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Apesar de, na prática, a supranacionalidade ter-se tornado híbrida, nela não predominando de forma evidente nem a tendência federalista nem a intergovernamental, essas relações foram suficientes para criar expectativas e forjar atitudes, as quais, sem dúvida, efetivar-se-ão na direção de mais integração. (HAAS, 2004, p. 507). 1 Introdução Os estudos das causas e das implicações da hierarquização política e econômica que se cristaliza não apenas no cenário internacional, mas 363 *O presente trabalho resulta de pesquisa desenvolvida com financiamento do Conselho Nacional de De- senvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Artigo recebido em junho de 2006 e aceito para publi- cação em maio de 2007. **Doutor em Ciência Política pelo Institut d'Études Politiques de Grenoble, professor adjunto de Ciência Política da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e pesquisador do Conselho Nacional de Desen- volvimento Científico e Tecnológico (CNPq). E-mail: [email protected] ***Economista pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e atualmente é coordenadora de pro- jetos do Departamento de Estudos e Projetos do Instituto Superior de Economia e Administração (Isead). E-mail: [email protected] CONTEXTO INTERNACIONAL Rio de Janeiro, vol. 29, n o 2, julho/dezembro 2007, p. 363-392. Lógicas de Centro versus Dinâmicas de Margens: A Questão Subnacional na União Européia* Marcelo de Almeida Medeiros** e Amanda Aires Vieira***

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Apesar de, na prática, a supranacionalidade ter-setornado híbrida, nela não predominando de formaevidente nem a tendência federalista nem aintergovernamental, essas relações foram suficientespara criar expectativas e forjar atitudes, as quais, semdúvida, efetivar-se-ão na direção de mais integração.(HAAS, 2004, p. 507).1

Introdução

Os estudos das causas e das implicações da hierarquização política eeconômica que se cristaliza não apenas no cenário internacional,mas

363

*O presente trabalho resulta de pesquisa desenvolvida com financiamento do Conselho Nacional de De-senvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Artigo recebido em junho de 2006 e aceito para publi-cação em maio de 2007.**Doutor em Ciência Política pelo Institut d'Études Politiques de Grenoble, professor adjunto de CiênciaPolítica da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e pesquisador do Conselho Nacional de Desen-volvimento Científico e Tecnológico (CNPq). E-mail: [email protected]***Economista pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e atualmente é coordenadora de pro-jetos do Departamento de Estudos e Projetos do Instituto Superior de Economia e Administração (Isead).E-mail: [email protected]

CONTEXTO INTERNACIONAL Rio de Janeiro, vol. 29, no 2, julho/dezembro 2007, p. 363-392.

Lógicas de Centroversus Dinâmicas deMargens: A QuestãoSubnacional naUnião Européia*Marcelo de Almeida Medeiros** eAmanda Aires Vieira***

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igualmente no seio dos Estados-nação e nos processos de integraçãoregional, vêmsendo levados a cabo já há alguns anos por teóricos dasmais variadas vertentes, os quais se têmocupado ementender o com-plexo tecido das relações interestatais. Por intermédio desse exame,forjam-se algumas teorias visando explicar e/ou solucionar tal hie-rarquização. É dentro desse universo de indagações que a ComissãoEconômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) desenvolve aidéia do binômio centro-periferia. A importância do pensamento ce-palino comomarco teórico decisivopara a gestãodas principais tesesde desenvolvimento que animaram a discussão latino-americana dopós-guerra levou à dilatação da teoria que, a partir de então, comouma nova roupagem, passou a ser utilizada na análise de múltiplosestágios de dependência econômica, deixando de estar circunscritaàs dificuldades daquela região.

Aplicando a teoria da dependência à realidade da União Européia(UE), tem-se que a integração regional impactou de modo relativosobre as diferenças entre os seus Estados-membros, uma vez quepredomina, ao menos por enquanto, a idéia de que a formação daunião econômica e monetária representa, pelo menos a médio prazoe se considerada isoladamente, fator de aumento das disparidades re-gionais no continente. Assim, é possível observar que apenas a uniãoentre países na Europa não possibilita melhorias, tanto para as re-giões quanto para os Estados periféricos, fazendo-se necessária aelaboração de políticas públicas supranacionais, a fim de convertertais efeitos e de permitir uma intensificação do processo de integra-ção, o que tem sido, em parte, efetuado pelos fundos estruturais.

O presente texto é composto de três partes, seguidas por uma conclu-são. Na primeira, propõe-se uma reflexão sobre o estado da arte dadialética centro-periferia. A segunda aponta como esse pensamentomais recente e atualizado semostra instigante para a compreensão deprocessos de integração regional, emgeral, e daquele daUniãoEuro-péia, em particular. A terceira parte foca a questão domultilevel go-

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vernance, propondo uma análise das unidades subnacionais da Ale-manha e da França, no âmago da UE. Finalmente, algumas conside-rações são feitas à guisa de conclusão.

Centro-Periferia: O Estado

da Arte

ACepal, órgão vinculado àOrganização dasNaçõesUnidas (ONU),manifesta-se pela primeira vez coma publicação, em1950, deEl de-sarrollo económicodeAmericaLatinayalgunosde susprincipa-les problemas, documento de autoria do economista argentino RaúlPrebisch (1962). É sob a forte influência das idéias desse economistaque a Cepal visa explicar o atraso e a subordinação da América Lati-na em relação aos países que compõem os centros desenvolvidos, etambém encontrar formas de superar tais problemas.

As conceituações de Prebisch surgemda observação de que o cresci-mento econômico nos países industrializados não conduz necessari-amente ao crescimento nos países mais pobres. Na verdade, seus es-tudos sugerem que a atividade econômica nos países mais ricos con-duz a sérios problemas econômicos nos países mais pobres. Tal pos-sibilidadenão épredita pela teoria neoclássica, que temafirmadoqueo crescimento econômico é benéfico a todos, mesmo que os ganhosnão sejam sempre igualmente compartilhados.A emersão de uma al-ternativa para explicar o estado retardatário e dependente em que seencontram os países da América Latina se tornou um marco teóricono pensamento econômico. Como sublinha Emir Sader:2

O pensamento social latino-americano é res-ponsável por alguns dosmaiores avanços teóri-cos da segunda metade do século XX. A críticada teoria do comércio internacional – feita pelaCEPAL e, em particular, por seu fundador, RaúlPrebisch – desmascarou os argumentos quepretendiam naturalizar, legitimar e perpetuar a

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divisão entre um centro capitalista industriali-zado e uma periferia primário-exportadora. Adenúncia do intercâmbio desigual esteve nabase dos processos de industrialização em paí-ses da periferia que, mesmo com suas deforma-ções e limitações, constituíram uma das gran-des novidades positivas do séculoXX.A indus-trialização substitutiva de importações foi a es-tratégia que comandou esse processo.

A explanação inicial de Prebisch para o fenômeno do intercâmbiodesigual émuito direta: os países pobres exportam produtos primári-os para os países ricos, que então os industrializam (agregandovalor)e os vendemde volta para as nações desprovidas. O valor adicionadodasmercadorias custa sempremais doque asmatérias-primasusadaspara criar aqueles produtos. Conseqüentemente, os países mais po-bres nunca estariam ganhando o suficiente com as suas exportaçõespara compensar o pagamento das importações. Considerando esseaspecto, Celso Furtado afirmava que a industrialização promovidaem alguns países capitalistas gerou uma nova conformação na eco-nomiamundial, a qual levou os líderes de tal processo a optar por es-pecializações ematividades empregandonovosmétodos produtivos.Os demais Estados, que não eram pertencentes ao conjunto citado,ou especializaram-se em atividades cuja forma de progresso técnicoera insignificante, ou buscaram a alienação das reservas de recursosnaturais não reprodutíveis. Para Furtado (ver nota 2), a Lei das Van-tagens Comparativas proporcionava uma justificativa sólida para aespecialização internacional, contudo desconsiderava tanto a dispa-ridade na difusão do progresso nas técnicas de produção, comoo fatode o novo excedente criado nos países periféricos não se conectarcomoprocesso de formação de capital. Segundo ele, tal excedente sedestinava a financiar, na periferia, a difusão dos novos padrões deconsumo, que emergiram no centro:

Portanto, as relações entre países focais e mar-ginais, no quadro do sistema global surgido da

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divisão internacional do trabalho, foram, des-de o começo, bem mais complexas do que sedepreende da análise econômica convencio-nal.3

Para Raúl Prebisch, esses países retardatários tinham entrado nonovo processo produtivo em um estado de dependência em relaçãoaos países líderes, convertendo-se apenas em fornecedores de maté-rias-primas. A essa relação, tal como metrópole-colônia, Prebischdenomina centro-periferia, na qual os países que produzem bens in-dustriais com alto valor agregado se situam no centro das atividadeseconômicas e políticas, e os países que se mantêm na produção debens primários, com baixo valor contido sobre o preço do produto,encontram-se à margem das regiões centrais e representam a perife-ria do mercado mundial.

Essa nova dialética forjada pela Cepal, pelo seu secretário-geral, ob-tempera aTeoriaClássica doComércio Internacional, pois argumen-ta que a especialização dos países em alguns produtos tendo emvistasuas vocações naturais, as chamadas vantagens comparativas, longede diminuir, acentua ainda mais as já consideráveis diferenças entreos países que compõemo centro e os que estão perfilados à periferia;pois, conforme a Comissão, o aumento da renda emanado da indus-trialização dos países focais não resultará em acréscimos sobre a de-mandados bens primários, tendendo a se voltar para os bens produzi-dos pelo centro, aumentando as diferenças.Comodelineado nos doistrabalhos angulares do pensamento da Cepal –El desarrollo econó-mico de la America Latina y algunos de sus principales proble-mas (PREBISCH, 1962) eEstudio económico de America Latina(CEPAL, 1951) –, o centro desenvolvido não estaria transferindo osbenefícios de seus aumentos de produtividade para a periferia atrasa-da,mas, ao contrário, estaria se apropriando dosmodestos incremen-tos de produtividade obtidos por ela. Com isso, Prebisch e a Cepalinauguram uma nova interpretação do comércio internacional e dosubdesenvolvimento.

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Tendo em vista os problemas latino-americanos, a Cepal, por inter-

médio do pensamento de Prebisch, refuta a hipótese de que os pro-

blemas da periferia poderiam ser enfrentados, como outrora havia

enfatizado a teoria clássica, pelos ajustes de mercado. Observando

isso, produz uma seleção demedidas objetivando atenuar as dispari-

dades existentes, as quais guiariam a economia política demuitos paí-

ses periféricos. A primeira e mais importante dessas medidas dizia

respeito a uma industrializaçãopromovidapelogoverno.Acondição

necessária para os governos conduzirem as economias rumo a novos

horizontes está na exigibilidade de agregar valor aos bens produzi-

dos para serem exportados. Com o objetivo de elevar os preços e cri-

ar maior competitividade, ao mesmo tempo que ameniza as caracte-

rísticas cíclicas desses produtos, Prebisch, pormeio daCepal, defen-

de o estabelecimento de um mecanismo de proteção comercial pela

periferia. Não como forma de imposição de fortes obstáculos às im-

portações, e sim como protecionismo necessário no período de tran-

siçãoda economia agrária para a industrial, comoobjetivode reduzir

as disparidades na relação centro-periferia.

Contudo, o cumprimento desse projeto demanda poupanças domés-

ticas, a serem convertidas em investimentos, e uma ampliação dos

mercados internos. Considerando esse entrave, houve a sinalização,

como via alternativa, da existência de sistemas preferenciais entre

países da América Latina. Da concepção dessas áreas, emanariam

diversos benefícios para a região integrada, na medida em que cria

condições para geração de poupanças domésticas e ampliação das

escalas de produção.E isso emvirtude danovabase produtiva, calca-

da em um setor de alto valor agregado. O desenvolvimento seria via-

bilizado a partir da formação de nova demanda doméstica em cada

país.A constituição dessemercado se torna, portanto, o ativo estraté-

gico para o desenvolvimento de cadaEstado, o que se concretizou no

Modelo de Substituição de Importações (MSI).

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Visando explicar a situação de subdesenvolvimento atual de muitasregiões no mundo, a teoria da dependência examina os variados pa-drões de influênciasmútuas existentes entre as nações e postula que adesigualdade entre países é umaparte intrínseca daquelas interações.Dessa confluência de idéias acerca da relação entremetrópole e colô-nia, muitas divergências são diagnosticadas, gerando, assim, algunsdesdobramentos. Como assinala Andres Velasco:4

Adependência veio emdois pratos principais: areceita radical, criada por André Gunder Franke o egípcio Amir Samin, sustentava que o cres-cimento do centro se deu às expensas da perife-ria. A única solução era o desligamento com-pleto em relação à economia mundial. [...] Aversão mais branda da dependência, iniciadapor Cardoso e seu co-autor Enzo Faletto, e poroutros comoOsvaldo Sunkel, do Chile, e PedroPaz, doMéxico, eramais útil. Ela afirmava que,sob o capitalismo, tanto ricos quanto pobres po-deriamcrescer,mas quenãonecessitavamde sebeneficiar igualmente.

Dessa forma, há diversos pontos de tensão e discordância entre as vá-rias vertentes da teoria da dependência e é umerro pensar que há umacorrente única e linear. Os primeiros debates ocorridos são entre osreformadores liberais (Raúl Prebisch), os marxistas (Andre GunderFrank) e os teóricos dos sistemas domundo (ImmanuelWallerstein).As argumentações são vigorosas e ajudama tornar as elaborações in-telectuais mais bem acabadas. Todavia, é possível presumir que nãosó de divergências estão contaminados os debates: algumas elucida-ções teóricas estão (e estiveram) presentes nas opiniões da maioriados intelectuais. Podemos apresentar algumas idéias relacionadas ànoção de dependência com as quais amaioria dos teóricos comparti-lha. Primeiramente, a dependência caracteriza o sistema internacio-nal como compreendendo dois jogos de Estados, descritos como do-minante/dependente, centro/periferia ou metrópole/satélite. Os Es-

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tados dominantes são as nações industriais avançadas da Organiza-ção da Cooperação e do Desenvolvimento Econômico (OCDE). OsEstados dependentes são aqueles Estados da América Latina, daÁsia, e da África que têm um valor baixo de renda per capita, e queconfiampesadamente na exportação de umúnico (ou alguns poucos)produto(s) para obteremas receitas das trocas comerciais como restodomundo. Em seguida, as definições têm em comum a suposição deque as forças externas são de importância singular às atividades eco-nômicas dentro dos Estados dependentes. Essas forças incluem cor-porações multinacionais, os mercados dos produtos internacionais,as transferências unilaterais de renda dos países ricos, as comunica-ções e os outrosmeios pelos quais os países industrializados avança-dos podem representar seus interesses econômicos no exterior. Emterceiro lugar, as definições da dependência indicam que as relaçõesentre Estados dominantes e dependentes são dinâmicas, porque asinterações entre os dois jogos deEstados tendemanão somente se re-forçarem, mas também a intensificarem, ao longo do tempo, os efei-tos das desigualdades.

Embora aplicável pormuitos anos, a teoria cepalina de industrializa-ção promovida pelo Estado nacional mostrou-se falha, pois estudosrecentes demonstram que, além da inexistência da deterioração dostermos de intercâmbio no período analisado por Raúl Prebisch quan-do este buscava fundamentar sua tese, a industrialização fechada pôstermo à eficiência econômica dos países. Nas palavras de AndrésVelasco (ver nota 3):

A proteção fazia menos sentido à medida que ocomérciomundial se expandia, após a SegundaGrandeGuerra. Ela tambémgerou ineficiência,e o progresso tecnológico foi retardado. Poucospaíses ainda conseguiamexportar alguma coisaalém de matéria-prima. [...] Até mesmo as mé-dias regionais parecem bem satisfatórias, espe-cialmente do ponto de vista de hoje (e especial-

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mente quando comparadas com os desanima-dores anos 1980). Mas após 40 anos de experi-mentação (digamos, em finais dos anos 1970),até mesmo os mais ardentes advogados da in-dustrialização por substituição de importaçõesreconheciam que esta última não era a panacéiaque algum dia se afirmou ser.5

Não obstante, a via alternativa dos sistemas preferenciais postuladapor Raúl Prebisch, apesar de reformulada, vem a ser, atualmente, umdos meios pelos quais os países têm a possibilidade de inserção naeconomia mundial, uma vez que os fundamentos econômicos quedão suporte à constituição das integrações regionais, como um todo,têm algumas semelhanças com o enfoque estruturalista do sistemacentro-periferia de Prebisch. Isso se dá porque, apesar de receberemum tratamento diferente, permanecem na nova leitura desenvolvi-mentista da Cepal os atributos da inovação tecnológica e da inserçãoeconômica internacional, os quais são objetivos estratégicos para atransformação produtiva com eqüidade, que sintetiza os princípiosdomodelo neo-estruturalista. Além disso, as vantagens assimétricasda integração, tanto para Estados-membros quanto para suas unida-des subnacionais, instigam uma reflexão sobre como tornar o desen-volvimento econômico-social mais harmônico emenos dicotômico:centro-periferia.

A Realidade da União

Européia

Coma conformação da era global,muitos países buscam intensificaralianças a fim de fortalecer relações e auferir melhores resultados apartir das oportunidades emergentes.Dessemodo, essas uniões, cris-talizadas nas integrações regionais calcadas em sistemas preferenci-ais, tomam corpo de forma ubíqua. Em todos os continentes se vãoformando nexos interestatais visando alterar escala de produção, ta-rifas e preferências comerciais, preços relativos e, mesmo, os pa-

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drões de produção e consumo. Destarte, tais conexões surgem comouma tentativa de racionalizar as relações entre o Estado, a sociedadee o mercado, otimizando os modos de coordenação entre a concep-ção e a implementação da ação pública.

A integração regional ergue-se, então, na intenção de atenuar umadupla defasagem. Primeiro, aquela entre o econômico e o político,por intermédio da constituição de um poder soberano supranacionalcapaz de impor limites à lógica global,mercantil e financeira do livremercado. Segundo, a defasagem entre, de um lado, o político-econô-mico e, de outro, o social, por meio da criação de um habitus apto aorganizar novas práticas, atitudes e anseios do homem do terceiromilênio. Ela se constrói, assim, em uma tentativa de interferir na ló-gica da international governance, caracterizada pela imbricaçãocomplexa de regimes múltiplos (KRASNER, 1983). Entre os diver-sos processos de integração regional em andamento, a União Euro-péia diferencia-se por ser a detentora do maior grau de coesão entreos seus membros. Ela abriga, atualmente, 25 países, diversos siste-mas políticos e economias heterogêneas. Tal heterogeneidade entreos Estados-nação provoca, pois, o alargamento das divergências en-tre seus pólos antagônicos.

Embora existam diferenças, tal desnível não é iniciado com a forma-ção dessa aliança. Podendo ser datado a partir da revolução industri-al, esse hiato vem galgando escala ascendente desde então, uma vezque a difusão desigual da indústriamoderna acentua as diferenças dedesenvolvimento entre os países da Europa. Além disso, desde osseus primórdios, a indústria não se distribui de forma territorialmen-te homogênea nos países que experimentam rápido progresso econô-mico: o padrão, ao contrário, é a concentração regional da produção.Assim, parte das disparidades entre países e regiões na União Euro-péia forma-se ou consolida-se ainda no século XIX, com os avançosdo segundo setor.

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A materialização desses processos de industrialização (ao mesmotempo que outros países não se industrializavam ou o faziam em ve-locidadebemmais baixa) cria ou solidifica oquepoderíamos chamarde disparidades macrorregionais na Europa ocidental, com o claroaparecimento de um centro e de uma periferia. Portanto, é com a re-volução industrial que se inicia uma nova configuração continental,que perdura até os dias de hoje. As regiões tocadas pelo novo proces-so produtivo têm características que as distinguem, demaneira clara,das demais, não tocadas pelo processo emergente ou de industriali-zação tardia. De tal lacuna de conjunturas emana um novo contexto,até então desconhecido pela Europa. Uma realidade distinta, na qualcoexistempaíses de naturezas divergentes: umcentro econômico emque sãomaiores, entre outras coisas, a renda per capita, o produto in-dustrial por habitante e a densidade populacional; e uma periferia ca-racterizada por elevados índices de precariedade. Assim, ao se con-centrar em uns poucos lugares, a indústria, em sua fase original deexpansão, atrai para esses pontos o contingente populacional do qualsai a oferta de mão-de-obra exigida pelo próprio crescimento indus-trial subseqüente. Dessa forma, a intensificação da atividade econô-mica que ocorre nesses locais possibilita a incorporação de economi-as externas e o crescimento da produtividade global do trabalho, nãoapenas na própria indústria, mas também nos serviços. O resultado éque, nas fases de expansão da indústria, os locais em que ela se con-centra logo alcançamgraus de renda e de produtividade superiores àsregiões que são excluídas da industrialização.

Contudo, as disparidades regionais não se limitam às que ocorrementre os países. Internamente – tanto nos que se industrializam quan-to nos que não o fazem –, disparidades microrregionais tambémemergeme/ou se consolidamao longo dos séculos. Em termosmuitogerais, nos países que se industrializam, desenvolvem-se, mais rapi-damente, as regiões onde existem depósitos de carvão e infra-estru-tura de transporte, e as regiões – por exemplo, centros administrati-

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vos – onde há um grandemercado e também facilidades de transpor-te. Esse modelo básico não é substancialmente alterado nemmesmoquando, na segundametade do séculoXX, o petróleo substitui o car-vão como principal fonte de energia, ou quando as indústrias minei-ras entram em forte declínio, por obsolescência tecnológica, perdasde mercado e problemas trabalhistas.

É sobre essa realidade de regiões e países muito desigualmente de-senvolvidos que se aprofunda, no pós-Segunda Guerra, a integraçãono velho continente. Precedidas pela Cooperação Econômica Euro-péia, que objetiva fortalecer países enfraquecidos pelos ônus do se-gundo conflito bélico mundial, as Comunidades Européias surgemcomo possibilidade de catalisar o processo de integração entre osEstados-nação europeus.Comosepoderia prever, a realidadedas de-sigualdades de renda, produto e produtividade entre os (e dentro dos)países europeus que se engajam no desafio da integração gera de-mandas cada vezmais fortes por políticas regionais compensatórias,já que o avanço das derrubadas das barreiras corresponde a maiorescustos para países e regiões com estrutura industrial mais atrasada.

A solução política para o dilema – entre intensificação do processode integração e custos para osmenos desenvolvidos – constitui-se nadecisão de simultaneamente acelerar e aprofundar as intervençõesem favor do processo de integração, o que significa aprofundar a po-lítica comunitária de vocação supranacional. Com o Ato Único Eu-ropeu, modificam-se vários dispositivos do Tratado de Roma e, pelaprimeira vez, o Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (Fe-der) é reconhecido no próprio tratado constitutivo da ComunidadeEconômica Européia, sendo esse fundo um marco importante naevolução da política comunitária: pela primeira vez, a Comissão dis-punha de um instrumento financeiro que poderia ser acionado paraidentificar e assistir as regiões problemáticas. O Feder destina-se acontribuir para a correção dos principais desequilíbrios regionaisdentro da Comunidade, mediante uma participação no desenvolvi-

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mento e no ajuste estrutural das regiões menos desenvolvidas, e nareconversão das regiões industriais em decadência.

Com a inserção de um fator político na engrenagem econômica, omercadodeixa de atuar livremente, sendo criada, comoajuste, a polí-tica regional propriamente dita daUniãoEuropéia. A política de har-monização da integração possui como característica mais notável atransferência de renda entre países, a fim de proporcionar mais esta-bilidade e força à aliança que está em curso. Uma vez que a uniãoeconômica e monetária representa, em parte, fator de aumento dasdesigualdades regionais no seio do processo integracionista, é possí-vel concluir que apenas essa união entre países na Europa não possi-bilita per semelhoria aos Estados-membros e às unidades subnacio-nais considerados periféricos. Esses benefícios, no mais das vezes,derivam de órgãos supra-estatais que buscam exercer um papel re-distributivo, para converter os efeitos desestabilizadores oriundos domercado e permitir uma intensificação da integração.

Alemanha e França:

Relações entre as Unidades

Subnacionais e a União

Européia

[...] o grau de desenvolvimento na União Euro-péia varia de um país para o outro. Essa desi-gualdade é ainda maior quando a comparaçãose faz entre as unidades territoriais menores.Ainda hoje continua a haver fortes disparida-des: as dez regiõesmais dinâmicas têm umPro-duto Interno Bruto (PIB) quase três vezes supe-rior ao das dez regiõesmenos desenvolvidas. Aquestão é saber se o funcionamento de ummer-cado comum baseado na livre concorrência écapaz de garantir a longo prazo um desenvolvi-mento em todas as partes, ou se vai aumentar asdesigualdades entre as regiões mais desenvol-

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vidas emais atrasadas. Porém, não há dúvida deque é necessário ajuda pública para dar às re-giões atrasadas condições econômicas para de-senvolver-se. (D’ARCY, 2002, p. 143).

Como já assinalado, o processo de distribuição espacial da indústriaeuropéia, nos séculosXVIII eXIX, gera não apenas concentração deriqueza em alguns países, mas também em algumas regiões deles.Assim, em virtude de tal padrão, conformam-se, dentro dos Esta-dos-nação europeus, desníveis cuja continuidade dificulta as inte-grações inter e intra-estatais. Os casos alemão e francês não diver-gem desse padrão. Sobretudo na Alemanha, o desenvolvimento in-dustrial processou-se de forma bastante concentrada desde sua ori-gem: é na Silésia, na Saxônia e no vale do Ruhr que se localiza o iní-cio da indústria germânica. A centralização foi de tal forma intensa,que no final do século XIX o Ruhr era a área de maior concentraçãoindustrial domundo. Embora na França a indústria tenha exibido umpadrão umpoucomais bemdistribuído pelo território, osmaiores fo-cos de atividade ocorreram noNorte e em torno de Paris – centro co-mercial e político. Assim, nas regiões francesas, enquanto a Alsácia,o Norte, algumas áreas nos depósitos centrais de carvão, umas pou-cas cidades e, acima de tudo, Paris, estavam entre as áreas economi-camente mais desenvolvidas no continente europeu, o Maciço Cen-tral, muito do litoral sul e a França ocidental existiam em ummundodiferente, de condições econômicas e relações sociais com mudan-ças muito lentas (MILWARD; SAUL, 1973). Já nos Länder,

[…] apesar do constante atrito com uma buro-cracia feudal de estado, as cidades evoluírampara a condição de entidades políticas, facili-tando o desenvolvimento econômico e a indus-trialização, durante o século dezenove. As au-toridades locais oferecerama infra-estrutura in-dustrial (por exemplo, abastecimento de água,suprimento de gás e eletricidade, e transporte),asseguraram a circulação de bens e capital

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(bancos e instituições de crédito, acordos alfan-degários) e fizeram o primeiro movimento emdireção a uma política social (ex. saúde, segu-rança do trabalho e habitação). (LOUGHLIN,2000, p. 87).

Alémda questão do estabelecimento limitado da indústria no territó-rio alemão, o desenvolvimento diferenciado dos Länder sofreu im-pactos diretos derivados da Segunda Grande Guerra e da construçãodomuro de Berlim. Os resultados desses eventos seriam observadosdurante muitos anos, com o estabelecimento concreto de centros eperiferias dentro desse Estado-nação. A importância desses marcoshistóricos pode ser observadanaTabela 1, que trata da análise doPIBper capitadas dez regiõesmais pobres e das dez regiõesmais ricas daEuropa dos Doze, entre os anos de 1989 e 1991.

Analisando a Tabela 1, é possível perceber que, das dez regiões demenor PIB per capita na Europa dos Doze, cinco localizam-se naAlemanha e são, mais precisamente, os cinco novos Länder herda-dos da antiga Alemanha Oriental (República Democrática Alemã):Thüringen,Mecklenburg-Vorpommern, Sachsen, Sachsen-Anhalt eBrandenburg. No outro extremo, dentre as dez regiões de maior PIBper capita, também cinco pertencem à Alemanha – contudo, emseu lado ocidental: Hamburg, Darmstadt, Bremen, Oberbayern eStuttgart. Essa constatação, por si só, já revela boa parte das dimen-sões do problema regional enfrentado pelaAlemanha após a unifica-ção, em 1990: de fato, como reconhece a própria Comissão Euro-péia, as disparidades dePIBper capita entre asAlemanhas sãomaio-res do que as existentes entre o Norte e o Sul da Itália.

Compoucas exceções (Bavária e, até certo pon-to,Hesse), osLänder daAlemanha ocidental dopós-guerra são construções artificiais, sem sig-nificado histórico como unidade territorial. Emcontraste, os cinco Länder da Alemanha orien-tal que foram reconstituídos em 1990, quase

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Tabela 1

União Européia (EUR 12)PIB per capita e População das Dez Regiões mais Pobres e das Dez Regiõesmais Ricas (Média 1989/1991)

Número deOrdem

Região País Índice do PIBper capita

(médio1989/1991) EUR

12 = 100

População em1991

(milhões)

Dez Regiões de Menor PIB per capita

1 Thüringen Alemanha 30,0 2,6

2 Mecklenburg –

Vorpommen

Alemanha 33,0 1,9

3 Sachser Alemanha 33,0 4,8

4 Alentejo Portugal 33,9 0,5

5 Sachsen-Anhalt Alemanha 35,0 2,9

6 Voreio Algaio Grécia 35,2 0,2

7 Brandengburg Alemanha 36,0 2,6

8 Ipeiros Grécia 36,2 0,3

9 Guadaloupe França 39,0 0,4

10 Centro Portugal 39,6 1,7

Dez Regiões de Maior PIB per capita

170 Emilia-Romana Itália 127,5 3,9

171 Vale d' Aosta Itália 129,6 0,1

172 Lombardia Itália 134,7 8,9

173 Stuttgart Alemanha 137,6 3,6

174 Oberbayern Alemanha 148,1 3,8

175 Bremen Alemanha 149,7 0,7

176 Greater London Reino Unido 151,2 6,8

177 Darmstadt Alemanha 162,9 3,5

178 Ilê de France França 166,8 10,7

179 Hamburg Alemanha 194,5 1,6

Fonte: Commission Européene (1994a, p. 192-194).

Obs.: (1) Foi mantida a grafia dos nomes das regiões em suas respectivas línguas, tal como nas publi-

cações oficiais da Comissão Européia; (2) A listagem não inclui Açores e Madeira, para as quais a Co-

missão não dispõe de estimativas de PIB por habitante; (3) Regiões NUTS-2, exceto para os novos

Länder alemães, que são NUTS-1; e (4) Guadaloupe é um departamento de ultramar da França.

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exatamente com as mesmas fronteiras de 1946,são entidades históricas e geográficas muitotradicionais.Hádiferenças importantes entre osdezesseis Länder em termos de tamanho, popu-lação e influência econômica, que vão desde aextensa Rhine-Westphalia do Norte, com umapopulação de mais de 17 milhões, até os trêsLänder de Berlim, Hamburgo e, o menor, Bre-mem (população de 680mil), que têm status decidades-Estados. (LOUGHLIN, 2000, p. 89).

A constituição da União Européia e, com ela, a emersão de políticasde cunho regional, representa, para a Alemanha e suas regiões mar-cadas por inegáveis disparidades, uma possibilidade de diminuiçãono hiato de desenvolvimento. Por meio de benefícios derivados dosfundos estruturais, em particular do Feder, alguns Länder alemãesobtiveram ajudas a fim de impulsionar o seu crescimento, conformemostra aTabela 2. É importante notar que nenhuma região francesa ébeneficiária das transferências oriundas do Feder. Esse fato pode serexplicado, entre outros, quando se observa tanto o padrão de indus-trialização francês quanto a ausência de ônus de guerra semelhanteao sofrido pela Alemanha.

Assim, para aAlemanha, de forma singular, uma integração regionalforte proporciona benefícios que são absorvidos diretamente pelasunidades infra-estatais, de tal forma a emergir uma relação entre osLänder e a união econômica e monetária. Contudo, a ligação entreesses dois níveis de poder não se constitui de forma imediata.Na ver-dade, a partir de meados dos anos 1980, quando o processo de inte-gração é estimulado pelo Ato Único Europeu, regiões e municipali-dades têm se mostrado paulatinamente preocupadas com os novosdesafios daí resultantes. Os governos locais tinham uma experiêncialimitada aobilateralismodas twinnig activities, não tendoohábito deuma política sistemática e específica em relação à União Européia.Os Länder, por exemplo, têm se concentrado em colaborações trans-

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Tabela 2

Países da União Européia (EUR 12)População Beneficiada pelos Objetivos Regionais (%)(Objetivos 1, 2 e 5b)

País Regiões do Objetivo 1 PopulaçãoPotencialmenteBeneficiária dos

Objetivos 1, 2 e 5b

Bélgica Hainaut 31,34

Dinamarca (nenhuma região) 15,54

Alemanha Brandenburg, Mecklenburg-Vorpommem,

Ost-Berlin, Sachser, Sachsen-Anhalt,

Thüringen

39,11

Grécia (a totalidade do país) 100,00

Espanha Andaluzia, Asturias, Cantabria, Castilla a

León, Castilla-La Mancha, Ceuta a Melilla,

Comunidad Valencia, Extremadura, Galícia,

Islas Canárias, Murcia

84,37

França (nenhuma região) 47,58

Irlanda (a totalidade do país) 100,00

Itália Abruzzi (1994/1996), Brasilicata, Calabria,

Campania, Molise, Puglia, Sardena, Sicília

55,87

Luxemburgo (nenhuma região) 41,99

Países Baixos Flevoland 24,09

Portugal (a totalidade do país) 100,00

Reino Unido Highlands e Islands Enterprise Areas,

Meyerside, Northern Ireland

41,67

União Européia(EUR 12)

51,42

Fontes: Comisión Europea (1994, p. 8-9) e Gomes (1997, p. 85).

Obs.: Os objetivos 1, 2 e 5b dizem respeito aos aspectos regionais propriamente ditos da política da

União Européia. São eles: 1. Promover o desenvolvimento e o ajustamento estrutural das regiões em

atraso de desenvolvimento; 2. Reconverter as regiões, regiões fronteiriças ou partes de regiões (aí

compreendidas as regiões de maior concentração de emprego e as comunidades urbanas) gravemen-

te afetadas pelo declínio industrial; e 5b. Promover o desenvolvimento rural facilitando o desenvolvi-

mento e o ajustamento estrutural das zonas rurais.

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fronteiriças. Todavia, atualmente, um processo de ensaio-e-erro naautodefinição regional pode ser constatado como resultado de umalógica que privilegia os nexos históricos e efetivos que pautam as re-lações nas interfaces fronteiriças e que transcendem a noção de terri-tório nacional. Emvários projetos a parceria vai alémdeumacolabo-ração pontual, aproximando-se mais de uma política comunitária decunho regional, ancorada na maioria das vezes em uma identidadecultural compartilhada.

Embora benéfica para as economias das unidades subnacionais emquestão, a institucionalização da União Européia traz consigo a pos-sibilidade de perda de competência política dos Länder, visto queo governo central vem procedendo no sentido de transferir parte dasoberania nacional para a Europa. Observando isso e se integrandocom autoridades das regiões belgas e espanholas, as autoridades dosLänder reforçam a demanda por estabilidade regional no tratado deMaastricht, assegurando: a inserçãodoprincípio de subsidiaridade, aconformação do Comitê de Regiões e o acesso do governo in-fra-estatal ao Conselho deMinistros. Apesar de ainda não ter um pa-pel destacado dentro da União Européia, a criação do Comitê de Re-giões enseja a possibilidade de concretizar inúmeros benefícios paraessas unidades européias, pois a partir daquele momento as propos-tas de decisões sobre os destinos dos fundos estruturais, tomadaspelo Conselho de Ministros, passariam por consulta ao órgão repre-sentante das coletividades locais. No que toca aos Länder, embora ti-vessem igual representatividade dentro daquele Comitê, houve umdirecionamento das transferências emanadas da União para as maispobres regiões da Alemanha.

Como assinala François d’Arcy:

Mesmo limitada, a política regional é eficaz:tem umpapel importante namodernização e nodesenvolvimento dos países mais pobres(Espanha, Portugal,Grécia e Irlanda), e o rendi-

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mentomédio por habitante nesses países se apro-ximou do rendimento médio da União. Tam-bémaAlemanha recebeuumaajuda importantepara o desenvolvimento da parte leste depois dareunificação (D’ARCY, 2002, p. 143).

Se com o advento do processo de integração o padrão germânico foide intensificação das relações entre as sub-regiões e a União Euro-péia, na França, por seu turno, esse padrão foi, consideravelmente,mais mitigado. Desde a gênese das Comunidades Européias, a Fran-ça vemdirigindo forças no sentido de aprofundar as relações entre osEstados-membros. Mas isso de forma divergente do que ocorre noEstado teutônico. Tal política tem sido uma prerrogativa, eminente-mente, do governo central e, emparticular, do presidente daRepúbli-ca e do primeiro-ministro, havendo um considerável distanciamentoentre as regiões francesas e as instâncias supranacionais européias.Tal comportamento pode ser explicado, entre outros fatores, pela au-sência de necessidades vinculadas à política regional européia, umavez que, por causa do padrão de industrialização francês – territorial-mente mais bem distribuído –, não houve uma configuração consis-tente de centros e periferias entre as unidades.6 Esse comportamentotambém pode ser compreendido em função do sistema político nãofederalizado, instaurado desde a Revolução de 1789, tal qual ocorrecom o parceiro de além-Reno. Como analisa Loughlin (2000,p. 205):

Níveis subnacionais de governo foram, até anosrecentes, em grande parte excluídos da cenaEuropéia. Isso é verdade até mesmo no campoda política regional da União Européia, na quala Délégation à l' aménagement du territoire età l’action régionale (DATAR) tem sido maisimportante que as regiões no planejamento eimplementação das Community SupportFrameworks (CSFs) – Organizações (ou Estru-turas) de Apoio às Comunidades.

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Embora chefiado pelo governo central, o contato do Estado-naçãofrancês comaUniãoEuropéia vem sofrendo umprocesso de descen-tralização, proporcionando às regiões francesas oportunidades paraque essas atuem no âmbito europeu. Ainda como ressalta Loughlin(2000, p. 206):

Primeiro, as regiões francesas, como outras re-giões européias, estabeleceram escritórios emBruxelas que funcionam como centros de cole-ta de informação. Segundo, algumas regiões es-tabeleceram associações de fronteira. Em ter-ceiro lugar, as regiões francesas são uma partedas e, algumas vezes, são de fato as forças queestão por trás impulsionando associações in-ter-regionais como a Conference of PeripheralMaritime Regions – Conferência das RegiõesMarítimas Periféricas (incluindo o Arco Atlân-tico e oArco Latino) e aAssembly of EuropeanRegions – Assembléia de Regiões Européias.Nesse contexto de atividade extraterritorial,Rhône-Alpes é uma parte do grupo dos FourMotors (“Quatro Motores”). Por fim, políticosfranceses que atuam localmente têm semostra-do ativos noComitê das Regiões, cujo primeiropresidente foi Jacques Blanc, presidente da re-gião de Languedoc-Roussillon.

O lócus político das unidades subnacionais em cada Estado-membroreflete o perfil que será traçado emsuas relações comas instâncias daUnião Européia. Assim, tendo em vista as múltiplas singularidades,é possível verificar que as demandas por maiores interações, e atua-ções mais diretas das instâncias supra-estatais, são bastante variá-veis, sendo função de fatores históricos, institucionais, econômicos epolíticos. Dessa forma, embora venham ocorrendo segundo uma ge-ometria variável, os nexos entre osLänder e aUniãoEuropéia e entreesta última e as regiões francesas vêm se incrementando, o que pode-rá proporcionar, no longo prazo, não apenasmodificações hierárqui-

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cas de poder dentro do seio do Estado-nação, mas também entre esteúltimo e as estruturas supranacionais.

Conclusão

O estudo das heterogeneidades econômicas entre os Estados-naçãotem suscitado o aparecimento de teorias que justificam e/ou expli-cam tais dessemelhanças. Entre as muitas teses voltadas para essaquestão, destaca-se a forjada pelo economista argentino Raúl Pre-bisch, a qual postulava a existência de centros e periferias na econo-mia mundial.

Quando se aplica a dialética centro-periferia a uma integração regio-nal que atinge níveis de união econômica emonetária, é possível per-ceber que, dentro desse universo, a constituição de regiões subnacio-nais e de Estados nacionais cêntricos e periféricos não se dá porque opaísmais forte economicamente explora omais fraco,mas emdecor-rência do contatomais rápido que alguns países – e, dentro desses, al-gumas regiões – têm com o processo de industrialização. Todavia,contrariamente ao cenário latino-americano do pós-guerra, no pro-cesso de integração da UE há, paralelamente à integração econômi-co-financeira, uma intervenção supranacional – pormeio dos fundosestruturais – que atua como um regulador, um agente distributivo,que busca socializar os ganhos da forma mais eqüitativa possível.

Assim, a composição de uma instância supranacional na Europa e asubseqüente quebra de barreiras tarifárias e não tarifárias represen-tamumpotencial aumento das desigualdades, uma vez que tal derru-bada gera ônus para os menos industrializados, que têm suas econo-mias sensibilizadas pela entrada de produtos mais competitivos, oque pode estimular as disparidades entre os Estados-membros e/ouentre suas unidades infra-estatais, inibindo o processo de integração.Donde a relevância das políticas públicas comunitárias de caráter re-distributivo, representadas pelos fundos estruturais.

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Dessa forma, a importância da aplicaçãoda tese prebischeriana à rea-lidade européia diz respeito ao fato de que ela alerta para os efeitoscolaterais e desiguais da integração.Na verdade, uma adaptação des-sa tese é necessária, já que, embora existam centros e periferias den-tro da união emanálise, esses não se caracterizam stricto sensu comodominadores e dominados, metrópoles e colônias. Desse espaçoamostral diferenciado emerge, pois, um novo conceito da temáticacentro-periferia, divergente da tese latino-americana, tanto no quetange à questão da subordinação quanto à construção dos sistemaspreferenciais. É dentro do contexto europeu que surge, na união eco-nômica emonetária, a necessidade de políticas supranacionais, a fimde dar estabilidade ao processo de integração.

No que diz respeito aos Estados francês e alemão, e às respectivasunidades infra-nacionais, é possível constatar que o mesmo modelode industrialização existente no restante daEuropa está presente nes-ses países, embora, atualmente, as regiões francesas e alemãs tenhambuscadomaior representatividade dentro daUnião, a fimdeobter ga-nhos que possibilitem maior eqüidade entre elas, tanto dentro doEstado-membro quanto na instância supranacional. Observa-se queas unidades subnacionais que são partes de Estados federais, caso daAlemanha, têmmais facilidade de prática da constituent diplomacy;enquanto em Estados centralizados, como a França, essas unidadestêm margem de manobra bem mais limitada.7

Dentro do estudo desenvolvido, é possível constatar não apenas queo contexto europeu é distinto do latino-americano,mas tambémque,embora aplicável por muitos anos, a teoria da dependência não con-segue explicar plenamente os contrastes entre regiões/países no qua-dro daUnião Européia. Se, por um lado, amatriz de desenvolvimen-to da referida União ancora-se essencialmente no postulado do li-vre-comércio – ao menos no que se refere às trocas internas – e issotende a favorecer os espaços territoriaismais competitivos, por outroessamesmaUnião instauramecanismos de redistribuição, sob forma

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de políticas públicas que tentam compensar as imperfeições do câm-bio livre e se destinam àquelas regiões situadas à margem do hardcore do processo integracionista.

Esses mecanismos, não raro, imbricam, segundo o princípio da sub-sidiaridade,8 os três níveis político-administrativos – supranacional,nacional e subnacional –, criando ora complementaridades, ora con-flitos de competências. O elo subnacional caracteriza-se pela proxi-midade cidadã que o permeia. Ele dá expressão aos interesses locaisno que concerne à integração e, aomesmo tempo, legitima a ação co-munitária como um todo. Porém, o poder relativo de cada um desseselos é muito variável, o que estabelece parâmetros de ação muito di-ferentes: osmais fortes tentando alçar vôo próprio na esfera suprana-cional (caso, sobretudo, dos ricos Länder alemães); os menos fortes,ainda condicionados à intermediação do Estado-nação (caso, sobre-tudo, das pobres regiões francesas). Isso pode ser mais bem visuali-zado no Gráfico 1, que foi gerado a partir da Tabela 3:9

Tabela 3*

UnidadeSubnacional

Tipo deEstado

Grau deCentralidade

País Escala

Land Federal Rico Alemanha 4

Land Federal Pobre Alemanha 2

Região Unitário Rico França 3

Região Unitário Pobre França 1

*Tabela elaborada pelos autores deste artigo.

Opolígono inscrito (emcor cinza) representa as diversas possibilida-des de capacidade de ação das unidades subnacionais junto ao podersupranacional em função: (i) do tipo de Estado em questão (federalou unitário); e (ii) em função do grau de centralidade da unidade sub-nacional (central/rico; marginal/pobre). O poder surpranacional po-de ser interpretado como sendo as instituições comunitárias do siste-ma político europeu.A escala estabelecida (de 1 a 4) é apenas indica-tiva e sugere uma gradação possível.

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Como todo processo político, a integração regional não aporta be-nefícios similares às suas partes. A desigualdade manifesta-se emgraus múltiplos e sem preconceito de fronteiras. A dicotomia cen-tro-periferia existe em termos geoeconômicos, mas não segundo osprincípios ideológicos estabelecidos por Prebisch. Para analisar osprocessos integrativos, presta-se mais uma percepção de multilevelgovernance, em que, sem dúvida, as unidades subnacionais não po-dem deixar de ser escrutadas.

***

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0

2

4Federal Rico

Federal Pobre

Unitário Rico

Unitário Pobre

Gráfico 1*Capacidade de Ação das Unidades Subnacionais junto ao PoderSupranacional

*Gráfico elaborado pelos autores deste artigo com colaboração do professor Enivaldo Rocha, do Pro-

grama de Pós-graduação em Ciência Política da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

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Notas

1. Esta e as demais citações de originais em língua estrangeira foram livre-mente traduzidas para este artigo.

2. Disponível em: <http://www.alainet.org/active/show_text.php3?key=1061>. Acesso em: 13 ago. 2004.

3. Disponível em: <http://www.academia.org.br/imortais/cads/11cel-so2htm>. Acesso em: 7 abr. 2005.

4. Disponível em: <http://www.cid.harvard.edu/cidinthenews/arti-cles/FP_11-1202.pdf>. Acesso em: 1o out. 2005.

5. Disponível em: <http://www.cid.harvard.edu/cidinthenews/arti-cles/FP_11-1202.pdf>. Acesso em: 1o out. 2005.

6. Claro está que se pode identificar uma periferia econômica explícita dentroda República Francesa. Mas isso ocorre nos departamentos e territórios deAlém-mar (Département d’ Outre Mer (DOM) – Territoire d’ Outre Mer(TOM)) e não na França continental. Ver Rubio (2000).

7. Kincaid (2001, p. 74) afirma: “Não há nenhuma terminologia estabelecidadescrevendo as atividades internacionais de governos que são partes constituin-tes de outros ou ‘subnacionais’. O termo ‘constituent diplomacy’ [diplomaciados constituintes] guarda a intenção de ser um descritor neutro, que evite as im-plicações de que as atividades de governos constituintes são necessariamenteinferiores, subordinadas ou suplementares às da ‘alta política’ da diplomaciados Estados-nação”.

8. Cf. artigo 5 do Tratado de Amsterdã. Disponível em: <http://europa.eu/index_en.htm>.

9. Agradecemos a colaboração do professor Enivaldo Carvalho da Rocha naelaboração desta tabela e gráfico.

ReferênciasBibliográficas

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Anexo 1

Divisão das Responsabilidades dos Fundos Estruturais da União Européiasegundo os Objetivos EstabelecidosObjetivo Fundo Europeu de

DesenvolvimentoRegional (Feder)

Fundo Soci-al Europeu

(FSE)

Fundo Euro-peu de Ori-entação eGarantiaAgrícola

(FEOGA-Orientação)

InstrumentoFinanceirode Orienta-ção da Pes-

ca (IFOP)

Objetivo 1: Promover o

desenvolvimento e o ajustamento

estrutural das regiões em atraso de

desenvolvimento.

X X x

Objetivo 2: Reconverter as regiões

(aí compreendidas as regiões com

maior concentração de emprego e

as comunidades urbanas)

gravemente afetadas pelo declínio

industrial.

.X X

Objetivo 3: Combater o desemprego

de longa duração e facilitar a

inserção profissional dos jovens e

das pessoas expostas à exclusão no

mercado de trabalho.

X

Objetivo 4: Facilitar a adaptação dos

trabalhadores e trabalhadoras à

evolução dos sistemas de produção.

X

Objetivo 5a: Promover o

desenvolvimento rural, (a)

acelerando a adaptação das

estruturas agrícolas no quadro da

reforma da política agrícola comum.

X X

Objetivo 5b: Promover o

desenvolvimento rural, (b) facilitando

o desenvolvimento e o ajustamento

das zonas rurais.

X X X

Fonte: Comunidade Econômica Européia (1993).

Marcelo de Almeida Medeiros e

Amanda Aires Vieira

390 CONTEXTO INTERNACIONAL – vol. 29, no 2, jul/dez 2007

Page 29: Revista Contexto Internacional 29 n2 - SciELO · (Objetivos1,2e5b) País Regiões do Objetivo 1 População Potencialmente Beneficiária dos Objetivos 1,2e5b Bélgica Hainaut 31,34

Resumo

Lógicas de Centro versus

Dinâmicas de Margens: A QuestãoSubnacional na União Européia

O presente texto é composto de três partes, seguidas por uma conclusão. Naprimeira, propõe-se uma análise do estado da arte da reflexão sobre a dialé-tica centro-periferia. A segunda aponta o quanto esta reflexão semostra ins-tigante para a compreensão de processos de integração regional, em geral, edaqueles da União Européia, em particular. Em seguida, a terceira partefoca a questão do multilevel governance, propondo uma análise das unida-des subnacionais da Alemanha e da França, no âmago da União Européia.Finalmente, algumas considerações são feitas à guisa de conclusão. Comotodo processo político, a integração regional não aporta benefícios simila-res a todas as suas partes. A desigualdademanifesta-se em grausmúltiplos esem preconceito de fronteiras. A dicotomia centro-periferia existe em ter-mos geoeconômicos, mas não segundo os princípios ideológicos estabele-cidos por Prebisch. Para analisar os processos integrativos, presta-se maisuma percepção demultilevel governance, em que, sem dúvida, as unidadessubnacionais não podem deixar de ser escrutadas.

Palavras-chave: União Européia – Unidades Subnacionais – Governan-ça – Centro-Periferia

Abstract

The Logic of the Centre versus theDynamic of the Margins: TheSub-national Issue in theEuropean Union

This article is written in three parts and a conclusion. In the first part, areflection on the state of the art thoughts about the center-periphery ideas isdeveloped. The second part shows how these thoughts could be applied inunderstanding regional integration processes in general and within theEuropean Union in particular. The third part focuses on the multilevelgovernance issues and proposes an analysis of the French and Germansub-national units at the European Union. As a political process, regional

Lógicas de Centro versus Dinâmicas de

Margens: A Questão Subnacional...

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integration is far from bringing only benefits to the parts involved in it. Thedisparities emerge in multiple levels and they are not confined to nationalborders. The center-periphery dichotomy is a fact in geo-economical terms,although not in accordance with ideological conceptions as those set up byPrebisch. In understanding integration processes, the multilevelgovernance perspective seems to be a more adequate point of view, fromwhich one cannot avoid investigating the role of sub-national units.

Keywords: European Union – Sub-national Units – Governance –Centre-Periphery

Marcelo de Almeida Medeiros e

Amanda Aires Vieira

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