RECONTADO A PRÉ-HISTÓRIA E HISTÓRIA DO COMPLEXO...

18
Revista Ecologias Humanas 2018 Vol. 4 nº. 4 pgs. 21–38 ISSN: 2447-3170 Editora SABEH Artigo 02 RECONTADO A PRÉ-HISTÓRIA E HISTÓRIA DO COMPLEXO ANGIQUINHO NA CACHOEIRA DE PAULO AFONSO Profa. Dra. Maria Cleonice de Souza Vergne 1,* , Prof. Me. Salomão David Vergne Cardoso 1,2,† , Profa. Ma. Manuella Maria Vergne Cardoso 2,‡ , Mestranda Alzeni de Freitas Tomáz 4,§ e Prof. Me. Caio Humberto Ferreira Dória de Souza 5,¶ 1 UNEB e 2 FASETE e 3 UNIT e 4 SABEH e 5 UNIT * Profª Adjunto Universidade do Estado da Bahia. [email protected] Prof. Universidade do Estado da Bahia.[email protected] Professora Faculdade Sete de Setembro. [email protected] § Mestranda do Programa de Mestrado de Ecologia Humana e Gestão Socioambiental – PPGEcoH e Presidente da Sociedade Brasileira de Ecologia Humana SABEH.[email protected] Prof. da Universidade Tiradentes/UNIT. [email protected] Resumo Este artigo, reporta-se a apresentação da historicidade pretérita de um território que durante milênios e séculos, foi o habit de várias gerações humanas, desde a pré-história, passando pela história Paulo Afonsina, quando se usa na terminologia moderna, perpassando pelas etapas de colonização e independência e todos os contextos de gestão política, social e cultural brasileira. A metodologia utilizada pautada nas normativas de levantamento bibliográco, prospecção, escavação, análise do material coletado em campo, armazenamento e construção do tombo de Bens Patrimoniais. Essa composição foi constituída, através da pesquisa arqueológica, que forneceu subsídios para a validação efetiva de ocupação humana pretérita, os vestígios da cultura material representado pelos materiais líticos, fragmentos cerâmicos, louças, unindo o passado e presente próximo ou tardio. Materiais que contextualiza, a vida cotidiana, bem como a ritualidade da Fé, dos Povos Tradicionais Viventes e Não Viventes. Pois a pesquisa deu-se em um território emblemático a áreas adjacentes da Cachoeira do Rio São Francisco, contexto Sagrado do Homem Pré-histórico e da atuais Nações Indígenas, enm, uma Pesquisa que se iniciou dentro das tratativas de uma Pesquisa Arqueológica nos moldes exigidos pelo IPHAN, no seu transcorrer recebeu representantes de religiosidade Africana e Indígenas, dando uma contextualização novas, para a frieza da academia, saberes milenares imbricados na composição interpretativa do resultado de uma pesquisa arqueológica. Palavra Chave: Arqueologia, Pré-Histórica e Histórica, Cultura Material Résumé Cet article fait référence à la présentation de l’historicité prétérit d’un territoire qui, depuis des millénaires et des siècles, est l’habitat de plusieurs générations humaines, de la préhistoire à l’histoire Paulo Alphonsine, lorsqu’il est utilisé dans la terminologie moderne, en passant par les étapes de la colonisation et de l’indépendance et de tous les contextes de la gestion politique, sociale et culturelle brésilienne. La méthodologie utilisée est basée sur des enquêtes bibliographiques, la prospection, l’excavation, l’analyse du matériel collecté sur le terrain, stockage et construction d’actifs. Cette composition a été établie par la recherche archéologique, qui a fourni des informations pour la validation ecace de l’occupation humaine prétérit, des traces de culture matérielle représentés par des matériaux lithiques, des fragments de céramique, vaisselles, joindre le passé et le présent près ou loin. Des matériaux qui contextualisent, la vie de tous les jours, ainsi que la ritualité de la foi, des peuples traditionnels vivants et non vivants. Parce que la recherche a eu lieu dans une zone emblématique dans les zones adjacentes de la chute d’eau du Rio San Francisco, le contexte sacré de l’homme préhistorique et nations autochtones en cours, enn une recherche qui est initiée dans les négociations d’une enquête archéologique nos moules requis par l’IPHAN, dans son cours a reçu des représentants de la religiosité africaine et indienne, en donnant une nouvelle contextualisation, pour la froideur de l’académie, la connaissance millénaire imbriquée dans la composition interprétative du résultat d’une recherche archéologique. Mots Clés: Archéologique, Préhistorique et Historique, Culture Materiélle.

Transcript of RECONTADO A PRÉ-HISTÓRIA E HISTÓRIA DO COMPLEXO...

Page 1: RECONTADO A PRÉ-HISTÓRIA E HISTÓRIA DO COMPLEXO …sabeh.org.br/wp-content/uploads/2018/07/revista-sabeh-cleonice-6.pdf · 2006, com a assinatura do Decreto Estadual de Tombamento,

Revista Ecologias Humanas 2018 Vol. 4 nº. 4 pgs. 21–38ISSN: 2447-3170Editora SABEHArtigo 02

RECONTADO A PRÉ-HISTÓRIA E HISTÓRIA DO COMPLEXOANGIQUINHO NA CACHOEIRA DE PAULO AFONSOProfa. Dra. Maria Cleonice de Souza Vergne1,*, Prof. Me. Salomão David Vergne Cardoso1,2,†, Profa.Ma. Manuella Maria Vergne Cardoso2,‡, Mestranda Alzeni de Freitas Tomáz4,§ e Prof. Me. CaioHumberto Ferreira Dória de Souza5,¶1UNEB e 2FASETE e 3UNIT e 4SABEH e 5UNIT*Profª Adjunto Universidade do Estado da Bahia. [email protected]†Prof. Universidade do Estado da [email protected]‡Professora Faculdade Sete de Setembro. [email protected]§Mestranda do Programa de Mestrado de Ecologia Humana e Gestão Socioambiental – PPGEcoH e Presidente da SociedadeBrasileira de Ecologia Humana [email protected]¶Prof. da Universidade Tiradentes/UNIT. [email protected]

Resumo

Este artigo, reporta-se a apresentação da historicidade pretérita de um território que durante milênios e séculos, foi o habitde várias gerações humanas, desde a pré-história, passando pela história Paulo Afonsina, quando se usa na terminologiamoderna, perpassando pelas etapas de colonização e independência e todos os contextos de gestão política, social e culturalbrasileira. A metodologia utilizada pautada nas normativas de levantamento bibliográ�co, prospecção, escavação, análise domaterial coletado em campo, armazenamento e construção do tombo de Bens Patrimoniais. Essa composição foi constituída,através da pesquisa arqueológica, que forneceu subsídios para a validação efetiva de ocupação humana pretérita, os vestígiosda cultura material representado pelos materiais líticos, fragmentos cerâmicos, louças, unindo o passado e presente próximoou tardio. Materiais que contextualiza, a vida cotidiana, bem como a ritualidade da Fé, dos Povos Tradicionais Viventes eNão Viventes. Pois a pesquisa deu-se em um território emblemático a áreas adjacentes da Cachoeira do Rio São Francisco,contexto Sagrado do Homem Pré-histórico e da atuais Nações Indígenas, en�m, uma Pesquisa que se iniciou dentro dastratativas de uma Pesquisa Arqueológica nos moldes exigidos pelo IPHAN, no seu transcorrer recebeu representantesde religiosidade Africana e Indígenas, dando uma contextualização novas, para a frieza da academia, saberes milenaresimbricados na composição interpretativa do resultado de uma pesquisa arqueológica.Palavra Chave: Arqueologia, Pré-Histórica e Histórica, Cultura Material

Résumé

Cet article fait référence à la présentation de l’historicité prétérit d’un territoire qui, depuis des millénaires et des siècles,est l’habitat de plusieurs générations humaines, de la préhistoire à l’histoire Paulo Alphonsine, lorsqu’il est utilisé dansla terminologie moderne, en passant par les étapes de la colonisation et de l’indépendance et de tous les contextes de lagestion politique, sociale et culturelle brésilienne. La méthodologie utilisée est basée sur des enquêtes bibliographiques, laprospection, l’excavation, l’analyse du matériel collecté sur le terrain, stockage et construction d’actifs. Cette composition aété établie par la recherche archéologique, qui a fourni des informations pour la validation e�cace de l’occupation humaineprétérit, des traces de culture matérielle représentés par des matériaux lithiques, des fragments de céramique, vaisselles,joindre le passé et le présent près ou loin. Des matériaux qui contextualisent, la vie de tous les jours, ainsi que la ritualitéde la foi, des peuples traditionnels vivants et non vivants. Parce que la recherche a eu lieu dans une zone emblématiquedans les zones adjacentes de la chute d’eau du Rio San Francisco, le contexte sacré de l’homme préhistorique et nationsautochtones en cours, en�n une recherche qui est initiée dans les négociations d’une enquête archéologique nos moulesrequis par l’IPHAN, dans son cours a reçu des représentants de la religiosité africaine et indienne, en donnant une nouvellecontextualisation, pour la froideur de l’académie, la connaissance millénaire imbriquée dans la composition interprétativedu résultat d’une recherche archéologique.Mots Clés: Archéologique, Préhistorique et Historique, Culture Materiélle.

Page 2: RECONTADO A PRÉ-HISTÓRIA E HISTÓRIA DO COMPLEXO …sabeh.org.br/wp-content/uploads/2018/07/revista-sabeh-cleonice-6.pdf · 2006, com a assinatura do Decreto Estadual de Tombamento,

22 | Revista Ecologias Humanas 2018 Vol. 4 Nº. 4

Introdução

O presente artigo tem como �nalidade apresen-tar o resultado obtido na Pesquisa no Complexode Angiquinho, localizado no baixo rio São Fran-cisco, assentado sobre o seu canyon, no pedi-plano sertanejo, no município de Delmiro Gou-veia/Al.Teve como objetivo duas atividades que ocor-

reu simultaneamente a escavação na malha viá-ria, subdividida por setores e o levantamentoprospectivo da área adjacente, para estabelecera localização e mapeamento dos sítios, inseridosnos espaços sociais dos que habitaram a regiãoao longo do tempo, tendo em vista que essescontextos poderão ser indicadores de re�exosde atividades sociais tais como: de coleta ali-mentar, acampamentos, local de elaboração deregistros grá�cos e ritualidades etc.Nessa pesquisa realizamos apenas escavação

nos nove setores da malha viária, bem como lo-calizamos e mapeamos nove ocorrências e seissítios, que adveio nas proximidades da grandeárea da Cachoeira de Paulo Afonso, no rio São

Francisco, uma zona que foi utilizada como localde assentamento para as populações de caçador-coletores que ali paravam pela busca da sobre-vivência; devido à presença do rio, com umagrande quantidade de peixes e água que serviapara a alimentação dos grupos humanos que alise instalaram, atendendo a todas as suas ne-cessidades vitais, como que a�rma AB’SABER,quando diz que “os grupos humanos que se es-tabeleceram nos terraços arenosos de Xingó –Piranhas, tinham a seu favor �uxos d’água pere-nes que atendiam a todas as suas necessidades:- água de beber, água para cozinhar alimentos,água para preparar o peixe, água para se banhar”(SCHIFFER; SKIBO, 1997).

Estado d’ Arte.

O Complexo da Antiga Usina Hidrelétrica de An-giquinho está localizado na área do pediplanosertanejo, no início do Canyon do rio São Fran-cisco a margem esquerda no sertão alagoano. Éconsiderada uma referência única no contextohistórico do Nordeste brasileiro, no que tange a

Figura 1. Cachoeiras de Paulo Afonso na Área de Angiquinhos (Arquivo Caapa, 2015).

Page 3: RECONTADO A PRÉ-HISTÓRIA E HISTÓRIA DO COMPLEXO …sabeh.org.br/wp-content/uploads/2018/07/revista-sabeh-cleonice-6.pdf · 2006, com a assinatura do Decreto Estadual de Tombamento,

Vergne et al. | 23

particularidade de ser a primeira Usina Hidroe-létrica cuja construção inegavelmente alavancouo modelo em voga no Brasil República “o capi-talismo industrial”.Sua localização pode ser classi�cada como

uma paisagem notável tanto em função dos a�o-ramentos graníticos que lhe dão uma especi�-cidade em relação às áreas circunvizinhas (oschamados tors), assim como, sua �ora e faunatípica do bioma da Caatinga, fatos que lhe con-cede o caráter particular ao patrimônio paisa-gístico.O empreendimento hidrelétrico de Angiqui-

nho com seu conjunto arquitetônico teve suaconstrução iniciada em 1911 e concluída pas-sando a gerar energia em 1913 para abastecer avila operária e uma fábrica de linha, implanta-das na localidade denominada Pedra, contextoidealizado por Delmiro Augusto da Cruz Gouveia.A historicidade segue com a aquisição da UsinaHidroelétrica de Angiquinho à Cia. Agro FabrilMercantil S/A em 31/11/1957 pela CompanhiaHidroelétrica do São Francisco/CHESF.Porém esse empreendimento hidrelétrico com

seu conjunto arquitetônico em 1960 encerra suaoperação, �cando com sua conservação realizadasem a necessária orientação como patrimôniohistórico até 2001, quando a Prefeitura de Del-miro Gouveia inicia o pedido de TombamentoEstadual, que se concretiza em 30 de novembro2006, com a assinatura do Decreto Estadual deTombamento, pelo então Governador de AlagoasLuiz Abílio de Souza Neto.No início de 2012 a Companhia Hidroelétrica

do São Francisco proprietária atual da área doComplexo de Angiquinho cogitando o aniversá-rio de 100 anos da morte de Delmiro Gouveia,toma a iniciativa de solicitar o TombamentoNacional desse Patrimônio, fato que gerou anecessidade de atender normas do IPHAN, noque tange a arqueologia se fez necessário duasdemandas, o levantamento prospectivo e a esca-vação da área que será calçada na malha viária,face a brevidade da decisão a CHESF convida oCentro de Arqueologia e Antropologia de PauloAfonso (CAAPA), da Universidade do Estado daBahia (UNEB); vêm buscado perspectivas de exe-cução de projetos que assegurem a preservação

de sítios arqueológicos e históricos, assim comodo patrimônio paisagístico onde ambos estão in-seridos. têm projetado ações que busquem nãoapenas a preservação, mas, também, atrela ter-mos de socialização do saber, quanto seu apro-veitamento turístico e econômico como fomen-tador do desenvolvimento social da comunidadelocal (extremamente carente) no contexto fron-teiriço entre os estados da Bahia e Alagoas.O CAAPA aceitar essa solicitação de pesquisa

arqueológica e realizá-la se justi�ca pela ne-cessidade de conhecimento real e inequívoco darealidade arqueológica no complexo supracita-dos, levantando o número de sítios por meio deprospecção total de varredura, resgatando rema-nescentes culturais em superfície e escavaçõesde sítios a avaliando o grau dos impactos (natu-ral e antrópico), sofrido por eles até a presentedata.Em 13 de setembro de 2012, recebemos das

mãos do Sr. Luiz Rubens Bon�m, uma corres-pondência que relata o seguinte conteúdo, “umacoleção de registros fotográ�cos dos vestígios dapré-história brasileira, da área da cachoeira dePaulo Afonso e outras localidades do sertão ala-goano, que compõem a coleção do Senhor Jaymede Altavila hoje constituinte do acervo do Insti-tuto Histórico e Geográ�co de Alagoas” o pleitodessa demanda originou-se da iniciativa Com-panhia Hidroelétrica de Paulo Afonso/Chesf.Ao analisar o material fotográ�co fornecido,

tivemos uma grande surpresa, pois faz partedessa coleção um material arqueológico de altarelevância, inclusive segundo literatura pode-mos contextualizá-los como ritualísticos, sãoem número de dez machados, sendo que quatrodeles semilunar, porém só nos foi possível tam-bém observá-los através de fotos, bem como deuma prancha de pintura rupestre, e fragmentosde ossos encontrados na Furna do Morcego. Acaracterização da coleção de Jaime de Altavilaapresenta a seguinte descrição:O fascínio que desperta o estudo da evolução humanasempre esteve presente nos fundadores IHGAL Insti-tuto Histórico e Geográ�co de Alagoas (IHGAL, s.d.)o resultou em inúmeras pesquisas. As certezas deexistência e da importância dos vestígios de paleoín-dios para a pré-história brasileira levaram Jaime deAltavila a efetuar escavações em Paulo Afonso Furnados Morcegos, Cacimbinhas e outros locais que estão

Page 4: RECONTADO A PRÉ-HISTÓRIA E HISTÓRIA DO COMPLEXO …sabeh.org.br/wp-content/uploads/2018/07/revista-sabeh-cleonice-6.pdf · 2006, com a assinatura do Decreto Estadual de Tombamento,

24 | Revista Ecologias Humanas 2018 Vol. 4 Nº. 4

sendo levantados. A coleção Altavila reúne 100 peças,a maioria de objetos líticos, coletadas nessa pesquisa,algumas são doações feitas por Alfredo Brandão. Os la-ços de amizades com outros pioneiros, impede, muitasvezes que se identi�que o autor da coleta de algumaspeças, mas demonstra claramente o espírito de equipedos jovens de então.Essa informação gerou vários questionamen-

tos durante a pesquisa, inclusive restabeleceuum olhar mais crítico para a realização do levan-tamento prospectivo, de intensi�cação da áreaem levantamento que foi contemplada quandoencontramos uma lâmina de machado e váriosalmofarizes, dados que coloca a área pesquisaem um tempo pretérito dos caçadores-coletores-ceramista, uma vez que encontramos tambémmaterial cerâmico.Observado à pré-história brasileira, pode-se

dizer que, os dados arqueológicos anteriores há60 mil anos, no que se acena a presença doscaçadores coletores, com datações absoluta so-bre a temática, o seguinte estado brasileiro, quepossuem sítios com datações referentes a taldata no PiauíPorém, em relação a ceramista foi possível

observar de forma mais ampla, pois vários es-tados brasileiros apresentar sítios com a essecontexto, em virtude do gradativo desenvolvi-mento da agricultura, foi possível às culturaspré-históricas brasileiras um grande desenvol-vimento, inclusive populacional, pois, a dietaa base de carne proveniente da caça não erasu�ciente para um pleno desenvolvimento fí-sico, tal dieta era rica em proteínas e pobre emcarboidratos. Também foi importante para a se-dentarização desses povos, que eram nômades.Pois o aparecimento da agricultura está indi-

retamente relacionado ao surgimento da cerâ-mica, que constitui, atualmente, grande partedos artefatos para estudos arqueológicos.Foi somente com o controle da criação de animais eplantas que o homem primitivo pode assegurar-seuma fonte de alimentos digna de con�ança e que po-dia ampliar com facilidade, estabelecendo assim umabase segura para o progresso cultural. A invenção daagricultura foi realmente revolucionária, no sentidode que só ela possibilitou o nascimento das civiliza-ções literárias, embora seja bom lembrar que a novaeconomia se impôs gradualmente e seus efeitos so-bre outros aspectos da cultura foram, a princípio, tãoimperceptíveis, que di�cilmente poderiam ser distin-guíveis no registro arqueológico (CLARCK, 1962).Com relação a registro grá�co que faz parte do

contexto da região nordeste existe quatro gruposprincipais que aparecem com grande frequêncianos estados que a compõem: Tradição Nordeste,Tradição Agreste. Geométrica e Tradição Itacoa-tiara.Essa variedade de tradições denota, certa-

mente, uma ocupação que foi feita por váriosgrupos populacionais em diferentes épocas, oque, provavelmente originou a diversidade cul-tural dos nativos que habitavam a região naépoca da chegados dos europeus.Além disso, essa tradição está presente nos

estados do Piauí, Ceará, Paraíba, Pernambucoe Rio Grande do Norte. Segundo Niède Guidon,as pinturas de tal tradição são referentes a umaantiguidade aproximada de 5000 mil anos no Pi-auí, sofrendo certa queda cronológica em outraslocalidades, por volta de 2000 mil anos. Cabesalientar que, apesar das evidentes diferençasexistentes entre a Tradição Agreste e a TradiçãoNordeste, André Prous a�rma que:Por nossa parte, achamos que a realidade desta ‘tradi-ção’ deva ser ainda comprovada. Acreditamos tratar-se de uma mistura, nos mesmos sítios, de gra�smosdas duas tradições ‘Nordeste’ e ‘São Francisco’, pro-vavelmente pintados em épocas diferentes (PROUS,1999).Os sítios rupestres evidenciados na área de

abrangência Arqueológica de Paulo Afonso noEstado de Bahia são compostos quase que ex-clusivamente por gra�smos puros, ou seja,pinturas que não são reconhecíveis. Quandoapresentam formas zoomorfas, antropomor-fas ou carimbos, geralmente aparecem isola-dos e raramente formam uma cena 2004).(CVERGNE, 2004)(C. VERGNE; FAGUNDES; CAR-VALHO, 2004).Sendo assim, esse “estilo” de arte não se en-

quadra com as tão discutidas tradições do Nor-deste do Brasil, sendo as principais: Nordeste eAgreste (MARTIN, 1999).Partindo do pressuposto que os registros ru-

pestres como qualquer outro remanescente éintegrante do universo cultural de dado grupo,eles compreenderiam características ligadas aouniverso simbólico, à organização social e tec-nológica, ao modo de produção, funcionandocomo um ato de comunicação, de demarcaçãoterritorial, rituais mágico-simbólicos, autoa�r-

Page 5: RECONTADO A PRÉ-HISTÓRIA E HISTÓRIA DO COMPLEXO …sabeh.org.br/wp-content/uploads/2018/07/revista-sabeh-cleonice-6.pdf · 2006, com a assinatura do Decreto Estadual de Tombamento,

Vergne et al. | 25

mação de identidade étnica, descrição de atosdo cotidiano, entre outros.Bases Físicas e ArqueológicasApresentamos os dados da base física do pedi-plano sertanejo onde estão inseridas as ocorrên-cias, os sítios arqueológicos localizados e as es-cavações, que são bens arqueológicos mais tam-bém dos bens naturais cuja formação rochosacomposto por matacões e paredões de granitosão uma formação rara nessa região do Semiá-rido nordestino.Dentro de um contexto geomorfológico a área

pesquisada é circundada por serras, planíciescristalinas, tabuleiros e vales aluviais distribuí-dos da seguinte maneira:• As serras apresentam altitude média de 500metros e estão localizadas, principalmente, aoeste e norte do município de Paulo Afonso –BA;

• A planície cristalina é o compartimento geo-morfológico de maior extensão na área, loca-lizada em toda a região, principalmente nosarredores dos municípios de Paulo Afonso –BA e Delmiro Gouveia – AL. Apresenta relevoondulado, porém muito suave e distribuídode maneira uniforme ao longo dos vales, comcotas sempre inferiores a 250 metros de alti-tude;

• Os tabuleiros estão largamente distribuídosna bacia do Tucano, constituídos de super-fícies aplainadas sub-horizontais, mergu-lhando de modo uniforme e suave em direçãoao vale dos rios principais,

• As planícies aluviais ocorrem principalmenteao longo do rio São Francisco; de maior ex-pressividade está localizada na região do mu-nicípio de Pão de Açúcar – AL.Entretanto, a unidade geomorfológica predo-

minante é denominada como Pediplano do BaixoSão Francisco, que ocupa toda a bacia de dre-nagem do São Francisco na área (CHESF/ENGE-RIO., 1993).A área em questão, sobretudo, está consti-

tuída predominantemente por rochas magmáti-cas e metamór�cas pré-cambrianas e, secunda-riamente, por rochas sedimentares paleozóicase mesozóicas, chamada de Formação Taracatu.Esta é constituída por sedimentos paleozóicos,que a�oram em três áreas distintas na Faixa deDobramento Sergipana.Segundo Santos & Souza (1988:55): “Na por-

ção basal há um franco predomínio de arenitosseixosos e conglomerados de seixos imaturos,de cor cinza clara a branca, com variações lo-cais para bege, em espessos pacotes com sets deestratos cruzados de grande porte”.O arenito desta área é formado essencial-

Figura 2. Sítio rupestre em Paulo Afonso (foto: Campos & Bon�m, 2018).

Page 6: RECONTADO A PRÉ-HISTÓRIA E HISTÓRIA DO COMPLEXO …sabeh.org.br/wp-content/uploads/2018/07/revista-sabeh-cleonice-6.pdf · 2006, com a assinatura do Decreto Estadual de Tombamento,

26 | Revista Ecologias Humanas 2018 Vol. 4 Nº. 4

mente por grãos de quartzo, médios e grosseiros,geralmente angulares e arredondados. O apro-veitamento pré-histórico desta unidade está re-lacionado à sua utilização enquanto suporte paragravuras espalhadas nos caminhos naturais en-tre os terraços �uviais e o platô, representadospelos leitos, na maioria das vezes secos, dosriachos (C. VERGNE; FAGUNDES; CARVALHO,2004).Esta unidade está constituída por uma grande

superfície aplanada por processos de pedipla-nação, com cotas entre 200 e 250 metros dealtitude, seguindo lentamente em direção à ca-lha do rio. Sua superfície está constituída porlitologias diferentes, que remontam ao protero-zóico do Domínio Canindé-Marancó.Dessa maneira, em termos geomorfológicos

o pediplano é uma planície cristalina que se for-mou por modelados de aplanamentos degrada-dos ou retocada e por modelados de dissecação.Em um contexto ambiental mais amplo, o

pediplano sertanejo está inserido no bioma dacaatinga que, de modo geral, pode ser classi�-cado como um ambiente marcado pela sazona-lidade entre períodos chuvosos (maio a agosto)e períodos secos (entre setembro e abril). Essasazonalidade, por sua vez, é a característica mar-cante na paisagem representada, na região dosub-médio e baixo São Francisco é bastante va-riada, caracterizada por regiões semiáridas cujaformação predominante é as caatingas arbóreasbaixas.Esse tipo de vegetação, por sua vez, está cons-

tituído essencialmente por árvores e arbustosque perdem as folhas durante a estação seca,por plantas espinhosas e por herbáceas que sedesenvolvem vigorosamente após o período dechuvas (CHESF/ENGE-RIO., 1993).A Caatinga mostra-se extremamente hetero-

gênea quanto à �sionomia e à estrutura, masmantém certa uniformidade na sua composição�orística (CHESF/ENGE-RIO., 1993).As variações do meio, entretanto, sobretudo

em relação ao índice de precipitação anual, mastambém tipo de solo e altitude média dá aspec-tos diferentes à caatinga nordestina, classi�cadaem dois tipos distintos: Caatinga hipoxeró�la,esta, por sua vez, apresenta dois sub-tipos: ar-

bóreo e não-arbóreo e Caatinga hiperxeró�la,essa vegetação sub-divide- se em: hiperxeró-�la arbórea e hiperxeró�la arbustivo-arbórea(CHESF/ENGE-RIO., 1993).O clima Semiárido com duas estações bem de-

limitadas (chuvosa e seca) cujas as precipitaçõesnão ultrapassam 600 mm anuais e as tempera-turas são elevadas, com média em torno de 25oC; que viabiliza os altos índices de evaporaçãoque se encontram em torno de 1.200 mm porano (CHESF/ENGE-RIO., 1993).Os recursos hídricos muito escassos, sendo a

hidrologia regional marcada por riachos inter-mitentes, que permanecem sem água a maioriado ano; baixa incidência de água super�cial; eno contexto local, podemos citar a presença doSão Francisco.Unindo arqueologia em uma análise biogeo-

grá�ca (ou ambiental), entendendo que o usodo espaço na pré-história também estaria de�-nido por questões de âmbito geoecológico, par-tindo do princípio que os grupos humanos pré-históricos estariam ocupando o espaço conformea disponibilidade de recursos, bem como relaci-onados ao universo sociocultural e ideológico.Se compreendermos a ocupação no pediplano

sertanejo, ou seja, fora da área dos terraços (queinequivocamente é a região com maior disponi-bilidade de recursos), essa inferência tem quelevar em conta as condições paleoambientais apartir do holoceno inicial até o tardio, períodode mudanças drásticas em termos ambientais eque, dessa forma, o grupo (ou grupos) deveriaestar adaptado às condições geoecológicas daárea.Indo mais além, se pensarmos as ocupações

dessa área sob um caráter evolutivo, partindo dopressuposto do forrageamento ótimo (KIPNIS,2001), poderíamos inferir porque as existênciasde sítios arqueológicos apenas em enclaves dobioma da caatinga estariam de uma forma oude outra, associados aos registros rupestres.As prospecções no pediplano sertanejo, nesse

caso localizaram sítios arqueológicos exclusiva-mente em áreas de enclaves, próximos às áreascom disponibilidade de água super�cial.Assim sendo, acreditamos que em função da

sazonalidade ambiental da área, os grupos pré-

Page 7: RECONTADO A PRÉ-HISTÓRIA E HISTÓRIA DO COMPLEXO …sabeh.org.br/wp-content/uploads/2018/07/revista-sabeh-cleonice-6.pdf · 2006, com a assinatura do Decreto Estadual de Tombamento,

Vergne et al. | 27

históricos estariam adaptados às condições pa-leoclimáticas a área, ora ocupando os terraços�uviais e, em momentos de colapsos nessa áreamigrarem para o pediplano/canyon (suposta-mente representados pelas cheias dos rios), uti-lizavam como estratégia a mobilidade (residen-cial e logística), para otimização de recursos,ocupando enclaves geoecológicos do bioma.

Princípios Teórico-Conceituais

O principal aporte teórico deste plano diz res-peito à subdisciplina Arqueologia da Paisagem,nos quais os pressupostos da Arqueologia daPaisagem estão marcados, sobretudo, pelo usodas geotecnologias, para o levantamento dossítios arqueológicos distribuídos e interligadosno espaço social, de modo que se possa infe-rir mais assertivamente acerca dos fenômenosobservados em pré-história (MORAIS, 1995).Há uma preocupação inerente a este conceito,

a utilização destes métodos e técnicas que iden-ti�quem os sítios arqueológicos dispostos napaisagem e interligados a ela, ou seja, o desen-volvimento de estudos sistemáticos e integraisdo registro arqueológico e da paisagem (estaúltima compreendida não como uma entidadepassiva onde ocorrem os processos sociais oucomo um recurso a ser explorado, mas comouma construção social), de forma a compreen-dermos e interpretarmos a distribuição espa-cial dos assentamentos e, consequentemente,

os possíveis usos do espaço por populações pre-gressas.En�m, a Arqueologia da Paisagem tem como

objetivo a análise da articulação de sociedadescom o meio circundante enquanto uma totali-dade social, buscando por meio do fator geo umapormenorização dos elementos que integram apaisagem com vistas à compreensão das inter-relações com as sociedades, no nosso caso o rioSão Francisco e seus pequenos a�uentes.Atualmente, muito se discute sobre o uso de

paisagem em Arqueologia enquanto estratégiade investigação (OREJAS, 1998), de qualquerforma, o conceito tem se integrado mais con-cretamente e de maneira efetiva nos estudosarqueológicos, tendência extremamente impor-tante, visto que “Entender a Geogra�a e o MeioAmbiente de uma determinada área é (...) umimportante aspecto da pesquisa arqueológica.Permite, igualmente, que um olhar isolado nopassado possa ser inserido em um contexto am-plo e melhor compreensível” (MORAIS, 1995).Finalmente cabe destacar que, graças à na-

tureza das metodologias e técnicas utilizadaspela Arqueologia da Paisagem, ela apresenta aimportante característica de não ser destrutiva.Levando em conta que os “bens arqueológicos”são �nitos, a Arqueologia da Paisagem valorizao uso do levantamento arqueológico por meio dautilização das geotecnologias, corroborando sen-sivelmente para a preservação deste patrimônio(MORAIS, 1995).

Figura 3. Vista do pediplano sertanejo e do encaixe do rio São Francisco (foto: Arquivo CAAPA, 2015).

Page 8: RECONTADO A PRÉ-HISTÓRIA E HISTÓRIA DO COMPLEXO …sabeh.org.br/wp-content/uploads/2018/07/revista-sabeh-cleonice-6.pdf · 2006, com a assinatura do Decreto Estadual de Tombamento,

28 | Revista Ecologias Humanas 2018 Vol. 4 Nº. 4

Estabelecemos uma preocupação inerente aeste conceito, no que tange a utilização destesmétodos e técnicas que identi�quem os sítiosarqueológicos dispostos na paisagem e interliga-dos a ela, ou seja, o desenvolvimento de estudossistemáticos e integrais do registro arqueoló-gico e da paisagem (esta última compreendidanão como uma entidade passiva onde ocorremos processos sociais ou como um recurso a serexplorado, mas como uma construção social),de forma a compreendermos e interpretarmos adistribuição espacial dos assentamentos e, con-sequentemente, os possíveis usos do espaço porpopulações pregressas.Na sua abstração manifestada através dos ves-

tígios da cultura material e dos gra�smos pu-ros não reconhecíveis; transformando todos es-ses registros em um testemunho etnográ�co –como marcador da sua presença na área, e umtestemunho arqueológico, por ser responsávelmuitas vezes para de�nir o(s) grupo(s) que aliestava assentado há séculos ou há milênios, nocontexto do baixo São Francisco tem sua própriaexpressividade bem como seus aspectos simbóli-cos culturalmente estabelecidos, tomando comoreferência a incidência de ocorrências e sítioslocalizados nas proximidades do Complexo An-giquinho, na Cachoeira de Paulo Afonso no rioSão Francisco.

Procedimentos Metodológicos e Resul-tados da Pesquisa

Inicialmente optou-se pela confecção, em la-boratório, de procedimentos essenciais para apesquisa, que podem ser resumidos como a pro-dução de base cartográ�ca (carta topográ�ca),fornecido pela CHESF, que cooperou sensivel-mente no planejamento das prospecções siste-máticas e da escavação.Baseando-se nessa cartogra�a, delimitamos

os noves setores de escavação nos quais estãoinseridas as áreas de prospecções a partir das fei-ções da paisagem e existente traçado da malhaviária. Além disso, nessa fase foram discutidasas estratégias que deveriam ser assumidas emcampo e os materiais que seriam utilizados napesquisa.

As prospecções sistemáticas tiveram com ob-jetivo a evidenciação e georreferenciamento doregistro arqueológico visível, o procedimento es-colhido para tal intento foi o full-coverage sur-vey ou prospecção de cobertura total (DE BLA-SIS; MORALES, 1995) , com devidas adaptações anossa realidade identi�cando, georeferenciandoe fotografando os sítios. Testado em áreas de-sérticas ou semi-áridas, sobretudo nos EstadosUnidos, foi escolhido por ser um modelo inte-ressante para o meio físico-biótico em estudo,além de que nos oferece um quadro coerentesobre a totalidade, diversidade e distribuiçãodos sítios arqueológicos na paisagem, sobretudoaqueles relacionados a um sistema de assenta-mento(BINFORD, 1981; DE BLASIS; MORALES,1995).Percorremos os noves setores onde a visibili-

dade de sítios arqueológicos fosse privilegiadaou não, ou seja, per�s naturais (estradas recen-temente abertas na paisagem; locais de captaçãode areia ou argila; barrancas de rios, sobretudoas que sofreram erosão há pouco etc.); áreas ara-das; locais sob interferência antrópica (queima-das, desmatamento etc.), áreas de recuperaçãoda caatinga.Além disso, todos os matacões, boqueirões

ou qualquer suporte rochoso, que visualmentepudesse ter servido de base para a realização depinturas e gravuras rupestres, foramminuciosa-mente inspecionados de forma que pudéssemosmapear a distribuição espacial desses sítios e,posteriormente, delimitar as inter-relações coma paisagem.A prospecção sistemática para a localização

e mapeamento dos sítios arqueológicos na áreade pesquisa teve o intuito de compreender a di-nâmica cultural na pré-histórica regional, pormeio de dados empíricos sólidos que validassemas hipóteses acerca do modo de vida e culturadas sociedades pregressas e ágrafas, duranteas prospecções quando evidenciado, o registrofoi identi�cado e demarcado via georreferencia-mento por GPS, fotografado, no caso do materialarqueológico em superfície, foram sistematica-mente coletados do solo.As sondagens e ou escavações foram realiza-

das mediante portaria do Instituto do Patrimô-

Page 9: RECONTADO A PRÉ-HISTÓRIA E HISTÓRIA DO COMPLEXO …sabeh.org.br/wp-content/uploads/2018/07/revista-sabeh-cleonice-6.pdf · 2006, com a assinatura do Decreto Estadual de Tombamento,

Vergne et al. | 29

nio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), fo-ram realizadas sondagens veri�catórias nestemomento estabeleceremos níveis arti�ciais,para realização da sondagem e ou da escava-ção, os vestígios em sub-superfície serão devi-damente plotados e identi�cados por camadasnas quadrículas de 1x1 metros de largura e com-primento, a profundidade será delimitada pelosurgimento da base rochosa.Depois de concluída a avaliação do potencial

da área sugerimos para uma segunda etapa fu-tura, escavações sistemáticas de ampla superfí-cie nos sítios selecionados e detectados como dealta relevância bem como escavações menoresnas ocorrências, que provavelmente fornecerãodados mais consistentes para a compreensão dapré-história local.Todos os remanescentes culturais evidencia-

dos e resgatados nas escavações (cerâmica, lí-tico, louças, ferro etc.), foram devidamente pas-sados pelo processo de curadoria (limpeza, tom-bamento, registro de tombo digital), e, apósestudos laboratoriais, serão devidamente aco-modados em caixas arquivos e encaminhadospara reserva técnica.O levantamento topográ�co, fotográ�co e o

georreferenciamento foram desenvolvidos pa-ralelamente. Ao longo da pesquisa ocorreu con-tatos com a comunidade no intuito de repassaro conhecimento e a valorização do seu passadopara estabelecer mecanismos de conservação pa-trimonial e da memória histórica regional, emtrês seguimentos: educacional, cultural e turís-tico.No que tange o registro grá�co na sua abs-

tração manifestada através dos vestígios da cul-tura material e dos gra�smos puros não reco-nhecíveis; transformando todos esses registrosem um testemunho etnográ�co – como mar-cador da sua presença na área, e um testemu-nho arqueológico, por ser responsável muitasvezes para de�nir o(s) grupo(s) que ali estavaassentado há séculos ou há milênios, no con-texto do baixo São Francisco tem sua própriaexpressividade bem como seus aspectos sim-bólicos culturalmente estabelecidos, tomandocomo referência a incidência de ocorrências e sí-tios localizados nas proximidades do Complexo

Angiquinho.Trata-se das primeiras manifestações artísti-

cas do homem, vemos que elas existem desdehá muito tempo, levando o registro grá�co parao olhar da arte como a conceituamos hoje, po-demos incorrer em duvidas, pois apesar de exis-tirem imagens admiráveis quando tratamos dosregistros reconhecíveis, e contexto interrogativosobre interpretação, portanto com signi�cadosdistintos do que hoje concebemos como arte ouregistro, se procurarmos penetrar na mente hu-mana dos povos primitivos e descobrir qual éo gênero de experiência que os faz pensar emimagens como algo pulcro para se contemplar.Mantivemos os mesmos procedimentos teó-

ricos metodológicos adotados para a pesquisadesenvolvida no baixo rio São Francisco, peloCentro de Arqueologia e Antropologia de PauloAfonso/CAAPA contextualizados no projeto desolicitação de pesquisa aprovada com emissãode portaria de autorização, os quais estão distri-buídos em várias manchas ambientais inseridasno bioma da Caatinga regional, privilegiando osimpactos relevantes ocorridos neste comparti-mento geomorfológico denominado pediplanosertanejo.Resultados Arqueológicos e Antropoló-gicosO levantamento de registros arqueológicos paraa avaliação preliminar da região ou do local, emtermos de patrimônio arqueológico, transita en-tre extensões maiores ou menores, de acordocom o foco da abordagem escalas intermediáriaa micro, unidade geográ�ca de manejo patrimo-nial, área de in�uência direta.Sua operacionalização se dá por meio do pla-

nejamento e execução de sondagens na matrizsedimentar, em pontos avaliados como estra-tégicos marcados por geo indicadores arqueo-lógicos [eventualmente, pode ser �xada umamalha de sondagem casuística ou ritmada, emintervalos regulares].Este procedimento também é reconhecido

como levantamento prospectivo. Detectados re-gistros arqueológicos, são feitas coletas amos-trais comprobatórias semi controladas. O levan-

Page 10: RECONTADO A PRÉ-HISTÓRIA E HISTÓRIA DO COMPLEXO …sabeh.org.br/wp-content/uploads/2018/07/revista-sabeh-cleonice-6.pdf · 2006, com a assinatura do Decreto Estadual de Tombamento,

30 | Revista Ecologias Humanas 2018 Vol. 4 Nº. 4

tamento arqueológico aponta para a prospecção(MORAIS, 1995).Foram identi�cadas noves ocorrências arque-

ológicas de�nidas como objeto único ou quanti-dade ín�ma de objetos aparentemente isoladosou desconexos encontrados em determinado lo-cal, assim a natureza e a sociedade se fundemem uma totalidade organizada. Visão ecossistê-mica e holística se interage na medida em quetratam de relações e de totalidade. (MORAIS,1995).As ocorrências estão localizadas entre vários

conjuntos de torres de transmissão de energia,o que comprova que foram áreas impactadasquando do assentamento da estrutura metálica,ocorreu inferências nas matrizes sedimentares,cortes horizontais como maquinas (retroesca-vadeiras) para abertura de estradas para geraracesso as mesmas, bem como a retirada demate-rial prima “Barro” bastante utilizada para cons-trução e reboco de casas, trata-se de fonte deexcelente qualidade.Situadas no pediplano sertanejo próximo a

borda da cachoeira de Paulo Afonso no rio SãoFrancisco, no estado de Alagoas, no Municípiode Delmiro Gouveia, no povoado Jardim Cor-deiro, inserido no Complexo Angiquinho. A ve-getação da Caatinga existente é ainda muito es-parsa, encontra-se em processo de recuperação,podemos observar a presença de vários tipos decactáceas e áreas visivelmente desmatadas, asespécies detectadas catingueira, faveleira, coar,macambira, umbuzeiro.Atualmente a área é tombada pela normativa

estadual, cuja gestão é compartilhada pela Fun-dação Delmiro Gouveia - FUNDEG e CompanhiaHidroelétrica do São Francisco/CHESF, abertaà visitação gratuita a comunidade, turistas epesquisadores.Realizou-se em todas registro da ocorrência,

através da caderneta de campo, do georrefe-renciamento, da fotogra�a, da coleta e armaze-namento dos vestígios, bem como o preenchi-mento da �cha de cadastro.Analisado os fatos, apresentamos o quadro

sinóptico das nove ocorrências, mas ressaltamosque as mesmas poderiam ter sido no passadoum contexto arqueológico, mais signi�cativo e

amplo.Ocorrência 01A localização da ocorrência 01 encontra-se pa-ralela a cachoeira de Paulo Afonso no rio SãoFrancisco. Foram coletados os seguintes ma-teriais: fragmento de cerâmica, louça e lítico,todos encontrados dispersos pela área delimi-tada, em seu entorno há visualização de muitolixo na superfície, o mesmo vem da área externaao Complexo de Angiquinho.

Figura 4. Materiais de cerâmica, louça e lítico encontrado em Angjiquinho(Arquivo CAAPA, 2013)

Ocorrência 02A localização da ocorrência 02 também se en-contra paralela a cachoeira de Paulo Afonso noRio São Francisco. Trata-se de uma das ocorrên-cias localizada no pediplano sertanejo próximoa borda da cachoeira de Paulo Afonso no rio SãoFrancisco, que apresenta na sua superfície ma-terial arqueológico, lítico encontrado dispersopela área delimitada

Ocorrência 03A localização da ocorrência 03 também seencontra paralela a cachoeira de Paulo Afonso

Page 11: RECONTADO A PRÉ-HISTÓRIA E HISTÓRIA DO COMPLEXO …sabeh.org.br/wp-content/uploads/2018/07/revista-sabeh-cleonice-6.pdf · 2006, com a assinatura do Decreto Estadual de Tombamento,

Vergne et al. | 31

Tabela 1. Quadro sinóptico das ocorrências arqueológicas.Ocorrência Município/Povoado/Estado Macro Ecossistema Bacia Hidrográ-

�caCategoria Tipo de Vestígio

01 Delmiro Gouveia/Complexo Angiquinho/Al. Pediplano sertanejo Cachoeira do rioSão Francisco

Pré-HistóricoHistórico

Cerâmica, Louçae Lítico

02 Delmiro Gouveia/Complexo Angiquinho/Al. Pediplano sertanejo Cachoeira do rioSão Francisco

Pré-HistóricoHistórico

Lítico03 Delmiro Gouveia/Complexo Angiquinho/Al. Pediplano sertanejo Cachoeira do rio

São FranciscoPré-HistóricoHistórico

Metal04 Delmiro Gouveia/Complexo Angiquinho/Al. Pediplano sertanejo Cachoeira do rio

São FranciscoPré-HistóricoHistórico

Lítico05 Delmiro Gouveia/Complexo Angiquinho/Al. Pediplano sertanejo Cachoeira do rio

São FranciscoPré-HistóricoHistórico

Lítico06 Delmiro Gouveia/Complexo Angiquinho/Al. Pediplano sertanejo Cachoeira do rio

São FranciscoPré-HistóricoHistórico

Lítico07 Delmiro Gouveia/Complexo Angiquinho/Al. Pediplano sertanejo Cachoeira do rio

São FranciscoLítico

08 Delmiro Gouveia/Complexo Angiquinho/Al. Pediplano sertanejo Cachoeira do rioSão Francisco

Cerâmica09 Delmiro Gouveia/Complexo Angiquinho/Al. Pediplano sertanejo Cachoeira do rio

São FranciscoLouça

Figura 5. Materiais líticos encontrados em Angiquinho (Arquivo CAAPA, 2013)

no rio São Francisco. Foi coletado uma peça deferro. Nessa ocorrência em particular deu-sena conjuntura do desmatamento da vegetaçãonativa para implantação de um jardim deobservação da Furna do Morcego, atualmenteela está composta por plantas antrópicas, essescontextos contribuíram muito para o compro-metido parcialmente da matriz sedimentaroriginal.

Figura 6. Peça de ferro coletada em Angiquinho (Arquivo CAAPA, 2013)

Ocorrência 04

A localização da ocorrência 04 também seencontra paralela a cachoeira de Paulo Afonsono rio São Francisco. Nessa ocorrência foiidenti�cada material lítico na superfície.

Page 12: RECONTADO A PRÉ-HISTÓRIA E HISTÓRIA DO COMPLEXO …sabeh.org.br/wp-content/uploads/2018/07/revista-sabeh-cleonice-6.pdf · 2006, com a assinatura do Decreto Estadual de Tombamento,

32 | Revista Ecologias Humanas 2018 Vol. 4 Nº. 4

Figura 7. Material lítico de superfície (Arquivo CAAPA, 2013)

Ocorrência 05A localização da ocorrência 05 também se en-contra paralela a cachoeira de Paulo Afonso norio São Francisco. Foi coletado apenas materiallítico, encontrado disperso pela área delimitada

Figura 8. Material lítico disperso na área de Angiquinho (Arquivo CAAPA, 2013)

Ocorrência 06A localização da ocorrência 06 também se en-contra paralela a cachoeira de Paulo Afonso norio São Francisco. Foi coletado apenas mate-rial lítico, encontrado disperso pela área delimi-tada. Realizou-se registro do sítio, através da

caderneta de campo, do georreferenciamento,da fotogra�a, da coleta e armazenamento dosvestígios, bem como o preenchimento da �chade cadastro.

Figura 9. Material lítico disperso (Arquivo CAAPA, 2013)

Ocorrência 07

A localização da ocorrência 07 também se encon-tra paralela a cachoeira de Paulo Afonso no rioSão Francisco. Foi coletado apenas material lí-tico sendo tipologicamente alisador, encontradodisperso pela área delimitada.

Figura 10. Material lítico alisador em área dispersa de Angiquinho (ArquivoCAAPA, 2013)

Page 13: RECONTADO A PRÉ-HISTÓRIA E HISTÓRIA DO COMPLEXO …sabeh.org.br/wp-content/uploads/2018/07/revista-sabeh-cleonice-6.pdf · 2006, com a assinatura do Decreto Estadual de Tombamento,

Vergne et al. | 33

Ocorrência 08

A localização da ocorrência 08 também se en-contra paralela a cachoeira de Paulo Afonso norio São Francisco. Foi coletado apenas materialcerâmico, encontrado disperso pela área delimi-tada.

Figura 11. Material cerâmico em área disperso de Angiquinhos (Arquivo CAAPA,2013)

Ocorrência 09

A localização da ocorrência 08 também se encon-tra paralela a cachoeira de Paulo Afonso no rioSão Francisco. Foram coletados apenas algunsfragmentos de louça, encontrado disperso pelaárea delimitada

Figura 12. Fragmentos de louças (Arquivo CAAPA, 2013)

Levantamento Prospectivo - Sítios Ar-queológicosForam localizados de seis sítios arqueológicos,que segundo a de�nição de (MORAIS, 1995;MARTIN, 1999) é “a unidade do espaço pas-sível de investigação, dotado de objetos inten-cionalmente produzidos ou re-arranjados, quetestemunham as ações de sociedades do pas-sado, bem como áreas de interesse de captaçãode recursos permite transitar entre extensõesmaiores ou menores”.Os localizados apresentam especi�cidades

próprias, como: - Dois Sítios de registro grá-�co caracterizado como pré-histórico; - Umsítio com vestígio lítico caracterizado como pré-histórico; -Um com vestígio cerâmico e louçacaracterizada como pré-histórico e histórico. -Um com vestígio, lítico, cerâmica e louça, ca-racterizado como pré-histórico e histórico. -Um sítio com vestígio, lítico, cerâmica, louça,ferro e tijolo caracterizado como pré-históricoe histórico;A localização dos quatro sítios a céu aberto

ocorre nas proximidades da cachoeira de PauloAfonso, no rio São Francisco, deverão ser futura-mente escavados, pois foi localizado e coletadona superfície vestígios arqueológicos. Na suaárea de delimitação podemos observar a pre-sença de várias torres linha transmissão, �nca-das sobre as matrizes arqueológicas, associadasas estradas que foram abertas para sua manu-tenção.O segundo grande impacto acontece devido as

amplas retiradas de sedimento de barro argilosoda matriz sedimentar, fatos que demonstramuma grande impactação sobre o contexto ar-queológico, pois anteriormente ao tombamentoocorreu o desmatamento, as intempéries, aslinhas de transmissão e as estradas de manu-tenção das mesmas, contribuíram para o com-prometido parcialmente da matriz sedimentaroriginal.A vegetação da Caatinga existente é ainda

muito esparsa, encontra-se em processo de re-cuperação, podemos observar a presença de vá-rios tipos de cactáceas e áreas visivelmente des-matadas, as espécies detectadas catingueira, fa-

Page 14: RECONTADO A PRÉ-HISTÓRIA E HISTÓRIA DO COMPLEXO …sabeh.org.br/wp-content/uploads/2018/07/revista-sabeh-cleonice-6.pdf · 2006, com a assinatura do Decreto Estadual de Tombamento,

34 | Revista Ecologias Humanas 2018 Vol. 4 Nº. 4

veleira, coar, macambira, umbuzeiro.Este situado no estado de Alagoas, no Municí-

pio de Delmiro Gouveia, no povoado Jardim Cor-deiro, inserido no Complexo Angiquinho. Suacoordenada geográ�ca, esta referenciada na �-cha abaixo.Trata-se de sítios localizado no pediplano ser-

tanejo próximo a borda da cachoeira de PauloAfonso no rio São Francisco, que apresenta nasua superfície material arqueológico, que foi re-volvido durante o longo período de utilização dosolo, pois são visíveis claramente os sulcos deretirada dessa matéria prima bastante utilizadapara construção e reboco de casas, trata-se defonte de excelente qualidade.Atualmente a área é tombada pela normativa

estadual com cuja gestão e compartilhada pelaFundação Delmiro Gouveia - FUNDEG e Com-panhia Hidroelétrica do São Francisco/CHESF,aberta a visitação gratuita a comunidade, turis-tas e pesquisadores.Em relação aos sítios de registro grá�co sua

localização, ocorre nos paredões que recortama calha do rio, cujo curso em tempos pretéri-tos, compunham as suas várias quedas d’água.Realizou-se registro do sítio, através da cader-neta de campo, do georreferenciamento, da foto-gra�a, da coleta e armazenamento dos vestígios,bem como o preenchimento da �cha de cadastro.Sítio 01A localização do sítio 01 também se encontraparalela a cachoeira de Paulo Afonso no rio SãoFrancisco. Foram coletados fragmentos de cerâ-mica e de louça, encontrado disperso pela áreadelimitada

Figura 13. Fragmentos de louças e cerâmicas (Arquivo CAAPA, 2013)

Sítio 02

A localização do sítio 02 também se encontraparalela a cachoeira de Paulo Afonso no rio SãoFrancisco. Foram coletados fragmentos de ce-râmica, de louça, lítico, ferro e tijolos oriundosdas ruínas de duas casas, que segundo informa-ção pertenceram à fazenda Cachoeira de PauloAfonso, o material encontra-se disperso pelaárea delimitada

Tabela 2. Quadro sinóptico dos sítios arqueológicos.Sítio Município/Localidade/Estado Macro Ecossistema Bacia Hidrográ�ca Categoria Tipo de Vestígio1 Delmiro Gouveia/Complexo

Angiquinho/Al.Pediplano sertanejo Cachoeira do rio São

FranciscoPré-HistóricoHistórico

Cerâmica e Louça2 Delmiro Gouveia/Complexo

Angiquinho/Al.Pediplano sertanejo Cachoeira do rio São

FranciscoPré-HistóricoHistórico

Cerâmica, Louça, Metal,Tijolo e Lítico

3 Delmiro Gouveia/ComplexoAngiquinho/Al.

Pediplano sertanejo Cachoeira do rio SãoFrancisco

Pré-HistóricoHistórico

Lítico4 Delmiro Gouveia/Complexo

Angiquinho/Al.Pediplano sertanejo Cachoeira do rio São

FranciscoPré-HistóricoHistórico

Cerâmica, Louça, e Lítico5 Delmiro Gouveia/Complexo

Angiquinho/Al.Pediplano sertanejo Cachoeira do rio São

FranciscoPré-HistóricoHistórico

Registro Grá�co6 Delmiro Gouveia/Complexo

Angiquinho/Al.Pediplano sertanejo Cachoeira do rio São

FranciscoPré-HistóricoHistórico

Registro Grá�co

Page 15: RECONTADO A PRÉ-HISTÓRIA E HISTÓRIA DO COMPLEXO …sabeh.org.br/wp-content/uploads/2018/07/revista-sabeh-cleonice-6.pdf · 2006, com a assinatura do Decreto Estadual de Tombamento,

Vergne et al. | 35

Sítio 03A localização do sítio 03 também se encontraparalela a cachoeira de Paulo Afonso no rio SãoFrancisco. Foi coletado apenas material lítico,encontrado disperso pela área delimitada, deonde podemos visualizar as bordas do canyondo rio São Francisco.

Figura 14. Material lítico encontrado dispersos (Arquivo CAAPA, 2013)

Sítio 04A localização do sítio 04 também se encontraparalela a cachoeira de Paulo Afonso no rio SãoFrancisco. Foram coletados fragmentos de ce-râmica, louça e lítico, encontrado disperso pelaárea delimitada, dessa área podemos observaro contexto que permite a leitura da Arqueolo-gia da Paisagem, que tem o rio como fator geo

nessa área arqueológica inserida atualmente noComplexo Angiquinho.

Figura 15. Material de cerâmica, louça e lítico (Arquivo CAAPA, 2013)

Sítio 05A localização do sítio 05 encontra-se inserida naparede que compõem o contexto da antiga cacho-eira do rio São Francisco em Paulo Afonso, queatualmente não apresenta mais esse contextodevido aos barramentos das usinas hidroelétri-cas de PA I, II e III, construídas no início da se-gunda metade do século XX, essa beleza cênicasó ocorre nos períodos extremamente unidos.Foi localizado um sítio de registro grá�co, dessaárea podemos observar o contexto que permitea leitura da Arqueologia da Paisagem, que temo rio como fator geo nessa área arqueológica.

Figura 16. Registro grá�co em área de Angiquinho (Arquivo CAAPA< 2013)

Sítio 06A localização do sítio 06 encontra-se inserida naparede que compõem o contexto da antiga cacho-eira do rio São Francisco em Paulo Afonso, queatualmente não apresenta mais esse contextodevido aos barramentos das usinas hidroelétri-cas de PA I, II e III, construídas no início da se-

Page 16: RECONTADO A PRÉ-HISTÓRIA E HISTÓRIA DO COMPLEXO …sabeh.org.br/wp-content/uploads/2018/07/revista-sabeh-cleonice-6.pdf · 2006, com a assinatura do Decreto Estadual de Tombamento,

36 | Revista Ecologias Humanas 2018 Vol. 4 Nº. 4

gunda metade do século XX, essa beleza cênicasó ocorre nos períodos extremamente unidos.Foi localizado um sítio de registro grá�co, dessaárea podemos observar o contexto que permitea leitura da Arqueologia da Paisagem, que temo rio como fator geo nessa área arqueológicainserida atualmente no Complexo Angiquinho.

Figura 17. Sítio rupestre (Arquivo CAAPA, 2013)

Considerações FinaisO presente artigo apresentou os dados da etapado levantamento prospectivo e da escavação damalha viária no Complexo Angiquinho, locali-zado pediplano sertanejo, na margem alagoanano município de Delmiro Gouveia/Al., ambasrealizadas focando a localização de assentamen-tos em áreas além dos terraços �uviais, que emoutras pesquisas apresentaram a existência deefetiva e longa ocupação desse território.Analisamos a paisagem em que o registro está

inserido, representado pelas ocorrências, pelossítios a céu aberto e pelos sítios de registro ru-pestre, no intuito de identi�car as recorrênciase mudanças nas inter-relações meio/homem,tendo em vista as ocupações, inseridas no sis-tema de assentamento, re�etida no uso dos re-cursos naturais, nesse caso na bacia do rio SãoFrancisco, com demarcador das escolhas sociaise organização tecnológica, desses grupos que aliviveram.Todavia, ressaltamos que se trata de uma pes-

quisa ainda em curso no nosso entendimento,

pois temos como intento a con�rmação da pre-sença efetiva de duas áreas arqueológicas, simi-lares existentes na linha fronteiriça entre Del-miro Gouveia/Al e Paulo Afonso/BA, divididapelo rio São Francisco, ambas devidamente lo-calizadas e mapeadas, fotografadas e georrefe-renciadas.Como resultado detectou-se a existência de

várias ocorrências e sítios, que deverão indiscu-tivelmente ser pesquisados, para que possamosconstruir um quadro referencial sobre o pedi-plano sertanejo assentado nas bordas canyondo referido rio, o que torna esse território emuma área arqueológica emblemática. Fato rati�-cado com a visita de três representantes de doiscontextos étnicos que passamos a discorrer: -O Cacique Afonso do Povo Indígena Pankararé eElaine Patrícia liderança Pankararé, ela aluna daLicenciatura Intercultural de Educação EscolarIndígena/LICEEI, curso sediado pela Universi-dade do Estado da Bahia/UNEB Campus VIII –Paulo Afonso; - A Yalorixá Ydjemim, conhe-cida como Mãe Edneusa do Povo de Terreiro,Candomblé de Matriz Afrobrasileira. Durante oencontro com esses dois contextos, ambos ex-ternaram a importância e representatividade doterritório como sendo sagrado para suas etnias,inclusive foi um momento de grande expres-sividade religiosa, com falas sobre o pertenci-mento pretérito e preocupação como o futuro domesmo para as próximas gerações. Analisandoa visita devidamente conectada com a locali-zação das áreas nas proximidades da borda docanyon, detectamos exatamente nesse contextoa presença de pilões, que corrobora de formabastante signi�cativa da presença humanas pre-térita nesse território. Esses dois fatos vierama corroborar com uma re�exão nossas, que foiconstruída após essa visita, pautada na pon-deração que seria bastante pertinente, sempreque estivéssemos realizando pesquisa arqueo-lógica realizássemos esses contatos com povosde comunidades tradicionais viventes, que habi-tem em contextos fronteiriços da investigaçãoem curso. De forma geral, podemos apresentarcomo recorrência e conclusão dessa etapa:• Escavação da malha viária em nove setores;

Page 17: RECONTADO A PRÉ-HISTÓRIA E HISTÓRIA DO COMPLEXO …sabeh.org.br/wp-content/uploads/2018/07/revista-sabeh-cleonice-6.pdf · 2006, com a assinatura do Decreto Estadual de Tombamento,

Vergne et al. | 37

• Existência de sítios rupestre registrados nasparedes do curso do rio São Francisco;

• Localização de ocorrências arqueológicas, ge-ralmente em áreas de enclave geoecológicos,pautado na coleta de superfície uma vez quenão foi realizada nesse contexto nenhuma in-tervenção de sub-superfície;

• Localização de sítios a céu aberto nas suascircunvizinhanças do rio São Francisco, naregião do pediplano, geralmente também as-sociadas à existência leito de riachos intermi-tentes, também com coleta apenas de super-fície;

• Coleta de um acervo composto por materiallítico composto por ferramentas tais como:pilões, lamina de machado, batedores, nú-cleos, lascas, material cerâmico, fragmentosde louças, amostras de telha e tijolo, de uten-sílios de uso domésticos como faca, garfo ede cartuchos de bala;

• Todo o contexto arqueológico, a escavação, asocorrências e os sítios, foram fotografados,�lmados, topografados executadas as plani-metrias e altimetriasRegistramos nove ocorrências e seis sítios,

todavia esclarecemos que deveria existir mais,porém nessa área ocorreu um intenso impactoambiental de retirada de barro, que segundo in-formação de moradores do entorno do Complexode Angiquinho, trata-se de matéria prima de ex-celente qualidade, sendo que esse procedimentoé muito pretérito, acreditamos que mais de umséculo, devido a fala de um senhor “bobagempergunta quanto tempo se cava esse chão paratirar o barro, o avô de meu avô já dizia que barrobom para levanta casa é aquele que �ca no altodo rio”.Portanto, existe uma preocupação da equipe

cientí�ca em que seja dada continuidade a essapesquisa, com novas prospecções, projetos deescavação e conservação dos sítios já localizados,inclusive é nossa efetiva recomendação.Indicamos e iniciamos a realização de publi-

cações dos resultados, sob forma de artigos ecomunicações em congressos cientí�cos. Combase no contexto apresentado aconselhamos aaprovação de novos projetos futuros que via-

bilizem a pesquisa dentro dos aportes das leisfederais em vigor, trazendo benesses não apenasà comunidade cientí�ca, mas, sobretudo, paraa sociedade civil, que por meio de projetos sóli-dos possam ter acesso a esta riqueza patrimo-nial seja através de atividades turísticas ligadasao poder público municipal, seja por uma açãoeducativa de conscientização da importância dopatrimônio do Complexo Angiquinho.Todavia, esclarecemos que essa proposta so-

mente ocorra após a complementação de umnovo projeto para realização do salvamento dossítios e ocorrências mapeadas durante a exe-cução da pesquisa ora apresenta através desseartigo.ReferênciasBINFORD, L. Bones: ancient men and modernMyths. New York: Academic Press, New York, 1981.CHESF/ENGE-RIO. . Tomo I e II. Diagnóstico Am-biental. 1993.CLARCK, G. A Pré-História. Zahar Editores, Riode Janeiro, 1962.DE BLASIS, P.A.D.; MORALES, W.F. Analisandosistemas de assentamento em âmbito local: umaexperiência com full-coverage survey no Bairroda Serra. Revista do Museu de Arqueologia e Et-nologia, MAE/USP, São Paulo, v. 05, p. 125–144,1995.IHGAL. Revista do Instituto Histórico e Geográ�code Alagoas. Disponível em: <http://ihgal.com.

br/?page_id=203>.KIPNIS, R. Early hunter-gatherers in the Ame-ricas: perpectives from central Brazil. Antiquity,2001.MARTIN, G. The Rock art sites of Siridó in RioGrande do Norte (Brazil) in the context of the pe-opling of south America. 1999.MORAIS, J.L. Arqueologia e Fator Geo. Rev. doMuseu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, p. 3–22, 1995.OREJAS, A. Del marco geográ�co a la Arqueolo-gia paisaje. La aportacion de la fotogra�a, Madri,1998.

Page 18: RECONTADO A PRÉ-HISTÓRIA E HISTÓRIA DO COMPLEXO …sabeh.org.br/wp-content/uploads/2018/07/revista-sabeh-cleonice-6.pdf · 2006, com a assinatura do Decreto Estadual de Tombamento,

38 | Revista Ecologias Humanas 2018 Vol. 4 Nº. 4

PROUS, A. As categorias estilísticas nos estudosda arte pré-histórica: arqueofatos ou realidades?MAE/USPSuplemento, São Paulo, SP, v. 03, p. 251–261, 1999.SCHIFFER, M. B.; SKIBO, J. M. The explanationof artifact variability. American Antiquity, v. 62,p. 27–50, 1997.VERGNE, C. Arqueologia do Baixo São Franciscoestruturas funerárias do sítio Justino, regiãode Xingó, Canindé de São Francisco – Sergipe.MAE/USP, tese de doutoramento, São Paulo, SP,2004.VERGNE, C.; FAGUNDES, M.; CARVALHO, A. F.Os sítios de arte rupestre – área arqueológicade Xingó. Anais do 3º Workshop do Museu de Ar-queologia de Xingó, Universidade Federal de Sergipe,Aracajú, SE, p. 131–135, 2004.