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    REMANDO POR CAMPOS E FLORESTAS:

    Memrias & Paisagens dos Marajs

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    Denise Pahl Schaan

    Agenor Sarraf Pacheco

    Jane Felipe Beltro

    Organizadores

    REMANDO POR CAMPOS E FLORESTAS:

    Memrias & Paisagens dos Marajs

    Livro Ensino Fundamental

    5 a 8 Sies

    Rio Branco

    GKNORONHA 2011

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    Organizadores

    Denise Pahl Schaan

    Agenor Sarraf Pacheco

    Jane Felipe Beltro

    Produo Editorial

    Denise Pahl Schaan

    Conselho Editorial

    Fernando Luiz Tavares Marques

    Flavio Leonel da Silveira

    Hilton Pereira da Silva

    Marcia Bezerra de Almeida

    Rosa Acevedo-Marn

    Projeto Grfico e Direo de Design

    GKNoronha

    IlustraesDesenhos:Deise Lobo

    Cores:Clementino Almeida

    Impresso e Acabamento

    Amaznia Indstria Grfica e Editora Ltda.

    Financiamento

    CNPq Pcess n. 553622/2006-4IPHAN Insiu d Paimni Hisic e Asic Nacinal

    Apoio

    Universidade Federal do Par - UFPA

    AMAM - Asscia ds Municpis d Aquiplag d MaajSecul Seceaia de Culua d Esad d PaPrefeituras dos Municpios de Anajs, Afu, Breves, Cachoeira do Arari, Chaves, Curralinho, Melgao,

    Muan, Ponta de Pedras, Portel, Salvaterra, Santa Cruz do Arari, So Sebastio da Boa Vista e Soure.

    Distribuio Gratuita

    Pgama de Ps-Gadua em Anplgia - PPGA/UFPA

    Disponvel na internet

    www.ppga-ufpa.com.br

    www.marajoara.com

    Sumrio

    APrESENtAoSou marajoaranos campos e nas florestas dos Marajs

    Jane Felipe Beltro

    I - PAISAGENS & PASSAGENS

    1. PAISAGENS E ESPAoS DE MELGAo EM trANSForMAoManoel Moreira Almeida

    2. DEIXANDo A tErrA NAtAL: As Migaes aavs ds temps

    Denise Pahl Schaan

    3. A MIGrAo NorDEStINA PArA SALVAtErrALuiz Antonio da Silva

    Waldeci Pena Miranda

    4. NorDEStINoS EM PortELJs Mendes Sanana da Silva

    5. NArrAtIVAS E oLHArES DA MIGrAo PArA MELGAoDailson Guatassara Santos

    Glindes Ribeiro Wanzeler

    II - HISTRIAS DE VILAS E CIDADES

    6. F, FoGo E MAr: Hisias e Memias da Vila de AapixDenise da Costa dos Passos

    7. JoANES EM DUAS MEMrIASShirleide Rodrigues Neves

    8. trABALHo, rELIGIoSIDADE E EDUCAo:Histrias de uma Comunidade Ribeirinha no Maraj das FlorestasDalcides Santana Pinheiro

    9. MEMrIAS Do PAtrIMNIo PBLICo MAtErIAL DE CHAVESMarinilza Coelho Loureiro

    10. PELAS RUAS DA CIDADE DE CHAVES

    Ilma de Ftima da Silva Tavares

    11. VoZES DA BorrACHA EM ANAJS: uas Hisias sbe tabalh e SeingalMnica Malcher

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    Remando por Campos e Florestas: Memrias & Paisagens dos Marajs

    / Denise Pahl Schaan, Agen Saaf Pachec, Jane Felipe Bel,

    organizadores.- Rio Branco: GKNORONHA, 2011.

    172 p.

    Inclui bibliografias.

    ISBN 978-85-62913-05-1

    1. Maaj, Ilha d (PA) - Hisia. 2. Paimni culual- M aaj, Ilha d (PA). 3.

    Miga - Maaj, Ilha d (PA). 4. Memia.I. Schaan, Denise Pahl.II. Pachec,

    Agenor Sarraf. III. Beltro, Jane Felipe.

    CDD - 22. ed. 981.15

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    III - PATRIMNIO MATERIAL E IMATERIAL

    12. HIStrIAS DA CoBrA GrANDEDenise Pahl Schaan

    13. MEXENDo CoM CoISA DE NDIo: Descbea Aquelgica nas guas de AnajsMnica Malcher

    14. ArtEFAtoSMaria de Jesus de Oliveira Brito

    15. CACHoEIrA Do ArArI E oS SEUS PAtrIMNIoSVera Lcia Mendes Portal

    16. DoS MoNAS MUANElita Gomes Ferreira

    17. BrINCANDo NoS CAMPoS Do MArAJ: Memias de Bincadeias de SalvaeaSimone Azevedo de Oliveira

    18. ESPICHANDo A ProSA: os Msics d JubimAlice Rodrigues de Freitas

    19. A ARTE DE PARTEJAR

    Deomarina Cardoso Ferreira

    Ediane do Carmo Freitas

    20. oFCIoS DAS MAtAS E DAS GUAS: Sabedia e Medicina Cabclas em SalvaeaMaria Pscoa Sarmento de Sousa

    Alice Rodrigues de Freitas

    IV - NARRATIVAS FANTSTICAS

    21. O ENCANTE DA COBRA BRANCA DO RIO SIRICARI EM SANTA LUZIA

    Marcelli de Cssia Monteiro Santa Brgida

    Rodrigo Oliveira dos Santos

    22. o MArAJ E SUAS LENDASIsa Maria do Nascimento Silva

    SOBRE OS AUTORES

    Sou marajoara nos campos e

    nas florestas dos MarajsJane Felipe Beltro

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    Ao idealizar o projeto Por Campos e Florestas,Denise Pahl Schaan e Agenor Sarraf

    Pachec, dis apaixnads pel Maaj, n imaginavam a dimens d abalh de cnsu

    e do alcance de produzir material didtico-pedaggico para o ensino transversal de contedos

    de Histria, Arqueologia e Patrimnio Culturaln aquiplag, luga que gulh mai ds

    paraenses. Com entusiasmo e competncia os coordenadores da proposta que, hoje, vem a lume,

    foram reunindo pares, professores da rede pblica dos diversos municpios marajoaras e demais

    pesquisades, paa peleja pela causa.

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    O trabalho foi arquitetado e tecido nas malhas do tempo e dos muitos encontros nos

    Maajs e em Belm, que cmpeendeam ficinas de dilg e expeincias, elaba de ex-

    tos escritos com conhecimento de causa, fotos retiradas dos bas da memria e horas a fio de

    discusso e reviso. Documentos que, cuidadosamente, foram caindo nas malhas da rede de

    sabees adicinais que inundam as pginas d nss liv apesenand a plasicidade ds

    conhecimentos e a urgente necessidade de colocar o saber local na pauta da educao escolar

    nos Marajs.

    O trabalho foi possvel porque todos se acreditavam participar de um empreendimento

    que reforaria o fato de serem marajoaras de nascimento ou de corao, por pertena ou por

    adeso. Do primeiro encontro, lembro o entusiasmo das declaraes, respondendo s perguntas

    quem vc? E ... p que paicipa d pje? Enfaicamene, algum espndeu: sou marajo-

    ara, daquelas que saiu cedo de casa para tentar a vida. E outro, logo acrescentou: nasci na Vila de

    Janes, disri de Salvaerra, nde mr a hje. Ou: Vim para a Ilha d Maraj recm-nascida,sou marajoara de corao; hoje, com sonhos realizados, me considero marajoara!

    Mas afinal, que gulh esse de se maajaa? Alguns infmam: sou descendente de

    ndios, filha de portugus, cabocla da gema. Muitos so filhos depescador, vaqueiro, agregado

    de fazenda, danarino de Carimb. Outros mais se declaram sourenses ou filhos de Soure,ponta-

    pedrense, chavense, salterrenseou apresentam-se como gente humilde e trabalhadora, nascida na

    roa com muito orgulho, quilombola que antes se pensava mestio, mas hoje luta por seus direitos.

    Todos marajoaras! No impor ta a descendncia, chegou Ilha parou, bebeu aa ficou

    gulhs e de l n se deixu sai. As declaaes inimidam s pucs faseis que n

    sendo filhos do lugar, consideram-se marajoaras por adoo. O ser marajoara papel assumid,

    cmpmiss ij que fja cmpmisss que deixam s pades da idenidade acenads

    s tradies que no necessariamente conhecem a fundo, mas que impressiona os visitantes e os

    pesquisades que a aquiplag se diigem.

    Se maajaa aiude que levana a cabea cna a invisibilidade da divesidade cul-

    ual que aiu s mades d Maaj duane Basil Clnia e, hje, cninua a exclu-ls

    pelas formas coloniais internas. Os marajoaras resistiram s mazelas e ao ser paraense que ge-

    nealiza e escameia as fmas divesas de se apesena e cnvive. Alivs, chegam a scul

    XXI aues de muias hisias que peendem naa, cna as esudanes nas esclas que

    se fazia/faz n Maaj, lcal nde cm pfesses aclhem us maajaas paa faz-ls

    orgulhosos e compromissados com o pensar-se livre por agir e pensar diferenciadamente.

    Professores ararienses, cachoeirenses, chavienses, muanenses, ponta-pedrenses,

    salvaterrenses e sourenses, oriundos dos campos do Maraj, agregaram-se aos: anajaenses,

    bagrenses, boa-vistenses, brevense, curralinhenses, gurupaenses, melgacianos e portelenses,

    vindos das florestas, chegaram a Soure animados para indicar temas e possibilidades de trabalho

    paa educa escla n Aquiplag.

    Os docentes informaram que desejavam ver nos livros didticos, utilizados nas escolas

    d Maaj, a hisia das cmunidades da ibeia, das paias, ds camps e das flesas. texs

    que naassem cm eam/s as vilas? Cm viviam/vivem as pessas esidenes ns divess

    espas d eii maajaa? De que maneia s maajaas vivem dia-a-dia, que csumes

    pssuem ... e, ambm, queem egisa as esias milgicas que egem a vida n aquiplag,

    sees cm bs, iaas e encanads que assunam s desavisads e auxiliam a mane a dem

    social em equilbrio.

    Na vedade, s pfesses queem ve a memia eavivada indicand as ilhas d que

    se fi u das lembanas que paecem u es admecidas, pis ecupea as hisias em suas

    difeenes veses ensina cianas e jvens que pecisam cnhece a adi paa valiza

    ser, o viver, o pertencer, o agregar-se ao Maraj e sua imensido. Portanto, os profissionais da

    sala de aula no apenas so ou se dizem marajoaras, eles querem dar continuidade s formas de

    na-se maajaa, infmand sbe u efand as naaivas que s esudanes escuam

    fa ds bancs esclaes, pis queem, fazem ques de esa cnecads ealidade.

    A piidade ds aues d nss liv sabe a hisia ds cnenes, paa alm

    e cnhece a hisia de pessas e lugaes d Basil e a d esangei. Segund s dcenes

    do Maraj, os livros didticos devem ser elaborados conforme a histria e as necessidades decada luga, pis assim s esudanes pdem execia-se em cmpaaes e cmea a fmula

    ppsas fundamenadas em expeincias vividas. Pan, se maajaa cincide cm esa em

    sinnia cm pames cuiculaes que cnemplem a si, as esudanes e as inelcues de

    outras plagas, pois assim vivem identidade mpar sem desconsiderar as identidades dos demais,

    dando um saboroso realce diversidade.

    Se maajaa paece indica su gene d meu emp, cm s lhs fixs n fuu,

    pis fuu peence as mais jvens; enean, n se pde descnhece a expeincia ds

    mais velhos, guardadores da tradio que se renova.

    os pfesses acediam que as bincadeias de ciana adicinais ... fam esque-

    cidas; enean, cei que, a peceem s caminhs da memia e elabaem exs sbe

    assun, ansfmam, n apenas s esudanes em viajanes d emp d emp fi, mas s

    leies d nss liv em passageis da memia, e ensinam, paa alm da escla, cm se pde

    conhecer os Marajs. Assim, no lamentamos o surgimento de jogos e brinquedos eletrnicos, mas

    acescems a cnhecimen que h inmeas fmas de binca e que esga-las apxima jvens

    e velhos, criando laos fortes, forjando uma ciranda que torna os Marajs lugar de viver e imaginar!

    E quem sabe canand cianda, ciandinha, vams ds cianda, vams da a meia vla, vla e

    meia, vamos dar. O anel que tu me destes era vidro e se quebrou, o amor que tu me tinhas era pouco

    e se acabu. E, paa cmplemena p iss Dna cianda ene den dessa da diga um ves

    bem bni..., e ajusand ef, em luv ds maajaas que canam s Maajs!10 11

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    I PAISAGENS & PASSAGENS

    Ainda eimam desnaufaga navi. Ele viu fanasma, viu cba bina. Sbe asenchenes em Maaj, especul mesm. N meu mance Maaj eu fal da gua

    invasa. o Chve es enchacad assim cm ts casas e um ri. tda a minha ba

    fluua na enchene. Vej jaca, peixe auan e s defuns que escapam d cemii

    alagad. Mei numa casa em cima dgua. A hje i s peixes e as maecas e as

    chuvas enmes. (...) Maaj ainda ea encanada. o gad anfbi. (...) Quand Maaj

    desencana?MENEZES, Maia de Belm. Um ea de Dalcdi Juandi. In:Asas da Palavra. revisa d Cus de Leas. Belm:

    Unama, n 04, junh, 1996, p. 24.

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    PAISAGENS&PASSAGENS

    1PAISAGENS E ESPAOS

    DE MELGAO EM

    TRANSFORMAOManoel Moreira Almeida

    Os seres humanos, no decorrer de sua histria, tm mantido uma relao integral com

    a natureza e com os elementos que a compem. Nessa relao, as pessoas provocam profun-

    das transformaes no ambiente fsico, modificando-o e alterando sua forma, seu contedo, seus

    significados e suas funes. Com isso, transformam espaos e paisagens, buscando um melhor

    aproveitamento dos recursos naturais.

    As transformaes da paisagem podem ser entendidas como boas ou ruins, depende

    de como se promove a ao humana sobre um determinado ambiente; boas quando o agente

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    PAISAGENS&PASSAGENS

    PAISAGENS&PASSAGENS

    sevi egula de clea de lix e, em ba

    pae da cidade, a a limpeza ubana n

    atende a populao de maneira satisfat-

    ria.

    O processo de transformao

    pel qual em passad a cidade inens

    e, nos dias atuais, acontece ainda de for-

    ma mais pida. Pm, nem sempe iss

    jusificvel; algumas mudanas geam

    mais problemas do que solues para

    a vida dos moradores. Muitas acabam

    ciand des de cabea e pvcam,

    frequentemente, catstrofes naturais,como enchentes e alagamentos, resultan-

    do emmais problemas do que melhorias

    para a vida da populao urbana.

    Nem sempre as mudanas r-

    pidas s bas. H alguns ans, sb alguns aspecs, ea melh de se vive; iss cmpvad

    pel ela d pfess Hli. Segund ele, essa ansfma, cnsideand aspec ambien -

    al, fi uim. Essa pini ambm fi acmpanhada p Seu Js Lin, quand qualificu a p-

    blemica cm sua expeincia cidiana: Hje, cm a gande quenua difcil a fica em casa

    de dia, mei dia mui quene, um cal danad, e ainda ficu pi depis que cmeaam a

    faze caladas nas uas e inha umas ves na cidade que fam deubadas.

    Sbe a plui ambienal, pfess Hli ns disse seguine: Aumenu a caga de

    lix na cidade, e a Pefeiua, pde pblic, n cnsegue abalha desin desse lix. Essa

    situao gera um problema ambiental enorme na cidade, pois ela sofre uma poluio visual ao

    exem. A cidade visualmene mui feia; eu a caaceiz cm feia, ela fica feia pque es

    suja, iss eflex dessa mudana n espa gegfic.

    Assim, as transformaes nem sempre se apresentam como solues de melhoria,

    mas como entraves para a construo de uma realidade mais digna e de um mundo ecologica-mente sustentvel.

    N mund exemamene maeialisa e individualisa em que vivems, a nsia pel p-

    de e a necessidade de e sempe mais, leva as pessas a pcuaem incansavelmene p alg

    mais, a queeem aumena suas ppiedades, n se pecupand cm a fma cm v

    cnsegui iss, se cm expla desdenada, u n, ds ecuss nauais.

    Sabemos que as pessoas podem produzir riqueza sem precisar devastar a natureza de

    fma iespnsvel. Sbe iss, pfess Hli cmenu que pssvel pduzi e abalha

    sem acaba cm s ecuss nauais que ns deiam. Assinala pfess: Eu cncd que

    pode haver desenvolvimento sustentvel, onde a sociedade se relaciona de uma forma sustent-

    vel, pecupand-se cm a exisncia das espcies: iss pssvel.

    Cnud, que se pecebe que hmem, na nsia de eniquece apidamene e a

    transformador age de forma sensata, responsvel e cnscio da necessidade de se pensar nas

    geraes futuras; ruins quando seu ato est voltado apenas para os fins do que se quer conseguir,

    no considera os meios utilizados para alcanar seus objetivos, preocupando-se somente em atin-

    gir o resultado final, seja ele qual for. Assim, muitas vezes os seres humanos modificam de forma

    negativa os ambientes onde vivem pelo simples desejo de satisfazer suas necessidades pessoais

    ou empresariais.

    o espa gegfic melgacense, assim cm d planea, ambm sfe a ine-

    fencia humana, aavs de mudanas que s senidas p ds. Cada pessa pecebe as

    transformaes por um prisma diferente, com vises distintas; umas, como os professores de

    Geografia, analisam segundo as teorias geogrficas, j outros atores sociais as percebem pela

    vivncia cidiana, aavs de sabedias adquiidas, muias vezes, em adies familiaes. Cn-

    tudo, de seu lugar, cultura e posio social, todos percebem a metamorfose em escala planetria

    pela qual passam as paisagens.o pfess Hli Pena Baia ns elaa cm pecebe essa mudana cnsane n seu

    dia-a-dia: Quand cheguei a Melga, em feveei d an de 1992, as uas eam basane dife-

    enes. A Maechal rndn n ea pavimenada, e nesse ped de chuvas ea difcil afega.

    V-se, pel que ns fala pfess Hli, have uma significaiva ansfma n es-

    pa gegfic de Melga. Ele ns diz ainda que: Quand a gene esudava, cansei de sai da

    escla, nie abaix de chuva ... e nhams que enfena a lama. Hje, as uas ganhaam ua

    configurao. Houve a abertura de outras ruas, a cidade j tomou conta de boa par te da estrada

    Melga-Jangui.

    o senh Js Lin da silva, agicul e mad h mais de quaena ans em Melga,

    ambm ns falu sbe as mudanas cidas na cidade, especialmene na lima dcada. Dese

    md expessu-se: Quand cheguei aqui, s inha a ua da fene (Senad Lems), a a Igeja

    de S Miguel, uma pae da 12 de uub e um peda da 31 de ma, es ea maagal.

    Mas naquele emp ea melh algumas cisas, inha mais peixes, caas e a vida ea mais anqui-

    la. N inha muia sujeia cm em hje, n se via lix pela cidade, s s capins que avam.

    P iss ach que naquele emp ea bm vive em Melga.

    Isso caracteriza a interferncia humana na paisagem; muitas vezes, as pessoas pagam

    um pe al p esse avan, sfend cnsequncias que pdem se mais negaivas d que p -siivas d pn de visa da qualidade de vida. Iss pde se visualizad n que pfess Hli c -

    mentou sobre as diferenas entre o viver em Melgao, no passado e no presente. Assim assinalou:

    Anes ea melh. N aspec ambienal, a cidade n inha, p exem-

    pl, pblema da acumula de lix n ped da chuva. Hje ems

    lcais cics na cidade. Quand chve uma dificuldade enme paa

    trafegar porque a cidade no tem um sistema de esgoto. Nesse aspecto, hoje

    bem pi ma em Melga.

    Pecebe-se mais uma vez pela fala d pfess Hli que n aspec ambienal a siua

    da qualidade de vida hje pblemica. Melga apesena pblemas de fala de esg sanii,

    Ilustrao:

    Mrcio de Mene-

    zes, funcionrio da

    DIPROE, Melgao,

    2006.

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    PAISAGENS&PASSAGENS

    PAISAGENS&PASSAGENS

    qualque cus, seja pels mds nbes, aavs d abalh si, seja pels caminhs bscu-

    ros e desonestos, age da forma mais vil que se possa imaginar para alcanar seu intento.

    Na sociedade ocidental capitalista, o desejo do lucro move o sistema de relaes pesso-

    ais e regula o processo de Diviso Social e Territorial do Trabalho; todos querem o mesmo objetivo:

    ganha dinhei, e, de pefencia, sem mui sacifci. Pm, cm iss n pssvel paa a

    humanidade ineia, s mais espes que cnseguem usufuua das iquezas nauais e ga-

    nhar dinheiro antes que os demais possam fazer uso dela.

    Assim, s ecuss nauais s explads sem qualque ceimnia e v send dizima -

    ds, exins de fma indisciminada, pedaia e, em alguns cass, de fma ievesvel. Aqui

    em Melga, esa ealidade ambm vivenciada: a madeia, palmi e us ecuss nauais

    es desapaecend das flesas, e a ppula, que n passad vivia d exaivism desses

    pdus, hje padece, sfe sem -ls paa seu alimen. Um exempl diss aa, que em

    alguns meses d an impad de us municpis p um pe elevad, que deixa pvmais humilde sem condies de consumi-lo diariamente.

    Diante de nossos comentrios e das opinies desses dois atores sociais, que represen-

    tam categorias diferentes, mas complementares do tecido social melgacense, cabe-nos afirmar

    que o espao geogrfico da cidade de Melgao, como quase todo o planeta, tem passado por

    uma metamorfose permanente, seja provocada pelos elementos da natureza (sol, chuva, vento e

    us fenmens climics), seja pela a humana. Esa lima a espnsvel pelas pies

    cnsequncias, cm aquecimen e a eleva da empeaua mdia, de cncia em ds

    os lugares.

    Alg ineessane de se pecebid nas falas ds enevisads que, alvez pel nvel de

    educao escolarizada que apresentam para avaliar estas paisagens em transformaes, a mesma

    a visa sb difeenes lhaes; enquan paa pfess Hli, algumas mudanas s visas

    cm psiivas, cas d asfalamen de uas, paa Seu Js Lin, iss mivu cal elevad de

    hje, e vis cm negaiv. Pm, alg cmum n md de analisa essa mudana fa de

    ambos perceberam as transformaes e alteraes no arranjo espacial da cidade de Melgao.

    Orientao

    o ex Paisagens e Espaos de Melgao em Transformao indicad paa

    se abalhad cm aluns de 5 sie, nas disciplinas Gegafia e Esuds

    Amaznics. Pde se ambm abalhad em Esuds Amaznics cm alu-

    ns de 6 sie.

    Propostas de Atividades

    Faa dois desenhos retratando a paisagem geogrfica do lugar onde voc1.

    mora em dois momentos: no presente e no passado (pea ajuda de seus pais

    ou de pessoas de mais idade para o segundo desenho).

    Desceva cm espa gegfic nde vc ma. Desaque aspec2.

    ambiental, assim como aqueles relacionados segurana, alimentao e

    madia, p exempl.

    Vc acedia se pssvel que as ppulaes explem mei ambiene e3.

    geem iqueza, sem desui iespnsavelmene a naueza? De que fma

    iss pde se fei?

    Vc cncda u discda d pfess Hli quand afima que a cidade 4. fica

    feia prque es suja, que lix ia a beleza d ambiene? D sua pini.Faa um quadro, divida em duas colunas, relacione em uma os elementos5.

    naturais e em outra os elementos artificiais visualizados na paisagem onde

    vc ma. Depis espnda: exisem ambienes almene nauais, sem a

    inefencia humana?

    o pfess ambm pde pedi as aluns paa fazeem uma eda sbe6.

    as ansfmaes da paisagem e s eflexs que essas mudanas pdem

    trazer para o ser humano.

    Leiua da imagem d ex. obsevand aenamene a ilusa de Mci7.

    de Menezes, diga o que voc pensa ao ver essa imagem. O que ela tem a ver

    cm a sua vida? o que vc acescenaia? Faa uma lisa dessas ppsas

    e depis cnsua uma nva imagem e um ex, abdand as queses que

    n ficaam bem expessas na ilusa.

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    DEIXANDO A TERRA NATAL

    as Migraes atravs dos TemposDenise Pahl Schaan

    A p-hisia ped mais exens da hisia humana. Cmea h 2,5 milhes de

    anos, com a produo e uso de

    artefatosde peda pels pimeis hmindes nsss anepas -

    sados mais remotos. Se pararmos por um momento para pensar que os primeiros indivduos de

    nssa espcie - Homo sapiens se desenvlveam n cninene afican e a pa i de l clni-

    zaam d glb eese, cuzand maes e ceans, eems a exaa dimens da avenua

    migratria dos seres humanos. Mas talvez o impulso para migrar provenha primeiro de nossa

    carga biolgica. Sabemos que animais migram em busca de alimento e climas mais favorveis,

    fequenemene em pcas especficas d an. As migaes humanas, enean, endem a se

    mais cmplexas e envlvem n apenas faes ecnmics u seja, a busca de melhes cn-

    dies de vida mas ambm azes plicas, eligisas, afeivas e simblicas.

    Moramos em um pas de migrantes. Para c vieram portugueses, africanos, alemes, ita-

    lianos, espanhis, japoneses... Da mesma forma, brasileiros imigrantes esto presentes em quase

    todos os pases do mundo. Estima-se que cerca de 100 milhes de pessoas ou 2% da populao

    do globo viva longe de seus pases de origem. O ser humano parece ser migrante por natureza,

    que cmpvad pela ajeia de seu cmpamen scial desde passad disane a

    a aualidade, quand s anspes mais pids e flux quase insanne de infmaes n

    mundo globalizado facilitam os contatos e deslocamentos.

    Por que as pessoas migram?

    Anes de mais nada, vams ena enende que leva as pessas u pvs ineis

    a migrarem. Um dos fatores primordiais apontados tem sido o econmico. As pessoas se sentem

    atradas por oportunidades de trabalho ou terra para cultivar (vantagens no destino), por um lado,

    e p u se senem expulsas de uma egi naal nde as punidades paa alimena a si e

    sua famlia j no so to promissoras (desvantagens no local de origem). A essa receita se deve

    Artefato: udaquil que pduzi-do por seres humanosa pai de maias-pimas exisenes nanatureza. Artefatosso, portanto, coisasculturais, no naturais.

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    adicionar custos razoveis de transporte e a disponibilidade de informao sobre as vantagens do

    local de destino.

    A fme e a cancia de ecuss mnims necessis sbevivncia casinads

    pela seca n cas d Ndese basilei aliads cescene indusializa n sudese ba -

    silei, levaam a que milhaes de mulhees e hmens deixassem Ndese a pai da dcada

    de 1960 em die a eix ri-S Paul, nde se junaam s ppulaes pbes de peifeia

    para preencher as vagas de trabalho nas fbricas, na construo civil e nas casas de famlia

    - s chamads empegs dmsics. A pai da dcada de 1970, ppulaes uais d sul d

    pas migraram para a Amaznia, seduzidos pela poltica desenvolvimentista do governo militar.

    Ao mesmo tempo, grandes contingentes populacionais ficaram para trs, muitas vezes sem con-

    dies de acaem cm as despesas da lnga viagem. Pecebe-se, p numess exempls, que

    nem sempre os mais pobres migram, pois esses tm dificuldades de acesso informao e aos

    recursos mnimos para encarar uma longa jornada. Por isso, se aqueles que tm um pouco mais

    de recursos migram, parte da razo pode no ser somente econmica, pois se percebe que h

    outros desejos e situaes favorecendo esses deslocamentos.

    Esuds auais msam que a exisncia de uma ede de slidaiedade ns lcais de

    desin um fa impane que cnibui paa sucess da miga. ou seja, migane viaja

    j esperando encontrar algum apoio de familiares e amigos que chegaram antes dele no local,

    para que possa ter algum suporte nos primeiros meses de adaptao nova realidade. Outro dado

    impane que a miga n uma decis individual, mesm ns cass em que uma s

    pessoa migra. Geralmente o migrante se engaja na aventura de tentar a vida em um local estranho

    por deciso conjunta dos membros da famlia e com seu apoio. Espera-se que o migrante bem-

    sucedido mande dinheiro para casa e ajude os familiares que ficaram para trs.

    As migaes pdem ambm se empias e acnece em fun de peds espec-

    fics d cicl pduiv de planas e animais, quand vanajs miga paa ua ea paa clea

    recursos alimentares. Bioarquelogos brasileiros identificaram vestgios de migraes humanas tem-

    pias ene planal e lial n exem sul d esad de S Paul a pai de seis mil ans

    anes d pesene, cm base em semelhanas genicas e da culua maeial. Alg semelhane

    pode ter acontecido na regio de Santa Catarina, onde se supe que grupos indgenas alimentavam-

    se de pinhes no planalto (um fruto com uma massa bastante calrica que se cozinha em gua e

    sal) durante o inverno e que no vero desciam para o litoral onde pescavam e coletavam mariscos.

    Migaes empias e ene cuas disncias pdem e cid na ilha de Maaj em fun da

    vaia da dispnibilidade de peixes ene as esaes de inven (cheia) e ve (seca). Quand as

    guas baixavam apidamene n final d inven, a quanidade de peixes pess em lags e igaaps

    ns camps ua alagads aaam ppulaes que viviam a mais de 100 km de disncia, que l

    se estabeleciam por alguns meses aproveitando-se da fartura de alimentos.

    Uma vez em sua nova terra, os migrantes podem sofrer com a adaptao s novas

    condies, especialmente se esto em menor nmero, pois se devem ajustar a situaes que

    frequentemente lhes colocam em um patamar inferior aos demais habitantes do local.

    Disporas

    talvez vc j enha uvid fala nessa palava: dispa. N? Dispas s miga -

    es fadas, em que sucessivas levas de pvs s bigads a deixa sua ea naal p fuga

    u ce. Quand se fala da dispa aficana, p exempl, esams n efeind as milhes

    de pessas que fam eiadas d cninene afican a pai d scul IX e levadas paa

    iene mdi e a sia, e depis, a pai d scul XVI, paa a Eupa e Amicas p mecades

    de escavs paa seem cmecializads cm m-de-ba. A dispa aficana a pincipal

    responsvel pela presena significativa de populaes afro-descendentes em pases do Caribe,

    no Brasil, Estados Unidos, e diversos pases sul-americanos, norte-americanos e europeus.

    No caso das populaes africanas, seu prprio status de escravos contribuiu para difi-

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    cultar sua absoro mesmo depois do final da escravido. Uma maneira dos povos migrantes con-

    sevaem a memia de sua ea de igem mane las culuais cm ela, dand cninuidade

    s tradies no preparo de alimentos, confeco e uso de vestimentas e adornos, manuteno do

    idioma materno, assim como procurando a realizao de festas, rituais e cerimnias que reavivam

    esses laos.

    Migraes Indgenas

    N final d scul XIX, quand fam descbes cemiis indgenas n Maaj que

    indicavam a exisncia de sciedades cmplexas, cm al nvel de desenvlvimen cnic,

    pensou-se que essas populaes teriam vindo de fora, pois contrastavam com a aparente simpli-

    cidade das ppulaes indgenas amaznicas en cnhecidas. Ns ans de 1950, essa idia

    ganhou fora principalmente com os trabalhos de Betty Meggers, arqueloga que defendeu a tese

    de que a cultura marajoara teria sido trazida ao Maraj por povos que migraram dos Andes. Mesmon end sid encnads vesgis dessa supsa miga a lng d i Amaznas, al idia

    pedminu p mais de s dcadas, pvand ainda hje imagini de cienisas e leigs. A

    pai da dcada de 1980, cm as pesquisas da aquelga ameicana Anna rsevel n Maaj,

    a idia de um desenvlvimenautctoneda culua maajaa, n baix Amaznas, ganhu fa,

    especialmente quando ficou provado que aquelas populaes l viveram por cerca de 900 anos.

    Hje incnesvel que a semelhana exisene ene as picas desenvlvidas pelas scieda-

    des marajoaras e aquelas que a antecederam comprova o desenvolvimento local.

    de Maaj e l se esabelece sem e deixad vesgis em seu caminh. Alm diss, eiam que

    cna cm infmaes sbe lcal d desin, alm de e planejad mui cuidadsamene

    essa avenua. Quand as migaes cem sbe disncias maies, pque h infmanes

    que v na fene expland s nvs lcais e buscand assegua-se de que have bas cn-

    dies nos locais de destino.

    Apesar da dificuldade de se obter dados seguros sobre as migraes de indgenas ame-

    ricanos pela falta de censos demogrficos e documentao escrita, sabe-se que grandes movi-

    mentos migratrios seguiram-se ao contato com os europeus, na medida em que diversos grupos

    indgenas optaram ou foram obrigados pelos invasores europeus e depois pelos colonizadores

    a deixaem suas eas lcalizadas nas vzeas e pcuaem lcais mais segus n inei

    da floresta. Chegando s cabeceiras dos rios, os remanescentes das guerras de conquista, das

    ceias paa capua escavs e das denas eupias junaam-se as pvs que l vivam,

    fmand nvas sciedades, aga mulinicas e mulilingusicas.As migraes so sem dvida um tema fascinante. Os migrantes que retornam sempre

    m hisias incveis paa cna sbe suas expeincias em lcais difeenes. tais elas,

    se por um lado fascinam o interlocutor, por outro acabam dando-lhe a impresso de que, afinal de

    cnas, melh mesm fica em casa. N pdems ns esquece de que, se nssa espcie

    colonizou o planeta, no o fez apenas se movendo, mas principalmente permanecendo nos locais

    onde nasceu e cresceu, onde construiu paisagens plenas de significados, memrias e afetos.

    Propostas de Atividades

    Idenifique n ex as idias da aua sbe miga: mivs que levam1.

    as pessoas a migrarem, fatores que favorecem as migraes, problemas

    enfrentados pelos migrantes. A partir disso elabore um roteiro de entrevistas

    para que voc possa entrevistar imigrantes em sua cidade. Identifique seus

    potenciais entrevistados e pea que lhe concedam a entrevista. Responda: a

    realidade que voc identificou a partir de sua entrevista corresponde ao que a

    aua clca n ex? Cmpae a sua enevisa cm a de seus clegas. o

    que h de cmum e que h de difeene nas espsas bidas?A partir de todas as entrevistas feitas em sala de aula, os alunos podem montar2.

    um mapa idenificand s lcais de igem ds imiganes que exisem em sua

    vila ou cidade.

    Como a participao dos imigrantes em sua cidade contribuiu para a diversidade3.

    culual? Na maneia de fala? Na cmida? Na maneia de vesi?

    Assim cm hje a mai pae ds mvimens migais cem em cuas disn-

    cias, sobre rotas j conhecidas e contando-se com informaes sobre os destinos, supe-se que

    o mesmo ocorreu no passado. Seria impensvel que um grupo h mil e quinhentos anos teria

    deixad as mnanhas andinas e navegad milhaes de quilmes paa finalmene chega na lha

    Autctone:Aqueleque naual de umaregio, nativo.

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    A MIGRAO NORDESTINA

    PARA SALVATERRALuiz Antonio da Silva

    Waldeci Pena Miranda

    N an de 1900, Esad d Pa ea gvenad p Js Paes de Cavalh, qual

    entendeu que para o desenvolvimento da agricultura no Estado eram necessrios mais braos na

    lavua, que seia pssvel aavs ds miganes. En, seguind as meas desse pje fi im-

    plantada no Maraj, mais especificamente, em Salvaterra, a Colnia Agrcola Paes de Carvalho.

    Nesse perodo, Salvaterra, ainda na condio de vila atrelada ao municpio de Soure,

    possua apenas trs ruas e trs travessas, que compreendem respectivamente, as hoje conheci-

    das ruas 10 de maro, 29 de dezembro e Cearense e as travessas ,Beia-ma, 2 e 3 avessa,

    essa chamada nos dias atuais de Avenida Victor Engelhard. A Colnia Paes de Carvalho ficava

    lcalizada a 3 km da vila.

    Segundo Edeltrudes Corra e Assis, filho de nor-

    destinos emigrados e conhecido na cidade de Salvaterra

    cm Seu Geli Assis, a Clnia ea disibuda em 45 l -es cm apximadamene 45.554 m2no total, contando com

    uma estrutura em que cada lote possua as seguintes constru-

    es: uma casa residencial de madeira coberta com cavacos

    ambm de madeia, uma casa de fn cbea cm palhas

    de anajazei, desinada ambm fabica de fainha de

    mandioca, e um poo de gua potvel do tipo boca aberta.

    As casas, pequenas, eram cobertas com cavacos

    de madeia. Havia uma igejinha, lcalizada pxima linha

    2 esada um cmunidade de Bacabal. Em da a c-

    lnia havia uma boa quantidade de pessoas, oriundas de

    vrios lugares do Nordeste (Sr. Edeltrudes Corra de Assis,

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    PAISAGENS&PASSAGENS

    PAISAGENS&PASSAGENS

    em enevisa ealizada dia 31/08/08).

    Foram recrutadas para povo-

    ar e trabalhar na colnia, segundo Seu

    Getlio Assis, 25 famlias cearenses,

    5 famlias i-gandenses d ne, 3

    famlias pernambucanas, 2 famlias

    piauienses e mais 10 famlias de ou-

    tros estados do nordeste do Brasil, que

    chegaram a Salvaterra a partir de 1900,

    pefazend 45 famlias assenadas.

    Sob o comando do coronel

    Bezerra, os imigrantes desembarcaram

    na ilha do Outeiro e de l foram encaminhados para Salvaterra. Segundo Seu Getlio Assis, foi ocnel Bezea quem deeminu que S. Js Ca de Lima imigane d Esad d Cea-

    fsse pimei adminisad da clnia. Enean, cm esse senh inha um pequen

    cmci (abena) na 2 ua da vila de Salvaea, e us afazees plics, ele fi subsiud

    pelo Sr. Macrio Silva, na administrao da Colnia.

    Foi estipulado um prazo de dois anos para a aclimatao e adaptao dos colonos. Nes-

    se ped cada famlia ecebia a ajuda de um anch de mecadias (equivalene a uma cesa

    bsica por ms).

    N cnex da implana das famlias ndesinas em sl salvaeense, efeivu-se

    um problema a ser enfrentado pelos seus componentes. A desconfiana com que os moradores

    lcais ecebiam s imiganes, que eia levad a exisi alguns ligis ene s ndesins ins-

    talados e a populao local.

    Afirma-se que depois de ativada a Colnia Agrcola Paes de Carvalho, ela foi grande

    expada de mae, apveiand as viagens de bacs freteiros e do navio Miguel Bitar que

    passu a faze viagens egulaes na ecm inauguada linha maima Sue Belm, pel en

    Governador do Estado Sr. Dr. Augusto Montenegro.

    Segundo Seu Getlio Assis, com o passar dos anos a Colnia Agrcola Paes de Carva-

    lh fi enand em um pcess de decadncia, efeivada aavs da diminui da vinda de imi-ganes paa a egi, alm d deslcamen de seus mades paa uas vilas de Salvaea.

    Para ele, os principais motivos que contriburam para isso foram:

    As constantes brigas entre os imigrantes e os nativos;

    As mortes nas famlias por motivo de aclimatao;

    O medo das consequncias climticas decorrentes da passagem do cometa Halley,

    na nie de 18 de mai de 1910;

    Mudana no Governo do Estado, pois o Governador Augusto Montenegro priorizava

    os meios de transporte e no a agricultura e os assentamentos de imigrantes;

    o fim, aps dis ans, da ajuda cm anch (cesa bsica mensal);

    Enchentes na rea, ocorridas nos invernos mais cavernosos.

    Alm desses faes, naad ainda apna xd inen, pque alguns agicul -

    tores saram da Colnia e comearam a se deslocar vila para trabalharem como pescadores, o

    que s levu a ma na 3 ua da vila de Salvaea, n peme hje lcalizad ene a Avenida

    Vic Engelhad e a Avenida Beia-Ma, espa baizad pels mades lcais de Bai ds

    Ceaenses, qual, em 1990, fi hmlgad p Lei Municipal cm rua Ceaense, cm f-

    ma de pepeua a impncia desse pv paa pgess, culua e hisia de Salvaea.

    Muitos nordestinos, antes mesmo do fim da Colnia,deslocaram-se para a regio,hoje

    fica pxim d hspial municipal, na pca chamad de Bai ds Ceaenses. Eles se dedicaam

    pesca e, eram comandados pelo Seu Chico Cruz e pelo Seu Antnio Mendona, conhecido pelo

    apelid de Pm (S. Edeludes Ca de Assis em enevisa ealizada n dia 31/08/2008).

    Apesa da disslu da clnia agcla p vla de 1915, duane ped da 2

    Guea Mundial, ene 1941 e 1945, vias uas famlias ndesinas cninuaam chegand a

    Salvaea, ene elas muias das que fizeam pae d gup en chamad sldads da ba-

    cha desinads exa gmfea na Amaznia.

    Segundo o Prof. Jaime Corra de Assis, idealizador da bandeira, braso e hino do muni-

    cpio de Salvaterra, e filho de nordestinos emigrados para a regio, a segunda leva de imigrantesfoi marcada pela espontaneidade. Pois, segundo ele, essas pessoas vieram induzidas por amigos

    e parentes que em Salvaterra moravam ou haviam morado. A respeito disso, conta Dona Francisca

    Craveiro, filha de cearenses, radicada desde esse perodo na regio:

    Viems paa Pa duane a 2 Guea Mundial. Sams da

    cidade de Balsas n Cea e ns deslcams paa Belm. Em

    busca de terras viemos parar em Soure e, depois, nos desloca-

    mos para Salvaterra. Viemos primeiro para o Carananduba (regio s margens

    d i Paacauai), nde cmeams a nssa pdu agcla(Sra. Francisca Craveir em enrevisa realizada n dia 16/08/2008).

    Freteiros:Embarca-es destinadas aotransporte de merca-dorias para a Ilha deMaraj.

    Cavernoso:Expess lcal queindica a exisncia deum inverno rigoroso.

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    Ene s muis ndesins emigads, pdem se desacads ceaense Alexande

    Almeida, que teria se destacado na poltica local por ser o primeiro a defender a emancipao

    poltica de Salvaterra em relao ao municpio de Soure; o norte rio-grandense Raimundo Pinheiro

    Gurgel, que era proprietrio de uma taberna que ficava localizada no porto da vila e de uma canoa

    feeia chamada Cidade de Salvaea, que devid sua ppulaidade vei a se elei, duane

    a dcada de 1980, Pefei de Salvaea.

    Paa muis salvaeenses s ndesins deixaam um enme legad, cm a pesca

    artesanal, a produo de renda, a produo da rede de dormir tecida no tear, a produo do sabo

    da castanha de andiroba, o sabo de coco, a vela de sebo de carneiro, o mel ou melado feito da

    garapa da cana-de-acar, entre outras riquezas da cultura nordestina.

    Segundo a memria de muitas pessoas da populao salvaterrense, muitos saberes de

    sua farmcia caseira, fazem parte dessa herana, podendo ser destacados a carmelita ou erva-

    cidreira, para desobstruir o intestino no caso de indigesto; o leo do bicho do coco do tucum,para se fazer frices nos inchaos e inflamaes; o ch da folha do pariri com a casca da sucu-

    ba banca, cm emdi paa a anemia; sum d masuz paa se liva das veminses; as

    gaafadas feias cm leie d amapazei cm chclae, nz mscada, puxui e vinh in paa

    cua a faqueza em geal e aavs desses cnhecimens, d pv lcal dizia que s ndesins

    inventaram a farmcia do pobre.

    Propostas de Atividades

    Pesquise se exise alguma ascendncia ndesina na sua famlia u na famlia1.

    de seus amigos ou vizinhos.

    Houve alguma personalidade que se destacou em seu municpio e que possua2.

    ascendncia ndesina?

    Paa vc exisem as da culua ndesina em seu municpi?3.

    Exemplifique.

    Qual a impncia ds imiganes paa a cnsiui da ppula de4.

    seu municpi?

    Apne algum u cnhecimen ppula exisene na famcia dmsica de5.seu municpio.

    Exisem na sua cidade, bais, uas, ps, cmcis u epaies que6.

    fazem efencias a pessas u culua ndesina?

    Paa vc qual a impncia da imiga ndesina paa desenvlvimen7.

    d esad d Pa e da Amaznia?

    Cite os aspectos da cultura nordestina que voc mais aprecia.8.

    NORDESTINOS EM PORTELJs Mendes Sanana da Silva

    A chegada de levas de migrantes ao local onde hoje se localiza o municpio de Portel se

    deu em pcas difeenes, cmeand cm a chegada ds ndis, pugueses, pades jesuas e

    com esses outros ndios de naes variadas, pejorativamente batizadas como Nheengabas. Com

    a expuls das dens eligisas da Amaznia, decene da Lei Pmbalina de 6 de junh de

    1755, a aldeia Auca, na pca uma feguesia sb a invca de Nssa Senha da Luz, pas-

    sou, como as demais aldeias do Gro-Par e Maranho, a ser governada por diretores de ndios.

    Por ato do ento governador do Gro-Par, Francisco Xavier de Mendona Furtado, em

    1758 Auca alcanu a caegia de vila. Nese ped pmbalin, s nmes das vilas fam

    substitudos por nomes portugueses. Dessa forma, o povoado foi batizado de Portel, nome de uma

    aniga cidade puguesa, que significa P Pequen, elevand-se a nvel de municpi em 24

    de janeiro do mesmo ano.

    Sabems que ena abaca das as levas migaias paa municpi de Pel um

    abalh que equeeia mui mais emp e dedica, pan ca lei, nese ex, desacae-

    mos apenas trs razes que contriburam para o processo migratrio nordestino para o municpio

    de Pel, que s: a expla da bacha, sugimen da Amaznia Cmpensads e Lami-

    nads (Amacl) e, mais ecenemene, a exa da madeia.

    A pimeia se deu n inci d scul XX em fun da abundncia da ve naiva

    denominada seringueira, e tm como protagonistas principais os seringueiros, principalmente nor-

    desins, e s seus paes, s baes da bacha. os ndesins ealizavam a exa d lex

    em gandes laifndis peencenes elie da pca, que esidia em Belm. Memias deses

    emps fam ecupeadas p Seu Js Anasci Sanana da Silva:

    4

    Nheengabas:Nome dado pelosndios Tupinambsaos povos indgenashabitantes da ilha deMaraj, cujo significa-d gene de lnguaincmpeensvel.

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    Quand meu pai vei pela pimeia vez, eu ea um ga de i ans de ida -

    de. Sams de Cae, Cea, paa abalha na exa d lex. Cmeams a

    trabalhar no rio Carnajuba, no interior de Melgao. O motivo principal da sa-

    da do lugar de origem era que l estava difcil de manter o sustento da famlia. Por l j se

    comentava que essa regio era boa de se viver, j que algumas pessoas iam no vero e vol-

    avam n inven, us n mandavam nem ncia. Aps alguns ans paams em Pel.

    Aps a coleta do leite da seringueira, este produto natural era entregue ao patro, re-

    presentante, em esfera local, do baro da borracha, geralmente situado na capital do Estado. O

    patro, em geral, fazia o adiantamento (aviamento) em forma de mercadorias, leo, sementes, fer-

    ramentas, entre outros produtos. Dessa forma o seringueiro j comeava devendo para o patro,

    realidade que, muitas vezes, impossibilitava a sua volta ao lugar de origem.

    A maioria dos imigrantes nordestinos eram pequenos agricultores, mas devido a fatores

    climticos e econmicos a permanncia do lugar de origem se tornava invivel. Devido a esta

    situao, muitas famlias migraram para o Estado do Par e, destes, algumas centenas desembar-caram em Portel.

    Sabe-se ambm que nesa pca Pel esava passand uma fase difcil, n dife-

    ene ds dias auais. Cm ns elaa Seu Js Paul de Suza, cnhecid cm Z cmpid,

    de 75 ans, de Cani, Maanh:

    A chegada fi cmplicada. Pel esava passand p uma siua pecia, pm

    ainda oferecia mais condies de sobrevivncia do que no lugar onde a gente vivia

    (agreste cearense). Mas o maior problema encontrado foi a falta de conhecimento

    cm as pessas e ambm a fala de cedibilidade, mas cm emp passei a ganha cnfiana

    e eslvi fica.

    Os hbitos alimentares da maioria

    dos imigrantes baseavam-se no feijo, rapa-

    dura, toicinho, cuscuz, leite de gado e cobra,

    farinha de milho e carne seca de sol. Mas em

    Portel passaram a se alimentar de feijo, ar-

    z, cane de caa, peixe, fus das flesas,

    mandioca, milho e seus derivados.

    Nessa pca Pel ea uma cidade

    pequena, com casas distantes uma das ou-

    as, n exisia acess paia, que hje se

    encna cm sua la almene ubanizada; n exisiam as uas, smene caminhs. A mai

    parte da cidade era tomada por capoeira e destacava-se como nica construo de alvenaria a

    igreja catlica.A segunda leva de imigrantes nordestinos para o municpio de Portel ocorreu em mea-

    dos dos anos de 1950, com a abertura de uma grande empresa madeireira, a Amacol (Amaznia

    Cmpensads e Laminads), cm ns cna Seu raimund Feeia ds Sans, de 66 ans,

    natural da cidade de Penalva, no Maranho:

    Nessa pca, Pel ea uma cidade de puc mvimen, e que geava empeg

    era a Companhia Amaznica (Amacol). O bairro do Murucy era uma rea de pequenas lavouras;

    a ua que hje 2 de feveei, ea um caminh que levava s lavuas, n exisia s clgis, a

    biblieca, ginsi, esdi de fuebl; Pel ea mui pequena.

    A partir do surgimento da empresa Amacol, Portel recebe uma quantidade significativa

    de profissionais das diversas reas que antes no tnhamos, e a paisagem pacata e tranqila co-

    mea a se mdifica. Sugem en p imei ps mdic, a pimeia escla, pimei camp

    de futebol e outras melhorias de que a populao local sentia necessidade.

    Pecebe-se claamene a mdifica d espa uban que aibuda cidade a pai

    da chegada desses imigrantes, principalmente nordestinos.

    E por fim, o terceiro motivo que contribuiu para consolidar este processo migratrio em

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    PAISAGENS&PASSAGENS

    PAISAGENS&PASSAGENS

    Pel: a exa madeieia. A implana de seaias s magens ds is Anap e Pacaj

    acnece de maneia desenfeada a pai da dcada de 1980, cnsequenemene, aaind uma

    grande quantidade de pessoas das diversas partes do pas. A cidade que mudava lentamente,

    agora muda diariamente, surgem ento alguns bairros de maneira desordenada e de infraestrutura

    inexisene, que ansfma a nssa cidade em palc da psiui infanil e vilncia ubana e

    rural, com um grande ndice de pessoas no-alfabetizadas e desempregadas, enfrentando difceis

    condies para conseguir seu sustento dirio.

    Hoje, esto presentes em um mesmo municpio posseiros, grileiros, grandes latifundi-

    rios, madeireiros, pequenos e grandes agricultores que vem em busca da imensa riqueza natural

    exisene em Pel. Dene esses gups sciais, s eas da cidade evidenciam aqueles mi-

    grantes nordestinos que, em diferentes momentos histricos, alcanaram a cidade e fizeram de

    Portel sua terra adotiva.

    Propostas de Atividades

    repesene aavs de uma pea eaal s s mmens da chegada ds1.

    nordestinos a Portel.

    A pai da leiua d ex, faa a epesena da paisagem, msand 2.

    anes e depis d municpi d Pel (aavs de maquees u desenhs).

    Faze debae de alguns emas apesenads n ex, cm:3.

    Migrao efetiva e migrao temporria.

    Expla da bacha.

    Exa madeieia e s impacs ambienais.

    Pluralidade cultural.

    NARRATIVAS E OLHARES DA

    MIGRAO PARA MELGAODailson Guatassara Santos

    Glindes Ribeiro Wanzeler

    5

    O processo migratrio faz parte da vida das populaes humanas. Em diferentes tempos

    e lugares, homens e mulheres sempre procuraram viver da melhor maneira possvel. Desde a

    gnese humana, o homem sempre foi um ser nmade, pois viveu e curtiu sua vida em processos

    de cnsanes mvimenaes. Na ilha e aquiplag ds Maajs, s pimeis habianes deixa-

    ram, entre seus muitos saberes, a alternativa de estar sempre descobrindo outros lugares, rios e

    outras florestas, e desvendando os enigmas dessa cartografia fsica. Para isso ensinaram a seus

    filhos e s futuras geraes que a vida humana e as relaes sociais nunca foram estticas, e o

    isolamento nunca fez parte de suas identidades culturais.

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    PAISAGENS&PASSAGENS

    PAISAGENS&PASSAGENS

    O passar dos tempos e as transformaes em diferentes campos do saber fez homens

    e mulheres enraizarem-se em comunidades e cidades, tornando-se, em dado momento, seden-

    trios. Tal mudana, por seu turno, construiu duas facetas para o mesmo processo. Se muitas

    famlias habitando em cidades, vilas e povoados podem ficar mais tempo ali residindo, outras, em

    funo de diferentes razes, esto sempre a caminhar em busca de melhores condies de vida

    e paz de esprito.

    Em nossa regio, percebemos que entre as razes que produzem deslocamentos huma-

    nos e culturais da floresta para a cidade, destacam-se: a busca por um emprego no setor pblico,

    melhores condies de infraestrutura no espao de habitao, acesso sade, educao,

    madia, mai apxima cm pde legislaiv e execuiv e elaes familiaes, envlvend

    afetividades, como saudades e laos humanos.

    As movimentaes de ribeirinhos da floresta para a cidade no so sempre lineares.

    Isso pode ser facilmente visto quando algumas famlias se desencantam pela vida na cidade eretornam para suas antigas habitaes e propriedades no espao rural. Tais famlias percebem

    que a propaganda de obter uma vida melhor nem sempre se materializa. As linguagens urbanas

    desesuuam, muias vezes, cdigs e cmpamens iunds d espa ibeiinh/ual.

    Os migrantes, em sua maioria, so trabalhadores do campo ou de cidades de outras regi-

    es que saem de sua terra natal para melhorar de vida com as novas oportunidades oferecidas pelo

    novo municpio. Para demonstrar tal argumento, usaremos depoimentos de alguns migrantes, sendo

    um deles Dona Ilda, oriunda do estado do Maranho para Melgao, no Maraj das Florestas.

    Pensei que Melga fsse um luga igual a Maanh, cm uma en -

    me falta de gua, sem condies de fazer plantaes, cultivos e criao

    de gad, que s cisas da qual sempe gsams de faze. Pm, l, a

    emenda fala de gua n pemiia que fizssems, mesm assim viems e

    quand aqui chegams, me depaei cm ua qualidade de vida

    Percebemos que da mesma forma que nordestinos migraram no perodo da borracha

    para os seringais de Melgao, como Raimundo Anacleto, Benevenuto Nogueira, Germano Andra-de e os primeiros Mamedes, ainda hoje muitas pessoas migram em buscas de melhores oportu-

    nidades, pm, esse pcess migai n se d em fun smene da busca pel abalh,

    h us mivs que pecisams leva em cnsidea paa n esingims a cmplexidade

    do processo social. Perseguies polticas, melhor acesso educao, sade e moradia se

    mesclam com outros fatores apontados pelos entrevistados. Entre estes depoimentos, o de Dona

    Miraci, que veio de Benevides, para Melgao, torna-se revelador:

    Sou de Benevides, conheci meu marido l. A famlia dele morava aqui

    em Melgao e depois que seus pais se separaram e eles foram morar em

    Benevides, l eu conheci ele, namoramos e casamos. Como l era difcil o

    emprego, resolvemos voltar para a cidade dele e comear uma nova vida.

    Cm j ciams aneimene, a educa ambm em um papel fundamenal n p-

    cesso de migrao e formao da populao, habitante do ncleo urbano melgacense. Com a

    cnsu da pimeia escla esadual na sede d municpi, na dcada de 60, e pcess de

    emancipa plica que levu libea de Melga da cusdia de Pel, a cidade passu

    a se visa cm us lhs pels mades uais. Um ela que esclaece al agumen

    testemunho de Lia Souza, coordenadora da E.M.E.F. Getlio Vargas, em Melgao, vinda de So

    Sebasi da Ba Visa, a qual falu de suas expecaivas e cnquisas, a chega a municpi:

    Eu realmene n inha bas expecaivas em rela a esse municpi,pois o achava muito pobre, os governantes no mostravam compro-

    misso com o desenvolvimento. Hoje eu vejo outra realidade. Estudei,

    me formei e trabalho na educao h sete anos, ganho razoavelmente bem.

    O padro de vida dos moradores est melhor, a educao caminha a passos

    largs e iss mui impr ane para desenvlvimen d municpi.

    A mudana de olhar da coordenadora pedaggica Lia Souza sobre a cidade de Melgao

    deve-se muito pela maneira como estabeleceu laos de pertencimento com a cidade e as opor tuni-

    dades cnquisadas. Nesse cas, a de miga lhe uxe melhia de vida, ascens scial pela

    formao de nvel superior conquistada, e oportunidade de fazer o concurso pblico e ser apro-

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    PAISAGENS&PASSAGENS

    PAISAGENS&PASSAGENS

    vada. Se paa Lia a miga paa Melga n apesenava, inicialmene, gandes expecaivas,

    depis supeadas, paa us enevisads a p p Melga vem de cnceis p-definids

    cm de se uma cidade exemamene familia e aclheda.

    Nas palavras de Dona Ilda, que j havia residido em Melgao, mas estava habitando

    outro lugar, ao declarar sobre a questo de voltar a sua terra natal, comentou:

    Me sinto feliz aqui, me dou com as pessoas da-

    qui, demorei muito tempo a me acostumar e agora

    no penso em sair daqui.

    O sentido do pertencimento ao lugar pesa muito nas avaliaes feitas pelas pessoas que

    pensam em deixa um luga em ca de u. relaes familiaes, amizades, negcis em pace-

    ria, contam muito nesse processo de deciso. Por isso, alguns, ao sarem e terem a oportunidadede voltar, optam, quase sempre, pelo retorno. O relato de Lia Souza, ainda que esteja inserido

    nesse universo, amplia a questo e faz entendermos que diferentes so os motivos da migrao e

    cmplexas s as elaes cnsiudas pelas pessas, an cm luga deixad, quan cm

    novo espao de moradia. Lia questionada sobre a ideia de voltar para So Sebastio da Boa Vista,

    entre indecises, trao prprio do ser humano, narrou:

    s vezes eu enh vnade de vla sim, s vezes n. Quand

    pens em vla paa minha cidade de igem, p causa de

    meus pais, mas a eu os visito e logo quero voltar para Melgao.

    Envolvendo diferentes culturas, relaes, os deslocamentos ocorridos de outros lugares

    para Melgao demonstram, a partir de alguns poucos depoimentos por ns coletados, a constru-

    de uma cmplexa eia de elaes, send impssvel classific-ls em uma nica az, cm

    comumente se pensou. As condies econmicas ainda que sejam importantes na redefinio da

    vida de um sujei scial, n d cna de explica d emaanhad de senids, significads,

    avaliaes, indecises e traumas que o ato de estar como corpos de passagem podem provocar.

    Enfim, uvi uas vzes, dialga cm uas evidncias, pdem amplia esse leque de eflexes

    e conhecimentos que a pesquisa com a temtica da migrao suscitou em ns.

    Trabalhando com o Texto

    1. Estudo do vocabulrio textual

    A pai da leiua d ex, pcue cnhece s significads das nvas palavas,

    para enriquecer o seu conhecimento idiomtico. Pesquise os significados das pa-

    lavras desconhecidas.

    2. Vamos compreender melhor o texto:

    o que s miganes pensavam a chega a nv municpi?a.

    Quais s mivs que fizeam as pimeias famlias pvaem Melga?b.

    o que fez cm que Dna Ilda migasse paa ese municpi?c.

    Segund ex, que influncias as famlias de alguns miganes ps -d.

    suem nas decises de vla u n a sua ea naal?

    P que miv muias pessas mudam de um luga paa u?e.

    3. Interpretao textual

    obsevand a leiua d ex, eflia e esceva:

    Cm vc imagina Melga, quand chegaam s pimeis miganes?

    Desenhe e escreva suas impresses.

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    II HISTRIAS DE VILAS

    E CIDADES

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    HISTRIASDEVILASECIDADES

    F, FOGO E MAR:

    Histrias e Memrias

    da Vila de ArapixiDenise da Costa dos Passos

    A Vila de S Sebasi de Aapixi uma lcalidade que j passu p vis pblemas

    e pcesss de mudanas sciais, desde seu sugimen a s dias auais. De aldeia, Aapixi j

    fi si e aualmene uma impane vila peencene a municpi de Chaves. Ali acnece uma

    das maies fesas adicinais d municpi, que a fesividade de S Sebasi de Aapix, e-

    alizada entre os dias 9 a 20 de janeiro, atraindo populaes de vrios lugares do Par e Amap.

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    HISTRIASDEVILASECIDADES

    HISTRIASDEVILASECIDADES

    Um ds maies damas vivids aualmene pela Vila de Aapixi difcil acess. Paa

    chega a a vila avenuei enfena um enme desafi, pis paa navega n i Aapixi

    depende-se de ma ala. pecis cnhecimen e pacincia. Cm bem assinalu pade Gi-

    vanni Gall, quem manda n Maaj n pefei, nem fazendei, quem manda n Maaj

    a gua. Assim, paa que as pessas pssam e anquilidade em chega a a vila sem ce

    isc de encalha bac ns bancs de aeia u de seem aasadas pela fa dgua, pecis

    que a gua eseja gande. o i lag, pm as, e muda seu lei a cada ms, deixand as

    pessoas confusas ao navegarem-no.

    Apesa ds als e baixs que a vila em passad e a fala de ineesse das adminisa-

    es pblicas paa sua melhia, bseva-se que hje exise um nme cnsidevel de pessas

    que esclheam Aapixi cm luga paa madia. Um ds aaivs, cnfme pude uvi de ava-

    liaes ds mades cm quem cnvesei paa pduzi ese ex, a educa esclaizada

    ali exisene. H puc emp fi implanad nesa vila Ensin Mdi, que as pucs cmea a

    se expandi ns pvads amaznics.

    O municpio de Chaves est localizado na ilha de Maraj, limitando-se ao norte com o

    cean Alnic; a sul cm s municpis de Cacheia d Aai, Sana Cuz d Aai e Anajs; a

    leste com o municpio de Soure; a oeste com o municpio do Afu e rio Amazonas.

    Registros histricos informam que a origem do municpio derivou de uma antiga aldeia

    de ndis Aus. Em 1755, n dia 6 de junh, fi ciada a lei que deu aldeia pedicamen de

    Vila. ressala-se que, ainda n ped clnial, Chaves fi ambm habiada p pvs que ex-

    plavam a laia, alm de sevi de cen milia.

    D municpi fazem pae as ilhas de Caviana, Mexiana e Visa. os pincipais is s

    Cuuu, Ganh, Azal, e Aapixi, que nasce na csa sul da Ilha de Maaj.

    A Vila de S Sebasi de Aapixi pssui uma ppula de apximadamene 287

    habitantes e est localizada margem direita do rio de mesmo nome. Suas principais atividades

    ecnmicas s a pesca aesanal, exaivism d aa, pecuia e cmci.

    Esta vila se estruturou a partir de um stio, uma grande rea de terra de um latifundi-

    i da pca, peencene famlia olmpi Feeia, deena d cmci lcal. Esa famlia

    cmpava s pdus em Belm e Macap paa evende s famlias da lcalidade aapixiense,

    com um custo muito acima do preo geralmente praticado. Somente quem tinha poder aquisitivo

    razovel era capaz de consumir tais produtos. Essas prticas de comercializao, conjugadas

    com as atividades de pesca, de criao e de agricultura, sem esquecer as prticas religiosas,

    constituram o povoado.

    Wandelia da Csa Almeida, 40 ans, filha de Js Maia Bas de Almeida e Gilka

    da Csa Almeida, ambs nauais d municpi de Chaves e ex-mades de Aapixi, ecupe -

    aam lembanas uvidas de sua av, hje cm 99 ans, que nau que, em 31 de mai de uman que n lemba, acneceu uma fesa de Nssa Senha das Gaas na vila de Aapixi. Nessa

    determinada festa houve uma briga, onde um homem da famlia Bezerra foi esfaqueado e morreu.

    Os familiares do assassinado, por sinal muitos violentos, voltaram para vingar a morte de seu pa-

    rente. No encontrando os culpados, saram fazendo arruaas pela vila, botando as pessoas para

    correr e ateando fogo no espao fsico da comunidade.

    Wandelia suspia e afima: Gaas a Deus nessa auaa n meu ningum! Iss

    s n acneceu, pque na pca as pessas n eam mades fixs da vila, pis pssuam

    a casa da vila e a casa d camp, pemanecend nesa lima a mai pae d emp.

    Aquele episdio de destruio constituiu-se em marco na histria da vila, pois, se por

    um lado viveu-se ali a tristeza da perda fsica e material; por outro lado, a vontade de reconstruir e

    transformar aquela vila na mais importante do municpio de Chaves tornou-se meta a ser alcana-

    da entre os moradores que ali ficaram residindo.

    Segundo depoimentos orais coletados a partir desse episdio, aps o incidente os

    moradores fizeram um juramento entre si. Prometeram que, a partir daquela data, iriam levar

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    HISTRIASDEVILASECIDADES

    HISTRIASDEVILASECIDADES

    seus filhs paa seem educads na cidade gande (Belm), paa que um dia Aapixi fsse a

    lcalidade cm mai nme de pessas fmadas, cm mdics, advgads, pedaggs,

    entre outras profisses.

    A pfessa Luza Almeida Vascncels, 47 ans, filha de Gelcia Bas de Almeida

    e temiscles Sana Cuz de Vascncels, fi uma das pessas que saiu de Aapixi paa esuda

    em Belm e vlu fmada. Ela que, sempe vei a Aapixi, n cnhecia a sede d municpi,

    Chaves. S cnheci a sede em 1994, quand fui chamada paa abalha n Sisema Mdula de

    Ensino, um projeto da Secretaria de Educao do Estado do Par, que tinha como objetivo formar

    aluns em nvel de 2 Gau, lembu a pfessa.

    Da em diane, a pfessa Luza ficu em Chaves, nde aualmene exece a fun de

    Seceia de Educa. Segund ela, apesa de a vila d Aapix e ficad um emp quase sem

    moradores, em funo daquele incndio, nunca perdeu a sua identidade e o valor que possua

    para o municpio de Chaves.

    ps sciais e paquiais. Muis filhs da ppia Vila de Aapix, esidenes em Belm, Macap

    e Braslia, fazem de tudo para estar em sua terra natal no perodo de 9 a 20 de janeiro, quando

    ocorre o festejo.

    Conversando com algumas dessas pessoas sobre as mudanas ocorridas na organiza-

    da fesa, seus avs cnam que, na pca deles, a fesa ea glamsa que s senhes

    vestiam ternos e as senhoras vestidos sociais para assistir e acompanhar a procisso do santo.

    Naquele tempo festivo, aconteciam apresentaes de bandas instrumentais, novenas e o arraial

    do santo ficava todo enfeitado. Algumas coisas mudaram na forma de organizao da festa; a

    Igeja passu a cnla mais lad pfan, muias pessas deixaam de fequena a vila em

    fun de seu difcil acess, pis i de Aapix chega a se miseis, uma vez que cada ms

    o canal muda de lugar. Isso faz com que os donos de embarcaes fiquem amedrontados, pois

    se vierem a encalhar a embarcao no rio, correm o risco de v-la arrastada pelo fenmeno da

    pororoca, comum no municpio.

    Desa fma, a vila de Aapix vive gandes ambiguidades em sua vida cidiana e scial,

    pois sendo a comunidade do espao rural mais importante do municpio de Chaves, local habitado

    por filhos ilustres, por sua formao superior, e sede da maior festa religiosa municipal, ainda precisa

    cnvive cm fmas de islamen p sua lcaliza gegfica e pela ppia dinmica e peig

    que as guas d i-ma pduzem, que afea, em lima insncia, seu desenvlvimen inegal.

    Iss se jusifica pel fa de l nunca deixa de se ealiza a fesividade de S Sebasi

    de Aapixi, cnhecida cm a mai fesa eligisa d municpi. A ajeia dessa fesa, szinha,

    d conta de recontar uma boa parte da histria de Chaves, porque ela agrega no somente a

    manifestao religiosa, mas vrios conflitos que se estabeleceram pelo controle da festa entrepolticos locais e os procos que por ali aportavam.

    Conforme a posio da igreja catlica, os polticos sempre viram a festa como espao de

    realizao de seus prprios projetos e interesses, desvirtuando o sentido maior do evento sagrado.

    J na viso dos polticos de Chaves, a Igreja sempre pretendeu modificar as tradies do povoado,

    desrespeitando sua prpria organizao e seus rituais. Como forma de repudiar a prtica centra-

    lizadora adotada pelos religiosos, os polticos passaram a realizar sua prpria festa em memria

    de So Sebastio, em uma sede danante, evitando se misturar com aqueles que concordavam

    com a posio da igreja.

    Hoje aquele conflito foi amenizado; mesmo sem viverem relaes harmnicas, padres,

    polticos e moradores locais procuram negociar posies, tornando o tempo da festa um tempo

    de celebraes e diverses. No por acaso, atualmente a igreja conta com apoio de vrios gru-

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    HISTRIASDEVILASECIDADES

    HISTRIASDEVILASECIDADES

    JOANES EM DUAS MEMRIASShirleide Rodrigues Neves

    Esse ex esulad de uma pesquisa feia jun as mades da vila de

    Joanes, com o objetivo de mostrar, ao pblico leitor, fatos importantes ocorridos na vila entre

    as dcadas de 1960 e 1970. o bjeiv a valiza das memias familiaes dessas pes-

    soas, ressaltando fatos que, de certa forma, contriburam muito para a histria desse lugar.

    o ex eve a cnibui de dis naades, s quais n achaam dificuldade

    em ns ajuda. Um deles, senh Ediga (i Dc) pde se cnsidead cm um aun-

    ic guadi de memias d luga. descendene de pugueses p pae de pai, send

    filh de Cecli Gmes rabel e Abigail rabel Gmes. o u naad senh Luiz

    Barros da Cruz (Pichuna), descendente de ndios por parte de pai e de negros por par te de

    me, filho de Pedro Penante da Cruz e Oscarina Barros da Cruz.

    Em meads da dcada de 1960, Janes ea uma vila pacaa, habiada p um pv

    abalhad que vivia da pesca e da plana de mae, jeimum, melancia, mam, maxixe,

    macaxeia e, a mesm, a mandica. Seu Luiz cna que na pesca n inha emp uim, inha-se

    peixe ds s dias, as pessas pdeiam i uma semana ineia n mesm luga que l esavam

    s animais, pns paa seem pescads e cnsumids. Naquela pca, a pescaia uilizava ape-nas a prtica da linha, que, de cea fma, explica us equilibad dessa iqueza aquica.

    Hje j n fcilbe peixes cm ua. os mades enfenam muias dificulda-

    des paa sbevive e da uma ba educa paa seus filhs. Cm exempl dessa educa,

    observamos o respeito que as crianas tinham no passado com as pessoas mais velhas, pois as

    cianas mavam ben de seus pais, de seus is, avs, ims e a mesm de uas pes -

    soas que no eram seus parentes. Portanto, pelo fato de j serem idosos, a obrigao era pedir a

    beno e tal prtica estava relacionada com o respeito s pessoas mais velhas.

    Os filhos no escutavam nem se envolviam nas conversas dos pais ou dos mais velhos.

    Alm diss, s afilhads de seus pais eam cnsideads cm ims, p iss pdiam se cha-

    mados de maninhos.

    7Trabalhando com o TextoDebatendo o texto

    Qual mai even eligis ealizad na cmunidade de Aapix? Em sua

    cmunidade h algum even que vc cnsidea impane? Fale sbe ele.

    Cm eam as fesas passadas na Vila Aapix? Vc acedia que as fesas de

    anigamene eam melhes d que as fesas auais? Explique a difeena.

    A ppula que habia a Vila Aapix enfena um gande pblema. Cie- e

    cmene que pecis se fei paa eslv-l.

    Para alm do texto

    Vc j mu em alguma vila? Cm se chamava? Cm ea a vida naqueleespa? Se vc nunca mu, cnvese cm uma pessa que enha

    expeincia de madia e pcue sabe: Cm a vida numa vila? Quais as

    vanagens e desvanagens? Na vila se ealiza algum ip de fesividade u

    pgama? Cm iss acnece?

    olhand municpi: Vc sabe quanas vilas exisem em seu municpi? Quais

    as vilas mais impanes? D que se susenam s mades que habiam

    esses espas? o que pecis se fei paa que as vilas se desenvlvam?

    Orientao: Para desenvolver essas atividades os alunos podem realizar

    entrevistas com pessoas que j moraram numa vila. Visitar rgos

    governamentais no municpio como Secretaria Municipal de Educao, Sade

    ou de Planejamento. Realizar levantamento em sites que guardam informaes

    sobre os municpios.

    Produo Artstica

    Em grupo de cinco alunos, visite uma vila ou uma rua de sua cidade. Observe os

    pdis, casas, uas, pnes, sisema de ilumina, apiches, ene us benspblicos. Baseado nesta observao, construa uma maquete, representando a

    vila ou a rua percorrida.

    Em grupos de trs alunos, procure saber quais as lendas mais contadas na vila ou

    cidade onde voc mora. Entreviste pessoas que saibam contar uma lenda. Tome

    nota da narrativa. A partir dessas informaes o grupo deve confeccionar uma

    revista em quadrinhos e apresentar em aula especial organizada pelo professor.

    Linhas:material feitocom vrios anzisamarrados ao ladods us aavs delinha de pesca

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    HISTRIASDEVILASECIDADES

    HISTRIASDEVILASECIDADES

    Segund s naades, Janes ea um luga nde exisiam pucas casas, send que

    a maioria delas era construda com

    enchi meio e palhas. Entre elas destacam-se dois casares

    cobertos de telhas. Naquele tempo as ruas eram estreitas, apresentando apenas pequenos ca-

    minhs nics u dupls deads p algumas casas u ma. ti Dc ns diz que um desses

    casaes, cnsud em esil pugus, ficava exaamene nde hje a sede de Nssa Se -

    nhora do Rosrio. L moravam quatro pessoas bem idosas: tia Maria (Maricota), tia Honria, Seu

    Jaquim - anig msic cad de saxfne - e Seu Andade. Nessa casa havia um elgi de

    corda, pendurado na parede, o qual fazia reverberar imenso barulho (blom-blom-blom); a moradia

    ainda detinhamuitas louas e um tacho de cobre onde ferviam a castanha para tirar o leo, usado

    como combustvel no candelabro de barro.

    As senhas habianes dese casa eam endeias. ti Dc, n seu emp de

    ciana, adava i a casa paa ajud-las em alguma cisa e a bseva cm pdu -

    ziam as rendas; gostava de sentir o cheiro da morada, pois produziam seus prprios perfumes,

    alguns com patchioli.

    Os assoalhos dos casares eram altos, feitos de madeira de acapu e pau-amarelo.

    Exisia uma baene de cimen usada paa chega a assalh. A ua casa d mesm esillcalizava-se nde hje cmci d Gach. Nela mavam s senhas: ia Vel, me de ia

    Macela (Machica) e ia Sab. Na pca, as senhas vesiam-se cm lngs vesids endads e

    s hmens cm calas e camisas cmpidas; as cianas ambm vesiam-se de fma difeene:

    as meninas com vestidos ou conjuntos e os meninos com camisas e calas com suspensrio.

    Os tecidos eram comprados pelos marreteiros que traziam cortes e riscos de Belm.

    Esses eram talhados e costurados pelas mes ou costureiras em mquinas simples ou mo. No

    se vesia upas cm fl, nem cisas mui exavaganes. Alm diss, an s hmens quan

    as mulheres usavam tamancos de madeira e balangands.

    As crianas brincavam de peteca, futebol, peru-galo, ladro na roa de melancia e de

    balanos feitos nos galhos das mangueiras.

    Quand chegava a nie, pincipalmene nas nies de lua, as famlias visiavam-se

    umas s outras. Em meio s conversas eram oferecidos chocolate com ovo e cabea-de-macaco,

    enquanto seguiam as conversas. As crianas brincavam na claridade da lua cheia, divertindo-se

    a chega a ha de i emba cm seus pais. Naquele emp, alguns pais pemiiam que as meni-

    nas e os meninos brincassem juntos, j outros no. Os narradores afirmam que as crianas j tra-

    balhavam ajudando a famlia, pois empalhavam tomates, lavavam jerimum e os armazenavam nas

    caixas paa seem vendids em Belm. os jvens pescavam paa ajuda n susen da famlia.

    J Seu Luiz conta que, no seu tempo de criana, ia escola para estudar e respeitava as

    pfessas, que nesse emp eam a pfessa olegia (Lelca) e Maia ds Sans (Maica).

    Mais ade, seia a pfessa teeza. tdas elas ensinavam da pimeia a eceia sies.

    Paa s aluns desbedienes e desineessads nas aulas exisiam s emids casi-

    gos, tais como a famosa palmatria e o castigo de joelhos no milho, ou nas pedrinhas no canto

    da sala. A merenda das crianas era leite, fornecido pela prefeitura, e cada uma levava acar e

    seu cp. o espa fsic escla ea peci e caene de maeiais didics. Se algum fizesse

    alg ead e n se acusasse, ds ficavam de casig e, a chegaam em casa, eam epe-

    endidos por seus pais.

    Os pais que tinham melhores condies financeiras mandavam seus filhos para estudarem Sue, nde a escla funcinava a a quina sie, nvel de esud que na pca j dava cn-

    dies para trabalhar como professor leigo.

    Quand as pessas adeciam, eciam a emdis caseis, as pajs e paeias ns

    casos das gestantes. Nesse tempo, ainda no havia hospital. Alguns anos depois veio a funcionar

    um ps na casa d Seu Macian. o enfemei, na pca, ea Seu Ild, que s pdia aende s

    cass que uilizassem smene algd e lcl, pis ea maeial que exisia n ps. As paeias

    eram Dona Maria (Lanchinha) e Maria Benedita; ambas praticavam seus trabalhos nas casas das

    gestantes, usando bacias, panos, esteiras e tesouras, material necessrio para os partos.

    Ns ans 1960, exisia, as da igeja de Nssa Senha d rsi, uma sede den-

    minada sede do pescador, construda de acapu e pau-amarelo, com assoalho alto apoiado por

    pilaes de cimen e cm cbeua de zinc. N lcal ea apesenada a cmdia d Peiqui,

    Enchi meio: barromisturado guausado na fabricaode casas.

    Riscos:tecidos com-prados em metro.

    Balangands:taman-cos com cadarosque entrelaam aspernas.

    Cabea-de-macaco:espcie de bisciservido com chocolateou outro acompanha-mento.

    Esteiras:materialfei cm uma espciede palha utilizadopara deitar no cho.

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    cm ceca de 30 cmpnenes, e ds s ans s aes mdificavam as cenas. Alm da cm-

    dia, tocava a banda musical: os msicos apresentavam-se bem vestidos, com palets e gravatas.

    os insumens que uilizavam eam mbne, saxfne, clainea, a umba, pis e

    violino. A banda de msicos tocava em eventos e nas casas das pessoas, bem como no arraial

    em frente igreja, realizado em novembro. Atrs da sede funcionava um retalhode peixe usad

    pelos pescadores.

    A quesa cava a alas has da madugada e pv ficava escuand as msicas

    anigas. s cinc has da manh, cm a alvada, as pessas acdavam-se ced paa assisi-la.

    Seu Luiz diz que hje n exise mais dcumena da banda. Naquele emp, as pessas n

    inham a n da impncia que eiam esses dcumens paa um esud hisic.

    Seu Cecli, pai d i Dc, ea leilei n aaial. L exisia um baac de palha n qual

    eram vendidos raspa-raspae vinh de muuci, depsiad n pe de ba, e puxad p um pcaro.

    Ele afirma que hoje a banda musical do Jubim toca algumas msicas da antiga banda de Joanes,inclusive uma msica de autoria do Seu Mingota (um dos tocadores de clarinete da banda).

    o ce anigamene ea de esuua baixa, fabicad de madeia, e n seu inei ha-

    via bancos, em crculo, onde a banda tocava. Apesar de estar em frente igreja, no atrapalhava

    a viso da mesma.

    Em meads de 1953, a sede fi cnsuda paa da luga s guaias que seviam de

    local para estudo de portos e canais feitos por marinheiros vindos de So Paulo: esses chegavam

    de helicptero na rea do farol.

    As runas da antiga igreja, construda no tempo da colonizao por padres franciscanos,

    eram maiores e, com o tempo, foram sendo destrudas pela ao do tempo e das pessoas.

    Naquele emp n havia enegia elica, as pessas uilizavam, alm d le da andi-

    roba, o leo da ucuuba como combustvel das lamparinas e dos candeeiros. Os lampies nas ruas

    funcinavam cm quesene. ti Dc ajudava seu pai a acende s lampies ds s dias s 18

    horas. Seu servio era carregar a querosene e a escada; ele lembra que s 22 horas os lampies

    eam apagads. Paa i Dc, esse emp ea bm! Diz que sene muias saudades, e pn-

    dea: pena que n pde se mais cm ea anes, pis ud muda cm passa d emp.

    Aqueles emps hje se naam lembanas valisas de quem viveu a pca, emps

    guardados somente nas suas memrias.

    Trabalhando com o Texto

    Cmpailhe cm s clegas e pfess sua pini a espei d ex. Qual1.

    passagem d ex vc achu mais ineessane?

    o que apendeu sbe disi de Janes a le ex?2.

    Na sua pini, p que i Dec sene saudades d emp de ciana?3.

    Cm vc acha que as pessas viviam cm a fala da enegia elica?4.

    o que fez luga muda? Cm acneceam essas mudanas?5.

    Pduza um pema a pai da leiua d ex.6.

    Desceva, aavs de ex em psa, cm Janes hje. Se vc n c -7.

    nhece esse povoado, utilize sua imaginao para escrever sobre a vida nesta

    localidade.

    Pesquise!

    Colha informaes sobre bandas musicais do lugar onde voc mora. Procure1.

    pessas mais velhas e pssveis paenes ds anigs msics. Quem pa -

    icipava da banda e qual insumen cava? P que ela n exise mais?

    Construa uma narrativa a partir dos resultados das pesquisas.

    Forme equipes com os colegas e construa um mapeamento do local onde2.

    vivem, no passado e hoje em dia.

    Que palavas eam uilizadas na dcada de 1960 e deixaam de se usadas3.

    aualmene? Pegune as mais velhs.

    Gramtica

    Numerais

    Encne n ex s numeais exisenes, classificand-s.

    Substantivos

    Idenifique n ex cinc subsanivs ppis.

    Idenifique n ex s subsanivs cmuns e s deivads.Grau do substantivo

    Encne n ex um subsaniv n gau diminuiv e um subsaniv n gau

    aumentativo.

    Adjetivos

    Idenifique n ex s adjeivs.

    Verbos

    Idenifique n ex s vebs e classifique-s em pessa, emp e md.

    Retalho:lugar ondeos pescadores reta-lhavam s peixes paasalgar.

    Raspa-raspa:mate-rial utilizado para ras-par o gelo colocadonos sucos vendidosno arraial no perodode festas.

    Pcaro:utenslio

    utilizado para retiraro suco de dentro dopote.

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    Arte

    Construa uma maquete com diferentes tipos de moradias.

    Construa um painel com os instrumentos musicais utilizados no passado.

    Clha infmaes e mne ilusaes das anigas esidncias e cmci n

    lugar onde voc mora.

    Geografia

    Rena-se com seus colegas para fazer um mapeamento das ruas de sua lo-

    calidade hoje. O trabalho pode ser feito em painel apresentando os avanos

    cids a pai ds ans 1960 em diane.

    Pduza um ex caaceizand a(s) causa(s) ds ips difeenciads de m -

    radias.

    Histria

    Pesquise e pduza um ex eaand que fa hisic se passu na sua

    cidade, vila, distrito ou regio.

    Matemtica

    Construa uma tabela com as quantidades de pescadores, canoas, seleo

    de peixes e peds em que mais apaecem nas paias e igaaps de sua

    cidade, depois faa uma comparao entre os dados e os locais para serem

    apresentados em classe.

    TRABALHO, RELIGIOSIDADE

    E EDUCAO:

    Histrias de uma Comunidade

    Ribeirinha no Maraj das FlorestasDalcides Santana Pinheiro

    o municpi de Pel, assim cm s demais municpis d aquiplag maajaa

    apresenta suas particularidades no que diz respeito ao modo de vida, ao trabalho, realizao

    das festas, ao lazer, enfim, a tudo aquilo que diz respeito organizao da vida social de um po-

    voado, vila ou cidade.

    Pois bem, vamos conhecer agora algumas dimenses da vida social e cultural de uma

    comunidade ribeirinha, localizada no rio Camarapi, no municpio de Portel. Pegaremos carona nasnaaivas de alguns mades que, cm mui enusiasm, cnaam-ns suas expeincias e

    lembranas de vida, voltadas para o campo do trabalho, da educao e da religiosidade.

    Ao ler essas histrias, voc amigo leitor, poder comparar com as coisas que ouve falar

    sbe luga nde vc ma. Cnsaa que jei de fala das pessas n semelhane,

    assim cm as picas de ensin mdificam-se n ce ds ans. Nessa caminhada pel ex,

    caso voc no more ou no conhea alguma realidade r ibeirinha marajoara, ainda ter condies

    de perceber como as pessoas se comunicam, o que pensam sobre a vida, o trabalho, suas festas,

    ene uas expesses de sua idenidade culual.

    Cm se sabe, ns Maajs h uma gande misua de culuas e linguagens que se

    diferenciam de um municpio para o outro, de uma vila para outra. Geralmente um lugarejo da parte

    do chamado Maraj dos Campos tem a organizao de sua vida social bem diferente de uma loca-

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    lidade da pae de Flesas. Seus pblemas sciais pdem a se paecids, mas a fma cm

    luam paa eslv-ls nem sempe da mesma maneia. Iss j ns msa que n pdems

    falar de apenas uma cultura marajoara ou de uma mulher ou homem marajoara. Tudo isso precisa

    se plualizad e analisad em cada cnex e emp especfic paa pecebems a divesidade

    de ambientes e prticas culturais.

    Castanhal

    Vams aga, en, cnhece a vila Casanhal, nde esidem 8 famlias, que em mdia

    pssuem 6 membs. A maiia desas famlias exai seu susen da pdu da fainha, que

    negociada no prprio porto, na passagem dos regates, ou levada para vender aos comerciantes da

    cidade de Pel. N pdems esquece que esse abalh puc valizad an p aquele que

    adquire o produto para a venda, quanto pelos governos municipais que pouco investem em polticas

    de incenivs agiculua familia. Alm desa ecnmia, algumas famlias sbevivem cm a ajudado Programa Federal Bolsa Famlia ou da aposentadoria concedida pela Previdncia Social.

    A cmunidade Sanssima tindade cmpleu, n an de 2008,

    25 anos de fundao. Antes dessa fundao, surgiu aqui um gru-

    po de jovens denominado Judame, composto por 15 membros.

    Esse grupo foifruto de uma articulao dentro da organizao dos festejos da

    Sanssima tindade, quand na pca eam nve dias de fesa, send que as

    duas primeiras noitadas aconteciam na vila do Acangat e em seguida a ima-

    gem da santa era trazida em procisso fluvial para a localidade denominada

    S Jaquim, hje vila Casanhal.

    O povoamento da comunidade deu-se por conta das novas famlias formadas pela unio

    dos filhos de Dona Nair e outros moradores e a chegada de novas famlias migrantes de outras

    lcalidades paa esidi naquele eii em cnsu e expans, cm a de Seu AdalbeGibson Marcelo de Aquino.

    As relaes de trabalho que historicamente se estabeleceram em Portel foram forte-

    mene macadas pel chamad sisema de aviamen,n qual agenes pivads, s paes,

    aviavam mercadorias s famlias dos posseiros, chamados fregueses, para serem pagas com

    s pdus exads da flesa. Esse mdel de ganiza scial e ecnmica se faleceu

    paiculamene duane ped que ficu cnhecid cm cicl da Bacha (1870 a 1912),

    quando se acirraram as relaes de dominao entre seringalistas e seringueiros, visto que os

    primeiros tinham controle quase absoluto sobre a produo e o destino das famlias que viviam

    como posseiros em suas terras.

    De acordo com dados coletados na biblioteca municipal de Portel, podemos afirmar

    que, nas limas dcadas d scul XX, sisema de aviamen enu em decadncia ec -

    nmica. Nesse ped, s abalhades uais, a exempl de muis municpis d Esad d

    Par, iniciaram forte processo de organizao social para que pudessem se libertar das garras

    dos seus patres.

    Seu Adalton, um dos moradores da comunidade Castanhal, relatou que houve um tempo

    ambm que apaeceu na egi um fe cmci de pele de animais. Muis ibeiinhs miga-

    vam paa s inces da flesa paa ena capua nas, jacas, cbas, e lnas, ene usanimais que eram abatidos e depois negociados, geralmente, com vendedores ambulantes.

    Eu lamenava ea quand se jgava fa a cane ds animais que pde-

    ria muito bem servir de alimentao para as futuras geraes e simples-

    mene se aiava n lei ds igaaps e as pianhas eam quem deva-

    vam o bucho dos animais junto com carne e tudo. Hoje, isso tudo est fazendo

    fala paa ns, pis aga se quisems cme cane de caa n s uma e

    nem duas nies que ems que fica pel ma em busca de alguma caa.

    A vida eligisa d municpi de Pel, a pai de 1963, passu a se cnduzida pels

    padres Agostinianos Recoletos. Estes padres visitavam os povoados rurais geralmente em dois

    Em cnvesa cm Dna Nai, 60 ans, em julh de 2008, mada da lcalidade, fica-mos sabendo um pouco da histria de origem da comunidade.

    N inci a lcalidade se chamava S Jaquim, pque meu av,

    quando estava roando o local para fazer sua casa, ele cortou em

    cima de um san fei de um maeial a hje n idenificad

    pels mades. Paece que cbe u alvez meal. o san mede 22cm e

    pesa 200 gamas. Meu av baizu ele de S Jaquim...

    Outro morador que narrou aspectos da histria da vila foi um de seus fundadores, Seu

    Adaln, 48 ans. P mei de suas memias, ficams cnhecend us dealhes d nascimen-

    to daquele povoado:

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    momentos: nas desobrigas, quando batizavam, casavam e confessavam os moradores, e nas fes-

    as eligisas, quand acmpanhavam s iuais em n ds sans dmsics da lcalidade.

    O primeiro padre a passar pelo povoado foi Frei Faustino Legardo, que viajava com a

    irmandade da Santssima Trindade, visitando os locais onde se fazia festa no municpio de Portel.

    Cnud, cube a Fei ramn Salins a funda, na dcada de 1970, da Cmunidade Eclesial

    de Base. Este segundo padre foi quem celebrou a primeira missa na localidade, j denominada

    vila Castanhal.

    Fei ramn, pecupad cm a nva caminhada da cmunidade calica ecm-fundada,

    aps acordos firmados com os moradores, nomeou para dirigente Seu Adalton, que j se reunia

    frequentemente com os moradores para rezar a ladainha capitulada para os santos de guarda. O

    pade, pecebend seu pde de lideana e pica eligisa, ecmendu a ese hmem cni

    a Deus que masse cna da capela, de seus sans, e incenivasse s mades a paicaem

    a religiosidade catlica.

    Igeja calica da cmunidade Casanhal, cnsuda na dcada de 1990.

    As pessoas entusiasmadas por aquela nova organizao social buscaram, junto Par-

    quia de Portel, orientao para organizar a vida religiosa da comunidade. Assim criaram a equipe

    dirigente e comearam a celebrao dos cultos dominicais, pois antes as tradies religiosas cat-

    licas eram vivenciadas somente quando santos peregrinos passavam pela localidade, conduzidos

    por mordomos que organizavam as festas de seus padroeiros. Geralmente estes santos passavam

    15 dias em esmolao, ou seja, conduzidos por folies, e suas cantorias, rezas e benditos ento-

    adas por antigos rezadores eram apresentadas de porto em porto, motivando a arrecadao de

    donativos que depois eram vendidos ou leiloados no dia da festa daquele padroeiro. Vale lembrar

    que, nesse tempo, os santos eram conduzidos por embarcaes movidas vela e a um tipo de

    remo grande preso embarcao, conhecido como remo de faia.

    Meu pai mandava eza p nss san S Jaquim, us mades faziam fesa de

    mdmagem que eam as pessas que sabiam ca alguns insumens de cda cm

    viola, violo, bater tambor e a se arrumavam e saam com