René, R. A dependência primitiva e a homossexualidade primária

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A dependência primitiva e a homossexualidade primária “em duplo” R. Roussillon 1  Não é pos sível ev itar a dependência, jamais. No entanto, p ode-se esperar que ela acabe por apresentar apenas uma intensidade moderada e aceitável para nosso narcisismo. Al uns vão mesmo até o ponto de acreditar que podem !escol"er# sua $orma de mani$esta%ão. &á, e$etivamente, $ormas de dependências que parecem mais atrativas para o narcisismo, que se dis$ar%am de liberdade, que atenuam a parte devida ao outro, aos outros sujeitos que cru'am nossa vida, $ormas de dependência !privada# que tentam evitar o incontornável recon"ecimento da $alta e da incompletude "umana. (ode-se imainar que $oi com certa reserva que ressaltei acima que se poderia !escol"er# as $ormas das mani$esta%)es de dependência. *stas dependem, de $ato, intimamente, do cortejo da "ist+ria sinular, que $a' pesar, sobre qualquer escol"a, eiências de $ormas.  Na vida psíquica, a !esc ol"a# é sempre relativa, isto $a' parte tanto do recon"e cimento da inevitável dependência quanto de recon"ecê-la como relativa. ada sujeito disp)e de uma marem de joo, de uma certa marem de escol"a, mas não está livre de seu conteto. A cena primária A dependê ncia pri mit iva , absoluta, incontorná vel é a do conteto de noss a concep%ão e de nosso nascimento ter nascido de pai e mãe, deste pai, sinular, desta mãe, especí$ica, da união particular deste casal, neste momento da "ist+ria. / por isso que a cena primária, quando l"e damos o valor de um conceito 0  e não somente o valor de uma $antasia, é o orani'ador privileiado da vida psíquica. / a cena que tenta reunir, coletar os !dados# com os quais $oi necessário construir-se, dados dos quais depende nossa apropria%ão, nossa !cria%ão# de n+s mesmos, nossa identidade. e uma certa maneira, portanto, a perspectiva de elabora%ão de todas as quest)es liadas 2s problemáticas clínicas da dependência e de suas $ormas é a cena primária e a maneira  pela qual ela articula, n ão somente a tríplice di$eren %a das era%)es, dos seos, e, no seio do seual, entre o in$antil e o enital, mas o conjunto dos dados do pr+prio processo  procriador, o conjunto das condi%)es do enendramento, da criatividade do vivo, do nas ci ment o da vi da psí quica. 3eremos eno levados a subli n"ar as modalidades especí$icas de sua orani'a%ão em rela%ão 2 questão da dependência e de sua elabora%ão. 4u ando abordamos, pe lo co nt ri o, a ques o da cl ín ic a das $ormas de dependência que encontramos na análise, "á uma outra distin%ão que se mostra pertinente no levant amento dos elementos $undamentais do quadro clínico. Alum as dependências são !objetivas#, não se pode tudo, so'in"o, nossa orani'a%ão social, societária, é rupal, nos sa se uali dade sup )e o encontro com o outr o... 5a s al um as dependê nci as,  puramente subjetivas, não remetem ao mesmo nível de necessidade. *las participam do estabelecimento da pr+pria identidade do sujeito, aparecem como condi%)es  sine qua non do sentimento de ser ou de continuidade de ser. 6al outro, tal !objeto#, tal droa, tal comportamento parecem ter se tornado componentes essenciais da identidade do sujeito, complementos indispensáveis de sua orani'a%ão, até mesmo de sua coesão narcísica das quais estas parecem ter sido alienadas é o campo do que se denomina atualmente adi%ão.  Nas $ormas de so$rimento narcísico-identitário, sobre as quais centrei min"as 1 Novembro 0778 0 R. Roussillon, 199:, !3c;ne primitive 1

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A dependência primitiva e a homossexualidade primária “em duplo”R. Roussillon1

 Não é possível evitar a dependência, jamais. No entanto, pode-se esperar que elaacabe por apresentar apenas uma intensidade moderada e aceitável para nosso narcisismo.

Aluns vão mesmo até o ponto de acreditar que podem !escol"er# sua $orma demani$esta%ão. &á, e$etivamente, $ormas de dependências que parecem mais atrativas parao narcisismo, que se dis$ar%am de liberdade, que atenuam a parte devida ao outro, aosoutros sujeitos que cru'am nossa vida, $ormas de dependência !privada# que tentamevitar o incontornável recon"ecimento da $alta e da incompletude "umana.(ode-se imainar que $oi com certa reserva que ressaltei acima que se poderia !escol"er#as $ormas das mani$esta%)es de dependência. *stas dependem, de $ato, intimamente, docortejo da "ist+ria sinular, que $a' pesar, sobre qualquer escol"a, eiências de $ormas. Na vida psíquica, a !escol"a# é sempre relativa, isto $a' parte tanto do recon"ecimento dainevitável dependência quanto de recon"ecê-la como relativa. ada sujeito disp)e de umamarem de joo, de uma certa marem de escol"a, mas não está livre de seu conteto.

A cena primáriaA dependência primitiva, absoluta, incontornável é a do conteto de nossa

concep%ão e de nosso nascimento ter nascido de pai e mãe, deste pai, sinular, destamãe, especí$ica, da união particular deste casal, neste momento da "ist+ria. / por isso quea cena primária, quando l"e damos o valor de um conceito0 e não somente o valor de uma$antasia, é o orani'ador privileiado da vida psíquica. / a cena que tenta reunir, coletar os !dados# com os quais $oi necessário construir-se, dados dos quais depende nossaapropria%ão, nossa !cria%ão# de n+s mesmos, nossa identidade.e uma certa maneira, portanto, a perspectiva de elabora%ão de todas as quest)es liadas2s problemáticas clínicas da dependência e de suas $ormas é a cena primária e a maneira

 pela qual ela articula, não somente a tríplice di$eren%a das era%)es, dos seos, e, no seiodo seual, entre o in$antil e o enital, mas o conjunto dos dados do pr+prio processo procriador, o conjunto das condi%)es do enendramento, da criatividade do vivo, donascimento da vida psíquica. 3eremos então levados a sublin"ar as modalidadesespecí$icas de sua orani'a%ão em rela%ão 2 questão da dependência e de sua elabora%ão.

4uando abordamos, pelo contrário, a questão da clínica das $ormas dedependência que encontramos na análise, "á uma outra distin%ão que se mostra pertinenteno levantamento dos elementos $undamentais do quadro clínico. Alumas dependênciassão !objetivas#, não se pode tudo, so'in"o, nossa orani'a%ão social, societária, é rupal,nossa seualidade sup)e o encontro com o outro... 5as alumas dependências, puramente subjetivas, não remetem ao mesmo nível de necessidade. *las participam do

estabelecimento da pr+pria identidade do sujeito, aparecem como condi%)es  sine qua nondo sentimento de ser ou de continuidade de ser. 6al outro, tal !objeto#, tal droa, talcomportamento parecem ter se tornado componentes essenciais da identidade do sujeito,complementos indispensáveis de sua orani'a%ão, até mesmo de sua coesão narcísica dasquais estas parecem ter sido alienadas é o campo do que se denomina atualmente adi%ão. Nas $ormas de so$rimento narcísico-identitário, sobre as quais centrei min"as

1 Novembro 07780 R. Roussillon, 199:, !3c;ne primitive

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investia%)es clínico-te+ricas dos <ltimos anos, uma ou outra destas $ormas dedependência aparece de maneira prevalente e mesmo representa com $req=ência o pr+priosuporte da demanda de análise. 5as, inversamente, pode acontecer também que o sujeitoorani'e uma luta ativa contra toda $orma de dependência, mesmo em rela%ão 2quelascujo caráter !objetivo# é o menos contestável. > pr+prio eaero da oposi%ão testemun"a

então a intensidade da amea%a. A dependência é vivida como uma capitula%ão do ser.?req=entemente, não é necessário levar muito adiante a análise para constatar que adi%ãoe oposi%ão violenta 2 dependência pertencem ao mesmo conjunto clínico, 2 mesma$amília processual e que as di$eren%as no quadro clínico do início di'em respeito apenasao plano mani$esto, sendo que os arranjos de $ormas repousam sobre a mesma base.

 Nas mani$esta%)es clínicas que acabo de citar, a problemática da dependência nãoé, na maioria das ve'es, diretamente interpretável em termos que coloquem a cena primária no centro da análise, o que não quer di'er que seu impacto seja menor, mas,antes, que sua elabora%ão se depara com condi%)es prévias. >s so$rimentos narcísico-identitários tendem antes a situar no primeiro plano da análise da trans$erência a questãodo impacto sobre ela da "ist+ria das $ormas e vicissitudes da dependência primitiva, a

questão da "ist+ria da constru%ão do vínculo primitivo. * é, com $req=ência, somenteap+s um lono trabal"o de metaboli'a%ão e de complei$ica%ão que a análise das particularidades das condi%)es da dependência primitiva descobrirá suas cone)es com acena primária, que solidão, auto-erotismo, representa%ão do ausente serão descobertoscomo relacionados com o casal unido@separado na cena primária, como !vistos# emrela%ão 2 questão da !capacidade de estar s+ diante do casal#. 8

(ercebe-se então toda a importncia, para o analista que aceita enajar sua escuta emtorno destas quest)es, de uma concep%ão das condi%)es da dependência primitivacompatível com aquela cujo contorno sustentamos em nossa cita%ão do luar orani'ador da cena primária. * pressente-se loo que é em torno da questão da ausência e darepresenta%ão do objeto ausente que esta articula%ão deve ser pensada.

A dependência somente pode ser pensada, de $ato, a partir da questão darepresenta%ão do objeto ausente, somente em $un%ão da capacidade de orani'ar estarepresenta%ão e de l"e con$erir um luar $undamental na reula%ão dos auto-erotismos,somente em $un%ão, portanto, da capacidade desta de tolerar e liar pulsão e a$etosmobili'ados pela ausência do objeto.

5as a representa%ão do objeto ausente é iualmente a $orma%ão-pivB a partir daqual se enendra também a orani'a%ão da cena primária. > objeto ausente perceptivamente, mas presente em outro luar, representado junto a um outro, não é maisum objeto perdido, ou, mel"or, é perdido-encontrado, é ausente-perdido na percep%ão ere-encontrado na psique, presente nela, tornado presente !re-presentado#.

6al é a problemática tardia da elabora%ão da questão da dependência, quedenominei sua !perspectiva# de elabora%ão. *la repousa sobre a capacidade de pensar ede representar que o objeto ausente está presente em outro luar, junto a um outro objeto,que o objeto ausente tem pra'er em outro luar, tem pra'er com um outro objeto, acontinuidade psíquica tem este pre%o. 5as ela sup)e também que o sujeito não estejaradicalmente ausente, por sua ve', do pensamento do objeto ausente, que ele possa pensar que ele não está radicalmente ausente do pensamento do objeto !em outro luar e comum outro objeto#, que ele não esteja !perdido# na psique do objeto.

8 R. Roussillon, 0771 !la capacite dCêtre seul en $ace du couple#, R?(.

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*sta <ltima observa%ão come%a a abrir a questão da problemática precoce. *la éinauurada a partir da questão da maneira pela qual a cena primária é orani'ada, nãosomente ao nível da detec%ão das mo%)es pulsionais que estão enajadas nela, mas na sua pr+pria trama, em sua base narcísica e nas $ormas de re$letividade que se mani$estamnela. > conceito de cena primária mereceria sem d<vida uma retomada de conjunto na

 psicanálise contempornea. / um conceito !con"ecido demais#, tão clássico que somostentados a não mais l"e dar a aten%ão necessária, a não mais enajar a clínica di$erencialque seu luar central na orani'a%ão psíquica, no entanto, pede. evo, nos limites demin"a eposi%ão, me contentar com um rápido comentário sobre a questão do luar dare$letividade em sua orani'a%ão.

 Na cena primária, suere ?reud, em 191:, !a crian%a assiste 2 cena de sua pr+priaconcep%ão#. Assim, pude propor D a idéia de que a cena primária devia tomar uma $ormatransicional na qual a crian%a está e não está presente na cena, - ela não está presente$isicamente, mas está lá no pensamento E para que sua orani'a%ão $orne%a uma matri'identitária $uncional e criativa. 4uer di'er que a orani'a%ão transicional da cena primária testemun"a a presen%a de um processo re$leivo o investimento mantido do

objeto na ausência deste sup)e a !recíproca# - não a simetria, a reciprocidade, o que nestecaso inclui a no%ão de uma di$eren%a - da representa%ão da eistência de um investimentomantido pelos pr+prios objetos parentais.A eclusão de $ato implicada pela seualidade parental s+ é tolerável se ela é temperada por uma $orma de inclusão $antasmática que F.G.onnet propBs $ormular em termos de!?ala-se de uma crian%a#. Ao menos a curiosidade e o investimento da crian%a pelo!objeto# casal sup)e que o casal !a ol"e#, que sua orani'a%ão comporte um luar quere$lita uma parte da aten%ão que ela l"e dispensa, que o investimento não seja a $undo perdido. / desse modo que a separa%ão e a eclusão que ela implica serão elaboráveis,que os aspectos !narcísicos# da separa%ão se orani'arão con$orme a perspectiva darepresenta%ão do casal $ecundo e que a criatividade encontrará a matri' de umaverdadeira cria%ão. A cena primária somente é orani'adora da identidade se ela conseueentão dialeti'ar a alteridade da di$eren%a dos seos e das era%)es e a similitude re$letidade objetos !espel"os# de identi$ica%)es.

4uando a dependência se constitui num problema, quando a maneira com que elaamea%a ou ilude o sujeito enaja uma questão identitária, não podemos nos contentar emestar atentos somente aos joos da di$eren%a, é preciso também poder remontar 2s oriensda orani'a%ão do narcisismo em !duplo#.

/ aqui que a problemática precoce da elabora%ão das dependências encontra sua pertinência, na questão de saber onde e como se oriina a re$letividade cuja marcatestemun"a uma transicionali'a%ão da cena primária.

*stou aora apto a $ormular a "ip+tese que propon"o para re$leão neste trabal"o.(ara que a orani'a%ão da cena primária possa tomar uma $orma su$icientementetransicional, é necessário que a rela%ão com o objeto primitivo ten"a podido se orani'ar no seio da rela%ão de dependência primitiva de um modo que propon"o denominar, a partir de uma $ormula%ão inspirada em uma idéia proposta por *. HestemberI,!"omosseualidade primária em duplo#.

D R. Roussillon, 1991.I > conceito proposto por *. Hestember é !"omosseualidade primária#.

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ada termo deste conceito merece ser comentado e é objeto deste artio assentar e justi$icar sua $ormula%ão precisa, mas, para come%ar a introdu'ir sua idéia, me ésu$iciente por ora sublin"ar que ele sini$ica que as primeiras $ormas da orani'a%ão dovínculo primitivo, que a !base#, portanto, da eperiência de satis$a%ão primitiva, sup)e aconstru%ão e o encontro de um objeto !duplo# de si.

Jm duplo é um outro, é um outro sujeito. 3e o duplo não é um outro, não pode ser um duplo. A re$erência ao duplo eclui a con$usão psíquica, não se trata aqui de uma$orma de indi$erencia%ão nem de uma $orma de !$usão#. 5as o duplo é um semel"ante,ele se torna, é tornado, semel"ante no encontro e nas condi%)es deste encontro. A"ip+tese de uma rela%ão primitiva "omosseual em duplo sup)e que o outro primordialseja encontrado no início como um semel"ante, no que ele é semel"ante, mas também noque ele se !prop)e# a ser semel"ante, no que ele se !$a'#semel"ante ao sujeito, no que eleaceita se tornar semel"ante, que ele aceita !re$letir#e !partil"ar#os mesmos estados de ser,os mesmos estados de espírito.

> conceito de rela%ão !"omosseual primária em duplo#  tenta assim descrever uma particularidade $undamental da eperiência de satis$a%ão que ocorre no seio da

!coreora$ia# do encontro

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 que caracteri'a o narcisismo primário quando o objeto aceitadesempen"ar a $un%ão de !espel"o# primário, que Kinnicott $oi o primeiro a recon"ecer.*ste conceito tenta apreender as características e as $ormas que a re$letividade adquire noseio da rela%ão de dependência primitiva, que caracteri'a o que a tradi%ão psicanalíticadenominou narcisismo primário. 5in"a re$leão se prop)e a interroar o nascimento dare$letividade a partir da questão $undamental da metapsicoloia - a eperiência desatis$a%ão, e assim as condi%)es primitivas da !eperiência de satis$a%ão#.A eperiência de satis$a%ão é lobal, ela amalama em sua vivência os di$erentes tipos de pra'er que a constituem e que contribuem para l"e con$erir sua qualidade particular. Noentanto, esta lobali'a%ão mascara uma compleidade que a clínica de suas $ormas de$racasso leva a tentar decompor em seus di$erentes constituintes.

(ropon"o decompor !a eperiência de satis$a%ão# primitiva em quatro !$ios#$ormando uma !tran%a# de quatro tipos de pra'eres-despra'eres potencialmentecon$litantes, mas otimamente amalamados, intrincados.

> pra'er liado 2 satis$a%ão da autoconserva%ão, o pra'er liado 2 eroenidade de'ona, o pra'er liado 2s condi%)es do encontro com a mãe e, en$im, o pra'er liado aosaspectos enimáticos do pra'er da mãe.

entrar-me-ei mais particularmente na questão do pra'er liado 2s condi%)es doencontro com o objeto primordial. / este pra'er que é essencial para a questão dadependência e da !"omosseualidade primária em duplo# e que enajo especi$icamentenesta re$leão. ontentar-me-ei em citar simplesmente as outras $ormas de pra'eresimplicadas que não estão no centro de min"a re$leão.

> primeiro !$io# do amálama dos pra'eres intrincados na !situa%ãoantropol+ica $undamental# LF. Gaplanc"eM é o prazer-desprazer ligado à

autoconservação. *le corresponde 2 diminui%ão da tensão ornica liada 2mani$esta%ão das necessidades somáticas. As !puls)es de autoconserva%ão# semani$estam também por uma eleva%ão de tensão e uma necessidade de descara desta,elas apresentam então também uma $orma de !pra'er-descara# quando elas são

: R. Roussillon, 0778, !Ga séparation et la c"oréorap"ie de lar encontre LA separa%ão e acoreora$ia do encontroM#, in La séparation (A separação), /res.

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satis$eitas. > despra'er corresponde também 2 idéia de que as necessidades biol+icas semani$estam sob a $orma de tens)es que se apresentam ao psiquismo por um estado dedespra'er, por um a$eto de necessidade.

&á, portanto, um pra'er e um despra'er especi$icamente liado 2autoconserva%ão, um pra'er Le@ou um despra'erM de base do sujeito vivo.

*ste pra'er se superp)e aos outros componentes da eperiência de satis$a%ão, masnão se con$unde com eles. ?reud cita, em 191I, o !pra'er de +rão# e $ormas de pra'eresde !$uncionamento# que parecem se re$erir diretamente ao que evoco. nversamente, umadoen%a somática, uma !a$ec%ão# somática, pode entravar especi$icamente o pra'er liadoao bom eercício das puls)es de autoconserva%ão. *ste pra'er s+ depende!potencialmente# da diminui%ão da tensão somática, diamos, ao nível biol+ico. (or eemplo, a $ome é apa'iuada pelo alimento, qualquer que seja seu osto, a qualidade darela%ão, etc.

 No entanto, o seundo !$io# da tran%a, a 'ona corporal pela qual o apa'iuamentosomático é produ'ido, é também uma zona erógena, enunciado nos $undamentos dateoria do apoio LétaOaeM. ontinuemos com o eemplo da $ome a boca, ou mel"or, a

'ona preueada desta, os lábios, é uma 'ona er+ena, o que sini$ica que sua estimula%ão produ' um pra'er particular, di$erente do da autoconserva%ão, um pra'er que seacrescenta ou se con$lita com o primeiro, que deve se articular com este. As 'onas daautoconserva%ão são também 'onas er+enas, 'onas !preueadas# do corpo Lmesmo que possam ser vivenciadas como buracos em alumas psicopatoloias, buracos arrombados, buracos oriinados do !arrancamento# do objetoM, 'onas que terão luar na seualidade$utura e que, já, portanto, revelam seu luar no seual, no intercmbio seual.

/ o que permite situar um !seual in$antil#. As 'onas er+enas são as 'onas de!passaem# do interior para o eterior e do eterior para o interior, 'onas de trocasdentro@$ora. / na troca, na passaem, que elas mani$estam sua eroenidade. *lasmani$estam um duplo movimento, do interior para o eterior e do eterior para o interior,o que indica um duplo movimento da pulsão, interiori'a%ão ou eteriori'a%ão.

5as também são 'onas de !$iltro# entre dentro e $ora, !cavidades#, !bol"as# quese constituem num estatuto !transicional# entre dentro e $ora. > seual in$antil c"amado!pré-enital# possui lobalmente as mesmas características er+ticas de $uncionamentosomático que a seualidade adulta uma ecita%ão repetida das mucosas preueadasacompan"a a passaem e a troca de um objeto. A seualidade adulta !re-encontrará# asvias da seualidade in$antil, eceto a 'ona, eceto o objeto, o que $unda o estatuto do pra'er pré-enital na seualidade.

> apoio LétayageM do pra'er da autoconserva%ão e do pra'er do auto-erotismo de'ona articula dois pra'eres distintos, "armoniosamente intrincados, amalamados, naeperiência de satis$a%ão primitiva, em apoio m<tuo, mas potencialmente con$litantes.(or eemplo, depois do desmame, que separa e distinue as duas partes intrincadas namamada, o pra'er de comer !com a col"er# Lsem suar, portanto, mas comautoconserva%ãoM se con$lita potencialmente com o de c"upar o polear Ler+tico semautoconserva%ão biol+icaM. Na seualidade adulta, é a autoconserva%ão da espécieL?reud, 191DM que substituirá a autoconserva%ão do indivíduo. > entrela%amento doer+tico de 'ona com a autoconserva%ão está sempre no "ori'onte das $ormas do pra'er.(asso rapidamente sobre estas quest)es $req=entemente compleas, mas me aten"o a uma

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simples lembran%a do que parece mais ou menos coletivamente consensual para dedicar mais espa%o ao que abre o debate e que é o seuinte.

Jm terceiro componente, terceiro !$io#, vem se misturar 2 !tran%a# do pra'er  primitivo. *le é essencial na compreensão das condi%)es da dependência primitiva. 3e osdois primeiros componentes que citamos são !narcísicos#, quer di'er que eles não

 parecem depender de nada mais além da economia libidinal do sujeito, na realidade elessão implicados no encontro e na rela%ão, a !rela%ão# primitiva, com o objeto. > pra'er  prototípico é também prazer do encontro e da troca inter-"umana.

A seualidade é sempre, de início, encontro com um objeto, um outro-sujeito, elacontém sempre a questão do encontro com um objeto e a das condi%)es deste encontro.?reud recon"ece isso na cena primária que ele coloca nos três ensaios !4uando vemosuma crian%a saciada larar o seio deiando-se cair para trás e adormecer, as boc"ec"asvermel"as, com um sorriso satis$eito, não podemos deiar de di'er que esta imaem permanece o prot+tipo da satis$a%ão seual na eistência ulterior# L3.?reud, 197I, p.17IM. * isto apesar dele manter na mesma época uma teoria auto-er+tica da seualidadein$antil.

> pra'er, tanto o da autoconserva%ão quanto o do er+tico de 'ona, é encontradono momento do encontro com o objeto, o objeto !que socorre#, !bem in$ormado#L?reudM, a mãe ou seu substituto, diamos a mãe para ser conciso. > primeiro ponto dedi$iculdade da teoria do narcisismo primário e do conjunto de meu desenvolvimento é oseuinte este objeto, a mãe, portanto, !eiste# para o bebêP 5ais eatamente a questãoseria quando e como o objeto come%a a eistirP &á uma $ase pré-objetal na qual o objetoseria !investido antes de ser percebido#, antes de ser !percebido# ou antes de ser recon"ecido, recon"ecido como outro, representado como talP *sta questão é subjacentea vários debates relativos 2 questão da dependência primitiva, da dependência!subjetiva#, na medida em que a dependência !objetiva# não está em questão.

*ste assunto é di$ícil, primeiro, porque ele encontra de início quest)es deconcep%ão, em particular do que acontece no seio da rela%ão primitiva, mas também porque ele encontra quest)es de $ormula%)es, porque as torna muito sensíveis e audas.

A crian%a, o bebê, o recém-nascido !percebe# sua mãeP > que sini$ica !mãe#num enunciado como esteP Não podemos mais atualmente manter a idéia de um estáio!anobjetal# que repousa numa indi$erencia%ão primitiva, na qual o bebê não perceberia !aeterioridade# do objeto. 6odas as pesquisas em andamento são $avoráveis em en$ati'ar que não "á d<vida de que o bebê !percebe#, desde o início, uma $orma de !mãe#. *le nãose relaciona da mesma maneira com os objetos animados ou inanimados, ele é capa' dedi$erenciá-los quase desde o início baseado no tipo de ritmo dos movimentos dos objetos.*le recon"ece !sua# mãe e a di$erencia muito cedo, desde as primeiras "oras de vida, ele!imita# as epress)es do rosto "umano, sem d<vida eperimenta assim muito cedo osestados corporais e, consequentemente, as primeiras $ormas de estados psíquicos dosoutros "umanos, especialmente dos que ele recon"ece já como seus !pr+imos#, suas primeiras $iuras de apeo.

> bebê !percebe# a mãe, uma mãe como ele é capa' de concebê-la, de !construí-la#, levando em conta seu estado de desenvolvimento, mas também $ormas e modelos dosquais ele tem a !pré-concep%ão# inata. * esta pré-concep%ão parece ser a de aluémdi$erenciado dele, de um !outro# com quem a questão da constru%ão de um vínculo deapeo, de um encontro, se coloca, mas de um outro no qual ele terá de se recon"ecer, de

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um espel"o, ou mel"or, de um !duplo# dele mesmo. A oposi%ão epistemol+icademasiado marcada entre percep%ão e concep%ão ou representa%ão não leva emconsidera%ão ao mesmo tempo o $ato de que a percep%ão é um processo $ortementeorani'ado e ativo e que se orani'a a partir de alumas pré-$ormas, de alumasconcep%)es e o $ato de que a representa%ão não é mais que uma $orma complea e

orani'ada de percep%ão interiori'ada, e de que eiste um continuum entre as duas, como?reud sempre en$ati'ou, desde o esquema que ele propBs destas, desde 1Q91 e o  Estudo

 sobre as Afasias.

Jma das conseq=ências $undamentais desta "ip+tese é que ela implica abrir aquestão da eistência e das modalidades de um processo de constru%ão do vínculo desdeo início. > vínculo primitivo não está !dado#, sua $orma tampouco, mesmo se, como di'K. ion, eles são certamente !pré-concebidos#. A clínica dos $racassos da instala%ão do!materno# primário não deia nen"uma d<vida sobre este ponto. * a questão doestabelecimento do vínculo primitivo, de sua constru%ão e depois de sua orani'a%ão secoloca sucessivamente aos dois parceiros.

3e a dependência primitiva é objetiva, a maneira como ela vai ser tolerada e

apreendida, quer di'er, subjetivamente vivida, é aqui o centro de min"a "ip+tese, vaidepender intimamente da maneira como o vínculo primordial vai se construir, e, em particular, da qualidade do pra'er que ele vai contribuir para orani'ar. A troca dentro-$ora, que ressaltamos acima, é uma troca entre dois sujeitos, uma troca mediati'ada pelocorpo de um e o corpo do outro e a maneira sinular como um e o outro "abitam seuscorpos, como eles o animam e o enajam libidinalmente em sua rela%ão. * isto desde aoriem, desde o $undamento.

6oda a questão é então saber se "á um pra'er especí$ico do encontro ou se estenão passa de um simples e$eito das duas $ormas de pra'er já citadas. > conjunto daclínica da primeira in$ncia Len$ati'o bem da !clínica#, pois as !observa%)eseperimentais# não en$ati'am o $atoM me parece demonstrar que "á um prazer especíico

do encontro, e mesmo a necessidade de um !compartil"amento de pra'er#. >compartil"amento de pra'er, a reciprocidade do pra'er - o que não quer di'er a simetrianem a semel"an%a dos dois Lcom $req=ência, con$undidos erradamenteM, é uma condi%ão sine qua non para que o a$eto de pra'er se !constitua#, quer di'er, para que ele sejaeperimentado como tal, para que ele construa representantes psíquicos.

> modelo e a "ip+tese de uma !"omosseualidade primária em duplo# di'emrespeito no início 2 orani'a%ão da rela%ão primitiva entre a mãe e o bebê. 5as sup)etambém que, aquém das compleidades que a "ist+ria ulterior trará a este esbo%o primitivo do vínculo, o !$undo# desta rela%ão primitiva permanece presente e mais oumenos ativo ao lono da vida. Não é, portanto, um modelo !enético#. / um modelo que, partindo da ênese, elabora uma concep%ão !estrutural# de um componente essencial dovínculo "umano e da dependência que ele instaura, que é prévio ou dialeticamentecomplementar ao processo de separa%ão-individua%ão. *le enaja uma questãometapsicol+ica essencial, a de que seja dada 2 pulsão e 2 vida pulsional um valor !mensaeiro# em dire%ão ao objeto, valor que se acrescenta e se dialeti'a com o valor mais classicamente descrito de descara e tratamento das tens)es. *, portanto, que estevalor !mensaeiro# seja um componente essencial da pr+pria !eperiência de satis$a%ão#,que esta seja tributária do $ato de que se orani'e um vínculo su$icientemente seuro com

S

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um objeto investido, proressivamente !percebido#, !construído# e !concebido# comoum !duplo# de si.

/ neste sentido que a !base# da rela%ão pode ser c"amada de !"omosseual primária#. > pra'er é sentido no !ballet # do encontro com um outro semel"ante, umduploS, um outro percebido em seu movimento de espel"o do sujeito. Repito, um !duplo#

é um mesmo outro, é um semel"ante, um espel"o do sujeito, mas é um outro, não "ácon$usão entre o sujeito e o duplo. Jm duplo deve ser su$icientemente !mesmo# para ser um duplo do sujeito, mas deve ser também su$icientemente !outro# para não ser o pr+priosujeito. *ntre mãe e bebê, o vetor do encontro, o que condiciona o pra'er da rela%ão etalve' até a composi%ão psíquica do pr+prio pra'er, retornaremos a este ponto, é o processo pelo qual um e outro dos dois parceiros se constitui como espel"o e, portanto,duplo do outroQ. *ste processo deve se estabelecer em dois níveis intrincados, mas, contudo, distintos. > primeiro nível é o de um compartil"amento !estésico#, de um ajustamento e de umcompartil"amento de sensa%)es corporais. > seundo nível é o de um compartil"amentoemocional, de uma sintonia a$etiva.

! compartilhamento “est"sico”#

/ o primeiro nível e o mais $undamental, o que condiciona o investimento libidinal primitivo do corpo. *le é observado a partir do !ballet # do ajustamento mimo-esto- postural recíproco entre mãe e bebê17. Aos estos, mímicas, posturas de um correspondeme se ajustam, retornaremos a este ponto essencial, os estos, mímicas e posturas do outro.usca, encontro e distanciamento um do outro, !respira%ão# do movimento recíproco,$ormam uma espécie de !coreora$ia# corporal na qual se ajusta, se comunica e setransmite um cortejo de sensa%)es, assim !compartil"adas#, mas também reuladas. >investimento do corpo e das sensa%)es corporais do sujeito passa pelo encontro com oinvestimento do re$leo que o objeto l"e comunica em retorno, através de seu pr+prioajustamento.

*ste processo é quase imperceptível a ol"o nu, é necessário com $req=ênciadecompor, imaem por imaem, as rava%)es e$etuadas, para !ver# o ballet  e apreender sua economia !em duplo#. > ajustamento recíproco é consideravelmente inconsciente, étambém amodal, o que sini$ica que não é !simétrico#, mas procede por correspondênciamodal. Ao esto do bebê, considerando os meios de que ele disp)e, o $raco nível, em particular, da intera%ão motora, corresponde um esto da mãe, considerando os meios deque ela disp)e e as suas capacidades de intera%ão motoras. > ajustamento é recíproco,cada um se ajusta ao outro, tenta se sintoni'ar com o outro, não é simétrico, os meiosenajados por um e pelo outro não são similares.

S As rela%)es $ortemente investidas como a rela%ão amorosa, a trans$erência nassitua%)es terapêuticas, ou ainda a "ipnose deiam !a$lorar# esta base mais claramente queas outras.Q / evidente que a descoberta dos neurBnios-espel"o tra' con$irma%)es biol+icas a esta"ip+tese.9 Retomo aqui o termo utili'ado por 5.?.ispau por ocasião de sua apresenta%ão noonresso de Gínua ?rancesa, 0770, ruelas.17 . 3tern, 19QI.

Q

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As capacidades de trans$erência sensorial !amodal# que eistem de início e semd<vida persistem secretamente toda a vida, permitem estabelecer correspondências de umsentido para o outro, de um movimento para o outro, de uma percep%ão sensorial para omovimento correspondente. *las são etremamente essenciais para compreender comoum outro pode também ser um duplo. > !duplo# pode ser um espel"o !eato# ou um

espel"o !amodal#, quer di'er, um espel"o !aproimado#, mas é, sobretudo, um espel"ose ajustando, um espel"o que se de$ine pelo pr+prio processo de ajustamento.6rês características, ao menos, são aqui essenciais para compreender como se

estabelece esta rela%ão, são as que me parecem importantes citar neste conteto.A primeira delas di' respeito 2s capacidades de !imita%ão# inatas do bebê, aqui o

espel"o está o mais pr+imo de sua $orma matricial. esde as primeiras "oras de vida LF.ecetO, 0777M, o bebê é capa' de reprodu'ir as mímicas observadas no rosto do outro, desua mãe, muito cedo investido, identi$icado e discriminado. Jm diáloo mimético podeassim come%ar a se instalar. > bebê e a mãe podem se !responder# em eco, e assimcome%ar a eplorar !do interior# os movimentos do outro. Jm certo !con"ecimento# dosestados estésicos e a$etivos do outro parece assim poder se desenvolver. A "ip+tese

clínica é que, ra%as 2 imita%ão corporal, uma primeira $orma de empatia das sensa%)es eestados do outro se tornou possível.5as o ballet  do encontro s+ pode se reali'ar se cada um, mas o bebê mais

 particularmente, puder antecipar os movimentos ou varia%)es do outro, o que nos condu'ao nosso seundo ponto. (ode-se dar crédito ao aparel"o psíquico da mãe, que atiniuuma compleidade adulta, de poder cumprir esta tare$a sem demasiadas di$iculdades, seela estiver em contato com seus movimentos pro$undos e espontneos. omo, por outrolado, o bebê pode antecipar os processos mani$estados por sua mãeP

/ evidente que ele s+ pode $a'ê-lo em uma certa medida e que uma mãe brusca,ca+tica, imprevisível, portanto, desbordará suas capacidades de antecipa%ão. 4uando oestual materno não desborda suas capacidades, o bebê se apoiará sobre umasurpreendente aptidão para se apropriar dos esbo%os de !ritmos# que se desprendem domovimento materno. >s bebês são e$etivamente dotados de uma capacidade de observar,orani'ar, decompor e, portanto, !conceber# os ritmos dos movimentos ou percep%)es dooutro. / o ritmo, primeiro nível de orani'a%ão de uma $orma de temporalidade, quetorna possível uma certa !previsibilidade# da mãe e de seus movimentos. > ritmo de$ineuma !seq=ência#, permite antecipar um seuimento, observar uma reularidade e, portanto, !prever# a seq=ência seuinte. 5as ainda aqui é preciso compreender estacapacidade de observar ritmos como relativa a uma apreensão !amodal# destes. > bebê pode transpor os ritmos !escutados# para ritmos !vistos# ou para !movimentos# rítmicos,ele pode decompor as !melodias# dos estos e transpB-las para !melodias# cinestésicas,auditivas ou visuais.11 

 Notar-se-á que se podemos !trapacear# na imita%ão mimética do outro,reprodu'indo $ielmente a mímica do outro, o que pode produ'ir um e$eito de mal-estar,

11(ara ser ainda mais preciso, as pesquisas recentes acabam de colocar em evidência que, mais ainda quenos ritmos, é nas variaç$es de ritmo que os bebês são mais experts. (Bde-se comparar assim e colocar em

 paralelo as !improvisa%)es# rítmicas dos duetistas de ja'' e as que se pode observar na coreora$ia doencontro primitivo entre mãe e bebê. (ara poder !improvisar#, é necessário ter apreendido a rera rítmicaimplícita, a improvisa%ão sup)e uma arte na qual respeito da !rera do joo# e liberdade se combinam e se"armoni'am.

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!soar $also#, !$a'er caricatura#, inversamente, a imita%ão amodal produ' um e$eito deverdade precisamente porque ela s+ é possível baseada em um verdadeirocompartil"amento estésico. Não podemos nos contentar em !mostrar# um sentimento de$ato não sentido. / preciso sentir e$etivamente para !transpor# uma sensa%ão na $ormacorrespondente !ao modo aproimado#.

*n$im, <ltima parte do tríptico que eploro aqui, a propaa%ão estésica inerente 2coesão e 2 "armonia da coreora$ia primitiva, quando ela pode ser atinida, produ' uma$eto de êtase, um a$eto de pra'er estético, um a$eto para o qual o termo de !jubila%ão#,retomado do vocabulário lacaniano10  do !estáio do espel"o#, me parece ser o maisapropriado. . 5elt'er ressaltou a importncia do sentimento estético na rela%ão primitiva da crian%a com o rosto materno, mas este s+ tem sentido se a sintonia recíproca,o ballet  primitivo, re$letir também para o bebê a imaem de uma coesão e de uma"armonia que l"e permita se sentir, em espel"o, su$icientemente !belo# também.

> investimento do rosto e do corpo da mãe se ajustando aos movimentos eestados estésicos internos do bebê produ' um sentimento estético e uma jubila%ão nosquais o bebê percebe o re$leo de sua pr+pria !bele'a# potencial, de sua coerência e de

sua "armonia. em re$letido, o bebê é !belo#, ele se sente bomT mal re$letido, ele come%aa se sentir !despre'ível#, vil, !mau# e portador de um mal-estar, de um mal no interior doser. / o investimento do processo, no qual o bebê se sente !re$letido# por sua mãe, quereula o estado !estético# do bebê, e, mais adiante, seu estado de espírito e de ser.

> !compartil"amento estésico# primitivo permite, como já ressaltamos, come%ar a eplorar sensa%)es e, portanto, primeiras $ormas de a$etos. 5as me parece necessárioacrescentar a esta "ip+tese $undamental, que a eplora%ão não di' respeito somente aosa$etos, mas também aos primeiros processos psíquicos de trans$orma%ão e de tratamentodos estados internos. >s primeiros !pictoramas# L(. AulanierM, as primeiras $iuras dos!sini$icantes $ormais# L. An'ieuM, os ideoramas LK.R. ionM, os continentes $ormaisL6. Nat"anM, as proto-representa%)es L5. (inol-ourie'M....*n$im, o conjunto dos primeiros processos do reistro que propon"o denominar de !simboli'a%ão primária#, me parecem também ser encontrados, investidos, encenados e eplorados no seio da rela%ãode compartil"amento estésico primitivo. . An'ieu sempre ressaltou $ortemente que os processos psíquicos encontram nas sensa%)es e eperiências corporais a matéria prima desua $ormata%ão e de sua orani'a%ão.

Acrescento pessoalmente que é no modo de !compartil"amento# destas, con$ormeo termo proposto por . (arat a prop+sito do a$eto, no tipo de acompan"amento e dere$leo que o objeto primitivo l"es $ornece, que se obtém ao mesmo tempo a matéria e oinvestimento de seus $uturos desenvolvimentos.

> narcisismo primário, o investimento do pr+prio corpo e de seu $uncionamento pelo bebê, não é imediato nem direto, ele passa pelo compartil"amento estésico, eledepende da media%ão do investimento o$erecido pelo objeto cujo investimento estetestemun"a, ele se !constr+i# em $un%ão da nature'a e do tipo de ajustamento e deespel"o que o objeto primitivo prop)e. / assim que se trata o paradoo do narcisismo primário o investimento do objeto se superp)e ao investimento de si-mesmo, semantaonismo, desde que o investimento do objeto re$lita para o sujeito seus pr+priosestados ou estados que correspondam !ao modo aproimado#. / também ra%as a estesmodos de comunica%ão primitivos que a vivência de dependência primitiva torna-se

10 A. arel ressalta mais recentemente a importncia da jubila%ão.

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tolerável. A impotência primitiva é atenuada pela capacidade de comunicar e decompartil"ar estas primeiras $ormas do sentido.

nversamente, é no $racasso da coreora$ia corporal primitiva que come%am a seconstituir as $al"as narcísicas a partir das quais as patoloias ditas !psicossomáticas#estabelecerão suas bases primeiras. / também nas vicissitudes desta coreora$ia que se

 pre$iuram as $uturas $ormas de dependências problemáticas.3abe-se que Kinnicott $e' a "ip+tese de que, na rela%ão primitiva, o seio!encontrado# pela crian%a, quer di'er, o seio tal como ela o percebe, deveria também ser criado por ela, quer di'er, alucinado !no# percepto. A sintonia estésica que descrevi maisacima me parece ser a pré-condi%ão para que se estabele%a o processo encontrado-criado.oncebe-se também que o sucesso desta sintonia atenua, tanto quanto possível, adependência material objetiva na qual se encontra colocado o bebê, mas, por outro lado,abre a questão de um outro tipo de dependência, sem d<vida muito mais $undamental, adependência do !desejo# de ajustamento da mãe. / este desejo que come%a a con$erir ao bebê o estatuto de um verdadeiro sujeito. > que as $ormas posteriores de sintonia, as$ormas emocionais, deverão con$irmar.

! compartilhamento aetivo% a sintonia emocional

> compartil"amento estésico $orma uma base sobre a qual se estabelecerá a possibilidade de uma sintonia emocional. Fá o investimento das percep%)es oriinadas do pr+prio corpo produ' !sensa%)es# e estados a$etivos primitivos, que pre$iuram os$uturos estados emocionais do bebê. o a$eto de sensa%ão ao da emo%ão "á umcontinuum, a emo%ão se !comp)e# a partir das sensa%)es primitivas, ela é uma $ormacomplea destas. a mesma $orma, o ajustamento em duplo !intermodal# deve se prolonar em uma !sintonia emocional# L. 3tern, 19QIM. A rela%ão em duplo continua seestabelecendo, ela deve continuar se !construindo# até que o objeto seja !concebível#como di$erente de sua representa%ão interna.

5as, da mesma $orma que "á sensa%)es inter e trans-modais, o compartil"amentoemocional será também em duplo !inter-modal#, quer di'er que "á ao mesmo tempo umacorrespondência !em duplo# na sintonia emocional e, ao mesmo tempo, possibilidadesu$iciente de distncia nas modalidades da epressão emocional para evitar as con$us)esentre os dois parceiros da rela%ão sintoni'ada.

. 3tern L19QIM prop)e, além disso, uma observa%ão que permite completar nossarepresenta%ão do que, desde a rela%ão primária, come%a a con$iurar a di$erencia%ão entrerepresenta%ão e percep%ão da coisa. *le en$ati'a a $req=ência de um tipo de ajustamentomaterno Lele, aliás, reserva o conceito de ajustamento a esta $ormaM no qual a mãe,quando ela pensa que a epressão emocional do bebê não está adaptada, que ela é, por eemplo, ecessiva, atenua deliberadamente na sua resposta a intensidade emocional desua sintonia.

(arece-me que esta $orma de ajustamento equivale a come%ar a transmitir ao bebêa di$eren%a entre um a$eto !passional#, intenso, adaptado a certas condi%)es bem particulares, e um a$eto-sinal que se contenta em !representar# o a$eto, em sinali'á-lo.Assim, come%aria a se transmitir a di$eren%a entre a coisa !em si# e sua simplesrepresenta%ão.

As descri%)es da sintonia emocional primitiva que os terapeutas da primeirain$ncia nos prop)em contribuem a dar-l"e uma $orma mais pr+ima de uma coreora$ia

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emocional, $eita de uma aproima%ão, de um encontro, e de um distanciamento, do quede uma !colaem# ou de uma !$usão# emocional. A sintonia, assim como o ajustamento,é um movimento, um processo, uma tendência relacional, não é um estado, nem um dadoimediato da rela%ão ou da lia%ão primitiva.

omo iniciei a re$erir, a pulsionalidade que se epressa através da tensão e o

movimento que caracteri'a a rela%ão !em duplo# parece-me ser o sinal de um valor $undamentalmente !mensaeiro# da vida pulsional. Ao lado do luar da descara,eralmente considerada um dos objetivos $undamentais da pulsão, seria tambémnecessário poder recon"ecer a dimensão de um sentido para a pulsão, de um vetor de todacomunica%ão em dire%ão ao objeto. > pra'er e a satis$a%ão dependem tanto da !descara#da tensão interna, objetivo $undamentalmente !narcísico# da pulsão, quanto dointercmbio que a mensaem direcionada ao outro torna possível, objetivo então!objetali'ante# da vida pulsional.

A $utura capacidade de re$letir o objeto em si, a representa%ão interna do objetoausente, portanto, cuja importncia já ressaltamos na tolerncia 2 dependência, passa pela"ist+ria da maneira como $omos re$letidos pelo objeto, pela maneira como ele pBde

asseurar uma $un%ão espel"o !identi$icante# de nossos estados internos. 3e é quando o!espel"o# perceptivo do objeto não está mais lá que se pode verdadeiramente come%ar ase perceber a si-mesmo, este momento decisivo s+ pode ser o !come%o# se ele $oi precedido pela instala%ão de uma $un%ão re$leiva "erdeira do espel"o primitivo.

3iamos com nosso arumento.(ara a mãe também a !situa%ão antropol+ica $undamental# é $onte de pra'er Leu

deveria di'er, é claro, cada ve' $onte de pra'er-despra'er, $onte de encontro da questão do pra'er-despra'erM. (ra'er também compleo.

&á o pra'er liado 2 autoconserva%ão da espécie, que é uma outra maneira dedesinar a questão do pra'er da maternidade. iamos o pra'er de ser mãe, o pra'er de!maternar#, que inclui a autoconserva%ão da espécie. 5as o seio com o qual o bebê serelaciona é também um seio er+eno, é também o seio do er+tico de mul"er. 4uer di'er que ele tem seu pr+prio !auto-erotismo de +rão#, por um lado, e seu luar naseualidade adulta da mul"er, por outro lado. Re$eriremos mais adiante uma dasconseq=ências da eistência de um seio er+tico presente na pr+pria mamada. * a mãeeperimenta então também o pra'er do compartil"amento da sensa%ão e do a$eto noencontro.

A observa%ão seuinte enaja um debate essencial na teoria do pra'er donarcisismo primário e das $ormas primitivas da dependência. A $un%ão do!compartil"amento# primitivo do pra'er que circula entre os dois parceiros da !situa%ão$undamental# é permitir que certas qualidades a$etivas de pra'er possam se !constituir#de acordo com o conceito proposto por ?reud, isto é, se eperimentar. *m outros termos,se o pra'er reverberado pela mãe e seus pr+prios estados internos não é su$iciente, o a$etode pra'er da crian%a pode não se constituir e, portanto, não ser eperimentado. > pra'er liado 2 diminui%ão das tens)es ao nível da autoconserva%ão, e o pra'er liado 2eroenidade de 'ona, que são pra'eres !narcísicos# e !psicossomáticos# em primeiroluar, em sua $onte, não conseuem encontrar !representantes# psíquicos, permanecemno estado potencial, não são eperimentados como tais.

> pra'er descoberto no encontro com o objeto comanda, não a eistência das duasoutras $ormas de pra'er que descrevemos, que tem sua $onte no soma, mas sua

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representncia psíquica, sua capacidade de a$etar o psiquismo da crian%a. > que sini$icaque o a$eto de pra'er liado 2 autoconserva%ão, e o liado ao er+eno de +rão podem$icar !inconscientes#, podem não se !tornar conscientes#, sua eperiência, sua!composi%ão# psíquica !depende# da qualidade da rela%ão com a mãe. A psicopatoloiados dist<rbios precoces mostra abundantemente que quando a eperiência de pra'er está

ausente da rela%ão, a crian%a não !encontra# pra'er, não encontra o pra'er, este édecomposto e o princípio de pra'er é colocado !$ora do joo#, podendo amea%ar a pr+pria autoconserva%ão.

6udo isto convida a estabelecer uma di$eren%a entre o pra'er e a satis$a%ão, entreo !pra'er-descara# e a satis$a%ão subjetiva que resulta do pra'er do vínculo. > pra'er liado 2 !descara# pulsional não produ' necessariamente sentimento de satis$a%ão. *stadepende da eistência do compartil"amento de a$eto, do compartil"amento do pra'er, eladepende então do pra'er do objeto e não somente da descara das ecita%)es pulsionaisliada 2 eroenidade de 'ona ou 2 diminui%ão das tens)es liadas 2 autoconserva%ão.

A eperiência de !satis$a%ão# primitiva e $undamental não é, portanto,simplesmente uma eperiência de descara, uma eperiência de !pra'er#, de qualquer 

 pra'er. A eperiência de pra'er s+ é uma eperiência de !satis$a%ão# se ela éacompan"ada por um pra'er compartil"ado, su$icientemente compartil"ado. 3erianecessário poder eplorar a "ip+tese seundo a qual as $ormas alienadas de dependênciasão liadas 2s $ormas de pra'er sem satis$a%ão, 2s $ormas de pra'er semcompartil"amento. 5as o pra'er compartil"ado, como veremos aora, abre por sua ve' oinvestimento de uma 'ona enimática, de uma 'ona de escape.

! enigma do prazer do o&'eto

A "ip+tese de um componente do pra'er liado ao re$leo do pra'er do objeto,abre por sua ve' a questão da compleidade do pra'er do objeto e da maneira pela qualesta compleidade pode ser !re$letida# pelo objeto. > pra'er da mãe não pode ser  pensado sem re$erência 2 seualidade adulta do pra'er, da mesma $orma que não pode ser  pensado sem re$erência 2 seualidade in$antil !empática# da mãe.

(or um lado, o seio materno é uma 'ona er+ena, !como# a boca, quer di'er queele possui uma eroenidade de +rão, liada a uma ecitabilidade das mucosas. (ode-sedi'er que neste sentido, a crian%a pode !identi$icar# o pra'er do objeto de ser suado aoseu pra'er de mamar o objeto com o auílio de sua 'ona er+ena !boca#. Kinnicott $oi o primeiro a ressaltar o quanto as crian%as o$erecem também !reciprocamente# o pé, a mãoou parte de seu corpo para a mãe para ser, por sua ve', !suado, comido#, ele insistiusobre a necessidade do intercmbio. (or seu lado, ?reud já indicara L191IM a importnciado tempo !invertido# na orani'a%ão pulsional !ser ol"ado#, por eemplo, em seu tetoda época.

5as, por um outro lado, esta !'ona er+ena# está inscrita na seualidade adultado objeto, na seualidade enital do objeto. *la participa então do potencial orástico damul"er, ela é um componente deste. Neste sentido, ela abre a questão da rela%ão da mãecom sua seualidade de mul"er.

*sta re$erência 2 seualidade materna possui e não possui correspondência naseualidade in$antil. &á várias analoias entre a satis$a%ão in$antil e a satis$a%ão seualadulta, mas também "á di$eren%as, e em particular a eperiência orástica especí$ica daseualidade adulta. Não entro aqui na di$ícil questão da eistência de um !orasmo

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in$antil# que aluns de$endem. e toda maneira, mesmo que "aja um !orasmo in$antil#,a potencialidade orástica liada ao desenvolvimento da seualidade enital modi$icasua nature'a e introdu' uma di$eren%a sini$icativa.

> que me interessa, e neste sentido estou de acordo com ?reud, que $a' da mãe a!primeira sedutora#, e com F. Gaplanc"e, que con$ere ao seio, considerado na seualidade

adulta da mul"er, o valor de um !sini$icante enimático#, é o encontro com umcomponente er+tico "eterom+r$ico 2 seualidade in$antil. ito de outra maneira, se "á!compartil"amento de pra'er# entre crian%a e objeto, "á também uma distncia e um!mal-entendido#, na medida em que, se uma parte do pra'er é bem compartil"ado, umoutro componente deste permanece estraneiro 2 eperiência da crian%a e, portanto,!enimático#. 6anto mais enimático, aliás, na medida em que este componente possui aomesmo tempo alo semel"ante e também alo radicalmente di$erente.

> pra'er do objeto remete também 2 questão do objeto do objeto, ao pai, portanto,ao objeto do desejo seual adulto da mãe. *le remete assim a uma dimensão enimáticado pra'er, 2 questão da di$eren%a no pra'er, 2 dos !modos# de pra'er, da di$eren%a dos pra'eres. A !censura do amante# L5.?ainM deve colocar um limite ao compartil"amento

de pra'er e !cavar# uma 'ona de não compartil"amento enimático para a crian%a.5as seria também pre$iurar um caráter eral do pra'er e do pra'er seual em particular se ele remete ao desejo do objeto, ele remete também necessariamente a uma parte enimática da e na di$eren%a. > pra'er !"omosseual em duplo# abre assiminevitavelmente a questão do enima do joo da di$eren%a. *m todo pra'er "á tambémum componente !enimático# inevitável, encontra-se uma parte de descon"ecido inerenteao $ato de viver, da vida. A dimensão enimática do pra'er do objeto nos leva assim 2questão da qual n+s partimos, a da orani'a%ão da !cena primária#. *sta <ltima apareceentão como oriinada do desdobramento da compleidade da satis$a%ão primitiva, comoo e$eito de uma descondensa%ão proressiva do amálama primitivo.

Acabo de propor um modelo da satis$a%ão !compleo#, quer di'er, $ormado pela!tran%a# de ao menos quatro componentes, de início presentes, desde a eperiência desatis$a%ão primitiva, mas que sem d<vida continua presente no conjunto da economia do pra'er e da satis$a%ão. *sta compleidade enaja de início também três personaens, poder-se-ia di'er três sujeitos implicados em sua rela%ão com o pra'er, com o desejo,intrincando pra'er diretamente oriinado do somático, pra'er narcísico, pra'er do pra'er, pra'er de escape, do enima, etc. e os despra'eres correspondentes. / o trabal"o deorani'a%ão desta compleidade em uma cena e um cenário que produ' o conceitorepresentativo de cena primária. enário no qual, quando a re$letividade pBde seorani'ar su$icientemente de acordo com o modelo da "omosseualidade em duplo, osujeito poderá recon"ecer a pr+pria cena de sua produ%ão, de sua concep%ão.

/, inversamente, quando esta compleidade tem di$iculdade de se orani'ar,quando aluns dos elementos da trama que ela con$iura $al"am em poder se desenvolver e tra'er sua contribui%ão 2 eperiência de satis$a%ão, que aparecem $ormas dedependência alienante, ou !de independência# $or%ada que iualmente prejudica a rique'ada vida psíquica. No seio desta compleidade, o papel desempen"ado pela orani'a%ão e pela reula%ão da "omosseualidade primária em duplo é determinante. / ela quecondiciona a !mutualidade#, a reciprocidade su$iciente, a re$letividade que torna adependência tolerável, que atenua a $erida que ela representa para o eo, que alivia osentimento de impotência, e mesmo o desamparo que ela implica 2s ve'es. / somente

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7/26/2019 René, R. A dependência primitiva e a homossexualidade primária

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sobre esta base que as !dessimetrias# da vida, as !desiualdades#, as di$eren%as que assitua%)es de dependência eacerbam, podem adquirir um valor estruturante eorani'ador, e que pode ser ultrapassado e interado o componente de destrutividade queelas mobili'am.

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