Sentença 0902113-08.2014.8.24.0020

8
ESTADO DE SANTA CATARINA PODER JUDICIÁRIO Comarca - Criciúma 2ª Vara da Fazenda Endereço: Av. Santos Dumont, S/N, Prédio do Fórum, Milanese - CEP 88804-500, Fone: (48) 3431-5396, Criciúma-SC - E- mail: [email protected] M12530 Autos n. 0902113-08.2014.8.24.0020 Ação: Ação Civil Pública Autor: Ministério Público do Estado de Santa Catarina/ Réu: Rosso e Bez Construções e Incorporações Ltda/ Vistos etc. Trata-se de ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público do Estado de Santa Catarina em face de Rosso & Bez Construções e Incorporações Ltda., aduzindo, em síntese, que apurou, através do inquérito civil n. 06.201 3 .00007913-8, que a realizou a abertura de estrada em área de preservação permanente, suprimindo vegetação de floresta nativa a menos de 30 metros de curso d'água, em desacordo com a certidão emitida pela FATMA e com a legislação pertinente, fato que causou danos ao ambiente, requerendo a procedência do pedido para determinar a recuperação da área degradada, ou que haja a conversão da obrigação de fazer em perdas e danos mediante compensação ecológica, condenando a ao pagamento de indenização pela parcela do dano não recuperável ao meio ambiente, bem como ao pagamento de indenização pelos danos morais ambientais havidos, nos termos da inicial. A liminar foi parcialmente deferida. Citada, a apresentou contestação alegando que a estrada existia quando adquiriu o terreno e que não derrubou mata nativa, sendo sua intervenção limitada ao corte de eucalipto e à reforma da estrada existente, tudo com a devida autorização do órgão ambiental competente. Ainda, alegou que não área de preservação permanente, pois se trata de um curso d'água efêmero, podendo ser enquadrado com talvegue. No mais, rechaçou a ocorrência de lesão irrecuperável ao meio ambiente e de dano moral coletivo, requerendo a improcedência do pedido. Após nova manifestação do Ministério Público, promoveu-se a realização de prova pericial e prova oral, com o encerramento da instrução, tendo as partes apresentado suas alegações finais. Os autos vieram conclusos. É o breve relatório. Decido. Para conferir o original, acesse o site http://esaj.tjsc.jus.br/esaj, informe o processo 0902113-08.2014.8.24.0020 e cdigo 54157BA. Este documento foi liberado nos autos em 17/05/2016 s 13:19, cpia do original assinado digitalmente por PDDE-041450105 e PEDRO AUJOR FURTADO JUNIOR. fls. 496

Transcript of Sentença 0902113-08.2014.8.24.0020

Page 1: Sentença 0902113-08.2014.8.24.0020

ESTADO DE SANTA CATARINA PODER JUDICIÁRIO Comarca - Criciúma2ª Vara da Fazenda

Endereço: Av. Santos Dumont, S/N, Prédio do Fórum, Milanese - CEP 88804-500, Fone: (48) 3431-5396, Criciúma-SC - E-mail: [email protected]

M12530

Autos n. 0902113-08.2014.8.24.0020

Ação: Ação Civil Pública Autor: Ministério Público do Estado de Santa Catarina/Réu: Rosso e Bez Construções e Incorporações Ltda/

Vistos etc.

Trata-se de ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público do Estado

de Santa Catarina em face de Rosso & Bez Construções e Incorporações Ltda., aduzindo,

em síntese, que apurou, através do inquérito civil n. 06.2013.00007913-8, que a ré realizou

a abertura de estrada em área de preservação permanente, suprimindo vegetação de

floresta nativa a menos de 30 metros de curso d'água, em desacordo com a certidão

emitida pela FATMA e com a legislação pertinente, fato que causou danos ao ambiente,

requerendo a procedência do pedido para determinar a recuperação da área degradada, ou

que haja a conversão da obrigação de fazer em perdas e danos mediante compensação

ecológica, condenando a ré ao pagamento de indenização pela parcela do dano não

recuperável ao meio ambiente, bem como ao pagamento de indenização pelos danos

morais ambientais havidos, nos termos da inicial.

A liminar foi parcialmente deferida.

Citada, a ré apresentou contestação alegando que a estrada já existia

quando adquiriu o terreno e que não derrubou mata nativa, sendo sua intervenção limitada

ao corte de eucalipto e à reforma da estrada já existente, tudo com a devida autorização do

órgão ambiental competente. Ainda, alegou que não há área de preservação permanente,

pois se trata de um curso d'água efêmero, podendo ser enquadrado com talvegue. No mais,

rechaçou a ocorrência de lesão irrecuperável ao meio ambiente e de dano moral coletivo,

requerendo a improcedência do pedido.

Após nova manifestação do Ministério Público, promoveu-se a realização

de prova pericial e prova oral, com o encerramento da instrução, tendo as partes

apresentado suas alegações finais.

Os autos vieram conclusos.

É o breve relatório.

Decido.

Par

a co

nfer

ir o

orig

inal

, ace

sse

o si

te h

ttp://

esaj

.tjsc

.jus.

br/e

saj,

info

rme

o pr

oces

so 0

9021

13-0

8.20

14.8

.24.

0020

e c

digo

541

57B

A.

Est

e do

cum

ento

foi l

iber

ado

nos

auto

s em

17/

05/2

016

s 13

:19,

cpi

a do

orig

inal

ass

inad

o di

gita

lmen

te p

or P

DD

E-0

4145

0105

e P

ED

RO

AU

JOR

FU

RT

AD

O J

UN

IOR

.

fls. 496

Page 2: Sentença 0902113-08.2014.8.24.0020

ESTADO DE SANTA CATARINA PODER JUDICIÁRIO Comarca - Criciúma2ª Vara da Fazenda

Endereço: Av. Santos Dumont, S/N, Prédio do Fórum, Milanese - CEP 88804-500, Fone: (48) 3431-5396, Criciúma-SC - E-mail: [email protected]

M12530

A Constituição Federal, nos termos do art. 225, garante a todos o direito

ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, cabendo tanto ao Poder Público, como à

coletividade, o dever de zelar pela sua conservação e preservação, in verbis:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente

equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida,

impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo

para as presentes e futuras gerações.

O mesmo artigo 225, em seu parágrafo 1º, traz obrigações ao Poder

Público visando assegurar o direito ao meio ambiente equilibrado:

§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder

Público:

[...]

IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade

potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo

prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade;

[...]

VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas

que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou

submetam os animais a crueldade. 

Da mesma forma, a Constituição do Estado de Santa Catarina, em razão

do princípio da simetria, reproduz em seus artigos 181 e 182, incisos III e V, a norma inserta

na CRFB/88:

Art. 181. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente

equilibrado, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e

preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

Art. 182. Incumbe ao Estado, na forma da lei:

[...]

III - proteger a fauna e a flora, vedadas as práticas que coloquem em

risco sua função ecológica, provoquem extinção de espécie ou submetam animais a

tratamento cruel;

Par

a co

nfer

ir o

orig

inal

, ace

sse

o si

te h

ttp://

esaj

.tjsc

.jus.

br/e

saj,

info

rme

o pr

oces

so 0

9021

13-0

8.20

14.8

.24.

0020

e c

digo

541

57B

A.

Est

e do

cum

ento

foi l

iber

ado

nos

auto

s em

17/

05/2

016

s 13

:19,

cpi

a do

orig

inal

ass

inad

o di

gita

lmen

te p

or P

DD

E-0

4145

0105

e P

ED

RO

AU

JOR

FU

RT

AD

O J

UN

IOR

.

fls. 497

Page 3: Sentença 0902113-08.2014.8.24.0020

ESTADO DE SANTA CATARINA PODER JUDICIÁRIO Comarca - Criciúma2ª Vara da Fazenda

Endereço: Av. Santos Dumont, S/N, Prédio do Fórum, Milanese - CEP 88804-500, Fone: (48) 3431-5396, Criciúma-SC - E-mail: [email protected]

M12530

[...]

V - exigir, para instalação de obra ou atividade potencialmente

causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudos prévios de impacto

ambiental, a que se dará publicidade;

[...]

Sabe-se que a legislação pátria impõe uma restrição ao direito de construir

em áreas fronteiriças a cursos d'água naturais, estabelecendo um recuo mínimo.

São áreas consideradas non aedificandi, ou seja, não é permitida a

edificação por se tratar de faixa de preservação permanente. A intenção do legislador foi de

proteger e preservar a fauna e flora, bem como os recursos naturais encontrados às

margens de rios, riachos etc.

Neste sentido, dispunha o Código Florestal vigente à época dos fatos (Lei

n. 4.771/65):

Art. 2° Consideram-se de preservação permanente, pelo só efeito

desta Lei, as florestas e demais formas de vegetação natural situadas:

a) ao longo dos rios ou de qualquer curso d'água desde o seu nível

mais alto em faixa marginal cuja largura mínima será:

1 - de 30 (trinta) metros para os cursos d'água de menos de 10 (dez)

metros de largura;

A previsão foi mantida pelo novo Código Florestal (Lei n. 12.651/2012):

Art. 4o Considera-se Área de Preservação Permanente, em zonas

rurais ou urbanas, para os efeitos desta Lei:

I - as faixas marginais de qualquer curso d’água natural perene e

intermitente, excluídos os efêmeros, desde a borda da calha do leito regular, em

largura mínima de:

a) 30 (trinta) metros, para os cursos d’água de menos de 10 (dez)

metros de largura;

[...]

No caso em tela, o laudo pericial apontou a existência de área de

preservação permanente no imóvel em litígio, conforme respostas ao quesito n. 1 formulado

Par

a co

nfer

ir o

orig

inal

, ace

sse

o si

te h

ttp://

esaj

.tjsc

.jus.

br/e

saj,

info

rme

o pr

oces

so 0

9021

13-0

8.20

14.8

.24.

0020

e c

digo

541

57B

A.

Est

e do

cum

ento

foi l

iber

ado

nos

auto

s em

17/

05/2

016

s 13

:19,

cpi

a do

orig

inal

ass

inad

o di

gita

lmen

te p

or P

DD

E-0

4145

0105

e P

ED

RO

AU

JOR

FU

RT

AD

O J

UN

IOR

.

fls. 498

Page 4: Sentença 0902113-08.2014.8.24.0020

ESTADO DE SANTA CATARINA PODER JUDICIÁRIO Comarca - Criciúma2ª Vara da Fazenda

Endereço: Av. Santos Dumont, S/N, Prédio do Fórum, Milanese - CEP 88804-500, Fone: (48) 3431-5396, Criciúma-SC - E-mail: [email protected]

M12530

pelo autor (folhas 288/289) e ao quesito n. 13 formulado pela ré (folhas 307).

Como a expert classificou como sendo área de preservação permanente,

por óbvio os cursos d'água são perenes ou intermitentes, mas não efêmeros, pois do

contrário enquadrar-se-iam na exceção legal.

Inclusive, destacou que o curso d'água 2 possui caráter intermitente (figura

10, a folhas 289), afastando de vez a tese da ré de se tratar de curso efêmero.

Destaco que nenhuma prova foi produzida pela ré no sentido de ser um

curso d´'água efêmero, ônus que lhe competia. A prova testemunhal não tratou do assunto,

ao passo que nenhum quesito foi formulado neste sentido quando da prova técnica.

Ainda, a prova técnica esclareceu que os dois cursos d'água possuem

largura aproximada de 2 (dois) metros e de 4 (quatro) metros. Logo, por serem cursos

d'água com menos de 10 (metros), a faixa marginal de 30 (trinta) metros é considerada área

de preservação permanente.

A prova técnica também foi conclusiva no sentido de ter havido corte de

vegetação, tanto nativa quanto exótica, dentro dos limites da área de preservação

permanente, conforme resposta aos quesitos n. 3 e n. 13 formulados pelo autor (folhas

289/291 e folhas 295, respectivamente).

A conclusão da expert, na verdade, corrobora a identificação do dano já

feita pela Polícia Militar Ambiental, conforme consta na Notícia de Infração Penal Ambiental

nº 010 / 2º PEL / 3ª CIA / BPMA / 2012 (folhas 35/42), na qual foi constatado in loco a

abertura de estrada em área de preservação permanente, tudo devidamente ilustrado pela

fotografias a folhas 39/40.

Corrobora também as conclusões do Instituto Geral de Perícia. O laudo

pericial nº 9113.13.00099 (folhas 81/92), realizado quase um ano depois da autuação feita

pela Polícia Ambiental, atestou que não havia curso d'água no local, apesar de identificar

um leito seco (confirmando se tratar de um curso d'água intermitente, como dito pela perita

do juízo), bem como atestou o desrespeito da ré à legislação ambiental, ante a não

observação da faixa marginal ao curso d'água.

O referido laudo encontrou também vestígios de supressão de mata

nativa, o que extrapola o contido na Certidão n. 984566/2009, emitida pela FATMA, cujo

corte limitava-se a eucaliptos.

Por outro lado, pouco importa quando e quem promoveu a intervenção

indevida na APP, pois se trata de responsabilidade objetiva e propter rem. Ainda que não

Par

a co

nfer

ir o

orig

inal

, ace

sse

o si

te h

ttp://

esaj

.tjsc

.jus.

br/e

saj,

info

rme

o pr

oces

so 0

9021

13-0

8.20

14.8

.24.

0020

e c

digo

541

57B

A.

Est

e do

cum

ento

foi l

iber

ado

nos

auto

s em

17/

05/2

016

s 13

:19,

cpi

a do

orig

inal

ass

inad

o di

gita

lmen

te p

or P

DD

E-0

4145

0105

e P

ED

RO

AU

JOR

FU

RT

AD

O J

UN

IOR

.

fls. 499

Page 5: Sentença 0902113-08.2014.8.24.0020

ESTADO DE SANTA CATARINA PODER JUDICIÁRIO Comarca - Criciúma2ª Vara da Fazenda

Endereço: Av. Santos Dumont, S/N, Prédio do Fórum, Milanese - CEP 88804-500, Fone: (48) 3431-5396, Criciúma-SC - E-mail: [email protected]

M12530

tenha sido a ré, o fato de ser a atual proprietária do imóvel a torna responsável pelos danos

ambientais havidos.

É da jurisprudência:

"APELAÇÃO CÍVEL. EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL. MULTA

PELA PRÁTICA DE INFRAÇÃO AMBIENTAL. EXTINÇÃO DO EXECUTIVO, NA ORIGEM,

AO ENTENDIMENTO DE QUE O EXECUTADO É PARTE ILEGÍTIMA PARA FIGURAR

NA LIDE, UMA VEZ QUE NÃO FOI O AUTOR DO ILÍCITO. PARTICULARIDADES DA

HIPÓTESE QUE AFASTAM ESSA CONCLUSÃO. HIGIDEZ DA CDA. ANULAÇÃO DA

SENTENÇA. APLICAÇÃO DO ART. 515, § 3º, DO CPC. REJEIÇÃO DOS EMBARGOS.

PROSSEGUIMENTO DA EXECUÇÃO. RECURSO PROVIDO.

"A responsabilidade objetiva por dano ambiental, informada pela

teoria do risco integral, afasta qualquer perquirição e discussão de culpa. A

responsabilidade pode ser atribuída, então, ao titular da propriedade do imóvel que

fica formalmente responsávell pelos danos ambientais causados na área que detém o

domínio por direito, ainda que não seja de sua autoria a deflagração do dano, tendo

em conta sua natureza propter rem do imóvel" (TRF-4ª Região, Apelação Cível n.

5003307-03.2012.404.7211/SC, rela. Desa. Marga Inge Barth Tessler)." (TJSC, Apelação

Cível n. 2013.021641-4, de Itaiópolis, rel. Des. Vanderlei Romer, j. 09-12-2014).

Inócua, pois, a discussão travada acerca da data de abertura da estrada

que atingiu a APP, bem como sua autoria, ante a responsabilização objetiva do atual

proprietário.

Muito menos serve de escusa a existência de licença ambiental emitida

pela FATMA, a qual em momento algum autorizou a supressão de vegetação às margens

de curso d'água e dentro da área de preservação permantente, não podendo a ré dar ao ato

administrativo uma extensão que ele não possui.

Por fim, veio à tona, durante a instrução, a informação de que a CELESC,

na manutenção de linha de transmissão de energia, teria causado o dano ambiental.

Todavia, a prova pericial não definiu, com precisão, quanto do dano pode

ser atribuído à concessionária de energia.

Mesmo ao ser ouvida em audiência, a expert não delimitou o quanto é

responsabilidade da ré e o quanto é da concessionária. No mais, confirmou a informação já

Par

a co

nfer

ir o

orig

inal

, ace

sse

o si

te h

ttp://

esaj

.tjsc

.jus.

br/e

saj,

info

rme

o pr

oces

so 0

9021

13-0

8.20

14.8

.24.

0020

e c

digo

541

57B

A.

Est

e do

cum

ento

foi l

iber

ado

nos

auto

s em

17/

05/2

016

s 13

:19,

cpi

a do

orig

inal

ass

inad

o di

gita

lmen

te p

or P

DD

E-0

4145

0105

e P

ED

RO

AU

JOR

FU

RT

AD

O J

UN

IOR

.

fls. 500

Page 6: Sentença 0902113-08.2014.8.24.0020

ESTADO DE SANTA CATARINA PODER JUDICIÁRIO Comarca - Criciúma2ª Vara da Fazenda

Endereço: Av. Santos Dumont, S/N, Prédio do Fórum, Milanese - CEP 88804-500, Fone: (48) 3431-5396, Criciúma-SC - E-mail: [email protected]

M12530

prestada no laudo pericial, de que as intervenções, segundo funcionária da ré, foram feitas

pela própria empresa acionada.

Neste sentido também é o laudo do Instituto Geral de Perícias que instruiu

o inquérito civil, no qual consta que a própria ré seria a responsável pela intervenção no

local, segundo informações repassadas por representantes da empresa (resposta ao

quesito n. 5, a folhas 91).

Por óbvio a negativa geral apresentada pela funcionária da ré em seu

depoimento, tomado apenas como informante, não basta para derrogar o que dito pela

expert do juízo e pelo perito do IGP, em especial pelo interesse indireto daquela na causa,

na condição de detentora de cargo de chefia.

Ressalto que mais uma vez a ré não cumpriu com seu ônus probatório, o

que verifico da total ausência de prova de sua alegação. Nem se trata de prova de difícil

produção, uma vez que bastaria a formulação de um quesito mais específico, a juntada de

imagens da rede de transmissão com a prova de sua localização, ou ainda declaração da

própria CELESC neste sentido. Nada disso, porém, foi apresentado,

Permanece hígida, então, a responsabilidade da ré.

Por outro lado, como atestado pela expert, a ação da ré foi de baixo

impacto ambiental (quesito n. 7 do autor a folhas 293), estando inclusive em processo de

regeneração natural da vegetação (quesito n. 9 da ré a folhas 305).

Nem mesmo há necessidade de intervenção direta da ré para reparação

do dano havido, pois a vegetação está se regenerando por si só, consoante esclarecido

pela expert. Basta à ré que se abstenha de novas intervenções. É o que consta na resposta

ao quesito n. 12 da ré, a folhas 306, in verbis:

"Resposta: durante a perícia realizada na área foi identificada a

supressão da vegetação exótica e nativa, de pequena proporção dentro dos limites da

faixa de APP, não necessitando a reposição integral da vegetação impactada, uma

vez que, a vegetação neste estágio de desenvolvimento será capaz de se regenerar,

desde que não ocorra mais nenhuma intervenção."

De todo modo, ainda que dispensada a necessidade de recuperação da

área degradada mediante projeto de reparação, pois a recuperação ocorrerá de forma

natural, ainda assim o pedido há de ser parcialmente acolhido, mais precisamente na parte

Par

a co

nfer

ir o

orig

inal

, ace

sse

o si

te h

ttp://

esaj

.tjsc

.jus.

br/e

saj,

info

rme

o pr

oces

so 0

9021

13-0

8.20

14.8

.24.

0020

e c

digo

541

57B

A.

Est

e do

cum

ento

foi l

iber

ado

nos

auto

s em

17/

05/2

016

s 13

:19,

cpi

a do

orig

inal

ass

inad

o di

gita

lmen

te p

or P

DD

E-0

4145

0105

e P

ED

RO

AU

JOR

FU

RT

AD

O J

UN

IOR

.

fls. 501

Page 7: Sentença 0902113-08.2014.8.24.0020

ESTADO DE SANTA CATARINA PODER JUDICIÁRIO Comarca - Criciúma2ª Vara da Fazenda

Endereço: Av. Santos Dumont, S/N, Prédio do Fórum, Milanese - CEP 88804-500, Fone: (48) 3431-5396, Criciúma-SC - E-mail: [email protected]

M12530

que torna definitiva a liminar para paralisação da obra de abertura de estrada e

terraplanagem, bem como para manter a área de preservação permanente isenta de

demais destruições.

Ressalvo, contudo, que não está vedada a intervenção no imóvel da ré;

apenas se está limitando a intervenção, protegendo as faixas marginais até 30 (trinta)

metros dos cursos d'água existentes no local.

Eventual obra no terreno, além do respeito às áreas de preservação

permanente às margens dos rios, deverá também obter a devida licença ambiental,

inclusive para supressão de mata nativa, inexistente no caso em tela, cuja licença abrangia

apenas o corte de eucaliptos.

A seu turno, a perita informou que não houve dano ambiental

irrecuperável, sendo o quanto basta para afastar o pedido indenizatório "c" do item 7 dos

requerimentos exordiais.

Melhor sorte não recai sobre o pedido de dano moral coletivo.

O ora subscritor tem visão restritiva quanto aos danos morais coletivos,

entendendo-os sempre como medida excepcionalíssima dentro do ordenamento jurídico,

em casos de agudo impacto social e humano, uma vez que o abalo anímico indenizável

situa-se na órbita do inciso X, do art. 5º, da Constituição da República, que exige para a sua

configuração, salvo melhor juízo em qualquer hipótese, a existência de violação à

intimidade, à vida privada, à honra e à imagem das pessoas, sem o que não se há falar em

danos morais indenizáveis de ordem particular ou para a coletividade.

Com a devida venia, a dicção do art. 1º da Lei n. 7.347/85 (com a redação

dada pela Lei n. 12.529/2011), em consonância com o previsto no § 3º do art. 225 da CR,

não permite concluir que toda e qualquer violação ao meio ambiente resulte em prejuízo

moral coletivo, havendo, a meu sentir, a necessidade de verificar a caracterização de fatos

concretos que atinjam a coletividade, fazendo nascer então a condenação pretendida pelo

Dr. Promotor.

Vê-se que na inicial não há sequer a indicação da existência de um único

fato concreto e objetivo de prejuízo humano ou social a justificar a condenação por dano

moral ambiental coletivo no caso vertente, mesmo porque o local sequer é habitado (apenas

próximo do local há moradores), de modo que se algum morador do entorno porventura

sentir-se em algum momento maculado em sua saúde, que busque individualmente a

reparação do que se lhe possa ter lesado a intervenção havida na área.

Par

a co

nfer

ir o

orig

inal

, ace

sse

o si

te h

ttp://

esaj

.tjsc

.jus.

br/e

saj,

info

rme

o pr

oces

so 0

9021

13-0

8.20

14.8

.24.

0020

e c

digo

541

57B

A.

Est

e do

cum

ento

foi l

iber

ado

nos

auto

s em

17/

05/2

016

s 13

:19,

cpi

a do

orig

inal

ass

inad

o di

gita

lmen

te p

or P

DD

E-0

4145

0105

e P

ED

RO

AU

JOR

FU

RT

AD

O J

UN

IOR

.

fls. 502

Page 8: Sentença 0902113-08.2014.8.24.0020

ESTADO DE SANTA CATARINA PODER JUDICIÁRIO Comarca - Criciúma2ª Vara da Fazenda

Endereço: Av. Santos Dumont, S/N, Prédio do Fórum, Milanese - CEP 88804-500, Fone: (48) 3431-5396, Criciúma-SC - E-mail: [email protected]

M12530

À toda evidência, fato concreto inexiste, merecendo rejeição o pedido de

danos morais no caso em comento.

Da jurisprudência neste sentido:

" 'É admissível a indenização por dano moral ambiental nos casos em

que a ofensa ao meio ambiente acarreta sentimentos difusos ou coletivos de dor,

perda, sofrimento ou desgosto. A caracterização do dano moral ambiental,

entretanto, não se revela pelo só fato de ter havido uma repercussão física lesiva ao

meio ambiente em local ou imóvel particular, sem maiores consequências lesivas

para o entorno coletivo. (Apelação Cível n. 2010.024915-3, da Capital, rel. Des. Newton

Janke, Segunda Câmara de Direito Público, j. 13.03.2012)' " (Apelação Cível n.

2010.015480-9, da Capital, Relator: Des. Nelson Schaefer Martins, j. 09.10.2012).

Ante o exposto, JULGO PROCEDENTE EM PARTE o pedido para,

tornando definitiva a liminar, determinar que ré interrompa em definitivo a obra de abertura

de estrada e terraplanagem no imóvel matriculado sob o n. 10.756 do 1º Ofício de Registro

de Imóveis de Criciúma, salvo novo procedimento de licenciamento que considere a

existência de vegetação nativa e dos dois cursos d'água no local, bem como se abstenha

de realizar novas intervenções na área de preservação permanente consubstanciada pelas

faixas marginais de 30 (trinta) metros dos dois cursos d'água.

Tendo havido sucumbência parcial, em menor parte pela ré, condeno-a ao

pagamento de 30% das despesas processuais, não havendo condenação do Ministério

Público em virtude do art. 18 da Lei n. 7.347/85.

Sem honorários em favor do Ministério Público (art. 128, § 5º, II, a, da CR)

nem em favor do patrono da ré (art. 18 da Lei n. 7.347/85).

P. R. I.

Criciúma, 16 de maio de 2016.

Pedro Aujor Furtado Júnior Juiz de Direito

"DOCUMENTO ASSINADO DIGITALMENTELei n. 11.419/2006, art. 1º, § 2º, III, a”

Par

a co

nfer

ir o

orig

inal

, ace

sse

o si

te h

ttp://

esaj

.tjsc

.jus.

br/e

saj,

info

rme

o pr

oces

so 0

9021

13-0

8.20

14.8

.24.

0020

e c

digo

541

57B

A.

Est

e do

cum

ento

foi l

iber

ado

nos

auto

s em

17/

05/2

016

s 13

:19,

cpi

a do

orig

inal

ass

inad

o di

gita

lmen

te p

or P

DD

E-0

4145

0105

e P

ED

RO

AU

JOR

FU

RT

AD

O J

UN

IOR

.

fls. 503