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Tribunal Judicial da Comarca de Viseu Juízo Central Criminal de Viseu - Juiz 3 Palácio da Justiça , Av. da Europa 3514-506 Viseu Telef: 232427000 Fax: 232427099 Mail: [email protected] Proc.Nº 411/12.9TAVIS 79734890 CONCLUSÃO - 30-03-2017 (Termo eletrónico elaborado por Escrivão Auxiliar Rui Palhares) =CLS= Processo n.º 411/12.9TAVIS ACÓRDÃO DO TRIBUNAL COLECTIVO RELATÓRIO Para julgamento em processo comum e com intervenção do Tribunal Colectivo, foram pronunciados, Alexandre Sviatopolk Mirsky Raimundo, casado, empresário de telecomunicações, natural do Rio de Janeiro, Brasil, onde nasceu a 11 de Outubro de 1973, filho de Anacleto Abreu Raimundo e de Svetlana Sviatopolk Mirsky Raimundo, residente quando em Portugal na Rua da Estrada Velha, n.º 15, Viseu, Rafael Sviatopolk Mirsky Raimundo, casado, empresário, natural do Rio de Janeiro, Brasil, onde nasceu a 21 de Fevereiro de 1977, filho de Anacleto Abreu Raimundo e de

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Proc.Nº 411/12.9TAVIS

79734890

CONCLUSÃO - 30-03-2017

(Termo eletrónico elaborado por Escrivão Auxiliar Rui Palhares)

=CLS=

Processo n.º 411/12.9TAVIS

ACÓRDÃO DO TRIBUNAL COLECTIVO

RELATÓRIO

Para julgamento em processo comum e com intervenção do Tribunal Colectivo, foram

pronunciados,

Alexandre Sviatopolk – Mirsky Raimundo, casado, empresário de telecomunicações,

natural do Rio de Janeiro, Brasil, onde nasceu a 11 de Outubro de 1973, filho de Anacleto

Abreu Raimundo e de Svetlana Sviatopolk – Mirsky Raimundo, residente quando em

Portugal na Rua da Estrada Velha, n.º 15, Viseu,

Rafael Sviatopolk – Mirsky Raimundo, casado, empresário, natural do Rio de Janeiro,

Brasil, onde nasceu a 21 de Fevereiro de 1977, filho de Anacleto Abreu Raimundo e de

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Svetlana Sviatopolk – Mirsky Raimundo, residente quando em Portugal na Rua da Estrada

Velha, n.º 15, Viseu,

Pela prática, no processo principal e pelos factos descritos a fls.526 e seguintes,

aqui dados por reproduzidos, pelos arguidos, em co-autoria material, de um crime de fraude

na obtenção de subsídio ou subvenção, p. e p. pelo artigo 36º n.º 1 alínea c), n.º 2 e n.º 5 alínea

a) do Decreto-Lei n.º 28/84, de 20 de Janeiro.

No processo apenso A, o Ministério Público requereu o julgamento em processo

comum e com intervenção do Tribunal Colectivo, pelos factos descritos a fls. 160 e seguintes

aqui dados por reproduzidos, imputando ao arguido Rafael Sviatopolk – Mirsky Raimundo,

acima identificado e à arguida ABSS Broadcast, L.da, NIPC 510155677, com sede na Rua

Luís Ferreira, n.º 58, 3º, sala 6, e Viseu, a prática, em co-autoria material e concurso real de

dois crimes de fraude na obtenção de subsídio ou subvenção, p. e p. pelo artigo 36º n.º 1

alínea c), n.º 2 e n.º 5 alínea a) do Decreto-Lei n.º 28/84, de 20 de Janeiro.

*

No processo principal, os arguidos Alexandre Sviatopolk-Mirsky Raimundo e

Rafael Sviatopolk-Mirsky Raimundo apresentaram contestação, pela forma constante de fls.

888 e seguintes, sustentando, em síntese, por um lado, a ilegalidade da obtenção da prova

documental carreada para os presentes autos e que foi extraída de um processo de inquérito do

Tribunal de Caminha (processo n.º 207/10.2TACMN), invocando a nulidade das buscas ali

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realizadas e, por outro lado, impugnando os factos descritos no despacho de acusação que

alegam não corresponderem à verdade.

*

No apenso A, o arguido Rafael Sviatopolk-Mirsky Raimundo apresentou

contestação e rol de testemunhas, negando a prática dos factos, como resulta de fls. 187-188.

*

Procedeu-se a julgamento com observância das formalidades legais, como consta

da respectiva acta, sendo que nessa sede foi comunicada aos arguidos uma alteração não

substancial dos factos descritos nos respectivos despachos de acusação (processo principal e

processo apenso).

*

Da nulidade das buscas:

Os arguidos Rafael e Alexandre Raimundo invocam, em sede de contestação, a

nulidade da busca realizada nos autos, essencialmente, por três ordens de razões:

- A busca não foi realizada no local ordenado;

- Foi efectuada a instalações de órgãos de comunicação social, sem observância dos

necessários requisitos; e

-Foi realizada em escritório de advogado, igualmente sem observância dos requisitos e

cautelas impostas por lei.

Os presentes autos tiveram o seu início na sequência de suspeitas de fraude

relacionada com um projecto de investimento, efectuado no âmbito de Incentivo à

Consolidação e ao Desenvolvimento das Empresas de Comunicação Social Regional e Local,

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apresentado pela sociedade “Raimundo Comunicação Independente – Rádio e Jornais, Ld.ª”,

constituída pelos arguidos.

No decurso das investigações, foram emitidos os competentes mandados de busca à

“Sede da Sociedade “ABSSL – Audio Broadcasting Software, Ld.ª, sita na Rua do Comércio,

n.º 58, 3º, sala 5, Viseu.” (ver cópia junta a fls. 372).

Estabelece o n.º 5 do artigo 177º do Código de Processo Penal, que, tratando-se de

busca em escritório de advogado ou em consultório médico, ela é, sob pena de nulidade,

presidida pessoalmente pelo juiz, o qual avisa previamente o presidente do conselho local da

Ordem dos Advogados ou da Ordem dos Médicos, para que o mesmo, ou um seu delegado,

possa estar presente.

Por sua vez, estabelece o artigo 11.º n.º 6 do Estatuto do Jornalista, aprovado pela Lei

n.º 1/99, de 1 de Janeiro, a busca em órgãos de comunicação social só pode ser ordenada ou

autorizada pelo juiz, o qual preside pessoalmente à diligência, avisando previamente o

presidente da organização sindical dos jornalistas com maior representatividade para que o

mesmo, ou um seu delegado, possa estar presente, sob reserva de confidencialidade.

As acrescidas exigências estabelecidas na lei decorrem do especial dever de cautela

que envolve a realização de buscas a determinados locais, como seja a salvaguarda do sigilo

profissional associado ao exercício de determinadas profissões, como sejam o caso de

advogados ou, no caso dos meios de comunicação social, a protecção das fontes jornalísticas.

No caso dos autos, a busca ordenada à sede da empresa “ABSSL-Audio Broadcasting

Software System, L.da”, não obedeceu a qualquer destes requisitos cumulativos, tendo sido

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ordenada ou autorizada pelo Ministério Público (cf. certidão de despacho e mandados de

fls.372 e seguintes dos autos).

Da prova produzida, dúvidas não restam que no local efectivamente buscado

funcionavam órgãos de comunicação social, tal como resulta consignado no próprio auto de

busca, como dúvidas também não restam de que, segundo informação de fls.815 do Conselho

Distrital do Porto da Ordem dos Advogados, à data da busca, o Sr. Dr. Anacleto Abreu

Raimundo, portador da cédula profissional nº2101C, era advogado com inscrição em vigor e

tinha o domicílio profissional na Rua do Comércio, nº58, 3º andar, sala 6, 3500-110 Viseu.

A busca em escritório de advogado, como a busca domiciliária ou em órgão de

comunicação social, “constitui uma medida restritiva de direitos fundamentais e, como tal,

sujeita a reserva de lei e de juiz para a respectiva autorização. A finalidade da intervenção

judicial é assegurar a garantia de um controlo preventivo através de uma instância

independente e neutral que leve também em adequada consideração os interesses do titular

do direito fundamental restringido pela medida. De acordo com os princípios inscritos na

Constituição em matéria de direitos fundamentais, a autorização de uma medida restritiva de

direitos está necessariamente sujeita aos limites impostos pela necessidade, adequação e

proporcionalidade (cfr. arts. 18.º e 34.º da CRP). E o princípio da proporcionalidade exige

que a limitação dos direitos fundamentais de cada um se cinja ao indispensável para a

proteção do interesse público. Sendo sabido que não cabe ao juiz definir a estratégia da

investigação, não é menos certo, porém, que a ele cabe a avaliação da possibilidade de

empreendimento de outras medidas menos lesivas. As dúvidas sobre a proporcionalidade de

uma medida restritiva de direitos fundamentais não devem resolver-se contra o titular desse

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direito. É a restrição do gozo do direito que constitui a exceção, não a plenitude do seu gozo.

Significa isto que é a intervenção restritiva que demanda fundamentação alicerçada em

dados que permitam afirmar a adequação, necessidade e proporcionalidade da medida. Não

o seu indeferimento”.

Sem aqui entrarmos em apreciações sobre se ao tempo o Dr. Anacleto Abreu

Raimundo, ali exercia efectivamente, de facto, a actividade de advocacia, sendo também

irrelevante o número da sala (sala 6 ou 5), de acordo com aquele entendimento, na certeza de

que ali funcionava uma rádio, aliado ao facto da inscrição em vigor de advogado com

escritório domiciliado no local buscado, tal seria bastante para obrigar à observâncias

daqueles requisitos, tanto mais que as testemunhas Dr. Martinho Quintela e Daniel e Daniel

Américo Figueiredo, ouvidos em audiência de julgamento, referiram ter alertado os

Inspectores da PJ que levavam a cabo a busca, de que naquele local funcionava um escritório

de advogado – artigo 177º n.º 1 e 5 do Código de Processo Penal.

A busca em escritório de advogado ou órgão de comunicação social que não seja

autorizada pelo juiz ou que não seja presidida pelo juiz nem assistida por representante da

Ordem dos Advogados ou do sindicato de jornalistas, constitui uma proibição de prova

relativa e, por isso, nulidade sanável prevista no art.126º, nº3, do C. Proc. Penal, porque

claramente não constitui nenhum dos casos previstos no art.126º, nº1 e 2, do C. Proc. Penal,

(nesse sentido, Ac. do STJ 8.02.95 CJ, 3, 1, 194, STJ 11.06.2014, disponível em www.dgsi e

Germano Marques da Silva, 2002, pg.216).

O que no caso, implicaria a declaração de nulidade da prova.

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Contudo, haverá que ter em consideração que nem todas as nulidades são de

conhecimento oficioso, havendo algumas dependentes de arguição, em tempo e por quem se

encontrar legitimado a fazê-lo.

No que diz respeito à obtenção de provas proibidas que reconduzem à nulidade das

mesmas, haverá que distinguir entre provas absolutamente proibidas, as quais constituem

nulidade insanável, de conhecimento oficioso, e as provas relativamente proibidas, as quais

constituem nulidade sanável, dependentes de arguição.

Concretizando, caso as provas obtidas o sejam por métodos absolutamente proibidos,

não podem nunca ser utilizadas no processo, mesmo com o consentimento do visado, ao passo

que as provas obtidas por métodos apenas relativamente proibidos, as mesmas podem ser

valoradas pelo consentimento do titular. Neste último caso, verificando-se a nulidade, a

mesma é, no entanto, sanável, dependendo de arguição da pessoa interessada, conferindo-se

essa legitimidade (quer para o consentimento quer para a arguição) ao titular do direito em

relação ao qual se verificou a intromissão legal. Se o titular do direito pode consentir na

intromissão na esfera jurídica do seu direito, ele também pode renunciar expressamente à

arguição da nulidade ou aceitar expressamente os efeitos do ato, tudo com a consequência da

sanação da nulidade da prova proibida (vide nesse sentido, Paulo Pinto Albuquerque, in

Comentário ao Código de Processo Penal, 3ª Edição, Anotação ao art.126º).

Voltando ao caso que nos ocupa, o consentimento, a arguição da nulidade ou a sua

renúncia são direitos que pertencem, naturalmente, ao titular do direito ao sigilo profissional

afectado com a busca, isto é, ao advogado, Sr. Dr. Anacleto Abreu Raimundo, por um lado, e

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à empresa titular das rádios que funcionavam no local objecto da busca, por outro, cujos

interesses se visa acautelar.

Dos autos resulta inequívoco que os arguidos Rafael e Alexandre não são os titulares

desses direitos, não o sendo claramente no que diz respeito ao sigilo profissional de advogado

e não o sendo também em relação às rádios, nem tão pouco eles se assumiram nessa

qualidade, não dispondo, pois, de legitimidade para arguir a nulidade das buscas.

Não tendo esta nulidade sido invocada pelos respectivos titulares do sigilo profissional

afectado com a busca, teremos que conclui que essa nulidade se encontra sanada e, em

consequência, deverá ter-se por válida e bem assim válidas as apreensões efectuadas no

âmbito da mesma.

No que concerne à eventual discrepância na identificação do local da busca (sala 5 ou

6), tal constituiria mera irregularidade e só determinaria a invalidade da apreensão e dos

termos subsequentes, se tivesse sido arguida pelos interessados no próprio acto ou, se a este

não tivessem assistido, nos três dias seguintes a contar daquele em que tivessem sido

notificados para qualquer termo do processo ou intervindo em algum acto nele praticado (cf.

art.123º, nº1, do C. Proc. Penal).

No caso, os arguidos não arguiram, em devido tempo, expressamente qualquer

nulidade ou irregularidade consistente na discrepância na identificação do local da busca, pelo

que, a existir algum vício, sempre o mesmo estaria sanado, pelo decurso do prazo previsto no

artigo120º n.º3 alíneas a) e c) do Código de Processo Penal.

De todo o modo, a testemunha Daniel Américo Figueiredo Ferreira, confirmou que

naquelas instalações estava sedeada a empresa objecto da busca “ABSSL-Audio Broadcasting

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Software System, L.da”, pelo que dúvidas não existem que a busca àquela empresa foi

realizada no local onde a mesma funcionava, independentemente de ser na sala 5 ou 6.

Em face de todo exposto, julga-se improcedente a arguição de nulidade das buscas e,

em consequência, declara-se a validade das mesmas e bem assim das apreensões efectuadas

na sequência das mesmas.

Notifique.

*

Não se suscitam questões prévias ou incidentais susceptíveis de obstar à apreciação do

mérito da causa.

*

2. FUNDAMENTAÇÃO

2.1. Matéria de facto provada

Produzida a prova e discutida a causa, resultaram provados os seguintes factos:

Do Processo principal

1. Em 25 de Setembro de 2001, os arguidos Alexandre e Rafael e o André

Sviatopolk-Mirsky Raimundo, constituíram entre si a sociedade por quotas

“Raimundo Comunicação Independente – Rádio e Jornais, Ldª”, cuja gerência,

entre 21 de Fevereiro de 2002 e 20 de Março de 2006 esteve a cargo do

arguido Rafael, passando a partir de então a incumbir tal gerência ao arguido

André;

2. Por sua vez, a sociedade “Raimundo Comunicação Independente – Rádio e

Jornais, L.da” (abreviadamente RCI) tinha por objecto a exploração de

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emissoras de rádio e televisão, publicação de jornais e revistas, publicidade,

informática e afins e comercialização de componentes electrónicos, e,

inicialmente encontrava-se sediada na Avenida António José de Almeida, nº9,

mudando-se em 6 de Agosto de 2010 para a Rua Dr. Luís Ferreira, nº58, 3º

Andar, Sala 6, Viseu, onde ficou sediada até à sua dissolução, encerramento

da liquidação e cancelamento da matrícula, ocorridos em 2 de Maio de 2014;

3. A sociedade “ABSSL – Audio Broadcasting Software System, L.da”

(abreviadamente ABSSL), cujo objecto social era a prestação de serviços no

domínio da informática, produção, montagem e desenvolvimento de sistemas

de software para automação de rádios, produção, desenvolvimento e

montagem de programas multimédia e audiovisuais, representação, compra e

venda, importação, exportação e montagem de componentes electrónicos,

sistemas informáticos e de computação e publicidade) desde a sua

constituição, em 13 de Março de 2003, até à sua dissolução, encerramento da

liquidação e cancelamento da matrícula, ocorridos em 30 de Julho de 2012,

teve a sua sede na Rua do Comércio, n.º 58, 3º andar, Viseu;

4. O arguido Rafael Sviatopolk foi o único gerente da sociedade “ABSSL”

durante todo a existência desta, apesar de as decisões relativas à gestão da dita

sociedade serem tomadas, de comum acordo, com os arguidos Anacleto,

André e Alexandre, todos eles sócios da mesma sociedade;

5. Em data não concretamente apurada, mas seguramente ocorrida antes de

Março de 2009, os arguidos combinaram entre si uma forma de, através das

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sociedades “Raimundo Comunicação Independente – Rádio e Jornais, Ldª” e

“ABSSL – Audio Broadcasting Software System, Ldª”, de que todos eram

simultaneamente sócios, obterem da parte do Estado quantias monetárias para

pagamento de investimentos pretendiam efectuar para equipar a Rádio de Seia,

também por todos explorada;

6. Sucede que os arguidos bem sabiam que a Rádio de Seia não reunia as

necessárias condições para poder candidatar-se a tal incentivo, desde logo por

ser muito recente e carecer de toda uma série de requisitos contabilísticos que

permitissem obter a aprovação da sua candidatura;

7. Por esse motivo, e porque a “RCI”, empresa também ela propriedade dos

arguidos, como supra se disse, conseguiria reunir os requisitos impostos por

tal candidatura, logo os arguidos, aproveitando-se de serem os únicos sócios e

gerentes da “RCI” e da “ABSSL”, delinearam entre eles um plano com vista a

conseguirem ser subsidiados pelo Estado na aquisição do material pretendido

para a Rádio de Seia;

8. Assim, por requerimento datado de 25 de Março de 2009, subscrito pelo

André Raimundo, enquanto sócio gerente, dirigido ao Ministro dos Assuntos

Parlamentares, a sociedade “Raimundo Comunicação Independente – Rádio e

Jornais, L.da” candidatou-se ao Incentivo à Consolidação e ao

Desenvolvimento das Empresas de Comunicação Social Regional e Local,

previsto no art.3º do Decreto-Lei nº7/2005 de 6 de Janeiro;

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9. Tal incentivo consiste numa comparticipação do Estado, a fundo perdido, de

um montante que não exceda 50% do financiamento necessário à execução do

projecto aprovado;

10. Nesse projecto de candidatura, é apresentado um investimento num valor total

de 148.988€, composto pela utilização de capitais próprios no valor de

74.494€ e de outro tanto que receberiam do Estado a titulo de incentivo,

valores esses que vieram a ser rectificados, tendo sido aprovado e concedido à

sociedade “Raimundo Comunicação Independente – Rádio e Jornais, Lda.”

um subsídio a fundo perdido no valor de 72.494€, correspondente a 50% do

valor do projecto apresentado;

11. O projecto de investimento apresentado pela “Raimundo Comunicação

Independente – Rádio e Jornais, L.da” consistia, concretamente, na aquisição

dos seguintes equipamentos que precisavam ser substituídos na sua sede em

Viseu:

- Sistema Digital RM 5.3 Upgrade no valor de 10.000€ (sem IVA)

- Consola de Emissão Soundcraft Digital 12 faders +8 Externos AES/EBU no

valor de 20.478€ (sem IVA);

- Processador DEigital 8600 AES/EBU orban com extra HD MPX limiter, no

valor de 22.400€ (sem IVA);

- Leitores de CD, Professional Denon AES/EBU Duplo com MP3 e pitch, no

valor de 5.400€ (sem IVA);

- Bastidores de 42U e 32U, no valor de 5.700€ (sem IVA);

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- Distribuidor de Audio Rane, no valor de 1.300€ (sem IVA);

- Caixas de Rack e conversores VGA, no valor de 2.000 (sem IVA);

- Conversores VGA/PS2/USB para cabo UPT para remoto (5 unidades), no

valor de 4.000€ (sem IVA);

- Link Digital Moseley 2 Canais para ligação digital entre estúdios/emissor

com antenas, no valor de 35.040 (sem IVA);

- Sistema Digital RM Newsroom Newsbar system, no valor de 5.000€ (sem

IVA);

- Computador de produção ABSS – Premiu com raid system, no valor de

2.870€ (sem IVA);

- Computador de Emissão ABSS - Premiu com raid system, no valor de 5.740€

(sem IVA);

- Torre Galvanizada de 15 Metros triangular com espias, iluminação para

estúdios, no valor de 16.300€ (sem IVA):

- 1 unidade de instalação, no valor de 2000€ (sem IVA);

- Um microfone Neuman, no valor de 6.760€ (sem IVA);

12. Todavia, a factura apresentada no projecto de candidatura não correspondia à

realidade pois estava sobre-orçamentada, encontrando-se alguns dos

equipamentos facturados pela “ABSSL” sobreavaliados, sendo o valor real

dos mesmos muito menos de metade do valor constante de tal factura;

13. Com efeito, parte dos preços acima referidos resultavam de uma prévia

combinação entre o arguido Rafael Raimundo e o Anacleto Raimundo e

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André Raimundo, que, em data não concretamente apurada, combinaram entre

si sobre-facturar tais bens de modo a poderem auferir maior subsídio que

aquele a que teriam direito;

14. Na verdade, veio a apurar-se que, ao invés dos preços acima indicados, o

verdadeiro custo dos seguintes bens importaria em:

- Processador DEigital 8600 AES/EBU orban com extra HD MPX limiter,

custaria apenas 2.600€ e não o valor de 22.400€ constante da factura;

- Leitores de CD, Professional Denon AES/EBU Duplo com MP3 e pitch,

custaria apenas 1.638€ e não o valor de 5.400€ indicado na factura;

- Consola de Emissão Soundcraft Digital 12 faders +8 Externos AES/EBU,

custaria apenas o valor de 6.000,00€ e não o valor de 20.478€ indicado na

factura;

- Um microfone Neuman, custaria apenas 850€ e não o valor de 6.760€

indicado na factura;

15. Acresce que os equipamentos descritos em 14) foram pelos arguidos

adquiridos, pelos preços referidos no mesmo parágrafo, não para as

instalações da RCI em Viseu, como resultava do projecto de candidatura, mas

sim para a instalação de uma Rádio em Seia;

16. Com a candidatura a tal incentivo, a sociedade “Raimundo Comunicação

Independente – Rádio e Jornais, Ldª” apresentou toda a documentação

exigida, na qual se incluía o orçamento justificativo da verba solicitada, tendo

apresentado ainda a factura pró-forma nº72/2009, emitida em 17/11/2009 pela

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“ABSSL – Audio Broadcasting Software System, Ldª” no montante de

173.985,60€;

17. Face à apresentação de tal candidatura, instruída com os ditos documentos,

por despacho de 19/10/2010, foi atribuído pelo Estado à sociedade “Raimundo

Comunicação Independente – Rádio e Jornais, Ldª” um incentivo no valor de

72.494,00€, correspondente a 50€ do financiamento necessário à execução do

projecto aprovado, cujo pagamento foi efectuado em 18/12/2009;

18. Na sequência da adjudicação de tal incentivo foi o processo de candidatura

referido sujeito a uma auditoria vindo então a constatar-se que a “Raimundo

Comunicação Independente – Rádio e Jornais, Ldª” não logrou nunca

comprovar que havia efectuado os pagamentos das quantias acima referidas

para pagamento dos investimentos que no seu projecto de candidatura

declarava ter adquirido;

19. Mais se apurou que, como comprovativo de tais operações, foram juntos

apenas a factura nº72/2009, emitida em 17/11/2009 pela “ABSSL – Audio

Broadcasting Software System, Ldª” no montante de 173.985,60€ e o recibo

nº55/2009, emitido pela mesma sociedade e igualmente datado de 17/11/2009;

20. De tal situação, e porque as duas sociedades envolvidas tinham os aqui

arguidos como sócios e gerentes, veio pois a apurar-se que, afinal, os bens

constantes do projecto de candidatura da “Raimundo Comunicação

Independente – Rádio e Jornais, Ldª” ao incentivo em causa foram adquiridos

não por esta sociedade mas sim pela “ABSSL” e foram os mesmos

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canalizados para a estação de Rádio de Seia, também ela explorada pelos aqui

arguidos;

21. Por força da factura e do recibo falsamente emitidos pela “ABSSL – Audio

Broadcasting Software System, Ldª” e apresentado pela “Raimundo

Comunicação Independente – Rádio e Jornais, Ldª”, o Gabinete da

Comunicação Social veio a pagar o subsídio no montante atribuído, tendo sido

transferido para a conta bancária do André Raimundo a quantia de 25.000€, e

para a conta da “ABSSL” foram transferidas duas verbas de 12.500€, ficando

o restante na conta da RCI;

22. Para poder justificar a entrada das quantias recebidas pela RCI a título de

incentivo e por esta transferidas nos termos referidos, de modo a permitir

regularizar em termos contabilísticos as transferências de dinheiro efectuadas

pela “RCI”, em 31/12/2009, a “ABSSL” emite um registo contabilístico onde

faz constar falsamente a emissão de um documento de prestação de serviços

de publicidade por parte da “RCI” no mesmo valor do emitido e utilizado

como justificativo do investimento (isto é, 173.985,60€, que equivale a

144.988€ + 28.997,60 a título de IVA);

23. Os arguidos Rafael Raimundo e Alexandre Raimundo actuaram em

conjugação de esforços e intentos e, no seguimento de planos acordados entre

ambos, e utilizando para tanto as sociedades “RCI” e “ABSSL” de que eram

os únicos sócios e gerentes, emitiram facturas em valores superiores aos

transaccionados, falsificaram facturas e recibos, de modo a poderem adquirir

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os bens que pretendiam para a s instalações da Rádio de Seia logrando obter

do estado subsídio de metade do investimento declarado;

24. Bem sabia os arguidos não ter direito às quantias recebidas, no valor de

72.494,00€, sabendo outrossim que apenas lograram auferir as mesmas graças

à facturação falsa e à falsificação das demais declarações prestadas no seu

projecto de candidatura, em que anunciavam que tais bens se destinavam às

suas instalações de Viseu, quando na verdade os colocaram, como sempre foi

seu intuito, na Rádio de Seia;

25. Os arguidos agiram em comunhão de esforços e intentos, agindo nas

circunstâncias acima descritas de forma livre, deliberada e consciente, bem

sabendo serem as suas condutas proibidas e penalmente punidas;

Do Apenso A:

26. Em 25 de Setembro de 2001, o arguido Rafael Raimundo, juntamente com o

André e Alexandre Sviatolopolk-Misky Raimundo, constituíram entre si a

sociedade por quotas “Raimundo Comunicação Independente – Rádio e

Jornais, Ldª”, cuja gerência, entre 21 de Fevereiro de 2002 e 20 de Março de

2006 esteve a cargo do arguido Rafael, passando a partir de então a incumbir

tal gerência ao André Sviatolopolk-Misky Raimundo, até à data da dissolução

daquela, em 2 de Maio de 2014;

27. A sociedade “ABSSL – Audio Broadcasting Software System, Ldª”

(abreviadamente ABSSL), cujo objecto social era a prestação de serviços no

domínio da informática, produção, montagem e desenvolvimento de sistemas

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de software para automação de rádios, produção, desenvolvimento e

montagem de programas multimédia e audiovisuais, representação, compra e

venda, importação, exportação e montagem de componentes electrónicos,

sistemas informáticos e de computação e publicidade) desde a sua

constituição, em 13 de Março de 2003, até à sua dissolução, encerramento da

liquidação e cancelamento da matrícula, ocorridos em 30 de Julho de 2012,

teve a sua sede na Rua do Comércio, n.º 58, 3º andar, Viseu;

28. O arguido Rafael Sviatopolk foi o único gerente da sociedade “ABSSL”

durante toda a existência desta, sendo também sócio da mesma juntamente

com Anacleto Raimundo, André e Alexandre Sviatolopolk-Misky Raimundo;

29. Por sua vez, a arguida “ABSS –Broadcast, Ldª” (abreviadamente ABSS), foi

constituída em 26 de Janeiro de 2012, tendo como sócios o arguido Rafael

Raimundo e o Anacleto Raimundo, cabendo a cada um destes duas quotas

sociais no valor de 2.5000€;

30. O arguido Rafael Sviatopolk foi o único gerente da sociedade “ABSS” durante

todo a existência desta, bastando a sua assinatura para obrigar aquela

sociedade;

31. Por requerimentos datados de 31/3/2011 e 3/8/2012, a sociedade “Raimundo

Comunicação Independente – Rádio e Jornais, Ldª” (doravante, RCI)

candidatou-se, por duas vezes, ao Incentivo à Consolidação e ao

Desenvolvimento das Empresas de Comunicação Social Regional e Local,

previsto no art.3º do Decreto-Lei n.º 7/2005 de 6 de Janeiro;

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32. Tal incentivo consiste numa comparticipação do Estado, a fundo perdido, de

um montante que não exceda 50% do financiamento necessário à execução do

projecto aprovado face ao valor titulado nas facturas apresentadas;

33. Para justificar o recebimento de tal incentivo, na primeira dessas candidaturas,

o arguido Rafael Raimundo, em nome e representação da arguida ABSSL de

que era sócio gerente, preencheu a factura com o n.º 43/2011 de 9/12/2011,

nela indicando o valor de 60.834,57€,que passou em nome da RCI;

34. Tendo por base tal factura, foi a primeira das referidas candidaturas aprovada

em 25/11/2011, e na sequencia dessa aprovação, em 28 de Dezembro de 2011,

efectuou o GMCS uma transferência bancária para a conta n.º48300804 do

BCP, titulada pela RCI, no valor de 26.213,27€ (correspondente a 50% do

valor líquido da referida factura), valor esse que, todavia, não foi usado para

proceder à aquisição dos bens facturados mas antes acabaram por ser

transferidos para a conta bancária titulada pelo arguido Rafael Raimundo, que

assim se apropriou ilegitimamente de tal quantia;

35. De igual modo, para justificar a segunda candidatura, o arguido Rafael

Raimundo em nome e representação da arguida ABSS de que era sócio

gerente, preencheu a factura com o n.º F 155, de 6/11/2012, nela indicando o

valor de 52.072,05€,que passou em nome da RCI;

36. Tendo por base esta factura, foi a segunda candidatura aprovada em

25/10/2012 vindo, em 21 de Novembro de 2012, o GMCS a efectuar uma

transferência bancária para a conta n.º48300804 do BCP, titulada pela RCI, no

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valor de 22.437,55€ (correspondente a 50% do valor líquido da referida

factura), valor esse que, todavia, não foi usado para proceder à aquisição dos

bens facturados, acabando por ser transferidos para a conta bancária titulada

pela arguida ABSS, representada pelo arguido Rafael Raimundo, que assim se

apropriou ilegitimamente de tal quantia;

37. Com efeito, as facturas emitidas pela arguida ABSS não correspondiam ao

pagamento da venda de qualquer bem ou prestação de serviço que aquela

arguida tivesse efectuado à empresa RCI, antes tendo servido tão só de meio

para que esta última lograsse obter a quantia monetária, a título de subvenção,

a que se candidatara;

38. O arguido Rafael Raimundo, aproveitando-se da sua posição de sócio gerente

da ABSS - Broadcast, Ldª e da extinta ABSSL - Audio Broadcasting Software

System, Ldª, emitiu as duas facturas acima referidas, que não correspondiam a

quaisquer fornecimentos de bens ou serviços, com o intuito de, mediante a

apresentação das mesmas, a extinta Raimundo Comunicação Independente –

Rádio e Jornais, Ldª viesse a obter do estado subsídio de metade do

investimento declarado em tais documentos, o que conseguiu;

39. Bem sabia o arguido que a RCI não tinha direito às quantias recebidas, no

valor de total de 48.650,82€, sabendo outrossim que a mesma apenas logrou

auferir as mesmas graças à facturação falsa e à falsificação das demais

declarações prestadas no seu projecto de candidatura, em que anunciava a

aquisição de tais bens à arguida ABSS e à ABSSL para incremento da

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actuação da RCI, bens que nunca chegaram a entrar nesta última empresa

sendo que foram os arguidos Rafael e ABSS quem, a final, se apropriaram de

tais quantias pagas pelo Estado, não obstante bem saberem não lhes serem as

mesmas devidas;

40. Agiu o arguido Rafael nas circunstâncias acima descritas de forma livre,

deliberada e consciente, bem sabendo serem as suas condutas proibidas e

penalmente punidas;

Condições pessoais e sociais dos arguidos e impacto jurídico-penal

41. Rafael Raimundo é natural do Brasil, país para onde o pai havia emigrado

ainda jovem e onde nasceu a mãe, cujos progenitores eram cidadãos russos. É

o mais novo de três irmãos, tendo a família vindo para Portugal em agosto de

1986, por decisão do pai, que considerou experienciar temporariamente a

vivência no nosso país, sobretudo, ao nível da educação e formação dos filhos,

sendo que tal situação viria a assumir carácter definitivo;

42. Quer no Brasil quer em Portugal a família sempre beneficiou de condições

económicas favoráveis, desenvolvendo o pai as actividades de advocacia e

empresarial;

43. Da sua infância e juventude, o arguido guarda recordações positivas,

denotando um sentimento de pertença e identidade familiar que parecem ter

contribuído favoravelmente para a formação da sua personalidade,

preocupavam-se os pais com a transmissão de valores e regras de conduta;

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44. Ao nível escolar, após ter sido sujeito a uma prova de aptidão em Lisboa

quando veio do Brasil, foi integrado no 4.º ano de escolaridade, tendo

registado sucesso ao longo do seu percurso;

45. A frequentar o curso universitário de Engenharia Electrotécnica e de

Computadores no Instituto Superior Técnico de Lisboa, Rafael Raimundo

colaborava paralelemente com o pai na empresa ligada a uma Rádio, onde lhe

suscitava particular interesse a parte técnica, actividade que acabaria por o

afastar da frequência daquele curso, o qual ainda não terminou. Contudo,

constitui um dos seus objectivos a concretizar, a curto prazo, a conclusão do

mesmo, prevendo que tal aconteça em apenas um ano lectivo;

46. Do ponto de vista profissional, sempre esteve ligado às empresas da família

(pai e irmãos), nomeadamente, àquela que está em causa nos presentes autos, a

“ABSSL – Audio Broadcasting Software System, Lda.”, cuja dissolução

ocorreu em finais de Julho de 2012;

47. Regressados os pais e os dois irmãos ao Brasil, o arguido ficou sozinho a gerir

o que resta da empresa da Rádio, a qual chegou a ter 22 colaboradores;

48. Um acentuado decréscimo na procura dos serviços de publicidade e os

créditos acumulados ao longo do tempo, determinaram a situação em que se

encontra. Desde então, tem vindo a desenvolver um projecto com um grupo

que tem várias rádios, prestando serviços para o mesmo, na área técnica;

49. Os rendimentos, muito variáveis, que vai conseguindo e a remuneração da

esposa como Técnica Superior no Município de Viseu, vão permitindo ao

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casal fazer face às despesas do agregado familiar, ainda que tal implique uma

gestão muito rigorosa de tais recursos económicos, dado terem despesas fixas

mensais superiores a 1.200 euros;

50. Rafael Raimundo, o cônjuge com quem casou em 2010, e o filho de ambos, de

5 anos, residem num apartamento arrendado localizado no centro da cidade de

Viseu;

51. O relacionamento conjugal foi descrito como gratificante e isento de conflitos

significativos, assentando numa dinâmica de coesão e de apoio;

52. Uma vez que os familiares mais próximos se encontram a residir no Brasil, o

arguido compensa tal ausência através do convívio que mantém com a família

da esposa, sendo a principal forma de ocupar os seus tempos livres;

53. Em termos pessoais, revela ser uma pessoa com um bom contacto interpessoal

e com uma personalidade assente em valores pró-sociais;

54. É considerado correto e cordial nos contactos que mantém com os outros;

55. Para além do presente processo judicial Rafael Raimundo referiu dois

contactos anteriores com o sistema de Justiça, tendo sido proferidas decisões

que se encontrarão em fase de recurso;

56. Relativamente aos presentes autos, discorda dos termos em que se encontra

acusado, contudo, reconhece que os confrontos com as estruturas judiciais lhe

têm provocado grande inquietação e, num momento inicial, alguma tensão no

relacionamento conjugal, situação que se encontra ultrapassada, beneficiando

agora do total apoio da esposa;

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57. O arguido Alexandre vive no Brasil, no Rio de Janeiro, com a esposa e o filho

de 1 ano e 7 meses de idade, sendo a sua esposa militar das Forças Armadas;

58. Trabalha como empresário de telecomunicações;

59. Tem a frequência do 4º ano de Direito;

60. A arguida ABSS, Broadcast, L.da tem um capital social de €10.000,00 e no

exercício de 2015 apresentou um volume de negócios de €101.748,30 e um

lucro tributável de €9.668,88.

Antecedentes criminais dos arguidos

61. Os arguidos pessoas singulares e a arguida sociedade não têm antecedentes

criminais.

2.2. Matéria de facto não provada

Para além dos factos meramente conclusivos, que contenham matéria de direito ou que

estejam em manifesta contradição com os dados como provados, nada mais se provou com

relevância para a decisão da causa, não se provando que:

1. Todos os equipamentos que constam da factura n.º 72/2009, da ABSSL, foram

adquiridos pela RCI, fornecidos e instalados;

2. O pagamento da RCI para a ABSSL não foi feito integralmente pela RCI mas sim

via sócios e em dinheiro, em termos contabilísticos foi feito integralmente por

caixa;

3. Alguns montantes foram pagos directamente via bancos e o restante através de

encontro de contas dos sócios com as empresas e via caixa e bancos;

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4. A RCI factura pacotes de publicidade à ABSSL que, por sua vez, revendia a

publicidade a clientes de Viseu;

5. Todo o material comprado foi para a RCI em Viseu e não para a Rádio de Seia;

6. Nas circunstâncias descritas em 2.1.31. tenha sido o arguido Rafael Raimundo

quem subscreveu os requerimentos ali referidos;

7. Nas circunstâncias descritas em 2.1.33. o arguido Rafael Raimundo tenha

preenchido a factura ali referida em nome e em representação da arguida ABSS;

8. Nas circunstâncias descritas em 2.1.36. a verba ali referida acabasse por ser

transferida para a conta bancária titulada pelo arguido Rafael Raimundo.

2.3. Motivação da matéria de facto

A convicção do Tribunal no que respeita à factualidade provada formou-se com base

na conjugação de toda a prova produzida em sede de audiência de julgamento e recurso às

regras de experiência comum.

No que se refere aos factos descritos em 2.1.1. a 2.1.25. (processo principal) tomou em

consideração o tribunal, desde logo, o teor dos documentos de fls.4-63, certidão de fls. 64-65,

documentos de fls.66-187, factura de fls. 188, recibo de fls. 189, documentos de fls.190-201,

relatório de fls.202-226, documentos de fls.227-272 e 295-300, documento de fls. 343,

documentos de fls. 359-454, certidão de fls. 455-459, relatório da PJ de fls.460-464,

documentos de fls. 815 e 816 e 1074-1075.

Para além da prova documental, valorou o tribunal os depoimentos das seguintes

testemunhas, prestados em sede de audiência de julgamento:

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- Arlindo Ferreira, Inspector da Polícia Judiciária, fora da efectividade de funções

desde 2015, o qual depondo de forma isenta e credível, começou por esclarecer a sua função

de investigador nos presentes autos. Para além disso, confirmou e esclareceu o teor do

relatório por si elaborado e que consta a fls. 460-464 e a forma como chegou às conclusões ali

apontadas;

- José António Lino Craveiro, jurista, actualmente exercendo funções na Secretaria

Geral da Presidência do Conselho de Ministros e à data dos factos exercia as funções de

jurista no Gabinete para os Meios de Comunicação Social, tendo como função apreciar os

processos de candidatura a fundos comunitários. No essencial, esta testemunha, depondo com

isenção e credibilidade, reportou-se ao relatório de auditoria que consta a fls. 202 e seguintes

dos autos principais, esclarecendo que no que diz respeito ao subsídio concedido a que se

reportam aqueles autos, não foi obtida a evidência do pagamento ao fornecedor do material

alegadamente adquirido e que tal não veio a acontecer mesmo depois de solicitados

esclarecimentos à RCI, sendo certo que tal só seria evidenciado através de cheque ou

transferência bancária já que era proibido fazer o pagamento em dinheiro. Mais disse que tal

constituía uma das condições da candidatura e que era do conhecimento de quem apresentava

a candidatura;

- Daniel Américo Figueiredo Ferreira, o qual referiu ter trabalhado como locutor de

rádio, na RCI, desde 1988 até há cerca de 3 ou 4 anos e, depondo com isenção e credibilidade,

com relevo para os autos referiu que no mesmo espaço onde funcionava a RCI, funcionava

também a Rádio de Seia e o Engº Rafael. Mais disse que a RCI nunca fez publicidade à

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ABSSL, nem no ano de 2009, nem posteriormente e que se tal tivesse acontecido seria do seu

conhecimento;

- Maria Mabília de Sousa Amaral, funcionária da RCI como angariadora de

publicidade, a qual, depondo com credibilidade, referiu de interesse para aos autos que era o

Sr. Daniel quem fazia os spots publicitários e que não é do seu conhecimento que a RCI

fizesse publicidade à ABSSL;

- Pedro Miguel Nunes de Sousa, auditor, funcionário da BDO, disse conhecer os

arguidos por ter feito uma auditoria à RCI, auditoria contratada pelo Gabinete para os Meios

de Comunicação Social (GMCS). Depondo com credibilidade e isenção referiu que o objecto

da auditoria consistia em saber se o material tinha sido adquirido, se estava a funcionar e se

tinha sido pago e que no âmbito da auditoria realizada tiveram dificuldades em saber se o

equipamento tinha sido pago ao fornecedor. Pese embora tivesse dificuldades em se recordar

da situação em concreto em face do tempo decorrido, disse que a auditoria foi desfasada no

tempo em relação ao projecto, ter ideia de que se tratava de uma única factura e que terá feito

no local a conferência do equipamento através da mesma, com os números de série. Mais

disse que a ilegibilidade das despesas era duvidosa porque não se demonstrou o fluxo

financeiro do pagamento.

As restantes testemunhas ouvidas não contribuíram com relevância para a decisão da

causa, razão pela qual se não faz referência aos seus depoimentos.

Da conjugação de toda a prova produzida e acima referida fica-nos a convicção da

verificação dos factos que foram dados como provados, sendo a factura n.º 72/2009 e o recibo

n.º 55/2009 falsos, não tendo os arguidos adquirido aquele material nem tão pouco o pagaram,

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sendo certo que as justificações apresentadas pelos arguidos em sede de declarações (em

suma: acerto de contas entre sociedades, suprimentos de sócios, acertos de contas entre os

sócios) não foram corroboradas por qualquer meio de prova e antes foram infirmadas pelos

acima elencados.

Na verdade, inexiste nos autos qualquer prova documental do pagamento da factura n.º

72/2009 por parte da RCI à ABSSL, sendo certo que tal prova teria que consistir em cheques

ou transferências bancárias, não constituindo prova dos fluxos financeiros a referida factura e

o recibo n.º 55/2009. Dos autos resulta que a RCI veio alegar o pagamento de duas tranches

no montante de €12.500,00 cada uma, realizadas em Dezembro de 2009 e que a liquidação do

restante teria sido feita directamente pelos sócios ao fornecedor, não tendo, contudo, logrado

demonstrar documentalmente tal desiderato. Por outro lado, não deixa de ser no mínimo

estranho que n.º 55/2009 tenha a data de 17 de Novembro de 2009 e, como tal, anterior ao do

pagamento efectuado pelo GMCS, o qual ocorreu no dia 18 de Dezembro de 2009.

Por outro lado, do quadro descrito a fls. 343 o qual consiste numa análise às

contas bancárias dos arguidos, resulta que do montante de €72.494,00 pagos pelo GMCS, o

qual foi transferido para uma conta da RCI, foram transferidos para a ABSSL duas tranches

de €12.500,00 cada, uma no dia 23 de Dezembro de 2009 e a outra no dia 30 de Dezembro de

2009. Do restante, €25.000,00 foram transferidos para a conta do André Raimundo, através de

três tranches, duas de €10.000,00 e uma de €5.000,00 (dias 29/12/2009 e 31/12/2009), sendo

que o que sobrou ficou na conta da RCI. Donde resulta que, do valor titulado pela factura n.º

72/2009, apenas €25.000,00 foram transferidos para o fornecedor e com o dinheiro

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proveniente do GMCS, sendo certo que, como adiante se verá, tal quantia não se destinou à

aquisição de qualquer equipamento.

Pese embora tal montante não ter sido pago, como se disse, ele aparece compensado e

registado contabilisticamente na ABSSL. Com efeito, no documento de fls. 400, datado de 31

de Dezembro de 2009, é contabilizada uma suposta prestação de serviços de publicidade da

RCI para a ABSSL, pasme-se, exactamente no mesmo valor da factura - €173.985,60!!,

quando é certo e, como resulta da prova testemunhal acima elencada, a RCI nunca prestou

serviços de publicidade para a ABSSL no ano de 2009.

Outra conclusão não se poderá extrair que não seja a de que os arguidos quiseram

obter o montante do subsídio em questão e, com a suposta publicidade, regularizar

contabilisticamente tal valor, evitando desta forma a obrigação de pagamento de IVA

incidente sobre tais supostas vendas de materiais constantes da factura n.º 72/2009.

A sustentar e para explicar todas estas movimentações temos os emails de fls. 408 a

454 dos autos, onde os arguidos deixam claro quais as suas intenções.

No email que consta a fls. 412, no dia 13 de Abril de 2009, o arguido Rafael dá conta

ao arguido Alexandre, ao Anacleto Raimundo e ao André Raimundo de que o projecto da RCI

irá conter equipamentos realmente a comprar, com outros já existentes para haver um encaixe

financeiro.

No email de fls. 425-428, enviado pelo arguido Alexandre ao arguido Rafael, datado

de 1 de Dezembro de 2009, aquele diz que o projecto da RCI foi aprovado mas que “pode-se

não comprar nada, mas que tal será impossível justificar numa auditoria certos

equipamentos, para mais, o que tem de ser comprado é que tem de ser comprado para seia,

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logo vem em perfeita altura”. Nesse mesmo email envia a relação do equipamento que terá de

ser adquirido e do que poderá ser maquiado, sendo que dessa lista constam os valores reais

dos equipamentos a adquirir, tal como consta dos factos provados. Daqui resulta que o

equipamento a adquirir para o projecto apresentado pela RCI totalizava apenas a quantia de

€14,458,00. Também ali se faz referência ao encontro de contas entre a ABSSL e a RCI

através do cruzamento de facturas por forma a evitar o pagamento do IVA, o qual se veio a

concretizar, como acima se referiu, com o documento de fls. 400. Tudo visto, diz o arguido

Alexandre, dá para adquirir o material da RCI, daquele que irá para Seia e ainda resta um

lucro de cerca de 50 mil euros.

No email de fls. 435-436, datado de 26 de Janeiro de 2010, o arguido Rafael diz que a

única razão para ter passado os €25.000,00 para a ABSSL foi por causa da ATM, aqui

surgindo a explicação para o movimento dessa quantia para a ABSS e a restante quantia ter

ficado na RCI. Mais diz o arguido Rafael que a forma como vai ser movimentado o dinheiro

para efeitos de futuras auditorias ainda não tinha definido, justamente para ter os valores do

fecho definidos.

Finalmente, no email de fls. 437, do André Raimundo para o arguido Rafael aquele

refere que em termos de movimentação de contas, convinha que este transferisse o dinheiro

para a Raimundo para compor o saldo. Refere ainda que é importante ver com a funcionária

Almerinda os circuitos dos incentivos para chegarem ao valor final de IVA o quanto antes.

Mais uma vez, em 27 de Janeiro de 2010, o arguido Rafael diz para o seu pai Anacleto

Raimundo que a movimentação dos incentivos da RCI deverá passar para a ABSS, depois

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para os sócios, depois dos sócios para a RCI e aí de novo para a ABSS e no final para a RCI,

onde ficará.

Se dúvidas houvesse, e já não havia, estes emails explicam e demonstram claramente

que nunca houve qualquer pagamento dos equipamentos referidos na candidatura e na

respectiva factura por parte da RCI à ABSSL, não contendendo com estas conclusões que

resultam à saciedade, o depoimento prestado pela testemunha Pedro Miguel Nunes de Sousa,

a qual se notou ter algumas dificuldades em se recordar da situação, o que é normal se

pensarmos no tempo que passou. Assim, não obstante este ter dito que conferiu no local o

equipamento com os números de série, não cremos que o tenha feito na realidade, desde logo

porque da factura não consta qualquer número de série e, por outro lado, mesmo que ele tenha

feito a conferência do equipamento, não seria difícil aos arguidos, avisados que eram da

auditoria, em ali colocar equipamento compatível com o descrito na factura, tanto mais que a

Rádio de Seia funcionava no mesmo local, facto que consta do mandado de busca

referenciado a fls. 372 e foi referido pela testemunha Daniel Ferreira.

Quanto aos factos descritos em 2.1.26.-2.1.40. (apenso A), relevou desde logo o teor

do documento de fls. 15, factura de fls. 16, certidões de fls.17 e 18, documento de fls.19,

factura de fls. 20, certidões de fls. 21-23, documentos de fls. 25-36, certidão de fls. 37-41,

documentos de fls.45-57, certidões de fls.66-69, 70 e 71, documentos de fls.74-84, 93 e 94,

97-101, 105-107, Informação de fls.109-111 e documentos de fls. 132-134, todos do apenso

A. Teve-se também em consideração o teor dos documentos de fls.1, 46, 53, 96, 98, 110, 133,

166, 167, 168, 181, 182, 196, 219, 230, 231, 232, 233, todos do Apenso I dos Documentos

Bancários.

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Para além disso, valorou o tribunal valorou o tribunal os depoimento das seguintes

testemunhas, prestado em sede de audiência de julgamento:

- Arlindo Ferreira, Inspector da Polícia Judiciária, fora da efectividade de funções

desde 2015, o qual depondo de forma isenta e credível, começou por esclarecer a sua função

de investigador nos presentes autos. Para além disso, confirmou e esclareceu o teor da

informação por si elaborada e que consta a fls.109-111 e a forma como chegou às conclusões

ali apontadas;

- Susana Gomes Pereira, auditora financeira da BDO, a qual, de forma isenta e

credível, referiu ter realizado auditoria a projectos financiados pelo GMCS (gabinete para os

meios de comunicação social), a pedido deste, onde se incluem os projectos em causa nos

autos. A esse propósito referiu que foi realizada auditoria por suspeitas sobre a elegibilidade

das despesas por ausência de fluxos financeiros que o justificassem, sendo que as conclusões

se encontram no relatório de fls. 26 e seguintes dos autos. Mais referiu não ter sido feita a

verificação física da existência dos equipamentos não só porque não tal verificação não fazia

parte do caderno de encargos da auditoria como também pelo facto de o equipamento poder

ter sido vendido dois anos depois já que os projectos eram antigos. De relevo disse que caso

tivessem feito uma verificação física dos equipamentos a empresa visada era sempre avisada

da sua visita;

- Mafalda Cristina Abade da Silva Bastos Lopes, auditora financeira da BDO, a qual,

de forma isenta e credível, referiu ter realizado auditoria a projectos financiados pelo GMCS

(gabinete para os meios de comunicação social), a pedido deste, onde se incluem os projectos

em causa nos autos. A esse propósito referiu que as conclusões da auditoria se encontram no

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relatório de fls. 26 e seguintes dos autos. Mais referiu não ter sido feita a verificação física da

existência dos equipamentos porque não tal verificação não fazia parte do caderno de

encargos da auditoria. De relevo disse que não tiveram acesso aos extractos bancários da

ABSS e só aos da RCI porque não fazia parte do caderno de encargos a consulta daqueles

extractos.

Da conjugação de toda a prova produzida e acima referida, com destaque e maior

relevo para os documentos referidos, fica-nos a convicção da verificação dos factos que foram

dados como provados, sendo certo que as justificações apresentadas pelos arguidos em sede

de declarações (em suma: acerto de contas entre sociedades, suprimentos de sócios, acertos de

contas entre os sócios) não foram corroboradas por qualquer meio de prova e antes foram

infirmadas pelos acima elencados.

Com efeito, no que diz respeito aos factos provados em 2.1.31.-2.1.34 verifica-se que

para justificar o recebimento desse incentivo, no montante global de €26.213,27, foi

apresentada a factura n.º 43/2011, de 09/12/2011, emitida pela ABSSL, a qual se referia à

compra de diverso equipamento para a RCI no valor ali referido - €60.834,57 (fls. 16 do

apenso A).

Tal candidatura foi aprovada no dia 25 de Novembro de 2011, tendo nessa sequência

sido creditada na conta da RCI do BCP n.º 48300804, da qual era titular o André Raimundo,

no dia 28 de Dezembro de 2011 a quantia de €26.213,27.

Contudo, esse valor não serviu para a aquisição dos bens descritos na referida factura,

já que foi transferido em 3 de Janeiro de 2012 e 9 de Janeiro de 2012, em parcelas de

€10.000,00, €6.213,27 e de duas parcelas de €5.000,00 para a conta da RCI do Banco

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Santander Totta, conta essa com o n.º 0003.22952188020, conforme resulta de fls. 166 do

apenso de documentos bancários.

No dia 6 de Janeiro de 2012, a RCI havia transferido desta conta com o n.º

0003.22952188020 para a conta n.º 0003.22952881020 do Banco Santander Totta, titulada

pela ABSSL, a quantia de €15.000,00, como se vê de fls. 96 e 166 do apeno de documentos

bancários.

Após, no dia 20 de Janeiro de 2012, a RCI transferiu da sua conta n.º

0003.22952188020 do Banco Santander Totta para a conta do mesmo Banco com o

n.º0003.22952881020, titulada pela ABSSL a quantia de €10.000,00, como se vê de fls. 96 e

167 do apenso de documentos bancários.

Por fim, no dia 13 de Fevereiro de 2012 a RCI transfere da sua conta n.º

0003.22952188020 do Banco Santander Totta para a conta da ABSSL do mesmo Banco com

o n.º n.º0003.22952881020 a quantia de €35.834,57, assim se perfazendo o pagamento do

restante montante constante da factura n.º 43/11, como se vê de fls. 168 do apenso de

documentos bancários.

Como claramente resulta destes movimentos bancários, o montante constante da

referida factura, se por um lado “foi paga” com a quantia de €26.213,27 proveniente do

subsidio concedido, no restante “foi paga” com verbas provenientes da própria ABSSL uma

vez que no dia 8 de Fevereiro de 2012, a ABSSL emitiu um cheque a favor do arguido Rafael

Raimundo o cheque que consta de fls. 98 e 196, no montante de €36.000,00, cheque esse que

no mesmo dia foi depositado pelo mesmo arguido Rafael na conta n.º 171676421 do BCP,

titulada pelo próprio, como resulta de fls. 196 e 53 do referido apenso.

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No dia 9 de Fevereiro de 2012, o próprio arguido Rafael emite os cheques que

constam a fls. 212 a 214, cada um no montante de €12.000,00, para após a RCI no dia 13 de

Fevereiro de 2012, efectuar a última parte do pagamento da quantia de €35.854,57, sendo

certo que sem estas verbas não existia saldo na RCI para efectuar esse pagamento, como se

pode ver de fls. 168 do apenso de documentos bancários e do referido extracto de conta.

Em conclusão, para além da quantia subsidiada (€26.213,27) pelo GMCS, não existe

qualquer pagamento por parte da RCI à ABSSL uma vez que o montante restante proveio,

como acima se demonstrou, da própria ABSSL, tudo para fazer acreditar que o investimento

tinha sido feito a 100% como constava da factura, o que não aconteceu, facto que resulta do

que acima se expôs, não sendo despiciendo referir a proximidade dos dias em que foram feitas

todas as movimentações bancárias, algumas no próprio dia ou no dia seguinte.

A forma contabilística encontrada para esconder ou branquear todas estas operações,

foi fazer reflectir na contabilidade da RCI as verbas provenientes da ABSSL como

empréstimos do sócio Alexandre Raimundo, conforme se vê do extracto de conta de

conferência da RCI de fls. 46 dos autos.

No que diz respeito aos factos provados em 2.1.31.-2.1.32 e 2.1.35.-2.1.37., refere-se

ai à concessão de um subsídio no montante global de €22.437,55, sendo que para justificar o

recebimento de tal montante foi apresentada a factura n.º 155/2012, de 6 de Novembro de

2012, conforme resulta de fls. 20 do apenso A, factura emitida pela ABSS e que se referia à

compra pela RCI à referida ABSS de diverso equipamento, no valor ali referido - €52.072,05.

A candidatura a tal subsídio veio a ser aprovada em 25 de Outubro de 2012, conforme

resulta de fls. 25 do apenso A e foi creditada na conta da RCI do BCP com o n.º 48300804, no

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dia 21 de Novembro de 2012, a quantia de €22.437,55, como se vê de fls. 51 e 52 do apenso

A.

Logo no dia seguinte, ou seja, no dia 22 de Novembro de 2012, o arguido Rafael

levantou €20.000,00 da conta n.º 0003.22952882020, titulada pela ABSSL (sociedade que se

encontrava extinta desde 30 de Julho de 2012), como resulta de fls. 110 e 233 do apenso de

documentos bancários.

De seguida, nesse mesmo dia, efectuou dois depósitos de €10.000,00 na conta n.º

0003.2295288020, titulada pela RCI, como resulta de fls. 181, 230 e 231 do apenso de

documentos bancários.

No dia 29 de Novembro de 2012 o arguido Rafael depositou mais €10.000,00 em

numerário nessa conta titulada pela RCI, como resulta de fls. 181 a 232 do apenso de

documentos bancários.

Ora, foi com esse dinheiro que no dia 14 de Dezembro de 2012 a RCI efectuou o

pagamento da quantia de €52.072,05 da factura n.º155/2012, conforme resulta de fls. 133 e

182 do apenso de documentos bancários.

Como é bom de ver, o pagamento da factura foi efectuado com verbas do GMCS e

com verbas próprias da ABSS, já que a ABSSL já estava extinta, o que significa que o valor

excedente ao do subsídio (€29.634,05) nunca foi pago, sendo certo que todas estas

movimentações bancárias foram destinadas a dar a aparência de que o investimento

subsidiado havia sido efectivamente realizado, o que não ocorreu.

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No tocante aos elementos subjectivos de todos os crimes praticados foram

consideradas as regras da experiência comum em face do contexto e condições em que os

factos foram praticados e da actuação dos arguidos.

Quanto aos antecedentes criminais dos arguidos valorou o tribunal o teor dos seus

certificados de registo criminal juntos aos autos a fls.935-937.

No que diz respeito às condições pessoais, económicas e sociais dos arguidos (factos

descritos em 2.1.41. a 2.1.59. e 2.1.60.), considerou o tribunal o relatório social junto aos

autos apensos a fls.256-259 quanto ao arguido Rafael, as declarações prestadas a esse respeito

pelo arguido Alexandre e o teor da certidão permanente de fls.1119-1122 e documento de fls.

1125-1130 quanto à sociedade arguida.

Quanto aos factos não provados, a convicção do tribunal alicerçou-se na análise crítica

de toda a prova produzida em julgamento designadamente a que se expressou e na falta de

consistência da mesma sobre a factualidade em causa, em resultado, nomeadamente, de não

terem sido carreados outros elementos probatórios credíveis e com força bastante para os

sustentar, quer testemunhal, quer documental.

3. ASPECTO JURÍDICO DA CAUSA

3.1. Da responsabilidade criminal

Assentes os factos, façamos o seu enquadramento jurídico-penal.

Os arguidos Rafael Raimundo e Alexandre Raimundo encontram-se pronunciados, no

processo principal pela prática, em co-autoria material, de um crime de fraude na obtenção de

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subsídio ou subvenção, p. e p. pelo artigo 36º n.º 1 alínea c), n.º 2 e n.º 5 alínea a) do Decreto-

Lei n.º 28/84, de 20 de Janeiro.

Já o arguido Rafael Raimundo encontra-se também acusado, no processo apenso A, da

prática, em autoria material e concurso real, de dois crimes de fraude na obtenção de subsídio

ou subvenção, p. e p. pelo artigo 36º n.º 1 alínea c), n.º 2 e n.º 5 alínea a) do Decreto-Lei n.º

28/84, de 20 de Janeiro.

Dispõe o artigo 36° n.º 1 alínea c), n.º 2 e n.º 5 al. a) do Decreto-Lei n.º 28/84, de 20

de Janeiro, que: ”1 - Quem obtiver subsídio ou subvenção: a) Fornecendo às autoridades ou

entidades competentes informações inexactas ou incompletas sobre si ou terceiros e relativas

a factos importantes para a concessão do subsídio ou subvenção; b) Omitindo, contra o

disposto no regime legal da subvenção ou do subsídio, informações sobre factos importantes

para a sua concessão; c) Utilizando documento justificativo do direito à subvenção ou

subsídio ou de factos importantes para a sua concessão, obtido através de informações

inexactas ou incompletas; será punido com prisão de 1 a 5 anos e multa de 50 a 150 dias. 2 -

Nos casos particularmente graves, a pena será de prisão de 2 a 8 anos (…) 5-Para os efeitos

do disposto no n.º 2, consideram-se particularmente graves os casos em que o agente: a)

Obtém para si ou para terceiros uma subvenção ou subsídio de montante consideravelmente

elevado ou utiliza documentos falsos.”

O bem jurídico que se visa proteger com a incriminação, têm-se pronunciado os

autores de forma que se pode dizer consensual enquanto evidenciam, “por um lado, a

confiança necessária à vida económica, e por outro, a correcta aplicação dos dinheiros

públicos no campo económico” - [cf.. Tolda Pinto e Reis Bravo, em «Colectânea de

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Legislação Penal Extravagante, Direito Penal Económico e Afim», Coimbra Editora, pág.

110], a “economia e a intervenção do Estado nesta área efectuada mediante a utilização de

dinheiros públicos», protegendo-se num «segundo plano … a boa gestão do património

público” - [cf. Paulo Pinto de Albuquerque e José Branco, em “Comentário das Leis Penais

Extravagantes”, Volume 2, Universidade Católica Editora, pág. 115], “a confiança

necessária à vida económica e por outro lado a correcta aplicação dos dinheiros públicos no

campo económico” - cf. Carlos Codeço, em “Delitos Económicos”, Almedina, 1986, págs.

176/177, em consonância, aliás, com o “preâmbulo” do diploma em causa, enquanto ali se

consigna: “Entre os novos tipos de crimes incluídos neste diploma destacam-se a fraude na

obtenção de subsídios ou subvenções, o desvio ilícito dos mesmos e a fraude na obtenção de

créditos, conhecidos de outras legislações, como a República Federal da Alemanha, os quais,

pela gravidade dos seus efeitos e pela necessidade de proteger o interesse da correcta

aplicação dos dinheiros públicos nas actividades produtivas, não poderiam continuar a ser

ignorados pela nossa ordem jurídica”.

Da análise do preceito resulta inegável que a conduta tipicamente relevante abarca a

obtenção “para terceiros” da subvenção ou subsídio - cf. a alínea a), do n.º 5, do artigo 36.º-, o

que se compreende, identificada que está a natureza supra – individual do bem jurídico

tutelado “no sentido de que estão em causa dinheiros de todos e que a sua aplicação se dirige

a um fim de interesse social” - cf. Rosário Teixeira, em «Crimes de fraude na obtenção e de

desvio de subsídio (Notas de trabalho sobre um caso prático)», em RMP, Ano 16º, nº 62, pág.

117-, não se vendo motivo para que assim não seja, também, relativamente ao tipo do corpo

do n.º1.

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Proc.Nº 411/12.9TAVIS

Não se trata, pois, de um crime específico de que apenas o agente promotor possa

constituir-se autor, entendimento que encontra acolhimento, vg. no acórdão do STJ de

02.11.95, BMJ n.º 451, pág. 56, ao considerar que é autor do crime de fraude na obtenção de

subsídio “aquele que toma parte directa na sua execução …, sendo irrelevante que não tenha

efectuado quaisquer pagamentos ou recebido para si qualquer quantia», posição

corroborada por Paulo Pinto de Albuquerque e José Branco quando referem que « … autor

do crime pode ser qualquer pessoa, singular ou colectiva”-cf. ob. cit, pág. 116.

Trata-se, assim, de crime comum, susceptível de ser praticado por qualquer pessoa,

independentemente de ser ou não o promotor ou beneficiário do subsídio ou subvenção.

São elementos do tipo legal de fraude na obtenção de subsídio:

- A existência de uma (ou mais) entidade de direito público, prestadora do subsídio ou

subvenção (sujeito enganado e lesado);

- A existência de uma empresa ou unidade produtiva (beneficiária do subsídio ou

subvenção);

- A obtenção de um subsídio ou subvenção;

- A verificação de erro da entidade concedente do subsídio ou subvenção;

- A conduta fraudulenta causadora daquele erro;

- O dolo ou, nos casos das alíneas a) e b) do nº1, a negligência.

No caso dos autos a entidade prestadora do subsídio foi o GMCS, o qual foi enganado

quanto à regularidade da atribuição dos subsídios.

Beneficiária dos subsídios foi sempre a RCI.

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Considerando que o ilícito em causa configura um crime de dano e de resultado ou

material, uma vez que a sua consumação depende do efectivo recebimento do subsídio ou

subvenção, dúvidas não restam que os financiamentos em causa configuram claramente um

subsídio, nos termos e para os efeitos do disposto no artigo 21º do Decreto-Lei n.º 28/84, de

20/01, visando a aquisição de equipamento para a RCI.

A conduta do agente com vista à obtenção do subsídio terá de assumir uma das três

formas típicas e abstractamente descritas:

- Fornecimento de informações inexactas ou incompletas

Pune-se a obtenção de subsídio ou subvenção através de afirmações inexactas ou

incompletas, ou seja, de informações desconformes com a realidade.

Neste caso, “o documento que contém as afirmações é verdadeiro nos seus requisitos

externos ou materiais, mas o que nele se diz é inexacto ou incompleto. Há genuinidade formal

do escrito, mas não há veracidade intelectual do conteúdo. Estas informações devem dizer

respeito ao sujeito activo ou a terceiro e recair sobre factos essenciais ou determinantes da

concessão do subsídio ou subvenção.

Ocultação de factos importantes

Comete-se o delito com a omissão de factos importantes para a concessão do subsídio

ou subvenção, contanto que sobre o agente recaia o dever legal de informar.

- Uso de documento falso

O agente serve-se de documento falsificado (falsificação material e/ou ideológica)

para obter o deferimento da sua pretensão.

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A actividade do agente consiste em apresentar como genuíno o documento, se ele foi

materialmente falsificado, ou como verídico, se foi ideologicamente falsificado.

Visto o regime jurídico-penal deste tipo de crime, teremos que concluir que as

condutas imputadas aos arguidos preenchem a acção típica em causa uma vez que ocorreu

efectivamente a concessão de subsídios, os arguidos forneceram informações inexactas sobre

si ou sobre terceiros, mediante a apresentação de facturas falsas e recibos falsos (falsos porque

visavam comprovar factos que não correspondiam à verdade), tendo sido por causa dessas

informações inexactas para a concessão do subsídio que o GMCS considerou ilegíveis os

montantes constantes das facturas e procedeu ao pagamento dos subsídios em causa.

Por outro lado, dúvidas não restam que cometeram os arguidos o crime de fraude na

obtenção de subsídio na sua forma agravada.

Tem sido entendimento que o conceito de valor consideravelmente elevado ínsito no

artigo art.202º alínea b) do Código Penal, não se aplica às actividades delituosas contra a

economia nacional, como é o caso do Decreto-Lei n.º 28/84, de 20/01, o qual não define o

conceito de valor consideravelmente elevado.

Como escrevem Figueiredo Dias/Costa Andrade a particular natureza dos bens

jurídicos coenvolvidos e da danosidade social a afrontar há-de reclamar outros –

concretamente mais elevados – limiares quantitativos para balizar este elemento da agravação

típica.

No caso dos autos, no processo principal, o valor do subsídio indevidamente pago foi

de €72.494,00, sendo que no processo apenso foi de €26.213,27 numa das situações e de

€22.437,55, montante que não pode deixar de ser havido à data da prática dos factos, no

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contexto da economia nacional, como um valor consideravelmente elevado para efeitos do

disposto no n.º 5 alínea a) do artigo 36º do DL n.º 28/84.

Acresce que esses subsídios foram obtidos mediante a utilização de documentos

falsos, facturas e recibos que instruíram as candidaturas e os pedidos de pagamento dos

subsídios.

Donde, estão preenchidos os elementos constitutivos do crime agravado de fraude na

obtenção de subsídio.

No plano subjectivo o tipo de crime em apreço não exige como no crime de burla um

dolo específico, “a intenção de obter um enriquecimento ilegítimo”, nem o artifício

fraudulento, ou que a mentira, ou a ocultação sejam astuciosos.

Com efeito, bastarão inverdades, inexactidões ou omissões, sobre factos importantes

para a obtenção do subsídio para integrarem a factualidade típica.

Nas modalidades de prestação de informações inexactas ou incompletas e ocultação de

factos importantes, além do dolo, é punível a negligência. No que diz respeito à utilização ou

uso de documento falso apenas é punível o dolo, consistindo este na vontade de uso e no

conhecimento da falsidade.

Os arguidos agiram (nos autos principais) sempre em execução de um plano

previamente traçado, em comunhão de esforços e comum acordo, com vista à obtenção de um

enriquecimento financeiro para a RCI, empresa da qual eram ambos sócios e combinaram, da

forma descrita nos factos provados, falsificar a factura fazendo dali constar a aquisição do

equipamento ali descrito, o qual na verdade não tiveram a intenção de adquirir, nem

adquiriram.

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Por sua vez, o arguido Rafael era o único sócio da ABSSL e era o sócio gerente da

ABSS (no caso do apenso A), praticando os actos de execução descritos nos factos provados.

No caso dos autos principais foi a actuação conjunta do arguido Alexandre e do

arguido Rafael que os levou a locupletarem-se com o valor do subsídio nos termos descritos.

Ambos agiram de forma livre, voluntária e conscientemente, cientes que toda esta

relatada actuação era proibida e punida por lei.

Posto isto, nenhuma dúvida oferece o carácter doloso do comportamento dos arguidos,

na sua forma de dolo directo, que assim actuaram sob co-autoria material, no caso dos autos

principais – art.14º, nº1, e art.26º do C. Penal.

No que respeita à “ABSS, L.da”, arguida no apenso A, há desde logo que considerar

que, nos termos do artigo 11º do Código Penal, só as pessoas singulares são susceptíveis de

responsabilidade criminal, salvo disposição legal em contrário.

Cabe assim agora fazer referência ao artigo 3º nº1 do Decreto-Lei n.º 28/84, de 20 de

Janeiro, nos temos do qual: "1- As pessoas colectivas, sociedades e meras associações de

facto são responsáveis pelas infracções previstas no presente diploma quando cometidas

pelos seus órgãos ou representantes em seu nome e no interesse colectivo.(…) 3- A

responsabilidade das entidades referidas no n.º 1 não exclui a responsabilidade individual

dos respectivos agentes, sendo aplicável, com as necessárias adaptações, o n.º 3 do artigo

anterior.”

Exige-se sempre uma conexão entre o comportamento do agente – pessoa singular - e

o ente colectivo, já que aquele deve actuar em representação ou em nome deste e no interesse

colectivo - cf. Manuel Lopes Rocha in “Responsabilidade penal das pessoas colectivas –

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novas perspectivas” (Direito Penal Económico, CEJ, 1985, p.p. 162 a 165), reconhece no

artigo 3.º do DL 28/84 uma consagração do princípio da responsabilidade penal das pessoas

colectivas, exigindo-se cumulativamente que o facto seja praticado por quem actua em termos

de exprimir ou vincular a vontade da sociedade, procurando a satisfação de interesses, embora

ilícitos, dessa sociedade.

Da prova produzida resulta que foi também, no interesse da própria sociedade que os

factos ocorreram. A sua responsabilidade criminal constrói-se pois, sobre a do próprio

arguido, sem prejuízo de, atenta a natureza da pessoa colectiva não lhe ser aplicável outra

pena que não a de admoestação, multa e dissolução, como expressamente prevê o artigo 7º n.º

1 do mesmo diploma legal.

Como se disse, o n.º 3 do artigo 3º, que aos agentes individuais é aplicável, com as

necessárias adaptações, o disposto no n.3, do artigo anterior sobre a responsabilidade civil

solidária das sociedades por actos dos titulares dos seus órgãos ou representantes.

Estabelecem estes normativos a reciprocidade entre a responsabilidade substitutiva da

sociedade e dos titulares dos seus órgãos e representantes.

O que significa que, nos termos deste n.º 3 do art.3º, também os titulares dos órgãos e

representantes da sociedade são responsáveis pelo pagamento das multas e indemnizações em

que a sociedade for condenada.

Não resultando dos autos que arguidos tenham actuado ao abrigo de qualquer causa de

exclusão da ilicitude ou da culpa, deverão ser condenados pelos ilícitos cuja prática lhes é

imputada.

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3.2. Medida concreta da pena

De acordo com o disposto no artigo 70º do C.P. se ao crime forem aplicáveis, em

alternativa, pena privativa e pena não privativa da liberdade, o tribunal deve dar preferência à

segunda sempre que esta realizar de forma adequada e suficiente as finalidades da punição.

Tais finalidades são, como se determina no artigo 40º, nº1, do mesmo diploma, a

protecção de bens jurídicos e a reintegração do agente na sociedade.

Dispõe o artigo 47º n.º 1 do C.P. que “A pena de multa é fixada em dias, de acordo

com os critérios estabelecidos no n.º 1 do artigo 71º, sendo, em regra, o limite mínimo de 10

dias e o máximo de 360.”.

Por isso, há também que atentar no que dispõe o artigo 71º n.º 1 do C.P. que dispõe

que “…dentro dos limites definidos na lei, é feita em função do agente e das exigências de

prevenção.”

Por outro lado, há ainda que atender a todas as circunstâncias que, não fazendo parte

do tipo de crime, depuserem a favor do agente ou contra ele, designadamente, as referidas no

artigo 71º n.º 2 do C.P nomeadamente:

- O grau de ilicitude do facto, o modo de execução deste e a gravidade das suas

consequências, bem como o grau de violação dos deveres impostos ao agente;

- A intensidade do dolo ou da negligência;

- Os sentimentos manifestados no cometimento do crime e os fins ou motivos que o

determinaram;

- As condições pessoais do agente e a sua situação económica;

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- A conduta anterior ao facto e a posterior a este, especialmente quando esta seja

destinada a reparar as consequências do crime;

- A falta de preparação para manter uma conduta lícita, manifestada no facto, quando

essa falta deva ser censurada através da aplicação da pena» (art.º 71º, n.ºs 1 e 2, do CP).

Cumpre, desde já, determinar quais os tipos de penas que deverão ser aplicadas.

No caso, afigura-se que considerado o elevado grau de ilicitude, sendo particularmente

elevada no caso do arguido Rafael pelo valor dos subsídios em causa, sendo fortes as

exigências de prevenção geral e especial.

Por se reflectir na pena, através da culpa, antes de mais, há que considerar como factor

de graduação daquela, a ilicitude típica que, no caso concreto, se afigura ponderosa no quadro

da gravidade suposta pela moldura abstracta do crime em causa.

Contra todos os arguidos depõe a circunstância de jamais terem reparado os prejuízos

causados e relativamente aos arguidos Alexandre e Rafael não terem mostrado qualquer

arrependimento, insistindo em negar a prática dos factos, não obstante a evidência dos

mesmos, o que revela não terem interiorizado o desvalor das suas condutas.

O modus operandi da actuação dos arguidos denota premeditação e particular

sofisticação, com recurso a documentos falsos e esquemas contabilísticos entres as várias

sociedades, revelando ainda quanto ao arguido Rafael alguma habitualidade nesta conduta e

ter tido uma participação mais activa nos mesmos já que era o sócio gerente das sociedades

que emitiram as facturas que suportaram a concessão dos subsídios.

Os sentimentos revelados pela prática do crime não são outros que não sejam a

obtenção de vantagens patrimoniais ilícitas à custa do erário público.

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Em qualquer dos casos, considerando o modo e circunstâncias como actuou, o dolo

dos arguidos foi directo e intenso, intensidade revelada também na comparticipação.

A favor dos arguidos milita a ausência de antecedentes criminais e sua a integração

social, profissional e familiar.

Como atenuante relativamente ao arguidos, sobretudo no que concerne ao Alexandre,

temos ainda a circunstância de ter decorrido algum tempo sobre a prática do crime a que se

reporta o processo principal onde estava em causa a quantia mais elevada dos subsídios

indevidamente recebidos (8 anos).

Embora os arguidos sejam pessoas integradas do ponto de vista social e familiar, este

tipo de crimes por regra tem como agentes pessoas socialmente integradas e, em algumas

situações, com estatuto social e económico acima da média (Acórdão do STJ de 20-01-2005,

disponível em www.stj.pt e no Ac STJ 11.10.2006, disponível também em www.dgsi.pt).

O que quer significar que essa integração social não constitui, nesses casos,

fundamento para uma particular diminuição da pena, “pois a desnecessidade de intervenção,

por meio da pena, no âmbito da reinserção social do agente do ponto de vista cultural,

económico e familiar, é compensada pela necessidade dessa intervenção no que se conexiona

com o asseguramento do respeito pelos valores de ordem económica e social que estão na

base de direitos fundamentais constitucionais e em relação aos quais o tipo de agentes

implicados nestes crimes se mostra particularmente insensível e com um acentuado grau de

dessocialização”.

Atendendo à intensidade do dolo e à necessidade de a comunidade ver reforçado o seu

sentimento de segurança na estabilização dos valores violados, respeitantes a fraudes,

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justifica-se que a pena de prisão, embora adequada e proporcional à culpa e aos factos, não se

situe muito próxima do seu mínimo.

No que concerne à pessoa colectiva, atento o disposto no artigo 7º do Decreto-Lei n.º

28/84, de 20 de Janeiro, será de aplicar pena de multa já que excluída se mostra a aplicação de

uma admoestação atenta a gravidade dos factos e também a dissolução uma vez que aqui não

se mostram, no caso, os requisitos previstos no n.º 6 daquele preceito legal.

Estabelece o artigo 90º-B do C. Penal (aplicável por via do artigo 1º n.º 1 do Decreto-

Lei n.º 28/84, de 20/01) que os limites mínimo e máximo da pena de multa aplicável às

pessoas colectivas e entidades equiparadas são determinados tendo como referência a pena de

prisão prevista para as pessoas singulares, correspondendo 1 mês de prisão a 10 dias de multa.

Sempre que a pena aplicável às pessoas singulares estiver determinada exclusiva ou

alternativamente em multa, são aplicáveis às pessoas colectivas ou entidades equiparadas os

mesmos dias de multa.

A conduta do arguido Rafael (pessoa singular), é punível com pena de 2 a 8 anos de

prisão, o que equivale dizer que à sociedade arguida é aplicável a pena de 240 a 960 dias de

multa.

Quanto ao quantitativo diário da multa, em função da situação económica da

sociedade arguida, atender-se-á ao previsto no artigo 7.º, n.º 4 do Decreto-Lei n.º 28/84, aqui

aplicável por estarmos perante um regime especial, sendo que o quantitativo diário deve ser

fixado nos limites legalmente estabelecidos, entre os 1.000$00 e 1.000.000$00

(correspondente a € 4,99 a € 4.987,98.

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Na fixação da medida da pena importa ter em conta que a multa não pode deixar de

revestir a natureza de uma verdadeira pena, representando para o condenado um sacrifício real

que responda aos imperativos de prevenção geral e especial.

Realça-se ainda a dimensão económica desta empresa, considerado o valor médio do

respectivo capital social (€10.000,00) e o volume anual de negócios, tratando-se, pois, de uma

empresa com uma dimensão média, não lhe sendo conhecidas condenações

Tudo ponderado, serão os arguidos condenados:

- O arguido Rafael Raimundo pela prática em co-autoria material, de um crime de

fraude na obtenção de subsídio ou subvenção, p. e p. pelo artigo 36º n.º 1 alínea c), n.º 2 e n.º

5 alínea a) do Decreto-Lei n.º 28/84, de 20 de Janeiro (processo principal) na pena de 3 (anos)

e 6 (seis) meses de prisão;

- O arguido Alexandre Raimundo pela prática em co-autoria material, de um crime de

fraude na obtenção de subsídio ou subvenção, p. e p. pelo artigo 36º n.º 1 alínea c), n.º 2 e n.º

5 alínea a) do Decreto-Lei n.º 28/84, de 20 de Janeiro (processo principal) na pena de 3 (três)

anos e 3 (três) meses de prisão;

-O arguido Rafael Raimundo pela prática, em co-autoria material, e concurso real, de

dois crimes de fraude na obtenção de subsídio ou subvenção, p. e p. pelo artigo 36º n.º 1

alínea c), n.º 2 e n.º 5 alínea a) do Decreto-Lei n.º 28/84, de 20 de Janeiro (processo apenso)

na pena de 2 (dois) anos e 6 (seis) meses de prisão, por cada um deles;

- A arguida ABSS, L.da pela prática, em co-autoria material, e concurso real, de dois

crimes de fraude na obtenção de subsídio ou subvenção, p. e p. pelo artigo 36º n.º 1 alínea c),

n.º 2 e n.º 5 alínea a) e 7º do Decreto-Lei n.º 28/84, de 20 de Janeiro e 47º do Código Penal ex

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vi do disposto no artigo 1º n.º 1 do citado Decreto-Lei (processo apenso) na pena de 350

(trezentos e cinquenta) dias de multa, à taxa diária de €100,00 (cem euros), por cada um deles.

Cúmulo Jurídico

O arguido Rafael Sviatopolk Mirsky Raimundo a arguida ABSS, L.da deverão ser

condenados numa única pena que terá como limite máximo a soma das penas concretamente

aplicadas aos vários crimes e como limite mínimo, a mais elevada das penas concretamente

aplicadas aos vários crimes (artigo 77º, nºs 1 e 2 do C.P.).

A moldura penal do concurso no que concerne ao arguido Rafael será de 8 (oito) anos

e 6 (seis) meses de prisão (no seu limite máximo) e de 3 (três) anos e 6 (seis) meses de prisão

no seu limite mínimo.

A moldura penal do concurso no que concerne à arguida ABSS, L.da será de 700

(setecentos) dias de multa (no seu limite máximo) e de 350 (trezentos e cinquenta) dias de

multa no seu limite mínimo.

Estabelecida a moldura penal do concurso, deve determinar-se a pena conjunta do

concurso, dentro dos limites daquela. Tal pena será encontrada em função das exigências de

culpa e de prevenção, tendo o legislador fornecido, para além dos critérios gerais

estabelecidos no artigo 71º do C.P., um critério especial: “Na determinação concreta da pena

serão considerados, em conjunto, os factos e a personalidade do agente”.

No que diz respeito aos factos, importa ter em consideração a pluralidade dos mesmos

e os bens jurídicos violados.

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No que diz respeito à personalidade do arguido Rafael e à dimensão da sociedade

arguida, remetemo-nos para as considerações já realizadas.

Ponderando todos estes factores, julga-se adequado condenar o arguido Rafael

Raimundo na pena única de 4 (quatro) anos e 8 (oito) meses de prisão e a arguida ABSS, L.da

na pena única de 450 (quatrocentos e cinquenta) dias de multa, à taxa diária de €100,00 (cem

euros).

Da suspensão das penas

Como sublinha o Prof. Figueiredo Dias, à pena privativa da liberdade, o tribunal deve

preferir «uma pena alternativa ou de substituição sempre que, verificados os respectivos

pressupostos de aplicação, a pena alternativa ou a de substituição se revelem adequadas e

suficientes à realização das finalidades da punição. O que vale por dizer que são finalidades

exclusivamente preventivas, de prevenção especial e de prevenção geral, não finalidades de

compensação da culpa, que justificam a preferência por uma pena alternativa ou por uma

pena de substituição e a sua efectiva aplicação» – Direito Penal Português, cit., pág. 331.

Segundo o disposto no artigo 50º n.º 1 do C.P., “o tribunal suspende a execução da

pena de prisão aplicada em medida não superior a cinco anos se, atendendo à personalidade

do agente, às condições da sua vida, à sua conduta anterior e posterior ao crime e às

circunstâncias deste, concluir que a simples censura do facto e a ameaça da prisão realizam

de forma adequada e suficiente as finalidades da punição”.

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E, o n.º 5 dispõe que: “ O período de suspensão tem duração igual à da pena de

prisão determinada na sentença, mas nunca inferior a um ano, a contar do trânsito em

julgado da decisão”.

As finalidade político-criminal que a lei visa com o instituto da suspensão reside no

afastamento do agente, no futuro, da prática de novos crimes.

Atentas as circunstâncias que depõem a favor dos arguidos acima referidas, afigura-se

legítimo fazer um juízo de prognose favorável no sentido de que a ameaça da pena bastará

para os afastar de novas infracções, satisfazendo do mesmo modo, as demais finalidades das

penas, acreditando o tribunal que eles tomaram consciência da necessidade de respeitar os

valores que violaram e de se alcançar de forma responsável a sua ressocialização.

Porém, o tribunal, se o julgar conveniente e adequado à realização das finalidades da

punição, subordina a suspensão da execução da pena de prisão ao cumprimento de deveres ou

à observância de regras de conduta ou determina que a suspensão seja acompanhada de

regime de prova, de acordo com o estipulado no nº 2 do artigo 50º e artigo 53º do C.P.

Como se refere no Acórdão da Relação de Coimbra de 12.05.1999 (in www.trc.pt)

para que se possa suspender a execução da pena de prisão, necessário se torna que os fins das

penas não exijam o seu cumprimento e que as circunstâncias referentes à personalidade e

condições de vida do arguido o aconselhem.

No caso dos autos, entende-se que ficam acauteladas as exigências de prevenção se as

presentes suspensões das penas aplicadas aos arguidos Alexandre e Rafael forem

acompanhadas de um plano individual de readaptação social dos mesmos, executado com

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vigilância e apoio dos serviços de reinserção social, durante o tempo em que as mesmas

durarem, nos termos do disposto no nº 2 do artigo 53º do C.P.

Todavia e uma vez que, de momento, o tribunal não dispõe de elementos para a

elaboração de tais planos, determina-se que a sua elaboração fique a cargo dos serviços de

reinserção social, de acordo com o disposto no nº 3 do artigo 494º do C.P.P.

Por outro lado, nos termos do disposto no artigo 50º n.º 2 do Código Penal que “O

tribunal, se o julgar conveniente e adequado à realização da punição, subordina a suspensão

da execução da pena de prisão, …, ao cumprimento de deveres…”.

E, o artigo 51º n.º 1 alínea a), também do Código Penal, diz que “A suspensão da

execução da pena de prisão pode ser subordinada ao cumprimento de deveres impostos ao

condenado e destinados a reparar o mal do crime, nomeadamente, pagar dentro de certo

prazo, no todo ou em parte que o tribunal considerar possível, a indemnização devida ao

lesado, ou garantir o seu pagamento por meio de caução idónea…”.

Consideradas as particulares exigências de prevenção geral que o caso reclama,

ditadas pela função da pena na contribuição para a transformação necessária da consciência

comunitária face aos crimes de natureza económicas, impõe-se que as penas de prisão

aplicadas aos arguidos fiquem subordinadas à condição de os arguidos repararem o mal que

causaram ao lesado, devolvendo ao Estado as quantias com as quais se locupletaram enquanto

sócios da RCI, correspondentes ao montante dos subsídios recebidos.

Assim, o abrigo das disposições legais supra citadas, a suspensão da execução das

penas de prisão aplicadas aos arguidos fica subordinada, à seguinte condição:

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- O arguido Rafael pagar ao Gabinete para os Meios de Comunicação Social, a quantia

global de €84.897,82, (oitenta e quatro mil oitocentos e noventa e sete euros e oitenta e dois

cêntimos), quantia correspondente a metade do montante do subsídio recebido no processo

principal (€36.247,00) e à totalidade dos subsídios recebidos no processo apenso

(€48.650,82). Tal pagamento deverá ser feito no prazo de 4 (quatro) anos, a contar do trânsito

em julgado da presente decisão, devendo o arguido comprovar nos autos, no final de cada

ano, o pagamento das quantias parcelares de €21.224,45 (vinte e um mil duzentos e vinte e

quatro euros e quarenta e cinco cêntimos);

- O arguido Alexandre pagar ao Gabinete para os Meios de Comunicação Social, a

quantia global de €36.247,00 (trinta e seis mil duzentos e quarenta e sete euros), quantia

correspondente a metade do subsídio recebido no processo principal. Tal pagamento deverá

ser feito no prazo de 3 (três) anos a contar do trânsito em julgado da presente decisão,

devendo o arguido comprovar nos autos, no final de cada ano, o pagamento das quantias

parcelares de €12.082,33 (doze mil e oitenta e dois euros e trinta e três cêntimos).

Da restituição das quantias

Dispõe o art.39º do Decreto-Lei n.º 28/84, de 20 de Janeiro: “Além das penas

previstas nos artigos 36.° e 37°, o tribunal condenará sempre na total restituição das

quantias ilicitamente obtidas ou desviadas dos fins para que foram concedidas”.

De aplicação automática em consequência da condenação, esta restituição é inerente

ao ilícito cometido e é um efeito necessário do crime com a medida correspondente à quantia

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que não teria sido atribuída se a entidade que concedeu o subsídio tivesse tido conhecimento

da fraude.

A restituição prevista naquele art.39.º traduz-se na reintegração dos valores recebidos

no património de quem os entregou, por parte de quem os recebeu e/ou delas beneficiou ainda

que indirectamente.

Considerando que os arguidos Rafael e Alexandre, enquanto sócios da RCI, entidade

que recebeu o subsídio, beneficiaram com a prática do crime, recebendo e dando destino ao

subsídio, incorporando o respectivo valor no seu património, deverão restituir o montante

ilicitamente recebido.

Da pena acessória de privação do direito a subsídios ou subvenções outorgados por

entidades ou serviços púbicos

Dispõe o artigo 8º alínea f) do Decreto-Lei n.º 28/84, de 20 de Janeiro que

“Relativamente aos crimes previstos no presente diploma podem ser aplicadas as seguintes

penas acessórias: privação do direito a subsídios ou subvenções outorgados por entidades ou

serviços púbicos.”

Por sua vez, o artigo 14º do mesmo diploma que “1-A privação do direito a subsídios

ou subvenções outorgados por entidades ou serviços públicos é aplicável a agente que exerça

ou não profissão ou actividade subsidiada ou subvencionada; 2- A sanção prevista no

número anterior terá a duração fixada entre 1 e 5 anos”.

No presente caso, sendo a fraude agravada nos termos do artigo 36º n.º 2 e n.º 5 do

Decreto-Lei n.º 28/84, considerado o particular conteúdo do delito, traduzido na gravidade da

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premeditação e elaboração do plano com vista à obtenção dos subsídios, o montante total dos

subsídios concedidos e a repetição no que ao arguido Rafael diz respeito, a privação do direito

a subsídios ou subvenções outorgados por entidades ou serviços púbicos impõem-se por

evidentes razões de prevenção geral e fundada nos interesses violados.

Essa proibição terá a duração de 3 (três) anos.

Da pena acessória de publicação da decisão condenatória

Dispõe o artigo 36º n.º 4 do Decreto-Lei n.º 28/84, de 20 de Janeiro, sobre a

publicidade da decisão condenatória, a qual se encontra prevista no art.8º alínea l) do mesmo

diploma, como uma das penas acessórias aplicáveis.

A pena acessória de publicidade de sentença condenatória visa, em primeira linha, dar

a conhecer às pessoas (à comunidade) o crime ou crimes praticados, prevenindo as mesmas do

perigo de lesão de bens ou interesses, concretamente do perigo de lesão dos bens ou interesses

que a norma que prevê o crime perpetrado pretende tutelar.

No domínio da criminalidade económica, em que as condutas delituosas atingem

interesses colectivos relevantes e os danos morais e materiais por elas causados são muito

elevados, a publicação nos jornais - e em edital da sentença condenatória contribui,

seguramente, para a “estabilização das expectativas comunitárias na validade e na vigência

da norma infringida”- e assim para o “reforço da consciência jurídica comunitária e do seu

sentimento de segurança”, que foi abalado pela infracção cometida.

Prescreve o artigo 19° n.°1, que a pena acessória de publicidade da decisão

condenatória é feita, a expensas do condenado, em publicação periódica editada na área da

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comarca da prática da infracção ou, na sua falta, em publicação periódica da comarca mais

próxima, bem como através da afixação de edital, por um período não inferior a 30 dias, no

próprio estabelecimento comercial ou industrial ou no local de exercício da actividade, por

forma bem visível ao público.

Em casos “particularmente graves”, a publicidade da decisão condenatória far-se-á

também na 2ª série do Diário da República - art.19º n.º 2.

Publica-se um extracto da sentença de onde constem “os elementos da infracção e as

sanções aplicadas, bem como a identificação dos agentes” - artigo19º n º 3.

Sendo a fraude agravada nos termos do artigo 36º n.º 2 e n.º 5 do Decreto-Lei n.º

28/84, considerado o total dos subsídios concedidos e as relevantes finalidades prosseguidas

pelo plano subvencional, a publicidade desta decisão condenatória impõe-se, no caso, por

evidentes razões de prevenção geral e fundada nos interesses essencialmente colectivos

violados.

4. DECISÃO

Em face de todo o exposto, acordam os juízes que constituem o Tribunal Colectivo da

Instância Central, Secção Criminal, em:

a) Condenar o arguido Rafael Sviatopolk Mirsky Raimundo pela prática, sob a

forma de co-autoria e consumada, de um crime agravado de fraude na

obtenção de subsídio, p. e p. pelo artigo 36º n.ºs 1 alínea c), 2, 5, alínea a) do

DL nº28/84, de 20/01, na pena de 3 (três) anos e 6 (seis) meses de prisão

(processo principal);

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b) Condenar o arguido Alexandre Sviatopolk Mirsky Raimundo pela prática, sob

a forma de co-autoria e consumada, de um crime agravado de fraude na

obtenção de subsídio, p. e p. pelo art.36º nºs 1 alínea c), 2, 5, alínea a) do DL

nº28/84, de 20/01, na pena de 3 (três) anos e 3 (três) meses de prisão (processo

principal);

c) Condenar o arguido Rafael Sviatopolk Mirsky Raimundo pela prática, sob a

forma de co-autoria consumada e em concurso real, de dois crimes agravados

de fraude na obtenção de subsídio, p. e p. pelo art.36º nºs 1 alínea c), 2, 5,

alínea a) do DL nº28/84, de 20/01, na pena de 2 (dois) anos e 6 (seis) meses de

prisão, por cada um deles (processo apenso);

d) Condenar a arguida ABSS Broadcast, Lda pela prática, sob a forma de co-

autoria consumada e em concurso real, de dois crimes agravados de fraude na

obtenção de subsídio, p. e p. pelo art.36º nºs 1 alínea c), 2, 5, alínea a) do DL

nº28/84, de 20/01, na pena de 350 (trezentos e cinquenta) dias de multa, à taxa

diária de €100,00 (cem euros), por cada um deles (processo apenso);

e) Efectuado o cúmulo jurídico das penas aplicadas ao arguido Rafael Sviatopolk

Mirsky Raimundo, referidas em a) e c), condenar o arguido na pena única de 4

(quatro) anos e 8 (oito) meses de prisão, cuja execução se suspende, pelo

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período de 4 (quatro) anos e 8 (oito) meses, nas seguintes condições:

- Ao acompanhamento do arguido através de regime de prova que assentará

num plano individual de readaptação social, executado com vigilância e apoio

dos serviços de reinserção social, durante o tempo de duração da suspensão, em

termos a definir pela DGRS;

- o arguido pagar ao Gabinete para os Meios de Comunicação Social, a

quantia global de €84.897,82, (oitenta e quatro mil oitocentos e noventa e sete

euros e oitenta e dois cêntimos), devendo tal pagamento ser feito no prazo de 4

(quatro) anos, a contar do trânsito em julgado da presente decisão, devendo o

arguido comprovar nos autos, no final de cada ano, o pagamento das quantias

parcelares de €21.224,45 (vinte e um mil duzentos e vinte e quatro euros e

quarenta e cinco cêntimos);

f) Suspender a execução da pena de prisão aplicada ao arguido Alexandre

Sviatopolk Mirsky Raimundo referida em b) pelo período de 3 (três) anos e 3

(três) meses, na seguinte condição:

-Ao acompanhamento do arguido através de regime de prova que assentará

num plano individual de readaptação social, executado com vigilância e apoio

dos serviços de reinserção social, durante o tempo de duração da suspensão, em

termos a definir pela DGRS;

- O arguido pagar ao Gabinete para os Meios de Comunicação Social, a

quantia global de €36.247,00 (trinta e seis mil duzentos e quarenta e sete

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euros), devendo tal pagamento ser feito no prazo de 3 (três) anos a contar do

trânsito em julgado da presente decisão, devendo o arguido comprovar nos

autos, no final de cada ano, o pagamento das quantias parcelares de €12.082,33

(doze mil e oitenta e dois euros e trinta e três cêntimos);

g) Efectuado o cúmulo jurídico das penas aplicadas à arguida ABSS, L.da,

referidas em d), condenar a arguida na pena única de 450,00 (quatrocentos e

cinquenta) dias de multa, à taxa diária de €100,00 (cem euros) e, por cujo

pagamento, se condena solidariamente o arguido Rafael Sviatopolk Mirsky

Raimundo;

h) Condenar os arguidos Alexandre Sviatopolk Mirsky Raimundo e Rafael

Sviatopolk Mirsky Raimundo na restituição ao Gabinete para os Meios de

Comunicação Social da quantia de € 72.494,00 (setenta e dois mil

quatrocentos e noventa e quatro euros) recebida indevidamente a título de

subsídio, nos termos do disposto no artigo 39º do DL n.º 28/84, de 20/01

(processo principal);

i) Condenar o arguido Rafael Sviatopolk Mirsky Raimundo na restituição ao

Gabinete para os Meios de Comunicação Social da quantia de €48.650,82

(quarenta e oito mil seiscentos e cinquenta euros e oitenta e dois cêntimos)

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recebida indevidamente a título de subsídio, nos termos do disposto no artigo

39º do DL n.º 28/84, de 20/01 (processo apenso);

j) Condenar ainda todos os arguidos na pena acessória de privação do direito a

subsídios ou subvenções outorgados por entidades ou serviços púbicos pelo

período de 3 (três) anos, nos termos do disposto nos artigos 8º alínea f) e 14º

do DL n.º 28/84, de 20/01;

k) Ordenar a publicidade deste acórdão condenatório, a expensas dos

condenados, mediante extracto que contenha a identificação dos arguidos e o

respectivo dispositivo integral (as sanções aplicadas e os elementos da

infracção), em publicação periódica de ampla circulação editada na área da

Instância Local de Viseu e em edital afixado, pelo período de 30 dias, em local

bem visível ao público na sede da sociedade arguida, nos termos dos artigos 8º

alínea l), 19º e 36º n.º 4 do DL n.º 28/84, de 20/01;

l) Condenar ainda os arguidos nas custas do processo, fixando em 4UC o valor

da taxa de justiça devida e demais encargos do processo.

*

Notifique e Deposite.

*

Após trânsito:

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- Remeta boletins ao registo criminal;

- Comunique à DGRS e ao Gabinete para os Meios de Comunicação Social.

*

Proceda-se à recolha de amostras aos arguidos, prevista no art.8º, nº2, da Lei nº5/2008,

de 12/02, e à sua introdução na base de dados de perfis de ADN, ressalvada a dispensa

prevista no nº6, do cit. art.8º.

*

*

Viseu, 30 de Março de 2017