Supremo Tribunal Federalolivetesalmoria.com.br/wp-content/uploads/2020/05/STF... · 2020. 5....

23
Ementa e Acórdão 03/03/2020 SEGUNDA TURMA AG.REG. NO HABEAS CORPUS 179.467 SANTA CATARINA RELATOR :MIN. GILMAR MENDES AGTE.(S) : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA AGDO.(A/S) : ELIZEU MATTOS ADV.(A/S) : MARLON CHARLES BERTOL ADV.(A/S) : WILSON KNONER CAMPOS AGDO.(A/S) : RELATOR DO HC Nº 550.271 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA Agravo regimental em habeas corpus. 2. Processual Penal. 3. Prisão preventiva. 4. Crimes contra a administração pública, fraude à licitação e organização criminosa. 5. Possibilidade da substituição da prisão preventiva do agravado por medidas cautelares diversas, na forma do art. 319 do CPP. Jurisprudência da Segunda Turma. 6. Ausência de elementos concretos que configurem efetivo abuso do direito de defesa. Ausência de contemporaneidade dos delitos que justificaria a prisão com base na garantia da ordem pública e de aplicação da lei penal. 6. Agravo regimental a que se nega provimento. A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo Tribunal Federal, em Segunda Turma, sob a presidência da Senhora Ministra Cármen Lúcia, na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigráficas, por maioria de votos, negar provimento ao agravo regimental, nos termos do voto do Relator. Brasília, 03 de março de 2020. Ministro GILMAR MENDES Relator Documento assinado digitalmente Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 6217-D4D4-353E-A3D1 e senha C243-F72F-BD26-DD04 Supremo Tribunal Federal Supremo Tribunal Federal Inteiro Teor do Acórdão - Página 1 de 37

Transcript of Supremo Tribunal Federalolivetesalmoria.com.br/wp-content/uploads/2020/05/STF... · 2020. 5....

  • Ementa e Acórdão

    03/03/2020 SEGUNDA TURMA

    AG.REG. NO HABEAS CORPUS 179.467 SANTA CATARINA

    RELATOR : MIN. GILMAR MENDES

    AGTE.(S) :MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROC.(A/S)(ES) :PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA AGDO.(A/S) :ELIZEU MATTOS ADV.(A/S) :MARLON CHARLES BERTOL ADV.(A/S) :WILSON KNONER CAMPOS AGDO.(A/S) :RELATOR DO HC Nº 550.271 DO SUPERIOR

    TRIBUNAL DE JUSTIÇA

    Agravo regimental em habeas corpus. 2. Processual Penal. 3. Prisão preventiva. 4. Crimes contra a administração pública, fraude à licitação e organização criminosa. 5. Possibilidade da substituição da prisão preventiva do agravado por medidas cautelares diversas, na forma do art. 319 do CPP. Jurisprudência da Segunda Turma. 6. Ausência de elementos concretos que configurem efetivo abuso do direito de defesa. Ausência de contemporaneidade dos delitos que justificaria a prisão com base na garantia da ordem pública e de aplicação da lei penal. 6. Agravo regimental a que se nega provimento.

    A C Ó R D Ã OVistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do

    Supremo Tribunal Federal, em Segunda Turma, sob a presidência da Senhora Ministra Cármen Lúcia, na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigráficas, por maioria de votos, negar provimento ao agravo regimental, nos termos do voto do Relator.

    Brasília, 03 de março de 2020. Ministro GILMAR MENDES

    RelatorDocumento assinado digitalmente

    Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereçohttp://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 6217-D4D4-353E-A3D1 e senha C243-F72F-BD26-DD04

    Supremo Tribunal FederalSupremo Tribunal FederalInteiro Teor do Acórdão - Página 1 de 37

  • Relatório

    03/03/2020 SEGUNDA TURMA

    AG.REG. NO HABEAS CORPUS 179.467 SANTA CATARINA

    RELATOR : MIN. GILMAR MENDESAGTE.(S) :MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROC.(A/S)(ES) :PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA AGDO.(A/S) :ELIZEU MATTOS ADV.(A/S) :MARLON CHARLES BERTOL ADV.(A/S) :WILSON KNONER CAMPOS AGDO.(A/S) :RELATOR DO HC Nº 550.271 DO SUPERIOR

    TRIBUNAL DE JUSTIÇA

    R E L A T Ó R I O

    O Senhor Ministro Gilmar Mendes (Relator): Trata-se de agravo regimental interposto pelo Ministério Público Federal em face de decisão monocrática de minha lavra, concessiva de ordem de habeas corpus em favor de Elizeu Mattos.

    Preliminarmente, antes de adentrar o mérito do presente agravo, faz-se necessário apresentar um breve resumo dos fatos e do andamento do feito até o momento.

    O agravante foi condenado pela prática de crimes contra administração pública, fraude de licitações e organização criminosa. As penas foram fixadas pelo Juízo da 2ª Vara Criminal da Comarca de Lages nos seguintes termos:

    “3. DISPOSITIVODiante do exposto, JULGO PROCEDENTE EM PARTE o

    pedido narrado na denúncia, para o efeito de CONDENAR o réu ELIZEU MATTOS como incurso nas sanções:

    a) do art. 2º, caput, c/c o seu § 3º, c/c o seu § 4º, II, da Lei n. 12.850/2013, à pena de 7 anos, 9 meses e 10 dias de reclusão, bem como ao pagamento de 332 dias-multa, à razão de meio

    Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereçohttp://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 6CCE-C38C-0050-218B e senha F1AD-E7A8-5F33-3C81

    Supremo Tribunal Federal

    03/03/2020 SEGUNDA TURMA

    AG.REG. NO HABEAS CORPUS 179.467 SANTA CATARINA

    RELATOR : MIN. GILMAR MENDESAGTE.(S) :MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROC.(A/S)(ES) :PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA AGDO.(A/S) :ELIZEU MATTOS ADV.(A/S) :MARLON CHARLES BERTOL ADV.(A/S) :WILSON KNONER CAMPOS AGDO.(A/S) :RELATOR DO HC Nº 550.271 DO SUPERIOR

    TRIBUNAL DE JUSTIÇA

    R E L A T Ó R I O

    O Senhor Ministro Gilmar Mendes (Relator): Trata-se de agravo regimental interposto pelo Ministério Público Federal em face de decisão monocrática de minha lavra, concessiva de ordem de habeas corpus em favor de Elizeu Mattos.

    Preliminarmente, antes de adentrar o mérito do presente agravo, faz-se necessário apresentar um breve resumo dos fatos e do andamento do feito até o momento.

    O agravante foi condenado pela prática de crimes contra administração pública, fraude de licitações e organização criminosa. As penas foram fixadas pelo Juízo da 2ª Vara Criminal da Comarca de Lages nos seguintes termos:

    “3. DISPOSITIVODiante do exposto, JULGO PROCEDENTE EM PARTE o

    pedido narrado na denúncia, para o efeito de CONDENAR o réu ELIZEU MATTOS como incurso nas sanções:

    a) do art. 2º, caput, c/c o seu § 3º, c/c o seu § 4º, II, da Lei n. 12.850/2013, à pena de 7 anos, 9 meses e 10 dias de reclusão, bem como ao pagamento de 332 dias-multa, à razão de meio

    Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereçohttp://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 6CCE-C38C-0050-218B e senha F1AD-E7A8-5F33-3C81

    Inteiro Teor do Acórdão - Página 2 de 37

  • Relatório

    HC 179467 AGR / SC

    salário mínimo vigente à época do último ato criminoso;b) do art. 317, caput, c/c o art. 327, § 2º, por vinte e duas

    vezes, na forma do art. 71, caput, todos do Código Penal, à pena de 5 anos, 11 meses e 3 dias de reclusão, bem como ao pagamento de 136 dias-multa, à razão de meio salário mínimo vigente à época do último ato criminoso;

    c) do art. 89, caput, da Lei n. 8.666/1993, por duas vezes, na forma do art. 69, caput, do Código Penal, à pena de 8 anos de detenção, bem como ao pagamento de 370 dias-multa, à razão de meio salário mínimo vigente à época dos fatos; e d) do art. 90 da Lei n. 8.666/1993 à pena de 2 anos e 8 meses de detenção, bem como ao pagamento de 126 dias-multa, à razão de meio salário mínimo vigente à época dos fatos. Aplicada a regra do concurso material de crimes (art. 69, caput, do Código Penal), ficam as penas privativas de liberdade fixadas em 13 anos, 8 meses e 13 dias de reclusão e 10 anos e 8 meses de detenção, além de 964 dia smulta. Diante do quantum de pena aplicada, fixo os regimes FECHADO e SEMIABERTO para o início do cumprimento das penas de reclusão e detenção, respectivamente, ex vi do art. 33 do Código Penal. Incabível a substituição da reprimenda corporal como também a suspensão condicional da pena (arts. 44 e 77 do CP). CONCEDO ao réu o direito de recorrer em liberdade, porquanto ausentes os requisitos para sua custódia preventiva.” (eDOC 5, p. 3-97)

    Após recurso das partes, o Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina elevou as penas fixadas para 18 anos, 01 mês e 23 dias de reclusão (art. 2º, caput, c/c o seu § 3º, c/c o seu § 4º, II, da Lei n. 12.850/2013; art. 317 do CP) e 13 anos e 06 meses de detenção (arts. 89 e 90 da Lei n. 8.666/93). No acórdão de embargos de declaração, foi decretada a prisão preventiva do agravado com os seguintes fundamentos:

    “Na hipótese, vislumbra-se que a possibilidade de oferecer à defesa a oportunidade para contrarrazoar, tornaria inócua a medida extrema requerida pelo Ministério Público, tanto que como já pontuado e como se verá mais

    2

    Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereçohttp://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 6CCE-C38C-0050-218B e senha F1AD-E7A8-5F33-3C81

    Supremo Tribunal Federal

    HC 179467 AGR / SC

    salário mínimo vigente à época do último ato criminoso;b) do art. 317, caput, c/c o art. 327, § 2º, por vinte e duas

    vezes, na forma do art. 71, caput, todos do Código Penal, à pena de 5 anos, 11 meses e 3 dias de reclusão, bem como ao pagamento de 136 dias-multa, à razão de meio salário mínimo vigente à época do último ato criminoso;

    c) do art. 89, caput, da Lei n. 8.666/1993, por duas vezes, na forma do art. 69, caput, do Código Penal, à pena de 8 anos de detenção, bem como ao pagamento de 370 dias-multa, à razão de meio salário mínimo vigente à época dos fatos; e d) do art. 90 da Lei n. 8.666/1993 à pena de 2 anos e 8 meses de detenção, bem como ao pagamento de 126 dias-multa, à razão de meio salário mínimo vigente à época dos fatos. Aplicada a regra do concurso material de crimes (art. 69, caput, do Código Penal), ficam as penas privativas de liberdade fixadas em 13 anos, 8 meses e 13 dias de reclusão e 10 anos e 8 meses de detenção, além de 964 dia smulta. Diante do quantum de pena aplicada, fixo os regimes FECHADO e SEMIABERTO para o início do cumprimento das penas de reclusão e detenção, respectivamente, ex vi do art. 33 do Código Penal. Incabível a substituição da reprimenda corporal como também a suspensão condicional da pena (arts. 44 e 77 do CP). CONCEDO ao réu o direito de recorrer em liberdade, porquanto ausentes os requisitos para sua custódia preventiva.” (eDOC 5, p. 3-97)

    Após recurso das partes, o Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina elevou as penas fixadas para 18 anos, 01 mês e 23 dias de reclusão (art. 2º, caput, c/c o seu § 3º, c/c o seu § 4º, II, da Lei n. 12.850/2013; art. 317 do CP) e 13 anos e 06 meses de detenção (arts. 89 e 90 da Lei n. 8.666/93). No acórdão de embargos de declaração, foi decretada a prisão preventiva do agravado com os seguintes fundamentos:

    “Na hipótese, vislumbra-se que a possibilidade de oferecer à defesa a oportunidade para contrarrazoar, tornaria inócua a medida extrema requerida pelo Ministério Público, tanto que como já pontuado e como se verá mais

    2

    Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereçohttp://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 6CCE-C38C-0050-218B e senha F1AD-E7A8-5F33-3C81

    Inteiro Teor do Acórdão - Página 3 de 37

  • Relatório

    HC 179467 AGR / SC

    detalhadamente adiante, o comportamento processual da parte tem sido pautado na vontade de procrastinar a solução definitiva do feito. Em outros termos, colocar-se-ia em risco o próprio caráter cautelar da medida almejada, que busca, justamente, resguardar a utilidade do provimento jurisdicional definitivo, bem como a ordem pública, incluída a credibilidade da justiça.

    Outrossim, é patente a urgência da aplicação da medida, especialmente em razão da gravidade do caso concreto e os danos causados pelas condutas que, certamente, até os dias atuais repercutem no Município atingido.

    Feitas essas considerações, registra-se que diante da superveniente modificação de entendimento pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento das Ações Declaratórias de Constitucionalidade n. 43, 44 e 54, necessário o acolhimento dos aclaratórios opostos pela defesa para afastar a determinação de início da execução provisória da pena existente no acórdão impugnado.

    Entretanto, importante consignar que a excepcionalidade do caso concreto evidencia a necessidade de decretação da prisão preventiva, porquanto devidamente preenchidos os requisitos autorizadores, consoante apontado pelo Ministério Público.

    Nessa perspectiva, destaca-se que a decretação da segregação cautelar, por se tratar de providência excepcional, depende da demonstração do fumus comissi delicti (prova da materialidade e indícios de autoria) e do periculum libertatis, com o preenchimento dos requisitos previstos nos arts. 312 e 313 do Código de Processo Penal:

    Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal, ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria. Parágrafo único. A prisão preventiva também poderá ser

    3

    Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereçohttp://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 6CCE-C38C-0050-218B e senha F1AD-E7A8-5F33-3C81

    Supremo Tribunal Federal

    HC 179467 AGR / SC

    detalhadamente adiante, o comportamento processual da parte tem sido pautado na vontade de procrastinar a solução definitiva do feito. Em outros termos, colocar-se-ia em risco o próprio caráter cautelar da medida almejada, que busca, justamente, resguardar a utilidade do provimento jurisdicional definitivo, bem como a ordem pública, incluída a credibilidade da justiça.

    Outrossim, é patente a urgência da aplicação da medida, especialmente em razão da gravidade do caso concreto e os danos causados pelas condutas que, certamente, até os dias atuais repercutem no Município atingido.

    Feitas essas considerações, registra-se que diante da superveniente modificação de entendimento pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento das Ações Declaratórias de Constitucionalidade n. 43, 44 e 54, necessário o acolhimento dos aclaratórios opostos pela defesa para afastar a determinação de início da execução provisória da pena existente no acórdão impugnado.

    Entretanto, importante consignar que a excepcionalidade do caso concreto evidencia a necessidade de decretação da prisão preventiva, porquanto devidamente preenchidos os requisitos autorizadores, consoante apontado pelo Ministério Público.

    Nessa perspectiva, destaca-se que a decretação da segregação cautelar, por se tratar de providência excepcional, depende da demonstração do fumus comissi delicti (prova da materialidade e indícios de autoria) e do periculum libertatis, com o preenchimento dos requisitos previstos nos arts. 312 e 313 do Código de Processo Penal:

    Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal, ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria. Parágrafo único. A prisão preventiva também poderá ser

    3

    Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereçohttp://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 6CCE-C38C-0050-218B e senha F1AD-E7A8-5F33-3C81

    Inteiro Teor do Acórdão - Página 4 de 37

  • Relatório

    HC 179467 AGR / SC

    decretada em caso de descumprimento de qualquer das obrigações impostas por força de outras medidas cautelares.

    Art. 313. Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a decretação da prisão preventiva: I - nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima superior a 4 (quatro) anos; II - se tiver sido condenado por outro crime doloso, em sentença transitada em julgado, ressalvado o disposto no inciso I do caput do art. 64 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal; III - se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência; Parágrafo único. Também será admitida a prisão preventiva quando houver dúvida sobre a identidade civil da pessoa ou quando esta não fornecer elementos suficientes para esclarecê-la, devendo o preso ser colocado imediatamente em liberdade após a identificação, salvo se outra hipótese recomendar a manutenção da medida.

    In casu, as acusações que pesam contra o ora embargante/embargado Elizeu Mattos preveem pena privativa de liberdade superior a 4 (quatro) anos, satisfazendo, portanto, o requisito descrito no art. 313, inciso I, do Código de Processo Penal.

    A materialidade e os indícios da autoria restaram demonstrados por meio do auto de exibição e apreensão (fls. 23 e 26 [vol. 1]), relatórios de investigação policial (fls. 321/400 [vol. 2], 1279/1306 [vol. 7], 1529/1568 [vol. 8], 1590/1634 [vol. 8 e 9], 1660/1720 [vol. 9], 1746/1777 [vol. 9], 1832/1872 [vol. 10] e 1897/1967 [vol. 10]), termos de apreensão (fls. 2007/2009, 2020/2023, 2033, 2038, 2053/2056 [vol. 11]), auto circunstanciado de interceptação telefônica (fls. 2480/2485 [vol.13]), cópia do registro no livro diário da empresa Viaplan (fls. 4019/4030 [vol. 19]), laudos periciais (especialmente aquele de fls. 4390/4626

    4

    Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereçohttp://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 6CCE-C38C-0050-218B e senha F1AD-E7A8-5F33-3C81

    Supremo Tribunal Federal

    HC 179467 AGR / SC

    decretada em caso de descumprimento de qualquer das obrigações impostas por força de outras medidas cautelares.

    Art. 313. Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a decretação da prisão preventiva: I - nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima superior a 4 (quatro) anos; II - se tiver sido condenado por outro crime doloso, em sentença transitada em julgado, ressalvado o disposto no inciso I do caput do art. 64 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal; III - se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência; Parágrafo único. Também será admitida a prisão preventiva quando houver dúvida sobre a identidade civil da pessoa ou quando esta não fornecer elementos suficientes para esclarecê-la, devendo o preso ser colocado imediatamente em liberdade após a identificação, salvo se outra hipótese recomendar a manutenção da medida.

    In casu, as acusações que pesam contra o ora embargante/embargado Elizeu Mattos preveem pena privativa de liberdade superior a 4 (quatro) anos, satisfazendo, portanto, o requisito descrito no art. 313, inciso I, do Código de Processo Penal.

    A materialidade e os indícios da autoria restaram demonstrados por meio do auto de exibição e apreensão (fls. 23 e 26 [vol. 1]), relatórios de investigação policial (fls. 321/400 [vol. 2], 1279/1306 [vol. 7], 1529/1568 [vol. 8], 1590/1634 [vol. 8 e 9], 1660/1720 [vol. 9], 1746/1777 [vol. 9], 1832/1872 [vol. 10] e 1897/1967 [vol. 10]), termos de apreensão (fls. 2007/2009, 2020/2023, 2033, 2038, 2053/2056 [vol. 11]), auto circunstanciado de interceptação telefônica (fls. 2480/2485 [vol.13]), cópia do registro no livro diário da empresa Viaplan (fls. 4019/4030 [vol. 19]), laudos periciais (especialmente aquele de fls. 4390/4626

    4

    Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereçohttp://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 6CCE-C38C-0050-218B e senha F1AD-E7A8-5F33-3C81

    Inteiro Teor do Acórdão - Página 5 de 37

  • Relatório

    HC 179467 AGR / SC

    [vol. 21 e 22]), da prova oral colhida ao longo das etapas investigativa e judicial e dos demais elementos colacionados nos apensos, conforme, inclusive, exaustivamente apontados no acórdão de fls. 8166/8463 (vol. 39).

    Da mesma forma, verifica-se latente a presença do pressuposto do periculum libertatis . Isso porque os requisitos previstos no art. 312 do Código de Processo Penal se mostram presentes, mormente diante da necessidade de garantir à ordem pública, devido à gravidade em concreto dos delitos cometidos, e também para a aplicação da lei penal, haja vista que a defesa e o próprio embargante Elizeu Mattos vem obstaculizando o regular andamento processual mediante inúmeras impugnações e outras ardilezas, prolongando excessivamente o deslinde do feito e impedindo a aplicabilidade da lei, visando, dessa forma, esquivar de eventual responsabilidade penal confirmada por este Órgão Fracionário na sessão de julgamento ocorrida no dia 5 de novembro de 2019.

    Relativamente à gravidade concreta do crime - minuciosamente evidenciada no acórdão embargado -, é especialmente relevante, não somente pelo longo período de tempo em que os crimes foram perpetrados (entre os anos de 2013 e 2014), pela expressiva e indevida vantagem pecuniária recebida por Elizeu Mattos no mencionado período (R$ 2.695.000,00) e pelos demais benefícios ilícitos obtidos por seus comparsas, mas também pelo modus operandi utilizado, tanto que resultante na aplicação de reprimenda corporal superior a 30 (trinta) anos.

    (…)Acerca da possibilidade de decretação da custódia

    cautelar, quando demonstrada a gravidade concreta do(s) delito(s) praticado(s), para resguardar a ordem pública, leciona Renato Brasileiro de Lima:

    [...] compreendendo-se garantia da ordem pública como expressão sinônima de periculosidade do agente,

    5

    Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereçohttp://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 6CCE-C38C-0050-218B e senha F1AD-E7A8-5F33-3C81

    Supremo Tribunal Federal

    HC 179467 AGR / SC

    [vol. 21 e 22]), da prova oral colhida ao longo das etapas investigativa e judicial e dos demais elementos colacionados nos apensos, conforme, inclusive, exaustivamente apontados no acórdão de fls. 8166/8463 (vol. 39).

    Da mesma forma, verifica-se latente a presença do pressuposto do periculum libertatis . Isso porque os requisitos previstos no art. 312 do Código de Processo Penal se mostram presentes, mormente diante da necessidade de garantir à ordem pública, devido à gravidade em concreto dos delitos cometidos, e também para a aplicação da lei penal, haja vista que a defesa e o próprio embargante Elizeu Mattos vem obstaculizando o regular andamento processual mediante inúmeras impugnações e outras ardilezas, prolongando excessivamente o deslinde do feito e impedindo a aplicabilidade da lei, visando, dessa forma, esquivar de eventual responsabilidade penal confirmada por este Órgão Fracionário na sessão de julgamento ocorrida no dia 5 de novembro de 2019.

    Relativamente à gravidade concreta do crime - minuciosamente evidenciada no acórdão embargado -, é especialmente relevante, não somente pelo longo período de tempo em que os crimes foram perpetrados (entre os anos de 2013 e 2014), pela expressiva e indevida vantagem pecuniária recebida por Elizeu Mattos no mencionado período (R$ 2.695.000,00) e pelos demais benefícios ilícitos obtidos por seus comparsas, mas também pelo modus operandi utilizado, tanto que resultante na aplicação de reprimenda corporal superior a 30 (trinta) anos.

    (…)Acerca da possibilidade de decretação da custódia

    cautelar, quando demonstrada a gravidade concreta do(s) delito(s) praticado(s), para resguardar a ordem pública, leciona Renato Brasileiro de Lima:

    [...] compreendendo-se garantia da ordem pública como expressão sinônima de periculosidade do agente,

    5

    Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereçohttp://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 6CCE-C38C-0050-218B e senha F1AD-E7A8-5F33-3C81

    Inteiro Teor do Acórdão - Página 6 de 37

  • Relatório

    HC 179467 AGR / SC

    não é possível a decretação da prisão preventiva em virtude da gravidade da infração pela sua natureza, de per si, é uma circunstância inerente ao tipo penal. [...] Todavia, demonstrada a gravidade em concreto do delito, seja pelo modo de agir, seja pela condição subjetiva do agente, afigura-se possível a decretação da prisão preventiva, já que demonstrada sua periculosidade, pondo em risco a ordem pública [...] (Código Penal comentado, Salvador: Juspodium, 2016; pg. 862).

    Além disso, sabe-se que a garantia da ordem pública não tem seu conceito adstrito unicamente à necessidade de se impedir a reiteração da prática criminosa, abrangendo, inclusive, o efetivo resguardo da credibilidade do Poder Judiciário, conforme preconiza Júlio Fabbrini Mirabete:

    [...] o conceito de ordem pública não se limita a prevenir a reprodução de fatos criminosos, mas também a acautelar o meio social e a própria credibilidade da justiça em face da gravidade do crime e de sua repercussão. A Conveniência da medida deve ser regulada pela sensibilidade do juiz à reação do meio ambiente à prática delituosa [...] (Código de Processo Penal Interpretado. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2013, p. 803).

    Da mesma forma, o clamor social causado pela destinação indevida de verbas públicas é mais um elemento que, somado aos demais, concretamente autoriza a medida de prisão preventiva, conforme aponta Guilherme de Souza Nucci, in litteris:

    [...] Clamor público: torna-se questão controversa e de difícil análise o ponto denominado clamor público. Crimes que ganham destaque na mídia podem comover multidões e provocar, de certo modo, abalo à credibilidade da Justiça e do sistema penal. Não se pode, naturalmente,

    6

    Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereçohttp://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 6CCE-C38C-0050-218B e senha F1AD-E7A8-5F33-3C81

    Supremo Tribunal Federal

    HC 179467 AGR / SC

    não é possível a decretação da prisão preventiva em virtude da gravidade da infração pela sua natureza, de per si, é uma circunstância inerente ao tipo penal. [...] Todavia, demonstrada a gravidade em concreto do delito, seja pelo modo de agir, seja pela condição subjetiva do agente, afigura-se possível a decretação da prisão preventiva, já que demonstrada sua periculosidade, pondo em risco a ordem pública [...] (Código Penal comentado, Salvador: Juspodium, 2016; pg. 862).

    Além disso, sabe-se que a garantia da ordem pública não tem seu conceito adstrito unicamente à necessidade de se impedir a reiteração da prática criminosa, abrangendo, inclusive, o efetivo resguardo da credibilidade do Poder Judiciário, conforme preconiza Júlio Fabbrini Mirabete:

    [...] o conceito de ordem pública não se limita a prevenir a reprodução de fatos criminosos, mas também a acautelar o meio social e a própria credibilidade da justiça em face da gravidade do crime e de sua repercussão. A Conveniência da medida deve ser regulada pela sensibilidade do juiz à reação do meio ambiente à prática delituosa [...] (Código de Processo Penal Interpretado. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2013, p. 803).

    Da mesma forma, o clamor social causado pela destinação indevida de verbas públicas é mais um elemento que, somado aos demais, concretamente autoriza a medida de prisão preventiva, conforme aponta Guilherme de Souza Nucci, in litteris:

    [...] Clamor público: torna-se questão controversa e de difícil análise o ponto denominado clamor público. Crimes que ganham destaque na mídia podem comover multidões e provocar, de certo modo, abalo à credibilidade da Justiça e do sistema penal. Não se pode, naturalmente,

    6

    Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereçohttp://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 6CCE-C38C-0050-218B e senha F1AD-E7A8-5F33-3C81

    Inteiro Teor do Acórdão - Página 7 de 37

  • Relatório

    HC 179467 AGR / SC

    considerar que publicações feitas pela imprensa sirvam de base exclusiva para a decretação da prisão preventiva. Entretanto, não menos verdadeiro é o fato de que o abalo emocional pode dissipar-se pela sociedade, quando o agente ou a vítima é pessoa conhecida, fazendo com que os olhos se voltem ao destino dado ao autor do crime. Nesse aspecto, a decretação da prisão preventiva pode ser uma necessidade para a garantia da ordem pública, pois se aguarda uma providência do Judiciário como resposta a um delito grave, envolvendo pessoa conhecida (autor ou vítima). Se a prisão não for decretada, o recado à sociedade poderá ser o de que a lei penal é falha e vacilante, funcionando apenas contra réus e vítimas anônimas [...] (Código de Processo Penal Comentado. 13. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014, p. 701)

    Nesse particular, importante salientar que a corrupção vem causando cada vez mais repulsa à sociedade, que vê a utilização de seus recursos, à disposição do Poder Público na forma de impostos, drenada de maneira indevida e ilegal em benefício daqueles que a deveriam representar e bem administrá-los. Os escândalos políticos minam a credibilidade da Administração, culminando em sentimento de revolta pela não aplicação das verbas públicas sequer no aprimoramento dos serviços básicos essenciais previstos constitucionalmente, como saúde, educação e segurança.

    (…)Não fosse isto, a segregação de Elizeu Mattos também é

    necessária para garantir a aplicação da lei penal, uma vez que, consoante citado alhures, o referido embargante/embargado e sua defesa, desde o momento em que os autos ascenderam a esta instância recursal, vem obstaculizando o regular andamento processual mediante indecorosos estratagemas.

    (…)Acerca da decretação da custódia cautelar visando

    assegurar a aplicação da lei penal, leciona Guilherme de Souza

    7

    Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereçohttp://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 6CCE-C38C-0050-218B e senha F1AD-E7A8-5F33-3C81

    Supremo Tribunal Federal

    HC 179467 AGR / SC

    considerar que publicações feitas pela imprensa sirvam de base exclusiva para a decretação da prisão preventiva. Entretanto, não menos verdadeiro é o fato de que o abalo emocional pode dissipar-se pela sociedade, quando o agente ou a vítima é pessoa conhecida, fazendo com que os olhos se voltem ao destino dado ao autor do crime. Nesse aspecto, a decretação da prisão preventiva pode ser uma necessidade para a garantia da ordem pública, pois se aguarda uma providência do Judiciário como resposta a um delito grave, envolvendo pessoa conhecida (autor ou vítima). Se a prisão não for decretada, o recado à sociedade poderá ser o de que a lei penal é falha e vacilante, funcionando apenas contra réus e vítimas anônimas [...] (Código de Processo Penal Comentado. 13. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014, p. 701)

    Nesse particular, importante salientar que a corrupção vem causando cada vez mais repulsa à sociedade, que vê a utilização de seus recursos, à disposição do Poder Público na forma de impostos, drenada de maneira indevida e ilegal em benefício daqueles que a deveriam representar e bem administrá-los. Os escândalos políticos minam a credibilidade da Administração, culminando em sentimento de revolta pela não aplicação das verbas públicas sequer no aprimoramento dos serviços básicos essenciais previstos constitucionalmente, como saúde, educação e segurança.

    (…)Não fosse isto, a segregação de Elizeu Mattos também é

    necessária para garantir a aplicação da lei penal, uma vez que, consoante citado alhures, o referido embargante/embargado e sua defesa, desde o momento em que os autos ascenderam a esta instância recursal, vem obstaculizando o regular andamento processual mediante indecorosos estratagemas.

    (…)Acerca da decretação da custódia cautelar visando

    assegurar a aplicação da lei penal, leciona Guilherme de Souza

    7

    Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereçohttp://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 6CCE-C38C-0050-218B e senha F1AD-E7A8-5F33-3C81

    Inteiro Teor do Acórdão - Página 8 de 37

  • Relatório

    HC 179467 AGR / SC

    Nucci:

    [...] significa garantir a finalidade útil do processo penal, que é proporcionar ao Estado o exercício do seu direito de punir, aplicando a sanção devida a quem é considerado autor de infração penal. Não tem sentido o ajuizamento da ação penal, buscando respeitar o devido processo legal para a aplicação da lei penal ao caso concreto, se o réu age contra esse propósito, tendo, nitidamente, a intenção de frustrar o respeito ao ordenamento jurídico. Não bastasse já ter ele cometido o delito, que abala a sociedade, volta-se, agora, contra o processo, tendo por finalidade evitar a consolidação do direito de punir estatal [...] (Código de Processo Penal Comentado. 12. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013, p. 678-679).

    (…) Na hipótese dos autos, embora não seja razoável a adoção

    da medida extrema de determinação de certificação do trânsito em julgado, faz-se possível a decretação da prisão preventiva até mesmo como forma de garantir a regular atuação defensiva, evitando-se o risco concreto de abuso do direito de recorrer, sob pena de impedir o alcance da finalidade útil deste processo e a regular aplicação da lei penal.

    Nem se argumente que esta Corte de Justiça estaria impedindo/punindo Elizeu Mattos e/ou seus advogados pelo simples fato de estarem exercendo o regular direito de defesa. Pelo contrário, não se busca impossibilitar a revisão das decisões judiciais e o consequente aprimoramento da prestação jurisdicional, mas, tão somente, coibir o abuso do direito de recorrer, isto é, a utilização dos expedientes legalmente previstos com a finalidade única de inviabilizar a própria aplicação da lei penal e o alcance do resultado útil do processo, com a prática de atos que visam obstar o trânsito em julgado e, eventualmente, ver reconhecida a prescrição da pretensão

    8

    Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereçohttp://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 6CCE-C38C-0050-218B e senha F1AD-E7A8-5F33-3C81

    Supremo Tribunal Federal

    HC 179467 AGR / SC

    Nucci:

    [...] significa garantir a finalidade útil do processo penal, que é proporcionar ao Estado o exercício do seu direito de punir, aplicando a sanção devida a quem é considerado autor de infração penal. Não tem sentido o ajuizamento da ação penal, buscando respeitar o devido processo legal para a aplicação da lei penal ao caso concreto, se o réu age contra esse propósito, tendo, nitidamente, a intenção de frustrar o respeito ao ordenamento jurídico. Não bastasse já ter ele cometido o delito, que abala a sociedade, volta-se, agora, contra o processo, tendo por finalidade evitar a consolidação do direito de punir estatal [...] (Código de Processo Penal Comentado. 12. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013, p. 678-679).

    (…) Na hipótese dos autos, embora não seja razoável a adoção

    da medida extrema de determinação de certificação do trânsito em julgado, faz-se possível a decretação da prisão preventiva até mesmo como forma de garantir a regular atuação defensiva, evitando-se o risco concreto de abuso do direito de recorrer, sob pena de impedir o alcance da finalidade útil deste processo e a regular aplicação da lei penal.

    Nem se argumente que esta Corte de Justiça estaria impedindo/punindo Elizeu Mattos e/ou seus advogados pelo simples fato de estarem exercendo o regular direito de defesa. Pelo contrário, não se busca impossibilitar a revisão das decisões judiciais e o consequente aprimoramento da prestação jurisdicional, mas, tão somente, coibir o abuso do direito de recorrer, isto é, a utilização dos expedientes legalmente previstos com a finalidade única de inviabilizar a própria aplicação da lei penal e o alcance do resultado útil do processo, com a prática de atos que visam obstar o trânsito em julgado e, eventualmente, ver reconhecida a prescrição da pretensão

    8

    Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereçohttp://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 6CCE-C38C-0050-218B e senha F1AD-E7A8-5F33-3C81

    Inteiro Teor do Acórdão - Página 9 de 37

  • Relatório

    HC 179467 AGR / SC

    punitiva Estatal.Por essas razões, considerando que se encontram

    presentes os requisitos previstos no art. 312 e 313, inciso I, ambos do Código de Processo Penal, especialmente pela gravidade concreta do delito e pelo comportamento demonstrando pelo ora embargante/embargado e por seus defensores no decorrer do presente feito, resta evidenciada a necessidade de decretação da custódia cautelar com fundamento na garantia da ordem pública e na aplicação da lei penal, de modo que, considerando que as medidas cautelares diversas afiguram-se insuficientes para o acautelamento do meio social no presente caso, torna-se impositiva a decretação da prisão preventiva, motivo pelo qual se determina a imediata expedição de mandado de prisão em desfavor de Elizeu Mattos. (p. 34)’ (eDOC 4, p. 22-59)

    A defesa impetrou habeas corpus no Superior Tribunal de Justiça, mas o pedido foi liminarmente indeferido. (eDOC 16)

    Já nesta Corte, concedi a ordem a fim de revogar a prisão preventiva decretada em desfavor do agravante, permitindo o exercício da liberdade provisória após efetuado o pagamento da fiança no valor de duzentos salários mínimos, além das seguintes medidas cautelares diversas da prisão, na forma do art. 319 do CPP: a) comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condições fixadas pelo juiz de origem, para informar e justificar atividades (inciso I); b) proibição de acesso ou frequência a lugares relacionados aos fatos, bem como, proibição de manter contato com os corréus e outros envolvidos, por circunstâncias relacionadas aos fatos (inciso II e III); c) proibição de ausentar-se da Comarca (inciso IV). (eDOC 20, p. 29)

    Em 19.12.2019, acolhi o pedido da defesa para reduzir o valor da fiança para o correspondente a 10 (dez) salários mínimos, na forma do art. 325, inciso II, do CPP, sem prejuízo das demais cautelares anteriormente impostas. (eDOC 30)

    9

    Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereçohttp://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 6CCE-C38C-0050-218B e senha F1AD-E7A8-5F33-3C81

    Supremo Tribunal Federal

    HC 179467 AGR / SC

    punitiva Estatal.Por essas razões, considerando que se encontram

    presentes os requisitos previstos no art. 312 e 313, inciso I, ambos do Código de Processo Penal, especialmente pela gravidade concreta do delito e pelo comportamento demonstrando pelo ora embargante/embargado e por seus defensores no decorrer do presente feito, resta evidenciada a necessidade de decretação da custódia cautelar com fundamento na garantia da ordem pública e na aplicação da lei penal, de modo que, considerando que as medidas cautelares diversas afiguram-se insuficientes para o acautelamento do meio social no presente caso, torna-se impositiva a decretação da prisão preventiva, motivo pelo qual se determina a imediata expedição de mandado de prisão em desfavor de Elizeu Mattos. (p. 34)’ (eDOC 4, p. 22-59)

    A defesa impetrou habeas corpus no Superior Tribunal de Justiça, mas o pedido foi liminarmente indeferido. (eDOC 16)

    Já nesta Corte, concedi a ordem a fim de revogar a prisão preventiva decretada em desfavor do agravante, permitindo o exercício da liberdade provisória após efetuado o pagamento da fiança no valor de duzentos salários mínimos, além das seguintes medidas cautelares diversas da prisão, na forma do art. 319 do CPP: a) comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condições fixadas pelo juiz de origem, para informar e justificar atividades (inciso I); b) proibição de acesso ou frequência a lugares relacionados aos fatos, bem como, proibição de manter contato com os corréus e outros envolvidos, por circunstâncias relacionadas aos fatos (inciso II e III); c) proibição de ausentar-se da Comarca (inciso IV). (eDOC 20, p. 29)

    Em 19.12.2019, acolhi o pedido da defesa para reduzir o valor da fiança para o correspondente a 10 (dez) salários mínimos, na forma do art. 325, inciso II, do CPP, sem prejuízo das demais cautelares anteriormente impostas. (eDOC 30)

    9

    Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereçohttp://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 6CCE-C38C-0050-218B e senha F1AD-E7A8-5F33-3C81

    Inteiro Teor do Acórdão - Página 10 de 37

  • Relatório

    HC 179467 AGR / SC

    O Ministério Público Federal, por meio da Procuradoria-Geral da República, interpôs agravo regimental da primeira decisão. (eDOC 34)

    Segundo o MPF, foram “apresentados fundamentos válidos para a decretação da prisão preventiva do paciente, em especial para garantia da ordem

    pública e a aplicação da lei penal, diante da gravidade concreta dos fatos

    praticados enquanto Prefeito – a refletir na elevada pena aplicada –, o elevado

    prejuízo ocasionado aos cofres municipais (R$ 2.695.000,00), com reflexos atuais

    e futuros, e as sucessivas manobras procrastinatórias da defesa, no intuito de

    impedir o regular andamento processual e o trânsito em julgado da condenação”

    (eDOC 34, p. 4)

    Sustenta que o agravado praticou atos com o intuito de postergar o andamento do processo penal, abstendo-se de cumprir as determinações judiciais.

    Afirma que as medidas cautelares fixadas são inócuas para os fins pretendidos de resguardar a ordem pública e a aplicação da lei penal.

    Requer seja provido seu recurso e restabelecida a prisão preventiva do agravado.

    É o relatório. Passo ao voto.

    10

    Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereçohttp://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 6CCE-C38C-0050-218B e senha F1AD-E7A8-5F33-3C81

    Supremo Tribunal Federal

    HC 179467 AGR / SC

    O Ministério Público Federal, por meio da Procuradoria-Geral da República, interpôs agravo regimental da primeira decisão. (eDOC 34)

    Segundo o MPF, foram “apresentados fundamentos válidos para a decretação da prisão preventiva do paciente, em especial para garantia da ordem

    pública e a aplicação da lei penal, diante da gravidade concreta dos fatos

    praticados enquanto Prefeito – a refletir na elevada pena aplicada –, o elevado

    prejuízo ocasionado aos cofres municipais (R$ 2.695.000,00), com reflexos atuais

    e futuros, e as sucessivas manobras procrastinatórias da defesa, no intuito de

    impedir o regular andamento processual e o trânsito em julgado da condenação”

    (eDOC 34, p. 4)

    Sustenta que o agravado praticou atos com o intuito de postergar o andamento do processo penal, abstendo-se de cumprir as determinações judiciais.

    Afirma que as medidas cautelares fixadas são inócuas para os fins pretendidos de resguardar a ordem pública e a aplicação da lei penal.

    Requer seja provido seu recurso e restabelecida a prisão preventiva do agravado.

    É o relatório. Passo ao voto.

    10

    Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereçohttp://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 6CCE-C38C-0050-218B e senha F1AD-E7A8-5F33-3C81

    Inteiro Teor do Acórdão - Página 11 de 37

  • Voto - MIN. GILMAR MENDES

    03/03/2020 SEGUNDA TURMA

    AG.REG. NO HABEAS CORPUS 179.467 SANTA CATARINA

    V O T O

    O Senhor Ministro Gilmar Mendes (Relator): Busca-se, por meio do provimento deste agravo, o restabelecimento da prisão preventiva de Elizeu Mattos, ex- Prefeito do Município de Lages/SC.

    Contudo, ao contrário do que afirma a Procuradoria-Geral da República, não existem fatos concretos e idôneos a justificar a segregação cautelar do agravado.

    A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal se consolidou no sentido de que a liberdade de um indivíduo suspeito da prática de infração penal somente pode sofrer restrições se houver decisão judicial devidamente fundamentada, amparada em fatos concretos e não apenas em hipóteses ou conjecturas.

    De modo geral, presentes o fumus comissi delicti e o periculum libertatis, a prisão preventiva deve indicar, de forma expressa, os seguintes fundamentos para sua decretação, nos termos do artigo 312 do CPP: I) garantia da ordem pública; II) garantia da ordem econômica; III) garantia da aplicação da lei penal; e IV) conveniência da instrução criminal.

    Para tanto não basta a mera explicitação textual dos requisitos previstos, sendo necessário que a alegação abstrata ceda à demonstração concreta e firme de que tais condições realizam-se na espécie. Destarte, a tarefa de interpretação constitucional para análise de excepcional situação jurídica de constrição da liberdade cautelar exige que a alusão a esses aspectos esteja lastreada em elementos concretos, devidamente explicitados. Confira-se a jurisprudência da Segunda Turma sobre o tema:

    “AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS.

    Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereçohttp://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 045F-88C2-F0BD-039E e senha 5D09-7EFB-26BC-0115

    Supremo Tribunal Federal

    03/03/2020 SEGUNDA TURMA

    AG.REG. NO HABEAS CORPUS 179.467 SANTA CATARINA

    V O T O

    O Senhor Ministro Gilmar Mendes (Relator): Busca-se, por meio do provimento deste agravo, o restabelecimento da prisão preventiva de Elizeu Mattos, ex- Prefeito do Município de Lages/SC.

    Contudo, ao contrário do que afirma a Procuradoria-Geral da República, não existem fatos concretos e idôneos a justificar a segregação cautelar do agravado.

    A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal se consolidou no sentido de que a liberdade de um indivíduo suspeito da prática de infração penal somente pode sofrer restrições se houver decisão judicial devidamente fundamentada, amparada em fatos concretos e não apenas em hipóteses ou conjecturas.

    De modo geral, presentes o fumus comissi delicti e o periculum libertatis, a prisão preventiva deve indicar, de forma expressa, os seguintes fundamentos para sua decretação, nos termos do artigo 312 do CPP: I) garantia da ordem pública; II) garantia da ordem econômica; III) garantia da aplicação da lei penal; e IV) conveniência da instrução criminal.

    Para tanto não basta a mera explicitação textual dos requisitos previstos, sendo necessário que a alegação abstrata ceda à demonstração concreta e firme de que tais condições realizam-se na espécie. Destarte, a tarefa de interpretação constitucional para análise de excepcional situação jurídica de constrição da liberdade cautelar exige que a alusão a esses aspectos esteja lastreada em elementos concretos, devidamente explicitados. Confira-se a jurisprudência da Segunda Turma sobre o tema:

    “AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS.

    Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereçohttp://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 045F-88C2-F0BD-039E e senha 5D09-7EFB-26BC-0115

    Inteiro Teor do Acórdão - Página 12 de 37

  • Voto - MIN. GILMAR MENDES

    HC 179467 AGR / SC

    PROCESSUAL PENAL. NEGATIVA DE SEGUIMENTO. SÚMULA 691/STF. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. IMPOSSIBILIDADE. MANUTENÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA. COMPORTAMENTO SUPOSTAMENTE REITERADO DO PACIENTE. GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA. AGRAVO REGIMENTAL AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO. I – O agravante não trouxe qualquer argumento capaz de modificar as razões expendidas na decisão agravada, que, por este motivo, subsiste. II – Não compete ao Supremo Tribunal Federal conhecer de writ impetrado contra decisão de relator que, em habeas corpus requerido a Tribunal Superior, indefere a liminar. III – A relativização do entendimento sumulado só é admitida por este Tribunal em casos de flagrante ilegalidade ou abuso de poder, o que não se verifica na espécie. Precedentes. IV – O entendimento desta Suprema Corte é assente no sentido de que “[...] revela-se legítima a prisão cautelar se a decisão que a decreta encontra suporte idôneo em elementos concretos e reais que - além de ajustarem-se aos fundamentos abstratos definidos em sede legal - demonstram que a permanência em liberdade do suposto autor do delito comprometerá a garantia da ordem pública e frustrará a aplicação da lei penal” (RHC 128.727-ED/SP, Rel. Min. Celso de Mello). V - A jurisprudência deste Supremo Tribunal autoriza a decretação de prisão preventiva, consideradas as circunstâncias que cercaram a prática delituosa, tal como o comportamento supostamente reiterado do paciente. Precedentes. VI – Agravo regimental ao qual se nega provimento”. (HC 172.824, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, Segunda Turma, DJe 6.11.2019, grifo nosso)

    “AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. PROCESSO PENAL. DECISÃO MONOCRÁTICA QUE NEGA SEGUIMENTO AO WRIT. AUSÊNCIA DE ILEGALIDADE NA DECRETAÇÃO DE PRISÃO PREVENTIVA ASSENTADA NA GARANTIA À ORDEM PÚBLICA, ECONÔMICA E NA APLICAÇÃO DA LEI PENAL. INEXISTÊNCIA DE

    2

    Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereçohttp://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 045F-88C2-F0BD-039E e senha 5D09-7EFB-26BC-0115

    Supremo Tribunal Federal

    HC 179467 AGR / SC

    PROCESSUAL PENAL. NEGATIVA DE SEGUIMENTO. SÚMULA 691/STF. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. IMPOSSIBILIDADE. MANUTENÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA. COMPORTAMENTO SUPOSTAMENTE REITERADO DO PACIENTE. GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA. AGRAVO REGIMENTAL AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO. I – O agravante não trouxe qualquer argumento capaz de modificar as razões expendidas na decisão agravada, que, por este motivo, subsiste. II – Não compete ao Supremo Tribunal Federal conhecer de writ impetrado contra decisão de relator que, em habeas corpus requerido a Tribunal Superior, indefere a liminar. III – A relativização do entendimento sumulado só é admitida por este Tribunal em casos de flagrante ilegalidade ou abuso de poder, o que não se verifica na espécie. Precedentes. IV – O entendimento desta Suprema Corte é assente no sentido de que “[...] revela-se legítima a prisão cautelar se a decisão que a decreta encontra suporte idôneo em elementos concretos e reais que - além de ajustarem-se aos fundamentos abstratos definidos em sede legal - demonstram que a permanência em liberdade do suposto autor do delito comprometerá a garantia da ordem pública e frustrará a aplicação da lei penal” (RHC 128.727-ED/SP, Rel. Min. Celso de Mello). V - A jurisprudência deste Supremo Tribunal autoriza a decretação de prisão preventiva, consideradas as circunstâncias que cercaram a prática delituosa, tal como o comportamento supostamente reiterado do paciente. Precedentes. VI – Agravo regimental ao qual se nega provimento”. (HC 172.824, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, Segunda Turma, DJe 6.11.2019, grifo nosso)

    “AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. PROCESSO PENAL. DECISÃO MONOCRÁTICA QUE NEGA SEGUIMENTO AO WRIT. AUSÊNCIA DE ILEGALIDADE NA DECRETAÇÃO DE PRISÃO PREVENTIVA ASSENTADA NA GARANTIA À ORDEM PÚBLICA, ECONÔMICA E NA APLICAÇÃO DA LEI PENAL. INEXISTÊNCIA DE

    2

    Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereçohttp://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 045F-88C2-F0BD-039E e senha 5D09-7EFB-26BC-0115

    Inteiro Teor do Acórdão - Página 13 de 37

  • Voto - MIN. GILMAR MENDES

    HC 179467 AGR / SC

    ARGUMENTAÇÃO APTA A INFIRMAR A DECISÃO RECORRIDA. MANUTENÇÃO DA NEGATIVA DE SEGUIMENTO. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. 1. É idônea e adequada a fundamentação que se assenta em elementos concretos de que o acusado, em liberdade, seguia ocultando patrimônio e cometendo novos ilícitos, ao manter a prisão preventiva do paciente. 2. A inexistência de argumentação apta a infirmar o julgamento monocrático conduz à manutenção da decisão recorrida. 3. Agravo regimental desprovido”. (HC 162.041 AgR, Rel. Min. Edson Fachin, Segunda Turma, Dje 1.8.2019, grifo nosso)

    Ainda cite-se os seguintes precedentes: HC 84.662/BA, Rel. Min. Eros Grau, 1ª Turma, unânime, DJe 22.10.2004; HC 88.448/RJ, de minha relatoria, 2ª Turma, por empate na votação, DJe 9.3.2007; HC 101.244/MG, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, 1ª Turma, unânime, DJe 8.4.2010.

    No caso concreto, a prisão preventiva do agravado foi amparada nos seguintes elementos, consoante o decreto prisional: gravidade em concreto dos crimes, magnitude dos danos causados ao Município de Lages, necessidade de se impedir a reiteração da prática criminosa, o clamor social, o perigo para a instrução processual e a garantia da aplicação da lei penal (eDOC 17). Nota-se que especial relevo foi atribuído ao comportamento do agravante e de seus defensores, que

    teriam praticado, perante o Tribunal de Justiça Estadual, artifícios

    processuais com vistas a obstaculizar o regular andamento do feito.

    Entretanto, o acórdão do Tribunal de Justiça no julgamento dos Embargos de Declaração (que decretou a prisão do agravado) não trouxe nenhum elemento concreto nesse sentido, que demonstrasse que, de fato, o agravado tenha praticado atos que configuraram efetivo abuso no seu direito constitucional de defesa. Apenas se limitou a dizer genericamente que a defesa praticou atos para evitar o trânsito em julgado do feito e ver reconhecida a prescrição da pretensão punitiva

    3

    Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereçohttp://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 045F-88C2-F0BD-039E e senha 5D09-7EFB-26BC-0115

    Supremo Tribunal Federal

    HC 179467 AGR / SC

    ARGUMENTAÇÃO APTA A INFIRMAR A DECISÃO RECORRIDA. MANUTENÇÃO DA NEGATIVA DE SEGUIMENTO. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. 1. É idônea e adequada a fundamentação que se assenta em elementos concretos de que o acusado, em liberdade, seguia ocultando patrimônio e cometendo novos ilícitos, ao manter a prisão preventiva do paciente. 2. A inexistência de argumentação apta a infirmar o julgamento monocrático conduz à manutenção da decisão recorrida. 3. Agravo regimental desprovido”. (HC 162.041 AgR, Rel. Min. Edson Fachin, Segunda Turma, Dje 1.8.2019, grifo nosso)

    Ainda cite-se os seguintes precedentes: HC 84.662/BA, Rel. Min. Eros Grau, 1ª Turma, unânime, DJe 22.10.2004; HC 88.448/RJ, de minha relatoria, 2ª Turma, por empate na votação, DJe 9.3.2007; HC 101.244/MG, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, 1ª Turma, unânime, DJe 8.4.2010.

    No caso concreto, a prisão preventiva do agravado foi amparada nos seguintes elementos, consoante o decreto prisional: gravidade em concreto dos crimes, magnitude dos danos causados ao Município de Lages, necessidade de se impedir a reiteração da prática criminosa, o clamor social, o perigo para a instrução processual e a garantia da aplicação da lei penal (eDOC 17). Nota-se que especial relevo foi atribuído ao comportamento do agravante e de seus defensores, que

    teriam praticado, perante o Tribunal de Justiça Estadual, artifícios

    processuais com vistas a obstaculizar o regular andamento do feito.

    Entretanto, o acórdão do Tribunal de Justiça no julgamento dos Embargos de Declaração (que decretou a prisão do agravado) não trouxe nenhum elemento concreto nesse sentido, que demonstrasse que, de fato, o agravado tenha praticado atos que configuraram efetivo abuso no seu direito constitucional de defesa. Apenas se limitou a dizer genericamente que a defesa praticou atos para evitar o trânsito em julgado do feito e ver reconhecida a prescrição da pretensão punitiva

    3

    Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereçohttp://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 045F-88C2-F0BD-039E e senha 5D09-7EFB-26BC-0115

    Inteiro Teor do Acórdão - Página 14 de 37

  • Voto - MIN. GILMAR MENDES

    HC 179467 AGR / SC

    estatal, sem nenhuma indicação de um fato concreto e específico.

    Além do mais, o decurso de relevante período de tempo, aproximadamente 5 (cinco) anos, entre a data dos crimes cometidos e a

    decisão que decretou a prisão preventiva, descaracterizam a alegada

    contemporaneidade dos delitos que justificaria a prisão com base na

    garantia da ordem pública e de aplicação da lei penal. É assente na jurisprudência que fatos antigos não autorizam a prisão preventiva, sob pena de esvaziamento da presunção de não culpabilidade (art. 5º, LVII, da CF). Nesse sentido, leciona Rodrigo Capez:

    A proximidade temporal entre o conhecimento do fato criminoso e sua autoria e a decretação da prisão provisória encontra paralelo com a prisão em flagrante, que sugere atualidade (o que está a acontecer) e evidência (o que é claro, manifesto). Se a prisão por ordem pública é ditada por razões materiais, quanto mais tempo se passar entre a data do fato (ou a data do conhecimento da autoria, se distinta) e a decretação da prisão, mais desnecessária ela se mostrará. Em consequência, não se pode admitir que a prisão preventiva para garantia da ordem pública seja decretada muito tempo após o fato ou o conhecimento da autoria, salvo a superveniência de fatos novos a ele relacionados. (Capez, Rodrigo. Prisão e medidas cautelares diversas. São Paulo: Quartier Latin, 2017. p. 459)

    Acrescenta-se que o agravado encontra-se em liberdade desde fevereiro de 2015 e não há notícias de que nesse período tenha

    praticado novos crimes ou tumultuado o andamento da instrução

    criminal. A sentença condenatória foi proferida em 8.6.2018, sem

    decretação da prisão preventiva, que somente foi imposta no acórdão de

    embargos de declaração proferido pelo TJSC.

    De fato, parece que a Corte Estadual utilizou a prisão preventiva como uma maneira de realizar uma verdadeira execução provisória do

    agravado, ante a ausência de fundamentos concretos para prisão

    4

    Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereçohttp://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 045F-88C2-F0BD-039E e senha 5D09-7EFB-26BC-0115

    Supremo Tribunal Federal

    HC 179467 AGR / SC

    estatal, sem nenhuma indicação de um fato concreto e específico.

    Além do mais, o decurso de relevante período de tempo, aproximadamente 5 (cinco) anos, entre a data dos crimes cometidos e a

    decisão que decretou a prisão preventiva, descaracterizam a alegada

    contemporaneidade dos delitos que justificaria a prisão com base na

    garantia da ordem pública e de aplicação da lei penal. É assente na jurisprudência que fatos antigos não autorizam a prisão preventiva, sob pena de esvaziamento da presunção de não culpabilidade (art. 5º, LVII, da CF). Nesse sentido, leciona Rodrigo Capez:

    A proximidade temporal entre o conhecimento do fato criminoso e sua autoria e a decretação da prisão provisória encontra paralelo com a prisão em flagrante, que sugere atualidade (o que está a acontecer) e evidência (o que é claro, manifesto). Se a prisão por ordem pública é ditada por razões materiais, quanto mais tempo se passar entre a data do fato (ou a data do conhecimento da autoria, se distinta) e a decretação da prisão, mais desnecessária ela se mostrará. Em consequência, não se pode admitir que a prisão preventiva para garantia da ordem pública seja decretada muito tempo após o fato ou o conhecimento da autoria, salvo a superveniência de fatos novos a ele relacionados. (Capez, Rodrigo. Prisão e medidas cautelares diversas. São Paulo: Quartier Latin, 2017. p. 459)

    Acrescenta-se que o agravado encontra-se em liberdade desde fevereiro de 2015 e não há notícias de que nesse período tenha

    praticado novos crimes ou tumultuado o andamento da instrução

    criminal. A sentença condenatória foi proferida em 8.6.2018, sem

    decretação da prisão preventiva, que somente foi imposta no acórdão de

    embargos de declaração proferido pelo TJSC.

    De fato, parece que a Corte Estadual utilizou a prisão preventiva como uma maneira de realizar uma verdadeira execução provisória do

    agravado, ante a ausência de fundamentos concretos para prisão

    4

    Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereçohttp://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 045F-88C2-F0BD-039E e senha 5D09-7EFB-26BC-0115

    Inteiro Teor do Acórdão - Página 15 de 37

  • Voto - MIN. GILMAR MENDES

    HC 179467 AGR / SC

    preventiva nos termos do art. 312, do CPP. Tanto é assim que o Magistrado de piso, que proferiu a sentença, concedeu ao agravado o benefício de apelar em liberdade e o próprio acórdão do TJSC, que confirmou a condenação do agravado, calou-se inicialmente sobre a

    presença de elementos concretos justificadores da prisão cautelar – a

    questão somente foi aventada em sede de embargos de declaração, após

    o julgamento das ADCs 43, 44 e 54 pelo Plenário desta suprema Corte,

    que ocorreu, não por acaso, entre a lavratura do acórdão e a apreciação

    dos embargos de declaração pelo TJSC.

    Com a entrada em vigor da Lei n. 12.403/2011, nos termos da nova redação do art. 319 do CPP, o juiz passa a dispor de medidas cautelares de natureza pessoal, diversas da prisão, admitindo, diante das circunstâncias do caso concreto, seja escolhida aquela mais ajustada às peculiaridades da espécie, permitindo, assim, a tutela do meio social, mas também servindo, mesmo que cautelarmente, de resposta justa e proporcional ao mal supostamente causado pelo acusado.

    Dessa forma, o perigo que a liberdade dos pacientes representa à ordem pública ou à aplicação da lei penal pode ser mitigado por medidas cautelares menos gravosas do que a prisão. Nesse sentido, observa-se o entendimento da Segunda Turma:

    “Habeas corpus. 2. Organização criminosa, corrupção ativa e passiva. Operação Ratatouille. Prisão preventiva. 3. Impetração contra acórdão que não conheceu de agravo regimental interposto de decisão monocrática, a qual indeferiu pedido de liminar em anterior RHC no STJ. 4. Ocorrência de constrangimento ilegal ensejadora do afastamento da incidência da Súmula 691 do STF. 5. Perigo que a liberdade do paciente representa à ordem pública ou à aplicação da lei penal pode ser mitigado, no caso, por medidas cautelares menos gravosas do que a prisão. 6. Concessão da ordem para substituir a prisão preventiva decretada em desfavor do paciente por medidas

    5

    Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereçohttp://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 045F-88C2-F0BD-039E e senha 5D09-7EFB-26BC-0115

    Supremo Tribunal Federal

    HC 179467 AGR / SC

    preventiva nos termos do art. 312, do CPP. Tanto é assim que o Magistrado de piso, que proferiu a sentença, concedeu ao agravado o benefício de apelar em liberdade e o próprio acórdão do TJSC, que confirmou a condenação do agravado, calou-se inicialmente sobre a

    presença de elementos concretos justificadores da prisão cautelar – a

    questão somente foi aventada em sede de embargos de declaração, após

    o julgamento das ADCs 43, 44 e 54 pelo Plenário desta suprema Corte,

    que ocorreu, não por acaso, entre a lavratura do acórdão e a apreciação

    dos embargos de declaração pelo TJSC.

    Com a entrada em vigor da Lei n. 12.403/2011, nos termos da nova redação do art. 319 do CPP, o juiz passa a dispor de medidas cautelares de natureza pessoal, diversas da prisão, admitindo, diante das circunstâncias do caso concreto, seja escolhida aquela mais ajustada às peculiaridades da espécie, permitindo, assim, a tutela do meio social, mas também servindo, mesmo que cautelarmente, de resposta justa e proporcional ao mal supostamente causado pelo acusado.

    Dessa forma, o perigo que a liberdade dos pacientes representa à ordem pública ou à aplicação da lei penal pode ser mitigado por medidas cautelares menos gravosas do que a prisão. Nesse sentido, observa-se o entendimento da Segunda Turma:

    “Habeas corpus. 2. Organização criminosa, corrupção ativa e passiva. Operação Ratatouille. Prisão preventiva. 3. Impetração contra acórdão que não conheceu de agravo regimental interposto de decisão monocrática, a qual indeferiu pedido de liminar em anterior RHC no STJ. 4. Ocorrência de constrangimento ilegal ensejadora do afastamento da incidência da Súmula 691 do STF. 5. Perigo que a liberdade do paciente representa à ordem pública ou à aplicação da lei penal pode ser mitigado, no caso, por medidas cautelares menos gravosas do que a prisão. 6. Concessão da ordem para substituir a prisão preventiva decretada em desfavor do paciente por medidas

    5

    Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereçohttp://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 045F-88C2-F0BD-039E e senha 5D09-7EFB-26BC-0115

    Inteiro Teor do Acórdão - Página 16 de 37

  • Voto - MIN. GILMAR MENDES

    HC 179467 AGR / SC

    cautelares diversas da prisão, na forma do art. 319 do CPP”. (HC 147.192/RJ, de minha relatoria, Segunda Turma, DJe 23.2.2018)

    Ressalte-se que as medidas cautelares diversas da prisão tem por objetivo assegurar a razoável tramitação do feito com a mínima restrição possível à liberdade dos acusados. Buscam, ainda, impedir a ocorrência de fuga, a indevida influência sobre a instrução do processo ou a reiteração delitiva.

    Nos autos, substituí a prisão preventiva pelas seguintes medidas cautelares diversas da prisão: fiança no valor equivalente a dez salários mínimos; comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condições fixadas pelo juiz de origem, para informar e justificar as atividades; proibição de acesso ou frequência a lugares relacionados aos fatos, bem como a proibição de manter contato com os corréus e outros envolvidos por circunstâncias relacionadas aos fatos; e proibição de se ausentar da Comarca.

    Sobre o valor arbitrado na fiança, em que pese não ter sido objeto do recurso do MPF, confira-se a seguinte ementa de julgado da Segunda Turma:

    “HABEAS CORPUS. PROCESSO PENAL. SÚMULA 691/STF. AFASTAMENTO. DELITO DE PROVOCAR INCÊNDIO EM MATA OU FLORESTA. ARTIGO 41 DA LEI 9.605/1998. LIBERDADE PROVISÓRIA COM FIANÇA. SITUAÇÃO ECONÔMICA DO RÉU. DISPENSA. ARTIGOS 325, § 1º, I, E 350, DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. CONCESSÃO DA ORDEM. 1. Em casos excepcionais, viável a superação do óbice da Súmula 691 desta Suprema Corte. Precedentes. 2. O magistrado de primeiro grau decidiu fundamentadamente pela concessão de liberdade provisória

    com fiança (art. 310, III, do CPP), porquanto inexistentes os

    elementos concretos indicativos de fuga do paciente, de

    6

    Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereçohttp://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 045F-88C2-F0BD-039E e senha 5D09-7EFB-26BC-0115

    Supremo Tribunal Federal

    HC 179467 AGR / SC

    cautelares diversas da prisão, na forma do art. 319 do CPP”. (HC 147.192/RJ, de minha relatoria, Segunda Turma, DJe 23.2.2018)

    Ressalte-se que as medidas cautelares diversas da prisão tem por objetivo assegurar a razoável tramitação do feito com a mínima restrição possível à liberdade dos acusados. Buscam, ainda, impedir a ocorrência de fuga, a indevida influência sobre a instrução do processo ou a reiteração delitiva.

    Nos autos, substituí a prisão preventiva pelas seguintes medidas cautelares diversas da prisão: fiança no valor equivalente a dez salários mínimos; comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condições fixadas pelo juiz de origem, para informar e justificar as atividades; proibição de acesso ou frequência a lugares relacionados aos fatos, bem como a proibição de manter contato com os corréus e outros envolvidos por circunstâncias relacionadas aos fatos; e proibição de se ausentar da Comarca.

    Sobre o valor arbitrado na fiança, em que pese não ter sido objeto do recurso do MPF, confira-se a seguinte ementa de julgado da Segunda Turma:

    “HABEAS CORPUS. PROCESSO PENAL. SÚMULA 691/STF. AFASTAMENTO. DELITO DE PROVOCAR INCÊNDIO EM MATA OU FLORESTA. ARTIGO 41 DA LEI 9.605/1998. LIBERDADE PROVISÓRIA COM FIANÇA. SITUAÇÃO ECONÔMICA DO RÉU. DISPENSA. ARTIGOS 325, § 1º, I, E 350, DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. CONCESSÃO DA ORDEM. 1. Em casos excepcionais, viável a superação do óbice da Súmula 691 desta Suprema Corte. Precedentes. 2. O magistrado de primeiro grau decidiu fundamentadamente pela concessão de liberdade provisória

    com fiança (art. 310, III, do CPP), porquanto inexistentes os

    elementos concretos indicativos de fuga do paciente, de

    6

    Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereçohttp://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 045F-88C2-F0BD-039E e senha 5D09-7EFB-26BC-0115

    Inteiro Teor do Acórdão - Página 17 de 37

  • Voto - MIN. GILMAR MENDES

    HC 179467 AGR / SC

    interferência indevida na instrução processual ou de ameaça à

    ordem pública. 3. Na dicção dos arts. 325 e 326 do Código de Processo Penal, a situação econômica do réu é o principal

    elemento a ser considerado no arbitramento do valor da

    fiança. 4. Diante da incapacidade econômica do paciente,

    aplicável a concessão de liberdade provisória com a dispensa

    do pagamento da fiança, “sujeitando-o às obrigações

    constantes dos arts. 327 e 328 deste Código e a outras medidas

    cautelares, se for o caso”, nos termos do art. 325, § 1º, I, c/c art.

    350, do Código de Processo Penal. Precedentes. 5. Ordem de habeas corpus concedida para deferir o benefício da liberdade provisória com dispensa do pagamento de fiança e imediata expedição do competente alvará de soltura, ressalvada, se o caso, a imposição de medidas cautelares do art. 319 do Código de Processo Penal, pelo Juízo de origem”. (HC 137.078/SP, Rel. Min. Rosa Weber, Primeira Turma, DJe 24.4.2017, grifo nosso)

    No caso, entendo que as medidas impostas foram estritamente necessárias à garantia desses objetivos a atendem aos princípios da necessidade, adequação e proporcionalidade, devendo, portanto, ser mantidas.

    Logo, não vislumbro argumentos suficientes a infirmar a decisão monocrática, que se encontra em conformidade com a jurisprudência

    desta Corte.

    Nesses termos, nego provimento ao agravo regimental.

    É como voto.

    7

    Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereçohttp://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 045F-88C2-F0BD-039E e senha 5D09-7EFB-26BC-0115

    Supremo Tribunal Federal

    HC 179467 AGR / SC

    interferência indevida na instrução processual ou de ameaça à

    ordem pública. 3. Na dicção dos arts. 325 e 326 do Código de Processo Penal, a situação econômica do réu é o principal

    elemento a ser considerado no arbitramento do valor da

    fiança. 4. Diante da incapacidade econômica do paciente,

    aplicável a concessão de liberdade provisória com a dispensa

    do pagamento da fiança, “sujeitando-o às obrigações

    constantes dos arts. 327 e 328 deste Código e a outras medidas

    cautelares, se for o caso”, nos termos do art. 325, § 1º, I, c/c art.

    350, do Código de Processo Penal. Precedentes. 5. Ordem de habeas corpus concedida para deferir o benefício da liberdade provisória com dispensa do pagamento de fiança e imediata expedição do competente alvará de soltura, ressalvada, se o caso, a imposição de medidas cautelares do art. 319 do Código de Processo Penal, pelo Juízo de origem”. (HC 137.078/SP, Rel. Min. Rosa Weber, Primeira Turma, DJe 24.4.2017, grifo nosso)

    No caso, entendo que as medidas impostas foram estritamente necessárias à garantia desses objetivos a atendem aos princípios da necessidade, adequação e proporcionalidade, devendo, portanto, ser mantidas.

    Logo, não vislumbro argumentos suficientes a infirmar a decisão monocrática, que se encontra em conformidade com a jurisprudência

    desta Corte.

    Nesses termos, nego provimento ao agravo regimental.

    É como voto.

    7

    Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereçohttp://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 045F-88C2-F0BD-039E e senha 5D09-7EFB-26BC-0115

    Inteiro Teor do Acórdão - Página 18 de 37

  • Voto - MIN. RICARDO LEWANDOWSKI

    03/03/2020 SEGUNDA TURMA

    AG.REG. NO HABEAS CORPUS 179.467 SANTA CATARINA

    V O T O

    O Senhor Ministro Ricardo Lewandowski (Vogal): Bem examinados os autos, observo que, como pontualmente indicado na decisão agravada, o paciente se vê diante de manifesto constrangimento ilegal, apto à concessão do writ para que tal ilegalidade cesse de imediato.

    Verifico, de plano, que, muito embora o Parquet afirme que não se trata de determinação de execução provisória da pena, vedada no julgamento das ADCs 43, 44 e 54 pelo STF, mas sim de decretação da prisão preventiva, o Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina -TJSC não havia pontuado a necessidade da custódia preventiva ao julgar inicialmente os recursos.

    Na primeira oportunidade, aquela Corte determinou a prisão apenas com fundamento na obrigatoriedade de execução provisória da pena.

    Ora, se já havia motivos para a decretação da prisão preventiva,

    então a corte local deveria ter imposto tal medida já no julgamento das apelações, e não apenas quando julgados os embargos de declaração opostos pelas partes.

    Tudo leva a crer que, tendo em vista a superveniência do julgamento

    das mencionadas ADCs pelo STF, o TJSC buscou dar à execução provisória da pena vestes de prisão preventiva, a fim de evitar qualquer alegação de ofensa ao que foi decidido por esta Suprema Corte em sede de controle concentrado de constitucionalidade.

    Da mesma forma, os fundamentos utilizados para a decretação da

    prisão, como o fato de o paciente ter sido chefe do Poder Executivo

    Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereçohttp://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código D83F-8319-097C-6E1F e senha 8EFF-9DFE-B334-7422

    Supremo Tribunal Federal

    03/03/2020 SEGUNDA TURMA

    AG.REG. NO HABEAS CORPUS 179.467 SANTA CATARINA

    V O T O

    O Senhor Ministro Ricardo Lewandowski (Vogal): Bem examinados os autos, observo que, como pontualmente indicado na decisão agravada, o paciente se vê diante de manifesto constrangimento ilegal, apto à concessão do writ para que tal ilegalidade cesse de imediato.

    Verifico, de plano, que, muito embora o Parquet afirme que não se trata de determinação de execução provisória da pena, vedada no julgamento das ADCs 43, 44 e 54 pelo STF, mas sim de decretação da prisão preventiva, o Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina -TJSC não havia pontuado a necessidade da custódia preventiva ao julgar inicialmente os recursos.

    Na primeira oportunidade, aquela Corte determinou a prisão apenas com fundamento na obrigatoriedade de execução provisória da pena.

    Ora, se já havia motivos para a decretação da prisão preventiva,

    então a corte local deveria ter imposto tal medida já no julgamento das apelações, e não apenas quando julgados os embargos de declaração opostos pelas partes.

    Tudo leva a crer que, tendo em vista a superveniência do julgamento

    das mencionadas ADCs pelo STF, o TJSC buscou dar à execução provisória da pena vestes de prisão preventiva, a fim de evitar qualquer alegação de ofensa ao que foi decidido por esta Suprema Corte em sede de controle concentrado de constitucionalidade.

    Da mesma forma, os fundamentos utilizados para a decretação da

    prisão, como o fato de o paciente ter sido chefe do Poder Executivo

    Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereçohttp://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código D83F-8319-097C-6E1F e senha 8EFF-9DFE-B334-7422

    Inteiro Teor do Acórdão - Página 33 de 37

  • Voto - MIN. RICARDO LEWANDOWSKI

    HC 179467 AGR / SC

    Municipal, o elevado prejuízo ocasionado aos cofres municipais e seus reflexos atuais e futuros, embora potencialmente relevantes, traduzem circunstâncias que devem servir para o exame da dosimetria da pena, pois dizem respeito à tipicidade, à ilicitude e à culpabilidade das condutas, mas não integram o cerne que deve nortear uma decisão de segregação cautelar da liberdade.

    Neste ponto, extrai-se da decisão que decretou a custódia preventiva

    que:“Durante o período em que o grupo criminoso atuou de

    maneira bem sucedida no Município de Lages (isto é, durante os anos de 2013 e 2014), o Chefe do Executivo orquestrou a perfeita atuação de seus membros [...]” (grifei).

    Observa-se que a própria ordem de prisão faz alusão a fatos

    ocorridos há, pelo menos, 5 anos, inexistindo qualquer elemento de contemporaneidade a justificar a medida extrema.

    A alegação do Parquet no sentido de que o paciente ofereceu

    sucessivas manobras procrastinatórias, no intuito de impedir o regular andamento processual e o trânsito em julgado da condenação também não pode servir, ao menos no caso concreto, como fundamento à privação de liberdade.

    O direito constitucional de ampla defesa e de substancial

    contraditório não pode ser interpretado como ato ilícito apto a ensejar a prisão daquele que tenta, regularmente, exercê-lo, a menos que houvesse provas manifestas, contundentes, de abuso de direito, o que não está comprovado na espécie.

    Neste ponto, o TJSC argumentou que:

    “[...]Da mesma forma, verifica-se latente a presença do

    2

    Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereçohttp://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código D83F-8319-097C-6E1F e senha 8EFF-9DFE-B334-7422

    Supremo Tribunal Federal

    HC 179467 AGR / SC

    Municipal, o elevado prejuízo ocasionado aos cofres municipais e seus reflexos atuais e futuros, embora potencialmente relevantes, traduzem circunstâncias que devem servir para o exame da dosimetria da pena, pois dizem respeito à tipicidade, à ilicitude e à culpabilidade das condutas, mas não integram o cerne que deve nortear uma decisão de segregação cautelar da liberdade.

    Neste ponto, extrai-se da decisão que decretou a custódia preventiva

    que:“Durante o período em que o grupo criminoso atuou de

    maneira bem sucedida no Município de Lages (isto é, durante os anos de 2013 e 2014), o Chefe do Executivo orquestrou a perfeita atuação de seus membros [...]” (grifei).

    Observa-se que a própria ordem de prisão faz alusão a fatos

    ocorridos há, pelo menos, 5 anos, inexistindo qualquer elemento de contemporaneidade a justificar a medida extrema.

    A alegação do Parquet no sentido de que o paciente ofereceu

    sucessivas manobras procrastinatórias, no intuito de impedir o regular andamento processual e o trânsito em julgado da condenação também não pode servir, ao menos no caso concreto, como fundamento à privação de liberdade.

    O direito constitucional de ampla defesa e de substancial

    contraditório não pode ser interpretado como ato ilícito apto a ensejar a prisão daquele que tenta, regularmente, exercê-lo, a menos que houvesse provas manifestas, contundentes, de abuso de direito, o que não está comprovado na espécie.

    Neste ponto, o TJSC argumentou que:

    “[...]Da mesma forma, verifica-se latente a presença do

    2

    Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereçohttp://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código D83F-8319-097C-6E1F e senha 8EFF-9DFE-B334-7422

    Inteiro Teor do Acórdão - Página 34 de 37

  • Voto - MIN. RICARDO LEWANDOWSKI

    HC 179467 AGR / SC

    pressuposto do periculum libertatis. Isso porque os requisitos previstos no art. 312 do Código de Processo Penal se mostram presentes, mormente diante da necessidade de garantir à ordem pública, devido à gravidade em concreto dos delitos cometidos, e também para a aplicação da lei penal, haja vista que a defesa e o próprio embargante Elizeu Mattos vem obstaculizando o

    regular andamento processual mediante inúmeras

    impugnações e outras ardilezas, prolongando excessivamente

    o deslinde do feito e impedindo a aplicabilidade da lei, visando, dessa forma, esquivar de eventual responsabilidade penal confirmada por este Órgão Fracionário na sessão de julgamento ocorrida no dia 5 de novembro de 2019.” (grifei).

    Contudo, observo que a mesma decisão não indicou, de forma

    concreta e pontual, quais “impugnações” e “outras ardilezas” seriam essas, tudo levando a crer que nada mais foram do que o exercício regular do direito constitucional de defender-se, com utilização, pela defesa, dos meios de impugnação previstos em lei.

    Esta Segunda Turma tem reiterados precedentes entendendo pela

    possibilidade da concessão da ordem, ainda que pendente de julgamento do colegiado do Superior Tribunal de Justiça, quando houver manifesta ilegalidade na decretação da custódia, com ocorrência de patente constrangimento ilegal do paciente. Tal situação ocorreu, por exemplo, no recente julgamento do HC-AgR 154.694/SP, de 4/2/2020.

    A questão precisa ser examinada à luz daquilo que determina o art. 654, § 2º, do Código de Processo Penal, que dá competência aos juízes e tribunais para expedição de ordem de habeas corpus, quando, no curso de processo, verificarem que alguém sofre ou está na iminência de sofrer coação ilegal.

    A Constituição da República estabelece no art. 5º, LXI, o seguinte:

    “Ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e

    3

    Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereçohttp://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código D83F-8319-097C-6E1F e senha 8EFF-9DFE-B334-7422

    Supremo Tribunal Federal

    HC 179467 AGR / SC

    pressuposto do periculum libertatis. Isso porque