SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre...

115

Transcript of SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre...

Page 1: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados
Page 2: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

3

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

SUMÁRIO

Editorial ................................................................................................................................. 04

Fatores Determinantes para a qualidade nas redes de franquias do segmento de

alimentação no Brasil ............................................................................................................ 05

Fernanda Benassi

Rodolfo L. de Faria Olivo

Izabela de S. Rosa

A discrepância da implantação e apuração da contabilidade de custos no ensino

tradicional de custos: Uma abordagem sobre o ensino da disciplina de Contabilidade de

Custos ..................................................................................................................................... 29

Alexandre Cacozzi

Crítica a abordagem funcionalista na análise organizacional .......................................... 53

Giovanna Garrido

Patrícia Saltorato

A gestão de custos nas micro e pequenas empresas ............................................................. 76

Marcelo Cardoso de Azevedo

Elaine Denise Candiani

A farsa do desequilíbrio fiscal previdenciário .................................................................... 95

Thaís Cristina Fernandes

Resenha – Valsa Brasileira ................................................................................................. 111

Thaís Cristina Fernandes

Page 3: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

4

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

EDITORIAL

Esta edição da Revista Análise apresenta duas novidades; a primeira, a nova capa da

Revista, mais moderna e interativa, a segunda; propõe-se à elaboração e desenvolvimento de

resenhas de livros recém-lançados sob a ótica das ciências sociais aplicadas, portanto, a partir

de então, sempre teremos uma resenha contribuindo com novos horizontes literários aos

nossos(as) leitores(as).

Este número inicia-se, com o artigo Fatores Determinantes para a qualidade nas

redes de franquias do segmento de alimentação no Brasil em que procura entender o que, de

fato, determina a qualidade e a excelência de produtos e serviços prestados através de

franquias no Brasil.

Em seguida, o artigo A discrepância da implantação e apuração da contabilidade de

custos no ensino tradicional de custos: Uma abordagem sobre o ensino da disciplina de

Contabilidade de Custos avalia que a disciplina de contabilidade de custos é importante para a

formação profissional na área contábil, entretanto, existe a necessidade de adaptá-la aos novos

parâmetros tecnológicos e empresariais.

O artigo Crítica a abordagem funcionalista na análise organizacional demonstra a

necessidade de adoção de metodologias ideográficas de pesquisa, considerando que só seja

possível compreender o mundo social enfatizando também as abordagens subjetivas que

marcam a realidade organizacional.

Na sequência, o artigo A gestão de custos nas micro e pequenas empresas procura

apresentar a importância e contribuição efetiva das ferramentas gerenciais e de custos para

micro e pequenas empresas.

Em A farsa do desequilíbrio fiscal previdenciário analisa a viabilidade do Sistema

Previdenciário Brasileiro, bem como seus reais problemas.

Por fim, a resenha do Livro (Valsa Brasileira) de autoria da Profa. Laura Carvalho,

contribui ao entendimento do conflituoso contexto da economia brasileira.

Boa Leitura!

Prof. Paulo Daniel

Editor-Chefe

Page 4: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

5

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

FATORES DETERMINANTES PARA A QUALIDADE NAS REDES DE

FRANQUIAS DO SEGMENTO DE ALIMENTAÇÃO NO BRASIL

BENASSI, Fernanda.1

OLIVO, Rodolfo Leandro de Faria.2

ROSA, Izabela de Souza.3

Resumo

A pesquisa busca entender quais são os fatores relevantes para determinar a qualidade das

franquias do segmento alimentício no mercado e se o Selo de Excelência em Franchising

possui relevância neste quesito. Para o melhor entendimento, foram realizados testes

estatísticos (média, desvio padrão e teste de hipóteses), a fim de comparar as franquias que

possuem o selo e as franquias que não possuem o selo. A obtenção dos dados foi realizada a

partir do Guia de Franquias, publicado anualmente pela Associação Brasileira de Franchising

(ABF). Os resultados obtidos na pesquisa sugerem que o Guia de Franquias da ABF pode ser

utilizado por um futuro franqueado para a escolha do seu investimento, mas o Selo ABF de

Excelência em Franchising não é um parâmetro sempre presente em franquias de qualidade,

sendo que assim não deve ser tomado como decisivo e absoluto na avaliação da qualidade da

rede franqueada.

Palavras-chave: franquias, ABF, qualidade, selo de excelência em franchising.

1 Mestre em Estatística pela UNICAMP. Professora da Unianchieta. 2 Doutor em administração pela FEA/USP. Professor da Unianchieta e da FIA – Fundação Instituto de Administração.

3 Graduada em Administração pela Faculdade FIA de Administração e Negócios.

Page 5: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

6

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

1. Introdução

1.1. Contextualização

Por que os consumidores possuem preferência em serem atendidos por franquias e

estabelecimentos que apresentam um reconhecimento em qualidade? Por que um

empreendedor optaria por investir em uma franquia de qualidade reconhecida? Qual a

importância para uma rede de franquias buscar atingir aos critérios estabelecidos pela ABF?

Como podemos então relacionar a qualidade com o crescimento de uma rede de

franquias? O empreendedorismo é a principal forma que os brasileiros estão encontrando para

tornarem suas ideias em realidade.

Verificando essa importância de classificação em qualidade, tanto para os

consumidores, quanto para os lojistas que a ABF decidiu criar em 1990 o prêmio “Selo de

Excelência em Franchising”, que premia anualmente as melhores franquias com o seu selo de

qualidade e demonstra aos consumidores quais são as empresas que melhor atendem a rígidos

critérios de qualidade e que melhor cuidam dos seus clientes, além de demonstrar aos próprios

franqueados um relatório informando seu desempenho em diversas áreas.

Sendo assim, quais seriam os fatores que determinam as qualidades de uma rede de

franquias do setor alimentício e como mantê-las a fim de aproximar mais investidores e

clientes da sua marca?

Ao observar o desempenho e a participação das franquias para o crescimento e para o

desenvolvimento da economia no Brasil, além de notar a importância do segmento

alimentício para a geração de empregos, movimentação financeira e sua importante

participação no PIB do país, a questão de pesquisa envolve a avaliação dos fatores que são

determinantes para que a qualidade seja desenvolvida no setor e como é possível entender o

papel do Selo ABF de Excelência em Franchising para os franqueados, a questão busca

entender quais são os principais fatores que determinam a qualidade nas redes de franquias do

segmento de alimentação. Assim, pode-se resumir a pergunta que orienta a pesquisa na

seguinte indagação: “Quais são os fatores determinantes para a qualidade para as redes de

franquia no segmento de alimentação no Brasil? ” A pergunta, assim explicitada, nos leva à

discussão dos objetivos do presente trabalho.

O objetivo geral desta pesquisa visa encontrar e entender quais são os fatores que são

determinantes para distinguir as franquias de qualidade de acordo com o padrão da ABF e

como isso pode ser importante para os futuros franqueados.

Page 6: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

7

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

Uma vez que qualidade é um conceito de importante e complexa magnitude para

este trabalho e para o mercado, neste trabalho será então considerado que as redes

franqueadas com qualidade são aquelas que possuem o Selo de Excelência em Franchising.

O Selo de Excelência em Franchising visa reconhecer a qualidade e a excelência das

empresas e de sua atuação como franqueadora, além de estimular a melhoria de seu

desempenho, através da valorização das melhores práticas e do profissionalismo das redes que

atuam no setor. (ABF, 2016)

Os objetivos específicos desenvolvidos nesta pesquisa são:

a) Utilizando o Selo de Excelência em Franchising (SEF) como referência de qualidade,

distinguir as redes de alta qualidade (com o selo) das redes padrão (sem o selo) para o

setor de alimentação.

b) O Guia de Franquias é emitido anualmente pela ABF, buscando divulgar aos franqueados

e futuros investidores os custos e qualificação (com ou sem selo de qualidade) de cada

rede franqueada. Portanto, serão estudados comparativamente os dois grupos do objetivo

específico 1.4.2.1, seguindo as variáveis encontradas no Guia ABF de Franquias, que são:

(I) Número de lojas próprias, (II) Número de lojas franqueadas, (III) Número de serviços

de apoio oferecidos, (IV) Instalação, (V) Capital de Giro, (VI) Taxa de Franquia, (VII)

Royalties, (VIII) Taxa de publicidade, (IX) Tamanho em m², (X) Faturamento médio, (XI)

Payback e (XII) Número de funcionários. Estas variáveis foram escolhidas uma vez que

estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além

disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados públicos no Brasil, sendo de fácil

acesso a qualquer pessoa interessada no assunto.

c) Baseado na análise do objetivo b), determinar quais são os fatores relevantes para a

qualidade.

O Selo de Excelência em Franchising foi criado em 1990 pela ABF a fim de

distinguir e reconhecer as franquias mais qualificadas dentro de cinco blocos que são:

Performance Global, Performance Econômica, Performance Operacional, Performance em

Relacionamento e Performance em Sustentabilidade. Sendo assim, a Associação premia

anualmente as redes de franquias que melhor atendem aos pré-requisitos estabelecidos.

Page 7: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

8

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

2. Referencial Teórico

2.1. Definição de Franquia

A Lei Federal n° 8.955 de 15 de dezembro de 1994 regulamenta o funcionamento

das franquias e a sua definição de acordo com o artigo 2° é:

“Franquia empresarial é o sistema pelo qual um

franqueador cede ao franqueado o direito do uso de marca

ou patente, associado ao direito de distribuição, exclusiva

ou semi-exclusiva de produtos ou serviços, e

eventualmente, também ao direito de uso de tecnologia de

implantação e administração de negócio ou sistema

operacional desenvolvidos ou detidos pelo franqueador,

mediante remuneração direta ou indireta, sem que, no

entanto, fique caracterizado vínculo empregatício”.

Sendo assim, após a análise das duas definições podemos pensar em franquias como

a clonagem ou a reprodução de um plano de negócios já estruturado, com marketing, produtos

e processos inclusos na negociação que dependem de uma licença pré-acordada entre a

franqueadora, que, em suma, é a detentora da marca e seus naming rights e o franqueado, que

é o autônomo interessado em adquirir o direito da transmissão e a administração de um

negócio. Todo esse processo depende de uma extensa e rígida avaliação por parte do

franqueador, uma vez que seus direitos de execução só são liberados a um terceiro se este se

encaixar nos seus critérios. Além disso, o franqueado sofre uma constante avaliação e

monitoramento de seu franqueador, para que o sucesso da marca e a qualidade de seus

produtos ou serviços sejam mantidos e apresentados da melhor forma ao consumidor.

2.2. ABF

A Associação Brasileira de Franchising é uma entidade sem fins lucrativos criada em

julho de 1987, com a intenção de organizar e desenvolver o setor de franquias no Brasil,

oferecendo treinamentos e cursos para interessados no ramo. Além de sua importante

participação no cenário nacional, a ABF tem participação ativa em grandes entidades

internacionais do ramo de franquias, como a FIAF (Federação Ibero-Americana de

Franquias), IFA (International Franchising Association) e também é membro correspondente

da Federação Europeia de Franchising. Além de participar dessas entidades internacionais, a

ABF também assinou acordos com bancos nacionais e renovou o convênio com a Apex-

Brasil, que visa estimular o crescimento da exportação do franchising brasileiro.

2.3. Qualidade em Franquias

A interpretação da qualidade em franquias depende de cada consumidor, cada

franqueado e cada franqueador. Com Garvin (2002), veremos a análise através de oito

dimensões, que são:

Page 8: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

9

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

1) Desempenho: dimensão que se refere às características operacionais básicas de

um produto e como ele as desempenha, sendo assim, critérios mínimos que o

cliente espera;

2) Características: são os adereços do produto, ou seja, são os itens secundários

utilizados para suplementar as funções básicas e que podem ser usados para

aumentar as expectativas dos clientes;

3) Confiabilidade: demonstra a probabilidade do mau funcionamento ou falha de

um produto ou serviço;

4) Conformidade: demonstra se as características do produto estão de acordo com

os padrões, normas e leis (éticas e morais) estabelecidas pelo mercado ou

órgãos reguladores;

5) Durabilidade: entende-se como o tempo de vida útil do produto, tanto em

dimensões econômicas quanto técnicas;

6) Atendimento: refere-se à preocupação do usuário em como será realizado o

atendimento caso o produto ou serviço venha a falhar (agilidade, facilidade e

cortesia);

7) Estética: é a aparência do produto, abrangendo aspectos estéticos, sensoriais e

emocionais, sendo de difícil mensuração;

8) Qualidade percebida: refere-se à importância sobre fatores “secundários” que

não devem ser esquecidos como: marca, reputação e propaganda.

Estes e outros métodos de avaliação são importantes para ajudar a melhorar o

desempenho da organização ou do sistema em questão, já que estão sempre ajustados para

informar aos gestores quais as capacidades do sistema e seus níveis de performance

esperados, e, portanto, auxiliando no planejamento da empresa.

Garvin (2002) diz que cada dimensão é autossuficiente e distinta, podendo, às vezes,

uma ser mais importante que outras, dependendo do produto ou serviço em questão, mas que

juntas, em geral, cobrem uma gama de requisitos e expectativas sobre a qualidade do produto,

para os principais personagens em ação, que são os consumidores, franqueadores e

franqueados. Estas dimensões são aspectos básicos que todos os empreendedores deveriam

mensurar e avaliar seus rendimentos, já que constantemente melhorias são implementadas em

empresas do mesmo segmento, além da grande abertura para o lançamento de novos produtos

e serviços. Sendo assim, qualquer desvio de atenção pode ser fatal para uma empresa.

Halachmi (2005), já observava este processo, dizendo que uma empresa que não se preocupa

Page 9: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

10

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

em avaliar seu desempenho pode sofrer consequências, já que não se pode controlar aquilo

que não se entende. Quer dizer, se alguma empresa evitar fazer mensurações e estudos

constantes pode ficar para trás no comércio, perdendo cada vez mais clientes para novas

tecnologias e características não implementadas.

Litz e Stewart (1998 apud Lavieri, 2015), também reforçam que ao analisar o

desempenho de uma franquia, deve-se antes entender que a análise nunca deve focar

simplesmente na redução de custos financeiros. Primeiramente, porque a existência de uma

grande marca de franquia não está necessária e positivamente relacionada ao desempenho, e

também pelo fato de que participar de uma franquia traz muitos ganhos potenciais e de caráter

implícito no âmbito estratégico.

3. Metodologia de Pesquisa

Para realizar esta pesquisa e entender a questão da mesma, serão utilizados dados da

ABF, artigos, teses, notícias e livros que falem com propriedade a respeito de franquias e

qualidade, para estudar o caso e formar a conclusão será utilizado o Guia de Franquias da

ABF, que é elaborado e publicado anualmente pela associação, com o objetivo de demonstrar

os dados mais atuais sobre as franquias e seus franqueados, contendo dados sobre unidades,

valores, quantidade de suportes oferecidos, taxas, custos, entre outros. Essas referências serão

utilizadas para auxiliar, inicialmente, no entendimento mais profundo sobre o conteúdo como

um todo e posteriormente para auxiliar na elaboração de dados estatísticos que servirão para a

análise dos dados sobre qualidade e qual a influência dela para manter um padrão sobre o

serviço oferecido.

Para isso, os dados coletados serão separados em duas amostras (com e sem selo de

qualidade de franquias) e foi realizado o teste de média em cada variável:

I. Número de lojas próprias, que indica a quantidade total de lojas próprias do

franqueador;

II. Número de lojas franqueadas, que indica a quantidade total de lojas franqueadas que o

franqueador possui;

III. Número de serviços de apoio oferecidos, que indica a quantidade total de serviços

de apoio oferecidos pelo franqueador ao franqueado;

IV. Custo das instalações, que indica o custo médio necessário para realizar as

instalações para a abertura de mais uma unidade da franquia;

Page 10: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

11

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

V. Custo do capital de giro, que indica o custo médio que o franqueado deve possuir

para conseguir arcar com os custos iniciais de estoque, funcionários e despesas

fixas;

VI. Custo da taxa de franquias, que indica o custo médio que o franqueado deve pagar

ao franqueador pelo uso da imagem e sistemas da franquia;

VII. Custo dos royalties, que indica a taxa média paga mensalmente ao franqueador

para manutenção do direito de uso da imagem;

VIII. Custos da taxa de publicidade, que indica a taxa média paga mensalmente ao

franqueador para a manutenção do material de propaganda da franquia;

IX. Tamanho em metros quadrados, que indica a taxa média do tamanho necessário

para a abertura da franquia;

X. Faturamento médio, que indica a média do faturamento médio de cada unidade;

XI. Payback, que indica a média do tempo necessário para a obtenção do retorno do

investimento;

XII. Número de funcionários, que indica a média de funcionários necessários para

realizar as atividades propostas da melhor forma.

Então, foi possível realizar a comparação das duas amostras e avaliar quais variáveis

possuem maior importância na distinção entre franquias com qualidade e franquias sem

qualidade, sendo possível elaborar a conclusão da pesquisa.

3.1. Estimação intervalar de µ𝟏- µ𝟐

Sweeney et al (2013) explica que para realizar estudos de estimação é necessário

selecionar uma amostra aleatória simples de 𝑛1 unidades da população 1 e uma amostra

aleatória simples de 𝑛2 unidades da população 2, podendo então ser chamadas de amostras

aleatórias simples independentes.

Após a identificação das amostras é necessário definir a população 1 como todas as

franquias que possuem o SEF e a população 2 como todas as franquias que não possuem o

SEF.

µ𝟏 = Média da população 1 (Todas as franquias que possuem o SEF).

µ𝟐 = Média da população 2 (Todas as franquias que não possuem o SEF).

Para estimar a diferença entre as médias das duas populações (µ1- µ2), devem ser

selecionados uma amostra aleatória simples de 𝑛1 franquias da população 1 e uma amostra

Page 11: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

12

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

aleatória simples de 𝑛2 franquias da população, sendo então possível calcular a média

amostral das duas amostras:

𝒙𝟏 = Média amostral de cada variável de uma amostra aleatória simples de µ𝟏 franquias

com o SEF.

𝒙𝟐 = Média amostral de cada variável de uma amostra aleatória simples de µ𝟐 franquias

sem o SEF.

A estimação intervalar é então obtida por uma estimação por ponto ± uma margem

de erro, que no caso de estimação da diferença entre duas médias populacionais, uma

estimação por intervalo assume a seguinte forma:

𝒙𝟏 − 𝒙𝟐 ± Margem de erro

Com a distribuição amostral de 𝑥1 − 𝑥2 tendo uma distribuição normal, podemos

escrever a margem de erro da seguinte forma:

𝑀𝑎𝑟𝑔𝑒𝑚 𝑑𝑒 𝑒𝑟𝑟𝑜 = 𝒛𝜶/𝟐𝝈𝒙𝟏− 𝒙𝟐 = 𝒁𝜶/𝟐√

𝝈𝟏𝟐

𝒏𝟏+

𝝈𝟐𝟐

𝒏𝟐

Na equação:

𝑍𝛼/2 = 1,96

𝜎𝑦 = desvio padrão da variável independente

𝑛𝑦 = tamanho da amostra

Deste modo, a estimação por intervalo da diferença entre as duas médias

populacionais é a seguinte:

𝒙𝟏 − 𝒙𝟐 ± 𝒁𝜶/𝟐√𝒔𝟏

𝟐

𝒏𝟏+

𝒔𝟐𝟐

𝒏𝟐

Na equação:

𝑍𝛼/2 = 1,96

𝑠𝑦 = desvio padrão da amostra independente

𝑛𝑦 = tamanho da amostra

Page 12: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

13

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

Ainda de acordo com Sweeney et al (2013), para melhores estudos sobre a diferença

entre duas médias populacionais onde os dois desvios padrão, σ¹ e σ², são desconhecidos,

deverão ser utilizados os desvios padrão amostrais 𝑠𝟏 e 𝑠𝟐, para estimar os desvios padrão

populacionais desconhecidos. Utilizando os desvios padrão amostrais, os procedimentos de

estimação intervalar e de teste de hipóteses vão se basear na distribuição t em vez da

distribuição normal padrão.

Como os desvios padrão σ¹ e σ², são desconhecidos, serão utilizados os desvios

padrão amostrais 𝑠𝟏 e 𝑠𝟐 para estimar σ¹ e σ², e serão substituídos de 𝑧𝛼/2 por 𝑡𝛼/2. Sendo

assim, a estimativa intervalar da diferença entre duas médias populacionais é dada pela

seguinte forma:

𝒙𝟏 − 𝒙𝟐 ± 𝒕𝜶/𝟐√𝒔𝟏

𝟐

𝒏𝟏+

𝒔𝟐𝟐

𝒏𝟐

Na equação:

𝑥𝑦 = média amostral da variável independente

𝑠𝑦 = desvio padrão da amostra independente

𝑛𝑦 = tamanho da amostra

3.2. Teste de hipóteses

Em uma situação onde os dois desvios padrão, σ¹ e σ², são desconhecidos, deve-se

considerar testes de hipóteses a respeito da diferença entre duas médias populacionais.

Admitindo então que 𝐷0 denota a diferença hipotetizada entre µ1e µ2, a estatística de teste

usada deve ser:

𝑧 = (𝒙𝟏 − 𝒙𝟐 ) − 𝑫𝟎

√𝜎1

2

𝑛1 +

𝜎22

𝑛2

Na equação:

𝑥𝑦 = média amostral da variável independente

𝜎𝑦 = desvio padrão da amostra independente

𝑛𝑦 = tamanho da amostra

Page 13: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

14

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

Para se denotar as diferenças hipotéticas entre µ1- µ2, as três formas de um teste de

hipóteses são as seguintes:

𝐻0: 𝜇1 − 𝜇2 ≥ 𝐷0 𝐻0: 𝜇1 − 𝜇2 ≤ 𝐷0 𝐻0: 𝜇1 − 𝜇2 = 𝐷0

𝐻0: 𝜇1 − 𝜇2 > 𝐷0 𝐻0: 𝜇1 − 𝜇2 < 𝐷0 𝐻0: 𝜇1 − 𝜇2 ≠ 𝐷0

Em muitas aplicações, 𝐷0 = 0, mas utilizando um exemplo bicaudal como exemplo,

quando 𝐷0 = 0, a hipótese nula é 𝐻0: 𝜇1 − 𝜇2 = 𝐷0. Neste caso, a hipótese nula é que µ1e

µ2, são iguais. A rejeição de 𝐻0 leva à conclusão de que 𝐻𝛼: 𝜇1 − 𝜇2 ≠ 0 é verdadeira; ou

seja, que µ1e µ2, não são iguais.

Para esta pesquisa, será utilizado como base 95% de confiança, que é igual a: 𝛼 =

0,05 𝑒 𝑍𝛼/2 = 𝑍0,025 = 1,96, a regra de rejeição empregada será rejeitar 𝐻0 se 𝑍 ≤ −1,96

ou se 𝑍 ≥ 1,96.

3.2.1. Estatística de teste para testes de hipótese sobre µ𝟏- µ𝟐 quando σ¹ e σ² são

desconhecidos

Quando σ¹ e σ², são desconhecidos, usamos 𝑠1 como um estimador de σ¹ e 𝑠2 como

um estimador de σ². Substituindo σ¹ e σ² por esses desvios padrão amostrais, obtemos a

seguinte estatística de teste:

𝑡 = (𝒙𝟏 − 𝒙𝟐 ) − 𝑫𝟎

√𝑠1

2

𝑛1+

𝑠22

𝑛2

Na equação:

𝑥𝑦 = média amostral da variável independente

𝑛𝑦 = tamanho da amostra

𝑠𝑦 = desvio padrão da variável independente

No capítulo a seguir serão apresentados os resultados obtidos na pesquisa.

4. Análise de Resultados

A análise realizada nesta pesquisa contempla todas as franquias do segmento

alimentício, segmento este que foi escolhido pela alta importância que possui na economia do

país, devidamente cadastradas juntamente à ABF, e que disponibilizam seus dados no Guia de

Franquias, um guia emitido anualmente pela própria associação após minuciosa coleta de

Page 14: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

15

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

dados, que busca trazer informações atualizadas aos franqueados, franqueadores e futuros

interessados, buscando entender como o Selo de Excelência em Franchising e suas categorias

(Nome, número de lojas próprias, número de lojas franqueadas, número de serviços de apoio

oferecidos, custo de instalação, custo de capital de giro, taxa de franquia, royalties, taxa de

publicidade, tamanho em m², faturamento médio, Payback e número de funcionários) podem

demonstrar para um já franqueado, futuro investidor no setor ou interessados no ramo, o que

pode determinar a qualidade nas redes de franquias.

De acordo com o Guia de franquias emitido em 2016, no segmento de alimentação

existe um total de 271 franquias cadastradas, sendo 218 franquias sem o Selo de Excelência

em Franchising e 53 franquias com o Selo de Excelência em Franchising, como demonstrado

na figura a seguir:

Figura 1 - Número de franquias cadastradas e divulgadas pelo Guia de Franquias de 2016.

FONTE: Elaborado pela autora, adaptado de ABF (2016).

A partir das duas amostras apresentadas, sendo a primeira de franquias com o Selo

ABF de Franquias e a segunda de franquias sem o Selo ABF de franquias, foram realizados

outros cálculos a fim de ser possível a comparação e análise de resultados. Portanto, o

primeiro cálculo realizado foi da média de cada variável disponível através do Guia de

Franquias da ABF, separadas pelas amostras e posteriormente foi realizado o cálculo da

média amostral, onde foi possível identificar a diferença entre as duas amostras.

Page 15: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

16

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

Figura 1 - Cálculo da média das variáveis apresentadas pelo Guia de Franquias

FONTE: Elaborado pelos autores

Observando as variáveis de número de lojas próprias e número de lojas franqueadas,

o cálculo da média demonstrou que as franquias que possuem o SEF apresentam um número

de lojas próprias e número de lojas franqueadas muito superior do que as franquias que não

possuem o SEF, onde as médias amostrais apresentaram uma diferença significativa de 20,74

para o número de lojas próprias e de 116,76 para o número de lojas franqueadas, ou seja,

neste caso podemos entender que a visibilidade das franquias com o Selo é muito superior do

que a visibilidade para as franquias sem o Selo, uma vez que as franquias mais conhecidas

pelo público em geral chamam mais atenção de empreendedores e investidores e portanto

conseguem abrir cada vez mais unidades pelo país.

Observando a variável de número de serviços de apoio oferecidos, esta que pode

estar diretamente relacionada à qualidade da franquia, os valores encontrados para as

franquias com o selo e para as franquias sem o selo, apresentaram uma média amostral de

apenas 0,84, ou seja, possuindo ou não o selo, as duas amostras se importam em oferecer

apoio aos seus franqueados, sempre em busca de manter o bom nome e excelência dos

produtos e serviços prestados. Como diz Cherto (2006), “o franchising é a réplica do mesmo

conceito”, portanto, os serviços de apoio oferecidos são fundamentais para que o franqueado

possa replicar o negócio da melhor forma.

Observando a variável de instalação, é possível analisar que os custos de instalação

de uma franquia que possui o SEF, são muito mais altos do que de uma franquia sem o SEF,

apresentando uma média amostral de R$ 106.203,43, sendo assim podemos presumir que as

Page 16: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

17

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

grandes franquias e possuidoras do SEF, demandam instalações melhor estruturadas e

complexas do que as franquias que não possuem o SEF.

Observando a variável de capital de giro, é possível observar que a média de capital

de giro necessário para uma franquia que possui o SEF (R$ 34.415,09) é menor do que para

uma franquia que não possui o SEF (R$ 37.241,57), e com isso podemos entender que para

dar continuidade ao seu negócio, uma franquia com o SEF pode ser mais estruturada e

oferecer mais recursos iniciais e, portanto, pode exigir um capital menor de seus investidores.

Observando a variável de taxa de franquias, os dados apresentam outra grande

diferença entre as franquias com o SEF e sem o SEF, onde apenas a média amostral apresenta

um valor de R$ 39.741,38. Com isso podemos entender que os custos de licenciamento de

marca das maiores franquias são muito mais altos do que das franquias menores e sem o SEF.

Observando a variável de royalties, a média das franquias com o SEF é de 4,92% e a

média das franquias sem o SEF é de 6,47%, ou seja, as grandes franquias, por possuírem um

número maior de franqueados, podem cobrar uma taxa mensal menor do que as franquias sem

o SEF para que os franqueados continuem a obter o direito do uso de imagem da marca.

Observando a variável de taxa de publicidade, os dados são muito próximos e

apresentam uma média amostral de apenas 0,17%, ou seja, a taxa cobrada para que a

franqueadora exerça a publicidade da marca são quase iguais e é baixa para as duas amostras.

Observando a variável de tamanho em m², os dados apresentam um tamanho médio

de 188,89 m² para uma franquia com o SEF e um tamanho médio de 144,02 m² para uma

franquia sem o SEF, ou seja, a diferença de tamanho para os dois tipos de franquia é

significativa, demonstrando que uma franquia com o SEF, exige uma estrutura e um ponto

comercial maior do que a média das franquias sem o SEF.

Observando o faturamento médio entre as duas amostras é possível verificar que a

média amostral não é alta, apresentando uma diferença de apenas R$ 5.036,07, o que

demonstra que possuir o SEF ou não, não é garantia de maior faturamento mensal.

Observando a variável do Payback, é possível verificar que o tempo médio de

retorno para franquias com o SEF (31,79 meses) é bem próximo às franquias sem o SEF

(29,95 meses), apresentando uma média amostral de apenas 1,83 meses. Ou seja, sendo uma

franquia reconhecida ou não, o tempo de retorno é quase igual.

Page 17: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

18

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

Observando a variável do número de funcionários, é possível verificar que a média

amostral é de apenas 2,25, ou seja, o número de funcionários não demonstra mudança

significativa entre as franquias com o SEF e as franquias sem o SEF.

Para uma então melhor visualização da diferença entre as variáveis, foram

elaborados três gráficos somente com as médias amostrais:

Figura 3 - Média amostral das variáveis (em milhares) estudadas

FONTE: Elaborado pelos autores

Este gráfico traz um melhor senso visual, onde podemos verificar quais foram as

variáveis que demonstraram as maiores diferenças entre as médias calculadas. Com isso

verificamos que as variáveis com a maior diferença foram: Instalação, onde a média amostral

apresentou uma diferença de R$ 106.203,43 e Taxa de franquia, onde a média amostral

apresentou uma diferença de R$ 39.741,38.

Figura 4 - Média amostral das variáveis

FONTE: Elaborado pelos autores

Neste gráfico podemos verificar que as variáveis que apresentaram a maior diferença

foram: Número de lojas franqueadas, onde a média amostral apresentou um total de 116,76,

R$106.203,43

R$3.156,67

R$39.741,38

R$5.036,07

R$-

R$20.000,00

R$40.000,00

R$60.000,00

R$80.000,00

R$100.000,00

R$120.000,00

Instalação Capital de Giro Taxa Franquia Faturamentomédio

20,7421

116,7671

0,8436

44,8687

1,8369 2,2587

0,0000

20,0000

40,0000

60,0000

80,0000

100,0000

120,0000

140,0000

N° LojasPróprias

N° LojasFranqueadas

N° Serviçosde apoio

oferecidos

Tamanho(m²)

Payback N° deFuncionários

Page 18: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

19

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

Tamanho em m², onde a média amostral apresentou um total de 44,86 e Número de lojas

franqueadas, onde a média amostral apresentou um total de 20,74.

Figura 5 - Média amostral das variáveis (em percentual)

FONTE: Elaborado pelos autores

Neste gráfico podemos verificar que a variável que apresentou a maior diferença foi

a de Royalties, onde a média amostral apresentou um total de 1,54%.

Estes dados ajudam a verificar que em variáveis como: Número de serviços de apoio

oferecidos, Royalties, Taxa de publicidade e Payback, a média de auxílios oferecidos, taxas

cobradas para o uso de imagem e tempo de retorno são quase iguais, ou seja,

independentemente de ser uma franquia possuidora ou não do SEF, estes números serão muito

próximos.

O segundo cálculo realizado para a interpretação dos dados foi o desvio padrão, que

consegue demonstrar quais as variáveis que mais se distanciam da média calculada. Ou seja,

quanto mais próximos ao 0, menor a diferença entre as franquias.

Figura 6- Desvio Padrão das variáveis

FONTE: Elaborado pelos autores

1,5485%

0,1732%

0,0000%

0,5000%

1,0000%

1,5000%

2,0000%

Royalties Tx Publicidade

Page 19: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

20

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

A variável de número de lojas próprias indica que a variância de lojas próprias das

franquias com o SEF é bem superior do que em relação às franquias sem o SEF, uma vez que

o seu desvio é de apenas 4,53.

A análise da variável de número de lojas franqueadas apresenta um resultado bem

distante das médias, já que no caso das franquias com o SEF, o desvio é de 306,96 e no caso

de franquias sem o SEF é de 107,65.

Os resultados obtidos na variável de número de serviços de apoio oferecidos

demonstram resultados totalmente ao contrário do que foi possível observar em número de

lojas franqueadas, ou seja, o número de serviços de apoio oferecidos é bem parecido entre as

franquias, já que as franquias com o SEF apresentam um desvio padrão de apenas 1,94 e as

franquias sem o SEF apresentam um desvio padrão de apenas 2,44.

Os dados da variável de instalação demonstram um resultado parecido ao de número

de lojas franqueadas, onde o desvio padrão das franquias com e sem o SEF apresentam um

resultado muito alto, sendo de R$ 306.047,62 para as franquias com o SEF e de R$

308.861,13 para as franquias sem o SEF, ou seja, o valor de instalação possui uma grande

diferença entre as duas amostras.

A análise da variável de capital de giro apresenta uma diferença média entre as

franquias de cada amostra analisada, onde o resultado obtido para as franquias com o SEF foi

de R$ 25.800,22 e de R$ 34.994,78 para as franquias sem o SEF.

A variável de taxa de franquia apresenta uma variância muito alta para as franquias

com o SEF, demonstrando um resultado de R$ 239.657,36, ou seja, a discrepância de valores

da primeira amostra é muito alta, mas no caso das franquias com o SEF, a variância é média,

demonstrando um resultado de R$ 28.780,26.

Os dados obtidos pela variável de Royalties apresentam uma baixa variância entre as

franquias com o SEF, demonstrando que o valor cobrado pelas franquias é bem próximo, mas

no caso das franquias sem o SEF a variância dos valores cobrados é um pouco maior,

apresentando um resultado de 8,96%.

A análise dos resultados obtidos na variável de taxa de publicidade também

apresenta uma baixa variância dos valores cobrados, porém, diferentemente da variável de

Royalties, as duas amostras apresentam variância baixa, demonstrados pelos valores de 1,43%

para as franquias com o SEF e 1,62% para as franquias sem o SEF.

Page 20: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

21

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

No caso da variável de tamanho em m², os resultados apresentam uma alta variância

dos tamanhos necessários para cada franquia, onde para as franquias com o SEF o desvio

apresenta resultados de 356,45 e para as franquias sem o SEF apresenta resultados de 230,40.

Já a variável de faturamento médio também demonstrou uma alta variância em cada

amostra, onde podemos verificar uma variância de R$ 97.756,51 para as franquias com o SEF

e uma variância de R$ 138.469,37 para as franquias sem o SEF.

A avaliação da variável de Payback apresenta uma variância média em cada amostra,

demonstrando um desvio padrão de 8,90 meses para as franquias com o SEF e um desvio

padrão de 16,99 meses para as franquias sem o SEF.

Os resultados obtidos na análise da variável de número de funcionários também

apresentam uma variável média em cada amostra, demonstrando um desvio padrão de 9,80

funcionários para as franquias com o SEF e um desvio padrão de 10,51 funcionários para as

franquias sem o SEF.

A partir dos dados analisados através do desvio padrão é possível verificar em

relação às franquias com o SEF que a discrepância de variáveis como: número de lojas

próprias e franqueadas, custos de instalação e taxa de franquias, tamanho e faturamento, são

muito altas, e que podem ser vitais para a qualidade de uma franquia e para a escolha de um

futuro franqueado.

Já no caso das franquias sem o SEF, as variáveis que apresentaram a maior

discrepância foram: número de lojas franqueadas, custos de instalação, tamanho e faturamento

médio, demonstrando novamente que estas variáveis são determinantes para a qualidade e

para a escolha de um futuro franqueado.

O terceiro cálculo realizado foi o de Teste de Hipóteses, utilizando resultados da

média e do desvio padrão de cada amostra e onde o intervalo de confiança utilizado foi de

95%.

Page 21: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

22

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

Figura 7 - Teste de hipóteses

FONTE: Elaborado pelos autores

Para uma análise do teste de hipóteses bicaudal, que utiliza como intervalo de

confiança 95%, a regra de rejeição empregada será rejeitar 𝐻0 se 𝑍 ≤ −1,96 ou se 𝑍 ≥

1,96. Portanto após a contabilização dos dados, as variáveis rejeitadas foram: Número de

lojas franqueadas, Número de serviços de apoio oferecidos, Instalação e Royalties.

A teoria apresentada no capítulo 2, trazia alguns insights e proporcionava a previsão

dos resultados do teste de hipóteses dessa forma:

Figura 8 - Previsão e Resultados do Teste de Hipóteses

FONTE: Elaborado pelos autores

As variáveis mais relevantes, tendo apresentado resultados positivos ou não podem

ser interpretadas da seguinte maneira:

(II) – Número de Lojas Franqueadas: A variável do número de lojas franqueadas apresentou

um resultado positivo no teste de hipóteses (2,72) e, portanto, foge da média entre as

franquias com o SEF e as franquias sem o SEF. Esta é uma variável diretamente ligada a três

dimensões de Garvin (2002), que são: Qualidade percebida, demonstrando a força que a

marca e a reputação exercem sobre a franquia com o SEF, Confiabilidade, demonstrando que

tanto os consumidores, quanto os franqueados podem confiar nos produtos e serviços

Page 22: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

23

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

prestados pela franquia e Desempenho, demonstrando que as características operacionais

atingem as necessidades básicas esperadas pelos consumidores.

(III) – Número de serviços de apoio oferecidos: A variável do número de serviços de apoio

oferecidos apresentou um resultado positivo (2,68), fugindo da média entre as franquias com

o SEF e as franquias sem o SEF. Esta é uma variável ligada diretamente a três dimensões de

Garvin (2002), que são: Desempenho, demonstrando que o franqueador está interessado em

manter as características operacionais básicas de seus produtos e serviços, Conformidade,

demonstrando que os franqueadores prezam em manter seus produtos e serviços dentro das

leis e normas de qualidade como ISO e ABNT e Atendimento, demonstrando que os

franqueadores prezam em manter a qualidade do atendimento, oferecendo treinamentos de

atendimento ao cliente e motivação.

(IV) – Instalação: A variável de instalação apresentou um resultado positivo (1,97), fugindo

da média entre as franquias com o SEF e as franquias sem o SEF. Esta é uma variável ligada

diretamente a três dimensões de Garvin (2002), que são: Conformidade, demonstrando que os

franqueadores prezam em manter seus equipamentos, produtos e serviços dentro das leis e

normas de qualidade como ISO e ABNT e Estética, demonstrando que os franqueadores

prezam por manter a aparência da marca, produtos e serviços.

(VII) – Royalties: A variável royalties apresentou um resultado negativo (-2,24), fugindo da

média entre as franquias com o SEF e as franquias sem o SEF. Esta é uma variável ligada ao

investimento do franqueado, sendo assim, é preferível que o valor investido seja mais baixo.

(X) – Faturamento Médio: A variável faturamento apresentou um resultado dentro da média

(0,30) entre as franquias com o SEF e as franquias sem o SEF. Esta é uma variável ligada ao

retorno do franqueado, sendo assim, era preferível que o retorno fosse mais alto.

(XI) – Payback: A variável Payback apresentou um resultado dentro da média (1,09) entre as

franquias com o SEF e as franquias sem o SEF. Esta é uma variável ligada ao tempo de

retorno do franqueado, sendo assim, era preferível que o tempo fosse mais curto.

Observando então as variáveis afetadas, como instalação e número de lojas próprias,

as duas acima de 1,96, portanto, positivas, podemos elaborar a hipótese de que apenas as

grandes franquias e já consolidadas no mercado que conseguem o Selo de Excelência em

Franchising. Isto se deve ao fato da necessidade de preenchimento de alguns requisitos

básicos como: estar associado à ABF a pelo menos um ano, ter no mínimo dez franqueados e

Page 23: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

24

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

no mínimo dez unidades franqueadas, atuar no mercado de franquias há no mínimo dois anos

e estar adimplente com suas obrigações como associado da ABF. (ABF, 2016). Além dos

altos custos para o desenvolvimento da pesquisa da Associação, que são:

Figura 2 - Custos para concorrer ao Selo de Excelência em Franchising.

FONTE: ABF (2016)

Ou seja, estes custos e as obrigatoriedades mínimas acabam afastando as franquias de

buscar a premiação e o reconhecimento através do Selo de Excelência em Franchising.

Mas, por outro lado é possível observar ainda que estas redes de franquia conseguem

oferecer um maior número de serviços de apoio ao seus franqueados (valor maior que 1,96),

atuando diretamente nas oito dimensões de Garvin (2002) e ao mesmo tempo, conseguem

cobrar valores menores de royalties (valor menor que 1,96) por conta de sua extensa gama de

franqueados.

Além das quatro variáveis afetadas, oito das doze variáveis se mantiveram dentro do

intervalo de confiança, sendo elas: número de lojas próprias, capital de giro, taxa de franquia,

taxa de publicidade, tamanho em m², faturamento médio, Payback e número de funcionários.

Isso significa que algumas variáveis como: o número de lojas próprias, capital de giro, taxa de

franquia, taxa de publicidade, tamanho e número de funcionários, são todas variáveis

independentes, pois não possuem nenhuma influência na qualidade da franquia e nem na

escolha de um franqueado, ou seja, são variáveis que não são determinantes em relação a uma

franquia com ou sem o SEF. Mas, as variáveis de faturamento médio e Payback são duas

variáveis de que se esperava rejeição, sendo o valor do faturamento médio maior que 1,96 e o

do Payback menor que 1,96, também apresentaram um resultado dentro da média,

demonstrando que independentemente de ser uma grande franquia ou não, o prazo médio para

retorno dos investimentos e o faturamento médio mensal são próximos e, portanto, não devem

ser considerados como fatores chave para a escolha de uma franquia.

Page 24: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

25

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

Considerações Finais

A presente pesquisa analisou o Guia de Franquias e todas as variáveis disponíveis

através da média, desvio padrão e teste de hipóteses, onde das doze variáveis apresentadas,

apenas quatro (Número de lojas Franqueadas, Número de Serviços de Apoio, Instalação e

Royalties) demonstraram resultados fora do padrão, ou seja, apenas estas quatro das seis

variáveis possuem resultados determinantes para a qualidade. As principais considerações

desta pesquisa são:

a) O Selo de Excelência em Franchising é uma premiação que busca reconhecer a

qualidade e a excelência das empresas e de suas atuações como franqueadora,

buscando estimular a melhoria do desempenho de cada franquia através de uma

rigorosa avaliação de cada franqueado, porém, o para que cada empresa participe é

necessário preencher a muitos requisitos mínimos e realizar um alto investimento,

fazendo com que muitas empresas desistam de participar.

b) A variável de número de lojas franqueadas apresentou relevância nos três cálculos

realizados, apresentando uma grande média amostral, apresentou um alto desvio

padrão entre as amostras e apresentou um resultado positivo no teste de hipóteses,

sendo possível entender que são as franquias grandes e fortes que atraem mais

consumidores e investidores, portanto é uma variável determinante para a qualidade da

franquia.

c) A variável de número de serviços de apoios oferecidos também apresentou relevância

nos três cálculos realizados, mesmo tendo resultados aproximados na média e no

desvio padrão, apresentando uma baixa média amostral, um baixo desvio padrão e um

resultado positivo no teste de hipóteses, demonstrando que tanto as franquias com o

SEF, quanto as franquias sem o SEF, buscam oferecer serviços de apoio aos seus

franqueados, portanto, esta também é uma variável determinante para a qualidade da

franquia.

d) A variável de instalação também apresentou relevância nos três cálculos realizados,

apresentando uma alta média amostral, um alto desvio padrão e um resultado positivo

no teste de hipóteses, demonstrando que o custo das instalações tem grande

importância para o franqueador e para a manutenção da qualidade do produto e

serviço, portanto é uma variável determinante para a qualidade da franquia.

e) A variável royalties apresentou relevância em apenas um dos cálculos, já que

apresentou uma baixa média amostral, um baixo desvio padrão e um resultado

Page 25: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

26

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

negativo no teste de hipóteses, sendo assim, neste caso apenas o custo mais baixo das

franquias com o SEF que é relevante ao franqueado.

Com isso podemos concluir que as franquias, por mais qualidade que possuam, nem

sempre se candidatam ao Selo de Excelência em Franchising por conta dos altos custos para

participação, e pelos requisitos mínimos exigidos pela Associação Brasileira de Franchising,

mas que isso não as faz perder a qualidade e excelência em seus produtos e serviços prestados

ao cliente. Conseguimos observar isto pela alta participação de franquias muito reconhecidas

no país como: Pizza Hut, Kopenhagen, Giraffas, KFC, Cacau Show e Amor aos Pedaços, que

não possuem o Selo de Excelência em Franchising, mas que mesmo assim possuem milhares

de unidades espalhadas pelo Brasil e pela alta qualidade de seus produtos e serviços

prestados, atraindo cada vez mais consumidores, empreendedores e investidores.

Podemos entender então que, um futuro investidor no ramo, pode utilizar o Guia de

Franquias como referência básica para encontrar o melhor investimento para o seu perfil e

objetivos, mas que não devem manter o foco em questões das franquias possuírem ou não o

Selo de Excelência em Franchising, mas que podem utilizar as variáveis: Número de lojas

Franqueadas, Número de Serviços de apoio oferecidos, Instalação e Royalties como base para

fazer uma seleção das franquias que melhor se encaixam em seu perfil e objetivos.

Referências Bibliográficas

ABF. Guia oficial de franquias. São Paulo: Lamonica, 2016. 502 p.

ABF. Selo ABF de Excelência em Franchising 2017. Disponível em:

<http://selodeexcelencia.abf.com.br/wp-content/uploads/regulamento-sef-2017.pdf>. Acesso

em out. 2016

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS INDÚSTRIAS DA ALIMENTAÇÃO – Números do

setor. Disponível em: <http://www.abia.org.br/vsn/tmp_6.aspx?id=16>. Acesso em mar.

2017

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. Disponível em:

<http://www.abnt.org.br/>. Acesso em nov. 2016

Page 26: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

27

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

BRASIL. Dispõe sobre o contrato de franquia empresarial (franchising). Lei Federal 8.955,

de 15 de dezembro de 1994. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8955.htm>. Acesso em set. 2016

CHERTO, Marcelo et al. Franchising: uma estratégia para a expansão de negócios. São

Paulo: Premier Máxima, 2006. 448 p.

FILHO, Milton C. F.; FILHO, Emílio J. M. A. Planejamento da pesquisa científica. São

Paulo: Editora Atlas, 2013. 157 p.

FONSECA, J. J. S. Metodologia da pesquisa científica. Fortaleza: UEC, 2002. Apostila.

GARVIN, David A. Gerenciando a Qualidade. 3ª edição. Rio de Janeiro: Qualitymark,

2002. 357 p.

HALACHMI, Arie. Performance measurement is only one way of managing performance.

International Journal of productivity and performance management. V. 54 N.7 2005.

HOUAISS, Antônio. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva;

Instituto Antônio Houaiss de Lexicografia, 2009. 1986 p.

LAFONTAINE, F; BLAIR, R. D. – The evolution of franchising and franchise contracts:

Evidence from the United States. Entrepreneural Business Law Journal, (2009), pp. 381-434

LAVIERI, Carlos Amorim. Sistemas de Avaliação de desempenho aplicados em rede de

franquias. São Paulo: FEA – USP, 2008. 178 p. Tese (Mestrado em Administração) –

Programa de Pós-Graduação em Administração, Faculdade de economia, Administração e

Contabilidade, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008.

LILLIS, C. M; NARAYANA, C. L.; GILMAN, J. L. Competitive Advantage Variation over

the Life Cycle of a Franchise. Journal of Marketing, v. 40, p. 70-80, 1976.

LITZ, R. A.; STEWART, A. C. Franchising for sustainable advantage? Comparing the

performance of independent retailers and tradename franchisees. Journal of Business

Venturing, v. 13, n. 2, p. 131-150, 1998.

Page 27: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

28

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

MARCONI, Marina A.; LAKATOS, Eva M. Fundamentos de metodologia científica. São

Paulo: Editora Atlas, 2007. 315 p.

MILITELLI, Marco – Serviços e apoio que devem ser oferecidos ao seu franqueado.

Disponível em: <http://www.portaldofranchising.com.br/artigos-sobre-franchising/servicos-e-

apoio-que-devem-ser-oferecidos-ao-seu-franqueado/>. Acesso em Nov. 2016.

OLIVO, Rodolfo L. de Faria. A insuficiência da teoria econômica de franquias para a

compreensão do crescimento e da qualidade das redes franqueadas. São Paulo: FEA –

USP, 2015. 124 f. Tese (Doutorado em Administração) – Programa de Pós-Graduação em

Administração, Faculdade de economia, Administração e Contabilidade, Universidade de São

Paulo, São Paulo, 2015.

PEQUENAS EMPRESAS & GRANDES NEGÓCIOS. Guia de Franquias 2016/2017.

Edição Especial, 13° ano, Editora Globo, junho de 2016.

SEBRAE. Conheça o sistema de franquias. Disponível em:

<http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/artigos/conheca-o-sistema-de-

franquias,6c9b39407feb3410VgnVCM1000003b74010aRCRD>. Acesso em set. 2016.

SWEENEY, D. J.; WILLIAMS, T. A.; ANDERSON, D. R. Estatística aplicada à

administração e economia. 3ª edição brasileira. São Paulo: Cengage, 2013.

SZULANSKI, G.; JENSEN, R. Growing through copying: The negative consequences of

innovation on franchise network growth. Research Policy, v. 37, n. 10, p. 1732-1741, 2008.

VERGARA, Sylvia Constant – Projetos e Relatórios de Pesquisa em Administração. São

Paulo: Editora Atlas S. A; 2007.

Page 28: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

29

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

A DISCREPÂNCIA DA IMPLANTAÇÃO E APURAÇÃO DA CONTABILIDADE DE

CUSTOS EM EMPRESAS INDUSTRIAIS NO ENSINO TRADICIONAL DE

CUSTOS:

Uma abordagem sobre o ensino da disciplina Contabilidade de Custos

CACOZZI, Alexandre4

Resumo

Nos últimos anos, surgiram diversos Sistemas de Informação Integrados nas Empresa

conhecidos como ERP. Os Sistemas de Informação surgiram com a finalidade de propor uma

maior agilidade no processamento das informações e de dar mais condições no gerenciamento

eficaz das empresas. A integração dos Sistemas se tornam indispensáveis devido ao

surgimento de novas tecnologias de produção e a necessidade de se obter informações

gerenciais mais interativos em um ambiente altamente competitivo. Por outro lado, por mais

paradoxal que possa parecer, o ensino de contabilidade de custos, especialmente nos cursos de

graduação, segue imune às transformações no ambiente empresarial posto que, continua a ser

abordado nos referidos cursos, da mesma maneira que era há década sem a preocupação desse

alinhamento com as inovações tecnológicas das empresas, tanto no aspecto operacional

quanto da tecnologia da informação. Desse modo, apesar de se esperar que o ensino da

matéria se apresente como agente de vanguarda e, portanto, protagonista de uma realidade

que se vive, ele vem se portando, na melhor das hipóteses, como mero espectador dos

acontecimentos.

Palavras-chave: Contabilidade, Contabilidade de custos, Ensino

Introdução

O ambiente econômico atual criou a necessidade de uma reestruturação da gestão de

custos. Pressões competitivas mundiais, o crescimento do setor de serviços e os avanços nas

tecnologias de informação e de manufatura mudaram a natureza de nossa economia e fizeram

com que muitos fabricantes mudassem drasticamente sua maneira de operar seus negócios.

Por sua vez, essas mudanças deram início ao desenvolvimento de práticas inovadoras e

relevantes para a gestão de custos. Consequentemente, sistemas de contabilidade de custos

foram desenvolvidos e implementados para que possam atender a essa nova demanda. Além

disso, o foco dos sistemas de contabilidade gerencial foram ampliados para possibilitar que os

gestores pudessem melhor atender as necessidades dos clientes e gerir a “cadeia de valores”

4 Mestre em Ciências Contábeis pela PUC – SP, Mestre em Administração de Empresas pela Uni-Sant’Anna,

MBA em Controladoria pela USP. Professor de Graduação e Pós-graduação da UniAnchieta e Gerente de

Administração Financeira, Controladoria e Suprimentos.

Page 29: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

30

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

das empresas. Para assegurar a vantagem competitiva, os gestores enfatizam o tempo, a

qualidade e a eficiência. As informações contábeis precisam ser produzidas para apoiar essas

três metas organizacionais. Para se buscar essa meta, é necessário a utilização dos Sistemas de

Informação, que apresente as seguintes características:

Útil: atender às necessidades dos usuários;

Oportuna: estar à disposição na época certa;

Clara: facilmente entendida pelo usuário;

Íntegra: baseada em dados confiáveis;

Relevante: abordar diretamente os pontos fundamentais, com transparência;

Flexível: apresentar-se de várias formas e na linguagem do usuário;

Completa: incorporar dados físicos e outros complementares à informação;

Preditiva: fornecer indicadores de tendência.

Com a utilização de bons sistemas e uma boa parametrização, é possível atender as

exigências do Fisco, das Normas Contábeis e ainda atender os gestores internos com

informações gerenciais. Neste caso, é comum se ter duas contabilidades de custos (contábil e

gerencial). Tal prática se tornaria inviável sem a utilização dos Sistemas de Informação.

Esse trabalho tem como objetivo principal mostrar as deficiências existentes no ensino da

contabilidade de custos e nos livros didáticos, no curso de graduação, especialmente no que

diz respeito ao enfoque atual da disciplina, que vem sendo considerado por alunos e

profissionais como um aprendizado inoperante devido ao distanciamento, cada vez maior,

entre o que é ensinado e a realidade prática. Caso se confirme o distanciamento do que é

ensinado e o que se pratica, a disciplina em questão terá que passar por uma reformulação

para não cair no obsoletismo.

1. Contabilidade de Custos

A análise de custos é utilizada tradicionalmente como sendo o processo de avaliação do

impacto financeiro das decisões gerenciais alternativas. A gestão de custos deve ser vista, e

utilizada sob contexto mais amplo, em que os elementos estratégicos tornam-se mais

conscientes, explícitos e inseridos nos procedimentos da controladoria e da contabilidade de

custo.

Page 30: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

31

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

A gestão estratégica de custos vem sendo utilizada para designar a integração que deve

haver entre o processo de gestão de custos e o processo de gestão da empresa em sua

totalidade. A integração é importante para que as empresas possam sobreviver num ambiente

de negócios crescentemente globalizado e competitivo.

A melhoria de produtividade e da qualidade, e a redução de custos por meio da eliminação

de todas as formas de desperdício para vencer a competição global, vem exigindo a geração

de dados e informações precisas e atualizadas, que auxiliem os gestores a tomarem decisões

corretas, tanto no nível de atividades relacionadas com suas áreas funcionais, como no nível

de investimentos.

Sob o ponto de vista “Custos”, as operações podem ser descritas de várias formas,

dependendo do tipo de produto, processos e serviços. A maneira de descrever as operações

industriais e de serviços são bem diferentes. As industriais são mais abrangentes, por

exemplo: Fabricar um produto significa manipular, combinar, transformar, agregar e

acondicionar matérias-primas, controlar qualidade, custos e perdas até chegar a produtos que

obedeçam a determinadas especificações.

De acordo com essa descrição, é fácil perceber que as matérias-primas originais estarão

recebendo valor, a cada passo do processo produtivo. Esse valor deve ser considerado de

diferentes formas: a cada passo do processo, a matéria-prima original recebeu operações de

transformação, que consumiram materiais auxiliares, energia, mão-de-obra, transportes até

estar próxima de um produto final vendável; recebeu, portanto, um aumento de valor

proporcional aos gastos nele aplicados.

Podemos afirmar, então, que a cada passo produtivo, o valor do produto será maior, se

tivermos a certeza de chegar ao produto acabado.

Chamamos “custo” ao valor adicionado às matérias-primas, ou seja, o valor dos

componentes adicionados e pré-montados, os vários materiais auxiliares e de consumo, a

mão-de-obra direta e indireta num processo de fabricação.

De Acordo com Horngreen et. Al (1997, p. 2), “contabilidade de custos mensura e relata

informações financeiras e não financeiras relacionadas à aquisição e ao consumo de recursos

pela organização. Ela fornece informação tanto para contabilidade gerencial quanto para a

contabilidade financeira”.

Portanto, podemos dizer que a contabilidade de custos é um produtor de um conjunto de

relatórios informativos e esclarecedores relacionados com as atividades da organização e com

seus diversos departamentos, que devem ser encaminhados à administração, para auxiliá-la no

controle e no processo de tomada de decisão.

Page 31: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

32

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

2. O Ensino da Contabilidade de Custos nos cursos de graduação

A disciplina é matéria obrigatória nos cursos de graduação de Ciências Contábeis de

acordo com o curriculum vigente nas universidades.

Em geral, a disciplina é ministrada de 60 horas a 80 horas dependendo da grade curricular

de cada instituição.

A Ementa da disciplina de maneira geral contempla a seguinte matéria: Introdução à

Contabilidade de Custos. Realização de algumas classificações e nomenclaturas de custos.

Estudo de esquema básico da contabilidade de custos. Estudo de critério de rateio dos custos

indiretos. Apuração da contabilidade de custos por departamentalização. Estudo de materiais

diretos. Estudo da mão de obra direta. Apuração de custeio por ordem de produção e

produção continua. Apresentação do CPC 16 – Estoques. Estudo de aspectos fiscais relativos

à avaliação de estoques e apuração de custos.

A parte gerencial geralmente é tratada na disciplina de contabilidade gerencial.

A disciplina dá ênfase à empresa industrial, por apresentar uma complexidade maior na

apuração e aplicação dos métodos de custeio. O método de custeio mais estudado nessa

disciplina é o método de custeio absorção, por ser o que atende às normas de contabilidade e

ao Fisco.

A parte da disciplina que mais se aproxima da prática das empresas é o estudo da apuração

da contabilidade de custos por departamentalização. Como o objetivo desse estudo é analisar

a discrepância do que se ensina na Faculdade e das questões práticas da implantação e da

apuração dos custos nas empresas, vamos focar esse ponto da disciplina para a nossa análise.

3. O Ensino da Contabilidade de Custos por departamentalização

O Ensino da Contabilidade de Custos geralmente começa com as terminologias

utilizadas e a seguir com a fundamentação básica do funcionamento da apuração dos custos.

Os fatores que influenciam no resultado de qualquer empresa são representados por

meio das receitas auferidas, nos custos diretos, custos indiretos e despesas incorridas. Esses

fatores podem ser visualizados na Figura 1.

Page 32: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

33

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

Figura 1 – Esquema Básico da Contabilidade de Custos

De acordo com a figura 1, os custos diretos são facilmente alocados aos produtos,

enquanto os indiretos precisam passar por etapas e critérios de rateios para serem

incorporados aos mesmos. As despesas por sua vez, são reconhecidas diretamente ao

Resultado da empresa (independentemente se são Fixas ou Variáveis), ou seja, não integram

os estoques em nenhum momento.

3.1 Custeio por Absorção

O custeio por absorção veio a ser utilizado mais em razão dos critérios de avaliação de

inventários do que pelas necessidades gerenciais da empresa. Ele está de acordo com os

princípios fundamentais de contabilidade, pois considera todos os gastos industriais como

relacionados com os produtos. Nos primórdios da contabilidade industrial, os custos fixos não

eram relevantes e praticamente não havia necessidade de critérios de distribuição e alocação

de tais gastos aos diversos produtos da empresa.

O método de custeio por absorção é a aplicação dos princípios contábeis geralmente

aceitos e é, no Brasil, adotado pela legislação comercial e pela legislação fiscal.

Outros critérios diferentes têm surgido através do tempo, mas este é ainda o adotado pela

Contabilidade Financeira, portanto válido tanto para fins de Balanço Patrimonial e

Demonstração de Resultados como também, na maioria dos países, para Balanço e Lucro

Fiscais. A auditoria Externa tem-no como básico. Apesar de não ser totalmente lógico e de

muitas vezes falhar como instrumento gerencial, é aceito para fins de avaliação de estoques

(para apuração do resultado e para o próprio balanço).

De acordo com Schmidt (2000, p. 173) a escola alemã foi uma das mais prodigiosas no

impulso da Contabilidade de Custos. Schmalenback, em especial, destacou-se no

Page 33: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

34

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

desenvolvimento conceitual da disciplina ao elaborar conceitos como o de centros de custos,

custo fixo e variável, etc.

Segundo Martins (2003, p. 220) com fundamento na ideia do uso de custos para fixar

preços, foi desenvolvida na Alemanha, no início do século XX, uma forma de alocação de

custos e despesas conhecida por RKW (Reichskuratorium für Wirtschaftlichtkeit). Por esse

método, todos os gastos do período (custos e despesas) eram apropriados à produção por meio

das técnicas de rateio. Nessa época, as despesas administrativas, comerciais e financeiras não

eram relevantes, pois todos os esforços estavam concentrados na produção.

Com o crescimento dos negócios em tamanho, em complexidade e na diversificação

geográfica ocorrida no século XIX, as despesas administrativas passaram a representar

importante parcela dos gastos empresariais e julgou-se necessário segregá-las dos custos e

apropriá-las diretamente ao resultado do exercício. O método de custeio por absorção não é

um princípio contábil em si, mas uma metodologia decorrente da aplicação desses princípios.

Dessa forma, o método é válido para apresentação de demonstrações contábeis e para

apuração do imposto de renda.

Os custos são apropriados aos produtos fabricados, tanto os custos diretos quanto os custos

indiretos. Os primeiros, por meio da apropriação sem critérios de rateio, e os indiretos,

contrariamente aos primeiros, têm sua atribuição com base nos rateios.

Observa-se, pela figura 1, que as despesas são contabilizadas nos resultados do período,

enquanto os custos somente são lançados no resultado, na parte correspondente aos produtos

vendidos, permanecendo o restante como estoque.

3.2 - Departamentos e Centro de Custos

De acordo com Martins (2003, p. 65):

Departamento é a unidade mínima administrativa para a Contabilidade de Custos, representada

por pessoas e máquinas (na maioria dos casos), em que se desenvolvem atividades

homogêneas. Diz-se unidade mínima administrativa porque sempre há um responsável para

cada Departamento, ou, pelo menos, deveria haver. Esse conceito que liga a atribuição de cada

Departamento à responsabilidade de uma pessoa dará origem a uma das formas de uso da

Contabilidade de Custos como forma de controle [...]

Martins (2003, p. 66) ainda ressalta que:

Page 34: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

35

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

Na maioria das vezes um Departamento é um Centro de Custos, ou seja, nele são acumulados

os Custos Indiretos para posterior alocação aos produtos (Departamentos de Produção) ou a

outros Departamentos (Departamentos de Serviços). Em outras situações podem existir

diversos Centros de Custos dentro de um mesmo Departamento [...]

Assim, Centro de Custos é a unidade mínima de acumulação de custos, e considerada

como centro de responsabilidade em que o gerente responde pelos seus custos.

Geralmente, as empresas implementam seus sistemas e métodos de custeios em sintonia

com sua estrutura organizacional. Dessa forma, os processos de fabricação são divididos em

Centros de Custos que absorvem os custos indiretos para depois serem apropriados aos

produtos. Os Centros de Custos são classificados em duas categorias: Centros de Custos

Auxiliares (CCA) e Centros de Custos Produtivos (CCP).

Os Centros de Custos Auxiliares são segmentos do processo produtivo que existem para

prestar serviços aos CCP, não atuando diretamente na linha de produção.

A figura 2 exemplifica a funcionalidade de uma Contabilidade de Custos por

departamentalização.

De acordo com Martins (2003, p. 74) o funcionamento de uma Contabilidade de Custos

por departamentalização (conforme a figura 2), pode ser estabelecida pelos seguintes passos:

1º Passo: Separação entre Custos e Despesas.

2º Passo: Apropriação dos Custos Diretos diretamente aos produtos (M.Prima e MOD).

3º Passo: Apropriação dos Custos Indiretos que pertencem, visivelmente, aos Centros de

Custos, agrupando, à parte, os comuns.

4º Passo: Rateio dos Custos Indiretos comuns aos diversos Centros de Custos, quer

Auxiliares, quer Produtivos.

5º Passo: Escolha da sequência de rateio dos Custos acumulados nos Centros de Custos

Auxiliares e sua distribuição aos demais Centros de Custos.

6º Passo: Atribuição dos Custos Indiretos que agora só estão nos Centros de Custos Produção

aos produtos, segundo critérios fixados.

Page 35: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

36

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

Figura 2 – Esquema da contabilidade de custos por departamentalização

FONTE: Martins (2003, p. 74) com adaptações

Os produtos não passam pelos Centros de Custos Auxiliares, por exemplo, o centro de

manutenção, pois o serviço de manutenção não é prestado aos produtos, mas aos Centros de

Custos Produtivos. Os custos de manutenção são integrantes do processo produtivo, mas serão

apropriados, em primeiro lugar, aos Centros de Custos Produtivos, para depois serem

apropriados aos produtos.

Já os Centros de Custos Produtivos são segmentos do processo produtivo por onde os

produtos passam e recebem um beneficiamento até serem considerados prontos para venda.

Depois da conceituação, a disciplina mostra a metodologia de cálculo e a contabilização de

uma forma simples, sem a preocupação de se atualizar com as evoluções e implantações dos

Sistemas de Informação (ERP – Enterprise Resources Planning) nas empresas, criando assim

um vácuo do que se ensina nas Faculdades com que de fato se aplica nas empresas. De acordo

com Lang et. al (2010) “além do sistema de custos, os sistemas de informação (SI),

suportados pelas tecnologias de informação (TI), podem aumentar a competitividade global

da empresa”. Isso reforça a importância da disciplina de contabilidade de custos estar

atualizada a este ambiente da tecnologia da informação empresarial.

Quando os professores são questionados sobre essa discrepância, a resposta é sempre

parecida: “estamos passando aqui uma ideia geral, ou seja, uma noção básica”. Isso tende a

aumentar quando os professores têm uma formação apenas acadêmica, não associada à

vivência prática, porque os livros didáticos da disciplina também não apresentam uma

introdução mais contemporânea sobre o assunto.

Page 36: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

37

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

4 - Implantação e Apuração da Contabilidade de Custos em uma Empresa Industrial

Para a implantação da Contabilidade de Custos é necessário percorrer algumas fases, sendo

elas:

Levantamento do Fluxograma de funcionamento da empresa;

Levantamento das informações contábeis e gerenciais necessárias;

Escolha de um Sistema de ERP;

Parametrização do Sistema;

Apuração do Custo;

Extração de Relatórios;

Análise das informações geradas para tomada de decisão.

É necessário primeiramente a realização de um levantamento minucioso do fluxo de

produção e administrativo da empresa, para sua operação conforme o exemplo da figura 3.

Após este levantamento, podemos começar a definir os próximos passos para sua

implantação.

Juntamente com o levantamento minucioso do fluxo de processo da empresa, é

imprescindível já na escolha do Sistema de ERP, quais serão as informações contábeis e

gerenciais para uma boa gestão da empresa, para que não se ocorra erros na customização do

sistema e na sua parametrização, e com isto o sistema de apuração de custos não venha

atender a empresa na sua real necessidade.

Portanto, segundo Passarelli (2006, p. 44), “a implantação de um sistema de controle e

análise de custos requer um completo entendimento, por parte do responsável ou

responsáveis, da estrutura da organização, dos processos de produção e, também, do tipo de

informação desejada pela administração”.

Page 37: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

38

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

Figura 3 – Fluxo de Processo de uma Empresa Industrial

4.1 – Levantamento do Fluxograma de funcionamento da empresa

Como exemplo, apresentamos o fluxograma de uma empresa hipotética, conforme a figura

3. Podemos observar que a empresa possui cinco centros de custos, sendo: dois da área

administrativa (Administrativo e Comercial) e três da área produtiva (Almoxarifado,

Administração da Produção e Montagem).

Muitas empresas confundem os centros de custos administrativos com centro de custos

produtivos ou vice-versa. Portanto, vale ressaltar que custos e despesas não são sinônimos,

pois os custos estão diretamente relacionados ao processo de produção de bens ou serviços,

ou seja, até o momento em que o produto está pronto para a venda. A partir daí todos os

gastos passam a ser despesas, por exemplo: gastos administrativos, gastos com vendas,

despesas financeiras, que integram diretamente o Resultado da empresa (DRE).

Custos são todos os gastos incorridos no processo de fabricação de determinado produto,

sendo que os principais custos que compõem o processo de produção são: a matéria-prima,

mão-de-obra e os gastos indiretos (tais como energia elétrica, água, manutenção, mão de obra

indireta, etc).

Na área industrial, vamos observar que os centros de custos Almoxarifado e Administração

da Produção são de apoio ao centro de custo produtivo da Montagem. É na montagem que

ocorre de fato a industrialização do produto, portanto, os gastos dos centros de custos de

apoio são rateados para o centro de custo produtivo e consequentemente são adicionados aos

seus próprios gastos e rateados aos produtos produzidos.

Page 38: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

39

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

Então, vamos observar que no centro de custo produtivo é consumido matéria-prima; mão

de obra direta e outros gastos gerais de fabricação necessário à produção do produto. Os

gastos são transferidos aos produtos por intermédio de apontamentos de produção,

denominados como Ordens de Produção. Após o término do produto e a apuração do seu

custo financeiro, ele é transferido para o estoque disponível para venda (estoque de produto

acabado), conforme já comentado, todos os gastos a partir deste momento serão classificados

como despesas.

Conforme forem ocorrendo as vendas os custos dos produtos vendidos são reconhecidos

no resultado (DRE), baixando se assim os estoques dos produtos acabados.

Vale ressaltar, que esses conceitos são muito bem estudados na disciplina de contabilidade

de custos.

4.2 Parametrizações

Já a parte de parametrizações dos Sistemas de ERP, são basicamente ignorados ou quando

vistos, são realizadas de maneira superficial no ensino da contabilidade de custos, criando se

assim, uma defasagem significativa entre o que é ensinado e o que de fato se pratica nas

empresas.

É comum os Sistemas de ERP na sua maioria não atender a demanda das empresas

industriais por não terem a capacidade de abranger as particularidades e a complexidade

industrial de cada empresa, sendo necessário na sua maioria, customizações no Sistema.

Outro ponto fundamental, na implantação são as parametrizações do sistema de maneira

correta, sempre visando as informações a serem obtidas.

As parametrizações do Sistema consistem em cobrir alguns pontos necessários:

Definição do Plano de Contas;

Cadastro dos Centros de Custos;

Cadastro de itens (materiais e produtos);

Criação do Mapa de Rateio.

Page 39: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

40

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

4.2.1 Plano de Contas

De acordo com Marion (2008, p. 120), “o plano de contas é o agrupamento ordenado de

todas as contas que são utilizadas pela contabilidade dentro de determinada empresa. Cada

empresa, de acordo com sua atividade e seu tamanho (micro, pequena, média ou grande),

deve ter seu próprio Plano de Contas”.

Conforme Iudícibus (2010, p. 740),

A elaboração de um bom Plano de Contas é fundamental no sentido de utilizar todo o potencial

da Contabilidade em seu valor informativo para os inúmeros usuários. Assim, ao preparar um

projeto para desenvolver um Plano de Contas, a empresa deve ter em mente as várias

possibilidades de relatórios gerenciais e para uso externo e, dessa maneira, prever as contas de

acordo com os diversos relatórios a serem produzidos. Se anteriormente isso era de grande

importância, atualmente, com os recursos tecnológicos da informática, passou a ser essencial,

pois tais relatórios propiciarão tomada de decisão mais ágil e eficaz por parte dos usuários.

A codificação do plano atribui números aos grupos e as contas do Balanço Patrimonial e

DRE, facilitando a contabilidade mecanizada e eletrônica, conforme o exemplo a seguir de

algumas contas:

Conforme já comentado, a elaboração de um Plano de Contas é de fundamental

importância para que se tenha uma boa contabilidade. Mas esse assunto não é abordado na

disciplina de contabilidade de custos, como também nos livros didáticos referente à disciplina.

No ensino desta, os docentes trabalham mostrando suas contabilizações por meio de

razonetes, mas insuficientes para que na prática possa se criar um plano de contas de forma a

atender a contabilidade de custos. Muitos professores entendem que a elaboração do Plano de

Page 40: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

41

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

Contas pertence a outras disciplinas, mas a contabilidade de custos de uma empresa industrial

exige a criação de várias contas específicas que não são abordadas durante o curso, o que gera

dificuldades para o aluno quando ele chega ao mercado de trabalho.

Na sequência deste trabalho, estaremos demonstrando várias contas específicas não

abordadas na disciplina aqui estudada.

4.2.2 Centro de Custos

De acordo com Figueiredo & Caggiano (1997, p. 38), os centros de custos são segmentos

onde são gerados os resultados parciais com base na acumulação de gastos decorrentes da

realização de eventos econômicos.

O Centro de Custos é um centro de responsabilidade no qual um gestor é responsável pelos

gastos. Portanto, uma empresa é dividida por áreas e depois subdivididas em centro de custos,

como exemplo da tabela 1.

Tal centro é a unidade administrativa, representada por pessoas e máquinas (na maioria

dos casos), em que se desenvolvem atividades homogêneas.

No caso dos Centros de Custos da Área Industrial, são acumulados os gastos Indiretos para

posterior alocação aos produtos pelos apontamentos de produção. Já os Centros de Custos da

Área Administrativa são reconhecidos diretamente no Resultado do período.

Tabela 1 – Centro de Custos

O estudo dos centro-de-custos, são abordados por várias disciplinas, como: contabilidade

gerencial, controladoria, mas principalmente pela contabilidade de custos. Portanto, o assunto

é abordado nas aulas e atende de maneira satisfatória a prática das empresas.

Page 41: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

42

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

4.2.3 Cadastro de Itens

O assunto que veremos a seguir sobre o cadastro de itens, também não é abordado na

disciplina de contabilidade de custos, sendo ele parte fundamental para que se possa ter uma

boa contabilidade.

Toda a apuração dos custos ocorrerá por intermédio da movimentação dos itens pelos

estoques, pela produção e pela venda. Quando se compra uma matéria-prima, um material de

embalagem e outros itens de estoque, estaremos movimentando os itens cadastrados e as

contas contábeis parametrizadas a esses itens. Os itens facilitam os usuários no seu dia-a-dia,

uma vez que não precisam estar trabalhando com um plano de contas em mãos (uma vez que

os itens já foram parametrizados a uma conta contábil especifica). Os mesmos podem ser

parametrizados a uma conta contábil conforme a figura 4.

Figura 4 – Estrutura de do Cadastro de Itens

Podemos observar, que vários itens são parametrizados a uma mesma conta contábil. É

comum acharmos que cada item poderia ser uma conta, mas isto traria uma dificuldade

enorme para o cadastro, como também para o seu manuseio por parte dos usuários, devido as

contas contábeis possuírem uma estrutura com uma maior quantidade de números.

Portanto, o cadastro de itens tem que possuir poucos números e apresentar uma

racionalidade, para que possa facilitar a sua memorização e o seu manuseio pelos seus

usuários.

Page 42: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

43

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

4.2.4 Cadastro do Mapa de Rateio

O mapa de rateio é abordado na disciplina de contabilidade de custos, de maneira

satisfatória ao que se pratica nas empresas atualmente, exceto a forma da sua contabilização

por meio da utilização das contas contábeis, no qual estaremos demonstrando a seguir.

Para a construção do Mapa de Rateio é necessário dividir os Centros de Custos da Área

Industrial em dois grandes grupos: os de Serviços e os de Produção, conforme a tabela 2.

Os de Serviços, existem basicamente para a execução de atividades de apoio à produção

dos produtos. Exemplo: manutenção, qualidade, almoxarifado, etc.

Já os de Produção, são os que promovem qualquer tipo de modificação direta aos produtos

a serem produzidos.

Tabela 2: Mapa de Rateio da Área Industrial

Conforme a Tabela 2, temos o Almoxarifado e a Administração da Produção que prestam

serviço ao Centro de Custo da Montagem (onde de fato ocorre a Produção do produto).

Antes da atribuição dos custos indiretos aos produtos, é necessário que os gastos sejam

alocados aos seus respectivos centros de custos. Portanto, os gastos dos centros de Custos de

serviços ou auxiliares têm que ser distribuídos (rateados) aos Centros de Custos Produtivos e

após isso, distribuídos (rateados) aos produtos produzidos, conforme os consumos de horas

dos produtos fabricados (mediante as horas apontadas nas ordens de produção).

Os custos originados no próprio Centro de Custo são os primários; e os recebidos por

rateio de outros Centros de Custos são chamados de secundários.

4.2.5 Ordem de Produção

Na disciplina de contabilidade de custos é muito abordado a apuração dos custos, mas

geralmente não é comentado de forma prática, como ocorre os apontamentos e valorização

contábil da produção. Portanto, estaremos vendo como isso ocorre na prática.

Page 43: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

44

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

Os custos são acumulados numa ordem de produção, na qual fornece o registro do

material direto, mão-de-obra direta e dos custos indiretos de fabricação, sendo que estes

últimos serão apurados após um complexo processo de rateio (mapa de rateio). A ordem de

produção só para de receber custos quando estiver encerrada. Se terminar um período contábil

e o produto estiver ainda em processamento, não há encerramento, permanecendo os custos

incorridos na forma de produtos em elaboração, no ativo; quando a ordem for encerrada,

efetua-se o débito ao Estoque de Produtos Acabado e o crédito do Estoque de Produtos em

Processo de Fabricação. Produção por ordem consiste na produção de vários produtos.

As ordens de produção são abertas para o apontamento de cada produção e parametrizadas

a uma única conta contábil. Portanto, a ordem de produção é utilizada pelos apontadores de

produção no “chão de fábrica”, para que possam declarar os produtos produzidos, como

também os itens utilizados (matéria-prima e materiais de embalagens quando for o caso), o

tempo de mão de obra utilizada e o tempo de processo utilizado, conforme a Tabela 3.

Os Sistemas de ERP disponíveis hoje no mercado, buscam facilitar o usuário já trazendo a

estrutura do produto quando se coloca o seu código. Isso é possível graças ao cadastro da

ficha técnica (estrutura unitária de todos os itens que compõe a fabricação) do produto no

módulo de engenharia do sistema. Conforme os apontadores de produção vão realizando o

apontamento, o sistema já vai calculando as variações, mostrando se há uma discrepância

muito alta ou não.

Tabela 3 – Modelo de Ordem de Produção

4.2.6 Apuração do Custo

Essa parte é abordado na disciplina de maneira muito simplificada, sem a preocupação de

informar os alunos da importância da integração de todos os módulos do sistema ERP com a

contabilidade de custos, como também da arquitetura das contabilizações que ocorrem.

Page 44: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

45

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

Muitos docentes dessa disciplina, comentam que a complexidade de uma contabilidade de

custos na prática torna impossível sua aplicação em sala de aula.

Após o sistema de custos estar todo parametrizado, podemos realizar a apuração do mesmo.

Para que ocorra a apuração dos custos dos produtos é necessário que todos os módulos do

sistema ERP estejam fechados e integrados à contabilidade, por exemplo, a folha de

pagamento fechada e contabilizada nos seus respectivos centros de custos, o ativo fixo

(módulo que controla todos os ativos imobilizados da empresa) já calculado a depreciação e

contabilizada nos seus respectivos centros de custos como os demais módulos.

A movimentação do estoque físico ocorre durante o mês para que se possa ter um controle

em tempo real do inventário. Essa movimentação ocorre pelas entradas físicas (Compras) nos

estoques, pelas requisições dos materiais, pelos apontamentos de produção (Ordem de

Produção) e pela sua baixa na venda. Portanto, o módulo de custos quando for apurado,

valoriza financeiramente as movimentações já realizadas durante o período.

Conforme a figura 2 já visualizada anteriormente, temos os seguintes passos para a

apuração da Contabilidade de Custos:

1º Passo: Contabilização dos gastos em seus respectivos centros de custos:

2º Passo: Contabilização do Mapa de Rateio.

Nesse momento, o sistema irá distribuir os custos indiretos dos Centros de Custos de

Serviços (Almoxarifado e Administração da Produção) para o Centro de Custo Produtivo, de

acordo com a utilização dos seus serviços consumidos.

Para a distribuição dos gastos entre os departamentos e por fim aos produtos, são criadas

contas contábeis especificas como podemos observar na tabela 4. Parte tão importante, que

também não são ensinadas na disciplina de contabilidade de custos.

Page 45: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

46

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

Tabela 4 – Rateio dos Gastos entre os Centros de Custos

Esta engenharia contábil é realizada para permitir futuras consultas aos gastos realizados.

Portanto, para alocação dos gastos totais dos centros de custos auxiliares, criou-se uma conta

chamada de Redutora de Custos, no qual vai ter como contrapartida as contas também criadas

de Rateios (em nosso caso: Rateio do Almoxarifado e Rateio da Adm da Produção), conforme

a figura 5.

Figura 5 – Grade Contábil – Rateio dos centros de custos auxiliares para o centro de custo produtivo

Após todos os gastos dos centros de custos auxiliares estarem contabilizados no centro de

custo produtivo, é necessário realizar a sua transferência aos produtos, por meio das contas de

absorções, conforme a figura 6.

Page 46: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

47

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

Figura 6 – Grade Contábil – Rateio do centro de custo produtivo para a Ordem de Produção

A partir de então, calcula-se as taxas horas com base nos gastos apurados nas contas de

Absorção (MOD; E.Elétrica; Depreciação e GGF), conforme tabela 4, dividido pela

quantidade de horas apontada na Ordem de Produção.

Podemos observar o cálculo na tabela 5, onde a quantidade de horas apontadas foram

27.000 horas, e os respectivos custos unitários calculados para cada tipo de Absorção. O custo

unitário calculado será utilizado para valorizar a ordem de produção de acordo com seu

apontamento de horas.

Tabela 5 – Apuração do Custo Unitário

3º Passo – Apuração do Custo da Matéria-Prima

A apuração do Custo da matéria-prima é realizada pelas compras dos materiais menos os

impostos que darão direito a crédito, conforme a figura 7 abaixo.

Page 47: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

48

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

Figura 7 – Grade Contábil da Operação de compra

Quando se dá a entrada em uma nota fiscal no sistema, temos dois tipos de recebimentos,

sendo o primeiro o recebimento fiscal, onde já são lançados todos os impostos e alimenta o

módulo do sistema de pagamentos da empresa para que o financeiro possa de imediato

programar esse pagamento no seu fluxo. O segundo, o recebimento físico dependendo do

material a ser recebido deverá passar por análises de qualidade, conferência da quantidade

física recebida, ou seja, um processo mais demorado.

Após a integração da matéria-prima no estoque, realizamos o cálculo do seu custo, que

pode utilizar algumas metodologias de apuração (PEPS, UEPS e PMP), aqui estaremos

realizando pelo médio, conforme o exemplo abaixo:

O consumo da matéria-prima será realizado mediante as requisições da área da produção

no almoxarifado da empresa e o seu apontamento nas ordens de produção.

4º Passo – Apuração do Custo da Mão de Obra Direta

O fechamento do custo da Mão de Obra é realizado pelo módulo da Folha de Pagamentos

e fica sobre a responsabilidade do R.H da empresa. O cálculo consiste em pegar os Salários,

Provisões de Férias, Provisões de 13º Salário, Encargos Sociais, Benefícios (vale transporte,

vale refeição, cesta básica, seguro de vida, assistência médica, participação nos resultados,

etc). Após a sua apuração, a contabilidade realiza a integração da folha com as

contabilizações nos seus respectivos centros de custos, isso ocorre de forma automática, uma

vez que cada funcionário já está registrado na sua função e no seu respectivo centro de custo.

Portanto, na contratação do funcionário já se faz a parametrização, para que o sistema possa

classificar qual tipo de mão de obra ele se refere (Mão de Obra Direta, Mão de Obra Indireta

ou Mão de Obra Administrativa). Segue abaixo a contabilização da Folha de Pagamento em

seus respectivos centros de custos.

Page 48: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

49

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

O custo da Mão de Obra Direta é calculado da seguinte forma:

A - Custo Total da Mão-de-Obra Direta = $ 44.000

B - Total de horas homens apontadas nas Ordens de Produção = 27.000 hrs

C - Custo por hora (A ÷ B) = $ 1,6296

5º Passo – Apuração do Custo da Ordem de Produção

Essa é a última etapa do processamento da contabilidade de custos, que é a valorização

financeira da Ordem apontada conforme a tabela 6. Vamos verificar, que a apuração do custo

total de cada item, se dá pela multiplicação da quantidade de materiais e horas consumidas

necessárias para produção do produto pelos custos unitários já apurados nos passos anteriores.

Tabela 6 – Valorização da Ordem de Produção

A sua contabilização se procede da seguinte forma:

Page 49: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

50

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

Caso a produção do produto esteja totalmente terminado, transferimos contabilmente para

o estoque de produtos acabados, conforme o lançamento abaixo:

Caso não tenha terminado a produção no final do período de apuração, mantém-se a

Ordem em aberto, também registrada no Grupo de Estoques no Ativo Circulante.

Após a transferência para produtos acabados calcula-se o custo médio e conforme forem

ocorrendo as vendas, contabiliza-se para o Resultado na conta do C.P.V (Custos dos Produtos

Vendidos).

Vamos verificar que a disciplina de contabilidade de custos apresenta o assunto de maneira

muito superficial, no que se refere também a parte da apuração dos custos, deixando assim

uma discrepância enorme do que se tem na prática das empresas versus a teoria apresentada.

Considerações Finais

Podemos verificar a complexidade da implantação e contabilizações mediante apuração de

uma contabilidade de custos e a necessidade do entendimento do contador com a arquitetura

dos Sistemas de Informação (ERP), para que a sua parametrização ocorra de forma plena a

atender as necessidades dos agentes externos e internos da empresa.

Por outro lado, tem o problema objeto deste trabalho. Podemos constatar que o ensino da

contabilidade de custos nos cursos de graduação, está dissociado do atual ambiente de

informação das empresas, não reproduzindo aos alunos o conhecimento necessário para o seu

entendimento nas parametrizações e no funcionamento de um Sistema de Contabilidade de

Custos na prática.

É comum encontrarmos nas empresas, profissionais da área contábil com dificuldades em

entender a apuração e as informações geradas pela contabilidade de custos, devido o ensino da

mesma e a produção acadêmica não estar sendo suficientes para prepará-los nesta direção.

Portanto, podemos concluir a necessidade de uma reformulação no ensino da contabilidade

de custos nos cursos de graduação, para que se atualize e evite se tornar obsoleto e

dispensável.

Page 50: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

51

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

É preciso evitar que isto aconteça, porque informações de custos sempre serão importantes

na medida em que sempre haverá alguém produzindo bens ou serviços. É necessário atualizar

e preparar os alunos para a realidade da revolução tecnológica operacional, da informação e

do ambiente de competitividade das empresas, com o objetivo de resguardar a relevância do

ensino da contabilidade de custos.

Referências Bibliográficas:

BATISTA, Halcima Melo. Controladoria como chave do processo de gestão e sistemas de

informação. VII Congresso Brasileiro de Custos. Recife. 2 a 4 de agosto. 2.000.

BEULKE, Rolando; BERTÓ, Dalvio José. Estrutura e análise de Custos. São Paulo: Saraiva,

2005.

BONFIM, Eunir de Amorim; PASSARELI, João. Custos e Formação de Preços. 4ª ed. São

Paulo: IOB Thomson. 2006.

BRUNI, Adriano Leal; FAMÁ, Rubens. Gestão de Custos e Formação de Preços: com

Aplicações na Calculadora HP 12C e Excel. São Paulo: Atlas, 2002.

DAVIO, José Bertó; BEULKE, Rolando. Gestão de Custos. 2ª ed. São Paulo: Saraiva. 2011.

EVANDIR, Megliorini. Custos: análise e gestão. 3ª ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall.

2012.

FIGUEIREDO, Sandra; CAGGIANO, Paulo Cesar. Controladoria: Teoria e Prática. 2ª ed.

São Paulo: Atlas. 1997.

HABERKORN, Ernesto. Teoria do ERP – Erterprise Resource Planning. São Paulo: Markron

Books. 1999

HANSEN, Don R.; MOWEN, Maryanne M.Gestão de Custos: Contabilidade e Controle, São

Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2003.

Page 51: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

52

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

IUDICIBUS, Sérgio et. al. Manual de contabilidade societária. São Paulo: Atlas. 2010.

HORNGREN, Charles T et al. Contabilidade de custos. 9. ed. Rio de Janeiro: LTC,1997.

JOHNSON, h. Thomas & KAPLAN, Robert S. Relevance Lost. Presidente and Fellows of

Havard College, 1987.

LANG, Gustavo Elias. Desenvolvimento e integração de um sistema de custeio ao ERP:

Aplicação em indústria de confecções de pequeno porte. Belo Horizonte, 3 a 5 de Novembro.

2010.

LEONE, G.S.G. Curso de Contabilidade de Custos. São Paulo: Atlas, 1997.

MARTINS, Eliseu. Contabilidade de custos. 9.ed. São Paulo: Atlas, 2003.

SILVA, Raimundo Nonato Sousa da. O impacto do novo ambiente fabril no ensino

tradicional de custos: Uma abordagem sobre o ensino da disciplina contabilidade de custos. II

Congresso Brasileiro de Gestão Estratégica de Custos – Campinas, 16 a 20 de outubro, 1995.

SCHMIDT, Paulo. História do Pensamento Contábil. Porto Alegre: Bookman, 2000.

Page 52: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

53

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

CRÍTICA A ABORDAGEM FUNCIONALISTA NA ANÁLISE ORGANIZACIONAL

GARRIDO, Giovanna5

SALTORATO, Patrícia6

Resumo

Ao se analisar o campo dos estudos organizacionais, percebe-se que apesar da tradição

delineada pela psicologia organizacional, o debate acerca dos fenômenos organizacionais

mantem-se centrado nas filosofias científicas comprometidas com os ideais objetivistas.

Considerando esta hegemonia nas análises organizacionais (e a importância de redirecionar o

olhar sobre as mesmas) este estudo de cunho bibliográfico visa explorar o escopo analítico

dos paradigmas sociológicos de Burrell; Morgan (1979) apresentando as filosofias que os

delineiam. Complementarmente, buscou-se tecer uma crítica à ortodoxia objetivista

contextualizando as bases nas quais repousam as análises dominantes no campo dos estudos

organizacionais, explicitando a parcialidade das mesmas e a forma como o desconhecimento

da diversidade paradigmática tem limitado o desenvolvimento dos estudos organizacionais em

seus mais agudos termos. Os resultados destacam a necessidade de adoção de metodologias

ideográficas de pesquisa, considerando que só seja possível compreender o mundo social

enfatizando também as abordagens subjetivas que marcam a realidade organizacional.

Palavras-chave: Paradigmas sociológicos; análise organizacional; abordagem objetivista.

5Mestre em Engenharia de Produção UFSCar – campus Sorocaba Pesquisadora do Grupo de Apoio à Inovação e

Aprendizagem Organizacional (GAIA) – CTI/Campinas Bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e

Tecnológico (CNPq)

6 Doutora em Engenharia de Produção UFSCar – campus São Carlos Mestre em Engenharia de Produção – USP

campus São Carlos Bacharel em Engenharia Civil – Unesp campus Guaratinguetá Pesquisadora do Núcleo de

Sociologia Econômica e das Finanças (NESEFI – UFSCar campus São Carlos) Líder do Grupo de Estudos e

Pesquisas em Inovação e Transferência Tecnológica (GEPITEC – UFSCar campus Sorocaba)

Page 53: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

54

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

1 Introdução

Muito se é debatido a respeito da diversidade de pensamentos que permeia a realidade

científica. Para todos os ramos da ciência existe uma infinidade de alternativas de teorização e

pesquisa que acabam por gerar enormes debates na literatura.

Intuídos em resolver este dilema, Burrell; Morgan (1979) se dispuseram a debater sobre a

teoria social em geral e a teoria das organizações em particular em meio a um contexto

sociológico mais amplo, concebido em termos de quatro paradigmas que se portam como

agrupamentos de visões da realidade social, sendo estes o Funcionalista, o Interpretativo, o

Humanista-Radical e o Estruturalista-Radical (BURRELL; MORGAN, 1979).

Sabe-se que, quando propuseram o desenvolvimento do modelo de categorização

paradigmática, Burrell; Morgan (1979) modelaram perspectivas científicas voltadas à

subjetividade e à objetividade, atribuindo ênfase na possibilidade de essas diferentes

perspectivas serem utilizadas para a análise de uma vasta gama de teorias sociais e, inclusive,

para análise dos fatos e dos fenômenos organizacionais. Com isso, foi constituído um

ferramental poderoso para a teoria das organizações (BURRELL; MORGAN, 1979), uma

arena onde o dualismo de subjetividades e objetividades assume contornos agressivos.

Todavia, ao analisar-se as bases deste campo, as perspectivas objetivistas sempre

alcançaram predominância no desenvolver das pesquisas (PECI, 2003), a ponto de

constituírem a "ortodoxia" na pesquisa científica da área organizacional (VERGARA;

CALDAS, 2005). Por consequência, o debate acerca das organizações e dos fenômenos

organizacionais expressa um extenso comprometimento com os ideais racionais dominantes

nas fronteiras do campo dos estudos organizacionais; as explicações para fatos e fenômenos

organizacionais são advindas, principalmente, de um mesmo conjunto de pressuposições

metateóricas,

Sendo assim, a incapacidade de promover um afastamento da visão de mundo tradicional,

visto a sua contínua afirmação e reafirmação, faz com que ela assuma um status ainda mais

real, mais corriqueiro e mais inquestionável, restringindo a análise organizacional nos mais

agudos termos e limitando-a em uma base científica cujas perspectivas metateóricas são

fundamentadas de forma estreita e superficial (BURRELL; MORGAN, 1979). Com a atenção

voltada àquilo que é diretamente observável, as análises dos fenômenos organizacionais são

submergidas em meio a uma objetividade excessiva que desconsidera qualquer teor que, de

certa forma, submeta-as a uma visão mais subjetiva dos fatos.

Page 54: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

55

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

Assim, considerando a hegemonia exercida pela abordagem objetivista no campo dos

estudos organizacionais (CALDAS; FACHIN, 2005) e a necessidade de uma visão científica

mais liberta da razão, este estudo tem como objetivo explorar o escopo analítico dos

paradigmas sociológicos de Burrell; Morgan (1979) na análise organizacional com o intuito

de tecer uma crítica relativa a ortodoxia objetivista que permeia o campo dos estudos

organizacionais.

Para tanto, o estudo primeiramente revisita os paradigmas sociológicos de Burrell;

Morgan (1979), buscando explicitar, de forma mais didática, a conceituação de termos e

filosofias que delineiam cada uma das dimensões paradigmáticas propostas ao estudo das

organizações. Subjacente a esta revisitação, são contextualizadas as bases nas quais repousam

os modelos de análises imperantes no campo dos estudos organizacionais, deixando explícita

a motivação da pesquisa em ressaltar a fragilidade e a parcialidade das análises dominantes e

a forma como o desconhecimento da diversidade paradigmática tem aprisionado e limitado o

desenvolvimento dos estudos organizacionais.

2. As Metateorias dos paradigmas e as diferentes dimensões de análise

A base sociológica do modelo de categorização paradigmática proposta por Burrell;

Morgan (1979) é fundamentada na sobreposição dos conjuntos de pressuposições

metateóricas acerca da natureza da ciência social, a dimensão subjetiva-objetiva; e da natureza

da sociedade, a dimensão regulação-mudança radical. Os pressupostos metateóricos

respectivos a cada uma das dimensões são listados na Figura 1 abaixo.

Antes de analisar os pressupostos acima individualmente, vale enfatizar que cada um

dos conjuntos de pressuposições representa um eixo do modelo de categorização proposto por

Burrell; Morgan (1979) que, quando sobrepostos, delimitam os quatro quadrantes

paradigmáticos e seus respectivos vieses de desenvolvimento científico.

Figura 1 – Pressuposições metateóricas da natureza da ciência e da sociedade

Dimensão Subjetiva-Objetiva Dimensão Regulação-Mudança Radical

Ontologia Epistemologia Natureza Humana Metodologia

Sociologia da Regulação Sociologia da Mudança Radical

Fonte: Autores

Page 55: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

56

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

2.1 Dimensão Subjetiva-Objetiva

As metateorias listadas na Figura 1, concernentes à dimensão subjetiva-objetiva

resumem-se em quatro pressuposições sobre a natureza da ciência: a ontológica, a

epistemológica, a natureza humana e a metodológica. A Figura 2 explicita em que se

fundamenta cada uma destas pressuposições.

Cada uma das pressuposições acima aborda a natureza da ciência por meio de um viés

próprio, motivo pelo qual Burrell; Morgan (1979) enfatizam que a ciência social deve ser

conceituada assumindo-as como base. Tendo em vista a elevada relevância conferida à

dimensão analítica subjetiva-objetiva, inclusive sua consideração como a principal dimensão

do modelo de Burrell; Morgan (1979), as quatro pressuposições explicitadas acima têm

atraído muita discussão na literatura no que se refere à utilização das mesmas para abordagens

explícitas ou implícitas dos fenômenos investigados. Como consequência, cada uma destas

pressuposições suscita um debate que opõe duas formas diferentes de abordar a natureza da

ciência social, delineando o dualismo entre a ciência subjetiva e a ciência objetiva, conforme

mostra a Figura 3.

Figura 2: Fundamentação das pressuposições metateóricas da dimensão subjetiva-objetiva:

Ontológicas Epistemológicas Natureza Humana Metodologia

Relativa à essência do fenômeno estudado

Relativa à forma de obtenção do conhecimento sobre o fenômeno estudado

Relativa à relação entre o ser humano e o ambiente

Relativa à forma de condução da pesquisa

Fonte: Autores

Figura 3 – Sistematização do debate entre as abordagens subjetivas e objetivas da ciência

Fonte: Adaptado de Burrell & Morgan (1979, p.3).

Ontologia

Epistemologia

Natureza Humana

Metodologia

Nominalismo

Antipositivismo

Voluntarismo

Ideográfica

Realismo

Positivismo

Determinismo

Nomotética

Abordagem subjetivista das Ciências sociais

Abordagem objetivista das Ciências sociais

Page 56: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

57

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

Considerando o debate ontológico, grande é o montante das controvérsias e das

discussões na literatura em relação à verdadeira essência do fenômeno a ser investigado; se o

mesmo é um dado do mundo ou produto da mente de um dado pesquisador. A vertente

Realista do debate percebe o mundo como uma entidade real e tangível, como algo externo à

cognição individual, cuja existência independe da presença do indivíduo. Nascido e

incorporado por essa entidade com existência própria, não há nada na realidade estudada

passível de ser criado, tudo já é determinado, concreto e imutável (BURRELL; MORGAN,

1979). Assumindo um caráter mais subjetivo, a vertente Nominalista defende que o mundo

social não existe independentemente do indivíduo. Aliás, externo a ele, nada existe

(SARTRE, 1966). Ou seja, tudo é fruto da sua própria imaginação (SILVA, 2010) e de sua

própria experiência (Sartre, 1966). Aquilo que for externo à cognição individual consistirá

somente em nomes e conceitos que permitem ao indivíduo utilizá-los para a estruturação da

realidade que porventura construa.

Já, por meio do debate epistemológico busca-se discutir sobre o campo do

conhecimento científico acerca da realidade social, visto que, conforme ressaltam Morgan;

Smircich (1980), as diferentes visões de mundo implicam em diferentes naturezas de

conhecimento. Assim, vale ressaltar que cada implicação epistemológica (Positivista ou

Antipositivista) é determinada por um conjunto particular de pressupostos da filosofia

ontológica da ciência. Deste modo, as diferentes ênfases da epistemologia seguem as

mudanças graduais das abordagens ontológicas (BURRELL; MORGAN, 1979; MORGAN;

SMIRCICH, 1980).

Dito isso, o Positivismo e o Antipositivismo se defrontam, respectivamente, na

determinação do conhecimento como algo rígido, real e que pode ser adquirido e transmitido

de forma tangível ou como algo mais intangível, mais espiritual, mais subjetivo, cuja base

está na experiência pessoal daquele que o possui. Isto é, enquanto os pressupostos

Positivistas, ligados à visão ontológica Realista, defendem a possibilidade de mensuração da

realidade (SILVA, 2010) e a importância de se compreender os fenômenos sociais somente

pelo estudo das regularidades e do relacionamento de causa e efeito entre os seus elementos

constituintes; os ideais Antipositivistas, ligados à visão Nominalista, ignoram a menção do

conhecimento pelo mero testar das hipóteses e pressupõem que só é possível entender os

elementos sociais do ponto de vista do participante e não como mero observador de fatos. Ou

seja, para o Antipositivismo, o mundo só é entendido do ponto de vista daqueles que estão

diretamente envolvidos com os fenômenos estudados (BURRELL; MORGAN, 1979).

Page 57: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

58

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

Assim, a vertente Antipositivista, rejeita a caracterização da ciência como mera

produtora de conhecimento objetivo; devido sua carga de subjetividade, o conhecimento é

visto como algo único e de natureza essencialmente pessoal e não como um fenômeno

mensurado em termos de fatos sociais (MORGAN; SMIRCICH, 1980; SILVA, 2010).

No debate referente à natureza humana, ressalta-se a questão do relacionamento entre o

indivíduo e o ambiente que o circunda. A vertente Determinista considera que o

comportamento e as experiências individuais são condicionados às circunstâncias externas, ou

seja, são determinados pela situação, são produtos do ambiente. Isso ocorre a tal ponto que, na

busca por informações, alguns parâmetros já são consolidados e pré-definidos (SILVA, 2010).

Porém, ao enfocar estritamente na primazia do ambiente e em sua capacidade de exercer

domínio no indivíduo, tal visão menospreza incorretamente o papel do Voluntarismo

(ASTLEY; VAN de VEN, 1983). No extremo Voluntarista, o indivíduo adquire uma natureza

mais autônoma e independente. Segundo ele, o indivíduo não atua segundo padrões

previamente determinados pelo ambiente, mas ele mesmo é o criador dele, o qual passa a ser

visto como uma extensão do próprio ser (BURRELL; MORGAN, 1979).

ASTLEY; VAN de VEN (1983) argumentam que, na vertente Voluntarista, tanto o

indivíduo quanto as realidades criadas por ele constituem-se como agentes que se

autodirigem. É por este motivo que, ao realizar estudos sociais e organizacionais, torna-se

essencial a consideração da figura individual como unidade básica de análise, visto que não é

a ação individual que deriva do sistema social, mas é este que deriva da ação individual. Deste

modo, segundo Ilgen; Klein (1988), as representações internas e subjetivas, a interpretação da

situação e as estratégias cognitivas adotadas pelos indivíduos devem ser amplamente

consideradas.

Por fim, o debate metodológico sofre implicações das três suposições supracitadas.

Cada qual possui uma metodologia própria de investigar e obter conhecimento do mundo

social. A metodologia Nomotética consiste no caráter hipotético da pesquisa, enfatizando a

importância da sistematização, da técnica, da análise de medidas, das leis e da estatística

(SILVA, 2010). Ou seja, é um tipo de pesquisa objetiva que se esforça na busca por princípios

abstratos e universais. Tal metodologia contrasta à metodologia Ideográfica, a qual, por sua

vez, é aquela que enaltece o caráter mais subjetivo da pesquisa e visa explorar o sujeito mais

de perto, se esforçando para compreender, em unicidade, tudo aquilo que assume uma

natureza contingente e acidental (LIMA, 2011).

Page 58: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

59

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

Assim, pelo fato das pressuposições metateóricas constantes nesta dimensão modelarem

uma perspectiva analítica da ciência voltada à subjetividade e outra à objetividade, a

consideração destas consiste em um ferramental poderoso para a análise da teoria social.

Além disso, sobre estas pressuposições repousa a teoria das organizações (BURRELL;

MORGAN, 1979), uma arena onde o dualismo de subjetividades e objetividades pode assumir

contornos agressivos.

2.2 Dimensão regulação-mudança radical

A dimensão da regulação-mudança radical por sua vez, traz consigo a contraposição

entre duas correntes sociológicas acerca da natureza da sociedade. Para a compreensão de

ambas as correntes foram inúmeras as tentativas de delineamento das diferenças entre elas,

visando compreender os motivos que levam os teóricos a adotá-las (BURRELL; MORGAN,

1979). Em méritos classificatórios, a "sociologia da regulação" consiste em uma corrente

científica que abrange os estudos que buscam analisar a sociedade considerando-a como uma

entidade de ordem e coesividade. Nela, a principal preocupação dos teóricos é entender a

forma como a unidade social é mantida e se reproduz. Sendo assim, são frequentes nesta

corrente sociológica os debates acerca do status quo, da ordem social, entre outros assuntos

envoltos pelo ideal da regulação do social (BURRELL; MORGAN, 1979).

A "sociologia da mudança radical", por sua vez, apresenta-se como uma corrente

extremamente contrária à regulação, na qual a preocupação com a ordem é substituída pela

necessidade unânime de se encontrar explicações para a mudança radical, aos modos de

dominação, enfim, para os assuntos que levantam inquirimentos acerca da condição humana,

tanto no âmbito material quanto no âmbito psíquico (BURRELL; MORGAN, 1979).

Sendo assim, o resultado das tentativas de delineamento de ambas as correntes foi a

consideração de que o fato do teórico referenciar e se basear em uma destas pressuposições

tende a ser reflexo do tipo do estudo que ele realiza. Ou seja, são as perspectivas, os temas, as

questões que estão sendo tratadas e até mesmo a visão particular que se tem em relação ao que

é investigado que faz com que determinada pesquisa se volte à "sociologia da regulação" ou à

"sociologia da mudança radical" e seja inserida no quadrante paradigmático respectivo a cada

uma destas abordagens de sociedade (BURRELL; MORGAN, 1979).

Page 59: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

60

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

3. A delimitação dos quatro quadrantes paradigmáticos

Uma vez estabelecidos e identificados os pressupostos de cada uma das dimensões

analíticas de Burrell; Morgan (1979), ao promover a sobreposição entre eles, define-se

coerentemente os contornos dos quatro paradigmas sociológicos utilizados para a análise de

uma extensa gama de teorias sociais. O relacionamento entre tais paradigmas é ilustrado na

Figura 4 junto às pressuposições metateóricas que os definem considerando as abordagens

acerca da natureza da ciência e da natureza da sociedade.

Como se pode notar, posicionados distintivamente entre as duas dimensões

analíticas, cada um dos paradigmas apresenta filosofias sociológicas próprias que os fazem

distintos entre si. Embora compartilhem características com seus vizinhos horizontais e

verticais em termos dimensionais, eles se diferem em outras. Isto é, são vertentes contínuas,

porém separadas (BURRELL; MORGAN, 1979). Deste modo, é possível considerá-los como

realidades científicas alternativas. Cada um destes quadrantes define perspectivas díspares

para a análise dos fenômenos no que se refere às abordagens, aos conceitos e às próprias

ferramentas analíticas que empregam para tal.

Guardadas as convergências entre um e outro em termos da posição que

assumem entre as duas dimensões sobrepostas, a natureza substantiva de cada um dos

paradigmas sociológicos explícitos acima difere entre si. Além de serem distintos dos demais

pelas pressuposições metateóricas que os delineiam, cada um dos quadrantes paradigmáticos

constitui-se como arena de variação destas pressuposições.

Figura 4 - Modelo de categorização paradigmática

Antipositivismo

Humanismo-Radical

Estruturalismo-Radical

Interpretativo Funcionalismo

Sociologia da Mudança Radical

Sociologia da Regulação

Fonte: Adaptado de Burrell & Morgan (1979)

Subjetivo Objetivo

Nominalismo

Ideográfica

Voluntarismo

Positivismo

Realismo

Nomotética

Determinismo

Page 60: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

61

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

Antes mesmo de discutir as principais diferenças entre eles, vale esclarecer a

pretensão de Burrell; Morgan (1979) ao referirem a estes quadrantes como "paradigmas". O

termo "paradigma" é utilizado para enfatizar o que é comum entre as perspectivas

delineadoras dos trabalhos de um grupo de teóricos que aborda as teorias sociais dentro dos

contornos da mesma problemática (BURRELL; MORGAN, 1979). Assim, ele se comporta

como uma dimensão teórica em cujo interior se formulam hipóteses e se estabelecem

pressuposições como princípios explicativos nas discussões em prol de sua própria defesa

(SILVA, 2010). No entanto, ao considerar cada uma das vertentes sociológicas como

"paradigmas", não significa dizer que elas consistem em completas unidades de pensamento.

Mesmo que circundados por fronteiras que os separam daqueles localizados em

outros quadrantes, os teóricos assumem posturas diferentes e debatem entre si dentro de um

mesmo paradigma (BURRELL; MORGAN, 1979). Assim, não se pode dizer que o termo

"paradigma" represente uma vertente sociológica que guarda consigo uma unanimidade de

pensamento, mas sim, uma unanimidade em termos de pressuposições básicas que separam,

de maneira fundamental, os teóricos adeptos a elas daqueles adeptos as outras pressuposições

características de outro paradigma (BURRELL; MORGAN, 1979).

Deste modo, analisar os fatos e fenômenos segundo uma destas dimensões

paradigmáticas é o mesmo que analisá-los segundo um conjunto básico de pressuposições

típicas da posição assumida pelo paradigma em meio à dimensão subjetiva-objetiva e à

dimensão regulação-mudança radical.

3.1 O Paradigma Funcionalista

O paradigma funcionalista representa uma perspectiva sociológica delineada em meio

à corrente sociológica da regulação que assume um ponto de vista objetivista para a análise

dos fenômenos sociais. Baseado na pressuposição de que a sociedade desfruta de uma

existência real e concreta, o paradigma funcionalista a considera como possuidora de um

caráter sistêmico que se orienta ao estado regulado e ordenado das coisas (MORGAN, 1980).

Seu esforço é característico de certa preocupação em fornecer explicações para

assuntos como status quo, ordem social, consenso, entre outros referentes a uma sociologia de

regulação de mais alta ordem (BURRELL; MORGAN, 1979).

Referindo-se à forma como abordam a ciência, pode-se considerar que todas as

abordagens funcionalistas partem de um princípio realista, positivista, determinista e

nomotético. Para os teóricos desta vertente sociológica, o mundo assume uma existência

Page 61: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

62

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

independente dos indivíduos. Deste modo, procura-se compreendê-lo buscando por

regularidades e relacionamentos de causa-efeito entre os elementos constituintes (BURRELL;

MORGAN, 1979). Consequente a essa visão realista e positivista, o papel atribuído ao

indivíduo na sociedade é determinístico. O comportamento humano é visto como algo

contextualmente atado a um mundo real no qual os relacionamentos são concretos e tangíveis.

Assuntos sociais são tratados por meio de explicações extremamente racionais e nenhuma

atenção é direcionada aos indivíduos e ao realizar de seus papéis (BURRELL; MORGAN,

1979; MORGAN, 1980).

Em suma, pode-se considerar que os pressupostos funcionalistas estimulam

uma crença na possibilidade de existir uma ciência social objetivista que não guarda consigo

conotações de valor. Isto é, o funcionalismo, por meio do rigor e da técnica do método

científico, defende um realizar da ciência que permite o cientista se distanciar da cena que

analisa. Sua intenção se resume apenas na necessidade de analisar a sociedade de maneira que

permita o teste de hipóteses e a produção de conhecimento empírico útil (BURRELL;

MORGAN, 1979; MORGAN, 1980).

3.2 O Paradigma Interpretativo

Como se observa na Figura 4, o paradigma funcionalista e o paradigma interpretativo

adotam abordagens consonantes à corrente sociológica da regulação. Porém, é possível

considerar que a abordagem subjetivista do paradigma interpretativo faz da sua relação com

esta sociologia algo mais implícito do que explícito. Isto é, mesmo tendo como base a

pressuposição e a crença de que existe certa ordem no mundo social, o teórico interpretativo

considera os esforços funcionalistas de estabelecer uma ciência objetiva do social como um

fim inatingível (MORGAN, 1980).

Sendo assim, guardadas as convergências de ambos os paradigmas na dimensão

regulação-mudança radical, os ideais interpretativistas contrapõem-se aos funcionalistas pelo

fato do paradigma interpretativo estar centrado no entendimento da natureza do mundo social

por meio de uma experiência de nível subjetivo. Morgan (1980) afirma que, para os

interpretativistas, o mundo social possui uma situação ontológica duvidosa. Deste modo, o

que se passa por realidade social não existe em um sentido concreto, mas constitui-se como

um produto da subjetividade de alguém. Deste modo, pode-se dizer que os ideais

interpretativos veem o mundo social como um processo social emergente criado pelos

Page 62: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

63

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

próprios indivíduos. De acordo com essa visão, só é possível entender a sociedade

considerando o ponto de vista do participante em ação e não do mero observador. A

preocupação dos teóricos está em compreender esse processo e a forma como as realidades

compartilhadas surgem, se sustentam e sofrem modificações (MORGAN, 1980).

Em suma, assumindo uma perspectiva nominalista, antipositivista, voluntarista

e ideográfica, o paradigma interpretativo busca entender a verdadeira base e a fonte de toda a

realidade social. Para tal, considera-se ser necessário mergulhar no profundo da subjetividade

e da consciência humana, pois somente assim é possível entender os contornos, os ideais,

enfim, os princípios de cada fenômeno social.

3.3 O Paradigma Humanista-Radical

O paradigma humanista-radical é definido pela sua inclinação à corrente da sociologia

da mudança-radical a partir de um ponto de vista subjetivo (BURRELL; MORGAN, 1979).

Guardando similaridades com o paradigma interpretativo e encarando o mundo social por

meio de perspectivas que tendem a ser nominalistas, antipositivistas, voluntaristas e

ideográficas, os ideais humanistas também atribuem ênfase a forma como a realidade é

socialmente criada e sustentada (MORGAN, 1980). No entanto, as análises envoltas pelos

ideais deste paradigma são vinculadas ao interesse em considerar e descrever as coisas como

patologias da própria consciência individual. Uma das noções básicas que delineia a extensão

paradigmática humanista é que a consciência individual é dominada por superestruturas

ideológicas com as quais os indivíduos interagem. São estas superestruturas que fazem com

que estes indivíduos se aprisionem dentro das fronteiras do mundo que eles próprios criam e

sustentam (BURRELL; MORGAN, 1979; MORGAN, 1980).

Assim sendo, pode-se considerar que, para o paradigma humanista, o processo de

construção da realidade é influenciado por forças psíquicas e sociais que restringem e

controlam as mentes dos indivíduos a ponto de aliená-los em relação às suas próprias

potencialidades como seres humanos (MORGAN, 1980).

Como se pode notar, a perspectiva humanista atribui grande ênfase à consciência

humana e se interessa pela descoberta da forma como as ações humanas podem ser vistas

como meios de transcender a alienação (BURRELL; MORGAN, 1979). Deste modo, como

no paradigma interpretativo, a promoção de uma análise partindo deste viés paradigmático só

é possível adentrando ao mais profundo da subjetividade humana.

Page 63: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

64

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

3.4 O Paradigma Estruturalista-Radical

Embora se fundamente em uma abordagem da ciência que guarda muitas

similaridades com os ideais funcionalistas em termos ontológicos, epistemológicos, da

natureza humana e da metodologia, o paradigma estruturalista-radical se dirige a fins

diferenciados. Assim como os ideais humanistas, as perspectivas deste paradigma são

solidificadas em uma visão de sociedade como algo potencialmente dominador (MORGAN,

1980). No entanto, elas se divergem aos ideais humanistas pelo fato de verem o mundo social

não como resultado das patologias da consciência individual, mas como algo que é definido

por estruturas sólidas e concretas que independem da existência individual.

Sendo assim, assumindo uma existência que se consolida independente da

forma como é percebida e reafirmada pelas ações humanas do dia-a-dia, a realidade, segundo

os padrões estruturalistas, é caracterizada por tensões e contradições que, inevitavelmente,

ferem a ordem e geram mudanças no sistema como um todo. Deste modo, os teóricos deste

paradigma são circundados pelo interesse em compreender estas tensões e prover explicações

aos inter-relacionamentos básicos dentro do contexto das formações sociais. Isto é, a ênfase

estruturalista repousa na importância de transcender a dominação (BURRELL; MORGAN,

1979; MORGAN, 1980).

4. A parcialidade das análises organizacionais predominantes

Ao analisar-se as bases do campo dos estudos organizacionais, embora exista uma longa

tradição delineada pela psicologia organizacional, é notório que as perspectivas teóricas de

cunho subjetivista ainda são perspectivas de pouca presença nas análises do espaço

organizacional. A busca nos principais índices sobre Comportamento Organizacional e Teoria

das Organizações, que, aliás, configuram como a grande bifurcação nos estudos

organizacionais (BASTOS; BORGES-ANDRADE, 2009), revela poucas chamadas, quando

existem, sobre aspectos de análise que incluem as emoções, os sentimentos e as interioridades

dos indivíduos. Isso transparece o status da concepção dos estudos organizacionais

(FINEMAN, 2009) e demonstra que as perspectivas objetivistas alcançam predominância no

desenvolver dos estudos (PECI, 2003), a ponto de constituírem a "ortodoxia" na pesquisa

científica da área organizacional (VERGARA; CALDAS, 2005).

Page 64: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

65

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

Segundo este cunho analítico, o fato do mundo social assumir uma natureza ontológica

realista e aparecer como algo concreto e imutável, como uma realidade objetiva externa à

cognição individual, coube sempre à ciência buscar leis universais capazes de explicar e

governar esta realidade observada e também identificar e definir todos os seus elementos e a

forma com que o relacionamento entre eles é expresso (BURRELL; MORGAN, 1979).

Sendo assim, durante o processo de consolidação dos estudos organizacionais e estendendo-se

por muito tempo, reinavam, soberanamente, os postulados metodológicos do quadro teórico

positivista e a teoria geral dos modelos funcionalistas (MOZZATO; GRZYSGOVSKY, 2011;

PRATES; RODRIGUES, 2009). Como um conceito descritivo usado na caracterização das

epistemologias de pesquisa, o debate positivista defende essa possibilidade de explicar e

prever os acontecimentos do mundo social por meio da análise das regularidades e dos

relacionamentos causais entre os elementos que o constituem. Ou seja, é uma essência de

pesquisa que tem como base as abordagens tradicionais dominantes e o conhecimento

acumulado resultante destas (BURRELL; MORGAN, 1979).

Lima (2011) afirma que a visão positivista assume a existência de um mundo, ou uma

realidade social objetiva, que pode ser representado, com maior ou menor presteza, por meio

da utilização de métodos científicos capazes de mensurar e descrever suas propriedades de

forma independente daquele que o observa e dos instrumentos que utiliza. Isto é, os

pressupostos positivistas visam, costumeiramente, fazer dos estudos um teste de teorias já

estabelecidas cujos dados são coligidos e processados objetivamente de forma a aumentar a

compreensão preditiva dos fenômenos que analisam.

Assim, segundo Morgan (1980), diante desta grande influência dos pressupostos

positivistas, os teóricos organizacionais abordam seus objetos de estudo por meio de

referenciais cujas bases se fundam em pressuposições estabelecidas além da percepção

consciente. A incapacidade de promover um afastamento da visão de mundo tradicional visto

sua contínua afirmação e reafirmação pelos cientistas da área faz com que essas

pressuposições assumam um status ainda mais real, mais corriqueiro e mais inquestionável.

Assim, restringe-se a análise organizacional nos mais agudos termos, limitando-a em uma

base científica cujas perspectivas metateóricas são fundamentadas de forma estreita e

superficial.

Em meio a este caráter predominante da ciência prevalecem as correntes teóricas que

enxergam as organizações com essa mesma objetividade conferida ao mundo social, como

estruturas concretas e objetivas cujas ações se resumem meramente como respostas às

diversas condições objetivas do ambiente. Ou seja, analisadas através deste cunho analítico

Page 65: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

66

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

limitador, prevalecem as ênfases naquilo que é geral e universal das organizações, ao invés de

enfatizar o que é único e particular dos indivíduos que as compõem e isso mostra quanto os

processos sociais e culturais que dão forma à estrutura e ao comportamento são coisificados

como meras variáveis exógenas de análise (BURRELL; MORGAN, 1979; PECI, 2003).

Deste modo, pode-se caracterizar a realidade do campo dos estudos organizacionais

como uma vasta proporção de teorias e pesquisas limitadas, principalmente, aos ideais de

apenas um dos paradigmas sociológicos de Burrell; Morgan (1979), sendo visível o apego

acidentado a ortodoxia funcionalista e a visão materialista e racional dos fatos

organizacionais.

Vale ressaltar o argumento de Reed (2010) de que o núcleo teórico e ideológico dos

estudos organizacionais impregnou-se do modelo racionalista de forma tão abrangente e

natural, que tal influência se tornou impossível de ser detectada ou mesmo questionada.

Embutido profundamente nos fundamentos epistemológicos e teóricos das perspectivas

analíticas que constituem o cerne destes estudos, o racionalismo exerceu, e ainda exerce,

grande presença no desenvolvimento histórico e conceitual das análises do espaço

organizacional estabelecendo um modelo e uma pauta de pesquisa difíceis de serem

ignorados. Assim, com a atenção voltada àquilo que é diretamente observável, as análises das

organizações são submergidas em meio a uma objetividade excessiva que exerce domínio

sobre qualquer teor que, de certa forma, submeta-as a uma visão mais subjetiva dos fatos.

Preceitos normativos, passíveis de questionamentos, se transformam em leis

universais, objetivas, imutáveis e, consequentemente, inquestionáveis (REED, 2010), que

acabam por reger todo o desenvolvimento científico.

Devido sua representatividade institucional, essa forma ortodoxa de pensamento tem

conduzido toda a sociologia acadêmica e continua expandindo sua hegemonia nos estudos

organizacionais (Vergara & Caldas, 2005). Pelo fato de ser tão dominante e concreta, os

teóricos acabam por considerá-la "taken for granted", correta e autoevidente (BURRELL;

MORGAN, 1979). Deste modo, é possível contemplar a certa tendência dos estudos em

reificar o elemento "Organização" (PECI, 2003), reduzindo-o em valores meramente

materialistas. Fundamentada em pressupostos raramente explicitados e não apreciados

frequentemente, é possível inquirir que a Teoria das Organizações se desenvolve em bases

não questionadas (MORGAN, 1980) e, embora desapercebidamente se torna sujeita à

vulnerabilidade movediça dos cunhos teóricos de análises.

Aqui, cabe a ressalva do argumento de Feyerabend (1977) quanto ao poder de

condução do pensamento científico imperante na sociedade. Diante do exposto, é possível

Page 66: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

67

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

inquirir que tornou-se um dado o fato de posicionar o pensamento em concórdia aos discursos

sociais vigentes e não se opor a eles. Antes, o submete à aparente "verdade" e a dissemina, o

que faz dela algo ainda mais inquestionável, a ponto de parecer obrigatório. Tal argumento

transparece o combate frente a tudo àquilo que não é coberto pelo discurso imperante, ou seja,

parece não haver espaço para nada que não seja sustentado pelo tal. A gravidade desta

concórdia é explícita no argumento de Burrell (2010). O autor argumenta que, ao voltar os

olhos para trás, torna-se possível visualizar que o campo organizacional consolidou-se como

um campo onde teóricos poderosos concordaram em dar pouca atenção aos problemas

fundamentais ao direcionarem questões fundamentais. Deste modo, a falta de questionamento

e a contínua reprodução desta herança científica transparece quão fraturada se encontra a

realidade dos estudos organizacionais.

Assim, não é de se surpreender a afirmativa segundo a qual, na tentativa de

proclamarem o entendimento do mundo e promoverem o "conserto" do mundo

organizacional, os teóricos reduzem a dinâmica do mesmo, aprisionando-o em um sistema

classificatório estático, em uma estrutura compreensível e simplificada. As conceituações da

Teoria das Organizações apenas se desenvolvem como formas de reforço da estagnação da

dinâmica da vida real, aprisionando a estrutura de pensamento com considerável sofisticação,

como uma espécie de encarceramento, vitimando-a a ponto de se tornar um mero objeto de

legenda (BURRELL, 2010).

O conceito escreve suas marcas sobre o corpo da literatura e, no processo de marcar

com cortes e incisões, deixa um rastro de lesões atrás do qual todos podem seguir. Os

cortes mais profundos são aqueles que deixam as maiores impressões [...] Contudo,

esses magníficos cortes, em última análise, significam morte e imobilidade. No

mínimo, o assunto é ferido pelos mais profundos e incisivos rótulos (BURRELL,

2010, p.441).

Pelo fato de não depreender o tamanho correto a ponto de encaixar-se nesta

estrutura paralisada na qual vem sendo imobilizada, Burrell (2010) argumenta que a análise

organizacional permeia em um Leito de Procusto. O reforço exacerbado de conceitos já

definidos previamente desconsidera a questão de que todo o conceito inclui e também exclui;

ignora e também concentra-se; obscurece e também traz aos refletores. Isto é, desconsidera-se

a questão de que não há limites para os conceitos.

Diante do exposto, Burrell; Morgan (1979) chegam a questionar a legitimidade

de teorias e pesquisas organizacionais contemporâneas. Os autores demonstram certa

preocupação com o fato de se atribuir às organizações uma natureza essencialmente efêmera,

Page 67: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

68

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

visto a quantidade de teorias geradas pelas análises organizacionais que não possuem relação

óbvia aparente fora de seus contextos. Tal preocupação se alastra para todas as ciências

sociais contemporâneas, já que prevalece o domínio de métodos de pesquisa abstraídos da

diversidade de assuntos extensos que, ostensivamente, são designados a examinar e cujos

resultados se limitam ao abstrato, com fim em si mesmos (MORGAN; SMIRCICH, 1980).

Tudo isso mostra quão limitadora e danosa pode ser a orientação predominante das análises

organizacionais. Elencando formas de interpretações mais populares ou politicamente

superiores e comuns, afirma-se que a ciência age erroneamente com a própria noção de

ciência. Pouca ou mesmo nenhuma menção é oferecida ao caráter científico pluralístico, o

qual considera não apenas uma única entrada possível aberta para a análise das organizações

(BURRELL, 2010).

Percebe-se assim, que as forças funcionalistas persistem na determinação de

pressuposições teóricas relacionadas à regulação e à objetividade, ou seja, tornaram-se lesões

entalhadas no corpo da vida organizacional. Com a incrível capacidade de tradução daquilo

que é de fora para seus próprios termos, as forças funcionalistas permanecem muito bem

entrincheiradas, perdendo os anéis, mas garantindo sempre os dedos (VERGARA, 2010).

Calçadas no determinismo e apresentadas como racionalistas e pragmáticas, buscam-se

sempre orientar pelos métodos das ciências naturais nas tentativas de ordenar a realidade as

quais analisam, inquirindo que tudo obedecerá à ordem social regulada do ambiente e dando

pouca atenção ao papel exercido pela subjetividade humana (MOZZATO; GRZYBOVSKI,

2011).

Parafraseando Burrell (2010), pode-se afirmar que, assim fazendo, tais forças

objetivistas acabam aprisionando, imobilizando e ferindo aquilo a que buscam se referir. Ou

seja, apeando no quadro explanatório objetivista, como uma temível arma de mutilação, as

análises organizacionais oferecem o fenômeno a ser explicado à execução, restringindo-o a

vieses analíticos ordenados, determinados, racionalizados e regulados. E, ao mesmo tempo,

abafam e ignoram os gemidos dos atores que estão por trás do fenômeno, já considerando-os

como mortos.

Desta forma, como bem observado por Clegg; Hardy (2009), os estudos

organizacionais têm o potencial de negligenciar o sujeito. No realizar das pesquisas à custa do

mesmo, os acadêmicos obedecem a tendência em articular seus pensamentos, receios e visões

de mundo de forma racional e lógica, perdendo de vista as pessoas que constituem as

organizações. Na investigação das forças sociais e ambientais que atuam como determinantes

Page 68: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

69

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

das ações organizacionais, as abordagens de análises enfatizam, primordialmente, o papel das

dimensões objetivistas e quase naturais (PRATES; RODRIGUES, 2009).

Ou seja, os teóricos não se permitem lograr um certo distanciamento da visão

tradicional de mundo e de seus conhecimentos prévios racionalizados acerca daquilo que

analisam, já que olhar mais atentamente aos elementos subjetivos requer novas

pressuposições, novas teorias, e árdua é a separação entre a razão e o psiquismo humano

(MOZZATO; GRZYBOVSKI, 2011).

Embora houvesse um tímido início de mudança, diante dos questionamentos de âmbito

cultural e das evidenciações das dimensões mais qualitativas do mundo organizativo (PECI,

2003), as críticas não foram suficientes para romper o paradigma racional instrumental

dominante (MOZZATO; GRZYBOVSKI, 2011). Nenhuma das teorias que se propuseram a

ressuscitar o sujeito nas análises organizacionais o fez com alto grau de confiança. Quando

tais temas chegam à notória, as discussões são feitas por terminologias genéricas e teóricas

que as tornam incapazes de beneficiar o sujeito. Ao mesmo tempo em que clamam,

marginalizam o mesmo. Ao mesmo tempo em que lutam por fazê-lo transparecer, desbotam-

no. Assim, encapsuladas e homogeneizadas por estas suposições tenras, as vozes dos sujeitos

e sua individualidade permanecem no som do silêncio e são pronunciados como mortos

(CLEGG; HARDY, 2009).

CLEGG; HARDY (2009) argumentam que tal realidade faz com que essas teorias não se

diferenciem totalmente do positivismo contra o qual resistem. Assim como o mesmo, elas

marginalizam e silenciam o sujeito de quem falam, reduzindo-o a estatísticas ou incluindo-o

em contextos nos quais o mesmo não é capaz de falar por si mesmo. Isto é, um contexto que

garante ao sujeito um status de pouco mais que um boneco de ventrículo.

Em meio a esta argumentação, cabe aqui a consideração que, embora evidenciadas as

dimensões mais qualitativas da ciência e a suposta influência destas na mudança do cenário

organizacional, dominado até então pelo empirismo abstraído e baseado em métodos

quantitativos de pesquisas, é visível outro foco de ameaça que aparece gingando como

pêndulo. Há uma tendência de um domínio empirista novamente abstraído baseado agora

nesses métodos qualitativos. Isto é, existe uma tendência perigosa de que o empirismo

quantitativo e objetivo, que demarcou uma época dos estudos organizacionais, seja apenas

substituído por outro (MORGAN; SMIRCICH, 1980).

Assim sendo, a verdade seja dita: ao se apegar a esse foco objetivo de análise, em que

ao mesmo tempo em que ressuscita emudece o sujeito, ignora-se o fato de que a organização,

composta por indivíduos, é um sistema cujos preceitos são de muita complexidade. A adoção

Page 69: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

70

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

de uma postura que afasta estes indivíduos para as margens das análises organizacionais é o

mesmo que defender o incompleto.

Clegg; Hardy (2009) afirmam que o corpo do sujeito pode até oscilar, flutuar ou

mesmo desaparecer de vista no ciberespaço analítico, porém quem esse indivíduo passa a ser

e o que ele poderia ser não pode ser descolorido. Os autores afirmam que os sinais da

identidade dos indivíduos requerem contemplação. Considerá-los como seres lógicos e

racionais posicionados como meros recipientes de determinantes ambientais (SILVA;

VERGARA, 2003) é o mesmo que tapar os olhos perante a verdadeira análise organizacional,

é negar a essência da representação humana em cada ação organizacional. Isto é, estudar as

organizações apoiando-se, principalmente, em conceituações objetivas é não se importar com

a amplitude e completude das pesquisas, é se contentar com apenas um quadrante científico,

físico, tático e incompleto. Mozzato; Grzybovski (2011) afirmam que o mundo está a cada dia

mais fragmentado e incerto e não está em consonância com o desejo de ordem que propõe a

ortodoxia funcionalista.

Ressalte-se aqui que o modo como a vida organizacional é constituída tem muitas

dimensões inconscientes. Lamentações, ansiedade, frustrações, tédio e desespero são partes de

toda a criação social e expressões individuais da vida organizacional. Desta forma, muitos

fenômenos organizativos possuem explicações advindas do âmbito não racional. Interpretar

dados, tomar decisões, persuadir, lutar, resistir e sobreviver, é mais do que um conjunto de

respostas automáticas passíveis de análise objetiva, são fenômenos sentidos e formados por

sentimentos (FINEMAN, 2009).

Em suma, pode-se dizer que existem muitos caminhos para a reconexão com os

habitantes das organizações. Ao mesmo tempo em que a maioria das pesquisas convive com o

risco de perder o sujeito de vista, elas também são potenciais para relocalizarem o mesmo. Ao

acreditar que nada pode ser feito e que não é possível iniciar a diferença é o mesmo que se

acorrentar às ideias e deixar com que os controladores determinem o modo comum de analisar

o mundo organizativo. Ou seja, é permitir a própria condução à tirania intelectual (CLEGG;

HARDY, 2009).

Deste modo, caberia agora a adoção de um comportamento resistente a essa tirania,

propiciando medidas capazes de reverter este caos científico, revendo as bases em que as

prioridades de pesquisa devem se assentar (PRATES; RODRIGUES, 2009). Devido à

representatividade que o indivíduo exerce no âmbito organizacional, deve-se sempre procurar

priorizar os elementos subjetivos da análise organizacional, atribuindo valor àquilo que não é

observado diretamente. Teorizar sobre as organizações não significa se apegar somente ao

Page 70: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

71

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

concreto e racional, como fazem as perspectivas predominantes, mas sim abraçar outros

quadros de referência e buscar analisar uma parte do que subjaz aos atores e às ações

organizacionais. Assim, vale enfatizar que o emprego de critérios alternativos de pesquisa não

exclui a utilização de rotas tradicionais, mas, antes, pressupõe superá-las por meio de uma

postura científica diferenciada, mais reflexiva, mais crítica e com menor teor de rigidez e

intransigência (MELO, 2008; VERGARA, 2010).

Afinal, apresentando-se como uma carga culta do século XX, os modos de pesquisas

tradicionais, ligados à racionalidade e à objetividade, foram notadamente bem sucedidos,

porém vislumbra-se, mais do que nunca, a necessidade de enfatizar outras narrativas e outras

epistemologias científicas (Burrell, 2010). Torna-se necessário reafirmar as bases subjetivistas

das análises organizacionais estabelecendo-as não como meras realidades de pesquisas

alternativas comprimidas pelo objetivismo analítico predominante, mas como detentoras de

conceitos, ideias e visões que devem ser mais debatidas para a real compreensão do

comportamento organizativo.

Ressalta-se ainda a necessidade de maior ênfase nas realidades alternativas às

dominantes, isto é, um desenvolvimento em termos paradigmáticos que atribui ao indivíduo

um papel efetivo de ator social e não como mero sujeito da ciência e do mundo (MOZZATO;

GRZYBOVSKI, 2011). Cabe ainda, uma maior atenção à psique humana, considerando-a

como requisito fundamental para o entendimento da forma como os indivíduos criam,

modificam e interpretam o mundo e a realidade na qual se inserem.

De forma geral, sabe-se que a utilização de uma perspectiva mais cognitiva para um

melhor entendimento das crenças individuais que circundam os habitantes das organizações é

uma forma de fornecer melhores explicações para ações e comportamentos em nível

organizacional (TENBRUNSEL et al., 2009). Ilgen; Klein (1988) enaltecem um princípio que

estabelece que o que as pessoas pensam e seus próprios pensamentos desempenham um papel

chave no comportamento que adotam.

Parafraseando novamente, Burrell; Morgan (1979), urge como necessário um olhar mais

profundo nas análises organizacionais, até mesmo porque, segundo ressalva de Bastos;

Borges-Andrade (2009), a dimensão subjetiva existe mesmo nos aspectos mais tangíveis da

vida organizacional. Cabe aos teóricos um maior empenho na adoção de metodologias

ideográficas de pesquisa, fundamentando-se na ideia de que só é possível compreender um

mundo social enfatizando também as abordagens subjetivas de análise, das quais é possível

filtrar um conhecimento de primeira mão e não um conhecimento subordinado a um rigor

científico formulador de hipóteses (BURRELL; MORGAN, 1979).

Page 71: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

72

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

Enfim, para resistir à tirania intelectual que permeia o olhar científico dos fenômenos

organizacionais, cabe aos teóricos analisá-los por meio de critérios mais libertos dos ideais

objetivistas já estabelecidos pela ciência, critérios capazes de "ressuscitar o sujeito, levar vida

de volta àqueles lábios pálidos, perturbar o estado de sonolência que parece morte, destruir as

garrafas metafóricas de formaldeído analítico" (CLEGG; HARDY, 2009, p.328).

Considerações Finais

O objetivo deste artigo foi explorar o escopo analítico dos paradigmas sociológicos de

Burrell; Morgan (1979) na análise organizacional com o intuito de tecer uma crítica relativa à

ortodoxia objetivista que permeia o campo dos estudos organizacionais. A justificativa para

este enfoque se deu pelo fato de que o status científico do campo dos estudos organizacionais,

assim como de outras disciplinas das Ciências Sociais, transparece uma situação não muito

semelhante ao que propuseram Burrell; Morgan (1979). Sabe-se que quando propuseram o

desenvolvimento do modelo de categorização paradigmática, os autores atribuíram ênfase na

possibilidade de diferentes paradigmas serem utilizados para a análise de uma vasta gama de

teorias sociais, inclusive, para análise dos fatos e dos fenômenos organizacionais.

Todavia, a realidade científica no campo dos estudos organizacionais testemunha uma

vasta gama de teorias e pesquisas sendo organizadas e fundamentadas, principalmente, nos

contornos de apenas um dos quatro paradigmas sociológicos, sendo visível o apego

acidentado a ortodoxia funcionalista e a visão materialista e racional dos fatos

organizacionais.

Isso significa dizer que, na busca pela compreensão dos fenômenos e fatos

organizacionais, as explicações são advindas, principalmente, de um mesmo conjunto de

pressuposições metateóricas. Com a atenção voltada àquilo que é diretamente observável, as

análises das organizações estão submersas em uma objetividade excessiva que exerce

domínio sobre qualquer teor que, de certa forma, submeta-as a uma visão mais subjetiva dos

fatos. Nesta realidade, o papel representado pelo sujeito é algo que não é tão explorado pelas

pesquisas, algo pouco conversado. Estando assim, presas no objetivismo extremado

característico da vertente predominante, não há dúvidas de que as análises organizacionais

vêm sendo restringidas nos mais agudos termos.

Considerando a hegemonia exercida pela abordagem objetivista no campo dos estudos

organizacionais e a necessidade de uma visão científica mais liberta da razão, este estudo

propôs a revisitação do escopo analítico dos quatro quadrantes paradigmáticos desenvolvidos

Page 72: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

73

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

por Burrell; Morgan (1979) – os quais propiciam modos alternativos de desenvolvimento

científico para a análise organizacional – como forma de ancorar a sua crítica relativa à

ortodoxia objetivista que permeia o campo dos estudos organizacionais. Contextualizando as

bases nas quais repousam os modelos de análises imperantes no campo dos estudos

organizacionais, a proposta do estudo é deixar explícita a fragilidade e a parcialidade das

análises dominantes e a forma como o desconhecimento da diversidade paradigmática tem

aprisionado e limitado o desenvolvimento dos estudos organizacionais.

De maneira geral, os resultados deste estudo denunciam a necessidade de um maior

empenho na adoção de metodologias ideográficas de pesquisa, considerando a ideia de que só

é possível compreender o mundo social em sua completude quando as abordagens subjetivas

de análise são consideradas e a figura do sujeito resgatada nas tentativas de compreensão dos

fenômenos que marcam a realidade das organizações.

Em suma, aprofundando-se nessa discussão e promovendo o direcionamento científico

para uma visão mais liberta da objetividade e da razão, este estudo contribuiu para firmar as

bases subjetivistas das análises organizacionais, estabelecendo-as não como meras realidades

de pesquisas alternativas comprimidas pelo objetivismo analítico predominante, mas como

detentoras de conceitos, ideias e visões que devem ser considerados para a real compreensão

do comportamento organizativo.

Referências Bibliográficas

ASTLEY, W.G.; VAN de VEN, A.H. Central Perspectives and debates in organization

theory. Administrative Science Quarterly, Ithaca, 28(2), 245-273, 1983.

BASTOS, A.V.B.; BORGES-ANDRADE, J.E. Nota técnica: cognição e ação: o ator ocupa a

cena nos estudos organizacionais. In: CALDAS, M.; FACHIN, R.; FISCHER, T. Handbook

de estudos organizacionais: ação e análise organizacionais. São Paulo: Atlas, 2009, v.3, 69-

76.

BURRELL, G. Ciência normal, paradigmas, metáforas, discursos e genealogia da análise. In:

CALDAS, M.; FACHIN, R.; FISCHER, T. Handbook de estudos organizacionais: modelos

de análise e novas questões em estudos organizacionais. São Paulo: Atlas, 2009, v.1, 437-460.

Page 73: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

74

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

BURRELLL, G.; MORGAN, G. Sociological paradigms and organizational analysis. London:

Heinemann Educational Books, 1979, 432 p.

CALDAS, M.P.; FACHIN, R. Paradigma funcionalista: desenvolvimento de teorias e

institucionalismo nos anos 1980 e 1990. Revista de Administração de Empresas, São Paulo,

45(2), 46-51, abr./jun, 2005.

CLEGG, S.R.; HARDY, C. Conclusão: representação. In: CALDAS, M.; FACHIN, R.;

FISCHER, T. Handbook de estudos organizacionais: reflexões e novas direções. São Paulo:

Atlas, 2009, v.2, 295-343.

FEYERABEND, P. Contra o método. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1977, 488 p.

FINEMAN, S. A emoção e o processo de organizar. In: CALDAS, M.; FACHIN, R.;

FISCHER, T. Handbook de estudos organizacionais: reflexões e novas direções. São Paulo:

Atlas, 2009. v.2. Cap.9, p.157-189.

FITCHE, J.G. The science of knowledge. London: Trübner & Co., 1889, 377 p.

ILGEN,D.R.; KLEIN, H.J. Organizational behavior. Annual Review of Psychology, Palo

Alto, v.40, 327-351, 1988.

LIMA, L.A. A representação das múltiplas dimensões paradigmáticas no estudo da

administração: um ensaio sobre os limites contidos nas defesas paradigmáticas excludentes.

Revista de Administração Contemporânea, Curitiba, 15(2), 198-208, mar./abr, 2011.

MELO, D.R.A. A questão do método e a pluralidade metodológica em estudos

organizacionais. In: Simpósio de Excelência em Gestão e Tecnologia, 5, 2008, Resende.

Anais... Resende: UFAM.

MORGAN, G. Paradigms, metaphors, and puzzle solving in organization theory.

Administrative Science Quarterly, Ithaca, 25(4), 605-622, Dec, 1980.

MORGAN, G.; SMIRCICH, L. The case for qualitative research. Academy of Management

Review, Ada, 5(4), 491-500, Oct, 1980.

Page 74: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

75

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

MOZZATO, A.R.; GRZYBOVSKI, D. Desenvolvimento paradigmático da teoria das

organizações: uma abordagem crítica e a concepção de indivíduo na perspectiva

emancipatória. In: Colóquio de Espistemologia e Sociologia da Ciência da Administração, 1,

2011, Florianópolis. Anais... Florianópolis: UFSC.

PECI, A. Estrutura e ação nas organizações: algumas perspectivas sociológicas. Revista de

Administração de Empresas, São Paulo, 43(1), 24-35, jan/fev/mar, 2003.

PRATES, A.A.P.; RODRIGUES, S.B. Nota técnica: representações - a importância do sujeito

na teoria organizacional. In: CALDAS, M.; FACHIN, R.; FISCHER, T. Handbook de estudos

organizacionais: reflexões e novas direções. São Paulo: Atlas, v.2, 344-352, 2009.

REED, M. Teorização organizacional: um campo historicamente contestado. In: Sartre, J.

Being and nothingness: the complete text. New York: Washington Square Press, 1966, 812 p.

SILVA, J. R. G.; VERGARA, S. C. Sentimentos, subjetividade e supostas resistências à

mudança organizacional. Revista de Administração de Empresas, São Paulo, 43(3), 10-21,

jul/set, 2003.

SILVA, M.R.A. A abordagem paradigmática sociológica e os pressupostos das finanças

organizacionais. In: Congresso Virtual Brasileiro de Administração, 7., 2010, São Paulo.

Anais... São Paulo: Convibra.

TENBRUNSEL, A.E. et al. Cognições em organizações. In: CALDAS, M.; FACHIN, R.;

FISCHER, T. Handbook de estudos organizacionais: ação e análise organizacionais. São

Paulo: Atlas, 2009, v.3, 33-68.

VERGARA, S.C. Nota técnica: ciência normal, paradigmas, metáforas, discursos e

genealogias da análise. In: CALDAS, M.; FACHIN, R.; FISCHER, T. Handbook de estudos

organizacionais: modelos de análise e novas questões em estudos organizacionais. São Paulo:

Atlas, 2009, v.1, 461-463.

VERGARA, S.C.; CALDAS, M. P. Paradigma interpretacionista: a busca da superação do

objetivismo funcionalista nos anos 1980 e 1990. Revista de Administração de Empresas, São

Paulo, 45(4), 66-72, out/dez, 2005.

Page 75: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

76

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

A GESTÃO DE CUSTOS NAS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS

AZEVEDO de, Marcelo Cardoso7

CANDIANI, Denise Elaine 8

Resumo

O objetivo deste artigo é abordar e analisar os métodos de custeio e a utilização das

ferramentas gerenciais de custos pelas Micro e Pequenas Empresas (MPEs), demonstrando a

importância e contribuição efetiva dessas ferramentas para a sua gestão. Demonstra também,

que para as MPEs é possível transformar dados simples em informações relevantes e úteis ao

processo decisório no ambiente atual de alta competitividade e riscos. Evidencia que a gestão

de custos colabora para a simetria das informações e faz com que haja interação entre todas as

áreas da empresa, possibilitando aos gestores alcançar melhores resultados. Não são poucas as

empresas de micro e pequeno porte que enfrentam dificuldades nos dias atuais, pois elas são

extremamente expostas as mudanças econômicas. Porém, este artigo ressalta que é possível

ter uma gestão de custos eficiente mesmo em empresas de pequeno porte e que deste modo, é

possível garantir bons resultados e a sobrevivência destas empresas.

Palavras-chave: Gestão de Custos. Métodos de Custeio. Micro e Pequenas Empresas.

7 Mestre em Administração, especialista em Administração Financeira e Controladoria e Didática do Ensino

Superior, Graduado em Ciências Contábeis com ênfase em Análise de Sistemas e Matemática, Professor do

Centro Universitário Padre Anchieta e Fatec-SP ([email protected]). 8 Mestra em Administração, especialista em Didática do Ensino Superior e especialista em Gestão Educacional,

Graduada em Administração de Empresas. Professora do Centro Universitário Padre Anchieta, Professora

convidada do Centro Universitário São Camilo em disciplinas EAD e presenciais ([email protected]).

Page 76: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

1 Introdução

Atualmente as empresas estão enfrentando um ambiente econômico bastante

competitivo, atuando em ambientes cada vez mais exigentes, que sofrem mudanças

constantes, exigindo que os gestores busquem soluções para auxilia-los na hora da

tomada das decisões da empresa, adotando instrumentos que permitam maior

flexibilidade, velocidade, inovação e integração.

Diante de situações inesperadas do dia-a-dia, sejam grandes ou micro e pequenas

empresas, devem elas estar preparadas para tomar tais decisões, pois uma única decisão

pode mudar os rumos de uma organização, alterar para melhor ou para pior os seus

resultados, ou até mesmo, colocar em risco sua continuidade.

No cenário dos últimos anos, observa-se que houve crescimento significativo das

micros e pequenas empresas e seu papel vem sendo de grande relevância na economia

(Sebrae, 2014), necessitando assim de informações competitivas para o mercado, que

podem ser obtidas por meio de uma gestão de custos eficiente voltada as necessidades

das empresas de micro e pequeno porte.

Na hostilidade do ambiente atual, é muito importante que as MPEs atentem para

a gestão de custos como uma ferramenta para sobrevivência neste ambiente tão

competitivo. Na maioria dos casos de pequenos e médios empresários a gestão de custos

é uma ferramenta pouco explorada e que não se encaixa na realidade de uma empresa de

micro e pequeno porte e tem como resultado uma baixa qualidade gerencial com

deficiência de informações importantes. (CEZARINO E CAMPOMAR, 2006).

A falta de uma gestão adequada torna-se um fator de risco a sobrevivência das

MPEs, fazendo com que boa parte delas não sobreviva por um longo período de tempo

devido a sua fragilidade para competir com as grandes empresas, acarretando grande

frustração aos empresários e prejuízos a economia brasileira.

O objetivo deste trabalho acadêmico é mostrar a importância da gestão de custos

nas micro e pequenas empresas, visto que atualmente não há grande preocupação com

essa área da contabilidade dentro de empresas destes portes.

Este artigo tem caráter descritivo e exploratório. Para tanto, utilizou-se de

conceitos e dados de informações retiradas de referências bibliográficas e sites

especializados em gestão de custos e pequenas e médias empresas, além de material

publicado em artigos, dissertações e teses, possibilitando assim, analisar dados e casos

atuais e constatar a importância do tema abordado.

Page 77: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

78

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

2 As micro e pequenas empresas

Segundo o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas –

SEBRAE (2010) a Lei Geral das Microempresas e Empresas de Pequeno Porte foi

instituída em 14 de dezembro de 2006 (Lei Complementar 123/2006) para regulamentar

o disposto na Constituição Brasileira sobre tratamento diferenciado as MPEs. Foi

instituída com participação de entidades empresariais, da sociedade, poder executivo e

legislativo, visando o desenvolvimento e competitividade destas empresas como

estratégia de geração de empregos, distribuição de renda, inclusão social, diminuição da

informalidade e fortalecimento da economia.

2.1 Visão geral das micro e pequenas empresas

Segundo o SEBRAE (2014), a relevância das MPEs na economia já é conhecida

há bastante tempo. Ilustrando isto, as pesquisas desse serviço demonstram que estes

tipos de empresas são as principais geradoras de riqueza no comércio brasileiro,

representando 53,4% do Produto Interno Bruto (PIB) deste setor. Isso demonstra que

são essenciais o incentivo e a qualificação dos micro e pequenos empresários, pois, uma

única empresa representa pouco, porém juntas elas são fundamentais para o crescimento

da economia do nosso país.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2013),

as MPEs são fundamentais para igualdade social devido a sua capacidade de constituir

emprego e renda as pessoas com menos grau de qualificação profissional.

Quanto a sua definição e delimitação de segmentos, ainda de acordo com o

IBGE (2001), não há informação universal devido à grande variedade de setores que as

MPEs podem abranger. Os critérios para o enquadramento variam tanto por parte das

instituições financeiras quanto pela legislação específica deste setor podendo variar

ainda de acordo com o faturamento, pessoas empregadas ou ambos.

De acordo com a Lei Complementar 123/2006, enquadra-se como microempresa

aquela que obtiver um faturamento, dentro do ano-calendário, igual ou inferior a R$

360.000,00. Já no caso de empresa de pequeno porte, a Lei Complementar 155/2016 diz

que o faturamento deve ser maior que R$ 360.000,00 e igual ou inferior que R$

4.800.000,00.

De outra forma, o SEBRAE (2014) define o porte da empresa de acordo com a

quantidade de pessoas ocupadas. São consideradas microempresas aquelas que nas

Page 78: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

79

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

atividades de serviço e comércio possuem até 09 funcionários, e no setor industrial até

19 empregados. Já no caso das pequenas empresas, são aquelas que possuem entre

10 a 49 funcionários no setor de comércio e serviços e, de 20 a 99 funcionários no ramo

industrial.

Figura 1: Classificação das Micro e Pequenas Empresas quanto ao Porte

Instituição Classificação quanto ao Porte da Empresa

Microempresa Pequena Empresa

SEBRAE

Setor Quant. Funcionários Setor

Quant. Funcionários

Indústria Até 19 empregados Indústria De 20 a 99 func.

Comércio e Serviço

Até 09 empregados

Comércio e Serviço De 10 a 49 func.

Simples Nacional e Lei Geral das MPEs

Tipo Jurídico Faturamento Tipo Jurídico Faturamento

- Empresário individual (EI);

Receita bruta anual igual ou inferior a R$ 360.000,00

- Empresário individual (EI);

Receita bruta anual superior a R$ 360.000,00 e igual ou inferior a R$ 4.800.000,00

- Sociedade empresarial (comercial);

- Sociedade empresarial (comercial);

- Sociedade simples (civil).

- Sociedade simples (civil).

BNDES

Faturamento Faturamento

Receita Operacional Bruta anual ou anualizada inferior ou igual a R$ 360.000,00

Receita Operacional Bruta anual ou anualizada superior a R$ 360.000,00 e inferior a R$ 3.600.000,00.

Fonte: Souza e Pereira (2009), ampliado e atualizado.

Segundo IBGE (2001), dentre as principais características das MPEs temos um

capital de pouca expressividade, forte presença familiar na mão-de-obra ocupada, e

registros contábeis, em sua maioria, inadequados, prejudicando assim a empresa na hora

de uma tomada de decisão. Também são considerados como características as altas

taxas de natalidade e mortalidade, utilização de mão-de-obra não qualificada ou pouco

qualificada e a falta de separação do patrimônio da entidade com o patrimônio pessoal.

O gráfico abaixo mostra o grau de utilização de recursos das MPEs para uso

pessoal dos pequenos e médios empresários. Nota-se neste gráfico que 54,62% dos

empresários já usufruiu de recursos da empresa, mesmo que raramente, para benefício

pessoal.

Page 79: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

80

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

Figura 2: Gráfico do Uso Pessoal de Recursos nas MPEs

Fonte: Appolinário (2008, p.47)

Com relação às altas taxas de natalidade e de mortalidade, ao mesmo nível que

surgem novas empresas gerando oportunidades de trabalho, por outro lado, temos a

insuficiência de registros e informações contábeis para que essas novas empresas

sobrevivam dentro da economia de nosso país por um longo período de tempo. Ainda de

acordo com a pesquisa do IBGE (2001), ocorre um panorama da estrutura de custos das

micro e pequenas empresas no período compreendido entre 1998 a 2001, onde foi

concluído não existir um detalhamento suficiente dessas informações.

Atualmente grande parte das MPEs não utilizam dos recursos informatizados

para a organização de suas informações e optam por fazer a contabilidade e o balanço

do estoque à mão pois há uma antipatia dos empresários, em especial os mais antigos, a

esse tipo de tecnologia. Para Anholon et al (2005) esse método tradicional gera uma

perda de informações e tempo gerando uma desvantagem ao micro e pequeno

empresário.

3 A contabilidade e a gestão de custos

Por diversas vezes os empresários se dedicam apenas nas ações de vender, lançar

novos produtos e dominar mercados e deixam em segundo plano o efetivo rendimento

financeiro. O obstáculo está em introduzir e operar uma contabilidade de custos que seja

eficiente para mostrar com convicção o progresso dos resultados financeiros da empresa

(PETTI, 2009).

45,21%

35,62%

16,00%3,00%

Nunca Raramente Algumas Vezes Frequentemente

Page 80: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

81

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

Com a Revolução Industrial, as empresas passaram a adquirir matéria-prima

para transformar em outros produtos e desta agregação de materiais originou-se o custo

de produção ou fabricação. (FIGUEIREDO e CAGGIANO, 1997)

Durante as décadas de 60 e 80, com o Brasil passando por um grande processo

inflacionário, as empresas produziam e comercializavam praticamente sem controles de

suas operações, porém, com grandes controles financeiros em virtude das remarcações

de preços que ocorriam neste período. Deste modo, os estoques eram remunerados com

suas remarcações e o controle de custos era algo desnecessário. Os erros na gestão das

operações eram repassados aos clientes usando como justificativa a perda do poder

aquisitivo da moeda. (PINTO et al, 2008)

Na década de 90, o mercado brasileiro se abriu para produtos e empresas

estrangeiras, e então, as empresas nacionais passaram a ter concorrência internacional.

Com a implantação do Plano Real no ano de 1994, o índice de inflação tornou-se

estável e razoável, fazendo surgir a necessidade de controles mais eficazes para as

empresas. Neste momento, os gestores passaram a reconhecer a importância das

informações mais precisas e que o conhecimento detalhado, em termos financeiros, dos

produtos/serviços produzidos e comercializados era fundamental para o sucesso das

empresas. (PINTO et al, 2008).

A contabilidade de custos nasceu da necessidade de informações mais precisas

permitindo após a Revolução Industrial, tomadas de decisões mais assertivas para as

empresas. Antes deste período, a contabilidade de custos praticamente não existia, pois,

as simples operações de comercialização de mercadorias eram controladas e avaliadas

apenas pelo custo de aquisição das mesmas. (BRUNI e FAMÁ, 2007).

A atual globalização da economia tem obrigado as empresas se adaptarem às

novas circunstâncias do mercado, pois o consumidor tem acesso a produtos de alta

qualidade a preços relativamente baixos de maneira fácil e rápida. Deste modo, cada vez

mais as informações de custos são utilizadas como parâmetros na avaliação de

resultados e suporte para a tomada de decisões estratégicas. (PINTO et al, 2008).

Os custos são medidas monetárias dos sacrifícios arcados pela empresa para

chegar aos seus objetivos (FIGUEIREDO e CAGGIANO, 1997) e a contabilidade de

custos tem a capacidade de gerar informações eficientes para o planejamento das ações

por parte do gestor, e ainda, torna possível analisar os efeitos desse planejamento.

(MARTINS, 2003).

Page 81: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

82

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

3.1 Definições de custo

Os gastos de uma entidade consistem no sacrifício financeiro arcado por ela para

a obtenção de um produto ou serviço. Na contabilidade serão classificados como custo

ou despesa dependendo da sua importância na elaboração do produto ou serviço. Alguns

gastos temporariamente podem ser classificados como investimentos, mas à medida que

forem sendo consumidos, são classificados como custos ou despesas. (BRUNI e

FAMÁ, 2007).

Os custos são gastos acumulados na fabricação de um produto ou aquisição de

uma mercadoria ou serviço para a produção de outro produto ou serviço, como

combustíveis e lubrificantes utilizados nas máquinas da fábrica, salários do pessoal da

área produtiva e manutenção das máquinas utilizadas na produção. (PINTO et al, 2008).

Para Professores da FEA/USP (1978, apud LEONE, 2000) quando uma despesa for

atribuída a vários produtos ela passa a ser Custo ou Custo de Produção.

3.2 Classificação de custos

A maior parte dos autores classificam os custos como: direto, indireto, fixo,

variável, semifixo e semivariável.

Há vários tipos de custos, de acordo com as necessidades gerenciais. Alguns

tipos de custos são mais conhecidos e sua determinação é feita de maneira repetitiva e

corrente, já outros tipos, são levantados e determinados à medida que a administração

necessita. (MATZ e USRY, 1976, apud LEONE, 2000).

A classificação dos custos em diretos e indiretos proporciona informações mais

próximas da realidade para determinação dos custos para cada objetivo. Possibilita

identifica-los por centros de responsabilidade e por segmentos. A diferenciação entre

diretos e indiretos proporciona mensuração mais realista e verificação da eficiência das

atividades da empresa. (LEONE, 2000).

Os custos diretos são os custos que podem facilmente ser identificados no

produto ou serviço e seu valor mensurado com facilidade. Os custos diretos não

necessitam de critérios de rateio para serem alocados ao produto final ou serviço

prestado. (PEREZ JR., OLIVEIRA e COSTA, 2005)

Os custos indiretos são aqueles que dependem de cálculos, rateios ou estimativa

para serem mensurados, ou seja, só são apropriados indiretamente aos produtos. O

Page 82: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

83

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

parâmetro utilizado para calcular as estimativas neste caso é chamado de base ou

critério de rateio. (PINTO et al, 2008).

Ainda sobre os custos indiretos, sabe-se que estes não são perfeitamente

identificados e por isso não podem ser apropriados diretamente aos produtos ou

serviços. Eles precisam de algum critério de rateio para sua alocação. São exemplos de

custos indiretos: material utilizado na manutenção das máquinas do setor fabril,

materiais empregados nas atividades auxiliares a produção, mão-de-obra indireta, que é

o trabalho realizado em departamentos auxiliares a produção e que não são mensuráveis

em nenhum produto ou serviço. (PEREZ JR., OLIVEIRA e COSTA, 2005).

Os custos fixos não variam de acordo com o volume de produção. Eles existem

mesmo que não haja produção e podem ser divididos em custo fixo de capacidade,

como depreciação e amortização e custo fixo operacional. (BRUNI e FAMÁ, 2007).

Custo variável é definido como o custo que mantêm relação direta com o volume

produzido. Deste modo o valor do custo variável cresce proporcionalmente com o

aumento das atividades da entidade, ou seja, seu valor varia na proporção direta do

volume de produção, seu valor é constante por unidade, sua alocação aos produtos ou

centros de custos é feita sem a utilização de critérios de rateio. (PEREZ JR., OLIVEIRA

e COSTA, 2005).

Já os custos semifixos são definidos como os custos que são fixos até um

determinado volume de produção, caso haja variação neste volume, estes custos

também sofrem alteração. (PINTO et al, 2008).

Existem também os custos semivariáveis que variam de acordo com o nível de

produção, porém, possuem uma parcela fixa e existem mesmo que a produção não

aconteça. Como por exemplo, a energia elétrica da fábrica. (PINTO et al, 2008). Esse

tipo de custo não acompanha linearmente a variação da produção, porém se mantem

fixo dentro de determinados limites. (BRUNI e FAMÁ, 2007).

3.3 Métodos de custeio

Os métodos de custeio mais populares no Brasil serão resumidamente expostos

abaixo.

O lucro pode ser afetado pela maneira com que os custos são mensurados e

confrontados com as receitas, ou seja, o critério selecionado para apuração dos custos

pode afetar o planejamento do lucro. (FIGUEIREDO e CAGGIANO, 1997).

Page 83: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

84

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

A apuração dos custos de uma entidade, é fundamental para calcular sua

lucratividade e serve como apoio aos gestores no processo de análise da viabilidade do

negócio. (PINTO et al., 2008).

3.3.1 Custeio por absorção ou funcional

O custeio por absorção é adotado no Brasil pela legislação comercial e fiscal.

Deriva do método RKW (Reichskuratorium für Wirtschaftlichtkeit) utilizado na

Alemanha no século 20. Neste método todos os custos são alocados aos produtos

fabricados, ou seja, tanto os custos diretos como os indiretos são considerados no valor

final dos produtos, sendo os custos diretos alocados por apropriação direta e os indiretos

alocados por meio de critérios de rateio. Ele não é um princípio contábil, mas é o

método válido para apurar as informações que compõem as demonstrações contábeis e

para fins de cálculo do imposto de renda. (PEREZ JR., OLIVEIRA e COSTA, 2005).

O custeio por absorção considera todos os custos da área fabril, sejam eles diretos ou

indiretos, fixos ou variáveis, operacionais ou de estrutura. Cada produto absorve uma

parcela dos custos diretos ou indiretos inerentes da fabricação. (LEONE, 2000).

3.3.2 Custeio variável ou direto

O método de custeio utilizado para fins gerenciais é o variável ou direto. Esse

método é de grande importância para a tomada de decisões no que diz respeito a custo e

formação de preços (BRUNI e FAMÁ, 2007). Ainda de acordo com os autores, nesse

método, são atribuídos aos produtos acabados apenas o que se considera como custo

variável, onde os mesmos são subtraídos da receita, acompanhado das despesas

variáveis onde se obtém a margem de contribuição. Apenas depois da margem de

contribuição é que são descontados os custos e as despesas fixas. De acordo com Pinto

et al (2008) essa metodologia é capaz de indicar com maior nitidez quais são os gastos

de cada produto ou serviço antes da aplicação dos custos e das despesas fixas.

O custeio variável tem superioridade sobre o custeio de absorção, pois, insere no

sistema contábil diferenciação entre o custo fixo e o custo variável, sendo assim de

maior utilidade para a tomada de decisão da empresa. (FIGUEIREDO e CAGGIANO,

1997).

Page 84: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

85

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

Apropriando aos produtos apenas os gastos variáveis, o custeio variável resulta

em responsabilizar os produtos somente pelo consumo de recursos que não seriam

consumidos se eles não fossem produzidos, e este conceito está de acordo ao princípio

econômico de oportunidade. (CLEMENTE, SOUZA e TAFFAREL, 2013).

3.3.3 Custeio por atividades

O terceiro e último método de custeio apresentado a seguir é por atividade,

conhecido como custeio ABC (Activity Based Costing). Para os autores Perez Jr.,

Oliveira e Costa (2005) o método de custeio ABC deu-se quando os sistemas

convencionais não atendiam mais a exigência das entidades por informações gerenciais

com relação a avaliação, organização, registro contábil e apropriação aos produtos dos

custos indiretos de fabricação.

O custeio ABC estabelece uma relação entre o consumo dos recursos e as

atividades, possibilitando assim, detectar os fatores que levam aos custos em sua

produção. O objetivo desse sistema é a atribuição racional dos gastos indiretos, levando

a uma gestão mais esclarecida dos gastos, oferecendo um suporte mais adequado para a

tomada de decisões da empresa. Esse método pode ser adotado em qualquer empresa,

independente de porte ou natureza. (PINTO et al, 2008).

Custear os gastos por atividades possibilita o gerenciamento eficaz para eliminar

ou reduzir as atividades que não agregam valor ao produto, além de possibilitar o

rastreamento para identificar fontes de variações dos custos. Porém, este método por sua

complexidade requer gastos elevados para sua implantação, operação e manutenção.

(CLEMENTE, SOUZA e TAFFAREL, 2013).

3.3.4 Formação de preços

A sobrevivência de uma empresa está diretamente ligada à sua habilidade em

calcular preços para seus produtos, preços estes que cubram seus custos e contemplem

um índice razoável de retorno sobre o capital investido. Vender abaixo do custo leva a

empresa inevitavelmente à falência, para sua sobrevivência ela precisa vender seus

produtos não apenas para cobrir seus custos, mas para obter um lucro razoável.

(FIGUEIREDO e CAGGIANO, 1997).

Page 85: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

86

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

Atualmente a crescente concorrência de mercado não permite as empresas

simplesmente adicionarem a margem de lucro desejada aos seus custos para fixar seu

preço de venda. Na prática a empresa deve ajustar os seus custos de modo a obter a

margem desejada e consequentemente atingir o resultado desejado. (CLEMENTE,

SOUZA e TAFFAREL, 2013).

Não podem ser estabelecidas regras estreitas para a formação de preços, pois as

circunstâncias dos produtos e dos mercados mudam muito entre as empresas e cada uma

possui particularidades únicas que interferem drasticamente no processo de formação de

preços. (FIGUEIREDO e CAGGIANO, 1997).

Para a formação do preço de venda é necessário sim o conhecimento do custo do

produto, porém somente isto não é o suficiente, sendo necessárias outras informações

importantes como preços dos produtos concorrentes, preços dos produtos substitutos,

demanda, estratégias de marketing utilizadas e o mercado em que a empresa atua. O

mais importante é que o sistema de custos forneça informações consistentes com a

filosofia da empresa, contribuindo assim, para a política de preços. (MARTINS, 2003).

Quanto mais precárias as informações de custo e pouca habilidade gerencial da

empresa, mais os preços de seus produtos tendem a ser equivocados e perigosamente

seus resultados se adaptam passivamente às oscilações do mercado. (CLEMENTE,

SOUZA e TAFFAREL, 2013).

Definitivamente, a decisão do preço a ser fixado não pode ser baseada apenas

nos dados de custos. Muitas outras informações sobre o mercado casadas com

informações internas são parâmetros para decisões assertivas e confiáveis em relação ao

preço de venda. (MARTINS, 2003).

Outros três aspectos importantes devem ser considerados na estratégia de

estabelecimento de preços: a criação do valor percebido pelos consumidores, aumento

da lucratividade do negócio, e não separar o preço do restante do composto de

marketing. (PADOVEZE, 2005).

De fato, múltiplos fatores relativos aos custos ou ao valor percebido pelo

consumidor influenciam na determinação dos preço de venda, tais como:

disponibilidade do consumidor de pagar pelo produto, qualidade e tecnologia em

relação às necessidades do consumidor, produtos substitutos a preços mais atrativos,

demanda esperada do produto, metas de produção e venda que a empresa pode operar,

mercado de atuação, impostos, custos e despesas de fabricação, administração,

Page 86: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

87

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

distribuição e comercialização, além dos ganhos e perdas em gerir o produto. (BRUNI e

FAMÁ, 2007).

4 Visão geral da gestão de custos das micro e pequenas empresas no Brasil

Frente a pesquisa sobre a Evolução das Microempresas e Empresas de Pequeno

Porte 2009 a 2012 realizada pelo SEBRAE, observou-se que estas representam 99% do

total de estabelecimentos existentes e são responsáveis por 40% da remuneração paga a

empregados formalizados em entidades privadas.

Foi constatado também que esses tipos de empresas têm maior concentração na

região Sudeste com 49,7% sendo Microempresas e 53,40% sendo Empresas de Pequeno

Porte.

Figura 3: Composição da Amostra por Segmento

Segmento N

Partic.

(%)

Industrial 13 21,67

Comercial 10 16,67

Serviços 14 23,33

Indústria e Comércio 7 11,67

Indústria e Serviços 8 13,32

Comércio e Serviços 4 6,67

Ind. Com. e Serviços 4 6,67

Total 60 100

Fonte: Clemente, Souza e Taffarel (2013, p.6)

Nessa mesma pesquisa, identificou-se que 46,67% dos administradores tem

educação superior, 20% possuem pós-graduação e 3,33% da amostra pesquisada

possuem somente o nível de escolaridade fundamental.

0

5

10

15

20

25

Participação (%)

Page 87: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

88

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

Figura 4: Educação Formal dos Gestores das MPEs

Formação Partic. (%)

Fundamental 3,33

Médio 30

Superior 46,67

Pós-Graduação 20

Total 100

Fonte: Clemente, Souza e Taffarel (2013, p.7)

De acordo com a pesquisa realizada por Clemente, Souza e Taffarel (2013),

onde foram estudadas 60 MPEs sendo 21,67% da área industrial, 16,67% da área

comercial e 23,33% completamente dedicadas a prestação de serviços, observa-se que

pouco mais de 60% operam em apenas um segmento, aproximadamente 30% atingem

dois segmentos e somente 7% trabalham com três segmentos. A figura 3 evidencia a

amostra utilizada na pesquisa.

Percebe-se nos dados apresentados acima que grande parte dos gestores possuem

formação acadêmica elevada, porém o nível de conhecimento dos métodos de custo é

relativamente baixo, onde em um grupo de 10 administradores 4 declararam não

conhecer os métodos de custeio.

Figura 5: Conhecimento dos Métodos de Custeio

Situação

Partic.

(%)

Conhecem 61,67

Não conhecem 38,33

Total 100

Fonte: Clemente, Souza e Taffarel (2013, p.8)

0

10

20

30

40

50

Participação (%)

0

20

40

60

80

Conhecem Não conhecem

Participação (%)

Page 88: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

89

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

Foi constatado na figura 6 que do total de MPEs estudadas, 55% não aplicam

nenhum controle gerencial dos custos na empresa.

Figura 6: Utilização das Ferramentas Gerenciais de Custos

Situação Partic. (%)

Utilizam 45

Não Utilizam 55

Total 100

Fonte: Clemente, Souza e Taffarel (2013, p.8)

Verificando as figuras apresentadas acima, compreende-se que mesmo os

gestores com nível de educação superior e conhecimento da gestão de custos,

totalizando pouco mais de 60% da parcela analisada, apenas 45% apresentou utilizar as

ferramentas de controle de custos na empresa.

Os gestores que se utilizam das ferramentas de custo citam, quase com

totalidade, as significativas vantagens. Tal fato expressa que os proveitos percebidos são

uma garantia que as MPEs após experimentarem essas ferramentas, seguirão utilizando-

as.

Um fato comum no Brasil entre as MPEs é que a dispensa de escrituração

contábil, torna os microempresários desobrigados a elaborar o Balanço Patrimonial e

DRE acarretando em falta de controle, pois não há material necessário para analisar a

atual situação econômica e financeira dessas empresas. Deste modo, os micro e

pequenos empresários não conseguem gerir de maneira eficaz os negócios, e não

conseguem saber se, de fato, estão obtendo lucros ou prejuízos além de não terem

informações consistentes para planejar o futuro de suas empresas. A lei não obriga a

escrituração, mas também não impede que as micro e pequenas empresas a faça e

utilize-a como ferramenta de controle interno e gestão. (APPOLINÁRIO, 2008).

A situação econômica em relação as pequenas empresas, passa por cenários

complexos. A forte concorrência leva a necessidade do uso de instrumentos e

ferramentas com visão não apenas operacional, mas também estratégica. As constantes

0

20

40

60

Utilizam Não Utilizam

Participação (%)

Page 89: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

90

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

mudanças geraram novas oportunidades, e estas, fizeram com que as empresas

crescessem. (SILVA, 2009).

É de suma importância a correta gestão contábil gerencial e os ajustes

necessários dos processos de decisão a partir da mesma. Atualmente as dificuldades das

micro e pequenas empresas podem ser desde um simples equívoco a uma decisão

incorreta. Porém, a gestão de custos calcada nas informações da contabilidade gerencial

colabora para evitar riscos desta natureza, proporcionando uma visão estratégica do

negócio. (SILVA, 2009).

Na pesquisa abordada anteriormente, cita-se dois principais motivos para não

utilizar ferramentas gerenciais de custos: estrutura organizacional simples e ausência de

pessoal capacitado.

Sendo o primeiro motivo um tanto quanto equivocado, pois mesmo em

estruturas organizacionais simples, o controle de custos é possível, necessário e valioso.

A falta de pessoal capacitado é motivo citado por quase metade dos pesquisados que

não utilizam ferramentas gerenciais de custos. (CLEMENTE, SOUZA e TAFFAREL,

2013).

Em pesquisa realizada com pequenas empresas vinculadas ao Programa

Empreender, instituído pela Associação Comercial e Industrial de Uberlândia (ACIUB)

com o apoio do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE)

e da Prefeitura Municipal de Uberlândia, onde 103 empresas de segmentos diversos

foram pesquisadas, observa-se que os gestores em sua maioria consideram a gestão de

custos no processo decisório da empresa como ferramenta muito importante.

A utilização da gestão de custos para a determinação do lucro é considerada por

72,9% dos pesquisados como muito importante.

A gestão de custos para análise de desempenho da empresa, determinação do

preço de venda dos produtos e contribuição nas tomadas de decisões apresentaram

avaliação relevante para mais de 60% dos gestores pesquisados.

Page 90: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

91

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

Figura 7: Funções da Gestão de Custos no Processo Decisório

Funções da Gestão de Custo 1 (%) 2 (%) 3 (%) 4 (%) 5 (%) Total

Registro do Custo dos

Produtos 2,1 4,2 0 25 68,8 100

Avaliação dos Estoques 8,3 4,21 8,3 31,3 50 100

Análise do Desempenho da

Empresa 0 0 0 33,3 66,7 100

Determinação do Lucro 2,1 0 0 25 72,9 100

Controle das Operações 0 6,3 10,4 31,3 52,1 100

Controle da

Competitividade entre os

meus concorrentes

2,1 0 22,9 35,4 39,6 100

Auxilio nas atividades de

planejamento 0 6,3 6,3 37,5 50 100

Determinação do Preço de

Venda dos Produtos 4,2 0 10,4 14,6 70,8 100

Contribuição nas Tomadas

de Decisões 0 0 8,3 25 66,7 100

Fonte: Gonçalves e Leal (2015, p.8)

5 Considerações Finais

Este artigo teve como finalidade evidenciar a relevância e essencialidade de uma

contabilidade de custos dentro das micro e pequenas empresas para que estas

sobrevivam a um mercado cada vez mais competitivo e exigente.

Na época atual da economia, em um mundo globalizado, as oportunidades das

empresas ganharem mais mercado aumentaram significativamente. Mas, para que haja

sucesso nessa expansão de mercado é preciso adequar-se à concorrência e ter

maleabilidade para diminuição de custos através de ferramentas que auxiliem isto.

Observou-se neste artigo que as MPEs representam grande parte das empresas

formais no Brasil e são geradoras de grande parte dos empregos privados. Apesar dos

métodos de controle dos custos dentro de uma empresa serem de grande importância

para a geração de informações e auxilio na tomada de decisões dos gestores, as MPEs

Page 91: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

92

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

possuem limitações, como o nível de escolaridade e mesmo a falta de conhecimento dos

métodos, que implicam na não utilização desses métodos.

De uma forma geral, o custo do produto pode ser entendido como o montante de

todos os custos que podem a ele ser designados, sejam eles diretos ou indiretos. Neste

artigo foram apresentados três tipos diferentes de métodos de custeio. O primeiro é por

absorção, onde todos os custos diretos e indiretos do processo produtivo são alocados

aos produtos, possibilitando assim obter resultados por produto. Esse método é o

utilizado oficialmente para apuração do imposto de renda.

O segundo meio de apuração do custo citado é o gerencial ou direto. Este tipo de

ferramenta é a mais indicada para estudar o grau da eficiência da empresa e auxilia na

formação dos preços. É possível observar que o método variável possui maior

conveniência na hora da tomada de decisão da empresa pois ele introduz uma distinção

entre o custo fixo e o variável, diferente do custeio por absorção que considera ambos.

No terceiro e último método apresentado, o custeio ABC, é possível concluir que

ele evidência atividades que podem ser descartadas em cada produto. Porém esse

método não é o mais relevante para aplicação em micro e pequenas empresas devido ao

seu alto custo de implantação além de que nesses tipos de empresas a produção, na

maioria das vezes, é mais baixa.

Com relação a formação de preço, este é parte importante do quebra-cabeças que

é a gestão de uma empresa. Por ser um dos aspectos financeiros mais relevantes à

sobrevivência de uma entidade, o preço de venda deve ser minuciosamente estudado

para que, pelo menos, cubra os custos e dê um mínimo de lucro. Uma boa performance

da empresa não está ligada propriamente aos preços por ela praticados, mas, por outro

lado, uma decisão errada pode levar uma empresa á ruína.

Diante da pesquisa apresentada neste artigo, é possível observar que uma grande

parcela dos gestores entrevistados possui um nível de escolaridade superior e têm

conhecimento das técnicas de gestão de custos apresentadas, mas, nem metade deles

utilizam essas ferramentas para auxilia-los dentro de suas empresas na hora de tomar

decisões. Por outro lado, os empresários que utilizam dessa ferramenta, apontam as

significativas vantagens.

Na segunda pesquisa demonstrada, nota-se que grande parte dos entrevistados

considera a ferramenta de custos de suma importância para a determinação do preço de

vendas das mercadorias e também para o controle da competitividade com os

concorrentes da empresa. Com um mercado cada vez mais acirrado, é o preço de venda

Page 92: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

93

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

que irá constituir o sucesso, o resultado da empresa e de quebra sua existência ou não

dentro do setor.

Referências Bibliográficas

ANHOLON, R., Zoqui, E. J., Pinto, J. De S., MORETTI, D. de C. (2005).

Características administrativas de micro e pequenas empresas: confronto entre a teoria e

a prática. Metrocamp Pesquisa, 1 (1), 88-103.

APPOLINÁRIO, José Luiz. O Uso de Ferramentas de Gestão Financeira em Micro e

Pequenas Empresas. 2008. 83 fls. Trabalho de Conclusão de Curso. Pós-Graduação –

MBA Gestão Financeira e Controladoria. Centro Universitário Padre Anchieta, Jundiaí,

São Paulo, 2008.

BRASIL, Presidência da República Casa Civil. Lei Complementar nº 123, de 14 de

dezembro de 2006. Disponível em

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LCP/Lcp123.htm> Acesso em 15 de agosto

de 2017.

BRUNI, Adriano Leal e FAMÁ, Rubens. Gestão de Custos e Formação de Preços. 4ª.

Edição. São Paulo. Editora Atlas S.A. 2007.

CEZARINO, L. O.; CAMPOMAR, M. C. (2006). Micro empresas: Características

Estruturais e Gerenciais. Revista Hispeci & Lema. Bebedouro, V. 9. Disponível em:

<http://www.fafibe.br/revistahispecilema/pdf/revista9.pdf> Acesso em 17 de junho de

2017.

CLEMENTE, Ademir; SOUZA, Ivanil Teles de; TAFFAREL, Marinês. Gestão de

Custos nas Micro e Pequenas Empresas das Regiões Sul e Sudeste de Curitiba. XX

Congresso Brasileiro de Custos. 2013.

CONTABILIDADE GERENCIAL LTDA, Contage, Formação Preço de Venda

Indústria e Comércio. 2011. Disponível em <http://pt.slideshare.net/ThiagoAJ/apostila-

formacaoprecovendas> Acesso em 13 de outubro de 2017.

GONÇALVES, Ana Flavia Faria e LEAL, Edvalda Araújo. Utilização da Gestão de

Custos em Micro e Pequenas Empresas: um estudo com empresas do Programa

Empreender. I Congresso UFU de Contabilidade, Uberlândia/MG. 2015.

LEONE, George Sebastião Guerra. Custos Planejamento, Implantação e Controle. 3ª.

Edição. São Paulo. Editora Atlas S.A. 2000.

MARTINS, Eliseu. Contabilidade de Custos. 9ª. Edição. São Paulo. Editora Atlas S.A.

2003.

PADOVEZE, Clóvis Luís. Controladoria Estratégica e Operacional. Reimpressão 1ª.

Edição. São Paulo. Pioneira Thomson Learning. 2005.

Page 93: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

94

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

PEREZ JR., José Hernandes; OLIVEIRA, Luís Martins de; COSTA, Rogério Guedes.

Gestão Estratégica de Custos. 4ª. Edição. São Paulo. Editora Atlas S.A. 2005.

PETTI, C. H. (2009, outubro) Como construir um negócio lucrativo. Revista Pequenas

Empresas & Grandes Negócios, São Paulo, Globo. Disponível em <

http://revistapegn.globo.com/Revista/Common/0,,EMI97082-17152,00-

COMO+CONSTRUIR+UM+NEGOCIO+LUCRATIVO+TRECHO.html> Acesso em

15 de agosto de 2017.

PINTO, Alfredo Augusto Gonçalves et al. Gestão de Custos. 2ª. Edição. Rio de Janeiro.

Editora FGV, 2008.

SEBRAE, Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas. Participação das

Micro e Pequenas Empresas na Economia Brasileira. Disponível em:

<https://www.sebrae.com.br/Sebrae/Portal%20Sebrae/Estudos%20e%20Pesquisas/Parti

cipacao%20das%20micro%20e%20pequenas%20empresas.pdf>. Acesso em: 16 de

maio de 2017.

______. Entenda as diferenças entre microempresa, pequena empresa e MEI.

<https://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/artigos/entenda-as-diferencas-entre-

microempresa-pequena-empresa-e-ei,03f5438af1c92410VgnVCM100000b272010a

RCRD>. Acesso em 24 de junho de 2017.

______. Participação das Micros e Pequenas Empresas na Economia Brasileira.

<https://www.sebrae.com.br/Sebrae/Portal%20Sebrae/Estudos%20e%20Pesquisas/Parti

cipacao%20das%20micro%20e%20pequenas%20empresas.pdf> Acesso em 16 de julho

de 2017.

SILVA, Edisson Carvalho. A Importância da Contabilidade Gerencial para Micro e

Pequenas Empresas. 2009. 49 fls. Trabalho de Conclusão de Curso. Faculdade de

Ciências Contábeis. Centro Universitário Padre Anchieta, Jundiaí, São Paulo, 2009.

SOUZA, P. A. e PEREIRA, R. C. M. . Fatores de mortalidade de micro e pequenas

empresas: um estudo sobre o setor de serviços. In: VI Simpósio de Excelência em

Gestão e Tecnologia, 2009, Resende. Anais do VI SIMPÓSIO DE EXCELÊNCIA EM

GESTÃO E TECNOLOGIA, 2009. Disponível em:

<http://www.aedb.br/seget/artigos09/195_Mortalidade_nas_MPEs.pdf>. Acessado em:

21 jun 18.

Page 94: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

95

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

A FARSA DO DESEQUÍLIBRIO FISCAL PREVIDENCIÁRIO

FERNANDES, Thaís Cristina 9

Resumo

Apesar de a Reforma da Previdência ter ganhado relevância no Governo de Michel

Temer, foi enquanto Dilma Rousseff ainda estava na presidência que surgiram as

primeiras discussões sobre o tema. A proposta de Reforma de Temer não foi levada

adiante, mas já em sua campanha eleitoral, o agora eleito presidente Jair Bolsonaro

prometia o feito. A atual proposta prevê soluções atreladas à corte de benefícios para

ajuste de um suposto descontrole de gastos previdenciários, que oneram as contas

públicas. O presente estudo objetiva analisar a viabilidade do Sistema Previdenciário

Brasileiro, bem como seus reais problemas. Inicialmente são apresentados argumentos

que enfatizam a existência do deficit previdenciário em razão de excessivas despesas

com benefícios e envelhecimento da população. Na sequência, análises demonstram que

ocorrem desvios de recursos do Sistema Previdenciário e, portanto, o problema do

desequilíbrio fiscal não está relacionado a despesa. Por fim, são pontuadas algumas das

falhas existentes na Previdência Social Brasileira que devem ser emendadas visando

atender o contexto socioeconômico e demográfico do país.

Palavras-chave: previdência social, déficit previdenciário, estabilidade econômica.

9 Bacharel em Ciências Econômicas.

Page 95: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

96

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

1. Introdução

A Previdência Pública objetiva proteger o indivíduo de situações (previsíveis e

imprevisíveis) em que há a impossibilidade do mesmo em realizar atividade econômica

a qual garante sua renda. O Estado torna-se responsável por garantir benefícios que são

financiados por contribuições realizadas por toda sociedade, formando uma espécie de

seguro universal, ou seja, abrange toda a população.

O regime de financiamento previdenciário público adotado no Brasil é o de

repartição simples, nesse sistema as receitas e despesas são realizadas simultaneamente.

Dessa maneira, a geração ativa realiza contribuições que custeiam os benefícios da

geração inativa. Esse fator é comumente apontado para demonstrar um possível colapso

fiscal causado pelo envelhecimento da população, que gradativamente diminuiria a

parcela ativa e aumentaria a inativa.

As soluções encontradas pelo atual governo para tal referem-se à reforma do sistema

previdenciário pelo lado das despesas, realizando reduções dos benefícios, aumento do

tempo de contribuição e idade mínima e incentivo aos sistemas previdenciários

privados. Em contraposição a esta análise, o presente estudo pretende identificar a

viabilidade da Previdência Social Brasileira, estabelecida na Constituição Federal de

1988.

O artigo divide-se em três partes principais, além desta introdução e das

considerações finais. A primeira parte apresenta os principais argumentos que enfatizam

um descompasso entre receitas e despesas do sistema previdenciário, em razão de uma

legislação caracterizada como benevolente na concessão de benefícios. A segunda parte

analisa o sistema de financiamento definido em Constituição e sua sustentabilidade, em

contrapartida são demonstradas as práticas que desviam os recursos para áreas do

orçamento que não o da Seguridade Social. A terceira busca identificar os principais

problemas do atual sistema previdenciário a fim de que sejam combatidos e reformados.

As principais considerações desse trabalho indicam a inexistência do déficit e a

subordinação da Previdência Social a interesses político-econômicos.

Page 96: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

97

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

2. O suposto deficit previdenciário

Antes de serem apresentados os argumentos que buscam sustentar a existência do

déficit previdenciário, é importante salientar alguns fatores sobre a estabilização fiscal

brasileira. Belluzzo e Almeida (2002, p.364) afirmam que após o Plano Real, não foram

criadas estratégias para reorganização das contas públicas ou preocupação com políticas

que ordenassem variáveis macroeconômicas, de forma a proteger as receitas e despesas

governamentais.

Outro ponto são os principais interessados na estabilização. Sendo uma economia

periférica disposta a atender os anseios do mercado financeiro, propõem-se com a

estabilização juntamente com a abertura financeira a criação de ativos atraentes, leia-se

elevados ganhos ou prêmios de riscos.

De acordo com os defensores da Reforma o desequilíbrio do orçamento

previdenciário deve-se a uma legislação benevolente de concessão de benefícios. Dessa

maneira, haveria um descompasso entre receitas e despesas dos diferentes fundos de

pensões e aposentadorias, atribuído ao aumento da cobertura dos benefícios através da

promulgação da Constituição de 1988.

Apontada como vilã nessa perspectiva a Constituição Federal de 1988 garante

Direito Previdenciário a toda população brasileira independente da atividade de atuação

e dos vínculos de trabalho, seguindo objetivos como universalidade de cobertura,

uniformidade e equivalência, ou seja, uma notável conquista social para o país.

Além da ampla cobertura, outro gerador do déficit seria o efeito Salário Mínimo. É

considerado nesse argumento que a maior parte dos benefícios rurais corresponde

exatamente a um Salário Mínimo. Em razão do alto grau de informalidade e do número

de produtores de subsistência, as contribuições rurais não atendem a todos os

beneficiários da categoria. Sendo assim, o aumento do Salário Mínimo significa

crescimento real das despesas.

A ampliação das ATCs (Aposentadoria por Tempo de Contribuição) nos 1990,

também é analisada como responsável pelo aumento do déficit. Tais benefícios além de

aumentarem 72% entre 1994 e 2003, custam mais e perduram por mais tempo. O que

significa aumento real das despesas sem aumento da quantidade de beneficiários

(GIAMBIAGI et.al.,2004).

Page 97: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

98

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

Através dessa análise a solução está associada a ajustes na concessão de benefícios.

Giambiagi et.al. (2004, p.379) indica fatores que devem ser reformulados:

São eles: a) ausência de idade mínima no Regime Geral; b) aposentadoria

precoce das mulheres; c) aposentadoria precoce dos professores; d)

vinculação entre o piso previdenciário e o salário mínimo; e e) programas

assistenciais com despesas crescentes.

A adoção do fator previdenciário na Reforma realizada por Fernando Henrique

Cardoso impediu aposentadorias para indivíduos de 45 e 50 anos, no entanto, não

impede aposentadoria para 53, 54 ou 55 anos. Sem considerar a existência de recursos a

Previdência Social está priorizando a relação tempo de trabalho e tempo contribuição, e

não a idade.

Em razão do aumento da participação feminina no mercado de trabalho, boa

parte das mulheres conquistou o direito previdenciário. No entanto, autores e

especialistas questionam a diferença de cinco anos para concessão das aposentadorias

(por idade ou tempo de serviço) para as mulheres em relação aos homens. Cordeiro

(2006, p.92) afirma:

Nos tempos atuais não parece mais se justificar a aposentadoria feminina

cinco anos mais cedo. Isso porque já é bastante conhecido o seu tempo de

sobrevida superior ao dos homens.

As mulheres não são as únicas identificadas como um público dispendioso para

a Previdência Social. Os professores que podem se aposentar cinco anos antes das

demais categorias, representam volume significativo da folha salarial de estados e

municípios, além de contar com a maioria dos profissionais do sexo feminino. De

acordo com Giambiagi et.al. (2004, p.388) essa categoria não se enquadra nas

prerrogativas para receberem a distinção no tempo de aposentadoria:

Isso porque a justificativa para a adoção de regras específicas para

categorias profissionais se aplica aos casos de: a) dano comprovado à

saúde; e/ou b) redução da expectativa de vida pelo exercício da profissão,

como é a situação de quem trabalha em minas subterrâneas de carvão.

A desvinculação dos benefícios ao Salário Mínimo deveria ocorrer em razão da

Previdência não ser considerada uma política pública, uma vez que, na visão de

Page 98: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

99

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

Giambiagi et.al. (2004, p.388), a mesma não é capaz de diminuir a desigualdade ou

aumentar a capacidade de crescimento futuro da economia. Logo, é proposto indexar as

aposentadorias e pensões de acordo com a inflação, evitando aumentos reais das

despesas.

A Constituição garante Direito Previdenciário mesmo àqueles que não

contribuíram regularmente para o sistema previdenciário. É o caso dos deficientes ou

idosos com mais de 67 anos com renda familiar per capita inferior a ¼ salário mínimo.

Além de onerarem os gastos públicos, esses benefícios se tornariam responsáveis pelo

incentivo a informalidade das relações de trabalho e fadaria o sistema ao desequilíbrio.

De acordo com Cordeiro (2006, p.79):

Tal fato mostra ser um grande colaborador pra o saldo negativo do

sistema, fazendo com que o governo desloque recursos advindos de

receitas diversas da Seguridade Social para o financiamento do déficit.

E por fim, mas o ponto central utilizado pelos defensores da Reforma da

Previdência está a transição demográfica brasileira. De acordo com os estudos

realizados pelo IBGE a população inativa tende a superar a economicamente ativa. Em

2010 a população brasileira com idade superior a 65 anos era de 13.193.703 habitantes,

a previsão para 2050 é de que esse número chegue a 48.898.637. Em contrapartida, a

População Economicamente Ativa (PEA) tende a diminuir (MIRANDA, 2010).

O Sistema Previdenciário Brasileiro entraria em colapso, pois de acordo com os

moldes neoliberais as contribuições atuais deveriam no mínimo cobrir os benefícios

vigentes. Portanto a reformulação das condições para concessão de benefícios,

considerando os fatores apresentados, torna-se vital para sustentação da Previdência

Social, além de não desviar recursos que poderiam ser empenhados em áreas como

infraestrutura, educação e segurança pública.

3. Desmitificando o deficit da previdência social

De acordo com Gentil (2006, p.31) o que é chamado de deficit da previdência trata-

se do saldo previdenciário negativo, dessa maneira os dados oficiais são um tanto

quanto enganosos sobre a situação fiscal real do sistema. No cálculo considera-se a

soma de receitas sobre rendimentos de trabalho e outras receitas menos expressivas

Page 99: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

100

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

(REFIS, FNS, CDP e Depósitos Judiciais), deduzidas das transferências a terceiros

(destinadas ao Sistema S) e dos beneficiários do RGPS.

O Artigo 195 da Constituição Federal, que diz repeito ao financiamento da

Seguridade Social, determina outras fontes de receitas para além das consideradas no

cálculo. São elas: Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS),

Contribuição Provisória sobre movimentação ou Transmissão de Valore e de Créditos e

Direitos de Natureza Financeira (CPMF) e Contribuição Social sobre o Lucro Líquido

(CSLL). Ao desconsiderar as receitas mencionadas cria-se um déficit que não é real.

De acordo com Souza (2011, p.78), o Constituinte sendo ciente da complexidade do

sistema de Seguridade Social criou um sistema de financiamento capaz de viabilizado:

[...] custear e viabilizar ações desta magnitude demandou do originário a

concepção de um amplo projeto de financiamento da Seguridade Social

com opções heterogêneas de custeio, cujos fatos geradores fossem

variados o suficiente para não dependerem e uma variável econômica

apenas, o que colocaria em perigo a viabilidade financeira de uma

instituição jurídica que, por sua própria natureza, está destinada a

perdurar através das gerações.

Todas as despesas caracterizadas excessivas nos argumentos apresentados

anteriormente como, por exemplo, as aposentadorias rurais, na verdade não dependem

majoritariamente dos rendimentos do trabalho urbano. A aposentadoria rural sendo um

típico benefício da Seguridade Social conta como fonte de financiamento as receitas de

COFINS e CSLL.

Segundo a pesquisa realizada por Gentil (2006) a metodologia dos dados

divulgados pelo Estado Brasileiro esconde o superávit operacional da Previdência

Social. O resultado tendo como base as mesmas estatísticas oficiais registrou um

superávit de R$8,6 bilhões em 2004 e de R$921 milhões em 2005.

Além das receitas mencionadas o Artigo 195, define aportes a serem realizados

pela União no sistema de Seguridade Social. Sendo responsabilidade do governo incluir

em seu orçamento fiscal gastos com políticas de seguridade social. É obrigação do

Tesouro Nacional realizar transferências para o Regime Geral e Previdência Social

(RGPS).

Page 100: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

101

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

Complementando o que fora definido em Constituição, a Lei de

Responsabilidade Fiscal em seu artigo 68 explicita a participação das três esferas

(empregados, empregadores e Estado) no Fundo do RGPS. No entanto, desde 1989 são

apenas consideradas as contribuições dos empregadores e empregados nas receitas

previdenciárias:

Em outras palavras, o que seria a contribuição do Estado no esquema de

financiamento tripartite instituído pela Constituição é denominado pelo

governo de déficit (FAGNANI, 2017, P.25).

A experiência econômica de 1980 - quando o baixo crescimento econômico

afetou as receitas que provinham da folha de pagamento, tornando incapaz a

sustentabilidade de gastos com benefícios previdenciários - demonstrou a fragilidade da

Previdência Social ao depender majoritariamente dos rendimentos provenientes do

trabalho. Logo, os formuladores da Constituição de 1988 prezaram pela diversificação

do financiamento ao invés do aumento da arrecadação (GENTIL, 2006).

Quando se fala sobre desequilíbrio previdenciário também são desconsiderados

outros aspectos, como a estagnação econômica e desorganização do mercado de

trabalho. Índices baixos de atividade econômica indicam aumento do desemprego e do

trabalho informal, ou seja, diminuição de receitas previdenciárias advindas do trabalho

(FAGNANI, 1999).

A Previdência Social torna-se dependente do modelo econômico adotado.

Portanto, no caso brasileiro o sistema previdenciário é altamente ligado à política

macroeconômica. A partir do período do regime militar foi estabelecida pelo governo de

uma maneira generalizada uma arrecadação recessiva, que persiste até hoje. Diferente

dos países desenvolvidos que inspiraram a atual reforma da Previdência, o Brasil é um

país custeado pelos mais pobres através da tributação indireta.

Os governos Dilma e Temer ao realizarem uma política econômica que

combinou cortes de investimentos, renúncias de receitas e contribuições sociais e de

impostos, juros elevados, câmbio valorizado e redução do crédito público,

intensificaram a recessão econômica brasileira. Resultando em diminuição de renda e

consumo, que reproduzem o quadro de recessão econômica (GENTIL, 2017).

Page 101: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

102

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

Em dados consolidados, Gentil (2017, p.93) demonstra os efeitos no mercado de

trabalho:

A taxa de desemprego saltou rapidamente para dois dígitos. Saiu do seu

menor patamar (de 6,8% em 2014) para alcançar, em dezembro de 2016,

12%, o equivalente a 12,3 milhões de pessoas sem ocupação. No

trimestre terminado em maio de 2017 elevou-se bruscamente para 13,3%

equivalente a 13,8 milhões de pessoas desempregadas. Entre o trimestre

terminado em maio de 2016 e o mesmo período de 2017 houve perda de

1,2 milhão de postos de trabalho.

Consequentemente no mesmo período houve queda nas arrecadações

previdenciárias. Nos anos de 2015 e 2016 as arrecadações do RGPS chegam a atingir

taxas de crescimento real negativas (-6,2% e -3,8% respectivamente), fato que também

ocorre com as receitas da Seguridade Social (-7,2% e -3,4% respectivamente). Em

contrapartida houve o aumento do gasto, em razão da ameaça da reforma da Previdência

que fomentou uma “corrida para aposentadoria” juntamente com o aumento dos

benefícios sociais (seguro desemprego, antecipação de aposentadoria, saúde e segurança

pública) por efeito da recessão econômica (GENTIL, 2017).

A Lei de Responsabilidade Fiscal, promulgada em 2000 legitimou a

desvinculação do Regime Geral da Previdência e Assistência Social (RGPS) da

Seguridade Social, ao criar um fundo específico para a previdência. Assim recursos

provenientes de COFINS, CSLL e CPMF passam a ser nomeados como transferências

da União ao financiar o suposto déficit, quando na verdade constitucionalmente são

recursos próprios (GENTIL, 2006).

Após a transferência do Instituto de Administração da Previdência Social

(IAPAS) para o Ministério da Fazenda, os recursos da Seguridade Social passam a ser

administradas pelo Tesouro Nacional. Assim receitas com COFINS, CSLL e CPMF

passam a ser depositadas no Banco Central e transferidas para o sistema previdenciário

de acordo com a necessidade fiscal, quando deveriam ser depositados integralmente na

Seguridade Social.

A gestão integral desses recursos pelos respectivos órgãos da Seguridade Social

evitaria desvios dos recursos para outras áreas. Prática que acontecera amplamente no

Page 102: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

103

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

período do Regime Militar, onde recursos do gasto social eram transferidos para a área

econômica (FAGNANI, 2017).

Ao serem definidos em Constituição a origem e destino dos recursos da

Seguridade Social, o orçamento da Seguridade Social deveria ser apresentado pelo

Governo anualmente de maneira individual. No entanto, o orçamento fiscal e da

Seguridade Social são apresentados em uma única peça orçamentária. Não há separação

das receitas, o que sugere existir um desequilíbrio fiscal não especificamente da

previdência.

Os motivos pelos quais possam justificar tal unificação levam as políticas

tributárias realizadas nos anos 90, que buscavam pelo superávit principalmente através

das contribuições da Seguridade Social. Gentil (2006, p.53) apresenta as condições que

podem explicar tal prática:

1)o aumento de alíquotas das contribuições não segue o principio de

anterioridade , o que significa que podem vigorar noventa dias depois de

instituída, diferente dos aumentos de impostos que precisam de lei a ser

aprovada em um ano, para vigorar apenas no ano seguinte, o que em

situações emergenciais, pode ser problemático; e 2) as contribuições

sociais têm a característica de não serem partilhadas com Estados e

Municípios.

A Desvinculação das Receitas da União (DRU) estabelece autorização para que

o governo utilize 20% das receitas de contribuições livremente sem a vinculação de

despesas específicas. Exceto nos anos de 1995 e 1998, foram ultrapassados os 20% nas

transferências realizadas do orçamento da seguridade social para o orçamento fiscal.

Entre 1995 e 2005 R$ 107 bilhões representam o valor desvinculado além do

legalmente autorizado (GENTIL, 2006).

Embora pareça recente, em 1998 a Previdência Social foi apontada como a

principal causa do desequilíbrio das contas públicas, Belluzo e Almeida (2002, p.37)

afirmam que o significativo crescimento déficit público ocorrido nesse período foi

causado exclusivamente pelo pagamento dos juros pelo governo para estabilização da

moeda e sustentação política econômica adotada.

Page 103: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

104

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

Não diferente Gentil (2006, p.58) diz que a transferência de receitas próprias da

seguridade para o orçamento fiscal tem como objetivo estancar o déficit do ultimo,

causado principalmente pela taxa de juros em alto patamar.

4. Os verdadeiros problemas da Previdência Social

O sistema previdenciário estabelecido em Constituição mostra-se sustentável e

solido, além de seguir o princípio de igualdade. No entanto, sua execução a mercê de

interesses político-econômicos deforma tanto seu custeio como a concessão de

benefícios.

As contrarreformas de 1998, 2002 e 2003 buscaram legitimar tais práticas, limitando

e restringindo o acesso a Previdência Social, prevista na Constituição como um direito

universal.

A Emenda Constitucional n°20 de 1998 ao instituir o Fator Previdenciário passou a

exigir comprovação do tempo de contribuição (35 anos para os homens e 30 para as

mulheres), considerando o contexto do mercado de trabalho brasileiro parte da

população trabalhadora passa a não ter acesso à aposentadoria.

De acordo com o ex-ministro da Previdência e Assistência Social, Waldeck Ornéias

apud. Fagnani (2008, p.16) afirma que:

Apesar disso tudo (êxito da reforma), é preciso reconhecer que a

previdência social não vem cumprindo, em toda a plenitude, o seu papel

social. É que (...) a previdência social protege apenas 43% dos

trabalhadores brasileiros! Por isso, de cada dez pessoas que trabalham no

Brasil, seis não vão se aposentar nunca, por não terem vínculo com o

INSS. São, no presente, 38 milhões de brasileiros que se encontram nessa

situação. São desassistidos da Previdência. Refiro-me, principalmente,

aos contratados sem carteira assinada, aos que trabalham por conta

própria, aos trabalhadores domésticos, aos que vivem no campo.

Tornar o direito previdenciário universal exige a reformulação do Fator

Previdenciário, buscando atender as desigualdades regionais – muitos municípios

Page 104: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

105

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

brasileiros possuem expectativa de vida inferior a media nacional e IDH semelhante ao

de países africanos - de raças, sexos e atividade econômica (urbano e rural).

Todas as desigualdades acima citadas também refletem na estrutura do mercado

de trabalho, que desta maneira é injusta. Caracterizada pela alta rotatividade, baixos

salários e amplo leque salarial. Períodos de estagnação costumam intensificar essa

estrutura aumentando a desorganização do mercado de trabalho. A adoção de uma

política econômica de abertura comercial e financeira, a sobrevalorização do câmbio,

privatizações, aumento de importações entre outras exigiu maior flexibilização e

desregulamentação das relações trabalhistas (FAGNANI, 2008).

Sendo a massa salarial a principal fonte de financiamento da Previdência Social,

assim como de outros gastos sociais, é viável a realização de políticas que busquem

aumentar o índice de empregos formais de modo a aumentar a base contributiva e

garantir a sustentabilidade do sistema de proteção social em longo prazo.

No entanto, vale citar novamente o caráter regressivo do financiamento da

Previdência Social. Enquanto houver transferência de contribuições pertencentes à

Seguridade Social para outras áreas do orçamento fiscal, principalmente para

pagamentos de juros e amortizações de dívida dificilmente haverá equilíbrio fiscal

previdenciário.

Segundo Boscheetti (2008, p.105) “no período de 2000 a 2007, foram extraídos

aproximadamente R$205,2 bilhões desse orçamento. Esse montante equivale a cinco

vezes o orçamento anual com saúde”. A DRU precisa não somente ser fixada a um

percentual que procure não prejudicar o cumprimento dos direitos sociais, mas também

fiscalizada para que não ocorram transferências acima do que fora estabelecido.

As desonerações que se justificam por incentivo ao capital para aumento de

investimentos na produção, apesar de não serem os principais problemas da Previdência

Social contribuem negativamente para o equilíbrio fiscal. Nas recentes experiências a

política foi utilizada pelo capital como forma de lucrar mais em períodos de crise

econômica. Ou seja, além representar a renúncia de considerável recurso da seguridade

social, não houve retorno algum para economia.

As isenções também são relevantes coadjuvantes no tema, Boschetti (2008,

p.107) sugere:

Page 105: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

106

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

[...] a isenção fiscal que faz com que a Seguridade deixe de arrecadar

enormes somas de recursos, devido às renúncias previdenciárias de

“entidades filantrópicas” (assistência, saúde e educação), micro e

pequenas empresas e clubes de futebol. Ainda que previstas em leis,

essas isenções poderiam ser limitadas de modo a assegurar maior

arrecadação para a Seguridade Social.

Somado a DRU, isenções e desonerações, o governo federal tem uma postura

passiva quanto aos débitos de empresas e pessoas físicas para com o Instituto Nacional

do Seguro Social (INSS). Enquanto a dívida é crescente, os esforços para recuperação

desse montante é decrescente, em 2011 o estoque da dívida era de R$185,8 bilhões e o

percentual cobrado era de 1,36%, em 2015 a dívida passou para R$350,7 bilhões e o

percentual cobrado para 0,32% (PUTY E GENTIL, 2017).

Foram pontuados assim problemas com a estrutura do mercado de trabalho bem

como as inconsistências do lado das receitas previdenciárias. No entanto, de fato

existem problemas com as despesas da Seguridade Social. Os gastos sociais per capita

não acontecem de maneira equânime entre as políticas sociais. Enquanto a política de

assistência social teve crescimento real de 11,11% entre 2001 e 2002, a previdência,

saúde, educação e cultura, habitação e saneamento tiveram variações negativas. Nota-se

assim que as políticas focalizadas, principalmente as de transferências de renda,

recebem maior atenção em relação às políticas sociais universais. O que justifica o

Estado brasileiro ser definido por muitos como assistencialista (BOSCHEETTI, 2008).

Considerações Finais

Esse artigo se propôs a desmitificar o déficit da Previdência Social Brasileira,

apontado pelo governo e alguns especialistas como a principal causa do desequilíbrio

fiscal público, que justificaria a necessidade de ser realizada a atual reforma

previdenciária via corte de benefícios.

Inicialmente foram apresentados os principais argumentos que endossam a

existência do déficit previdenciário em razão de uma legislação benevolente na

concessão de benefícios. A Constituição de 1988 seria, portanto a grande responsável

pela desorganização dos gastos previdenciários, uma vez que estabeleceu princípios

Page 106: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

107

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

como igualdade e universalidade e garantiu direito previdenciário à toda classe

trabalhadora.

A s condições citadas pelos autores como excesso de benevolência na verdade

procuram atender e minimizar desigualdades da realidade brasileira. Grupos que são

apontados como receptores de aposentadoria precoce na verdade possuem condições de

trabalho problemáticas, como o caso das mulheres que apesar de possuírem expectativa

de vida maior que a dos homens, ainda enfrentam fatores como a dupla jornada e

representam uma parcela maior em postos de trabalho informais.

Os argumentos apresentados pelos defensores da reforma seguem uma visão

neoliberal, em que as contribuições e benefícios deveriam possuir equivalência

propiciando ao equilíbrio fiscal. Desse modo, trabalhadores rurais, trabalhadores

informais, deficientes e a transição demográfica, estariam fadando o sistema

previdenciário ao colapso. Nesse sentido, é analisado na segunda parte do artigo o

financiamento previdenciário definido em Constituição bem como sua implementação.

O suposto déficit previdenciário trata-se de saldo previdenciário negativo, a

detalhada pesquisa realizada por Gentil (2006) demonstra que receitas com COFINS,

CPMF e CSLL são desconsideradas do cálculo apresentado pelo governo. Tais receitas

estão definidas em Constituição como fontes de financiamento da Seguridade Social e,

dessa maneira da Previdência Social. O cálculo oficial do governo esconde um superávit

operacional da Previdência Social.

Logo, o problema do sistema previdenciário brasileiro não esta no lado das

despesas. O que ocorre é a usurpação de recursos da Seguridade Social para outras áreas

do orçamento fiscal. Além dos aportes financeiros por parte do governo não serem

realizados e a DRU não respeitar os limites estabelecidos. Todos os gastos apontados

como excessivos caberiam no orçamento previdenciário se a diversificação de seu

financiamento, estabelecida em Constituição, fosse atendida.

Os problemas a serem enfrentados na Previdência Social não se referem ao corte

de benefícios, mas a criação de condições que procurem ampliar os conceitos de

universalidade e igualdade. É preciso reformular o Fator Previdenciário a fim de que

considere a estrutura do mercado de trabalho e assegure direito previdenciário a

públicos vulneráveis. É preciso haver fiscalização sobre a DRU e desonerações, pois

significam transferências do trabalho ao capital e como políticas econômicas

Page 107: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

108

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

representaram nas ultimas experiências verdadeiros fracassos. Assim como o

Orçamento da Seguridade deve ser apresentado separadamente do Orçamento fiscal.

A atual reforma é inspirada em países desenvolvidos e possui conceitos

neoliberais, porém como pode ser constatado ao longo desse artigo o Brasil possui

condições econômicas estruturais que exigem políticas econômicas inclusivas e não

excludentes. Não há insuficiências de recursos na Previdência Social Brasileira, o que

ocorre é a má gestão dos existentes, em nome do ajuste monetário exigido pelo mercado

financeiro.

Referências Bibliográficas

BELLUZZO, Luiz Gonzaga; ALMEIDA, Júlio Gomes de. Depois da Queda: A

economia brasileira da crise da dívida aos impasses do Real. Rio de Janeiro: Civilização

Brasileira, 2002. 411 p.

BOSCHETTI, Ivanete. Seguridade Social 20 anos depois: caminhos do

desmonte. In VAZ, Flávio Tonelli; MUSSE, Juliano Sander; SANTOS, Rodolfo

Fonseca dos (Org.). 20 Anos da Constituição Cidadã: avaliação e desafio da Seguridade

Social. Brasília: Anfip, 2008. 270 p. Disponível em:

<http://www2.anfip.org.br/publicacoes/livros/includes/livros/arqs-

pdfs/Livro_da_20_anos_Constituicao72dpi.pdf#page=89>. Acesso em: 13 out. 2018.

CORDEIRO, Gustavo Faria. O Regime de Previdência Social: Diagnósticos

Estruturais Críticos e Proposta de Reformas. 2006. 107 f. Dissertação (Mestrado) -

Curso de Administração Pública, Fundação Getúlio Vargas – Rj, Rio de Janeiro, 2006.

Disponível em:

<https://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/3572/GustavoCordeiro.p

df>. Acesso em: 13 out. 2018

FAGNANI, Eduardo. O “déficit” da Previdência e a posição dos

Juristas. 2017. Unicamp. IE. Disponível em:

< http://periodicos.ufpb.br/index.php/abet/article/view/36025>. Acesso em: 13 out.

2018.

Page 108: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

109

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

_________. Ajuste econômico e financiamento da política social brasileira: notas sobre

o período 1993/98. Economia e Sociedade, Campinas, v. 13, n. 1, p.155-178, dez.

1999. Disponível em:

<https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/ecos/article/view/8643140>. Acesso

em: 13 out. 2018.

_________. Previdência social e Desenvolvimento Econômico. IE/UNICAMP,

Campinas, n. 140, fev. 2008. Disponível em:

< https://www.sindifisconacional.org.br/images/justica_fiscal/RGPS/textos_artigos/prev

idencia-social-e-desenvolvimento.pdf >. Acesso em: 13 out. 2018.

GENTIL, Denise Lobato et al. Uma análise não convencional para o problema da

previdência social no Brasil: Aspectos teóricos e evidências empíricas. Revista

da Abet, Brasil, v. 16, n. 1, p.138-159, jan. 2017. Disponível em:

<http://periodicos.ufpb.br/index.php/abet/article/view/36034>. Acesso em: 20 out.

2018.

GENTIL, Denise Lobato. A Política Fiscal e a Falsa Crise da Seguridade Social

Brasileira - Análise financeira do período 1990-2005. 2006. 357 f. Tese (Doutorado) -

Curso de Instituto de Economia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de

Janeiro, 2006. Disponível em:

<http://www.ie.ufrj.br/images/pesquisa/publicacoes/teses/2006/a_politica_fiscal_e_a_fa

lsa_crise_da_seguraridade_social_brasileira_analise_financeira_do_periodo_1990_2005

.pdf>. Acesso em: 24 mar. 2018.

_________. A Previdência Social 'Paga o Preço' do Ajuste Fiscal e da Expansão do

Poder Financeiro. Revista da Abet, Brasil, v. 16, n. 1, p.89-105, jun. 2017. Disponível

em: <http://periodicos.ufpb.br/index.php/abet/article/view/36026>. Acesso em: 13 out.

2018.

GIAMBIAGI, Fabio et al. Diagnóstico da Previdência Social no Brasil: O que foi

feito e o que falta reformar? 2004. IPEA. Disponível em:

<http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=4248

>. Acesso em: 25 ago. 2018.

MIRANDA, Andrey Luciano Fagundes. O Déficit da Previdência Social: Análise

Comparativa: Entre as duas linhas metodológicas divergentes. 2010. 97 f. Monografia

Page 109: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

110

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

(Especialização) - Curso de Ciências Econômicas, Departamento de Ciências

Econômicas, Universidade Federal de Santa Catarina – Ufsc, Florianópolis, 2010.

Disponível em: <http://tcc.bu.ufsc.br/Economia292766>. Acesso em: 20 out. 2018.

SOUZA, Maria Ester Alcantara de. Déficit Previdenciário: Fato ou

Mito? Revista JurÍdica Cognitio Juris, João Pessoa, v. 3, n. 1, p.77-86, dez. 2011.

Disponível em: <http://www.cognitiojuris.com/artigos/03/05.html>. Acesso em: 13 out.

2018.

Page 110: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

111

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

RESENHA

Laura Carvalho. Valsa brasileira. São Paulo, Todavia, 2018. 192 pp.

FERNANDES, Thaís Cristina10

Diante do conflituoso contexto econômico brasileiro, análises econômicas e

políticas inter-relacionadas destinadas a encontrar os problemas socioeconômicos reais,

bem como os caminhos viáveis para suas soluções práticas, tornam-se indispensáveis. É

o que se propõe em Valsa Brasileira, de Laura Carvalho. A autora tenta desvendar os

episódios que levaram o Brasil do que chama de “Milagrinho” econômico, do governo

Lula, a uma das crises mais profundas da história nacional, no governo Dilma e Temer.

Em um ambiente ainda predominantemente masculino, a voz de Laura Carvalho

tem ganhado espaço principalmente pela simplicidade - nada empobrecida – ao falar-se

sobre Economia Política. Professora Associada do departamento de economia da FEA-

USP possui doutorado em Economia pela New School for Social Research e graduação

e mestrado em Economia, é frequentemente denominada como um dos maiores nomes

progressistas do país.

Carvalho também contribui semanalmente como colunista do jornal Folha de

São Paulo, oferecendo análises sobre episódios atuais do cenário econômico. Valsa

Brasileira é seu primeiro livro, considerado um sucesso devido à repercussão e

quantidade de reimpressões desde sua publicação no primeiro semestre de 2018.

Sem rodeios nas primeiras páginas a autora deixa claro o que objetiva com a

obra: Desvendar o motivo pelo qual a economia brasileira passou de um cenário de

desenvolvimento – não apenas de crescimento, uma vez que houve reduções de

desigualdades - para a crise em apenas sete anos. São apresentadas três teorias

comumente utilizadas por diferentes grupos de especialistas, certa de que a crise não

pode ser atribuída a um único fator como acontece com tais teorias, Laura prepara o

leitor para uma análise nada simplista. De acordo com ela o modelo de crescimento dos

anos 2000 não estava fadado ao esgotamento, o que determinou seu fracasso foi a

adoção de uma política econômica equivocada.

10 Bacharel em Ciências Econômicas.

Page 111: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

112

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

Enquanto o governo Lula realizava políticas que contribuíam com o

desenvolvimento do mercado interno, proliferava a visão de que o crescimento era

liderado pelo consumo enquanto o empresariado nacional passa exigir do Estado, como

meio de ganhar competitividade do mercado externo, diminuição de custos. Em Dilma,

este empresariado ganha espaço na política econômica e ocorre o redirecionamento no

modelo de crescimento.

Apesar de ser uma análise complexa, o modo como o conteúdo é exposto não a

torna exaustiva ou rebuscada demais, tratando-se de uma obra que abre mão do

economês para conseguir alcançar diferentes leitores sobre temas que deveriam ser

prioritários para aqueles e aquelas que buscam o desenvolvimento desse país. Além da

breve introdução, o livro é divido em cinco capítulos que acompanham

cronologicamente episódios políticos e econômicos dos governos petistas e do pós-

impeachment de Dilma Rousseff. Cada capítulo contempla subtítulos onde são

explanados os temas e conceitos de maneira mais segmentada, mas não menos

conectada.

Inicialmente, são expostas as condições que propiciaram o desenvolvimento

econômico durante o segundo governo de Lula, uma vez que em seu primeiro mandato

houve excesso de conservadorismo econômico empregado pela dupla Antonio Palocci

(Fazenda) e Henrique Meirelles (Banco Central). O crescimento ocorrido em 2005 é

essencialmente atribuído à expansão de exportação do país, não havendo contribuições

das políticas empregadas como muitos conservadores insistem em afirmar ao enfatizar

um caráter irresponsável do PT (Partido dos Trabalhadores) nos anos posteriores.

Já no segundo mandato de Lula, as exportações deixam de ser a centralidade da

economia brasileira, quem ganha destaque é o mercado interno com aumento do

consumo das famílias e investimentos. Foram desenvolvidas políticas tendo como base

três pilares: Distribuição de renda, acesso ao crédito e investimentos públicos. Ao expor

como cada pilar foi desenvolvido, Laura explica a partir de conceitos econômicos os

ganhos obtidos.

Apesar de refutar algumas das críticas realizadas a esse modelo de crescimento,

são apresentadas algumas limitações que dependeriam de implementação de políticas

que conseguissem supera-las. O primeiro problema está relacionado à baixa

competitividade e consequente fragilidade da indústria brasileira, que se caracteriza pela

Page 112: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

113

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

falta de diversificação em sua estrutura. O segundo refere-se à inflação de serviços

causada pelos ganhos salariais e o terceiro a concentração de renda em razão do caráter

regressivo da tributação.

Mesmo sendo a sucessora de Lula, Dilma apostou em um modelo de

crescimento industrial aos moldes asiáticos, ou seja, focado nas exportações. O Real

valorizado e as altas taxas de juros tornam-se os maiores desafios da política econômica,

que adota uma política fiscal contracionista e uma política monetária expansionista a

fim de baratear os produtos brasileiros em relação aos estrangeiros.

O modelo definido por Laura como “Agenda Fiesp” - uma vez que procurou

atender demandas das associações patronais, que apesar de atendidas não responderam

como o prometido – contemplou a redução de juros, a desvalorização do real, a

contenção de investimentos públicos, desonerações tributárias cada vez mais amplas,

expansão do crédito do BNDES e represamento das tarifas de energia.

A autora aponta detalhadamente como cada uma dessas medidas foram

aplicadas, bem como seus fracassos em relação à economia e consequentes

contribuições para o aprofundamento de uma das crises nacionais mais profundas. Crise

essa amplamente atribuída a um colapso fiscal causado pela gastança, excesso de Estado

e distribuição de renda dos governos petistas.

No segundo governo de Dilma, a superação do déficit fiscal torna-se a principal

variável para recuperação econômica. Além de reduções de investimentos sociais e em

infraestrutura, é cogitada reforma da Previdência Social, o que de acordo com Laura faz

de Dilma uma das lideranças mais antipopulares da história brasileira.

Com um cenário de crise econômica instaurado, a obra procura analisar a crise

institucional durante o processo de impeachment de Dilma Rousseff. Sendo tão

assertiva como sarcástica, muito em razão das inúmeras inconsistências e incoerências

do sistema político nacional. Conclui-se que o caos foi promovido por dois grupos, o

primeiro composto por políticos que tentavam se salvar da operação lava-jato, e o

segundo referia-se a elite econômica que tentava repassar ao resto da sociedade os

custos da crise econômica.

Ainda no governo interino, Michel Temer prometia políticas de austeridade

fiscal optando por um caminho que pudesse garantir sustentação política, em detrimento

Page 113: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

114

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

a alternativas sustentáveis para a crise. A PEC do teto dos gastos dá inicio ao que é

conceituado como o desmonte do Estado de bem estar social brasileiro, que até então

estava assegurado em Constituição Federal.

Tal como a ideologia Neoliberal, Temer transvestiu a liberdade menor de

liberdade maior, a crise econômica se transforma na principal justificativa para bloquear

agendas democráticas e a adoção de uma agenda ideológica de diminuição do tamanho

do Estado. Apesar de anunciar sucesso nas políticas empregadas, as estatísticas

econômicas favoráveis durante o governo Temer resultam da supersafra de soja e

liberação de saques das contas inativas do FGTS, o nível de ociosidade da economia

permaneceu alto.

Por fim, Laura realiza críticas não apenas ao Estado, mas a sociedade brasileira.

Aponta as falhas dos modelos econômicos utilizados, assim como apresenta teorias que

explicam as principais falácias do campo econômico e político. Conclui que a

democracia brasileira é viável para o orçamento e aponta caminhos para o que nomeia

de “Uma agenda para todos”.

A agenda que levaria ao crescimento sustentável e melhora da qualidade de vida

da população, baseia-se na premissa de que apenas a volta do crescimento resulta em

um cenário de equilíbrio fiscal, para isso o governo deve retomar os investimentos

públicos em infraestrutura física e social e eliminar subsídios indiscriminados. Além

disso, deve alterar o modelo de tributação, diminuindo os impostos indiretos e

aumentando os diretos, adotar nova regra fiscal mantendo a margem de manobra e

evitar os juros como a variável de controle da inflação. Sobretudo, precisa desenvolver

o sistema produtivo a fim de atender a estrutura necessária e não de forma a atender o

empresariado.

Apesar de ir contra a visão conservadora e neoliberal, não há meios de

classificar a obra como esquerdista, pois também são realizadas duras críticas à

esquerda brasileira. Laura realiza uma detalhada pesquisa em que pontua assuntos

evitados por ambos os lados, muito em nome de sustentação política. Ao explanar

teorias contrárias, a autora consegue realizar um debate justo que provoca reflexões

individuais ao leitor ao invés de pregar doutrinação dos conceitos os quais defende.

Consegue desmitificar a ideia da Ciência Econômica como uma ciência exata ao

demonstrar os fracassos de determinadas decisões macroeconômicas. Por exemplo, no

Page 114: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

115

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

segundo Dilma, ao atender demandas empresariais o governo diminuiu a taxa de juros.

Com a ação esperava-se que os investimentos aumentassem, causando aumento da

renda, que aumentaria a demanda, aumentando os preços que por sua vez incentivariam

os investimentos, em um ciclo denominado por Knut Wicksell como “Processo

Acumulativo”. No entanto, a falta de expectativas de crescimento econômico fez o

capital concluir que mesmo com juros menores o cenário não era favorável ao

investimento. Ou seja, a existência de variáveis macroeconômicas favoráveis pode

influenciar a decisão de investimento, mas é a microeconomia a responsável pela

decisão (COSTA, 2009).

Quando traz os fatos políticos ao debate econômico realizando conexão direta

entre política e as decisões econômicas, também consegue ter sucesso ao resgatar o

conceito de Economia Política. Combate a visão atomística sobre os agentes

econômicos, adotada pela ortodoxia neoclássica que elimina de seus modelos a

complexidade do sistema capitalista, a fim de manter a simplicidade da ideia de

equilíbrio (BELLUZZO E BASTOS, 2016).

Em um país com debates econômicos radicais e empobrecidos, Valsa Brasileira

não é uma obra para ser lida como passatempo, ela deve estar na lista de leituras

obrigatórias para educação e formação de brasileiros. Nela o leitor (a) conseguirá

adentrar o universo político e econômico brasileiro, entender a crise na qual está

inserido (a), seus verdadeiros motivos e responsáveis. Laura entrega um brilhante

trabalho onde a principal variável econômica utilizada é o que deveria ser o “coração da

Economia Política”: O pensamento. Não apenas o pensamento da autora, mas o

pensamento do leitor (a).

Referências Bibliográficas

BELLUZZO, Luiz Gonzaga; BASTOS, Pedro Paulo Zahluth. Crises econômicas

evidenciam reducionismo de modelos teóricos. Folha de São Paulo, mar.2016.

Disponível em: < https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2016/03/1751590-crises-

economicas-evidenciam-reducionismo-de-modelos-teoricos.shtml>. Acesso em: 13 de

julho de 2019.

Page 115: SUMÁRIO - Anchieta · 2019-11-19 · estão cada mais presentes na literatura acadêmica sobre qualidade em franquias. Além disso, são as melhores variáveis disponíveis em dados

116

Análise, Jundiaí, v.14, n.2, jul-dez 2019

COSTA, Fernando Nogueira Da. Macro e Micro: O Difícil reencontro depois da

separação. IE/UNICAMP, Campinas, n.171, Nov.2009. Disponível em: <

http://www.eco.unicamp.br/docprod/downarq.php?id=1801&tp=a>. Acesso em: 13 de

julho de 2019.