Trovadorismo (1189/1198) · PDF fileEl-Rei D. Dinis, CV 123, CBN 485 ... Pero de...
Transcript of Trovadorismo (1189/1198) · PDF fileEl-Rei D. Dinis, CV 123, CBN 485 ... Pero de...
Literatura Medieval
Trovadorismo (1189/1198)
PAINEL HISTÓRICO E
CULTURAL DA ÉPOCA
Cristianismo
Cruzadas rumo ao sul de Portugal
Cruzadas rumo ao Oriente
Luta contra os mouros
Teocentrismo: poder espiritual e cultural da
Igreja
Feudalismo
Monopólio clerical
Castelo Lichtenstein,
construído originalmente no
século XII e reconstruído no
XIX. Os castelos são um dos
ícones da Idade Média no
imaginário popular.
Deveres do
Suserano: -Proteção;
- Concessão do
feudo.
Deveres do Vassalo: - Auxílio militar ou
monetário;
- Fidelidade e conselho.
Europa Medieval, século XIII
A Península Ibérica, séc. XIII – detalhe.
Reino de Castela
Reino Árabe
Reino de Leão
Reino de Portugal
PRODUÇÃO LITERÁRIA:
POESIA
I) A poesia do trovadorismo: Cantigas
(música e poesia – expressão única)
A) Cantigas líricas
Cantigas de Amor
origem provençal.
eu lírico masculino.
amor do trovador pela mulher amada.
mulher idealizada.
contemplação platônica.
uso de “meu senhor”.
sofrimento por amor.
vassalagem amorosa.
amor cortês.
paralelismo e refrão.
Quer'eu em maneira de provençal fazer agora un cantar d'amor, e querrei muit'i loar mia senhor a que prez nen fremusura non fal, nen bondade; e mais vos direi en: tanto a fez Deus comprida de ben que mais que todas las do mundo val.
Ca mia senhor quiso Deus fazer tal, quando a faz, que a fez sabedor de todo ben e de mui gran valor, e con todo est'é mui comunal ali u deve; er deu-lhi bon sen, e des i non lhi fez pouco de ben, quando non quis que lh'outra foss'igual.
Ca en mia senhor nunca Deus pôs mal, mais pôs i prez e beldad'e loor e falar mui ben, e riir melhor que outra molher; des i é leal muit', e por esto non sei oj'eu quen possa compridamente no seu ben falar, ca non á, tra-lo seu ben, al.
El-Rei D. Dinis, CV 123, CBN 485
origem ibérica.
eu lírico feminino.
o trovador coloca-se no lugar da mulher que sofre pelo amado que partiu.
mulher real.
conversa com a natureza.
popular - mulher camponesa.
uso do termo “amigo” = namorado, amante, marido.
paralelismo e leixa-pren.
Cantigas de Amigo
Pois nossas madres van a San Simon de Val de Prados candeas queimar, nós, as meninhas, punhemos de andar con nossas madres, e elas enton queimen candeas por nós e por si e nós, meninhas, bailaremos i.
Nossos amigos todos lá irán por nos veer, e andaremos nós bailando ante eles, fremosas en cós, e nossas madres, pois que alá van, queimen candeas por nós e por si e nós, meninhas, bailaremos i.
Nossos amigos irán por cousir como bailamos, e podem veer bailar moças de bon parecer, e nossas madres pois lá queren ir, queimen candeas por nós e por si e nós, meninhas, bailaremos i.
Pero de Viviãez, CV 336, CBN 698
Mia irmana fremosa, treides comigo a la igreja de Vigo, u é o mar salido, e miraremos las ondas. Mia irmana fremosa, treides de grado a la igreja de Vigo, u é o mar levado, e miraremos las ondas. A la igreja de Vigo, u é o mar salido, e verrá i, mia madre, o meu amigo e miraremos las ondas. A la igreja de Vigo, u é o mar levado, e verrá i, mia madre, o meu amado e miraremos las ondas
Martim Codax, século XIII
Vocabulário irmana: amiga, companheira
u < ubi = onde
tráhitis > treides (trahere): vinde
Vigo < Vicus Spacorum (vilarejo)
de grado (<gratu):de boa vontade
levado < levatu = levantado, encapelado
salido < salitu: que salta bruscamente
amigo<amicu = amado<amatu: namorado,
amante
B) Cantigas satíricas
Cantigas de Escárnio
referências indiretas.
ironia.
ambiguidade (vocabulário de duplo
sentido).
não se revela o nome da pessoa satirizada.
“CANTIGA DE ESCÁRNIO”
Ai, dona fea, foste-vos queixar porque vos nunca louv’-en meu trobar mais ora quero fazer un cantar en que vos loarei toda via (1), e vedes como vos quero loar dona fea, velha e sandia (2).
Ai dona fea! se Deus me perdon! e pois havedes tan gran coraçon que vos eu loe en esta razon (3), vos quero já loar toda via, e vedes qual será a loaçon: dona fea, velha e sandia!
Dona fea, nunca vos eu loei en meu trobar, pero (4) muito trobei; mais ora já um bom cantar farei en que vos loarei toda via; e direi-vos como vos loarei: dona fea, velha e sandia!
(João Garcia de Guilhade)
Vocabulário:
1. o demônio enganou-me;
2. absolvei-me, ai;
3. mas;
4. oh!, ah!, ai!;
5. parece-me ter cometido
um ato grave;
Cantigas de Maldizer
sátira direta.
maledicência
uso de palavras obscenas ou de conteúdo
erótico.
citação nominal da pessoa satirizada.
“CANTIGA DE MALDIZER"
Meu senhor arcebispo, and’eu escomungado porque fiz lealdade; enganou-me o pecado (1)! Soltade-m’, ai (2), senhor, e jurarei, mandado que seja traëdor.
Se traiçon fezesse, nunca vo-la diria; mais (3) pois fiz lealdade, vel (4) por Santa Maria, soltade-m’, ai, senhor, e jurarei, mandado que seja traëdor.
Per mia maleventura tive hun en Sousa e dei-o a seu don’ e tenho que fiz gran cousa (5). Soltade-m’ ai, senhor, e jurarei, mandado que seja traëdor.
Por meus negros pecados tive hun castelo forte e dei-o a seu don’, e hei medo da morte. Soltad-m’, ai, senhor, mandado que seja traëdor.
(Diego Pezelho)
Vocabulário:
1. para sempre;
2. louca, demente;
3. que eu a louve
por este motivo;
4. porém, todavia.
Marinha, o teu folgar tenho eu por desacertado, e ando maravilhado de te não ver rebentar; pois tapo com esta minha boca, a tua boca, Marinha; e com este nariz meu, tapo eu, Marinha, o teu; com as mãos tapo as orelhas, os olhos e as sobrancelhas, tapo-te ao primeiro sono; com a minha piça o teu cono; e como o não faz nenhum, com os colhões te tapo o cu. E não rebentas, Marinha?
(Afonso Eanes de Coton)