Toya - Rosita - Conto de Mia Couto

12
Conto Rosita, livro “Na berma de nenhuma estrada e outros contos” de Mia Couto 1 Toya Nereide Vicente Coelho Escola Secundária Artística António Arroio Ano Lectivo: 2008/2009 Disciplina: Português Professora: Elisabete Miguel Toya Nereide Vicente Coelho Ano: 10º Turma: F Número: 26

description

Toya - nº 26 - 10º ano - Trabalho para apresentação oral - Português - Profª Eli

Transcript of Toya - Rosita - Conto de Mia Couto

Page 1: Toya - Rosita - Conto de Mia Couto

Conto Rosita, livro “Na berma de nenhuma estrada e outros contos” de Mia Couto

1 Toya Nereide Vicente Coelho

Escola Secundária Artística António Arroio

Ano Lectivo: 2008/2009

Disciplina: Português

Professora: Elisabete Miguel

Toya Nereide Vicente Coelho

Ano: 10º

Turma: F

Número: 26

Page 2: Toya - Rosita - Conto de Mia Couto

Conto Rosita, livro “Na berma de nenhuma estrada e outros contos” de Mia Couto

2 Toya Nereide Vicente Coelho

Introdução

“Rosita” é o último conto do livro de Mia Couto, Na berma de nenhuma estrada

e outros contos e foi o que eu, depois de ter lido todos os outros, escolhi para o meu

trabalho preparatório da apresentação oral, na aula de Português. A minha selecção

tem razões fundamentalmente afectivas pois Mia Couto constrói esta narrativa

partindo de factos reais que já me eram familiares. A história, verídica, da agora

personagem Rosita, já me havia sido contada por uma pessoa que me é muito

querida, por isso não tive nem um momento de hesitação, “Rosita” seria o meu

conto.

Neste trabalho, escrito, dou a informação acerca da leitura e o seu respectivo

motivo; logo depois apresento as frases que acho mais importantes e que realmente

mexeram com o meu sentido estético, com a minha sensibilidade, com as minhas

emoções; de seguida, explico a razão da escolha de minha ilustração; continuo com

as categorias da narrativa, tempo, espaço, acção, personagens, narrador; prossigo

com a minha opinião sobre o desfecho do conto, a conclusão, a bibliografia sumária e

concluo com anexos, algumas notícias publicadas e fotografias legendadas das cheias

em Moçambique.

O conto “Rosita” narra que o protagonista, depois de alguns anos passados,

volta para Chokwé, Moçambique, e, apesar das guerras que por lá havia, reencontra

a sua única riqueza, Makalatani, o seu companheiro, no mesmo lugar onde o tinha

deixado. Entretanto dá-se uma inundação devido ao rio que enlouqueceu, e as águas

bravas com fortes correntes acabaram por engolir tudo, pessoas, que não se

conseguiram salvar, casas, animais. O narrador e Makalatani, para conseguirem

sobreviver, e porem-se a salvo no telhado de uma fábrica, tiveram que subir uma

árvore. O protagonista lembra-se que a sua vizinha Sofia Pedro está grávida e que a

criança pode nascer a qualquer momento ou então que não tenha conseguido escapar

da morte. Durante dias passaram fome, beberam aquela água suja e contaminada. Ao

quinto dia, aparece uma nuvem motor de onde desce um anjo branco que o segura.

De repente acorda, afinal o anjo era um soldado sul-africano que descia de um

helicóptero através de uma corda para o salvar, ele insistindo que não seria salvo se o

seu companheiro – um boi – não fosse também salvo. Depois de tanto

desentendimento o soldado consegue salvá-lo e ele pensa que Afinal nunca houvera

Page 3: Toya - Rosita - Conto de Mia Couto

Conto Rosita, livro “Na berma de nenhuma estrada e outros contos” de Mia Couto

3 Toya Nereide Vicente Coelho

um boi no meu telhado, eu devia estar delirado. Enquanto olhava para as

pessoas que também foram salvas avista a grávida vizinha Sofia Pedro, que em seus

braços carregava um embrulho. Diante dele, a vizinha abre lentamente a capulana e

surge uma menina … mais recente que um orvalho. Espantado pergunta Não diga

você ninhou essa menina em cima da árvore!? - É Rosita, essa é minha Rosita.

Perante a resposta recebida, e enquanto Sofia Pedro amamenta a recém-nascida, o

protagonista sente que tudo nele se amacia e que Rosita já nascia nele.

A minha leitura

Tive de ler o conto várias vezes pois não percebi logo à primeira o que me estava a

ser transmitido, no entanto, as releituras nunca foram penosas porque à medida que

ia entendendo as imagens, as metáforas, a riqueza linguística, o meu interesse e

prazer foram crescendo. Gostei muito do conto “Rosita” gostei sim, pois este conto

transmitiu-me uma história e em simultâneo uma grande realidade. E é pelo facto de

Mia Couto transmitir essa realidade, penso eu, que torna o conto especial, porque ao

longo da leitura a minha mente já caía na tentação de querer também entrar na

história, sentir o que o narrador estava a sentir. A cada palavra, a cada frase, crescia-

me uma enorme vontade de querer saber mais e mais, sem temer arriscar, por

segundos, parava e cismava no tamanho interesse que crescia sem receio, no meu

desejo incomparável de ir pela história dentro, como se nada me detivesse, logo,

logo, continuava a leitura, dominada pelo toque essencial, único, especial da

narração.

As sensações foram inumeráveis, havia uma mistura de emoções que me

envolviam entre a realidade e a fantasia. Eram sensibilidades, agitações em

simultâneo, descontroladamente umas atrás das outras, sem me aperceber

exactamente do que se passava, mas na verdade era uma simples leitura, digo eu,

mas também não era bem isso, porque, na verdade, não foi uma simples leitura. Há

leituras e leituras, esta envolveu-me totalmente. O que foi bom, não sei o porquê,

mas acredito que talvez tenha sido (como já referi antes), pela proximidade entre a

realidade e a ficção.

Page 4: Toya - Rosita - Conto de Mia Couto

Conto Rosita, livro “Na berma de nenhuma estrada e outros contos” de Mia Couto

4 Toya Nereide Vicente Coelho

Frases que considero plasticamente importantes e que mexeram comigo:

“Mas quando regressei a Chokwé, lá estava ele me esperando. Fiel, no lugar onde nos

separáramos.”

“E foi num repente: o céu ganhou cor de terra, lembrando cuspes do diabo. As

nuvens pesavam como se feitas de lama. Em tais densidades, o céu deixava de ser

morado por aves.”

“Conhecia suas parecenças – tempo e água. Ambos me levaram filhos, sonhos,

riquezas.”

“E pensei na vizinha Sofia Pedro. Ela estava grávida, bem no final do prazo”

“Deixei de beber quando vi bois e homens flutuando, inchados, na corrente.”

“A morte é outro rio: de uma vez em quando, ela salta a margem e nos inunda com

tamanho de um oceano.”

“O anjo era, afinal, um soldado sul-africano que me abria os braços, suspenso numa

corda. A nuvem era um helicóptero que ventoinhava em cima do armazém onde nos

abrigávamos.”

“ – Meu boi! Me ajude a carregar o meu boi!”

“Mas eu não podia deixar ali o meu velho boi, minha única riqueza.”

“E eu, já em desespero: você não vai, eu também não vou. Prontos, morremos os

dois, um sem o outro.”

“Mas os outros, salvados como eu, se espantaram. Não havia nenhum boi junto de

mim.”

“Afinal nunca houvera um boi no meu telhado (…)”

“ – É Rosita, essa é minha Rosita”

“Sim, nesse destino havia terra. De novo, o infinito território da vida. E Rosita já

nascia em mim.”

Foi-me extremamente difícil seleccionar as frases que mexeram comigo. Optei

pelas que acabei de transcrever. Em cada uma delas é como se encontrasse parte de

cada sequência do conto; considero que talvez sejam das frases mais importantes

contribuir para realçar a história. Nelas encontro a concentração de sentimentos, a

alegria, a estranheza, o espanto, a dor, a mágoa, a tristeza, o delírio, a preocupação,

o amor, o desespero, a felicidade, o passado, o presente, o futuro.

Page 5: Toya - Rosita - Conto de Mia Couto

Conto Rosita, livro “Na berma de nenhuma estrada e outros contos” de Mia Couto

5 Toya Nereide Vicente Coelho

Explicação da minha ilustração

Não há uma razão específica para esta ilustração, há diferentes razões. Quis ilustrar

não tudo mas algumas das visões/ acções da personagem principal, o que o

protagonista viu, passou, sofreu. Ao centro, em grande plano, estão Sofia Pedro e

Rosita; por detrás há as tristezas, o sufoco, as perdas, as lágrimas , com a imagem

maior, central, de mãe e filha, quis representar exactamente o contrário, a felicidade,

a coragem, a força, a alegria, os sorrisos, numa mensagem de futuro, de esperança.

Page 6: Toya - Rosita - Conto de Mia Couto

Conto Rosita, livro “Na berma de nenhuma estrada e outros contos” de Mia Couto

6 Toya Nereide Vicente Coelho

Categorias da narrativa

Na acção, o relevo é central, é com a personagem principal e em seu redor

que todas as acções ocorrem; devido a ela existem diálogos; e que, por sua vez, são

realizadas algumas das acções. Durante os acontecimentos é permitido ao leitor poder

localizar-se, mas, mesmo assim, as acções não são solucionadas ao pormenor, não

sendo possível descobrir o que acontece após o salvamento do protagonista nem das

outras pessoas, inclusive a vizinha e sua filha, sendo assim, uma delimitação aberta.

Inicialmente, a acção começa com o narrador a contar, o que sucedeu naqueles

5 dias de sofrimento; após os avisos, que ignora, dá-se uma enorme inundação que

destrói completamente Chokwé (local onde se passa a história), e, para tentar

sobreviver, o protagonista passa esses dias em cima de um telhado de um armazém

com o seu companheiro, Makalatani. Acaba por ser salvo por um soldado sul-africano

e, com tristeza, descobre que o seu companheiro não passava de um delírio seu, em

compensação encontra outras pessoas, também salvas, e a vizinha com quem tanto

se preocupava porque estava grávida e prestes a dar à luz, Sofia Pedro, e conhece

aquela doce criança ( nos braços da vizinha), Rosita, que nasceu minutos antes de ser

salva do topo de uma árvore. Eis a história muito breve, e através dela, temos como

personagem principal, o narrador; como personagens secundárias, Makalatani, Sofia

Pedro e Rosita; e como figurantes o soldado sul-africano e os salvados.

O protagonista do conto tem um papel importante porque é ele que conta a história e

por sua vez participa em todas acções narradas; o papel do Makalatani, penso eu que

seja para poder mostrar os efeitos secundários daquela água contaminada; o do

soldado sul-africano, digo que tenha sido para poder mostrar que seja lá o que for e

no que for devemos sempre ter esperança; o de Sofia Pedro e de sua filha Rosita

presumo que seja um papel bastante importante porque põe-nos diante de uma

realidade, o sofrimento que passou naqueles 5 dias, estando grávida sem qualquer

forma de matar a sede e a fome e, mesmo estando no topo de uma árvore, ainda

conseguiu arranjar forças para dar à luz uma criança; e, por fim, os dos outros que

foram salvos, julgo que seja apenas para dar um pequeno toque no final, assim como

por exemplo quando afirmaram que não havia nenhum “boi” ao lado do protagonista.

As caracterizações das personagens, tanto físicas, como psicológicas ou sociais são

Page 7: Toya - Rosita - Conto de Mia Couto

Conto Rosita, livro “Na berma de nenhuma estrada e outros contos” de Mia Couto

7 Toya Nereide Vicente Coelho

escassas, mas fisicamente Makalatani era gordo e psicologicamente era guloso,

teimoso, paciente, cauteloso e tranquilo; a respeito da personagem principal concluo

pela teimosice, persistência, impaciência, carinho, preocupação, amizade, coragem

e sensibilidade. São deduções minhas a partir das atitudes e comportamento ao

longo da história narrada, sendo assim pode-se dizer que são processos de

caracterização indirecta.

A história narrada desencadeia-se em Chokwé, Moçambique, África,

primeiramente inicia-se numa casa depois em cima das árvores, em cima do telhado

de um armazém e no interior de um helicóptero.

Relativamente à sua presença, o narrador é participante como personagem, a

sua focalização é externa (relata o que observa) tendo como posição subjectiva.

Desfecho do conto

Fantasia e Realidade, expressões que podem designar o desenlace desta

narrativa.

O final não era o que esperava, na verdade nem me atrevi a esperar, fui

surpreendida sim, mas, penso eu, todo o leitor ficará surpreendido. Primeiro,

descobrir quem é o seu velho companheiro, depois saber que o seu guloso boi, sua

única riqueza, Makalatani, era um delírio, não me passou pela cabeça em instante

algum; para maior surpresa não supunha que a vizinha, Sofia Pedro, tivesse

sobrevivido, ainda para mais nas condições em que se encontrava, não imaginava que

uma mulher, na barriga uma criança prestes a nascer a qualquer momento,

conseguisse fugir daquelas águas furiosas, que pudesse sobreviver àqueles 5 dias em

apertos, sem água nem alimento, que suportasse as dores do parto no topo de uma

árvore, e que tudo vencesse e acabasse a amamentar a filhita a bordo de um anjo

branco que, em boa hora, descera de uma nuvem.

Concluo este meu trabalho, deixando bem expresso que gostei muito do conto e que

apreciei muito o final, foi um “ponto” cativante, acrescentou-lhe suavidade, alegria, e

esperança.

Page 8: Toya - Rosita - Conto de Mia Couto

Conto Rosita, livro “Na berma de nenhuma estrada e outros contos” de Mia Couto

8 Toya Nereide Vicente Coelho

Anexos

Notícias publicadas por Marcelo Mosse, em Maputo

Em 2000, o ciclone “Eline” passou à volta

da ilha e chegou à costa, provocando

muito chuva e ventos com mais de

100km/h, no entanto veio agravar em

90% a situação, gerando cheias

catastróficas.

Estima-se que esta catástrofe tenha

provocado centenas de mortos, 300 000 refugiados e um milhão de desalojados.

As cheias obrigaram centenas de milhares

de pessoas a abandonar as suas casas

(CNN Fevereiro 21, 2000)

Moçambicanos lutam para manter

secos os seus parcos haveres (CNN

Março 1, 2000)

Page 9: Toya - Rosita - Conto de Mia Couto

Conto Rosita, livro “Na berma de nenhuma estrada e outros contos” de Mia Couto

9 Toya Nereide Vicente Coelho

1 de Março - O drama é total, os mortos incontáveis, o choque presente nas faces dos moçambicanos. Nove mil tinham sido já resgatadas no Sul, mas milhares continuam em cativeiro. As imagens na televisão fazem chorar. A mais emotiva é sem dúvida a do resgate aéreo de Sofia e da sua filha Rosita,

nascida minutos antes no cimo da árvore onde a mãe se refugiou da fúria das águas. Chissano visita de novo as zonas afectadas e diz que a ajuda internacional está a ser "lenta". Lenta? Mas ele não a pediu com

antecedência.

Uma mulher

refugiada numa

árvore é salva por

um helicóptero

sul-africano (CNN Março 1, 2000)

A 27 de Fevereiro, enquanto as águas do rio Save, no norte de Moçambique, continuam a subir, uma família aguarda, numa ilhota,

junto a uma árvore, que alguém os venha libertar do pesadelo.

Residentes de Chokwé inspeccionam danos

sofridos numa casa (CNN Março 6, 2000)

Page 10: Toya - Rosita - Conto de Mia Couto

Conto Rosita, livro “Na berma de nenhuma estrada e outros contos” de Mia Couto

10 Toya Nereide Vicente Coelho

Conclusão

Apesar de ser conto, com um número reduzido de personagens, com uma

narrativa curta, não foi a primeira, não foi a quinta, não foi a décima vez que comecei

a perceber do que se tratava, quais os conceitos ali apresentados e qual a mensagem

que me estava a ser transmitida.

Na capa deste trabalho, tem como imagem de fundo um rio, mas este não é um

rio qualquer, não é um simples rio, é o rio Limpopo, responsável pela cheia que se

deu em Chokwé, Moçambique, a 1 de Março de 2000. Mia Couto escreve esta história

baseando-se nos depoimentos que o próprio recolheu durante as cheias.

As cheias não são um fenómeno raro em Moçambique, as chuvas que

correspondem ao Verão moçambicano, e quando o sol se aproxima do equador,

enquanto a passagem do equinócio, o país é atingido por chuvas fortes que se

repetem ciclicamente. Os ciclones, nesta região, formam-se no Oceano Índico e

rumam para sudoeste. A maior parte das vezes dissipam-se no Canal de Moçambique,

antes de atingirem a costa do continente africano, ou quando chegam à ilha de

Madagáscar.

Da leitura de Mia Couto, do conto “Rosita”, retiro a mensagem e o ensinamento sobre

o sofrimento, a angústia que certas pessoas passam, não porque querem ou porque

só acontece, ocasionalmente, uma vez na vida, mas o da realidade de quem sofre

constantemente e que não tem outra saída, assim, perdendo famílias, amigos, casas e

todos os seus parcos são obrigadas a permanecer no mesmo lugar.

Apesar de tudo, a esperança permanece, porque depois das lágrimas vem

sempre o sorriso e, mesmo que estas pessoas jamais venham a conhecer o poema de

Paul Elouard acreditam que

Page 11: Toya - Rosita - Conto de Mia Couto

Conto Rosita, livro “Na berma de nenhuma estrada e outros contos” de Mia Couto

11 Toya Nereide Vicente Coelho

La nuit n’est jamais complete

Il y a toujours puisque je le dis

Puisque je l’affirme

Au bout du chagrin une fenêtre ouverte

Une fenêtre ouverte

Une fenêtre éclairée

Il y a toujours un rêve qui veil

Désir à combler faim à satisfaire

Un coeur généreux

Une main tendue une mais ouverte

Des Yeux attentifs

Une vie la vie à se partager.

Bibliografia sumária:

Na Berma de Nenhuma Estrada e outros contos, Mia Couto

Plural, Português, 10º ano, E. C. Pinto, P. Fonseca, V.S. Baptista

Derniers poèmes d’amour, Paul Eluard

Vários sítios da internet

Page 12: Toya - Rosita - Conto de Mia Couto

Conto Rosita, livro “Na berma de nenhuma estrada e outros contos” de Mia Couto

12 Toya Nereide Vicente Coelho

Índice

Introdução

Leitura pessoal do conto

Frases que considero plasticamente importantes e que mexeram comigo

Explicação da minha ilustração

Categorias da narrativa

Desfecho do conto

Conclusão

Anexos

Bibliografia sumária