Teste 2_FP_Heterónimos

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1 Escola Básica e Secundária de Campo Teste de Avaliação de Português – 12º Ano Prof. Helena Domingues dezembro de 2013 GRUPO I A Leia atentamente o texto a seguir transcrito. 5 1 0 1 5 XXIV O que nós vemos das cousas são as cousas. Por que veríamos nós uma cousa se houvesse outra? Por que é que ver e ouvir seria iludirmo-nos Se ver e ouvir são ver e ouvir? O essencial é saber ver, Saber ver sem estar a pensar, Saber ver quando se vê, E nem pensar quando se vê Nem ver quando se pensa. Mas isso (tristes de nós que trazemos a alma vestida!), Isso exige um estudo profundo, Uma aprendizagem de desaprender E uma sequestração na liberdade daquele convento De que os poetas dizem que as estrelas são as freiras eternas E as flores as penitentes convictas de um só dia, Mas onde afinal as estrelas não são senão estrelas Nem as flores senão flores Sendo por isso que lhes chamamos estrelas e flores. Fernando Pessoa, “O Guardador de Rebanhos”, in Poemas de Alberto Caeiro, Editora Ática, 2006 Apresente, de forma bem estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem. Teste de Avaliação de Português

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Escola Básica e Secundária de Campo

Teste de Avaliação de Português  –  12º Ano

Prof. Helena Domingues dezembro de 2013

GRUPO I

A

Leia atentamente o texto a seguir transcrito.

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XXIV

O que nós vemos das cousas são as cousas.Por que veríamos nós uma cousa se houvesse outra?Por que é que ver e ouvir seria iludirmo-nosSe ver e ouvir são ver e ouvir?

O essencial é saber ver,Saber ver sem estar a pensar,Saber ver quando se vê,E nem pensar quando se vêNem ver quando se pensa.

Mas isso (tristes de nós que trazemos a alma vestida!),Isso exige um estudo profundo,Uma aprendizagem de desaprenderE uma sequestração na liberdade daquele conventoDe que os poetas dizem que as estrelas são as freiras eternasE as flores as penitentes convictas de um só dia,Mas onde afinal as estrelas não são senão estrelasNem as flores senão floresSendo por isso que lhes chamamos estrelas e flores.

Fernando Pessoa, “O Guardador de Rebanhos”,in Poemas de Alberto Caeiro, Editora Ática, 2006

Apresente, de forma bem estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem.

1. Proponha uma justificação para as interrogações iniciais do sujeito poético.

2. Saliente a contradição associada às afirmações presentes na segunda

estrofe.

3. Justifique a posição crítica e irónica do sujeito poético relativamente aos

poetas.

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4. Explique, por palavras suas, e atendendo à filosofia de vida de Alberto Caeiro, o sentido dos versos: “Mas isso (tristes de nós que trazemos a alma vestida!),/Isso exige um estudo profundo,/Uma aprendizagem de desaprender” (vv. 10-12)

B

Convoque os conhecimentos adquiridos sobre Fernando Pessoa e Ricardo Reis para comentar a afirmação a seguir transcrita, num texto de oitenta a cento e trinta palavras.

Ricardo Reis, tal como Pessoa, é analítico e segue uma herança eminentemente clássica, conservadora, que não está presente nos outros heterónimos. Revela a mesma incapacidade de amar ou descrê do amor, mas sempre desejando o que não consegue alcançar.

GRUPO II

Leia agora, o texto informativo seguinte.

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Detetado oxigénio numa das luas de Saturno

A sonda Cassini, da NASA, detetou pela primeira vez a presença de oxigénio na atmosfera noutro mundo. Foi descoberto na lua Rhea, a segunda maior das 62 luas de Saturno.

Pela primeira vez, uma nave espacial descobriu diretamente na atmosfera de um astro, a presença de oxigénio.

Uma sonda da NASA, a Cassini, recolheu amostras da lua gelada Rhea, uma das 62 luas do planeta Saturno, e os resultados mostram que este astro tem uma atmosfera composta por oxigénio e dióxido de carbono.

A sonda Cassini realizou esta operação em março deste ano, enquanto viajava a uma altitude de 97 km.

A atmosfera é bastante fraca e é suportada por partículas de grande energia que colidem com a superfície lunar e libertam átomos, moléculas e iões na atmosfera, escreve o "The Guardian ".

Oxigénio encontrado não chega para formação de vida

A densidade de oxigénio é de cerca de 50 mil milhões de moléculas por cada metro cubico na atmosfera, um número muito inferior ao registado na Terra (cerca de 5 biliões de vezes inferior).

"O oxigénio encontrado em Rhea parece que vem do gelo encontrada à superfície quando o campo magnético de Saturno roda sobre a lua e a inunda de partículas de energia presas no campo magnético" revelou o professor Coates, co-autor do estudo hoje publicado na revista Science.

"Estes resultados sugerem que química ativa e complexa pode ser bastante comum ao longo do sistema solar e mesmo do universo", contou Ben Teolis, um dos cientistas responsáveis pela Cassini e pelo estudo.

"Tal química pode ser um pré-requisito de vida" disse ainda Teolis. "Todas as provas recolhidas pela Cassini indicam que Rhea é demasiado fria e desprovida de água em estado líquido necessária para a formação de

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vida como a conhecemos."A atmosfera ténue da lua Rhea torna-a única no complexo sistema

lunar de Saturno. Titan, a maior das 62 luas, tem uma atmosfera demasiado densa, composta por nitrogénio e metano, com quase nenhum vestígio de oxigénio e dióxido de carbono.

Esta foi a primeira vez que um veículo espacial detetou a presença de oxigénio diretamente na atmosfera de um astro. Até agora apenas tinha sido detetado à distância através de instrumentos espaciais, entre os quais o famoso telescópio espacial Hubble.

Jorge Fonte, in jornal Expresso online, 26/11/2010

1. Selecione, em cada um dos itens, a única alternativa que permite obter uma afirmação adequada ao sentido do texto.

1.1. O texto destaca a descoberta de…

(A)um novo planeta.(B)oxigénio em Rhea.(C)uma nova lua de Saturno.(D) uma nova sonda da NASA.

1.2. A lua Rhea tem caraterísticas únicas, tais como…

(A) ser um astro cuja atmosfera tem oxigénio.(B) ser um planeta gelado mas com dióxido de carbono.(C) ser um astro sem atmosfera mas com oxigénio.(D)ser a única lua gelada de Neptuno.

1.3. O complemento direto da forma verbal “descobriu” (l. 4) é o segmento…

(A)“directamente”.(B)“uma nave espacial”.(C)“na atmosfera de um astro”.(D) “a presença de oxigénio”.

1.4. O grupo nominal “a Cassini” (l. 6) desempenha a função sintática de…

(A)modificador apositivo do nome.(B)modificador restritivo do nome.(C)sujeito.(D) predicativo do sujeito.

1.5. O segmento “que este astro tem uma atmosfera composta por oxigénio e dióxido de carbono.” (ll. 7-8) corresponde a uma oração subordinada…

(A)adverbial final.(B)substantiva relativa.(C)substantiva completiva.

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(D) adjetiva restritiva.

1.6. A presença das aspas (ll. 18-20, 23-24, 26-28) justifica-se por…

(A)haver necessidade de atestar a veracidade da informação.(B)ter de se confirmar a notícia junto dos responsáveis pela

descoberta.(C)se recorrer à reprodução das afirmações do co-autor do estudo

publicado.(D) se reproduzir depoimentos dos autores do estudo publicado.

1.7. Relativamente a “planetas”, “saturno” é…

(A)um hiperónimo.(B)um hipónimo.

(C)um sinónimo.(D) um merónimo.

2. Faça corresponder a cada um dos cinco elementos da coluna A um elemento da coluna B, de modo a obter afirmações corretas.

Coluna A Coluna Ba.Na frase “enquanto viajava a uma

altitude de 97 km.” (ll. 9-10)

b.No parágrafo iniciado em “A atmosfera” (l. 11),

c. Através do grupo preposicional “por partículas de grande energia” (l. 11),

d.Com o grupo nominal “o professor Coates” (l. 19),

e.No segmento sublinhado em “Rhea é demasiado fria”(l.26),

1. o enunciador dá conta do complemento agente da passiva.

2. o enunciador recorre a dois processos de construção frásica: a coordenação e a subordinação.

3. o enunciador confere um valor temporal à ação descrita.

4. o enunciador serve-se da coordenação como processo para construção de frases complexas.

5. o enunciador regista o complemento direto da forma verbal “revelou”.

6. o enunciador salienta o complemento oblíquo.

7. o enunciador utiliza um predicativo do sujeito.

8. o enunciador regista o sujeito da frase cuja forma verbal é “revelou”.

GRUPO III

Ricardo Reis, à semelhança do mestre Caeiro, prefere o contacto permanente com o campo, defendendo o afastamento do “tumulto das cidades”.

Apresente a sua reflexão sobre as vantagens/desvantagens dos dois espaços anteriormente referidos, utilizando, no mínimo, dois argumentos e, pelo menos, um exemplo significativo para cada um deles, num texto de 200 a 300 palavras.

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COTAÇÕES

GRUPO I

1. ......................... (9+6)........ 15 pontos

2. ......................... (12+8)…... 20 pontos3. ......................... (9+6)…..... 15 pontos4. ......................... (12+8)....... 20

pontosB …...…….......(18+12)…. 30 pontos

100 pontos

GRUPO II1.1...................................... 5 pontos1.2....................................... 5 pontos1.3....................................... 5 pontos1.4....................................... 5 pontos1.5....................................... 5 pontos1.6....................................... 5 pontos1.7....................................... 5 pontos

2. …………………. (3x5) …15 pontos 50

pontosGRUPO III

Estruturação temática e discursiva.... 30 pontosCorreção linguística ............................ 20 pontos

50 pontos

TOTAL............................................... 200 pontos

GRUPO I

A

1. As interrogações iniciais traduzem o espanto do sujeito poético perante as leituras subjectivas que outros fazem da realidade. Por isso, inicia o texto com uma afirmação assertiva e quase axiomática para, depois, numa espécie de crítica, salientar o erro cometido por todos aqueles que dizem que ver e ouvir pode ser mais do que ver e ouvir.

2. Na segunda estrofe é perceptível uma contradição, uma vez que o “eu poético” proclama a recusa do pensamento e nesta atitude a sua permanência e até afirma que quando se pensa não se vê. Ora isto equivale a dizer que o pensamento se sobrepõe às sensações, embora anteriormente considere que “O essencial é saber ver” (v.5). sendo assim acaba por não se perceber o porquê da referência ao pensamento e da impossibilidade de o reconciliar ou associar aos órgãos dos sentidos.

3. O sujeito poético considera que os humanos trazem “a alma vestida” (v.10), isto é, há determinados pressupostos que estão associados à condição humana e, como tal, é necessário aprender a desaprender, no sentido de nos despirmos dos preconceitos preestabelecidos, tal como aqueles que os poetas manifestam face à realidade. Estes são, por isso, o alvo privilegiado da crítica caeiriana, uma vez que sistematicamente veem sentidos ocultos em tudo o que é natural, esquecendo que se lhes damos determinado nome é porque é só isso que representam.

4. Caeiro é o poeta da simplicidade e da naturalidade e defende a libertação da alma para que se possa aprender a realidade através dos sentidos, sem que se possa conferir outros significados senão aqueles que os ouvidos ou a vista nos permitem captar. Assim, e mesmo consciente de que a natureza humana faz com que se aceite a racionalidade e nos sintamos vestidos pela razão, reclama o princípio da

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desaprendizagem, ou seja, a necessidade de nos despirmos dos pressupostos tradicionalmente associados ao ser humano.

B

Ricardo Reis é, sem dúvida, o heterónimo que mais se aproxima do seu criador, principalmente pelo uso excessivo da razão. Com efeito, todas as acções são ponderadas, nada resulta da espontaneidade.

Tendo tido uma educação clássica, adota o epicurismo e o estoicismo como filosofias de vida, o que faz com que procure a tranquilidade e abdique dos prazeres intensos. Vive de forma cautelosa e racional de modo a não sofrer perante a iminência da morte. Como pagão, acredita na superioridade dos deuses e, num tom moralista, tenta convencer os outros a adotar as posturas que o próprio defende.

Contudo, e apesar da ponderação que coloca em todos os seus atos, vive triste e infeliz o dia-a-dia por abdicar do amor ou duvidar da felicidade que este lhe possa trazer.

(129 palavras)

GRUPO II1.

1.1. C)1.2. B)1.3. D)1.4. A)1.5. C)1.6. C)1.7. B)

2.a. 3b. 2c. 1d. 8e. 7

GRUPO III

RESPOSTA LIVRE

Nota: TEXTO DE REFLEXÃO (OU REFLEXIVO)Pretende-se somente sugerir uma análise à realidade, sob o prisma de um indivíduo que está a redigir o texto.Por meio de juízos de valor e exemplos devidamente articulados, este não deseja mais do que insinuar um ideal, não se confundindo este propósito com o do texto de opinião. Estes dois textos de apreciação crítica terão em comum, porém, a obediência à forma canónica textual, e, apesar de tudo, comunicam ao leitor uma posição parcial face a uma matéria.

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