Relatório de Avaliação Mútua - GIABA

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GRUPO INTERGOVERNAMENTAL DE ACÇÃO CONTRA O BRANQUEAMENTO DE CAPITAIS NA ÁFRICA OCIDENTAL Relatório de Avaliação Mútua Sobre a Luta Contra o Branqueamento de Capitais e o Financiamento do Terrorismo GUINE-BISSAU 5 MAIO 2009

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GRUPO INTERGOVERNAMENTAL DE

ACÇÃO CONTRA O BRANQUEAMENTO DE CAPITAIS NA

ÁFRICA OCIDENTAL

Relatório de Avaliação Mútua

Sobre a Luta Contra o Branqueamento de Capitais e o Financiamento do Terrorismo

GUINE-BISSAU

5 MAIO 2009

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Guiné-Bissau é membro do GIABA. Esta avaliação foi efectuada pelo Banco Mundial. Ela é a segunda avaliação mútua adoptada pela Plenária do GIABA a 5 de Maio de 2009.

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Sumário Página

ACRÓNIMOS ................................................................................................................................................ 5 PREFÁCIO .................................................................................................................................................... 7 SUMÁRIO EXECUTIVO ............................................................................................................................. 8 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO MÚTUA ................................................................................................. 9

1 GENERALIDADES ............................................................................................................................... 9 1.1 Informações Gerais sobre a Guiné-Bissau...................................................................................... 9 1.2 Situação geral em termos de BC e FT .......................................................................................... 11 1.3 Panorama do Sector Financeiro e das APNFD ............................................................................. 13 1.4 Panorama das leis comerciais e dos mecanismos que regulam as pessoas colectivas e as entidades sem personalidade jurídica (legal arrangements) ........................................................................................................................ 21 1.5 Panorama da estratégia para impedir o branqueamento de capitais e o financiamento do terrorismo 22

2 SISTEMA JURÍDICO E MEDIDAS INSTITUCIONAIS CONEXAS ............................................... 29 Leis e Regulamentos...................................................................................................................................... 29 2.1 Criminalização do Branqueamento de Capitais (R.1 e 2) ............................................................. 29

2.1.1 Descrição e Análise ............................................................................................................... 29 2.1.2 Recomendações e Comentários ............................................................................................. 37 2.1.3 Conformidade com as Recomendações 1 e 2 ........................................................................ 37

2.2 Criminalização do Financiamento do Terrorismo (RE.II) ............................................................ 38 2.2.1 Descrição e Análise ............................................................................................................... 38 2.2.2 Recomendações e Comentários ............................................................................................. 42 2.2.3 Conformidade com a Recomendação Especial II .................................................................. 43

2.3 Perda, congelamento e apreensão do produto do crime (R.3) ...................................................... 43 2.3.1 Descrição e Análise ............................................................................................................... 43 2.3.2 Recomendações e Comentários ............................................................................................. 48 2.3.3 Conformidade com a Recomendação nº 3 ............................................................................. 49

2.4 Congelamento de fundos utilizados para o financiamento do terrorismo (RE.III) ....................... 49 2.4.1 Descrição e Análise ............................................................................................................... 49 2.4.2 Recomendações e Comentários: ............................................................................................ 53 2.4.3 Conformidade com a Recomendação Especial III ................................................................. 54

2.5 A Unidade de Informação Financeira e as suas funções (R.26) ................................................... 55 2.5.1 Descrição e Análise ............................................................................................................... 55 2.5.2 Recomendações e Comentários ............................................................................................. 58 2.5.3 Conformidade com a Recomendação 26 ............................................................................... 59

2.6 Autoridades responsáveis pela execução da lei e pelo exercício da acção penal e outras autoridades competentes – Enquadramento da investigação de infracções e da instauração de processos, e da perda e congelamento de bens (R.27 e 28) ................................................................................................................................................ 59

2.6.1. Descrição e análise…………………………………………………………...

2.6.2 Recomendações e Comentários

59

............................................................................................. 64 2.6.3 Conformidade com as Recomendações 27 e 28 .................................................................... 65

2.7 Declaração ou Comunicação Transfronteiriça (RE.IX) ................................................................ 66 2.7.1 Descrição e Análise ............................................................................................................... 66 2.7.2 Recomendações e Comentários ............................................................................................. 71 2.7.3 Conformidade com a Recomendação Especial IX ................................................................. 72

3 MEDIDAS PREVENTIVAS — INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS .................................................... 73 Dever de Diligência Relativo à Clientela (Customer Due Diligence – CDD) e de ....................................... 73 Conservação de Documentos ........................................................................................................................ 73

3.1 Risco de branqueamento de capitais ou de financiamento do terrorismo……………………….

3.2 Dever de Diligência Relativo à clientela, incluindo medidas reduzidas ou reforçadas (R. 5 a 8)

73

73 3.2.1 Descrição e Análise ............................................................................................................... 73 3.2.2 Recomendações e Comentários ............................................................................................. 83 3.2.3 Conformidade com as Recomendações 5 a 8 ........................................................................ 87

3.3 Intermediários ou Terceiros Introdutores Negócios (R.9) ............................................................ 88 3.3.1 Descrição e Análise ............................................................................................................... 88 3.3.2 Recomendações e Comentários ............................................................................................. 89 3.3.3 Conformidade com a Recomendação 9 ................................................................................. 89

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3.4 Segredo ou confidencialidade das instituições financeiras (R.4).................................................. 90 3.4.1 Descrição e Análise ............................................................................................................... 90 3.4.2 Recomendações e Comentários ............................................................................................. 90 3.4.3 Conformidade com a Recomendação 4 ................................................................................. 90

3.5 Regras de conservação de documentos e para transferências electrónicas (R.10 e RE.VII) ........ 90 3.5.1 Descrição e Análise ............................................................................................................... 90 3.5.2 Recomendações e Comentários ............................................................................................. 94 3.5.3 Conformidade com a Recomendação 10 e com a Recomendação Especial VII .................... 95

Transacções não Habituais, Suspeitas ou Outras ......................................................................................... 95 3.6 Monitorização das operações e das relações de negócio (R.11 e 21) ........................................... 95

3.6.1 Descrição e Análise ............................................................................................................... 95 3.6.2 Recomendações e Comentários ............................................................................................. 98 3.6.3 Conformidade com as Recomendações 11 e 21 .................................................................... 99

3.7 Declarações de operações suspeitas e outras declarações (R.13-14, 19, 25 e RE.IV) .................. 99 3.7.1 Descrição e Análise ............................................................................................................... 99 3.7.2 Recomendações e Comentários .......................................................................................... .103 3.7.3 Conformidade com as Recomendações 13, 14, 19 e 25 (critério 25.2) e com a Recomendação Especial IV .104

3.8 Controlos internos, conformidade, auditoria e sucursais no estrangeiro (R.15 e 22) ................ .105 3.8.1 Descrição e Análise ............................................................................................................ .105 3.8.2 Conformidade com as Recomendações 15 e 22 ................................................................. .110

3.9 Bancos de fachada (shell banks) (R.18) .................................................................................... .110 3.9.1 Descrição e Análise ............................................................................................................ .110 3.9.2 Recomendações e Comentários .......................................................................................... .110 3.9.3 Conformidade com a Recomendação 18 ............................................................................ .111

Regulamentação, Supervisão, Orientação, Verificação e Sanções ........................................................... .111 3.10 Sistema de supervisão e controlo – Autoridades competentes e OAR: Papel, funções, obrigações e poderes (incluindo aplicação de sanções) (R.17, 23, 25 e 29) ................................................................................................... .111

3.10.1 Descrição e Análise ............................................................................................................ .111 3.10.2 Recomendações e Comentários .......................................................................................... .119 3.10.3 Conformidade com as Recomendações 17, 23, 25 e 29 ...................................................... .120

3.11 Serviços de remessa de valores ou de dinheiro (RE.VI)............................................................ .121 3.11.1 Descrição e Análise ............................................................................................................ .121 3.11.2 Recomendações e Comentários .......................................................................................... .122 3.11.3 Conformidade com a Recomendação Especial VI .............................................................. .123

4 MEDIDAS PREVENTIVAS — ACTIVIDADES E PROFISSÕES NÃO FINANCEIRAS DESIGNADAS .124 4.1 Diligência relativa à clientela e conservação de documentos (R.12)......................................... .124

4.1.1 Descrição e Análise ............................................................................................................ .124 4.1.2 Recomendações e Comentários .......................................................................................... .125 4.1.3 Conformidade com a Recomendação 12 ............................................................................. 126

4.2 Declaração de operações suspeitas e Controlos internos das APNFD (R.16) ............................ 126 4.2.1 Descrição e Análise ............................................................................................................. 126 4.2.2 Recomendações e Comentários ........................................................................................... 131 4.2.3 Conformidade com a Recomendação 16 ............................................................................. 132

4.3 Regulamentação, supervisão e monitorização (R.24-25) ........................................................... 132 4.3.1 Descrição e Análise ............................................................................................................. 132 4.3.2 Recomendações e Comentários ........................................................................................... 134 4.3.3 Conformidade com as Recomendações 24 e 25 (critérios 25.1, APNFD) ........................... 134

4.4 Outras actividades e profissões não financeiras e técnicas modernas e seguras de transacção (R.20) 4.4.1 Descrição e Análise ............................................................................................................. 134 4.4.2 Recomendações e Comentários ........................................................................................... 135 4.4.3 Conformidade com a Recomendação 20 ............................................................................. 135

5 PESSOAS COLECTIVAS E ENTIDADES SEM PERSONALIDADE JURÍDICA E ORGANIZAÇÕES SEM FINS LUCRATIVOS ............................................................................................................................................ 137 5.1 Pessoas Colectivas — Acesso a informação sobre os beneficiários efectivos da propriedade e o controlo das pessoas colectivas (R.33) .......................................................................................................................................... 137

5.1.1 Descrição e Análise ............................................................................................................. 137 5.1.2 Recomendações e Comentários ........................................................................................... 141 5.1.3 Conformidade com a Recomendação 33 ............................................................................. 141

5.2 Pessoas Colectivas — Acesso a informação sobre os beneficiários efectivos da propriedade e o controlo das entidades sem personalidade jurídica (legal arrangements) (R.34) .................................................................................... 142

5.2.1 Descrição e Análise ............................................................................................................. 142 5.2.2 Recomendações e Comentários ........................................................................................... 142 5.2.3 Conformidade com a Recomendação 34 ............................................................................. 142

5.3 Organizações sem fins lucrativos (RE.VIII) ............................................................................... 143 5.3.1 Descrição e Análise ............................................................................................................. 143 5.3.2 Recomendações e Comentários ........................................................................................... 145 5.3.3 Conformidade com a Recomendação Especial VIII ............................................................ 145

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6 COOPERAÇÃO NACIONAL E INTERNACIONAL ....................................................................... 147 6.1 Cooperação e coordenação nacional (R.31) ............................................................................... 147

6.1.1 Descrição e Análise ............................................................................................................. 147 6.1.2 Recomendações e Comentários ........................................................................................... 148 6.1.3 Conformidade com a Recomendação 31 ............................................................................. 148

6.2 As Convenções e as Resoluções Especiais da ONU (R.35 e RE.I) ............................................ 148 6.2.1 Descrição e Análise ............................................................................................................. 148 6.2.2 Recomendações e Comentários ........................................................................................... 151 6.2.3 Conformidade com a Recomendação 35 e a Recomendação Especial I .............................. 152

6.3 Auxílio Judiciário Mútuo (R.36-38, RE.V) ................................................................................ 152 6.3.1 Descrição e Análise ............................................................................................................. 152 6.3.2 Recomendações e Comentários ........................................................................................... 158 6.3.3 Conformidade com a Recomendação 36 a 38 e a Recomendação Especial V ..................... 159

6.4 Extradição (R.37, 39, RE.V) ...................................................................................................... 159 6.4.1 Descrição e Análise ............................................................................................................. 159 6.4.2 Recomendações e Comentários ........................................................................................... 162 6.4.3 Conformidade com as Recomendações 37 e 39 e Recomendação Especial V .................... 162

6.5 Outras Formas de Cooperação Internacional (R.40 e RE.V) ...................................................... 163 6.5.1 Descrição e Análise ............................................................................................................. 163 6.5.2 Recomendações e Comentários ........................................................................................... 166 6.5.3 Conformidade com a Recomendação 40 e a Recomendação Especial V ............................ 166

7 OUTRAS QUESTÕES ....................................................................................................................... 167 7.1 Recursos e Estatísticas................................................................................................................ 167

Quadros

1. Avaliação do Cumprimento das Recomendações do GAFI ...................................................................... 169

2. Plano de Acção Recomendado para a Melhoria do Sistema CBC/FT ......................................................

182

Acr Ó NIMO S

APNFD Actividades e profissões não financeiras designadas

AUDSCAIE Acto Uniforme do Direito das Sociedades Comerciais e Agrupamento de Interesse Económico

BC Branqueamento de capitais

ABC/CFT Anti-Branqueamento de Capitais e Combate ao Financiamento do Terrorismo

CADESP Célula de Apoio ao Desenvolvimento da Economia Solidária – Poupança e Crédito

CB Comissão Bancária

CEDEAO Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental

CDD Dever de Diligência Relativo à Clientela (Customer Due Diligence)

CENTIF Célula Nacional de Tratamento das Informações Financeiras

CIMA Conferência Interafricana dos Mercados de Seguros

CPLP Comunidade dos Países de Língua Portuguesa

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CP Código Penal

CPP Código de Processo Penal

CRCA Conferência Regional de Controlo dos Seguros

CREPMF Conselho Regional de Poupança Pública e dos Mercados Financeiros

CRGB Constituição da República da Guiné-Bissau

DON Declaração de Operação em Numerário

DGA Direcção-Geral das Alfândegas

DOS Declaração de Operação Suspeita

EFT Eliminação do Financiamento do Terrorismo

FCFA Francos da Comunidade Francófona em Africa

FT Financiamento do terrorismo

GAFI Grupo de Acção Financeira (Financial Action Task Force – FATF)

GIABA Grupo Intergovernamental de Acção sobre o Branqueamento de Capitais na África Ocidental

IF Instituição financeira

IFI Instituição financeira internacional

LCBC Lei de Combate ao Branqueamento de Capitais

LD Lei da Droga

MP Ministério Público

OA Ordem dos Advogados

OAR Organismo de auto-regulação (self-regulatory organization – SRO)

OHADA Organização para a Harmonização do Direito dos Negócios em África

ORNATOC-GB Ordem Nacional dos Técnicos Oficiais de Contas da Guiné-Bissau

ONG Organização Não Governamental

ONU Organização das Nações Unidas

OSFL Organização Sem Fins Lucrativos

PIB Produto Interno Bruto

PJ Polícia Judiciária

PPE Pessoa Politicamente Exposta (PEP)

R. Recomendação (40 Recomendações do GAFI)

RE. Recomendação Especial do GAFI sobre o Financiamento do Terrorismo

RCSONU Resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas

ROC Revisores Oficiais de Contas

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TOC Técnicos Oficiais de Contas

UEMOA União Económica e Monetária da África Ocidental

UMOA……………….União Monetária da África Ocidental

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PREFÁCIO

Informação e metodologia utilizada na avaliação

1. A avaliação do sistema nacional de prevenção e de repressão do branqueamento de capitais e do financiamento do terrorismo (ABC/CFT) da Guiné-Bissau foi realizada tendo por referência as Quarenta Recomendações de 2003 e as Nove Recomendações Especiais do GAFI – Grupo de Acção Financeira, bem como a sua Metodologia de Avaliação, de 2004, reconhecidas e utilizadas pelo GIABA nas avaliações mútuas dos seus membros.

2. A avaliação teve por base a legislação, regulamentação e outra documentação facultada, não apenas pelas autoridades nacionais da Guiné-Bissau, mas também pelas instituições comunitárias, em especial o Banco Central dos Estados da África do Oeste, pelas entidades do sector público e privado com quem foram mantidos contactos e pelo próprio GIABA. Revelou-se também de grande utilidade o vasto leque de informações recolhidas durante o tempo que a equipa de avaliação esteve em Bissau, capital da Guiné-Bissau, entre os dias 1 e 14 de Setembro. Durante a visita a equipa de avaliação manteve contactos e reuniões de trabalho com funcionários e representantes de diversos departamentos governamentais e serviços da administração pública, bem como representantes do sector privado (ver lista de entidades visitadas em anexo).

3. A equipa de avaliação foi constituída por António Folgado do Gabinete de Relações Internacionais/DGPJ, Ministério da Justiça de Portugal (perito jurídico), Ana Filipa Figueiredo, do Departamento de Supervisão Bancária do Banco de Portugal (perita financeira), Bernardo Mota, do COAF, Ministério da Fazenda do Brasil (perito em questões ligadas às UIFs) e, como observadores, José Sousa, Inspector-Geral de Finanças de Cabo Verde, Anduleto Ribeiro Coordenador de Investigação Criminal, da Polícia Judiciária de Cabo Verde e Miriam Estrada, do Comité de Combate ao Terrorismo das Nações Unidas. Estiveram presentes, em representação do Secretariado do GIABA, Elpídio Freitas, consultor jurídico e Naponcia Gomes, assistente administrativa.

4. Na avaliação mútua da Guiné-Bissau foram avaliados o enquadramento institucional, a legislação relevante em matéria ABC/CFT, os regulamentos, directrizes e orientações, bem como os sistemas de regulamentação e de fiscalização em vigor para prevenir e impedir o branqueamento de capitais e o financiamento do terrorismo através das instituições financeiras e das actividades e profissões não financeiras designadas (APNFDs), tendo também sido avaliada a capacidade, a aplicação e a eficácia do sistema em vigor para tal efeito, no seu conjunto. A avaliação mútua teve também em consideração o quadro regional e comunitário da UEMOA relativo à luta contra o branqueamento de capitais e o financiamento do terrorismo, que inclui instrumentos jurídicos directamente aplicáveis na ordem jurídica interna da Guiné-Bissau.

5. O presente relatório apresenta uma síntese das medidas ABC/CFT em vigor na Guiné-Bissau à data da visita da equipa de avaliação ou adoptadas imediatamente após esta visita. Descreve e analisa estas medidas e apresenta recomendações em relação aos aspectos do sistema em vigor que devem ser melhorados (ver Quadro 2, no final do presente relatório). Apresenta igualmente o nível de cumprimento da Guiné-Bissau com as 40+9 Recomendações do GAFI.

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SÍNTESE DO RELATÓRIO

1- O presente relatório apresenta um resumo das medidas de prevenção e de combate ao branqueamento de capitais e ao financiamento do terrorismo (ABC/CFT) em vigor na Guiné-Bissau aquando da visita da equipa de avaliação, entre 1 e 14 de Setembro de 2008 ou imediatamente depois. Este relatório descreve e analisa as referidas medidas e formula recomendações relativas às disposições a serem adoptadas para reforçar alguns aspectos do sistema nacional (ver Quadro 2, em anexo). O relatório apresenta igualmente o nível de conformidade da Guiné-Bissau com as (40+9) Recomendações do GAFI (ver Quadro 1, em anexo).

1- INFORMAÇÕES GERAIS

2- A Guiné-Bissau é um país em vias de desenvolvimento, situado na costa ocidental da África, e cuja principal actividade económica é a agricultura, que constitui cerca de 95% das exportações. Os operadores económicos locais estão confrontados com a ausência de instituições bancárias em algumas regiões do país, o que os obriga a conservar montantes elevados em numerário para as suas transacções, situando-se a taxa de intermediação bancária nos 2%.

3- As autoridades competentes consideram que a principal actividade ilícita geradora de proventos ilícitos na Guiné-Bissau e, por conseguinte, propícia a actividades de branqueamento de capitais, é o tráfico internacional de estupefacientes, fruto da vasta linha costeira do país, das inúmeras ilhas, da extensão importante das suas águas territoriais e dos escassos recursos atribuídos às diversas estruturas do Estado com responsabilidade na prevenção e repressão criminal. O país continua a ser utilizado como uma plataforma para a entrada da cocaína oriunda da América do Sul no continente europeu.

4- A corrupção, é considerada como elevada constituindo também um factor favorável à expansão das infracções ligadas ao tráfico de estupefacientes.

5- O tráfico de crianças, depois forçadas a trabalhar na agricultura ou a ser exploradas na mendicidade nas ruas dos outros países da África Ocidental, constitui igualmente uma fonte de rendimentos ilícitos.

6- No que respeita ao financiamento do terrorismo, a equipa de avaliação não foi informada de quaisquer indícios relativos à existência de grupos terroristas, a nível nacional, nem da utilização de movimentos radicais nacionais por organizações terroristas estrangeiras.

7- Apesar da existência de um sistema jurídico formal ABC/CFT e da criação de uma Comissão Interministerial ad-hoc ABC/CFT, em 2001, as dificuldades de vária ordem e em vários planos com que o país se depara, a inércia das instituições e a escassez de meios materiais e de recursos humanos, permitem afirmar que a prevenção e o combate ao branqueamento de capitais e ao financiamento do terrorismo não foi ainda assumida como uma prioridade pelas autoridades da Guiné-Bissau.

De forma passiva, o país limitou-se a ver aplicar directamente, na ordem jurídica interna, as disposições comunitárias, sem que tenha havido a preocupação de delinear uma estratégia baseada no risco que permita o esclarecimento e o acompanhamento de todas as instituições financeiras bem como de todas as actividades e profissões não financeiras designadas.

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2 –

8- O branqueamento de capitais encontra-se previsto na legislação da Guiné-Bissau desde 1993: o Decreto-Lei n° 2/B/93, de 28 de Outubro, relativo à prevenção e à repressão do tráfico e do consumo de estupefacientes (LD) refere-se, no seu Artigo 6º, ao branqueamento de capitais provenientes de actividades ligadas ao tráfico de estupefacientes, sendo as diferentes condutas sujeitas a penas que variam entre 1 e 12 anos de prisão.

SISTEMA JURÍDICO E MEDIDAS INSTITUCIONAIS CONEXAS

Ao transpor para a ordem jurídica interna a Directiva n° 07/2002/CM/UEMOA, de 19 de Setembro, relativa à luta contra o branqueamento de capitais e ao alargar a definição deste ilícito criminal para além do tráfico de droga, como infracção subjacente, a Lei Uniforme n° 1/2003/CM/UEMOA relativa à luta contra o branqueamento de capitais (LCBC), em vigor desde 2 de Novembro de 2004, veio alargar o quadro jurídico existente na Guiné-Bissau.

9- No que se refere aos elementos materiais e aos diferentes tipos de conduta, tais como a conversão, a transferência, a facilitação, a

ocultação, a dissimulação, a aquisição ou a detenção de produtos de uma infracção, a LCBC encontra-se em conformidade com o disposto nas Convenções das Nações Unidas contra o Tráfico de Estupefacientes e de Substâncias Psicotrópicas (Viena) e contra a Criminalidade Organizada Transnacional (Palermo).

10- Além do crime de tráfico de estupefacientes e da associação criminosa para a prática deste crime, previstos na LD, o Artigo 1º da LCBC estabelece um amplo leque de de infracções subjacentes ao branqueamento de capitais, considerando como tais quaisquer crimes mesmo que cometidos no território de outro Estado, que permitam ao seu autor adquirir bens ou rendimentos. No entanto, a legislação em vigor na Guiné-Bissau não abrange todas as categorias de infracções designadas a que se refere a Recomendação 1 e o Glossário das 40 Recomendações do GAFI. Efectivamente, não se encontra prevista a criminalização do terrorismo e do terrorista individual (apenas se encontram criminalizadas as organizações terroristas e o seu financiamento), o tráfico de seres humanos e o tráfico de emigrantes, o tráfico de bens roubados e a pirataria. A utilização abusiva de informação privilegiada é criminalizado pela lei bancária (nacional) e pelo Regulamento Geral do CREPMF (mercado financeiro regional que também criminaliza a manipulação de mercado). No entanto, para reprimir os referidos crimes financeiros, não foi prevista nenhuma sanção penal nacional (para as quais reenvia o Regulamento do CREPMF). A Guiné-Bissau deverá assim adoptar medidas para colmatar esta insuficiência jurídica.

Por outro lado, ao contrário da LD, a LCBC não parece aplicar-se aos bens resultantes indirectamente da prática de um crime de de branqueamento de capitais, o que leva, a contrario sensu, à conclusão de que a infracção de branqueamento de capitais só é aplicável aos bens provenientes directamente da prática de uma infracção subjacente. O auto-branqueamento também não se encontra previsto na legislação nacional.

11- De acordo com o estabelecido no Artigo 10º do Código Penal, as pessoas singulares são susceptíveis de responsabilidade criminal a partir de 16 anos. Assim, em conformidade com este princípio, quer a LD, no seu Artigo 6º, quer a LCBC prevêem que as pessoas singulares são responsáveis pelo seu envolvimento na comissão do crime de branqueamento de capitais se, de forma intencional, se envolverem em tal actividade criminosa .

12- As pessoas singulares responsáveis pela prática de um crime de branqueamento de capitais derivado do tráfico de estupefacientes, previsto no Artigo 6º da LD, podem ser condenadas a penas privativas de liberdade que variam entre os 2 a 12 anos, 2 a 10 anos e 1 a 5 anos, conforme se trate da conversão, de transferência, de auxílio ou facilitação, de ocultação ou dissimulação ou ainda, de aquisição ou detenção de bens ou de produtos resultantes daquele crime, podendo estas penas ser agravadas. Nos termos gerais do Código Penal, também a conivência, a participação numa associação com vista à prática de factos que constituam branqueamento de capitais, a associação para cometer tais factos, a tentativa da sua comissão, o auxílio ou o aconselhamento são puníveis.

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13- Por sua vez, os Artigos 37º a 41º da LCBC consagram as sanções penais aplicáveis às pessoas singulares pela prática do crime de branqueamento de capitais derivado das restantes infracções subjacentes estabelecendo que são puníveis com pena de prisão de 3 a 7 anos e a uma multa de valor igual ao triplo do valor dos bens ou dos fundos que dizem respeito às operações de branqueamento de capitais. São puníveis com a mesma moldura penal a conivência, a participação numa associação com vista à prática de factos que constituam branqueamento de capitais, a associação para cometer tais factos, a tentativa da sua comissão, o auxílio ou o aconselhamento a uma pessoa singular ou colectiva, nos termos do Artigo 38º da mesma Lei.

Estão ainda previstas no Artigo 39º várias circunstâncias agravantes, como é o caso do crime de branqueamento ser praticado por um grupo criminoso organizado, a que corresponde o aumento para o dobro da moldura mínima e máxima aplicável, ou seja 6 a 14 anos de prisão.

14- O Código Penal consagra expressamente a responsabilidade penal das pessoas colectivas.

Nos termos do seu Artigo 11º, as sociedades e quaisquer pessoas colectivas de direito privado são susceptíveis de responsabilidade penal pelos crimes praticados com objectivo de realizar fins próprios em execução de decisões tomadas pelos seus orgãos.

15- A responsabilidade das pessoas colectivas não deve impedir eventuais processos penais, civis ou administrativos paralelos, o que se encontra regulado pelo nº 2 do mesmo preceito, ao afirmar que os titulares dos orgãos de uma sociedade ou de quaisquer pessoas colectivas ou quem actue em nome de terceiros, respondem individualmente pelos factos que praticarem como representantes, no seu próprio interesse ou com excesso de poder.

16- A LCBC consagra também, no Artigo 42º do Capítulo IV, a responsabilidade penal das pessoas colectivas pela prática dos crimes de branqueamento de capitais, não excluindo a possibilidade de condenação dos seus representantes, pessoas singulares, a título de autoria ou de cumplicidade na prática dos mesmos factos. O Artigo 35º do mesmo diploma legal consagra a possibilidade de aplicar um processo paralelo, de natureza administrativa ou disciplinar, às pessoas singulares ou colectivas.

17- As autoridades da Guiné-Bissau não forneceram à equipa de avaliação elementos estatísticos relativos ao número de investigações, acusações e processos existentes pela prática do crime de branqueamento de capitais.Também não existe informação estatítica sobre as sanções aplicadas pela prática do crime de branqueamento de capitais. Além disso, não existe um mecanismo ou dispositivo de recolha de elementos estatíticos, mesmo sobre a criminalidade em geral.

18- O Código Penal de Guiné-Bissau prevê no seu Artigo 203º apenas a criminalização das organizações terroristas e do seu financiamento, assumindo-se este financiamento como uma mera modalidade de auxílio às organizações terroristas, e não como um crime autónomo, em conformidade com os requisitos específicos do Artigo 2º da Convenção Internacional para a Eliminação do Financiamento do Terrorismo, das Nações Unidas.

19- A nível da UEMOA, foi aprovada a Directiva n° 4/2007/CM/UEMOA do 4 de Julho de 2007, relativa à luta contra o financiamento do terrorismo nos Estados membros da UEMOA, incluindo as disposições da Convenção Internacional das Nações Unidas para a Eliminação do Financiamento do Terrorismo (Convenção CFT), de 1999 e dos outros instrumentos jurídicos referidos no anexo à mesma.

Por ocasião da visita da equipa de avaliação, as autoridades de Guiné-Bissau não tinham adoptado nenhuma medida para a transposição para o direito interno da referida Directiva, bem como para a a harmonização deste instrumento jurídico com as disposições do Código Penal, ainda que o modelo de lei uniforme de transposição tenha sido aprovado a 28 de Março de 2008, por todos os Estados membros reunidos em Conselho dos Ministros da UEMOA.

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20- Como estipulado no Artigo 203º do Código Penal, o financiamento das organizações terroristas é punível, para as pessoas singulares com pena de pena de prisão de 5 a 25 anos. Em relação às pessoas colectivas, o mesmo Código estabelece as penas de multa, a exclusão temporária de concursos públicos ou de acesso a subsídios estatais ou de organizações supra estaduais, o encerramento temporário e a dissolução.

21- As autoridades judiciais, como os juízes e os representantes do Ministério Público, têm competência e poderes para identificar, congelar, apreender e declarar a perda a favor do Estado, de bens ou fundos obtidos em resultado de infracções principais, caso sejam encontrados no território nacional, e igualmente para dar início ao procedimento criminal e punir crimes de branqueamento de capitais. Os bens que podem ser apreendidos ou declarados perdidos incluem bens móveis e imóveis, rendimentos, juros ou quaisquer outras vantagens directa ou indirectamente retiradas da infracção principal.

22- No que se refere ao crime de branqueamento de capitais derivado do tráfico de estupefacientes, a LD prevê, nos seus Artigos 16º a 18º, a perda de bens a favor do Estado, enquanto o Artigo 28º regula as apreensões. O Código Penal inclui também disposições relativas à perda de bens a favor do Estado, nos seus Artigos 82º e 83º, enquanto o Código do Processo Penal regula os meios de obtenção de prova, estando previstas as penhoras no Artigo 141º.

23- A LBC determina também a declaração obrigatória de perda de bens que constituem o produto do crime de branqueamento, como resulta do Artigo 45º. Além disso, os Artigos 41º n°10 e 42 n° 2 estabelecem sanções penais complementares, ou seja , a perda dos bens ou dos objectos que serviram ou estavam destinados a servir para cometer o crime ou da coisa que representa o seu produto.

24- A Resolução 1267 (1999) do Conselho de Segurança das Nações Unidas é obrigatória e aplicável na Guiné-Bissau, ao abrigo do disposto no Capítulo VII da Carta das Nações Unidas. As condições de aplicação das medidas de congelamento de fundos e de outros activos financeiros, pertencentes a qualquer pessoa singular ou colectiva, entidade ou organismo, estão previstas no Artigo 4º do Regulamento n°14/2002/CM/UEMOA, tendo por referência uma lista a aprovar pelo Conselho dos Ministros da UEMOA.

25- O Regulamento n° 14/2002/CM/UEMOA, e a maneira como foi difundido pelos bancos e instituições financeiras, não está isento de algumas críticas. Antes de mais, pelo facto de a difusão que se pretende rápida e sem demora, poder ser obstaculizada, sempre que não for alcançada a unanimidade no Conselho dos Ministros da UEMOA. Por outro lado, o Regulamento fica aquém do disposto na Resolução 1267 (1999), ao limitar a sua aplicação exclusivamente aos bancos e instituições financeiras, e consequentemente, aos activos financeiros, facto que impede o congelamento de bens ou de outros activos das pessoas e entidades incluídas nas listas, mas que se encontrem fora do sector financeiro.

Em termos de campo de aplicação pessoal, o Regulamento também se afasta da Resolução 1267 (1999) excluindo a sua aplicação às pessoas que agem em nome ou sob as instruções das pessoas ou entidades constantes das listas do Comité e Sanções e que controlam directa ou indirectamente determinados bens. Ao referir-se apenas aos activos financeiros, o Regulamento é limitativo, deixando fora todos os demais bens, qualquer que seja a sua natureza, sejam corpóreos ou incorpóreos, mobiliários ou imobiliários, bem como todos os documentos ou instrumentos jurídicos que provem a propriedade ou os interesses sobre tais bens.

26- No plano interno, a Guiné-Bissau não publicou nem adoptou quaisquer medidas específicas, de carácter administrativo ou legislativo, destinadas a aplicar a Resolução 1373 (2001) ou a aprovar as suas próprias listas de pessoas ou de entidades suspeitas de terrorismo ou de financiar o terrorismo, cujos bens ou outros activos económicos devem ser congelados.

27- Nos termos do Artigo 17º da LCBC, a Célula Nacional de Tratamento das Informações Financeiras (CENTIF) é um serviço de natureza administrativa, sob a tutela do Ministério das Finanças e de âmbito nacional, com autonomia administrativa e financeira e poder de decisão autónomo nas áreas da sua competência. Tem por missão a recolha e o tratamento da informação financeira sobre os circuitos do branqueamento de capitais.

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Compete à CENTIF receber, analisar e tratar as declarações suspeitas de branqueamento de capitais, enviadas pelas instituições financeiras e pelas actividades e profissões não financeiras identificadas no Artigo 5º, relativas a um determinado número de situações enumeradas no Artigo 26º.

No entanto, a CENTIF não tem competência para tratar das operações suspeitas de financiamento do terrorismo, já que a LCBC tem o seu campo de aplicação material limitado aos crimes de branqueamento de capitais e a Directiva n°4/2007/CM/UEMOA, de 7 de Julho, sobre o financiamento do terrorismo, ainda não ter sido transposta na ordem jurídica interna da Guiné-Bissau.

A CENTIF ainda não se encontra operacional, passados que são mais de dois anos da sua criação por decreto. Não dispõe de meios financeiros que permitam o exercício das suas funções e ainda não procedeu à selecção e ao recrutamento do pessoal necessário, não dispondo de equipamentos técnicos.

Além disso, a CENTIF não adoptou um modelo uniforme de declaração de operações suspeitas (DOSs), nem forneceu orientações e definiu os canais ou os meios de comunicação através dos quais as instituições financeiras e as actividades e profissões não financeiras previstas na LCBC possam cumprir o dever de comunicação. Não foram ainda criadas condições internas destinadas a promover e a permitir o retorno de informação (feed-back) às referidas entidades sujeitas à LCBC.

28- O Ministério Público é a instituição responsável pela acção penal e, por conseguinte, competente para presidir à investigação criminal, com a faculdade de delegar na Polícia Judiciária ou em outros corpos de polícia, a investigação relativa às infracções de branqueamento de capitais, de organizações terroristas e do seu financiamento. Compete à Polícia Judiciária ou à Polícia de Ordem Pública conduzir as investigações sob a direcção funcional do Ministério Público. Ambas as polícias têm competência territorial.

29- É da competência dos tribunais de círculo e das regiões o julgamento das infracções de branqueamento de capitais, de organizações terroristas, e do seu financiamento, como resulta das disposições do Código do Processo Penal.

30- O controlo dos movimentos de dinheiro e de instrumentos negociáveis ao portador é da competência dos serviços da Direcção-Geral das Alfândegas, de acordo com o estabelecido na legislação nacional da Guiné-Bissau e no Código de Contencioso Alfandegário que estabelece os poderes das autoridades alfandegárias em matéria de controlo dos movimentos físicos de dinheiro, considerando este como uma mercadoria proíbida, bem como incluindo as sanções aplicáveis.

31- Não existe um verdadeiro sistema de declaração ou de comunicação tal como requerido pelas Recomendações do GAFI, assim como não foi adoptado um modelo de declaração ou de comunicação dos movimentos físicos transfronteiriços de montantes de dinheiro ou de instrumentos négociáveis ao portador.

Está por aprovar ou estabelecer um mecanismo de comunicação entre as autoridades alfandegárias e a CENTIF, bem como mecanismos de coordenação interna com outras autoridades competentes em matéria de prevenção do branqueamento de capitais e do financiamento do terrorismo.

3- MEDIDAS PREVENTIVAS -INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS

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32- Embora as instituições financeiras existentes na Guiné-Bissau considerem reduzidos os riscos de branqueamento de capitais e de financiamento do terrorismo nas suas actividades, as autoridades nacionais não excluiram nenhuma instituição financeira, totalmente ou em parte, das obrigações aplicáveis em matéria de prevenção do branqueamento de capitais e de financiamento do terrorismo (ABC/CFT).

Com efeito, a LCBC, de 2 de Novembro de 2004, que transpõe a Directiva n°7/2002/CM/UEMOA, de 19 de Setembro de 2002, relativa à luta contra o branqueamento de capitais nos Estados membros da UEMOA, aplica-se a «toda a pessoa singular ou colectiva que, no quadro da sua profissão, realiza, controla ou aconselha operações relativas a depósitos, câmbio, financiamentos, conversões ou qualquer outro movimento de capitais ou de qualquer outro bem».

No que respeita à Instrução n° 1/2007/RB, de 2 de Julho de 2007, do BCEAO, relativa à luta contra o branqueamento de capitais no âmbito das instituições financeiras, adoptada por aplicação da LCBC, não é aplicável a todos as instituições financeiras abrangidos pela referida Lei, mas unicamente: (i) aos bancos e estabelecimentos financeiros; (ii) aos serviços financeiros dos Correios, às Caixas de Depósitos e de Consignações ou aos organismos que realizam essas operações (iii) às instituições mutualistas ou cooperativas de poupança e de crédito assim como às estruturas ou organizações não constituídas sob forma mutualista ou cooperativa que têm como objecto a colecta de poupança e/ou a concessão de créditos; e (iv) às instituições autorizadas a praticar o câmbio manual.

33- A LCBC não proibe expressamente que as instituições financeiras mantenham contas anónimas ou sob nomes fictícios.

34- A LCBC prevê algumas medidas de vigilância relativas à clientela que devem ser respeitadas por todas as instituições financeiras (i) antes da abertura de uma conta, da conservação de títulos, de valores ou ordens de pagamento, da atribuição de um cofre ou no estabelecimento de relações de negócio com um cliente, tal como previsto no Artigo 7º; (ii) quando se realiza uma operação ocasional por um montante igual ou superior a cinco milhões (5.000.000) de FCFA ou cujo contravalor equivale ou ultrapassa este montante, em conformidade com o Artigo 8º; (iii) ou em caso de repetição de operações específicas num montante individual inferior ao atrás referido ou quando existem suspeitas relativas à origem lícita dos capitais, como previsto no mesmo Artigo 8º. Relativamente às obrigações de identificação dos clientes ocasionais referidos no ponto (ii), estas obrigações são impostas desde o momento em que exista uma repetição de transacções ocasionais, independentemente do montante, aspecto que vai mais além das Recomendações do GAFI.

Todavia, as medidas de diligência previstas na LCBC não prevêm obrigações (i) quando os organismos financeiros efectuam transacções ocasionais que excedam de uma só vez o limiar aplicável (USD/€ 15.000), ou em várias operações; (ii) quando as instituições financeiras efectuam transacções ocasionais sob forma de transferências electrónicas nas circunstâncias previstas na Nota Interpretativa da RE VII; (iii) quando existe uma suspeita de branqueamento de capitais ou de financiamento do terrorismo, independentemente de eventuais excepções ou de limiares referidos nas Recomendações do GAFI; ou (iv) quando as instituições financeiras têm suspeitas relativas à veracidade ou à pertinência dos dados de identificação do cliente previamente obtidos.

35- A Instrução nº 1/2007/RB, do BCEAO, prevê que todos as instituições financeiras devem também aplicar os procedimentos de conhecimento da clientela a todos os clientes existentes.

36- O Artigo 7º da LCBC obriga as instituições financeiras a assegurar-se da identidade e do endereço dos seus clientes antes de abrirem uma conta e de conservar, nomeadamente, títulos, valores ou ordens de pagamento, de atribuir um cofre ou de estabelecer com eles relações de negócios.

A obrigação geral de identificação de pessoas singulares ou colectivas a partir de uma fonte confiável e independente não é explicitamente mencionada pela LCBC.

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37- As instituições financeiras não têm obrigação de adoptar medidas razoáveis (i) para compreender a propriedade e a estrutura de controlo do cliente; (ii) para determinar quem são as pessoas singulares que, em última instância, detêm a propriedade ou o controlo do cliente (inclusive as pessoas singulares que exercem um controlo efectivo sobre uma pessoa colectiva ou sobre uma entidade sem personalidade jurídica ) e (iii) para verificar a identidade do beneficiário efectivo, utilizando informações ou dados relevantes obtidos junto de fonte credível, para que a instituição financeira possa ter um conhecimento satisfatório da identidade do beneficiário efectivo.

Todavia, o Artigo 9º da LCBC estipula que as instituições financeiras devem proceder à declaração de uma operação suspeita junto da CENTIF sempre que, depois da verificação, subsistam dúvidas relativas à identidade do beneficiário efectivo, se o cliente não actuar por conta própria.

38- Encontram-se previstas medidas simplificadas ou reduzidas quando o cliente é uma instituição financeira sujeita à LCBC.

39- Porém, a LCBC não cria, de maneira explícita, um mecanismo para a aplicação de uma abordagem baseada no risco. Por conseguinte, as autoridades de supervisão do sector financeiro não emitiram orientações neste sentido destinadas às instituições supervisionadas.

40- Não existem disposições que obriguem as instituições financeiras a criarem sistemas adequados de gestão de risco para determinar se um potencial cliente, um cliente ou o beneficiário efectivo, é uma pessoa politicamente exposta (PPE), nem a aplicar as medidas de diligência previstas na Recomendação 6.

41- Não se encontra previsto um quadro legislativo para o tratamento do risco que representam as relações transfronteiriças entre bancos correspondentes.

42- As instituições financeiras não estão obrigadas a adoptar políticas ou a tomar medidas para prevenir a utilização abusiva de novas tecnologias para efeitos de branqueamento de capitais ou de financiamento do terrorismo.

43- Não existem disposições que definam critérios, no caso das instituições financeiras recorrerem a terceiros ou a introdutores de negócios.

44- A isenção do dever de sigilo profissional é imposta às instituições financeiras e ao BCEAO. Todavia, não existem disposições que permitam verificar se as leis relativas ao sigilo profissional não impedem a partilha de informações entre as instituições financeiras, como requerido pelas Recomendações 7 e 9 e pela Recomendação Especial VII.

45- Em conformidade com o Artigo 11º da LCBC, as instituições financeiras devem conservar por um período de dez (10) anos - a contar do fecho das suas contas ou da cessação das suas relações com os seus clientes habituais ou ocasionais - as peças e documentos relativos à sua identidade e às operações efectuadas.

46- As transferências electrónicas não são regulamentadas em relação à informação que deve ser incluída na comunicação que será posteriormente transmitida. No caso das transferências electrónicas transfronteiriças, as instituições financeiras ordenantes não têm obrigação de anexar as informações completas sobre o cliente na mensagem ou no formulário de pagamento que acompanha a transferência.

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47- Relativamente às transacções não habituais, a sua definição parece demasiado restritiva na LCBC quanto às operações em causa, não prevendo igualmente que as instituições financeiras devam prestar uma particular atenção às relações de negócios e às transacções com pessoas (incluindo pessoas colectivas e outras instituições financeiras) de outros países que não aplicam ou que aplicam de maneira insuficiente as Recomendações do GAFI.

48- O Artigo 26º da LCBC refere que as pessoas mencionadas no Artigo 5º (que inclui, nomeadamente, as instituições financeiras), devem declarar à CENTIF: «i) as quantias de dinheiro e todos os outros bens na sua posse, quando estes bens poderiam ter origem no branqueamento de capitais; ii) as operações sobre os bens, quando estas se podem inscrever num processo de branqueamento de capitais; iii) as quantias de dinheiro e todos os outros bens na sua posse, quando estes bens, suspeitos de serem destinados ao financiamento do terrorismo, poderiam ter origem na realização de operações relativas ao branqueamento de capitais…».

Além disso, o Artigo 9º estabelece que as instituições financeiras devem proceder à declaração de operações suspeitas junto da CENTIF sempre que, depois da verificação, continuam a existir suspeitas relativas à identidade do titular do direito económico, se o cliente não actuar por conta própria.

Todavia, por não se encontrar ainda operacional, a CENTIF não está em condições de receber declarações de operações suspeitas comunicadas pelas instituições financeiras.

49- O Artigo 13º da LCBC estipula que as instituições financeiras devem elaborar programas harmonizados de prevenção do branqueamento de capitais. Estes programas compreendem nomeadamente: (i) a centralização das informações relativas à identidade dos clientes, dirigentes, mandatários e titulares do direito económico; (ii) o tratamento das transacções suspeitas; (iii) a designação dos responsáveis internos encarregues da aplicação dos programas de luta contra o branqueamento de capitais; (iv) a formação contínua do pessoal; e (v) a implementação de um dispositivo de controlo interno para verificar a aplicação e a eficácia das medidas adoptadas.

A Instrução do BCEAO fixa as obrigações resultantes da LCBC, nomeadamente que as instituições financeiras devem, num um prazo de dois meses a partir do fim do exercício, transmitir ao BCEAO e à Comissão Bancária, um relatório sobre a implementação do dispositivo de prevençao e combate ao branqueamento de capitais. Na prática, a equipa de avaliação constatou que só recentemente o sector bancário (alguns estabelecimentos de crédito) adoptou e comunicou procedimentos, políticas e controlos internos para a prevenção do branqueamento de capitais aos seus funcionários.

50- Não existem disposições que obriguem as instituições financeiras a : (i) assegurar que as suas sucursais e filiais estabelecidas no estrangeiro, apliquem as medidas de prevenção do branqueamento de capitais e do financiamento do terrorismo, de uma forma consistente com as que vigoram internamente e com as Recomendações do GAFI, na medida em que as leis e os regulamentos locais o permitam (isto é, as leis e os regulamentos do país onde estão situadas); e (ii) prestar uma particular atenção para que seja aplicado este princípio nas suas sucursais e filiais situadas em países que não aplicam ou que aplicam de maneira insuficiente as Recomendações do GAFI.

51- Não existem disposições que proibam expressamente as instituições financeiras de iniciarem ou de continuarem relações de correspondência bancária com bancos de fachada. Não existem disposições que obriguem as instituições financeiras a assegurar-se de que as instituições financeiras correspondentes num outro país não permitem que as suas contas sejam utilizadas por bancos de fachada.

52- A supervisão do sector financeiro é realizada a nível comunitário (bancos, agências de câmbio e outros estabelecimentos financeiros) bem como a nível nacional da Guiné-Bissau (nomeadamente, as micro-finanças).

Os bancos e outros estabelecimentos financeiros são sujeitos ao controlo da CB-UEMOA como estipulado no Artigo 13º da Convenção que cria a Comissão Bancária da UEMOA. O BCEAO tem igualmente um poder de supervisão autónomo.

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Os sistemas financeiros descentralizados (até à data, apenas existem as designadas micro-finanças) estão sob a tutela do Ministério das Finanças sendo que, em casos pontuais, as missões de inspecção são conduzidas pelo BCEAO ou pela Comissão Bancária.

O sector dos Seguros está, a nível comunitário, sob a supervisão da Conferência Regional de Controlo dos Seguros (CRCA), que depende da Conferência Interafricana dos Mercados de Seguros (CIMA). No plano nacional, essa tarefa é da competência da Direcção Geral de Supervisão dos Seguros, encarregue de supervisionar o mercado de seguros e de velar pelo cumprimento da regulamentação, de examinar os documentos remetidos pelas sociedades e pelos intermediários e de realizar todas as verificações úteis nas sedes das companhias de seguros. No entanto, não existe nenhuma referência expressa relativa à prevenção do branqueamento de capitais.

O mercado financeiro regional é supervisionado pelo Conselho Regional de Poupança Pública e dos Mercados Financeiros (CREPMF), instituição de regulamentação e de supervisão de tipo supranacional. No entanto, esta entidade não tem nenhum representante na Guiné-Bissau, nem qualquer intermediário neste país.

53- As regras relativas ao controlo dos critérios de competência e de integridade (fit & proper) dos directores e dos gerentes das das companhias de seguros não são estabelecidas.

Não existem processos específicos relativos ao controlo da origem lícita dos capitais para a criação de um banco ou de qualquer outro organismo financeiro – por exemplo, uma instituição de micro-finanças – bem como de procedimentos para verificar a identificação dos beneficiários efectivos.

As condições de diligência em matéria de branqueamento de capitais, aplicáveis aos sectores bancário, de micro-finanças e de seguros são insuficientes ou mesmo inexistentes.

54- Os controlos de prevenção do branqueamento de capitais exercidos pela Comissão Bancária nos bancos são insuficientes e superficiais.

A supervisão exercida sobre o sistema financeiro descentralizado e nas companhias de seguros, apresenta várias deficiências e não integra a matéria relativa ao branqueamento de capitais e ao financiamento do terrorismo .

Os recursos e os meios atribuídos às autoridades de controlo e de supervisão são insuficientes. Verificou-se a inexistência generalizada de formação específica, em matéria ABC/CFT, das entidades responsáveis pela supervisão e pela fiscalização.

55- As sanções aplicáveis às pessoas singulares e colectivas estão previstas na LCBC mas a ausência de uma imposição efectiva destas sanções não permite a avaliação da respectiva eficácia. O regime de sanções previsto nos vários instrumentos jurídicos em vigor deve ser harmonizado, para facilitar a sua aplicação e para que seja eficaz, proporcionada e dissuasiva.

O regime de sanções em vigor continua por se aplicar à violação das obrigações de prevenção do financiamento do terrorismo.

56- Em matéria de orientações, a Instrução do BCEAO (a única emitida para o sector financeiro), não foi difundida a todos os destinários. Este texto contém imprecisões e não contempla todos os elementos de informação que permitam a aplicação e o respeito das obrigações de prevenção do branqueamento de capitais por parte das instituições financeiras.

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No âmbito da prevenção do branqueamento de capitais, não existem orientações para o sector de seguros, nem para o sector bolsista ou das micro-finanças.

Pelo facto de a CENTIF não se encontrar operacional, não é possível assegurar o retorno da informação às instituições financeiras que estão aptas a comunicar DOS.

57- As condições de concessão de autorização ou de licenciamento para o exercício da actividade de transferência de fundos ou de valores carece de transparência. Não existe um controlo ou supervisão das actividades das empresas de transferência de fundos ou de valores. As obrigações de prevenção do branqueamento de capitais e do financiamento do terrorismo aplicáveis às empresas de transferência de fundos ou de valores não são respeitadas.

Não foi aplicada nenhuma sanção pelo não respeito das disposições de prevenção do branqueamento de capitais e do financiamento do terrorismo.

4- MEDIDAS PREVENTIVAS – ACTIVIDADES E PROFISSÕES NÃO FINANCEIRASDESIGNADAS (APNFD)

58- Ainda que a redacção de alguns artigos pareça limitar as obrigações de diligência para com a clientela (Artºs 7º a 9º), de vigilância particular de alguns tipos de operações (Artº 10º) e de conservação dos documentos (Artº 11º) unicamente às instituições financeiras, o Artigo 5º da LCBC, alarga as disposições dos Títulos II e III, respectivamente relativas à prevenção e à detecção do branqueamento de capitais aos membros das profissões jurídicas independentes, quando estes representam ou assistem clientes fora de qualquer procedimento judiciário, nomeadamente, no quadro da compra e da venda de bens, de empresas comerciais ou fundos de comércio, da manipulação de dinheiro, de títulos ou de outros activos que pertençam ao cliente, de abertura ou gestão de contas bancárias, de poupança ou de títulos; constituição, gestão ou administração de empresas, de entidades sem personalidade jurídica (trusts) ou estruturas similares, ou realização de outras operações financeiras. São também abrangidas pela LCBC outras empresas e profissões não financeiras como os corretores, auditores, agentes imobiliários, vendedores de artigos de valor elevado (por exemplo, obras de arte, pedras ou metais preciosos), transportadores de fundos, agências de viagens, directores ou gerentes de casinos e estabelecimentos de jogos, incluindo as lotarias nacionais e as organizações não governamentais.

Em relação ao financiamento do terrorismo, a ausência de transposição da Directiva n° 04/CM/UEMOA/2007 conduz a um vazio jurídico, em termos de prevenção deste tipo de criminalidade no plano das APNFD.

59- No âmbito das instituições financeiras, as carências acima referidas relativamente às obrigações de vigilância para com a clientela, de vigilância reforçada para alguns tipos de operações, de conservação dos documentos e da utilização abusiva das novas tecnologias que favorecem o anonimato, são também aplicáveis às APNFD.

Algumas actividades e profissões não financeiras ignoram a existência da obrigação de declaração de operações suspeitas, o que revela o desconhecimento das disposições da LCBC e torna urgente a necessidade de sensibilizar e de formar, quer as APNFD, quer as próprias autoridades de monitorização ou de fiscalização, relativamente às obrigações previstas na referida lei.

60- Nenhuma das APNFD existentes na Guiné-Bissau é sujeita a um sistema eficiente de controlo ou de fiscalização com o objectivo de assegurar a sua conformidade com as disposições de prevenção e de repressão do branqueamento de capitais previstos na LCBC.

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61- A LCBC é omissa quanto à necessidade de as APNFD disporem de mecanismos ou de programas harmonizados para a prevenção do branqueamento de capitais. Além disso, não existe uma disposição que exija às APNFD uma atenção especial relativamente aos países que não aplicam ou que aplicam de maneira insuficiente as Recomendações do GAFI. Acresce ainda que não existe uma disposição exigindo que as referidas APNFD efectuem um exame particular das transacções realizadas com aqueles países, não estando também prevista a possibilidade de aplicar contra-medidas.

62- Não foram publicadas orientações destinadas às APNFD tendo em vista facilitar a aplicação das obrigações em matéria de prevenção e de repressão do branqueamento de capitais previstas na LCBC, bem como não foram publicadas orientações relativas à prevenção do financiamento do terrorismo pelos motivos já referidos, ou seja, a não transposição da Directiva nº 4/2007/CM/UEMOA, de 4 de Julho.

5- PESSOAS COLECTIVAS E ENTIDADES SEM PERSONALIDADE JURÍDICA E ORGANIZAÇÕES SEM FINS LUCRATIVOS

63- As pessoas colectivas podem ser de natureza civil ou comercial, de acordo com as actividades que prosseguem. Nos termos do Código Civil da Guiné-Bissau, a constituição de pessoas colectivas é possível sob a forma de associações e de fundações, só adquirindo personalidade jurídica pelo reconhecimento, que é da da competência do Governo.

64- No que respeita às pessoas colectivas sob a forma de sociedades comerciais, são regidas pelas disposições do Acto Uniforme relativo ao Direito Comercial Geral (AUDCG) e do Acto Uniforme relativo ao Direito das Sociedades Comerciais e ao Agrupamento de Interesse Económico (AUSDSCAIE), ambos da OHADA (Organização para a Harmonização do Direito dos Negócios em África). Ests Actos Uniformes são de aplicação directa e, por conseguinte, em vigor na Guiné-Bissau, signatária do Tratado que constituiu a OHADA.

65- De acordo com os Artigos 20º a 24º do Acto Uniforme relativa ao Direito Comercial Geral, deve ser criado um Registo do Comércio e do Crédito Mobiliário (RCCM) que, no que respeita às sociedades comerciais e às outras pessoas colectivas sujeitas a registo, inclui obrigatoriamente a denominação social, a natureza da actividade declarada, o endereço da sede social e dos estabelecimentos criados no espaço de jurisdição da sede social ou fora dele e o conjunto das declarações, actos e documentos que lhes digam respeito.

O Decreto n° 02/2005, de 15 de Abril, relativo ao registo nacional dos comerciantes, criou um guichet único onde se concentram todas as formalidades necessárias à legalização das actividades comerciais, industriais, turísticas e artesanais.

O registo das pessoas colectivas no RCCM reporta-se assim às exigências da legislação da OHADA, funcionando junto do Tribunal do Comércio de Bissau, mas independente do mesmo.

66- A legislação em vigor não permite o acesso à informação em tempo oportuno sobre quem são os beneficiários efectivos nem uma adequada transparência em relação a estes beneficiários efectivos e ao controlo das das sociedades anónimas, com acções ao portador.

Apesar de as disposições dos dois Actos Uniformes serem detalhadas no que respeita às informações requeridas e sujeitas a registo e da existência de um registo junto do Tribunal do Comércio, este registo não parece funcionar conforme os critérios requeridos, pelo que esta realidade não permite a obtenção de informações relativas ao beneficiário efectivo de uma sociedade anónima, quando seja titular de acções ao portador, como requerido pela Recomendação 33.

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Além disso, o sistema de registo e os instrumentos jurídicos da OHADA devem ser adaptados às preocupações em matéria de utilização de pessoas colectivas para fins de branqueamento de capitais ou de financiamento do terrorismo.

67- A legislação em vigor na Guiné-Bissau não prevê a criação de express trusts ou de entidades sem personalidade jurídica semelhantes, tal como não reconhece os express trusts ou as entidades sem personalidade jurídica semelhantes constituídas no estrangeiro.

68- Na Guiné-Bissau, não existe uma abordagem integrada de controlo da finalidade e dos objectivos das actividades do sector das Organizações Não Governamentais (ONG) no seu conjunto. Não parece evidente que as ONG sejam obrigadas a fornecer informações disponíveis sobre a pessoa singular ou colectiva que as controla ou as dirige, nem a assegurar a escrituração e a conservação dos registos e documentos relativos às suas operações, para poderem facultar, se necessário, esclarecimentos sobre a utilização dos seus recursos financeiros.

O Decreto n° 23/92 prevê, no seu Artigo 17º, que as ONG devem entregar anualmente à Secretaria de Estado da Cooperação Internacional, até 31 de Março, uma cópia do respectivo relatório de actividades e do relatório financeiro contendo a origem dos fundos, seus quantitativos, as respectivas afectações, a relação de bens importados, bem como o plano de acção para o ano seguinte.

Nesta matéria, nao parece existir um sistema coordenado entre as autoridades nacionais relevante para a prevenção do financiamento do terrorismo que permita a partilha de informações úteis sobre este tipo de ameaça e a promoção de uma investigação e de uma acção rápidas.

No sector das ONGs, existe uma ausência total de controlo, pelo que as autoridades devem adoptar medidas que permitam o acompanhamento e o controlo das organizações não lucrativas, tal como devem adoptar medidas destinadas a proteger este sector da utilização indevida para fins ilícitos, nomeadamente para fins de financiamento do terrorismo.

6- COOPERAÇÃO NACIONAL E INTERNACIONAL

69- A cooperação entre as diferentes autoridades judiciárias e policiais nacionais está assegurada, no quadro da repartição das competências que lhes são atribuídas pelo Código do Processo Penal em matéria de investigação, de prevenção e de repressão da prática de crimes.

É de referir a criação, em 2001, de uma Comissão Intergovernamental ABC/CFT, que inclui representantes do sector público e do sector privado, nomeadamente, de diferentes Ministérios e departamentos da administração pública, do sector financeiro bancário e da sociedade civil. Funciona como um mecanismo de consulta entre todas estas autoridades, promovendo a concertação e tomando decisões em matéria de prevenção do branqueamento de capitais e do financiamento do terrorismo.

70- A Guiné-Bissau assinou em 1995 - mas ainda não ratificou - a Convenção das Nações Unidas contra o Tráfico Ilícito de Estupefacientes e de Substâncias Psicotrópicas (Convenção de Viena), e ratificou, em 11 de Setembro de 2007, a Convenção das Nações Unidas contra a Criminalidade Organizada Transnacional do ano 2000 (Convenção de Palermo) e dois de seus protocolos Adicionais.

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Apesar de não ter ratificado a Convenção de Viena, as suas disposições encontram-se acolhidas no direito interno na LD relativa à prevenção e ao controlo do tráfico de estupefacientes. As disposições da referida Convenção, bem como as da Convenção de Palermo, foram, em larga medida, adoptadas pela LCBC.

71- No entanto, a definição de branqueamento prevista no Artigo 2º da LCBC não se encontra alinhada com a definição da Convenção de Palermo, sendo que a definição de produtos do crime é incompleta, ao não contemplar os produtos directa ou indirectamente derivados da sua comissão. Além disso, em matéria de cooperação judiciária internacional, as suas disposições são incompletas por não incluirem aspectos que regulem a detecção e a repressão do crime de branqueamento de capitais ou a cooperação para fins de perda, sendo manifestamente insuficientes as disposições sobre auxílio judiciário mútuo e sobre extradição, ao que acresce ser omissa quanto à possibilidade de realização de investigações conjuntas e de medidas para a protecção dos testemunhas e vítimas.

72- A Guiné-Bissau assinou em 14 de Novembro de 2001 a Convenção Internacional para a Eliminação do Financiamento do Terrorismo (CFT). Este instrumento jurídico foi ratificado em 19 de Setembro de 2008, mas as suas disposições não foram ainda acolhidas pelo direito interno.

O Código Penal criminaliza apenas o financiamento de organizações terroristas enquanto a Directiva n° 4/2007/CM/UEMOA, de 4 de Julho, ainda não foi transposta no Direito interno da Guiné-Bissau, o que significa que as disposições da Convenção EFT não foram acolhidas na sua totalidade.

73- A aplicação das Resoluções das Nações Unidas é feita através do Regulamento n° 14/2002/CM/UEMOA, de 19 de Setembro de 1992, directamente aplicável na Guiné-Bissau. No entanto, este instrumento não permite a aplicação completa das disposições que daquelas resultam pelo facto de apenas se referir à Resolução 1267 (1999) e, por outro lado, ter o seu campo de aplicação limitado aos bancos e instituições financeiras.

74- De acordo com as informações facultadas à equipa de avaliação, a Guiné-Bissau ratificou a Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção (Mérida) através da Resolução n° 10/2006, de 30 de Novembro de 2006, embora ainda esteja por depositar o respectivo instrumento de ratificação. Ratificou também a Convenção da União Africana relativa à Prevenção e à Luta contra o Terrorismo (Argel), através da Resolução n° 9/2006, da mesma data.

75- A LCBC prevê no seu Título V- Artigos 47º a 75º, um conjunto de disposições relativas à cooperação judiciária internacional em matéria penal, cuja aplicação é limitada aos Estados membros da UEMOA e ao crime de branqueamento de capitais .

76- O branqueamento de capitais é uma infracção que admite a extradição, tal como resulta da LCBC e também nos termos da LD, sempre que o branqueamento de capitais esteja relacionado com o tráfico de estupefacientes, como estabelecido no seu Artigo 40º.

A ausência de transposição da Directiva n° 04/2007/CM/UEMOA relativa ao financiamento do terrorismo, implica que a extradição não poderá ser concedida nas situações que envolvam o financiamento de organizações terroristas, previstas no Código Penal, ou do financiamento do terrorismo e do terrorista individual, condutas ainda por criminalizar.

Além disso, de acordo com disposições constitucionais, é proibida a extradição de nacionais bem como a de cidadãos estrangeiros por motivos políticos. O quadro jurídico é omisso quanto à aplicação do princípio aut dedere aut judicare, ou seja, não se encontra garantida a possibilidade de, em casos de pedidos de extradição de nacionais ou de apresentação desses pedidos por determinados motivos, ou de situações que envolvam a prática do crime de financiamento de organizações terroristas, as autoridades competentes da Guiné-Bissau se

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obrigam a julgar as pessoas reclamadas por outros Estados. A equipa de avaliação não recebeu nenhum elemento estatítico relativo à extradição, seja activa ou passiva, ou sobre o cumprimento de pedidos ou de motivos de recusa.

77- A cooperação entre as autoridades nacionais competentes e as suas homólogas estrangeiras é limitada. Não existe informação prática que permita medir a eficácia da troca de informações com essas autoridades homólogas estrangeiras.

Tendo em conta que a CENTIF não se encontra operacional, não é claro se pode cooperar com UIFs de outra natureza, sejam policiais ou judiciárias, nem se pode obter de outras autoridades nacionais competentes informações relevantes pedidas por outras instituições homólogas ou não estrangeiras.

Não existem estatíticas nem informações que permitam verificar situações concretas que possam confirmar a não existência de condições restritivas, desproporcionadas ou injustificadas à cooperação internacional.

A não criminamização do financiamento do terrorismo e do terrorista individual, assim como o facto de a LCBC ser aplicável unicamente ao branqueamente decapitais, coloca obstáculos à cooperação de natureza não judiciária.

7- OUTRAS QUESTÕES

7-1.

RECURSOS E ESTATÍSTICAS

78- Os meios e os recursos atribuídos às autoridades de aplicação da lei, do controlo e da supervisão são insuficientes.

79- A ausência de formação específica em matéria de ABC/CFT é geral.

80- As autoridades nacionais da Guiné-Bissau não elaboram e mantém estatísticas relativas, nomeadamente, a pedidos de auxílio judiciário mútuo recebidos ou enviados, a pedidos de extradição activa e passiva, a processos, investigações, acusações e condenações pela prática dos crimes de branqueamento de capitais ou de financiamento do terrorismo, a bens congelados, apreendidos ou declarados perdidos bem como aos respectivos montantes. Além disso, não existem também estatísticas sobre o número de comunicações de operações suspeitas, de declarações ou de comunicações nas fronteiras e sanções aplicadas, assim como sobre acções de supervisão ou inspecções realizadas e respectivas sanções.

Rela tór io de ava liação MÚTUA

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GENERALIDADES

INFORMAÇÕES GERAIS SOBRE A GUINE-BISSAU

6. A Guiné-Bissau é um Estado localizado na costa ocidental da África, estendendo-se, no litoral, desde o Cabo Roxo até à ponta Cagete. Tem fronteiras comuns com o Senegal, a norte, com a Guiné, a sul e a este, e com o Oceano Atlântico a Oeste. Além do território continental, o país é formado também por 88 ilhas que constituem o arquipélago dos Bijagós, separado do continente pelos canais dos rios Geba, Pedro Álvares, Bolama e Canhabaque.

7. A sua superfície é de 36.125 km2, encontrando-se dividida em oito regiões administrativas, além do sector autónomo de Bissau: Gabu e Bafatá, a este, Tombali e Quinara a sul, Oio e Cacheu a norte, Bolama e Bijagós no arquipélago. As principais cidades são Bissau, com um número de habitantes à volta dos 250.000, Bafatá, Gabu, Cacheu, Mânsoa, Catió e Catchungo.

8. A população está estimada em cerca de 1,5 milhões, com uma densidade populacional de 37 hab/Km2 e uma taxa de crescimento médio de 2,035% ao ano. Com um PIB por habitante de 138.200 FCFA1

em 2002 a taxa de crescimento real situou-se entre os +7,8% em 1999, +9,3% em 2000, +0,2% em 2001, -4,3% em 2002, -7,0% em 2003 e +2,4% em 2004. Um índice de Desenvolvimento Humano de 0,373 coloca a Guiné-Bissau no conjunto dos países mais pobres a nível mundial.

9. A agricultura é a principal actividade da Guiné-Bissau, constituindo cerca de 95% das exportações. A castanha de caju é a principal componente e o seu financiamento foi assegurado pelo sector bancário, sendo também exportados outros produtos como o algodão, óleo de palma, frutas, produtos derivados da pesca e madeira. Em matéria de pesca, as águas territoriais guineenses são ricas em recursos piscícolas que permitiram gerar cerca de 40% das receitas orçamentais do Estado. Além das actividades ilegais de pesca, a reduzida operacionalidade do porto de Bissau conduz a que as descargas sejam feitas em Banjul ou em Dakar, o que se traduz em perdas para a economia nacional.

10. O sector industrial é constituído essencialmente por unidades de transformação de produtos agrícolas, ainda rudimentar e concentrando-se na zona de Bissau. O sector de serviços é constituído em grande parte por actividades de importação e de exportação e também de comercialização. As principais importações são de derivados do petróleo e os produtos alimentares de base. Como já afirmado, devido às dificuldades nas operações portuárias em Bissau, são utilizados os portos de Banjul e Dakar, tornando a cidade de Gabú como um entreposto, onde estão sitiados os grandes importadores do país, por aqui transitando uma grande parte das mercadorias destinadas à capital. Os operadores económicos locais estão confrontados com a inexistência de uma instituição bancária, o que os obriga a conservar montantes elevados em numerário para as suas transacções.

11. A repartição sectorial das actividades económicas é descrita no seguinte quadro.

Quadro I - Actividades económicas

Sectores % População activa % PIB

Agricultura e pescas 70 60

Minas - -

Indústria 10 9

1 O equivalente a € 210. Fonte Nações Unidas, Primeiro relatório sobre os objectivos do Milénio para o Desenvolvimento da Guiné-Bissau e Plano de Acção do Programa do País 2003-2007 entre o Governo da Guiné-Bissau e o PNUD, Junho de 2004.

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Serviços 20 31

12. Em termos macroeconómicos, os principais indicadores podem ser traduzidos no quadro seguinte2

Quadro II - Indicadores macroeconómicos

:

Unidade 1998 1999 2000 2001 2002ª 2003ª

População Milhares 1 171 1 215 1 258ª 1 302 1 347 1 347

PIB a preços de mercado 10b USD 205,6 224,5 215,4 199,0 216,3b 216,0

PIB per capita USD 175,6 184,8 171,2 152,8 160,6 160,4

Crescimento real do PIB % -21,8 7,8 9,3 0,2 -4,3 -7,0

Taxa de inflação % 7,6 -2,1 9,1 5,0 4,0 7,0

Dívida externa 10b USD 964,0 933,7 804,4 668,3 nd nd

Reservas exc. Ouro 10b USD 35,8 35,3 66,7 69,5 102,7b 115,0

Balança corrente 10b USD -30,0 -3,1 19,5 -9,3 -32,6 -52,6

Balança corrente % do PIB -14,6 -1,4 9,1 -4,7 -15,1 -24,4

Taxa de câmbio 1USD =X CFA 590,0 615,7 712,0 733,0 696,9b 579,5

Notas: (a) Estimativas EIU, (b) Estimativas oficiais, nd – não disponível

13. Nos termos constitucionais, a Guiné-Bissau é uma República e tem como órgãos de soberania o Presidente da República, a Assembleia Nacional Popular, o Governo e os tribunais, baseando-se a organização do poder político na separação e independência desses órgãos de soberania e na subordinação de todos eles à Constituição. O poder legislativo pertence à Assembleia Nacional Popular e ao Governo, nas matérias que não sejam da competência exclusiva daquela. A organização do poder político compreende ainda existência de autarquias locais, que visam a prossecução de interesses próprios das comunidades locais, divididas em municípios, secções autárquicas e juntas locais. A constituição da República da Guiné-Bissau consagra o sufrágio livre e universal.

14. O poder judicial é encabeçado pelo Supremo Tribunal de Justiça, encontrando-se ainda na estrutura judiciária os Tribunais de Círculo, os Tribunais Regionais e os Tribunais de Sector, estes últimos com competência para dirimir pequenas causas. Os tribunais gozam de independência em relação aos restantes poderes e apenas devem obediência à lei.

15. A República da Guiné-Bissau integra a CEDEAO, Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental, a UEMOA, União Económica e Monetária da África Ocidental e a CPLP, Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.

16. É também membro da União Africana, do Banco Africano de Desenvolvimento, do Banco Islâmico de Desenvolvimento e das Nações Unidas e suas agências especializadas, bem como da maior parte dos organismos internacionais como a Organização Mundial do Comércio, o Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento, do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional. Encontra-se associada à União Europeia pelos Acordos de Lomé, assinados em 1975 e renovados em 1979, 1984 e 1989. É, ainda, membro do GIABA – Grupo Intergovernamental de Acção contra o Branqueamento de Capitais na África Ocidental.

1.2 Situação geral em termos de branqueamento de capitais e de financiamento do terrorismo.

17. Em termos de criminalidade registada, as várias autoridades contactadas consideram que a principal actividade ilícita geradora de proventos, na Guiné-Bissau, é o tráfico internacional de estupefacientes, fruto da sua vasta linha costeira, inúmeras ilhas e volume de águas territoriais e dos escassos meios colocados à disposição das diferentes estruturas do Estado com responsabilidade na prevenção e repressão criminal. O país continua a ser uma plataforma para a entrada da cocaína oriunda da América do Sul no território europeu. Além disso, o ambiente é permissivo para as operações de tráfico graças à corrupção latente.

18. A Guiné-Bissau é também uma fonte para o tráfico de crianças, depois forçadas a trabalhar na agricultura ou a ser exploradas na mendicidade nas ruas de outros países da África Ocidental. A inexistência de legislação de prevenção e de

2 Fonte: EIU, The Economist Intelligence Unit.

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repressão deste tipo de criminalidade e os esforços inadequados na investigação e perseguição criminal destes crimes de tráfico e na condenação dos seus autores é também um factor que contribui para a ideia geral de permissividade do sistema vigente.

19. A corrupção é também entendida como elevada. De acordo com dados recentes da Transparência Internacional, a Guiné-Bissau caiu 11 lugares no índice global de corrupção divulgado em 25 de Setembro de 2008, ocupando agora o 158º lugar ente 180 países, o que revela também a ineficácia das medidas preventivas e das estruturas existentes para combater este ilícito criminal, como é o caso da Inspecção Superior contra a Corrupção, criada pela Lei nº 6-B/95 de 17 de Julho. A par desta realidade, a falta de meios técnicos, humanos e materiais das instituições policiais e judiciárias, com reflexos ao nível da qualidade e eficácia da prevenção e investigação criminal e no próprio andamento regular dos procedimentos penais conduz, muitas vezes, à enorme lentidão e à não execução e exequibilidade das decisões proferidas pelos tribunais.

20. O índice Ibrahim de Governação Africana de 2008 coloca a Guiné-Bissau na posição 30 num conjunto de 48 países, levando em linha de conta a transparência, a corrupção, a oportunidade económica e o desenvolvimento humano (www.moibrahimfoundation.org ).

21. A par destes tipos de criminalidade, que assola também outros países da região e muitas vezes facilitados pela instabilidade política e pelos conflitos armados, pela fragilidade dos Estados derivada da falta de meios e da corrupção e pelos próprios índices de pobreza que são uma excelente fonte de recrutamento para a prática de actividades ilícitas, outros tipos de crimes registados na Guiné-Bissau são o furto e o roubo, este com utilização de armas de fogo, os homicídios e as ofensas corporais, o peculato, a administração danosa e também o contrabando. Segundo informação recolhida, existem organizações criminosas envolvidas no tráfico de estupefacientes, que estão baseadas noutros países e recorrendo a cidadãos guineenses para actividades de apoio logístico, nomeadamente desembarques, armazenamento e transporte dos produtos estupefacientes.

22. A inexistência de estatísticas, a par do reduzido número de processos que chegam a tribunal e da falta de um registo criminal, obsta a um conhecimento mais concreto e detalhado das actividades ilícitas na Guiné-Bissau em geral. Porém, como afirmado por várias autoridades, existem fortes suspeitas da prática do crime de branqueamento de capitais, se bem que o sistema financeiro não tenha feito qualquer comunicação de operações não usuais, sobretudo também porque não sabe a que autoridade se dirigir. O facto de ser uma economia baseada no numerário como meio de pagamento, com a taxa de intermediação bancária a situar-se nos 2%, leva a admitir como bastante provável que o sector informal esteja a ser o mais utilizado para fins de branqueamento de capitais.

23. No que concerne ao terrorismo e ao seu financiamento, não existe qualquer registo de investigações conduzidas ou de processos que tenham chegado a tribunal, pelo que não se pode afirmar, com um elevado grau de certeza, que não existam actividades deste tipo na Guiné-Bissau ou, sequer, que não foram detectados indícios consistentes da existência de qualquer grupo terrorista nacional ou da utilização de movimentos radicais nacionais por organizações terroristas estrangeiras.

1.3 PANORAMA DO SECTOR FINANCEIRO E DAS APNFDS

24. O sector financeiro formal é ainda pouco desenvolvido na Guiné-Bissau, podendo encontra-se bancos, sociedades financeiras, instituições de micro-finanças, agências de câmbios (intermediários de câmbio manual) e companhias de seguros e de resseguros.

25. O sistema bancário e a política de crédito inscreveram-se, depois da independência do país, no quadro de gestão de uma economia planificada, onde a organização e o funcionamento do sistema bancário resultava das instruções e orientações do Estado. A partir de 1986 assistiu-se a uma profunda reconversão da economia, para passar de um sistema planificado para um sistema liberal, tendo passado a ser admitidos bancos comerciais, enquadrados por normas de funcionamento da banca privada clássica. Foi então criado o Banco Internacional da Guiné-Bissau, hoje desaparecido, e uma sucursal do Banco Totta & Açores, este de Portugal, que também já não opera no país.

26. As informações a que a equipa de avaliação teve acesso revelam que, em finais de 1996, as operações do sector bancário se resumiam a: as contribuições dos dois bancos comerciais eram de 9.000 milhões de FCFA e os depósitos existentes eram de 14.000 FCFA, essencialmente em contas à ordem. Os créditos à economia eram sobretudo créditos de curto prazo, fruto dos elevados índices de inflação, sendo as contribuições essencialmente destinadas ao sector comercial e para o financiamento das campanhas de castanha de caju. A maior parte das actividades produtivas do país não recorria ao financiamento bancário atentas as taxas proibitivas, muitas vezes de valores até aos 50%, o que tornava inviável a rentabilidade de muitos projectos.

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27. Em 31 de Dezembro de 2000, as operações do sector bancário revelavam que as contribuições dos dois bancos comerciais ascendiam a 20.000 milhões de FCFA e o montante dos depósitos era de 24.000 milhões de FCFA.

28. A entrada da Guiné-Bissau na UEMOA permitiu um mais importante financiamento da economia local e uma melhor recolha das poupanças. Efectivamente, tendo por referência o ano de 1996, o aumento dos créditos foi de 11.000 milhões FCFA e dos depósitos foi de 11.000 milhões FCFA e, apesar do conflito de 1998, o crescimento médio anual foi respectivamente de 2.750 milhões de FCFA e 2.500 milhões de FCFA.

29. O número de bancos comerciais é, por conseguinte, ainda reduzido em número, todos concentrados na cidade de Bissau, alguns com agências noutras localidades, ao mesmo tempo que a intermediação bancária é praticamente inexistente.

Quadro III - Bancos existentes

Nome da Instituição Situação Operacional Propriedade

Banco da África Ocidental Em actividade Sociedade anónima Capital: 1.343,2 milhões de FCFA Repartição (em milhões de FCFA) %: Pessoas colectivas estrangeiras: 757.155 56, 37 Pessoas singulares nacionais: 488. 370 36,36 Pessoas singulares estrangeiras: 97. 675 7, 27 Total do balanço: 21.940 milhões de FCFA Contas existentes: 13.477

Banco ECOBANK – Guiné-Bissau Em actividade Sociedade anónima Capital: 1600 milhões de FCFA Total do balanço: 21.940 FCFA Contas existentes: 6434

Banco da União Em actividade Sociedade anónima Capital: 2000 milhões de FCFA Repartição (em milhões FCFA) %: Nacionais: 200 Não nacionais: 1800 Total do balanço: 8843 mil~hoes de FCFA Contas existentes: 10.615

Banco Regional da Solidariedade Em actividade Sociedade anónima Capital: 2000 milhões de FCFA Repartição (em milhões FCFA) %: Nacionais: 1 Não nacionais: 1999 Total do balanço: 2739 mil~hoes FCFA Contas existentes: 141

30. De acordo com o relatório anual da Comissão Bancária da UMOA, o total dos balanços dos quatro bancos comerciais em actividade ascendia, em 31 de Dezembro de 2007, a 45.445 milhões de FCFA. Na mesma data, o total de empréstimos era de 14.311 milhões de FCFA constituído por créditos a curto prazo à economia no valor de 9.704 FCFA. Os recursos eram de 26.575 milhões de FCFA compostos essencialemente por depósitos à ordem (176.1 milhões de FCFA).

. A intermediação bancária na Guiné-Bissau situar-se apenas nos 2%, apesar de o Regulamento nº 15/2002/CM/UEMOA, de 19 de Setembro, relativo aos sistemas de pagamentos nos Estados membros da UEMOA, indicar que os comerciantes estão obrigados à abertura de conta junto de um banco ou dos serviços financeiros postais e que qualquer pessoa singular ou colectiva estabelecida num daqueles Estados e que possua um rendimento regular tem direito a abrir uma conta junto de um banco ou dos serviços financeiros postais.

31. Por força desta realidade, a oferta de serviços bancários é limitada, como é o caso dos depósitos em conta simples ou a prazo ou das contas de poupança com regime especial. Os bancos disponibilizam também créditos de campanha, cartas de crédito e financiamentos estruturados, como é o caso da comercialização e exportação da castanha de caju. Além disso, o numerário continua a ser o meio de pagamento privilegiado das operações, sejam de levantamento ou de depósito. No entanto, encontram-se à disposição da clientela outros meios de pagamento como os cheques, as transferências e as letras de pagamento. A existência de máquinas distribuidoras de dinheiro é também muito reduzida.

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Quadro IV - Sector financeiro formal

Descrição Número

Bancos 4

Sociedades financeiras 1

Instituições de micro-finanças 24

Agências de câmbios / Intermediários de câmbio manual nd

Companhias de seguros e de resseguros 3

Mediadores de seguros 1

Direcção nacional do BCEAO 1

Sociedades de transferência de valores ou de fundos 4

Tesouro Público 1

Estabelecimentos emissores de moeda electrónica 0

Estabelecimentos distribuidores de moeda electrónica 0

Estabelecimentos de moeda electrónica 0

32. Pelo menos um dos bancos mantém relações de correspondência bancária com o exterior, embora não existam filiais de bancos da Guiné-Bissau no estrangeiro.

33. A título de exemplo da actividade comercial, um dos bancos a operar em Bissau desde 2000, possui 16.359 contas abertas, repartidas entre 14.241 contas de particulares e 2.118 contas pertencentes a pessoas colectivas. O total dos depósitos da clientela representava, em Junho de 2008, 19.025 milhões de FCFA, apresentando resultados antes de impostos no valor de 687 milhões de FCFA.

34. De registar ainda que os bancos estabeleceram algumas parcerias com empresas que se dedicam às transferências internacionais de dinheiro, como é o caso da MoneyGram ou Western Union, que estão mesmo fisicamente situadas dentro ou ao lado das agências bancárias, com excepção de um estabelecimento relacionado com a Western Union. Este estabelecimento, denominado SOFIP – sociedade financeira Internacional de Bissau Lda “Western Union” dedica-se à remessa de valores e à transferência electrónica de fundos, tal como referido no Despacho nº 80/99 do Ministério da Economia e Finanças.

35. No entanto, não foram disponibilizados à equipa de avaliação elementos que permitam ter uma ideia do volume de negócios desta actividade.

36. A Associação Profissional dos Bancos e Entidades Financeiras, criada em 2006 no cumprimento do disposto na Lei nº 10/97, de 2 de Dezembro (Lei bancária), tem como associados todos os bancos existentes na Guiné-Bissau, prosseguindo, entre outros, esforços para o aumento da utilização de serviços bancários pela população, a regulamentação dos serviços financeiros prestados ao público e a formação dos funcionários destas entidades. A associação é membro da Associação de Bancos da UEMOA.

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37. A adesão à UEMOA levou a que, nos termos do Artigo 22º do respectivo Tratado constitutivo, a Guiné-Bissau adoptasse uma regulamentação uniforme no domínio da organização geral da distribuição e do controlo do crédito. Através da Lei nº 11/97, de 2 de Dezembro, foi adoptado o regime geral das instituições mutualistas ou cooperativas de crédito e poupança, também designadas como actividades de micro-finanças.

38. As instituições de micro-finanças, enquanto entidades de natureza mutualista baseadas na solidariedade social, encontram-se reunidas na Associação de Instituições de Micro-Finanças, em número de 24, ainda que algumas sejam ONGs que realizam também actividades de micro-finanças. Facultam aos seus associados produtos financeiros como créditos de pequeno montante e a possibilidade de fazer poupanças em conta, sendo necessária a existência de conta na instituição para que um empréstimo possa ser concedido.

39. Uma das instituições visitada pela equipa de avaliação indicou ter 2.870 membros, sendo a quase totalidade dos empréstimos concedidos para actividades destinadas ao investimento ou ao consumo, de compra e venda e de compra para revenda de certos bens ou produtos. De acordo com os seus dirigentes, o risco de concessão de crédito é elevado porquanto muitos dos seus clientes acabam por não para cumprir as suas obrigações, causando perturbação em termos de tesouraria e dificuldades financeiras.

40. Não existem elementos sobre o número de clientes deste sector, o valor percentual que estes clientes representam em termos da população da Guiné-Bissau, nem sequer qual o montante dos activos geridos pelas instituições de micro-finanças. Apenas se sabe que têm uma implantação maior que o sector financeiro bancário no território do país, ainda que um bom número destas instituições esteja estabelecido em zonas urbanas.

41. No plano da actividade seguradora existem três companhias de seguros, todas a operar em Bissau, tendo uma delas agentes de seguros em 5 cidades. As actividades de mediador de seguros e de angariador de seguros são praticamente inexistentes e apenas são feitas para o seguro automóvel.

Quadro V - Companhias de seguros

Companhia Tipo de actividade Formação do capital

GUINÉBIS Seguros e resseguros.

Seguro automóvel, de viagem, de transportes

75% nacional

25% estrangeiro

ALIANÇA Seguro automóvel, de viagem, de transportes 32% nacional

68% estrangeiro

NSIA Seguro automóvel, de viagem, de transportes 30% nacional

70% estrangeiro

42. O seguro automóvel, porque obrigatório, representa o maior segmento da actividade seguradora na Guiné-Bissau, sendo responsável por aproximadamente 60 a 70% do montante dos prémios pagos anualmente. Outros segmentos significativos do mercado segurador incluem seguros de viagem ou seguros ligados ao transporte de mercadorias e os seguros marítimos.

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43. O ramo Vida puro representa um segmento muito pequeno do mercado e as companhias de seguros referem que muitas das pessoas que compram este produto apenas o fazem porque se torna necessário como garantia para alguns tipos de empréstimo. Uma das companhias suspendeu mesmo a comercialização de seguros do ramo Vida, existindo plena consciência que o mercado existente na Guiné-Bissau é de alto risco para esta indústria. Outro produto pouco utilizado é o seguro de saúde.

44. Encontram-se a operar no mercado um número elevado de agências de câmbio, que praticam esta actividade de câmbio manual de moeda, não tendo sido possível apurar exactamente a sua quantidade e o respectivo volume de negócios, ao mesmo tempo que são alvo da forte concorrência do câmbio informal, praticado sem qualquer controlo das autoridades.

45. De acordo com um estudo realizado pelo BCEAO3

, a actividade de câmbios está concentrada essencialmente em Bissau e é dominada pelos intermediários de câmbio manual existindo, em 2006, 7 intermediários devidamente autorizados pelo Ministro das Finanças. Os dados disponíveis revelam que, em 2005, estes operadores realizaram 80,1% do volume de transacções no mercado de câmbios (11,8 mil milhões de FCFA) contra apenas 11,4% realizadas pelos bancos (1,7 mil milhões de FCFA) e 8,5% realizada pela agência principal do BCEAO na Guiné-Bissau (0,8 mil milhões de FCFA). Em 2006, o volume anual das operações de câmbio realizadas pelo conjunto destes actores situava-se nos 14,8 mil milhões de FCFA, correspondentes a 10,2% do PIB e a 13,3% do valor nominal das transacções sobre os bens e serviços da Guiné-Bissau. O montante dos impostos pagos por estas estruturas foi de 840.000 FCFA em 2005, valor que não reflecte a importância do volume de negócios realizados nesse espaço temporal.

46. Numa economia baseada no numerário, não pode deixar de ser feita também uma alusão às actividades de câmbio informal de moeda, que é praticada em vários estabelecimentos comerciais e nas próprias ruas, constituindo um factor de concorrência para as actividades sujeitas a autorização ou licenciamento, como os bancos e as agências de câmbio, não estando sujeitas a qualquer fiscalização pelas autoridades públicas, mesmo pelas autoridades policiais. Este câmbio informal não se limita às principais divisas internacionais - USD ou EUR – mas também a outras divisas que circulam em África.

47. Considerando a importância destas actividades, o seu controlo reveste-se de uma particular importância, no sentido de evitar uma derrapagem ligada não apenas aos aspectos do cumprimento da regulamentação em vigor mas sobretudo também a fuga aos impostos, ao facilitar do branqueamento de capitais e aos desequilíbrios macroeconómicos a que pode dar origem.

48. Não existe uma Bolsa de Valores na Guiné-Bissau, mas apenas a nível regional – Bolsa Regional de Valores Mobiliários, em Abidjan, Costa do Marfim -, sem que esteja designado um correspondente nacional no país ou intermediários, como as Sociedades de Gestão e de intermediação (SGI).

Quadro VI - Actividade financeira por tipo de instituição financeira

Tipo de actividade financeira

(ver o Glossário das 40 Recomendações)

Tipo de instituição financeira que executa a actividade

Entidade reguladora e supervisora de ABC/CFT

1. Recepção de depósitos e outros fundos reembolsáveis do público (incluindo private banking)

Bancos

BCEAO/Comissão Bancária

2. Empréstimos (incluindo crédito ao consumo, crédito hipotecário; factoring com ou sem recurso; e financiamento de transacções comerciais

Bancos

Instituições de micro-finanças

BCEAO/Comissão Bancária

3 «O mercado de câmbios manuais na Guiné-Bissau», BCEAO, 18 de Agosto de 2006.

Page 31: Relatório de Avaliação Mútua - GIABA

3. Locação financeira (excepto acordos de locação financeira sobre produtos de consumo)

Bancos

Instituições de micro-finanças

BCEAO/Comissão Bancária

4. Transferências de numerário ou valores (incluindo actividade financeira formal e informal (por exemplo, actividade de remessa alternativa de fundos) mas excluindo qualquer pessoa singular ou colectiva que apenas forneça às instituições financeiras sistemas de mensagens ou outros sistemas de apoio para a transferência de fundos)

Bancos, Correios, Empresas de transferêmnica de valores por delegação dos bancos

BCEAO/Comissão Bancária

5. Emissão e gestão de meios de pagamento (por exemplo, cartões de crédito e de débito, cheques, cheques de viagem, ordens de pagamento e cartas de crédito, moeda electrónica)

Bancos

Estabelecimentos de moeda electrónica

BCEAO/Comissão Bancária

6. Garantias e compromissos financeiros Bancos BCEAO/Comissão Bancária

7. Transacções sobre:

(a) instrumentos do mercado monetário (cheques, letras, certificados de depósito, derivados, etc.);

(b) mercado de câmbios;

(c) instrumentos sobre divisas, taxas de juro e índices;

(d) valores mobiliários;

(e) operações a prazo sobre mercadorias

Bancos

BRVM

BCEAO/Comissão Bancária/CREPMF

8. Participação em emissões de valores mobiliários e prestação de serviços financeiros conexos

Bancos

CREPMF

9. Gestão individual e colectiva de patrimónios Bancos

10. Guarda e administração de fundos ou valores mobiliários líquidos por conta de clientes

Bancos BCEAO/Comissão Bancária/CREPMF

11. Qualquer outra forma de investimento, administração ou gestão de fundos ou de numerário por conta de clientes

Bancos

12. Subscrição e colocação de seguros de vida e outros seguros relacionados com investimentos (incluindo seguradoras e mediadores de seguros (agentes e corretores))

Companhias de seguros DGSS/CRCA

13. Câmbio manual Bancos

Agências de câmbios

Ministério das Finanças/BCEAO

PANORAMA DO SECTOR DAS APNFD

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49. São várias as actividades e profissões não financeiras existentes na Guiné-Bissau e que, nos termos da Lei nº 1/2003/CM/UEMOA (LCBC), de 2 de Novembro, se encontram obrigadas às disposições em matéria de prevenção do branqueamento de capitais.

50. Advogados: Existem 98 advogados, dos quais 38 são advogados estagiários, todos inscritos na Ordem dos Advogados da Guiné-Bissau. O exercício da profissão de advogado está sujeito a inscrição obrigatória na Ordem dos Advogados, que se caracteriza como uma associação pública, independente dos órgãos do Estado e livre e autónoma no estabelecimento das suas regras, que representa os licenciados em Direito, habilitados profissionalmente a exercer a advocacia. Encontram-se sujeitos à jurisdição disciplinar exclusiva dos órgãos da Ordem dos Advogados.

51. Nos casos em que a legislação processual penal o imponha, o suspeito ou réu deve ser acompanhado por alguém que assegure a sua defesa em juízo que deve ser, nos termos legais, um advogado. Além de um conjunto de actos que são exclusivos, do aconselhamento e consultadoria jurídica e do exercício do mandato judicial, os advogados podem também praticar outros tipos de actividade, incluindo de natureza financeira, em nome ou por conta de um cliente, como referido na LCBC:

- Compra e venda de bens, de empresas comerciais ou de fundos do comércio;

- Manipulação de dinheiro, de títulos ou de outros activos que pertençam ao cliente;

- Abertura ou gestão de contas bancárias, de poupança ou de títulos; e

- Constituição, gestão ou administração de empresas, de entidades sem personalidade jurídica (trusts) ou de estruturas semelhantes e realização de outras operações financeiras.

52. Técnicos Oficiais de Contas: O exercício da profissão de técnico oficial de contas está sujeito a inscrição obrigatória na Ordem dos Técnicos Oficiais de Contas, entidade com a natureza de pessoa colectiva de direito público, dotada de personalidade jurídica, a quem compete representar os interesses profissionais dos Técnicos Oficiais de Contas bem como superintender em todos os aspectos relacionados com a profissão, nos termos do respectivo Estatuto (Decreto nº 1/2007, de 30 de Abril). A Ordem tem jurisdição disciplinar sobre os seus membros.

53. Os técnicos oficiais de contas podem dividir-se em três categorias, ou seja, revisores oficiais de contas, contabilistas acreditados e estagiários. Compete-lhes rever, apreciar e verificar as contas de empresas ou organismos, certificar a regularidade e a fidelidade das demonstrações financeiras de empresas e organismos, avaliar as empresas em caso de fusão, cisão, cessação, absorção avaliação parcial do activo ou aumento do capital e análise das contas e auditorias financeiras. Pode ainda desempenhar funções de árbitro e de mandatário judicial em matéria contabilística, de liquidatário judicial ou de administrador provisório e, de uma forma geral, dar conselhos ou fazer recomendações em matéria jurídica e fiscal, de gestão ou de organização.

54. Encontram-se inscritos na Ordem dos Revisores Oficiais de Contas 9 Revisores Oficiais de Contas, 1 Revisor Oficial de Contas estagiário, 1 Sociedade de Revisores de Contas e 1 Contabilista estagiário.

55. Agentes imobiliários: Não é conhecido o número de agentes imobiliários existente na Guiné-Bissau, embora tenha sido referido existirem apenas duas agências. É uma actividade sujeita a licenciamento por parte do Ministério do Comércio, Indústria e Artesanato.

56. Vendedores de artigos de valor elevado: Não é conhecido o número de vendedores de bens de valor elevado tais como pedras ou de metais preciosos ou de objectos de arte, considerando que se trata de uma actividade de livre exercício, não sujeita a licença ou autorização.

57. Transportadores de fundos: Existem 2 empresas de segurança privada, uma das quais se dedica ao transporte de valores, carecendo de uma licença do Ministério do Interior para o exercício dessa actividade.

58. Agências de viagens: Existem 4 agências de viagens, sujeitas a licença do Ministério do Turismo para o exercício desta actividade.

59. Proprietários, directores e gerentes de casinos e estabelecimentos de jogos: Existe um casino em Bissau, ao qual foi concedida uma licença pelo Ministério do Turismo . Todavia, a equipa de avaliação não pode constatar o exercício efectivo de actividades deste estabelecimento.

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60. ONGs: Embora um elevado número pratique actividades de natureza financeira, recebendo depósitos e concedendo créditos e empréstimos de pequeno montante, as ONGs dedicam-se essencialmente ao apoio o desenvolvimento, em várias áreas distintas, desde o saneamento urbano, à protecção do ambiente e à protecção dos direitos humanos.

61. Existem 123 organizações desta natureza reunidas na PLACOM, plataforma das ONGs da Guiné-Bissau, sendo que carecem de legalização junto do Ministério da Justiça e também junto do Ministério das Finanças, sempre que pratiquem actividades de micro-crédito.

PANORAMA DAS LEIS COMERCIAIS E DOS MECANISMOS QUE REGULAM AS PESSOAS COLECTIVAS E AS

ENTIDADES SEM PERSONALIDADE JURÍDICA (LEGAL ARRANGEMENTS)

62. A legislação comercial e os mecanismos que regulam as pessoas colectivas encontram-se previstos no Acto Uniforme relativo ao Direito Comercial Geral (AUDCG), de 17 de Abril de 1997 e no Acto Uniforme relativo ao Direito das Sociedades Comerciais e ao Agrupamento de Interesse Económico (AUDSCCAIE), da mesma data, ambos da OHADA, sendo directamente aplicáveis na Guiné-Bissau.

63. Nos termos do Artigo 99º do Acto Uniforme relativo ao Direito das Sociedades Comerciais e ao Agrupamento de Interesse Económico, são revogadas todas as disposições em vigor contrárias ao mesmo, sem prejuízo da sua aplicação transitória, durante um período de dois anos, a contar da data da entrada em vigor, às sociedades que não tenham adaptado os seus estatutos em conformidade com este Acto. No entanto, não foi facultada informação sobre se o Código Comercial de 1888, mantido pela Lei nº 1/73, de 24 de Setembro de 1973, ainda se encontra em vigor.

64. Nos termos deste Acto Uniforme, todas as pessoas, singulares ou colectivas, que desejem prosseguir uma actividade de natureza comercial devem sujeitar-se ao procedimento de constituição e registo. Encontra-se prevista a constituição e a existência de vários tipos de sociedades, como as sociedades em participação, que são sociedades constituídas mas não registadas, pelo que não têm personalidade jurídica. Outros tipos de sociedades previstos são as sociedades em nome colectivo, as sociedades em comandita simples, as sociedades de responsabilidade limitada, as sociedades em participação e as sociedades anónimas, podendo estas últimas emitir acções nominativas ou ao portador. Uma outra forma societária também prevista é a sociedade anónima unipessoal.

65. De acordo com o princípio da liberdade de associação, consagrado na Constituição da República da Guiné-Bissau, é livre a constituição de associações, sem qualquer dependência de autorização e desde que não se destinem a promover a violência nem os respectivos fins sejam contrários à lei. O Código Civil prevê a constituição de associações, fundações e de associações sem personalidade jurídica, contendo disposições para a sua constituição e organização interna básica, bem como os motivos legais de extinção e os efeitos desse acto, desconhecendo-se o número e, mesmo, a existência de fundações.

66. De referir ainda que a Lei nº 11/97, de 2 de Dezembro de 1997, regula a constituição de instituições mutualistas, na forma de associações, e de cooperativas de crédito.

67. Não é também conhecida a existência de entidades sem personalidade jurídica (legal arrangemets) apenas tendo sido facultada, em termos estatísticos, a informação de que é de 1571 o número de pessoas colectivas registadas, o que não permite conhecer o tipo e a natureza destas entidades.

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Panorama da estratégia para impedir o branqueamento de capitais e o financiamento do terrorismo Estratégias e prioridades ABC/CFT 68. O quadro jurídico existente na Guiné-Bissau para a prevenção do branqueamento de capitais assenta essencialmente na LCBC, de 2 de Novembro de 2004, a par da regulamentação da UEMOA e das Instruções do BCEAO. 69. No entanto, apesar da designação de uma Comissão Interministerial ABC/CFT no ano de 2001, cujo mandato não se encontra definido, as dificuldades de vária ordem e em vários planos com que o país se depara, a inércia das instituições e a escassez de meios materiais e humanos permitem afirmar que a prevenção e o combate ao branqueamento de capitais e ao financiamento do terrorismo não foi assumida, até à data, como uma prioridade para as autoridades da Guiné-Bissau.

70. Daí que não tenha sido definida uma estratégia nacional de prevenção contra o branqueamento de capitais, sendo certo que, em relação ao financiamento do terrorismo a legislação nacional de transposição da Directiva nº 04/ 2007/CM/UEMOA, de 4 de Julho, relativa à luta contra o financiamento do terrorismo se encontre ainda por aprovar. Uma estratégia desta natureza deveria definir objectivos, identificar prioridades, reunir os meios essenciais para a sua aplicação e permitir a avaliação dos resultados obtidos, tendo em vista a criação de um sistema nacional ABC/CFT e o cumprimento dos padrões internacionais nesta matéria.

71. Alguns passos têm sido timidamente dados, como é o caso da criação de uma CENTIF ou de um Gabinete de luta contra a corrupção e delitos económicos, na Procuradoria-Geral da República, embora tal seja manifestamente insuficiente para garantir aspectos essenciais como sejam a coordenação interna entre todas as autoridades com competências na matéria e a circulação da informação relevante entre todos os departamentos da Administração Pública. A visita da equipa de avaliação permitiu constatar a falta de operacionalidade das estruturas já criadas e, sobretudo, a não aplicação e o desconhecimento da legislação de prevenção do branqueamento, mesmo em algumas estruturas do Estado, praticamente 4 anos depois da sua publicação no Boletim Oficial e entrada em vigor.

72. Assim, em conclusão, a nível governamental não existe uma política concreta ou mesmo uma estratégia articulada que envolva todos os actores nacionais na prevenção do branqueamento de capitais e de financiamento do terrorismo, sobretudo quando é conhecida a realidade do tráfico de estupefacientes que assola a Guiné-Bissau e que é geradora de grandes proventos, a que se procura depois dar uma aparência lícita. Existem indícios de branqueamento de capitais no país, uma consciência da vulnerabilidade do sistema financeiro bancário e não bancário, bem como da grande fragilidade das instituições de prevenção, de investigação e de repressão destas actividades, embora estejam por definir e aprovar estratégias e prioridades para enfrentar esta realidade.

Enquadramento institucional para combater ao branqueamento de capitais e o financiamento do terrorismo

73. O enquadramento institucional para o combate ao branqueamento de capitais e ao financiamento do terrorismo na Guiné-Bissau é o seguinte:

74. Ministério das Finanças: Nos termos da Lei Orgânica do Governo, é o departamento governamental responsável pela definição, condução e execução da política financeira do Estado, nomeadamente no domínio orçamental e fiscal. Este Ministério tem responsabilidades acrescidas no domínio da prevenção do branqueamento de capitais e do financiamento do terrorismo, já que, a par da fiscalização do cumprimento da legislação em vigor por alguns serviços sob a sua tutela, acolhe também a CENTIF, tal como resulta do Artigo 16º da LCBC, de 2 de Novembro de 2004.

75. CADESP, Célula de Apoio ao Desenvolvimento da Economia Solidária – Poupança e Crédito: na tutela do Ministério das Finanças, compete a este serviço participar na elaboração da política nacional de micro-finanças, assegurar a presença permanente do Estado nos fóruns sobre micro-finanças, realizar os recenseamentos das instituições deste sector e seleccionar as que se dedicam à actividade de poupança e crédito e acompanhar as inovações da OHADA em matéria de usura e micro-financiamento. Além disso, é responsável pela concessão de licenças e pela criação de um ficheiro nacional bem como pela elaboração de relatórios trimestrais consolidados, a enviar às outras entidades de controlo e supervisão, a saber o BCEAO/MRDM e Comissão Bancária da UEMOA. É da sua competência a elaboração de estatísticas do sistema financeiro descentralizado da Guiné-Bissau.

76. Em termos de inspecção, faz o acompanhamento, seguimento e avaliação da situação financeira das instituições de micro-finanças quer através de documentação recebida quer no local, junto de estabelecimentos ou de organizações encarregues da distribuição de fundos destinados ao micro-financiamento e também junto de redes de instituições mutualistas ou de cooperativas de poupança e crédito. A CADESP é, por conseguinte, o serviço responsável pela supervisão do cumprimento das obrigações relativas ao combate ao branqueamento, considerando que as instituições de micro-finanças devem ser consideradas instituições financeiras, ao prestarem serviços desta natureza.

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77. Direcção da Moeda, Crédito e Mercados Financeiros: é o serviço do Ministério das Finanças que, dentro da Direcção-Geral do Tesouro, participa na elaboração e supervisão dos regulamentos relativos ao sector bancário e ao exercício das profissões nele exercidas. Cabe-lhe ainda assegurar o exercício da tutela e de controlo sobre os bancos e demais estabelecimentos financeiros, supervisionar as relações monetárias e financeiras com o estrangeiro, para além da participação na gestão de políticas monetárias e de crédito. A este título, compete-lhe preparar os instrumentos e circulares destinados aos intermediários financeiros e aos serviços aduaneiros, acompanhar a situação de transferências em divisas e participar na preparação da balança de pagamentos, assegurar as relações com as autoridades monetárias nacionais e internacionais e seguir as actividades do mercado financeiro regional.

78. A par com a Comissão Bancária da UEMOA, é também responsável pela supervisão do sector financeiro bancário e das instituições financeiras estabelecidas na Guiné-Bissau em matéria de prevenção do branqueamento de capitais.

79. Direcção-Geral de Supervisão de Seguros: é o serviço do Ministério das Finanças responsável pela aplicação da política nacional em matéria de seguros, cabendo-lhe acompanhar a participação do Estado nas empresas com capitais participados. Tem como missão assegurar a salvaguarda dos interesses dos segurados e beneficiários de contratos de seguros, orientar o mercado segurador em conformidade com o interesse geral e, nessa medida, elaborar leis e regulamentos relativos ao sector de seguros, assegurar o controlo dos organismos e operações das companhias de seguros, comunicar à Comissão de Controlo todas as informações sobre os estados financeiros das companhias seguradoras e a evolução do mercado, bem como supervisionar, de uma forma geral, o mercado de seguros e o respeito pela regulamentação em vigor, efectuar o exame de toda a documentação recebida pelas companhias de seguros e intermediários e realizar todas as inspecções úteis nas sedes destas companhias.

80. A DGSS é, por conseguinte, a entidade responsável pela verificação do cumprimento da legislação em matéria de prevenção do branqueamento de capitais nas companhias de seguros a operar na Guiné-Bissau.

81. Inspecção-Geral de Finanças: é um serviço central de controlo financeiro e de apoio técnico especializado do Ministério das Finanças. A sua actuação abrange entidades do sector público administrativo e empresarial, bem como dos sectores privado e cooperativo. Compete-lhe assim, entre outras atribuições, efectuar ou mandar efectuar auditorias às sociedades de capitais exclusivamente públicos e às empresas mistas detidas maioritariamente pelo Estado, com excepção das instituições financeiras sujeitas à supervisão do BCEAO, propor medidas para promover o aperfeiçoamento do sistema de controlo financeiro e realizar inspecções, exames contabilísticos, averiguações e inquéritos em quaisquer empresas dos sectores público e privado. Não tem competências directas, mas apenas indirectas, em matéria de prevenção do BC/FT.

82. Direcção-Geral das Alfândegas: é um serviço que integra a estrutura orgânica do Ministério das Finanças, com competências ao nível dos controlos aduaneiros e da importações e exportações para a Guiné-Bissau. Apesar de não ter competências directas atribuídas em matéria de prevenção e combate ao branqueamento de capitais, cabe-lhe desempenhar um papel importante ao nível dos controlos fronteiriços sobre movimentos de bens, de mercadorias e de valores transportados por pessoas ou por quaisquer meios de transporte, integrando igualmente a Direcção da CENTIF.

83. CENTIF, Célula Nacional de Tratamento da Informação Financeira: prevista pela LCBC e criada pelo Decreto nº 1/2006, de 29 de Maio, e sob tutela do Ministério das Finanças, é o serviço administrativo, com autonomia financeira e poder decisório autónomo a quem compete a recolha e tratamento de informação financeira sobre o branqueamento de capitais. Assim, está encarregue de receber, analisar e tratar as informações tendentes a estabelecer a origem das transacções ou a natureza das operações que constituam o objecto de declarações suspeitas, recebendo também todas as informações oriundas de outras autoridades, de supervisão ou policiais, necessárias ao exercício das suas funções. É também competente para estabelecer relações com as suas congéneres de Estados da UEMOA e de Estados terceiros, podendo trocar com estas últimas informações, sob condição de reciprocidade.

84. Ministério do Interior: é o departamento governamental responsável pela garantia da ordem pública e da segurança dos cidadãos e bens, bem como pelo controlo dos serviços de informações do Estado. A Polícia de Ordem Pública encontra-se sob a sua tutela.

85. Polícia de Ordem Pública: é um serviço responsável pela manutenção da ordem pública e pela segurança dos cidadãos e bens. Encontra-se na dependência hierárquica do Ministério da Administração Interna e distribuída por todo o território nacional, com um comissariado regional de polícia em cada uma das oito (8) regiões administrativas e um comissariado em cada um dos trinta e seis (36) sectores em que se encontra dividida administrativamente a Guiné-Bissau. Tem competências genéricas em matéria de investigação criminal, sendo competente para a investigação dos crimes de branqueamento de capitais, coadjuvando também o Ministério Público na investigação criminal, quando tal for solicitado, podendo ainda realizar o inquérito.

86. Ministério da Justiça: é o departamento governamental responsável pela formulação e execução da política de justiça e dos direitos humanos, assim como pelos registos. É também o Ministério responsável pelo licenciamento das ONGs.

87. Polícia Judiciária: é um serviço de prestação da investigação criminal, com competência territorial, auxiliar da administração da justiça e organizado hierarquicamente na dependência do Ministro da Justiça. Depende funcionalmente do Ministério Público, a quem coadjuva na investigação criminal, tal como previsto no Código do Processo Penal. Nesta matéria, compete-lhe exercer a vigilância e a fiscalização de todos os locais que pela sua natureza favoreçam a actividade criminosa,

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exercer a vigilância e a fiscalização de locais de embarque e de desembarque de pessoas ou de mercadorias, fronteiras, meios de transporte, locais públicos onde se efectuem operações comerciais, bancárias e de todos os locais que possam favorecer a delinquência. Exerce ainda a vigilância e fiscalização de estabelecimentos que comprem antiguidades, ourivesarias, de aluguer, compra e venda de veículos e seus acessórios. Pode também realizar o inquérito, por delegação do Ministério Público, significando também que a Polícia Judiciária tem competência em matéria de investigação do branqueamento de capitais.

88. Ministério Público: Nos termos da Constituição da República, do seu Estatuto e do Código do Processo Penal é o titular exclusivo da acção penal. O Ministério Público representa o Estado, as pessoas e entidades a quem o Estado deva protecção, promove e coordena as acções de prevenção da criminalidade e preside à investigação criminal, de acordo com o princípio da legalidade. O Ministério Público goza de plena autonomia em relação aos demais órgãos do poder executivo e legislativo, a nível central, regional e local.

89. Compete-lhe também, no quadro do inquérito, ordenar ou autorizar as buscas e revistas bem como as apreensões, com excepção daquelas que ocorram no decurso de revistas, buscas ou detenções em flagrante delito. O Ministério Público tem também competência para fiscalizar e dirigir a investigação criminal, mesmo quando realizadas pelas polícias, coopera com os tribunais para a descoberta da verdade e aplica a Lei de forma objectiva, recebendo denúncias e queixas. Pode também apresentar recursos e promover a execução de todas as sanções aplicáveis.

90. O Ministério Público está representado em todos os tribunais da Guiné-Bissau e é ainda competente para outras acções que lhe sejam incumbidas pelo Código do Processo Penal ou por legislação especial, como é o caso da LCBC, a lei uniforme contra o branqueamento de capitais, que lhe atribui competência para intervir nos processos de extradição. Esta entidade faz parte da Direcção da CENTIF, através de representante designado para o efeito. Através do Despacho nº 4/2002 foi criado no seio desta entidade um Gabinete de luta contra a corrupção e os delitos económicos.

91. Ministério do Comércio, Indústria e Artesanato: é o departamento governamental responsável pela execução da política do Governo no domínio do comércio, indústria e artesanato. Compete-lhe a concessão de licenças para o exercício de certas actividades e a fiscalização do seu exercício, como é o caso das agências imobiliárias.

92. Ministério dos Negócios Estrangeiros: é o órgão do governo a quem incumbe elaborar, propor, coordenar e executar a política externa e de cooperação da Guiné-Bissau, nomeadamente assegurar e coordenar as relações de cooperação internacional e promover a execução de acordos de cooperação com outros países e organizações internacionais, bem como conduzir as negociações que visem a vinculação internacional do Estado e iniciar os procedimentos tendentes à recepção na ordem jurídica interna dos tratados e convenções internacionais.

93. É também a entidade competente pela recepção e disseminação pelos outros Ministérios sectoriais das Resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas em matéria de luta contra o terrorismo e o seu financiamento. Integra a Secretaria de Estado da Cooperação Internacional, encarregue de assegurar o diálogo permanente e a colaboração com as ONGs de desenvolvimento, com vista ao enquadramento das suas intervenções no âmbito dos objectivos do Programa do Governo. Neste contexto, é actualmente responsável pela recepção dos relatórios anuais das actividades e do relatório financeiro, bem como do plano de acção para o ano seguinte, a enviar pelas ONGs, e pela fiscalização em termos de cumprimento das disposições em matéria de prevenção do branqueamento de capitais.

94. Ministério do Turismo: é o departamento governamental responsável pela execução da política do Governo no domínio do turismo competindo-lhe, entre outros aspectos emitir o licenciamento da actividade de agências de turismo e a concessão de licenças de jogo, nomeadamente para a abertura e funcionamento de casinos. Compete-lhe, também a fiscalização destas actividades relativamente ao cumprimento das obrigações em matéria de prevenção do branqueamento de capitais.

95. Comissão Intergovernamental para o Combate ao Branqueamento de Capitais e ao Financiamento do Terrorismo: criada em 2001, esta Comissão tem como finalidade a coordenação e concertação nacional em matéria de prevenção do BC/FT, sendo constituída por representantes de várias entidades, públicas e privadas e, também, por representantes da sociedade civil. Integram as suas tarefas a elaboração de propostas, de que é exemplo o Plano de Acção para a formação de todos os agentes envolvidos na prevenção e combate a este tipo de criminalidade.

96. Comissão Bancária/ UEMOA: é a entidade responsável pela supervisão e controlo dos bancos e dos estabelecimentos financeiros a operar na Guiné-Bissau e nos restantes Estados da União Económica e Monetária. Neste contexto, é competente para a supervisão do cumprimento das disposições relativas à prevenção do branqueamento de capitais e do financiamento do terrorismo, sendo competente também para a preparação e a transposição técnica da regulamentação prudencial e relativa às contas aplicável às entidades financeiras.

97. Conferência Regional de Controlo dos Seguros: é a entidade responsável pela supervisão de seguros, tendo competências a nível comunitário da UEMOA.

98. Conselho Regional de Poupança Pública e dos Mercados Financeiros: é a entidade a quem cabe a regulamentação e supervisão do mercado financeiro regional. No entanto, não existe um correspondente nacional ou um intermediário autorizado na Guiné-Bissau.

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99. A competência para a fiscalização ou inspecção das APNFDs existentes na Guiné-Bissau encontra-se repartida por várias entidades, de acordo com a actividade desenvolvida. Em matéria de prevenção do branqueamento de capitais, os agentes imobiliários e os vendedores de bens de valor elevado, e de pedras e metais preciosos devem fiscalizados pelo Ministério do Comércio, não estando organizados em associações representativas, embora na prática essa fiscalização não exista. As agências de viagens devem ser fiscalizadas pelo Ministério do Turismo, não havendo conhecimento de inspecções em matéria de prevenção do branqueamento.

100. Os transportadores de fundos são inspeccionados pelo Ministério do Interior no que concerne à sua actividade, desconhecendo-se se são sujeitos também a fiscalização em matéria de prevenção do branqueamento de capitais. As ONGs encontram-se sujeitas à fiscalização da Secretaria de Estado da Cooperação Internacional, embora essa fiscalização, na prática, não seja efectuada.

101. Os técnicos oficiais de contas estão sujeitos à fiscalização do Ministério das Finanças, estando a capacidade de intervenção da respectiva Ordem limitada às questões disciplinares por violação do respectivo Estatuto. O mesmo se passa em relação aos advogados, cuja Ordem não tem competência de fiscalização do cumprimento dos deveres que resultam da legislação em vigor, desconhecendo-se qual a autoridade competente já que a Ordem dos Advogados apenas tem competência em matéria disciplinar nas situações de violação do respectivo Estatuto, não lhe tendo sido atribuído por lei poderes de auto-regulação em matéria de prevenção do branqueamento. Cabe ao Ministério da Justiça a fiscalização do cumprimento dos deveres por parte dos notários.

Abordagem em matéria de risco

102. A LCBC encontra-se em vigor na Guiné-Bissau desde finais de 2004. No entanto, as autoridades nacionais não criaram uma verdadeira estratégia de prevenção e de combate ao branqueamento de capitais e ao financiamento do terrorismo baseada no risco. O país limitou-se a, de forma passiva, ver aplicar directamente na ordem jurídica interna as disposições comunitárias sem que tenha havido a preocupação de delinear uma estratégia que permitisse o esclarecimento e o acompanhamento de todas as entidades financeiras e actividades e profissões não financeiras designadas. Além disso, a própria lei era, à data da visita de avaliação, desconhecida não apenas para algumas destas entidades financeiras e APNFDs, mas também para algumas autoridades públicas com responsabilidades na matéria, como é o caso das agências imobiliárias, do Ministério do Comércio, Indústria e Artesanato ou dos responsáveis pelos registos, no Ministério da Justiça.

Progressos desde a última avaliação ou avaliação mútua

103. A Guiné-Bissau não foi objecto de qualquer avaliação mútua anterior em matéria de prevenção e combate ao branqueamento de capitais e ao financiamento do terrorismo.

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SISTEMA JURÍDICO E MEDIDAS INSTITUCIONAIS CONEXAS

LEIS E REGULAMENTOS

CRIMINALIZAÇÃO DO BRANQUEAMENTO DE CAPITAIS (R.1 E 2)

Descrição e Análise

104. Enquadramento jurídico: O branqueamento de capitais encontra-se previsto na legislação da Guiné-Bissau desde 1993. O Decreto-Lei nº 2-B/93, de 28 de Outubro, relativo à prevenção e repressão do tráfico e do consumo de estupefacientes (LD) refere-se, no seu artigo 6º, ao branqueamento de capitais provenientes de actividades ligadas ao tráfico de estupefacientes, sendo as diferentes condutas puníveis com penas que variam entre os 1 e os 12 anos de prisão.

105. A Lei Uniforme nº 1/2003/CM/UEMOA relativa à luta contra o branqueamento de capitais (LCBC), em vigor desde 2 de Novembro de 2004 veio alargar o quadro jurídico existente na Guiné-Bissau, transpondo para a ordem jurídica a Directiva nº 07/2002/CM/EUMOA, de 19 de Setembro, relativa à luta contra o branqueamento de capitais e alargando a definição deste ilícito criminal para além do tráfico de drogas como infracção subjacente.

Criminalização do branqueamento de capitais (c. 1.1 – Elementos físicos e materiais do crime)

106. O branqueamento de capitais é uma infracção dolosa, como resulta da redacção do nº 1 do Artigo 6º da LD, de 28 de Outubro, e também do Artigo 2º da LCBC, tal significando que o autor da infracção tem de ter presentes os elementos volitivo e intelectual, ou seja, tem o conhecimento de que os bens ou produtos são provenientes da prática da actividade criminosa e a intenção de, mesmo assim, praticar intencionalmente um ou vários actos ilícitos.

107. No que se refere aos elementos materiais e aos diferentes tipos de conduta, tais como a conversão, transferência, facilitação, ocultação, dissimulação, aquisição ou detenção de produtos de uma infracção, aqueles artigos encontram-se em conformidade com o disposto nas Convenções das Nações Unidas contra o Tráfico de Estupefacientes e de Substâncias Psicotrópicas (Viena) e contra a Criminalidade Organizada Transnacional (Palermo) que se referem à prática de um ou vários actos cometidos intencionalmente:

- A conversão ou transferência de bens, quando o autor tem conhecimento de que esses bens são produto do crime, com o objectivo de ocultar ou dissimular a origem ilícita dos bens ou ajudar qualquer pessoa envolvida na prática da infracção principal a furtar-se às consequências jurídicas dos seus actos;

- A ocultação ou dissimulação da verdadeira natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens ou direitos a eles relativos, sabendo o seu autor que esses bens são produto do crime;

- A aquisição, a posse ou a utilização de bens, sabendo aquele que os adquire, possui ou utiliza, no momento da recepção, que são produto do crime;

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108. O Código Penal da Guiné-Bissau, de aplicação subsidiária e consequentemente aplicável a todos os crimes previstos em legislação avulsa, estabelece no seu Artigo 21º o princípio geral de que o autor de um crime só pode ser punido criminalmente quando tiver agido com dolo, a não ser quando a lei o determine expressamente. O Artigo 22º consagra os diferentes tipos de dolo, aplicáveis à prática do crime de branqueamento de capitais, ou seja, o dolo directo, quando o autor actuar com a intenção de cometer um crime, o dolo necessário, quando o autor representar a realização de um facto que corresponde à descrição de um tipo de crime como consequência necessária da sua conduta e o dolo eventual, quando a realização de um facto que corresponde à descrição de um tipo de crime for representada como consequência possível da conduta e o agente actuar conformando-se com aquela realização.

109. No que se refere aos elementos materiais da acção e ao tipo de comportamento referido, tal como a conversão, a facilitação, a ocultação, a dissimulação, a aquisição ou a detenção de produtos de uma infracção, previstos nas alíneas a) a c) do nº 1 do artigo 3° da LCBC, essa disposição está construída em conformidade com os requisitos das Convenções da ONU de Viena e de Palermo.

Bens a que é aplicável o crime de branqueamento de capitais (c. 1.2)

110. O crime de branqueamento de capitais abrange todos os tipos de bens ou produtos resultantes, directa ou indirectamente, da prática das infracções subjacentes, sem que a legislação imponha quaisquer limiares.

111. É o que resulta dos Artigo 16º e 17º da LD, quando se referem à possibilidade de serem declarados perdidos a favor do Estado os bens móveis ou imóveis, os bens adquiridos legitimamente com os quais os produtos foram misturados bem como rendimentos, juros, lucros e outras vantagens resultantes do produto da actividade criminosa e ainda as instalações, materiais, equipamentos e outros bens móveis utilizados ou destinados a ser utilizados na prática da infracção ligada ao tráfico de estupefacientes.

112. Além disso, o Artigo 1º da LCBC define também, de forma ampla, os tipos de bens abrangidos pelo crime de branqueamento de capitais, ou seja, todos os tipos de bens, corpóreos ou incorpóreos, tangíveis ou intangíveis, fungíveis ou não fungíveis, assim como todos os actos jurídicos ou documentos que certifiquem a propriedade desses bens ou direitos a eles relativos. Porém, ao contrário da LD, a LCBC não parece aplicar-se aos bens que resultem indirectamente da prática de um crime de branqueamento, o que leva a concluir a contrario sensu que o crime de branqueamento de capitais é aplicável apenas aos bens que derivam directamente da prática de uma infracção subjacente.

A prova de que o património é o produto do Crime (c. 1.2.1)

113. De acordo com a LCBC, não se torna necessário que uma pessoa seja condenada pela prática da infracção subjacente para provar que os crimes constituem o produto da actividade criminosa. É o que resulta da leitura do segundo parágrafo do Artigo 3º, quando refere que, a não ser que a infracção subjacente tenha sido amnistiada, existe branqueamento de capitais mesmo se o autor das infracções não foi sujeito a procedimento criminal nem condenado ou se faltar uma condição para intentar um procedimento criminal na sequência das referidas infracções.

Âmbito das infracções subjacentes (c. 1.3) e a Abordagem baseada em limiares para as infracções subjacentes (c. 1.4)

114. Além do crime de tráfico de estupefacientes e da associação criminosa para a prática deste crime, previstos na LD, o Artigo 1º da LCBC estabelece um amplo leque de infracções subjacentes ao branqueamento de capitais, considerando como tais quaisquer crimes, mesmo que cometidos no território de outro Estado, que permitam ao seu autor adquirir bens ou rendimentos.

115. Assim, as 20 categorias de crimes designados exigidas pela Recomendação 1 do GAFI e pelo respectivo Glossário encontram-se dispersas pelo Código Penal e outra legislação avulsa da Guiné-Bissau da seguinte forma:

Categorias de infracções designadas Direito Penal da Guiné-Bissau e Sanções aplicáveis

Participação num grupo criminoso organizado Artigo 207º do Código Penal - Prisão de 3 a 10 anos Artigo 10º do Dec-Lei nº 2-B/93 – prisão de 4 a 10 anos

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e em acções ilegítimas para obtenção de fundos, nomeadamente através de chantagem, intimidação ou outros meios

Terrorismo, incluindo o financiamento do terrorismo

Artigo 203º do Código Penal, limitado às organizações terroristas – Prisão de 5 a 25 anos

Tráfico de seres humanos e tráfico ilícito de migrantes

-

Exploração sexual, incluindo a exploração sexual de crianças;

Artigo 136º do Código Penal – Prisão até 3 anos ou multa

Tráfico de estupefacientes e de substâncias psicotrópicas

Artigos 3º a 5º e 13º do Dec-Lei nº 2-B/93 – Prisão entre 1 a 15 anos

Tráfico de bens roubados e de outros bens Artigos 9º e 11º da Lei nº 1/79, Crimes contra a Economia Nacional, limitado ao tráfico de outros bens –

Tráfico de armas Artigo 206º do Código Penal – Prisão até 3 anos ou multa

Corrupção e suborno Artigos 247º, 248º do Código Penal – Prisão de 2 a 10 anos Artigo 68º Dec-Lei 4/2002, Código Contratos Públicos Artigos 17º a 19º Lei nº 14/97, Responsabilidade dos titulares dos cargos políticos Artigo 227º do Código Penal – Prisão de até 3 anos ou multa

Fraude Artigos 174º (fiscal), 182º, 182º, 190º do Código Penal – Prisão entre 1 e 8 anos ou multa Artigo 12º (fiscal) da Lei 1/79, Crimes contra a Economia Nacional

Contrafacção de moeda Artigo 176º do Código Penal – Prisão de 3 a 12, mas podendo ser agravada de 1/3 Lei 7/97, de 2 de Dezembro

Contrafacção e pirataria de produtos Artigos 209º e 210º do Código Penal – Prisão de 1 a 10 anos, podendo ser agravada em 1/3 Artigos 29º, 37º e 38º do Decreto 20/77, Infracções antieconómicas e contra a saúde pública

Crimes contra o ambiente Artigos 156º e 157º do Código Penal – Prisão até 5 anos ou multa Artigos 54º e 55º, Lei Florestal – Prisão de 6 meses a 1 ano

Homicídio e ofensas corporais graves Artigos 107 e 114º do Código Penal – Prisão de 8 a 18 anos e prisão até 3 anos ou multa

Rapto, detenção ilegal e tomada de reféns Artigos 125º, 124º e 204º do Código Penal – Prisão de 2 a 10 anos, até 3 anos ou multa e de 10 a 25 anos.

Roubo ou furto Artigos 151º e 145º do Código Penal – Prisão de 1 a 15 anos e até 3 anos ou multa

Contrabando Artigo 36º do Decreto-Lei º 33530, de 19/6/1944, Contencioso Aduaneiro (em vigor por força da Lei nº 1/73, de 24 de Setembro) – multa de 6 a 12 vezes a importância dos direitos ou impostos devidos e perda.

Extorsão Artigo 166º do Código Penal – Prisão de 1 a 6 anos

Falsificação Artigos 199º e 200º do Código Penal – prisão até 3 anos ou multa e 2 a 8 anos

Pirataria - Utilização abusiva de informação privilegiada e manipulação do mercado

Apenas existe uma Bolsa de Valores regional. No entanto, a Guiné-Bissau não criminalizou estes comportamentos, a que está obrigada pela legislação regional, por força do Regulamento da CREPMF

116. A legislação em vigor na Guiné-Bissau não abrange, assim, todas as categorias de infracções designadas a que se refere a Recomendação 1 e o Glossário das 40 Recomendações do GAFI. Não se encontra prevista a criminalização do terrorismo e do terrorista individual (apenas se encontram criminalizadas as organizações terroristas e o seu financiamento), o tráfico de seres

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humanos e o tráfico de migrantes, o tráfico de bens roubados e a pirataria. Além disso, encontram-se por aprovar as sanções aplicáveis aos crimes de utilização abusiva de informação privilegiada e de manipulação de mercado, a que a Guiné-Bissau está obrigado por força do disposto no Regulamento do CREPMF.

Infracções subjacentes cometidas extraterritorialmente (c. 1.5)

117. De acordo com a parte final do Artigo 2º da LCBC, o crime de branqueamento de capitais existe mesmo que os factos que estão na origem da aquisição, da posse e da transferência de bens a branquear forem cometidos no território de outro Estado membro da UEMOA ou no território de um Estado terceiro. Da formulação utilizada resulta que as infracções subjacentes ao branqueamento de capitais abrangem também os actos praticados cometidos noutros Estados.

118. No entanto, a Lei é omissa quanto à questão de saber se estamos na presença de um crime de branqueamento de capitais sempre que o produto do crime é obtido pela prática de uma conduta praticada noutro país mas que não constitua uma infracção neste país e que teriam constituído uma infracção subjacente se a mesma tivesse ocorrido no território da Guiné-Bissau, não tendo sido fornecidos elementos à equipa de avaliação, mesmo de natureza jurisprudencial, que permitissem esclarecer a questão. É aspecto ligado à designada dupla incriminação, mas que o Artigo 7º do Código Penal não parece resolver.

119. Por sua vez, o Artigo 6º da LD refere também, no seu nº 3, que a punição do crime de branqueamento de capitais derivado do tráfico de estupefacientes tem lugar ainda que os factos que estejam na sua origem tenham sido praticados fora do território nacional.

Branqueamento de fundos ilícitos próprios (c. 1.6)

120. Nem o Artigo 6º da LD, nem as disposições da LCBC afirmam a possibilidade do designado auto-branqueamento (self-laundering), ou seja, a condenação do autor da infracção subjacente também pela prática do crime de branqueamento de capitais, embora as autoridades da Guiné-Bissau com quem a equipa de avaliação manteve contactos tenham referido que esta possibilidade era admitida pela legislação jurídico-penal, nomeadamente através das regras do concurso de infracções.

121. De acordo com o Artigo 30º do Código Penal, o número de crimes determina-se pelo número do tipo de crimes efectivamente cometidos, ou seja pelo número de vezes que o mesmo tipo for preenchido pela conduta do agente.

122. No entanto, não foi possível confirmar tal possibilidade já que não existe nenhuma decisão de um tribunal de primeira instância, nem sequer jurisprudência de um tribunal superior, nomeadamente ao nível do Supremo Tribunal de Justiça.

Infracções acessórias (c. 1.7)

123. O Artigo 6º da LD fala expressamente em qualquer forma de comparticipação na prática de um crime de branqueamento de capitais derivados do tráfico de estupefacientes, o que significa que todas as formas de participação no crime previstas no Código Penal da Guiné-Bissau são puníveis. O referido Código Penal prevê nos Artigos 14º a 17º a autoria, co-autoria e cumplicidade, nos artigos 18º e 19º a comparticipação e nos seus artigos 28º e 29º a tentativa.

124. A LCBC é clara quanto a este aspecto, pois o seu Artigo 3º refere que constituem igualmente um crime de branqueamento de capitais a conivência, a participação numa associação com vista à prática de factos que constituam branqueamento de capitais, a associação para cometer tais factos, a tentativa da sua comissão, o auxílio ou o aconselhamento a uma pessoa singular ou colectiva tendo em vista a sua execução ou a facilitar a sua execução.

Elemento adicional

125. Não existe qualquer indicação de que um acto que constitui uma infracção nos termos da legislação da Guiné-Bissau se tivesse ocorrido no estrangeiro, onde não constitui infracção nesse lugar mas que seria considerado uma infracção subjacente caso tivesse ocorrido no país, levaria a que fosse cometido um crime de branqueamento de capitais. O Artigo 7º do Código Penal parece excluir tal possibilidade.

Responsabilidade das pessoas singulares (c. 2.1)

126. De acordo com o estabelecido no Artigo 10º do Código Penal as pessoas singulares são susceptíveis de responsabilidade criminal a partir dos 16 anos. Assim, em conformidade com este princípio, quer a LD, no seu artigo 6º, quer a LCBC prevêem

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que as pessoas singulares sejam responsáveis pelo seu envolvimento na comissão do crime de branqueamento de capitais se, de forma intencional, se envolverem em tal actividade criminosa.

O elemento mental do crime de branqueamento de capitais (c. 2.2)

127. Nos termos do Código Penal da Guiné-Bissau, só são puníveis as acções cometidas dolosamente, podendo o dolo assumir três diferentes formas, o dolo directo, o dolo necessário e o dolo eventual, tal como previsto no seu Artigo 22º. A LCBC é omissa relativamente à possibilidade de o elemento factual ser deduzido a partir de circunstâncias factuais objectivas.

128. É no Código do Processo Penal, nomeadamente nos seus artigos 113º e 117º que se refere, respectivamente, que é admissível em processo penal qualquer meio de prova que não seja proibido por lei sendo que a prova é apreciada segundo a livre convicção da entidade competente, que se formará a partir das regras da experiência e dos critérios da lógica. Ou seja, todas as circunstâncias factuais pertinentes do processo podem ser analisadas para que o juiz possa tomar uma decisão, pelo que o elemento intencional da infracção pode ser deduzido a partir de circunstâncias factuais objectivas.

Responsabilidade penal das pessoas colectivas (c. 2.3) e Sanções complementares (c. 2.4.)

129. O Código Penal da Guiné-Bissau consagra expressamente a responsabilidade penal das pessoas colectivas. Nos termos do seu Artigo 11º, as sociedades e quaisquer pessoas colectivas de direito privado são susceptíveis de responsabilidade criminal pelos crimes praticados com o objectivo de realizar fins próprios em execução de decisões tomadas pelos seus órgãos.

130. A responsabilidade das pessoas colectivas não deve impedir eventuais processos penais, civis ou administrativos paralelos, o que se encontra regulado pelo nº 2 do mesmo preceito, ao afirmar que os titulares dos órgãos de uma sociedade ou de quaisquer pessoas colectivas, ou quem actue em nome de terceiro, respondem individualmente pelos factos que praticarem como representantes, no seu próprio interesse ou com excesso de poder.

131. A LCBC consagra também no Artigo 42º do Capítulo IV a responsabilidade penal das pessoas colectivas pela prática dos crimes de branqueamento de capitais, não excluindo a possibilidade de condenação dos seus representantes, pessoas singulares, a título de autoria ou de cumplicidade na prática dos mesmos factos. O Artigo 35º do mesmo diploma legal consagra a possibilidade de aplicar um procedimento paralelo, de natureza administrativa ou disciplinar às pessoas singulares e colectivas.

Sanções aplicáveis ao branqueamento de capitais (c. 2.5)

132. As pessoas singulares responsáveis pela prática de um crime de branqueamento de capitais derivado do tráfico de estupefacientes, previsto no Artigo 6º da LD, podem ser condenadas a penas privativas de liberdade que variam entre os 2-12 anos, 2-10 anos e 1-5 anos, consoante se trate da conversão, transferência, auxílio ou facilitação, da ocultação ou dissimulação ou ainda da aquisição ou detenção de bens ou produtos resultantes daquele crime, podendo essas penas ser agravadas. Nos termos gerais do Código Penal, também a conivência, a participação numa associação com vista à prática de factos que constituam branqueamento de capitais, a associação para cometer tais factos, a tentativa da sua comissão, o auxílio ou o aconselhamento são puníveis.

133. Por sua vez, os Artigos 37º a 41º da LCBC consagram as sanções penais aplicáveis às pessoas singulares pela prática do crime de branqueamento derivado das restantes infracções subjacentes, estabelecendo que são puníveis com pena de prisão de 3-7 anos e a uma multa de valor igual ao triplo do valor dos bens ou dos fundos que dizem respeito às operações de branqueamento. São puníveis com a mesma moldura penal a conivência, a participação numa associação com vista à prática de factos que constituam branqueamento de capitais, a associação para cometer tais factos, a tentativa da sua comissão, o auxílio ou o aconselhamento a uma pessoa singular ou colectiva, nos termos do Artigo 38º da mesma Lei.

134. Estão ainda previstas no Artigo 39º várias circunstâncias agravantes, como é o caso de o crime de branqueamento ser praticado por um grupo criminoso organizado, a que corresponde o aumento para o dobro da moldura mínima e máxima aplicável, ou seja, 6 a 14 anos de prisão. Porém, quando a infracção subjacente é punível com uma pena privativa da liberdade de duração superior à prevista no Artigo 37º, o branqueamento será punido com a pena aplicável à infracção subjacente e, sempre que esta infracção seja acompanhada de circunstâncias agravantes, será punido com pena ligada unicamente às circunstâncias de que o autor teve conhecimento.

135. Nos termos gerais do Código Penal, de aplicação subsidiária, podem igualmente ser aplicadas às pessoas singulares penas acessórias como é o caso da suspensão temporária do exercício da profissão ou a demissão, tal como resulta do Artigo 39º. Também a LCBC consagra no Artigo 41º algumas sanções acessórias pela prática do crime de branqueamento de capitais.

136. As pessoas colectivas condenadas por um crime de branqueamento de capitais podem também ser sujeitas a várias sanções. De acordo com o Código Penal as sanções acessórias aplicáveis às pessoas colectivas, previstas no Artigo 40º, são a multa, a exclusão temporária de concursos públicos ou de acesso a subsídios estatais ou de organizações supra estaduais, o

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encerramento temporário ou a dissolução. Por sua vez, o Artigo 42º da LCBC prevê a possibilidade de aplicação de multa de valor igual ou cinco vezes superior às aplicadas às pessoas singulares.

137. Em termos de sanções acessórias, pode afirmar-se que uma sanção acessória obrigatória – aplicável também às pessoas singulares - é a da perda de bens ou produtos derivados da prática do crime, dos bens móveis ou imóveis nos quais os produtos convertidos e, na proporção do seu valor, dos bens adquiridos legitimamente com os quais esses produtos foram misturados, bem como de quaisquer outros rendimentos ou vantagens, dos bens nos quais eles foram transformados ou investidos ou dos bens que são pertencentes a qualquer pessoa, a não ser que o seu proprietário demonstre que desconhecia a sua origem ilícita, como indicado no Artigo 45º.

138. As sanções acessórias facultativas aplicáveis encontram-se previstas também no Artigo 42º e são a exclusão dos mercados públicos, a colocação sob vigilância judiciária, a interdição de actividades profissionais durante um período máximo de 5 anos, o encerramento temporário ou definitivo, a dissolução e a afixação da decisão de condenação a expensas da pessoa colectiva condenada.

139. A mesma Lei consagra ainda nos Artigos 43º e 44º algumas causas de isenção ou de atenuação das sanções penais aplicáveis. Assim, as penas aplicáveis às pessoas singulares e colectivas parecem ser abrangentes, proporcionadas e dissuasivas.

Estatísticas (aplicação da Recomendação 32)

140. As autoridades da Guiné-Bissau não forneceram à equipa de avaliação quaisquer elementos estatísticos relativos ao número de investigações, acusações e condenações pela prática do crime de branqueamento de capitais. Também não existe informação estatística sobre as sanções aplicadas pela prática do crime de branqueamento de capitais. Além disso, não existe um mecanismo ou dispositivo de recolha de elementos estatísticos, mesmo sobre a criminalidade em geral.

Análise da eficácia do sistema

141. O crime de branqueamento de capitais derivado do tráfico de estupefacientes existe no direito penal da Guiné-Bissau desde Outubro de1993. O crime de branqueamento de capitais derivado da prática de outras infracções subjacentes encontra-se previsto desde Novembro de 2004. Não é conhecido nenhum processo pela prática deste crime na Guiné-Bissau, ao que acresce o facto de as autoridades nacionais não terem criado os mecanismos necessários para divulgar a legislação e facilitar a sua aplicação pelas diversas entidades com competências e com obrigações na matéria.

2.1.2 Recomendações e Comentários

142. A Guiné-Bissau deverá criminalizar as infracções subjacentes a que se refere a Recomendação 1 do GAFI, ou seja, deverá criminalizar o terrorismo e o terrorista individual e seu financiamento (apenas se encontram criminalizadas as organizações terroristas), o tráfico de seres humanos e o tráfico de migrantes, o tráfico de bens roubados e a pirataria. Além disso, devem ser também criminalizados a utilização abusiva de informação privilegiada e manipulação de mercado, tal como resulta da legislação regional. Ainda no plano legislativo, deverão ser harmonizadas as molduras penais aplicáveis ao branqueamento de capitais derivado do tráfico de estupefacientes da LD e as molduras penais aplicáveis ao branqueamento de capitais derivado das restantes infracções subjacentes, previsto na LCBC. Deve também ser equacionada a revisão da LCBC no sentido de ser alargada aos bens que representem o produto indirecto dum crime de branqueamento de capitais, pois a actual redacção apenas se aplica aos bens que derivaram directamente da prática desse crimeAo mesmo tempo, torna-se necessário promover uma divulgação da LCBC junto de todos os destinatários, sejam as entidades financeiras e as actividades e profissões não financeiras designadas, sejam os operadores judiciários e policiais e as autoridades encarregues da supervisão e fiscalização do cumprimento dos deveres plasmados naquele diploma legal.

143. As autoridades devem procurar manter estatísticas criminais em geral e estatísticas em matéria de prevenção e repressão do branqueamento de capitais que permitam avaliar a eficácia do sistema nacional em vigor.

Conformidade com as Recomendações 1 e 2 Avaliação Resumo dos factores que fundamentam a avaliação4

R.1 PC • Não se encontram criminalizadas todas as condutas que devem ser consideradas como infracções subjacentes ao branqueamento de capitais, como referido na Recomendação 1 do GAFI.

4 Estes factores só têm de ser indicados quando a avaliação é inferior a “Cumprida”. Nesse caso a avaliação pode ser: LC = Largamente Cumprida, PC = Parcialmente Cumprida, NC = Não cumprida ou NA = Não Aplicável.

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• A LCBC não se aplica aos produtos derivados indirectamente da prática do crime de branqueamento de capitais.

• O auto-branqueamento não se encontra previsto pela legislação ABC em vigor.

• A LCBC não foi devidamente implementada e aplicada na ordem jurídica da Guiné-Bissau.

• Não existem investigações, acusações ou condenações pela prática do crime de branqueamento de capitais, o que coloca a questão da eficácia do sistema nacional de prevenção e de repressão deste crime.

R.2 LC • A LCBC não foi devidamente implementada e aplicada na ordem jurídica da Guiné-Bissau.

• Não existem investigações, acusações ou condenações pela prática do crime de branqueamento de capitais, o que coloca a questão da eficácia do sistema nacional de prevenção e de repressão deste crime.

CRIMINALIZAÇÃO DO FINANCIAMENTO DO TERRORISMO (RE.II)

Descrição e Análise

144. Enquadramento jurídico: o Código Penal da Guiné-Bissau prevê no seu Artigo 203º o crime de organizações terroristas e o financiamento destas organizações. No plano da UEMOA, foi aprovada a Directiva nº 4/2007/CM/UEMOA, de 4 de Julho de 2007, relativa à luta contra o financiamento do terrorismo nos Estados membros da UEMOA, acolhendo as disposições da Convenção Internacional das Nações Unidas para a Eliminação do Financiamento do Terrorismo (Convenção CFT), de 1999 e dos restantes instrumentos jurídicos referidos no seu Anexo.

145. À data da visita da equipa de avaliação encontrava-se por aprovar legislação uniforme para todos os Estados membros da UEMOA, apesar de ultrapassado o prazo de transposição previsto no Artigo 27º da referida Directiva, ao mesmo tempo que as autoridades da Guiné-Bissau não tomaram qualquer iniciativa de transposição e de harmonização deste instrumento jurídico com as disposições do Código Penal.

Criminalização do financiamento do terrorismo (c. II.1)

146. A Guiné-Bissau ratificou a Convenção Internacional para a Eliminação do Financiamento do Terrorismo em 19 de Setembro de 2008, aguardando-se o depósito do instrumento de ratificação junto do Secretário-Geral das Nações Unidas. No entanto, a Constituição da República é omissa em relação à forma de recepção do Direito Internacional na ordem jurídica interna, apenas referindo que compete ao Presidente da República ratificar os tratados internacionais (Artigo 68º e)) e à Assembleia Nacional Popular aprovar os tratados que envolvam a participação da Guiné-Bissau em organizações internacionais, os tratados de amizade, de paz, de defesa, de rectificação de fronteiras e ainda quaisquer outros que o Governo entenda submeter-lhe (Artigo 85º h)). Compete ao Governo a negociação e conclusão de acordos e convenções internacionais (Artigo 100º nº 1 f)).

147. Nos contactos mantidos com a equipa de avaliação, as autoridades da Guiné-Bissau não souberam clarificar se a referida Convenção e os demais instrumentos jurídicos, multilaterais ou bilaterais, estão em vigor no país e têm prevalência sobre a legislação interna infraconstitucional, mesmo no que respeita à criminalização de certas condutas. Resulta porém da alínea g) do Artigo 87º da Constituição da República que é da competência exclusiva da Assembleia Nacional Popular legislar sobre a definição dos crimes, penas e medidas de segurança e sobre o processo criminal. Por conseguinte, a referida Convenção das Nações Unidas ainda não foi transposta para o direito interno.

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148. O Código Penal contempla no Artigo 203º apenas a criminalização das organizações terroristas e o seu financiamento, assumindo-se este como uma mera modalidade de auxílio às organizações terroristas e não como um como crime autónomo, em conformidade com os requisitos específicos do Artigo 2° da mesma Convenção.

149. Esta disposição considera como um grupo, organização ou associação terrorista todo o agrupamento de duas ou mais pessoas que, actuando concertadamente, visam prejudicar a integridade ou a independência nacionais, impedir, alterar ou subverter o funcionamento das instituições do Estado previstas na Constituição, forçar a autoridade pública a praticar um acto, a abster-se de o praticar ou a tolerar que se pratique, ou a intimidar certas pessoas, grupos de pessoas ou a população em geral mediante a prática de crime. As penas previstas são de prisão de 5 a 20 anos para quem promover, fundar, financiar, chefiar ou dirigir um grupo, organização ou associação terrorista e de 3 a 15 anos para quem aderir à organização terrorista ou de qualquer outra forma ajudar a executar ou executar os actos referidos, sendo também puníveis com prisão de 1 a 10 anos os actos preparatórios da constituição destas organizações.

150. Na opinião da equipa de avaliação, esta disposição do Código Penal, não abarca todos os aspectos dolosos do fornecimento ou recolha de fundos para actividades terroristas ou para ser colocados à disposição de grupos, associações ou organizações terroristas, sendo também omissa em relação ao facto de não se tornar necessário que esses fundos tenham sido efectivamente colocados à disposição daqueles grupos, associações ou organizações terroristas para que se considere esse acto como um crime de financiamento do terrorismo, tal como previsto no Artigo 2º da Convenção CFT ou na Recomendação Especial II do GAFI.

151. O mesmo Artigo 203º do Código Penal é demasiado restrito, não contemplando os crimes de terrorismo nem a criminalização de actos terroristas praticados por uma pessoa agindo individualmente. No entanto, o crime de organização terrorista constitui uma infracção subjacente ao branqueamento de capitais, como decorre da definição de infracção subjacente constante do Artigo 1º da LCBC.

152. Acresce que a Directiva nº 4/2007/CM/UEMOA, de 4 de Julho de 2007, relativa à luta contra o financiamento do terrorismo, ainda não foi transposta para o direito interno da Guiné-Bissau, apesar de a mesma exigir que os Estados membros da UEMOA adoptem as medidas necessárias para criminalizar o financiamento do terrorismo de acordo com os seus Artigos 4º e 5º. Neste pressuposto, não no direito interno qualquer definição de fundos, tal como previsto no nº 7 do Artigo 1º do referido instrumento jurídico da UEMOA. Assim, não é possível conhecer quais os tipos de fundos a que se aplica o crime de financiamento do terrorismo.

153. No seu Artigo 4º encontramos uma definição de financiamento do terrorismo, enquanto o Artigo 5º se refere à associação, conivência ou cumplicidade no financiamento do terrorismo, prevendo ainda a aplicação extra-territorial. Porém, não inclui uma definição de organização terrorista – que figura no Código Penal da Guiné-Bissau - nem sequer de terrorista, nem exige que a tentativa de financiamento do terrorismo seja também considerada uma infracção, tal como resulta do nº 4 do Artigo 2º da Convenção CFT . Em relação a este último aspecto pode afirmar-se que, por aplicação das regras gerais do Código Penal, a tentativa da prática de um crime de financiamento do terrorismo será considerada uma infracção criminal e, como tal, punível nos termos do Artigo 28º.

154. O mesmo se dirá para a conivência, a participação numa associação com vista à comissão de um crime de financiamento do terrorismo, a associação para cometer esse facto, o auxílio, a instigação ou o aconselhamento, a que se refere o nº 5 do Artigo 2º da Convenção CFT, igualmente por aplicação das disposições gerais do Código Penal, sendo certo que estes aspectos se encontram expressamente previstos no Artigo 5º da Directiva nº 4/2007/CM/UEMOA, ainda por transpor.

Infracção subjacente ao branqueamento de capitais (c. II.2)

155. De acordo com a parte final do Artigo 6º da Directiva nº 4/2007/CM/UEMOA, o financiamento do terrorismo deve ser considerado como uma infracção subjacente ao branqueamento de capitais.

156. Considerando que o nº 1 do Artigo 203º do Código Penal da Guiné-Bissau criminaliza o financiamento de organizações terroristas e que a definição de infracção subjacente constante do Artigo 1º da LCBC é ampla, abrangendo todas as infracções, na opinião da equipa de avaliação a criminalização do financiamento do terrorismo é parcial, não abrangendo o terrorismo e o terrorista individual, pelo que só o financiamento de organizações terroristas deve ser considerado como uma infracção subjacente ao branqueamento de capitais

Competência extraterritorial para o crime de financiamento do terrorismo (c. II.3)

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157. A Directiva nº 4/2007/CM/UEMOA, ainda por transpor em legislação uniforme ou sequer para o direito interno da Guiné-Bissau, dispõe no seu Artigo 4º in fine que existe financiamento do terrorismo mesmo que os factos que estão na origem da aquisição, da detenção ou na transferência de bens destinados ao financiamento do terrorismo sejam cometidos no território de outro Estado membro da UEMOA ou num Estado terceiro.

158. Porém, nos termos do nº 1 a) do Artigo 7º do Código Penal, salvo tratado ou convenção internacional em contrário, a lei penal da Guiné-Bissau é aplicável a factos praticados fora do território nacional desde que constituam vários dos crimes previstos naquele diploma, entre os quais os do Artigo 203º, ou seja o crime de organizações terroristas e o crime de financiamento destas organizações.

O elemento intencional do crime de financiamento do terrorismo (aplicação de c. 2.2 na R.2).

159. Tal como acontece em relação ao branqueamento de capitais, nos termos do Código Penal da Guiné-Bissau, só são puníveis as acções cometidas dolosamente, podendo o dolo assumir três diferentes formas, o dolo directo, o dolo necessário e o dolo eventual, tal como previsto no seu Artigo 22º. A Directiva nº 4/2007/CM/UEMOA nada refere em relação à possibilidade de o elemento factual poder ser deduzido a partir de circunstâncias factuais objectivas.

160. É no Código do Processo Penal, nomeadamente nos seus artigos 113º e 117º que referem, respectivamente, que é admissível em processo penal qualquer meio de prova que não seja proibido por lei sendo que a prova é apreciada segundo a livre convicção da entidade competente, que se formará a partir das regras da experiência e dos critérios da lógica. Ou seja, todas as circunstâncias factuais pertinentes do processo podem ser analisadas para que o juiz possa tomar uma decisão, pelo que se conclui que o elemento intencional da infracção pode ser deduzido a partir de circunstâncias factuais objectivas.

Responsabilidade penal das pessoas colectivas (aplicação de c. 2.3 e c. 2.4 na R.2)

161. O Código Penal da Guiné-Bissau consagra expressamente a responsabilidade penal das pessoas colectivas. Nos termos do seu Artigo 11º, as sociedades e quaisquer pessoas colectivas de direito privado são susceptíveis de responsabilidade criminal pelos crimes praticados com o objectivo de realizar fins próprios em execução de decisões tomadas pelos seus órgãos.

162. A responsabilidade das pessoas colectivas não deve impedir eventuais processos penais, civis ou administrativos paralelos, o que se encontra regulado pelo nº 2 do mesmo preceito, ao afirmar que os titulares dos órgãos de uma sociedade ou de quaisquer pessoas colectivas, ou quem actue em nome de terceiro, respondem individualmente pelos factos que praticarem como representantes, no seu próprio interesse ou com excesso de poder.

163. O Artigo 23º da Directiva nº 4/2007/CM/UEMOA estabelece também a responsabilidade penal das pessoas colectivas, ao referir que são aplicáveis ao financiamento do terrorismo as disposições dos Artigos 37º e 38º da Directiva nº 7/2002/CM/UEMOA, de 19 de Setembro, relativa à luta contra o branqueamento de capitais. Porém, ao contrário desta Directiva a LCBC e o CP não consagram a possibilidade de aplicar um procedimento paralelo, de natureza administrativa ou disciplinar às pessoas colectivas envolvidas no financiamento do terrorismo.

Sanções para o financiamento do terrorismo (aplicação de c. 2.5 na R.2)

164. De acordo com o estabelecido no Artigo 203º do Código Penal, o financiamento de organizações terroristas é punível, para as pessoas singulares, com pena de prisão de 5 a 25 anos. Relativamente às pessoas colectivas, o mesmo Código estabelece as penas de multa, a exclusão temporária de concursos públicos ou de acesso a subsídios estatais ou de organizações supra-estaduais, o encerramento temporário e a dissolução.

165. O Artigo 22º da Directiva nº 4/2007/CM/UEMOA obriga os Estados membros a aprovar o quadro sancionatório aplicável às pessoas singulares e colectivas responsáveis pela prática de um crime de financiamento do terrorismo ou pela sua tentativa, recordando-se que a referida directiva ainda não foi transposta como lei uniforme da UEMOA ou para o direito interno da Guiné-Bissau.

Estatísticas (aplicação da Recomendação 32)

166. As autoridades nacionais contactadas pela equipa de avaliação não forneceram dados estatísticos relativamente a processos, acusações ou condenações pela prática do crime de organizações terroristas ou do financiamento a estas organizações ou em relação à aplicação do Artigo 203º do Código Penal. Também não existe informação estatística sobre as sanções aplicadas

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pela prática do crime de organizações terroristas ou do financiamento a estas organizações. Além disso, não existe um mecanismo ou dispositivo de recolha de elementos estatísticos, mesmo sobre a criminalidade em geral.

Análise da eficácia do sistema

167. O crime de organizações terroristas ou do financiamento a estas organizações encontra-se consagrado no Código Penal da Guiné-Bissau desde 13 de Novembro de 1993, altura da entrada em vigor deste diploma. Não é conhecido nenhum processo pela prática deste crime na Guiné-Bissau, ao que acresce o facto de as autoridades nacionais não terem criado os mecanismos necessários para divulgar a legislação e facilitar a sua aplicação pelas diversas entidades com competências na matéria.

Recomendações e Comentários

168. A Guiné-Bissau deverá criminalizar o financiamento do terrorismo como um crime autónomo, tal como requerido pela Convenção EFT, ao mesmo tempo que deverá alterar o Código Penal no sentido de criminalizar também o terrorismo e o terrorista individual, e não limitar-se a criminalizar as organizações terroristas.

169. Ao mesmo tempo deverão ser harmonizadas as disposições do referido Código Penal com as da Directiva nº 4/2007/CM/UEMOA, nomeadamente passando prever todos os elementos dolosos do fornecimento ou recolha de fundos para actividades terroristas, deixando também claro que para que seja preenchidos os elementos do tipo objectivo não se torna necessário que os fundos tenham efectivamente sido utilizados na prática do crime, porquanto este é um tipo de crime de perigo e não de dano. Deve ainda fazer uma referência expressa à previsão da aplicação de procedimentos paralelos de natureza administrativa ou disciplinar às pessoas colectivas envolvidas no financiamento do terrorismo. A referida directiva deve ser transposta para a ordem jurídica interna da Guiné-Bissau.

170. Além disso, deverão ser ratificados todos os instrumentos jurídicos a que se refere o Anexo da Convenção EFT e ser criminalizadas todas as condutas neles previstas.

171. As autoridades devem procurar manter estatísticas criminais, em geral e estatísticas em matéria de prevenção e repressão do terrorismo e do seu financiamento que permitam avaliar a eficácia do sistema nacional em vigor.

Conformidade com a Recomendação Especial II

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Avaliação Resumo dos factores que fundamentam a avaliação

RE.II NC • A legislação em vigor é limitada, apenas prevendo o financiamento de organizações terroristas e não também o do terrorismo e do terrorista individual.

• A Directiva nº 4/2007/CM/UEMOA ainda não foi transposta para a ordem jurídica interna, pelo que o financiamento do terrorismo não se encontra criminalizado de acordo com este instrumento jurídico, bem como está por definir a que tipo de fundos este crime se aplica.

• As disposições da Convenção CFT não se encontram transpostas, nomeadamente no que respeita à tentativa de financiamento do terrorismo ou à previsão de todas as condutas dolosas do fornecimento ou recolha de fundos.

• Os instrumentos jurídicos referidos no Anexo à Convenção CFT devem ser ratificados e criminalizadas as condutas neles previstas.

• Não se encontra prevista no CP e na LCBC a aplicação de procedimentos paralelos de natureza administrativa ou disciplinar às pessoas colectivas envolvidas no financiamento do terrorismo, além da sua responsabilidade penal.

• Não existem investigações, acusações ou condenações a prática do crime de financiamento de organizações terroristas, nem quaisquer estatísticas, o que coloca a questão da eficácia do sistema nacional de prevenção e de repressão deste tipo de crime.

PERDA, CONGELAMENTO E APREENSÃO DO PRODUTO DO CRIME (R.3)

Descrição e Análise

Enquadramento jurídico

172. As autoridades judiciais, como os juízes e os representantes do Ministério Público, têm competência e poderes para identificar, congelar, apreender e declarar a perda a favor do Estado de bens ou fundos obtidos em resultado de infracções principais, caso sejam encontrados no território nacional, e igualmente para dar início ao procedimento criminal e punir crimes de branqueamento de capitais. Os bens que podem ser apreendidos ou declarados perdidos incluem bens móveis e imóveis, rendimentos, juros ou quaisquer outras vantagens directa ou indirectamente extraídas da infracção principal.

173. No que se refere ao crime de branqueamento derivado do tráfico de estupefacientes, a LD prevê nos seus Artigos 16º a 18º a perda de bens a favor do Estado, enquanto o Artigo 28º regula as apreensões. O Código Penal inclui também disposições relativas à perda de bens a favor do Estado, nos Artigos 82º e 83º, enquanto o Código do Processo Penal regula os meios de obtenção de prova, estando previstas as apreensões no Artigo 141º.

174. A LCBC determina também a declaração obrigatória de perda dos bens que constituem o produto do crime de branqueamento, como resulta do Artigo 45º. Além disso, os Artigos 41º nº 10 e 42º nº 2 estabelecem sanções penais complementares, ou seja, a perda dos bens ou dos objectos que serviram ou estavam destinados a servir para cometer o crime ou da coisa que representa o seu produto.

Perda de bens relacionados com o branqueamento de capitais, com o financiamento do terrorismo ou com outras infracções subjacentes, incluindo bens de valor equivalente (c. 3.1)

175. Segundo o disposto na LD (Artigos 16º e 17º) podem ser perdidos a favor do Estado as instalações, materiais, equipamentos e outros bens móveis utilizados ou destinados a ser utilizados para a prática do crime de branqueamento de capitais derivado do tráfico de estupefacientes, bem como os produtos provenientes da prática desse crime, dos bens móveis ou imóveis

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nos quais foram transformados ou convertidos e, até ao montante do valor estimado dos produtos em causa, dos bens adquiridos legitimamente com os quais os referidos produtos foram misturados, assim como os rendimentos, juros, lucros e outras vantagens retiradas desses produtos, dos bens em que foram transformados ou investidos ou bens com que tenham sido misturados. Caso os direitos, objectos ou vantagens não puderem ser apropriados em espécie, a perda é substituída pelo pagamento ao Estado do respectivo valor.

176. Por sua vez, o Código Penal refere que serão declarados perdidos a favor do Estado os objectos que sirvam ou estavam destinados a servir para a prática de um crime – seja de branqueamento de capitais ou de financiamento de organização terrorista -, ou que por este foram produzidos, quando pela sua natureza ou pelas circunstâncias do caso ponham em perigo a segurança das pessoas, a moral ou a ordem pública, ou ofereçam sérios riscos de ser utilizados para a prática de novos crimes (Artigo 82º, Perda de objectos do crime) bem como são perdidas todas as coisas, direitos ou vantagens adquiridas em consequência da prática de um crime, de forma directa ou indirecta (Artigo 83º, Perda de vantagens do crime).

177. A perda obrigatória encontra-se ainda prevista no Artigo 45º da LCBC, que refere que em todos os casos de condenação pela prática dos crimes de branqueamento de capitais ou pela sua tentativa, serão declarados perdidos a favor do Estado os produtos deles resultantes, os bens móveis ou imóveis nos quais esses produtos foram transformados ou convertidos e, na proporção do seu valor, os bens adquiridos legitimamente aos quais esses produtos estão ligados, assim como os rendimentos e outras vantagens obtidas desses produtos, dos bens nos quais eles são transformados ou investidos ou dos bens com os quais eles estão misturados, pertencentes a uma pessoa, a não ser que o seu proprietário demonstre que ignorava a sua origem fraudulenta. Esta Lei exclui a possibilidade da declaração de perda dos produtos resultantes da prática das infracções subjacentes ao branqueamento de capitais, aspecto que será solucionado pelas normas gerais do Código Penal.

Medidas provisórias para evitar a dissipação de bens sujeitos a perda (c. 3.2)

178. A LD prevê a possibilidade de apreensão de todos os materiais, equipamentos e outros bens móveis suspeitos de terem sido utilizados ou de se destinarem a ser utilizados na prática de um crime de branqueamento de capitais relacionado com o tráfico de estupefacientes, bem como de quaisquer somas e valores mobiliários suspeitos de serem provenientes directa ou indirectamente daquele crime. O Código do Processo Penal, aplicável aos crimes de branqueamento de capitais, de organizações terroristas e seu financiamento, regula também a matéria das apreensões, nos seus Artigos 58º e 141º, estando sujeitos a esta medida provisória todos os objectos relacionados com o crime ou que possam servir como meio de prova.

179. A LCBC, se bem que limitada ao branqueamento de capitais, é mais esclarecedora, ao indicar que o juiz de instrução pode, nos termos legais, aplicar medidas provisórias para evitar a transacção, transferência ou cessão ordenando, a expensas do Estado, nomeadamente a apreensão ou a perda dos bens relacionados com o crime, objecto do inquérito, e todos os elementos de natureza a permitir a sua identificação, assim como o congelamento de quantias em dinheiro e das operações financeiras relativas aos referidos bens.

Pedido unilateral ou sem notificação para a adopção de medidas provisórias de bens sujeitos a perda (c. 3.3)

180. A notificação prévia não é exigida pela LCBC. O Código do Processo Penal exige apenas regras de legitimidade activa quanto à intervenção da autoridade judiciária competente.

181. Nos termos do direito interno e de acordo com os princípios consagrados na Constituição da Republica da Guiné-Bissau, encontra-se vedada a possibilidade de determinar a perda de vantagens sem que exista uma condenação criminal prévia. Tal não invalida que, no quadro de uma investigação criminal, sejam apreendidos, por decisão do Ministério Público ou de um juiz, objectos, bens ou produtos, destinados a servir de meio de prova ou a garantir a sua perda posterior a favor do Estado, pelo facto de serem resultado da actividade criminosa.

Identificação e detecção dos bens sujeitos a perda (c. 3.4)

182. Qualquer juiz ou magistrado do Ministério Público, bem como a Polícia Judiciária, em casos de urgência, têm poder para ordenar e executar buscas e revistas a pessoas e instalações e apreender bens e fundos relacionados com a prática de um crime, conforme resulta dos Artigos 137º e seguintes do Código do Processo Penal. Além disso, a LD prevê poderes análogos relativamente ao tráfico de estupefacientes, possibilitando junto do sistema financeiro e bancário, sem que o segredo profissional possa ser invocado, a colocação sob vigilância, por período determinado, de contas bancárias, o acesso por período determinado a sistemas informáticos utilizados para a realização de operações

183. De acordo com o Artigo 144° do CPP, um juiz pode autorizar a intercepção de comunicações telefónicas com o fim de reunir provas sobre crimes de branqueamento de capitais, de financiamento de organizações terroristas ou do seu financiamento. É também possível obter provas da prática de crimes de branqueamento de capitais ou de financiamento de organizações

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terroristas e seu financiamento mediante a intercepção de correio electrónico ou de qualquer outro meio de comunicação diferente do telefone, quanto a crimes puníveis com uma pena superior a três anos. Ainda nos termos do Artigo 58º do CPP a Polícia Judiciária pode, em caso de flagrante delito ou quando exista forte suspeita de que alguma pessoa oculta objectos relacionados com um crime ou se prepara para fugir à acção da justiça, respectivamente, efectuar buscas, revistas ou apreensões desses objectos, lavrando-se de imediato auto da ocorrência, que deverá ser incorporado no respectivo processo criminal ou remetido ao Ministério Público se ainda não tiver sido iniciado o respectivo procedimento criminal.

184. Além do que antecede, a LCBC atribui ao juiz de instrução o poder de ordenar, por um período de tempo indeterminado, algumas medidas de investigação, para aquisição da prova das infracções subjacentes ao branqueamento de capitais, de que são exemplo a vigilância de contas bancárias e de contas incorporadas nas contas bancárias, o acesso aos sistemas, redes e servidores informáticos e a comunicação de actos autênticos ou de contratos particulares, de documentos bancários, financeiros ou comerciais.

185. Porém, a Lei nada diz quanto à possibilidade de as autoridades judiciárias adoptarem medidas destinadas a impedir ou a anular acções contratuais ou outras nas quais as pessoas envolvidas sabiam ou deveriam saber que tais acções eram prejudiciais para a capacidade de as autoridades apreenderem bens sujeitos a perda. No entanto, esta possibilidade recai nos poderes gerais dos magistrados judiciais e do Ministério Público no quadro do inquérito, regulado nos Artigos 192º e seguintes do CPP.

Protecção de terceiros de boa-fé (c. 3.5)

186. A LCBC nada diz sobre a protecção dos direitos dos terceiros de boa-fé, se bem que se possa afirmar que, nos termos do Artigo 45º, parte final, caberá ao proprietário dos bens sujeitos a declaração de perda demonstrar que desconhecia a origem fraudulenta dos mesmos, provando assim a sua boa-fé. A LD garante expressamente, no seu Artigo 16º, a protecção dos terceiros de boa-fé em caso de perda de bens ou produtos derivados do crime de branqueamento de capitais que tenha por infracção subjacente o tráfico de estupefacientes.

187. Também o Artigo 82º, do Código Penal consagra esta protecção dos terceiros de boa-fé, nos casos de crimes de branqueamento de capitais e de organizações terroristas e seu financiamento, referindo que ficam salvaguardados os direitos de terceiro que não tenham concorrido nem tirado vantagem da utilização dos objectos de que sejam proprietários. O Artigo 83º, sobre a perda de vantagens do crime é omisso, pela que não está garantida a protecção dos direitos de terceiros de boa-fé relativamente às coisas, direitos ou vantagens adquiridas em consequência da prática de um crime.

Poder para decretar o arresto preventivo (c. 3.6)

188. O Código de Processo Penal atribui a um qualquer juiz ou magistrado do Ministério Público, bem como a Polícia Judiciária, a faculdade de tomarem as medidas necessárias para impedir ou anular acções, de natureza contratual ou outra, em que as pessoas implicadas sabiam ou deveriam saber que, em consequência dessas acções, as autoridades ficariam impedidas na sua capacidade de recuperar os bens sujeitos a perda. Além disso, prevê ainda algumas medidas de garantia patrimonial, como é o caso do arresto preventivo dos bens do arguido de acordo com a legislação Processual Civil, a fim de garantir a eficácia da condenação, mormente no tocante a uma futura indemnização por danos ao Estado ou a terceiros. Para além disso, segundo os princípios gerais do Código Civil, qualquer contrato pode ser declarado nulo por um tribunal se tiver como objecto bens resultantes da prática de crimes.

Elementos adicionais (c.3.7)

189. a) A LCBC não prevê expressamente a possibilidade de perda de bens das organizações que sejam criminosas por natureza. É na legislação sobre o tráfico de estupefacientes e no Código Penal que se encontram algumas disposições relativamente às associações criminosas. A LD estabelece que se a associação criminosa tiver como finalidade ou actividade a conversão, transferência, dissimulação ou receptação de bens ou produtos provenientes do crime de branqueamento ligado ao tráfico de estupefacientes, as pessoas que dela façam parte, quer seja chefe ou membro ou lhe preste colaboração ou financiamento, serão punidas com pena entre 1 e 6 anos de prisão (Artigo 10º), sendo correspondentemente aplicáveis as disposições relativas à perda estabelecidas nos seus Artigos 16º e 17º. Por sua vez, o Código Penal prevê o crime de associação criminosa, no seu Artigo 207º, punível com penas entre 1 a 10 anos de prisão sendo também aplicáveis as disposições gerais relativas à perda dos Artigos 82º e 83º nas situações que envolvam os crimes de branqueamento de capitais ou de organizações terroristas e seu financiamento.

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190. b) A legislação em vigor na Guiné-Bissau não contempla a possibilidade de procedimentos de perda de bens de natureza cível. No entanto, pode ser declarada a perda de bens, independentemente de condenação pela prática do crime subjacente, mas exclusivamente no quadro de um julgamento de natureza criminal.

191. c) A legislação em vigor na Guiné-Bissau não permite a perda de bens obtida através da inversão do ónus da prova. De acordo com o disposto no Artigo 42º da Constituição da República, todo o arguido se presume inocente até ao trânsito em julgado da sentença de condenação, ao que acresce que, segundo o nº 5 do mesmo preceito, o processo criminal tem estrutura acusatória, pelo que compete ao Ministério Público promover a acusação e a promoção da perda de bens e não ao arguido demonstrar a sua origem lícita ou ilícita.

Estatísticas (aplicação da Recomendação 32)

192. As autoridades nacionais contactadas pela equipa de avaliação não forneceram dados estatísticos relativamente ao congelamento, apreensão ou perda de bens relacionados com os crimes de branqueamento de capitais, de organizações terroristas ou do financiamento a estas organizações. Como já afirmado, não existe um mecanismo ou dispositivo de recolha de elementos estatísticos, mesmo sobre a criminalidade em geral.

Análise da eficácia do sistema

193. A legislação em vigor em matéria de congelamento, apreensão e perda de bens ou produtos derivados da prática da actividade criminosa encontra-se repartida pela LD, pelo Código Penal e pela LCBC. No entanto a ausência de aplicação prática das diferentes disposições não permite à equipa de avaliação conhecer a real eficácia do sistema.

Recomendações e Comentários

194. As autoridades da Guiné-Bissau devem procurar harmonizar as disposições da LCBC, da LD e do Código Penal em matéria de perda a favor do Estado.

195. Ao mesmo tempo devem procurar implementar a LCBC, passando a prever expressamente a possibilidade de as autoridades judiciárias adoptarem medidas destinadas a impedir ou a anular acções contratuais ou outras através das quais as pessoas envolvidas pretendem evitar as medidas de perda e transpor para o direito interno a Directiva nº 4/2007/CM/UEMOA.

196. As autoridades devem procurar manter estatísticas criminais, em geral e estatísticas em matéria de bens congelados, apreendidos e declarados perdidos, no âmbito de processos ligados à prática de crimes de branqueamento de capitais e de financiamento do terrorismo que permitam avaliar a eficácia do sistema nacional em vigor.

Conformidade com a Recomendação 3 Avaliação Resumo dos factores que fundamentam a avaliação

R.3 PC • Não é possível o congelamento, apreensão ou perda de bens relativos ao financiamento do terrorismo ou do terrorista individual, porquanto estas condutas não se encontram criminalizadas.

• Os mecanismos que permitem os congelamentos, apreensões ou perda de bens

não foram aplicados a nível interno.

• Não existem elementos estatísticos, o que coloca a questão da eficácia das

disposições em vigor nesta matéria.

• Os direitos dos terceiros de boa-fé podem não estar assegurados em todas as situações que envolvam a prática de um crime.

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CONGELAMENTO DE FUNDOS UTILIZADOS PARA O FINANCIAMENTO DO TERRORISMO (RE.III)

Descrição e Análise

Enquadramento jurídico

197. As Resoluções 1267 (1999) e 1373 (2001) do Conselho de Segurança das Nações Unidas são reconhecidas como aplicáveis no ordenamento jurídico da Guiné-Bissau, considerando a sua qualidade de membro desta organização internacional. Na ausência de legislação nacional que inclua medidas destinadas a dar execução às referidas Resoluções da ONU, é directamente aplicável na ordem jurídica interna o Regulamento nº 14/2002/CM/UEMOA, de 19 de Setembro de 2002, relativo ao congelamento de fundos e de outros activos financeiros no quadro da luta contra o financiamento do terrorismo.

198. Além disso, são também de referir as Decisões do Conselho de Ministros da UEMOA respeitantes às listas de pessoas e entidades e organismos suspeitos de terrorismo ou de financiar o terrorismo e cujos fundos devem ser congelados, a saber, a Decisão nº 6/2003/CM/UEMOA, de 26 de Junho e as Decisões de actualização que lhe sucederam, ou seja a Decisão nº 4/2004/CM/UEMOA, a Decisão nº 12/2005/CM/UEMOA, a Decisão nº 14/2006/CM/UEMOA e a Decisão nº 9/2007/C/UEMOA.

199. Entre duas sessões do Conselho de Ministros, que se realizam trimestralmente, o Regulamento nº 14/2002/CM/UEMOA habilita o Presidente do Conselho de Ministros, por proposta do Governador do Banco Central, a modificar ou a completar a lista das pessoas, entidades ou organismos cujos fundos devem ser congelados com base nas decisões do Comité de Sanções. Estas medidas devem depois ser aprovadas pelo referido Conselho de Ministros, na sua reunião seguinte. O objectivo não é outro do que garantir a aplicação, de forma tempestiva, das medidas de congelamento às pessoas, entidades ou organismos que figuram nas listas de sanções das Nações Unidas.

Congelamento de bens nos termos da RCSONU 1267 (1999) (c. III.1)

200. A Resolução 1267 (1999) do Conselho de Segurança das Nações Unidas é obrigatória e aplicável na Guiné-Bissau, ao abrigo do disposto no Capítulo VII da Carta das Nações Unidas.

201. As condições de aplicação das medidas de congelamento de fundos e de outros activos financeiros, pertencentes a qualquer pessoa singular ou colectiva, entidade ou organismo, estão previstas no Artigo 4º do Regulamento nº 14/2002/CM/UEMOA, tendo por referência uma lista a aprovar pelo Conselho de Ministros da UEMOA.

202. Tendo em conta o seu campo de aplicação, definido no Artigo 3º, o Regulamento é aplicável apenas aos bancos e estabelecimentos financeiros, cabendo ao BCEAO a disseminação das listas de pessoas e entidades e organismos suspeitos, embora a equipa de avaliação tenha sido informada que as listas eram também recebidas através da missão diplomática da Guiné-Bissau junto das Nações Unidas, em Nova Iorque. As referidas listas podem ser modificadas ou completadas pelo Presidente do Conselho de Ministros da UEMOA, sob proposta do Governador do BCEAO, no espaço que medeia as duas sessões do Conselho de Ministros, como resulta do Artigo 9º.

203. As autoridades nacionais da Guiné-Bissau não publicaram quaisquer medidas de carácter legislativo ou outras destinadas a aplicar a Resolução 1267 (1999). Apesar da aplicação directa do Regulamento nº 14/2002/CM/UEMOA, em vigor desde 2002, a equipa de avaliação foi informada pelas diferentes autoridades com quem foram mantidos contactos que não foram até à data congelados quaisquer fundos ou outros activos, apesar de as instituições financeiras terem conhecimento das referidas listas.

204. O Regulamento nº 14/2002/CM/UEMOA e a forma como é difundido pelos bancos e instituições financeiras não está isento de algumas críticas. Antes de mais, pelo facto de a difusão que se pretende rápida e sem demora poder ser obstaculizada sempre que não for alcançada a unanimidade no Conselho de Ministros da UEMOA. Por outro lado, o Regulamento fica aquém do disposto na Resolução 1267 (1999) ao limitar a sua aplicação exclusivamente aos bancos e entidades financeiras e, consequentemente aos activos financeiros, facto que impede o congelamento de bens ou outros activos das pessoas e entidades incluídas nas listas, mas que se encontrem fora do sector financeiro.

205. Em termos de campo de aplicação pessoal, o Regulamento também se afasta da Resolução 1267 (1999) excluindo a sua aplicação às pessoas que agem em nome ou sob as instruções das pessoas ou entidades constantes das listas do Comité de Sanções e que controlam directa ou indirectamente determinados bens. Finalmente, ao referir-se apenas aos activos financeiros, o Regulamento é limitativo, deixando fora todos os demais bens de qualquer natureza, sejam corpóreos ou incorpóreos, mobiliários ou imobiliários, bem como todos os documentos ou instrumentos jurídicos que provem a propriedade ou os interesses sobre tais bens.

Page 53: Relatório de Avaliação Mútua - GIABA

Congelamento de bens ao abrigo da RCSONU 1373 (2001) (c. III.2)

206. A Resolução 1373 (2001) do Conselho de Segurança das Nações Unidas é obrigatória e aplicável na Guiné-Bissau, ao abrigo do disposto no Capítulo VII da Carta das Nações Unidas. Na ausência de legislação nacional que inclua medidas destinadas a dar execução às referidas Resoluções da ONU, é directamente aplicável na ordem jurídica interna o Regulamento nº 14/2002/CM/UEMOA, de 19 de Setembro de 2002, relativo ao congelamento de fundos e de outros activos financeiros no quadro da luta contra o financiamento do terrorismo.

207. Porém, como decorre do seu Artigo 2º, o Regulamento estabelece as regras relativas ao congelamento de bens e de outros activos financeiros, em aplicação da Resolução 1267 (1999), sendo omisso em relação à Resolução 1373 (2001).

208. No plano interno, a Guiné-Bissau não publicou ou adoptou quaisquer medidas específicas, de carácter legislativo ou administrativo, destinadas a aplicar a Resolução 1373 (2001) ou a aprovar as suas próprias listas de pessoas ou entidades suspeitas de terrorismo ou de financiar o terrorismo, cujos bens ou outros activos económicos devem ser congelados.

Medidas de congelamento adoptadas por outros países (c. III.3)

209. Não existe na Guiné-Bissau nenhum mecanismo ou procedimentos que permitam examinar e dar execução a iniciativas adoptadas no âmbito de mecanismos de congelamento iniciadas por outros países.

Aplicação dos c. III.1–III.3 a fundos ou bens controlados por pessoas designadas (c. III.4)

210. Os comentários apresentados em relação aos critérios anteriores, nomeadamente as limitações do Regulamento nº 14/2002/CM/UEMOA são também aplicáveis ao congelamento de fundos ou outros bens na posse ou controlados integralmente ou em conjunto, directa ou indirectamente, pelas pessoas designadas, pelos terroristas, pelos que financiam o terrorismo ou por organizações terroristas, bem como aos fundos ou outros bens provenientes ou gerados por fundos ou outros bens que se encontram na posse ou são por aqueles controlados.

Comunicação ao sector financeiro (c. III.5)

211. A comunicação ao sector financeiro, aliás, o único a que se faz referência no Regulamento nº 14/2002/CM/UEMOA, é efectuada através do BCEAO. A equipa de avaliação foi informada que as listas eram também recebidas através da missão diplomática da Guiné-Bissau junto das Nações Unidas, em Nova Iorque. Porém as listas não são depois difundidas a nível dos vários Ministérios sectoriais e, dentro destes, pelos serviços responsáveis pela fiscalização de algumas actividades, como é o caso do Ministério das Finanças e da CADESP, responsável pela fiscalização do sector das micro-finanças.

Orientações às instituições financeiras (c. III.6)

212. Além do Regulamento nº 14/2002/CM/UEMOA não existem quaisquer outras instruções ou orientações, seja do BCEAO seja do Ministério das Finanças, destinadas às instituições financeiras e às outras pessoas ou entidades susceptíveis de deter fundos ou outros bens relativamente à obrigação de adoptarem medidas no quadro dos mecanismos de congelamento.

Pedidos de retirada de uma lista e descongelamento dos fundos de pessoas retiradas das listas (c. III.7)

213. Não existem mecanismos para analisar pedidos de retirada de uma pessoa das listas de suspeitos de terrorismo ou de financiamento do terrorismo ou de descongelamento de bens de pessoas que foram retiradas dessas listas. Tal decorrerá, também, do facto de a Resolução 1373 (2001) não ter sido objecto da criação de mecanismos nacionais de congelamento e, por conseguinte, continuar por ser aplicada na ordem jurídica interna da Guiné-Bissau.

Acesso a fundos congelados para despesas e outros fins (c. III.9)

214. Não existem procedimentos para o acesso aos fundos congelados nos termos da Resolução 1267 (1999) ao mesmo tempo que o Regulamento nº 14/2002/CM/UEMOA é omisso em relação a esta matéria.

Revisão de decisões de congelamento (c. III.10)

215. Não existem procedimentos para a impugnação da medida de congelamento dos fundos congelados nos termos da Resolução 1267 (1999) junto de um tribunal, sendo o Regulamento nº 14/2002/CM/UEMOA omisso em relação a esta matéria. Porém, nos termos do Artigo 32º da Constituição da República da Guiné-Bissau, a todos é garantido o recurso aos órgãos jurisdicionais contra os actos que violem os seus direitos constitucional e legalmente reconhecidos, não podendo a justiça ser denegada pela insuficiência de meios económicos.

Congelamento, apreensão e perda noutras circunstâncias (aplicação dos c. 3.1–3.4 e 3.6 na R.3, c. III.11)

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216. O congelamento, a apreensão e a perda de fundos de bens ou de outros activos económicos ligados ao terrorismo ou ao financiamento do terrorismo, bem como o arresto provisório, são também possíveis pela via judicial, por aplicação das normas do Código Penal e do Código do Processo Penal, ainda que o primeiro destes diplomas consagre apenas a criminalização das organizações terroristas e do respectivo financiamento.

217. A Directiva nº 4/2007/CM/UEMOA relativa à luta contra o financiamento do terrorismo, ainda não transposta como lei uniforme ou alvo de medidas nacionais de transposição na Guiné-Bissau, poderá completar este quadro normativo relativamente à consagração da possibilidade de aplicação de medidas conservatórias.

Defesa dos direitos de terceiros de boa-fé (c. III.12)

218. O Regulamento nº 14/2002/CM/UEMOA é omisso relativamente à protecção dos terceiros de boa-fé no quadro das medidas de congelamento decorrentes das Resoluções 1267 (1999) e 1373 (2001).

Execução das obrigações nos termos da RE.III (c. III.13)

219. A monitorização e acompanhamento do cumprimento das disposições do Regulamento nº 14/2002/CM/UEMOA são da competência do BCEAO e da Comissão Bancária, tal como consubstanciado no segundo parágrafo do seu Artigo 8º. Nestes termos, a violação deste instrumento jurídico poderá implicar a aplicação de sanções aos bancos e estabelecimentos financeiras abrangidos pelo campo de aplicação. A equipa de avaliação constatou que, até a data, as instituições financeiras da Guiné-Bissau não foram sujeitas a nenhuma verificação in situ desse cumprimento.

220. Considerando que o citado Regulamento apenas se refere às medidas de congelamento previstas na Resolução 1267 (1999), não existe nenhum dispositivo de monitorização e acompanhamento do cumprimento das disposições da Resolução 1373 (2001) que, como afirmado, não foi ainda aplicada na Guiné-Bissau.

Estatísticas (aplicação da Recomendação 32)

221. Não existem quaisquer elementos estatísticos relativos às medidas de congelamento tomadas no âmbito da Resolução 1267 (1999) e do Regulamento nº 14/2002/CM/UEMOA, nem em relação à Resolução 1373 (2001).

222. Análise da eficácia do sistemaDe entre as entidades financeiras e das actividades e profissões não financeiras com quem a equipa de avaliação manteve contactos foi possível constar que apenas os bancos recebiam e tinham conhecimento das listas relativas às pessoas e entidades cujos fundos devem ser congelados. Porém, nenhuma das instituições bancárias com quem foram mantidos contactos referiu possuiu procedimentos específicos que vão ao encontro das disposições do Regulamento nº 14/2002/CM/UEMOA.

223. Nem o sector das micro-finanças, as actividades e profissões não financeiras designadas ou sequer alguns Ministérios ou serviços da Administração Central tinham conhecimento destas listas e das obrigações que sobre eles recaiam em termos de difusão e da verificação do cumprimento das obrigações daquelas decorrentes.

Recomendações e Comentários

224. Em termos legislativos, o Regulamento nº 14/2002/CM/UEMOA deve ser alterado, no sentido de alargar e completar os mecanismos de congelamento, de forma a incluir todas as disposições existentes nas Resoluções 1267 (1999) e 1373 (2001).

225. O Regulamento nº 14/2002/CM/UEMOA é limitativo, ao fazer referência apenas à Resolução 1267 (1999), ao aplicar-se apenas às instituições financeiras e apenas a algumas categorias de bens a congelar. Além disso, exclui do campo de aplicação as pessoas que agem em nome ou sob as instruções das pessoas ou entidades constantes das listas do Comité de Sanções e que controlam directa ou indirectamente determinados bens.

226. A Guiné-Bissau não adoptou ou publicou quaisquer medidas específicas destinadas a aplicar a Resolução 1373 (2001) ou a aprovar as suas listas de pessoas ou entidades suspeitas de terrorismo ou de financiar o terrorismo, cujos bens ou outros activos económicos devem ser congelados.

227. Além disso, deve ser adoptado um procedimento claro e expedito que permita a rápida difusão das listas por todas as entidades e autoridades conduzindo a que, sem demora, possam ser aplicadas medidas de congelamento. Constatou-se que várias

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autoridades, do sector público e privado, com competências e obrigações em matéria de prevenção do financiamento do terrorismo desconheciam a existência destas listas e a necessidade de congelar os bens ou outros activos económicos.

Conformidade com a Recomendação Especial III

Avaliação Resumo dos factores que fundamentam a avaliação

RE.III NC • Os mecanismos de congelamento previstos no Regulamento nº 14/2002/CM/UEMOA são incompletos apenas se aplicando à Resolução 1267 (1999).

• Não se encontra prevista a aplicação destes mecanismos pelas APNFDs e a todos os tipos de bens, sendo aplicáveis apenas aos activos financeiros.

• Não se encontra prevista a aplicação a pessoas que agem em nome ou sob as instruções das pessoas ou entidades constantes das listas do Comité de Sanções e que controlam directa ou indirectamente determinados bens.

• Não se encontram previstos mecanismos que permitam conhecer a possibilidade de descongelamento de bens, sempre que se constatar que a pessoa ou entidade não têm ligações com o FT.

• Não se encontram previstos mecanismos que permitam o acesso aos fundos congelados para fazer face a certas despesas.

• Não se encontram previstos mecanismos que permitam a uma pessoa cujos bens foram congelados contestar essa decisão junto de tribunal.

• Não existe um procedimento claro e rápido para apreciar e executar iniciativas de congelamento adoptadas por outros países ao abrigo da Resolução 1373 (2001).

• Não se encontra prevista a protecção dos direitos de terceiros de boa-fé.

• Não existe um procedimento claro e expedito que permita a rápida difusão as listas por todas as entidades e autoridades nacionais que possibilite, sem demora, aplicar medidas de congelamento.

• Não existem elementos estatísticos sobre decisões de congelamento, bens congelados e respectivo montante.

A UNIDADE DE INFORMAÇÃO FINANCEIRA E AS SUAS FUNÇÕES (R.26)

Autoridades

Descrição e Análise

228. A Guiné-Bissau adoptou na ordem jurídica interna a LCBC, publicada no Boletim Oficial nº 44, de 2 de Novembro de 2004. O referido instrumento jurídico não é mais do que uma transcrição da Lei Uniforme da UEMOA relativa à luta contra o branqueamento de capitais.

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229. Consagra, nos seus Artigos 18º a 25º um conjunto de disposições relativas, entre outras, à criação, atribuições, composição, organização e funcionamento de uma Unidade de Informação Financeira, aqui designada por CENTIF – Célula Nacional de Tratamento das Informações Financeiras.

230. Tendo por referência o disposto no Artigo 16º da LCBC, a CENTIF foi criada através do Decreto nº 1/2006, de 29 de Maio, onde se refere também que os recursos para o seu funcionamento serão provenientes do Estado e complementados por contribuições das instituições da UEMOA e dos parceiros para o desenvolvimento. Apesar de formalmente criada, à data da deslocação da equipa de avaliação a CENTIF ainda não se encontrava operacional, sendo que o local físico onde irá funcionar já se encontrava contratualizado, mas ainda não disponível. Além disso, o regulamento interno que fixará as regras do seu funcionamento ainda não tenha sido aprovado pelo Ministro das Finanças.

Um centro nacional de recepção, análise e transmissão de informações (c. 26.1)

231. De acordo com o disposto no Artigo 17º da LCBC a CENTIF é um serviço de natureza administrativa sob a tutela do Ministério das Finanças, de âmbito nacional, com autonomia administrativa e financeira e poder de decisão autónomo nas áreas da sua competência, tendo por missão recolher e tratar a informação financeira sobre os circuitos do branqueamento de capitais.

232. Compete-lhe receber, analisar e tratar as declarações suspeitas de branqueamento de capitais enviadas pelas entidades financeiras e pelas actividades e profissões não financeiras identificadas no Artigo 5º, relativas a um determinado número de situações enumeradas no Artigo 26º.

233. No entanto, a CENTIF não tem competência para tratar das operações suspeitas de financiamento do terrorismo, já que a LCBC tem o seu campo de aplicação material limitado aos crimes de branqueamento de capitais e a Directiva nº 4/2007/CM/UEMOA, de 4 de Julho, sobre o financiamento do terrorismo ainda não foi transposta para a ordem jurídica interna da Guiné-Bissau.

Orientações às instituições financeiras em matéria de apresentação de DOSs (c. 26.2)

234. A CENTIF, também pelo facto de ainda não estar operacional, passados que estão mais de 2 anos sobre a publicação do Decreto nº 1/2006 e quase 4 anos sobre a publicação da LCBC, não publicou ou forneceu às entidades financeiras e às APNFDs sujeitas às obrigações de prevenção do branqueamento de capitais orientações sobre a forma de apresentar ou remeter as DOSs. Nenhuma outra autoridade da Administração Central da Guiné-Bissau publicou ou enviou orientações desta natureza, sendo certo que, nos termos do Artigo 26º da referida Lei, é da competência do Ministro das Finanças a aprovação de um modelo de declaração de operações suspeitas.

Acesso directo e em tempo útil da CENTIF às informações (c. 26.3)

235. Nos termos do Artigo 17º da LCBC a CENTIF deve receber, além das DOSs, todas as informações úteis, necessárias ao cumprimento da sua missão, nomeadamente as informações comunicadas pelas autoridades de supervisão, fiscalização ou controlo, bem como pelos agentes da Polícia Judiciária. Além disso, por aplicação do Artigo 19º, o mesmo diploma legal permite o estabelecimento de uma rede de pontos de contacto no seio de entidades e serviços do Estado quando a sua contribuição for considerada necessária para a luta contra o branqueamento de capitais.

236. A referida Lei é omissa quanto à necessidade ou à obrigação de a CENTIF ter acesso tempestivo às informações de que carece para o exercício adequado da sua missão. No entanto, ainda de acordo com o Artigo 17º, a CENTIF pode pedir a comunicação, por pessoas suspeitas, assim como por qualquer pessoa singular ou colectiva, de informações na sua posse e susceptíveis de enriquecer a declaração de operações suspeitas. O facto de esta Célula não estar ainda a funcionar não permitiu verificar se, na prática, recebe em tempo as informações por parte dos sujeitos obrigados ou se tem acesso tempestivo às informações de que necessita.

Obtenção de informações adicionais por parte dos declarantes (c. 26.4)

237. A possibilidade de solicitar informações complementares junto das entidades que comunicaram operações suspeitas, bem como junto de qualquer autoridade pública ou de controlo, expressamente referida no Artigo 28º é reveladora de que a CENTIF tem poderes suficientes e adequados de comunicação e para a obtenção das informações de que necessita para o desempenho das tarefas que lhe estão cometidas.

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Transmissão de informações financeiras (c. 26.5)

238. As Unidades de Informação Financeira devem ter a autonomia operacional necessária para determinar por si próprias, e com base no mérito das informações à sua disposição, se uma determinada comunicação suspeita deve ser retida ou transmitida às autoridades judiciárias para instauração do competente processo criminal.

239. Nos termos do Artigo 29º da LCBC a CENTIF deve enviar um relatório ao Ministério Público sobre os factos susceptíveis de constituírem um crime de branqueamento de capitais que, nas palavras do referido diploma, o deve remeter de imediato ao Juiz de Instrução. O relatório deve ser acompanhado de todas as informações úteis, com excepção da própria DOSs e da identidade da pessoa que fez essa declaração, o que significa que deve existir na CENTIF uma base de dados que deve ser construída com as informações úteis que são retiradas das DOSs.

240. O dever de remessa imediata ao Juiz de Instrução do relatório, a que atrás se alude, por parte do Ministério Público poderá colidir com as disposições da legislação processual penal vigente na Guiné-Bissau já que, por um lado, impossibilita o exercício das competências desta magistratura, que é a titular da acção penal (Artigo 47º nº 1 CPP e Artigo 125º CRGB), reduzindo a sua intervenção a uma mera caixa de ressonância entre a CENTIF e o Juiz de Instrução. Por outro, não parece caber ao Juiz de Instrução investigar se as suspeitas de branqueamento são fundadas, não tendo competência, de acordo com o CPP para a promoção da acusação. A intervenção do Juiz de Instrução é aspecto a clarificar em sede de revisão da legislação, sendo que deve caber ao Ministério Público a referida investigação dos indícios de branqueamento de capitais.

Autonomia operacional (c. 26.6)

241. A equipa de avaliação não teve oportunidade de constatar a autonomia e independência operacional da CENTIF, a que faz referência o Artigo 17º da LCBC, porquanto esta entidade não iniciou ainda as suas funções.

Protecção das informações (c. 26.7)

242. A LCBC nada diz sobre sanções a aplicar em caso de violação do dever de confidencialidade a que estão sujeitos os membros da CENTIF por força do Artigo 20º sendo aplicáveis, na sua ausência, as disposições do Artigo 142º do Código Penal relativas à violação de segredo.

Publicação de relatórios periódicos (c. 26.8)

243. A elaboração de relatórios periódicos, numa base trimestral e um relatório anual, centrado na análise da evolução das actividades de luta contra o branqueamento de capitais no plano interno e internacional e na avaliação das declarações recebidas é uma das tarefas da CENTIF, prevista no Artigo 17º da LCBC. Ainda de acordo com esta disposição, deve também realizar ou mandar realizar estudos periódicos sobre a evolução das técnicas utilizadas para efeitos de branqueamento de capitais a nível do território nacional.

244. Pelas razões já explanadas, a CENTIF não publicou, até à data, qualquer relatório.

Qualidade de membro do Grupo EGMONT (c. 26.9) e Princípios do Grupo Egmont para a troca de informações (c. 26.10)

245. O facto de a CENTIF não ter competências em matéria de financiamento do terrorismo constitui um obstáculo à sua adesão ao Grupo de Egmont.

246. A LCBC permite à CENTIF a troca de informações com os serviços congéneres de Estados terceiros, em condições de reciprocidade e sempre que estes estejam sujeitos a obrigações semelhantes de segredo profissional, como resulta do Artigo 24º. A assinatura destes acordos bilaterais depende de prévia autorização do Ministro das Finanças. Além disso, de acordo com o disposto no Artigo 23º, a CENTIF deve comunicar todas as informações e dados relativos a investigações realizadas a nível nacional na sequência de uma DOS, sempre que solicitadas por uma entidade congénere de um dos Estados membros da UEMOA, no quadro de um inquérito.

Adequação dos recursos (c. 30.1), Integridade do pessoal (c. 30.2), Formação do pessoal (c. 30.3)

247. A falta de operacionalidade da CENTIF não permitiu à equipa de avaliadores conhecer a adequação de recursos ao exercício das suas atribuições. Além disso, não foram facultadas informações sobre os critérios de recrutamento e as condições do exercício de funções do pessoal da CENTIF. O mesmo se dirá em relação à formação do pessoal, que ainda não foi recrutado, desconhecendo-se o número de pessoas previstas para o desempenho de funções nesta Célula.

Estatísticas (aplicação da R.32 à UIF)

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248. A falta de operacionalidade da CENTIF obsta a que tenham sido elaboradas estatísticas relativas à sua actividade.

Recomendações e Comentários

249. Como afirmado, mais de dois anos depois da sua criação através de Decreto, a CENTIF ainda não deu início às suas funções. Apesar deste facto, a CENTIF apenas é competente para tratar das questões ligadas ao branqueamento de capitais e não ao financiamento do terrorismo.

250. Neste quadro, além da necessidade de aprovação do regulamento interno que estabeleça as regras de funcionamento, torna-se patente a necessidade de dar execução ao disposto na LCBC e no Decreto nº 1/2006, ou seja, nomear os restantes membros permanentes e os correspondentes nos diferentes serviços da administração pública, bem como dar início ao recrutamento e selecção de pessoal que lhe permita desempenhar as funções para que foi criada e, não menos importante, dotar a CENTIF com os necessários equipamentos técnicos e recursos financeiros.

251. No plano prático, a CENTIF deverá criar um modelo uniforme de DOSs, fornecer orientações e definir os canais ou os meios de comunicação através das quais as entidades financeiras e as actividades e profissões não financeiras previstas na LCBC possam cumprir o dever de comunicação. Deve também criar condições internas que promovam e permitam o retorno de informação (feed-back) às referidas entidades sujeitas.

252. Além disso, no quadro da revisão da legislação penal e processual penal, deverá ser clarificada a questão do envio dos relatórios da CENTIF ao Ministério Público que, nos termos do Artigo 29º da LCBC os deverá remeter de imediato ao Juiz de Instrução, que fica assim impedido de exercer as suas atribuições enquanto titular exclusivo da acção penal. A LCBC é omissa quanto à necessidade ou à faculdade de a CENTIF ter acesso tempestivo às informações de que carece para o exercício das suas funções, bem como sobre as sanções a aplicar em caso de violação do dever de confidencialidade pelos seus membros.

Conformidade com a Recomendação 26

Avaliação Resumo dos factores fundamentam a avaliação

R.26 NC • A CENTIF não se encontra operacional pelo que não foi possível verificar a respectiva efectividade,

• Não dispõe de competência para o tratamento e análise de DOSs relativas ao financiamento do terrorismo. • Não definiu um modelo uniforme de DOSs para as entidades financeiras e APNFDs nem forneceu orientações a estas entidades. • Não criou condições que permitam o retorno de informações às entidades financeiras e às APNFDs. • Não foram adoptadas disposições destinadas a garantir a integridade dos membros da CENTIF. • Não publicou qualquer relatório a que está obrigada pela LCBC.

R.30 NC • Nem os membros da CENTIF foram ainda nomeados, além de carecer de recursos humanos.

• Não foi aprovado o regulamento interno de funcionamento nem foi dotada de recursos financeiros que lhe permitam exercer as suas funções. • Não procedeu ainda à selecção e recrutamento de recursos humanos nem dispõe de equipamentos técnicos.

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R.32 NC • Não existem estatísticas pois a CENTIF não se encontra operacional

AUTORIDADES RESPONSAVEIS PELA APLICAÇÃO DA LEI E PELO EXERCICIO DA ACÇÃO PENAL E OUTRAS AUTORIDADES COMPETENTES — ENQUADRAMENTO DA INVESTIGAÇÃO DE INFRACÇÕES E DA INSTAURAÇÃO DE PROCESSOS E DA PERDA E CONGELAMENTO DE BENS (R.27 E 28)

Descrição e Análise

Enquadramento Jurídico

253. A Constituição da República da Guiné-Bissau consagra a separação de poderes, sendo que, nos termos do seu Artigo 119º, os tribunais são órgãos de soberania com competência para administrar a justiça em nome do povo. No exercício das suas funções, os juízes são independentes e apenas devem obediência à lei enquanto o Ministério Público, estrutura hierarquizada e sob a direcção do Procurador-Geral da República, é o órgão encarregado de, junto dos tribunais, fiscalizar a legalidade e representar o interesse público, sendo o titular da acção penal.

254. Ainda de acordo com a Constituição da República, a organização, a competência e o funcionamento dos órgãos da administração da justiça é regulado por lei ordinária. É no Código do Processo Penal que esta ideia se encontra reforçada, ao afirmar, no seu Artigo 5º nº 1, que só os tribunais previstos na lei de organização judiciária são competentes para administrar a justiça penal.

255. As diferentes funções dentro do sistema de justiça penal encontram-se claramente separadas, cabendo exclusivamente à Polícia Judiciária a investigação dos crimes comuns, à Polícia de Ordem Pública a investigação da demais criminalidade, exercendo ambas as suas funções de investigação na dependência funcional do Ministério Público. Nos termos constitucionais e tal como previsto no Código do Processo Penal, o Ministério Público é o único titular da acção penal cabendo-lhe, no respeito pelo princípio da legalidade, ordenar a instauração do procedimento criminal, coordenar e exercer a fiscalização das actividades de investigação executadas pelas polícias no âmbito do processo penal e promover e sustentar junto de um tribunal criminal a acusação que tenha deduzido.

256. O Código do Processo Penal aplica-se a todos os crimes previstos na legislação penal da Guiné-Bissau, em especial aos crimes previstos no Código Penal, na LD e na LCBC. No entanto, apesar da legislação relativa à prevenção e repressão do branqueamento de capitais, das organizações terroristas e do seu financiamento se encontrar em vigor hà praticamente quatro anos, a equipa de avaliação encontrou um sistema de justiça penal com grandes carências, a diferentes níveis, que impedem também a aplicação prática da referida legislação.

Recomendação 27

Designação das autoridades responsáveis pelas investigações em matéria de branqueamento de capitais e de financiamento do terrorismo (c. 27.1)

257. O sistema judiciário na Guiné-Bissau encontra-se repartido entre o Supremo Tribunal de Justiça, os tribunais de Círculo e de Região e os Tribunais de Sector. O julgamento dos crimes de branqueamento de capitais, de organizações terroristas e do seu financiamento é da competência dos Tribunais de Circulo e de Região, tal como resulta da conjugação do Artigo 11º alínea d) com o Artigo 12º do Código do Processo Penal.

258. Ainda nos termos do mesmo Código e da Lei nº 7/95, de 25 de Julho, que aprovou a Lei Orgânica do Ministério Público, é da competência desta entidade o exercício da acção penal, a promoção e coordenação das acções de prevenção da criminalidade e presidir à investigação criminal. Ao Procurador-Geral da República, enquanto presidente do órgão superior do Ministério Público, compete, entre outras atribuições, a promoção da defesa da legalidade democrática, dirigir, coordenar e fiscalizar a actividade do Ministério Público e emitir instruções e ordens e fiscalizar superiormente as actividades de investigação criminal.

259. A Lei nº 9/95, de 7 de Agosto, que aprovou o Estatuto dos Magistrados Judiciais consagra a independência dos tribunais face aos restantes poderes, afirmando que a magistratura judicial é o corpo de juízes a quem compete administrar a justiça, assegurando a defesa dos legítimos interesses dos cidadãos, interpretando e aplicando as leis com total fidelidade à Constituição

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da República. Os juízes julgam apenas segundo a lei e a sua consciência e não estão sujeitos a ordens ou instruções, salvo o dever de acatamento pelos tribunais inferiores das decisões proferidas em sede de recurso pelos tribunais superiores.

260. Apesar de o Ministério Público ser o titular da acção penal e, como tal, o responsável pela investigação criminal, assiste-lhe a faculdade de delegar na Polícia Judiciária ou noutros corpos de polícia a investigação dos crimes de branqueamento de capitais, de organizações terroristas e do seu financiamento. É da competência da Polícia Judiciária ou da Polícia de Ordem Pública a realização do inquérito, sob direcção funcional do Ministério Público. Ambas as polícias têm competência territorial.

261. No contexto dos controlos dos movimentos físicos transfronteiriços de dinheiro ou de outros instrumentos negociáveis ao portador, a Direcção-Geral das Alfândegas é a entidade competente para a investigação das infracções ao Código do Contencioso Aduaneiro e pelo cumprimento das disposições do Código Aduaneiro da UEMOA, anexo ao Regulamento nº 9/2001/CM/UEMOA, remetendo para o Ministério Público as informações recolhidas sempre que as mesmas configurem a prática de um ilícito criminal.

Possibilidade de adiar ou suspender a detenção de suspeitos ou a apreensão de bens (c. 27.2)

262. A legislação em vigor na Guiné-Bissau, nomeadamente o Código do Processo Penal, não contempla a possibilidade de adiar ou suspender a detenção de suspeitos ou a apreensão de bens, com a finalidade de identificar as pessoas envolvidas em actividades de branqueamento de capitais ou de financiamento do terrorismo ou de recolher elementos probatórios.

Elemento Adicional — Possibilidade de utilização de técnicas especiais de investigação (c. 27.3)

263. O Código do Processo Penal apenas contempla os métodos clássicos de obtenção da prova, ou seja, as buscas e revistas, as apreensões, exames e escutas telefónicas.

264. No entanto, em matéria de branqueamento de capitais derivado do tráfico de estupefacientes, sempre que existam indícios sérios de que uma pessoa suficientemente identificada utiliza ou utilizou o sistema financeiro, bancário ou instituições similares para efectuar operações relacionadas com a prática do referido crime, a LD consagra, no Artigo 29º, a possibilidade de a autoridade judiciária competente autorizar a colocação sob vigilância das contas bancárias ou o acesso por período determinado a sistemas informáticos utilizados nas referidas operações. A técnica especial de investigação conhecida como entregas controladas encontra-se prevista no referido diploma mas é aplicável apenas ao tráfico e distribuição de estupefacientes mas não ao branqueamento do produto derivado dessas actividades. O mesmo se dirá sobre a possibilidade de utilização de agentes encobertos prevista, de certa forma, no Artigo 34º do mesmo diploma legal.

265. Relativamente ao branqueamento de capitais que tenham por base qualquer infracção subjacente, o Artigo 33º da LCBC estabelece que o juiz de instrução poderá ordenar, em conformidade com a lei e durante um período determinado, semelhantes acções como é o caso da vigilância das contas bancárias e o acesso aos sistemas, redes e servidores informáticos utilizados ou susceptíveis de ser utilizados por pessoas contra as quais existem fortes indícios de participação na comissão do crime subjacente ou na comissão do crime de branqueamento de capitais. O segredo profissional não poderá ser invocado pelas instituições financeiras onde estas acções sejam realizadas.

Elemento Adicional — Utilização de técnicas especiais de investigação em casos de branqueamento de capitais ou de financiamento do terrorismo (c. 27.4)

266. As técnicas especiais de investigação previstas no ordenamento jurídico interno da Guiné-Bissau aplicam-se apenas à prevenção e repressão do tráfico de estupefacientes, não tendo sido fornecidos elementos à equipa de avaliação sobre se as mesmas são ou têm sido utilizadas no quadro da investigação criminal.

Elemento Adicional — Grupos de investigação especializados e cooperação internacional operacional (c. 27.5)

267. Não existem na Guiné-Bissau grupos permanentes ou especializados nas investigações dos produtos da actividade criminal (especialistas em investigações financeiras). Além disso, não foi facultada informação sobre a utilização das técnicas especiais de investigação no quadro da cooperação com as autoridades competentes de outros países.

Elemento Adicional — Análise das tendências em matéria de branqueamento de capitais e de financiamento do terrorismo efectuada pelas autoridades responsáveis pela aplicação da lei (c. 27.6)

268. Os métodos, as técnicas e as tendências de branqueamento de capitais e de financiamento do terrorismo não são, nem nunca foram, objecto de avaliação pelas autoridades responsáveis pela execução da lei numa base regular. A inexistência de comunicações suspeitas da prática destes ilícitos criminais e de estatísticas, associadas ao facto de a CENTIF não estar operacional e às carências existentes no sector da justiça penal constituem um obstáculo a esta avaliação.

Recomendação 28

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Poder de exigir a apresentação e a busca de documentos e informações (c. 28.1)

269. O Código do Processo Penal possibilita as buscas e revistas, bem como a apreensão de todos os objectos, aí incluída a documentação, relacionados com a prática de um crime ou a recolha de informações sobre esse crime. Essas buscas e revistas, bem como as apreensões são ordenadas pelo Ministério Público, que pode delegar a sua realização na Polícia Judiciária. Nos casos de flagrante delito ou quando existam fortes suspeitas de que alguma pessoa oculta objectos relacionados com um crime ou se prepara para fugir à acção da justiça, os agentes da polícia podem, respectivamente, efectuar buscas, revistas ou apreensões desses objectos devendo, nesse caso, ser imediatamente lavrado auto da ocorrência que deverá ser incorporado no respectivo processo criminal ou remetido ao Ministério Público se não for iniciado o respectivo processo criminal.

270. Além disso, as autoridades, em particular a Polícia Judiciária tem a faculdade de solicitar todas as informações relativas à prática de crimes, quer por parte de pessoas quer junto dos serviços e empresas públicas ou cooperativas, tendo também acesso directo à informação de identificação civil e criminal constante dos ficheiros nacionais.

Poder de obter declarações de testemunhas (c. 28.2)

271. A prova testemunhal encontra-se regulada nos Artigos 118º e seguintes do Código do Processo Penal, podendo ser utilizada no contexto das investigações e inquéritos relativos à prática do crime de branqueamento de capitais ou de organizações terroristas e seu financiamento, bem como na fase de julgamento destes crimes. São também admissíveis as declarações do suspeito ou do réu e do assistente bem como a acareação, quando houver contradição entre as declarações prestadas por estes intervenientes no processo penal ou entre si e não for possível descobrir qual a verdade.

Adequação dos recursos dos organismos responsáveis pela aplicação da lei e de outros organismos responsáveis pela investigação ou pelo exercício da acção penal em matéria de branqueamento de capitais e de financiamento do terrorismo (c. 30.1)

272. Nos contactos mantidos com as diferentes autoridades de aplicação da lei, nomeadamente junto de um Juiz, da Procuradoria-Geral da República, da Polícia Judiciária e da Polícia de Ordem Pública, a equipa de avaliação pode constatar a falta generalizada de meios humanos e de recursos técnicos e outros, nomeadamente em matéria de formação, que lhes permitam desempenhar adequadamente as suas funções em termos gerais e especialmente no domínio da luta contra o branqueamento de capitais e o financiamento do terrorismo.

Integridade das autoridades competentes (c. 30.2)

273. O acesso à magistratura, seja judicial, seja do Ministério Público, é feita através de concurso público, sendo necessária uma licenciatura em Direito embora existam ainda alguns magistrados, sobretudo junto dos Tribunais de Sector, que não possuem este grau académico.

274. O requisito necessário para a entrada na carreira da Inspector da Polícia Judiciária é a licenciatura, não sendo este grau académico necessário para a categoria de agente. O acesso a este Polícia é também efectuado através de concurso público. O ingresso na Polícia de Ordem Pública é feito através de recrutamento onde, depois da apreciação de aspectos como a boa conduta e a inexistência de antecedentes criminais, é feita a selecção dos candidatos. Os funcionários da Direcção-Geral das Alfândegas são funcionários públicos e, nessa qualidade estão obrigados às regras deontológicas e disciplinares dos funcionários do Estado e ao dever geral de denunciar as infracções de que tenham conhecimento no exercício das suas funções.

275. Não foram fornecidos à equipa de avaliação elementos ou informações sobre aplicação de sanções, disciplinares ou de outra natureza aplicadas por falta de integridade ou violação dos seus deveres funcionais.

Formação para as autoridades competentes (c. 30.3)

276. A equipa de avaliação pode constatar uma falta generalizada de formação das autoridades de aplicação da lei, em especial no que concerne à luta contra o branqueamento de capitais e o financiamento do terrorismo. De registar os esforços da Polícia Judiciária em matéria de formação, estando em curso, à data da visita da equipa de avaliação, um programa de formação interno em matéria de estupefacientes e de branqueamento de capitais, no quadro da cooperação com a Polícia Judiciária de Portugal, sendo que, em termos de formação geral, vinte agentes irão receber formação no Brasil.

277. Por sua vez, o GIABA organizou, em colaboração com o Ministério das Finanças, em 13 e 14 de Setembro de 2007, um workshop de sensibilização, onde participaram cerca de cinquenta participantes pertencentes a entidades responsáveis pela prevenção ABC/CFT, provenientes quer do sector público como do sector privado. Além disso, o GIABA organizou, entre 5 e 7 de Setembro, em Dakar, em conjunto com o Governo dos EUA um workshop regional sobre a detecção de fluxos financeiros transfronteiriços. Responsáveis das Alfândegas, e da Polícia de fronteiras da Guiné-Bissau participaram na referida formação.

Elemento Adicional (R.30) — Formação especial para juízes (c. 30.4)

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278. A equipa de avaliação constatou que não existe na Guiné-Bissau uma formação especial ou programas de formação dirigidos aos juízes ou aos tribunais em matéria de branqueamento de capitais e de financiamento do terrorismo, bem como sobre o congelamento, apreensão e perda de bens que sejam o produto desses crimes ou se destinem a ser utilizados para financiar o terrorismo.

Estatísticas (aplicação da R.32)

279. Não existem quaisquer elementos estatísticos relativos a investigações, acusações ou condenações pela prática dos crimes de branqueamento de capitais, organizações terroristas ou seu financiamento. A Polícia Judiciária apenas forneceu alguma informação oral sobre apreensões realizadas em 2007 no domínio do combate ao tráfico de estupefacientes, tendo afirmado que, em 2008, esses valores apreendidos eram consideráveis, sem no entanto fornecer números concretos.

Recomendações e Comentários

280. A insuficiência de conhecimentos e de capacidade operacional para prevenir, investigar e exercer a acção penal contra o branqueamento de capitais e o financiamento do terrorismo é uma questão preocupante, que deve ser encarada pelas autoridades de uma forma séria e consciente.

281. As diferentes autoridades de aplicação da lei carecem de uma falta geral de competências especializadas e de capacidade para investigar e exercer a acção penal contra os crimes de branqueamento de capitais, ao que acrescem os parcos recursos financeiros e a escassez de meios humanos.

282. Neste cenário, a aplicação da LCBC deve ser encarada como uma prioridade pelas autoridades competentes, no quadro da prevenção e luta contra o branqueamento de capitais e criminalidade conexa, em especial o tráfico de estupefacientes, e adoptar os instrumentos legislativos que permitam criminalizar o financiamento do terrorismo e do terrorista individual.

283. As autoridades de aplicação da lei, em especial as polícias, devem ser dotadas de conhecimentos e de meios técnicos especializados que lhe permitam detectar e perseguir criminalmente o branqueamento de capitais.

284. Além disso, as autoridades devem promover a recolha de informações e procurar manter elementos estatísticos sobre a criminalidade em geral e sobre o branqueamento de capitais e o financiamento do terrorismo, em particular.

285. A formação das autoridades de aplicação da lei deve ser promovida aos diferentes níveis no sentido de permitir adquirir conhecimentos, mecanismos e técnicas que facilitem a investigação, a prevenção e a repressão criminal destes ilícitos.

Conformidade com as Recomendações 27 e 28

Avaliação Resumo dos factores que fundamentam a avaliação

R.27 NC • A LCBC carece de aplicação. • A legislação em vigor não permite a possibilidade de adiar ou suspender a

detecção de suspeitos ou a apreensão de bens com a finalidade de identificar suspeitos de BC ou FT ou recolher elementos probatórios.

• A possibilidade de utilização de técnicas especiais de investigação é limitada.

R.28 C

R.30 NC • Insuficiência de recursos humanos especializados e de meios técnicos e financeiros existentes nas autoridades de aplicação da lei nomeadamente no Ministério público e polícia Judiciária

• Não existem meios técnicos e recursos humanos e outros, como orçamentais ou materiais, aspectos que impedem o desempenho

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adequado das funções das autoridades de aplicação da lei. • Não existe uma formação adequada das autoridades de aplicação da lei em

matéria de BC ou FT. • Não existem regras claras que garantam a integridade das autoridades

competentes.

R.32 NC • Não existem estatísticas sobre processos, investigações, acusações e condenações por BC/FT

DECLARAÇÃO OU COMUNICAÇÃO TRANSFRONTEIRIÇA (RE.IX)

Descrição e Análise

286. A Guiné-Bissau é um país onde, segundo informações facultadas à equipa de avaliação, apenas 2% da população utiliza o sistema bancário, o que significa tratar-se de uma economia baseada no numerário, pressupondo a utilização e o transporte físico de dinheiro, quer a nível interno, quer através do atravessamento das suas fronteiras.

Mecanismos para acompanhar o transporte físico de dinheiro ou de instrumentos negociáveis ao portador através das fronteiras (c. IX.1)

287. É directamente aplicável na Guiné-Bissau, enquanto país membro da UEMOA, o Regulamento nº R09/98/CM/UEMOA, de 20 de Dezembro de 1998 relativo às relações financeiras exteriores dos Estados membros da UEMOA, que estabelece um regime de controlo de câmbios. Este Regulamento inclui, como um dos anexos, o Código de Contencioso Aduaneiro da UEMOA.

288. Nos termos do seu Artigo 2º, as operações de câmbio, movimentos de capitais e regulamentos de qualquer natureza entre um Estado membro da UEMOA e um país terceiro ou, na UEMOA, entre um residente e um não residente, apenas podem ser efectuados através do BCEAO, da Administração dos correios, de um intermediário autorizado ou de um intermediário de câmbio manual.

289. Encontra-se também em vigor o Contencioso Aduaneiro, aprovado pelo Decreto 33.530, de 19 de Junho de 1944, mantido em vigor pela Lei nº 1/73, de 24 de Setembro de 1973.

Pedido de informações sobre a origem e o destino do dinheiro ou dos instrumentos negociáveis ao portador (c. IX.2)

290. O controlo dos movimentos de dinheiro ou de instrumentos negociáveis ao portador é da competência dos serviços da Direcção-Geral das Alfândegas, de acordo com o estabelecido na legislação nacional e no referido Código Aduaneiro da UEMOA, que estabelece, nos Artigos 32º e seguintes, os poderes das autoridades alfandegárias em matéria de controlo dos movimentos físicos de dinheiro, considerando este como uma mercadoria proibida (Artigo 18º), bem como as sanções aplicáveis.

291. Os instrumentos jurídicos da UEMOA distinguem, em matéria de controlo de câmbios, entre os residentes e não residentes num dos seus Estados membros. No entanto, considerando que a UEMOA criou um espaço económico e monetário único entre os seus membros, a equipa de avaliação notou que se regulamentam apenas os controlos dos movimentos físicos de dinheiro nas fronteiras externas da UEMOA.

292. Assim, para os primeiros, o transporte físico de dinheiro emitido pelo BCEAO é livre entre os seus Estados membros e não está sujeito a qualquer declaração ou comunicação. A importação de divisas é igualmente livre, embora exista a obrigação de as ceder a um intermediário autorizado no prazo de 8 dias se o respectivo contravalor for superior a 300.000 FCFA. A exportação de divisas, que tem de ser comunicada, só é admissível até um contravalor máximo de 2 milhões de FCFA. Para os não residentes na UEMOA a importação de FCFA ou de divisas é livre, mas torna-se obrigatória a declaração à entrada sempre que o contravalor seja superior a 1 milhão de FCFA.

293. Quanto à exportação de divisas para fora da União, é admissível até ao contravalor máximo de 500.000 FCFA, devendo ser apresentados documentos justificativos da entrada do dinheiro ou da sua aquisição junto de uma autoridade alfandegária, à saída da UEMOA. Relativamente a outros meios de pagamento, a exportação é livre, existindo a obrigação de declaração sempre que o contravalor for superior a 1 milhão de FCFA.

Page 64: Relatório de Avaliação Mútua - GIABA

294. Além de as obrigações serem diferentes, consoante os valores e o local de residência, o que torna de difícil aplicação o sistema em vigor, o formulário de entrada no território da Guiné-Bissau não tem qualquer informação sobre a regulamentação existente sobre o controlo de câmbios ou sequer permite fazer a declaração dos valores transportados.

295. De acordo com a informação prestada pelas autoridades competentes da Guiné-Bissau, não existe um modelo de declaração aprovado, nem sequer um sistema de declaração, podendo as pessoas que entram ou saem do seu território declarar voluntariamente os montantes transportados, cabendo às autoridades alfandegárias efectuar o registo, assistindo-lhe a possibilidade de reter os valores transportados sempre que superiores aos montantes fixados.

296. A Direcção-Geral das Alfândegas parece estar apta a comunicar as informações obtidas nesta matéria ao BCEAO, bem como à CENTIF, da qual, aliás, faz parte um representante desta Direcção-Geral, no seio da qual deverá também existir um correspondente.

297. A legislação existente e a prática vigente não permitem claramente saber qual dos sistemas – declarativo ou de comunicação – se encontra em vigor para detectar o transporte físico de dinheiro ou de instrumentos negociáveis ao portador que estejam relacionados com o branqueamento de capitais ou com o financiamento do terrorismo, impossibilitando a avaliação da respectiva eficácia. De acordo com a informação prestada pelas autoridades terão existido 3 casos de apreensão e perda de dinheiro transportado, através de decisão administrativa, o que é manifestamente insuficiente e não permite avaliar a eficácia do sistema.

Retenção de dinheiro ou de instrumentos negociáveis ao portador (c. IX.3)

298. Nos termos da legislação em vigor, os funcionários das Alfândegas têm poderes para apreender todos os objectos e bens que são passíveis de ser declarados perdidos para o Estado sempre que, no exercício das suas funções, constatem uma infracção de natureza aduaneira. Sempre que esses factos constituam indícios da prática de uma infracção de natureza criminal deverão ser comunicados ao Ministério Público.

Conservação de informações sobre o dinheiro declarado/comunicado e a identificação do portador (c. IX.4)

299. As autoridades competentes da Guiné-Bissau não prestaram nenhuma informação sobre a conservação de informações relativas aos montantes transportados e ao seu portador quando é feita uma declaração que ultrapassa o limiar em vigor, quando é apresentada uma falsa declaração ou comunicação ou quando existem suspeitas de branqueamento de capitais ou de financiamento do terrorismo.

Acesso da UIF às informações (c. IX.5)

300. As autoridades competentes da Guiné-Bissau não esclareceram se as informações obtidas através do sistema em vigor para o controlo do transporte físico transfronteiriço de dinheiro ou de instrumentos negociáveis ao portador se encontra acessível à CENTIF. No entanto, presume-se que esta entidade poderá ter acesso à referida informação já que a Direcção-Geral das Alfândegas integra a sua composição, nos termos do Artigo 17º da LCBC.

Cooperação interna entre as autoridades alfandegárias, de imigração e outras autoridades competentes (c. IX.6)

301. Não existe um mecanismo formal de coordenação ou outras formas de cooperação entre todas as entidades para tratar de questões relativas ao transporte físico de dinheiro ou de instrumentos negociáveis ao portador que estejam relacionados com o branqueamento de capitais ou com o financiamento do terrorismo.

302. No entanto, de acordo com a informação obtida pela equipa de avaliação junto da Direcção-Geral das Alfândegas essa colaboração existe, tendo sido já realizadas operações conjuntas com a Guarda Fiscal e com os Serviços de Imigração, além da colaboração existente com a Polícia Judiciária na investigação de certas infracções e com a Direcção-Geral de Viação para o controlo do tráfico e entrada ilegal de veículos no país.

Cooperação internacional entre as autoridades competentes relativa ao transporte físico de dinheiro através das fronteiras (c. IX.7)

303. A Guiné-Bissau já tentou, por mais de uma vez, sem sucesso, aderir à Organização Mundial das Alfândegas, o que permitiria a criação de canais de comunicação adequados e a cooperação internacional com as suas congéneres. No entanto essa cooperação internacional existe, no plano bilateral, pelo menos com o Senegal e com Portugal, país através do qual procuram obter indirectamente as informações necessárias ao desempenho das suas funções. Em termos de pedidos de cooperação internacional, foram referidos 2 pedidos apresentados à DGA pela sua congénere portuguesa.

Sanções pela prestação de falsas declarações/comunicações (aplicação dos c. 17.1–17.4, c. IX.8)

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304. O Artigo 16º do Regulamento nº R9/98/CM/UEMOA remete para as disposições legislativas e regulamentares em vigor em cada um dos Estados membros da UEMOA, relativas ao contencioso das infracções ao controlo de câmbios, a aplicação de sanções por violação das suas disposições.

305. Nestes termos, a Direcção-Geral das Alfândegas tem competência para a instrução dos competentes procedimentos administrativos e para a aplicação de sanções, de acordo com o Código de Contencioso Aduaneiro em vigor na Guiné-Bissau. Qualquer falsa declaração sobre os montantes transportados é considerada uma importação ou exportação sem declaração de mercadorias proibidas, nos termos do Código Aduaneiro da UEMOA.

306. As sanções previstas no Código de Contencioso Aduaneiro não parecem proporcionadas à natureza da infracção, não podendo ser consideradas eficazes ou dissuasivas atendendo a gravidade do crime de branqueamento de capitais e de financiamento do terrorismo. De acordo com as informações obtidas terá sido aplicada 1 sanção por violação das disposições do Regulamento nº R9/98/CM/UEMOA, não tendo sido fornecidas quaisquer estatísticas sobre o número de apreensões ou de perda derivadas do transporte físico transfronteiriço de dinheiro ou de instrumentos negociáveis ao portador.

Sanções pelo transporte físico de moeda através das fronteiras relativo a uma operação de branqueamento de capitais ou de financiamento do terrorismo (aplicação dos c. 17.1–17.4 na R.17, c. IX.9)

307. As sanções aplicáveis são as mesmas independentemente da origem ou destino dos montantes transportados em violação das disposições do Regulamento nº R9/98/CM/UEMOA e do Código Aduaneiro da UEMOA.

Perda do dinheiro relacionado com o branqueamento de capitais ou com o financiamento do terrorismo (aplicação dos c. 3.1–3.6, c. IX.10)

308. A perda do dinheiro ou de outros instrumentos negociáveis ao portador, bens como dos instrumentos utilizados ou destinados a ser utilizados na prática da infracção, aí incluídos os meios de transporte, pode ser declarada por decisão de um tribunal criminal. A equipa de avaliação desconhece se a legislação aduaneira da Guiné-Bissau admite a possibilidade de, por transacção entre as partes, os valores poderem ser declarados perdidos mediante a não aplicação de sanção, em regra multa, ou se podem ser devolvidos ao transportador em troca do pagamento de um multa. Esta possibilidade é admitida em casos de contrabando, como resulta do Artigo 39º do contencioso Aduaneiro, de 1944.

Congelamento de bens nos termos das Resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas (aplicação dos c. III.1 – III.10, c. IX.11)

309. De acordo com as informações obtidas pela equipa de avaliação, a Direcção-Geral das Alfândegas tem conhecimento das Resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas que obrigam os Estados ao congelamento de bens ou de outros activos financeiros, no quadro da luta contra o terrorismo, não tendo sido encontradas pessoas constantes das listas à entrada ou saída da Guiné-Bissau.

310. No entanto, o Regulamento nº R9/98/CM/UEMOA e o Código Aduaneiro da Guiné-Bissau nada referem quanto à possibilidade de congelamento de bens ou de outros activos financeiros das pessoas ou entidades referidas naquelas Resoluções. A inexistência de situações concretas não permite verificar a aplicabilidade das medidas de congelamento.

Notificação da descoberta de um transporte transfronteiriço invulgar de pedras preciosas ou de metais preciosos (c. IX.12)

311. Não foram facultadas à equipa de avaliação informações sobre a existência de disposições relativas ao transporte de ouro ou de metais preciosos através das fronteiras.

Medidas de protecção das informações ou dos dados comunicados ou registados (c. IX.13)

312. As autoridades competentes da Guiné-Bissau não dispõem de um sistema informatizado para o tratamento ou protecção dos dados recolhidos, de modo a garantir a sua adequada utilização.

Elemento Adicional — RE.IX e aplicação das Boas Práticas (c. IX.14)

313. As autoridades da Guiné-Bissau não aplicaram as medidas que se encontram no Documento de Boas Práticas do GAFI para a Recomendação Especial IX.

Elemento Adicional — Informatização da base de dados e sua acessibilidade para as autoridades competentes (c. IX.15)

Page 66: Relatório de Avaliação Mútua - GIABA

314. Não foram facultadas à equipa de avaliação informações sobre a existência de bases de dados informatizadas onde sejam registados os relatórios relativos aos movimentos transfronteiriços de dinheiro.

Recomendações e Comentários

315. Em termos gerais, o sistema comunitário de controlo dos câmbios não se encontra em conformidade com os padrões internacionais em matéria de prevenção do branqueamento de capitais e do financiamento do terrorismo, em especial no que concerne ao controlo dos movimentos transfronteiriços de dinheiro ou de instrumentos negociáveis ao portador.

316. Assim, além da necessidade de simplificar os mecanismos de controlo, as autoridades deveriam optar pela adopção de um sistema de declaração ou de um sistema de comunicação dos valores transportados à entrada ou à saída do país, considerando que, no presente a legislação em vigor não permite distinguir claramente qual dos sistemas é aplicado. Além disso, não existe um modelo de declaração que possa ser utilizado, o que conduz à declaração apenas voluntária, retirando eficácia ao controlo dos movimentos de dinheiro nas fronteiras.

317. Decorre do que antecede que não existe a possibilidade de as autoridades quantificarem os montantes de dinheiro ou de instrumentos negociáveis ao portador, nem sequer existem estatísticas fiáveis de montantes retidos, apreendidos ou declarados perdidos por falta de declaração ou comunicação ou mesmo por declaração ou comunicação falsa.

318. A possibilidade de congelamento de bens por aplicação das Resoluções das Nações Unidas não é clara, porquanto o Regulamento nº 14/2002/CM/UEMOA, além de fazer referência apenas à Resolução 1267 (1999), tem o campo de aplicação pessoal restrito aos bancos e entidades financeiras, desconhecendo-se se a DGA poderá efectuar este congelamento ao abrigo de outras disposições.

319. A criação de um sistema de comunicação entre a DGA e a CENTIF revela-se também de particular importância no quadro da prevenção e combate ao branqueamento de capitais e ao financiamento do terrorismo, assim como a criação de mecanismos de coordenação interna com outras autoridades competentes nestas matérias.

Conformidade com a Recomendação Especial IX

Avaliação Resumo dos factores que fundamentam a avaliação

RE.IX NC • Não existe um verdadeiro sistema de declaração ou de comunicação como requerido pelas Recomendações do GAFI.

• Não existe um modelo onde possam ser declarados ou comunicados os montantes de dinheiro ou de instrumentos negociáveis ao portador transportados.

• Não foram estabelecidos sistemas de comunicação entre as autoridades alfandegárias e a CENTIF, nem mecanismos de coordenação interna com outras autoridades competentes em matéria de BC/FT.

• Não se encontra previsto um mecanismo de troca de informações com outros países em matéria de transporte invulgar de ouro ou de pedras preciosas.

• Encontra-se por criar sistema informatizado de conservação de informações relativas aos movimentos físicos de dinheiro ou de instrumentos negociáveis ao portador através das fronteiras.

• Não existem elementos estatísticos que permitam verificar o funcionamento do sistema, sendo desconhecidos os montantes retidos, aprendidos ou mesmo perdidos a favor do Estado.

Page 67: Relatório de Avaliação Mútua - GIABA

3 MEDIDAS PREVENTIVAS — INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS

DEVER DE DILIGENCIA RELATIVO A CLIENTELA (CUSTOMER DUE DILIGENCE — CDD) E DE CONSERVAÇÃO DE DOCUMENTOS

3.1. RISCO DE BRANQUEAMENTO DE CAPITAIS OU DE FINANCIAMENTO DO TERRORISMO

320. Embora as instituições financeiras existentes na Guiné-Bissau considerem que os riscos de branqueamento de capitais e de financiamento de terrorismo são reduzidos nas suas actividades, as autoridades nacionais não excluíram nenhuma instituição financeira, na totalidade ou em parte, das obrigações aplicáveis em matéria de prevenção de branqueamento de capitais e do financiamento de terrorismo (ABC/CFT).

3.2. DEVER DE DILIGENCIA RELATIVO A CLIENTELA, INCLUINDO MEDIDAS REDUZIDAS OU REFORÇADAS (R. 5 A 8)

3.2.1. Descrição e Análise

Enquadramento Jurídico

321. Os principais instrumentos jurídicos aplicáveis são os seguintes:

- LCBC, de 2 de Novembro de 2004, que transpõe a Directiva n.º 7/2002/CM/UEMOA de 19 de Setembro de 2002 relativa à luta contra o branqueamento de capitais nos Estados-membros da UEMOA;

- Instrução n.º 1/2007/RB de 2 de Julho de 2007 relativa à luta contra branqueamento de capitais no âmbito dos organismos financeiros;

- Regulamento n.º 9/1998/CM/UEMOA relativo às relações financeiras exteriores;

- Regulamento nº 15/2002/CM/UEMOA, de 19 de Setembro, relativo aos sistemas de pagamento entre os Estados-membros do UEMOA;

- Directiva n.º 4/2007/CM/UEMOA de 4 de Julho de 2007 relativa à luta contra o financiamento de terrorismo nos Estados-membros da UEMOA.

- Instrução nº 01/2006/SP do BCEAO, de 31 de Julho de 2006, relativa à emissão de moeda electrónica e aos estabelecimentos de moeda electrónica, adoptada por aplicação do Regulamento n° 15/2002/CM/ UEMOA de 19 de Setembro de 2002 relativo aos sistemas de pagamento nos Estados membros da UEMOA;

322. A LCBC aplica-se a qualquer pessoa singular ou colectiva que, no quadro da sua profissão, realiza, controla ou aconselha operações que conduzem a depósitos, câmbios, financiamentos, conversões ou quaisquer outros movimentos de capitais ou quaisquer outros bens, tais como:

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- O Tesouro Público e o BCEAO. A possibilidade de uma lei nacional criar condições que obriguem o BCEAO, que tem um estatuto equivalente a uma instituição financeira internacional5, parece algo incerto. O BCEAO tem, assim, a especificidade de ser, por um lado, uma das autoridades encarregadas de assegurar pelo bom funcionamento das disposições ABC/CFT no seio da UEMOA6

323. A Instrução n.º 1/2007/RB não é aplicável a todos os organismos financeiros previstos na LCBC, sendo aplicável a (i) bancos e estabelecimentos financeiros; (ii) serviços financeiros dos Correios, assim como as Caixas de Depósitos e Consignações ou os organismos que realizam essas operações, dos Estados membros; (iii) instituições mutualistas ou cooperativas de poupança e de crédito, assim como as estruturas ou organizações mutualistas ou cooperativas que têm como objecto a colecta da poupança e/ou a concessão de crédito; e (iv) instituições autorizadas a praticar o câmbio manual.

e, por outro, de ele próprio ser uma entidade obrigada sujeita à lei.

- Os organismos financeiros, ou seja, os (i) bancos e estabelecimentos financeiros; (ii) serviços financeiros dos Correios, assim como as Caixas de Depósitos e Consignações ou os organismos que realizam essas operações, dos Estados membros; (iii) as Companhias de seguros e resseguros, os corretores de seguros e de resseguros; (iv) as instituições mutualistas ou cooperativas de poupança e de crédito, assim como as estruturas ou organizações mutualistas ou cooperativas que têm como objecto a colecta da poupança e/ou a concessão de crédito; (v) a Bolsa Regional dos Valores Móveis, o Depositário Central/Banco de Pagamento, as Sociedades de Gestão e de intermediação, as Sociedades de Gestão de Património; (vi) os OPCVM – Organismos de Investimento Colectivo em Valores Mobiliários; (vii) as Empresas de Investimento de Capital Fixo; e (viii) as Instituições autorizadas a praticar o câmbio manual.

- Outras entidades sujeitas incluídas, nomeadamente os transportadores de fundos.

324. O fundamento jurídico, na base do qual a instrução do BCEAO é aplicável aos serviços financeiros do Correios e a Caixa dos Depósitos e Consignações, parece incerto. Se a LCBC determina que as autoridades de supervisão podem, nos respectivos domínios de competência, verificar as normas de execução dos programas de prevenção do branqueamento de capitais, o BCEAO não parece ser a autoridade de supervisão dos serviços financeiros do Correios e da Caixa dos Depósitos e Consignações.

325. Contudo, no decorrer da avaliação, a equipa de avaliação constatou que os serviços financeiros dos Correios não se encontram operacionais.

326. Nos termos do Artigo 42º do Regulamento nº 15/2002/CM/UEMOA, relativo aos sistemas de pagamento entre os Estados membros da UEMOA, as instituições autorizadas a efectuar as transferências electrónicas de fundos são os bancos, os organismos financeiros e os serviços financeiros dos correios.

5 O Artigo 4º dos Estatutos do BCEAO, aprovado pelo Conselho de Ministros da UEMOA refere que «tendo em vista permitir que o Banco Central cumpra as suas funções, o Estatuto, os privilégios e as imunidades das instituições financeiras internacionais devem ser-lhe reconhecidos no território de cada um dos Estados-membros da União».

6 O Artigo 25º da Lei Uniforme determina que o BCEAO tem o papel de promover a cooperação entre as CENTIF. A este título, está encarregue de

coordenar as acções das CENTIF no quadro da luta contra o branqueamento de capitais e estabelecer uma síntese das informações provenientes dos

relatórios elaborados por estas últimas. O BCEAO participa, com as CENTIF, nas reuniões das instâncias internacionais que se ocupam de questões relativas

à luta contra o branqueamento de capitais.

Page 69: Relatório de Avaliação Mútua - GIABA

327. A Directiva n.º 4/2007/CM/UEMOA relativa à luta contra o financiamento de terrorismo nos Estados membros da UEMOA aplica-se às mesmas instituições financeiras previstas na LCBC, incluindo ainda as sociedades de transferência de fundos e valores (artigo 13º). Contudo, esta Directiva ainda não foi transposta para o regime jurídico da Guiné-Bissau e, por conseguinte, as suas disposições não são directamente aplicáveis nem têm força obrigatória.

328. No decorrer da avaliação, a equipa de avaliação foi informada que, embora estejam abrangidos pela LCBC, alguns dos organismos financeiros não se encontram constituídos na Guiné-Bissau. Estão nesta situação a Bolsa Regional dos Valores Mó-veis, o Depositário Central/Banco de Pagamento, as Sociedades de Gestão e de intermediação, as Sociedades de Gestão de Património e os OPCVM – Organismos de Investimento Colectivo em Valores Mobiliários.

329. Os bancos dominam a actividade do sector financeiro e, sendo a porta de acesso a este último, são considerados como a sua principal fonte de vulnerabilidade. As discussões mantidas com as autoridades da Guiné-Bissau e no seio da indústria revelaram que não existem seguros de vida, sendo uma actividade suspensa que, em algumas companhias, se encontra suspensa. Por conseguinte, em termos relativos, é possível afirmar que o sector dos seguros parece não apresentar um elevado grau de vulnerabilidade ao branqueamento de capitais.

330. Relativamente ao mercado de capitais, não existem entidades autorizadas a operar, em regime exclusivo, como agentes do mercado de capitais. Todos os intermediários do mercado de capitais são bancos autorizados, destacando-se que estes são as instituições financeiras mais vulneráveis, em matéria de branqueamento de capitais, a actuar no mercado interno.

331. De acordo com as informações recolhidas aquando da deslocação da equipa de avaliação, não existe ainda actividade relativa à moeda electrónica na Guiné-Bissau.

Proibição de contas anónimas (c. 5.1)

332. A LCBC não proíbe expressamente que as instituições financeiras mantenham contas anónimas ou contas sob nomes fictícios. Contudo, as autoridades indicaram que, na Guiné-Bissau, não são permitidas contas anónimas ou contas sob nomes fictícios, uma vez que se exige que as instituições financeiras devem assegurar-se da identidade e do endereço dos seus clientes antes da abertura de uma conta, de conservar, nomeadamente títulos, valores ou ordens de pagamento, de atribuir um cofre ou estabelecer com eles quaisquer relações, de negócios, de acordo com o disposto no Artigo 7º da LCBC.

333. Não existem disposições legais relativamente às contas numeradas, não estando consequentemente proibidas de uma forma expressa. Na eventualidade de existirem contas numeradas, estão igualmente por aprovar disposições que obriguem as instituições financeiras a manter as referidas contas de modo a poderem respeitar integralmente as Recomendações do GAFI.

Situações em que é exigível o dever de diligência relativo à clientela (c. 5.2)

334. A LCBC inclui algumas medidas de diligência relativas à clientela que devem ser respeitadas por todos os organismos financeiros (i) antes da abertura de uma conta, da conservação de títulos, valores ou ordens de pagamento, da atribuição de um cofre ou no estabelecimento com um cliente de qualquer relação de negócio, tal como dispõe o Artigo 7º; (ii) quando é realizada uma qualquer operação ocasional numa quantia de dinheiro igual ou superior a cinco milhões (5.000.000) de FCFA ou cujo contravalor em FCFA equivale ou ultrapassa essa quantia, de acordo com Artigo 8º; (iii) ou em caso de repetição de operações específicas num montante individual inferior ao previsto acima ou quando existam incertezas sobre a proveniência lícita dos capitais, tal como previsto no mesmo Artigo 8º. No que respeita às obrigações de identificação dos clientes ocasionais referidos no ponto (ii), tais obrigações são impostas desde o momento em que exista uma repetição de transacções ocasionais independentemente do montante, aspecto que vai mais além das Recomendações do GAFI.

335. As medidas de diligência previstas na LCBC não prevêem, no entanto, obrigações (i) quando os organismos financeiros efectuam transacções ocasionais que excedam de uma só vez o limiar aplicável (USD/€ 15.000), ou em várias operações; (ii) quando os organismos financeiros efectuam transacções ocasionais sob a forma de transferências electrónicas nas circunstâncias previstas na Nota Interpretativa da RE VII; (iii) quando existe uma suspeita de branqueamento de capitais ou de financiamento

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do terrorismo, independentemente de eventuais excepções ou limiares referidos nas Recomendações do GAFI; ou (iv) quando os organismos financeiros têm dúvidas sobre a veracidade ou a pertinência dos dados de identificação do cliente previamente obtidos.

336. Relativamente ao último ponto, o Artigo 4º da Instrução nº 1/2007/RB prevê que todos os organismos financeiros devem também aplicar os procedimentos de conhecimento da clientela a todos os clientes já existentes, nomeadamente em relação àqueles sobre quem subsistem dúvidas quanto à fiabilidade das informações previamente recolhidas.

337. A Directiva nº 4/2007 relativa à luta contra o financiamento de terrorismo prevê, no seu Artigo 11º, as obrigações de identificação de clientes que os Estados membros devem impor aos organismos financeiros: (i) a identificação dos seus clientes e, no caso concreto, das pessoas por conta das quais estão a agir, através da utilização de documento que demonstre essa identidade quando estabelecem relações de negócio e, em particular, no caso de certos organismos financeiros, quando abrem uma conta qualquer que seja a natureza ou ofereçam serviços de guarda de valores, (ii) a identificação de clientes diferentes dos referidos atrás, relativamente a qualquer transacção cujo montante ou contravalor em FCFA seja igual ou superior a cinco milhões (5.000.000) de FCFA, independentemente de ser realizada numa só ou em várias operações entre as quais parece existir uma ligação; nos casos em que o montante total não é conhecido no momento da realização da transacção, a entidade financeira em causa deve proceder à identificação a partir do momento em que tem conhecimento e que constata que o limiar é igual; (iii) a identificação dos clientes mesmo que o montante da transacção seja inferior ao limiar indicado no ponto (ii) atrás desde que exista uma suspeita de financiamento do terrorismo.

Medidas de identificação e fontes de verificação (c. 5.3)

338. De acordo com o Artigo 7º da LCBC, os organismos financeiros estão obrigados a assegurar-se da identidade e do endereço dos seus clientes antes de lhes abrir uma conta, conservar, nomeadamente títulos, valores ou ordens de pagamento, atribuir um cofre ou estabelecer com eles quaisquer relações de negócios.

339. A obrigação geral de identificação a partir de fonte fiável e independente não é mencionada explicitamente pela LCBC para as pessoas singulares e colectivas. A referida Lei define contudo medidas de identificação detalhadas para estas pessoas a partir de fontes consideradas pelas autoridades como fiáveis e independentes. O seu Artigo 7º define que “a verificação da identidade de uma pessoa singular é efectuada mediante a exibição de um bilhete de identidade nacional ou de qualquer outro documento oficial original, com indicação do lugar, data de validade, e contendo uma fotografia, da qual deve ser tirada uma cópia, sendo a identificação de uma pessoa colectiva efectuada “mediante a produção, por um lado, do original, ou da cópia autenticada de qualquer documento ou extracto do Registo do Comércio e do Crédito Mobiliário, atestando nomeadamente a sua forma jurídica, a sua sede social e, por outro, os poderes das pessoas que actuam em seu nome.

340. A redacção que estabelece as obrigações de verificação da identidade das pessoas colectivas, na LCBC, não prima pela clareza, em especial no que diz respeito à natureza dos documentos a fornecer.

341. Não existe a obrigação de verificar, através de fonte credível e independente, a identidade das entidades sem personalidade jurídica (legal arrangements), embora estas entidades não estejam previstas nem sejam reconhecidas no sistema jurídico interno da Guiné-Bissau.

Identificação das pessoas colectivas ou de outras entidades sem personalidade jurídica (legal arrangements) (c. 5.4)

342. Relativamente às pessoas colectivas, o Artigo 7º da LCBC estipula que as instituições financeiras devem verificar os poderes das pessoas que actuam em nome da pessoa colectiva e verificar a identidade dos responsáveis, empregados e mandatários (pessoas singulares) que agem por conta de outrem.

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343. O referido artigo prevê, igualmente, que as instituições financeiras devem dispor de documentos que comprovem a forma jurídica e a sede social da pessoa colectiva.

344. No que respeita às entidades sem personalidade jurídica (legal arrangements), não existe nenhuma disposição que obrigue as instituições financeiras a verificar a identidade de quem pretende agir em nome do cliente, se estão autorizadas a fazê-lo e a identificar e verificar a sua identidade, nem que obrigue a verificar o estatuto jurídico dessa entidade sem personalidade jurídica. Tal como já referido, estas entidades sem personalidade jurídica não estão previstas nem são reconhecidas no sistema jurídico interno da Guiné-Bissau.

Identificação dos beneficiários efectivos (c. 5.5; 5.5.1 e 5.5.2)

345. O Artigo 9º da LCBC estabelece que se o cliente não actuar por conta própria, a instituição financeira deve informar-se, por quaisquer meios, sobre a identidade da pessoa por conta da qual ele actua. E prevê igualmente que as instituições financeiras não são sujeitas às obrigações de identificação, se o cliente for uma outra instituição financeira, sujeita à LCBC.

346. Não existe a obrigação das instituições financeiras adoptarem medidas razoáveis (i) para compreender a propriedade e a estrutura de controlo do cliente; (ii) para determinar quem são as pessoas singulares que, em última instância, detêm a propriedade ou o controlo do cliente (que inclui as pessoas que exercem um controlo efectivo sobre uma pessoa colectiva ou uma entidade sem personalidade jurídica) e (iii) para verificar a identidade do beneficiário efectivo utilizando informações ou dados relevantes obtidos junto de fonte credível de tal forma que a instituição financeira obtenha um conhecimento satisfatório sobre a identidade do beneficiário efectivo.

Informação sobre o objecto e a natureza da relação de negócio (c. 5.6)

347. Não existe qualquer disposição que determine que as instituições financeiras devem obter informações sobre o objectivo e a natureza prevista da relação de negócio.

Diligência contínua da relação de negócio (c. 5.7; 5.7.1 e 5.7.2)

348. Não existem disposições que obriguem as instituições financeiras (i) a exercer uma diligência contínua relativamente às relações de negócio; (ii) a realizar um exame atento das transacções efectuadas no decurso da relação de negócio, a fim de se assegurarem que as transacções efectuadas são consistentes com o conhecimento que a instituição possui do seu cliente, das suas actividades e do seu perfil de risco e, se necessário, da origem dos fundos; e (iii) a assegurar que os documentos, os dados ou a informação recolhida no âmbito do processo de identificação dos clientes sejam mantidos actualizados e relevantes através de avaliações dos documentos existentes, em particular para as categorias de clientes ou de relações de negócio que apresentem um risco mais elevado.

349. Apenas alguns aspectos relativos ao exercício da diligência são abordados indirectamente na regulamentação ABC, mas não correspondem na íntegra às Recomendações do GAFI. Tratam-se, nomeadamente, das obrigações de declaração de operações suspeitas previstas no Artigo 26º da LCBC ou as de exame particular estabelecidas no seu Artigo 10º que, na prática, não podem ser cumpridas a não ser que uma certa diligência seja assegurada, e as disposições previstas no Artigo 7º da Instrução nº 1/2007/RB do BCEAO, que requerem que os organismos financeiros apliquem um dispositivo de análise das operações e do perfil dos clientes que permita reconstituir e acompanhar particularmente os movimentos e operações financeiras atípicas.

350. Por outro lado, o nº 7 do Artigo 11º da Directiva nº 4/2007/CM/UEMOA prevê que os Estados membros devem impor aos organismos financeiros o acompanhamento contínuo dos seus clientes no decurso de todas as relações de negócios, cujo nível dever ser feito em função do grau de risco dos clientes de estarem ligados ao financiamento do terrorismo. Porém, esta Directiva ainda não foi transposta para o direito interno da Guiné-Bissau.

Risco — Diligência reforçada para clientes de risco elevado (c. 5.8)

351. Não existem disposições que obriguem as instituições financeiras a aplicar medidas de diligência reforçada relativamente às categorias de clientes, relações de negócios ou transacções que apresentem um risco mais elevado.

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352. A Instrução nº 1/2007/RB impõe às instituições financeiras que sejam aplicadas certas obrigações que indirectamente têm a ver com a diligência reforçada. Trata-se nomeadamente do facto de as instituições financeiras deverem definir os tipos de clientes que não podem aceitar, segundo o Artigo 4º e preverem um dispositivo de análise das transacções e do perfil de clientes que permita reconstituir e acompanhar particularmente os movimentos e operações financeiras atípicas, de acordo com o Artigo 7º.

Risco — Aplicação das medidas CDD simplificadas/reduzidas nos casos apropriados (c. 5.9 a c.5.11)

353. As medidas simplificadas ou reduzidas estão previstas quando o cliente é uma instituição financeira previsto na LCBC. Ou seja, de acordo com o Artigo 9º, as instituições financeiras não estão sujeitos às obrigações de identificação previstas, se o cliente for uma instituição financeira, sujeita à referida Lei. Trata-se de uma exclusão bastante vasta, que pode conduzir ao levantamento de qualquer obrigação de identificação.

354. Porém, não existem disposições que determinem que (i) as instituições financeiras sejam autorizadas a aplicar medidas de identificação simplificadas ou reduzidas relativamente aos seus clientes residentes noutro país, (esta autorização deve ser limitada aos países relativamente aos quais o país de origem tem razões satisfatórias para considerar que respeitam e aplicam de forma eficaz as Recomendações do GAFI); e que (ii) as medidas simplificadas não são admitidas quando existam suspeitas de branqueamento de capitais ou de financiamento do terrorismo ou quando existam determinados cenários específicos que apresentem um risco mais elevado.

Aplicação das medidas CDD com base numa abordagem baseada no risco consistente com as orientações fornecidas (c. 5.12)

355. A LCBC não cria explicitamente um quadro para a aplicação de uma abordagem baseada no risco à supervisão para fins de prevenção do branqueamento de capitais e do financiamento do terrorismo. Por conseguinte, as autoridades competentes não emitiram orientações nesse sentido.

Momento de verificação da identidade — Regra geral (c. 5.13)

356. Na LCBC encontra-se previsto que as instituições financeiras se devem assegurar da identidade e do endereço dos seus clientes antes de abrirem uma conta, conservar, nomeadamente títulos, valores ou ordens de pagamento, atribuir um cofre ou estabelecer com eles quaisquer relações de negócios (Artigo 7º) e também quando efectuam certas transacções com clientes ocasionais (Artigo 8º).

357. No que respeita aos clientes ocasionais, a Directiva nº 4/2007/CM/UEMOA refere-se às mesmas disposições que, por força da LCBC são aplicáveis a esta mesma categoria de clientes. Está previsto que os Estados-membros devem requerer que, sempre que o montante é desconhecido no momento de realização da transacção, a entidade financeira em causa proceda à identificação a partir do momento em que tenha conhecimento e que constate que o limiar é igual a 5.000.000 FCFA (Artigo 11º nº 2).

Momento de verificação da identidade — Tratamento de casos excepcionais (c.5.14 e 5.14.1)

358. Quando a verificação da identidade do cliente e do beneficiário efectivo é requerida, não se encontra prevista qualquer disposição que autorize as instituições financeiras a completar essa identidade após o estabelecimento da relação de negócio.

Não cumprimento do dever de completar o processo CDD antes do início da relação de negócio (c. 5.15)

359. A LCBC não prevê a interdição a uma instituição financeira de abrir uma conta, iniciar uma relação de negócio ou realizar uma operação, sempre que não sejam cumpridas as exigências de identificação dos clientes ou dos beneficiários efectivos. Embora estejam previstas sanções penais sempre que estas obrigações não são respeitadas (vidé Artigo 40º), até à data de realização da missão de avaliação, nenhuma sanção foi aplicada.

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360. Por outro lado, a Instrução nº 1/2007/RB impõe às instituições financeiras a que se aplica a abstenção de estabelecer qualquer relação com os clientes antes de terem estabelecido de forma satisfatória a identidade, morada e o tipo de operações autorizadas desses clientes.

361. No artigo 9º da LCBC está previsto que, sempre que a dúvida persista depois da verificação da identidade do titular de direito económico, a instituição financeira deve fazer uma declaração de operação suspeita.

Não cumprimento do dever de completar o processo CDD após o início da relação de negócio (c. 5.16)

362. Sempre que uma instituição financeira já tenha estabelecido uma relação de negócio e não consiga cumprir os critérios de identificação do cliente ou do beneficiário efectivo, não se encontra previsto na legislação que esta instituição deve terminar a relação de negócio e considerar fazer uma declaração de operação suspeita.

Clientes existentes — Obrigações CDD (c. 5.17)

363. Na LCBC não se encontra previsto que as instituições financeiras devem aplicar as obrigações de diligência dos clientes existentes segundo a materialidade e a importância do risco que representam, nem que devem exercer a diligência relativamente às relações existentes em momentos oportunos.

364. A Instrução nº 1/2007/RB impõe às instituições financeiras que apliquem procedimentos de conhecimento da clientela, não apenas às novas relações de negócio, mas também aos clientes já existentes (Artigo 4º). A referida Instrução não define o conceito de procedimentos de conhecimento de clientela, nem determina as condições em que os referidos procedimentos devem ser aplicados aos clientes existentes.

Clientes existentes com contas anónimas — Obrigações CDD (c. 5.18)

365. As instituições financeiras não são obrigadas a aplicar medidas de identificação aos clientes existentes que detenham contas anónimas, contas sob nomes fictícios ou contas numeradas. Como atrás indicado na discussão relativa ao critério 5.1, as autoridades da Guiné-Bissau são de opinião que essas contas não existem.

Pessoas politicamente expostas (PPEs) estrangeiras — Obrigações CDD (c. 6.1)

366. Não existem disposições legais que obriguem as instituições financeiras a criar sistemas adequados de gestão do risco para determinar se um potencial cliente, um cliente ou o beneficiário efectivo é uma pessoa politicamente exposta (PPE), nem a aplicar as medidas de diligência previstas na Recomendação 5.

367. Na Directiva n.º 4/2007/CM/UEMOA consta a definição de pessoa politicamente exposta (PPE), enquanto o Artigo 15º define que cada Estado-membro devem procurar tomar as medidas para exigir que as entidades financeiras apliquem especialmente, em função da sua apreciação do risco, medidas de diligência reforçadas aquando das transacções ou relações de negócios com PPEs que residam num outro Estado-membro ou num Estado terceiro, particularmente para fins de prevenir ou de detectar operações ligadas ao financiamento do terrorismo. Porém, como já assinalado, esta Directiva ainda não foi transposta para o ordenamento jurídico da Guiné-Bissau.

PPEs estrangeiras — Gestão do risco (c. 6.2; 6.2.1)

368. Não existem disposições legais que obriguem as instituições financeiras a obter autorização da Direcção para o estabelecimento de relações de negócio com uma PPE, nem para manter uma relação de negócio com um cliente que se constate ser uma PPE ou que se torna numa PPE após o inicio da relação negocial.

PPEs estrangeiras — Obrigação de determinar a origem do património e dos fundos (c. 6.3)

369. Não existem disposições legais que obriguem as instituições financeiras a tomar medidas adequadas para determinar a origem do património e a origem dos fundos dos clientes e dos beneficiários efectivos identificados como PPEs.

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PPEs estrangeiras — Supervisão contínua (c. 6.4)

370. Não existem disposições legais que obriguem as instituições financeiras a proceder a uma diligência reforçada e contínua das relações de negócios estabelecidas com PPEs.

PPEs nacionais — Obrigações (elemento adicional c. 6.5)

371. Os principais instrumentos jurídicos em vigor na Guiné-Bissau não contêm disposições relativas a PPEs estrangeiros nem a PPEs que desempenham funções públicas de relevo a nível nacional.

372. A Directiva n.º 4/2007/CM/UEMOA é aplicada no caso de um PPE residente num outro Estado Membro ou num Estado terceiro. Contudo, a Directiva ainda não foi transposta para o ordenamento jurídico da Guiné-Bissau.

Ratificação da Convenção de Mérida (elemento adicional c. 6.6)

373. A Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção (Mérida) foi ratificada através da Resolução nº 10/2006 da Assembleia Nacional Popular, mas ainda não foi depositado o respectivo instrumento de ratificação.

374. No decorrer das reuniões mantidas, a equipa de avaliação constatou que existe um baixo nível de conhecimento das normas do GAFI relativas às PPEs.

Contas transfronteiriças entre bancos correspondentes e relações similares (c.7.1, 7.2, 7.3, 7.4 e 7.5)

375. A legislação em vigor não inclui disposições relativas a relações transfronteiriças entre bancos correspondentes. Consequentemente, não é obrigatório obter informações sobre a instituição correspondente para compreender correctamente a natureza da sua actividade, avaliar os seus controlos relacionados com o dispositivo ABC/CFT, obter aprovação da Direcção antes do estabelecimento da relação, documentar as responsabilidades respectivas de cada instituição ou assegurar que são tomadas medidas específicas para lidar com as vulnerabilidades associadas às contas correspondentes de transferência (payable-through accounts). Embora os bancos da Guiné-Bissau normalmente não ofereçam relações bancárias de correspondência a outras instituições, deveria haver um quadro jurídico definido para o cumprimento das obrigações da Recomendação 7.

Utilização ilegítima de novas tecnologias para efeitos de BC/FT (c. 8.1)

376. Não existem disposições legais que exijam às instituições financeiras a adopção de políticas ou de medidas que se revelem necessárias para evitar a utilização abusiva das novas tecnologias para efeitos de ABC/CFT. É de referir, no entanto, que segundo o Artigo 9º da Instrução n.º 1/2007/RB, os organismos financeiros que permitem a realização de transacções através da internet devem dispor de um sistema adaptado de vigilância dessas transacções. Devem, entre outros aspectos, poder centralizar e analisar as transacções não habituais efectuadas através da internet ou através de qualquer outro meio electrónico. Contudo, nas reuniões mantidas com as instituições financeiras constatou-se que, na generalidade, ainda não foram adoptadas medidas específicas para lidar com tais riscos.

Risco das relações de negócio não presenciais (c. 8.2 e 8.2.1)

377. Nos termos do Artigo 7º da LCBC, encontra-se previsto que, no caso das operações financeiras à distância, os organismos financeiros devem proceder à identificação de pessoas singulares, em conformidade com os princípios que se encontram no anexo à referida Lei. Contudo, a equipa de avaliação não encontrou nenhum anexo onde estejam previstos os referidos princípios.

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378. Nas reuniões mantidas com as instituições financeiras e com o BCEAO, foi indicado à equipa de avaliação que, na prática, quando se inicia uma relação de negócio, deve ser efectuado um contacto directo e presencial com o cliente ou com os seus representantes.

3.2.2. Recomendações e Comentários

379. O enquadramento jurídico das obrigações das instituições financeiras encontra-se incompleto. As obrigações de identificação e de vigilância são muito limitadas, principalmente no que respeita aos beneficiários efectivos ou às obrigações de diligência em situações de risco elevado.

380. A compreensão dos textos torna-se difícil pela sua frequente imprecisão. Além disso, a ausência de esclarecimentos pelos supervisores ou pela CENTIF vem acentuar esta dificuldade. Deve ser prestada uma atenção específica a este aspecto aquando da transposição da Directiva nº 04/2007 relativa à luta contra o financiamento de terrorismo, de modo a assegurar a coerência global do dispositivo relativo à prevenção do branqueamento de capitais e do financiamento de terrorismo (ABC/CFT).

381. Além disso, os textos legislativos na Guiné-Bissau em matéria de prevenção do branqueamento de capitais e do financiamento de terrorismo são pouco conhecidos pelas entidades obrigadas, que, em boa parte, nem tiveram conhecimento da sua existência. Afigura-se aconselhável uma rápida divulgação destes textos legislativos, em especial às instituições financeiras não bancárias, que deveria também ser acompanhada de acções de sensibilização.

382. A aplicação prática das obrigações em matéria ABC/CFT iniciou-se apenas no sector bancário há relativamente pouco tempo, importando destacar a ausência de uma supervisão adequada. De um modo geral, é desejável que a aplicação do quadro existente em matéria ABC/CFT seja cumprida pelo conjunto das instituições financeiras.

383. As disposições legais e regulamentares da Guiné-Bissau deveriam contemplar o seguinte:

Recomendação 5

- Interditar explicitamente que as instituições financeiras tenham contas anónimas ou sob nomes fictícios (e impor uma verificação principalmente sobre os clientes existentes).

- As instituições financeiras devem manter as contas numeradas de modo a poderem respeitar integralmente as Recomendações do GAFI.

- Impor às instituições financeiras que preencham as obrigações de diligência previstas:

- quando efectuam transacções ocasionais que excedam de uma só vez o limiar aplicável (USD/€ 15.000) ou em várias operações; - quando estas efectuam transacções ocasionais sob a forma de transferências electrónicas nas circunstâncias previstas na Nota

Interpretativa da RE VII; - quando existe uma suspeita de branqueamento de capitais ou de financiamento do terrorismo, independentemente de eventuais

excepções ou limiares referidos nas Recomendações do GAFI; ou - quando estas têm dúvidas sobre a veracidade ou a pertinência dos dados de identificação do cliente previamente obtidos.

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- Impor uma obrigação clara às instituições financeiras de identificar as pessoas singulares e colectivas, através de fonte credível e independente.

- Impor, no que respeita às entidades sem personalidade jurídica, uma obrigação às instituições financeiras para:

- verificar as entidades que pretendem agir em nome do cliente, se estão autorizadas a fazê-lo e a identificar e verificar a identidade desta pessoa;

- a verificar o estatuto jurídico dessa entidade sem personalidade jurídica.

- Impor às instituições financeiras que adoptem medidas razoáveis para:

- compreenderem a propriedade e a estrutura de controlo do cliente; - determinarem quem são as pessoas singulares que, em última instância, detêm a propriedade ou o controlo do cliente (que inclui

as pessoas que exercem um controlo efectivo sobre uma pessoa colectiva ou uma entidade sem personalidade jurídica); - verificarem a identidade do beneficiário efectivo utilizando informações ou dados relevantes obtidos junto de fonte credível de tal

forma que a instituição financeira obtenha um conhecimento satisfatório sobre a identidade do beneficiário efectivo.

- Estipular que instituições financeiras devem obter informações sobre o objectivo e a natureza prevista da relação de negócio.

- Impor às instituições financeiras que exerçam uma diligência contínua relativamente às relações de negócio;

- Estipular que as instituições financeiras realizem um exame particular às transacções efectuadas no decurso da relação de negócio, a fim de se assegurarem que as transacções efectuadas são consistentes com o conhecimento que a instituição possui do seu cliente, das suas actividades e do seu perfil de risco e, se necessário, da origem dos fundos;

- Impor que as instituições financeiras assegurem que os documentos, os dados ou a informação recolhida no âmbito do processo de identificação dos clientes sejam mantidos actualizados e relevantes através de avaliações dos documentos existentes, em particular para as categorias de clientes ou de relações de negócio que apresentem um risco mais elevado.

- Impor que as instituições financeiras apliquem medidas de vigilância reforçada relativamente às categorias de clientes, relações de negócios ou transacções que apresentem um risco mais elevado.

- Adoptar disposições relativas a medidas de identificação simplificadas ou reduzidas:

- as instituições financeiras estejam autorizadas a aplicar estas medidas relativamente aos seus clientes residentes noutro país (esta autorização deve ser limitada aos países relativamente ao quais o país de origem tem razões satisfatórias para considerar que respeitam e aplicam de forma eficaz as Recomendações do GAFI); e

- essas medidas simplificadas não devem ser admitidas quando existem suspeitas de branqueamento de capitais ou de financiamento do terrorismo ou quando existem determinados cenários específicos que apresentem um risco mais elevado.

- Impor a interdição a uma instituição financeira de abrir uma conta, iniciar uma relação de negócio ou realizar uma operação, sempre que não sejam cumpridas as exigências de identificação dos clientes ou dos beneficiários efectivos.

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- Estipular que as instituições financeiras terminem a relação de negócio e considerem fazer uma declaração de operação suspeita, sempre que já estabeleceram uma relação de negócio e não conseguem cumprir os critérios de identificação do cliente ou do beneficiário efectivo.

- Impor que as instituições financeiras apliquem as obrigações de diligência dos clientes existentes segundo a materialidade e a importância do risco que representam, devendo também exercer a diligência relativamente às relações existentes em momentos oportunos.

Recomendação 6

- As instituições financeiras devem criar sistemas adequados de gestão do risco para determinar se o cliente actual ou potencial ou o beneficiário efectivo é uma pessoa politicamente exposta (PPE).

- As instituições financeiras devem obter autorização da Direcção para o estabelecimento de relações de negócio com uma PPE.

- Quando um cliente foi aceite e, subsequentemente, se determina que este ou o beneficiário efectivo se torna uma PPE, as instituições financeiras devem obter aprovação da Direcção para continuar a relação de negócio.

- As instituições financeiras devem tomar medidas adequadas para determinar a origem do património e dos fundos dos clientes e dos beneficiários efectivos identificados como PPEs.

- As instituições financeiras devem assegurar a diligência reforçada e contínua das suas relações de negócio com PPEs.

Recomendação 7

- As instituições financeiras devem recolher as informações necessárias sobre a instituição a quem é prestado o serviço (instituição cliente) para compreenderem a natureza da sua actividade e determinar, a partir das informações publicamente disponíveis, a sua reputação e a qualidade da sua supervisão, nomeadamente verificar se a instituição em causa foi objecto de uma investigação ou de uma acção reguladora, relacionada com o branqueamento de capitais ou com o financiamento do terrorismo.

- As instituições financeiras devem avaliar os controlos, para fins de ABC/CFT, das instituições clientes e apurar se esses controlos são adequados e eficazes.

- As instituições financeiras devem obter aprovação da Direcção antes de estabelecerem novas relações de correspondência.

- As instituições financeiras devem documentar as responsabilidades respectivas de cada instituição em matéria de ABC/CFT.

- Quando uma relação de correspondência inclui a manutenção de contas correspondentes de transferência, as instituições financeiras devem certificar-se que:

- O seu cliente (a instituição financeira a quem é prestado o serviço) adoptou todas as medidas CDD normais previstas na Recomendação 5 para os seus clientes com acesso directo às contas da instituição financeira correspondente; e

- A instituição financeira cliente está habilitada a fornecer dados pertinentes sobre a identificação dos seus clientes, quando tal lhe for solicitado pela instituição financeira correspondente.

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Recomendação 8

- As instituições financeiras devem adoptar políticas ou tomar as medidas necessárias para prevenir a utilização ilegítima de novas tecnologias nos esquemas de branqueamento de capitais ou de financiamento do terrorismo.

- As instituições financeiras devem adoptar políticas e procedimentos para enfrentar quaisquer riscos específicos associados com relações de negócio ou com operações efectuadas sem a presença física do cliente. Estas políticas e procedimentos devem ser aplicadas aquando do estabelecimento da relação com o cliente e no processo de diligência contínua.

- As autoridades devem desenvolver um quadro claro e fornecer orientações sobre o tipo de instituições que sejam consideradas aceitáveis para averiguar a veracidade das informações fornecidas.

3.2.3 Conformidade com as Recomendações 5 a 8

Avaliação Resumo dos factores que fundamentam a avaliação

R.5 NC • Obrigações de identificação muito limitadas, particularmente para os beneficiários efectivos.

• Ausência do dever de obter informações sobre o objectivo e a natureza da relação de negócio.

• Ausência do dever da diligência contínua. • Ausência de obrigações quanto aos clientes existentes. • Ausência de medidas para compreender a propriedade e estrutura de controlo do cliente e para determinar os beneficiários efectivos • Ausência de disposições que proíbam a manutenção de contas anónimas ou contas sob nomes fictícios. • Ausência de disposições de interdição de abertura de conta, iniciação de relação de negócio ou realização de operação, sempre que não sejam cumpridas as exigências de identificação dos clientes ou beneficiários efectivos.

• Aplicação prática limitada no sector bancário e ausência de aplicação nos outros sectores financeiros.

• Ausência de exigência do dever de diligência relativamente a transacções ocasionais.

• Ausência da obrigação de verificação através de fonte credível e independente.

• Ausência da obrigação de identificação de pessoas que actuam em nome das entidades sem personalidade jurídica (legal arrangements).

• A verificação da identidade das pessoas colectivas não resulta clara da legislação em vigor.

• O dever de diligência reforçada para clientes de risco não se encontra previsto para as entidades financeiras.

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• Não existem disposições que determinem que as instituições financeiras sejam autorizadas a aplicar medidas de identificação simplificadas ou reduzidas relativamente a clientes residentes num outro país.

• A LCBC não prevê que as instituições financeiras se sejam proibidas de iniciar uma relação de negócio antes de completar o processo de identificação e verificação da identidade dos clientes ou dos beneficiários efectivos.

R.6 NC • Não existe enquadramento legislativo para o tratamento do risco colocado pelas pessoas politicamente expostas.

R.7 NC • Não existe enquadramento legislativo para o tratamento do risco colocado pelas relações transfronteiriças entre bancos correspondentes.

R.8 NC • As instituições não são obrigadas a adoptar políticas ou a tomar medidas para prevenir a utilização ilegítima de novas tecnologias para fins de branqueamento de capitais ou de financiamento do terrorismo.

• Não existe enquadramento adequado nos casos em que as instituições estão autorizadas a aceitar a verificação de identidade fornecida por uma instituição financeira estrangeira.

3.3. INTERMEDIARIOS OU TERCEIROS INTRODUTORES DE NEGOCIO (R.9)

3.3.1 Descrição e Análise

Enquadramento Jurídico

384. Os principais instrumentos jurídicos em vigor na Guiné-Bissau não definem critérios para o caso das instituições financeiras recorrerem a intermediários ou a terceiros para executar alguns elementos do processo de identificação dos clientes ou para apresentar negócios.

385. Nas reuniões mantidas com as instituições bancárias, a equipa de avaliação foi informada que, para efectuar transacções ou iniciar relações de negócio, os clientes têm sempre que se dirigir à instituição em causa, não existindo por isso introdutores de negócio. Quanto às operações de câmbio de moeda, as instituições bancárias – nos termos acordados contratualmente – apenas prestam um serviço aos referidos operadores autorizados pelo que são esses operadores os clientes das instituições, não se estando perante uma situação em que estes actuam como intermediários entre os seus clientes e as instituições de crédito.

386. Relativamente às empresas de seguros, o risco de BC/FT no recurso a intermediários é maior quando estas empresas exercem a sua actividade no âmbito do ramo “Vida”. Porém, a equipa de avaliação foi informada que esta actividade foi suspensa em algumas companhias de seguros ou nem sequer foi iniciada, tendo em conta o seu risco comercial elevado.

Obrigação de obter imediatamente certos elementos CDD de terceiros (c. 9.1)

387. Não se encontra previstos na legislação em vigor na Guiné-Bissau disposições que regulem o recurso a intermediários ou terceiros introdutores de negócios para efectuar a identificação de clientes ou para apresentar negócios.

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Disponibilização de dados de identificação por terceiros (c. 9.2)

388. Não se encontra previstos na legislação em vigor na Guiné-Bissau disposições que regulem o recurso a intermediários ou terceiros introdutores de negócios para efectuar a identificação de clientes ou para apresentar negócios.

Regulamentação e supervisão de terceiros (c.9.3) (aplicação das R. 23, 24 e 29, c. 9.3)

389. Não se encontra previstos na legislação em vigor na Guiné-Bissau disposições que regulem o recurso a intermediários ou terceiros introdutores de negócios para efectuar a identificação de clientes ou para apresentar negócios.

Adequabilidade de aplicação das Recomendações do GAFI (c. 9.4)

390. Não se encontra previstos na legislação em vigor na Guiné-Bissau disposições que regulem o recurso a intermediários ou terceiros introdutores de negócios para efectuar a identificação de clientes ou para apresentar negócios.

Responsabilidade última pelo dever de diligência relativo à clientela (c. 9.5)

391. A responsabilidade pelo cumprimento do dever de diligência é das instituições financeiras. Não se encontra previstos na legislação em vigor na Guiné-Bissau disposições que regulem o recurso a intermediários ou terceiros introdutores de negócios para efectuar a identificação de clientes ou para apresentar negócios.

3.3.2 Recomendações e Comentários

392. Devem ser definidos os critérios no âmbito da prevenção do branqueamento de capitais e do financiamento de terrorismo para que as instituições financeiras possam recorrer a intermediários e terceiros, a saber:

- As instituições financeiras que recorrem a um terceiro devem obter imediatamente deste último a informação necessária respeitante a certos elementos do procedimento CDD (Critérios 5.3 a 5.6).

- As instituições financeiras devem adoptar as medidas adequadas para assegurar que as cópias de dados de identificação e outra documentação relevante relativas ao dever de CDD serão fornecidas por terceiros, mediante pedido e sem demora.

- As instituições financeiras devem assegurar que os terceiros estão sujeitos a regulação e a supervisão (de acordo com as Recomendações 23, 24 e 29) e que adoptaram medidas para cumprir os deveres de CDD nos termos previstos nas Recomendações 5 e 10.

- Ao determinarem em que países estão situados os terceiros que cumprem estes requisitos, as autoridades competentes devem ter em conta as informações disponíveis sobre se estes países aplicam adequadamente as Recomendações do GAFI.

- A responsabilidade final pela identificação e verificação do cliente deve manter-se na instituição financeira que recorreu a terceiros.

3.3.3. Conformidade com a Recomendação 9

Page 81: Relatório de Avaliação Mútua - GIABA

Avaliação Resumo dos factores que fundamentam a avaliação

R.9 NC • Não existem disposições que definam critérios para o caso das instituições financeiras recorrerem a terceiros ou introdutores de negócios.

3.4. SEGREDO OU CONFIDENCIALIDADE DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS (R.4)

3.4.1 Descrição e Análise

Enquadramento Jurídico

393. A Lei nº 10/97, de 2 de Dezembro, sobre a regulamentação bancária, é demasiado restritiva, apenas estabelecendo, em matéria de sigilo, que os candidatos à direcção, gestão, controlo ou funcionamento dos bancos e dos estabelecimentos financeiros estão obrigados ao segredo profissional.

394. De acordo com o disposto no Artigo 34º da LCBC, o segredo profissional não pode ser invocado. Refere esta disposição que, não obstante quaisquer disposições legislativas ou regulamentares contrárias, o segredo profissional não pode ser invocado pelas pessoas visadas no seu Artigo 5.° para recusa de fornecimento de informações às autoridades de controlo, assim como à CENTIF ou para proceder às declarações nela previstas. O mesmo acontece com as informações requeridas no quadro de um in-quérito sobre factos de branqueamento, ordenado pelo juiz de instrução ou efectuado sob controlo, pelos agentes do Estado encarregues da detecção e da repressão das infracções ligadas ao branqueamento de capitais.”

395. A isenção do dever de sigilo é imposta aos organismos financeiros bem como ao BCEAO, contudo não existem disposições que permitam verificar se as leis sobre o segredo profissional das instituições financeiras não impedem a troca de informações entre instituições financeiras tal como requerido pelas Recomendações 7 e 9 e Recomendação Especial VII.

3.4.2 Recomendações e Comentários

396. As autoridades devem considerar adoptar disposições que permitam verificar que as leis sobre o segredo profissional das instituições financeiras não impedem a troca de informações entre estas instituições financeiras, tal como requerido pelas Recomendações 7 e 9 e Recomendação Especial VII.

3.4.3 Conformidade com a Recomendação 4

Avaliação Resumo dos factores que fundamentam a avaliação

R.4 LC • Inexistência de disposição que garanta que o segredo profissional não

Page 82: Relatório de Avaliação Mútua - GIABA

impede as trocas de informação entre instituições financeiras.

3.5. REGRAS DE CONSERVAÇÃO DE DOCUMENTOS E PARA TRANSFERENCIAS ELECTRONICAS (R.10 E RE.VII)

3.5.1 Descrição e Análise

Enquadramento Jurídico

Conservação de documentos e reconstituição dos registos das operações (c. 10.1 e 10.1.1) 397. Nos termos do Artigo 11º da LCBC, as instituições financeiras devem conservar durante um período de dez (10) anos, as peças e documentos relativos às operações que os seus clientes habituais ou ocasionais efectuaram durante os dez (10) anos a contar do fim do exercício em que as operações foram realizadas. De referir que este dever de conservação também se encontra reflectido no Artigo 5º da Instrução n.º 1/2007/RB.

398. Nos termos do parágrafo 2º do Artigo 12º os documentos relativos às transacções devem ser suficientes para permitir a reconstrução de transacções individuais a fim de poderem servir, se necessário, de prova em procedimentos judiciais pela prática de actividades criminosas.

399. Relativamente a este último ponto, o Artigo 12º da Directiva nº 4/2007/CM/UEMOA determina que os Estados-membros do UEMOA devem adoptar medidas que exijam aos organismos financeiros a conservação de documentos e de peças e elaborar estatísticas, com o objectivo de servirem de elemento de prova em qualquer investigação relacionada com o financiamento do terrorismo. Esta disposição não é aplicável em casos de branqueamento de capitais.

Conservação de documentos para os dados de identificação (c. 10.2)

400. Segundo o Artigo 11º da LCBC, as instituições financeiras devem conservar durante um período de dez (10) anos, a contar do fecho das suas contas ou da cessação das suas relações com os seus clientes habituais ou ocasionais, as peças e documentos relativos à sua identidade e às operações efectuadas. Porém, esta disposição apenas abrange as peças e documentos relativos à identificação, não referindo a conservação de outros elementos complementares como os livros de contabilidade e a correspondência comercial.

Disponibilização dos documentos para as autoridades competentes (c. 10.3)

401. A LCBC prevê que as autoridades judiciárias, os agentes do Estado encarregues da detecção e da repressão das infracções ligadas ao branqueamento de capitais, agindo no quadro de um mandato judiciário, as autoridades de controlo, assim como a CENTIF, podem solicitar às pessoas referidas no Artigo 5°, a seu pedido, todas as peças e documentos relativos à identificação dos seus clientes (Artigo 12º). Também a CENTIF pode solicitar o envio de informações que estejam na posse qualquer pessoa singular ou colectiva e de pessoas suspeitas, que sejam susceptíveis de enriquecer as declarações de operações suspeitas (Artigo 17º).

Page 83: Relatório de Avaliação Mútua - GIABA

402. Através do artigo 12º, é concedido um acesso alargado às autoridades de controlo, uma vez que o acesso que estas têm às informações não se restringe ao necessário para o acompanhamento das instituições. Estas autoridades de controlo encontram-se definidas como as autoridades nacionais ou comunitárias da UEMOA que, em virtude de uma lei ou de um regulamento, têm a competência para controlar pessoas singulares e colectivas.

403. Não existem disposições específicas que exijam às instituições financeiras que assegurem que todos os documentos e informações relativos ao cliente e à transacção estejam disponíveis, em tempo útil, para as autoridades nacionais competentes mediante autorização apropriada.

404. Nas reuniões mantidas com as instituições bancárias, foi indicado que nas suas políticas internas de conservação de documentos foi adoptada a prática de conservar os documentos desde o início das relações com os clientes e por um período de 10 anos. Contudo, nenhuma das instituições pareceu ter políticas escritas que satisfizessem, na íntegra, as obrigações da Recomendação 10 do GAFI.

Enquadramento jurídico (RE VII)

405. O Regulamento nº 15/2002/CM/UEMOA, de 19 de Setembro, relativo aos sistemas de pagamento entre os Estados-membros do UEMOA, define as disposições aplicáveis em matéria de transferências electrónicas. As instituições autorizadas a efectuar estas transferências são os bancos, os organismos financeiros, os serviços financeiros dos correios (Artigo 42º).

Obtenção de informação sobre o ordenante (aplicação dos c. 5.2 e 5.3 na R.5, c.VII.1)

406. Não existe qualquer disposição que obrigue as instituições financeiras ordenantes a obter e conservar as seguintes informações sobre o ordenante da transferência electrónica: o nome do ordenante, o número da conta do ordenante (ou um número de referência único se não existir número de conta) e o endereço do ordenante.

407. De acordo com o Artigo 7º da LCBC, os organismos financeiros devem proceder à identificação de pessoas singulares no caso das operações financeiras à distância, pressupondo-se, por isso, que tem de ser verificada a identidade do ordenante em conformidade com a Recomendação 5.

Inclusão da informação sobre o ordenante nas transferências nacionais e transfronteiras (c.VII.2, VII.3 )

408. As transferências electrónicas não são reguladas relativamente à informação que deve ser incluída na comunicação que será posteriormente transmitida. No caso das transferências electrónicas transfronteiriças, as instituições financeiras ordenantes não são obrigadas a incluir as informações completas sobre o ordenante na mensagem ou no formulário de pagamento que acompanha a transferência. Tal como no caso das transferências electrónicas nacionais, não é exigido às referidas instituições que cumpram o critério VII.2 ou que incluam apenas o número de conta do ordenante ou um meio único de identificação na mensagem ou no formulário de pagamento.

409. No entanto, de acordo com o disposto no Artigo 14º da Directiva nº 4/2007, os Estados Membros devem adoptar as medidas necessárias de modo a que as transferências electrónicas transfronteiriças sejam acompanhadas pelas informações exactas relativas ao ordenante. Estas informações devem incluir o número da conta do ordenante ou um número de referência único se não existir número de conta.

410. Os Estados-membros devem procurar assegurar que todas as transferências electrónicas nacionais incluam os mesmos dados que as transferências electrónicas internacionais, a não ser que todas as informações relativas ao ordenante possam ser colocadas à disposição das entidades financeiras do beneficiário ou das autoridades competentes através de outros meios.

Page 84: Relatório de Avaliação Mútua - GIABA

Obrigação de assegurar que as transacções não habituais sejam tratadas em conjunto (c.VII.4)

411. Não existem disposições que obriguem as instituições financeiras beneficiárias e intermediárias na cadeia de pagamento a assegurar que toda a informação sobre o ordenante que acompanha a transferência electrónica seja transmitida juntamente com essa transferência.

412. Alem disso, não existem obrigações que obriguem as instituições financeiras intermediárias que recebem as transferências electrónicas a conservar durante um período de 5 anos infirmação relativa a todas as informações recebidas de instituição financeira remetente já que, por razões técnicas, as informações completas sobre o ordenante que acompanham uma transferência electrónica internacional não podem ser transmitidas juntamente com uma transferência interna que lhe esteja associada.

Procedimentos baseados no risco para as transferências sem informação sobre o ordenante (c. VII.5)

413. Não existe qualquer disposição que obrigue as instituições financeiras beneficiárias a adoptar procedimentos eficazes baseados no risco para identificar e proceder a transferências electrónicas que não estejam acompanhadas da informação completa sobre o ordenante.

Vigilância do cumprimento da Recomendação Especial VII pelas instituições financeiras (c.VII.6)

414. Não existem disposições que abordem estes aspectos das Recomendações do GAFI pelo que, consequentemente, não é exercida uma supervisão no cumprimento desta Recomendação Especial.

Sanções (aplicação dos c. 17.1-17.4 na R.17, c. VII.7)

415. Não existem disposições que abordem este aspecto das Recomendações do GAFI, pelo que não são aplicadas sanções pelo seu incumprimento.

3.5.2 Recomendações e Comentários

Recomendação 10

416. As autoridades deveriam regulamentar as seguintes disposições:

-.

-.

-.

- As instituições financeiras devem assegurar-se de que todos os documentos e informações dos clientes e das operações são postos à disposição, em tempo útil, das autoridades nacionais competentes para a prossecução da sua missão.

Recomendação Especial VII:

417. As autoridades devem regulamentar as seguintes disposições:

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- As instituições financeiras devem incluir informações precisas e relevantes sobre o ordenante (nome, número de identificação nacional e número de conta) em todas as transferências electrónicas que são enviadas, e devem garantir que a informação permaneça junta com a transferência ou mensagem associada através da cadeia de pagamento.

- No caso das transferências electrónicas transfronteiriças, as instituições financeiras ordenantes devem ser obrigadas a incluir as informações completas sobre o ordenante na mensagem ou no formulário de pagamento que acompanha a transferência.

- No caso das transferências electrónicas nacionais, as instituições financeiras devem ser obrigadas a cumprir o critério VII.2 ou a incluir apenas o número de conta do ordenante ou um meio único de identificação na mensagem ou no formulário de pagamento.

- Devem incluir ainda a obrigação de vigiar e conduzir um exame reforçado das transferências que não contêm a informação completa sobre o ordenante.

3.5.3 Conformidade com a Recomendação 10 e com a Recomendação Especial VII

Avaliação Resumo dos factores que fundamentam a avaliação

R.10 LC

• Ausência de disposições claras relativas aos documentos e informações sobre os clientes e transacções, a disponibilizar em tempo útil às autoridades nacionais competentes.

• Ausência de supervisão no que respeita às obrigações de prevenção do branqueamento de capitais, em que o conteúdo é na maior parte das vezes desconhecido.

RE.VII NC • Não existem obrigações relativas às transferências electrónicas.

• Não existe a obrigação de as instituições financeiras ordenantes obterem e conservarem informações sobre o ordenante da transferência electrónica.

• No caso das transferências electrónicas transfronteiriças, as instituições financeiras ordenantes não são obrigadas a incluir as informações completas sobre o ordenante na mensagem ou no formulário de pagamento que acompanha a transferência.

• Não existem disposições que obriguem as instituições financeiras beneficiárias e intermediárias na cadeia de pagamento a assegurar que toda a informação sobre o ordenante que acompanha a transferência electrónica seja transmitida juntamente com essa transferência.

• Não existem disposições que obriguem as instituições financeiras beneficiárias a adoptar procedimentos eficazes baseados no risco para identificar e a proceder a transferências electrónicas que não estejam acompanhadas da informação completa sobre o ordenante.

• Não existem disposições que prevejam a aplicação de sanções pelo

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incumprimento das obrigações que resultam desta Recomendação do GAFI.

TRANSACÇÕES NÃO HABITUAIS, SUSPEITAS E OUTRAS

3.6. MONITORIZAÇÃO DAS TRANSACÇÕES E DAS RELAÇÕES DE NEGOCIO (R.11 E 21)

3.6.1 Descrição e Análise

Especial atenção a operações complexas ou de montantes anormalmente elevados (c. 11.1)

418. De acordo com o Artigo 10º da LCBC, as instituições financeiras e, de forma mais genérica, todas as pessoas referidas no Artigo 5º (que inclui o BCEAO e o Tesouro Público) devem fazer um exame particular a qualquer pagamento em dinheiro ou através de título ao portador de uma quantia de dinheiro, efectuado em condições normais, cujo montante unitário ou total é igual ou superior a cinquenta milhões (50.000.000) de FCFA, bem como em relação a qualquer operação sobre uma quantia igual ou superior a dez milhões (10.000.000) de FCFA efectuada em condições ocasionais de complexidade e/ou que não pareçam ter justificação económica ou objecto lícito. A Lei não prevê, no entanto, a obrigação de os organismos financeiros examinarem com especial atenção as operações abaixo do limiar estipulado (10.000.000 FCFA) nem aos padrões não habituais de transacções que tenham uma justificação económica ou objecto lícito.

419. Resulta do Artigo 7º da Instrução nº 1/2007/RB que as instituições financeiras devem prever um dispositivo de análise das operações e do perfil dos clientes, que permita reconstituir e acompanhar especialmente os movimentos e operações financeiras atípicas.

420. Na lista de operações financeiras atípicas figuram:

- As transacções anormais por si mesmas e as transacções anormais relativamente a um cliente (por exemplo, o caso de contas adormecidas que se tornam repentinamente activas, cheques com endossos múltiplos, transferências de fundos através de contas numeradas, compra ou venda de grandes quantidades de metais preciosos);

- Operações de crédito com aceitação pelo cliente de taxas anormalmente elevadas, proposta de garantias constituídas por bens de origem desconhecida ou incompatíveis com o nível de vida aparente do cliente ou ainda a proposta de reembolso antecipado, com os fundos cuja origem é desconhecida ou pouco plausível.

- Operações de comércio externo com os preços dos bens subjacentes à operação, sobre ou subavaliados em relação aos preços de mercado, ou de montagens complexas, fazendo intervir múltiplas estruturas sem uma justificação técnica ou económica satisfatória.

- Operações de montante sensivelmente superior ao das transacções habituais do cliente.

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- Operações em bolsa e de mercado com depósitos com taxas anormalmente elevadas ou relativas a transacções sobre títulos com valores desalinhados em relação aos do mercado.

- Operações que consistem em múltiplas intervenções em títulos sem rentabilidade aparente seguidas de um conjunto de fundos para uma entidade financeira localizada no exterior.

Obrigação de analisar os antecedentes e o objectivo (c. 11.2)

421. De acordo com o Artigo 10º da LCBC, nos casos indicados nesse mesmo preceito, as pessoas referidas no Artigo 5º do mesmo diploma devem informar-se junto do cliente, e/ou através de quaisquer meios, sobre a origem e o destino das quantias de dinheiro em causa, assim como sobre o objecto da transacção e a identidade das pessoas implicadas, em conformidade com as disposições do Artigo 7°.

422. No artigo 12º da Instrução nº 1/2007/RB, encontra-se previsto que as instituições financeiras devem informar-se junto dos clientes sobre a origem e o destino dos montantes bem como sobre o objecto da transacção e a identidade dos respectivos beneficiários.

423. Porém, nas referidas duas situações, o termo utilizado “devem informar-se” fica aquém do que está previsto na Recomendação do GAFI, uma vez que as instituições financeiras devem examinar, na medida do possível, o contexto e a finalidade dessas transacções e reduzir a escrito as respectivas conclusões.

Obrigação de conservar os documentos da análise (c. 11.3)

424. As características principais da operação, a identidade do ordenante e do beneficiário, se for o caso, a dos actores da operação, são consignadas num registo confidencial (Artigo 10º) e devem estar disponíveis às autoridades judiciárias, aos agentes do Estado encarregues da detecção e da repressão das infracções ligadas ao branqueamento de capitais agindo no quadro de um mandato judiciário, às autoridades de controlo, assim como à CENTIF (Artigo 12º). Os auditores não estão incluídos no conjunto de pessoas que podem aceder a estas informações.

Especial atenção, em termos das medidas CDD, aos países que não aplicam ou aplicam de forma insuficiente as Recomendações do GAFI (c. 21.1)

425. Na LCBC não se encontra previsto que as instituições financeiras devam conceder uma especial atenção às relações de negócios e às transacções com pessoas (incluindo pessoas colectivas e outras instituições financeiras) de outros países que não aplicam ou aplicam insuficientemente as Recomendações do GAFI.

426. Contudo, segundo o Artigo 7º da Instrução nº 1/2007/RB, os organismos financeiros devem prever um dispositivo de análise das operações e do perfil dos clientes, permitindo identificar e acompanhar especialmente os movimentos de operações financeiras atípicas. Entre outras, constam as transacções efectuadas com contrapartes situadas em países, territórios e/ou jurisdições declaradas pelo Grupo de Acção Financeira (GAFI) como não cooperantes e das pessoas a quem devem ser congelados bens, face à sua presumível ligação com um grupo criminoso organizado.

427. Não se encontram em vigor na Guiné-Bissau medidas que assegurem que as instituições financeiras sejam informadas das preocupações existentes relativamente à fraqueza dos sistemas ABC/CFT existentes em outros países.

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Operações sem razão económica ou lícita visível (c. 21.2)

428. No caso das transacções com países que não aplicam ou que aplicam insuficientemente as Recomendações do GAFI, não existe a obrigação de examinar, na medida do possível, o contexto e a finalidade de tais operações que não tiverem uma justificação económica ou objecto lícito. Também, não existe a obrigação de os resultados escritos destas conclusões deverem estar disponíveis, para auxiliar as autoridades competentes e os auditores.

Capacidade de impor contra-medidas aos países que não aplicam ou aplicam de forma insuficiente as Recomendações do GAFI (c. 21.3)

429. Sempre que um país continue a não aplicar ou a aplicar de forma insuficiente as Recomendações do GAFI, a Guiné-Bissau não se encontra apta a aplicar contra-medidas adequadas7

.

3.6.2 Recomendações e Comentários

Recomendação 11

430. A obrigação de prestar especial atenção às operações complexas não deveria estar sujeita a limiares ou circunscrita às situações em que a instituição obrigada suspeita que a operação está ligada à prática de uma infracção subjacente. O facto de a obrigação estar limitada a uma quantia igual ou superior a dez milhões (10.000.000) de FCFA significa que todas as demais operações suspeitas abaixo do limiar fixado não são devidamente acompanhadas.

431. No decorrer das reuniões mantidas, a equipa de avaliação verificou que apenas alguns bancos têm conhecimento das obrigações de prestar especial atenção, o que permite afirmar que a informação e a sensibilização destas obrigações se torna necessária.

432. As disposições legais e regulamentares devem contemplar o seguinte:

- Deve estar definida a obrigação de prestar especial atenção a todas as operações e padrões de operações que são anormalmente complexas ou de elevado montante e sem uma causa económica ou lícita visível (não se restringir somente às operações com quantia igual ou superior a 10.000.000 FCFA)

- Deve estar definida a obrigação de examinar, na medida do possível, o contexto e a finalidade destas transacções e reduzir a escrito as respectivas conclusões.

Recomendação 21

433. As disposições legais e regulamentares devem contemplar o seguinte:

7 Os exemplos de contra-medidas são: i) aplicação de normas rigorosas de identificação dos clientes e o reforço da consultadoria, incluindo sobre questões financeiras específicas da jurisdição, às instituições financeiras a fim de identificar os beneficiários efectivos antes de serem iniciadas as relações de negócio com indivíduos ou empresas oriundas destes países; ii) reforço dos mecanismos relevantes de declaração ou a declaração sistemática de transacções financeiras, considerando que as transacções financeiras com estes países são susceptíveis de ser consideradas suspeitas; iii) ao considerar os pedidos de aprovação do estabelecimento nos países que aplicam as contra-medidas de filiais ou de sucursais ou ainda de escritórios de representação de instituições financeiras, tendo em conta o facto de que a instituição financeira envolvida é dum país onde não existe um sistema ABC/CFT adequado; iv) avisar as actividades do sector não financeiro que as transacções com pessoas singulares ou colectivas desse país podem correr o risco de branqueamento de capitais; e v) limitar as relações de negócio ou as transacções financeiras com o país identificado ou com as pessoas desse país.

Page 89: Relatório de Avaliação Mútua - GIABA

- Deve estar definida a obrigação de conceder uma especial atenção às relações de negócios e às transacções com pessoas (incluindo pessoas colectivas e outras instituições financeiras) de outros países que não aplicam ou aplicam insuficientemente as Recomendações do GAFI.

- Ser adoptadas medidas que assegurem que as instituições financeiras sejam informadas das preocupações existentes relativamente à fraqueza dos sistemas ABC/CFT existentes em outros países.

- Deve estar definida a capacidade da Guiné-Bissau para impor contra-medidas aos países que não aplicam ou aplicam insuficientemente as Recomendações do GAFI.

3.6.3 Conformidade com as Recomendações 11 e 21

Avaliação Resumo dos factores que fundamentam a avaliação

R.11 NC

• Definição muito restritiva quanto às operações em causa (limiar de 10.000.000 FCFA e ausência da menção aos padrões não habituais de transacções).

• Não existe a obrigação de efectuar um registo escrito da análise efectuada.

•A monitorização não é efectivamente aplicada.

R.21 NC • Inexistência de disposições relativas aos países que não aplicam ou que aplicam

insuficientemente as Recomendações do GAFI.

3.7 DECLARAÇÕES DE OPERAÇÕES SUSPEITAS E OUTRAS DECLARAÇÕES (R.13-14, 19, 25 E RE.IV)

3.7.1 Descrição e Análise

Enquadramento Jurídico:

434. Os principais instrumentos jurídicos são os seguintes:

- LCBC, de 2 de Novembro de 2004, que transpõe a Directiva n.º 7/2002/CM/UEMOA de 19 de Setembro de 2002 relativa à luta contra o branqueamento de capitais nos Estados-membros da UEMOA;

- Instrução n.º 1/2007/RB de 2 de Julho de 2007 relativa à luta contra branqueamento de capitais no âmbito das instituições financeiras;

- Directiva n.º 4/2007/CM/UEMOA de 4 de Julho de 2007 relativa à luta contra o financiamento de terrorismo dos Estados membros da UEMOA.

- Instrução nº 01/2006/SP do BCEAO, de 31 de Julho de 2006, relativa à emissão de moeda electrónica e aos estabelecimentos de moeda electrónica.

Obrigação de incluir as infracções ligadas ao terrorismo e ao seu financiamento nas DOSs (c. 13.1, c. 13.2 e RE.IV.1)

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435. De acordo com o Artigo 26º da LCBC, as pessoas referidas no Artigo 5° (que inclue as instituições financeiras, o BCEAO e o Tesouro Público) devem declarar à CENTIF: i) as quantias de dinheiro e todos os outros bens na sua posse, quando estes possam ter origem no branqueamento de capitais; ii) as operações sobre os bens, quando estas se possam inscrever num processo de branqueamento de capitais; iii) as quantias de dinheiro e todos os outros bens na sua posse, quando estes, suspeitos de serem destinados ao financiamento do terrorismo, possam ter origem na realização de operações de branqueamento de capitais.

436. Mais refere o artigo 9º, que as instituições financeiras devem proceder à declaração de operação suspeita junto da CENTIF sempre que, depois da verificação, persistirem dúvidas sobre a identidade do titular de direito económico.

437. O Artigo 26º estipula ainda que as declarações de operações suspeitas devem ser transmitidas segundo um modelo de declaração a ser aprovado por decisão do Ministro das Finanças. Até à data da visita da equipa de avaliação, este modelo ainda não tinha sido aprovado. Contudo, a elaboração deste modelo afigura-se como uma prioridade a partir do momento em que a CENTIF entrar em funcionamento.

438. A Instrução n.º 1/2007/RB inclui também as disposições relativas às obrigações de declaração de operação suspeita (DOS) impostas às instituições financeiras8

. No artigo 11º da referida Instrução encontra-se previsto que, nos termos das disposições do artigo 26º da LCBC, as instituições financeiras devem declarar à CENTIF as operações relativas a somas que possam inscrever-se num processo de branqueamento de capitais, em particular:

439. (i) as somas inscritas no seus livros que podem ter origem no tráfico de estupefacientes ou em actividades ligadas à criminalidade organizada; (ii) as operações relativas a somas sempre que estas possam ter origem no tráfico de estupefacientes ou em actividades ligadas à criminalidade organizada; (iii) toda a operação em que a identidade do ordenante ou dos beneficiários permanece duvidosa apesar da execução de diligências em conformidade com os Artigos 7º a 9º da LCBC; e (iv) as operações efectuadas pelas instituições financeiras por conta própria ou por conta de terceiros com pessoas singulares ou colectivas, aí incluídas as suas filiais ou estabelecimentos, agindo sob a forma ou por conta de fundos fiduciários ou de qualquer outro instrumento de gestão de um património de afectação, em que a identidade dos constituintes ou dos beneficiários é desconhecida.

440. Importa, no entanto, referir que, no caso de não se conhecerem os beneficiários efectivos, o Artigo 11º da Instrução fixa as obrigações de declaração previstas na LCBC.

441. No primeiro parágrafo do artigo 26º da LCBC encontra-se previsto que devem ser declaradas à CENTIF todas as operações de branqueamento de capitais que são igualmente suspeitas de serem destinadas ao financiamento do terrorismo. Deste modo, no âmbito do financiamento de terrorismo, esta disposição não prevê obrigações novas face às restantes disposições do referido artigo, apenas precisando que devem ser declaradas todas operações suspeitas de branqueamento de capitais que sejam igualmente sujeitas de serem destinadas ao financiamento de terrorismo.

442. Embora os fundos provenientes da realização de operações de branqueamento de capitais estejam sujeitos à obrigação de uma DOS, essa obrigação de efectuar essa DOS não se aplica aos fundos quando existam motivos razoáveis para suspeitar ou que existem suspeitas de que esses fundos estão ligados ou relacionados com ou que vão ser utilizados para o terrorismo, actos terroristas ou por organizações terroristas ou por aqueles que financiam o terrorismo.

8 Bancos e estabelecimentos financeiros; os serviços financeiros dos correios, bem como as Caixas de Depósitos e Consignações ou os organismos que têm lugar ; as instituições mutualistas e cooperativas de poupança e de crédito, bem como as estruturas ou organizações não constituídas sob a forma mutualista ou de cooperativa e que tenham por objecto a recolha de poupanças e ou o conjunto do crédito; os intermediários de câmbio manual.

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443. No entanto, a Directiva n.º 4/2007/CM/UEMOA relativa à luta contra o financiamento de terrorismo prevê, no Artigo 10º, que os Estados-membros devem adoptar as medidas indispensáveis para que as pessoas sujeitas devem fazer, sem demora, uma DOS à CENTIF, logo que suspeitem ou que existam motivos razoáveis para suspeitar que os fundos se encontram ligados, associados ou destinados a ser utilizados para fins de terrorismo ou de actos terroristas. Recorda-se, uma vez mais, que a Directiva não estava transposta para o direito interno da Guiné-Bissau à data da visita da equipa de avaliação.

Tratamento das tentativas de operações e limiares (c. 13.3)

444. Nos termos da LCBC, as operações suspeitas devem ser declaradas independentemente do respectivo montante.

445. Porém, a mesma Lei é omissa em relação à a obrigação de declarar as tentativas de transacções.

Declaração de operações suspeitas independentemente de questões de natureza fiscal (c. 13.4, c. IV.2)

446. A obrigação de efectuar uma DOS, nos termos previstos na LCBC, recai sobre todas as operações que sejam suspeitas de estar ligadas ao branqueamento de capitais. Nos termos da mesma Lei, todos os crimes previstos na legislação em vigor na Guiné-Bissau devem ser considerados como infracções subjacentes ao branqueamento de capitais, pelo que incluem também as infracções de natureza fiscal.

447. Contudo, a obrigação de comunicar operações suspeitas, independentemente da sua relação com questões fiscais, deve ser clarificada através de regulamentação e orientações.

Elemento adicional — Declaração à CENTIF quando se suspeite que os fundos são o produto de todos os actos criminosos que são considerados infracções subjacentes (c. 13.5)

448. Em todas as situações onde exista uma suspeita de que as operações estão ligadas às infracções referidas no Artigo 2º da LCBC, deve ser feita uma comunicação à CENTIF. Porém, nem todas as infracções que constam da lista de infracções designadas, a que se refere a Recomendação 1 do GAFI

Protecção jurídica das DOSs efectuadas de boa-fé (c. 14.1)

449. O Artigo 30º da LCBC prevê que as pessoas ou os dirigentes e os empregados das entidades previstas no Artigo 5° que, de boa-fé, transmitiram informações ou realizaram uma DOS, em conformidade com as disposições da presente lei, se encontram isentas de quaisquer sanções por violação do segredo profissional. Nenhuma acção para que seja apurada a responsabilidade civil ou penal pode ser intentada, assim como nenhuma sanção profissional pode ser aplicada às pessoas ou aos dirigentes e empregados das pessoas referidas no Artigo 5°, que agiram nas mesmas condições, ou seja, de boa-fé, mesmo se decisões judiciais tomadas com base nas declarações previstas nesse mesmo artigo não tenham conduzido a qualquer condenação.”

450. Porém, a referida LCBC não determina que esta protecção é aplicada mesmo que as pessoas ou entidades que comunicam não conheçam com precisão qual a actividade criminosa subjacente e independentemente de a actividade ilegal ter efectivamente ocorrido.

Proibição de avisar o cliente (tipping-off) (c. 14.2)

451. O parágrafo quarto do Artigo 26º da LCBC dispõe que as declarações de operações suspeitas são confidenciais e não podem ser comunicadas ao titular das quantias ou ao autor das operações”.

452. A redacção do ponto (i) desta disposição é ambígua uma vez que parece visar a comunicação da declaração, e não a da sua existência. Além disso, o ponto (ii) não proíbe a comunicação a todos os terceiros que não estejam devidamente autorizados a ter acesso a estas informações, mas apenas ao proprietário das quantias ou o autor das operações enquanto o ponto (iii) é demasiado restritivo, considerando que tem apenas em conta a declaração de operação suspeita, sem estar a incluir as outras informações comunicadas ou fornecidas à CENTIF.

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453. Nos termos do Artigo 40º da referida Lei, as pessoas que, de forma intencional, tenham feito ao proprietário das quantias ou ao autor das operações visadas no Artigo 5º revelações sobre a declaração ou nas decisões e eles respeitantes são puníveis com pena de prisão de seis meses até dois anos e uma multa de 100.000 a 1.150.000 FCFA ou apenas com uma das duas penas. Esta redacção não é muito clara uma vez que o Artigo 5º não se refere a operações, definindo apenas a lista de pessoas sujeitas. Não existe uma sanção aplicável no caso de uma DOS ou de uma informação com ela relacionada que esteja a ser comunicada ou fornecida à CENTIF, seja também divulgada a terceiros de forma não intencional.

Elemento adicional — Confidencialidade dos nomes e informações dos funcionários que efectuaram uma DOS (c. 14.3)

454. A LCBC prevê que as informações detidas pela CENTIF são confidenciais e que, quando esta Célula transmite um relatório ao Procurador-Geral da República sobre operações susceptíveis de constituírem a infracção de branqueamento de capitais, a declaração de suspeita não pode ser comunicada tal como a identidade do empregado na declaração não pode figurar no dito relatório (artigo 29º).

Consideração da possibilidade de comunicar operações em numerário acima de um determinado limiar (c. 19.1)

455. As autoridades da Guiné-Bissau não estudaram a viabilidade nem a utilidade da aplicação de um sistema em que as instituições financeiras declarem todas as transacções em moeda superiores a um limiar fixado a uma entidade central nacional com uma base de dados informatizada.

Elemento adicional — Base de dados informatizada para as operações em numerário superiores a um determinado limiar e seu acesso pelas autoridades competentes (c. 19.2) e Utilização adequada das declarações de operações em numerário superiores a um determinado limiar (c. 19.3)

456. Não existem declarações de operações em numerário, logo não é aplicável.

Orientações ou retorno de informação (feedback) para as instituições financeiras relativamente às DOSs (c. 25.1 e c. 25.2)

457. O Artigo 29º da LCBC prevê que a CENTIF informe, em tempo oportuno, as pessoas sujeitas a declarações de suspeitas sobre as conclusões das suas investigações. Contudo, importa salientar que a CENTIF não estava operacional à data da visita de avaliação e que, nas reuniões mantidas com as instituições financeiras, a equipa de avaliação foi informada que não tinham ainda sido comunicadas quaisquer declarações de operações suspeitas.

458. No entanto, sempre que detectarem uma operação suspeita, e uma vez que a CENTIF não está ainda operacional, as instituições financeiras referiram que comunicariam tais suspeitas à Direcção Nacional do BCEAO.

3.7.2 Recomendações e Comentários

459. A obrigação de declaração prevista na LCBC é, com efeito, imprecisa o que se afigura como particularmente prejudicial uma vez que estas disposições são, na prática, novas para a maior parte das instituições que as devem aplicar. Além disso, as instituições financeiras e mesmo as não financeiras com quem a equipa de avaliação manteve reuniões (com excepção dos bancos) ignoravam a existência do dever de declaração, explicada também pela inoperacionalidade da CENTIF.

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460. A informação e a sensibilização das pessoas e entidades sujeitas, a ser feita pelas autoridades, devem ser consideradas como prioridades, bem como a preparação de orientações e de linhas directrizes adequadas para facilitar uma aplicação eficaz por cada uma das pessoas e entidades sujeitas à LCBC.

461. As disposições legais e regulamentares devem contemplar o seguinte:

Recomendação 13 - Incluir o financiamento do terrorismo como uma das infracções que devem desencadear uma DOS quando as instituições declarantes suspeitarem ou tiverem motivos razoáveis para suspeitar que os fundos estão ligados ou relacionados a, ou se destinam ao terrorismo, à prática de actos terroristas ou a ser utilizados por organizações terroristas. - Tornar obrigatória a participação de qualquer suspeita resultante da tentativa de efectuar operações. - Clarificar, por via de regulamentação, e instruir, através de directivas e de um maior envolvimento com as instituições financeiras, que a obrigação de comunicar uma DOS se aplica independentemente das operações envolverem aspectos de natureza fiscal. Recomendação 14 - Definir que a protecção das instituições financeiras, dos seus dirigentes e empregados, seja aplicada mesmo que não conheçam com precisão qual a actividade criminosa subjacente e independentemente de a actividade ilegal ter efectivamente ocorrido. - Alargar a obrigação de confidencialidade à existência e ao conteúdo de todas as informações comunicadas à CENTIF e interditar a comunicação a todos os terceiros que não estejam devidamente autorizados a ter acesso a estas informações. Recomendação 19 - Estudar a viabilidade e a utilidade da aplicação de um sistema em que as instituições financeiras declarem todas as transacções em moeda superiores a um limiar fixado a uma entidade central nacional com uma base de dados informatizada, ou seja, à CENTIF. Recomendação 25 - Obrigar as autoridades competentes, em particular a CENTIF, a facultar às instituições financeiras e às actividades e profissões não financeiras obrigadas a declarar operações suspeitas, um adequado e apropriado retorno da informação (feedback). 3.7.3 Conformidade com as Recomendações 13, 14, 19 e 25 (critério 25.2) e com a Recomendação Especial IV

Avaliação Resumo dos factores que fundamentam a avaliação

R.13 NC • A obrigação de declarar operações suspeitas é imprecisa e não é do conhecimento de todas as pessoas e entidades sujeitas à LCBC.

• Ausência de aplicação prática do dever de declarar operações suspeitas.

R.14 NC

• Protecção restritiva quanto à confidencialidade das informações comunicadas à CENTIF.

R.19 NC • Ausência de um estudo da viabilidade e de utilidade de criação de um sistema de declaração das operações em numerário.

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R.25 NC • Ausência de aplicação prática.

• As instituições financeiras não receberam orientações relativamente à maneira como as DOSs devem ser apresentadas, o que é justificado pelo facto da CENTIF ainda não estar operacional.

RE.IV NC • Não existe uma obrigação de declarar operações suspeitas de estarem relacionadas com o financiamento de terrorismo.

Controlos Internos e Outras Medidas

3.8 CONTROLOS INTERNOS, CONFORMIDADE, AUDITORIA E SUCURSAIS NO ESTRANGEIRO (R.15 E 22)

3.8.1 Descrição e Análise

Estabelecer e manter controlos internos de prevenção do branqueamento de capitais e do financiamento do terrorismo (c. 15.1)

462. O Artigo 13º da LCBC estipula que os organismos financeiros9

- a centralização das informações sobre a identidade dos clientes, dirigentes, mandatários e titulares de direito económico;

- o tratamento das transacções suspeitas;

- a designação de responsáveis internos encarregues da aplicação dos programas de luta contra o branqueamento de capitais;

- a formação contínua do pessoal;

- o estabelecimento de um dispositivo de controlo interno da aplicação e da eficácia das medidas adoptadas no quadro da referida Lei.

devem elaborar programas harmonizados de prevenção do branqueamento de capitais. Esses programas compreendem nomeadamente:

9 A designar: i) os bancos e estabelecimentos financeiros; ii) os Serviços financeiros dos Correios, assim como as Caixas de Depósitos e Consignações ou os organismos que realizam essas operações, dos Estados membros; iii) as Companhias de seguro e resseguro, os corretores de seguro e de resseguro; iv) as instituições mutualistas ou cooperativas de poupança e de crédito, assim como as estruturas ou organizações mutualistas ou cooperativas que têm como objecto a colecta da poupança e/ou a concessão de crédito; v) a Bolsa Regional dos Valores Móveis, o Depositário Central/Banco de Pagamento, as Sociedades de Gestão e de intermediação, as Sociedades de Gestão de Património; vi) os OPCVM; vi) as Empresas de Investimento de Capital Fixo; vii) a Instituições autorizadas a praticar câmbio manual.

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463. De acordo com o Artigo 15º da Instrução n. º 1/2007/RB, os organismos financeiros (não inclui por exemplo as companhias de seguros e de resseguros ou os corretores de seguros) devem adoptar um programa interno que tenha por referência um dispositivo que defina os procedimentos e as regras internas de prevenção e de detecção do branqueamento de capitais.

464. Este programa interno deve estar em conformidade com as disposições legislativas e regulamentares em vigor nos Estados-membros da UEMOA em matéria de luta contra o branqueamento de capitais, sem prejuízo das regras internas aplicáveis a uma instituição financeira pelo facto de pertencer a um grupo. O programa interno de luta contra o branqueamento de capitais deve ser reduzido a escrito e validado pelo órgão deliberativo da instituição financeira antes da sua entrada em vigor.

465. Mais especificamente, de acordo com Artigo 17º da mesma Instrução, os bancos e estabelecimentos financeiros, devem, num prazo de dois meses a contar do fim do exercício, transmitir ao BCEAO e à Comissão Bancária, um relatório sobre a aplicação do dispositivo de luta contra o branqueamento de capitais. Este relatório deve conter várias informações que permitam determinar a qualidade e a profundidade dos controlos instaurados ao nível de cada estabelecimento, devendo:

- Descrever a organização e os meios do estabelecimento em matéria de prevenção e luta contra o branqueamento de capitais;

- Informar as acções de formação e de informação realizadas ao longo do ano transacto;

- Inventariar os controlos efectuados para se assegurar da boa execução e do respeito dos procedimentos de identificação da clientela, da conservação de dados, da detecção e da declaração de operações suspeitas;

- Divulgar os resultados das investigações, em especial no que respeita às fraquezas detectadas nos procedimentos e a seu respeito, bem como das estatísticas relativas à execução do dispositivo de declarações suspeitas;

- Assinalar, quando for o caso, a natureza das informações transmitidas a instituições terceiras, incluídas as que estão situadas fora do país de implantação;

- Elaborar uma cartografia das actividades suspeitas mais correntes indicando eventualmente a natureza e a forma das alterações observadas, no domínio do branqueamento de capitais;

- Apresentar as perspectivas e o programa de acções para o período seguinte.

466. A LCBC não determina, contrariamente às disposições da Directiva comunitária ABC, que os procedimentos de controlo interno relativos à luta contra o branqueamento dos capitais devem ter especialmente em conta as operações à distância.

467. Na prática, a equipa de avaliação verificou que só recentemente o sector bancário adoptou procedimentos, políticas e controlos internos para a prevenção do branqueamento de capitais e que os transmitiu aos seus empregados. Contudo, somente um programa de prevenção foi entregue à equipa de avaliação abrangendo, entre outros aspectos, o procedimento de

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identificação dos clientes, a manutenção de registos, a detecção de transacções suspeitas e não habituais e a obrigação de declaração.

Designação de um responsável pelo cumprimento e Acesso às informações (c. 15.1.1 e 15.1.2)

468. O Artigo 13º da LCBC estipula que as instituições financeiras devem designar responsáveis internos encarregues da aplicação dos programas de luta contra o branqueamento de capitais.

469. Em termos práticos, no âmbito do sector bancário, a equipa de avaliação foi informada pelos quatro bancos que existe em cada um deles um responsável pela aplicação e eficácia dos programas de luta contra o branqueamento de capitais que, em regra, está adstrito ao departamento de controlo interno (na maioria, os responsáveis foram nomeados há relativamente pouco tempo). Porém, no sector de seguros, esta designação ainda não teve lugar.

470. De acordo com as normas em vigor previamente descritas, o mencionado responsável do controlo deve ter acesso em tempo útil aos dados de identificação dos clientes e a outras informações que são da competência das medidas de diligência, às peças relativas às transacções e a outras informações relevantes.

Auditoria independente dos controlos internos para a prevenção do BC e do FT (c. 15.2)

471. De acordo com o Artigo 16º da Instrução nº 1/2007/RB, o programa interno de luta contra o branqueamento de capitais deve recair na competência e no campo de investigação de uma estrutura ou instância independente da que for encarregada da sua execução. Esta estrutura ou instância deve dar conta periodicamente dos controlos efectuados nesta matéria ao órgão deliberativo.

472. Não existe uma disposição idêntica para o sector de seguros, uma vez que esta Instrução não se aplica ao referido sector.

473. No entanto, na prática, e uma vez que estes departamentos foram constituídos há pouco tempo, verificou-se que os bancos ainda não dispõem de um sistema de auditoria, com recursos adequados e com independência funcional para verificar a conformidade (incluindo testes por amostragem) com os procedimentos, políticas e controlos em matéria de prevenção do branqueamento de capitais e do financiamento do terrorismo.

Formação contínua dos funcionários em matéria ABC/CFT (c. 15.3)

474. O Artigo 13º da LCBC estipula que os organismos financeiros devem elaborar programas de formação contínua do pessoal, no âmbito da prevenção do branqueamento de capitais. Por outro lado, a Instrução n.º 1/2007/RB inclui também disposições idênticas no seu Artigo 14º, ao referir que os organismos financeiros devem por em prática uma política de informação e de formação específica destinada ao todo o pessoal encarregue das operações susceptíveis de ser utilizadas num circuito do branqueamento de capitais e particularmente de todas as categorias de pessoal que tem contacto com a clientela”

475. Na prática, a maioria dos bancos com quem a equipa de avaliação se reuniu, informou que, pelo menos, os responsáveis internos encarregados da aplicação do programa de prevenção do branqueamento de capitais já tinham frequentado acções de formação neste âmbito. Alguns bancos referiram já ter realizado acções de sensibilização destinadas ao resto do pessoal, abrangendo principalmente os funcionários da caixa e gerentes de agência, enquanto que outros bancos referiram que já tinham sido aprovados os programas de formação nesta matéria.

476. Estas acções de sensibilização consistiram essencialmente na divulgação da LCBC, esclarecendo as obrigações existentes em matéria de prevenção do branqueamento de capitais.

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477. No entanto, não foi possível à equipa de avaliação esclarecer se as acções de formação ocorreram aquando do recrutamento do pessoal ou se inscrevem em programas de formação contínua.

Procedimentos na contratação dos funcionários (c. 15.4)

478. Não existem disposições que obriguem as instituições financeiras a disporem de mecanismos de escrutínio que assegurem padrões elevados de exigência na contratação de novos empregados.

479. Na prática, um dos bancos referiu que, para a contratação de empregados, tem sempre em conta o registo criminal além de serem realizados testes de esforço.

Elemento adicional — Independência do funcionário responsável pelo cumprimento das normas (c. 15.5)

480. Não existe qualquer disposição que determine que o responsável interno pela verificação do cumprimento das disposições da prevenção de branqueamento de capitais se encontra apto a agir de forma independente e a reportar ao nível hierárquico superior e ao conselho de administração.

481. É de sublinhar que, nos bancos, o responsável é em geral o funcionário responsável pelo controlo interno que tem também como função o cumprimento das normas preventivas.

Recomendação 22

Aplicação das medidas ABC/CFT às sucursais e filiais estrangeiras (c. 22.1, 22.1.1 e 22.1.2)

482. Esta matéria não é abordada explicitamente na LCBC ou na Instrução ou sequer em outros textos comunitários.

483. Deste modo, não existem disposições que obriguem as entidades financeiras a: (i) assegurar que as suas sucursais e filiais situadas no estrangeiro aplicam as medidas de prevenção do branqueamento de capitais e do financiamento de terrorismo de uma forma consistente com as que vigoram internamente e com as Recomendações do GAFI, na medida em que as leis e regulamentos locais (ou seja, as leis e regulamentos do país onde estão situadas) o permitam; e (ii) prestarem uma atenção especial para que este princípio seja observado pelas suas sucursais e filiais situadas em países que não aplicam ou que aplicam insuficientemente as Recomendações do GAFI.

484. E, no caso em que as disposições mínimas ABC/CFT do país e as dos países onde estão situadas as sucursais ou filiais sejam divergentes, não existe uma disposição que obrigue essas filiais e sucursais a aplicar os padrões mais elevados, na medida em que as leis e regulamentos do país onde estão situadas o permitam.

485. No decorrer das reuniões com os bancos, a equipa de avaliação foi informada de que as instituições financeiras guineenses não têm sucursais ou filiais no estrangeiro. No entanto, as leis que regem a actividade para todo o sector financeiro permitem a abertura de filiais e sucursias por essas instituições financeiras locais..

Obrigação de informar o supervisor do país de origem quando as sucursais ou as filiais estrangeiras não podem aplicar as medidas ABC/CFT (c. 22.2)

486. Não se encontra prevista nenhuma disposição que obrigue as instituições financeiras a informar as autoridades de supervisão do seu país sempre que uma filial ou sucursal situada noutro país não se encontre em condições de cumprir as medidas ABC/CFT adequadas por tal ser proibido pelas leis, regulamentos ou outras medidas locais (ou seja, as do país onde estão situadas).

Elemento adicional — Consistência das medidas CDD a nível de grupo (c. 22.3)

487. Este critério não está previsto no enquadramento jurídico da Guiné-Bissau.

3.8.2 Recomendações e comentários

Recomendação 15

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488. A Guiné-Bissau deve:

- Adoptar regulamentos para os sectores que não estão abrangidos pela Instrução nº 1/2007/RB em matéria de controlo interno ligado ao branqueamento de capitais, como é o caso do sector de seguros e das micro-finanças.

- Assegurar o cumprimento no que respeita às obrigações a que as instituições financeiras estão sujeitas.

- Definir obrigações em matéria de procedimento de contratação dos empregados.

Recomendação 22

- As instituições financeiras devem certificar-se que as suas sucursais e filiais estrangeiras cumprem as medidas de prevenção do branqueamento de capitais e do financiamento de terrorismo de modo consistente com as obrigações do país de origem e com as Recomendações do GAFI na medida em que as leis e os regulamentos locais o permitirem.

- As instituições financeiras devem prestar particular atenção ao facto de este princípio dever ser observado relativamente às suas sucursais e filiais nos países que não aplicam ou aplicam de forma insuficiente as Recomendações do GAFI.

- Quando as obrigações mínimas em matéria de ABC/CFT do país e as dos países onde estão situadas as sucursais ou filiais sejam divergentes, essas filiais e sucursais devem aplicar os padrões mais elevados, na medida em que as leis e regulamentos locais o permitam.

- As instituições financeiras devem informar o seu supervisor no país de origem quando uma sucursal ou filial estrangeira não pode cumprir as medidas de ABC/CFT apropriadas porque está proibida pelas leis e regulamentos locais.

3.8.3 Conformidade com as Recomendações 15 e 22

Avaliação Resumo dos factores que fundamentam a avaliação

R.15 PC • Inexistência de um dispositivo sectorial fora do sistema bancário, nomeadamente no sector de seguros e micro-finanças.

• Ausência de aplicação efectiva das obrigações de controlo interno em matéria de luta contra o branqueamento de capitais e o financiamento do terrorismo.

R.22 NC • As disposições em vigor não se aplicam às sucursais e filiais estrangeiras das instituições financeiras na Guiné-Bissau.

3.9 BANCOS DE FACHADA (SHELL BANKS) (R.18)

Page 99: Relatório de Avaliação Mútua - GIABA

3.9.1 Descrição e Análise

Proibição da constituição de bancos de fachada (c. 18.1)

489. Não existem disposições que interditem de forma directa o estabelecimento ou a continuação da actividade de bancos de fachada no território da Guiné-Bissau. De acordo com as autoridades da Guiné-Bissau, a necessidade de obter um licenciamento para a constituição de um banco e o exercício da respectiva actividade pressupõe que não é permitida a constituição de bancos de fachada.

Proibição do estabelecimento de relações de correspondência com bancos de fachada (c. 18.2)

490. Não existem disposições que interditem as instituições financeiras de iniciar ou manter relações de correspondência bancária com bancos de fachada.

Obrigação de cumprir a proibição, pelas instituições financeiras clientes, da utilização das contas por bancos de fachada (c. 18.3)

491. Não existem disposições que obriguem as instituições financeiras a assegurar que a instituição financeira correspondente num outro país não permite que as suas contas sejam utilizadas por bancos de fachada.

3.9.2 Recomendações e Comentários

492. As autoridades devem proibir o estabelecimento ou a continuação de relações bancárias de correspondência com bancos de fachada, bem como obrigar as instituições financeiras a certificar-se que as instituições financeiras clientes no país estrangeiro não permitem que as suas contas sejam utilizadas por bancos de fachada.

3.9.3 Conformidade com a Recomendação 18

Avaliação Resumo dos factores que fundamentam a avaliação

R.18 PC • Não existem disposições que proíbam o estabelecimento ou a continuação de relações bancárias de correspondência com bancos de fachada.

• Não existem disposições que interditem as instituições financeiras de iniciar ou manter relações de correspondência bancária com bancos de fachada.• Não existem disposições que obriguem as instituições financeiras a certificar-se que as instituições financeiras clientes no país estrangeiro não permitem que as suas contas sejam utilizadas por bancos de fachada.

REGULAMENTAÇÃO, SUPERVISÃO, ORIENTAÇÃO, VERIFICAÇÃO E SANÇÕES

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3.10 SUPERVISÃO E INSPECÇÃO — AUTORIDADES COMPETENTES E OAR: PAPEL, FUNÇÕES, OBRIGAÇÕES E PODERES (INCLUINDO A APLICAÇÃO DE SANÇÕES) (R.17, 23, 25 E 29)

3.10.1 Descrição e Análise

Recomendação 23

493. As instituições financeiras da Guiné-Bissau estão sujeitas a uma regulação e supervisão bancária. A regulamentação e a supervisão são organizadas e regulamentadas a nível da UEMOA não tendo a Guiné-Bissau autoridade directa sobre o seu sistema bancário. A nível interno e além dos instrumentos jurídicos comunitários vigora desde 2 de Dezembro de 1997 a Lei nº 10/97, que trata da regulamentação bancária.

494. Em matéria de controlo bancário, a lei-quadro da UEMOA, de 1 de Outubro de 1990 define a repartição das competências entre os órgãos de regulamentação e de controlo da actividade bancária assim como as condições das suas intervenções. Estabelece também uma distinção entre as funções de regulamentação e as de controlo e de poder sancionatório, por outro, entre os diferentes órgãos ou instituições: Conselho de Ministros, Ministros das Finanças, Banco Central e Comissão Bancária.

495. Nos termos do Artigo 44º da Lei nº 10/97, o Conselho de Ministros da UEMOA tem competência em matéria de regulamentação prudencial. Assim, relevam da sua competência os instrumentos e as regras da política do crédito bem como as normas de gestão aplicáveis aos bancos, como por exemplo a solvabilidade, divisão de riscos, liquidez e, extensivamente, as relativas à matéria do branqueamento de capitais e do financiamento do terrorismo.

496. No sector das micro-finanças compete ao Ministério das Finanças a supervisão das instituições autorizadas a exercer este tipo de actividades na Guiné-Bissau. No entanto, as instituições de micro-finanças não se podem opor aos controlos efectuados pela Comissão Bancária e pelo Banco Central da UEMOA.

497. O sector de seguros encontra-se sujeito à supervisão da Conferência Regional do Controlo de Seguros, que depende da Conferência Inter-africana dos Mercados de Seguros. No contexto desta última foi criado o quadro jurídico para o exercício da profissão a nível da UEMOA e, ao mesmo tempo, previstos o poder de regulamentação e o poder sancionatório.

498. Quanto aos mercados financeiros a supervisão compete ao Conselho Regional de Poupança Pública e dos Mercados Financeiros. Porém, não existe na Guiné-Bissau qualquer correspondente nacional ou intermediário autorizado.

Regulamentação e supervisão das instituições financeiras (R.23.1)

499. A LCBC define a lista das pessoas e entidades sujeitas às obrigações de prevenção do branqueamento de capitais, nomeadamente as instituições financeiras, que incluem, entre outros, os bancos e estabelecimentos financeiros, serviços financeiros dos Correios, as companhias de seguros, as instituições mutualistas ou cooperativas de poupança e de crédito e as agências de câmbio. No âmbito do sector de valores mobiliários, inclui os OPCVM, a Bolsa Regional dos Valores Móveis, o Depositário Central/Banco de Pagamento, as Sociedades de Gestão e de Intermediação e as Sociedades de Gestão de Património.

Designação da autoridade competente (c. 23.2)

500. Sector bancário: Os bancos e outros estabelecimentos financeiros estão sujeitos à supervisão da CB-UEMOA tal como decorre do Artigo 13º da Convenção que cria a Comissão Bancária da UEMOA, aprovada em 24 de Abril de 1990. O BCEAO

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tem igualmente um poder de supervisão autónomo de acordo com o parágrafo 2 do mesmo preceito, já que pode igualmente efectuar controlos por sua própria iniciativa. Além disso, de acordo com o Artigo 46º da Lei nº 10/97, os bancos e estabelecimentos financeiros não podem opor-se aos controlos efectuados pela Comissão Bancária e pelo Banco Central, de acordo com as disposições em vigor no território da República da Guiné-Bissau.

501. Através do Despacho nº 87/2007, do Ministério das Finanças, umas das funções da Direcção da Moeda, Crédito e Mercados Financeiros é participar na elaboração e na supervisão dos regulamentos relativos ao sector bancário e ao exercício dessas profissões. Não refere, no entanto, explicitamente a supervisão em matéria de prevenção do branqueamento de capitais.

502. Sector das micro-finanças: Os sistemas financeiros descentralizados estão sob alçada do Ministério das Finanças e, ao tempo da visita de avaliação, apenas existem as designadas micro-finanças. De acordo com o documento “Termos de referência das estruturas técnicas da CADESPC”, esta Célula incorpora um serviço que tem como função realizar inspecções e verificações periódicas ou numa base pontualmente junto das instituições de micro-finanças. Estas missões serão quase que sistemáticas (trimestrais) enquanto que as pontuais serão conduzidas por iniciativa da tutela (Ministério das Finanças/CADESPC) ou por instituições dos órgãos de controlo da UEMOA (BCEAO ou Comissão Bancária). Recorda-se que, nos termos do Artigo 46º da Lei nº 10/97, os estabelecimentos financeiros não podem opor-se aos controlos efectuados pela Comissão Bancária e pelo Banco Central.

503. Sector de Seguros: De acordo com Despacho nº 76/2007, a Direcção Geral de Supervisão de Seguros tem como função supervisionar o mercado de seguros e o respeito pela regulamentação, bem como, examinar os documentos remetidos pelas sociedades e os intermediários e efectuar todas verificações úteis nas sedes das companhias. Porém, não faz nenhuma referência expressa à prevenção do branqueamento de capitais. O sector de seguros está também sujeito à supervisão da Conferência Regional do Controlo dos Seguros (CRCA), que depende da Conferência Interafricana dos Mercados de Seguros (CIMA). A equipa de avaliação não teve qualquer contacto com representantes desta entidade, pelo que são desconhecidas as acções adoptadas na área de prevenção do branqueamento de capitais e do financiamento do terrorismo.

504. Sector dos Valores Mobiliários: o mercado financeiro regional é supervisionado pelo Conselho Regional de Poupança Pública e dos Mercados Financeiros (CREPMF), entidade de regulação e de supervisão da natureza supranacional. O facto de não ter nenhum representante ou intermediário autorizado na Guiné-Bissau levou a que não tivesse sido estabelecido qualquer contacto pela equipa de avaliação, desconhecendo-se quais as acções adoptadas na área de prevenção do branqueamento de capitais e do financiamento do terrorismo.

Critérios de competência e integridade (fit and proper) e prevenção da tomada do controlo das instituições pelos criminosos (c. 23.3 e 23.3.1)

505. A actividade bancária é objecto de uma regulamentação que restringe o exercício das funções a nível da administração ou da direcção às pessoas que apresentem garantias de moralidade. Assim, o Artigo 8º da Lei nº 10/97 (Regulamentação Bancária) determina que o BCEAO deverá obter todas as informações sobre a qualidade das pessoas que vão assegurar as entradas de capital e, eventualmente, sobre a qualidade das suas garantias, bem como a honorabilidade e a experiência das pessoas chamadas a dirigir, administrar ou gerir o banco ou o estabelecimento financeiro e respectivas agências.

506. Ainda de acordo com o Artigo 15º da mesma Lei, as pessoas são interditas de dirigir, administrar ou gerir um banco ou um estabelecimento financeiro ou uma das suas agências, de exercer uma das actividades definidas no Artigo 4º10

10 “Função habitual é efectuar em seu próprio nome operações de crédito, de venda a crédito ou de câmbio, ou que receberem habitualmente fundos que utilizam em seu nome em operações de investimento de capitais, ou que servem habitualmente de intermediários como comissionistas, correctores, ou outros, na totalidade ou em parte destas operações.”

da mesma Lei, de propor a criação de um banco ou estabelecimento financeiro, caso tenham sido sujeitas a toda e qualquer condenação por crime

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de direito comum, por falsificação ou utilização de falsificação, por roubo, por delapidação ou qualquer delito punido com as penas de delapidação, por abuso de confiança, por bancarrota, por desvio de fundos públicos, por extorsão de fundos ou de valores, por emissão de cheques sem provisão, por infracção à legislação sobre câmbios, por atentado ao crédito do Estado ou por receptação de bens obtidos graças a essas infracções, ou qualquer outra condenação assimilada pela lei. De sublinhar que mesmo a condenação por tentativa implica a referida interdição.

507. Na prática, os pedidos de aprovação devem ser dirigidos ao Ministro das Finanças e entregues ao BCEAO, encarregue da apreciação do pedido. Este Banco Central verifica se as pessoas singulares ou colectivas que apresentaram o pedido de aprovação satisfazem as condições e as obrigações previstas nomeadamente nos Artigos 14º e 15º da referida Lei. O BCEAO examina ainda a capacidade da empresa requerente para realizar os seus objectivos de desenvolvimento, em condições compatíveis com o bom funcionamento do sistema bancário e a suficiente segurança da clientela. No que diz respeito ao controlo da origem dos capitais, não existe um procedimento específico no BCEAO.

508. A equipa de avaliação não dispõe de qualquer informação sobre os critérios de competência e de integridade relativos ao sector de seguros.

Aplicação das normas prudenciais para fins de ABC/CFT (c. 23.4)

509. Não existe regulamentação específica que estabeleça que as medidas de regulação e de supervisão aplicáveis para fins prudenciais e que são também relevantes para o branqueamento de capitais, devam ser aplicadas de forma idêntica para fins de combate ao branqueamento de capitais e ao financiamento do terrorismo.

Licenciamento e supervisão dos serviços de transferência/câmbio de valores (c. 23.5 e 23.6):

510. As empresas de remessa ou transferência de valores, bem como os cambistas manuais, não estão sujeitas a licenciamento para o exercício da sua actividade. No entanto, estas empresas funcionam com base em acordos ou contratos com os bancos a operar na Guiné-Bissau, estando também sujeitas à supervisão para fins de prevenção do branqueamento de capitais e do financiamento do terrorismo.

Licenciamento e supervisão, para fins de ABC/CFT, de outras instituições financeiras (c. 23.7):

511. As demais instituições financeiras para além dos bancos (por exemplo, os sistemas financeiros descentralizados e as agências de câmbio) estão igualmente sujeitas a autorização prévia e à supervisão. Contudo, as condições de diligência que lhes são aplicáveis em matéria de branqueamento de capitais são insuficientes ou mesmo inexistentes no caso das micro-finanças e mesmo inexistentes, se falarmos nas agências de câmbio manual.

Recomendação 25

Orientações e retorno de informação (feedback) às instituições financeiras (c. 25.1 e 25.2)

512. No contexto do sector bancário e dos estabelecimentos financeiros, a única Instrução emitida pelo BCEAO foi a Instrução nº 1/2007/RB, de 2 de Julho de 2007, relativa à luta contra o branqueamento de capitais no âmbito das instituições financeiras. No entanto, esta Instrução é recente pelo que, durante vários anos, os bancos e estabelecimentos financeiros não dispunham de informações detalhadas sobre a forma de estarem em conformidade com as disposições em matéria de prevenção do branqueamento de capitais.

513. De acordo com o seu Artigo 3º, a Instrução aplica-se às seguintes instituições financeiras : (i) bancos e estabelecimentos financeiros; (ii) serviços financeiros dos Correios, assim como as Caixas de Depósitos e Consignações ou os organismos que realizam essas operações, dos Estados-membros; (iii) instituições mutualistas ou cooperativas de poupança e de crédito, assim como as estruturas ou organizações mutualistas ou cooperativas que têm como objecto a colecta da poupança e/ou a concessão de crédito; (iv) instituições autorizadas a praticar o câmbio manual. Em contrapartida, não é aplicável aos serviços de transferências de fundos.

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514. Este texto compreende as grandes linhas de orientação da LCBC, pelo que são descritas as disposições relativas às obrigações de diligência das instituições financeiras, em particular as normas de identificação, de conservação de documentos e de detecção de operações suspeitas, bem como as obrigações específicas de diligência reforçadas e as relativas às operações financeiras ocasionais e electrónicas. A Instrução determina ainda as obrigações relativas à declaração de operações suspeitas e à formação do pessoal. Por último, solicita aos organismos sujeitos que constituam uma célula anti-branqueamento e que transmitam ao BCEAO e à Comissão Bancária um relatório anual sobre a aplicação do dispositivo ABC.

515. A referida Instrução é merecedora de alguns comentários, uma vez que não precisa todas as disposições necessárias e em diferentes domínios. Relativamente à identificação dos clientes, a apenas se refere aos clientes pessoas singulares, nada constando relativamente à identificação das pessoas colectivas. Não determina igualmente como os estabelecimentos financeiros sujeitos se devem assegurar da identidade do titular de direito económico no caso de o cliente não actuar por própria conta. Também não estabelece o tipo de documento de identificação admitido, nem as medidas de diligência reforçada em relação a certas categorias de clientes, como os clientes não residentes e clientes estrangeiros.

516. Além disso, esta Instrução não dispõe de obrigações para os organismos financeiros obterem informações sobre o objecto e a natureza da relação de negócio nem sobre a necessidade de terem os processos dos clientes regularizados.

517. No domínio da aplicação das normas ABC pelas instituições financeiras, embora indique que devem criar programas internos de luta contra o branqueamento de capitais, a Instrução não esclarece sobre o que devem consistir estes programas, limitando-se a indicar que devem estar em conformidade com “as disposições legislativas e regulamentares em vigor nos Estados-membros da UEMOA”.

518. A Instrução contém ainda certas disposições que podem induzir as instituições financeiras sujeitas a uma certa confusão. Deste modo, no artigo 4º, estipula-se que a identificação dos clientes deve ter como base, nomeadamente, regras deontológicas precisas. Além destas regras deontológicas não estarem definidas, também não correspondem aos padrões do GAFI. Na mesma ordem de ideias, a Instrução refere que os organismos financeiros devem definir os tipos de clientes que não podem aceitar, sem mais indicação, pelo que a disposição acaba por não ter aplicação prática.

519. Perante as observações feitas, a equipa de avaliação conclui que o documento actualmente em vigor não estabelece linhas directrizes suficientes para auxiliar as instituições financeiras a aplicarem e a cumprirem os requisitos ABC/CFT.

520. No decorrer das reuniões mantidas com representantes do sistema financeiro descentralizado, constatou-se a ausência de directivas, orientações ou de linhas directrizes para ajudar estes sistemas a aplicarem e cumprirem os requisitos de ABC/CFT. No sector de seguros, a situação é também semelhante.

521. Em conclusão, com excepção do BCEAO, e a ausência de uma CENTIF operacional, ainda nenhuma autoridade competente da Guiné-Bissau forneceu informação às entidades do sector financeiro que recaem na respectiva alçada.

Recomendação 29

Poderes para verificar as obrigações ABC/CFT (c. 29.1) e de realizar inspecções (c. 29.2)

522. Sector bancário: A Guiné-Bissau como membro da UEMOA, não tem uma autoridade directa sobre o seu sistema bancário. Deste modo, a regulamentação e a supervisão são organizados no âmbito comunitário da UEMOA, através do BCEAO.

523. Em matéria de controlo bancário, o Banco Central dos Estados da África Ocidental partilha os seus poderes de controlo com a Comissão Bancária da UEMOA. Esta Comissão é a entidade competente para a supervisão e o controlo dos bancos e dos estabelecimentos financeiros a operar na Guiné-Bissau, sendo por isso responsável pela supervisão do cumprimento das disposições relativas à prevenção do branqueamento de capitais e do financiamento do terrorismo.

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524. A par com a Comissão Bancária da UEMOA, a Direcção da Moeda, Crédito e Mercados Financeiros, do Ministério das Finanças, é também responsável pela supervisão do sector financeiro bancário e das instituições financeiras estabelecidas na Guiné-Bissau em matéria de prevenção do branqueamento de capitais.

525. Sector das micro-finanças: Pelo facto de serem consideradas estabelecimentos financeiros, a Comissão Bancária é a entidade competente pela sua supervisão e controlo. Complementarmente, a Célula de Apoio ao Desenvolvimento da Economia Solidária – Poupança e Crédito (CADESPC), é também o serviço responsável pela supervisão do cumprimento das obrigações relativas ao combate ao branqueamento de capitais, considerando que as instituições de micro-finanças devem ser consideradas instituições financeiras, ao prestarem serviços desta natureza.

526. Sector de seguros: A Direcção-Geral de Supervisão de Seguros, é responsável pela aplicação da política nacional em matéria de seguros, tendo também como função verificar o cumprimento da legislação em matéria de prevenção do branqueamento de capitais nas companhias de seguros a operar na Guiné-Bissau.

527. Esta sobreposição de competências e o exercício conjunto de certas atribuições, em especial no domínio da supervisão, entre o Ministério das Finanças, o BCEAO e a Comissão Bancária poderá prejudicar a eficácia global em matéria de prevenção do BC/FT.

528. Em matéria de branqueamento de capitais, a verificação da conformidade dos organismos sujeitos para com as normas em vigor é da competência das autoridades competentes atrás referidas.

529. No entanto, na prática, a equipa de avaliação constatou que ainda não foram realizadas inspecções no âmbito do branqueamento de capitais e do financiamento do terrorismo.

Poderes adequados para obrigar à apresentação de documentos (c.29.3 e 29.3.1).

530. De acordo com o artigo 46º da Lei nº 10/97, os Bancos e estabelecimentos financeiros não podem opor-se aos controlos efectuados pela Comissão Bancária e pelo Banco Central, de acordo com as disposições em vigor no território da República da Guiné-Bissau.

531. Os poderes das autoridades de supervisão para obrigar à produção de, ou para obter o acesso com finalidades de supervisão não estão condicionados a uma decisão judicial.

532. As mesmas disposições conferem ao BCEAO poderes para avaliar a qualidade da supervisão exercida pelas instituições financeiras sobre as sucursais e filiais estrangeiras.

Poderes para executar e aplicar sanções (c. 29.4); designação da autoridade competente para aplicar sanções (c. 17.2)

533. O BCEAO é responsável por instruir os processos, propor e aplicar as sanções administrativas aplicáveis às instituições financeiras, sendo as mesmas executórias de pleno direito em todo o território da Guiné-Bissau, como resulta do Artº 48º da Lei nº 10/97. No que respeita ao sector das micro-finanças é da competência do Ministro das Finanças a aplicação das sanções.

Existência de sanções para a violação das obrigações ABC (c. 17.1 e 17.4)

534. A Lei nº 10/97, de 2 de Dezembro, aplicável aos bancos e estabelecimentos financeiros que exerçam a sua actividade na Guiné-Bissau, prevê também um conjunto de sanções de natureza disciplinar, a serem pronunciadas pela Comissão Bancária da UEMOA, de acordo com a Convenção que criou esta Comissão. Assim, resulta da conjugação dos Artigos 52º e 45º que os bancos e entidades financeiras estão sujeitos a sanções administrativas e penais sempre que violarem as decisões tomadas pelo Conselho de Ministros da UEMOA, o mesmo é dizer, sempre que violarem os instrumentos jurídicos comunitários relativos à prevenção do branqueamento de capitais e do financiamento do terrorismo.

535. As sanções previstas para as instituições financeiras em caso de violação da regulamentação bancária são a advertência, a censura, a suspensão ou a interdição de todas ou de algumas operações, bem como a limitação do exercício da profissão, a suspensão dos dirigentes e ainda a cassação da licença. Porém, a Convenção que Criou a comissão Bancária da UEMOA apenas prevê sanções pecuniárias para a violação das normas prudenciais, por exemplo, quando não sejam observadas as obrigações de

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diligência devida relativa à clientela. Assim, entende a equipa de avaliação que as sanções aplicáveis aos bancos e estabelecimentos financeiros não são dissuasivas.

536. No que respeita ao sector das micro-finanças, regulado pela Lei nº 11/97, de 2 de Dezembro, encontram-se previstas sanções disciplinares, pecuniárias ou penais, sendo competente para a respectiva aplicação das sanções administrativas o Ministro das Finanças. Porém, as sanções disciplinares aplicadas em relação aos órgãos financeiros serão determinadas pela comissão Bancária. No entanto, este diploma é omisso em relação à violação dos deveres de diligência, sobretudo os ligados à prevenção do branqueamento de capitais e do financiamento do terrorismo, o que significa que as sanções existentes não podem ser consideradas dissuasivas.

537. É no Artigo 35º da LCBC que encontramos a previsão da aplicabilidade de sanções administrativas e disciplinares a todas as pessoas e entidades previstas no seu Artigo 5º - a saber o próprio BCEAO, o Tesouro público e as instituições financeiras e outras entidades financeiras como as agências de câmbios e o sector das micro-finanças – pela prática de um erro grave de diligência, quer de uma carência na organização dos procedimentos internos de controlo que conduza a que não sejam respeitadas as disposições de prevenção do branqueamento de capitais (Artigos 7º a 15º) bem como o dispostos nos Artigos 26º e 27º, sobre o envio de DOS, remetendo para as sanções previstas nos textos legislativos e regulamentares específicos em vigor.

538. Porém, tal como atrás descrito, os demais textos legislativos e regulamentares em vigor, seja para as instituições financeiras, seja para o sector de micro-finanças não definem sanções para a violação dos deveres de prevenção do branqueamento de capitais e, também para o financiamento do terrorismo.

Aplicação das sanções aos directores e gestores das instituições financeiras (c. 17.3)

539. A Lei bancária comunitária não prevê a aplicação de sanções aos dirigentes das instituições financeiras. No entanto, a Lei nº 10/97 prevê um conjunto de disposições na matéria, nomeadamente a interdição do exercício de cargos dirigentes ou de trabalhar nestas instituições. Também a Lei nº 11/97, relativa ao sector das micro-finanças, inclui um conjunto de sanções aplicáveis dos dirigentes destas instituições. Ambos os diplomas citados são omissos em matéria de prevenção do branqueamento de capitais e de financiamento do terrorismo.

540. A LCBC prevê a aplicação de sanções de natureza penal aos directores das pessoas singulares e colectivas previstas no seu Artigo 5º - entre outras, as instituições financeiras e outras entidades financeiras como as agências de câmbios e o sector das micro-finanças – que se traduzem na pena de prisão de 6 meses a 2 anos e uma pena de multa de 100.000 FCFA a 1.150.000 FCFA ou apenas uma destas duas penas quando violadas certas obrigações.

Adequação dos recursos das autoridades competentes (c. 30.1)

541. Sector bancário e de micro-finanças: Não foi possível obter informações detalhadas sobre a estrutura da Comissão Bancária, sedeada na Costa do Marfim. Contudo, quanto à direcção nacional do BCEAO na Guiné-Bissau, apenas três elementos estão destacados para acompanhar a área da supervisão, que envolve igualmente o combate ao branqueamento de capitais.

542. No decorrer das reuniões que tiveram lugar, a equipa de avaliação foi informada de que as equipas de inspecção são usualmente compostas por quatro elementos da Comissão Bancária, integrando mais dois elementos da direcção nacional do BCEAO. A última inspecção na Guiné-Bissau ocorreu em 2006 e não abrangeu directamente as questões ligadas à prevenção do branqueamento de capitais.

543. A Direcção da Moeda, Crédito e Mercados Financeiros, recentemente criada, apenas dispõe de um elemento.

544. A CADESP é constituída por oito técnicos superiores e três administrativos para um total de 18 micro-finanças autorizadas. No entanto, a equipa de avaliação apercebeu-se de que, na realidade, devem existir cerca de 100 entidades desta natureza em todo o país.

545. Sector de seguros: A Direcção-Geral de Supervisão de Seguros é constituída por quatro elementos e, embora tenha sido instituída recentemente, a sua criação foi deliberada a 25 de Julho de 2007 (Despacho nº 76/2007, do Ministério das Finanças).

546. Na opinião da equipa de avaliação, além das autoridades de aplicação da lei também as autoridades de supervisão envolvidas no combate ao branqueamento de capitais e ao financiamento do terrorismo não parecem estar adequadamente estruturadas, financiadas, dotadas de pessoal e de recursos técnicos e outros suficientes para exercer correctamente as suas funções.

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Integridade das autoridades competentes (c. 30.2)

547. Não foram encontradas disposições que determinem que o pessoal das autoridades de supervisão competentes deve adoptar e manter padrões profissionais elevados, incluindo regras sobre confidencialidade, bem como dar provas duma grande integridade e da existência de competências adequadas.

Formação das autoridades competentes (c. 30.3)

548. A equipa de avaliação teve conhecimento que o pessoal do BCEAO teve formação adequada e relevante para a prevenção e o combate ao BC e ao FT, facultada pelo Governo dos EUA

549. No entanto, a formação do pessoal da CADESPC, da Direcção-Geral de Supervisão de Seguros e da Direcção da Moeda, Crédito e Mercados Financeiros, no âmbito da prevenção do branqueamento de capitais, é praticamente inexistente. A este respeito, a equipa de avaliação constatou a falta de acções de sensibilização e de formação nesta matéria, que surge como nova e ainda mal apreendida por todas as autoridades do sector financeiro.

Existência de estatísticas (aplicação da Recomendação 32)

550. Não foram fornecidas à equipa de avaliação quaisquer estatísticas sobre questões relevantes para a eficácia e a eficiência do sistema de combate ao branqueamento de capitais e ao financiamento do terrorismo, nomeadamente relativas às inspecções realizadas e às sanções aplicadas.

3.10.2 Recomendações e Comentários

551. Considerando que a supervisão do sector financeiro é feita ao nível comunitário (bancos, agências de câmbio e outros estabelecimentos financeiros) mas também ao nível da Guiné-Bissau (nomeadamente, as micro-finanças), são formuladas uma série de recomendações que se dirigem tanto às autoridades guineenses como às regionais.

552. A nível regional, a Comissão Bancária bem como o BCEAO devem assegurar-se da aplicação na íntegra dos textos comunitários (LCBC, Instrução BCEAO nº 1/2007/RB) e dos nacionais no sector bancário. Assim, as autoridades de supervisão regionais deveriam reforçar o pessoal de forma a fazer face à função adicional relativa à prevenção do branqueamento de capitais e do financiamento do terrorismo, sendo por isso indispensável que esse pessoal tenha uma formação adequada. A criação de instrumentos de metodologia para inspecções presenciais é fortemente recomendada, de forma a promover uma supervisão baseada no risco e não apenas na simples conformidade com a lei.

553. Afigura-se igualmente importante rever os mecanismos de divulgação dos textos junto das instituições financeiras, de modo a garantir uma divulgação rápida e exaustiva da regulamentação ABC/CFT a todas as entidades sujeitas à LCBC.

554. A nível da Guiné-Bissau, devem ser promovidas acções de sensibilização e de formação com a maior brevidade possível, relativamente as micro-finanças e companhias de seguros. Estes sectores não têm conhecimento dos textos relativos ao branqueamento de capitais e aos riscos que lhe estão associados. Tendo em conta as quantias geridas pelas instituições de micro-finanças e as fraquezas dos mecanismos de controlo, quer interno quer externo, torna-se necessária uma mobilização das autoridades de controlo e das próprias micro-finanças a fim de ser feita uma adaptação rigorosa das obrigações de ABC/CFT.

555. A LCBC deve ser integralmente aplicada, incluindo o seu regime sancionatório sempre que exista uma violação das obrigações de prevenção do branqueamento de capitais.

556. O regime sancionatório deve ser alargado à violação das obrigações de prevenção do financiamento do terrorismo. Além disso este regime sancionatório deve ser clarificado, harmonizando as disposições da LCBC com as Leis nº 10/97 e nº 11/97 e com a própria legislação comunitária, de modo a que este regime seja proporcionado, eficaz e dissuasor.

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3.10.3 Conformidade com as Recomendações 17, 23, 25 e 29

Avaliação Resumo dos factores relevantes para a Secção 3.10

que fundamentam a avaliação geral

R.17 PC • Encontram-se previstas na LCBC sanções aplicáveis às pessoas singulares e colectivas mas a ausência de uma imposição efectiva dessas sanções não permite avaliar a respectiva eficácia.

• O regime de sanções previsto nos vários instrumentos jurídicos em vigor não se encontra harmonizado, de modo a facilitar a sua aplicação e a permitir que seja eficaz, proporcionado e dissuasor.

• O regime sancionatório em vigor não se aplica à violação das obrigações de prevenção do financiamento do terrorismo.

R.23 NC

• As regras relativas ao controlo dos critérios de aptidão e de moralidade dos directores e gerentes das companhias de seguros não estão estabelecidas.

• Não existem procedimentos específicos relativos ao controlo da origem lícita dos capitais para a criação de um banco ou de qualquer outro organismo financeiro como uma instituição de micro-finanças, bem como não existem procedimentos para verificar quem são os beneficiários efectivos.

• As condições de diligência em matéria de BC aplicáveis ao sectores bancário, de micro-finanças e de seguros são insuficientes, ou mesmo inexistentes.

• Não existem disposições específicas que estabeleçam que as medidas de regulação e de supervisão aplicáveis para fins prudenciais, também relevantes para o branqueamento de capitais devam ser aplicadas de forma idêntica para fins ABC/CFT.

• As empresas de remessa ou de transferência de valores não estão sujeitas a licenciamento ou registo para o exercício destas actividades.

R.25 NC • A Instrução do BCEAO nº 1/2007/RB não foi difundida por todos os destinatários.

• A referida Instrução contém imprecisões e não contempla todos os elementos de informação que permitam aos organismos financeiros aplicarem e cumprirem as obrigações ABC.

• Não existem orientações no âmbito do ABC para o sector dos seguros nem para o sector das micro-finanças.

• Inoperacionalidade da CENTIF, o que inviabiliza o retorno de informação às instituições financeiras que enviem DOS.

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R.29 NC • Os controlos ABC exercidos pela Comissão Bancária nos bancos são insuficientes, apresentando uma falta de rigor.

• A supervisão exercida no sistema financeiro descentralizado e nas companhias de seguros apresenta várias deficiências e não abrange a matéria relativa ao BC e ao FT.

• A ausência de aplicação efectiva de sanções no quadro da supervisão do BCEAO não permite avaliar a eficácia desta supervisão.

R.30 NC • Os meios e recursos atribuídos as autoridades de controlo e de supervisão são insuficientes.

• Inexistência generalizada de formação específica em matéria ABC/CFT das entidades responsáveis pela supervisão e fiscalização.

3.11 SERVIÇOS DE REMESSA DE VALORES OU DE DINHEIRO (RE.VI)

3.11.1 Descrição e Análise

557. As operações de remessa de valores ou de dinheiro na Guiné-Bissau devem ser realizadas através das instituições financeiras bancárias, que estão devidamente licenciadas e sujeitas a supervisão prudencial pelo BCEAO. Tal significa que as remessas informais ou os sistemas alternativos de remessas de valores ou de dinheiro se afiguram como ilegais.

558. No entanto, a prática habitual é a de os bancos, seja por acordo ou por contrato, transferirem este tipo de operações para as empresas como a Western Union ou MoneyGram que funcionam fisicamente no interior ou ao lado das agências bancárias, com excepção de uma empresa desta natureza.

559. O número destas empresas prestadoras de serviços de remessa de valores ou de dinheiro é reduzido. Não foi possível à equipa de avaliação conhecer a taxa de cobertura do mercado ou o volume de negócios destas empresas, tendo sido obtida informação de que, em grande parte, estas remessas ou transferências de valores ou de fundos são feitas com recurso a esquemas alternativos e informais.

Registo ou autorização (c. VI.1)

560. As empresas de remessas de valores ou de dinheiro, ao prestarem serviços de natureza financeira e se encontrarem vinculadas às instituições bancárias, encontram-se sujeitas às disposições da LCBC. No entanto, a equipa de avaliação tomou conhecimento de que não estão sujeitas a qualquer autorização ou se encontram registadas junto de uma autoridade competente, com excepção de uma empresa (SOFIP) que foi autorizada a exercer a actividade de remessa de valores e a transferência electrónica de fundos, por despacho do Ministério das Finanças.

Aplicação das Recomendações do GAFI (c. VI.2)

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561. Ao prestarem serviços de natureza financeira, as Recomendações do GAFI (4-11, 13-15, 21-23 e 9 RE) são aplicáveis às empresas de remessas de valores ou de dinheiro. De acordo com o representante do BCEAO na Guiné-Bissau, no quadro da supervisão efectuada aos bancos é verificada a aplicação das referidas Recomendações.

562. Porém, não foi possível à equipa de avaliação verificar se estas Recomendações (4-11, 13-15, 21-23 e 9 RE) são efectivamente aplicadas, o que não permite avaliar se procedimentos como a identificação dos clientes, fundamentais em termos de prevenção do branqueamento de capitais e do financiamento do terrorismo, se encontram em vigor.

Monitorização dos operadores de serviço de transferência de valores (c. VI.3)

563. Não são conhecidas actividades de supervisão ou de fiscalização da actividade das empresas de remessa de valores ou de fundos. No entanto, sendo certo que a responsabilidade última pelas remessas ou transferências de fundos recai nos bancos, únicas entidades a exercer tal actividade, pelo que o BCEAO tem os necessários poderes de supervisão nesta área.

Agentes das empresas de remessas de valores ou de fundos (c.VI.4) e Sanções (c. VI.5)

564. Não é conhecida nenhuma lista de agentes de empresas de remessa de valores ou de fundos.

565. Além disso, não são conhecidas sanções que tenham sido aplicadas pelas autoridades de supervisão a estas empresas, seja directamente ou através dos bancos junto dos quais operam, por violação das disposições de prevenção do branqueamento de capitais e de financiamento do terrorismo.

Elemento adicional

566. Não existe informação disponível sobre se as medidas previstas no documento sobre as boas práticas na Recomendação Especial VI foram aplicadas, embora seja convicção da equipa de avaliação de que tal não tenha sido feito pelas empresas de remessa de valores ou de fundos a operar na Guiné-Bissau.

3.11.2 Recomendações e Comentários

567. As autoridades devem procurar que as empresas de remessa de valores ou de fundos se conformem com as obrigações de prevenção do branqueamento de capitais e do financiamento do terrorismo.

568. A par da emissão de orientações e informação que ajude estas empresas de remessa de valores ou de fundos a aplicar as disposições ABC/CFT, as autoridades devem também promover o seu registo e proceder à supervisão destas entidades, seja directamente, seja no quadro das actividades de supervisão que são realizadas junto dos bancos.

569. As autoridades competentes, nacionais e comunitárias, devem também realizar uma avaliação dos riscos que as actividades de remessa de valores ou de fundos representam para determinar a sua vulnerabilidade ao BC/FT.

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3.11.3 Conformidade com a Recomendação Especial VI

Avaliação Resumo dos factores que fundamentam a avaliação

RE.VI NC • A legislação em vigor não exige a autorização ou o licenciamento para o exercício da actividade de remessa de valores ou de fundos.

• Inexistência de controlo e de supervisão das actividades das empresas de remessa de valores ou de fundos.

• As disposições da RE VI não foram implementadas pelas empresas de remessa de valores ou de fundos.

• Inexistência de sanções por não aplicação das disposições de prevenção do BC e FT.

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MEDIDAS PREVENTIVAS — ACTIVIDADES E PROFISSÕES NÃO FINANCEIRAS DESIGNADAS

DILIGENCIA RELATIVA A CLIENTELA E CONSERVAÇÃO DE DOCUMENTOS (R.12)

(aplicação das R.5, 6 e 8 a 11)

Descrição e Análise

Recomendação 12

570. O Artigo 5º da LCBC faz aplicar a qualquer pessoa singular ou colectiva que, no quadro da sua profissão, realize, controle ou aconselhe operações que conduzam a depósitos, câmbios, financiamentos, conversões ou quaisquer outros movimentos de capitais ou de bens, as disposições dos Títulos II e III, respectivamente sobre a prevenção e a detecção do branqueamento de capitais.

571. Assim, enquadram-se no campo de aplicação pessoal da referida Lei os membros das profissões jurídicas independentes, quando representam ou assistem clientes fora de qualquer procedimento judiciário, nomeadamente no quadro da: compra e venda de bens, de empresas comerciais ou de fundos de comércio; da manipulação de dinheiro, de títulos ou de outros activos que pertençam ao cliente, da abertura ou gestão de contas bancárias, de poupança ou de títulos; constituição, gestão ou administração de empresas, de entidades sem personalidade jurídica (trusts) ou estruturas semelhantes, ou realização de outras operações financeiras.

572. As demais actividades e profissões não financeiras abrangidas pela Lei são ainda os corretores, os auditores, os agentes imobiliários, os vendedores de artigos de valor elevado tais como objectos de arte, pedras ou metais preciosos, os transportadores de fundos, as agências de viagens, os proprietários, directores e gerentes de casinos e estabelecimentos de jogos, incluindo as lotarias nacionais e as organizações não governamentais.

573. Com excepção dos prestadores de serviços a sociedades e a entidades sem personalidade jurídica (trusts), este conjunto de actividades e profissões não financeiras encontra-se em conformidade com o disposto nas Recomendações do GAFI. De referir, no entanto, que de acordo com as informações colhidas pela equipa de avaliação não existem indivíduos a prestar serviços a sociedades e a entidades sem personalidade jurídica (trusts) como uma forma distinta de actividade comercial.

574. Além do previsto nas Recomendações do GAFI, a LCBC vai mais longe, fazendo aplicar as disposições em matéria de prevenção e de repressão do branqueamento de capitais aos transportadores de fundos, agências de viagens, aos vendedores de máscaras e quadros e ainda às ONGs e às lotarias.

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575. Uma palavra também para as profissões jurídicas independentes, no caso, em relação aos notários, já que são funcionários públicos e, como tal, estão excluídos do campo de aplicação da Lei, embora se encontrem vinculados, nos termos da legislação interna, a denunciar todos os crimes de que tenham conhecimento no exercício das suas funções ou por causa delas.

Condições de aplicação da Recomendação 5 às APNFDs (c.12.1)

576. Nos termos da Recomendação 12, devem ser aplicáveis às APNFDs previstas na LCBC o dever de vigilância relativo à clientela e o dever de conservação de documentos, ao mesmo tempo que devem existir sanções, aplicáveis nos casos de violação do cumprimento dos referidos deveres. No entanto, emergem da leitura do referido instrumento jurídico algumas dificuldades de interpretação pois os Artigos 7º, 8º, 9º e 10º fazem restringir a sua aplicação apenas aos organismos financeiros.

577. Embora possa ser feita uma leitura ampla daquelas disposições, sobretudo porque o Artigo 5º indica claramente que as disposições dos Títulos II e III são também aplicáveis às APNFDs, é aspecto que merece uma clarificação do legislador.

578. Neste pressuposto, são entendidos como aplicáveis a estas actividades e profissões os deveres de respeito pela regulamentação dos câmbios (Artigo 6º), de identificação de clientes incluindo os ocasionais (Artigos 7º e 8º), de identificação do titular de um direito económico (Artigo 9º), de vigilância particular de certas operações (Artigo 10º), de conservação de documentos (Artigo 11º) e de comunicação de peças e documentos (Artigo 12º), a que acresce também o dever de comunicação de operações suspeitas, plasmado no Artigo 26º.

579. A autoridade para regulamentar e fiscalizar a conformidade com as obrigações de combate ao branqueamento de capitais pelas APNFDs encontra-se repartida por vários Ministérios – (i) Finanças, (ii) Comércio, Indústria e Artesanato, (iii) Turismo e Ordenamento do Território e (iv) Interior -, apesar de não ter havido qualquer preparação para a entrada em vigor e sensibilização para as obrigações que decorrem desta Lei, de ainda não ter aprovado e circulado nenhum regulamento ou orientação, nem ter sido delineada e iniciada a monitorização em matéria de BC/FT das actividades e profissões abrangidas.

580. Além disso, a LCBC é omissa quanto à possibilidade de o poder sancionatório pela violação dos deveres nela consagrados ser exercido pelos organismos de auto-regulação (OAR), no caso concreto a Ordem dos Advogados e a Ordem Nacional dos Técnicos Oficiais de Contas (ORNATOC-GB).

Análise do âmbito de aplicação da lei

581. Além dos deveres já enunciados, a Lei prevê no Artigo 15º um dever específico para os casinos e estabelecimentos de jogos, que recai nos seus gerentes, proprietários e directores.

582. Assim, as pessoas atrás identificadas devem justificar junto da autoridade pública, desde a data do pedido de autorização da abertura, a origem lícita dos fundos necessários à criação do estabelecimento.

583. Acresce ainda que devem assegurar-se da identidade dos frequentadores, mediante exibição de um bilhete de identidade nacional ou de qualquer outro documento original que inclua uma fotografia, no qual se indiquem o lugar e a data de validade, devendo ser conservada uma cópia da identificação dos frequentadores que comprem, forneçam ou troquem fichas de jogos numa quantia superior ou igual a um milhão (1.000.000) de francos CFA ou cujo contravalor seja superior ou igual a esta quantia;

584. Devem também manter num registo especial, por ordem cronológica, todas as operações atrás referidas, a sua natureza e montante, com indicação dos apelidos, nomes dos jogadores, assim como do número do documento apresentado, mantendo este registo durante dez (10) anos após a última operação registada;

585. Devem ainda manter por ordem cronológica, informação sobre todas as transferências de fundos efectuadas entre casinos e estabelecimentos de jogos num registo especial, mantendo este registo durante dez (10) anos após a última operação registada.

586. Se o casino ou o estabelecimento de jogos for controlado por uma pessoa colectiva que possua várias filiais, as fichas de jogo devem identificar a filial para a qual foram emitidas. Em caso algum, as fichas de jogo emitidas por uma filial podem ser

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reembolsadas por uma outra filial que não seja aquela situada quer no território nacional, quer num outro Estado membro da UEMOA ou num Estado terceiro.

587. Embora a equipa de avaliação tenha sido informada da concessão de uma licença para abertura de um casino pelo Ministério do Turismo e Ordenamento do Território, não foi possível verificar se o mesmo se encontrava em funcionamento. O mesmo se passa em relação a outros estabelecimentos de jogos e lotarias nacionais e aos casinos na internet, sendo a LCBC omissa em relação a estes últimos.

588. A profissão de técnico oficial de contas é uma profissão independente que apenas pode ser exercida desde que reunidos o conjunto de requisitos previstos nos Estatutos da ORNATOC-GB, aprovados pelo Decreto nº 1/2007, de 30 de Abril. De acordo com o seu Artigo 5º, os TOC dividem-se em revisores oficiais de contas, contabilistas acreditados e estagiários.

589. É revisor oficial de contas aquele que rever, apreciar e verificar as contas das empresas e organismos com os quais não está ligado mediante um contrato de trabalho; certificar a regularidade, a sinceridade e a fidelidade das demonstrações financeiras das empresas e organismos de acordo com as disposições aplicáveis; exercer as funções próprias de revisor, nomeadamente avaliar as empresas em caso de fusão, cisão, cessação, absorção, avaliação parcial do activo e aumento de capital; efectuar a análise das contas e auditorias financeiras, podendo ainda desempenhar outras tarefas, como as de árbitro e de mandatário judicial em matéria contabilística, as de liquidatário ou de administrador provisório e, de uma forma geral, dar conselhos ou fazer recomendações em matéria jurídica e fiscal, de gestão ou de organização.

590. A prévia inscrição na ORNATOC-GB é um requisito obrigatório para o exercício da profissão, sendo que esta entidade apenas possui competência disciplinar sobre os seus membros, em caso de violação dos deveres consagrados nos Estatutos. É nos Artigos 40º e 41º da LCBC que se encontram previstas as sanções a aplicar aos TOC em caso de violação dos deveres nela plasmados.

591. A profissão de advogado encontra-se regulada no Estatuto da Ordem dos Advogados da Guiné-Bissau, sendo exercida essencialmente a nível individual, embora esteja prevista a possibilidade de constituição de sociedades de advogados.

592. Os candidatos ao exercício desta profissão liberal devem possuir uma licenciatura em Direito e cumprir um estágio obrigatório no escritório de um advogado já inscrito na Ordem. Antes da criação da Faculdade de Direito de Bissau a grande maioria dos candidatos à advocacia era formada em países estrangeiros, nomeadamente em Portugal e no Senegal.

593. A Ordem dos Advogados conta, à data da visita da equipa de avaliação, com 98 inscritos, sendo 60 advogados e 38 advogados estagiários. Exerce uma actividade reguladora e fiscalizadora do exercício da profissão, tendo competência em matéria disciplinar, nomeadamente para a promoção da acção disciplinar e a aplicação de sanções, que incluem a advertência, a suspensão do exercício a profissão e mesmo a expulsão. No entanto, a falta de recursos de diferente natureza leva a que o controlo da prática da profissão, sobretudo ao nível da deontologia profissional, e a imposição de sanções seja praticamente inexistente.

594. As sanções aplicáveis aos advogados pela violação dos deveres a que estão obrigados em matéria de prevenção e detecção do branqueamento de capitais encontram-se previstas nos Artigos 40º e 41º da LCBC.

595. Os agentes imobiliários, que estão sujeitos a licenciamento para o exercício da profissão, encontram-se também abrangidos pela LCBC sempre que intervenham na compra e venda de propriedade imobiliária e, bem assim, quando realizem, controlem ou aconselhem operações que conduzam a depósitos, câmbios, financiamentos, conversões ou quaisquer outros movimentos de capitais ou de bens.

596. De acordo com as informações obtidas pela equipa de avaliação existem apenas duas agências imobiliárias, uma ligada ao ramo da construção civil e outra cujo objecto é também alargado às viagens e turismo. Os contactos mantidos revelam que os seus representantes não têm conhecimento ou acesso às questões da prevenção do BC/FT embora tenham referido que todas as compras e vendas de propriedade imobiliária são realizadas através de escritura pública e o valor da compra é obrigatoriamente liquidado através dos bancos, não existindo a possibilidade de pagamento em espécie.

597. Além desta agência imobiliária que se dedica também às viagens e turismo, a equipa de avaliação pode constatar que desenvolvem esta última actividade na cidade de Bissau pelo menos mais três agências de viagens. O exercício desta actividade encontra-se sujeito a autorização do Ministério do Turismo e do Ordenamento do Território.

598. No que concerne aos vendedores de bens de valor elevado, nomeadamente de objectos de arte, de pedras e de metais preciosos, embora sujeitos à LCBC, não foi possível à equipa de avaliação manter contactos com representantes ou mesmo com pessoas que exercem esta profissão, desconhecendo-se, em absoluto, qual o seu peso em termos numéricos e de volume de negócios na Guiné-Bissau, já que se trata de uma actividade que não se encontra organizada.

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599. Quanto aos transportadores de fundos, a equipa de avaliação apenas obteve a informação de que existem em Bissau duas empresas de segurança privada, estando uma delas autorizada a realizar a actividade de transporte de fundos, devidamente autorizada pelo Ministério do Interior. Na ausência de contacto com representantes desta actividade, não foi possível recolher mais elementos sobre as questões ligadas à prevenção e repressão do BC/FT.

600. Também as ONGs estão abrangidas pela Lei, numa dupla vertente, ou seja, enquanto prestadoras de serviços de micro-finanças e sempre que realizem, controlem ou aconselhem operações que conduzam a depósitos, câmbios, financiamentos, conversões ou quaisquer outros movimentos de capitais ou de bens. O contacto da equipa de avaliação com a PLACOM, Plataforma das ONGs da Guiné-Bissau permitiu constar que existem 123 organizações deste tipo legalizadas, sendo que as que exercem actividades de micro-crédito obtiveram autorização junto do Ministério das Finanças.

601. A LCBC não inclui no seu Artigo 5º os prestadores de serviços a sociedades e a entidades sem personalidade jurídica (trusts). Relativamente a estes últimos, a lei nacional não contempla a possibilidade de ser constituídos na Guiné-Bissau nem admite a possibilidade de reconhecimento dos que foram constituídos no estrangeiro. Quanto aos prestadores de serviços a sociedades, os mesmos podem ser assegurados por advogados ou técnicos oficiais de contas, também no quadro da sua actividade de auditoria.

Aplicação das Recomendações 6 e 8-11 às APNFDs (c. 12.2)

602. Os comentários já apresentados para as instituições financeiras relativamente à ausência de regulamentação sobre as pessoas politicamente expostas, a que alude a Recomendação 6, e sobre as novas técnicas ou as técnicas em desenvolvimento que favorecem o anonimato, previstas na Recomendação 8, são também aplicáveis em relação às APNFDs.

Recomendações e Comentários

603. O quadro jurídico e regulamentar que defina os deveres das actividades e profissões não financeiras é praticamente inexistente e insuficiente, tal significando que as obrigações de diligência devida são muito limitadas. Acresce ainda o facto de as autoridades responsáveis pela monitorização ou fiscalização do cumprimento destas obrigações pelas APNFDs nada terem feito para dar cumprimento à LCBC, algumas delas desconhecendo a existência desta legislação. Em relação ao financiamento do terrorismo, a não transposição da Directiva nº 04/CM/UEMOA/2007 conduz a um vazio em termos de prevenção deste tipo de criminalidade.

604. Assim, as APNFDs devem ter em conta o risco que representam as PEP e dispor de mecanismos específicos que lhes permitam saber se um determinado cliente, um cliente potencial ou o beneficiário efectivo se enquadram naquela categoria. Além disso, devem adoptar medidas que lhes permitam identificar a origem do património e dos fundos dos clientes e dos beneficiários efectivos identificados como PPE, procedendo a uma diligência reforçada e contínua das suas relações comerciais ou profissionais com estas PPE.

605. Devem também adoptar as medidas necessárias para prevenir a utilização indevida das novas tecnologias para fins de BC/FT. Além disso, devem ser reguladas as condições em que o recurso a terceiros e intermediários é autorizado, clarificando também sobre quem recai a responsabilidade de dar execução ao dever de identificação nas situações em que estes terceiros ou intermediários intervenham. As APNFDs devem também passar a conferir uma atenção especial a todas as operações complexas, de montante anormalmente elevado e a todo o tipo não habitual de operações, a fim de prevenir o BC e o FT.

Conformidade com a Recomendação 12

Avaliação Resumo dos factores que fundamentam a avaliação

R.12 NC • A LCBC não foi devidamente implementada na ordem jurídica interna.

• As disposições legais em vigor não se aplicam ao FT mas apenas ao BC.

• As autoridades responsáveis pela monitorização ou fiscalização do cumprimento dos deveres consagrados na LCBC não emitiram quaisquer orientações ou

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regulamentação destinadas a facilitar a aplicação do diploma legal.

• Não existem mecanismos de diligência devida que permitam identificar as PPE e os beneficiários efectivos.

• Não existem medidas que permitam identificar a origem do património e dos fundos

dos clientes e dos beneficiários efectivos identificados como PPE.

• Não existe qualquer controlo e fiscalização das actividades dos vendedores de bens de elevado valor, nem os mesmos estão sujeitos a qualquer limiar, acima do qual as transacções não podem ser feitas com recurso a numerário, tal como previsto nas Recomendações do GAFI.

• Não existem medidas necessárias para prevenir a utilização indevida das novas

tecnologias para fins de BC/FT

• Não existem orientações no sentido de ser dada uma atenção às operações complexas,

de montante anormalmente elevado e a todo o tipo não habitual de operações, a fim de prevenir o BC/FT.

• As deficiências assinaladas na Recomendação 5 são aplicáveis às APNFDs no quadro desta Recomendação.

DECLARAÇÃO DE OPERAÇÕES SUSPEITAS E CONTROLOS INTERNOS DAS APNFDS (R.16)

(aplicação das R.13 a 15 e 21)

Descrição e Análise

Recomendação 13

606. Nos termos do Artigo 26º da LCBC as APNFDs estão obrigadas ao dever de comunicação de operações suspeitas de branqueamento de capitais à CENTIF. De acordo com o texto do referido preceito, devem ser declaradas:

- as quantias de dinheiro e todos os outros bens na sua posse, sempre que possam ter origem no branqueamento de capitais;

- as operações sobre os bens, quando estas possam resultar de um processo de branqueamento de capitais;

- as quantias de dinheiro e todos os outros bens na sua posse, quando estes forem suspeitos de serem destinados ao fi-nanciamento do terrorismo, e possam ser resultantes de operações de branqueamento de capitais.

607. Estas declarações de operações suspeitas devem ser feitas de acordo com um modelo de declaração a fixar por decisão do Ministro das Finanças, o que parece colidir com o disposto no Artigo 27º quando refere que as DOS são transmitidas à CENTIF através de qualquer meio e por escrito. Assim, quanto transmitidas via telefone, deverão ser confirmadas por escrito num prazo de 48 horas.

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608. O facto de a CENTIF não estar operacional à data da visita da equipa de avaliação permite concluir que não foram apresentadas quaisquer DOS pelas APNFDs, o mesmo é dizer que a LCBC ainda não foi aplicada desde a sua entrada em vigor, em finais de 2004, na Guiné-Bissau.

Recomendação 14

Protecção e interdição de avisar o cliente em caso de comunicação de operação suspeita (aplicação dos c.14.1 e 14.2)

609. O parágrafo quarto do Artigo 26º da LCBC dispõe que as declarações de operações suspeitas são confidenciais e não podem ser comunicadas ao titular das quantias ou ao autor das operações”. Este disposição é também aplicável Às APNFDs identificadas no Artigo 5º da referida Lei. Remete-se para os comentários já apresentados quanto à ambiguidade identificada.

610. Nos termos do Artigo 40º da LCBC, as pessoas que, de forma intencional, tenham feito ao proprietário das quantias ou ao autor das operações visadas no Artigo 5º revelações sobre a declaração ou nas decisões e eles respeitantes são puníveis com pena de prisão de seis meses até dois anos e uma multa de 100.000 a 1.150.000 FCFA ou apenas com uma das duas penas. Esta redacção não é muito clara uma vez que o Artigo 5º não se refere a operações, definindo apenas a lista de pessoas sujeitas. Não existe uma sanção aplicável no caso de uma DOS ou de uma informação com ela relacionada que esteja a ser comunicada ou fornecida à CENTIF, seja também divulgada a terceiros de forma não intencional.

Recomendação 15

Controlos internos destinados a prevenir o BC/FT (aplicação de c.15.1 a 15.4)

611. A LCBC estabelece no seu Artigo 13º que os organismos financeiros devem elaborar programas harmonizados de prevenção do branqueamento de capitais, estando também prevista a possibilidade de as autoridades de supervisão verificarem a boa aplicação desses programas.

Porém, a lei é omissa em relação às APNFDs.

Recomendação 21

Atenção particular aos países que não aplicam ou que aplicam insuficientemente as Recomendações do GAFI (aplicação de c.21.1 a 21.3)

612. Não existe nenhuma disposição que imponha que as APNFDs prestem uma especial atenção em relação aos países que não aplicam ou que aplicam insuficientemente as Recomendações do GAFI, ou mesmo que seja feito um exame particular das transacções realizadas com esses países, não estando também prevista a possibilidade de aplicação de contra-medidas.

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Recomendações e Comentários

613. A não definição do modelo de declaração de operações suspeitas a enviar à CENTIF e a própria falta de operacionalidade desta entidade constituem um obstáculo à aplicação do Artigo 26º da LCBC que, aliás, não prevê a obrigação de comunicação de tentativas de BC. No plano das APNFDs algumas actividades e profissões desconheciam a existência deste dever de comunicação a que se encontram vinculados, o que revela o desconhecimento das disposições da LCBC e torna urgente a necessidade de sensibilização e formação quer das APNFDs quer das autoridades de monitorização e fiscalização das obrigações previstas na referida Lei.

614. As autoridades nacionais devem também procurar clarificar os termos em que a LCBC protege os funcionários e as próprias APNFDs sempre que uma operação suspeita seja comunicada à CENTIF, ou seja, mesmo na situação em que aqueles desconheciam com precisão qual a actividade criminosa envolvida e mesmo quando a actividade criminosa que está na base da DOS não se tenha efectivamente verificado. Não foi realizado qualquer estudo sobre a utilidade de aplicação de um sistema através do qual as APNFDs declarariam à CENTIF todas as transacções em numerário superior a um determinado montante.

615. A LCBC nada refere quanto à necessidade de as APNFDs disporem de mecanismos ou de programas harmonizados de prevenção do branqueamento de capitais. Além disso, também não existe nenhuma disposição que imponha que as APNFDs prestem uma especial atenção em relação aos países que não aplicam ou que aplicam insuficientemente as Recomendações do GAFI, ou mesmo que efectuem um exame particular das transacções realizadas com esses países.

Conformidade com a Recomendação 16

Avaliação Resumo dos factores que fundamentam a avaliação

R.16 NC • A LCBC não foi devidamente implementada na ordem jurídica interna.

• As disposições legais em vigor não se aplicam ao FT mas apenas ao BC.

• As autoridades responsáveis pela monitorização ou fiscalização do cumprimento dos deveres consagrados na LCBC não emitiram quaisquer orientações ou regulamentação destinada a facilitar a aplicação do diploma legal.

• O alcance das medidas de CDD, da monitorização e do dever de declarar operações suspeitas é limitado, não tendo ainda sido adoptado o modelo de DOS.

• Não existem controlos internos para prevenir o BC.

• AS APNFDs não são obrigadas a ter programas harmonizados de prevenção do branqueamento de capitais.• Não existe nenhuma disposição que imponha às APNFDs uma atenção especial aos países que não aplicam ou que aplicam de forma insuficiente as Recomendações do GAFI ou a fazer um exame particular das transacções realizadas com esses países, além de não estar prevista a aplicação de contra-medidas

• A eficácia é reduzida ou nula em termos de aplicação da LCBC.

• A obrigação de declarar obrigações suspeitas è imprecisa e não é do conhecimento de todas as pessoas e entidades sujeitas à LCBC.

• Ausência de aplicação prática do dever de declarar operações suspeitas.

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REGULAMENTAÇÃO, SUPERVISÃO E MONITORIZAÇÃO (R.24-25)

Descrição e Análise

Recomendação 24

616. A profissão de técnico oficial de contas obedece ao disposto nos Estatutos desta profissão liberal, aprovados pelo Decreto nº 1/2007, de 30 de Abril. No entanto, a ORNATOC-GB apenas tem poder para exercer a acção disciplinar por violação de algum dos deveres gerais ou especiais previstos nos referidos Estatutos, mesmo a título de negligência. Assim, em matéria de prevenção e de detecção do branqueamento de capitais, será competente para a regulamentação e fiscalização dos deveres em matéria de prevenção do branqueamento de capitais o Ministério das Finanças.

617. Quanto aos advogados, a LCBC é omissa em relação à possibilidade de ser a respectiva Ordem a zelar pelo cumprimento dos deveres a que estes profissionais liberais estão sujeitos. A Ordem apenas tem competência em matéria disciplinar para as situações que se revelem violadoras do respectivo Estatuto. A equipa de avaliação não foi informada de qual é a de entidade responsável pela regulamentação e fiscalização em matéria de prevenção do branqueamento de capitais.

618. As agências de viagens encontram-se sujeitas a licença do Ministério do Turismo e Ordenamento do Território, sendo esta entidade a responsável pela regulamentação e fiscalização dos deveres previstos na LCBC. Estão também sujeitas a registo, além de terem de enviar anualmente, até 31 de Março, informação sobre o número de pessoas que viajaram por seu intermédio, com indicação das respectivas nacionalidades e os países de origem ou de destino.

619. As ONGs estarão sujeitas a uma dupla regulamentação e fiscalização por parte Ministério dos Negócios Estrangeiros e do Ministério das Finanças para verificação do cumprimento das obrigações que sobre elas recaem respectivamente quanto aos deveres gerais previstos na LCBC e quanto ao exercício de actividades de micro-finanças.

620. No que concerne aos vendedores de bens de valor elevado e aos agentes imobiliários, não estando a profissão a ser exercida de forma organizada relativamente aos primeiros, presume-se que seja o Ministério do Comércio, Indústria e Artesanato a entidade competente para a regulamentação e fiscalização também das agências imobiliárias. No entanto, a equipa de avaliação não obteve informação clara sobre este aspecto particular. É também desconhecida a entidade responsável pela regulamentação e fiscalização dos transportadores de fundos em matéria de prevenção e repressão do branqueamento de capitais.

621. Não é conhecida qualquer sanção que tenha sido aplicada às APNFDs por violação ou incumprimento das disposições da LCBC.

Regulamentação e supervisão de casinos (c. 24.1, 24.1.1, 24.1.2 e 24.1.3)

622. Como já referido anteriormente, a equipa de avaliação não pôde assegurar a verificação do funcionamento de casinos na Guiné-Bissau, embora tenha sido concedida a uma sociedade uma licença para esse efeito pelo Ministério do Turismo.

.

Sistemas de monitorização de outras APNFDs (c. 24.2 e 24.2.1): Orientações para as APNFDs (aplicação do c. 25.1)

623. A equipa de avaliação pode constatar que nenhuma das APNFDs existentes na Guiné-Bissau se encontra sujeita a um sistema eficiente de controlo que tenha em vista assegurar a conformidade com os requisitos de prevenção e de repressão do branqueamento de capitais previstos na LCBC. O mesmo se dirá em relação ao financiamento do terrorismo, já que se encontra por transpor para a ordem jurídica interna a Directiva nº 4/2007/CM/UEMOA, de 4 de Julho.

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Recomendação 25

Orientações para as APNFDs (c.25.1)

624. Não foi publicada, até à data da visita da equipa de avaliação, qualquer orientação destinada às APNFDs com linhas de orientação, a fim de facilitar a estas actividades e profissões não financeiras a aplicação das obrigações em matéria de prevenção e de repressão do branqueamento de capitais plasmadas na LCBC. Também não foram publicadas orientações relativas à prevenção do FT pelos motivos já expostos.

Recomendações e Comentários

625. As diferentes autoridades de monitorização e de fiscalização das APNFDs previstas na LCBC devem assegurar o respeito das disposições em matéria de BC, em especial no que respeita aos negociantes de bens de elevado valor.

626. Além disso, devem também promover a sensibilização destas actividades e profissões para as obrigações a que estão sujeitas, bem como elaborar orientações que as ajudem a aplicar a LCBC. No entanto, o pouco conhecimento da Lei e a falta de recursos humanos e materiais por parte das próprias autoridades nacionais podem constituir um entrave a esta necessidade. O facto de a CENTIF não estar operacional obsta também à possibilidade de fazer circular documentação sobre as obrigações, sobre os métodos e tendências de branqueamento de capitais e, também, sobre a possibilidade de efectuar o retorno de informação (feed-back) às APNFDs que comuniquem operações suspeitas.

Conformidade com as Recomendações 24 e 25 ()

Avaliação Resumo dos factores que fundamentam a avaliação

R.24 NC • Não existe nenhuma regulamentação destinada a facilitar a aplicação dos deveres a que as APNFDs estão obrigadas pela LCBC.

• A legislação em vigor apenas se aplica à prevenção do BC e não do FT.

• Não é exercida qualquer fiscalização ou monitorização das APNFDs

• Não se encontra definida, em relação a algumas APNFDs, a autoridade responsável pela verificação do cumprimento dos deveres de prevenção do BC.

• O regime sancionatório em vigor não se aplica à violação das obrigações de prevenção do financiamento do terrorismo.

• Encontram-se previstas na LCBC sanções aplicáveis às pessoas singulares e colectivas mas a ausência de uma imposição efectiva dessas sanções não permite avaliar a respectiva eficácia.

R.25 NC • Não existe nenhuma regulamentação destinada a facilitar a aplicação dos deveres a que as APNFDs estão obrigadas pela LCBC.

• Apesar de previsto na LCBC, o facto de a CENTIF não estar operacional leva a que não seja prestado o retorno de informação às APNFDs que fazem DOS.

OUTRAS ACTIVIDADES E PROFISSÕES NÃO FINANCEIRAS E TECNICAS MODERNAS E SEGURAS DE TRANSACÇÃO (R.20)

Descrição e Análise

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Outras APNFDs que apresentam riscos de BC/FT (c.20.1, aplicação da sR.5, 6, 8-11, 13-15, 17 e 21)

627. A LCBC aplica-se a outras APNFDs além das previstas nas Recomendações do GAFI. É o caso dos transportadores de fundos, vendedores de objectos de arte (quadros e máscaras), lotarias e agências de viagens e ONGs sempre que intervenham na compra e venda de propriedade imobiliária e, bem assim, quando realizem, controlem ou aconselhem operações que conduzam a depósitos, câmbios, financiamentos, conversões ou quaisquer outros movimentos de capitais ou de bens.

628. Remete-se para os comentários já apresentados em 4.1.a 4.3, sendo ainda de referir que também não se encontram operacionais na Guiné-Bissau lotarias nacionais.

Desenvolvimento de técnicas modernas e seguras de gestão de fundos (c. 20.2)

629. A equipa de avaliação não obteve informação sobre se a Directiva nº 08/2002/CM/UEMOA, de 19 de Setembro de 2002, relativa às medidas de promoção da utilização de serviços bancários e de meios de pagamento escriturais, foi transposta para o ordenamento jurídico da Guiné-Bissau. As disposições deste instrumento jurídico e as que resultam da Instrução do BCEAO nº 1/2003, de 8 de Maio relativa à promoção dos meios de pagamento escriturais, vêm criar um conjunto de obrigações que implicam, por exemplo, a utilização de cheques ou de transferências electrónicas, a utilização de um banco, dos serviços financeiros postais ou do Tesouro Público.

630. Além disso, não foi obtida informação sobre se o Regulamento nº 15/2002/CM/UEMOA, de 19 de Setembro, relativo aos sistemas de pagamento nos Estados membros da UEMOA, de aplicação directa, tem vindo a ser aplicado no plano interno, desconhecendo-se se as autoridades nacionais da Guiné-Bissau adoptaram outras medidas ou se existem planos para incentivar a utilização de técnicas modernas e seguras de gestão de fundos e, assim, minimizar os riscos de branqueamento de capitais que deriva da utilização intensiva de dinheiro em espécie.

631. A equipa de avaliação constatou a existência de muitas casas de câmbios e de estabelecimentos comerciais e mesmo de um número elevado de pessoas que praticam nas ruas a actividade de câmbio de divisas o que, além de confirmar o quase inexistente nível de intermediação bancária (2%), representa ou pode representar um risco elevado em matéria de BC/FT.

Recomendações e Comentários

632. As autoridades nacionais com responsabilidade na prevenção do BC devem promover a realização de discussão ou reflexão sobre o risco que as APNFDs sujeitas à legislação em vigor representam em termos de serem utilizadas para fins de BC, também para as sensibilizar para as obrigações a que estão sujeitas.

633. As autoridades nacionais da Guiné-Bissau devem ainda incentivar e promover o desenvolvimento e a utilização de técnicas modernas e seguras para a realização de transacções financeiras e comerciais que inibam a utilização de pagamentos em numerário, sobretudo quando envolvam montantes avultados, tornando-as menos vulneráveis ao branqueamento de capitais.

Conformidade com a Recomendação 20

Avaliação Resumo dos factores que fundamentam a avaliação

R.20 PC • Não foi efectuada nenhuma análise dos riscos que certas APNFDs colocam em

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termos de serem utilizadas para fins de BC.

• Não foram tomadas medidas práticas para sensibilizar ou mesmo para procurar assegurar a aplicação dos instrumentos jurídicos da UEMOA destinados a reduzir a utilização dos pagamentos em espécie.

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PESSOAS COLECTIVAS E ENTIDADES SEM PERSONALIDADE JURÍDICA E ORGANIZAÇÕES SEM FINS LUCRATIVOS

PESSOAS COLECTIVAS — ACESSO A INFORMAÇÃO SOBRE OS BENEFICIARIOS EFECTIVOS DA PROPRIEDADE E O CONTROLO DAS PESSOAS COLECTIVAS (R.33)

Descrição e Análise

634. Enquadramento Jurídico: As pessoas colectivas podem ser de natureza civil ou comercial, de acordo com as actividades que prosseguem. Nos termos do Código Civil da Guiné-Bissau é admissível a constituição de pessoas colectivas, na forma de associações e fundações, só adquirindo personalidade jurídica pelo reconhecimento, que é da competência do Governo. Os seus estatutos devem constar de escritura pública necessitando ser publicados no Boletim Oficial para serem oponíveis a terceiros (Artigos 158º e 168º do Código Civil). O mesmo Código faz ainda referência às associações não reconhecidas e às comissões especiais, nos Artigos 195º e seguintes.

635. No que respeita às pessoas colectivas na forma de sociedades comerciais, a equipa de avaliação foi informada da vigência do Acto Uniforme relativo ao Direito Comercial Geral (AUDCG) e do Acto Uniforme relativo ao Direito das Sociedades Comerciais e ao Agrupamento de Interesse Económico (AUDSCAIE), ambos da OHADA – Organização para a Harmonização do Direito dos Negócios em África. No entanto, não foi facultada a legislação interna que transpõe as disposições daqueles instrumentos jurídicos, apenas sendo conhecido o Decreto nº 02/2005, de 15 de Abril, relativo ao registo nacional de comerciantes, criando o guichet único onde se concentram todas as formalidades necessárias à legalização das actividades comerciais, industriais, turísticas e artesanais.

636. De acordo com a informação recebida, em finais de Junho de 2008 encontravam-se registadas na Conservatória Comum do Registo Predial, Comercial e Automóvel 1571 pessoas colectivas, desconhecendo-se embora como se encontram repartidas e qual o número de sociedades anónimas com acções ao portador.

637. O registo de pessoas colectivas reporta-se assim, segundo informado, às exigências da legislação da OHADA, funcionando esse registo junto do Tribunal Comercial, mas independente do mesmo.

Medidas para impedir a utilização ilícita das pessoas colectivas (c. 33.1)

638. De acordo com o disposto nos Artigos 20º a 24º do AUDCG, deve ser criado um Registo do Comércio e do Crédito Mobiliário que compreende obrigatoriamente, no que diz respeito às sociedades comerciais e demais pessoas colectivas sujeitas a registo, a indicação da denominação social, do tipo social, da natureza da actividade desenvolvida, o endereço da sede social e dos estabelecimentos criados dentro da área de jurisdição da sede social ou fora dela e o conjunto de declarações, actos e documentos que lhes digam respeito. São ainda oficiosamente registadas no Registo do Comércio as decisões que apliquem penas pecuniárias aos dirigentes das pessoas colectivas.

639. As sociedades e as demais pessoas colectivas previstas no AUDSCAIE devem requerer o seu registo no prazo de um mês a contar da respectiva constituição, devendo apresentar, entre outros:

- A denominação social.

- A firma, sigla, o nome e a insígnia de estabelecimento, caso existam.

- A actividade ou actividades exercidas.

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- O tipo de sociedade ou de pessoa colectiva.

- O montante de capital social com indicação do montante das entradas em numerário e a avaliação das entradas em espécie.

- O endereço da sede social e, caso existam, o endereço do estabelecimento principal e de cada um dos principais estabelecimentos.

- Os nomes, apelidos e as residências dos sócios pessoal e ilimitadamente responsáveis pelas dívidas sociais, com indicação das respectivas datas e locais de nascimento, nacionalidade, data e local de casamento, regime de bens adoptado e cláusulas restritivas da livre disposição de bens entre cônjuges oponíveis a terceiros ou ausência de tais cláusulas, bem como pedidos de separação de bens.

- Os nomes, os apelidos, as datas e os locais de nascimento e as residências dos gerentes, administradores ou membros da pessoa colectiva com poder geral de a obrigar. E,

- Os nomes, os apelidos, as datas e os locais de nascimento e as residências dos revisores oficiais de contas quando a respectiva nomeação seja imposta pelo AUDSCAIE.

Nos termos do Artigo 13º deste AUDSCAIE, os estatutos das sociedades comerciais devem mencionar:

- O tipo de sociedade.

- A sua denominação seguida, se for o caso, da sua sigla.

- O tipo e a natureza da actividade, que constituem o seu objecto social.

- A sede social.

- A duração.

- A identidade dos sócios com entradas em dinheiro, com indicação, para cada um deles, do montante da entrada e número e valor das participações sociais correspondentes a cada entrada.

- A identidade dos sócios com entradas em espécie, com indicação, para cada um deles, do montante da entrada e número e valor das participações sociais correspondentes a cada entrada.

- A identidade dos beneficiários de vantagens particulares e a natureza destas.

- O número e valor das participações sociais emitidas, distinguindo, se for o caso, as diversas categorias criadas.

- As estipulações relativas à repartição de lucros, constituição de reservas e repartição do saldo de liquidação. E,

- As modalidades do seu funcionamento.

640. Estes estatutos devem ser formalizados através de escritura pública ou de acto que no Estado da sede social tenha força probatória semelhante, com reconhecimento da letra e assinatura de todas as partes, através de formulário notarial e só podem ser modificados da mesma forma, tal como resulta do Artigo 10º. Todas as alterações, nomeadamente aos estatutos, devem ser também registadas no Registo do Comércio e do Crédito Imobiliário, como estipulado no Artigo 33º.

641. As sociedades anónimas e as sociedades de responsabilidade limitada não podem possuir acções ou partes sociais de uma outra sociedade se esta detiver uma fracção do seu capital superior a 10%. Até à cessão efectiva, as acções ou partes sociais a ceder ficam privadas do direito de voto e do pagamento de dividendos, por aplicação do disposto no Artigo 177º do mesmo Acto Uniforme.

642. Em concreto quanto às sociedades anónimas, resulta da sua definição que são sociedades em que a responsabilidade dos accionistas pelas dívidas sociais está limitada ao valor das suas entradas e em que os seus direitos são representados por acções (Artigo 385º). As sociedades anónimas podem ter um único accionista. O capital social mínimo encontra-se fixado em dez milhões (10.000.000) de FCFA, podendo ser dividido em acções cujo valor nominal não pode ser inferior a dez (10.000) FCFA. As acções podem ser nominativas ou ao portador. Este capital social dever ser integralmente subscrito antes da data da assinatura dos estatutos ou da realização da assembleia-geral constitutiva.

643. Apesar de as disposições dos dois Actos Uniformes da OHADA serem detalhadas no que se refere às informações solicitadas e sujeitas a registo, e da existência de um registo junto do Tribunal Comercial – a Conservatória Comum do Registo Predial, Comercial e Automóvel – que não parece estar a funcionar nos moldes requeridos, na opinião da equipa de avaliação,

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esta realidade não permite obter informações sobre quem é o beneficiário efectivo de uma sociedade anónima com acções ao portador, tal como requerido pela Recomendação 33.

Acesso em tempo útil à informação sobre o beneficiário efectivo e sobre o controlo das pessoas colectivas (c. 33.2)

644. Embora o registo seja público e, como tal, acessível a todas as autoridades em geral, às instituições financeiras e também a qualquer interessado, a falta de informações sobre o funcionamento do registos, nomeadamente sobre se mantêm dados actualizados e sobre os diferentes tipos de pessoas colectivas obstam a que se possa afirmar que é possível o acesso em tempo oportuno à informação sobre o beneficiário efectivo e sobre o controlo das pessoas colectivas.

Prevenção da utilização indevida de acções ao portador (c. 33.3)

645. As sociedades anónimas podem emitir acções nominativas ou ao portador, conforme resulta do AUDSCAIE que refere, no seu Artigo 397º nº 4, que os estatutos da sociedade devem indicar as espécies de acções emitidas. Além disso, nos termos dos Artigos 744º e 745º, estas sociedades podem também emitir valores mobiliários, sendo que as acções e as obrigações são nominativas ou ao portador, quer sejam emitidas em contrapartida de entradas em bens ou de entradas em dinheiro.

646. A cada acção corresponde um direito ao dividendo, proporcional à parte do capital por ela representado, encontrando-se estatuído no Artigo 759º que as acções só são negociáveis após a matrícula da sociedade no Registo de Comércio e do Crédito Mobiliário ou, em caso de aumento de capital, após o respectivo averbamento no registo.

647. As acções são livremente transmissíveis, podendo efectuar-se, de acordo com o Artigo 764º, por simples tradição, no que respeita às acções ao portador tal significando que o portador do título é havido como o seu legítimo titular. Mais refere esta disposição que, para as sociedades que recorram ao investimento público, as acções ao portador podem ser representadas por uma inscrição em conta aberta em nome do respectivo titular, junto da entidade emitente ou junto do intermediário financeiro devidamente reconhecido pelo Ministério das Finanças.

648. Neste último caso, além de ser possível identificar o titular das acções, a transmissão destes títulos opera-se por transferência entre contas. Porém, no que respeita às restantes acções ao portador, as disposições do Acto Uniforme não parecem encontrar-se em conformidade com a Recomendação 33 do GAFI, ou seja, as medidas em vigor não permitem assegurar que estas acções não venham a ser indevidamente utilizadas para o branqueamento de capitais.

649. Efectivamente, em termos de identificação do beneficiário efectivo das sociedades anónimas com acções a portador, o AUDSCAIE inclui alguns preceitos que permitem conhecer o titular das acções ao portador em determinadas situações. É por exemplo o caso da convocação de assembleia-geral, podendo o aviso convocatório indicar o local onde devem ser entregues as acções ao portador ou o certificado de entrega das mesmas, para permitir o direito de participar na assembleia (Artigo 519º) ou ainda a lista de accionistas que deve existir na sede social aquando da realização da assembleia-geral ordinária anual (Artigo 525º) ou da necessidade de existência de uma folha de presenças na assembleia-geral que contenha os apelidos, nomes e domicilio de cada accionista presente ou representado, o número de acções de que é titular e o número de votos inerentes a essas acções (Artigo 532º).

650. Em suma, como refere o Artigo 541º, o direito de participar nas assembleias gerais pode ser subordinado à inscrição prévia dos accionistas num registo de acções nominativas da sociedade, ao depósito das acções ao portador em local indicado no aviso de convocatória, ou à emissão de um certificado de depósito das acções ao portador pelo estabelecimento bancário ou financeiro depositário dessas acções. É apenas neste conjunto de situações que é possível conhecer o titular das acções, que pode ser pessoa diferente do verdadeiro beneficiário efectivo.

Elemento Adicional — Acesso em tempo útil à informação sobre o beneficiário efectivo e sobre o controlo das pessoas colectivas pelas instituições financeiras (c. 33.4)

651. O registo é de natureza pública, sendo também acessível às instituições financeiras. No entanto, como já referido, a falta de informações sobre o funcionamento do registos, nomeadamente sobre se mantêm dados actualizados e sobre os diferentes tipos de pessoas colectivas, obstam a que se possa afirmar que é possível o acesso em tempo oportuno à informação sobre o beneficiário efectivo e sobre o controlo das pessoas colectivas.

652. Além disso, como refere o Artigo 541º do Acto Uniforme, o direito de participar nas assembleias-gerais pode ser subordinado ao depósito das acções ao portador em local indicado no aviso de convocatória, ou à emissão de um certificado de depósito das acções ao portador pelo estabelecimento bancário ou financeiro depositário dessas acções, o que permitirá identificar o seu titular que, ainda assim, pode não ser o beneficiário efectivo.

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Recomendações e Comentários

653. As autoridades nacionais devem procurar melhorar a qualidade dos registos, de forma a ser possível obter informação sobre o número e tipo de pessoas colectivas registadas, os seus sócios ou accionistas e sobre o beneficiário efectivo. Além disso, essa informação deve ser sujeita a actualização numa base regular.

654. Os instrumentos jurídicos da OHADA em matéria de sociedades comerciais, em especial no que concerne às sociedades anónimas com acções ao portador, não permitem, salvo raras excepções, conhecer os beneficiários efectivos dessas sociedades.

655. A incapacidade das autoridades em fornecer elementos de natureza estatística ou mesmo informação detalhada sobre o número existente deste tipo de sociedades com acções ao portador colocam dúvidas sobre a eficácia dos registos e, também, sobre a eficácia do sistema nacional ABC/CFT nesta particular matéria.

Conformidade com a Recomendação 33

Avaliação Resumo dos factores que fundamentam a avaliação

R.33 NC • A legislação em vigor não permite ter acesso à informação em tempo oportuno sobre quem são os beneficiários efectivos nem uma adequada transparência em relação a estes beneficiários efectivos e ao controlo das sociedades anónimas com acções ao portador.

• O sistema de registos e os instrumentos jurídicos da OHADA devem ser adaptados no sentido de irem ao encontro das preocupações em matéria de utilização de pessoas colectivas para fins de branqueamento de capitais ou de financiamento do terrorismo.

PESSOAS COLECTIVAS — ACESSO AOS BENEFICIÁRIOS EFECTIVOS E À INFORMAÇÃO SOBRE O CONTROLO DAS ENTIDADES SEM PERSONALIDADE JURÍDICA (LEGAL ARRANGEMENTS) (R.34)

Descrição e Análise

656. A Lei LBC refere no seu Artigo 5º a aplicação a qualquer pessoa singular ou colectiva que, no quadro da sua profissão, nomeadamente os membros de profissões jurídicas independentes (quando representam ou assistem clientes fora de qualquer procedimento judiciário), sempre que realizem, controlem ou aconselhem operações que conduzam à constituição, gestão ou direcção de «empresas de fidúcias ou de estruturas similares».

657. No entanto, a legislação em vigor na Guiné-Bissau não prevê a criação de express trusts ou de entidades sem personalidade jurídica semelhantes, tal como não reconhece os express trusts ou as entidades sem personalidade jurídica semelhantes constituídas no estrangeiro.

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Recomendações e Comentários

Conformidade com a Recomendação 34

Avaliação Resumo dos factores que fundamentam a avaliação

R.34 NA • Express trusts e entidades sem personalidade jurídica semelhantes não estão previstos nem são reconhecidos no sistema jurídico interno da Guiné-Bissau.

ORGANIZAÇÕES SEM FINS LUCRATIVOS (RE.VIII)

Descrição e Análise

658. Enquadramento Jurídico: A Constituição da República da Guiné-Bissau consagra no seu Artigo 55º o princípio da liberdade de associação, estabelecendo que todos os cidadãos têm o direito de livremente e sem dependência de qualquer autorização, constituir associações, desde que estas não se destinem a promover a violência e os respectivos fins não sejam contrários à lei.

659. Por sua vez, o Código Civil permite a constituição de pessoas colectivas, na forma de associações e fundações, que adquirem personalidade jurídica através do reconhecimento oficial, que é da competência do Governo. Os respectivos estatutos devem ser aprovados através de escritura pública e carecem de publicação no Boletim Oficial para serem oponíveis a terceiros, como resulta dos Artigos 158º e 168º. Este Código consagra ainda nos Artigos 195º e seguintes as associações não reconhecidas e as comissões especiais.

660. A Guiné-Bissau publicou o Decreto nº 29/92, de 23 de Março que tem por objectivo disciplinar a criação e o exercício das actividades das Organizações Não-Governamentais (ONGs) no país, que. A Directiva nº 04/2007/CM/UEMOA, de 4 de Julho consagra no seu Artigo 16º um conjunto de medidas de vigilância em relação às ONGs, mas este instrumento jurídico carece de transposição para vigorar na ordem jurídica guineense.

661. De acordo com a informação fornecida à equipa de avaliação pela PLACOM, a Plataforma das ONGs nacionais e estrangeiras na Guiné-Bissau existem 123 organizações deste tipo, repartindo-se as suas actividades pela protecção do ambiente, apoio ao desenvolvimento, saneamento básico, saúde e, depois do conflito armado, na edificação da paz, como é o caso da promoção dos direitos humanos e do reconhecimento e valorização da mulher na tomada de decisões. Existem também algumas ONGs de carácter religioso e outras que praticam actividades de micro-finanças.

Análise da adequação das leis e regulamentos relativos às OSFLs (c. VIII.1)

662. A Guiné-Bissau não realizou, até à data, uma avaliação da adequação do quadro jurídico em vigor a nível nacional aplicável às ONGs, nem utilizou as fontes de informação disponíveis para efectuar uma análise interna sobre as actividades, a dimensão e outras características e os tipos destas entidades que estão em risco de poderem ser indevidamente utilizadas para fins de financiamento do terrorismo. A equipa de avaliação também desconhece se foram realizadas avaliações periódicas para reapreciar a informação recente sobre as potenciais vulnerabilidades deste sector para actividades terroristas.

Realização de acções de divulgação no sector das OSFLs para o proteger de ser indevidamente utilizado para o financiamento do terrorismo (c. VIII.2)

663. As autoridades competentes da Guiné-Bissau não promoveram nenhuma campanha de sensibilização tendo em vista a tomada de consciência destas organizações para os riscos de serem indevidamente utilizadas para fins de financiamento do terrorismo e das medidas existentes contra tal utilização.

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Monitorização ou controlo das OSFLs devido à importância dos recursos ou das actividades internacionais (c. VIII.3), manutenção de informações sobre quem controla ou dirige as OSFLs (c. VIII.3.1), obrigação de autorização ou de registo (c.VIII.3.3)

664. De acordo com o Artigo 2º do Decreto nº 23/92, de 23 de Março, as ONGs são pessoas colectivas de direito privado, de livre criação, apartidárias e sem fins lucrativos. Além disso, as ONGs são organizações voluntárias que têm por objectivo contribuir para a melhoria das condições de vida das comunidades locais e a promoção da participação destas no desenvolvimento sócio-económico da Guiné-Bissau.

665. As ONGs carecem de legalização junto do Ministério da Justiça enquanto as que se dedicam também a actividades de micro-finanças têm de obter autorização para esse efeito junto do Ministério das Finanças.

666. Devem ser criadas através de escritura pública, depois de parecer favorável da Solidami (instituição de apoio e fiscalização da intervenção das ONGs nacionais e estrangeiras, entretanto extinta) sobre os estatutos, que devem conter indicação sobre a denominação, objecto, sectores de actividade e de intervenção, a sede, forma e modalidade de organização e funcionamento, a especificação dos serviços a prestar e a duração, bem como a lista dos membros da direcção. A Secretaria de Estado da Cooperação Internacional, do Ministério dos Negócios Estrangeiros, que sucedeu nas competências da Solidami, remete uma cópia da escritura pública para o Ministério das Finanças.

667. Nos termos do Artigo 17º do Decreto nº 23/92 as ONGs devem entregar anualmente, até 31 de Março, à Secretaria de Estado da Cooperação Internacional uma cópia do relatório de actividades e do relatório financeiro, contendo a origem dos fundos, seus quantitativos, respectivas afectações, relação de bens importados, bem como o plano de acções para o ano seguinte. No entanto este diploma é omisso quanto à necessidade de comunicação das alterações ao nível dos membros da direcção ou dos próprios estatutos bem como de quaisquer outras informações de particular interesse como a mudança da sede social ou as aquisições ou alienações de imóveis.

668. Constituem fundos das ONGs e por elas geridos as quotizações dos associados, os donativos, os subsídios, as subvenções, os legados, a exposição e venda de produtos, os rendimentos da prestação de serviços, os valores e bens que possuam ou adquiram a título oneroso e outros, não especificados na lei.

669. Apesar do que antecede, não existe na Guiné-Bissau uma abordagem integrada de averiguação da finalidade e dos objectivos das actividades do sector de ONG no seu conjunto e também não ficou claro à equipa de avaliação que as ONGs estejam obrigadas a manter disponíveis as informações sobre quem as controla ou dirige e a manter registos e documentos das suas operações de forma a esclarecer, se necessário, como foram gastos os recursos durante um prazo de pelo menos cinco anos.

Existência de sanções aplicáveis pela violação das regras de monitorização das OSFLs (c.VIII.3.2)

670. O Decreto nº 23/92 estabelece no Artigo 17º que as ONGs devem entregar anualmente, até 31 de Março, à Secretaria de Estado da Cooperação Internacional, uma cópia do relatório de actividades e do relatório financeiro, contendo a origem dos fundos, seus quantitativos, respectivas afectações, relação de bens importados, bem como o plano de acções para o ano seguinte.

671. No entanto, apenas inclui como sanção aplicável às ONGs a dissolução por decisão judicial, sem que no entanto fique claro que esta sanção seja aplicável em situações de violação do envio do referido relatório, de regras de inspecção ou das disposições a que se encontram sujeitas ou mesmo da violação daquela disposição por pessoas em seu nome. Além disso, aquele Decreto é também omisso em relação à possibilidade de aplicação de procedimentos administrativos, cíveis ou criminais paralelos relativamente às ONGs ou às pessoas que agiram em seu nome.

672. Assim, a equipa de avaliação não dispõe de informação que lhe permita concluir pela existência de medidas adequadas para sancionar a violação das regras de inspecção pelas ONGs ou pelas pessoas que agiram em seu nome. Além disso, não foi comprovada a existência de um sistema coordenado entre as autoridades nacionais relevante para a prevenção do financiamento do terrorismo que permita partilhar informação útil sobre este tipo de ameaça e promover a investigação e a actuação rápidas.

Manutenção de registos de transacções internas e internacionais e sua disponibilidade (c.VIII.3.4)

673. Apesar da obrigatoriedade do envio anual do relatório a que se refere o Artigo 17º do Decreto nº 23/92, não ficou claro à equipa de avaliação que as ONGs estejam obrigadas a manter disponíveis as informações sobre as transacções internas e internacionais e a manter registos e documentos das suas operações de forma a esclarecer, se necessário, como foram gastos os recursos durante um prazo de, pelo menos, cinco anos. São aspectos previstos na Directiva nº 04/2007/CM/UEMOA que não se encontra transposta para o ordenamento jurídico interno da Guiné-Bissau.

Medidas destinadas a assegurar a realização de investigações e a recolher e trocar informações sobre as OSFLs (c.VIII.4), Cooperação, coordenação e troca de informação a nível nacional (c.VIII.4.1)

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674. Além do envio do relatório anual às autoridades competentes e da possibilidade que as autoridades de aplicação da lei, no caso o Ministério Público, a Polícia Judiciária e a Polícia de Segurança e Ordem Pública, têm de realizar investigações de natureza preventiva, não foram tomadas medidas internas para assegurar uma cooperação, coordenação e partilha de informação eficaz a nível interno entre todas as autoridades nem medidas para recolher informações sobre as ONGs a fim de prevenir e combater o financiamento do terrorismo.

Acesso à informação relativa à administração e à gestão das OSFLs no quadro de uma investigação (c.VIII4.2), Troca de informações, medidas preventivas e competências de investigação e de capacidade de avaliar as OSFLs que são suspeitas de estar a ser utilizadas para fins de financiamento do terrorismo ou de se dedicarem a actividades de angariação de fundos para o terrorismo (c.VIII4.3)

675. As autoridades da Guiné-Bissau não demonstraram, pelas informações recolhidas pela equipa de avaliação, ter em conta os riscos da utilização indevida do sector das ONGs para fins de financiamento do terrorismo. Assim, não existe a nível interno uma troca de informações, medidas preventivas e capacidade de avaliar as ONGs que são suspeitas de estar a ser utilizadas para fins de financiamento do terrorismo ou se dedicarem a actividades de angariação de fundos para o terrorismo. No entanto, as autoridades de aplicação da lei podem ter acesso à informação relativa à administração e à gestão das ONGs no âmbito das respectivas competências, embora não disponham dos meios e da especialização necessária para tal efeito.

Análise da eficácia

676. Não existem na Guiné-Bissau procedimentos claros e definidos que permitam às autoridades a prevenção e o combate contra a utilização indevida das organizações sem fins lucrativos para fins de financiamento do terrorismo.

Recomendações e Comentários

677. As ONGs não foram sujeitas a qualquer medida específica ou inspecção com a finalidade de verificar que não estão a ser indevidamente utilizadas para fins de financiamento do terrorismo.

678. As autoridades devem adoptar medidas que permitam o acompanhamento e controlo das ONGs, bem como devem adoptar medidas destinadas a proteger este sector de qualquer utilização indevida para fins ilícitos.

679. As autoridades devem adoptar procedimentos claros e definidos que lhe permitam uma avaliação dos riscos existentes e a prevenção e o combate contra a utilização indevida das organizações sem fins lucrativos para fins de financiamento do terrorismo.

680. As autoridades devem proceder a uma avaliação dos riscos que as ONGs podem colocar, em termos da sua utilização indevida para fins de financiamento do terrorismo.

Conformidade com a Recomendação Especial VIII

Avaliação Resumo dos factores que fundamentam a avaliação

RE.VIII NC • A análise da adequação das leis em vigor ao sector das ONGs, para verificar a existência de riscos da sua utilização indevida para fins de financiamento do terrorismo, não foi efectuada.

• Não foi promovida nenhuma acção de sensibilização para a tomada de consciência dos riscos existentes, nem estas organizações foram sujeitas a inspecção ou acompanhamento.

• Existe uma ausência total de controlo deste sector.

• Não são conhecidas sanções ou qualquer informação estatística sobre o

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número de ONGs dissolvidas por decisão judicial.

• As autoridades não efectuaram nenhuma avaliação dos riscos de utilização das ONGs para fins de financiamento do terrorismo.

COOPERAÇÃO NACIONAL E INTERNACIONAL

COOPERAÇÃO E COORDENAÇÃO NACIONAL (R.31)

Descrição e Análise

681. A nível interno, a cooperação institucional entre as diferentes autoridades é regida pelo Código do Processo Penal e pela LCBC. A coordenação nacional é assegurada por uma Comissão Intergovernamental ABC/CFT.

Mecanismos de cooperação e coordenação nacional ABC/CFT (c. 31.1)

682. A LCBC não inclui disposições em matéria de cooperação ou coordenação das autoridades nacionais com competências para a prevenção e repressão do branqueamento de capitais e do financiamento do terrorismo. No entanto, ao definir a composição da CENTIF e ao estabelecer a possibilidade de existirem correspondentes deste entidade em diferentes serviços da administração pública, essa cooperação e coordenação é promovida, ainda que de forma indirecta.

683. Esta cooperação é assegurada entre as diferentes autoridades judiciárias e policiais, no quadro da repartição de competências que lhe são atribuídas pelo Código do Processo Penal em termos de investigação, de prevenção e de repressão da prática de crimes, embora, em termos práticos, a mesma não exista ou não tenha existido porquanto não foram fornecidos à equipa de avaliação quaisquer elementos concretos relativos à existência, investigação ou procedimentos penais pela prática dos crimes de branqueamento de capitais ou de financiamento de organizações terroristas.

684. De referir a criação, em 2001, duma Comissão Intergovernamental ABC/CFT, que inclui representantes do sector público e do sector privado, nomeadamente de vários Ministérios e departamentos da administração pública, do sector financeiro bancário e da sociedade civil.

Elemento Adicional — Mecanismos de consulta entre as autoridades competentes, o sector financeiro e os outros sectores (c. 31.2)

685. A Comissão Intergovernamental ABC/CFT, que inclui representantes do sector público e do sector privado funciona como um mecanismo de consulta entre todos eles, promovendo a concertação e tomando decisões em matéria de prevenção do branqueamento de capitais e do financiamento do terrorismo. É disso exemplo a aprovação de um plano de acção, enviado ao Secretariado do GIABA, com o objectivo do agendamento de actividades de formação de todos os actores envolvidos na luta contra este tipo de criminalidade, bem como a programação de acções de sensibilização pública nesta matéria.

Estatísticas (aplicação da R.32)

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686. Não foi efectuada uma avaliação da eficácia do sistema nacional de prevenção e de combate ao branqueamento de capitais e ao financiamento do terrorismo pelas autoridades nacionais competentes. Além disso, não existe nenhum sistema centralizado de recolha e de conservação de estatísticas sobre o branqueamento de capitais e o financiamento do terrorismo, nem sequer sobre a criminalidade em geral.

Recomendações e Comentários

687. A cooperação e a coordenação interna entre todas as autoridades e entidades competentes em matéria ABC/CFT deve ser reforçada. A existência de uma Comissão Interministerial ABC/CFT, de composição alargada, pode ser aproveitada para efeitos de cooperação e de coordenação, estabelecendo claramente o seu mandato e as suas competências, nomeadamente a de avaliar numa base regular o sistema nacional em vigor.

688. O mecanismo nacional de cooperação e de coordenação entre todas as autoridades nacionais com competências ABC/CFT deve prever e garantir a existência de estatísticas e de elementos de informação actualizados sobre as políticas e as acções adoptadas e os resultados alcançados.

Conformidade com a Recomendação 31

Avaliação Resumo dos factores que fundamentam a avaliação

R.31 NC • A cooperação e a coordenação interna entre as diferentes autoridades competentes são limitadas.

• No presente não existe, na prática, cooperação e coordenação em matéria de financiamento do terrorismo, porquanto a Directiva nº 4/2007CM/UEMOA sobre o FT se encontra por transpor para a ordem jurídica interna.

AS CONVENÇÕES E AS RESOLUÇÕES ESPECIAIS DA ONU (R.35 E RE.I)

Descrição e Análise

689. A Constituição da República da Guiné-Bissau não contem nenhuma disposição sobre a forma como é feita a recepção e sobre a vigência do direito internacional na ordem jurídica interna. Assim, a equipa de avaliação desconhece se as disposições das convenções e tratados devidamente assinados e ratificados são de aplicação directa, podendo vigorar imediatamente na ordem jurídica interna e qual a sua relação, em termos de hierarquia das leis, com a legislação ordinária nacional. De qualquer modo, as convenções e tratados internacionais, sobretudo os que obrigam à criminalização de certas condutas e à previsão das correspondentes sanções carecem, em regra, da mediação do legislador penal nacional, pelo que seria importante conhecer o mecanismo em vigor, caso exista.

Ratificação de Convenções das Nações Unidas sobre ABC (c. 35.1)

690. A Guiné-Bissau assinou em 27 de Outubro de 1995, mas não ratificou, a Convenção das Nações Unidas contra o Tráfico Ilícito de Estupefacientes e de Substâncias Psicotrópicas, de 1988 (Convenção de Viena), tendo ratificado em 10 de Setembro de

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2007 a Convenção das Nações Unidas contra a Criminalidade Organizada Transnacional, de 2000 (Convenção de Palermo) e dois dos seus Protocolos Adicionais.

691. Apesar da não ratificação da Convenção de Viena, as suas disposições encontram-se acolhidas no direito interno na LD, relativa à prevenção e controlo do tráfico de estupefacientes. As disposições da referida Convenção bem como as disposições da Convenção de Palermo foram, em larga medida, acolhidas pela LCBC.

692. No entanto, a definição de branqueamento prevista no Artigo 2º do referido diploma legal não se encontra alinhada com a definição da Convenção de Palermo, sendo que a definição de produtos do crime é incompleta, ao não contemplar os produtos derivados directa ou indirectamente da sua comissão. Além disso, em matéria de cooperação judiciária internacional, as suas disposições são incompletas, por não incluírem aspectos que regulem a detecção e repressão do crime de branqueamento de capitais ou a cooperação para fins de perda, sendo manifestamente insuficientes as disposições sobre auxílio judiciário mútuo e sobre extradição, ao que acresce ser omissa quanto à possibilidade de realização de investigações conjuntas e de medidas para a protecção de testemunhas e de vítimas.

Ratificação de Convenções das Nações Unidas sobre CFT (c. I.1)

693. A Guiné-Bissau assinou a Convenção EFT em 14 de Novembro de 2001. De acordo com informação recebida pela equipa de avaliação, este instrumento jurídico foi ratificado em19 de Setembro de 2008, mas ainda não foi efectuado o depósito do instrumento de ratificação junto do Secretário-Geral das Nações Unidas. No entanto, as suas disposições não foram ianda acolhidas pelo direito interno.

694. Relativamente às Convenções e Protocolos das Nações Unidas sobre a luta contra o terrorismo, a situação na Guiné-Bissau é a seguinte:

• Convenção para a Repressão da Captura Ilícita de Aeronaves, de 16 de Dezembro de 1970 – Adesão em 28 de Agosto de 1976.

• Convenção para a Repressão de Actos Ilícitos contra a Segurança da Aviação Civil, de 23 de Setembro de 1971 – Adesão em 28 de Agosto de 1976.

• Convenção sobre Prevenção e Repressão de Crimes contra Pessoas Gozando de Protecção Internacional, incluindo os Agentes Diplomáticos, de 14 de Dezembro de 1973 – Não assinada.

• Convenção Internacional contra a Tomada de Reféns, de 17 de Dezembro de 1979 - Não assinada.

• Convenção sobre Protecção Física dos Materiais Nucleares, de 26 de Outubro de 1979 - Não assinada.

• Protocolo de 1988 para a Repressão de Actos Ilícitos de Violência nos Aeroportos ao Serviço da Aviação Civil Internacional, complementar à Convenção para a Repressão de Actos Ilícitos contra a Segurança da Aviação Civil, de 24 de Fevereiro de 1988 - Não assinado.

• Convenção para a Supressão de Actos Ilícitos contra a Segurança da Navegação Marítima, de 10 de Março de 1988 - Não assinada.

• Protocolo Adicional para a Supressão de Actos Ilícitos contra a Segurança das Plataformas Fixas Localizadas na Plataforma Continental, de 10 de Março de 1988 - Não assinado.

• Convenção Internacional para a Repressão de Atentados Terroristas à Bomba, de 15 de Dezembro de 1997 - Não assinada.

• Convenção relativa às Infracções e a Certos Outros Actos Cometidos a Bordo de Aeronaves, de 14 de Setembro de 1963 - Não assinada.

• Convenção Relativa à Marcação dos Explosivos Plásticos para Fins de Detecção, de 1 de Março de 1991 – Assinada em 1 de Março de 1991.

• Convenção Internacional para a Eliminação de Actos de Terrorismo Nuclear, de 14 se Setembro de 2005 – Não assinada.

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695. A Directiva nº 04/2007/CM/UEMOA relativa à luta contra o financiamento do terrorismo continua por transpor para o direito interno da Guiné-Bissau.

Aplicação da Convenção de Viena (Artigos 3º a 11º, 15º, 17 º e 19 º, c. 35.1)

696. Embora não tenha ratificado a Convenção de Viena, a Guiné-Bissau incorporou no seu direito interno as disposições dos seus Artigos 3º a 11º, 15º, 17º e 19º, nomeadamente através da LD e da LCBC, sendo complementados pelo Código Penal e pelo Código do Processo Penal.

697. A LD inclui disposições sobre a criminalização, incluindo sobre o branqueamento de capitais derivado do tráfico de estupefacientes, a competência territorial, sanções, perda de bens ou produtos, entregas controladas, transportadores comerciais e controlo do tráfico por mar ou através dos serviços postais, remetendo para a aplicação da própria Convenção de Viena quantos aos aspectos da cooperação judiciária internacional em matéria penal. A LCBC inclui também disposições relativas à cooperação judiciária internacional, nomeadamente sobre o auxílio mútuo e a extradição.

Aplicação da Convenção de Palermo (Artigos 5º a 7º, 10º a 16º, 18º a 20º, 24º a 27º, 29º a 31º e 34º)

698. A maior parte das disposições da Convenção de Palermo encontram-se acolhidas no direito interno da Guiné-Bissau, em especial no Código Penal, Código do Processo Penal e LCBC. Porém, aspectos como a cooperação internacional para efeitos de perda, a partilha de bens, as investigações conjuntas e as técnicas especiais de investigação, bem como a protecção de testemunhas, a assistência e protecção às vítimas, a prevenção e a formação não se encontram previstos no direito interno.

Aplicação da Convenção Internacional para a Eliminação do Financiamento do Terrorismo (Artigos 2 a 18)

699. O Código Penal criminaliza apenas o financiamento de organizações terroristas enquanto a Directiva nº 04/2007/CM/UEMOA, de 4 de Julho ainda não foi transposta para o direito interno da Guiné-Bissau, o que significa que as disposições da Convenção EFT não foram acolhidas na sua totalidade. É, por exemplo, o caso do seu Artigo 2º ou do Artigo 18º.

Aplicação das Resoluções do Conselho de Segurança da ONU relativas à prevenção e à repressão do financiamento do terrorismo (c. I.2)

700. A aplicação das Resoluções das Nações Unidas é feita através do Regulamento nº 14/2002/CM/UEMOA, de 19 de Setembro de 1992, de aplicação directa na Guiné-Bissau. No entanto este instrumento não permite a aplicação completa das disposições que daquelas resultam pelo facto de apenas se referir à Resolução 1267 (1999) e, por outro lado, ter o campo de aplicação limitado aos bancos e entidades financeiras.

701. São ainda aplicáveis a Decisão nº 06/2003/CM/UEMOA de 26 de Junho e as que lhe sucederam, relativas às listas de pessoas, entidades ou organismos cujos fundos e outros activos financeiros devem ser congelados.

702. A equipa de avaliação não identificou a existência de nenhum mecanismo nacional que permita o acompanhamento das referidas listas.

Elemento Adicional — Ratificação ou aplicação de outras convenções internacionais relevantes (c. 35.2)

703. De acordo com informações facultadas à equipa de avaliação, a Guiné-Bissau ratificou a Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção (Mérida) através da Resolução nº 10/2006, de 30 de Novembro de 2006, embora esteja por depositar o respectivo instrumento de ratificação, bem como ratificou a Convenção da União Africana sobre a Prevenção e Luta contra o Terrorismo, através da Resolução nº 9/2006, da mesma data.

704. Ainda no plano multilateral a Guiné-Bissau ratificou o Acordo de cooperação judiciária com Angola, Cabo Verde, Moçambique e São Tomé e Príncipe, assinado em Bissau em 10 de Dezembro de 1987. A Guiné-Bissau apenas assinou as três Convenções da Comunidade de Países de Língua Portuguesa, de 23 de Novembro de 2005 sobre o Auxílio Judiciário Mútuo, a Extradição e a Transferência de Pessoas Condenadas entre os seus Estados membros.

705. A nível bilateral a Guiné-Bissau celebrou com Portugal um Acordo de Cooperação Jurídica, em vigor desde 10 de Janeiro de 1994.

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Recomendações e Comentários

706. Apesar de a Guiné-Bissau ter ratificado algumas convenções, ainda se encontram por ratificar a Convenção de Viena e a Convenção EFT e outras convenções das Nações Unidas em matéria de terrorismo, pelo que devem ser feitos esforços nesse sentido. Além disso, as disposições daquela primeira convenção e da Convenção de Palermo ainda não foram todas transpostas para o direito interno da Guiné-Bissau.

707. A LCBC deve ser revista no sentido de melhorar certas definições, como é o caso da definição de produtos do crime, das disposições sobre cooperação judiciária internacional e das medidas para a protecção de testemunhas e de vítimas. Ao mesmo tempo, o Código Penal deve ser alterado no sentido de passar a prever também o financiamento do terrorismo e do terrorista individual (e não apenas das organizações terroristas), o que poderá ser feito aquando da transposição da Directiva 04/2007/CM/UEMOA relativa à lua contra o financiamento do terrorismo.

708. Além disso, o Regulamento nº 14/2002/CM/UEMOA, de aplicação directa na Guiné-Bissau, é limitado, apenas tendo como destinatárias as instituições financeiras e apenas fazendo referência à Resolução 1267 (1999), nada dizendo quanto à Resolução 1373 (20001).

Conformidade com a Recomendação 35 e a Recomendação Especial I

Avaliação Resumo dos factores que fundamentam a avaliação

R.35 PC • As disposições das Convenções de Viena e de Palermo não foram totalmente implementadas na Guiné-Bissau.

• A Convenção EFT encontra-se assinada e ratificada. No entanto, as suas disposições não foram aplicadas pela Guiné-Bissau..

RE.I NC

• As Resoluções 1267 (1999) e 1373 (2001) não estão a ser aplicadas porquanto o Regulamento nº 14/2002/CM/UEMOA se aplica apenas aos bancos e instituições financeiras e apenas se referir à primeira daquelas Resoluções.

• Os instrumentos jurídicos da UEMOA não foram transpostos para o direito interno.

• A Convenção EFT encontra-se assinada e ratificada. No entanto, as suas disposições não foram aplicadas pela Guiné-Bissau.• Inexistência de cooperação em matéria de financiamento do terrorismo.

AUXÍLIO JUDICIÁRIO MÚTUO (R.36-38, RE.V)

Descrição e Análise

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709. Enquadramento Jurídico: A LCBC prevê no seu Título V, Artigos 47º a 75º um conjunto de disposições relativas à cooperação judiciária internacional em matéria penal, cuja aplicação é limitada apenas aos Estados membros da UEMOA e ao crime de branqueamento de capitais.

710. Nesta matéria, de referir que a LD permite uma cooperação internacional mais vasta, mas apenas em relação ao crime de branqueamento de capitais derivado do tráfico de estupefacientes remetendo, nesta matéria, para as disposições da Convenção de Viena. Os instrumentos bilaterais em vigor permitem também esta cooperação internacional em matéria penal.

Amplitude do auxílio judiciário mútuo (c. 36.1)

711. A LCBC, além de definir o procedimento aplicável, consagra um leque abrangente das formas que o auxílio judiciário pode assumir, como é o caso da recolha de testemunhos ou depoimentos, a entrega de documentos, as investigações e a perda, a verificação de objectos e do lugar onde se encontram, o fornecimento de informações e de originais, cópias autênticas dos processos e todos os documentos relevantes, incluindo extractos bancários, peças contabilísticas e registos sobre as actividades comerciais das empresas.

712. Embora a referida Lei tenha como destinatários os Estados membros da UEMOA, não parece excluir, no que respeita à cooperação judiciária internacional em matéria penal, a aplicação das suas disposições nas relações com terceiros Estados, como resulta, por exemplo, da redacção do segundo parágrafo dos Artigo 65º e 67º, desde que verificada a condição de reciprocidade.

713. A ausência de transposição da Directiva nº 04/2007/CM/UEMOA, de 4 de Julho implica que o auxílio judiciário mútuo não poderá ser prestado em relação às situações que envolvam o financiamento de organizações terroristas.

Prestação do auxílio judiciário de forma rápida, construtiva e eficiente (c. 36.1.1)

714. Embora as autoridades competentes, em especial o Ministério Público, tenham afirmado que o auxílio judiciário pode ser facultado de uma forma rápida, construtiva e eficaz, a ausência de estatísticas ou de informação sobre pedidos de auxílio judiciário em matéria penal recebidos pela Guiné-Bissau não permite confirmar essa afirmação.

Inexistência de condições injustificadas, desproporcionadas ou restritivas à prestação de auxílio judiciário mútuo (c. 36.2)

715. No Artigo 55º da LCBC encontram-se fixadas as condições de recusa da prestação do auxílio judiciário mútuo, semelhantes às condições clássicas de recusa plasmadas em instrumentos jurídicos internacionais, pelo que não podem ser consideradas como injustificadas, desproporcionadas ou restritivas.

716. A LD, em matéria de tráfico de estupefacientes, remete para as disposições da Convenção de Viena sobre a cooperação internacional, aplicáveis nas situações que envolvam o crime de branqueamento de capitais derivado do tráfico de estupefacientes, pelo que também nesta situação particular não existem condições injustificadas, desproporcionadas ou restritivas.

717. A Lei refere expressamente que o segredo profissional não pode ser invocado para a recusa da execução de um pedido de auxílio judiciário.

Procedimentos claros e eficazes para a execução de pedidos de auxílio judiciário mútuo (c. 36.3)

718. Na inexistência de disposições nacionais em matéria de cooperação judiciária internacional em assuntos penais, a LCBC vem facilitar essa cooperação, quer no âmbito da UEMOA, quer com países terceiros, embora limitada às questões que envolvam a prática do crime de branqueamento de capitais.

719. Em termos da sua eficácia, e considerando que apenas o Artigo 58º in fine fixa um prazo para o cumprimento do pedido, encontra-se na disponibilidade dos Estados a promoção ou fixação das condições ou a definição dos procedimentos que possibilitem uma rápida resposta às solicitações efectuadas por outros Estados. No caso concreto da Guiné-Bissau, a ausência de estatísticas ou de informação sobre pedidos de auxílio judiciário mútuo recebidos ou enviados não permite medir a referida eficácia.

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Prestação de auxílio judiciário mútuo que envolva questões fiscais (c. 36.4)

720. As questões de natureza fiscal não constam como uma das condições de recusa do cumprimento de um pedido de auxílio judiciário mútuo previstas no Artigo 55º da LCBC.

Prestação de auxílio judiciário apesar da existência de leis de segredo e de confidencialidade (c. 36.5)

721. A LCBC refere expressamente no Artigo 55º que o segredo profissional não pode ser invocado para a recusa de execução de um pedido de auxílio judiciário mútuo.

722. Como já afirmado, estas disposições aplicam-se apenas ao crime de branqueamento de capitais e não ao financiamento do terrorismo.

Atribuição de poderes às autoridades competentes (c. 36.6, aplicação da R.28)

723. Como resulta da leitura dos Artigos 57º e seguintes, a LCBC atribui às autoridades judiciárias e policiais competentes em matéria de cooperação judiciária internacional em matéria penal um conjunto de poderes tendentes ao cumprimento dos pedidos.

Conflitos de competência (c. 36.7)

724. A fim de evitar conflitos de competência, a LCBC autoriza a transferência do procedimento penal, mesmo para Estados terceiros, não membros da UEMOA, desde que verificadas as condições de reciprocidade.

725. Assim, dispõe o Artigo 47º que, sempre que uma autoridade judiciária de um Estado membro da UEMOA entender que, por qualquer motivo, os procedimentos penais ou a continuidade dos procedimentos já por si iniciados enfrenta grandes obstáculos e que não é possível um procedimento penal adequado no seu território nacional, pode pedir à autoridade judiciária competente de outro Estado, mesmo terceiro, para executar os procedimentos necessários contra o presumível autor da infracção. Este pedido de transferência deve ser acompanhado dos documentos, peças processuais, objectos e informações que estejam na posse da autoridade competente que apresenta o pedido.

726. No entanto, o preceito nada diz relativamente à forma de determinar qual o local mais apropriado para a continuação do procedimento, considerando o superior interesse da justiça e a necessidade de celeridade processual.

Elemento Adicional — Atribuição às autoridades competentes dos poderes previstos na R28 (c. 36.8)

727. Os poderes atribuídos às autoridades nacionais competentes, nomeadamente em matéria de revistas e buscas ou apreensões, estão também disponíveis para as autoridades nacionais no contexto de um pedido de cooperação judiciária internacional em matéria penal. É o que resulta da conjugação do disposto no Artigos 53º e seguintes da LCBC com as normas gerais do Código do Processo Penal.

Cooperação internacional em relação à RE V (aplicação do c. 36.1-36.6 da R.36, c. V.1)

728. As disposições da LCBC em matéria de cooperação judiciária internacional em matéria penal apenas se aplicam aos crimes de branqueamento de capitais, mas não aos crimes de organização terrorista e seu financiamento, tal como plasmados no Código Penal da Guiné-Bissau.

Elemento adicional de acordo com a RE V (aplicação do c. 36.7 e 36.8 da R.36, c.V.6)

729. As disposições da LCBC em matéria de cooperação judiciária internacional em matéria penal apenas se aplicam aos crimes de branqueamento de capitais, mas não aos crimes de organização terrorista e seu financiamento, tal como plasmados no Código Penal da Guiné-Bissau.

Recomendação 37

Dupla incriminação e auxílio judiciário mútuo (c. 37.1 e 37.2)

730. A LCBC, além de definir o procedimento aplicável, consagra um leque abrangente das formas que o auxílio judiciário pode assumir entre a Guiné-Bissau e os Estados membros da UEMOA e também com Estados terceiros, embora seja omissa em

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relação à necessidade de verificação da condição da dupla incriminação para o cumprimento dos pedidos. Além disso, a dupla incriminação não consta das condições de recusa previstas no Artigo 55º deste diploma legal.

731. A ausência de informações sobre pedidos de auxílio judiciário mútuo recebidos pela Guiné-Bissau não permitiu à equipa de avaliação verificar se a verificação de tal cláusula foi ou não exigida para o cumprimento dos pedidos de auxílio judiciário que tenham envolvido o crime de branqueamento de capitais.

Recomendação especial V

Cooperação internacional de acordo com a RE V (aplicação do c. 37.1-37.2 da R.37, c. V.2)

732. As disposições da LCBC sobre cooperação judiciária internacional em matéria penal apenas se aplicam aos crimes de branqueamento de capitais, mas não aos crimes de organização terrorista e seu financiamento, tal como plasmados no Código Penal da Guiné-Bissau.

Recomendação 38

Pedidos de auxílio judiciário mútuo apresentados por outros países relativos a medidas provisórias e à perda (c. 38.1, c.38.2 e c.38.6)

733. Os Artigos 62º a 67º da LCBC estabelecem as bases para a cooperação entre a Guiné-Bissau e outros Estados no que se refere à investigação, apreensão e perda de bens, de objectos e do produto do crime de branqueamento de capitais, bem como ao destino a dar aos bens declarados perdidos para o Estado.

734. Assim, as autoridades competentes em matéria de investigação e da promoção do procedimento penal pela prática do crime de branqueamento de capitais e das infracções subjacentes, em regra a Polícia Judiciária e o Ministério Público, têm competência para a dar cumprimento aos pedidos de auxílio judiciário mútuo. Nos termos do Artigo 62º, sempre que o pedido tiver como objecto a execução de diligências de investigação ou de apreensão, destinadas a recolher elementos probatórios, a autoridade competente pode autorizar o pedido, desde que não colida com a legislação nacional vigente e que as diligências a realizar não causem prejuízos a terceiros de boa-fé.

735. De acordo com o Artigo 36º da mesma Lei cabe ao juiz de instrução a decisão de autorização das medidas conservatórias, nomeadamente a apreensão de bens ou produtos relacionados com o crime de branqueamento de capitais e os demais elementos, por forma a permitir a sua identificação, assim como o congelamento das somas em dinheiro e das operações financeiras efectuadas. Esta redacção colide com as competências do Ministério Público estabelecidas nos Artigos 48º e 49º do Código do Processo Penal da Guiné-Bissau, o que poderá criar um conflito de competência entre ambos.

736. O Artigo 64º já não se refere ao juiz de instrução como a autoridade competente para autorizar a investigação tendente a apurar se o produto de um crime de branqueamento de capitais praticado no estrangeiro se encontra na Guiné-Bissau. Porém, ao limitar essa possibilidade aos produtos do crime, exclui que o pedido possa servir também para investigar se outros aspectos ligados à sua prática, como por exemplo saber se os instrumentos utilizados ou destinados a ser utilizados na prática do crime de branqueamento ou de uma infracção subjacente, se encontram em território da Guiné-Bissau, limitando assim o auxílio judiciário na que concerne às medidas provisórias.

737. Em matéria de perda, resulta do Artigo 63º da LCBC que o pedido deve ser apresentado em relação aos bens que representem o produto ou o instrumento de um dos crimes nela previstos, a saber o crime de branqueamento de capitais ou uma qualquer das infracções subjacentes que se saibam estarem no território da Guiné-Bissau. O pedido pode ser também apresentado em relação ao pagamento de uma quantia de valor equivalente ao dos bens ou produtos a declarar perdidos.

738. De acordo com os princípios jurídico-constitucionais, com o Código Penal e com o Código do Processo Penal, as decisões de perda têm de ser declaradas por um tribunal criminal, não sendo admissíveis através de procedimentos de natureza cível. Sem distinguir a sua natureza, o Artigo 67º apenas indica que as decisões definitivas de perda proferidas num Estado membro da UEMOA (e num Estado terceiro, em condições de reciprocidade) podem ser executadas no território da Guiné-Bissau. A equipa de avaliação não obteve informação sobre se um pedido de perda apresentado por um Estado estrangeiro com base numa decisão de natureza não criminal pode ser reconhecido e executado na Guiné-Bissau.

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Coordenação das acções de apreensão e de perda (c. 38.3)

739. Nem a LCBC, nem a demais legislação penal em vigor, prevê a celebração de acordos para a coordenação de procedimentos de apreensão e de perda entre a Guiné-Bissau e outros países.

Cooperação internacional de acordo com a RE V (aplicação do c. 38.1-38.3 da R.38, c. V.3)

740. As disposições da LCBC relativas à cooperação judiciária internacional em matéria penal aplicam-se apenas aos crimes de branqueamento de capitais, mas não aos crimes de organização terrorista e seu financiamento, tal como plasmados no Código Penal da Guiné-Bissau.

741. A ausência de transposição da Directiva nº 04/2007/CM/UEMOA, de 4 de Julho implica que o auxílio judiciário mútuo não poderá ser prestado em relação às situações que envolvam o financiamento de organizações terroristas.

Fundo de activos declarados perdidos (c. 38.4) e repartição dos bens declarados perdidos (c. 38.5)

742. Nem o Código Penal nem a LCBC prevêem disposições que permitam a partilha dos bens declarados perdidos pela prática dos crimes de branqueamento de capitais, de organizações terroristas ou pelo financiamento destas organizações. Apenas a LD, relativo ao tráfico de estupefacientes prevê, no nº 3 do seu Artigo 18º, a possibilidade da partilha de bens derivados do branqueamento de capitais.

743. Assim, os bens ou produtos apreendidos a solicitação das autoridades de um outro Estado ou os fundos provenientes da sua venda pertencem ao Estado onde se encontravam no momento da apreensão, podendo a partilha ser estabelecida em acordo ou tratado a celebrar entre os dois Estados. A equipa de avaliação não dispõe de informação sobre se foram celebrados pela Guiné-Bissau acordos com esta finalidade.

Elemento Adicional nos termos da RE V (aplicação dos c. 38.4-38.6 da R. 38, c V.7)

744. As disposições da LCBC sobre cooperação judiciária internacional em matéria penal aplicam-se apenas aos crimes de branqueamento de capitais, mas não aos crimes de organização terrorista e seu financiamento, tal como plasmados no Código Penal da Guiné-Bissau.

745. A ausência de transposição da Directiva nº 04/2007/CM/UEMOA, de 4 de Julho implica que o auxílio judiciário mútuo não poderá ser prestado em relação às situações que envolvam o financiamento de organizações terroristas.

Recomendação 32

746. Não existem estatísticas disponíveis sobre pedidos de auxílio judiciário mútuo, em particular, sobre pedidos enviados e recebidos, medidas adoptadas e tempos de resposta.

Recomendações e Comentários

747. A Directiva nº 4/2007/CM/UEMOA deve ser transposta e devem ser criminalizados, a par do financiamento das organizações terroristas, também o financiamento do terrorismo e do terrorista individual.

748. Além disso, deve ser avaliada a possibilidade de criação de um fundo de bens declarados perdidos, a utilizar para determinados fins, como educação e equipamento das autoridades de aplicação da lei, bem como ser prevista a possibilidade de partilha de bens declarados perdidos com outros países.

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749. A LCBC deve ser melhorada, também para a criação de mecanismos que permitam determinar qual o país competente para prosseguir com um determinado procedimento criminal evitando, por esta via, conflitos de competência.

750. Devem ser adoptadas medidas que permitam a criação de mecanismos de coordenação das acções de apreensão e da perda de bens.

751. Não existem estatísticas sobre pedidos de auxílio judiciário mútuo, em especial pedidos apresentados e recebidos, medidas adoptadas ou o tempo de resposta

Conformidade com as Recomendações 36 a 38 e com a Recomendação Especial V

Avaliação Resumo dos factores relevantes que fundamentam a avaliação

R.36 PC • A Directiva nº 4/2007/CE/UEMOA não foi transposta para o direito interno, de forma a permitir o auxílio judiciário em relação ao financiamento do terrorismo.

• A LCBC não estabelece mecanismos que permitam suprir conflitos de competência entre Estados.

R.37 PC

• A LCBC não é clara quanto à questão da dupla incriminação e à necessidade da sua verificação para o cumprimento dos pedidos de auxílio judiciário em matéria de branqueamento de capitais.

R.38 PC • O Código do Processo Penal é limitado quanto à possibilidade de investigação aos produtos do crime, que deve ser alargada também a outros aspectos ligados à prática desse crime. • Nem o CPP nem a LCBC são claros quanto a quem cabe a prática de certos actos processuais, se ao Ministério Público, se ao Juiz de Instrução. • Não existem mecanismos de coordenação para facilitar a cooperação relativamente a pedidos de apreensão ou de perda oriundos de outros países. • Não se encontra previsto um fundo com activos para partilha, nem a possibilidade de partilha de bens se encontra prevista na legislação. • Não existem estatísticas ou elementos concretos sobre pedidos de auxílio judiciário mútuo em matéria de apreensão e perda de bens.

RE.V PC • A não transposição da Directiva nº 4/2007/CM/UEMOA é um factor de limitação da cooperação judiciária internacional em matéria penal. • O financiamento do terrorismo e do terrorista individual não são criminalizados pelo Código Penal, pelo que o auxílio judiciário não pode ser concedido em matéria do financiamento do terrorismo, nesse aspecto particular.

EXTRADIÇÃO (R.37, 39, RE.V)

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Descrição e Análise

752. Enquadramento Jurídico: A Constituição da República da Guiné-Bissau faz referência à extradição no seu Artigo 43º, incluído no Título II, relativo aos direitos, liberdades, garantias e deveres fundamentais.

753. Por sua vez, a LCBC regula esta modalidade de cooperação judiciária internacional em matéria penal nos seus Artigos 71º a 75º.

754. O branqueamento de capitais é, assim, uma infracção que admite extradição, também nos termos da LD, sempre que esteja relacionado com o tráfico de estupefacientes, tal como estabelecido no seu Artigo 40º. Nestes termos, são extraditáveis as pessoas condenadas definitivamente no Estado requerente pela prática dos crimes previstos nos Artigos 2º e 3º e, ainda, as pessoas contra quem corre um procedimento penal pela prática das mesmas infracções.

755. A ausência de transposição da Directiva nº 04/2007/CM/UEMOA, de 4 de Julho implica que a extradição não poderá ser concedida nas situações que envolvam o financiamento de organizações terroristas, previstas no Código Penal, ou do financiamento do terrorismo e do terrorista individual, condutas ainda por criminalizar.

756. Além disso, de acordo com as disposições constitucionais, é proibida a extradição de nacionais, bem como a extradição de cidadãos estrangeiros por motivos políticos. O quadro jurídico é, assim, omisso quando à aplicação do princípio aut dedere aut judicare, ou seja, não se encontra garantida a possibilidade de, nos casos apontados – pedido de extradição de um nacional, ou apresentação desse pedidos por determinados motivos, ou de situações que envolvam a prática do crime de financiamento de organizações terroristas – as autoridades competentes da Guiné-Bissau se obrigarem a julgar as pessoas reclamadas por outros Estados.

Dupla incriminação e auxílio judiciário mútuo (c. 37.1 e 37.2)

757. A verificação da condição da dupla incriminação é exigida para a extradição. Resulta do Artigo 71º da LCBC que não são violadas as regras de direito comum, nomeadamente as relativas à dupla incriminação. A equipa de avaliação não recebeu informação sobre se o facto de os elementos do tipo legal do crime de branqueamento de capitais, da infracção subjacente, ou mesmo do crime de financiamento do terrorismo, forem diferentes no Estado que apresenta o pedido constituem um obstáculo à autorização do pedido de extradição.

758. Como atrás referido, a ausência de transposição da Directiva nº 04/2007/CM/UEMOA, de 4 de Julho implica que a extradição não poderá ser concedida nas situações que envolvam o financiamento de organizações terroristas.

Branqueamento de capitais como crime que admite a extradição (c. 39.1)

759. O branqueamento de capitais é, assim, uma infracção que admite extradição, por força da LCBC e também nos termos da LD sempre que esteja relacionado com o tráfico de estupefacientes, tal como estabelecido no seu Artigo 40º.

760. Embora o nº 3 do Artigo 43º da Constituição da República refira que a extradição só pode ser decidida por autoridade judicial, ou seja um juiz ou Ministério Público, a LCBC apenas indica que o pedido de extradição é remetido pelas autoridades competentes do Estado requerente directamente ao Procurador-Geral da República com ampliação, para informação, ao Ministro da Justiça, não permitindo descortinar de quem é a competência para a autorização desse pedido, limitado ao crime de branqueamento de capitais e infracções conexas, ou seja se existe uma fase judiciária e, depois, uma fase administrativa, onde a decisão final é proferida.

761. De acordo com a informação recebida pela equipa de avaliação, os pedidos de detenção ou de prisão preventiva podem ser recebidos através do Gabinete Nacional Interpol, que funciona junto do Gabinete da Ministra da Justiça. Além disso, nos termos do Artigo 74º da LCBC, existe a possibilidade de o Estado requerente, em caso de urgência, poder requer a prisão preventiva da pessoa a extraditar antes de enviar o respectivo pedido formal. Os pedidos de extradição podem ser completados com informação adicional, a pedido do Estado requerido, quando considerar que a informação recebida se revela insuficiente para uma tomada de decisão.

Extradição de nacionais (c. 39.2)

762. Nos termos previstos no nº 1 do Artigo 43º da Constituição da República da Guiné-Bissau, é proibida a extradição de nacionais.

Page 140: Relatório de Avaliação Mútua - GIABA

Cooperação para o julgamento de nacionais (aplicação do c. 39.2(b), c. 39.3)

763. A equipa de avaliação não obteve informação sobre a aplicação do princípio aut dedere aut judicare, ou seja, se as autoridades competentes se obrigam a julgar as pessoas reclamadas por outros Estados nas situações em que é apresentado um pedido de extradição de um nacional da Guiné-Bissau.

Eficácia do processo de extradição (c. 39.4)

764. As autoridades da Guiné-Bissau não forneceram à equipa de avaliação informações precisas sobre processos de extradição específicos, sobre o número de pedidos de extradição recebidos e sobre a duração do procedimento.

Elemento Adicional (R.39) — Existência de procedimentos simplificados de extradição (c. 39.5)

765. Embora o Artigo 72º da LCBC se refira, na epígrafe, ao procedimento simplificado de extradição, a equipa de avaliação considera que este preceito não apresenta as características de um verdadeiro procedimento simplificado, nomeadamente a necessidade de consentimento da pessoa a extraditar ou a dispensa de certas formalidades, tal como consagrado em instrumentos jurídicos internacionais, como é o caso da Convenção de Palermo e da Convenção de Mérida, ambas das Nações Unidas.

Elemento adicional nos termos da RE V (aplicação do c. 39.5 da R. 39, c V.8)

766. A ausência de transposição da Directiva nº 04/2007/CM/UEMOA, de 4 de Julho implica que a extradição não poderá ser concedida nas situações que envolvam o financiamento de organizações terroristas, previstas no Código Penal, ou do financiamento do terrorismo e do terrorista individual, condutas ainda por criminalizar.

Estatísticas (aplicação da R.32)

767. Não foram fornecidos à equipa de avaliação quaisquer elementos estatísticos relativos à extradição.

Recomendações e Comentários

768. O financiamento de organizações terroristas, já criminalizado no Código Penal, e o financiamento do terrorismo ou de terroristas individuais, condutas ainda por criminalizar, não permitem a extradição, tendo em conta a necessidade da verificação da condição da dupla incriminação e o facto das disposições sobre extradição na lei em vigor apenas se aplicarem ao branqueamento de capitais

769. A Constituição da República proíbe a extradição de nacionais, não se encontrando porém prevista a aplicação do princípio aut dedere aut judicare, ou seja, não é garantido que, nestas situações as autoridades nacionais se obriguem a julgar. Além disso, não é claro na lei quem é a entidade competente para autorizar o pedido de extradição e se o procedimento tem uma fase judicial e uma fase administrativa, finda a qual o pedido será autorizado ou recusado.

770. É total a ausência de estatísticas sobre pedidos de extradição activa ou passiva, sobre o seu cumprimento ou motivos de recusa.

Conformidade com as Recomendações 37 e 39 e com a Recomendação Especial V

Avaliação Resumo dos factores que fundamentam a avaliação

R.39 PC

• A legislação nacional é omissa em relação à obrigação de julgar sempre que um pedido de extradição seja recusado por envolver um nacional.

• A LCBC não consagra um verdadeiro procedimento simplificado de

Page 141: Relatório de Avaliação Mútua - GIABA

extradição.

• Não é possível autorizar pedidos de extradição baseados na prática do financiamento do terrorismo, de organizações terroristas e de terrorista individual.

• Não existem estatísticas sobre pedidos de extradição, sua concessão ou recusa, motivos de recusa e duração média do procedimento, tornando impossível avaliar a eficácia do sistema.

R.37 PC

• A verificação da dupla incriminação expressamente requerida pela LCBC para a concessão de um pedido de extradição é um obstáculo à cooperação internacional.

• Não é claro se o facto de tipo legal de crime de branqueamento de capitais ou de financiamento do terrorismo ou das infracções subjacentes serem diferentes no Estado requerente e no Estado requerido, constitui um obstáculo à extradição.

RE.V PC • A não criminalização do financiamento do terrorismo e do terrorista individual, bem como o facto de a LCBC só se aplicar ao branqueamento de capitais coloca obstáculos à autorização de pedidos de extradição relativamente a estas condutas.

• A verificação da dupla incriminação é expressamente requerida pela LCBC para a concessão de um pedido de extradição.

• A verificação da dupla incriminação, expressamente requerida pela LCBC para a concessão de um pedido de extradição, é um obstáculo à cooperação internacional.

OUTRAS FORMAS DE COOPERAÇÃO INTERNACIONAL (R.40 E RE.V)

Descrição e Análise

A mais ampla cooperação internacional (c. 40.1)

771. As autoridades de aplicação da lei, a saber as autoridades judiciárias e policiais da Guiné-Bissau, estão aptas a cooperar com as suas congéneres de outros países no quadro de investigações e processos criminais como resulta, aliás, das disposições da LCBC. Essa cooperação pode ser feita directamente entre autoridades judiciárias e, no caso da Polícia Judiciária, através do Gabinete Nacional Interpol. Este Gabinete mantém abertos canais de comunicação com a INTERPOL e com as autoridades nacionais, nomeadamente com as restantes polícias e autoridades alfandegárias.

772. As autoridades policiais podem ainda cooperar, segundo afirmado à equipa de avaliação, com os demais Estados membros da UEMOA e com as suas congéneres de outros Estados, de que é exemplo a cooperação entre as Polícias Judiciárias da Guiné-Bissau, de Cabo Verde e de Portugal. Além disso, foi assinado em Dezembro de 1993 um Acordo de cooperação em matéria policial entre todos os Estados membros da CEDEAO.

773. As autoridades alfandegárias, segundo avançado à equipa de avaliação pela Direcção-Geral das Alfândegas, cooperam internacionalmente com as homólogas dos restantes membros da UEMOA recorrendo à Rede existente para o efeito (Customs Enforcement Network). Cooperam directamente com outros países, como é o caso de Portugal, obtendo indirectamente informações relevantes por esta via, já que a Guiné-Bissau não é membro da Organização Mundial das Alfândegas.

774. A Guiné-Bissau está envolvida num programa de cooperação com União Europeia para a Reforma do Sector da Segurança que tem por objectivo dotar o país de melhores condições e meios técnicos e operacionais necessários para enfrentar o tráfico de estupefacientes.

Page 142: Relatório de Avaliação Mútua - GIABA

775. A cooperação entre a CENTIF e as suas homólogas dos Estados membros da UEMOA ou de países terceiros, prevista nos Artigos 23º e 24º da LCBC é inexistente atendendo ao facto de esta entidade, apesar de formalmente criada, ainda não se encontrar operacional.

776. Ao nível dos supervisores do sistema financeiro, existe uma cooperação interna, ao nível da UEMOA, e uma cooperação internacional, onde o BCEAO, enquanto responsável pela supervisão do sector bancário assume um papel de relevo, participando também nas reuniões da CIMA, entidade regional encarregada da supervisão do sector segurador. No plano da cooperação internacional o BCEAO tem poderes para cooperar com as autoridades de supervisão de outros países, estando habilitado a transmitir e a receber informações relativas aos bancos e às instituições financeiras não bancárias, em condições de reciprocidade e desde que mantido o segredo profissional. Não foi possível à equipa de avaliação obter informação sobre a cooperação internacional entre as autoridades de supervisão do sector de seguros.

Prestação de auxílio de forma rápida, construtiva e eficaz (cf. 40.1.1)

777. Na opinião das autoridades policiais e judiciárias contactadas pela equipa de avaliação a cooperação desenrola-se de uma forma rápida eficaz e construtiva ao nível regional e internacional, aspecto que não foi possível confirmar sobretudo pela falta de elementos concretos, também de natureza estatística.

Dispositivos claros e eficientes para facilitar a troca de informações (c. 40.2)

778. A troca de informações entre as polícias pode ser feita com recurso aos canais de comunicação rápida da INTERPOL enquanto ao nível das autoridades judiciárias a comunicação e a troca de informações pode ser feita de forma directa, tal como resulta da LCBC, não estando afastada a possibilidade de utilização dos meios modernos de comunicação como o fax e o correio electrónico.

Troca espontânea de informações (c. 40.3)

779. A equipa de avaliação não foi informada da possibilidade de trocar espontaneamente informações, quer ao nível das autoridades policiais e judiciárias, quer ao nível das autoridades de supervisão do sector financeiro, com excepção da Polícia Judiciária.

Diligências em nome das suas homólogas estrangeiras (c. 40.4)

780. A equipa de avaliação não foi informada da possibilidade poderem ser efectuadas diligências em nome das suas homólogas estrangeiras.

UIF autorizada a efectuar diligências em nome de homólogas estrangeiras (c. 40.4.1)

781. A possibilidade de a CENTIF da Guiné-Bissau realizar inquéritos a pedido das suas homólogas estrangeiras encontra-se prevista no Artigo 25º da LCBC, tornando-se necessário, para tal efeito, um acordo bilateral e a prévia autorização do Ministro das Finanças.

782. Em relação aos Estados membros da UEMOA, nos termos do Artigo 24º do mesmo diploma, a CENTIF pode obter e comunicar informações e elementos relativos às investigações realizadas na sequência de uma declaração suspeita feita a nível nacional. No entanto, esta disposição não contempla a possibilidade de a CENTIF efectuar inquéritos em nome das suas homólogas dos Estados membros da UEMOA.

Realização de investigações em nome de homólogas estrangeiras (c. 40.5)

783. Apenas a Polícia Judiciária afirmou poder realizar inquéritos a pedido das homólogas estrangeiras, quer directamente, quer através de pedido recebido via INTERPOL, quer ainda no quadro da cooperação judiciária internacional em matéria penal. As autoridades judiciárias, nomeadamente o Ministério Público, também pode realizar estes inquéritos, no quadro da cooperação judiciária.

Condições restritivas, desproporcionadas ou injustificadas (c. 40.6)

784. As autoridades contactadas, em particular as autoridades policiais e judiciárias informaram a equipa de avaliação que a troca de informações não está sujeita a condições restritivas, desproporcionadas ou injustificadas. A inexistência de exemplos concretos não permitiu verificar a realidade existente.

Page 143: Relatório de Avaliação Mútua - GIABA

Cooperação mesmo sobre matérias fiscais (c. 40.7)

785. A LCBC não inclui as matérias fiscais como uma causa de recusa dos pedidos de cooperação judiciária. No entanto, não é conhecida legislação que regule a matéria da cooperação de outra natureza, como a administrativa, que permita constar a possibilidade de cooperar mesmo quando estejam envolvidas questões fiscais.

Cooperação apesar da existência de leis de segredo ou de confidencialidade (c. 40.8)

786. Não é conhecida legislação que regule a possibilidade de cooperação de natureza administrativa mesmo quando estejam em vigor disposições de segredo e de confidencialidade.

Controlos e garantias da utilização das informações (c. 40.9)

787. Não foi possível à equipa de avaliação obter informação sobre se as regras aplicáveis à cooperação judiciária, que impõem o segredo tal como resulta do Artigo 56º da LCBC, são também aplicáveis à cooperação administrativa ou de outra natureza.

Elemento adicional — Troca de informações com entidades não homólogas (c. 40.10 e c. 40.10.1)

788. Não foi possível à equipa de avaliação obter informação sobre a possibilidade de as autoridades poderem trocar informações com entidades não homólogas.

Elemento Adicional — Fornecimento de informação à UIF por outras autoridades competentes com base num pedido de UIF estrangeira (c. 40.11)

789. Além do que já se afirmou em relação ao disposto nos Artigos 23º e 24º da LCBC, não foi possível à equipa de avaliação confirmar a possibilidade de a CENTIF poder obter de outras entidades competentes ou de outras pessoas informações relevantes solicitadas por uma UIF homóloga.

Cooperação internacional de acordo com a RE V (aplicação dos c. 40.1-40.9 da R.40, c. V.5)

790. As autoridades contactadas informaram que a cooperação em matéria de financiamento de organizações terroristas é possível entre as várias polícias e os serviços de informações do Estado e as suas congéneres estrangeiras. No entanto, considerando que o financiamento do terrorismo não se encontra criminalizado não foi possível confirmar esta afirmação.

Elemento adicional nos termos da RE V (aplicação do c. 40.10-40.11 da R. 40, c. V.9)

791. Não foi possível à equipa de avaliação obter informação sobre a possibilidade de as autoridades poderem trocar informações com entidades não homólogas. A CENTIF não tem, no presente, competência para o financiamento do terrorismo pelo que lhe está, à partida, vedada a possibilidade obter de outras entidades competentes ou de outras pessoas informações relevantes solicitadas por uma UIF homóloga.

Estatísticas (aplicação da R.32)

792. A equipa de avaliação não recebeu quaisquer estatísticas em matéria de cooperação internacional.

Recomendações e Comentários

793. Em termos de cooperação, a CENTIF não se encontra operacional, não sendo claro se pode cooperar com UIFs de outra natureza, sejam policiais ou judiciárias, nem se pode obter de outras autoridades nacionais competentes informações relevantes pedidas por outras homólogas ou não estrangeiras.

794. Não é claro que as disposições aplicáveis à cooperação judiciária que impõem o segredo sejam também aplicáveis à cooperação administrativa ou de outra natureza.

Page 144: Relatório de Avaliação Mútua - GIABA

Conformidade com a Recomendação 40 e com a Recomendação Especial V

Avaliação Resumo dos factores que fundamentam a avaliação

R.40 PC • A cooperação entre as autoridades competentes nacionais com as suas congéneres estrangeiras é limitada.

• Ausência de informação prática que permita medir a eficácia da troca e informações com autoridades homólogas estrangeiras.

• A CENTIF não se encontra operacional não se sabendo se pode cooperar com UIFs de outra natureza.

• Não existem estatísticas nem informação que permita verificar casos concretos que possam atestar que não existem condições restritivas, desproporcionadas ou injustificadas à cooperação.

• As autoridades policiais (com excepção da Polícia Judiciária) e judiciárias, bem como as autoridades de supervisão do sector financeiro, não estão aptas a trocar informações de forma espontânea.

• As autoridades competentes não estão habilitadas a efectuar diligências em nome das suas homólogas estrangeiras.

RE.V PC • A não transposição da Directiva nº 4/2007/CM/UEMOA é um factor de limitação da cooperação judiciária internacional em matéria penal.

• O financiamento do terrorismo e do terrorista individual não são criminalizados pelo Código Penal, pelo que o auxílio judiciário não pode ser concedido em matéria do financiamento do terrorismo, nesse aspecto particular.

• A não criminalização do financiamento do terrorismo e do terrorista individual, bem como o facto de a LCBC só se aplicar ao branqueamento de capitais coloca obstáculos à autorização de pedidos de extradição relativamente a estas condutas.

• A verificação da dupla incriminação é expressamente requerida pela LCBC para a concessão de um pedido de extradição, o que constitui um obstáculo à cooperação internacional.

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OUTRAS QUESTÕES

RECURSOS E ESTATISTICAS

7.1.1 Recursos – Cumprimento da Recomendação 30

Avaliação Resumo dos factores que fundamentam a avaliação

R.30 • Os meios e recursos atribuídos as autoridades de controlo e de supervisão são insuficientes.

• Inexistência generalizada de formação específica em matéria ABC/CFT das entidades responsáveis pela supervisão e fiscalização e aplicação da lei.

• Insuficiência de recursos humanos especializados e de meios técnicos e financeiros existentes nas autoridades de aplicação da lei, nomeadamente no Ministério Público e Polícia Judiciária.

• Inexistência de recursos humanos na CENTIF.

• Não existem medidas destinadas a garantir a integridade dos funcionários da CENTIF.

Comentário: O texto da descrição, análise e recomendações para a melhoria do sistema relativo às Recomendações 30 e 32 está incluído em todas as secções relevantes do relatório de avaliação, por exemplo, em toda a Secção 2, parte das Secções 3 e 4 e na Secção 6. Existe uma classificação única para cada uma das referidas Recomendações, mesmo quando a Recomendação surge em várias secções. A Secção 7.1. do relatório de avaliação inclui os quadros que mostram a classificação atribuída e os factores relevantes que fundamentam essa atribuição.

7.1.2 – Estatísticas (Resumo das Recomendações e comentários)

795. No que respeita às estatísticas, pode afirmar-se que são inexistentes em praticamente todas as áreas a que se reporta o relatório de avaliação mútua. Por conseguinte, devem ser desenvolvidos esforços pelas diferentes autoridades da Guiné-Bissau em múltiplos aspectos como sejam o (1) número de investigações, procedimentos penais e condenações em casos de BC/FT; (2) número de casos onde foram efectuados congelamentos, apreensões de bens e declarados perdidos para o Estado relativos ao BC/FT e respectivos montantes; (3) número de pedidos de auxílio judiciário mútuo recebidos e enviados, concedidos e recusados e tempo médio de resposta; (4) número de pedidos de extradição, activa e passiva, concedidos ou recusados e tempo médio de resposta; (5) número de comunicações de operações suspeitas enviadas à CENTIF e repartição de entidades declarantes; (6) montantes de dinheiro líquido ou de instrumentos negociáveis ao portador apreendidos, retidos nas fronteiras ou declarados

Page 146: Relatório de Avaliação Mútua - GIABA

perdidos; (7) número de acções de supervisão realizadas ao sector financeiro e sanções aplicadas; (8) número de acções de inspecção ou monitorização efectuadas junto das APNFDs e sanções aplicadas; (9) número das diferentes instituições financeiras e APNFDs autorizadas a exercer as suas actividades na Guiné-Bissau; e ainda (10) número dos funcionários das diferentes autoridades competentes em matéria ABC/CFT; (11) número de acções de supervisão ou de inspecções realizadas e sanções aplicadas.

7.1.3 Cumprimento da Recomendação 32

Avaliação Resumo dos factores relevantes que fundamentam a avaliação geral

R.32 NC • Não existem estatísticas sobre:

- Pedidos recebidos ou enviados de auxílio judiciário mútuo.

- Pedidos de extradição activa e passiva.

- Processos, investigações, acusações e condenações por BC/FT.

- Bens congelados, apreendidos e declarados perdidos e respectivos montantes.

- Sanções aplicadas e medida da pena.

- Declarações suspeitas de BC/FT.

- Declarações ou comunicações nas fronteiras e sanções aplicadas.

- Acções de supervisão ou inspecções realizadas e sanções aplicadas.

7.2 Outras medidas ou aspectos relevantes ABC/CFT

796. Não existem outras medidas ou aspectos relevantes para o sistema ABC/CFT da Guiné-Bissau.

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QUADROS

Quadro 1. Avaliação do cumprimento das Recomendações do GAFI.

Quadro 2. Plano de Acção Recomendado para a melhoria do sistema ABC/CFT

Quadro 1. Avaliação do cumprimento das Recomendações do GAFI

797. A avaliação do cumprimento em relação às Recomendações do GAFI deve ser feita de acordo com os quatro níveis de cumprimento referidos na Metodologia de 2004 (Cumprida (C), Largamente Cumprida (LC), Parcialmente Cumprida (PC) e Não Cumprida (NC) ou, em situações excepcionais, ser assinalado como Não Aplicável (NA). Este grau de cumprimento é baseado exclusivamente nos critérios essenciais e é definido da seguinte forma:

\

Cumprida A Recomendação está totalmente cumprida, relativamente a todos os critérios essenciais.

Largamente Cumprida

Apesar de a grande maioria dos critérios essenciais estarem cumpridos, existem ainda pequenas deficiências.

Parcialmente Cumprida

O país adoptou algumas medidas substantivas e cumpre alguns dos critérios essenciais

Não cumprida

Não existem grandes deficiências mas a grande maioria dos critérios essenciais não estão cumpridos.

Não aplicável Um requisito ou parte de um requisito não é aplicável, atendendo às características da sua estrutura jurídica ou institucional, por exemplo, um particular tipo de instituição financeira não existe no país.

Quadro 1. Avaliação do cumprimento das Recomendações do GAFI

Quarenta Recomendações Avaliação Resumo dos factores que fundamentam a avaliação11

Sistemas jurídicos

1. Infracção de branqueamento de capitais PC

• Não se encontram criminalizadas todas as condutas que devem ser consideradas como infracções subjacentes ao branqueamento de capitais, como referido na Recomendação 1 do GAFI.

• A LCBC não se aplica aos produtos derivados indirectamente da prática do crime de

11 Estes factores só têm de ser indicados quando a avaliação é inferior a “Cumprida”.

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branqueamento de capitais.

• O auto-branqueamento não se encontra previsto pela legislação ABC em vigor.

• A LCBC não foi devidamente implementada e aplicada na ordem jurídica da Guiné-Bissau.

• Não existem investigações, acusações ou condenações pela prática do crime de branqueamento de capitais, o que coloca a questão da eficácia do sistema nacional de prevenção e de repressão deste crime.

2. Infracção de branqueamento de capitais — elemento intencional e responsabilidade das pessoas colectivas

LC • A LCBC não foi devidamente implementada e aplicada na ordem jurídica da Guiné-Bissau.

• Não existem investigações, acusações ou condenações pela prática do crime de branqueamento de capitais, o que coloca a questão da eficácia do sistema nacional de prevenção e de repressão deste crime.

3. Perda e medidas provisórias PC

• Não é possível o congelamento, apreensão ou perda de bens relativos ao financiamento do terrorismo ou do terrorista individual, porquanto estas condutas não se encontram criminalizadas.

• Os mecanismos que permitem os congelamentos, apreensões ou perda de bens não foram aplicados a nível interno.

• Não existem elementos estatísticos, o que coloca a questão da eficácia das disposições em vigor nesta matéria.

• Os direitos dos terceiros de boa-fé podem não estar assegurados em todas as situações que envolvam a prática de um crime.

Medidas preventivas

4. Normas sobre segredo profissional coerentes com as Recomendações

LC • Inexistência de disposição que garanta que o segredo profissional não impede as trocas de informação entre instituições financeiras.

5. Dever de vigilância relativo à clientela (CDD) NC • Obrigações de identificação muito limitadas,

particularmente para os beneficiários efectivos.

• Ausência do dever de obter informações sobre o objectivo e a natureza da relação de negócio.

• Ausência do dever da diligência contínua. • Ausência de obrigações quanto aos clientes existentes. • Ausência de medidas para compreender a propriedade e estrutura de controlo do cliente e para determinar os beneficiários efectivos

Page 149: Relatório de Avaliação Mútua - GIABA

• Ausência de disposições que proíbam a manutenção de contas anónimas ou contas sob nomes fictícios. • Ausência de disposições de interdição de abertura de conta, iniciação de relação de negócio ou realização de operação, sempre que não sejam cumpridas as exigências de identificação dos clientes ou beneficiários efectivos.

• Aplicação prática limitada no sector bancário e ausência de aplicação nos outros sectores financeiros.

• Ausência de exigência do dever de diligência relativamente a transacções ocasionais.

• Ausência da obrigação de verificação através de fonte credível e independente.

• Ausência da obrigação de identificação de pessoas que actuam em nome das entidades sem personalidade jurídica (legal arrangements).

• A verificação da identidade das pessoas colectivas não resulta clara da legislação em vigor.

• O dever de diligência reforçada para clientes de risco não se encontra previsto para as entidades financeiras.

• Não existem disposições que determinem que as instituições financeiras sejam autorizadas a aplicar medidas de identificação simplificadas ou reduzidas relativamente a clientes residentes num outro país.

• A LCBC não prevê que as instituições financeiras se sejam proibidas de iniciar uma relação de negócio antes de completar o processo de identificação e verificação da identidade dos clientes ou dos beneficiários efectivos.

6. Pessoas politicamente expostas NC • Não existe enquadramento legislativo para o

tratamento do risco colocado pelas pessoas politicamente expostas.

7. Bancos correspondentes NC • Não existe enquadramento legislativo para o

tratamento do risco colocado pelas relações transfronteiriças entre bancos correspondentes.

8. Novas tecnologias e relações de negócio não presenciais

NC • As instituições não são obrigadas a adoptar políticas ou a tomar medidas para prevenir a utilização ilegítima de novas tecnologias para fins de branqueamento de capitais ou de financiamento do terrorismo.

Page 150: Relatório de Avaliação Mútua - GIABA

• Não existe enquadramento adequado nos casos em que as instituições estão autorizadas a aceitar a verificação de identidade fornecida por uma instituição financeira estrangeira.

9. Intermediários ou terceiros introdutores de negócio NC • Não existem disposições que definam critérios

para o caso das instituições financeiras recorrerem a terceiros ou introdutores de negócios.

10. Conservação de documentos LC • Ausência de disposições claras relativas aos

documentos e informações sobre os clientes e transacções, a disponibilizar em tempo útil às autoridades nacionais competentes.

• Ausência de supervisão no que respeita às obrigações de prevenção do branqueamento de capitais, em que o conteúdo é na maior parte das vezes desconhecido.

11. Operações invulgares NC

• Definição muito restritiva quanto às operações em causa (limiar de 10.000.000 FCFA e ausência da menção aos padrões não habituais de transacções).

• Não existe a obrigação de efectuar um registo escrito da análise efectuada.

•A monitorização não é efectivamente aplicada.

12. APNFDs – R.5, 6, 8–11 NC

• A LCBC não foi devidamente implementada na ordem jurídica interna.

• As disposições legais em vigor não se aplicam ao FT mas apenas ao BC.

• As autoridades responsáveis pela monitorização ou fiscalização do cumprimento dos deveres consagrados na LCBC não emitiram quaisquer orientações ou regulamentação destinadas a facilitar a aplicação do diploma legal.

• Não existem mecanismos de diligência devida que permitam identificar as PPE e os beneficiários efectivos.

• Não existem medidas que permitam identificar a origem do património e dos fundos dos clientes e dos beneficiários efectivos identificados como PPE.

• Não existe qualquer controlo e fiscalização das actividades dos vendedores de bens de elevado valor, nem os mesmos estão sujeitos a qualquer limiar, acima do qual as transacções não podem ser feitas com recurso a numerário, tal como previsto nas Recomendações do GAFI.

• Não existem medidas necessárias para prevenir a utilização indevida das novas tecnologias para fins

Page 151: Relatório de Avaliação Mútua - GIABA

de BC/FT

• Não existem orientações no sentido de ser dada uma atenção às operações complexas, de montante anormalmente elevado e a todo o tipo não habitual de operações, a fim de prevenir o BC/FT.

• As deficiências assinaladas na Recomendação 5 são aplicáveis às APNFDs no quadro desta Recomendação.

13. Declaração de operações suspeitas NC • A obrigação de declarar operações suspeitas é

imprecisa e não é do conhecimento de todas as pessoas e entidades sujeitas à LCBC.

• Ausência de aplicação prática do dever de declarar operações suspeitas.

14. Protecção e proibição de alertar o cliente NC • Protecção restritiva quanto à confidencialidade

das informações comunicadas à CENTIF.

15. Controlos internos, auditoria e cumprimento das obrigações

PC • Inexistência de um dispositivo sectorial fora do sistema bancário, nomeadamente no sector de seguros e micro-finanças.

• Ausência de aplicação efectiva das obrigações de controlo interno em matéria de luta contra o branqueamento de capitais e o financiamento do terrorismo.

16. APNFDs – R.13–15 e 21 NC

• A LCBC não foi devidamente implementada na ordem jurídica interna.

• As disposições legais em vigor não se aplicam ao FT mas apenas ao BC.

• As autoridades responsáveis pela monitorização ou fiscalização do cumprimento dos deveres consagrados na LCBC não emitiram quaisquer orientações ou regulamentação destinada a facilitar a aplicação do diploma legal.

• O alcance das medidas de CDD, da monitorização e do dever de declarar operações suspeitas é limitado.

• Não existem controlos internos para prevenir o BC.

• Não é conferida nenhuma atenção especial aos países que não aplicam ou que aplicam de forma insuficiente as Recomendações do GAFI.

• A eficácia é reduzida ou nula em termos de aplicação da LCBC.

• A obrigação de declarar obrigações suspeitas è

Page 152: Relatório de Avaliação Mútua - GIABA

imprecisa e não é do conhecimento de todas as pessoas e entidades sujeitas à LCBC.

• Ausência de aplicação prática do dever de declarar operações suspeitas.

17. Sanções PC

• Encontram-se previstas na LCBC sanções aplicáveis às pessoas singulares e colectivas mas a ausência de uma imposição efectiva dessas sanções não permite avaliar a respectiva eficácia.

• O regime de sanções previsto nos vários instrumentos jurídicos em vigor não se encontra harmonizado, de modo a facilitar a sua aplicação e a permitir que seja eficaz, proporcionado e dissuasor.

• O regime sancionatório em vigor não se aplica à violação das obrigações de prevenção do financiamento do terrorismo.

18. Bancos de fachada PC • Não existem disposições que proíbamo

estabelecimento ou a continuação de relações bancárias de correspondência com bancos de fachada.

• Não existem disposições que interditem as instituições financeiras de iniciar ou manter relações de correspondência bancária com bancos de fachada.

• Não existem disposições que obriguem as instituições financeiras a certificar-se que as instituições financeiras clientes no país estrangeiro não permitem que as suas contas sejam utilizadas por bancos de fachada.

19. Outras formas de declaração NC • Ausência de um estudo da viabilidade e de

utilidade de criação de um sistema de declaração das operações em numerário.

20. Outras actividades e profissões não financeiras e técnicas seguras de transacção

PC • Não foi efectuada nenhuma análise dos riscos que certas APNFDs colocam em termos de serem utilizadas para fins de BC.

• Não foram tomadas medidas práticas para sensibilizar ou mesmo para procurar assegurar a aplicação dos instrumentos jurídicos da UEMOA destinados a reduzir a utilização dos pagamentos em espécie.

21. Obrigação de prestar uma atenção especial a países de risco elevado

NC • Inexistência de disposições relativas aos países que não

aplicam ou que aplicam insuficientemente as Recomendações do GAFI.

Page 153: Relatório de Avaliação Mútua - GIABA

22. Sucursais e filiais estrangeiras NC • As disposições em vigor não se aplicam às

sucursais e filiais estrangeiras das instituições financeiras na Guiné-Bissau.

23. Regulamentação, supervisão e monitorização NC • As regras relativas ao controlo dos critérios de

aptidão e de moralidade dos directores e gerentes das companhias de seguros não estão estabelecidas.

• Não existem procedimentos específicos relativos ao controlo da origem lícita dos capitais para a criação de um banco ou de qualquer outro organismo financeiro como uma instituição de micro-finanças, bem como não existem procedimentos para verificar quem são os beneficiários efectivos.

• As condições de diligência em matéria de BC aplicáveis aos sectores bancário, de micro-finanças e de seguros são insuficientes, ou mesmo inexistentes.

• Não existem disposições específicas que estabeleçam que as medidas de regulação e de supervisão aplicáveis para fins prudenciais, também relevantes para o branqueamento de capitais devam ser aplicadas de forma idêntica para fins ABC/CFT.

• As empresas de remessa ou de transferência de valores não estão sujeitas a licenciamento ou registo para o exercício destas actividades.

24. APNFDs — regulamentação, supervisão e monitorização NC

• Não existe nenhuma regulamentação destinada a facilitar a aplicação dos deveres a que as APNFDs estão obrigadas pela LCBC.

• A legislação em vigor apenas se aplica à prevenção do BC e não do FT.

• Não é exercida qualquer fiscalização ou monitorização das APNFDs

• Não se encontra definida, em relação a algumas APNFDs, a autoridade responsável pela verificação do cumprimento dos deveres de prevenção do BC.

• O regime sancionatório em vigor não se aplica à violação das obrigações de prevenção do financiamento do terrorismo.

• Encontram-se previstas na LCBC sanções aplicáveis às pessoas singulares e colectivas mas a ausência de uma imposição efectiva dessas sanções não permite

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avaliar a respectiva eficácia.

25. Orientações e feedback NC • A Instrução do BCEAO nº 1/2007/RB não foi

difundida por todos os destinatários.

• A referida Instrução contém imprecisões e não contempla todos os elementos de informação que permitam aos organismos financeiros aplicarem e cumprirem as obrigações ABC.

• Não existem orientações no âmbito do ABC para o sector dos seguros nem para o sector das micro-finanças.

• Inoperacionalidade da CENTIF, o que inviabiliza o retorno de informação às instituições financeiras e às APNFDs que enviem DOS.

• As instituições financeiras não receberam orientações relativamente à maneira como as DOSs devem ser apresentadas, o que é justificado pelo facto da CENTIF ainda não estar operacional.

• Não existe nenhuma regulamentação destinada a facilitar a aplicação dos deveres a que as APNFDs estão obrigadas pela LCBC.

Medidas institucionais e outras

26. A UIF NC • A CENTIF não se encontra operacional, pelo que

não foi possível verificar a respectiva efectividade,

• Não dispõe de competência para o tratamento e análise de DOS relativas ao financiamento do terrorismo. • Não definiu um modelo uniforme de DOS para as entidades financeiras e APNFDs nem forneceu orientações a estas entidades. • Não criou condições que permitam o retorno de informações às entidades financeiras e às APNFDs. • Não foram adoptadas disposições destinadas a garantir a integridade dos membros da CENTIF. • Não publicou qualquer relatório a que está obrigada pela LCBC.

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27. Autoridades de aplicação da lei NC

• A LCBC carece de aplicação. • A legislação em vigor não permite a possibilidade de adiar ou suspender a detecção de suspeitos ou a apreensão de bens com a finalidade de identificar suspeitos de BC ou FT ou recolher elementos probatórios.

• A possibilidade de utilização de técnicas especiais de investigação é limitada.

28. Poderes das autoridades competentes C

29. Autoridades de supervisão NC • Os controlos ABC exercidos pela Comissão Bancária

nos bancos são insuficientes, apresentando uma falta de rigor.

• A supervisão exercida no sistema financeiro descentralizado e nas companhias de seguros apresenta várias deficiências e não abrange a matéria relativa ao BC e ao FT.

• A ausência de aplicação efectiva de sanções no quadro da supervisão do BCEAO não permite avaliar a eficácia desta supervisão.

30. Recursos, integridade e formação NC • Os meios e recursos atribuídos as autoridades de

controlo e de supervisão são insuficientes.

• Inexistência generalizada de formação específica em matéria ABC/CFT das entidades responsáveis pela supervisão e fiscalização e aplicação da lei.

• Insuficiência de recursos humanos especializados e de meios técnicos e financeiros existentes nas autoridades de aplicação da lei, nomeadamente no Ministério Público e Polícia Judiciária.

• Nem os membros da CENTIF foram ainda nomeados, além de carecer de recursos humanos e de equipamentos técnicos.

• Não foi aprovado o regulamento interno de funcionamento nem foi dotada de recursos financeiros que lhe permitam exercer as suas funções.• Não existem medidas destinadas a garantir a integridade dos funcionários da CENTIF.

• Não existem regras claras que garantam a integridade das autoridades competentes.

31. Cooperação nacional NC

• A cooperação e a coordenação interna entre as diferentes autoridades competentes são limitadas.

• No presente não existe, na prática, cooperação e coordenação em matéria de financiamento do

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terrorismo, porquanto a Directiva nº 4/2007CM/UEMOA sobre o FT se encontra por transpor para a ordem jurídica interna.

32. Estatísticas NC

• Não existem estatísticas sobre:

- Pedidos recebidos ou enviados de auxílio judiciário mútuo.

- Pedidos de extradição activa e passiva.

- Processos, investigações, acusações e condenações por BC/FT.

- Bens congelados, apreendidos e declarados perdidos e respectivos montantes.

- Sanções aplicadas e medida da pena.

- Declarações suspeitas de BC/FT.

- Declarações ou comunicações nas fronteiras e sanções aplicadas.

- Acções de supervisão ou inspecções realizadas e sanções aplicadas.

33. Pessoas colectivas –beneficiários efectivos NC

A legislação em vigor não permite ter acesso à informação em tempo oportuno sobre quem são os beneficiários efectivos nem uma adequada transparência em relação a estes beneficiários efectivos e ao controlo das sociedades anónimas com acções ao portador.

• O sistema de registos e os instrumentos jurídicos da OHADA devem ser adaptados no sentido de irem ao encontro das preocupações em matéria de utilização de pessoas colectivas para fins de branqueamento de capitais ou de financiamento do terrorismo.

34. Entidades sem personalidade jurídica – beneficiários efectivos

NA • Express trusts e entidades sem personalidade jurídica semelhantes não estão previstos nem são reconhecidos no sistema jurídico interno da Guiné-Bissau.

Cooperação Internacional

35. Convenções PC

• As disposições das Convenções de Viena e de Palermo não foram totalmente implementadas na Guiné-Bissau.

• A Convenção EFT encontra-se ratificada, estando por depositar o instrumento de ratificação. No entanto, as suas disposições não foram aplicadas pela Guiné-Bissau .

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36. Auxílio judiciário mútuo PC

• A Directiva nº 4/2007/CE/UEMOA não foi transposta para o direito interno, de forma a permitir o auxílio judiciário em relação ao financiamento do terrorismo.

• A LCBC não estabelece mecanismos que permitam suprir conflitos de competência entre Estados.

37. Dupla incriminação PC • A LCBC não é clara quanto à questão da dupla

incriminação e à necessidade da sua verificação para o cumprimento dos pedidos de auxílio judiciário em matéria de branqueamento de capitais.

• A verificação da dupla incriminação expressamente requerida pela LCBC para a concessão de um pedido de extradição é um obstáculo à cooperação internacional.

• Não é claro se o facto de tipo legal de crime de branqueamento de capitais ou de financiamento do terrorismo ou das infracções subjacentes serem diferentes no Estado requerente e no Estado requerido, constitui um obstáculo à extradição.

38. Auxílio judiciário mútuo para a apreensão e congelamento

PC • O Código do Processo Penal é limitado quanto à possibilidade de investigação aos produtos do crime, que dever ser alargada também a outros aspectos ligados à prática desse crime. • Nem o o CPP nem a LCBC são claros quanto a quem cabe a prática de certos actos processuais, se ao Ministério Público, se ao Juiz de Instrução. • Não existem mecanismos de coordenação para facilitar a cooperação relativamente a pedidos de apreensão ou de perda oriundos de outros países. • Não se encontra previsto um fundo com activos para partilha, nem a possibilidade de partilha de bens se encontra prevista na legislação.

• Não existem estatísticas ou elementos concretos sobre pedidos de auxílio judiciário mútuo em matéria de apreensão e perda de bens.

39. Extradição PC

• A legislação nacional é omissa em relação à obrigação de julgar sempre que um pedido de extradição seja recusado por envolver um nacional.

• A LCBC não consagraum verdadeiro procedimento simplificado de extradição.

• Não é possível autorizar pedidos de extradição baseados na prática do financiamento do terrorismo, de organizações terroristas e de terrorista individual.

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• Não existem estatísticas sobre pedidos de extradição, sua concessão ou recusa, motivos de recusa e duração média do procedimento, tornando impossível avaliar a eficácia do sistema.

40. Outras formas de cooperação PC

• A cooperação entre as autoridades competentes nacionais com as suas congéneres estrangeiras é limitada.

• Ausência de informação prática que permita medir a eficácia da troca e informações com autoridades homólogas estrangeiras.

• A CENTIF não se encontra operacional não se sabendo se pode cooperar com UIFs de outra natureza.

• Não existem estatísticas nem informação que permita verificar casos concretos que possam atestar que não existem condições restritivas, desproporcionadas ou injustificadas à cooperação.

• As autoridades policiais (com excepção da Polícia Judiciária) e judiciárias, bem como as autoridades de supervisão do sector financeiro, não estão aptas a trocar informações de forma espontânea.

• As autoridades competentes não estão habilitadas a efectuar diligências em nome das suas homólogas estrangeiras.

Nove Recomendações Especiais

RE.I Aplicação dos instrumentos das Nações Unidas

NC • As Resoluções 1267 (1999) e 1373 (2001) não estão a ser aplicadas porquanto o Regulamento nº 14/2002/CM/UEMOA se aplica apenas aos bancos e instituições financeiras e apenas se referir à primeira daquelas Resoluções.

• Os instrumentos jurídicos da UEMOA não foram transpostos para o direito interno.

• A Convenção EFT encontra-se assinada e ratificada. No entanto, as suas disposições não foram aplicadas pela Guiné-Bissau.

• Inexistência de cooperação em matéria de financiamento do terrorismo.

RE.II Criminalização do financiamento do terrorismo

NC • A legislação em vigor é limitada, apenas prevendo o financiamento de organizações terroristas e não também o do terrorismo e do terrorista individual.

• A Directiva nº 4/2007/CM/UEMOA ainda não foi transposta para a ordem jurídica interna, pelo que o financiamento do terrorismo não se encontra criminalizado de acordo com este instrumento jurídico, bem como está por definir a que tipo de fundos este crime se aplica..

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• As disposições da Convenção CFT não se encontram transpostas, nomeadamente no que respeita à tentativa de financiamento do terrorismo ou à previsão de todas as condutas dolosas do fornecimento ou recolha de fundos.

• Os instrumentos jurídicos referidos no Anexo à Convenção CFT devem ser ratificados e criminalizadas as condutas neles previstas.

• Não se encontra prevista no CP e na LCBC a aplicação de procedimentos paralelos de natureza administrativa ou disciplinar às pessoas colectivas envolvidas no financiamento do terrorismo, além da sua responsabilidade penal.

• Não existem investigações, acusações ou condenações a prática do crime de financiamento de organizações terroristas, nem quaisquer estatísticas, o que coloca a questão da eficácia do sistema nacional de prevenção e de repressão deste tipo de crime.

RE.III Congelamento e perda de bens de terroristas

NC • Os mecanismos de congelamento previstos no Regulamento nº 14/2002/CM/UEMOA são incompletos apenas se aplicando à Resolução 1267 (1999).

• Não se encontra prevista a aplicação destes mecanismos pelas APNFDs e a todos os tipos de bens, sendo aplicáveis apenas aos activos financeiros.

• Não se encontra prevista a aplicação a pessoas que agem em nome ou sob as instruções das pessoas ou entidades constantes das listas do Comité de Sanções e que controlam directa ou indirectamente determinados bens.

• Não se encontram previstos mecanismos que permitam conhecer a possibilidade de descongelamento de bens, sempre que se constatar que a pessoa ou entidade não têm ligações com o FT.

• Não se encontram previstos mecanismos que permitam o acesso aos fundos congelados para fazer face a certas despesas.

• Não se encontram previstos mecanismos que permitam a uma pessoa cujos bens foram congelados contestar essa decisão junto de tribunal.

• Não existe um procedimento claro e rápido para apreciar e executar iniciativas de congelamento adoptadas por outros países ao abrigo da Resolução 1373 (2001).

• Não se encontra prevista a protecção dos direitos de terceiros de boa-fé.

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• Não existe um procedimento claro e expedito que permita a rápida difusão as listas por todas as entidades e autoridades nacionais que possibilite, sem demora, aplicar medidas de congelamento.

• Não existem elementos estatísticos sobre decisões de congelamento, bens congelados e respectivo montante.

RE.IV Declaração de operações suspeitas

NC • Não existe uma obrigação de declarar operações suspeitas de estarem relacionadas com o financiamento de terrorismo.

RE.V Cooperação internacional

PC • A não transposição da Directiva nº 4/2007/CM/UEMOA é um factor de limitação da cooperação judiciária internacional em matéria penal.

• O financiamento do terrorismo e do terrorista individual não são criminalizados pelo Código Penal, pelo que o auxílio judiciário não pode ser concedido em matéria do financiamento do terrorismo, nesse aspecto particular.

• A não criminalização do financiamento do terrorismo e do terrorista individual, bem como o facto de a LCBC só se aplicar ao branqueamento de capitais coloca obstáculos à autorização de pedidos de extradição relativamente a estas condutas.

• A verificação da dupla incriminação expressamente requerida pela LCBC para a concessão de um pedido de extradição é um obstáculo à cooperação internacional.

RE.VI Requisitos ABC/CFT para serviços de remessas de dinheiro/transferência de valores

NC • A legislação em vigor não exige a autorização ou o licenciamento para o exercício da actividade de remessa de valores ou de fundos.

• Inexistência de controlo e de supervisão das actividades das empresas de remessa de valores ou de fundos.

• As disposições da RE VI não foram implementadas pelas empresas de remessa de valores ou de fundos.

• Inexistência de sanções por não aplicação das disposições de prevenção do BC e FT.

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RE.VII Regras sobre transferências electrónicas

NC • Não existem obrigações relativas às transferências

electrónicas.

• Não existe a obrigação de as instituições financeiras ordenantes obterem e conservarem informações sobre o ordenante da transferência electrónica.

• No caso das transferências electrónicas transfronteiriças, as instituições financeiras ordenantes não são obrigadas a incluir as informações completas sobre o ordenante na mensagem ou no formulário de pagamento que acompanha a transferência.

• Não existem disposições que obriguem as instituições financeiras beneficiárias e intermediárias na cadeia de pagamento a assegurar que toda a informação sobre o ordenante que acompanha a transferência electrónica seja transmitida juntamente com essa transferência.

• Não existem disposições que obriguem as instituições financeiras beneficiárias a adoptar procedimentos eficazes baseados no risco para identificar e a proceder a transferências electrónicas que não estejam acompanhadas da informação completa sobre o ordenante.

• Não existem disposições que prevejam a aplicação de sanções pelo incumprimento das obrigações que resultam desta Recomendação do GAFI.

RE.VIII Organizações sem fins lucrativos

NC • A análise da adequação das leis em vigor ao sector das ONGs, para verificar a existência de riscos da sua utilização indevida para fins de financiamento do terrorismo, não foi efectuada.

• Não foi promovida nenhuma acção de sensibilização para a tomada de consciência dos riscos existentes, nem estas organizações foram sujeitas a inspecção ou acompanhamento.

• Existe uma ausência total de controlo deste sector.

• Não são conhecidas sanções ou qualquer informação estatística sobre o número de ONGs dissolvidas por decisão judicial.

• As autoridades não efectuaram nenhuma avaliação dos riscos de utilização das ONGs para fins de financiamento do terrorismo.

RE.IX Declaração/revelação de transporte transfronteiriço de

NC • Não existe um verdadeiro sistema de declaração ou de comunicação como requerido pelas Recomendações do GAFI. • Não existe um modelo onde possam ser declarados

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moeda ou títulos ao portador

ou comunicados os montantes de dinheiro ou de instrumentos negociáveis ao portador transportados. • Não foram estabelecidos sistemas de comunicação entre as autoridades alfandegárias e a CENTIF, nem mecanismos de coordenação interna com outras autoridades competentes em matéria de BC/FT. • Não se encontra previsto um mecanismo de troca de informações com outros países em matéria de transporte invulgar de ouro ou de pedras preciosas. • Encontra-se por criar sistema informatizado de conservação de informações relativas aos movimentos físicos de dinheiro ou de instrumentos negociáveis ao portador através das fronteiras.

• Não existem elementos estatísticos que permitam verificar o funcionamento do sistema, sendo desconhecidos os montantes retidos, aprendidos ou mesmo perdidos a favor do Estado.

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Quadro 2. Plano de Acção recomendado para a melhoria do sistema ABC/CFT

40 + 9 Recomendações do GAFI Acção Recomendada (por ordem de prioridade em cada secção)

1. Geral

2. Sistema Jurídico e Medidas Institucionais Conexas

Criminalização do Branqueamento de Capitais (R.1, 2)

A Guiné-Bissau deve criminalizar o tráfico de seres humanos e o tráfico de migrantes, o tráfico de bens roubados e a pirataria, assim como o terrorismo e o terrorista individual e seu financiamento. Deverá também aprovar o regime sancionatório para os crimes de utilização abusiva de informação privilegiada e de manipulação de mercado.

A LCBC deverá ser revista para criminalizar o auto-branqueamento e para alargar a sua aplicação aos bens que representam o produto indirecto dum crime de branqueamento de capitais. Além disso devem ser harmonizadas as molduras penais aplicáveis ao crime de branqueamento de capitais derivado do tráfico de estupefacientes e ao branqueamento de capitais derivado das restantes infracções subjacentes.

As autoridades guineenses devem promover a investigação da prática de crimes de branqueamento de capitais. Além disso, devem ser preparadas e mantidas estatísticas actualizadas que permitam conhecer a o funcionamento e a eficácia do sistema nacional ABC.

Criminalização do Financiamento do Terrorismo (RE.II) A Directiva nº 4/2007/CM/UEMOA deverá ser transposta para a

ordem jurídica da Guiné-Bissau, onde deverão ser criminalizados o terrorismo e o terrorista individual, a tentativa de financiamento do terrorismo e a previsão de todas as condutas dolosas do fornecimento ou recolha de fundos.

Deverá ser prevista a aplicação de procedimentos paralelos de natureza administrativa ou disciplinar às pessoas colectivas envolvidas no financiamento do terrorismo, além da sua responsabilidade penal.

As autoridades guineenses devem promover a investigação da prática de crimes de financiamento do terrorismo. Além disso, devem ser preparadas e mantidas estatísticas actualizadas que permitam conhecer o funcionamento e a eficácia do sistema nacional CFT.

Perda, congelamento e apreensão do produto do crime (R.3) A legislação nacional de prevenção e combate ao branqueamento

de capitais deverá ser devidamente implementada e aplicada na ordem jurídica interna.

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A criminalização do financiamento do terrorismo e do terrorista individual deverá ser feita a curto prazo, de forma a permitir o congelamento, apreensão e perda de bens relacionados com estes comportamentos.

As autoridades nacionais competentes deverão aplicar os mecanismos que permitem o congelamento, apreensão ou perda de bens e que permitam conhecer os montantes envolvidos. Além disso, devem ser preparadas e mantidas estatísticas actualizadas que permitam conhecer o funcionamento e eficácia dos mecanismos processuais de congelamento, apreensão e perda de bens derivados da criminalidade.

Congelamento de fundos utilizados para financiamento do terrorismo (RE.III)

Os mecanismos de congelamento previstos no Regulamento nº 14/2002/CM/UEMOA devem ser aplicados também à Resolução 1373 (2001).

Deverá ser previsto um mecanismo que proporcione uma rápida e completa difusão das listas do Comité de Sanções a nível nacional que permita, sem demora, aplicar as medidas de congelamento.

A aplicação dos mecanismos de congelamento deve ser feita por todas as APNFDs e em relação a todos os tipos de bens, não apenas aos activos financeiros.

As autoridades guineenses devem prever a aplicação deste regime a pessoas que agem em nome ou sob as instruções das pessoas ou entidades constantes das listas do Comité de Sanções e que controlam directa ou indirectamente determinados bens.

Além disso devem ser previstos mecanismos que permitam conhecer a possibilidade de descongelamento de bens, caso se comprove que uma pessoa ou entidade não tem ligações ao FT.

Devem ser também previstos mecanismos que permitam o acesso a fundos congelados e que permitam a uma pessoa cujos fundos foram congelados contestar essa decisão junto de um tribunal.

Deve ainda ser prevista na legislação nacional nesta matéria a protecção dos direitos de terceiros de boa-fé.

As autoridades nacionais devem elaborar e manter elementos estatísticos actualizados sobre decisões de congelamento, bens congelados e respectivo montante.

A Unidade de Informação Financeira e as suas funções (R.26)

A CENTIF deve iniciar as suas funções operacionais o mais rapidamente possível e designar o seu quadro de funcionários.

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O regulamento interno de funcionamento da CENTIF deverá ser aprovado , devendo também dispor de recursos financeiros que lhe permitam exercer as suas funções. A legislação em vigor deverá ser alterada no sentido de permitir à CENTIF o tratamento e análise das DOSs relativas ao financiamento do terrorismo. A CENTIF deve estabelecer um modelo uniforme de DOSs para as entidades financeiras e para as APNFDs, bem como fornecer orientações para que estas entidades possam fazê-las de forma adequada. A CENTIF dever criar condições que permitam o retorno de informação às entidades financeiras e às APNFDs. A CENTIF deve ainda adoptar disposições destinadas a garantir a integridade dos seus membros.

Assim que entrar em funcionamento, a CENTIF deve publicar de forma regular os relatórios a que está obrigada pela LCBC.

Após iniciar as suas funções operacionais, a CENTIF deverá procurar tornar-se membro do Grupo Egmont.

Autoridades de aplicação da lei, responsáveis pelo exercício da acção penal e outras autoridades competentes (R.27, 28)

A aplicação da LCBC deve constituir uma prioridade das autoridades competentes em matéria de luta contra o branqueamento de capitais

A legislação em vigor deve ser revista de forma a que seja permitida a possibilidade de adiar ou suspender a detecção de suspeitos ou a apreensão de bens com a finalidade de identificar suspeitos de BC ou FT ou de recolher elementos probatórios.

Devem ser adoptadas regras que permitam a possibilidade de utilização de técnicas especiais de investigação de forma ampla em casos de BC ou FT.

Ao mesmo tempo, devem ser adoptadas regras claras que garantam a integridade das autoridades competentes.

As autoridades de aplicação da lei devem ser dotadas de meios técnicos e de recursos humanos e materiais, como orçamentais, considerados fundamentais para o desempenho adequado de suas funções.

Devem ser desenvolvidos programas permanentes de formação das autoridades de aplicação da lei em matéria de BC e de FT.

Declaração/comunicação transfronteiriça (RE IX)

As autoridades nacionais devem estabelecer um sistema eficaz de declaração ou de comunicação como requerido pelas Recomendações do GAFI. Deve ser adoptado um modelo onde possam ser declarados ou comunicados os montantes de dinheiro ou de instrumentos negociáveis ao portador transportados. No plano nacional, deve ser estabelecido um sistema de comunicação entre as autoridades alfandegárias e a CENTIF, bem como mecanismos de coordenação interna com outras autoridades competentes em matéria de BC/FT.

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Além disso, deve ser criado um mecanismo de troca de informações com outros países em matéria de transporte invulgar de ouro ou de pedras preciosas. As autoridades nacionais competentes devem criar um sistema informatizado de conservação de informações relativas aos movimentos físicos de dinheiro ou de instrumentos negociáveis ao portador através das fronteiras. As autoridades nacionais devem elaborar e manter elementos estatísticos actualizados que permitam verificar o funcionamento do sistema, bem como os montantes retidos, aprendidos ou mesmo perdidos a favor do Estado.

3. Medidas Preventivas — Instituições Financeiras

Risco de branqueamento de capitais e de financiamento do terrorismo

Dever de diligência relativo à clientela, incluindo medidas reduzidas ou reforçadas

(R.5–8)

As autoridades nacionais devem reforçar o enquadramento jurídico das obrigações de identificação, principalmente no que respeita aos beneficiários efectivos e às obrigações de vigilância em situações de risco elevado.

Deve ser estipulado que as instituições financeiras devem obter informações sobre o objectivo e a natureza das relações de negócio e que devem exercer uma vigilância contínua relativamente às mesmas.

As instituições financeiras devem estar vinculadas a aplicar obrigações de vigilância aos clientes existentes, assegurando que os dados ou a informação recolhida no âmbito do processo de identificação sejam mantidos actualizados.

As autoridades nacionais devem estabelecer um enquadramento legislativo para o tratamento do risco colocado pelas pessoas politicamente expostas.

As autoridades nacionais devem estabelecer um enquadramento legislativo para o tratamento do risco colocado pelas relações transfronteiriças entre bancos correspondentes.

As autoridades nacionais devem estabelecer um enquadramento legislativo quanto à adopção de políticas para prevenir a utilização ilegítima de novas tecnologias para fins de branqueamento de capitais ou de financiamento do terrorismo.

Intermediários ou terceiros introdutores de negócio

(R.9)

As autoridades nacionais competentes devem instituir critérios claros e precisos no âmbito do branqueamento de capitais ou do financiamento do terrorismo para que as instituições financeiras recorram a intermediários e a terceiros.

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Sigilo ou confidencialidade das instituições financeiras (R.4)

As autoridades devem adoptar disposições que permitam verificar que as leis sobre o segredo profissional das instituições financeiras não impeçam a troca de informações entre estas instituições financeiras.

Conservação de documentos e regras sobre transferências electrónicas (R.10 e RE.VII)

As autoridades nacionais devem estabelecer um enquadramento legislativo quanto às obrigações relativas às transferências electrónicas.

Monitorização de operações e relações (R.11 e 21) O enquadramento jurídico relativamente às obrigações de prestar

especial atenção a todas as operações e a padrões de operações que são anormalmente complexas ou de elevado montante, deve ser reforçado.

Declarações de operações suspeitas e outras declarações (R.13, 14, 19, 25 e RE.IV)

A CENTIF deve iniciar as suas funções operacionais para que as instituições financeiras lhe possam enviar declarações de operações suspeitas.

As disposições relativas à protecção quanto à confidencialidade das informações comunicadas à CENTIF devem ser reforçadas.

Deve ser ainda estipulado que as instituições financeiras sejam obrigadas a declarar operações suspeitas relativas ao financiamento de terrorismo.

Controlos internos, auditoria de cumprimento das obrigações e filiais e sucursais estrangeiras (R.15 e 22)

As autoridades competentes devem adoptar regulamentos para os sectores que não estão abrangidos pela Instrução BCEAO nº 1/2007/RB em matéria de controlo interno ligado ao branqueamento de capitais, como é o caso do sector de seguros e das micro-finanças.

Devem ser definidas obrigações em matéria de procedimento de contratação dos empregados.

As autoridades nacionais devem estabelecer um enquadramento legislativo quanto à aplicação de medidas de prevenção do branqueamento de capitais e do financiamento de terrorismo a sucursais e filiais estrangeiras.

Bancos de fachada (R.18) As autoridades guineenses devem estabelecer um enquadramento legislativo que proíba as instituições financeiras de iniciar ou manter relações bancárias de correspondência com bancos de fachada.

Devem ainda ser estipuladas disposições que obriguem as instituições financeiras a certificar-se que as instituições financeiras clientes no país estrangeiro não permitem que as suas contas sejam utilizadas por bancos de fachada.

Sistema de supervisão e controlo – autoridades competentes e A nível regional, a Comissão Bancária bem como o BCEAO devem

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OAR: Papel, funções, obrigações e poderes (incluindo aplicação de sanções) (R.23, 29, 17, 25)

assegurar-se da aplicação na íntegra dos textos comunitários (LCBC, Instrução BCEAO nº 1/2007/RB) e dos nacionais no sector bancário. Assim, as autoridades de supervisão regionais deveriam reforçar o pessoal de forma a fazer face à função adicional relativa à prevenção do branqueamento de capitais e do financiamento do terrorismo, devendo esse pessoal ter formação adequada. A criação de instrumentos de metodologia para inspecções presenciais é fortemente recomendada, de forma a promover uma supervisão baseada no risco e não apenas na simples conformidade com a lei.

Os mecanismos de divulgação dos textos junto das instituições financeiras devem ser revistos, de modo a garantir uma divulgação rápida e exaustiva da regulamentação de prevenção do BC/FT a todas as entidades sujeitas à LCBC.

A nível da Guiné-Bissau, devem ser promovidas acções de sensibilização e de formação com a maior brevidade possível, em especial para as micro-finanças e companhias de seguros.

A LCBC deve ser integralmente aplicada, incluindo o seu regime sancionatório sempre que exista uma violação das obrigações de prevenção do branqueamento de capitais.

O regime sancionatório deve ser alargado à violação das obrigações de prevenção do financiamento do terrorismo. Além disso, este regime sancionatório deve ser clarificado, harmonizando as disposições da LCBC com as Leis nº 10/97 e nº 11/97 e com a própria legislação comunitária, de modo a que este regime seja proporcionado, eficaz e dissuasor.

Serviços de transferência de numerário/valores (RE.VI)

As autoridades devem procurar que as empresas de remessa de valores ou de fundos se conformem com as obrigações de prevenção do branqueamento de capitais e do financiamento do terrorismo.

A par da emissão de orientações e informação que ajudem estas empresas de remessa de valores ou de fundos a aplicar as disposições de prevenção de branqueamento de capitais e financiamento de terrorismo, as autoridades devem também promover o seu registo e proceder à respectiva supervisão, seja directamente, seja no quadro das actividades de supervisão que são realizadas junto dos bancos.

4. Medidas Preventivas – Actividades e profissões não financeiras

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Diligência em relação à clientela e conservação de documentos (R.12)

A LCBC deve ser devidamente aplicada na ordem jurídica interna, no que respeita às APNFDs, sendo que as disposições em vigor devem ser alargadas também ao financiamento do terrorismo.

As autoridades nacionais competentes devem aprovar orientações ou regulamentação destinada a facilitar a aplicação do regime ABC/CFT pelas APNFDs.

Devem ser aprovados mecanismos de diligência devida que permitam identificar as PPE e os beneficiários efectivos.

Além disso, devem ser aprovadas medidas que permitam identificar a origem do património e dos fundos dos clientes e dos beneficiários efectivos identificados como PPE.

Deve ser promovido o controlo e a fiscalização dos vendedores de bens de elevado valor, fixando limiares acima dos quais as transacções não podem ser feitas com recurso a numerário, tal como previsto nas recomendações do GAFI.

Medidas para prevenir a utilização indevida de novas tecnologias para fins de BC/FT tornam-se necessárias, bem como a emissão de orientações no sentido de ser dada uma atenção às operações complexas, de montante anormalmente elevado e a todo o tipo não habitual de operações, a fim de prevenir o BC/FT.

Declaração de transacções suspeitas (R.16) As disposições legais em vigor devem ser alargadas também ao

financiamento do terrorismo.

As autoridades responsáveis pela monitorização ou fiscalização do cumprimento dos deveres previstos na LCBC devem emitir orientações ou regulamentação destinada a facilitar a sua aplicação.

Os procedimentos CDD, a monitorização e o dever de declarar operações suspeitas devem ser tornados mais eficazes, bem como devem ser criados controlos internos para prevenir o BC.

Deve ser conferida uma especial atenção aos países que não aplicam ou aplicam de forma insuficiente as recomendações do GAFI.

As demais recomendações feitas na Secção 3 relativas às Recomendações 13-15 e 21 são também aplicáveis às APNFDs.

Regulamentação, supervisão, monitorização e aplicação de sanções (R. 24 e 25)

As autoridades guineenses devem procurar assegurar a aplicação da LCBC por todas as APNFDs.

Deve ser aprovada regulamentação destinada a facilitar a aplicação dos deveres a que as APNFDs estão obrigadas.

A legislação em vigor deve ser alargada também ao FT.

As autoridades nacionais devem definir, em relação a algumas

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APNFDs qual a autoridade que deve ser responsável pela verificação do cumprimento dos deveres de prevenção do BC e do FT.

Outras actividades e profissões não financeiras designadas (R.20) As autoridades guineenses devem efectuar uma análise dos riscos

que certas APNFDs podem colocar em termos de utilização para fins de BC.

Devem ainda ser adoptadas medidas práticas para sensibilizar ou procurar assegurar a aplicação dos instrumentos jurídicos da UEMOA destinados a reduzir a utilização dos pagamentos em espécie.

5. Pessoas colectivas e entidades sem personalidade jurídica e Organizações sem fins lucrativos

Pessoas Colectivas – Acesso a informações sobre beneficiários efectivos e estrutura de controlo (R.33)

A legislação em vigor deverá ser alterada no sentido de permitir o acesso em tempo oportuno à informação sobre quem são os beneficiários efectivos e uma adequada transparência em relação a estes beneficiários efectivos e ao controlo das sociedades anónimas com acções ao portador.

O sistema de registos e os instrumentos da OHADA devem ser adaptados de forma a terem em atenção a preocupação da utilização das pessoas colectivas para fins de branqueamento de capitais ou de financiamento do terrorismo.

Entidades sem personalidade jurídica – Acesso a informações sobre beneficiários efectivos e estrutura de controlo (R.34)

Não aplicável

Organizações sem fins lucrativos (RE.VIII) As autoridades guineenses devem proceder a uma análise da

adequação da legislação em vIgor para as ONGs no sentido de verificar a existência de riscos da sua utilização indevida para fins de financiamento do terrorismo.

Devem ser promovidas acções de sensibilização para a consciencialização dos riscos de FT existentes nas ONGs, bem como devem ser promovida a sua inspecção ou acompanhamento.

A Directiva nº 4/2007/CM/UEMOA deve ser transposta para o direito interno, também no que concerne às obrigações de vigilância relativas às ONGs.

6. Cooperação nacional e internacional

Cooperação e coordenação nacional (R.31) A LCBC deve ser implementada e aplicada no sentido de facilitar a

cooperação e a coordenação interna entre todas as autoridades competentes em matéria ABC/CFT.

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Deve ser criado um mecanismo de cooperação interna entre as diferentes autoridades competentes, em especial entre as autoridades de aplicação da lei no quadro das investigações e procedimento penal pela prática dos crimes de BC/FT.

As Convenções e Resoluções Especiais da ONU (R.35 e RE.I) As disposições das convenções de Viena e de Palermo devem ser

transpostas na íntegra para o direito interno da Guiné-Bissau.

A Convenção Internacional para a Eliminação do Financiamento do Terrorismo, das Nações unidas, deve ser aplicada na ordem jurídica interna. Deve ainda ser transposta e aplicada no direito interno a Directiva nº 4/2007/CM/UEMOA sobre o FT.

Auxílio judiciário mútuo (R.36, 37, 38, RE.V) A LCBC deve ser alterada no sentido de estabelecer mecanismos

que permitam suprir conflitos de competência entre os Estado e clarificar a questão da dupla incriminação e a necessidade da sua verificação para o cumprimento de pedidos de auxílio judiciário em matéria de BC.

A Directiva nº 4/2007/CM/UEMOA deve ser transposta, para permitir o auxílio judiciário em relação ao financiamento do terrorismo.

Devem ser criados mecanismos de coordenação para facilitar a cooperação internacional relativamente a pedidos de apreensão ou de perda oriundos de outros países.

Deve ser criado um fundo de activos para partilha, bem como consagrar na legislação nacional a possibilidade de partilha de bens.

A criminalização do financiamento do terrorismo e do terrorista individual deverá ser feita a curto prazo, de forma a permitir o congelamento, apreensão e perda de bens relacionados com estes comportamentos.

As autoridades nacionais devem elaborar e manter actualizadas estatísticas ou informação sobre pedidos de auxílio judiciário mútuo, recebidos ou enviados, em matéria de apreensão e de perda de bens, bem como o tempo médio de resposta aos mesmos.

Extradição (R. 39, 37, RE.V) A legislação guineense deve ser alterada no sentido de passar a consagrar a obrigação de julgar sempre que um pedido de extradição de um nacional seja recusado.

A LCBC deve ser revista no sentido de consagrar um verdadeiro procedimento simplificado de extradição.

Além disso, a legislação deve ser alterar para permitir autorizar pedidos de extradição baseados na prática do financiamento do terrorismo, de organizações terroristas e do terrorista individual.

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As autoridades nacionais competentes devem clarificar se o facto de o tipo legal de crime de BC ou de FT ou das infracções subjacentes serem diferentes no Estado requerente e no Estado requerido constitui ou não um obstáculo á extradição.

A condição da dupla incriminação deveria ser retirada da LCBC, no que respeita à extradição, por constituir um obstáculo à cooperação internacional.

As autoridades nacionais devem elaborar e manter actualizadas estatísticas ou informação sobre os pedidos de extradição, activa e passiva, motivos de recusa e duração do processo.

Outras formas de cooperação (R. 40, RE.V) A LCBC deve ser implementada e aplicada no sentido de facilitar a

cooperação e a coordenação interna entre todas as autoridades competentes em matéria ABC/CFT.

Deve ser criado um mecanismo de cooperação interna entre as diferentes autoridades competentes, que permita também conhecer a eficácia da troca de informações com autoridades homólogas estrangeiras.

A Directiva nº 4/2007/CM/UEMOA deve ser transposta, para permitir a cooperação internacional em relação ao financiamento do terrorismo.

As autoridades nacionais devem elaborar e manter actualizadas estatísticas ou informação que permita verificar que não existem condições restritivas, desproporcionadas ou injustificadas á cooperação.

7. Outras questões

Recursos e estatísticas (R. 30 e

32) As autoridades guineenses devem dotar as autoridades de controlo e de supervisão do BC/FT de meios e recursos adequados ao desempenho das suas funções.

As autoridades devem promover a formação específica em matéria de BC/FT a todas as autoridades competentes em matéria de prevenção e combate ao BC/FT.

As autoridades nacionais devem ser dotadas de recursos humanos especializados e de meios técnicos e financeiros, em especial as autoridades de aplicação da lei.

A CENTIF deve ser dotada de meios humanos e de recursos financeiros e equipamentos técnicos adequados ao desempenho das suas funções.

As autoridades guineenses devem elaborar e manter actualizadas estatísticas sobre:

- pedidos de auxílio judiciário mútuo.

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- pedidos de extradição, activa e passiva.

- processos, investigações, acusações e condenações por BC/FT.

- bens congelados, apreendidos e declarados perdidos e respectivos montantes.

- sanções aplicadas e medida da pena.

- declarações suspeitas de BC/FT.

- declarações ou comunicações nas fronteiras e sanções aplicadas.

- acções de supervisão ou inspecções realizadas e sanções aplicadas.

Outras medidas ou aspectos ABC/CFT relevantes

Quadro geral – questões estruturais