noucircs) portanto pertence ao gecircnero da causa

5 Parte V O exame dos prazeres a sensacatildeo a memoacuteria e odesejo (31b-55c) a) A fisiologia do prazer dor e prazer como um parindissoluvel (31b-32b)b) A psicologia do prazer a reminiscecircncia (32b-34c)c) O desejo ou apetite por alguma coisa pertence agrave alma (34c-35d)d) O desejo da alma o tipo de vida correto e o prazer comoantecipacatildeo (35d-36c)e) Prazeres verdadeiros e falsos (36c-38c)f) Percepcatildeo aparente e real pensamento opiniatildeo e discurso(38c-40c)g) Os estados afetivos tecircm conteudo proposicional (40e-43b)h) O prazer natildeo se identifica com a cessacatildeo da dor (43c-46a)i) Os prazeres mesclados com dores (46a-50e)j) Os prazeres puros sem mistura com dor os prazeressensoriais a beleza das figuras os sons os aromas e osprazeres da aprendizagem (50e-53c)k) Conclusatildeo o prazer eacute um vir a ser (53c-55c)

6 Parte VI Exame do conhecimento os conhecimentos asartes e seu grau de exatidatildeo A superioridade da filosofia(55c-64c)a) Os conhecimentos e as artes com distintos graus deexatidatildeo e de pureza (55c-57e)

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b) A filosofia eacute superior a qualquer outro conhecimento ouarte (57e-59d)c) O Bem eacute a vida que consiste em uma mescla de sabedoria eprazeres puros (59e-64c)

7 Parte VII Os ingredientes eideacuteticos do Bem o posto doscandidatos na competecircncia pelo bem e a conclusatildeo (64c-67b)a) Beleza proporcatildeo medida e verdade como ingredienteseideacuteticos imprescindiveis ao Bem (64c -65e)b) A ldquotabela das posicotildees finaisrdquo na competicatildeo pelo Bem (i)a medida o mesuravel e o oportuno (ii) o proporcional e obelo o perfeito e o suficiente (iii) a inteligecircncia e a reflexatildeo(iv) conhecimentos artes e opiniotildees corretas (v) prazerescarentes de dor isto eacute prazeres ldquopurosrdquo (66a-66d)c) Conclusatildeo do dialogo se provou inteiramente pelodiscurso que era injustificada a pretensatildeo tanto do prazer quanto dainteligecircncia de ser o Bem em si mesmo por natildeo preencherem os trecircsrequisitos autonomia suficiecircncia e perfeicatildeo Entretantoexiste um prazer superior aos fisicos fruto da paixatildeo pelosdiscursos oraculares inspirados pela musa filosoacutefica (66d-67b)

A primeira grande subdivisatildeo do dialogo (partes I a IV)

refere-se ao procedimento dialeacutetico e portanto ela se reveste deuma importacircncia unica para a compreensatildeo da dialeacutetica a ponto deGadamer3 afirmar ldquoafinal de contas em nenhum outro dialogoplatocircnico a teoria da dialeacutetica esta tatildeo estreitamente enredada coma pratica da dialeacutetica como alirdquo4

Em consonacircncia com esse argumento Gill5 defende a tesede que a forma do dialogo acentua o necessario vinculo entreengajamento cooperativo de ambas as partes e o exerciciodialeacutetico rumo a uma compreensatildeo mais aprofundada dasrealidades e do Bem Aleacutem disso ele afirma que nessa perspectivao Filebo seria excepcional pela importacircncia que atribui a essascaracteristicas para o aperfeicoamento de toda a discussatildeo Aecircnfase nessas caracteristicas explicaria porque Soacutecrates nessedialogo tem de introduzir teoricamente o meacutetodo dialeacutetico comoum caminho para superar a primeira aporia surgida com a aparenteunidade (14a-e) recolhida e evidenciada no nome lsquoprazerrsquo e a

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multiplicidade de prazeres muitas vezes ateacute mesmo contrariosentre si Superar a afirmacatildeo surpreendente e paradoxal de que ldquoomultiplo eacute unordquo (ἓν τὰ πολλὰ εἶναι) e a afirmacatildeo de que ldquoo uno eacutemultiplordquo (καὶ τὸ ἓν πολλὰ) por meio do discurso apresenta-secomo o grande desafio Entretanto Soacutecrates tentara mostrar aProtarco que esse desafio soacute pode ser superado pelo exercicio dadialeacutetica pois a eristica praticada pelos sofistas natildeo podeadequadamente dar conta dele

Na segunda grande subdivisatildeo tematica (nas partes V e VI)Soacutecrates argumenta que incluira todos os conhecimentos namistura em busca da vida feliz mas apenas alguns prazeres osprazeres puros (da vida teoreacutetica e dos sentidos puros) aqueles quenatildeo foram misturados com dor e que satildeo verdadeiros por natildeoinduzirem ao engano Esses correspondem aos prazeres esteacuteticosde certos perfumes de algumas vozes claras das cores puras e dasformas geomeacutetricas e tambeacutem os prazeres intelectuais daaprendizagem e da investigacatildeo disciplinada e os prazeres eacuteticosque seguem as virtudes

Nos prazeres puros o que se desfruta eacute uma experiecircncia danatureza do belo e daquilo que eacute atrativo em si mesmo6

independente de um estado de tensatildeo que busque somente alivio(51c 6-7) eles ainda estatildeo relacionados agrave claridade agrave precisatildeo e agraveverdade Os prazeres impuros por sua vez possuem um lacoindissoluvel com a dor que Platatildeo procura ressaltar por meio douso de varias particulas e construcotildees com particulas - τε καὶ e δὲκαὶ - aleacutem do uso do adveacuterbio haacutema (simultaneamente) para enfatizaressa conexatildeo estreita

O prazer autecircntico eacute bom em si mesmo por natureza ouenquanto medido ou limitado pela razatildeo calculadora Platatildeo longede rechacar o prazer corporal de forma arbitraria como uminimigo procura integra-lo a vida feliz sempre que estaacompanhado pela inteligecircncia (noucircs) que pode prescrever lhe amedida adequada Comprova-se mais uma vez que a medida e aproporcatildeo salvam o prazer e o integram no conjunto de uma vidaplena A defesa da sabedoria acerca dos calculos dos prazeres

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autecircnticos da vida leva a conclusatildeo de que o sabio (sophoacutes) eacute ohomem mais feliz

O que chama atencatildeo no desenvolvimento do tema eacute ofato de desde o inicio Soacutecrates propor uma terceira via alternativapara definir qual seria a vida mais feliz e que por isso se constituiriano Bem e continuar insistindo nessa ideia ao longo do dialogo Ainsistecircncia em tal possibilidade leva a necessidade doestabelecimento de categorias ontoloacutegicas nas quais se possaincluir essa vida misturada de prazeres e atividades do intelectoPor fim a conclusatildeo sera que o Bem eacute a vida que consiste em umamescla de sabedoria e prazeres puros (Filebo 59e-64c)

Esses indicios na linha de desenvolvimento do tema nosfaz pensar que o propoacutesito ou intencatildeo visado por Platatildeo nodialogo em questatildeo seja definir os horizontes dessa vida mistadentro do escopo do seu projeto ontoloacutegico sobre o Bem

A DATACcedilAtildeO DO DIAacuteLOGO E A GEcircNESE DO TEMA

Em relacatildeo a sua posicatildeo no corpus platonicum pode-sedizer que ha um consenso entre os especialistas sobre o Filebo tersido composto nas ultimas duas deacutecadas da vida de Platatildeo e fazerparte do seguinte conjunto de dialogos Sofista Poliacutetico FileboTimeu Criacutetias e Leis Os dois primeiros nomes da lista satildeoseguramente anteriores aos outros e as Leis o ultimo O Criacutetiastem uma relacatildeo de continuidade com o Timeu e a posicatildeo doFilebo eacute incerta ou teria sido escrito entre o Poliacutetico e o Timeu ouentre Criacutetias e Leis e ainda haveria a possibilidade de algumaconcomitacircncia Quanto agraves possiveis datas os anos de 368 e 367aC seriam um terminus a quo para os seis dialogos no entanto eacutedificil de determinar uma data precisa para qualquer um deles7

Dessa forma o Filebo teria sido escrito entre duas trilogiassupostas de Platatildeo a primeira Sofista Poliacutetico e Filoacutesofo - o ultimonatildeo foi escrito mas anunciado - e a segunda Timeu Criacutetias eHermoacutecrates esse ultimo tambeacutem natildeo escrito Outra possibilidade eacuteque tivesse sido escrito depois da segunda trilogia e antes das LeisParticularmente essa eacute a posicatildeo assumida por Hackforth8 natildeo

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como uma certeza mas pela possibilidade de dar conta de uma dascaracteristicas mais singulares do Filebo a completa ausecircncia dereferecircncias politicas e num momento que se sabe que Platatildeo estariaenvolvido em um projeto politico concreto de estabelecer naSicilia na corte de Dionisio a sua Republica ideal Nas palavrasdesse estudioso

Soacutecrates e seus interlocutores discutem o bem para o homemcomo individuo e natildeo como membro da comunidade isso eacutesurpreendente no autor da Repuacuteblica Poliacutetico e Leis e pode serconsiderado como refletindo uma separacatildeo deliberada daespeculacatildeo politica que melhor se encaixa nos anos de 360-354 do que em qualquer outro periodo das ultimas duasdeacutecadas da vida de Platatildeo (Traducatildeo nossa)9

Essa pausa na especulacatildeo politica ao qual se refere natildeodeve representar uma interrupcatildeo mesmo momentacircnea noprojeto filosoacutefico de Platatildeo como Hackforth da a entender emparticular definindo o dialogo em questatildeo com a expressatildeo umpiegravece drsquooccasion Em seu entender a obra marcaria uma espeacutecie deinterrupcatildeo tematica na sequecircncia dos dialogos platocircnicospressupondo que a sequencialidade da escritura seja umaprerrogativa do filosoacutefico Uma abordagem historicista neste casonatildeo ajuda a entender a gecircnese da obra e ateacute mesmo parecerestringir o projeto do filoacutesofo no qual a dimensatildeo politica natildeo semostra dissociada de sua dimensatildeo ontoloacutegica

Em minha opiniatildeo deve-se ter em mente o tempo todoque o escopo de toda a obra de Platatildeo aponta invariavelmentepara o Bem embora os propoacutesitos ou intencotildees dos dialogosindividualmente parecam estar sempre em tensatildeo dialeacutetica entre sigirando em torno de assuntos variados Portanto a questatildeo doprazer tem de ter alguma relacatildeo com o Bem e a vida feliz e ainvestigacatildeo para determinar o seu lugar na vida do filoacutesofo natildeoesta em desarmonia com o projeto de Platatildeo em um momentoespecifico ou eacute um tema secundario mas encontra ecos anterioresnos dialogos Goacutergias na Repuacuteblica e tambeacutem no Banquete

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Segundo Boeri10 Platatildeo parece ter se sentido particularmente comprometidode dar um lugar ao prazer na vida boa e principalmente emdemonstrar a sua importacircncia para a vida do filoacutesofo como oprazer contribuiria para a ascensatildeo ao Bem Se levassemos agrave riscauma leitura asceacutetica do platonismo o prazer teria pouca ounenhuma importacircncia em uma vida teoreacutetica no entanto como sepode contemplar a beleza do Bem sem a contemplacatildeo da belezasensivel dos corpos que visa o prazer como se diz no BanquetePortanto uma leitura rigorosamente asceacutetica natildeo parece condizercom varios passos de outros dialogos como se procurara mostrarA via dialeacutetica natildeo eacute uma via racional e arida e Platatildeo estaparticularmente comprometido em demostrar issoSoacute para citar alguns exemplos do corpus platocircnico no Goacutergias opersonagem Soacutecrates conduz a discussatildeo sobre o prazer daseguinte forma logo depois de Calicles ter afirmado que o homemfeliz seria o que se entregasse a todos os prazeresindiscriminadamente

SoacutecratesFui eu que conduzi a discussatildeo para estes temas meu caro oufoi aquele que com todo o embaraco afirmou que afelicidade consiste no prazer de qualquer ordem semdistinguir entre bons e maus prazeres Pergunto-te mais umavez se em tua opiniatildeo o prazer e o bem satildeo uma e amesma coisa ou se haacute prazeres que natildeo satildeo bons

CaliclesSe te dissesse que eram coisas diferentes entraria emcontradicatildeo com as afirmacotildees que ja fiz Mantenhoportanto que satildeo a mesma coisa

SoacutecratesDas cabo de tudo o que assentamos Calicles e natildeo poderasrealizar comigo uma investigacatildeo correta da verdade se tepotildees a falar contra o teu proacuteprio pensamento

CaliclesExatamente como tu fazes Soacutecrates

Soacutecrates

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Se isso eacute verdade faco tatildeo mal como tu Mas reflete meucaro que talvez o Bem natildeo se identifique com toda aespeacutecie de prazer A ser assim verificar-se-iam asconsequecircncias vergonhosas a que ha pouco aludi e muitomais (494 e 10 ndash 495 a e b 2 Grifos nossos)11

Soacutecrates ao questionar nessa passagem se o prazer e o bemsatildeo uma e a mesma coisa ou se haacute prazeres que natildeo satildeo bons propotildee naverdade uma discussatildeo ou revisatildeo sobre a ontologia do Bem ouuma agatologia que no Filebo assumira inicialmente a forma de umaontologia de uma vida boa12 na qual o prazer deve ser parteconstituinte

Da mesma forma tambeacutem com essa afirmacatildeo de quetalvez o Bem natildeo se identifique com todo tipo de prazer ele aponta para anecessidade de examinar a questatildeo mais a fundo propondo nasentrelinhas a necessidade de submeter o prazer a uma divisatildeo e deuma classificacatildeo dos prazeres para melhor compreender em quemedida ele eacute o Bem No entanto Soacutecrates natildeo daraprosseguimento a essa investigacatildeo ao longo desse mesmo dialogomas antecipa um esboco de uma tese sobre as espeacutecies de prazeresque sera retomada e desenvolvida no Filebo Pode-se constatar tambeacutem na Repuacuteblica 505b a importacircncia dotema ao examinarmos o seguinte excerto

Se natildeo a conhecemos e agrave parte essa ideia conhecermos tudoque ha sabe que de nada nos serve da mesma maneira quenada possuimos se natildeo tivermos o bem Ou julgas que vale demuito possuir qualquer coisa que seja se ela natildeo for boa Ouconhecer tudo o mais exceto o bem e natildeo conhecernada de belo e bom

ndash Por Zeus que natildeondash Mas na verdade sabes tambeacutem que para a

maioria (hoi polloiacute) eacute o prazer que se identifica com o bem aopasso que para os mais requintados (kompsoteacuteroi) eacute o saber

ndash Pois natildeondash E os que assim pensam meu amigo natildeo satildeo

capazes de explicar o saber mas acabam por ser forcados adizer que eacute o saber do bem

ndash Coisa que eacute bem ridicula[]

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ndash E agora os que definem o bem com prazer estatildeomenos eivados de erros do que os outros Ou natildeo satildeotambeacutem eles forcados a concordar que ha prazeres maus

ndash Seguramente que sim

Nesse passo segundo Soacutecrates existe portanto umaopiniatildeo ja estabelecida pelo senso comum (hoi polloiacute) de que oprazer se identifica com o Bem enquanto para os maisrequintados ele se identifica com o saber Essa primeira oposicatildeosuperficial levara a outra mais fundamental que integra um dosnucleos da metafisica platocircnica - a questatildeo do Uno e do Multiplo ndashporque a essecircncia do Bem natildeo pode ser dupla mas uma ou unapor isso tera que se decidir entre as duas alternativas ou umaterceira que se aproxime mais do Bem Em outras palavras o queele persegue eacute como conciliar e fundamentar filosoficamente arelacatildeo do Uno e do Multiplo com o Bem toacutepico esse quetambeacutem natildeo desenvolve na Repuacuteblica

O Banquete por sua vez deveria ter uma relacatildeo importantecom o tema do prazer uma vez que trata do mito de Eros em suarelacatildeo com Afrodite que explicitamente eacute chamada de prazer noFilebo Essa relacatildeo talvez pouco evidente do ponto de vistateoreacutetico natildeo me parece de menos importacircncia hermenecircutica Aquestatildeo eacute definir ateacute que ponto pode-se estender a analogia domito de Eros e Afrodite ao tema do prazer e do conhecimentocomo eacute apresentado no Filebo que embora tenha sido consideradocomo um dialogo eacutetico por muitos claramente se mostrou comoestando inserido no plano ontoloacutegico de Platatildeo em relacatildeo aoBem13

No entanto o Banquete natildeo eacute considerado um dialogo detema ontoloacutegico mas natildeo deveria passar despercebido que Platatildeoali estabelece uma categoria nova de existir no mundo ndash expressano uso da preposicatildeo metaxyacute ndash uma posicatildeo intermediaria entredeuses e homens a posicatildeo do daiacutemon a mesma de Eros a mesmado filoacutesofo e de Soacutecrates essa nova categoria do ponto de vistaepistemoloacutegico ainda pode ser entendida como qualquer coisaentre a sabedoria e a ignoracircncia definida por Diotima como oopinar corretamente (tograve orthagrave doxaacutexein)

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Tal posicatildeo eacute definivel em termos de participacatildeo O mito diz queEros tanto eacute rico em expedientes como eacute indigente a ponto deestar sempre na falta de alguma coisa dor e prazer se enlacamnecessariamente no movimento de Eros mas natildeo de modonegativo pois a dor da falta eacute que impulsiona ao desejo depreenchimento Por outro lado no Filebo Soacutecrates retorna a esseponto ao falar dos prazeres puros incluindo nessa categoria osprazeres do aprendizado e procura purifica-los desse aspectodoloroso O filoacutesofo leva Protarco a concluir que se algueacutem forprivado desses ensinamentos natildeo sentira de modo natural dor porcausa dessa perda mas apenas ao raciocinar sobre essaexperiecircncia Ou seja ele procura separar a experiecircncia pura doaprendizado (χωρὶς τοῦ λογισμοῦ) como uma experiecircnciaprazerosa em si14

Ademais Diotima levanta uma importante questatildeo emrelacatildeo ao opinar corretamente como pode um aacutelogon pracircgma serciecircncia por um lado mas como pode ser ignoracircncia (natildeoconhecimento) se ao mesmo tempo recolhe o ser (toucirc oacutentos) Esseestatuto ontoloacutegico estabelecido por Platatildeo deixa em aberto agravequestatildeo do prazer pois esse mesmo sendo movimento e geracatildeonatildeo suficiente em si mesmo natildeo poderia ser um bem mas comovir a ser vem a ser a partir de alguma coisa e natildeo seria essa coisa oBem Qual a relacatildeo entre prazer e Bem Mais uma vez constata-se que essas questotildees de alguma forma seratildeo retomadas no Filebo

A meu ver se existe uma divindade patrona da filosofiaessa divindade deve ser Eros porque eacute esse sobretudo em suaacircnsia de preencher-se e na sua propensatildeo ao belo que se move efaz mover na direcatildeo do objeto de seu amor e qual coisa segundoPlatatildeo seria mais desejavel e amoravel do que o bem A proacuteprianatureza intermediaria de Eros sempre acompanhado de prazer edor entre o sensivel e o inteligivel constroacutei uma relacatildeo entre oamor ao belo sensivel e ao belo inteligivel que por forca danarrativa mitica satildeo inseparaveis Mas essas relacotildees assimexpostas em uma linguagem imageacutetica do mito ainda natildeo datildeoconta de definir os horizontes da exata relacatildeo entre prazer e Bem

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O personagem Soacutecrates entatildeo questionara - a partir da tesede Filebo de que o prazer constitui a vida boa ndash se o prazer tem ounatildeo espeacutecies e quantas e quais satildeo e depois fara o mesmo emrelacatildeo agraves atividades do intelecto para concluir por uma terceiravia ja elucidada desde o inicio do discurso de que a vida mista seriaa vida boafeliz e essa sim seria o Bem

Sendo assim Soacutecrates procurara dist inguir naargumentacatildeo segundo o meacutetodo dialeacutetico da divisatildeo quais satildeo osprazeres ruins e quais bons mas ja admitindo previamente ser amaioria deles ruim como se vecirc no excerto abaixo

Porque estas chamando essas coisas ainda quedessemelhantes diremos noacutes com outro nome pois dizesserem boas todas as coisas prazerosas Ora certamentenenhum argumento pode contestar tal afirmacatildeo dizendo queas coisas prazerosas natildeo satildeo prazerosas mas dizendo que amaioria delas eacute ruim e umas boas15 como noacutes afirmamos16

A naturalidade desse tema que subsumi o senso comum deque ser feliz de alguma forma eacute se entregar aos prazeres torna-osempre atual e relevante e confronta-nos com os seguintesquestionamentos todo prazer implica necessariamente em umbem Como o prazer participa do Bem em si mesmo Ou comoalguns defendem uma vida baseada soacute na reflexatildeo natildeo seria maisproveitosa aos homens Tais questotildees satildeo o motor propulsor quefazem mover o dialogo

Na Antiguidade o tema do Filebo a saber o prazer e suasinjuncotildees eacuteticas e metafisicas foi objeto de multiplos comentariosde Aristoacuteteles ateacute os ultimos neoplatocircnicos17 As escolas deinterpretacatildeo sempre alternaram entre dois campos deinterpretacatildeo Eacutetico ou Metafisico (escola de Jacircmbico) Ocomentario mais completo que chegou ateacute noacutes da Antiguidade foio de Damascio18 ndash Comentaacuterio ao Filebo de Platatildeo ndash o qual ja ilustracerta polecircmica antiga acerca do tema

Alguns dizem que o escopo do Filebo eacute o prazer como osubtitulo demonstra e tambeacutem o proacuteprio Soacutecratesprimeiramente ao se propor discutir sobre o prazer (11b4-

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c3) e depois a examinar as coisas a esse respeito efinalmente por concluir o seguinte que o prazer natildeo eacute afinalidade (teacutelos) da vida[]Ainda na opiniatildeo de Pisiteo o aluno de Theodoro de Asino odialogo eacute sobre a Inteligecircncia como dizem tambeacutem que oParmecircnides eacute sobre o Bem Isso porque na discussatildeo da vidamista (na qual inteligecircncia e prazer estatildeo misturados) aInteligecircncia ela mesma eacute o primeiro (elemento) na mistura(1959 p 2) (Traducatildeo nossa)

Nesse passo Damascio faz uma espeacutecie de revisatildeohistoacuterica das interpretacotildees correntes dos neoplatocircnicos sobre atematica do Filebo partindo do ponto de vista tradicional de Procloe destacando a discordacircncia entre os seus comentadores Valeressaltar o fato de nenhum dos comentadores da Antiguidadedizerem que o dialogo eacute sobre a vida mista A interpretacatildeo queDamascio dara ao tema do prazer sera considerada uma leituramais aristoteacutelica diversa de seus predecessores preocupadossomente em interpretar a doutrina de Platatildeo e que soacute recorrem aAristoacuteteles para acrescentar um elemento a mais o prazer natildeo eacute soacuteo preenchimento de uma falta mas o resultado suplementar deuma atividade

Ao comentar sobre as diversas interpretacotildees a respeito dotema numa perspectiva historiografica Dorothea Frede19 diz que amaior parte dos comentadores dirigiu a sua atencatildeo para um unicoaspecto seja ao discutir a passagem sobre metodologia e ontologiaseja se limitando agrave discussatildeo do prazer sem dar valor ao conjuntodo dialogo Sendo assim pode-se constatar que natildeo haviaconsenso interpretativo em relacatildeo ao tema na Antiguidade e nemtampouco na contemporaneidade

Retornando ao dialogo Soacutecrates do inicio apresenta asduas teses ou concepcotildees da existecircncia humana ja discutidasanteriormente que o prazer e seus congecircneres implicam em umavida boafeliz e a outra que diz que a vida de reflexatildeo e seuscongecircneres satildeo responsaveis por isso Tais argumentacotildees iratildeo sedesenvolver no sentido de determinar qual dos dois tipos deexistecircncia estaria mais aparentado ao Bem sendo que um terceiro

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tipo de vida possivelmente superior eacute assinalado desde o principioPode-se dizer portanto que a questatildeo teoacuterica central gira emtorno da articulacatildeo entre uma questatildeo eacutetica ndash no que consiste avida boafeliz ndash e de uma ontoloacutegica ndash como a vida boafeliz estarelacionada com o Bem

O BEM COMO PONTO DE PARTIDA DA DISCUSSAtildeO

Logo na primeira secatildeo do dialogo em uma tentativa deestabelecer as condicotildees de um dialogo positivo que assegure aconcordacircncia dos interlocutores em engajar-se numa discussatildeohonesta do ponto de vista intelectual Soacutecrates inicia da seguinteforma

SoacutecratesOlha soacute Protarco que discurso tu estas (disposto) a aceitaragora o de Filebo ou frente ao nosso discurso refuta-lo casote natildeo seja exposto segundo o que eacute inteligivel Queres querecapitulemos cada um deles

ProtarcoCertamente que sim

SoacutecratesPois bem sobre isso Filebo afirma ser bom (agathoacuten) paratodos os viventes o regozijar-se o prazer e o gozo aleacutem dascoisas que estatildeo em consonacircncia com esse gecircnero poreacutem denossa parte a refutacatildeo eacute que natildeo satildeo essas coisas mas sim opensar e a percepcatildeo inteligivel bem como o recordar e aindaas coisas desse mesmo gecircnero como a opiniatildeo exata e osraciocinios verdadeiros as quais satildeo superiores e maisdesejaveis do que o prazer para todos quantos satildeo capazesdelas participar e tambeacutem satildeo elas as mais uteis para todosaqueles que satildeo e viratildeo a ser capazes de usufrui-las Natildeo eacuteassim natildeo como cada um de noacutes afirma Filebo (Traducatildeonossa)

O uso do termo agathoacuten em todo o dialogo eacute ambiguo poistanto pode ser entendido como o adjetivo bom como eacute entendidonesse excerto acima ou compreendido como se vera adiante pela

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ideia do Bem A ocorrecircncia dessa ideia no corpus platocircnicocostuma aparecer substantivada pelo artigo e ou em formacontraida tagathoacuten quando se refere ao Bem20 Portanto a palavracomo usada nesse excerto acima gera uma ambiguidade pois podesignificar tanto que o prazer eacute bom ou seja eacute uma espeacutecie de bem(que participa do Bem) ou eacute o Bem em si mesmo se assumirmosque mesmo sem o artigo a palavra possa significar o Bem

Ao observar-se todos os usos dessa palavra em seuscontextos especificos no dialogo constatamos que tal ambiguidadeeacute deliberada quase metade dos exemplos aparecem com artigo e aoutra metade sem o artigo Assim sendo Platatildeo sustenta essaambiguidade ateacute o fim de alguma maneira para paulatinamenteultrapassa-la valendo-se do meacutetodo dialeacutetico da divisatildeo natentativa de definir o Bem de maneira mais precisa e identifica-locom a vida boafeliz

Em contraposicatildeo a tese de Filebo o personagem Socratessustenta neste mesmo passo que as atividades do intelecto satildeoqualitativamente superiores Isto fica evidente ao usar adjetivos nograu comparativo de superioridade por meio dos quais ele procuraidentificar a vida de reflexatildeo como algo em si mesmo superiormais desejavel e mais util e por isso mais aparentada ao Bem Orefletir e seus congecircneres satildeo comparativamente melhores do queo regozijar-se e seus congecircneres demonstrando claramente que eleesta considerando esses ultimos como sendo um bem relativo Naverdade Soacutecrates introduz a pressuposicatildeo de que se a vida dereflexatildeo eacute melhor talvez seja porque haja prazeres bons e outrospiores

Nesse ponto do dialogo nem o personagem Soacutecrates nemFileboProtarco estatildeo preocupados em definir a questatildeo mas emestabelecer as bases de um campo comum de discussatildeo paraconduzi-la no sentido de responder ao longo do dialogo quais satildeoas exatas relacotildees entre o prazer a vida fundada na reflexatildeo e oBem Concordo com a leitura precisa de Delcomminette sobre oescopo do dialogo ldquoTodo o dialogo pode ser lido como umatentativa de descobrir a relacatildeo correta entre o prazer e o bem e defundamenta-la dialeticamenterdquo21

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O prazer tem um mesmo nome mas eacute multiplo o conhecimentotem um mesmo nome e igualmente eacute multiplo O nome soacute podeser visto como um se for entendido como conceito mas ateacuteaquele momento o que eacute um conceito para noacutes ainda natildeo haviasido definido pelos gregos como categoria de pensamento22 Sendoassim se estabelece a necessidade de argumentar sobre assemelhancas e as dessemelhancas entre os prazeres a partir dasquais se possa considera-los como o mesmo e da mesma formaproceder com as coisas referentes agrave reflexatildeo

Na intencatildeo de buscar um ponto de partida comum para odesenvolvimento desse caminho de pensamento o personagemSoacutecrates recrimina a interpretacatildeo ingecircnua de Protarco sobre oproblema do Uno e do Multiplo

SoacutecratesFalo do que aconteceu um pouco antes do que pela proacuteprianatureza surgiu como algo extraordinario pois de fato eacutesurpreendente a afirmacatildeo de que ldquoo multiplo eacute unordquo quantoa afirmacatildeo de que ldquoo uno eacute multiplordquo e qualquer umadessas duas seria facilmente contestada se proposta dessemodo

ProtarcoEntatildeo sera que estas querendo dizer quando algueacutem sereferir a mim Protarco nascido como unico por natureza sereu ao inveacutes disso muitos e contrarios tanto a mim mesmoquanto uns aos outros por admitir o grande e o pequeno opesado e o leve o mesmo e tambeacutem incontaveis outros

SoacutecratesTu Protarco estas afirmando o que se estabeleceupublicamente das admiraveis discussotildees a respeito do um e domultiplo e que foi admitido por assim dizer ja por todosNatildeo se deve no entanto acolher de imediato dentre taiscoisas o pueril o facil ou ainda o que possa vir a se tornarum grande obstaculo para o discurso aprovando-os poisnem mesmo quando depois de ter dividido os membros esimultaneamente as partes do discurso e de ter concordadoque todas essas coisas eram aquele um ainda assim algueacutempoderia refutar de modo zombeteiro que foi obrigado a dizer

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um prodigio o um como multiplo eacute tambeacutem ilimitado e omultiplo como um eacute unico (traducatildeo proacutepria)

A aporia da afirmacatildeo de Protarco fica ainda mais claraadiante no dialogo quando Soacutecrates relaciona o Uno e o Multiplocom duas categorias de pensamento o limite e o ilimitado comoalgo poderia ter limite e ser ilimitado ao mesmo tempo Aleacutem domais o que Protarco natildeo se da conta eacute de que Soacutecrates querinvestigar o Uno e o Multiplo nas Formas as quais natildeo se devemaplicar predicados de qualidades sensiveis O personagem Soacutecratesresponde assim a pergunta de Protarco sobre qual seria a outraversatildeo natildeo banalizada desse argumento ldquoeacute quando filho algueacutemcoloca o um mas natildeo aquele do qual agora ha pouco falamos dascoisas que vecircm a ser e perecemrdquo (15 a tocircn gignomeacutenon ndash das coisasadvenientes)

Fica evidente entatildeo o erro de Protarco ao confundir aunidade empirica com a unidade formal a Forma ou a Ideia Aabordagem socratica seria pode-se dizer ontoloacutegica enquanto ade Protarco empirica por isso Soacutecrates precisa primeiro conduzirProtarco a esse denominador comum da discussatildeo (movimentoclaramente expresso no verbo synkhoreacuteo ndash reunir no mesmo siacutetioderivado composto de khoacutera territoacuterio regiatildeo lugar) para entatildeoproceder ao meacutetodo dialeacutetico da divisatildeo

Platatildeo ja havia estabelecido desde os dialogos damaturidade que a unidade genuina ou originaria era uma Forma ouIdeia (eicircdos ideacutea) a unica originariamente una e que dentre estas aforma suprema ou final na hierarquia seria o Bem Amultiplicidade por sua vez estaria associada aos particularessensiveis - exemplificacotildees desses originarios que satildeo as formas - eque estatildeo para o adveniente assim como as ideias estatildeo para o SerComo conciliar portanto os conceitos de um Uno-supremo comum Uno-Multiplo relacional uma vez que todas as realidadesparecem ser unas e multiplas simultaneamente Para Platatildeo soacute aaplicacatildeo do meacutetodo dialeacutetico esse caminho lsquopresente dos deusesrsquopode desfazer essa primeira aporia que o multiplo seja uno e ouno seja multiplo

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Ainda ao concluir a secatildeo 15 a ele afirma ldquoeacute sobre essashecircnades23 e sobre coisas desse tipo que muito empenho gera arefutacatildeo ou controveacutersia pelo meacutetodo da divisatildeordquo (traducatildeoproacutepria)24 Essa afirmacatildeo soa como uma espeacutecie de observacatildeoautocritica muito zelo com o meacutetodo da divisatildeo em se tratando dehecircnades eacute perigoso por causa da sua proacutepria natureza una Natildeo eacuteuma critica necessariamente ao meacutetodo da divisatildeo fundamental nadialeacutetica platocircnica mas uma constatacatildeo da dificuldade deapresentar essas hecircnades discursivamente por causa da sua proacuteprianatureza paradoxal

Pode-se dizer sobretudo que o foco teoreacutetico de Soacutecrateseacute entender o fundamento dessas hecircnades ndash as formas unas em simesmas ndash que ele exemplifica como o homem como um o boicomo um o belo como um o bem como u m (esses dois ultimosexemplos canocircnicos da teoria das Formas) Por causa dessaafirmacatildeo de Soacutecrates muitos inteacuterpretes viram na teoria platocircnicada realidade natildeo uma ontologia mas uma henologia na qual o uno eacutea origem do real e o conceito de ser deriva dele25

Concluindo procurei mostrar nesse artigo em linhas geraise amplas a habilidade surpreendente de Platatildeo por meio dapersonagem Soacutecrates em desenvolver uma argumentacatildeo sobretemas tatildeo complexos mostrando e aplicando cuidadosamente omeacutetodo dialeacutetico para o filoacutesofo o modo supremo de apreensatildeodo real com vistas a resolver um problema que de longe eacute simpleso Bem eacute em Platatildeo o fundamento ontoloacutegico de uma vida felizComo se pode definir o Bem em termos de uma vida mista deprazeres e conhecimentos

Retomando a nocatildeo de escopo dos antigos exegetasneoplatocircnicos26 poder-se-ia dizer que o tema principal do Filebo eacuteo Bem mas o propoacutesito do dialogo eacute definir como a vida mistapode ser esse Bem

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ABSTRACT

Philebus Face-off of Pleasure and Intellect

The dialogue Philebus for a long time was dropped by thetradition of Platonic studies and is considered a complex dialoguedue to an alleged lack of thematic unity In the last thirty years theinterest in it revived with strength and its relevance to a broaderunderstanding of the theoretical thinking of Plato was finallyrecognized This article aims to introduce the reader on the coreissues of the dialogue namely What constitutes a good life wouldit be a life dedicated to pleasure or dedicated to understanding Orit would be a mixture between these two lives And which of thethree conceptions of life are closer to the Good

KEYWORDS

Philebus Socratic dialogue Pleasure Intellect the Good

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NUSSBAUM Martha A fragilidade da bondade fortuna e eacutetica na trageacutedia e nafilosofia grega Traducatildeo de Ana Aguiar Coutinho Satildeo Paulo Martins Fontes2009

PERSEUS DIGITAL LIBRARY Disponivel em httpwwwperseustuftsedu

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O Filebo prazer e intelecto em confronto | Simone de O Goncalves Bondarczuk

PLATAtildeO Diaacutelogos Parmecircnides-Filebo Traducatildeo de Carlos Alberto NunesPara Universidade Federal do Para 1974 v 8

-------------- Repuacuteblica Traducatildeo e notas Maria Helena da Rocha PereiraLisboa Fundacatildeo Calouste Gulbenkian 2012

_________ Parmecircnides Traducatildeo e comentarios Maura Igleacutesias e FernandoRodrigues Rio de Janeiro EdPUC Satildeo Paulo Loyola 2003

_________ Goacutergias Introducatildeo traducatildeo do grego e notas de Manuel deOliveira Pulqueacuterio Lisboa Edicotildees 70 2011

PLATO Philebus Translated with introduction e notes by Dorothea FredeIndianapolis Cambridge Hackett Publishing Company 1993

PLATO Philebus Translated with an introduction and commentary by RHackforth Cambridge Cambridge University Press 1972

PLATON Philegravebe In DIEgraveS A (Ed) Paris Les Belles Lettres 1949

PLATOacuteN Filebo Introduccioacuten traduccioacuten y notas de Marcelo Boeri BuenosAires Losada 2010

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1 Deixo de lado a questatildeo de quem teriam sido os primeiros receptores dosdialogos de Platatildeo que natildeo eacute relevante para os objetivos deste artigo Asuposicatildeo mais imediata nos indica seus discipulos membros da Academia Osdialogos teriam sido como hypomnemata que auxiliavam na discussatildeo mas muitosos consideram principalmente dirigidos aos adversarios intelectuais do mestreos sofistas e os reacutetores e ainda pode-se supor que tenham sido escritos comolegado agrave posteridade Dado a situacatildeo de analfabetismo da eacutepoca dificilmenteeles visavam um publico leigo e natildeo aristocratico 2 Soacute para citar algumas propostas diferentes Diegraves (1949) Boeri (2010)Friedlaumlnder (2014)3 GADAMER 2009 p 1034 Constata-se isso na insistecircncia de Soacutecrates desde o inicio de buscar entrar emacordo com o seu interlocutor sobre o tema que discutiratildeo e de como devemtrata-lo A concepcatildeo da dialeacutetica como uma busca compartilhada eacutedesenvolvida com maestria no Filebo5 GILL 2010 p 47-556 Cf Banquete 204 b-c 206 c-e7 HACKFORTH 1972 p 18 Idem ibidem p 49 ldquoSocrates and his interlocutours discuss the good for man as individual not amember of a community this is surprising in the author of Republic Statesmanand Laws and may be taken to reflect a deliberate detachment from politicalspeculation such as better fits the years 360-354 than any other period in Platorsquoslast two decadesrdquo (1972 p 4)10 BOERI 2010 p 911 PLATAtildeO 2011 p 140 12 BRAVO 2009 p 16813 Sem sombra de duvida o comentarista que definitivamente conseguiudemonstrar isso foi Sylvain Delcomminette em sua obra magistral Le Philegravebe dePlaton Introduction agrave lrsquoagathologie platonicienne14 Filebo 52 a-b15 κακὰ δ ὄντα αὐτῶν τὰ πολλὰ καὶ ἀγαθὰ δέ ὡς ἡμεῖς φαμέν (Filebo 14b)16 Filebo 13b17 Plotino faz varias referecircncias ao dialogo no Livro III 588 IV 3634 VI7252tambeacutem Porfirio seu mestre comenta algumas linhas do dialogo em seusComentaacuterios ao Timeu de Platatildeo fr 5170-3 e ainda Alexandro de Afrodisia emComentaacuterio ao livro VIII dos Toacutepicos de Aristoacuteteles onde cita e interpreta de modoaristoteacutelico a passagem de Filebo 12d Ademais sabe-se da existecircncia de umcomentario perdido de Proclo ao Filebo e um comentario de Jacircmbico cuja unicafonte eacute o proacuteprio comentario de Damascio sobre esse dialogo18 Nasceu em Damasco na provincia romana da Siria lugar de onde provem oseu nome (o nome original eacute desconhecido) Foi filoacutesofo da escola neoplatocircnicaateniense (458 dC ndash apoacutes 538) conhecido como o ultimo dos neoplatocircnicospor ter sido o ultimo escolarca da Escola de Atenas antes do seu fechamentopelo imperador Justiniano em 529 dC Duas obras satildeo atribuidas a ele acerca doFilebo Tratado dos Primeiros Princiacutepios e Comentaacuterios ao Filebo de Platatildeo (textosestabelecidos por LG Westernik e natildeo traduzidos para o portuguecircs)

19 FREDE 2013 p 50220 Natildeo eacute inquestionavel que para Platatildeo o substantivo e o adjetivo fossem entendidos como um ente e seu predicado pois ambos satildeo denominados de oacutenoma e portanto vistos como entes 21 ldquoTout le dialogue peut ecirctre vu comme une tentative de deacutecouvrir larelation correcte entre le plaisir et le bien et de fonder dialectiquementerdquo(DELCOMMINETTE 2006 p 31)

22 Os especialistas natildeo estatildeo de acordo ainda se teria sido Platatildeo ou Soacutecrates ocriador do conceito23 Natildeo eacute facil determinar o sentido exato desta palavra usada uma unica vez porPlatatildeo nesse contexto portanto um haacutepax legoacutemena sem ocorrecircncia em outrosdialogos Talvez Platatildeo se refira a formas unas de aspecto uno se supormosuma etimologia a partir da juncatildeo de heacutena (neutro plural de heacuten) unidades e a raizeid- de eicircdos forma aparecircncia aspecto ou seja o que tem um aspecto uacutenicouno

24 περὶ τούτων τῶν ἑνάδων καὶ τῶν τοιούτων ἡ πολλὴ σπουδὴ μετὰ διαιρέσεωςἀμφισβήτησις γίγνεται (Filebo 15a 6-7)25 Sobre esse assunto cf BRAVO 2009 p 17026 ALEKNIENEgrave 2017 p 1

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Aedoacuten performance poeacutetica de lasvictimasGraciela C Zecchin de Fasano

RESUMEN

La figura del ruisentildeor atestiguada por primera vez en el canto 19de Odisea (v 518-523) aparece tambieacuten en la fabula contenida enTrabajos y diacuteas (v 202-212) de Hesiodo y en la comedia Aves deAristoacutefanes El presente articulo analiza con metodologiacomparativa la peculiar representacioacuten de la victima de algun tipode violencia en los textos citados y queacute interpretacioacuten se puedederivar en cada contexto discursivo especifico

PALABRAS CLAVE

Aedoacuten Homero Hesiodo Aristoacutefanes

SUBMISSAtildeO 29 dez 2017 | PUBLICACcedilAtildeO 31 dez 2017

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unque los poemas homeacutericos expresan regularmentela ideologia masculina de la gloria las aristassocialmente excluidas pueden ser presentadasconforme a las posibilidades expresivas del arteinsertas en medio de los toacutepicos tradicionalmenteconstitutivos Tal como sucede con la representacioacutende las victimas femeninas para las cuales la conversioacutenen aves permite con la imagineria del canto dar vozespecial a los silenciados y particularmente a lasmujeres En el canto 19 de Odisea (v 518-523)Homero utiliza una versioacuten inusual del mito de laconversioacuten de una mujer en ruisentildeor En el texto laimagen del ave inaugura una presencia de la liricaasociada al lamento que ha tenido interesantes

consecuencias1 En primer lugar dentro del corpus de la literaturagriega misma el ruisentildeor homeacuterico resultoacute desplazado por lapresioacuten didactica de la fabula hesioacutedica y en segundo lugar luegofue significativamente reemplazado por la versioacuten mas politica ydifundida acerca del mito de Procne y Filomela en textos de lacomedia y la tragedia Analizareacute en queacute modo el ruisentildeor homeacutericoproblematiza nuestra comprensioacuten de la mimesis en eacutepica y enlirica y queacute consecuencias conlleva su estudio comparativo contextos posteriores como la conocida ldquofabula del ruisentildeor y elhalcoacutenrdquo en Trabajos y diacuteas de Hesiodo o en la sofisticada comediade Aristoacutefanes llamada Aves

UN RUISENtildeOR EN ODISEA UNA VERSIOacuteN DE LA LIacuteRICA FEMENINA

En el pasaje de Odisea mencionado (19 v 518-523)Peneacutelope se halla en una situacioacuten animica calamitosa devastadapor el llanto el insomnio o las pesadillas que se comunica comoun canto de lamento Presentada de este modo la pena dePeneacutelope desarrolla en medio de un discurso eacutepico una mimesis ouna ldquoperformancerdquo de la lirica La forma lirica especifica del cantode lamento no resulta vertida directamente sino a traveacutes de ladescripcioacuten de una variacioacuten foacutenica en que Peneacutelope se compara a

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A

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si misma con un ruisentildeor el ave tipica del lamento en las antiguastradiciones griegas Peneacutelope se imagina como una mujer-ave queen una vida anterior ha sufrido la extraordinaria pena de asesinar asu hijo

El mito de Aedoacuten palabra griega que significa ruisentildeornos ha llegado en dos versiones2 Por un lado la versioacuten canoacutenicamas expandida en la tradicioacuten posterior es la que trata acerca deProcne y Filomela o Aedoacuten y Calidoacuten proporcionada por latragedia Ovidio y la Biblioteca de Apolodoro Tereo el esposo deProcne viola a Filomela quien trata de revelar la verdad a suhermana tejiendo su propia historia en un tapiz Procne enojadaasesina a Itys el hijo que tiene con Tereo y le sirve sus carnes alpadre como comida Con esta accioacuten Tereo queda sin herederos yabsolutamente contaminado de culpa La progenie es cortadaabruptamente pero Procne que amaba a su hijo lo lamentaracantando su pena como un ave indefinidamente La primerainferencia obvia en este relato es que Procne a diferencia dePeneacutelope en el pasaje de Odisea esta usando su poder para dantildeardirectamente a su marido en una venganza concreta

Por otro lado una segunda versioacuten del mito la quecontiene Odisea se halla tambieacuten en un escolio de Eustacio aFereacutecides Segun esa versioacuten Aedoacuten esta casada con Zeto elfortificador de Tebas y tienen un unico hijo Itylos mientras elgemelo de Zeto Anfioacuten esta casado con Niobe y tienen varioshijos3 Aedoacuten celosa de esta multiple progenie intenta matar al hijomayor de Niobe y en la oscuridad por error asesina a su propiohijo En el escolio de Eustacio se dice que Aedoacuten ordenoacute a su hijodormir en otra habitacioacuten pero el joven no la obedecioacute o bienolvidoacute la orden materna

iquestPor queacute Odisea se sirve de la versioacuten tebana del mito delruisentildeor cuando se ha demostrado el vinculo estricto que elpoema guarda con los origenes de Atenas4 iquestPor queacute esta versioacutentebana no ha gozado de la tradicioacuten literaria que la versioacutenateniense de Procne y Filomela ha recibido

Los v 518-523 del canto 19 de Odisea constituyen laprimera parte de un simil con la estructura habitual en Homero es

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decir una comparacioacuten en dos partes introducida por unsubordinante rutinario ldquocomo cuandordquo (ὡς δ ὅτε) pero por suextensioacuten podria ser considerado un ejemplo mitoloacutegico Los dosmiembros del simil sirven para expresar cabalmente la divisioacutenemocional de Peneacutelope que enuncia el simil su thymoacutes partidoproductor del canto avizora una hipoacutetesis sobre el contenido de lalirica La escisioacuten del animo de Aedoacuten entre su hijo muerto y sumarido resulta equivalente de la divisioacuten del corazoacuten de Peneacutelopeentre la opcioacuten que su hijo Teleacutemaco le ofrece - abandonar la casay regresar a la casa paterna- o elegir esposo entre los aqueos

El texto ofrece un leacutexico significativo no soacutelo porqueconstruye un paisaje para el canto del ave sino tambieacuten porqueratifica la femineidad del ave a traveacutes del epiteto χλωρηῒς 5

ὡς δ᾿ ὅτε Πανδαρέου κούρη χλωρηῒς ἀηδώνκαλὸν ἀείδῃσιν ἔαρος νέον ἱσταμένοιοδενδρέων ἐν πετάλοισι καθεζομένη πυκινοῖσινἥ τε θαμὰ τρωπῶσα χέει πολυηχέα φωνήνπαῖδ᾿ ὀλοφυρομένη Ἴτυλον φίλον ὅν ποτε χαλκῷ

κτεῖνε δι᾿ ἀφραδίας κοῦρον Ζήθοιο ἄνακτος6

Como cuando la hija de Pandaacutereo Aedoacuten la defrondosa garganta canta hermosamente al comenzar laprimavera posada en el tupido follaje de los aacuterboles ydeja fluir su voz de variados sones que muda a cadamomento llorando a Itylos el hijo que tuvo del reyZeto al cual asesinoacute con el bronce por imprudencia []

En las interpretaciones del pasaje de Odisea hanpredominado las consideraciones sobre los celos de Aedoacuten enconsecuencia el texto revelaria cierta hostilidad de Peneacutelope conOdiseo (Tereo en este parangoacuten) y significaria que Peneacutelope quierepotencialmente asesinar a su hijo7 Cabe la posibilidad de un errorde interpretacioacuten de los escoliastas es decir que tomaran Aedoacutencomo nombre propio e instalaran esta nueva versioacuten aunque yanos resultan conocidas las variaciones homeacutericas en los nombresmiticos

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Anhalt ha sostenido que el personaje esta usando elparadigma de Clitemnestra y que sospecha de las acciones de suesposo durante su ausencia8 Levaniouk supone que la versioacutentebana revela mejor el estado animico turbulento de Peneacutelope ycomo el mito consiste en una confesioacuten ante Odiseo disfrazado demendigo el asesinato de Itylos ha sido interpretadoldquopsicoloacutegicamenterdquo por la mayor parte de la masa critica9

La insercioacuten de este relato confronta con todas lasnarrativas previas que Peneacutelope desarrolla sobre si misma y queversan acerca de su presente o su pasado inmediato Este pequentildeorelato en cambio instala personajes remotos con una conexioacutenpoco clara con el personaje que lo usa La pena de Peneacutelope y eltropo del ruisentildeor parecen conectarse con el vaiveacuten indeciso de latrama en la que Peneacutelope esta incluida Como precedente podemosconsiderar el pasaje del canto IX v 555-565 de Iliacuteada en que Feacutenixal narrar el mito de Meleagro sostiene que a Cleopatra la mujerdel heacuteroe sus padres la llamaban Alcioacuten porque la madre llorabapor ella como el ave ya que Apolo la habia raptado Esta imagense desarrolla intercalada con la referencia al enojo de Altea quesuplica la muerte de su hijo En sintesis el ave doliente expresa ensu agudo grito la pena y esa pena se transfiere a Altea quepeligrosamente y en un espejo deforme repite la trama de Iliacuteadasubyugando la vida de su hijo a un tizoacuten que se consume

En el texto de Odisea los multiples ecos del canto del aveenriquecen la imagen del vaiveacuten de Peneacutelope la indecisioacuten de sut r a m a πολυηχέα ldquode muchas resonancias o ecosrdquo debecomprenderse en este sentido La frecuencia e intensidad de suslamentos esta referida por una triple calificacioacuten en los versosprevios ἀδινὸν ldquovehementerdquo πυκυναί (v 516) πυκινοῖσιν (v 520)que se refieren a la angustia ldquointima ajustadardquo y θαμὰ (v521)ldquoreiterada muchas vecesrdquo Sin embargo el mito de Aedoacuten lafilicida no ofrece una conexioacuten obvia con la trama de Odisea espreciso decodificarla Por otra parte esta versioacuten tebana del mitoutilizada por Odisea no se conecta con ninguna otra versioacuten en laque los personajes sean simplemente intercambiados

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De la comparacioacuten entre las versiones tebana y ateniensesurge claramente que la agonia de Procne en la versioacuten ateniensederiva de que el hijo que ella ama es hijo del hombre que odiaNada de eso la pasa a Peneacutelope cuyo epiteto ἐχέφρων la definecomo ldquosensatardquo quien no enloquece sino que sopesa susdecisiones y sostengo por ello que la versioacuten tebana encajaperfectamente en Odisea Peneacutelope lamenta una peacuterdida vinculadaestrictamente a su lecho una pena de amor

Entre los multiples dilemas que Odisea presenta el dilemade Peneacutelope no es entre su esposo y su hijo sino coacutemo ejercer sucapacidad de calculo Un paso en falso puede hacerle perder todoIncluso la diosa Atenea configurada como Mentes le hacecomprender que para restablecer su poder Teleacutemaco deberiaasesinar a los pretendientes aun despueacutes de que Peneacutelope sehubiese casado Evidentemente la versioacuten tebana del mitopropone en Aedoacuten un personaje que trata de beneficiar a su hijoquien debe competir solo entre numerosos primos Con este mitoPeneacutelope manipula su situacioacuten y resulta evidente que el mitoproblematiza una cuestioacuten basica en la estructura del poderpolitico antiguo como lo es la continuidad del linaje La versioacutenateniense se concentra en este aspecto porque la esposa de Tereotrata de cortar el linaje de su esposo Muy distintas son lasintenciones de la mujer de Zeto el tebano ya que ella actua porquequiere promover e imponer su linaje por sobre sobre otros Enresumen la seleccioacuten de la versioacuten tebana colabora con la ideologiapolitica de Odisea que consiste en restaurar el linaje de Odiseo y enconservar la fortuna para Teleacutemaco En el lamento de Peneacutelope sehalla la pena por un posible nuevo matrimonio no deseado porella pero que Teleacutemaco o su padre Icario podrian promover Eseste posible nuevo matrimonio el nivel en que el simil del ruisentildeoraporta la idea de una violenta unioacuten no aceptada una veta deinterpretacioacuten mas proacutexima a la versioacuten ateniense y a lavictimizacioacuten de Filomela

La asociacioacuten de figuras femeninas con animales o insectostiene abundante registro en la eacutepica y en la poesia yambica griegasEn el caso de Peneacutelope ademas de esta conexioacuten con el ruisentildeor

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se debe recordar que su nombre sugiere que es una cerceta (untipo de cisne u oca) en consonancia con lo cual ella exige almendigo Odiseo en unos versos que siguen inmediatamente a loscitados que interprete un suentildeo sobre un grupo de gansos ndash lospretendientes- que se alimentan en la casa

Eliano ha propuesto en De natura animalia 5 38 unavariante para el v 521 del texto citado que consiste en reemplazarla palabra πολυηχέα que significa de variadas resonancias porπολυδευκέα de significado poco claro10 A pesar de ello enconjunto con τρωπῶσα cualquiera de estos adjetivos gesta laimagen del sonido que gira y repite una melodia

El cambio demostraria por un lado que la idea de mouvanceexpresada por Zumthor o la idea de variance sostenida porCerquiglini11 se aplican a este fragmento en el sentido de que estetexto poeacutetico no esta fijo sino que es tan moacutevil como el canto delruisentildeor y se actualiza en cada ejecucioacuten En segundo lugardefiniria la mimesis de la lirica que Peneacutelope realiza un texto moacutevilen sus elementos foacutenicos El fragmento ademas produce unainteresante aliteracioacuten en sonidos labiales y guturales para reflejarlos variados sones del ruisentildeor

El mito de Aedoacuten insiste en la tragica circunstancia de queItylos es hijo unico como lo son a su vez Teleacutemaco y Odiseo Lasituacioacuten de individuo aislado en la continuidad de la estirpeconfronta en el caso de Itylso en particular con los numerososhijos de Niobe su tia y en Odisea se replicaria en la situacioacuten deTeleacutemaco frente a los numerosos pretendientes de su madre

Como Aedoacuten Peneacutelope canta una melodia variablecambiando su voz llora y gime de noche hasta que Atenea leinsufla el suentildeo Volviendo a la idea de la lirica como texto enmovimiento el ruisentildeor que no duerme y varia su canto expandela imagen de la fluidez del tejido que Peneacutelope teje en el dia ydesteje por la noche El canto πολυδευκής del ruisentildeor si hacemoscaso de Eliano consiste en un lamento ininterrumpido contrario alcorte abrupto de la estirpe que la accioacuten de Aedoacuten concreta Lavariacioacuten del canto con sus giros es una extensioacuten foacutenica delldquotextordquo tejido por Peneacutelope

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EL RUISENtildeOR DE HESIacuteODO UNA LECTURA DEL PODERLa conexioacuten de Hesiodo con la tradicioacuten de la fabula

representada por Esopo ha sido convenientemente estudiada porHunter por supuesto partir de las lineas 202-212 de Trabajos y diacuteasen las que aparece el breve apoacutelogo sobre el ruisentildeor y el halcoacuten12

νῦν δ αἶνον βασιλεῦσιν ἐρέω φρονέουσι καὶ αὐτοῖςὧδ ἴρηξ προσέειπεν ἀηδόνα ποικιλόδειρον ὕψι μάλ ἐν νεφέεσσι φέρων ὀνύχεσσι μεμαρπώς ἣ δ ἐλεόν γναμπτοῖσι πεπαρμένη ἀμφ ὀνύχεσσι μύρετο τὴν ὅγ ἐπικρατέως πρὸς μῦθον ἔειπεν δαιμονίη τί λέληκας ἔχει νύ σε πολλὸν ἀρείων τῇ δ εἶς ᾗ σ ἂν ἐγώ περ ἄγω καὶ ἀοιδὸν ἐοῦσανδεῖπνον δ αἴ κ ἐθέλω ποιήσομαι ἠ ὲ μεθήσω ἄφρων δ ὅς κ ἐθέλῃ πρὸς κρείσσονας ἀντιφερίζειν νίκης τε στέρεται πρός τ αἴσχεσιν ἄλγεα πάσχειὣς ἔφατ ὠκυπέτης ἴρηξ τανυσίπτερος ὄρνις

Ahora contareacute una faacutebula a los reyes aunque sean sabiosAsiacute habloacute un halcoacuten a un ruisentildeor de variopinto cuello mientras lellevaba muy alto entre las nubes atrapado con sus garras Eacuteste gemiacutealastimosamente ensartado entre las corvas untildeas y aqueacutel en tono desuperioridad le dirigioacute estas palabras`iexclInfeliz iquestPor queacute chillas Ahorate tiene en su poder uno mucho maacutes poderoso Iraacutes a donde yo te lleve pormuy cantor que seas y me serviraacutes de comida si quiero o te dejareacute libreiexclLoco es el que quiere ponerse a la altura de los maacutes fuertes Se veprivado de la victoria y ademaacutes tiene que sufrir vejaciones es maltratado

Asiacute dijo el halcoacuten de raacutepido vuelo ave de amplias alas

Como comenta Vianello en estos diez versos estacontenido el primer apoacutelogo de la antiguumledad clasica al cualWillamowitz ha querido reducir injustamente a un simil eacutepico sinmoraleja13 Esta posicioacuten resulta insostenible excepto queextirpemos los v 210-211 como queria Aristarco aunque porsupuesto el hecho de que en un poeta bastante cercano en eltiempo como Arquiloco aparezcan tambieacuten los elementosdidacticos de este texto nos hace sospechar que ambos Aristarcoy Willamowitz erraron en su juicio

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La secuela didactica de este breve relato esta en los v 217-218 ldquola justicia vence a la violencia pero el candido aprendesufriendordquo(Δίκη δ ὑπὲρ Ὕ βριος ἴσχει ἐς τέλος ἐξελθοῦσα παθὼνδέ τε νήπιος ἔγνω) y la diferencia comparativa entre este texto y elmito de Odisea no se reduce a este mensaje En primer lugar elrelato no tiene la calificacioacuten de mito sino una calificacioacuten teacutecnicade su tipo discursivo ya que se trata de un αἶ νος un tipo de relatoen el que las consecuencias de los actos se exponen claramentebuscando un aprendizaje en el auditorio Y ese contenido estaexplicitamente expresado Sin mencionar que pasamos de ladoliente y femenina Peneacutelope al ruisentildeor que representa lavulnerabilidad del poeta de Trabajos y diacuteas frente a los poderosos

En esta fabula no figuran directamente los dioses ni losheacuteroes El narrador margina esos planos y concede discurso a lasaves El ruisentildeor gime lastimeramente mientras que el halcoacuten ogavilan (como se maneja en algunas traducciones) sentencia lainutilidad de ldquoponerse a la altura de los mas fuertesrdquo porqueademas de verse ldquoprivado de la victoriardquo debe sufrir vejacionesEn el contexto de los consejos agricolas que el poema desarrolla lafabula parece en primer teacutermino una transferencia de una ley delmundo natural al mundo social humano Es natural que los pajarosmas pequentildeos y menos fuertes que el halcoacuten le sirvan a eacuteste comoalimento Puede decirse que la funcioacuten nutricia es constitutiva de laphysis de los halcones y de los ruisentildeores o que en el vastoescenario del mundo estos desempentildean un papel que es adecuadoa su naturaleza

En segundo teacutermino en el contexto de la enunciacioacutenpoeacutetica Hesiodo en tanto que poeta es como el ruisentildeor es elcantor de dulce voz14 mientras que los guerreros y los reyes desdeluego son como el halcoacuten fuertes cazadores No me ocupareacute de larecepcioacuten de este texto en la fabula 47 de Esopo Soacutelo mencionareacuteque en ese texto el ruisentildeor debe esforzarse al maximo con sucanto para no ser devorado El halcoacuten esta tan concentrado enatacar a sus presas que a su vez es sometido por otro cazador unhombre En su moraleja Esopo se limita a plantear que todos losseres estan en guerra y quien tiene enemigos no debe descuidarse

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En el caso de Hesiodo podriamos considerar a suhermano Perses como el enemigo al acecho ya sea un dobledidactico o un dato de la realidad ya que el poeta lo invocadirectamente ὦ Πέρση σὺ δ ἄκουε δίκης μηδ ὕβριν ὄφελλεldquoPerses tu obedece a la justicia y no desees la soberbiardquo (v 213)Resulta claro que la situacioacuten de injusticia narrada coloca al poetaen la posicioacuten del ruisentildeor arrastrado por las garras cuya queja esdesoida y que se halla en total indefensioacuten El ruisentildeor extiende lasimple imagen del poeta a la situacioacuten de toda victima de los reyesdevoradores que describe Hesiodo Suponemos una amarga ironiaen la expresioacuten ldquoaunque sean sabiosrdquo (v 202) en el juegointelectual en que el poeta- puede chillar15 como el ruisentildeor yaunque el ruisentildeor no replica el poeta no obstante se atreve a darlecciones a los sabios Hay reyes que no atienden a la justicia comolos hombres de una edad degradada que no es ldquola edad de orordquosino la ldquode hierrordquo 16 Perses no es un rey pero Hesiodo dice queademas de ser codicioso y rapaz es perezoso y que su hermanocree que puede enriquecerse sin tener que trabajar y por si estofuera poco es prepotente y soberbio tal como un rey La soberbia(hybris) es una mala inclinacioacuten que podria esperarse de los reyespero aun para eacutestos no es recomendable fomentarla

La similitud planteada en la fabula entre el ambito animaly humano compone una confrontacioacuten agonal entre seres encompetencia En el mudo natural la resolucioacuten es cruel pero en elmundo humano el poeta aconseja no seguir por la via de ladiscordia y dedicarse a trabajar con honestidad De todas formasHesiodo se explaya en una prolija moraleja que puede querer decirvarias cosas por ejemplo que si los hombres no quieren ser comolos animales deben contrapesar el ciego ejercicio del poder con lajusticia Hesiodo parece sostener que los humanos han inventadoalgo mejor que la simple voluntad de poder parece querer decir lavirtud la rectitud el ejercicio de la justicia Soacutelo asi tendran algunaoportunidad de alejar su destino del de los animales ldquopues esta leyimpuso a los hombres el Cronioacuten a los peces fieras y avesvoladoras comerse los unos a los otros ya que no existe justicia

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entre ellosrdquo (v 276-277) Tampoco puede olvidarse que en estetexto el ruisentildeor es femenino y el halcoacuten masculino

El cambio de geacutenero discursivo de un mito a un αἶνος ofabula de la representacioacuten femenina de la pena a la situacioacutenlimite del oprimido por los poderosos convierte el ruisentildeor deHesiodo en un instrumento eficientisimo de su preocupacioacutenmoral y su admonicioacuten politica Nada como la imagen del deacutebil enlas garras de otro

CORTAR LA LENGUA LA VERSIOacuteN ATENIENSE EN AVES DE

ARISTOacuteFANES

Aunque su representacioacuten en las fiestas dionisias del antildeo414 aC soacutelo le concedioacute el segundo puesto la comedia Aves deAristoacutefanes ha sido considerada recurrentemente la mas poeacutetica ysofisticada entre las conservadas En ella dos ancianos ateniensesEueacutelpides (la buena esperanza) y Pisteteros (el compantildeeropersuasivo) han abandonado Atenas para evitar la politica y lostribunales de justicia y estan buscando a Tereo un ave que ha sidoser humano en el pasado y tiene conexiones con los ateniensesPisteteros concibe la idea de fundar una ciudad en las nubes parainterceptar los sacrificios a los dioses y de este modo podersometerlos Persuade al hostil coro de aves de gobernarnuevamente el universo En la segunda parte de la obra la ciudadde las nubes y los cucus Nefelococcigia es fundada y llegan unaserie de visitantes Iris un parricida un poeta un delatorPrometeo que ha sido rebelde contra los dioses FinalmentePisteteros debe solicitar casarse con Basileia la soberania La obratermina con una procesioacuten del triunfo real de Pisteteros y proponeal mismo tiempo un utoacutepico escape de la realidad como reaccioacuten aciertos fracasos militares de los atenienses17 la presentacioacuten de lamegalomania tiranica o una iroacutenica distopia etc En este contextoun breve episodio lirico presenta al ruisentildeor En la versioacutenateniense del mito Tereo rey de Tracia auxilia a Pandioacuten rey deAtenas contra el tebano Labdaco De ello se deriva el matrimoniode Tereo con Procne y los episodios que ya comentamos sobre el

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asesinato de Itys y la conversioacuten de Procne en ruisentildeor la deFilomela en golondrina y la del mismo Tereo en abubilla

En la clasificacioacuten aristoteacutelica de geacuteneros discursivos lacomedia careceria de mito Sin embargo Aves curiosamentepropone la degradacioacuten de varios mitos En primer lugar del mitofundacional ya que parodia la cosmogonia y teogonia hesioacutedicasde un modo muy original para proponer burlonamente unacosmogonia literal a partir de un huevo de ave y la transformacioacutenen aves de todos los personajes es decir de todos los ciudadanosde Atenas Probablemente Aristoacutefanes dispuso de la tragedia deSoacutefocles llamada Tereo de la que suponemos realiza la parodiaaunque lamentablemente soacutelo nos queda al parecer una sintesis enel papiro de Oxy 3013 Como ya sentildealoacute Aristoacuteteles en Poeacutetica 1453ordf36-39 aquellos a quienes el mito convierte en enemigos resultan enla subversioacuten coacutemica los mejores amigos18 Es el caso de Tereo laabubilla y de Procne el ruisentildeor que son en la obra una parejafeliz mientras la infausta Filomela no aparece aunque Procneentona su permanente lamento por Itys

La versioacuten ateniense del mito elegida por Aristoacutefanesrepresenta por un lado el desastroso presente de Atenasinterpretado por los dos viejos cuyo delirio senil produce la mejorinvencioacuten de la obra Por otro lado como se le adjudica a Tereo elhecho de haber ensentildeado el lenguaje articulado a las aves hay unafranca contradiccioacuten entre seccionar la lengua de Filomela yconceder habla humana a las aves La interpretacioacuten politica esllana Tereo concede la palabra y tambieacuten la inhibe iquestQueacute haydetras de esta eleccioacuten de Aristoacutefanes iquestPor queacute elegir al culpablemitico de dos delitos la violacioacuten y el silenciamiento de la victimaLa inversioacuten propia de la comedia provoca una presentacioacuten dellado oscuro del mito como si se tratase de un episodio inocuo Noresulta menos cierto que en esta comedia sobre el poderAristoacutefanes conservoacute la idea griega del poder masculino y laconvocatoria al nuevo poder de las aves la realiza tambieacuten Tereocomo ave masculina

Veamos coacutemo convoca Tereo al ruisentildeor entre los v 209-22119

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Ἔ ποψἄγε σύννομέ μοι παῦσαι μὲν ὕπνου λῦσον δὲ νόμους ἱερῶν ὕμνωνοὓς διὰ θείου στόματος θρηνεῖς τὸν ἐμὸν καὶ σὸν πολύδακρυν Ἴτυν ἐλελιζομένης δ ἱεροῖς μέλεσιν γένυος ξουθῆς καθαρὰ χωρεῖ διὰ φυλλοκόμου μίλακος ἠχὼ πρὸς Διὸς ἕδρας ἵν ὁ χρυσοκόμας Φοῖβος ἀκούων τοῖς σοῖς ἐλέγοις ἀντιψάλλων ἐλεφαντόδετον φόρμιγγα θεῶ ν ἵστησι χορούς διὰ δ ἀθανάτων στομάτων χωρεῖ ξύμφωνος ὁμοῦ θεία μακάρων ὀλολυγή

( αὐλεῖ)

Vamos compantildeera miacutea pon fin a tu suentildeo vierte a torrentes los acordesde los himnos sagrados con los cuales desde tus divinos labios lamentas anuestro hijo el triste Itys produciendo un murmullo con las liacutempidasnotas de tu vibrante garganta A traveacutes del espeso follaje del bosque tupuro sonido llega al trono de Zeus y en respuesta el dios de cabellos deoro Febo contesta con los acordes de su lira de marfil a tus penososacentos El preside los coros de los dioses y desde los labios de losinmortales la armoniosa voz del estribillo de los bienaventurados se elevaal uniacutesono

La amorosa invitacioacuten no produce el ingreso de Procnehasta el v 665 En esa escena el personaje silente sale ataviado conexcesivos adornos dorados como comentan los ancianos que laobservan como mujer y no como ave A tal punto que Eueacutelpidesintenta besarla por la fuerza en una mimesis risuentildea e invertida dela secuencia mitica de la violacioacuten La escena sirve de introduccioacutena la parte estructural de la comedia llamada parabasis en la que elcoro canta directamente al publico En ese momento TereoEueacutelpides y Pisteteros abandonan la escena para que el coro puedaexponer la famosa cosmogonia y teogonia que la comediapresenta

La invitacioacuten de Tereo representa el momento de laseduccioacuten no obstante Tereo sigue siendo el que secciona

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lenguas20 En el final de la comedia cuando el coro dice ldquoen toda elAtica la lengua se corta aparterdquo (πανταχοῦ τῆς Ἀττικῆς ἡ γλῶτταχωρὶς τέμνεται 1705) comprendemos que esta comedia no soacutelo hapresentado un mito ha buscado el mito que politicamenterepresente a los atenienses silenciados de este modo tanto Tereocomo Pisteteros representan el poder omnimodo

Desde que Odisea planteoacute los problemas comunicativos delCiclope que habla a su carnero la cuestioacuten del lenguaje y lacivilizacioacuten ha aparecido con recurrencia en los textos En el casod e Aves la ruisentildeora Procne termina por representarfemeninamente a esa ciudad de Atenas que seducida por Tereo oconducida por Pistetero queda al final sin habla En la comediatodo es movimiento y transformacioacuten de humanos en aves deaves que hablan como humanos para enfocar que uno de losaspectos criticos de la distribucioacuten de poder en la poacutelis es lacomunicacioacuten

No es casual que en una pieza en la que se recrea el mitode Tereo el Coro cierre la obra con la mencioacuten de una estirpe deἘ γγλωττογαστόρων γένος ldquocomedores de lenguasrdquo (v 1696-7)Aves asegura el valor de la palabra

A MODO DE CONCLUSIOacuteN COMPARATIVA

iquestPor queacute reaparece un ruisentildeor No he tratado aqui deanalizar similitudes ni diferencias sino de comprender desde queacutepunto de vista el ruisentildeor una voz femenina en la literatura griegaimpone una ejecucioacuten o reflexioacuten acerca de la mimesis orepresentacioacuten particular de las victimas La imposibilidad decomunicar la pena de amor impone una performance comovehiculo en consecuencia Peneacutelope necesitoacute recurrir al lamentoininterrumpido y a las variaciones de voz del ruisentildeor La pena queno se puede decir puede convertirse en son

En Odisea los adjetivos que califican el canto del ruisentildeorson responsables de proponer una representacioacuten lirica en eldiscurso eacutepico En Hesiodo la moraleja no llega a acallar el sonidodel ruisentildeor que chilla en una exacta mimesis del poeta

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manipulado por los poderosos vulnerable como el femeninoruisentildeor Aristoacutefanes entrevioacute con claridad coacutemo proponer el mitodel que cercena la lengua de la ciudad para ensayar la utopia deanimales que pueden ser silenciados o comunicar en su lamentomas que los humanos En cada uno de estos textos cuando ellenguaje resulta imposible el canto del ave resulta un alertainteligible

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ABSTRACT

Aedon Poetic Performance of the Victims

The figure of the nightingale is present for first time in the19 book of Odyssey (v 518-523) later in the fable contained inWorks and Days (v 202-212) by Hesiod and in the comedy Birds byAristophanes The present article analyzes with comparativemethodology the peculiar representation of the victim of sometype of violence in the mentioned texts and what interpretationcan be derived in each specific discursive context

KEYWORDS

Aedon Homer Hesiod Aristophanes

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1 Cfr NAGY 1996 p 7-82 Segun STANFORD 19672 p 336 el texto constituye la primera aparicioacuten poeacuteticadel ruisentildeor el pasaje es el unico lugar en que el canto se diferencia de los gritosy contiene un error de historia natural ya que la hembra del ave no canta Seconsidera que el relato mas estandarizado se deriva de la pieza Tereo de Soacutefocles(cuya hipoacutetesis estaria contenida en POxy 423013) Contamos con el relatocontenido en La Biblioteca de Apolodoro (3148) Metamorfosis de Ovidio 6427ndash674 y con testimonios en otros textos como Agamenoacuten (1140ndash1145) y Suplicantes(60-68) de Esquilo Electra de Soacutefocles (147ndash149) Heracles de Euripides (1020)Aves de Aristoacutefanes (200ndash210) Tambieacuten hallamos testimonios en la prosa deTucidides 2293 en la Oracioacuten fuacutenebre de Demoacutestenes 28 en Pausanias 1541243 1418 1049 e incluso en Estraboacuten 9313 Aedoacuten y Calidoacuten se hallanrepresentadas en una metopa en el templo de Apolo en Thermos3 En Iliacuteada XXIV 599 la referencia a Niobe y a sus numerosos hijos se parangonacon la situacioacuten de Heacutecuba y con el hecho de haber sufrido tambieacuten unametamorfosis que eterniza su pena fue convertida en una piedra que ldquollorabardquopermanentemente4 Sobre los vinculos de Odisea con la disputa entre Atenea y Poseidoacuten por elpatronazgo de Atenas veacutease COOK 1995 p 129-1305 χλωρηῒς implica verdura o frescor STANFORD 19672 p 336 se inclina por latraduccioacuten verde amarillento ldquoreferring either to the fact that the bird hauntsthe greenery of the woodhelliprdquo Se puede interpretar como representacioacuten delcolor del ave de sus sonidos frescos o juveniles o de su habito de cantar entre elfollaje NAGY 1996 p 37-38 sentildeala que opta por traducir ldquoen la verdurardquo porasociacioacuten con el uso de khlōrauacutekhēn (χλωραύχην) que suele traducirse como deldquoverde gargantardquo y se utiliza como epiteto del ruisentildeor en Simoacutenides PMG 5862(ἀηδόνες χλωραύχενες) Segun CHANTRAINE 1975 p 1285 la palabra serefiere a un verde claro o al verde del brote reciente de una planta pero tambieacutenalude a las caracteristicas de la voz del ave RUSSO1992 p 100 en cambiosostiene que la palabra tiene un valor de gentilicio expresaria lo mismo queCriseida en relacioacuten con Crises y deberia comprenderse como Aedoacuten ldquola delfollajerdquo 6 19 518-5237 Parece mas plausible considerar que hay un temor en Peneacutelope a causar lamuerte de su hijo a manos de los pretendientes Su temor esta bien fundadohubo un intento fallido durante el viaje de Teleacutemaco en los primeros cantosElla podria causar involuntariamente la muerte de su hijo y esa seria su ἀφραδίηldquoignorancia o locurardquo el hecho de no aceptar el matrimonio quecontextualizado con el mito de Aedoacuten evidentemente le repugna como unaviolacioacuten8 ANHALT 2002 p 1489 LEVANIOUK 2011 p 22810 Sobre esta variante veacutease NAGY 1996 p 38-39 VAN DER VALK 1949 p 8311 ldquoMouvancerdquo como ldquoincesante vibracioacutenrdquo es aplicado por ZUMTHOR 1987 p160-161 a los textos medievales que atestiguan diversas variantes y por lo tantotiene una forma inestable propia de una tradicioacuten oral CERQUIGLINI 1989 p111 prefiere la denominacioacuten de ldquovariancerdquo ya que considera que los textosmedievales son en si ldquovariacioacutenrdquo Sobre la discusioacuten de ambos conceptos veacuteaseNAGY 1996 p 9-1012 HUNTER 2014 p 226-249

13 Cf VIANELLO 1979 p CCXCVII ldquoEn efecto el simil en la poseia eacutepica carecesiempre de una moraleja como se da al contrario en nuestro caso (cf los v210-211 que Aristarco el filoacutelogo alejandrino suprimioacute como espurios segun eltestimonio de Proclo 1568)rdquo14 ποικιλόδειρον otro modo de referirse a la garganta o cuello del ruisentildeortambieacuten podria traducirse como ldquode voz coloridardquo15 La forma λέληκας proviene del verbo λάσκω que indica el ruido de las avestambieacuten un ruido crepitante o a veces el canto16 Cfr Hesiodo Erga v 106-20117 Una critica a la expedicioacuten a Sicilia18 Cfr SOMMERSTEIN 1987 p 202

19 La mimesis del canto de las aves que la obra impone causoacute algunosinconvenientes en la performance y en la composicioacuten Por ejemplo Tereo debesalir de escena para entonar su canto de llamada al ruisentildeor Las opiniones sondivergentes pero probablemente el actor que representaba a Tereo no disponiade la destreza vocal necesaria para cantar el efecto es que la flauta quereemplaza al canto del ruisentildeor cumple la funcioacuten de un threnos apo skeneacutes esdecir de un lamento cantado fuera de escena ya que el contenido del canto delruisentildeor es un lamento por el nintildeo muerto La mimesis del canto del averealizada por la flauta nos lleva nuevamente al problema de la mimesis liricaahora en el contexto del drama Cf SOMMERSTEIN 1987 p 21120 Cinesias el poeta ditirambico tambieacuten desea convertirse en ruisentildeor pero nolo logra y repite su pesada poesia Aqui tambieacuten aparece la cuestioacuten de lamimesis del canto del ave como lirica Cf Aves v 1380

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Arete a virtude em si na Odisseia eacute umamulherAlessandra Serra Viegas

RESUMO

Este sucinto trabalho pretende trazer uma conversa acerca de umamulher que Homero nos apresenta entre os cantos VI-XI daOdisseia a forte e nobre Arete A rainha dos Feaces e esposa do reiAlcinoo eacute algueacutem de quem natildeo se ouve falar muito No entantoquando nos aproximamos dessa mulher atraveacutes da poesia eacutepicadeparamo-nos na verdade com a proacutepria virtude em pessoa aareteacute (a)reth ) como bem o nome lhe representa Por isso fica no arum questionamento quem eacute a mulher cheia de virtude naAntiguidade grega Eis a provocacatildeo ndash positiva ndash em que esteescrito quer envolver o leitor

PALAVRAS-CHAVE Homero mulher areteacute

SUBMISSAtildeO 29 dez 2017 | PUBLICACcedilAtildeO 31 dez 2017

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Arete a virtude em si na Odisseia eacute uma mulher | Alessandra Serra Viegas

QUEM Eacute A VIRTUDE EM HOMERO rete a rainha dos Feaces1 eacute sobrinha e esposa do reiAlcinoo cuja corte eacute modelo de comportamento eelevacatildeo presente na trama da Odisseia de HomeroSua gesta heroica (porque a consideramos umaheroina) esta contida em boa parte do poemahomeacuterico (cantos VIndashXII) quando das peripeacutecias emmeio ao regresso de Odisseu a Iacutetaca sua terra natalChama atencatildeo a elevacatildeo da rainha Arete (seucarater e reputacatildeo satildeo imaculados) a qual remetetodo o tempo ao significado de seu nome ndash a)reth ndash eacutea proacutepria virtude a qualidade de quem eacute nobre justodigno forte de carater eacutetico e belo Arete eacute a virtudeem pessoa portando todas estas qualidades em forma

de mulher rainha esposa e matildee O conceito de a)reth eacute intrinseco ao grupo dos aristoindash os

bem-nascidos pertencentes aos ldquomelhoresrdquo da sociedade e sedesenvolve a partir do contexto de batalhas da Iliacuteada de Homeronatildeo podendo nesta ser dissociado do espirito heroico que semostra nas lutas e vitoacuterias de cada heroacutei-guerreiro em seuscombates Na Iliacuteada (a)reth eacute a mais alta distincatildeo e o proacuteprioconteudo da vida desses heroacuteis Esses pressupostos de valentia evirtude pois satildeo plenamente valorizados no periodo classico (seacutecVIndashV aC) sendo associados ao principio vigente do bem e do beloem uma pessoa ndash o homem de valor Este eacute o principio que regeos participantes da aristocracia o governo da cidade pelos nobrespelos melhores pelos aristoi

Aos aristoi pertence a expressatildeo grega kaloka)gaqia oukalon te ka)gaqon aquele que eacute tanto belo como nobre empregadaa partir dos textos gregos do periodo classico principalmente nasobras de Xenofonte Platatildeo e Aristoacuteteles Apesar disto Homero jadesigna na Iliacuteada o paradigma do heroacutei-guerreiro a partir da suabeleza corporal e da sua nobreza mesmo natildeo utilizando o termokalon te ka)gaqon propriamente Eacute o helenista Jean-Pierre Vernantque em seus estudos sobre Homero2 apontara os heroacuteis-guerreiros como kaloi kai a)gaqoi3

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Homero eacute o nome que se convencionou para o poetaeacutepico cuja lenda aponta para um aedo cego nascido em Quios ouem Esmirna por volta do seacutec VIII aC e que recitava oralmente ospoemas cantando-os por isso era um aedo Para as questotildees deautoria dos poemas surgiu o que se denomina a questatildeohomeacuterica4 Histoacuterica e literariamente torna-se mais adequado dizerldquoo que foi Homerordquo isto eacute referir-se ao modo de narrar do autorque ressalta as questotildees humanisticas subjacentes aos textos aomostrar por exemplo em lugar de um acontecimento como o daguerra de Troia a coacutelera de Aquiles um detalhe na guerra (Iliacuteada)ou no poacutes-guerra os sofrimentos de Odisseu em sua buscadesenfreada para salvar a vida e voltar a casa (Odisseia)

Com efeito o poeta da epopeia retrata os homens querepresentam a elevacatildeo da sua cultura e costumes pois com essesesta o seu coracatildeo (do poeta) e a exaltacatildeo que faz de tais homenstem em seu acircmago a intencatildeo paideacutetica (paideia) educativa5 NaIliacuteada a virtude do heroacutei ndash a sua a)reth ndash esta em sua destrezaforca e valentia para o campo de batalha uma bela vida que podeculminar em uma bela morte6 Na Odisseia onde Arete surge oideal herdado da destreza guerreira une-se agraves virtudes espirituais esociais tendo como modelo o heroacutei a quem natildeo falta o conselhointeligente ndash Odisseu ndash que na luta pela vida e na volta ao lar saisempre triunfante dos perigos e dos inimigos Esse conselhointeligente tambeacutem se mostra na esposa de Odisseu Peneacutelope7 ena rainha Arete cuja fala eacute acatada pelos anciatildeos e conselheiros dorei e pelo proacuteprio esposo Alcinoo8 representando assim umargumento de autoridade diante dos nobres e tambeacutem diante doproacuteprio povo

Na cultura aristocratica a a)reth proacutepria da mulher eacute aformosura em que o culto agrave beleza feminina corresponde agraveformacatildeo cortesatilde nesta sociedade Natildeo obstante a Odisseiaapresenta mulheres que surgem natildeo apenas como objeto dasolicitacatildeo eroacutetica do homem como Helena esposa de Menelau eraptada por Paris por sua beleza ou Peneacutelope9 esposa de Odisseudesejada pelos pretendentes mas a firme posicatildeo social e juridicade dona de casa Como em outra literatura provavelmente escrita

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Arete a virtude em si na Odisseia eacute uma mulher | Alessandra Serra Viegas

por volta do seacutec V aC na Antiguidade judaica (o AntigoTestamento) na ode a uma mulher de grande forca e valor (cfProveacuterbios de Salomatildeo 3110-31)10 as virtudes das mulheres gregascompreendem principalmente o sentido da modeacutestia e odesembaraco no governo do lar Desse modo Peneacutelope eacute louvadapor sua moralidade rigida e virtudes caseiras11

Senhora homem em lugar algum da terra tem o direito de censurar-te Teu nome bate no ceacuteu Eu te comparo a um rei competente piedoso comautoridade sobre muitos gente poderosa zelosodo cumprimento da lei Seus campos produzemtrigo cevada arvores frutiferas Gado gordonas pastagens Peixes fornece o mar Gracas a seugoverno o povo prospera12

Helena de volta a Esparta com Menelau o primeiromarido aparece como protoacutetipo da grande dama modelo deelegacircncia distinta e de soberana forma e representacatildeo social eladirige a conversa ao hoacutespede homem suas servas trazem ecolocam agrave sua frente um fuso de ouro e uma roca de prata13

(instrumentos pertencentes ao modelo feminino grego sem osquais natildeo se concebe uma dona de casa) quando entra e tomaassento na sala ao lado dos homens14

Arete eacute citada pela primeira vez na Odisseia por boca deOdisseu no seu encontro com a princesa Nausicaa filha deArete15 Odisseu menciona o porte a postura e a beleza daprincesa e declara como por prolepse venturosa por trecircs vezes asua nobre matildee (potnia mhthr) ainda que natildeo a conheca Nausicaaesta na praia com suas servas as quais se assustam por ela estardialogando com um homem vitima de naufragio mas a princesanatildeo se importa e vai descrevendo seu reino seus costumes paracom os estrangeiros e pobres (cei~noi te ptwxoi te) consideradosaqueles que Zeus envia para que se lhes faca o bem16 Odisseu selava e se veste afastado das mocas a deusa Atena lhe reveste debeleza e a ele eacute servida uma refeicatildeo junto agrave princesa17 Emseguida Nausicaa orienta Odisseu sobre como devera secomportar ao chegar agrave cidade dos feaces pois ela e suas criadas

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iratildeo antes para que natildeo sejam vistas entrando com um estrangeirona cidade Finalmente a princesa lhe diz o que fazer ao chegar aopalacio a fim de que alcance auxilio e acolhida

[hellip] Atingindo o palacio entra atravessa o salatildeo Dirige-te primeiro agrave minha matildee Ela deveraestar sentada contra a coluna junto agrave lareira para fiar agrave luz do fogo espetaculo de encher os olhos Atras dela poderas ver o trabalho das criadas Encostado agrave mesma coluna encontra-se a poltrona de meu paiAcomodado nela com imponecircncia divina devera estarele a provar um calice de vinho Deveras passar por elee abracar suplicante os joelhos de minha matildee a fimde que te seja concedido ver o alegre dia do regresso mesmo que vivas longe Se ela te der acolhida cordial havera muita probabilidade de veres teus queridos tuacasa solidamente construida tua patria tua terra18

A descricatildeo da corte do rei Alcinoo e das caracteristicas eestrutura da cidade dos feaces eacute a pintura fiel de uma cidade-estadojocircnica sob o dominio de um rei por volta dos seacutec VII-V aC19

Cumpre observar nessa cidade o influxo das atitudes tomadas porArete sua filha Nausicaa e tambeacutem pela deusa Atena apontandoseu valor na trama e seu cuidado quase materno para que Odisseuretorne ao lar Assim a Odisseia apresenta sagas heroicas e omundo do fabuloso e do maravilhoso no qual Atena em variostrechos transfigura-se em personagens humanos para auxiliarOdisseu Tambeacutem e com maior forca a Odisseia descreve asrelacotildees familiares aproximando o ouvinte-leitor20 de umarealidade em que este natildeo deixa de estar inserido sua proacutepriafamilia

Arete surge novamente na narracatildeo de sua origem nobre esua posicatildeo Atena transfigura-se em um jovem feace que levaraOdisseu ao palacio de Alcinoo e enquanto o conduz conta-lheque Arete descende de Poseidon e de Peribeia imagem sublimeentre as mulheres (gunaikw~n ei0~doj a)risth) O pai de AreteRexenor foi fulminado pelas flechas de Apolo e

Deixou no palacio uma unica filha Arete

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Arete a virtude em si na Odisseia eacute uma mulher | Alessandra Serra Viegas

Alcinoo tomou-a por mulher e a honrou como nunca ningueacutem honrou outra na face da terra de quantas sob o governo de homens administram a casa Afetuosamente respeitada por seu esposo ela vive com seus filhos e com Alcinoo O povolhe tributa homenagem e a aclama com palavrasentusiasticas quando aparece na cidade Conhecida pelo seu bom senso concilia mulheresconhecidas suas Resolve ateacute conflitos de homens21

Pelo favor de Arete Odisseu eacute acolhido no palacio deAlcinoo e tratado com todas as honras devidas a um hoacutespede Elese recolhe todas as noites em um quarto que lhe eacute preparadoparticipa dos banquetes ouve as gestas dos heroacuteis ndash e a sua proacutepriada guerra de Troia ndash pelo aedo22 Demoacutedoco emociona-se viraaedo de si mesmo contando suas gestas e todos ouvemembevecidos Nesta audicatildeo somente Odisseu interrompe o relatopara trazer sua proacutepria gesta e somente Arete toma a palavra quesera reiterada por Alcinoo e posta em pratica pelos nobres23 queconsideram a rainha muito prudente (perifrwn)24

Que vos parece este homem feaces no aspecto notalhe no equilibrio das decisotildees Ele eacute meu hospede cada um de voacutes participa desta honra Natildeo se pense em abreviar-lhe a estada Natildeo sejais econocircmicos ao presentea-lo Ele necessita de muito [hellip]

Se Homero eacute o educador de toda a Greacutecia como afirmaPlatatildeo25 eacute preciso refletir acerca do aspecto paideacutetico da epopeiahomeacuterica ndash mulheres ensinam satildeo honradas e valorizadas por seusmaridos convivem em ambientes publicos e muitas vezesdeterminam as acotildees e tomadas de decisotildees dos mesmos Assim oque o poema homeacuterico presente como coacutedigo para a boaformacatildeo26 pretende inculcar na mente dos jovens que satildeoeducados a partir destes valores A ideia filosoacutefica de bem nosentido estrito modelo de validade universal procede diretamentedo modelo da eacutetica da a)reth proacutepria da nobreza homeacutericapresente na Odisseia encarnada por Arete a rainha dos feaces27

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Ainda quanto ao aspecto paideacutetico ao contrario da Iliacuteada aOdisseia acontece em um contexto de paz com muitas cenas emambientacatildeo interna o que proporciona a participacatildeo efetiva dasmulheres na trama O contexto de paz tambeacutem coloca a Odisseiaem um plano mais elevado que a Iliacuteada em que ha ternuraintimidade e refinamento de sentimentos Esta intima e profundacivilizacatildeo eacute o produto do influxo educador da mulher numasociedade rudemente masculina violenta e guerreira

Em intima e pessoal relacatildeo do heroacutei Odisseu com a deusaAtena que o orienta nas suas andancas e jamais o abandona opoder espiritual da mulher como inspiradora e guia acha a suaexpressatildeo mais bela28 pois ao longo de toda a trama Odisseu eacuteguiado por inspiracotildees de Atena sempre renovadas29 O quadro dacultura dos nobres esbocado nos poemas homeacutericos ndashprincipalmente na Odisseia ndash engloba tambeacutem descricotildees vivas daeducacatildeo usual muitas vezes protagonizadas por mulheres em taiscirculos30

Os homens e mulheres muito mais na Odisseia do que naIliacuteada de Homero satildeo tatildeo reais que se poderia vecirc-los com os olhose toca-los com as matildeos devido ao contexto de paz e intimidade emque se encontram Tais personagens satildeo sempre naturaismanifestando a proacutepria essecircncia31 ao ouvinte-leitor Por issomulheres como Arete Helena e Peneacutelope estatildeo em intima conexatildeocom o mundo exterior pela coerecircncia do pensamento e da acatildeocomo mulheres de forca e valor mulheres empoderadas Gestos eexpressotildees exageradas dessas mulheres seriam insuportaveis aoouvinte-leitor e inadequadas agrave epopeia Sua solidez facilidade demovimentacatildeo e coragem que a nada se pode comparar fazemdelas heroinas e mulheres que seriam encontradas na Greacuteciaarcaica e classica por um marido de sorte

Ainda quanto agrave caracterizacatildeo da mulher assim comoArete eacute a companheira idocircnea e par perfeito e proacuteximo de AlcinooPeneacutelope eacute quem mais se aproxima do carater do heroacutei principalna trama pois como um alter ego de Odisseu tambeacutem fala comprudecircncia e inteligecircncia e ainda eacute ardilosa Nessa culturaaristocratica que envolve a eacutepica agrave mulher cabe a formosura e a

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Arete a virtude em si na Odisseia eacute uma mulher | Alessandra Serra Viegas

prudecircncia no governo de sua casa Neste acircmbito Helena eacute louvadano primeiro quesito32 e Arete esposa do rei dos Feaces nosegundo Com efeito a mulher eacute atendida e honrada natildeo soacute comoum ser util e na qualidade de matildee dos filhos legitimos mas acimade tudo porque nesta sociedade a mulher pode ser matildee de umageracatildeo ilustre pois ela eacute a mantenedora e guardiatilde dos mais altoscostumes e tradicotildees33

Acerca da rainha Arete para uma mulher cujo nome epessoa satildeo a proacutepria virtude a)reth tem-se um homem Alcinooaquele cuja forca esta no intelecto (a)lkh [a)lki] + forca nooj ndashcapacidade intelectual) Aleacutem disso o rei eacute um marido idocircneo ecompativel agrave rainha Arete a primeira vez em que o nome deAlcinoo ocorre na Odisseia34 segue-lhe o epiteto ldquoo de saber divinordquo(qew~n apo mhdea ei~dwj) lembrando-se de que nos poemashomeacutericos a primeira aparicatildeo de um personagem seguida de seuepiteto satildeo marcantes indicando seu carater e determinando seucomportamento ao longo de todo o texto35 Ao mesmo tempo emque Arete eacute a mulher de valor (a)reth ) torna-se uma mulher deforca (a)lkh) Isso se da por ser esposa de Alcinoo (a)lkh + nooj) ecorrespondente exata em paridade com ele na sua caracterizacatildeo

Nos poemas homeacutericos os vocabulos a)lkh e a)reth estatildeoprofundamente ligados agrave vida e agrave imagem do homem (e emmulheres de posicatildeo ou heroinas) na sociedade em que estainserido Neste contexto a)reth natildeo eacute o conceito puramenteabstrato a respeito da virtude mas essencialmente a excelecircncia asuperioridade o alvo supremo do heroacutei homeacuterico que se revelaconcretamente no campo de batalha na Iliacuteada e das lutas com ospercalcos e vicissitudes da vida na Odisseia atraveacutes da coragem eda forca36 cujos heroacuteis e heroinas satildeo a representacatildeo do atleta quecompete nos jogos em tempos de paz e combate como hoplita (ainfantaria) nos tempos de guerra

A realidade estabelecida na eacutepica homeacuterica tambeacutem ostragedioacutegrafos conhecem ndash o que se vera aplicado agrave mulher naprincesa Alceste de Euripides Ha uma determinacatildeo histoacuterica quefaz com que alguns sentidos dos vocabulos sejam lidos e outrosnatildeo37 isto eacute o contexto histoacuterico-social de producatildeo dos textos

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aplica aos vocabulos do discurso limites de interpretacatildeo ligados aomodo como a sociedade em questatildeo os utiliza38 Na maior partedas ocorrecircncias a associacatildeo da a)reth (a virtude) e da a0lkh (aforca) ao universo masculino eacute um irrefutavel exemplo daaplicabilidade deste pressuposto No entanto sua utilizacatildeo paraheroinas e personagens femininas da pistas da possibilidade daparidade entre mulheres e homens na sociedade grega dos seacutec VIIndashV

aC a cujos ouvintes-leitores natildeo causara estranhamento ao teremcontato com tais textos

PARA NAtildeO CONCLUIR ndash NUNCA Alguns elementos caracteristicos na rainha Arete

caracterizam-na como mulher cheia de forca e virtude Assimcomo supracitado a)lkh e a)reth forca e virtude ndash ou valor ndash satildeodois atributos que caminham juntos na cultura grega para designarheroacuteis e heroinas Uma resposta plausivel eacute apontar o eacutethos ndashcostumes e crencas ndash que eleva mulheres de forca e valordemonstrados nos textos agrave categoria de heroinas

Arete eacute vista em paridade ao seu marido Alcinoo o qualtambeacutem porta a forca (a)lkh ) componente de seu proacuteprio nomeuma forca de que ambos satildeo investidos Alcinoo ainda eacute aqueleque honra Arete como a nenhuma outra mulher39 O valor deArete eacute reconhecido por todo o seu povo os feaces e cantadopelo poeta eacutepico na ldquofuncatildeordquo de narrador ldquoO povo lhe tributahomenagem e a aclama com palavras entusiasticas quandoaparece na cidade Conhecida pelo seu bom sensordquo40

Arete eacute uma mulher de atitudes e de palavras diante de seupartner em cena o rei Alcinoo Na cena do jantar com OdisseuArete rompe o silecircncio para pedir que auxiliem a Odisseu quandode seu regresso Agrave fala de Arete um anciatildeo Equeneu reageldquoAmigos natildeo foge do nosso escopo o que declarou a sabiarainha Natildeo decidamos poreacutem antes de ouvir Alcinoo aqui presente Falar e agir eacute sua competecircnciardquo41 Ao que Alcinooassevera ldquoO que ouvimos [de Arete] sera executadordquo42

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Arete a virtude em si na Odisseia eacute uma mulher | Alessandra Serra Viegas

ABSTRACT Arete the Virtue per se in the Odyssey is a Woman

This concise writing intends to bring a conversation abouta woman introduced by Homer between Songs VI-XI of theOdyssey the strong and noble Arete The Queen of Feaces andwife of King Alcinoo is someone that is not heard too muchabout However when we approach this woman through the epicpoetry we face as a matter of fact with virtue itself the arete(a)reth ) as good as the name represents Therefore a wondercomes around who is the woman with noble character in theAncient Greece That is the ndash positive ndash challenge in which thiswriting wants to engage the reader

KEYWORDS

Homer Woman Arete

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REFEREcircNCIAS DOCUMENTACcedilAtildeO TEXTUAL

BERLIN A ZVI BRETTLER M (Eds) The Jewish Study BibleTANAKH Translation [Jewish Publication Society] New YorkOxford University Press 2004HOMEgraveRE Iliade Texte eacutetabli et traduit par P Mazon Paris LesBelles Lettres Tome I (1987) Tome II (1992) Tome III (1994)Tome IV (1982) HOMEgraveRE LrsquoOdyseacutee Poeacutesie Homeacuterique Texte eacutetabli et traduit parV Beacuterard Paris Les Belles Lettres 1953 Tomes I II III IV HOMERO Odisseia Trad Donaldo Schuumller Porto Alegre LampPM2007 (3 vols)

DICIONAacuteRIO

BAILLY A Dictionnaire grec-franccedilais Paris Hachette 2000

LIVROS

CARPEAUX OM Histoacuteria da civilizaccedilatildeo ocidental Rio deJaneiro O Cruzeiro 1959JAEGER W Paideia a formacatildeo do homem grego Trad Artur MParreira Satildeo Paulo Martins Fontes 2001ORLANDI EP Discurso e leitura Satildeo Paulo Cortez CampinasEdUNICAMP 1988PEREIRA MHR Estudos de histoacuteria da cultura claacutessicacultura grega Lisboa Calouste Gulbekian 2006 v 1VERNANT JP VIDAL-NAQUET P Entre mito e poliacutetica na GreacuteciaAntiga Traducatildeo Anna Lia A de Almeida Prado Maria daConceicatildeo M Cavalcante e Filomena Yoshie Hirata Garcia SatildeoPaulo Duas Cidades 1977WINKLER JJ The Constraints of Desire the Anthropology ofSex and Gender in Ancient Greece New York LondonRoutledge 1990

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Arete a virtude em si na Odisseia eacute uma mulher | Alessandra Serra Viegas

ARTIGOS

LANG B Womens Work Household and Property in TwoMediterranean Societies a Comparative Essay on Proverbs XXXI

10-31 VT 54 n 2 2004 p 188-207RACE W First Appearances in the Odyssey TAPS n 123 1993 p79-107RIESS JK The Woman of Worth Impressions of Proverbs 3110-31 Dialogue 30 n 1 Spr 1997 p 141-151SZLOS BM A Portrait of Power a Literary-Critical Study of theDepiction of the Woman in Proverbs 3110-31 USQR 54 n 1-22000 p 97-103VAINSTUB D Some Points of Contact between the BiblicalDeborah War Traditions and Some Greek Mythologies VT n 61m2011 p 324-334WOLTERS A M Proverbs 3110-31 as Heroic Hymn a Form-Critical Analysis VT 38 n 4 1988 p 446-457

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1 Os Feaces satildeo um povo mitico apresentado nos cantos VndashVII da Odisseia comouma sociedade modelo quanto aos valores e ao comportamento no trato com oshomens e mulheres Na eacutepica Odisseu sofre um naufragio e eacute encontrado napraia do Reino dos Feaces pela princesa Nausicaa e suas mocas Nausicaa oinstruira a como lidar com a cultura e o comportamento do seu povoapontando que para que alcancasse o favor do rei Alcinoo seu pai primeiroteria que alcancar o favor da rainha Arete sua matildee como se vera adiante 2 VERNANT 2002 p 414-4193 A expressatildeo formada a partir dos adjetivos kaloj belo e a)gaqoj bom nobreligados por kai ou te e ou ambos desempenha um importante papel naformulacatildeo de muitas concepcotildees eacuteticas sociais e (num sentido muito amplode) politicas da Antiguidade Literalmente equivale agrave foacutermula de qualidadeldquobeleza e bondaderdquo Ora ldquoser belordquo significa primariamente ldquoser nobrerdquoenquanto ldquobom exemplar do proacuteprio tipordquo Por isso o termo kaloka)gaqia eacutefrequentemente traduzido por ldquonobreza e bondaderdquo bem como por ldquohonrardquoCom efeito o kaloka)gaqoj eacute um modelo do ldquohomem honradordquo ldquonobre e bomrdquoe portanto o ldquobom cidadatildeordquo Esse sentido ldquocivicordquo esta presente emXenofonte Platatildeo e Aristoacuteteles Nestes a nocatildeo de kaloka)gaqia eacute uma nocatildeoeducativa na medida em que exprime a ideia da boa educacatildeo oposta agrave ideia dopoder puro e simples Ela eacute em grande parte a justificacatildeo ldquoeducativardquo dopoder O homem kaloka)gaqoj eacute aquele que exerce o poder de um modointimamente ligado agrave justica Por isso o kaloka)gaqoj eacute ao mesmo tempo ldquoohomem justordquo

4 A Questatildeo Homeacuterica eacute formulada a partir da seguinte inquietacatildeo quem eacute oautor da Iliacuteada e da Odisseia e como essas obras chegaram ao texto finalDioacutegenes de Laeacutercio (I 57) fala de interpolacotildees realizadas por Pisistrato notexto homeacuterico Quanto ao autor das obras as respostas satildeo variadasreduzindo-se todas elas a trecircs teses principais a unitarista (um soacute eacute o autorprincipal dos poemas homeacutericos) a dualista (dois poetas diferentes trabalhandona mesma tradicatildeo) e a pluralista (satildeo varios os autores de cada um dospoemas) Quanto agrave redacatildeo dos textos as correntes de critica textual dosmodernos (seacutec XIX) dividem-se em Teoria da Ampliacatildeo (considera-se umaIliacuteada primitiva de pequena extensatildeo a qual crescera com o decorrer do tempoateacute alcancar as proporcotildees tradicionais da obra) defendida por G HERMANNTeoria dos Cantos (a Iliacuteada continha cerca de dezesseis cantos individuaisdivididos por K LACHMANN) e a Teoria da Compilacatildeo (tanto a Iliacuteada quanto aOdisseia natildeo eram cantos e sim pequenas epopeias de diversas proporcotildees evalor tambeacutem diverso) desenvolvida a partir da analise de A KIRCHHOFF (cfLESKY 1995 p 51-52) problema que tem preocupado especialistas desde osgregos eruditos do periodo helenistico ndash os primeiros a cogitar a questatildeo ndash ateacuteos nossos dias ainda que para alguns autores a principal questatildeo natildeo eacute pensarquem foi Homero e quando as obras foram convertidas da tradicatildeo oral ecompiladas na tradicatildeo escrita e sim o que foi Homero Dadas as diferencas domeio e da estrutura social a diferenca de tema e as diferencas vocabulares eestilisticas da Iliacuteada e da Odisseia parece legitimo concluir que os dois poemasforam compostos por diferentes poetas em tempos e lugares distintos O tema eacutediscutido entre historiadores literatos e linguistas tais como G S KIRK (1965)R AUBRETON (1956) D SCHUumlLER (1972) M FINLEY (1981) W BURKERT (1993)A LESKY (1995) e todos os que veem o valor da obra homeacuterica para a proacutepriaconstrucatildeo e fixacatildeo de valores tais como eacutetica preceitos morais e principiosguerreiros como a defesa da honra e ainda o conceito de (a)reth junto agravesociedade ocidental5 JAEGER 2001 p 446 VERNANT Lrsquoindividu la mort lrsquoamour Soi-mecircme et lrsquoautre en Gregravece ancienne 1989___Entre mito e poliacutetica 2002 Bela morte eacute um conceito criado e proposto por Jean-Pierre Vernant para o guerreiro que morre em batalha e alcanca a gloacuteriaimperecivel e sera imortalizado na memoacuteria coletiva de seu povo atraveacutes doscantos dos aedos como ocorreu aos heroacuteis da Iliacuteada 7 Cf Odisseia XI v 4468 Cf Odisseia XI v 336-340

9 Grande parte da Odisseia se da com Peneacutelope tendo que lidar com a situacatildeo dos pretendentes que desejam toma-la como esposa por sua beleza fisica e sua firmeza de carater visto que se pensa que Odisseu morrera quando do retorno de Troia para Iacutetaca seu reino Os pretendentes soacute satildeo mortos por Odisseu no ultimo canto (cf Odisseia XXII)10 ldquoMulher virtuosa quem a achara O seu valor muito excede ao de rubis Ocoracatildeo do seu marido esta nela confiado assim ele natildeo necessitara de despojoEla soacute lhe faz bem e natildeo mal todos os dias da sua vida Busca latilde e linho etrabalha de boa vontade com suas matildeos Como o navio mercante ela traz delonge o seu patildeo Levanta-se mesmo agrave noite para dar de comer aos da casa edistribuir a tarefa das servas Examina uma propriedade e adquire-a planta umavinha com o fruto de suas matildeos Cinge os seus lombos de forca e fortalece osseus bracos Vecirc que eacute boa a sua mercadoria e a sua lacircmpada natildeo se apaga denoite Estende as suas matildeos ao fuso e suas matildeos pegam na roca Abre a suamatildeo ao pobre e estende as suas matildeos ao necessitado Natildeo teme a neve na suacasa porque toda a sua familia esta vestida de escarlata Faz para si cobertas detapecaria seu vestido eacute de seda e de purpura Seu marido eacute conhecido nasportas e assenta-se entre os anciatildeos da terra Faz panos de linho fino e vende-os e entrega cintos aos mercadores A forca e a honra satildeo seu vestido e sealegrara com o dia futuro Abre a sua boca com sabedoria e a lei da beneficecircnciaesta na sua lingua Esta atenta ao andamento da casa e natildeo come o patildeo dapreguica Levantam-se seus filhos e chamam-na bem-aventurada seu maridotambeacutem e ele a louva Muitas filhas tecircm procedido virtuosamente mas tu eacutes detodas a mais excelente Enganosa eacute a beleza e vatilde a formosura mas a mulher queteme ao Senhor essa sim sera louvada Dai-lhe do fruto das suas matildeos e deixe oseu proacuteprio trabalho louva-la nas portasrdquo

11 Todas as traducotildees da Odisseia satildeo de Donaldo Schuumller12 Cf Odisseia XIX 107-11413 Compare-se com o texto de Proveacuterbios de Salomatildeo na nota 814 JAEGER 2001 p 4615 Cf Odisseia VI v 15416 Cf Odisseia VI v 206-21017 Cf Odisseia VI v 218-25018 Cf Odisseia VI v 30419 JAEGER 2001 p 4220 Idem ibidem21 Cf Odisseia VII v 65-7422 O aedo eacute aquele que canta as gestas dos heroacuteis tendo uma memoacuteriaprivilegiada pela grande quantidade de fatos dos quais lembra e por isso canta 23 Cf Odisseia XI v 336-34024 O adjetivo perifrwn (a que examina por todos os aspectos que medita afundo prudente) eacute utilizado tambeacutem para Peneacutelope na epopeia (cf Odisseia XI v446 XIX v 308 v 349) 25 Cf Repuacuteblica 606e26 CARPEAUX 1959 p 5227 Idem ibidem p 6028 Idem ibidem p 48 29 Idem ibidem p 79 30 Idem ibidem p 83 31 Idem ibidem32 Iliacuteada III 154-159 a beleza irresistivel de Helena se mostra a fim de justificar oerro de Paris 33 JAEGER 2001 p 4734 Odisseia VI v 1235 RACE 1993 p 79-10736 PEREIRA 2006 p 135-136 37 ORLANDI 1988 p 1238 Para saber mais veja U ECO Os limites da interpretaccedilatildeo 2008 O autor trabalha aligacatildeo entre o contexto social do leitor e a interpretacatildeo da leitura que eacute feita

defendendo o conceito de Obra aberta presente em seus outros livros poreacutemprevendo que ha limites impostos pela proacutepria obra e pelo reconhecimento demundo do leitor 39 Cf Odisseia VII v 66-6740 Cf Odisseia VII v 70-7341 Cf Odisseia IX v 343-34642 Cf Odisseia IX v 348

Caliope Presenca Classica | 20172 Ano XXXIV Numero 34

Os autores

Alessandra Serra ViegasDoutora em Teologia pela PUC-Rio e em Histoacuteria Comparada peloPPGHC-UFRJ Mestre em Histoacuteria Comparada pelo PPGHC-UFRJMestre em Teologia pela PUC-Rio na area de Teologia BiblicaPossui graduacatildeo em PortuguecircsGrego pela UERJ e bachareladoem Teologia pela PUC-Rio Atualmente eacute professora-coordenadorade Sala de Leitura e Biblioteca do Coleacutegio Estadual Joseacute LeiteLopes ndash NAVE (Nucleo Avancado em Educacatildeo) ndash SEEDUC eprofessora do Seminario Metodista Ceacutesar Dacorso Filholecionando grego koineacute literatura e teologia teologia feminina(teologia na perspectiva da mulher) leitura e producatildeo textualmeacutetodos de estudo universitario e orientacatildeo de TCC Eacutepesquisadora colaboradora do NEA-UERJ (Nucleo de Estudos daAntiguidade) Participa do grupo de pesquisa TIAT (Traducatildeo eInterpretacatildeo do Antigo Testamento) Eacute membro efetivo de Letrasdo Nucleo Acadeacutemico de Letras e Artes e Lisboa (NALAL) e daAcademia de Letras e Artes de Paranapuatilde (ALAP) titular da cadeiran 24 patronimica de Adolfo Caminha Eacute membro-embaixador daDivine Acadeacutemie Francaise des Arts Lettres et Culture

Graciela C Zecchin de FasanoDoutora em Letras pela Universidad Nacional de La Plata (UNLP)onde eacute professora titular de Grego da Faculdade de Humanidadese Ciecircncias da Educacatildeo Atualmente dirige a revista Synthesis Foi

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Os autores

Fellow of The Center for Hellenic Studies (Harvard University) noperiodo 2013-2014 Eacute autora do livro Odisea discurso y narrativa(EDULP 2004) e editora de Deixis social y performance en la literaturagriega claacutesica (La Plata 2011) e de El relato de la historia en lasmanifestaciones de la Grecia antigua y su valor miacutetico-performativo (IdIHCSFaHCE 2015) Publicou numerosos artigos e capitulos de livrostanto em seu pais Argentina como no exterior especialmentesobre eacutepica homeacuterica e recepcatildeo classica que constituem suasprincipais linhas de investigacatildeo

Guilherme da Costa Assuncatildeo CecilioCursou a Graduacatildeo em Filosofia (bacharelado e licenciatura) naUniversidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) onde tambeacutemconcluiu o Mestrado em Filosofia (PPGLM) e o Doutorado emFilosofia (PPGF) esse na modalidade sanduiche com periodo depesquisa na Johann Wolfgang von Goethe Universitaumlt ndash Frankfurtam Main Eacute professor efetivo de Filosofia do Instituto Federal deEducacatildeo Ciecircncia e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ) eprofessor permanente do Programa de Poacutes-Graduacatildeo emFilosofia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGF-UFRJ)Atua principalmente nas areas de Histoacuteria da Filosofia Antiga eMetafisica

Maria Cecilia ColombaniProfessora titular de problemas filosoacuteficos e antropologia filosoacuteficada Facultad de Filosofia Ciencias de la Educacioacuten y Humanidadesda Universidad de Moroacuten onde ainda atua como investigadoraprincipal e coordenadora de projetos de pesquisa Professoratitular de histoacuteria da filosofia antiga e problemas especiais defilosofia antiga na Facultad de Humanidades da UniversidadNacional de Mar del Plata Autora de diversos capitulos de livros ede mais de uma centena de artigos apresentados em congressos daarea Autora de Hesiacuteodo una introduccioacuten criacutetica (Buenos AiresSantiago Arcos Editor 2005) Homero Una introduccioacuten critica(Buenos Aires Santiago Arcos Editor 2005) e Foucault y la poliacutetica(Buenos Aires Prometeo 2009) Em 2016 publicou Hesiacuteodo

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discurso y linaje una aproximacioacuten arqueoloacutegica pela Universidad de Mardel Plata

Maria del Pilar Fernandez DeagustiniDoutora em Letras pela pela Universidad Nacional de La Plata(UNLP) onde atua como chefe de Trabajos Practicos na area degrego da Facultad de Humanidades y Ciencias de la Educacioacuten ebolsista poacutes-doutoral de CONICET Professora de grego e deliteratura grega classica Autora de Suplicantes de Esquilo unainterpretacioacuten (2015) e de El espacio eacutepico en el canto 11 de Odisea(2010) aleacutem de artigos especialmente sobre as Suplicantes deEacutesquilo objeto de investigacatildeo de sua tese doutoral Atualmenteintegra o projeto de investigacatildeo ldquoRecepcatildeo e apropriacatildeo deHomero na literatura grega classicardquo (UNLP) dirigido pela profadra Graciela Zecchin

Rossana ZettiFormada em Literatura Classica pela Universitagrave degli Studi deMilatildeo Mestre em Classicos na Universidade de Edimburgo ondeatualmente trabalha em sua tese doutoral sob a supervisatildeo do profdr Douglas Cairns Sua pesquisa de doutorado concentra-se narecepcatildeo de Antiacutegona de Soacutefocles na Europa do seacutec XX e seuestudo visa esclarecer as ideologias e os contextos que produziramvarias versotildees renovadas da Antiacutegona no referido seacuteculo

Simone de Oliveira Goncalves BondarczukDoutora em Letras Classicas (2017) e mestre em Linguistica pelaUniversidade Federal do Rio de Janeiro (2005) Ministrou aulascomo professora substituta de lingua e literatura Grega naFaculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro porduas vezes no periodo de 2005 a 2007 e no ano de 2010 Tambeacutemfoi professora no Seminario Teoloacutegico Presbiteriano Simonton doRio de Janeiro entre 1996 e 2007 e da Faculdade de TeologiaWittenberg entre 2006 e 2008 Atuou como pesquisadora durantea graduacatildeo no projeto NURC-UFRJ (subprojeto de semacircntica) sob a

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Os autores

supervisatildeo da professora Dinah Callou e durante o mestrado noprojeto Discurso e Gramatica-UFRJ sob a orientacatildeo do professorMario Eduardo T Martelotta em cujo projeto continuaparticipando como colaboradora Atualmente eacute pesquisadora dogrupo de pesquisa DAG (Discursos da Antiguidade Grega) doPPGLC-UFRJ e do programa de estudos em filosofia antiga ndash Pragmado IFCS-UFRJ Quando doutoranda do Programa de Poacutes-Graduacatildeoem Letras Classicas da UFRJ recebeu uma bolsa sanduiche daCapes para pesquisar na Universitagrave degli Studi di Bari Aldo Morono periodo de setembro de 2015 a fevereiro de 2016 sob asupervisatildeo do professor Paulo Butti de Lima Nessa mesmauniversidade foi recebida na condicatildeo de Visiting Professor

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