Revista Sustentabilidade

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www.revistasustentabilidade.com.br Sustentabilidade revista inovação para uma economia verde ano IV • edição n o 3 outubro/novembro 2011 Impressa: R$ 22,50 Online: R$ 5,99 Smart Grid: país entra de vez na geração distribuída Educação e Tecnologia: soluções para o consumo responsável Hidrelétricas vs Energias Renováveis: para onde vamos? Sustentabilidade O BARATO SAI CARO Sem foco e planejamento, o custo de economizar 1 MWh nos programas oficiais é três vezes maior que o da geração de 1 MWh em Belo Monte EDIÇÃO ESPECIAL DE ENERGIA: EFICIÊNCIA E RENOVÁVEIS

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Sustentabilidaderevista

inovação para uma economia verde ano IV • edição no3 outubro/novembro 2011

Impressa: R$ 22,50 Online: R$ 5,99

Smart Grid: país entra de vezna geração distribuída

Educação e Tecnologia:soluções para o

consumo responsável

Hidrelétricas vs Energias Renováveis:para onde vamos?

Sustentabilidade

O BARATO SAI CAROSem foco e planejamento, o custo de economizar1 MWh nos programas oficiais é três vezes maior

que o da geração de 1 MWh em Belo Monte

EDIÇÃO ESPECIAL DE ENERGIA: EFICIÊNCIA E RENOVÁVEIS

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Revista Sustentabilidade Edição Especial

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Gostaria de escrever sobre avanços tecnológicos, inves-

timentos em novos projetos, programas de educação

das empresas, universidades e governos para melhorar

o desempenho energético do país e a relação entre consumo e

produção de energia, qualidade de vida e meio ambiente.

No entanto, o que relatamos nas matérias desta edição – fora

algumas iniciativas pontuais – é uma série de entraves legais,

gerenciais e macroeconômicos que conjuram contra botar o

Brasil no pódio da corrida pelas novas energias renováveis e efi-

ciência energética.

O ambiente macroeconômico desencoraja qualquer investi-

mento nestas áreas. De um lado temos taxas de juros escor-

chantes de, no mínimo, 12% ao ano. Do outro, temos uma moeda

fortalecida artificialmente frente ao dólar e ao euro. Juntos, estes

fatores impossibilitam ganhos de competitividade, investimen-

tos em inovação e ameaçam fortemente nosso parque industrial,

pois, para as empresas, é mais barato importar equipamentos e

produtos do que investir.

Câmbio e juros estão intimamente ligados. Juros altos

atraem capital especulativo, principalmente quando o mundo

está em crise e não há outro lugar para investir com tamanha

rentabilidade já que nos países desenvolvidos as taxas de juros

rondam o zero. A enxurrada de dinheiro fortalece o real e força

o Banco Central a ‘enxugar’ este capital comprando direta-

mente os dólares no mercado e vendendo títulos, tirando da

economia dinheiro essencial para investir. Aumentamos nossas

reservas cambiais – hoje acima de US$ 340 bilhões –, mas im-

possibilitamos o aumento da taxa bruta de investimento – hoje

abaixo de 20% do PIB.

Juros altos também retiram a capacidade do governo de in-

vestir e planejar. Nos primeiros sete meses de 2011, o governo

federal criou um superávit primário de R$ 91 bilhões, enquanto

os investimentos ficaram em R$ 25 bilhões.

Os reflexos para a eficiência energética são óbvios: por que in-

vestir em novos equipamentos e processos e obter ganhos

econômicos na conta de luz de um dígito se a aplicação na

ciranda financeira rende no mínimo 12% anuais, sem risco? É uma

lógica perversa, apesar do alto custo da eletricidade no Brasil.

Há quem diga que temos um potencial para economizar ime-

diatamente 30% de todos os 420 terawatts-hora consumidos

editorial }

A ineficiência energética brasileira

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editorial }

anualmente no país. Mas, no Plano Decenal de Energia (PDE) e

no Plano Nacional de Eficiência Energética (PNEf) foram iden-

tificados potenciais de economia energética de 5% e 10% em

2020 e 2030, respectivamente.

É pouco. Afinal, parte do plano prevê investimentos e ino-

vação, por parte das empresas, em melhorias do desempenho

ener gético de produtos e processos, que podem não vir à luz por

conta do nefasto ambiente macroeconômico.

Do lado das energias renováveis, podemos até comemorar o

sucesso da eólica que, com preço baixo, acabou se instalando de

fato no Brasil com mais de meia dúzia de fabricantes de equipa-

mentos investindo no país após uma década de tentativas. O

sucesso vem da política de obrigar um índice mínimo de 60% de

nacionalização da tecnologia como contrapartida para o finan-

ciamento barato do BNDES. Vem também, sobretudo, da neces-

sidade das empresas eólicas estrangeiras buscarem mercados

ativos após o colapso dos mercados na Europa e EUA.

Deveríamos fazer dessa janela de oportunidade uma

política consistente e concreta, de olho nas demais renováveis

como a solar fotovoltaica, células a combustível, termossolar,

biomassa e etanol celulósico, tecnologias que já vêm sendo

viabilizadas em outros países.

Os entraves, contudo, persistem. A capacidade de geração de

conhecimento de nossas universidades é imensa, mas não con-

seguimos transformá-la em inovação efetiva. Falta criar meca -

nismos que aproximem centros de conhecimento e empresas,

para que estas invistam em inovação.

A criação deste ciclo de investimento é improvável num

cenário de escassez de dinheiro. O mundo está numa corrida

pelo controle das novas tecnologias energéticas limpas. O

Brasil, apesar de seus abundantes recursos naturais – sol, vento,

biomassa, água – custa a entrar nesta corrida. Falta foco em

políticas públicas e pragmatismo contra os entraves micro e

macroeconômicos.

Boa leitura,

Alexandre Spatuzza

Diretor de conteúdo

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6 Capa Eficiência EnergéticaO barato sai caro

17 Eficiência EnergéticaEducação e Tecnologia: soluções para o consumo responsável

19 ArtigoDemandas tecnológicas para a eficiência energética

22 EntrevistaHamilton Moss de Souza

25 Estudos de casosGerenciamento do calor em equipamentos

27 PerspectivaProjeções de consumo ascendente e desenvolvimento responsável

29 ArtigoEconomia de baixo carbono e a eficiência energética

30 ArtigoEnergia: o que muda com a Convenção do Clima?

32 Geração distribuídaBrasil entra na era da smart grid em 2012

37 ArtigoEficiência e sustentabilidade

38 EntrevistaMaurício Tolmasquim

41 ArtigoLeilões de energias renováveis

42 Capa Energias RenováveisHidrelétrica vs Solar, Eólica e Biomassa

50 Energia EólicaPromessas de um mercado promissor

A edição especial da Revista Sustentabilidade –Energias Renováveis/Eficiência Energética é umapublicação do portal Revista Sustentabilidade

Projeto editorial e reportagemVespa Serviços de Comunicação e Abaporu Comunicação

Diretor de conteúdo Alexandre Spatuzza (MtB 42261/SP)[email protected]

Editor executivoVinícius Gorgulho (MtB 31230/SP)[email protected]

ColaboradoresEugênio Melloni, Janaina Simões e Marcel Gomes

Projeto gráfico e direção de arteLu Cury

Assistência de arteIone Gomes Franco

Capa Arte sobre imagem do iStockphoto.com

Revisão Elmo Odorizzi

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sumário }

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6

Os sinais econômicos e o desempenho brasileiro na

área de eficiência energética são no mínimo confli-

tantes. Cresce o rigor da legislação ambiental e o

preço da energia elétrica se mantém alto – principalmente para

as empresas –, incentivando fortemente a implantação de me-

didas de eficiência energética. Enquanto isso, entretanto, os es-

forços nesse sentido são diminuídos e diluídos por problemas

como a falta de financiamento adequado, taxas de juros altas e a

falta de foco das políticas.

Segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel),

entre 1998 e 2007, foram investidos R$ 1,9 bilhão em mais 3 mil

projetos que economizaram 5,6 mil megawatts-hora (MW/h) por

ano. Esse investimento resultou no adiamento da necessidade de

construir novas usinas com potência total de 1,7 mil megawatts.

Isso equivale a um investimento de R$ 347,00 para cada

megawatt-hora economizado. A falta de foco e eficácia desses

programas de eficiência energética, entretanto, é revelada por

uma simples comparação: o investimento a ser feito em Belo

Monte para gerar 1 megawatt-hora será de R$ 77,97.

Gilberto Jannuzzi, pesquisador do Departamento de Energia

da Faculdade de Engenharia da Unicamp, a falta de foco é gri-

tante. Mesmo considerando a vida útil dos equipamentos e dos

programas, que diminuem os custos, a conta na ponta do lápis

mostra o desperdício. “A taxa de retorno é muito baixa e a falta

de transparência dos números e de monitoramento não nos per-

mite verificar se os critérios foram adotados corretamente”, diz.

O BARATO

A falta de planejamento tem um preço amargo:no Brasil, hoje, é mais barato construir novasusinas do que economizar energia

Por Alexandre Spatuzza

eficiência energética }

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Segundo estudo de Jannuzzi, a conta fica ainda mais crítica

ao incluirmos os programas mais recentes dos quais 64% são des-

tinados à troca de equipamentos, que duram menos de dois

anos, para a baixa renda: foram R$ 3,8 bilhões para economizar

7, 3 mil MWh/ano, ou seja, R$ 520,00 por MWh.

Isto está longe do que se pratica mundo afora. Um estudo da

Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostrou que os progra-

mas podem ser bem mais compensadores. Na análise de 217 proje-

tos de eficiência energética de 13 setores industriais, o custo médio

do MWh economizado foi de R$ 79,00 por MWh. Em comparação,

o custo marginal de expansão do sistema de energia elétrica foi es-

timado em R$ 138,00 por MWh no Plano Decenal 2007/2016 da

Empresa de Planejamento Energético (EPE), do principal órgão do

governo federal responsável pela incumbência que o batiza.

“Há um potencial de 30% de economia no uso da eletricidade,

na média,” afirma Máximo Pompermayer, superintendente dos

programas de eficiência energética da Aneel. “Mas temos uma le -

gislação amarrada, que direciona os recursos obrigatórios para uma

camada da população cujo efeito no consumo total é o irrisório”.

Pompermayer se refere ao Programa de Eficiência Energética

Foto de satélite, registrada em 18/10/2011, revela a luz das cidades brasileiras vistas do espaço. As duas maiores manchas de iluminação encontram-se nas macrometrópoles de São Paulo e Rio de Janeiro

NAS

A Visible Earth/site: http://www.fourmilab.ch/cgi-bin/Earth

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(PEE) que, ao completar mais de uma década, já arrecadou mais

de R$ 3 bilhões das distribuidoras de eletricidade para implemen-

tar projetos e programas para reduzir o consumo de eletricidade.

A lei determina que 0,5% do faturamento líquido dessas empresas

– que são mais de uma centena – seja destinado a estes programas.

PLANEJAMENTO“A energia menos impactante e mais barata é a energia econo-

mizada, o que chamamos de negawatt”, disse o presidente da

EPE, Maurício Tolmasquim. “Por isso eficiência energética é im-

portante para o planejamento, mas não exclui a necessidade de

planejar o fornecimento”.

O potencial de economia energética de 30% estimados por

Pompermayer está bem acima dos 5% previstos no Plano de De-

senvolvimento Energético 2020 (PDE), bem com dos 10% pre-

conizados até 2030 nas premissas básicas do Plano Nacional de

Eficiência Energética (PNEf). “Projetamos nos planos o que

achamos que vai acontecer e o que não queremos que aconteça”,

afirmou Tolmasquim.

O Ministério de Minas e Energia (MME) está elaborando

há mais de três anos o PNEf, que, apesar de pronto, ainda não

havia sido lançado até o fechamento desta edição da Revista

Sustentabilidade.

AÇÃO GOVERNAMENTALA timidez do governo brasileiro frente à questão da eficiência

energética contrasta com a urgência dos especialistas da área.

Estes últimos demandam ações mais concretas e focadas para

desmantelar o ciclo vicioso no segmento da energia. Iniciativas

sem as quais, dizem, será necessário buscar novas fontes de ener -

gia cada vez mais distantes e caras, tanto para o bolso, quanto

para o meio ambiente.

“Nossos estudos mostraram que a economia de energia faz

mais sentido que construir novas usinas”, afirma Rodrigo Garcia,

analista de eficiência energética da CNI. “Os atrasos no PNEf

mostram que governo não está dando prioridade para a questão”.

Em comparação, o governo federal dos EUA, frente à crise fi-

nanceira de 2008, aprovou no congresso o Recovery Act, em

EM UM ANO, A TAXA BÁSICADE JUROS É DE 12%, MAS OSGANHOS FINANCEIROS EMEFICIÊNCIA ENERGÉTICALIMITAM-SE, EM GERAL,

A UM DÍGITO

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A GRANDE MURALHA DO FINANCIAMENTO INDUSTRIAL

As empresas brasileiras enfrentam uma gran -

de barreira à eficiência energética: faltam li -

nhas de financiamento acessíveis e sobram

taxas de juros abusivas.

Figueiredo da SustentaX é categórico:

“Investir em eficiência não paga a comissão.

Só a taxa de juros que recai sobre o emprés-

timo ultrapassa a eficiência da bomba que

você compra”.

Na ponta do lápis, a conta é simples: a taxa

básica de juros é de 12% ao ano e os ganhos

em eficiência energética são, em geral, de um

dígito por ano.

“Financeiramente, não faz sentido investir

em eficiência energética. Então, as empresas

focam em enfrentar problemas conjunturais

como dólar baixo e desindustrialização” diz

Garcia da CNI.

De fato, há aí um grave problema com os

programas brasileiros de eficiência energética.

Nos EUA e Europa os programas têm como

opção de financiamento os créditos de car-

bono, já que a redução no consumo corta di-

retamente a queima de combustíveis fósseis

nas centrais elétricas térmicas que represen-

tam 70% da geração. No Brasil, cerca de 70%

da ge ração elétrica é de fonte renovável hí-

drica, o que torna difícil contar com o seques -

tro de CO2 para financiar as ações.

Desde 2006, o governo oferece, por meio

do BNDES, uma linha chamada Proesco para

empresas de engenharia que projetam progra-

mas de eficiência energética, chamadas Escos.

Apesar de ter anunciado em 2008 que pre-

tendia assinar contratos somando R$ 85 mi -

lhões até final de 2010, só R$ 33 milhões

foram liberados em 15 operações e, destes,

apenas R$ 1,8 milhões foram para as Escos.

Sendo pequenas empresas, as Escos não

conseguem apresentar garantias suficientes

para obter o dinheiro que é essencial para im-

plementar os programas de eficiência. O agra-

vante é que a remuneração dessas empresas,

regidas por contratos de desempenho, pro -

vém da economia de energia gerada nesses

mesmos programas.

Apesar de iniciativas pontuais – como algu-

mas cidades que começam a oferecer descon-

tos no Imposto Predial e Territorial Urbano

(IPTU) para edifícios mais eficientes – o ciclo

vicioso de financiamento às Escos ilustra a

falta de foco do governo na questão.

“O governo tem que ser a força motriz e de-

veria dar uma gama de incentivos fiscais, mudar

a lei de licitações para o poder público comprar

as tecnologias mais eficientes, mesmo que mais

caras, e focar os programas de eficiência ener -

gética nas indústrias e nos edifícios públicos”,

resume Cutri.

Apesar de tarde, no final, todos acham o

PNEf benvindo, pois traz as diretrizes básicas.

O desafio, como salientou Garcia, é transfor-

mar os planos em ações efetivas e não apenas

numa lista de desejos.

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Taxa anual de

juros básica

Brasil

EE na indústria

(projeção média

anual até 2019)

Taxa anual de

retorno médio de

programas de EE

Programas

industriais de EE

Eficiência Energética no Brasil: Ganhos e Custos Comparados (% e MWh)

Custos em R$/MWh

%

10

5%

10%

15%12

2,6

Economia nos

programas EE

(Lei 9.991/2000)

Energia de

Belo MonteCusto marginal

de expansão do

sistema elétrico

138

100

200

300

400347

77,9799

Fontes: EPE/CNI/PROCEL

2009, um pacote de recuperação econômica que alia a criação

de empregos com a melhora da matriz energética suja e progra-

mas de eficiência energética. Desde sua criação, US$ 8,9 bilhões

foram destinados a programas de racionalização do consumo em

empresas e residencial. O Recovery Act inclui R$ 5 bilhões em

subsídios diretos para financiar a melhoria do isolamento tér-

mico de 377 mil residências, o que reduziu as contas de luz de

cada casa beneficiada pelo programa em mais de US$ 300 anuais,

segundo dados do governo estadunidense.

No Brasil, a ação governamental, apesar de centralizada, é

confusa e calcada em três pilares: os programas de etiquetagem

e selos, o PEE da Aneel e o Proesco que é uma linha de crédito

do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

(BNDES) para financiar projetos das empresas de conservação

de energia por meio de contratos de desempenho.

Em termos financeiros, o mais importante é o PEE que, am-

parado por lei, arrecada cerca de R$ 300 milhões ao ano. No en-

tanto, especialistas do setor – e até da Aneel – são unânimes ao

dizer que o PEE é direcionado à camada errada da população e

tem pouco efeito, pois concentra-se em programas de trocas por

equipamentos mais eficientes – na maioria, itens de linha branca,

como geladeiras – orientados à população de baixa renda. Assim,

pouco sobra para implantar projetos no setor industrial, que con-

some quase metade de toda a energia elétrica do país, e no setor

público, seja no plano federal, estadual ou municipal.

“É um clientelismo muito grande, as pessoas recebem o equipa-

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mento e as empresas distribuidoras de energia aproveitam para

combater furto de energia e expandir suas bases de consumidores”,

avalia Garcia da CNI. “Este dinheiro poderia ser direcionado para

os setores que mais consomem e, no final, nós que pagamos por

estes projetos que são decididos pelas concessionárias”.

Segundo Jannuzzi, quando há uma obrigação de investir o

dinheiro em camadas específicas, as empresas se preocupam

muito mais em gastar o dinheiro para cumprir a legislação do

que buscar os melhores resultados. E mesmo assim não con-

seguem gastar todo o dinheiro, pois o número de famílias

cadastradas na tarifa social é de algumas dezenas de milhares.

“Se este dinheiro fosse aplicado com os critérios certos, seria

bem fácil atingir, em 20 anos, a meta de 10% do PNEf,” calcula

Jannuzzi. Essa opinião é compartilhada por Pompemayer, cujos

cálculos revelam que esse foco inadequado destina 60% dos re-

cursos para eficiência energética a uma camada da população

que consome apenas cerca de 4%.

LINHA BRANCA E BAIXA RENDA“Reconheço que estes programas têm seu valor social, principal-

mente quando aplicado inteligentemente com campanhas edu-

cacionais e de conscientização, já que não adianta trocar a

geladeira ou dar uma lâmpada se as pessoas não são orientadas

a melhorar os padrões de consumo”, explica.

Alguns programas brasileiros aproveitam a entrada da em-

presa nas comunidades pobres para aliar geração de renda, edu-

cação e ganhos ambientais. Pompemayer destaca o programa im-

plementado pela Neoenergia que apoia a criação de oficinas e a

produção de artesanato reutilizando resíduos descartados.

Segundo ele, entretanto, o processo educativo mais ade-

quado deve incluir alguma contrapartida econômica por parte

dos beneficiários, estabelecendo a responsabilidade comparti -

lhada. O executivo da Aneel sugere uma contribuição adicional

feita na própria conta de luz, longamente parcelada até que

pague o equipamento adquirido. Isto também ampliaria os fun-

dos disponíveis para eficiência energética e evitaria casos de

revenda dos equipamentos e lâmpadas fluorescentes compactas

mais caras como registrado pelas pesquisas de Jannuzzi. “No

final, estes programas não foram inteligentes e não resolvem o

problema principal que é a falta de renda”, disse.

ETIQUETAGEM E INOVAÇÃOO Programa Brasileiro de Etiquetagem (PBE) do Instituto Na-

cional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (In-

metro) tem sido mais eficaz. Apesar de estar em fase inicial e

incluir, até agora, menos de 10 equipamentos, a iniciativa do In-

metro vem, desde 2001, estabelecendo exigências de eficiência

cada vez maiores. Hoje, existem níveis mínimos para ares-condi-

cionados, lâmpadas e motores elétricos.

O PBE não deve, contudo, ser confundido com o selo do Pro-

cel (Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica) que

11

ESTIMA-SE QUE O BRASIL TEM POTENCIAL IMEDIATO DE ECONOMIA ENERGÉTICA DE 30%. MAS AS PROJEÇÕES

DO GOVERNO SÃO CONSERVADORAS: 10%

ATÉ 2030

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tem 22 programas de pesquisa de consumo de equipamentos, faz

apenas indicações do nível de consumo de cada produto e é

coordenado pelo MME por intermédio da Eletrobrás.

O governo, diz Alexandre Paes Leme, técnico do PBE, já fez

um cronograma para incluir mais itens que, ao ingressarem no

PBE, deverão ampliar sua eficiência em 10% a cada três ou quatro

anos. “Esta previsibilidade fará com que as empresas planejem a

inovação para atingir as metas”, diz Leme.

Em 2013, micro-ondas e edificações, entre outros itens, pas-

sam a fazer parte do PBE. Em 2014, será a vez dos chuveiros

elétricos. Além disso, o comitê Gestor de Indicadores e Níveis

Eficiência Energética (CGIEE) já encomendou estudos para in-

cluir equipamentos de informática e ventiladores, bem como, a

pedido da CNI, capacitores industriais.

A decisão de dar um período de quatro anos para cada ciclo

não foi aleatória, pois leva em conta os ciclos de inovação nas

diferentes indústrias. É um esforço de inovação para o qual as

empresas deverão se adequar.

A Embraco, maior fabricante de compressores usados em

vários equipamentos incluindo refrigeradores, mantém uma

equipe de 500 pessoas para pesquisa e desenvolvimento dos seus

Revista Sustentabilidade Edição Especial

12

FOCO INADEQUADO: 60% DOS RECURSOS PARAEFICIÊNCIA ENERGÉTICASÃO DESTINADOS A UMA CAMADA DA POPULAÇÃO QUE CONSOME APENAS 4%

Consumo por segmento no Brasil

Fonte: EPE Resenha mensal do mercado de energia elétrica – Julho 2011 (consumo acumulado 12 meses – 423.829GWh)

industrial 43%

residencial 26%

comercial 17%

outros 14%

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13

Fonte: Robert Lamberts – LabEEE – UFSC

Uso final da energia

ComercialResidencial

chuveiro 24%

geladeira 22%

ar condicionado 20%

lâmpadas 14%

tv 9%

freezer 5%

ferro 3%som 3% lava-roupas 0,4%

micro-ondas 0,3%

ar-condicionado 48%

iluminação 23%

equipamentos deescritório 15%

outros 14%

produtos, além de parcerias com a Universidade Federal de

Santa Catarina (UFSC).

“Investimos 3% do faturamento líquido em pesquisa e ino-

vação, independente da conjuntura econômica”, afirma o diretor

de Relações Institucionais de Pesquisa e Desenvolvimento da

Embraco, Guilherme Lima.

Os campos de desenvolvimento dos produtos da Embraco

concentram-se na eficiência energética, mas também focam na

redução de consumo de matérias-primas e a diminuição do uso

de componentes danosos ao meio ambiente.

PROCESSOS INOVADORESInovação de produtos, no entanto, não é tudo. Grande parte dos

ganhos em eficiência requer mais a inovação em sistemas de

manutenção, processos e hábitos.

Um exemplo disso é o setor imobiliário, onde reside um dos

maiores potenciais de contribuição para o aumento da eficiên-

cia energética, principalmente no segmento de edificações já

cons truídas. No mundo inteiro, os imóveis já existentes são res -

ponsáveis por cerca de 40% de todas as emissões CO2. Mesmo

em prédios que têm certificação ambiental, como LEED ou

Aqua, o desempenho energético pode ser menor que o espe -

rado se não for mantido corretamente. Por isso, o Aqua, por

exem plo, já inclui manutenção como quesito. O LEED agora

está introduzindo no Brasil a certificação para operação e

manutenção em prédios existentes.

“A eficiência energética no edifício depois de construído tem

que ser pensada desde a concepção do projeto, contando com

itens como automação e um plano de operação e manutenção”,

explica Rodrigo Cutri, coordenador do programa de eficiência

energética na Fundação Santo André.

Inovar em detalhes simples pode fazer a diferença num plano

de manutenção. Cerca de 80% da sujeira de um edifício entra

pelos pés e, se não for controlada, resulta em custos mais altos

de limpeza dos pisos, carpetes e filtros de ar-condicionado, o que

resulta em maior consumo elétrico. A solução chega a ser banal:

basta colocar um capacho para captar a poeira.

“Não é questão de projeto, mas de falta de controle” diz New-

ton Figueiredo, CEO da consultoria Sustentax que concluiu a

primeira certificação LEED de Operação e Manutenção no Brasil

em um edifício paulista.

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Revista Sustentabilidade Edição Especial

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ISO 50001Além destes selos, o Brasil está começando a implantar a ISO

50001 de eficiência energética, que será representada no Brasil

pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Lançada

em julho de 2011, a certificação vai além dos processos produ-

tivos, inclui edifícios e foi bem recebida pelo mercado que já a

está demandando, principalmente por causa do altos custos da

energia. Como em todas as ISO, para renová-la é preciso sempre

melhorar o desempenho.

“A ISO 50001 oferece padrões internacionais e mostra que se

pode efetivamente economizar dinheiro”, explicou José Cunha, di-

retor de Certificação da consultoria Bureau Veritas Certification.

QUESTÃO DE SOBREVIVÊNCIAUm estudo publicado, em agosto de 2011, pela Federação das

Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) revelou que

o preço da energia para setor industrial brasileiro é 57% mais

alto que a média de 27 países medidos. Enquanto a média

brasileira está em R$ 329,00 por MWh, a média dos países

avaliados é de R$ 215,50.

Isso faz com que empresas naturalmente busquem a efi-

ciência, começando pelas mais eletrointensivas. “É uma

questão de sobrevivência,” explicou Marcelo Massarani, coor-

denador de cursos da Fundação para o Desenvolvimento Tec-

nológico e da Engenharia (FDTE) que foca em educação

continuada, pesquisas e oferece um curso de eficiência ener -

gética. “O setor químico, o de alumínio, papel e celulose e me -

talúrgico estarão na frente por necessidade”.

Entre as micro e pequenas empresas – que consomem 32%

da energia do país, excluindo-se as irregulares – a eficiência

também está em alta, mas por uma questão de legislação e de

crescimento econômico.

“A demanda é devida ao processo natural de intensificação

de carga à medida que as MPE investem em automação e a

ener gia elétrica tem mais peso nos custos”, explicou Ricar-

do Wargas, coordenador do Programa de Eficiência Energética

do Sebrae-RJ.

Além do custo, explica Wargas, as empresas acabam sendo

pressionadas pela população que não aceita mais desperdício e

pela legislação urbana que força evitar sistemas antigos, como,

por exemplo, os que jogam o calor na rua ou geradores a diesel

antigos que soltam fumaça.

“Mostramos que não é só a troca de equipamentos que gera o

resultado. Pensar em todo o processo gera eficiência na produção

em geral. A eficiência energética é uma chave para a me lhora da

eficiência econômica”, diz. k

O PREÇO DA ENERGIA PARA A INDÚSTRIA BRASILEIRA

É 57% MAIS ALTO DO QUE A MÉDIA DE OUTROS 27 PAÍSES

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Page 15: Revista Sustentabilidade

Revista Sustentabilidade Edição Especial

15

Uma crise social, econômica e ambiental sem prece-

dentes se anuncia e ameaça não apenas a hu-

manidade, mas o planeta como um todo. O que nos

empurra para esse beco sem saída do século 21 é nossa forma

perdulária de consumir e utilizar os recursos naturais. Tal con-

clusão vem de um amplo movimento político, empresarial e so-

cial que exige novos hábitos, preceitos, conceitos e padrões de

consumo de matérias-primas – sobretudo, de energia – para

garantir o bem estar socioambiental mundial.

Diante desse quadro, o Brasil atira-se num paradoxo. Afinal,

o surto de crescimento econômico sem precedentes no qual o

país se regala pode ser colocado em cheque na medida em que é

conduzido de forma socioeconomicamente insustentável. Hoje,

95 milhões de brasileiros, quase metade da população do país,

encontram-se na classe média, segmento para onde ascenderam

29 milhões de pessoas entre 2003 e 2009, segundo estudo da

Fundação Getúlio Vargas.

Uma típica representante dessa nova classe emergente

brasileira é a empregada doméstica Andréia Noemi Pereira da

Silva, 31 anos, casada e mãe de uma filha. Residente em Ribeirão

Preto, polo sucroalcooleiro paulista, ela conquistou acesso a

novos bens de consumo antes inacessíveis a sua família: nos úl-

timos três anos, adquiriu um carro, uma motocicleta e um com-

putador com banda larga. “Vou menos ao cabeleireiro, compro

menos roupas e até comida, mas é bom poder se movimentar

com mais liberdade na cidade”, diz, insatisfeita com o transporte

público local, que segundo ela é “caro e lotado”.

ELASTICIDADE ENERGÉTICAA nova condição de Silva revela um mecanismo econômico im-

placável: à medida que aumenta a renda da população, aumenta

também o consumo, principalmente o energético. A geração de

resíduos no Brasil – indicador do nível de consumo da sociedade

É A NOVA FRONTEIRAA renda da população aumenta, eleva-se o consumo e o efeito dominóse estende ao desafio da eficiência energética. Ao lado da tecnologia, a educação é o novo consenso entre especialistas.

Por Alexandre Spatuzza

eficiência energética }

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Page 16: Revista Sustentabilidade

- aumentou de 359 quilos por habitante ao ano em 2009, para

378 quilos em 2010, um acréscimo de 5,3%, segundo dados da As-

sociação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos

Especiais (Abrelpe).

No consumo energético, vemos uma tendência parecida: em

2010 o consumo de eletricidade no país atingiu 419 tWh, um au-

mento de 7,9% em relação aos 388 tWh consumidos em 2009.

Paralelamente, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresceu

7,5% no mesmo período.

Da mesma maneira, o crescimento médio projetado de 5%

do PIB brasileiro até 2020 será acompanhado pelo um aumento

do consumo de eletricidade estimado pela EPE em 4,6%. Ou

seja, para cada ponto percentual de aumento do PIB o consumo

de energia cresce um pouco abaixo de um ponto percentual.

Comparativamente, apesar dos EUA e Europa terem uma in-

tensidade energética – sinônimo de eficiência energética – me -

lhor que o Brasil, o consumo per capita é bem mais alto que o

brasileiro e fica em torno de 14 mil kWh e 8 mil kWh por ano,

respectivamente, segundo dados do Banco Mundial. No Brasil,

este consumo está em 2,2 mil kWh por ano.

Os programas de eficiência energética visam sempre reduzir

a relação entre renda, preço e consumo de energia, conhecida

pelos especialistas como elasticidade energética. Há, no entanto,

dois caminhos para atingir este objetivo, não excludentes: a

educação e a tecnologia.

“Há que se ter um equilíbrio entre estes dois,” disse Máximo

Popermayer da Aneel, que é crítico dos programas de troca pura

e simples de equipamentos para a população de baixa renda. Se-

gundo ele, a Aneel contratará consultores para melhor guiar os

programas de eficiência energética previstos na lei que obriga in-

vestimento de cerca de R$300 milhões por ano.

EDUCAÇÃO“O melhor caminho para a educação e conscientização é mostrar

que é preciso pensar no jeito de consumir e até aliar os progra-

mas com geração de renda e uma contrapartida do consumidor

para ele saber o custo”, diz Popermayer.

A opinião é compartilhada por Ricardo Wargas, supervisor

do Programa de Eficiência Energética do Sebrae-RJ. Ele é

categórico: “o primeiro passo é sempre a conscientização”. War-

gas afirma que o pequeno empresário só investirá em novos

equipamentos mais eficientes quando estiver ciente dos re-

tornos, principalmente os econômicos. “A partir daí o em-

presário começa a ter ganhos em todos os lados, pois começa

pensar mais racionalmente sobre seu processo de produção”, diz.

Rodrigo Cutri, coordenador dos cursos de eficiência ener -

gética na Fundação Santo André, diz considerar a Educação um

fator essencial quando se trata dessa temática. Cutri defende a

que a disciplina deva constar das grades curriculares de cursos

de Arquitetura e Engenharia.

O foco educacional está no centro dos programas de

Revista Sustentabilidade Edição Especial

16

O CRESCIMENTO MÉDIOPROJETADO DE 5%

DO PIB BRASILEIRO ATÉ2020 SERÁ ACOMPANHADO

POR UM AUMENTODE 4,6% NO CONSUMODE ELETRICIDADE

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Page 17: Revista Sustentabilidade

Revista Sustentabilidade Edição Especial

17

CATE - CEPEL

CDEAM - UFAM

CTEC - UFAL

EXCEN - UNIFEI

GEE - PUC / RS

GOSE - Unesp

Green Solar - PUC / MG

INMETRO

INT

IPT

LABAUT - USP

LABEEE - UFSC

LACTEC

LAI - UFMG

LENHS - UFPB

NIPE - Unicamp

NUCAM - Unesp

PEC - UFG

PEE - COPPE

Diagnósticosenergéticos TreinamentoEnsaiosInstituição

Atividades das instituições universitárias e de pesquisa em eficiência energética

Metrologia

••

•••••••

•••

••••

••

••••••

•••••••••••

•••••••

••

••

••

••

Fonte: CNI/PROCEL/Eletrobras

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Revista Sustentabilidade Edição Especial

18

eficiência energética promovidos pelo Governo do Estado de

São Paulo. Arnaldo Neto, coordenador da área de Eficiência

Energética da Secretaria Estadual de Energia de São Paulo, des -

creveu com exclusividade para a Revista Sustentabilidade as

propostas do governo.

“Não precisamos necessariamente de novas tecnologias.

Os novos hábitos têm um grande poder e devem ser baseados

em dois pilares: o primeiro é dar o exemplo e o segundo é

educar”, afirma.

Operando em parceria com as distribuidoras locais (AES

Eletropaulo, CPFL, Bandeirante e Elektro), o programa paulista

tem disponível R$30 milhões ao ano, que inclui a melhoria da

eficiência em prédios públicos, priorizando hospitais e incluindo

escolas estaduais. A meta é, em quatro anos, reduzir o consumo

do estado em 10%.

Entretanto, a viabilidade da principal inovação do programa

está em análise na Aneel: a idéia é usar o dinheiro das dis-

tribuidoras para montar disciplinas de eficiência energética nos

cursos de Mecatrônica, Eletrônica e Edificações nas escolas e

colégios de Ensino Técnico do estado (Etecs e Fatecs).

“Há uma carência de profissionais que entendem de eficiência

energética. A maioria dos alunos está empregada e pode influenciar

suas gerências para melhorar o desempenho energético. Isto é au-

tomático”, disse Neto. Segundo ele, a meta é introduzir a disciplina

em 40 laboratórios nas escolas até o final de 2011 e chegar a 200

em todo estado até 2013.

Os ganhos pragmáticos em eficiência têm outro poderoso

aliado em potencial.

Além de cursos e campanhas de conscientização, governo

também pode propor regulamentos e normatizações que tornem

obrigatórias as ações de eficiência.

“As ações de comando e controle visam obrigar a sociedade

atingir níveis mínimos de eficiência”, lembra Maurício Tol-

masquim, presidente da Empresa de Planejamento Energético

(EPE). O grande exemplo da eficácia destes programas ocorreu

no apagão de 2001-2002. A população foi obrigada a reduzir o

consumo em 20% por meio de multas para os que não atingis-

sem as metas. O resultado: o nível de consumo médio pré-

-apagão só foi alcançado novamente depois de 6 anos.

Tolmasquim frisa, contudo, que para implementar progra-

mas de eficiência energética é preciso mesclar programas obri-

gatórios com incentivos fiscais, o que decorre na troca de

equipamentos perdulários por novos.

As tecnologias já estão disponíveis no mercado, oferecendo

significativos saltos de eficiência anualmente. O desafio é romper

com os comportamentos perdulários de uma época há muito pas-

sada em que a única preocupação com a energia era garantia de

suprimento e preço acessível (Colaborou Marcel Gomes). k

“NÃO PRECISAMOS NECESSARIAMENTE

DE NOVAS TECNOLOGIAS. OS NOVOS HÁBITOS TÊM UM GRANDE PODER”

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Page 19: Revista Sustentabilidade

Revista Sustentabilidade Edição Especial

19artigo }

Aabordagem clássica inicial dos projetos relacionados

com eficiência energética em instalações industriais e

prédios comerciais trata classicamente de ações vincu-

ladas a práticas de retrofit em sistemas de iluminação, análise e

intervenção das instalações de ar-condicionado e outros sistemas,

no caso dos prédios comerciais. Nas industriais, as utilidades

complementam os pontos de intervenção com atenção nos sis-

temas de produção e uso de ar comprimido, calor e frio, bombas

e ventiladores. A análise do processo industrial é outro ponto que

merece consideração, mas as intervenções têm menos peso.

A busca contínua do melhor desempenho dos sistemas e

me lhores indicadores de consumo de energia traz à tona uma inte -

ressante discussão: Teremos limites para imaginar que determi-

nada instalação ou sistema atingiu uma situação adequada?

Claro que não! E a própria recém lançada ISO 50001 cor -

ro bo ra esta conclusão. Os modelos dessa norma, que recomenda

o uso da técnica do “PDCA” inspirada nas normas de qualidade,

sugerem a busca contínua dos melhores indicadores de eficiência

energética, além do compromisso da alta direção da empresas

nestes “propósitos verdes”.

O que nos parece claro é que os conceitos clássicos de projetos

de eficiência energética apontados serão complementados por:

1. Ferramentas de controle e automação, baseadasem inovação tecnológica e novos sistemas de gestão de instalações e utilidades, apoiadas nas informações disponibilizadas e na aplicação do conceito de smart-grid.Os equipamentos instalados deverão ser necessariamente mon-

itorados e controlados remotamente por redes lógicas a eles as-

sociados. Não somente grandes equipamentos com potências

nominais da ordem de centenas de kW (quilowatt), mas simples

reatores aplicados em sistemas de iluminação, ou mesmo os re-

frigeradores de uma padaria.

Considerando-se que equipamentos ligados às redes elétricas

também o são às redes de informação, pode-se obter com abso-

luta precisão sua forma de operação e energia gasta a cada in-

stante, o que subsidiará sua gestão e melhor controle de

operação. E ainda: os controles de operação não serão mais con-

cebidos em combinações binárias (liga-desliga), mas inseridos

no controle do processo, quer em uma operação clássica de in-

versor de frequência em motores nas indústrias e grandes pré-

dios comerciais, quer em reatores eletrônicos “dimerizáveis”, não

só em interiores, mas, por exemplo, em estradas com lâmpadas

acionadas por reatores dotados de recursos para reduzir o fluxo

Novos Projetos de Eficiência Energética Dependerão Necessariamente do Empregode TecnologiaPor Jose Starosta *

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Revista Sustentabilidade Edição Especial

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luminoso na falta de movimento (isso mesmo: dimerização em

lâmpadas de vapor metálico ou sódio), ou ainda nos campos de

futebol nos horários de pré-jogo e intervalos.

Evidentemente outras conveniências de operação podem

estar associadas a processos em que a eficiência energética é

obtida, como o prolongamento da vida de componentes e me -

lhor controle da instalação.

2. Aumento da produtividade, influência da qualidade de energia.De uma vez por todas, a qualidade de energia deve ser conside -

rada como insumo de qualquer processo produtivo. Quando não

consideradas, perdas na produção, devido a paradas não expli-

cadas sem que se entenda ou que se esclareça o que estaria ocor-

rendo, são um mal comum que afeta estas plantas. Paradas de

equipamentos sem claras informações e tomadas de ações cor-

retivas induzem os processos a retrabalhos e perdas exageradas

de energia, além das perdas operacionais. É comum verificar pro-

jetos de incremento de qualidade de energia com aumentos de

produtividade maiores que 20%. Por outro lado, sistemas elétri-

cos adequados às premissas e conceitos usuais das normas de

qualidade de energia têm como característica uma significativa

redução de perdas elétricas.

3. Nova abordagem na especificação de equipamen-tos e instrumentos para as instalações elétricas.A tecnologia disponível em sistemas de monitoração e medi-

dores de variáveis elétricas atuais, onde a tensão de alimen-

tação pode ser acompanhada a cada ciclo na alimentação nos

barramentos em que as cargas são alimentadas, é outra excep-

cional oportunidade para se eliminar os vícios presentes

na alimentação de equipamentos. Monitoração online de dis-

torções, desbalanceamentos e afundamentos de tensão, com

indicação de ações corretivas e principalmente evitando recor-

rências, é uma poderosa ferramenta com alta tecnologia em-

barcada. Tudo isso, sem que os operadores das instalações

abram as portas dos painéis.

A monitoração adequada permitirá, por exemplo, que se

conhe ça com precisão o carregamento de transformadores, per-

das elétricas, perfil de correntes e tensões harmônicas nos bar-

ramentos, presença de ressonâncias, capacitores em sistemas

obsoletos que operam inadequadamente incrementando as per-

das e causando perda da qualidade da energia.

4. Integração de fontes de energia e concessionárias/poder regulador.Fontes renováveis de energia como fotovoltaicas, eólicas e bio-

massa são boas alternativas para alimentação das cargas das

plantas com os sistemas típicos de alimentação pelas conces-

sionárias locais. Geração distribuída, conforme as possibilidades

de cada planta, além da integração aos processos produtivos, é

um caminho possível e muito próximo. A regulamentação da

conexão deve ser concluída em breve, deixando os consumidores

livres para escolher de que forma vão se conectar à rede, inclu-

sive injetando seus excedentes de produção de energia.

Outra discussão deve considerar novos modelos de tarifas de

energia que incentivem o uso de energia em períodos mais ade-

quados às curvas de carga das concessionárias. A discussão do

modelo de cobrança do fator de potência é outro ponto que deve

ser considerado.

5. Green ITUsuários e fabricantes das cargas de tecnologia de informação têm

buscado novas formas de economizar energia em seus processos.

As discussões nos grandes bancos comerciais e da tacenters in-

cluem não somente aspectos de confiabilidade dos equipamentos

e da operação, mas também suas eficiências e a relação de com-

promisso das duas variáveis. Fabricantes de UPS (sistemas inin-

terruptos de energia) que alimentam as cargas de tecnologia de

informação (TI) desenvolvem equipamentos e modos de operação

mais eficientes, associados a componentes mais precisos. É o caso

de sistemas redundantes em que pelo menos um dos sistemas

opera em regime de bypass com redução de perdas.

Outro ponto de discussão é a aplicação dos sistemas de re-

frigeração de ambientes e equipamentos em datacenters. Os

racks que abrigam as cargas TI são submetidos a analises e com-

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portamento térmico com sofisticadas modelagens na busca pela

otimização que inclui também a eficiência energética. Entram

nessa discussão a temperatura de operação e os equipamentos

de precisão de atendimento a essas cargas TI.

6. Aspectos de arquitetura e construção civil.Um importante desafio que vem sendo solucionado nos projetos

atuais é a definição da melhor solução de “casca” ou “envoltório”

das edificações que considera as relações entre os aspectos de in-

solação, melhor uso da iluminação natural, adequação à carga

térmica e outras variáveis relacionadas.

Na Europa estão em execução projetos de aplicação de sofisti-

cados sistemas de automação e controle para, por exemplo, dirigir

a posição das células fotovoltaicas em relação ao Sol ou mesmo

ajustar a posição de “brises” de proteção de fachadas em função

da posição do Sol, adequando-os às necessidades dos interiores.

Janelas com concepção de construção relacionada com o uso

eficiente de energia já são uma realidade: o Empire State em Nova

Iorque já economiza 40% em relação ao sistema anterior. No úl-

timo Congresso Brasileiro de Eficiência Energética, realizado pela

Abesco, nos dias 1 e 2 de junho de 2011, em São Paulo, tivemos

um case de proteção de janelas de um importante hospital com

película adequada, também com resultado impressionante.

7. Normas Técnicas e certificações.Não é mais possível que instalações sejam concebidas sem que

sejam consideradas a eficiência energética e a sustentabilidade.

Muito em breve começaremos a ver as normas técnicas aproxi-

marem-se dessas variáveis. Temas como os materiais aplicados

na construção e manutenção das instalações, descartes dos ma-

teriais – como as lâmpadas que possuem metais pesados – e apli-

cação de mão de obra na manutenção devem ser mais discutidos.

Por outro lado, a disponibilidade de energia pelas conces-

sionárias aos empreendimentos deveria ser regulamentada de

forma a que as edificações procurem por equipamentos mais efi-

cientes logo na aquisição, evitando a compra daqueles que pos-

suem menor custo inicial (preço de compra), porém, com maior

custo operacional. Este tipo de prática é bastante comum quando

o empreendimento não é construído pelo usuário final do imóvel.

Neste aspecto, devem ser desenvolvidos e colocados à disposição

indicadores de edificações relacionados com o uso de energia.

As normas técnicas, procedimentos e recomendações aplicadas

às instalações deverão “correr atrás” daquelas já desenvolvidas no

âmbito de construções sustentáveis, como as publicações do Procel

(etiquetagem de edifícios), ISO 50001 e as normas LEED.

8. Novos modelos de financiamento, nova abordagemfinanceira de projetos e competividade com outrospaíses com destaque para os BRIC.Estão em desenvolvimento no âmbito da Abesco diversas dis-

cussões sobre modelos de financiamento, contratos de perfor -

mance, uso de facilidades de crédito pré-aprovadas e outras

fer ramentas que viabilizem os projetos de retrofit ou mesmo novas

construções em que tecnologias sustentáveis sejam empregadas.

Contudo, caso as tarifas, taxas de financiamento, de impor-

tação e impostos praticados não seguirem na linha de incentivo

a estas praticas, a viabilização financeira de novos projetos será

muito difícil.

Enquanto nossos concorrentes no mundo já fabricam seus

próprios equipamentos e sistemas aplicados ao melhor uso da ener -

gia, nós continuamos pagando valores expressivos para se dar ao

luxo de usar estes equipamentos com alta tecnologia embarcada.

Nossa sociedade merece um modelo mais sustentável de uso

de energia e este não depende somente do governo, mas “tam-

bém” dele. Exemplo disso é o Plano Nacional de Eficiência Ener -

gética (PNEf) do Ministério de Minas e Energia, que está pronto

para ser lançado e certamente será outro importante motivador

para ações de eficiência energética, que já é contemplada nos

planos da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e, por conse-

quência, nos planos do governo federal. k

* Jose Starosta é engenheiro, Master of Science, diretor da Ação En-genharia e Instalações e Presidente da Associação Brasileira das Em-presas de Serviços de Conservação de Energia (Abesco). [email protected]

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Revista Sustentabilidade Edição Especial

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entrevista }

Segundo Hamilton Mossde Souza, diretor do Departamento de Desenvolvimento Energético do Ministériode Minas e Energia(MME) ações educativaspara uma cultura de eficiência energética sãoprioritárias para o país.

EFICIÊNCIA ENERGÉTICA:

Por Eugênio Melloni

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Revista Sustentabilidade Edição Especial

23

Olançamento do derradeiro Plano Nacional de Eficiência

Energética está na cabeça do governo, mas ainda não

está na sua agenda. Apesar do documento preparatório

com premissas e diretrizes básicas que já foi publicado e avalizado

por diversos segmentos da economia, o lançamento do texto final,

que deve definir responsabilidades, focos de diagnóstico e dire-

cionamento de recursos, é ainda um tema em suspenso. Uma das

poucas certezas, por ora, é que o plano deve dar prioridade para

ações educativas sobre consumo energético, segundo indicou

Hamilton Moss de Souza, diretor do Departamento de Desenvolvi-

mento Energético do Ministério de Minas e Energia (MME), em

entrevista à Revista Sustentabilidade.

Revista Sustentabilidade: Em que pé está o trabalho de pro-dução do Plano Nacional de Eficiência Energética? Quando oplano será lançado oficialmente?

Hamilton Moss de Souza: Não posso responder a segunda per-gunta. Isso dependerá de uma série de instâncias, ministérios evários níveis de decisão. Obviamente temos uma data na cabeça,mas não vou dizer. Já aconteceu no passado de termos uma datae acabou complicando. Terminamos uma primeira fase muito im-portante, que foi a elaboração de um documento, o “Plano Na-cional de Eficiência Energética – Premissas e Diretrizes Básicas”,que foi colocado em consulta pública entre o final do ano passadoe começo desse ano. Esse documento recebeu cerca de 90 con-tribuições. Ficamos felizes com o envolvimento da sociedade ecom a receptividade do plano. Várias das contribuições vieram deinstituições do peso de uma Confederação Nacional da Indústria(CNI), de indústrias importantes do país, de associações. Aprimeira fase foi concluída. Incorporamos as modificações e esta-mos montando um grupo de trabalho com representantes decentros de pesquisas, universidades e de entidades, como a Aneel(Agência Nacional de Energia Elétrica), da ANP (Agência Nacionaldo Petróleo) e o Procel (Programa Nacional de Energia Elétrica) daEletrobras. Esse grupo depende apenas da publicação de umaportaria para que comece a trabalhar na elaboração de um plano.Temos as diretrizes básicas, os encaminhamentos, os setores emque faremos diagnósticos. E agora vamos elaborar um plano detrabalho operacional, de duração bianual. Um plano mais efetivo,no sentido de esta belecer recursos e responsabilidades.

RS: É possível o país crescer com redução do consumo de energia?

Souza: É possível, desde que sejam utilizados equipamentos maiseficientes ou que os equipamentos sejam utilizados de forma a se evitar o desperdício. Há situações que envolvem o comporta-mento, a consciência das pessoas. Não é preciso colocar o ar--condicionado na função “gelada” e depois ter de puxar o cobertor.O uso da energia tem vários aspectos: o técnico, de melhoria daeficiência dos equipamentos, e o comportamental, incorporando o combate ao desperdício como um eixo central na vida das pes-soas. É preciso incorporar a questão da energia como parte do dia a dia, assim como se alimentar direito e fazer atividade física,dentro do chamamos de qualidade de vida.

RS: Focar somente na questão comportamental não é insufi-ciente? E a indústria?

Souza: A indústria representa cerca de 47% do consumo de energia no país. Então, é importantíssima. Contudo, trata-se deum setor que busca a eficiência de uma maneira mais intensa. Porisso, colocamos a questão do comportamento. Apesar de o im-pacto ser menor, há nessa frente uma ineficiência maior, onde osganhos podem ser maiores. Mas é importante que sejam atacadastodas as frentes. Não há uma contraposição entre uma coisa eoutra. A eficiência energética é uma questão de conscientizaçãotanto do lado profissional, em que se procura utilizar me lhoresequipamentos, como no lado pessoal, em que se buscará deixar deusar energia quando não for necessário e utilizar me lhor quandofor indispensável. O plano terá todas essas frentes. Haverá umcapítulo para a educação, relacionado tanto com a questão com-portamental, como com treinamentos profissionais. Nos trans-portes podemos, por um lado, melhorar a eficiência dosautomóveis. Por outro lado, quando optamos pelo transportehidroviário ao invés do rodoviário, por exemplo, ocorre um im-pacto muito maior do que quando se trata de motores, que já sãorelativamente eficientes.

RS: Alguns especialistas consideram que há um conflito de in-teresses no fato de as distribuidoras de energia elétrica con-duzirem o programa de eficiência energética da Aneel.

Souza: Pode haver ou não um conflito de interesses. As dis-tribuidoras têm como função vender energia, sim. Mas a energiaque se economiza em um consumidor pode ser vendida para

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Revista Sustentabilidade Edição Especial

outro. A redução do consumo contribui, também, para se adiarinvestimentos. A empresa pode ter uma subestação complicada,instalada em área com alta densidade populacional e de elevadoconsumo energético. Se conseguir economizar energia naquelaregião, poderá investir em outra subestação mais distante, comum investimento menor. Os custos da eficiência energéticamuitas vezes são menores dos que os investimentosnecessários para ampliar o suprimento de energia. Além disso,os grandes consumidores industriais são consumidores livres, ouseja, podem comprar a energia de diferentes concessionárias.Há muitos casos de concessionárias que fazem a fidelização docliente por meio de serviços de eficiência energética. Além disso,há uma série de preocupações ambientais e de regulações a queessas companhias têm de se sujeitar.

RS: Como é hoje a estrutura de fomento à pesquisa em relaçãoà eficiência energética?

Souza: Nós temos uma estrutura de pesquisa no país que é bas-tante importante. Temos algumas universidades, principalmenteas federais e algumas estaduais de porte maior, que já desen-volvem trabalhos de eficiência energética há algum tempo. Naárea de arquitetura, engenharia elétrica ou mecânica há gruposfortes no Brasil que vem trabalhando com tecnologias de eficiên-cia energética também já há algum tempo. Esses grupos se rela-cionam: além de produzirem material próprio – teses de mestradoe de doutorado, laboratórios, criação de infraestrutura paratestes de equipamentos –, contam com forte interação com o ex-terior, o que proporciona uma troca grande de tecnologias. Temosuma estrutura de centros de pesquisas ligados diretamente aoministério, como o Cepel (Centro de Pesquisas de Energia Elétrica)da Eletrobrás e o Cenpes (Centro de Pesquisas) da Petrobras queé um importante centro da área de petróleo e gás natural, masatua também na questão da eficiência energética. Há os fundossetoriais que têm alimentado e melhorado muito a pesquisa tec-nológica no Brasil. Na questão da tecnologia há dois aspectos im-portantes. Há equipamentos que já são muito eficientes e que oganho esperado é pequeno, no que se refere à pesquisa, mas sãopouco utilizados nos processos. Então, é uma pesquisa mais deaplicação desses equipamentos em novos processos, não hágrandes novidades. E na outra ponta, é pensar em tecnologias quetragam soluções e aplicações inovadoras. No geral, podemos dizerque a área de energia é uma área mais conservadora – se com-parada com a informática, que a cada seis meses tudo muda. Mas,

por outro lado, quando eu faço a junção do setor de energia com osetor de informática, com toda essa quantidade de informação circulando por aí, os novos equipamentos e as novas maneiras dese fazer as mesmas coisas – maneiras que a gente nem pensavaque podiam ser feitas – também têm dado frutos na área de eficiência. Você pode fazer sistemas que trocam informações com o usuário, que fazem o controle de processos dentro de suaresidência, que dão indicações de consumo sobre vários equipa-mentos. Essa tecnologia da informação, que a gente pode conjugarpor meio de redes elétricas, tem o nome genérico de smart grid, éuma novidade importante que o Brasil tem trabalhado tanto deforma internacional, quanto nas universidades brasileiras.

RS: O Brasil está atrasado na tarefa de consolidar uma políticavoltada para a eficiência energética?

Souza: Em alguns aspectos, sim. Em outros, não. Não é eficiên-cia energética propriamente dita, mas quando eu pego o setorsucroalcooleiro, por exemplo, o Brasil está 30 anos na frente. Éum setor bastante eficiente. Temos a cogeração de energia, queé utilizada bastante na produção de álcool. É um setor quemovimenta alguns bilhões de reais. É claro que há outros seg-mentos, como o de aquecimento solar. Israel tem 80% a 90%de aquecimento de água utilizando a energia solar. Fazemosainda muito pouco nessa área. Por outro lado, na Indústria, nosúltimos anos, a preocupação aumentou bastante. Acho que éimportante, quando a gente se compara com outros países, ve rificar as especificidades, as diferenças que a gente tem.Quando se questiona, por exemplo, as perdas de energia de até 10% ocorridas no sistema de transmissão do Brasil, é im-portante considerar as dimensões do país. Uma coisa é Portugal,que tem o tamanho de um estado brasileiro. Quando a distânciaaumenta, nos sistemas de transmissão, as perdas são maiores.Muitas vezes, não se trata de um país não ter feito isso ouaquilo. É que houve um atraso em determinados segmentos. Há também a questão cultural. Quando o país passou por umperíodo de energia abundante e barata criou-se uma cultura dedesperdício, de deixar a luz acesa. Isso, no entanto, tem mudadobastante. Aprendemos com o passar do tempo. Volto, aí, para aquestão dos aspectos comportamentais, que me parecem muitoimportantes, a cultura da eficiência. E o importante não é o que você deixou de fazer, mas o que está se propondo a fazer. O importante é olhar o que foi feito e não foi feito e caminhar,evoluir, incorporando o que há de melhor. k

24

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Page 25: Revista Sustentabilidade

Revista Sustentabilidade Edição Especial

25

Revista Sustentabilidade Edição Especial

Apesar do atraso do governo federal brasileiro em

gerenciar a temática de maneira a consolidar uma

cultura de consumo energético mais eficiente no

país, a eficiência energética já é fato em andamento no

Brasil. A Revista Sustentabilidade apresenta três casos

exemplares nos âmbitos industrial, comercial e residencial.

A Basf, gigante química de origem alemã com diversas

fábricas no Brasil, acaba de inaugurar uma nova caldeira

para geração de vapor em sua unidade de Guaratinguetá

(SP). O equipamento, movido a gás natural, é capaz de gerar

até 2,3 megawatts, o equivalente a 25% da demanda de ener -

gia elétrica da companhia.

A caldeira está longe de ser um modelo de sustentabili-

dade, pois não trabalha com uma fonte de energia re -

novável. Isso não impede, contudo, que seja possível, a

partir dela, produzir boas práticas de melhoria da intensi-

dade do consumo energético.

A principal novidade é que os técnicos da Basf, em

parceria com seus colegas da CBC Indústrias Pesadas, de-

senvolveram pré-aquecedores e recuperadores de calor que

permitem o máximo aproveitamento da energia gerada pela

queima do gás natural.

“Com esses instrumentos, os gases liberados para a at-

mosfera após a queima saem com temperatura de 90

graus, bem abaixo os 200 graus de caldeiras tradicionais”,

explica Waldenilson Muniz, gerente de Energia e Utili-

dades da Basf na América do Sul. O desenvolvimento do

novo equipamento exigiu investimentos de € 5milhões

(equivalente a R$ 11,8 milhões) e trará uma redução de 20%

nos custos de energia da empresa.

O ganho, segundo ele, também é ambiental, na medida

em que a mesma energia final é produzida com menor quan-

tidade de energia primária. Muniz afirma que a experiência já

serve de exemplo para outras unidades da Basf no mundo: em

outubro, uma fábrica da companhia na Argentina inaugurará

uma caldeira com inovações testadas e aprovadas em

Guaratinguetá.

AR FRIO, NEGÓCIO QUENTENão é preciso ser uma transnacional bilionária para inovar.

Prova disso é a história da Viva Equipamentos, empresa de

Campinas (SP), mais conhecida por sua inovadora linha de

climatizadores evaporativos. Fundada em 1994, por dois en-

genheiros oriundos da Unicamp, a Viva desenvolve, produz

e instala climatizadores, produto que pode substituir o ar

condicionado em ambientes comerciais com um gasto até

95% menor de energia elétrica.

O funcionamento do equipamento é simples: um

É A ALMA DA EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

Por Marcel Gomes

estudos de casos }

p25-26 cases mat2_revista 25/10/11 15:10 Page 25

Page 26: Revista Sustentabilidade

Revista Sustentabilidade Edição Especial

26

ventilador aspira ar externo, que passa através de um painel

composto por um tipo de filtro, sobre o qual água circula

continuamente movida por uma pequena bomba. A água

que evapora com o ar quente é reposta por ação de uma

boia, que mantém o nível constante no reservatório. Ao sair

do sistema, o ar está até 12 graus mais frio, limpo e úmido.

O climatizador pode ser usado em residências, indús-

trias ou unidades comerciais como farmácias e supermer -

cados, onde o uso de aparelhos de ar condicionado pode

representar entre 25% e 50% dos gastos com energia

elétrica. O custo de instalação também é menor, pois não

é necessário isolar os ambientes – uma obrigatoriedade

no caso do ar condicionado.

Ainda que alguns itens do equipamento sejam impor -

tados, como explica Amanda Melo, que trabalha na área

comercial da empresa, o espírito inovador persiste no de-

senvolvimento de equipamentos sob demanda para aten-

der peculiaridades de cada ambiente.

Também no ramo da refrigeração, uma inovação cria -

da na Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp

aguarda interessados na indústria ou entre conces-

sionárias de energia para chegar ao consumidor final. O

engenheiro e doutorando peruano Mirko Chaves Gutiér-

rez criou um equipamento batizado como “kit geladeira”

durante suas pesquisas para o mestrado.

Junto ao professor orientador Vivaldo Silveira Júnior,

Gutiérrez introduziu o princípio da condensação evapora-

tiva à geladeira residencial. Isso significa que, além de ar, o

sistema utiliza também a água para dissipar o calor na parte

de trás do equipamento. O kit é formado por um reser-

vatório que usa uma pequena bomba para pingar água no

tubo e fazer o líquido circular. Como a bomba fica ligada

ao compressor, o sistema funciona em conjunto com a

geladeira, desligando quando o motor está parado.

Com mais eficiência na dissipação de calor, o refrige -

rador com o kit passa a gastar 15% menos energia do que os

modelos convencionais, o que representaria uma economia

de pelo menos R$ 25 mensais na conta de luz.

Gutiérrez se preocupou em criar um modelo prático de

montar, que pode ser instalado sem auxílio de assistência

técnica. O usuário teria apenas de verificar periodicamente

o nível de água do reservatório e colocar algumas gotas de

cloro para evitar a proliferação de micro-organismos.

O registro da patente do “kit geladeira” saiu há apenas

dois meses e é dividido entre o estudante, o orientador e

a universidade. “Agora estamos mais tranquilos para

procurar empresas interessadas em investir e massificar

o produto”, diz Gutiérrez. k

Movida a gás natural, a nova caldeira para geraçãode vapor da Basf em Guaratinguetá reduzirá em20% os custos de energia da empresa

Divulga

ção/Ba

sf

p25-26 cases mat2_revista 25/10/11 15:10 Page 26

Page 27: Revista Sustentabilidade

Revista Sustentabilidade Edição Especial

27

No futuro, trocaremos o transporte individual

pelo coletivo? Esta simples decisão reduziria

as emissões pessoais de CO2 para cerca de um

quinto do valor. Hoje, isto é impensável, pois a lógica

atual é: se a renda melhora, o indivíduo não só compra

um carro, mas também televisores, computadores, celu-

lares, DVDs, geladeiras etc.

No Brasil, cada cidadão consome em média, por ano,

2,2 mil quilowatts-hora (kWh) de eletricidade e 150 litros

de gasolina. Em comparação, um americano consome 14

mil kWh e 1,2 mil litros por ano. Chegaremos lá se não

fizermos nada. Mas hoje, este padrão de consumo sus-

cita questões importantes: podemos suportar isso e tere -

mos fontes energéticas suficientes? Uma resposta já está

clara: é inexorável a necessidade de melhorar de vida

consumindo menos.

Entretanto, estamos longe disso. Mesmo que o governo

brasileiro tenha uma meta de redução de emissões de gases

efeito estufa de 38,9% do que seria emitido até 2020, os

planos energéticos ainda preveem um aumento no con-

sumo per capita, mesmo levando em conta os ganhos ‘na -

turais’ de eficiência dos equipamentos.

No Plano Decenal Energético em 2020 teremos quase

duas televisões por domicílio, todos os lares terão

geladeiras, 74% dos brasileiros terão máquinas de lavar

roupas e as casas serão iluminadas com 1% a mais de lâm-

padas em média. Para atender a toda esta demanda, está

previsto um aumento de 48% no consumo de eletricidade

no mesmo período.

Existirão ainda 50 milhões de carros circulando no Brasil

(um aumento de 66% dos atuai 30 milhões). No final, se-

gundo as projeções do governo, em 2020 consumiremos 11%

mais gás natural, 16% mais óleo diesel, 4,5% mais gasolina e

1,6% mais querosene, para destacar as principais fontes. No

plano 2020, para um aumento anual médio de renda de

4,3%, o consumo final de energia deverá crescer 5,3%.

A ROTA DE COLISÃO?A saída para o mundo escapar do desastre da escalada energéticaestá em novos padrões de consumo, políticas públicas focadas einvestimento pesado em pesquisa e desenvolvimento

Por Marcel Gomes

perspectiva }

p27-28 futuro mat3_revista 24/10/11 16:03 Page 27

Page 28: Revista Sustentabilidade

Revista Sustentabilidade Edição Especial

28

ALTERNATIVAS ENERGÉTICASMas não precisa ser assim. No início de 2011, a ONG am-

bientalista WWF, em parceria com a consultoria Ecofys,

divulgou uma pesquisa que mostra que é possível diminuir

o consumo de energia. Segundo o estudo, a incorporação

de inovação, modernização das redes elétricas e equipa-

mentos mais eficientes poderão levar a um consumo ener -

gético mundial em 2050 15% menor que em 2005. No final,

conclui o estudo, isso gerará uma economia acumulada de

4 trilhões de euros em gastos com energia. O primeiro

passo é investir.

A meta estipulada pela pesquisa é diminuir as emis-

sões de carbono em cerca de 80% até 2050, mantendo o

aquecimento do planeta abaixo dos 2 graus. Para atingir

isso, seria necessário alterar uma série de orientações vi-

gentes nas políticas públicas, na produção das empresas

e no consumo das famílias, com o incentivo às formas

renováveis de energia, à reciclagem de materiais e ao uso

de transporte coletivo.

Carlos Rittl, coordenador do programa de Mudanças

Climáticas e Energia do WWF no Brasil, diz acreditar que

o Brasil poderia contribuir com esse “projeto global” por

meio de seu potencial para a bioenergia, desde que

critérios rigorosos de sustentabilidade fossem seguidos. Ele

aponta, porém, que o país precisa investir mais em ino-

vação. “Temos oportunidades de diversificação de nossas

fontes, com mais investimentos eficiência energética e em

energias renováveis modernas”, afirma. O ambientalista é

reticente sobre as vantagens que a exploração da camada

pré-sal trará ao Brasil. Para ele, os custos das energias re -

nováveis estão em queda, o que as torna mais competitivas

em relação aos derivados de petróleo.

O estudo também mostrou que as mudanças neces -

sitarão de investimentos de 170 bilhões de euros em

pesquisa e desenvolvimento até 2050 por meio de sistemas

colaborativos entre indústria e governos nacionais.

“Não quer dizer que vai ser fácil”, diz Mano Janssen,

pre sidente da Ecofys. “As políticas públicas atuais são clara-

mente insuficientes. Mas precisamos perceber que neces-

sitamos agir para garantir os benefícios no futuro. E o

papel das empresas é primordial neste processo”.

O foco, no entanto, é reorganizar nossas cidades e as

cadeias produtivas. Entre uma das propostas do estudo

da Eofys está a reforma de 2 a 3% de toda a área cons -

truída no mundo para tornar os edifícios menos per-

dulários, o que significa um investimento pesado. Para

os países em desenvolvimento o caminho é impor bar-

reiras aos produtos ineficientes, mas, sobretudo, pensar

mais sobre como agimos sem levar em conta a importân-

cia das políticas públicas.

“Consciência e ganho de mercado são fatores impor-

tantes mas, na nossa experiência, a legislação e as políticas

públicas alinhadas são os principais fatores para mudanças

no mundo empresarial”, lembra Wal Flor, sócia da consul-

toria paulista Lynx que implementa programas socioam-

bientais em grandes empresas de segmentos diversos. k

p27-28 futuro mat3_revista 24/10/11 16:03 Page 28

Page 29: Revista Sustentabilidade

Revista Sustentabilidade Edição Especial

29{ artigo

Aexpressão Eficiência Energética é um termo guarda-

-chuva, que abriga sob si todas as facetas do uso

racional e eficiente de recursos energéticos. Como

veremos a seguir, todas elas são relevantes para a chamada

economia de baixo carbono.

Uma vez que, dentro de uma perspectiva de ciclo de vida

completo, mesmo a produção de energia a partir de fontes re -

nováveis pode apresentar emissões de carbono em suas fases

de construção e desativação (ao fim da vida útil da planta ge -

radora/produtora), a melhor alternativa para suprimento de

demandas energéticas, quando se pensa em termos de minimiza-

ção das emissões de carbono, é a disponibilização de energia a

partir da redução do consumo necessário para a realização de

cada atividade humana consumidora de energia.

O desenvolvimento de tecnologias de eficiência energética,

tecnologias voltadas à obtenção de produtos ou processos pro-

dutivos que oferecem mais produtos ou serviços por unidade de

insumo energético consumido, é uma rota importante para essa

disponibilização de insumos energéticos.

Além da redução do consumo de insumos energéticos na

economia como um todo, os investimentos no desenvolvimento

de tal tipo de tecnologia podem trazer avanços para a ciência e a

tecnologia do país, já que a obtenção de processos e produtos mais

eficientes energeticamente, passa também pelo desenvolvimento

de novos materiais e técnicas, tais como cerâmicas resistentes a

temperaturas extremas e bombas de calor de alta eficiência.

Para o caso nacional, o papel destes desenvolvimentos tec-

nológicos é ainda mais importante. Primeiro pelo potencial de

catálise de desenvolvimento tecnológico decorrente da busca e apri -

moramento destes novos processos e materiais e, segundo, para re-

verter a tendência de carbonização da nossa matriz energética.

Observando-se a tendência dos últimos leilões de energia

elétrica e o crescimento da quantidade de veículos automotores

no Brasil, bem como nossa opção histórica preferencial pelo

transporte de cargas e passageiros do tipo terrestre rodoviário,

observa-se uma nítida tendência ao incremento proporcional,

ao longo do tempo, de fontes energéticas fortemente emissoras

de carbono em nossa matriz.

Há dois meios de se reverter tal tendência. Uma é o aumento

da participação de fontes limpas ou renováveis na matriz ener -

gética por aumento da disponibilidade de tais fontes, outra é a

redução dos consumos energéticos, acompanhada pela prioriza-

ção ao uso das fontes renováveis para o atendimento das neces-

sidades energéticas assim reduzidas.

Mesmo que o aumento puro e simples da disponibilidade de

fontes de energia limpa venha a se tornar uma alternativa eco-

nomicamente viável no Brasil, a disponibilização e disseminação

de tecnologias de uso racional e eficiente de energia é um curso

de ação do tipo “sem arrependimento” para reverter essa car-

bonização de nossa matriz energética. Isso por que, mesmo que

não importasse reduzir as emissões de carbono da economia na-

cional, ainda haveria os benefícios à economia (menos consumos

energéticos para uma mesma produtividade industrial resultam

em maior competitividade da indústria nacional) e ao parque

técnico-científico nacional. k

* Sizenando Silveira Alves é doutorando do curso de Engenharia Elétrica da Escola Politécnica da USP.

* Marco Antonio Saidel é professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) onde coordena o Programa para Uso Eficiente de Energia.

O papel das tecnologias de eficiência energética naeconomia de baixo carbonoPor Sizenando Silveira Alves e Marco Antonio Saidel *

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Page 30: Revista Sustentabilidade

Revista Sustentabilidade Edição Especial

30

reciclagemartigo }

William Blake ficou famoso por dizer que “energia é

o deleite eterno”, mas desde os anos 1970 muita

coisa mudou no cenário energético do mundo.

Geopolítica, comércio, preços, interesses outros que se atrelam

a este mais imediato e uma barafunda de coisas que não vale à

pena mencionar. Primeiro foi a Conferência de Estocolmo, fa-

lando de recursos naturais e desenvolvimento. Depois vieram os

choques do petróleo, a Comissão Brundtland, a Rio’92, a Con-

venção do Clima e o Protocolo de Quioto (PQ). A grande coisa

que você precisa saber é que sustentabilidade não é a moda da

vez, veio para ficar e que este movimento vem ganhando força e

velocidade com o tempo.

Vejamos; o Proálcool surgiu como resposta ao aumento dos

preços do petróleo. Seguiu uma lógica simplista de mercado nos

anos 1990 e por pouco o etanol não desaparece dos postos de

combustível. Com o PQ uma lógica de negócios, de mercado, foi

atrelada às necessidades de buscar por energia e energéticos al-

ternativos. A redução de emissões de gases estufa foi o mote, mas

o que embala esse movimento é, de fato, a busca pela redução

de custos. O petróleo está sendo negociado a pouco mais de USD

98,00 o barril; custa USD 30,00 para ser produzido. Note que há

especulação no mercado de energia e falaremos disso adiante.

As primeiras iniciativas foram no sentido de buscar tecnolo-

gias que otimizassem o consumo dos energéticos atuais. Ou seja,

continuamos queimando petróleo, gás e carvão, só que de um

jeito mais eficiente. Não funciona. Para efeitos de aquecimento

global o que funciona é parar de emitir; todo esse carbono estava

fora da biologia do nosso planeta há milhares de anos; não

cabem no metabolismo atual deste mesmo planeta. Em seguida

vieram os teóricos que defendem que equipamentos mais efi-

cientes é que fazem a diferença. De fato, isso ajuda muito, espe-

cialmente se olhamos os EUA, altamente ineficientes na

produção, distribuição e consumo de energia.

Além desses, tivemos também de aguentar loucos de plantão,

feito o Björn Lomborg, que não entende nada de clima e que con-

segue fazer com que um bando de gente preste atenção nele. Atra-

palha muito as donas de casa, oferece o amparo pseudo científico

que os queimadores de energéticos fósseis querem e tudo parece

ficar bem. Entretanto, há um grupo de pessoas que vem seria -

mente olhando a questão energética. Disso independe o que saia

da COP 17. Aliás, acredito que não sai nada dessa COP. Gostaria

muito de levar um susto, mas sinto que isso não vá acontecer.

É fato que as lógicas econômica e de mercado precisam

mudar. Muito. Mas como isso também não vai acontecer nos

próximos seis meses, o melhor que podemos fazer nesse mo-

mento é usar o que temos para tentar produzir as mudanças que

precisamos. Foi com esse ferramental que levamos questões im-

portantes relacionadas ao desenvolvimento sustentável à pauta

das grandes corporações; energia é uma dessas questões. Con-

tudo, ainda temos questões relacionadas à redução de custos

muito presentes, em que pese a percepção de que na verdade pre-

cisamos de energia e energéticos que além de alternativos sejam

Energia: o que muda coma Convenção do Clima?

Por Antonio Lombardi *

p30-31 artigo 3_revista 24/10/11 16:04 Page 30

Page 31: Revista Sustentabilidade

renováveis. Não basta que tenhamos uma nova fonte de energia.

Deve ser renovável e especialmente replicável em larga escala.

Os preços já foram um fator crítico para a viabilização de

muitos projetos. Hoje, no entanto, embora poucos ousem admi-

tir os riscos políticos relacionados aos principais produtores de

petróleo, os mesmos são compensados junto com os preços pela

independência energética advinda de projetos inovadores. Na

lógica dessa equação o preço passa a ser apenas mais um fator e

não é o mais importante.

O brent ainda garante bons lucros, numa lógica especulativa

de mercado que deve prevalecer por mais alguns anos. Quando

as indústrias cansarem de ser governadas pelo mercado finan-

ceiro e essa mesma lógica especulativa perversa (ainda há em-

presas que expressam em seus balanços lucros financeiros

maiores que os operacionais), deverão reassumir seu papel no

comando dos negócios e, assim, o que faz sentido para o cidadão,

para o consumidor em última análise, passará a fazer sentido

para os tomadores de decisão das corporações.

Com isso não apenas energia limpa, mas outros produtos igual-

mente relacionados de modo direto com a sustentabilidade ga -

nharão força. Dificilmente as pessoas abrirão mão de seu bem estar,

especialmente num país como o Brasil, onde a maior parte da po -

pulação começa a entender e a consumir as “benesses” do capita -

lismo. Não é justo e nem moralmente correto querer impedir o

consumo, mas é mandatório colaborar para que o consumo de se

dê em bases amigáveis ao meio ambiente e às futuras gerações.

Por isso, não acredito que grandes mudanças venham desta

COP, apesar de muita coisa ter acontecido graças ao que se de-

bateu nelas. Acredito que o mercado deve assumir, de uma vez

por todas, seu papel na produção de bens que levem em conta

os recursos naturais de que dependem. Com a energia, mãe de

todos os recursos, não deve ser diferente. Afinal de contas, nos

damos conta cada dia mais de nossas limitações e finitudes. k

* Antonio Lombardi é sócio do Sustainable Hub, consultoria e assessoria em estratégia e sustentabilidade. [email protected]

p30-31 artigo 3_revista 24/10/11 16:04 Page 31

Page 32: Revista Sustentabilidade

Revista Sustentabilidade Edição Especial

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Asmart grid, rede inteligente de distribuição de energia

elétrica, está prestes a sair do papel e começar a existir na

prática em terras brasileiras. A Agência Nacional de Ener -

gia Elétrica (Aneel) se prepara para divulgar, em outubro de 2011,

uma resolução normativa que estabelecerá os requisitos mínimos

para os novos medidores eletrônicos inteligentes, os componentes

básicos do smart grid. Enquanto isso, empresas de distribuição de

energia elétrica e de telecomunicações investem em pesquisas para

o desenvolvimento de tecnologias que dêem conta do volume de

informação que será gerado com as redes inteligentes e a geração

distribuída. Mas uma dúvida ainda paira no ar: ninguém ainda sabe

quem vai pagar a conta por essas inovações.

A substituição dos antigos “relógios” pelos smart meters está

prevista para começar em 2012, segundo informações da Aneel.

Num período de 10 anos, 63 milhões de novos medidores serão

instalados nas unidades consumidoras brasileiras – residências,

estabelecimentos comerciais, consumidores rurais, serviços públi-

cos e pequenas indústrias – conectadas à rede de baixa tensão.

Além de registrar o consumo de energia, esses medidores

funcionam como centrais de comunicação interativa entre a dis-

tribuidora e o consumidor que, no novo modelo, passa a ser

dublê de gerador.

Com a rede inteligente é possível haver geração distribuída.

Ou seja, além de consumir, os usuários ficam aptos a fornecer

À BRASILEIRAPaís se prepara tecnologicamente para ingressardefinitivamente, em 2012, na era da geração distribuída e da rede elétrica inteligente

Por Eugênio Melloni

geração distribuída }

p32-36 smart grids materia4 B_revista 25/10/11 16:06 Page 32

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Revista Sustentabilidade Edição Especial

33

energia para o sistema, se eles também forem geradores. E isso

não é privilégio do Comércio ou da Indústria. A nova rede torna

viável a inserção de geradores residenciais no sistema elétrico,

de forma ágil e eficiente.

O usuário poderá receber informações sobre os preços da

eletricidade associados ao seu consumo, o que favorece a utiliza-

ção mais eficiente da energia elétrica e a desconcentração do uso

em horários de pico.

Para as distribuidoras, o novo sistema permitirá, por exem-

plo, a obtenção de informações mais precisas sobre o consumo,

tornando mais eficientes seus investimentos em ampliação e

modernização da rede.

Segundo Ricardo Savoya, da consultoria Andrade & Canellas,

a implantação das redes inteligentes ocorrerá em dois momen-

tos. Primeiro, troca-se os medidores eletrônicos o que permite

uma maior eficiência no monitoramento do consumo e a corres -

pondente redução de custos para as distribuidoras. “Em um se-

gundo momento, com a introdução de mudanças regulatórias

mais efetivas, um novo modelo de tarifação pode contribuir para

diluir o consumo de energia no horário de pico”, diz.

Banco de

Imagen

s

As empresas de distribuição de energia elétrica pesquisam o desenvolvimento de tecnologias para gerenciar o grande volumede informação gerado com as redes inteligentes

p32-36 smart grids materia4 B_revista 25/10/11 16:06 Page 33

Page 34: Revista Sustentabilidade

Revista Sustentabilidade Edição Especial

34

Para os especialistas, a redução do consumo no horário

de pico contribuirá principalmente com a diminuição da

neces sidade de investimentos em ampliação da capacidade do

sistema de geração que é projetado justamente para dar conta

da demanda entre as 17 e 20 horas. “Será possível estabelecer

políticas que permitam a redução da demanda e que aprofunde

o uso eficiente da rede existente”, diz Virginia Parente, professora

do Programa de Energia da Universidade de São Paulo (USP).

PROSUMIDORAlém dos medidores, segundo a Aneel, as redes inteligentes serão

compostas por sensores espalhados na rede elétrica que permi-

tirão integrar fontes renováveis de energia ao sistema. Com isso,

pequenos geradores residenciais à base de fontes renováveis,

como eólica e solar, podem fornecer energia ao sistema quando

o consumo das residências estiver baixo. A demanda no sistema

de distribuição é reduzida e, ao mesmo tempo, são introduzidas

fontes mais limpas de energia.

“A energia poderá passar a ser gerada e integrada ao sistema

a partir de unidades tradicionalmente consumidoras, criando-

-se um novo player no mercado, o prosumidor”, afirma Daniel

Senna Guimarães, gestor do projeto Cidades do Futuro da Com-

panhia Energética de Minas Gerais (Cemig). Segundo Senna,

além de poder controlar mais seu consumo e custos com a conta

de luz, o usuário poderá promover a automação residencial, in-

terligando os aparelhos domésticos ao sistema elétrico. “O re-

sultado esperado é um sistema elétrico mais seguro e confiável,

que dê à concessionária maior eficiência operacional e propor-

cione uma abordagem de gestão mais centrada no cliente e com

PROCESSAMENTO DE DADOS É O FOCO DA PESQUISA BRASILEIRA

Um dos blocos de pesquisas com o objetivo de orientar essa

transição – o de Telecomunicações, Tecnologia da Infor-

mação e Interoperabilidade – está sendo conduzido pelo

CPqD (Centro de Pesquisa e Desenvolvimento).

As pesquisas do CPqD – instituição focada na inovação

para Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) –

estão sendo realizadas sob encomenda da Associação

Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee) e

da Associação de Empresas Proprietárias de Infraestrutura

e de Sistemas Privados de Telecomunicações (Aptel).

“O projeto da smart grid precisa de uma contextualiza-

ção local”, diz o coordenador do Grupo Smart Grid no CPqD,

Luiz José Hernandes Júnior, referindo-se às iniciativas rela-

cionadas com a implantação de redes inteligentes nos Esta-

dos Unidos e na Europa.

Segundo Hernandes, o Brasil conta com características

mercadológicas e geoelétricas diferenciadas. Ele lembra

que o sistema elétrico no país conta com pouca rede sub-

terrânea de energia, diferentemente do que ocorre em

outros países. Outra diferença é o fato de os chuveiros,

aparelhos que lide ram o consumo de eletricidade nas

residências brasileiras, serem elétricos em sua maioria.

“Temos também um consumo per capita cinco a dez vezes

menor que nos EUA”, diz.

Os medidores eletrônicos, de acordo com Hernandes,

passarão a tornar disponível uma quantidade enorme de in-

formações sobre a rede elétrica. Um dos desafios será criar

arquiteturas de comunicação necessárias para conferir ca-

pacidade de análise e suporte para decisões a serem

tomadas pelas distribuidoras com base nessas informações.

p32-36 smart grids materia4 B_revista 25/10/11 16:06 Page 34

Page 35: Revista Sustentabilidade

Revista Sustentabilidade Edição Especial

35

Oprocesso de implantação dos smarts grids no Brasil

deverá envolver investimentos de mais de R$ 60 bi -

lhões, de acordo com estimativas da Associação

Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee). O cál-

culo envolve desde a troca, em todo o país, dos atuais medidores

de consumo por modelos eletrônicos, até projetos de automação

das redes elétricas das concessionárias, informa o presidente da

Abradee, Nélson Fonseca Leite. “A EDP desenvolveu, em Portugal,

um projeto-piloto de smart grid que identificou a necessidade de

aportes de R$ 1 mil para cada ponto de consumo”, diz Leite.

Segundo ele, o desenvolvimento de projetos de smart grids

no Brasil ainda depende de uma série de definições, no que se

refere a políticas públicas. “Para as distribuidoras, ainda é incerto

como as empresas vão capturar valor implementando as redes

inteligentes. Temos de fazer um modelo de negócios e, para isso,

dependemos do modelo regulatório a ser adotado”, diz o execu-

tivo. “Precisamos saber quem irá pagar a conta”, destaca ele.

Procurada pela Revista Sustentabilidade, a Aneel não comen-

tou o assunto e limitou-se a enviar um material de divulgação

pouco esclarecedor sobre os custos de implantação do projeto.

“A Aneel, em parceria com o Ministério de Minas e Energia,

avaliará os custos e benefícios decorrentes da adoção dessa nova

tecnologia. A expectativa é que os custos de uma eventual subs -

tituição dos medidores sejam compensados pelos ganhos advin-

dos da implantação das redes inteligentes, com destaque

para a redução dos custos de operação, redução de perdas e

QUEM PAGA A CONTA?

A Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) gerencia em SeteLagoas/MG um dos primeiros projetos pilotos de smart grid do país

Divulgação/Ce

migmaior qualidade de serviço”, acrescenta Senna.

Carlos Roberto Silvestrin, vice-presidente executivo da

Associa ção da Indústria de Cogeração de Energia (Cogen),

considera que as redes inteligentes contribuirão para que

sejam mobilizados blocos de geração distribuída, consti-

tuídos por usinas eólicas ou movidas à biomassa, de acordo

com as necessidades do sistema elétrico.

“Esses blocos podem ser ativados se houver uma maior

necessidade de energia elétrica em São Paulo, por exem-

plo, onde é grande a presença de usinas de cogeração de

energia com o uso do bagaço da cana-de-açúcar”, diz ele.

Com a instalação dos medidores eletrônicos, será

definido um plano nacional visando a migração gradativa

do setor elétrico para o conceito de redes inteligentes.

p32-36 smart grids materia4 B_revista 25/10/11 16:06 Page 35

Page 36: Revista Sustentabilidade

Revista Sustentabilidade Edição Especial

36

ma nutenção das redes de distribuição e o aumento da eficiência

no consumo de energia elétrica”, dizia o comunicado da asses-

soria de imprensa da agência.

O segmento das distribuidoras, por sua vez, sinaliza como a

conta será dividida. “Esta é uma situação em que os usuários e

as empresas do setor vão ser beneficiados. Então, nada mais

justo que se atribua parte dos custos a eles”, diz Leite. O presi-

dente da Abradee argumenta que o país, com destaque para o

meio ambiente, será beneficiado pelas redes inteligentes. “Isso

gera negócios, promove o crescimento da economia. Então,

nada mais justo que o governo estabeleça uma política de incen-

tivos para essa área”, afirmou.

O consultor Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infra Es-

trutura (CBIE), frisa que no modelo regulatório brasileiro “ou os

custos recaem sobre o consumidor ou sobre o contribuinte, que

são a mesma coisa”. Segundo Pires, a expectativa é que, se hou-

ver o repasse dos custos para a população, isso ocorrerá de forma

bastante parcelada.

As redes inteligentes estão chegando com grande atraso no

Brasil, em relação ao nível de desenvolvimento tecnológico osten-

tado por outros países nessa área, diz Pires. “Na Inglaterra, por

exem plo, o consumidor adquire cartões pré-pagos de distribuido-

ras de energia, como ocorre aqui com os celulares”, afirma.

Segundo ele, o atraso ocorrido nessa área decorre de uma

visão governamental excessivamente focada na ideia de evitar

um novo apagão, que teria predominado na gestão de Luiz Iná-

cio Lula da Silva, ainda se manifesta no governo de Dilma

Roussef. “Os governos do PT esqueceram de criar políticas pú -

bli cas que resultassem na modernização da distribuição e da

transmissão de energia”, diz ele.

O presidente da Abradee afirma, contudo, que “nem sem-

pre o que chega por último está em situação pior”. Segundo

Leite, na Itália, onde a implantação das redes inteligentes en-

volveu a troca de 32 milhões de medidores, o processo não

obteve os resultados esperados. “Estamos fazendo a prospecção

do estado da arte de outros processos de implantação de smart

grids com o objetivo de evitar que se repitam, no Brasil, erros

ocorridos em outros países.

A Abradee está coordenando um dos principais projetos de

pesquisas envolvendo smart grids no Brasil. O projeto de R$ 8

milhões, por ora, é bancado pelos participantes: envolve 37 em-

presas do setor elétrico – 33 distribuidoras e 4 geradoras –, seis

entidades de pesquisa (incluindo a Fundação Getúlio Vargas e o

CPqD) e mobilizará 108 profissionais.

Segundo Leite, a empreitada foi concebida para durar 8

meses, deverá sofrer um atraso de um mês e, portanto, ser fina -

lizada em outubro de 2011. “Trata-se do maior projeto de

pesquisas destinadas a dar suporte à migração para um ambiente

de redes inteligentes no Brasil”, diz Leite. Segundo ele, as

pesquisas foram divididas em sete blocos, entre os quais estão

Automação de Redes, Geração e Distribuição, TI, Políticas Públi-

cas e Regulação. k

AS REDES INTELIGENTESESTÃO CHEGANDO AO BRASIL

COM GRANDE ATRASO PRINCIPALMENTE POR CAUSA

DO FOCO EXCESSIVO DO GOVERNO EM EVITAR APAGÃO

p32-36 smart grids materia4 B_revista 25/10/11 16:06 Page 36

Page 37: Revista Sustentabilidade

Revista Sustentabilidade Edição Especial

37{ artigo

Eficiência faz sentido em cenários de restrição. Enquanto

aos governos, eventualmente, faltam recursos para a

geração de energia, os impactos ambientais e sociais da

criação de novas usinas também podem ser restritivos.

A emissões de carbono e poluição do ar são fatores limita-

dores das termelétricas. As hidrelétricas causam alagamentos e

desvio de cursos de água, perda de biodiversidade, migração de

moradores e emissões de metano pela biomassa submersa. As

nucleares oferecem riscos de contaminação no ciclo de vida do

combustível radioativo. Usinas eólicas trazem poluição visual.

As solares , o uso e sombreamento de áreas agriculturáveis.

Portanto, não há energia limpa. Sua geração e uso afetam as

condições de sustentabilidade (veja www.thenaturalstep.org),

referentes à extração de substâncias naturais, às emissões de

subs tâncias sintéticas, à destruição física da natureza e à capaci-

dade das pessoas satisfazerem suas necessidades.

Aos cidadãos pode igualmente faltar recursos, o que inibe

a compra de equipamentos eficientes. Devido às condições na -

turais restritivas, a Califórnia é exemplo de limites legais para

equipamentos energívoros, desde os anos 70, e exerceu in-

fluência mundial.

Nutrimos uma visão de uso irrestrito de recursos naturais,

mesmo com a população mundial crescente. Apesar disso, o Brasil

conta com os selos Procel e Conpet, que distinguem os produtos

mais eficientes, e o Programa de Etiquetagem do Inmetro, um dos

mais abrangentes do mundo: desde 1984 informa a eficiência de

40 categorias de produtos, de fogões a coletores solares.

Energia é vitalidade. Associamos energia à própria vida, mas

nem sempre atentamos a seus custos ambientais e sociais.

Somos seres que se alimentam de energia, principalmente solar.

Assim, deveríamos compreender melhor a importância da efi-

ciência energética, e também suas limitações: se de 1 watt uso 1

watt, a eficiência é igual a 1, independentemente de como essa

potência foi obtida.

Outros conceitos importantes para a sustentabilidade são a

exergia, que quantifica o potencial de uso de energia, e a emergia,

que é a energia investida pelo ecossistema para um produto ou

serviço. Esses termos são ainda mal conhecidos. Se devidamente

aplicados, nossa civilização não queimaria combustível fóssil a

1000 ºC para aquecer água de banho a 38 ºC. Entretanto, esse

processo pode ser eficiente...

O chuveiro elétrico, por exemplo, é eficiente, mas sobrecar-

rega o sistema. Na Suécia, a maior parte das residências são

equipadas com bombas de calor, que levam calor do ambiente

para o reservatório de água, com eficiência até três vezes superior

à de um chuveiro elétrico. Apesar do seu sucesso na Europa e

Japão e do pleno domínio dessa tecnologia, esse tipo de equipa-

mento é praticamente desconhecido no Brasil.

Eficiência energética é forte indutora de inovação e compe -

titividade. Não há energia de menor custo do que a que dei -

xamos de utilizar graças ao uso de equipamentos mais eficientes.

Entretanto, é necessário considerar a origem dessa energia e o

quanto ela é sustentável. k

* Paulo Vodianitskaia coordenador do GT Relações Institucionais da Abraps (Associação Brasileira dos Profissionais de Sustentabi lidade) e consultor da Hapi Consultoria.

Eficiência e sustentabilidadePor Paulo Vodianitskaia *

p37 artigo 2_revista 24/10/11 16:05 Page 37

Page 38: Revista Sustentabilidade

Revista Sustentabilidade Edição Especial

38

entrevista }

O presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE),Maurício Tolmasquim, sugereque devemos nos apropriar e adaptar as tecnologias de renováveis que chegam ao país.

TECNOLOGIA

Por Alexandre Spatuzza

Div

ulga

ção/

EPE

p38-40 entrevista tomalsquim_revista 24/10/11 16:05 Page 38

Page 39: Revista Sustentabilidade

Revista Sustentabilidade Edição Especial

39

OBrasil saiu atrás na corrida pelo controle de tecnolo-

gias de energia renováveis como eólica e solar. Entre-

tanto, para Maurício Tolmasquim, presidente do

principal planejador do setor energético brasileiro na última dé-

cada, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), o país está se posi-

cionando para ser líder nesta área à medida que as empresas vão

se instalando para atender o crescente mercado e para aproveitar

os recursos naturais.

Em entrevista exclusiva à Revista Sustentabilidade o executivo

disse que além das quatro empresas do setor eólico já instaladas

no Brasil – Alstom, Gamesa, Impsa e Wobben – mais quatro

preparam sua entrada. Isto não apenas sinaliza que o setor está

se consolidando, mas também que já deve ser planejado o pró -

ximo passo: a montagem de centros de pesquisa por meio de

parcerias entre empresas e universidades a fim de adaptar as tec-

nologias desenvolvidas do hemisfério norte ao regime de ventos

brasileiro, que é diferente.

Segundo Tolmasquim, o modelo de regulamentação, os

leilões competitivos e a exigência de conteúdo mínimo farão a

diferença. O modelo de sucesso do setor eólico – que deve au-

mentar de 1 gigawatt para 12 gigawatts em 10 anos – será apli-

cado no segmento de energia solar – térmica e fotovoltaica.

Revista Sustentabilidade: Quais as perspectivas para as ener-gias renováveis no Brasil?

Maurício Tolmasquim: As energias novas já não são maisnovas, pois estamos olhando para PCH (pequenas entraishidrelétricas), eólicas e biomassa como já instaladas em escalano Brasil. Hoje elas representam 8% da capacidade instalada edeve dobrar em 10 anos. As energias renováveis, incluindo a hídrica, hoje representam 83% da capacidade instalada e estasnovas ajudarão a manter este patamar. Então as perspectivassão boas de três formas. O setor eólico tem mostrado alta com-petitividade nos leilões. Os leilões aumentaram a quantidade de

contratação, o que levou à escala de produção. O terceiro fatoré que o Brasil está atraindo empresas. Há dois anos, tínhamosduas empresas de produção de equipamentos eólicos no Brasil.Hoje temos quatro instaladas e mais quatro que estão analisando sua entrada. Então, em 2020 chegaremos a quase 12 mil megawatts de eólica.

RS: Já que o BNDES exige 60% de nacionalização dos compo-nentes, existe espaço para o desenvolvimento tecnológico nacional na área de eólica?

Tolmasquim: A internalização das indústrias também tem a ver com o fato de que o BNDES (Banco Nacional do Desenvolvi-mento) exige um percentual mínimo de conteúdo nacional local.São fatores que permitem que esta fonte cresça e tenha pers -pectivas muito boas. Acho que existe a necessidade de haverum centro tecnológico de eólica no Brasil, estamos no momentocerto e é fundamental. Este é o próximo passo. Não necessaria-mente temos que ter empresas brasileiras neste centro, porque são questões de escala internacional, mas o vento no Brasil tem características diferentes. Lá tem estabilidade maior,por exemplo. Então, é importante adaptar ou produzir aeroge -radores focando na nossa realidade. É mais do que tropicalizar os aerogeradores. Assim, abre-se espaço para inovação nacional,mesmo que seja feito por consórcios de empresas estrangeirasapoiando alguma universidade.

RS: O modelo é mais focado no mercado. O governo entroucom algumas regulamentações, com redução de tarifa detransmissão e distribuição, o compartilhamento de ligações,mas essencialmente foi centrado no modelo competitivo deleilão, que foi eficiente para atrair o investimento neste mo-mento. Este modelo pode ser replicado para outras renováveis,como por exemplo, a matriz solar que agora vive uma reduçãodrástica de preço dos painéis fotovoltaicos?

Tolmasquim: Na verdade, foi um conjunto de fatores, mas oprincipal é que temos um modelo competitivo. O leilão existia hámuito tempo, mas não contratava eólica, até que tivemos

p38-40 entrevista tomalsquim_revista 24/10/11 16:05 Page 39

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Revista Sustentabilidade Edição Especial

sucesso com a questão da banda, da Interconexão Comparti -lhada por Geradores (ICG), do BNDES. Mas o leilão mostrou quea eólica pode ser competitiva com um diferencial. Na Europa, osetor eólico tem dívidas enormes - veja Portugal e Espanha –,por conta dos incentivos que foram dados. Aqui, temos um sis-tema que onera pouco o consumidor. Sem dúvida alguma, achoque a biomassa tem espaço para cair. Acho que o preço estácaro. A solar é uma oportunidade. Agora, é necessário entenderse a solar vai entrar como parques solares térmicos, que sãomais centralizados e poderiam ser contratados por meio deleilões, ou se será descentralizada por meio de painéis foto-voltaicos. Aí não seria por meio de leilões, seria uma energia instalada nas residências e etc.

RS: Então a fotovoltaica, em sua opinião, não faria sentidopara parques solares grandes?

Tolmasquim: Os parques centralizados fotovoltaicos sãopoucos prováveis. O fotovoltaico é muito interessante para hojebotar perto das residências, porque a energia que se consomenas residências é muito cara o que torna a fotovoltaica atrativaquando houver condições técnicas como medidores adaptadospara isso. O smart grid viabilizará o fotovoltaico nas residências.

Para o solar térmico, com concentrador de torre, ou por sis-temas parabólicos, seja qual for a tecnologia, já existem grandesáreas disponíveis e haverá venda para a rede como faz um parqueeólico. Este sistema demanda ainda uma queda maior de preço.

No caso da solar concentrada, tem que comparar com ou -tras gerações centralizadas como a hídrica, eólica ou térmica,cujos preços são competitivos em torno de R$100/MWh. Porisso, vai demorar um pouco mais para a energia solar ficar competitiva. Já a fotovoltaica é viável, se for instalada nasresidências ou empresas, pois se compara com o preço final que o consumidor paga, que é mais caro, e não se compara com o preço dos leilões.

RS: Estamos falando de que prazo para isso?

Tolmasquim: Acredito que um prazo maior que 10 anos.

RS: Para o Brasil ser uma potência nas novas renováveis,qual a lacuna tecnológica que precisa ser encarada e solu-cionada pelo país?

Tolmasquim: O Brasil não é produtor destas tecnologias. Tempesquisa, mas não produz. Agora temos um grande mercado eestas tecnologias crescerão. Haverá uma atração de empresaspara o Brasil, vai acabar havendo desenvolvimento de tecnologiaaqui. É a mesma questão da eólica: serão necessários centrostecnológicos que serão puxados pela própria demanda. Como o Brasil tem recursos naturais como sol e vento, as empresasserão atraídas. Mas temos que reconhecer que o Brasil não élíder nestas áreas. Isso virá com a penetração destas fontes ecom a necessidade de adaptar as tecnologias a nossa realidade.No fundo, talvez o certo seria termos desenvolvido a nossa tecnologia, mas o desenvolvimento não ocorreu aqui. Agora, nós temos a condição de adquirir e desenvolver esta tecnologiaporque o mercado está aqui, o sol e o vento estão aqui. Esta é uma vantagem que ninguém pode tirar da gente.

RS: O sistema interligado nacional está pronto para receberestas renováveis?

Tolmasquim: Isto é algo permanente. Temos que fazer reforços, o próprio operador do sistema (ONS) tem que sepreparar para incluir estas fontes. Mas isto não me preocupa,temos aqui a tradição de operação de modelos e de sistemasmuito sofisticados. Obviamente, é algo que tem de ser feito,mas em tempo de ter todas as condições para incluir estasfontes. Existe uma série de problemas que têm que ser enfrentados. Mas são questões ultrapassáveis, pois na hora que a eólica começar a entrar em peso, teremos que operar o sistema de uma outra maneira. k

40

EM 2020 CHEGAREMOS A QUASE 12 MIL

MEGAWATTS DE EÓLICA

p38-40 entrevista tomalsquim_revista 24/10/11 16:05 Page 40

Page 41: Revista Sustentabilidade

Revista Sustentabilidade Edição Especial

41

{ artigo

Devido a diversos fatores, que vão desde queda nos cus-

tos e aumento na priorização política até conside -

rações sobre sustentabilidade, as energias renováveis

vêm ganhando espaço na matriz energética brasileira. Um ele-

mento importante neste processo, que funciona como um bom

termômetro do setor, são os leilões de energias renováveis, rea -

lizados periodicamente pelo governo.

Há margem, entretanto, para algumas considerações e ques-

tionamentos sobre tais leilões, em especial no tocante às fontes

de energia e seus preços. Quando são realizados os leilões de

ener gia, como o de 17 e 18 de agosto deste ano, são inscritos pro-

jetos de todas estas formas de produção de energia: biomassa, ter-

melétrica, eólica e PCHs.  Um ponto importante que vem sendo

discutido é a questão de preterir uma fonte de produção em re-

lação à outra por questões de competitividade econômico-finan-

ceira atual.  Hoje, a bola da vez são as fontes de energia eólica,

dominando os leilões ao bater recordes de preços. Por que não

priorizar então os investimentos e ações neste tipo de energia? 

Em 2010, houve a experiência de realização de leilões especí-

ficos para cada fonte alternativa.  Porém, apesar de na previsão

inicial o preço da energia eólica ter sido estabelecido acima das

demais fontes, acabou sendo a mais barata.

No setor eólico, por exemplo, houve um aumento significa-

tivo dos aproximadamente 30 MWh produzidos no Brasil em

2005, para mais de 1 GWh em 2011. Mas as reduções no valor da

energia, que de 2009 para 2010 caíram de, em média, R$ 160 para

R$ 147 por MWh, não são oriundas apenas dos ganhos de escala,

mas também na melhora da tecnologia. Como a tecnologia uti-

lizada para a produção energética está em constante evolução, é

difícil que se preveja com segurança o valor ou o preço futuro da

energia proveniente das diversas fontes.

A grande preocupação é que nenhuma fonte é 100% con-

fiável.  Os parques de energia eólica instalados no Brasil têm ca-

pacidade para produzir apenas 80% do seu potencial estimado

na época do leilão, produzindo abaixo do esperado. Ainda que

os avanços tecnológicos permitam estudos mais precisos, muitos

especialistas entendem que a energia eólica deve ser utilizada

como uma forma de compensar a baixa da produção das usinas

hidrelétricas durante o período de secas, em vista da maior in-

cidência de ventos no mesmo período, e não como uma forma

completamente autônoma e voltada a substituir as demais.

A Lei 10.438/2002, que criou o Programa de Incentivo às

Fontes Alternativas de Energia Elétrica, o Proinfa, já demons -

trava esta preocupação ao não priorizar uma fonte em relação

às demais, dividindo equanimemente os incentivos para eólica,

pequenas centrais hidrelétricas e biomassa. Todavia, a própria

lei determina que, em caso de uma das fontes não alcançar a

meta estipulada de 1.100 MW, a Eletrobras deverá contratar ime-

diatamente as quotas remanescentes de potência entre os pro-

jetos habilitados nas demais fontes, o que retorna à questão da

predominância de uma fonte sobre as demais.

Assim, independentemente da realização de leilões conjuntos

ou separados por fonte de energia, ainda nos parece interessante

que haja mecanismos para balancear os leilões entre as diversas

fontes, de forma que o predomínio de uma fonte não iniba o de-

senvolvimento das demais, o que poderia gerar um desequilíbrio

futuro em relação à baixa diversidade de alternativas na matriz

energética brasileira. k

* Fabio Moura é sócio de FHCunha Advogados.

* Eduardo Barreto Alfonso é advogado especialista em contratos de infraestrutura de FHCunha Advogados.

Considerações sobre os leilões de energias renováveisPor Fabio Moura e Eduardo Barreto Alfonso *

p41 artigo 4_revista 25/10/11 15:19 Page 41

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Revista Sustentabilidade Edição Especial

42

SUSTENTÁVELO Brasil ocupa o 3o lugar no ranking das energias renováveis, mas desce do pódio sem a hidrelétrica. O desenvolvimento energético sustentável do país agora dependeda “invasão” de matrizes mais limpas como a eólica e a solar

Por Alexandre Spatuzza e Janaína Simões

energias renováveis }

A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) estima que a capacidade eólica brasileira subirá dos atuais 1 mil megawattspara 11 mil MW em 2020

Banco de Imagens

p42-50 geracao renovaveis capaB1_revista 25/10/11 15:30 Page 42

Page 43: Revista Sustentabilidade

Revista Sustentabilidade Edição Especial

43

Aforça do Brasil está na grandeza e diversidade de seus

recursos naturais. Sempre esteve. Mas se um dia esse

foco em matérias-primas brutas já foi considerado um

sinal de desvantagem econômica, hoje ele pode virar uma van-

tagem na corrida pelas novas matrizes energéticas renováveis

que contam com investimentos mundiais da ordem de US$200

bilhões segundo estudos da ONU. “Temos o sol, o vento e a bio-

massa, e isso ninguém tira da gente,” afirma o presidente da Em-

presa de Planejamento Energético (EPE), Maurício Tolmasquim.

Entre estes recursos está a água. Para fins energéticos, 75%

dela já estão sendo explorados. Por essa razão o Brasil tem a

quarta matriz mais limpa do mundo, com mais de 70% reno vável,

segundo o relatório REN21's Renewables Global Status Report

(GSR) da Organização das Nações Unidas para Meio Ambiente

(UNEP). Na frente, vem China (1o), EUA (2o) e Canadá (3o).

Mundo afora, a equação das fontes para energia elétrica é o

inverso: 70% são sujas, ou seja, oriundas de fontes não renováveis

e fósseis. No entanto, isso caminha para mudar à medida que

governos e empresas investem bilhões para desenvolver energias

renováveis e reduzir emissões de carbono. Segundo projeções da

Agência Internacional de Energia (AIE), em 2050, 46% da energia

mundial virá de fontes renováveis, com destaque para eólica (ter-

restre e marítima) e solar fotovoltaica.

Outras tecnologias como a geotérmica, a biomassa, as células

a combustível e ondas do mar vêm chamando atenção como

alternativas. Elas recebem uma proporção crescente dos inves-

timentos de pesquisa e desenvolvimento, subsídios governa -

mentais e de fundos de capital de risco, este último um

importante mecanismo para levar tecnologias novas a mercado.

Segundo levantamento da Associação de Private Equity dos

Investimentos em energias renováveis no mundo (2004-2010)

bilhões dedólares

62,8

103,5

130160

211

50

100

150

200

2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

2240,9

250

Fonte: REN21 Reneable Energy Policy Network for the 21st Century

p42-50 geracao renovaveis capaB1_revista 25/10/11 15:30 Page 43

Page 44: Revista Sustentabilidade

Revista Sustentabilidade Edição Especial

44

Mercados Emergentes (EMPEA), em 2009, as energias reno -

váveis e empresas desenvolvedoras de tecnologias de armazena-

mento representavam 84% do total do estoque de investimentos

acumulados em US$ 174 bilhões. Além disso, em 2010, os inves-

timentos governamentais em renováveis em todo o mundo

atingiram US$ 5 bilhões: um salto de 66% com relação aos

US$ 3 bilhões do ano anterior.

Divulgado em julho, o REN21 da ONU mostra o Brasil como

o quinto país que mais atrai investimentos nesse segmento. Do

total de US$ 211 bilhões direcionados para renováveis em 2010,

US$ 7 bilhões foram aplicados no Brasil, principalmente em bio-

combustíveis e biomassa.

O país é o segundo do mundo em geração de energia por bio-

massa e responde por 7,8 gigawatt (GW) da capacidade instalada

de cerca de 114 GW em 2011, cenário em que o destaque é o

bagaço de cana.

No entanto, quando a hidroeletricidade é excluída, o Brasil

desaparece do mapa, deixando o quarto lugar para a Espanha

(líder em eólica) e a quinta posição para a Alemanha (líder em

solar e eólica).

Portanto, não é só a disponibilidade de recursos naturais que

coloca um país bem no ranking, mas sim a capacidade de desen-

volver e aplicar tecnologias novas, o que depende de políticas

públicas e um ambiente econômico favorável.

Poderá o Brasil aproveitar seus recursos naturais para ser

líder nas energias renováveis existentes e nas que virão? Isto será

essencial, pois o mercado elétrico brasileiro é um dos que mais

cresce – o consumo está projetado em cerca de 5% ao ano até

2020 – e o parque gerador nacional precisará de expansão.

Mas, se depender apenas da energia hidráulica ou biocom-

bustíveis, essa expansão será cada vez mais difícil. A maior parte

de nosso potencial hidrelétrico inexplorado está na Amazônia

ou em áreas protegidas. A produção de biocombustíveis neces-

sita de ampliação da área plantada que também é restrita por

condicionamentos socioambientais.

Por outro lado, a energia solar fotovoltaica desliza sobre uma

revolução. Em 2010, foram instalados 17 GW de nova capacidade

mundo afora. Eram apenas 7 GW em 2009. Ao mesmo tempo,

dados da AIE indicam que os preços no setor deverão cair 18%

ao ano e os custos de geração deverão ser 70% mais barato no

O INVESTIMENTO GOVERNAMENTAL EM RENOVÁVEISEM TODO O MUNDO ALCANÇOU OS US$5 BILHÕES EM 2010:

UM SALTO DE 66% EM RELAÇÃO À 2009

p42-50 geracao renovaveis capaB1_revista 25/10/11 15:30 Page 44

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segmento fotovoltaico de grande porte, em 2030.

O Brasil enfrenta um grande desafio de manter a liderança

em renováveis já que no mundo há uma crescente corrente de

países direcionando políticas públicas para este setor: hoje são

119 nações; em 2005, eram apenas 55.

BIOMASSA“O consumo de energia está aumentando, devido ao aumento da

população, à urbanização e melhoria de vida das classes C e D. O

desafio é manter ou aumentar esta contribuição de renováveis”,

afirma José Goldemberg, pesquisador do Instituto de Eletrotéc-

nica e Energia (IEE) da Universidade de São Paulo (USP).

Para Goldemberg, a melhor estratégia para o Brasil, hoje, é

expandir a produção atual de etanol e biodiesel, que já são

comer cialmente competitivos, e ampliar a cogeração de eletrici-

dade com bagaço de cana, o que ainda enfrenta problemas na

mo dernização das caldeiras.

A queima de bagaço nas caldeiras é hoje a forma que as usinas

usam para produzir a própria energia. A sobra é vendida para a

rede elétrica. No entanto, as usinas precisam contar com

caldeiras de alta pressão para ganhar eficiência na produção de

energia excedente.

O caminho é aproveitar não só o bagaço, mas também os ou -

tros subprodutos como a palha e a vinhaça: para cada litro de

etanol, são produzidos 13 litros de vinhaça. Esses dois resíduos

são hoje aproveitados para recompor o solo por meio da queima

ou mistura no substrato. Mas, em estados como São Paulo, por

exemplo, em que a legislação proíbe a queima até 2014, as em-

presas são forçadas a buscar alternativas. Isto mobiliza fornece-

dores de tecnologia e atrai investimentos.

A Dedini Indústrias de Base, de Piracicaba, anunciou em julho

uma parceria com a empresa alemã de geração de energia Envi-

rotherm para comercializar caldeiras de leito fluidizado. Essa tec-

nologia permite queimar a palha e o bagaço junto com outros

resíduos para ampliar a produção de energia para cogeração. A

queima também pode ser estendida a outros materiais o que pro-

longa a oferta de energia das usinas na época de entressafra.

A empresa baiana Cetrel inaugurou, na Paraíba, em março,

uma planta-piloto de energia a partir da queima do biogás

oriundo da fermentação da vinhaça.

Outras indústrias agrícolas andam no mesmo sentido. O

setor madeireiro já pesquisa o desenvolvimento de processos

para utilizar restos de madeira para formar briquetes que pos-

sam ser queimados para produzir energia. A Companhia

Suzano de Papel e Celulose, por exemplo, investiu R$ 170 mi -

lhões para fundar no ano passado a Suzano Energia Reno -

váveis que produzirá pellets de resíduos de madeira para

exportação com a finalidade de gerar energia. A ERB (Energias

Renováveis do Brasil ) está investindo R$ 200 milhões para

adaptar a Usina de Aratu a fim de usar eucalipto como fonte

de energia e gerar vapor que serão vendidos à empresa química

Dow. A cadeia agroindustrial do arroz conta com cerca de

308 mW instalados para gerar energia.

No entanto, o custo é um fator preponderante, já que o mo -

delo elétrico brasileiro prevê a contratação a longo prazo por

meio de leilões pelo menor preço, abrindo espaço para melhoria

dos equipamentos e no preço do combustível.

“A biomassa é uma fonte renovável que crescerá, mas o custo

tem que cair”, lembrou Tolmasquim. Apesar dos benefícios como

a redução de custo de transmissão e distribuição, a energia de

biomassa teve um preço médio de R$ 102,00 por megawatt-hora

(MWh) no último leilão para energia A-3.

Pesquisadores na Unicamp, Unesp, Unb e UFRJ estão empe -

nhados em desenvolver sistemas para melhorar o desempenho

da biomassa, inclusive resíduos sólidos, como fonte de energia.

COMPETITIVIDADE EÓLICASe o setor da biomassa quiser aumentar a presença na matriz

energética vai precisar desenvolver e dar escala as tecnologias

já existentes para competir com a energia renovável mais

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barata para novos empreendimentos no Brasil: a eólica, que

chegou a R$ 99/MWh.

Mais barata que a energia hidrelétrica de Belo Monte, a eólica

será a renovável que mais crescerá nos próximos 10 anos no

Brasil. As projeções da EPE revelam que essa fonte, a partir dos

atuais 1 mil MW, chegará a 17 mil MW em 2020.

A combinação de boa demanda, contratos de longo prazo e

queda de custo da tecnologia abriu caminho para que o Banco

Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)

abrisse os cofres o que tornou os preços competitivos.

“Todos os projetos eólicos têm apoio do banco”, disse An-

tônio Carlos Tovar, chefe do Departamento de Energias Re -

nováveis do BNDES. “Temos todo o interesse em apoiar solar,

mas o preço ainda está muito alto”.

ONDA SOLARImpulsionada pelos ventos da eólica, a próxima onda de re -

nováveis no Brasil será a solar fotovoltaica, o que deve acompa -

nhar a tendência mundial de queda de preços de equipamentos

e tecnologia. No mercado global a energia solar custa hoje

US$300/MW/h, valor que deve continuar a cair até atingir algo

próximo de US$ 50 ou US$ 60/MWh em 20 anos. Segundo estu-

dos da AIE, em 2019, a fotovoltaica representará mais de 10% da

energia mundial. Hoje, é apenas 0,1%.

Os investimentos no desenvolvimento tecnológico – princi-

palmente para aumentar a eficiência de conversão dos painéis

em novas tecnologias de silício, nanomateriais e elementos

orgânicos – são vultosos, liderados pela China cujas empresas

dominam 27% do mercado de painéis.

No Brasil, a energia solar fotovoltaica oficialmente foi pen-

sada apenas para sistemas isolados como as mundialmente re-

conhecidas experiências como a eletrificação rural e os painéis

fotovoltaicos na Amazônia com capacidade instalada média de

620 MW. Apesar de Tolmasquim considerar esta opção viável

apenas para a micro geração, algumas empresas já apostam na

tecnologia em escala comercial. Uma das primeiras foi a MPX,

do empresário Eike Batista. Em agosto, ele inaugurou a usina

Tauá no Ceará, com investimentos de R$ 10 milhões e capaci-

dade instalada de 1 MW.

Além disso, no primeiro semestre, a Eletrosul abriu chamada

aos pesquisadores interessados em desenvolver tecnologia para

purificar o silício de aplicação orientada a painéis solares. O

Brasil é, hoje, líder mundial em exportação de silício para fins

MAIS BARATA QUE A ENERGIA HIDRELÉTRICA DE BELO MONTE, A EÓLICASERÁ A RENOVÁVEL QUEMAIS CRESCERÁ NOS PRÓXIMOS 10 ANOS

NO BRASIL

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Revista Sustentabilidade Edição Especial

metalúrgicos de qualidade menos pura. Ao mesmo tempo,

pesquisadores na USP, Unicamp, UFSC e UFRGS já pesquisam

novas tecnologias para os painéis de silício, bom como a utiliza-

ção de componentes orgânicos.

Já é possível vermos projetos comerciais utilizando a energia

solar no Brasil. A Cemig está testando a tecnologia na cidade de

Sete Lagoas onde também opera a geração distribuída (smart

grid) em projeto piloto. O Fundo de Incentivo à Energia Solar

(FIES) do Estado do Ceará conta com R$10 milhões e desen-

volveu uma proposta para um leilão estadual de solar foto-

voltaica no qual o governo comprará energia para abastecer

prédios públicos, em contratos de 15 anos.

No caso das centrais, o fator chave será a complementari-

dade, afirma Ricardo Simões, presidente da Associação Brasileira

de Energia Eólica (Abeeólica). ”Onde se instala parques eólicos,

é possível instalar também painéis fotovoltaicos”.

Da eólica à solar, estas iniciativas estão atraindo a atenção de

investidores. Após ter investido R$600 milhões em eólica e bio-

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O POTENCIAL FOTOVOLTAICO BRASILEIRO

O grande potencial fotovoltaico do Brasil vem de sua

alta irradiação solar comprovada por meio de um

convênio entre o Inpe e a ONU.

No atlas solar, a irradiação solar global brasileira

foi identificada como incidente em qualquer região

do território (4,2 mil a 6,7 mil kWh/m2), sendo que

as regiões Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste têm

a melhor incidência.

Os números são consideravelmente superiores

aos de países da União Europeia como Alemanha

(900 a 1250 kWh/m2) e Espanha (1,2 mil a 1,85 mil

kWh/m2) onde, com grande aporte de subsídios,

a capacidade instalada de solar fotovoltaica é de

17 GW e 3,8 GW, respectivamente.

Hermínio Nunes/Eletrosul

A Eletrosul está investindo em pesquisa para purificar o silício que compõe os painéis solares com o objetivo de estabeleceruma produção nacional desses componentes

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Revista Sustentabilidade Edição Especial

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massa com recursos do Fundo Rio Bravo Fipe de energia I, a Rio

Bravo já contempla solar no segundo fundo de R$ 1 bilhão que

deve lançar em breve, garante Fábio Okamoto, gestor da carteira.

TERMOSSOLAR DE CONCENTRAÇÃOA grande irradiação solar também oferece a opção de montar

centrais solares térmicas de concentração (CSP). Com capaci-

dade instalada mundial de cerca de 1 GW, esta tecnologia utiliza

sistemas de espelhos que concentram o calor solar em uma torre

na qual óleo ou água são aquecidos para girar turbinas a vapor.

O custo de geração desta tecnologia está em US$ 180,00/MW/h.

“A termossolar é para grande escala, acima de 30 MW, dife -

rente da fotovoltaica que necessita apenas de um incentivo do

governo e regulamentação melhorando a condições para mi-

crogeração distribuída,” afirma Tovar do BNDES. Segundo ele,

o banco já acompanha e recebe regularmente consultas para fi-

nanciar projetos termossolares de concentração para os quais

oferecerá as mesmas condições que oferece a outras tecnologias.

Entretanto, há no Brasil poucas iniciativas termossolares.

Além de um projeto experimental de um convênio entre a Uni-

versidade Federal de Pernambuco e a Companhia Hidro Elétrica

do São Francisco (Chesf), há um projeto na Paraíba da empresa

paulista de engenharia Braxenergy. Utilizando tecnologia im-

portada, a Braxenergy tem um projeto de 50 MW baseados em

espelhos espalhados em 180 hectares já com licença ambiental.

Com investimentos de R$ 275 milhões, o projeto, segundo Hélcio

Camarinha, presidente da empresa, pode gerar eletricidade a

preços competitivos. Assim como na biomassa e na eólica, essa

tecnologia é importada – licenciada pela americana Skyfuels –,

apesar de 95% dos componentes serem produzidos no Brasil.

Camarinha aposta alto na tecnologia. “Fizemos medições

desde 2007 e identificamos um potencial de 16 GW de capaci-

dade instalada no Brasil”, diz. Segundo ele, os únicos limitadores

desta tecnologia são a terra para instalar o projeto e a água ali-

mentar o processo de geração. Além do projeto na Paraíba, Ca-

marinha espera receber, até o final do ano, a licença prévia para

Evolução projetada das fontes renováveis no Brasil

2010

Fonte: PDE 2020 (MME/EPE)

2020

Eólica 9%(831 MW)

Biomassa 49%(4.496 MW)

PCH 42%(3.806 MW)

Eólica 42%(11.532 MW)

Biomassa 34%(9.163 MW)

PCH 24%(6.447 MW)

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Revista Sustentabilidade Edição Especial

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RENOVÁVEIS MOVIDAS A PRÉ-SAL

O deputado federal José Luiz Penna (PV-SP) está

propondo uma lei para fomentar as novas energias

renováveis. Segundo o texto proposto por Penna,

não só deve haver um foco para implementar as

tecnologias, como deverá haver um fundo especí-

fico para financiar pesquisa, desenvolvimento e in-

ovação. Parte do dinheiro virá do pré-sal e a outra,

de dota ções orçamentárias.

Para Penna, é uma iniciativa essencial. “Não é

possível um país tropical não ter um plano arrojado

de energia solar. Precisamos acordar o país“, disse.

mais cinco projetos de CSP que totalizam 350 MW de capacidade

instalada nos estados da Bahia, Piauí e Pernambuco.

Naun Fraidenraich, coordenador do convênio entre a Chesf

e a UFPE, defende que o Brasil invista em pesquisa e na abertura

de um laboratório nacional para acompanhar o desenvolvimento

mundial da tecnologia do CSP, que segundo alguns estudos, vai

se tornar mais barata que a solar fotovoltaica e a eólica em

questão de duas décadas.

Para o governo, esta é a mais propícia energia solar de grande

porte para o Brasil já que há no Nordeste terra disponível. Glo -

balmente, chega a 1 mil MW a capacidade instalada desta tec-

nologia que, apenas em 2010, registrou um surto de crescimento

acelerado no qual foram acrescentados mais 75% de capacidade

instalada, segundo o relatório da ONU.

FORÇA MARINHAOutro potencial brasileiro, que também no mundo começa a

des pontar, é a energia vinda do mar. O conceito é simples: trans-

forma-se o movimento cinético regular das ondas em energia

elétrica por meio de turbinas. São varias as tecnologias que

servem para esse fim. Estima-se que o Brasil, com mais de 8 mil

quilômetros de orla, tenha potencial de 90 mil MW. Os

primeiros experimentos já estão sendo desenvolvidos dentro de

uma parceria formada por Eletrobrás, Tractebel, Coppe e Uni-

versidade Federal do Rio de Janeiro. Juntas elas investirão US$

15 milhões num projeto de 100 kW no nordeste que deverá

começar a operar ainda em 2011.

Apesar de ter recursos naturais ricamente distribuídos, o

Brasil ainda aposta em grandes centrais geradoras. O único setor

de renováveis que conta com uma estrutura robusta de pesquisa

e desenvolvimento, inclusive com aportes governamentais, é o

da biomassa oriundo da indústria sucroalcooleira. As outras

fontes ainda carecem de foco e estrutura. O modelo da eólica

deu certo, mas dependemos de tecnologia estrangeira que, con-

forme atestam especialistas, necessita ser adaptada para as

condições nacionais. A competitividade brasileira depende agora

do desenvolvimento nacional destas novas tecnologias. k

Capacidade Instalada de Renováveis por Fonte no Mundo (sem hídrica) – 2010

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Revista Sustentabilidade Edição Especial

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Depois de quase uma década do lançamento do Programa

de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica

(Proinfa), o Brasil se firmou na rota dos investimentos

de empresas de energia eólica. Já são quatro fabricantes interna-

cionais instalando-se aqui e mais quatro em preparação. Segundo

projeções da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) a capacidade

eólica deve subir dos 1 mil MW atuais para 11 mil MW em 2020.

Entre os mais recentes estão a dinamarquesa Vestas Wind

Systems, maior fabricante de turbinas eólicas do mundo, que fe-

chou em julho um contrato de fornecimento de turbinas para

três projetos eólicos da Companhia Hidroelétrica do São Fran-

cisco (Chesf), na Bahia.

Três fatores explicam o sucesso da eólica. Primeiro, a crise fi-

nanceira de 2008 deixou as empresas sem novos contratos na

Europa e nos EUA, o que as levou a investir no emergente Brasil.

Em segundo, o avanço tecnológico permitiu a queda do preço e

um mapeamento melhor dos ventos no Brasil. O terceiro fator

foi o barateamento da oferta de financiamento pelo BNDES. Isso

tudo fez com que a eólica saísse mais barata que todas as outras

fontes no leilão de energias novas em agosto 2011.

Hoje, se fala em um potencial de 100 mil MW de eólica no

Brasil: os mapeamentos ultrapassaram os 100 metros de altura

o que resulta em novos potenciais no interior, expandindo dos

parques mais antigos localizados na costa. A Bahia, por exemplo,

tem um potencial de 20 mil MW, a maioria no interior, segundo

o secretário Estadual de Desenvolvimento, James Correia.

Os dados sobre o potencial eólico nacional precisam de atua -

lização. É o que defende Enio Bueno Pereira, pesquisador do

Centro de Ciências do Sistema Terrestre (CCST) e coordenador

do Projeto SONDA (Sistema Nacional de Organização de Dados

Ambientais) do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe). “Os po-

tenciais eólicos crescem bastante com a altura do gerador, por-

tanto, alguns podem ter sido subestimados”, diz Pereira.

Prospectar o potencial também está entre as iniciativas do

Estado de São Paulo que deve lançar ainda em 2011 um atlas

eólico. Segundo o subsecretário estadual de Energias Reno -

váveis, Marco Antonio Mroz, esse documento revelará o po-

tencial de geração de pequeno porte – também chamado de

autoprodução – que poderá ser complementar e viável com a

queda nos custos.

O segmento, entretanto, é dominado pela tecnologia impor-

tada que muitas vezes requer adaptações às condições nacionais.

A obrigação de nacionalizar 60% das turbinas – condicional do

financiamento do BNDES para fabricantes estrangeiros – ajuda

na transferência de tecnologia, mas é também preciso investir

em centros de pesquisa para o setor desenvolver tecnologia na-

cional, dizem os especialistas.

“Na maior parte das vezes os levantamentos eólicos são reali -

zados por empresas estrangeiras especializadas nessa tarefa, mas

empregando modelos ‘caixa preta‘. Não se sabe muito sobre a

qualidade dos resultados, pois muitos foram desenvolvidos em

países de clima temperado e não clima tropical”, diz Pereira.

Em contraponto, o grupo de Meteorologia da Energia do

CCST-Inpe está desenvolvendo um processo de código aberto,

adap tado as condições climáticas do Brasil. O caminho da naciona -

lização é longo mas, pelo menos, já começamos a percorrê-lo. k

BRASIL SE FIRMA NA

energias renováveis }

Por Janaína Simões

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