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1 QUALIDADE UNIFMU CURSO DE DIREITO EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO PROCESSO CIVIL Priscila Malvina Ascencio Ferraz RA: 447773-8 Turma: 319 - B Telefone: 011 6969-4262 e-mail: [email protected] SÃO PAULO 2003

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QUALIDADE

UNIFMU CURSO DE DIREITO

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO PROCESSO CIVIL

Priscila Malvina Ascencio Ferraz

RA: 447773-8

Turma: 319 - B

Telefone: 011 6969-4262

e-mail: [email protected]

SÃO PAULO

2003

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EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO PROCESSO CIVIL

SÃO PAULO

2003

Monografia apresentada à Banca Examinadora do Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas, como exigência parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito sob a orientação do Prof. Paulo Dimas de Bellis Mascaretti.

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BANCA EXAMINADORA:

PROFESSOR ORIENTADOR: ______________________________

PROFESSOR ARGUIDOR: ______________________________

PROFESSOR ARGUIDOR: ______________________________

SUMÁRIO

CAPÍTULO I

1. - Conceito................................................................................ 01

2. - Histórico................................................................................ 03

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3. - Princípio do Duplo Grau de Jurisdição................................. 06

4. - Juízo de Admissibilidade...................................................... 07

5. - Pressupostos Gerais dos Recursos...................................... 08

5.1 - Pressuposto ou Condições Objetivas............................... 08

5.1.1 - Recorribilidade do Ato Decisório............................... 09

5.1.2 - Tempestividade......................................................... 10

5.1.3 - Singularidade do Recurso......................................... 15

5.1.4 - Adequação do Recurso............................................ 16

5.1.5 - Preparo..................................................................... 17

5.16. - Motivação.................................................................. 20

5.2 - Pressuposto Gerais Subjetivos......................................... 20

5.2.1 - Legitimidade.............................................................. 21

5.2.2 - Interesse em Recorrer.............................................. 22

6. Extinção Anômala das Vias Recursais................................... 26

7. Recurso Adesivo..................................................................... 27

8. Reexame Necessário.............................................................. 29

9. Efeitos dos Recursos.............................................................. 31

10. “Reformatio in Pejus”............................................................ 33

CAPÍTULO II - EMBARGOS DE DECLARAÇÃO

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1. Introdução............................................................................... 35

2. Conceito.................................................................................. 37

3. Histórico.................................................................................. 38

4. Natureza Jurídica.................................................................... 41

5. Pressupostos.......................................................................... 42

6. Cabimento............................................................................... 43

7. Prazo....................................................................................... 45

8. Efeitos dos Embargos de Declaração..................................... 45

9. Procedimento.......................................................................... 46

10. Embargos Manifestamente Protelatórios.............................. 50

11. Lei n.º 8.950 de 13.12.1994 e Suas Alterações.................... 51

12. Considerações Finais............................................................ 55

Bibliografia.................................................................................. 58

Anexo I........................................................................................ 60

Anexo II....................................................................................... 64

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Dedico esta obra à minha doce e tão amada

mãezinha, por ter abdicado de seus sonhos em pró dos meus, à minha querida tia Conceição por comandar dignamente seu “exército”, a fim de me dar força e resguardo e à memória de minha avó Malvina e de meu tio Arnaldo que tanto me iluminam nas horas mais difíceis.

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Agradeço a Deus pela força que me dá todos os

dias, à minha mãe por todo seu amor e compreensão, à minha amiga, companheira e sempre irmã Paulinha e ao meu Orientador, Paulo Dimas, por sua paciência e dedicação.

SINOPSE

O tema desenvolvido serão os embargos de declaração no Processo Civil.

No Capítulo I, serão expostas de forma ampla as noções gerais dos recursos,

consistindo num breve relato de seu histórico, passando-se pelos pressupostos

gerais objetivos e subjetivos, necessários para se ter o juízo de admissibilidade

positivo, a fim de se obter o conhecimento do recurso.

Serão abordados, ainda neste Capítulo, os efeitos do recurso, o que vem a

ser o recurso adesivo, o reexame necessário e por fim “reformatio in pejus”.

No Capítulo II, tem-se o aprofundamento do tema central da presente obra,

abordando os Embargos de Declaração em suas peculiaridades relativas à sua

natureza jurídica, aos seus pressupostos, ao cabimento, prazo, aos efeitos e ao seu

procedimento, discorrendo sobre cada uma delas.

Por fim, a obra se encerrará com as considerações finais, expondo de forma

conclusiva as partes relevantes ao tema desenvolvido.

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APRESENTAÇÃO

A presente obra traz os Embargos de Declaração à luz do Processo Civil, por

se tratar de um tema que, muito embora já tenha sobre muitos dos seus aspectos

entendimentos pacificados, há ainda aspectos que merecem um melhor

aprofundamento, visando a sua melhor utilização no campo recursal.

Será demonstrando ao longo da obra o resultado de uma pesquisa

doutrinária, comparando-se posicionamentos dos autores em relação ao tema , bem

como jurisprudencial, conforme demonstra o ANEXO II, verificando-se o

posicionamento do Superior Tribunal de Justiça em relação às questões

controvertidas na doutrina, a fim de se apurar detalhadamente as peculiaridades

deste recurso.

No Capítulo I, farei a exposição das principais características e delimitações

do recurso considerado em si, como o seu conceito, histórico, pressupostos, dentre

outros.

No Capítulo II, farei exposição dos Embargos de Declaração demonstrando

suas peculiaridades e delimitações, também.

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E por fim, numa análise breve, ressaltarei as peculiaridades dos Embargosde

Declaração.

CAPÍTULO I - RECURSOS

1 - Conceito

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Os recursos decorrem da inconformidade de qualquer pessoa diante do

primeiro juízo ou parecer que lhe é dado, buscando-se sempre uma segunda ou

terceira opinião. Sua origem se baseia no inconformismo humano que não se sujeita

a um único julgamento e na possibilidade de erro ou má-fé do julgador, tendo em

vista sua condição de ser humano podendo, portanto, ser falível, cometer erros e

injunções, conforme expõe Moacyr Amaral Santos.1 Muito embora o julgador

devesse se manter na relação processual como sujeito imparcial, poderá,

eventualmente, cometer erros, sendo tendencioso.

Sendo assim, os recursos existem com o propósito de assegurar a justiça,

possibilitando o reexame e reformas de determinadas decisões por outros juízes,

dando ao vencido meios de impugnação das decisões.

Os atos processuais serão todos aqueles atos praticados no processo, sendo

praticados pelas partes, serventuários da justiça, peritos, terceiros e pelo juiz.

Porém, os atos que darão ensejo aos recursos serão os atos praticados pelo juiz.

Os atos do juiz serão aqueles estabelecidos no art. 162 do Código de

Processo Civil, sendo estes: sentença, decisão interlocutória e despacho, destes

somente a sentença e a decisão interlocutória comportarão recurso (art. 513 e 522

do Código de Processo Civil). Já contra os despachos de mero expediente não

caberá nenhum recurso (art. 504 do Código de Processo Civil).

O recurso poderá ser entendido como “o poder de provocar o reexame de uma

decisão pela mesma autoridade judiciária, ou por outra hierarquicamente superior,

visando a obter sua reforma ou modificação”.2

1. AMARAL SANTOS, Moacyr, Primeiras Linhas de Direito Processual Civil, 20a ed., v. III, p.78. 2. AMARAL SANTOS, Moacyr, Primeiras Linhas de Direito Processual Civil, 20a ed., v. III, p. 80.

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Segundo a definição de José Carlos Barbosa Moreira, “Recurso será um

remédio, voluntário e idôneo a ensejar, dentro do mesmo processo, a reforma, a

invalidação, o esclarecimento ou a integração de decisão judicial que se impugna.”3

Será um remédio, pois o recurso será um instrumento de correção, destinado

a corrigir eventual desvio jurídico.

Voluntário, pois irá recorrer a parte que não concordou no todo ou em parte

com a decisão, pretendendo sua reforma, não podendo o juiz por si só reformar sua

própria decisão.

Idôneo, pois deverá este recurso existir na ordem processual brasileira, bem

como ser adequado a alteração e revisão da decisão.

Será dentro do mesmo processo, pois, ao interpor o recurso, o recorrente

não propõe nova ação, apenas passa a uma nova fase da ação inicialmente

proposta, podendo, apenas, ter-se um procedimento destacado do principal, como

ocorre na Agravo de Instrumento.

Nota-se, aqui, a diferenciação dos recursos dos demais meios de impugnação

das decisões, pois não se instaura um novo processo, como ocorre nas ações

rescisórias, embargos de terceiro e mandado de segurança impetrado contra ato

judicial.

A reforma, a invalidação, o esclarecimento ou a integração serão as

finalidades do recurso. Busca-se a reforma ou a modificação de uma decisão, a fim

de que haja a substituição da decisão por outra que atenda aos interesses do

recorrente.

A invalidação se dará quando a decisão estiver viciada e através do recurso

se pedirá a declaração de sua invalidade para que se renove a decisão do mesmo

órgão jurisdicional recorrido, para que se corrija o vício que levou à nulidade.

3. BARBOSA MOREIRA, José Carlos, Juízo de Admissibilidade mo Sistema dos Recurso Civis, p. 25.

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O esclarecimento se dará quando a sentença ou acórdão forem obscuros,

duvidosos ou contraditórios.

A integração estará voltada a suprir eventuais omissões.

Em regra, os recursos serão dirigidos e apreciados por órgão diverso daquele

que proferiu a decisão recorrida. Porém, há exceção a esta regra, e o recurso será

dirigido ao mesmo órgão jurisdicional que proferiu a decisão, como no caso dos

embargos de declaração (art. 536 Código de Processo Civil)

e nos embargos infringentes da Lei n.º 6.830/80 (Lei de Execução Fiscal, art. 34).

A partir desta regra surge a terminologia de que o juízo ou Tribunal a que se

recorre será o juízo ou Tribunal “a quo” e o Tribunal ao qual se recorre será o juízo

ou Tribunal “ad quem”.4

2. Histórico

Em Roma, o processo romano se desenvolveu em 3 (três) fases, segundo

demonstra Vicente Greco Filho5:

• Período da “legis actiones”;

• Período formulário;

• “Congnitio extra ordinem”.

A primeira fase, que vai da época mais antiga até “Lex Aebutia” de cerca de

114 a.C., caracterizou-se pela sacramentalidade das ações. As decisões eram

irrecorríveis, tanto no cível como no criminal. Admita-se a “provocatio” que consistia

na convocação dos comícios populares para pedir clemência.

Na segunda fase, que durou até III d.C., teve-se a ampliação da possibilidade

de impugnação por meio das fórmulas pretorianas. As decisões, nesta fase, também

4.GRECO FILHO, Vicente, Direito Processual Civil Brasileiro, 14a ed., v. II, p. 271.

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se mantiveram irrecorríveis. O contrato judiciário que se estabelecia pela

“litiscontestatio” obrigava as partes ao que fosse decidido.

Nestas duas fases, a decisão era proferida por um particular designado pelo

pretor ou escolhido pelas partes, não sendo proferida por um órgão do Estado, o que

impedia a estruturação de um sistema de recurso pela própria inexistência de uma

estrutura oficial jurisdicional.6

Os meios de impugnação inexistentes não eram considerados recursos e sim

novas ações ou meios políticos de proteção de atos individuais, como por exemplo:

“restitutio in integrum” que consistia no vencido pleitear a devolução das coisas ao

seu estado anterior, caso houvesse coação para aceitar o decidido ou se a sentença

tivesse sido proferida sob coação ou se tivesse sido fundada em provas falsas; a

“intercessio”, da qual se valiam os magistrados superiores para se oporem aos

magistrados inferiores ou de igual categoria e também os tribunais do povo poderiam

opô-la contra os atos de qualquer magistrado, dentre outros meios de impugnação

(“infitiatio”, ”revocatio in duplum”).

Na terceira fase, teve-se a ampliação da ação de ordem legal e edital. O

“arbiter” passou a ser um funcionário do Estado, delegado da soberania imperial.

Surgiu, nesta fase, a “appellatio” que consistia num recurso dirigido ao imperador

contra as decisões proferidas pelo juiz, e aquele sendo uma autoridade superior a

este, tinha o poder de reexaminar e reformar as decisões. Nota-se aqui o duplo grau

de jurisdição, no qual o juiz do recurso seria o imperador.7 Outra figura surgida neste

período é a “supplicatio”, que era o recurso utilizado nas decisões irrecorríveis.

5. GRECO FILHO, Vicente, op. cit., p. 266. 6. GRECO FILHO, Vicente, op. cit., p. 266. 7. AMARAL SANTOS, Moacyr, op. cit., p. 81.

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Com a queda de Roma e as invasões bárbaras, houve a influência do direito

germânico e as decisões proferidas pelas assembléias populares, que eram

presididas pelos condes, passaram a ser irrecorríveis.

No sistema feudal, o senhor feudal ocupava a figura de juiz inexistindo, outra

autoridade. As decisões proferidas por estes eram praticamente irrecorríveis, já que

os recursos existentes eram tidos como inúteis e perigosos, pois podiam representar

uma afronta aos prolatores das decisões.

No direito canônico, partindo-se da idéia de que sua evolução adveio do

Direito Romano, admitia-se de forma genérica a recorribilidade das decisões.8

A possibilidade de se recorrer das decisões, seja qual fosse, criou juízes

proprietários de cargos, perdendo a justiça sua importância, pois os juízes tornavam

a justiça um meio de aumentar suas rendas, perdurando esta situação até fins do

século XVIII, quando a Assembléia Constituinte Francesa se interessou em coibir

esta venalidade da justiça, sugerindo inicialmente a supressão dos recursos. Porém,

optou posteriormente que estes ficassem subordinados ao sistema do duplo grau de

jurisdição, que, com o passar do tempo, ganhou corpo e se estendeu a todas as

legislações contemporâneas.

Em Portugal, no período de Afonso III, tinha-se a figura da apelação para ser

interposta contra as sentenças finais e decisões interlocutórias, seguindo o direito

romano anterior às invasões bárbaras.9

No período de Afonso IV, visando coibir o abuso referente à atividade recursal

e com a influência do Direito Romano Justinianeu, a apelação ficou restrita

8. GRECO FILHO, Vicente, op. cit., p. 267. 9. GRECO FILHO, Vicente, op. cit., p. 267.

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basicamente às sentenças definitivas. Segundo Vicente Greco Filho,10 o Agravo de

Instrumento emanou das Ordenações Afonsinas.

No atual Código de Processo Civil, no art. 496, tem-se de forma expressa os

recursos cabíveis:

Art. 496: “(...)

I - apelação;

II - agravo;

III - embargos infringentes;

IV - embargos de declaração;

V - recurso ordinário;

VI - recurso especial;

VII - recurso extraordinário;

VIII - embargos de divergência em recurso especial e em recurso

extraordinário.”

3. Princípio do Duplo Grau de Jurisdição

Segundo Humberto Theodoro Júnior11 “o instituto do recurso vem sempre

correlacionado com o princípio do duplo grau de jurisdição, que consiste na

possibilidade de submeter-se a lide a exames sucessivos, por juízes diferentes,

como garantia da boa solução da lide”.

Este princípio teve sua consagração com a Revolução Francesa e para

Moacyr Amaral Santos12 consiste este princípio em “admitir-se, como regra, o

10. op. cit., p. 268. 11. op. cit., p. 504. 12.op. cit., p. 81.

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conhecimento e decisão das causas por dois órgãos jurisdicionais sucessivamente,

o segundo de grau hierárquico superior ao primeiro.”

As vantagens trazidas pela aplicação deste princípio serão: a satisfação da

vontade humana, pois ninguém se conforma com uma única decisão desfavorável,

possibilitando uma nova apreciação; o saneamento de eventuais sentenças injustas

ou ilegais, proferidas por juízes coagidos ou subornados.

Com o reexame os juízes inferiores tendem a ficar mais zelosos ao proferirem

suas decisões, bem como estimulados a aprimorarem suas aptidões funcionais, pois

com isso terão a possibilidade de ascenderem nos quadros da magistratura.

4. Juízo de Admissibilidade dos Recursos

Este juízo se dará através da constatação dos pressupostos de

admissibilidade. Os pressupostos poderão ser gerais, que dirão respeito a todas as

figuras recursais, e específicos, que dirão respeito ao recurso interposto,

especificamente.

O juízo de admissibilidade pode ser dividido em dois momentos:

Inicialmente, poderá ser feito pelo órgão “a quo” e se assim o for este será

provisório, pois sempre admite revisão pelo órgão “ad quem”, e se for negativo será

cabível a interposição de recurso que será julgado pelo Tribunal “ad quem”.

No segundo momento, tem-se o juízo de admissibilidade definitivo que será

competência exclusiva do órgão “ad quem”, tendo em vista que este será

competente para julgar o mérito do recurso. Ainda que se tenha o juízo de

admissibilidade provisório positivo este órgão deverá fazer uma nova verificação, a

fim de constatar a presença dos pressupostos recursais, podendo, até mesmo, fazê-

la de ofício, sem a necessidade de provocação.

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Ultrapassando-se o juízo de admissibilidade, entende-se que recurso foi

conhecido e isto não significa necessariamente que este será provido, podendo até

mesmo ser improvido.

É importante ressaltar que nem todos os recursos possuem os dois juízos de

admissibilidade; por exemplo: o Agravo de Instrumento que não terá o juízo de

admissibilidade provisório feito pelo órgão “a quo”, pois sua interposição será feita

diretamente no Tribunal competente.

5. Pressupostos Gerais dos Recursos

Os pressupostos gerais dos recursos podem ser divididos em:

• pressupostos ou condições objetivas: dizem respeito ao recurso em si

mesmo, objetivamente considerado;13

• pressupostos ou condições subjetivas: dizem respeito à pessoa do

recorrente.14

5.1 Pressupostos ou Condições Objetivas

Serão todos aqueles que dizem respeito ao recurso em si mesmo. Sendo

eles:

5.1.1.Recorribilidade do Ato Decisório

Consiste na possibilidade de se impugnar o ato judicial mediante recurso.

13. AMARAL SANTOS, Moacyr, op. cit., p. 83. 14. AMARAL SANTOS, Moacyr, op. cit., p. 83.

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Porém, nem todo ato judicial é passível de ser impugnado mediante recurso.

Somente será cabível contra atos do juiz e apenas no caso de sentença (art. 513 do

Código de Processo Civil), acórdão (art. 530 do Código de Processo Civil) e decisão

interlocutória (art. 522 do Código de Processo Civil), não sendo cabível em face dos

despachos de mero expediente (art. 504 do Código de Processo Civil).15

A sentença consiste no ato judicial que põe fim ao processo com ou sem

exame do mérito. O recurso cabível será a apelação, exceto nos casos de sentença

falimentar.

A decisão interlocutória consiste no ato judicial pelo qual o juiz resolverá as

questões incidentes no curso do processo. Terá carga decisória, porém não porá fim

ao processo. O recurso cabível será o agravo.

O acórdão consiste na decisão proferida por órgão colegiado. Os recursos

cabíveis serão: embargos infringentes quando a decisão impugnada não for

unânime, recurso especial (Superior Tribunal de Justiça), recurso extraordinário

(Supremo Tribunal de Federal), embargos de divergência somente no âmbito do

Superior Tribunal de Justiça e Supremo Tribunal de Federal. Já nos casos de

decisão individual dos membros dos Tribunais, interpõe-se o Agravo Interno que tem

sua previsão em lei ou no regimento interno dos Tribunais.

O despacho de mero expediente consiste no ato judicial, que será um mero

impulso processual. Sendo assim, não causará gravame a nenhuma das partes, não

haverá prejuízo, sendo desnecessário, portanto, a previsão de algum recurso para

impugná-lo.

5.1.2.Tempestividade

15. THEODORO, Humberto Júnior, Curso de Direito Processual Civil, 38ª ed., v. I, p. 506.

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“O recurso deverá ser interposto em tempo hábil, isto é, tempestivamente.”16

Ressalta-se que além de ser recorrível, será necessário, também, que a

decisão, sentença ou acórdão sejam impugnadas mediante recurso em tempo hábil,

ou seja, dentro do prazo fixado em lei para cada espécie de recurso, sob pena de se

tornar precluso o direito de recorrer.

O Código de Processo Civil fixa alguns destes prazos, como no art. 508 do

Código de Processo Civil:

art. 508: “Na apelação, nos embargos infringentes, no recurso ordinário, no

recurso especial, no recurso extraordinário e nos embargos de divergência, o

prazo para interpor e para responder é de 15 (quinze) dias.”

No art. 522 do Código de Processo Civil, tem-se o prazo para interposição do

agravo.

art. 522: “Das decisões interlocutórias caberá agravo, no prazo de 10 (dez)

dias, retido nos autos ou por instrumento.”

O art. 536 do Código de Processo Civil indica o prazo para interposição dos

embargos de declaração.

art.536: “Os embargos serão opostos no prazo de 5 (cinco) dias (...)”.

Os embargos infringentes do art. 34, § 2º da Lei 6830/80, terão o prazo de

interposição de 10 dias.

art. 34, § 2º: (...)

“Os embargos infringentes, instruídos, ou não, com documentos novos, serão

deduzidos, no prazo de 10 (dez) dias (...)”.

No juizado especial, será possível a interposição do recurso inominado

previsto no art. 42 da Lei 9099/95, e seu prazo será de 10 dias.

16. AMARAL SANTOS, Moacyr, op. cit., p. 84.

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Art. 42: “O recurso será interposto no prazo de 10 (dez) dias (...)”.

Uma vez esgotado o prazo estipulado para determinado recurso, tornar-se-á

precluso o direito de recorrer, pois trata-se de prazo peremptório, não havendo a

possibilidade de dilação ou redução ainda que as partes acordem para tanto (art.

182 do Código de Processo Civil).17

Em regra, o prazo para interposição dos recursos será previsto no art. 506 do

Código de Processo Civil.

Art. 506:“O prazo para interposição do recurso, aplicável em todos os casos o

disposto no art. 184 e seus parágrafos, contar-se-á da data:

I - da leitura da sentença em audiência;

II - da intimação às partes, quando a sentença não for proferida em audiência;

III - da publicação da súmula do acórdão no órgão oficial.”

Excluí-se sempre o dia do vencimento (art. 184 do Código de Processo Civil),

ou seja, inicia-se a contagem no primeiro dia útil subsequente à intimação, ou

publicação.

Caso haja revelia, contra o revel correrão todos os prazos independentemente

de intimação (art. 322 do Código de Processo Civil), incluindo-se os prazos

recursais.18

A tempestividade ficará condicionada ao protocolo do recurso no prazo

determinado em lei, no cartório ou se utilizando a norma de organização judiciária,

como por exemplo, o protocolo unificado que considera a data do protocolo e não a

data da chegada da petição ao juízo destinatário, no caso da petição ser protocolada

em qualquer comarca do Estado, ressalvado o caso previsto no art. 524 do Código

17. THEODORO, Humberto Júnior, op. cit., p. 506. 18. THEODORO, Humberto Júnior, op. cit., p. 507.

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de Processo Civil o qual deverá ser interposto diretamente no Tribunal.

Eventualmente, poderá ser encaminhado por via postal (art. 506, parágrafo único do

Código de Processo Civil). O sistema de fac-símile também é utilizado, porém em 5

(cinco) dias deverá ser encaminhada a petição original.

Em regra, o prazo para interposição do recurso será igual para ambas as

partes. Porém, por exceção será contado em dobro nas seguintes hipóteses:

• no caso dos litisconsortes terem procuradores diferentes (art. 191 do

Código de Processo Civil), não cabendo esta hipótese apenas nos casos de

litisconsórcio simples;

• no caso do recorrente ser a Fazenda Pública ou o Ministério Público seja

qual for o recurso interposto por estes (art. 188 do Código de Processo Civil) e pelo

art. 10 da Lei n.º 9.469/97, estenderá esta prerrogativa as autarquias e Fundações

Públicas;

• no caso de atuação do Defensor Público, do Estado, que tiver Assistência

Judiciária, ou a quem exercer cargo equivalente (art. 5º, § 5º da Lei n.º1.060/50);

Já o terceiro prejudicado que quiser interpor algum recurso terá prazo igual ao

da parte para fazê-lo.

Conforme dito anteriormente, o prazo para recorrer será fatal, peremptório e

improrrogável, ainda que as partes acordem nesse sentido; porém, em determinadas

hipóteses, o prazo para interposição do recurso poderá ser suspenso ou

interrompido.

A suspensão decorre dos casos previstos em Lei:

• superveniência de férias (art. 179 do Código de Processo Civil);

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• obstáculo criado pela parte (art. 180 do Código de Processo Civil); pelo

próprio juízo (por exemplo: correção);

• perda da capacidade processual de qualquer das partes ou de seu

representante legal ou do seu procurador (art. 180 c/c art. 265, I da Código de

Processo Civil);

• quando for oposta exceção de incompetência do juízo da Câmara ou

Tribunais, bem como a suspeição ou impedimento do juiz (art. 180 c/c art. 265, III do

Código de Processo Civil).19

Nestas hipóteses, o prazo será suspenso, interrompendo o temporariamente,

e findada a causa de suspensão, o prazo terá seu prosseguimento sem prejuízo do

lapso já vencido.20

A interrupção decorre do art. 507 do Código de Processo Civil.

Art. 507: “Se durante o prazo para interposição do recurso sobrevier o

falecimento da parte ou de seu advogado, ou ocorrer motivo de força maior que

suspenda o curso do processo, será tal prazo restituído em proveito da parte, do

herdeiro ou do sucessor, contra quem começará a correr novamente depois da

intimação.”

Sendo assim, segundo Moacyr Amaral Santos,21 o prazo se interrompe:

• pelo falecimento da parte vencida;

19. AMARAL SANTOS, Moacyr, op. cit., p. 85. 20. THEODORO, Humberto Júnior, op. cit., p. 508. 21. AMARAL SANTOS, Moacyr, op. cit., p. 85.

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• pelo falecimento de seu advogado da parte vencida, exceto se houver

outro advogado constituído nos autos;22

• pela ocorrência de força maior que suspenda o curso do processo.

A interrupção também será verificada na oposição dos embargos de

declaração (art. 538 do Código de Processo Civil).

Nestes casos, findados estes obstáculos, o prazo reiniciará, ou seja, voltará a

correr por inteiro, a partir da intimação.

Os efeitos da suspensão e da interrupção estarão condicionados à ocorrência

do seu fato gerador ser dentro do prazo da interposição do recurso.

A parte interessada deverá requerer a devolução do prazo, assim que verificar

a cessação do empecilho à prática do ato desejado, porém a lei não diz qual o prazo

para se fazer este requerimento; então, aplica-se o disposto do art.185 do Código de

Processo Civil.

Art. 185: “Não havendo preceito legal nem assinação pelo juiz, será de 5

(cinco) dias o prazo para prática de ato processual a cargo da parte.”

Sendo assim, a parte interessada terá 5 (cinco) dias para requerer a

devolução do prazo, sob pena de preclusão.

22. BARBOSA MOREIRA, José Carlos, O Novo Processo Civil Brasileiro, 22ª ed., p. 119.

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25

5.1.3. Singularidade do Recurso

Este pressuposto decorrerá da aplicação do princípio da unirrecorribilidade,

proibindo-se a interposição simultânea de mais de um recurso em face do ato

decisório.23

Caberá à parte escolher o recurso correto, pois para cada ato decisório há um

recurso específico a ser interposto.

No Código de Processo Civil de 1939, no art. 809, tinha-se esta vedação de

forma expressa, não permitindo a interposição de mais de um recurso ao mesmo

tempo.

Art. 809: “ (...) a parte não poderá usar, ao mesmo tempo de mais de um

recurso.”

Muito embora o Código de Processo Civil vigente seja omisso com relação ao

princípio, ele ainda permanece, segundo Moacyr Amaral Santos.24

A exceção a este princípio se dá com a possibilidade de interposição

simultânea do recurso especial e recurso extraordinário em face do mesmo acórdão.

Esta interposição simultânea será admitida, em virtude destes recursos

possuírem finalidades deferentes, pois o recurso especial tem a finalidade de

veicular temas de ato federal infraconstitucional, e o recurso extraordinário visa

veicular temas de ato federal constitucional. E, também, pelo fato de serem

interpostos a órgãos jurisdicionais distintos. O recurso especial será dirigido ao

23. AMARAL SANTOS, Moacyr, op. cit., p. 85. 24. op. cit., p. 86.

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26

Superior Tribunal de Justiça e o recurso extraordinário para o Supremo Tribunal

Federal.

Outra exceção será a interposição dos embargos infringentes,

simultaneamente com o recurso especial e / ou recurso extraordinário, em face do

mesmo acórdão, que julgou a apelação em diversos capítulos, uns por maioria de

votos, outros por unanimidade de votos. Cabendo embargos infringentes com

relação à decisão por maioria de votos e recurso extraordinário, recurso especial, ou

ambos no caso da decisão por unanimidade.

5.1.4. Adequação do Recurso

“A impugnação dos atos decisórios não se faz indiferentemente por qualquer

recurso, mas sim por meio daquele que foi indicado pela lei.”25

Com base neste pressuposto, entende-se que para cada ato decisório há um

recurso específico previsto em lei, devendo o recorrente utilizar o recurso próprio, ou

seja, não basta a parte demonstrar a vontade em recorrer, deverá interpor em

termos o recurso que pretende.

O Código de 1939, em seu art. 810, permitia a incidência do princípio da

fungibilidade que consistia no conhecimento do recurso inadequado, desde que sua

interposição errônea não decorresse de má-fé ou erro grosseiro.

25. AMARAL SANTOS, Moacyr, op. cit., p. 86.

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27

Art. 810: “Salvo a hipótese de má-fé e erro grosseiro, a parte não será

prejudicada pela interposição de um recurso por outro, devendo os autos ser

enviados à Câmara, ou turma, a que competir o julgamento.”

Basicamente, este princípio estaria condicionado a dois pressupostos:

• a inocorrência de preclusão, ou seja, o recurso interposto erroneamente

deverá ser interposto dentro do prazo do recurso adequado;

• o erro que levou a parte a interpor o recurso errado não poderá ser

grosseiro, é necessário que a parte tenha dúvida fundada quanto ao recurso

adequado.

O Código de Processo Civil, atual, não prevê a incidência deste princípio;

porém, a jurisprudência tem entendido, de forma predominante, que mesmo que não

haja menção expressa no Código este será aceito, desde que se preencha aos dois

pressupostos já mencionados (a não ocorrência da preclusão e o erro cometido não

ser grosseiro). Ver ANEXO II, acórdão RESP 173512/RS e AADRES 236796/SP.

Porém, em regra, prevalecerá o princípio da taxatividade, ou seja, só serão

cabíveis determinados recursos e em determinadas circunstâncias previstas no

Código de Processo Civil, ou em leis esparsas.

5.1.5 Preparo

“Consiste o preparo no pagamento, na época certa, das despesas

processuais correspondentes ao processamento do recurso interposto, que

compreenderão, além das custas (quando exigíveis), os gastos do porte de remessa

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28

e de retorno se se fizer necessário o deslocamento dos autos”.26 Sua previsão legal

está no art. 511 do Código de Processo Civil.

O preparo deverá ser feito no prazo estabelecido por lei, sob pena de

deserção que será uma sanção ao recorrente desidioso. Não se confundindo essa

figura, com a renúncia ao direito de recorrer, nem com a desistência, pois ambos

traduzem a vontade do recorrente de não exercer o direito de recorrer, aquela

anterior e esta posterior.27

O recorrente deverá comprovar o preparo no ato da interposição do recurso

(art. 511 do Código de Processo Civil na redação dada pela Lei n.º 8.950/94).

Eventualmente, se houver preparo posterior ao ato de interposição do

recurso, mesmo que dentro do prazo legal para recorrer, a jurisprudência

predominante do Superior Tribunal de Justiça tem entendido que não será possível

este preparo posterior,28 baseando-se na redação do art. 511 do Código de

Processo Civil que diz expressamente:

Art. 511: “No ato de interposição do recurso, o recorrente comprovará, quando

exigido pela legislação pertinente, o respectivo preparo (...)”.

E sendo assim, entende-se que este recurso, preparado posterior, será

deserto.

Há, também, uma outra posição minoritária que afirma que será possível este

preparo posterior, alegando que este é um ato de natureza meramente

administrativa, não podendo se sobrepor ao direito de recorrer.

26. THEODORO JÚNIOR, Humberto, Curso de Direito Processual Civil, 38a ed., v. I, p.510. 27.BARBOSA MOREIRA, op. cit., p. 119. 28. THEODORO JÚNIOR, op. cit., p. 510.

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29

Eventualmente, se o preparo feito for insuficiente, não será decretado de

pronto deserto, pois o art. 511, § 2° do Código de Processo Civil, traz que somente o

recorrente que for intimado e permanecer inerte pelo prazo de 5 dias, não

complementando o valor do preparo, é que incorrerá na pena de deserção.

Apesar do preparo ser um pressuposto recursal, a lei em determinados casos

poderá afastá-lo.

Segundo J.C. Barbosa Moreira,29 este pressuposto poderá ser afastado sob a

luz do critério objetivo e subjetivo.

O Critério Objetivo estará ligado à natureza do recurso, não necessitando de

preparo os embargos de declaração (art. 536, fine, do Código de Processo Civil),

agravo retido nos autos (art. 522, parágrafo único), embargos infringentes (art. 533,

com a redação da Lei n.° 8.950/94), que só terá o preparo exigido se a lei local o

determinar.

O Critério Subjetivo considerará a qualidade do recorrente (art. 511, § 1° do

Código de Processo Civil). Sendo assim, não necessitarão de preparo os recursos

interpostos pelo Ministério Público, pela Fazenda Nacional, Estadual e Municipal, e

pelas respectivas autarquias, bem como aqueles que forem interpostos pelos que

gozam de isenção legal, como os beneficiários da Assistência Judiciária (Lei n.°

1.060/50).

O art. 519 do Código de Processo Civil prevê a possibilidade de relevação da

pena de deserção ao apelante que comprovar o justo impedimento, tendo este

artigo, apenas, aplicação para as formas recusais que exigirem o preparo. O

29. BARBOSA MOREIRA, José Carlos, O Novo Processo Civil Brasileiro, 3aed., v. I, p. 119.

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30

recorrente que quiser alegar o impedimento deverá fazê-lo no mesmo momento em

que se deveria comprovar o preparo, ou seja, deverá fazê-lo na petição inicial do

recurso, requerendo desde pronto a relevação, sob pena de não poder fazê-lo

posteriormente. A decisão que relevar a pena de deserção será irrecorrível, pois ela

será reexaminada pelo órgão “ad quem”, sendo desnecessário a previsão de algum

recurso. Porém, no caso da decisão negar a relevação, o recorrente poderá interpor,

segundo Ernane Fidélis dos Santos,30 o recurso de agravo retido. Já para Moacyr

Amaral Santos31 caberá o recurso de agravo de instrumento.

5.1.6 Motivação

A motivação será considerada um dos pressupostos, pois sem motivação o

recurso será tido como inepto, segundo Humberto Theodoro Júnior.32

Deverá o requerente explicitar os motivos, as razões do recurso, pois, caso

contrário, não terá o Tribunal sobre o que decidir e a parte contrária do que se

defender, devendo, na seqüência, pedir uma nova decisão.

Por fim, o recorrente deverá propor o recurso sob a forma prevista em lei.

5.2 Pressupostos Gerais Subjetivos

Serão os pressupostos que dizem respeito à pessoa do recorrente, são eles:

30. SANTOS, Ernane Fidélis dos, Manual de Direito Processual Civil, 8a ed., v. I, p. 563. 31. AMARAL SANTOS, Moacyr, op. cit., p. 88. 32. op. cit., p. 510.

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31

• Legitimidade;

• Interesse em recorrer.

5.2.1 Legitimidade

Consiste no pressuposto de que somente deverá interpor o recurso quem

estiver legitimado para tanto.

Num primeiro momento deverá ser conferida aos titulares da relação jurídica

discutida em juízo e posteriormente áqueles que forem expressamente autorizados

por lei. Terão legitimidade para recorrer:

• Em regra, a parte vencida em virtude da sentença acórdão ou decisão ter

lhe causado algum prejuízo;

• O Ministério Público na qualidade de parte, ou por ter atuado no processo

como fiscal da lei (art. 499, § 2° do Código de Processo Civil);

• Terceiro Prejudicado, ainda que não tenha sido parte no processo até

aquele momento, devendo demonstrar o nexo de interdependência entre o seu

interesse de intervir e a relação jurídica submetida a apreciação judicial33 (art. 499, §

1° do Código de Processo Civil).

Sendo assim, poderão recorrer todos aqueles que poderiam ter sido

assistentes, opoentes ou outra figura de intervenção e não o foram, bem como

33. GRECO FILHO, Vicente, Direito Processual Civil Brasileiro, 14a ed., v. II, p.276.

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32

aqueles que, não tendo participado da lide, poderiam sofrer eventuais prejuízos se a

sentença fosse eficaz contra eles.

Havendo litisconsórcio, o litisconsorte, gozando da prerrogativa de ser parte,

estará legitimado a recorrer de forma conjunta ou separadamente (princípio da

autonomia dos colitigantes). Porém, se nem todos os litisconsortes recorrerem, os

efeitos do recurso somente se aproveitarão para alguns, dependendo da natureza

do litisconsórcio e do objeto.

5.2.2 Interesse em Recorrer

O interesse em recorrer decorrerá da sucumbência que poderá ser total ou

parcial.

Terá interesse em recorrer aquele que sofreu algum gravame ou viu frustrado

alguma expectativa juridicamente possível.

Os terceiros intervenientes (opoente, nomeado à autoria, o denunciado da

lide e o chamado ao processo, previsto no Livro I, Título II, Capítulo VI do Código de

Processo Civil), serão considerados como parte, sendo partícipes da relação

processual e também estarão legitimados a interpor recursos.

Os assistentes, também terão legitimidade para recorrer, conforme tráz a

definição do art. 52 do Código de Processo Civil:

Art. 52: “O assistente atuará como auxiliar da parte principal, exercerá os

mesmos poderes e sujeitar-se-á aos mesmos ônus processuais que o assistido.”

Page 33: UNIFMU - Portal FMU

33

O assistente terá legitimidade para recorrer, mesmo que o assistido seja revel

ou deixe de recorrer, exceto nos casos de assistência simples (art. 53 do Código de

Processo Civil).

No caso de mutação subjetiva da lide, ou seja, se alguém vier a ocupar a

condição de parte na lide, também será considerado como parte e estará legitimado

a recorrer.

O Ministério Público será parte legitima para recorrer nos processos em que

foi parte ou naqueles que oficiou como fiscal da lei.

O terceiro prejudicado, também, será legitimado a interpor recurso desde que

o ato decisório lhe cause prejuízo, pois será deste prejuízo que surgirá o direito de

impugnar o ato decisório. Este divergirá do terceiro interveniente, pois o terceiro

prejudicado será estranho a lide não tendo participado como parte, ou deixou de ser

no curso do processo.

O terceiro prejudicado que quiser recorrer deverá atender algumas condições.

Sendo elas:

• deverá ser estranho à lide como parte, ou tenha se tornado estranho no

momento do proferimento do ato decisório, ainda que pudesse ter intervindo no

processo como assistente ou terceiro interveniente;

• que o seu interesse resulte de um nexo de interdependência com a relação

jurídica submetida à apreciação judicial;

• que do ato decisório impugnável tenha lhe resultado algum prejuízo.34

34. AMARAL SANTOS, Moacyr, op. cit., p. 91.

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34

No que diz respeito à natureza do prejuízo, encontram-se controvérsias

doutrinárias, pois há quem sustente que este prejuízo resulta no interesse que

qualificaria o terceiro a intervir no processo como assistente, assim defende

Libemam. Já a doutrina brasileira dominante amplia o conceito de prejuízo que

legitima o terceiro a recorrer, valendo-se para tanto do art. 815 do Código de

Processo Civil de 1939, que permitia a interposição de recurso por terceiros.

Art. 815: “ (...) a quem o feito possa tocar e da sentença lhe possa advir algum

prejuízo”.

Esta corrente doutrinária acredita que esta norma foi acolhida pelo Código

vigente. Sendo assim, considera prejuízo de terceiro, quando ao ato decisório,

diretamente ou apenas por repercussão reflexa necessária ou secundária, ofende o

ato do terceiro prejudicado.35 Seguindo esta posição encontramos Rui Barbosa,

Frederico Marques, J. C. Barbosa Moreira. Mas, o prejuízo deverá ser jurídico, pois

se for apenas o prejuízo de fato o terceiro não estará legitimado.

O prazo para o terceiro prejudicado interpor seu recurso será o mesmo que o

estabelecido pelas partes

A parte vencida deixará de ter legitimação para recorrer, segundo Moacyr

Amaral Santos:36

• quando a parte vencida renuncia ao direito de recorrer (art. 502 do Código

de Processo Civil);

35. AMARAL SANTOS, Moacyr, op. cit., p.92. 36. AMARAL SANTOS, Moacyr, op. cit., p. 89.

Page 35: UNIFMU - Portal FMU

35

• quando aceitar expressa ou tacitamente a decisão, sentença ou acórdão

(art. 503 do Código de Processo Civil).

A renúncia da parte vencida em recorrer poderá ser verificada quando a parte

se manifestar no sentido de que não quer recorrer, ou seja, não interpondo recurso

algum; podendo, porém ser realizada independentemente da aceitação da parte

contrária (art. 502 do Código de Processo Civil), pois, se a parte contrária renunciar

a este ato, ela será a beneficiária direta.

A renúncia poderá ser feita, também, por procurador desde que este tenha

poderes expressos e especiais que o autorizem a praticar este ato.

Há duas espécies de renúncia ao direito de recorrer, conforme tráz Humberto

Theodoro Júnior:37 tácita, que se dará em virtude da decadência do prazo recursal e

expressa, que se dará através de manifestação da parte, sob a forma de petição

escrita. Se for em audiência, poderá ser oral, não sendo necessário termo de

homologação judicial.

No que tange à aceitação da decisão, sentença ou acórdão ela poderá,

também, ser expressa ou tácita. Será expressa quando a parte se conformar,

aceitar a decisão, manifestando-se claramente neste sentido, dirigindo-se ao juiz da

lide ou à parte contrária demonstrando sua aceitação. Poderá ser feita, ainda,

oralmente em audiência, logo após a prolação da sentença, independentemente de

anuência da outra parte ou de termo ou homologação judicial. Será tácita quando a

parte praticar algum ato incompatível com a vontade de recorrer (art. 503, parágrafo

único do Código de Processo Civil).

37. op. cit., p. 512.

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36

Segundo Moacyr Amaral Santos, a aceitação do julgado poderá ser total ou

parcial:38 se total, a parte não terá legitimidade para recorrer, se parcial, a parte

somente poderá recorrer daquilo que não foi aceito.

6. Extinção Anômala das Vias Recursais

Uma vez interposto recurso, a sua extinção natural seria através do

julgamento pelo Tribunal “ad quem”,39 mas em determinados casos poderá se ter a

extinção anormal do recurso, podendo ocorrer até mesmo antes que o Tribunal

examine-o.

A extinção anômala dos recursos, segundo Vicente Greco Filho,40 poderá

decorrer da:

• deserção, que consistirá na preclusão ou trânsito em julgado, decorrente

da falta ou da intempestividade do preparo (ver item 5.1.5);

• renúncia, que consistirá na manifestação de vontade da parte em não

recorrer podendo ser feita de forma expressa ou tácita (ver item 5.2.2);

• desistência, que tem suas hipóteses previstas no art. 501 do Código de

Processo Civil.

Para J. C. Barbosa Moreira a desistência do recurso “é o ato pelo qual o

recorrente manifesta ao órgão judicial a vontade de que não seja julgado, e portanto

não continue a ser processado, o recurso que interpusera.”41

38. op. cit., p. 90. 39. GRECO FILHO, Vicente, op. cit., p. 282.

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37

Será um ato unilateral de vontade, ainda que haja litisconsórcio. Poderá o

litisconsorte praticá-lo sem anuência dos demais.

A aceitação poderá ser realizada por procurador desde que este tenha

poderes especiais.

Poderá ser expressa, em regra, manifestando-se por petição escrita, ou

oralmente na audiência, ou poderá ser tácita com previsão no art. 523, § 1° do

Código de Processo Civil, em relação ao agravo retido nos autos. Em ambas as

formas não será necessário que haja homologação para que passe a produzir

efeitos.

Somente aquele que interpôs o recurso é que dele poderá desistir e assim

poderá fazê-lo a qualquer tempo, porém antes do início do julgamento.

Seus efeitos imediatos, conforme demonstra Moacyr Amaral Santos42 serão:

• extinção do procedimento recursal em relação ao desistente;

• o trânsito em julgado do ato decisório recorrido;

• caso a desistência seja do recurso principal, tornará insubsistente o

recurso adesivo respectivo ( art. 500, III do Código de Processo Civil);

• o ônus das despesas do recurso correrão por conta do desistente.

7. Recurso Adesivo

40. op. cit., p. 282. 41. BARBOSA MOREIRA, José Carlos, op. cit., p. 126.

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38

O recurso adesivo consiste numa inovação do direito brasileiro trazida pelo

Código de Processo Civil de 1973, inspirado no direito português e no direito

alemão, no qual o art. 500 do Código de Processo Civil prevê a possibilidade, no

caso de sucumbência recíproca ou parcial das partes, da interposição do recurso

adesivo ou recurso paralelo segundo Pontes de Miranda e Afonso Fraga, dentre

outros. A parte que não interpôs recurso no seu prazo próprio poderá aderir ao

recurso da parte contrária, em prazo adicional igual ao de resposta contado da

publicação do despacho que admitiu o recurso principal.43

Sua finalidade será a de se evitar o inconveniente de uma das partes ser

surpreendida por um recurso da outra parte no último instante.

Este recurso terá os mesmos pressupostos gerais e específicos do recurso

que viabilizar, bem como, os pressupostos específicos referentes ao recurso

adesivo, propriamente. Segundo Vicente Greco Filho, são estes:44

• sucumbência recíproca, sendo as partes consideradas vencedoras e

vencidas ao mesmo tempo;

• a interposição, que deverá ser feita perante a autoridade competente para

admitir o recurso principal. O prazo desta interposição será o mesmo de que dispõe

a parte para responder ao recurso principal ( art. 500, I do Código de Processo Civil,

na redação da Lei n.º 8.950/94), sanando o defeito existente com relação à

diferenciação entre o prazo para interposição do recurso e o prazo para resposta.

42. op. cit., p. 96. 43.GRECO FILHO, Vicente, op. cit., p. 284. 44. op. cit. , p. 286.

Page 39: UNIFMU - Portal FMU

39

Sua interposição será igual ao do recurso principal, ou seja, por petição,

perante o juiz (apelação) ou perante ao relator (embargos infringentes), ou ainda

perante o Presidente do Tribunal ( recurso especial ou extraordinário). A parte

deverá apresentar duas peças: as contra-razões e o recurso adesivo, que serão

peças autônomas;

• viabilizará com o prazo adicional os recursos: a apelação, os embargos

infringentes, recurso especial e recurso extraordinário;

• deverá haver a interposição e o recebimento do recurso principal interposto

pela parte contrária, pois o recurso adesivo será um acessório do principal.

No tocante à legitimidade para interposição deste recurso, o art. 500 do

Código de Processo Civil esclarece que somente o autor e o réu poderão fazê-lo,

excluindo-se, assim, o terceiro interessado, o Ministério Público, quando estiver

atuando como “custos legis”, e o terceiro prejudicado.

Será vedada a interposição deste recurso pela parte que já o apresentou

como autônomo no prazo legal, tendo em vista que já houve o exercício da

faculdade do direito de recorrer, ocorrendo assim a preclusão consumativa.

Enfim, o recurso adesivo só será conhecido se o principal também for. Mas,

uma vez conhecido o principal, poderá o recurso adesivo ser provido e o principal

não, pois o mérito dos recursos serão apreciados autonomamente.

8.Reexame Necessário

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40

A denominação mais adequada para este recurso será a remessa obrigatória

ou reexame necessário.

Com a Lei n.° 10.352 de 26 de dezembro de 2001, o art. 475 do Código

Processo Civil sofreu consideráveis considerações.

A partir da nova redação deste artigo dada pela Lei n.° 10.352/2001, entende-

se que algumas sentenças para produzirem efeitos deverão ser submetidas ao duplo

grau de jurisdição.

Estas sentenças serão:

• aquelas proferidas contra a União, os Estados, os Municípios e suas

respectivas autarquias e fundações (art. 475, I do Código Processo Civil);

• as que acolherem no todo ou em parte os embargos à execução opostos

em face da dívida da terra das Fazendas Públicas do Estado, União e Municípios;

O reexame necessário ocorrerá sem o prejuízo dos exames dos recursos

voluntários interpostos.

Será sempre em face de sentença de primeiro grau não sendo admitido,

contra acórdão.

Sua finalidade será o resguardo dos interesses de ordem pública.

Com base na Súmula 423 do Supremo Tribunal Federal, as sentenças, acima

citadas, só farão coisa julgada após o reexame necessário.

Page 41: UNIFMU - Portal FMU

41

No tocante à Lei n.° 6.830/80 (Lei de Execução Fiscal), não caberá o

reexame necessário, tão somente, caberão embargos infringentes e eventualmente

agravo de instrumento.

Para que seja cabível o reexame necessário, deverá haver:

• condenação ou direito controvertido de valor superior a 60 salários mínimos

(art. 475, § 2° do Código Processo Civil);

• a sentença não fundada em decisão do Plenário do Supremo Tribunal

Federal, Súmulas do Supremo Tribunal Federal ou de Tribunal competente (Tribunal

Superior Eleitoral, Tribunal Superior do Trabalho, Superior Tribunal de Justiça e

Superior Tribunal Militar).

O reexame necessário, estará presente também em algumas leis fora do

Código Processo Civil. São elas:

• Lei n.º 1.533/51 - Lei do Mandado de Segurança, cuja sentença concessiva

de ordem ou segurança estarão sujeitas ao reexame necessário, aplicando-se aqui

também a regra de 60 salários mínimos;

• Lei n.º 4.717/65 - Lei de Ação Popular, cuja sentença julgar improcedente

ou extinguir a ação popular, também estará sujeita ao reexame necessário.

9. Efeitos dos Recursos

Page 42: UNIFMU - Portal FMU

42

Inicialmente, o efeito do recurso será o de impedir o trânsito em julgado, ou a

preclusão da decisão,45 pois o recurso possibilita a modificação do ato decisório.

Num segundo momento, tem-se o efeito devolutivo que consiste na

transferência ao órgão “ad quem” da matéria impugnada. Este órgão deverá ficar

adstrito ao limite da impugnação, ou seja, o órgão “ad quem” só vai conhecer do

recurso o que for impugnado, devendo limitar-se ao que foi recorrido. Este efeito

será inerente à natureza dos recursos, porém, nos embargos de declaração e nos

embargos infringentes previstos na Lei n.º 6.830/80, este efeito não estará presente,

tendo em vista que não haverá a transferência da matéria impugnada a um outro

órgão hierarquicamente superior, sendo estes reapreciados pelo mesmo órgão que

proferiu a decisão embargada.

Já no recurso adesivo e no agravo retido, o efeito devolutivo será

condicionado, impróprio, ou imperfeito, pois sua apreciação estará condicionada ao

conhecimento de outro recurso. O Agravo de Instrumento e o Agravo Retido

prevêem a possibilidade de se ter o juízo de retratação, que consiste na

possibilidade do juiz que proferiu sua decisão se retratar desta, e somente se não

houver esta retratação é que teremos a transferência desta decisão para o órgão “ad

quem” e, se eventualmente ocorrer a retratação, o recurso ficará prejudicado.

Outro efeito será o suspensivo. O recurso que gozar deste efeito impedirá a

eficácia plena do ato decisório a partir de sua interposição até o julgamento do

recurso. Não terá aplicação a todos os recursos. Em regra, somente, terá este efeito

a apelação (art. 520 do Código Processo Civil), os embargos infringentes e os

45. GRECO FILHO VICENTE, Vicente, op. cit., p. 280.

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43

embargos de declaração devido às suas peculiaridades.46 Quanto aos demais

recursos, não terão efeito suspensivo, e, sendo assim, será possível a realização da

execução provisória do ato decisório, pois a execução definitiva somente poderá ser

realizada com o trânsito em julgado da sentença. O agravo, o recurso especial e o

recurso extraordinário, mesmo não gozando do efeito suspensivo, terão o condão de

impedir o trânsito em julgado do ato decisório. No recurso de agravo de instrumento,

pode-se ter o efeito suspensivo, desde que seja em face de decisão do juiz de

primeiro grau e se for atribuído pelo relator.

Nas Ações de Alimentos, nota-se que a apelação não terá efeito suspensivo

inicialmente, devendo a parte requerê-lo.

Em regra geral, entende-se que todos os recursos terão duplo efeito

(devolutivo e suspensivo), exceto se houver previsão legal expressa. Caso haja

omissão no que diz respeito ao efeito suspensivo, entende-se que este deverá ser

aplicado.

10. “Reformatio in Pejus”

Consiste na vedação de reforma da decisão recorrida para piorar a situação

jurídica do recorrente, sem que a outra parte também tivesse recorrido.47

Sua previsão expressa estava no Código de Processo Civil de 1939. No

Código atual não houve reprodução desta norma, porém entende-se,

doutrinariamente, que esta permanece vigente.

46. GRECO FILHO, Vicente, op. cit., p. 281. 47. THEODORO, Humberto Júnior, op. cit., p. 503.

Page 44: UNIFMU - Portal FMU

44

Desta forma, entende Humberto Theodoro Júnior48 que, no julgamento do

recurso, o pedido de reforma formulado pelo recorrente poderá ou não ser acolhido.

Não se admitirá, porém, que, sob o pretexto do reexame da decisão impugnada, lhe

seja imposto um gravame maior que o constante na decisão reexaminada, e que

não tenha sido objeto, também, do recurso do adversário recorrente.

Se o recurso for utilizado para agravar a situação do recorrente este importará

em decisão “extra” ou “ultra petita”, em a atuação jurisdicional de ofício, violação da

coisa julgada, ou preclusão, no tocante ao que se tornou definitivo para a parte que

não recorreu.

48. op. cit., p. 503.

Page 45: UNIFMU - Portal FMU

45

CAPÍTULO II - EMBARGOS DE DECLARAÇÃO

1. Introdução

O Capítulo I trata de forma geral de todos os recursos, sendo uma introdução

ao tema a ser desenvolvido.

Antes de explicitar o tema, farei uma apresentação no que diz respeito aos

embargos.

Os “embargos são o recurso interposto perante o mesmo juízo em que se

proferir a decisão recorrida, visando à sua declaração ou reforma”.49

O termo “embargos”, segundo Vicente Greco Filho,50 é um termo equivoco,

pois tem sido utilizado por diversas entidades de natureza diferente no Processo

Civil. Os embargos podem ser: uma ação com procedimento especial, ação

incidental, medidas constritivas ou um recurso.

49. AMARAL SANTOS, Moacyr, op. cit., p. 138. 50. op. cit., p. 319.

Page 46: UNIFMU - Portal FMU

46

Sua origem é lusitana, anterior às Ordenações Afonsinas, sendo prevista a

possibilidade de se pedir ao juiz reconsideração da sentença por ele proferida.

Nas Ordenações Manuelinas e Filipinas surgiram os embargos declaratórios e

os ofensivos.

No Brasil, durante o Império sob a vigência das Ordenações Filipinas,

mantiveram se as diversas modalidades dos embargos (declaratórios, ofensivos e

modificativos), porém estes estavam voltados à regulamentação do Direito

Comercial.

Os Códigos Estaduais tratavam dos embargos declaratórios, infringentes ou

de nulidade e posteriormente estes foram trasladados para o Código de Processo

Civil de 1939, sofrendo um aprofundamento na sua sistematização. Estão divididos

em quatro grupos:51

I - embargos infringentes a sentenças nas causas de alçadas;

II - embargos infringentes a acórdãos em grau de apelação ou em ação

rescisória;

III - embargos a acórdãos do Supremo Tribunal Federal, os quais se

distinguiam conforme fossem opostos:

a. a acórdãos nas causas de sua competência originária;

b. a acórdão de Turma que, em recurso extraordinário ou agravo de

instrumento, divergisse de julgado de outra Turma ou do Plenário, na interpretação

do direito federal;

51.AMARAL SANTOS, Moacyr, op. cit., p. 139.

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47

c. a acórdão que julgasse a ação rescisória ou que julgasse a representação

de inconstitucionalidade; neste caso, se houvesse três ou mais votos divergentes.

IV - embargos declaratórios.

O Código de Processo Civil atual manteve apenas os embargos infringentes

do julgado e os embargos declaratórios. Porém, no campo recursal temos:

I - embargos infringentes (art. 530 do Código Processo Civil);

II - embargos de declaração (art. 535 e segs. do Código Processo Civil);

III - embargos infringentes da Lei n.º 6.830/80;

IV - embargos infringentes contra decisão em causas de competência

originária do Supremo Tribunal Federal;

V - embargos de divergência no Supremo Tribunal Federal e no Superior

Tribunal de Justiça e os referidos na Lei Orgânica da Magistratura Nacional.

Este capítulo enfocará os embargos de declaração previstos no art. 496, IV do

Código de Processo Civil, devido às peculiaridades que nele foram constatadas.

2. Conceito

“Dá-se o nome de embargos de declaração ao recurso destinado a pedir ao

juiz ou juízes prolatores da sentença ou do acórdão que esclareçam obscuridade,

eliminem contradição ou supram omissão existente no julgado.”52

52. AMARAL SANTOS, Moacyr, op. cit., p. 146.

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48

Será embargável qualquer decisão judicial (decisão interlocutória ou

sentença), pois se deve sanar a obscuridade, contradição ou omissão presentes no

pronunciamento jurisdicional. Desse modo, a jurisprudência tem admitido a oposição

de embargos de declaração em face de decisão interlocutória, conforme demonstra

o acórdão RESP 199593/RJ; Recurso Especial, exposto no ANEXO II. Pouco

importará se a decisão foi proferida por juiz de primeiro grau ou Tribunal Superior, ou

num processo de conhecimento, de execução ou cautelar, ou se a decisão é

terminativa, final ou interlocutória.

Sendo assim, o embargante ao opor os embargos de declaração busca uma

declaração do juiz ou juízes que, sem atingir a substância do julgado, a este integre

possibilitando sua melhor inteligência e interpretação.53

3. Histórico

Os embargos de declaração têm origem lusitana, no séc. XII, estando

inseridos nas Ordenações Afonsinas de 1447, nas quais buscavam o esclarecimento

da sentença ou acórdão quando envoltos em obscuridade, contradições e omissões.

Nas Ordenações Filipinas a matéria não sofreu modificação em sua

substância e há menção da denominação “embargos”.

O Código de Processo Civil de 1939, tratou das possibilidades de embargos

por três modos:54

53. AMARAL SANTOS, Moacyr, op. cit., p. 147. 54. SIDOU, J. M. Othon, Processo Civil Comparado, 1ª ed., p. 318.

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49

• nas inexatidões materiais devidas ao lapso manifesto, ou aos erros de

escrita ou de cálculo, podendo estes serem corrigidos por despacho, “ex officio” ou a

requerimento de qualquer das partes (art. 285);

• nas sentenças em causas subordinadas à alçada, mas apenas recorríveis

por embargos infringentes ou declaratórios, conforme o caso (art. 839);

• nos acórdãos genericamente, contendo ponto obscuro ou contraditório (art.

862).

O Código de Processo Civil, de 1973 eliminou os embargos relativos à alçada,

ampliando, assim, a admissibilidade dos embargos de declaração; porém manteve a

duplicidade do recurso, no qual se tinha um recurso para a sentença previsto nos

arts. 464 e segs., possuindo prazo específico para sua interposição. Os embargos

deveriam ser apresentados perante o juiz singular (órgão julgador). Havia, também,

a previsão dos embargos de declaração voltados ao acórdão com prazo específico,

devendo ser interpostos ao órgão julgador diverso daquele referente à sentença, ou

seja, deveria ser interposto perante o Tribunal Colegiado.

Com a Lei n.º 8950/94, houve a unificação da matéria referente aos embargos

de declaração num único capítulo que compreende os arts. 535 a 538 do Código de

Processo Civil, unificando os embargos de declaração, disciplinando da mesma

maneira os julgados de primeiro grau e os de grau superior. A lei referida manteve a

previsão dos embargos protelatórios com aplicação de multa de 1% sobre o valor da

causa, elevando-se de 1% para 10% sobre o valor da causa, na hipótese de

reincidência de oposição dos embargos protelatórios, condicionando a interposição

de qualquer outro recurso ao depósito do valor devido.

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50

Esta Lei manteve as características originais do recurso, ou seja, manteve a

interrupção do prazo para interposição de outro recurso e a isenção do preparo.

Num estudo comparado, conforme trata J. M. Othon Sidou,55 verifica-se que:

• no direito português há uma identidade com a legislação brasileira, no que

diz respeito à matéria de embargos de declaração;

• no direito francês o juiz terá a possibilidade de interpretar sua decisão, a fim

de esclarecer as dúvidas, ou considerando que a matéria é objeto de apelação

quando requerida por qualquer uma das partes ou de ambas as partes. No que diz

respeito aos erros e omissões presentes na sentença, ainda que já tenham feito

coisa julgada, poderão ser reparados por quem proferiu a sentença, ou por quem

recebeu a denúncia;

• o Código Italiano prevê a possibilidade de que a sentença que não tenha

sido apelada poderá ser corrigida, a requerimento da parte ou por iniciativa do

próprio juiz na hipótese de ocorrer omissão, erro material, ou de cálculo. Poderá o

juiz fazer a correção mediante despacho, se todas as partes concordarem. Se

apenas uma das partes solicitar o pedido de correção, então o juiz notificará a outra

parte para que compareça à audiência, na qual a matéria deverá ser decidida;

• no sistema espanhol, há peculiaridade no que diz respeito aos prazos que

são os menores: se o juiz agir de “motu proprio” o prazo será o dia seguinte à

publicação da sentença. Se o esclarecimento partir de uma das partes, o prazo

então será o dia seguinte à notificação e se a resolução tiver partido do juiz ou do

Tribunal e necessitar de esclarecimento o prazo será o dia seguinte desta resolução.

55. op. cit., p. 318 e 319.

Page 51: UNIFMU - Portal FMU

51

4. Natureza Jurídica

Com relação a sua natureza jurídica, encontramos na doutrina divergências.

Na corrente minoritária seguida por Gabriel de Rezende Filho, Machado

Guimarães, Lopes da Costa, João Monteiro há o entendimento de que os embargos

de declaração não têm a natureza de recurso, pois este seria apenas um pedido de

esclarecimento na hipótese de obscuridade ou uma forma de eliminação das

contradições, ou a supressão da omissão existente na sentença ou acórdão. Sendo

assim, os embargos de declaração representariam um pedido de esclarecimento ou

de integração do ato decisório, porque eles não visam à reforma do julgado, pois sua

matéria não será alterada, mesmo que os embargos sejam providos. Seguindo o

raciocínio desta corrente, encontra-se Sergio Bermudes56 afirmando: “os embargos

de declaração não constituem um recurso, tratando-se de incidente de

esclarecimento de qualquer decisão judicial, que precisa ser compreendida por seus

destinatários, impondo-se que se pronuncie sobre o quanto deva constituir seu

objeto.”

Já na corrente majoritária, entende-se que os embargos de declaração têm

natureza de recurso, tendo como argumentos:

1. sua previsão no Código de Processo Civil, no art. 496, IV, no qual os

embargos vêm formalmente inseridos no rol dos recursos;

56. BERMUDES, Sergio, A reforma do Código de Processo Civil, 2ª ed., p. 101.

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52

2. o fato dos embargos de declaração serem interpostos na mesma relação

processual em que foi proferida a decisão embargada, sendo este uma característica

comum a todos os recursos;

3. Sua oposição impedirá o trânsito em julgado ou a preclusão;

4. Serão utilizados para remover um gravame para a parte, decorrente de

obscuridade, contradição ou omissão.

Seguindo esta corrente temos: Pontes de Miranda, Frederico Marques,

Moacyr Amaral Santos, Humberto Theodoro Júnior, J. C. Barbosa Moreira, Vicente

Greco Filho.

5. Pressupostos

O pressuposto de admissibilidade específico dos embargos de declaração

será a existência de defeitos na sentença, ou no acórdão, segundo Moacyr Amaral

Santos57 e Humberto Theodoro Júnior.58 Estes defeitos poderão ser a obscuridade, a

contradição ou a omissão.

O recorrente deverá indicar o defeito presente na sentença ou acórdão no ato

de sua oposição, através de petição escrita dirigida ao juiz ou relator. Se o defeito

indicado for omissão, buscar-se-á com os embargos de declaração a

complementação da decisão, decidindo a questão que escapou à decisão

embargada, tendo uma finalidade integrativa buscando completar o julgamento que

foi parcial.

57. op. cit., p. 146.

Page 53: UNIFMU - Portal FMU

53

Se o defeito consistir na obscuridade ou na contradição a sentença ou

acórdão terão, através dos embargos de declaração, seu defeito eliminado, tendo-

se, assim, uma finalidade explicativa, pois se busca o verdadeiro entendimento da

sentença.

Seja qual for o defeito apontado, a substância do julgado será mantida, pois a

finalidade dos embargos de declaração não será a de reformar o acórdão ou a

sentença, não podendo haver um novo julgamento da lide. Porém, poderão ocorrer

algumas mudanças no conteúdo do julgado, principalmente quando o defeito

alegado for a omissão ou a contradição. Mas, as alterações introduzidas no julgado

inicial, decorrentes dos embargos de declaração, ater-se-ão apenas à eliminação da

obscuridade ou contradição o suprimento da omissão.

No que diz respeito aos pressupostos gerais, os pressupostos objetivos serão

exigidos com exceção do preparo (art. 536 do Código de Processo Civil). Segundo

Pontes de Miranda59 “Há razão plausível para se não exigir preparo aos embargos

de declaração: argúi-se erro do juiz, ou do Tribunal, que foi obscuro, omisso,

contraditório, ou incorreu em defeito de ambigüidade ou equivocidade. As custas

serão pagas a final, se o provimento for negado.”

Já os pressupostos subjetivos, no que diz respeito à legitimidade, também,

tem-se uma diferenciação, pois poderá embargar a decisão tanto sucumbente como

a parte vencedora.

6. Cabimento

58. op. cit., p. 542.

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54

Os embargos de declaração caberão contra qualquer decisão judicial seja ela

interlocutória, sentença ou acórdão, não importando sua espécie, o órgão da qual

emanou, o grau de jurisdição que proferiu a decisão ou se a sentença é ou não de

mérito. Será apenas relevante que esta decisão apresente obscuridade, contradição

ou omissão (art. 535, I e II do Código de Processo Civil).

A obscuridade se dará com a falta de clareza na decisão, seja na

fundamentação, seja na parte conclusiva, criando-se uma atmosfera de dúvida sobre

o que foi exposto, tornando difícil sua compreensão e sua exata interpretação.

A contradição, segundo J. C. Barbosa Moreira,60 dar-se-á quando o julgado

apresentar proposições entre si inconciliáveis, sendo:

• entre proposições da parte decisória, por incompatibilidade entre capítulos

da decisão;

• entre proposição enunciada nas razões de decidir e o dispositivo;

• entre a ementa e o corpo do acórdão ou entre o teor deste e o verdadeiro

resultado do julgamento, apurável pela ata ou por outros elementos.

Dá-se a omissão quando o órgão judicial não se pronunciar sobre um ponto,

ou questão, ou matéria pertinente e relevante, suscitada pelas partes, pelo Ministério

Público, ou quando o juiz ou juízes deveriam pronunciar-se de ofício.

Será, também, admissível a interposição de embargos declaratórios sobre

uma decisão que julgou os embargos declaratórios, ou seja, se os vícios do julgado

persistirem, tem-se a possibilidade de novamente opor embargos de declaração. Os

59. MIRANDA, F. Pontes de, Comentários ao Código de Processo Civil, 3a ed., v. VII, p. 337.

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55

novos embargos de declaração proposto também terá o efeito interruptivo,

interrompendo os prazos para a interposição de outros recursos.

7. Prazo

O prazo para a oposição dos embargos de declaração será de 5 (cinco) dias,

tanto para as decisões de primeiro grau, como para as decisões de instância

superior (art. 536 do Código de Processo Civil, na redação da Lei n.º 8.950/94). A

contagem do prazo iniciará após a intimação da sentença e de sua publicação em

audiência, ou da publicação do acórdão.61

O juiz deverá julgar os embargos em 5 dias, se não houver audiência da parte

contrária, isto na primeira instância. Já nos Tribunais o relator deverá apresentar os

embargos em mesa na sessão subsequente, proferindo o seu voto, demonstrando

que o relator do acórdão impugnado continuará sendo o relator para o julgamento

dos embargos declaratórios (art. 537 do Código de Processo Civil).

Com a oposição dos embargos de declaração, ter-se-á a interrupção dos

prazos para a interposição de outros recursos, ou seja, o prazo após o julgamento

destes embargos, voltará a fluir por inteiro.

8. Efeitos dos Embargos de Declaração

• efeito suspensivo: será produzido com sua oposição, suspendendo os

efeitos do julgado até a decisão dos embargos de declaração;

60. op. cit., p. 155. 61. FIDÉLIS, Ernane dos Santos, Manual de Direito Processual Civil, 8ª ed., v. I, p. 584.

Page 56: UNIFMU - Portal FMU

56

• efeito devolutivo: não haverá, pois os embargos de declaração serão

sempre opostos em face do mesmo órgão que proferiu a decisão ora embargada;

• efeito interruptivo: será produzido com a oposição dos embargos.

Consistirá na interrupção dos prazos para interposição de qualquer outro recurso

cabível, a partir da data do ajuizamento dos embargos, sendo válida esta regra para

ambas as partes, beneficiando não só o embargante, mas também o embargado,

terceiro prejudicado, Ministério Público como fiscal da lei. Ainda que os embargos

sejam considerados incabíveis, o prazo para a interposição dos outros recursos

sofrerá interrupção. Somente após o julgamento dos embargos e com a ciência das

partes da decisão proferida é que o prazo voltará a fluir por inteiro;

• efeito modificativo será produzido, porém de forma eventual, apenas

quando for oposto para solucionar obscuridade, contradição, ou omissão e a

resolução ensejar numa nova resolução da demanda. Mas, ressalta-se que essas

inovações, conforme já dito, não poderão ir além do necessário para eliminar os

vícios da decisão.

9. Procedimento

O seu procedimento se iniciará com a interposição dos embargos de

declaração mediante petição escrita, indicando o ponto obscuro, contraditório ou

omisso devendo dirigi-la ao juiz que proferiu a decisão ou ao relator do acórdão.

Quando a interposição for relativa à primeira instância, os autos deverão ser

concluso ao juiz em 24 horas, para que possa fazer a apreciação deste.

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57

Não se terá a possibilidade do contraditório, pois os embargos não buscam

um novo julgamento da causa, mas sim um aperfeiçoamento da decisão já proferida.

O juiz deverá proferir a decisão dos embargos em 5 (cinco) dias

subsequentes à conclusão.

De forma esquemática teremos:62

a petição inicial dos embargos de declaração deverá ser dirigida

ao juiz que proferiu a sentença, no prazo de 5 (cinco) dias contados a partir

da publicação da sentença

(art. 465 do CPC)

↓ interrupção do prazo de apelação

(art. 538, parágrafo único do CPC)

não haverá o preparo

não se ouvirá a parte contrária (não há contraditório)

Após 5 dias da conclusão deverá o juiz proferir a decisão

(art. 537 do CPC)

Poderá o juiz aplicar multa em face do recorrente

se ficar constatado que se trata de embargos manifestamente protelatórios

(art. 538, parágrafo único do CPC)

62. THEODORO, Humberto Júnior, op. cit., p. 545.

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58

A partir da intimação das partes do julgamento dos embargos declaratórios,

recomeça-se o prazo para interposição da apelação.

Na instância superior, uma vez sendo interpostos os embargos, o relator

dos embargos será o mesmo do acórdão embargado. Não haverá, também, o

contraditório.

O relator deverá apresentar os embargos em mesa para julgamento, na

primeira sessão subsequente. Não haverá sustentação oral por parte do

embargante, pois há vedação expressa prevista no art. 554 do Código de Processo

Civil. O relator fará exposição. Na seqüência, passa-se à votação. O relator da

decisão embargada participará desta votação se manifestando antes dos outros

julgadores. Por fim, o presidente designará a redação do acórdão ao relator ou, se

este for o vencido, ao autor do primeiro voto vencedor (art. 556 do Código de

Processo Civil).

De forma esquemática teremos:63

a petição inicial será dirigida ao relator em 5 dias

a contar da publicação do acórdão

(art. 536 do CPC)

↓ Interrompem-se os prazos para interposição

dos demais recurso

↓ não haverá preparo

(art. 536 do CPC)

↓ 63. THEODORO, Humberto Júnior, op. cit., p. 546.

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59

não se ouvirá a parte contrária

↓ julgamento na 1a sessão seguinte

↓ ↓ acolhimento embargos

ou rejeição manifestamente

↓ protelatórios

↓ ↓

↓ impõe-se multa ao embargante

↓ Publicação do novo acórdão

↓ recomeçam-se os prazos

para interposição de outros recursos

No Juizado Especial (Lei n.º 9.099/95), também se tem a previsão da

interposição dos embargos de declaração nos arts. 48 a 50.

Seu procedimento se iniciará com a interposição num prazo de 5 dias,

contados a partir da ciência da decisão, por petição escrita ou oralmente. Com sua

interposição, tem-se a suspensão do prazo para interpor outro recurso, ou seja, após

o julgamento dos embargos o prazo voltará a fluir pelo tempo restante, sendo

diferente do sistema previsto no Código de Processo Civil, no qual se tem a

interrupção de prazos.

No tocante aos vícios que podem ser alegados na interposição dos embargos,

verifica-se que a Lei n.º 9.099/95, sustenta a dúvida no art. 48, porém esta não

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60

subsiste mais no Código de Processo Civil, tendo sido retirado pela Lei n.º 8.950/94.

Nota-se que o legislador, ao elaborar a lei do Juizado Especial, baseou-se no

Código de Processo Civil de 1973. No entanto, enquanto aguardava a aprovação de

seu projeto, a Lei 8.950/94 alterou o Código.

10. Embargos Manifestamente Protelatórios

Serão protelatórios os embargos que ao invés de buscarem o saneamento

dos vícios já explicitados, buscarão a dilação do tempo de duração do feito, já que

com sua interposição se tem a interrupção do prazo para interposição de outros

recursos.

Havendo o reconhecimento expresso pelo juiz ou pelo Tribunal do caráter

protelatório dos embargos, aplicar-se-á uma sanção pecuniária ao embargante que

consistirá na multa de até 1% sobre o valor da causa (art. 538, parágrafo único do

Código de Processo Civil).

Caso o embargante persista e reitere os embargos protelatórios, repetindo,

ainda que através da oposição de novos embargos de declaração, apresentando os

mesmos embargos inicialmente opostos, pedindo novamente o que já se pediu

anteriormente. A sanção pecuniária deverá ser elevada em até 10% do valor da

causa, não sendo somada a multa inicial de 1%, e sim aumentando-se a esta.

A interposição de qualquer outro recurso ficará condicionada ao depósito do

valor cobrado, ou seja, o reincidente além de ter o valor da multa majorado, ainda

terá a multa convertida em pressuposto objetivo de admissibilidade para interposição

de qualquer outro recurso.

Page 61: UNIFMU - Portal FMU

61

O prazo para interposição dos demais recursos, não se alterará, continuará a

correr da intimação do julgamento dos embargos, devendo, entretanto, o

embargante condenado fazer prova do recolhimento da multa, junto com a

interposição de outro recurso.

A aplicação da pena será feita “ex officio” e, caso haja omissão com relação a

esta sanção pecuniária, o embargado poderá opor embargos de declaração para

suprir esta omissão.

A multa será aplicada, também, ao embargante que possuir procurador, que

gozar dos benefícios de assistência judiciária, ficando isento apenas no caso da

parte estar sendo defendida por defensor público, desempenhando o ônus

exclusivamente por condição funcional.64

O valor depositado equivalente à multa será revertido em favor do

embargado.

Não serão considerados protelatórios os embargos declaratórios que tiverem

o propósito de prequestionamento (Súmula 98 do Superior Tribunal de Justiça). O

prequestionamento se traduz como uma forma de obrigar o Tribunal a se pronunciar

sobre uma questão federal constitucional ou infraconstitucional que será,

eventualmente, suscitada em sede de recurso especial ou de recurso extraordinário,

tornando o prequestionamento um requisito indispensável para a interposição do

recurso especial e do recurso extraordinário (Súmula 356 do Superior Tribunal de

Justiça).

64. FIDÉLIS, Ernane dos Santos, op. cit., p. 584.

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62

11. Lei n.º 8.950 de 13.12.1994 e suas Alterações

1. Unificou os embargos de declaração, eliminando a diferença procedimental

entre os embargos declaratórios opostos na 1ª instância e na instância superior.

Esta Lei em seu art. 3º, ab-rogou os arts. 464 e 465 do Código de Processo Civil,

tornando a disciplina única, sendo prevista, atualmente, nos arts. 535 a 538 do

Código de Processo Civil;

2.

CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 1973 LEI N.º 8.950/94

Art. 535

“Cabem embargos de declaração quando:

I - há no acórdão obscuridade, dúvida, ou contradição;

II - for omitido ponto sobre que devia pronunciar-se o tribunal.”

Art. 535

“Cabem embargos de declaração quando:

I - houver, na sentença ou no acórdão, obscuridade ou contradição;

II - for omitido ponto sobre o qual devia pronunciar-se o juiz ou tribunal.”

Nota-se, no inciso I, a eliminação do requisito da dúvida, pois entende-se que

este seria apenas o resultado da obscuridade ou da contradição. Ainda no inciso I,

inclui-se apenas a menção à sentença, não se mencionando as decisões

interlocutórias, muito embora possam ser embargadas encontrando apoio na

doutrina e jurisprudência.

Page 63: UNIFMU - Portal FMU

63

O inciso II teve apenas uma reformulação, para que constasse a expressão “o

juíz”, a fim de que este ficasse em harmonia com a unificação dos embargos

declaratórios.65

3.

CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 1973 LEI N.º 8.950/94

Art. 536

“Os embargos serão opostos, dentro em 5 (cinco) dias da data da publicação do acórdão, em petição dirigida ao relator, na qual será indicado o ponto obscuro, duvidoso, contraditório, ou omisso.

Parágrafo único. Os embargos não estão sujeitos a preparo.”

Art. 536

“Os embargos serão opostos, no prazo de 5 (cinco) dias, em petição dirigida ao juiz ou relator, com indicação do ponto obscuro, contraditório ou omisso, não estando sujeitos a preparo.”

Inicialmente, suprimiu-se, com base no art. 535, a referência ao ponto

duvidoso. Há a hegemonização do prazo para sua oposição, fixando-o em 5 (cinco)

dias para os embargos de primeira instância e nos Tribunais.

Nota-se, também, a revogação tácita do parágrafo único, incorporando sua

redação ao próprio art. 536.

4.

CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 1973 LEI N. N.º 8.950/94

65. BERMUDES, Sergio, op. cit., p. 101.

Page 64: UNIFMU - Portal FMU

64

Art. 537

“O relator porá os embargos em mesa para julgamento, na primeira sessão seguinte, proferindo o seu voto.”

Art. 537

“O juiz julgará os embargos em cinco dias; nos tribunais, o relator apresentará os embargos em mesa na sessão subsequente, proferindo voto.”

Tendo em vista a unificação do procedimento para os embargos de primeiro

grau e dos Tribunais, houve a modificação da redação deste artigo, pois não havia

menção no artigo antecedente dos embargos de declaração na primeira instância.

Sendo assim, esta nova redação tráz que o juiz disporá do prazo de 5 (cinco) dias

para apreciar os embargos opostos, e nos Tribunais o relator deverá apresentar os

embargos em mesa, na sessão subsequente ao dia que forem opostos.

05.

CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 1973 LEI N. N.º 8.950/94

Art. 538

“Os embargos de declaração suspendem o prazo para interposição de outros recursos.

Parágrafo único. Quando forem manifestamente protelatórios, o tribunal, declarando expressamente que o são, condenará o embargante a pagar ao embargado multa, que não poderá exceder de um por cento sobre o valor da causa.”

Art. 538

“Os embargos de declaração interrompem o prazo para interposição de outros recursos, por qualquer das partes.

Parágrafo único. Quando manifestamente protelatórios os embargos, o juiz ou tribunal, declarando que o são, condenará o embargante a pagar ao embargado multa de não excedente de um por cento sobre o valor da causa.

Na reiteração de embargos protelatórios, a multa é elevada até dez por cento, ficando condicionada a interposição de qualquer outro recurso ao depósito do valor respectivo.”

Page 65: UNIFMU - Portal FMU

65

O caput deste artigo teve uma nova redação, passando-se a entender que

sua oposição incorrerá na interrupção do prazo para interposição de outros recursos.

Segundo o parágrafo único do art. 464, revogado por esta Lei, e a

recomendação da doutrina e jurisprudência, a interrupção do prazo beneficiará não

só o embargante, mas também todas as partes legitimadas a recorrer (autor, réu,

terceiro interessado, terceiro prejudicado e ministério Público).66

O legislador, prevendo que a inovação concernente à interrupção dos prazos

pudesse incentivar a procrastinação do feito e tentando inovar com relação ao

Código de Processo Civil de 1939, que trazia como pena aos embargos protelatórios

a não suspensão dos prazos em relação à interposição de qualquer outro recurso,

impôs a pena de multa não excedente a 1% sobre o valor da causa que em

determinadas circunstâncias deverá ser atualizado no momento da aplicação da

multa.

Caso se tenha a reiteração dos embargos manifestamente protelatórios,

deverá ser aplicada, também, a pena de multa. Porém, esta será de 10% sobre o

valor da causa, mas não somará esta com a anterior, apenas se elevará o valor da

primeira penalidade aplicada. Ainda com relação à reiteração dos embargos

manifestamente protelatórios, tem-se a previsão de que a interposição de qualquer

outro recurso ficará condicionada ao depósito desta multa aplicada.67

Por fim, no art. 538, em sua nova redação, tendo em vista que os arts. 464 e

465 do Código de Processo Civil de 1973 (ambos revogados), nada mencionavam e

o art. 538 previa, apenas, a aplicação de multa em sede dos Tribunais, impôs o

66. BERMUDES, Sergio, op. cit., p. 102. 67. BERMUDES, Sergio, op. cit., p. 103.

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66

legislador que o juiz de primeira instância poderá ou não aplicar a pena de multa

com relação aos embargos manifestamente protelatórios.68

12. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a realização desta obra, pude constatar que os embargos de declaração

constituem efetivamente, um recurso, porém atípico, tendo em vista suas

peculiaridades. Sendo elas:

1. sua finalidade a qual não será a de reformar a sentença, acórdão ou

decisão interlocutória, não havendo um novo julgamento da lide, buscando-se a

eliminação da obscuridade, contradição ou suprimento da omissão presente na

decisão. Sendo assim, não se prevê a possibilidade do contraditório.

2. nos pressupostos gerais objetivos, nota-se a ausência do preparo e no que

diz respeito aos pressupostos subjetivos, no que tange à legitimidade, verifica-se

que ambas as partes envolvidas na lide poderão opor este recurso, ainda que seja a

parte vencedora.

3. a ausência do efeito devolutivo, pois este recurso será oposto em face do

juiz ou órgão colegiado que proferiu a decisão, não havendo a transferência de

matéria para um órgão superior.

4. a previsão da oposição de novos embargos declaratórios em face de

decisão que julgou os embargos declaratórios inicialmente opostos. Com base nesta

possibilidade, o legislador, visando coibir a procrastinação do feito, já que com sua

68. OLIVEIRA, Francisco Antonio de, Alterações do CPC, p.165.

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oposição tem-se a interrupção do prazo para interposição de qualquer outro recurso,

impôs uma sanção pecuniária (multa de 1% sobre o valor da causa e se houver

reiteração 10% sobre o valor da causa), com a finalidade de incentivar as partes a

não oporem embargos manifestamente protelatórios, evitando-se, assim, o retardo

na solução da lide.

Enfim, muito embora este recurso seja atípico, ainda assim deverá preencher

os demais pressupostos gerais de admissibilidade, como: a recorribilidade do ato

decisório, podendo ser oposto este recurso em face de sentença, acórdão e decisão

interlocutória, conforme entendimento doutrinário e jurisprudencial; a tempestividade,

devendo ser oposto no prazo especificado no art. 536 do Código de Processo Civil,

ou seja, deverá ser oposto em 5 (cinco) dias; a singularidade do recurso,

impossibilitando a interposição simultânea dos embargos de declaração com outro

recurso, até mesmo porque sua oposição interromperá o prazo para interposição de

qualquer outro recurso; a adequação do recurso, pois se houver ponto obscuro,

contraditório ou omissão deverá a parte que se achar prejudicada opor os embargos

declaratórios; a motivação, devendo o recorrente demonstrar os motivos do presente

recurso.

Com relação aos pressupostos gerais subjetivos, encontramos que serão

legitimados a recorrer o Ministério Público, terceiro prejudicado, terceiro interessado

e ambas as partes ainda que uma delas seja a vencedora.

A intenção para que se preencha estes pressupostos é para os embargos

ultrapassarem o juízo de admissibilidade, a fim de que sejam conhecidos, não

garantindo, porém, que estes venham posteriormente serem providos.

Page 68: UNIFMU - Portal FMU

68

BIBLIOGRAFIA

AMARAL SANTOS, Moacyr, Primeiras Linhas de Direito Processual

Civil. Vol. III. 20a edição. São Paulo: Ed. Saraiva, 2001.

BAPTISTA, Sonia Márcia Hase de Almeida, Dos Embargos de

Declaração, 2a edição. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 1993.

BARBOSA MOREIRA, José Carlos, O Novo Processo Civil Brasileiro,

22a edição. Rio de Janeiro: Ed. Forense, 2001.

BERMUDES, Sergio, A Reforma do Código de Processo Civil, 2ª edição.

Page 69: UNIFMU - Portal FMU

69

São Paulo: Ed. Saraiva, 1996.

FIDÉLIS, Ernane dos Santos, Manual de Direito Processual Civil. Vol. I.

8a edição. São Paulo: Ed. Saraiva, 2001.

GRECO FILHO, Vicente, Direito Processual Civil Brasileiro. Vol. II.

14a edição. São Paulo: Ed. Saraiva, 2000.

MIRANDA, F. Pontes, Comentários ao Código de Processo Civil.

Tomo VII. 3 a edição. Rio de Janeiro: Ed. Forense, 1999.

MIRANDA, Vicente, Embargos de Declaração no Processo Civil.

Brasileiro. 1a edição. São Paulo: Ed. Saraiva. 1990.

OLIVEIRA, Francisco Antonio de, Alterações do CPC Comentado.

São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais. 1997.

SIDOU, J. M. Othon, Processo Civil Comparado. 1a edição. Rio de

Janeiro: Ed. Forense Universitária. 1997.

THEODORO, Humberto Júnior, Curso de Direito Processual Civil. Vol. I.

38a edição. Rio de Janeiro: Ed. Forense. 2002.

<http: www.stj.gov.br>

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70

Anexo I

LEI N.º 8.950, DE 13 DE DEZEMBRO DE 1994

Altera dispositivos do Código de Processo Civil, relativos aos recursos.

O PRESIDENTE DA CÂMARA DOS DEPUTADOS no exercício do cargo de

PRESIDENTE DA REPÚBLICA

Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte lei:

Art. 1º Os dispositivos a seguir enumerados, da Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de

1973 - Código de Processo Civil, passam a vigorar com a seguinte redação:

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71

"Art.496.

........................................................................................................................................

......................................................................................................................................

........................................................................................................................................

......................................................................................................................................

II - agravo;

.....................................................................................................................................

.....................................................................................................................................

VIII - embargos de divergência em recurso especial e em recurso extraordinário.

.......................................................................................................................................

.......................................................................................................................................

Art. 500.

.......................................................................................................................................

.......................................................................................................................................

I - será interposto perante a autoridade competente para admitir o recurso principal,

no prazo de que a parte dispõe para responder;

.......................................................................................................................................

.......................................................................................................................................

Art. 506.

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72

........................................................................................................................................

......................................................................................................................................

Parágrafo único. No prazo para a interposição do recurso, a petição será

protocolada em cartório ou segundo a norma de organização judiciária, ressalvado o

disposto no art. 524.

.......................................................................................................................................

.......................................................................................................................................

Art. 508. Na apelação, nos embargos infringentes, no recurso ordinário, no recurso

especial, no recurso extraordinário e nos embargos de divergência, o prazo para

interpor e para responder é de quinze dias.

.......................................................................................................................................

.......................................................................................................................................

Art. 511. No ato de interposição do recurso, o recorrente comprovará, quando

exigido pela legislação pertinente, o respectivo preparo, inclusive porte de retorno,

sob pena de deserção.

Parágrafo único. São dispensados de preparo os recursos interpostos pelo Ministério

Público pela União, pelos Estados e Municípios e respectivas autarquias, e pelos

que gozam de isenção legal.

.......................................................................................................................................

.......................................................................................................................................

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73

Art. 516. Ficam também submetidas ao tribunal as questões anteriores à sentença,

ainda não decididas.

......................................................................................................................................

.....................................................................................................................................

Art. 518. Interposta a apelação, o juiz, declarando os efeitos em que a recebe,

mandará dar vista ao apelado para responder.

Parágrafo único. Apresentada a resposta, é facultado ao juiz o reexame dos

pressupostos de admissibilidade do recurso.

Art. 519. Provando o apelante justo impedimento, o juiz relevará a pena de

deserção, fixando-lhe prazo para efetuar o preparo.

Parágrafo único. A decisão referida neste artigo será irrecorrível, cabendo ao tribunal

apreciar-lhe a legitimidade.

Art. 520.

........................................................................................................................................

.....................................................................................................................................

......................................................................................................................................

.....................................................................................................................................

V - rejeitar liminarmente embargos à execução ou julgá-los improcedentes.

......................................................................................................................................

.....................................................................................................................................

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74

Art. 531. Compete ao relator do acórdão embargado apreciar a admissibilidade do

recurso.

Art. 532. Da decisão que não admitir os embargos caberá agravo, em cinco dias,

para o órgão competente para o julgamento do recurso.

Art . 533. Admitidos os embargos, proceder-se-á ao sorteio de novo relator.

Parágrafo único. A escola do relator recairá, quando possível, em juiz que não haja

participado do julgamento da apelação ou da ação rescisória.

.......................................................................................................................................

.......................................................................................................................................

Art. 535. Cabem embargos de declaração quando:

I - houver, na sentença ou no acórdão, obscuridade ou contradição;

II - for omitido ponto sobre o qual devia pronunciar-se o juiz ou tribunal.

Art. 536. Os embargos serão opostos, no prazo de cinco dias, em petição dirigida ao

juiz ou relator, com indicação do ponto obscuro, contraditório ou omisso, não

estando sujeitos a preparo.

Art. 537. O juiz julgará os embargos em cinco dias; nos tribunais, o relator

apresentará os embargos em mesa na sessão subseqüente, proferindo voto.

Art. 538. Os embargos de declaração interrompem o prazo para a interposição de

outros recursos, por qualquer das partes.

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75

Parágrafo único. Quando manifestamente protelatórios os embargos, o juiz ou o

tribunal, declarando que o são, condenará o embargante a pagar ao embargado

multa não excedente de um por cento sobre o valor da causa. Na reiteração de

embargos protelatórios, a multa é elevada a até dez por cento, ficando condicionada

a interposição de qualquer outro recurso ao depósito do valor respectivo.

CAPÍTULO VI

Dos Recursos para o Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de Justiça

Seção I

Dos Recursos Ordinários

Art. 539. Serão julgados em recurso ordinário:

I - pelo Supremo Tribunal Federal, os mandados de segurança, os habeas data e os

mandados de injunção decididos em única instância pelos Tribunais Superiores,

quando denegatória a decisão;

II - pelo Superior Tribunal de Justiça:

a) os mandados de segurança decididos em única instância pelos Tribunais

Regionais Federais ou pelos Tribunais dos Estados e do Distrito Federal e

Territórios, quando denegatória a decisão;

b) as causas em que forem partes, de um lado, Estado estrangeiro ou organismo

internacional e, do outro, Município ou pessoa residente ou domiciliada no País:

Parágrafo único. Nas causas referidas no inciso II, alínea b , caberá agravo das

decisões interlocutórias.

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76

Art. 540. Aos recursos mencionados no artigo anterior aplica-se, quanto aos

requisitos de admissibilidade e ao procedimento no juízo de origem, o disposto nos

Capítulos II e III deste título, observando-se, no Supremo Tribunal Federal e no

Superior Tribunal de Justiça, o disposto nos seus regimentos internos.

.......................................................................................................................................

.......................................................................................................................................

CAPÍTULO VII

Da Ordem dos Processos no Tribunal

.......................................................................................................................................

.......................................................................................................................................

Art. 551.

.......................................................................................................................................

.......................................................................................................................................

.......................................................................................................................................

.......................................................................................................................................

3º Nos recursos interpostos nas causas de procedimentos sumários, de despejo e

nos casos de indeferimento liminar da petição inicial, não haverá revisor.

.......................................................................................................................................

......................................................................................................................................

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77

Art. 563. Todo acórdão conterá ementa."

Art. 2º Os arts. 541 a 546 da Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973, revogados pela

Lei nº 8.038, de 28 de maio de 1990, ficam revigorados com a seguinte

redação:

SEçãO II

Do Recurso Extraordinário e do Recurso Especial

Art. 541. O recurso extraordinário e o recurso especial, nos casos previstos na

Constituição Federal, serão interpostos perante o presidente ou o vice-presidente do

tribunal recorrido, em petições distintas, que conterão:

I - a exposição do fato e do direito;

II - a demonstração do cabimento do recurso interposto;

III - as razões do pedido de reforma da decisão recorrida.

Parágrafo único. Quando o recurso fundar-se em dissídio jurisprudencial, o

recorrente fará a prova da divergência mediante certidão, cópia autenticada ou pela

citação do repositório de jurisprudência, oficial ou credenciado, em que tiver sido

publicada a decisão divergente, mencionando as circunstâncias que identifiquem ou

assemelhem os casos confrontados.

Art. 542. Recebida a petição pela secretaria do tribunal e aí protocolada, será

intimado o recorrido, abrindo-se-lhe vista para apresentar contra-razões.

1º Findo esse prazo, serão os autos conclusos para admissão ou não do recurso, no

prazo de quinze dias, em decisão fundamentada.

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78

2º Os recursos extraordinário e especial serão recebidos no efeito devolutivo.

Art. 543. Admitidos ambos os recursos, os autos serão remetidos ao Superior

Tribunal de Justiça.

1º Concluído o julgamento do recurso especial, serão os autos remetidos ao

Supremo Tribunal Federal, para apreciação do recurso extraordinário, se este não

estiver prejudicado.

2º Na hipótese de o relator do recurso especial considerar que o recurso

extraordinário é prejudicial àquele, em decisão irrecorrível sobrestará o seu

julgamento e remeterá os autos ao Supremo Tribunal Federal, para o julgamento do

recurso extraordinário.

3º No caso do parágrafo anterior, se o relator do recurso extraordinário, em decisão

irrecorrível, não o considerar prejudicial, devolverá os autos ao Superior Tribunal de

Justiça, para o julgamento do recurso especial.

Art. 544. Não admitido o recurso extraordinário ou o recurso especial, caberá agravo

de instrumento, no prazo de dez dias, para o Supremo Tribunal Federal ou para o

Superior Tribunal de Justiça, conforme o caso.

1º O agravo de instrumento será instruído com as peças apresentadas pelas partes,

devendo constar, obrigatoriamente, sob pena de não conhecimento, cópia do

acórdão recorrido, da petição de interposição do recurso denegado, das contra-

razões, da decisão agravada, da certidão da respectiva intimação e das procurações

outorgadas aos advogados do agravante e do agravado.

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79

2º Distribuído e processado o agravo na forma regimental, o relator proferirá

decisão.

3º Na hipótese de provimento do agravo, se o instrumento contiver os elementos

necessários ao julgamento do mérito do recurso especial, o relator determinará sua

conversão, observando-se, daí em diante, o procedimento relativo a esse recurso.

4º O disposto no parágrafo anterior aplica-se também ao agravo de instrumento

contra enegação de recurso extraordinário, salvo quando, na mesma causa, houver

recurso especial admitido e que deva ser julgado em primeiro lugar.

Art. 545. Da decisão do relator que não admitir o agravo de instrumento, ou negar-

lhe provimento, caberá ao órgão julgador, no prazo de cinco dias.

Art. 546. É embargável a decisão da turma que:

I - em recurso especial, divergir do julgamento de outra turma, da seção ou do órgão

especial;

II - em recurso extraordinário, divergir do julgamento da outra turma ou do plenário.

Parágrafo único. Observar-se-á, no recurso de embargos, o procedimento

estabelecido no regimento interno."

Art. 3º Ficam revogados os arts. 464 e 465, o parágrafo único do art. 514 e o

parágrafo único do art. 531, todos do Código de Processo Civil.

Art. 4º Esta lei entra em vigor no prazo de sessenta dias após a data de sua

publicação.

Brasília, 13 de dezembro de 1994; 173º da Independência e 106º da República.

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INOCÊNCIO OLIVEIRA

Alexandre de Paula Dupeyrat Martins

ANEXO II

Acórdão AADRES 236796 / SP ; AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO

REGIMENTAL NOS EDRESP

1999/0099211-3 Fonte DJ DATA:03/06/2002 PG:00200

RT VOL.:00805 PG:00200 Relator Min. ANTÔNIO DE PÁDUA RIBEIRO (280)

Ementa

Recurso especial. Agravo de instrumento. Conhecimento como recurso

extraordinário. Princípio da fungibilidade dos recursos.

Impossibilidade.

I. - Da decisão que admite ou não recurso especial cabe agravo

regimental (art. 557, § 1º, do CPC).

II. - Incabível a interposição de agravo de instrumento contra

decisão que proveu recurso especial, nos termos do art. 557, § 1º A,

do CPC, sobretudo se o pedido é para que seja recebido como recurso

extraordinário.

III. - O recebimento do agravo de instrumento, como recurso

extraordinário contra decisão de relator desta Corte, não se

enquadra nos casos de aplicação do princípio da fungibilidade

recursal, mesmo porque o recurso dirigido ao Supremo Tribunal

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81

Federal tem requisitos próprios de admissibilidade, cuja aferição

escapa à competência desta Corte.

IV. - Agravo regimental desprovido.

Data da Decisão 30/04/2002 Orgão Julgador T3 - TERCEIRA TURMA Decisão

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima

indicadas, acordam os Ministros da TERCEIRA TURMA do Superior

Tribunal de Justiça, por unanimidade, negar provimento ao agravo

regimental.

Os Srs. Ministros Ari Pargendler, Carlos Alberto Menezes Direito,

Nancy Andrighi e Castro Filho votaram com o Sr. Ministro Relator.

Indexação

VIDE EMENTA

Acórdão RESP 173512 / RS ; RECURSO ESPECIAL

1998/0031813-5 Fonte DJ DATA:05/08/2002 PG:00370 Relator Min. GILSON DIPP

(1111) Ementa

CRIMINAL. RECURSO ESPECIAL. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL.

INEXISTÊNCIA DE PROVA DO DANO. PRETENSÃO DE REEXAME DE MATÉRIA

FÁTICA. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 07 - STJ. NÃO CONHECIMENTO.

CORREIÇÃO

PARCIAL RECEBIDA COMO APELAÇÃO. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA

FUNGIBILIDADE. POSSIBILIDADE. RECURSO PARCIALMENTE CONHECIDO E

DESPROVIDO.

É vedado, em sede de recurso especial, o simples reexame do material

fático-probatório, conforme dispõe a Súmula 07 - STJ.

Page 82: UNIFMU - Portal FMU

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A jurisprudência desta Corte e do Supremo Tribunal Federal indica

que, mesmo que a correição parcial não esteja prevista no rol dos

recursos penais, pode ser, a ela, aplicado o princípio da

fungibilidade dos recursos. Precedentes.

Recurso parcialmente conhecido e desprovido.

Data da Decisão 19/02/2002 Orgão Julgador T5 - QUINTA TURMA Decisão

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima

indicadas, acordam os Ministros da QUINTA TURMA do Superior Tribunal

de Justiça a Turma, por unanimidade, conheceu do recurso, mas lhe

negou provimento. Os Srs. Ministros José Arnaldo da Fonseca e Felix

Fischer votaram com o Sr. Ministro Relator.

Ausentes, justificadamente, os Srs. Ministros Jorge Scartezzini e

Edson Vidigal.

Indexação

VIDE EMENTA.

Error! Reference source not found.

LEG:FED SUM:******

***** SUM(STJ) SUMULA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Error! Reference source not found.

LEG:FED LEI:009099 ANO:1995

***** LJE-95 LEI DOS JUIZADOS ESPECIAIS CIVEIS E CRIMINAIS

ART:00089 PAR:00001 INC:00001 PAR:00002

Veja

(REAPRECIAÇÃO DE PROVAS)

STJ - Error! Reference source not found.-MA, Error! Reference source not

found.-RS (RT 737/581)

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83

(PRINCIPIO DA FUNGIBILIDADE)

STJ - Error! Reference source not found.-SP

STF - HC 76439/SP

Acórdão RESP 199593 / RJ ; RECURSO ESPECIAL

1998/0098793-2 Fonte DJ DATA:21/06/1999 PG:00088 Relator Min. JOSÉ

DELGADO (1105) Ementa

RECURSO ESPECIAL. SISTEMA FINANCEIRO DA HABITAÇÃO. PLANO DE

EQUIVALÊNCIA SALARIAL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO CONTRA DECISÃO

INTERLOCUTÓRIA. POSSIBILIDADE. NÃO CONHECIMENTO DO RECURSO

ESPECIAL

INTERPOSTO POR A DECISÃO EMBARGADA ENCONTRAR-SE EM SINTONIA

COM A

JURISPRUDÊNCIA PACÍFICA DESTA CORTE E, AINDA, PELA AUSÊNCIA DE

OMISSÃO NA SENTENÇA QUANTO À MATÉRIA RELATIVA À INCOMPETÊNCIA

DA

JUSTIÇA FEDERAL PARA JULGAMENTO DE EMBARGOS À EXECUÇAO

HIPOTECÁRIA E

EXTINÇÃO DA MESMA COM O ACOLHIMENTO DOS EMBARGOS.

IMPOSSIBILIDADE

DE, EM SEDE ESPECIAL, SE APRECIAR MATÉRIA QUE ENVOLVA REEXAME

DE

MATÉRIA FÁTICA, COMO É O CASO DE PRONUNCIAMENTO SOBRE A

"INEXISTÊNCIA DA PROVA DE VALORES A SEREM DEVOLVIDOS AOS

AUTORES" E

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APLICAÇÃO DO ARTIGO 21, DO CÓDIGO PROCESSUAL CIVIL. SÚMULA 7/STJ.

1. Embora seja perfeitamente possível a interposição de Embargos

Declaratórios contra decisão interlocutória, não se conhece de

Recurso Especial interposto sob o pálio de violação ao artigo 535,

II, do Código de Processo Civil, quando a decisão embargada, em

sintonia com a jurisprudência desta Corte, declara que o

reajustamento das prestações, nos contratos celebrados pelo Plano de

Equivalência Salarial, deve ser feito de acordo com a variação

salarial dos mutuários.

2. Inexistência de omissão, na sentença recorrida, quanto à matéria

relativa à incompetência da Justiça Federal para julgamento dos

Embargos à execução hipotecária e descabimento da extinção da mesma

com acolhimento dos embargos, ressaltando-se que a presença da Caixa

Econômica Federal na lide afasta qualquer dúvida quanto à

competência daquele Juízo.

3. Impossibilidade de, em sede de Recurso Especial, proceder-se ao

reexame de matéria fática, como é o caso de pronunciamento sobre a

"inexistência da prova de valores a serem devolvidos aos autores" e

aplicação do artigo 21, do Código de Processo Civil. Incidência da

Súmula 7/STJ.

4. Recurso Especial não conhecido

Data da Decisão 16/03/1999 Orgão Julgador T1 - PRIMEIRA TURMA Decisão

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Exmos. Srs.

Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na

conformidade dos votos e notas taquigráficas a seguir, por

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85

unanimidade, não conhecer do recurso. Votaram com o Relator os

Exmos. Srs. Ministros Garcia Vieira, Demócrito Reinaldo e Milton

Luiz Pereira.

Ausente, justificadamente, o Exmo. Sr. Ministro Humberto Gomes de

Barros.

Indexação

VIDE EMENTA