Ser e Tornar-Se_Psicoterapeuta Parte I__ - Helena Moura De_Carvalho

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    Ser e Tornar-sePsicoterapeuta Parte I:

    Dilogo entre ExperinciasPessoais e Profissionais

    Being And Becoming a Psychotherapist Part I: DialogueBetween Personal and Professional Experiences

    Ser y Tornarse Psicoterapeuta Parte I: Dilogo EntreExperiencias Personales y Profesionales

    Artig

    o

    Helena Moura deCarvalho &

    Paula Mena Matos

    Universidadedo Porto-Portugal

    80

    PSICOLOGIA: CINCIA E PROFISSO, 2011, 31 (1), 80-95

    Helena Moura de Carvalho(Bolseira de doutoramentopela Fundao para aCincia e Tecnologia (SFRH/BD/22333/2005).

    Trabalho realizado no mbitodo projecto da Fundaopara a Cincia e Tecnologia-

    PTDC/PSI/65416/2006

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    Ser e Tornar-se Psicoterapeuta Parte I: Dilogo Entre Experincias Pessoais e Profissionais

    Resumo: O psicoterapeuta tem sido considerado um elemento de primordial importncia para o sucesso dapsicoterapia no entanto, o estudo das suas caractersticas pessoais e profissionais tem sido negligenciado nainvestigao. O objetivo do presente artigo analisar as narrativas de 20 psicoterapeutas experts (peritos) dediferentes orientaes tericas (cognitivo-comportamental, construtivista, humanista, psicanaltica e sistmica)sobre o seu desenvolvimento pessoal e profissional no decurso da prtica clnica. Os dados foram recolhidos

    atravs de uma entrevista semiestruturada e foram analisados em uma perspetiva construtivista dagroundedtheory. Na anlise emergiram dois grandes temas. Sero apresentados aqui os resultados do primeiro temaanalisado, relativo s experincias relacionais do mbito pessoal e profissional que contriburam para odesenvolvimento dos psicoterapeutas. O tema organizador das entrevistas sublinha a importncia do dilogoe da coerncia entre oselfpessoal e profissional na compreenso do desenvolvimento do psicoterapeuta.Palavras-chave:Estudo qualitativo. Desenvolvimento profissional. Psicoterapeutas. Desenvolvimento pessoal.

    Abstract: The psychotherapist has been considered an element of major importance for the successof therapy, however the study of his/her personal and professional characteristics has been neglectedin research. The purpose of this work is to analyze the narratives of 20 psychotherapists experts fromdifferent theoretical orientations (behavioral-cognitive, constructivist, humanistic, psychoanalytic andsystemic) on their personal and professional development during clinical practice. Data were collectedthrough a semi-structured interview and analyzed in a constructive perspective of grounded theory. In the

    analysis two main themes emerged. In this article are presented the results of the first theme, relating toexperiences of personal and professional context that contributed to the development of psychotherapists.The organizing theme of the interviews emphasized the importance of dialogue and the consistencybetween the personal and professional self-understanding of the development of the psychotherapist.Keywords: Qualitative study. Professional development. Psychotherapists. Personal development.

    Resumen: El psicoterapeuta ha sido considerado un elemento de primordial importancia para el xito de lapsicoterapia; no obstante, el estudio de sus caractersticas personales y profesionales ha sido negligenciadoen la investigacin. El objetivo del presente artculo es analizar las narrativas de 20 psicoterapeutas experts(peritos) de diferentes orientaciones tericas (cognitivo del comportamiento, constructivista, humanista,psicoanalista y sistmica) sobre su desarrollo personal y profesional en el transcurso de la prctica clnica. Losdatos fueron recogidos a travs de una entrevista semi-estructurada y fueron analizados en una perspectivaconstructivista de lagrounded theory. En el anlisis emergieron dos grandes temas. Sern presentados aqulos resultados del primer tema analizado, relativo a las experiencias relacionales del mbito personal yprofesional que contribuyeron para el desarrollo de los psicoterapeutas. El tema organizador de las entrevistassubraya la importancia del dilogo y de la coherencia entre elselfpersonal y profesional en la comprensindel desarrollo del psicoterapeuta.Palabras clave: Estudio cualitativo. Desarrollo profesional. Psicoterapeutas. Desarollo personal.

    assistiu-se, nas ltimas duas dcadas, auma subvalorizao desse componente nainvestigao em detrimento dos estudosrealizados com os modelos psicoteraputicos(Beutler, et al., 2004). Tal poder dever-se ao

    facto de a investigao se centrar no estudodas terapias como conjunto de mtodos,tcnicas e procedimentos que so eficazespor si s no tratamento de desordenspsicolgicas e psiquitricas, sendo a influnciados elementos pessoais ou dos processossubjetivos da experincia humana e dasrelaes entendidos como fonte de erro aser eliminada ou controlada na investigao(Orlinsky & Rnnestad, 2005). Essa tentativade laboratorizar/manualizar a investigao

    em psicoterapia, nomeadamente atravs da

    A investigao cientfica em psicoterapiaremonta ao incio do sc. XX, e o seu trajetotem sido desenhado pelos desafios inerentes prpria evoluo da Psicologia. Desde aprocura positivista de afirmao da Psicologia

    como cincia, passando pelo questionamentoda eficcia de Eysenck (1952) at o paradigmada equivalncia (veredicto do pssaro DoDo),que se assiste a um debate apaixonado acercados processos e mecanismos subjacentes aosresultados e especificidade do encontroteraputico.

    O estudo das caractersticas dos psicotera-peutas quase to antigo como ainvestigao em psicoterapia (Orlinsky, etal., 1999). Apesar da sua venervel histria,

    PSICOLOGIA:CINCIA E PROFISSO,

    2011, 31 (1), 80-95

    As we strive tobetter serve our

    clients, we mayfind that we canlearn important

    lessons frompatterns and

    processes in ourown lives(Radeke &

    Mahoney, 2000,p.83)

    Eu sou umbocadinhode todos os

    meus clientes(...) quando os

    clientes vo fazerpsicoterapia,

    no deviampagar tudo, umaparte, ns que

    devamos pagar

    a eles!(Psicoterapeutaentrevistado,

    2006)

    Helena Moura de Carvalho & Paula Mena Matos

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    atribuio de variveis parasitas pessoado psicoterapeuta, posta em causa porinvestigaes em que psicoterapeutas damesma orientao terica, que usavam a

    mesma psicoterapia manualizada e queeramtreinados, monitorizados e supervisionadosno mesmo contexto produziam diferentesresultados (Castonguay, Goldstein, Wiser,Raue, & Hayes, 1996). Outras investigaese relatos autobiogrficos relevaram aimportncia das caractersticas pessoais dopsicoterapeuta, nomeadamente dos seusvalores e filosofias pessoais (Vasco & Dryden,

    1994; Wilson, 1993), dos seus problemase perturbaes pessoais (e.g. Atwood &Stolorow, 1993; Chasen, 1996) e das suashistrias de vinculao (Black, Hardy, Turpin,& Parry, 2005; Sauer, Lopez, & Gormley,2003) na escolha das orientaes tericas,tcnicas, metodologias de interveno ecaractersticas relacionais. Ahn e Wampold(2001), baseados em uma reviso de estudossobre eficcia teraputica, afirmam que a

    variabilidade dos resultados psicoteraputicosera melhor explicada por caractersticaspessoais do psicoterapeuta do que porcomponentes especficos do tratamento.Muito recentemente, Reupert (2006), noseu artigo The Counsellors Self in Therapy:an Inevitable Presence, ressalta que, apesardo reconhecimento de psicoterapeutas einvestigadores de diferentes inspiraestericas de que o psicoterapeuta traz mais

    para a psicoterapia do que a sua formaoprofissional, no se sabe ainda o que ospsicoterapeutas trazem pessoalmente para osseus clientes ou como as suas qualidades ecaractersticas se relacionam com os processose os resultados psicoteraputicos, querpositiva, quer negativamente. Nos ltimosanos, com o intuito de suprimir o hiato dainvestigao nesse domnio, tm surgidoestudos que sublinham a importncia daadoo de uma perspetiva desenvolvimental

    e abrangente dos mecanismos subjacentes

    mudana no psicoterapeuta. Destacamos

    os estudos desenvolvidos por Shovholt e

    Ronnestad (1995, 2003), assentes em uma

    metodologia qualitativa, que analisam

    o desenvolvimento dos psicoterapeutas

    com diferentes orientaes tericas e com

    diferentes graus de experincia, e o estudo

    internacional organizado por membros da

    Society for Psychotherapy Research (SPR

    Collaborative Research Network) acerca das

    caractersticas, prticas e experincias de

    psicoterapeutas de diferentes pases, cujos

    resultados foram publicados recentemente(Orlinsky & Rnnestad, 2005) e aos quais

    daremos especial ateno no presente estudo.

    Em Portugal, o nmero de estudos publicados

    ainda mais escasso (e.g., Vasco, 1992;

    Vasco & Dryden, 1997; Magalhes, 2008)

    revelando-se, assim, da maior importncia

    proceder a estudos mais aprofundados das

    caractersticas dos psicoterapeutas e dos

    processos de mudana subjacentes ao seu

    desenvolvimento com impacto na prtica

    psicoteraputica.

    O objetivo do estudo aqui apresentado

    relevar as representaes e as significaes de

    psicoterapeutas reconhecidos (designados por

    experts ou peritos) de diferentes orientaes

    tericas e prticas acerca das experincias e dos

    momentos que consideraram determinantes

    no seu desenvolvimento profissional. Aescolha de psicoterapeutas peritos deve-se

    ao facto de procurarmos explorar narrativas

    reflexivas das trajetrias desenvolvimentais dos

    psicoterapeutas e de a investigao sugerir que

    psicoterapeutas experientes e reconhecidos

    em diferentes reas da sade mental

    informant rich cases constituem uma fonte

    importante na identificao de variveis mais

    salientes (Patton, 1990) das caractersticas

    de psicoterapeutas que contribuem para a

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    eficcia teraputica (Jennings & Skovholtz,1999). Nesta anlise, no pretendemos,no entanto, desenhar uma trajetriadesenvolvimental dos psicoterapeutas, mas

    relevar um entendimento relacional davivncia de experincias psicoteraputicas eextrapsicoteraputicas no desenvolvimentodo psicoterapeuta.

    Este estudo foi realizado no mbito de umainvestigao mais alargada cujo objetivogeral o estudo das dimenses da histriapessoal, profissional e desenvolvimental dopsicoterapeuta que concorrem para explicar

    o estilo pessoal (Fernandez-lvarez, Garcia,LoBianco, & Corbella, 2003) e, em particular,do modo como o psicoterapeuta estabelecee significa a relao teraputica.

    Metodologia

    Participantes

    A estratgia para a seleo da amostragem

    considerada intencional (Patton, 1990),na medida em que procurmos selecionarpsicoterapeutas reconhecidos no mbito daprtica psicoteraputica e provenientes decontextos tericos e prticos diversificados.Para a identificao dos psicoterapeutasinformant rich cases (Patton, 1990), utilizmosa tcnica da nomeao por pares (peernomination), em que nove psicoterapeutas dediferentes orientaes identificaram colegasque consideravam bons psicoterapeutase aos quais recorreriam em caso depsicoterapia pessoal. Foram selecionados 23psicoterapeutas de diferentes orientaestericas e instituies acolhedoras quereuniam maior consenso na nomeao.Esses psicoterapeutas exerciam igualmenteatividades de docncia, superviso no ensinosuperior em Psicologia e em associaes ousociedades de psicoterapia portuguesas dedistintos pontos geogrficos do pas (e.g.Braga, Coimbra, Lisboa e Porto).

    Os participantes foram recrutados atravsde contacto telefnico e via e-mail, e,dos 23 psicoterapeutas contactados, 20aceitaram participar no estudo. As idades

    dos psicoterapeutas variam entre 35 e 77anos (M=50,35 anos; DP=9,95), e os anosde experincia, entre os 10 e os 44 anos(M=21,4 anos; DP=8,79). 11 psicoterapeutasso do sexo feminino, e 9 do sexo masculino.Relativamente ao background profissional,16 dos psicoterapeutas entrevistadosso psiclogos, 3 psiquiatras e 1 mdicode clnica geral. Quanto s orientaestericas, 4 psicoterapeutas identificam-

    se predominantemente com o modelocognitivo-comportamental (cc), 5 com oconstrutivista (c), 3 com o humanista (h), 4com o psicanaltico (p) e 4 com o sistmico (s).Instrumento e procedimento

    No presente estudo, optou-se por utilizar umametodologia qualitativa de investigao, vistoser esse o mtodo considerado mais eficaz:(a) em fases exploratrias do processo de

    investigao (Patton, 1990), (b) na identificaode variveis pouco referenciadas pelaliteratura (Stern, 1980) e (c) na obteno dedados sobre fenmenos complexos tais comosentimentos, processos cognitivos e emoesdifceis de apreender atravs de metodologiasde investigao mais convencionais (Strauss& Corbin, 1990). Elaborou-se uma entrevistasemiestruturada para o efeito, com 16perguntas de resposta aberta, agrupadas em 7

    temas centrais do processo desenvolvimentaldos psicoterapeutas (Carvalho & Matos,2006), a referir:

    1) motivaes subjacentes escolha dePsicologia/Psiquiatria; 2) motivaes paraser psicoterapeuta; 3) desenvolvimentocomo psicoterapeuta (principais mudanas,agentes de mudana, estilo pessoal ecaractersticas que permaneceram estveis);

    4) conceptualizao atual do processode mudana teraputica e das principais

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    caractersticas do psicoterapeuta que melhorcontribuem para o processo teraputico e paraa promoo de mudana em psicoterapia; 5)impacto de ser psicoterapeuta na vida pessoal

    e relacional; 6) atuais dificuldades na prticae 7) aspiraes futuras relativamente aodesenvolvimento como psicoterapeuta.

    As entrevistas foram realizadas nos contextosde trabalho dos psicoterapeutas ( exceo de2 entrevistas) entre outubro de 2006 e marode 2007, e tiveram uma durao mdia de50 minutos. No incio da entrevista, eraexplicado o objetivo geral do estudo, e era

    pedido aos participantes o seu consentimentopara gravar a entrevista em formato udio.Seguidamente, procedeu-se transcrio inverbatim das entrevistas, tendo em conta anatureza discursiva e prosdica das narrativasdos psicoterapeutas.

    Estratgia de anlise dos dados

    No decurso da recolha de dados, as entrevistasforam sucessivamente transcritas na sua

    totalidade e analisadas por ambas as autorasdo estudo. Esse procedimento permitiuuma reflexo das questes do guio quepoderiam ser reformuladas ou includas deforma a recolher dados importantes e queemergiam espontaneamente nas entrevistas.De seguida, procedeu-se anlise de dadosatravs do mtodo dagroundedtheory(Glaser& Strauss, 1967; Strauss & Corbin, 1990). Agrounded theory, tal como o nome indica,

    consiste em um mtodo de anlise qualitativaque tem como objetivo a construo deteorias fundamentadas nos dados, atravsdo recurso a um conjunto de procedimentosindutivos e sistemticos (Strauss & Corbin,1990). Esse procedimento permitiu, em umprimeiro momento, a recolha de secesdo texto que expressavam diferentessignificados e etapas do desenvolvimentodo psicoterapeuta, na medida em que amesma temtica poderia ser exploradapelos participantes em diferentes questes.

    De seguida, essas unidades de sentidoforam organizadas em temas emergentes ecategorias descritivas. Ao longo do processode anlise, as categorias hierarquicamente

    superiores e de complexidade crescente iamemergindo de acordo com a sua capacidadeem agrupar os conceitos e as categoriasanteriormente definidas. Trata-se de umametodologia de abstrao e complexidadecrescente, dado que o mtodo comparativocaracterstico dagroundedtheory (Glaser &Strauss, 1967; Strauss & Corbin, 1990) exigeuma permanente reformulao e reflexo dosdados anteriormente analisados. O processo

    de codificao e interpretao dos dadosfoi realizado em parceria pelas autoras, eperiodicamente eram discutidas as categoriasemergentes e os temas organizadores. Aanlise dos dados inscreve-se em umaperspetiva cclica de combinao indutiva ededutiva at a construo, pelo investigador,da narrativa da essncia da experincia dosparticipantes, designada como core story(Charmaz, 2000; Strauss & Corbin, 1990). Oprocesso analtico reflete, assim, a construo

    dos significados que os psicoterapeutasatribuem s suas experincias, por oposioa uma perspetiva positivista de descoberta daverdade (Charmaz, 2000).

    Na anlise, emergiram dois grandes temas:(a) experincias relacionais e (b) etapase mudanas do desenvolvimento dopsicoterapeuta. Dadas as limitaes deespao de publicao e a natureza da anlise,

    no presente artigo, sero apresentados osresultados do primeiro tema organizadoem dois subtemas, a saber, (a) experinciasrelacionais no domnio profissional e (b)experincias relacionais no domnio pessoalque contriburam para o desenvolvimento dospsicoterapeutas (vide Fig.1). De seguida, serapresentado o tema organizador ou histriacore identificado, a saber, o desenvolvimentodo psicoterapeuta: dilogo e coerncia

    entre selfpessoal e profissional, visto ser oelemento que emerge da narrativa como mais

    O processo

    analticoreflete, assim, aconstruo dos

    significados queos psicoterapeutas

    atribuem s suasexperincias,

    por oposio auma perspetiva

    positivista dedescoberta da

    verdade

    (Charmaz, 2000).

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    Tema

    Sub-temas

    Categoriase subcategorias

    ExperinciasRelacionais

    Domnio davivncia profissional

    Impacto +

    - sentido de gratificao;- acesso a dimensesprivilegiadas;

    - natureza da ligaoemocional.

    Histriacore:DesenvolvimentodoPsicoterapeuta:dilo

    goecoernciaentreselfpessoal

    eprofissional

    Impacto -

    - incapacidade de ajuda;- desistncias inesperadasde clientes;- dificuldades na relaoteraputica;- gesto dos limites da terapia;- desgaste emocional.

    Validao dos factoresdeterminantes

    - leitura colaborativa doprocesso teraputico;- importncia da qualidadeda relao teraputica;-pragmtica de ajuda.

    Implicaes nas escolhaspsicoteraputicas

    - escolha vocacional para oexerccio da psicoterapia;- escolha dos modelos,problemticas, populaesde interveno.

    Relao teraputica

    - empatia;- devoluo de esperana.

    Domnio davivncia pessoal

    representativo da forma como os psicoterapeutas atribuem significado sua experincia e aoseu processo desenvolvimental, que, sendo transversal na anlise preconizada, representa umaleitura sntese e integrada dos dois sub-temas supracitados do desenvolvimento do psicoterapeuta.

    Figura 1. Organizao do tema experincias relacionais do desenvolvimento do psicoterapeuta,sub-temas e categorias

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    Dado que a anlise qualitativa no seesgota na categorizao e na codificaodos dados, mas estende-se ao processode escrita, procuraremos apresentar essa

    coconstruo narrativa da experincia dospsicoterapeutas1 contextualizando a suaemergncia atravs do recurso ao formatoescrito e ao udio das mesmas assim como sanotaes do entrevistador sobre o espao ea vivncia dessa partilha de significados, algoque se poder assemelhar a um contadorde histrias que permanece consistentecom a metodologia da grounded theorye da escrita cientfica social, visto que as

    histrias se organizam em torno de categoriasconceptuais (Charmaz, 2000).

    Resultados

    Subtema 1: Experincias relacionais nodomnio profissional que contriburam parao desenvolvimento do psicoterapeuta

    No domnio da prtica psicoteraputica, asexperincias relatadas como mais marcantes

    surgem no contexto de interao com osclientes. A natureza relacional da psicoterapia entendida pelos psicoterapeutas comopedaggica e transformativa no sentidoem que a vivncia partilhada da situaoteraputica se constitui enquanto espaoprivilegiado para o seu desenvolvimentoprofissional. Nesse tema, emergiram trscategorias:

    1.1. experincias com impacto positivo ereforador da prtica; 1.2. experincias comimpacto negativo na prtica psicoteraputicae 1.3. fatores validados pela experinciapsicoteraputica considerados determinantesno processo teraputico.

    1.1. Experincias com impactopositivo e reforador da prtica

    So ressaltadas como tendo impacto positivoe reforador da prtica (a) experincias

    promotoras de um sentimento de gratificaopela ajuda prestada em situaes de grandesofrimento e em que o psicoterapeutapercebe um sentido de utilidade na evoluo

    do processo teraputico, (b) experincias deacesso a dimenses privilegiadas da vivnciahumana atravs dos clientes e (c) a naturezada ligao emocional.

    A percepo de sucesso no acompanhamentode casos avaliados como mais difceis egeradores de maior ativao emocionalnos psicoterapeutas (decorrente, entreoutros aspetos, da experincia vicariante dosofrimento) so sentidas como reforadoras doinvestimento na prtica clnica, nomeadamenteem fases iniciais do exerccio da prticapsicoteraputica. Essas experincias podemser to marcantes que podem determinar oinvestimento, por parte do psicoterapeuta,em determinadas problemticas e mesmo apermanncia no exerccio da psicoterapia.Um dos psicoterapeutas cita um caso deresoluo difcil como marcador central daresoluo da angstia derivada de expectativas

    desajustadas e ampliadas relativamente aoseu papel como psicoterapeuta e que ofaziam questionar a continuidade da suaprtica clnica (c1m). Alguns processos sorepresentados como marcos importantesna sinalizao de transies entre fasesdesenvolvimentais distintas. Vejamos, porexemplo, o caso de uma psicoterapeutaque possui na sua carteira fotografias deuma cliente que foi considerada marco

    importante na sua capacidade de estabelecera relao teraputica (s1f), ou o caso de outropsicoterapeuta que ainda guarda o desenho,na sua parede de consultrio, de um processodifcil e de grande ativao emocional(c1m).Os participantes tambm consideramque o acesso a dimenses consideradasprivilegiadas da vivncia do ser humanotem impacto positivo e reforador na prticapsicoteraputica, nomeadamente, pelotestemunhar da capacidade combativa dosujeito, pelointeresse suscitado pelo filosofar

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    1 No sentido deauxiliar o leitor naidentificao e nacompreenso das

    narrativas transcritas,foi atribudo um

    cdigo s citaesonde constam

    trs indicaes: aprimeira relativa

    orientao terica(cc-cognitivo

    comportamental,c-constructivista,

    h-humanista,p-psicanaltica,s-sistmica), a

    segunda relativaao nmero de

    entrevistas dentro domesmo modelo, e aterceira, relativa ao

    sexo do entrevistado(m-masculino ef-feminino). Porexemplo, (p1m)

    p corresponde orientao

    psicanaltica, 1,ao nmero dopsicoterapeuta

    dentro da orientaopsicanaltica, e m

    corresponde ao sexo

    masculino.

    Helena Moura de Carvalho & Paula Mena Matos

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    (h1m) idiossincrtico do cliente: O que apsicoterapia tem de mais encantador quevoc tem janelas para aquilo que as pessoastm de mais interessante, que a capacidade

    de se debaterem e de lutarem contra umasituao extremamente adversa (c2m).

    A natureza da ligao emocional que ospsicoterapeutas afirmam estabelecer comdeterminados clientes e que determinamo acesso a material significativo na vivnciado cliente so tambm consideradosmomentos marcantes na sua histria comopsicoterapeutas:

    Os momentos (mais marcantes) so osmomentos de ativao emocional dospacientes ou quando so pessoas comaspetos de privao muito grandes ou deuma vinculao muito distante s figurasmais prximas, e que depois se vinculama ns de uma maneira muito particular, eque nos tm em grande conta e em grandeestima, e que depois se permitem, noespao da consulta, s vezes certos tiposde ativao e de recordao de certasmemrias, e procuramos trabalhar certosacontecimentos de vida que quaseum privilgio s vezes ter acesso a essascoisas (cc2m)

    1.2. Experincias com impactonegativo na prtica psicoteraputica

    Por outro lado, considera-se que tmimpacto negativo na prtica psicoteraputicae no desenvolvimento do psicoterapeutana medida em que podem condicionaro exerccio da mesma: (a) a perceo daincapacidade de ajuda, nomeadamentequando associada a expectativas elevadasdo poder do psicoterapeuta em proporcionarajuda ao cliente, (b) as desistncias dapsicoterapia quando constituem surpresae, por isso, so representadas como umaameaa capacidade de avaliao daevoluo do processo teraputico, (c)as dificuldades sentidas em estabeleceruma relao teraputica de ajuda com

    determinados clientes e problemticas,

    descrito por uma psicoterapeuta comoacontecimento terrvel (cc1f) e expressa naseguinte afirmao:

    Sentir que eles (os clientes) precisavam deser ajudados, mas, por outro lado, desejarque no voltassem, porque era demasiadoduro para mim aguentar () so consultas,alm de dolorosas do ponto de vistahumano, porque ns no conseguimosde facto distanciarmo-nos dessa situao, estarmos sempre muito atentos aqualquer frase ou qualquer palavra que nspodemos dizer que pode ser interpretadade forma errada e, portanto, deitar tudoaperder (s2f)

    Outras experincias avaliadas pelospsicoterapeutas como dotadas de impactonegativo na prtica psicoteraputica e nodesenvolvimento do psicoterapeuta so: as (d)dificuldades sentidas na gesto dos limites dapsicoterapia com os clientes, nomeadamentesituaes de assdio de clientes, deperseguio ou de aproximao para almdos limites da psicoterapia ou tentativas demanipulao em psicoterapia conjugal e,

    por ltimo, (e) o desgaste emocional que avivncia relacional de situaes dramticas ea vivncia de situaes-limite de sofrimentohumano possam provocar no psicoterapeuta,e que est patente na seguinte narrativa:

    Ns temos que absorver muita emotividadenegativa, isso passa por ns (...) Nstrazemos a voz dos pacientes conosco,portanto, as emoes ficam conosco edemoram horas a escorrer para fora docorpo, horas (). Tocamos o absurdo

    da vida, ficamos ali com o absurdo aocolo e, s vezes, demoram horas at noslibertarmos disso (c2m)

    Essas experincias so percebidas comomarcantes do ponto de vista negativodo desenvolvimento do psicoterapeutadevido dificuldade em gerir o seu tnusemocional, nomeadamente em momentosiniciais da prtica psicoteraputica. A prticasupervisionada e a discusso interpares so

    representadas como momentos optimais para,

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    por um lado, dar segurana e tranquilidadenecessrias ao exerccio da prtica clnica,principalmente pela confrontao comnovas perspetivas acerca da interveno

    e, por outro lado, para auxiliarem ospsicoterapeutas na gesto da carga emotivasuscitada no confronto com situaes-limitede sofrimento humano, como exemplifica orelato abaixo:

    Aque la part ilha quase como umacatarse, pronto, ok, deixa descarregar(...) ns que trazemos aquela cargaemocional, portanto, temos um colegacom quem vamos descarregar e vamosfalar e o que que sentimos, o que que

    pensamos, e as dvidas que tivemos issoajuda imenso, parece que ufa, saiu umfardo de cima das nossas costas (s2f)

    1.3. Fatores validados pelaexperincia psicoteraputicaconsiderados determinantes noprocesso psicoteraputico

    A sntese e a integrao das experinciasdecorrentes da prtica psicoteraputica

    parecem tambm contribuir para a validaodos fatores determinantes no processo demudana psicoteraputica, alguns dos quaisj abordados na componente terica daformao do psicoterapeuta, mas que soreforados pela prtica acumulada, a saber:(a) a importncia da significao pessoal dosclientes acerca das suas problemticas, o quenos remete para uma leitura colaborativado processo teraputico, to bem expresso

    na seguinte afirmao a boa hiptese a hiptese til, no necessariamente ahiptese verdadeira! (s3f),(b) aimportnciada qualidade da relao teraputica comofator determinante do processo, patente naseguinte afirmao:

    No incio, isso era apenas teoria, hoje uma coisa que eu sei que umarealidade porque a vivi, porque, ao longodestes anos, encontrei pessoas, casosmais difceis, outros menos, mas em queeu descobri que, se eu criar as condies

    relacionais, essas pessoas so capazes deencontrar a melhor maneira de estar navida (h2m)

    Outro fator que emerge da prtica acumuladae refletida (c) o conhecimento da pragmticada ajuda, ou seja, o conhecimento emergentedo acompanhamento de diversos clientes edas suas histrias psicoteraputicas, que sopreservados na memria do psicoterapeutae se constituem enquanto importantesrecursos na conduo de novos processospsicoteraputicos:

    Eu j vivi caminhadas muito semelhantess que estamos a fazer com outras

    pessoas, j fiz travessias muito complicadascom outras pessoas, e portanto, j fuio barqueiro de muita gente. E possocontar muitas histrias que tm muitavalidade clnica, que ajudam muito aspessoas a perceberem as suas experinciase a sentirem-se legitimadas nas suasdificuldades, portanto essa , de facto,uma mais-valia importante e que no vemnos manuais, a prpria aprendizagem dapragmtica da clnica (c2m)

    Subtema 2: Experincias relacionais nodomnio pessoal que contriburam para odesenvolvimento do psicoterapeuta

    No domnio das experincias pessoaisdo psicoterapeuta, foram sinalizadosacontecimentos subjacentes a transiesnormativas e no normativas promotorasde mudana na forma de estar e de serpsicoterapeuta. So as tais luzes e sombras(s4f) do percurso pessoal, como nos diz umaparticipante e que se projetam no cenrio daprtica psicoteraputica:

    A pessoa vai amadurecendo, vai passando,ela prpria, por fases importantes doseu ciclo de vida pessoal, conjugal,familiar; acho claramente que um fatorimportantssimo no amadurecimento deum psicoterapeuta e no crescimento de

    um psicoterapeuta (s4f).

    Nesse subtema, emergiram duas categorias:

    2.1. implicaes nas escolhas psicoteraputicase 2.2. implicaes na relao psicoteraputica.

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    2.1. Implicaes nas escolhaspsicoteraputicas

    A permeabilidade entre acontecimentos da

    vida pessoal e cultural e decises na esferaprofissional so representadas: (a) na escolhavocacional para o exerccio da psicoterapiae (b) na escolha dos modelos, problemticase populaes preferenciais de interveno.

    Na escolha vocacional para o exerccio dapsicoterapia, foram citadas experinciaspromotoras de reflexo e questionamentopromovidas no contexto de pares e de

    familiares bem como acontecimentos quedesencadearam crises pessoais, tais comoruturas relacionais e perdas subjacentes aointeresse pelas motivaes e compreensodo comportamento humano:

    Eu tive uma fase de crise pessoal, em queestive muito mal, muito deprimido, comum corte relacional, enfim, foi uma fasecomplicada para mim, foi uma fase dequestionamento, e, de repente, acho quecomecei a ficar fascinado como que as

    pessoas funcionavam (c1m).

    A Revoluo de Abril2 foi tambm avaliadacomo contexto cultural e poltico criativoe potenciador de interrogaes, debatese preocupaes de interveno social, e representada por alguns psicoterapeutascomo contexto favorvel emergncia dointeresse nas cincias sociais e humanas.

    Foram tambm descritas experin-ciasno contexto pessoal que tiveram impactona escolha dos modelos tericos, dasproblemticas e das populaes deinterveno. Um psicoterapeuta descreveo impacto do nascimento da filha na suadisponibilidade para continuar a atendercrianas em um registo mais analgico (c1m),e outro fala-nos sobre a relao entre a mortedo pai e o seu interesse por problemticas no

    domnio existencial (cc3m).

    2.2. Implicaes na relaopsicoteraputica

    tambm sinalizado o impacto que

    determinadas experincias de vida tiveramna construo e no significado da relaoteraputica, nomeadamente no que se refere (a) empatia:

    Coisas da minha vida que me aconteceramtambm me levaram a estar de outra forma,uma coisa a empatia que ns tentamostodos ter, outra coisa aquilo que sentimosa partir de experincias que tambm jvivemos, e, com a idade e com o tempo,a vida vai-nos trazendo coisas que nos

    ajudam a perceber melhor o mundo dosoutros (h3m)

    descrito tambm o impacto que experinciasdramticas e dificuldades sentidas, emespecial no mbito conjugal e familiar, tmna disponibilidade para a prtica e para arelao psicoteraputica, principalmente nacapacidade de (b) devolver esperana. Naseguinte transcrio, uma psicoterapeuta

    descreve como a vivncia de tragdias na suainfncia se reflete na sua forma de transmitiresperana aos seus clientes:

    Passei por vrias tragdias, tragdias,mesmo, na vida, se calhar, o facto de terconseguido sempre lidar de uma formamais construtiva, ou mais positiva, e como tal sorriso, acho que isso tambm depoisse traduz, quando estou a assistir aosoutros no sofrimento deles (...) as minhascompetncias, as minhas foras, servem-me tambm para entender os outros,

    para ir descoberta das competncias edas foras nos outros e, se calhar, para sermais convicta na transmisso dessas forase dessas competncias (s1f)

    Histria core desenvolvimento dopsicoterapeuta: dilogo e coerncia entreselfpessoal e profissional

    O tema organizador ou histria core transversalnas entrevistas o desenvolvimento do

    psicoterapeuta como processo progressivo de

    2 A revoluo de 25de abril de 1974,

    tambm conhecidacomo Revoluo

    dos Cravos, marcao derrube do

    regime ditatorial ea instaurao do

    regime democrticoem Portugal.

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    procura de coerncia entre as experinciasda v ivncia pessoa l e prof is s ional .O desenvolvimento prof iss ional dopsicoterapeuta encontra-se intimamente

    relacionado com a sua construo comopessoa. Esta parece ser a representaomais explicitada pelos psicoterapeutasentrevistados acerca do seu desenvolvimentoprofissional:

    Eu no vejo a psicoterapia como um ter,a psicoterapia um ser, um processoconstitutivo, ns temos que respirar isso() porque tambm o nosso prpriodesenvolvimento pessoal, tambm somosns prprios que tambm estamos muito

    em jogo nas coisas que temos dentrode ns prprios, naquilo que somos, nacompreenso daquilo que somos e nautilizao dessa mesma compreenso(p1m)

    O psicoterapeuta um profissional darelao, e, como afirma uma psicoterapeuta,uma questo de investigao fundamentalconhecer os prprios psicoterapeutas,porque ns somos o principal instrumento

    do nosso trabalho(cc1f),instrumento essecom histrias relacionais, com memrias,construes de realidades, significados, comidiossincrasias que esto presentes na formacomo se psicoterapeuta.

    O desenvolvimento do psicoterapeuta no seinscreve exclusivamente no plano profissionalde desenvolvimento de competnciastcnicas para o exerccio da prtica, mas

    remete ao domnio do autoconhecimentoe da aceitao de caractersticas pessoaiscomo importantes recursos para a definiode uma prtica personalizada de intervenopsicoteraputica. O autoconhecimento ea aceitao de si so mesmo consideradosfatores relevantes na aceitao e nacompreenso do outro: se a pessoa nose consegue conhecer bem, dificilmenteconsegue conhecer os outros, e, se noconsegue conhecer os outros, dificilmente

    emptica (s1f). Um dos psicoterapeutas

    fala-nos tambm sobre o autoconhecimentopresente na capacidade de leitura dasressonncias do que o cliente transmite parao processo psicoteraputico:

    Leio melhor o desconforto de um modorelacional, isto , quando me sintodesconfortvel, em vez de achar que soueu que sou inadequado, que eu podia sermelhor psicoterapeuta, penso por que que eu estou a sentir isso, por que queesta pessoa me est a fazer sentir (...) porque que que a relao com essa pessoame est a fazer sentir desconfortvel, o que

    que ela me est a dizer?(c1m)

    A sntese e a integrao de experinciasno domnio pessoal e profissional dopsicoterapeuta sugerem a progressivapersonalizao do papel e das caractersticasconsideradas importantes na prticapsicoteraputica. A construo de um estilopessoal de interveno e a legitimaoda pessoa do psicoterapeuta constituemmarcadores centrais do seu processomaturativo e desenvolvimental:

    Eu sou muito mais eu do que era nopassado (...) e, portanto, o meu bem-estarpassou a ser legitimado na relao. A minhaexperincia pessoal passou a ser legitimada,apessoa que eu sou passou a ser legitimada(c2m)

    O proce s so de senvo l v imen ta l dopsicoterapeuta representado como umprocesso ao longo da vida e da experinciarefletida da prtica, visto actualizar-se nadiferena que a compreenso do outro exige.E so precisamente a curiosidade, a abertura experincia fenomenolgica do outro eo fascnio subjacente compreenso dacomplexidade e da singularidade humanasos lubrificantes primordiais da engrenagemdinmica e inacabada do desenvolvimentodo psicoterapeuta. Tal como ressalta umpsicoterapeuta:

    A psicoterapia um fenmeno de

    humanidade (...) o ser-se psicoterapeuta um caminho, e um caminho que nunca

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    est, nem nunca ser, acabado, nuncaser terminado, um caminho que sevai fazendo ao longo da experincia, ao

    longo da vida (p1m)

    Discusso dos resultados eimplicaes do estudo

    (...) imprescindvel uma reflexo adequadasobre a pessoa do psicoterapeuta, poisele mais importante como pessoa queo mtodo ou sistema que utiliza. maissignificativo o que faz, transmite e vive queas tcnicas ou a viso filosfica em que sefundamenta. O resultado e a eficincia dapsicoterapia dependero muito da grandezae amplido de sua personalidade (Ribeiro,

    1986, pp.15-16)

    O objetivo do presente estudo foi analisaras representaes e significaes de 20psicoterapeutas reconhecidos (peritos) dediferentes orientaes tericas e prticasacerca das experincias e dos momentosque consideraram determinantes no seudesenvolvimento profissional. Neste estudo,no entanto, no se procurou desenhar

    as trajetrias desenvolvimentais dopsicoterapeuta, mas analisar a diversidadede experincias que ocorrem no espaoteraputico e extrateraputico quecontribuem para a construo do que o ser psicoterapeuta. As experinciasrepresentadas pelos psicoterapeutas comoas mais passveis de promover mudanae desenvolvimento surgem no contextode dimenses interpessoais da existncia

    do psicoterapeuta, quer no contexto derelaes psicoteraputicas, quer no contextode relaes pessoais. Esses dados soconsistentes com o estudo de Skovholte Rnnestad (1995), que afirmam queexperincias interpessoais parecem sermais importantes do que fontes impessoaisde informao tais como seminrios,teorias e trabalhos desenvolvidos. Tambmno estudo internacional de Orlisnky e

    Rnnestad (2005) a experincia clnica comclientes considerada a mais determinante

    no desenvolvimento do psicoterapeuta,seguindo-se a psicoterapia pessoal, asuperviso, os cursos e seminrios e asexperincias na vida pessoal. Tal constatao

    no invalida, no entanto, a importnciaincontornvel de uma formao terica e umasuperviso de qualidade no desenvolvimentodos psicoterapeutas e na prpria qualidadede interveno com os clientes.

    Relat ivamente ao primeiro subtemaanalisado, experincias relacionais nodomnio profissional que contriburampara o desenvolvimento do psicoterapeuta,

    verificamos que so as experincias comum tnus emocional mais intenso querepresentaram momentos significativos no seudesenvolvimento. Por um lado, verificamosque so representadas como experinciasque tm impacto positivo e reforador daprtica o sentido de gratificao, o acessoa dimenses privilegiadas da vivncia docliente e a natureza da ligao emocionalque esses profissionais desenvolvem comalguns clientes, como experincias que

    lhe devolvem o sentido de utilidade e deeficcia da sua prtica. Por outro, o sentidode incapacidade de ajuda, as desistnciasinesperadas de clientes, as dificuldades emestabelecer a relao teraputica, a gesto doslimites da psicoterapia e o desgaste emocionalprovocado pela prtica parecem constituirdesafios desenvolvimentais que poderosuscitar o abandono precoce da atividadeou mesmo o burnout do psicoterapeuta.

    Os profissionais da sade mental soconsiderados especialmente suscetveis sndrome de burnout (Abreu, Stoll, Ramos,Baumgmart, & Kristensen, 2002; Dlugos &Friedlander, 2001). Os resultados encontradosno presente estudo so corroborados porinvestigaes que sublinham, como fatores derisco para o burnout dos psicoterapeutas, osentido de no gratificao, a inexistncia demelhorias dos clientes, o desgaste provocadopela exposio ao sofrimento humano e aosobre-envolvimento emocional (e.g. Farber

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    & Heifetz, 1982; Hellman, Morrison, &Abramowitz, 1986).

    A prtica ref let ida e acumulada parece

    tambm ser representada como importantedispositivo para a validao dos fatoresdeterminantes no processo de psicoterapia. Aleitura colaborativa do processo teraputico,a importncia da qualidade da relaoteraputica e a pragmtica de ajuda,processo que Rnnestad e Skovholt (2003)designam desenvolvimento do conhecimentosensvel ao contexto, parecem ser trs dascaractersticas identificadas por Skovholt e

    Jennings (2004) e por Rnnestad e Skovholt(2003) em psicoterapeutas peritos. Sendoa psicoterapia uma arte (Gomes, 1995),um encontro dialgico entre as realidadesdo psicoterapeuta e do cliente, no surpreendente que o espelho deste ltimoconstitua o maior reflexo da prtica exercidapelo profissional, e so precisamente acompreenso e a integrao dos encontrose dos desencontros desses momentos oscatalizadores centrais de um sentido do sere estar em psicoterapia.

    No que se refere ao segundo subtemaabordado, verificamos que experinciasrelacionais no domnio pessoal tiveramimplicaes na escolha vocacional parao exerccio da psicoterapia, na escolhados modelos, problemticas, populaespreferencia is de interveno e naconstruo e no significado da relao

    teraputica, nomeadamente no que serefere empatia e devoluo de esperanaaos clientes. No estudo de Rnnestad eSkovholt (2003), os autores verificaramque psicoterapeutas mais experientesrelatavam maior impacto de experinciasda vida pessoal na prtica profissional. Nomesmo estudo, os autores constataramque experincias com um tonus emocionalnegativo, como histrias de abandono e

    contextos familiares rgidos e exigentes,parecem ser mais marcantes do ponto de

    vista das implicaes para a prtica. Apesar deno presente estudo os psicoterapeutas noenunciarem explicitamente os acontecimentosde vida com implicaes para a prtica,

    nomeadamente experincias de carctermais negativo, verificamos que, no que serefere a acontecimentos de vida geradores demaiorstress emocional, estes so atualmentepotenciados na prtica psicoteraputica esentidos como mais-valias no que se refere empatia e prestao de apoio. Essasexperincias remetem-nos para o conceito deHenry (1966) de wounded healer ou curadorferido, segundo o qual as feridas de estdios

    iniciais de desenvolvimento do psicoterapeutacontribuam para a prestao de ajuda maiseficaz. Outros estudos sublinham a necessidadede reflexo, compreenso e integrao dessasferidas para um desempenho mais efetivona ajuda psicoteraputica (Stiles, 1997). Oestudo internacional de desenvolvimentodos psicoterapeutas tambm nos remetepara essa permeabilidade entre a sua histriade vida pessoal e a sua prtica, visto teremsido encontradas relaes entre a qualidadedos cuidados na infncia e o desempenhoprofissional. Essa relao, porm, moderadapela sua psicoterapia pessoal (Orlinsky &Rnnestad, 2005; Orlinsky et al., 1999), vistoesta constituir-se enquanto oportunidadeprivilegiada para o autoconhecimentoe para a compreenso das implicaesdas caractersticas do psicoterapeuta nacompreenso e na leitura do outro. SegundoBoris (2008, p.167), para o terapeuta, no h

    melhor introduo variedade do sofrimentohumano do que a descoberta de que, emalgum canto de seus pensamentos, ele podeencontrar palavras, lembranas, razes, visese pensamentos parecidos com aqueles queafetam, agitam ou mesmo enlouquecemseus pacientes. precisamente esse cantodos pensamentos a histria que antecede eacompanha o ser psicoterapeuta-pessoa e queconstitui um desafio compreenso da leitura

    das caractersticas que os psicoterapeutas usame potenciam na sua prtica profissional.

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    Rogers (1975), no seu artigo ironicamenteintitulado Empathic: an unappreciatedway of being, destaca que, quanto maisintegrado o psicoterapeuta se sentir consigo

    mesmo, maior o grau de empatia que exibe(com os clientes) (p.4). O ser e tornar-sepsicoterapeuta um processo que ultrapassao domnio dos modelos tericos, das tcnicase da leitura conceptual da psicoterapia,normalmente privilegiada nos estudoscomparativos (Reupert, 2006), e inscreve-se em um domnio mais complexo decrescente diferenciao e de personalizaoda prtica. Dessa forma, esse processo

    representado pelos participantes comocontnuo, inacabado, na medida em quese desenha na dialtica entre experinciaspsicoteraputicas e extrapsicoteraputicas,sendo a prpria definio de psicoterapia, demudana teraputica, de relao de ajuda edo papel do psicoterapeuta inerente histriado desenvolvimento desse profissional.Parece-nos, assim, que a contnua procurade uma coerncia entre o que so os desafiosrelacionais da prtica e os da vivncia pessoal

    do psicoterapeuta dever ser objeto de umacompreenso mais aprofundada, dadas asimplicaes da mesma na representao daqualidade das prticas psicoteraputicas.

    Uma primeira implicao deste estudoprende-se com a importncia de relevar,no decurso do treino, da formao e dasuperviso dos psicoterapeutas, a componentesocioafectiva do seu desenvolvimento.

    Devido natureza desafiante das experinciaspsicoteraputicas, esta poder, por um lado,revelar-se desenvolvimental e potenciadorade nveis de complexificao crescentequando da integrao das aprendizagens,e por outro, poder comportar riscos,dada a vivncia vicariante de situaesdramticas e as exigncias pessoais. Aintegrao, no currculo de profissionais depsicoterapia, de experincias que promovam

    a reflexo da prtica, o autoconhecimento

    e a integrao de experincias pessoais, paraque estas sejam compreendidas quandoprojetadas e o auxiliem na gesto emocionalde experincias psicoteraputicas, constitui

    um desafio central da humanizao do ensinodo psicoterapeuta. J Freud, em 1910/1978,reconhecia que nenhum psicanalista poderiair mais alm do que o permitido pelos seusprprios complexos e resistncias internas(p.145). A psicoterapia ser sempre umencontro de duas ou mais leituras do self,do mundo e dos outros, e, como diriaMahoney (1998), as nossas escolhas noso nem aleatrias, nem irrelevantes, e

    seremos sbios ao examinarmos os padrese as preferncias das nossas prprias opes.Tal envolve a compreenso, tanto quantopossvel, das implicaes dos significados dopsicoterapeuta sob a forma como percebe ocliente e todo o processo psicoteraputico.Ass im, pa rece -nos se r import an te , naformao dos psicoterapeutas, atender ssuas idiossincrasias e vivncias e promover odesenvolvimento de competncias relacionaisque potenciem o trabalho teraputico.

    Uma segunda implicao sublinha a importnciade relevar, no estudo, a humanizao dopsicoterapeuta, nomeadamente no quese refere necessidade de aprofundarmoso impacto que a sua histria pessoal erelacional tem na forma como personaliza asua prtica e d significado ao seu papel. Aintroduo de caractersticas pessoais comovariveis importantes da forma de ser e de

    tornar-se psicoterapeuta podero ajudar acompreender as interaes complexas quese estabelecem entre profissional e cliente,quer em uma abordagem de investigao dosprocessos, quer dos resultados. A forma comoos psicoterapeutas veem as suas relaespessoais e de vinculao, como regulam assuas emoes, como percecionam as suascompetncias relacionais, a satisfao emcontextos relacionais mais significativos eo seu sentido de self podero ser tpicosimportantes na investigao mais aprofundada

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    Helena Moura de CarvalhoEste artigo foi realizado no mbito da bolsa de doutoramento (SFRH/BD/22333/2005) e do projecto Vinculao,desenvolvimento e adaptao psicossocial (PTDC/PSI/65416/2006) suportados pela Fundao para a Cincia eTecnologia-Portugal.Licenciatura (a terminar doutoramento), Psicloga e investigadora do Centro de Psicologia da Universidade doPorto, Portugal.E-mail: [email protected]

    Paula Mena MatosPsicloga, Investigadora do Centro de Psicologia da Universidade do Porto e Professora Auxiliar da Faculdadede Psicologia e de Cincias da Educao da Universidade do Porto, PORTUGAL. (estudante de doutoramento)

    E-mail: [email protected] para envio de correspondncia:Faculdade de Psicologia e de Cincias da Educao da Universidade do Porto, Rua do Dr. Manuel Pereira daSilva, Porto, Portugal CEP 4200-392.

    Recebido 28/10/2009, 1 Reformulao 17/5/2010, Aprovado 7/6/2010

    do impacto da qualidade das experinciasrelacionais e dos acontecimentos na vivnciapessoal na forma de ser e de tornar-sepsicoterapeuta.

    Os resul tados do presente es tudodevem ser analisados luz de vriaslimitaes. A primeira reside no facto deque, devido natureza qualitativa doestudo exploratrio apresentado, os dadosno podero ser generalizados a outros

    psicoterapeutas seno de forma terica ehipottica. A segunda limitao prende-secom processo de identificao da amostrade nomeao por pares, na medida em

    que, apesar de procurarmos minimizar oefeito do conhecimento institucional dospsicoterapeutas, ao reunirmos o consensoentre nove profissionais de diferentespontos geogrficos do pas, esta no considerada uma amostra representativa depsicoterapeutas experts (peritos) em Portugal.

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    Helena Moura de Carvalho & Paula Mena Matos

    PSICOLOGIA:CINCIA E PROFISSO,

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