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RELATO DE UMA EXPE RIÊNCIA UTILIZANDO-SE A C LARA DE OVO NA DERMATITE AMONI ACAL NO CENTRO DE CONVIVÊ NCIA INFANT IL DO INSTITUTO "DANTE PAZZANESE " DE CAR DIOLOGIA. Lindva de J esus da Silva * Ana Mia de Mello Mesquita Confalonieri * * Fabiane Sos d e Amorim *** RESUMO - As autor as deste trabalho se propõem mostrar a atuação de clara de ovo nas dermatit es amoniacais, em crianças que freqüentam o Cen- tro de Convivência I nfantil do I nstituto "Dante Pazzanese " de Cardiol ogia, avali ando a eficác ia de su a util ização. Para iss o, apresentam 35 casos de as- sadura ocor ridos no pe ríodo de janeiro a junho de 1 988, com resultad os sa- tisfatórios. ABST RACT - The aut hors of this pape r aim at showing the actio n of the , egg white on amni acal skin irr itat ion o n childre n frequenting the Day Nu rsery of "Dante Pazzanese" Cardiology I nstitute, evaluating the efficiency o f its use p u rpose, 35 cases of roasting betwee n January and June 1 9X are presented, wi th satisfatory results. 1 INTRODUÇÃ O "ul, oen e cꝏen a implan- o de s e seiços de pteção à made e à infância, avaliá-los e aפei- çoá-los são abuiçs da Cꝏrdenação de - teção Mao Infant, órgão integrado do Mi- , niso da Saúde, que substitue o ango Dep- nto Nacional da Criça8 ". \ Motivado פlo Ano Inteacional da Crian- ça, (1979) , o Goveo, aavés do decreto de núro 15.812, datada de 08 de outubro de 1980, cria e organiza os Cens de Convivên- cia Inftil (CCI) em unidades da Secta de Saúde, inicialnte com a planção de seis (&). Ess cens são destinados a d as- sisncia à cças, lhos de funcionos e s�idos públicos estaduais, ficando a cgo do Fundo Sial de Solidariedade do Estado de São Paulo (FUSSESP) deten as direizes e bases pa o ncionento dos mesmos. O CCI do Instituto "Dante Pazzanese" de cdiologia () iniciou suas atividades em feveiro de 198 1 , com capacidade para atender 47 criças de ambos os sexos, na faixa eta de O a 48 ses, onde é dispensado atendimen- to integral à cça, num פodo diio de no- ve hos, equivalente a joada de abalho de seus pais. Considerando que os CCls visam atener crianças sem agravos de saúde, os sponsáveI s por essa assistência conon-se diante com פquenos problemas erentes à criança sadia, estando ene os de maior fqüência a Deatite Amoniacal (assadura). AUGUSTO' define deatite amoniacal , tamm conhecida como assadura de das ou deati de contato, como uma tação cutâ- nea da região פneal cactezada p/manchas avelhadas escosas , decontes da for- mação de ônia פla ação bacteana sobre a uia. Enetanto MARCONDES7 fe que a ação iitiva não provêm dos produtos amo- niacais decoens da decomposição da uia na, que se demonsou sem os nívei s locs de ônia idênticos em cças com ou sem deatite, e não são suficientes pa i a פle. Pa esse autor a deatite oniacal caracteriza-se por eritema e descamação disc- ta nas suפícies convexas das nádegas, escro- to, gião superior da coxa, região hipogásca, poupando as dobras nos graus mínimos. Pode evoluir para o surgimento de vesículas, fissuras, esões e secções (eczematização), que se tomam eladas com crostas melicéricas (in- fecção piogênica secunda). As cstas são cremosas na assiação com Monilíase secundá- a. As erosões podem se toar elevadas com C h e f e do Seiço d e Enfeagem do C eno de Convivência Infantil do Instituto " D ante pazzanese· ·. Esפcializada e m En- fegem Médico Cirúrgica e Adminisção Hospilar •• Enfemeira do Setor de Pediaia e do Ceno de Convivêia Infantil. Esפcializada em Administração Hospitalar . . . Enfeeira - Esפcialida em Cdiologia - Pediaia e Puericultura ' 136 R. B. Ee., Bsnia, , (53): 1 36 - 1 (, abæt. 1c1 ,

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R E LATO D E U MA EXPERIÊ NCIA UTILIZANDO-SE A C LARA D E OVO NA D E R MATITE AMO NIACA L N O CE NTRO DE

CONVIVÊNCIA INFANTI L D O I NSTITUTO "DA NTE PAZZAN ESE" D E CARDIO LOGIA.

Lindalva de Jesus da Silva * Ana Maria de Mello Mesquita Confalonieri * * Fabiane Soares de Amorim * * *

RESUMO - A s a utoras deste t r a ba l h o s e p ropõem mostra r a atuação de c l a ra d e ovo nas de rmatites amo n iacais , em cr ia nças q u e freq ü e ntam o Cen­t ro d e Convivência I nfa nt i l do I n sti tuto " D a nte Pazza nese" de C a rd i o l o g i a , ava l i a ndo a efi cá c ia d e s u a ut i l ização. P a ra i sso, a p resentam 35 casos de a s­sadu ra oco r r i dos no pe ríodo de j a n ei ro a j u n ho de 1 988, com resu ltados sa­t i sfató r i os.

ABSTRACT - T h e a u t h o rs of th is paper a im at showi ng t h e a cti o n of the , eg g white o n a mmo n iaca l s k i n i r r i tat i o n o n ch i l d re n freq u e n t i n g the Day

N u rse ry of "Da nte Pazzan ese" C a rd i o l ogy I n st itute, eva l u a t i n g the effi c iency of its u se pu rpose, 35 cases of roast i n g betwe e n J a n u a ry a n d J u n e 1 988 a re p rese nted , with sati sfato ry res u l ts .

1 I NTROD U ÇÃO

"Estimular, orientar e coordenar a implan­tação de programas e serviços de proteção à maternidade e à infância, avaliá-los e aperfei­çoá-los são atribuições da Coordenação de Pr0-teção Materno Infantil, órgão integrado do Mi­

, nistério da Saúde, que substitue o antigo Depar­tamento Nacional da Criança8".

\ Motivado pelo Ano Internacional da Crian­ça, ( 1979), o Governo, através do decreto de número 15 .812, datada de 08 de outubro de 1980, cria e organiza os Centros de Convivên­cia Infantil (CCI) em unidades da Secretaria de Saúde, inicialmente com a implantação de seis (06). Esses centros são destinados a dar as­sistência à crianças, f"llhos de funcionários e s�rvidores públicos estaduais, ficando a cargo do Fundo Social de Solidariedade do Estado de São Paulo (FUSSESP) determinar as diretrizes e bases para o funcionamento dos mesmos.

O CCI do Instituto "Dante Pazzanese" de cardiologia (IDPC) iniciou suas atividades em fevereiro de 198 1 , com capacidade para atender 47 crianças de ambos os sexos, na faixa etária de O a 48 meses, onde é dispensado atendimen­to integral à criança, num período diário de no­ve horas, equivalente a jornada de trabalho de seus pais.

Considerando que os CCls visam aten<;ler

crianças sem agravos de saúde, os responsáveIs por essa assistência confrontam-se diariamente com pequenos problemas inerentes à criança sadia, estando entre os de maior freqüência a Dermatite Amoniacal (assadura) .

AUGUSTO' define dermatite amoniacal, também conhecida como assadura de fraldas ou dermatite de contato, como uma irritação cutâ­nea da região perineal caracterizada p/manchas avermelhadas escamosas, decorrentes da for­mação de amônia pela ação bacteriana sobre a uréia. Entretanto MARCONDES7 refere que a ação irritativa não provêm dos produtos amo­niacais decorrentes da decomposição da uréia urinária, já que se demonstrou serem os níveis locais de amônia idênticos em crianças com ou sem dermatite, e não são suficientes para irritar a pele. Para esse autor a dermatite amoniacal caracteriza-se por eritema e descamação discre­ta nas superfícies convexas das nádegas, escro­to, região superior da coxa, região hipogástrica, poupando as dobras nos graus mínimos. Pode evoluir para o surgimento de vesículas, fissuras, erosões e secreções (eczematização), que se tomam amareladas com crostas melicéricas (in­fecção piogênica secundária). As crostas são cremosas na associação com Monilíase secundá­ria. As erosões podem se tornar elevadas com

• Chefe do Serviço de Enfermagem do Centro de Convivência Infantil do Instituto "Dante pazzanese··. Especializada em En­fermagem Médico Cirúrgica e Administração Hospitalar

•• Enfemeira do Setor de Pediatria e do Centro de Convivência Infantil. Especializada em Administração Hospitalar ... Enfermeira - Especializada em Cardiologia - Pediatria e Puericultura

'136 R. Bras. Enferm., Brasnia, 44 (213): 1 36-140, abrillaet. 1 99 1 ,

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pápulas e n6dulos inflamat6rios que lembram a sífilis secundária.

Na nossa vivência temos observado que a dermatite amoniacal, no CCI tem sido um pro­blema para as crianças, mães e também para a instituição. Com relação às crianças, eSt3 afecção cutânea produz irritabilidade emocional (inquietação, choro freqüente etc), atuando como porta de entrada para infecções quando há solução de continuidade. A mãe, por sua vez, torna-se mais preocupada com a dificuldade em lidar com esse problema, além do aumento de seu trabalho com as trocas de fraldas mais freqüentes, maior vigilân�i.l na lavagem das mesmas e falta de tempo disponível. LAMA­RE5 ainda enfatiza ser mais um esforço para a mãe, pois a mesma tem que levantar a noite para trocar as fraldas. Para a instituição, há uma maior sobrecarga de trabalho, necessitando uma melhor distribuição dos funcionários, além dos recursos materiais utilizados (maior número de trOcas, água, medicamentos t6picos etc) . Há uma tendência de se deslocar uma funcionária para atender essas necessidades básicas, físicas, afetadas em detrimento das atividades psicope­dag6gicas, interferindo, portanto, no relaciona­mento individual das crianças. Pela experiência, observa-se, também, que para as funcionárias há um desgaste emocional ao presenciar o' so­frimento da criança, com quem sempre desen­volvem uma interação bastante afetiva.

Muitos autores tem abç>rdado alguns cuida­dos em relação a dermatite amoniacal, entre os quais citamos: MURAHOVSCHI", WERNER ' 3 , S AMPAIO ' o , MARCONDES7 , AUGUSTO' , WAECHTER1 2 , LAMARE5 e o MANUAL DO

' HOSPITAL GOLDEN GARDEN·, que enfo-cam, de uma maneira geral, as seguintes condu­tas:

- Deixar a criança sem fraldas o maior tem­po possível, expondo a região perineal ao ar, luz e sol, (podendo manter uma toalha sob a criança enquanto estiver sem fraldas) nos horá­rios em que predomina a ação!ultra violeta.

- Trocar as fraldas • frequentemente, prefe­rindo as de pano e abolindo o uso de -fraldas pintadas.

- Higienizar o períneo' com água morna. Usar sab1:k> suave somente ap6s as evacuações e evitar o uso de produtos à base de hexacIorofe­no (soapex), tricIorocabanilida ou pentacIorofe­nol).

- Quando a criança estiver de fralda, deixá-la- frouxa, permitindo a circulação de ar entre ela e_ a pele. Se for descartável, perfurá-Ia para permitir a entrada do ar, ou abolir seu uso se a criança apresentar alergia ao produto.

. - Não usar calças plásticas por alguns dias, especialmente durante à noite.

- Lavar as fraldas normalmente com água e

sabão e enxaguá-las com solução de alvejante (cândida), ou acidificá-las com vinagre ou limão.

- Deixar a criança em decúbito ventral di­minuíndo o contato da urina com a genitália.

- Evitar o uso de p6s, 6leos, sabões germi­cidas, detergentes e amaciantes para lavagem das fraldas, mercúrio cromo e medicações t6pi­cas inadequadas.

- Evitar a higiene excessiva com fricção exagerada, tão prejudicial quanto a hkiene precária. ' ,

Para o tratamento t6pico da Dermatite Amoniacal, autores como: BRUNNER', LA­MARE" , MARCONDES7 , MURAHOVSCHI· , S AMPAIO ' o , SCHWARTSMANNI 1 , WER­NER 1 3 , citam como condutas mais utilizadas:

- Compressas de permaganato de patássio, nas concentrações de 1 : 10.000 ou 1 :40.000.

- Solução de Burrow, 4 colheres de chá de solução diluída em 200 mI de água.

- Pomada de Lassar. - Preparos à base de cortisona. - Preparo de 6xido de zinco (50g) e 61eo de

oliva ( 1 80 mI). - Violeta de genciana a 1 % em solução

aquosa, se associada à monilíase. - Antibi6tico e fungicidas em pomadas. - Vitamina A e D em pomada (ad-furp),

Hipogl6s. - Nistatina ou Micostaim. - Preparado de ictiol ( 1 ,5) mais 6xido de

zinco (3 ,0) mais vaselina (30,0), usando 6leo mineral (Nujol) para retirar a pomada.

- Antibi6tico sistêmico nas infecções exter­nas.

SCHW ARTSMANNI 1 relata que o ácido b6rico é um agente de pequena e lenta atividade antimicrobiana, agindo primordialmente como bacteriostático, mesmo em soluções concentra­das. Não há razão para o seu uso, qualquer que seja a apresentação, sendo injustificável e peri­gosa a utilização para o tratamento da Dermatite Amoniacal. Também cita que a cIorohexidina (cIorex) é considerada bom agente antisséptico, ineficaz contra bactérias gram negativas e vírus. O uso excessivo ou repetido pode determinar fotos sensibilidade e dermatite de contato.

Pudemos confirmar isso em nossa prática diária, em que se observou a sua eficiência no primeiro dia de aplicação em casos de dermati­te, surgindo irritação local ao aplicá-lo nos dias subseqüentes, com hiperemia local e irritabili­dade emocional. Com relação ao mercúrio cro­mo (MeIbromino) SCHW ARISMANN" consi­dera um agente de fraca atividade bacteriostáti­ca, de pequeno poder de penetração nos teci­dos, diminuíndo sua atividade na presença de proteínas séricas e teciduais. As soluções aquo­sas contaminam-se por bactéria� gram negati-

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vas, não havendo razão para seu uso antissépti­co, não se definindo ainda os possíveis riscos t6xicos do uso excessivo e prolongado em crianças.

Pela nossa experiência de 6 (seis) anos co­mo enfenneiras responsáveis pela assistência di­reta às crianças que freqüentam o CCI, pude­mos constatar que têm ocorrido modificações constantes, no que se refere às medidas terapêu­ticas • utilizadas para o tratamento da Dermatite Amoniacal.

As fezes diarréicas são responsáveis por grande parte das dermatites, pois contêm grande quantidade de ácidos orgânicos, que podem queimar a pele em contato prolongado com es­tas, todavia as lesões desaparecem ao ser trata­da a diarréia.

Além das condutas tradicionais, preconiza­das pela área médica, utilizamos várias outras como: polvilho associado às mais diversas po­madas, agentes químicos como o mercúrio cro­mo, 6leo de cozinha, maizena, entre outros.

Em dezembro de 1987, uma das funcioná­rias do CC! foi por n6s surpreendida, utilizando clara de ovo em uma criança · com dermatite amoniacal, resistente a todos os outros meios dispensados para seu tratamento. Quando abor­dada a respeito de tal conduta, relatou que a�ndera com uma vizinha bastante idosa e que cUldava de seu filho, portador de · freqüentt- e persistente dermatite amoniacal, fazendo uso de clara de ovo com sucesso. A funcionária foi orientada por n6s para não tomar nenhuma con­duta nova. sem que fosse previamente estudada, discutida e fundamentada sob o ponto de vista científico. Este caso deu início à investigação para o presente estudo.

Estudando o ovo, especificamente a clara, encontramos em GUEDES ' , a explicação para aquela conduta levantada, já que esta autora es­clarece que a "clara é formada de diversas ca­madas de substâncias albumin6ides e de água, que constituem cerca de 57% do peso total do ovo. Além dessas substâncias a clara contém glucose, substâncias gordurosas, substâncias ex­trativas e alguns minerais. Aproximadamente 55% da clara é constituída de ambúmen espes­so. O albúmen do ovo contém proteínas com­pletas, constituídas de todos os aminoácidos in­dispen�áveis e .em proporções adequadas. Contém algumas vitaminas do complexo B , solúveis em água, especialmente a riblofavina".

C AMPEDELLP , já cita que existem traba­lhos com a utilização da clara de ovo em lesões cutâneas provocadas por escaras.

Considerando ser a clara de ovo, de custo reduzido e fácil obtenção, está acessível a qual­quer tipo de instituição e possibilita a continui­dade do tratamento a nível domicialiar.

Acreditamos na sua eficácia e decidimos

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experimentá-la n o nosso serviço. Pretendemos, portanto, avaliar a aplicação

da clara de ovo no tratamento da dermatite amoniacal em crianças que freqüentam o Centro de Convivência Infantil do Instituto "Dante pazzanese" de Cardiologia, no período de ja­neiro a junho de 1988.

2 METO D O LOGIA Popu lação

Utilizou-se a clara de ovo para o tratamento dos casos de Dermatite Amoniacal ocorridos no período de janeiro a junho de 1988.

A capacidade do CCI é de 47 crianças, que freqüentam diariamente. A população consti­tuíu-se de 35 crianças com dermatite amoniacal, considerando-se as recidivas que ocorreram com uma mesma criança.

Método de Uti l ização da Clara de Ovo:

O , procedÍmento é realizado separando-se inicialmente a clara de ovo fresco. Em seguida, separa-se a clara batendo-a até formar espuma, a fim de tomá-la consistente e facilitar sua apli­cação. Após o primeiro uso a clara batida é guardada em um frasco tampado e utilizada du­rante o dia, correspondendo a cerca de 7 horas de uso. Deve ser conservada em lugar fresco, dispensando a refrigeração, sendo desprezada ao fmal deste período.

Procede-se a higiene local da área lesada com água morna, secando bem e aplicando a clara batida com o auxílio de algodão. O perí­neo é mantido descoberto por 20 a 30 minutos, para permitir que a clara de ovo seque, forman­do uma película sobre a zona de dermatite. De­pois as fraldas são fixadas, e assim permanecem até a pr6xima ·troca, quando se faz nova higiene local com água morna e outra àplicação da clara de ovo.

O procedimento é continuado até que .desa­pareçam todos os sinais de dermatite ou se ob­serve melhora total das condições cutâneas, através do exame físico diário.

Existem meios de avaliar a idade e o estado do ovo descritos por GUEDES ' e LAMARE5 . No entanto, em nossa vivência diária, temos uti­lizado para classificá-lo como fresco a aparên­cia opaca e áspera da casca, e que não apresen­te mobilidade quando o mesmo é movimentado.

3 R E S U LTA DOS Dos 36 casos acompanhados, o primeiro ca­

so, Ocorrido em dezembro de 1987, não foi in­cluído no presente estudo, mas foi o que nos motivou a uma investigação mais elaborada, ne­cessitando de uma uniformização de condutas, como a não utilização concomitante de produtos ou medicamentos.

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Tabela 1 - Distribuição do número de casos normais, associada à duração média dos episódios de dennatite amoniacal ocorridos no Centro de Convivência Infantil do·Instituto "Dante pazzanese" de Cardiologia" em 1988.

Meses Námero de casos Duração M6dia dos Eps6dios (em dias) Janeiro

Fevereiro Março Abril Maio Junho Total

03 09 06 06 06 05 35

3 ,3 4,2 4,0 2,0 2,3 2,0 3,0

A tabela i mostra que o maíor mimero de casos de assadura ocorreu no mês de fevereiro (09). enquanto no mês de janeiro observou-se a menor ocorrência de casos (03).

Com relação a duração dos epsódios, verificou-se que em fevereiro e março, obteve-se uma média de 4 dias, sendo que nos meses de abril e junho encontrou-se a menor duração média dos episódios (2 dias).

.

Dentre os 35 casos estudados, a duração média calculada foi de 3 dias.

Tabela 2 - Distribuição do número de casos de acordo com a duração da Dennatite Amoniacal, e freqüencia no Centro de Convivência Infantil do Instituto "Dante pazzanese" de Car­diologi�, de janeiro a junho de 1988.

Duração do Epsódio (em dias)

Total

2 3 4 5 6

+ de 6

Número de Casos 1 8 7 4 2 3 1

35

5 1 ,4 20,0 1 1 ,4

5,7 8 ,6 2,9

100,0

Pela tabela 2, evidencia-se que, 5 1 ,4% dos casos ( 18) apresentaram a duração mínima do epis6dio de 2 dias ap6s a aplicação da clara de ovo, enquanto uma pequena percentagem (2,9%) , correspondendo a 1 caso, teve duração superior a 6 dias. Deve-se considerar que, neste caso, não houve colaboração por parte da mãe em seguir as orientações preconizadas ao tratamento da assa­dura pelo CC!.

Tabela 3 - Distribuição do número de casos em função da idade das crianças com Dermatite Amoniacal no Instituto "Dante pazzanese" de Cardiologia, de janeiro a junho de 1988.

Total

Faixa Etária (meses) 5 - 7 7 - 9 9 - 1 1

1 1 - 1 3 1 3 - 15 1 5 - 1 8

Avaliando a tabela 3, pode-se constatar que a maior incidência de assadura ocorreu em crianças na faixa etária de 7 a 1 1 meses (19 ca­sos), concordando com a literatura, que mostra serem as crianças menores mais predispostas a dermatite. Observa-se que o número de casos de assa�ura diminuiu entre as crianças de 1 3 a 18 . meses. Este período coincide com a fase de edu­cação dos esfincteres, em que as criança passa

Námero de Casos 1

10 9 8 2 5

35

m�or tempo sem fraldas, contribuindo para a diminuição das assaduras. Não consideramos ser a faixa dos 5 aos 7 meses, a de menor in­cidência ( 1 ) como mostra a tabela, visto que s6 havia uma criança com 5 meses, admitida em junho, no CCI durante o período de observação de nosso trabalho.

R. Bras. Enferm., Brasflia, 44 (213): 1 36- 140, abriUset. 1991 1 39

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4 CONC L USÕeS Este trabalho originou-se do acompanha­

mento com observação e registro sistematizado quanto à evolução das dermatites amonicais nas crianças que freqüentam o CC! do IDPC.

Apesar do período de observação ter sido de apenas 6 meses, verificamos que todos os casos de dermatite amoniacal tratadas somente com clara de ovo, regrediram totalmente. Per­cebemos também que, nas, recidivas, a assadura apresentou-se de forma mais leve, consideran­do-se ter iniciado esta aplicação desde o apare­cimento dos primeiros sinais de irritação cutâ­nea.

Pretendemos dar continuidade a este traba­lho acompanhando crianças no próprio CC!, por um período de um ano, a fim d� tornar mais fi­dedigno os resultados encontrados e de estudar o aparecimento da dermatite em função das es­tações do ano, bem como avaliar o uso da clara de ovo nestas épocas.

Esperamos que nosso trabalho forneça subsídios para o desenvolvimento de outras pesquisas relacionadas à utilização da clara de ovo, para que se estabeleça novas condutas de enfermagem direcionadas ao tratamento da der­matite amoníacal.

R E F E R Ê NCIAS B I B L I O G RÁFICAS

I. AUGUS f O, M. Comunidade infantil - creche - 2 ed. , Rio : de Janeiro: Guanabara Koogan, 1985. p. 104.

2. BRUNNER, L.S . , SUDDAR f H D.5. Tratado de enferma­gem médico cirúrgica. 4. ed. , Rio de Janeiro: Interame­ricana, 1982. p. 1 105 e 1 1 64.

3. CAMPEDELLI, M.C., GAIDZINSKI, R.R. Escara: pro­. blema na Mspitalização, São Paulo: Ática, 1987. p. 64.

4. GUEDES. R. O ovo e seus aspectos. Rio de Janeiro: SIA, 196 1 . p. 9 - 85.

5 . LAMARE, R. de A vida do beb2. 28 ed. , Rio de Janeiro: Block, p. 164 - 6.

.

6. MANUAL de Organização e procedimentos do CrI neona­tal do Hospital Golden Garden, Gonden Cross. Brasília, 1987. p. 60.

140 R. Bras. Enferm., Brasnia, 44 (213): 1 36- 140, abril/set. 1 99 1

7. MARCONDES , E . Pediatria básica. 7 ed. , São Paulo: Sar­vier. 1 986. p. 1497. v. 2.

8. MINIS fÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Assistência M�­dica. Creches: instruções 1 - 1 a instalação e ftmciona­mento. RJ, 1 972. p. 1 1 .

9. MURAHOVSCHI, J. Pediatria: diagndstico e tratamento. 4 ed. , São Paulo: Savier, 1987. p. 61 5-6.

10 SAMPAIO, V.R.C. Creche: atividades desenvolvidas com a criança. Rio de Janeiro: EBM, 1984. p. 69.

1 1 . SCHUWAR fSMANN, E. Medicamentos em pediatria. 3 ed., São Paulo: Savier, 1986. p. 100- 103.

12. WAECH fER, E.H. Enfermagem pediátrica. 3 ed. , Rio de Janeiro: Interamericana, 1976. p. 289.

13 . WERNER, D. Onde não hd médico. 8 ed., São Paulo: Pau­Iinas l fapes, 1985. p. 215.