REFLEXÃO BÍBLICA DOMINGO DE RAMOS 25.03...REFLEXÃO BÍBLICA – DOMINGO DE RAMOS - Ano B -...

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REFLEXÃO BÍBLICA DOMINGO DE RAMOS - Ano B - 25.03.2018 "De fato, este homem era mesmo Filho de Deus !" Evangelho: Mc 15, 1-39 1. Narrativa da paixão e morte de Jesus . Os relatos da Paixão são pontos altos dentro da teologia de cada evangelista . Apresentamos aqui alguns tópicos para reflexão. O evangelho de Marcos inicia afirmando : "Começo da Boa-Notícia de Jesus, o Messias, Filho de Deus" (1,1) . E no relato da paixão- morte-ressurreição de Jesus retornam com força os temas da Boa-Notícia de Jesus Messias e Filho de Deus . 2. A Boa Notícia - que é a prática de Jesus, - provoca reações em cadeia desde os inícios do Evangelho de Marcos . De fato, - em 3,6 - os fariseus e alguns do partido de Herodes faziam um plano para matá-lo . 3. A morte de Jesus, portanto, não aconteceu por acaso, mas é resultado de um plano de morte dos líderes religiosos e políticos . Esse plano certo porque Judas, um dos que andam com Jesus, rompe o cerco, permitindo que "os de fora" (cf. 4,11) executem seus projetos de morte . Judas é o traidor , e Pedro, um dos que tinham sido chamados a "estar com Jesus" (cf. 3,14), reage com energia, quando alguém lhe diz : "você também estava com ele" (14,67) . 4. Jesus vai até o fim . Ele é a semente que, - jogada na terra (cf. 4,3ss), - vai produzir frutos além da expectativa . Mas sentir-se-á abandonado por todos, pois um discípulo prefere fugir nu (14,52) a se comprometer com o Mestre . Este, na cruz, sente-se abandonado pelo próprio Deus (cf. 14,34) . 5. Apenas o início ... O evangelho de Marcos é apenas o início da Boa-Notícia de Jesus . 5.1. Depois que ressuscitou, Jesus precede os discípulos na Galileia (cf. 16,7), lu- gar de gente marginalizada, para a qual a prática de Jesus se tornou de fato notícia alegre, pois trazia, junto com as palavras, a libertação dos oprimidos. 5.2. É lá, - na Galileia do dia a dia, - que os discípulos se encontrarão com Jesus , desde que façam - no hoje de seu história - as mesmas coisas que o Mestre fez para libertar os oprimidos . O evangelho de Marcos é sempre um início, a fim de que Jesus seja Boa Notícia para quem sofre . 6. Jesus é o Messias e Filho de Deus . Comparecendo diante do Sinédrio, o sumo sacerdote o interroga : "És tu o Messias, o Filho do Deus Bendito?" (14, 61) . E Jesus confessa : "Eu sou e vocês verão o Filho do Homem sentado à direita do Todo-Poderoso, e vindo sobre as nuvens do céu" (14,62) . É a única vez, - no evangelho de Marcos, - que Jesus afirma ser o Messias, o escolhido por Deus para realizar seu projeto de liberdade e vida . 7. Ele é o Filho ungido pelo Pai . O que soa como blasfêmia para a sociedade que mata (14,63) é a maior profissão de de quem nele crê e a ele adere . No relato da paixão seu messianismo adquire pleno significado: ele é o Filho ungido pelo Pai . - Uma mulher unge a cabeça de Jesus (14,3), reconhecendo-o Messias . - O Sinédrio o rejeita e condena à morte . - O oficial romano, - um pagão, - reconhece nele o Filho de Deus : "de fato, este homem era mesmo Filho de Deus" (15,39) .

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REFLEXÃO BÍBLICA – DOMINGO DE RAMOS - Ano B - 25.03.2018

"De fato, este homem era mesmo Filho de Deus !"

Evangelho: Mc 15, 1-39

1. Narrativa da paixão e morte de Jesus . Os relatos da Paixão são pontos altos

dentro da teologia de cada evangelista . Apresentamos aqui alguns tópicos

para reflexão. O evangelho de Marcos inicia afirmando : "Começo da

Boa-Notícia de Jesus, o Messias, Filho de Deus" (1,1) . E no relato da paixão-

morte-ressurreição de Jesus retornam com força os temas da Boa-Notícia de

Jesus Messias e Filho de Deus .

2. A Boa Notícia - que é a prática de Jesus, - provoca reações em cadeia desde

os inícios do Evangelho de Marcos . De fato, - já em 3,6 - os fariseus e

alguns do partido de Herodes faziam um plano para matá-lo .

3. A morte de Jesus, portanto, não aconteceu por acaso, mas é resultado de um

plano de morte dos líderes religiosos e políticos . Esse plano dá certo porque

Judas, um dos que andam com Jesus, rompe o cerco, permitindo que "os de

fora" (cf. 4,11) executem seus projetos de morte . Judas é o traidor , e Pedro,

um dos que tinham sido chamados a "estar com Jesus" (cf. 3,14), reage com

energia, quando alguém lhe diz : "você também estava com ele" (14,67) .

4. Jesus vai até o fim . Ele é a semente que, - jogada na terra (cf. 4,3ss), - vai

produzir frutos além da expectativa . Mas sentir-se-á abandonado por todos, pois

um discípulo prefere fugir nu (14,52) a se comprometer com o Mestre . Este,

na cruz, sente-se abandonado pelo próprio Deus (cf. 14,34) .

5. Apenas o início ... O evangelho de Marcos é apenas o início da Boa-Notícia

de Jesus .

5.1. Depois que ressuscitou, Jesus precede os discípulos na Galileia (cf. 16,7), lu-

gar de gente marginalizada, para a qual a prática de Jesus se tornou de

fato notícia alegre, pois trazia, junto com as palavras, a libertação dos oprimidos.

5.2. É lá, - na Galileia do dia a dia, - que os discípulos se encontrarão com

Jesus , desde que façam - no hoje de seu história - as mesmas coisas que o

Mestre fez para libertar os oprimidos . O evangelho de Marcos é sempre

um início, a fim de que Jesus seja Boa Notícia para quem sofre .

6. Jesus é o Messias e Filho de Deus . Comparecendo diante do Sinédrio, o sumo

sacerdote o interroga : "És tu o Messias, o Filho do Deus Bendito?" (14, 61) .

E Jesus confessa : "Eu sou e vocês verão o Filho do Homem sentado à direita

do Todo-Poderoso, e vindo sobre as nuvens do céu" (14,62) . É a única vez, -

no evangelho de Marcos, - que Jesus afirma ser o Messias, o escolhido por

Deus para realizar seu projeto de liberdade e vida .

7. Ele é o Filho ungido pelo Pai . O que soa como blasfêmia para a sociedade

que mata (14,63) é a maior profissão de fé de quem nele crê e a ele adere .

No relato da paixão seu messianismo adquire pleno significado: ele é o Filho

ungido pelo Pai . - Uma mulher unge a cabeça de Jesus (14,3), reconhecendo-o Messias .

- O Sinédrio o rejeita e condena à morte .

- O oficial romano, - um pagão, - reconhece nele o Filho de Deus :

"de fato, este homem era mesmo Filho de Deus" (15,39) .

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8. Realeza sem poder e autoridade . Jesus é Messias-Rei, mas sua realeza se dis-

tancia dos padrões de poder e autoridade daquele tempo e de hoje . Quando os

soldados o vestem com um manto vermelho , põem em sua cabeça uma co-

roa de espinhos e o saúdam, estão na verdade ridicularizando os poderes deste

mundo que assim se vestem e oprimem . Jesus é Rei porque se despoja des-

se tipo de poder e se afasta do círculo dos poderosos (15,21), dando a vida

pelos seus .

9. De réu diante do Sinédrio , ele se torna juiz ( - o Filho do Homem sentado à direita

do Todo-Poderoso e vindo sobre as nuvens de 14,62 recorda o juiz de Daniel 7,l3), e juiz que

desmascara todo tipo de poder que explora e oprime o povo .

10. Jesus crucificado é o verdadeiro Rei . É o Messias da cruz . Tendo um ban-

dido à direita e outro à esquerda (15,27), ele se apresenta nos moldes das apa-

rições públicas dos reis daquele tempo, que se mostravam ao povo ladeado

por seus auxiliares imediatos . Mas sua realeza é diferente, pois está a serviço

dos condenados que a sociedade julga fora-da-lei (cf. 15,28) .

11. O céu se rasgou ... a cortina do templo se rasgou . Quando Jesus foi bati-

zado, o céu se rasgou (1,10) , realizando o sonho de Isaías 63,19 , traduzindo

assim o fim do aparente silêncio de Deus. Quando morreu na cruz, a corti-

na do santuário se rasgou de alto a baixo (15,38), decretando o fim da so-

ciedade e da religião patrocinadoras de morte para o povo . Esta é a Boa

Notícia que a morte e ressurreição de Jesus trazem às pessoas de todos os

tempos e lugares .

1ª. Leitura: Is 50, 4-7

9. Deus foi desleal à aliança ? O nosso texto (parte do "Terceiro Canto do Servo de

Javé") do Segundo Isaías (profeta do cativeiro da Babilônia - 586-538 a.C) pertence a uma

seção maior que abrange os capítulos 49-55 e cujo tema central é a restaura-

ção política de Jerusalém , a cidade-esposa de Javé, símbolo da reconstrução

de todo o povo . Os exilados se queixam de que Deus tenha sido desleal à

aliança : em termos matrimoniais , repudiou a esposa ; em termos comerciais,

vendeu os filhos como escravos para pagar dívidas .

10. Resposta de Javé . A resposta de Javé (50,1-3) precede o terceiro canto do Ser-

vo Sofredor : repudiada, sim, mas legitimamente, por própria culpa (Dt 24,1-4 ; Jer

3,8) ; vendidos , sim , mas não por dívidas, e, sim , como castigo (Jz 3,8; 4,2) .

“Assim diz o Senhor: Onde está a ata de repúdio com a qual despedi

vossa mãe ? Ou, a qual de meus credores vos vendi ? Vede, por vossas

culpas fostes vendidos, por vossos crimes vossa mãe foi repudiada" (50,1).

11. Bondade e compaixão . A mudança de Deus é por pura bondade e compaixão.

Ninguém responde ao desafio : nem os presumidos credores , por temor , nem

o povo , por dúvida . Para dissipar toda dúvida , o Senhor apela para seu

poder sobre todo o cosmo (50,2-3: Por que chamei e ninguém respondeu? Ou não tenho

força para libertar? É sabido que seco o mar, reduzo os rios a deserto, revisto o céu de negrume).

12. O amor de Javé é perene . A missão do Servo é mostrar , - à custa das ofensas

recebidas , - que o amor de Javé é perene .

Os versículos 4-7 mostram o que Javé faz para o Servo em vista do bem

do povo e revelam o Servo responsável , plenamente obediente e fiel :

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12.1. - o Senhor Javé dá ao Servo a capacidade de falar , como alguém que

aprende dele , para levar conforto ao povo ;

12.2. - o Senhor Javé abre-lhe os ouvidos para que aprenda dele , como discí-

pulo fiel , para transmitir o que ouviu ; 12.3. - o Senhor Javé lhe dá proteção . 12.4. - Em síntese , o Senhor o prepara para a missão .

13. O servo é fiel à missão. Em contrapartida , o Servo - para não trair a mensagem -

dá as costas aos que o torturam (= não oferece resistência) ; toma a iniciativa de

oferecer a face aos que lhe arrancam a barba (= sinal de grande humilhação ; o

servo não liga para a perda de honradez) ; não esconde o rosto à ofensa maior :

injúrias e escarros . O rosto manifesta os sentimentos e desejos de uma

pessoa . Torná-lo duro como pedra (v.7) significa não levar em conta toda

e qualquer espécie de ofensa , em vista da opção assumida .

13.1. Para completar os vv. 7-11: Graças à sua coragem e ao auxílio divino (vv.7-9) ,

Ele suportará as perseguições (vv.5-6) até que

Deus lhe conceda um triunfo definitivo (v.9-11) .

2ª. Leitura: Fl 2, 6 – 11

14. HINO A JESUS CRISTO SENHOR . O hino de Filipenses 2,6-11 é um hino a Jesus

Cristo Senhor e por ele ao Pai . Tem dois movimentos : humilhação e exaltação .

1º. MOVIMENTO. O primeiro movimento de cima para baixo fala do esvaziamento de

de Jesus . A tradução esvaziou-se (do grego Kénosis) é melhor , mais

audaz e vigorosa que humilhou-se , pois nos faz pensar - por con-

traste - na “plenitude” e traduz vários degraus :

- Jesus não se apegou à sua igualdade com Deus ,

- mas esvaziou-se e tornou-se escravo, semelhante aos homens;

- humilhou-se ,

- fez-se obediente até a morte de cruz .

15. Jesus , - consciente e livremente , - despoja-se de tudo . Seu lugar social é

junto aos escravos , sem privilégios , marginalizados e condenados .

A condição de escravo é a condição humana submetida a Deus . Faz-se à

"imagem e semelhança” (homoiómati) do homem , dos homens .

16. Humilhou-se , fez-se obediente até a morte de cruz . A obediência ao Pai

define toda a sua existência humana até o extremo da cruz . Chegan-

do ao ponto mais baixo (- na cruz -) acontece a exaltação por ação de Deus .

17. Esvaziou-se e despojou-se de tudo. Jesus – consciente e livremente – esvaziou-se

e despojou-se de tudo e colocou-se, sem privilégios, ao lado dos escravos

e condenados .

17.1. Não há outra forma de revelar o projeto de Deus , a não ser esva-

ziando-se de todas as realidades humanas , das quais nós , - com muita

dificuldade , - abrimos mão (- prerrogativas , posição social , honra , dignidade , fama e

a mais preciosa , a própria vida -) .

17.2. Jesus perdeu todas essas coisas. Desceu ao mais profundo do poço da

miséria e da solidão humana (- Jesus , despojado de tudo , parece abandonado até

por Deus -) . Chegou à maior baixeza : fez-se servo e foi morto (- como

um bandido -) na cruz .

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18. E o preço da Encarnação foi a cruz . E o evangelho de Paulo é exata-

mente o evangelho de um crucificado . Habituados a pensar na divindade

de Jesus , perguntamos :

- onde foi parar sua divindade ?

- Ficou escondida por um momento ?

- Ou era justamente - no fato de ser plenamente humano - que ele

revelava o “ser de Deus”?

18.1. Imaginar que Deus seja um ser desencarnado e abstrato é a desculpa

de alguns para fugir à difícil tarefa de nos encarnarmos nas realidades

humanas mais sofridas .

18.2. Ao fazermos isso , teremos de nos despojar de uma série de coisas ,

das quais Jesus se despojou : prerrogativas, status, fama, promoção pes-

soal, poder, dominação, etc. ( ... das quais nós, - dificilmente , - nos despojamos) .

19. Ponto alto da 1ª. parte do hino está na maior baixeza : Jesus se fez servo e foi morto como um bandido na cruz .

Essa foi sua opção de vida consciente . Esse hino retoma

o texto de Isaías no quarto canto do Servo de Javé (Is 52,13-53,8) .

20. 2o. MOVIMENTO . O segundo movimento do hino é de baixo para cima.

Aqui o sujeito é Deus . É Ele quem exalta Jesus , ressuscitando-o e colocando-o

no posto mais elevado que possa existir .

O NOME que recebeu do Pai é o título de SENHOR – Senhor do universo

e Senhor da história . Diante dele toda a criação se prostra em adoração ! (2,10) . ( - Esta segunda parte também se inspira no quarto canto do Servo de Javé -) .

21. Exaltou ( o verbo grego é enfático ) : o nome é “Jesus”, o título é “Senhor” que

corresponde a Altíssimo (- Kyrios = Senhor = Adonai = Javé = Deus-) . Perante o

Senhor e Deus só há uma atitude de adoração a tomar : todo joelho se

dobre … toda língua confesse … Jesus Cristo é o Senhor ! E todo o

movimento termina endereçando tudo “para a glória de Deus Pai” .

22. Deus Pai é glorificado quando as pessoas reconhecem em Jesus o humano

divinizado , ... o humano que passou pela encarnação das realidades mais

sofridas e humilhantes , culminando com a morte na cruz (- condenação imposta

a criminosos -) .

23. Evangelho é, portanto, o anúncio d' "Aquele"

que se fez servo obediente até a morte e morte de cruz .

E esse anúncio não acontece "sem" que as pessoas

também se encarnem e apostem a vida , como fez Paulo .

24. Ele , apesar da sua condição divina ,

… esvaziou-se ,

… fazendo-se semelhante aos homens ,

… tornou-se obediente até a morte ,

… e morte de cruz ;

… por isso , Deus o sobre-exaltou grandemente ,

… e lhe deu o nome superior

… Jesus Cristo é o Senhor ! R e f l e t i n d o . . .

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1. Leituras do evangelho do domingo de Ramos . O domingo de Ramos tem a mesma liturgia nos anos ABC , exceto para as leituras do evangelho . Estas são duas : na procissão de Ramos , a história da entrada de Jesus em Jerusalém , uma semana antes de sua morte (- portanto, no dia que hoje co-

memoramos) ; e na liturgia da Palavra , a narração da paixão e morte . 2. Percepção da sensibilidade de cada evangelista . As leituras do evangelho são, respectivamente, tomadas dos três evangelistas sinóticos : Mateus, Marcos e Lucas. Essa organização nos permite meditar, cada ano, a Via Crucis do Senhor conforme a sensibilidade própria de cada um destes evangelistas (- o relato da

Paixão segundo João é lido anualmente na Sexta-feira Santa ) . 3. O Messias e Filho de Deus . A 1ª. parte de Marcos é marcada pelo caráter velado da obra messiânica de Jesus . Este traz o Reino de Deus presente,

mas não de modo manifesto . Apenas o deixa entrever em sinais de sua "autoridade", melhor reconhecidos pelos demônios do que pelos próprios dis- cípulos . 4. A presença do Reino . Jesus aponta a presença escondida do Reino, narrando

parábolas (Mc 4). Suscita admiração por seus grandes milagres, que mostram seu domínio da natureza (4,41). Prefigura o banquete escatológico (5,34-44) . Mas o mistério de sua missão e personalidade fica escondido, até para os dis-

cípulos (8,14-21). A abertura dos olhos do cego de Betsaida marca um início de mudança (9,22-26). Os discípulos reconhecem Jesus como Messias (8,27-29), porém, entendem-no em categorias humanas e não divinas (8,31-33) . 5. A reta compreensão do messianismo de Jesus . Mediante as predições da Paixão e o ensinamento sobre o seguimento e o serviço, Jesus prepara seus

discípulos para a reta compreensão de seu messianismo ; não à maneira do militaresco "filho de Davi", mas à maneira do rei-messias humilde e esma- gado de Zc 9 (cf. Zc 12,10) (Mc 8,27,-10,45). A cura do cego de Jericó é o sinal de uma visão crescente (10,46-52) , mas Jerusalém fica ainda na ambiguidade: aclama como rei davídico AQUELE que entra sentado num burrinho (como o rei de Zc 9) e que, - no fim de seu ensinamento em Jerusalém, - declarará absurda a mera identificação do Mes- sias com o filho de Davi (12,37).

6. Jesus é mais que filho de Davi . ELE É O FILHO QUERIDO DE DEUS (1,11; 9,7; 15,39),

o "Servo" que , - em obediência ao incansável amor de Deus para com os ho-

mens, - dá sua vida, realizando em plenitude o que o Servo de Deus em Isaías 52-53 prefigurou . 7. Mas como Filho de Deus , ele é também o Filho do Homem , portador dos plenos poderes escatológicos . Sua condenação - sob falsas alegações re-

ligiosas e políticas - significa o primeiro passo para sua vinda gloriosa e o juízo sobre o mundo (Mc 14,62), que ele havia anunciado imediatamente antes de sua paixão (Mc 13).

- É a dispersão escatológica (Mc 13,27; cf. 13,7), prelúdio da reunião do rebanho pelo pasto escatológico, depois da ressurreição (14,28; cf.16,7) . - É o início do tempo final, prelúdio da vinda definitiva (que os primeiros cris-

tãos esperavam para breve) . - Para nós hoje, esta cristologia de Marcos significa uma crítica a qualquer messianismo imediatista, que recorre à imposição e não à paciência do testemunho até o sangue (= martírio) . 8. Jesus traz o Reino de Deus não de forma manifesta , mas o deixa entrever em sinais de autoridade : - os demônios que ele expulsa o reconhecem ;

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- os gestos de Jesus apontam para o Reino (- a partilha do pão -) mas os discípulos não entendem ; - a abertura dos olhos do cego de Betsaida anuncia uma mudança (8,22-26); - os discípulos reconhecem Jesus como Messias mas em categorias huma- nas, sem entender seu caminho de Servo Sofredor (8, 27-30.31-33) ; - nos caps. 8 a 10, mediante os anúncios da paixão e os ensinamentos sobre o seguimento e o serviço , surge uma espécie de compreensão, simbolizada pela abertura dos olhos do cego de Jericó (10,46-52) . 9. A narração da Paixão fornece uma "chave de leitura" para entender a mensa-

sagem de Jesus . O sumo Sacerdote pergunta a Jesus se ele o Messias, o Filho de Deus . Jesus responde : "sou sim, e vereis o Filho do Homem sentado à direita do Todo-Poderoso e vindo com as nuvens do céu" (Mc 14,61). 10. O mundo pergunta se ele é o Filho de Deus e ele responde que é o Filho

do Homem . 10.1. Este Filho do Homem é uma figura que vem da profecia de Daniel (7,13-14) . É o enviado celestial que esmaga as quatro feras que dis- putam o domínio sobre o mundo . 10.2. Simboliza o Reino de Deus . O Reino de Deus, - que vence os reinos

"ferozes" deste mundo, - tem rosto humano. Para nós, tem o rosto de Jesus . 11. Filho do Homem = Filho de Deus . Assim, - na Paixão de Jesus, - Filho do Homem e Filho de Deus significam a mesma coisa. Jesus é o Filho

querido de Deus, que une sua vontade à do Pai, para, - pelo dom da

própria vida, - vencer as feras que dominam este mundo e quebrar sua força definitivamente. 11.1. Ao ser condenado pelo sumo sacerdote de seu povo, ele se proclama portador de uma autoridade : a do Filho do Homem . 11.2. Quando ele morre na cruz, - por causa da justiça e do amor, - o repre- sentante do mundo universal, o militar romano exclama : "Este era de

fato Filho de Deus ! " Ambos os títulos significam o respaldo que Deus dá a Jesus , e que se verificará na gloriosa ressurreição dos mortos . Jesus é o vencedor pela morte por amor em obedi- ência filial (Filho de Deus) mas também pelo julgamento que derrota o poder deste mundo (Filho do Homem). 12. "Pedagogia da salvação". Merece atenção a 1ª. leitura, porque ela represen- ta um momento importante na "pedagogia da salvação": o povo de Israel, exilado, começou a entender que o plano de Deus não se realiza , neces-

sariamente, pela força, mas antes, pela doação do "justo". Em Jesus con- templamos a plenitude dessa "estratégia". 13. O amor radical que manifesta o Deus-Amor . A 2ª. leitura é o primeiro hino cristológico conhecido. Resume o mistério do despojamento do Senhor, que realiza a figura do Servo e que, por sua obediência até a morte ( = o amor

radical que manifesta o Deus-Amor ), é glorificado no senhorio de Deus . 14. Destacamos ainda : Jesus, o justo, padecendo por muitos, torna-se nosso exemplo a imitar (Fl 2,5) . IMITANDO-O , nós também nos associamos à estranha "estratégia" de Deus. Oração do dia : Deus, para dar aos homens um exemplo de humildade , quisestes que nosso Salvador se fizesse homem e morresse na cruz. Dai-nos apren- der o ensinamento da sua paixão e ressuscitar com ele em sua glória .

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Prefácio : Inocente , Jesus quis sofrer pelos pecadores . Santíssimo, quis ser condenado a morrer pelos criminosos . Sua morte apagou nossos pecados e sua ressur-

reição nos trouxe a vida nova . Oração final : Deus , como pela morte do vosso Filho nos destes esperar o que cremos, dai-nos pela sua ressurreição alcançar o que buscamos . 15. A fidelidade à missão de Deus é que faz de Jesus o Messias e Salvador . Jesus não veio "fazer qualquer coisa", mas veio para realizar o projeto do

Pai . Ensina-nos a obediência até a morte , como instrumento de salvação do mundo . Pois quem sabe o que é preciso para salvar o mundo é Deus.

Ele sabe que a morte daquele que manifesta seu amor infinito é a resposta suprema ao supremo desafio do mal .

Jesus poderia ter sido infiel a Deus, pois era livre. Mas então teria sido infiel a si mesmo , Servo , Discípulo , Messias e Filho . Levou a termo a obra iniciada : pregar e mostrar o

amor de Deus - até mesmo no dom da própria vida . 16. O exemplo de Cristo nos ensina o caminho da libertação . Somente vamos realizar a missão de libertar o mundo pela fidelidade radical à vontade do

Pai . Por isso, devemos "prestar-lhe ouvidos" - sentido original de "obediência" . 16.1. Obedecer não é deserção da liberdade. É unir nossa vontade à von-

tade do Pai, para realizar seu projeto de amor, e a outras vontades ( humanas ) que estão no mesmo projeto . 16.2. E é também dar ouvidos ao grito dos injustiçados , que denuncia o pisoteamento do plano de Deus . Só depois de ter escutado todas essas vozes poderemos ser verdadeiros porta-vozes, profetas, para de- nunciar e anunciar ... Profetismo supõe obediência e contemplação . 17. Jesus foi fiel até o fim. Deus não obrigou Jesus a pagar por nós , nem desejou a morte dele . Só desejava que ele fosse seu Filho . Esperava dele fidelidade a seu plano de amor e que ele agisse conforme este plano. Jesus foi fiel até o fim . Quem quis a sua morte não foi Deus, e sim os homens que o rejeitaram . "Realmente ele era Filho de Deus !" exclamou o oficial romano - ao pé da cruz . 18. O que é ser justo , no sentido da Bíblia ? - Por que o justo sofre ? 18.1. O justo sofre por obediência a Deus ! 18.2. Então , Deus manda sofrer ? Não é isso horrível e cruel ? - Não, Deus não manda sofrer o justo, seu "filho". Só manda amar. Amar até o fim. - Mas quem ama, sofre !

18.3. O justo que ama sofre , porque ele não quer ser infiel ao amor que

começou a demonstrar, e que se opõe à violência dos donos do mundo ! 18.4. Nesta fidelidade , o justo pode expirar dizendo : "Pai, nas tuas mãos entrego o

meu espírito". Ser justo é corresponder àquilo que Deus espera de nós, é colaborar com o seu plano . 19. PERANTE A CRUZ HÁ QUE SE TOMAR POSIÇÃO . Não dá para ficar indiferente. Diante da cruz do justo que morre, temos que optar : - ou pelo lado dos que dão sua vida para viver e fazer viver o amor de Deus ; - ou pelo lado dos que se dão as mãos para suprimir a justiça ; - . . . do lado de quem carrega a cruz ... ou de quem impõe a cruz ! Foi diante da morte do justo que o mundo se compungiu !!!

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REFLEXÃO BÍBLICA - QUINTA - FEIRA SANTA - CEIA DO SENHOR - Ano B - 29.03.2018

Evangelho: Jo 13, 1–15

1. QUINTA-FEIRA SANTA : Cristo , sacrifício pascal definitivo da libertação !

Cristo , sacerdote do amor e do serviço !

Cristo , ceia da divinização do homem !

Cristo , ceia da fraternidade humana !

2. A CEIA EM JOÃO. Interessante notar: João 13 não fala da Eucaristia como

Mateus 26,26-29; Marcos 14, 22-25; Lucas 22,17-20. João sequer nomeia a

Páscoa dos judeus nem a faz coincidir com a Páscoa de Jesus (13,1). Jesus

não celebra a Páscoa judaica.

3. A VERDADEIRA PÁSCOA é a que Jesus celebrará com sua morte na cruz.

Reforçando esse argumento, há o fato de João não mencionar Jerusalém. Je-

sus havia rompido definitivamente com o sistema opressor instalado na capi-

tal, para inaugurar uma nova era de serviço e de partilha, na qual o próprio

Deus toma a iniciativa, consciente de ser o grande servidor.

4. Veremos o texto de João 13, 1-15 assim :

a. a Páscoa de Jesus – v. 1

b. o Lava-pés – vv. 2-5

c. a resistência de Pedro – vv. 6-11

d. o ensinamento de Jesus – vv. 12-15

a. a Páscoa de Jesus – v. 1

5. Uma nova era . Primeira informação : inaugura-se uma nova era, a da Páscoa

de Jesus . Ele está plenamente ciente e consciente desse momento (o verbo

grego significa conhecimento adquirido, plena consciência do que se faz – verbo que aparece

também nos vv. 3 e 11 referindo-se a Jesus que sabe e a Pedro que não sabe, v. 7).

6. É a hora de Jesus . Essa consciência da "sua hora" vai culminar na morte

na cruz . O que ele vai fazer, não o fará arrastado pelas circunstâncias, mas

consciente de que abre o caminho de acesso para o Pai . Essa introdução

ainda ressalta o amor de Jesus pelos seus, amor que se manifesta de forma

perfeita – "amou-os até o fim”, – até a perfeição do amor . O que vem a

seguir quer exemplificar o que significa “amar até as últimas consequências”.

b. o Lava-pés – vv. 2-5

7. Sentar-se à mesma mesa , tomar refeição juntos , comer do mesmo alimento

é sinal de intimidade , de comunhão e partilha (em qualquer lugar do mundo). Mas Jesus vai além. João diz que a Ceia já começara e Jesus teria ocupa-

do o lugar de honra . E Jesus vai mostrar concretamente – com fatos – de

que "honra" se trata. Não é aquela de Judas de quem o diabo (= ambição,

concentração de bens, espírito de não-partilha ) havia tomado conta do coração (= sede

das opções de vida) .

8. Jesus , - consciente de estar realizando o projeto de Deus (v.3), - mostra na prá-

tica qual é a norma de vida da comunidade cristã: despoja-se do manto ( sinal

de dignidade do “senhor”), e pega o avental ( toalha, ferramenta do “servo”) . É o Senhor

que se torna servo ( Fl 2,6-7 : “ele tinha a condição divina , e não considerou o ser igual

a Deus como algo a que se apegar ciosamente . Mas esvaziou-se a si mesmo, e assumiu a

condição de servo, tomando a semelhança humana”) .

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Despojar-se do manto significa dar a vida sob a forma de serviço . De fato,

quem devia lavar os pés eram os escravos não-judeus ou as mulheres (filhas,

esposas ) . Daí o escândalo de Pedro .

9. Amor sem preferências ou precedências ou privilégios . João não diz quem

foi o primeiro para salientar que todos recebem o mesmo amor , sem preferên-

cias ou precedências ou privilégios . Jesus faz tudo sozinho : derrama

água , lava, enxuga . Mais adiante (v.12) , - ao dizer que retoma o manto, -

não se diz que tirou o avental . Dá-se a entender que ele tenha vestido o

manto por cima . Isso significa que o serviço continuará , culminando na cruz :

“está consumado” (19,30) . O Lava-pés de Jesus , portanto , se prolonga até a

cruz, e nela tem seu ponto culminante .

10. Este ato consciente sela a ideia de que Deus é servidor da humanidade (cf.5,17:

"meu Pai trabalha sempre e eu também trabalho”) . Fazendo-se servo de seus discípulos ,

torna-os seus senhores , mas senhores que lavam os pés uns dos outros (v.14) .

c. a resistência de Pedro – vv. 6-11

11. SENHOR x SERVO . Pedro ainda está mergulhado nas suas categorias de “senhor x servo”, de uma sociedade de relações desiguais ( sociedade, não comuni-

dade ) . Espanta-se que o Senhor lhe lave os pés (v.6) . O súdito não aceita

a igualdade ( o súdito tem a cabeça do patrão, a desigualdade ). Por isso, Jesus lhe

diz que não sabe nada , todavia , mais tarde compreenderá (v.7; cf. 21,15ss : “Simão,

tu me amas ?”…) .

12. Pedro não aceita ... Pedro se firma na posição de que a desigualdade é

legítima e até necessária para a ordem na comunidade . A resposta de

Jesus é radical : se não for assim, será impossível ter parte com ele, ou

seja, não pode ser seu discípulo e o projeto de Deus não se cumpre (v.8) . O processo de conversão exige adesão total ao projeto de Deus realizado em

Jesus-servo .

13. Pedro começa a se converter ... Pedro supera a primeira fase : "Senhor, lava

então , não só os meus pés , mas também as mãos e a cabeça” (v.9) . MAS

ele ainda não aderira ao que Jesus faz , nem mesmo entendera bem . Para

ele, o Lava-pés era um rito de purificação, ao qual, - como todo judeu -, ele

estava acostumado : lavar-se para eliminar a impureza legal e ritual .

14. Lavar os pés = ser discípulo. Jesus, porém, mostra que mesmo purificando-se

ritualmente , continua-se impuro .

- É o caso de Judas : lavados os pés, sua impureza permanece, porque seu

coração aderiu ao diabo, o espírito antifraterno que leva à cobiça e afas-

ta do serviço e da partilha (v.11) .

- A purificação judaica contemplava só o lavar as mãos . Ao lavar os pés,

Jesus dá a dimensão verdadeira do ser discípulo : ser servo dos outros, não

se colocar acima dos outros , mas estar sempre disposto a servir e a par-

tilhar ( a começar do coração, do amor … e de um amor sem limites … até o fim!) .

d. ensinamento de Jesus – vv. 12-15

15. Jesus volta à mesa . Jesus retoma o manto e se põe de novo à mesa ( volta

à posição de homem livre, pois os escravos não se sentavam à mesa ), mas conserva

a disposição de servo ( não tira o avental) . A cena é fortemente simbólica :

ele continua sendo sempre aquele que serve . De fato, Jesus só é despojado

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do avental na cruz, pois é aí que concluiu o seu serviço. (- Aí … lhe é ti-

rado o avental ! -) .

16. Testamento – mandamento . O que segue tem valor de testamento-mandamento :

“vocês me chamam Mestre e Senhor”. Ele é aquele que serve e ensina pelo

exemplo .

- Os que o chamam de “o Mestre” devem aprender dele .

- Os que o chamam de “o Senhor” devem identificar-se com ele no amor

desinteressado, colocado a serviço de todos (inclusive dos capazes de traição).

1ª. Leitura: Ex 12, 1-8 . 11-14

17. A festa da Páscoa. Originariamente a Páscoa era uma festa de pastores

que celebravam, na primavera, o nascimento das ovelhas. Na festa, os pastores

derramavam sangue de cordeiros em torno do acampamento para afugentar os

espíritos maus que prejudicavam a fecundidade do rebanho .

18. Páscoa = celebração do êxodo e da festa dos ázimos . Ao sair do Egito ,

Israel adaptou a festa às condições de um povo sedentário. E ela se torna

a celebração do êxodo em forma de refeição. Foi associada à festa dos

Ázimos , que era uma festa agrícola. A festa dos Ázimos só começou a

ser celebrada em Israel quando este tomou posse da Terra Prometida . E

só foi associada à festa da Páscoa depois da reforma de Josias ( 622 a.C .) .

Como, então, essas duas festas aparecem juntas cerca de 600 anos antes ?

19. A páscoa dos judeus . O texto que relata a Páscoa dos Judeus (Ex 12,1-13.16)

foi escrito bem mais tarde, num contexto de opressão, no exílio da Babilônia.

Na época as festas da Páscoa e dos Ázimos já eram celebradas juntas. O

escritor sagrado elaborou o texto final de modo a responder aos anseios

do povo oprimido na Babilônia , re-evocando assim a libertação do Egito .

20. Memorial da Páscoa. Êxodo 12, 1-14 fala do ritual da Páscoa . Mas não se

deve lê-lo sob a ótica de RITUAL e sim, de “MEMORIAL”, ou seja, a atua-

lização da libertação de Javé em favor de seu povo. O texto deve falar ao

coração dos novos exilados e suscitar neles a memória dos feitos de Deus. O que interessa e o que importa é o por quê celebrar a Páscoa .

21. INDICAÇÕES PRECIOSAS. Nesse sentido, temos algumas indicações preciosas.

21.1. A Páscoa marca o início de uma nova era , o tempo da libertação: “este

mês será para vocês o começo dos meses, será o primeiro mês do ano"

(v.2). Inicia-se nova vida . Chegou a libertação. A festa vai determinar

o futuro do povo : será um povo para a libertação. É o início da

vitória do povo sobre as estruturas do poder opressoras (do Egito, da Ba-

bilônia, e dos nossos dias …) .

21.2. A nova era é marcada pela PARTILHA , onde ninguém tenha demais e a

ninguém falte o que comer: “se a família for pequena demais para um

animal, convidará também o vizinho mais próximo de acordo com o

número de pessoas” (v.4) . O que sobrar, o fogo devorará (v.10) .

21.3. É uma festa de preservação da vida : o sangue afugentará os maus espí-

ritos, mas também servirá de sinal para a preservação de Israel en-

quanto povo, ameaçado que estava de desaparecer pela política de mor-

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te dos poderes opressores: o Faraó que controla os nascimentos ( Ex 1,15-16 )

e todo e qualquer sistema impositivo que controla a origem da vida .

21.4. É uma festa de memória histórica . Lembra o passado desastroso (ervas

amargas) . É celebrada às pressas (pães sem fermento) . Os que dela to-

mam parte devem estar preparados para uma longa viagem (v.11) , que

os leve longe do sistema opressor e os introduza numa sociedade ple-

namente humana e fraterna, onde reine a liberdade e a comunhão .

2ª. Leitura: 1 Cor 11, 23 – 26

22. Ceia do Senhor . Este é o primeiro escrito do Novo Testamento que trata

da Eucaristia (- por volta dos anos 54/55 -) e prova que as comunidades funda-

das por Paulo já celebravam a Ceia do Senhor .

23. Corinto. Seria bom que se lesse o texto todo (vv.17-34) para se ter uma vi-

são do conjunto, o da comunidade de Corinto, com todos os seus proble-

mas e divisões entre ricos e pobres, fortes e fracos. Corinto era uma me-

trópole com quase meio milhão de habitantes: 2/3 deles escravos nos cam-

pos, nos portos (Cencréia e Laqueu) , nas minas de bronze e nas casas de elite .

24. Ceia do Senhor e momento da partilha. Os cristãos dessa cidade começa-

vam a Ceia do Senhor com uma refeição em que todos punham em comum

o que cada um trouxera (ágape). Era o momento da partilha que precedia

o grande sinal que atualizava ( = MEMORIAL ) a partilha de vida do Senhor .

25. Os problemas da Ceia do Senhor ! Os pobres escravos , (que trabalhavam até tarde),

talvez não tivessem tempo para preparar algo , esperando saciar a fome com

um jantar mais caprichado, comendo o que os ricos trouxeram. Estes, - que

ficaram sem nada fazer o dia todo , - não querendo passar o vexame de

comer a comida dos pobres ou de ter que partilhar com eles o próprio ali-

mento empanturravam-se e embebedavam-se antes que eles chegassem ... e, ...

depois, se continuava a Ceia do Senhor como se nada tivesse acontecido ( ! ) .

. . . O dilema . . . É justamente aí que se situa o grande dilema :

é possível celebrar sem partilhar os bens

com os que nada tem? ...

Não seria comungar a própria condenação ?

26. A narrativa da instituição da Eucaristia . Os versículos de hoje contemplam

basicamente a narrativa da instituição da Eucaristia . Paulo (que não estivera na

Última Ceia) afirma tê-la recebido do Senhor e transmitido às comunidades de

Corinto . Esta é a garantia maior de autenticidade : “eu a recebi do Senhor

e transmiti a vocês” (v.23a).

27. Fato e data históricos . A Ceia do Senhor está vinculada a um fato e data

históricos : - a noite em que o Senhor Jesus foi entregue. Essa noite é mais

importante que a noite da saída do Egito (Ex 12) , celebrada na ceia pascal

judaica e se reveste de caráter pascal insuperável .

28. O rito da ceia . O rito descrito por Paulo, - bem próximo à Lucas 22,19-20,

Mateus 26, 26-29 e Marcos 14, 22-25 - tem os seguintes passos, feitos de

gestos e palavras : - 1. tomar o pão ,

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- 2. dar graças ,

- 3. partir o pão, acompanhado das palavras : “isto é o meu corpo

que é para vocês , façam isto em memória de mim”,

- 4. tomar o cálice, no fim da ceia, acompanhado das palavras : “este

cálice é a Nova Aliança no meu sangue ; todas as vezes que

vocês beberem dele, façam isto em memória de mim”.

29. Ação de Graças - Fração do Pão - Memorial ! Chamam a atenção :

– a ação de graças e a fração do pão (- duas formas de nomear a Eucaristia -)

– e o MEMORIAL (- que não é simples repetição mecânica de um rito -) .

Memorial é reviver os acontecimentos passados ,

experimentando hoje os seus efeitos.

E Paulo conclui : “todas as vezes que vocês comem deste pão e bebem

deste cálice, estão anunciando a morte do Senhor, até que ele venha” (v.26 – expressão que se tornou aclamação eucarística na liturgia). R e f l e t i n d o . . .

1. O sentido salvífico da cruz de Cristo . A liturgia de hoje deve fazer penetrar em nós, – por seu rito e pela palavra que o explica, - o sentido salvífico da cruz

de Cristo, no sentido de que nós, cristãos, aceitando o esvaziamento de Jesus por nós e associando-nos a seu modo de viver e morrer, entremos na comunhão eterna com ele e com o Pai . 2. Amou-os até o fim ... “Ensina-nos a amar” … Não sabemos amar , muito

menos amar até o fim. Quem no-lo ensina é Jesus . “Antes da Páscoa … amou-os até o fim … Eu dei o exemplo, para que façais a mesma coisa que eu vos fiz” (Jo 13,1.15) . 3. A refeição pascal . A 1ª. leitura de Êxodo fornece o fundo histórico para situar a última Ceia como refeição pascal na vida de Jesus e nas raí- zes judaicas da liturgia cristã . Conta a instituição da refeição do cordei- ro pascal no antigo judaísmo, com o sentido salvífico que Israel aí reconhe- ce : a libertação da escravidão . 4. Celebração Memorial . A história que João nos relata situa-nos nesse contexto da Páscoa . Para os judeus a ceia pascal é a principal celebração em memória de sua história, e, portanto, de sua identidade como povo. 4.1. Comemoram a passagem do Senhor Deus que os libertou da escravi- dão e fez deles seu povo . 4.2. Jesus, - celebrando a Páscoa com seus doze discípulos, - fez da Páscoa o

memorial de sua passagem : sua missão da parte de Deus e sua volta ao Pai , através do DOM DE SUA VIDA na cruz . Fez da Páscoa o

MEMORIAL do seu amor até o fim . 5. O Lava-pés . O gesto do Lava-pés é o gesto por excelência que Jesus realiza na Última Ceia . 5.1. É um gesto profundamente inquiridor: por isso, deve levar-nos a entender a sua profundidade e a sua ingerência na nossa vida . 5.2. Estamos muito distantes da atitude do Senhor … Ou nos aproximamos dele e o entendemos na sua missão e no seu modo de ser e de fazer … ou nos excluímos do seu projeto … e, por conseguinte do projeto do Pai . (… e aí, adeus, paraíso! … Para onde iremos? ).

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6. Compromisso de amor e de fraternidade … Mais do que um gesto de humildade, o Lava-pés é uma demonstração muito concreta de compromisso de amor, de fraternidade. … “Amai-vos como eu vos amei” . Dai a vida

como eu a dei por vós !

6.1. Hoje , – quinta-feira santa, – este Jesus da Última Ceia não é um Jesus romântico, mas um Jesus real que nos questiona a vida, que nos mos- tra o caminho (- difícil, sim! -) de esquecer-nos para ir ao encontro do outro. 6.2. Não nos acostumamos com o sermos chamados de servos ou escravos ou servidores . (... É muito radical, é muito doido, é muito baixo, não condiz com

nossa posição social, não condiz conosco mesmos ! Não nos enquadramos nessa !) . 7. Como entender ? Para isso mister se faz pararmos … olharmos o crucificado … e deixarmo- nos penetrar por sua mensagem, por suas atitudes, por sua vida, por seu amor. É difícil entender esse Jesus ? … É lógico que é difícil entendê-lo … Ele não tem meias medidas … Faz tudo do jeito dele … Não nos pede opi- nião … É radical demais … vai além dos limites … E tudo isso é muito,

mas muito difícil mesmo !!! 8. Tentemos entender alguma coisa . É preciso começar pelo princípio : Deus é amor . E amar é sair de si e ir

ao encontro do outro . Esta é a definição básica e fundamental de amor, aliás, a única. Não dá para ajustá-la ao nosso jeito … Esta é a grande questão ! ... Queremos que Deus nos ame . Queremos sentir-nos acon- chegados por Deus . MAS não sabemos, não nos dispomos e não temos coragem de sair de nós mesmos ( deixar nossos interesses ) e ir ao encontro dos outros para levar aconchego, carinho, compreensão, solidariedade, per- dão, … abrir o coração e deixar que os outros entrem ! 9. Por que celebrar a Páscoa ? Para entendermos Jesus Cristo ! 9.1. É um MEMORIAL : revivemos o gesto de amor do Filho de Deus , hoje atualizado na nossa vida … aqui na nossa celebração. Amor por nós : por mim, por você ! 9.2. É uma era nova , uma vida nova . O amor do Filho de Deus nos libertou para sempre : o mal e a morte não tem mais a palavra final. Somos livres (- como os passarinhos -) porque Jesus nos libertou e abriu as portas da eternidade, da VIDA DIVINA . 9.3. É uma nova era de partilha. Abre-se o horizonte para sairmos das trevas da ignorância, da ganância, do acumular quanto mais melhor e depois não saber nem o que fazer com tudo o que acumulamos. E pior ainda, depois de tudo, não alcançamos a felicidade, a tranquili- dade, a alegria, e a tão almejada paz de espírito . Se abrirmos os olhos e o coração à mensagem do Filho de Deus, descobriremos que a partilha, ela sim, traz alegria, contentamento, felicidade, paz. Um novo modo de viver = partilhar ! 10. Páscoa – Celebração Pascal – Cordeiro Pascal – Última Ceia de Jesus – Ceia do Corpo e Sangue do Senhor . - É aqui que nos encontramos hoje. Um Jesus que nos toma pela mão (e nos leva ao seu coração) para ensinar-nos a abrir o nosso coração a ele, ao Pai e aos irmãos. Somente assim celebraremos com Jesus a Páscoa que nos renova verdadeiramente : a Páscoa de Jesus Cristo , a nossa Páscoa

de hoje em caminho para a nossa Páscoa definitiva na casa do Pai dele e nosso!

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REFLEXÃO BÍBLICA – SEXTA-FEIRA SANTA – Ano B – 30.03.2018

Evangelho: Jo 18, 1 – 19, 42

1. TEMAS FUNDAMENTAIS nesta leitura de João :

a. Jesus é o doador da Vida Nova

b. A paixão revela o conteúdo da Hora de Jesus

c. Jesus é o verdadeiro e único Rei

d. Jesus é o Cordeiro de Deus

a. Jesus é o doador da Vida Nova

2. Jesus foi para um jardim . O relato da Paixão segundo João começa e termina

num jardim (18,1 e 19,41) . É uma referência ao jardim do Éden onde o ser

humano - por orgulho e idolatria de querer ser igual a Deus - rejeitou a vida e es-

colheu a morte . E aqui temos : é no jardim que Jesus ensina a escolher e

possuir a vida : dando-a gratuitamente em favor dos outros .

3. AS OPÇÕES DA VIDA . Diante de Jesus as pessoas têm duas opções :

- ou o reconhecem e se comprometem com ele ,

- ou aderem ao sistema injusto que o rejeitou e condenou : perdem

assim a chance de ter a vida . b. a paixão revela o conteúdo da "hora" de Jesus

4. Tudo está consumado ! Com o último sinal do evangelho de João (- a morte

de Jesus -) , o Filho do Homem conclui sua obra em favor da humanidade :

“tudo está consumado !” (19,30a) . De agora em diante sua obra será comple-

tada pelo Espírito , que ele entrega : “inclinando a cabeça , entregou o espí-

rito” (19,30b) . A hora de Jesus , - sua morte , - é o momento que põe às

claras as opções que as pessoas fizeram : a favor ou contra Jesus .

c. Jesus é o verdadeiro e único Rei

5. A realeza de Jesus . O tribunal, - que queria condenar Jesus , - mostra-se incompe-

tente e incapaz de condená-lo . O Filho do Homem declara que sua

realeza não se baseia no jogo de poder dos políticos deste mundo , que

fazem uso da força e da violência . 5.1. A realeza de Jesus consiste em dar testemunho da verdade (= fidelidade de Deus

ao seu projeto) . Ele é Rei porque cumpre - até o fim - a vontade do Pai ,

que é a de amar o mundo a ponto de enviar seu Filho único (3,16) .

6. Jesus é o verdadeiro rei . Para João Jesus é o verdadeiro Rei . Por isso ,

evita falar dos maus tratos que sofre . Ao falar dos soldados que caçoam

de Jesus , - coroando de espinhos e vestindo-o com manto vermelho (19,2-3) , - João

ironiza e desmascara os poderes deste mundo , ressaltando ainda mais a

realeza diferente de Jesus : “o meu Reino não é deste mundo !" Fica claro :

para Jesus , exercer o poder é dar a vida .

7. REALEZA DE JESUS = DAR A VIDA . Para João , Jesus está plenamente consciente

da sua realeza (= dar a vida) :

- dela se beneficiam todos os povos (- os soldados repartem as vestes -) ;

- João evita colocar na boca de Jesus as palavras “Deus meu , Deus meu ,

por que me abandonaste ?” (Mt 17,46 e Mc 15,34) ;

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- outro indício da realeza de Jesus é a quantidade de perfumes usados no

seu sepultamento : mais de 32 quilos (- quantia usada só para reis -) ;

- ao ungir assim o corpo de Jesus , Nicodemos está , na realidade , preparando

o esposo para a festa de casamento com a humanidade (cf. Sl 45,9) ;

- João não fala dos malfeitores ou bandidos crucificados com ele , porque a

cruz é o trono do Rei , o lugar de dar a vida ;

- e evita também dizer “à direita e à esquerda” para ressaltar que no seu

reino todos são iguais .

d. Jesus é o Cordeiro de Deus

8. O verdadeiro cordeiro pascal . Jesus morre durante a preparação da Páscoa

dos judeus . João faz coincidir a morte de Jesus com o momento em

que - no templo - eram imolados os cordeiros para a Páscoa judaica (19,31) .

Essa coincidência quer revelar que o verdadeiro Cordeiro Pascal é o que foi

imolado na cruz , cujo sangue redime a humanidade – de uma vez por todas – e confere-lhe vida nova (- não como o sangue do cordeiro em Ex 12,7 -) .

9. O CORDEIRO PASCAL . João faz questão de ressaltar que nenhum osso de Jesus

foi quebrado para lembrar a exigência que se fazia do cordeiro pascal . Ele

é o pão , descido do céu , que dá a vida ao mundo (6,34) . É o verdadeiro Cor-

deiro (1,36; Ap 5,6-14) . 1ª. Leitura: Is 52, 13 – 53, 12

10. Breve visão de conjunto .

10.1. O trecho , (- chamado de quarto poema do Servo de Javé -) , é um poema de um

servo de Deus que enfrenta conscientemente a dor e a rejeição até

a morte e acaba sendo glorificado por causa disto . No texto temos

três personagens : Javé , um grupo anônimo de pessoas e o Servo (-que

é observado por elas -) . 10.2. Podemos dividir o texto assim :

10.2.1. Javé pronuncia um oráculo a respeito do Servo (52,13-15) ;

10.2.2. o grupo anônimo fala do sofrimento do Servo , lamentando não

ter entendido a tempo o significado dessa dor (53,1-10) ;

10.2.3. a intervenção de Javé em benefício do Servo (vv.11-12) .

11. Sofrimento = castigo de Deus ? O conteúdo desse quarto cântico é muito

claro . Ele questiona a doutrina da retribuição = o mal que alguém sofre é

castigo de Deus por um mal cometido. O servo inocente sofre ( - enquanto os

culpados não - ) , é condenado , morto … mas torna a viver glorioso .

12. O sofrimento humano . Esta crítica à doutrina da retribuição ( - elaborada durante

o exílio -) projeta nova luz sobre o sofrimento humano com a vitória dos

oprimidos e a vida após a morte . Em tudo isso se manifesta misteriosa-

mente "o braço do Senhor” (53,1) , que é solidário com o sofredor e inter-

vém para glorificá-lo .

13. Ele tomou sobre si nossas enfermidades . Lendo este texto , as primeiras

comunidades cristãs perceberam que ele se realizou plenamente na Paixão de

Jesus (cf. Fl 2,6-11) . Hoje este texto continua alimentando as esperanças

das pessoas que sofrem no mundo inteiro . Cabe a nós , cristãos , en-

tendermos - a tempo - o significado de tanta dor e opressão de milhões de

seres humanos . Cabe a nós sentir que , - mais uma vez , - Javé quer

glorificar os esmagados , dos quais , temos a tentação de desviar o rosto .

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2ª. Leitura: Hb 4, 14 - 16; 5, 7 - 9

14. Um discurso sobre o sacerdócio de Cristo . A carta aos Hebreus é um discurso

sobre o Sacerdócio de Cristo . Foi escrita por um autor anônimo , por volta

do ano 80 , a cristãos tentados de desânimo e em perigo de rejeitar a fé

em Jesus Salvador .

15. Os motivos do desalento eram :

- o ter que suportar sofrimentos por serem cristãos ,

- a vontade de voltar às formas (- já superadas -) do culto judaico ,

- e o afrouxamento diante da demora da salvação final .

16. Jesus , sumo sacerdote digno de fé e misericordioso . O nosso texto pertence

à parte intitulada : Jesus , Sumo Sacerdote digno de fé e misericordioso (3,1-5,10) .

16.1. Ele é digno de fé porque preencheu todos os requisitos que Deus ten-

cionava realizar. Sua credibilidade perante Deus foi plena (3,2-6) . Por isso, a humanidade adere a ele com total confiança (3,7-4,14) .

16.2. Sendo plenamente confiável, é também Sumo Sacerdote misericordioso com

as pessoas (4,15) , por ter experimentado nossa condição humana e conhecido

nossas fraquezas . Por meio do sofrimento tornou-se obediente de uma

obediência tal, que as pessoas (- aderindo a ele e à sua obediência -) saborea-

rão a salvação definitiva (5,9) .

17. Jesus abriu o caminho para chegar a Deus não como antigos sacerdotes da

antiga aliança, que se apresentavam com sangue de cordeiros - uma vez por

ano - no Santo dos Santos , ... mas entrando no céu , com seu próprio san-

gue derramado para o perdão e a salvação da humanidade . Ele é , portanto ,

o ÚNICO Caminho e o ÚNICO Mediador entre Deus e a humanidade .

R e f l e t i n d o . . .

1. Sexta-feira Santa é o dia em que o sacrifício de Cristo está mais central do que nunca na vida do cristão . É como um grande “dia - síntese” da vida e da ação de Jesus : - ele é o Servo que carrega os pecados da humanidade (1ª. leit.) ; - ele é o Rei universal que dá a vida (ser Rei é dar a vida – ev.) ; - ele é o único Sacerdote e Mediador entre Deus e a humanidade (2ª. leit.). 2. Celebrar a paixão e morte de Jesus é reconhecer e acolher o amor infinito ,

sem limites , amor insondável de Deus . Em atitude de gratidão e de arre- pendimento , deixemo-nos invadir - no dia de hoje -, pela sua graça que nos transforma, por seu amor que nos redime, pela sua doação que nos compromete.

3. O justo doa a vida pela salvação dos irmãos. A 1ª. leitura apresenta o 4º. Canto do Servo de Deus (Is 52-53) : a doação da vida do Justo pela salvação dos irmãos (- mesmo daqueles que o rejeitaram -) . - Jesus participou integralmente da nossa condição humana (- menos o pecado -). - Sua existência na terra não foi uma existência alienada, fora da realida- de, como se fosse anjo . - Pelo contrário, Jesus foi descobrindo dia após dia (- como cada um de nós -) o sentido da própria vida e da própria missão , buscado constantemente na sua união com o Pai .

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4. A salvação a partir da Lei ? A teologia dominante do judaísmo farisaico da época esperava a salvação a partir das instituições legais, da observância da lei, de um messias político .

MAS, Jesus reconheceu - na sua experiência íntima com o Pai - - a experiência dos “pobres de Deus” , - do profeta rejeitado e do justo sacrificado pelos seus irmãos, - e assumiu-a em obediência até o fim ao projeto do Pai . É isso que ressaltam as leituras com suas expressões humanas e existenciais : “pedidos e súplicas … veemente clamor e lágrimas … embora fosse Filho , aprendeu a obediência pelo sofrimento” (Hb 5,7-8) . 5. Cristologia de João : sofrimento à luz da fé pós-pascal . Esta cristologia do despojamento (kénosis) e da verdadeira humanidade de Jesus é pressuposto para compreender a cristologia presente em João . Ele mostra o sofrimento

de Cristo fortemente ligado à luz da fé pós-pascal . Mas nem por isso , nega a dimensão trágica da experiência humana de Jesus , antes a supõe e a coloca na luz de sua glória divina . 6. O Cristo da paixão . O Cristo da paixão - segundo João - é parecido com aquele Cristo vestido de traje sacerdotal ou real , coroado do diadema im- perial , que os artistas do começo da Idade Média colocavam na cruz : é

a visão teológica da “Cruz Gloriosa” , a mesma que domina a segunda parte da celebração da Sexta-feira Santa, - a adoração da cruz, - em que alterna a lamentação do Cristo rejeitado com a aclamação de sua glória . 7. A cruz é a fonte da graça . Entre as leituras e a veneração da Cruz

Gloriosa, pronunciam-se as grandes preces da Igreja : a cruz é a fonte da

graça de Deus , da vida da Igreja . Do lado aberto do Salvador nasce a Igreja. 8. A terceira parte da liturgia é o despojado rito de comunhão com o Senhor

que nos amou até o fim . Este rito estabelece a unidade da celebração de hoje com a de ontem , a da Ceia do Senhor e do mandamento do amor a partir do gesto do lava-pés . E tudo termina com o silêncio

reverencial de reflexão e de adoração e com a bênção própria que evoca a esperança da Ressurreição . 9. O homem das dores ! O canto do Servo de Deus começa com um oráculo de Deus e se transforma depois num diálogo entre o povo (- as

nações -) e o profeta . Um segundo oráculo de Deus conclui a poesia : quem pode entender que Deus cumpre seu plano e revela seu poder no so-

frimento e na morte de seu Servo ? Decerto , Israel (- no exílio -) e seus profetas (- Jeremias -) conheceram o caminho do sofrimento . MAS o sentido pleno daquilo que o profeta pressentiu só se manifesta em Jesus Cristo ,

“o homem das dores”, que morrendo por nós , nos deu VIDA e SALVAÇÃO . 10. Jesus Sacerdote e Sacrifício . Jesus viveu a profundeza da desolação humana , mas por sua obediência foi atendido por Deus . Se o sacer-

dote é Mediador , Jesus o é eminentemente , pois ele é o Filho de Deus . Mas também é um de nós que conhece a fundo a fragilidade da condição humana , transcendendo-a , porém , no ponto onde ela era irreconciliável com a santidade de Deus (- o pecado -) . Ele é Sacerdote e Sacrifício ao mesmo tempo : assim nos consagra também a nós (Hb 7 1-10) . 11. A “história da Paixão” é interpretação e mensagem. Principalmente em João , a “história da Paixão” é interpretação e mensagem . Não diz apenas o que aconteceu , MAS SOBRETUDO o que significa o acontecido .

João mostra com toda a clareza que o sofrimento e morte é um ato pes-

soal e soberano de Jesus .

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Ao fazer coincidir a morte de Jesus com a hora em que os judeus matavam o cordeiro para a ceia pascal no templo (19,14) ,

João revela o Cristo como nosso verdadeiro CORDEIRO PASCAL . 12. A opção pela verdade e pela justiça . A morte de Jesus foi consequência de sua fidelidade ao amor a Deus e ao próximo . Sua opção pela ver-

dade e pela justiça não agradou os poderosos que preferiam as trevas do egoísmo , da mentira , do poder e da dominação . 13. AMOR - DOAÇÃO - ENTREGA TOTAL DE JESUS . Perante esse AMOR-DOAÇÃO-ENTREGA TOTAL de Jesus há sempre duas respostas : - há os que recusam entender a proposta e aderir a ela , como Pedro que o negou três vezes , como Judas , como os chefes do templo e dos interesses econômicos e políticos . - MAS há os que se abrem de coração e acolhem o projeto do Reino de Deus , como as mulheres e o discípulo amado , como José de Arimatéia e Nicodemos , como Estevão , como Pau- lo de Tarso e ... tantos outros . - Somos todos chamados a seguir Jesus pela renúncia ao egoísmo e pelo amor vivido cotidianamente ... chamados a ser solidários com ele ... chamados a ser solidários com os sofredores . - E nós , que resposta damos hoje nesta Sexta-feira Santa ? Mas uma resposta efetiva (... que não seja de um dia … por comoção ou pena !) . 14. Jesus tornou-se o Caminho , a Verdade e a Vida . Jesus é o Servo de Deus que se ofereceu em sacrifício pela vida da humanidade . Assumiu a condição humana , foi incompreendido e desprezado , perseguido e condenado ; como um cordeiro foi levado ao matadouro , porém não usou de vingança nem de violência . Como Servo carregou sobre si nossas dores e expiou nossas faltas . Foi obediente ao Pai até o fim. Pela sua vida e morte e ressurreição, Jesus tornou-se

“o Caminho , a Verdade e a Vida” (Jo 14,6). 15. Ele foi fiel ao Pai. Ele foi fiel ao projeto do Pai . Ele foi coerente com sua vida e sua missão . Ele não desanimou nem desistiu perante as mais duras agruras da vida . Ele veio do Pai e voltou para o Pai . Ele veio do amor e voltou para o Amor infinito. Ele veio com amor e amou sem limites … . . . e sem limites é até doar a própria vida !

16. Amar é arriscar tudo! AMAR É DAR A VIDA ... é arriscar tudo em prol de

alguém . O terremoto e o tsunami acontecido no Japão pode nos ajudar a refletir

sobre a Quaresma e Semana Santa atualizados : Memorial da Paixão e Morte

de Jesus Cristo . Japão – 11 de março de 2011 – Fukushima = terremoto e tsunami . 17. REFLEXÃO SOBRE O TERREMOTO E O TSUNAMI NO JAPÃO

em 11 de março de 2011 – Fukushima - Japão

Quaresma e Semana Santa atualizados :

Memorial da Paixão e Morte de Jesus Cristo.

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QUARESMA E SEMANA SANTA ATUALIZADOS :

Memorial da Paixão e Morte de Jesus Cristo.

Amar é dar a vida . . . é arriscar tudo em prol de alguém !

1. Hoje cabe muito bem um exemplo extraordinário e não muito distante no

tempo, que nos deve fazer pensar muito seriamente. Prestemos atenção,

para no final dizermos ... se seríamos capazes de fazer o mesmo.

2. Em 11 de março de 2011 fomos invadidos pelas imagens do terremoto, do

tsunami e da radiação atômica de Fukushima Daiichi, no Japão. Mas… a

mesma TV que divulgou tantas imagens , não se preocupou com “a coisa” mais

importante que aconteceu lá : a solidariedade das pessoas . Não vou citar a

solidariedade de partilha, de ajuda, de despreocupação consigo mesmo para pensar

em quem estivesse precisando mais ou precisando antes . . . Vou relembrar

a solidariedade e partilha de VIDA . (- ... mais ou menos como Jesus Cristo fez! -) .

3. Quero partilhar com você :

Ontem 2011 - ou hoje 2018 - século 21 : há homens (- de carne e osso -) no

Japão que foram capazes de doar a vida para salvar seus irmãos .

Não foi nem um nem dois . Foram 180 homens que se dispuseram ( = eles

se ofereceram ...) a correr o risco de morte por radiação atômica para traba-

lharem na usina atômica de Fukushima Daiichi para impedir que os reatores

explodissem e um número “inquantificável” de pessoas fossem contaminadas.

4. … Como nossa sociedade é mesquinha e egoísta ! A notícia de jornal simples-

mente diz que eles foram obrigados e estavam cumprindo uma tarefa normal

de um trabalhador qualquer! Fazia parte do serviço deles! Num mundo de números,

e onde só conta a produção não se é capaz mesmo de dar valor à vida , a um

gesto de um valor inigualável, a um gesto de amor sem qualquer explicação plausí-

vel dentro do sistema! Que pobreza de visão ! Que mediocridade de análise jornalística !

5. Pense um pouco comigo . . .

5.1. Eles tinham consciência e sabiam muito bem do risco que estavam correndo.

Sabiam que certamente teriam câncer, cirrose hepática, alteração do DNA e

outras doenças mais até a morte . E esta tinha dias contados para chegar (… e dias antecipados ! ) .

5.2. Esses homens tinham família, filhos, tinham uma vida pela frente (… como eu,

como você) e … decidiram “entregar”, “doar a própria vida” para “salvar”

outras pessoas que eles nem conheciam ... e para salvar o planeta. Esses, sim,

estavam realizando uma verdadeira Campanha de Fraternidade sobre o "pla-

neta-terra" … Só para lembrar: é esse planeta que você e eu habitamos …

e que, talvez, não fazemos nada, não de extraordinário , mas de comum

para ajudar a melhorar as condições do meio ambiente - a CASA COMUM !

5.3. Eles não foram perguntar se as pessoas eram boas e mereciam ou se eram

más e não mereciam o sacrifício das próprias vidas. Como diz S. Paulo:

“dificilmente alguém morrerá por um justo ; por uma pessoa muito boa

talvez alguém se atreva a morrer . Pois bem, a prova de que Deus nos

ama é que Cristo morreu por nós, quando ainda éramos pecadores”(Rm 5,7-8).

5.4. Eles não foram perguntar se a nação os iria reconhecer como “heróis da pá-

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tria”, ou se teriam seus nomes dados a ruas ou monumentos. Eles não

ficaram calculando matematicamente se seria vantajoso ou não … quanto

lucrariam ou perderiam … simplesmente decidiram com a vida – na prá-

tica – a amar . Amar quem ? Eles não sabiam ... mas amaram ... !

5.5. Não sei se eles acreditavam em Deus ou não ! Se acreditavam, não sei em

que Deus eles acreditavam ! Não sei a que religião eles pertenciam !

Não sei que igreja eles frequentavam , ou se frequentavam ! Não sei se

se eram religiosos ou não ! Mas uma coisa eu sei : eles sabiam o que

era amar! Eles amaram ! amaram ! amaram !!! E amaram até o fim :

até dar a vida por amor aos outros .

5.6. Até parece que eles ouviram um certo judeu falar : como eu vos amei,

amai-vos também uns aos outros ! (Jo 13,34) . Ninguém tira a minha vida

… eu a dou livremente por amor a vocês ! (Jo 10,18) .

5.7. Para mim, esses homens viveram a sua Semana Santa ... vivenciaram-na .

Com aquele judeu eles foram ao jardim das Oliveiras e sentiram o suor

de sangue perante a missão que os aguardava … E , talvez , rezaram

também : Pai , faça-se a tua vontade !

5.8. Com aquele judeu eles caminharam carregando nos ombros a cruz (- dor ,

sofrimento, angústia, cansaço, desalento, desfalecimento), a cruz das águas que eles

jogaram para resfriar os reatores atômicos . Quantas vezes nesse caminho

de calvário eles caíram (... e ninguém notou , nem noticiou ! ) ... e não havia

Cirineu para dar a mão .

5.9. … E eles continuaram e ... continuarão (não sei por quantos dias, meses ou anos)

a caminhar – carregando a cruz da dor e dos sofrimentos que virão –

até chegar ao Gólgota , onde completarão a sua doação total e final : “Pai , em tuas mãos entrego o meu espírito !”

5.10. Aí , sim , eu tenho a grande certeza : o Pai os acolherá e os levará

nos braços . Aquele judeu e o Pai dele os acolherão nas moradas eter-

nas com todos os anjos cantando em coro “o amor sem limites” que se

fez presente de novo na história da humanidade . Hosana ! Aleluia !

5.11. E uma luz resplandecente mais forte que o sol brilhará no horizonte !

E a cruz gloriosa e a cruz da redenção brilhará – mais fulgurante que a

fissão do núcleo do nêutron – que , ontem , eles impediram com a água

que jorrava da doação da vida de cada um deles . … “Vinde , benditos do meu Pai , recebei por herança o Reino

preparado para vós desde a fundação do mundo ! (Mt 25,34).

5.12. … E eu pergunto aqui e agora :

- Você seria capaz de fazer o que eles fizeram? …

- Você se colocaria em zona de radiação atômica para salvar

outras pessoas (boas ou más, não sei) que você não conhece ? Se o grão de trigo que cai na terra não morrer ,

permanecerá só ;

mas se morrer ,

produzirá muito fruto .

Quem ama a sua vida a perde

e quem perde a sua vida neste mundo

guarda-la-á para a vida eterna . (Jo 2,24-25)

------------------------------------------------- .

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REFLEXÃO BÍBLICA - SÁBADO SANTO - VIGILIA PASCAL - Ano B - 31.03.2018

1. Hoje é o grande dia da Vigília Pascal : a VIDA venceu para sempre a morte .

Duelaram forte e mais forte , mas é a VIDA que vence a morte .

O amor supera e vence a morte . O amor sempre supera tudo .

2. O silêncio da Vigília Pascal está grávido de aleluias !

Os que creem no Cristo já podem preparar a festa como as mulheres

que , - ao contemplar de longe o lugar em que depositaram o corpo

de Jesus, - teimavam em crer que a vida é mais forte , e ... foram

premiadas por sua fé e coragem.

3. Vitória! Nosso maior e último inimigo foi vencido !

As portas – da Vida que não termina – foram abertas pelo Primogênito

dentre os mortos . Surge, então, brilhante a estrela da manhã !

I . – OS SÍMBOLOS PASCAIS

4. O simbolismo do fogo

4.1. O fogo , reconhecido pelos antigos como um dos quatro elementos do mundo,

é um princípio ativo .

4.2. Suas características são certa “materialidade” e certa “espiritualidade” que o

tornam próximo a Deus.

4.3. Tem capacidade de purificar e regenerar. Os ritos de purificação são bem conhe-

cidos, como as queimadas para limpar o terreno para o plantio; o crisol onde são

purificados os metais, entre outros.

4.4. Em sentido translato, o fogo representa o amor, as paixões que se aninham nos

corações.

4.5. O fogo purifica, aquece e ilumina. Na Bíblia, o fogo é sinal da presença e da

ação de Deus no mundo. É expressão de santidade e transcendência divinas. (Ex 3,2ss: a sarça ardente). 4.6. As teofanias, - sob a forma de fogo, - marcam momentos ímpares da revelação de

Deus : no Sinai (19,18ss) . São também importantes do ponto de vista da vocação

de alguns profetas : Isaías – Is 6,6 ; Ezequiel – Ez 1,4 ; Eliseu – 2Rs 2,11 .

4.7. Na liturgia da Vigília Pascal, o fogo representa a grande teofania de Deus: a nova criação realizada na ressurreição de Jesus .

5. O simbolismo da luz

5.1. A luz é força fecundante, condição indispensável para que haja vida. As trevas

são símbolo do mal, da infelicidade, da perdição e da morte . A luz

exalta o que é belo e bom .

5.2. Na Bíblia, Deus é luz: – O Senhor é minha luz e salvação – Sl 27,1; - o povo que

caminhava nas trevas, viu uma grande luz – Is 9,1. Jesus é a luz do mundo : - enquanto estou no mundo, eu sou a luz do mundo – Jo 9,5 .

- Eu sou a luz do mundo, quem me segue não anda nas trevas ,

mas terá a luz da vida - Jo 8,12 ;

5.3. Quem crê se torna luz : – vós sois a luz do mundo - Mt 5,14 ;

- reflexo da luz de Cristo : – o mesmo Deus que mandou a luz

brilhar na treva , iluminou as vossas mentes, para que brilhe no

rosto de Cristo a manifestacão da glória de Deus - 2Cor 4,6.

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- A vida inspirada pela fé é um caminhar na luz : – ... já brilha

a luz verdadeira . Quem diz que está na luz, mas odeia seu irmão

continua em trevas…” - 1Jo 2,8-11.

- A transfiguração de Jesus, – manifestação de sua filiação divina, –

é uma antecipação da glória pascal que ilumina os que creem .

5.4. Dentre os simbolismos que derivam da luz e do fogo, o Círio Pascal é a

expressão mais forte por sua riqueza de significados . É a fusão da lua

cheia de Nisan (- símbolo da salvação pascal -) com o rito da luz (- quando à tar-

dinha, os hebreus acendiam as lâmpadas -) , que é uma ação de graças pelo dom

da luz .

5.5. A luz representa Cristo Ressuscitado ,

- vencedor das trevas e da morte (os cravos do círio),

- Senhor da história (os algarismos),

- princípio e fim (A e Z),

- sol que não conhece ocaso.

O Círio Pascal é aceso com o fogo novo , produzido em plena escuridão ,

pois na Páscoa tudo renasce.

5.6. A tipologia da luz é descrita no “canto do Exultet” que forma um todo or-

gânico com o anúncio da libertação pascal . A aclamação “Eis a luz de

Cristo!” é um memorial da Páscoa . A procissão com o Círio marca a

presença de Cristo no meio do seu povo .

6. O simbolismo da água

6.1. A água é símbolo da VIDA. Sem água não há vida de forma alguma. Re-

presenta a eficácia do sangue redentor de Cristo comparado à água que lava.

6.2. A imersão do Círio Pascal na água é a união do elemento divino com o

humano, a força fecundante de Cristo, – gerador de vida nova, – para que

todos os que se banharem nessa água fecundada se tornem filhos de Deus.

6.3. A água simboliza a vida, fertiliza a terra, mata a nossa sede, lava-nos e puri-

fica-nos … Lembra a imersão batismal pela qual nos tornamos filhos de Deus.

Representa o novo nascimento: “quem não renascer da água e do Espírito não po-

de entrar no Reino de Deus” (Jo 3,5). Na celebração eucarística mistura-se a água

(= nossa humanidade) com o vinho (= divindade). Do lado aberto de Cristo na cruz,

traspassado pela lança, “saiu sangue e água” (Jo 19,34). Do interior de quem

crê em Jesus – morto e ressuscitado – “fluirão rios de água viva” (Jo 7,38).

7. O simbolismo da cor branca

7.1. Embora os símbolos fortes e marcantes da Vigília Pascal sejam o fogo , a

luz e a água, queremos também lembrar o simbolismo da cor branca que

predominará durante todo o tempo pascal .

7.2. O branco é a cor da alegria e da festividade . Coélet , o pregador , dá

conselho : “vai , come teu pão com alegria e bebe gostosamente o teu vi-

nho … que tuas vestes sejam brancas em todo tempo e nunca falte perfu-

me sobre a tua cabeça” (Eclesiastes 9,7s) . Segundo a lei mosaica, era pres-

crito um fino linho branco para os tecidos do santuário (Ex 26,1; 27,9) .

Também para as vestes dos sacerdotes “empregarão ouro , púrpura escarlate,

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carmesin e linho fino branco (Ex 28, 5-8) ; a túnica e o turbante devem ser

confeccionados inteiros com linho branco (Ex 28,39) . Na visão de Daniel ,

Deus aparece como “Ancião”: “suas vestes eram brancas como a neve ;

e os cabelos de sua cabeça , alvos como a lã ” (Dn 7,9) .

7.3. No monte da transfiguração, a face de Cristo ficou brilhante como o sol ,

“e as suas vestes tornaram-se alvas como a luz” (Mt 17,2) . “Suas vestes

tornaram-se resplandecentes , extremamente brancas, de alvura tal como ne-

nhuma lavadeira na terra as poderia alvejar” (Mc 9,3) .

Os anjos presentes na RESSURREIÇÃO do SENHOR sentavam-se, - “vestidos de

branco” junto ao sepulcro (Jo 20,12) . No Apocalipse a cor branca simboliza

a pureza perfeita e a glória inacessível . Aqueles que entram na Jerusalém

celeste, vindos da grande tribulação , “lavaram suas vestes e alvejaram-nas

no sangue do Cordeiro” (Ap 7,13s) .

(ex LURKER, M. Dicionário de figuras e símbolos bíblicos. 2ª.ed . S.Paulo: Paulus, 2006).

7.4. Os paramentos brancos anunciam a vitória sobre o mal … e a paz que

JESUS RESSUSCITADO nos dá . Apontam para o viver revestido dos mesmos

sentimentos de Jesus : “como escolhidos de Deus, santos e amados, vistam-

se de sentimentos de compaixão, bondade, humildade, mansidão, paciência

…” (Cl 3,12) . As vestes brancas identificam os que são fiéis a Jesus e es-

tão inscritos no Livro da Vida (Ap 3,4-5) .

II . LEITURAS : LITURGIA DA PALAVRA DE DEUS

8. O mistério da salvação . A Liturgia da Palavra de hoje é extensa. Busca

contemplar o mistério da salvação - oferecida por Deus - nos grandes momentos

da história humana :

- a criação ,

- a promessa a Abraão , pai do povo de Deus ,

- a libertação dos oprimidos do Egito : primeira páscoa ,

- o retorno dos exilados ,

- a renovação da Aliança ,

- o apelo à conversão para caminhar na luz do Senhor ,

- a purificação do coração , e

- a nossa regeneração em Cristo , por sua morte e ressurreição :

último e definitivo evento salvífico . Todas essas ações são de Deus , em seu amor por seu povo e pelas

criaturas, com o único objetivo de salvá-las e dar-lhes vida plena.

9. Leituras = Passos em busca da Páscoa plena . Poderíamos também marcar as

leituras de hoje com os passos da humanidade em busca da Páscoa plena.

1º. passo: a Páscoa da criação - do caos ao cosmos ! A criação é a primeira Páscoa . Deus faz a vida explodir do nada , numa festa

de formas e cores multifacetadas.

2º. passo: a Páscoa da libertação - da escravidão à liberdade ! Onde quer que haja um oprimido, Deus aí "desce para libertá-lo e para conduzi-lo da

terra da escravidão à terra da liberdade".

3º. passo: a Páscoa social - de uma sociedade injusta a um mundo diferente e possível ! O convite é para sairmos do marasmo, da monotonia, da desesperança e voltarmos para

a alegria, a festa, a retomada da utopia de um "outro mundo possível".

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4º. passo: a Páscoa do Batismo - de escravos dos sistemas de morte à vida do Reino! Fomos transformados totalmente de simples criaturas para a realidade existencial da

vida de filhos de Deus e herdeiros do Reino.

5º. passo: a Páscoa da Ressurreição - da antiga criação ao novo Universo ! Não só a pessoa humana, mas o universo inteiro ganha Nova Vida com o CRISTO

RESSUSCITADO. Nesta noite pascal, estamos sintetizando numa única celebração todos esses

passos . Cristo Ressuscitado resume e sintetiza em si tudo e todos.

Alfa e Omega. Isto é Páscoa ! Isto é Ressurreição !

1ª. Leitura: Gn 1 ,1 – 2,2 : A criação - Deus é fonte e princípio de toda vida.

10. As leituras da liturgia desta noite refletem as ações de libertação e salvação

de Deus ao longo da tradição da história judaico-cristã . Partem da criação ,

em que se reconhece a Deus como fonte e princípio de toda vida . E a frase

que sintetiza é : “E Deus viu que tudo o que tinha feito era muito bom”

(1,31) . A Palavra criadora de Deus “cria” ( = faz do nada ) um universo ,

um jardim onde põe a humanidade . E Deus tem a certeza ter feito "o

melhor" para o homem : viu que tudo era muito bom !

11. O homem e a mulher são criaturas entre as demais . Há uma íntima rela-

ção entre o ser humano e a natureza … O sétimo dia – o ponto alto

do relato da criação – invoca (- ou evoca ) a importância da gratuidade e da

contemplação , para muito além da exploração utilitarista , a fim de preservar

e promover “a fraternidade e a vida no planeta”.

2ª. Leitura: Gn 22, 1 - 18 : Isaac - Deus é o defensor da vida sempre !

12. No sacrifício de Isaac e na fé de Abraão estão prefigurados o sacrifício de

Jesus e a adesão dos fiéis , (- pela fé em Cristo -) , ao projeto de Deus . O

sacrifício de Isaac prefigura o de Jesus . Abraão é aquele que deseja seguir

a Deus , o único Absoluto . Aprende que Deus é o defensor da vida

(- sempre ! ) , diferentemente de outras práticas existentes na época . A obedi-

ência a Deus (- fruto de uma confiança ilimitada -) está relacionada com a ruptura

com toda espécie de opressão e de morte .

3ª. Leitura: Ex 14, 15 – 15,1 : A presença do Deus libertador na vida do povo.

13. A libertação de Israel da escravidão do Egito anuncia a libertação definitiva em

Cristo e a “passagem” dos cristãos da morte à vida. A confiança em Deus

e a obediência à sua Palavra é o que emerge aos olhos no acontecimento

do êxodo. Deus suscita um movimento e um desejo de organização das

pessoas oprimidas para formar um novo povo e uma nova sociedade.

14. E a passagem do povo pelo mar vermelho revela a presença do Deus liber-

tador e mostra a convicção da presença divina na história humana (Deus vai

à frente do seu povo como nuvem luminosa ou vai atrás do seu povo como sombra). Presença essa que garante as condições de superação de todas as dificul-

dades que impedem uma vida na liberdade , na justiça e na fraternidade . Embora Israel sempre se esqueça , Deus , Javé , é o seu libertador , SEMPRE !

4ª. Leitura: Rm 6, 3 – 11 : Morrer e ressuscitar com Cristo !

15. Assim considerai-vos … mortos para o pecado e … vivos para Deus em Je-

sus Cristo . Do batismo, – o morrer e ressuscitar com Cristo, – surge o

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homem novo . Uma vez por todas, Cristo morreu e ressuscitou. Sua vida

é de Deus . Nesta realidade é que somos integrados pelo batismo .

16. Deus nos deu tudo por Ele e com Ele . Mas o que recebemos nele, também

o devemos realizar em nossa vida : reviver a morte de Cristo no SIM a

Deus, reviver sua ressurreição na “verificação” do SEU AMOR que em nós

se manifesta .

Evangelho : Mc 16 , 1 – 7

17. “Ele ressuscitou! Não está aqui!” É assim e é aqui que tudo começa : com

este anúncio vigoroso os cristãos começam a celebrar o MEMORIAL da presen-

ça de Deus no meio de seu povo (a Eucaristia) . MEMORIAL esse que se inicia

com o batismo ( mortos com Cristo, viveremos para Deus ) e se completa na ceia fra-

terna . A Nova Aliança foi selada na Morte - Ressurreição de Jesus e nós a

renovamos em nosso batismo e a vivenciamos na prática do amor fraterno.

18. A comemoração da Ressurreição do Cristo ocorre , desde a mais remota me-

mória da Tradição na noite de sábado para domingo , pois na manhã do

domingo - o primeiro dia da semana - o Senhor já não está no sepulcro.

18.1. Além disso, e não obstante a Páscoa judaica ter outra data (-seria a data

da Última Ceia -), a tradição cristã associou a noite da Ressurreição à noi-

te da Páscoa descrita em Êxodo 12,42 , " uma noite de vigília em honra

do Senhor". É a noite da libertação .

18.2. E mais ainda : esta noite ganha o sentido de uma recapitulação do

universo , o começo da criação nova e escatológica , pois o Senhor Res-

suscitado é a primícia da nova criação . A Ressurreição de Jesus é o

penhor da renovação do universo .

19. A Ressurreição de Jesus , - evento acessível somente à fé , - não é ainda a plenitu-

de do Reino na terra , mas aponta para o Reino permanente no céu . A apre-

sentação do fato em Marcos se caracteriza pela simplicidade e objetividade .

20. O ponto alto Semana Santa e da vida cristã é a Ressurreição de Jesus . O

crucificado pela maldade humana é o ressuscitado pela bondade divina , mani-

festada desde a criação do mundo . Começa a nova humanidade .

21. É a novidade absoluta : a VIDA venceu a morte ! Marcos faz menção "ao

nascer do sol ... no primeiro dia da semana ", referindo-se à nova criação ofe-

recida por Deus à humanidade redimida pela morte de Jesus. Após as tre-

vas da cruificação, nasce a aurora da vida plena . É a novidade absoluta :

a VIDA venceu a morte ! Foi definitivamente destruído o último inimigo do

ser humano .

22. Começa a nova humanidade . As mulheres - marginalizadas pelo sistema oficial ju-

daico, - mas profundamente acolhidas e amadas por Jesus, "foram ver o se-

pulcro", domingo, ... bem cedo, ... para prestar uma homenagem atrasada,

perfumar o corpo de Jesus (- o que não fora possível na sexta-feira, pois já entrava

o sábado) .

23. Testemunho de mulher não valia nada , ... mas agora serão elas as testemunhas .

Preocupadas com quem poderia remover a pedra (muito grande) da entrada, sur-

preendem-se com a pedra removida . Entram, então, no túmulo e em vez

de um corpo morto , encontram um jovem sentado à direita e vestido de

branco, a cor da vitória ... Deus vencera a morte !

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24. Ele ressuscitou ! Não está aqui ! As mulheres assustaram-se, mas o jovem

lhes disse : "não vos assusteis . Procurais Jesus de Nazaré que foi crucifi-

cado ? Ele ressuscitou ! Não está aqui ! Vede o lugar onde o puseram . Ide

dizer a seus discípulos que os encontrará na Galileia" .

25. Nada dizem a ninguém ... As mulheres saem fugindo do sepulcro, e apavora-

radas, nada dizem a ninguém . Assim termina abruptamente o evangelho de

Marcos (no v. 8) . Os versículos 9 a 16 foram acrescentados mais tarde. Só o

leitor fica sabendo que, - para ver Jesus, - é preciso voltar à Galileia .

26. O silêncio das mulheres . A conclusão breve de Marcos (16,8) termina, apa-

rentemente, de maneira pouco pascal, pelo silêncio das mulheres, a respeito

do sepulcro vazio .

26.1. Ora, para Marcos, Jerusalém é o lugar da incredulidade, e a Galileia

é o lugar da fé do pequeno rebanho : o anúncio da ressurreição não foi

feito em Jerusalém, mas primeiro se devia restituir o rebanho na Galileia.

26.2. Jesus é o pastor que precede o rebanho que seria disperso (Mc 14,27-28; 16,70) .

Agora, já não são "ovelhas sem pastor" ( cf. Mc 6,34). Eles são o início

da "reunião dos eleitos dos quatro ventos" (13,27) .

27. Depois da ressurreição , o novo povo de Deus . Depois da morte e ressurrei-

ção de Jesus, o grupo dos "galileus" encontrou em Jesus apenas um vazio.

Jerusalém tinha desperdiçado seu privilégio (Mc 12,1-11, aludindo à rejeição de Jeru-

salém e à ressurreição de Cristo) . Os "galileus" eram os primeiros do novo

povo de Deus, da Nova Aliança, aguardando para breve a nova vinda de seu

Senhor, com a glória do céu (Mc 14,62) .

27.1. A ressurreição significava a entrada do Cristo na glória, para, - voltando

em breve, - realizar a consumação daquilo que ele iniciara : o Reino de

Deus. 27.2. Na realidade, Jesus não voltou tão logo assim, mas isso não diminui a

responsabilidade do novo povo de Deus. Pelo contrário, pois quem deve

continuar a obra iniciada por Cristo somos nós .

27.3. PÁSCOA significa, então, que nós devemos assumir aquilo que esperamos

da Parusia de Cristo: o Reino de Deus, a presença de Deus junto aos

homens . 27.4. PÁSCOA significa, portanto, nossa constituição como povo escatológico do Cristo na

terra, povo - testemunha de que Ele é o Senhor da história .

27.5. Este povo não é constituído no "centro do mundo", Jerusalém , mas na

"Galileia dos pagãos" : não corresponde às categorias deste mundo mas à

mera eleição gratuita de Deus . 27.6. Tanto mais grave é a responsabilidade do testemunho, porque este não

é a "consequência natural" de categorias humanas, mas cumprimento de

um chamado divino, recebido na consciência do sentido de sua morte e

glorificação .

27.7. Porque Jesus morreu e ressuscitou e porque nós o sabemos, deveremos

testemunhar seu caminho diante do mundo. Devemos ser seu povo-tes-

temunha "na Galileia" da periferia do mundo .

28 . Toda transformação e toda conversão partem do encontro com o Ressuscitado .

Algum tempo depois … também Paulo de Tarso será contemplado com a

experiência de Jesus Ressuscitado que transformou radicalmente a sua vida .

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28.1. Escrevendo aos romanos ( duas décadas depois de sua conversão - Rm 6,3-11 ) Paulo

expressa o significado da morte e ressurreição de Jesus para os cristãos.

28.2. Para ele, o batismo é o mergulhar na morte de Jesus como “passagem”

para ressuscitar para uma vida nova.

28.3. A fé em Jesus Cristo, morto e ressuscitado, desdobra-se em prática

cotidiana de crucificar o “velho homem”, escravo do pecado, para res-

suscitar como “homem novo”, liberto de todo egoísmo e imerso na VIDA

DIVINA .

29. Acontece a Ressurreição ! É a AURORA da vida plena.

É a novidade absoluta : a VIDA venceu a morte !

Foi definitivamente destruído o último inimigo do ser humano. Acontece a Ressurreição ! O Pai confirma a missão salvífica do seu

Filho, fazendo dele princípio de salvação para toda a humanidade .

30. A ressurreição de Jesus é um evento acessível somente à fé .

O túmulo vazio ?!?! ... A descoberta do túmulo vazio não é absolutamente

essencial para o fundamento da fé cristã ( - ela não é mencionada nos credos ou

no protoquerigma em 1Cor 15,3-5 - ) , mas é um suporte externo para esta fé .

Seguindo uma lógica rígida , o túmulo vazio e a ressurreição não

implicam necessariamente um ao outro : Jesus poderia ter ressuscita-

tado e o corpo permanecer no túmulo ; Jesus poderia não ter

ressuscitado e o túmulo estar vazio ( corpo roubado ! ) . Mas os

dois fatos combinam bem e são afirmados pelos evangelistas. R e f l e t i n d o . . .

1. A Vigília Pascal é uma noite densa, pois tudo é refeito em Jesus Cristo se-

gundo a gratuidade do amor de Deus , que supõe a aventura da fé em apostar na ressurreição como meta e plenitude da felicidade e alegria humanas . 2. Celebração do evento que constitui e fundamenta a comunidade . A Vigília Pascal é o momento no qual a comunidade se reúne na "intimidade da celebração" para "celebrar" o evento que a constitui e a fundamenta - a

ressurreição do Senhor. Como afirma S. Paulo , se Cristo não ressuscitou é vã a nossa fé (1 Cor 15,14.17) . 3. A Vigília Pascal tem uma dimensão profética , de sinal para o mundo , com uma dimensão cósmica. Um antigo sermão pascal assim proclamava : ó solenidade nova e universal , assembleia de toda a criação , alegria e honra do universo ! Por ela , a Igreja faz chegar a Deus o louvor de todas as criaturas e de todas as nações . 4. A Vigília Pascal é a reafirmação comunitária da fé na ressurreição . É a

celebração da vitória da vida sobre a morte . Depois de um dia de silêncio e meditação sobre a paixão e morte de Jesus , a comunidade cristã exulta

de alegria pela Páscoa da Ressurreição do Senhor . 5. A Vigília Pascal baseia-se numa antiga tradição israelita , conforme se lê no livro do Êxodo : “esta noite, durante a qual Javé velou para fazer seu povo sair do Egito , deve ser para todos os israelitas uma vigília para Javé , em todas as suas gerações” (Ex 12,42) . 6. O sentido cristão da vigília . No evangelho, encontramos o sentido cristão

da vigília : “tende os rins cingidos e as lâmpadas acesas . Sede semelhan-

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tes a pessoas que esperam seu Senhor voltar das núpcias , a fim de lhe abrir a porta , logo que ele vier e bater” (Lc 12, 35-36) . 7. É o acontecimento central da nossa fé . A liturgia da Palavra , bem como

a simbologia desta celebração , recorda a ação criadora e libertadora de Deus na

história humana , culminando com a RESSURREIÇÃO DE JESUS . – É o acontecimento central da nossa fé. – Quem vive alicerçado na certeza da Ressurreição é NOVA CRIATURA . É o que Paulo frisa e repete logo em seguida com toda veemên- cia : “ Se Cristo não ressuscitou , vã e ilusória é a vossa fé , e

ainda viveis nos vossos pecados” (1 Cor 15, 14.17) . 8. Criação e libertação são duas notas características do agir de Deus : - gratuitamente ele criou todas as coisas ; - e gratuitamente fez-nos à sua imagem e semelhança e nos deu a missão de administrar os bens com justiça e fraternidade . 9. A ressurreição de Jesus é a Boa-Notícia que transforma o mundo . A morte foi vencida definitivamente . Como as mulheres na madrugada do domingo, precisamos ir ao encontro do CRISTO VIVO , RESSUSCITADO e não do Cristo morto. É PRECISO ACREDITAR , - sem duvidar,- que Jesus ressuscitou e vive em nosso meio. 10. Discípulos – testemunhas missionários . É preciso assumirmos a missão de dis-

cípulos missionários anunciando e testemunhando a fé e o amor a come- çar de nossa casa : ide e dizei aos meus irmãos …

Como batizados crucificamos o egoísmo na cruz de Jesus para vivermos como novas criaturas promovendo relações de diálogo, de reconciliação, de justiça, de paz e de fraternidade . 11. Os SÍMBOLOS da celebração da Vigília Pascal evocam a vitória do bem sobre o mal, da vida sobre a morte. Queremos viver com a veste resplan- decente de Cristo Ressuscitado , purificados pela água batismal , no fogo do seu amor e na luz de suas palavras. Seguindo a Jesus , anunciamos

a aurora de um mundo NOVO. 12. JESUS RESSUSCITOU ! A VIDA NÃO É MAIS A MESMA ! Este acontecimento extraor- dinário e magnífico da bondade do Pai , mudou a vida de Maria Mada- lena, da outra Maria, de Pedro, de João, dos outros discípulos e de inúmeros cristãos … E a sua vida ? E a minha vida ? E a nossa

vida nesse 2018 ? Em que mudou ? Em que vai mudar ? 13. A fé na ressurreição derruba barreiras! Constrói um mundo novo de novos

valores . 13.1. O encontro de Pedro com o pagão impuro Cornélio corresponde à atitude de pessoas (- como você, como eu… -) que amam a Deus acima dos preconceitos humanos . 13.2. A fé naquele homem judeu – salvador e doador da sua vida – rompe todas as barreiras de raça, religião, superioridade … rompe todas as barreiras : nada mais impede o diálogo, o perdão e a reconciliação, a solidariedade, o abrir as mãos, ou melhor, abrir o coração à vivên- cia do amor fraterno. Basta mergulhar no coração do Cristo, na bondade infinita do Pai , na generosidade infinita do Espírito. 13.3. Mergulhados em Deus, somos “transparecidos - transformados - trans-

figurados” em HOMENS NOVOS e MULHERES NOVAS capazes de viven- ciar o projeto do Pai para todas as suas criaturas: um jardim aqui na terra e uma “morada” definitiva no céu !

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14. Os quatro momentos da Vigília interferem e interpelam nossa vida cristã. Prestando atenção ( com o coração ) aos quatro grandes momentos desta grande Vigília Pascal , - com seus símbolos, - compreenderemos seu signifi- cado para a nossa vida , e então seremos capazes de levar para o nosso cotidiano a força e a alegria do Ressuscitado, da Páscoa que hoje celebramos.

14.1. A liturgia da luz, com o fogo, o Círio Pascal e nossas velas nele acesas nos dizem que, pelo batismo, ressuscitamos com Cristo, passamos das trevas à luz, vencemos o pecado e a morte, somos novas criaturas. Portanto : testemunhar isso na nossa vida , quer dizer viver como ressus- citados , filhos da luz , filhos do dia , iluminados por Cristo na esperança do encontro definitivo na eternidade .

14.2. As leituras bíblicas da liturgia da Palavra nos remetem ao projeto sal- vífico de Deus na história da (nossa) humanidade, culminando no úl- timo e definitivo evento da salvação que é a RESSURREIÇÃO DE CRISTO. Portanto : acolher a semente da Palavra de Deus no coração e testemunhá-la na fidelidade de uma vida nova, comprometida com o Ressuscitado.

14.3. A liturgia batismal, - com a água aspergida sobre nós, - a renúncia ao mal, a profissão de fé e a ladainha dos santos nos recordam que fomos sepultados na morte - com Cristo - e com ele renascemos para a VIDA NOVA (- pelo batismo -) .

Portanto : formamos a comunidade do Ressuscitado, o novo povo de Deus para viver a fraternidade, a solidariedade, o amor e o serviço, como cidadãos do céu (sem esquecer que somos também cidadãos desta terra).

14.4. A liturgia eucarística, - com o Memorial da Última Ceia, - na qual Cristo antecipa e celebra , - no pão e no vinho entregues e partilhados , - a sua morte e ressurreição, a sua PÁSCOA . Portanto: fomos chamados, pelo batismo, a também nos doarmos, - como outros

CRISTOS, - em favor da salvação de todos e do mundo. Para isso, mister se faz transformarmo-nos cada vez mais naquele que comungamos para vivermos a partilha e o amor fraterno do cha- mado a participar da mesma mesa (- a da Eucarística e a da vida -) até que Cristo venha e seja tudo em todos na plena Ressurreição . 15. MUNDO NOVO ... mundo de partilha ... mundo de fraternidade... mundo de justiça e paz para todos . Este é o mundo que brota da ressurreição e do projeto do Pai trazido por Jesus Cristo . Mundo criado e recriado por

Deus ... mundo renovado na cruz e na ressurreição .

15.1. Então , ... toda forma de ganância e de concentração de bens é uma

afronta à bondade e à generosidade divinas . Caracteriza-se como roubo do que é dom de Deus para a vida de todos os povos . 15.2. O futuro da humanidade está ameaçado por causa do nosso egoísmo ,

do nosso consumo desmesurado dos bens e recursos colocados ao nosso dispor. PORÉM , não há situação que não possa ser transformada . Deus nos pos- sibilita um coração novo , um coração restaurado pela ressurreição : liberta-nos do egoísmo e da ganância e indica-nos caminhos de vida em abundância . QUE A PÁSCOA (- PASSAGEM -) DE 2018 NOS ABRA O

CORAÇÃO PARA ESTE MUNDO NOVO DO CRISTO RESSUSCITADO !!! Fontes: Bíbllia de Jerusalém, Bíblia do Peregrino, Dicionário Bíblico (Mckenzie), Novo Coment. Bíblico S.Jerônimo AT-NT, Dicionário de Liturgia, Vida Pastoral, LITURGIA DOMINICAL (Konings), ROTEIROS HOMILETICOS (Bortolini).

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REFLEXÃO BÍBLICA – DOMINGO DA PÁSCOA – Ano B – 01.04.2018

Evangelho: Jo 20, 1 – 9

1. Só o amor gera a fé. O texto é uma catequese sobre a ressurreição de Jesus

e quer responder às perguntas : - Com quais disposições deve o cristão encarar o "túmulo vazio" do domingo da Páscoa ?

- Serão necessários ainda mais “sinais” para suscitar a fé em Jesus ?

2. De fato, o texto cita sete vezes a palavra “túmulo”. É uma insistência martelante

que provoca uma tomada de posição. Este é o grande sinal e o maior desafio.

3. Para quem lê, com atenção, todo o evangelho de João, não há como não recordar

10, 17-18: “por isso, o Pai me ama, porque dou a vida, para recuperá-la depois.

Ninguém tira a minha vida, eu a dou livremente, pois tenho o poder de

entregá-la e retomá-la”. SÓ O AMOR PODE DAR e RETOMAR A VIDA .

4. O discípulo amado compreende isso, Pedro não. O texto é emoldurado pelo

desconhecimento ( “não sabemos”, do v .2 e não tinham compreendido”, do v.8) e pode ser

lido em três pequenas cenas: a.- Maria Madalena junto ao túmulo e com os discípulos - vv. 1-2

b.- Os dois discípulos junto ao túmulo - vv. 3-4

c.- Explicação para a incredulidade - v. 9

a. - Maria Madalena junto ao túmulo e com os discípulos - vv. 1-2

5. DOMINGO = O PRIMEIRO DIA DA SEMANA. A cena começa com a indicação “no

primeiro dia da semana”. Quer assim recordar-nos que nesse primeiro dia da

semana (= domingo) , iniciou-se a nova criação nascida da morte e ressurreição de

Jesus . (- DOMINGO = dies dominicus = dia do Kyrios, dia do Senhor vitorioso = dia memorial

da ressurreição -). Dia memorial da Ressurreição !

6. “Túmulo” é o “lugar do fracasso”. Maria Madalena (-aqui como figura simbólica-)

representa a comunidade sem perspectiva de fé, incapaz de assimilar a mor-

te de Jesus . Ela é figura de todos os que pensam que o “túmulo” seja o

“lugar do fracasso” do projeto de Deus .

7. Nós . Bem significativo é o versículo 2 quando Madalena fala no plural : “nós

não sabemos” = ela representa um todo, a comunidade. ( ... Quem será este nós ? ) .

8. MADRUGADA . Já é de MADRUGADA ( – nasceu o NOVO DIA – ) , mas para ela (- e para "nós"-) ainda são trevas.

8.1. As trevas representam o mundo, a negação da vida que não aderiu a Jesus.

- 1,5 : e a luz brilha nas trevas, mas as trevas não a apreenderam ;

- 3,19: a luz veio ao mundo, mas os homens preferiram as trevas à luz ;

- 6,17: e, subindo num barco os discípulos dirigiram-se a Cafarnaum … já

estava escuro e Jesus ainda não viera encontrá-los ;

- 12,35: caminhai enquanto tendes luz , para que as trevas não vos apreen-

dam : quem caminha nas trevas não sabe para onde vai !

8.2. O gesto de Maria - indo ao túmulo - sintetiza as buscas da comunidade

cristã, - ansiosa de vida e de amor, - mas que, às vezes, procura em lugar

errado ( procura no túmulo ! .

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8.3. Diante da pedra rolada do túmulo, ela pensa em roubo de cadáver : (“rou-

baram o meu Senhor!”) . Para ela, a morte havia interrompido a vida, para

sempre . Por isso , ela diz aos discípulos : “tiraram o Senhor do túmulo

e não sabemos onde o colocaram” (v.2b) .

b. - Os dois discípulos junto ao túmulo - vv. 3-4

10. Também os dois discípulos representam a comunidade que ainda não assimilou

a morte de Jesus . O evangelista dá a entender que a comunidade tinha

se dispersado (cf. 16,32: “eis que chega a hora em que vos dispersareis cada um para o

seu lado e me deixareis sozinho”). Por isso, Maria Madalena encontra só os dois.

A intenção de João é bem clara : a comunidade não subsiste sem a vivên-

cia da fé em Cristo Ressuscitado .

11. Os dois discípulos (Pedro e João) saem correndo. Quem corre mais? Quem chega

primeiro? Certamente não é quem tem melhores condições físicas, e, sim, quem

ama mais. O amor se antecipa. De fato, “o outro discípulo” não traz nome,

mas um apelido “aquele que Jesus amava” (v.2). Foi o discípulo que estivera

perto de Jesus durante o julgamento e da morte. Mas isso não é tudo!

12. Chega antes e “inclinando-se, ele viu os panos de linho no chão, mas não

entrou” (v.5) . Ele percebe que há sinais de vida , mas não compreende

plenamente o que aconteceu . Para João os panos de linho (e os perfumes)

são uma tênue referência à cama nupcial : para os dois discípulos o túmulo

não é o lugar da morte , mas o lugar do encontro do Senhor da Vida

com sua esposa, a comunidade .

13. Chega Simão Pedro. O fato de deixar que Pedro entre antes no túmulo

é um gesto de reconciliação e de amor, gesto que repete o de Jesus.

O discípulo amado não se considera superior a Pedro pelo fato de ter es-

tado perto de Jesus nas horas de abandono e disposto a morrer com ele.

14. Pedro entrou no túmulo, “viu os panos de linho no chão, e o sudário, que

tinha estado sobre a cabeça de Jesus , não estava com os panos de linho

estendidos , mas estava dobrado num lugar à parte” (vv. 6b-7) . A descrição

quer revelar que não houve violação do túmulo nem roubo de cadáver, pois

os ladrões não teriam se preocupado em dobrar o sudário .

15. ACONTECEU ALGO DE INAUDITO que só “o discípulo que ama” é capaz de

descobrir e tornar objeto de sua fé (v.8) : Jesus não continuava preso nas ma-

lhas da morte . Ele estava vivo ! Note-se que os dois discípulos veem

as mesmas coisas, mas só quem ama chega à descoberta verdadeira . POR

QUE ??? Porque o amor é mais forte que a morte !

c. - Explicação para a incredulidade - v. 9

16. Pedro e Madalena são figuras da comunidade que ainda não fez o salto de

qualidade para passar da dúvida à fé . O evangelista , ao dizer , “ainda

não tinham compreendido que, - conforme a Escritura, - ele devia ressuscitar

dos mortos”, não cita nenhum texto. Quer relevar que os discípulos não se

achavam preparados para a revelação pascal, apesar das Escrituras. A Es-

critura poderia abrir os olhos, se fosse entendida .

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17. A QUE TEXTO SE REFERE ?

Provavelmente a vários textos numa linha de pensamento ou esperança :

- Is 53,11: “após o trabalho fatigante da sua alma, ele verá a luz e se fartará.

Pelo seu conhecimento, o justo, meu Servo, justificará a muitos e

levará sobre si as suas transgressões”;

- Sl 16,9-11: “por isso meu coração se alegra, minhas entranhas exultam e minha

carne repousa em segurança; pois não abandonarás minha vida no Xeol,

nem deixarás que teu fiel veja a cova. Ensinar-me-ás o caminho da

vida, cheio de alegrias em tua presença e delicias à tua direita,

perpetuamente”; - Sl 30, l-4: “eu te exalto, Javé, porque me livraste, não deixaste meus inimigos ri-

rem de mim. Javé, meu Deus, eu gritei a ti e me curaste. Javé, ti-

raste minha vida do Xeol, tu me reavivaste dentre os que baixam à cova”;

- Sl 49,16: “mas Deus resgatará minha vida das garras do Xeol e me tomará”;

- Sl 73,23-24: "quanto a mim, estou sempre contigo, tu me agarraste pela mão direita;

tu me conduzes com teu conselho e com tua glória me atrairás”;

- Is 26,19: os teus mortos tornarão a viver, os teus cadáveres ressurgirão. Des-

pertai e cantai, vós que habitais o pó, porque o teu orvalho será um

orvalho luminoso e a terra dará à luz sombras”;

- Ez 37: “os ossos ressequidos … porei meu espírito dentro de vós e havereis de reviver”.

1ª. Leitura: At 10, 34a . 37-43

18. No plano de Lucas, os Atos dos Apóstolos são a continuação do seu evangelho.

Neste, ele relatou o caminho de Jesus; nos Atos apresenta o caminho da Igreja

que tenta reproduzir as palavras e as ações do Cristo. A caminhada da

Igreja é, portanto, o prolongamento da prática do Filho de Deus (- compare o

trecho de hoje com Lc 7, 1-10: a cura do servo do centurião romano ... “eu vos digo que

nem mesmo em Israel encontrei tamanha fé” -).

19. Ao encontro dos pagãos . Em Atos 10 temos uma situação nova para a

Igreja : a do contato com os gentios. O contato com os pagãos era proibido

pela legislação judaica . Quem convivesse com eles tornava-se impuro .

20. Testemunhas até os confins do mundo . No plano de Lucas este capítulo 10

é muito importante. Em At 1,8 Jesus disse que, - sob a ação do Espírito

Santo, - os discípulos seriam suas testemunhas em Jerusalém (caps.1-7) , na Judeia

e Samaria ( caps. 8-12) até os confins do mundo (caps. 13-28) .

21. Conversões ... Em um contexto mais próximo, temos o seguinte : Atos 10

(- conversão de Cornélio ou de Pedro ? -) está ligado a outras “conversões” : um

africano , – o eunuco etíope – e Saulo , o perseguidor (caps. 8-9) .

22. Simão Pedro é o primeiro a romper o esquema excludente de “puro e impuro”,

salientando o modo de ser Igreja . De fato, ele está hospedado em casa de

um curtidor de peles de nome Simão (- pura coincidência de nomes, ou sinal de iden-

tificação com os marginalizados ? ) . Os curtidores de peles eram tidos como

pessoas impuras pelos judeus. Devia-se evitar o contato com essas pessoas.

23. Além do território judaico . Cornélio, militar romano, um pagão, vivia em

Cesaréia , nos confins do território judaico . Ele manda chamar Simão Pedro

para que vá à sua casa. Pedro, portanto, leva a comunidade cristã para

fora do território judaico . No discurso na casa de Cornélio, temos alguns

pontos muito importantes.

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24. Pontos importantes no discurso de Pedro . Salientamos :

24.1. Deus não faz distinção de pessoas. O novo povo de Deus não está ligado

a uma raça ou nação. O critério de pertença ao povo de Deus é temê-

lo e praticar a justiça (v.34). Isso encontra seu fundamento em Jesus de

Nazaré, a quem Deus ungiu com o Espírito Santo e com poder. A ação de

Jesus é sintetizada nas seguintes palavras : “ele andou por toda parte, fazen-

do o bem e curando todos os que estavam dominados pelo demônio” (v.38) . 24.2. A função da comunidade cristã é ser testemunha : anunciar e praticar o

que Jesus fez (- note-se que a palavra testemunhar aparece quatro vezes - vv. 39.40.42.43).

A função da comunidade cristã tem seu fundamento no mandato de Jesus (cf. Mt 28,19-20; Mc 16,15 ; Lc 24,47-48).

24.3. O conteúdo do testemunho cristão é o anúncio de que Jesus é o juiz dos

vivos e dos mortos, ou seja, ele é o critério para sabermos se uma

ação (- ação - como a de Pedro -) vem de Deus ou não (v.42b) .

24.4. Cumpre-se assim o que foi anunciado pelos profetas , isto é , Jesus é a

realização cabal do projeto de Deus. Quem adere a ele - pela fé - re-

cebe o perdão dos pecados e passa a fazer parte do seu povo (v. 43).

2ª. Leitura: Cl 3, 1-4

25. Jesus é o único Mediador e Intercessor junto ao Pai . Paulo escreve aos

cristãos de Colossas provavelmente quando estava preso em Éfeso (anos 55-56)

para corrigir teorias que admitiam uma série de seres celestes, - intermediários

diários entre Deus e os homens . Esses seres celestes comandavam o ritmo

do universo: comprometem assim a supremacia de Cristo . Jesus é o único

Mediador e Intercessor junto ao Pai .

26. A carta aos Colossenses tem duas partes :

- 1ª. parte : endereço, ação de graças e súplica (1,1-14) e fundamentos da fé cristã

em que Paulo combate os erros da comunidade (1,15-2,23).

- 2ª. parte : de caráter prático e exortativo, o apóstolo move os cristãos a serem

coerentes com o nome que trazem (3,1-4,1), seguida de notas pes-

soais e saudações finais (4,2-18).

27. O cristão, - pelo batismo, - condivide a sorte de Cristo morto e ressuscitado (2,12) .

Cristo ressuscitado está à direita de Deus , ou seja , é o Senhor universal (cf. Sl 110) . O cristão já participa desta vida nova de Cristo, mas não ainda

plenamente, porque está neste mundo .

28. A tarefa do cristão é pensar e procurar as coisas do alto. EM OUTRAS PALAVRAS :

trata-se de discernir o que é conforme ou não ao projeto de Deus, ao qual

o cristão está associado pelo batismo. Paulo contrapõe as coisas do alto

às coisas da terra para alertar o cristão do perigo que pode correr, levando

uma vida ambígua que não manifeste o Cristo ressuscitado . O cristão já

participa da vida de Cristo, mas o que ele deve fazer concretamente ainda

não é claro e exige discernimento constante , até que Cristo se manifeste

definitivamente levando as pessoas à plena comunhão com Ele.

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R e f l e t i n d o . . .

1. Hoje a frase central é : "Deus o ressuscitou !" A 1ª. leitura resume o anún- cio dos apóstolos. “CRISTO RESSUSCITOU !” É a base, o cerne de nossa fé e

esperança : Jesus vive e Deus o estabeleceu juiz dos vivos e dos mortos. Juiz e também Salvador : quem nele crê é absolvido e recebe a vida . 2. O evangelho nos vivencia o relato da fé pascal na ressurreição . Como nós , Maria Madalena vai ao sepulcro com perfumes e ainda bem de madrugada – nas trevas (- exteriores e interiores também -) . Ela vai ao TÚMULO e não ao ENCONTRO do Senhor vivo . Ela busca o Jesus morto, o Jesus da saudade . Vai com perfumes prestar homenagem. Não

consegue imaginar "o inimaginável da Ressurreição". 3. Tiraram o Senhor do túmulo ... Quando ela chega perto, vê que o túmulo tinha sido “arrombado”. Volta correndo ... e diz a Pedro e ao discípulo amado : “tiraram o Senhor do túmulo e não sabemos onde o colocaram .

Também eles estão nas trevas e correm para o túmulo . Aí acontece o desabrochar da fé . 4. “Ele viu e acreditou !” É interessante notar o processo lento para chegar à fé no Jesus Vivo . João chega e olha ... e não entra . Pedro chega, entra e olha. Depois entra João , vê os panos de linho dobrados : então, “ele viu e acreditou”. 5. O testemunho pascal inclui dois elementos : o sepulcro vazio e as aparições

do Ressuscitado.

5.1. O sepulcro vazio é um sinal negativo = não há ninguém ali . Só tem al- gum significado para quem tem o coração junto do Senhor ( = o discípulo

amigo ) . 5.2. Outro sinal são as aparições: também só tem sentido para quem acredi- ta . O Senhor Jesus se revela “ressuscitado”, com vida nova, como pro- metera . É a grande revelação e o grande encontro : três dias depois

… a RESSURREIÇÃO . 6. A Ressurreição revela o cumprimento da sua missão. - Revela a finalização da sua promessa de instaurar o Reino da Vida . - Revela sua fidelidade : ele é fiel, prometeu e cumpriu . - Revela também o encontro com a pessoa do Mestre . Jesus não veio ensinar uma doutrina . Veio trazer a Vida do Pai . Veio fazer-nos participar da vida divina . Participar da vida da Trindade, fazer-nos filhos do Pai . - E é esse o grande encontro (- pessoa com Pessoa -) que garante nossa vida para sempre . Jesus veio, trouxe a Vida, deu-nos a sua Vida, retomou a Vida e levou-nos com vida para a Vida eterna e definitiva no seio da Trindade.

7. “Vós sabeis o que aconteceu em toda a Judéia . Deus estava com Ele … eles o mataram pregando-o numa cruz … mas Deus o ressuscitou !" 7.1. O discurso de Pedro, - partindo da constatação dos fatos e feitos do Senhor Jesus - não se detém na percepção da AUSÊNCIA de Jesus decor-

rente de sua morte, mas em alto e bom som anuncia a RESSURREIÇÃO. 7.2. Mais do que confiado na percepção de seus sentidos (- o túmulo vazio -) ele o faz conforme o testemunho das Escrituras .

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8. Ao desentranhar da morte a RESSURREIÇÃO DE SEU SENHOR – cume e síntese da

obra de Deus em Jesus – Pedro responsabiliza a si mesmo e a Igreja no trabalho de comunicar ao povo esta boa notícia da salvação. Enlaça, assim, na ressurreição de Jesus, o Pai, o mesmo Jesus e a Igreja (- a comunidade

dos discípulos e discípulas -) . Nas palavras do salmista a Igreja se vê ressuscitada da: “A mão direita do Senhor me levantou … para cantar as grandes obras do Senhor”. 9. O anúncio da Páscoa se dá desde o interior da morte (do túmulo). Deve doer no peito dos cristãos a ausência do seu Senhor, a crueza da sua morte, o escândalo da sua cruz . Mas ... tudo isso é sinal da hora de Jesus, da sua missão. A ressurreição não é a negação da morte, mas seu desabrochamento,

seu amadurecimento, seu sentido, sua verdade . Consequentemente, só há ressurreição porque há morte, e só há presença do Mestre por- que houve ausência . 10. A Páscoa só pode ser confessada à medida que é celebrada . Isso porque dando graças é que se tornam presentes e patentes aos nossos olhos as maravilhas operadas por Deus (Sl 118). É no interior da relação amorosa com aquele que falava por meio de Je- sus, o Cristo – isto é, “o ungido por Deus com o Espírito Santo” – que se esclarece a nossa fé e se abrem os nossos olhos (Lc 24,31). 11. A estreita e indissolúvel relação entre morte e ressurreição , ausência e pre- sença só pode ser compreendida e assimilada na escuta orante e fiel da Palavra de Deus. Isto sobretudo porque foi esta mesma Palavra que res- soou no corpo de Jesus de Nazaré e o animou , pela qual ele foi mor- to e pela qual foi ressuscitado por seu Pai dentre os mortos. Em Cristo,

a Palavra de Deus coincide com sua própria vida. 12. E na Páscoa do Senhor ecoa - profusa e luminosamente - na Igreja o grande

anúncio : Ele ressuscitou ! Se os discípulos daquele tempo “ainda não tinham compreendido as Escrituras”, nós, - discípulos de hoje, - abrimos olhos, ouvidos, mente e coração para acolher mais que a mensagem, o pró-

prio Senhor Jesus Ressuscitado. Somos hoje comunidade de fé que passou da ausência à presença, do túmulo vazio ao encontro com o RES-

SUSCITADO, da morte para a Vida. 13. Celebremos a Páscoa na sinceridade e na verdade, isto é, na transformação

e mudança do coração e da vida . Por isso, rezamos : guardai, ó Deus, a vossa Igreja sob a vossa constante proteção para que, renovados pelos sacramentos pascais, cheguemos à luz da ressurreição . 14. A liturgia, - como sacramento pascal, - faz-nos participantes da morte-ressurreição de Cristo. E, como tal, faz-nos homens novos e mulheres novas (= ressus-

citados para a vida da graça ) . Experiência esta que se dá no seio da comunidade ao escutar a Palavra de Deus e participar do pão e vinho eucaristizados (- ou seja, sobre os quais foi feita a ação de graças -). 15. Enxergar para além da morte . Então, nossos olhos se abrem e nossos sentidos, - movidos pela fé, - enxergam para além da morte a VIDA ; para

além da ausência a PRESENÇA . Isso porque Cristo ressuscitou e nós com Ele. - Somos cristãos para que da morte venha a Vida , para que das trevas venha a Luz , para que da ausência se propague a presença perene do Senhor Ressuscitado, Luz radiante em nós.

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16. E a morte - ressurreição de Cristo provoca em nós uma nova existência . - E esse novo modo de pensar, sentir, agir, viver se torna em si o anúncio da vida nova do Ressuscitado . - Um mundo transfigurado e transformado é o resultado da ação de Deus em Cristo e de Cristo em nós . - E os cristãos assumem o compromisso de levar vida nova e fecundante de "novidade" à pessoas humanas desfiguradas, a relações interpessoais desgastadas , a um meio ambiente fadado à morte pelo consumo , pela ganância e pelo egoísmo ( = a Casa Comum de todos nós -) . 17. Páscoa 2018 – Jesus de Nazaré – Reino de Deus – Fraternidade – Criação – Planeta Terra - A Páscoa nos deve levar a um compromisso com vida nova e abundante

para todos os irmãos de Jesus. - Deve mover-nos a um compromisso de transformação na nossa relação com a vida: a nossa vida, a vida das pessoas e a vida em todas as suas modalidades, também com a natureza, com o meio ambiente . - Deve incomodar-nos nossas atitudes e ações gananciosas, predatórias, agressivas e devastadoras do meio ambiente , desalentadoras para as gerações de amanhã . - RESSURREIÇÃO – PÁSCOA – VIDA NOVA nos convidam a tomar essas atitudes . 18. Levar a Páscoa para a natureza . - Nossa Páscoa deve atingir o nosso derredor. Deve levar-nos a um compromisso de fazer acontecer VIDA NOVA também para a natureza da qual fazemos parte e dentro da qual vivemos hoje neste ano . - Menos violência não só com as pessoas, mas também com a "Casa Comum " onde vivem as pessoas , - o planeta Terra , - do qual e no qual somos hóspedes . - O planeta, a natureza, o meio ambiente, a vida … nada nos pertence. Pertence à humanidade de hoje e de amanhã . - A nós, - que desfrutamos hoje dessa vida, dessa natureza, - compete preservá-la para que as gerações futuras (- também elas filhas do mesmo Deus

e Pai -) possam também dela desfrutar como nós . - A vida e a natureza são sempre DOM E DÁDIVA do Criador para todos : - os de ontem, os de hoje e os de amanhã ! 19. PARA CRERDES QUE JESUS É O CRISTO, O FILHO DE DEUS ... E TENHAIS A VIDA ! Não podemos deixar de finalizar com a primeira conclusão do evangelho de João: “Jesus fez, diante de seus discípulos, muitos outros sinais ainda, que não se acham escritos neste livro. Esses , porém , foram escritos para crerdes que JESUS É O CRISTO , O FILHO DE DEUS , e para que , - crendo , - tenhais a VIDA em seu nome”. (Jo 20,30-31).

Fontes: Bíbllia de Jerusalém, Bíblia do Peregrino, Dicionário Bíblico (Mckenzie), Novo Coment.Bíblico S.Jerônimo AT-NT,

Dicionário de Liturgia, Vida Pastoral, LITURGIA DOMINICAL (Konings), ROTEIROS HOMILETICOS (Bortolini).